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Página 1 Norma de Contabilidade Pública 26 - Contabilidade e Relato Orçamental (análise e aplicação) Tipologia de trabalho: Comunicação 1. Introdução O Sistema de Normalização Contabilística para as Administrações Públicas, designado por SNC- AP compreende uma estrutura conceptual que estabelece os princípios basilares que estão subjacentes à construção das normas de contabilidade pública (NCP), um conjunto de 27 Normas de Contabilidade Pública específicas para determinadas transações e assuntos que inclui uma norma relativa à Contabilidade e Relato Orçamental, um Plano de Contas detalhado que permite acomodar o relato orçamental, o relato financeiro e o relato estatístico, e um conjunto de modelos harmonizados para apresentação de demonstrações financeiras e de relato orçamental nomeadamente a NCP 1 Estrutura e conteúdo das Demonstrações Financeiras e a NCP 26 Contabilidade e Relato Orçamental, substituindo a contabilidade orçamental unigráfica (de caixa e de compromisso) prevista no Plano Oficial de Contabilidade Pública, por uma contabilidade orçamental digráfica (de caixa e de compromisso). O artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 192/2015, de 11 de setembro, refere que o SNC-AP é de aplicação obrigatória “a todos os serviços e organismos da administração central, regional e local que não tenham natureza, forma e designação de empresa, ao subsetor da segurança social, e às Entidades Públicas Reclassificadas”. Contudo, o SNC-AP previu um regime simplificado disponível para as entidades de menor dimensão e menor risco orçamental, as denominadas “Pequenas Entidades” e as “ Microentidades”. Assim, temos um regime geral, no qual as entidades terão de aplicar o normativo na íntegra e o regime simplificado regulamentado pela Portaria n.º 218/2016, de 9 de agosto, que diferencia “Pequenas Entidades” de “Microentidades” e para cada tipo de entidade define um conjunto de regras de aplicação obrigatória diferente.

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Norma de Contabilidade Pública 26 –

- Contabilidade e Relato Orçamental

(análise e aplicação)

Tipologia de trabalho: Comunicação

1. Introdução

O Sistema de Normalização Contabilística para as Administrações Públicas, designado por SNC-

AP compreende uma estrutura conceptual que estabelece os princípios basilares que estão

subjacentes à construção das normas de contabilidade pública (NCP), um conjunto de 27 Normas

de Contabilidade Pública específicas para determinadas transações e assuntos que inclui uma

norma relativa à Contabilidade e Relato Orçamental, um Plano de Contas detalhado que permite

acomodar o relato orçamental, o relato financeiro e o relato estatístico, e um conjunto de modelos

harmonizados para apresentação de demonstrações financeiras e de relato orçamental

nomeadamente a NCP 1 – Estrutura e conteúdo das Demonstrações Financeiras e a NCP 26 –

Contabilidade e Relato Orçamental, substituindo a contabilidade orçamental unigráfica (de caixa e

de compromisso) prevista no Plano Oficial de Contabilidade Pública, por uma contabilidade

orçamental digráfica (de caixa e de compromisso).

O artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 192/2015, de 11 de setembro, refere que o SNC-AP é de aplicação

obrigatória “a todos os serviços e organismos da administração central, regional e local que não

tenham natureza, forma e designação de empresa, ao subsetor da segurança social, e às Entidades

Públicas Reclassificadas”.

Contudo, o SNC-AP previu um regime simplificado disponível para as entidades de menor dimensão

e menor risco orçamental, as denominadas “Pequenas Entidades” e as “Microentidades”.

Assim, temos um regime geral, no qual as entidades terão de aplicar o normativo na íntegra e o

regime simplificado regulamentado pela Portaria n.º 218/2016, de 9 de agosto, que diferencia

“Pequenas Entidades” de “Microentidades” e para cada tipo de entidade define um conjunto de

regras de aplicação obrigatória diferente.

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No entanto, a NCP 26 - Contabilidade e Relato Orçamental é uma norma de aplicação universal.

Por um lado é obrigatória no regime geral, no regime simplificado e para as microentidades, por

outro lado, até as Entidades Públicas Reclassificadas com valores admitidos à negociação em

mercado regulamentado, que de acordo com o preconizado no n.º 3 do artigo 3º do Decreto-Lei n.º

192/2015, de 11 de setembro, constituem a exceção na aplicação do SNC-AP, estão sujeitas ao

cumprimento dos requisitos legais relativos à contabilidade orçamental.

Daqui sobressai a importância dada à NCP 26, pois é através desta que se definem as regras

aplicadas à contabilidade orçamental, estabelecendo os conceitos e os modelos de demonstrações

orçamentais, que permitem assegurar a comparabilidade do relato orçamental com o período

anterior da própria entidade e do mesmo período com outras entidades.

2. Contabilidade e Relato Orçamental

O grande objetivo da reforma da contabilidade pública, em curso, é conseguir que se passe a dispor

de contas públicas credíveis que permitam melhorar a governação, reforçar o controlo e avaliar o

desempenho (MOITA, 2018).

Neste sentido, o registo pormenorizado do processo orçamental previsto na NCP 26 permite o

acompanhamento de todas as fases da receita e da despesa, contribuindo para o controle e

avaliação de forma simples e direta.

O processo orçamental é tratado na Classe 0 – Contabilidade Orçamental, permitindo a escrituração

de todo o processo orçamental, a partir dos movimentos contabilísticos.

A NCP 26 contém as notas de enquadramento que explicam com detalhe a movimentação dessas

contas. Nesta classe, há contas para o registo do orçamento inicial, para alterações orçamentais,

para a execução orçamental, para a receita e despesa com incidência em períodos futuros, para

operações de tesouraria, discriminando os tipos de recebimentos e pagamentos que podem ocorrer

por este tipo de operações, para contas de passivos contingentes, com indicação dos tipos de

passivos contingentes relevantes, e para o encerramento da contabilidade orçamental.

2.1 Estrutura

Os assuntos abordados pela NCP 26 estão divididos como a figura a seguir discrimina:

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Figura 1 - Estrutura da NCP 26

Fonte: elaboração própria

Pela figura conseguimos retirar que a norma pode ser agrupada em sete pontos essenciais para a

sua compreensão. A primeira parte, mais geral, respeita ao Objetivo, Âmbito, Definições,

Reconhecimento e Mensuração ($1, $2, $3, $6). A segunda parte, respeita ao Ciclo Orçamental

(4$), a terceira parte, fala-nos dos Classificadores (5$), a quarta parte da Consolidação (7$). A

quinta parte fala-nos do Plano de Contas (8$), a sexta parte das Demonstrações Orçamentais

(9$,10$ e 11$) e por último, os Anexos (12$).

2.2 Objetivo e definições

O objetivo da NCP 26 é o de regular a contabilidade orçamental, estabelecendo os conceitos, regras

e modelos de demonstrações orçamentais de finalidade gerais, (individuais, separadas e

consolidadas), componentes principais de relato orçamental de uma entidade pública ou de um

perímetro de consolidação, de forma a assegurar a comparabilidade, quer com as respetivas

demonstrações de períodos anteriores, quer com as de outras entidades.

A Norma aplica-se a todas as entidades sujeitas ao SNC-AP, ou seja aplica-se a todos os serviços

e organismos da administração central, regional e local, com exceção do setor empresarial, incluindo

a Segurança Social e as entidades públicas reclassificadas, consideradas como aquelas que no

âmbito do Sistema Europeu de Contas Nacionais e Regionais tenham sido incluídas, nas últimas

contas setoriais publicadas pela autoridade estatística nacional, nos subsetores da administração

central, regional, local e segurança social.

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No ponto 3 da NCP 26 são definidos importantes conceitos para a completa compreensão dos

termos utilizados. Os ciclos orçamentais são expostos logo em seguida no ponto 4, separados pela

receita (inscrição de previsão - liquidação - recebimento) e despesa (inscrição de dotação

orçamental - cabimento - compromisso - obrigação - pagamento).

Os classificadores orçamentais apontados no ponto 5 apresentam-se, em regra, para a receita de

natureza económica e fundos e, para a despesa de natureza económica, administrativa, funcional e

programática, com diferentes níveis de detalhe.

No SNC-AP já está definido um plano de contas que também poderá servir como classificador

económico para o orçamento. Surge assim o conceito de plano de contas multidimensional, já que

serve para a contabilidade financeira, orçamental e para as contas nacionais. O plano de contas em

vigor classifica as despesas em corrente e de capital e as receitas da mesma forma: receitas

corrente e receitas de capital.

Por fim, o ponto 6 da NCP-26 define que as dotações e previsões são reconhecidas após a

aprovação do orçamento e que os lançamentos nas contas orçamentais são feitos em valor nominal.

2.3 Ciclo Orçamental

Conforme descrito no diploma, o ciclo orçamental divide-se em ciclo orçamental da despesa e ciclo

orçamental da receita, em que este último deverá ser sequencial e tem três fases. A primeira respeita

à inscrição de previsão de receita, a segunda à liquidação e a terceira ao recebimento, sem prejuízo

de eventuais anulações de receita emitida que corrijam a liquidação ou de eventuais reembolsos e

restituições que corrijam o recebimento e, eventualmente, a liquidação. O reembolso corresponde

à devolução ao sujeito passivo de imposto do valor das entregas por conta do imposto devido a final,

por si efetuados ou por uma terceira pessoa, na parte em que exceda o montante da receita

liquidada. A restituição corresponde à devolução ao devedor do montante total ou parcial por este

já pago, quando a entidade pública tenha liquidado indevidamente a receita em causa ou a

liquidação se revele excessiva face a um facto superveniente ou ainda quando se verifique que não

a deveria ter recebido, no caso de auto liquidação, ou quando, por erro do devedor este a tenha

pago em excesso. A liquidação pode exceder a previsão de receita, sendo que só poderão ser

liquidadas as receitas previstas em orçamento.

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Figura 2 - ciclo orçamental da receita

Fonte: elaboração própria

O ciclo orçamental da despesa deverá ser sequencial e tem cinco fases. A primeira surge com a

inscrição de dotação orçamental, a segunda com o cabimento, a terceira com o compromisso, a

quarta com a obrigação e a última com o pagamento, sem prejuízo de eventuais reposições abatidas

aos pagamentos que para além de corrigirem os pagamentos podem igualmente corrigir todas as

fases a montante até ao cabimento. O cabimento não pode exceder a dotação disponível, assim

como o compromisso não pode exceder o respetivo cabimento. A obrigação não pode exceder o

valor do compromisso, assim como o pagamento não pode exceder o valor da obrigação. Os limites

definidos devem ser aferidos por transação ou evento e segundo as classificações orçamentais

vigentes.

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Figura 3 - ciclo orçamental da despesa

Fonte: elaboração própria

2.4 Consolidações

O tema da consolidação aparece definido no ponto 7 da NCP 26 e “destina-se a estabelecer os

procedimentos que permitem a preparação de demonstrações orçamentais que transmitam de

forma verdadeira e apropriada a execução orçamental do conjunto de entidades que compõem o

perímetro de consolidação como se de uma única entidade se tratasse.”

Este será sempre o eterno objetivo das constantes reformas, para que, de uma forma coerente e

consistente, se possa avançar com modelos de consolidação de contas do Estado,

independentemente da origem do serviço ou organismo público (autarquias, saúde, educação,

finanças, etc).

A NCP 26 – Contabilidade e Relato Orçamental determina a apresentação e a divulgação das

demonstrações orçamentais consolidadas, a NCP 1 – Estrutura e Conteúdos das Demonstrações

Financeiras determina a apresentação e divulgação das demonstrações financeiras consolidadas,

sendo que a preparação e elaboração das demonstrações financeiras consolidadas é feita nos

termos da NCP 22 – Demonstrações Financeiras Consolidadas, para as entidades abrangidas pelo

SNC-AP.

Para as entidades abrangidas pelo SNC-AP, as regras de consolidação, são as que estão

compreendidas no subsistema da contabilidade orçamental e no subsistema da contabilidade

financeira do SNC-AP.

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O sistema de normalização contabilística, na perspetiva da consolidação de contas, estabelece a

necessidade de apresentação de demonstrações orçamentais consolidadas (previstas na NCP 26)

de forma a que as mesmas representem as contas de um grupo como se de uma única entidade se

tratasse.

Na perspetiva orçamental, o perímetro de consolidação das administrações públicas, compreende

os subperímetros referentes à Administração Central, Segurança Social, Administração Local e

Regiões Autónomas. (conforme parágrafo 22, NCP 26).

O regime contabilístico das demonstrações orçamentais consolidadas é o de caixa modificada

(recebimentos/pagamentos e liquidações/obrigações), conforme tipifica o parágrafo 26 da NCP 26.

Na perspetiva orçamental, o SNC-AP determina, no parágrafo 28 da NCP 26, a preparação das

demonstrações orçamentais consolidadas pelo Método de Consolidação Simples, combinando

numa base de linha a linha, adicionando rubricas idênticas de obrigações, de pagamentos, de

liquidação e de recebimentos e procedendo à eliminação de direitos e obrigações e recebimentos e

pagamentos recíprocos entre entidades que integram o perímetro de consolidação.

O SNC-AP estabelece, através da NCP 26, o conjunto de demonstrações orçamentais consolidadas

que são:

- Demonstração consolidada do desempenho orçamental;

- Demonstração consolidada de direitos e obrigações por natureza

- Os Anexos às demonstrações orçamentais

A NCP 26, nos parágrafos 35 e 36, considera o método de consolidação orçamental simples, como

a soma algébrica de rubricas equivalentes de obrigações, de pagamentos, de liquidações e de

recebimentos das demonstrações orçamentais individuais das entidades pertencentes ao perímetro

de consolidação e na posterior eliminação, tendo em consideração as entidades dependentes de

cada um dos níveis de consolidação, dos saldos resultantes de obrigações e liquidações recíprocas

por natureza, assim como dos saldos de pagamentos e recebimentos de operações internas por

natureza.

2.5. Plano de Contas da contabilidade orçamental

Uma das grandes novidades do SNC-AP é o plano de contas multidimensional. Nos termos do

decreto lei que aprovou o SNC-AP, o plano de contas pode ser central, local ou multidimensional. O

Plano de contas central é o aplicado pela entidade consolidante e deve estar alinhado e ser

consistente com o plano de contas multidimensional, servindo para agregação dos saldos de contas

locais. O Plano de contas local é plano aplicado pelas entidades consolidadas e deve estar alinhado

e ser consistente com o plano de contas central. O plano de contas multidimensional é o plano que

compreende as contas das classes um a oito em base de acréscimo, a classificação das operações

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por natureza em base caixa modificada (códigos associados a contas classe 0) e ainda ao

apuramento da informação relevante para as contas nacionais.

A contabilidade orçamental é efetuada através do método das partidas dobradas ou “Método

Veneziano”. Este método é a essência de qualquer método de registo contabilístico e tem como

base o facto de que cada transação financeira implica um débito em uma ou mais contas

contabilísticas e um crédito de igual montante em uma ou mais contas contabilísticas. Tal leva a que

os montantes registados a débito sejam necessariamente iguais aos montantes registados a crédito.

De acordo com este método há quatro classes e em conjunto com estas classes são aplicados os

classificadores que estiverem em vigor à data. As classes são: Elaboração do Orçamento;

Alterações aos orçamentos; Execução do orçamento e por último Encerramento da contabilidade

orçamental.

Plano de Contas

01 Receita do período corrente 02 Despesa do período corrente

Esta conta tem como função concentrar a gestão do orçamento da receita, assim como a sua execução orçamental. No caso da gestão orçamental, considera contas que suportam os registos contabilísticos desde a aprovação do orçamento pelo órgão competente até ao apuramento do orçamento corrigido à data de relato. Está prevista uma conta que estabelece a ligação entre a gestão orçamental e a execução orçamental

Esta conta contempla as diversas fases do ciclo da despesa e as diversas fases da sua execução orçamental. Todas as contas, com exceção de dotações iniciais, dependentes da conta em epígrafe apresentam saldo diferente de zero, proporcionando, através do balancete da classe zero, informação compreensível para efeitos de controlo e de gestão, assim como para verificação do conteúdo do relato, seja na perspetiva de orçamento corrigido ou alterações orçamentais, seja na perspetiva da execução orçamental.

011 Previsões iníciais 021 Dotações iníciais

012 Previsões corrigidas 022 Dotações corrigidas

013 Alterações orçamentais 023 Modificações orçamentais

Permite rever as previsões iniciais de receita em função da cobrança registada em cada rubrica. Os saldos das contas 01311, 01321 e 01331 desagregados pelas classificações orçamentais vigentes permitirão atribuir e verificar o conteúdo da demonstração de alterações orçamentais da receita

Abrange as contas relativas a alterações orçamentais segundo a forma que podem assumir — inscrição ou reforço, anulação ou diminuição e crédito especial —, assim como contas destinadas a operacionalizar um instrumento de gestão orçamental — cativos e descativos.

0131 Reforços 0231 Reforços

01311 Reforços em previsões 02311 Reforços em dotações corrigidas

01312 Reforços em previsões por liquidar 02312 Reforços em dotações disponíveis

0132 Anulações 0232 Anulações

01321 Anulações em previsões corrigidas 02321 Anulações em dotações corrigidas

01322 Anulações em previsões por liquidar 02322 Anulações em dotações disponíveis

0133 Créditos especiais 0233 Créditos especiais

01331 Créditos especiais em previsões corrigidas 02331 Créditos especiais em dotações corrigidas

01332 Créditos especiais em previsões por liquidar 02332 Créditos especiais em dotações disponíveis

014 Previsões por liquidar 0234 Dotações retidas

Previsões que ainda não foram objeto de liquidação, proporcionando a base de cálculo de um indicador avançado de execução orçamental da receita. É movimentada pela atribuição do orçamento aprovado e pelas alterações orçamentais, liquidações e respetivas anulações. 02341 Cativos

015 Liquidações 02342 Descativos

0151 Liquidações transitadas 024 Dotações disponíveis

0152 Liquidações emitidas 025 Cabimentos

0153 Liquidações recebidas 0251 Cabimentos registados

0154 Liquidações a transitar 0252 Cabimentos com compromisso

016 Liquidações anuladas 026 Compromissos

0161 Liquidações transitadas anuladas 0261 Compromissos assumidos

0162 Liquidações emitidas anuladas 0262 Compromissos com obrigação

0163 Previsões por liquidar anuladas 0263 Compromissos a transitar

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017 Recebimentos 027 Obrigações

0171 Recebimentos do período 0271 Obrigações processadas

0172 Recebimentos de períodos findos 0272 Obrigações pagas

0173 Recebimentos diferidos 0273 Obrigações a transitar

018 Reembolsos e restituições 028 Pagamentos

0181 Reembolsos e restituições emitidos 0281 Pagamentos do período

0182 Reembolsos e restituições pagos 0282 Pagamentos de períodos findos

029 Reposições abatidas aos pagamentos

0291 RAP emitidas

0292 RAP recebidas

03 Receita de períodos futuros 04 Despesa de períodos futuros

Registo dos contratos celebrados pela entidade pública cuja liquidação da receita tem efeito no período corrente, mas também em períodos futuros. Esta conta encontra -se desagregada em 031 e 032

Registo dos contratos celebrados pela entidade pública que geram responsabilidades, assim como aqueles que geram também contas a pagar (obrigações) com incidência em períodos futuros. Esta conta encontra -se desagregada em subcontas que suportam o registo contabilístico daquelas responsabilidades e, quando aplicável, das contas a pagar.

031 Orçamento 041 Orçamento

Direito a receber uma determinada quantia em períodos futuros por contrapartida da conta 032. Ambas as contas estão desagregadas em períodos (n+1), período (n+2), período (n+3), período (n+4) e períodos seguintes devendo usar -se as subcontas respeitantes aos períodos que enquadram cronologicamente as liquidações com incidência em períodos futuros, cumprindo -se a regra de movimentação de contas referida. No âmbito do processo de abertura de período, as liquidações registadas a débito da conta 0321e a crédito da conta 0311, deverão ser contabilizadas a débito da conta 0152 por contrapartida da conta 014, assim como as liquidações registadas nas contas relativas ao período (n+2) deverão ser registadas nas contas relativas ao período (n+1), e assim sucessivamente, revertendo sempre em um ano a contabilização de liquidações com incidência em períodos futuros.

Debita -se pela assunção de compromissos com incidência em períodos futuros por contrapartidada conta 042.

0311 Período (n+1) 0411 Período (n+1)

0312 Período (n+2) 0412 Período (n+2)

0313 Período (n+3) 0413 Período (n+3)

0314 Período (n+4) 0414 Período (n+4)

0315 Períodos seguintes 0415 Períodos seguintes

032 liquidações 042 Compromissos assumidos

0321 Período (n+1) 0421 Período (n+1)

0322 Período (n+2) 0422 Período (n+2)

0323 Período (n+3) 0423 Período (n+3)

0324 Período (n+4) 0424 Período (n+4)

0325 Períodos seguintes 0425 Períodos seguintes

043 Compromissos com obrigação

0431 Período (n+1)

0432 Período (n+2)

0433 Período (n+3)

0434 Período (n+4)

0435 Períodos seguintes

044 Obrigações

0441 Período (n+1)

0442 Período (n+2)

0443 Período (n+3)

0444 Período (n+4)

0445 Períodos seguintes

07 Operações de tesouraria

Serve de suporte ao registo contabilístico das operações que geram influxos ou exfluxos de caixa (movimentam a tesouraria) mas não representam operações de execução orçamental.

071 Recebimentos por operações de tesouraria

0711 Intermediação de fundos

0712 Cobrança de receita por conta de outrem

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0713 Constituição e reforço de cauções e garantias

0714 Cobrança de recursos próprios comunitários

0719 Outras receitas de operações tesouraria

072 Pagamentos por operações de tesouraria

0721 Intermediação de fundos

0722 Entrega de receita cobrada por conta de outrem

0723 Devolução de cauções e garantias

0724 Entrega de recursos próprios comunitários

0729 Outras despesas de oper. Tesouraria

079 Conta refletida

0791 Recebimentos por operações de tesouraria

0792 Pagamentos por operações de tesouraria

08 Encerramento contabilidade orçamental

(a) Anulação dos cabimentos em excesso;(b) Transição de saldos para o período seguinte. Movimentação das contas: (i) 0154 — debita -se pelo montante de liquidações não recebidas à data de relato por contrapartida da conta 0151 nos casos em que não se cobrou a totalidade das liquidações de períodos anteriores ou da conta 0152. No âmbito do processo de abertura do período contabilístico seguinte o saldo da conta em referência será objeto de registo a débito da conta 0151 por contrapartida da conta 014 ; (ii) 0263 credita -se pelo montante de compromissos não convertidos em obrigações à data de relato por contrapartida de 0261, dando origem a novos cabimentos e compromissos no âmbito do processo de abertura do período contabilístico seguinte; (iii) 0273 credita -se pelo montante das obrigações não pagas à da ta de relato por contrapartida de 0271, dando origem a novos cabimentos, compromissos e obrigações no âmbito do processo de abertura do período contabilístico seguinte. (c) O encerramento das contas a seguir indicadas ocorre saldando entre si as respetivas subcontas, ou seja, saldando entre si as subcontas de: (i) 0131; (ii) 0132; (iii) 0133; iv) 015; (v) 016; (vi) 018; (vii) 0231 (viii) 0232 (ix) 0233; (x) 025; (xi) 026 ; (xii) 027; (xiii) 029 (d) Encerramento do orçamento — Saldar as contas de 012, 014 , 022 e 024 por contrapartida da conta 081. O saldo desta conta caduca com o ano tal como acontece com o orçamento. (e) Apuramento do desempenho orçamental — Saldar as contas 0171 e 0172 e 0281 e 0282 por contrapartida, respetivamente, do débito e do crédito da conta 0821. Esta conta como envolve todas as classificações orçamentais apresentará sempre saldo nulo ou devedor (caso em que teríamos um excedente orçamental). A conta 0822 será debitada no início do período de relato por contrapartida de 0821 que ficará saldada.

081 Encerramento do orçamento

082 Desempenho orçamental

0821 Desempenho orçamental do período

0822 Desempenho orçamental de períodos anteriores

09 Contas de ordem

Registo dos passivos contingentes. Mensalmente devem ser avaliados os factos e as circunstâncias que podem conduzir ao reconhecimento, reforço ou reversão dos passivos contingentes

091 Passivos contingentes

0911 Processos judiciais em curso

0912 Processos expropriativos

0913 Contratos onerosos

0914 Acidentes no trabalho e doenças profissionais

0915 Matérias ambientais

0916 Garantias concedidas

0919 Outros passivos contingentes

099 Conta refletida

0991 Passivos contingentes

Tabela 1 - Plano de contas do SNC-AP

Fonte: elaboração própria

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2.6. Classificadores orçamentais

Os classificadores orçamentais são um elemento estruturante do sistema de gestão orçamental e

definem a forma como os orçamentos são apresentados, executados e relatados numa relação

direta com a transparência e coerência do orçamento. Nestes termos e no âmbito do exposto no

texto do decreto lei sobre o SNC-AP, a classificação das receitas e das despesas é importante para

a formulação de políticas e análise do desempenho; alocação eficiente de recursos entre os setores;

assegurar o cumprimento dos limites orçamentais aprovados; e para a gestão corrente do

orçamento.

Com o intuito de aumentar a consistência interna e integridade do sistema de normalização

contabilística, e tendo em consideração as necessidades de informação dos diferentes utilizadores,

foi definido um plano de contas que também poderá servir de classificador económico para o

orçamento. A sua conceção teve também em conta as necessidades de informação decorrentes do

Sistema Europeu de Contas.

É assim que surge o conceito de plano de contas multidimensional em que a mesma estrutura de

codificação poderá satisfazer as necessidades da contabilidade orçamental, financeira e das contas

nacionais.

Os classificadores orçamentais e o plano de contas devem ser incorporados nos sistemas de

informação como uma combinação de segmentos, em que cada segmento corresponde a um

elemento específico de informação.

Os sistemas orçamentais classificam as receitas de acordo com a natureza económica e fundos e

as despesas segundo a natureza económica, administrativa, funcional e programática, esta última

associada à orçamentação por programas ou por desempenho. Cada uma das classificações pode

ter diferentes níveis de detalhe.

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Figura 4 - Classificadores orçamentais

Fonte: elaboração própria

2.7. Demonstrações Orçamentais

A finalidade das demonstrações orçamentais nos termos da NCP 26 – Contabilidade e Relato

Orçamental, consiste em proporcionar informação sobre o orçamento inicial, as alterações

orçamentais, a execução das receitas e das despesas orçamentadas, os pagamentos e dos

recebimentos, bem como, o desempenho orçamental.

As demonstrações orçamentais traduzem uma representação estruturada da execução e

desempenho orçamental das entidades, proporcionando, entre outra, informação sobre o orçamento

inicial, as modificações orçamentais, a execução orçamental e os pagamentos e recebimentos.

A NCP 26 apresenta modelos de demonstrações orçamentais, conforme figura 5.

Figura 5 - Modelos de Demonstrações Orçamentais

Fonte: elaboração própria

Para tal, as demonstrações orçamentais compreendem três componentes principais,

designadamente: demonstrações previsionais, demonstrações de relato e as demonstrações

orçamentais consolidadas. Considerando a presente proposta de modelo único de prestação de

contas das Entidades Públicas explanado, assumem especial relevo as demonstrações de relato.

Principais demonstrações orçamentais de relato: demonstração de execução orçamental da receita,

demonstração de execução orçamental da despesa, demonstração da execução do plano plurianual

de investimentos, anexo às demonstrações orçamentais.

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A preparação das demonstrações orçamentais consolidadas do Estado é, em regra, de

responsabilidade do Ministério das Finanças.

2.8. Anexos às Demonstrações Orçamentais

De acordo com a legislação aprovada, os anexos são informação adicional à apresentada nas

demonstrações orçamentais individuais, consolidadas ou separadas. Permitem descrições ou

desagregações de alguns itens dessas demonstrações, bem como informações acerca de itens que

não reúnem condições para reconhecimento nas mesmas. Estão previstos dez anexos às

demonstrações orçamentais, nomeadamente o anexo de alterações orçamentais da receita, de

alterações orçamentais da despesa, de alterações ao plano plurianual de investimentos, de

operações de tesouraria; de contratação administrativa, de situação dos contratos; de adjudicações

por tipo de procedimento, de transferências e subsídios, de transferências e subsídios — despesa,

de transferências e subsídios — receita, de outras divulgações.

Atendendo à falta de informação vamos apresentar o anexo de operações de tesouraria e uma das

dificuldades sentidas na transição para o SNC-AP numa entidade piloto, como é o caso do Instituto

Politécnico de Lisboa, conforme análise efetuada por Sílvia de Sousa Alves [1].

Figura 6 – anexo 4 – retirado do D.L. 192/2015 de 11.09

“Nas contas de operações de tesouraria (07) não se prevêm, no plano de contas orçamental (NCP

26), subcontas específicas para os descontos e retenções, uma vez que estas deixam de ser

consideradas como tal.

Assim, com o SNC-AP, as retenções inerentes ao processamento de remunerações (caso da

Autoridade Tributária e Aduaneira, Segurança Social, Caixa Geral de Aposentações, ADSE) bem

como as retenções na fonte de IRC, efetuadas a terceiros deixam de ser consideradas como

operações de tesouraria.

Sobre este tema, o Manual de Implementação (2017) justifica a alteração como uma forma de

salvaguardar a imagem verdadeira e apropriada das demonstrações orçamentais face à respetiva

execução orçamental.

Assim, as obrigações, nomeadamente das remunerações ao pessoal, são processadas pelo seu

valor bruto, sendo os respetivos pagamentos repartidos:

- Pelos respetivos trabalhadores;

- Pelas entregas das retenções ou descontos às entidades beneficiárias.

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Neste sentido, o Manual de Implementação (2017: 253) refere que [o] procedimento preconizado

pelo NPC 26 difere do que sucede atualmente com o POCP e planos setoriais em que a conta 252-

Credores pela execução do orçamento é movimentada a débito e a crédito pela quantia dos

vencimentos ilíquidos quando na realidade ocorre o pagamento dos vencimentos líquidos (a

execução da despesa orçamental proporciona erradamente a leitura de que tudo está pago, mesmo

existindo retenções na fonte por entregar), exigindo a leitura dos saldos de operações

extraorçamentais para se apurar a quantia das retenções na fonte que não foram ainda objeto de

entrega às respetivas entidades credoras e cuja responsabilidade de pagamento impende sobre as

entidades processadoras.

Com efeito, reconhece-se o problema que atualmente existe. Efetivamente, no âmbito do

pagamento das remunerações, as demonstrações orçamentais não revelam uma imagem

verdadeira e apropriada das operações em causa. Mas, a que custo se passa a ter esta «imagem

verdadeira e apropriada»?

Salienta-se que a NCP 26 não preconiza qualquer procedimento específico quanto ao pagamento

das despesas pelos valores líquidos. Esta situação resultará apenas de não terem sido previstas

subcontas específicas para os descontos e retenções no âmbito da conta 07 Operações de

Tesouraria.

É de salientar que a nova LEO mantém o anterior princípio orçamental da «não compensação»

(artigo 15º da Lei n.º 151/2015, de 11 de setembro) ao abrigo do qual os pagamentos ao pessoal

eram reconhecidos pelos valores ilíquidos. Neste âmbito, é ainda de destacar que a nova LEO, à

semelhança da anterior, tem um valor reforçado, o seu artigo 4º (Lei n.º 151/2015) estabelece que

«[o] disposto na presente lei prevalece sobre todas as normas que estabeleçam regimes

orçamentais particulares que a contrariem».

Tendo em conta o valor reforçado na LEO, ela nunca poderá ser derrogada pelo SNC-AP (ainda

para mais tratando-se de um Decreto-Lei). Assim, nunca (exceto, nas situações previstas no artigo

15º) se podem compensar os saldos sob pena de incumprimento com o princípio da «não

compensação de saldos».

No contexto da conta 07, salienta-se, ainda, que as notas de enquadramento às contas (NCP 26)

não preveem movimentos de encerramento do exercício para as contas de operações de tesouraria,

ao contrário do que acontece para as restantes contas. Do diploma, depreendemos que as

operações de tesouraria nunca serão saldadas, o que levanta questões quanto à informação contida

nas mesmas e à dificuldade em ler os respetivos acumulados.

Neste contexto, a CNC, através do Portal, esclareceu que no encerramento do período, os saldos

credores das subcontas 072 «pagamentos por operações de tesouraria» são debitados por

contrapartida das subcontas respetivas da conta 071 «recebimentos por operações de tesouraria».

Neste sentido, as notas de enquadramento às contas da classe 0, da NCP 26, relativas ao

encerramento da contabilidade orçamental carecem de ser rapidamente ajustadas sob pena dos

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utilizadores não terem informação que lhes permita perceber se têm ou não de saldar as contas

supra referidas e como o fazer.”

3. Orçamento e Plano Orçamental Plurianual

O orçamento é um documento obrigatório para todas as entidades públicas, que tem por objetivo

quantificar os planos de ação previstos, normalmente para o período de um ano, com base numa

previsão das receitas e das despesas públicas, de modo a servir as principais funções da gestão.

Assim a informação orçamental é crucial porque permite aos utilizadores fazer comparações entre

a receita e a despesa executada e a orçamentada.

O relato orçamental é o mecanismo que permite verificar o cumprimento da lei em termos de

finanças públicas. A comparação entre a informação prevista e a realizada também facilita uma

avaliação da extensão com que as entidades públicas cumprem os seus objetivos financeiros.

Nas entidades públicas cujas receitas são maioritariamente transferências com origem no

Orçamento do Estado, embora seja importante apurar os resultados, é fundamental que seja

efetuada uma verdadeira gestão do custo que permita, por um lado, apoiar decisões, e por outro,

fazer o mesmo, gastando menos com o mesmo nível de qualidade.

Todas as entidades sujeitas ao SNC-AP, na data de transição, deverão preparar a abertura da

contabilidade orçamental de acordo com a NCP 26, com os respetivos procedimentos referente à

receita, despesa e operações de tesouraria, assim como preparar a abertura da contabilidade

financeira através da preparação das demonstrações financeiras previsionais, designadamente

balanço, demonstração dos resultados por natureza e demonstração dos fluxos de caixa, com o

mesmo formato das históricas, que devem ser aprovadas pelos órgão de gestão competentes,

conforme define a NCP 1 – Estrutura e Conteúdo das Demonstrações Financeiras, parágrafo 17.

A NCP 26 define as seguintes Demonstrações previsionais:

- Orçamento enquadrado num Plano Orçamental Plurianual

- Plano Plurianual de Investimentos (PPI)

A criação de rubricas nas demonstrações orçamentais permite normalizar a estrutura destes

elementos de relato à semelhança das demonstrações financeiras, deixando assim de se apresentar

a execução orçamental em toda a extensão dos classificadores orçamentais utilizados pelas

entidades.

O Decreto-Lei n-º26/2002, de 14 de fevereiro, não foi revogado, o classificador económico mantém-

se em vigor, no entanto a prestação de informação foi normalizada para todas as entidades públicas,

sendo que para aplicação do SNC-AP, há a necessidade de ser associada a cada económica as

rubricas de acordo com os modelos de demonstrações orçamentais.

No exemplo abaixo, tenta-se demonstrar o trabalho que as entidades terão de fazer aquando da

transição entre os códigos da classificação económica da receita e da despesa, aprovada pelo

Decreto-Lei n.º 26/2002, de 14 de fevereiro, e as rubricas das demonstrações orçamentais

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aprovadas pelo SNC-AP. Verifica-se que o orçamento elaborado pelas normas do SNC-AP, dá uma

maior importância ao planeamento a longo prazo, no sentido que as previsões são complementadas

com um plano orçamental plurianual que abrange os quatro anos seguintes.

Orçamento conforme as normas do Decreto-Lei n.º 26/2002, de 14 de fevereiro

Orçamento da Receita (Previsão)

Dotações Iniciais Ano de t

Classificação económica

Designação Valor

Receita Corrente 111.000,00

01 Impostos diretos 22.000,00

0102 Outros 22.000,00

010201 Imposto sobre as sucessões e doações 12.000,00

010299 Impostos diretos diversos 10.000,00

02 Impostos Indiretos 55.500,00

0201 Sobre o consumo 25.500,00

020102 Imposto sobre valor acrescentado (IVA) 10.500,00

020199 Impostos diretos diversos 15.000,00

0202 Outros 30.000,00

020202 Imposto do selo 10.000,00

020299 Impostos indiretos diversos 20.000,00

04 Taxas, multas e outras penalidades: 18.500,00

0402 Multas e outras penalidades 18.500,00

040201 Juros de mora 11.500,00

040202 Juros compensatórios 8.000,00

05 Rendimentos de propriedade 15.000,00

0502 Juros - Sociedades Financeiras 15.000,00

050201 Bancos e outras instituições bancárias 15.000,00

Receita de Capital 637.000,00

09 Venda de bens de investimento 55.000,00

0901 Terrenos 45.000,00

090101 Sociedades e quase-sociedades não financeiras 45.000,00

0903 Edifícios 30.000,00

090302 Sociedades financeiras 30.000,00

10 Transferências de capital 582.000,00

1001 Sociedades e quase-sociedades não financeiras 500.000,00

100101 Públicas 500.000,00

1002 Sociedades financeiras 82.000,00

100201 Bancos e outras instituições financeiras 55.000,00

100202 Companhias de seguros e Fundos de pensões 27.000,00

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Total das Receitas 748.000,00

Orçamento das despesas (Dotação)

Dotações Iniciais Ano de t

Classificação económica

Designação Valor

Despesas Correntes 74.500,00

01 Despesas com pessoal 45.500,00

0101 Remunerações certas e permanentes 38.300,00

010104 Pessoal dos quadros - Regime de contrato individual de trabalho

30.000,00

010107 Pessoal em regime de tarefa ou avença 2.500,00

010113 Subsídio de refeição 1.500,00

010114 Subsídios de férias e de Natal 4.300,00

0103 Segurança social 7.200,00

010305 Contribuições para a segurança social 7.200,00

02 Aquisição de bens e serviços 8.700,00

0201 Aquisição de bens 700,00

020108 Material de escritório 500,00

020118 Livros e documentação técnica 150,00

020121 Outros bens 50,00

0202 Aquisição de serviços 8.000,00

020201 Encargos das instalações 5.000,00

020202 Limpeza e higiene 3.000,00

03 Juros e outros encargos 20.300,00

0301 Juros da dívida pública 20.300,00

030103 Sociedades Financeiras - Bancos e outras instituições financeiras

20.300,00

Despesas de Capital 673.500,00

07 Aquisição de bens de capital 223.500,00

0701 Investimentos 223.500,00

070101 Terrenos 5.000,00

070106 Material de Transporte 80.000,00

070107 Equipamento de informática 50.000,00

070108 Software informático 30.000,00

070109 Equipamento administrativo 25.000,00

0701015 Outros Investimentos 33.500,00

08 Transferências de capital 450.000,00

0802 Sociedades financeiras 450.000,00

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080201 Bancos e outras instituições financeiras 450.000,00

Total das Despesas 748.000,00

Quadro 1 - Orçamento conforme Decreto-Lei n.º 26/2002, de 14.02

Fonte: elaboração própria

Orçamento e Plano Orçamental Plurianual conforme as normas do SNC-AP

Rubrica Designação

Orçamento t Plano Orçamental Plurianual

Períodos anteriores

Período Soma T+1 T+2 T+3 T+4

Receita Corrente 111.000,00 111.000,00 112.000,00 114.000,00 114.000,00

R1 Receita Fiscal 77.500,00 77.500,00 79.000,00 81.000,00 81.000,00

R11 Impostos diretos 22.000,00 22.000,00 23.000,00 25.000,00 25.000,00

R12 Impostos Indiretos 55.500,00 55.500,00 56.000,00 56.000,00 56.000,00

R3 Taxas Multas e Outras Penalidades

18.500,00 18.500,00 18.000,00 18.000,00 18.000,00

R4 Rendimentos de propriedade

15.000,00 15.000,00 15.000,00 15.000,00 15.000,00

Receitas de Capital 637.000,00 637.000,00 638.000,00 642.000,00 642.000,00

R8 Venda de bens de investimento

55.000,00 55.000,00 56.000,00 57.000,00 57.000,00

R9 Transferências de capital

582.000,00 582.000,00 582.000,00 585.000,00 585.000,00

R93 Outras 582.000,00 582.000,00 582.000,00 585.000,00 585.000,00

Receita efetiva 748.000,00 748.000,00 750.000,00 756.000,00 756.000,00

Rubrica Designação

Orçamento t Plano Orçamental Plurianual

Períodos anteriores

Período Soma T+1 T+2 T+3 T+4

Despesa Corrente 74.500,00 74.500,00 74.000,00 75.000,00 75.000,00

D1 Despesas com o pessoal

45.500,00 45.500,00 45.000,00 45.000,00 45.000,00

D11 Remunerações certas e permanentes

38.300,00 38.300,00 38.000,00 38.000,00 38.000,00

D13 Segurança social 7.200,00 7.200,00 7.000,00 7.000,00 7.000,00

D2 Aquisição de bens e serviços

8.700,00 8.700,00 9.000,00 11.000,00 11.000,00

D3 Juros e outros encargos

20.300,00 20.300,00 20.000,00 19.000,00 19.000,00

Despesa de Capital 673.500,00 673.500,00 676.000,00 681.000,00 681.000,00

D7 Investimentos 223.500,00 223.500,00 226.000,00 246.000,00 246.000,00

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D8 Transferências de capital

450.000,00 450.000,00 450.000,00 435.000,00 435.000,00

D84 Outras 450.000,00 450.000,00 450.000,00 435.000,00 435.000,00

Despesa efetiva 748.000,00 748.000,00 750.000,00 756.000,00 756.000,00

Quadro 2 - Orçamento conforme as Normas do SNC-AP

Fonte: elaboração própria

4. Conclusão

A Contabilidade Orçamental é um dos subsistemas do SNC-AP e é a única norma de aplicação

universal. A NCP 26 permite acompanhar o orçamento de cada receita e despesa desde a sua

previsão até o seu encerramento, o que permite um melhor controlo e avaliação das contas públicas.

O relato orçamental de finalidades gerais preparado pelas entidades do setor público proporciona

informação sobre se os recursos foram obtidos e usados de acordo com o orçamento legalmente

aprovado, nomeadamente através do controlo da execução orçamental da despesa e da execução

orçamental da receita e da demonstração de desempenho orçamental, evidenciando importâncias

relativas a todos os recebimentos e pagamentos ocorridos no período contabilístico, quer se

reportem à execução orçamental, quer a operações de tesouraria, quer ao controlo da execução

anual do plano plurianual de investimentos, facultando informação relativa a cada programa e

projeto de investimento.

Por conseguinte, e à semelhança do que ocorre com as demonstrações financeiras, deverão ser

respeitados os parágrafos 40 ao 48 da NCP 26 – Contabilidade e Relato Orçamental, por forma a

serem apresentadas demonstrações orçamentais normalizadas que irão incorporar o relatório

integrado de prestação de contas.

Considerando que o SNC-AP e consequentemente a NCP 26 – Contabilidade e Relato Orçamental

está ainda em fase de implementação, este trabalho tratou apenas da perspectiva da aplicação da

norma, em termos teóricos, com destaque para a sua estrutura e melhorias esperadas. De certo, a

sua aplicação representa um desafio para as entidades obrigadas a utilizar esta norma, pelo facto

em alguns casos ainda faltar regulamentação apropriada, e noutros esclarecimentos a princípios

regulamentares de uniformização de procedimentos.

Assim a principal limitação deste estudo é a não existência de dados que permitam uma visão geral

sobre a aplicabilidade desra norma.

Como sugestão para trabalhos futuros deixamos a avaliação do impacto ou implemantação desta

Norma nos Organismos do Estado de forma global.

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