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Projeto de Extensão Universitária MAIS Gente e Livros: Caixinhas Viajantes no Mundo Fantástico da Literatura.

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Page 1: Nosso Caderno de Receitas: Gente e Livros na Cozinha
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NOSSO CADERNO DE RECEITAS

Page 3: Nosso Caderno de Receitas: Gente e Livros na Cozinha

PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIAMAIS Gente e Livros: Caixinhas Viajantes no Mundo Fantástico da

Literatura

NOSSO CADERNO DE RECEITAS: GENTE E LIVROS NA COZINHA

Subprograma Apoio às LicenciaturasPrograma de Extensão Universitária Universidade Sem Frontei-

ras – USFSecretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

- SETI

Setor de EducaçãoPró Reitoria de Graduação – PROGRAD e Pró Reitoria de Exten-

são e Cultura – PROECPrograma de Extensão “Qualifi cação de Professores Alfabetiza-

dores”Universidade Federal do Paraná – UFPR

Curitiba, novembro de 2010

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Ficha técnica

Autores:Ana Luiza Suhr Reghelin, Andressa Machado Teixeira, Bruna Fialla Alves, Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves, Fabiana da Cunha Medeiros, Karla Fernanda Ribeiro Neves, Juliana Beltrão Leitoles, Jú-lio Cezar Marques da Silva, Liliane Machado Martins, Luciane Fabiane dos Santos, Márcia Tarouco de Azevedo Rocha, Rosicler Alves dos Santos, Valéria Zimermann de Morais

Ilustrações:Ana Luiza Suhr Reghelin

Capa:Miriam Fialla

Diagramação:

Felipe Meyenberg

Revisão:Bruna Fialla Alves

Assistente de Organização:

Bruna Fialla Alves

Organização:Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves

Prefácio:Carmen Sá Brito Sigwalt

Apoio:SETIUFPR

Tiragem:300 exemplares

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Aos professores

Page 6: Nosso Caderno de Receitas: Gente e Livros na Cozinha

Muito Obrigado!

À Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior - SETI,

À Universidade Federal do Paraná - UFPR,

Às pessoas das comunidades atendidas, escolas e outras insti-tuições parceiras,

Aos que se dedicam à literatura e à educação,

Aos nossos amigos e familiares,

Aos livros que lemos e às histórias que ouvimos contar.

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Índice

Primeira Parte

Capítulo 1 – MAIS escola

Capítulo 2 – MAIS dos livros

Capítulo 3 – MAIS gente

Capítulo 4 – MAIS das histórias

Capítulo 5 – MAIS viajantes

Segunda Parte

Capítulo 1: Matéria prima“Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”Listagem das “caixinhas viajantes” e do acervo do projeto; sobre os livros em uso e as narrativas de histórias de vida

Capítulo 2 - Dentro do cozinheiro: anatomia funcional do que não apa-rece, mas aparece na arte de fazer comidaQualidades do contador de história; reflexões autobiográficas de quem ama literatura

Capítulo 3 - História encontra histórias ou Comendo no mesmo pratoDepoimentos de integrantes do projeto da Universidade e da Comunidade

Capítulo 4 - Contar e (des) cansar é só começar: descascando em plena sala de aulaRecursos externos e outras maneiras de contar histórias

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Capítulo 5 - A massa desandou... virou virado!Experiências com o inesperadoSituações-problema no projeto e o que se pode aprender com elas

Capítulo 6 - Culinária exótica: literatura FORA da sala de aulaEntrevistas com quem atua em hospital, brinquedoteca na clínica, brin-quedoteca escolar e livraria especializada

Capítulo 7 - Mestres-cuca e seus narizes hiperdesenvolvidos: o que eles nos contamMAIS entrevistas: contadora de histórias, escritor que ilustra e ilustrador que escreve.

Capítulo 8 - Aprimorando o gosto: cozinheiros mirinsPráticas criativas protagonizadas pelos jovens leitores

Capítulo 9 - Pesquisa: em busca de iguariasSobre intertextualidade e auto-reconhecimento

Capítulo 10 - Em nossa cozinhaIntegrantes da equipe, parceiros e outros colaboradores do projeto; nú-meros e curiosidades

Referências

Apêndice Receitas do nosso cardápio!Materiais confeccionados, testados e aprovados

Antes de recolher os pratos

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Prefácio

Carmen Sigwalt

Acredito que é na infância que se desperta o gosto pela literatu-ra, mas para isso é necessário o incentivo de familiares e professores. Dentro desta perspectiva nasceu o “Projeto Gente e Livros: caixinhas viajantes no mundo fantástico da literatura”, que teve sua criação graças ao desenvolvimento de outro projeto, chamado “Os Livros Criam Asas”, realizado no país africano São Tomé e Príncipe com o apoio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e do Ministério de Relações Exteriores. Em parceria com o Ministério da Educação, o projeto foi desenvolvido através de três universidades: Universidade Federal do Paraná, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Os participantes deste projeto foram responsáveis por implan-tar, orientar, acompanhar e avaliar cem turmas – composta de jovens e adultos - em processo de alfabetização e letramento. Durante o processo de formação inicial e continuada dos professores foi prio-rizada uma concepção de língua que os levasse à adoção de uma metodologia que contemplasse não apenas a dimensão gráfica do processo de alfabetização, mas também atendesse à necessidade de garantir um processo de letramento dos professores e alfabetizan-dos. Esta metodologia teve como ponto de partida o trabalho com textos significativos - que possibilitassem a compreensão do proces-so de leitura e produção de texto, a função social do letramento e da escrita, o interesse pela aquisição dessas habilidades e o domínio sistemático do código da língua portuguesa.

Durante a realização do projeto percebemos que o trabalho só se complementaria com a criação de condições de leitura para os alunos e professores, por isso implementamos um projeto de litera-tura que disponibilizou um acervo com obras de autores brasileiros, portugueses e africanos. As caixinhas de literatura circularam pelo pequeno país, e graças ao resultado altamente satisfatório desta ini-ciativa nasceu o desejo de criar um projeto semelhante no Brasil.

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Com a criação do Programa Universidade Sem Fronteiras - pela Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (SETI) – eu (professo-ra de Pedagogia da UFPR), Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçal-ves (recém formada em Pedagogia) e Martha Cristina Zimermann de Morais (aluna do mestrado) nos unimos para a elaboração do “Projeto Gente e Livros: caixinhas viajantes no mundo fantástico da literatura”. Conhecimento, amor à literatura e o desejo de atuar no contexto educacional nos uniram para concretizar esta idéia. Com isso foi possível tornar realidade o sonho de buscar incentivo à leitu-ra através da qualificação docente e de oficinas pedagógicas desen-volvidas com alunos de escolas públicas. Já no inicio do projeto foi possível ampliar a equipe com a seleção de novos alunos de gradua-ção - com perfil adequado ao projeto - e também com alunos recém formados, dentro das características exigidas.

Realizamos as primeiras intervenções nos municípios do Vale do Ribeira, pois apresentavam um dos IDH’s (Índice de Desenvolvi-mento Humano) mais precários dentre todos os outros municípios paranaenses; a questão educacional também aparecia como proble-mática. Posteriormente privilegiamos o município litorâneo de Gua-raqueçaba e a cidade de Piraquara - ambas apresentavam indicati-vos de desenvolvimento bastante limitados.

A repercussão do projeto e o empenho da equipe em ampliar a socialização desta iniciativa possibilitaram que fôssemos além do atendimento inicial previsto e pudéssemos atuar em escolas públicas de Curitiba, em um Centro Municipal de Educação Infantil, em uma escola particular de Educação Infantil e na Casa Amarela – espaço da Funpar e, posteriormente, da UFPR para atendimento de crianças portadoras de necessidades especiais. O sucesso do projeto se deve ao empenho de pessoas e instituições que acreditam na literatura.

Foi necessária a desconstrução de todo o projeto para recons-truí-lo no formato de um livro. A obra - recheada com poemas, con-tos, canções, aperitivos, jogos, brincadeiras, receitas e depoimentos pessoais - é resultado de todo o desenvolvimento do projeto. Os alunos e ex-alunos, percorrendo diferentes caminhos, destacam a importância do incentivo à leitura. Com muita propriedade conheci-

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mento e poeticidade, nos fazem percorrer uma história de sucesso e comprometimento. Uma história que nos mostra o quanto somos capazes de contribuir para a construção de uma nova sociedade – a partir de uma escola séria, sem ser triste – em que a verdadeira alegria está no acesso ao conhecimento; e na qual a leitura e a es-crita representam instrumentos básicos – ferramentas fundamentais – para uma sociedade letrada.

Sinto muito orgulho “dos meus meninos e das minhas meninas”, autores desta obra.

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Apresentação

Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves

Há quem diga que as pessoas buscam receitas. Há quem troque receitas. E também aqueles que distinguem o que é essencial do que é ornamento; do que faz da refeição mais que um alimento, uma iguaria.

Na terceira edição do projeto de extensão universitária “Gente e Livros”, a gente temperou um pouquinho MAIS. Além de promo-ver formação continuada de docentes, fazer intervenções nas salas de aula - com alunos e professores (e, vez ou outra, também com familiares) -, e entregar um kit de livros - as “caixinhas viajantes” - em cada escola municipal pelos municípios por onde já passou, o projeto “MAIS Gente e Livros” ousou desenvolver um jogo, um DVD e um livro que contemplassem um pouco do que já cozinhou, trocou e provou de literatura na escola e na comunidade. Tudo isso para contribuir com a formação de leitores desde as séries iniciais do ensino fundamental, nas quais o ensino formal é direito e dever em nosso país.

A primeira parte do livro traz produções da equipe, inspiradas nas experiências de mundo e de leitura que o projeto proporcio-nou. Na segunda parte, há escritos que variam muitíssimo em gê-nero, número e grau. Com o cuidado de oferecer uma variedade em nosso cardápio, oferecemos depoimentos sobre os encontros; dicas sobre o uso da literatura em sala de aula; entrevistas com autores, ilustradores, contadores e com quem usa o livro em outros espaços que não a sala de aula; preciosidades em relação à pesquisa e com-posição de textos; além de saborosas informações sobre os livros, as parcerias e a equipe. De sobremesa, materiais desenvolvidos e aprovados pelo projeto que podem ser úteis a outros cozinheiros de contações e criações de histórias. Tudo com o visual para favorecer, realizar e enriquecer a degustação.

Seja porque as narrativas são alimento para a alma; seja pela liberdade de gostar, desgostar e escolher que a literatura e a culiná-

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ria compartilham; ou pelas incontáveis comparações que tanto nós quanto muitos autores (como Marta Morais da Costa e Jorge Larrosa Bondía) já fizeram entre a comida e o leitor, NOSSO CADERNO DE RECEITAS percorre os caminhos da literatura na cozinha. Pois sabe-mos que não há uma só receita na educação, mas há ingredientes essenciais. Para fazer bolo de chocolate é necessário chocolate; as-sim como para alfabetizar são necessários textos, letras, palavras. E, para formar leitores, gente, histórias e livros (muitos deles!) são igualmente fundamentais.

Bom apetite.

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Primeira Parte

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Capítulo 1 - MAIS escola

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

ABANDONADA, EU Minha mãe não chegaMeu pai também não,e saber que estou com fomeMe dói o coração! Já é tarde...Estou há muito tempo na escola,Queria ir pra casaE tomar uma Coca-cola. Minha mãe diz que sou lentaNa hora da saídaMas na hora da saída,Não posso ser esquecida! Primeira poesia de Valeria Zimermann de Morais, 1997- 11 anos, espe-

rando os pais na saída da escola.

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Da cara... o quê?

(Pra cantar no embalo da cara preta)

Pro-fes-so-raDa cara bravaTanto franziu a testaQue só ruga eu enxergava

Não adiantaEssa cara de espantoQuanto mais eu ousoMais dessa canção eu canto

Pro-fes-sorDa cara amarradaNem quando eu crescerEu mato essa charada

Não adiantaEssa cara de tachoSe adulto é ser assimEu não cresço, eu me agacho!

Meu a-mi-goDa cara traquinaSó de olhar pro outroÉ que a gente já combina

Sim, adianta!Dar a cara a tapa!Pra encontrar princesaVai beijar de sapa em sapa!

MAIS escola

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Mi-nha a-mi-gaDa cara sem-vergonhaPergunta o que quiserCom a resposta a gente sonha

Sim, adianta!Essa cara-de-pau!Pó de pirilimpimpimpra encantar o lobo mau!

Camila S G Acosta Gonçalves28/02/2010

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Nau do professor

Andressa Machado Teixeira

(cantiga para ciranda)

Quando ouviu o canto da sereia minha turma se animouQuando ouviu o canto da sereia minha turma se animou

Foi a vela do barco pirataque o vento soprouFoi a vela do barco pirataque o vento soprou

Se a maré subisse eu não olhavaqual o ponto que eu estouSe a maré subisse eu não olhavaqual o ponto que eu estou

Pego a bússola e boto no bolsopra qualquer canto eu vouPego a bússola e boto no bolsopra qualquer canto eu vou

Se eu vejo todos de mãos dadas a giraré o balanço forte pro meu barco marejareu entendo muito de saudade e de amormas quando se forem não me esqueçampor favor...

MAIS escola

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Capítulo 2 - MAIS dos livros

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Se eu fosse uma vaca e soubesse voareu ia em sua janela pra você me mostrar pro seu pai, pra sua mãe, sua avó e professoraque nem aquela bruxaque tem uma vassoura

Andressa Machado Teixeira

MAIS dos livros

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Repenti du Lobo

(inspirado na “Verdadeira História dos Três Porquinhos”)

Muito boa tarde, minha sinhoraBoa tarde, meu senhôE pra todas criancinhaQue são os anju do Senhô

Vim aqui contá uma históriaque foi é muito mar contadaFala sobre três porquinhoE umas casa derrubada

Pois intão vô lhes dizêA verdadera versãoTenho nada pra escondêI o curpado fui eu não

Tava cuma gripe das bravaCuma fome de leãoFui pidi um bucad’i açúcraPruns vizinho di prantão

Eu bati i eu chameiMas ninguém respondeu, nãoEu, gripado, ispirreiI a casa foi pru chão

O vizinho eu avisteiTava morto o Seo LeitãoMal passado eu o devoreiPra num morrê di inanição

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MAIS dos livros

E os cumpadi qui mi ouvePois intendam muito bemTava doente e cum fomeE eu num matei ninguém

Foi só uma devoraçãoEu vô dizê pra vocêVeja bem, juntô a fomeCô a vontadi di cumê

E as cumadre qui mi iscutaJá falei, vô repetiEu, gripado, sem açúcraFui pr’otro vizinho pidi...

Acredite se quiséEu sô um lobo di bemIspirrei, caiu a casaComi o otro vizinho tamém...

Morto qui nem o primeroO segundo tava láE eu ainda sem açúcraPra modi tomá meu chá!

Di um mal eu num padeçoEu vô dizê pra vocêNum suporto disperdícioPor isso tive qui comê!

Foi meu pai qui m’insinôA num deixá nada no pratoMas di nada me adiantôIxpricá pru delegado...

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Pois é qui a minha famaTava ruim pra chuchu!Eu divia é tê deixadoOs porco pros urubu!

Quando menos isperavaVi minha foto nu jornalMuito mi caluniavaMi chamand’i Lobo Mau!

Criancinhas num si inganeIsso foi difamaçãoEu num sô um lobo infameEu num sô ninhum vilão!

Essa é minha versãoNum tirei i nem ponheiÉ verdade verdadêraNum iscondi n’ixagerei!

Eu aqui atrás das gradeIsso muito m’indiguinaSem açúcra, sem melado...Nessa xícra Severina

Voismicê qui mi iscutaFaz favor di ispaiáTem história i tem nutíciaQui tem qui disconfiá!

Pela iscuta eu agradeçoCada um tem qui jurgáMas di açúcr’indá pereçoPra modi tomá meu chááááá!

Alexandre A. Lobo cantou pra Camila S G Acosta Gonçalves

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MAIS dos livros

CARTILHA RAPIDOPOLINA

FArofaFERraduraFIasco ouFORmosuraFUrou o esquema do felpudo orelha trêmula...

FELPO FILVAFamoso escritorFicou de orelha em péFoi com as cartas da Charlô

“XArope CHEIra pum!CHINchilhosa”, ele pensou.CHOcado e quase azul comCHUmaço de cartas dessa fã...

CHARLÔ PASPARTUSHOW de classe e destremidaCHAmusca o sentimentoX-salada a sua vida!

FOmentando a relaçãoCHOcolate e açafrãoFIcam os dois a dialogarCHIMbalando se encontrarFUzuê com um postalCHUva faz o festivalFElizmente se enganouCHEga o Felpo até a CharlôFARroupilha estão os doisCHAmejante feijão com arrroz...

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

CHarlote Felpote eFelpô Filvô CharlôFinalmente juntaramXícaras, pires e cobertor!

CHamaram tia Filva,Família, avó, sobrinhasFirmaram matrimônioCHocalhando as ladainhas!

Camila S G Acosta Gonçalves leu, foi à festa do casório e se inspirou.

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MAIS dos livros

Adaptação do livro O Sumiço do Pote de Mel – Milton Célio de Oliveira Filho e Mariana Massarani, São Paulo: Brinque-Book, 2003. Por Bruna Fialla Alves.

O Sumiço do Pote de Mel (diálogo – teatro de sombra)

(urso entra)Urso: Alguém me ajude, por favor! Alguém me ajude!(cachorro entra)Cachorro: Au-au, o que foi? O que foi?Urso: Fui tomar banho na lagoa e quando voltei pra casa meu

pote de mel tinha sumido. Você precisa me ajudar!Cachorro: Fique tranqüilo, eu tenho um bom faro e vou encon-

trar o culpado!(urso sai)Cachorro: É melhor eu começar pela lagoa..(entra o sapo)Cachorro: Olá Senhor Sapo, por acaso o senhor sabe quem

pode ter entrado na casa do senhor Urso e roubado seu pote de mel?

Sapo: Qualquer um, tanto o gato quanto o pato, mas eu des-confio mesmo é daquele rosado que passa a maior parte do tempo sujo de lama.

(sapo sai)Cachorro: Sujo de lama? Mas só pode ser o...(porco entra)Porco: Sinto informar Senhor investigador, mas nesta história

estou limpo. Para desvendar este mistério é só ir atrás de quem gos-ta de uma cenoura e é todo branquinho.

(porco sai)Cachorro: Acho que já sei quem é! (coelho entra)Coelho: Ih, eu não peguei pote nenhum, não! No dia do sumiço

eu estava longe daqui. Mas fiquei sabendo que alguém cheio de listras andou rondando a casa do senhor Urso.

(coelho sai)Cachorro: Animal listrado? Quem pode ser?

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

(zebra entra)Cachorro: Então Dona Zebra, o que a senhora fazia perto da

casa do urso?Zebra: Ora, eu estava apenas fazendo minha corrida matinal,

não entrei na casa de ninguém. Mas enquanto estive por perto ouvi uns miados...

(zebra sai)Cachorro: Só tem um animal que mia, e é o...(gato entra)Gato: Miau! Eu estava perto do lago sim, mas estava atrás de

peixe, não de pote. Mas vi outro felino andando por ali, ele era bem maior que eu e tem uma juba bem grande.

(gato sai)Cachorro: Algo me diz que só pode ser o dono da selva! Melhor

eu ir investigar... (leão entra)Leão: Imagina senhor investigar, não fui eu. Passei o dia todo no

alto da montanha. E de lá pude ver que tinha alguém andando pela selva e não era animal, não.

Cachorro: Não era animal?Leão: Não, era uma menina!(leão sai)(menina entra)Cachorro: Ah, te encontrei! Posso saber por que você pegou o

pote de mel do senhor urso?Menina: Eu só queria um pouquinho do mel, já ia devolver!Cachorro: Espere aí, vou avisar o senhor urso que achamos seu

pote de mel.(cachorro sai)Urso: Oh, quer dizer que acharam meu pote de mel?Menina: Ah senhor Urso, me desculpe. Eu juro que ia devolver

seu pote de mel.Urso: Tudo bem, não tem problema. Dá próxima vez é só pedir

emprestado.

FIM

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MAIS dos livros

Adaptação do livro O Caso das Bananas – Milton Célio de Oliveira Filho e Mariana Massarani, São Paulo: Brinque-Book, 2003. Por Bruna Fialla Alves.

O Caso das Bananas (diálogo – teatro de sombra)

(macaco entra)Macaco: (acaba de acordar) Ai, que soninho bom! Que manhã

linda.. epa, mas cadê minhas bananas? Preciso de ajuda, alguém me ajude!

(coruja entra)Coruja: Epa, roubo é comigo mesmo.. me conte o que aconte-

ceu? Estou pronta pra investigar!Macaco: Ah Dona Coruja, alguém roubou minhas bananas.. Eu

deixei elas aqui ontem a noite e hoje de manhã.. Puf, tinha sumido!Coruja: Caro Macaco, para começar do começo, melhor ouvir a

vítima. Primeiro, me diga: Há um suspeito?Macaco: Dona Coruja, abomino o preconceito, mas.. Soube de

um bicho estranho que veio de muito longe. Não é, pois, destas bandas. Não duvido que tenha escondido as bananas na bolsa que trazia na barriga.

(macaco sai)Coruja: Ah, bolsa na barriga, é? Tem caroço nesse angu. Vamos,

então, ouvir...(canguru entra)Canguru: Essa história já conheço. Só por ser um estrangeiro

já viro logo suspeito. Pois digo. Digo e repito: Nesta mata há um tipo ainda mais esquisito, com um rabo bem fornido, tal e qual uma lagartixa multiplicada por quatro.

(canguru sai)Coruja: Ora, rabo bem fornido? Lagartixa bem grande? Ah,

agora eu desvendo esse mistério. Quero ter uma conversa com..(lagarto entra)Lagarto: Dona Coruja, eu não tenha nada com o pato. Mas..

tenho um palpite: Quem tapeou o macaco vive muito bem na mata, com seu porte de madame e seu casaco de pintas.

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

(lagarto sai)Coruja: Palpite não conta, mas não custa ir interrogar..(entra onça)Onça: Dona Coruja, tenho cara de malvada, pois quando bra-

va.. Viro mesmo uma onça, mas no fundo sou boa-praça. Não que-ro atirar pedras na vidraça do vizinho. Pense, pense um pouquinho: que bicho aqui desta mata poderia comer tantas bananas sem ficar engasgado? Só mesmo com pescoço comprido, comprido como um gargalo. Um gargalo de garrafa.

(onça sai)Coruja: Mas quem se parece com um gargalo de garrafa é..(girafa entra)Girafa: Das bananas eu nem sabia, juro! Mas o maroto que as

levou deve ser muito ladino com um rabo bem peludo e bigode no focinho.

(girafa sai)Coruja: Ora, ora! Não posso perder a pose. Quero uma conver-

sa com esse sujeito de bigode agora mesmo..(raposa entra)Raposa: Minha cara coruja, sou famosa pela astúcia. Mas meu

negócio são galinhas, vez ou outra umas uvas. E vou lhe dar uma dica: para mim o malandrão é o tal que ostenta juba e nunca perde a majestade.

(raposa sai)Coruja: Juba? Majestade? Esse não me escapa!(leão entra)Leão: Só lambo o beiço por carne. Bananas? Credo. Nem de

graça! Nós, os gatos – grandes ou pequenos – não nos damos com fruta. Para resolver este caso preste atenção na charada: Quem pode subir em árvores, embora não tenha patas?

(leão sai)Coruja: Como é duro o ofício. Mãos a obra, vou correndo atrás

da..(cobra entra)Cobra: Dona Coruja, ouça: Tudo sobra para a cobra, em dobro.

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MAIS dos livros

Dizem que sou uma víbora, mas no caso das bananas, creia, sou inocente. Sem querer ser venenosa, achar o larápio é fácil, só reparar em sua roupa listrada.

(cobra sai)Coruja: Listras? Só pode ser..(zebra entra)Zebra: No dia dos fatos eu estava fora a visitar o cavalo, que é

meu contraparente. Para mim está óbvio: quem mais poderia agarrar o cacho de bananas sem ter uma grande tromba?

(zebra sai)Coruja: Aham, agora eu desvendo o caso das bananas!(elefante entra)Elefante: Dona Coruja, pouco uso minha tromba de uns tem-

pos para cá, pois ando resfriado. Se quiser saber de tudo consulte quem tudo viu e quem tudo vê lá do alto.

(elefante sai)Coruja: Acho que já sei quem vai me cantar esse mistério..(passarinho entra)Passarinho: Vi sim, e vi muito bem o macaco acordar esfome-

ado no meio da madrugada e comer uma, duas e até três bananas de uma única vez. Até acabar com o cacho todo. Mas o coitado não sabia, pois, enquanto comia, roncava.

(passarinho sai)Coruja: O mistério chega ao fim, sem muito pano pra manga. O

meu compadre guloso é... Sonâmbulo!

FIM

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Capítulo 3 - MAIS gente

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Mais GENTE e livros

Mais uma vez por estradas tortuosasAndaram os viajantesImpulsionados por suas vontades virtuosasSaem em direção ao seu destino, mesmo em dias trovejantes Galopam por entre as estradas Escrevendo novas histórias a serem contadasNão imaginavam que nessas andançasTantas experiências vividasEnredariam no livro de suas vidas tantas mudanças E agora? Leva vento mais uma históriaInvade e explora cada canto da memóriaVai levando essas lembranças flutuantesRisos, alentos, esperanças cintilantesOuçam os gritos e os apelos de glóriaSaiam mais uma vez –personagens- dessas caixinhas viajantes... Júlio Cezar Marques da SilvaCuritiba (com a cabeça em Guaraqueçaba),21 de setembro de 2010

MAIS gente

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

POEMARES

Camila Siqueira Gouvêa Acosta GonçalvesGuaraqueçaba, 30 e 31 de jan/2010

Na conchaQuem vive que nem ostra acaba engolido vivo.

(Lição de Biologia)Ave do mar é peixinho.

Galope na água,cavalo-marinho.

Peixe no ar,passarinho.

MergulhoBem-me-querMal-me-quer.Bem-me-querMar-me-quer:Mar-me-quer-bem!-- TCHIBUM! –

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MAIS gente

Araraquáricas de Piraquara- trava-bico! –

Sobrevoando ora oraPor Piraquara ara araPassei por uma torneiraQue não vaza água agora

Aterrisando ora oraAli na praça ara araAvistei um’ outra araraQue me olhou naquela hora

Sem ponto e vírgul’ora oraÉ exclamada ara araSurpresa de PintassilgoQue poesia e voa embora

Estrada afora ora oraEscolarada ara araPassarinhada na leituraAve! nossa senhora!

Ararizando ora oraEm cachoeira ara araÉ fonte que faz nascerTodo leitor que ri e chora!

Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves Arara

Page 36: Nosso Caderno de Receitas: Gente e Livros na Cozinha

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

No embalo

Fofinho balançoDas asas de um anjo.Viola tocandoE a gueixa dançando.

Charmoso balançoDo rabo de um gato.Flauta sussurrando,Felino ronronando.

Criação de poesia mediada por Camila S G A Gonçalves. Professoras participantes: Joselita Romualdo da Silva, Geniselia Maria Ribeiro dos Reis, Nutzi C. V. Kaisernan, Mariza Ap. Pires Polati, Marili Nunes Cardoso, Luciane Vilar Possebom. Piraquara, 13 de novembro de 2010.

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Capítulo 4 - MAIS das histórias

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Caça ao tesouro

Andressa Machado Teixeira

(estilo bate-mão ou jogos de mão, cantar cada vez mais rápido)

Tinha uma cidade numa ilha a á Tinha uma cidade numa ilha a á

Tinha uma ilha na floresta a áTinha uma ilha na floresta a á

Tinha uma floresta no ocean an anoTinha uma floresta no ocean an ano

Tinha um oceano num planeta a áTinha um oceano num planeta a á

Tinha um planeta e um cometa a áTinha um planeta e um cometa a á

Tinha um cometa e um ET e êTinha um cometa e um ET e ê

Tinha um ET e uma pista a áTinha um ET e uma pista a á

Era uma pista de corrida a áEra uma pista de corrida a á

Era corrida de tartaruga a áEra corrida de tartaruga a á

A tartaruga é muito esperta a áA tartaruga é muito esperta a á

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A criança é mais esperta a áA criança é mais esperta a á

Tinha uma criança numa ilha a áTinha uma criança numa ilha a á Era ilha do pensamento to tôEra ilha do pensamento to tô

MAIS das histórias

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Flores para a avó

Camila S G Acosta Gonçalves

Uma meninaLá na florestaColhendo floresPra dar pra sua avó...

Mal ela sabia quem estava a espiarUm velho lobo já pensando no jantar

A menina não seguiu o conselho“Não pare no caminho e nem fale com estranhos!”,Disse a mãe da Chapeuzinho Vermelho.

O lobo um plano traçouPor chapeuzinho ele passouA vovó ele devorou e passando uma ladainhaDe sobremesa ele engoliu a netinha!(óóóóóóóóóóhhhhhh)

Um caçador -- atento como ele só!—Enfrentou o terrível lobo E salvou a chapéu e sua avó!

A vovó desesperadaQuase não sabia de nadaFicou na barriga do loboCom o que ele comeu na noite passadaE ao ser resgatadaViu sua camisola toda usada!

* essa é uma canção aditiva, na qual pode-se repetir os versos e acrescen-tar o verso seguinte à vontade.

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Capítulo 5 - MAIS viajantes

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Longe do querer dizer eEnquanto durar o ócioInventado entre umaTarefa e outra (agora ex-passadas),Uma valenteRapariga encontra novo mundoAo alcance dos dedos.

Camila S G Acosta Gonçalves, 02/01/2010

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Eternidade

Era uma tarde de sol, numa rua tranquila. Estava sentada no fio de luz uma dupla de pardais, estavam lado

a lado. Realizavam longo diálogo, um deles aproximou-se um pouco, o outro recuou.

Na eternidade de tempo dos passarinhos o primeiro arriscou aproximar-se um pouco mais.

Tanto fez que conseguiu permanecer junto, bem juntinho ao outro por largo tempo... dentro da lógica dos pardais.

Foi uma eternidade linda. E a conversa entre os dois continuava, até que o segundo novamente se esquivou, o diálogo entre os dois esquentava.

O segundo, nervoso, lançou vôo e passou para o outro fio do poste de luz da rua tranquila numa tarde de sol. Agora, um pouco distante do primeiro pardal.

E naquela eternidade pardaica apareceu outro pardal, um ter-ceiro (...) e sentou-se ao lado do segundo. Ficaram mais uma peque-na eternidade ali no outro fio, sabe-se lá o que falavam...

O primeiro, isolado, não aguentou e foi ter com a nova dupla.O segundo, muito irritado, lançou vôo, desta vez rumo ao céu...

será que volta?Os outros dois pássaros ficaram sentados no mesmo fio de luz,

bem separados entre si, num profundo silêncio!Assim, durante um eterno tempo de pardal!

Juliana Beltrão Leitoles18/01/2010

MAIS viajantes

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Histórias para Esquecer

Ana Luiza Suhr Reghelin

Há algum tempo carrego comigo este cesto, é por ele que pas-so os dias a falar com gente. Gente alta, gente baixa, gente rica, pobre, alegre e triste. Toda essa gente me ajuda, assim como ajudei alguém tempos atrás.

Era uma viagem. Viagem que fazia só, ia de um lugar longe para um lugar distante. No meio deste caminho, quando o sol já ia baixo e as cores da noite se mostravam, encontrei um homem. Gente velha. O ar cansado denunciava mais do que a sua idade, mostrava o cansaço dos olhos e da alma. Parei e ofereci a metade do pão, da carne e das uvas que trazia comigo. Alimentou-se sem dizer palavra.

Seu olhar cansado fixou-se em mim e após um tempo sua fala cansada disse: “Me ajude a esquecer!”

“Esquecer?” [Pensei eu] “O que você quer esquecer?”Respondeu: “Tudo!”Aquilo soou forte e pensei ser grave alguém daquela idade que-

rer livrar-se das lembranças de toda uma vida. Vida sofrida, conclui.- Me ajude a esquecer! Continuou o homem. Não consigo es-

quecer, lembro de tudo, cada coisa, cada dia; isso me consome. Já não posso com tudo isso.

Mostrou-me então o cesto que estava aos seus pés. Era grande e estava cheio de lembranças e memórias. Disse que havia muitos daqueles em sua casa e já não havia quase espaço para outros.

Achando aquilo tudo muito simples, praguejei: “Jogue-os fora! Assim irá se livrar de todas essas coisas”.

Com um riso irônico, respondeu: - Já fiz isso quando ainda era moço, fui até o rio mais fundo que

conhecia e despejei todas, até não ver mais nenhuma. Quando voltei para casa lá estavam muitas outras... lembranças das lembranças. Era sempre assim, quando voltava de uma dia de trabalho ou de um bonito passeio, estavam lá cada carro que havia passado, a cor dos olhos de cada moça que havia admirado, a quantidade de passos

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que havia andado, o som de cada palavra dita e ouvida. No inicio era bom, na escola eu era o melhor da turma, lembrava de cada fórmula matemática e de todas as conjugações, sem hesitar. À medida que fui crescendo, as lembranças começaram a pesar e os cestos passa-ram a se multiplicar.

Com a voz irritada e com um gesto forte, continuou:- É impossível viver sem esquecer!Novamente seu olhar fi xou-se no meu: “Me ajude a esquecer!”,

suplicou mais uma vez.Pensei um pouco, ajeitei minhas coisas, sentei ao seu lado e

comecei a esquecer... calmamente...“Esqueci que tinha uma fl or e ela morreu sem água; esqueci da

música que fi z para um amigo que tinha orelhas grandes; esqueci meu dedo na mira do martelo... doeu; esqueci que tive um amor e perdi, quando saí em busca de outro...”

Falei por um tempo, até que olhei e vi que o meu velho dormia, estava com o ar mais sereno, me acomodei na coberta e adormeci também.

Acordei na outra manhã com a luz do sol. Totalmente desperto, olhei ao redor mas não encontrei meu velho, só vi seu cesto e ele estava menos cheio que na noite passada. Pensei que talvez o tivesse ajudado de alguma forma, mas entendi também que ele ainda preci-sava da minha ajuda e levei o cesto comigo.

Ainda hoje ofereço as lembranças do cesto para as gentes que encontro pelo caminho, dou uma ou duas aos mais esquecidos e peço que cada um esqueça uma lembrança e que ajude o meu velho.

O cesto reaparece cheio a cada fi m de tarde, assim continuo sabendo que o meu velho ainda se lembra e de nada se esquece.

MAIS viajantes

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Segunda Parte

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Capítulo 1 - Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...” Listagem das “caixinhas viajantes” e do acervo do projeto; sobre os livros em uso e as narrativas de histórias de vida

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“Se você quiser conhecer alguém profundamente, preste atenção nas histórias que essa pessoa conta, lê ou assiste na televisão ou no cinema. Nossas histórias preferidas sempre falam de nossos maiores segredos,

das emoções mais verdadeiras de nossas vidas, dos nossos grandes sonhos e esperanças.” (prefácio de LÁ

VEM HISTÓRIA OUTRA VEZ, de Heloisa Prieto)

“Antes das sessões de fotos, eu conversava com as cri-anças, para conhecê-las melhor. Descobria como eram

a família e os amigos, a escola e as brincadeiras, e o que fazia cada criança ser especial.” (fotógrafo do livro

CRIANÇAS COMO VOCÊ)

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Das viagens em que não fui...

Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves

... mas das quais ouço falar são muitas!Como uma das integrantes pioneiras do projeto, que participa

desde 2007 e é, portanto, uma das mais antigas ( já condecorada com cabelos brancos sem disfarce), estive em diversas viagens e posso dizer que nenhuma foi, é e nem será igual à outra. E guardo suspiros fortes para viagens em que não estive e afirmo piamente que nenhuma foi, é, e nem mesmo será igual à outra.

Dessas viagens eu degusto os restos, tal qual uma criança que lambe o que sobrou da massa do bolo na cuba da batedeira - mo-vida à mão ou à eletricidade. É a lambida na tampa do iogurte, ou mesmo de um restinho afetuosamente guardado para mim pela equipe caridosa, deliciando-me de palavras, movimentos, brilho nos olhos, expressões belíssimas ou inesperadas - inclusive amargas. Sa-bemos, ora pois, em especial os já de cabelo grisalho como eu, que nem tudo são flores, e até mesmo as mais belas das flores têm seus espinhos, como a “rosa vermelha do meu bem-querer” da ciranda nordestina.

E utilizo meus recursos imaginativos para construir essas via-gens na minha cabeça, encontros que não tive, mas que igualmente quero fazê-los presentes em minha bacia de memórias.

Dessas em que não fui, quero deixar o relato de uma - MAIS ou-tra estratégia para não me fazer esquecer... se é que isso é possível, pois traz aroma tão forte, tão inefável que é séria candidata a estar guardada em meu baú das lembranças eternas de todos os tempos, incluindo os imemoráveis.

Um dos livros da caixinha viajante 2008 é o Asa Branca, de Luiz Gonzaga. É, dele mesmo. Do “rei do baião”. Por esse livro foi paixão à primeira vista, pois as ilustrações são belíssimas, colorindo a letra da canção de Gonzaga pelo talentosíssimo Maurício Pereira – livro editado pela DCL. Como merecida, a canção vira música em uma

Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

partitura para instrumento harmônico (piano, violão) e canto ou ins-trumento melódico (flauta, clarinete, sax, violino...). A poesia é tra-tada com merecida seriedade: escrita timtim por timtim apossada de seu regionalismo, com os acentos dos falantes e cantantes lá do sertão: “quando oiei a terra ardeno...”

Quando fiz a escolha desse livro para a caixinha, não tinha idéia do acontecimento que se desencadearia...

Foi uma professora de Tunas do Paraná quem contou, nessa viagem em que não estive. Ela leu o livro para seus alunos, mostrou as figuras, cantou a música (será que tinha rádio para rodar o CD que lá deixamos com a canção? não sei, prefiro imaginar que ela cantou bem bonito a cappella, e depois os alunos cantaram junto) e emprestou o livro ao aluno que havia lhe pedido.

Seus alunos eram iniciantes leitores de letra, e mestres leitores de mundo. Um pouco eles devem ter aprendido com ela. O outro pouco, com os pais, os tios, os vizinhos, os cachorros, as galinhas, os porcos, os milhos, a terra. E com as outras crianças, é claro.

O menino levou o livro para casa. Ele nem sabia que, antes dis-so, eu já havia me apaixonado pela mesma leitura, pela mesma tira-gem desse exemplar que jazia em suas mãos.

Em sua casa, abriu o livro para o pai ler... o pai lia palavra ne-nhuma!

(Será que ele fora “peão; sua mãe, solidão; seus irmãos (quase) perderam-se na vida à custa de aventuras?” isso eu também não sei... sei que essa outra canção me dá um arrepio parecido com essa história... arrepio quente que me faz marejar os olhos de lágrimas)

O menino estava na escola tempo suficiente para conhecer da amargura do pai. Sabia bem como era isso. Um frio gelado na es-pinha, a boca seca tentando balbuciar algo. Algo que pudesse por acaso fazer sentido com aquilo que se esperava de um leitor de letra. Isso tudo vezes a idade do pai. O pai bebia uma tintura de boldo de sentimento, somada à responsabilidade de pôr filho no mundo e cuidar dele, saber dele, ler... para ele.

Entendendo o pai, o menino quebrou o silêncio silabando o começo do texto de letra.

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Felicidade é pouco pra dizer disso: o pai sorriu para o fi lho. Sor-riso com olhos molhados. Ele vivera o bastante para conhecer aquilo que não sabia iscrivinhado. Não só sabia da letra, mas também a melodia.

E foi assim, cantando e lendo para e com o seu fi lho, que os dois passaram aquele fi nal de tarde. Em preciosíssima descoberta e resgate: o fi lho descobriu o pai, leitor; o livro descobriu a fl uência de quem já o conhecia desde antes de ele nascer. Como a um fi lho que resgata as origens de seus ascendentes desde seu ventre. O ventre da cultura.

Foi então que de um leitor nasceram dois. De uma só letra nas-ceram múltiplas imagens. E da memória de uma canção nasceu re-conhecimento. E desse reconhecimento, o signifi cado. Signifi cado que desbota meus cabelos só de ouvir falar. A experiência gera o contraste das cores do cabelo, por meio das peculiaridades do vôo de cada um de nós, três leitores, com Asa Branca.

Das viagens em que não fui, mas das quais sempre tenho notí-cias, eu escrevi essa.

Simples música para meus ouvidos. Que me fazem escutar o choro baixinho de emoção do pai na escuridão da noite, quando as ilustrações se fundiram com o breu do descanso.

Esse pai que nem conheceu a gente. Mas que já conhecia o livro.

Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”

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As muitas histórias

Liliane Machado Martins

Contar histórias pode ser uma sinfonia, desde que nessa sinfonia, or-questrada com palavras, entrem todos os instrumentos: do sopro da respi-ração ao metal da voz; do dedilhar do corpo ao ribombar do olhar (SISTO, 2007, p. 39).

Todos nós já contamos ou ouvimos alguma história, desde aquelas narradas por nossos pais, as que nossos professores conta-vam na escola ou mesmo aquela que ouvimos dos nossos amigos. E não estou falando apenas das histórias tiradas dos livros, falo tam-bém daquelas que a gente só tem na lembrança - dessas que vai passando de geração pra geração.

Comigo não foi diferente, vários momentos da minha vida fo-ram marcados pela contação de histórias. Uma história que me mar-cou muito foi contada durante uma viagem de barco na Lagoa da Conceição, em Florianópolis/SC. Foi neste dia que escutei pela pri-meira vez a história do menino Yahoo, uma criança que acreditava que poderia empurrar o céu para o alto, usando a força, a coragem e a união de todas as crianças do mundo. Fiquei tão apaixonada por esta história que já a contei diversas vezes.

Outra situação que eu lembro muito bem foi uma contação fei-ta pelo Vinicius, participante do projeto em 2008 e 2009. Ele leu o livro “Todo cuidado é pouco”, de Roger Mello. Fiquei encantada com o modo que ele contou a história, envolvendo os ouvintes – a maio-ria criança – durante toda a contação.

Nas histórias com fantoche, era maravilhoso perceber a curio-sidade das crianças. Elas já entravam em sala tentando adivinhar o que iria acontecer. Todo aquele momento antes da contação era en-cantador.

Das várias atividades que fizemos pelo projeto, a maioria foi desenvolvida em conjunto. A criação era desafiadora, porém sempre muito empolgante. E ver o resultado final, construído com a ajuda de todos, era gratificante.

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Todo contato humano se dá por meio de uma leitura, em seu sentido mais amplo: lê-se as histórias que possuem aquela criança, as histórias que ela deseja possuir, as histórias do professor que to-cam as da criança e, se esse momento for tratado com cuidado e carinho, nascerá toda uma nova família de histórias, uma rede deli-cada cuja beleza poderá gerar fios que se entrelaçam infinitamente. (PRIETO, 1999, p. 33)

Referências:PRIETO, H. Quer ouvir uma história? Lendas e mitos no mundo

da criança. São Paulo: Angra, 1999 (Jovem Século 21)SISTO, Celso. Contar histórias, uma arte maior. In: MEDEIROS,

Fábio Henrique Nunes & MORAES, Taiza Mara Rauen (orgs.). Me-morial do Proler: Joinville e resumos do Seminário de Estudos da Linguagem. Joinville, UNIVILLE, 2007.

CIPIS, M. Era uma vez um livro. São Paulo: Cia das Letrinhas, 2002.

MELLO, R. Todo cuidado é pouco. São Paulo: Cia das Letrinhas, 1999.

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Caixinhas Viajantes 2008

A árvore generosaShel SilversteinEditora Cosac Naify

A árvore que dava sorveteSergio CapparelliEditora Projeto

A Festa das PalavrasKátia CantonEditora Girafinha

Armazém do FolcloreRicardo AzevedoEditora Ática

Asa BrancaLuiz GonzagaEditora Difusão Cultural do Livro

CacoeteEva FurnariEditora Ática

Contos que brotam nas flo-restas – Na trilha dos irmãos GrimmKátia Canton

Editora Difusão Cultural do Livro

Dentro do espelhoLuise WeissEditora Cosac & Naify

Fada cisco quase nadaSylvia OrthofEditora Editora Ática

Fico à esperaDavide Cali e Serge BlochEditora CosacNaify

Lá vem história Heloisa PrietoEditora Companhia das Letri-nhas

No fundo do fundo-fundo Lá vai o tatu RaimundoSylvia OrthofEditora Nova Fronteira

O cabelo de LelêValéria BelémEditora Companhia Editora Nacional

O Carteiro chegou

As” Caixinhas Viajantes” são o acervo de livros entregue em cada uma das escolas das séries iniciais da rede pública dos municí-pios participantes-- Adrianópolis, Bocaiúva do Sul e Tunas do Paraná (2008-2009); Guaraqueçaba e Piraquara (2010).

O “Acervo Gente e Livros“ são os livros adquiridos (através de compra, troca ou doação) para a sede do projeto na universidade.

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Janet e Allan AhlbergEditora Companhia das Letri-nhas

O EquilibristaFernanda Lopes de Almeida e Fernando de Castro LopesEditora Ática

O livro dos medosVários AutoresEditora Companhia das Letri-nhas

O menino quadradinhoZiraldoEditora Melhoramentos

Pinote, o fracote e Janjão, o fortãoFernanda Lopes de Almeida e Alcy LinaresEditora Ática

Sob o sol, Sob a luaCynthia CruttendenEditora Cosac Naify

Todo cuidado é pouco!Roger MelloEditora Companhia das Letri-nhas

Traquinagens e EstripuliasEva FurnariEditora Global

Vacas não voam

David MilgrimEditora Brinque-Book

Zig ZagEva FurnariEditora Global

Caixinhas Viajantes 2009

Zé PiãoDucarmo PaesEditora Noovha America

Triângulos vermelhosÂngela-LagoEditora Rocco

O homem que amava caixasStephen Michael KingEditora Brinque-Book

O Caso das bananasMilton Célio de Oliveira e Maria-na MassaraniEditora Brinque-Book

Mania de ExplicaçãoAdriana FalcãoEditora Salamandra

Histórias FabulosasEsopo e La FontaineEditora Difusão Cultural do Livro

Guilherme Augusto Araújo FernandesMem Fox e Julie VivasEditora Brinque-Book

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Crianças como vocêUNICEFEditora Ática

Caixinhas viajantes 2010

Fábrica de poesiaRoseana MurrayEditora Scipione

Felpo FilvaEva FurnariEditora Moderna

Lá vem história outra vezHeloisa PrietoEditora Cia das Letrinhas

O problema do ClóvisEva FurnariEditora Global

Rabisco – Um cachorro per-feitoMichele IacoccaEditora Ática

Rápido como um gafanhotoAudrey Wood / Don WoodEditora Brinque-Book

Uni Duni TêAngela LagoEditora Moderna

Vacas não voamDavid MilgrimEditora Brinque-Book

Acervo Gente e Livros

A árvore curiosaDidier LevyEditora Girafinha

A velhinha na janelaSônia JunqueiraEditora Autêntica

A menina do FioStela BarbieriEditora Girafinha

A rainha das coresJutta BauerEditora Cosac Naify

A verdadeira história de cha-péuzinho vermelhoAgnese Baruzzi e Sandro Nata-liniEditora Brinque-Book

A verdadeira história dos três porquinhosJon Sciezka / Lane SmithEditora Companhia das Letri-nhas

Alguns contos e fábulasLa FontaineEditora Paulus

As narrativas preferidas de um contador de histórias Ilan BrenmanEditora Landy

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Bisa Bia, Bisa BelAna Maria MachadoEditora Salamandra

Bruxa, Bruxa – venha a minha festaArden Druce / Pat LudlowEditora Brinque-Book

Carta errante, Avó atrapalha-da, Menina aniversarianteMirna PinskyEditora FTD

Chapeuzinho amareloChico BuarqueEditora José Olympio

Chuva de mangaJames RumfordEditora Brinque Book

Clara manhã de quinta à noiteDon Wood / Audrey WoodEditora Ática

Conta uma história?Ana Lucia BrandãoEditora Paulinas

Contos de enganar a morteRicardo AzevedoEditora Ática

Contos de EstimaçãoVários AutoresEditora Objetiva

Contos de Morte MorridaErnani SsóEditora Companhia das Letri-nhas

Da pequena toupeira que queria saber quem tinha feito coco na cabeça delaWerner Holzwarth / Wolf Erl-bruchEditora Companhia das Letri-nhas

De surpresa em surpresaFanny AbramovichEditora Braga

Doze reis e a moça no labirin-to do ventoMarina ColasantiEditora Global

Estão Batendo na PortaRicardo AzevedoEditora Melhoramentos

Fadas no divã – Psicanálise nas histórias infantisDiana L. Corso e Mario CorsoEditora Artmed

Histórias da PretaHeloisa Pires LimaEditora Companhia das Letri-nhas

Histórias de fadas

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Oscar WildeEditora Nova Fronteira

Histórias do CisneHans Christian AndersenEditora Companhia das Letri-nhas

LilásMary E. WhitcombEditora Cosac Naify

Limeriques da CocanhaTatiana BelinkyEditora Companhia das Letri-nhas

MariluEva FurnariEditora Martins Fontes

Meus primeiros contos Antologia de Contistas Brasilei-rosEditora Nova Fronteira

Meus Primeiros VersosAntologia de Poetas BrasileirosEditora Nova Fronteira

Mil pássaros pelos céusRuth RochaEditora Editora Ática

No dia em que você nasceuDebra FrasierEditora Augustus

NósEva FurnariEditora Global

Nossa rua tem um problemaRicardo AzevedoEditora Ática

O caso do pote quebradoMilton Célio de OliveiraEditora Brinque-Book

O Circo da luaEva FurnariEditora Atica

O Fantástico mistério de feiu-rinhaPedro BandeiraEditora FTD

O gato e a meninaSônia JunqueiraEditora Autêntica

O grande livro dos medosEmily GravettEditora Salamandra

O livro inclinadoPeter NewellEditora Cosac Naify

O menino e a gaiolaSônia JunqueiraEditora Autêntica

O menino marrom

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ZiraldoEditora Melhoramentos

O outro ladoIstvan BanyaiEditora Cosac Naify

O pequenino grão de areiaRicardo FilhoEditora Paulus

O que os olhos não vêemRuth RochaEditora Salamandra

O três mosqueteirosAlexandre DumasEditora Melhoramentos

O Urubu e o Sapo e O Velho e o tesouro do reiSilvio RomeroEditora Paulus

Onde tem bruxa tem fadaBartolomeu Campos QueirósEditora Moderna

Os Cigarras e os FormigasMaria Clara MachadoEditora Nova Fronteira

Poemas para brincarJosé Paulo PaesEditora Ática

Poemas para criançasFernando Pessoa

Editora Martins EditoraProcura-se LoboAna Maria MachadoEditora Atica

Quem viu o meu soninho?Alfredo GarciaEditora Lê

Tem cavalo no chiliqueSylvia OrthofEditora FTD

Um garoto chamado RorbetoGabriel o PensadorEditora Cosac Naify

Um zoológico de papelTatiana BelinkyEditora Noovha America

Uma idéia toda azulMarina ColasantiEditora Global

Uma professora muito malu-quinhaZiraldoEditora Melhoramentos

ZooJoão Guimarães RosaEditora Nova Fronteira

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Brincando com narrativas na sala de aula: uma busca por lacunas preenchidas em livros de recordações

Andressa Machado Teixeira

Você já deve ter pensado muitas vezes que ser criança é um estado da gente que deixa saudades, não é mesmo? Pois bem. Ser adulto tem responsabilidades agudas, mas, há coisas que podemos fazer que são mais divertidas do que pagar contas. Uma delas é po-der recordar e narrar, principalmente aos menores, coisas boas do amadurecer. Se nossas recordações fossem um livro, ele seria escri-to ao longo da vida inteira. Quanto mais percebemos a vida, mais nosso livro adquire características próprias. Alguns podem ser gros-sos volumes, outros ficam mais abertos do que fechados, uns são esquisitos, também existem versões de bolso, e alguns poucos só tem imagens. Há livros com conteúdos apagados, de páginas pouco lidas e amareladas. Ou páginas e páginas de rabiscos tempestuosos que quanto mais lidos, menos compreendidos. Mas há nesses livros páginas bem conservadas que, ao lermos e relermos - para nós mes-mos e para os outros -, ganham uma linguagem mais madura e clara do que a própria recordação. É a diferença entre a espreguiçadeira e a rede. A recordação e a narrativa.

Até que nossa adultência nos tome de assalto pelo meio do ca-minho, muitas lembranças permanecem como uma extensa lacuna a ser completada no texto do pensamento. Vamos crescendo e inter-calando ao texto da nossa história lacunas de lembranças cheirosas como o bolo da tia, chulezentas como primos reunidos, ardidas de um beliscão, relaxantes como um banho quente depois de brincar um dia todo, entre outras que não se pode escrever aqui, a não ser na sua forma mais pura: ____________________. O que cabe a cada um de nós para preencher essa lacuna torna nossas memórias preciosas, enquanto as suas narrativas equivalem a uma verdadeira façanha de gente grande!

Criança ou adulto, todos temos o que contar. Talvez se conside-rarmos narrativas de cinco figuras cujos universos verbais são muito

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distintos, algo surja na lacuna que temos sem preencher. Meu amigo Enzo, que já viveu seu considerável primeiro ano de vida, contou a minha irmã o seguinte episódio depois de uma trupicada: “Casi caí!” Ele ainda não fala muitas palavras da nossa língua então esse foi o primeiro causo compreensível e inteiro que ouvimos dele.

Já Juan tem oito anos. Sempre o encontro na casa de sua avó, dona Neide. Na maioria das vezes brincamos juntos, exceto pelo dia em que qualquer brincadeira seria imprópria diante dos dois rios de lágrimas que corriam pela face vermelha e inchada de Juan. Eles desaguavam numa bocarra aberta que fazia ecoar pela casa gritos chorosos vindos das profundezas, de além da garganta. Segurei o monstrinho indesejável perto, demonstrei minha compaixão por suas lamúrias desconhecidas e minha curiosidade em conhecê-las. A história foi mais chorada do que contada. Algo assim: Juan queria a companhia de sua nova e única amiga, Meg, uma vira-lata encon-trada na porta de sua casa alguns dias atrás. Pelo grande apego dele pela cadelinha a família concordou em adotá-la. Desde então, sepa-ravam-se apenas nos momentos inevitáveis - mas Juan achava que as visitas à casa da vó Neide não se incluía neles. Ao fim, legitimava o choro enquanto associava tudo isso a um plano maquiavélico de sua mãe para separá-lo de Meg. Ele me contou como era linda a sua pelagem, as coisas sapecas que aprontava e o choro foi soluçando, o soluço cessando... até a respiração normalizar.

Numa certa noite meu pai lembrou-se, à toa, de um episódio certamente inesquecível, passado no passado do interior de sua in-fância - interior de seus grandes medos. Foi a vez que o mandaram buscar, já de noitezinha, água no poço. Sem muita opção seguiu o pequeno carregando um balde vazio e reluzente sob o luar. Apenas o som quieto do mato era audível, além de seus modos ofegantes. Tinha uma coragem muito cautelosa no seu caminhar que o manti-nha atento pelo instinto, pois não exergava abaixo dos joelhos ou a um palmo diante do nariz. De repente passa por ele um porco cor-rendo, que o faz largar o balde, gritar e dar no pé rapidinho.. tudo ao mesmo tempo! Ainda deu para ouvir o balde trepidar rolando no mato enquanto voltava para a casa. Com toda a bambeira nas

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pernas adentrou a porta, despertou o riso dos adultos e recebeu ordens marotas para voltar e procurar o balde imediatamente! Ora veja, medo de porco!

Thaise tem a minha idade, e é claro, também tem suas histó-rias. Uma vez, quando tinha apenas dois aninhos explorava inocen-temente o quintal e notou uma escada encostada na parede de sua casa. Perguntei o que ela pensou, mas não houve resposta. Imedia-tamente pensei naquela sensação de João ao observar o pé de feijão emergindo continuamente para o alto. Continuando o causo, diante de meus olhos e ouvidos, Thaise, como boa aproveitadora da vida, simplesmente subiu a escada intercalando as mãozinhas e os pe-zinhos a cada ripa até alcançar a laje. Lá sentou-se na beirada e se preocupou em contemplar a vista. Passados vinte anos a memória lhe permite ter essa vista novamente quando lhe aprouver, e caso outrem estivesse diante dela escutando, como eu estive, veria em seus olhos, não o reflexo de si mesmo, mas a vista da laje. Mas, con-tinuando, tranqüilidade de criança dura pouco. Foi então que alguns barulhos, que vinham do chão, chamaram a atenção da pequena. Com cara de interrogação mirou em baixo e viu sua mãe aos berros, impotente. “E o que você sentiu?” – insisti. Outra vez a resposta veio cheia de silêncio. Thaise continuou, altiva e gigante, a encarar o mi-núsculo rosto da mamãe desesperada, até que a cabeça de seu pai veio à tona, ajeitando-se na escada para tomá-la nos braços e salvar o dia, mesmo com terrível medo de esborrachar-se com Thaise, es-cada e tudo.

Seo Ceriaco, um menino falador de oitenta e três anos, brinca com sua linha do tempo e diz que faltava dinheiro para comprar bicicleta, mas tinha condições de fazer. Era a bicicleta de pau. Per-cebendo a minha curiosidade, ele explica passo a passo: “pegava uma tábua, levava na serraria. Segurava um compasso e passava um lápis que marcava a roda. Então, na serra fita, aquela que corta carne no açougue e faz xiiim xiiiiiim, exatamente em cima do risco, virava aos poucos para sair a roda. Com uma pua de manivela furava no meio onde se encaixava o eixo. Pua é uma broca. Não tinha furadei-ra elétrica, então o furo se fazia no muque. Depois apertava o eixo

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com parafuso enquanto a roda de madeira ficava engatada. Passava qualquer graxa que deixasse liso para deslizar o giro. Por fora da roda era só pregar uma tirinha de pneu mais curta com uma ponta bem pertinho da outra. Depois, puxava o pneu com força e apertava a roda bem ajustado. Sem pneu, a roda saia fazendo pó pó pó pó pó pó. O celim era de pano, ou trapo. Punha a tábua na altura que quisesse pra sentar e cobria. Depois tinha cada corrida que Deus o livre! Toda a gurizada queria ser o melhor na bicicleta. Quem tivesse a bicicleta mais rápida ganhava o prêmio! A nossa rua era uma desci-da e acabava numa curva lá em baixo. Não era fácil de fazer a curva. Às vezes a gente se arrebentava. Todo mundo fazia. Algumas gurias meio atrevidas faziam também. Era divertido...”

Vivendo, brincamos de criar histórias. Ouvindo histórias, brin-camos com a criatividade. Linguagem e imagens são coreografadas em nossos cenários mentais. Ao narrar, e ao escrever narrativas, cria-mos jogos lingüísticos. Jogos com regras possíveis e impossíveis. E a vida é uma oportunidade constante para jogar com a linguagem. Cada ponto da linha do tempo de nossas vidas pode ser desvendado com palavras. Futuro, presente e passado. A linguagem oferece ao tempo aquele abraço de urso. Seo Ceriaco contava, setenta e sete anos depois, sobre como fazer uma bicicleta de pau – com detalhes fotográficos. Enquanto existir narrativa o garoto e o velho são ape-nas um e não é muito fácil distingui-los. Assim como a criança Thaise que contempla a vista sobre o telhado com seus olhos de moça. Gra-ças a esses olhos, seus mirantes do passado, a narrativa desvela as lembranças tão bem narradas, mesmo que a vida passe. Elementos sinestésicos são tesouros que guardamos nos baús do pensamento, e alguns deles transformamos em palavras ou imagens para publicar em nosso livro de recordações. Meu pai relembrou-se no mato e de fato - nunca saberemos ao certo - ouviu com nitidez o balde tilintar e rolar no chão quando foi lançado para o ar e caiu. As lembranças não permanecem intactas. Elas são ressignificadas. Quanto à matu-ridade de nossa essência verbal, eu pergunto: quem teria gritado e corrido enquanto o balde se perdia? O garoto tão alerta que não era meu pai, ou o homem, ainda tão alerta?

Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Nos três causos os “adultos” lançam-se em suas linhas do tem-po - complexos nas suas narrativas de diferentes fases da vida. En-quanto Juan, que pouco compreendia seu distanciamento com Meg, falou de um tempo recente - apenas uma semana antes; Enzo narrou algo muito repentino e muito próximo do momento de sua narrativa. O tempo entre sua narrativa “Casi caí!” e o acontecimento narrado tem a distância do pensamento. Seria por que as narrativas infantis estão mais próximas de seu presente, de suas carências, emoções e desequilíbrios? Nos livros das narrativas infantis percebe-se mais os fatos do que a organização dos registros. O amadurecimento nos ajuda a organizar as narrativas. Há lacunas em branco que surgem pela vida e alguns de nossos textos mentais podem ter lacunas em enorme quantidade. Há palavras que pulam nessas lacunas sem sa-ber ao certo onde devem permanecer. Algumas delas passamos a vida inteira sem saber onde se posicionar. Os critérios e regras para dar-lhes um bom contexto semântico variam de pessoa crescida para adulto infante, e no geral, não há como montar um esquema.

Ter disposição para ouvir e falar é um aprendizado tanto pessoal quanto cultural. Por meio do contato com as narrativas, preenchemos as lacunas e encontramos tesouros para o baú de sensações. Logo, existe uma contribuição verbal das histórias cheias de preciosidades às mentes cheias de lacunas. A escola é um espaço vital dessas expe-riências. Para estimular o desenvolvimento da linguagem verbal e a habilidade de narrar, é possível oferecer possibilidades para compor, recriar, ouvir, perceber, restabelecer elementos que agucem nossa vontade de contar o que vemos pelo mundo. Apresentar aos edu-candos (as) a diversidade das formas de falar, escrever, representar, seqüenciar, brincar com o tempo, descrever tempos, etc... mostrá-los lugares com infinitas opções de mobília para decorar seus cenários mentais. Levá-los em um mergulho ao chão do oceano onde há um barco que afundou e conserva tesouros - não se sabe de onde vinha, não se sabe desde quando, mas se sabe que traz uma história que podemos inventar. Uma boa viagem verbal requer bagagem volu-mosa, mas ao mesmo tempo singela. Como uma bagagem recheada de livros e recordações que, uma vez abertos, são braços aconche-

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gantes de escritores e ilustradores nos carregando no colo, ou em-balando nossa rede. Podemos viajar carregando um jogo de caça ao tesouro na mala e muita disposição para esconder pistas. Podemos perguntar às crianças: que histórias tem ouvido? Que outras gos-tariam de contar? Mas não esqueça! Quando a resposta delas vier, mantenha os olhos e ouvidos abertos, mesmo que a resposta seja uma lacuna vazia. Pois ela pode se transformar em narrativa. Talvez do tempo presente, talvez para trás, talvez para frente.

Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”

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Capítulo 2 - Dentro do cozinheiro: anatomia funcional do que não aparece, mas aparece na arte de fazer comidaQualidades do contador de história; Reflexões autobiográ-ficas de quem ama literatura

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“Sou barulhento como um leão, sou quieto como uma ostra, sou corajoso como um tigre, sou medroso como um camarão...” (RÁPIDO COMO UM GAFANHOTO, de

Audrey Wood )

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Uma aventura na chácara: uma infância com uma pontinha de medo.

Márcia T. Azevedo Rocha

Essa é a história de uma menina que aos oito anos de idade foi morar com sua família em um sítio longe da cidade. O olhar dessa menina brilhou ao entrar em contato com a natureza. Ela se sentia encantada por poder ficar próxima aos animais; brincar, pular e cor-rer em um campo enorme; andar de bicicleta e de balanço; colher as frutas e verduras com seu pai, diretamente da plantação. Essas eram algumas das diversões e distrações dessa menina. Um dia ela estava brincando com suas bonecas e seu pai apareceu, dizendo:

- Vamos passear na chácara?Ela ficou muito contente, pois seu pai sabia o quanto ela gostava

de ir até aquela chácara. Esse lugar encantador possuía um grande lago; cada um dos animais tinha sua própria casa: os cavalos mora-vam num lindo celeiro, os porcos em um chiqueiro e as galinhas em um galinheiro. Era um lugar mágico em meio à beleza da natureza.

E ela respondeu dando um pulo de alegria: - Já estou pronta!Chegando lá, a menina encontrou com os donos daquela chá-

cara - eram os velhinhos mais queridos que ela já havia visto. En-quanto aquele humilde senhor cuidava dos animais, sua senhora fazia manteiga e queijo com o leite retirado da vaca.

- Uhmmmm...que delícia! - exclamou a menina ao provar um dos deliciosos queijos fresquinhos.

Enquanto ela esperava na cozinha, seu pai foi buscar um barco de madeira bem pequeno para levar sua filha pra passear no lago. Ela não esperava por isso, pois sempre foi uma menina muito me-drosa. Tinha tantos medos e o maior deles era justamente o de andar de barco.

- E se ele virar? - perguntou ela ao seu pai. Ele disse para ela não sentir medo, pois não iria virar. E não é

que virou?!

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Dentro do cozinheiro: anatomia funcional do que não aparece, mas aparece na arte de fazer comida

Foi assim que aconteceu: estavam os dois no barco quando seu pai, para impressioná-la, começou a balançar o barco pensando que a menina iria gostar daquela brincadeira. Só que o barco virou e ela não viu mais nada, somente água. Nesse momento, aquele pequeno lago tornou-se uma imensidão para ela.

Quando abriu os olhos, uma esperança nasceu ao ver uma das mãos de seu pai resgatando-a do fundo do lago.

A menina saiu da água muito assustada, chorando e respirando fundo.

Ao voltar para casa, depois do grande susto, percebeu que, a partir daquele instante, não teria mais coragem para enfrentar uma aventura como essa.

*** Vinte anos se passaram e essa menina cresceu. Hoje ela faz

parte de um projeto de literatura infantil e passou por uma situação semelhante quando precisou vencer o desafio de atravessar, desta vez não mais um lago, mas um imenso mar. O que fez ela viajar e superar o seu medo foi o enorme desejo de levar um pouquinho de literatura para crianças que moram em uma ilha. Foi com muita superação que se rompeu mais uma barreira em sua vida, dentre muitas, mas, com certeza, a MAIS prazerosa. Apesar de ter vivido um grande medo em alto mar, ao desembarcar na ilha aquela menina percebeu o entusiasmo dos alunos ao se depararem com algo que eles não estavam acostumados a vivenciar todo dia. Era uma escola pequena, mas com certeza agora com algum diferencial. A partir de um trabalho sério, ela acabou entrando em MAIS uma aventura, com o intuito de brotar uma sementinha no coração de cada criança e despertar nelas uma fome de leitura e um desejo por histórias.

Hoje ela continua contando com a esperança de que no futuro possa haver uma colheita embasada no amor pela leitura e pela lite-ratura. Ela acredita que as histórias infantis podem levar às crianças um prévio contato com situações imaginárias que serão vividas fu-turamente em um dado momento de suas vidas, como as próprias histórias de medo ou os contos de fadas.

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O caso com a literatura!

Ela lá, eu cá,ela andando pra cáeu indo pra lá

Bum...encontroQuando criança eu sabia apenas que gostava de inventar...ah, como minhas bonecas sabiam disso...nem sempre era bom para elas,por vezes eram devoradas por incríveis monstros da clandesti-

nidademas em compensação eram imensamente amadas por heróisde algum reino escondido nas profundezas do meu quarto.

Quando adolescente, eu sabia apenas que nem todas aquelas historinhas me convenciam,

mas bastava um belo versinho para me derreter toda, como uma floquinha de neve que se derrete ao se apaixonar pelo grande e quente sol.

e assim eu fui crescendoentre fatos reais,realidades tristes e alegresfatos imaginárioscheios de razão, imaginação e teimosia!

e só depois de muito tempo eu fui entenderque esta tal literaturaque tanto falavam na escolatão escondida lááá na bibliotecaestava dentro de mim o tempo todo!!!!

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e mais uma vez o tempode uma experiência nem tão distanteme mostrou que o conhecimento sensívelmora mesmo dentro do meu peito!

hoje eu conto histórias para não deixar o tempo em brancoe sim colorir de sonhos, sons e gestos o gosto pelo contato com o próximoo gosto por conhecer o poder fantástico de um mundo que sempre surpreende:a vida!

Juliana Leitoles

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Quando penso nos tempos de infância lembro de boneca, de armazém, de ursinho de pelúcia, de pega-pega, de desenho na tele-visão, e de fazer João de Barro depois da chuva. Mas não me lembro dos meus pais contando estórias durante o dia, ou antes da hora de dormir; tão pouco me dando um livro com a estória do João Pé de Feijão envolto num embrulho de presente de Natal ou aniversário. Eles me davam brinquedos e roupas nas datas comemorativas por-que julgavam ser o mais importante para o meu bem estar - e eu era pequena demais para saber quais necessidades de fato eu tinha.

Como quem procura fotos antigas de família, aquelas que ficam escondidas nos lugares mais difíceis do guarda-roupa, fui buscar nas recordações de 1ª série algum momento em que a escola tenha me dado a oportunidade de levar um livro de literatura infantil para casa; para minha tristeza, lembro-me das estórias contadas apenas em sala de aula pela professora. Ah, se ela soubesse o quanto eu desejava ter o prazer de pegar um livro e folhear as páginas com minhas próprias mãos, ler e reler a mesma estória, com o mesmo entusiasmo que ela parecia sentir quando lia. Mas eu era pequena e tímida para expressar meu desejo de experimentar, sozinha, as aven-turas no mundo da leitura.

Na 2ª e 3ª série as únicas estórias que tive o prazer de eu mes-ma ler, sem a leitura das professoras, estavam na cartilha ou em pe-quenos papéis que deveriam ser colados no caderno para a execu-ção de alguma tarefa. Mal eu sabia que os dias de pouco encanto e fantasia estavam prestes a mudar. Certo dia na escola, na 4ª série, a professora disse que todos da turma poderiam ir à biblioteca para pegar livros emprestados. Lembro que entrei amedrontada na bi-blioteca pela primeira vez e avistei a prateleira de livros de literatu-ra infantil, rapidamente escolhi um e levei para a casa. A biblioteca naquela época me causava arrepios, pois o silêncio reinava e até os passos não deveriam fazer barulho. Eu não fazia idéia que depois de ler o primeiro livro minha vida não seria mais a mesma. Pois as estórias me levaram a vários cantos do mundo - é um universo sem fim! Depois do primeiro livro, a biblioteca se tornou o meu baú de tesouro. A ansiedade de ler as estórias só aumentava, tanto que eu

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Dentro do cozinheiro: anatomia funcional do que não aparece, mas aparece na arte de fazer comida

não aguentava esperar chegar em casa, já ia lendo no recreio. Esse período marcou minhas lembranças, pois até hoje recordo de alguns títulos da Coleção Vaga-lume: Sozinha no mundo, A Ilha Perdida; As aventuras do cachorrinho Samba, dentre outros.

Depois que entrei no fantástico mundo encantado da litera-tura, nunca mais consegui sair.

Luciane Fabiane dos Santos

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Capítulo 3 - História encontra histórias ou Comendo no mesmo pratoDepoimentos de integrantes do projeto da Universidade e da Comunidade

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“Eu quero agora:A mesa farta

O canto alegreO riso de festa

O odor de rosa.”(poesia De volta, em A ÁRVORE QUE DAVA SORVETE,

de Sérgio Capparelli)

“Lembrança é quando, mesmo sem autorização, o seu pensamento reapresenta um capítulo.” (MANIA DE

EXPLICAÇÃO, de Adriana Falcão)

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Pedimos a todos que participam ou já participaram do(s) projeto(s) Gente e Livros (2007-2009) e MAIS Gente e Livros (2010) um breve relato de um encontro ou um depoimento de como foi o projeto para cada um. Seguem os depoimentos dos que puderam nos atender. Os relatos da equipe se encontram com os relatos dos professores, comentando sobre os livros das caixinhas viajantes, a gente, si mesmos, seus alunos e comunidade.

Gente e Livros

***Depois das conversas iniciais, éramos designados para nossas

missões quase impossíveis, sempre desafiadoras e exaustivas. Dessa vez já sabíamos o que iríamos enfrentar: depois de duas horas e meia até chegarmos à secretaria de educação, faríamos outra via-gem de cerca de duas horas por uma estrada de chão para chegar-mos ao nosso destino. Passamos por paisagens ainda mais belas. A estrada era cortada por riachos e quando a kombi passava por dentro era como se pudéssemos sentir o frescor da água em nosso espírito, aquele frio na barriga do barco em alto mar (acredito que seja assim, nunca estive em alto mar).

Na escola havia certa expectativa. As crianças nos conheciam e chegávamos, apesar do cansaço, com muita disposição - com cer-teza influenciada pela nossa líder atômica. Nos apresentávamos e interagíamos com as crianças ao mesmo tempo. O dia transcorria cheio de histórias, músicas e brincadeiras.

A volta era animada pelas conversas sobre as impressões do dia ou embalada pelas curvas (quando não pelo Dramin) que nos faziam adormecer.

Jamais vou esquecer este dia maravilhoso. Abraços.Vinícius Rodrigues dos Santos, em sua primeira viagem às es-

colas rurais de Adrianópolis.Equipe 2007/2008.

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História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato

***Só tenho elogios aos nossos encontros. Em todos os encontros

aprendemos uma maneira diferente para trabalharmos com os nos-sos alunos.

Professora de Adrianópolis

***Não tenho críticas, só elogios, ao trabalho tanto da parte da

manhã quanto à tarde. Foi um verdadeiro aprendizado, nos deu uma orientação de como trabalhar com as crianças.

Professores de Tunas do Paraná

***Tem uma cena que será difícil de esquecer. Foi um sábado de

contação de estórias e brincadeiras divertidas com crianças – em meio a árvores gigantes e montanhas cobertas de mata nativa - na Comunidade Quilombola João Surá, em Adrianópolis, divisa dos es-tados Paraná e São Paulo. Essa região é um espetáculo da natureza!

Quando eu e Liliane estávamos retornando pra casa, dentro do carro com colegas de outro projeto, avistamos diversos animais passeando pela estrada. Quando, de repente, avistamos uma cobra espessa e comprida logo à nossa frente. Ela atravessava a rua lenta-mente, exibindo sua elegância. Tudo que pudemos fazer foi desace-lerar o carro, admirá-la e esperá-la passar. Diferente dos filmes, ela só estava passeando, tomando seu banho de final de tarde, sem inten-ção de nos perseguir, e nós, que nem éramos caçadores de bichos peçonhentos, estávamos voltando para a casa. O que nos restou foi guardá-la em nossas recordações para nossas futuras histórias.

Luciane Fabiane dos Santos,Equipe 2007/2008/2009.

***“O trabalho com livros de literatura incentiva os alunos a ler e

escrever cada vez melhor.” / “Essas histórias são muito interessantes. Agradeço pela oportunidade.”

Professores de Tunas do Paraná

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

***“A linguagem de imagens do livro Traquinagens e Estripulias

desperta o interesse e a imaginação, possibilitando uma interação entre o leitor e a história, e permitindo que a criança crie suas pró-prias histórias.”

“O livro Fico à espera retrata a vida humana em todas as suas fases de uma maneira simples, direta, criativa e, acima de tudo, emo-cionante. Com ilustrações e frases curtas, que permitem à criança a criação e a interpretação de acordo com a sua experiência de vida. Instiga a criança a descobrir a sua história genealógica, sua vivência e cultura. Ela poderá notar que é igual a outras crianças (no curso da vida) e ao mesmo tempo diferente (formação familiar e cultural, experiências)”

Professoras de Bocaiúva do Sul

***Como esquecer a minha primeira viagem... foi para Tunas do

Paraná, no teatro da cidade. As crianças todas reunidas para ouvir as histórias e músicas que o projeto havia preparado. Não foi um trabalho muito fácil, prender a atenção das crianças num espaço tão grande exigia muito empenho. Mas as histórias foram maravilhosas, criava-se um suspense, cantava-se uma música e até brincávamos (de montanha-russa, foi muito divertido). A ludicidade do momento envolvia as crianças nas atividades.

E os circuitos realizados em algumas escolas... era muita lou-cura! Dividíamo-nos e montávamos diversas atividades: a sala de música, de histórias, de criação, de brincadeiras de pátio. Assim, as turmas - com uma média de 30 crianças cada pessoa do projeto - iam circulando pelas atividades, permanecendo em cada uma 30 minutos. Uma verdadeira maratona. Nós nos cansávamos, mas, tam-bém, nos divertíamos.

Liliane Machado Martins,Equipe 2008/2009.

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História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato

***“O tempo foi pouco; mas o conteúdo, ótimo. Amei.” / “O curso

contribuiu bastante para o meu crescimento profissional, trazendo novas idéias e estimulando o prazer pela leitura.”

Professoras de Adrianópolis

***“Foi de extrema importância o curso de hoje, pois vimos que

para ser criativo e dar uma aula gostosa e diferente não depende somente de recursos financeiros, podemos usar materiais do dia-a--dia.”

“O quê achei do curso? Muito proveitoso, aprendi muitas ati-vidades para fazer com meus alunos. Os professores foram muito agradáveis, espero que voltem mais vezes (...) os alunos: dava para ver o brilho nos olhos deles de tanta felicidade por estar aprendendo coisas novas.”

Professores de Tunas do Paraná

***Participar do Projeto Gente e Livros foi uma experiência ines-

quecível e também – sem exageros! – a realização de um sonho, pois sempre ansiei por um trabalho que envolvesse capacitação docente e literatura infantil.

E foi ainda melhor do que eu poderia esperar, pois tive a opor-tunidade de sair de Curitiba – cidade onde moro e que em condições “normais” seria a única em que eu trabalharia –, conhecer a realidade educacional de três municípios pelos quais nunca tinha passado e ajudar a modificá-la.

Fabiana da Cunha Medeiros,Equipe 2008/2009.

***Quarta-feira, 14h. Aguço os ouvidos para ouvir mais uma his-

tória... contos, cantos, versos, textos e contextos... palavras se agluti-nam ao vento enquanto viajo na narrativa da companheira ao lado...

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

momento sublime de fantasia em meio ao caos do dia-a-dia. Amanhã tem viagem. Planejamento elaborado e reelaborado,

materiais separados, carro confirmado (?), horário marcado. Lá, pes-soas nos aguardam (quase sempre)...

Dia de festa... biscoitos na Van, conferência de responsabilida-des, curvas, sonos e risos e é chegada a hora. Na platéia, perguntas pipocam antes e depois da fala. Vozes e corpos se transvestem de figuras e palavras, dando vida ao Local de Informações Variadas Reu-tilizáveis e Ordenadas (L.I.V.R.O.), como diria o Millôr.

No retorno, o cansaço superado pela alegria da missão cum-prida... comentários sobre os depoimentos que motivam a preparar melhor o próximo encontro... mais curvas, mais sonos, mais risos...

E na próxima quarta, renovada... aguço os ouvidos para ouvir mais uma história...

Silvana Galvani Claudino,Equipe 2009.

***Gostaria que o projeto continuasse para melhorar o desenvol-

vimento das crianças do nosso município. Essas histórias são muito interessantes. Agradeço pela oportunidade.

Professora de Tunas do Paraná

***Como sempre, o curso foi ótimo. Espero que possamos contar

com esse maravilhoso trabalho no próximo ano. Os livros sugeridos e as propostas de trabalho proporcionam aulas e momentos muito prazerosos para alunos e professoras.

Enfim, parabéns e que Deus abençoe todos.Professora de Adrianópolis

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História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato

MAIS Gente e Livros

***Primeiro a idéia. Depois a oportunidade. Aos poucos foi che-

gando um, mais um e MAIS um e, de repente, já éramos muitíssimos!Muita gente para poucos livros.E a mesma coisa martelando na cabeça da Gente: ô de casa,

vambora! Vamos fazer acontecer!Vamos pegar a estrada, o barco, beirando a encosta, o vale, o

rio, o mar, o mangue; vamos espalhar literatura por esse mundo afo-ra! e pra dentro da sala de aula também!

Saudades das viagens que fiz e das que não fiz, dos encontros e dos desencontros, dos olhos nos olhos, das crianças e dos adultos tornando-se meus mais novos velhos conhecidos, da torcida por dar tudo certo, da acolhida dos educadores e parceiros das secretarias de educação - cada vez mais unidos nessa missão que ainda não acabou!

Pois há muito MAIS histórias e livros a serem semeados. Nos lei-tores que nascem e naqueles que estão por nascer, e terão na escola a nascente para conhecer como é a outra margem do rio - depois daquela queda d’água por onde uma vez passou o pai do seu pai do seu pai do seu pai... com a mãe da sua mãe da sua mãe da sua mãe... e outros com os quais eles se encontraram.

Costumamos dizer que esse é um projeto despretensioso: só temos o OBJETIVO de revolucionar o mundo por meio da literatura na educação!

Certamente há o estopim para a revolução. A revolução da mente, do meu pensamento, de meus conceitos. De ser e estar o mais inteira possível por onde passo. Marcando em mim e nos ou-tros o precioso momento que nenhum livro pode eternizar, mas que pode provocar mudança nos momentos seguintes.

Agradeço a todos que já estiveram no projeto (toda a Gente e todos os Livros), que incluíram a universidade em sua comunidade e fizeram do encontro entre educação básica e educação universitária um sonho possível, não somente um projeto encarcerado nas pági-

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

nas de um livro qualquer, cheio de “verdades” e fechado na estante de intelectuais com a cabeça nas nuvens e seus pés também.

Para alguém que cursou pedagogia com o ideal de escrever para crianças, Gente e Livros e MAIS Gente e Livros são um baita presente! Foi aí que aprendi que “literatura infantil é aquela também apreciada por adultos”, como me ensinou Ana Maria Machado em minhas leituras e como comprovei, comprovo e comprovarei com-provando em minhas andanças.

Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves,Equipe 2007/2008/2009/2010.

***“A iniciativa do projeto é importante, pois contar histórias já não

estava sendo muito freqüente nas escolas.” / “É muito boa, pois a leitura é pouco praticada em nossa comunidade.” / “É muito boa e ajuda muito no trabalho pedagógico de nossa escola.”

Professores de Guaraqueçaba

***O que me atrai na Educação é ver como ela pode mudar a vida

das pessoas. Ver alguém interessado em aprender e ensinar é algo que me encanta profundamente.

Fazer parte do Projeto Gente e Livros me permitiu contemplar esta cena muitas vezes. Ver professores (nas cidades em que passa-mos) interessados em criar repertórios, buscar mais e novas manei-ras para o trabalho com as crianças, ouvir relatos de como colocaram em prática os ensinamentos que aprenderam. Ver a expressão de alegria e entusiasmo em seus rostos quando nos recebiam, só refor-çaram as minhas crenças de que a Educação no Brasil e no mundo dá certo!

Rosicler Alves dos Santos,equipe 2008/2009/2010.

***Gostei muito do trabalho realizado com as crianças, principal-

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História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato

mente a idéia do medômetro, que as crianças adoraram. O projeto está de parabéns.

Professora de Piraquara

***Lembranças de um tempo bom...Lembro-me do ano em que entrei no Projeto Gente e Livros

(2008), quando começaram as primeiras viagens com as caixinhas cheias de livros, sonhos e fantasia. Tudo aquilo foi tão fascinante: trabalhar com contação de histórias e deixar as crianças se envolve-rem no mundo da imaginação. Que maravilha ver o sorriso daqueles alunos encantados com a literatura! E mais, sabendo que eles esta-vam aprendendo muito com isso, pois em contato com os livros eles acabam se identificando com alguns personagens e se sentem cada vez mais atraídos pelas histórias, contribuindo desde cedo para o processo de leitura e escrita.

Foi no projeto que pude me identificar mais com as diversas histórias e perceber que era possível a aplicação delas em sala de aula. Confesso que no início eu me identificava mais com os contos de fadas, mas aos poucos a minha experiência no projeto foi de-monstrando o quanto o universo literário é amplo e maravilhoso. Percebi que, além de suscitar o imaginário, as histórias facilitam o desenvolvimento infantil, levando as crianças a possíveis descober-tas e a situações semelhantes as que serão vivenciadas futuramen-te por elas. Minha experiência no projeto foi significativa, pois as histórias infantis trouxeram de volta o encantamento de uma fase maravilhosa que é a infância, bem como muitas lembranças, o que tornou possível reviver pequenas situações em grandes histórias. E, mais importante que isso, é saber que, de certa forma, fazendo par-te do projeto eu pude contribuir para a formação de novos leitores dentro da sociedade.

Márcia Tarouco de Azevedo Rocha,Equipe 2008/2009/2010.

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

***Achei o trabalho muito legal e gostei das idéias para trabalhar

com os livros. As crianças também gostaram e já perguntaram se vocês vão voltar. Apesar de ter participado de outros momentos com vocês, na prática é muito mais interessante.

Professora de Piraquara

***Ler. Viajar.Ler: conhecer as letras do alfabeto e saber juntá-las em palavras;Viajar: ir de um lugar a outro, deslocar-se;Nenhuma dessas definições traduz o que aprendi sobre ler

e viajar durante minha participação no projeto. Nesses dois anos de atividade pude perceber que a leitura não se restringe ao livro. Quando falamos de contação, aprender a ler os sinais é tão impor-tante quanto ler uma história. É preciso saber interpretar o olhar da criança; as mãos que não se controlam frente ao livro; o rosto que expressa os momentos de angustia ou de felicidade; o corpo que ora relaxa, ora tensiona. Esta sintonia entre contador e ouvinte é fundamental para que a leitura se torne um prazer e não apenas um discurso. É justamente esta via de mão dupla que vai levar o leitor a viajar na história.

E é aí que entra o segundo aprendizado. Como eu disse, não cabe aqui somente a definição do dicionário. Por mais que nosso trabalho dependa de um deslocamento - ora de carro, a pé ou barco - a viagem de que eu falo é outra. É uma viagem no tempo e no es-paço, sem sair do lugar. Uma boa história sempre carrega o ouvinte pra dentro dela e é preciso se deixar levar. Pois esse viajar não tem limite de quilometragem, você não precisa ter milhas acumuladas e seu lugar sempre estará reservado.

Bruna Fialla Alves,Equipe 2009/2010.

***“A reação dos meus alunos foi muito boa. São esses momentos

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História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato

que fazem com que os alunos desenvolvam suas habilidades e pas-sem a ter gosto pela leitura.” / “No início da história ficaram encanta-dos, e entraram para o mundo da fantasia e do faz-de-conta.”

Professores de Guaraqueçaba

***Literal, literar.Olhar, ouvir,Sentir, falar,O que mais eu poderia esperarDe um projeto que visa contar? Contar o que se lê e se senteDe histórias de brincar, de contrariar,De amar, de arrepiar. Como querer fugir do que veio para unir?Idéias, pensamentos, ações... As situações também são de arrepiar,Ora é a trepidação...Ora é a embarcação...Ai ai, que dá até um medão. Às vezes aparece tudo diferenteE o que era estratégiaVira mudançaSituação irreverente, difícil de lidar.Inusitado... Um tudo literal,Às vezesÉ preciso rebolarPara que do fundo do coraçãoA gente possa

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EnfimLiterar!

Juliana Beltrão Leitoles,Equipe 2010.

***Gostei muito do trabalho e as crianças, mais ainda; vou usar a

música da caveira para apresentação da turma no início de ano. O medômetro foi muito interessante porque podemos conhecer me-lhor os alunos, claro que muitos deles colocaram alguns medos es-tranhos, mas alguns confirmaram algumas situações que vivem. Vou colar o medômetro no caderno deles, pedir que escrevam ou tentem escrever seus medos. Espero que tenham gostado da nossa escola e estamos com as portas abertas para quando quiserem voltar.

Professora de Piraquara

***PROJETO, TRABALHO, GENTE, LIVROS, CRIAR, IMPRESSÕES,

INTENÇÕES, LINGUAGEM, ESCRITA, IMAGINAÇÃO FANTÁSTICA, CONVERSAS, IDÉIAS... LIVROS, GENTE, PESSOAS, ESTRADA, TERRA... PIRAQUARA, PROFESSORES IDÉIAS CONTAÇÃO SOMBRAS FANTO-CHES, TERRA TRE-PI-DAN-TE, GUARAQUEÇABA MAR ILHA RASA CRIANÇAS CRESCIDAS A “VERDADEIRA HISTÓRIA DOS TRÊS POR-QUINHOS” ESCONDER RECOMEÇAR... CAIXAS CAIXAS CAIXAS PA-PEL COLA, TERRA ESTRADA PIRAQUARA CRIANÇAS GAFANHOTOS RETRATISTAS ESPELHO ANA ANA ANA ... MAR BARCO PROFESSORES DESENHAR PLANEJAMENTO CLÓVIS É O MEU PROBLEMA LIVROS NOSSO GRUPO. MAR ONDAS CAIXAS ONDAS ILHA ONDAS BELEZA SUPERAGÜI CAIXAS PEÇAS MAR MAR MANGUE SEBUÍ MAR MAR MAR MANGUE MANGUE TERRA TERRA VARADOURO OLHARES IN-VASÃO SUSTO SORRISO LIVROS. CURITIBA MEGALOMANÍACO ES-CREVEREDESENHARUMLIVRO GRAVARUMFILME JOGARUMJOGO LIVRO LIVRO OFICINA ESTRADA TERRA SÃO JOSÉ OUVIR DESENHAR RECEITAS POÉTICAS... LIVRO, DESENHO, TINTA, ORELHASFELPUDAS,

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História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato

RITMOACELERADO, LIVRO, JUNTARTUDONUMACAIXAVIAJANTEELI-TERÁRIA, ACONTECER, ACONTECEU...

Ana Luiza Suhr Reghelin,Equipe 2010.

***Acha que encontros como esse contribuem para seu crescimen-

to como educador?“Acho que encontros como esse contribuem para meu cresci-

mento como educadora porque com essas atividades tenho certe-za que meus alunos irão bem além.” “Acredito que esses encontros trazem novas idéias.” “Todo aprendizado é uma troca, e em cada trabalho feito por vocês eu aprendo.”

Professores de Guaraqueçaba

***Optei por colocar em versos o meu depoimento. Quando fui

escrever, as letras se transformaram em sensações, palavras em can-ção; ao pé do ouvido escutei meu coração.

Lá vem história outra vez Os olhos que acompanham

Rápido como gafanhotoO sorriso que agradeceFelpo FilvaO aplauso que enaltece Bruxa, bruxa, venha à minha festaA cada históriaDe vida, de fantasiaRabiscoCada cantinhoAluno ou professorO problema do ClóvisO meu, o seu, agora nosso

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A troca que aconteceVacas não voamLiteratura e imaginaçãoAprendizado e emoçãoLembrançasUni duni têSaudade que ficaNo coração habitou. Karla Fernanda Ribeiro Neves,Equipe 2010.

***O que mais chamou minha atenção foi a história do passarinho

sem gaiola. Talvez em meu interior, apesar da idade, ainda exista um ser que voa através da imaginação.

Professora de Guaraqueçaba

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Capítulo 4 -Contar e (des) cansar é só começar: descas-cando em plena sala de aulaRecursos externos e outras maneiras de contar histórias

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“A sábia não sabia que o sábio sabia que o sabiá sabiaque a sábia sabia que o sábio não sabia

que o sabiá não sabia que a sábia não sabiaque o sabiá sabia assobiar.”

(ARMAZÉM DO FOLCLORE, de Ricardo Azevedo)

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Contar e (des) cansar é só começar: descascando em plena sala de aula

Bruna Fialla Alves

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F... Olá, gostaria de me apresentar. Talvez nós já nos conheçamos,

você pode já ter me visto por aí, mesmo assim gostaria que soubesse um pouco (ou até muito) mais sobre mim. Vou começar falando das qualidades: eu adoro falar! Se me derem voz, não perco tempo e de-sando a falar. Sou super comunicativa, basta que você dê a oportuni-dade para que eu me expresse. Sou muito versátil e por isso mesmo faço o maior sucesso. Posso me vestir de vários personagens: já fui fada, já fui bruxa, já fui príncipe e princesa, já fui dragão, já fui cava-leiro, já fui rei e rainha, já fui idoso, já fui criança, já fui leão e já fui co-bra e, se você se dispuser, posso ser qualquer animal. É a mais pura verdade.. difícil de acreditar? Calma, lembre-se de que você está me conhecendo, ainda vou revelar detalhes mais íntimos.

Como a maioria dos indivíduos, acredito que o ser é muito mais importante que o ter, isto quer dizer que vale mais o que a gente tem por dentro do que o quê a gente tem por fora, e é por isso que não sou muito exigente quanto a minha forma física. Talvez eu não tenha sido muito claro, então vou explicar melhor. Como sou por fora de-pende mais de quem vai trabalhar comigo do que de mim mesmo. Alguns preferem que eu seja de garrafa pet, saquinho de papel, de colher de pau, de EVA, TNT, feltro, meia, retalhos de tecido, papel machê e até de galhos de árvore. Isso depende da sua criatividade e imaginação!

Se você ainda não descobriu quem eu sou, vou revelar: alguns me chamam de marionete, outros de boneco, mas eu gosto mesmo é que me chamem de fantoche.

Sou assim, vivo para e pela contação de histórias – e é por isso que sou versátil. Elas me mantém vivo! E não é só isso, não. Neces-sito de todos aqueles que de alguma forma são apaixonados pela leitura e literatura, e que me utilizam como recurso para a contação de histórias. Quando eles se propõem a investir parte do seu tempo e talento para me confeccionar, me dando voz e movimentos, pas-sam a ser a razão da minha existência e do meu sucesso. Em troca eu também lhes ofereço muito mais, posso proporcionar horas de

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recreação educativa, tanto para o professor como para as crianças; pois, ao servir-se de mim para a contação de histórias, o professor estimula seus alunos a desenvolverem certas atitudes como: empa-tia, estima, cooperação, comunicação, coletividade, inclusão, ludici-dade. Eu também auxilio no desenvolvimento da percepção visual, auditiva e tátil; ajudo na organização de idéias e pensamentos; e desperto a integração, a interação, a socialização e ampliação do vocabulário do aluno.

É por tudo isso, e por proporcionar as pessoas um turbilhão de emoções e sentimentos quando estou em cena, que sou muito feliz!

Rosicler Alves dos Santos

Referências:BLOIS, Marlene M. e BARROS, Maria A.F. Teatro de fantoches na

escola dinâmica. Rio de Janeiro: Ao livro Técnico S.A., 1967.LADEIRA, Idalina e CALDAS, Sarah. Fantoche e Cia. São Paulo:

Scipione, 1989.

Contar e (des) cansar é só começar: descascando em plena sala de aula

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Quem sabe onde encontrar o que o vento roubou de nossa imaginação?

Andressa Machado Teixeira

Pistas enigmáticas, chaves velhas, cadeados enferrujados, baús acomodados no fundo do oceano e navios seculares... é muito fácil adivinhar do que eu estou falando! É uma coisa misteriosa, vem do tempo que os piratas não usavam fio dental, pois passavam me-ses num convés! Bacalhau? Não, não é comida! Estou falando de algo mais duradouro que porcelana chinesa, mais empolgante que os bailes de máscaras, mais misterioso que a cortina do teatro (fe-chada)! Ainda não adivinhou? Ô- ou! Vamos tentar a próxima pista...

Todas essas tralhas podem ser reunidas numa brincadeira só! Ela é mais eletrizante que um choque, e já se viu das reações mais inesperadas entre os participantes, como pulos involuntários e von-tade de rolar no chão de alegria! Em alguns casos extremos os parti-cipantes chegam a sentir o coração retumbante e os olhos saltados. Também pode ser perigosamente envolvente e provocar uma imen-sa vontade de abraçar quem você nunca abraçou, sem ao menos pedir permissão. Quanto ao acompanhamento das pistas, alguns sentem uma compaixão tão verdadeira por quem fica para trás que insistem em jogar até o final de mãos dadas, mesmo que esse gesto comprometa a primeira olhadela do objeto quando é encontrado. E nessa hora ouve-se um coletivo e sonoro: oooooohhh!!! Expressão de espanto e surpresa que nunca foi combinada, nem ensaiada! Ain-da não descobriu?

Aí vai outra dica. Dá pra ser feito de muitos jeitos: usando pis-tas e mapas em pequenas escalas, cochichos de coisas que todo mundo sabe, personagens reais ou do além, caixas fechadas espa-lhadas, objetos esquisitos sem ponta, sapatos de diversas cores e tamanhos, dicas, bolas, músicas, teatro, histórias... ixe! É muita pos-sibilidade para uma brincadeira só! Por isso que eu jogo tanto caça ao tesouro e nunca me canso! AH meu Deus acabo de revelar o que você tanto se esforçava para descobrir. Sem meias palavras.. é muito simples, divertido e pode acontecer até dentro da sala de aula. Quer um exemplo?

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Dona Carochinha

(domínio público – Portugal – recolhido por Raquel Marques Guimarães)

Diz-se que uma vezuma carochinhaachou cinco réisvarrendo a casinha. Julgando-se ricatoda se enfeitoue pra ter maridopra janela foi. Quem quer casarcom a Carochinhaque já não é pobree é bem bonitinha? O porco que passaapaixonado está-- O que comes, porco?-- Do que Deus me dá! -- Passa fora, porcoque a ti não queropois melhor maridodo que tu espero! O cão que passagamado está-- O que comes, cão?-- Do que Deus me dá!

-- Passa fora, cãoque a ti não queropois melhor maridodo que tu espero! O gato que passaenfeitiçado está-- O que comes, gato?-- Do que Deus me dá!-- Passa fora, gatoque a ti não queropois melhor maridodo que tu espero! Quem quer casarcom a Carochinhaque já não é pobree é bem bonitinha? E o rato que passaenamorado está-- O que comes tu, rato?-- Do melhor que há! -- Vem cá, meu ratinhoque eu mais ninguém

queropois melhor maridodo que tu não espero! Dona Carochinhae o João Ratãoambos à missinhano domingo vão.

Contar e (des) cansar é só começar: descascando em plena sala de aula

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Mas já na igrejamulher e maridose dão pela falta do leque esquecido. -- Que dirá de nóseste zé-povinho?vai buscar meu lequeó, meu queridinho. João Ratão em casafoi ao caldeirãoprovar o jantarcomo um bom glutão.

E tanto o glutãodo jantar provouque dentro do tachocozido ficou. Uma vez em casaDona Carochinhasoube o que ao maridosucedido tinha. Viu-se que a tristetinha um coraçãopois morreu chorandopelo João Ratão.

Fonte: CD “Dois a Dois”, DUO RODAPIÃO. Copie as estrofes do poema que estão em negrito em papeizi-

nhos separados, e dobre-os bem pequenos. Coloque-os dentro de balões de uma cor só, encha-os e dê um nó bem apertado. Depois, cole nos balões figuras relacionadas às palavras sublinhadas que são citadas no poema. Eles servirão como pistas. Distribua-os aos alunos e leia apenas as partes do poema que não estão em negrito. Comece a ler o poema e quando chegar na palavra sublinhada “cinco réis” a pessoa que está com o balão que tem a figura correspondente a pa-lavra deve estourá-lo e continuar o poema. Logo depois você conti-nua a ler o poema até chegar novamente à outra palavra sublinhada.

Tenha o poema em mãos para guiar a seqüência e boa brinca-deira!

Você já descobriu qual é o tesouro? O próprio poema! Nunca leu poemas em forma de caça ao tesouro? Comece agora mesmo! Especialmente este pode ser lido e cantado, pois está disponível no CD da Caixinha Viajante fornecida pelo projeto Mais Gente e Livros. Nós bolamos este caça, mas os próximos podem revelar os seus te-souros prediletos. Onde será que eles estão escondidos?

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Jogos teatrais e jogos dramáticosKarla Neves

Desde pequeno o ser humano pratica teatro. Quando brinca-mos, sozinhos ou com amigos, de boneca, de carrinho ou quando somos o mocinho ou o bandido, estamos nos relacionando com a arte de interpretar. Esta arte é tão antiga quanto à própria humani-dade. Por causa da necessidade de expressar e comunicar sentimen-tos e fatos do cotidiano, nossos antepassados, os homens pré-histó-ricos, já praticavam as representações cênicas com função narrativa. Já nesta época utilizava-se o artifício de fingir ser outra pessoa para contar histórias e acontecimentos do dia a dia.

Nossos comportamentos variados e nossas várias formas de expressão demonstram a capacidade que apenas os humanos têm: dramatizar. Quantas vezes somos obrigados a fazer coisas que não queremos e, mesmo assim, reagimos com bom humor? Ou os vários personagens que somos em nossa vida - seja em casa, no trabalho, na escola, com o namorado ou com a família. Usamos máscaras so-ciais de acordo com o espaço e a situação em que nos encontramos.

São nesses momentos que percebemos que a representação de personagens, signos e interpretações nos possibilita diversas rela-ções com o mundo em que vivemos. Através dos sentidos é possível estimular a capacidade e potencialidade cognitiva de cada um. Um grande aliado para esta prática é o jogo. Do latim, a palavra jogo – jocu – quer dizer: atividades físicas ou mentais organizadas por um sistema de regras; passatempo; divertimento; brinquedo.

O jogo faz parte da nossa vida e aprendemos a jogar desde cedo. Quem não se lembra criança jogando peteca, caçador, brin-cadeiras de roda ou jogos eletrônicos? O jogo aflora diversos senti-mentos. E com o jogo teatral não é diferente.

A primeira vista pode não parece, mas o jogo e o teatro têm muita coisa em comum. Os dois podem explorar o corpo e as sen-sações vividas durante sua execução, bem como o ambiente onde são realizados. E não para por aí, as duas atividades são divertidas e prazerosas.

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Por meio dos jogos teatrais e dramáticos podemos experimen-tar a sensação de criar e transformar o mundo em que vivemos, as-sim como ser quem não somos e, através dessa “nova realidade”, conhecer melhor a nós mesmos!

Quem joga?

Pré-disposição ao divertimento e a não obrigatoriedade da par-ticipação conta muito para que o jogo seja uma brincadeira espontâ-nea e prazerosa. Para aqueles que não querem participar ativamente do exercício, pode ser proposto uma função paralela ao jogo. É im-portante sempre deixar claro as regras e objetivos da atividade!

Há diversos autores e pesquisadores que oferecem jogos. Lem-bre-se que a escolha varia de acordo com a realidade dos partici-pantes.

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Camila S.G. Acosta Gonçalves

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Recursos externos: DramatizaçãoJuliana Beltrão Leitoles

O ser humano, pelo simples fato de existir, exercita o que se conhece como dramatização. Desde bebê descobre que pode chorar – mais e mais alto! – para conseguir algo. Conforme vai crescendo, o faz-de-conta ganha mais espaço na vida da criança - ela inventa brincadeiras, amigos e realidades novas.

Inato ao ser humano é a criação dramática. Por que não fazer uso deste recurso para mergulhar num mundo fantástico? Não se deve sentir pudor de investir corpo e alma numa brincadeira que aprimora nossa expressão!

Pode-se começar inventando uma situação nova, com novas pessoas e assim criar uma história, valorizando sempre os detalhes e explorando o material humano – de modo a envolver todos nessa nova realidade. Mesmo que seja por um breve momento, será de grande valia!

Pensando em sala de aula, que tal colocar o aluno em foco para, durante o ato teatral, fazer com que ele se descubra e se coloque diante de situações inusitadas? O teatro tem o poder de criar, trans-formar, evoluir e reconstruir. É preciso apenas exercitar essa capaci-dade criadora de forma a tornar o sujeito mais sensível, mais con-sistente, mais ativo, de maneira que compreenda criticamente o seu papel.

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É possível contar histórias com objetos?

Márcia Azevedo Rocha

Antes de fazer parte do projeto eu não imaginava que uma história com objetos pudesse se tornar real e convincente para as crianças. No começo percebi que seria um desafio cheio de possibi-lidades. Ao começar a manipular objetos durante a contação, pude perceber que estes materiais alimentam a imaginação ao mesmo tempo que concedem um convite ao mundo imaginário. É neste ins-tante que percebemos o quanto somos capazes de contar uma his-tória com qualquer objeto que temos ao nosso alcance: garrafa pet, lã, sucata, caneta – opção é o que não falta! Substituindo elementos da história por esses objetos, o contador transita entre o material e o imaginário.

Um exemplo que marcou minha participação no projeto foi uma contação que fiz com garrafas pet, para a história da Chapeu-zinho Vermelho. Por mais que no começo pareça estranho, a partir da construção do objeto o personagem já começa a ganhar vida e durante a narração passa a ser um atrativo para o olhar atento da criança.

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O livro sem palavra escrita

Luciane Fabiane dos Santos

Poucos de nós encontram livros de histórias apenas com ima-gens, e há quem diga que esse tipo de livro é para crianças pequeni-nas, que não sabem ler. Um engano desastroso!

As imagens requerem muita atenção do leitor ou do contador de história, porque exigem interpretação da seqüência de ações, da expressão corporal e de sentimentos expressos pelos personagens. Elas são provocadoras, e estabelece uma interação atenta e contínua com o leitor, da primeira a última página. Outra faceta é a flexibilida-de, pois a imagem abre as portas para a criatividade. Ela concede ao leitor autonomia para criar falas, brincar com os personagens, trazer sentimentos novos e ampliar a história a partir das cenas colocadas. É uma imensidão de possibilidades!

Observando a imagem do primeiro capítulo do livro, por exem-plo. Facilmente percebemos o que a nossa personagem pode estar fazendo, mas não podemos afirmar se ela está pulando, com fome ou pensando em decorar sua casa com a flor ou o fruto que sua mão alcança. Também não podemos dizer que ela está dormindo num sofá, ou se está alegre, animada. A figura sugere idéias, comunica algo, há um cenário que envolve a personagem e projeta uma curta estória.

Quem era do tempo do cinema mudo ou já brincou de imagem e ação, facilmente se diverte lendo um livro sem texto escrito. O pessoal que trabalha com publicidade e propaganda sabe chamar a atenção do cliente utilizando, muitas vezes, apenas imagens. E quem já olhou para a expressão facial do pai e entendeu direitinho o que ele estava dizendo sem ouvir uma palavra, também entende o que estou escrevendo.

Certo dia entrei numa classe multisseriada, para desenvolver uma atividade, e a professora logo mostrou os alunos que estavam aprendendo o alfabeto - sentados num lado da sala – e, no outro lado, os alunos que já sabiam ler e escrever. Nesse momento, o livro

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Traquinagens e Estripulias, de Eva Furnari, com seus divertidos per-sonagens, foi crucial para envolver todos os alunos na elaboração de uma peça teatral. As crianças observaram as características dos personagens: roupa, cabelo, corpo, caretas e o movimento do ce-nário; e em seguida escreveram cuidadosamente a fala de todos os participantes da estória. A turma toda conseguiu criar uma ótima estória, coerente, com início, meio e fim. E, além disso, as crianças encenaram a peça teatral com muita energia.

Um livro de imagens guarda a riqueza de conter várias estó-rias, muito movimento, diálogo com o leitor, diversas leituras, textos, sentimentos, dentre outros fatores pertinentes a literatura. Portanto, Abramovich ( 1991, p.32) aponta,:

“[...] além do talento gráfico desses desenhistas, é importante perceber sua habilidade para construir toda uma narrativa seqüen-ciada, completa, sem precisar de palavras... Sua capacidade de con-tar uma história de modo ágil, vivo, usando traços moventes, conhe-cimentos da cor e domínio da página, das páginas, do livro como um todo... de maneira harmônica, bonita, inteligente e cutucante...“

Referência:ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil, gostosuras e bobices.

São Paulo: Scipione.

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Manual do cozinheiro contador (de histórias, não de núme-ros)

...do caderno da Camila S G Acosta Gonçalves

Livros Besuntados ou Adornos no Prato Principal

O que são?

Sabe quando a mãe cachorra ou a mãe gata lambem seus res-pectivos filhotes? é mais ou menos isso!

NÃO, não vire a página. Não ainda. O assunto é sério. Não se trata de lamber os livros, até porque o metabolismo humano não digere papel (experiências da infância e da ciência!).

Sabe quando dizemos que tal pessoa é tão graciosa que sua mãe deve ter lhe passado açúcar ou mel quando neném? ou mesmo que nasceu com o bumbum virado para a lua, captando os raios de luar? ou quando vemos um prato servido com adornos apetitosos e coloridos, deixando-nos com mais vontade de devorá-lo?

Então, essa pode ser uma tática também para as histórias, in-clusive na contação COM o livro e em especial quando os ouvintes ainda não conhecem o que irão ouvir.

Do quê você vai precisar / ingredientes: 1 história provadamente suculenta pelo cozinheiro 1 espaço preparado para a refeição` Ouvintes (que sabem ou não que será a hora da história) a

gosto 2 ou mais relações da história com os ouvintes (da situação,

dos personagens, do tempo, de outros enredos conhecidos, do afe-to, do desafeto, dos elementos de fora do livro – capa, textos, etc.)

1 elemento-surpresa desejado e apreciado (pergunta, obje-to, gesto, dança, entonação...)

MAIS 1 elemento-surpresa (carta na manga)

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Como fazer / modo de preparo:

a) Reúna os ouvintes no espaço preparado

b) Aguarde o momento do oferecimento

c) Traga o primeiro elemento-surpresa junto às relações da his-tória emoldurando o prato principal

d) Garanta a degustação pelos ouvintes – efeitos característicos são: água na boca, olhos atentos, caras de surpresa, pequenos bu-chichos de cumplicidade

e) Aos poucos a história será trazida, como que desembocada pela especial guarnição do chef e seus cozinheiros mirins (ouvintes), caso a besuntação tenha sido adequada

f) Passo a passo com a saboreação, faça uso do segundo ele-mento-surpresa no decorrer da contação da história

Exemplos de adornos no prato principal:

I – Voando na janelinha. A intenção era a apresentação do livro “Vacas não Voam”, de David Milgrim, por meio de uma fala sem pé nem cabeça que naturaliza o inusitado. Simplesmente fui até a turma (que acabara de conhecer) e comentei: “está um lindo dia para uma vaca voar... não acham?”. Pronto! Olhares desconfiados e opiniões contrastantes... era tudo o que precisava para servir as vacas no céu. Interagindo com ilustrações e rimas do livro (perguntando se o professor da turma era igual à do livro; deixando espaços em branco na poesia para o pessoal completar) e terminando com um debate sobre qual outro animal poderia voar - como sugere o fim do livro -, o dia foi ótimo! só faltava um pinguim voar.

II – Eu não tenho medo! Essa é batata! – para citar alguns livros / histórias em que a besuntação funcionou: “Bruxa, bruxa, venha à

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minha festa”; A noite das bruxas (“Lá vem história”); A menina escon-dida na terra (“Lá vem história outra vez”). Inúmeras vezes, antes de iniciar uma história de dar medo, digo aos ouvintes ativos: “pois é, hoje eu trouxe uma história, mas acho que não vou contar para vo-cês, não... é uma história de dar medo... será que vocês têm coragem de ouvir essa história? (...) olha, depois eu não quero saber de gente reclamando no dia seguinte porque não conseguiu dormir, hein?”. As reticências são muito importantes, porque abrem espaço para os comentários do grupo - que normalmente demonstram coragem, revelam alguns medos (de dormir de luz apagada, por exemplo) e nos brindam com histórias assustadoras da comunidade local. MUI-TO IMPORTANTE: há ainda encontros em que um ouvinte fica reti-cente ou diz não querer ouvir a história. Da última vez em que isso aconteceu, eu fiz o seguinte contrato: quando a ouvinte estivesse para escutar algo que a deixasse com muito medo, ela taparia os ouvidos e fecharia os olhos, bem forte!, e isso valia para todos. A menina concordou e então comecei a contar. Não recomendo iniciar NADA antes de fazer esse ou outro combinado, é preciso olhar para cada um da roda para se certificar se estão todos de acordo. Pois a literatura é, antes de qualquer coisa, “a arte de ouvir e de dizer”, como nos diz a Grande Marisa Lajolo.

III – Poemas de sabão. O livro “Fábrica de Poesia” é uma jóia rara em nossa caixinha viajante / 2010. Para introduzi-lo aos alunos, utilizei um frasco com líquido e uma argola para soprar bolhas de sa-bão. Cada um na sua vez fabricou bolhas de sabão (com o contrato de a turma não sair da cadeira para estourá-las, valendo estourar de onde estivessem sentados), também fabriquei grandes bolhas para cada um do grupo - inclusive para a professora. No seguimento, recitei a poesia Bolha de Sabão e perguntei quem já havia fabricado bolha de sabão. E quem já fabricara um poema. Interessante ob-servar que, num primeiro momento, nem todos se percebem como fabricadores de bolhas, da mesma maneira em que podemos não perceber que fabricamos poesia. O trabalho foi finalizado com a fa-bricação de poema coletivo.

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(Tentativa de) CONCLUSÃO:

Adornar um livro pode ser uma forma de apresentá-lo aos ou-vintes, numa interação necessária e divertida. Para besuntar, a medi-da é de cada cozinheiro contador com seus interlocutores, e os ador-nos têm de ser legitimamente aceitos por ambos. Lembrem: pouco ou nenhum adorno pode já ser o ideal, e mesmo a melhor tela pode ser enfeiada com uma exagerada moldura... tal qual a história do Pintor do Céu. Não conhecem? pois vou contar para vocês...

Referências:

DRUCE, A. Bruxa, bruxa, venha à minha festa. Ilustrações de Pat Ludlow. Tradução de Gilda de Aquino. São Paulo:Brinque-book, 1995.

MILGRIM, D. Vacas não Voam. Tradução Gilda de Aquino. São Paulo, Brinquebook, 2007.

MURRAY, R. Fábrica de Poesia. Ilustrações de Caó. São Paulo: Scipione, 2008.

PRIETO, H. Lá vem História: contos do folclore mundial. Ilustra-ções de Daniel Kondo. São Paulo: Cia das Letrinhas, 1997.

___________. Lá vem História Outra Vez: contos do folclore mun-dial. Ilustrações de Daniel Kondo. São Paulo: Cia das Letrinhas, 1997.

ZOTZ, W. e CAGNETI, S. Livro que te quero livre. Ilustrações de Mariana Massarani. 3ª. Edição. Florianópolis: Letras Brasileiras, 2005.

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Ilustração

Ana Luiza Suhr Reghelin

Não é simplesmente um desenho ao lado do texto, não é uma figura no final da página, é mais que a descrição física de um perso-nagem e mais que um atrativo visual. Sua atuação corresponde a um nível a mais de compreensão, é um elemento a mais na composição narrativa. Segundo Duborgel, a ilustração não é “nem o espelho dos dados banais da percepção, nem bengala ou apoio do acto de lei-tura, como também não é um pálido pleonasmo do texto”. Assim como não é somente um desenho ao pé da página, criar uma ilus-tração não é somente desenhar. É preciso entrar no universo da his-tória, captar detalhes e criar um segundo estágio: a narrativa gráfica.

A ilustração é um mundo dentro de outro mundo, mas as rela-ções e ligações entre texto e imagem são diretas e interdependentes. A significação gerada por uma leitura sem imagens é diferente de uma realizada com imagem e texto simultaneamente. Dessa forma o processo de leitura de texto e imagem simultâneos colabora para a compreensão e interpretação da narrativa, e para a apreensão dos códigos da escrita e da imagem.

A contação de histórias com o livro é importante e pode acon-tecer de algumas maneiras: ser feita sem a utilização das imagens, com a apresentação das imagens do livro, ou as duas coisas em pe-ríodos alternados - cada uma destas é recebida pelo ouvinte de uma maneira diferente. Quando as ilustrações são utilizadas, é necessário, e enriquecedor, explorar as potencialidades das imagens, relacio-nando isso à mensagem/idéia que a imagem quer passar. A emoção, a ação do momento e também os aspectos gráficos desse tipo de linguagem - a linha, as cores, os espaços em branco -, interferem na mensagem que a imagem quer passar. Assim, todos os elementos que auxiliam na compreensão do texto também atuam na criação de outro tipo de texto: o imagético.

Além disto, a imagem pode ser utilizada para criar uma atmos-fera de envolvimento com a contação. Ela pode aguçar a curiosidade

Contar e (des) cansar é só começar: descascando em plena sala de aula

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do ouvinte levando-o a imaginar qual o tipo de história que vem chegando, que tipo de personagens e ambientes, assim como carac-terizar o tipo de texto: “contos de fada, fábulas, de terror, de humor, entre outros”. Uma opção para exercitar essa ligação texto e imagem, seria propor, antes da contação, a criação de uma história somente a partir de imagens. Este exercício de leitura e interpretação de ima-gens é um bom caminho para a ampliação do universo apresentado pelo texto e pode se desdobrar em múltiplas outras criações.

Por outro lado, uma contação sem ilustrações trabalha o ima-ginário de outra maneira. Este tipo de contação propicia também a criação de ilustrações, só que através de imagens mentais. O “Era uma vez...” já transporta o ouvinte para outro mundo, que já não é o do concreto e real. O professor pode, a partir disso, explorar as criações individuais e propor para os alunos transportarem estas imagens mentais para o real, criando ilustrações para o texto e rees-crevendo a história, ou uma nova história, a partir destas imagens.

Este diálogo entre ilustração e texto é muito rico, porém a ilus-tração não está a serviço do texto, mas sim a serviço da leitura e do imaginário. Atualmente, quase todos os livros de literatura infanto--juvenil evidenciam uma grande preocupação com a estrutura visual. Alguns, como uma maneira de deslumbrar e chamar a atenção para o livro, e outros para encantar os olhos e, juntamente com a história, transportar o leitor para o mundo mágico da literatura.

O Projeto possui em seu acervo alguns livros que evidenciam a ilustração, são eles:

“O outro lado” de Istvan Banyai “Fico a espera” de Davide Cali“Traquinagens e Estripulias” de Eva Furnari“Bruxa, bruxa, venha a minha festa” Pat Ludlow “Rápido como um Gafanhoto” de Audrey Wood “Zig Zag” – Eva Furnari“A árvore generosa” de Shel Siverstein“O livro inclinado” de Peter Newell

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Referências:DUBORGUEL, Bruno. Pedagogia e imaginário. Lisboa: Instituto

Piaget, 1992.NECYK, Barbara Jane. Texto e Imagem: um olhar sobre o livro

infantil contemporâneo. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. In: http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesaber-tas/0510310_07_Indice.html

OLIVEIRA, Rui de Oliveira. Pelos Jardins de Boboli: reflexões so-bre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008

Contar e (des) cansar é só começar: descascando em plena sala de aula

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Capítulo 5 - A massa desandou... virou virado!Experiências com o inesperadoSituações-problema no projeto e o que se pode aprender com elas

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“Felpo ficou pálido. Havia algo errado. Ela não tinha engolido um piano! E ele tinha entrado na casa dela como um louco insano. Ela devia pensar que ele era

maluco. Crise total, a orelha direita tremia. Preparou-se para fugir, mas a Charlô não deixou. Agarrou-o

pelo braço, tirou o aparelho de dentes na frente dele mesmo e explicou, com lágrimas nos olhos de tanto

rir,...” (FELPO FILVA, de Eva Furnari)

“-- Parem a história! Oh, que horror! Está tudo tro-cado!”

(O PROBLEMA DO CLÓVIS, de Eva Furnari)

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tempo...

Ora oraHora horaPassa tempo passa horaA literatura não para,mas o tempo passae a hora chegaa hora que não parapassa e vai emboramas o que ficaficae não há quem retifiquee não há quem justifiquee não há quem nos retireo prazer de passar a horacontando históriase saboreando o passar do tempovivendo intensamenteo contatoo somo gestoa lembrança de ter vividoo tempoda maneira mais vivamais pura.O tempo passa simRápido assimLeva o que é bomDeixa saudadesMas ao mesmo tempoO tempoAquele que passaQue é curtotraz consigo

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aquilo que não planejamoso melhor do tempoa maturidade!Aquela que parece senilE é repleta de sabedoria...Aí eu conto esta história ao meu filhoFilho!O tempoOraOraHoraagoraO tempo faz milagres!!!! Juliana Leitoles

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Limonadas bem batidas e adoçadas: qual a medida?

Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves

Adoro virado de banana, aliás, é um dos poucos pratos que sei realmente fazer na cozinha, dando meu toque pessoal em cada etapa desse processo tão complexo! Confesso que há momentos em que exagero na farinha de milho ou no açúcar, e aí até mesmo o virado pode ficar empapado de menos ou temperado demais.

Nos contextos da culinária profissional, situações como estas podem causar algum desconforto...

1. Fast-foodAbriu a caixinha com o sanduba e sentiu um fedorzinho suspei-

to vindo do picles... e a fila está quilométrica!2. Comida caseiraSalada sem alface, arroz sem carboidratos, feijão sem caldo e

sem tempero, ovo sem gema e carne sem ser de animal: é da casa de quem?

3. Culinária Japonesa (é, isso mesmo: carne crua!)Probleminha: comida crua pro filho único “netinho da vovó”.4. Barreado e delícias do litoral paranaenseA ostra fugiu da concha, o camarão fez protesto e fugiu da rede,

o peixe fugiu do anzol e o cachorro fez aquilo no buraco de cozinhar barreado e é claro que fugiu!

5. Comida GaudériaPicanha sangrenta para o vegetariano convicto, tchê!6. Cozinha mineirinhaChegaram os clientes para o tutu à la mineira. Eles só falam

catalão. E você não, UAI!7. O que é que a baiana tem?Sopa de acarajé no azeite de dendê para o início da dieta.8. MexicanaRecuperando-se de uma gastrite que durou 168 horas, o cliente

mergulha no tempero malagueta!9. Italiana

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Conchiglione recheado com tomate seco e gorgonzola ao mo-lho carbonara— mas na cozinha da cantina só tem macarrão instan-tâneo...

10. FrancesaBistrô muito chique. Chamando o garçom, ele lhe entrega o

menu tout en français! (aí é o problema: tudo escrito em francês!)Tais desconfortos com o inesperado também acontecem em

um projeto no qual todos amam muito comer e contar histórias - práticas não necessariamente sempre concomitantes. Um projeto da universidade com equipe que faz reuniões continuamente, divide tarefas e se une para contribuir com os desafios educacionais da co-munidade, lê, analisa, reflete, discute, relê... também está suscetível ao inusitado e, na hora H, tem sobre si uma baita pressão para fazer dar tudo certo, ser exemplo, explanar o assunto, trazer livros, formar leitores e orientar professores.

“Ninguém disse que seria fácil” é uma das coisas que pensamos (e que se pode escrever) sobre os dez primeiros segundos após a experiência do virado.

E aí? O que é que a gente faz?

Como já dizia o ditado popular: se você tem limões, faça um limonada! mas, por obséquio, tempere com um bom bocado de açú-car e bata com bastante gelo!

O que já nos aconteceu... (você já passou por algo semelhan-te?). Confira!

1. Falta. De transporte, de tempo, de gente, de livros.2. Sobra. De justificativas, de compromissos, de atrasos, de coi-

sas para ontem!3. Mudança. De data de viagem, de estratégias, de tamanho e

de quantidade de beneficiados.4. Telefone sem fio ou os famosos erros de comunicação. Do quê

se quer, do quê se espera, de quem, quando, como, por quê...5. Não poderiam faltar os problemas de relação, mesmo. Foram

desde crises nervosas, piadinhas sem graça até situações ainda mais turbulentas. Pessoas são pessoas. Trabalhar em grupo é uma arte.

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Já entendeu o drama? Leia sobre situações na prática!1. Certo dia nublado, um pouco de chuvisco, a turma do MAIS

Gente e Livros chegou de voadera em uma ilha desconhecida. Más-caras de porquinhos, lobo, música inédita, desenho com carvão, eram algumas das atividades planejadas partindo do tema do livro “A verdadeira história dos três porquinhos”. Pois bem, tudo nos con-formes. Até que o grupo viu o tamanho das crianças e teve a leve im-pressão de que elas estavam um pouco crescidas para cursarem as séries iniciais do ensino fundamental. E ouviu a pedagoga dizer com um sorriso de orelha a orelha, verdadeiramente feliz com a chegada do projeto: “como combinado, todas as séries estão presentes: da quinta ao terceiro ano do ensino médio”. Enfim, foi informado que as séries iniciais aguardaram a chegada do grupo pela manhã – horário em que o grupo estava na estrada... O trabalho fluiu certo por linhas tortas, novos textos foram rapidamente separados para a interven-ção, que contou também com os professores recebendo a capacita-ção. Alguns dos docentes também viriam pela manhã; outros, não. Os porquinhos? Foram compactadamente apresuntados dentro dos materiais, sem nenhum adolescente tê-los visto. Ainda bem!

2. Não, ela tinha absoluta certeza. A professora era magrinha, estava só barrigudinha. Pimba! Sem sombra de dúvidas. “A profes-sora está grávida?”. É, a palestrante do projeto perguntou. (É cla-ro que ela não estava grávida, senão essa história não estaria aqui, nesse capítulo). Ainda bem que a professora não se ofendeu. Nem quando sua interlocutora insistiu em dizer para ela que sim, que ela estava grávida. É nessas horas que a gente poderia se transformar em avestruz, para colocar a cabeça na terra até que todos os outros 30 professores, equipe educacional e colegas do projeto saíssem do recinto. Um pacote de pão também faria as vezes.

3. Julieta de bicicleta. Era o nome da história. A quarta série era serelepe. O professor não estava, um menino bateu no outro. E nada de conversa com o livro da Julieta. Aí a integrante da equipe decidiu trocar o menino de lugar com ela. O menino não bateu nela (ainda bem) e todos (inclusive ele) ficaram curiosíssimos com o que vinha depois da curva da estrada da Julieta. Até deu tempo para contar

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um poema: Dever de casa, de Jacques Prévert. A todo ouvidos, a turma respondia em coro: “dois mais dois?” “quatro!” “quatro e qua-tro?” “oito!” “oito e oito?” “dezesseis”. Emergiu o silêncio quando o giz voltou a ser falésia e as penas de escrever voltaram a ser pássaros (últimos versos da história recitada).

4. Teve um dia em que a kombi quase parou na estrada. Por pouco. Parou mesmo foi no bairro do Tarumã. O motorista achava que ela era bicombustível, só que na verdade havia um reservatório de álcool só para dar a partida do calhambeque, ou melhor, do veí-culo para nove pessoas. Quem salvou o dia foi a mãe da orientadora, que trouxe cinco litros de gasolina para abastecer o carro. A falta de blitz pelo local também contribuiu para não piorar o momento.

É mole?Ou duro de roer?

E... na escola?Pois é, a escola é uma comunidade, e a sala de aula é um micro-

cosmo tão cheio de riquezas e fragilidades quanto um planeta intei-ro. Exposta a tantos riscos quanto em qualquer reunião de pessoas. Riscos de repetir padrões sem saber por quê, encarar a participação como intromissão (inoportuna), encontrar mil e uma justificativas para deixar a literatura para outro lugar, se houver tempo, se o cur-rículo deixar. Não brincar, não ler, não rir, não contar, não cantar... ai que medo!

Sabe que errar é humano, porém só espécies tão inconforma-das com seus erros ou mesmo com deslizes das circunstâncias (ou dos outros, mesmo!) é que poderiam inventar esse ditado, não acha?

Mas nossa espécie também é capaz de muito MAIS. De, através da arte das palavras, presentear-nos com histórias que não só quei-mam o virado, mas o temperam com salsicha e leite condensado e comem com farofa verde mofada. História inspiradas na gente que nem a gente.

“Ninguém sabia por quê, mas os pequenos habitantes de Pos-

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covônia não podiam mostrar os pés. Podiam até andar pelados, mas mostrar os pés não, nunca, de jeito nenhum. Os poscovônios, sujei-tos muito bem-educados, estavam sempre de meias e sapatos. Só tiravam para tomar banho e olha lá. Mesmo assim, quando saíam do banheiro tinham de sair com os pés calçados. (...) O povo de Posco-vônia nem gostava de usar a palavra pé. Preferiam ‘pedúnculo’, que era o nome científico daquela parte inferior do corpo.” (FURNARI: 2000, pág 5-6).

Essa é uma das histórias da coleção O avesso da gente, da escri-tora Eva Furnari. Abaixo das canelas fala sobre a aventura de Fausto, um professor de filosofia que procurar investigar a fundo a pergunta de um de seus alunos - tão simples, tão radical, tão original: afinal de contas, por que não se podia mostrar os pedúnculos?

Fausto é obstinado por responder grandes questões, e revela ao longo do livro a origem de um tabu. Desse livro para crianças, sur-ge outra questão: por que não se pode escancarar os erros? O que mais escondemos é o que mais revelamos e quanto menor a criança, maior a percepção que ela tem da falha do outro— mas pouco con-segue dizer com palavras por uma questão de recursos e autoridade.

Enquanto os erros dos infantes gritam por meio dos X’s, meios C’s e círculos caneteados em vermelho, as falhas do professor ficam registradas aonde? Por que não discutir ambos os deslizes, as pisa-das no tomate, com todos os envolvidos? Assim o erro não precisaria estar acompanhado de vergonha ou de culpa, mas, sim, de respon-sabilidade.

“Todos ficaram felizes... mas nem tanto. Eles chegavam à noite tão cansados do trabalho e o Finfo querendo brincar e eles queren-do descansar que acabavam brigando. Depois, também, cansados de brigar, sentavam-se todos na frente da televisão e ficavam hipno-tizados e mudos como sacos de batata. A família Barnabé sentia que aquilo não estava bom. (...) Lolo e Brisa pensaram logo em inventar mais alguma coisa, mas pela primeira vez não sabiam o que fazer. E, na verdade, pela primeira vez também perceberam que não era o caso de inventar mais nada.” (FURNARI: 2000, pág. 28-29).

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Lolo e Brisa Barnabé são um casal criativo e inteligente, que inventaram muitas coisas para resolver dificuldades cotidianas. Cria-ram a vassoura, a cama, o papel higiênico, a máquina de lavar roupa, o trabalho, a diarista, a televisão,... enfim, inventaram de tudo para que eles e seu filho Finfo tivessem o máximo de conforto e vives-sem felizes. Mas essa felicidade nunca era o suficiente para eles, que acabavam fazendo outro e mais outro invento. Até que chegaram àquele ponto: de se coisificarem como sacos de batata em frente à t.v. Quase virariam autênticos purês de batata com picadinho de pepino ao molho de ostras e cheiro verde, não fosse a saída que en-contraram.

Esses dias ouvi um relato muito genuíno de uma professora, em um curso de contação de histórias. Ela dizia que hoje há tanta tec-nologia, tantos aparatos, filmes, jogos, tanta interação, que é fácil se perder e não contar uma história, ler um livro, fazer uma brincadeira, dobrar um papel. Ser simples também é ser humano. Mas, às vezes, pode-se esquecer disso.

E essa foi a mensagem que mais me tocou no livro do Lolo Bar-nabé, um avesso da gente que está ali, mas que poucos têm a cora-gem de se virar, observar, aprender, e se desvirar felizes o bastante. Eva Furnari ilustra, nessa família, o desenvolvimento da humanidade em relação à criação de tecnologias para facilitar a vida. E demonstra que há necessidades que nunca poderão ser substituídas por ne-nhum automóvel, eletrodoméstico ou eletrônico. A de se relacionar consigo mesmo, com os outros e com a cultura é uma delas.

Não, não estou virando a cara para as novas tecnologias. Seria muito bom se toda escola pudesse oferecer aos alunos o acesso ao computador, à televisão, ao som, ao aparelho de DVD... mas quanto MAIS trabalhamos com formação de leitores, MAIS temos indícios que a contação de histórias e a leitura literária são práticas insubs-tituíveis, pois realizam nossos desejos. Não quero contar o fim do livro, mas posso dizer que foi por esse caminho o desfecho das his-tória do Lolo.

Mas vamos parar de nos virar do avesso e passar para outra coleção: a dos Bobos. Da corte.

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“Príncipe Dauzinho aproveitou que a governanta ainda estava dormindo, pegou uma pena do pai e escreveu num pergaminho ca-rimbado com o brasão do reino de Foncé:

‘Estas são as novas sete leis do reino e deverão ser cumpridas de hoje em diante. Quem não cumprir terá sua garganta cortada que nem rodela de cebola.

1. Todos os homens adultos têm que ter nariz do tipo brigadeiro amassado.

2. Todas as mulheres adultas têm que ter nariz do tipo cenoura gorda.

3. Os homens têm que ser de cor amarela, carecas e ter bigodes enrolados nas pontas.

4. As mulheres também têm que ter cor amarela, cabelos verme-lhos penteados em dois birotes do lado.

5. Os homens têm que calçar sapatos com sola tipo plataforma, usar calças verdes de listras, casacos roxos e ser um tanto barrigudos.

6. As mulheres têm que usar sapatos baixos e saia cor-de-rosa do tipo balão.

7. E todos têm que ter um cachorrinho de estimação pequeno, orelhudo, branco com quatro manchas marrons (tamanho médio) nas costas. Ah, e rabo preto também.

E tem mais, é pra todos estarem nas ruas, vestidos de acordo, amanhã, sábado, recebendo o rei e a rainha quando eles voltarem de viagem logo de manhã cedo.’” (FURNARI: pág. 14-15, 2002)

Não precisa ser inteligente como o Lolo Barnabé para perceber o tamanho do problema. Seria o momento propício para inventar a fantasia instantânea.

Mas a história de Dauzinho é outra. Filho do rei e da rainha, ele armou a maior confusão quando decidiu estabelecer regras mais rígidas para o reino enquanto seus pais viajavam, pois todos eram muito diferentes e não combinavam. Queria mostrar a seus pais sua grande idéia e, por isso, “organizou” o reino para recepcionar a volta deles de acordo esse novo protocolo. O resultado?

O resultado é que cada um se virou como pôde para não ter sua cabeça separada do corpo. Até coelhos foram vestidos de cachorros

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brancos com manchas amarronzadas e medianas. E quando o rei e a rainha, que não sabiam patavina dessa história, viram todos daquele jeito...

E essa não é uma situação que acontece com Raimundo e todo mundo? Quantas vezes já estivemos no papel dos moradores do reino? Do rei e da rainha? Ou tivemos a mesma idéia de Dauzinho?

Na escola, pela intenção de contemplar a todos, pode-se uni-formizá-los com narizes leguminosos, cores e penteados iguais. Contar história sempre do mesmo jeito, sempre do mesmo gênero, sempre no mesmo dia e no mesmo lugar, pode ser o mesmo que servir o mesmo prato em todas as refeições. Às vezes fazemos assim porque é assim que sabemos; outras, porque sabemos que os alunos gostam. Porém, se não introduzirmos na escola novos ingredientes da cultura e do conhecimento, como os alunos gostarão de algo que nunca experimentaram?

Gosto não se discute. Será? Não discutimos, mas pensamos que nosso gosto é mais gostoso... critérios arbitrários combinados com ameaças do estilo rainha de copas do sonho de Alice-- “cortem-lhe a cabeça!” - são misturas perigosas e propensas a virarem virado!

Além disso, não gostar também faz parte da experimentação. Ouvir histórias que despertam emoções novas e não tão bem-vindas assim (raiva, pavor, tristeza) pode ser fenomenal para uns e terrível para outros. E aí? Aí que cada um sente e pensa da sua maneira, e MAIS opções de cardápio levam a escolhas MAIS e MAIS apuradas e criteriosas. Dá muito mais trabalho, certamente. Mas que vale a pena, vale.

É o que aconteceu com o Felpo, sabia? É, o escritor Felpo Filva* foi tirado do eixo por correspondências de uma fã, a Charlô Paspar-tu. Sua vida mudou muito, só não fez um giro de 360 graus porque senão ele teria ficado na mesma... fez um giro em espiral aberta, lançando-se para o inusitado. Nem tudo foi como planejado, acabou engolindo um viradozinho com farofa (pelo menos não foi bolo de cenoura, que ele odeia), mas no final deu tudo certo. Do jeito que acontece com grande parte dos contos populares. Dá tudo certo.

* Quer saber MAIS sobre Felpo Filva? Além do livro escrito por Eva Furnari, leia a letra de música CARTILHA RAPIDOPOLINA -MAIS dos livros - e assista ao DVD MAIS Gente e Livros - outro produto cultural do projeto.

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Que bom, pois é o que esperamos da vida, não é?Acontece que Gente e Livros é MAIS do que um projeto. É pro-

jeto de vida de muita gente. Gente de Curitiba, gente de Piraquara, São José dos Pinhais, Tunas do Paraná, Guaraqueçaba, Adrianópolis, gente dos livros, escritores, ilustradores, contadores, livreiros, educa-dores brinquedistas, personagens, gente das escolas, pais, professo-res, diretores, merendeiros, serviços gerais, motoristas, barqueiros...

Para que o desejo de todos se concretize, ainda há muitos qui-lômetros a serem rodados. Talvez gerações passem até que as tira-gens de livros dobrem, tripliquem, aumentem exponencialmente no Brasil. Que todos possam adquiri-los, seja comprando, seja empres-tando, seja trocando. E que possam fazer escolhas mais sábias, que pratiquem a empatia e a alteridade, que sejam curiosamente insaci-áveis, que tenham seus momentos de reflexão.

Para isso, muito virado ainda vai virar, muitos desafios precisa-rão ser superados, muitos abacaxis descascados. Sem falar nos li-mões e nas limonadas, algumas azedas e quentes, outras na medida do açúcar e do frescor.

E com essa boa limonada e virado ao ponto, que a gente se fortaleça cada vez MAIS. Dentro e fora da escola, no avesso e no desavesso da sala de aula, na preparação e no inesperado dos en-contros, no espelho de semelhanças junto ao prisma de diferenças, que a gente não desista diante das pedras do caminho.

Afinal de contas, como a cultura da gente já diz: se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim. Pois o fim é a sobremesa, e ela é sempre docinha, docinha...

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Referências:AZEVEDO, R. “Literatura infantil: origens, visões da infância e

certos traços populares”. Disponível em www.ricardoazevedo.com.br.DUSSEL, I. e CARUSO, M. A invenção da sala de aula: uma gene-

alogia das formas de ensinar. Tradução Cristina Antunes. São Paulo: Moderna, 2003.

FURNARI, E. (texto e ilustrações) Abaixo das Canelas São Paulo: Moderna, 2000. (coleção O avesso da gente)

___________. (texto e ilustrações) Lolo Barnabé São Paulo: Moder-na, 2000. (coleção O avesso da gente)

___________.(texto e ilustrações) Dauzinho. São Paulo: Moderna, 2003 (Coleção Girassol; Série Os Bobos da Corte).

___________. Felpo Filva. São Paulo: Moderna, 2006.MACHADO, A. M. Balaio: livros e leituras. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 2007.MACHADO, R. Acordais: fundamentos teórico-poéticos da arte

de contar histórias. São Paulo: DCL, 2004.PRÉVERT, J. Dia de folga. Seleção e ilustração Wim Hofman; tra-

dução de Carlito Azevedo. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.Quilômetros rodadosÁguas navegadas

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Capítulo 6 - Culinária exótica: literatura FORA da sala de aulaEntrevistas com quem atua em hospital, brinquedoteca na clínica, brinquedoteca escolar e livraria especializada

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“Tudo que cresce e que andaComeça no meu mingauEu mexo toda a ciranda

Com minha colher de pau!”(NO FUNDO DO FUNDO FUNDO LÁ VAI O TATU

RAIMUNDO, de Sylvia Orthof)

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A literatura fora da sala de aula

Rosicler Alves dos Santos

Que a escola é um lugar de aprendizagem, ninguém duvida, pois é isso que se espera dela. E é através da leitura que se amplia e aprimora as formas de saber e de construção de conhecimento. Conseqüentemente, a escola também é o lugar de leitura por ex-celência. Não obstante, existem espaços onde a leitura acontece de forma tão legítima quanto na escola.

O projeto MAIS Gente e Livros foi até alguns desses locais* para um bate-papo com os responsáveis pelas situações de leitura que por lá acontecem, buscando conhecer a maneira como isso se desenvolve.

Além de ouvir relatos de experiências que enriquecem o tra-balho com a literatura, também foram feitas indicações e sugestões para o trabalho com os livros, a leitura, a brincadeira e a contação de histórias em sala de aula.

“(...) as crianças amam livros.”Cláudia Serathiuk

BISBILHOTECA

Toda livraria infantil deveria ter seu nome relacionado a algo gostoso, divertido e prazeroso. Foi pensando nisso que Cláudia Se-rathiuk criou um espaço cultural, voltado para a criança, chamado Bisbilhoteca. Inaugurada em 18 de abril, justamente na data que se comemora o Dia do Livro, a livraria realiza contação de histórias, lan-çamentos de livros, exposições, apresentações musicais, além convi-dar escritores para um bate-papo com as crianças.

Cláudia teve seu primeiro contato com a literatura quando era muito nova: “eu vim de uma família de leitores, então o primeiro presente que eu ganhei foi um livro”; e desde então ela faz o pos-

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Culinária exótica: literatura FORA da sala de aula

sível para se manter perto dos livros: “quando eu tinha uns oito ou nove anos abriu uma biblioteca municipal perto da minha casa e eu comecei a freqüentá-la porque era apaixonada por leitura; nas férias, como eu não viajava, passava as manhãs e as tardes participando de muitas atividades: contação de histórias, cursos de histórias das artes, de flauta, entre outras. (...) Quando eu tinha 12 ou 13 anos aconteceu, na Praça Osório, uma feira colegial do livro. Com o apoio das editoras as escolas podiam levar os alunos para trabalharem nas barraquinhas”. Agora, bacharel em psicologia, Cláudia mantém este vinculo com os livros através da Bisbilhoteca.

Para aproximar ainda mais seus freqüentadores deste espa-ço, Cláudia encaminha uma programação cultural do local por e--mail. Na livraria há poltronas e almofadas, e, como o próprio nome já diz, os clientes podem ficar à vontade para bisbilhotar: “o impor-tante é que o cliente se sinta à vontade”. O espaço tem a capacidade de receber cinqüenta pessoas e os eventos são realizados nos finais de semana, para que os pais possam participar junto com os filhos. A livraria também realiza colônias de férias em que são oferecidas ati-vidades como clube de leitura, oficina de artes, curso de teatro e ati-vidades sem fins didáticos - que levam as crianças a desenvolverem a criatividade. A intenção é de que o lugar seja visto como referência de pólo cultural, que seja um ponto de encontro entre as pessoas e as famílias. Exemplo disso é uma situação contada por Cláudia: “uma vez veio aqui uma senhora com uns 60 anos, ela se emocionou mui-to quando encontrou o livro ‘A festa no céu’, uma história que o avô dela lia pra ela quando ela era criança”.

A Bisbilhoteca também abre suas portas para as escolas que queiram levar suas turmas para uma visita, assim como é possível marcar um dia para que a Bisbilhoteca vá até o colégio: “a gente re-cebe as turmas de escolas particulares e públicas - já vieram crianças de CEMEI, de escola especial. A visitação ao espaço não é cobrada, é só agendar. Nós também vamos até as escolas, fazemos feira de livros, ajudamos a organizar eventos.”.

Além de livros em português, a Bisbilhoteca também possui títulos em inglês, francês, alemão, italiano e em espanhol; e, pelo

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menos duas vezes por ano, realiza a contação de histórias nesses idiomas. Dentre todos os autores, é notório que os mais procurados são: Ziraldo, Monteiro Lobato, Ruth Rocha e Ana Maria Machado. Mesmo assim a livraria não deixa de apoiar os livros independentes - lançados através da lei do incentivo à cultura. Ou seja, a Bisbilhoteca mantém suas portas sempre abertas para todos!

A literatura teve grande importância na vida de Cláudia, seja para a criança que ganhava livros dos pais ou para a empreendedora que planejou um espaço tão acolhedor e incentivador. Ela fecha nos-sa entrevista com a seguinte reflexão: “a literatura tem o poder de transformar a vida das pessoas. Com o livro, o leitor tem a oportuni-dade de se identificar com um personagem, de se emocionar com a vida dele, de refletir sobre suas atitudes. Ele se desliga de um mundo para entrar em outro, totalmente novo, que lhe permite coisas mara-vilhosas – que só a literatura pode oferecer.”.

“(...)que a criança saia daqui contaminadíssima pelo vírus da lei-tura.”

Maria Gloss

HOSPITAL PEQUENO PRÍNCIPE

Há alguns anos atrás, o Governo Federal e o Ministério da Saú-de criaram o programa Biblioteca Viva. Baseando-se, na sua essên-cia, na doação de um acervo, o programa trabalhava a capacitação de mediadores de leitura que deveriam voltar para sua unidade e capacitar mais pessoas – médicos, enfermeiros, nutricionistas – que se dispusessem a, uma hora por semana, deixar suas ocupações ha-bituais para fazer a mediação de leitura. Esta iniciativa aconteceu, entre outros lugares, no Hospital Pequeno Príncipe (em Curitiba) e foi a base para o desenvolvimento do que hoje se construiu no hos-pital. “Tanto o setor responsável pelas ações culturais e educacionais quanto os voluntariados abraçaram este programa e deram conti-nuidade às suas capacitações. Agora não são somente os profissio-nais do hospital, mas também os estagiários e outras pessoas da

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equipe que tenham interesse em construir esta mediação de leitura”, explica Maria Nilcely Muxfeldt Gloss - coordenadora do Setor de Educação e Cultura do Hospital Pequeno Príncipe.

O hospital conta hoje com diversas bibliotecas, cada uma dire-cionada para um público diferente, como explica a educadora: “nós temos uma biblioteca de uso diário, que possui livros que a gente roda nos carrinhos e faz a mediação com as crianças nos quartos; temos outra biblioteca que é um estanque - ela não desce (para os outros setores do hospital) -, recebe as crianças aqui; e temos ou-tra biblioteca pra empréstimos dos funcionários e acompanhantes, que tem um acervo mais adulto.” A aquisição desses livros foi feita através de diversas parcerias: “A primeira (doação) foi feita pelo pro-grama Biblioteca Viva, desde lá já recebemos doações do HSBC, do COMTIBA – que proporcionou uma boa ampliação, tanto de reserva técnica quanto da biblioteca em si -, do projeto Brasil Leitor – uma ONG da cidade de São Paulo que constrói bibliotecas para espaços alternativos -, e de diversos parceiros, desde o pessoal da equipe, que volta e meia se apaixona por um livro que leu e doa para o hospital, até de pessoas que se encantam com o nosso trabalho e ajudam a aumentar a nossa biblioteca”.

Maria nos levou para conhecer uma das bibliotecas destina-das às crianças em tratamento. Ela foi pensada, em todos os senti-dos, para seu público alvo: desde crianças que ainda engatinham até aquelas com 6 anos de idade. Em seu interior encontramos diversos livros e também alguns brinquedos, mas Maria logo nos explica que o foco sempre estará no livro: “Apesar de ela ter um monte de brin-quedos, ela não é uma brinquedoteca. Se a criança chega e pega um porco (de pelúcia), a professora vai começar a conversar a respeito desse porco, vai abrir a barriga do brinquedo, mostrar que tem filhi-nhos, conversar sobre o animal e começar a motivar a criança para que ela tenha um desejo de construir mais conhecimento. Se a gente percebe que a criança vem pro brinquedo e não pro livro, a gente vai direcioná-la do brinquedo pro livro. Se ela vir direto pro livro, nós vamos ficar no livro. Porque nosso interesse maior é a biblioteca.”

Já nos casos em que o livro é levado até as crianças que

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estão nos quartos, ela nos explica que a interação se dá de várias maneiras: “Uma delas é a piscina de livros, em que disponibilizamos dezenas de livros e convidamos as crianças para desfrutarem des-se arsenal. Elas chegam, olham, escolhem e então elas lêem para a gente, lêem para as outras crianças e lêem para os pais. Ou então a gente já desce para os quartos com um arsenal um pouco menor que levamos em carrinhos ou em sacolas. A escolha do livro que será lido é em parceria com todas as crianças. Temos vários relatos e experiências pessoais que nos mostram que quando apenas uma criança escolhe o que todos vão ler, a possibilidade de sucesso é bem pequena. Diferente de quando cada um pode ser agente de escolha do material. Dentre os nossos livros estão aqueles autores e ilustradores que mais nos chamam a atenção, mas nossa intenção não é nunca restringir as possibilidades; pelo contrário, queremos sempre ampliá-las.”

Durante a contação ninguém fica de fora da história, por ve-zes a equipe que está cuidado da saúde da criança pára o tratamen-to para escutar a contação: “tem enfermeiras que param a atividade para ouvir a história, e se elas vêm para buscar a criança para algum tratamento, elas esperam a história terminar para levá-la”.

Uma questão fundamental, quando se trabalha num hospital, é a higienização. Maria nos explica que antes das crianças entrarem na biblioteca é feita a higienização de suas mãos com álcool, e depois que elas terminam de interagir a sala é higienizada por completo, pecinha por pecinha. “Claro que nós temos casos mais delicados, como, por exemplo, quando uma criança está com uma bactéria mais resistente. Ela passa a fazer um tratamento com antibiótico e não sai do quarto. Então um professor vai até o quarto com os livros para atendê-la. Quando ele sai do quarto, ele já higieniza todo o material – ele não sai desse quarto e vai para o outro sem fazer a higienização antes”. Assim é possível circular com o livro por todo o hospital: “a gente vai com o livro até para dentro de uma UTI, até a porta do centro cirúrgico, a gente lê para o paciente que está em coma”.

O sucesso do trabalho de mediação da leitura dentro do hos-

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pital pode ser visto em toda a sua estrutura. Não há lugar em que o livro não chegue e não há um dia em que não se trabalhe com o livro. Pelo contrário: “talvez a única dificuldade esteja em conseguir parar de ler, porque a gente entra em quartos que, enquanto a gente não esgota o material, a gente não dá conta de sair”. Uma grande realização de leitura e literatura aconteceu com uma paciência cha-mada Carol: “nós tínhamos uma menininha na nefrologia que não era alfabetizada quando chegou ao hospital. A gente chegava com o carrinho no quarto dela e ela ia escolhendo o primeiro livro, depois ela pegava o próximo e o próximo e enquanto não esgotava todos os livros que nós tínhamos levado, ela não se dava por satisfeita. Ela era apaixonada por livros e isso podia ser visto pelo seu olhar. Por isso não nos dávamos o direito de interromper essa relação dela com o livro. Hoje a Carol já foi transplantada e mora numa cidade do interior, mas quando ela vem ao hospital para fazer exames de rotina, ela escolhe um livro e lê para mim.”

São nessas situações tão delicadas que Maria Gloss percebe o quanto a literatura é para qualquer pessoa, em qualquer situação: “Ela te traz possibilidades infinitas: de conhecer novos lugares, in-teragir com uma pessoa que você não conhece, de descobrir idéias novas e acrescentar novos significados ao seu cotidiano”.

Para finalizar, pedimos que ela falasse um pouco sobre esse li-mite, dentro do hospital, entre a medicina e a literatura: “a gente toma um cuidado bem grande pra não clinicalizar, a nossa inter-venção acontece com as crianças através do livro, mas o olhar clí-nico está com o médico, com o enfermeiro, com o auxiliar, com o nutricionista, com o psicólogo. Então, quando o professor chega, ele não precisa ter essa preocupação, ele vai focar na parte saudável da criança, que é a parte que está curiosa, que está a fim de aprender. Nós queremos que essa criança saia daqui contaminadíssima... mas pelo vírus da literatura.”.

“O maior desafio é começar...” Maria Cristina Pires Mendes de Oliveira

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BRINQUEDOTECA

O desejo de voltar a estar envolvida com crianças levou Maria Cristina Pires Mendes de Oliveira, a Cris, a criar um espaço que en-volvesse brincadeira, música, artes, livros e a contação de histórias. Inicialmente, ela pensou em uma iniciativa comercial, mas ao consul-tar pessoas que já trabalhavam na área da educação, se viu seduzida a concretizar essa idéia dentro da escola.

Vinda de uma família de professores – “com almas de brin-quedistas”, como ela mesma cita –, Cris se diz envolvida com a edu-cação desde que nasceu. Recordando um pouco seus tempos de criança, ela nos conta: “minha mãe brincava com a gente; não só com os filhos, mas com todas as crianças da rua”.

Foi por causa desses momentos que ela passou a usar a brincadeira dentro de sala de aula: “eu sempre usei as brincadeiras na sala de aula, mesmo quando eu dava aula para adultos; eu usava as brincadeiras, por exemplo, nas aulas de inglês (...) para fazer a motivação da aula ou para fazer um reforço daquilo que já tinha ensinado”.

A brinquedoteca é uma prova de que brincadeira e leitu-ra combinam, sim! Para Cris uma atividade está ligada à outra: “a contação de histórias gera fantasia tanto quanto um brinquedo. (...) Quando a criança pega uma boneca, um boneco e monta um ce-nário, ela já começa a criar uma história para aqueles personagens - uma história para aquele cenário que ela imaginou -, e é ali que a brincadeira está se desenvolvendo.” Da mesma forma, ela não con-segue imaginar uma brinquedoteca sem livros. Prova desta diferença que o livro faz, na brinquedoteca ou em sala de aula, é a situação que ela mesma passou, quando atuava como professora: “Comecei a trabalhar, com uma turma de terceira série, a produção de texto. Eu dava gravuras e eles escreviam uma palavra para cada imagem, de-pois eles começaram a escrever uma frase para cada gravura, depois um parágrafo. O objetivo era montar um livro daquela turma, o livro seria composto com o melhor texto de cada aluno – eram 35 alunos, então o livro teve 35 textos. Aí eu fui juntando os textos e a gente foi

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escolhendo, assim eles puderam opinar qual era o melhor texto que eles tinham escrito. Nós passamos o ano todo falando deste livro, e no último mês de aula distribuímos o livro para todos os alunos da escola-- rodamos tudo no mimeógrafo! Foi um trabalho muito legal!”.

Dentro da brinquedoteca não entram jogos eletrônicos, para Cris basta “o brincar com o corpo, o brincar com outras crianças”. Ela nos conta que muitas vezes a criança carece de alguém que tenha disponibilidade para brincar – em casa, principalmente -, e é na brin-quedoteca que ela vai encontrar outras crianças, às vezes na mesma situação, para interagir com ela.

Pedimos para ela contar um pouquinho do cotidiano desta iniciativa maravilhosa: “Tem dias em que cada criança chega e vai es-colhendo o que ela quer brincar. A brinquedoteca tem um baú cheio de livros à disposição das crianças. Então eu sento junto com eles e ajudo na escolha. Se eu decido contar uma história, convido quem quiser vir. Algumas crianças vêm, outras dizem que não querem – por estarem entretidas com outro brinquedo ou jogo -, e eu digo que não tem problema, elas podem ficar brincando. Acontece que à medida que a história vai se desenrolando, aquela criança que estava distraída com o brinquedo começa a espichar o ouvido; a atenção dela vai se voltando automaticamente para a contação da história, e ela larga o brinquedo e vem correndo se juntar ao grupo. Eu acho isso muito legal! Me encanta o que a contação provoca nas crianças, o encantamento que ela provoca. Os olhos delas brilham, elas riem, e, dependendo da cena que você está narrando, você vê a carinha de medo ou o olhar apreensivo pelo o que vai acontecer. Depois o pra-zer, o sorriso. É muito legal. Às vezes a brinquedoteca se estende até o anoitecer, então já fiz algumas contações à luz de velas, com livros de terror. Isso cria um clima de brincadeira. Eu também peço para as crianças fazerem a sonoplastia da história. Isso tudo acaba ajudando eles a entrarem no clima da brincadeira, no clima da fantasia.”.

Cris acredita que a criança que se habitua a ouvir histórias aprende a gostar de ler. E é aí que o professor pode fazer a diferença:

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trazendo a leitura para dentro de sala. Infelizmente, há vezes em que ele encontra algumas barreiras: a obrigação de seguir o conteúdo, as cobranças da direção em cima do currículo escolar. Ou mesmo a falta de hábito do professor. E neste caso é preciso aprender a mudar. Aos poucos, sem pressa. Introduzindo a leitura em sala de aula de forma natural, tanto para o professor quanto para o aluno. Ela dá uma dica para aquele professor que está começando a inserir a literatura em sala de aula: “Primeira coisa: vá atrás de livro, nós temos muitos autores bons e criativos. Vá a bibliotecas, livrarias, pe-gue dicas com pessoas que você conhece. Não tenha medo de se atualizar. Antes da contação, leia o livro e veja onde ele se encaixa, se está adequado à idade das crianças. Porque às vezes ele pode ser adequado ao perfil da turma, mas não é o momento certo de contar aquela história. É importante que a leitura esteja em sintonia com o ouvinte.”

No último momento da entrevista, Cris deixa um recado: “O começo é sempre mais difícil, então eu digo: comecem! Não tenham vergonha de começar. Porque, no final, todo mundo vai sair ganhan-do: o aluno, o professor – toda a turma. Adultos criativos, que lêem mais, que prezam a informação e que prezam o conhecimento, ga-nham o mundo todo. E o contato deste adulto com uma criança vai fazer toda a diferença no futuro. Não só no futuro da criança, mas no futuro da família dela, da comunidade onde ela vive: naquele bairro, naquela rua.”

“O professor tem autonomia para fazer...”Ledinalva de Almeida

“Ninguém consegue me convencer quenão dá para brincar em sala de aula.”Ingrid CadoreSERPIÁ

A Brinquedoteca da clínica interdisciplinar da SERPIÁ, fundada pela Ingrid Fabian Cadore** (conselheira do conselho deliberativo da

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Associação Serpiá), já contava com um espaço para a contação de histórias. Foi então que a educadora brinquedista e psicopedagoga, Ledinalva Pereira de Almeida, a Ledi, propôs a criação de uma oficina de contação de histórias como forma de atividade terapêutica que estivesse pautada na psicanálise. Hoje, as oficinas acontecem dois dias na semana e estão abertas a crianças e adolescentes entre cinco e dezesseis anos, que vão por vontade própria ou por encaminha-mentos dos terapeutas.

Com a oficina já em atividade, Ledi explica que foi preciso um trabalho de apresentação da leitura para as crianças: “No início eles tinham dificuldade para pegar o livro, dificuldade em manuseá-lo. É aí que a gente vê que para ler tem que gostar. Geralmente a crian-ça não consegue fazer isso porque não aprendeu, porque não teve aquele incentivo, não teve aquele momento de alguém parar com ela e explicar, conversar sobre a leitura.”

Durante as oficinas, por mais que a contação de histórias seja planejada, as crianças têm a liberdade e o direito de escolher outro livro diferente do proposto. Isso porque elas acreditam que as crianças têm que se identificar com as histórias: “Eles chegam aqui e procuram um livro que tenha a ver com a sua história de vida. Às vezes eu chego e pego um livro e começo a ler a história e percebo que durante a contação eles começam a se inserir, a falar da vida deles e é muito comum eles se colocarem no lugar dos personagens. Por isso, durante a contação, eu posso não contar o final dessa his-tória, ou vou adaptá-lo junto com as crianças”, conta Ledi. Para que essa interação da criança com o livro se torne ainda mais profunda, é disponibilizado a ela adereços como: peruca, asa de borboleta – fan-tasias em geral que fazem com que elas se sintam mais à vontade.

As duas educadoras destacam a importância da brincadeira na hora da leitura, principalmente dentro da sala de aula: “é através do brincar espontâneo e criativo que ela vai acessar a simbolização, e isso tem que acontecer antes, para a criança conseguir ler. E se o professor não brinca, ele vai fazer com que a criança tenha que percorrer este caminho de uma forma muito mais difícil”. Por isso elas aconselham que o professor se permita brincar em sala de aula:

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“como professoras nós já vimos vários trabalhos com a brincadeira, vamos supor: se você for ensinar português e você trabalhar alguns dias antes uma brincadeira com aquela matéria ou se você trabalhar ela através de um jogo ou de uma encenação, no dia em que você for explicar aquela matéria vai estar mais claro na cabeça da criança. Porque elas já brincaram tanto com aquilo que se tornou prazeroso, então o conhecimento virá de maneira mais tranqüila. Por isso que o brincar precisa ser valorizado em sala de aula, mas o brincar com o professor junto, mediando a brincadeira; não o professor sentado na sua carteira e os alunos brincando.”

Durante a brincadeira é fundamental criar um vínculo com a criança, para que o professor se sinta confortável para inserir a brin-cadeira na aula: “os professores temem perder o controle da turma se resolverem brincar em sala de aula. No entanto, se você cria um vínculo bom com o seu aluno, se ele o ouve, se ele concorda, se há uma negociação das regras, então ele vai entender que a brincadeira faz parte de um momento da aula.”

Conversando sobre algumas dificuldades que o professor encontra na contação ou na brincadeira em sala de aula, elas nos contaram o caso de um menino que, por ser portador de uma sín-drome, algumas pessoas diziam que ele não conseguiria usar a ima-ginação. Tanto que o terapeuta da criança se surpreendeu quando ficou sabendo que ele cantou a música da “Boneca de Lata”. Ingrid nos explica que durante a contação da história foi introduzido uma música, como forma de brincadeira cantada, e a criança, ao entrar no personagem da história – fazer os movimentos com o corpo, dançar –, conseguiu cantar, naturalmente, a canção.

Por isso elas ressaltam: “nós acreditamos que uma história con-tada olho no olho, com proximidade, com afeto, vai fazer o mesmo efeito – ou ainda mais efeito – que uma história com o uso de dedo-ches ou com algum outro recurso [externo]. O que queremos dizer é que o contador não precisa ser o melhor naquilo que faz, ele precisa ser uma pessoa disponível interiormente e que invista no vínculo com a criança. É por isso que as histórias no colo da avó faziam tanto sucesso, por causa desse vínculo, dessa intimidade, dessa cumplici-

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dade entre o contador e o ouvinte.”Talvez esse processo leve algum tempo, mas depois que se con-

quista este vínculo tudo se torna relativamente mais fácil. A criança passa a confiar no professor e o processo de contação de história, de brincadeira, se torna mais natural e prazeroso, tanto para o professor quanto para o aluno.

Provavelmente durante a leitura deste capítulo, você pôde se identificar com algumas dessas propostas; quem sabe algumas delas você já tenha exercido, outras pretende começar agora mes-mo. O que importa mesmo é sentir-se capaz de realizá-las e propor-cionar às crianças todo o prazer que a leitura e a brincadeira podem oferecer.

*Este capítulo foi baseado em entrevistas realizadas com Claudia Sera-thiuk, fundadora da livraria Bisbilhoteca; Maria Gloss, coordenadora do se-tor de Educação e Cultura do Hospital Pequeno Príncipe; Maria Cristina Pires Mendes de Oliveira, fundadora e coordenadora da brinquedoteca “Clube da Brincadeira” da Escola Anjo da Guarda; Ingrid Fabian Cadore, conselheira do conselho deliberativo e fundadora da brinquedoteca da ONG SERPIÁ (Servi-ços e Programas para a Infância e Adolescência) e Ledinalva Pereira de Almei-da, psicopedagoga que atua na brinquedoteca clínica da SERPIÁ.

**Em sua trajetória de mais de 15 anos de trabalho com crianças, histó-rias, jogos e brincadeiras, Ingrid Fabian Cadore deixou receitas de jogos que contam histórias para a gente! Confira em RECEITAS DO NOSSO CARDÁPIO!

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Capítulo 7 - Mestres-cuca e seus narizes hiperdesenvolvi-dos: o que eles nos contamEntrevistas: contadora de histórias, escritor que ilustra e ilustrador que escreve.

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“Fabrico um porta-retratos com luz de outono. Aí cola-rei paisagens para caminhar em dias especiais quando

o que me rodeia não basta. ”(FÁBRICA DE POESIA, de Roseana Murray)

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Entrevista com a contadora de histórias e pedagoga Sônia Viegas

“Eu vi a bunda da vé-lha!”. Essa e outras frases, e expressões, da contadora e Educadora (com E maiúsculo!) Sônia Viegas, foram fonte de inspiração para integrantes do projeto. Contar baixinho, com vela acesa e de luz apagada, escolher criteriosamente o livro para seus ouvintes ou a partir da situação relatada, são alguns de seus preciosos dotes. Atualmente, Sônia reside em Vitória (Espírito Santo), mas vem ora ou outra dar o ar da graça aqui em Curitiba. De muito bom grado, e um pouco desconfiada - dizendo “qualquer coisa eu mudo”-, Sônia nos brindou com seu depoimento nessa entrevista por correspondên-cia.

Equipe MAIS gente e livros: Para você, o que é essencial numa contação de histórias? E o que é dispensável?

Sônia Viegas: Para mim, o essencial é “estar disponível para” querer, gostar e entender a importância deste encontro entre o con-tador e seu público, mesmo que seja uma única criança. O dispen-sável é o rebuscamento. Contar histórias é algo simples, é olho no olho, sem muitos aparatos; senão, deixa de ser contação e passa ser outra coisa. O importante é a história e o clima de envolvimento que este encontro promove.

EMGL: Fale sobre seu percurso como contadora e educadora. Qual foi o gatilho inicial, suas inspirações...

Teve o tempo de vivência: meu pai era o meu contador de his-tórias e esta é uma referência forte na minha vida. Muitas histórias populares, do Pedro Malazartes e também fábulas de La Fontaine. Ele me contava as histórias de cabeça, fiquei feliz ao descobrir, mais tarde, estas histórias nos livros, poderia recorrer a eles quando qui-sesse.

SV: Teve o momento histórico: Foi um período que a produção de livros infanto-juvenis teve um “boom” aqui no Brasil, fiquei com-pletamente apaixonada, sou muito ligada às ilustrações também, passei a formar um acervo pessoal.

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Mestres-cuca e seus narizes hiperdesenvolvidos: o que eles nos contam

Um tempo de aprendizagem: na faculdade (fiz Pedagogia na Unicamp, início dos anos 80), tive alguns professores que tinham projetos para o desenvolvimento pelo gosto da leitura, dentre eles, a incrível Ana Luiza Smolka. Fiz alguns cursos paralelos, os mais mar-cantes foram: um oferecido pela FNLIJ, outro pela livraria Romano, especializada em literatura infantil. Profissionalmente optei em tra-balhar com a educação não formal. Montei, juntamente com duas amigas, o Fundo de Quintal, cuja proposta era atender as crianças no contra turno escolar e o ponto de partida era a contação de uma história que dava inspiração às outras atividades que aconteciam ao longo do dia. Apresentamos este projeto à Prefeitura de Campinas, trabalhei numa biblioteca de bairro de Campinas. Mudei-me para o Rio de Janeiro, passei pela FNLIJ (Fundação Nacional do Livro infantil e juvenil). Desta época ficou a experiência difícil mas frutífera do Pro-jeto Meu livro Meu Companheiro, talvez a primeira experiência de se contar histórias em hospitais. Conheci Celina Rondon, uma profunda conhecedora de livros infantis, dona da livraria especializada nesta área - Divulgação e Pesquisa - onde aconteciam vários cursos que a FNLIJ promovia. Trabalhei ali por dois anos, contando historias em feiras de livros que aconteciam nas escolas, acompanhando os lan-çamentos, enfim, uma rica experiência.

Mudei-me para Curitiba. Conheci, através de um curso de for-mação de Educadores brinquedistas, o trabalho da Associação SER-PIA. Posteriormente, através da SERPIA, tive o privilégio de fazer par-te da equipe multidisciplinar do CAPSi Pinheirinho - nesta época o contar histórias passou a ter uma nova dimensão no meu trabalho.

Nesta clínica tão difícil, a riqueza do trabalho interdisciplinar foi fundamental. Enquanto os diversos terapeutas traziam o olhar propriamente terapêutico, fazendo as intervenções necessárias no decorrer da oficina, com a minha formação em pedagogia, experiên-cias em arte-educação, brinquedotecas e principalmente como con-tadora de histórias, pude contribuir com um repertório significativo nestas diversas áreas. Esta troca possibilitou-me um aprimoramento do olhar e da escuta, levando-me a buscar um aprofundamento teó-rico sobre a função terapêutica do conto, quais as estruturas primá-

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

rias necessárias para que a criança possa desfrutar de uma narração e sobre importância do contador de histórias.

EMGL: Em seu trabalho, comente um momento envolvendo livro, criança e contação que mais lhe marcou.

Com o nascimento de meus filhos passei a ter um “público” fiel. Pude observar quais as histórias faziam mais sentido para cada mo-mento. Aquelas que precisavam ser repetidas inúmeras vezes, as que eram recusadas, as que eram impedidas de permanecerem em seus quartos, as que proporcionaram mudanças significativas. Este foi o caso proporcionado pelo livro O Pequeno Papa Sonhos, de Michel Ende, que contei para minha filha, na época com cinco anos. Ela vinha tendo pesadelos e acordava no meio da noite, tal como a per-sonagem da história. A partir da noite que passou a utilizar a mesma solução que a princesinha da história - um “encantamento” oferecido pelo Papa Sonhos - teve uma significativa melhora em suas noites de sono.

EMGL: Ping-pong: responda a primeira coisa que vier à sua ca-beça.

Sobremesa: Goiabada com queijo.Brincadeira preferida: Amarelinha.Canção preferida: Paciência, de Lenine.Escritor favorito: Ricardo Azevedo.Ilustrador favorito: Luiz Maia.História favorita: Rapunzel.O que é mais chato em ser adulto: A noção da passagem do

tempo.Irmãos lembra... União e disputa.Pais lembra... Conversas com café.Avôs lembra... Tê-los é um privilégio.Seu maior medo: Ficar presa em um lugar fechado.Qual animal você gostaria de ser? Por quê? Macaco, por ser in-

teligente e brincalhão.Descreva a vida na Terra em cinco palavras para enviar a um ET:

Natureza, humanidade, dinheiro, sustentabilidade ou destruição.

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Mestres-cuca e seus narizes hiperdesenvolvidos: o que eles nos contam

EMGL: Se pudesse, o quê você mudaria na escola (sistema edu-cacional)?

SV: Tem uma frase do livro O Terapeuta e o lobo, de Celso Gu-tfreind, que acredito piamente: “O lúdico e o encanto são verda-deiras pontes para a leitura e o aprendizado”. Ainda falta muito de lúdico e encanto nas escolas.

EMGL: E o quê você manteria?SV: Os professores apaixonados e compromissados com o tra-

balho que desenvolvem. Não há tecnologia que substitua a intera-ção humana.

Imagine alguém contando uma história só para você. Descreva voz, ritmo, lugar, olhar, gesto, como você se sente, o que a história conta... Penso primeiro em um lugar onde não haja interferências de barulhos e possíveis interrupções. Um contador com uma voz tranquila e num tom mais baixo, mas que me permita acompanhar a história, com um ritmo que se altere em função das emoções que a história transmite. O olhar cruza o meu de vez em quando para que eu possa sentir-me parte do grupo, gestos suficientes para dar ênfase a algum detalhe da história. Tem que me provocar um pouco de medo, algum trecho engraçado e ter um desfecho positivo. Não penso em nenhuma história específica (Pode ser) algum conto de fada - Rapunzel pode ser uma opção.

EMGL: Para finalizar, deixe um recado para os professores e alu-nos participantes do projeto.

SV: Não deixem de conhecer o livro de Regina Machado, Acor-dais. É dela a frase: “O dom de contar histórias é, na verdade, um aprimoramento contínuo de possibilidades internas de ver o mundo de outras formas”.

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Entrevista com o escritor, ilustrador e pesquisador Ricardo Azevedo

“Eu vivo em busca da ditaMas a dita não aparece

Quando eu desço a dita sobeBasta eu subir que ela desce!

(ARMAZÉM DO FOLCLORE, de Ricardo Azevedo)

O livro “Armazém do Folclore” é um pouquinho de Brasil, de cada canto (o Brasil tem cantos? tem o canto do sabiá!) recolhido e reunido pelo escritor, pesquisador e ilustrador Ricardo Azevedo. Pessoa sim-ples, sempre solícito e gentil em seus e-mails, prontamente cedeu seu tempo para esta entrevista. Ricardo, beijos do MAIS Gente e Livros!

Equipe MAIS Gente e Livros: Além de escritor e ilustrador, sabe-mos que você também é pesquisador de histórias. Fale sobre esse pro-cesso de recolher e resgatar histórias, ditados, causos, receitas e de apresentá-las aos leitores a partir da sua escrita e do seu traço, dos quais tanto apreciamos.

Ricardo Azevedo: As histórias populares sempre me interessa-ram justamente por serem “populares”. Isso significa que elas são ca-pazes de atingir, emocionar e causar identificação em todo mundo, ricos e pobres, analfabetos e professores, crianças e adultos. Histó-rias assim, na minha opinião, são um tesouro. Fui estudá-las porque, como escritor, queria aprender com elas, compreender melhor seu jeito, sua estrutura e sua linguagem.

EMGL: Qual o monstrengo que você mais gostaria de conhecer? Se ele não lhe atacasse já de uma vez, o que você gostaria de fazer com ele?

RA: Há duas semanas, estive conversando com estudantes na biblioteca de São Francisco Xavier, cidade que fica na Serra da Man-tiqueira, pertinho de São Paulo. No meio da conversa, um garoto de uns 10 anos contou que perto da casa dele, na zona rural, tinha Curupira. Estou pensando em voltar lá. Se der, minha idéia é tirar

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Mestres-cuca e seus narizes hiperdesenvolvidos: o que eles nos contam

uma foto abraçado com o Curupira e bater um bom papo com ele. Vou levar as perguntas do Ping pong abaixo e fazer uma entrevista com ele. Depois mando pra vocês, tá?

EMGL: Descreva dimensões, cores, prateleiras, cheiros, sons e sa-bores do Armazém do Ricardo.

RA: A cultura popular é tão imensa que se fosse descrever ia ocupar umas trezentos e trinta e três mil e trezentas páginas. Posso dizer que ela é grande, cheia de coisas, colorida, perfumosa, musical e muito saborosa.

EMGL: Ping-Pong: responda a primeira coisa que vier à sua ca-beça.

Sobremesa: sorvete de tapioca.Brincadeira preferida: ping pong.Canção preferida: não consigo responde pois são muitas.Escritor favorito: São muitos. Vou citar dois: Carlos Drummond

de Andrade e Murilo Mendes.Ilustrador favorito: São muitos. Vou citar uma: Mariana Massa-

rani.História favorita: As aventuras de Dom Quixote, entre outras.O que é mais chato em ser adulto: Não acho nenhuma idade

chata. Se a gente se dispuser a ser sempre aprendiz, aprender a viver cada uma delas, a vida fica muito interessante.

Irmãos lembra... Família.Pais lembra... Saudade.Avôs lembra... Não conheci meus avós. Morreram antes de eu

nascer.Seu maior medo: Não saber quem eu sou.Qual animal você gostaria de ser? Por quê? Talvez pulga. Deve

ser divertido.Descreva a vida na Terra em cinco palavras para enviar a um ET:

Só sei que sem a solidariedade entre os homens, e dos homens com a natureza, a vida na terra não existiria.

Se pudesse, o quê você mudaria na escola (sistema educacional)? Acho que a maioria das escolas deveria ser pública e de alto nível. Não sou contra as escolas particulares mas, na minha opinião, elas

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

deveriam ser uma exceção.E o quê você manteria? Eu aprofundaria as relações entre escola

e cultura. Hoje em dia as escolas são técnicas demais e estão muito afastadas da cultura. A escola deveria ser o lugar onde as crianças e jovens entrariam em um profundo contato com a cultura de seu país e com as outras culturas humanas.

EMGL: Imagine alguém contando uma história só para você. Des-creva voz, ritmo, lugar, olhar, gesto, como você se sente, o que a his-tória conta...

RA: As histórias que me interessam são aquelas que tratam das paixões e contradições humanas. Acho que o contador de histórias sempre deve fi car emocionado com a história que escolheu contar.

EMGL: Para fi nalizar, deixe um recado para os professores e alu-nos participantes do projeto.

RA: Saí mas volto logo. Beijos do Ricardo Azevedo.

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Mestres-cuca e seus narizes hiperdesenvolvidos: o que eles nos contam

Entrevista com o ilustrador e escritor David Milgrim

“Vacas não voamMas, um dia, num papel,

Eu resolvi desenharVacas pelo céu!”

(VACAS NÃO VOAM, de David Milgrim)

O autor e ilustrador deste livro tem muito a ver com um menino que vê vacas pelo céu. Ele respondeu ao nosso convite prontamente, dizendo: “ok, fico feliz em ajudar!”. E falou muito, dizendo pouco. Con-firam!

Equipe MAIS Gente e Livros: Sabemos que você escreveu e ilustrou Vacas não Voam. O que você tem a nos dizer sobre esse diálogo entre os textos escrito e visual? Algum deles costuma aparecer primeiro?

David Milgrim: Eu gosto de desenhar no início do processo. De-pois eu penso e anoto bastante coisas enquanto olho para os dese-nhos. É assim que eu passo a conhecer os personagens e a história.

EMGL: Qual seria sua reação se você visse uma vaca voando?DM: Eu contaria a outras pessoas e torceria para que elas vissem

também.EMGL: E se você pudesse voar? Por onde você sobrevoaria?DM: Com certeza eu conheceria o Brasil, mas eu adoraria sobre-

voar qualquer lugar. Adoro a vista dos aviões. Sempre gostei, espe-cialmente quando eles voam em altitudes vaqueiras.

EMGL: Ping-pong: responda a primeira coisa que vier à sua ca-beça.

Sobremesa: torta.Brincadeira preferida: Meu filho e eu jogamos muitos jogos.

Nós gostamos muito de hearts ( jogo com baralho) e 20 questions ( jogo de computador no qual o computador adivinha em qual per-sonagem o jogador está pensando). Nós jogamos muito Catan e Smallworld ( jogos de tabuleiro).

Canção preferida: são tantas, é difícil dizer, mas sempre gostei

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

de Blue Sky (Céu Azul) dos Allman Brothers.Escritor favorito: H. A. Rey.Ilustrador favorito: Muda de tempos em tempos, mas agora é

Oliver Jeffers.História favorita: O grinch.O que é mais chato em ser adulto: Na verdade, eu não me cha-

teio, não.Irmãos lembra... união.Pais lembra... ralhação.Avôs lembra... bolinhas de naftalina.Seu maior medo: de altura.Qual animal você gostaria de ser? Por quê? Aves aquáticas. Elas

voam, andam e flutuam sem barco algum!Descreva a vida na Terra em cinco palavras para enviar a um ET:

Lotado, complicado, interessante, rápido e irresistívelEMGL: Se pudesse, o quê você mudaria na escola (sistema edu-

cacional)?DM: Boa pergunta. Uau. Eu tentaria ensinar às crianças somente

o que elas se interessam. De fato, são as únicas coisas que recorda-mos.

EMGL: E o quê você manteria?DM: Arte e Música.EMGL: Imagine alguém contando uma história só para você. Des-

creva voz, ritmo, lugar, olhar, gesto, como você se sente, o que a his-tória conta...

DM: Não tenho muita certeza. Vou precisar de uma mãozinha nessa questão.

EMGL: Para finalizar, deixe um recado para os professores e alu-nos participantes do projeto.

DM: As coisas funcionam melhor para aqueles que fazem o me-lhor para as coisas funcionarem. Isso, e tratem os outros da maneira com que gostariam de serem tratados. Ambos os ditados caminham lado a lado.

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Capítulo 8 - Aprimorando o gosto: cozinheiros mirinsPráticas criativas protagonizadas pelos jovens leitores

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“Um pivete se abaixou para ver. Cutucou o gato e teve uma surpresa. O gato Totó não morreu-reu-reu! Es-

tava vivo. Vivinho. Abria os olhos, espreguiçando. Mas, mal acabou de espreguiçar, deu um miado esquisito e estrebuchou. Agora morreu. Que nada! Viveu de novo.

Gato morre sete vezes.”(UNI DUNI TÊ, de Angela Lago)

“Voavam e rodopiavam,Sem ao menos desconfiar

que, pelas leis da natureza, vacas não podem voar.

Deitados no chão,Ficávamos apreciando.

Só eu e meu cãoVimos as vacas voando.”

(VACAS NÃO VOAM, de David Milgrim)

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Rápido como um Gafanhoto, o auto-retrato como um cami-nho para o desenho.

Ana Luiza Suhr Reghelin

Auto-retrato é a execução de sua própria imagem no papel. De modo geral o foco está sobre o rosto, quase sempre em primeiro plano. O auto-retrato pode ser feito através de uma fotografia ou de um desenho, e é esse último que nos interessa.

Realizar um auto-retrato é uma maneira de se conhecer - sem aquele discurso psicológico de “en-contrar a si mesmo”. É uma maneira de se enxergar, se observar e des-cobrir os pequenos detalhes que o reflexo rotineiro do espelho não nos mostra: a linha que representa seu cabelo, qual o ângulo do seu nariz, que curva sua orelha faz, quão deli-cado é o traço que desenha o seu lá-bio ou quantas cores tem o seu olho.

E é pensando nesse novo auto--conhecimento, nesse auto-reconhecimento, que encontramos no auto-retrato uma ótima atividade para se propor às crianças - já acostumadas a desenhar o boneco de palito, e cuja a representação do rosto se resume a uma esfera sorridente. O desenho infantil pode ir muito mais além, basta que seja permitido à criança desenhar sem reproduzir os estereótipos de que já somos reféns.

Para essa atividade os materiais são simples: lápis, papel, borra-cha e, como toque especial, o espelho. Tendo isso, o trabalho pode começar! É preciso somente que as coordenadas sejam dadas:

- olhar-se no espelho com atenção – e prestar atenção no que vê!

- explorar cada pedaço do rosto, desde o queixo até o fio de cabelo – sem pressa!

- identificar os traços que diferem o seu rosto do rosto da pes-soa ao seu lado;

Aprimorando o gosto: cozinheiros mirins

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Depois é partir para o papel e desenhar, sempre consultando o espelho – ou uma foto – e aos poucos ir acertando os detalhes: o tamanho, o formato, a expressão, a profundidade, o contorno etc.

Para incrementar: pode ser levado para a sala de aula exem-plos de auto-retratos, como o que encontramos em revistas e tam-bém os realizados por desenhistas e pintores. Ajuda como ponto de partida para que a criança possa ter idéia da proporção do desenho em relação ao papel.

O resultado pode não ser o es-perado, pois um retrato nunca será uma reprodução fiel do reflexo do espelho. Mesmo assim é importan-te reconhecer o trabalho feito pela

criança e valorizar o desenvolvi-mento desse tipo de atividade, para que ela se sinta estimulada a con-tinuar, desenvolvendo, assim, um traço mais autônomo, mais pessoal. É importante também apontar as falhas - os pontos que precisam ser melhor elaborados: “quantos dedos você tem na mão?”, “a sua bochecha não tem uma marca assim?”, “e a sua pinta em baixo do olho, cadê?”, indicar o caminho que ainda tem que ser percorrido estimula o olhar atento e o desenvolvimento artísti-co.

Esse trabalho pode ser realiza-do com todas as idades, mas cada uma delas exige um tipo de direcio-namento e uma cobrança específica

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no sentido de desenvolver e aprimorar o exercício.Esse tipo de atividade foi realizado pelos integrantes do Projeto

MAIS Gente e Livros com crianças de 1º série e 1º ano em escolas de Superagüi e Piraquara, no ano de 2010. Junto com esta atividade veio a contação – é claro que não perderíamos essa oportunidade! - do livro “Rápido como um Gafanhoto” de Audrey Wood - que faz um diálogo entre as características dos animais que encontramos em nós mesmo. (Você às vezes não se sente forte como um touro?). Assim, o personagem da história monta seu auto-retrato ao se espe-lhar nos animais a sua volta.

Os desenhos que acompanham o texto

são de alunos da 1º série e 1º ano de escolas do município de Piraquara.

Aprimorando o gosto: cozinheiros mirins

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Receita

Karla Fernanda Ribeiro Neves

A receita a seguir foi preparada e apresentada como um prato nobre da culinária das escolas de Piraquara, por alunos cozinheiros de dramatizações da 1ª série.

Receita COZINHEIROS MIRINSDica dos cozinheiros: disposição ao divertimento Ingredientes: - 1 professor mediador- quantas crianças quiser – e puder!- 1 objeto ou adereço por criança-1 lugar para a realização da atividadeModo de preparo:Coloque as crianças no espaço escolhido, depois peça que elas

comecem a caminhar. Explique que, assim que você der o sinal, elas precisam ficar imóveis e de olhos fechados. Repita o sinal algumas vezes e entregue 5 objetos por vez a cada criança. Conduza a brin-cadeira dessa forma até que todas as crianças estejam com o objeto em mãos. Preste atenção a reação delas frente ao objeto e, ao final, converse com elas sobre os objetos que tem em mãos e as reações que eles causaram.

Depois da conversa, peça que elas formem grupos de 5 alunos, ou mais – dependendo do tamanho da turma - e solicite aos grupos que contem uma história utilizando estes objetos.

Dê um tempo para que elas montem a história e organize as apresentações!

Rendimento: - várias deliciosas porções de dramatização.Dramatização da vez:Porção aniversárioPersonagens: Dj, Jéssica – a aniversariante! , amiga 1 e amiga 2.Objetos para incrementar a cena: caixa de presente, bolsa, ócu-

los de sol, telefone de brinquedo, e uma rosa de plástico.

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Diálogo:DJ (ao telefone): Oi ! Tudo bem? Aqui tá tudo certo.. Se eu posso

ir ao aniversário? Claro que sim! Me passa o endereço e eu já chego aí! Jéssica (ao telefone): Legal! Anota aí. Rua Ourizes, número 100.

Isso, perto da padaria.. Não, do outro lado da rua. Não demora! Beijos.- Amigas se encontram.Amiga 1: Oiiiii... Ué, onde vc vai?Amiga 2 : Vou ao aniversário da Jéssica, quer ir junto???Amiga 1: Mas é claaaaaaro!!!- Vão juntas para o aniversário.Jéssica: Oi meninas! Que bom que vocês vieram.. Entrem!!!Amiga 1: Trouxemos um presente, espero que você goste.Jéssica: Nossa que lindo, adoro flor!Amiga 2 : Ah, que bom! Ela é tão linda quanto você.- DJ chega na festa.DJ : E aí pessoal, agora vai rolar o som!- Cantam e dançam uma música muito animada e depois os

parabéns!Mestre cuca: história dramatizada por alunos de 1ª série do En-

sino Fundamental.A receita preparada, provada e aprovada pelos cozinheiros foi

divida com todos os famintos por pratos bem elaborados e saboro-sos. Foi comprovado que o sabor do prato tende a ficar adocicado quando combinado com um toque de espontaneidade e diverti-mento, fazendo com que os famintos fiquem com um gostinho de quero MAIS.

Aprimorando o gosto: cozinheiros mirins

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Fabricando poesiaCamila S G Acosta Gonçalves

A partir do livro Fábrica de Poesia, da escritora Roseana Murray, foi proposto* aos alunos de Guaraqueçaba criar poemas coletivos. Com a ajuda de ouvidos atentos e uma caixa-surpresa recheada de objetos, surgiram os seguintes poemas:

A BOLA ROLA

A bola rolana carecado Robinhochutando peteca.

Caiu no gol? Não.Foi no colo da boneca.

Ela ouvia o somdo violão rojão.

(Alunos da 2ª série da Escola Municipal João Luiz da Silva Júnior)

Bateu a bolano rabo da cobraque dormiadentro da viola.Toc-toc! o meninoquer saber se obicho precisa de vacina.Que nada!Precisa de penteadoigual ao da menina.

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Usou colher, pregadore concha no cabelo!Ah! gritou a cobra,Um dinossauro no espelho!

(Alunos da classe multisseriada da Escola Rural Municipal Canal do Varadouro)

Por mais que pareça complicado, o processo de compor poesia é fascinante e sempre único. Como um rio que a cada segundo carre-ga nova natureza, novos ares e novos sons, cada um de nós faz nova poesia a cada novo suspiro!

Aprimorando o gosto: cozinheiros mirins

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13 de agosto de 2010, sexta--feira, Madrugada de Lançamento d’O Medômetro.

Da III Guerra Mundial, de ir mal na escola, do sobrenatural... você tem medo de quê? A respos-ta a essa pergunta pode ser fácil; porém, como padronizar a quanti-dade de medo que um medroso (ou corajoso) sente em relação ao que (não) se teme?

Esse foi o desafio para um grupo de leitores-pesquisadores que se auto-intitulam MAIS Gente e Livros. Imbuídos de resolver o mistério, eles - de cabelos em pé e munidos de alho, diários de bordo, balas de prata comestíveis e moderníssimos equipamentos de áudio e vídeo - fizeram uma incur-

são secreta por habitats notoria-mente reconhecidos por desperta-rem medo nas pessoas. A equipe, em entrevista exclusiva para O LETREIRO, citou alguns (somente alguns) destes locais: sala do dire-tor, casa mal-assombrada, estrada mal-assombrada, cemitério em noite de lua cheia, consultório de dentista, bancos (não os de praça), fronteiras entre países nervosos

e armados até os dentes (não foram revelados os nomes nem os apelidos dos países, nem mesmo dicas de sua localização). Após essa perigosíssima pesquisa de campo, o grupo encontrou o que é comum a todas as situações de medo (lidas e vividas): o grito - e até mesmo a falta dele.

O L e t r e i r oSEXTA-FEIRA, 13 DE AGOSTO DE 2010

HOJE EM DIA

Medidor de medo agora é realidadepor Spanta Spantalho Não Durmo de Luz Acesa Mesmo Adulto

Incursão dos leitores-pesquisadores gera sérios traumas! Patrocinadores providenciam tratamento especializado.Era visível a inquietude do grupo MAIS Gente e Livros após essa terrível tarefa. Durante a entrevista alguns não conseguiram dizer seus próprios nomes, por isso a necessidade de apelidá-los para escrever a reportagem. Além de contraírem tiques nervosos como: dançar sem música ambiente por até 2 horas seguidas em qualquer momento e sem elemento desencadeador aparente, chocolatefolia, livrofolia (manias de chocolate e de livros) e didaticofobia (medo de livros didáticos). A agência MOR-DS-C.V.Q.É. já providenciou espaço alternativo para o grupo entrar em contato com suas manias, com o intuito de facilitar a descarga de expressão criativa e de ressignifi-cação da experiência traumática. Os, mais-do-que-nunca, ávidos leitores e comedores de chocolate contam também com a culinária-terapia, método de intervenção antoló-gico que ajuda o grupo a sobreviver, tanto física quanto psiquicamente, à espantosa aventura a que foram expostos. Há rumores de que até escreverão um livro unindo suas experiências com Gente, Livros e muito MAIS! Ah! o grupo também conta com o patrocínio da João&Joãozão, empresa de higiene pessoal que cede fios dentais, esco-vas (dos dois tipos), enxaguante bucal e pomada anti-acne; além de papel higiênico, xampus e sabonetes – afinal de contas, a exposição ao chocolate pode acarretar outros problemas se não for rigidamente acompanhada.

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Foi, assim, estabelecida a unidade de medida do medo: o GRITEL.

Diferente dos pastéis, que tem medida padronizada para todos os seus consumidores – se eu peço um pastel grande e você também, eles terão o mesmo tamanho se provenientes da mesma pastelaria –, os gritéis podem ter uma exor-bitante variação de pessoa para pessoa.

“Foi o que conseguimos comprovar em nossa experimenta-ção. Quando eu e meu colega nos deparamos com uma suposta alma penada no túmulo 13 do corredor XI! nosso gritos foram diferentes em intensidade e altura, no entan-to nos surpreendemos ao registrar-mos a mesma medida 10 na escala gritel” sussurrou a integrante Branca de Medo – na verdade esse não deve ser seu verdadeiro nome

e sim um apelido carinhoso que inventei, pois era o que a caracteri-zava no momento do depoimento.

E daí surgiu o MEDÔMETRO, aparelho de medida individual do medo, que consiste em um gráfi-co no qual o eixo X representa as situações que caracterizam o medo e o eixo Y tem a escala gritel de 0 a 10. Há ainda espaço para o usuário escrever seu nome (ação condicio-nada à sua coragem) e, por último,

o item “arma secreta no combate ao medo”, de preenchimento fun-damental - antes, durante ou após o uso.

O medômetro tem sido utilizado com sucesso em escolas públicas dos municípios de Guara-queçaba e Piraquara, com alunos de 05 a 12 anos e seus professores - cujas idades foram terminante-mente não informadas. Após mo-mento lúdico envolvendo canções

O L e t r e i r oSEXTA-FEIRA, 13 DE AGOSTO DE 2010

Documentação da incursão ainda gera polêmica.Todo o equipamento de áudio e vídeo, além dos diários de bordo, não estava mais sob a tutela do grupo quando retornaram. Dizem que a falta de registro pode ter sido fator agravante da condição psicológica do gru-po, o qual tem manifestações ambivalentes sob o assunto do desapare-cimento. Enquanto uns dizem que as corridas, as batalhas e as gritarias impossibilitavam carregar qualquer bagagem, nem mesmo mantimen-tos, outros confessam que a experiência não poderia ser revelada pelo material – ora por ser um risco à humanidade, ora porque há muitos seres que não são captados pelas câmeras, como os de origem fantas-magórica ou vampirosa – e há ainda aqueles que contestam: “material? quê material?”. Por essas e outras, o que todas as empresas, agências, familiares, alunos, professores e outras gentes envolvidas com o MAIS Gente e Livros espera é a recuperação da equipe, na medômetra, ou me-lhor, na medida do possível. E é exatamente o que nós, d’O LETREIRO, também esperamos. S.S.N.D.L.A.M.A. para O LETREIRO

Page 162: Nosso Caderno de Receitas: Gente e Livros na Cozinha

aprendidas pelo MAIS Gente e Li-vros durante a pesquisa e contação de histórias ditas reais, os ouvintes são encorajados a preencher cada um o seu medômetro.

“A medida dos gritéis tem de ser demonstrada com participação de todo o grupo. Dessa maneira, todos estufam os pulmões e gritam na graduação indicada. É perti-nente não ter medo do ridículo nesse momento, sob o risco de comprometer a medição com esse instrumento sensível e certeiro, o medômetro”, colabora Despen-teada, outra integrante do grupo fielmente por mim apelidada.

Os professores e alunos têm também a oportunidade de descreverem seus medos. Segun-do levantamento estatístico da agência MORDS-C.V.Q.É., a maior incidência de medos descritos é a de animais (cobra, aranha, onça), com 60%; havendo também medos “de não ser salvo”, com 30%. De acordo com os docentes, essa é uma oportunidade de todos se conhecerem melhor, além de abrir um espaço de construção de texto diferenciado - uma espécie de au-tobiografia planificada em gráfico.

É uma maneira a mais de expres-são da singularidade de cada um por meio do texto escrito, ilustrado e quantificado. Como já dizia o po-eta, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que se é”...

Por isso quem faz uso do me-dômetro ganha o título de GENTE QUE FAZ LIVROS pela equipe leitora-pesquisadora, pelo fato de que... é com GENTE que se faz LIVROS!

Imbuídos da distribuição desse novo aparelho de medida, “gente que faz livros” pode ir até você ou mesmo estar tão próximo que nem é notada: pode viver den-tro de um lugar criativo chamado imaginação. É, da SUA IMAGINA-ÇÃO!

PRÓXIMA EDIÇÃO:• PREFEITOS, PRESI-

DENTE, GOVERNADORES E DONAS-DE-CASA TÊM ALGO EM COMUM: EXIGEM O MEDÔME-TRO COMO O MAIS NOVO ITEM DA CESTA BÁSICA!

• NAS MELHORES FAR-MÁCIAS: MEDÔMETRO É CAMPEÃO DE DISTRIBUIÇÃO! GANHO DISPARADO DO TER-MÔMETRO.

O L e t r e i r oSEXTA-FEIRA, 13 DE AGOSTO DE 2010

Camila S. G. Acosta Gonçalves

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Capítulo 9 - Pesquisa: em busca de iguariasSobre intertextualidade e auto-reconhecimento

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“Aí, Teresinha de Jesus, que até agora estava sem nenhum lugar importante neste enredo, assim como se fosse alguém fora do palco, na platéia escura, ou

alguém que só estivesse lendo o livro, gritou: -- Espera aí!

(...) Terezinha desenrolou um papel, olhou, olhou o outro, olhou o primeiro de novo.

-- Era o que eu pensava!” (UNI DUNI TÊ, de Angela Lago)

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Os ingredientes, a panela e a colher de pau: os “segredos” da intertextualidade.

Fabiana da Cunha Medeiros

Outro dia, durante um curso para professoras aqui em Curitiba, ouvi um diálogo que me causou um sorriso:

- Ah, eu queria tanto saber costurar! - Ih, logo vem uma Vitória Valentina por aí... Quem não assiste à atual novela “das sete”, um remake de

Ti-ti-ti - exibida originalmente em 1985 (quando eu contava apenas 6 anos de idade!) -, não deve ter entendido o diálogo das meninas. E, muito menos, o sorriso que ele me causou...

Já quem a assiste, logo deve ter percebido que o diálogo faz referência – implícita – a um dos protagonistas da novela, o estilista Victor Valentim.

É muito interessante perceber nossa capacidade de mesclar linguagens, de nos apropriarmos de algo que nos chama a aten-ção e trazê-lo para o nosso cotidiano, de transformá-lo para poder usufruí-lo da melhor forma...

Muitas vezes, não há necessidade de explicarmos que refe-rências estamos usando. Outras vezes, quando nosso interlocutor nos olha com cara de quem pergunta “De que diabos você está fa-lando?”, somos obrigados a explicar a base do nosso pensamento, que metáfora queremos construir...

O tempo todo estamos estabelecendo relações entre textos, pois nossa visão de mundo é construída a partir de nossas vivências. E as vivências vêm dos discursos que lemos e ouvimos por aí...

É claro que ninguém sai com um bloquinho na mão para anotar todas as relações textuais que percebe a cada momento, mas seguramente o modo como nos expressamos é resultado (também) da realidade social com que temos contato.

Segundo Fiorin e Savioli (2008), Com muita frequência um texto retoma passagens de outro.

Quando um texto de caráter científico cita outros textos, isto é fei-to de maneira explícita. O texto citado vem entre aspas e em nota

Pesquisa: em busca de iguarias

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

indica-se o autor e o livro donde se extraiu a citação. Num texto literário, a citação de outros textos é implícita, ou seja, um poeta ou romancista não indica o autor e a obra donde retira as passa-gens citadas, pois pressupõe que o leitor compartilhe com ele um mesmo conjunto de informações a respeito de obras que compõem um determinado universo cultural. Os dados a respeito dos textos literários, mitológicos, históricos são necessários, muitas vezes, para a compreensão global de um texto.

Um exemplo de que gosto muito para ilustrar essas “delícias intertextuais” é a propaganda que reproduzo abaixo, da construtora Thá:

Era uma casa muito belaTinha teto, tinha janelaTodo mundo queria entrarPorque o apê era de arrasarQueriam dormir até em redesLindos quartos, lindas paredesNinguém queria sair daliQueriam mesmo ficar aquiPorque foi feita para lembrarEla foi feita pela Thá. Não se trata de um texto literário, mas de uma publicida-

de que tomou como base uma letra de música conhecidíssima por (quase?) todos os brasileiros que já foram “brasileirinhos” um dia... E que graça ficou, não é?

Aliás, há mesmo muita “graça” no estabelecimento de re-lações textuais... Há sorrisos, meio-sorrisos, cumplicidade (“Ah, que sacada a desse cara!”)...

Publicidade é, de um modo geral, um prato cheio para se brincar com o tema da intertextualidade. Agora que já brincamos com “A casa” (ou o “apê” da Thá), que tal olhar com mais atenção as propagandas que nos rodeiam nos veículos impressos e visuais? Todas elas têm um lado oculto, percebido apenas por quem está disposto a realmente lê-las!

Não pensem que somente um trabalho com publicidade é

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interessante para despertar a curiosidade das crianças para as rela-ções intertextuais. Atividades simples, que vemos corriqueiramente nas escolas, também são uma forma de incentivar os alunos a desen-volverem suas habilidades de “cozinheiros literários”.

Uma delas é velha conhecida dos professores: pedir que os alu-nos recriem histórias clássicas, seja misturando-as na mesma panela, digo, fazendo de várias histórias uma história só, seja transformando uma feijoada em tutu mineiro, quer dizer, mudando o tempo e o lugar onde elas ocorrem...

Essa é uma das possibilidades de trabalhar com intertextuali-dade, de mostrar o quanto nosso conhecimento de mundo pode nos auxiliar a criar, a ter um discurso interessante, a expressar nossas ideias de forma original...

Falando em originalidade, que tal pensarmos sobre o livro que vocês têm em mãos agora? Quem imaginaria que um projeto de literatura, com foco na formação de leitores, elaboraria um livro de receitas?

Claro que não se trata de um livro “normal” de receitas... Aqui há receitas literárias que, cá entre nós, permitem que cada cozinheiro modifique-as de acordo com o seu gosto e o de seus comensais... (Coisa que receitas culinárias nem sempre permitem; algumas mu-danças podem resultar em pratos “incomíveis”!)

Aproveitei a metáfora da cozinha também para o título do arti-go... Alguém se habilita a tentar decifrá-lo?

Vamos lá: temos os ingredientes (os textos; todos os textos!), somos as panelas (onde os textos são colocados) e usamos a colher de pau (nossos neurônios e lápis, caneta, papel, etc.; depende do nosso gosto) para misturar os conhecimentos que adquirimos. Mis-turando e cozinhando, vamos aprimorando o gosto de cada ingre-diente que compõe a receita.

Ao fim do cozimento, surge a “lapidação” daquilo que entrou cru na nossa panela...

E esse cozimento é demorado mesmo... Não adianta termos pressa, pois todo dia é dia de aprender, de colocar mais água e fogo para manter a panela bem acesa!

Pesquisa: em busca de iguarias

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Bartolomeu Campos Queirós, autor sensível e atento às necessi-dades da alma humana, compreendeu – e faz questão de comparti-lhar a ideia de – que “A palavra é para abrir portas, e não para pintar uma única paisagem.”

Dividamos com ele os sabores literários, permitindo que cada um de nossos educandos possa pintar sua própria paisagem nos campos da imaginação, do conhecimento e da possibilidade de usar de forma original ideias já desgastadas pelo tempo e pelo uso.

Bom apetite!

Para comer com os olhos (ou degustar com os ouvidos): COSTA, M. M. da. Mapa do mundo: crônicas sobre leitura. Belo

Horizonte: Leitura, 2006 FIORIN, L. C. e SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e re-

dação. São Paulo: Ática, 2008 JOUVE, V. A leitura. São Paulo: Unesp, 2002 RODARI, G. Alice viaja nas histórias. São Paulo: Biruta, 2007 ___. Gramática da fantasia. São Paulo: Summus, 1982 SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Hori-

zonte: Autêntica, 2000 TORERO, J. R. e PIMENTA, M. A. Chapeuzinhos Coloridos. Rio de

Janeiro: Objetiva, 2010

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Pesquisa por dentroCamila S G Acosta Gonçalves

Os encontros com professores são banhados a contações de histórias. O planejamento dessas interferências estratégicas não era tecnicamente didático, as histórias apareciam nas deixas espontâ-neas. Quem chamou minha atenção para esse detalhe, quase uma obviedade, foi um e outro professor nos encontros de formação continuada.

É comum em nossas incursões pela comunidade docente, com as quais temos parceria, surgir comentários como: “hoje eu vim de carona, pois não tínhamos transporte, porque a-do-ro ouvir as his-tórias que você nos conta”, “agora meus alunos vão conhecer outra maneira de contar histórias, pois eu nunca tinha pensado em contar assim antes”, o clássico “como é que eu faço para contar histórias como você?” ou o inusitado “nossa, vocês devem ter ensaiado muito para contar histórias assim”.

O viés teórico-prático é igualmente nossa marca registrada; a contação de histórias, nosso cartão de visitas.

Estudando e trabalhando sobre esse tema, descobrimos que o contador vai se fazendo em um diálogo com a história e consigo mesmo, emprestando sua voz, seu gesto, seu olhar, para construí--la para e com os seus ouvintes. Isso nos ensinou (e ensina) Regina Machado, Cléo Busatto e tantos outros contadores e pesquisadores: nossos professores, quando falam sobre a preparação para contar uma história que gostam; nossos colegas de equipe, que compar-tilham conosco suas criações e inspirações; nossos pais, amigos, conhecidos e desconhecidos que nos brindam com um delicioso banquete contando, cantando, incorporando histórias, poemas, re-pentes e outros textos que trazem nova luz e novos ares à nossa pai-sagem cativa (‘quem está sonhando, acordai’, não é assim, Regina?).

Sobre esse passeio, sabemos que ele toma um tempo diferente do cronológico, do esquadrinhado para a aula ou para a intervenção. É o tempo de cada um, de suas descobertas e observações de si e do outro. Regina, a Machado, chama isso de “recursos internos” de

Pesquisa: em busca de iguarias

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

contação.Diferente dos recursos externos, os internos são nossos, quase

intransferíveis (para não radicalizar e dizer que são intransferíveis), mas transponíveis para nossa técnica de contar histórias. É o co-zinheiro buscando aquele aroma do já vivido; daquele sorvete de violeta que só provou um bocadinho; do pastel da avó que não vive mais e só fazia quando o tio ainda era vivo; do arroz soltinho que tinha sabor de interior; do pudim de leite que era a sobremesa sur-presa; da pamonha do sítio que não tem outra igual porque o sítio não é mais da bisavó... e trazer para o aqui e o agora algo dessas lembranças, oferecendo o impossível num prato de história.

Foi nesse sentido, de experimentação, na tentativa de propor-cionar algo do interno no tempo do encontro (!), que nos reunimos em 2010 para propor uma experimentação que até acabou virando estratégia de pesquisa (pesquisa interna, aquela que não precisa fa-zer projeto, nem ter financiamento ou autorização escrita do sujeito de pesquisa para se fazer presente). Genuíno, nada neutro; pessoal, mas científico. Antropológico e devorador.

Na verdade a idéia surgiu fácil, fácil. Foi num encontro em que decidimos tomar nota de situações extremas em que nossa história pessoal dá notícias pelo nosso jeito de ser.

Foi então que surgiu a contação aplicada.

O nome, nós demos depois. O modo de usar é variado. Não tem muitas regras e nem precisa ter platéia. Afinal, a pesquisa é de você com você mesmo. No entanto, o outro também pode fazer papel importante, ele pode ser (como usualmente é) um de nossos termô-metros - pois além dele, temos nós mesmos nos apreciando. Vale muita coisa: contar em frente ao espelho, fazer o outro adivinhar qual a mensagem que se deve passar, pegar um ditado popular ou um trava-línguas e contá-lo com a expressão pedida, ou criar uma longuíssima aventura e cada um no grupo contar uma parte segun-do uma das propostas... e por aí vai... o céu é o limite... ou será até o universo? Ou o Benedito?

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Primeiramente, era nada mais nada menos que um arquivo di-gital intitulado rit+voz+int!.doc , sabe-se lá por quê a que vos es-creve foi quem o batizou assim. Observação: Não tentem nomear ninguém ou nada desse jeito, pois mais parece uma transação fi-nanceira do estrangeiro do que o nome de um não sei o quê em um projeto de literatura... ou não... o que nos salva é a licença poética!

Logo no primeiro email sobre essa coisa impronunciável, o as-sunto foi contação aplicada*.

- Parabéns, é uma menina! E aí todos soubemos que, com seu toque feminino peculiar, a tal

da estratégia só tinha a acrescentar em nossas vidas de contadores, educadores, pesquisadores e cozinheiros da mais alta gastronomia: a dessa estrada. A qual, já dizia o poeta, não nos cabe conhecer ou ver o que virá, o fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar...

A passear pelas cores da nossa aquarela, podemos nos ver can-tando uma canção, contando uma fofoca, fazendo uma prece ou um apelo, chamando um garçom para nos atender. E é o que a contação aplicada nos proporciona. Ela nos faz emprestar afetos de situações que já passamos ou mesmo que podemos nos imaginar passar (por mais inusitado que pareça) para que nos flagremos em nossos po-tenciais de narrar, que se cruzam com a trilha de nos conhecermos! A sabedoria popular nos brinda com um provérbio que é assim: “Aque-le que não sabe e sabe que não sabe é humilde. Ajuda-o! Aquele que não sabe e pensa que sabe é ignorante. Evita-o! Aquele que sabe e sabe que sabe é sábio. Segue-o! Aquele que sabe e pensa que não sabe está dormindo. Acorde-o!”. É mais ou menos deste chacoalhão, de acordar quem não sabe que sabe, que é feito o contador - não é ACORDAIS justamente o nome de um livro sobre contação de his-tórias? Isso seria mera casualidade ou sincronicidade? –, quando ele vive na história uma metáfora da sua vida. Também a contação apli-cada mexe conosco dessa maneira. Afinal de contas, ela não deixa de ser uma mini-história na qual o contador, ouvinte, personagem, educador, cozinheiro e pesquisador é a mesma pessoa!

Degustar um bocadinho da própria comida é requisito para

*MAIS sobre contação aplicada? No apêndice do Nossos Cadernos de Receitas! Confira também a Ficha de Leitura de Si -- é, de você, mesmo!

Pesquisa: em busca de iguarias

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

servi-la, não é mesmo?

Referências:BUSATTO, C. Contar e Encantar: Pequenos segredos da narrati-

va. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.MACHADO, R. Acordais: fundamentos teórico-poéticos da arte

de contar histórias. São Paulo: DCL, 2004.SABINO, F. O grande mentecapto. Rio de Janeiro: Record, 2003.www.ronaud.com (provérbios, citações, pensamentos)VIAGENS, ENCONTROS, BANHOS, CONVERSAS, ESCUTAS EM

2010, NOS ANOS QUE JÁ PASSARAM E EM MUITOS OUTROS QUE PASSARÃO (TOMARA!)

PASSARINHOSMário QUINTANA (de bico a rabo!)

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Integrantes da equipe, parceiros e outros colaboradores do

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“É muito fácil explicar uma casa. Ela tem tijolos, paredes, janelas e serve para morar. (...) Agora, tente

explicar o gosto. Por que tem gente que gosta de uma coisa e gente que gosta justo do contrário? Experi-

mente explicar a beleza ou explicar um sentimento ou as coincidências que acontecem ou o gosto ou os

sonhos, os acasos ou um pressentimento. Você já teve um pressentimento?”

(ARMAZÉM DO FOLCLORE, de Ricardo Azevedo)

“Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.” (MANIA DE

EXPLICAÇÃO, de Adriana Falcão)

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ESTALÍSTICA: lista estilística com números do projeto!

• Cerca de 1.500 livros adquiridos por compra, doação e troca; e entregues aos municípios parceiros.

• MAIS de 50 viagens intermunicipais realizadas desde outu-bro de 2007 até o final de 2010.

• MAIS de 50 atuações de voluntários no projeto (em eventos, entrevistas, aulas, na equipe UFPR).

• Gente beneficiada: estimativa de 450 professores, seus 9.000 alunos (beneficiados direta ou indiretamente) e MAIS de 250 envol-vidos diretamente na universidade e nas escolas (familiares e interes-sados).

Em nossa cozinha

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Você sabia...

1. Que a bolsista de graduação que atuou por mais tempo no projeto foi a estudante de Pedagogia Rosicler Alves dos Santos? MAIS de 900 dias? Só nesse ano, 2010, ela já enviou cerca de 100 emails, sem nunca ter tido um computador onde reside, Curitiba.

2. Que a contrapartida dos municípios do projeto Gente e Livros (2007-2009) incluía principalmente o almoço para a equipe durante as viagens? A comida, deliciosíssima, foi um espetáculo a parte.

3. Que o projeto realizou um evento de extensão por ano a partir de 2008? Os professores viajavam até Curitiba para participar de palestras e vivências, assim como a troca de experiência. As ativi-dades eram organizadas pela equipe e aberta a convidados.

4. Que antes de 2008 não se tinha notícia de projeto de exten-são da UFPR que houvesse viajado por todas as escolas dos muni-cípios atendidos? Piraquara foi o único município que teve contrato diferente, e a intervenção atingiu duas de suas escolas e todos os professores da primeira série e primeiro ano do ensino fundamental em 2010.

5. Que as orientadoras Valéria Zimermann de Morais e Karla Neves e a profissional recém-formada Juliana Beltrão Leitoles atuam no mesmo grupo de teatro? Ele se chama Boato Clandestino, e conta com mais três integrantes.

6. Que sem a parceria da UFPR Litoral o projeto MAIS Gente e Livros não teria condições operacionais de atuar em Guaraqueçaba? Por essas e muitas outras, o projeto contou com diversas parcerias dentro e fora da universidade.

7. Que a metodologia de trabalho nas escolas envolvendo tan-to alunos quanto professores foi um pedido das equipes dos depar-tamentos de educação dos municípios parceiros? Além da capacita-ção docente e acervo de livros (caixinhas viajantes), essa é uma das marcas do projeto e uma de suas maiores inovações.

8. Que a orientadora Camila Acosta Gonçalves tem muita ins-piração enquanto está tomando banho de chuveiro? Foi assim que

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surgiu a música da Chapéu, “Flores para a avó”, e muitos outros tex-tos do livro; ela também sonha acordada quando está em silêncio, caminhando pela rua.

9. Que uma das estratégias não alcançadas pelo projeto foi a de trocar correspondências com os alunos das escolas dos municí-pios por meio da personagem Dona Livrósia Madalena D’Ambrósio, criada pela equipe? O serviço dos correios é muito demorado em algumas localidades: as cartas são todas entregues na parte urbana, e não no endereço concreto da escola.

10. Outra idéia em suspenso é a da integrante Márcia de Aze-vedo Rocha se fantasiar de livro em alguma intervenção do projeto. Há mais de dois anos, sempre que alguém resgata essa idéia, ela se candidata, empolgadíssima. Pena que esse dia ainda não chegou...

Em nossa cozinha

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Nossa Gente de Todos os Tempos!

PROJETO “GENTE E LIVROS: CAIXINHAS VIAJANTES NO MUNDO FAN-TÁSTICO DA LITERATURA”

DE 15 DE OUTUBRO DE 2007 A 15 DE OUTUBRO DE 2009

Concepção do projeto 2007

Professora Carmen Sá Brito Sigwalt – DEPLAE – Setor de Educação – UFPR

Martha Cristina Zimermann de Morais – mestranda em Educação/ UFPRLuciane Fabiane dos Santos – estudante de pedagogia e bolsista de ex-

tensão/ UFPR

Execução do projeto

Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – SETIPrograma de Extensão Universitária Universidade Sem Fronteiras – USFSubprograma Apoio às LicenciaturasEdital 2007 (Gente e Livros)

Universidade Federal do Paraná - UFPRPró Reitoria de Extensão e Cultura – PROECPró Reitoria de Graduação – PROGRADPrograma de Extensão Qualificação de Professores AlfabetizadoresSetor de EducaçãoDepartamento de Planejamento e Administração Escolar – DEPLAEGraduação em Pedagogia

Coordenação:Profa. Carmen Sá Brito Sigwalt (pedagogia) 2007-2009

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Orientações:Profa. Carmen Sá Brito Sigwalt 2007- 2009 (pedagogia)Fabiana da Cunha Medeiros – 2008 (Letras - Licenciatura em Português

e Italiano)Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves 2009 (musicoterapia e peda-

gogia)Valéria Zimermann de Morais – 2009 (licenciatura em Teatro)

Profissionais recém-formados:Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves – 2007-2008 (musicoterapia

e pedagogia)Fabiana da Cunha Medeiros – 2009 (Letras - Licenciatura em Português

e Italiano)

Estudantes de graduação / UFPR:Andressa Machado Teixeira - 2008 (pedagogia)Bruna Fialla Alves – 2009 (Letras licenciatura em Português com Espa-

nhol)Erica Ignácio da Costa - 2008-2009 (Letras licenciatura em Português

com Inglês)Fabiana Coneglian - 2008-2009 (pedagogia)Hellen Martins Quadros – 2007-2008 (pedagogia)Liliane Machado Martins – 2008 (pedagogia)Luciane Fabiane dos Santos – 2007-2008 (pedagogia)Márcia Tarouco de Azevedo Rocha - 2008-2009 (pedagogia)Paula Martina Iannou - 2009 (pedagogia)Rosicler Alves dos Santos - 2008-2009 (pedagogia)Silmara Arruda Bueno - 2008-2009 (pedagogia)Silvana Galvani Claudino – 2009 (pedagogia)Vinícius Silva Rodrigues dos Santos – 2007-2009 (pedagogia)

Parcerias:Secretaria de Educação do Município de Adrianópolis - 2007-2009Secretaria de Educação do Município de Bocaiúva do Sul - 2008-2009Secretaria de Educação do Município de Tunas do Paraná - 2007-2009

Em nossa cozinha

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Parcerias em Curitiba:Centro Municipal de Educação Infantil Parque Industrial - 2008Escola Estadual Hildebrando de Araújo - 2008Casa Amarela - 2008-2009 (FUNPAR)Centro Hospitalar de Reabilitação Ana Carolina Moura Xavier -

2009(SESA)Escola de Educação Infantil GAIA - 2009Projeto de Extensão “Brinquedoteca na Escola: contribuição interdiscipli-

nar ao processo educativo nas séries iniciais do Ensino Fundamental de nove anos” / UFPR e SETI (USF) - 2009

Eventos:Encontro da USF na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) -

2008Semana de Pedagogia / UFPR - 2008Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão do Setor de Educação / UFPR -

2008VII Encontro de Extensão e Cultura— ENEC / UFPR - 2008Gente e Livros: Trocas de Experiências (promovido pelo projeto) / UFPR

- 2008Reuniões Regionais com Recém-Formados do Programa USF / SETI -

2009Encontro de Atividades Formativas -- ENAF / UFPR - 2009Literatura e Brincar: tesouros a serem explorados na escola (promovido

pelo projeto em parceria com o projeto de extensão “Brinquedoteca na Es-cola”) - 2009

PROJETO “MAIS GENTE E LIVROS: CAIXINHAS VIAJANTES NO MUNDO FANTÁSTICO DA LITERATURA”

DE 01 DE DEZEMBRO DE 2009 A 31 DE DEZEMBRO DE 2010

Concepção do projeto 2009

Professora Carmen Sá Brito Sigwalt – DEPLAE – Setor de Educação – UFPR

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Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves (musicoterapia e pedagogia)Pedagoga Martha Zimermann de MoraisValéria Zimermann de Morais (licenciatura em Teatro)

Execução do projeto : dezembro / 2009 a dezembro / 2010Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – SETIPrograma de Extensão Universitária Universidade Sem Fronteiras – USFSubprograma Apoio às LicenciaturasEdital 2009 (MAIS Gente e Livros)

Universidade Federal do Paraná - UFPRPró Reitoria de Extensão e Cultura – PROECPró Reitoria de Graduação – PROGRADPrograma de Extensão Qualificação de Professores AlfabetizadoresSetor de EducaçãoDepartamento de Planejamento e Administração Escolar – DEPLAEGraduação em Pedagogia

Coordenação:Profa. Carmen Sá Brito Sigwalt (pedagogia)

Orientações:Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves (musicoterapia e pedagogia)Profa. Carmen Sá Brito Sigwalt (pedagogia)Karla Fernanda Ribeiro Neves (licenciatura em Teatro)Valéria Zimermann de Morais (licenciatura em Teatro)

Profissional recém-formado:Juliana Beltrão Leitoles (licenciatura em Teatro)

Estudantes de graduação:Ana Luiza Suhr Reghelin (Educação Artística habilitação em Artes Plás-

ticas)Andressa Machado Teixeira (pedagogia)Bruna Fialla Alves (Letras licenciatura em Português com Espanhol)

Em nossa cozinha

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Júlio Cezar Marques da Silva (Letras licenciatura em Português com Es-panhol)

Márcia Tarouco de Azevedo Rocha (pedagogia)Rosicler Alves dos Santos (pedagogia)

Parcerias:Escola Municipal Paulo Pimentel (São José dos Pinhais)Secretaria de Educação do Município de GuaraqueçabaSecretaria de Educação do Município de PiraquaraProjeto Atitude (São José dos Pinhais)Projeto de Extensão “Oficinas Pedagógicas” (PROEC / UFPR)UFPR Litoral

Eventos:IX Encontro de Extensão e Cultura – ENEC /UFPREvento de Extensão MAIS Gente e Livros (previsto para 27 de novembro)

e MAIS:Livro Nosso Caderno de Receitas: Gente e Livros na CozinhaDVD MAIS Gente e LivrosJogo Conversa de Livro

Participações MAIS que especiais: 2007-2010!

CURITIBA: Bárbara Trelha de Oliveira (parceria no arranjo e nas gravações das can-

ções para o DVD), Profa. Ms. Luciane Hagemeyer (“Clube do Livro” / Colégio Medianeira), Amábile Gervásio Marton (SERPIÁ / Casa Amarela), Maria Cristi-na Pires Mendes de Oliveira (Clube da Brincadeira / Escola Anjo da Guarda), artista Felipe Meyenberg (pela diagramação desse livro), Miriam Fialla (pela capa desse livro); a equipe de video pela elaboração de vídeo do evento 2009: Ivan Tikara Kamazaki, Rodrigo Maki, Julio Bueno, Filipi Boltão; Pedagoga Lilia-ne Machado Martins, Pedagoga Luciane Fabiane dos Santos, Escritora Marili-sa Exter Koslovski, Educadora Brinquedista Ingrid Fabian Cadore (Associação SERPIÁ / ABBri), Cláudia Serathiuk, pela pesquisa, iniciativa e diálogo (Livraria

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Bisbilhoteca), Maria Nilcely Muxfeldt Gloss (Hospital Pequeno Príncipe), Le-dinalva Pereira de Almeida (SERPIÁ); Sônia Viégas, Ricardo Azevedo, David Milgrim (entrevistas via internet. Viva a tecnologia!).

Conjunto Livre de Flauta Doce “Ressonâncias”: Ângela Sasse (direção do grupo /EMBAP), Camila S G A Gonçalves, Gabriela Brephol, Isadora Chiamul-lera, Renée Rebello (piano), Robson Onofre

Quarteto de Cordas “Kammyllus”: Cleverson Mendes (violino 1), Eze-quias Douglas de Paula (violino 2), Diesney Leite (viola) e Camila S G A Gon-çalves (violoncelo)

USF / SETI:Cristiano Passos, Pedro Américo Duarte, Solange de Lima, José Lázaro

e “Lobão”, secretário da SETI Nildo José Lübke e ex-secretária da SETI Lygia Pupatto.

UFPR:Pedagoga Cristiane Ribeiro (PROGRAD 2008), Designer Leonardo Bet-

tinelli, (desenhou nossa logo), Pró Reitora Profa. Rosana de Albuquerque Sá Brito (PROGRAD 2008), Prof. Paulo Vinicius Baptista do Silva (Educação), Profa. Maria Odete Bettega (Coord. PROGRAD), Pró Reitora Profª. Drª. Maria Amé-lia Sabbag Zainko (PROGRAD), Pró Reitora Profª. Elenice Mara Matos Novak (PROEC)

PROJOVEM: Kelle Cristine da Silva, Pedagoga Lorena Laskoski, Pedagoga Martha Cristina Zimermann de Morais

CINFOP: Nara Angela dos Anjos, Prof. Valdo CavalletCENTRAN UFPRFUNPAR: Ariadne Lima (2008), Edson Smith, Franciele ChiminskiUFPR Litoral: Prof. Valdo Cavallet, Profa. Ana Josefina FerrariCENTRAN UFPR Litoral, em especial ao João Carlos, o Joca.

ADRIANÓPOLIS:Secetaria Municipal de Educação (SME): Antonia T. Ceccon Manguer,

Beatriz Nunes de Oliveira, Claudinéia Mesquita, Antonia Dalva Sanches Dias.

Em nossa cozinha

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

BOCAIÚVA DO SUL:SME: Leani Maria Bittencourt D`Angelis, Silmara Santos, Eliete Maria Dio-

ra Carron.

GUARAQUEÇABA:SME: Sandra Lopes, Antonio Carlos Barbosa, Joel dos Santos Agostinho,

Ivã Simões de Miranda. Marinheiro Gilmar do Rosário, motorista Paulo Godoi dos Santos e pro-

fessora Alair (pela alegria e por ter nos recebido em sua casa); Zé Muniz e Leandro Gonçalves (Casa do Fandango); Dona Ida (pousada Chauá / Guara-queçaba); Professora Izolina (Comunidade de Vila Fátima).

PIRAQUARA:SME: Luciane Vilar Possebom, Adriana Silva, Loireci Dalmolin de Oliveira

e Silvia Mara Santos.

SÃO JOSÉ DOS PINHAIS:Vice-diretora Fabiana Sarturi e pedagoga Juciane Zuanazzi (Escola Mu-

nicipal Paulo Pimentel).

TUNAS DO PARANÁ:SME: Zuleide Aparecida Buzelatto, Jorcelmo Bertoldi, Ezulina Ap. Burk-

ner, Elizângela Krépel Krasota.

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CONTATOS:

Ana Luiza Suhr Reghelin - [email protected]

Andressa Machado Teixeira - [email protected]

Bruna Fialla Alves – [email protected]

Camila S. G. Acosta Gonçalves - [email protected]

Fabiana da Cunha Medeiros - [email protected]

Juliana Beltrão Leitoles - [email protected]

Karla Fernanda Ribeiro Neves - [email protected]

Luciane Fabiane dos Santos – [email protected]

Márcia Tarouco de Azevedo Rocha - [email protected]

Rosicler Alves dos Santos - [email protected]

Profa. Carmen Sá Brito Sigwalt – [email protected]

Em nossa cozinha

Page 186: Nosso Caderno de Receitas: Gente e Livros na Cozinha

Referências

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“É preciso dar ouvidos a todos. De ‘A a ‘Z’.” (O CASO DAS BANANAS, de Milton Célio de Oliveira e Mariana

Massarani)

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

ABRAMOVICH, F. Quem educa quem? 8ª ed. São Paulo: Sum-mus, 1985.

______________. Literatura Infantil: Gostosuras e Bobices. 5ª ed. São Paulo: Ed. Scipione, 2006.

ADAMS, P. Patch Adams: o Amor é Contagioso. Ilustrações de Jerry Van Amerogen; tradução Fabiana Colasanti. Rio de Janeiro: Sex-tante, 1999.

ADSHEAD, P. A Ilha do Mistério tradução Gilda de Aquino. São Paulo: Brinquebook, 1995.

AGUIAR, V. (coord.), ASSUMPÇÃO, S., JACOBY, S. Poesia fora da estante. Ilustrado por Laura Castilhos. 13ª ed. Porto Alegre: Projeto e CPL / PUCRS, 2007.

ALMEIDA, F. L. A fada que tinha idéias. Ilustrações de Edu. 19ª edição. São Paulo: Ática, 1991.

ALMEIDA. G. P. A Produção de Textos Nas Séries Iniciais: Desen-volvendo as Competências da Escrita. Rio de Janeiro: WAK, 2005.

AZEVEDO, R. O leão Adamastor. São Paulo: Melhoramentos, 1981.

____________Cultura da Terra: o livro de folclore da Cargill. São Paulo: Fundação Cargill, 2003.

____________“Literatura infantil: origens, visões da infância e cer-tos traços populares”. Disponível em www.ricardoazevedo.com.br.

____________ “A didatização e a precária divisão de pessoas em faixas etárias: dois fatores no processo de (não) formação de leito-res”. Belo Horizonte: 2001. Disponível em www.ricardoazevedo.com.br.

BANDEIRA, P. Malasaventuras: Safadezas do Malasartes. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2003.

BARBOSA, R. A. Como as histórias se espalharam pelo mundo. Ilustrações Graça Lima. São Paulo: DCL, 2002.

BARTHES, R. Aula 2ed. São Paulo: Cultrix, 2004.BETTELHEIM, B. A Psicanálise dos Contos de Fadas. Tradução

Arlene Caetano. 16ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.BENNET, W. J. (org) O livro das Virtudes para Crianças. Ilustra-

ções de Michael Hague. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

Page 189: Nosso Caderno de Receitas: Gente e Livros na Cozinha

189

Referências

BLOCH, P. Dicionário de Humor Infantil Ilustrações Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997.

BLOIS, M. M. e BARROS, M. A. F. Teatro de fantoches na escola dinâmica. Rio de Janeiro: Ao livro Técnico S.A., 1967.

BOAL, A. Teatro do Oprimido e Outras Poéticas Políticas. São Paulo: Civilização Brasileira, 2005.

BONDÍA, J. L. “Notas sobre a experiência e o saber de experiên-cia” tradução João W. Geraldi in Revista Brasileira de Educação nº 19, jan/fev/mar/abr 2002.

____________Nietzsche & a Educação. Tradução Semíramis G. da Veiga 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

BUSATTO, C. Contar e Encantar: Pequenos segredos da narrati-va. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

CALVINO, I. Fábulas Italianas: coletadas na tradição popular du-rante os últimos cem anos e transcritas a partir de diferentes diale-tos. Tradução Nilson Moulin. São Paulo: Cia das Letras, 2006.

CAMARGO, J. E. e SOARES, L. O Brasil das placas: viagem por um país ao pé da letra São Paulo: Panda Books, 2007.

CARNEIRO, A. Caixa-surpresa. Ilustração Fernando Nunes. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996.

CARROLL, L. Aventuras de Alice no País das Maravilhas; Através do Espelho e o que Alice encontrou por lá. Ilustrações John Tenniel; tradução Maria Luiza X. de A. Borges. Riode Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.

CARTER, A. 103 Contos de Fadas. Tradução Luciano Oliveira Ma-chado. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

CIPIS, M. Era uma vez um livro. São Paulo: Cia das Letrinhas, 2002.

CORAZZA, S. “Planejamento de Ensino como Estratégia de Polí-tica Cultural” in MOREIRA, A. F. (org) Currículo: questões atuais . 3a. ed. Campinas, SP: Papirus, 2000.

CORSO, M. e CORSO, D. L. Fadas no Divã: Psicanálise nas Histó-rias Infantis. Porto Alegre: Artmed, 2005.

COSTA, M. M. Mapa do Mundo: crônicas sobre leitura. Belo Ho-rizonte: Ed. Leitura, 2006.

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

CRONIN, D. Teque, teque, muu: Vacas que escrevem à máqui-na. Ilustrações Betsy Lewin; tradução de Ana Bergin. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.

CROSSLEY-HOLLAND, K. Encantamento: Contos de fada, fan-tasma e magia. Ilustrações de Emma Chichester Clark; tradução de Hildegard Feist. São Paulo: Cia das Letrinhas, 2003.

CUNHA, M. I. “Aula Universitária: Inovação e Pesquisa”. In LEITE, D.& MOROSINI, M. (org) Universidade Flutuante: produção do ensi-no e inovação Campinas: Papirus, 1997.

DRUCE, A. Bruxa, bruxa, venha à minha festa. Ilustrações de Pat Ludlow. Tradução de Gilda de Aquino. São Paulo:Brinque-book, 1995.

DUBORGUEL, B. Pedagogia e imaginário. Lisboa: Instituto Pia-get, 1992.

DUSSEL, I. e CARUSO, M. A invenção da sala de aula: uma gene-alogia das formas de ensinar. Tradução Cristina Antunes. São Paulo: Moderna, 2003.

EMBERLEY, E. R. Desenhando com os Dedos.Tradução Shirley Ap. de Souza. São Paulo: Ed. Panda, 2004.

FARIA, M. A. Como usar a literatura infantil na sala de aula. 4ª ed. São Paulo: Contexto, 2008.

FRENCH, V. Funkstórias. Ilustrações de Korky Paul; tradução de Sérgio Alcides. São Paulo: Cia das Letrinhas, 2003.

FIORIN, L. C. e SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e re-dação. São Paulo: Ática, 2008

FONTOURA, M. e SILVA, L. R. Cancioneiro Folclórico Infantil: um pouco mais do que já foi dito. Curitiba: Gramofone, 2001

FOUCAMBERT, J. Modos de ser leitor: aprendizagem e ensino da leitura no ensino fundamental. Tradução Lúcia P. Cherem e Suzete P. Bornatto. Curitiba: Ed. UFPR, 2008.

FRATE, D. Histórias para Acordar. Ilustrações de Eva Furnari. São Paulo: Cia das Letrinhas, 1996.

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Page 191: Nosso Caderno de Receitas: Gente e Livros na Cozinha

191

Referências

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1989.LALAU e LAURABEATRIZ (ilustrações) Bem brasileirinhos: poesia

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1998.LOBATO, M. Reinações de Narizinho vol 1. Ilustrações de Paulo

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

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MARQUES, F. Muitos dedos: enredos: um rio de palavras desá-gua num mar de brinquedos São Paulo: Peirópolis, 2005.

MARTINS, E. Receitas Nojentas, Idéias Bolorentas. Ilustrações Fabiana Salomão. São Paulo: Melhoramentos, 2006.

MELLON, N. A arte de contar histórias. Tradução Amanda Orlan-do e Aulyde S. Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.

MILGRIM, D. Vacas não Voam. Tradução Gilda de Aquino. São Paulo, Brinquebook, 2007.

MURRAY, R. Fábrica de Poesia. Ilustrações de Caó. São Paulo: Scipione, 2008.

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OECH, R. V. Um Toc na Cuca: Técnicas para Quem Quer Ter Mais Criatividade na Vida.12ª ed.São Paulo: Editora de Cultura,1988.

OLIVEIRA, R. Pelos Jardins de Boboli: reflexões sobre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

ORTHOF, S. Se as coisas fossem mães. Ilustrações de Ana Ra-quel. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

PENNAC. D. Como um romance. 4ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

PESSOA, F. Poemas para crianças. Ilustrações Lu Martins. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

POWERS, A. Era uma vez uma Capa: história ilustrada da lite-ratura infantil. Tradução Otacílio Nunes. São Paulo: Cosac & Naify, 2008.

PRÉVERT, J. Dia de folga. Seleção e ilustração Wim Hofman; tra-dução de Carlito Azevedo. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.

PRIETO, H. Lá vem História: contos do folclore mundial. Ilustra-ções de Daniel Kondo. São Paulo: Cia das Letrinhas, 1997.

Page 193: Nosso Caderno de Receitas: Gente e Livros na Cozinha

193

Referências

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QUEIRÓS, B. C. Sem palmeira ou sabiá. Ilustrações Elvira Vigna. São Paulo: Peirópolis, 2006.

QUINTANA, M. A vaca e o hipogrifo. 1ª ed. Rio de Janeiro: ME-DIAfashion, 2008 (Folha Grandes Escritores Brasileiros)

RODARI, G. Gramática da fantasia. São Paulo: Summus, 1982 (Novas buscas em educação, 11)

__________. Alice viaja nas histórias. São Paulo: Biruta, 2007.SABINO, F. O grande mentecapto. Rio de Janeiro: Record, 2003.________. (et al.) Histórias de Professores e Alunos. Organização

de Manuel da Cunha Pereira; ilustrações de Renato Moriconi. São Paulo: Scipione, 2005 (O prazer da prosa, contos)

SAINT-EXUPÉRY, A. O pequeno príncipe. Tradução de Dom Mar-cos Barbosa. Rio de Janeiro: Agir, 2006.

SALERNO, S. Viagem pelo Brasil em 52 histórias. Ilustrações de CárcamO. São Paulo: Cia das Letrinhas, 2006.

SCIESZKA, J. A verdadeira histórias dos três porquinhos. São Paulo: Cia das Letrinhas, 2000.

SERPIÁ. V Curso de Formação de Educadores Brinquedistas e Organização de Brinquedotecas, 2008.

SILVA, T. T. Documentos de Identidade: uma introdução às teo-rias co currículo. Belo Horizonte: autêntica, 2005.

SISTO, C. “Contar histórias, uma arte maior”. In: MEDEIROS, F, H. N. & MORAES, T. M. R. (orgs.) Memorial do Proler: Joinville e resumos do Seminário de Estudos da Linguagem. Joinville, UNIVILLE, 2007.

SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Hori-zonte: Autêntica, 2000.

SOUZA, F. Que história é essa? Novas histórias e adivinhações com personagens de contos antigos. Ilustrações Pepe Casals. São Paulo: Cia das Letrinhas, 1995.

Page 194: Nosso Caderno de Receitas: Gente e Livros na Cozinha

194

nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

SZÉLIGA, M. (texto e ilustrações) No trilho do trem. São Paulo: Salesiana, 2007.

TATAR, M. (org) Contos de Fadas: edição comentada e ilustrada. Trad. Maria Luiza X de A Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2004.

TONUCCI, F. Com olhos de criança tradução de Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

TORERO, J. R. e PIMENTA, M. A. Chapeuzinhos Coloridos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010

VÁRIOS ILUSTRADORES As melhores histórias em quadrinhos do Sïtio do Pica-Pau Amarelo: Contos de Fadas. São Paulo: Globo, 2008.

VIEIRA, A. S. (et al) Pró-letramento: Alfabetização e Linguagem. Fascículo 4. Campinas: Unicamp, s/d.

ZOTZ, W. e CAGNETI, S. Livro que te quero livre. Ilustração de Mariana Massarani. 3ª. Edição. Florianópolis: Letras Brasileiras, 2005.

http://www.leiabrasil.org.br

MAIS mídias:

CD’s

Grupo Mawaca: “De Todos os Cantos do Mundo” (cd que acom-panha o livro)

Duo Rodapião: “Dois a Dois”Palavra Cantada: “Pandalelê: Brinquedos Cantados”; “Canções

de Brincar”, “Canções Curiosas”, “Cantigas de Roda”, “Pé com pé”, “Pé na Cozinha”, “Mil pássaros: 7 histórias de Ruth Rocha” (linda narração de Ruth Rocha), “Canções do Brasil”

Adriana Calcanhoto: “Partimpim“Musicalização Infantil UFPR: “O pião entrou na roda”Lydia Hortelio e Antonio Nóbrega: “Abre a Roda, Tindolelê”Helio Ziskind: “Meu pé, meu querido pé”Vários intérpretes: “A arca de noé”

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Referências

Vários intérpretes: “Músicas Daqui, Ritmos do Mundo” (Lua Mu-sic)

Vários intérpretes: “Pra gente miúda”“Bem brasileirinhos” (cd que acompanha o livro)Elvira Drummond: “Era uma vez: Histórias Cantadas” http://www.elviradrummond.com.br/Lydio Roberto Silva: “Cancioneiro Folclórico Infantil” (cd que

acompanha o livro)Viola Quebrada e Família Pereira: “Viola Fandangueira”Terra Sonora: “Terras”

DVD’s

Curta –metragem CRAC!, de Frédéric Back. http://www.fredericback.com Coleção de Curtas da Pixar; Walt Disney e Pixar Films.Lá vem História: 20 histórias do Folclore Brasileiro com Bia Be-

dran. Cultura nas CasasLá vem História: 20 histórias do Folclore Brasileiro com Valdeck

de Garanhuns. Cultura nas CasasLá vem História: Mais histórias do Folclore Mundial (Oscar Si-

mch). Cultura nas Casas“Mensagem para vocꔓO Fabuloso Destino de Amelie Poulain”“Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas”

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Apêndice - Receitas do nosso cardápio!Materiais confeccionados, testados e aprovados

Page 197: Nosso Caderno de Receitas: Gente e Livros na Cozinha

“Adoro cozinhar e fiquei curiosa de conhecer os bolin-hos de chocolate da sua avó. Você poderia me mandar

a receita? Beijos, Charlô.”(FELPO FILVA, de Eva Furnari)

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

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Receitas do nosso cardápio!

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Aperitivos Poéticos

Apresentação:Deliciosos, os aperitivos poéticos são também um recurso para

realizar atividades com poesias.

Composição:1. Potinho de filme de fotografia (pode ser substituído por cai-

xa de fósforos)2. Tira de papel com 4 ou 5 trechos de poesias

Informações ao usuário:Como nas tiras de papel há somente os trechos das poesias, o

professor poderá apresentar a poesia por completo, bem como o autor que a compôs.

Como utilizar:Coloque a tira de papel enrolada, como um pergaminho, den-

tro do potinho. As crianças podem estar dispostas em círculo, cada uma com seu potinho em mãos. Todos começam a cantar a música “escravos de Jó”, e enquanto a música é cantada, as crianças vão pas-sando os potinhos uma para a outra, fazendo movimentos e gestos conforme música. Ao término da canção, as crianças podem abrir os potinhos e ler silenciosamente as poesias escritas no pergaminho. Utiliza-se o UNI DUNI TÊ como critério para escolher duas ou três crianças para revelar à turma a poesia que mais gostou. A atividade deve ser repetida até que todas as crianças tenham lido suas poesias.

Indicações: É indicado para desenvolver o gosto e apreciação pela poesia,

bem como a vontade de produzir e compartilhá-la com os compa-nheiros de turma.

Contra-indicações:Doses impositivas e desordenadas podem causar reações ad-

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Receitas do nosso cardápio!

versas, como a intolerância, levando aquele que usufrui a interrom-per seu uso.

Precauções:O pergaminho de poesias poderá ser renovado, ora com novas

poesias, ora com poesias criadas pelas crianças.

Advertência:O uso excessivo poderá causar vícios e a conseqüente falta do

produto no mercado. Não nos responsabilizamos caso o usuário se torne um criador de aperitivos para saciar seu vício.

Posologia:Deve ser utilizado pelo menos uma vez por semana concomi-

tantemente às aulas.

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Ficha de leitura de si

Nome:

Nome que daria a si mesmo/a:

Pergunta que não sabe a resposta e que sempre o/a deixa com a pulga atrás da orelha:

O que o/a faz rir:

Brincadeira preferida:

Último risco que correu (e gostou):

Última leitura que fez (e gostou):

Motivo da leitura:

Personagem com o/a qual se identifica:

Gosta de contar histórias?

Por quê?

Três características da própria voz:

Em poucas palavras, dê uma origem inusitada e criativa a um objeto:

MAIS observações:

Dúvidas? leia PESQUISA POR DENTRO (cap. 09)

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Receitas do nosso cardápio!

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: RITMO / INTENÇÃO / VOZ APLI-CADOS!

ouCONTAÇÃO APLICADA!

CHAME O GARÇOMDÊ VOZ DE ASSALTOSUSSURRE UM SEGREDOCANTE UMA MÚSICACONTE UMA FOFOCACONTE UMA MENTIRAIMITE GESTUALMENTE UM FELINOCOMECE UMA ENTREVISTAFAÇA UMA PRECEFAÇA UM ELOGIO A ALGUÉM DO GRUPOPEÇA UM FAVORFAÇA UM PEDIDO DEPOIS DE SOPRAR AS VELAS DO BOLOLISTE INUTILIDADESLISTE SENTIMENTOSNARRE UM FATO HISTÓRICOFAÇA UM APELOFAÇA UMA PROPAGANDADESCREVA A PESSOA À SUA ESQUERDAFAÇA UMA HOMENAGEMFAÇA UM DISCURSO DE DESPEDIDADÊ 5 ORDENSDESCREVA COMO SE AMARRA UM SAPATOFIQUE EM SILÊNCIOCONFESSE UM PECADOCONVENÇA A PESSOA À SUA DIREITA A TROCAR ESSE PAPEL/

CONSIGNA COM ELA

Dúvidas? leia PESQUISA POR DENTRO (cap. 09)

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Esconde-te, cabritinho!

Receita da Ingrid Fabian Cadore

Idéia lúdica: Christine & Wolfgang LehmannTempo de jogo: 15 minutos. ( jogo Habermaass-Spiel, código: 4449)

Jogo de memória inspirado no conto “O Lobo e os sete Ca-britinhos” para 2 a 4 jogadores a partir de 4 anos - variante e jogo para crianças menores.

Antes de ir para a floresta, mamãe Cabrita diz aos seus filhinhos: “Tenham cuidado com o Lobo mau!“ Mas por mais que os 7 Cabri-tinhos prestassem muita atenção, o esperto Lobo conseguiu entrar na casa. Por sorte os cabritinhos conseguem se esconder. Será que o Lobo vai achá-los?

Conteúdo● 6 esconderijos● 30 cabritinhos● 1 lobo● 1 dado de 6 cores diferentes● 1 dado de cor com 3 cores (para a versão simplificada do

jogo)

Objetivo do jogo:Qual é a criança que lembra quantos cabritinhos estão em cada

esconderijo e, antes do lobo chegar, consegue salvar 7 cabritinhos?

Existem 6 esconderijos: banheira (verde), pia (amarelo), fogão

(vermelho), cama (laranja), mesa (lilás), armário (azul).Arrume estes esconderijos num círculo e coloque 5 cabritinhos

de baixo de cada esconderijo. Coloque o Lobo no centro. Deixe o

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Receitas do nosso cardápio!

dado de cor disponível.

Início do jogo: Joga-se no sentido horário. O jogador menor inicia e joga o

dado. A cor do dado indica o esconderijo que ele deve procurar. Então, ele tenta lembrar quantos cabritinhos se encontram debaixo do esconderijo daquela cor e diz em voz alta. Ergue o esconderijo e conta os cabritinhos para, confirmar se acertou.

Ele acerta: Ganha o direito de salvar um cabritinho, e cobre com o esconderijo os cabritinhos restantes.

Ele erra: Ó céus! O lobo está ficando esperto. Nesta jogada, infelizmente, não pode ser salvo nenhum cabritinho e a criança tem que pegar o lobo do centro do jogo (ele permanece com esta crian-ça até que outra erre o número dos cabritinhos escondidos). Depois disso, a próxima criança está na vez.

Atenção! Uma criança erra e o lobo está justamente com ela? Ó céus! Ó céus! O lobo ganha o direito de roubar um cabritinho daqueles que a criança já tinha salvo. Ela precisa entregar um cabriti-nho e o lobo volta para o centro da mesa, levando o cabritinho com ele. A criança ainda não tinha salvo nenhum cabritinho? Então ela não precisa entregar nenhum, mas o lobo continua com ela. O jogo continua com a criança que está na vez.

Mais tarde vai ter esconderijos vazios: Uma criança acertou que o esconderijo estava vazio? Ela pode jogar outra vez o dado. Até que consiga salvar um cabritinho ou errar o número dos que estão escondidos.

Fim do jogo: O jogo termina quando...a) a primeira criança conseguiu salvar 7 cabritinhos.b) o lobo conseguiu pegar 6 cabritinhos? Neste caso o lobo

ganhou e todas as crianças perderam.

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Joaninha

MAIS uma receita da Ingrid Fabian Cadore

Joaninha vive num jardim e adora as flores. Por elas é capaz de se arriscar. Outro dia, uma ventania derrubou as pétalas de suas que-ridas flores no chão. Agora ela quer devolver as pétalas para cada flor. A tarefa é arriscada, pois, vistas de cima, todas pétalas se pare-cem. Ela precisa voar sobre a pétala certa para devolvê-la à flor da mesma cor. Se ela errar, ela perde uma de suas pintinhas pretas. E se perder todas as pitinhas pretas ela não poderá mais completar as flores... Para ajudá-la, todos os participantes precisam prestar muita atenção e memorizar onde está a pétala da cor que deverá ser colo-cada na flor correspondente.

Como fazer seu o jogo:

Recorte 5 flores de feltro de cores diferentes. Desenhe, ainda usando o feltro, o modelo do corpo da Joaninha e preenche o in-terior dela com algodão e um ímã plano. Prenda a Joaninha com um fio de bordar numa vareta (como uma vara de pescar) para que, com o imã, a joaninha possa “pescar as flores” – que serão de metal. Recorte alguns pontos pretos de feltro para representar as pintinhas das joaninhas, e pressione no modelo montado para que elas fixem.

Pinte o dorso de 30 tampinhas de garrafa de metal com uma cor neutra. Pinte ou cole no interior das tampinhas círculos de feltro, sendo 6 de cada uma das cores das flores . Pinte ou cole as 5 cores das flores em cada um dos lados do dado e use preto para o sexto lado. Providencie um dado de números.

Regras

PreparativosColoque todas as 5 flores sobre a mesa e as pétalas (represen-

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Receitas do nosso cardápio!

tadas na forma de tampinha de garrafa) com a cor virada para baixo. Arrume as 6 pintinhas na Joaninha pressionando-as levemente (elas se fixam sozinhas). A Joaninha deve estar presa numa vareta como um anzol.

Início do JogoDecidam quem inicia o jogo. Para facilitar o início do jogo, o

jogador rola o dado de números e vira, na mesa, o mesmo número de pétalas, revelando as suas cores. Novamente vira as pétalas com a cor para baixo. É neste momento que a criança tenta memorizar as cores das pétalas viradas, para, na próxima jogada, tentar lembrar onde está a pétala da cor que ela tirar no dado. Agora, usando o dado de cor, tenta pescar uma pétala da mesma cor que saiu no dado. Se acertar, coloca sobre a flor a pétala da mesma cor. Se errar, a joaninha perde uma de suas pintinhas pretas e o jogador passa a vez para o próximo. Todos os jogadores podem ajudar quem está com a Joaninha, dando dicas sobre o lugar onde está a pétala certa que se precisa pescar. Sempre que aparecer o lado preto do dado, a Joaninha recupera uma pintinha preta e em seguida o jogador rola o dado de números, virando o mesmo número de pétalas.

Fim do JogoO jogo termina quando se completa todas as flores ou quando

a Joaninha perder todas as suas pintinhas pretas.

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Curioso para ouvir histórias?e para saber do que os livros tanto conversam?

Você pode:1) Encostar um livro aberto em cada ouvido e ficar escu-

tando, escutando...2) Seguir os conselhos da Dona Livrósia (um dentre tan-tos livros falantes!) e, de lambuja, criar MAIS histórias e

fazer surgir MAIS livros!

CONVERSA DE LIVRO, o jogo do MAIS Gente e Livros!

JOGUE com você e MAIS gente!

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nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha

Antes de recolher os pratos

Não costumo sair no fim da festa, gosto de sair enquanto tem muita gente por lá, nem mesmo quero ser a primeira a chegar. Nesse projeto, sinto ter estendido a toalha e estar para recolher os pratos.

Não, nunca sozinha. Mas, do ângulo em que estou, contemplo a cantina com minha mirada. De fora e de dentro, de um lugar que ninguém ocupa por mim, pois é física e metaforicamente impossível.

Estamos a um passo de o programa Universidade Sem Frontei-ras ser aprovado como política pública no estado do Paraná, o que garantiria a continuidade desse e de muitos outros projetos que se dedicam a aproximar comunidade e universidade.

No caso da educação e da formação de leitores, sabemos que a cada dia damos um passo, oferecemos uma refeição, mas que o dia seguinte é um novo lavoro, uma nova caminhada. Esse é o propósito do projeto. De seguir adiante, marcando o caminho com palavras, desenhos e histórias que não serão apagadas.

Senão enquanto projeto, seguirá enquanto iniciativa. Registran-do que em nosso país não bastam três ou quatro anos para que o in-vestimento social na educação com ênfase na leitura literária alcance com louvor a meta por nós desejada. Olhamos o que restou do ban-quete oferecido e preparado por milhares de mãos, e saboreado por muitos. Todos queremos MUITO MAIS.

Antes de recolher os pratos, declaro que NÃO iremos jogar a toalha!

Camila.

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