nota pública br sem aborto

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NOTA PÚBLICA Os médicos abaixo-assinados vimos a público trazer algumas reflexões sobre a Circular 46/2013 do Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgada no dia 12 de março, na qual se propõe a descriminalização do aborto em diversas situações, inclusive, pela simples vontade da gestante, até a 12ª semana de gestação. Como bem pontuou o Dr. Cícero Harada, eminente jurista, foge totalmente à incumbência do CFM realizar manifestação como essa. Permitimo-nos reproduzir trecho de seus esclarecimentos: “A incompetência dessa autarquia de fiscalização profissional, no tocante à matéria, é gritante. Com efeito, a Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, que dispõe sobre os Conselhos de Medicina e dá outras providências,em seu artigo 5º, estabelece as atribuições do CFM, a saber: “a) organizar o seu regimento interno; b) aprovar os regimentos internos organizados pelos Conselhos Regionais; c) eleger o presidente e o secretária geral do Conselho; d) votar e alterar o Código de Deontologia Médica, ouvidos os Conselhos Regionais; e) promover quaisquer diligências ou verificações, relativas ao funcionamento dos Conselhos de Medicina, nos Estados ou Territórios e Distrito Federal, e adotar, quando necessárias, providências convenientes a bem da sua eficiência e regularidade, inclusive a designação de diretoria provisória; f) propor ao Governo Federal a emenda ou alteração do Regulamento desta lei; g) expedir as instruções necessárias ao bom funcionamento dos Conselhos Regionais; h) tomar conhecimento de quaisquer dúvidas suscitadas pelos Conselhos Regionais e dirimi-las; i) em grau de recurso por provocação dos Conselhos Regionais, ou de qualquer interessado, deliberar sobre admissão de membros aos Conselhos Regionais e sobre penalidades impostas aos mesmos pelos referidos Conselhos.” Como se vê, não há previsão que autorize o CFM a apoiar ou não projetos de lei, muito menos dessa natureza. Trata-se de autarquia federal que não pode ultrapassar os limites da autorização legal de competências. Se ela atuasse no âmbito do direito privado, poderia fazer tudo que não lhe fosse vedado por lei, mas regendo-se pelo direito administrativo, há de observar estritamente o que a lei determina. Portanto, a ilegalidade de seu ato é um evidente escândalo que depõe contra a maioria dos dirigentes que fizeram aprovar o apoio ao projeto abortista.” Cientes de que o CFM não nos representa em declaração para a qual não tem competência, desejamos trazer a público nossa total discordância em relação ao mérito da declaração. Sentimo-nos profundamente ofendidos por manchetes de jornais que circularam declarando que “médicos brasileiros são a favor do aborto”. No que nos diz respeito, ratificamos o juramento hipocrático de desempenhar a profissão para o bem do doente, nunca para causar dano ou mal a alguém, segundo o nosso

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NOTA PÚBLICA

Os médicos abaixo-assinados vimos a público trazer algumas reflexões sobre a Circular

46/2013 do Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgada no dia 12 de março, na qual se

propõe a descriminalização do aborto em diversas situações, inclusive, pela simples vontade

da gestante, até a 12ª semana de gestação.

Como bem pontuou o Dr. Cícero Harada, eminente jurista, foge totalmente à

incumbência do CFM realizar manifestação como essa. Permitimo-nos reproduzir trecho de

seus esclarecimentos:

“A incompetência dessa autarquia de fiscalização profissional, no tocante à matéria, é

gritante.

Com efeito, a Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, que dispõe sobre os Conselhos

de Medicina e dá outras providências,em seu artigo 5º, estabelece as atribuições do CFM, a

saber: “a) organizar o seu regimento interno; b) aprovar os regimentos internos organizados

pelos Conselhos Regionais; c) eleger o presidente e o secretária geral do Conselho; d) votar e

alterar o Código de Deontologia Médica, ouvidos os Conselhos Regionais; e) promover

quaisquer diligências ou verificações, relativas ao funcionamento dos Conselhos de Medicina,

nos Estados ou Territórios e Distrito Federal, e adotar, quando necessárias, providências

convenientes a bem da sua eficiência e regularidade, inclusive a designação de diretoria

provisória; f) propor ao Governo Federal a emenda ou alteração do Regulamento desta lei; g)

expedir as instruções necessárias ao bom funcionamento dos Conselhos Regionais; h) tomar

conhecimento de quaisquer dúvidas suscitadas pelos Conselhos Regionais e dirimi-las; i) em

grau de recurso por provocação dos Conselhos Regionais, ou de qualquer interessado, deliberar

sobre admissão de membros aos Conselhos Regionais e sobre penalidades impostas aos

mesmos pelos referidos Conselhos.”

Como se vê, não há previsão que autorize o CFM a apoiar ou não projetos de lei, muito

menos dessa natureza.

Trata-se de autarquia federal que não pode ultrapassar os limites da autorização legal

de competências. Se ela atuasse no âmbito do direito privado, poderia fazer tudo que não lhe

fosse vedado por lei, mas regendo-se pelo direito administrativo, há de observar estritamente o

que a lei determina. Portanto, a ilegalidade de seu ato é um evidente escândalo que depõe

contra a maioria dos dirigentes que fizeram aprovar o apoio ao projeto abortista.”

Cientes de que o CFM não nos representa em declaração para a qual não tem

competência, desejamos trazer a público nossa total discordância em relação ao mérito da

declaração. Sentimo-nos profundamente ofendidos por manchetes de jornais que circularam

declarando que “médicos brasileiros são a favor do aborto”.

No que nos diz respeito, ratificamos o juramento hipocrático de desempenhar a

profissão para o bem do doente, nunca para causar dano ou mal a alguém, segundo o nosso

NOTA PÚBLICA

entendimento e poder. O aborto, sem eufemismos, elimina a vida humana e,

consequentemente, afasta a dignidade no exercício da Medicina.

Os conhecimentos embriológicos comprovam que a vida humana se inicia na

fecundação. Autores como Moore1, Roehm2, Langman3, para citar apenas alguns exemplos,

são unânimes em evidenciar esse fato científico. Como disse Dr. Jérôme Lejeune: «Se um óvulo

fecundado não é por si só um ser humano, ele não poderia tornar-se um, pois nada é

acrescentado a ele.»

Como desconsideramos que um ser humano de 12 semanas de idade gestacional

apresenta a organogênese definida? A sobreposição da autonomia da mulher à dignidade da

vida humana não enfraquecerá a autonomia médica? Como atuar por meio de critérios

subjetivos, se objetivamente a gestante e o feto são pacientes? Como sacrificar um ser

humano saudável e vulnerável, se há soluções éticas para resguardar o princípio da

beneficência?

As alterações propostas na Reforma do Código Penal não “ampliam o rol de situações

onde há exclusão de ilicitude”, mas sim descriminalizam claramente a prática abortiva. A

leitura do caput do art. 128 já evidencia que “não haverá crime de aborto” nos casos

elencados pela decisão. Desta forma, a interpretação dos Conselhos que votaram

favoravelmente (e é importante destacar que não foram todos) não reflete à sociedade

brasileira a proposta em tramitação no Congresso Nacional.

Além disso, causa-nos estranheza que a decisão desconsidere os riscos inerentes à

saúde da mulher associados à prática abortiva e ao trauma pós-aborto. Adicionalmente, não

mencione os dados oficiais do Ministério da Saúde (DATASUS) acerca da mortalidade materna

originadas pela prática clandestina do aborto: no período de 1990 a 2010, em média 90 óbitos

anualmente, sendo que no mesmo período houve 81% de decréscimo na taxa de mortes

maternas por aborto4.

1 Embriologia de K. Moore (7ª Ed, 2004, Elsevier, São Paulo. O início do Desenvolvimento

Humano: Primeira Semana, p.17-47);

2 Embriologia Funcional do Roehn (2ª Ed, 2005, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, Introdução,

p. 1-5)

3 Fundamentos de Embriologia Médica de Langman (2ª Ed, 2005, Guanabara Koogan, Rio de

Janeiro, Introdução, p. 1-5)

4

http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/index.cfm?portal=pagina.visualizarTexto&codConteudo=6

403&codModuloArea=783&chamada=boletim-1%2F2012-_-mortalidade-materna-no-++brasil

NOTA PÚBLICA

Cientes de que essas mortes não são insignificantes para quem tem o dever

profissional de promover a vida humana, entendemos, entretanto, que não se justifica a

concordância dos Conselhos à proposta de Reforma do Código Penal, em nome dos 400 mil

médicos brasileiros, em detrimento das inúmeras vidas humanas, mulheres e crianças, que

serão ceifadas caso o projeto de lei seja aprovado.

Desta forma, apresentamos publicamente nossa discordância em relação à decisão

tomada no I Encontro Nacional de Conselhos de Medicina 2013, realizado de 6 a 8 de março,

em Belém (PA).

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