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Notas de Aula Aula 8 – 04/11/2013 8. CRESCIMENTO ECONÔMICO E SAÚDE Crescimento x Desenvolvimento SCATOLIN, 1989, apud OLIVEIRA, 2002, p. 38: O debate acerca do desenvolvimento é bastante rico no meio acadêmico, principalmente quanto a distinção entre desenvolvimento e crescimento econômico, pois muitos autores atribuem apenas os incrementos constantes no nível de renda como condição para se chegar ao desenvolvimento, sem, no entanto, se preocupar como tais incrementos são distribuídos. Deve se acrescentar que apesar das divergências existentes entre as concepções de desenvolvimento, elas não são excludentes. Na verdade, em alguns pontos, elas se completam”. Por Paulo Ricardo de Avelar [email protected]

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Notas de Aula

Aula 8 – 04/11/2013

8. CRESCIMENTO ECONÔMICO E SAÚDE

Crescimento

x

Desenvolvimento

SCATOLIN, 1989, apud OLIVEIRA, 2002, p. 38:

“O debate acerca do desenvolvimento é bastante rico no meioacadêmico, principalmente quanto a distinção entre desenvolvimento ecrescimento econômico, pois muitos autores atribuem apenas os incrementosconstantes no nível de renda como condição para se chegar ao desenvolvimento,sem, no entanto, se preocupar como tais incrementos são distribuídos. Devese acrescentar que apesar das divergências existentes entre as concepções dedesenvolvimento, elas não são excludentes. Na verdade, em alguns pontos, elasse completam”.

Por Paulo Ricardo de [email protected]

Somente a partir da década de 1980 é que as relações entre saúde edesenvolvimento passaram a ser investigadas mais sistematicamente.

Na relação entre saúde e desenvolvimento, o debate não deve restringir-sesomente às questões consideradas pela economia da saúde, uma vez que seriamignoradas variáveis de suma importância para esta análise, referentes ao padrãonacional de desenvolvimento, à concentração regional e pessoal de renda e,sobretudo, à fragilidade da base produtiva e de inovação em saúde.

A saúde precisa ser considerada a partir de uma abordagem estruturalistaque enfatize os fatores histórico estruturais característicos da sociedade brasileira,sua inserção internacional, assim como sua relação com uma difusãoextremamente assimétrica e, muitas vezes, dissociada das necessidades locais deprogresso técnico e conhecimento (Gadelha e Costa, 2011).

É reconhecida a inadequação do uso dos conceitos “crescimentoeconômico” e “desenvolvimento” como sinônimos, uma vez que o primeiro éapenas uma das dimensões do segundo. Conforme afirmou Schumpeter (1982):“não será designado aqui como um processo de desenvolvimento o merocrescimento da economia (...), pois isso não suscita nenhum fenômenoqualitativamente novo (...)”.

Compreende-se, ademais, o desenvolvimento “em termos dauniversalização e do exercício efetivo de todos os direitos humanos: políticos, civise cívicos; econômicos, sociais e culturais; bem como os direitos coletivos aodesenvolvimento, ao ambiente etc.” (Sachs, 2004, p.37).

O desenvolvimento deve contemplar, portanto, vertentes sociais,econômicas, além das ambientais e, no caso brasileiro particularmente,territoriais, de modo a garantir a sustentabilidade do exercício dapotencialidade e bem-estar humanos.

8.2. Fatores do Crescimento

Crescimento econômico refere-se a um aumento no produto total naeconomia. Ele é definido por alguns como sendo um aumento do PIB real percapita.

O crescimento econômico moderno é o período no qual verifica-se umrápido e sustentado aumento no produto real per capita que inicia, no mundoocidental, com a Revolução Industrial.

Crescimento implica em saber quais as razões que tornam uma sociedademais produtiva. Segundo Angus Maddison, haveria quatro razões básicas:

(i) o progresso tecnológico;

(ii) os investimentos em capital humano;

(iii) os investimentos em capital físico e;

Por Paulo Ricardo de [email protected]

(iv) a eficiência na organização econômica que se traduz na estrutura deincentivos que induzem os indivíduos a inovar e acumular.

Fonte: Maddison (1995)

FUNÇÃO DE PRODUÇÃO:

Y = f (K,N)

Modelo de Solow assume que a função de produção tem 4 variáveis: oproduto (Y), o capital (K), o trabalho (L) e o conhecimento (A), de maneira que:

f [Y(t)] = f [K(t), A(t)*L(t) ]

Mankiw, Romer e Weil (MRW -1992) foram pioneiros na introdução docapital humano na literatura de crescimento econômico, ao reformularem oconceito de capital presente no modelo de Solow - 1956 - onde a taxa decrescimento do produto por unidades de eficiência de trabalho é a resultante deduas forças opostas: por um lado, a maior acumulação de capital físico,determinada pela taxa de poupança da economia (exógena e constante) tende aaumentar a taxa de crescimento; por outro lado, parte do aumento do estoque decapital serve somente para repor a depreciação física do capital e para manterconstante o estoque da capital por unidades efetivas de trabalho.

Esses autores ampliam o conceito de capital usado por Solow: o capitalembutido na função de produção não representa somente capital físico, quepossui uma participação na renda de 30%, mas também reflete os efeitos docapital humano. A soma dos dois participa com 75% da geração da renda. Ocapital humano é entendido basicamente como escolaridade por eles.

As diferenças nas rendas per capita e nas taxas de crescimento de transiçãoentre os países seriam também explicadas pelas diferenças de escolaridade. Oritmo da convergência também aumentaria, com a inclusão do capital humano naanálise.

Por Paulo Ricardo de [email protected]

A relação entre o estado de saúde médio da economia e o estoque decapital humano tem sido a forma mais tradicional de se incorporar o estado desaúde em modelos de crescimento.

O estado de saúde é considerado parte do estoque de capital humano,alterando diretamente a capacidade produtiva dos indivíduos. O estado de saúdeindividual afeta a capacidade produtiva através de efeitos diretos na produtividadedo trabalho, afetando a oferta de trabalho por parte dos trabalhadores.

Países com maiores níveis de saúde teriam maior renda per capita deequilíbrio e maior taxa de crescimento. Seria ainda mais rápida a convergênciapara os estados estacionários.

Cabe ainda salientar que a preocupação em discutir o impacto da saúdesobre a oferta de trabalho enriquece os estudos de crescimento baseados nomodelo de Solow e suas modificações.

Taxa de depreciação do estoque de capital humano está diretamenteassociada ao nível de saúde da população. Ou seja, o “estoque” de saúde dosindivíduos diminui ao longo do tempo.

Essa taxa de depreciação pode ser maior ou menor dependendo do níveltecnológico da sociedade que permite a introdução de novos tipos de cuidados emedicamentos, do acesso aos serviços médicos, do perfil demográfico(distribuição etária e por sexo), dos hábitos de vida e consumo...

Tal taxa de depreciação do capital humano, existe ainda uma relação entreessa taxa e o investimento líquido em capital humano. Sociedades com taxa dedepreciação mais elevadas, às quais podem estar refletidas em níveis maiselevados de mortalidade, por exemplo, tendem a apresentar menor nível deinvestimento em educação, uma vez que o custo desse investimento pode não sercompensado. Ou seja, diante de uma expectativa de vida menor, os indivíduostendem a tomar uma decisão por menor nível de investimento em educação.

O nível de saúde individual depende não só do próprio estado de saúde doindivíduo, como também do estado de saúde médio da sociedade.

Esse é o caso de doenças transmissíveis, doenças evitáveis por saneamentobásico, doenças evitáveis por vacinação. Essas “externalidades”(doenças/epidemias) fazem com que a saúde afete o crescimento econômico, nãosó através de seu nível médio, mas também através da distribuição de saúde eacesso aos serviços médicos ao longo dos grupos populacionais. Esse efeito é maispresente principalmente em países menos desenvolvidos, nos quais se observauma relação estreita entre o estado de saúde e pobreza.

Ou seja, o estado e saúde afeta positivamente o crescimento econômico,especialmente através de sua interação com a escolaridade. Localidades commaiores taxas de mortalidade infantil apresentam baixa produtividade do trabalhoe elevada depreciação do capital humano.

Por Paulo Ricardo de [email protected]

8.3. Fatores do Desenvolvimento

O desenvolvimento econômico de um país é o processo deacumulação de capital e incorporação de progresso técnico ao trabalho e aocapital que leva ao aumento da produtividade, dos salários, e do padrão médio devida da população.

A medida mais geral de desenvolvimento econômico é a do aumento darenda por habitante porque esta mede aproximadamente o aumento geral daprodutividade; já os níveis comparativos de desenvolvimento econômico sãogeralmente medidos pela renda em termos de PPP (purchasing power parity) porhabitante porque a renda ou produto do país corrigido dessa maneira avaliamelhor a capacidade média de consumo da população do que a renda nominal.

Países produtores de petróleo, que renda per capita não reflete em absolutoo nível de produtividade e de desenvolvimento econômico de um país.

Uma alternativa é o índice de desenvolvimento humano, que foi umimportante avanço na avaliação do desenvolvimento econômico mas não substituias duas rendas por habitante anteriores, antes as complementa.

O desenvolvimento econômico visa atender diretamente umobjetivo político fundamental das sociedades modernas – o bem estar – e,apenas indiretamente os quatro outros grandes objetivos que essassociedades buscam – a segurança, a liberdade, a justiça social e aproteção do ambiente. Por isso, é importante não confundi-lo com odesenvolvimento ou o progresso total da sociedade que implica umavanço equilibrado nos cinco objetivos.

Schumpeter (1911) foi o primeiro economista a assinalar esse fato, quandoafirmou que o desenvolvimento econômico implica transformações estruturais dosistema econômico que o simples crescimento da renda per capita não assegura.Ele usou essa distinção para salientar a ausência de lucro econômico no fluxocircular onde no máximo ocorreria crescimento, e para mostrar a importância dainovação – ou seja, de investimento com incorporação do progresso técnico – noverdadeiro processo de desenvolvimento econômico.

DOENÇA HOLANDESA: Quando há aumento da renda per capita, mas aeconomia não se transforma pois não aumenta a produtividade de toda ela masapenas de um enclave geralmente de baixo valor adicionado...não ocorre nemdesenvolvimento nem crescimento econômico. Nos países vítimas da doençaholandesa pode ocorrer um aumento limitado da renda per capita, mas nãoacontecem as transformações estruturais, culturais e institucionais que sãoinerentes ao processo de desenvolvimento ou crescimento econômico, nem existeo aumento dos padrões de vida da população.

Por Paulo Ricardo de [email protected]

Muitos economistas não ortodoxos a identificação do desenvolvimentoeconômico com crescimento seria ideológica: ela ocultaria o fato de odesenvolvimento econômico implicar melhor distribuição de renda enquanto quecrescimento, não. Amartya Sen (1989 [1993], 1999), cujo nome está ligado àformulação do Índice de Desenvolvimento Humano, é talvez o mais radicalnessa matéria: para ele desenvolvimento econômico implica expansão dascapacidades humanas ou aumento da liberdade.

IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, calculado pela ONU, quem umresultado mais próximo de um (1), mais desenvolvido é o país, não levando emconsideração apenas as questões econômicas, mas também as sociais, como oíndice de educação, índice de esperança de vida e índice de rendimentos, que éum dos indicadores bases desse estudo, com os dados obtidos pelo Brasil noperíodo em estudo, uma vez que nesse curto período de tempo, a economiabrasileira apresentou um crescimento satisfatório, longe do ideal é verdade,porém que já demonstrou mudanças na sociedade brasileira, sobretudo nosindicadores sociais.

Apesar de sua abrangência, não podemos usar única e exclusivamente oIDH como taxa de Desenvolvimento de uma nação, ainda seria de maior valia, deacordo com Bresser Pereira, utilizarmos a Renda Per Capita por paridade de poderde compra.

Altas rendas facilitam o acesso a bens e serviços, tais como uma dietaequilibrada e nutritiva, água potável, cuidados médicos de qualidade quepromovem a saúde e a longevidade...

Para Mushkin (1962) a formação do capital humano mediante educação eserviços apoia-se na noção de que as pessoas, sendo agentes produtivos,melhoram a capacidade produtiva com investimentos nesses serviços, gerandomaiores rendimentos no futuro.

Furtado (1964, apud Guillén, 2007, p. 143) afirma que o desenvolvimentoeconômico pode, também, ser definido como um “processo de mudança socialpelo qual o crescente número de necessidades humanas, pré-existentes oucriadas pela própria mudança, são satisfeitas [por meio] de uma diferenciação nosistema produtivo, gerado pela introdução de inovações tecnológicas”.

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Temos que:

- Transição Século XIX > Século XX

Saneamento e Combate a Endemias – fator fundamental para ofortalecimento das economias primário-exportadoras;

- Anos 30 > Anos 70

Saúde da Seguridade Social como fator de organização de uma ofertaregular de trabalho na indústria, comércio e serviços;

- Anos 70 > Anos 90

Rápida melhoria nos indicadores de saúde da população e aumento daexpectativa de vida (não há uma relação clara), e

- Anos 90 > Anos 00

Saúde gera oportunidades de desenvolvimento de capital humano –programas de transferência condicional de renda.

Temos que:

- Ao nível macro, renda e saúde estão correlacionados, mas não se sabeonde começa o círculo virtuoso.

- Regiões mais ricas apresentam melhores condições de saúde, mas não éclara a determinação.

- Ao nível micro, as evidências mostram que a perda de saúde de ummembro adulto da família acarreta em alta probabilidade que esta famíliaaumente seu nível de pobreza.

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Elaboração própria. Dados do IPEA.

Folha de São Paulo – Da Redação

“Crescimento econômico causa aumento da incidência de sífilis”

06/05/2010 - 17h34

“A cada hora, um bebê nasce com sífilis na China. A infecção bacteriana defácil tratamento foi quase erradicada há 50 anos, mas agora é a doençasexualmente transmissível mais comum em Xangai, maior cidade do país.

Prostitutas e homens bissexuais estão espalhando a epidemia, segundoartigo publicado no "New England Journal of Medicine".

O aumento da incidência da sífilis está ligado ao crescimentoeconômico do país, que aumenta a renda disponível para executivos eoperários, dando mais oportunidade para sexo sem proteção enquantoeles estão fora de casa a trabalho, de acordo com o artigo.”

http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u731263.shtml

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Notas de Aula

Aula 8 – 05/11/2013

8.4. Indicadores Sociais Brasileiros

Pode-se identificar na Tabela a seguir, que retrata a evolução do PIBbrasileiro com alguns indicadores sociais, que todos demonstraram resultadospositivos na maioria dos anos. O produto da economia cresceu consideravelmente,saltando de pouco mais de 640 bilhões para mais de dois (2) trilhões de dólaresem 2010, valor este que fez do Brasil naquele ano, a 10ª economia, a frente depaíses desenvolvidos como Itália e Canadá, porém o país continua com um longopercurso para melhor as condições de vida da população.

Elaboração própria. Dados do Banco Mundial, IPEA e PNUD. * Dados nãodisponibilizados.

Observa-se um aumento significativo do PIB per capita, agregando mais dequatro (4) mil dólares no período, passando de pouco mais de US$ 7.000 no inícioda série para US$ 11.127,06 no ano fim. Aqui, o PIB per capita, foi medido em PPC,segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Há de se notartambém que em 2009, quando a economia apresentou uma pequena retração de0,33%, o PIB per capita sofreu uma diminuição de R$ 63,57 recuperando o valorperdido em 2011, com um acréscimo de R$ 782,84 quando a economia cresceumais de 7%sobre o ano da retração.

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Taxa Anual de Crescimento do PIB - Brasil

Fonte: Elaboração própria. Dados do Banco Mundial, IPEA e PNUD.

Fonte: Elaboração própria. Dados do IPEA.

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Assim como os outros indicadores sociais, o percentual da populaçãovivendo em extrema Pobreza no Brasil também apresentou um resultado positivono período, com uma pequena alta em 2003, a mesma caiu de 15,28% em 2001para 7,28% em 2009, como aponta o Gráfico. No período em análise houve, alémdo crescimento econômico, uma intensificação dos programas sociais detransferência de renda, o que impactou positivamente esse nicho da população.

Fonte: Elaboração própria. Dados do IPEA.

Ao mesmo tempo em que população vem envelhecendo, em 2000 apopulação idosa respondia por 8,56% do total, passando para 10,79% em 2010, aexpectativa de vida também cresceu, de 70,14 anos para 73,10 anosrespectivamente. Esses são dados convergentes, quanto maior a expectativa devida, maior a concentração de pessoas com mais de 70 anos, que é faixa etáriaque mais demanda serviços de saúde.

Por Paulo Ricardo de [email protected]

Vídeo da aula:

https://www.youtube.com/watch?v=jbkSRLUojo

Comentário: A convergência na expectativa de vida entre os países émuito maior do que a convergência na renda per capita. Ou seja, os paísesatrasados estão com a saúde um pouco melhor em termos relativos, mas adistância econômica se mantém praticamente a mesma.

Provavelmente, muitos destes países estão vacinando, tem ajudamultilateral, conseguem implementar alguns programas de atenção básica, mascontinuam pobres e subdesenvolvidos.

Fonte: Elaboração própria. Dados do IPEA.

O Índice de Desenvolvimento Humano, que apresentou o menorcrescimento entre os outros indicadores da mesma classe, posicionou o Brasil,em2010, na 73ª posição, atrás de países como o Peru, por exemplo, sendo o primeirocolocado, a Noruega, com um IDH de 0,938.

Por Paulo Ricardo de [email protected]

Segundo a classificação da Nações Unidas, o Brasil se encontra no grupo depaíses com elevado desenvolvimento humano. O IDH é utilizado pela ONU paramedir o grau de desenvolvimento humano dos países membros, e é formado portrês índices: índice de expectativa de vida, de escolaridade e o índice derendimentos da população, traçando uma síntese do país. Em tese, pode-seafirmar que o nível da qualidade de vida da população brasileira está muito aquem dos níveis dos países desenvolvidos.

Evolução das Despesas com Saúde no Brasil de 2000 a 2010

Fonte: Elaboração própria. Dados do IPEA.

O dispêndio com saúde no Brasil crescera no período em questão,juntamente com o crescimento da economia, principalmente as despesas comsaúde pública em percentual do total das despesas governamentais, saindo de7,16% para 9% em 2010, de modo geral, pode-se afirmar que essas despesas vêmacompanhando os demais indicadores analisados, seguindo o crescimento daeconomia.

Percebe-se uma queda nos três tipos de dispêndio em 2003 de até meioponto percentual na despesa com saúde pública como percentual das despesasgovernamentais, e um forte crescimento em 2004, ultrapassando o percentual de2002, e novamente uma forte alta em 2010 sobre 2009, quando o montantechegou a pouco mais de 7% das despesas governamentais.

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- O crescimento econômico foi acompanhado de uma significativa elevaçãodo PIB per capita, que indica uma melhora no poder aquisitivo;

- IDH, que passou de 0,665 para 0,715 em igual período; evidenciando amelhoria das condições de vida em termos de rendimentos, expectativa de vida eeducação;

- Embora exista um longo caminho a percorrer para se chegar a umpatamar de desenvolvimento social e econômico satisfatório, os dadoscomprovam que o Brasil possui um grande potencial para alcançar um nível dequalidade de vida semelhante ao observado em países desenvolvidos em algumasdécadas.

8.4.1 Coeficiente de Gini

A investigação sobre a distribuição de renda da população leva a questõesligadas à mensuração de quanta desigualdade há em uma sociedade e quais osproblemas que surgem na mensuração.

Estabelecer e entender os indicadores de avaliação da desigualdade temsido objeto de trabalho de estudiosos de diversas áreas.

É uma medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italianoConrrado Gini e publicada no documento “Variabilità e Mutabilità” em 1912,comumente utilizado para calcular a desigualdade de distribuição de renda, maspode ser usada também para qualquer distribuição, como concentração de terra,riqueza entre outras.

Consiste em um número entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completaigualdade de renda (onde todos têm a mesma renda) e 1 corresponde à completadesigualdade (onde uma pessoa tem toda a renda, e as demais nada têm). Aconstrução do coeficiente de Gini é baseado na “Curva de Lorenz”.

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Coeficiente de Gini - Brasil

Fonte: IPEA.

O Coeficiente de Gini brasileiro sempre foi elevado, demonstrando a altadesigualdade de renda no país. Como já explicitado anteriormente, quanto maispróximo um (1), maior é o nível de desigualdade.

A desigualdade apenas diminui quando a renda da parcela mais pobre dapopulação cresce mais rapidamente que a dos mais ricos, o que de certo modopoderia ser garantido com o crescimento econômico, porém, se a renda dos maisricos crescer mais rapidamente que a renda dos mais pobres, a desigualdadeaumentará, o que sempre foi um dos males da economia brasileira.

Tal resultado brasileiro pode ser explicado pelos modelos de crescimentoadotados pelo país no século passado, e também pela grande disparidade regionalque o país apresenta, com regiões bem industrializadas, como o Sul e o Sudeste, eoutras com baixos níveis de emprego além de condições climáticas poucofavoráveis como a que se vê no Nordeste por exemplo.

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CURVA DE LORENZ

Corresponde a uma representação gráfica que deriva da relação entre rendimento e população e tem como objetivo a avaliação do grau de desigualdade em termos de repartição do rendimento de uma economia pelos seus indivíduos.

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8.5 Saúde e Desigualdade

O tema das desigualdades que imperam no país tem adquirido relevânciano cenário atual do setor saúde, como bem atesta o número crescente de estudosa esse respeito. Além de a superação das desigualdades ser um objetivo daprópria Constituição Federal de 1988, passou a constituir um ponto de primeiraimportância nos discursos ou agendas governamentais. Assim mesmo, a questãohoje faz parte das preocupações das agências internacionais de assistência ecrédito.

De fato, a Carta de 1988 tem entre seus objetivos reduzir as desigualdadessociais e regionais e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas (Art. 3º, inc. III e IV). Esses ditamestêm como fundamento o conceito de cidadania, segundo o qual todos osindivíduos são iguais, tendo, portanto, os mesmos direitos. Esse princípioconstitucional também está presente na Lei Orgânica do SUS ( Lei 8080/90, art.7º,inc. IV), que veda preconceitos ou privilégios nas normas operacionais relativas àdescentralização dos serviços.

Em países da periferia do capitalismo como o Brasil, onde odesenvolvimento econômico tem sido acompanhado de situações que convergempara a pobreza, a concentração de renda e as precárias condições de vida,principalmente em grandes centros urbanos e entre regiões, tendem a se agravar.

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Fonte: Estadao.com

O Brasil apresenta 1,8 médico por 1.000 habitantes, valor superior aopreconizado pela OMS que é de 1 médico para o mesmo denominador (WorldHealth Organization, 1978). Porém, esse excedente não representa,necessariamente, uma cobertura adequada e homogênea em todos os estadosbrasileiros. Marcada desigualdade na distribuição desse recurso é observada,estando a maior parte dos médicos concentrada nos estados mais urbanizados ecom menores taxas de pobreza: estados do Sul e do Sudeste. Dessa forma, grandedéficit é observado, principalmente, nos estados da região Norte.

As insuficiências e as desigualdades manifestam-se no espaço geográfico,refletindo a história social, econômica e cultural de cada região.

Nos grupos sociais menos providos, onde os níveis de saúde são maisbaixos, a desigualdade é refletida pelo histórico de exclusão dos mesmos.

O acesso à educação e ao saneamento básico é considerado parte dodesenvolvimento sócio econômico dos países e da qualidade de vida. Asdesigualdades educacionais e sanitárias brasileiras são um entrave aodesenvolvimento.

Por Paulo Ricardo de [email protected]

As desigualdades em saúde, como sugerem diversos estudos empíricos sãoverificadas em praticamente quase todos os países. Entretanto, nem toda adesigualdade em saúde mensurada pode ser caracterizada como iniquidade emtermos de bem estar individual.

O estado de saúde de um indivíduo depende de diversos fatores. Podemosclassificá-los em pelo menos três grupos: fatores associados às preferências dosindivíduos; fatores exógenos aos indivíduos; fatores associados às condiçõessócias econômicas.

Fatores sócio econômicos

Existem diversos mecanismos que podem explicar a relação entrenível de renda ou situação sócio econômica e estado de saúde. Além disso, acausalidade desta relação não é única.

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Relação entre produtividade e saúde

- Podemos supor, por um lado, que trabalhadores mais saudáveis são maisprodutivos e, portanto auferem níveis de renda mais elevados. Por outro lado,podemos também imaginar que trabalhadores com níveis de renda mais elevadostêm maior acesso a informações sobre saúde podendo optar por tratamentopreventivo e nesse caso apresentar estados de saúde melhores.

- Condições de trabalho e moradia: indivíduos de baixa rendafrequentemente estão expostos a trabalhos que apresentam altos riscos a suasaúde, além de possuírem habitações com piores condições de saneamento.Dessa forma, controlando para os fatores biológicos e para aqueles relacionadosàs preferências individuais, os indivíduos de classes socioeconômicas mais baixastêm maior chance de morrer e adoecer.

8.5.1 Saúde e Desenvolvimento

Desigualdade social em saúde em favor das camadas de renda maiselevada.

Desigualdade socioeconômica pode ser definida como a distribuiçãodesigual de bens e serviços entre grupos sociais. A saúde ou os processossaúde/doença e seus determinantes podem também ser desigualmentedistribuídos nas populações. Desigualdade em saúde é, então, um termo genéricoque se refere às diferenças nos níveis de saúde de grupos socioeconômicosdistintos em um sentido descritivo (Kunst & Mackenbach, 1994; Mackenbach &Kunst, 1997).

A Saúde é uma política bifront e, de um lado voltada para uma fronteira domercado, caracterizada pela inovação, fronteira industrial e tecnológica e, deoutro, voltada para as necessidades e vulnerabilidades de uma população carente,assistida desigualmente no território nacional, por ações e serviços subfinanciadose por uma oferta de infraestrutura ainda marcada por profunda heterogeneidaderegional e micro regional.

O pesado fardo das doenças e o efeito na produtividade, demografia eeducação estão a contribuir para a rápida erosão dos árduos ganhossocioeconômicos da África e são a razão porque alguns países não conseguemescapar à armadilha da pobreza. Por exemplo, na África ao sul do Sara, calcula-seque as perdas resultantes do VIH/SIDA representam pelo menos 12% do PIB. E, emcertas regiões, a elevada prevalência da malária está associada a uma redução docrescimento econômico de 1% por ano.

- Como existe um maior número de idosos entre os grupos com maiorrenda, o que pode ser constatado pela maior esperança de vida ao nascer entreesses indivíduos, provavelmente o número de pessoas doentes é maior nestascamadas sociais.

Por Paulo Ricardo de [email protected]

Problemática:

Por Paulo Ricardo de [email protected]

A saúde está envolvida no arranjo político institucional, nacional einternacional, relacionando as diversas esferas de governo, fator importante,dadas as assimetrias socioeconômicas no território brasileiro.

A análise da complexidade desta relação implica entender a saúde comodireito social, bem econômico e espaço de acumulação de capital. Deste modo, asrelações entre saúde e desenvolvimento são entendidas “como um processodinâmico e virtuoso que combina, ao mesmo tempo, crescimento econômico,mudanças fundamentais na estrutura produtiva e melhora do padrão de vida dapopulação” (Viana e Elias,2007, p.1766).

- Participação da saúde na geração de demanda efetiva para o sistemaprodutivo nacional perfaz 9% do PIB (WHO, 2011), observado no consumo final debens e serviços.

- As ocupações diretas em saúde crescem significativamente e acima dataxa média das ocupações totais; como também 12% do total de empregosqualificados estão ocupados pelo sistema produtivo da saúde.

- Gasto público com a saúde representa no Brasil aproximadamente 4,1%do PIB (WHO, 2011), sendo insuficiente quando considerados os princípios doSUS:

- Universalidade;

- Integralidade;

- Equidade;

- Descentralização, e

- Participação Social.

Não basta que o governo realize investimentos na economia, já que ocrescimento econômico não determina necessariamente o desenvolvimento social.Pode-se afirmar apenas que o aumento do PIB influencia o avanço dos índicessociais, mas não se pode afirmar que existe uma relação causal entre essasvariáveis.

Dessa maneira, deve-se voltar a atenção para fatores que promovamequidade social, aumento da oferta de emprego, qualificação profissional e amelhora dos níveis de saúde da população. Apenas através da mudança estruturale continuada desses fatores, o país alcançará um desenvolvimento socialpermanente e adequado.

Por Paulo Ricardo de [email protected]

Referências:

ANDRADE, Mônica Viegas. LISBOA, Marcos de Barros. Ensaios em EconomiadaSaúde, EPGE –FGV,Rio de Janeiro, 2000.

ASSUNCAO, Renato Martins et al . Mapas de taxas epidemiológicas: umaabordagem Bayesiana.Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro,v. 14,n. 4,Oct.1998.Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1998000400013&lng=en&nrm=iso>.accesson 01 June 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X1998000400013.

BALBINOTTO NETO, Giácomo. Notas de Aula, Economia da Saúde.PPGE/UFRGS-2010

FOLLAND, S., GOODMAN, A. C. e STANO, M. A Economia da Saúde, 5o Edição. PortoAlegre: Bookman, 2008.

PASCHE, D.F. Tópicos de Política de Saúde no Brasil, Texto de Apoio paraDiscussão em Sala de Aula – Escola Nacional de Administração Pública,ENAP.http://www.enap.gov.br/downloads/ec43ea4fPoliticas_de_saude_Brasil_colonia_a_decada_de_50_1950.pdf acesso em 20/08/2013.

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_economia_saude_3_macroeconomia.pdf Acesso em 25/05/2013

http://www.cebes.org.br/media/File/Informe%20CEIS%202_Saude%20e%20Desenvolvimento.pdf Acesso em 24/05/2013

http://www.who.int/macrohealth/events/en/InvestirSaudeEcon-Abril.pdf Acesso em24/05/2013

http://abresbrasil.org.br/sites/default/files/trabalho_11.pdf Acesso em 05/06/2013

http://www.centrocelsofurtado.org.br/arquivos/file/Apresenta%C3%A7%C3%A3o%20Sulamis%20Dain%20-%20Semin%C3%A1rio%20Centro%20Celso%20Furtado%20maio2012.pdf Acesso em 05/06/2013

http://www.unc.br/mestrado/textos/Bibliografia-2013-Desenvolvimento-e-Saude.pdf Acesso em 05/06/2013

Por Paulo Ricardo de [email protected]