novos horizontes para a produÇÃo cientÍfica e … · uma visão panorâmica dos novos caminhos...

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CADERNO CRH, Salvador, v. 24, n. 63, p. 519-534, Set./Dez. 2011 519 Fernanda Antônia da Fonseca Sobral NOVOS HORIZONTES PARA A PRODUÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA Fernanda Antônia da Fonseca Sobral * O presente artigo traça, inicialmente, uma visão panorâmica das novas tendências da produção do conhecimento. Nelas, destacam-se a importância assumida pela interação entre o conheci- mento e a sociedade e outros aspectos como aplicabilidade e interdisciplinaridade do conheci- mento, com a finalidade de contextualizar e descrever, nas suas principais características, alguns programas recentes de apoio à ciência e tecnologia (Fundos Setoriais, Institutos do Milênio e Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia). Finalmente, discutem-se alguns resul- tados de pesquisa realizada junto a pesquisadores de algumas áreas das Engenharias e da Sociologia, procurando apontar novos horizontes nas suas agendas de pesquisa. PALAVRAS-CHAVE: conhecimento, política científica e tecnológica, inovação. DOSSIÊ INTRODUÇÃO A intenção deste artigo é dar, inicialmente, uma visão panorâmica dos novos caminhos da produção do conhecimento, com destaque para a importância assumida pela interação entre o co- nhecimento e a sociedade, com a finalidade de contextualizar e descrever, nas suas principais ca- racterísticas, alguns programas recentes de apoio à ciência e tecnologia, sobretudo os Institutos Na- cionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), caben- do, finalmente, discutir alguns resultados de pes- quisa realizada junto a pesquisadores de algumas áreas das Engenharias e da Sociologia, procuran- do apontar novos horizontes nas suas agendas de pesquisa. NOVOS CAMINHOS NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO Entre as condições socioinstitucionais que influenciam as políticas governamentais de ciên- cia, tecnologia e inovação na atualidade e, conse- quentemente, a produção de conhecimento das universidades, podem-se destacar o processo de globalização, a democratização da sociedade e a re- volução científica e tecnológica proporcionada pe- las tecnologias da informação e comunicação (TICs). A globalização aumenta a competitividade in- ternacional e obriga as empresas a produzirem ino- vações tecnológicas, considerando o conhecimento especializado e de arranjos cooperativos com uni- versidades, governo e outras empresas. Em decor- rência, requer-se a dimensão econômica para a pro- dução tecnológica. Além disso, a internacionalização da produção do conhecimento passa a ser cada vez mais uma necessidade. Também o processo de democratização da sociedade faz com que, cada vez mais, a imprensa, as organizações não-governamentais (ONGS) e a * Doutorado em Sociologia. Professora do Programa de Pós- graduação em Sociologia da Universidade de Brasília (UnB). Pesquisadora do Centro de Gestão e Estudos Es- tratégicos (CGEE). Campus Universitário Darcy Ribeiro - Asa Norte. Cep: 70910- 900. Brasília - Distrito Federal - Brasil. [email protected]

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NOVOS HORIZONTES PARA A PRODUÇÃO CIENTÍFICA ETECNOLÓGICA

Fernanda Antônia da Fonseca Sobral*

O presente artigo traça, inicialmente, uma visão panorâmica das novas tendências da produçãodo conhecimento. Nelas, destacam-se a importância assumida pela interação entre o conheci-mento e a sociedade e outros aspectos como aplicabilidade e interdisciplinaridade do conheci-mento, com a finalidade de contextualizar e descrever, nas suas principais características,alguns programas recentes de apoio à ciência e tecnologia (Fundos Setoriais, Institutos doMilênio e Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia). Finalmente, discutem-se alguns resul-tados de pesquisa realizada junto a pesquisadores de algumas áreas das Engenharias e daSociologia, procurando apontar novos horizontes nas suas agendas de pesquisa.PALAVRAS-CHAVE: conhecimento, política científica e tecnológica, inovação.

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INTRODUÇÃO

A intenção deste artigo é dar, inicialmente,uma visão panorâmica dos novos caminhos daprodução do conhecimento, com destaque para aimportância assumida pela interação entre o co-nhecimento e a sociedade, com a finalidade decontextualizar e descrever, nas suas principais ca-racterísticas, alguns programas recentes de apoioà ciência e tecnologia, sobretudo os Institutos Na-cionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), caben-do, finalmente, discutir alguns resultados de pes-quisa realizada junto a pesquisadores de algumasáreas das Engenharias e da Sociologia, procuran-do apontar novos horizontes nas suas agendasde pesquisa.

NOVOS CAMINHOS NA PRODUÇÃO DOCONHECIMENTO

Entre as condições socioinstitucionais queinfluenciam as políticas governamentais de ciên-cia, tecnologia e inovação na atualidade e, conse-quentemente, a produção de conhecimento dasuniversidades, podem-se destacar o processo deglobalização, a democratização da sociedade e a re-volução científica e tecnológica proporcionada pe-las tecnologias da informação e comunicação (TICs).

A globalização aumenta a competitividade in-ternacional e obriga as empresas a produzirem ino-vações tecnológicas, considerando o conhecimentoespecializado e de arranjos cooperativos com uni-versidades, governo e outras empresas. Em decor-rência, requer-se a dimensão econômica para a pro-dução tecnológica. Além disso, a internacionalizaçãoda produção do conhecimento passa a ser cadavez mais uma necessidade.

Também o processo de democratização dasociedade faz com que, cada vez mais, a imprensa,as organizações não-governamentais (ONGS) e a

* Doutorado em Sociologia. Professora do Programa dePós- graduação em Sociologia da Universidade de Brasília(UnB). Pesquisadora do Centro de Gestão e Estudos Es-tratégicos (CGEE).Campus Universitário Darcy Ribeiro - Asa Norte. Cep: 70910-900. Brasília - Distrito Federal - Brasil. [email protected]

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sociedade civil organizada procurem exercer in-fluência para que a produção científica e tecnológicatenha uma maior responsabilidade social. O pró-prio desenvolvimento dos meios de comunicaçãoe informação possibilita a interação de diferentesatores e de diferentes instituições no processo deprodução do conhecimento. Outrora contida es-sencialmente nos limites da comunidade acadê-mica, a empreitada de produção e de apropriaçãodo conhecimento tende a ampliar progressivamenteos limites de seu universo em direção a umenvolvimento maior de outros atores sociais.

Assim, segundo Velho (2010), a análise daprodução do conhecimento se modifica passandode uma visão de ciência universalista, histórica esocialmente neutra, na qual a ideia de autonomia éproeminente, para uma concepção de ciência soci-almente contextualizada.

Nesse contexto, Gibbons e seus colabora-dores (1994) referem-se ao surgimento de um “novomodo de produção do conhecimento”. Esse novomodo situa-se num contexto de aplicação, ou seja,são desenvolvidas pesquisas a partir da necessi-dade de resolver problemas práticos, e não apenasde interesses cognitivos, como na pesquisa básica.Também esse novo modo de produção do conhe-cimento é mais transdisciplinar do que discipli-nar, pois, se o conhecimento é produzido no con-texto de aplicação e não apenas com a intenção deacumulação do conhecimento na área, muitas ve-zes, o problema a ser solucionado por meio doconhecimento exige que disciplinas complemen-tares trabalhem conjuntamente.

A partir das ideias de Gibbons (1994), Alberte Bernard (2002) realizaram estudos sobre a Eco-nomia e a Sociologia no Canadá, nos quais apon-tam para a definição de dois polos de produção deconhecimento: o polo PP (para pares), quando alegitimidade é conquistada por meio de uma pro-dução destinada aos pares), e um polo PNP (paranão-pares), cuja legitimidade é adquirida não ape-nas por meio de uma produção destinada aos pa-res, mas também voltada à demanda social de co-nhecimento e aberta à avaliação por outros atoressociais, não necessariamente pares.

Já Sobral e Trigueiro (1994), observando astendências da produção do conhecimento, afirmama emergência, no Brasil, não de um modelo únicoe exclusivo, mas de um modelo misto de desen-volvimento científico e tecnológico no qual estãoassociadas a pesquisa básica, a aplicada etecnológica, a demanda espontânea à induzida, acomunidade científica a outros atores sociais, comoo governo, as ONGS e o setor produtivo.1 Essemodelo procura unir a lógica do campo científico,ou seja, as demandas da própria evolução da ciên-cia, às demandas econômicas e sociais, devendoreconhecer, porém, as diferenças entre áreas queapresentam necessidades distintas, umas maisaplicadas ou tecnológicas que outras, ou, ainda,umas mais articuladas às demandas das políticaspúblicas e das organizações não-governamentais eoutras às demandas do setor produtivo.

Nessas concepções híbridas, segundoNowotny (2006), não há incompatibilidade entreciência real e ciência excelente, já que a ciênciareal surge e é construída pela ciência acadêmica eexcelente. Assim, a ciência responde às várias pres-sões provenientes do Estado, da indústria e dasociedade e, de forma crescente, do mundoglobalizado, sem diminuir a excelência, na medi-da em que há certo nível de autonomia, competi-ção e seleção de propostas. Se a ciência real signi-ficar, igualmente, a ciência excelente, torna-se nãoapenas socialmente robusta, mas também cientifi-camente forte (Nowotny, 2006).

É o que também apontam estudos recentes,coordenados por Schwartzman (2008), sobre gru-pos de pesquisas de algumas universidades lati-no-americanas, conforme se pode observar na cita-ção a seguir:

Apesar destas dificuldades, nossa pesquisa mos-tra que, em todos os países estudados, muitasequipes de pesquisa foram capazes de se abrir efazer contribuições importantes para a socieda-de, mantendo, ao mesmo tempo, a qualidade aca-dêmica do seu trabalho (2008).

1 No caso da pesquisa biomédica e agrícola, desenvolvidaspela Fiocruz e pela Embrapa, essas tendências já sãouma tradição.

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PROGRAMAS DE APOIO À PESQUISA CIEN-TÍFICA E TECNOLÓGICA

No Brasil, atualmente, ao se analisar a polí-tica de ciência, tecnologia e inovação, constatam-se novas fontes de financiamento, como os Fun-dos Setoriais, criados em 1999. Novos atores co-meçam a participar do processo, com destaque paraas empresas, e nova regulamentação foiimplementada, tendo como foco o desenvolvimentoda inovação. Já no final da década de 1990, come-çou a ser introduzida a inovação no discurso daspolíticas de C&T.

Progressivamente, a inovação deixou de serconsiderada apenas como resultado do processode abertura do mercado e passou a ser objeto deuma série de medidas e de políticas ativas, taiscomo a criação dos Fundos Setoriais, o estabeleci-mento da Lei da Inovação, da Lei do Bem e daPolítica Industrial, Tecnológica e de Comércio Ex-terior (PICTE). Deve-se ressaltar que a preocupa-ção com a inovação já estava também presente noLivro Branco do Ministério de Ciência e Tecnologia,de 2002, no qual se enfatiza a necessidade de

... criar um ambiente favorável à inovação quecontribua para a competitividade das empresase para o melhor aproveitamento da capacidadeinstalada em C&T, de forma a acelerar os proces-sos de transformação do conhecimento em servi-ços e produtos para a sociedade (MCT, 2002).

Podem-se observar essas tendências quandosão considerados alguns programas de apoio à ciên-cia, tecnologia e inovação do atual século. Constata-se a preocupação com a relação entre conhecimentocientífico e tecnológico e a sociedade, na sua dimen-são propriamente econômica da competitividade dosetor produtivo, para a qual a inovação tecnológica éimportante, e também na sua dimensão social, rela-cionada às políticas públicas e às tecnologias sociais.Constata-se também um estímulo ao avanço das fron-teiras do conhecimento, ao lado do apoio à pesquisaaplicada e tecnológica, à constituição de projetos co-operativos entre as universidades e outras institui-ções públicas e privadas e à multidisciplinaridade e(ou) interdisciplinaridade.

Os Fundos Setoriais, por exemplo, foramconcebidos como um instrumento novo de políti-ca científica e tecnológica no país, com relação auma série de características. Uma delas é que, ba-seados nas teorias de inovação contemporâneas,os Fundos buscam mobilizar os vários agentes doprocesso inovativo, com destaque para as empre-sas. Outras características novas dos Fundos são:garantia da constância de recursos financeiros parao sistema de inovação, com foco em setores consi-derados estratégicos, e eficiência na gestão de taisrecursos. Deve-se esclarecer que esses Fundos sur-giram no bojo do processo de privatização de al-guns setores da economia brasileira, como a ex-ploração de petróleo, as telecomunicações e a ener-gia elétrica, em decorrência da necessidade de ga-rantir fontes públicas de recursos – relativamenteestáveis – voltadas para o financiamento das açõesde fomento da área de C&T. Os recursos dessesFundos vêm de receitas fiscais extraorçamentárias,do faturamento das empresas atuantes em impor-tantes setores da economia, que seriam utilizadospara financiar projetos de pesquisa naqueles seto-res: petróleo, energia, transportes, telecomunica-ções, mineração, espaço, recursos hídricos, mine-rais, tecnologia da informação, biotecnologia,agronegócio, aeronáutico e saúde.

Em 2007, a Lei nº11.540/07 regulamen-tou o Fundo Nacional de Desenvolvimento Ci-entífico e Tecnológico (FNDCT), incorporando,como suas fontes de financiamento, além da do-tação de recursos orçamentários, todas aquelasque foram legalmente definidas como específi-cas para os Fundos Setoriais. Esse fato passou agarantir ao FNDCT recursos relativamente está-veis e independentes da disputa política quandoda aprovação anual do Orçamento Geral daUnião. Também os Fundos têm ações transver-sais no sentido de que não necessariamente osrecursos do Fundo Setorial de um setor financi-am pesquisas ou desenvolvimento de tecnologiasexclusivamente naquele mesmo setor, o que podeabrir certo espaço para pesquisas em temas soci-ais. Mas os editais referentes aos Fundos Setoriaissão temáticos, tecnológicos ou aplicados e en-

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volvem grupos de pesquisadores. Na sua avalia-ção, é considerado o mérito, mas também as pos-sibilidades de inovação tecnológica em coopera-ção com o setor produtivo e, em menor grau, odesenvolvimento de tecnologias sociais, como, porexemplo, tecnologias para comunidades tradicionaise para pequenos produtores rurais.

Já o programa Institutos do Milênio, criadoem 2001, tinha como objetivo principal aumentar acompetência científica brasileira em áreas importan-tes da ciência e da tecnologia, mediante o apoio e acapacitação de centros de pesquisa e laboratórios dealta qualidade científica e (ou) atuantes em áreas es-tratégicas para o desenvolvimento do país. No docu-mento básico do programa, percebem-se claramenteas tendências apontadas, tais como a abordagemtemática do fomento, que supõe um tratamento multie interdisciplinar para o tratamento das questões pro-postas, quer em sua concepção organizacional, quedeve prever novos arranjos institucionais capazes desuperar as tradicionais divisões acadêmicas entredisciplinas ou áreas do conhecimento, quer no to-cante à formação de parcerias entre o setor público eo privado e à articulação de redes de competênciasde âmbito nacional e internacional.

A inovação deve ser a marca dos Institutos doMilênio, seja no estabelecimento de novas técni-cas nas atividades de pesquisa básica ou na pre-visão de efetivos mecanismos de transferênciapara a sociedade do conhecimento adquirido,assim como pela incorporação de uma práticade treinamento e reciclagem de recém-douto-res, que os tornem dinâmicos centros de referên-cia de abrangência nacional. (BRASIL,2001)

Nesse documento, previa-se apenas sua pri-meira fase, concernente aos editais de 2001. Po-rém o Programa Institutos do Milênio contou comduas fases: a de 2001 e a de 2005, e ambas tiveramduas chamadas referentes à demanda espontâneae à demanda induzida. O grupo de demanda es-pontânea deveria se constituir de institutos comexcepcional nível científico e (ou) tecnológico emsua área ou áreas de atividade que pudessem terpapel decisivo para elevar a novos patamares acompetência nacional nesses campos do conheci-mento. O grupo de demanda induzida deveria se

constituir de institutos atuantes em áreas estraté-gicas, definidas segundo as prioridades do Pro-grama de Ciência e Tecnologia do MCT. Em 2001,tinha como meta financiar um projeto para cada umadas seguintes áreas: Amazônia, Semiárido e Recur-sos do Mar. De fato, foram aprovados apenas doisinstitutos dessa categoria, o Instituto do Milênio doSemiárido: Biodiversidade, Bioprospecção e Con-servação de Recursos Naturais; e o Instituto doMilênio de Oceanografia: Uso e Apropriação deRecursos Costeiros. Na demanda espontânea, fo-ram aprovados 15 Institutos do Milênio.

Em 2005, foram aprovados 34 Institutos doMilênio, dos quais cinco constituem uma conti-nuidade daqueles aprovados em 2001, sendo 14da demanda induzida e 20 da demanda espontâ-nea, podendo ser agrupados em alguns temas ouáreas, tais como: Ciências Exatas e Tecnologia daInformação (8), Saúde (8), Biotecnologia eNanotecnologia (7), Meio Ambiente e Biodiversidade(5) e seis institutos cujas temáticas se aproximammais das Ciências Humanas. As novidades trazidaspelo segundo edital foram o maior número de insti-tutos aprovados na demanda induzida e a inclusãode temas propriamente sociais, como Violência eSegurança Pública, Estratificação Social e Desigual-dade e Democracia e Cidadania, Observatório dasMetrópoles, não abrangidos nos primeiros Institu-tos do Milênio de 2001.

O novo programa, constituído pelos INCTs,teve seus projetos aprovados ao final de 2008.Segundo o documento de orientação aprovado peloseu comitê de coordenação, os Institutos do Milê-nio estabeleceram-se como poderoso instrumentopara fazer avançar a ciência e tecnologia no país,mas o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)se propõe agora a dar nova dimensão à iniciativa,por meio do programa dos Institutos Nacionais,que tem metas mais ambiciosas e abrangentes emtermos nacionais, destacando-se:§ Mobilizar e agregar, de forma articulada, com atua-

ção em redes, os melhores grupos de pesquisa emáreas de fronteira da ciência e em áreas estratégicaspara o desenvolvimento sustentável do país, comodefinidas no Plano de Ação Ciência, Tecnologia e

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Inovação para o Desenvolvimento Nacional (PACTI).§ Impulsionar a pesquisa científica básica e fun-

damental competitiva internacionalmente.§ Desenvolver pesquisa científica e tecnológica de

ponta, associada a aplicações, promovendo ainovação e o espírito empreendedor, em estreitaarticulação com empresas inovadoras, nas áreasdo Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec).

§ Promover o avanço da competência nacional emsua área de atuação, criando, para tanto, ambi-entes atraentes e estimulantes para alunostalentosos de diversos níveis, do ensino médioao pós-graduado, e responsabilizando-se direta-mente pela formação de jovens pesquisadores.Os Institutos Nacionais devem ainda estabelecerprogramas que contribuam para a melhoria doensino de ciências e com a difusão da ciênciapara o cidadão comum.

§ Apoiar a instalação e o funcionamento de labo-ratórios em instituições de ensino e pesquisa eempresas, em temas de fronteira da ciência e datecnologia, promovendo a competitividade inter-nacional do país, a melhor distribuição nacionalda pesquisa científico-tecnológica e a qualificaçãodo país em áreas prioritárias para o seu desenvol-vimento regional e nacional (BRASIL, 2008).

Assim, as missões principais dos INCTsdevem ser a promoção da pesquisa de vanguardae de elevada qualidade em temas de fronteira e(ou) estratégicos, a formação de recursos humanose a transferência de conhecimento para a socieda-de, o que pressupõe um programa de educação edifusão de conhecimento focalizado no fortaleci-mento do ensino médio e na educação científicada população. Esse aspecto significa um estímuloà utilização de outros instrumentos para divulga-ção dos resultados das pesquisas, além da publi-cação científica, ou seja, à produção para não-pa-res (PNP). Para aqueles INCTs voltados para aaplicabilidade do conhecimento, também érequerida a transferência do conhecimento para o

setor empresarial ou para o governo.2 A inten-ção é desenvolver a cadeia de conhecimento, ouseja, desde a elaboração das ideias e conceitosaté produtos comerciais ou contribuições para aformulação de políticas públicas, que é a situa-ção mais próxima das Ciências Humanas e Soci-ais.

O Documento de Orientação dos INCTs pre-via a aprovação de 45 INCTs, cerca de 20 na de-manda espontânea, que poderia incluir qualquerárea de conhecimento, e cerca de 25 em temas in-duzidos, que tivessem relação direta com as áreasestratégicas do Plano de Ação em CT&I. Dessesúltimos, faziam parte, entre outros, alguns temasmais próximos das Ciências Humanas, tais comoInclusão Social, Segurança Pública, Defesa Nacio-nal, Educação, Saúde.3 Porém, ao final, foram apro-vados 123 INCTs, contando com maior volume derecursos – cerca de 605 milhões de reais – prove-nientes de várias fontes, como FNDCT, Fundaçõesde Amparo à Pesquisa (FAPs), Conselho Nacionalde Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes-soal de Nível Superior (Capes), Banco Nacionalde Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),Petrobras e Ministério da Saúde.

Atualmente, estão em funcionamento 120INCTs (considerando as demandas espontânea einduzida) nas seguintes áreas de conhecimento e(ou) temas : Saúde , que teve o maior número deprojetos contemplados (36), Ecologia e Meio Am-biente, (16) Agrárias (14), Engenharia e TIC (13),Humanas e Sociais (11) Energia(10) , Exatas e Na-turais (10) e Nanotecnologia (10) .

Deve-se observar que alguns dos Institutosdo Milênio se transformaram em INCTs. A deman-da induzida teve cerca de 60% de aprovação emrelação à demanda espontânea, o que já indica umatendência de a pesquisa estar se orientando poralgumas prioridades estratégicas.

2 Deve-se observar que a transferência do conhecimentopara a sociedade é restrita a ações de divulgação e educa-ção científica, não incluindo a transferência do conheci-mento para o setor produtivo e para o governo, conside-rada como outra missão daqueles INCTs que realizampesquisa aplicada.

3 Além desses, os outros temas da demanda induzida foram:Biotecnologia, Nanotecnologia, Tecnologias da Informaçãoe Comunicação, Biocombustíveis, Energia Elétrica, Hidro-gênio e Fontes Renováveis de Energia, Petróleo, Gás e Car-vão Mineral, Agronegócio, Biodiversidade e Recursos Na-turais, Amazônia, Semiárido, Mudanças Climáticas, Pro-grama Espacial, Programa Nuclear, Mar e Antártica.

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A área considerada como Ciências Huma-nas e Sociais aborda os seguintes temas:§ INCT de Estudos das Metrópoles;§ INCT de Observatório das Metrópoles;§ INCT de Políticas Públicas, Estratégias e Desen-

volvimento;§ INCT de Educação, Desenvolvimento Econômi-

co e Inserção Social;§ INCT de Estudos Comparados em Administra-

ção Institucional de Conflitos;§ INCT sobre Violência, Democracia e Segurança

Cidadã;§ INCT de Comportamento, Cognição e Ensino;§ INCT para Estudos sobre os Estados Unidos;§ INCT Brasil Plural;§ INCT de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa;§ INCT de Psiquiatria do Desenvolvimento para

Crianças e Adolescentes (INPD).No seminário de avaliação dos INCTs,4

pôde-se perceber claramente, nessa experiência, aassociação entre a pesquisa básica e a aplicada, jácom algumas contribuições para a formulação depolíticas públicas (sobretudo no caso da políticade segurança pública, da política urbana e mesmodas políticas de quotas no ensino superior e ou-tras políticas para minorias), ou mesmo detecnologias de intervenção social nos campos desegurança pública e acesso à justiça. Também co-meçaram a se preocupar com outras formas de di-vulgação da ciência (com utilização intensiva dasnovas tecnologias da informação e comunicação),além das publicações científicas, inclusive comalgumas ações voltadas para o ensino médio, comoé o caso do INCT de Comportamento, Cognição eEnsino, com destaque para o uso de tecnologias dainformação nos processos de aprendizagem de cri-anças com dificuldades e (ou) deficiências congêni-tas. Ademais, observaram-se contribuições comoutras formas de educação, como é o caso do INCTsobre Violência, Democracia e Segurança Cidadã,que tem, entre as suas atividades, a capacitação

de policiais, e do INCT Brasil Plural, que colabo-ra com organizações indígenas para a educaçãoindígena.

Ao mesmo tempo, trabalha-se para avançarnas contribuições teóricas, no conhecimento devanguarda e na internacionalização das redes depesquisa e do próprio conhecimento. No queconcerne à interdisciplinaridade, quando aconte-ce, ela se dá pela participação de pesquisadores dediferentes áreas de conhecimento, mas geralmenteda mesma grande área de Ciências Humanas, comalgumas exceções, como é o caso do INCT de Ob-servatório das Metrópoles e do INCT de PolíticasPúblicas, Estratégias e Desenvolvimento. Mesmoassim, reúnem-se pesquisadores das CiênciasHumanas e das Ciências Sociais Aplicadas, quetêm grande proximidade.5 Quanto à organizaçãoem redes de produção do conhecimento, emboraainda haja INCTs concentrados no mesmo estadoe na mesma região, constata-se, nesse grupo deINCTs, a participação de 369 pesquisadores de 61diferentes instituições, embora mais de 50% dasinstituições e pesquisadores sejam do Sudeste, de-pois do Sul (19%) e do Nordeste (15%), propor-ções aproximadas àquelas já previstas no documen-to de orientação para a distribuição regional dosrecursos – cerca de 50% para o Sudeste, 15% parao Sul e 35% para as regiões Norte, Nordeste e Cen-tro-Oeste – dada a grande participação da Funda-ção de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo(Fapesp) como financiadora.6 Ou seja, embora asdesigualdades regionais ainda permaneçam, é re-levante destacar algumas cooperações que estãoocorrendo entre pesquisadores de diferentes loca-lidades por meio do estabelecimento das redes depesquisa. Mas deve-se observar também que, den-tre as instituições, além de universidades no país eno exterior, também participam organizações não-governamentais e secretarias municipais, como nocaso do INCT de Observatório das Metrópoles.

4 Nesse seminário, realizado em novembro de 2010, emBrasília, acompanhei os relatos do grupo de INCTs Ciên-cias Humanas e Sociais como representante do CGEE,que tem a responsabilidade de avaliar o programa INCTs,cabendo ao CNPq a avaliação dos projetos individuais.

5 Exceção é o INCT de Psiquiatria do Desenvolvimentopara Crianças e Adolescentes (INPD), cujos pesquisado-res são predominantemente da área de Saúde.

6 Esses dados foram fornecidos pelo CNPq e cabe observarque a demanda total aprovada de INCTs teve a participa-ção de aproximadamente 60% de propostas e de pesqui-sadores do Sudeste.

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NOVOS HORIZONTES NAS AGENDAS DEPESQUISA

Essas novas tendências apontadas pelosprogramas de apoio à ciência, tecnologia e inova-ção já estão afetando a produção científica etecnológica nas universidades e a percepção dospesquisadores sobre o atendimento, por meio dassuas pesquisas, de certas demandas do ambienteexterno à universidade?

Alguns resultados podem ser analisados emuma pesquisa intitulada “Demandas Sociais e Lide-ranças Científicas’’7, que tinha como objetivo anali-sar a produção científica e tecnológica nas Enge-nharias e na Sociologia e, ao mesmo tempo, a polí-tica científica e tecnológica dos governos FHC e Lula,a fim de verificar em que medida outras demandassociais, além das demandas do próprio conheci-mento, e outros atores sociais, além dos própriospesquisadores, estão influenciando a política cien-tífica e tecnológica e a produção de conhecimento.

Foram escolhidas disciplinas com perfisdiferentes, como Engenharia Mecânica, Engenha-ria Elétrica e Engenharia Florestal, que têm umperfil mais aplicado e tecnológico com tendência ase voltar para as demandas do setor produtivo, e aSociologia, com uma tendência teórico-empírica,mas que pode retraduzir demandas das políticaspúblicas e de organizações não-governamentais.

Os pesquisadores 1A e 2 do CNPq foramidentificados pela Plataforma Lattes nas Engenha-rias (Elétrica, Mecânica e Florestal) e na Sociolo-gia, a fim de verificar se a posição no campo cien-tífico leva a posições diferentes no que se refere aessa questão. Após essa etapa, elaborou-se umquestionário eletrônico sobre uma série de aspec-tos, entre os quais: razões da escolha do objeto depesquisa, instituições parceiras, fontes de finan-ciamento, ocorrência ou não de demandas pro-venientes de instituições externas à universida-de, como também a autopercepção do pesquisa-dor sobre a sua produção. Esse questionário ele-

trônico enviado a todos os pesquisadores dessasáreas, situados nos níveis citados, totalizou umuniverso de 472 pesquisadores em 2008. Obti-veram-se respostas de 122 questionários, sendoque 71% dos respondentes são provenientes dasáreas de Engenharias. A Engenharia Elétrica tevemais expressividade quanto ao retorno dos ques-tionários, com 33% de respostas, seguida da So-ciologia, com 29%, e da Engenharia Mecânica,com 28%, e, por último, pela Engenharia Flores-tal, com baixa proporção de respostas, isto é,com 11%. Isso se coaduna com o fato de que ouniverso de pesquisadores analisados da Enge-nharia Elétrica conta com o maior número depesquisadores (144).

As principais razões para a escolha do obje-to de pesquisa pelos respondentes na área de So-ciologia, em ambos os níveis, concentra-se no in-teresse teórico. No nível 1A, em segundo lugar dasrazões mais citadas, observa-se a influência de obracientífica relevante, com 25%. Já no nível 2, a se-gunda razão mais apontada foi a influência demovimentos sociais ao lado da influência de obracientífica relevante com 16%. Desse modo, a pers-pectiva acadêmica e teórica da Sociologia é muitoimportante em ambos os níveis, porém, no nível2, outras influências começam a aparecer.

Nas três Engenharias, também a principalrazão para a escolha do objeto de estudo é o inte-resse teórico. No que se refere especificamente àEngenharia Elétrica, o interesse teórico foi aponta-do por 33% das respostas dos pesquisadores deambos o níveis (1A e 2), e a demanda de empresasobteve a mesma proporção entre os pesquisadores1A (33%), ainda que, no nível 2, essa opção tenhasido escolhida por apenas 11%. Outra diferençapara o nível 2 é que 20% apontaram a influênciado orientador, razão não-indicada pelos pesquisa-dores de nível mais alto, já que esses pesquisado-res já se titularam há muito tempo. Isso sugere queas Engenharias já estão trabalhando associadamen-te ao setor produtivo e que os pesquisadores 1A,com maior reconhecimento científico, estão apre-sentando maior potencial para desenvolver traba-lhos cooperativos com empresas.

7 Nessa pesquisa, contei com a colaboração, em diferentesfases, da então doutoranda e hoje doutora TatianaMaranhão e dos bolsistas PIBIC Izabela Amaral Caixeta,Krislane de Andrade Matias, Natalia Peres Kornijezuk,Paulo Victor Silva Pacheco e Roberto Rego Mendes.

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Em relação à Engenharia Florestal, o inte-resse teórico e a demanda de empresas foi a respos-ta predominante entre os pesquisadores 2, obten-do aproximadamente 30% de respostas. Talvez porser uma área relativamente nova dentro das Enge-nharias e relacionada à preservação ambiental, seuspesquisadores são também influenciados na es-colha do objeto de pesquisa, ainda que em pro-porção reduzida, por outros fatores, como os mo-vimentos sociais (cerca de 10% entre os pesqui-sadores nível 2), um dado que não aparece nasoutras Engenharias.

Na Engenharia Mecânica, o interesse teóri-co como razão principal da escolha de objeto depesquisa teve 36% de respostas no nível 1A e 22%no nível 2. A razão perspectiva de financiamentoobteve 29% de respostas no nível 1A. A demandade empresa, na Engenharia Mecânica, foi indicadapor apenas 7% dos pesquisadores 1A e por 14%no nível 2. Em resumo, nas Engenharias, de ummodo geral, as pesquisas se dão principalmentepor interesse teórico e por demandas empresariais(em menor proporção na Engenharia Mecâni-

ca), indicando que há uma associação entre pes-quisa básica, aplicada e desenvolvimentotecnológico, entre o interesse propriamente ci-entífico e a possibilidade de aplicação.

No que concerne à parceria com outras ins-tituições na realização dos projetos de pesquisa,ao considerar o total de respostas da Sociologia, aparticipação mais frequente (57% entre os pesqui-sadores 1A e 28% entre os pesquisadores 2) é deórgãos do governo federal (ministérios, agênciasreguladoras), evidenciando a importância desseconhecimento para as políticas públicas. Nota-se,também, que, entre os pesquisadores do nível 2da Sociologia, existe uma maior variedade de ins-tituições parceiras exteriores à universidade, queparticipam dos projetos, já que buscaram não sóas instituições governamentais ou reguladoras, maisfrequentes entre os pesquisadores 1A, mas tam-bém procuraram o apoio de ONGs, organismosinternacionais e órgãos do governo estadual oumunicipal, ainda que numa proporção pequena.

Nas Engenharias, verifica-se, sobretudo, aparticipação das empresas de grande porte e de ór-

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gãos do governo federal (ministérios, agências re-guladoras) na realização dos projetos de pesquisa,com exceção da Engenharia Florestal, cuja partici-pação das ONGs foi indicada por 47% das respos-tas, dado o fato de que as florestas são tratadas porvárias instituições desse tipo, sendo que a partici-pação das grandes empresas e dos órgãos federaisfoi indicada por apenas 13% das respostas. Já naEngenharia Mecânica, as grandes empresas e osórgãos federais foram indicados pela mesma pro-porção (27%) e, na Elétrica, por 26% quanto aosórgãos federais e por 22% no que se refere a gran-des empresas. Porém vale ressaltar que, na Enge-nharia Florestal, no nível 2, aparecem também ór-gãos do governo estadual e(ou) municipal (secreta-rias) e empresas de médio porte como participan-

tes dos projetos realizados, em proporções míni-mas, enquanto no nível 1A essa tendência não éconstatada.

Em relação às fontes de financiamento depesquisa dos respondentes, as agências de fomen-to nacional (CNPq, Capes) constituem a principalfonte de financiamento, tanto no nível 1A quantono nível 2 da área de Sociologia. A segunda op-ção, nos dois níveis, coube às Fundações de Apoioà Pesquisa, com proporção maior de respostas en-tre os pesquisadores 1A.

Também as principais fontes de financia-mento na Engenharia Elétrica são as agências defomento nacionais (CNPq, Capes) e as FAPs com29%%. Em seguida, aparecem as empresas de gran-de porte (em torno de 20%), e órgãos do governo

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federal (ministérios, agências reguladoras). Essaordem, ainda que com proporções um pouco di-ferentes, constata-se tanto entre os pesquisado-res 1A como naqueles de nível 2.

Na área de Engenharia Mecânica, o tipo definanciamento que obteve mais respostas foi a dasempresas de grande porte, porém as outras opçõesreferentes às FAPs e às agências de fomento nacio-nais (CNPq, Capes) tiveram proporções muito próxi-mas. No nível 1A, a principal fonte de financiamen-to indicada foi a empresa de grande porte, com 32%das respostas, diferentemente dos pesquisadores donível 2, em que essa mesma fonte de financiamentoobteve 22% das respostas e cuja principal fonte definanciamento apontada se refere a órgãos do gover-no federal, com 27% das respostas. É importanteobservar que, embora na Engenharia Mecânica nãotenham sido enfatizadas as demandas do setor pro-dutivo como razão para escolha do objeto de estudo,as empresas são parceiras de alguns projetos e tam-bém possibilitam financiamento.

Na área de Engenharia Florestal, a princi-pal fonte de financiamento apontada pelosrespondentes foram os órgãos do governo federal(ministérios, agências reguladoras), em torno de30%. Em seguida, as empresas de grande porte, asFAPs, e as agências de fomento nacional (CNPq,Capes), essas últimas citadas em proporção redu-zida pelos respondentes.

Por fim, buscou-se verificar, por meio daautopercepção de cada pesquisador sobre a suaprodução, a partir de dados coletados no Diretóriode Grupos de Pesquisa/CNPq, a contribuição daprodução de cada respondente a partir de três di-mensões sugeridas: avanço/desenvolvimento daciência, inovação tecnológica e inovação social/solução de problemas sociais, ilustradas nos gráfi-cos 5 e 6.

A maioria de respostas na Sociologia, deuma forma geral, apontou a contribuição da suaprodução para o avanço/desenvolvimento da ciên-cia. Em relação às diferenças encontradas nos dois

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níveis da Sociologia, percebe-se que os pesquisa-dores 1A deram apenas como resposta o avanço/desenvolvimento da ciência, expressando um per-fil bem acadêmico da produção. No nível 2 daSociologia, o item avanço/desenvolvimento da ci-ência também foi a opção mais frequente, com 58%.Em seguida, aparece o item inovação social/solu-ção de problemas sociais, com 33% das respostas.Essa diferença de percepção sobre a produção en-tre os dois níveis revela coerência das suas res-postas com as anteriores, no que se refere às ra-zões de escolha do objeto de estudo e às parceriasnas atividades de pesquisas.

Na Engenharia Elétrica, 50% das respostasdos pesquisadores 1A e 40% dos pesquisadores 2responderam que sua produção contribui para a

inovação tecnológica, e, ao contrário, 40% e 50%das respostas dos pesquisadores 1A e 2, respecti-vamente, apontaram o avanço/desenvolvimentoda ciência. Por último, mas surpreendentemen-te, a contribuição para a inovação social/soluçãode problemas sociais, foi indicada por 10% dasrespostas. As diferenças entre os dois níveis sãoinsignificantes nessa questão. Um pesquisadornível 2, da Elétrica, chegou a mencionar acercada inovação social existente em seu trabalho:

O produto que estamos desenvolvendo, modemPLC para acesso residencial à rede de dados, é debaixo custo e contribuirá para diminuir a exclu-são digital no país e no mundo. Além disso,estamos formando mão de obra qualificada naárea de tecnologia na região da zona da mata mi-neira.

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Entre os pesquisadores 1A e 2 da Enge-nharia Mecânica, a resposta mais frequente foi asua contribuição para inovação tecnológica, com43%, seguida pelo avanço/desenvolvimento daciência, com 35%. Já a contribuição para a ino-vação social/solução de problemas sociais foi amenos expressiva entre os pesquisadores de am-bos os níveis, mas obtendo 22% das respostasdos pesquisadores 1A e 2 de Engenharia Mecâ-nica. Quanto à dimensão de inovação social, foicitado por um pesquisador nível 1A o seguinte:

Provavelmente, minha maior contribuição foipropiciar que estudantes de Engenharia crias-sem uma empresa de alta tecnologia em simula-ção de complexos problemas industriais, quehoje tem mais de 100 empregados, sendo 12%doutores, 37% mestres, 22% cientistas da com-putação e 29% engenheiros. É uma empresa queoferece empregos para doutores, uma realidadeque se busca há muito no Brasil. Todo o pessoaltécnico é de nível superior. [...] Com a criação deempresas de alta tecnologia contribui-se para oaprimoramento da tecnologia disponível para asempresas nacionais, geram-se empregos. Nossorelacionamento com o setor produtivo e atual-mente, principalmente Petrobras, contribui so-cialmente porque estamos ajudando a melhorara tecnologia disponível para as empresas e comisso a geração de empregos.

A contribuição da produção dos pesquisa-dores da Engenharia Florestal para inovaçãotecnológica foi a principal dimensão apontada pe-los pesquisadores 1A e 2, com 45% e 42%. Emseguida, vem o avanço/desenvolvimento da ciênciacom 35% e 42%, e, por ultimo, a inovação social/solução de problemas sociais, com 20% e 16%.

É interessante notar a importância da con-tribuição para o avanço da ciência e, ao mesmotempo, para a inovação tecnológica na produçãodos pesquisadores das diferentes Engenharias ana-lisadas e nos diferentes níveis. Deve-se tambémobservar que a inovação social aparece, embora emproporções reduzidas, na percepção dos pesqui-sadores das Engenharias, seja pela criação de em-presas e de empregos, seja pela geração de pro-dutos de baixo custo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Se, ao longo dos últimos governos, a análi-se dos programas Fundos Setoriais, Institutos doMilênio e INCTs aponta para um estímulo à pes-quisa tecnológica e aplicada associada à pesquisabásica, a projetos cooperativos com outras insti-tuições exteriores à universidade e àinterdisciplinaridade, observa-se, por outro lado,que essas tendências estão sendo incorporadaspelos pesquisadores gradativamente, talvez emmaior grau pelas pesquisas que estão apoiadas porprogramas específicos, como os INCTs, refletin-do-se, ainda de forma embrionária, na produçãode conhecimento e com diferenças a partir das tra-dições e culturas disciplinares.

Os pesquisadores, além de se referirem aointeresse teórico e à sua contribuição para o avan-ço do conhecimento, também já indicam outrasinfluências externas e as suas contribuições para ainovação social ou solução de problemas sociais,principalmente na Sociologia, e sua contribuiçãopara a inovação tecnológica, sobretudo nas Enge-nharias, evidenciando, mais uma vez, a associa-ção entre pesquisa básica, aplicada e desenvolvi-mento tecnológico.

Começam também a ser estabelecidas algu-mas parcerias com empresas, com governo e comorganizações não-governamentais, ainda que empequena escala. Mas as parcerias se dão, sobretu-do, a partir de contatos pessoais com pesquisado-res, evidenciando uma frágil institucionalização dainteração entre universidade e sociedade.

Outra dimensão que se destaca é a diferen-ça entre os perfis das disciplinas e, ao mesmo tem-po, algumas diferenças entre os níveis de pesqui-sadores, apontando que o reconhecimento acadê-mico dos pesquisadores 1A pode facilitar a obten-ção de apoios externos para as suas pesquisas,provenientes do governo e do setor produtivo, oque mostra a compatibilidade entre a ciência real ea ciência excelente (Nowotny, 2006).

Ainda que as empresas já financiem algunsestudos, sobretudo nas Engenharias, as principaisfontes de financiamento continuam sendo as agên-

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cias de fomento e as FAPs. Porém o fato de oseditais de fomento estarem se voltando cada vezmais para o financiamento de temas estratégicos,numa abordagem interdisciplinar e com tendênciaà aplicabilidade, e o fato de o conhecimento gera-do pelas Engenharias ser considerado mais apli-cável do que o conhecimento gerado pela Sociolo-gia torna as Engenharias mais conhecidas pelosnão-pares e mais inclinadas para a chamada pro-dução para não-pares (PNP).

Deve-se acrescentar que, numa análise doseditais de fomento, nos quais todos os pesquisa-dores 1A e 2 das áreas selecionadas (não apenasos respondentes ao questionário) tiveram projetosaprovados, constata-se uma predominância de fi-nanciamento, nas Engenharias, em editais vincu-lados aos Fundos Setoriais, ao passo que, na Soci-ologia, os financiamentos das pesquisas se dão,sobretudo, por meio dos editais universais, aber-tos a todas as áreas de conhecimento e de editaisespecíficos para as Ciências Humanas e Sociais.

O conhecimento produzido pela Sociologiaé considerado mais teórico e, portanto, mais restri-to aos espaços acadêmicos (PP). Sendo assim, háuma demanda maior por instituições externas aomundo acadêmico nas Engenharias do que na So-ciologia, como é o caso do governo e das empresasnas três Engenharias analisadas e das ONGs na Flo-restal. Porém, no caso da Sociologia, começam aacontecer algumas parcerias com o governo e comONGs. A tendência é que a produção da Sociologiacontribua cada vez mais para a elaboração de políti-cas públicas, conforme sugerido anteriormente:

... as diferenças entre áreas com necessidades dis-tintas, umas mais aplicadas ou tecnológicas queoutras, ou ainda, umas mais articuladas às deman-das das políticas públicas e das organizações não-governamentais e outras às demandas do setorprodutivo (Sobral; Almeida; Caixeta, 2008).

Pode-se afirmar, então, que a tendência, naSociologia, é oferecer um conhecimento queretraduz ou reflete demandas da sociedade, comcerto nível de “autonomia reflexiva” (Maranhãoe Sobral, 2008), e que pode subsidiar políticaspúblicas, ao passo que, nas Engenharias, essa de-

manda se faz cada vez mais frequente e diretapor parte do governo e do setor produtivo naorientação dos rumos da produção do conheci-mento.

Se, no século passado, a ciência falou paraa sociedade, neste século, a sociedade passa a fa-lar para a ciência (Nowotny; Scott; Gibbons, 2001).Os ruídos da sociedade começaram a ter eco, deformas diferenciadas, apontando novos horizon-tes para a pesquisa, mas há ainda um vasto cami-nho a ser trilhado quanto à institucionalizaçãodessa interação.

(Recebido para publicação em 05 de agosto de 2011)(Aceito em 07 de dezembro de 2011)

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NOUVEAUX HORIZONS POUR LA PRODUCTIONSCIENTIFIQUE ET TECHNOLOGIQUE

Fernanda Antônia da Fonseca Sobral

Cet article donne tout d’abord une visionpanoramique des nouvelles tendances de la productionde la connaissance. On y remarque tout particulièrementl’importance de l’interaction entre la connaissance etla société ainsi que d’autres aspects tels que laconvenabilité et l’interdisciplinarité de la connaissance.L’objectif est de mettre en contexte et de décrire , dansleurs grandes lignes, quelques programmes récents desoutien à la science et à la technologie (Fundos Setoriais,Institutos do Milênio e Institutos Nacionais de Ciênciae Tecnologia /Fonds Sectoriaux, Instituts du Millénaire etInstituts Nationaux de Science et Technologie).Finalement quelques résultats d’une enquête faite auprèsde chercheurs du domaine de l’Ingénierie et de laSociologie sont présentés afin de signaler de nouveauxhorizons dans leurs programmes de recherche.

MOTS-CLÉS: connaissance, politique scientifique ettechnologique, innovation.

NEW HORIZONS TO SCIENTIFIC ANDTECHNOLOGICAL PRODUCTION

Fernanda Antônia da Fonseca Sobral

This present article draws, initially a overviewof the new tendencies for production of knowledge.On them stands out the importance taken by theinteraction between, knowledge, the society and otheraspects such as applicability and interdisciplinary ofthe knowledge, with the aim to contextualize anddescribe, on their main characteristics, some recentprograms to support sciences and technology ( SectoralFunds, Institute of Millennium and National Instituteof Sciences and Technology). Finally some results fromresearches done with the aid of researchers from somefields of Engineering and Sociology were discussed,seeking to point out new horizons in their researchagenda.

KEY WORDS: knowledge, technological and scientificpolicy, innovation.

Fernanda Antônia da Fonseca Sobral - Doutora em Sociologia. Pós-doutoramento em Paris na École dasHautes Études em Sciences Sociales. Professora do Programa de Pós- graduação em Sociologia da Universidadede Brasília (UnB). Pesquisadora colaboradora senior da Universidade de Brasília e pesquisadora visitante noCGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos). Tem experiência na área de Sociologia com ênfase em TeoriaSociológica, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, tecnologia, ciencia, universidade epesquisa. Publicação mais recente: Dilemas e questões para o futuro das Ciências Sociais no desenvolvimenrocientífico e tecnológico atual. In: Ribeiro,G.L; Fernandes, A.M; Martins, C.B; Filho, W.T. (Org.). As ciênciassociais no mundo contemporâneo. Brasilia: Editora da UNB, 2011, p. 1-308.