novela de · marmita não leva fé na decisão de ... eu sinto muito! ... jeferson ― só quero...

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___________________________________________________________ Mano a Mano Capítulo 03 Pág: 1 MANO A MANO Novela de Rômulo Guilherme Criada e escrita por: Rômulo Guilherme

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Mano a Mano Capítulo 03 Pág: 1

MANO A MANO

Novela de

Rômulo Guilherme

Criada e escrita por:

Rômulo Guilherme

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Mano a Mano Capítulo 03 Pág: 2

CENA 01. BARRACO REMO E MARMITA. INT. TARDE

Continuação imediata. Marmita acha graça do que Remo fala e começa a

rir.

MARMITA ― (debochando) Bateu a cabeça, foi?

REMO ― Tô falando sério, Marmita.

MARMITA ― De onde tirou isso?

REMO ― Quero seguir o mesmo caminho que meu

padrinho.

MARMITA ― E desde quando tu tem vocação pra monge?

REMO ― Vocação é algo que descobrimos.

Marmita não leva fé na decisão de Remo.

MARMITA ― Para de palhaçada, Remo.

REMO ― Quero sair dessa vida. Estou decidido e você

devia fazer o mesmo.

MARMITA ― O Cacau está com um plano, que segundo ele,

envolve muita grana e quer que a gente participe.

REMO ― Não quero me meter em mais nenhuma

roubada, correndo o risco de mofar na cadeia.

MARMITA ― É muita grana, Remo. Vamos pelo menos ver

qual é esse plano. Não custa nada.

REMO ― Posso até ir, mas não vou mudar de idéia.

Corta para:

CENA 02. HOSPITAL PARTICULAR. EXTERIOR. NOITE

Corta para:

CENA 03. HOSPITAL. SALA ESPERA. INT. NOITE

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Mano a Mano Capítulo 03 Pág: 3

Rômulo com Francisca e Vânia; Mauro e Leilane juntos, mais afastados.

LEILANE ― Sua mãe está tão tranqüila. Nem parece que foi

o marido dela que teve um piripaque.

MAURO ― Pra mim, minha mãe não gosta do meu pai.

LEILANE ― Mas eles estão casados há tantos anos,

parecendo serem tão felizes.

MAURO ― Tudo falsa aparência.

LEILANE ― Será?

MAURO ― Não só acho, como tenho certeza!

O médico aparece.

RÔMULO ― (ansioso) Então, doutor. Como meu pai está?

MÉDICO ― Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance,

mas foi um infarto fulminante. Eu sinto muito!

Reação de tristeza de todos. Médico saí. Rômulo e Francisca se abraçam;

Vânia ampara o marido; Leilane e Mauro se abraçam. Mauro, abalado, mas

mantém-se firme. Francisca aproxima-se de Mauro, lhe dando um abraço.

FRANCISCA ― Chora, meu filho. Vai te fazer bem.

MAURO ― Me deixa, mãe.

Mauro se afasta. Leilane vai atrás.

Corta para:

CENA 04. HOSPITAL. EXTERIOR. NOITE

Mauro se revolta com a morte do pai e desaba chorando. Leilane aproxima-

se e tenta lhe confortar. Corta para:

CENA 05. FAVELA MACAQUINHA. EXTERIOR. NOITE

Plano de localização. Corta para:

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Mano a Mano Capítulo 03 Pág: 4

CENA 06. CASA JEFERSON E FLAVIANA. SALA. INT. NOITE

Flaviana mexe nas suas costuras. Jeferson vem do seu quarto.

JEFERSON ― Tava onde, mãe?

FLAVIANA ― Fui levar uma broa pro meu irmão.

Jeferson se serve de broa com café.

FLAVIANA ― O Tadeu me disse que você estava procurando,

mas quando cheguei você estava no banho. O que

foi?

JEFERSON ― A senhora continua aceitando dinheiro da

Leilane?

FLAVIANA ― (justificando) É só uma ajuda que ela nos dá,

filho.

JEFERSON ― (alto) Não precisamos de ajuda dela, mãe.

FLAVIANA ― (apaziguando) É sua irmã, minha filha,

Jeferson. Não é nenhuma estranha.

JEFERSON ― Mas é como se fosse e é dessa forma, como

dois estranhos, que ela nos trata. Leilane tem

vergonha da gente, de ter sido pobre um dia. A

senhora mesmo me disse uma vez que nem pro

casamento dela a senhora foi convidada.

FLAVIANA ― Eu já a perdoei. Isso ficou no passado,

Jeferson.

JEFERSON ― Não acho certo a senhora ser conivente com

essa mentira que ela inventou de que não tem uma

família. E tenta remediar essa atitude desprezível

lhe dando esse dinheiro.

FLAVIANA ― Não vamos brigar por isso filho.

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JEFERSON ― Só quero que a senhora me avise o dia que ela

for vir aqui, pra eu sair antes e evitar de encontrá-

la.

Jeferson pega seu capacete e saí.

Corta para:

CENA 07. CASA CACAU. INT. NOITE

Cacau, Remo, Marmita, Frajola e dois outros homens.

CACAU ― Vamos roubar o Banco Império!

FRAJOLA ― Igual fizeram no Banco Central.

MARMITA ― E como vamos fazer isso?

CACAU ― Esse tempo que fiquei preso, arquitetei tudo. É

um plano grande, audacioso.../

REMO ― (completa) E muito arriscado.

CACAU ― Mas que se der certo, vai nos render milhões.

FRAJOLA ― E quem sabe fazem um filme nosso também,

como fizeram do grupo que assaltou o Banco

Central em Fortaleza.

Remo levanta. Cacau e Frajola se olham.

REMO ― Tô fora!

Remo saí da casa. Marmita vai atrás.

MARMITA ― Esse dinheiro vai mudar nossas vidas, Remo.

Pensa bem, cara.

REMO ― Vai ser a maior furada. Roubar um banco não é

a mesma coisa que roubar uma padaria.

MARMITA ― O Cacau não brinca em serviço. Pra ele ter

decidido roubar um banco, é porque deve ter um

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esquema forte. Não iria se arriscar, se não valesse

a pena.

REMO ― Tu tá muito iludido, Marmita.

MARMITA ― E tu sendo muito bobo de desperdiçar uma

chance dessas, de meter a mão numa grana alta.

Pensa bem, cara. Se tu tá mesmo disposto a mudar

de vida, você pega essa sua grana e some no

mundo. Vai poder fazer o que quiser.

Remo fica mexido com o que Marmita fala e fica pensativo.

MARMITA ― Quem sabe não é Deus quem está te dando

essa oportunidade de mudar de vida, como você

tanto quer?!

Corta para:

CENA 08. CASA CACAU. LAJE. EXT. NOITE

Marmita e Cacau conversam.

CACAU ― Achei que eu podia contar com vocês.

MARMITA ― Eu já to dentro.

CACAU ― E o Remo? Vou poder contar com ele ou não?

MARMITA ― Remo só precisa de um tempo pra se decidir.

CACAU ― É bom ele decidir logo então, não vou esperar

muito mais tempo pra agir.

MARMITA ― Ele vai decidir pelo certo, que é participar do

roubo ao banco.

CACAU ― Vamos ver!

Corta para:

CENA 09. QUARTO ARMANDO. INT. NOITE

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Armando retira da gaveta uma fita de áudio. Nela tem uma fita escrita:

MEU ÚLTIMO SAMBA. Armando senta na cama, coloca a fita no seu

velho rádio e um samba, em partido alto, começa a tocar. Armando se

emociona. Bebel aparece na porta.

ARMANDO ― Meu último samba! Esse não foi gravado. Um

dos únicos que eu criei, mas que não foi gravado,

como todos os outros.

Bebel senta-se ao seu lado e lhe abraça. Ficam escutando a música.

Corta para:

CENA 10. PIZZARIA. EXTERIOR. NOITE

Tadeu e Jeferson conversam, perto de suas motos.

TADEU ― (orgulhoso) Meu avô foi um grande sambista,

compositor de várias músicas.

JEFERSON ― Minha mãe fala mesmo.

TADEU ― Muitas sambas das antigas foi composto por

ele, que infelizmente não teve seu talento

reconhecido e nem ganhou todo o dinheiro que

merecia ter ganhado.

JEFERSON ― Era pro seu avô estar bem de vida.

TADEU ― Mas sofreu uma rasteira de um figurão aí, que

ficou rico às custas dos sambas do meu avô.

Corta para:

CENA 11. QUARTO ARMANDO. INT. NOITE

A música acaba. Armando tira a fita do rádio e guarda com carinho no

mesmo lugar onde estava. Bebel observa, até que fala:

BEBEL ― Era pro senhor estar rico, né, vô?

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ARMANDO ― Rico eu não sei, Bebel. Mas estaria numa

situação financeira mais confortável. Não que

passamos dificuldade, mas estaríamos vivendo

melhor.

BEBEL ― Aquele cara enganou o senhor.

ARMANDO ― Eu sempre fui muito simples, bobo, ingênuo e

me deixei ser enganado, levado pela artimanha do

Venâncio, que me prometeu rios de dinheiro, mas

que no fim me deu a volta.

BEBEL ― O senhor devia ter entrado na justiça.

ARMANDO ― Não quis confusão pro meu lado. O que eu

queria mesmo era fazer samba. O dinheiro viria

mais como uma conseqüência.

BEBEL ― Mas o senhor não tem nada que prove que

esses sambas eram seus, de suas autorias?

ARMANDO ― Todas as letras de samba que eu criava,

guardava numa caixa, foi levado na enchente de

66, que transformou o Rio de Janeiro em um rio

de água. Foi depois disso que eu e minha irmã nos

mudamos pra favela da Macaquinha, que tinha

apenas poucas casas. E só me restou às

recordações e as inspirações que me fizeram

compor cada samba.

BEBEL ― (revoltado) É muita injustiça. O Venâncio agiu

sordidamente, aproveitando-se da sua inocência,

vô.

ARMANDO ― Venâncio e o falecido sócio que ele tinha na

gravadora, e que morreu em circunstâncias

misteriosas, se consolidaram, se firmaram, no

mercado musical graças aos meus sambas.

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BEBEL ― Então tudo o que esse cara tem hoje é graças

ao senhor?

ARMANDO ― Foi com meus sambas que eles estouraram no

mercado e passaram a ganhar rios de dinheiro, se

tornando o poderoso homem que é hoje!

BEBEL ― Dinheiro esse que o senhor não viu nem a cor.

ARMANDO ― A vida dá volta, minha neta. Hoje se tá por

cima, amanhã só Deus sabe.

Corta para:

CENA 12. QUARTO MAURO E LEILANE. INT. NOITE

Mauro e Leilane entram no quarto. Leilane tira seu sapato, ficando mais a

vontade.

LEILANE ― Um dia que começou num aniversário de

casamento, terminar num velório.

MAURO ― Realmente bem trágico. Mas a morte faz parte

da vida e temos que nos conformar.

LEILANE ― Tenho que tirar do armário meu modelito

preto, que vou usar no funeral.

Leilane vai pro seu closet.

MAURO ― (animado) Se eu estava curioso pra saber do

testamento, não vou ter que esperar mais.

Corta para:

CENA 13. MANSÃO VARELLA. ESCRITÓRIO. INT. NOITE

Francisca está na janela, distante, pensando na vida. Rômulo entra.

RÔMULO ― Vim ver como a senhora está.

FRANCISCA ― Estou bem.

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RÔMULO ― Quer que eu peça pra empregada lhe preparar

um chá?

FRANCISCA ― Não precisa.

Rômulo aproxima-se mais de Francisca e fica juntinho a ela.

RÔMULO ― O pai vai fazer muita falta, com aquele jeito de

querer controlar tudo. Sempre muito sério e

sisudo.

FRANCISCA ― O Joaquim até não podia dizer, mas ele te

amava muito, Rômulo.

RÔMULO ― O que conforta é saber que ele nem sofreu. É

terrível quando um ente querido fica em uma

cama, morrendo pouco a pouco.

FRANCISCA ― Todos devem estar estranhando minha reação,

não é? De não estar chorando, desesperada,

inconformada...

RÔMULO ― Cada um reage à morte do seu jeito, a sua

maneira.

FRANCISCA ― Meu casamento com seu pai já não era mais o

mesmo, Rômulo. (T) Quando te encontramos aqui

na porta, naquela madrugada, estávamos no meio

da nossa primeira crise. E você ter aparecido, deu

um novo fôlego pra nossa relação, apaziguando os

ânimos.

RÔMULO ― Devo muito a vocês dois, que me aceitaram na

família como um filho de verdade, me criando

com todo amor e carinho.

FRANCISCA ― Você precisa se preparar, Rômulo.

RÔMULO ― (estranha) Como assim?

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FRANCISCA ― O Mauro vai vir com tudo pra cima de você.

Hoje mesmo ele estava me perguntando sobre o

testamento. E agora, que o pai de vocês morreu,

Mauro não vai poupar esforços pra tentar te

prejudicar de alguma forma, tirar seu direito de

herdeiro.

RÔMULO ― Eu sei lidar com o Mauro, mãe. Não precisa se

preocupar.

FRANCISCA ― Mesmo assim é bom se preparar. Você tem os

mesmos direitos do que o Mauro. Não se esqueça

disso.

RÔMULO ― Não sei o que teria sido da minha vida se não

fossem vocês.

FRANCISCA ― Você pode até não ser nosso filho de sangue,

mas é nosso filho de coração, registrado em

cartório como nosso sobrenome.

Francisca dá um beijo carinhoso na testa de Rômulo e lhe abraça em

seguida. Mauro aparece na porta entreaberta, não gostando do que vê e

fechando a cara.

Corta para:

CENA 14. MANSÃO VARELLA. SALA. INT. NOITE

Mauro, com uma cara de poucos amigos, se serve de uísque.

MAURO ― Você é um intruso nessa família, Rômulo. Mas

o que me interessa agora é saber do testamento.

Sei que meu pai fez o que era o certo e me deixou

no cargo de presidente do Banco Império.

Mauro pega seu celular e disca:

MAURO ― (cel.) Quero te ver!

Corta para:

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CENA 15. QUARTO ÁGATHA. INT. NOITE

Ágatha está em frente ao espelho, terminando de se arrumar. Gabriel

aparece.

ÁGATHA ― Então, como estou?

GABRIEL ― Uma gata!

Ágatha agarra e beija Gabriel.

GABRIEL ― Vai encontrar com meu pai?

ÁGATHA ― Vou.

GABRIEL ― Queria que meu pai viesse mais vezes me ver.

Ainda nem me levou no Maracanã como prometeu.

ÁGATHA ― Seu pai trabalha muito. Mas ele te ama, assim

como eu te amo, filho.

Ágatha abraça Gabriel.

Corta para:

CENA 16. CASA ÁGATHA. SALA. INT. NOITE

Deysé está no sofá, assistindo televisão, enquanto lixa as unhas. Ágatha e

Gabriel aparecem.

ÁGATHA ― Fica bonzinho com sua avó.

GABRIEL ― Sou um anjo.

Ágatha dá mais uma sessão de beijos em Gabriel.

ÁGATHA ― Agora vai terminar seu dever.

Gabriel vai pro seu quarto.

ÁGATHA ― Tô indo, mãe.

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DEYSÉ ― Até quando vai levar essa vida de amante,

Ágatha?

ÁGATHA ― Fala baixo, mãe. Não quero que o Gabriel

escute a senhora falando assim.

DEYSÉ ― Vocês se encontram, ficam juntos, mas é pra

esposa que o Mauro sempre volta depois.

ÁGATHA ― Não quero falar disso agora, mãe.

DEYSÉ ― Nem agora, nem nunca. Parece que gosta da

posição que assumiu na vida do pai do seu filho:

ser a outra!

ÁGATHA ― Já estou atrasada.

Ágatha saí.

DEYSÉ ― Ah, se fosse eu. Já tinha resolvido essa

situação em dois tempos!

Corta para:

CENA 17. FLAT MAURO. EXTERIOR. NOITE

Corta para:

CENA 18. FLAT MAURO. QUARTO. INT. NOITE

Mauro e Ágatha seminus, deitados na cama, recostados na cama, depois de

se amarem.

MAURO ― Estava precisando relaxar. E ao seu lado eu

consigo isso.

ÁGATHA ― Eu sinto muito pela morte do seu pai.

MAURO ― Tudo bem.

ÁGATHA ― E como vai ser agora?

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Mano a Mano Capítulo 03 Pág: 14

MAURO ― O mais certo vai acontecer, que é eu assumir a

presidência.

ÁGATHA ― Vai ficar mais poderoso do que ainda já é.

MAURO ― E como está o menino?

ÁGATHA ― Fica me cobrando aquele passeio de ir ao

Maracanã que você prometeu pra ele.

MAURO ― Qualquer dia eu apareço lá e lhe faço uma

surpresa.

ÁGATHA ― Seu filho sente muito sua falta, Mauro.

MAURO ― Não me cobre, Ágatha. Você sabe bem a

minha real situação.

ÁGATHA ― Tudo bem. não vamos discutir isso. Vamos

aproveitar que estamos juntos aqui.

MAURO ― Aí eu gostei.

Mauro e Ágatha se envolvem com beijos e caricias.

Corta para:

CENA 19. BINGO CLANDESTINO. INT. NOITE

O bingo está lotado, cheio de idosos. Belarmino está jogando em uma

maquina caça níquel, quando vários polícias e um delegado entram.

DELEGADO ― É a polícia. Todo mundo quietinho, sem tentar

qualquer gracinha.

BELARMINO ― (reclamando) De novo?

Corta para:

CENA 20. MANSÃO VENÂNCIO. ESCRITÓRIO. INT. NOITE

Venâncio lê alguns documentos, tomando uma bebida. Ao fundo,

escutamos: Bolero de Ravel. Seu celular toca. Venâncio atende.

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Mano a Mano Capítulo 03 Pág: 15

VENÂNCIO ― (cel.) Alô? Pai... (surpreso) Preso?

Corta para:

CENA 21. MANSÃO VENÂNCIO. SALA. INT. NOITE

Venâncio entra sério, já falando; Belarmino logo atrás.

VENÂNCIO ― Assim não dá, pai. Já perdi as contas de

quantas vezes eu já tirei você da delegacia, preso

por causa desse maldito vício pela jogatina.

BELARMINO ― É minha distração. E além dos mais, não to

prejudicando ninguém.

VENÂNCIO ― Mas está jogando meu dinheiro pelo ralo! Até

parece que não sabe que essas maquininhas que o

senhor joga, estão todas viciadas, programas pra

fazer os outros perderam.

BELARMINO ― Você não sabe de nada, Venâncio. É tudo

questão de sorte.

VENÂNCIO ― Só sei que da próxima vez você vai ficar por lá

mesmo. Não vou perder meu tempo indo te tirar

da delegacia.

BELARMINO ― É bom que guarda seu lugar pra quando você

for, não pra me visitar, mas pra ficar preso junto

comigo!

Rafael chega.

RAFAEL ― Que discussão é essa? Lá de fora da pra ouvir.

BELARMINO ― Seu pai ranzinza. Só porque a polícia estourou

o bingo onde eu estava me divertindo.

RAFAEL ― De novo, vô?

VENÂNCIO ― E o senhor fala como se fosse normal

praticamente todo dia ser pego pela polícia.

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Mano a Mano Capítulo 03 Pág: 16

BELARMINO ― Gosto de freqüentar meu bingo mesmo e não

vou mudar. Estou velho, pra mim ir pra cadeia

não faz a menor diferença. Confesso que até me

divertindo andando de viatura.

Belarmino vai pro seu quarto. Rafael acha graça. Venâncio contrariado.

RAFAEL ― Se acalma, pai. assim vai acabar passando mal.

VENÂNCIO ― Seu avô consegue me tirar do sério.

Corta para:

CENA 22. APTO. PÉROLA. COPA. INT. NOITE

Pérola está na mesa, cercada de papéis, contas, fazendo cálculos,

concentrada. Felícia entra.

FELÍCIA ― Oi, mamãe.

PÉROLA ― Como foi o cinema?

Felícia aproxima-se de Pérola.

FELÍCIA ― Filme chato. O Rafael gostou. (curiosa) Tá

fazendo o quê aí?

PÉROLA ― Contas, minha filha. O aluguel da loja está

atrasado de novo. A crise está querendo me levar

pro buraco e acho que vai conseguir, pelo andar

da carruagem.

FELÍCIA ― Quer que eu peça o Rafael um dinheiro

emprestado?

PÉROLA ― De novo? Não, minha filha. Já bastou aquela

vez. Nem consiga olhar pro Rafael quando ele

vinha aqui, de tanta vergonha.

FELÍCIA ― Ele emprestou de coração, mãe. Tanto que nem

ficou cobrando.

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PÉROLA ― Mesmo assim. Você tem é que se casar rápido

com ele e resolver de vez nossa situação.

FELÍCIA ― Isso não depende só de mim, mãe. Não posso

forçá-lo a marcar a data do casamento.

PÉROLA ― Você podia mesmo era engravidar, arrumar um

filho. Além de acelerar esse casamento, estaria

garantindo o seu futuro e o meu também.

FELÍCIA ― Tem momentos que acho que o Rafael perdeu

aquela animação inicial do nosso relacionamento.

PÉROLA ― Ai, minha filha. Então não perca mais tempo.

Engravida logo dele e se garanta. Partidão igual o

Rafael não se arruma fácil por aí.

Corta para:

CENA 23. BARRACO REMO E MARMITA. INT. NOITE

Remo está deitado na cama, olhando pro teto, pensativo. Insert da cena

07: MARMITA ― E tu sendo muito bobo de desperdiçar uma chance

dessas, de meter a mão numa grana alta. Pensa bem, cara. Se tu tá mesmo

disposto a mudar de vida, você pega essa sua grana e some no mundo. Vai

poder fazer o que quiser. Remo fica mexido com o que Marmita fala e fica

pensativo. MARMITA ― Quem sabe não é Deus quem está te dando essa

oportunidade de mudar de vida, como você tanto quer?! Fim do insert.

Marmita entra.

MARMITA ― Então? Pensou cara?

REMO ― Me deixa. Não gosto de ser pressionado.

MARMITA ― É bom tu pensar logo. O Cacau não está com

muita paciência de ficar esperando sua decisão. É

escolher logo se tá dentro ou se está fora!

Corta para:

CENA 24. QUARTO RAFAEL. INT. NOITE

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Mano a Mano Capítulo 03 Pág: 18

Rafael está mexendo no seu notebook, quando Douglas aparece.

DOUGLAS ― Vamos dar um role, primo? Vou tocar hoje lá

no Baile Charme. Já ouviu falar?

RAFAEL ― Qual carioca que não conhece esse famoso

baile, lá em Madureira.

DOUGLAS ― Tu nunca foi, né?

RAFAEL ― Não é meu tipo de ambiente.

DOUGLAS ― Não sabe o que está perdendo. Bomba de gente

e principalmente de gatas!

RAFAEL ― Fica pra outra vez, Douglas. Vou ficar

tranqüilo hoje. Jantar e ler meu livro.

DOUGLAS ― Se mudar de idéia, aparece lá.

Douglas vai saindo.

RAFAEL ― Fico feliz de tu tá conseguindo se firmar como

DJ, Douglas.

DOUGLAS ― DJ Marcinho e até o Calvin Harris que me

aguardem.

Douglas saí. Rafael volta a se concentrar no seu notebook.

Corta para:

CENA 25. QUARTO BEBEL. INT. NOITE

Bebel, toda produzida, dá um último retoque em frente ao espelho.

BEBEL ― Gata! Tô sentindo que hoje esse baile promete!

Corta para:

CENA 26. CASA ARMANDO. SALA. INT. NOITE

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Mano a Mano Capítulo 03 Pág: 19

Armando, no sofá, assiste jornal na televisão. Bebel aparece, pronta pra

sair.

BEBEL ― Tô saindo, vô.

ARMANDO ― Vai onde?

BEBEL ― Hoje tem Baile Charme.

ARMANDO ― Se cuida, Bebel. E juízo!

BEBEL ― Não se preocupe, vô. Já estou crescida e sei me

cuidar muito bem.

Bebel dá um beijo em Armando e saí.

Corta para:

CENA 27. BAILE CHARME. EXT. NOITE

O baile está lotado. As pessoas dançam, se divertem. Douglas está na

pickup, comandando o som. Bebel chega com suas amigas e começa a

dançar. Douglas e Bebel se olham e um clima surge entre eles. Momento.

Douglas chama Bebel, através de gesto, pra subir onde ele está. Bebel não

perde tempo e vai até ele. Douglas lhe ensina a mexer na aparelhagem de

música e Bebel se diverte. Enquanto a música toca, eles improvisam uns

passinhos.

DOUGLAS ― Você é muito gata, sabia?

BEBEL ― Você também. Além de mandar muito bem

como DJ.

DOUGLAS ― Vamos trocar uma idéia depois.

BEBEL ― Anota meu número aí.

Douglas pega seu celular e salva o número que Bebel fala sem áudio.

DOUGLAS ― Nem perguntei seu nome.

BEBEL ― Bebel e o seu?

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Mano a Mano Capítulo 03 Pág: 20

DOUGLAS ― Douglas. Futuro DJ internacional.

Bebel ri. Douglas salva o nome de Bebel no celular e guarda o aparelho.

DOUGLAS ― Salvei seu contato.

BEBEL ― Vai ligar mesmo?

DOUGLAS ― Tem dúvida? Te achei muito gata.

O produtor do evento olha torto pra Douglas.

DOUGLAS ― Agora tenho que focar no trabalho, não posso

fazer feio aqui.

Bebel desce e volta a se juntar com suas amigas e a dançar com elas,

sempre de olho em Douglas, que foca sua atenção nela, ao mesmo tempo

animando o baile.

Corta para:

CENA 28. QUARTO FRANCISCA. INT. NOITE

Francisca está sentada na cama, tendo no colo uma caixa, com vários fotos

de família. Pega uma, onde aparece com Joaquim, no dia do casamento

deles, cortando o bolo. Instantes.

FRANCISCA ― Em todos esses anos nunca consegui me

apaixonar por você, Joaquim, te amar de verdade.

Te peço perdão por isso, pois sei que o amor que

nutria por mim era verdadeiro, mas não era

correspondido. Esteja você onde estiver terá meu

respeito e carinho.

Vânia bate na porta.

FRANCISCA ― Pode entrar.

Vânia entra, carregando uma bandeja com chá e com alguns sequilhos.

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Mano a Mano Capítulo 03 Pág: 21

VÂNIA — Mandei preparar um chá de camomila pra

senhora e resolvi eu mesma trazer, com aqueles

biscoitinhos que sei que a senhora gosta!

FRANCISCA — Obrigado, Vânia! (carinhosa) Minha nora mais

querida! Pode colocar aqui, por favor.

Vânia coloca a bandeja em cima da cama, perto de Francisca, que toma um

pouco do chá. Vânia começa a mexer nas fotos da caixa.

VÂNIA — Vendo algumas fotos, dona Francisca?

FRANCISCA — É! Me bateu uma nostalgia, vontade de

relembrar momentos que o passado levou e o

tempo não trará mais de volta!

VÂNIA — Acredito que depois de uma perda, temos a

necessidade de preencher o vazio que ela nos

deixou com momentos vividos, passados ao lado da

pessoa que se foi deste mundo.

FRANCISCA — No meu caso, esse vazio que tenho no coração,

já é uma marca antiga, provocada muito antes de

Joaquim morrer. (T) Penso que ele continuará

assim para sempre, faltando o pedaço que sumiu no

mundo e que seria o encaixe perfeito nesse espaço

vazio!

Corta para:

CENA 29. CEMITÉRIO PARTICULAR. EXT. DIA

Abrimos a cena com o cortejo com o caixão de Joaquim, seguindo pelo

cemitério, em direção a cova. Clima fúnebre. O padre vai à frente,

encomendando o corpo. Logo atrás, juntos: Francisca com Otávio; Rômulo

e Vânia; Mauro com Leilane; Luísa com Lucas. Corta para o corpo

descendo na cova. Todos jogam uma rosa em cima do caixão, antes dos

coveiros começaram a jogar a terra.

Corta para:

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Mano a Mano Capítulo 03 Pág: 22

CENA 30. MANSÃO VARELLA. EXT. DIA

Os carros de Rômulo, Mauro e Lucas chegam. Descem respectivamente:

Rômulo, Vânia e Francisca; Mauro, Leilane e Otávio. Eles entram na

mansão. Lucas e Luísa descem e ficam conversando.

LUCAS ― Quer dar uma volta?

LUÍSA ― Quero dar um mergulho no mar. Estou

precisando recarregar minhas energias, depois

dessa perda repentina do meu avô.

LUCAS ― Vamos sim. Vai te fazer bem.

LUÍSA ― Não vai tirar a tristeza da perda, mas vai aliviar

um pouco.

LUCAS ― Estarei sempre do seu lado, viu. Não se

esqueça disso.

LUÍSA ― Eu sei, Lucas. Você é um grande amigo.

Luísa dá um abraço em Lucas.

LUCAS ― Agora deixa eu me trocar. Não quer entrar?

LUCAS ― Vou te esperar aqui fora.

LUÍSA ― Não demoro.

Luísa vai pra dentro da mansão. Lucas fica lhe observando.

LUCAS ― Você um dia ainda vai ser minha, Luísa.

Corta para:

CENA 31. MANSÃO VARELLA. SALA. INT. DIA

Francisca, Rômulo, Vânia, Mauro, Leilane, Otávio.

MAURO ― Pronto, meu pai agora está morto e enterrado.

RÔMULO ― Que maneira mais fria de dizer, Mauro.

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Mano a Mano Capítulo 03 Pág: 23

MAURO ― E falei alguma mentira?

FRANCISCA ― Vou pro meu quarto descansar um pouco.

Francisca vai pro seu quarto.

MAURO ― (frio) Agora é pensar no testamento.

Luísa entra, a tempo de escutar o que o pai fala:

LUÍSA ― Nem esperou o corpo do meu avô esfriar

direito pra já pensar no testamento, pai?

Mauro e Luísa se encaram.

Corta para:

FIM DO CAPÍTULO