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Noções de Direito Processual Penal 1 Inquérito policial. 1.1 Histórico, natureza, conceito, finalidade, características, fundamento, titularidade, grau de cognição, valor probatório, formas de instauração, notitia criminis, delatio criminis, procedimentos investigativos, indiciamento, garantias do investigado. 1.2 Conclusão, prazos. 2 Prova. 2.1 Exame do corpo de delito e perícias em geral. 2.2 Interrogatório do acusado. 2.3 Confissão. 2.4 Qualificação e oitiva do ofendido. 2.5 Testemunhas. 2.6 Reconhecimento de pessoas e coisas. 2.7 Acareação. 2.8 Documentos de prova. 2.9 Indícios. 2.10 Busca e apreensão para Agente da PCDF. Prof. Pietro Chidichimo e Prof. Alexandre Salim

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Noções de Direito Processual Penal

1 Inquérito policial. 1.1 Histórico, natureza, conceito, finalidade, características, fundamento, titularidade, grau de cognição, valor probatório, formas de instauração, notitia criminis, delatio criminis, procedimentos investigativos, indiciamento, garantias do investigado. 1.2 Conclusão, prazos. 2 Prova. 2.1 Exame do corpo de delito e perícias em geral. 2.2 Interrogatório do acusado. 2.3 Confissão. 2.4 Qualificação e oitiva do ofendido. 2.5 Testemunhas. 2.6 Reconhecimento de pessoas e coisas. 2.7 Acareação. 2.8 Documentos de prova. 2.9 Indícios. 2.10 Busca e apreensão para Agente da PCDF.

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Sumário SUMÁRIO..................................................................................................................................2

DIREITO PROCESSUAL PENAL.................................................................................................3

SÚMULAS ACERCA DO TEMA....................................................................................................33

QUESTÕES COMENTADAS PELO PROFESSOR..........................................................................35

LISTA DE QUESTÕES.................................................................................................................70

GABARITO .................................................................................................................... ..............85

RESUMO DIRECIONADO............................................................................................................ 86

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

SISTEMAS PROCESSUAIS.

Sistemas processuais

a) Sistema Inquisitivo: adotado pelo direito canônico a partir do século XIII, esse sistema posteriormente se propagou por toda a Europa, sendo empregada até pelos tribunais civis até o século XVIII. Tem como principal característica o fato de as funções de acusar, defender e julgar encontrarem-se concentradas em uma única pessoa, assumindo as vestes, assim, de um juiz acusador, chamado de juiz inquisidor.

Essa concentração de poderes nas mãos o juiz compromete, invariavelmente, a sua imparcialidade. De fato, há uma nítida incompatibilidade entre as funções de julgar e acusar. Afinal, o juiz que atua como acusador fica ligado psicologicamente ao resultado da demanda, perdendo a objetividade e a imparcialidade no julgamento.

Em virtude dessa concentração de poderes nas mãos do juiz, não há falar em contraditório, o qual sequer é concebido em virtude da falta de contraposição entre acusação e defesa. Ademais, o acusado permanecia encarcerado preventivamente, sendo mantido incomunicável.

Assim, é típico de sistemas ditatoriais, com processo judicial sigiloso, sem contraditório, reunindo na mesma pessoa as funções de acusar, defender e julgar. Observação: o inquérito policial é inquisitivo, mas não é imprescindível ao ajuizamento da ação penal (conteúdo informativo), aliás, não integra o processo penal propriamente dito (que só começa com o recebimento da ação penal), portanto não é exceção ao sistema acusatório.

O juiz é dotado de ampla iniciativa probatória, tendo liberdade para determinar de ofício a colheita da prova, seja no curso das investigações, seja no curso do processo penal, independente de sua proposição pela acusação ou pelo acusado.

A gestão das provas, assim, estava concentrada nas mãos do juiz que, a partir da prova do fato e tomando como parâmetro a lei, podia chegar à conclusão que quisesse.

No sistema inquisitorial, o acusado é mero objeto do processo, não sendo considerado sujeito de direitos.

b) Sistema Misto ou Francês: duas fases processuais distintas: a primeira fase é nitidamente inquisitiva, com instrução secreta e escrita, sem acusação e, por isso, sem contraditório. Nessa objetiva-se verificar a materialidade e autoria do fato.

Na segunda fase, de caráter acusatório, o órgão acusador apresenta a acusação, o réu se defende e o juiz julga, vigorando, em regra, a publicidade e a oralidade.

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c) Sistema Acusatório (Brasil):

Elementos que compõem o Sistema Acusatório:

1. Elemento único: onde há a separação entre acusador e julgador.

2. Tipos ideais (ou seja, onde só há elementos positivos): sistema formado pela imparcialidade judicial, igualdade entre as partes, princípios da oralidade, publicidade, contraditório, ampla defesa, etc.

3. Teoria da Gestão da Prova: sistema acusatório é aquele em que há a inércia judicial na fase probatória

Esta é a teoria adota pela PUCRS e IBCCRIM.

4. Teoria dos Elementos Fixos: sistema acusatório é aquele em que há a imprescindibilidade de um acusador diferente do juiz (= princípio acusatório), e onde o processo só se inicia com o ajuizamento da acusação.

Segundo o Doutor Mauro Fonseca Andrade, no Livro: Sistemas Processuais Penais e seus Princípios Reitores. 2ª ed. Curitiba: Juruá, 2013.

O STF ora se refere ao primeiro conceito, ora se refere ao segundo conceito.

Ele também afirma que o sistema acusatório é o vigente no Brasil, embora não haja qualquer disposição expressa nesse sentido. É por isso que ele se posiciona pelo sistema acusatório a partir de uma visão global de nosso ordenamento constitucional e infraconstitucional.

Entretanto, o STF se contradiz algumas vezes, ao admitir a investigação criminal presidida por juízes, que somente existe nos sistemas misto e inquisitivo.

Exemplos de investigação presidida por juízes: artigo 307, parte final do CPP (juiz lavrando auto de prisão em flagrante), Presidente do STF presidindo investigação relacionada aos crimes praticados nas dependências do STF, Poder Judiciário presidindo crimes praticados por magistrados.

INQUÉRITO POLICIAL: NATUREZA, INÍCIO E DINÂMICA.

- Investigação Preliminar:

Qual o conceito de inquérito policial?

É o procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade policial, com o objetivo de identificar fontes de prova e colher elementos de informação quanto à autoria e a materialidade da infração penal, a fim de permitir que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.

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- Qual a natureza jurídica do inquérito policial?

- É um procedimento administrativo, pois dele não resulta, ao menos diretamente, nenhuma sanção, ou seja, não é um processo judicial nem um processo administrativo.

- É inquisitório, ou seja, não está sujeito ao contraditório e à ampla defesa. Não é obrigatória a observância. Mas e o art. 7º, inciso XXI,”a”, Lei 8906? Mesmo após o advento da Lei 13245/16, pode-se dizer que não se sujeita ao contraditório e à ampla defesa, pois a CF é muito clara no inciso LV do art. 5º quando fala em “acusados em geral”, referindo-se, portanto, ao processo judicial (torna-se acusado quando é denunciado e a denúncia é recebida), e “processo judicial e administrativo”.

“Art. 7º São direitos do advogado:

XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração: (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)”

- É presidido pela autoridade policial - art. 2º da lei 12830/13.

“Art. 2º, CPP: As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.

§ 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais.

§ 2º Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos.

§ 3º (VETADO).

§ 4º O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente poderá ser avocado ou redistribuído por superior hierárquico, mediante despacho fundamentado, por motivo de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia da investigação.

§ 5º A remoção do delegado de polícia dar-se-á somente por ato fundamentado.

§ 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias.”

- Natureza do Crime e Atribuição para as Investigações:

- Crime militar da competência da Justiça Militar da União: Forças Armadas, por meio de um Inquérito Policial Militar.

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- Crime militar da competência da Justiça Militar Estadual: Polícia Militar ou Corpo de Bombeiros.

- Crime eleitoral: Polícia Federal, em regra. Se não houver delegacia da PF na cidade, não tem problema, pois, segundo o TSE não há óbice a que as investigações sejam levadas a efeito pela Polícia Civil.

- Crime “federal” (CF, art. 109, IV e ss.): Polícia Federal.

- Crime comum da competência da Justiça Estadual: em regra, é a Polícia Civil. Obs.: a PF também pode investigar, desde que o crime seja dotado de repercussão interestadual ou internacional, de acordo com a CF (art. 144, § 1º) e a Lei 10446/02 (além de todos os crimes citados na lei, a PF também pode investigar o crime de terrorismo, de acordo com o art. 11 da Lei 13260/16).

- Objetiva identificar fontes de prova e colher elementos de informação acerca da materialidade e da autoria da infração penal, com o objetivo de permitir que o titular da ação penal possa ingressar em juízo. Isso é o que chamamos de justa causa, que significa a existência de lastro probatório mínimo indispensável para o início de um processo. Além disso, o inquérito policial tem a função de fundamentar eventuais medidas cautelares, como buscas e apreensões, prisões, medidas cautelares pessoais e patrimoniais, etc.

- Quais as características do inquérito policial? – CAI MUITO EM PROVA!!!

1) Procedimento escrito: art. 9º, do CPP.

O inquérito policial pode ser gravado?

Art. 405, § 1º, CPP: “Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações”.

2) Procedimento dispensável: art. 39, § 5º, CPP - O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.

3) Procedimento sigiloso: art. 2º, CPP.

E o Princípio da Publicidade (art. 93, IX, CF = “todos os atos PROCESSUAIS serão públicos”)? Como já foi dito, IP não é processo. É procedimento, por isso que não há falar em absoluta aplicação do princípio da publicidade às investigações. A publicidade prejudica o trabalho investigatório, colocando em risco a coleta das fontes de prova.

- Em regra, o sigilo deve valer para o inquérito policial. Exceção: em algumas hipóteses, a publicidade pode ser útil para as investigações. Ex.: retrato falado.

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- Quem tem acesso ao procedimento investigatório? Juiz, MP. E o advogado? A CF assegura a todos nós a assistência de advogado (art. 5º, LXIII, CF = fala em preso, mas deve-se ler “imputado”, preso ou solto = máxima eficácia). Além disso, o EOAB prevê no inciso XIV do art. 7º: “XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital”. Ademais, a Súmula Vinculante nº 14 do STF dispõe que “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”.

- Qual a amplitude do acesso do advogado aos autos da investigação preliminar? Processo penal precisa ter equilíbrio. O acesso do advogado diz respeito às diligências já documentadas em procedimento investigatório, mas esse acesso não poderá abranger diligências ainda em andamento.

- EOAB, § 11º do art. 7º: “§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)”.

- Da necessidade de procuração: § 10º do EOAB = em regra, não precisa. Exceção: autos sujeitos sigilo. Ex.: art. 234-B (crimes sexuais); interceptações telefônicas.

- Consequências da negativa de acesso aos autos da investigação preliminar e instrumentos processuais a serem utilizados pelo defensor: se o delegado ou se o promotor se negarem a franquear o acesso, poderá caracterizar abuso de autoridade. O EOAB reforça isso. Assim, o advogado pode ingressar com uma petição dirigida ao juiz. Se ele também negar o acesso, pode-se imaginar em uma Reclamação Constitucional ao STF. O ideal seria impetrar um MS perante o TJ (o juiz como autoridade coatora). Não se descarta a possibilidade de HC, desde que a investigação verse sobre infração penal a qual tenha sido prevista a aplicação de pena privativa de liberdade. EOAB, art. 7º, § 12.

§ 12. A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, o fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve a retirada de peças já incluídas no caderno investigativo implicará responsabilização criminal e funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do advogado com o intuito de prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de requerer acesso aos autos ao juiz competente. (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)

- Des(necessidade) de autorização judicial para o acesso do advogado aos autos da investigação preliminar: em regra, não é necessária autorização. Exceção: Lei das Organizações Criminosas = o sigilo será decretado pelo próprio juiz. Art. 23 da Lei 12850/13.

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4) Procedimento inquisitorial: o que significa não haver devido processo legal, cujos desdobramentos são ampla defesa e contraditório.

5) Procedimento discricionário: discricionariedade significa liberdade de atuação dentro dos limites legais. O delegado tem discricionariedade para ouvir testemunhas, para deixar o interrogatório no começo ou no final, etc. Isso não significa arbitrariedade, que é agir ao arrepio da lei.

- As pessoas podem pedir diligências? Sim. Art. 14 do CPP. Serão realizadas ou não a juízo da autoridade.

- As diligências podem ser requisitadas pelo investigado? Não. A alínea "b" do inciso XXI do art. 7º do EOAB foi vetada.

- Discricionariedade do delegado não afasta eventuais requisições ministeriais. Esse poder do MP deriva da própria CF, art. 129, inciso VIII. O delegado é obrigado a atendê-las, desde que sejam pertinentes (não há hierarquia entre MP e Polícia. O delegado as atende por conta do Princípio da Obrigatoriedade = crime de ação penal pública = o aparato estatal é obrigado a agir). Ele não é obrigado quando forem ilegais.

- O art. 2º, § 3º, da Lei 12830/13, que dizia que o delegado conduziria a investigação de acordo com o seu livre convencimento técnico jurídico, com isenção e imparcialidade, foi VETADO. A redação dava a impressão de que o delegado não seria obrigado a atender as requisições ministeriais e de que apenas a polícia poderia investigar.

6) Procedimento indisponível: o inquérito não pode ser arquivado pelo próprio delegado de polícia. Só pode ser arquivado por meio de promoção do MP e posterior homologação pela autoridade judiciária. Art. 17 do CPP.

7) Procedimento temporário: não pode durar para sempre.

- Quando se trata de investigado preso, o prazo para conclusão do inquérito é de 10 dias.

Improrrogável.

- Quando se trata de investigado solto, o prazo para conclusão é de 30 dias. Prorrogável de maneira sucessiva.

- A jurisprudência moderna vem dizendo que ao inquérito também se aplica a Garantia da Razoável Duração do Processo (STJ, HC 96666/MA) - pergunta já feita em prova objetiva.

- O que é “notitia criminis”?

É o conhecimento, espontâneo ou provocado, por parte da autoridade policial, acerca de um fato delituoso.

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Espécies:

1) De cognição imediata (espontânea): a autoridade policial toma conhecimento do crime através de suas atividades rotineiras.

2) De cognição mediata (provocada): a autoridade policial toma conhecimento do crime através de um expediente escrito (que pode ser, inclusive, uma requisição ministerial).

Cuidado: o CPP diz, no art. 5º, que o juiz poderia requisitar a instauração = incompatível com o Sistema Acusatório e com a garantia da imparcialidade. O ideal é concluir que, como juiz, deve dar vista ao MP, deixando nas mãos do MP a requisição do inquérito policial.

3) De cognição coercitiva: a autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso através da apresentação de indivíduo preso em flagrante.

4) A doutrina também faz referência à “Notitia Criminis” inqualificada (o que significa denúncia anônima): posso instaurar um IP com base em uma denúncia anônima? A CF dispõe que é vedado o anonimato. A doutrina e a jurisprudência entendem que a denúncia anônima, por si só, não pode dar ensejo à instauração de um IP. No entanto, será efetuada uma averiguação preliminar. Se houver procedência, o IP poderá ser instaurado (HC 95244, STF).

- Identificação criminal.

Abrange pelo menos três espécies de identificação. É gênero, do qual são espécies:

1) Identificação Fotográfica: feita por meio de fotografias de frente, tamanho 3x4. Não é um método seguro, pois a fisionomia vai mudando com o tempo, além disso as fotografias podem ser manipuladas.

2) Identificação Datiloscópica: coleta de impressões digitais. É segura, pois a digital é imutável. Mário Sérgio Sobrinho diz que as impressões digitais começam a ser formadas no terceiro mês de gestação e vão com o ser humano até depois de sua morte (até o cadáver entrar em estado de putrefação).

3) Identificação do Perfil Genético: introduzida recentemente pela Lei 12654/12. Por meio da coleta e realização de exames de DNA, é praticamente impossível que uma pessoa seja confundida com outra. A coleta deve ser feita à luz do Princípio da Não-Autoincriminação (não se pode amarrar a pessoa para coletar sangue, por ex.).

- Pode ser feita a identificação de todo e qualquer indivíduo? Art. 5º, LVIII: “o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”.

Conclusão 1: se o indivíduo não se identificar civilmente pode ser submetido à identificação criminal.

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Conclusão 2: ainda que identificado civilmente, pode ser submetido à identificação criminal nas hipóteses previstas em lei. Trata-se da Lei 12037/09.

- Hipóteses em que pode ocorrer identificação criminal independentemente de anterior identificação civil:

Documento com rasura ou indício de falsificação;

Documento insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;

O indivíduo portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes;

A identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho de autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa.

- Obs.: o inciso IV é o único que exige autorização judicial! O ideal é defender que o juiz não pode agir de ofício nas investigações preliminares.

Constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações;

O estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade de expedição do documento impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.

- Identificação do Perfil Genético: a Lei 12.654/12 alterou a Lei 12.037/09 e a Lei de Execuções Penais.

O art. 5º, parágrafo único, foi incluído pela Lei. Dispõe que, na hipótese do inciso IV (“a identificação criminal for essencial às investigações”), a identificação criminal poderá incluir a coleta de material biológico para a obtenção do perfil genético. Assim, a coleta de material biológico necessita de autorização judicial. Pode ser feita em relação a todo e qualquer delito, desde que se encaixe ao que dispõe o inciso IV.

- Não confundir a identificação do perfil genético, que foi incluída na lei 12037, com a que foi introduzida na Lei de Execução Penal (art. 9º-A).

1) na LEP a identificação do perfil genético NÃO depende de autorização judicial, é compulsória; 2) na LEP o indivíduo deverá ter sido condenado, o crime deverá ser doloso, deverá ter havido violência de natureza grave contra a pessoa ou o crime deverá ter sido hediondo (= rol taxativo de delitos).

- Existe incomunicabilidade?

Prevalece na doutrina o entendimento de que o art. 21 do CPP não foi recepcionado pela ordem constitucional vigente. Forte argumento nesse sentido é encontrado no art. 136, § 3°, inc. IV, da Constituição

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Federal, que veda a incomunicabilidade do preso até mesmo na vigência do estado de defesa, que importa uma situação excepcional, cuja decretação é cabível quando a ordem pública ou a paz social estiverem ameaçadas “por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza”, segundo o texto constitucional. Além disso, o art. 5°, inc. LXII da Carta assegura que “a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada”. Como seria possível coexistirem a restrição à comunicação externa e o direito de comunicação, do preso, com a família e com o advogado? Isso explica o fato de o instituto da incomunicabilidade, nos dias de hoje, ter caído no mais absoluto esquecimento (Rogério Sanches).

- O que é indiciamento?

Consiste em atribuir a alguém a autoria ou a participação em determinada infração penal. A partir do momento em que se é indiciado, ganha-se um status de indiciado (suspeito -> investigado -> indiciado) e uma estigmatização perante a sociedade.

- Momento para o indiciamento.

Pode ser feito apenas na fase investigatória. Em tese, já se pode indiciar na própria lavratura do auto de prisão em flagrante até o momento da elaboração do relatório. Recebida a denúncia, não é mais possível fazer o indiciamento (STJ, HC 182455).

- Quais os pressupostos?

Prova da existência do delito; Indícios de autoria ou de participação.

- De quem é a atribuição?

É privativa do delegado de polícia. Não pode ser objeto de requisição do juiz ou do Ministério Público (Lei 12.830/13, art. 2º, § 6º).

- Sujeito Passivo: quem pode ser indiciado?

Em regra, qualquer pessoa pode ser indiciada.

- Exceções:

1) Membros do MP e Magistratura = existe vedação legal expressa. Se houver indícios da prática de delitos por parte de tais autoridades, os autos da investigação, de imediato, deverão ser

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encaminhados ao Presidente do Tribunal ou ao Procurador-Geral para que as investigações tenham prosseguimento.

2) Autoridades dotadas de foro por prerrogativa de função: STF entendeu que eventual indiciamento (e até mesmo as investigações) depende de prévia autorização Ministro-Relator do tribunal competente. Portanto, se a investigação contra titular de foro por prerrogativa de função for levada adiante sem a supervisão do Tribunal competente, os elementos de informação obtidos pela autoridade policial devem ser considerados ilícitos. Nesse contexto: STF, Pleno, Inq. 2842/DF.

Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno. (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)

- Conclusão do inquérito policial.

Prazo para a conclusão do IP: art. 10, do CPP.

Se preso: 10 dias, improrrogáveis,

Obs.: qual a consequência se ultrapassar o prazo de 10 dias? Segundo a jurisprudência, a contagem do prazo é feita de maneira global. Não se conta um prazo de maneira individualizada. Os dias de excesso podem ser compensados ao longo da instrução processual.

Se solto: 30 dias, prorrogáveis.

- Natureza Jurídica do Prazo: penal ou processual?

Se for penal, o dia de início é incluído no cômputo e é fatal e improrrogável. Se for processual, exclui-se o dia de início e é prorrogável até o próximo dia útil. Alguns doutrinadores defendem que, quando o indivíduo está preso, o prazo é de natureza penal (Nucci). Renato Brasileiro não concorda. Segundo ele, não se pode confundir o prazo de prisão com o prazo do inquérito. Para ele, o ideal é entender que o prazo de prisão é de natureza penal, mas o prazo para a conclusão do inquérito é de natureza processual penal, ainda que o indivíduo esteja preso.

- Relatório da autoridade policial.

Peça de caráter descritivo, em que o Delegado de Polícia descreve as principais diligências realizadas na fase investigatória. Não é uma peça obrigatória. A denúncia poderá ser oferecida independentemente dele. Em tese, o delegado não deve fazer um juízo de valor.

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Exceção: Lei de Drogas – Lei 11.343/06

“Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo:

I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente; ou

II - requererá sua devolução para a realização de diligências necessárias (...)”

- Quem são os destinatários dos autos do inquérito policial?

- De acordo com o CPP, concluído o IP, deverão os autos ser encaminhados ao juiz competente (art. 10, § 1º).

Por essa razão, nos últimos anos, resoluções, portarias e provimentos dos próprios tribunais têm retirado a tramitação polícia -> poder judiciário, estabelecendo uma tramitação direta entre polícia -> MP, salvo se houver necessidade de intervenção do judiciário.

Ex.: se o réu estiver preso, tem que passar pelo juiz para marcar a audiência de custódia; se tem necessidade de uma medida de busca domiciliar, tem que passar pelo juiz. Problema: o assunto começou a chegar nos tribunais superiores e cada um entende de uma forma.

- Quais as providências a serem adotadas pelo Ministério Público ao ter vista dos autos do Inquérito Policial?

- Pode ser que o crime investigado seja de ação penal privada = promotor deverá encaminhar os autos ao juiz, para que se aguarde iniciativa do ofendido.

- Se o crime for de ação penal pública, o promotor poderá agir nos seguintes sentidos:

1) Oferecimento de denúncia;

2) Promoção de arquivamento;

3) Requisição de diligências (as requisições de diligências deverão ser feitas diretamente ao Delegado de Polícia, salvo quando houver necessidade de intervenção judicial);

4) Declinação da competência = o promotor pode entender que o juízo perante o qual atua não tem competência para o julgamento daquela demanda. Pedirá, então, para que o juiz decline da competência. Ex.: crime de moeda falsa = competência da Justiça Federal = pedido de declinação da competência dirigido ao juiz. Obs.: não confundir a declinação da competência (que é a primeira manifestação no sentido da incompetência do juízo) com o conflito de

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competência (outra autoridade jurisdicional já terá se manifestado no sentido da incompetência), que será analisado no próximo item.

5) Suscitação de Conflito de Competência = ex.: seguindo o exemplo anterior, o procurador da república recebe os autos e entende que não é crime de moeda falsa, pois se trata de falsificação grosseira e, segundo a Súmula 73 do STJ, pode tipificar o crime de estelionato, de competência da Justiça Estadual. O Juiz Federal, no entanto, não poderá declinar de novo da competência, pois o Juiz Estadual já havia se pronunciado no sentido da sua incompetência. Agora, como já houve prévia manifestação da JE, o Juiz Federal deverá, provavelmente a pedido do MPF, suscitar conflito de competência = conflito entre dois ou mais órgãos jurisdicionais quanto à competência.

Até quando o conflito de competência pode ser suscitado? Atenção para o limite temporal previsto na Súmula 59 do STJ = não há conflito de competência se já existe sentença com trânsito em julgado proferida por um dos juízos conflitantes.

Quem é competente para decidir o conflito de competência? Basta subir na hierarquia do Poder Judiciário e encontrar um órgão jurisdicional superior que seja comum aos dois juízos conflitantes. Exemplos:

Juiz da Comarca de Cabo Frio/RJ x TJ/RJ: não há conflito, pois aquele está subordinado a este. Juiz Federal do MS x Juiz Federal de SP: TRF da 3ª Região.

Juiz de Direito do JECRIM/BH x Juiz de Direito da Vara Criminal/BH: TJ/MG (Súmula 428/STJ - “Compete ao Tribunal Regional Federal decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal e juízo federal da mesma seção judiciária”).

Juiz de Direito da Vara Criminal/RS x Juiz de Direito do Juízo Militar/RS: STJ, pois aquele está subordinado ao TJ/RS; este, ao TJM/RS (obs.: TJM só tem em MG, SP e RS. Se o exemplo trouxesse um estado que não tem tribunal militar, a resposta seria diferente. Ex.: Juiz de Direito da Vara Criminal do ES x Juiz de Direito do Juízo Militar/ES: quem apreciará o conflito será o TJ/ES).

- Não confundir conflito de competência (envolve autoridades judiciárias) e conflito de atribuições (envolve autoridades administrativas, como Polícia e MP. É o que se estabelece entre dois ou mais órgãos do MP que possuem responsabilidade ativa para a persecução penal. Há quem chame de “conflito virtual de competência” = todo promotor acaba atuando perante determinado juízo. Se há promotores em conflito, significa que virtualmente há um conflito de competência). Quem decide o conflito de atribuições? Exemplos:

MP/RR x MP/RR: Procurador-Geral de Justiça de Roraima. MPF/BA x MPF/PE: Câmara de Coordenação e Revisão do MPF.

MPM x MPF: Procurador-Geral da República (como chefe do MPU).

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MPF/RS x MP/SC: Procurador-Geral da República (STF, ACO 924). Obs.: Renato Brasileiro não concorda, pois o PGR não é superior hierárquico em relação aos MP dos Estados, pois é chefe do MP da União.

- Arquivamento do inquérito policial.

- Apesar de haver Súmula do STF dizendo que se trata de mero despacho, a doutrina entende que se trata de DECISÃO JUDICIAL (é capaz de produzir coisa julgada, seja formal, seja material) CONSENSUAL (pois, num primeiro momento, haverá um pedido do MP, denominado de “promoção de arquivamento”, que será levado à apreciação do juiz).

- O arquivamento do IP é uma decisão judicial, muito embora ainda não haja um processo judicial em curso. Ele depende de pedido de promoção de arquivamento feito pelo MP, que será apreciado pelo juiz.

- Não pode ser determinado de ofício pela autoridade judiciária. (é necessária a promoção de arquivamento), nem mesmo em se tratando de processo de competência originária dos tribunais. STF, Pleno, Inq. 2913 AgR/MT.

INQUÉRITO. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. PARLAMENTAR. NOMEAÇÃO DE FUNCIONÁRIO PARA O EXERCÍCIO DE FUNÇÕES INCOMPATÍVEIS COM O CARGO EM COMISSÃO OCUPADO. POSSIBILIDADE, EM TESE, DE CONFIGURAÇÃO DO CRIME DE PECULATO DESVIO (ART. 312, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL). ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO DE OFÍCIO, SEM OITIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO ACUSATÓRIO. DOUTRINA. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL CONHECIDO E PROVIDO. 1. O sistema processual penal acusatório, mormente na fase pré-processual, reclama deva ser o juiz apenas um “magistrado de garantias”, mercê da inércia que se exige do Judiciário enquanto ainda não formada a opinio delicti do Ministério Público. 2. A doutrina do tema é uníssona no sentido de que, verbis: “Um processo penal justo (ou seja, um due process of law processual penal), instrumento garantístico que é, deve promover a separação entre as funções de acusar, defender e julgar, como forma de respeito à condição humana do sujeito passivo, e este mandado de otimização é não só o fator que dá unidade aos princípios hierarquicamente inferiores do microssistema (contraditório, isonomia, imparcialidade, inércia), como também informa e vincula a interpretação das regras infraconstitucionais.” (BODART, Bruno Vinícius Da Rós. Inquérito Policial, Democracia e Constituição: Modificando Paradigmas. Revista eletrônica de direito processual, v. 3, p. 125-136, 2009). 3. Deveras, mesmo nos inquéritos relativos a autoridades com foro por prerrogativa de função, é do Ministério Público o mister de conduzir o procedimento preliminar, de modo a formar adequadamente o seu convencimento a respeito da autoria e materialidade do delito, atuando o Judiciário apenas quando provocado e limitando-se a coibir ilegalidades manifestas. 4. In casu: (i) inquérito destinado a apurar a conduta de parlamentar, supostamente delituosa, foi arquivado de ofício pelo i. Relator, sem prévia audiência do Ministério Público; (ii) não se afigura atípica, em tese, a conduta de Deputado Federal que nomeia funcionário para cargo em comissão de natureza absolutamente distinta das funções efetivamente exercidas, havendo juízo de possibilidade da configuração do crime de peculato-desvio (art. 312, caput, do Código Penal). 5. O trancamento do inquérito policial deve ser reservado apenas para situações excepcionalíssimas, nas quais não seja possível, sequer em tese, vislumbrar a ocorrência de delito a partir dos fatos investigados. Precedentes (RHC 96713, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 07/12/2010; HC 103725, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Segunda Turma, julgado em 14/12/2010; HC 106314,

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Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 21/06/2011; RHC 100961, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 06/04/2010). 6. Agravo Regimental conhecido e provido.

- Fundamentos para o arquivamento: a lei não fala de forma expressa, mas sim de maneira implícita, pois, segundo a doutrina, os fundamentos podem ser extraídos de dois dispositivos do CPP: arts. 395, incisos II e III, e 397.

“Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:

I - for manifestamente inepta;

II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). = JUSTA CAUSA = LASTRO PROBATÓRIO.”

“Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:

I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;

II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; = O INIMPUTÁVEL DEVE SER DENUNCIADO E AO FINAL SER ABSOLVIDO DE FORMA IMPRÓPRIA.

III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou = ATIPICIDADE FORMAL OU MATERIAL (ex.: Princípio da Insignificância)

IV- extinta a punibilidade do agente.

- Coisa Julgada na Decisão de Arquivamento:

Haverá coisa julgada formal quando visualizarmos que a decisão de arquivamento apresentou fundamento de natureza processual (art. 395). Em tese, é possível o desarquivamento. Ex.: estupro = vítima representou e se retratou = arquivamento do IP por ausência de condição. Vítima volta atrás e resolve apresentar representar. A condição que estava ausente, passou a se fazer presente = desarquivamento.

Haverá coisa julgada material quando visualizarmos que a decisão de arquivamento apresentou fundamento de mérito (art. 397). Não será mais possível o desarquivamento.

- Desarquivamento do IP e Oferecimento de Denúncia:

Desarquivamento nada mais é do que a reabertura das investigações. Pressuposto básico: notícia de provas novas.

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Oferecimento da Denúncia: precisará, efetivamente, de provas novas = capazes de alterar o contexto probatório dentro do qual foi proferida a decisão de arquivamento. Súmula 524 do STF (“Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas”). Podem ser: Formalmente Novas (já eram conhecidas, mas agora ganharão uma nova versão. Ex.: testemunha que havia prestado depoimento resolve mudar a versão) e Substancialmente Novas (eram desconhecidas pelo Estado, mas agora foram encontradas).

- Como é o procedimento de arquivamento na Justiça Estadual?

Art. 28 do CPP: O promotor apresenta uma promoção de arquivamento ao juiz. Se o juiz não concordar, manda para p Procurador-Geral de Justiça que poderá:

1) Requisitar diligências;

2) Oferecer denúncia (ele mesmo ou designa outro órgão do MP para oferecer = não pode ser o mesmo promotor que fez a promoção, sob pena de violação à independência funcional. Há duas correntes quanto à obrigatoriedade de o outro órgão oferecer: uma sustenta que o promotor não é obrigado, valendo- se da independência funcional; outra, que prevalece, defende que ele é obrigado, pois atua por delegação, como “longa manus” do PGJ);

3) Insistir no arquivamento do IP (caso em que o juiz está obrigado a arquivar).

- O que é Arquivamento Implícito?

Ocorre quando o MP deixa de incluir na denúncia algum fato delituoso ou algum investigado, sem se manifestar expressamente sobre o arquivamento. Assim, o promotor oferece denúncia e deixa de fazer uma promoção de arquivamento em relação a um fato (arquivamento implícito objetivo) ou um investigado (arquivamento implícito subjetivo) não incluído na denúncia. Não é admitido pela doutrina e pela jurisprudência, pois todas as manifestações ministeriais devem ser fundamentadas. Se o MP não se manifestar sobre algum fato ou algum investigado, o juiz deve devolver os autos para que o promotor se pronuncie quanto a isso. Se ele não fizer nada, deverá aplicar o art. 28, remetendo os autos ao PGJ (STF, RHC 95141).

- O que é Arquivamento Indireto?

Ocorre quando o promotor de justiça deixa de oferecer denúncia por entender que o órgão jurisdicional perante o qual atua não tem competência para o julgamento do feito. Ex.: promotor recebe os autos do IP e se manifesta no sentido da declinação da competência. A declinação da competência vai para as mãos do juiz, que não concorda e considera improcedentes as razões invocadas. O juiz não pode obrigar o promotor a oferecer a denúncia, razão pela qual deverá aplicar o art. 28 do CPP (STJ, CAT 225/MG).

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- Cabe recurso da decisão de arquivamento?

Em regra, a decisão judicial de arquivamento é irrecorrível. NÃO cabe ação penal privada subsidiária da pública.

- Arquivamento Determinado por Juízo Absolutamente Incompetente.

Produz coisa julgada, formal e/ou material, a depender de seu fundamento. STF, HC 83346.

- Trancamento (ou encerramento anômalo) do inquérito policial.

Trata-se de medida de força que acarreta a extinção prematura das investigações quando a mera tramitação do inquérito configurar constrangimento ilegal.

Hipóteses autorizadoras:

1) Atipicidade, seja formal, seja material;

2) Causas extintivas da punibilidade;

3) Instauração de inquérito em crime de ação penal privada ou pública condicionada sem a manifestação do ofendido.

- Qual o instrumento adequado?

O HC só pode ser manejado quando houver risco ou ameaça à liberdade de locomoção. Se à infração penal não for cominada pena privativa de liberdade, não haverá risco à liberdade de locomoção, será cabível Mandado de Segurança (ex.: art. 28 da Lei de Drogas).

- O Procedimento Policial nos Juizados Especiais Criminais.

Termo Circunstanciado (de Ocorrência): é uma novidade trazida pela Lei 9099/95. Ideia de celeridade e economia também na fase investigatória. Em regra, deixa-se de lado o inquérito policial, que é substituído por algo mais simples, o TC. Pode instaurar o IP se o caso for de maior complexidade. Não há óbice à instauração do IP.

Conceito: trata-se de um relatório sumário da Infração de Menor Potencial Ofensivo (IMPO), contendo a identificação das partes envolvidas, a menção à infração praticada, bem como todos os dados básicos e fundamentais que possibilitem a perfeita individualização dos fatos, a indicação das provas, visando à formação da “opinio delicti” pelo titular da ação penal. Previsão legal: art. 69 da Lei.

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- Situação de Flagrante e IMPO (parágrafo único do art. 69, Lei 9.099/95):

1) A pessoa será capturada;

2) Depois vai haver a condução coercitiva;

3) Caso se tratasse de crime comum, em tese, deveria haver a lavratura de auto de prisão em flagrante (APF). Todavia, em se tratando de IMPO, ao invés de lavrar o APF, lavra-se o TC e a pessoa vai embora;

4) A lavratura do TC está condicionada ao fato de o indivíduo ser imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer. E se a pessoa não quiser assumir o compromisso de comparecer? Lavrar-se-á o APF = e, provavelmente, pagará fiança arbitrada pelo próprio delegado.

- Fase Preliminar dos Juizados Especiais Criminais.

1) Composição Civil dos Danos: art. 74 da Lei 9099. O parágrafo único fala somente da ação penal privada e a ação pública condicionada à representação (renúncia ao direito de queixa ou representação = com a homologação do acordo pelo juiz, e não com o pagamento).

E se o acordo foi homologado e não houver pagamento? Como houve renúncia ao direito, houve extinção da punibilidade. O máximo que poderá ser feito é buscar a execução do título.

E nos casos de ação pública incondicionada? Também admitem a composição dos danos civis. A Lei 9099 não prevê nenhum benefício, mas podemos pensar na figura do arrependimento posterior do CP (art. 16 = até o recebimento da denúncia).

2) Oferecimento da representação: art. 75 da Lei. Oferecida em uma audiência preliminar, caso não obtida a composição dos danos civis. O não oferecimento da representação na audiência preliminar não implica decadência do direito.

O fato de a vítima não ter comparecido para oferecer representação não implica decadência. Isso só ocorrerá no prazo previsto em lei = qual seria? Há quem diga que o prazo seria de 30 dias (pois é o previsto no art. 91 da Lei). Não é a melhor orientação, pois tal prazo foi criado exclusivamente para os processos que já estavam em andamento. A maioria da doutrina diz que é o prazo do art. 38 do CPP = prazo decadencial de 06 meses, a partir do conhecimento da autoria.

3) Transação Penal: art. 76 da Lei. Aplicação imediata de Pena Restritiva de Direitos (PRD) ou MULTA (não importará em reincidência, sendo registrada para impedir novo benefício no prazo de 05 anos).

Conceito: é um acordo celebrado entre o titular da ação penal e o autor do delito de menor potencial ofensivo, sempre assistido por seu defensor, objetivando a aplicação imediata de PRD OU MULTA, evitando- se, assim, a instauração do processo.

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Não gera reincidência.

Não gera efeitos civis = não estamos diante de sentença condenatória transitada em julgado como requer o CPP.

Espécie de mitigação ao Princípio da Obrigatoriedade (art. 24 do CPP): quando o indivíduo preencher os requisitos, o MP não estaria obrigado a oferecer denúncia.

- Quais os requisitos?

Ser um infração de menor potencial ofensivo (IMPO); não ser caso de arquivamento do termo circunstanciado; não ter sido o autor da infração condenado pela prática de CRIME à PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE por SENTENÇA DEFINITIVA (transitada em julgado); não ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de 05 anos, pela transação penal; antecedentes, conduta social, personalidade do agente, bem como os motivos e circunstâncias do delito favoráveis ao agente.

- Legitimidade para oferecimento da proposta de transação: quem pode propor a transação penal?

A proposta de transação penal não pode ser concedida “ex officio” pelo juiz. O art. 76, “caput”, fala em “havendo representação (ação penal pública condicionada) ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada” = só faz referência à ação penal pública e Ministério Público.

- Recusa injustificada por parte do titular da ação penal em oferecer proposta de transação penal. conforme já referido, o juiz não pode “ex officio”. Se a recusa for por parte do ofendido nos crimes de ação penal privada, não há nada a fazer (Princípios da Disponibilidade e Oportunidade). Se a recusa for por parte do MP nos crimes de ação penal pública, aplica-se o art. 28 do CPP (Princípio da Devolução. Aplicação da Súmula 696 do STF também à transação penal: “Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal”).

- Qual o momento para oferecimento da proposta de transação penal?

Em regra, a transação penal é apresentada para o autor do delito antes do oferecimento da peça acusatória. Em situações excepcionais, a transação (e a suspensão condicional do processo) pode ser oferecida durante o processo. Ex.: casos de desclassificação; casos de procedência parcial da pretensão punitiva (denunciado por furto qualificado por emprego de chave falsa = na instrução, todos os ouvidos falam que não houve chave falsa = o promotor pede para excluir a qualificadora e oferece suspensão condicional do processo). A Súmula 337 do STJ também se aplica à transação penal: “É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva”.

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Descumprimento injustificado do acordo homologado de transação penal: Súmula Vinculante 35 do STF: “A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público (ou querelante) a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia (ou queixa) ou requisição de inquérito policial (termo circunstanciado)”.

- O Procedimento Policial Aplicável ao Ato Infracional.

Divide-se em Fase Investigatória e Fase Judicial (ação socioeducativa).

Fase Investigatória:

- Flagrante de Ato Infracional (artigos 172 a 176 do ECA):

O adolescente em flagrante é apresentado à autoridade policial (ele é APREENDIDO).

A autoridade policial formaliza a apreensão, necessariamente, por meio de:

- AUTO DE APREENSÃO DE ADOLESCENTE, se for ato infracional cometido com violência ou grave ameaça à pessoa;

- BOLETIM DE OCORRÊNCIA CIRCUNSTANCIADO, se for ato infracional cometido sem violência ou grave ameaça.

Em regra, libera-se o adolescente aos pais ou responsáveis sob termo de compromisso de apresentar-se ao MP no mesmo dia ou no primeiro dia útil seguinte. Excepcionalmente, mantém-se o adolescente apreendido se, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer internado para garantia da ordem pública ou para a sua segurança pessoal.

Se mantiver o adolescente apreendido, o delegado o apresentará imediatamente ao membro do MP. Não sendo possível essa apresentação imediata, o delegado o encaminhará a uma entidade de atendimento, que fará a apresentação ao MP em até 24h. E se não existir entidade de atendimento? O adolescente será mantido na repartição policial, necessariamente separado dos maiores, e será apresentado em até 24h ao MP.

PROVAS NO PROCESSO PENAL.

- Conceitos.

Prova: é todo elemento pelo qual se procura mostrar a existência e a veracidade de um fato. Sua finalidade, no processo, é influenciar no convencimento do julgador.

Elemento de prova: todos os fatos ou circunstâncias em que reside a convicção do juiz. Ex.: depoimento de testemunha; resultado de perícia; conteúdo de documento.

Meio de prova: instrumentos ou atividades pelos quais os elementos de prova são introduzidos no processo. Ex.: testemunha, documento, perícia.

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Fonte de prova: pessoas ou coisas das quais possa se conseguir a prova. Ex.: denúncia.

Meio de investigação da prova: procedimento que tem o objetivo de conseguir provas materiais. Ex.: busca e apreensão; interceptação telefônica.

Objeto de prova: fatos principais ou secundários que reclamem uma apreciação judicial e exijam uma comprovação.

- Princípios.

Contraditório: prova, tecnicamente é aquela colhida sob o crivo do contraditório, com a atuação das partes;

Imediatidade do juiz: a prova deve ser colhida perante o juiz e, como regra, esse juiz irá julgar (identidade física do juiz);

Concentração: em regra as provas devem ser produzidas em uma única audiência;

Comunhão das provas: uma vez produzida, a prova pode ser utilizada por ambas as partes; não há “dono” da prova.

Fatos que independem de prova.

Fatos axiomáticos ou intuitivos: são os fatos evidentes. Exemplo: em um desastre de avião, encontra-se o corpo de uma das vítimas completamente carbonizado. Desnecessário provar que estava morta;

Fatos notórios: são os de conhecimento geral em determinado meio. Exemplo: não é necessário provar que o Brasil foi um Império;

Presunções legais: verdades que a lei estabelece. Podem ser absolutas (juris et de iure), que não admitem prova em contrário, ou relativas (juris tantum), que admite prova em contrário. Exemplo: menor de 18 anos é inimputável.

* o fato incontroverso não dispensa a prova – busca da verdade real

* não é preciso provar o Direito, pois, se seu conhecimento é presumido por todos, principalmente do juiz, aplicador da Lei.

Como exceção à regra, será necessário provar:

a) leis estaduais e municipais;

b) leis estrangeiras;

c) normas administrativas;

d) costumes.

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Ônus da prova.

É o encargo que as partes têm de provar os fatos que alegam. Nos termos do art. 156 do Código de Processo Penal, o ônus da prova incumbe a quem fizer a alegação.

De acordo com a doutrina tradicional: cabe à acusação provar a existência do fato criminoso e de causas que implicar aumento de pena, a autoria e também a prova dos elementos subjetivos do crime (dolo ou culpa).

Ao réu, por sua vez, cabe provar excludentes de ilicitude, de culpabilidade e circunstâncias que diminuam a pena.

Os poderes instrutórios do juiz também estão no art. 156 do CPP. O juiz pode, de ofício:

I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;

II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

- Sistemas de apreciação da prova.

Prova legal ou tarifado: as provas têm valor preestabelecido. Aparece em nosso ordenamento como exceção, no art. 158 do CPP.

Convicção íntima do juiz ou certeza moral: juiz é livre para apreciar a prova e não precisa fundamentar sua decisão. Vigora em nosso ordenamento, como exceção, no julgamento pelo Tribunal do Júri.

Livre convencimento motivado do juiz ou persuasão racional: é o sistema adotado como regra pelo nosso Direito, conforme art. 155, caput, do Código de Processo Penal, conjugado com o art. 93, IX, da Constituição da República.

Art. 93, IX, da CF: todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação

Art. 155, caput, do CPP: O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.

Prova emprestada.

A maior parte da doutrina aponta para a necessidade de essa prova, quando encartada nos autos, passar pelo crivo do contraditório, sob pena de perder sua validade. Aponta-se ainda que ela não deve ser admitida em processo cujas partes não tenham figurado no processo do qual ela é oriunda.

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- Liberdade de prova.

No processo penal, somente no que diz respeito ao estado de pessoa é que se observará a restrição à prova, imposta pela lei civil (art. 155, parágrafo único, do CPP); isso quer dizer que um casamento se prova, também na esfera penal, pela certidão de casamento extraída dos assentos do Registro Civil das Pessoas Naturais.

No mais, o processo penal brasileiro admite todo e qualquer meio de prova, ainda que não expressamente previsto em nosso Código.

- Prova proibida.

a) prova ilegítima: obtida com violação de regras de ordem processual. Exemplo: utilização de prova nova no plenário do júri, sem ter sido juntada aos autos com antecedência mínima de três dias, violando a regra contida no art. 479 do Código de Processo Penal.

b) prova ilícita: obtida com violação a regras de direito material ou normas constitucionais. Notadamente, as garantias da pessoa, elencadas na Constituição da República, se violadas, gerarão prova ilícita, conforme preceitua o art. 5º, LVI, da própria Constituição. Exemplos: provas obtidas com violação do domicílio, mediante tortura, por meio de interceptação ilegal de comunicação.

- Boa parte da doutrina admite a prova ilícita se for o único meio de provar a inocência do acusado no processo, pois estar-se-ia privilegiando bem maior do que o protegido pela norma, qual seja, a liberdade de um inocente.

* Princípio da proporcionalidade, oriundo do Direito alemão, que busca estabelecer o equilíbrio entre garantias em conflito por meio da verificação de como um deles pode ser limitado no caso concreto, tendo em vista, basicamente, a menor lesividade.

* Prova ilícita por derivação: aquela que é lícita se tida isoladamente, mas que por se originar de uma prova ilícita, contamina-se também de ilicitude (art. 157, § 1º, do CPP). É a aplicação da teoria fruits of poisonous tree, do Direito norte-americano, ou, “frutos da árvore envenenada”, cuja imagem traduz com bastante propriedade a idéia da prova ilícita: se a árvore é envenenada, seus frutos serão contaminados.

Exceções: se não evidenciado o nexo de causalidade entre ela e a tida como ilícita, bem como se ela puder ser obtida por fonte independente da ilícita (art. 157, § 1º, do CPP). Considera-se fonte independente aquela que por si só, segundos os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou da instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto de prova (art. 157, § 2º, do CPP).

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- Meios de prova.

- Perícia (arts. 158 a 184, do CPP)

É o exame realizado por profissional com conhecimentos técnicos, a fim de auxiliar o julgador na formação de sua convicção. O laudo pericial é o documento elaborado pelos peritos, resultante do que foi examinado na perícia.

A perícia pode ser realizada na fase de inquérito policial ou do processo, a qualquer dia e horário (art. 161 do CPP), observando os peritos o prazo de dez dias para a elaboração do laudo, prorrogável em casos excepcionais (art. 160, parágrafo único, do CPP). A autoridade que determinar a perícia e as partes poderão oferecer quesitos até o ato.

Deve ser realizada a perícia por perito oficial, portador de diploma de curso superior. Poderão ser designados dois peritos, contudo, se a perícia for complexa, abrangendo mais de uma área de conhecimento especializado, nos termos do art. 159, § 7º, do CPP. Nota-se que tal designação é excepcional; a regra é a realização do exame por apenas um perito.

Se não houver perito oficial, será elaborada a perícia por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior e, de preferência, com habilitação na área em que for realizado o exame (art. 159, § 1º, do CPP), as quais deverão prestar compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo (art. 159, § 2º, do CPP).

É facultado ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado de indicar assistente técnico, bem como oferecer quesitos (art. 159, § 4º, do CPP). Este deve ser admitido pelo juiz e atuará após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelo perito oficial, sendo as partes intimadas desta decisão (art. 159, § 4º, do CPP).

Prevê ainda o Código, quanto às perícias, que as partes podem, durante o curso do processo judicial, conforme art. 159, § 5º, I. do CPP, requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar.

Se houver requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação (art. 159, § 6º, do CPP).

Em caso de divergência entre dois peritos, o juiz nomeará um terceiro. Se este divergir também de ambos, determinará a realização de nova perícia (art. 180 do CPP). Se houver omissão ou falha, o juiz poderá determinar a realização de exame complementar (art. 181 do CPP). Se for necessária a realização de perícia por carta precatória, quem nomeia os peritos é o Juízo deprecado. Se for crime de ação penal privada e houver acordo entre as partes, a nomeação pode ser feita pelo Juízo deprecante (art. 177 do CPP).

O juiz não está vinculado ao laudo elaborado pelos peritos, podendo julgar contrariamente às suas conclusões, desde que o faça fundamentadamente (art. 182 do CPP). Nosso Direito adotou, portanto, o sistema liberatório quanto à apreciação do laudo, em oposição ao sistema vinculatório, existente em outras legislações.

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- Exame de corpo de delito.

Corpo de delito é o conjunto de vestígios deixados pelo crime.

O exame de corpo de delito, direto ou indireto, é indispensável nas infrações que deixam vestígios, não podendo supri-lo nem mesmo a confissão do acusado, nos termos do art. 158 do Código de Processo Penal. Se não for possível o exame direto, isto é, no próprio corpo do delito, admite-se a realização pela via indireta, por meio de elementos periféricos, como a análise de ficha clínica de paciente que foi atendido em hospital.

Exceção: nos termos do art. 167 do Código de Processo Penal, se não for possível a realização do exame, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

- Interrogatório (arts. 185 a 196 do CPP).

Ato em que o acusado é ouvido sobre a imputação a ele dirigida. Tem dupla natureza jurídica ao interrogatório: é meio de prova, pois assim inserido no Código de Processo Penal e porque leva elemento de convicção ao julgador; é também meio de defesa, pois o interrogatório é o momento primordial para que o acusado possa exercer sua autodefesa, dizendo o que quiser e o que entender que lhe seja favorável, em relação à imputação que lhe pesa.

O interrogatório é ato não preclusivo, isto é, pode ser realizado a qualquer tempo. É permitida também a renovação do ato a todo tempo, de ofício pelo juiz ou a pedido das partes (art. 196 do CPP).

O acusado será interrogado sempre na presença de seu defensor. Se não tiver um, deve ser-lhe nomeado um defensor público ou um defensor dativo, nem que seja apenas para acompanhar o ato (ad hoc). Antes do interrogatório, o juiz deve assegurar o direito de entrevista reservada com seu defensor. Antes ainda de se iniciar o ato, o acusado deve ser alertado do seu direito ao silêncio, podendo se recusar a responder às perguntas que lhe forem formuladas, sem que isso seja utilizado em seu prejuízo (art. 5º, LXIII, da CF e art. 186 do CPP).

A regra para o interrogatório do réu preso é ser ele realizado no estabelecimento prisional onde o acusado estiver recolhido, em sala própria, desde que seja garantida a segurança para os profissionais que ali estarão presentes e a publicidade do ato.

Excepcionalmente, poderá o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou por requerimento das partes, realizar o interrogatório do réu preso por videoconferência ou sistema similar, desde que seja necessário para atender a uma das seguintes finalidades:

a) prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento;

b) viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal;

c) impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do art. 217 do mesmo CPP;

d) responder à gravíssima questão de ordem pública.

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As partes devem ser intimadas da decisão que determina a realização do ato por videoconferência com antecedência de 10 dias. O acusado poderá assistir a todos os atos da audiência que antecedem seu interrogatório, devendo o juiz assegurar a comunicação entre ele e seu defensor através de canais telefônicos reservados. É prevista a participação de defensor dentro do presídio, ao lado do acusado, para zelar por seus interesses, estando assegurada, também, a comunicação entre este e o defensor do acusado que esteja na sala de audiências.

Se não for possível a realização do interrogatório nas hipóteses anteriores, o réu preso será requisitado para ser interrogado em juízo.

A participação do réu preso em outros atos processuais, como acareações, reconhecimento de pessoas e coisas, inquirição de testemunhas e oitiva da vítima dar-se-á com a observância das mesmas regras expostas para a realização do interrogatório por videoconferência.

O interrogatório será dividido em duas partes. Na primeira, o juiz deverá inquirir o acusado a respeito de sua vida pessoal. Na segunda parte, o acusado será indagado sobre:

a) ser verdadeira a acusação;

b) não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que atribuí-la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem deva ser imputada a prática do crime, e quais sejam, e se esteve com elas antes da prática da infração ou depois dela;

c) onde estava quando foi cometida a infração e se teve notícia desta;

d) as provas já apuradas;

e) se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas, ou por inquirir, desde quando e se tem o que alegar contra elas;

f) se conhece o instrumento com que a infração foi praticada ou qualquer objeto que com esta se relacione e tenha sido apreendido;

g) todos os demais fatos e pormenores que conduzam à elucidação dos antecedentes e circunstâncias da infração;

h) se tem algo mais a alegar em sua defesa.

Se o acusado negar a acusação, poderá prestar esclarecimentos e indicar provas (art. 188 do CPP). Se, por outro lado, confessar a prática do crime, será indagado sobre os motivos e circunstâncias do fato e se outras pessoas concorreram para a infração e quem são elas (art. 189 do CPP).

As partes poderão, após a inquirição do juiz, pedir esclarecimentos. Se houver mais de um acusado, eles serão interrogados separadamente.

Quanto ao interrogatório dos surdos-mudos, deve-se observar a seguinte forma (art. 192 do CPP):

a) ao surdo serão apresentadas perguntas por escrito e as respostas serão orais;

b) ao mudo, serão feitas perguntas orais e as respostas serão oferecidas por escrito;

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c) ao surdo-mudo as perguntas e respostas serão por escrito.

Se o interrogando não souber ler ou escrever, bem como se não falar a língua portuguesa, o interrogatório contará com a presença de intérprete.

- Confissão (arts. 197 a 200 do CPP).

Em termos genéricos, no campo do direito processual, a confissão é o reconhecimento realizado em Juízo, por uma das partes, a respeito da veracidade dos fatos que lhe são atribuídos e capazes de ocasionar-lhe consequências jurídicas desfavoráveis. No processo penal, pode ser conceituada, sinteticamente, como a expressão designativa da aceitação, pelo autor da prática criminosa, da realidade da imputação que lhe é feita.

A confissão não é tida como prova de valor absoluto, de acordo com o art. 197 do Código de Processo Penal, a confissão deve ser avaliada em conjunto com os demais elementos de prova do processo, verificando-se sua compatibilidade ou concordância com eles.

A confissão ocorre costumeiramente no ato do interrogatório, mas nada impede que seja realizada em outro momento no curso do processo. Neste caso, deverá ser tomada por termo nos autos, conforme dispõe o art. 198 do Código de Processo Penal. Não existe confissão ficta no processo penal, ou seja, mesmo que o acusado não exerça a sua autodefesa, não se presumem verdadeiros os fatos a ele imputados.

Estipula ainda o Código que a confissão será divisível, ou seja, o juiz pode aceitá-la apenas em parte, e será também retratável, isto é, o acusado pode voltar atrás na sua admissão de culpa.

Costuma-se apontar duas espécies de confissão:

a) simples, na qual o réu apenas reconhece a prática delituosa, sem qualquer elemento novo;

b) qualificada, em que o réu reconhece que praticou o crime, mas alega algo em seu favor, como alguma causa excludente de ilicitude ou de culpabilidade.

- Declarações do ofendido (art. 201 do CPP).

Sempre que possível o juiz deverá proceder à oitiva do ofendido, por ser ele pessoa apta, em muitos casos, a fornecer informações essenciais em relação ao fato criminoso. Regularmente intimado, se não comparecer poderá ser conduzido coercitivamente.

Será ele indagado sobre as circunstâncias da infração, se sabe quem é o autor e quais as provas que pode indicar.

Nos termos do Código, o ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem (art. 201, § 2º, do CPP). Referida comunicação será feita no endereço por ele indicado, ou, se for sua opção, por meio eletrônico (art. 201, § 3º, do CPP).

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Cuida também o Código da proteção do ofendido, dispondo que antes do início da audiência e durante a sua realização, será reservado espaço separado para ele (art. 201, § 4º, do CPP), determinando, ainda, que o juiz tome as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação (art. 201, § 6º, do CPP).

Caso o juiz entenda necessário, poderá encaminhar o ofendido para atendimento multidisciplinar, especialmente nas áreas psicossocial, de assistência jurídica e de saúde, às custas do ofensor ou do Estado (art. 201, § 5º, do CPP).

- Testemunhas (arts. 202 a 225 do CPP).

São as pessoas estranhas à relação jurídica processual, que narram fatos de que tenham conhecimento, acerca do objeto da causa.

São características da prova testemunhal:

a) oralidade: o depoimento é oral, não pode ser trazido por escrito, muito embora a lei permita a consulta a apontamentos, conforme o art. 204 do CPP;

b) objetividade: a testemunha deve responder o que sabe a respeito dos fatos, sendo-lhe vedado emitir sua opinião a respeito da causa;

c) retrospectividade: a testemunha depõe sobre fatos já ocorridos e não faz previsões.

Estabelece o art. 202 do Código de Processo Penal que toda pessoa poderá ser testemunha. A essa regra geral, porém, correspondem algumas exceções.

Estão dispensados de depor, o cônjuge, o ascendente, o descendente e os afins em linha reta do réu. Eles só serão obrigados a depor caso não seja possível, por outro modo, obter-se a prova (art. 206 do CPP). Neste caso, não se tomará deles o compromisso de dizer a verdade; eles serão ouvidos como informantes do Juízo. Também não se tomará o compromisso dos doentes mentais e das pessoas menores de 14 anos, conforme disposto no art. 208 do Código de Processo Penal.

Estão proibidas de depor as pessoas que devam guardar sigilo em razão de função, ministério, ofício ou profissão, salvo se, desobrigadas pelo interessado, quiserem dar seu depoimento (art. 207 do CPP).

Tecnicamente, testemunha é aquela pessoa que faz a promessa, sob o comando do juiz, de dizer a verdade sobre aquilo que lhe for perguntado, ou seja, a que assume o compromisso de dizer a verdade, sob pena de ser processada pelo crime de falso testemunho. As demais pessoas que venham a depor, sem prestar referido compromisso, conforme já adiantado anteriormente, são denominadas informantes do Juízo ou ainda declarantes.

Na audiência, as testemunhas deverão ser ouvidas de per si, de modo que uma não ouça o depoimento da outra, para que não exista a possibilidade de influência. Fará ela a promessa de dizer a verdade sobre o que

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lhe for perguntado, sob pena de ser processada por crime de falso testemunho. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente se não for possível, determinará a retirada do réu da sala de audiências, permanecendo seu defensor. Tudo deverá constar do termo.

A testemunha suspeita de parcialidade ou indigna de fé poderá ser contraditada, devendo o juiz, se for o caso, dispensar a testemunha ou ouvi-la como informante. As testemunhas que por doença ou idade não puderem locomover-se serão ouvidas onde estiverem (art. 220, do CPP).

É permitida a oitiva de testemunha por carta precatória, de cuja expedição devem as partes ser intimadas. Tal expedição não suspende o andamento do processo, mesmo que ela seja devolvida depois do julgamento será juntada aos autos (art. 222 do CPP).

Admite-se a inquirição de testemunhas que residam fora da área do juízo processante por videoconferência ou sistema similar, permitida a presença de defensor, podendo ocorrer, inclusive, durante a audiência de instrução e julgamento.

O sistema anteriormente adotado pela lei processual para inquirição de testemunhas era o denominado presidencialista, onde a parte não pergunta diretamente à testemunha, mas formula a indagação ao magistrado, que repete a quem estiver depondo. Com a alteração promovida pela Lei n. 11.690/2008, a inquirição passou a ser feita de forma direta pelas partes, devendo o juiz interferir e não admitir as indagações que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida. O juiz poderá complementar a inquirição se verificar que existem pontos não esclarecidos (art. 212 do CPP).

- Reconhecimento de pessoas e coisas (arts. 226 a 228).

Procedimento: primeiro, a pessoa que vai fazer o reconhecimento deve descrever a pessoa que será reconhecida. Esta será, então, se possível, colocada ao lado de outras que, com ela, tenham semelhança, para que o reconhecedor possa apontá-la, tomando-se cuidado, se houver receio, para que uma não veja a outra. Entende-se que a semelhança deve ser física, não exatamente de fisionomia, o que poderia tornar impossível a realização do ato. Se forem várias as pessoas que irão fazer o reconhecimento, cada uma o fará em separado. Dispõe ainda a lei processual que, em Juízo ou em plenário de julgamento, não se aplica a providência de impedir que uma pessoa veja a outra no ato do reconhecimento.

De tudo o que se passou, lavrar-se-á termo, assinado pela autoridade, pela pessoa chamada para efetuar o reconhecimento e por duas testemunhas. O mesmo procedimento deve ser observado no que diz respeito e no que couber ao reconhecimento de coisas que tiverem relação com o delito.

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- Acareação (arts. 229 e 230 do CPP).

É o ato processual em que se colocam frente a frente duas ou mais pessoas que fizeram declarações divergentes sobre o mesmo fato. Pode ser realizada entre acusados, entre acusado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou testemunha e vítima, ou entre vítimas.

É pressuposto essencial que as declarações já tenham sido prestadas, caso contrário não haveria possibilidade de se verificar ponto conflitante entre elas. O art. 230 do Código de Processo Penal dispõe sobre a acareação por carta precatória, na hipótese de um dos acareados residir fora da Comarca processante.

- Documentos (arts. 231 a 238 do CPP).

Nos termos do Código de Processo Penal, consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares (art. 232). Instrumento é o documento constituído especificamente para servir de prova para o ato ali representado, por exemplo, a procuração, que tem a finalidade de demonstrar a outorga de poderes.

Os documentos podem ser:

a) públicos: aqueles formados por agente público no exercício da função. Possuem presunção juris tantum (relativa) de autenticidade e veracidade;

b) particulares: aqueles formados por particular.

Em regra, os documentos podem ser juntados em qualquer fase do processo (art. 231 do CPP). Dispõe a lei processual, contudo, que não será permitida a juntada de documentos no Plenário do Júri, sem comunicar à outra parte com antecedência mínima de três dias úteis (art. 479 do CPP). Se o juiz tiver notícia da existência de documento referente a ponto relevante do processo, providenciará a sua juntada aos autos, independentemente de requerimento das partes. Os documentos em língua estrangeira deverão ser traduzidos por tradutor público.

A cópia autenticada de documento terá o mesmo valor que o documento original (art. 232, parágrafo único, do CPP). Os documentos juntados aos autos poderão ser desentranhados a pedido da parte, se não houver motivo que justifique sua permanência nos autos (art. 238 do CPP).

- Indícios (art. 239 do CPP).

Indício, na definição legal, é toda circunstância conhecida e provada, a partir da qual, mediante raciocínio lógico, chega-se à conclusão da existência de outro fato.

Como apresentado no início, a maior parte da doutrina costuma classificar o indício como uma espécie de prova indireta, calcando-se, sobretudo, no artigo 239 do Código de Processo Penal, o qual diz que:

“Art. 239. Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.”

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Por essa acepção, indício, realmente, tem o condão de funcionar como prova indireta.

Resumidamente, enquanto indício, sob a visão de prova indireta, vincula-se à quantidade de inferências a serem feitas pelo julgador, a mesma palavra, sob a visão de prova semiplena, nada tem a ver com inferências, mas, sim, com a profundidade do elemento probatório analisado.

Esse raciocínio pode ser extraído, especialmente, do artigo 312, do Código de Processo Penal, que assim assevera:

“A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.”

Desse modo, para que a decretação de uma prisão preventiva seja possível juridicamente, o órgão julgador deverá se atentar, entre outras considerações, para a prova de existência do crime (ou da materialidade, quando a existência do crime for aferida por laudo pericial) e para o indício suficiente de autoria.

É, justamente, esse indício suficiente do qual falávamos acima, de modo que, sob essa acepção, a palavra indício possui aspecto de prova semiplena, não porque foram feitas duas ou mais inferências, mas, conforme visto, porque a prova, do ponto de vista processual, ainda não é plena, mas, a despeito disso, é suficiente para a decretação da prisão preventiva.

A eventual prova plena será aquela que, do ponto de vista processual, vier a possuir aspecto exauriente, ou seja, a prova que devidamente foi produzida ao longo da instrução criminal, após serem conferidas todas as garantias processuais, de modo a possibilitar (ou não) o juízo de certeza inerente ao decreto condenatório.

Veja que, de maneira simplista, o artigo 312 do CPP condiciona a decretação da prisão cautelar à probabilidade de autoria, ou seja, algum elemento de prova, ainda que indireto ou de menor aptidão persuasiva, que possa autorizar pelo menos um juízo de probabilidade acerca da autoria ou da participação do agente no fato delituoso.

Em nosso Direito, a prova indiciária tem o mesmo valor que qualquer outra. Há quem sustente que um conjunto de fortes indícios pode levar à condenação do acusado, tendo em vista o sistema do livre convencimento motivado do juiz.

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Súmulas acerca do tema

→ Do Supremo Tribunal Federal:

- Súmula 423: Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ex officio, que se considera interposto ex lege.

- Súmula 524: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.

- Súmula 594: Os direitos de queixa e de representação podem ser exercidos, independentemente, pelo ofendido ou por seu representante legal.

- Súmula 693: Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada.

- Súmula 707: Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contra-razões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo.

- Súmula 709: Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.

- Súmula 710: No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.

- Súmula 714: É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.

- Súmula Vinculante 14: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

→ Do Superior Tribunal de Justiça:

- Súmula 21: Pronunciado o réu, fica superada a alegação do constrangimento ilegal da prisão por excesso de prazo na instrução.

- Súmula 52: Encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de constrangimento por excesso de prazo.

- Súmula 64: Não constitui constrangimento ilegal o excesso de prazo na instrução, provocado pela defesa.

- Súmula 234: A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.

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- Súmula 455: A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo.

- Súmula 604: O mandado de segurança não se presta para atribuir efeito suspensivo a recurso criminal interposto pelo Ministério Público.

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Questões comentadas pelo professor

1. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: AL-RO Prova: FGV - 2018 - AL-RO - Consultor Legislativo - Assessoramento Legislativo

Analise as assertivas a seguir, que tratam sobre os princípios aplicáveis ao Direito Processual Penal.

I. Com base no princípio da presunção de inocência, a prisão preventiva deve ser decretada apenas quando as medidas cautelares alternativas não forem suficientes, não mais havendo prisão automática em razão de sentença condenatória de primeira instância;

II. Inspirado no princípio de que ninguém é obrigado a produzir provas contra si, o agente pode se recusar a realizar exame de etilômetro (bafômetro), podendo, porém, o crime ser demonstrado por outros meios de prova;

III. Com base no princípio da irretroatividade da lei processual penal, uma lei de conteúdo exclusivamente processual penal, em sendo mais gravosa ao réu, não poderá retroagir para atingir fatos anteriores a sua entrada em vigor.

Com base na jurisprudência dos Tribunais Superiores, está(ão) correta(s), apenas, as assertivas previstas nos itens

A I, II e III.

B I e II.

C I e III.

D II e III.

E I.

RESOLUÇÃO.

- A assertiva I está correta.

Com efeito.

A prisão preventiva somente poderá ser decretada quando não forem suficientes as medidas cautelares diversas da prisão previstas no art. 319, CPP. Isso se infere do art. 282, §§ 4º e 6º, ambos do CPP:

“As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a:

§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, parágrafo único).

§ 6º A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar (art. 319).”

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Isso significa que, em primeiro lugar, a partir da reforma que ocorreu com o tema prisões no ano de 2011, a segregação preventiva passou a poder ser utilizada apenas no caso de as medidas cautelares diversas da prisão não se mostrarem adequadas ao caso concreto, seja porque insuficientes, seja em razão de que o as condições do art. 312, CPP (que autorizam a decretação da prisão preventiva) estejam presentes.

A segunda parte, que trata exatamente da questão da prisão automática em decorrência de sentença penal condenatória de primeira instância, há muito tempo foi revogada, bem como a antiga prisão automática em decorrência de decisão de pronúncia (ou seja, aquela que encaminha o réu a julgamento pelo Tribunal do Júri). Isso em razão, por certo, da prevalência do princípio constitucional da presunção de inocência.

Vejam que a questão está muito atualizada em razão da polêmica discussão, no Supremo Tribunal Federal, acerca da execução provisória da pena no caso de condenação em segunda instância, essa por ora válida.

- a assertiva II, da mesma forma, está correta. É sabido que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo, o que vem representado pelo brocardo NEMO TENETUR SE DETEGERE. Em assim sendo, não obstante o motorista não esteja obrigado a realizar o teste do bafômetro, inclusive porque se trata de uma conduta ativa, não fica impossibilitado o Estado de comprovar a embriaguez por outros meios, como o hálito, o jeito como se apresenta o motorista, falas desconexas, etc.

- ATENÇÃO: LEI PROCESSUAL PENAL NÃO É A MESMA COISA DO QUE LEI PENAL – Em assim sendo, quando se trata de uma norma genuinamente processual, mesmo que ela seja mais gravosa ao réu, ela alcança processos criminais em andamento, apenas tendo de respeitar o ato jurídico já realizado.

Imagine-se, por exemplo, que a partir de hoje o prazo para o recurso de apelação, que é de 05 dias, caia para 24h. Essa norma é flagrantemente prejudicial ao réu, mas mesmo assim irá abarcar o seu processo, pois a lei processual penal, como eu costumo dizer, doa a quem doer, é aplicável de imediato.

Nesse sentido, o Código de Processo Penal:

“Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.”

Aprofundando o tema: Quando nos deparamos no CPP com as chamadas normas de cunho híbrido ou heterotópicas (é o nome

da minha cachorrinha labradora), que são aquelas que possuem parte do conteúdo material e parte do conteúdo formal, temos que ter muito cuidado na sua interpretação. Nesse caso, temos sempre que observá-la sob a ótica do réu. Isso significa dizer que, se a alteração da norma, ainda que inserida no CPP, for mais grave,

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deverá ser respeitada a irretroatividade. Como exemplo famoso (só não apareceu na TV) temos o art. 366 do CPP. Lembram?

Pois é. Nesse caso, havendo a citação do réu por edital, ficam suspensos o processo e a prescrição. Essa norma incluiu a suspensão da prescrição no ano de 1996, pois antes apenas ficava suspenso o processo. Então, como foi criada uma n ova causa suspensiva da prescrição (ruim para o réu) é de ser respeitada a irretroatividade da lei mais grave.

Resposta: estando as assertivas I e II corretas, a alternativa correta é a letra B.

2. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-SC Prova: FGV - 2018 - TJ-SC - Analista Jurídico

O Código de Processo Penal prevê uma série de institutos aplicáveis às ações penais de natureza privada.

Sobre tais institutos, é correto afirmar que:

A a renúncia ao exercício do direito de queixa ocorre antes do oferecimento da inicial acusatória, mas deverá ser expressa, seja através de declaração do ofendido seja por procurador com poderes especiais;

B o perdão do ofendido oferecido a um dos querelados poderá a todos aproveitar, podendo, porém, ser recusado pelo beneficiário, ocasião em que não produzirá efeitos em relação a quem recusou;

C a renúncia ao exercício do direito de queixa ocorre após o oferecimento da inicial acusatória, gerando extinção da punibilidade em relação a todos os querelados;

D a decadência ocorrerá se o ofendido não oferecer queixa no prazo de 06 meses a contar da data dos fatos, sendo irrelevante a data da descoberta da autoria;

E a perempção ocorre quando o querelante deixa de comparecer a atos processuais para os quais foi intimado, ainda que de maneira justificada.

RESOLUÇÃO.

- a letra “a” está errada. É que a renúncia ao exercício do direito de queixa (é a forma pela qual se inicia a ação penal privada), como o próprio nome diz, somente poderá ocorrer antes do início da ação penal privada. No entanto, a renúncia ao direito de queixa pode ser expressa ou tácita. Será tácito, por exemplo, quando o querelante (autor da ação penal privada) praticar atos incompatíveis com o oferecimento da queixa.

O art. 57, CPP é claro ao dispor que:

“Art. 57. A renúncia tácita e o perdão tácito admitirão todos os meios de prova.”

- a letra “b” está correta. É que o perdão do ofendido oferecido a um dos querelados (réus na ação penal privada) a todos aproveita. Isso para que não haja vingança privada. Caso contrário, o acusador privado poderia escolher contra quem ele iria apresentar a demanda. No entanto, o perdão, como ato bilateral que é, precisa ser aceito pelo beneficiário. E, por certo, o perdão do ofendido não produzirá qualquer efeito em relação a quem não o aceitou.

A questão traz, na sua literalidade, o teor do art. 51, CPP (como a caninha, para vocês não esquecerem):

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“O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar.”

- a letra “c” está errada, inclusive porque já falamos acerca do instituto da renúncia ao direito de queixa quando comentamos a assertiva da letra “a”. Assim, a renúncia ao direito de queixa ocorre sempre ANTES de seu oferecimento e, como consequência, gera a extinção da punibilidade em relação a todos os querelados.

MACETE: RsvP. O que vem primeiro?

A renúncia. Logo, deve ser efetivada antes do oferecimento da inicial acusatória.

Já, o perdão vem depois, ou seja, exige que a queixa-crime já tenha sido ajuizada e depende da aceitação do beneficiário.

- A letra “d” está muito errada. É que, como sabemos o prazo decadencial, que é de 06 meses, para o oferecimento de queixa-crime não inicia a contar a partir da data dos fatos, mas do dia em que a vítima teve conhecimento de quem foi o autor do crime.

No sentido do texto, expressamente diz o CPP:

“Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.

Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou representação, dentro do mesmo prazo, nos casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31.”

- por fim, a letra “e”, da mesma forma, está errada. É que a perempção, causa extintiva da punibilidade exclusiva das ações penais privadas e cuja previsão está no art. 60, CPP, dentre suas hipóteses, prevê o caso de não-comparecimento injustificado do querelante a qualquer ato do processo.

Se o não-comparecimento, no entanto, for justificado, não ocorrerá a perempção, justamente porque sua principal causa é a desídia do querelante.

Vejamos o que diz o art. 60, CPP:

“Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal:

I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos;

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II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;

III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;

IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.”

Resposta: letra B.

3. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-SC Prova: FGV - 2018 - TJ-SC - Oficial de Justiça e Avaliador

Após a prisão em flagrante de Tício pelo crime de tráfico de drogas, já que ele teria sido encontrado enquanto trazia consigo grande quantidade de drogas, os policiais militares incentivaram o preso, algemado, no interior da viatura policial, sem assegurar o direito ao silêncio, a confessar os fatos. Diante do incentivo, o preso confirmou seu envolvimento com a associação criminosa que dominava o tráfico da localidade, sendo a declaração filmada pelos policiais sem que Tício tivesse conhecimento.

Após denúncia, o Ministério Público acostou ao procedimento o vídeo da filmagem do celular realizada pelos policiais. Durante a instrução, Tício alegou que o material entorpecente era destinado ao seu uso.

Diante da situação narrada, o vídeo com a filmagem do celular do policial deve ser considerado prova:

A ilícita, gerando como consequência a substituição do juiz que teve acesso a ela, não sendo necessário, porém, que seja desentranhada dos autos;

B lícita, sendo a confissão a rainha das provas, de modo que deverá prevalecer sobre os demais elementos probatórios produzidos durante a instrução;

C ilícita, devendo ser desentranhada do processo, apesar de os atos anteriores da prisão em flagrante serem considerados válidos;

D lícita, mas caberá ao juiz responsável pela sentença atribuir o valor que entenda adequado a essa prova;

E ilícita, gerando o reconhecimento da invalidade da prisão em flagrante como um todo.

RESOLUÇÃO.

- a letra “a” está incorreta. É que a prova ilícita não faz co que o juiz do processo tenha de ser substituído. Do contrário, principalmente o réu, poderia escolher o juiz que iria julgá-lo, pois bastaria juntar aos autos propositadamente a prova ilícita que, automaticamente o juiz do feito já estaria impedido de julgar.

- a letra “b” está errada. A prova obtida da forma como feita, ou seja, sem o flagrado saber que estava sendo filmado, caracteriza a sua ilicitude e, portanto, já, de início, a assertiva está incorreta. Trata-se, na verdade, do que se tem chamado de interrogatório sub-reptício, pois realizado sem a observância das formalidades legais, além de não constar a advertência de que o acusado/flagrado tem o direito constitucional de permanecer em silêncio.

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- a letra “c” é correta. Com efeito, mesmo sendo ilícita a prova e, portanto, devendo ser desentranhada dos autos, os atos antecedentes a esse são válidos e não tem o condão de tornar a prisão em flagrante ilegal. Conforme já decidiu o Superior Tribunal de Justiça:

“é ilícita a gravação de conversa informal entre os policiais e o conduzido ocorrida quando da lavratura do auto de prisão em flagrante, se não houver prévia comunicação do direito de permanecer em silêncio. O direito de o indiciado permanecer em silêncio, na fase policial, não pode ser relativizado em função do dever-poder do Estado de exercer a investigação criminal. Ainda que formalmente seja consignado, no auto de prisão em flagrante, que o indiciado exerceu o direito de permanecer calado, evidencia ofensa ao direito constitucionalmente assegurado (art. 5º, LXIII) se não lhe foi avisada previamente, por ocasião de diálogo gravado com os policiais, a existência desse direito.”

Então, mesmo sendo ilícita essa gravação, o fato não faz com que se invalide, por certo, o crime cometido, ou seja, os atos antecedentes são considerados válidos. O que o Estado produzirá a partir da confissão provocada é que é considerado nulo.

- a letra “d” não pode ser marcada. Como já tivemos a oportunidade de comentar, essa prova, que violou direito e garantia fundamental do flagrado, é considerada ilícita.

- a letra “e” peca ao afirmar que essa prova, mesmo sendo ilícita, teria o condão de invalidar todos os atos do flagrante, o que não é correto. Como já afirmamos, a questão é a ilicitude dos atos eventualmente perpetrados pelo estado após a obtenção dessa prova ilícita.

Resposta: C.

4. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-SC Prova: FGV - 2018 - TJ-SC - Oficial de Justiça e Avaliador

A Constituição da República e a doutrina trazem uma série de princípios aplicáveis ao Direito Processual Penal, alguns previstos expressamente na legislação e outros implícitos.

Sobre o tema, de acordo com a jurisprudência majoritária e atual dos Tribunais Superiores, é correto afirmar que:

A o princípio da presunção de inocência não é considerado violado com a aplicação dos benefícios previstos na Lei de Execução Penal ao réu preso diante de condenação em primeira instância com aplicação de pena privativa de liberdade, ainda que pendente o trânsito em julgado;

B o Código de Processo Penal prevê o princípio da identidade física do juiz, estabelecendo que o juiz responsável pelo recebimento da denúncia deverá proferir sentença, ainda que outro seja o que presida a instrução;

C o princípio da motivação das decisões traz como consequência a nulidade da decisão fundamentada de maneira sucinta e daquelas que se utilizem, ainda que em parte, da motivação per relationem;

D o princípio da inexigibilidade de autoincriminação permite que o acusado apresente, em sede policial ou em juízo, nome e dados qualificativos falsos sem que isso constitua crime;

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E o Código de Processo Penal não prevê o princípio da identidade física do juiz, de modo que não aplicável ao direito processual penal.

RESOLUÇÃO.

- a letra “a” está correta, pois está exatamente de acordo com entendimento sumulado há muito tempo pelo Supremo Tribunal Federal:

SÚMULA 716: Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.

Ou seja, se é possível a execução provisória da pena, com mais razão ainda o réu tem direito aos benefícios previstos na Lei de execução Penal, desde que, claro, tenha preenchido os requisitos.

- a letra “b” está errada. A começar porque ela mesma apresenta uma contradição invencível. Com efeito.

O princípio da identidade física do juiz, previsto no art. 399, § 2º, CPP prevê exatamente que o juiz que tiver pre4sidido a instrução deverá ser o mesmo que irá proferir sentença. Nada tem a ver com o juiz que efetivou o recebimento da denúncia.

O que importa é a instrução. É nesse momento que o juiz forma a sua convicção.

“Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente.

§ 1º O acusado preso será requisitado para comparecer ao interrogatório, devendo o poder público providenciar sua apresentação.

§ 2º O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.”

- a letra “ c” está incorreta. É que mesmo sendo a fundamentação de toda e qualquer decisão judicial um comando constitucional, aliás, previsto no art. 93, inciso IX, da Constituição Federal, isso não impede que a fundamentação seja sucinta. Além disso, nada obsta que o juiz se utilize do método de fundamentação per relationem, que nada mais é do que adotar trechos das alegações das partes na fundamentação de seu ato.

- o princípio que veda a autoincriminação (ou também conhecido como NEMO TENETUR SE DETEGERE) não autoriza o acusado “pintar e bordar” como dia minha mãe. Isso significa que apresentar identidade falsa constitui crime, mesmo que seja para a autodefesa.

Veja-se a súmula 522 do STJ:

“A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.”

Errada, assim, a letra “d”.

- como já comentado acima, conforme trazido pelo enunciado, o Código de Processo Penal contempla sim o princípio da identidade física do juiz. Isso significa que o juiz que tiver presidido a instrução criminal deverá ser o mesmo que irá sentenciar.

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“Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente.

§ 1º O acusado preso será requisitado para comparecer ao interrogatório, devendo o poder público providenciar sua apresentação.

§ 2º O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.”

Resposta: A.

5. Ano: 2018 Banca: FGV

Um Delegado de Polícia, ao tomar conhecimento de um suposto crime de ação penal pública incondicionada, determina, de ofício, a instauração de inquérito policial. Após adotar diligência, verifica que, na realidade, a conduta investigada era atípica.

O indiciado, então, pretende o arquivamento do inquérito e procura seu advogado para esclarecimentos, informando que deseja que o inquérito seja imediatamente arquivado. Considerando as informações narradas, o advogado deverá esclarecer que a autoridade policial

a) deverá arquivar imediatamente o inquérito, fazendo a decisão de arquivamento por atipicidade coisa julgada material.

b) não poderá arquivar imediatamente o inquérito, mas deverá encaminhar relatório final ao Poder Judiciário para arquivamento direto e imediato por parte do magistrado.

c) deverá elaborar relatório final de inquérito e, após o arquivamento, poderá proceder a novos atos de investigação, independentemente da existência de provas novas.

d) poderá elaborar relatório conclusivo, mas a promoção de arquivamento caberá ao Ministério Público, havendo coisa julgada em caso de homologação do arquivamento por atipicidade.

RESOLUÇÃO.

A promoção de arquivamento é a peça apresentada pelo Ministério Público requerendo o arquivamento, não decretando-o.

A homologação de que a questão fala se refere ao deferimento do juiz em relação ao pedido do Ministério Público. Ou seja, não foi o próprio Parquet que arquivou o inquérito e sim a homologação, pelo juiz, do seu pedido.

"Homologação" prevê implicitamente que houve a atuação do Juiz.

Resposta: D.

6. Ano: 2018 Banca: FGV

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Maria, 15 anos de idade, comparece à Delegacia em janeiro de 2017, acompanhada de seu pai, e narra que João, 18 anos, mediante grave ameaça, teria constrangido-a a manter com ele conjunção carnal, demonstrando interesse, juntamente com seu representante, na responsabilização criminal do autor do fato. Instaurado inquérito policial para apurar o crime de estupro, todas as testemunhas e João afirmaram que a relação foi consentida por Maria, razão pela qual, após promoção do Ministério Público pelo arquivamento por falta de justa causa, o juiz homologou o arquivamento com base no fundamento apresentado. Dois meses após o arquivamento, uma colega de classe de Maria a procura e diz que teve medo de contar antes a qualquer pessoa, mas em seu celular havia filmagem do ato sexual entre Maria e João, sendo que no vídeo ficava demonstrado o emprego de grave ameaça por parte deste. Maria, então, entrega o vídeo ao advogado da família.

Considerando a situação narrada, o advogado de Maria

a) nada poderá fazer sob o ponto de vista criminal, tendo em vista que a decisão de arquivamento fez coisa julgada material.

b) poderá apresentar o vídeo ao Ministério Público, sendo possível o desarquivamento do inquérito ou oferecimento de denúncia por parte do Promotor de Justiça, em razão da existência de prova nova.

c) nada poderá fazer sob o ponto de vista criminal, tendo em vista que, apesar de a decisão de arquivamento não ter feito coisa julgada material, o vídeo não poderá ser considerado prova nova, já que existia antes do arquivamento do inquérito.

d) poderá iniciar, de imediato, ação penal privada subsidiária da pública em razão da omissão do Ministério Público no oferecimento de denúncia em momento anterior.

RESOLUÇÃO.

Art. 18. CPP Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.

Súmula 524-STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do Promotor de Justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.

Resposta: B.

7. Ano: 2017 Banca: FGV

Tiago, funcionário público, foi vítima de crime de difamação em razão de suas funções. Após Tiago narrar os fatos em sede policial e demonstrar interesse em ver o autor do fato responsabilizado, é instaurado inquérito policial para investigar a notícia de crime.

Quando da elaboração do relatório conclusivo, a autoridade policial conclui pela prática delitiva da difamação, majorada por ser contra funcionário público em razão de suas funções, bem como identifica João como autor do delito. Tiago, então, procura seu advogado e informa a este as conclusões 1 (um) mês após os fatos.

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Considerando apenas as informações narradas, o advogado de Tiago, de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, deverá esclarecer que

a) caberá ao Ministério Público oferecer denúncia em face de João após representação do ofendido, mas Tiago não poderá optar por oferecer queixa-crime.

b) caberá a Tiago, assistido por seu advogado, oferecer queixa-crime, não podendo o ofendido optar por oferecer representação para o Ministério Público apresentar denúncia.

c) Tiago poderá optar por oferecer queixa-crime, assistido por advogado, ou oferecer representação ao Ministério Público, para que seja analisada a possibilidade de oferecimento de denúncia.

d) caberá ao Ministério Público oferecer denúncia, independentemente de representação do ofendido.

RESOLUÇÃO.

Nos crimes contra a honra, a regra é perseguir a pena mediante ação penal privada da vítima ou de seu representante legal. Entretanto, será penal pública condicionada à representação no caso de o delito ser cometido contra funcionário público, no exercício das suas funções (art. 141, II, CP) e condicionada à requisição do Ministro da Justiça no caso do n. I do art. 141(contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro).

Vejamos a súmula 714, STF:

É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do ministério público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.

Tal enunciado, no entanto, trará consequências extras, pois, se a opção for pelo oferecimento de queixa-crime, caberá a incidência de algumas causas extintivas da punibilidade (perdão do ofendido, retratação etc.), até então incompatíveis com os princípios informadores da ação penal pública.

Resposta: C.

8. Ano: 2015 Banca: FGV

Determinada autoridade policial recebeu informações de vizinhos de Lucas dando conta de que ele possuía arma de fogo calibre .38 em sua casa, razão pela qual resolveu indiciá-lo pela prática de crime de posse de arma de fogo de uso permitido, infração de médio potencial ofensivo, punida com pena de detenção de 01 a 03 anos e multa. No curso das investigações, requereu ao Judiciário interceptação telefônica da linha do aparelho celular de Lucas para melhor investigar a prática do crime mencionado, tendo sido o pedido deferido.

De acordo com a situação narrada, a prova oriunda da interceptação deve ser considerada

a) ilícita, pois somente o Ministério Público tem legitimidade para representar pela medida.

b) válida, desde que tenha sido deferida por ordem do juiz competente para ação principal.

c) ilícita, pois o crime investigado é punido com detenção.

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d) ilícita, assim como as dela derivadas, ainda que estas pudessem ser obtidas por fonte independente da primeira.

RESOLUÇÃO.

Lei 9296, Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:

I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal;

II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;

III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção.

Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.

CPP, Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.

Resposta: C.

9. Ano: 2015 Banca: FGV

No dia 10 de maio de 2015, Maria, 25 anos, foi vítima de um crime de estupro simples, mas, traumatizada, não mostrou interesse em dar início a qualquer investigação penal ou ação penal em relação aos fatos. Os pais de Maria, porém, requerem a instauração de inquérito policial para apurar autoria, entendendo que, após identificar o agente, Maria poderá decidir melhor sobre o interesse na persecução penal. Foi proferido despacho indeferindo o requerimento de abertura de inquérito.

Considerando a situação narrada, assinale a afirmativa correta.

a) Do despacho que indefere o requerimento de abertura de inquérito policial não cabe qualquer recurso, administrativo ou judicial.

b) Em que pese o interesse de Maria ser relevante para o início da ação penal, a instauração de inquérito policial independe de sua representação.

c) Caso Maria manifeste interesse na instauração de inquérito policial após o indeferimento, ainda dentro do prazo decadencial, o procedimento poderá ter início, independentemente do surgimento de novas provas.

d) Apesar de os pais de Maria não poderem requerer a instauração de inquérito policial, o Ministério Público pode requisitar o início do procedimento na hipótese, tendo em vista a natureza pública da ação.

RESOLUÇÃO.

Neste caso temos um crime de ação penal pública condicionada à representação, nos termos do art. 225 do CP, já que Maria não é menor de 18 anos e nem pessoa vulnerável. Maria poderá requerer a instauração do

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IP a qualquer tempo, desde que dentro do prazo decadencial de seis meses, que se inicia quando Maria toma conhecimento de quem é o infrator.

Resposta: C.

10. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-SC Prova: FGV - 2018 - TJ-SC - Técnico Judiciário Auxiliar

Cinco meses após ser vítima de crime de calúnia majorada, Juliana, 65 anos, apresentou queixa em desfavor de Tereza, suposta autora do fato, perante Vara Criminal, que era o juízo competente. Recebida a queixa, no curso da ação, Juliana, solteira, veio a falecer, deixando como único familiar sua filha Maria, de 30 anos de idade, já que não tinha irmãos e seus pais eram previamente falecidos. Após a juntada da certidão de óbito, o serventuário certificou tal fato na ação penal.

Diante da certidão e da natureza da ação, é correto afirmar que:

A deverá a ação penal, diante da apresentação de queixa pela vítima antes de falecer, ter regular prosseguimento, intimando-se Maria dos atos, em razão do princípio da indisponibilidade das ações privadas;

B deverá o juiz, diante da natureza da ação penal de natureza privada, extinguir o processo sem julgamento do mérito, não podendo terceiro prosseguir na posição de querelante;

C deverá ser reconhecida a decadência caso Maria não compareça em juízo no prazo legal para dar prosseguimento à ação penal;

D deverá ser reconhecida a perempção caso Maria não compareça em juízo no prazo legal para dar prosseguimento à ação penal;

E poderá Maria, diante do falecimento de Juliana, prosseguir na ação penal, que passará a ser classificada como privada subsidiária da pública.

RESOLUÇÃO.

- A letra “a” está incorreta. É que em se tratando de ação penal privada, e Juliana tendo falecido, deverá assumir a ação penal o famoso CADI – LEMBRAM?

- CÔNJUGE

- ASCENDENTE

- DESCENDENTE

- IRMÃO

E nessa ordem de preferência. Então, se maria, filha de Juliana, não assumir a ação penal, ela deverá ser extinta pela perempção.

“Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal:

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I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos;

II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;

III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;

IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.”

Apenas lembrando que a perempção é uma causa de extinção da punibilidade prevista também no art. 107, inciso IV, do CP:

“Extinção da punibilidade

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:

IV - pela prescrição, decadência ou perempção;”

- a letra “b” está errada. Como não se trata de ação penal privada personalíssima (ou seja, em que a morte do ofendido faz com que se encerre o processo, pois, como o nome diz, ninguém poderá substituí-lo), sua filha Maria poderá prosseguir na ação. É oq eu diz expressamente o art. 31, CPP:

“No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.”

- a letra “c”, da mesma forma, está equivocada. É que o instituto da decadência, ou seja, o não-exercício do direito de representação em caso de ação penal pública condicionada à representação ou de queixa, no caso de ação penal privada, sempre ocorre ANTES DO INÍCIO DAS DUAS ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL ANTES MENCIONADAS. Como no caso da questão, o processo está em pleno andamento, o único instituto aplicável em razão da morte de Juliana é a perempção, essa causa extintiva da punibilidade sempre verificada após o início da ação penal privada exclusiva.

- a letra “d” é a correta. Se intimada Maria, filha de Juliana e, mesmo assim não comparecer em juízo, só aí é que o juiz poderá declarar extinta a punibilidade pela perempção.

- a letra “e” peca pelo fato de fazer menção ao fato de quem com a assunção de Maria, a ação penal passará a ser privada subsidiária da pública. Ora, ação penal privada subsidiária da pública ocorre no caso em que o Ministério Público, em crime de ação penal pública nada faz, então o interessado dispõe de 06 meses para ajuizá-la.

Resposta: D.

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11. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: MPE-AL Prova: FGV - 2018 - MPE-AL - Analista do Ministério Público - Área Jurídica

Paulo foi vítima de um crime de difamação, crime esse de ação penal privada, no dia 01 de dezembro de 2017, ocasião em que recebeu uma carta com o conteúdo criminoso. Diante disso, compareceu, no mesmo dia, em sede policial, narrou o ocorrido e demonstrou interesse na investigação da autoria delitiva. No dia 14 de dezembro de 2017, foi elaborado relatório conclusivo, indicando que Mariana e Marta agiram em comunhão de ações e desígnios e eram as autoras do delito. Paulo procura Mariana, que era sua ex-companheira, para esclarecimentos sobre o ocorrido, ocasião em que os dois se entendem e retomam o relacionamento. Em relação à Marta, porém, Paulo ofereceu queixa-crime, em 13 de junho de 2018, imputando-lhe a prática do crime do Art. 139 do CP. Com base apenas nas informações narradas, ao analisar o procedimento em 15 de junho de 2018, o Promotor de Justiça deverá opinar pelo

A não recebimento da queixa em face de Marta, tendo em vista que houve decadência no exercício do direito de queixa.

B recebimento da queixa em face de Marta, uma vez que a mesma foi oferecida dentro do prazo legal, nada mais podendo ser feito em relação à Mariana, já que houve renúncia ao exercício do direito de queixa em relação a esta.

C não recebimento da queixa em face de Marta, diante da renúncia ao exercício do direito de queixa em favor de Mariana.

D não recebimento da queixa em face de Marta, uma vez que houve perdão do ofendido.

E recebimento da queixa em face de Marta, bem como intimação do querelante para imediato aditamento da queixa, incluindo Mariana no polo passivo.

RESOLUÇÃO.

Princípios que regem as ações penais:

AÇÃO PENAL PÚBLICA: Obrigatoriedade, Divisibilidade, Indisponibilidade e Oficialidade

AÇÃO PENAL PRIVADA: Oportunidade, Disponibilidade, Indivisibilidade

- a letra “a” está incorreta. Não há o que se falar em decadência do exercício do direito de queixa, uma vez que Paulo foi à delegacia manifestar seu desejo de ver apurada a autoria delitiva. A decadência é instituto que incidirá sobre o direito de queixa quando o querelante não manifestar interesse na persecução penal em até 6 meses após conhecido o autor do crime.

- a letra “b”, da mesma forma, está incorreta. É que nos crimes de ação penal privada incide o princípio da Indivisibilidade. Isso significa que o querelante deve ingressar em juízo contra todos, sob pena de decadência de seu direito em relação a todos os demais.

“Art. 48, CPP: A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.”

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- a letra “c” está correta. A renúncia ao direito de queixa em relação a um dos querelados implica no aproveitamento a todos. Nesse sentir, o disposto no art. 49, CPP:

“Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá.”

- a letra “d” está incorreta. É que diferentemente da renúncia, que é ato unilateral, o perdão exige a aceitação da outra parte, que poderá provar, por exemplo, a sua absolvição. Então, em princípio, o perdão do ofendido aproveita a todos, mas não produzirá qualquer efeito em relação àquele que não o aceitar.

É o que diz o art. 51, CPP:

“O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar.”

- a letra “e” está errada. Se o querelante a todos não demandar, não é caso de aditamento da peça inicial, mas de extinção da punibilidade pela renúncia em relação a todos. É o que diz o art. 48, CPP:

“A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.”

Resposta: C.

12. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-AL Prova: FGV - 2018 - TJ-AL - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador

Gustavo, Delegado de Polícia, é a autoridade policial que preside duas investigações autônomas em que se apura a suposta prática de crimes de homicídio contra Joana e Maria. Após realizar diversas diligências, não verificando a existência de justa causa nos dois casos, elabora relatórios finais conclusivos e o Ministério Público promove pelos arquivamentos, havendo homologação judicial. Depois do arquivamento, chega a Gustavo a informação de que foi localizado um gravador no local onde ocorreu a morte de Maria, que não havia sido apreendido, em que encontrava-se registrada a voz do autor do delito. A autoridade policial, ademais, recebe a informação de que a família de Joana obteve um novo documento que indicava as chamadas telefônicas recebidas pela vítima no dia dos fatos, em que constam 25 ligações do ex-namorado de Joana em menos de uma hora.

Considerando as novas informações recebidas pela autoridade policial, é correto afirmar que:

A não poderá haver desarquivamento do inquérito que investigava a morte de Joana, mas poderá ser desarquivado o que investigava a morte de Maria, tendo em vista que o documento obtido pela família de Joana não existia quando do arquivamento;

B poderá haver desarquivamento dos inquéritos diretamente pela autoridade policial, mas não poderá o Ministério Público oferecer imediatamente denúncia, ainda que haja justa causa, diante dos arquivamentos anteriores;

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C poderá haver desarquivamento dos inquéritos que investigavam as mortes de Joana e Maria, pois em ambos os casos houve prova nova, ainda que o gravador já existisse antes do arquivamento;

D poderá haver desarquivamento do inquérito que investigava a morte de Joana, mas não do de Maria, tendo em vista que apenas no primeiro caso houve prova nova;

E não poderá haver prosseguimento das investigações, tendo em vista que houve decisão de arquivamento que fez coisa julgada.

RESOLUÇÃO.

Provas novas:

- Substancialmente nova: inédita, pois estava oculta ou era desconhecida.

- Formalmente nova: Já era conhecida e eventualmente até foi usada, mas ganhou uma nova versão.

- Súmula 524 STF

- a letra “a” está errada. É que, nos termos do art. 18, CPP:

“Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.”

- a assertiva “b” está errada. É o caso de aplicação do enunciado sumular número 524 do STF:

“Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.”

Então, havendo provas novas, poderá sim ser iniciada a ação penal.

- a letra “c” está certa. É que mesmo que o gravador já existisse à época dos fatos, somente agora veio a ser descoberto. E o fundamento é o mesmo da assertiva anterior, ou seja, o art. 18, CPP.

- a letra “d” está errada. É que mesmo diante da prévia existência do gravador, conforme já comentamos, apenas veio a ser descoberto depois. Portanto, trata-se de prova nova.

- a letra “c” não está correta. É que, salvo em raríssimos casos, a decisão que determina o arquivamento do inquérito policial não produz coisa julgada material.

PARA NÃO ERRAR:

- quando é possível o desarquivamento do IP:

1) Insuficiência de provas SIM (Súmula 524-STF)

2) Ausência de pressuposto processual ou de condição da ação penal

3) Falta de justa causa para a ação penal (não há indícios de autoria ou prova da materialidade)

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- quando não é possível o desarquivamento do IP:

1) Atipicidade (fato narrado não é crime)

2) Existência manifesta de causa excludente de ilicitude

3) Existência manifesta de causa excludente de culpabilidade

4) Existência manifesta de causa extintiva da punibilidade

Resposta: C.

13. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-AL Prova: FGV - 2018 - TJ-AL - Técnico Judiciário - Área Judiciária

Guilherme Nucci define ação penal como “o direito do Estado-acusação ou da vítima de ingressar em juízo, solicitando a prestação jurisdicional, representada pela aplicação das normas de direito penal ao caso concreto”. Tradicionalmente, a doutrina classifica as ações penais como públicas e privadas, que possuem diferentes tratamentos a partir de sua natureza.

Assim, de acordo com as previsões do Código de Processo Penal e da doutrina, são aplicáveis às ações penais de natureza privada os princípios da:

A conveniência, indisponibilidade e indivisibilidade;

B conveniência, indisponibilidade e divisibilidade;

C oportunidade, disponibilidade e indivisibilidade;

D oportunidade, disponibilidade e divisibilidade;

E obrigatoriedade, disponibilidade e divisibilidade.

RESOLUÇÃO.

Princípios da ação penal pública.

- Obrigatoriedade: havendo condições, o Ministério Público é obrigado a ajuizar a ação penal (exceções: Transação Penal nas IMPOs e Delação Premiada)

- Indisponibilidade: MP Não pode desistir da Ação Penal ou recursos impetrados (exceção: sursis processual)

- Divisibilidade: na ação penal pública, o Ministério não é obrigado a denunciar todos os réus.

- Oficialidade: é um órgão oficial quem promove a ação penal.

- Oficiosidade: o Ministério Público, verificando que se encontram preenchidos os requisitos para o oferecimento de denúncia, deverá fazê-lo de ofício.

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- Princípios da ação penal privada

- Oportunidade: o querelante (acusador) apenas ingressa com a ação se quiser.

- Disponibilidade: poderá desistir da ação penal após o seu início.

- Indivisibilidade: ou o querelante ingressa com ação contra todos ou contra ninguém. Isso ocorre para que se evite a chamada vingança privada.

Resposta: C.

14. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-AL Prova: FGV - 2018 - TJ-AL - Técnico Judiciário - Área Judiciária

Perante a 1ª Vara Criminal de determinada comarca de Tribunal de Justiça, corre processo em que se investiga a prática de crimes gravíssimos de organização criminosa e tráfico de drogas, sendo, inclusive, investigados grandes empresários do Estado. Considerando o fato de que o juiz titular do órgão estaria afastado de licença médica há muitos anos, diversos juízes participaram do feito: João proferiu decisões autorizando medidas cautelares antes mesmo da denúncia; Jorge foi o responsável pelo recebimento da denúncia e por analisar o teor das respostas à acusação apresentadas pela defesa; José participou da audiência de instrução e interrogatório dos réus. Após apresentação das alegações finais, diante da complexidade do processo e dos inúmeros volumes, o Tribunal de Justiça decidiu criar uma 5ª Vara Criminal especificamente para julgamento desse processo, impedindo que a 1ª Vara Criminal tivesse seu processamento dificultado pela dedicação do magistrado que lá atuava à sentença que deveria ser produzida. Com a sentença publicada, a 5ª Vara Criminal seria extinta.

Com base na situação exposta, a criação da 5ª Vara Criminal com o objetivo de proferir sentença no processo complexo:

A é válida, mas não poderá ela ser extinta logo após a sentença ser publicada em razão da possibilidade de recursos;

B não é válida, cabendo a João proferir a sentença em razão do princípio da identidade física do juiz;

C é válida, podendo ela ser extinta logo após a publicação da sentença, nos termos previstos no ato do Tribunal de Justiça;

D não é válida, cabendo a Jorge proferir a sentença em razão do princípio da identidade física do juiz;

E não é válida, cabendo a José proferir a sentença em razão do princípio da identidade física do juiz.

RESOLUÇÃO.

Galera. A expressão mais importante da questão é “José participou da audiência de instrução e interrogatório dos réus.”

Logo, tem incidência, sob pena de nulidade absoluta, o princípio da identidade física do juiz. Como José foi o juiz que presidiu a instrução, deverá ser o responsável por prolatar a sentença.

No sentido do texto, o art. 399, § 2º, CPP:

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“Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente.

§ 1º O acusado preso será requisitado para comparecer ao interrogatório, devendo o poder público providenciar sua apresentação.

§ 2º O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.”

Resposta: E.

15. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-AL Prova: FGV - 2018 - TJ-AL - Técnico Judiciário - Área Judiciária

Enquanto organizava procedimentos que se encontravam no cartório de determinada Vara Criminal do Tribunal de Justiça de Alagoas, o servidor identifica que há um inquérito em que foram realizadas diversas diligências para apurar crime de ação penal pública, mas não foi obtida justa causa para o oferecimento de denúncia, razão pela qual o Delegado de Polícia elaborou relatório final opinando pelo arquivamento. Verificada tal situação e com base nas previsões do Código de Processo Penal, caberá ao:

A juiz realizar diretamente o arquivamento, tendo em vista que já houve representação nesse sentido por parte da autoridade policial, cabendo contra a decisão recurso em sentido estrito;

B Ministério Público realizar diretamente o arquivamento, caso concorde com a conclusão do relatório da autoridade policial, independentemente de controle judicial;

C delegado de polícia, em caso de concordância do juiz, realizar diretamente o arquivamento após retorno do inquérito policial para delegacia;

D Ministério Público promover pelo arquivamento, cabendo ao juiz analisar a homologação em respeito ao princípio da obrigatoriedade;

E juiz promover pelo arquivamento, podendo o promotor de justiça requerer o encaminhamento dos autos ao Procurador-Geral de Justiça em caso de discordância, em controle ao princípio da obrigatoriedade.

RESOLUÇÃO:

Galera!! A fim de sermos efetivos no nosso estudo e colocar vocês todos na DIREÇÃO CERTA, a questão

Sempre quem elabora a promoção de arquivamento é o Ministério Público.

Ao juiz cabe acolher ou não a promoção de arquivamento feita pelo Ministério Público. Caso o juiz considere improcedentes as razões invocadas para que a denúncia não fosse oferecida e se promovesse o arquivamento, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao Procurador-Geral de Justiça.

Nesse caso, o Procurador-Geral poderá:

- determinar que outro membro da Instituição ofereça a denúncia ou

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- afirmar que o arquivamento está bem lançado, ocasião em que caberá ao juiz apenas acatar essa decisão.

Resposta: D.

16. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PE Prova: FCC - 2018 - MPE-PE - Técnico Ministerial - Administrativa

Acerca do que dispõe o Código de Processo Penal sobre as diversas modalidades de comunicação processual,

A se o réu estiver preso, será citado na pessoa de seu defensor.

B se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional.

C estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta precatória.

D a intimação do defensor constituído, do advogado do querelante e do assistente far-se-á por oficial de justiça.

E verificando que o réu se oculta para não ser citado, será citado por edital, com o prazo de 15 dias.

RESOLUÇÃO.

- a letra “a” está errada. Com efeito. Se o réu estiver preso será citado pessoalmente.

“Art. 360, CPP. Se o réu estiver preso, será pessoalmente citado.”

- a letra “b” está correta. De acordo com o art. 366, do CPP:

“Se o acusado, citado por edital, NÃO comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.”

- a letra “c” está errada. É que se o réu estiver residindo no estrangeiro, em lugar sabido, será citado via carta rogatória.

“Art. 368, CPP: Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento.”

- a letra “d” está incorreta. É que a intimação das pessoas ali arroladas far-se-ão por meio de publicação no órgão oficial.

Vejamos o art. 370, § 1°, CPP:

“Nas intimações dos acusados, das testemunhas e demais pessoas que devam tomar conhecimento de qualquer ato, será observado, no que for aplicável, o disposto no Capítulo anterior.”

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- a letra “e”, da mesma forma, está errada. É que em caso de o réu estar se OCULTANDO PARA NÃO SER CITADO, DEVERÁ SER REALIZADA A CITAÇÃO POR HORA CERTA, conforme dispõe o art. 362, do CPP:

“Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.”

E MUITO CUIDADO: como novo CPC, o oficial de justiça não mais irá comparecer 03 vezes à residência do citando, mas somente 02!

Resposta: B.

17. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PE Prova: FCC - 2018 - MPE-PE - Técnico Ministerial - Administrativa

À luz do que dispõe o Código de Processo Penal sobre os sujeitos da relação processual,

A em todos os termos da ação pública, poderá intervir, como assistente do Ministério Público, o ofendido ou seu representante legal.

B nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem entre si parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o quarto grau, inclusive.

C as disposições sobre suspeição dos juízes não se estendem aos serventuários e funcionários da justiça.

D o corréu no mesmo processo poderá intervir como assistente do Ministério Público.

E nenhum acusado, exceto se estiver foragido, será processado ou julgado sem defensor.

RESOLUÇÃO.

- a letra “a” é a correta. É que, de acordo com o art. 268, do CPP:

“Em todos os termos da ação pública, poderá intervir, como assistente do Ministério Público, o ofendido ou seu representante legal, ou, na falta, qualquer das pessoas mencionadas no Art. 31.”

- a letra “b” está incorreta. É que no caso das relações de parentesco, o limite é até o terceiro grau, e não quarto grau.

“Art. 253, CPP: Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem entre si parentes, consangüíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive.”

DE OLHO NO LANCE.......vejam que questão inteligente. Você pode perder o concurso (e o sonho de sua vida) por conta de um grau! Ah, isso é demais!!!!!!

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- errada a letra “c”, por conta de que, nem quase tudo é simétrico.

SOMENTE NO QUE COUBER!!!!

“DOS FUNCIONÁRIOS DA JUSTIÇA

Art. 274. As prescrições sobre suspeição dos juízes estendem-se aos serventuários e funcionários da justiça, no que Ihes for aplicável.”

- a leta “d” está errada, conforme o art. 270, CPP:

“O co-réu no mesmo processo não poderá intervir como assistente do Ministério Público.”

- por fim, a letra “e” está errada em razão do disposto no art. 261, CPP:

“Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor.”

Resposta: A.

18. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PE Prova: FCC - 2018 - MPE-PE - Analista Ministerial - Área Jurídica

Diante do que dispõe o Código de Processo Penal sobre os juízes,

A seu impedimento ou suspeição decorrente de parentesco por afinidade cessará pela dissolução do casamento que Ihe tiver dado causa, mesmo havendo descendentes.

B a suspeição do juiz poderá ser declarada e reconhecida, ainda que a parte der motivo para criá-la.

C nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem entre si parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o quarto grau, inclusive.

D nos processos em que seu cônjuge tiver funcionado como defensor ou advogado, o juiz se dará por suspeito.

E eles se darão por suspeitos, e, se não o fizerem, poderão ser recusados por qualquer das partes, se tiverem aconselhado qualquer delas.

RESOLUÇÃO.

Mais uma de decoreba literal da lei. E digo a vocês: eu, particularmente que sempre fui um péssimo decoreba, odiava esse tipo de questão. Será que a FCC voltou a ser “fundação cola-copia?”

“Art. 251. Ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo e manter a ordem no curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública.

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Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:

I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito; - LETRA “D”

II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha;

III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão;

IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.

Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem entre si parentes, consangüíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive – LETRA “C”

Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes:

I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;

II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;

III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes;

IV - se tiver aconselhado qualquer das partes – LETRA “E”

V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;

VI - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.

Art. 255. O impedimento ou suspeição decorrente de parentesco por afinidade cessará pela dissolução do casamento que Ihe tiver dado causa, salvo sobrevindo descendentes; mas, ainda que dissolvido o casamento sem descendentes, não funcionará como juiz o sogro, o padrasto, o cunhado, o genro ou enteado de quem for parte no processo – LETRA “A”

Art. 256. A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito der motivo para criá-la” – LETRA “B”

Resposta: E.

19. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: Câmara Legislativa do Distrito Federal Prova: FCC - 2018 - Câmara Legislativa do Distrito Federal - Técnico Legislativo - Agente de Polícia Legislativa

O inquérito policial

A é um procedimento que pode ser presidido tanto pelo delegado de polícia quanto pelo membro do Ministério Público, desde que, neste último caso, tenha sido este o órgão responsável pela investigação.

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B acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra.

C que apresentar vício contaminará eventual ação penal subsequente proposta com base nos elementos por ele colhidos.

D gera, quando arquivado, preclusão absoluta, não sendo possível o início de ação penal, ainda que tenha por fundamento a existência de novas provas.

E é um procedimento escrito, obrigatório e preparatório da ação penal, imprescindível para embasar o oferecimento da denúncia.

RESOLUÇÃO.

- errada. Incumbe ao Delegado de Polícia (civil ou federal) a presidência do inquérito policial. É importante ressaltar Ministério Público pode conduzir as investigações, mas NÃO pode presidir.

- a letra “b” está correta, pois de acordo com o art. 12, CPP:

“O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra.”

- a letra “c” está errada. É que, mesmo com a reforma que houve no Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil no ano de 2016, via de regra, os vícios do inquérito NÃO contaminam a ação penal que dele se originar

- Vejam como essa questão é muito cobrada:

CESPE- 2010) Embora o inquérito policial tenha natureza de procedimento informativo, e não de ato de jurisdição, os vícios nele existentes podem contaminar a ação penal subsequente, com base na teoria norte-americana dos frutos da árvore envenenada, ou fruits of the poisonouss tree. ERRADA.

CESPE- 2011) Eventuais nulidades ocorridas na fase inquisitorial contaminam o desenvolvimento da ação penal respectiva, haja vista ser o inquérito policial peça probatória com a finalidade de fornecer ao Ministério Público os elementos necessários para a propositura da ação penal. ERRADA.

- a letra “d” está incorreta. E a base é o nosso “velho conhecido art. 18, CPP:

“Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.”

- por fim, a letra “e” está errada. É que o IP não é procedimento obrigatório, podendo ser dispensado para o oferecimento da denúncia. É o que diz o próprio CPP:

“Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial.

§ 1º A representação feita oralmente ou por escrito, sem assinatura devidamente autenticada do ofendido, de seu representante legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este houver sido dirigida.

§ 2º A representação conterá todas as informações que possam servir à apuração do fato e da autoria.

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§ 3º Oferecida ou reduzida a termo a representação, a autoridade policial procederá a inquérito, ou, não sendo competente, remetê-lo-á à autoridade que o for.

§ 4º A representação, quando feita ao juiz ou perante este reduzida a termo, será remetida à autoridade policial para que esta proceda a inquérito.

§ 5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.”

Resposta: B.

20. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: Câmara Legislativa do Distrito Federal Prova: FCC - 2018 - Câmara Legislativa do Distrito Federal - Procurador Legislativo

Sobre o inquérito policial, está de acordo com a legislação processual penal vigente e a jurisprudência dos Tribunais Superiores o que se afirma em:

A É peça indispensável para que o Ministério Público ofereça denúncia em crimes praticados por particular contra a administração pública.

B É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados nos autos, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

C Será concluído, em caso de investigação acerca de tráfico de drogas, no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, se o indiciado estiver preso, e de noventa dias, quando solto.

D A autoridade policial, convencida da ausência de indícios suficientes de autoria, poderá mandar arquivar os autos de inquérito policial.

E Em razão do princípio da divisibilidade da ação penal pública incondicionada, admite-se o arquivamento implícito de inquérito policial.

RESOLUÇÃO.

- a letra “a” está errada. Como já dissemos, o IP é dispensável para a propositura de uma ação, uma vez que se trata de uma peça com caráter informativo. É o que diz o art. 39, § 5º, CPP:

“Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial.

§ 1º A representação feita oralmente ou por escrito, sem assinatura devidamente autenticada do ofendido, de seu representante legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este houver sido dirigida.

§ 2º A representação conterá todas as informações que possam servir à apuração do fato e da autoria.

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§ 3º Oferecida ou reduzida a termo a representação, a autoridade policial procederá a inquérito, ou, não sendo competente, remetê-lo-á à autoridade que o for.

§ 4º A representação, quando feita ao juiz ou perante este reduzida a termo, será remetida à autoridade policial para que esta proceda a inquérito.

§ 5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.”

- essa é a letra correta. Trata-se da literalidade da Súmula Vinculante n.º 14 do STF:

“É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.”

- a letra “c” está equivocada. Vamos conferir o que diz o art. 51, Lei de Drogas:

“O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto.

Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária.”

- a letra “d” é absurda. Já vimos que, no caso de arquivamento, o Ministério Público propõe e quem homologa, ou não, é a autoridade judiciária.

Jamais um IP poderá ser arquivado diretamente pela autoridade policial. É o que diz expressamente o CPP:

“Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.”

- a letra “e” também está errada. Não existe a figura do arquivamento implícito em nosso sistema processual penal. Isso significa que, quando a autoridade policial indicia Tício, Mévio e Caio, por exemplo, se o Ministério Púbico apenas denunciar Caio, deverá expor as razões, fundamentadamente, pelas quais não está oferecendo denúncia contra Tício e Mévio.

Resposta: B.

21. Ano: 2018 Banca: FGV

O Ministério Público ofereceu denúncia em face de Matheus, imputando-lhe a prática de um crime de estelionato. Na cota da denúncia, o Promotor de Justiça solicitou a realização de exame grafotécnico para comparar as assinaturas constantes da documentação falsa, utilizada como instrumento da prática do estelionato, com as de Matheus. Após ser citado, Matheus procura seu advogado e esclarece, em sigilo, que realmente foi autor do crime de estelionato.

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Considerando as informações narradas, sob o ponto de vista técnico, o advogado deverá esclarecer que Matheus

a) deverá realizar o exame grafotécnico, segundo as determinações que lhe forem realizadas, já que prevalece no Processo Penal o Princípio da Verdade Real.

b) poderá se recusar a realizar o exame grafotécnico até o momento de seu interrogatório, ocasião em que deverá fornecer padrão para o exame grafotécnico, ainda que com assinaturas diferentes daquelas tradicionalmente utilizadas por ele.

c) deverá realizar o exame grafotécnico, tendo em vista que, no recebimento da denúncia, prevalece o princípio do in dubio pro societatis.

d) poderá se recusar a realizar o exame grafotécnico durante todo o processo, e essa omissão não pode ser interpretada como confissão dos fatos narrados na denúncia.

RESOLUÇÃO.

A resposta está respaldada no princípio da presunção da não culpabilidade, artigo 5º, LVII da CF. Também no Pacto de São José da Costa Rica (CADH) que prevê art. 8º, número 2, alínea, g: “que toda a pessoa tem direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem declarar-se culpada”.

Deve-se obedecer a regra do Nemo tenetur se detegere.

Resposta: B.

22. Ano: 2017 Banca: FGV

Durante instrução probatória em que se imputava a João a prática de um crime de peculato, foram intimados para depor, em audiência de instrução e julgamento, os policiais civis que participaram das investigações, a ex-esposa de João, que tinha conhecimento dos fatos, e o padre para o qual João contava o que considerava seus pecados, inclusive sobre os desvios de dinheiro público.

Preocupados, todos os intimados para depoimento foram à audiência, acompanhados de seus advogados, demonstrando interesse em não prestar declarações. Considerando apenas as informações narradas, assinale a afirmativa correta.

a) Apenas o advogado da ex-esposa de João poderá requerer que sua cliente seja eximida do dever de depor, devendo os demais prestar declarações.

b) Todos os advogados poderão requerer que seus clientes sejam eximidos do dever de depor.

c) Apenas o advogado do padre poderá buscar que ele não preste declarações, já que proibido, por ofício, de depor, devendo os demais prestar declarações.

d) Apenas os advogados da ex-esposa de João e do padre poderão requerer que seus clientes não sejam ouvidos na condição de testemunhas.

RESOLUÇÃO.

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Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.

Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho.

Resposta: D.

23. Ano: 2017 Banca: FGV

Fagner, irmão de Vitor, compareceu à Delegacia e narrou que foi vítima de agressões que lhe causaram lesão corporal de natureza leve. Afirmou Fagner, em sede policial, que Vitor desferiu um soco em seu rosto, deixando a agressão vestígios, mas esclareceu que não necessitou de atendimento médico.

Apesar de demonstrar interesse inequívoco em ver seu irmão responsabilizado criminalmente pelo ato praticado, não assinou termo de representação formal, além de não realizar exame de corpo de delito. Vitor foi denunciado pela prática do crime do Art. 129, § 9º, do Código Penal.

Durante a instrução, Fagner não foi localizado para ser ouvido, não havendo outras testemunhas presenciais. Vitor, em seu interrogatório, contudo, confirmou que desferiu um soco no rosto de seu irmão. Em relação aos documentos do processo, consta apenas a Folha de Antecedentes Criminais do acusado.

Considerando apenas as informações narradas na hipótese, assinale a afirmativa correta.

a) O processo deve ser extinto sem julgamento do mérito, pois a representação do ofendido necessariamente deve ser expressa e formal.

b) Não existe prova da materialidade, pois, quando a infração penal deixa vestígios, o exame de corpo de delito é indispensável, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

c) Não existe prova da materialidade, pois o Código de Processo Penal apenas admite o exame de corpo de delito direto.

d) Existe prova da materialidade, pois o Código de Processo Penal admite a figura do exame de corpo de delito indireto e este ocorreu no caso concreto.

RESOLUÇÃO.

A. O processo deve ser extinto sem julgamento do mérito, pois a representação do ofendido necessariamente deve ser expressa e formal. ERRADO. O crime em questão é de natureza pública condicionada a representação, desta forma o art. 39 do CPP, dispõe: Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial.

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B. Não existe prova da materialidade, pois, quando a infração penal deixa vestígios, o exame de corpo de delito é indispensável, não podendo supri-lo a confissão do acusado. CORRETO! Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

C. Não existe prova da materialidade, pois o Código de Processo Penal apenas admite o exame de corpo de delito direto. ERRADO. Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Direto: feito por perito oficial ou duas pessoas com conhecimento na área. art. 159 CPP. Indireto: Tanto prova testemunhal como documentos comprobatórios (Jurisprudência Majoritária).

D. Existe prova da materialidade, pois o Código de Processo Penal admite a figura do exame de corpo de delito indireto e este ocorreu no caso concreto. ERRADO. Não houve prova de materialidade, pois não teve prova testemunhal ou documental e também não houve exame de corpo de delito.

Questão importante: existe alguma prova que pode substituir o exame de corpo de delito?

Sim. A prova testemunhal. Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Resposta: B.

24. Ano: 2016 Banca: FGV

Em uma mesma rua da cidade de Palmas, em dois imóveis diversos, moram Roberto e Mário. Roberto foi indiciado pela prática do crime de estelionato, razão pela qual o magistrado deferiu requerimento do Ministério Público de busca e apreensão de documentos em sua residência, sem estabelecer o horário em que deveria ser realizada. Diante da ordem judicial, a Polícia Civil compareceu à sua residência, às 04h da madrugada para cumprimento do mandado e ingressou no imóvel, sem autorização do indiciado, para cumprir a busca e apreensão.

Após a diligência, quando deixavam o imóvel, policiais receberam informações concretas de popular, devidamente identificado, de que Mário guardava drogas para facção criminosa em seu imóvel e, para comprovar o alegado, o popular ainda apresentou fotografias. Diante disso, os policiais ingressaram na residência de Mário, sem autorização deste, onde, de fato, apreenderam 1 kg de droga.

Sobre as diligências realizadas, com base na situação narrada, assinale a afirmativa correta.

a) Nas residências de Roberto e Mário foram inválidas.

b) Na residência de Roberto foi inválida, enquanto que, na residência de Mário, foi válida.

c) Nas residências de Roberto e Mário foram válidas.

d) Na residência de Roberto foi válida, enquanto que, na residência de Mário, foi inválida.

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RESOLUÇÃO.

A diligência realizada na casa de Roberto foi inválida: (...a Polícia Civil compareceu à sua residência, às 04h da madrugada...)

Art. 5 CF - XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

Art. 245. As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo se o morador consentir que se realizem à noite, e, antes de penetrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou a quem o represente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta.

A diligência realizada na cada de Mário foi válida: (Flagrante Delito) - (“devidamente identificado, de que Mário guardava drogas para facção criminosa em seu imóvel e, para comprovar o alegado, o popular ainda apresentou fotografias").

Art. 5 CF - XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:

I - está cometendo a infração penal;

II - acaba de cometê-la;

III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração;

IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.

Resposta: B

25. Ano: 2016 Banca: FGV

Hugo foi denunciado pela prática de um crime de furto qualificado praticado contra Rosa. Na audiência de instrução e julgamento, Rosa confirmou a autoria delitiva, mas apresentou versão repleta de contradições, inovando ao afirmar que estava junto com Lúcia quando foi vítima do crime. O Ministério Público ouve os policiais que participaram apenas, posteriormente, da prisão de Hugo e não deseja ouvir novas testemunhas. A defesa requer a oitiva de Lúcia, mencionada por Rosa em seu testemunho, já que antes não tinha conhecimento sobre a mesma, mas o juiz indefere afirmando que o advogado já havia arrolado o número máximo de testemunhas em sua resposta à acusação.

Diante dessa situação, o advogado de Hugo deve alegar que

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a) as testemunhas referidas não devem ser computadas para fins do número máximo de testemunhas a serem ouvidas.

b) o Código de Processo Penal não traz número máximo de testemunhas de defesa, pois previsão em contrário violaria o princípio da ampla defesa.

c) as testemunhas referidas não podem prestar compromisso de dizer a verdade.

d) o testemunho de Rosa, ao inovar os fatos, deve ser considerado prova ilícita, de modo a ser desentranhado dos autos.

RESOLUÇÃO.

CPP

- letra “a” está correta. Art. 209, CPP: O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das indicadas pelas partes.

§ 1º Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a que as testemunhas se referirem.

- a letra “b” está incorreta.

“Art. 401. Na instrução poderão ser inquiridas até 8 (oito) testemunhas arroladas pela acusação e 8 (oito) pela defesa.

§ 1º Nesse número não se compreendem as que não prestem compromisso e as referidas. (A)

§ 2º A parte poderá desistir da inquirição de qualquer das testemunhas arroladas, ressalvado o disposto no art. 209 deste Código.”

E seguimos com a letra fria da lei. Não adianta comentar a letra fria da lei.

Testemunha referida: é aquela que foi mencionada por outra pessoa, sendo ouvida a pedido das partes ou de ofício pelo magistrado (CPP, art. 209, § 1º). Podem ou não prestar compromisso (quando não prestam são meros informantes), a depender do caso concreto;

“Art. 208. Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 aos doentes e deficientes mentais e aos menores de 14 (quatorze) anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206. (C)

Art. 203. A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a verdade do que souber e lhe for perguntado, devendo declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua residência, sua profissão, lugar onde exerce sua atividade, se é parente, e em que grau, de alguma das partes, ou quais suas relações com qualquer delas, e relatar o que souber, explicando sempre as razões de sua ciência ou as circunstâncias pelas quais possa avaliar-se de sua credibilidade.

Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.

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Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.”

O depoimento de Rosa, apesar de contraditório, não deve ser considerado prova ilícita, pois estas são obtidas em violação a normas constitucionais ou legais, o que não se dá com a inovação dos fatos que inclusive pode ser deveras pertinente.

Resposta: A.

26. Ano: 2016 Banca: FGV

Thales foi denunciado pela prática de um crime de apropriação indébita. Para oitiva da vítima Marcos, residente em cidade diversa do juízo competente, foi expedida carta precatória, sendo todas as partes intimadas dessa expedição. Antes do retorno, foi realizada audiência de instrução e julgamento, mas apenas foram ouvidas as testemunhas de acusação João e José, que apresentaram versões absolutamente discrepantes sobre circunstâncias relevantes, sendo que ambas afirmaram que estavam no local dos fatos. Hélio, padre que escutou a confissão de Thales e tinha conhecimento sobre a dinâmica delitiva, em razão de seu dever de guardar segredo, não foi intimado. Com a concordância das partes, a audiência de continuação para oitiva das testemunhas de defesa e interrogatório foi remarcada.

Considerando apenas as informações narradas, assinale a afirmativa correta.

a) O depoimento de João foi inválido, já que a oitiva do ofendido deve ser realizada antes das demais testemunhas e a expedição de carta precatória suspende a instrução criminal.

b) O juiz poderá fazer a contradita, diante das contradições sobre circunstâncias relevantes nos depoimentos das testemunhas.

c) Hélio está proibido de depor sem autorização da parte interessada, salvo quando não for possível, por outro modo, obter a prova do fato.

d) O advogado do acusado não precisa ser intimado pessoalmente da data designada para audiência a ser realizada no juízo deprecado.

RESOLUÇÃO.

a) Em regra, de fato, o ofendido deve ser ouvido antes das testemunhas. Contudo, em se tratando de ofendido que será ouvido mediante carta precatória não há nulidade no fato de vir a ser ouvido após a oitiva das testemunhas, pois a expedição de carta precatória não suspende a instrução criminal, nos termos do art. 222, §1º do CPP.

b) Neste caso caberá a acareação, nos termos do art. 229 do CPP. A contradita não se presta a tal finalidade, sendo um mero instrumento de que dispõem as partes para IMPUGNAR a testemunha, antes de iniciado o depoimento, alegando circunstâncias que prejudiquem sua necessária imparcialidade, nos termos do art. 214 do CPP.

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c) O padre está proibido de depor sem autorização da parte interessada, pois tem o dever de guardar sigilo, em razão de seu ministério, nos termos do art. 207 do CPP. O erro da questão, contudo, reside no fato de que a afirmativa diz que o padre poderá ser obrigado a depor (mesmo sem autorização da parte interessada) quando isso for indispensável para a obtenção da prova do fato, o que está errado.

d) Item correto, pois nos termos do enunciado nº 273 da súmula de jurisprudência do STJ, uma vez intimada a defesa acerca da expedição da precatória, é absolutamente desnecessária a intimação da defesa para ciência da data da audiência designada no Juízo deprecado.

Resposta: D.

27. Ano: 2015 Banca: FGV

Determinada autoridade policial recebeu informações de vizinhos de Lucas dando conta de que ele possuía arma de fogo calibre. 38 em sua casa, razão pela qual resolveu indiciá-lo pela prática de crime de posse de arma de fogo de uso permitido, infração de médio potencial ofensivo, punida com pena de detenção de 01 a 03 anos e multa. No curso das investigações, requereu ao Judiciário interceptação telefônica da linha do aparelho celular de Lucas para melhor investigar a prática do crime mencionado, tendo sido o pedido deferido.

De acordo com a situação narrada, a prova oriunda da interceptação deve ser considerada

a) ilícita, pois somente o Ministério Público tem legitimidade para representar pela medida.

b) válida, desde que tenha sido deferida por ordem do juiz competente para ação principal.

c) ilícita, pois o crime investigado é punido com detenção.

d) ilícita, assim como as dela derivadas, ainda que estas pudessem ser obtidas por fonte independente da primeira.

RESOLUÇÃO.

Vejamos o que dispõe a Lei 9296/96 acerca da possibilidade de quebra de sigilo telefônico e seus requisitos:

“Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:

I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal;

II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;

III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção.

Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.”

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A não observância dessas regras faz com que a prova se torne ilícita, nos moldes do que dispõe o art. 157, CPP:

“São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.

§ 2º Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.

§ 3º Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente.”

Resposta: C.

28. Ano: 2014 Banca: FGV

O Delegado de Polícia, desconfiado de que Fabiano é o líder de uma quadrilha que realiza assaltos à mão armada na região, decide, com a sua equipe, realizar uma interceptação telefônica sem autorização judicial. Durante algumas semanas, escutaram diversas conversas, por meio das quais descobriram o local onde a res furtiva era armazenada para posterior revenda.

Com essa informação, o Delegado de Polícia representou pela busca e apreensão a ser realizada na residência suspeita, sendo tal diligência autorizada pelo Juízo competente. Munidos do mandado de busca e apreensão, ingressam na residência encontrando diversos objetos fruto de roubo, como joias, celulares, documentos de identidade etc., tudo conforme indicou a interceptação telefônica. Assim, Fabiano foi conduzido à Delegacia, onde se registrou a ocorrência.

Acerca do caso narrado, assinale a opção correta.

a) A realização da busca e apreensão é admissível, tendo em vista que houve autorização prévia do juízo competente, existindo justa causa para ajuizamento da ação penal.

b) A realização da busca e apreensão é admissível, apesar da interceptação telefônica ter sido realizada sem autorização judicial, existindo justa causa para ajuizamento da ação penal.

c) A realização da busca e apreensão não é admissível porque houve representação do Delegado de Polícia, não existindo justa causa para o ajuizamento da ação penal.

d) A realização da busca e apreensão não é admissível, pois derivou de uma interceptação telefônica ilícita, aplicando-se a teoria dos frutos da árvore envenenada, não existindo justa causa para o ajuizamento da ação penal.

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RESOLUÇÃO.

Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça – Lei 9296/96

Vale ressaltar, ainda, o artigo 157, CPP:

Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.

§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.

§ 2º Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.

§ 3º Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008).

Resposta: D.

Fim de aula! Aguardamos a sua presença em nosso próximo encontro!

Saudações,

Prof. Pietro Chidichimo e Prof. Alexandre Salim.

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Lista de questões

1. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: AL-RO Prova: FGV - 2018 - AL-RO - Consultor Legislativo - Assessoramento Legislativo

Analise as assertivas a seguir, que tratam sobre os princípios aplicáveis ao Direito Processual Penal.

I. Com base no princípio da presunção de inocência, a prisão preventiva deve ser decretada apenas quando as medidas cautelares alternativas não forem suficientes, não mais havendo prisão automática em razão de sentença condenatória de primeira instância;

II. Inspirado no princípio de que ninguém é obrigado a produzir provas contra si, o agente pode se recusar a realizar exame de etilômetro (bafômetro), podendo, porém, o crime ser demonstrado por outros meios de prova;

III. Com base no princípio da irretroatividade da lei processual penal, uma lei de conteúdo exclusivamente processual penal, em sendo mais gravosa ao réu, não poderá retroagir para atingir fatos anteriores a sua entrada em vigor.

Com base na jurisprudência dos Tribunais Superiores, está(ão) correta(s), apenas, as assertivas previstas nos itens

A I, II e III.

B I e II.

C I e III.

D II e III.

E I.

2. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-SC Prova: FGV - 2018 - TJ-SC - Analista Jurídico

O Código de Processo Penal prevê uma série de institutos aplicáveis às ações penais de natureza privada.

Sobre tais institutos, é correto afirmar que:

A a renúncia ao exercício do direito de queixa ocorre antes do oferecimento da inicial acusatória, mas deverá ser expressa, seja através de declaração do ofendido seja por procurador com poderes especiais;

B o perdão do ofendido oferecido a um dos querelados poderá a todos aproveitar, podendo, porém, ser recusado pelo beneficiário, ocasião em que não produzirá efeitos em relação a quem recusou;

C a renúncia ao exercício do direito de queixa ocorre após o oferecimento da inicial acusatória, gerando extinção da punibilidade em relação a todos os querelados;

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D a decadência ocorrerá se o ofendido não oferecer queixa no prazo de 06 meses a contar da data dos fatos, sendo irrelevante a data da descoberta da autoria;

E a perempção ocorre quando o querelante deixa de comparecer a atos processuais para os quais foi intimado, ainda que de maneira justificada.

3. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-SC Prova: FGV - 2018 - TJ-SC - Oficial de Justiça e Avaliador

Após a prisão em flagrante de Tício pelo crime de tráfico de drogas, já que ele teria sido encontrado enquanto trazia consigo grande quantidade de drogas, os policiais militares incentivaram o preso, algemado, no interior da viatura policial, sem assegurar o direito ao silêncio, a confessar os fatos. Diante do incentivo, o preso confirmou seu envolvimento com a associação criminosa que dominava o tráfico da localidade, sendo a declaração filmada pelos policiais sem que Tício tivesse conhecimento.

Após denúncia, o Ministério Público acostou ao procedimento o vídeo da filmagem do celular realizada pelos policiais. Durante a instrução, Tício alegou que o material entorpecente era destinado ao seu uso.

Diante da situação narrada, o vídeo com a filmagem do celular do policial deve ser considerado prova:

A ilícita, gerando como consequência a substituição do juiz que teve acesso a ela, não sendo necessário, porém, que seja desentranhada dos autos;

B lícita, sendo a confissão a rainha das provas, de modo que deverá prevalecer sobre os demais elementos probatórios produzidos durante a instrução;

C ilícita, devendo ser desentranhada do processo, apesar de os atos anteriores da prisão em flagrante serem considerados válidos;

D lícita, mas caberá ao juiz responsável pela sentença atribuir o valor que entenda adequado a essa prova;

E ilícita, gerando o reconhecimento da invalidade da prisão em flagrante como um todo.

4. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-SC Prova: FGV - 2018 - TJ-SC - Oficial de Justiça e Avaliador

A Constituição da República e a doutrina trazem uma série de princípios aplicáveis ao Direito Processual Penal, alguns previstos expressamente na legislação e outros implícitos.

Sobre o tema, de acordo com a jurisprudência majoritária e atual dos Tribunais Superiores, é correto afirmar que:

A o princípio da presunção de inocência não é considerado violado com a aplicação dos benefícios previstos na Lei de Execução Penal ao réu preso diante de condenação em primeira instância com aplicação de pena privativa de liberdade, ainda que pendente o trânsito em julgado;

B o Código de Processo Penal prevê o princípio da identidade física do juiz, estabelecendo que o juiz responsável pelo recebimento da denúncia deverá proferir sentença, ainda que outro seja o que presida a instrução;

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C o princípio da motivação das decisões traz como consequência a nulidade da decisão fundamentada de maneira sucinta e daquelas que se utilizem, ainda que em parte, da motivação per relationem;

D o princípio da inexigibilidade de autoincriminação permite que o acusado apresente, em sede policial ou em juízo, nome e dados qualificativos falsos sem que isso constitua crime;

E o Código de Processo Penal não prevê o princípio da identidade física do juiz, de modo que não aplicável ao direito processual penal.

5. Ano: 2018 Banca: FGV

Um Delegado de Polícia, ao tomar conhecimento de um suposto crime de ação penal pública incondicionada, determina, de ofício, a instauração de inquérito policial. Após adotar diligência, verifica que, na realidade, a conduta investigada era atípica.

O indiciado, então, pretende o arquivamento do inquérito e procura seu advogado para esclarecimentos, informando que deseja que o inquérito seja imediatamente arquivado. Considerando as informações narradas, o advogado deverá esclarecer que a autoridade policial

a) deverá arquivar imediatamente o inquérito, fazendo a decisão de arquivamento por atipicidade coisa julgada material.

b) não poderá arquivar imediatamente o inquérito, mas deverá encaminhar relatório final ao Poder Judiciário para arquivamento direto e imediato por parte do magistrado.

c) deverá elaborar relatório final de inquérito e, após o arquivamento, poderá proceder a novos atos de investigação, independentemente da existência de provas novas.

d) poderá elaborar relatório conclusivo, mas a promoção de arquivamento caberá ao Ministério Público, havendo coisa julgada em caso de homologação do arquivamento por atipicidade.

6. Ano: 2018 Banca: FGV

Maria, 15 anos de idade, comparece à Delegacia em janeiro de 2017, acompanhada de seu pai, e narra que João, 18 anos, mediante grave ameaça, teria constrangido-a a manter com ele conjunção carnal, demonstrando interesse, juntamente com seu representante, na responsabilização criminal do autor do fato. Instaurado inquérito policial para apurar o crime de estupro, todas as testemunhas e João afirmaram que a relação foi consentida por Maria, razão pela qual, após promoção do Ministério Público pelo arquivamento por falta de justa causa, o juiz homologou o arquivamento com base no fundamento apresentado. Dois meses após o arquivamento, uma colega de classe de Maria a procura e diz que teve medo de contar antes a qualquer pessoa, mas em seu celular havia filmagem do ato sexual entre Maria e João, sendo que no vídeo ficava demonstrado o emprego de grave ameaça por parte deste. Maria, então, entrega o vídeo ao advogado da família.

Considerando a situação narrada, o advogado de Maria

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a) nada poderá fazer sob o ponto de vista criminal, tendo em vista que a decisão de arquivamento fez coisa julgada material.

b) poderá apresentar o vídeo ao Ministério Público, sendo possível o desarquivamento do inquérito ou oferecimento de denúncia por parte do Promotor de Justiça, em razão da existência de prova nova.

c) nada poderá fazer sob o ponto de vista criminal, tendo em vista que, apesar de a decisão de arquivamento não ter feito coisa julgada material, o vídeo não poderá ser considerado prova nova, já que existia antes do arquivamento do inquérito.

d) poderá iniciar, de imediato, ação penal privada subsidiária da pública em razão da omissão do Ministério Público no oferecimento de denúncia em momento anterior.

7. Ano: 2017 Banca: FGV

Tiago, funcionário público, foi vítima de crime de difamação em razão de suas funções. Após Tiago narrar os fatos em sede policial e demonstrar interesse em ver o autor do fato responsabilizado, é instaurado inquérito policial para investigar a notícia de crime.

Quando da elaboração do relatório conclusivo, a autoridade policial conclui pela prática delitiva da difamação, majorada por ser contra funcionário público em razão de suas funções, bem como identifica João como autor do delito. Tiago, então, procura seu advogado e informa a este as conclusões 1 (um) mês após os fatos.

Considerando apenas as informações narradas, o advogado de Tiago, de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, deverá esclarecer que

a) caberá ao Ministério Público oferecer denúncia em face de João após representação do ofendido, mas Tiago não poderá optar por oferecer queixa-crime.

b) caberá a Tiago, assistido por seu advogado, oferecer queixa-crime, não podendo o ofendido optar por oferecer representação para o Ministério Público apresentar denúncia.

c) Tiago poderá optar por oferecer queixa-crime, assistido por advogado, ou oferecer representação ao Ministério Público, para que seja analisada a possibilidade de oferecimento de denúncia.

d) caberá ao Ministério Público oferecer denúncia, independentemente de representação do ofendido.

8. Ano: 2015 Banca: FGV

Determinada autoridade policial recebeu informações de vizinhos de Lucas dando conta de que ele possuía arma de fogo calibre .38 em sua casa, razão pela qual resolveu indiciá-lo pela prática de crime de posse de arma de fogo de uso permitido, infração de médio potencial ofensivo, punida com pena de detenção de 01 a 03 anos e multa. No curso das investigações, requereu ao Judiciário interceptação telefônica da linha do aparelho celular de Lucas para melhor investigar a prática do crime mencionado, tendo sido o pedido deferido.

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De acordo com a situação narrada, a prova oriunda da interceptação deve ser considerada

a) ilícita, pois somente o Ministério Público tem legitimidade para representar pela medida.

b) válida, desde que tenha sido deferida por ordem do juiz competente para ação principal.

c) ilícita, pois o crime investigado é punido com detenção.

d) ilícita, assim como as dela derivadas, ainda que estas pudessem ser obtidas por fonte independente da primeira.

9. Ano: 2015 Banca: FGV

No dia 10 de maio de 2015, Maria, 25 anos, foi vítima de um crime de estupro simples, mas, traumatizada, não mostrou interesse em dar início a qualquer investigação penal ou ação penal em relação aos fatos. Os pais de Maria, porém, requerem a instauração de inquérito policial para apurar autoria, entendendo que, após identificar o agente, Maria poderá decidir melhor sobre o interesse na persecução penal. Foi proferido despacho indeferindo o requerimento de abertura de inquérito.

Considerando a situação narrada, assinale a afirmativa correta.

a) Do despacho que indefere o requerimento de abertura de inquérito policial não cabe qualquer recurso, administrativo ou judicial.

b) Em que pese o interesse de Maria ser relevante para o início da ação penal, a instauração de inquérito policial independe de sua representação.

c) Caso Maria manifeste interesse na instauração de inquérito policial após o indeferimento, ainda dentro do prazo decadencial, o procedimento poderá ter início, independentemente do surgimento de novas provas.

d) Apesar de os pais de Maria não poderem requerer a instauração de inquérito policial, o Ministério Público pode requisitar o início do procedimento na hipótese, tendo em vista a natureza pública da ação.

10. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-SC Prova: FGV - 2018 - TJ-SC - Técnico Judiciário Auxiliar

Cinco meses após ser vítima de crime de calúnia majorada, Juliana, 65 anos, apresentou queixa em desfavor de Tereza, suposta autora do fato, perante Vara Criminal, que era o juízo competente. Recebida a queixa, no curso da ação, Juliana, solteira, veio a falecer, deixando como único familiar sua filha Maria, de 30 anos de idade, já que não tinha irmãos e seus pais eram previamente falecidos. Após a juntada da certidão de óbito, o serventuário certificou tal fato na ação penal.

Diante da certidão e da natureza da ação, é correto afirmar que:

A deverá a ação penal, diante da apresentação de queixa pela vítima antes de falecer, ter regular prosseguimento, intimando-se Maria dos atos, em razão do princípio da indisponibilidade das ações privadas;

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B deverá o juiz, diante da natureza da ação penal de natureza privada, extinguir o processo sem julgamento do mérito, não podendo terceiro prosseguir na posição de querelante;

C deverá ser reconhecida a decadência caso Maria não compareça em juízo no prazo legal para dar prosseguimento à ação penal;

D deverá ser reconhecida a perempção caso Maria não compareça em juízo no prazo legal para dar prosseguimento à ação penal;

E poderá Maria, diante do falecimento de Juliana, prosseguir na ação penal, que passará a ser classificada como privada subsidiária da pública.

11. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: MPE-AL Prova: FGV - 2018 - MPE-AL - Analista do Ministério Público - Área Jurídica

Paulo foi vítima de um crime de difamação, crime esse de ação penal privada, no dia 01 de dezembro de 2017, ocasião em que recebeu uma carta com o conteúdo criminoso. Diante disso, compareceu, no mesmo dia, em sede policial, narrou o ocorrido e demonstrou interesse na investigação da autoria delitiva. No dia 14 de dezembro de 2017, foi elaborado relatório conclusivo, indicando que Mariana e Marta agiram em comunhão de ações e desígnios e eram as autoras do delito. Paulo procura Mariana, que era sua ex-companheira, para esclarecimentos sobre o ocorrido, ocasião em que os dois se entendem e retomam o relacionamento. Em relação à Marta, porém, Paulo ofereceu queixa-crime, em 13 de junho de 2018, imputando-lhe a prática do crime do Art. 139 do CP. Com base apenas nas informações narradas, ao analisar o procedimento em 15 de junho de 2018, o Promotor de Justiça deverá opinar pelo

A não recebimento da queixa em face de Marta, tendo em vista que houve decadência no exercício do direito de queixa.

B recebimento da queixa em face de Marta, uma vez que a mesma foi oferecida dentro do prazo legal, nada mais podendo ser feito em relação à Mariana, já que houve renúncia ao exercício do direito de queixa em relação a esta.

C não recebimento da queixa em face de Marta, diante da renúncia ao exercício do direito de queixa em favor de Mariana.

D não recebimento da queixa em face de Marta, uma vez que houve perdão do ofendido.

E recebimento da queixa em face de Marta, bem como intimação do querelante para imediato aditamento da queixa, incluindo Mariana no polo passivo.

12. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-AL Prova: FGV - 2018 - TJ-AL - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador

Gustavo, Delegado de Polícia, é a autoridade policial que preside duas investigações autônomas em que se apura a suposta prática de crimes de homicídio contra Joana e Maria. Após realizar diversas diligências, não

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verificando a existência de justa causa nos dois casos, elabora relatórios finais conclusivos e o Ministério Público promove pelos arquivamentos, havendo homologação judicial. Depois do arquivamento, chega a Gustavo a informação de que foi localizado um gravador no local onde ocorreu a morte de Maria, que não havia sido apreendido, em que encontrava-se registrada a voz do autor do delito. A autoridade policial, ademais, recebe a informação de que a família de Joana obteve um novo documento que indicava as chamadas telefônicas recebidas pela vítima no dia dos fatos, em que constam 25 ligações do ex-namorado de Joana em menos de uma hora.

Considerando as novas informações recebidas pela autoridade policial, é correto afirmar que:

A não poderá haver desarquivamento do inquérito que investigava a morte de Joana, mas poderá ser desarquivado o que investigava a morte de Maria, tendo em vista que o documento obtido pela família de Joana não existia quando do arquivamento;

B poderá haver desarquivamento dos inquéritos diretamente pela autoridade policial, mas não poderá o Ministério Público oferecer imediatamente denúncia, ainda que haja justa causa, diante dos arquivamentos anteriores;

C poderá haver desarquivamento dos inquéritos que investigavam as mortes de Joana e Maria, pois em ambos os casos houve prova nova, ainda que o gravador já existisse antes do arquivamento;

D poderá haver desarquivamento do inquérito que investigava a morte de Joana, mas não do de Maria, tendo em vista que apenas no primeiro caso houve prova nova;

E não poderá haver prosseguimento das investigações, tendo em vista que houve decisão de arquivamento que fez coisa julgada.

13. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-AL Prova: FGV - 2018 - TJ-AL - Técnico Judiciário - Área Judiciária

Guilherme Nucci define ação penal como “o direito do Estado-acusação ou da vítima de ingressar em juízo, solicitando a prestação jurisdicional, representada pela aplicação das normas de direito penal ao caso concreto”. Tradicionalmente, a doutrina classifica as ações penais como públicas e privadas, que possuem diferentes tratamentos a partir de sua natureza.

Assim, de acordo com as previsões do Código de Processo Penal e da doutrina, são aplicáveis às ações penais de natureza privada os princípios da:

A conveniência, indisponibilidade e indivisibilidade;

B conveniência, indisponibilidade e divisibilidade;

C oportunidade, disponibilidade e indivisibilidade;

D oportunidade, disponibilidade e divisibilidade;

E obrigatoriedade, disponibilidade e divisibilidade.

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14. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-AL Prova: FGV - 2018 - TJ-AL - Técnico Judiciário - Área Judiciária

Perante a 1ª Vara Criminal de determinada comarca de Tribunal de Justiça, corre processo em que se investiga a prática de crimes gravíssimos de organização criminosa e tráfico de drogas, sendo, inclusive, investigados grandes empresários do Estado. Considerando o fato de que o juiz titular do órgão estaria afastado de licença médica há muitos anos, diversos juízes participaram do feito: João proferiu decisões autorizando medidas cautelares antes mesmo da denúncia; Jorge foi o responsável pelo recebimento da denúncia e por analisar o teor das respostas à acusação apresentadas pela defesa; José participou da audiência de instrução e interrogatório dos réus. Após apresentação das alegações finais, diante da complexidade do processo e dos inúmeros volumes, o Tribunal de Justiça decidiu criar uma 5ª Vara Criminal especificamente para julgamento desse processo, impedindo que a 1ª Vara Criminal tivesse seu processamento dificultado pela dedicação do magistrado que lá atuava à sentença que deveria ser produzida. Com a sentença publicada, a 5ª Vara Criminal seria extinta.

Com base na situação exposta, a criação da 5ª Vara Criminal com o objetivo de proferir sentença no processo complexo:

A é válida, mas não poderá ela ser extinta logo após a sentença ser publicada em razão da possibilidade de recursos;

B não é válida, cabendo a João proferir a sentença em razão do princípio da identidade física do juiz;

C é válida, podendo ela ser extinta logo após a publicação da sentença, nos termos previstos no ato do Tribunal de Justiça;

D não é válida, cabendo a Jorge proferir a sentença em razão do princípio da identidade física do juiz;

E não é válida, cabendo a José proferir a sentença em razão do princípio da identidade física do juiz.

15. Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-AL Prova: FGV - 2018 - TJ-AL - Técnico Judiciário - Área Judiciária

Enquanto organizava procedimentos que se encontravam no cartório de determinada Vara Criminal do Tribunal de Justiça de Alagoas, o servidor identifica que há um inquérito em que foram realizadas diversas diligências para apurar crime de ação penal pública, mas não foi obtida justa causa para o oferecimento de denúncia, razão pela qual o Delegado de Polícia elaborou relatório final opinando pelo arquivamento. Verificada tal situação e com base nas previsões do Código de Processo Penal, caberá ao:

A juiz realizar diretamente o arquivamento, tendo em vista que já houve representação nesse sentido por parte da autoridade policial, cabendo contra a decisão recurso em sentido estrito;

B Ministério Público realizar diretamente o arquivamento, caso concorde com a conclusão do relatório da autoridade policial, independentemente de controle judicial;

C delegado de polícia, em caso de concordância do juiz, realizar diretamente o arquivamento após retorno do inquérito policial para delegacia;

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D Ministério Público promover pelo arquivamento, cabendo ao juiz analisar a homologação em respeito ao princípio da obrigatoriedade;

E juiz promover pelo arquivamento, podendo o promotor de justiça requerer o encaminhamento dos autos ao Procurador-Geral de Justiça em caso de discordância, em controle ao princípio da obrigatoriedade.

16. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PE Prova: FCC - 2018 - MPE-PE - Técnico Ministerial - Administrativa

Acerca do que dispõe o Código de Processo Penal sobre as diversas modalidades de comunicação processual,

A se o réu estiver preso, será citado na pessoa de seu defensor.

B se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional.

C estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta precatória.

D a intimação do defensor constituído, do advogado do querelante e do assistente far-se-á por oficial de justiça.

E verificando que o réu se oculta para não ser citado, será citado por edital, com o prazo de 15 dias.

17. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PE Prova: FCC - 2018 - MPE-PE - Técnico Ministerial - Administrativa

À luz do que dispõe o Código de Processo Penal sobre os sujeitos da relação processual,

A em todos os termos da ação pública, poderá intervir, como assistente do Ministério Público, o ofendido ou seu representante legal.

B nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem entre si parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o quarto grau, inclusive.

C as disposições sobre suspeição dos juízes não se estendem aos serventuários e funcionários da justiça.

D o corréu no mesmo processo poderá intervir como assistente do Ministério Público.

E nenhum acusado, exceto se estiver foragido, será processado ou julgado sem defensor.

18. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PE Prova: FCC - 2018 - MPE-PE - Analista Ministerial - Área Jurídica

Diante do que dispõe o Código de Processo Penal sobre os juízes,

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A seu impedimento ou suspeição decorrente de parentesco por afinidade cessará pela dissolução do casamento que Ihe tiver dado causa, mesmo havendo descendentes.

B a suspeição do juiz poderá ser declarada e reconhecida, ainda que a parte der motivo para criá-la.

C nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem entre si parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o quarto grau, inclusive.

D nos processos em que seu cônjuge tiver funcionado como defensor ou advogado, o juiz se dará por suspeito.

E eles se darão por suspeitos, e, se não o fizerem, poderão ser recusados por qualquer das partes, se tiverem aconselhado qualquer delas.

19. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: Câmara Legislativa do Distrito Federal Prova: FCC - 2018 - Câmara Legislativa do Distrito Federal - Técnico Legislativo - Agente de Polícia Legislativa

O inquérito policial

A é um procedimento que pode ser presidido tanto pelo delegado de polícia quanto pelo membro do Ministério Público, desde que, neste último caso, tenha sido este o órgão responsável pela investigação.

B acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra.

C que apresentar vício contaminará eventual ação penal subsequente proposta com base nos elementos por ele colhidos.

D gera, quando arquivado, preclusão absoluta, não sendo possível o início de ação penal, ainda que tenha por fundamento a existência de novas provas.

E é um procedimento escrito, obrigatório e preparatório da ação penal, imprescindível para embasar o oferecimento da denúncia.

20. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: Câmara Legislativa do Distrito Federal Prova: FCC - 2018 - Câmara Legislativa do Distrito Federal - Procurador Legislativo

Sobre o inquérito policial, está de acordo com a legislação processual penal vigente e a jurisprudência dos Tribunais Superiores o que se afirma em:

A É peça indispensável para que o Ministério Público ofereça denúncia em crimes praticados por particular contra a administração pública.

B É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados nos autos, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

C Será concluído, em caso de investigação acerca de tráfico de drogas, no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, se o indiciado estiver preso, e de noventa dias, quando solto.

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D A autoridade policial, convencida da ausência de indícios suficientes de autoria, poderá mandar arquivar os autos de inquérito policial.

E Em razão do princípio da divisibilidade da ação penal pública incondicionada, admite-se o arquivamento implícito de inquérito policial.

21. Ano: 2018 Banca: FGV

O Ministério Público ofereceu denúncia em face de Matheus, imputando-lhe a prática de um crime de estelionato. Na cota da denúncia, o Promotor de Justiça solicitou a realização de exame grafotécnico para comparar as assinaturas constantes da documentação falsa, utilizada como instrumento da prática do estelionato, com as de Matheus. Após ser citado, Matheus procura seu advogado e esclarece, em sigilo, que realmente foi autor do crime de estelionato.

Considerando as informações narradas, sob o ponto de vista técnico, o advogado deverá esclarecer que Matheus

a) deverá realizar o exame grafotécnico, segundo as determinações que lhe forem realizadas, já que prevalece no Processo Penal o Princípio da Verdade Real.

b) poderá se recusar a realizar o exame grafotécnico até o momento de seu interrogatório, ocasião em que deverá fornecer padrão para o exame grafotécnico, ainda que com assinaturas diferentes daquelas tradicionalmente utilizadas por ele.

c) deverá realizar o exame grafotécnico, tendo em vista que, no recebimento da denúncia, prevalece o princípio do in dubio pro societatis.

d) poderá se recusar a realizar o exame grafotécnico durante todo o processo, e essa omissão não pode ser interpretada como confissão dos fatos narrados na denúncia.

22. Ano: 2017 Banca: FGV

Durante instrução probatória em que se imputava a João a prática de um crime de peculato, foram intimados para depor, em audiência de instrução e julgamento, os policiais civis que participaram das investigações, a ex-esposa de João, que tinha conhecimento dos fatos, e o padre para o qual João contava o que considerava seus pecados, inclusive sobre os desvios de dinheiro público.

Preocupados, todos os intimados para depoimento foram à audiência, acompanhados de seus advogados, demonstrando interesse em não prestar declarações. Considerando apenas as informações narradas, assinale a afirmativa correta.

a) Apenas o advogado da ex-esposa de João poderá requerer que sua cliente seja eximida do dever de depor, devendo os demais prestar declarações.

b) Todos os advogados poderão requerer que seus clientes sejam eximidos do dever de depor.

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c) Apenas o advogado do padre poderá buscar que ele não preste declarações, já que proibido, por ofício, de depor, devendo os demais prestar declarações.

d) Apenas os advogados da ex-esposa de João e do padre poderão requerer que seus clientes não sejam ouvidos na condição de testemunhas.

23. Ano: 2017 Banca: FGV

Fagner, irmão de Vitor, compareceu à Delegacia e narrou que foi vítima de agressões que lhe causaram lesão corporal de natureza leve. Afirmou Fagner, em sede policial, que Vitor desferiu um soco em seu rosto, deixando a agressão vestígios, mas esclareceu que não necessitou de atendimento médico.

Apesar de demonstrar interesse inequívoco em ver seu irmão responsabilizado criminalmente pelo ato praticado, não assinou termo de representação formal, além de não realizar exame de corpo de delito. Vitor foi denunciado pela prática do crime do Art. 129, § 9º, do Código Penal.

Durante a instrução, Fagner não foi localizado para ser ouvido, não havendo outras testemunhas presenciais. Vitor, em seu interrogatório, contudo, confirmou que desferiu um soco no rosto de seu irmão. Em relação aos documentos do processo, consta apenas a Folha de Antecedentes Criminais do acusado.

Considerando apenas as informações narradas na hipótese, assinale a afirmativa correta.

a) O processo deve ser extinto sem julgamento do mérito, pois a representação do ofendido necessariamente deve ser expressa e formal.

b) Não existe prova da materialidade, pois, quando a infração penal deixa vestígios, o exame de corpo de delito é indispensável, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

c) Não existe prova da materialidade, pois o Código de Processo Penal apenas admite o exame de corpo de delito direto.

d) Existe prova da materialidade, pois o Código de Processo Penal admite a figura do exame de corpo de delito indireto e este ocorreu no caso concreto.

24. Ano: 2016 Banca: FGV

Em uma mesma rua da cidade de Palmas, em dois imóveis diversos, moram Roberto e Mário. Roberto foi indiciado pela prática do crime de estelionato, razão pela qual o magistrado deferiu requerimento do Ministério Público de busca e apreensão de documentos em sua residência, sem estabelecer o horário em que deveria ser realizada. Diante da ordem judicial, a Polícia Civil compareceu à sua residência, às 04h da madrugada para cumprimento do mandado e ingressou no imóvel, sem autorização do indiciado, para cumprir a busca e apreensão.

Após a diligência, quando deixavam o imóvel, policiais receberam informações concretas de popular, devidamente identificado, de que Mário guardava drogas para facção criminosa em seu imóvel e, para

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comprovar o alegado, o popular ainda apresentou fotografias. Diante disso, os policiais ingressaram na residência de Mário, sem autorização deste, onde, de fato, apreenderam 1 kg de droga.

Sobre as diligências realizadas, com base na situação narrada, assinale a afirmativa correta.

a) Nas residências de Roberto e Mário foram inválidas.

b) Na residência de Roberto foi inválida, enquanto que, na residência de Mário, foi válida.

c) Nas residências de Roberto e Mário foram válidas.

d) Na residência de Roberto foi válida, enquanto que, na residência de Mário, foi inválida.

25. Ano: 2016 Banca: FGV

Hugo foi denunciado pela prática de um crime de furto qualificado praticado contra Rosa. Na audiência de instrução e julgamento, Rosa confirmou a autoria delitiva, mas apresentou versão repleta de contradições, inovando ao afirmar que estava junto com Lúcia quando foi vítima do crime. O Ministério Público ouve os policiais que participaram apenas, posteriormente, da prisão de Hugo e não deseja ouvir novas testemunhas. A defesa requer a oitiva de Lúcia, mencionada por Rosa em seu testemunho, já que antes não tinha conhecimento sobre a mesma, mas o juiz indefere afirmando que o advogado já havia arrolado o número máximo de testemunhas em sua resposta à acusação.

Diante dessa situação, o advogado de Hugo deve alegar que

a) as testemunhas referidas não devem ser computadas para fins do número máximo de testemunhas a serem ouvidas.

b) o Código de Processo Penal não traz número máximo de testemunhas de defesa, pois previsão em contrário violaria o princípio da ampla defesa.

c) as testemunhas referidas não podem prestar compromisso de dizer a verdade.

d) o testemunho de Rosa, ao inovar os fatos, deve ser considerado prova ilícita, de modo a ser desentranhado dos autos.

26. Ano: 2016 Banca: FGV

Thales foi denunciado pela prática de um crime de apropriação indébita. Para oitiva da vítima Marcos, residente em cidade diversa do juízo competente, foi expedida carta precatória, sendo todas as partes intimadas dessa expedição. Antes do retorno, foi realizada audiência de instrução e julgamento, mas apenas foram ouvidas as testemunhas de acusação João e José, que apresentaram versões absolutamente discrepantes sobre circunstâncias relevantes, sendo que ambas afirmaram que estavam no local dos fatos. Hélio, padre que escutou a confissão de Thales e tinha conhecimento sobre a dinâmica delitiva, em razão de seu dever de guardar segredo, não foi intimado. Com a concordância das partes, a audiência de continuação para oitiva das testemunhas de defesa e interrogatório foi remarcada.

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Considerando apenas as informações narradas, assinale a afirmativa correta.

a) O depoimento de João foi inválido, já que a oitiva do ofendido deve ser realizada antes das demais testemunhas e a expedição de carta precatória suspende a instrução criminal.

b) O juiz poderá fazer a contradita, diante das contradições sobre circunstâncias relevantes nos depoimentos das testemunhas.

c) Hélio está proibido de depor sem autorização da parte interessada, salvo quando não for possível, por outro modo, obter a prova do fato.

d) O advogado do acusado não precisa ser intimado pessoalmente da data designada para audiência a ser realizada no juízo deprecado.

27. Ano: 2015 Banca: FGV

Determinada autoridade policial recebeu informações de vizinhos de Lucas dando conta de que ele possuía arma de fogo calibre. 38 em sua casa, razão pela qual resolveu indiciá-lo pela prática de crime de posse de arma de fogo de uso permitido, infração de médio potencial ofensivo, punida com pena de detenção de 01 a 03 anos e multa. No curso das investigações, requereu ao Judiciário interceptação telefônica da linha do aparelho celular de Lucas para melhor investigar a prática do crime mencionado, tendo sido o pedido deferido.

De acordo com a situação narrada, a prova oriunda da interceptação deve ser considerada

a) ilícita, pois somente o Ministério Público tem legitimidade para representar pela medida.

b) válida, desde que tenha sido deferida por ordem do juiz competente para ação principal.

c) ilícita, pois o crime investigado é punido com detenção.

d) ilícita, assim como as dela derivadas, ainda que estas pudessem ser obtidas por fonte independente da primeira.

28. Ano: 2014 Banca: FGV

O Delegado de Polícia, desconfiado de que Fabiano é o líder de uma quadrilha que realiza assaltos à mão armada na região, decide, com a sua equipe, realizar uma interceptação telefônica sem autorização judicial. Durante algumas semanas, escutaram diversas conversas, por meio das quais descobriram o local onde a res furtiva era armazenada para posterior revenda.

Com essa informação, o Delegado de Polícia representou pela busca e apreensão a ser realizada na residência suspeita, sendo tal diligência autorizada pelo Juízo competente. Munidos do mandado de busca e apreensão, ingressam na residência encontrando diversos objetos fruto de roubo, como joias, celulares, documentos de identidade etc., tudo conforme indicou a interceptação telefônica. Assim, Fabiano foi conduzido à Delegacia, onde se registrou a ocorrência.

Acerca do caso narrado, assinale a opção correta.

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a) A realização da busca e apreensão é admissível, tendo em vista que houve autorização prévia do juízo competente, existindo justa causa para ajuizamento da ação penal.

b) A realização da busca e apreensão é admissível, apesar da interceptação telefônica ter sido realizada sem autorização judicial, existindo justa causa para ajuizamento da ação penal.

c) A realização da busca e apreensão não é admissível porque houve representação do Delegado de Polícia, não existindo justa causa para o ajuizamento da ação penal.

d) A realização da busca e apreensão não é admissível, pois derivou de uma interceptação telefônica ilícita, aplicando-se a teoria dos frutos da árvore envenenada, não existindo justa causa para o ajuizamento da ação penal.

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Gabarito 1. B 11. C 21. D

2. B 12. C 22. D

3. C 13. C 23. B

4. A 14. E 24. B

5. D 15. D 25. A

6. B 16. B 26. D

7. C 17. A 27. C

8. C 18. E 28. D

9. C 19. B

10. D 20. B

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Resumo direcionado Veja a seguir um resumão que nós preparamos com tudo o que vimos de mais importante nesta aula.

Espero que você já tenha feito o seu resumo também, e utilize o nosso para verificar se ficou faltando colocar algo.

SISTEMAS PROCESSUAIS

a) Sistema Acusatório (Brasil): distinção entre as funções de acusar, defender e julgar. Assegurado o contraditório e a ampla defesa, com a publicidade dos atos processuais.

- Rege-se pela imparcialidade do Magistrado.

- Por isso, há discussão doutrinária sobre a produção de provas ex officio pelo Juiz.

Requisitos para que o Juiz possa determinar de ofício a produção de provas antes da ação penal:

- investigação em andamento

- expediente ou procedimento sob análise judicial

- Periculum in mora

- fumus boni iuris

- excepcionalidade da atuação judicial

- Sem tais requisitos, são provas ilícitas.

b) Sistema Inquisitivo: típico de sistemas ditatoriais, com processo judicial sigiloso, sem contraditório, reunindo na mesma pessoa as funções de acusar, defender e julgar. Observação: o inquérito policial é inquisitivo, mas não é imprescindível ao ajuizamento da ação penal (conteúdo informativo), aliás não integra o processo penal propriamente dito (que só começa com o recebimento da ação penal), portanto não é exceção ao sistema acusatório.

c) Sistema Misto: duas fases processuais: uma inquisitiva (investigação preliminar e instrução preparatória) e outra acusatória (julgamento).

INQUÉRITO POLICIAL.

Conceito: procedimento administrativo inquisitório e preparatório, consistente em um conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa para apuração da infração penal e de sua autoria, presidido pela autoridade policial, a fim de fornecer elementos de informação para que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.

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Natureza jurídica: procedimento administrativo e não ato de jurisdição; vícios constantes do inquérito policial não afetam a ação penal a que deu origem.

Finalidade: colher elementos de informação relativos à autoria e materialidade da infração penal; destina-se à formação da opinio delicto (positiva, em caso de denúncia ou queixa, ou negativa, em caso de arquivamento).

Presidência: a cargo da autoridade policial. Polícia administrativa ou de segurança x polícia judiciária. A administrativa é preventiva, com caráter ostensivo, com a finalidade de impedir ocorrência de infrações. A polícia judiciária é repressiva, tem a missão primordial de elaboração do inquérito policial.

Inquéritos não criminais: a titularidade das investigações não está concentrada somente nas mãos da polícia civil (art. 4º do CCP admite os extrapoliciais). Há os inquéritos parlamentares, patrocinados pelas CPIs (que remeterão seus relatórios ao MP); os inquéritos policiais militares; os inquéritos civis (ACP); inquéritos para apuração de crimes praticados por magistrados ou promotores (investigações presididas por órgãos de cúpula de cada carreira, conforme respectiva legislação orgânica: LC 35/79, art. 33, LC 75/93, art. 18 e Lei n. 8625, art. 41); investigações envolvendo autoridades com prerrogativa de foro (tramitam no Tribunal respectivo, ex: STF, Inq2411, Dj 25.4.2008). Há também investigações criminais administrativas realizadas por outros órgãos, como a Fazenda Pública, o Banco Central, e outros, devendo tais procedimentos ser encaminhados ao MP quando apurados ilícitos penais.

Observação: Não há mais investigação judicial, da antiga lei de falências; hoje, a Lei 11.105/2005 não a prevê, aplicando-se as normas do CPP. Há, ainda, a possibilidade de investigação por conta do próprio Ministério Público. Em que pese divergência no âmbito do STF, decisões recentes são favoráveis à possibilidade (HC 91661). O STF aplica a Teoria dos Poderes Implícitos, para justificar o posicionamento. A CF/88, ao prever as funções institucionais do Ministério Público, no art. 129, prevê, além de exercer o controle externo da atividade policial - o que só pode se relacionar com os procedimentos investigatórios - (inciso VII), em que pese não haja hierarquia, presume-se, também lhe atribua a competência para suprir eventuais procedimentos não realizados ou realizados de forma insuficiente. Pode também o MP requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial (VIII); ora, se pode requisitar, teria também o poder de realizá-las. Ainda que não haja um procedimento legal previsto (assim como o inquérito no CPP), a Constituição prevê a possibilidade de exercício de "outras funções que lhe forem atribuídas" (inciso IX); assim, desde que com base em lei, sem usurpação das atribuições da autoridade policial (leia-se: no caso de haver inquérito em andamento, não caberia), pode sim o MP realizar investigação criminal. A LC 75/93, em seus arts. 7º, II, e 8º, prevê várias diligências investigatórias de atribuição do Ministério Público Federal. Além disso, a Lei nº 8625/93, lei orgânica nacional do Ministério Público, em seu art. 26, também explicita várias diligências de investigatórias que podem ser por este realizadas. Nesse sentido STJ HC 190917; Súmula 234 do STJ. O Supremo Tribunal Federal admite a atividade investigativa supletiva do Ministério Público, desde que obedecidos “os limites e controles ínsitos a esta instituição”, não podendo ser “ampla e irrestrita, sem qualquer controle, sob pena agredir direitos fundamentais”. “O entendimento de que as investigações realizadas no seio daquela instituição devam ser, necessariamente, subsidiárias, ocorrendo, apenas, quando não for possível, ou recomendável, que se efetivem pela própria Polícia.”.(HC 93930 / RJ, Min. Gilmar Mendes, segunda turma,DJE 03-02-2011).

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Características do Inquérito Policial:

1- É uma peça escrita – artigo 9º, CPP.

2- É instrumental – o Estado pode se valer de outros meios para obter esses elementos, por isso é instrumento, em regra. 3 - É uma peça dispensável – o titular da ação penal pode dispensar o inquérito (art. 27, CPP).

4 - É uma peça sigilosa – artigo 20, CPP. A quem não se opõe esse sigilo? Quem tem acesso ao inquérito mesmo ante o sigilo? Juiz e promotor. Quanto ao advogado – CF art. 5º, LXIII. Não é só o preso que tem direito a advogado, mas qualquer pessoa investigada. Se a CF assegura a assistência de um advogado, como se poderia ter essa assistência preservada se o advogado não tivesse acesso ao inquérito? O advogado tem acesso às informações já introduzidas nos autos do inquérito, e não em relação às diligências em andamento (artigo 7º, XIV, Lei 8.906/94 – Estatuto da OAB). Súmula Vinculante n. 14. Observação: se, nos autos do inquérito, houve quebra de sigilo de dados, quanto a tais informações, só terá acesso o advogado com procuração nos autos (HC 82.354 e HC 90.232 STF).

Pergunta de prova: delegado negou acesso aos autos a advogado com procuração, pode impetrar habeas corpus? Ou seria cabível mandado de segurança? O correto seria mandado de segurança, mas pode impetrar também habeas corpus. Para o STF, sempre que houver constrangimento à liberdade de locomoção, mesmo que potencial, será cabível o uso do habeas corpus. Exemplos: quebra ilegal de sigilo bancário (pode impugnar por HC) e negativa de acesso do advogado aos autos de inquérito (pode impugnar por HC). Contudo, o livre acesso aos autos do inquérito não pode ser autorizado pela autoridade investigante, pois os dados de outro investigado ou as diligências em curso são materiais sigilosos a terceiros (RMS 31.747-SP, 11/10/2011).

5- É uma peça inquisitiva – não há contraditório, tampouco ampla defesa.

6- É uma peça informativa – visa à colheita de elementos de informação para que o titular da ação penal possa ingressar em juízo. Elementos de informação são aqueles colhidos na fase investigatória, sem a participação das partes, ou seja, não há contraditório, nem ampla defesa. Prestam-se para a fundamentação das medidas cautelares e também para a estruturação de uma acusação. Existe algum elemento produzido na fase investigatória e que pode ser levado à fase judicial e utilizado para a condenação? A regra geral é que não, mas excepcionalmente sim, quanto às provas antecipadas (quando evidenciado o perigo real e concreto de perecimento do objeto probatório – ex: exame necroscópico), cautelares (ex: busca e apreensão, interceptação telefônica) e não-repetíveis (ex: caso de alguns exames periciais). Em relação a essas provas, o contraditório é diferido. Vide artigo 155 do CPP com redação determinada pela Lei 11.690/08.

7 - É uma peça indisponível – delegado não pode arquivar inquérito policial (art. 17, CPP).

8 - É temporário – o prazo para o término do inquérito é relevante apenas para o acusado preso; para o solto não é tão relevante, podendo ser extrapolado.

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Formas de Instauração do Inquérito

a. De ofício – quando a autoridade policial toma conhecimento direto e pessoal da infração penal. Inicia-se o inquérito por meio de portaria (isso para ação penal pública incondicionada); se exigível representação ou requisição Ministro da Justiça para a ação penal, para o inquérito também o será (art. 5º, p. 4º do CPP). Se privada a ação, somente haverá inquérito a requerimento do legitimado ativo (p. 5º).

b. Mediante requisição do juiz ou do MP – em face do sistema acusatório, não é aceitável a requisição da instauração do inquérito pelo juiz, que deve ficar afastado da fase pré-processual, ressalvada a tutela das garantias públicas. Fischer e Pacelli entendem pela não recepção da regra pela CF/88.

c. Por requerimento do ofendido ou de seu representante legal – o delegado, diante do requerimento do ofendido, é obrigado a instaurar o inquérito? Não. Se não houver um mínimo de elementos informativos, o delegado pode indeferir o pedido de instauração do inquérito. Do despacho do delegado que indefere a instauração do inquérito, conforme artigo 5º, p. 2º, CPP, cabe recurso ao órgão hierarquicamente superior da respectiva Polícia. Fischer e Pacielli defendem que o juízo da autoridade policial deve limitar-se à análise da tipicidade formal do fato; não cabe exame de excludentes. d. Mediante auto de prisão em fragrante – nessa hipótese não é necessária portaria, o próprio auto serve como peça inaugural.

e. Por notícia oferecida por qualquer do povo – conhecida como delatio criminis – art. 5º, p. 3º, CPP. É possível delatio criminis anônima? STF HC 84.827 – o STF entendeu que não é possível a instauração de procedimento criminal baseado única e exclusivamente em denúncia anônima. Deve a autoridade policial verificar a procedência das informações.

Direito ao silêncio: uma das perspectivas do princípio geral do Nemo tenetur se detegere (ninguém é obrigado a se descobrir), princípio por força do qual o acusado deixou de ser objeto de prova e tornou-se sujeito de direitos. No Brasil, o direito ao silêncio, também designado como um direito a não auto incriminação, tem fundo constitucional (art. 5º, LXIII), do mesmo modo que a norma que garante ao investigado o direito de identificar os responsáveis, tanto por sua prisão quanto por seu interrogatório judicial (art. 5º, LXIV)- Fischer e Pacelli, p. 32. O acusado sequer é obrigado a comparecer perante a autoridade policial; somente é obrigado a estar presente na diligência de reconhecimento de pessoas (arts. 226 e 228 CPP) – não há inconstitucionalidade na exigência desta última.

Identificação Criminal – é formada pela identificação fotográfica e identificação dactiloscópica. É também uma modalidade de intervenção corporal que não é tido como inconstitucional. Artigo 5º, LVIII, CF. Sendo norma de eficácia contida, possibilitou que a lei previsse hipóteses de identificação do civilmente identificado. As Leis 9.034/95 e Lei 10.054/00 foram revogadas pela Lei nº 12.037/2009, que prevê a identificação para quaisquer pessoas que não apresentem identificação civil, desde que se achem submetidas à persecução penal. Prevê, ainda, a identificação pelo processo datiloscópico e fotográfico para aqueles já identificados civilmente, quando (art. 3º) haja situações em que se pode questionar a identificação civil; fora isso, somente por determinação judicial será cabível a medida. É também vedada a referência da identificação criminal em atestados de antecedentes ou em informações não destinadas ao juízo criminal, se antes do trânsito em julgado. Com o advento da Lei 12.654, de 8.5.2012 (com vacatio de 180 dias), ao art. 5º da Lei 12.037/09 foi acrescido um parágrafo, autorizando, nas hipóteses do art. 3º, inc. IV (quando a identificação for

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essencial para a investigação criminal), a coleta de material biológico para a obtenção do perfil genético do investigado. Percebe-se que, no caso dos condenados por crime praticado, dolosamente, com violência de natureza grave contra pessoa, ou por qualquer dos crimes etiquetados como hediondos ou equiparados, a identificação do perfil genético é obrigatória, mediante extração de DNA, devendo seguir técnica adequada e indolor. A obrigatoriedade de fornecimento de material genética é tida por Rogério Sanches como inconstitucional, por ofensa a princípio de presunção da inocência e ao da impossibilidade de obrigação de produzir prova contra si. Ressalva, no entanto, a possibilidade de o Estado utilizar vestígios para colher material útil à identificação do indivíduo.

Indiciamento. Indiciar é atribuir a autoria de uma infração penal a uma pessoa.

Pressupostos do indiciamento:

a) Prova da existência do crime e

b) Indícios de autoria.

De quem é a atribuição para efetuar o indiciamento? Trata-se de ato privativo da autoridade policial.

Quem é que não pode ser indiciado? Em regra, qualquer pessoa pode ser indiciada, mas há exceções: magistrados e membros do MP – Lei 8.625/93, artigo 41 (Lei Orgânica do MP). Incomunicabilidade do indiciado preso - O artigo 21 do CPP não foi recepcionado pela CF/88. Se, no estado de defesa não é possível a incomunicabilidade, o que dizer então em um período de normalidade. Prazo para a conclusão do inquérito – no caso de réu preso = 10 dias; se o réu estiver solto = 30 dias. Esse prazo é processual ou penal? É processual, logo, a contagem é ditada pelas regras processuais. Quando falamos em prisão, tempo de prisão, aí sim esse prazo é penal! No caso do réu solto, o prazo de 30 dias para a conclusão do inquérito é impróprio, ou seja, sua inobservância não produz qualquer consequência. Se restar caracterizado um excesso abusivo, no caso de réu preso, não justificado pelas circunstâncias do delito e ou pluralidade de réus, é caso de relaxamento da prisão por excesso de prazo, sem prejuízo da continuidade do processo.

Prazos previstos em leis especiais: - CPPM – 20 dias para réu preso e 40 para réu solto; - Justiça Federal – 15 dias para réu preso e 30 dias para réu solto, sendo que esse prazo pode ser duplicado (Lei 5.010);

- Nova lei de drogas (11.343, art. 51) – 30 dias para réu preso e 90 para réu solto, esse prazo também pode ser duplicado; - Lei da Economia Popular – 10 dias, esteja o acusado preso ou solto.

Concluído o inquérito policial, para onde ele é remetido? Pelo CPP, o inquérito é encaminhado ao Poder Judiciário (art. 10, p. 1º, CPP). Quando o juiz recebe os autos do inquérito, há duas possibilidades: a) Se o crime for de ação penal pública, os autos são remetidos ao MP; b) Se o crime for de ação penal privada, os autos ficam em cartório aguardando a iniciativa do ofendido.

MP com os autos do inquérito – ao receber os autos do inquérito, o que o MP poderá fazer?

a) Oferecer denúncia;

b) requerer o arquivamento;

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c) Requisitar diligências, desde que imprescindíveis. Diligências deverão ser requisitadas diretamente à autoridade policial. Se o juiz indeferir o encaminhamento dos autos à autoridade policial, cabe correição parcial (não cabe ao juiz, no sistema acusatório, indeferir as diligências, visto que não exerce atos de investigação e sim apenas de jurisdição);

d) Declinar a competência;

e) Suscitar conflito de competência;

f) Suscitar conflito de atribuição – é aquele que se dá entre duas autoridades administrativas, como por exemplo, os órgãos do MP.

Obs: o único caso de contraditório em inquérito é o instaurado pela Polícia Federal, a pedido do Min. da Justiça, visando à expulsão do estrangeiro (Lei n. 6.815, art. 70); neste caso, o contraditório é obrigatório.

PROVA PENAL.

- Sistemas de valoração da prova.

Podemos observar os seguintes sistemas probatórios de valoração:

a) Sistema da íntima convicção ou certeza moral do juiz: De acordo com o sistema da certeza judicial o juiz é absolutamente livre para decidir, podendo inclusive se basear em elementos que não estão nos autos e julgar com base em seus pré-conceitos e crenças pessoais.

O juiz não precisa motivar a sua decisão e a lei não atribui valor às provas.

Em regra, é afastado no direito processual brasileiro, porém como resquício desse sistema temos que no Tribunal do Júri os jurados julgam de acordo com a sua íntima convicção e votam os quesitos sem fundamentar, conforme o art. 5, XXXVIII, CF.

b) Sistema da certeza legislativa ou da prova tarifada ou da certeza moral do legislador: Segundo o sistema das regras legais, a lei estipula previamente o valor e a aplicação de cada prova e o magistrado, como se fosse um matemático, aplica as regras, estando destituído de senso crítico.

No Brasil vigora como exceção, em casos como o do artigo 158, CPP, onde os crimes que deixarem vestígios necessitam de realização de exame de corpo de delito para demonstrar a materialidade da infração, sendo que nem a confissão do réu supre a falta do exame de corpo de delito, estando o juiz limitado à prova pericial e do artigo 155, parágrafo único do CPP (o estado de pessoas somente é provado mediante certidão, não se admitindo a prova testemunhal).

c) Sistema do livre convencimento motivado ou da persuasão racional: De acordo com o sistema da verdade real, o juiz tem a liberdade para decidir, mas precisa motivar a sua decisão.

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Não há hierarquia entre as provas, cabendo ao magistrado imprimir na decisão o grau de importância das provas que lhe são apresentadas.

É o sistema adotado pelo Brasil, nos termos do artigo 93, IX, CF c/c art. 155, CPP.

Conforme estabelece o artigo 155 do CPP, o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo buscar como fundamento elementos estranhos aos autos ("o que não está nos autos não está no mundo").

Igualmente, não pode o julgador fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na fase do inquérito, tendo em vista que esses elementos não foram passíveis de contraditório nem ampla defesa. Porém há duas exceções à imprestabilidade dos elementos colhidos na fase preliminar na prolação da sentença, sendo elas: as provas cautelares (realizadas em razão da necessidade e urgência, para que os elementos não venham a se esvair, como por exemplo, a busca e apreensão); as provas não repetíveis (são de fácil perecimento e não podem ser refeitas na fase processual, como por exemplo, a perícia em infrações que deixam vestígios); as provas antecipadas (visam evitar o perecimento probatório e tramitam perante o magistrado, com colaboração das futuras partes, resguardando-se contraditório e a ampla defesa, eliminado com isso qualquer obstáculo para utilização dos frutos do incidente na fase processual).

- Prova emprestada.

Prova emprestada é aquela produzida originariamente em um determinado processo, vem a ser apresentada, documentalmente, em outro.

Conforme o conceito estabelecido acima, podemos compreender que os requisitos para a admissibilidade da prova emprestada no processo penal são: a existência das mesmas partes em ambos os processos, o mesmo fato probando, o respeito a disciplina normativa que rege a produção probatória e o respeito ao contraditório no processo emprestante.

Com base no último requisito pode-se concluir que não há empréstimo de prova de um inquérito a um processo, em razão do procedimento investigativo preliminar ser regido pela inquisitoriedade.

- Princípios relativos à prova penal.

São princípios que regem a produção probatória:

- Princípio da autorresponsabilidade das partes: As partes assumem as consequências de sua inércia, erro ou negligência relativamente à prova de suas alegações. Logo, a frustração ou o êxito no processo estão ligados à conduta probatória do interessado.

- Princípio da audiência contraditória: Toda prova produzida por uma das partes admite a produção de uma contraprova pela parte contrária.

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Todo o manancial probatório produzido deve ser submetido ao crivo do contraditório e este princípio está relacionado com a expressão "audiatur et altera parte" (ouça-se também a parte contrária), o que importa em conferir ao processo uma estrutura dialética.

- Princípio da aquisição ou comunhão: A prova pertence ao processo e não à parte que a produziu, logo ela pode ser utilizada por qualquer das partes.

- Princípio da oralidade: O princípio da oralidade encontra guarida no artigo 62 da Lei 9.099/1995 (Lei Juizados Especiais) e por ele compreende-se que deve haver a predominância da palavra falada sobre a escrita, sem que esta seja excluída.

Da adoção desse princípio decorrem os seguintes subprincípios: princípio da concentração, no qual busca-se centralizar a produção probatória em audiência única ou no menor número delas (art. 400, § 1, CPP); princípio do imediatismo, no qual o magistrado deve proceder diretamente à colheita de todas as provas, em contato imediato com as partes. Todavia, isso não impede a produção de provas por videoconferência; o princípio da identidade física do julgador, no qual o juiz que preside a instrução é necessariamente aquele que irá julgar o processo, salvo exceções previstas em lei, como a promoção ou aposentadoria (art. 399, § 2, CPP); princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias.

- Princípio da publicidade: A regra no processo penal é a publicidade dos atos, em razão da importância das questões atinentes a esse processo. Os atos que compõem o procedimento, inclusive a realização de provas, não devem ser praticados de forma secreta.

Um exemplo da aplicação do princípio da publicidade é a Súmula vinculante nº 14 STF: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

Porém o princípio em tela encontra exceções, nas quais a CF e a legislação infraconstitucional asseguram o segredo de justiça, como é o caso do art. 1º da Lei 9.296/1996 (interceptação telefônica), art. 234-B do CP ("Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título - crimes contra a dignidade sexual- correrão em segredo de justiça"), art. 93, IX, da CF ("todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação”), art. 792, § 1.º, do CPP: (“Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes"), art. 201, § 6.º, do CPP: (“O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras

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informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação”).

- Princípio do livre convencimento motivado: O princípio do livre convencimento motivado é reconhecido no item VII da Exposição de Motivos do CPP.

Estabelece que o magistrado tem a liberdade para decidir o caso, desde que o faça de forma motivada.

- Princípio da não autoincriminação (“nemo tenetur se detegere”): Em face desse princípio o indivíduo acusado de alguma infração não pode ser obrigado a produzir provas contra si.