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NOTA SINDIRECEITA 001/2015 O Sindicato Nacional dos Analistas-Tributários da Receita Federal do Brasil - SINDIRECEITA manifesta- se, através deste documento, sobre o conteúdo da Nota Cosit-E 94/2015, acatada pela Secretaria da Receita Federal do Brasil como entendimento oficial do órgão sobre artigos incorporados ao PLV 1/15 da Medida Provisória nº 660/14 que visaram alterar a lei 10.593/02 e o regulamento aduaneiro. Este documento também orienta os Delegados Sindicais do SINDIRECEITA sobre os questionamentos a serem formulados aos administradores da Receita Federal do Brasil, com objetivo de garantir a segurança funcional dos Analistas-Tributários no desempenho de suas funções. Considerações Preliminares A partir do conhecimento do teor dos artigos 9º, 10 e 11 incorporados ao PLV 1/15 da Medida Provisória nº 660/14, a Receita Federal do Brasil manifestou-se publicamente, por meio da Nota Cosit- E 94/2015, pela rejeição dos artigos. Causou-nos indignação, contudo, perceber que a nota técnica ia muito além da identificação das inconsistências das proposições. A nota encerra um juízo de valor muito injusto e agressivo em relação aos Analistas-Tributários. Poderíamos até considerar que o servidor encarregado da tarefa, recém-empossado no cargo, tenha pouco conhecimento sobre a história e a evolução da Carreira de Auditoria da RFB. Mas a nota foi assinada pelo seu chefe imediato e pela coordenadora da Copen. A nota, em seu integral teor, foi chancelada pelo Sr. Secretário da Receita Federal. Não podemos atribuir os abusos da nota, portanto, a um mero deslize. Está ali toda a retórica corporativista que tem cerceado o trabalho dos Analistas-Tributários. Tal atitude institucional é inadmissível. Poucos dias depois, diante da manifestação contundente de indignação dos servidores, reuniu-se a cúpula da Receita Federal com a diretoria do Sindireceita. À primeira pergunta feita ao Sr. Secretário quanto à leitura da nota, foi respondida por ele afirmativamente, porém, e o que é pior, dizendo que sua leitura fora superficial e sem ter observado os “adjetivos”. Ainda que ofereçamos ao Sr. Secretário a presunção da verdade, resta a seguinte questão: pode o chefe da instituição tratar uma questão que envolve a carreira específica do órgão com tamanho desdém? Na mesma reunião, afirmou-se que a referida nota não tinha qualquer alcance vinculante para o desempenho das atividades funcionais dos servidores, que ela prestava-se objetivamente à análise de um projeto de lei, competência regimental da Cosit, razão pela qual o Sindireceita, em vista desta resposta e uma vez que a matéria já havia sido rejeitada em plenário, solicitou a revogação da Nota. Posteriormente, a Cosit, certamente orientada pelo Sr. Secretário ou pelos seus Subsecretários, expede nova Nota, de nº 108, para adequação de alguns pontos da Nota Cosit-E 94/2015. Ora, se o

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NOTA SINDIRECEITA 001/2015

O Sindicato Nacional dos Analistas-Tributários da Receita Federal do Brasil - SINDIRECEITA manifesta-

se, através deste documento, sobre o conteúdo da Nota Cosit-E 94/2015, acatada pela Secretaria da

Receita Federal do Brasil como entendimento oficial do órgão sobre artigos incorporados ao PLV 1/15

da Medida Provisória nº 660/14 que visaram alterar a lei 10.593/02 e o regulamento aduaneiro. Este

documento também orienta os Delegados Sindicais do SINDIRECEITA sobre os questionamentos a

serem formulados aos administradores da Receita Federal do Brasil, com objetivo de garantir a

segurança funcional dos Analistas-Tributários no desempenho de suas funções.

Considerações Preliminares

A partir do conhecimento do teor dos artigos 9º, 10 e 11 incorporados ao PLV 1/15 da Medida

Provisória nº 660/14, a Receita Federal do Brasil manifestou-se publicamente, por meio da Nota Cosit-

E 94/2015, pela rejeição dos artigos. Causou-nos indignação, contudo, perceber que a nota técnica ia

muito além da identificação das inconsistências das proposições. A nota encerra um juízo de valor

muito injusto e agressivo em relação aos Analistas-Tributários. Poderíamos até considerar que o

servidor encarregado da tarefa, recém-empossado no cargo, tenha pouco conhecimento sobre a

história e a evolução da Carreira de Auditoria da RFB. Mas a nota foi assinada pelo seu chefe imediato

e pela coordenadora da Copen. A nota, em seu integral teor, foi chancelada pelo Sr. Secretário da

Receita Federal. Não podemos atribuir os abusos da nota, portanto, a um mero deslize. Está ali toda a

retórica corporativista que tem cerceado o trabalho dos Analistas-Tributários. Tal atitude institucional

é inadmissível.

Poucos dias depois, diante da manifestação contundente de indignação dos servidores, reuniu-se a

cúpula da Receita Federal com a diretoria do Sindireceita. À primeira pergunta feita ao Sr. Secretário

quanto à leitura da nota, foi respondida por ele afirmativamente, porém, e o que é pior, dizendo que

sua leitura fora superficial e sem ter observado os “adjetivos”. Ainda que ofereçamos ao Sr.

Secretário a presunção da verdade, resta a seguinte questão: pode o chefe da instituição tratar uma

questão que envolve a carreira específica do órgão com tamanho desdém?

Na mesma reunião, afirmou-se que a referida nota não tinha qualquer alcance vinculante para o

desempenho das atividades funcionais dos servidores, que ela prestava-se objetivamente à análise de

um projeto de lei, competência regimental da Cosit, razão pela qual o Sindireceita, em vista desta

resposta e uma vez que a matéria já havia sido rejeitada em plenário, solicitou a revogação da Nota.

Posteriormente, a Cosit, certamente orientada pelo Sr. Secretário ou pelos seus Subsecretários,

expede nova Nota, de nº 108, para adequação de alguns pontos da Nota Cosit-E 94/2015. Ora, se o

objetivo da nota original a essa altura já era letra morta, por que adequar a nota ao invés de

simplesmente revogá-la? Não temos dúvida em responder: porque ela nunca se prestou apenas à

análise objetiva de um projeto de lei, ao contrário, a Nota encontrou oportunidade para sedimentar

algumas interpretações à lei que regulamenta as atribuições da Carreira de Auditoria, de modo a se

alinhar a outros tantos expedientes infralegais que, pouco a pouco, alijam o Analista-Tributário das

funções especificas da administração tributária.

Quem se der ao trabalho de folhear o projeto de Lei Orgânica do Sindifisco Nacional, entidade

sindical dos Auditores-Fiscais, encontrará as razões desse projeto de inanição do Analista-Tributário:

quem pretende se tornar um órgão singular não admite compartilhar o que quer que seja, essa é a

lógica.

Pois é na circunstância dessa política agressiva de esvaziamento de nossas funções, respaldada em

larga escala pela instituição, que passamos a analisar mais essa peça de cunho corporativo, em sua

versão alterada pela Nota Cosit-E 108/2015. Para a análise objetiva, consideramos que o teor da Nota

possa se dividir três partes, das quais, nesse momento, uma nos interessa de modo mais significativo.

A parte da Nota que faz a crítica objetiva ao projeto de lei, não merecerá maiores considerações já

que a matéria objeto da crítica está superada. A parte pessoalmente ofensiva aos Analistas-

Tributários, adjetivada, estranha à tecnicidade, pretensamente afastada pelas alterações da Nota

Cosit-E 108/2015, com único intuito, nos parece evidente, de oferecer retratação para que se evite

qualquer eventual processo por danos morais, será objeto de análise judicial. Vamos nos ater, aqui, à

terceira parte, que implica diretamente no desempenho funcional do Analista-Tributário e, portanto,

deve ser investigada para orientação sobre suas repercussões no desempenho das funções dos

Analistas-Tributários.

Adicionalmente, devemos dizer que as incongruências intencionais da Nota Cosit-E 94/2015 nos levam

a questionar os objetivos e validade do mapeamento de processos, ora em curso na RFB. De acordo

com a administração, o atual mapeamento servirá para conhecermos cada uma das atividades de

trabalho da Casa, agrupando-as em processos de trabalho. Também se presta a determinar as

prerrogativas de cada um dos cargos presentes na RFB em relação a esses processos e apontar uma

nova lotação ideal. Segundo a cúpula da RFB, em recente reunião com o Sindireceita, o que se espera

é a alteração da legislação referente às atribuições da Carreira de Auditoria, após o mapeamento. A

Nota Cosit-E 94/2015, portanto, vai de encontro ao mapeamento, razão mais que suficiente para

afastá-la definitivamente.

Análise da Nota Cosit-E 94/2015

Uma nota técnica exarada pelo fisco federal que pretenda criticar projeto de lei de atribuições de sua

carreira específica, deve demonstrar perfeita coerência com a legislação e a norma tributárias em

vigor, além de refletir a realidade dos métodos e processos internos do órgão responsável pela

administração tributária.

Nos chama a atenção, especificamente, o que o item 5.7.4 da nota discorre sobre os procedimentos

para fiscalização do cumprimento das obrigações principais e acessórias relativas ao Simples

Nacional. Quando se afirma que “a constituição do crédito tributário de tais pessoas jurídicas é a

mesma utilizada para as demais formas de tributação, aplicando a elas o Lucro Presumido,

Arbitrado ou Real” se desconsidera que no Simples Nacional a forma de cálculo não segue a mesma

forma de constituição dos outros regimes, com alíquotas e bases de cálculo diferenciadas. Também

não resiste a uma abordagem minimamente cuidadosa a afirmação sobre a competência exclusiva de

um cargo na fiscalização do Simples Nacional. A LC 123/2006 prevê a fiscalização do regime especial

do SIMPLES pelos fiscos municipais, estaduais e federal, sem hegemonia ou preferência entre eles.

Portanto, não há sequer a competência exclusiva da RFB. Mais grave, a nota erra ao firmar que o

Simples Nacional não é passível de autuação: “e Simples, quando esse último sequer é passível de

autuação, mas apenas uma forma de arrecadação agregada de vários tributos”. Não se pode tomar a

omissão fiscal da RFB em relação às empresas submetidas o Simples com a previsão legal, em sentido

contrário.

Nota Cosit-E 94/2015

5.5. A despeito do aludido vício de iniciativa, no mérito, a RFB entende que a distribuição das

atribuições privativas do cargo de Auditor-Fiscal da RFB para o cargo de Analista-Tributário

da RFB, quando submetida a uma perspectiva acurada, poderá provocar prejuízos à

Administração Tributária, e, consequentemente, a toda sociedade.

5.14. A histórica distribuição de atribuições entre os cargos, decorre do fato de que há uma

classe auxiliar (a dos Analistas) – na qual seus ocupantes ingressaram, até o final da década

de 90, em concurso de nível médio – e outra principal (a dos Auditores-Fiscais), com

concursos distintos, com graus de exigência claramente diferenciados, na linha fixada pelo

Supremo Tribunal Federal a partir da ADI 231 (DJ de 13-11-1992).

6.6. Por outro lado, a medida aloca, nos processos de fiscalização aduaneira associados aos

despachos de importação e exportação, servidores sem formação e qualificação adequados

para a atribuição, ao permitir a atuação concorrente de servidores selecionados por

processos seletivos com diferentes níveis de exigência

Os itens 5.5. e 5.14 expressam o entendimento da Receita Federal do Brasil sobre a estrutura de sua

carreira específica: uma carreira hierarquizada, onde um dos cargos detém prerrogativas privativas,

inalienáveis sob qualquer circunstância, e outra auxiliar, sem qualquer prerrogativa, além de auxiliar.

Mesmo decorridos quinze anos da elevação do grau de escolaridade para ingresso no cargo

(reconhecimento de uma situação factual – havia mais TRF com diploma de nível superior à época

que AFRF, fruto das tantas transformações de outros cargos no cargo de auditor) e ainda que não

conste mais em nenhuma parte da lei o termo “auxiliar”, temos que confrontar essa interpretação.

Vejamos o que diz o Parecer da Prof. Odete Medauar, de 2007.

(...)

Com a edição do Decreto-lei n° 2.225, de 10.01.1985, criou-se a intitulada Carreira Auditoria do

Tesouro Nacional, composta pelos cargos de Auditor -Fiscal do Tesouro Nacional e de Técnico do

Tesouro Nacional, (art. 1º), extinguindo-se os cargos de Fiscal de Tributos Federais, Controlador de

Arrecadação Federal e Técnico de Atividades Tributárias e determinando-se a inserção dos seus

titulares em classes da nova Carreira (art. 2º). Os anteriores Técnicos de Atividades Tributárias foram

integrados nos cargos de Técnico do Tesouro Nacional.

Leia-se o art. 1º:

Art. 1º. Fica criada, no Quadro Permanente do Ministério da Fazenda, a Carreira Auditoria

do Tesouro Nacional, composta dos cargos de Auditor-Fiscal do Tesouro Nacional e Técnico

do Tesouro Nacional, conforme o Anexo I deste Decreto-lei, e com a lotação privativa na

Secretaria da Receita Federal.

A leitura do Anexo I do referido Decreto-lei mostra quatro classes para o cargo de Auditor Fiscal

do Tesouro Nacional e quatro classes para o cargo de Técnico do Tesouro Nacional: Especial, 1ª, 2ª, 3ª,

em ordem decrescente.

O art. 3º dispunha o seguinte:

Art. 3° - O ingresso na Carreira Auditoria do Tesouro Nacional far-se-á sempre no Padrão I

da 3ª Classe de Auditor-Fiscal do Tesouro Nacional ou de Técnico do Tesouro Nacional,

respectivamente de níveis superior e médio, mediante concurso público, observado o

disposto nos parágrafos abaixo e nos artigos 2° e 4° deste Decreto-lei.

Para os fins deste parecer releva o art. 4º e parágrafo único:

Art. 4° O ocupante de cargo de Técnico do Tesouro Nacional poderá ter acesso a cargo de

Auditor-Fiscal do Tesouro Nacional, após alcançar o último padrão da 1ª classe e se

preencher as condições exigidas para o ingresso neste último cargo, obedecida

regulamentação específica, podendo atingir até o Padrão VI da 2ª Classe de Nível Superior.

Parágrafo único. A regulamentação de que trata este artigo fixará as regras do processo

seletivo, compreendendo, entre outras disposições, a obrigatoriedade de prova escrita e

eliminatória abrangendo disciplinas e programas idênticos aos exigidos nos concursos

públicos para Auditor-Fiscal do Tesouro Nacional.

O exame atento dos arts. 1º, 3º, 4º e parágrafo único, acima transcritos, já demonstra as

incoerências e dissonâncias que irão repercutir até o presente, sobretudo quanto ao antigo cargo de

Técnico do Tesouro Nacional, hoje denominado Analista Tributário.

(...)

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a Constituição de 1988. O art. 24 do Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias determinava a edição de leis com critérios para compatibilizar

os quadros de pessoal ao disposto no art, 39 e à reforma administrativa dela decorrente, no teor

seguinte:

Art. 24 – A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios editarão leis que

estabeleçam critérios para a compatibilização de seus quadros de pessoal ao disposto no

art. 39 e à reforma administrativa dela decorrente, no prazo de dezoito meses, contados da

sua promulgação.

Essa compatibilização não se efetuou, em âmbito federal, quanto à implantação de uma

verdadeira Carreira Auditoria, mantendo-se as normas acima transcritas, inclusive as figuras do acesso

ou ascensão.

Mas, em agosto de 1992, já se disse, as figuras do acesso ou ascensão, com o sentido dado no

Estatuto Federal de 1990, foram declaradas, pelo STF, incompatíveis à nova Constituição, o que

repercutiu de modo desfavorável na evolução funcional dos titulares dos cargos sob o nome de Técnico

do Tesouro Nacional, visto não mais poderem alcançar o cargo de Auditor-Fiscal do Tesouro.

Não se cumprindo o referido art. 24 do ADCT, perdeu-se uma oportunidade de reestruturar, de

modo racional e coerente, a Carreira Auditoria, para se tornar uma verdadeira carreira.

(...)

A carreira Auditoria do Tesouro Nacional foi objeto de reformulação pela Medida Provisória 1915,

de 20.06.1999, com reedições, depois convertida na Lei n° 10.593, de 06.12. 2002, passando a

denominar-se Carreira Auditoria da Receita Federal – ARF.

(...)

Assim, o antigo cargo de Técnico do Tesouro Nacional recebeu o novo título de Técnico da Receita

Federal.

Verifica-se, então, que não se efetuou verdadeira reestruturação da carreira Auditoria. Houve

alteração do nome dos cargos e alteração do nome e número de classes de cada um dos cargos. Mas

se manteve a esdrúxula situação de uma carreira Auditoria com dois cargos, cada um dotado das suas

próprias classes, contrariando a concepção de carreira acolhida na Constituição de 1988, como se viu

supra. Desse modo, as distorções na matéria persistiram.

(...)

Desde aí, além da similaridade fática e legal de atribuições já existente há muito, passou a haver

igual requisito de curso superior para concurso público de ingresso, tanto no cargo de Técnico da

Receita Federal (antigo Técnico do Tesouro Nacional) quanto no de Auditor-Fiscal.

Com tal preceito não mais se poderia aventar qualquer diferença significativa (há muito

inexistentes quanto às funções) entre os cargos de Auditor-Fiscal e Técnico da Receita Federal, a

justificar desigualdade de tratamento em matéria de carreira, remuneração e evolução funcional.

Deixou de haver, também, qualquer respaldo para fundamentar a qualificação dos cargos de Técnico

da Receita Federal, antigos Técnicos do Tesouro Nacional, nas chamadas carreiras auxiliares. A

propósito, mostra-se conveniente ressaltar, ainda uma vez, a total ausência de base legal e o

despropósito de outorgar a este cargo a condição de cargo ou carreira auxiliar. Os traços históricos do

quadro normativo da categoria, que se vem expondo, revelam, de forma evidente, a falta dessa base

legal. E se havia, apenas ad argumentandum, deixou de haver com a edição da Lei 10.593/2002, dada a

exigência de curso superior para o concurso público de ingresso no cargo de Técnico da Receita Federal.

(...)

No tocante às atribuições, neste passo se mencionarão as linhas gerais do tratamento conferido

na Lei 10.593/2002 e no Decreto 3.611, de 27.09.2000, pois receberão cuidado mais amplo no exame

da Lei 11.457/2007.

O artigo 6° da Lei 10.593/2002 traz as atribuições dos cargos de Auditor Fiscal e de Técnico da

Receita Federal, de forma sintética, visto incumbir ao Poder Executivo dispor sobre as mesmas,

observados os preceitos da Lei.

Art. 6° São atribuições dos ocupantes do cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal do

Brasil, no exercício da competência da Secretaria da Receita Federal do Ministério da

Fazenda, relativamente aos tributos e às contribuições por ela administrados:

I - em caráter privativo:

a) constituir, mediante lançamento, o crédito tributário;

b) elaborar e proferir decisões em processo administrativo fiscal, ou delas participar, bem

como em relação a processos de restituição ou compensação de tributos e reconhecimento

de benefícios fiscais;

c) executar procedimentos de fiscalização, inclusive os relativos ao controle aduaneiro,

objetivando verificar o cumprimento das obrigações tributárias pelo sujeito passivo,

praticando todos os atos definidos na legislação específica, inclusive os relativos à

apreensão de mercadorias, livros, documentos, materiais, documentos e assemelhados;

d) proceder à orientação do sujeito passivo no tocante à aplicação da legislação tributária,

por intermédio de atos normativos e solução de consultas;

e) supervisionar as atividades de orientação do sujeito passivo efetuadas por intermédio de

mídia eletrônica, telefone e plantão fiscal;

II – em caráter geral, as demais atividades inerentes à competência da Secretaria da

Receita Federal.

§ 1° O Poder Executivo, dentre as atividades de que trata o inciso II, poderá cometer seu

exercício, em caráter privativo, ao Auditor-Fiscal da Receita-Federal.

§2° Incumbe ao Técnico da Receita Federal auxiliar o Auditor-Fiscal da Receita Federal no

exercício de suas atribuições.

§ 3° O Poder Executivo, observado o disposto neste artigo, disporá sobre as atribuições dos

cargos de Auditor-Fiscal da Receita Federal e de Técnico da Receita Federal.

Ante o disposto no supracitado § 3º, do art. 6º (seu teor já estava presente na Medida Provisória

antecessora da Lei 10.593/2002), baixou-se o Decreto nº 3.611/2000, cujo Anexo arrola as atribuições

dos cargos da Carreira Auditoria da Receita Federal, da forma a seguir.

O art. 1º do Anexo repete quase integralmente o art. 6º, inciso I, supratranscrito (apenas troca as

letras por algarismos romanos), ao arrolar as chamadas atribuições em caráter privativo do ocupante

do cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal.

De seu lado, o art. 2º traz o conteúdo seguinte:

Art. 2º - Incumbe ao ocupante do cargo efetivo de Técnico da Receita Federal auxiliar o

Auditor-Fiscal da Receita Federal no desempenho das atribuições privativas desse

cargo e sob a supervisão do Auditor-Fiscal da Receita Federal, especialmente:

I – em relação ao disposto no inciso II do artigo anterior, analisar e instruir processos,

ressalvada a atribuição privativa do Auditor –Fiscal da Receita Federal para proferir

decisões; intimar sujeito passivo e requerer diligências, em processos submetidos a

julgamento em instância administrativa;

II – em relação ao disposto no inciso III do artigo anterior:

a) proceder à conferência de livros, documentos e mercadorias do sujeito passivo, inclusive

mediante elaboração de relatório, relativamente aos procedimentos fiscais de:

1. fiscalização, diligência e revisão de declarações;

2. concessão, controle e cassação de regime aduaneiro especial ou atípico;

3. controle de internação de mercadorias em áreas de livre comércio;

4. vigilância e repressão aduaneiras;

E assim por diante, tentando diferenciar atribuições essencialmente similares às realizadas pelo

Auditor-Fiscal. As similitudes se revelam, também, nos incisos III e IV, que pretendem efetuar

separações artificiais quanto às atribuições do Auditor-Fiscal constantes nas alíneas d) e e) do art. 6º

da citada Lei, reproduzidas nos incisos IV e V do art. 1º do Decreto em tela:

III – em relação ao disposto no inciso IV do artigo anterior, elaborar estudos técnicos e

tributários;

IV – em relação ao disposto no inciso V do artigo anterior, proceder à orientação do sujeito

passivo por intermédio de mídia eletrônica, telefone e plantão fiscal.

E as semelhanças mais se acentuam ante o conteúdo dos arts. 3º e 4º do referido Anexo.

Vejamos.

Art. 3º São atribuições dos ocupantes dos cargos efetivos de Auditor-Fiscal da Receita

Federal e de Técnico da Receita Federal, em caráter geral e concorrente:

I – lavrar termo de revelia e de perempção;

II – analisar o desempenho e efetuar a previsão da arrecadação;

III – analisar pedido de retificação de documento de arrecadação;

IV – executar atividades de atendimento ao contribuinte.

Art. 4º Os ocupantes dos cargos efetivos de Auditor-Fiscal da Receita Federal e de Técnico

da Receita Federal, em caráter geral e concorrente, poderão ainda exercer atribuições

inespecíficas da Carreira Auditoria da Receita Federal, desde que inerentes às competências

da Secretaria da Receita Federal, em especial:

I – executar atividades pertinentes às áreas de programação e de execução orçamentária e

financeira, contabilidade, licitação e contratos, material, patrimônio, recursos humanos e

serviços gerais;

II – executar atividades na área de informática, inclusive as relativas à prospecção,

avaliação, internalização e disseminação de novas tecnologias e metodologias;

III – executar procedimentos que garantam a integridade, a segurança e o acesso aos

dados e às informações da Secretaria da Receita Federal;

IV – atuar nas auditorias internas das atividades dos sistemas operacionais da Secretaria

da Receita Federal;

V – integrar comissão de processo administrativo disciplinar.

Nesse ponto devemos abrir parênteses para deixar evidente o desconhecimento do redator da Nota

Cosit-E 94/2015:

Nota Cosit-E 94/2015

5.7.10. Art. 6º, inciso II, alínea “g”: Não se mostra razoável que Analista-Tributário (que

nunca executou auditoria de qualquer espécie) possa presidir atividades correcionais a

respeito de procedimentos de auditoria de algo grau de complexidade.

5.16. Quanto à redação proposta ao art. 6º, inciso II, alínea “g”, não se mostra razoável

Analista-Tributário (que nunca executou auditoria de qualquer espécie) possa presidir

atividades correcionais a respeito de procedimentos de auditoria de algo grau de

complexidade.

Só a ansiedade em atender a uma encomenda especialmente centrada na marcação do termo

“auditoria” pode justificar o descuido preliminar de não retroagir no tempo para analisar o

desempenho histórico dos Analistas-Tributários.

Vamos confrontar a veemência do “parecerista” com o texto dos inc. IV e V do art. 4º do Decreto

3.611/2000: até ali, “atuar nas auditorias internas dos sistemas operacionais da SRF” e “integrar

comissão de processo administrativo disciplinar” se encontravam entre as atribuições “inespecíficas”

da Carreira. Estas atividades, no entender da Cosit de “alto grau” (correção nossa) de complexidade,

já não se encontravam, na lei ou no decreto, entre as privativas do Auditor. Não havia também,

qualquer diferenciação entre presidir ou participar de processo administrativo disciplinar, até porque

essa diferenciação é ilegal e descabida, não há qualquer sustentação doutrinária para reservar a

apuração de um eventual ilícito funcional a servidor da mesma categoria funcional do investigado.

Portanto, ao contrário do que pretende sustentar o “parecerista”, os Analistas-Tributários

historicamente sempre cuidaram de auditorias internas de procedimentos e sistemas, participaram e

presidiram comissões correicionais, amparados pela lei e pela norma.

Mais grave é a omissão em relação ao texto do Decreto de atribuições hoje em vigor, Decreto

6.641/2008. vejamos seus termos:

(...)

Art. 5o Os ocupantes dos cargos efetivos de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil e de

Analista-Tributário da Receita Federal do Brasil, em caráter geral e concorrente, poderão

ainda exercer atribuições inespecíficas da Carreira de Auditoria da Receita Federal do Brasil,

desde que inerentes às competências da Secretaria da Receita Federal do Brasil, em especial:

I - executar atividades pertinentes às áreas de programação e de execução orçamentária e

financeira, contabilidade, licitação e contratos, material, patrimônio, recursos humanos e

serviços gerais;

II - executar atividades na área de informática, inclusive as relativas à prospecção, avaliação,

internalização e disseminação de novas tecnologias e metodologias;

III - executar procedimentos que garantam a integridade, a segurança e o acesso aos dados e

às informações da Secretaria da Receita Federal do Brasil;

IV - atuar nas auditorias internas das atividades dos sistemas operacionais da Secretaria da

Receita Federal do Brasil; e

V - integrar comissão de processo administrativo disciplinar.

Como podemos depreender da leitura do art. 5º do Decreto, mantiveram-se as atribuições no rol das

prerrogativas inespecíficas, sem qualquer alteração em relação a autorização em caráter concorrente

para ambos os cargos da Carreira Auditoria.

Seguimos com o Parecer da prof. Odete Medauar.

“(...)

A leitura conjunta dos preceitos da Lei 10.593/2002 relativos às atribuições e do Decreto nº

3.611/2000, Anexo, demonstra, de forma clara, a similitude essencial das atribuições dos cargos de

Auditor-Fiscal e Técnico da Receita Federal. Na tentativa de criar uma divisão das funções dos dois

cargos, arrolam-se minúcias funcionais que em nada afetam sua igualdade substancial, ao contrário,

ressaltam a artificialidade da separação. E em alguns dispositivos se menciona, de modo explícito, o

caráter geral e concorrente de um expressivo rol de atividades. Desse modo, a artificial divisão de

funções força uma diferença inexistente e apresenta-se de total irracionalidade, violando o princípio da

eficiência, cuja observância vem determinada no art. 37, caput, da Constituição Federal.

Algumas considerações sobre a expressão compete auxiliar, utilizada tanto na Lei 10.593/2002

(art. 6º,§2º) quanto no Decreto 3.611/2000 (Anexo, art. 2º, caput), em relação a funções do Técnico da

Receita Federal.

– O termo auxiliar remeteria ao Estatuto Federal de 1952, supraindicado, que no art. 255, cuida

do acesso de integrantes de carreiras auxiliares para classes iniciais de carreiras consideradas

principais. Mas, como observado antes, a Lei 5.645/1970 deixou de usar tal divisão para as carreiras e

utilizou a expressão serviços auxiliares somente para atividades administrativas em geral. E previu o

Grupo de Tributação, Arrecadação e Fiscalização, no qual, a partir daí, sempre foram inseridos os

cargos cujas alterações de nome resultaram no Técnico da Receita Federal da Lei 10.593/2002.

Portanto, desde a Lei 5.645/1970 não mais se poderia qualificar os cargos em referência como

sendo de carreiras auxiliares ou de serviços auxiliares, por falta de fundamento legal. Por força da Lei

5.645/1970 se inseriam, desde então, no Grupo de Tributação, Arrecadação e Fiscalização – TAF. As

distorções na chamada Carreira Auditoria se devem, em parte, à projeção, no presente, de concepções

e disposições legais passadas.

Com efeito, a permanência do ultrapassado termo auxiliar, para caracterizar as funções do

Técnico da Receita Federal, reflete a tentativa de subalternar esta carreira, quando, na realidade, as

atribuições são idênticas às exercidas pelo Auditor-Fiscal. As atuais concepções sobre Administração

Pública em geral e sobre gestão de pessoal não mais admitem superadas ideias de carreiras ou serviços

auxiliares e carreiras ou serviços principais.

Além do mais, no sentido da igualdade da natureza das atribuições se manifestou a

Corregedoria-Geral da própria Receita Federal – Divisão de Ética e Disciplina, na Informação nº

99/2002, ao tratar ao exercício da advocacia por Técnico da Receita Federal. Saliente-se a frase

seguinte: “Desse modo, quem assiste pratica atividade da mesma natureza daquele que é assistido.”

Tal posicionamento logrou anuência do então Secretário da Receita Federal.

(...)

Em 16 de março de 2007 editou-se a Lei nº 11.457, apelidada Lei da Super Receita. Alguns

preceitos podem ser salientados:

A Secretaria da Receita Federal passou denominar-se Secretaria da Receita Federal do Brasil

(art. 1º).

Englobou, na Secretaria da Receita Federal do Brasil, funções atinentes à tributação,

arrecadação, fiscalização, cobrança e recolhimento de contribuições sociais do INSS (art. 2º).

Redistribuiu, para a Secretaria da Receita Federal do Brasil, os cargos ocupados e vagos da

Carreira de Auditoria-Fiscal da Previdência Social, integrantes dos quadros de pessoal do Ministério da

Previdência Social e do INSS.

Extinguiu a Carreira Auditoria-Fiscal da Previdência Social (art. 10,§6º).

Transformou os cargos de Auditor-Fiscal da Previdência Social da Carreira Auditoria-Fiscal da

Previdência Social, em cargos de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil (art.10,I), inserindo-os na

Carreira de Auditoria da Receita Federal do Brasil.

Desse modo, foram unificadas duas carreiras com atividades substancialmente diferentes,

guardando como semelhança apenas a função fiscalizatória.

No tocante ao cargo focalizado neste parecer, note-se, em primeiro lugar, que houve mudança

no seu nome: o cargo de Técnico da Receita Federal passou a denominar-se Analista-Tributário da

Receita Federal do Brasil (art. 10,II).

Alterou-se também o nome do cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal para Auditor-Fiscal da

Receita Federal do Brasil (art. 10,I).

Em segundo lugar, o art. 5º da Lei 10.593/2002 passou a ter nova redação, por força do art. 9º,

in verbis:

Art. 5º Fica criada a Carreira de Auditoria da Receita Federal, composta pelos cargos de

nível superior de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil e de Analista-Tributário da

Receita Federal do Brasil.

Vê-se que o antigo nome Carreira Auditoria foi alterado para Carreira de Auditoria. A expressão

permaneceu no singular – Carreira, embora composta de dois cargos de nível superior: Auditor-Fiscal

da Receita e Analista-Tributário da Receita. É a estranha situação de uma carreira integrada por duas

carreiras!

(...)

A mesma Lei reiterou o nível superior do cargo de Analista-Tributário, em virtude da nova

redação dada aos arts. 3º e 5º da Lei 10.593/2002 (art. 9º).

No art. 43 manteve a igualdade das gratificações pagas ao Analista-Tributário e Auditor-Fiscal,

em parâmetros idênticos.

A seu turno, o art. 50 fixa o prazo de um ano, a contar da publicação da Lei, para o Poder

Executivo encaminhar ao Congresso Nacional projeto de lei orgânica das Auditorias Federais, dispondo

sobre direitos, deveres, garantias e prerrogativas dos servidores integrantes das Carreiras de que trata

a Lei 10.593/2002.

(...)

Embora tenha havido mudança na redação do art. 6º da Lei 10.593/2002, as funções dos dois

cargos permaneceram essencialmente as mesmas, incorporando, esta Lei, alguns itens do rol previsto

no Decreto 3.611/2000, supracitado.

Também remete ao Poder Executivo a regulamentação das atribuições dos dois cargos.

Conferiu, ao Analista-Tributário, o exercício, em caráter geral e concorrente, das atividades

inerentes à competência da Secretaria da Receita Federal do Brasil. Repete, aqui, um dos vários itens

legais que evidenciam a igualdade essencial das funções dos dois cargos.

Não mais se utiliza a palavra auxiliar, para caracterizar pretensa diversidade das funções do

cargo de Analista-Tributário em relação às funções do cargo de Auditor-Fiscal, e para denotar pseudo

caráter subalterno daquele.

Talvez se tenha deixado de usar o termo, ante a manifestação da Corregedoria-Geral da própria

Receita, na referida Informação nº99/2002, aprovada pelo então Secretário da Receita Federal, no

sentido da igualdade da natureza das atribuições dos dois cargos, sobretudo na frase: “quem assiste

pratica atividade da mesma natureza daquele que é assistido.”

Mas, talvez com o mesmo intuito, o § 2º, I, utiliza a seguinte expressão: exercer atividades de

natureza técnica, acessórias ou preparatórias ao exercício das atribuições privativas dos Auditores

Fiscais da Receita Federal.

Em grande equívoco incide esta expressão se busca diferenciar, por inferioridade, as atribuições

do cargo de Analista-Tributário.

Lembre-se, de início, no tocante à expressão natureza técnica, o sentido há muito firmado no

ordenamento administrativo brasileiro: de natureza técnica são cargos ou funções que exigem

formação específica. Se, por um lado, se considerar que exigência de curso superior, em certas

modalidades, configura formação específica, em nada se distinguem os dois cargos, pois as exigências

para inscrição no concurso público são idênticas; sob tal prisma, se as atividades do cargo de Analista-

Tributário são técnicas, as de Auditor-Fiscal o são igualmente. Se, por outro lado, se considerar que o

requisito de curso superior, sem especificidade determinada, não caracteriza o cargo como técnico, a

menção à natureza técnica das atividades incorre em erro, destoando da acepção tradicional aplicada

a cargo dessa natureza, não podendo, portanto, ser empregada para qualificar as atividades do cargo

de Analista-Tributário.

Quanto aos vocábulos acessórias ou preparatórias, usados em substituição à palavra auxiliar,

revelam, como esta, o caráter assemelhado ou idêntico das atribuições dos dois cargos: sendo

acessórias ou preparatórias, ad argumentadum, dizem respeito às mesmas atribuições dos Auditores-

Fiscais.

Desta forma, os dois vocábulos reforçam a similitude das funções dos dois cargos.

Parafraseando a citada frase da manifestação da Corregedoria-Geral da Receita pode-se afirmar: quem

exerce atividades acessórias ou preparatórias pratica atividades da mesma natureza de quem tem as

atividades preparadas. Além do mais, como é sabido, no dia a dia do exercício dos cargos, não há

diferença alguma nas atividades realizadas pelos titulares dos dois cargos.

De outra parte, se tais vocábulos visam a qualificar atividades de menor grau de complexidade

e responsabilidade em relação às atividades do cargo de Auditor-Fiscal, eis aí a clara prova de que os

cargos de Analista-Tributário e Auditor-Fiscal formam, na verdade, uma só Carreira, sendo

inadmissível, do ponto de vista teórico, constitucional, legal e prático, haver dois grupos de classes de

cargos para atividades idênticas, embora sob o único (e falso) nome de Carreira de Auditoria da Receita

Federal. Se ainda existem, deve ser procedida verdadeira reestruturação, para unificar os dois cargos

numa só carreira.”

Se o parecer da Prof. Odete Medauar, até esse ponto, joga por terra o raso e conveniente corte

histórico que pretendeu sustentar os argumentos da Nota em seu item 5.14, resta recorrermos mais

uma vez ao texto da professora para acabar, em definitivo, com qualquer sustentação acerca de uma

significativa diferenciação entre as exigências dos concursos para os cargos de Analista-Tributário e

Auditor-Fiscal.

“(...)

O quadro legal da Carreira de Auditoria da Receita Federal do Brasil, desde sua criação pelo

Decreto-lei 2.225/1985 até a Lei 11.457/2007, revela expressivas similitudes nas atribuições dos cargos

de Analista-Tributário e Auditor-Fiscal (nomes atuais).

As semelhanças mostram-se mais gritantes ainda, se lançados em tabelas os pontos comuns

nas atribuições dos cargos e os programas dos últimos concursos para os cargos de Técnico da Receita

Federal (sigla TRF, atual Analista-Tributário) e de Auditor-Fiscal da Receita Federal (sigla AFRF, atual

Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil).

Nos quadros abaixo (três páginas seguintes), com dados fornecidos pelo Consulente, foram

incluídas atribuições e matérias de concurso também do antigo cargo de Auditor-Fiscal da Previdência

Social, que a Lei 11.457/2007 transformou em cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal, embora este

implicasse atividades substancialmente diversas. Para cargos com atribuições diferentes utilizou-se a

figura da transformação.

Importa frisar que, o comparativo acima pode ser feito com todos os concursos posteriores,

mantendo-se inalterados os efeitos da comparação.

Diante da similaridade entre os cargos de mesma carreira aqui evidenciada, aconselha-se ao que

releiam o inteiro teor do acórdão da ADIN 231-7, sobretudo à vista da recente Súmula Vinculante STF

nº 43, sob pena de justificarem exatamente o que pretendem desesperadamente repelir.

Assim, depois de todo o exposto, colocamos à administração as primeiras questões:

1. NUMA PERSPECTIVA MAIS ACURADA, QUAIS OS PREJUÍZOS À ADMINISTRAÇÃO

TRIBUTÁRIA, E, CONSEQUENTEMENTE, A TODA SOCIEDADE, ADVIRIAM DA DISTRIBUIÇÃO

DAS ATRIBUIÇÕES PRIVATIVAS DO CARGO DE AUDITOR-FISCAL DA RFB PARA O CARGO DE

ANALISTA-TRIBUTÁRIO DA RFB? ESPECIFICAMENTE, EM RELAÇÃO ÀQUELAS ATRIBUIÇÕES

HOJE VINCULADAS PRIVATIVAMENTE AO CARGO DE AUDITOR-FISCAL DA RFB, ELENCADAS

NO INC. I DO ART. 6º DA LEI 10.593/02, QUAIS OS EFEITOS PREJUDICIAIS À ADMINISTRAÇÃO

TRIBUTÁRIA, PARA CADA UMA DELAS, DE UM EVENTUAL COMPARTILHAMENTO COM O

CARGO DE ANALISTA-TRIBUTÁRIO DA RFB?

2. O CARGO DE ANALISTA-TRIBUTÁRIO DA RFB É UM CARGO AUXILIAR? SE A RESPOSTA É

AFIRMATIVA, ELE É AUXILIAR EM FUNÇÃO DA NATUREZA DE SUAS ATRIBUIÇÕES OU EM

FUNÇÃO DA SUBORDINAÇÃO A OUTRO CARGO AO QUAL SE SUBORDINA? O QUE SIGNIFICA,

LEGALMENTE, O TERMO “CARGO AUXILIAR”?

3. AS DISCIPLINAS RELATIVAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL E LEGISLAÇÃO ADUANEIRA

FAZEM PARTE DO PROCESSO SELETIVO PARA OS CARGOS DE ANALISTA-TRIBUTÁRIO DA

RFB? HÁ BANCOS DE DADOS DISTINTOS PARA AS QUESTÕES APLICADAS NO PROCESSO

SELETIVO DOS CARGOS DE ANALISTA-TRIBUTÁRIO DA RFB E AUDITOR-FISCAL DA RFB? OS

TREINAMENTOS REFERENTES AOS PROCEDIMENTOS ADUANEIROS SÃO EXCLUSIVOS PARA O

CARGO DE AUDITOR-FISCAL DA RFB? SE LEVARMOS EM CONTA O FATO DE QUE OS

AUDITORES-FISCAIS ORIUNDOS DA RECEITA PREVIDENCIÁRIA NÃO FORAM ARGUIDOS EM

SEUS CONCURSOS PÚBLICOS DE ORIGEM SOBRE AS MATÉRIAS DE COMÉRCIO

INTERNACIONAL E LEGISLAÇÃO ADUANEIRA, PARTINDO DO ARGUMENTO DA NOTA COSIT-E

94/2015, PODEMOS CONCLUIR QUE SEU PROCESSO SELETIVO TEVE NÍVEL DE EXIGÊNCIA

INFERIOR AOS CONCURSOS DOS CARGOS DE ANALISTA-TRIBUTÁRIO DA RFB E AUDITOR-

FISCAL DA RFB?

Prosseguindo na análise da Nota Cosit-E nº 94/2015, encontramos suas considerações acerca das atribuições de cobrança, arrecadação e tributação. A Nota Cosit-E nº 94, de 31/03/2015, ainda que retificada pela Nota Cosit-E nº 108, de 14/04/2015,

incorre em equívocos absurdos em relação à situação funcional dos cargos da Carreira de Auditoria, a

partir do conceito de hierarquização que a Lei nº 10.593/02 não corrobora. Destacamos os seguintes

trechos:

Nota Cosit-E 94/2015

5.7.1 (...) Além disso, a competência das carreiras de Auditor-Fiscal e Analista-Tributário ....

5.7.3 (...) o lançamento de ofício ou uma glosa de crédito presumido - efetuados pelo Auditor-

Fiscal, seja alterado ou anulado por um servidor que, por lei, é seu apoio, ...

5.7.6.1 (..) Ou seja, é dar para servidor de cargo auxiliar a competência de determinar

entendimentos jurídicos do cargo principal (AFRFB), o que é incongruente por si só. (...)

Poder-se-ia, assim, criar situações teratológicas, como a possibilidade de o Analista-Tributário

poder emitir pareceres (em soluções de consulta, por exemplo) que vinculassem a atuação

daqueles que ocupam o cargo principal (Auditor-Fiscal), bem como julgar (com poder de

determinar anulação, inclusive) os lançamentos executados pelas autoridades fiscais.

5.7.9.4 (...) irrazoável atribuir competência para situações ordinárias para cargos principais

e deixar situações igualmente complexas para a competência genérica (concorrente) da

carreira.

5.15. Pela proposta acima exposta, pode-se concluir que o cargo de Auditor-Fiscal da Receita

Federal do Brasil, com a revogação do inciso I do §2º do art. 6º da Lei nº 10.593, de 2002, em

vigor, deixará de contar com este cargo técnico e competente para exercer atividades de

natureza técnica, acessórias ou preparatórias ao exercício das suas atribuições privativas,

conforme previsto atualmente. A RFB está estruturada para ter um cargo principal (Auditor-

Fiscal) e outro auxiliar (Analista-Tributário); a presente alteração está sendo feita sem

qualquer estudo dos impactos financeiro, orçamentário, arrecadatório e, sobretudo, à revelia

da própria instituição afetada. A ausência desses estudos prévios sobre os efeitos das

alterações pressupõem impactos desconhecidos que podem perdurar anos afinco e sejam

indesejáveis em momento de ajuste fiscal. O possível desalinhamento causado nas

competências internas da RFB pode gerar impactos negativos na arrecadação em um

momento crucial da conjuntura econômica nacional.

No caso da atuação dos Analistas-Tributários no âmbito dos serviços e seções de controle e

acompanhamento tributário da RFB (chamados projeções X-Cat), podemos afirmar com convicção

que, nos processos administrativos trabalhados nesses setores, não há qualquer impedimento quanto

à atuação dos ANALISTA-TRIBUTÁRIOS, salvo apenas o que se refere aos incisos IV e IX do artigo 243

do Regimento Interno (RI) da RFB, aprovado pela Portaria MF nº 203, de 2012, os quais trazem

atividades atribuídas privativamente ao AFRFB.

A propósito, importa registrar que, apesar da autorização contida nos incisos IV e IX, não é comum a

realização de revisão de lançamento de ofício e diligências e lançamento do crédito tributário no

âmbito das Secat/Sacat, que corriqueiramente e sem qualquer prejuízo solicita essas providências ao

setor ou seção de fiscalização, quando necessário; esse deslocamento, inclusive, pode dar-se pela

autorização contida no § 1º do artigo 314 do RI, por ato dos SRRF. De forma que, indubitavelmente,

ressalvada a exceção já feita, incumbe ao Analista-Tributário o exercício das competências arroladas

expressamente no artigo 243 do Regimento Interno da RFB e ainda outras não arroladas, mas que

pertencem ao quadro das atividades de controle e acompanhamento tributário. Tal afirmação se

deve ao fato de que se inclui, dentre as prerrogativas do Analista-Tributário, atuar no exame de

matérias e processos administrativos e exercer, em caráter geral e concorrente, as demais atividades

inerentes às competências da Secretaria da Receita Federal do Brasil, a vista do disposto no § 2º do

art. 6º da Lei 10.593, de 2002.

Ocorre que, por serem vagas, imprecisas e sobrepostas às atribuições do cargo de AFRFB, as

atribuições dos Analistas-Tributários vêm sendo limitadas ou redefinidas ilegalmente através

instrumentos normativos infralegais (portarias, instruções, ordens de serviços, notas técnicas, entre

outros expedientes). Essas ilegalidades têm gerado grande transtorno e perturbação no nosso

ambiente de trabalho, em prejuízo à eficiência e eficácia de nossas ações para a consecução da

missão da RFB, sobretudo nesse momento em que são necessárias medidas urgentes para o

incremento da arrecadação.

Voltemos, agora aos itens 5.7.10 e 5.16:

Nota Cosit-E 94/2015

5.7.10. Art. 6º, inciso II, alínea “g”: Não se mostra razoável que Analista-Tributário (que

nunca executou auditoria de qualquer espécie) possa presidir atividades correcionais a

respeito de procedimentos de auditoria de algo grau de complexidade.

5.16. Quanto à redação proposta ao art. 6º, inciso II, alínea “g”, não se mostra razoável

Analista-Tributário (que nunca executou auditoria de qualquer espécie) possa presidir

atividades correcionais a respeito de procedimentos de auditoria de algo grau de

complexidade.

Ao Analista-Tributário nunca houve impedimento legal para o exercício, por exemplo, da atividade de

Auditoria Interna de DCTF, relativa às informações indevidas ou não comprovadas prestadas na DCTF

sobre pagamento, parcelamento ou suspensão de exigibilidade, a qual se encontra prevista desde

2004 (IN SRF nº 482, de 2004) e atualmente disciplinada nos arts. 8º e 9º da IN RFB nº 1.110, de

2010. Da mesma forma, não há impedimento legal para que o ANALISTA-TRIBUTÁRIO exerça

procedimentos de auditoria interna em quaisquer outras declarações apresentadas pelo contribuinte,

à vista do disposto nos arts. 74 e 75 do Decreto-Lei nº 5.844, de 1943:

DA REVISÃO DAS DECLARAÇÕES

Art. 74. As declarações de rendimentos estarão sujeitas à revisão das repartições lançadoras, que

exigirão os comprovantes necessários.

§ 1º A revisão, será feita com elementos de que dispuser a repartição esclarecimentos, verbais ou

escritos solicitados aos contribuintes, ou por outros meios facultados neste decreto-lei.

§ 2º Os pedidos de esclarecimentos deverão ser respondidos dentro do prazo de 10 dias contados da

data em que tiverem sido recebidos.

§ 3º O contribuinte que deixar de atender ao pedido de esclarecimentos ficará sujeito ao lançamento

ex-officio de que trata a alínea b do art. 77.

Art. 75. Os funcionários do Imposto da Renda, destacados em serviço de inspeção no interior dos

Estados, poderão, quando devidamente autorizados, proceder à revisão das declarações.

A esse respeito, a própria Cosit, por meio do seu Parecer Normativo nº 8, de 3 de setembro de 2014

(e-processo 10166.729961/2013-93), prevê a possibilidade de retificação de ofício de débito

confessado em declaração, para reduzir o saldo a pagar a ser encaminhado à Procuradoria-Geral da

Fazenda Nacional – PGFN para inscrição na Dívida Ativa, por autoridade administrativa local (sem

distinguir se esta autoridade é um Analista-Tributário ou um Auditor-Fiscal) para crédito tributário

não extinto e indevido, na hipótese da ocorrência de erro de fato no preenchimento da declaração.

Cumpre frisar que o citado Parecer estabelece uma diferenciação entre a revisão do lançamento

efetuada pela autoridade administrativa prevista no art. 145 do CTN (e, por consequência, a mesma

autoridade a que se reporta o art. 149 do CTN) e a retificação de ofício de débito confessado em

declaração apresentada pelo sujeito passivo. Explica, o Parecer, que a revisão de ofício de lançamento

pressupõe que este tenha sido regularmente notificado (lançamento de ofício), o que não é o caso

das declarações em que o sujeito passivo confessa ser devedor de tributos, como ocorre nas várias

declarações apresentadas ao Fisco, nas quais não há esta notificação por parte de autoridade

competente.

O fato é que, ainda segundo o Parecer Normativo Cosit nº 8, de 2014 (grifamos):

"41. As declarações entregues para comunicar a existência de crédito tributário, representando

confissão de dívida nos termos do §1º do art. 5º do Decreto-Lei nº 2.124, de 13 de junho de 1984, tais

como DCTF, DIRPF, DITR e GFIP, podem ser retificadas espontaneamente pelo sujeito passivo, com

espeque no art. 18 da Medida Provisória nº 2.189-49, de 23 de agosto de 2001, atendidos os limites

temporais estabelecidos em normas específicas (§ 2º do art. 9º da IN RFB nº 1.110, de 24 de dezembro

de 2010 – DCTF, art. 5º da IN RFB nº 958, de 15 de julho de 2009 – DIRPF e DITR; art. 463 da IN RFB nº

971, de 13 de novembro de 2009 – GFIP), respeitado o prazo de cinco anos para retificação (conforme

Parecer Cosit nº 48, de 07 de julho de 1999).

42. Não mais sendo possível retificação por iniciativa do sujeito passivo, esta poderá ser realizada de

ofício pela autoridade administrativa da unidade local de jurisdição para reduzir os débitos a serem

encaminhados ao órgão da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional para inscrição em Dívida Ativa,

haja vista orientação contida na Portaria Conjunta SRF/PGFN nº 1, de 1999, antes referida. Nos termos

desta portaria, mesmo após a inscrição do débito em dívida ativa, e ainda que iniciada a execução

fiscal, a retificação de ofício poderá ser efetuada se comprovado o erro de fato no preenchimento da

declaração. “

E mais: conclui o Parecer Normativo Cosit nº 8, de 2014, que "o despacho decisório é o instrumento

adequado para que a autoridade administrativa local efetue a revisão de ofício de lançamento

regularmente notificado, a retificação de ofício de débito confessado em declaração, e a revisão de

ofício de despacho decisório que decidiu sobre reconhecimento de direito creditório e compensação

efetuada”.

Assim, conjugando o disposto no item 5.9 da própria Nota Cosit-E nº 94, de 2015, com a alínea "e" do

item 81 do Parecer Normativo Cosit nº 8, de 2014, aliados ao estabelecido nos incisos II e III do § 2º

do art. 6º da Lei nº 10.593, de 2002, incluídos pela Lei nº 11.457, de 2007, e nos arts. 231 e 243 do

Regimento Interno da RFB, aprovado pela Portaria MF nº 203, de 2012, não restam dúvidas de que o

Analista-Tributário, desde que investido em função de chefia e mediante delegação de competência

de delegados, inspetores, coordenadores, superintendentes, subsecretários e secretário da RFB, à

vista do disposto na Portaria RFB nº 1.098, de 2013, em seu Anexo I, como é o caso de inúmeras

portarias locais, pode, inclusive, concluir auditorias internas de declarações mediante despachos

decisórios.

Mas o mesmo o item 5.9 da Nota Cosit-E nº 94/2015 se mostra inconsistente, sob o ponto de vista

legal, no que tange à caracterização do cargo de Auditor-Fiscal. Senão vejamos:

Nota Cosit-E 94/2015

5.9. É o Auditor-Fiscal (servidor fiscal de que trata o art. 37, XIII, da CF/88) a autoridade

administrativa, no âmbito federal, de que tratam os arts. 142, 149, 194 e 196 do Código

Tributário Nacional (CTN), de modo que quaisquer mudanças que afetem tais dispositivos

devem ser tratadas por meio de lei complementar, conforme art. 146, III, da CF/88.

O inc. XIII do art. 37 da CF diz:

XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o

efeito de remuneração de pessoal do serviço público

Vamos imaginar que o “parecerista” tenha se atrapalhado com algarismos romanos e tivesse

intencionado citar outro inciso do art. 37, o XVIII, a saber:

XVIII - a administração fazendária e seus servidores fiscais terão, dentro de suas áreas de

competência e jurisdição, precedência sobre os demais setores administrativos, na forma da

lei.

Ora, se a administração fazendária tem a precedência, seus servidores, vinculados ao exercício das

atribuições do órgão, não a teriam também, independentemente de serem “fiscais”? É óbvio que sim.

E isso os torna alguma “autoridade”? É óbvio que não. E porque consta expressamente “e seus

servidores fiscais”? Naturalmente, para expressar que a atividade de fiscalização exige uma maior

evidência dessa precedência. Nada mais do que isso.

A autoridade administrativa recai sobre quem tem o poder de decidir, vincula-se ao cumprimento da

atribuição do órgão público, portanto não é coisa inerte, reservada. A não ser que a autoridade resida

na natureza de um órgão singular, como se constituem os juízes de direito, autoridades em si, coisa

muito distante do que tratamos em tela.

Vejamos se a autoridade do auditor-fiscal está expressa no CTN:

Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário

pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a

ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável,

calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a

aplicação da penalidade cabível.

Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob

pena de responsabilidade funcional.

.................................................................

Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos

seguintes casos:

(...)

.................................................................

Art. 194. A legislação tributária, observado o disposto nesta Lei, regulará, em caráter geral,

ou especificamente em função da natureza do tributo de que se tratar, a competência e os

poderes das autoridades administrativas em matéria de fiscalização da sua aplicação.

.................................................................

Art. 196. A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligências de

fiscalização lavrará os termos necessários para que se documente o início do procedimento,

na forma da legislação aplicável, que fixará prazo máximo para a conclusão daquelas.

Não está em lugar algum citado pela Nota Cosit-E 94/2015. Há uma inversão interpretativa. Não se

questiona que o auditor-fiscal, de posse de suas prerrogativas legais e em exercício das competências

do fisco exerça efetivamente sua autoridade administrativa. Mas o que é inarredável é a autoridade

do fisco, que pode acometê-la ao Auditor-Fiscal e, também, ao Analista-Tributário.

Qualquer entendimento em sentido contrário - que somente o Auditor-Fiscal é a autoridade

administrativa para exercer auditorias internas em declarações, por exemplo - implica em se rever

todas as atividades executadas por Analistas-Tributários no âmbito das X-Cat e das ARF, tais como: a

revisão ou cancelamento de declarações apresentadas e de seus débitos confessados pelo sujeito

passivo, inscritos ou não em Dívida Ativa da União, decorrentes de confissão em declaração

apresentada pelo sujeito passivo; análise de Malha (valor) de Guia de Recolhimento do FGTS e

Informações à Previdência Social – GFIP e de Malha (valor) de Declaração de Débitos e Créditos

Tributários Federais – DCTF; e auditoria interna de declarações (como de DCTF, relativa às

informações indevidas ou não comprovadas sobre pagamento, parcelamento ou suspensão de

exigibilidade).

Para elucidarmos nossa situação, portanto, devemos prosseguir em nossas questões:

4. A ADMINISTRAÇÃO ENTENDE QUE O CARGO DE AUDITOR-FISCAL DA RFB CONSTITUI POR SI

SÓ AUTORIDADE ADMINISTRATIVA, DESVINCULADA DAS ATRIBUIÇÕES DO ÓRGÃO? SE

AFIRMATIVA A RESPOSTA, ESTA AUTORIDADE PESSOAL, E NÃO ORGÂNICA, NÃO SE

COLOCARIA FORA DE QUALQUER POSSIBILIDADE DE DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIA?

PODEMOS ENTÃO INFERIR QUE TODOS OS ATOS PRATICADOS POR ANALISTAS-TRIBUTÁRIOS

RESERVADOS PELO CTN À AUTORIDADE ADMINISTRATIVA SÃO NULOS DE VALIDADE E,

PORTANTO, A ADMINISTRAÇÃO TEM POR OBRIGAÇÃO REVÊ-LOS, SOB PENA DE

PREVARICAÇÃO?

Continuemos com a análise da Nota Cosit-E nº 94/2015:

Nota Cosit-E 94/2015

5.7.3. (...) O termo despacho é genérico, não corresponde exatamente a uma Decisão, mas

pode abrangê-la (…)

..................................................................

5.7.6. (...) Primeiro, verifica-se que o termo “despachos” é abrangente. Numa interpretação

mais larga, poderia abranger até a própria decisão, o que é incoerente. Se for feita uma

interpretação mais restritiva, equivalente ao do processo civil judicial, o dispositivo é

inócuo, pois evidentemente o Analista já pode proferir despacho de mero expediente.

Há nesses itens uma imprecisão. Talvez a mesma que impeça a administração de firmar posição sobre

julgamentos administrativos que têm anulado despachos dos quais Analistas-Tributários participaram.

Temos que voltar, preliminarmente, à Portaria RFB nº 1.098/2013, que introduziu entre as funções

aptas a emitir “despacho decisório” o cargo de Auditor-Fiscal. A iniciativa, parece evidente, corrobora

a tese corporativa que expande o conceito de “decisão” à qualquer formalização de convicção

exarada em processo administrativo no âmbito da RFB, seja ele sob o rito do PAF (disciplinado pelo

Decreto nº 70.235, de 1972) ou não.

Está errado. A própria nota Cosit afirma que esta formalização de convicção, cuja única forma prevista

pela RFB é o “despacho decisório” pode e já é amplamente realizada pelo Analista-Tributário.

Decisão, em sentido estrito, se reporta ao regimento interno, atrelando-se à competência dos

titulares das Seções, Delegacias, Coordenações, entre outras unidades funcionais (que podem delegá-

la), ou indicam propriamente a decisão em processo litigioso, só cabível após a instauração do

contencioso, atribuição privativa do Auditor-Fiscal.

Essa é uma das questões mais urgentes a se resolver na Receita Federal, afinal:

5. QUAL A DISTINÇÃO A SER FEITA ENTRE “DECISÃO” E “DESPACHO DECISÓRIO”? O DESPACHO

DECISÓRIO INCLUÍDO EM PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL EM FASE ANTERIOR Á

INSTAURAÇÃO DE CONTENCIOSO É DE COMPETÊNCIA PRIVATIVA DO AUDITOR-FISCAL? NO

CASO DE RESPOSTA AFIRMATIVA, OS DESPACHOS DECISÓRIOS EXARADOS NESSES

PROCESSOS POR ANALISTAS-TRIBUTÁRIOS RESTAM SEM VALIDADE? E QUANTO AOS

DESPACHOS DECISÓRIOS EXARADOS NOS DEMAIS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS, OS

QUAIS TRATAM DE PARCELAMENTO DE DÉBITOS, REVISÃO DE DECLARAÇÃO PRESTADA

PELO SUJEITO PASSIVO, HABILITAÇÃO DE CRÉDITO DECORRENTE DE AÇÃO JUDICIAL

TRANSITADA EM JULGADO, HABILITAÇÃO NO SISCOMEX E ATÉ DE REGULARIZAÇÃO

CADASTRAL? TAMBÉM SÃO DE COMPETÊNCIA PRIVATIVA DO AUDITOR-FISCAL? TAMBÉM

ESSES DESPACHOS DECISÓRIOS, EM CASO DE RESPOSTA AFIRMATIVA, EXARADAS NOS MAIS

DIVERSOS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS QUE NÃO SEGUEM O RITO DO PROCESSO

ADMINISTRATIVO FISCAL, DISCIPLINADO PELO DECRETO Nº 70.235, DE 1972, RESTAM SEM

VALIDADE?

Outro ponto acerca da Nota Cosit-E nº 94/2015:

Nota Cosit-E 94/2015

5.7.6.4. Por fim, é temerário também que processos de reconhecimento de benefício fiscal

possam ser realizados por Analista-Tributário. Tal análise é bastante complexa, envolvendo

investigação prévia e posterior sobre o enquadramento do sujeito passivo nas hipóteses

descritas na lei que dá o benefício. Tal análise necessariamente gera consequência em

eventual lançamento de crédito tributário, tornando-o vinculante ao Auditor-Fiscal, o que

gera mais uma incongruência.

Rapidamente, devemos deixar claro o que já é público e notório: a análise de reconhecimento de

benefício fiscal não é nem um pouco complexa. O reconhecimento ao direito de isenção de IPI/IOF,

por exemplo, até 2008 era feito por Analistas-Tributários, com segurança e eficácia. Os colegas

verificavam a documentação e a qualificação do contribuinte ao benefício e propunham suas

conclusões ao Delegado, ou ao Chefe da X-ort, quando delegada a competência.

Em 2008, as duas Instruções Normativas que tratam do tema, uma relativa aos deficientes e outra aos

taxistas, foram modificadas com a adição de um parágrafo em seu artigo primeiro, tornando privativa

ao Auditor a participação no processo. O resultado disso foi a instalação do caos. Hoje, depois de

muitas idas e vindas, e de graves prejuízos à sociedade, sem contudo se desfazer a reserva de

competência, o assunto é tratado na 6ª Região Fiscal, por exemplo, por uma equipe de trabalho

remoto, que demanda mais servidores e que não repete a mesma eficiência da atuação pregressa à

manobra infralegal.

Esse caso é a demonstração cabal do absurdo processo de usurpação das atribuições do órgão para

um cargo, sem o menor compromisso com o interesse público. Interessante o que se escreve em

outro item da Nota:

Nota Cosit-E 94/2015

5.8. Por outro lado, a Receita Federal do Brasil tem feito grande investimento em gestão por

processos (mapeamento e modelagem de processos) que, dentre outros benefícios, tornará

ainda mais claro quais as atividades passíveis de serem desenvolvidas pelos Analistas

Tributários, em conformidade com o regulamentado nos artigos 3º e 4º do Decreto nº 6.641,

de 2008. O que ocorre, de fato, é que há diversas atividades a serem desenvolvidas pelos

ocupantes desse cargo que sequer podem ser plenamente executadas pela carência de

servidores. Acrescer-lhes competências prejudicaria ainda mais o pleno e eficaz exercício de

atividades que hoje já devem ser desenvolvidas por eles.

Será que a alegação em grifo implica, verdadeiramente, algum impedimento para melhor distribuição

de atribuições entre os cargos da Carreira Auditoria? Quantas atribuições do órgão já foram

sequestradas para o cargo de Auditor-Fiscal em prejuízo da instituição, de seus demais servidores e

com efeitos negativos ao erário? Até quando vamos suportar que o lixo normativo se sobreponha ao

bom andamento da instituição? Se a preocupação da Cosit se reporta ao pleno e eficaz exercício das

atividades do órgão, deve antes de mais nada externá-la aos representantes dos Audiores-Fiscais, que

têm buscado apenas o “poder fazer”, sem qualquer compromisso com o “fazer, de fato”.

Nota Cosit-E 94/2015

5.7.8. Art. 6º, inciso II, alínea “e”: A atividade de orientar o sujeito passivo no tocante à

interpretação da legislação tributária está disciplinada na Lei 9.430, de 1996, sendo que essa

interpretação vincula o consulente e toda a RFB. A alteração proposta implica um Analista

definindo a interpretação da legislação tributária, o que é incompatível. (Redação dada

pela Nota Cosit-E nº 108, de 14 de abril de 2015).

Outra confusão proposital que se faz, no sentido de supervalorizar o trabalho do Auditor e de

desvalorizar o dos demais servidores, é tentar equivaler solução de consulta, atividade privativa do

Auditor, à orientação sobre legislação tributária.

Ora, quando um Analista-Tributário, no ambiente de atendimento, analisa a vida fiscal do

contribuinte, aponta seus erros contábeis, suas omissões principais e acessórias e orienta sobre como

proceder para regularizar sua situação, o que ele está a fazer nada mais é que orientar o contribuinte

sobre legislação tributária aplicada.

O próprio sítio da Receita Federal na internet, elenca as espécies de “Orientação Tributária”:

Auditoria fiscal, cadastros, certidões e situação fiscal, cobranças e intimações, declarações e

demonstrativos, isenções, julgamento administrativo, restituição, ressarcimento, reembolso e

compensação, regimes e controles especiais e senhas e procuração.

A página pode ser acessada através do link: http://idg.receita.fazenda.gov.br/orientacao/tributaria.

Ainda nos Resta a seguinte pergunta: no que é cabível um atendimento de plantão-fiscal fora dos

parâmetros do atendimento? - Em nada. Exceto os processos de solução de consulta, que suspendem

a exigência tributária e devem se vincular a questões controversas da legislação, não há que se falar

em competência privativa do Auditor-Fiscal relacionada à nenhuma outra espécie de orientação

tributária ao sujeito passivo.

Devemos, então, elucidar de forma definitiva uma última questão:

6. A ORIENTAÇÃO AO SUJEITO PASSIVO NO AMBIENTE DE ATENDIMENTO PRESENCIAL OU

VIRTUAL SOBRE LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA APLICADA EQUIVALE À SOLUÇÃO DE CONSULTA?

ENTÃO, ESTAS ATRIBUIÇÕES DEVEM SER PRIVATIVAS DO AUDITOR-FISCAL? HÁ MEIO DE SE

ATENDER AO CONTRIBUINTE SEM QUE SE PROCEDA À ORIENTAÇÃO SOBRE LEGISLAÇÃO

TRIBUTÁRIA?