notafilia - moedas comunitárias de portugal - jan14

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Notafilia Moedas Comunitárias de Portugal Armando Garcia Janeiro de 2014

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Economy & Finance


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Versão 2014 do relatório sobre moedas comunitárias em Portugal. / 2014 version of the report in Portuguese about community currencies in Portugal.

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Notafilia Moedas Comunitárias

de Portugal

Armando Garcia Janeiro de 2014

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Nota Prévia

Um pouco por todo o mundo verifica-se um surto de criação de “dinheiro” de

características bem diferentes do que estamos habituados. “Moedas” criadas

para funcionar localmente, umas mais dirigidas ao desenvolvimento económico

local, outras mais vocacionadas para fins de apoio social. Criadas por pequenas

organizações locais e voltadas para a sua utilização num âmbito comunitário

bem específico e restrito. Instrumentos sociais...

Moedas que banem os interesses financeiros e se vocacionam para as pessoas.

Esse surto atual insere-se num âmbito curioso de uma “rebeldia pacífica” contra

o status quo económico e financeiro instituído que muitos consideram o

responsável pela “Crise” mundial que se atravessa. Contra a “Crise”, antigos e

novos conceitos tentam erguer-se; a “Solidariedade” e a “Economia Social”, por

exemplo, são conceitos (re)emergentes muito associados ao aparecimentos

destas novas moedas.

Em Portugal, a “explosão” destas moedas ainda não se verificou mas, a avaliar

pelo que acontece nas vizinhas Espanha, França, Reino Unido... Alemanha,

estará para breve. Mas já há história para contar.

Este trabalho é o primeiro que colige o que foi levado a cabo em Portugal no

âmbito das Moedas Comunitárias. Centra-se nas baseadas em papel-moeda, ao

fim e ao cabo, as mais importantes e melhor consolidadas... as que materializam

a sua existência e são mais aceites e compreendidas.

Este trabalho é aglutinador. De experiências, conhecimentos e informações. E de

contactos entre as pessoas envolvidas que, muitas vezes com experiências

similares, se desconheciam umas das outras e equacionaram soluções para

problemas já abordados. Resulta de uma pesquisa da informação documental e

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da web disponível, de dezenas de contactos pessoais estabelecidos, centenas de

mails trocados e quilómetros percorridos. De ter sido o hobby principal por

quatro anos.

Identifica trinta e duas moedas implementadas em Portugal e indica as suas

principais caraterísticas.

E para melhor as compreender... estabelece conceitos base relativos a este tipo

de moedas, tentando sistematizar conceitos que começam a estar em voga, como

“Moedas Locais”, “Moedas de Trocas”... “Moedas Complementares”, “Moedas

Alternativas”...

E para melhor as situar... faz um enquadramento das Moedas Comunitárias no

mundo e da situação específica portuguesa.

E acaba agradecendo a grande colaboração e interesse que despertou junto das

diversas pessoas que foram – e são – pioneiras neste campo em Portugal.

Mas não está terminado. Não apenas pela esperança de obter dados em falta,

como é o caso de imagens de cédulas de algumas Moedas, mas pela certeza de

que novas Moedas serão criadas e justificarão a adição de novos dados aos até

agora coligidos.

Armando A. P. Garcia

Janeiro de 2014

Contacto: [email protected]

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Notafilia - “Moedas Comunitárias de Portugal”

Índice

1. - INTRODUÇÃO

1.1. - Objetivo

1.2. - Metodologia

1.3. - Codificação

2. - MOEDA COMUNITÁRIA

2.1. - Conceitos Base

2.2. - Moeda Local e Moeda de Trocas

2.3. - Moeda de Cidadania

3. – ENQUADRAMENTO MUNDIAL DA MOEDA COMUNITÁRIA

4. - A SITUAÇÃO ESPECÍFICA PORTUGUESA

5. – MOEDAS COMUNITÁRIAS PORTUGUESAS BASEADAS EM PAPEL-MOEDA

5.1. - Granja

5.2. - Solidário

5.3. - Justa

5.4. - Torga

5.5. - Sorriso

5.6. - Sol

5.7. - Campino

5.8. - Esito

5.9. - Diabitas

5.10. - Saurius

5.11. - Beijinho

5.12. - Crialito

5.13. - Morango

5.14. - Swap

5.15. - Feijão

5.16. - ESECO

5.17. - Pomba

5.18. - Pombalino

5.19. - Aleixo

5.20. - Morteiro

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5.21. - Jardim

5.22. - Troca

5.23. - Giro

5.24. - Rio

5.25. - Mayor

5.26. - Virtas

5.27. - Estrela

5.28. - Coroa

5.29. - Canguru

5.30. - Gaivota

5.31. - Brinca

5.32. - Mor

6. - ESTRUTURA BASE DE NOTAFILIA DAS “MOEDAS COMUNITÁRIAS DE PORTUGAL”

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Objetivo

Identificar as Moedas Comunitárias Portuguesas emissoras de cédulas próprias (papel-moeda), coligir as suas características principais e criar uma estrutura base que facilite o seu enquadramento no âmbito da Notafilia.

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1.2. Metodologia

A metodologia utilizada passa por:

Delimitar o âmbito da pesquisa, caracterizando o conceito de Moeda Comunitária;

Coligir informação sobre as Moedas Comunitárias Portuguesas existentes;

Caracterizar as moedas identificadas, dispondo a informação por ordem cronológica;

Atribuir codificação própria aos sistemas identificados e, nestes, a cada tipo de cédula que o consubstancia.

A abordagem relativamente ao conceito de Moeda Comunitária é efetuada no capítulo seguinte.

Considerámos ainda conveniente enquadrar a nível mundial este fenómeno da Moeda Comunitária, o que fazemos no capítulo 3 e abordar a questão geral da Moeda Comunitária Portuguesa enquadrando-a, nomeadamente do ponto de vista temporal, no que de similar se passa pelo mundo, o que fazemos no capítulo 4.

A informação relativa às Moedas Comunitárias foi coligida com recurso a dados dispersos na internet, preferencialmente nos sites oficiais, complementada, sempre que possível, por contactos com pessoas e entidades envolvidas, nomeadamente com os representantes das entidades que as criaram e levaram à prática.

Admitimos que, face à dificuldade de obtenção de informação direta de entidades intervenientes na criação e uso das Moedas (quer por dificuldade de identificação e estabelecimento de contacto com elas, quer por estas não terem já memória ou acesso à informação solicitada) bem como ao facto de algumas das Moedas implementadas terem pouca ou nenhuma informação na internet (e não só), esta abordagem poderá pecar pela errada não consideração de algumas Moedas Comunitárias implementadas. Acresce que os sites internacionais de referência na matéria(1) são claramente deficitários na informação disponível e no contexto português, na prática, negligenciáveis.

Optámos ainda por ser criteriosos relativamente à inclusão das Moedas Comunitárias mencionadas, baseando-nos na existência de provas - ou, pelo menos, no que consideramos ser uma elevada probabilidade – de efetivamente a moeda ter sido consubstanciada fisicamente em cédulas próprias, guardando-se a restante informação para eventual posterior tratamento.

(1) - Nomeadamente o www.complementarycurrency.org.

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Sempre que possível, acompanhámos o texto relativo a cada moeda com figuras, quer ilustrativas do contexto em que foram usadas, quer das diferentes cédulas que foram emitidas. Na sua maioria, essas imagens são não proprietárias, tendo sido obtidas em sites oficiais, blogues ou sites de consulta geral. Neste caso, a sua proveniência é sempre indicada em nota de rodapé, entendendo-se que a sua ausência significa serem de nossa posse, nomeadamente imagens de cédulas de coleção pessoal.

A questão específica da codificação – que se insere num muito mais vasto campo quer dos Sistemas Monetários, quer da Notafilia - é abordada no ponto seguinte.

Uma estrutura base e simples de Notafilia para as “Moedas Comunitárias de Portugal” é apresentada no último capítulo.

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1.3. Codificação

Dado que este estudo se insere num mais vasto no âmbito da Notafilia, em que os sistemas monetários são codificados, optámos por atribuir desde já uma codificação relativa às moedas/sistemas monetários identificados.

Utilizámos uma codificação composta por:

três caracteres iniciais “PRT”, identificativos da Entidade Emissora “Portugal”, conforme código ISO 4217 de 3 caracteres(2);

caracter “C” separado por hífen, que adotámos como identificador de “moeda comunitária”;

dois a seis caracteres próprios do sistema, igualmente separados por hífen.

Exemplos para…

… a moeda Granja: PRT-C-Granja;

… a moeda Solidário: PRT-C-Solid.

As cédulas de cada moeda/sistema são identificadas sequencialmente com o prefixo “C” de “Cédula”.

(2) - International Organization for Standardization Standard International 4217 “Codes for representation of

currencies and funds“e que pode ser consultado online em www.iso.org.

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2. A MOEDA COMUNITÁRIA

2.1. Conceitos Base

Não é objeto deste documento a análise dos fundamentos teóricos do funcionamento da Moeda Comunitária - que se deixa para os especialistas - nem mesmo a sua descrição histórica ou impacto social. Apenas tentamos ser colecionadores de cédulas...

Consideramos, no entanto, que o interesse pela coleção aumenta com o conhecimento associado aos itens colecionados e, assim, julgamos pertinente uma pequena introdução ao assunto. Com as falhas que possa ter...

Convém salientar que - como colecionador de cédulas - nos centrámos nas Moedas Comunitárias que se baseiam em papel-moeda, excluindo as que apenas tenham existência virtual (que, com o advento dos cartões magnéticos e a possibilidade de partilha de informação em tempo real pela internet, são em cada vez maior número). Mas os conceitos base são, na sua essência, também aplicáveis a estas. Apenas os exemplos que focamos não o são.

As "cédulas" das Moedas Comunitárias

No entanto, este aspeto de nos centrarmos nas moedas que se baseiam em "cédulas de papel-moeda" merece algumas considerações adicionais.

As Moedas Comunitárias são um fenómeno em expansão e que já atinge uma enorme dimensão por todo o mundo; estima-se que, quantitativamente, suplantem já as moedas ditas "normais" numa base superior à de 20 para 1. Mas não é apenas a quantidade que dita a grande diversidade de formas que consubstanciam fisicamente as Moedas Comunitárias; é, sobretudo, a sua finalidade e âmbito de aplicação concreto. Como adiante abordaremos, este tipo de moedas fogem a uma estabilidade temporal, uso por um povo e âmbito territorial típico de estado que, de um modo quase sistemático, caracterizam as moedas ditas "normais". Ao invés, as Moedas Comunitárias são usada normalmente num âmbito territorial bem mais circunscrito, por uma

comunidade ou grupo de pessoas aderentes e muitas dessas experiências são bastante limitadas no tempo que pode ir até a apenas algumas horas ou com uma validade descontinuada de evento para evento. Estas características influenciam o modo como são consubstanciadas fisicamente, pesando muitas vezes a facilidade e o baixo custo como são elaboradas as "cédulas" e a originalidade da sua forma, simbologia... e até dos materiais usados. Como resultado, as "cédulas", ou, de um modo mais abrangente, a consubstanciação

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física das Moedas Comunitárias, abrange uma enorme diversidade de formas e são usados muitos materiais diferentes para o fazer. Contemplar apenas as que, pelas características do material utilizado, se enquadrassem num conceito tradicional de "papel-moeda" seria, neste âmbito, demasiadamente... redutor. Aliás, com o advento do cariz fiduciário das moedas - em que o seu "valor" passou a decorrer da confiança que lhes é atribuída e não do "valor" intrínseco do material (tradicionalmente ouro, prata ou cobre) em que eram feitas - reforça esta mesma lógica em alargar o conceito de "cédula"(3). A enorme diversidade dos materiais usados nas Moedas Comunitárias - desde o papel (e até mesmo o papel-moeda usado pelas cédulas bancárias das moedas "normais") até à cortiça, plástico, cartão, napa... alcatifa... e até mesmo pedra - constituem essencialmente formas criativas de as concretizar fisicamente e neste âmbito a clássica separação entre a Numismática (mais vocacionada para a moeda metálica) e a Notafilia (versando sobretudo as cédulas em papel-moeda ou poliéster) torna-se um pouco sem sentido(4).

Mas, para além do material base em si, outras questões relativas às "cédulas" (optamos por manter a designação) de Moedas Comunitárias necessitam de clarificação...

Associamos às cédulas, qualquer que seja o seu material base, algumas características sempre existentes nas moedas "normais": a indicação expressa ou apenas simbólica que as tornam identificáveis da Moeda (sistema monetário) que representam; e o seu "valor" quantitativo nesse referencial monetário. No entanto, nas Moedas Comunitárias, também estes aspetos nem sempre se verificam. Na sua falta, deverão continuar a ser consideradas "cédulas"?

Comecemos por este último aspeto, o da indicação do seu valor facial (1 Solidário, 3 Campino, 50 Granjas...). Se bem que a situação normal seja a da indicação expressa do valor facial na própria cédula, algumas Moedas Comunitárias não o fazem. Particularmente no caso das dirigidas a crianças, existem Moedas que são consubstanciadas em cédulas que, por convenção da

(3) - Curioso notar que, se bem que historicamente o conceito de "moeda" esteja associado à cunhagem de um

metal (na Roma antiga era feito numa oficina junta ao templo da deusa Juno Moneta... e daí o nome), o

certo é que "moedas" existiram com base em produtos da natureza (couro de boi, gado, conchas, ossos de

animais, pedaços de bambu, sal e até pedras) ou outros produtos inicialmente não pensados para tal

(barras de sabão, por exemplo, "sistema monetário" com que já tivemos contacto em África nos dias de

hoje...).

(4) - Da esquerda para a direita, a Beijinho feita em cartão canelado, a Jardim em alcatifa, a Rio em napa e a

Estrela em cortiça.

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própria moeda, apenas incluem o valor unitário(5) ou outro/s facilmente identificáveis (pela forma, por exemplo), tornando assim possível, por desnecessário, que essa indicação não seja incluída nas próprias cédulas. O que verdadeiramente está em causa é o reconhecimento do valor "facial" de cada cédula na comunidade ou grupo em que é aceite - e não a forma com tal é efetuado - e esta sim, é uma das condições exigíveis para que uma "cédula" seja considerada como tal.

Situação similar se passa quanto à simbologia das cédulas, ou seja, quanto à identificação do sistema monetário que pretendem representar. A situação mais comum é a de, tal como acontece nas moedas "normais", essa representação estar expressa nas cédulas em si. Mas, mais uma vez, tal não é norma nas Moedas Comunitárias. Sobretudo o facto de poderem ser dirigidas à utilização de um grupo muito pequeno de pessoas, pode fazer que o que é usado como cédula não necessite de qualquer identificação especial e isso várias vezes acontece(6). Mais uma vez, o que importa é que esse reconhecimento exista e não a forma como ele seja feito.

No limite, conjugando estes três aspetos, podemos ter "cédulas" de Moedas Comunitárias desde um aspeto "normal" de notas bancárias até "algo" feito de qualquer material e forma, sem elementos indicativos de valor facial e sem identificação de qual o sistema monetário que representa. A condição é a de que, qualquer que seja a consubstanciação física das "cédulas", elas assim o sejam reconhecidas e aceites no ambiente específico - que inclui a comunidade, o espaço e tempo e as demais características que o individualizam - onde se destinem a circular. Na génese, até uma simples pedra poderá ser usada(7)...

Optámos assim por incluir nesta abordagem todas as Moedas que, de alguma forma, tenham algum tipo de tradução física que vise cumprir os objetivos típicos de atuar como “Meio de Troca” (intermediária de transações viabilizando trocas indiretas em vez de meramente a troca direta), de “Unidade de Conta” (atuar como uma medida de valor) e de “Reserva de Valor” (permitir a acumulação de poder de aquisição, a vulgar “riqueza”), se bem que este último objetivo seja - como se focará adiante - subvalorizado pela própria natureza e objetivos das Moedas Comunitárias.

Delimitação inicial do conceito de "Moeda Comunitária"

A maioria dos especialistas considera Moeda Comunitária - também designada por Moeda Alternativa, Moeda Local, Moeda de Troca ou Moeda Social (este último termo bastante mais comum em língua portuguesa, sobretudo no Brasil)

(5) - Casos, por exemplo, da Jardim e da Estrela referidas atrás.

(6) - Nos mesmos exemplos anteriores, é o caso da Jardim. A Rio indica-o expressamente e a Beijinho e a

Estrela usam elementos simbólicos para o fazer.

(7) - Este exemplo da pedra é intencional, como se tornará claro adiante, quando abordarmos a moeda Troca.

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dependendo dos contextos - a que é emitida por entidades privadas não sendo necessariamente lastrada (suportada por uma certa reserva de valor), que se destina a circular num âmbito muito restrito de uma área, substituindo ou em paralelo com a moeda de curso legal oficial e que visa essencialmente o desenvolvimento sócio-económico da comunidade que aí se sedia, atuando ou de uma forma mais virada para o desenvolvimento económico ou acentuando mais uma componente sobretudo solidária.

As diferenças para um clássico “Vale” ou “Voucher” comercial residem quer em não ser um valor para ser descontado diretamente na entidade emissora(8), mas sim para entrar em circulação numa área servindo para diversas transações entre diversos intervenientes (como se vulgar “dinheiro” se tratasse) quer, sobretudo, por ser destituída do cariz especulativo do lucro em proveito da entidade emissora ou de terceiros, atuando exclusivamente em prol do desenvolvimento da própria comunidade em que se insere tendo, muitas vezes até, uma importante componente solidária associada.

Aliás este último aspeto - o da não existência de lucros ou outras mais-valias destinadas a beneficiar a entidade emissora ou de qualquer outra entidade que não a própria comunidade a que se destina - é outra das características diferenciadoras relativamente ao dito “dinheiro normal”. Não se enriquece (no sentido mais económico do termo) com a acumulação de dinheiro comunitário...

Como atrás referimos, das três funções clássicas da moeda “normal”, a de “Meio de Troca”, a de “Unidade de Conta” e a da “Reserva de Valor” (ligada à possibilidade de acumulação poder de aquisição, a vulgar “riqueza”), a Moeda Comunitária contempla essencialmente as duas primeiras, subvalorizando propositadamente a de se constituir como meio de acumulação de riqueza. Com efeito, este último aspecto da "reserva de valor" é apenas importante na "transportabilidade" necessária do valor a ser usado em próxima transação ou troca, sempre num horizonte temporal bastante curto e nunca como meio de mera acumulação de riqueza. Os "juros" não existem na Moeda Comunitária e, pelo contrário, mecanismos de depreciação do valor da moeda ("oxidação") são introduzidos nalgumas para desmotivar essa eventual tendência de "acumulação".

Mas vamos desenvolver um pouco mais cada uma das componentes que focámos de início relativamente à Moeda Comunitária: o seu cariz privado, a não imprescindibilidade de ter que ser lastrada, o seu âmbito restrito de circulação e o seu objetivo de desenvolvimento sócio-económico local ou comunitário.

(8) - Caso do vale português do Continente, cuja imagem se mostra ao lado.

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O cariz privado

Relativamente ao cariz privado das emissões de Moeda Comunitária há, desde logo, que notar que este aspeto não é novo nas emissões de papel-moeda; aliás está bem presente no início da utilização do papel-moeda, ainda antes das emissões passarem a ser controladas pelo Estado, normalmente através de um Banco Central.

A Moeda Comunitária, apesar de emitida também por privados, apresenta desde logo uma diferença essencial pois é emitida em alternativa, ou complementarmente, à moeda de curso legal(9) “normal” e “oficial”; daí também

ser chamada Moeda Alternativa ou Moeda Complementar.

A relação entre uma e outra, entre a Moeda Comunitária e a moeda “oficial” de curso legal, pode ser mais ou menos evidente, com tendência a ser mais direta em casos de moedas comunitárias com uma preponderância do fator “económico” e muito menos clara – e em vários casos tentando mesmo não estabelecer essa relação – no caso das moedas comunitárias com uma vertente mais “solidária”(10).

Nas mais vocacionadas para a componente económica, em que é maior o interesse em existir uma relação direta com a moeda “oficial”, é vulgar existir uma tabela ou taxa de conversão pré-definida ou até mesmo introduzir intrinsecamente uma paridade de valor através da própria designação da Moeda Comunitária. Por exemplo, “Euro de Willingen” ou “Dólar de Davis”(11)...

Pelo contrário, nas mais vocacionadas para uma vertente solidária, existe até a tentativa de separação relativamente à moeda “oficial”, até mesmo com rejeição explícita de qualquer relacionamento entre ambas. Muitas destas moedas são definidas de acordo com um valor padrão, que pode ser um objeto ou bem local, ou através de uma tabela de conversão face a

(9) – Juridicamente, moeda sobre a qual recai a obrigação de ser aceite por um credor como meio de

pagamento de uma transação ou de liquidação de uma dívida.

(10) – Á frente abordaremos as “Moedas Locais”, mais viradas para a parte “económica” e as “Moedas de

Trocas”, com uma componente “solidária” bem mais acentuada.

(11) – Uma e outra, a alemã Euro de Willingen e a norte-americana Dólar Davis, com paridade para a moeda

“oficial”, respetivamente o Euro e o Dólar.

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um lote de bens ou serviços(12). Em muitos desses casos, no entanto(13), um relacionamento indireto de valor com a moeda “oficial” acaba por ser intrinsecamente estabelecido, nomeadamente ao nível dos utilizadores da Moeda Comunitária, habituados ao uso e noção de valor da moeda “oficial”.

Em quaisquer dos casos, por ser privada e atuar num âmbito territorial interno da moeda “oficial”, a Moeda Comunitária nunca é de curso legal, ou seja não há um imperativo legal para a sua aceitação, sendo a sua utilização efetuada de modo totalmente voluntário.

A não imprescindibilidade de ser lastrada

Convém salientar desde logo que o facto de não ser necessariamente suportada por reserva de valores (pelo Estado ou da entidade privada que a emite) não resulta automaticamente de serem emissões privadas. Encontra-se algo disseminado o conceito – errado – de que uma das grandes diferenças entre a moeda “oficial” de curso legal e a Moeda Comunitária é o facto da primeira ser suportada, nomeadamente pelo Estado de modo direto ou indireto, por uma reserva de valor (lastrada, portanto, no sentido tradicional do termo), ao passo que a segunda não o é.

Aliás, algumas das Moedas Comunitárias, sobretudo no âmbito das Moedas Locais (de que falaremos adiante) são até lastradas - no todo ou em parte – por própria moeda de curso normal. No entanto, a maioria delas são “lastradas” apenas em bens e serviços da comunidade que a emite e aceita. Na génese, não tão diferente, assim, do que se passa com as moedas ditas “oficiais”...

O atual ”dinheiro” tem já um cariz fiduciário(14), ou seja, não tem um valor intrínseco pelo material de que é feito (nem sequer pelas reservas de valor que lhes estão associadas ou até mesmo pela capacidade económica do país ou entidade emissora), mas sim um valor que lhe é atribuído de acordo com a confiança e aceitação geral relativamente à medida de valor que representa. A Moeda Comunitária leva ainda mais além este conceito dado que, na sua maioria, não são lastradas por quantia equivalente de “moeda normal”, valor em metal nobre ou outro qualquer suporte típico dos sistemas monetários, mas, mesmo assim, são aceites como um valor padrão no meio restrito em que circulam.

Relembrando uma frase que não é nossa, dizia alguém em tom jocoso numa apresentação de uma moeda comunitária nos Estados Unidos que, seguindo apenas o critério do lastro, essa moeda ao não valer “nada”, sempre valia mais

(12) - Caso da moeda portuguesa Swap, de cuja parte da tabela se mostra na figura.

(13) - Que nos perdoem alguns puristas da “Economia Solidária”...

(14) - Recordamos que significa “baseado na confiança”.

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que o dólar norte-americano, pois este era “lastrado numa enorme dívida nacional” (15)...

O lastro da Moeda Comunitária é - não raras vezes - “apenas” o dos bens e serviços da comunidade aderente, o da confiança em que possa ser usada em aquisições ou trocas de acordo com regras definidas, aceites e praticadas pela comunidade que a utiliza(16). Daí também a possibilidade da unidade padrão ser a que se estipule, fugindo a clássicos como o Dólar ou o Euro para as “Unidade”, “Crédito”, “Talento” e muitas outras designações localmente significativas ou até para sistemas radicalmente diferentes em termos de moeda, como é o caso da utilização de sistemas com base em unidades de tempo, normalmente ligadas à quantidade (temporal) de trabalho que pretende valorizar(17).

Esta característica, de não necessitar obrigatoriamente de ser suportada ou lastrada aliada à não obrigação legal da sua aceitação, tenderia a fazer da Moeda Comunitária uma moeda com um baixo índice de credibilidade e de aceitação, o que só é contrariado pela existência de outros fatores significativos. Verifica-se, nas experiências de utilização continuada de Moeda Comunitária, que mais do que o lastro, a confiança na moeda provém de um sentimento comum de grupo, de união em torno de valores e objetivos comuns, de um espírito de solidariedade social...

... de um modo geral, só passível em ambientes restritos de circulação.

O âmbito restrito de circulação

Uma das importantes características da Moeda Comunitária é a de se vocacionar para um ambiente restrito de circulação, não em função de um país ou outro espaço geopolítico, mas em função da comunidade alvo e do objetivo sócio-económico a atingir(18). Se a moeda dita “normal” pode ser considerada um

(15) - É uma perspetiva jocosa, claro; mas a dívida pública ascendia a quase 15 biliões de dólares em finais de

2011, um valor perto dos 100% do PIB norte-americano. Estima-se circularem nos EUA cerca de 600

biliões de dólares, mas... percebe-se a ideia!

(16) - Parafraseando a conhecida “In God We Trust” das notas de dólar norte-americano, a inscrição “In Each

Other We Trust” das cédulas do Dólar de Humbolt County, tal como em várias outras moedas

comunitárias do continente norte-americano, é bem ilustrativa.

(17) - Caso da Hora Tamworth canadiana.

(18) - O fenómeno da Moeda Comunitária na Argentina pode considerar-se uma exceção a este princípio. E

talvez uma das razões de base para o descrédito que se seguiu ao seu apogeu...

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instrumento político-económico, a Moeda Comunitária é, claramente, um instrumento sócio-económico.

Este aspeto, do âmbito restrito de circulação, tem propiciado, na nossa opinião, algumas confusões e inexatidões de conceitos associados à Moeda Local(19) e Moeda Comunitária.

O carácter local não é novo na Moeda nem nas emissões de papel-moeda. Bem pelo contrário, é um dos aspetos ligados ao seu aparecimento.

Apenas como exemplo curioso, dos muitos que se poderiam dar, veja-se o caso do Hansatsu(20), moeda emitida pelos Daimyo - senhores feudais japoneses - para circular localmente na sua área direta de influência. Emitida por razões económicas e de afirmação de soberania, este tipo de moeda está bem mais próxima do conceito atual de moeda “normal” que do de Moeda Comunitária, que, como tal, consideramos não ser.

Outro exemplo – bastante conhecido a nível da Notafilia - é o das emissões locais de emergência, cujo tipo mais paradigmático é o das Notgeld (que significa precisamente “emissão de emergência”) alemãs, mas

que tiveram a sua contrapartida em vários países, inclusive em Portugal(21), sobretudo após épocas historicamente conturbadas, como foi o caso da Primeira Grande Guerra.

Claro que num conceito mais “local” e abrangente relativamente às Moedas Comunitárias, as poderíamos incluir neste âmbito. Não o fazemos pois consideramos que

emissões deste tipo foram (e ainda são), essencialmente, decorrentes de situações anómalas de emergência - muitas vezes acompanhadas de um claramente insuficiente controlo estatal - e não de emissões que sejam efetuadas por razões essencialmente sócio-económicas.

As mesmas razões se aplicam às cédulas prisionais, outro tipo de cédulas “locais” que vem despertando progressivo interesse no âmbito da Notafilia. As razões da sua emissão não visam qualquer desenvolvimento sócio-económico

(19) - Que esperamos não agravar pois, como à frente abordamos, consideramos Moeda Local um dos dois

tipos base de Moeda Comunitária.

(20) - A imagem junto é de cédula emitida em 1730 pelo senhor feudal do Han Ogaki, Província de Mino (zona

da atual Prefeitura Gifu) para circular no seu domínio.

(21) - A imagem junto é de cédula do tipo equivalente português à Notgeld alemã; as emissões efetuadas no

pós Primeira Grande Guerra por Câmaras Municipais. No caso, pela Câmara Municipal da Póvoa de

Varzim*

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local, mas têm que ver, sobretudo, com razões de segurança. As “Cédulas de Campos de Concentração”(22) e as “Cédulas POW” (de Prisioneiros de Guerra; Prisioners of War) são talvez dois dos tipos mais conhecidos e, sem dúvida, dos historicamente mais interessantes.

Similarmente, não consideramos também emissões - por alguns consideradas Locais – de, normalmente grandes, regiões administrativas do estado efetuadas, sobretudo, por razões orçamentais ou financeiras e que, só no limite, se poderiam considerar ser norteadas por razões de desenvolvimento sócio-económico de uma comunidade, muitas delas assumindo formas bem mais próximas de títulos de dívida pública do que de moeda de circulação. Vários exemplos se podem referir, desde os históricos Baby Bonds, que circularam no Luisiana no período pós guerra civil norte-americana até às bem mais atuais cédulas emitidas pelas províncias da República Argentina(23).

O desenvolvimento sócio-económico local

Mas a grande característica base das Moedas Comunitárias é que o seu objetivo se centra no desenvolvimento sócio-económico local. Injetando capital circulante ou facilitando trocas de produtos e serviços, atuando numa área populacional ou visando especificamente um segmento local da população, a Moeda Comunitária é essencialmente um instrumento económico e social e não um instrumento financeiro.

Aliás, uma das características da Moeda Comunitária é a de não visar - e, na maioria dos casos até impossibilitar - ser usada, per si, de uma forma especulativa, geradora de mais-valias e até de acumulação de riqueza. Para isto, muitas delas têm expressamente associados conceitos de não possibilidade de juros(24), de valor máximo acumulável por pessoa, de desvalorização progressiva e periódica, etc.

Por outro lado, não consideramos neste âmbito as moedas (também) ditas “Sociais”, mais vocacionadas para diferentes objetivos que não o desenvolvimento

(22) - Abaixo, imagem de cédula de 1943 do gueto judeu de Theresienstadt.

(23) - Acima, imagem do Baby Bond, de 1865.

(24) - Um dos termos anglófonos aplicáveis é o de “Usuryfree” que, numa tradução livre se pode converter em

“livre de especulação”.

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sócio-económico local, nomeadamente objetivos de divulgação ou até de cariz pedagógico. Várias destas têm um carácter temporário e estão ligadas a um evento específico (e daí as denominarmos “Moedas Sociais de Evento”), constituindo Emissões Especiais(25), não objeto da presente abordagem. Um dos exemplos, ilustrado na figura ao lado, é o de moedas criadas e destinadas a serem usadas em fóruns relacionados com Economia Solidária, como é da Amazônida(26).

(25) - Categoria diferente que consideramos no âmbito da Notafilia, a par da “Moeda Comunitária” e não

objeto da presente abordagem.

(26) – A Amazônida foi produzida e usada no Fórum Social Mundial de 2009, realizado em Belém, Brasil, e

retirada de circulação após o final do evento.

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2.2. Moeda Local e Moeda de Trocas

As características que atrás focámos são ainda demasiadamente abrangentes, pela necessidade de incluir vários tipos de sistemas implementados pelo mundo e que julgamos configurarem o mesmo conceito essencial de Moeda Comunitária. Como em todas as análises, julgamos poder perder em correção, mas ganhar em clareza, se as “compartimentarmos” em tipos base. Optámos fazê-lo considerando existirem essencialmente duas abordagens distintas que têm vindo a surgir e a consolidarem-se um pouco por todo o mundo: a Moeda Local e a Moeda de Trocas.

Guardamos para o capítulo seguinte uma variante muito específica, que passamos a denominar Moeda de Cidadania, mas que quase sai fora do normal conceito de “moeda” e por isso não a consideramos aqui como uma terceira abordagem base.

A primeira - a Moeda Local - é emitida por entidades privadas gozando ou não de apoios estatais, tem (ou tenta ter) um lastro que lhe dê maior credibilidade e aceitação e dirige-se a uma comunidade de uma forma permanente e, normalmente, através de regras bem definidas (nomeadamente quanto à sua aceitação e utilização). Visa essencialmente desenvolver economicamente essa comunidade através da injeção de moeda complementar à oficial, provocando um aumento do poder de compra local potenciado ainda pela maior circulação que tem ao confinar-se num espaço delimitado em que é válida.

A segunda - a Moeda de Trocas - é também emitida por entidades privadas, quase nunca com apoios estatais (com eventual exceção de entidades regionais ou locais de cariz social), não é lastrada e constitui-se essencialmente como mecanismo de apoio a operações de trocas de bens e serviços mais abrangentes que a mera troca direta. Em muitos casos, a sua aceitação/validade é circunscrita, local e temporariamente, a conjuntos bem definidos de pessoas e entidades aderentes (Clubes de Trocas) ou eventos específicos periódicos (Mercados de Trocas) para que foi criada.

Moeda Local

O grande objetivo da Moeda Local é o de injetar liquidez numa comunidade aumentando a circulação monetária e com isso conseguir um desenvolvimento económico - e, logo também, social - da comunidade abrangida.

A teoria base é simples. Se a existência de moeda - dinheiro - é necessária para estimular a produção e o comércio e o incremento destes, por sua vez, gera mais emprego e dinheiro circulante (capacidade de compra), então uma comunidade

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pode desenvolver-se com a injeção de capital que aumente o poder de compra dos membros dessa comunidade desde que esse novo poder de compra seja canalizado para estímulo da atividade económica no interior dessa comunidade e não se escoe para fora dela. Daí a lógica de uma moeda claramente local, válida apenas no interior da comunidade alvo.

A injeção de capital inicial pode - e tem sido - obtida de vários processos. Nas moedas mais “sólidas”, a produção é lastrada por reserva de moeda “normal” equivalente, o que se traduz numa sua maior credibilidade - e logo aceitação e capacidade de circular - aumentando a sua probabilidade de sucesso. Desde a captação de capital por estabelecimento de uma Associação em que os membros são cotados, à captação de fundos de ONG (Organizações Não Governamentais) e mesmo de entidades do Estado vocacionadas para o desenvolvimento social, vários têm sido os métodos utilizados.

A circulação fechada da moeda criada é obtida pela sua aceitação, sendo vulgar o associativismo de estabelecimentos comerciais para tal e a existência de poucos pontos - e sempre locais - onde a moeda pode ser “trocada” por moeda “normal”. Nalguns casos existe até regulamentação impondo limites geográficos à sua circulação e validade ou às entidades - normalmente do comércio recetor da moeda - que a podem trocar.

Aliás, a questão da regulamentação é um dos itens controversos em diversos países. Se uns apoiam a criação de Moeda Comunitária(27), como parte de medidas de cariz sócio-económico de apoio regional, é certo que, em quase todos, a produção de moeda é um direito apenas reservado ao Estado ou a um organismo próprio supranacional...

A injeção de capital que se mantém em circulação no interior de uma comunidade é vital, mas insuficiente se não circular, ou seja, se não for sucessivamente usado para proceder a aquisições de bens e serviços. A rapidez com que circule é igualmente determinante neste caso podendo constituir um fator multiplicativo do capital injetado e, logo, dos aspetos benéficos que se pretendem alcançar. Uma das técnicas destinadas a aumentar o ritmo de

circulação da moeda é dotar as cédulas de um prazo de validade ou de as depreciar findo um tempo determinado. Na Europa muitas são as moedas que sofrem desvalorizações ao fim de períodos fixos de tempo - por exemplo, de 2% por trimestre - carecendo de algum mecanismo

(27) – O Brasil é um caso paradigmático disto mesmo; após 2005, bancos comunitários têm vindo a ser

apoiados pelo Ministério do Trabalho e Emprego e envolvimento ativo do próprio Banco do Brasil. Na

Venezuela, foi o próprio Hugo Chávez o impulsionador da criação da primeira moeda comunitária...

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complementar – muitas vezes a aposição de um cupão de valor igual à desvalorização - para retomarem o seu valor(28). Consegue-se assim um efeito de aumento da rapidez da circulação (gastar agora, antes que desvalorize!), se bem que com efeitos negativos na aceitação comunitária de uma moeda que se deprecia face à “normal” em vigor a nível nacional.

Este mecanismo de desvalorização automática da moeda e da necessidade de adquirir cupões para repor o seu valor inicial é um dos típicos mecanismos geradores de mais-valias em algumas moedas, nomeadamente europeias, que permite a recuperação de custos pela entidade organizadora ou responsável pela gestão da moeda. Outros existem, sendo os mais vulgarizados, o da existência de taxas de trocas de moeda (normalmente da comunitária pela “nacional”) e o das taxas de adesão ou participação.

Nós, colecionadores, poderemos introduzir outro efeito gerador de “mais-valias”. A retirada de circulação de papel-moeda por particulares ou a sua saída para canais de Notafilia, transforma as cédulas - papel-moeda - em objetos colecionáveis ou em meras recordações, gerando assim uma “mais-valia” direta para a entidade emissora cifrada na diferença entre o seu valor facial e o seu bastante inferior custo da produção. Curiosamente, este é um aspeto a nosso ver (ainda) pouco explorado.

Historicamente, este tipo de moeda encontra fundamentação em teorias económicas no pós Primeira Grande Guerra, tendo-se destacado Silvio Gesell, alemão de nascimento (da zona de Sankt Vith, atualmente território belga) e os seus conceitos de “Economia Livre” (“Freiwirtschaft” em alemão) e de Freigeld (“Dinheiro livre”). As primeiras moedas comunitárias deste tipo foram a alemã Wara(29), em 1931 e a austríaca Worgl, dois

anos depois, respetivamente da responsabilidade de um engenheiro de uma empresa mineira a tentar retomar a atividade e de um burgomestre de um município com a economia estagnada e graves problemas de desemprego. Ambos sem dinheiro e a precisar dele...

Quer uma quer outra tiveram um enorme sucesso local, mas ambas foram proibidas pouco depois pelos respetivos Bancos Centrais...

Atualmente, vive-se outro surto - bastante maior agora - de surgimentos de moedas comunitárias. Quer em países de economias avançadas, como é o caso da Alemanha, quer em locais de graves carências sócio-económicas, como é o

(28) - Caso do AmmerLechTaler, moeda local da região alemã de Lech. Na figura anterior é claramente visível

os “selos” trimestrais no valor de 2 cêntimos (de Euro).

(29) - Imagem ao lado foi obtida do site www.complementarycurrency.org.

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caso de favelas brasileiras. Umas com objetivos mais económicos; outras com objetivos mais sociais.

O Chiemgauer alemão, com uma vertente mais económica, e o Palma

brasileiro(30), de vertente mais social, foram ambos lançados em 2002 e constituem casos merecedores de especial destaque pelo seu claro cariz inovador, por serem casos de consolidado sucesso e, sobretudo, por ambos se terem vindo a afirmar como exemplos, várias vezes replicados ou inspiradores da criação de outras moedas comunitárias dos respetivos países...

Dependendo um pouco da sua importância e implantação, este tipo de moedas correm algum risco de terem as suas cédulas falsificadas. Como defesa, algumas destas emitem cédulas bastante elaboradas, em papel especial e com vários dispositivos de segurança e controlo. Casos há em que até são produzidas nas mesmas gráficas que as notas da moeda oficial de circulação corrente!

Moeda de Trocas

A troca é uma das mais antigas atividades sociais(31). Duas partes, pondo-se de acordo, concordam em trocar entre si produtos ou serviços que consideram equivalentes; é a troca direta. Uma das funções da moeda é precisamente de servir como medida de valor e assim viabilizar quer a concretização de trocas não equilibradas entre bens e serviços - em que a moeda acompanha o produto ou bem menos valioso compensando a sua menor valia - quer a troca indireta, ou triangulação de trocas, em que a moeda recebida numa venda “transporta” o valor que viabiliza uma aquisição a terceira entidade.

Fenómenos de troca direta ou de feiras de trocas têm ressurgido nas últimas décadas um pouco por todo o mundo, assentes mais em valências sociais do que em interesses económicos e em que princípios como a Honestidade e a Solidariedade se têm afirmado. O LETS (Local Exchange Trading

(30) - A imagem da cédula de Palmas foi obtida no site www.complementarycurrency.org.

(31) - Ao lado, o “Homo Truekiando”, uma curiosa personagem muito usada na divulgação de feiras de trocas

na região de Medellín, berço do uso de moedas comunitárias na Colômbia.

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System(32)) implementado em 1982 por Michael Linton no Canadá e a criação do primeiro Clube de Trocas (Club del Trueque(33)) na Argentina em 1995, são atualmente reconhecidos marcos históricos nesta nova fase de trocas sociais que se vem afirmando um pouco por todo o mundo.

Normalmente circunscrito a um nível local, este fenómeno já atingiu, no entanto, autenticas dimensões nacionais, como foi o caso das redes de trocas implementadas na Argentina(34) que, no seu apogeu em 2002, chegaram a envolver mais de 5 mil clubes, 2,5 milhões de pessoas e trocas de bens num valor estimado entre 400 milhões e 4 biliões de euros!

Mas a aplicação mais usual desta Moeda de Trocas tem sido quer ao nível de Clubes de Trocas quer ao nível de Feiras ou Mercados de Trocas, muitas vezes designados por Feiras ou Mercados Solidários.

Os Clubes de Trocas constituem conjuntos fechados de entidades aderentes – pessoas mas, eventualmente, também organizações económicas – que acordam entre si trocar bens e serviços de acordo com regras internas pré-definidas. A maioria usa uma “Moeda” como unidade padrão de valor, consubstanciada ou não fisicamente por cédulas. Como Unidade de Valor, a contabilidade de um “deve” e “haver” pode ser – e é-o em muitos casos – feita sem recurso à existência de papel-moeda. Vários sistemas são usados um pouco por todo o mundo, desde a vulgar “conta-corrente” manual até ao uso de mais sofisticados programas informáticos.

Talvez por ser mais intuitiva e fácil a portabilidade de um valor a “crédito”, muitos dos Clubes de Trocas usam o conceito de papel-moeda e produzem cédulas próprias. A “moeda” usada é normalmente específica, se bem que em muitos casos com uma equivalência informal (e voluntariamente aceite) à moeda corrente de curso legal (uma vez mais por ser mais intuitiva e fácil de aceitar e manusear). Noutros casos, a unidade padrão de valor é totalmente específica desse mesmo sistema.

(32) - Curiosamente, Michael Linton veio posteriormente a afirmar (Novembro de 2000) que quando inventou

o termo “LETS” não o fez pensando em qualquer acrónimo. Alguns britânicos consideram que provém

do inglês “Let´s go” (“vamos”), outros que significa “Local Employment and Trade System”, etc.

Adotámos o significado mais usual.

(33) - Na realidade, “Trueque”, que é normalmente traduzido por “Troca” neste contexto, é uma palavra

castelhana que significa “Barato”.

(34) - Onde se pode destacar a importância do trabalho da socióloga brasileira Heloisa Primavera, que marcou

ainda outros países na América do Sul, nomeadamente no Brasil. Ao lado, figura do célebre Arbolito,

cédula de trocas que atingiu uma verdadeira dimensão de aceitação nacional.

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Merece particular referência – por muito divulgada – o uso da unidade padrão de valor em tempo, normalmente a “Hora de Trabalho”. Neste âmbito, a grande referência foi – e continua a ser – a pioneira americana Hora Ithaca, lançada em 1991 e talvez a mais bem-sucedida Moeda Comunitária de sempre(35). A filosofia da “Hora” adapta-se particularmente bem ao conceito de troca de serviços (claro que, sem adaptação, não tanto ao conceito de trocas de bens) e é largamente adotada um pouco por todo o mundo.

As Feiras Solidárias – em Portugal mais conhecidas por Mercados Solidários – constituem outra faceta do uso das Moedas de Trocas. São normalmente eventos periódicos e abertos ao público em geral. Dado serem “de trocas”, estas feiras pressupõem que cada participante seja, cumulativamente, produtor e consumidor dos bens e serviços trocados nessas feiras; daí ser usado para eles o termo “prossumidor”(36).

De um modo geral, estas feiras têm uma grande componente intrínseca de apoio social, de solidariedade. Ainda assim, o uso de moeda própria é frequente dada a necessidade de viabilizar mais do que apenas trocas diretas e esta ser um meio simples, intuitivo e eficaz de portabilidade de valor no âmbito da Feira.

No geral, a moeda produzida para as feiras ou mercados tem uma validade circunscrita, local e temporalmente, ao evento para que é criada, se bem que o seu uso possa ser “retomado” em próximo evento similar.

A sua distribuição segue, normalmente, uma de duas grandes correntes: a

entrega de um quantitativo fixo a cada participante, conferindo-lhe assim desde logo a capacidade de efetuar trocas indiretas (na América Latina, nomeadamente na Colômbia, designam estas cédulas até pelo significativo termo de

(35) – Criada em Outubro de 1991 por Paul Glover, a Hora Ithaca é atualmente uma verdadeira moeda

comunitária de referência em todo o mundo. Na imagem, uma das cédulas de 1994.

(36) - Curiosamente, o termo (no inglês “Prosumer”) foi usado pela primeira vez por Alvin Toffler em 1980,

no seu livro “A Terceira Vaga”, mas num conceito algo diferente...

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“facilitadores”(37)); ou de forma proporcional ao valor dos bens apresentados ou do compromisso de prestação de serviços, que assim passam a ser “pertença” da banca ou da organização do mercado.

Também relativamente à circulação de moeda, as feiras podem apresentar diferenças relativamente ao normalmente praticado mais em Clubes de Trocas, onde a moeda se mantém como reserva de valor na mão do participante. Para além desta possibilidade, é usada também a alternativa da recolha da moeda sobrante no final de cada mercado(38), opção mais em uso quando a prática de distribuição inicial é a do quantitativo fixo por participante. Esta recolha, sem qualquer mecanismo de compensação, ou apenas de modo parcial, a que faz a entrega da moeda sobrante, visa essencialmente retirar a capacidade de “acumular riqueza” em sucessivas feiras. Mecanismos de eficácia similar são feitos algumas vezes através da própria elaboração das cédulas; a aposição nestas ou de data de validade ou da identificação da edição da feira, por exemplo, em conjugação com regulamentação para aceitação condicionada de cédulas de edições anteriores e algo vulgarmente usado neste contexto.

Num e noutro caso – em Clubes de Trocas ou em Feiras de Trocas - a moeda é assim, na génese, produzida, distribuída e controlada pelos seus utilizadores, constituindo-se essencialmente como uma medida de valor, sem um valor próprio intrínseco (segundo alguns, umas das razões para que as transações que suporta não serem passíveis da aplicação de impostos ou quaisquer outras taxas). Não é por isso sujeita a inflação (uma couve é uma couve; uma hora de trabalho é uma hora de trabalho...) nem passível de aplicações usuárias (juros ou especulações não fazem sentido num instrumento que não visa acumular riqueza). No entanto, podemos dizer que – na generalidade - a moeda em uso em Clubes de Trocas acaba por ter uma maior tendência para se constituir como “moeda paralela” que a que apenas é usada em Feiras de Trocas.

Relativamente às Moedas Locais, as Moedas de Trocas têm assim um cariz bem mais temporário e precário. A emissão de cédulas que a suportem exige bastante menor controlo e as próprias cédulas têm bem menos tendência a serem falsificadas para uso fraudulento. Como consequência, é clara a tendência para que as cédulas de Moedas de Trocas sejam, de um modo geral, bem menos elaboradas que as suas congéneres de Moedas Locais, sendo muito raras as que dispõem de mecanismos contra falsificações e muito menos as que são

elaboradas com algum mecanismo de controlo tais como números de série, data de validade ou assinatura.

(37) - Ilustrado na imagem ao lado, de uma cédula emitida em apoio de feira de trocas vocacionada para a

participação feminina.

(38) - Permitam-nos a ligeireza da observação de ser, para nós colecionadores, uma opção bem menos

atrativa...

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Um fenómeno interessante que se tem vindo a verificar (característico, por exemplo, nas moedas comunitárias norte-americanas, sobretudo após a segunda metade da década de 1990) é o das Moedas de Trocas incorporaram progressivamente a capacidade de serem usadas para a aquisição de bens e serviços, evolução típica, nomeadamente, em seio de Clubes de Trocas em que participem estabelecimentos comerciais. A “evolução” no sentido de se constituir bem mais como uma “moeda paralela” ou seja, do seu uso já não ser apenas como Moeda de Trocas, mas também (e em muitos casos essencialmente) como Moeda Locais. O exemplo que demos acima, da Hora Ithaca, é um destes casos(39)...

(39) – A “Hora” teve uma equivalência informal a 10 USD e circulam atualmente cédulas num valor total de

cerca de 100 mil USD, aceites por 3 centenas de empresas... Ithaca é uma cidade de apenas cerca de 30

mil habitantes do estado de Nova Iorque.

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2.3. Moeda de Cidadania

Considerámos atrás apenas duas abordagens distintas da Moeda Comunitária: a Moeda Local e a Moeda de Trocas. Ambas circulam como “dinheiro alternativo” entre diversos utilizadores, podendo passar de mão em mão o poder aquisitivo que intrinsecamente contemplam e viabilizar trocas de bens e serviços entre os seus diversos utilizadores; funções típicas de “dinheiro”.

Pelo contrário, a que denominamos “Moeda de Cidadania” funciona bem mais próximo de um “vale” a ser descontado na entidade emissora; no entanto, com

diferenças substanciais relativamente a este, sobretudo ao nível do seu objetivo, pois ao invés da estimulação do consumo, da fidelização do consumidor ou do aumento do lucro da entidade emissora, visa objetivos claramente mais nobres na área da Cidadania.

Este tipo de moedas têm vindo a ser implementadas cada vez em maior número, como instrumento ao serviço da formação cívica, do incentivo a atividades culturais ou até ao apoio social básico.

Uma das suas aplicações mais comuns deste tipo de moeda tem sido ao nível da troca de serviços de índole comunitária – muitos deles na área da ecologia (por exemplo recolha de materiais recicláveis, etc.) – por bens de apoio social (caso de alimentos, roupas, brinquedos, etc.) já existentes para serem fornecidos. A moeda serve inicialmente como “pagamento” dos trabalhos efetuados e é depois descontada na “aquisição” de bens fornecidos pela própria entidade emissora. Na prática, não proceder à mera dádiva de produtos sociais, mas estimular a sua aquisição à custa de trabalho social.

Apesar de tais práticas estarem a surgir um pouco por todo o mundo, julgamos merecerem particular referência algumas experiências inovadoras neste âmbito, levadas a cabo no Brasil com início ainda na segunda metade da década de 1990, sobretudo em áreas carenciadas, de elevado desemprego ou com problemas de criminalidade. Uma dessas iniciativas mais emblemáticas, considerada aliás de especial mérito pela Fundação Banco do Brasil e replicada em vários pontos

do país, é o Projecto TransformAção com a moeda EcoReal(40).

(40) – O Projecto TransformAção foi implementado em Campo Grande, Rio de Janeiro, em 2001 pelo Núcleo

Especial de Atenção à Criança (NEAC) no âmbito do apoio a crianças desfavorecidas. Consiste

essencialmente na recolha de material reciclável, sua troca pela moeda EcoReal com a qual se podem

adquirir certos bens de consumo em mercado próprio. A venda do material reciclável financia todo o

projeto (que fica a custo zero) e dá ainda para apoiar ações educativas a crianças desfavorecidas.

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Uma das características deste tipo de moeda é a de não ter qualquer lastro em moeda oficial, sendo muitas vezes lastrada pelos bens de consumo previamente doados. A sua validade é normalmente muito limitada geograficamente, não raras vezes resumindo-se a um único local de “venda” dos produtos da entidade emissora, aproximando-se aqui do funcionamento típico de um “vale”. Mas ao contrário deste, tem uma duração continuada.

As cédulas são, tal como no caso das congéneres de Moedas de Trocas, relativamente simples, pouco elaboradas e sem contemplarem dispositivos de controlo e segurança.

Estima-se que nos 3 primeiros anos tenham sido recolhidas 720 mil garrafas e preservadas 4.800

árvores com o material reciclado, tendo sido apoiadas escolarmente 400 crianças!

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3. ENQUADRAMENTO MUNDIAL DA MOEDA COMUNITÁRIA

Não é consensual marcar um início para o aparecimento da Moeda Comunitária, até porque não é consensual a sua definição. O próprio papel-moeda aparece, como já referido, num conceito claramente local, mas que, na nossa ótica e como atrás referimos, não deve ser confundido com o de Moeda Comunitária. Menos controversa é a aceitação de casos como o Wara (Alemanha, 1931), do Worgl (Áustria, 1933), do Valor (França, 1935) ou da Libremoneda, de Silvio Gesell (Argentina, 1936)(41), que julgamos reunirem todas as condições para serem considerados exemplos pioneiros de Moedas Comunitárias, mais concretamente de Moedas Locais. Podemos assim considerar que a Europa é o continente berço do moderno fenómeno desse tipo de moedas, se bem que num movimento que então morreu.

Na década de 1960, surgiu nova experiência similar, mas limitada aos países da Europa de Leste; o chamado Dinheiro Kolkhoz, usado inicialmente na Alemanha Democrática e depois na União Soviética nas explorações agrícolas de kolkhoz e de sovkhoz(42) e replicado em vários países da Europa então na esfera soviética. No entanto, este tipo de moeda não surgiu nem assim de forma tão espontânea nem tanto dirigido ao desenvolvimento social e

económico, mas bem mais como uma solução política para suprir necessidades decorrentes de falta de moeda corrente. O que só no limite nos leva a considerá-lo como Moeda Comunitária. Com a implosão da URSS, em 1991, este tipo de moeda entrou em declínio. Curiosamente, na altura do grande ressurgimento da Moeda Comunitária...

Com efeito, foi nas décadas de 1980 e 1990 que as Moedas Comunitárias voltaram a emergir, agora num processo que tem tido continuidade até aos nossos dias. O LETS - Local Exchange Trading System - implementado em 1982 por Michael Linton no Canadá, veio dar um novo enquadramento ao milenar fenómeno das trocas de bens e produtos e constituiu-se verdadeiramente como um modelo moderno replicado em todo o mundo. Na sua sequência, as Moedas

(41) – Ilustrada na imagem ao lado, obtida no site www.complementarycurrency.org.

(42) - Os Kolkhozes e os Sovkhozes constituíram a base do sistema agrícola coletivizado da URSS. Pouco

diferiam entre si: o Kolkhoz era uma cooperativa agrícola de produção (os que nela trabalhavam eram,

portanto, membros de uma cooperativa) e o Sovkhoz uma unidade agrícola do estado (e,

consequentemente, quem lá trabalhava era funcionário do estado). A imagem é de cédula de Rublo de

Russkoye, de 1988.

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de Trocas foram implementadas, viabilizando trocas equilibradas para além das limitadas trocas diretas.

As primeiras Moedas Comunitárias desta nova fase surgiram então em força na década de 1990, com pioneirismo para os Estados Unidos (em 1991) mas também um pouco por todo o mundo: Nova Zelândia (ainda em 1991); Países Baixos (em 1993); Canadá (em 1994); Argentina, Japão e México (em 1995); Senegal e Uruguai (em 1998); Alemanha, Brasil, Colômbia e França (em 1999); etc..

Na Europa, estes clubes de LETS surgiram essencialmente no Reino Unido

(ainda na década de 1980), na Alemanha (1993) e na França (1994), mas maioritariamente sem emitirem papel-moeda.

Ainda na década de 1990, mas sobretudo na década de 2000, as moedas comunitárias sobreviventes e as novas entretanto implementadas, incorporaram progressivamente a capacidade de serem usadas para a aquisição de bens e serviços em estabelecimentos comerciais aderentes. Ou seja, no seu uso já não apenas como Moedas de Trocas, mas também (ou só) como Moedas Locais. A Hora Ithaca (EUA, iniciada em 1991) é talvez o exemplo mais conhecido, tal como o sul-americano Arbolito (Argentina, 1996).

As Moedas Comunitárias mantinham-se então circunscritas a pequenas áreas, nunca constituindo fenómenos de importância nacional. A exceção foi a Argentina, precisamente com o Arbolito. O enorme desemprego, a desvalorização do Peso e a chamada “crise do curralito” (em que as contas bancárias foram parcialmente congeladas lançando uma grande escassez de moeda circulante) propiciou um enorme desenvolvimento de clubes de trocas (Club del Trueque) e da moeda comunitária que lhe era associada, levando a uma dimensão até então inesperada. O apogeu deu-se em 2002, com números impressionantes: 5 mil clubes de trocas em funcionamento, muitos deles com mais de 4 mil associados; 2,5 milhões de pessoas a participar em mercados de trocas; trocas de bens num valor estimado, conforme as fontes, entre 400 milhões a 4 biliões de euros! Com uma tal amplitude - sem qualquer controlo centralizado e com diminuta e ineficaz regulamentação - o sistema tornou-se permeável à hiperinflação, à fraude e à falsificação entrando em colapso em finais desse mesmo ano de 2002(43).

(43) – A bem jocosa imagem da página ao lado encontra-se difundida em vários blogues, nomeadamente

argentinos.

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As Moedas Locais “puras” só vieram a adquirir preponderância na década de 2000, com algumas referências mundiais a merecem particular destaque, nomeadamente a Palmas (Brasil, 2002), com uma vertente mais social, e a europeia Chiemgauer (Alemanha, 2003), com uma vertente essencialmente mais economicista.

Este movimento das Moedas Comunitárias tem vindo a crescer significativamente um pouco por todo o mundo.

Na América do Norte, essencialmente nos Estados Unidos e no Canadá, novas

moedas têm surgido, maioritariamente do tipo de Moedas Locais em ambiente urbano.

Na América do Sul muitas são as iniciativas a nível de Moedas de Trocas, com a criação também de Moedas Locais. A diversidade de abrangência é substancialmente maior em termos de meios rurais e urbanos e os países mais dinâmicos são a Argentina (a refazer-se do crash de 2002) e o Brasil. Mas a existência de moedas em países como a Colômbia e a Venezuela (com a curiosidade da primeira moeda a ser implementada ter contado com intervenção direta do Presidente Hugo Chávez(44)) é também significativa.

Na Europa as mais importantes moedas implementadas são essencialmente Moedas Locais, eventualmente explicado não apenas por algum relativo atraso na divulgação das iniciais Moedas de Trocas mas, sobretudo, pelo interesse na introdução de mecanismos muito mais virados para o desenvolvimento económico local que para um apoio social, com a consequente configuração da Moeda Local a ser mais eficaz e privilegiada. O seu aparecimento no velho

continente tem sido, no entanto, bastante desigual. A Alemanha, sobretudo depois da criação do Chiemgauer (em 2003) assumiu uma clara liderança neste âmbito. A Áustria (após 2005) tem ainda uma posição significativa e o Reino Unido, apesar de ter começado bem mais tarde (2007)(45) mostra alguma dinâmica agora

na implementação deste tipo de Moedas. Os restantes, de um modo geral, estão ainda numa fase muito incipiente em termos de Economia Solidária ou, caso da França, por exemplo, têm-se mantido apenas na fase de Clubes de Trocas, maioritariamente de reduzida dimensão e impacto local pouco significativo e com

(44) – Sem desrespeito, ilustrada na bem-humorada imagem ao lado, publicada a este propósito pelo jornal

Diário O Estado de S. Paulo.

(45) – A imagem ao lado é da pioneira Libra de Totnes, de 2007.

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muito poucos a emitir moeda própria. No entanto, recentes iniciativas, nomeadamente sob a forma de Colóquios ou Conferências internacionais em países como a França ou a Espanha, têm vindo a ser implementadas visando estimular o aparecimento generalizado de Moedas Locais, com vários projetos em curso atualmente...

A África, a Ásia e a Oceânia são os continentes onde menos se tem verificado este surto de moedas comunitárias. Com exceção do polo Austrália e Nova Zelândia e também do Japão (com algumas curiosas moedas vocacionadas para a troca de serviços no âmbito do apoio social, nomeadamente de idosos(46)), as experiências a este nível são ainda relativamente raras e bastante dispersas, sendo grande parte delas decorrentes de iniciativas pessoais de europeus.

Moedas Comunitárias baseadas em transações eletrónicas, ou seja sem a emissão física de papel-moeda, têm vindo a constituir-se e serão, porventura, um movimento importante nesta área. Mas, conforme referido, tal extravasa o âmbito do nosso estudo.

Igualmente não seremos competentes para considerar o efeito da atual crise económica e financeira no aparecimento de mais Moedas Comunitárias. No entanto, meramente como não especialistas na matéria, julgamos poder dizer que, apesar do seu uso não ter, porventura, qualquer impacto significativo a uma escala de país, poderá ser relevante a nível sócio-económico local. Com efeito, o aparecimento de Moedas de Trocas (em ambiente LETS ou similar) tem estado muitas vezes associado a medidas de cariz solidário e de apoio social, particularmente em zonas sociais carenciadas ou alturas de particulares dificuldades económicas. Inclusive na Europa...

Por outro lado, as Moedas Locais são um instrumento por excelência de dinamização local da economia, até de incentivo ao consumo e de possível injeção de recursos financeiros, aspetos particularmente relevantes em ambiente de fraco crescimento económico ou até recessão bem como de dificuldades de liquidez financeira, de acesso ao crédito e de crise monetária. Até os mecanismos legais associados ao lançamento de moeda “privada” local acreditamos não virem a ser empecilho, pelo apoio, ou pelo menos não interferência, da maioria dos países. No âmbito específico da União Europeia, e mesmo até nos países aderentes ao Euro, aspetos como a consolidação do uso da Moeda Local na

influente Alemanha(47) e os recentes interesses em Economia Solidária por parte de países como a Espanha e a França, levam-nos a manter esta crença...

(46) – Caso da Hureai Kippu (ou Fureai Kippu), que numa tradução livre se poderá designar por “Bilhetes de

Solidariedade” ilustrada na figura ao lado, obtida no site www-arengufond-ee.

(47) – Não resistimos a parafrasear George Orwell. Sabemos que na União Europeia todos os países são iguais;

mas é notório que há uns mais iguais do que outros...

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4. – SITUAÇÃO ESPECÍFICA PORTUGUESA

À semelhança de outros países, Portugal procedeu a emissões locais, mais concretamente de cariz municipal, no período do final da Primeira Grande Guerra e nos anos subsequentes(48). O seu cariz foi, essencialmente, o de emissões de emergência suprindo os baixos valores faciais em falta normalmente abrangidos por moeda metálica; e, como tal, não as abrangemos no nosso conceito de “Moedas Comunitárias”.

Sabemos ainda da existência de sistemas de apoio social que se baseavam na

circulação de “papel-moeda” criado para o efeito. Organizações locais da Conferência de São Vicente de Paulo(49), por exemplo, distribuíam umas “senhas” a pessoas carenciadas, passíveis de serem descontadas depois em vários estabelecimentos comerciais locais aderentes, sobretudo de produtos alimentares, num sistema financiado pelos próprios Confrades e que encontrámos referências de ter sido usado ainda na década de 1930. Apesar do conceito ser algo similar ao das Moedas de Cidadania, este sistema é bem mais um vulgar sistema de “senhas de desconto” do que um que possa configurar o de “Moedas Comunitárias”.

Estas vêm a surgir no país bem mais tarde, já na segunda metade da década de 2000, sob a forma de Moedas de Trocas, inseridas na filosofia base do LETS.

A aplicação do conceito do LETS, quer na forma de Clubes de Trocas quer na de Bancos de Tempo, aparece em Portugal no início década de 2000(50), mas tem uma relativamente diminuta expressão a nível

nacional. No entanto, em termos de Bancos de Tempo, são referidos já cerca de três dezenas deles em funcionamento, mas nenhum deles emitindo cédulas próprias.

Esse mesmo conceito base das Trocas tem estado na origem de outras iniciativas curiosas mais recentes, aproveitando a facilidade das novas tecnologias de comunicação, nomeadamente a internet. O recente DOU(51), um site de “dar e receber”, criado em 2011, é um bom exemplo desta filosofia.

A principal aplicação deste conceito do LETS tem-se revelado

essencialmente no aparecimento de Feiras de Trocas / Mercados Solidários; eventos normalmente abertos ao público em geral e que têm surgido

(48) - Especificamente, entre 1917 e 1925. Tinha já tido um período de emissão anterior, em 1891.

(49) - Agora Sociedade de São Vicente de Paulo.

(50) - Ao lado, logótipo de Banco de Tempo de Graal, fundado em 2001 e principal dinamizador dos Bancos

de Tempo em Portugal.

(51) - Site www.dou.pt, criado pela Escala – Associação para o Desenvolvimento Sustentável.

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um pouco por todo o país, muitos deles sob iniciativa de entidades particulares operando na área do apoio social ou da cidadania, com alguns apoios, principalmente de índole autárquica.

Com efeito, neste âmbito, várias experiências interessantes têm sido levadas a cabo, maioritariamente com uma forte componente de apoio social (o termo “Solidário” é até usado em muitas delas). Uns sem qualquer tipo de moeda adotada (praticando apenas a restrita modalidade da Troca Direta(52)), mas outros adotando moeda própria, mesmo que apenas virtual, atuando apenas como uma medida de valor e sem recorrer ao uso

físico de papel-moeda. Das várias que existirão, identificámos os casos da Trocal (2003; Cascais. 2004; Porto), da Root (2006; Quinta Cabeça do Mato), da Abraço (2008; Faro), da Crédito (2010; Lisboa), da ECO (2012; sistema web EcoTrocas), da Valongo’s (2012; Valongo do Vouga), da Estrela (2012, Região das Beiras / Benfeita)(53), da Eco (2013, Quinta do Anjo, em Palmela), da Trok (2013, Lisboa) e da Anjo (2013, Lisboa).

As pioneiras baseadas em papel-moeda ocorreram quase em simultâneo em 2006, sendo ambas também Moedas de Trocas em apoio a experiências piloto de

Mercados Solidários: a Granja, na Granja do Ulmeiro (concelho de Soure, distrito de Coimbra);e a Solidário, em São Brás de Alportel (concelho do distrito de Faro). Sabendo que o processo de implementação de moedas é sempre um trabalho de equipa, julgamos, no entanto, ser justo e pertinente referir especificamente as pioneiras Teresa Cunha(54), a quem se deve a introdução da moeda comunitária em Portugal (com a Granja), Priscila Soares (criadora da Solidário) e Ana da Silva. Ainda,

mais recentemente e com um enfoque em moedas vocacionadas para crianças, não podemos deixar de referir Samuel Machado. Quatro incontornáveis ativistas da Moeda Comunitária em Portugal.

A Granja e a Solidário marcaram o panorama inicial das Moedas Comunitárias em Portugal; adotando ambas uma filosofia comum de Moedas de Trocas vocacionadas para uso em feiras ou mercados de cariz solidário, influenciaram decisivamente o tipo de Moedas Comunitárias que foram criadas nos primeiros

anos subsequentes ao seu aparecimento. Casos das moedas Torga (2008; Chão Sobral), Campino (2008; Vale de Figueira), Diabitas (2008; Samuel), Saurios

(52) - Caso da TrocAqui, feira de trocas periódica iniciada em Faro em Julho de 2011 e que a imagem ilustra

(retirada do site www.glocalfaro.blogspot.com).

(53) - Não confundir com a moeda homónima, de Março de 2013, que abordaremos neste trabalho.

(54) - Fotografia ao lado, tirada na Escola Superior de Educação de Coimbra, onde nos recebeu em Janeiro de

2012.

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(2008; Soure), Swap (2009; Almada), Feijão (2010; Porto), Pomba (2011; Alfarelos), Pombalino (2011; Cacela Velha), Morteiro (2011; Funchal) e Virtas (2012; Porto).

As iniciativas de associações como a da Acção para a Justiça e Paz (AJPaz) (da moeda Granja), da Associação In Loco (da moeda Solidário) e de projetos como o

Projecto Solidariedade Cidadã (PSC) bem como o envolvimento universitário das Escolas Superiores de Educação, sobretudo as de Coimbra (ESEC), Santarém (ESES) e Faro (ESEC de Faro), merecem aqui particular destaque. Importa ainda referir que, delimitando o âmbito de abrangência do nosso estudo, considerámos não ser de incluir moedas que apenas foram

implementadas circunscritas ao âmbito interno escolar ou formativo, mas considerar aquelas que, mesmo nascendo deste contexto, foram levadas à prática num ambiente mais aberto e amplo que o mero processo de aprendizagem. Casos das moedas Justa (2007; ESEC em Coimbra), Sorriso e Esito (2008; ESES em

Santarém), Sol (2008; ESEC de Faro), ESECO (2010; ESEC em Coimbra) e Aleixo (2011; Escola Secundária de Vila Real de Santo António)(55).

Uma particularidade interessante destes Mercados de Trocas tem sido a existência de eventos deste tipo dirigidos expressamente a crianças, vários deles usando moeda comunitária própria. As características são, evidentemente, muito próprias; desde logo pelos objetos de cariz infantil expostos, mas também pela “qualidade” da moeda emitida, espaço onde decorre e a maior ou menor abertura a participantes. O leque vai desde experiências em sala apenas restritas ao grupo infantil que aí tem normalmente as suas atividades até grandes Feiras de Trocas em espaços públicos e abertas à sociedade. Se bem que a componente educativa seja transversal a todas, arriscamo-nos a dizer que as primeiras se inserem bem

mais num trabalho educativo dirigido a um grupo específico de crianças, ao passo que as segundas se podem considerar já como verdadeiros eventos comunitários. Se estas últimas são claramente de incluir neste estudo, relativamente às restantes optámos por considerar apenas aquelas que tenham sido usadas em eventos em que, ainda que de modo limitado, tenham sido abertos a um contexto exterior à mera sala de aulas ou grupo de crianças de

estabelecimento(56). Mesmo assim, é surpreendente a quantidade destas moedas que detectámos: Beijinho (2009; Vale de Santarém), Morango (2009; Santarém), Jardim (2011; Coimbra), Troca (2011; Góis), Giro (2012; Linda-a-Velha), Rio

(55) - As moedas Sorriso, Sol e Aleixo - implementadas em contexto formativo respetivamente na Escola

Superior de Educação de Santarém, na Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade

do Algarve e na Escola Secundária de Vila Real de Santo António - estão um pouco no limite, mas

optámos por considerá-las.

(56) - A imagem ao lado refere-se à experiência pioneira com moeda Beijinho. Imagem obtida na publicação

“Solidariedade Cidadã – Uma experimentação partilhada”, da Associação In Loco, Junho de 2009.

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(2012; Águeda), Estrela (2013; Póvoa da Lomba), Coroa (2013, Coimbra), Canguru (2013, Lisboa), Gaivota (2013, Aveiro) e Brinca (2013, Alverca).

Esta já apreciável quantidade de moedas reflete o aparecimento de mercados de trocas para crianças que, sobretudo desde 2011, têm vindo a proliferar um

pouco por todo o país. Neste campo específico das moedas para crianças, julgamos pertinente salientar quer o papel marcante que a Jardim - a primeira deste tipo destinada a uma utilização continuada - tem tido ao definir muitos dos conceitos base que influenciaram outras que se lhe seguiram, quer o trabalho específico de difusão deste tipo de moedas e de apoio à sua implementação que tem sido levado a cabo,

particularmente desde 2012, pelo já citado ativista Samuel Machado(57).

Ainda no âmbito das Moedas de Trocas, outra experiência muito curiosa e específica merece igualmente destaque: um mercado de trocas efetuado com pessoas portadoras de deficiências e que usou moeda própria, o Crialito (2009; Almeirim).

Tomando como base as moedas de trocas implementadas até 2012, é curioso verificar a existência de três polos base:

Na zona de Coimbra, com as moedas Granja (2006), Justa (2007), Torga, Diabita e Saurius (2008), ESECO (2010), Pomba e Jardim (2011), dinamizadas direta ou indiretamente pela Acção para a Justiça e Paz (AJPaz) e pela Escola Superior de Educação de Coimbra(58) e ainda com a autónoma Troca (2011). A Morteiro (2011), do Funchal, tem também raízes neste polo (via ESE).

No Algarve, com as moedas Solidário (2006), Sol (2008) e Aleixo (2011 ) dinamizadas pela Associação In Loco e pela Escola Superior de Educação e Comunicação de Faro(59) e pela autónoma Pombalino (2011).

Na região de Santarém, com as moedas Sorriso, Campino e Esito (2008) e Beijinho, Crialito

e Morango (2009), todas dinamizadas diretamente pela Escola Superior de Educação de Santarém(60).

(57) - Ele próprio ex-aluno da já referida pioneira Teresa Cunha. A fotografia é de 10 de Novembro de 2012 e

diz respeito a sua colaboração no 2º mercado da moeda Giro.

(58) - Com Teresa Cunha no duplo papel de Presidente da AJPaz e de docente da ESE de Coimbra.

(59) - Com Priscila Soares, responsável pela Associação In Loco e formadora na ESEC de Faro.

(60) - Com Ana da Silva, docente da ESE de Santarém.

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Fora destes três polos divulgadores, detetámos apenas a existência das moedas Swap (2009; Almada) e Feijão (2010; Porto), a que apenas se juntam a Pombalino (2011; Cacela Velha) e a Troca (2011; Góis) como as Moedas Comunitárias criadas sem influência dos três núcleos impulsionadores AJPaz / ESE (zona de Coimbra), In Loco / ESEC de Faro (Algarve) e ESES (zona de Santarém).

Ou seja, até à implementação da Swap, em 2009, todas as treze moedas implementadas nos quatro anos iniciais após a criação das Moedas Comunitárias em Portugal foram-no por intervenção direta ou influência destes três núcleos que têm em comum serem Escolas Superiores de Educação.

Posteriormente, das oito moedas de trocas implementadas até final de 2013, cinco delas - a Rio (2012; Águeda), a Estrela (2013; Póvoa da Lomba), a Coroa (2013; Coimbra), a Gaivota (2013; Aveiro) e a Brinca (Alverca) - decorrem do "polo" de Coimbra (via Escola Superior de Educação de Coimbra, influência da coimbrã Jardim e/ou ação do citado Samuel Machado) e apenas três - a Giro (2012; Linda-a-Velha), a Virtas (2012; Porto) e a Canguru (2013; Lisboa) - emergem de forma independente de quaisquer dos iniciais três polos. Curiosamente, das restantes duas moedas que identificámos como não de Moedas de Trocas, a Moeda de Cidadania Mayor (2012, Campo Maior) e a de características de Moeda Local Mor (2013; Montemor-o-Novo) uma delas, a Mayor tem alguma inspiração na pioneira Granja, também do "polo" de Coimbra.

Outra constatação curiosa é o facto destes projetos solidários que envolvem a criação de moedas de trocas serem, sobretudo, provenientes de iniciativas de Mulheres(61). Sem termos dados numéricos que nos suportem, arriscamo-nos a dizer que tal deverá provir do facto das atividades de cariz solidário / apoio social serem desempenhadas sobretudo por mulheres, bem como ser muito elevada a percentagem de alunas face a alunos nos cursos das Escolas Superiores de Educação, órgãos bastante interventivos neste tipo de iniciativas no país.

Quanto a Moedas Locais, apenas a Mor, implementada em 2013, se aproxima deste conceito, não obstante estar ainda numa fase experimental em que a sua utilização não é (ainda) permanente. Julgamos poder inferir que a divulgação das Moedas Comunitárias feitas pelos referidos três polos divulgadores centrados nas Escolas Superiores de Educação de Coimbra, Santarém e Faro, ao insistir no papel destas moedas apenas como instrumentos de índole social e não económico e ao adotar a filosofia quase dogmática do seu “não valor intrínseco”,

(61) - Facilmente verificável, nos contactos que fizemos com as pessoas responsáveis envolvidas. Ao lado,

imagem da AJPaz de mercado solidário na Granja do Ulmeiro (moeda Granja), em Agosto de 2008.

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incentivaram o aparecimento de Moedas de Trocas com exclusão das Moedas Locais. No entanto, o conhecimento de exemplos deste tipo de moedas um pouco por todo o mundo tem, cada vez mais, trazido o assunto a debate no país, com várias iniciativas a ter lugar em contexto universitário, em âmbitos mais alargados de Economia Solidária, sob perspetivas mais económicas ou mais sociais... em fóruns “alternativos” de contestação e procura de novos caminhos político-sociais. Consideramos no entanto que o surto do aparecimento deste tipo de moedas - nomeadamente em países da Europa do Sul e da Europa Ocidental, incluindo na vizinha Espanha e na influente Alemanha - ainda não se fez sentir em Portugal, mas arriscamo-nos a vaticinar que, por ser um bom instrumento de desenvolvimento sócio-económico local, pela atual situação de crise económica e a apetência pela descoberta de novos caminhos e soluções e ainda pelos exemplos neste sentido dados por alguns países da União Europeia, estará para breve a sua introdução mais consolidada no país...

Respeitante ao tipo que designámos de Moedas de Cidadania, registamos apenas uma única iniciativa, a Mayor, que, apesar de recente pois foi criada apenas em 2012, se encontra consolidada integrando-se num bem arquitectado projeto de apoio social que, julgamos, poderá vir a constituir-se como exemplo de projetos similares, particularmente importantes num ambiente de crise económica, desemprego e exclusão social.

Entre Moedas de Trocas, Moedas Locais e Moedas de Cidadania identificámos assim um total de 32 moedas. Tal número, já com alguma expressão, esconde, no entanto, um cariz ainda algo incipiente relativo ao uso das moedas comunitárias em Portugal. Já referimos que a única que consideramos como Moeda Local está ainda numa fase experimental, apenas uma única Moeda de Cidadania se encontra em atividade e o panorama das restantes 30, todas Moedas de Trocas, revela uma percentagem alta de experiências pontuais, muitas em ambiente escolar ou pedagógico, face a uma utilização consistente e continuada em ambiente solidário. Vejamos alguns números...

Até ao final de 2013, das 32 moedas identificadas, 30 são Moedas de Trocas e é nesta categoria que se verifica a maior longevidade; no entanto, apenas 4 estiveram ativas em período superior a dois anos, ou seja, com utilização em três ou mais anos (a Granja, a Campino, a Diabitas e a Jardim)(62), com a já descontinuada pioneira Granja e a ainda ativa Campino a serem as de maior longevidade, com mercados ao longo de seis anos.

Das 30 Moedas de Trocas, 16 delas (mais de metade, portanto) foram apenas usadas num único mercado solidário; e apenas 7 (ou seja, menos de 1/4) em quatro ou mais mercados (as pioneiras Granja e Solidário, a Campino, a Diabitas e as recentes Jardim, Rio e Estrela).

(62) - Conjunto a que se poderão vir a juntar a Giro e a Rio, já em 2014, tal como a de Cidadania Mayor.

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No quadro seguinte é notória a importância das moedas de trocas vocacionadas para crianças, sobretudo desde a implementação da Jardim, em 2011.

MT = Moeda de Trocas MTC = Moeda de Trocas para Crianças MC = Moeda de Cidadania ML = Moeda Local

O ritmo de criação anual de moedas tem sido algo errático, mas com uma clara tendência de crescimento, o mesmo acontecendo quanto ao número de moedas ativas anualmente.

Moedas criadas Moedas ativas

O pico de criação de moedas verificou-se em 2008, com implicação na quantidade de moedas ativas nesse mesmo ano e no ano seguinte. Trataram-se, no entanto, de anos em que foi particularmente importante a criação de moedas em contexto escolar e pedagógico e daí apresentarem quantitativos inflacionados face à tendências anuais gerais. Descartando um pouco este efeito, a tendência para um crescimento do número de moedas - criadas e ativas - é ainda mais notório, se bem que de tal forma ligeiro que nos permite afirmar que a explosão desta ferramenta social que se está a verificar em vários países da Europa Ocidental... ainda não se fez sentir em Portugal, como previsivelmente irá acontecer num futuro próximo.

Das 26 moedas criadas até final de 2012, 6 delas – a Campino e a Diabitas (ambas de 2008), a Jardim (de 2011) e as Giro, Rio e Mayor (de 2012) – continuam ativas(63). Apenas três, no entanto, consolidadas há mais de dois anos...

(63) - Incluímos aqui a Diabitas pois, apesar de não ter tido atividade em 2013, fomos informados que o

projeto continuará no próximo ano.

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Das 6 implementadas em 2013, estima-se que 4 - a Estrela, a Canguru, a Brinca e a Mor - terão continuidade.

Em termos de Notafilia, no que respeita especificamente à obtenção de cédulas, a situação portuguesa no âmbito das Moedas Comunitárias é... peculiar. Pelas suas características, a obtenção de cédulas de Moedas Locais é, na generalidade, mais fácil que a obtenção de cédulas de Moedas de Trocas; mas não existem ainda Moedas Locais com cariz permanente no país. E nas Moedas de Trocas, as menos difíceis de obter são as que apoiam a existência de Clubes de Trocas... mas em Portugal não é essa a situação pois apenas foram implementadas no âmbito dos mais voláteis e menos controlados Mercados de Trocas. Acresce ainda que nestes mercados foi, maioritariamente, adotada a filosofia da recolha das cédulas no seu final deixando assim poucos exemplares nas mãos dos participantes e que, de um modo geral, foram efetuados poucos mercados por cada moeda, com as Moedas implementadas a terem assim uma existência algo efémera.

Todos estes fatores apontam para uma grande dificuldade, que comprovámos, na obtenção de exemplares de cédulas. Acresce ainda outro fator curioso, que julgamos interpretar corretamente. Talvez pela necessidade de estabelecer uma diferença clara com a vulgar “nota” bancária, a importância da “cédula” da moeda comunitária - designadamente das moedas de trocas em clara maioria no país - foi claramente minimizada numa filosofia de implementação dos mercados comunitários que teve muito de comum entre os três núcleos de difusão que referimos e que personalizámos, nomeadamente, nas três Escolas Superiores de Educação de Coimbra, Faro e Santarém. Se é verdade que em vários documentos e intervenções é salientada a importância da “moeda social” como instrumento, não deixa de verificar-se que o mesmo não se passa relativamente às “cédulas” que a concretizam. É quase estranha a enorme ausência de referências à sua criação, design e produção; a raridade de imagens de cédulas em publicações escritas, reportagens, comentários... filmes efetuados. Tal poderá ser uma das principais razões pelo facto invulgar de até os próprios organizadores dos eventos terem bastante dificuldade, ou até já nem conseguirem, obter quaisquer exemplares de cédulas das moedas que criaram. Algumas dessas “tirinhas coloridas sem valor” poderão assim já ter até desaparecido de vez.

Como curiosidade, referimo-nos por último às “Moedas Medievais” criadas em apoio a eventos culturais e turísticos que têm vindo a ocorrer por todo o país desde a década de 1990, mas, com especial incidência, desde a segunda metade da década de 2000(64).

(64) - Feiras Medievais em Albufeira, Arcos de Valdevez, Batalha, Cacia, Castro Marim, Leça do Balio,

Óbidos, Oliveira do Bairro, Paços de Ferreira, Penamacor, Penela, Porto, Santa Maria da Feira, Silves,

Vila de Sabrosa, Vila Viçosa e Vilar de Andorinhos são algumas de que temos conhecimento. Na

imagem, 1 Real da Feira de Castro Marim.

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Para além da própria característica medieval que estas moedas tentam imitar – e, como tal, utilizando o formato de moeda e não papel-moeda, o que faria desde logo não as contemplar no presente estudo - na realidade os Afonsis, Balios, Bítaros, Bolhões, Ceitis, Chinfrões, Dinheiros, Mealhas, Moedas, Morabitinos, Reais, Soldos, Torreões, Tostões, Trocados e Xilbs não são Moedas Comunitárias mas sim, quando muito, “Moedas de Evento” válidas para um evento específico e atuando em proveito direto deste, nomeadamente em termos da sua própria divulgação, e não propriamente com uma versão eminentemente social ou de desenvolvimento local. A sua utilização dentro de um espaço determinado e a própria constituição das moedas em si como objetos

transacionáveis, de recordação e até de coleção, lembra, no entanto, algumas características das Moedas Locais...

A moeda mais recente contemplada no presente estudo – cuja criação se saúda – é a Mor, implementada em 29 de Junho de 2013 e o último evento contabilizado foi precisamente o da Festa Franca de Natal, efetuada em Montemor-o-Novo em 21 de Dezembro de 2013, em que esta moeda foi, mais uma vez, usada.

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5. MOEDAS COMUNITÁRIAS PORTUGUESAS BASEADAS EM PAPEL-MOEDA

Identificámos um total de 32 sistemas (“moedas”) diferentes e 111 modelos de cédulas (133, contando com as variantes) que os consubstanciam...

Por ordem cronológica, abordamos então as seguintes Moedas Comunitárias...

2006 (Abr) - Granja;

2006 (Jul) - Solidário;

2007 - Justa;

2008 (Mar) - Torga;

2008 (Abr) - Sorriso;

2008 (Jun) - Sol;

2008 (Jul) - Campino;

2008 (22Out) - Esito;

2008 (25Out) - Diabitas;

2008 (Nov) - Saurius;

2009 (Abr) - Beijinho;

2009 (17Jun) - Crialito;

2009 (26Jun) - Morango;

2009 (Dec) - Swap;

2010 (Mar) - Feijão;

2010 (Jul) - ESECO;

2011 (Mar) - Pomba;

2011 (Abr) - Pombalino;

2011 (30Mai) - Aleixo;

2011 (31Mai) - Morteiro;

2011 (Set) - Jardim;

2011 (Dec) - Troca;

2012 (Mar) - Giro;

2012 (16Jun) - Rio;

2012 (29Jun) - Mayor;

2012 (Dec) - Virtas;

2013 (Mar) - Estrela;

2013 (Mai) - Coroa;

2013 (01Jun - 10h00) - Canguru;

2013 (01Jun - 10h30) - Gaivota;

2013 (01Jun - 14h30) - Brinca;

2013 (29Jun) - Mor.

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5.1. Granja (2006 - Abril)

A Granja é a moeda comunitária pioneira em Portugal, tendo sido usada em feiras de trocas efetuadas na Granja do Ulmeiro, povoação de menos de 2 mil habitantes do concelho de Soure, Distrito de Coimbra.

O início desta moeda teve lugar na 2ª edição do Mercado Solidário da Granja do Ulmeiro, evento levado a cabo em 29 de Abril de 2006 pela organização Acção para a Justiça e Paz (AJPaz) e por alunos da Escola Superior de Educação de Coimbra(65).

A Acção para a Justiça e Paz é uma associação que nos merece uma referência especial no âmbito das moedas comunitárias em Portugal(66). Constituída formalmente em 1986, então com a denominação de Movimento Cristão para a Paz e sediada em Coimbra, veio a adquirir o estatuto de ONGD(67) em 2001 e a

mudar a sua sede para a Granja do Ulmeiro em 2003, tendo alterado a sua designação para a final Acção para a Justiça e Paz em 2005. Com projetos nacionais e internacionais, teve uma atuação em vários aspetos de cariz social, nomeadamente no âmbito do papel da Mulher e no âmbito da Economia Solidária.

Neste âmbito, foi a organização pioneira do país ao nível da utilização de moedas de trocas em mercados solidários – com a Granja - dinamizando ainda o aparecimento de várias outras pelo país. Destacam-se a implementação de mercados solidários na sua área concelhia - para além dos efetuados na Granja dos Ulmeiros, dinamizou ainda mercados em Samuel e em Soure (respetivamente, com as moedas Diabitas e Saurius)(68) - a colaboração com iniciativas deste âmbito com a Escola Superior de Educação de Coimbra (moedas Justa e ESECO) e ainda com a Associação In Loco (moeda Solidário), esta última também per si um polo de divulgação de moeda comunitária na região sul do país.

(65) – Mais concretamente, do 2º ano do curso de Animação Socioeducativa.

(66) – Conforme já referimos anteriormente, a AJPaz foi presidida por Teresa Cunha, a quem agradecemos o

contacto e as informações prestadas, bem como diversa documentação e até os exemplares de cédulas

de Granja (terceira série) cujas imagens aqui incluímos.

(67) – Organização Não Governamental para o Desenvolvimento. A imagem ao lado, obtida no site

www.noticias-do-concelho.blogspot.com, é da sede da organização já na Granja do Ulmeiro.

(68) – O objetivo inicial seria o de implementar Mercados Solidários em todas as doze freguesias do Concelho.

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Na sequência desse 2º Mercado Solidário, em Abril de 2006, foram efetuados vários outros mercados na Granja dos Ulmeiros nos três anos seguintes, num total de quinze edições onde foi usada a moeda Granja, com uma média de participação por mercado na ordem da meia centena de prossumidores(69). A última edição do mercado teve lugar em 12 de Dezembro de 2009.

A Granja foi usada em todos esses mercados e a sua distribuição feita seguindo o critério da atribuição de uma quantia fixa, inicialmente estipulada em 400 Granjas, a cada participante (prossumidor) realizada por um “banco central” de mercado(70). O valor padrão da Granja foi determinado inicialmente com base num recurso local e conhecido de todos, os ovos. Ficou estabelecida a equivalência de valor entre 100 Granjas e uma dúzia de ovos.

Esta iniciativa dos Mercados Solidários veio a ser ampliada em 20 de Fevereiro de 2010 com a abertura de uma “Mercearia Solidária” – a Piril ampo - em que a moeda Granja foi também usada. Iniciativa também pioneira em Portugal, contou

com apoios da Câmara Municipal de Soure, da Junta de Freguesia da Granja do Ulmeiro e das sucursais locais das cadeias de supermercados Lidl e Pingo Doce, e veio a ter uma participação significativa quando comparada com a dos mercados solidários efetuados(71).

Por ter sido descontinuada a AJPaz, a Mercearia Solidária foi entretanto encerrada e a moeda Granja chegou ao seu término de

utilização em 2011, depois de ter sido usada assim durante 5 anos o que a tornava então a mais antiga moeda de trocas portuguesa em uso.

Foram efetuadas três séries de cédulas:

(69) – De acordo com dados apurados (maioritariamente no Relatório de Estágio de Raquel Simões de

Azevedo, em 2010), foram efetuados quatro mercados em 2006 (29 de Abril, 3 de Junho, 10 de

Setembro e 25 de Novembro), quatro em 2007 (27 de Maio, em Agosto, 25 de Outubro e 5 de

Dezembro), dois em 2008 (24 de Maio e 9 de Agosto) e cinco em 2009 (4 de Abril, 6 de Junho, 8 de

Agosto, 17 de Outubro e 12 de Dezembro). Os mercados efetuados contaram com uma presença média

de 51 de participantes (prossumidores) que variou entre apenas os 5 elementos (Dezembro de 2007) e os

159 (Junho de 2006).

(70) – A imagem ao lado refere-se ao “banco” do Mercado de 9 de Agosto de 2008. Imagem retirada do site da

AJPaz.

(71) – De acordo com o citado Relatório de Estágio de Raquel Simões de Azevedo, participaram nos diferentes

Mercados realizados no quadriénio 2006 a 2009 apenas um total de 288 elementos; a Mercearia

envolveu logo, apenas nos seus dois primeiros meses de funcionamento, 72 pessoas e um total de 224

visitas de trocas.

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Uma inicial, em 2006, com cédulas de produção simples e abrangendo os valores de 5, 10, 50 e 100 Granjas (notar que o valor unitário não era abrangido);

Uma segunda série, provavelmente em 2008, abrangendo a mesma gama de valores e com uma estética que incluía simbologia autárquica local;

Uma terceira série, provavelmente em 2010, de cédulas mais elaboradas e abrangendo uma gama mais baixa de valores, agora 1, 2, 5, 10, 20 e 50 Granjas.

As cédulas da série inicial eram impressas sobre papel colorido, fazendo assim com que os vários valores tivessem cores base distintas. Tinham as mesmas

dimensões para toda a gama de valores abrangidos.

A segunda série destinou-se essencialmente a substituir a primeira, cujas cédulas já apresentavam algum desgaste. No entanto, até porque a gama de valores foi a mesma, as cédulas das duas séries chegaram a circular em paralelo (nomeadamente no 13º Mercado, em 2 de Junho de 2009). As cédulas desta segunda série eram, tal como no caso das da série inicial, impressas sobre papel colorido, específico para cada valor, também de dimensões iguais para toda a gama de valores abrangidos.

A terceira série pretendeu, sobretudo, reformular a gama de valores, baixando-os, no sentido de combater algum movimento inflacionista progressivamente sentido nos mercados efetuados. Veio assim substituir as duas séries iniciais, cujas cédulas terão sido recolhidas e destruídas(72). As suas cédulas, mais elaboradas apesar de monoface, foram já em cartolina e impressas em oficina gráfica. Passaram a ser multicoloridas, se bem que mantendo um tom base comum específico para cada valor e apresentavam uma estética base e dimensões (10 x 5 cm) iguais para todos os valores abrangidos. Introduziu um símbolo próprio, baseado na letra “G”, para a moeda Granja.

Nenhuma das cédulas, das três séries, possuía qualquer dispositivo de controlo, nomeadamente data, assinatura ou número de série.

Provavelmente, apenas exemplares da terceira série poderão ainda ser encontrados.

Consideramos que as cédulas emitidas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Granja – Granja (com emissões entre 2006 e 2011).

(72) – O que explica a enorme dificuldade atual em obter qualquer exemplar delas.

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As cédulas emitidas foram as seguintes(73):

Da 1ª Série (s/d mas de 2006)(74)

C1 - 5 Granjas (amarelo)

C2 - 10 Granjas (verde)

C3 - 50 Granjas

C4 - 100 Granjas

Da 2ª Série (s/d mas, provavelmente, de 2008)(75)

C5 - 5 Granjas

C6 - 10 Granjas

C7 - 50 Granjas

C8 - 100 Granjas (laranja)

Da 3ª Série (s/d mas, provavelmente, de 2010)

(73) – Apesar dos contactos efetuados, não nos foi possível obter imagens de qualidade das cédulas da primeira

e da segunda série.

(74) – As imagens das cédulas foram obtidas no site oficial da AJPaz.

(75) – A imagem da cédula foi obtida no site www.blog.saramatos.com.

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C9 - 1 Granja (castanha)

C10 - 2 Granjas (laranja)

C11 - 5 Granjas (vermelha)

C12 - 10 Granjas (roxa)

C13 - 20 Granjas (azul)

C14 - 50 Granjas (verde)

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5.2. Solidário (2006 - Julho)

Solidário é o nome de uma moeda de trocas usada em São Brás de Alportel, uma vila do distrito de Faro com cerca de 11 mil habitantes, caracterizada por ter uma elevada percentagem (cerca de 10%) de habitantes não nacionais(76).

No quadro da Iniciativa Comunitária EQUAL, foi levado a cabo no concelho de São Brás de Alportel, um projeto denominado São Brás Solidário. Esse projeto envolveu a Câmara Municipal de São Brás, a Associação de Industriais

e Exportadores de Cortiça – Delegação do Baixo Alentejo e Algarve, a Associação Humanitária dos Bombeiros

Voluntários de São Brás, a Associação Nacional de Jovens para a Acção Familiar e, sobretudo, a Associação In Loco, que assumiu a sua coordenação geral. No âmbito desse projeto, foi implementada uma feira de trocas, então denominada Mercado Solidário(77).

À semelhança da Acção para a Justiça e Paz (da moeda Granja), a Associação In Loco merece, no âmbito das Moedas Comunitárias em Portugal, um destaque especial. Organização sem fins lucrativos criada formalmente em 1988, tem como objetivo promover o desenvolvimento de base local com vista à melhoria da qualidade de vida. Entre várias valências, foi acreditada como Entidade Formadora em diversos domínios (1998). Tem desenvolvido diversas ações em múltiplos domínios, nomeadamente no Desenvolvimento Local, na Animação Comunitária, na Intervenção Social e na Capacitação, Formação Profissional e Educação de Adultos. Este projeto São Brás Solidário em conjunto com ações de formação sobre “Metodologias de Animação Cidadã” dadas, nomeadamente, a Escolas Superiores de Educação, dinamizaram o uso de moedas de trocas em Portugal de forma significativa.

A moeda Solidário (às vezes tratada por Unidade Monetária ou apenas Unidade) foi criada para funcionar como Moeda de Trocas logo na primeira edição do mercado, efetuado em 29 de Julho de 2006, vindo a ser usada nos seguintes

(76) - Sobre esta moeda, agradecemos o contacto e informações prestadas quer pela já referida (Maria) Priscila

Soares, quer por Sandra Rosário, ambas da Associação In Loco, que gentilmente nos forneceram

também exemplares, respetivamente, das “moedas” e das “notas” cujas imagens aqui utilizamos. Este

projeto encontra-se bastante documentado na publicação “Animação Cidadã para a Acção Solidária”, de

Maria Priscila Soares, de Abril de 2008.

(77) - Julgamos ter sido então que este termo “mercado solidário” tenha sido, na prática, introduzido em

Portugal; acabou por se consolidar como a designação corrente do que, em vários outros países, é

designado usualmente por “mercado de trocas”.

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quatro mercados efetuados, com o último a ter lugar em 16 de Dezembro de 2007. Tornou-se assim, tal como a Granja implementada três meses antes, uma das Moedas Comunitárias pioneiras em Portugal. Aliás, a Acção para a Justiça e Paz (responsável pela Granja) apoiou o lançamento da Solidário, no que viria a ser a sua primeira colaboração no lançamento de algumas outras moedas comunitárias.

A moeda foi usada num total de 5 edições do Mercado Solidário que envolveram 147 prossumidores diferentes, numa média de participação de 41 prossumidores por mercado, para além de elementos da organização e de apoio. Dado o seu cariz inovador em Portugal, e também pelo facto de se encontrar bastante documentado, julgamos interessante referir alguns elementos de cada um desses mercados, nomeadamente alguns aspetos específicos relativos à utilização da moeda.

No 1º Mercado, realizado na sede da Associação In Loco e, como referido, em 29 de Julho de 2006, participaram cerca de três dezenas de prossumidores. Foi nele que a moeda foi valorizada, tendo como base a equivalência de 10 Solidários a um pão caseiro de tamanho familiar. Consubstanciada por cédulas em papel que abrangiam os valores de 1, 5 e 10 Solidários, foi distribuída numa quantia fixa de 40 Solidários a cada participante (valor que, por se ter verificado excessivo, foi sucessivamente reduzido nas duas edições seguintes para 15 e para 10). No final deste mercado, as cédulas sobrantes foram recolhidas.

A 2ª edição do Mercado foi levada a cabo em 25 de Fevereiro de 2007 nas instalações da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários e contou com

42 de bancas de produtos e serviços. Neste mercado, e não obstante não estar prevista inicialmente qualquer paridade com moeda oficial, foi estabelecida para a Solidário uma paridade informal de 1 para 1 para o Euro. Foram então “adquiridos” Solidários (“comprados” ou “trocados” por euros por elementos que assim pretendiam participar no mercado) o que permitiu a participação de não-prossumidores, que assim obtiveram uma

capacidade de aquisição inicialmente não prevista. As cédulas sobrantes, maioritariamente nas mãos dos prossumidores iniciais (que viram restringida a oferta de bens para a sua utilização) foram recolhidas, mas ficando “creditadas”, até um limite máximo, a quem as entregava, para uso em próximo mercado.

A 3ª edição do Mercado foi realizada ao ar livre, em espaço do Museu Etnográfico do Traje de São Brás de Alportel, em 20 de Maio de 2007, contando com 48 bancas de bens e serviços. As cédulas de papel, já gastas, foram então substituídas por “moedas” em matéria plastificada, de 1 e 5 Solidários. Como curiosidade, refere-se que a “cunhagem” das novas moedas, encomendada a uma empresa gráfica, foi paga pelas verbas resultantes da venda dos Solidários na

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edição anterior do mercado. Muitos dos participantes não terão entregue as “moedas” sobrantes.

A 4ª edição do Mercado foi efetuada em 30 de Setembro de 2007 e decorreu, tal como a 2ª, nas instalações da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários. Participaram cerca de seis dezenas de pessoas e um total de 33 bancas de bens e serviços. Estipulou-se a entrega da moeda sobrante para reutilização em mercado seguinte, pelos próprios e até um máximo de 10 Solidários.

A 5ª edição do Mercado decorreu em 16 de Dezembro de 2007, novamente na

sede da Associação In Loco. Participaram cerca de 6 dezenas de pessoas, incluindo crianças, e um total de 33 bancas de bens e serviços. A cada prossumidor foi entregue um montante inicial de 10 Solidários mais o montante que tinha devolvido no anterior mercado até ao limite máximo do total de 20 Solidários. A moeda sobrante não foi recolhida no final do mercado. Esta 5ª edição marcou o final da componente específica do projeto que constituía os Mercados Solidários bem como o término do uso da moeda Solidário.

Como referido, as cédulas contemplaram “notas”, usadas nas duas primeiras edições do Mercado e “moedas”, usadas nas três últimas.

As “notas” seguiram o normal formato retangular e abrangeram os valores de 1, 5 e 10 Solidários. As suas dimensões, iguais para os três valores, eram de 9,5 x 7 cm. Eram impressas em papel colorido normal A4 – vermelho para as de 1, azul para as de 5 e branco para as de 10 Solidários – apenas numa face, sendo depois individualizadas por corte em guilhotina. A estética base era comum, usando a simbologia base do Projecto São Brás Solidário. Foram datadas de acordo com o primeiro mercado a que se destinaram (29/07/2006), mas foram igualmente usadas no mercado seguinte. Tinham número de série, algo (ainda hoje) único nas moedas portuguesas até à data.

As “moedas” foram introduzidas em 20 de Maio de 2007, na 3ª edição do Mercado solidário. Eram de formato circular, com 3 cm de diâmetro (um pouco superior à moeda de dois euros) e feitas em matéria plastificada. Mantiveram a mesma estética base das “notas” anteriores, mas abrangeram apenas os valores de 1 e 5 Solidários. Apesar de equacionada a inclusão de moeda de ½ Solidário, esta acabou por não ter sido produzida. As moedas foram impressas em oficina gráfica e de modo igual nas duas faces.

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Provavelmente, a maioria das cédulas, sobretudo as em papel, terão sido já destruídas.

Consideramos que as cédulas emitidas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Solid – Solidário (com emissões entre 2006 e 2007).

As cédulas emitidas foram as seguintes:

Formato “notas” (2006 e 2007)

C1 - 1 Solidário (vermelho)

C2 - 5 Solidários (azul)

C3 - 10 Solidários (branco)

Formato “moedas” (s/d mas de 2007)

C4 - 1 Solidário

C5 - 5 Solidários

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5.3. Justa (2007)

A moeda Justa foi uma moeda de trocas implementada em contexto universitário, na Escola Superior de Educação de Coimbra. Coimbra é uma cidade com mais de 100 mil habitantes, capital de distrito, a mais importante do centro do país e, historicamente, a “cidade universitária” portuguesa.

A Justa foi a primeira moeda comunitária a ser implementada em contexto escolar, numa abordagem formativa sobre a Economia Solidária e a

denominada Moeda Social, no que foi o início de um processo de divulgação deste tipo de instrumento social que viria a ser replicado noutras situações, dentro e fora do âmbito escolar. Foi implementada na Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) e constituiu a primeira de uma trilogia que abrangeu outras moedas noutras Escolas Superiores de Educação, designadamente a moeda Esito, da Escola Superior de Educação de Santarém e a moeda Sol, na

Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade de Faro, todas criadas no âmbito do Projecto Solidariedade Cidadã (PSC). Anos depois, já em 2010, veio a ter uma sucessora na ESEC: a ESECO(78).

No caso específico da ESEC, este processo foi consubstanciado pela realização de um primeiro mercado solidário (Dezembro de 2007) vindo depois a ser enquadrado em projeto próprio, o ESECidadã, implementado no âmbito de um estágio do curso de Animação Socioeducativa(79), em que foram efetuados outros dois mercados (Abril e Junho de 2008). Todos tiveram lugar no pátio interior da Escola e usaram a moeda de trocas Justa.

O primeiro mercado – desde logo designado por “Mercado Solidário” consolidando assim a terminologia já usada nos casos da Granja e da Solidário - foi efetuado em 6 de Dezembro de 2007 e marcou o início da utilização da moeda Justa. Não obstante o local onde foi efetuado, o mercado foi aberto também à comunidade exterior à escola, tendo nele participado elementos da Granja dos Ulmeiros e de

(78) – Que abordaremos mais à frente, de acordo com o critério cronológico.

(79) – Mais concretamente, das então alunas do 3º ano Ana Ponce de Leão e Maria Luísa de Carvalho,

tuteladas pela docente Teresa Cunha, a mesma responsável pela implementação da pioneira Granja.

Uma parte significativa das informações aqui mencionadas, incluindo imagens, decorrem da consulta do

Relatório Final desse estágio.

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Samuel(80), numa articulação com a AJPaz, que igualmente apoiou a realização deste mercado inicial. Este mercado, à semelhança do que se verificou nos mercados seguintes, teve diversas bancas, quer de bens - sobretudo produtos da terra, produtos alimentares e artesanato - quer de serviços. Participaram um total de cerca de 130 pessoas. As cédulas não foram recolhidas, tendo transitado para o mercado seguinte.

O segundo mercado foi efetuado meses mais tarde, em 23 de Abril de 2008, tendo sido optado por manter o uso da mesma moeda. Neste mercado participaram também elementos da terceira idade da organização Legião da Boa Vontade(81), num total de 127 pessoas, maioritariamente alunos do curso de Animação Socioeducativa. Para além das cédulas em mão dos prossumidores do primeiro mercado, foram

ainda emitidas e distribuídas novas cédulas, estas num total de 450 Justas por participante. No final do mercado procedeu-se à recolha das cédulas sobrantes, prevendo-se a sua devolução no mercado seguinte, por participante, mas até um limite máximo de 100 Justas.

O terceiro e último mercado a usar a moeda Justa foi efetuado em 4 de Junho de 2008, final do ano letivo de 2007/08(82). Foi já efetuado fora de contexto curricular e sem o estabelecimento de qualquer parceria com o exterior, tendo participado 54 pessoas. Neste mercado foi lançada uma nova série de cédulas, tendo sido reduzido para 300 Justas o montante inicial entregue a cada participante. No final do mercado, as cédulas postas em circulação foram recolhidas.

Como referido, a moeda Justa foi criada logo para o primeiro mercado. Não tendo qualquer equivalência formal à moeda de circulação corrente, o seu valor padrão foi definido face a um conjunto de competências pessoais e sociais considerado “justo”(83). O nome da moeda foi, tal com a definição do seu valor, determinado em Assembleia de participantes.

(80) – Na Granja faziam-se já mercados solidários com uso da moeda Granja desde Abril do ano anterior.

Samuel iria ter o seu primeiro mercado daí as uns meses, em Outubro seguinte, com a moeda Diabitos,

de que falaremos mais à frente, uma vez mais de acordo com o critério cronológico que seguimos.

(81) – A imagem ao lado é desse evento e foi obtida no site da AJPaz, www.ajpaz.org.pt.

(82) – A imagem ao lado refere-se ao “banco” desse terceiro mercado, com as citadas Ana Ponce de Leão e

Maria Luísa de Carvalho. Apenas como curiosidade, refere-se que este mercado foi objeto de cobertura

noticiosa por cadeia de televisão (TVI).

(83) – Na realidade, não foi o valor padrão que foi aferido, mas sim o valor de 150 Justas.

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As cédulas emitidas abrangeram uma gama de valores alta – até às 100 Justas - na linha da pioneira e vizinha Granja, tendo sido abrangidos os valores de 5, 10, 50 e 100 Justas(84). Também tal como as cédulas de Granja, consistiram em tiras de papel coloridos, diferentes conforme o valor. A simbologia, bastante simples, incluía apenas o símbolo do projeto ESECidadã. Eram monoface e não contemplavam quaisquer dispositivos de controlo, nomeadamente data ou número de série.

Apesar da ideia inicial ser a de fazer diferentes edições das cédulas para cada mercado, evitando assim a transição não controlada de moeda de um mercado para o seguinte, o segundo mercado, o de Abril de 2008, usou as mesmas cédulas (mesmo tipo, uma vez que então foram produzidas mais cédulas) que as usadas no primeiro mercado, de Dezembro de 2007.

Na sua quase totalidade, estas cédulas usadas no primeiro e segundo mercados, – que consideramos consubstanciar uma “primeira série” com algumas variantes de cores bases usadas - foram recolhidas pela organização no final dos mesmos.

Para o terceiro e último mercado, o de Junho de 2008, foi elaborada uma série diferente de cédulas, com estética similar à anterior, mas agora com um “2” aposto na face de cada uma das novas cédulas. A gama de valores contemplou os (julgamos que mesmos) 5, 10, 50 e 100, com algumas alterações das cores usadas anteriormente.

No final do mercado, as cédulas usadas foram recolhidas pela organização.

Não detetámos a existência de exemplares de cédulas sobreviventes, admitindo que apenas muito poucas poderão ainda subsistir.

Consideramos que as cédulas emitidas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Justa – Justa (com emissões entre 2007 e 2008).

As cédulas emitidas foram as seguintes(85):

(84) – Julgamos aliás que terão sido efetuados apenas estes valores, similarmente ao praticado pela sua

congénere Granja, moeda que lhe serviu de guia.

(85) – Não obstante as diversas tentativas que efetuámos, não conseguimos obter quaisquer cédulas de Justas

que permitissem imagens de melhor qualidade do que as que aqui usamos. Pelos vistos, a estipulada

recolha das cédulas no final de cada mercado... funcionou! Ainda assim, agradecemos as informações

complementares de José Miguel Pires.

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Da 1ª Série (s/d mas de 2007 e 2008)

C1 - 5 Justas (vermelha)

C2 - 10 Justas

a - Azul

b – Laranja

C3 - 50 Justas

a - Amarela

b – Verde

C4 - 100 Justas (rosa)

Da 2ª Série (s/d mas de 2008)

C5 - 5 Justas (vermelha)

C6 - 10 Justas (azul)

C7 - 50 Justas (verde)

C8 - 100 Justas (rosa)

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5.4. Torga (2008 - Março)

A Torga é uma moeda de trocas implementada em Chão Sobral, pequena povoação de menos de mil habitantes da freguesia de Aldeia das Dez, do concelho de Oliveira do Hospital.

A moeda foi criada em apoio a um mercado solidário realizado em 16 de Março de 2008 pela organização Olho Vivo e Pé Ligeiro e apoio da União Progressiva de Chão Sobral, evento que contou com a participação de população local de Chão

Sobral e de alunos da Escola Superior de

Educação de Coimbra. Foi a primeira moeda implementada em Portugal fora do contexto escolar mas como resultado direto de formação nele recebida, concretamente na Escola Superior de Educação de Coimbra(86).

O mercado solidário foi essencialmente de bens

agrícolas e alimentares, salientando-se também o curioso “Cheque de 1 hora de trabalho”, na linha das conhecidas “troca de horas” bem mais vulgares noutros países e objeto até de sistemas de moedas de trocas vocacionados para tal, como referido anteriormente(87).

Antecedendo o mercado, foi efetuada uma sessão de esclarecimento, uma “Assembleia de Mercado”, em que

foi escolhido o nome Torga para a moeda.

Torga, o nome escolhido para a moeda, é a designação de um tipo de urze, arbusto normalmente com menos de 1 metro de altura e de cujas raízes, grossas e bastante duras, se pode fabricar artesanalmente um carvão vegetal de excelente qualidade, o que era

efetivamente prática tradicional na região(88). A torga constituía assim um recurso, um “valor”, usado localmente e daí esta escolha.

(86) – A iniciativa do evento foi de João Pedro Gonçalves, a quem agradecemos o contacto, informações

prestadas e as cédulas cujas imagens aqui apresentamos. Era então aluno do Curso de Animação

Socioeducativa na Escola Superior de Educação de Coimbra e, cerca de 3 meses antes, tinha tido a

experiência com a moeda Justa na sua primeira edição. Sabemos estar a tentar reativar a moeda

atualmente...

(87) – As imagens que se inserem, a do mercado solidário e a do cartaz de divulgação do evento, foram obtidas

no site www.olhovivoepeligeiro.chaosobral.org.

(88) – Julgamos curioso referir que o pseudónimo “Miguel Torga”, de Adolfo Correia da Rocha (1907 – 1995),

um dos mais conhecidos poetas portugueses, está relacionado com isto mesmo; “Torga” foi escolhido

pelo poeta por, segundo as suas próprias palavras, “... ser uma planta transmontana, urze campestre,

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Para o mercado, foi distribuído um quantitativo fixo de moeda a cada participante e as cédulas não foram recolhidas no final, tendo ficado na posse de quem então as possuía. Julgamos, que algumas, poucas provavelmente, ainda sobreviverão(89).

As cédulas abrangeram valores de 0,5 a 5 Torga (ou seja, os mais frequentes baixos valores monetários em uso com a moeda euro de circulação comum). Eram apenas a preto-e-branco, de reduzidas dimensões (cerca de 6,5 x 2,5 cm) e foram impressas, apenas de um lado, em papel normal. A sua estética, comum para toda a gama de valores, baseava-se numa imagem de uma torga obtida localmente. Tal como as suas contemporâneas, não contemplavam quaisquer mecanismos de controlo, nomeadamente assinaturas, datas ou números de série.

Consideramos que essas cédulas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Torga – Torga (com emissão em 2008).

As cédulas emitidas (sem data, mas de 2008) foram:

C1 – 0,5 Torga

C2 – 1 Torga

C3 – 2 Torga

C4 – 5 Torga

cor de vinho, com as raízes muito agarradas e duras, metidas entre as rochas. Assim como eu sou duro

e tenho as raízes em rochas duras, rígidas...”.

(89) – A foto ao lado, tirada na residência de familiar de João Gonçalves, mostra um dos raros – e, julgamos, o

maior - conjuntos de cédulas sobreviventes. As quatro cédulas à esquerda na imagem, foram-nos

amavelmente cedidas e são essas de cujas figuras apresentamos.

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5.5. Sorriso (2008 - Abril)

A moeda Sorriso foi uma moeda de trocas implementada em contexto universitário, na Escola Superior de Educação de Santarém (ESES). Santarém é uma cidade com quase 30 mil habitantes e a capital do distrito homónimo.

Constituiu a segunda da trilogia de moedas comunitárias criadas em ambiente formativo em Escolas Superiores de Educação, de que fizeram parte ainda a Justa (2007, ESE Coimbra) e a Sol, (2008, ESEC em Faro), todas criadas no âmbito do Projecto

Solidariedade Cidadã(90).

A moeda foi implementada por alunos do 2º ano do curso de Educação Social(91) da ESES, na sequência de uma ação de formação sobre mercados solidários(92) e constituiu a primeira de várias moedas de trocas criadas por alunos dessa escola, num processo que decorreu nos anos de 2008 e 2009. Foi usada num mercado efetuado nas instalações da ESES em 14 de Abril de 2008.

Esse mercado, denominado Mercado da Alegria, contemplou essencialmente produtos de índole agroalimentar, artesanato e serviços, tendo sido aberto não apenas a elementos da ESES, mas também a participantes externos à própria escola.

O valor da moeda foi aferido com base de um bem a ser presente no mercado, tendo, curiosamente, sido escolhida uma fatia de bolo como valor unitário do Sorriso(93). A moeda foi distribuída com base na opção de atribuição de um quantitativo fixo a cada prossumidor, concretamente 10 Sorrisos.

As cédulas, monoface e de estética bastante simples, eram impressas em papel normal e não contemplavam quaisquer mecanismos de controlo, nomeadamente número de série ou data. Abrangeram

(90) – Sobre esta moeda, agradecemos os contactos e informações prestadas por Andreia Rosa e por Liliana

Daniel (que, inclusive, nos forneceu os exemplares das cédulas cujas imagens aqui apresentamos),

ambas então alunas da Escola Superior de Educação de Santarém.

(91) – No âmbito da unidade curricular Metodologias de Animação Sociocultural, da docente Ana da Silva. O

grupo de alunos terá sido constituído por Andreia Rosa, Carina Marmelo, Cátia Lopes, Inês Ferreira,

Jakilson Pereira, Joana Mendes, Liliana Daniel, Maria Barbosa e Telma Delgado.

(92) – Dada por Lia Pereira e Priscila Soares, esta última dirigente da Associação In Loco, organização

responsável pela implementação da moeda Solidário.

(93) – Conforme ilustrado na imagem ao lado, obtida no site www.tintafresca.net.

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os valores de 1 e 2 Sorriso. As suas dimensões, iguais para ambos os valores, era de cerca de 9 x 4,5 cm.

Muito poucos exemplares existirão ainda atualmente.

Consideramos que as cédulas emitidas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Sorri – Sorriso (com emissão em 2008).

As cédulas emitidas (s/d mas de 2008) foram:

C1 – 1 Sorriso

C1 – 2 Sorrisos

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5.6. Sol (2008 - Junho)

A moeda Sol foi uma moeda de trocas implementada em contexto universitário, na Escola Superior de Educação e Comunicação, sediada em Faro, cidade com cerca de 45 mil habitantes, capital do distrito homónimo e a mais importante cidade do Algarve(94).

Constituiu a última da trilogia de moedas comunitárias criadas em ambiente formativo em Escolas Superiores de Educação, de que fizeram parte ainda a Justa (2007, ESE Coimbra) e a

Esito, (2008, ESE Santarém), todas criadas no âmbito do já citado Projecto Solidariedade Cidadã.

A moeda foi usada num mercado solidário da Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve, em Faro, tendo como participantes os alunos (1º, 2º e 3º anos) do Curso de Educação Social e que decorreu no átrio exterior da escola em 3 de Junho de 2008. Foi distribuída na modalidade de quantidade fixa a cada participante.

A moeda tinha já sido criada e manufaturada antes, em sessão prática experimental de mercado solidário, efetuada no âmbito de uma ação de formação dirigida aos alunos do 1º ano do Curso de Educação Social(95). Essa sessão, apenas em sala de aulas e envolvendo os participantes da Ação de Formação, ocorreu em 24 de Abril de 2008. A formação foi dada no contexto do Projecto Solidário para a Animação Cidadã integrado no já referido PSC.

Como curiosidade, julgamos ser de referir que esta formação teve um impacto positivo, dando origem a subsequentes experiências e projetos similares. Uma

(94) – Sobre esta moeda, agradecemos o contacto e informações prestadas por Joaquim do Arco (professor) e,

sobretudo, por Patrícia Populaire (então aluna), ambos da Escola Superior de Educação e Comunicação

de Faro.

(95) – Dada por Ercília Pereira e Priscila Soares; esta última, então presidente da Associação In Loco (já por

nós mencionada a propósito da moeda Solidário) está em posição central na imagem da esquerda. O

professor responsável por parte da Escola, Joaquim do Arco, vê-se na imagem da direita. As imagens

foram obtidas, respetivamente, no site www.ese-educasocial.blogspot.com e na publicação

“Solidariedade Cidadã – Uma experimentação partilhada”, da Associação In Loco, Junho de 2009.

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dessas foi levada a cabo logo pouco depois, em 18 de Junho desse mesmo ano de 2008, pelos mesmos alunos do 1º ano do Curso de Educação Social: o I Mercado Social da ESE Faro(96), aberto à comunidade em geral mas vocacionado sobretudo

para o Curso de Educação Social, onde foi usada a moeda Abraço, que não teve, no entanto, cédulas próprias, tendo sido usada apenas virtualmente como unidade de valor. E sabemos não ter sido este a único projeto levado a cabo(97)...

O nome escolhido para a moeda – Sol – deriva de “Solidário”, termo carregado de significado neste contexto (e até o nome da moeda pioneira da vizinha São Brás de Alportel), mas foi

escolhido também pelas características e sentimentos positivos, nomeadamente

“alegria”, associados ao termo. A valorização do Sol foi efetuada em grupo relativamente a um “objeto padrão”, passando então cada participante a “valorizar” em Sol – ou seja em termos relativos face ao objeto padrão escolhido - o bem ou serviço que apresentou para mercado.

As cédulas foram recolhidas após a realização do mercado tendo, provavelmente, vindo depois a ser distribuídas como recordação. No entanto, cremos subsistirem poucos ou nenhuns exemplares.

Apenas foi emitida cédula de valor unitário. Era de estética bastante simples, baseada numa imagem estilizada do sol impressa apenas num dos lados em cartolina branca e tinha as dimensões aproximadas de 9 x 4 cm.

Consideramos que a cédula emitida consubstancia o sistema...

PRT-C-Sol – Sol (com emissão em 2008).

A única cédula emitida, em 2008(98), foi assim...

C1 – 1 Sol

(96) – Cujo bem apelativo logótipo se mostra junto, também obtido em www.ese-educasocial.blogspot.com.

(97) – Por exemplo, o projeto que envolveu a criação da moeda Aleixo (que abordaremos adiante) foi levado a

cabo por Tatiana Queirós, uma das frequentadoras desta ação de formação em que a Sol foi criada.

(98) – Apesar dos diversos contactos efetuados, não nos foi possível obter qualquer cédula da Sol. Mesmo a

obtenção de imagens foi bastante difícil; a única que obtivemos, e que aqui se reproduz, deve-se à já

referida Patrícia Populaire.

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5.7. Campino (2008 - Julho)

A Campino é uma moeda de trocas de Vale de Figueira, pequena povoação com pouco mais de mil habitantes, sede de freguesia homónima do concelho de Santarém(99).

A moeda nasceu num contexto de projeto escolar levado a cabo por estudantes estagiários da Escola Superior de Educação de Santarém(100), no âmbito do Projecto Solidariedade Cidadã. Foi usada inicialmente num mercado solidário efetuado em 5 de Julho de

2008, denominado Mercampino, levado a cabo em parceria com a IPSS Centro de Bem Estar Social de Vale de Figueira (CBESVF), uma IPSS(101) vocacionada para a luta contra a pobreza e a exclusão social, com incidência de atuação em população mais idosa. Esse mercado contou então com a participação de um leque etário muito alargado de pessoas (inclusive crianças desde os 4 anos), com a maioria a serem utentes do referido Centro(102).

A Campino tem continuado a ser usada em edições seguintes da Mercampino. Este mercado solidário tem vindo a ser realizado anualmente, agora pelo CBESVF em parceria com a Escola Superior de Santarém (normalmente através de alunas em estágio no Centro) e sempre integrado na Feira do Arroz Doce, um evento anual que ocorre, geralmente, no primeiro fim-de-semana de Julho.

Foram já efetuadas a II Edição (em 4 de Julho de 2009), a III (em 3 de Julho de 2010), a IV (em 9 de Julho de 2011), a V (em 7 de Julho de 2012) e a VI (em 6 de

(99) – Sobre esta moeda, agradecemos o contacto e informações prestadas pelo Centro de Bem Estar Social de

Vale de Figueira através de Anabela Pinto e Susana Rodrigues, que gentilmente nos forneceram as

imagens do certificado e das cédulas do III, IV, V e VI Mercampino que aqui utilizamos.

(100) – Concretamente, as alunas do 2º ano do curso de Educação Social Carla Lourenço, Margarida Oliveira e

Vânia Figueiredo, no âmbito da unidade curricular “Metodologias de Animação Cultural” da

responsabilidade da já citada docente Ana da Silva (a quem agradecemos o contacto, informações

prestadas e a amável cedência das cédulas da II edição do Mercampino, cujas imagens aqui utilizamos).

(101) – Instituição Particular de Solidariedade Social.

(102) – A imagem abaixo à esquerda refere-se a este primeiro mercado (vê-se Ana da Silva, de verde) e foi

obtida no site www.tintafresca.net. A outra imagem, nossa, é da V Edição do Mercampino.

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Julho de 2013) o que faz da Campino a mais antiga moeda de trocas ativa em Portugal.

No início de cada mercado, é entregue a cada participante um total de 10 Campinos (2 cédulas de 3 e 4 cédulas de 1 Campino), cédulas essas não recolhidas após o final do mercado. Como curiosidade, refere-se que tem sido entregue a cada participante um certificado próprio(103).

As cédulas de Campino abrangem apenas os

valores de 1 e 3 Campinos e indicam, pela data e edição, o mercado a que se destinam. São impressas no CBESVF no quantitativo apropriado à distribuição face ao número de participantes inscritos.

As diferentes cédulas são multicoloridas, monofaciais e, apesar de uma evolução do I para o II Mercampino, têm mantido o mesmo desenho base, salientando-se a estética bastante cuidada, da responsabilidade de um membro do CBESVF(104). Na II edição do Mercampino foram introduzidos elementos simbólicos bastante interessantes, quer alusivos à terceira idade (através da imagem de um casal em efeito "marca de água"; recorda-se que o apoio à população mais idosa é um dos vetores de atuação do Centro), quer de simbologia local, como é o caso das “ondas” (do rio Tejo), constantes igualmente no brasão da freguesia.

As dimensões são diferentes para os dois valores faciais e variaram, reduzindo-se sucessivamente do I para o II e do II para o III Mercampino: no I, as dimensões aproximadas eram de 14 x 7,5 cm e de 16,5 x 8.5 cm, respetivamente para as cédulas de 1 e 3 Campino, dimensões que foram substancialmente reduzidas para o II (12 x 6 cm e de 13,5 x 7 cm) e para o III (11,5 x 6 cm e de 13 x 7 cm), mantendo-se nos subsequentes Mercampinos.

Consideramos que as cédulas então emitidas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Camp – Campino (com emissões desde 2008).

As cédulas emitidas até à data são as seguintes:

(103) – Ao lado, imagem do certificado da IV Edição.

(104) – José Gaspar, indicado aliás (mas apenas por “Jgaspar”) nas próprias cédulas, a quem agradecemos o

envio das imagens das cédulas usadas no Mercampino inicial e que aqui utilizamos.

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2008 (I Mercampino)

C1 - 1 Campino

C2 - 3 Campino

2009 (II Mercampino)

C3 - 1 Campino (verde)

C4 - 3 Campino (vermelho)

2010 (III Mercampino)

C5 - 1 Campino (verde)

C6 - 3 Campino (vermelho)

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2011 (IV Mercampino)

C7 - 1 Campino (rosa)

C8 - 3 Campino (azul)

2012 (V Mercampino)

C9 - 1 Campino (rosa)

C10 - 3 Campino (azul)

2013 (VI Mercampino)

C11 - 1 Campino (amarelo)

C12 - 3 Campino (rosa)

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5.8. Esito (2008 – 22 de Outubro)

A moeda Esito foi uma moeda de trocas implementada em contexto universitário, na Escola Superior de Educação de Santarém (ESES)(105).

A Esito foi implementada na sequência da moeda Sorriso, criada cerca de seis meses antes, também por alunos do 2º ano do curso de Educação Social(106).

Foi usada inicialmente no 2º Mercado da Alegria (o mercado inicial usou a já abordada moeda

Sorriso), levado a cabo em 22 de Outubro de 2008. No ano seguinte, em 27 de Novembro de 2009, foi usada em novo mercado solidário, agora efetuado por alunos do 1º e 2º anos do curso de Animação Sociocultural(107).

O nome da moeda – Esito – baseou-se na sigla da Escola Superior de Educação (ESE) e foi escolhido pelos alunos organizadores. O seu valor unitário, similarmente ao ocorrido com a sua antecessora Sorriso, foi também aferido com base numa fatia de bolo presente como produto exposto em mercado. A distribuição da moeda foi efetuada com base na opção de quantitativo fixo por prossumidor.

As cédulas eram de conceção bastante simples, impressas em papel normal e depois recortadas à mão. Abrangiam os valores de 1 e 2 Esitos, respetivamente de tons base branco e amarelo, com dimensões de cerca de 10 x 5 cm. Não contemplavam quaisquer mecanismos de controlo, nomeadamente número de série, data ou edição do mercado.

Consideramos que as cédulas emitidas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Esito – Esito (com emissões em 2008 e 2009).

(105) – Sobre esta moeda, agradecemos os contactos e informações prestadas quer pela docente Ana da Silva,

quer pelas então alunas Andreia Rosa, Liliana Daniel e Verónica Andrade, todas da Escola Superior

de Educação de Santarém.

(106) – Conforme referido na Sorriso, o grupo de alunos foi constituído por Andreia Rosa, Carina Marmelo,

Cátia Lopes, Inês Ferreira, Jakilson Pereira, Joana Mendes, Liliana Daniel, Maria Barbosa e Telma

Delgado, que atuaram no âmbito da unidade curricular Metodologias de Animação Sociocultural, da

docente Ana da Silva.

(107) – Também no âmbito da unidade curricular Metodologias de Animação Sociocultural, da docente Ana da

Silva. É desse evento as imagens ao lado e em baixo, ambas gentilmente cedidas por Verónica

Andrade.

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As cédulas emitidas (s/d mas de 2008 e 2009) foram(108):

C1 – 1 Esito

C2 – 2 Esitos

(108) – Não conseguimos confirmar se as cédulas terão sido iguais em ambos os mercados efetuados. As

imagens, de cédulas de 1 e 2 Esitos, foram-nos gentilmente cedidas por, respetivamente, Verónica

Andrade e Liliana Daniel e dizem respeito ao mercado de 2009.

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5.9. Diabitas (2008 – 25 de Outubro)

A Diabitas é uma moeda de trocas implementada em Samuel, povoação com pouco mais de mil habitantes, sede da freguesia homónima, a segunda maior do concelho de Soure, do distrito de Coimbra.

A moeda foi implementada pela organização Acção para a Justiça e Paz (AJPaz), na sequência de mercados solidários efetuados por esta entidade na vizinha Granja dos Ulmeiros e integrada no objetivo de

alargar a todas as freguesias do conselho eventos similares(109), envolvendo a organização IPSS local Associação Cultural, Recreativa e Social de Samuel (ACRSS).

Este tipo de iniciativa da AJPaz apostava então também no incentivo ao papel interventivo da Mulher ao nível da sua comunidade, objetivo alcançado neste caso concreto pois os mercados solidários, com a moeda Diabitas, consolidaram-se na localidade levados a cabo pela referida Associação, que é liderada por uma mulher(110), e com base num seu grupo dinamizador, inicialmente constituído por cerca de duas dezenas de mulheres e informalmente denominado de “Mulheres Agricultoras” (111).

Então ainda por iniciativa da AJPaz, a Diabitas foi

lançada num primeiro mercado solidário, realizado em 25 de Outubro de 2008, a que se seguiu outro mercado, realizado no ano seguinte, em 30 de Julho de 2009.

Após estes dois iniciais, a ACRSS tem continuado a promover mercados solidários, nomeadamente em 25 de Outubro de 2009 (denominado “2º Mercado Solidário”), em 22 de Maio de 2011 (o “3º Mercado Solidário”) e em Outubro de 2012, o que faz da

(109) – Das doze freguesias, apenas a Granja dos Ulmeiros (com a moeda Granja), Soure (com a moeda

Saurius) e Samuel (com esta Diabitas) foram levadas à prática. Curiosamente, bem mais tarde (em

2011), Alfarelos veio a ter também uma moeda de trocas (ver Pomba).

(110) – Teresa Pedrosa, a sua Secretária Geral, eleita também Presidente da Junta de Freguesia local, a quem

agradecemos o contacto e a diversa informação que nos forneceu, incluindo as cédulas cujas imagens

aqui utilizamos.

(111) – As imagens junto, ambas obtidas no site da AJPaz, ilustram a preparação da moeda a ser usada no

primeiro mercado e um aspeto deste.

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Diabitas uma das mais antigas moedas comunitárias portuguesas em atividade(112). Os mercados são essencialmente de produtos da terra, complementados ainda por artesanato, produtos alimentares, brinquedos e serviços vários.

A aferição da moeda tem vindo a ser elaborada ao longo dos vários mercados, existindo uma informal “tabela de valores” de referência. Atualmente – e a título meramente indicativo – refere-se que um quilo de arroz vale 100 Diabitas; uma galinha, 700; um avental, 120; um livro infantil de 50 a 150; medir a tensão e o peso, 100...

O nome da moeda – Diabitas – decorre das tradições locais. Com efeito, os habitantes de Samuel considerarem a sua terra como uma “terra do Diabo” (Samuel é conhecida por “freguesia do diabo”, sendo famosa uma curiosa representação da figura do Diabo num dos altares, o “altar das almas”, da Igreja de Samuel(113)).

A distribuição da moeda segue o critério da atribuição de um quantitativo fixo inicial – 400 Diabitas – a cada novo participante. No final do mercado, cada participante mantém a sua moeda sobrante para futura utilização.

Um aspeto muito curioso, é o da intermutabilidade em mercados solidários desta moeda Diabitas com as suas congéneres Granja e Saurius(114), respetivamente das vizinhas freguesias de Granja dos Ulmeiros e de Soure, a que não será estranho o facto de todas elas terem sido impulsionadas pela mesma entidade, a organização AJPaz.

As cédulas, não datadas até porque se destinam a ser usadas em diversos mercados, abrangem a mesma gama de valores inicial da sua congénere modelo

Granja, ou seja os valores de 5, 10, 50 e 100 Diabitas.

Consistem em tiras de papel, de dimensões 10 x 2,5 cm comuns a toda a gama de valores, impressas em folhas de papel A4 e recortadas manualmente depois. A coloração base, diferente para cada valor, é dada pela cor do papel em que as

(112) – Em 2013, tal como já havia acontecido em 2010, não foi levado a cabo qualquer mercado solidário. No

entanto, fomos informados que está planeada a realização de um em 2014, pelo que não consideramos

a Diabitas como descontinuada.

(113) – Imagem ao lado, gentilmente cedida pela jornalista Teresa Conceição. Como curiosidade, refere-se

ainda que os motards da freguesia são chamados os “Diabos de Samuel”...

(114) – Que abordaremos mais à frente neste trabalho...

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cédulas são impressas (e que tem apresentado algumas variações nas diversas emissões efetuadas(115)).

De estética simples e sem quaisquer mecanismos de controlo, assinatura, data ou números de série, contemplam uma simbologia adequada à sua utilização, especificamente mãos entrelaçadas (Solidariedade), espiga (produtos da terra) e o brasão da Junta de Freguesia(116) e um tridente (ambos símbolos, formal e informal, da localidade).

Consideramos que as cédulas emitidas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Diab – Diabitas (com emissões desde 2008).

As cédulas emitidas (s/d mas desde 2008) foram(117):

C1 – Cédula de 5 Diabitas (mãos)

C2 – Cédula de 10 Diabitas (espiga)

C3 – Cédula de 50 Diabitas (brasão)

C4 – Cédula de 100 Diabitas (tridente)

(115) – Pelo menos nas cores base efetuadas, mas julgamos que também poderão existir variações na estética

base usada.

(116) – Como curiosidade, chamamos a atenção para o menos comum facto da sua coroa mural ter quatro (e

não os comuns três) castelos, indicação heráldica de um estatuto de Vila.

(117) – Com a ressalva da não inclusão aqui das variantes que, como referido, acreditamos que terão sido

emitidas, mas que não conseguimos enquadrar.

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5.10. Saurius (2008 - Novembro)

O Saurius é uma moeda de trocas implementada em Soure, vila com cerca de 9 mil habitantes, sede do concelho homónimo do distrito de Coimbra.

A moeda foi implementada pela organização Acção para a Justiça e Paz (AJPaz), na sequência de mercados solidários efetuados por esta entidade nas vizinhas freguesias de Granja dos Ulmeiros (moeda Granja) e Samuel (moeda Diabitas), integrada no objetivo de alargar a todas as freguesias do concelho eventos similares(118). Aliás – e conforme já atrás referido – a

Saurius foi intermutável com as suas moedas congéneres Granja e Diabitas nos mercados então efetuados quer em Soure, quer na Granja dos Ulmeiros e em Samuel.

A Saurius, cujo nome decorre do topónimo da cidade, foi lançada em apoio ao 1º Mercado Solidário em Soure realizado em 28 de Novembro de 2008 integrado no Seminário Internacional “Encruzilhadas da Crise Global: Que Respostas Locais?”(119) organizado pela AJPaz em colaboração com a Associação Cultural, Recreativa e Social de Samuel (envolvida na implementação da moeda Diabitas um mês atrás) e a Câmara Municipal de Soure.

A moeda veio ainda a ser usada noutro mercado solidário efetuado no ano seguinte, em 30 de Julho de 2009, nas instalações da Escola Secundária Martinho Árias.

Consideramos que as cédulas emitidas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Saur – Saurius (com emissões em 2008 e 2009).

Desconhecendo as características das cédulas emitidas(120), consideramos apenas...

C1 – Cédula de 5 Saurius

(118) – Das doze freguesias, apenas nestas três freguesias tal foi levado a cabo. A imagem, obtida no site

www.trocassolidariasportugal.blogspot.com, refere-se ao folheto publicitário do Seminário e primeiro

mercado.

(119) – Que contou com a presença como oradora da bem conhecida brasileira Heloisa Primavera, pioneira da

moeda comunitária na Argentina e com participações neste âmbito em vários países, sobretudo da

América Latina.

(120) – Não obstante os vários contactos que estabelecemos, não conseguimos obter informações sobre as

cédulas emitidas nem qualquer imagem sobre elas. Vários indícios apontam, no entanto, para que a

gama de valores usada tenha sido a mesma das suas congéneres Granja e Diabitas.

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C2 – Cédula de 10 Saurius

C3 – Cédula de 50 Saurius

C4 – Cédula de 100 Saurius

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5.11. Beijinho (2009 - Abril)

A moeda Beijinho é uma Moeda de Trocas que foi implementada em contexto infantil, em Vale de Santarém, vila e sede de freguesia com apenas cerca de 3 mil habitantes, do concelho de Santarém.

A moeda é pioneira em Portugal relativamente ao uso de Moedas de Trocas em ambiente infantil. Foi implementada em apoio de um mercado solidário com crianças dos 3 aos 5 anos do Jardim de Infância nº 1 do Vale de Santarém, do

Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano.

Esse mercado solidário foi levado a cabo por alunas da Escola Superior de Educação de Santarém(121) e inseriu-se no âmbito do Projecto Solidariedade Cidadã. Ocorreu em 30 de Abril de 2009 no Mercado Municipal e nele apenas participaram as crianças que o fizeram na qualidade de prossumidoras, ou seja, produziram os brinquedos e artigos que levaram para o mercado, que trocaram entre si.

A moeda Beijinho, cujo nome foi escolhido em grupo pelas próprias crianças participantes, foi consubstanciada por “cédulas” de 1 e 2 Beijinho.

Essas “cédulas” foram elaboradas pelas próprias crianças e claramente vocacionadas para serem manuseadas por elas. Eram feitas de cartão canelado e de formato circular, imitando “moeda”, com cerca de 8,5 cm de diâmetro. A sua estética

era dominada por uns “lábios”, simbolizando o “beijinho” e por um algarismo apropriado – “1” ou “2” – igualmente manuscritos, apostos apenas numa face de cor castanha. O verso, branco, não tinha qualquer elemento simbólico.

Consideramos que essas “cédulas” consubstanciam o sistema...

PRT-C-Bjinho – Beijinho (com “emissão” em 2009).

(121) – Concretamente Cátia Costa (a quem agradecemos o contacto e informações prestadas) e Tânia Inácio,

então alunas do Curso de Animação Cultural e Educação Comunitária, supervisionadas pela Prof. Ana

da Silva (que, amavelmente, nos forneceu os exemplares das “cédulas” cujas imagens aqui

apresentamos). As imagens da sala e do cartaz foram obtidas na publicação “Solidariedade Cidadã –

Uma experimentação partilhada”, da Associação In Loco, Junho de 2009.

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As “cédulas” emitidas foram:

C1 – 1 Beijinho

C2 – 2 Beijinho

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5.12. Crialito (2009 – 17 de Junho)

A moeda Crialito é uma Moeda de Trocas que foi implementada em contexto de crianças e jovens portadores de deficiência, em Almeirim, cidade de cerca de 13 mil habitantes, sede de concelho do distrito de Santarém.

A moeda foi implementada em apoio a mercado solidário efetuado em 17 de Junho de 2009 por alunos da Escola Superior de Educação de Santarém(122) e pelo Centro de Recuperação Infantil de Almeirim (CRIAL), onde decorreu. Esta ação inscreveu-se no âmbito do

Projecto de Solidariedade Cidadã.

O CRIAL é uma IPSS criada em 1978 e então vocacionada para funcionar como Escola de Educação Especial para crianças e jovens portadores de deficiência mental, mas que posteriormente alargou o seu âmbito de ação a outros campos de intervenção na área do apoio social local.

O trabalho desenvolvido para a efetivação do mercado solidário foi inicialmente dirigido aos alunos da Escola de Educação Especial, então com 25 crianças e jovens portadores de deficiência, de idades compreendidas entre os 6 e os 18 anos e que se considera serem detentoras de necessidades educativas especiais prolongadas. No entanto, este âmbito inicial foi alargado, passando a englobar também os elementos do Centro de Actividades Ocupacionais (outra das valências da CRIAL), estes

num total de 30 portadores de deficiência grave ou profunda e com idades entre os 16 e os cerca de 50 anos(123).

O mercado solidário foi realizado na rua, no pátio da instituição, e teve uma participação alargada a toda a comunidade institucional da CRIAL, incluindo, para além dos elementos da Escola de Educação Especial e do Centro de Actividades Ocupacionais (que, apesar das suas limitações, participaram na condição de prossumidores, ou seja produtores também de bens e serviços presentes no mercado), professores, técnicos e auxiliares da instituição.

(122) – Concretamente, Carla Louro, Helena Espinho, Joana Matias e Raquel Amorim, então alunas do 2º ano

do Curso de Educação Social da ESES (e que tinham estagiado no CRIAL), no âmbito da unidade

curricular Metodologias de Animação Cultural da Prof. Ana da Silva. Agradecemos a Joana Matias o

contacto e informações prestadas, bem como as figuras das cédulas que aqui utilizamos.

(123) – A imagem ao lado, tal como a do cartaz relativo à escolha do nome da moeda, foram obtidas na

publicação “Solidariedade Cidadã – Uma experimentação partilhada”, da Associação In Loco, Junho

de 2009.

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O nome da moeda – Crialito – decorre da sigla do Centro organizador (CRIAL) e foi escolhido pelo grupo das crianças e jovens da Escola de Educação Especial e dos elementos do Centro de Actividades Ocupacionais, reunidos em assembleia de mercado efetuada em 15 de Junho de 2008.

Não foi efetuada qualquer aferição do valor do Crialito, tendo sido definidos os valores dos bens e serviços a ser presentes no mercado em sessão prévia ao início do mesmo. A distribuição da moeda seguiu a filosofia de ser

dado um quantitativo fixo a cada um dos participantes no mercado.

As cédulas abrangeram os valores de 1 e 2 Crialito. Eram de forma retangular, de cantos arredondados, impressas apenas a preto e tinham dimensões na ordem dos 7,5 x 4 cm. Similarmente às suas congéneres, não eram datadas nem numeradas. A simbologia adotada, de acordo aliás com o próprio nome da moeda, baseou-se no símbolo da instituição CRIAL.

Consideramos que as cédulas emitidas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Crial – Crialito (com emissão em 2009).

As cédulas emitidas (s/d mas de 2009) foram:

C1- 1 Crialito

C2 - 2 Crialitos

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5.13. Morango (2009 – 26 de Junho)

A moeda Morango, implementada em Santarém pouco depois da sua congénere Beijinho, é outra das primeiras moedas de trocas em Portugal vocacionadas para ambiente infantil.

A moeda foi implementada no âmbito de um projeto escolar da Escola Superior de Educação de Santarém(124), integrado no Projecto Solidariedade Cidadã, no Jardim de Infância da Santa Casa da Misericórdia de

Santarém Os Amiguinhos(125).

Esse projeto escolar consistiu em trabalhos de preparação e execução de um mercado solidário dirigido essencialmente às crianças da sala dos 5 anos desse estabelecimento, mas aberto igualmente a acompanhantes e outras pessoas que quisessem participar.

O mercado solidário foi levado a cabo integrado nas comemorações anuais locais Festa da Amizade, tendo-se realizado em 26 de Junho de 2009.

O nome da moeda - Morango - foi escolhido pelas crianças participantes, tal como a estética das cédulas (essencialmente, um morango), cujo desenho foi também efetuado por elas.

As “cédulas”, muito adaptadas a crianças, consistiram de “moedas” (circulares) de 1 Morango e “notas” (retangulares) de 2 Morango(126), com dimensões, respetivamente, de 8 cm de diâmetro e de 8 x 12 cm. Foram feitas com base nos desenhos efetuados pelas crianças, digitalizados e impressos em papel branco, que era então recortado e colado em pedaços de cartão

canelado com o mesmo formato e dimensões.

(124) – Concretamente, pelos então alunos do 2º ano do curso de Educação Social Alexandra Silva, Ana

Coelho, Luís Costa, Maria Beatriz Cardoso, Mónica Raimundo e Sílvia Pires, supervisionadas pela

Prof. Ana da Silva (a quem agradecemos o contacto e informações prestadas, bem como o exemplar

da cédula de 1 Morango cuja imagem aqui utilizamos).

(125) – A que se refere a imagem ao lado, obtida no site oficial da Santa Casa da Misericórdia de Santarém,

www.scms.pt.

(126) – Conforme se pode notar na imagem ao lado, obtida na publicação “Solidariedade Cidadã – Uma

experimentação partilhada”, da Associação In Loco, Junho de 2009.

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Consideramos que essas “cédulas” consubstanciam o sistema...

PRT-C-Morang – Morango (com “emissão” em 2009).

As “cédulas” emitidas (s/d mas de 2009) foram(127):

C1 – 1 Morango (circular; “moeda”)

C2 – 2 Morango (retangular; “nota”)

(127) – A imagem da cédula de 2 Morango, de má qualidade, foi a melhor que conseguimos obter sobre esta

cédula; é do filme “Solidariedade Cidadã”, produzido pela Associação In Loco, em Junho de 2009.

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5.14. Swap (2009 - Dezembro)

O Swap é uma moeda de trocas implementada no Mercado de Trocas (“Swap Market”) inserido no evento “Mercado de Natal Amigo da Terra” levado a cabo de 11 a 19 de Dezembro de 2009 em Almada, cidade com quase 170 mil habitantes e sede de um pequeno mas densamente povoado concelho.

Na sequência de um anterior Swap Market efetuado no Estoril (ainda sem moeda própria) cerca de dois meses

antes, o Grupo GCI(128), atuando com a Câmara Municipal de Almada, levou a cabo o referido evento em Almada, com forte componente social e ambientalista e onde implementou uma moeda social própria que denominou Swap(129), que assim se tornou a primeira moeda comunitária portuguesa a ser implementada por uma empresa puramente privada.

A moeda teve uma tabela de valores própria face a diversos produtos que se esperava virem a ser trocados (por exemplo, 1 Swap era igual a 1 lenço, a 1 capa escolar, a 1 esferográfica ou lápis ou a 1 pano de cozinha), mas a sua utilidade prática acabou por ser relativamente diminuta, por desnecessária face à solidariedade que o evento despoletou, acabando por ser em muito maior número e valor o que as pessoas levavam face ao que pretendiam obter, sobrando

até muitos itens encaminhados para instituições de solidariedade social.

As cédulas emitidas contemplaram os valores de 1, 5 e 10 Swap. Eram de papel normal e em formato retangular e nas mesmas dimensões (6 x 12 cm) para os três valores abrangidos. A estética base era a decorrente da estética adotada para o mercado solidário, com uso de imagens de ténis e de bicicletas e das cores azul, amarela e branca, diferenciando os três valores que contemplavam. Foram impressas apenas numa única face e não contemplaram

quaisquer mecanismos de controlo, nomeadamente data, assinatura ou número de série.

Consideramos que estas cédulas consubstanciam o sistema...

(128) – Uma empresa privada de consultadoria.

(129) – “Swap” é o termo inglês para “Troca”. A imagem ao lado, obtida na página facebook do Swap Market,

refere-se à tenda onde decorreu o Mercado de Trocas no espaço geral do evento em Almada.

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PRT-C-Swap – Swap (com emissão em 2009).

As cédulas emitidas (s/d mas de 2009) foram:

C1 – 1 Swap (azul; ténis)

C2 – 5 Swap (amarelo; bicicleta)

C3 – 10 Swap (branco; ténis e bicicleta)

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5.15. Feijão (2010 - Março)

A Feijão é uma moeda de trocas implementada no Porto, cidade com cerca de 240 mil habitantes, sede de município e distrito homónimo e cujo aglomerado urbano, com cerca de 1,3 milhões de habitantes, é o maior do noroeste da Península Ibérica e o segundo de Portugal, logo após o da capital Lisboa.

A moeda foi criada em apoio a uma feira de trocas mensal que se realizava num espaço da Junta de Freguesia de S. Nicolau, no Porto, organizada pelas instituições Casa da Horta, uma associação cultural destinada, segundo os próprios, a “criarem programas culturais e estilos de vida

alternativos na cidade do Porto”(130) e Grupo de Acção e Intervenção Ambiental (GAIA), uma ONGA(131) de cariz ecologista, fundada em 1996, curiosamente em Lisboa(132), e que envolvia ainda a própria Junta de Freguesia de S. Nicolau.

A feira de trocas teve a sua primeira edição em 8 de Março de 2009 e continuou a ser realizada mensalmente até à última edição, em 5 de Junho de 2010(133), sendo levada a cabo em espaço beira-rio Douro, como já referido, da Junta de Freguesia de S. Nicolau. Era aberta ao público em geral, nomeadamente aos que passeavam pela zona da marginal, e contemplava bancas sobretudo de bens (roupas, brinquedos, artigos de decoração, livros, discos, etc.).

Nas primeiras edições da feira, as transações eram feitas

sobretudo via troca direta, existindo no entanto espaços próprios para a “troca livre e negociada”. A moeda veio a ser criada para melhor viabilizar as trocas indiretas, tendo sido introduzida na feira de 1 de Março de 2010 e usada ainda nas feiras de 1 de Maio e 5 de Junho desse mesmo ano.

(130) - A um dos seus elementos, Inês Caetano, agradecemos o contacto e as informações prestadas, incluindo

as imagens das cédulas que aqui usamos.

(131) - Organização Não Governamental do Ambiente.

(132) - Não resistimos a salientar o irónico desta associação ter sido fundada em Lisboa, a cidade “rival” do

Porto a nível nacional e do seu nome – “GAIA” – ser o mesmo da cidade que apenas o rio Douro

separa do Porto e que é desta a considerada “rival” a nível regional. Estas considerações devem ter

sido feitas muitas vezes, certamente...

(133) - Inicialmente, a feira era efetuada nos primeiros domingos de cada mês, passando a sê-lo aos primeiros

sábados após 6 de Fevereiro de 2010. As imagens junto, do cartaz de divulgação e do letreiro, foram

obtidas, respetivamente, nos sites oficiais da GAIA, www.gaia.org.pt, e da Casa da Horta,

www.casadahorta.pegada.net.

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O seu nome – Feijão – foi escolhido pela conotação tradicional de “moeda sem valor”, bem expressa na idiomática frase de “jogar a feijões”. Não obstante, o Feijão teve uma valorização informal ao Euro. As cédulas que circularam mantinham-se nas mãos dos participantes da feira e passavam para a feira seguinte onde retomavam o seu valor, voltando a poder ser usadas.

As cédulas emitidas recorreram a uma simbologia simples, apenas baseada no feijão (a semente) que dava o nome à moeda. Eram impressas em papel normal e recortadas depois no formato desenhado do feijão, o que faz da Feijão a primeira moeda portuguesa a usar cédulas fora dos convencionais formatos retangular ou circular.

Foram produzidas cédulas de 1, 5, 10 e 20 Feijões, abrangendo assim o valor unitário e os valores mais comuns das notas de euro. Mantinham a mesma estética base, mas usaram diferentes tamanhos para os valores contemplados. Como mecanismo de segurança foi usado o método de validar para circulação apenas as cédulas com carimbo da Casa da Horta aposto no verso.

Muito poucas subsistirão ainda.

Consideramos que as cédulas emitidas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Feijão – Feijão (com emissão em 2010).

As cédulas emitidas (s/d mas de 2010) foram:

C1 – 1 Feijão

C2 – 5 Feijões

C3 – 10 Feijões

C4 – 20 Feijões

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5.16. ESECO (2010 - Julho)

A ESECO é uma moeda de trocas implementada em contexto universitário pela Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC).

A moeda surgiu essencialmente no âmbito de um projeto escolar e foi levada a cabo pelos alunos do 2º ano do curso de Animação Socioeducativa, turma Pós-laboral(134). Pode dizer-se que foi uma continuadora da anterior Justa, usada em contexto similar na ESEC em 2007 e 2008, e que lhe serviu de referência.

Após uma experiência piloto apenas em sala de aula e com os elementos da turma, foi efetuado um mercado solidário no pátio da ESEC, que se realizou em 8 de Julho de 2010. Esse mercado não se cingiu apenas à comunidade escolar da ESEC, tendo tido a participação de vários prossumidores do exterior, numa abertura à comunidade tornada mais fácil pelo facto dos alunos organizadores serem de uma turma pós-laboral e estarem assim, na generalidade, já inseridos no mercado de trabalho local. A AJPaz participou também no mercado que assim atingiu cerca de uma centena de prossumidores(135).

O nome ESECO, escolhido em assembleia de turma, provém da sigla da Escola (ESEC), filosofia aliás também seguida pela congénere Esito, da ESE de Santarém dois anos antes. A moeda foi usada inicialmente em mercado experimental que visou preparar o mercado solidário de 8 de Junho, onde

foram já usadas cédulas, se bem que então apenas de valor unitário e de estética ligeiramente diferente da que veio a ser adotada. A sua distribuição aos

(134) – No âmbito da unidade curricular Atelier de Projectos de Intervenção, da já nossa conhecida Teresa

Cunha. A ela e, sobretudo, a Samuel Machado – um dos principais dinamizadores da criação da

ESECO - agradecemos o contacto e informações prestadas, que incluem os exemplares das cédulas

cujas imagens aqui utilizamos.

(135) – As imagens acima, ambas obtidas do site www. mercadosolidarioasepl.blogspot.com, refere-se ao

“banco” do mercado experimental (em primeiro plano está o Samuel Machado) e a uma vista geral do

mercado de 8 de Julho.

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prossumidores seguiu a filosofia da distribuição inicial de um quantitativo fixo estipulado em 15 ESECO.

As cédulas produzidas contemplaram os valores de 1, 2, 5 e 10 ESECO. Foram impressas sobre papel colorido, apenas numa face, com cores distintas para cada um dos valores abrangidos e reduzidas dimensões comuns, de 7 x 3,5 cm. A sua simbologia, distinta para cada valor, versou sobre as infraestruturas e os alunos da ESEC. Não contemplaram quaisquer mecanismos de controlo, nomeadamente data, assinatura ou número de série.

As cédulas usadas no mercado experimental inicial contemplaram apenas o valor

unitário. Foram impressas em papel branco, apresentando, na face, uma tonalidade cinzenta. Para além de maiores (com dimensões na ordem dos 9 x 4,5 cm), a sua matriz base foi ligeiramente diferente das cédulas depois produzidas para o mercado, com uma diferente relação proporcional dos elementos simbólicos usados, nomeadamente um maior logótipo da ESEC. Indicava ainda expressamente a unidade curricular “Atelier de Projectos de Intervenção”, ao abrigo da qual este projeto foi implementado.

Diversos exemplares das cédulas foram recolhidos e preservados, julgando-se, no entanto, não existirem quantitativos apreciáveis existentes fora deste conjunto.

Consideramos que estas cédulas consubstanciam o sistema...

PRT-C-ESECO – ESECO (com emissões em 2010).

As cédulas emitidas (s/d mas de 2010) foram:

Emissão “experimental”

C1 – 1 ESECO (cinzenta)

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Emissão “normal”

C2 – 1 ESECO (azul)

C3 – 2 ESECOS (laranja)

C4 – 5 ESECOS (verde)

C5 – 10 ESECOS (amarela)

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5.17. Pomba (2011 - Março)

A Pomba é uma moeda de trocas implementada em Alfarelos, povoação e sede de freguesia com cerca de mil e quinhentos habitantes, do concelho de Soure, distrito de Coimbra(136).

A moeda foi criada pelo Centro Social de Alfarelos(137), uma IPSS criada em 1983 e com a missão de “educar, formar, cuidar e apoiar crianças, idosos e comunidade em geral”,

dispondo para isso de Creche, Jardim de Infância, ATL, Centro de Dia, Lar de Idosos e serviço de Apoio Domiciliário. Foi implementada para uso num mercado solidário levado a cabo no âmbito das atividades comemorativas do 28º aniversário da instituição.

O mercado foi realizado em 27 de Março de 2011, fora das instalações da instituição, concretamente no jardim público da localidade e aberto ao público em geral(138). A sua participação estimada foi de cerca de 60 prossumidores, maioritariamente do Centro Social e englobou sobretudo bens (produtos da terra, artesanato, comidas e bebidas).

(136) – Curiosamente, esta era uma das freguesias alvo do projeto inicial da AJPaz (ver moeda Granja) para

implementar moedas de trocas no concelho de Soure, projeto que, para além da própria Granja, na

vizinha Granja dos Ulmeiros, englobou ainda a Diabitas, em Samuel, e a Saurius, em Soure, ambas

em 2008. Ao lado, imagem obtida na página facebook da instituição.

(137) – Carla Lopes, Técnica Superior de Animação da instituição, foi a responsável pela implementação da

moeda, tendo contado com a colaboração de Pedro Filipe. A ela agradecemos o contacto e a

disponibilização de informação sobre a moeda, nomeadamente as fotografias do Mercado e as

cédulas, cujas imagens aqui apresentamos. Julga-se pertinente referir também que Carla Lopes, então

ainda como aluna de Animação Socioeducativa da Escola Superior de Educação de Coimbra,

participou em experiências de mercados solidários aí levadas a cabo e que envolveram,

nomeadamente, a já atrás referida moeda ESECO.

(138) – O local e a hora escolhida para o início do mercado foram particularmente bem escolhidos tendo em

vista viabilizar um maior impacto social e adesão da comunidade; o local foi junto à Igreja da

povoação e a hora – 10h30 – foi a do final da missa desse dia de Domingo. Nas imagens, preparação e

aspeto geral do Mercado.

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O nome da moeda – Pomba – foi escolhido de acordo com o logótipo da instituição, que, aliás, é contemplado na estética das cédulas emitidas. O mecanismo de distribuição da moeda seguiu a filosofia da distribuição de um quantitativo inicial fixo a cada prossumidor, concretamente de 5 notas de cada um dos valores de 1, 2 e 5 Pombas, num total assim de 40 Pombas. Até

por terem sido emitidas especificamente para o mercado em que foram usadas e assinalarem isso mesmo através da data aposta, as cédulas distribuídas não foram recolhidas no final, mantendo-se na posse dos participantes.

A moeda foi consubstanciada por cédulas, como já referido, datadas e abrangendo os valores de 1, 2 e 5 Pombas. Têm uma estética cuidada e comum aos três valores, apenas usando tonalidades diferentes para cada um deles. Unifaces, foram impressas em papel comum e a simbologia usada baseou-se em motivos da instituição, com uma imagem das suas instalações e o já referido logótipo que esteve na origem da designação Pomba. As dimensões, de cerca de 5,5 x 11 cm, são comuns aos três valores abrangidos.

Consideramos que estas cédulas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Pomba – Pomba (com emissão em 2011).

As cédulas emitidas (datadas de 27 de Março de 2011) foram:

C1 – 1 Pomba (azul)

C2 – 2 Pombas (verde)

C3 – 5 Pombas (vermelha)

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5.18. Pombalino (2011 - Abril)

A Pombalino é uma moeda de trocas implementada em Cacela Velha, uma antiga e historicamente rica povoação da freguesia de Vila Nova de Cacela, freguesia com apenas pouco mais de 3 mil habitantes do concelho de Vila Real de Santo António.

A moeda foi implementada pelo Banco Local de Voluntariado da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António(139), com o apoio do Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela e da Associação de Defesa,

Reabilitação, Investigação e Promoção do Património Natural de Cacela (ADRIP).

A Pombalino foi lançada em 9 de Abril de 2011 como moeda de trocas em apoio a um mercado solidário realizado em Cacela Velha, onde se trocaram produtos tão diversificados como hortícolas e frutícolas, produtos do mar (peixe, marisco, etc.), cozinhados (bolos, compotas, licores, etc.) e artesanato (molduras, bordados, bijutaria, pintura, cerâmica, etc.), bem como artigos usados (livros, roupas, etc.) e serviços (cabeleireira, manicura, massagens, etc.). Uma quantidade fixa de 10 Pombalinos foi entregue a cada participante prossumidor e as cédulas foram recolhidas no final do mercado.

A este primeiro mercado, seguiu-se outro realizado igualmente em Cacela Velha e em 29 de Abril de 2012, em que foram mantidas as cédulas usadas anteriormente, mas os mercados subsequentes foram levados a cabo já sem a utilização da moeda(140).

(139) – A quem agradecemos o contacto e informações prestadas através das suas técnicas Helena Vitória e

Susana Araújo, que gentilmente nos forneceram também os exemplares das cédulas cujas imagens

aqui utilizamos.

(140) – As imagens abaixo referem-se, da esquerda para a direita, ao 1º e ao 2º mercados e foram obtidas,

respetivamente, no site www.adripcacela.blogspot.com, site oficial da ADRIP e na página desta no

facebook. O mercado de 21 de Abril de 2013 foi já sem utilização de moeda.

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O nome da moeda – Pombalino – decorre da importância que o Marquês de Pombal tem na história do concelho, uma vez que foi ele o responsável pela criação de Vila Real de Santo António.

As cédulas emitidas abrangem apenas os valores de 0,5 e 1 Pombalinos e foram impressas em impressora normal de trabalho do Banco Local de Voluntariado em folhas A4 e recortadas depois (5 cédulas de cada valor por folha). Têm a mesma grafia para ambos os valores, apenas com a figura do Marques de Pombal. Não contemplam quaisquer mecanismos de controlo, nomeadamente data, assinatura ou número de série. O verso, comum, refere a sua utilização apenas com o dizer “Mercado Solidário”. Retangulares, têm as medidas aproximadas de 9 x 5 cm, iguais para ambos os valores.

Consideramos que as cédulas emitidas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Pblino – Pombalino (com emissões desde 2011).

As cédulas emitidas (s/d mas de 2011) foram:

(verso comum)

C1 – 0,5 Pombalino

C2 – 1 Pombalino

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5.19. Aleixo (2011 - 30 de Maio)

A Aleixo é uma moeda de trocas implementada em contexto escolar em Vila Real de Santo António, cidade sede de município com cerca de 18 mil habitantes – um dos de maior densidade populacional do Algarve - do Distrito de Faro(141).

A moeda – pioneira em âmbito escolar ao nível do ensino secundário - foi criada em apoio ao I Mercado Solidário na Escola Secundária de Vila Real de Santo António, efetuado em 30 de Maio de

2011 no âmbito do Curso Profissional de Animação Sociocultural desse estabelecimento escolar(142).

O mercado solidário foi efetuado no pátio

da escola e foi aberto a todos os alunos do Curso(143). Contou com um leque diversificado de bens e serviços, num total de 21 bancas (15 de produtos e 6 de serviços). Do material de suporte, salientamos a elaboração de uma faixa identificadora do mercado solidário, bem como de um cartaz e de uma publicação de divulgação do mercado.

As cédulas da moeda Aleixo foram entregues por uma “banca” no início do mercado e recolhidas no final do mesmo(144).

A moeda foi concebida pelos alunos do 1º Ano do referido curso, tendo-se denominado “Aleixo” em honra do mais famoso poeta popular algarvio, António Aleixo(145), nascido precisamente em Vila Real de Santo António.

(141) – Sobre esta moeda, agradecemos a Tatiana Queirós o contacto e a disponibilização de informação sobre

a moeda, nomeadamente as imagens aqui apresentadas. Como curiosidade refere-se que Tatiana

Queirós, a técnica responsável pela criação da Aleixo, acompanhou em 2008, então como aluna de

Educação Social da Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve, as

experiências de mercados solidários aí levadas a cabo, que envolveram, nomeadamente, a já atrás

abordada moeda Sol.

(142) – Organizado pela já referida professora Tatiana Queirós, com a colaboração dos professores Helena

Gomes e Jorge Dias e com os alunos do 1º ano desse curso (equivalente ao 10º ano escolar).

(143) – 1º, 2º e 3º anos (equivalentes, respetivamente, aos 10º, 11º e 12º anos escolares), num total de 41 alunos

em 4 turmas.

(144) – A faixa e a publicação de divulgação do mercado, bem como a “banca” que nele funcionou, são

ilustradas nas imagens junto.

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As cédulas emitidas destinaram-se especificamente ao mercado para que foram criadas, indicando-o expressamente nas respetivas faces(146). Foram elaboradas pelos alunos e impressas na escola. Contemplaram os valores de 1 e 2 Aleixo

com uma estética base comum; de tonalidade cinzenta para a de 1 e amarelada para a de 2 Aleixo. O seu motivo principal é uma imagem do poeta António Aleixo (de um conhecido quadro de Tössan), tendo ainda o logótipo ASC, símbolo do curso de Animação Sociocultural da escola.

Consideramos que estas cédulas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Aleixo – Aleixo (com emissão em 2011).

As cédulas emitidas (s/d mas de 2011) foram:

C1 – 1 Aleixo (cinzenta)

C2 – 2 Aleixo (amarela)

(145) – António Fernandes Aleixo (1899 – 1949) é um dos poetas populares nacionais de maior relevo,

conhecido pela ironia e crítica social presente nos seus versos.

(146) – A ideia foi, à data, a que esta iniciativa pudesse ter continuidade em futuros anos letivos, o que, até à

data, não se verificou.

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5.20. Morteiro (2011 - 31 de Maio)

A Morteiro é uma moeda de trocas implementada no Funchal, cidade de cerca de 1,5 milhões de habitantes e capital da Região Autónoma da Madeira(147).

A moeda foi criada em apoio a um mercado solidário organizado e levado a cabo em 31 de Maio de 2011 no Centro Comunitário das Murteiras, uma instituição em que uma das principais valências é a de centro de dia para idosos, e que pertencente à IPSS Associação de Desenvolvimento Comunitário do Funchal (ADCF). A Morteiro

tornou-se assim a primeira moeda comunitária a ser implementada na Região Autónoma da Madeira.

O mercado solidário foi efetuado essencialmente pelos utentes do centro de dia, no que constitui uma das primeiras experiências deste tipo vocacionadas expressamente para pessoas mais idosas. Nele participaram entre duas a três dezenas de pessoas.

A metodologia da distribuição da moeda seguiu a filosofia da distribuição inicial de um quantitativo fixo e as cédulas foram recolhidas no final do mercado.

O nome da moeda - Morteiro - deriva do nome do Centro Comunitário(148). As cédulas emitidas, apenas uniface e impressas em papel comum, abrangeram os valores de 1, 2 e 5 Morteiro. A sua arte, comum aos três valores, baseia-se numa imagem claramente alusiva à Economia Solidária e no logotipo da ADCF à qual o Centro pertence.

Consideramos que estas cédulas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Mort – Morteiro (com emissão em 2011).

(147) – Sobre esta moeda, agradecemos a Regina Barbosa, a responsável pela sua implementação, o contacto e

a disponibilização de informação sobre a moeda, nomeadamente as imagens do Mercado e das cédulas

aqui apresentadas. Considera-se pertinente referir ainda que Regina Barbosa foi outra das alunas da

Escola Superior de Educação de Coimbra que, em 2010, participou em experiências de mercados

solidários aí levadas a cabo e que envolveram, nomeadamente, a já atrás referida moeda ESECO.

(148) – Não obstante a troca do "u" de "Murteiras" pelo "o" de "Morteiro", assim deliberado em conjunto.

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As cédulas emitidas (s/d mas de 2011) foram:

C1 – 1 Morteiro

C2 – 2 Morteiro

C3 – 5 Morteiro

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5.21. Jardim (2011 - Setembro)

A Jardim é uma muito curiosa e simples moeda de trocas, vocacionada para crianças e implementada em Coimbra(149).

A moeda Jardim foi criada para apoio ao Mercado de Trocas para crianças do Jardim Botânico, realizado em

Coimbra em 24 de Setembro de 2011 e organizado pela Casa da Esquina e pelo Mercadinho do Botânico.

Este evento é pioneiro em Portugal ao promover o uso de moeda de trocas por crianças sem se basear à partida em trabalho com elas em sala de aula / jardim infantil (casos das moedas Beijinho e Morango) e teve uma muito significativa participação logo na sua edição inicial, registando 123 crianças acompanhadas de cerca de três centenas de adultos. Tem vindo a servir de inspiração a outras iniciativas similares um pouco por todo o país, constituindo já uma experiência marcante no panorama nacional de moedas de trocas, sobretudo no que respeita ao trabalho com crianças.

Como curiosidade, registe-se que este projeto foi então um dos selecionados para a final do concurso Movimento Milénio(150), na categoria Consumo.

Sempre com a utilização da moeda Jardim, foram já efetuadas outras edições do Mercadinho: ainda em 2011, uma segunda edição em 10 de Dezembro; em 2012, a terceira e a quarta, respetivamente a 17 de Março e a 16 de Junho; e em 2013, a quinta, a sexta e a sétima edições, respetivamente em 6 de Abril, 8 de Julho e 5

de Outubro(151).

(149) – Sobre esta moeda, agradecemos o contacto, informações prestadas e a cedência de várias “cédulas”

(donde retirámos as imagens que mostramos na página seguinte) por Teresa Cunha, agora na

qualidade de membro da Casa da Esquina e a principal responsável pela implementação da moeda.

(150) – Organizado pelo Millennium BCP e pelo Jornal Expresso.

(151) – Foi ponderada ainda o alargamento desta iniciativa a outras localidades (Aveiro e Figueira da Foz),

com utilização de moeda com diferente designação, mas, até à data, sem resultados de relevo.

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Paralelamente, foi também efetuado com esta moeda, um mercado de trocas “especial”, o Mercado de Trocas de Material Escolar, aberto já a participantes de todas as idades. Esse mercado, efetuado também em Coimbra, foi levado a cabo em 4 de Julho de 2012 e vocacionou-se para livros escolares, material desportivo, de desenho, mochilas e, de um modo geral, os bens relacionados com o regresso às aulas.

Os Jardins são distribuídos às crianças no início do mercado por um “Ecobanco”(152), 10 “moedas” por participante a que acrescem as que tenha entregue em anterior edição. As moedas sobrantes são recolhidas no final do evento para

posterior reutilização. Com o Mercado de Trocas de Material Escolar, já com a participação de um leque etário mais alargado, as regras de funcionamento da distribuição de moeda foram mais detalhadas e explicitadas, mantendo-se no essencial as regras anteriormente adotadas, com a alteração de entregar 5 Jardins a quem tenha já participado em mercado anterior e não tenha esse valor na sua “conta corrente” para reutilização.

Destinando-se inicialmente a ser manuseadas por crianças, as “cédulas”, todas no valor de 1 Jardim, consistem apenas de pequenos círculos coloridos, de cerca de 2,5 cm de diâmetro, com base em material de alcatifa, muito ao jeito de “moedas” infantis. São usadas diversas cores e tonalidades; para além do branco e preto, existem “moedas” amarelas, azuis, castanhas, cinzentas, laranjas, verdes e vermelhas, algumas delas ainda com diferentes tonalidades. Essas diversas cores e tonalidades não têm significado especial, visando apenas tornarem as “moedas” mais apelativas para as crianças.

Consideramos que essas “cédulas” consubstanciam o sistema...

PRT-C-Jardim – Jardim (com “emissões” desde 2011).

As “cédulas” usadas até agora foram:

(152) – Ilustrado na imagem em baixo, obtida na 3ª Edição do Mercadinho.

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C1 – 1 Jardim (“moeda” circular), com variantes de cores...

a - Amarelo

b – Azul claro

c – Azul

d – Azul escuro

e - Branco

f – Castanho claro

g – Castanho escuro

h – Cinzento claro

i – Cinzento escuro

j – Laranja claro

k – Laranja escuro

l - Preto

m – Verde claro

n – Verde escuro

o – Vermelho claro

p – Vermelho escuro

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5.22. Troca (2011 - Dezembro)

A Troca é uma muito peculiar moeda de trocas, vocacionada para crianças implementada em Góis, vila de pouco mais de 2 mil habitantes, sede de município do Distrito de Coimbra(153).

A moeda foi implementada pelo Grupo 74 de Escuteiros de Góis, para utilização na sua denominada I Feira de Trocas de Brinquedos, evento levado a cabo em 10 de

Dezembro de 2011. Esta atividade foi preparada e executada essencialmente pela chefia da Divisão Alcateia (que integra crianças dos 7 aos 11 anos) do grupo de escoteiros, com o apoio de diversas entidades, nomeadamente da Associação de Desenvolvimento Integrado da Beira Serra (ADIBER), do Agrupamento de Escolas local, da Escola Profissional da Lousã e da Câmara Municipal de Góis.

A Feira foi aberta à comunidade de Góis e concelhos vizinhos, mas teve a participação sobretudo dos elementos escoteiros, cerca de três dezenas de crianças da faixa etária dos 6 aos 13 anos. Prevista inicialmente para ser levada a cabo em espaço aberto, concretamente no Largo do Pombal em Góis, veio a ser efetuada em instalações cobertas da ADIBER, espaço alternativo a ser usado caso as condições meteorológicas adversas assim o aconselhassem, o que efetivamente sucedeu.

As "cédulas" utilizadas configuram uma das situações limite que já falámos anteriormente. A consubstanciação física da Troca foi efetuada por... pedras, mais concretamente ladrilhos que o tempo fez descolar de um mosaico colorido existente na antiga Escola C+S de Góis, que entretanto passaram a instalações

(153) – Sobre esta moeda, agradecemos o contacto e as informações prestadas (incluindo as fotografias) por

Tânia Barata, do Grupo de Escoteiros de Góis, principal responsável pela implementação da moeda.

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da ADIBER(154). Ladrilhos sem quaisquer inscrições, pinturas ou simbolismo que as tornassem mais identificativas da moeda que representaram no evento.

Pelo tipo de "cédulas" usadas e a ausência de quaisquer inscrições nelas, a valorização de cada uma era a unitária, ou seja, 1 Troca. No entanto, este valor apresentou características curiosas. A entrega do quantitativo de Trocas, logo no início da Feira e por um "banco" próprio, era fixa - 20 Trocas - e feita a todas as crianças participantes, ou seja, que, pelo menos, trouxessem um brinquedo para trocar. No entanto, eram entregues "pedras maiores ou mais coloridas" a quem apresentasse brinquedos mais valiosos, o que introduzia uma noção de valor adicional para além do valor comum de 1 Troca de cada pedra entregue(155).

Este é um exemplo claro do fato de qualquer objeto poder ser usado como "cédula" representando um valor num dado sistema monetário, desde que assim o grupo de utilizadores o entenda, aceite e pratique. Julgamos no entanto ser de salientar que tal foi efetuado num grupo bem especial - escuteiros conhecidos entre si - grupo em que se praticará o cultivo de valores como os de disciplina, ética, camaradagem, respeito mútuo e honestidade, o que terá tornado completamente desnecessária a utilização de cédulas de características próprias em termos de identificação e segurança. Simples pedras foram suficientes...

Consideramos este sistema como...

PRT-C-Troca – Troca (com “emissão” em 2011).

Classificamos genericamente as "cédulas" como...

C1 – 1 Troca

(154) – A imagem seguinte mostra uma parte desse painel, já em finais de 2013.

(155) – Se bem que curiosa, por ser desde logo assumida, esta dupla linha de valoração não é assim tão

incomum. Todos nós guardamos a nota de modelo novo, preferindo-a à de modelo antigo; num

pagamento, entregamos primeiro a nota mal conservada ou suja... a moeda algo defeituosa; preferimos

a moeda de 2 € a duas de 1 €; tendemos a lidar de modo diferente, ou até mesmo guardar ou oferecer,

a moeda comemorativa que obtivemos por acaso num troco recebido. É lícito supor que, relativamente

à anterior moeda Jardim, várias crianças preferiram a "cédula" círculo de uma determinada cor em

detrimento das outras cores e que na Troca, as "cédulas" eventualmente sobrantes e guardadas como

recordação, terão sido as maiores ou mais coloridas. Para além do valor facial, há claramente um

"valor afetivo" complementar relativo ao "objeto" cédula ou moeda que temos em mão.

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5.23. Giro (2012 - Março)

A Giro é uma moeda de trocas vocacionada para crianças e implementada inicialmente em Linda-a-Velha, vila de cerca de 20 mil habitantes do concelho de Oeiras.

A moeda foi criada pelo KDZ, departamento de marketing infantil da empresa On Spot Marketing, uma agência de publicitação de

marcas fundada em 2003 e com sede em Lisboa(156).

Tendo como destinatários principais crianças dos 2 aos 10 anos do concelho de Oeiras, a Giro veio a ser implementada numa das escolas deste concelho, a Escola Secundária Prof. José Augusto Lucas, em Linda-a-Velha, em 17 de Março de 2012. Serviu de apoio a uma feira de trocas de brinquedos integrado num evento denominado Mundo Giro, que contou com apoio da Câmara Municipal de Oeiras e a colaboração (“parceiros”, segundo a terminologia usada) de várias marcas, nomeadamente Olá, Chocolates Imperial (Regina e Pintarolas), Iglo, Luso e Editora Girassol.

O evento foi bastante participado, contanto, entre adultos e crianças, com um total estimado de quase um milhar de pessoas, o que é uma participação enorme e inusitada para atividades deste teor.

Um segundo evento foi levado a cabo com utilização da mesma moeda, a Feira de Trocas de Brinquedos Mundo Giro, que decorreu no fim-de-semana de 10 e 11 de

Novembro de 2012, agora no Mercado Municipal de Oeiras, e um terceiro em 23 e 24 de Fevereiro de 2013 este na Escola Secundária de Sacavém e em que, pela primeira vez num evento deste tipo, foi cobrada taxa de entrada (2 € convertidos

(156) – Sobre esta moeda, agradecemos o contacto, informações prestadas e a cedência de exemplar da cédula

usada no primeiro mercado (cuja imagem aqui reproduzimos) por Tânia Sereno, quadro da entidade

organizadora On Spot Marketing.

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em 10 Giros) às crianças participantes(157), o que ilustra o pendor mais comercial desta atividade e moeda.

A Giro tem sido valorizada de acordo com uma tabela de valores efetuada para o efeito e distribuído às crianças de acordo com o valor dos objetos que “doavam” à organização para entrada na feira de trocas. No entanto, é também permitida a sua aquisição pontual no sentido de permitir a “aquisição” de algum brinquedo por crianças a quem poucos Giros faltem para o fazer, sendo então implementada a valorização de 1 Giro para 0,5 Euros(158). Os artigos sobrantes, que de acordo com a filosofia adotada são pertença da organização, são maioritariamente doados a instituições de solidariedade, com alguns a transitar para a feira de trocas seguinte.

A moeda tem sido consubstanciada apenas num único tipo de cédula, de valor unitário, multicolorida e de dupla face. Como habitual em moedas de trocas nacionais, não apresenta quaisquer dispositivos de controlo, salientando-se no entanto a indicação de apenas ser válida nos eventos Mundo Giro. No entanto, as cédulas usadas numa e noutra feira apresentaram algumas diferenças de pormenor. Para além de ligeiras variantes na face, as diferenças mais notórias são no verso, com a da primeira feira a indicar os “Sponsors” e a da segunda feira a referir apenas a “Organização” da On Spot Marketing e nas suas dimensões, com as do primeiro evento a serem na ordem dos 10 x 5,5 cm e a do segundo, mais comprida, na ordem dos 11 x 5,5 cm.

Consideramos que a cédula emitida consubstancia o sistema...

PRT-C-Giro – Giro (com emissões em 2012).

A cédula emitida (s/d mas de 2012), nas suas duas variantes iniciais, foi:

Emissão para 1ª Feira (Mar12)

(157) – As imagens referem-se, a da esquerda (obtida na página facebook de “Mundo Giro”) ao primeiro

mercado e a da direita, ao segundo, em 10 de Novembro.

(158) – Aliás já expressamente referido no “Banco” do segundo mercado, conforme ilustrado na imagem ao

lado.

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(frente) (verso)

Emissão para a 2ª Feira (Nov12)

(frente) (verso)

C1 – 1 Giro, com as variantes...

a – Verso “Sponsors”

b – Verso “Organização”

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5.24. Rio (2012 - 16 de Junho)

A Rio é uma moeda de trocas vocacionada inicialmente para crianças e jovens, implementada em Águeda, cidade com cerca de 15 mil habitantes, sede de concelho do Distrito de Aveiro.

A moeda foi inspirada na sua congénere coimbrã Jardim e foi criada pela organização Bela Vista – Centro de Educação Integrada, uma IPSS de Águeda criada em 1975 e vocacionada para apoio a crianças, atualmente

com valências ao nível de Creche, Creche Familiar, Jardim de Infância, ATL e Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental(159). Os eventos onde é utilizada são levados a cabo por esta IPSS, com alguns apoios de entidades locais, nomeadamente empresas e a Câmara Municipal.

A Rio foi usada como moeda de trocas inicialmente num “Mercado de trocas e vendas” dirigido a crianças e jovens, realizado em 16 de Junho de 2012 na Praça do Município, em Águeda e onde então participaram pouco mais de uma dezena de crianças dos 3 aos 14 anos. Novo mercado foi depois levado a cabo, em 20 de Outubro do mesmo ano e no mesmo local, mas então também já aberto à participação de adultos. Previsto para uma periodicidade na ordem dos dois meses, novo mercado foi já levado a cabo em 16 de Fevereiro de 2013(160).

A filosofia de distribuição da moeda segue a tradicional atribuição de quantitativos fixos a cada participante, no caso 10 Rio, com um eventual “reforço” de 5 Rio a crianças que dele precisassem. No final de cada mercado, a moeda

(159) – À Diretora Técnica desta instituição, Luísa Coelho, uma das mentoras deste projeto, agradecemos o

contacto e as informações prestadas, bem como a cedência dos exemplares da cédula usada, cujas

imagens aqui reproduzimos.

(160) – O terceiro mercado, previsto para 15 de Dezembro, acabou por ser anulado devido a condições

meteorológicas particularmente más que então assolaram o país. As figuras abaixo dizem respeito aos

panfletos divulgadores desses dois primeiros mercados (figuras obtidas no site oficial da Câmara

Municipal de Águeda) e ao primeiro mercado (esta obtida na página facebook da Bela Vista).

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sobrante é recolhida pelo “banco”, que faz o seu registo em nome do participante, permitindo assim que este o levante e reutilize em mercado seguinte.

O processo de criação da moeda, incluindo a sua designação que decorre do “Rio” Águeda que atravessa a cidade, envolveu as crianças da Instituição, que participam igualmente no processo de “emissão” das cédulas que a consubstanciam e que foram usadas indiferenciadamente nos mercados efetuados até à data. Não foi efetuada uma “valorização padrão” do Rio; o seu “valor” tem vindo a ser aferido de acordo com as marcações “emocionalmente justas”(161) que cada criança atribui aos seus brinquedos.

As cédulas, que abrangem apenas o valor unitário, são constituídas por retângulos de napa (tal como a Jardim, não se baseiam em papel, mas sim num material bem mais resistente e adaptado ao manuseamento por crianças), de dimensões na ordem dos 8 x 5,5 cm, onde, normalmente, apenas é sinalizado, manuscritamente, o valor de 1 Rio, autenticadas, no verso, com um carimbo indicativo da

Instituição. São usadas napas de cores base diferentes, sem qualquer significado especial.

Consideramos que a cédula “emitida”, com as suas variantes, consubstancia o sistema...

PRT-C-Rio – Rio (com "emissões" desde 2012).

A “cédula” emitida (s/d mas desde 2012) foi:

(161) – A expressão, que consideramos particularmente feliz, é de Luísa Coelho. Exprime o facto das

valorizações que cada criança faz aos seus brinquedos terem muito que ver com os afetos que tem por

eles...

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C1 – 1 Rio, com cinco variantes de tons...

a – Azul claro

b – Azul escuro

c – Preto

d – Verde claro

e – Verde escuro

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5.25. Mayor (2012 - 29 de Junho)

A Mayor é uma moeda comunitária implementada em Campo Maior, vila sede de município com cerca de 8.500 habitantes do distrito de Portalegre.

Esta moeda é pioneira em Portugal podendo considerar-se como a primeira "Moeda de Cidadania" do país, enquadrando-se em iniciativas de índole solidária que caracterizam a implantação social de uma conhecida empresa local, a Delta Cafés. Com efeito, a Mayor foi criada no âmbito do Projecto Campo Maior Solidário, uma iniciativa da Fundação Coração Delta(162) (associação de solidariedade social do Grupo Nabeiro, empresa detentora da Delta Cafés(163)) em parceria com a Câmara Municipal de Campo Maior e outras organizações locais, nomeadamente a Conferência de São Vicente de Paulo e a Santa Casa da Misericórdia de Campo Maior.

O Projecto Campo Maior Solidário, criado em 2010, vocaciona-se essencialmente para o apoio a famílias carenciadas do concelho de Campo Maior (nomeadamente as beneficiárias do Rendimento Social de Inserção(164)), através de um trabalho em rede envolvendo não apenas os parceiros acima referidos mas a generalidade da comunidade local. Assenta sobretudo em trabalho de voluntariado prestado em oficinas (designadamente de artes, costura, flores de papel, etc), na "oficina móvel" (pequenos serviços de manutenção domiciliária) e em apoio médico, bem como na prestação de serviços numa lavandaria social e na distribuição de bens

(162) – A Dionísia Gomes, Coordenadora da Fundação Coração Delta, agradecemos o contacto e as

informações prestadas, bem como um exemplar de cada uma das cédulas cujas imagens aqui

utilizamos. As restantes imagens, foram obtidas no site oficial da Câmara Municipal de Campo Maior.

(163) – Importa referir que o Comendador Rui Nabeiro - Manuel Rui Azinhais Nabeiro - para além de um

empresário de sucesso, é ainda conhecido pela dimensão social que introduziu nas suas empresas que

constituiu como agentes de desenvolvimento local sustentável, bem como por uma continuada acção

filantrópica particularmente relevante na região de Campo Maior.

(164) – Uma medida de proteção social do estado destinada a apoiar pessoas ou famílias em situação de

carência económica grave e em risco de exclusão social, constituída por um contrato / programa de

inserção vocacionado para a sua integração social e profissional e um apoio monetário destinado a

assegurar as suas necessidades básicas. Na região de Campo Maior foram identificadas 150 famílias

nesta situação, das quais cerca de 1/3 de etnia cigana.

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- alimentares, de limpeza e higiene pessoal e outros - obtidos de doações da comunidade em geral(165), em loja social própria.

O mecanismo da utilização da moeda passa pela sua obtenção através de ações de voluntariado ou da doação de bens e pela sua utilização posterior na aquisição de bens e serviços na Loja e na Lavandaria Social, que foram inauguradas em 29 de Junho de 2012, data igualmente considerada como a do lançamento da Mayor(166).

Um aspeto que é interessante destacar é o do envolvimento estatal que esta moeda conseguiu, expresso quer pelo envolvimento ativo do poder autárquico local através da Câmara Municipal, quer pelo facto da inauguração da Loja e da Lavandaria Social ter contado com a presença de várias individualidades, nomeadamente do Ministro da Solidariedade e da Segurança Social. A primeira vez no país em que o governo central expressou, embora apenas tacitamente, o seu apoio ao uso de uma moeda comunitária.

Como noção de valoração da Mayor, pode referir-se que 1 hora de trabalho de voluntariado, de qualquer tipo, é "remunerado" a 5 Mayores; que são praticados "preços" na Lavandaria na ordem dos 10 Mayores para a lavagem e secagem; que 1 Kg de açúcar, tal como 1 Kg de arroz, custam 1 Mayor na Loja Solidária.

As cédulas são plastificadas, de dimensões na ordem dos 5 x 10,5 cm iguais para a gama de valores abrangidos e não contemplam quaisquer dispositivos de controlo, nomeadamente data, assinatura ou número de série. De cor base diferente para cada um dos valores faciais abrangidos, usam uma simbologia regionalmente significativa como é o caso do grão de café (alusivo à Delta Cafés), da flor de papel (alusiva à Festa das Flores(167)) e da rama de azeitona (um dos

(165) – Muito de privados e pequenos produtores locais, mas também, via protocolos efectuados, do

Continente de Elvas e do Banco Alimentar.

(166) – A utilização da moeda Mayor na Loja Social lembra, se bem que numa escala substancialmente maior,

a da pioneira Granja na Mercearia Solidária na Granja do Ulmeiro, instalação aliás que foi visitada por

elementos do Projecto Campo Maior Solidário em 2010.

(167) – A Festa das Flores, ou Festa do Povo, baseia-se na ornamentação das ruas de Campo Maior com flores

de papel feitas artesanalmente pela população. Este evento tem vindo a alcançar uma enorme

notoriedade nacional e também já internacional, constituindo-se como uma excelente actividade

turística e uma das "imagens de marca" de Campo Maior.

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principais cultivos agrícolas da região), que repetem para cada par de valores faciais.

Consideramos que as cédulas emitidas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Mayor – Mayor (com emissões desde 2012).

As cédulas emitidas (s/d mas de 2012) são:

C1 - 0,50 Mayores (azul; flor de papel)

C2 - 1 Mayor (verde; rama de azeitona)

C3 - 3 Mayor (castanho claro; grão de café)

C4 - 5 Mayor (laranja; rama de azeitona)

C5 - 10 Mayor (castanho escuro; grão de café)

C6 - 20 Mayor (vermelho; flor de papel)

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5.26. Virtas (2012 - Dezembro)

A Virtas é uma moeda de trocas implementada no Porto, a segunda a ser implementada nesta cidade.

A moeda foi criada em apoio a uma feira de trocas mensal, a Feira de Trocas das Virtudes, efetuada na zona do Passeio das Virtudes, freguesia da Vitória(168). As duas primeiras edições,

respetivamente em 20 de Outubro e 17 de Novembro de 2012, foram levadas a cabo ainda sem o recurso a moeda

de trocas, que apenas foi introduzida na 3ª edição da Feira, efetuada em 15 de Dezembro de 2012.

As Feiras de Trocas têm vindo a contemplar um leque mais amplo de atividades para além do mercado de trocas em si, nomeadamente Oficinas (por exemplo de sabão e sabonete e de tricot) atividades lúdicas e de convívio (caso do “Campeonato Mundial de Futebol de Mesa” e de refeições comunitárias) e de cariz cultural (caso,

nomeadamente da biblioteca itinerante CicloBiblioteca). A feira de trocas é apoiada por um site divulgativo próprio(169). Apesar de não ter sido explicitamente abandonada, a moeda não tem vindo a ser usada nas subsequentes edições da Feira ocorridas em 2013(170).

A moeda começou a ser preparada durante uma “Oficina de Moeda Alternativa” efetuada na cidade entre 10 e 17 de Novembro e que contou com a participação de diversas associações de índole cultural e de intervenção social, nomeadamente, para além da própria Feira de Trocas (organizadores), o Espaço

Compasso, a Casa Viva, o Gato Vadio e o Trocal Porto(171). No entanto o seu nome – claramente decorrente da designação da Feira de Trocas das Virtudes – só veio e ser escolhido pouco antes da 3ª edição da Feira, altura em que foi lançada.

(168) - A Inês Saavedra, Sara Silva e Sara Moreira, elementos da Feira de Trocas, agradecemos o contacto e

as informações prestadas, bem como a cedência de um exemplar de cada uma das cédulas usadas,

cujas imagens aqui reproduzimos.

(169) - www.feiradetrocasdasvirtudes.comuf.com. Com exepção das cédulas, as imagens aqui usadas foram

obtidas neste site ou na página facebook da “Feira Trocas Virtudes”.

(170) - Que em 20 de Abril de 2013 ia já na 7ª edição.

(171) - Curiosamente, esta iniciativa desconhecia a experiência da quase vizinha moeda Feijão, levada a cabo

dois anos antes, por entidades afins da mesma cidade...

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O mecanismo de distribuição da moeda seguiu a da distribuição de um quantitativo fixo – 150 Virtas – abrangendo os vários valores das cédulas produzidas, que contemplaram o valor unitário e os 2, 5, 10, 20 e 50 Virtas. Esta distribuição inicial pressupõe a adesão ao sistema – muito ao jeito do funcionamento clássico dos Clubes de Trocas – tal como é expectável a devolução do mesmo quantitativo aquando do abandono pelo até então “Virtaleiro”.

As cédulas emitidas são monoface e recorreram a uma simbologia relacionada com o local – o rio Douro e uma das encostas ribeirinhas do Porto – igual para os vários valores contemplados. Impressas apenas a preto e em papel normal, recortadas depois manualmente, têm dimensões na ordem dos 10 x 5 cm.

As cédulas não contemplam data ou outra qualquer indicação de validade (prevendo-se, aliás, que possam ser usadas em próximas feiras de trocas). Como único mecanismo de segurança foi usado o método de validar as cédulas para circulação na feira com um carimbo azul anilado em forma de “V” (“V” de “Virtas” e de “Virtudes” e, talvez, da Freguesia “Vitória”) aposto na face.

Consideramos que as cédulas emitidas consubstanciam o sistema...

PRT-C-Virtas – Virtas (com emissão em 2012).

As cédulas emitidas (s/d mas de 2012) foram:

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C1 - 1 Virtas

C2 - 2 Virtas

C3 - 5 Virtas

C4 - 10 Virtas

C5 - 20 Virtas

C6 - 50 Virtas

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5.27. Estrela (2013 - Março)

A Estrela é uma moeda de trocas vocacionada para crianças, implementada inicialmente em Póvoa da Lomba, localidade do concelho de Cantanhede, distrito de Coimbra.

A moeda foi implementada para apoio ao Mercado de Trocas Para Crianças Estrela Solidária, realizado na localidade de Póvoa da Lomba em 16 de Março de 2013 e organizado por um ativista de

trocas solidárias já envolvido na dinamização de outras moedas em Portugal(172). Este mercado inicial – e os outros que se lhe seguiram - insere-se no projeto Estrela Solidária, um projeto educativo baseado em mercados de trocas solidárias, vocacionado para crianças dos 4 aos 12 anos.

Importa referir que este projeto - e o seu organizador - se tem vindo a revelar inspirador de outras experiências similares(173) também vocacionadas para crianças, consolidando assim o que já é uma vertente bastante significativa nos Mercados de Trocas em Portugal.

O mercado inicial teve uma participação de cerca de meia centena de crianças, uma participação bastante significativa no contexto da povoação onde foi efetuado(174). Um segundo mercado, levado a cabo já na cidade de Cantanhede, foi levado a cabo em 21 de Setembro de 2013 e um terceiro, numa lógica "itinerante" do projeto, ocorreu em 8 de Dezembro de 2013 na localidade de Ançã.

(172) – Samuel Machado, com intervenções, nomeadamente, no âmbito das moedas ESECO (então como

aluno da ESEC), Jardim e Giro, a quem agradecemos o contacto e as informações prestadas, bem

como a cedência de um conjunto de exemplares da Estrela tal como fornecido às crianças

participantes no Mercado.

(173) – Casos, nomeadamente, das experiências que envolvem as moedas Coroa e Brinca, que abordaremos

mais à frente...

(174) – As imagens acima - cartaz e vista do mercado - referem-se a este primeiro evento e foram obtidas,

respectivamente, via Samuel Machado e no site www.projetosparaescolas.blogspot.pt. As da página

seguinte, foram obtidas na página facebook da "Estrela Solidária".

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Paralelamente, a moeda, através da Estrela Solidária, participou ainda num outro mercado de trocas, desta vez dirigido a adultos, incluído no evento Feira de Natal Criativo. Este evento foi levado a cabo em Coimbra, em 7 de Dezembro de 2013, tendo sido organizado pela Coimbra em Transição e contado também com a participação da Estrela Community Exchange(175).

A Estrela – cujo nome foi escolhido pelas próprias crianças em ações prévias de preparação para os mercados – é inspirada na sua congénere coimbrã Jardim, sendo também concretizada em “cédulas” especialmente adaptadas ao manuseamento por crianças. Baseia-se em pequenos círculos de cortiça de “valor unitário” (cada “cédula” vale 1 Estrela), cortados de rolhas usadas em garrafas de uma empresa vinícola da região, onde a “estrela” resulta de um modo evidente conforme figura abaixo da “cédula”.

O mecanismo de distribuição da moeda segue a filosofia da distribuição de um quantitativo fixo inicial por participante, no caso, 10 Estrelas. No final de cada mercado, as moedas dão recolhidas com anotação de a quem pertencem, para que lhes possam ser atribuídas em mercado seguinte em que participem.

Consideramos este sistema como...

PRT-C-Estrel – Estrela (com “emissões” em 2013).

A “cédula” usada foi:

(175) – Organização que usa moeda virtual, curiosamente também denominada Estrela.

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C1 - 1 Estrela

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5.28. Coroa (2013 - Maio)

A Coroa é uma moeda de trocas vocacionada para crianças, implementada em contexto escolar, na cidade de Coimbra.

A moeda, inspirada na sua congénere Estrela(176), foi implementada em 31 de Maio de 2013 no Agrupamento de Escolas da Rainha Santa Isabel, cuja sede é a Escola Básica Rainha Santa Isabel situada em Pedrulhas, Coimbra. Inseriu-se no âmbito de um

projeto de estágio de aluna do curso de Animação Socioeducativa da Escola Superior de Educação de Coimbra(177).

O evento em que a moeda foi utilizada foi bastante participado, envolvendo a maioria das cerca de seis centenas de crianças das várias escolas básicas do agrupamento para além de vários elementos da comunidade escolar.

O nome da moeda - Coroa - decorre do próprio nome e símbolo do Agrupamento de Escolas.

Similarmente à Estrela, também Coroa foi concretizada em pequenos círculos de cortiça de “valor unitário”, cortados de rolhas, neste caso com o símbolo de uma coroa.

Consideramos este sistema como...

PRT-C-Coroa – Coroa (com "emissão" em 2013).

A “cédula” usada foi:

C1 - 1 Coroa

(176) – E que contou, aliás, com o apoio e acessoria do seu criador, o já referido Samuel Machado, a quem

agradecemos o exemplar da "cédula", cuja imagem aqui utilizamos.

(177) – Concretamente, Liliana Gaspar, aluna do curso de Animação Socioeducativa. Recordamos que a ESE -

particularmente através deste seu curso de Animação Socioeducativa - é um dos mais ativos polos de

divulgação das moedas de trocas em Portugal.

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5.29. Canguru (2013 - 1 de Junho - 10h00)

A Canguru é uma moeda de trocas vocacionada para crianças, implementada inicialmente na capital do país, em Lisboa.

A moeda foi criada pelo Club do Brinquedo, uma empresa vocacionada para o aluguer de brinquedos, sediada em Paço de Arcos, que então aliou este instrumento solidário à publicitação da sua própria firma e atividade comercial(178).

A moeda, cujo nome deriva do logotipo da empresa, foi lançada na Festa da Criança, levada a cabo nos dias 1 e 2 de Junho de 2013 (aproveitando o Dia

Internacional da Criança) junto ao Museu da Eletricidade, situado em Lisboa, nas margens do rio Tejo. Esse evento foi bastante participado, tendo envolvido algumas centenas de crianças e - curiosamente - foi assim o primeiro evento a usar moeda comunitária na capital do país.

Na Feira, a moeda foi distribuída às crianças de acordo com a valoração dos brinquedos que trazia e entregava à organização,

servindo depois para a aquisição dos brinquedos disponíveis no evento.

Após este evento inicial, a moeda tem continuado a ser usada pela empresa emissora, mas sobretudo como instrumento comercial em ações no âmbito estrito da própria empresa, ou seja numa lógica já bem mais de "vale comercial" do que de moeda comunitária. Não obstante, outra Troca de Brinquedos foi levada a cabo no exterior da empresa, designadamente no ATL Os Brincalhões, em Massamá, em 18 de Julho de 2013.

A única cédula emitida, de valor unitário, tem dimensões relativamente grandes, na ordem dos 10 x 13 cm e é impressa em papel normal. De dupla face, o verso é usado para indicações sobre a validade da moeda e a publicitação dos serviços da empresa emissora.

Consideramos este sistema como...

PRT-C-Cango – Canguru (com emissão em 2013).

(178) – A esta empresa agradecemos o contato e as informações prestadas. As imagens usadas foram obtidas

na página de facebook do Club do Brinquedo.

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A cédula usada (s/d mas de 2013) foi:

C1 – 1 Canguru

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5.30. Gaivota (2013 - 1 de Junho - 10h30)

A Gaivota é uma moeda de trocas vocacionada para crianças, implementada em Aveiro, a "Veneza de Portugal", cidade capital de distrito e com uma população de cerca de 55 mil habitantes.

A moeda foi criada para apoio do I Mercadinho de Trocas & Gaivotas, evento levado a cabo pelo Serviço de Ação Social e Saúde Pública da Câmara Municipal de

Aveiro, dirigido a crianças e jovens dos 3 aos 18 anos e enquadrado na iniciativa Cidades Amigas das Crianças(179). É outra das moedas de certo modo influenciada pela coimbrã Jardim, pela visita prévia realizada a uma das Feiras de Trocas desta moeda efetuada com um grupo de crianças de Aveiro.

Este primeiro mercado foi levado a cabo em 1 de Junho de 2013 (em que se celebrou mais um Dia Internacional da Criança), no Cais da Fonte Nova, em Aveiro. Vocacionou-se para a troca ou venda na moeda Gaivota quer de artigos novos ou usados destinados a crianças (brinquedos, bijuteria, artesanato, pinturas, livros, CD´s, jogos, etc.), quer de produtos hortícolas e de culinária. Envolveu cerca de sete dezenas de pessoas, incluindo visitantes e os educadores acompanhantes das crianças.

A Gaivota - nome escolhido face a existirem, pela proximidade do mar, muitas dessas aves na cidade - foi usada como unidade de conta para a marcação dos preços dos artigos expostos, existindo apenas três possibilidades: Gaivota baby, Gaivota kid ou Gaivota senior. A obtenção de "cédulas" poderia ser efetuada diretamente no "banco" do Mercadinho, denominado "Casa da Gaivota", com valores de referência de 0,50€ para a baby, 1,00€ para a kid e 1,50€ para a senior o que, assim, permitia a participação de crianças que quisessem participar mesmo sem ter objetos para trocar. Com esta metodologia, os preços dos artigos, marcados pelas crianças, ficaram limitados a um valor máximo de 1,50€ (Gaivota senior) por produto exposto.

Após este mercado inicial, foram já efetuados o II e o II Mercadinhos, respetivamente em 15 de Setembro no Parque Infante D. Pedro e em 23 de Novembro de 2013 no Mercado Manuel Firmino (sempre na cidade de Aveiro), mas com a Gaivota a ser usada apenas como unidade de conta, sem "cédulas"

físicas a circular. No segundo Mercadinho a ausência de cédulas da Gaivota foi torneada através da permissão de venda direta dos produtos, mantendo-se no entanto o valor máximo de 1,50€. Na terceira edição, a hipótese de venda foi eliminada restando apenas a possibilidade da troca direta dos artigos.

(179) – Agradecemos a Adriana Simões, da Divisão de Assuntos Sociais do Serviço de Ação Social e Saúde

Pública da C. M. de Aveiro e a principal impulsionadora desta moeda, o contacto e as informações

prestadas, bem como a cedência de exemplares das "cédulas" criadas e cujas imagens aqui utilizámos.

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As "cédulas" usadas (no Mercadinho inicial) são bem curiosas; Gaivotas em origami. Elaboradas por alunas da Escola Profissional de Aveiro, escola que colabora habitualmente com a Câmara Municipal, do Curso de Apoio Familiar e à Comunidade, contemplaram as referidas três versões, designadas por Baby, Kid e Senior, respetivamente em cores de branco, amarelo e azul que as permitia diferenciar. Foram recolhidas no final do Mercadinho.

Consideramos este sistema como...

PRT-C-Gaiv – Gaivota (com "emissões" em 2013).

As “cédulas” "emitidas" (em 2013) foram:

C1 - Gaivota baby (branca)

C2 - Gaivota kid (amarela)

C3 - Gaivota senior (azul)

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5.31. Brinca (2013 - 1 de Junho - 14h30)

A Brinca é uma moeda de trocas vocacionada para crianças e implementada em Alverca, povoação com cerca de 31 mil habitantes, freguesia do concelho de Vila Franca de Xira.

A moeda foi criada pela organização Acções e Dinâmicas com Nexo – Associação Cultural (ADN), em parceria com o Futebol Clube de Alverca e a Geração Benfica/Alverca para uso no "Troca e Brinca", um mercado de trocas de

brinquedos para crianças e jovens entre os 6 e os 12 anos, realizado em 1 de Junho de 2013 (Dia Internacional

da Criança) no próprio estádio do Futebol Clube de Alverca. Inspirada na sua congénere Estrela, contou com o apoio e a assessoria do criador desta ultima(180).

A filosofia da distribuição da moeda foi a da entrega de um quantitativo fixo inicial a cada participante, especificamente o montante de 10 Brinca, devendo ser recolhidas no final do mercado, as moedas sobrantes de cada participante.

Prevê-se que esta experiência venha a ter continuidade.

A moeda foi concretizada por umas "fichas" heptagonais, apenas de valor unitário, conforme o normal nas moedas vocacionadas para crianças. Apesar de não datada, indicou o ano e o mercado a cuja utilização se destinou, quer através da indicação do "Troca e Brinca" quer pela indicação do "I Mercado de Troca de Brinquedos".

Consideramos este sistema como...

PRT-C-Brinca – Brinca (com emissão em 2013).

(180) – O já referido Samuel Machado, figura já incontornável no panorama das Moedas de Trocas

vocacionadas para crianças em Portugal e a quem agradecemos as informações prestadas e um

conjunto de cédulas, cujas imagens aqui apresentamos. As restantes imagens foram obtidas na página

facebook da ADN.

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A “cédula” usada foi:

(frente) (verso)

C1 - 1 Brinca

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5.32. Mor (2013 - 29 de Junho)

A Mor é uma moeda comunitária implementada em Montemor-o-Novo, cidade de cerca de 11 mil habitantes do distrito de Évora.

A moeda foi criada pela Rede de Cidadania de Montemor-o-Novo, uma associação de cidadãos vocacionada para promover ações de cidadania de âmbitos económico, social, cultural e ambiental(181).

De características inovadoras no panorama nacional, a Mor - cujo símbolo é um "M" duplamente cortado ( ) - é a primeira em Portugal a apresentar já caraterísticas típicas de uma Moeda Local, se bem que ainda numa abordagem

algo experimental e limitada temporalmente. Com efeito, a sua primeira utilização foi efetuada na Feira Franca, evento que decorreu em 29 de Junho de 2013 no Jardim Público em Montemor-o-Novo, em que foi usada como única moeda que aí circulou, envolvendo então um total de 19 comerciantes / participantes aderentes e recolhida após o final do evento. Entretanto foi já usada uma segunda vez, ainda em moldes similares, na Festa Franca de Natal,

realizada em 21 de Dezembro de 2013, agora no Mercado Municipal de Montemor-o-Novo e onde se verificou um apreciável aumento de participantes que, ao todo, montaram 41 bancas, maioritariamente de artesanato e velharias(182).

Totalmente escorada em Euro, a Mor foi trocada na base de um para um com o Euro e no seu câmbio final inverso, troca de Mor para Euro, sofreu uma desvalorização de 1%, uma desvalorização simbólica mas na linha de outras Moedas Locais com oxidação, pretendendo tal ser incentivador da sua maior circulação. Similarmente ao Euro, considerou uma subdivisão em cem partes, com a designação de Cents, designação de fácil associação às de "Cêntimos" e "Centavos"... mas sem as usar expressamente.

(181) – A Rogério Godinho, elemento desta associação e principal impulsionador da Mor, agradecemos o

contacto e as informações prestadas, bem como a cedência de um exemplar de cada uma das cédulas

usadas na 1ª edição, cujas imagens aqui reproduzimos.

(182) – A figura junta refere-se a esse evento.

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Das 10.000 cédulas impressas, terão sido distribuídas na Feira Franca inicial cerca de sete centenas(183), maioritariamente de 1 Mor, validadas para utilização no evento através da aposição de um carimbo próprio no verso de cada uma. No segundo evento, de 21 de Dezembro, foram distribuídas 850 cédulas(184), num valor total de 944,10 Mor, agora validadas com um carimbo adicional aposto no verso. No final do evento foram recolhidas 808 cédulas num valor total (sem a desvalorização de 1%) de 897,40 Mor(185).

A reação geral das entidades envolvidas, nomeadamente dos comerciantes / participantes, foi considerada bastante positiva, com uma evidente fácil aceitação da moeda (sobretudo no segundo evento), o que nos leva a esperar futuros desenvolvimentos(186)...

As cédulas emitidas basearam a sua arte(187) em monumentos / construções significativas locais, num total de quatro tipo de cédulas para quatro gamas de valores. Em consonância com a esperança de continuidade desta primeira iniciativa, significativamente contêm a indicação de "1ª Série / 2013". Como mecanismos de segurança, bem mais típicos em Moedas Locais, para além desta indicação da série - em si também uma característica de segurança pela introdução de uma validade facilmente acionável em futuras outras séries a emitir - as cédulas foram impressas em papel especial e, para cada evento, validadas no verso com carimbos próprios (para o primeiro com indicação de "Cidadão PreOcupado" e para o segundo complementarmente com carimbo da "Rede de Cidadania de Montemor-o-Novo").

Consideramos este sistema como...

PRT-C-Mor – Mor (com emissão em 2013).

As cédulas emitidas ("1ª série / 2013") foram:

(183) – Estimativa da nossa responsabilidade, baseada em alguns dados numéricos da organização,

nomeadamente nos quantitativos de cédulas recolhidas após o final do evento e que foram de 103

cédulas de 10 Cent, 243 de 50 Cent, 317 de 1 Mor e 35 de 5 Mor (total de 698 cédulas).

(184) – Segundo dados da organização, 176 cédulas de 10 Cent, 191 de 50 Cent, 396 de 1 Mor e 87 de 5 Mor.

(185) – É curioso analisar esta diferença entre as cédulas distribuídas e as recolhidas, presumivelmente

guardadas pelos seus utilizadores como recordação e que assim prescindiram de reclamar a sua troca

final por euros. Foram um total de 42 cédulas (5% das distribuidas) sendo 17 de 10 Cent (10%), 8 de

50 Cent (4%), 11 de 1 Mor (3%) e 6 de 5 Mor (7%). O seu valor total, 46,70 Mor, é 5% do valor

inicial distribuído. Generalizando, 5% das cédulas e valor distribuído não foi reclamado no final,

tendo ficado em mão dos utilizadores, presumivelmente como recordação.

(186) – Sabemos, por informação recebida da Rede de Cidadania, que este é um projeto para continuar, tendo

como um dos objetivos dotar a Mor de um cariz mais permanente, o que aconselhará uma alteração da

tipologia das cédulas utilizadas, nomeadamente ao nível do reforço dos dispositivos de segurança.

(187) – A cargo de Ricardo Mata.

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C1 - 10 Cent (Castelo - Torre do Relógio)

C2 - 50 Cent (Cine-Teatro Curvo Cemedo)

C3 - 1 Mor (Convento de S. Francisco)

C4 - 5 Mor (Cureto - Jardim Público)

Os carimbos de validação, usados no verso das cédulas, foram...

Carimbo da 1ª edição Carimbo adicional da 2ª edição

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6. - ESTRUTURA BASE DE NOTAFILIA DAS “MOEDAS COMUNITÁRIAS DE PORTUGAL”

Por ordem cronológica, consideramos as seguintes Moedas Comunitárias(188)...

2006

2006 - 2011 - Granja do Ulmeiro - Granja

2006 - 2007 - São Brás de Alportel – Solidário

2007

2007 - 2008 - Coimbra – Justa

2008

2008 - Chão Sobral - Torga

2008 - Santarém - Sorriso

2008 - Faro - Sol

Desde 2008 – Vale de Figueira - Campino

2008 - 2009 - Santarém - Esito

Desde 2008 – Samuel - Diabitas

2008 - 2009 - Soure - Saurius

2009

2009 - Vale de Santarém - Beijinho

2009 - Almeirim - Crialito

2009 - Santarém - Morango

2009 - Almada - Swap

2010

2010 - Porto - Feijão

2010 - Coimbra - ESECO

2011

2011 - Alfarelos - Pomba

2011 – Cacela Velha - Pombalino

2011 - Vila Real de Santo António - Aleixo

2011 - Funchal - Morteiro

Desde 2011 - Coimbra - Jardim

2011 - Góis - Troca

(188) – Complementarmente, indicamos através de sinal colorido as que sabemos continuarem ativas (a verde

e com tab) e as que sabemos já não continuarem a emitir (a vermelho).

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2012

Desde 2012 – Linda-a-Velha - Giro

Desde 2012 – Águeda – Rio

Desde 2012 – Campo Maior – Mayor

2012 – Porto - Virtas

2013

Desde 2013 – Cantanhede - Estrela

2013 – Coimbra - Coroa

Desde 2013 – Lisboa - Canguru

2013 – Aveiro - Gaivota

Desde 2013 – Alverca - Brinca

Desde 2013 – Montemor-o-Novo - Mor

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Agradecimentos

Para a elaboração deste documento, agradecemos o contacto e informações prestadas por(189):

Adriana Simões (Câmara Municipal de Aveiro; Gaivota);

Ana da Silva (Escola Superior de Educação de Santarém; Campino, Esito, Beijinho e Morango);

Ana Leão (Escola Superior de Educação de Coimbra);

Ana Silva (Brinca e Troca);

Anabela Pinto (Centro de Bem Estar Social de Vale de Figueira; Campino);

Andreia Rosa (Escola Superior de Educação de Santarém; Sorriso e Esito);

(Assembleia Popular da Graça e arredores);

Avelino Bento (Escola Superior de Educação de Portalegre);

Carla Lopes (Centro Social de Alfarelos; Pomba);

Cátia Costa (Escola Superior de Educação de Santarém; Beijinho);

(Club do Brinquedo; Canguru);

Diana Dias (Trocal Porto; Trocal);

Dionísia Gomes (Fundação Coração Delta; Mayor);

(GEED - Gabinete de Estudos para a Educação e Desenvolvimento - Escola Superior de Educação de Viana do Castelo);

Helena Vitória (Banco Local de Voluntariado da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António; Pombalino);

Inês Caetano (Casa da Horta; Feijão);

Inês Saavedra (Feira de Trocas das Virtudes; Virtas);

Joana Matias (Escola Superior de Educação de Santarém; Crialito);

João Gonçalves (Olho Vivo e Pé Ligeiro; Torga);

Joaquim do Arco (Escola Superior de Educação e Comunicação de Faro; Sol);

José Miguel Pires (Escola Superior de Educação de Coimbra; Justa);

Liliana Daniel (Escola Superior de Educação de Santarém; Sorriso e Esito);

(Loja Entre Nós);

Luciane Lucas (Casa da Esquina);

(189) – Por ordem alfabética. Entre parênteses, indicam-se ainda as entidades onde desempenhavam funções

na altura relevante sobre a implementação da moeda e a própria moeda sobre que forneceram

informação.

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Luísa Coelho (Bela Vista – Centro de Educação Integrada; Rio);

Magna Figueiredo (Junta de Freguesia de Valongo do Vouga; Valongo’s);

Patrícia Populaire (Escola Superior de Educação e Comunicação de Faro; Sol);

Priscila Soares (Associação In Loco; Solidário);

Raquel Azevedo (Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra);

Regina Barbosa (Centro Comunitário das Murteiras; Morteiro);

Rogério Godinho (Rede de Cidadania de Montemor-o-Novo; Mor);

Samuel Machado (Escola Superior de Educação de Coimbra; ESECO, Estrela e outras);

Sandra Rosário (Associação In Loco; Solidário);

Sara Moreira (Feira de Trocas das Virtudes; Virtas);

Sara Silva (Feira de Trocas das Virtudes; Virtas);

Susana Araújo (Banco Local de Voluntariado da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António; Pombalino);

Susana Rodrigues (Centro de Bem Estar Social de Vale de Figueira; Campino);

Tânia Barata (Grupo 73 de Escoteiros de Góis; Troca);

Tânia Sereno (On Spot Marketing; Giro);

Tatiana Queirós (Escola Secundária de Vila Real de Santo António; Aleixo);

Teresa Cunha (Acção para a Justiça e Paz, Escola Superior de Educação de Coimbra e Casa da Esquina; Granja, ESECO e Jardim);

Teresa Pedrosa (Associação Cultural, Recreativa e Social de Samuel; Diabitas);

Verónica Andrade (Escola Superior de Educação de Santarém; Esito).

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Referências Bibliográficas

AAVV – Solidariedade Cidadã – Uma experimentação partilhada – Edição da Associação In Loco, s/l, Junho de 2009.

AZEVEDO, Raquel Simões de – O papel das redes locais nas economias solidárias – O caso dos mercados solidários da Granja dos Ulmeiros – Relatório de Estágio no âmbito do Mestrado em Sociologia, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Coimbra, 2010.

CUNHA, Teresa (org) – Ensaios Pela Democracia, Justiça, Dignidade e Bem-viver – Edições Afrontamento, Porto, Agosto de 2011.

LEÃO, Ana Ponce e CARVALHO, Maria Luísa – ESECidadã – Relatório de Final Estágio no âmbito do Curso de Animação Socioeducativa, Escola Superior de Educação de Coimbra, Instituto Politécnico de Coimbra, Coimbra, Julho de 2008.

SOARES, Maria Priscila – Animação Cidadã para a Acção Solidária – Edição da Associação In Loco, Lisboa, Abril de 2008.

Fontes Eletrónicas:

Acção para a Justiça e Paz – www.ajpaz.org

Acções e Dinâmicas com Nexo – Associação Cultural (moeda Brinca) – página ADN Associação no facebook

ADRIP (moeda Pombalino) – www.adripcacela.blogspot.pt e página Adrip Cacela no facebook

Associação Cultural, Recreativa e Social de Samuel (moeda Diabitas) – www.ajudassamuel.blogspot.pt e www.asamuel.pt

Associação de Desenvolvimento Comunitário do Funchal (moeda Morteiro) – www.adcfunchal.com e página própria no facebook

Associação dos Escuteiros de Portugal - Grupo 74 (moeda Troca) – www.escuteiros74gois.blogspot.pt

Associação In Loco – www.in-loco.pt e página própria no facebook

Banco de Tempo de Graal – www.bancodetempo.graal.org.pt

Banco de Trocas BdT – página própria no facebook

Banco de Voluntariado Vrsa (moeda Pombalino) – página própria no facebook

Bela Vista – Centro de Educação Integrada (moeda Rio) – www.belavista.pt e página própria no facebook

Casa da Esquina (moeda Jardim) – www.nacasadaesquina.blogspot.com

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Casa da Horta (moeda Feijão) - www.casadahorta.pegada.net e página própria no facebook

Centro de Bem Estar Social de Vale de Figueira (moeda Campino) - www.cbesvf.org e página própria no facebook

Centro de Recuperação Infantil de Almeirim (moeda Crialito) - www.crial.com.pt

Centro Social de Alfarelos (moeda Pomba) - página própria no facebook

Chão Sobral (moeda Torga) - www.olhovivoepeligeiro.chaosobral.org

Club do Brinquedo (moeda Canguru) – www.clubdobrinquedo.pt e página própria no facebook

Complementary Currency Resource Centre - www.complementarycurrency.org

DOU – www.dou.pt

EcoTrocas (moeda virtual Eco) – página própria no facebook

Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve – Curso Educação Social – www.ese-educasocial.blogspot.com

ESECTV (moeda ESECO) - www.esec-tv.blogspot.pt

Estrela Community Exchange (moeda virtual Estrela) – www.estrela.e-beira.com

Estrela Solidária - Mercado de Trocas para Crianças (moeda Estrela) - página própria no facebook

Fábrica do NADA (moeda virtual Anjos) – página Fábricadonada Núcleo Asc no facebook

Feira de Trocas das Virtudes (moeda Virtas) –

www.feiradetrocasdasvirtudes.comuf.com e página própria no facebook

GAIA (moeda Feijão) - www.gaia.org.pt

Glocal Faro (mercado de trocas TrocAquí) – www.glocalfaro.blogspot.com e página própria no facebook

Grupo GCI (moeda Swap) - www.cgi.pt

International Organization for Standardization - www.iso.org

Loja Comunitária "Entre Nós" (moeda virtual Crédito) – www.lojaentrenos.wordpress.com e página Entre Nós - Loja Comunitária no facebook

Loja Solidária “Traz e Leva” (moeda virtual Valongo’s) – www.trazelevalojasolidaria.blogspot.pt e página própria no facebook

Mercado Solidário (moeda ESECO) - www.mercadosolidarioasept.blogspot.pt

Mundo Giro (moeda Giro) – página própria no facebook

On Spot Marketing (moeda Giro) – página própria no facebook

Page 131: Notafilia - Moedas comunitárias de Portugal - jan14

_________________________________________________________________________________ Jan14 _

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Projecto Campo Maior Solidário (moeda Mayor) – página Loja e Lavandaria Social Campo Maior Solidário no facebook

Quinta Cabeça do Mato (moeda virtual Root) – www.quintacabecadomato.blogspot.com

REAS – portal de economía solidaria - www.economiasolidaria.org

Rede de Cidadania de Montemor-o-Novo (moeda Mor) - www.redemontemor.blogspot.pt e página Cidadania Montemor no facebook

RETSA (moeda Aleixo) – www.retsdoalgarve.blogspot.pt

Swap Market (moeda Swap) – página própria no facebook

Trocal de Lisboa (moeda virtual Trocal) – www.trocal.pegada.net/lisboa

TRokaki (moeda virtual Trok) – página própria no facebook

Valongo do Vouga (moeda virtual Valongo’s) – www.valongodovouga.blogs.sapo.pt