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1 Normativo Contabilístico para Pequenas e Microentidades: implicações ao nível do Relato Financeiro Maria Cristina Ribeiro da Silva Couto ([email protected]) Sónia Maria da Silva Monteiro ([email protected]) Área Temática: Normalização Contabilística Palavras Chave: Relato Financeiro, Pequenas e micro Entidades, Microentidades, Técnicos Oficiais de Contas Metodologia de investigação: M3) Empirical archival

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Normativo Contabilístico para Pequenas e Microentidades: implicações ao nível do

Relato Financeiro

Maria Cristina Ribeiro da Silva Couto ([email protected])

Sónia Maria da Silva Monteiro ([email protected])

Área Temática: Normalização Contabilística

Palavras Chave: Relato Financeiro, Pequenas e micro Entidades, Microentidades,

Técnicos Oficiais de Contas

Metodologia de investigação: M3) Empirical archival

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Normativo Contabilístico para Pequenas e Microentidades: implicações ao nível do

Relato Financeiro

Resumo

Fruto do processo de harmonização contabilística vivido no seio da União Europeia, a

partir de 2010 as entidades portuguesas passaram a dispor de um novo Sistema de

Normalização Contabilística (SNC). As entidades de menor dimensão podem, por opção,

utilizar a Norma Contabilística e de Relato Financeiro para pequenas Entidades (NCRF-

PE), consagrada no SNC. Todavia, a Lei n.º 35/2010 de 2 de Setembro veio estabelecer um

regime especial simplificado das normas e informações contabilísticas das microentidades,

aprovado pelo Decreto-Lei n.º 36-A/2011, de 9 de Março.

Este trabalho tem como objetivo conhecer o nível de preparação dos Técnicos Oficiais de

Contas (TOC) aquando da adoção destes normativos, analisando o seu impacto ao nível do

processo contabilístico e do relato financeiro.

Para o efeito foi utilizada a técnica do questionário, cujas respostas indicam que a maioria

dos TOC concorda com a existência destes normativos, considerando estar razoavelmente

preparado aquando da sua aplicação. O nível de preparação destes profissionais é tanto

maior quanto maior o nível de habilitações académicas dos TOC bem como a antiguidade

na profissão.

No que concerne às mudanças ao nível de relato financeiro, destacam-se algumas rubricas

do Balanço (Ativos Tangíveis, Ativos Intangíveis, Subsídios e Capital Próprio) onde os

inquiridos consideram ter havido um maior impacto na sequência da adoção dos novos

normativos.

Palavras-chave: Relato Financeiro, Pequenas Entidades, Microentidades, Análise

Quantitativa, Técnicos Oficiais de Contas

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Introdução

No âmbito do processo de harmonização contabilística internacional, assistiu-se a uma

“reforma” no sistema contabilístico português, no sentido de acolher, com as devidas

adaptações, o normativo contabilístico do International Accounting Standards Board

(IASB).

Neste contexto, no dia 13 de Julho de 2009 foi publicado, em Diário da República, o

Decreto - Lei (DL) n.º 158/2009 que aprova o Sistema de Normalização Contabilística

(SNC). Sendo aplicável às empresas não financeiras, o novo SNC visou a substituição do

Plano Oficial de Contabilidade (POC) e demais legislação complementar, com entrada em

vigor em 1 de Janeiro de 2010.

O SNC corresponde a um modelo baseado nas normas do IASB adoptadas na União

Europeia (por força do Regulamento n.º 1606/2002, de 19 de Julho), garantindo a

compatibilidade com as Diretivas Contabilísticas Comunitárias, sendo por isso criadas

Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), num total de 28.

É um modelo no qual se atende às diferentes necessidades de relato financeiro, pelo que foi

criada uma Norma Contabilística e Relato Financeiro para Pequenas Entidades (NCRF-

PE), (que constituem a maioria do tecido empresarial português), com necessidades de

relato mais reduzidas, onde são tratadas, com as devidas adaptações, matérias algumas das

NCRF.

Todavia, a Lei n.º 35/2010 de 2 de Setembro veio estabelecer um regime especial

simplificado das normas e informações contabilísticas das microentidades, dispensadas da

aplicação das NCRF previstas no SNC. Este regime da normalização contabilística para as

microentidades (NCM) foi objeto de regulamentação específica, pelo DL n.º 36-A/2011, de

9 de Março, a aplicar no exercício de 2010.

Face ao exposto, é objetivo deste trabalho, por um lado, analisar o atual Normativo

Contabilístico para Pequenas Entidades e Micro Entidades e, por outro lado, analisar a

perceção dos Técnicos Oficiais de Contas relativamente ao impacto do novo normativo

contabilístico no relato financeiro das pequenas e microentidades. Neste sentido, foram

inquiridos os Técnicos Oficiais de Contas a fim de entender qual o seu grau de

concordância e preparação em relação ao normativo das pequenas e microentidades, bem

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como as principais implicações destes normativos a nível das Demonstrações Financeiras,

e respetivas rubricas.

A estrutura do trabalho que a seguir se apresenta assenta em duas partes principais. Na

primeira parte, relativa a uma abordagem teórica do tema, procedemos à caracterização do

normativo contabilístico português para as pequenas entidades (NCRF-PE) e procuramos

dar a conhecer o regime de normalização contabilística para as microentidades, no que

respeita à sua estrutura e conteúdo realçando as suas especificidades face à NCRF-PE.

A segunda parte é dedicada ao estudo empírico, respeitante às implicações da adoção

destes normativos ao nível do relato financeiro, à luz da opinião dos profissionais de

contabilidade. Começamos por apresentar uma breve revisão de estudos empíricos e a

justificação do nosso estudo. Segue-se a descrição da metodologia adotada e definição e

caracterização da amostra selecionada. O estudo empírico finaliza com uma análise e

discussão dos resultados e conclusões principais.

1. O Normativo contabilístico português para entidades de menor dimensão

1.1. Enquadramento legal

Até 2009, por força da 4ª directiva comunitária, quer o artigo 262º do CSC, quer o POC-89

estabeleciam obrigações contabilísticas simplificadas para entidades de menor dimensão.

Este tipo de entidades, ainda que sujeitas a todas as regras previstas no POC, tinha a

facilidade de optar por modelos sintéticos de demonstrações financeira (Balanço,

Demonstração dos Resultados e Anexo).

Com a revogação do POC pelo SNC, houve o cuidado de manter a simplificação ao nível

do relato financeiro, para entidades de menor dimensão. De facto, SNC é um modelo em

que se atende às diferentes necessidades de relato financeiro, prevendo uma norma mais

simples para as pequenas entidades- a NCRF-PE-, dado o tecido empresarial a que o SNC

é aplicável, e em que se permite uma intercomunicabilidade quer horizontal quer vertical.

No artigo 9º do Decreto-Lei 158/2009, alterado pela Lei n.º 20/2010 de 23 de agosto,

estabelecem-se as condições para que entidades com pequena dimensão possam optar por

não aplicar o conjunto total das 28 NCRF, mas apenas a NCRF-PE, publicada através do

Aviso nº 15654/2009.

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A NCRF-PE tendo como objetivo facilitar a interpretação e aplicação das normas num

único documento, tornando mais fácil aplicação das exigências contabilísticas mais

comuns ao universo das pequenas entidades, que constitui a generalidade das empresas

portuguesas (Rodrigues, 2009). Esta norma pode ser aplicada por entidades que não

ultrapassem dos limites previstos no n.º 1 do art.º 9º do DL 158/2009, alterado pela Lei n.º

20/2010:

- total do balanço: € 1 500 000;

- Volume de negócios líquido: € 3 000 000;

- número médio de empregados durante o exercício: 201.

Entendeu-se, no entanto, que este normativo era, ainda assim, demasiado exigente para

entidades de reduzida dimensão. Deste modo, a Lei n.º 35/2010, de 2 de Setembro veio

criar um regime especial simplificado de normas e informações contabilísticas para

microentidades. Este tipo de entidades são as que não ultrapassem dois dos 3 limites

seguintes:

− Total de Balanço: 500.000€

− Volume de negócios líquido: 500.000€

− Número médio de empregados durante o exercício: 52.

As entidades que cumpram os requisitos supramencionados ficam dispensadas da aplicação

das normas previstas no DL 158/2009 (NCRF e NCRF-PE). Assim, passam adoptar o

Regime de Normalização Contabilística das Microentidades, aprovado pelo DL 36A/2011

(embora de aplicação obrigatória a partir do exercício de 2010), o qual contempla, entre

outros instrumentos, a Norma Contabilística para Microentidades (NC-ME), publicada

através do Aviso n.º 6726-A/2011.

1 Desde que não integrem o perímetro de consolidação de uma entidade que apresente demonstrações financeiras consolidadas; e cujas contas não estejam, legal ou estatutariamente, sujeitas a Certificação Legal de Contas.

2 E desde que não integrem o perímetro de consolidação de uma entidade que apresente demonstrações financeiras consolidadas ou as contas não estejam, legal ou estatutariamente, sujeitas a certificação legal de contas.

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Importa ainda realçar que o regime de normalização para microentidades opera de forma

autónoma, mas baseia-se na Estrutura conceptual e procedimentos contabilísticos

enunciados no SNC e recorre a conceitos e definições constantes do glossário da NCRF-

PE.

De salientar que a adopção da NCRF-PE não é uma imposição, mas uma opção, podendo

sempre as entidades, qualquer que seja a sua dimensão, aplicar o conjunto completo de

NCRF, isto é, o “regime geral” do SNC. Por sua vez, o normativo das Microentidades é de

aplicação automática (desde que cumpridos os requisitos acima mencionados). No entanto,

as microentidades podem optar pelas normas dos patamares superiores, previstas no DL

n.º 158/2009, isto é, podem optar pela NCRF-PE ou pelo SNC- “regime geral”.

1.2. NCRF-PE e NC-ME: estrutura e conteúdo

A NCRF-PE apresenta um conjunto de capítulos correspondentes a resumos de um

conjunto de NCRF, que se entendeu serem mais relevantes para o universo das pequenas

entidades nacionais a quem se aplica o SNC. A NCRF-PE encontra-se estruturada em 19

capítulos ou pontos, correspondendo cada um deles aos aspetos fundamentais de algumas

matérias tratadas nas NCRF.

A NCRF-PE destina os 3 primeiros pontos ao objetivo e âmbito da norma e considerações

gerais sobre reconhecimento, passando a destinar os restantes pontos para abordar matérias

de algumas das 28 NCRF, estando excluídos da sua estrutura algumas NCRF (NCRF 2, 5,

8, 11 a 17, 19, 24 e 26). De referir que há duas normas do SNC que não se encontram

desenvolvidas de forma explícita, em capítulo separado, na estrutura da NCRF-PE:

imparidade de ativos (NCRF 12) e matérias ambientais (NCRF 26), embora o seu conteúdo

não possa ser consideradas excluído do normativo das pequenas entidades:

− No que respeita à imparidade de ativos, é feita uma remissão para NCRF 12,

quando uma entidade pretende analisar se um ativo tangível ou intangível está em

imparidade (§7.22 e 8.22, respetivamente).

− Relativamente a matérias ambientais, ainda que a NCRF-PE não desenvolva esta

temática de uma forma autónoma, nem haja uma remissão para a NCRF 26 (como

ocorre com a temática da imparidade), o reconhecimento de dispêndios ambientais

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(como gasto ou como ativo) e das provisões de carácter ambiental são tratados,

respetivamente nos capítulos destinados a ativos intangíveis (§ 8.8) e a provisões

(§13.29)

A NCRF-PE apresenta, em apêndice, quer um glossário de termos e expressões para

facilitar a leitura e respetiva compreensão, quer alguns tópicos relacionados com a temática

da transição do POC para o SNC, com vista a facilitar a organização dos procedimentos

nas pequenas entidades.

A NCRF-PE tem uma estrutura bastante semelhante à das restantes normas previstas no

“normativo geral” do SNC, isto é, para cada um dos capítulos ou pontos, segue regra geral

as mesmas linhas de orientação das NCRF: reconhecimento, mensuração, apresentação e

divulgação, embora redigidos com menor desenvolvimento, sendo em menor número os

requisitos de divulgação (a extensão do anexo foi reduzido). Deste modo, embora seja uma

“NCRF resumo” (que exclui certas matérias), não constitui, em si mesma, um referencial

contabilístico autónomo (ao contrário do normativo para microentidades, que opera de

forma autónoma); pelo contrário, a fim de garantir a coerência do modelo de normalização,

os conceitos e critérios de reconhecimento baseiam-se na Estrutura Conceptual do SNC.

A Norma contabilística para as Microentidades (NC-ME), apresenta uma estrutura muito

similar à NCRF-PE, com um conjunto de 18 capítulos correspondentes a resumos de um

conjunto de NCRF, que se entendeu serem mais pertinentes para o universo das

microentidades portuguesas. Estabelece igualmente aspetos de reconhecimento,

mensuração e divulgação considerados como requisitos contabilísticos aplicáveis às

microentidades, e que são, grosso modo, mais simples e menos exigentes do que os

previstos na NCRF-PE.

O quadro abaixo resume as temáticas abordadas na NCRF-PE e NC-ME, identificando os

pontos onde a temática é tratada, bem como a NCRF do SNC e a norma do IASB que

esteve na sua origem. Podemos verificar que existe uma correspondência entre a

organização da NC-ME e a NCRF-PE, sendo que ambas normas não contemplam parte ou

a totalidade de algumas temáticas tratadas nas NCRF.

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Quadro n.º 1: Correspondência vertical entre normativos

Fonte: Monteiro (2013)

Em ambos normativos para entidades de menor dimensão procura-se a eliminação do

tratamento de matérias específicas a determinados sectores da economia (por exemplo

agricultura, contratos de construção), devendo nestes casos aplicar a NCRF

correspondente, por forma da aplicação supletiva das normas (a que faz referência o ponto

6.3 do Anexo ao Decreto-lei 158/2009, em consonância com o ponto 2.3 da NCR-PE).

Deste modo, o atual normativo permite uma fácil comunicabilidade vertical sempre que

alterações na dimensão das entidades impliquem diferentes exigências de relato financeiro

ou as mesmas optem pela alteração das normas contabilísticas gerais.

1.3. Análise comparativa dos normativos

Regra geral, o conteúdo dos vários capítulos da NCRF-PE não se afasta significativamente

da respectiva NCRF, sendo contudo de destacar algumas diferenças (para além das

menores exigências de divulgação), nomeadamente a simplificação de alguns critérios de

reconhecimento e mensuração. Por exemplo, relativamente aos activos intangíveis, a

NCRF-PE apenas permite a utilização do modelo do custo. Também, se verifica, nos

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instrumentos financeiros, a ausência da previsão de aplicação do custo amortizado pelo

método do juro efectivo.

Quando comparamos a estrutura da NCRF-PE e da NC-ME verificamos, em termos de

temáticas tratadas, que a maioria dos aspetos é coincidente (conforme quadro 1), sendo

similares as matérias excluídas do normativo deste tipo de entidades. Todavia, há matérias

cujo tratamento contabilístico se encontra mais simplificado na NC-ME, e que passamos a

analisar:

Quadro n.º 2: Temáticas contabilísticas: NCRF-PE vs NC-ME

Ativos

fixos tangíveis

A NC-ME apresenta algumas diferenças significativas face à NCRF-PE, nesta temática, a destacar: − Prevê que as propriedades de investimento, bem como os ativos biológicos de

produção, sejam reconhecidos como ativos fixos tangíveis, ao contrário da NCRF-PE que ao não contemplar estas matérias para a na sua estrutura obriga à aplicação supletiva das normas (aplicando-se a NCRF 11 e NCRF 17, respectivamente)

− Não prevê a utilização do modelo da revalorização na mensuração subsequente de um ativo fixo tangível, ao contrário da NCRF-PE.

− É omissa quanto ao tema da imparidade de ativos (mesmo ao nivel do plano de contas). Deste modo, NC-ME apenas refere que um item do ativo tangível deve ser inicialmente mensurado pelo seu custo e subsequentemente pelo seu custo deduzido de qualquer depreciação acumulada.

− É menos abrangente ao nível dos factores a considerar na definição da vida útil de um ativo assim como também não prevê a dedução do valor residual para efeitos da definição da quantia depreciável.

− Apenas permite a utilização do método da linha recta na depreciação de um ativo fixo tangível, ao contrário da NCRF-PE que permite uma multiplicidade de métodos (nomeadamente o método da linha recta, o método de saldo decrescente e o método das unidades de produção).

Ativos intangíveis

A NC-ME apresenta algumas diferenças significativas face à NCRF-PE, nesta temática, a destacar: − Contém um menor número de orientações sobre as diversas temáticas

relacionadas com ativos intangíveis − É omissa quanto ao tema da imparidade de ativos (mesmo no plano de contas).

A NCRF-PE proíbe a adopção do modelo de revalorização para ativos intangíveis, por sua vez, a NC-ME nada referente quanto a esta temática. Todavia, ao não prever este modelo para os ativos tangiveis de igaul modo pelo não será também aplicável aos ativos intangiveis.

Locações

As normas apresentam o mesmo conceito, porém na classificação de locações verifica-se que NCRF-PE tem em conta o “justo valor” enquanto que NC-ME tem em conta “o valor de mercado”. De igual, na mensuração inicial de uma locação financeira não é feita referência ao “justo valor” da propriedade locada pela microentidade(§9.5).

Custo de A NC-ME obriga sempre ao reconhecimento como gastos do período em que

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empréstimos obtidos

ocorrem (§10.2), independentemente de se encontrarem relacionados com a aquisição ou construção de ativos que se qualificam para capitalização (isto é, , que levam um período substancial de tempo para ficarem prontos para venda ou uso). A NCRF-PE, nesta situação, permite a capitalização dos custos de empréstimos obtidos, isto é, o reconhecimento como ativo (critério alternativo previsto na NCRF 10).

Inventários

A NC-ME prediz que os ativos biológicos consumíveis e os produtos agrícolas são reconhecidos como inventários (§11.2). Por sua vez, a NCRF-PE refere que os produtos agrícolas só são reconhecidos como inventários após a sua colheita. E, ainda, os ativos biológicos consumíveis apenas têm tratamento ao abrigo da norma da Agricultura (NCRF 17). Ao contrário da NCRF-PE, A NC-ME não aborda as orientações da NCRF 18 no que respeita ao conceito de custo de conversão, assim como não desenvolve o critério de imputação dos gastos gerais de fabrico fixos. Não contempla orientações sobre outros custos a incluir e a excluir. Não aborda outras técnicas para a mensuração do custo, tais como o método do custo padrão ou o método do retalho (Pires, 2011)

Rédito

A NCRF-PE estabelece que o rédito deve ser mensurado pelo justo valor da retribuição recebida ou a receber enquanto nas NC-ME o rédito deve ser mensurado pela quantia da contraprestação acordada (§11.2).

A NCRF-PE prevê um conjunto de situações que é permitido à entidade reter risco significativo de propriedade, não devendo reconhecer logo o rédito da venda. Isto não está previsto na NC-ME.

Provisões

A NC-ME não tratar os passivos e ativos contingentes. A NCRF-PE, no âmbito das provisões, dá a conhecer os acontecimentos que estão na sua origem e, ainda prevê que se crie uma provisão sempre que o efeito do valor temporal do dinheiro seja significativo.

Subsídios do Governo

Ambas normas tratam os subsídios de igual forma. Todavia a NC-ME é omissa quanto a dois aspetos previstos na NCRF-PE, os quais se prendem com o facto de após o subsídio do Governo ser reconhecido qualquer ocorrência relacionada com ele deverá ser tratada de acordo com o previsto para as Provisões e, ainda, após o reconhecimento do subsídio, este deverá ser divulgado para garantir que o efeito seja claramente compreendido.

Os efeitos de alterações

em taxas de câmbio

A NCRF-PE (§15.2).prevê que uma transação em moeda estrangeira seja "registada, no momento do reconhecimento inicial na moeda funcional, pela aplicação à quantia de moeda estrangeira da taxa de câmbio entre a moeda funcional e a moeda estrangeira à data da transação". Ao NC-ME não faz alusão à moeda funcional, refere apenas que quando ocorre uma transação em moeda estrangeira deverá ser registada no momento de reconhecimento em euros.

A NC-ME contempla um aspeto novo quando comparado com a NCRF-PE: para efeitos de relato em datas de balanço subsequentes prevê o facto de a taxa de câmbio estar contratualmente fixada (§15.3).

Impostos sobre o

rendimento

Ambas normas preconizam o método do imposto a pagar. A NCRF-PE estabelece um conjunto de preceitos no sentido de compensar ativos por impostos correntes e passivos por impostos correntes nas demonstrações financeiras, bem como a altura em que a empresa o poderá fazer; e, ainda, detalha um conjunto de divulgações a constar no anexo. Ao passo que NC-ME nada prevê sobre o reconhecimento de qualquer efeito fiscal que possa decorrer de transações diretamente reconhecidas no capital próprio.

Ativos e A NC-ME detalha todos os ativos e passivos financeiros. Pelo contrário, a NCRF-

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passivos financeiros

PE aponta a sua extensibilidade todos os instrumentos financeiros, denominando as exclusões.

A NCRF-PE prevê a aplicação do justo valor mensuração dos ativos e passivos financeiros; a NC-ME prevê a aplicação do custo de aquisição.

Benefícios dos

Empregados

No que respeita aos benefícios a curto prazo na NC-ME, está previsto que “quando um empregado tenha prestado serviço a uma entidade durante um período contabilístico, a entidade deve reconhecer a quantia nominal de benefícios a curto prazo que espera ser paga em troca desse serviço, incluindo a retribuição relativa aos direitos adquiridos referentes a férias” (§18.4). NCRF-PE por sua vez prevê “quando um empregado tenha prestado serviço a uma entidade durante um período contabilístico, a entidade deve reconhecer a quantia descontada de benefícios a curto prazo a curto prazo que espera ser paga em troca desse serviço” (§18.6).

Fonte: Elaboração própria

Da análise comparativa realizada realçamos, entre outros, os principais aspetos da NC-ME:

− a não aplicação do justo valor, como base de mensuração, levando ao não

acolhimento do modelo de revalorização de ativos tangíveis e intangíveis, nem à

aplicação do justo valor na mensuração de ativos e passivos financeiros. O custo é

base de mensuração utilizada pelas microentidades;

− apenas preconiza a imparidade de ativos correntes, como os inventários e as dívidas

a receber;

− reconhecimento das propriedades de investimento e dos ativos biológicos de

produção como ativos fixos tangíveis,

− a proibição da capitalização de custos de empréstimos obtidos aquando da

aquisição/construção de ativos;

− ser omissa quanto a ativos e passivos contingentes.

− não contempla, para cada matéria, as divulgações a fazer no anexo.

2. Desenho da Investigação

2.1 Revisão empírica e justificação do estudo

O estudo do impacto da existência de novos normativos contabilísticos vigentes num país é

uma área de investigação que suscita o interesse da comunidade académica. Na sequência

processo de harmonização contabilística vivido no seio da UE, em particular a partir de

2005 com a obrigatoriedade do uso das IAS/IFRS pelas sociedades cotadas na UE, assistiu-

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se à proliferação de estudos sobre o impacto da transição para o normativo IASB, em

diferentes países, tais como Espanha (Perramon e Amat 2006); Itália (Cordazzo, 2008);

Polónia (Jaruga et al., 2007) e Grécia (Tsalavoutas e Evans 2007; Bellas et al., 2007) que

apresentam como resultado comum o impacto nos resultados líquidos e nos capitais

próprios.

No caso de Portugal, a transição do POC para as IAS/IFRS foi objecto do estudo de

Cordeiro et al. (2007). Estes autores centram a sua análise nas contas consolidadas de

39empresas portuguesas cotadas na bolsa de Lisboa, em março de 2005, tendo identificado

variações significativas nas rubricas do Balanço (em particular no ativos fixos tangíveis) e

da demonstração dos resultados. No entanto, não encontraram um padrão claro as

variações que ocorreram na contabilidade.

Lopes e Viana (2007) também analisaram o conteúdo das explicações narrativas

respeitantes ao processo de transição para as IAS/IFRS (conforme recomendação da

CMVM) durante o período de Janeiro a Setembro de 2005, das empresas portuguesas

presentes na bolsa de Lisboa. Os autores identificaram os maiores impactos nível do

reconhecimento dos intangíveis, o tratamento contabilístico do goodwill e dos instrumentos

financeiros.

Se por um lado, existe a nível internacional vários estudos que se debruçam sobre o

impacto da adoção das IAS/IFRS nas empresas cotadas, são mais escassos os que versam

sobre a adoção de normativos nacionais baseados nas IAS/IFRS, como é o caso do SNC.

Alguns estudos debruçam-se sobre o processo preparatório da transição o SNC (Bianchi,

2009; Duarte, 2010), enquanto que outros procuram analisar o impacto utilização das

NCRF na informação financeira produzida pelas empresas portuguesas (Bianchi, 2009;

Machado, 2012) e respectivos rácios económico-financeiros (Correia , 2010; Matos, 2011),

havendo ainda estudos avaliam a perceção dos profissionais da contabilidade relativamente

ao normativo SNC (Ribeiro, 2010; Matos, 2011).

No que respeita à adopção da NCRF-PE e do normativo para microentidades, tanto quanto

é do nosso conhecimento, não existem estudos que tenham analisado o impacto da adopção

destes normativos. Devemos ter em conta que o processo de transição ocorreu apenas em

2010, sendo que o atraso na disponibilização das demonstrações financeiras onde se

aplicou pela primeira vez o novo normativo, bem como a dificuldade de acesso à

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informação financeira de empresas não cotadas, em particular de pequena ou reduzida

dimensão, podem ser algumas das razões para a inexistência de estudos nesta área.

Assim sendo, e perante esta lacuna na literatura, torna-se interessante e premente estudar

os impactos nas demonstrações financeiras decorrentes desta alteração normativa ao nível

das pequenas e microentidades, oscultando os profissionais de contabilidade no que

respeita ao seu nível de preparação e de concordância com os normativos actualmente em

vigor, bem como seu impacto no relato financeiro.

2.2 Metodologia

Para cumprir com os objetivos definidos, optamos como metodologia de investigação pelo

uso de um questionário, à semelhança do estudo de Ribeiro (2010). Isto porque os TOC

lidam diariamente com o normativo contabilístico para pequenas e microentidades, pelo

que podem dar conhecer os verdadeiros impactos que se fizeram sentir em diferentes áreas

que compõem as Demonstrações Financeiras, bem como as suas próprias

facilidades/dificuldades na sua adoção. Numa primeira fase, o questionário foi remetido

via email, utilizando a ferramenta Google Docs, para os ex-alunos TOC e docentes da área

da contabilidade/fiscalidade do Instituto Politécnico Cávado e Ave (IPCA). Para além

disso, pesquisamos através das páginas amarelas gabinetes de contabilidade e Técnicos

Oficiais de Contas para os quais também enviamos o questionário. Em todas as situações

referidas foi pedido que o reencaminhassem para outros colegas TOC. Esta forma de

distribuição do inquérito ocorreu entre o mês de Agosto e Setembro de 2012.

Numa segunda fase, e para conseguir obter um maior número de respostas efetuamos um

pedido à Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (OTOC) no sentido de obter autorização

para que o questionário fosse respondido nas formações que versavam sobre a Lei dos

Compromissos e as alterações no Código de trabalho. Obtida resposta favorável do Sr.

Bastonário da OTOC inquirimos os TOC nas formações que ocorreram nas primeiras

semanas de Outubro de 2012, essencialmente na zona Norte.

Relativamente à estrutura do questionário encontra-se dividido da seguinte forma:

− Caracterização dos TOC: género, habilitações, distrito, local onde trabalha,

experiência profissional (n.º de anos), dimensão da(s) empresa(s) onde trabalha;

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− Norma Contabilística e de Relato Financeiro para as Pequenas Entidades: avaliar

em que medida os TOC se sentiram preparados no momento de transição, bem

como reconhecer quais as áreas onde se registaram maiores impactos.

− Norma Contabilística para as Micro Entidades: avaliar em que medida os TOC se

sentiram preparados no momento de transição, bem como reconhecer quais as

áreas onde se registaram maiores impactos.

De modo a caraterizar os TOC o questionário foi elaborado com perguntas fechadas e

múltiplas. Para aferir a sensibilidade dos TOC relativamente à adoção dos novos

normativos e quais as áreas de maior impacto ao nível do relato financeiro optou-se por

avaliar as respostas com base numa escala de Likert. Quanto à modalidade das questões, de

forma similar a Hill e Hill (2009) e Saunders et al. (2007), foi diversa a natureza das

variáveis e escalas de atitudes utilizadas (questões abertas, fechadas dicotómicas, questões

múltiplas em leque fechado, etc.).

Após a recolha de dados procedeu-se à sua análise e tratamento com o recurso ao programa

Statistical Package for the Social Science (SPSS) com a versão 20.0 e ao STASTICA.

Importante referir desde já que antes do tratamento de dados definiu-se como missing

values as "não respostas".

Um outro aspeto importante a realçar prende-se com o facto, face à inexistência de estudos

prévios similares ao nosso sobre pequenas e microentidades, para efeitos comparativos

tivemos como referencia o estudo realizado por Ribeiro (2010), o qual se debruçou sobre o

impacto das NCRF nas empresas portuguesas de acordo com a perceção dos TOC. Assim

sendo, sempre que pertinente analisaremos se há similitudes nos resultados, ao nível das

dificuldades e dos impactos no relato financeiro.

2.3. Amostra

Os Técnicos Oficiais de Contas portugueses foi o universo sobre o qual versou o presente

estudo, uma vez que estes profissionais são os que verdadeiramente sentiram os impactos

da NCRF-PE e da NC-ME. Através de informação da OTOC encontram-se no exercício

pleno de funções 31.263 TOC. Neste sentido, tendo obtido um total de 957 questionários

validos, no que diz respeito à amostra esta corresponde a 3,06% do universo; com esta

condicionante consideramos os dados recolhidos como uma coleção (Murteira, 1993), e

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15

tendo em conta a resposta de cerca de um milhar de inquiridos, julgamos que os resultados

da análise estatística, que a seguir se apresenta, proporcionarão pistas importantes, de

carácter exploratório, para o estudo em causa.

A amostra deste estudo é constituída por 957 sujeitos, Técnicos Oficiais de Contas, com

distribuição geográfica nacional, sendo 47,9% do sexo feminino e 52,1% do sexo

masculino.

Quadro n.º 3: Caracterização de amostra por sexo

Masculino Feminino Total

499 458 957

52,1% 47,9% 100%

No que diz respeito, às habilitações através do quadro que se segue verificámos que a maioria

dos inquiridos possui formação académica superior.

Quadro n.º 4: Caracterização de amostra por Habilitações Académicas

2.º Ciclo

3.º Ciclo Secundário Bacharelato Licenciatura

Pós-Graduaçã

o Mestrado Doutorament

o

Sem respost

a Total

11 14 144 149 498 98 38 2 3 957

1,1% 1,5% 15,1% 15,6% 52,2% 10,3% 4,0% 0,2% 100%

No que diz respeito ao local onde exerce funções verificámos que os inquiridos desempenham

funções em mais do que um local, sendo que a maioria dos inquiridos exerce as suas funções

em Gabinetes de Contabilidade.

Quadro n.º 5: Local onde Exerce Funções

Empresa Gabinete de Contabilidade Ensino

437 546 41

No que concerne à área geográfica, verificamos que os distritos onde os inquiridos exercem as

suas funções nas zonas do Porto (38%), Aveiro (30%) e Braga (23%). No que respeita à

antiguidade de exercícios de funções, a maioria dos TOC situam-se entre os 11 e os 15 anos de

profissão (conforme quadro abaixo).

Page 16: Normativo Contabilístico para Pequenas e Microentidades ... · destes normativos ao nível do relato financeiro, à ... outros instrumentos, a Norma Contabilística para Microentidades

16

Quadro n.º 6: Antiguidade no exercicio de funções de TOC

1-5 anos 6-10 anos 11-15 anos 16-20 anos 21-25 anos Mais de 25 anos Total

176 162 200 148 98 173 957 18,4% 16,9% 20,9% 15,5% 10,2% 18,1% 100%

Um aspeto a salientar prende-se com o facto de a percentagem até aos cinco anos de profissão

ser exatamente igual àqueles que têm mais de vinte e cinco anos de carreira profissional.

3. Análise e Discussão dos Resultados

3.1.Estatísticas descritivas

Para compreender a perceção dos TOC quanto ao impacto da NCRF-PE avaliamos, numa

primeira fase, o grau de concordância com a mesma, pois tal poderia influenciar as respostas

dos TOC inquiridos. Nesse sentido, verificamos que mais de metade dos inquiridos (cerca de

63,2%) concorda com a NCRF-PE, contra 11,4% que discorda da sua utilização. Perante estes

valores, depreende-se que a maioria dos inquiridos considera útil este normativo contabilístico

para as pequenas entidades. Conclusão idêntica foi obtida por Ribeiro (2010) relativamente às

NCRF, referindo que "a maioria dos inquiridos (...) acreditam que aproximam o normativo

nacional ao internacional, transportando inúmeras vantagens, como o aumento da

comparabilidade e incremento na qualidade das DF's das empresas."

Quadro n.º 1: Concordância dos inquiridos com a NCRF-PE

Discordo Totalmente Discordo Concordo Concordo

Totalmente Sem

Opinião Sem

Resposta Total

44 109 605 115 83 1 957

4,6% 11,4% 63,2% 12,0% 8,7% 0,1% 100%

Quanto ao nível de preparação dos TOC para o uso deste normativo, mais de metade dos

inquiridos consideram-se "razoavelmente preparados" (65,6%), no entanto há a salientar que

cerca de 18% referem não se sentirem preparados aquando da aplicação da NCRF-PE.

Quadro n.º 8: Nível de preparação dos inquiridos aquando da aplicação da NCRF-PE

Nada Preparado Pouco Preparado

Razoavelmente Preparado

Bastante Preparado

Totalmente Preparado

Total

15 155 628 141 18 957

1,6% 16,2% 65,6% 14,7% 1,9% 100%

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17

Ao avaliarmos o grau de dificuldade sentida pelos inquiridos no momento da transição

verificamos que 54% consideram que não tiveram grande dificuldade, no entanto é de realçar

que uma percentagem elevada (34%) apontou como difícil a passagem para o novo normativo.

Quadro n.º 2: Grau de dificuldade sentida pelos inquiridos na transição para a NCRF-PE

Muito Difícil Difícil Sem Dificuldade

Fácil Muito Fácil Total

11 317 513 109 7 957

1,1% 33,1% 53,6% 11,4% 0,7% 100%

De igual forma, tentamos entender as implicações da aplicação do novo normativo

contabilístico nas áreas abaixo indicadas. Os resultados apontaram a formação do pessoal, o

sistema informático e custos envolvidos como as áreas onde se fez sentir maior impacto com a

aplicação da NCRF-PE, o que vai de encontro ao estudo elaborado pela Pricewaterhouse

(2009) relativo aos impactos esperados com a adoção do SNC.

Quadro n.º 10: Impacto da aplicação da NCRF-PE em diferentes áreas

Nenhum Impacto

Pouco Impacto

Algum Impacto

Muito Impacto

Sem Opinião

Sem Resposta Total

Processo Contabilístico

35 207 499 161 32 23 957

3,7% 21,6% 52,1% 16,8% 3,3% 2,4% 100%

Sistema Informático

49 181 382 283 38 24 957

5,1% 18,9% 39,9% 29,6% 4,0% 2,5% 100%

Formação do Pessoal

25 122 410 323 52 25 957

2,6% 12,7% 42,8% 33,8% 5,4% 2,6% 100%

Custos Envolvidos

29 179 422 259 43 25 957

3,0% 18,7% 44,1% 27,1% 4,5% 2,6% 100%

Ao nível do processo contabilístico, a fase de divulgação é a que sofreu um maior impacto

com este novo normativo, pois conforme referido anteriormente os requisitos de divulgação

são mais exigentes em prol de um relato mais completo e transparente.

Este resultado vai, de algum modo, de encontro ao estudo de Ribeiro (2010), onde,

relativamente às fases do processo contabilístico apontava a mensuração e a divulgação como

as fases que sofreram maior impacto com adoção do SNC (regime geral).

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18

Quadro n.º11: Impacto da NCRF-PE nas diferentes fases do processo contabilístico

Nenhum Impacto

Pouco Impacto

Algum Impacto

Muito Impacto

Sem Opinião

Sem Resposta Total

Reconhecimento 21 177 547 142 45 25 957

2,2% 18,5% 57,2% 14,8% 4,7% 2,6% 100%

Mensuração 23 186 521 160 42 25 957

2,4% 19,4% 54,4% 16,7% 4,4% 2,6% 100%

Divulgação 19 134 499 238 43 24 957

2,0% 14,0% 52,1% 24,9% 4,5% 2,5% 100%

Procedemos à análise do impacto da aplicação da NCRF-PE nas Demostrações dos

Financeiras, em particular em alguns dos seus elementos. No que se refere ao impacto da

NCRF-PE na Demonstração dos Resultados e no Anexo, as opiniões dividem-se: embora um

grande número de inquiridos (46,9%) aponte para a ausência de impacto, no momento da

transição, existe uma percentagem elevada (39,6%) que afirma que o impacto da aplicação

desta norma foi positivo.

Quadro n.º 3: Perceção dos inquiridos quanto ao impacto da aplicação da NCRF-PE na Demonstração dos Resultados e no Anexo no momento da transição

Muito Negativo Negativo Sem Impacto Positivo Muito

Positivo Total

5 118 449 379 6 957

0,5% 12,3% 46,9% 39,6% 0,6% 100%

No que respeita ao Balanço, procuramos conhecer quais as rubricas mais afetadas com a

adoção das NCRF-PE.

Quadro n.º 13 Impacto da NCRF-PE nas rubricas do Balanço

Nenhum Impacto

Pouco Impacto

Algum Impacto

Muito Impacto

Sem Opinião

Sem Resposta Total

Ativos Tangíveis 41 201 470 169 38 38 957

4,3% 21,0% 49,1% 17,7% 4,0% 4,0% 100%

Ativos Intangíveis 38 160 411 255 54 39 957

4,0% 16,7% 42,9% 26,6% 5,6% 4,1% 100%

Rédito 46 244 433 134 61 39 957

4,8% 25,5% 45,2% 14,0% 6,4% 4,1% 100%

Inventários 61 268 444 94 51 39 957

6,4% 28,0% 46,4% 9,8% 5,3% 4,1% 100%

Page 19: Normativo Contabilístico para Pequenas e Microentidades ... · destes normativos ao nível do relato financeiro, à ... outros instrumentos, a Norma Contabilística para Microentidades

19

Locações 53 230 442 111 83 39 957

5,5% 24,0% 46,1% 11,6% 8,7% 4,1% 100%

Subsídios 48 184 412 174 100 39 957

5,0% 19,2% 43,1% 18,2% 10,4% 4,1% 100%

Benefício dos Empregados

72 215 390 137 105 38 957

7,5% 22,5% 40,8% 14,3% 11,0% 4,0% 100%

Capital Próprio 48 220 423 177 51 38 957

5,0% 23,0% 44,2% 18,5% 5,3% 4,0% 100%

Provisões 50 216 439 140 75 37 957

5,2% 22,6% 45,9% 14,6% 7,8% 3,9% 100%

Nas rubricas Ativos Intangíveis, Capital Próprio e Subsídios os inquiridos referem ter havido

muito impacto na sequência da adoção da NCRF-PE. Estes resultados vão de encontro ao de

outros estudos sobre o impacto do SNC (Ribeiro, 2010; Machado, 2012).

Centrados agora no normativo para microentidades, procuramos fazer idêntico estudo relativo

ao impacto da NC-ME. Começamos por inquirir os TOC sobre o seu grau de concordância

com este normativo, sendo que cerca de 57% concorda com a NC-ME contra cerca de 20%

que discorda da sua utilização.

Perante estes valores, depreende-se que existe um menor grau de concordância com esta

norma, comparativamente com a NCRF-PE, eventualmente pelo facto de a sua publicação ter

sido feita tardiamente e com efeitos retroativos o que gerou, na altura, alguma polémica e

contestação por parte dos profissionais de contabilidade.

Quadro n.º 14: Concordância dos inquiridos com a NC-ME

Discordo Totalmente Discordo Concordo Concordo

Totalmente Sem

Opinião Sem

Resposta Total

55 132 541 137 85 6 957

5,7% 13,8% 56,5% 14,3% 9,0% 0,6% 100%

Relativamente ao nível de preparação mais de metade dos inquiridos consideram-se

"razoavelmente preparados" (68%), no entanto cerca de 17% dos inquiridos referem não se

sentirem preparados aquando da aplicação da NC-ME.

Um aspeto a salientar prende-se com a percentagem dos inquiridos que se dizem pouco

preparados para a aplicação desta norma, pois é exatamente igual à percentagem dos

Page 20: Normativo Contabilístico para Pequenas e Microentidades ... · destes normativos ao nível do relato financeiro, à ... outros instrumentos, a Norma Contabilística para Microentidades

20

inquiridos que se dizem pouco preparados para a aplicação da NCRF-PE anteriormente

analisada.

Quadro n.º 4: Nível de preparação dos inquiridos aquando da aplicação da NC-ME

Nada Preparado

Pouco Preparado

Razoavelmente Preparado

Bastante Preparado

Totalmente Preparado Total

21 140 651 121 24 957

2,2% 14,6% 68,0% 12,6% 2,5% 100%

Ao avaliarmos o grau de dificuldade sentida pelos inquiridos no momento da transição

verificamos que 64% consideram que não tiveram grande dificuldade, no entanto é de realçar

no que diz respeito a esta norma que uma percentagem menor dos inquiridos (24%) que

referiram sentir muita dificuldade quando comparada com a NCRF-PE, anteriormente

analisada. Sem dúvida que a menor complexidade subjacente ao normativo para

microentidades, permite justificar a maior facilidade na sua aplicação.

Quadro n.º 16: Grau de dificuldade sentida pelos inquiridos na transição para a NC-ME

Muito Difícil Difícil Sem

Dificuldade Fácil Muito Fácil Total

8 220 614 103 12 957

0,8% 23,0% 64,2% 10,8% 1,3% 100%

De forma idêntica à NCRF-PE, a formação do pessoal (22%), os custos envolvidos (21%), o

sistema informático (19%) e, por último, o processo contabilístico (12%) foram apontados por

um maior número de inquiridos como áreas com muito impacto decorrente da aplicação da

NC-ME

Quadro n.º 17: Impacto da aplicação da NC-ME em diferentes áreas

Nenhum Impacto

Pouco Impacto

Algum Impacto

Muito Impacto

Sem Opinião

Sem Resposta Total

Processo Contabilístico

35 251 470 111 63 27 957

3,7% 26,2% 49,1% 11,6% 6,6% 2,8% 100%

Sistema Informático

46 216 415 183 69 28 957

4,8% 22,6% 43,4% 19,1% 7,2% 2,9% 100%

Formação do Pessoal

31 181 429 211 78 27 957

3,2% 18,9% 44,8% 22,0% 8,2% 2,8% 100%

Page 21: Normativo Contabilístico para Pequenas e Microentidades ... · destes normativos ao nível do relato financeiro, à ... outros instrumentos, a Norma Contabilística para Microentidades

21

Custos Envolvidos

31 203 419 201 76 27 957

3,2% 21,2% 43,8% 21,2% 7,9% 2,8% 100%

Fonte: Elaboração Própria

Ao nível do impacto no processo contabilístico verificámos que os inquiridos apontam que o

maior impacto está na divulgação (14%), embora a maioria dos inquiridos referiram que NC-

ME provocou algum impacto em qualquer um dos momentos do processo contabilístico.

Quadro n.º 5: Impacto da NC-ME nas diferentes fases do processo contabilístico

Nenhum

Impacto

Pouco

Impacto

Algum

Impacto

Muito

Impacto

Sem

Opinião

Sem

Resposta Total

Reconhecimento 32 233 506 89 72 25 957

3,3% 24,3% 52,9% 9,3% 7,5% 2,6% 100%

Mensuração 34 246 467 112 73 25 957

3,6% 25,7% 48,8% 11,7% 7,6% 2,6% 100%

Divulgação 33 208 479 138 74 25 957

3,4% 21,7% 50,1% 14,4% 7,7% 2,6% 100%

Reiteramos a nossa opinião de que a menor complexidade da NC-ME quer ao nível do

reconhecimento e mensuração, mas em particular ao nível do relato financeiro, se traduz nesta

menor percentagem de respostas por parte dos TOC que considera um impacto significativo,

comparativamente com a NCRF-PE.

Debruçando-nos sobre as demonstrações financeiras, observamos que mais de metade

(52,5%) considera que a NC-ME não teve impacto ao nível da Demonstração dos Resultados

e no Anexo, ao passo que cerca de 34% refere que o impacto do novo normativo para as

microentidades é positivo.

Quadro n.º 6: Perceção dos inquiridos quanto ao impacto da aplicação da NC-ME na Demonstração dos Resultados e no Anexo no momento da transição

Muito

Negativo Negativo Sem Impacto Positivo

Muito

Positivo Total

5 1255 502 314 11 957

0,5% 13,1% 52,5% 32,8% 1,1% 100%

Ao nível das diferentes rubricas do Balanço, de forma similar à NCRF-PE, destacam-se os

Ativos Tangíveis, Ativos Intangíveis, Subsídios e Capital Próprio como as rubricas apontadas

pelos TOC com muito impacto na sequência da adoção das NC-ME.

Page 22: Normativo Contabilístico para Pequenas e Microentidades ... · destes normativos ao nível do relato financeiro, à ... outros instrumentos, a Norma Contabilística para Microentidades

22

Quadro n.º 7: Impacto da NC-ME nas rubricas do Balanço

Nenhum

Impacto

Pouco

Impacto

Algum

Impacto

Muito

Impacto

Sem

Opinião

Sem

Resposta Total

Ativos Tangíveis 42 252 424 145 69 25 957

4,4% 26,3% 44,3% 15,2% 7,2% 2,6% 100%

Ativos Intangíveis 39 215 403 193 81 26 957

4,1% 22,5% 42,1% 20,2% 8,5% 2,7% 100%

Rédito 59 272 420 96 84 26 957

6,2% 28,4% 43,9% 10,0% 8,8% 2,7% 100%

Inventários 63 293 418 78 79 26 957

6,6% 30,6% 43,7% 8,2% 8,3% 2,7% 100%

Locações 56 270 402 95 105 29 957

5,9% 28,2% 42,0% 9,9% 11,0% 3,0% 100%

Subsídios 59 225 393 128 123 29 957

6,2% 23,5% 41,1% 13,4% 12,9% 3,0% 100%

Benefício dos Empregados

74 246 381 98 130 28 957

7,7% 25,7% 39,8% 10,2% 13,6% 2,9% 100%

Capital Próprio 50 257 411 134 78 27 957

5,2% 26,9% 42,9% 14,0% 8,2% 2,8% 100%

Provisões 57 249 404 116 104 27 957

6,0% 26,0% 42,2% 12,1% 10,9% 2,8% 100%

3.2 Análise Bivariada

Como um dos objetivos do presente estudo versava em analisar e avaliar o preparação dos

TOC aquando da adoção da NCRF-PE e as NC-ME analisou-se a relação existente entre

algumas variáveis que poderiam influenciar as conclusões retiradas, nomeadamente as

habilitações académicas e tempo de exercício de funções dos TOC.

Tendo em conta o reduzido número de ocorrências nalgumas categorias ao nível das

habilitações literárias (por exemplo, 2º Ciclo, 3º Ciclo, Mestrado, Doutoramento; nada

preparado, totalmente preparado, etc.) procedeu-se à sua agregação, evitando células com

frequências inferiores a 5 unidades. No quadro seguinte apresentam-se as frequências

absolutas, que resultam do cruzamento das referidas variáveis.

Page 23: Normativo Contabilístico para Pequenas e Microentidades ... · destes normativos ao nível do relato financeiro, à ... outros instrumentos, a Norma Contabilística para Microentidades

23

Quadro n.º 8: Nível de preparação dos TOC vs Habilitações Literárias

Nada ou

Pouco

Preparado

Razoavelmente

Preparado

Bastante ou

Totalmente

Preparado

2.º Ciclo, 2.º Ciclo ou Secundário 38 116 14

Bacharelato 31 103 15

Licenciatura 83 335 84

Pós-Graduação, Mestrado ou Doutoramento 18 74 44

Procuramos, assim, ver se existe alguma associação entre o nível de preparação dos TOC para

aplicação dos novos normativos e as habilitações académicas que detêm.

Quadro n.º 9: Teste de independência: Nível de preparação dos TOC e Habilitações

Fonte: STATISTICA

O valor teórico da distribuição de Qui-quadrado (12,55) é obtido por consulta da respectiva

tabela (considerando 6 graus de liberdade e um nível de significância de 5%). A Hipótese de

independência é rejeitada para um nível de significância de 5% - ET = 42,78 > χ2 (6;α=0.05)

= 12,55, com um valor de prova p-value <0,000 (Siegel e Castellan, 2006). O valor do

coeficiente de associação é de 0,21.

O plano da Análise Factorial de Correspondências (Hair et al., 2009), da tabela anterior, sugere

uma proximidade entre:

- “Pós-Graduação_Mestrado_Doutoramento” e “Bastante_ou_Totalmente_preparado”;

- “Licenciatura” e “Razoavelmente_preparado”;

Page 24: Normativo Contabilístico para Pequenas e Microentidades ... · destes normativos ao nível do relato financeiro, à ... outros instrumentos, a Norma Contabilística para Microentidades

24

- 2ºCico_3ºCiclo_Secundário” e “Nada_ou_Pouco_preparado”

Fonte: STATISTICA

Este resultado permite pois concluir que quanto maior é o nível de habilitações dos inquiridos,

maior a o seu grau de preparação para aplicação dos novos normativos, sendo pois, na nossa

opinião, a aposta na formação como um fator decisivo para o sucesso da “reforma”

contabilística vivida em Portugal.

De igual forma, acreditamos que o nível de preparação dos TOC aquando da aplicação dos

atuais normativos pode estar relacionado com o tempo de exercício das funções de TOC.

Assim, procedemos ao mesmo teste para verificar a independência entre a preparação dos

TOC e o tempo de exercício de funções. Na tabela seguinte apresentam-se as frequências

absolutas, que resultam do cruzamento das referidas questões. Tendo em conta o reduzido

número de ocorrências nalgumas categorias (nada preparado, totalmente preparado) procedeu-

se à sua agregação, evitando células com frequências inferiores a 5 unidades. Procedeu-se,

também, à fusão das categorias “21 – 25 anos” e “mais de 25 anos”

Quadro n.º 10: Nível de preparação dos TOC e antiguidade de funções

Nada ou

Pouco

Preparado

Razoavelmente

Preparado

Bastante ou

Totalmente

Preparado

1 - 5 anos 45 108 23

6 - 10 anos 28 105 29

11 - 15 anos 36 126 38

16- 20 anos 24 103 21

Page 25: Normativo Contabilístico para Pequenas e Microentidades ... · destes normativos ao nível do relato financeiro, à ... outros instrumentos, a Norma Contabilística para Microentidades

25

Mais de 20 anos 37 186 48

A Hipótese de independência não é rejeitada para um nível de significância de 5% - ET =

13,18 < χ2 (8;α=0.05) = 15,51, com um valor de prova p-value <0,1058 (Siegel e Castellan,

2006).

Quadro n.º 24: Teste de independência: Nível de preparação e antiguidade de funções

Fonte: STATISTICA

O valor teórico da distribuição de Qui-quadrado (15,51) é obtido por consulta da respectiva

tabela (considerando 8 graus de liberdade e um nível de significância de 5). Tendo presente o

resultado de independência proporcionado pelo teste de Qui-quadrado, consideramos

interessante a visão gráfica proporcionada pelo plano da Análise Factorial de

Correspondências (Hair et al., 2009), da tabela anterior, que sugere uma proximidade entre:

- “6-10 anos, 11-15 anos” e “Bastante_ou_Totalmente_preparado”;

- “16-20 anos, mais de 20 anos” e “Razoavelmente_preparado”;

- “1-5 anos” e “Nada_ou_Pouco_preparado”

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Fonte: STATISTICA

Os resultados permitem comprovar que a reduzida experiência de alguns TOC (com menos

de 5 anos de exercício de funções) se reflete na preparação para a aplicação do novo

normativo, sendo que pessoas com maior antiguidade de funções sentem-se mais

“confortáveis” neste processo, fruto da experiência adquirida.

Conclusão

A internacionalização e a globalização das economias, em particular dos mercados financeiros,

conferiam uma grande urgência à necessidade de comparabilidade das demonstrações

financeiras a nível internacional e consequentemente à necessidade de harmonização das

normas de contabilidade.

No plano nacional, trinta anos após a aprovação do POC-89, e fruto do processo de

harmonização contabilística que se fazia sentir a nível internacional e, em particular na União

Europeia, assistiu-se à introdução de um novo Sistema de Normalização Contabilística (SNC),

que entrou em vigor em 2010 e consiste numa aproximação às normais internacionais de

contabilidade emitidas pelo IASB.

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Nesse sentido, o Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho responde simultaneamente pela

revogação do POC e pela criação do SNC, «(…) na linha da modernização contabilística

ocorrida na UE.» A CNC estabeleceu dois distintos níveis de normalização contabilística:

assim, e em conformidade com as diferentes necessidades de relato requeridas pelas entidades,

a CNC apresenta um novo conceito, o de pequenas entidades (ou de menor dimensão), para

de seguida as enquadrar num segundo grupo de entidades abrangidas pelo SNC.

Estava em causa a necessidade de, no âmbito do SNC, evitar exigências demasiado

dispendiosas para as entidades de menor dimensão, através de uma norma especificamente

destinada a tais entidades - a norma contabilística e de relato financeiro para as pequenas

entidades (NCRF-PE). Segundo os legisladores nacionais, de forma unitária e simplificada,

esta norma “(…) contempla os tratamentos de reconhecimento, de mensuração, de

apresentação e de divulgação que no cômputo dos consagrados nas NCRF, são considerados

como os pertinentes e mínimos a ser adotados.” (Albuquerque, 2011:33).

Contudo este normativo era, ainda assim, entendido como demasiado exigente para entidades

de reduzida dimensão, as microentidades, que que representam a maioria do tecido

empresarial português. Deste modo, a Lei n.º 35/2010, de 2 de Setembro veio criar um regime

especial simplificado de normas e informações contabilísticas para microentidades, sendo de

aplicação automática, desde que cumpridos os limites previstos na Lei n.º 35/2010. O regime

das microentidades contempla a NC-ME. Tal como a NCRF-PE, aquela norma vem apontar

os aspetos de reconhecimento, mensuração e divulgação considerados como requisitos

contabilísticos aplicáveis às microentidades, embora de uma forma mais simplista.

É neste sentido que surge o cerne do presente estudo. Ou seja, com a adoção do normativo

para as pequenas empresas e microentidades houve necessariamente mudanças de

procedimentos e de paradigmas. É neste sentido que nos propusemos a atingir os seguintes

objetivos: avaliar o preparação dos TOC aquando da adoção da NCRF-PE e da NC-ME e

analisar o impacto que este normativos tiveram ao nível do processo contabilístico e no relato

financeiro.

No que diz respeito à concordância com estes normativos, a maioria dos TOC inquiridos é

unânime ao afirmar que concorda, no entanto quando avaliamos a sua preparação verificamos

que a maioria apenas se sente razoavelmente preparado.

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Na opinião dos inquiridos o impacto destas normas faz-se sentir sobretudo ao nível da

divulgação da informação, embora as fases de reconhecimento e mensuração também tenham

sido referidas pelos TOC.

Ao nível das demonstrações financeiras, as rubricas do Balanço mais afetadas na sequência da

adoção das normas para pequenas e microentidades são os Ativos Intangíveis, Capital Próprio

e Subsídios.

No âmbito da análise bivariada, que procurou relacionar a antiguidade na profissão e

habilitações académicas com o nível de preparação dos TOC para adoção dos novos

normativos, os resultados apontam para uma maior importância da "preparação académica"

dos TOC do que o "tempo de profissão" quando confrontados com uma mudança de

normativos. Deste modo, a educação formal parece fornecer uma maior capacidade de

adaptação a novas situações, proporcionando as ferramentas adequadas para a resolução dos

novos problemas.

Estamos conscientes que este trabalho apresenta algumas limitações, em parte relacionadas

com obstáculos por nós enfrentados na prossecução do nosso estudo. A dificuldade de acesso

à informação financeira divulgada por empresas de pequena dimensão não permitiu a

comprovação dos impactos apontados pelos TOC, nomeadamente ao nível das

demonstrações financeiras. Deste modo, as nossas conclusões cingem-se às perceções dos

TOC inquiridos, sendo a subjetividade das respostas a questionários um dos pontos fracos a

apontar a esta técnica de investigação.

Por outro lado, a inexistência de estudos prévios especificamente sobre o impacto do

normativo para pequenas e microentidades torno impeditiva uma adequada análise

comparativa dos resultados.

Face ao exposto, como pistas de investigação futura, seria interessante realizar um número

significativo de estudos de caso, com empresas de diferentes setores de atividade, que nos

permitisse estudar com maior profundidade as implicações dos novos normativos na prática

contabilística e no relato financeiro das pequenas e microentidades portugueses.

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