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NOVAS TECNOLOGIAS E NOVAS TÉCNICAS NO CUIDADO DOS E STOMAS NEW TECHNOLOGY AND TECHNIQUEÇ ON HOMAÇ CARE Isabel Umbelina Ribei Cesaretti 1 RESUMO: A atuação competente do enfermeiro, estomaterapeuta ou não, na seleção dos dispositivos utilizados pela pessoa ostomizada. só se torna possível com o respaldo dos avanços tecnológicos alcançados pelos sistemas coletores especificos ao cuidado dos estomas e que estão disponíveis em nosso mercado. Com o avanço tecnológic o alcanç ado e associado à evolução proporcional da técnic a, consegue-se impr imir maior qualidade no cuidado dos estomas, o que, em conseqüên cia. refletirá na qualidade de vida da pessoa ostomizada. Consideran do a técnica no cuidado dos estomas, destac amos que o enfermeiro. estomaterapeuta ou não, deve estar familiarizado c om os si stemas coletores existentes no mercado para que possa se l ec i on á -los . adequadamente, à pessoa ostomizada.Os avanços tec nológic os bem como a evolução da técnica no cuidado dos estomas respondem pel a harmonia na tríade ostomia/pele periestomal/ si stema colet or usado,facilitando o autocuidado, melhorando a q u a li dad e de vid e e embasando não só a reabilitação física, mas també m a ps i c ol ó g i c a e social da pessoa ostomizada. UNITERMOS: Co l ostomi a - Equipamentos e provisões - Qualida de de vi da. INTRODUÇÃO A adaptação ao estoma depende, em gr and e parte, do domínio que a pessoa ostomizada te m sobre o autocuidado do estoma e pele peries tomal. Por isso, em todas as fases do tratamento c i r úrg i co gerado r de l ostomia , a trí ade ostomia-pele periestomal-sistemas colet ores u sado s no cuid 4 do deve ser uma constante no planejamento da assistênc ia de enfermage m ao pacient e E. mais especificamente no pós-operatório, a uti l i z a çã o do si stema col etor ad equado deve estar associada ao ensino do cuida do com o est oma e p el e p eriestomal bem como do manuseio d o sistema coletor e, aind a, à ex ecução dos procedimentos ou habilidades básicas ao cuida do pela próp ria pes soa ostomizada ou familiar responsável (Santo, 1986 a.b) . Embora este s a specto s 1 Enfermeira, esto materapeut a, docent e do Depaamento de Enfermag em da Universidade Fede ral de São Paulo. R. Bras. Enferm. Brasília, v. 49, n. 2 p. 183-192, abr.l jun . 1996 183

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NOVAS TECNOLOGIAS E NOVAS TÉCN ICAS NO CUI DADO DOS ESTOMAS NE.:W TE.:CHNOLOGY AND TE.:CHNIQUE.:Ç ON HOMAÇ CARE.:

Isabel Umbelina Ribeiro Cesaretti 1

RESUMO: A atuação competente do enfermeiro, estomaterapeuta ou não, na seleção dos dispositivos utilizados pela pessoa ostomizada. só se torna possível com o respaldo dos avanços tec nológicos alcançados pelos sistemas coletores especificos ao cuidado dos estomas e que estão disponíveis em nosso mercado. Com o avanço tec nológico alcançado e associado à evolução proporcional da técnica, consegue-se imprimir maior qualidade no cuidado dos estomas, o q u e , em conseqüênc ia. refletirá na qualidade de vida da pessoa ostomizada. Considerando a

técnica no cuidado dos estomas, destacamos q u e o enfermeiro. estomaterapeuta ou não, deve estar fam iliarizado com os s istemas coletores existentes no mercado para que possa se l ec ion á -los . adequadamente, à pessoa ostomizada.Os a v a n ç o s tec nológicos bem

como a evolução da técnica no cuidado dos estomas res p o n d e m pela

harmonia na tríade ostomia/pele periestoma l /s istema coletor usado,facilitando o autocuidado, melhorando a q ua l idade de v ide e embasando não só a reabilitação fís i c a , m a s tam bé m a ps i co l óg i ca e social da pessoa ostomizada.

U N ITERMOS: Co lostomia - Equipamentos e prov isões - Qual idade de v ida .

INTRODUÇÃO

A adaptação ao estoma depende , em gra n de p a rte , do d o m í n i o q u e a

pessoa ostomizada tem sobre o autocuidado d o estoma e pe le periesto m a l . Por

i sso, em todas as fases do tratamento c irúrg ico g e ra d o r de losto m i a , a tría de

ostomia-pele periestomal-s istemas coletores usados n o cu id4d o deve s e r u m a

con stante n o planejamento da a s s i stência d e enfermagem ao pac iente E . m a i s especificamente n o pós-operatório, a uti l ização d o s i stema coleto r a d e q u a d o

deve estar associada ao e n s i n o d o cu i d a d o com o e stoma e pe le p e r i e s to m a l

bem como do man u seio d o s istema coletor e , a i n d a , à execução d o s

procedimentos ou habi l idades básicas a o c u i d a d o pe la pró p ria pessoa

ostomizada ou fami l iar responsável (Santo.s , 1 986 a . b) . Em bora estes a s pectos

1 Enfe rmeira , estomaterapeuta , d ocente do Depa rt a m ento de E nfe rm agem d a Un iversidade Federa l de São Pa u l o .

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sejam fundamentais à reabi l itação, o enfermeiro, �stomaterapeuta ou não, deve se lembrar de que a d isponib i l idade da pessoa ostomizada ao aprendizado está relacionada, também, a outros fatores físicos e emocionais .

Segundo Erwin-Toth; Doughty ( 1 992) , o enfermeiro estomaterapeuta ou enfermeiro envolvido na assistência à pessoa ostomizada tem atuação fundamental na seleção do s istema de bolsa , tipos de barrei ra protetora e produtos acessórios a serem uti l izados. Esta seleção é um processo complexo , que deve ser embasado na aval iação das necessidades ind ividuais da pessoa ostomizada e das características do seu estoma. Referente à pessoa ostomizada, as necessidades a serem aval iadas incluem o contorno abdominal , a destreza manual , acuidade visual , atividade física que rea l iza e a preferência individual quanto ao tipo de sistema coletor. Quanto às características do estoma que influenciam no processo de seleção do sistema coletor, destacam­se a construção do estoma, o tamanho em mi l ímetros, o n ível de protrusão , o tipo de estoma e , conseqüentemente , a consistência do efluente . Todas estas variáveis são de suma importância para o engajamento no autocuidado.

Por outro lado, vale destacar que a atuação competente do enfermeiro , estomaterapeuta ou não , na execução desta atividade de assistência ao ostomizado, só se torna possível com o respaldo dos avanços tecnológicos alcançados pelos sistemas coletores específicos ao cuidado dos estomas e que estão d isponíveis em nosso mercado.

Falando em avanço tecnológico, a década de 1 950 marca o desenvolvimento da bolsa coletora descartável (He l ios, 1 995 a , b) . A partir de então, as indústrias fabricantes vêm-se esmerando, cada vez mais , para desenvolver e aprimorar os conhecimentos técn icos e científicos relacionados aos sistemas coletores para ostomias. Como não poderia deixar de ser, ta is avanços se fazem refleti r na técn ica do cuidado dos estomas, entendendo-se esta como "maneira , jeito e habi l idade especia l de executar" o procedimento básico necessário ao cu idado (Ferreira, 1 986). Ao meu ver, com o avanço tecnológico alcançado e associado à evolução proporcional da técn ica , consegue-se imprimi r maior qual idade ao cu idado dos estomas o que , em conseqüência , refleti rá na qua l idade de vida da pessoa ostomizada .

Embasada neste enfoque, destacaremos a lguns dos avanços tecnológicos alcançados pelos s istemas coletores comercial izados em nosso mercado e as poss ib i l idades técnicas no cuidado dos estomas.

TECNOLOGIAS E TÉCNICAS NO CUIDADO DOS ESTOMAS

Para operacional izar o objetivo a que nos propusemos, del ineamos a lgumas asserções , as quais passamos a comentar:

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• A tecnologia e a técnica no cuidado dos estomas tri lham (devem trilhar) caminhos convergentes que culminam na qualidade do cuidado.

Os avanços tecnológicos trouxeram modificações importantes nos s istemas coletores - bolsas de ostomia, barrei ra protetora de pele e produtos acessórios -usados no cuidado dos estornas, modificações estas que estão contribu indo para melhoria da qual idade de vida da pessoa ostomizada.

Bolsas de ostomia - É sabido que as bolsas de ostomia são recursos

ind ispensáveis ao ostomizado . Para os estornas i ntestina is , as bolsas são

grupadas em duas categorias fundamenta is : aberta ou drenável e fechada, sendo que, tanto uma quanto a outra , são apresentadas no sistema de uma e duas peças.

O sistema de duas peças é composto por uma placa com aro/flange acoplado, que se adere à pele periestomal , e de uma bolsa com sistema de encaixe que se adapta perfeitamente a este , oferecendo segurança . Este encaixe contém l ingüetas laterais para adaptação de cinto elástico e uma superior para faci l itar a remoção da bolsa . A indústria fabricante estabelece o l imite de recorte do diâmetro interno do anel , considerando a d istância entre este e o aro/flange de pelo menos 0 .5 cm , a fim de que não haja interferência na segurança do d ispositivo .

Tanto o sistema de uma como o de duas peças pode ser rígido ou flexível . Referente ao s istema de duas peças, a placa ríg ida é aquela intei ramente de resina sintética , enquanto que a flexível contém resina sintética apenas na parte interna do aro/flange, sendo a parte externa confeccionada de adesivo microporoso (São Paulo, 1 993) . Outra consideração no sistema de duas peças é que o aro/flange pode ser fixo ou "flotante" .

As bolsas coletoras apresentam características comuns relacionadas ao plástico , barrei ra protetora e adesivo uti l izados na confecção. O plástico é anti­odor, h ipoalergênico , não tóxico e si lencioso ao contato com a roupa. O adesivo, confeccionado de materia l microporoso ou de 38 geração, permite a perspiração cutânea; é h ipoalergênico e apresenta adesividade segura e prolongada . Em relação às barrei ras protetoras , acopladas ou não à bolsa , são dois os tipos: barrei ra protetora de resina mista e de resina Sintética (São Paulo, 1 993) . Com estas características básicas , o s istema coletor consegue resguardar as condições de segurança , d iscreção e suavidade.

Tanto a bolsa fechada quanto a drenável , no s istema de uma e duas peças, apresenta características especiais relacionadas ao plástico , daí serem transparentes ou opacas ; à barreira , serem pré-cortadas ou recortáveis , planas

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ou convexas , e com barre i ra mista e s intética . As vantagens e a ap l icab i l idade no cuidado serão comentados mais adiante .

Barre i ras protetoras - São d ispos it ivos uti l izados para proteger a pele periestomal do contato com o efluente , atuando como uma ' pele artif icia l " entre a pele periestomal e a bolsa. Atuam , a inda , no tratamento da pele lesada .

A barrei ra protetora de res ina m ista é resu ltante da associação de barrei ra s intética (carboxi-meti l-ce lu lose) à natura l (karaya) , combinando ass im os efeitos de res istência e de cicatrização , e aumentando a res istência desta ao calor. A res ina mista , além de in ib i r o crescimento bacteriano , reduz a i rritação da pele pelo poder de absorção . É apresentada sob a forma de anéis acoplados às bolsas , e em pó (Hollister, 1 993) . A de res ina s intética é composta de gelatina , pectina e carbo-meti l -ce lu lose sódica . Tem maior adesividade, mantém as condições f is iológ icas da pele em termos de temperatura , umidade e p H ; com isso, protege a pele periestomal de agentes nocivos e acelera o processo de cicatrização , quando uti l izada sobre a pele dan ificada. Este t ipo de barrei ra é encontrado associado ao s istema de bolsa de uma e duas peças , ou isolado , na forma de placas , pasta e pó.

Produtos acessórios - Grande número de produtos acessórios esta d isponível para dar segurança e conforto à pessoa ostomizada. Os principais são: cinto elástico ajustáve l , pres i lha ou clamp, gu ia de mensuração do estoma, fi ltro avulso, s istema de i rrigação e s istema oclusor da colostomia .

Do ponto de vista da técnica no cuidado dos estomas, é imprescind ível que o enfermeiro , estomaterapeuta ou não, esteja fami l iarizado com os s istemas coletores d isponíve is , para que possa selecioná-los adequadadamente à pessoa ostomizada . A i ntegração de barrei ra protetora de pele e produtos acessórios ao s istema coletor, em uso pelo paciente , é outro aspecto para o qual deve estar fami l ia rizado, a fim de estabelecer o s istema coletor efetivo , de acordo com as necessidades da pessoa ostomizada e características de seu estoma.

• A tecnologia permite a precisão da técnica no cu idado dos estornas

Apresentados os avanços tecnológicos , torna-se mais fáci l mostrar como estes permitem a precisão da técnica no cuidado dos estomas.

A indicação do s istema coletor drenável ou fechado, em uma ou duas peças , está relacionado ao volume e cons istência do efluente e l im inado pela ostomia. Sendo assim , o s istema de uma peça, drenáve l , está recomendado para pacientes com i leostomia ou colostomia d i re ita (D) , pelo volume e consistência l íquida do efluente . Este s istema apresenta como vantagem a d iminuição na frequência de troca e , com isso, d iminu i o risco de lesar a pele

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periestomal , bem como contribu i para reduzir os custos. A bolsa drenável pode , também, ser ind icada para a colostomia esquerda (E) , quando o paciente não tem o intestino regulado por i rrigação ou dieta , ou mesmo para atender à preferência ind ividual (Erickson, 1 987; Erwin -Toth,' Doughty, 1 992) .

A bolsa fechada , no sistema de uma peça , de tamanho regu lar,está ind icada para uso em pacientes que possuem estoma local izado no hemicólon esquerdo, em virtude da característica do bolo fecal nesse segmento intestina l e , especificamente, para aqueles que regularam o intestino, por meio de i rrigação ou d ieta (bolsa regular ou min i-bolsa) . Este tipo de sistema é provido de fi ltro de carvão ativado, que permite a e l iminação dos gases já desodorizados.

O sistema de duas peças, drenável ou fechado, tem a mesma indicação do sistema de uma peça , ou seja , para pacientes i leostomizados ou portadores de colostomias loca l izadas no hemicólon d i reito (D) e esquerdo (E) , respectivamente. Porém, este sistema apresenta algumas vantagens em relação ao de uma peça , que incluem a possib i l idade de trocar a bolsa sem deslocar a barrei ra da pele periestoma l , a faci l idade de acesso ao estoma para observação e cuidado, e capacidade para visual izar e central izar o estoma no momento da troca de sistema, além de reduzir o número de trocas (Erwin-Toth; Doughty, 1 992 ; CONVATEC, s. d . ) . Já existem trabalhos relacionados à relação custo-benefício entre estes dois sistemas (Eusébia "et ai" , 1 985; Fitzpatrick, 1 990. )

O sistema de bolsa com barreira flexível tem indicação para uso nos estomas loca l izados em superfície i rregular e em mulher ostomizada grávida. É menos evidente, sendo preferido por a lguns ostomizados para viajar ou real izar atividades físicas . O sistema com barreira rígida exige superfície abdominal relativamente plana para garantir boa aderência .

O s istema de duas peças com o aro/flange flutuante está indicado ao paciente ostomizado no pós-operatório imediato e mediato, quando o abdome ainda está sensível . A possibi l idade de introduzir os dedos sob o aro/flange, para o encaixe da bolsa , evita que o estoma e a área periestomal sejam pressionados durante a colocação do s istema coletor (Hollister, 1 993; Convatec, s. d . )

As bolsas coletoras transparentes e opacas só se d iferenciam em termos de visibi l idade do estoma e do efluente el iminado. A transparente está , especialmente, indicada para uso no pós-operatório , pois possibi l ita a aval iação contínua tanto do estoma quanto do efluente . Algumas pessoas ostomizadas preferem continuar a usá-Ia, dada a facil idade de visual izar o estoma ao posicioná-Ia. A bolsa opaca ganha preferência dos ostomizados numa fase mais tardia , onde a visibi l idade do estoma já não é tão importante ou, também, por evidente razão estética (Hélios, 1 995 a; Erwin-Toth; Doughty, 1 992) .

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o sistema coletor pré-cortado está recomendado para pessoas ostomizadas com destreza manual ou acuidade visual reduzidas, ou capacidade l imitada de aprendizado. Por outro lado, a sua ind icação é apropriada ao estoma de formato regu lar. Ao contrário , a bolsa recortável é ideal para uso no estoma de formato i rregu lar, dada a poss ib i l idade de se criar uma abertura adequada ao estoma, a partir do molde desenhado de seu formato e , com isto , faci l itar ou permit ir melhor ajustamento e aderência do sistema coletor. A ind icação deste sistema é imprópria a ostomizados com problemas relacionados à habi l idade manual , acuidade visual e capacidade de aprendizado (Erwin-Toth; Dought, 1 992) .

Em s íntese , a recomendação do sistema coletor pré-cortado ou recortável está relacionada às condições de destreza , habi l idade e acuidade visual da pessoa ostomizada, bem como à regularidade ou i rregularidade na forma do estoma. Nos primeiros seis meses de pós-operatório , seria ideal o uso do sistema recortáveI em virtude da possib i l idade de ajustes mais freqüentes ao tamanho do estoma, dada a regressão gradual do edema fisiológ ico. O estoque deste tipo de s istema chega a ser vantajoso , em institu ições de menor recurso econômico, porque é exigido suprimento menor para atender as necessidades de pacientes com estornas de tamanhos e formatos diferentes, se bem que são mais caros por possu írem barrei ra maior de proteção à pele.

A barreira protetora de pele, de resina s intética , está ind icada para pessoas com i leostomias e colostomias d i re ita (O) , por ser esta mais resistente à ação de efluente l íquido, água e temperatura ambienta l elevada, sendo mais indicada para cl imas tropicais . Este tipo de barreira , na forma de pasta , além de proteger a pele entre o estoma e a barrei ra da bolsa, previne a infi ltração do efluente , porque "preenche pregas , dobras e outras i rregularidades da pele periestomal" . Com isto , aumenta a resistência da barrei ra sintética do s istema coletor, prolongando a sua durabi l idade (Convatec, s. d . ) . A barrei ra em pó absorve a umidade da pele periestomal escoriada e úmida, e reduz o risco de i rritação cutânea por prevenir a i nfi ltração do efluente , promovendo uma camada protetora .

A barrei ra mista pode ser ind icada para pessoas com colostomia d i re ita (O) ou, até mesmo, para i leostomizados, mas a sua durabi l idade é muito menor quando comparada à sintética . Nos portadores de colostomia esquerda (E) não há exigência de uso de barreira protetora de pele , a não ser naqueles com alguma compl icação como, por exemplo, a dermatite actínica .

Com base nesses aspectos, ressalta-se a importância do enfermeiro , estomaterapeuta ou não, selecionar o sistema coletor com base na necessidade individual da pessoa ostomizada e características do seu estoma. Ao deixar o hospita l , o ostomizado já deve estar fazendo uso do sistema coletor adequado.

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• A tecnologia facil ita a técnica no cuidado dos estornas complicados

Denominam-se estomas complicados aqueles nos quais se encontram dificuldades para adaptação do sistema coletor. São exemplos: os estomas local izados entre dobras da pele ou gordura , ou em superfícies irregulares do abdome, aqueles rentes à pele abdominal ou abaixo de seu nível , com prolapso de alça ou presença de hérnia paracolostômica, porque dificultam a adaptação ou interferem na aderência do sistema coletor, causando infiltração ou vazamento do efluente . Além disso, os estomas rentes à pele ou retraídos determinam a decomposição precoce da barreira protetora , e os prolapsados constituem um fator de risco ao estoma, a lém da insegurança que causam à pessoa ostomizada (8roadwell et a l , 1 982) . A seleção cuidadosa do sistema coletor visa a manter a aderência segura deste por um período mínimo de 24 horas.

Do ponto de vista da técn ica do cuidado, para cuidar da pessoa ostomizada com estoma complicado, a enfermeira deve aval iar o estoma quanto ao n ível de protrusão, ponto e ângulo de esvaziamento , as condições da pele periestomal e a superfície adesiva existente para a instalação do sistema coletor, de preferência com o paciente deitado e sentado, a fim de aval iar a necessidade de modificação do sistema em uso ou a técnica uti l izada para a sua apl icação .

A bolsa coletora , com barreira convexa , está recomendada para o cuidado dos estomas retraídos , local izados entre dobras de pele ou em superfície abdominal i rregular, porque a face convexa da barreira protetora aumenta o n ível de protrusão do estoma e , com isso, reduz o risco de infi ltração ou vazamento ( Convatec, s . d . ) . No estoma rente à pele, mas em abdome de superfície regular, pode-se indicar a bolsa com barrei ra plana .

A integração de barre i ra protetora de pele, em pasta , ao sistema de bolsa indicado, promove o nivelamento da pele periestomal , protegendo-a e auxi l iando no prolongamento do tempo de permanência deste sistema. A uti l ização do cinto elástico ajuda a promover suporte adicional ao ostomizado com abdome globoso, ou com estoma compl icado, proporcionando maior segurança ao sistema coletor. Pode-se associar a este o uso de aro plástico , caso o s istema ind icado não disponha de hastes para fixação de cinto .

O estoma prolapsado deve ser mantido em bolsa drenável com capacidade suficiente para acomodar a alça prolapsada e o efluente .O uso do sistema de duas peças deve ser feito com cautela neste t ipo de compl icação, para evitar o pinçamento da alça entre as partes do sistema coletor (Erwin- Toth; Doughty, 1 992) .

Mesmo com o uso d a nova tecnologia e apl icando uma boa técn ica no cu idado dos estomas compl icados, a lgumas vezes se torna necessária a ind icação de correção cirúrg ica . A qual idade de vida da pessoa ostomizada é sempre a meta a ser priorizada.

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• A tecnologia e a técnica asseguram a melhoria da qualidade de vida da pessoa ostomizada

A abordagem sobre os d ispositivos usados no cuidado dos estomas procurou mostrar os avanços tecnológicos alcançados e os benefícios que estes �rouxera� à técni� do cuidado dos estomas, contribu indo para a melhona da qualidade de Vida da pessoa ostomizada .

Na abordagem desta asserção, queremos destacar a uti l ização do método �e a�to-i rrigação para conseguir o "controle" programado da el im inação Intestinal e o uso do oclusor da ostomia, obtendo a "continência i ntermitente" da colostomia. Estes métodos têm sua indicação restrita a pessoas com colostomias terminais , loca l izadas no hemicólon esquerdo (E) , sendo exigido um período de treinamento , real izado pelo enfermeiro estomaterapeuta , sob indicação médica . As vantagens obtidas pelas pessoas ostomizadas que deles fazem uso são amplamente d iscutidas na bibl iografia consultada (Santos, 1 989; Burcharth et a i , 1 986; Cerdan et ai , 1 989) .

CONCLUSÃO OS avanços tecnológicos e a evolução da técnica no cuidado dos estomas

respondem pela harmonia na tríade ostomia / pele periestomal I sistema coletor usado, faci l itando o autocuidado, melhorando a qual idade de vida e embasando não só a reé!bi l itação física , mas também a psicológica e socia l da pessoa ostomizada . E da competência do enfermeiro , estomaterapeuta ou não, e dos demais componentes da equipe interdiscip l inar desenvolverem um trabalho coeso no processo de ajuda à pessoa ostomizada para o alcance da reabi l itação, e a se esforçarem para contribu ir na formação continuada do pessoal envolvido na assistência dessa cl ientela .

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ABSTRACT: The effective nurse role, stomatherapist or not. to select the devices used by the ostomy patient is only poss ib le with the support of advanced technological improvements reached by the specific col lecting syslems in the stoma care and which are commercia l ly avai lable. With technological advances reached and associated with the proportional technical evolution, it is poss ible to give greater care to the stomas which wil l be u l timately reflected in the ostomy patient qual ity of l i fe. Considering the technique in stoma care, we emphasise that the nurse, stomatotherapist or not. must be fami l iar with the col lecting systems commercial ly avai lable in order to make an adequate selection for the ostomy patient . Technological advances as wel l as technical evolution in the stoma care are respons ib le for the harmony of the triad ostomy/peristomal skin/col lecting system used, faci l itating self-care, improving qual ity of l ife and giv ing support not only to the physical rehabi l itation but a lso to the ostomy patient psychological and social l ife .

KEYWORDS: Colostomy - Equipment and provis ions e l ife qual ity.

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1 2 . SANTOS,V . L . C . G . Previsão de equipamentos específicos para assistência

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das Cl in icas da Faculdade de Medicina da U niversidade de São Paulo .

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dos . R. Paul. de Enferm. , v.6 , n . 3 , p . 1 1 6- 1 1 9 , 1 986b .

1 4 . SANTOS, V .L .C .G . Estudo sobre os resultados da irrigação em colos­

tomizados submetidos a um processo de treinamento sistematizado,­

São Paulo , 1 989. 90p. Dissertação (Mestrado) - Escola de Enfermagem,

U niversidade de São Paulo .

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CADAIS , 1 993. [não pag inado] .

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