Ânodos tridimensionais com elevado tempo de vida …

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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO MULTICÊNTRICO EM QUÍMICA Lindomar Gomes de Sousa ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA ÚTIL PARA A PRODUÇÃO ELETROQUÍMICA DE OZÔNIO A PARTIR DA ELETRÓLISE DA ÁGUA PURA DIAMANTINA MG 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

PROGRAMA DE PÓS─GRADUAÇÃO MULTICÊNTRICO EM QUÍMICA

Lindomar Gomes de Sousa

ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA

ÚTIL PARA A PRODUÇÃO ELETROQUÍMICA DE OZÔNIO A

PARTIR DA ELETRÓLISE DA ÁGUA PURA

DIAMANTINA – MG

2017

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Lindomar Gomes de Sousa

ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA ÚTIL PARA A

PRODUÇÃO ELETROQUÍMICA DE OZÔNIO A PARTIR DA ELETRÓLISE DA

ÁGUA PURA

Diamantina – MG

Tese apresentada ao programa de pós Graduação

Multicêntrico em Química de Minas Gerais

(PPGMQ-MG) na Universidade Federal dos Vales

do Jequitinhonha e Mucuri, como parte das

exigências para obter o título de Doutor em Química.

Orientador: Leonardo Morais da Silva

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Dedico este trabalho aos meus pais, irmãos, minha

esposa Adriane, minha filha Sofia е a toda minha família

que, com muito carinho е apoio, não mediram esforços

para que eu chegasse até esta etapa de minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus por estar sempre guiando os meus passos e

iluminando o meu caminho.

Em especial, ao Prof. Dr. Leonardo Morais da Silva pela orientação em mais um

trabalho e pela confiança depositada a mim ao longo dos dez anos de pesquisa, tendo

influenciado diretamente no meu crescimento profissional e pessoal. Também agradeço ao

Prof. Dr. Rodrigo Moreira Verly pelas discussões de RMN e a Profa. Dra. Débora Vilela

Franco pelo incentivo e pelas orientações.

Aos meus queridos pais Honório Mendes de Souza e Ana Aparecida Gomes de

Sousa e a meus irmãos Nilson Gomes de Sousa, Ronaldo Gomes de Sousa, José Geraldo

Gomes de Sousa e Ana Paula Gomes de Sousa, que tanto me apoiaram. Também agradeço à

minha esposa Adriane Lopes Sousa pelo apoio e incentivo durante esta etapa da minha vida. E

em especial a minha querida filha Sofia Lopes de Sousa, que é minha inspiração.

A todo o Grupo de Eletroquímica e Química Ambiental (GEQAm), em especial

aos meus amigos José Joaquim de Sá Teles, Emanuel Roberto Faria, Jéferson Henrique e José

Geraldo Castro Júnior. Agradeço também a todos os amigos do Labvale, em especial a

Vanessa pela análise de CLAE e Cátia da Cruz Santos pela colaboração com o texto.

A todos os Técnicos e amigos do DAG/UFVJM, em especial ao Fabiano Ramos

Costa, Múcio Magno de Melo, Adelcio Oliveira de Miranda e Giliane da Conceição Rosa

pelo auxílio durante a minha licença. Também não posso esquecer dos professores Enilson de

Barros Silva e Wellington de Oliveira que me apoiaram para conseguir a licença.

A todos aqueles que, de uma forma ou de outra, contribuíram para a conclusão

deste trabalho.

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RESUMO

Eletrodos constituídos de -PbO2 foram preparados mediante inclusão de íons Fe3+ no

processo de eletrodeposição do PbO2, usando como substrato tela de aço (ASTM 316) para

obter eletrodos permeáveis à fluidos. A análise de difração de raios X revelou preferência na

formação da fase β-PbO2 em relação à fase α-PbO2. Imagens de MEV revelou uniformidade

com alterações superficiais devido à inclusão de Fe3+. Foi realizado eletrólise de água pura

usando um eletrodo polimérico sólido (EPS) em um reator filtro prensa visando a produção

eletroquímica de ozônio (PEO), obtendo uma eficiência de corrente da PEO (ΦPEO) de 10%

com produção de ozônio de 1,58 g h─1 e consumo de energia de 0,250 kW h g─1. Eletrólise

prolongada (t = 60 dias, j = 1,0 A cm─2 e 24 °C) demostrou estabilidade na tensão do reator

(U) e na ΦPEO. Também foi eletrodepositado -PbO2 em substrato de tecido de carbono tipo

sarja para a mesma finalidade. A análise de difração de raios X revelou preferência da fase β-

PbO2 em relação à α-PbO2. Imagens de MEV mostrou uniformidade com alterações

superficiais devido à inclusão de Fe3+. Na PEO foi obtido uma ΦPEO de 9,5%, com produção

de ozônio de 1,40 g h─1 e consumo de energia de 0,290 kW h g─1. Eletrólise prolongada (t =

30 dias, j = 1,0 A cm─2 e 24 °C) demostrou estabilidade de U e na ΦPEO. Foram realizadas

otimizações, possibilitando reduzir o custo de produção do conjunto eletrodo membrana

(MEA) e aumento na ΦPEO em 4% e redução dos custos energéticos em 40%. O ozônio

produzido foi utilizado para degradar solução de paracetamol (PCT) (20, 30 e 50 mg dm3)

em função do pH (ácido, natural (6,3) e alcalino) e tempo de ozonização. A análise

espectrofotométrica/UV e cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) revelaram que a

degradação é mais pronunciada em meios alcalinos, com uma menor energia elétrica por

ordem (EEO). Estudos de demanda química de oxigênio (DQO) revelaram uma redução de

80% de DQO para a degradação em pH 10. Verificou-se uma tendência entre dados DQO e

CLAE com espectrofotométrica/UV em 243 nm. O estudo de ressonância magnética nuclear

(RMN), após a ozonização, revelou que a oxidação do PCT ocorreu através da ruptura do anel

aromático, oxidada para HCO3−, sem alteração no grupo acetamida. Com a construção de um

novo reator para degradar PCT, Reator PVC 50, possibilitou reduzir os custos de degradação

do PCT em até 60%, em relação à degradação utilizando o reator de vidro.

Palavras chaves: Produção eletroquímica de ozônio, tempo de vida útil, eletrodo permeável a

fluido, eletrólise de água livre de eletrólito, reator filtro prensa do tipo EPS, ozonização do

paracetamol, Tecnologias ambientalmente correta.

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ABSTRACT

Electrodes composed of -PbO2 were prepared by inclusion Fe3+ ions in the electrodeposition

process of PbO2, using a steel screen as substrate (ASTM 316) to obtain fluid-permeable

electrodes. X-ray diffraction analysis revealed preference in the formation of the β-PbO2

phase in relation to the α-PbO2 phase. SEM images reveled uniformity with surface charges

due to the inclusion of Fe3+. It was performed a pure water electrolysis using a solid polymer

electrode (SPE) in a filter-press reactor for the electrochemical ozone production (EOP),

obtaining a current efficiency of EOP (ΦEOP) of 10%, with ozone production of 1.58 g h─1 and

energy consumption of 0.250 kW h g─1. Prolonged electrolysis (t = 60 days, j = 1.0 A cm─2

and 24 °C) showed stability on reactor voltage (U) and ΦEOP. It was also electrodeposited -

PbO2 on substrate twill-like carbon tissue for the same purpose. X-ray diffraction analysis

revealed preference in the formation of the β-PbO2 phase is relation to the α-PbO2 phase.

SEM images showed uniformity with surface changes due to the inclusion of Fe3+. In the

EOP, a ΦEOP of 9.5% was obtained, with ozone production of 1.40 g h─1 and energy

consumption of 0.290 kWh g─1. Prolonged electrolysis (t = 30 days, j = 1.0 A cm─2 and 24

°C) showed stability of U and ΦEOP. Optimizations were made to reduce the production cost

of the membrane electrode assembly (MEA) and increase ΦEOP by 4% end reduction of

energy costs by 40%. The ozone produced was used to degrade paracetamol solution (PCT)

(20, 30 and 50 mg dm─3) as a function of pH (acid, natural (6.3) and alkaline) and time of

ozonization. The spectrophotometric/UV analysis and high performance liquid

chromatography (HPLC) revealed that the degradation is more pronounced in alkaline media,

with lower electrical energy in order (EEO). Studies of chemical oxygen demand (COD)

revealed an 80% reduction for degradation at pH 10. There was a trend between COD and

HPLC with spectrophotometric/UV data at 243 nm. Nuclear magnetic resonance (NMR)

study after ozonization revealed that the oxidation of PCT occurred by disruption of the

aromatic ring, oxidized to HCO3−, without change in the acetamide group. With the

construction of a new reactor to degrade PCT, Reactor PVC 50, made it possible to reduce the

costs of degradation of PCT by up to 60% in relation to degradation using the glass reactor.

Keywords: Electrochemical production of ozone, shelf life, fluid permeable electrode,

electrolyte free electrolysis, filter press reactor type SPE, ozonization of paracetamol,

environmentally correct technologies.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Estrutura do ozônio em água. Adaptado de (RICE, 1982; BAILEY, 2012)..........23

Figura 2 – Configuração típica de uma célula Corona. Adaptado de (RICE, 1982)...............26

Figura 3 – As estruturas de α-PbO2 e β-PbO2. Adaptado de (LI; PLETCHER; WALSH,

2011).........................................................................................................................................35

Figura 4 – Diagrama esquemático da estrutura cristal-gel do ânodo de PbO2. Adaptado de

(PAVLOV; MONAHOV, 1996; CAO et al., 2009).................................................................36

Figura 5 – Diagrama esquemático da estrutura do sistema de eletrodo F-PbO2. Adaptado de

(CAO et al., 2009).....................................................................................................................39

Figura 6 – Transferência anódica do radical hidroxila para o oxigênio adsorvido. Adaptado

de (FENG et al., 1994)..............................................................................................................39

Figura 7 – Esquema do Nafion®: (A) canais antes e após hidratação. Adaptado de (GIERKE;

MUNN; WILSON, 1981); (B) Estrutura global. Adaptado de (MAURITZ; MOORE,

2004).........................................................................................................................................42

Figura 8 – Esquema representativo dos micros e macros regiões do MEA. Adaptado de

(HOORMANN et al., 2001).....................................................................................................43

Figura 9 – Esquema representativo dos processos elementares presentes nos reatores

eletroquímicos do tipo MEA. Adaptado de (Faria et al., 2017)................................................44

Figura 10 – Esquema proposto para as reações do ozônio com uma espécie M em solução

aquosa. Adaptado de (HOIGNÉ; BADER, 1983; KUNZ et al., 1999)....................................45

Figura 11 – Modelos de reatores de coluna de bolhas. Adaptado de (SCHMIDELL;

FACCIOTTI, 2001)..................................................................................................................50

Figura 12 – Característica do MEA: (A) Vista frontal e lateral (dimensões em cm), e (B)

Montagem da célula eletroquímica (COSTA; DA SILVA, 2012)............................................57

Figura 13 – Esquema do reator eletroquímico utilizado nos estudos da PEO (A) e foto do

aparato experimental utilizado no processo de degradação (B)................................................59

Figura 14 – Reator de coluna de bolha (Reator de Vidro) usado no processo de degradação de

solução contendo paracetamol..................................................................................................63

Figura 15 – Reator caseiro confeccionado a partir de material alternativo.............................67

Figura 16 – Difratogramas de raios X dos filmes eletrossintetizados sobre tela de aço na

presença de distintas concentrações dos íons Fe3+ presentes no banho eletrolítico..................70

Figura 17 – Deslocamento de pico dos principais planos cristalográficos do β-PbO2: (A)

β(110); (B) β(101); (C) β(200); e (D) β(211)............................................................................72

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Figura 18 – Imagens de MEV: (A) substrato de suporte; (B) camada intermediária

denominada ZY60; (C) PbO2 eletrodepositado na ausência de dopante; e (D, E, e F) PbO2

eletrodepositado na presença de dopante Fe3+ (1, 10 e 100 mM, respectivamente) presente no

banho eletrolítico.......................................................................................................................74

Figura 19 – Imagens de MEV: (A) PbO2 eletrodepositado na ausência de dopante; e (B, C e

D) PbO2 eletrodepositado na presença de dopante Fe3+ (1, 10 e 100 mM, respectivamente)

presente no banho eletrolítico...................................................................................................75

Figura 20 – Curvas de Tafel obtidas para os eletrodos de TA/-PbO2-Fe produzidos a partir

de distintas concentrações dos dopantes, disposto no MEA e imerso em água destilada (T = 25 oC). Dados não corrigidos para a queda ôhmica IRΩ................................................................79

Figura 21 – Curva de Tafel obtida para o eletrodo de TA/-PbO2 (meio líquido: água; = 1

mV s1; T = 25 C). (A) Sem correção para a queda ôhmica; (B) com correção para a queda

ôhmica.......................................................................................................................................80

Figura 22 – Dependência do potencial do reator U (A) e eficiência de corrente da PEO

(PEO) (B) em função da densidade de corrente aplicada (j) e da concentração de íons Fe3+

presentes no banho de eletrodeposição. Condições: água livre de eletrólitos, T = 24 °C e Q =

23,6 cm3 s1...............................................................................................................................87

Figura 23 – Dependência da velocidade de geração de ozônio (νPEO) (A), concentração do

ozônio na fase gasosa [O3] (B), consumo de energia elétrica específica para PEO (PPEO) (C) e

desempenho global do reator (ϑPEO) (D) em função da densidade de corrente aplicada (j).

Condições: água livre de eletrólitos, T = 24 °C e Q = 23,6 cm3 s1..........................................90

Figura 24 – Difratogramas de raios X dos filmes eletrossintetizados sobre tecido de carbono a

partir de distintas concentrações dos íons Fe3+ no banho eletrolítico.......................................94

Figura 25 – Deslocamentos dos planos β(110) (A), β(101) (B), β(200) (C) e β(211) (D)

devido a presença do íon dopante.............................................................................................95

Figura 26 – Imagens de MEV: (A) Suporte de tecido de carbono, (B) Imagem superficial do

filme suportado de β-PbO2 (C) PbO2 eletrodepositado na ausência de Fe3+ e (D, E e F) PbO2

eletrodepositado na presença de Fe3+ (1, 10 e 100 mM, respectivamente) presente no banho

eletrolítico.................................................................................................................................97

Figura 27 – Curvas de Tafel obtidas para os eletrodos de TC/-PbO2-Fe com diferentes

dopagens e alojados no MEA e imerso em água destilada (T = 25 oC), antes da correção para

IRΩ.............................................................................................................................................99

Figura 28 – Curva de Tafel para o eletrodo de TC/-PbO2-Fe3+ (meio líquido: água; = 1

mV s─1; T = 25 oC). (A) Sem correção para a queda ôhmica; (B) Com correção para a queda

ôhmica.....................................................................................................................................100

Figura 29 – Dependência do potencial do reator U (A) e eficiência de corrente da PEO PEO

(B) em função da densidade de corrente aplicada (j). Condições: água livre de eletrólitos, T =

24 °C e Q = 23,6 cm3 s─1........................................................................................................103

Page 17: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

Figura 30 – Dependência da velocidade de geração de ozônio (νPEO) (A), concentração do

ozônio na fase gasosa [O3] (B), consumo de energia elétrica específica para PEO (PPEO) (C) e

desempenho global do reator (ϑPEO) (D) em função da densidade de corrente aplicada (j).

Condições: água livre de eletrólitos, T = 24 °C e Q = 23,6 cm3 s1........................................106

Figura 31 – Fluxômetro confeccionado em laboratório usado para quantificar o fluxo

volumétrico da mistura gasosa contendo (N2, O2 e O3)..........................................................110

Figura 32 – Esquema usado para separar o compartimento anódico do catódico.................112

Figura 33 – Variação da vazão no compartimento anódico com avaliação ponto-a-ponto do

potencial de célula e a eficiência de corrente em função do tempo de ozonização. (A) Análise

de U; (B) Análise PEO. Volume total anódico = 1 L H2O.....................................................115

Figura 34 – Variação da vazão da água no compartimento anódico com avaliação ponto-a-

ponto do potencial de célula e a eficiência de corrente em função do tempo de produção de

O3. (A) Análise de U; (B) Análise PEO. Volume total anódico = 2 L H2O...........................116

Figura 35 – Influência do uso de NaCl no compartimento catódico sobre a PEO em função

do tempo de ozonizaçao: (A) Potencial (U); (B) Eficiência de corrente da PEO PEO; (C)

Consumo de energia elétrica específica para a PEO (𝑃PEO); (D) Desempenho global do reator (𝜗PEO).....................................................................................................................................119

Figura 36 – Estrutura química do paracetamol......................................................................121

Figura 37 – Comportamento espectrofotométrico do paracetamol na região UV.................122

Figura 38 – Curva analítica demonstrando o comportamento linear da concentração do PCT

vs Absorbância espectrofotométrica em λ = 243 nm..............................................................123

Figura 39 – Comportamento cromatográfico do paracetamol na região 243 nm..................124

Figura 40 – Curva analítica demonstrando o comportamento linear concentração do PCT vs

Área de pico. ..........................................................................................................................125

Figura 41 – Curva analítica demonstrando o comportamento linear da concentração do [PCT]

vs DQO....................................................................................................................................126

Figura 42 – Evolução espectral do processo de degradação da solução de paracetamol de 50

mg dm─3 em distintos pHs: (A) 2,0; (B) Sem ajuste (6,30); e (C) 10,0..................................129

Figura 43 – Influência do pH na degradação do paracetamol em λ = 243 nm: (A) [PCT] = 20

mg dm─3; (B) [PCT] = 30 mg dm─3; (C) [PCT] = 50 mg dm─3..............................................131

Figura 44 – Perfis cinéticos de pseudo-primeira ordem obtidos para diferentes concentrações

do PCT em meio alcalino........................................................................................................132

Figura 45 – Cromatograma das amostras oriundas da ozonização do paracetamol com

concentração inicial de 50 mg dm─3: (A) pH ácido; (B) pH natural (sem alteração); (C) pH

básico......................................................................................................................................134

Page 18: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

Figura 46 – Influência do pH no processo de ozonização do paracetamol: (A) [PCT] = 20 mg

dm─3; (B) [PCT] = 30 mg dm─3; (C) [PCT] = 50 mg dm─3....................................................136

Figura 47 – Perfil cinético de pseudo-primeira ordem referente à remoção do PCT segundo

os dados obtidos com a técnica CLAE....................................................................................137

Figura 48 – Percentagem de redução de DQO em função do tempo de ozonização do

paracetamol: (A) [PCT] = 20 mg dm-3; (B) [PCT] = 30 mg dm-3; e (C) [PCT] = 50 mg

dm─3........................................................................................................................................140

Figura 49 – Tendência linear obtida entre as diferentes técnicas analíticas (DQO e HPLC

com espectrofotometria/UV 243)............................................................................................142

Figura 50 – Espectro de RMN do 1H das amostras de paracetamol: (A) Antes da ozonização;

(B) Após ozonólise..................................................................................................................143

Figura 51 – Espectro de RMN do 13C das amostras de paracetamol: (A) Antes da ozonização;

(B) Após ozonização...............................................................................................................144

Figura 52 – Espectro de RMN do 13C e DEPT─135 desacoplados das amostras de

paracetamol: (A) Antes da ozonização; (B) Após ozonização................................................145

Figura 53 – Possível mecanismo de reação para o processo de ozonização do paracetamol em

meio alcalino...........................................................................................................................146

Figura 54 – Comportamento espectrofotométrico do paracetamol na região UV: Reator de

vidro (A); Reator PVC 50 (B); e Reator PVC 75 (C).............................................................149

Figura 55 – Normalização da absorbância espectrofotométrica/UV para os distintos

reatores....................................................................................................................................150

Figura 56 – Perfis cinéticos de pseudo-primeira ordem obtidos para os distintos reatores...151

Figura 57 – Comportamento cromatográfico do paracetamol via análise de CLAE em função

do tipo de reator utilizado no processo de ozonização: Reator de Vidro (A); Reator PVC 50

(B); e Reator PVC 75 (C)........................................................................................................152

Figura 58 – Normalização da concentração do PCT via análise CLAE, em função do tempo

de ozonização nos distintos reatores.......................................................................................153

Figura 59 – Perfis cinéticos de pseudo-primeira ordem obtidos pela degradação do PCT via

CLAE conduzidos em distintos reatores.................................................................................154

Figura 60 – Percentagem de redução de DQO em função do tempo de ozonização do

paracetamol conduzida em distintos reatores; [PCT] = 50 mg dm-3; pH sem alteração.........155

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Mecanismo para os processos da RDO/PEO em eletrodos inertes........................31

Tabela 2 – Tamanho médio dos cristalitos (nm) dos filmes de TA/PbO2-Fe

eletrossintetizados.....................................................................................................................73

Tabela 3 – Dependência dos parâmetros cinéticos obtidos para a RDO em função do tipo de

eletrodo. Condições: água pura; = 1 mV s1; T = 25 C).......................................................82

Tabela 4 – Tamanho médio dos cristalitos (nm) dos filmes de TC/PbO2-Fe

eletrossintetizados.....................................................................................................................96

Tabela 5 – Dependência dos parâmetros cinéticos obtidos para a RDO em função do tipo de

eletrodo. Condições: água pura; = 1 mV s1; T = 25 C).....................................................101

Tabela 6 – Energia elétrica por ordem calculada em função das variáveis operacionais da

ozonização...............................................................................................................................138

Tabela 7 – Mudanças químicas do paracetamol para 1H e 13C, obtidas a 20 ºC em uma

mistura H2O:D2O (95:5, v/v) (300 MHz)................................................................................146

Tabela 8 – Energia elétrica por ordem calculada em função dos distintos reatores utilizados

na ozonização..........................................................................................................................155

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Page 21: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

ABREVIAÇÕES

ABS Absorbância

ACT Acetonitrile

ADS Adsorvido

BDD Diamante Dopado com Boro

CE Contra Eletrodo

CLAE Cromatografia Líquida de Alta Eficiência

DE Desreguladores Endócrinos

DQO Demanda Química de Oxigênio

DRX Difração de Raio-X

ECS Eletrodo de Calomelano Saturado

EDV Etapa Determinante da Velocidade

EPS Eletrodo Polimérico Sólido

ER Eletrodo de Referência

ERH Eletrodo Reversível de Hidrogênio

ET Eletrodo de Trabalho

ETEs Estações de Tratamento de Esgoto

GE General Electric

MEA Conjunto Eletrodo Membrana

MEV Microscopia Eletrônica de Varredura

MHz Megahertz

mm Massa Molar

P.A. Para Análise

PCA Potencial em Circuito Aberto

PCT Paracetamol

PEO Produção Eletroquímica de Ozônio

POAs Processos Oxidativos Avançados

PVC Policloreto de Vinila

RDH Reação de Desprendimento de Hidrogênio

RDO Reação de Desprendimento de Oxigênio

RMN Ressonância Magnética Nuclear

STI Sistemas do Tratamento Integrado

TA Tela Aço

TC Tecido de Carbono

TFA Trifluoroacetic acid

UV Ultra Violeta

ZNA Zonas de Nucleação Anódica

ZNC Zonas de Nucleação Catódica

1D Unidimensional

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Page 23: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

SIMBOLOGIA

A Ampere

A Área ativa do eletrodo

Ag Área geométrica

θ e β Coberturas superficiais

θB Ângulo de Bragg

b Coeficiente de Tafel

B Largura à meia altura do pico (rad)

d Diâmetro médio de partícula

L Espessura média do filme líquido

ε Constante de absortividade molar

EEO Energia elétrica por ordem

e─1 Elétrons livre

F Constante de Faraday

hv Radiação eletromagnética

Hz Frequência

I Corrente

𝑖𝑡 Corrente total

j Densidade de corrente

k0ap Constante de velocidade aparente

k Constante de proporcionalidade da partícula esférica (0,9)

l Caminho ótico da cubeta

M Composto qualquer

M Molécula de gás inerte

M1 Molaridade da solução de sulfato ferroso amoniacal

η Sobrepotencial

P Consumo de energia elétrica específica

𝑄 Fluxo volumétrico

R Substrato orgânico

RΩ Resistências ôhmicas

T Temperatura

t Tempo

U Potencial de célula

𝑣 Velocidade da geração de ozônio

v Velocidade de varredura

V Voltes

VS Volume de sulfato ferroso amoniacal usado na titulação em cm─3

vs Versus

VT Volume

X(aq) Composto alvo

W Watts

z Número de elétrons

α Coeficiente de transferência eletrônica

Page 24: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

αap Coeficiente de transferência eletrônica aparente

Ф Eficiência de corrente

𝜗 Desempenho global do reator

λ Comprimento de onda

ϕ Espessura

Page 25: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO GERAL ................................................................................................ 23

1.1 Ozônio ........................................................................................................................ 23

1.2 Geradores de ozônio ................................................................................................... 25

1.2.1 Reatores Corona ................................................................................................. 25

1.2.2 Reatores Fotoquímicos ....................................................................................... 26

1.2.3 Reatores Eletroquímicos ..................................................................................... 28

1.2.3.1 Tipos de eletrodos visando a produção eletroquímica de ozônio................ 32

1.2.3.2 Particularidade do sistema PbO2 e a PEO ................................................... 34

1.3.3.3 Uso de PbO2 contendo íons dopantes visando a PEO ................................. 38

1.3 Estado da arte dos Eletrólito Polimérico Sólido (EPS) .............................................. 40

1.3.1 Ozonizadores eletroquímicos baseados no uso de EPS ...................................... 41

1.4 Ozonização e processos combinados ......................................................................... 45

1.4.1 Aspectos da transferência de massa do ozônio na interface gás/líquido ............ 49

2 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................... 53

2.1 Objetivo específico ..................................................................................................... 53

3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL .......................................................................... 55

3.1 Ânodos de PbO2 suportado em substrato tela de aço ASTM 316 .............................. 55

3.1.1 Preparo dos eletrodos de trabalho ...................................................................... 55

3.1.2 Processo de eletrodeposição .............................................................................. 55

3.1.3 Preparo do conjunto eletrodo membrana (MEA) .............................................. 56

3.1.4 Caracterização dos eletrodos e detalhes sobre o reator filtro-prensa................. 57

3.1.5 Quantificação do ozônio produzido e obtenção das figuras de mérito da PEO 58

3.2 Ânodos de PbO2 suportado em substrato tecido de carbono tipo sarja ...................... 61

3.3 Otimização da produção eletroquímica de ozônio .................................................... 62

3.4 Aplicação do ozônio gerado eletroquimicamente em processo de degradação ......... 62

3.4.1 Degradação do paracetamol ............................................................................... 62

3.4.1.1 Ozonização das soluções de paracetamol utilizando reator de coluna de

bolha ..................................................................................................................... 63

3.4.1.2 Demanda Química de Oxigênio (DQO) ...................................................... 64

3.3.1.3 Caracterização dos subprodutos de oxidação usando Ressonância

Magnética Nuclear (RMN) ......................................................................................... 66

3.5 Otimização do processo de transferência de massa .................................................... 66

Page 26: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................................. 69

4.1 Ânodos de PbO2 suportado em substrato tela de aço ASTM 316 ............................. 69

4.1.1 Caracterização ex situ dos eletrodos de β-PbO2................................................. 69

4.1.1.1 Análise por DRX ........................................................................................ 69

4.1.1.2 Análise por MEV ........................................................................................ 73

4.1.2 Estudos cinéticos da RDO/PEO ......................................................................... 77

4.1.3 Produção eletroquímica de ozônio ..................................................................... 84

4.1.4 Estabilidade do MEA durante a eletrólise de água livre de eletrólitos .............. 92

4.2 Ânodos de PbO2 suportados em substrato tecido de carbono tipo sarja .................... 93

4.2.1 Caracterização ex situ dos eletrodos de β-PbO2................................................. 93

4.2.1.1 Análise por DRX ........................................................................................ 93

4.2.1.2 Análise por MEV ........................................................................................ 96

4.2.2 Estudo cinético da RDO/PEO ............................................................................ 98

4.2.3 Produção eletroquímica de ozônio ................................................................... 102

4.3 Otimização da produção eletroquímica de ozônio .................................................. 108

4.3.1 Construção de um fluxômetro alternativo ........................................................ 109

4.3.2 Redução da quantidade de Nafion® 324 .......................................................... 110

4.3.3 Otimizações anódicas ....................................................................................... 113

4.3.3.1 Fluxo volumétrico da água circulante no sistema ..................................... 113

4.3.4 Otimizações catódicas ...................................................................................... 117

4.4 Aplicação do ozônio gerado eletroquimicamente em processo de degradação ....... 120

4.4.1 Estudos preliminares do material a ser degradado .......................................... 121

4.4.2 Ozonização do paracetamol em reator de coluna de bolhas e avaliação da

eficiência de degradação via espectrofotometria/UV e CLAE ..................................... 126

4.4.3 Combustão do paracetamol via ozonólise ....................................................... 139

4.4.4 Estudos de RMN ............................................................................................. 142

4.5 Otimização do processo de transferência de massa ................................................. 147

5 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS ........................................................................... 157

6 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 159

7 ANEXO I ............................................................................................................................ 171

Page 27: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

23

1 INTRODUÇÃO GERAL

1.1 Ozônio

Os primeiros relatos sobre o ozônio foram registrados em 1785 quando um físico

holandês, Van Marum, observou que a descarga elétrica em ar resultou em um odor irritante

bastante característico. Em 1801 o mesmo odor foi observado durante a eletrólise da água

(RIDEAL, 1920). No entanto, oficialmente a descoberta do ozônio só foi ocorrer na academia

de Monique em 1840 por um químico e físico alemão-suíço (Christian Friedrich Schönbein)

(SCHÖNBEIN, 1840). O nome “ozônio” é derivado da palavra grega “ozein” que significa

cheiro.

Em 1845 La Rive e Marignac (1845) obtiveram ozônio a partir de uma passagem

de arco elétrico em ambiente contendo oxigênio puro. Posteriormente, trabalhos conduzidos

por Hunt (1848 ), sobre as propriedades oxidantes do ozônio, permitiram-lhe postular que a

estrutura molecular do ozônio é constituída de um triângulo triatômico alotrópico.

A Figura 1 mostra as quatro formas canônicas do híbrido de ressonância

representativo da molécula de ozônio propostas por Bailey (2012).

Figura 1 – Estrutura do ozônio em água. Adaptado de (RICE, 1982; BAILEY, 2012).

A molécula de ozônio possui uma geometria triangular e em condições normais de

temperatura e pressão, o O3 é um gás instável possuidor de um elevado poder de oxidação e

odor irritante característico, que pode ser detectável no ar pela maioria das pessoas em

concentrações da ordem de 0,01 ppm (KIRK; OTHMER, 1953). O O3 é considerado

moderadamente solúvel em água (13 vezes mais solúvel que O2) (RICE, 1982).

Devido a grande instabilidade, a molécula de O3 sofre um processo de dissociação

espontânea com o tempo resultando em moléculas de O2, que são mais estável em condições

ambiente de temperatura e pressão (LANGLAIS; RECKHOW; BRINK, 1991). Por se

degradar facilmente (t½ = 20 a 90 minutos, dependendo do ambiente), o uso do ozônio em

grande escala requer que ele seja produzido no seu local de aplicação reduzindo assim gastos

e perigos relacionados como seu transporte e estocagem (TRASATTI, 1995; ARMOR, 1999).

Page 28: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

24

Em temperaturas inferiores a -112 °C, o ozônio condensa-se em um líquido azul

escuro que explode facilmente. Observa-se também que misturas entre ozônio e oxigênio,

com concentrações acima de 20%, tanto na fase líquida quanto na fase gasosa, também está

sujeito à explosão (RICE, 1982).

A molécula de O3 é a segunda na escala de oxidação, sendo superada somente

pela molécula do F2. Face às vantagens e benefícios do emprego do O3, o número de

aplicações envolvendo o ozônio supera em muito os casos onde o flúor é usado como agente

oxidante. Na década de 70, o ozônio recebeu uma atenção muito especial após a descoberta

dos radicais hidroxila (HO●), um dos mais poderosos agentes oxidantes conhecidos (E0 =

2,8V (vs ERH) (GLAZE; KANG; CHAPIN, 1987), que são formados em grande quantidade

em ambiente aquoso contendo ozônio na presença tanto de radiação ultra-violeta como de

peróxido de hidrogênio.

O ozônio encontra aplicações em diferentes processos como é o caso do

tratamento de água, combustão de compostos orgânicos resistentes, limpeza de efluentes,

indústria farmacêutica, biotecnologia, branqueamento da polpa de madeira, germicida,

desinfecção de alimentos, bactericida, prevenção de mofo, leveduras, fungos, no ataque de

inseto e piscicultura, entre outras aplicações (TATAPUDI; FENTON, 1994; TRASATTI,

1995; GRAHAM, 1997; ARMOR, 1999; HAN et al., 2004). Além disso, o ozônio apresenta a

vantagem de se decompor naturalmente em oxigênio molecular, portanto, não formam

componentes persistentes e/ou prejudiciais ao meio ambiente; não é considerado

carcinogênico nem mutagênico; não se acumula em tecido gorduroso nem causa efeitos

crônicos ao longo do tempo (HAN et al., 2004).

No Brasil, os primeiros relatos do uso de ozônio para o tratamento de água são da

década de 80, quando algumas estações de tratamento de água necessitaram de alternativas

para os métodos convencionais de pré-cloração e pré-aeração de águas superficiais. Em 1985,

algumas indústrias, como a Pirelli e a Cutrale, iniciaram o processo de tratamento de água em

suas estações por meio da pré-ozonização. Nessa mesma época, as indústrias de

engarrafamento de água mineral também passaram a utilizar o ozônio no controle

bacteriológico da água.

Page 29: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

25

1.2 Geradores de ozônio

1.2.1 Reatores Corona

O processo Corona foi desenvolvido por Von Siemens, (1857), onde foi usado um

tubo gerador de ozônio, resultado da passagem de um arco elétrico em ambiente gasoso

contendo oxigênio. Tal processo é baseado na aplicação de uma voltagem alternada entre dois

eletrodos separados por um dielétrico, onde flui o oxigênio seco ou ar. A descarga elétrica

entre os eletrodos resulta na decomposição da molécula de O2 em radicais O●, que quando

combinados com uma molécula de O2 resulta na formação de O3. Este protótipo gerador de

ozônio serviu, posteriormente, para o desenvolvimento do ozonizador do tipo Corona capaz

de gerar até 15% de O3 na fase gasosa (RICE, 1996).

Avanços nos fundamentos relacionados à tecnologia Corona foram obtidos a

partir da investigação da influência da temperatura da fase gasosa sobre a eficiência de

formação do ozônio, onde se constatou que a concentração do O3 na fase gasosa (O2 + O3)

aumenta com a redução da temperatura. De acordo com a literatura (BENSON;

AXWORTHY, 1959), a produção do ozônio no processo Corona pode ser representada pelo

mecanismo apresentado nas Equações 1 e 2.

𝑒−1 + 𝑂2 → 2𝑂• + 𝑒−1 Eq. (1)

𝑂• + 𝑂2 +𝑀 → 𝑂3 +𝑀∗ Eq. (2)

onde M representa uma molécula de um gás inerte que serve para remover o excesso de

energia adquirido pelo O3 e 𝑒−1 é o elétron livre do arco elétrico.

De acordo com o mecanismo apresentado nas Equações 1 e 2, a reação de

formação de ozônio inicia-se quando 𝑒−1 colide com a molécula de O2 dissociando-a. Na

etapa seguinte, o O3 é formado a partir de uma colisão de terceira ordem, onde a espécie inerte

M absorve o excesso de energia adquirido no choque estabilizando assim a molécula de O3

recém-formada (RICE, 1982).

Simultaneamente ao processo de produção de ozônio, ocorre no interior da

Corona uma reação de decomposição do O3, a qual é representada pelo mecanismo mostrado

nas Equações 3 e 4 (BENSON; AXWORTHY, 1959).

Page 30: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

26

𝑂• + 𝑂3 → 2𝑂2 Eq. (3)

𝑒−1 + 𝑂3 → 𝑂2 + 𝑂• + 𝑒−1 Eq. (4)

Portanto, de acordo com o mecanismo apresentado nas Equações 3 e 4, a

eficiência do processo Corona, para a reação de formação de O3, é resultante da competição

entre os processos de produção e de decomposição que ocorrem dentro da Corona. Dados da

literatura (RICE, 1982) mostram que os parâmetros controladores da eficiência para a

formação do O3 são: temperatura do gás de entrada, disponibilidade de oxigênio, presença de

contaminantes na fase gasosa, potência elétrica da Corona e o fluxo do gás de alimentação.

Estudos mais recentes revelam que a frequência (Hz) de operação da corona e o tipo de

dielétrico empregado também afeta a taxa de produção de O3 (FRANCO et al., 2008). A

Figura 2 apresenta um esquema ilustrativo do processo Corona (RICE, 1982).

Figura 2 – Configuração típica de uma célula Corona. Adaptado de (RICE, 1982).

O principal inconveniente apresentado pela tecnologia Corona é que a eficiência

energética diminui rapidamente à medida que tentamos aumentar a taxa de geração de ozônio.

Isso se deve porque a fonte de energia empregada para promover a dissociação da molécula

de oxigênio (arco elétrico) também provoca a degradação da molécula de O3 recém-formada,

pois a reação ocorre em fase homogênea, ou seja, tanto os reagentes quanto os produtos estão

expostos à mesma fonte de energia que promove a reação na fase gasosa (RICE, 1982).

1.2.2 Reatores Fotoquímicos

Quando submetido à radiação ultravioleta – UV, a molécula de oxigênio absorve

radiação eletromagnética podendo sofrer uma dissociação. Caso isto ocorra, os átomos de

Page 31: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

27

oxigênio produzidos podem então reagir com outra molécula de oxigênio vizinha resultando

na formação de ozônio.

Teoricamente a eficiência quântica para a produção de ozônio, através da

irradiação por comprimentos de onda menores do que 242 nm, é 2,0. Isto se deve ao fato que

cada fóton absorvido pela molécula de oxigênio resultará na formação de dois átomos de

oxigênio, os quais após combinação com moléculas vizinhas de O2 resultam na formação de

duas moléculas de ozônio. A reação de formação do O3 pelo processo fotoquímico pode ser

representada pelo mecanismo apresentado nas Equações 5 e 6 (RICE, 1982):

𝑂2 + ℎ𝑣 → 2𝑂• Eq. (5)

𝑂• + 𝑂2 → 𝑂3 Eq. (6)

Do ponto de vista experimental, constata-se que a eficiência quântica é sempre

inferior a 2,0. Isto se deve porque nem todo radical formado originará uma molécula de O3 e

pelo fato de ocorrer fotólise da molécula de O3 após absorção de radiação eletromagnética de

elevada energia. Um possível mecanismo responsável pela decomposição parcial do ozônio

no reator fotoquímico é o mesmo apresentado em uma das etapas no processo corona

(Equação 3), outra possibilidade é representado pelo mecanismo apresentado pela Equação 7

(RICE, 1982):

𝑂3 + ℎ𝑣 → 𝑂2 + 𝑂•(1𝐷) 200 ≤ 𝜆 ≤ 308 𝑛𝑚 Eq. (7)

onde 𝑂•(1𝐷) representa o estado fundamental da molécula de oxigênio denominado singleto.

A energia envolvida para uma maior eficiência na produção fotoquímica de

ozônio corresponde a um comprimento de onda de 242 nm. Na prática, é muito difícil fazer

com que a irradiação seja emitida exatamente no comprimento de onda adequado (λ ≅ 242

nm) para uma maior eficiência na produção do ozônio a partir de oxigênio, sem a presença

simultânea da emissão em comprimentos de onda diferentes, onde ocorre a decomposição do

ozônio (200 ≤ λ ≤ 308 nm). Portanto, a quantidade de ozônio obtida experimentalmente (em

torno de ≈ 1%), no processo fotoquímico, é um equilíbrio entre a produção (Equações 5 e 6) e

o processo de decomposição (Equações 3 e 7) (DA SILVA; SANTANA; BOODTS, 2003).

Da mesma forma que ocorre no processo Corona, a presença de uma molécula de

gás inerte afeta o processo de produção de ozônio no processo fotoquímico. Esta influência

Page 32: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

28

decorrente de uma colisão de terceira ordem, que também pode ser representada pela Equação

2, a qual é idêntica a uma das etapas do mecanismo proposto para a produção de ozônio no

reator corona (DA SILVA; SANTANA; BOODTS, 2003).

Todavia, embora seja um processo que exija uma grande demanda de energia, a

tecnologia fotoquímica para a geração de ozônio encontra aplicações em pequena escala

laboratorial com o propósito de eliminar odores e efetuar assepsia. O maior atrativo desta

tecnologia é a facilidade de se obter um controle preciso e reprodutível da produção de ozônio

através do controle da potência da lâmpada empregada (RICE, 1982).

Sistema híbrido de ozonização baseada na combinação das tecnologias Corona e

fotoquímica tem sido empregado no tratamento de efluentes contaminados, como é o caso da

degradação de compostos orgânicos (SHIN et al., 1999).

1.2.3 Reatores Eletroquímicos

As potencialidades da tecnologia eletroquímica para a geração de ozônio e sua

aplicação na degradação de compostos orgânicos recalcitrantes de interesse ambiental foram

relatadas por Da Silva e Colaboradores (DA SILVA; SANTANA; BOODTS, 2003). Segundo

a literatura a produção eletroquímica de ozônio (PEO) é vantajosa em relação ao processo

Corona convencional em casos onde a concentração requerida de ozônio na fase gasosa é

elevada, ou em casos onde a demanda de ozônio (massa/tempo) é baixa-moderada (DA

SILVA; SANTANA; BOODTS, 2003; DA SILVA et al., 2009; OKADA et al., 2015;

ROSESTOLATO; AMADELLI; VELICHENKO, 2016). Nestes casos, além do fato da PEO

ser uma tecnologia compacta em relação à Corona, tem-se que essa apresenta a vantagem de

eliminar o uso de gases purificados e também de sistemas para o bombeamento do ozônio

produzido até o local onde ele dever ser aplicado. Uma vantagem adicional apresentada pela

PEO é o fato de que o reator eletroquímico opera em baixas diferenças de potencial (< 8 V) e

elevadas correntes (40 A), o que minimiza interferências indesejáveis oriundas de flutuações

nas linhas de transmissão que abastecem o reator, e praticamente elimina o risco de choque

elétrico.

Portanto, face a estas considerações, uma forma de melhorar a eficiência para a

produção de O3 seria elevar a eficiência do processo para a reação de formação de ozônio

adotando uma tecnologia onde a geração de radicais O●, necessários para a formação de

ozônio, ocorra a partir de uma molécula precursora presente numa interface sólido/líquido.

Tal consideração se deve ao fato de que uma vez formada as moléculas de O3 na interface,

Page 33: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

29

estas podem se deslocar para o seio da fase líquida evitando assim que a fonte de energia

responsável pela sua formação propicie na sua decomposição em moléculas de O2.

Em princípio, tem-se que o processo eletroquímico envolvendo a eletrólise de

soluções aquosas, em condições de elevada densidade de corrente, pode ser a tecnologia

alternativa que proporcione a obtenção de uma elevada concentração de O3 na fase gasosa

(após o processo de separação gás/líquido que ocorre no frasco separador de gás) (DA

SILVA; SANTANA; BOODTS, 2003). Isto se deve ao fato de que havendo condições onde a

decomposição da molécula de H2O resulte numa elevada concentração de radicais O● na

interface eletrodo/solução, estes radicais podem combinar-se tanto para a formação de

oxigênio, como para a produção de ozônio (BABAK et al., 1994). O mecanismo mostrado nas

Equações 8 a 12 ilustra o processo de geração de ozônio a partir da eletrólise da água pura.

𝐻2𝑂 → 𝐻𝑂• + 𝐻+ + 𝑒− Eq. (8)

2𝐻𝑂• → 𝐻2𝑂 + 𝑂• Eq. (9)

𝐻𝑂• → 𝑂• + 𝐻+ + 𝑒− Eq. (10)

2𝑂• → 𝑂2 Eq. (11)

𝑂• + 𝑂2 → 𝑂3 Eq. (12)

onde 9 e 10 são etapas alternativas.

No entanto, com base neste mecanismo não é possível correlacionar a eficiência

de corrente para a PEO, ФPEO, com a concentração superficial dos radicais oxigenados.

O fato da tecnologia eletroquímica permitir a obtenção de elevadas concentrações

de ozônio na fase gasosa, aumenta de forma considerável as possibilidades de aplicação do

ozônio em diversos processos oxidativos, o que tem resultado num grande interesse por parte

da comunidade científica nos últimos anos, no sentido de buscar um aprimoramento desta

tecnologia (FOLLER; KELSALL, 1993; DA SILVA; SANTANA; BOODTS, 2003;

SANTANA; DE FARIA; BOODTS, 2004).

No processo eletroquímico, a molécula de água é oxidada no ânodo, podendo

resultar em elevadas concentrações de radicais oxigenados, os quais são precursores tanto da

molécula de O2, quanto da de O3. Na literatura, encontram-se diversos trabalhos sobre a PEO

Page 34: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

30

em que foram usados diferentes materiais eletródico, com eficiência de corrente para a PEO

entre 2 a 50% (KÖTZ, 1987; FOLLER; KELSALL, 1993; BABAK et al., 1994; CHERNIK;

DROZDOVICH; ZHARSKII, 1997; DA SILVA; SANTANA; BOODTS, 2003; SANTANA;

DE FARIA; BOODTS, 2004; CHRISTENSEN; YONAR; ZAKARIA, 2013).

Durante a eletrólise da água em elevadas densidades de corrente, o ozônio é

formado no compartimento anódico da cela eletroquímica de acordo com a semi-reação

apresentado na Equação 13 (RICE, 1982).

3𝐻2𝑂 → 𝑂3 + 6𝐻+ + 6𝑒− 𝐸0 = 1,51 𝑉 (𝑣𝑠 𝐸𝑅𝐻) Eq. (13)

além do processo descrito acima outra possibilidade a ser considerada na formação do O3

pode ser representada pela semi-reação apresentado na Equação 14 (RICE, 1982):

𝐻2𝑂 + 𝑂2 → 𝑂3 + 2𝐻+ + 2𝑒− 𝐸0 = 2,07 𝑉 (𝑣𝑠 𝐸𝑅𝐻) Eq. (14)

Entretanto, do ponto de vista experimental somente o processo representado pela

Equação 13 tem sido considerado (RICE, 1982; STUCKI et al., 1985, 1987; FOLLER;

KELSALL, 1993; DA SILVA; DE FARIA; BOODTS, 2001; SANTANA; DE FARIA;

BOODTS, 2004).

A reação de desprendimento de oxigênio (RDO) ocorre simultaneamente ao

processo da PEO. Isto se deve ao fato da RDO apresentar um valor do potencial padrão

consideravelmente inferior, apresentado pela Equação 15 (RICE, 1982).

2𝐻2𝑂 → 𝑂2 + 4𝐻+ + 4𝑒− 𝐸0 = 1,23 𝑉 (𝑣𝑠 𝐸𝑅𝐻) Eq. (15)

Vários mecanismos foram propostos para a PEO em eletrodos inertes (por

exemplo, β-PbO2) (BABAK et al., 1994; CHERNIK; DROZDOVICH; ZHARSKII, 1997).

De acordo com o mecanismo proposto por Da Silva e Colaboradores (DA SILVA; DE

FARIA; BOODTS, 2001, 2003), o favorecimento cinético da RDO frente à PEO pode ser

compreendido em termos de uma baixa concentração superficial do intermediário O●

associado a uma baixa cobertura por bolhas de O2. Uma melhor compreensão das conclusões

relatadas por esses autores podem ser obtidas analisando a Tabela 1.

Page 35: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

31

Tabela 1 – Mecanismo para os processos da RDO/PEO em eletrodos inertes. Adaptado de (DA SILVA; DE

FARIA; BOODTS, 2001, 2003).

Etapas eletroquímicas: controle cinético

𝐻2𝑂 → (𝐻𝑂•)ads + 𝐻

+ + 𝑒− etapa determinante da velocidade – edv Eq. (16)

(𝐻𝑂•)ads → (𝑂•)ads + 𝐻

+ + 𝑒− Eq. (17)

Etapas químicas: controle da eficiência

(𝑂•)ads → [1 − 𝜃](𝑂•)ads + 𝜃(𝑂

•)ads∗ (0 < 𝜃 < 1) Eq. (18)

[1 − 𝜃](2𝑂•)ads → [1 − 𝜃](𝑂2)ads Eq. (19)

[1 − 𝜃](𝑂2)ads → [1 − 𝛽][1 − 𝜃](𝑂2)ads + 𝛽[1 − 𝜃](𝑂2)ads∗ (0 < 𝛽 < 1) Eq. (20)

Evolução de oxigênio

[1 − 𝛽][1 − 𝜃](𝑂2)ads → 𝑂2 ↑ Eq. (21)

Formação de ozônio

𝜃(𝑂•)ads∗ + 𝛽[1 − 𝜃](𝑂2)ads

∗ → [𝜃 + 𝛽[1 − 𝜃]](𝑂3)ads Eq. (22)

[𝜃 + 𝛽][1 − 𝜃](𝑂3)ads → 𝑂3 ↑ (23)

onde “ ” e “ ” são as coberturas parciais da superfície descrevendo a competição entre os processos da RDO

e a PEO e “*

” representa a cobertura superficial por espécies contendo oxigênio que conduzem à formação do

O3.

O mecanismo descrito na Tabela 1 mostra que o desfavorecimento cinético da

PEO frente à RDO é proveniente do fato da formação do O2 ser uma etapa anterior e

necessária para a formação do O3, demonstrando assim que a fração do oxigênio produzido,

que permanece adsorvido na superfície do eletrodo (Equação 20), tornar-se um dos

intermediários da PEO. Consequentemente, a eficiência da corrente para a PEO é função da

concentração superficial das espécies oxigenadas na superfície do eletrodo

[(𝑂2)ads 𝑒 (𝑂•)ads] (DA SILVA; DE FARIA; BOODTS, 2001, 2003).

Há três requerimentos básicos associados à PEO: (i) o material eletródico deve

apresentar boa condutividade e um elevado sobrepotencial para o processo da RDO; (ii) o

eletrólito deve ser inerte, ou seja, os ânions e cátions do eletrólito não devem reagir em

competição com os processos da RDO/PEO e da reação de desprendimento de hidrogênio,

RDH, respectivamente, e (iii) para minimizar/evitar o desgaste do eletrodo o material

eletródico deve estar em seu estado de oxidação mais elevado, ou deve apresentar uma

cinética extremamente lenta para o processo de oxidação a estados superiores instáveis (DA

SILVA; DE FARIA; BOODTS, 2001, 2003).

Page 36: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

32

Dados da literatura, mostram que a maioria dos estudos envolvendo a PEO são

conduzidos empregando-se como material eletródico a platina, o carbono vítreo, diamante

dopado com boro, dióxido de chumbo, mistura de dióxido de chumbo com Ebonex1, dióxido

de irídio e dióxido de estanho. Como eletrólito, é comum usar soluções aquosas dos ácidos

sulfúrico, perclórico, fosfórico e água livre de eletrólito (STUCKI et al., 1985, 1987; DA

SILVA; DE FARIA; BOODTS, 2001, 2003; DA SILVA; BOODTS; DE FARIA, 2001; VON

GUNTEN, 2003; SANTANA; DE FARIA; BOODTS, 2004; CHRISTENSEN; YONAR;

ZAKARIA, 2013; OKADA et al., 2015; CHEN et al., 2016). Trabalhos mais recentes

continuam a empregar o dióxido de chumbo como ânodo para a PEO devido a sua grande

estabilidade em meio ácido e seu baixo custo (SANTANA et al., 2009; AWAD; SALEH,

2010; DA SILVA et al., 2010; DE SOUSA; FRANCO; DA SILVA, 2016).

1.2.3.1 Tipos de eletrodos visando a produção eletroquímica de ozônio

Diversos materiais anódicos têm sido reportados na literatura, sendo que a

eficiência de corrente pode chegar até 50%, dependendo do material eletródico a ser utilizado.

A maioria dos trabalhos utilizam intervalo de densidade de corrente que variam entre 0,05 a 2

A cm─2, com um potencial de célula podendo chegar até 8 V, com vida útil acima de 2000

horas, dependendo do material e das condições empregadas (DA SILVA; SANTANA;

BOODTS, 2003; HAN et al., 2004; CHRISTENSEN; YONAR; ZAKARIA, 2013; WANG;

CHEN, 2013; PUSHKAREV; PUSHKAREVA; GRIGORIEV, 2016).

Há relatos do uso de ânodos de platina em soluções de ácido perclórico visando à

produção eletroquímica de ozônio (PUTNAM et al., 1948). Os ânodos de Pt apresentaram

uma boa estabilidade sem perda significativa de material anódico, além de atingir uma

eficiência de corrente de até 20% em baixas temperaturas. No entanto, o uso de tais ânodos

torna o processo de ozonização muito oneroso, inviabilizando o processo de geração de

ozônio em média e grande escala.

Ânodos de carbono vítreo também podem ser usados na PEO. Segundo a

literatura (FOLLER; GOODWIN, 1984) o uso de ânodos de carbono vítreo combinado com o

eletrólito de ácido tetrafluorbórico concentrado, demostrou ser estável em densidade de

corrente de 400 mA cm─2, para o qual, a concentração de ozônio na fase gasosa (O2 e O3) foi

de até 35%. A principal vantagem de usar ânodos de carbono vítreo está associada à alta

eficiência de corrente obtida com baixo consumo de energia elétrica. No entanto, o

1 (Ebonex é um material disponível comercialmente constituído de sub-óxidos de titânio, TiOx)

Page 37: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

33

desempenho deste tipo de sistema de ozonização para o tratamento de efluente é dependente

da otimização de um sistema dispersor de gases que assegure uma alta velocidade da

transferência de massa entre a fase gasosa e a fase aquosa (FOLLER; KELSALL, 1993), ou

seja, não há como descrever reatores que operam na condição de “zero-gap” para se efetuar a

dissolução direta do O3 na água. Portanto, para os ânodos de carbono vítreo, fica

impossibilitado o uso de reatores filtro-prensa do tipo eletrólito sólido devido os

inconvenientes relacionados à transferência de massa da mistura O2/O3 para a fase aquosa,

inerente a todos os tipos de ozonizadores eletroquímicos que usam eletrólitos líquidos.

Outro ânodo comumente usado visando a PEO é o eletrodo de dióxido de

chumbo. Com este material, é possível produzir altas concentrações de ozônio dissolvido em

água (20 mg dm─3) com intervalos de densidade de corrente de 1 a 1,3 A cm─2. A eficiência

de corrente nestes casos permanece no intervalo de 14 a 20%, enquanto que a potência

específica consumida pela reação de formação do ozônio é de 65 W h g─1 (STUCKI et al.,

1985, 1987). Tal eletrodo apresenta-se estável e com alta durabilidade, além do chumbo ser de

baixo custo. No entanto, a dependência da eficiência de corrente para a produção de ozônio

está associada com as condições de preparo do eletrodo. Também pode ser destacado que

muitos trabalhos usam substrato metálico constituído de material nobre, o que provoca uma

elevação significativa no custo da confecção do ânodo. Outro inconveniente apresentado é

que o chumbo é um metal pesado e se caso for descartado de forma incorreta pode provocar a

contaminação do meio devido ao seu elevado grau de toxicidade.

A produção de ozônio também tem sido investigada sobre ânodos a base de

diamante dopado com boro (BDD), onde a principal vantagem é o seu elevado sobrepotencial

para a reação de desprendimento de oxigênio e a sua elevada resistência à corrosão. O

principal inconveniente dos BDDs é seu elevado custo de produção e a dificuldade de preparo

de filmes finos compactos sobre substratos porosos (eletrodos tridimensionais). A principal

dificuldade encontrada pelos autores que optam por usar tais ânodos é a baixa eficiência de

corrente para as reações de formação de ozônio quando comparado com outros materiais

visando à produção eletroquímica de ozônio, tais como β-PbO2 (PLESKOV, 1999).

A geração eletroquímica de ozônio foi revisada por Christensen et al. (2013) em

2013. Entre outras questões, estes autores discutiram as eficiências de corrente muito altas já

obtidas para a geração de ozônio usando ânodo de Ni/Sb-SnO2, ou seja, eficiências de

corrente de até 50% (equivalente a 18 kW h kg─1 O3) foram relatados quando empregado

Ni/Sb-SnO2 suportado em substratos de platina e usando-se cátodos de malha Ti alojados em

uma célula de vidro utilizando como divisão uma membrana de Nafion® (comercializada pela

Page 38: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

34

DuPont) e 0,5 M H2SO4 como eletrólito. No entanto, estas eficiências de corrente muito altas

foram obtidas apenas para densidades de corrente pequenas/moderadas (j ≈ 10-40 mA cm─2),

devido à instabilidade química do ânodo. Como resultado, a taxa de geração de ozônio,

expressa em gramas de ozônio por unidade de tempo, é menor do que as obtidas para os

ânodos de β-PbO2 relatados por Stuck et al. (1987); por conseguinte, a figura de mérito

importante para os reatores eletroquímicos denotados como o rendimento espaço-tempo é de

cerca de 8-10 vezes maior no caso de ânodos β-PbO2, quando comparados com os dados

disponíveis para os ânodos de Ni/Sb-SnO2. Além disso, os ânodos constituídos de Ni/Sb-SnO2

apresentam uma elevada eficiência de corrente para a PEO apenas em um pequeno intervalo

de tempo (BASIRIPARSA; ABBASI, 2012), ou seja, a vida útil de tal ânodo é muito curta

quando comparado com outros ânodos que apresentam estabilidade por mais de 30 dias

durante os testes de degradação (STUCKI et al., 1987).

1.2.3.2 Particularidade do sistema PbO2 e a PEO

Materiais de eletrodo com boa atividade química e estabilidade para altos valores

de potencial podem ser bastante importantes, por exemplo, no caso da geração eletroquímica

de oxidantes muito usados em indústrias químicas (tais como percloratos, peroxossulfatos e

ozônio) e em estudos sobre a eliminação de poluentes recalcitrantes por métodos

eletroquímicos. Os eletrodos de dióxido de chumbo são bastante utilizados para esses fins

uma vez que se apresentam como materiais de baixo custo, condutividade elétrica elevada. O

PbO2 é relativamente estável em elevados potenciais aplicados e apresentam bom

sobrepotencial em condições controladas que permite uma possível aplicação na geração de

ozônio (LI; PLETCHER; WALSH, 2011).

O PbO2 pode existir em três tipos de formas polimórficas distintas; a forma

ortorrômbica do tipo α, tetragonal do tipo β e cúbica do tipo γ, sendo esta última estável

somente a altas pressões (HILL, 1982). Ambas as formas α-PbO2 e β-PbO2 (Figura 3) são

altamente condutoras de eletricidade e uma mistura entre as diferentes formas é utilizada

como eletrodo positivo em baterias de chumbo-ácido. A Figura 3 apresenta as estruturas do

óxido de chumbo referente às fases α e β.

Page 39: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

35

Figura 3 – As estruturas de α-PbO2 e β-PbO2. Adaptado de (LI; PLETCHER; WALSH, 2011).

Em ambos os casos ocorre a formação do Pb(IV), que está no centro de um

octaedro distorcido e a diferença essencial é a forma como o octaedro é formado. Em β-PbO2,

os octaedros vizinhos compartilham bordas opostas, o que resulta na formação de cadeias

lineares de octaedros. Em α-PbO2, os octaedros vizinhos compartilham bordas não opostas de

tal maneira que é formada uma corrente em ziguezague, como mostrado na Figura 3.

A forma alotrópica do tipo α-PbO2 apresenta um sobrepotencial menor para a

RDO em comparação à β-PbO2 devido à menor adsorção de íons sulfato sobre os sítios ativos

de sua superfície. Assim, a escolha de eletrodos do tipo β-PbO2 é preferencial para a produção

de ozônio. De acordo com Yeo et al. (1989), a estrutura do tipo β-PbO2 é obtida

preferencialmente pela eletrodeposição de soluções ácidas contendo Pb2+ enquanto que a do

tipo α-PbO2 é obtida por meio do uso de soluções alcalinas.

A PEO requer um elevado potencial positivo e ocorre sempre juntamente com a

RDO, por isso, a eficiência de corrente é o principal fator que determina o consumo de

energia. Consequentemente, a inibição da RDO se torna vantajoso, pois mais corrente está

direcionado para a produção de ozônio (LI; PLETCHER; WALSH, 2011). A geração de

ozônio em ânodos de dióxido de chumbo tem sido reportada em vários meios: (i) neutros (DA

SILVA et al., 2010; DE SOUSA; FRANCO; DA SILVA, 2016); (ii) ácido perclórico

(PUTNAM et al., 1948; KÖTZ, 1987); (iii) ácido fosfórico (KÖTZ, 1987) e (iv) ácido

sulfúrico (FOLLER; TOBIAS, 1982; KÖTZ, 1987). As eletrólises são executadas em altas

densidades de corrente, 0,6-1,3 A cm─2 e as eficiências de corrente são mais elevadas em

meio ácido e em baixas temperaturas (LI; PLETCHER; WALSH, 2011).

Page 40: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

36

Da Silva e Colaboradores (DA SILVA; DE FARIA; BOODTS, 2001, 2003)

enfatizam que, além da composição do PbO2 utilizado para a geração de ozônio, a morfologia

do eletrodo (por exemplo, porosidade, rugosidade) também influencia fortemente na PEO.

Portanto, tem-se a necessidade de uma investigação detalhada da preparação dos parâmetros

dos eletrodos, a fim de otimizar a eficiência da corrente e uma melhor compreensão dos

aspectos fundamentais envolvidos na PEO (LI; PLETCHER; WALSH, 2011).

O processo de eletrodeposição permite que eletrodos de PbO2 apresentem um

revestimento estável, podendo apresentar estruturas de diferentes fases com uma grande

variedade morfológica (LI; PLETCHER; WALSH, 2011).

Quando hidratado, o PbO2 é classificado como um condutor do tipo metálico

(possuidor de elevada densidade eletrônica, 1020 a 1021 cm─3) (TRASATTI, 1980). Essa

condutividade se deve a não estequiometria do óxido que envolve vacâncias de oxigênio

(ABACI; PEKMEZ; YILDIZ, 2005) ou a substituição de oxigênios superficiais por grupos

hidroxilas como resultado da hidratação dos filmes (DEVILLIERS et al., 2004), representada

por PbO2-X(yH2O), onde “2-X” é o grau de desvio da estequiometria ideal e “yH2O”

representa a quantidade de água presente na estrutura do óxido, originando uma camada “gel”

constituída de centros ativos PbO(OH)2, que forma uma cadeia polimérica linear capaz de

conduzir prótons e elétrons, como mostrado na Figura 4 (PAVLOV; MONAHOV, 1996;

CAO et al., 2009).

Figura 4 – Diagrama esquemático da estrutura cristal-gel do ânodo de PbO2. Adaptado de (PAVLOV;

MONAHOV, 1996; CAO et al., 2009).

Quando submetido a uma polarização anódica, a reação eletroquímica mostrada

na Equação (24) é ativada no centro ativo da camada hidratada (CAO et al., 2009).

𝑃𝑏𝑂(𝑂𝐻)2 → 𝑃𝑏𝑂(𝑂𝐻)+(𝑂𝐻)• + 𝑒─ Eq. (24)

Os elétrons movem ao longo da cadeia polimérica e alcançam a camada cristalina

e, como resultado, uma corrente elétrica atravessa o eletrodo. Para manter a

Page 41: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

37

eletroneutralidade, os centros ativos, então carregados positivamente, liberam um próton para

o meio aquoso e mantêm os radicais HO adsorvidos na superfície, como observado na

Equação (25).

𝑃𝑏𝑂(𝑂𝐻)+(𝑂𝐻)• + 𝐻2𝑂 → 𝑃𝑏𝑂(𝑂𝐻)2…(𝑂𝐻)• + 𝐻+ Eq. (25)

Os radicais HO adsorvidos nos centros ativos da camada “gel” podem participar

de três rotas reacionais: (i) evolução de oxigênio, como mostrado nas Equações (26) e (27);

(ii) eletrooxidação de orgânicos e, ou (iii) formação de ozônio (Equação (28)), ocorrendo em

elevados valores de densidade de corrente (CAO et al., 2009).

𝑃𝑏𝑂(𝑂𝐻)2…(𝑂𝐻)• → 𝑃𝑏𝑂(𝑂𝐻)2 + 𝑂

• + 𝐻+ + 𝑒─ Eq. (26)

𝑂• + 𝑂• → 𝑂2 Eq. (27)

𝑂2 + 𝑂• → 𝑂3 ↑ Eq. (28)

Filmes de PbO2 têm sido eletrodepositados sobre diferentes substratos metálicos

planares (por exemplo, Ti, Pt, Ti-pt, Al, Ta, Cu, Pb, Au, tecido de carbono e aço inoxidável

(YEO et al., 1989; SHEN; WEI, 2003; ZHOU et al., 2005; ANDRADE et al., 2007;

MAHALINGAM et al., 2007; CHEN; HUANG; YANG, 2009; AWAD; SALEH, 2010; DA

SILVA et al., 2010; COSTA; DA SILVA, 2012; DE SOUSA; FRANCO; DA SILVA, 2016).

Foi demonstrado que o dióxido de chumbo eletrodepositado puro em substrato

metálico apresenta atividade eletrocatalítica moderada para várias reações anódicas em meio

ácido (VELICHENKO et al., 1998, 2002a, 2002b; VELICHENKO; DEVILLIERS, 2007). No

entanto, a atividade eletrolítica dos eletrodos de PbO2, bem como sua estabilidade, e

modificações nas propriedades físicas podem ser significativamente melhoradas pela

incorporação de íons em sua rede cristalina, adicionando-os à solução de eletrodeposição (LI;

PLETCHER; WALSH, 2011). Entre estes, Bi3+, Fe3+, Co2+, F─ (YEO et al., 1989; FENG et

al., 1994; AMADELLI et al., 1999; VELICHENKO et al., 2002a, 2002b) destacam-se como

bons dopantes para a reação de transferência de oxigênio, inclusive para a formação de

ozônio.

Page 42: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

38

1.3.3.3 Uso de PbO2 contendo íons dopantes visando a PEO

A dopagem do PbO2 consiste na inclusão de um íon adicional no banho de

eletrodeposição e não há dúvida que grandes melhorias no desempenho são alcançadas, por

exemplo, atividade catalítica, adesão e estabilidade. O processo de dopagem frequentemente

envolve eletrodeposições de soluções bastante diluídas de Pb(II) e concentrações similares do outro

íon e podem ser alcançados altos níveis de incorporação; a proporção entre o metal e o chumbo

pode variar na faixa de 0,1-10%, (para baixo nível de dopante) ou próximo de 50% (para alto nível

de dopante) formando PbO2 dopados ou óxidos mistos, respectivamente. Neste caso, o dióxido de

chumbo pode assumir o papel de uma matriz inerte e condutora para um óxido mais ativo

(BERTONCELLO et al., 2000; LI; PLETCHER; WALSH, 2011). Enquanto que baixos níveis

de dopagem visam, além de aumentar, manter a alta resistência à corrosão da matriz de PbO2

e, ao mesmo tempo, aumentar sua atividade eletrocatalítica (BERTONCELLO et al., 2000).

Em cada processo de preparação, é necessário definir se os íons dopantes adsorvidos

deslocam Pb(IV) da rede ou se a camada é uma mistura de dois óxidos. O estado de oxidação do

dopante pode ser incerto, embora, geralmente é assumido que os elementos estão em seu estado de

oxidação mais estável.

A dopagem demanda de uma fonte de íons doadores na forma de defeitos pontuais

(em geral vacâncias de oxigênio) ou impurezas com uma energia de ionização próxima da

banda de condução. O efeito catalítico da incorporação de um dopante em uma matriz pode

ser interpretada com base na geração de defeitos nos sítios superficiais, levando a um aumento

na velocidade da descarga eletroquímica da água para a produção de radicais hidroxila,

adsorvidos na superfície do eletrodo (ANDRADE et al., 2007). Em outras, o efeito é atribuído

a uma redução no sobrepotencial para a descarga da água nos sítios do dopante.

A presença de F─ pode substituir sítios de O2─ na camada cristalina da estrutura do

PbO2 e sítios de HO● na camada “gel” provocando diminuição na cobertura de espécie de

oxigênio ativo e restrição no movimento de átomos oxigênio livre (por exemplo, Equação 25).

A Figura 5 demonstra um possível comportamento de F─ na estrutura de dióxido de chumbo

(CAO et al., 2009). Também há relatos que íons Fe3+ provocou o mesmo comportamento na

estrutura do PbO2 (LI; PLETCHER; WALSH, 2011).

Page 43: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

39

Figura 5 – Diagrama esquemático da estrutura do sistema de eletrodo F-PbO2. Adaptado de (CAO et al., 2009).

Dados da literatura (VELICHENKO et al., 1998; AMADELLI et al., 1999)

relataram que eletrodos de PbO2 dopados com ferro, ou ferro e flúor juntos, apresentam alta

atividade na reação de transferência de oxigênio. Um dos aspectos mais importantes desses

eletrodos é o alto desempenho para reações envolvendo a geração de ozônio. A adição de íons

F─ como dopante resulta em um bloqueio parcial da RDO, a qual é termodinamicamente mais

favorável do que a reação de desprendimento de ozônio [Eo (O3) = 1,51 V e Eo (O2) = 1,23 V]

e, assim, configura-se como uma estratégia para o melhoramento da eficiência de corrente na

produção de ozônio (ANDRADE et al., 2007).

Feng et al. (1994), estudaram a eficiência na reação de desprendimento de ozônio

em eletrodos de PbO2 suportados em titânio, dopados com Fe3+, e concluíram que houve um

aumento significativo na eficiência da reação, atribuindo ao dopante a responsabilidade pela

geração de defeitos na rede do óxido, estimulando a formação de radicais (HO●). Segundo os

autores, os radicais hidroxila adsorvidos em sítios de Pb4+, adjacentes aos sítios de Fe3+, são

transferidos para moléculas de oxigênio adsorvidas [(O2)ads] nos sítios adjacentes de Fe3+,

gerando, assim, a produção de O3. A substituição do Fe(III) na estrutura do PbO2 proposta

pelos autores está apresentada na Figura 6.

Figura 6 – Transferência anódica do radical hidroxila para o oxigênio adsorvido. Adaptado de (FENG et al.,

1994).

Page 44: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

40

Como a estequiometria do oxido de ferro (por exemplo, FeO1,5) é menor que o

óxido de chumbo (por exemplo, PbO2), a substituição do Fe3+ por Pb4+ na fabricação do óxido

deve provocar desestabilização de alguns íons óxidos que estão situados em posições de ponte

entre os sítios de Pb4+ (FENG et al., 1994).

Tem sido relatado que a adição de íons fluoreto no processo eletrolítico melhora a

eficiência da corrente (CAO et al., 2009) e β-PbO2 dopado com íons Fe3+ ou íons fluoreto

também apresenta um melhor desempenho, pois aumenta a atividade em reações de

transferência anódica de oxigênio (LI; PLETCHER; WALSH, 2011).

Além dos tipos de ânodos, outro parâmetro importe para a PEO a partir da

eletrólise da água pura é a possibilidade de utilizar os reatores do tipo filtro-prensa com uma

membrana condutora de íons. Além da função de conduzir os íons do ânodo para o cátodo,

elas também têm a função de separar os compartimento anódicos e catódicos.

1.3 Estado da arte dos Eletrólito Polimérico Sólido (EPS)

Os primeiros relatos do uso de reagentes químico para produzir eletricidade são de

1838, registrados por Christian Friedrich Schoenbein. Posteriormente, William Robert Grove

inventou a “bateria de gás” ou célula de combustível. Grove iniciou os estudos das

membranas trocadoras de prótons para ser usada como interface entre os eletrólitos (STONE;

MORRISON, 2002). Por volta de 1910, Emil Baur observou uma diminuição na tensão da

célula em função do aumento da densidade de corrente, elucidando assim os principais

caminhos para os estudos futuros das membranas (STONE; MORRISON, 2002).

Em 1959, Willard Grubb, da General Electric (GE) patenteou uma célula de

combustível usando um eletrólito sólido, porém, a membrana apresentava pouca resistência

mecânica (STONE; MORRISON, 2002). Na tentativa de evitar a degradação das membranas,

alguns químicos iniciaram estudos visando incluir misturas de polímeros inertes com

ionômeros altamente reticulados à base de poliestireno sulfonados de fenol-formaldeído e

poliestireno sulfonado heterogênea divinilbenzeno reticulado (GRUBB, 1959). O primeiro

grande avanço no processo de otimização dos eletrólitos sólidos, foi o desenvolvimento de

uma membrana a base de poli sulfonados (α, β, β-trifluorostyrene) desenvolvido pela GE para

aumentar a estabilidade química (STONE; MORRISON, 2002). No entanto, ainda existiam

problemas relacionados à resistência mecânica. A solução finalmente chegou em meados de

1960, através dos esforços conjuntos da GE e DuPont, que desenvolveram um eletrólito

Page 45: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

41

polimérico sólido, denominado como Nafion® que é comercializada até hoje pela DuPont

(LITSTER; MCLEAN, 2004).

No final de 1970, as membranas Nafion® da DuPont estavam encontrando uso em

eletrólise da água e segmentos de mercado de cloro-alcalino. Atualmente, os EPS são

produzidos de muitas maneiras e por diversas empresas e organizações de pesquisa (STONE;

MORRISON, 2002).

1.3.1 Ozonizadores eletroquímicos baseados no uso de EPS

Os EPS têm sido amplamente utilizados na tecnologia da célula a combustível,

produção de hidrogênio e produção de oxigênio, por apresentar excelente estabilidade

mecânica e química, elevada condutividade iônica e boa impermeabilidade a gases (HAN et

al., 2004). Dentre os EPS, vale a pena destacar as membranas da família Nafion®

comercializadas pela DuPont. Estas membranas apresentam propriedades diferenciadas com

relação à resistência mecânica e elétrica que as tornam preferidas com relação às demais.

O uso do EPS de forma adequada permite que reatores e conversores de energia

possam ser operados na ausência de eletrólitos convencionais como fase iônica, permitindo

uma fácil remoção dos produtos gerados durante o processo, além de prevenir a mistura dos

reagentes ou produtos, proteger o cátodo à corrosão, redução da queda ôhmica entre os

eletrodos e uma maior flexibilidade no uso de materiais metálicos devido ao ambiente

químico menos agressivo. Diversos reatores baseados neste conceito já foram desenvolvidos

para a PEO (STUCKI et al., 1985, 1987; BABAK et al., 1994; SCOTT, 1995; WENDT;

KREYSA, 1999; HAN et al., 2004; DA SILVA et al., 2010). Dentre suas aplicações vale a

pena destacar o uso dos ozonizadores eletrolíticos para a purificação da água utilizada nas

indústrias farmacêuticas e eletrônicas (STUCKI et al., 1985, 1987).

Tem sido proposto que a membrana Nafion® é modelada por uma rede de

agrupamentos nos quais os íons poliméricos e água absorvida existem em um domínio

esférico, separado da matriz polimérica. Admite-se que os agrupamentos são conectados por

curtos canais com diâmetros de ~10 Å, sendo que o tamanho dos agrupamentos aumenta com

a quantidade de água absorvida, até atingir um certo limite. Dependendo do tratamento dado à

membrana, a absorção de água pode atingir cerca de 30% (m/m). A Figura 7A apresenta a

evolução do tamanho dos agrupamentos com a hidratação da membrana (GIERKE; MUNN;

WILSON, 1981) e o esquema da estrutura do Nafion®.

Page 46: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

42

Figura 7 – Esquema do Nafion®: (A) canais antes e após hidratação. Adaptado de (GIERKE; MUNN; WILSON,

1981); (B) Estrutura global. Adaptado de (MAURITZ; MOORE, 2004).

Como pode ser visto na Figura 7B, o EPS permite um efetivo transporte dos íons

H+ oriundos da descarga da água até o cátodo para serem reduzidos a H2, garantindo, assim, a

eletroneutralidade do processo global.

De acordo com Walsh (2001), pode-se destacar como os principais inconvenientes

do uso dos EPS, seria a durabilidade (necessidade dos testes de vida útil), custo de

implantação em larga escala, geometria de célula mais complexa (por exemplo, eletrodos

difusores de gás e canais de distribuição de fluido) e desempenho com características

transientes.

Os reatores baseados na tecnologia dos EPS apresentam um desempenho

dependente da forma como o conjunto eletrodo membrana (membrane electrode assembly –

MEA) é constituído. Normalmente, os MEAs são constituídos de uma camada de metal nobre

depositada em cada lado do EPS. No caso dos ozonizadores eletrolíticos, a estrutura do MEA

é principalmente caracterizada pela deposição direta do eletrocatalisador sobre um substrato

metálico poroso (por exemplo, titânio sinterizado) (STUCKI et al., 1985, 1987). Em outros

casos, o eletrocatalisador na forma de pequenas partículas é mantido em contato direto com o

EPS prensando-se o coletor de corrente empregando-se molas (ONDA et al., 2005; DA

SILVA et al., 2010).

Conforme discutido por Da Silva e Colaboradores, (DA SILVA; SANTANA;

BOODTS, 2003), o uso da tecnologia MEA foi primordial para a confecção de ozonizadores

Page 47: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

43

eletrolíticos mais eficientes. Isto se deve ao fato que a ozonização convencional conduzida em

meio ácido (por exemplo, H2SO4 3,0 mol dm─3) em elevadas densidades de corrente (> 300

mA cm─2) normalmente resulta numa acentuada degradação do eletrocatalisador (FOLLER;

KELSALL, 1993), pois os valores correspondentes do potencial de eletrodo alcançados são

capazes de propiciar a corrosão acelerada da maioria dos metais, ligas e óxidos condutores

conhecidos (POURBAIX, 1974).

Vale a pena salientar que a principal dificuldade da confecção de um MEA está

relacionado com o fato das zonas ativas na interface eletrodo não compacto (permeável a

fluido)/EPS estarem restringidas às microfronteiras quase tridimensionais (volume de

interação eletroquímica) localizadas nos pontos onde há um contato direto entre as partículas

do eletrocatalisador e o EPS (DA SILVA et al., 2010). Portanto, o controle da geometria real

porosa do ânodo é de primordial importância para que os transportes iônicos, eletrônicos e

moleculares sejam eficazes.

A Figura 8 apresenta micro e macro regiões do MEA, com destaque para o

contato entre o EPS e o ânodo (HOORMANN et al., 2001).

Figura 8 – Esquema representativo dos micros e macros regiões do MEA. Adaptado de (HOORMANN et al.,

2001).

Os processos elementares responsáveis pela condução iônica e geração de

produtos em células do tipo MEA podem ser compreendido considerando a Figura 9.

Page 48: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

44

Figura 9 – Esquema representativo dos processos elementares presentes nos reatores eletroquímicos do tipo

MEA. Adaptado de (Faria et al., 2017).

Como pode ser verificado na Figura 9, apenas as partículas esféricas do eletrodo

permeável a fluido em contato com o EPS são capazes de constituir as zonas de reações

anódicas, também conhecida como zonas ativas, local onde ocorrem as reações eletroquímicas

(Faria et al., 2017). Devido ao carácter ácido do EPS (equivalente a uma solução de H2SO4

1,0 M), tem-se que os prótons gerados no ânodo são quantitativamente transportados através

da estrutura polimérica até que estes alcançam a superfície do cátodo. Portanto, no MEA o

equilíbrio eletrostático é estabelecido instantaneamente através do encontro dos prótons

gerados no ânodo com os correspondentes elétrons provenientes da reação de oxidação.

Os produtos gerados na zona ativa catódica (hidrogênio) são quantitativamente

eliminados por difusão através de caminhos preferenciais disponíveis na microestrutura do

eletrodo. Portanto, o resultado destes eventos é a criação de zonas de nucleação anódica

(ZNA) e catódica (ZNC) referentes à geração contínua de produtos.

Page 49: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

45

Embora aparentemente haja uma tendência em se esperar uma considerável

resistência ao transporte de massa devido ao transporte de espécies através de um meio

poroso, tem-se na maioria dos casos que os reatores baseados na tecnologia MEA apresentam

uma hidrodinâmica bastante eficiente (DA SILVA et al., 2010).

1.4 Ozonização e processos combinados

As reações de ozonólise com um composto qualquer (por exemplo, M) podem

proceder seguindo duas vias principais: (i) através da reação direta do composto M com a

molécula de ozônio; (ii) através de reações indiretas que ocorrem por meio de espécies

radicalares formadas a partir da decomposição do ozônio em água (por exemplo, 𝐻𝑂2•, 𝐻𝑂•,

etc), como mostrado na Figura 10 (HOIGNÉ; BADER, 1983; KUNZ et al., 1999).

Figura 10 – Esquema proposto para as reações do ozônio com uma espécie M em solução aquosa. Adaptado de

(HOIGNÉ; BADER, 1983; KUNZ et al., 1999).

A Figura 10 mostra que ambos os processos tendem a aumentar a velocidade de

degradação com o aumento da concentração de O3 dissolvido. No caso da degradação tipo

radicalar, este processo é dependente da velocidade de decomposição do O3 em fase aquosa,

processo este catalisado pela presença do ânion 𝑂𝐻−, ou seja, quanto mais básico o pH da

solução maior a velocidade de oxidação de contaminantes orgânicos e de inúmeros compostos

inorgânicos por se tratar de uma reação radicalar (DA SILVA et al., 2009). Os radicais

hidroxila são rapidamente consumidos após sua formação, devido a pouca seletividade com o

substrato, daí sua dupla aptidão de reagir com compostos orgânicos e inorgânicos (DA

SILVA; SANTANA; BOODTS, 2003).

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46

Na presença de radiação ultravioleta (UV), o ozônio também pode formar radical

hidroxila, conforme mostrado pelas Equações 29 e 30.

𝑂3 + 𝐻2𝑂ℎ𝑣→ 𝐻2𝑂2 + 𝑂2 Eq. (29)

𝐻2𝑂2ℎ𝑣→ 2𝐻𝑂• Eq. (30)

Os processos que utilizam ozônio também podem ser combinados com peróxido

de hidrogênio podendo formar radicais hidroxila e, desde que esses radicais estejam

formados, a geração de outros radicais hidroxila segue o mecanismo autocatalítico.

𝐻2𝑂2 + 2𝑂3 → 3𝑂2 + 2𝐻𝑂• Eq. (31)

Em pH neutro ou alcalino, a decomposição de ozônio pode ser representada pelo

mecanismo apresentado nas Equações 32 e 33.

𝑂3 + 𝑂𝐻− → 𝑂2

─ + 𝐻𝑂2• Eq. (32)

𝑂3 + 𝐻𝑂2• → 2𝑂2 + 𝐻𝑂

• Eq. (33)

A utilização de sistemas combinando ozônio juntamente com peróxido de

hidrogênio e, ou luz UV ou OH─ tem sido objeto de estudo de vários grupos de pesquisa.

Entre os principais objetivos dos estudos, está a degradação de diferentes produtos, tais como:

herbicidas, produtos farmacêuticos, glicina, efluentes contaminados com óleo, ácido oxálico,

fenol, lixiviado de aterro e matéria orgânica em água natural (TEIXEIRA; JARDIM, 2004).

Também tem sido objeto de estudo a utilização do ozônio em grande escala como forma de

pré-tratamento anterior ao biológico, juntamente com processos físico-químicos como

precipitação, floculação e adsorção.

O processo de oxidação de compostos orgânicos via ozonização é dependente de

vários fatores, tais como: (i) tipo de composto a ser degradado; (ii) concentração de ozônio;

(iii) meio reacional (por exemplo, possibilidade de formação de radicais hidroxila); (iv)

cinética reacional e (v) processo de transferência de massa (VON GUNTEN, 2003).

Há relatos que um dos parâmetros mais importante é o processo de transferência

de massa do ozônio com o sistema aquoso, meio onde o contaminante pode estar presente.

Page 51: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

47

Sendo que uma alternativa para aperfeiçoar tal limitação é aumentar a área interfacial

disponível para transferência de massa, diminuir o tamanho das bolhas da mistura gasosa que

é transferida para a solução e diminuir a taxa de fluxo do gás. Como consequência da

otimização dos parâmetros acima, foi relatado um aumento na taxa de remoção dos

compostos orgânicos (SHIN et al., 1999).

Também há relatos que o processo de transferência de massa foi otimizado com a

variação da temperatura. Consequentemente, a constante de velocidade aparente sofreu

variações positivas com o aumento de temperatura, possibilitando uma redução na demanda

química de oxigênio e aumento da biodegradabilidade das águas residuárias (WU; WANG,

2001).

Para o tratamento de água potável, as reações entre o ozônio e os compostos

orgânicos presentes são geralmente rápidas e ocorrem através de uma transferência de átomos

de oxigênio, sendo que o ozônio reage principalmente com as ligações duplas, sistemas

aromáticos ativados e aminas não protonadas (VON GUNTEN, 2003). Portanto, é possível

utilizar o ozônio para o tratamento de águas residuárias contendo uma vasta gama de

poluentes e em diferentes tecnologias. Além disso, é possível aplicar as diversas técnicas de

ozonólise em pré ou pós-tratamento, podendo ser combinada com outras técnicas de custos

operacionais reduzidos, como o caso do processo biológico que, em certas condições

operacionais, a eficiência pode ser drasticamente aumentada (WHITLOW; ROTH, 1988;

ALMEIDA et al., 2004; DA SILVA; JARDIM, 2006).

Vários trabalhos relataram o uso de ozônio para a degradação de corantes

provenientes da indústria têxtil, onde o sucesso no processo de remoção está associado à

concentração do ozônio, tempo de ozonização, concentração inicial do poluente e pH do

meio. Segundo os autores, o pH afeta a cinética da descoloração e o processo de

mineralização, sendo que em meio alcalino o processo é mais eficiente (ANDREOZZI et al.,

2003; DA SILVA et al., 2006; FRANCO et al., 2008; SANTANA et al., 2009).

Os compostos de origem farmacêutica também tem despertado grande interesse

por diversos grupos de pesquisa que utilizam a tecnologia de ozonização no processo de

degradação. Há relatos de aplicações do ozônio em processo de degradação de fármacos via

ozonização direta ou via processos combinados visando à produção de radicais hidroxila

(por exemplo, H2O2, luz UV e metal de transição) (ANDREOZZI et al., 2003; HUBER et

al., 2003; SKOUMAL et al., 2006; FRANCO et al., 2008; HAMDI EL NAJJAR et al.,

2014).

Page 52: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

48

Para as condições onde houve a presença de um catalisador visando à produção do

radical hidroxila, o processo de degradação de diferentes fármacos foram mais eficientes,

atingindo uma taxa de degradação até três vezes maior quando comparado com os processos

de degradação direta (ANDREOZZI et al., 2003; HUBER et al., 2003; SKOUMAL et al.,

2006). Em algumas condições, o processo de degradação de diferentes fármacos segue uma

reação de pseudo-primeira ordem, e a taxa de degradação é influenciada pela concentração

inicial do fármaco (SKOUMAL et al., 2006). Também é possível encontrar relatos onde o

processo de degradação em experimentos conduzidos em bancada obedeceram as reações de

segunda ordem (HUBER et al., 2003).

Em geral, a aplicação de ozônio, via reação direta ou reações tipo radicalar, com a

finalidade de degradar diferentes tipos de fármacos em águas naturais, apresenta-se como uma

tecnologia promissora, pois ambos os processos são capazes de destruir, por exemplo, o anel

aromático do substrato com uma conversão parcial do teor inicial de carbono em dióxido de

carbono.

Vários grupos de pesquisas investiram na tecnologia de ozonólise visando à

degradação de diversos compostos orgânicos de diferentes grupos funcionais e estrutura

química recalcitrante. A maioria dos processos de oxidação seguiram reações de pseudo-

primeira ordem e são completamente dependente da concentração de ozônio usado no meio

reacional. Em casos onde houve a possibilidade de formação de radicais hidroxila, foi

detectado uma eficiência mais pronunciada, viabilizando os processos de tratamento com uma

redução significativa dos custos operacionais (HOIGNÉ; BADER, 1983; KIM; KORSHIN;

VELICHENKO, 2005; AMADELLI et al., 2011; MEHRJOUEI; MÜLLER; MÖLLER,

2014).

No entanto, os subprodutos de degradação de alguns produtos farmacêuticos

podem apresentar toxicidade mais elevada que a toxicidade da própria droga. Há relatos que a

degradação de tais subprodutos só foi possível em condições onde a concentração de ozônio

era elevada (MCKENZIE et al., 1997).

Os principais aspectos referentes à química do ozônio e da engenharia da

ozonização foram relatados por Da Silva e Colaboradores (DA SILVA; JARDIM, 2006; DA

SILVA et al., 2009).

Em fase aquosa o ozônio se degrada rapidamente em espécies radicalares e

oxigênio, sendo que a grande vantagem é a não formação de subprodutos tóxicos. A molécula

de ozônio é constituída pela existência de um átomo de oxigênio deficiente em elétrons. Em

decorrência dessa deficiência, a molécula de ozônio possui um grande caráter eletrofílico, o

Page 53: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

49

que permite reagir com diferentes compostos orgânicos e inorgânicos (KUNZ et al., 1999;

BAILEY, 2012).

1.4.1 Aspectos da transferência de massa do ozônio na interface gás/líquido

Devido à instabilidade do ozônio na fase gasosa, o que impede sua armazenagem,

torna-se necessária a geração “in situ”. Sua velocidade de decomposição, resultando em O2, é

fortemente dependente da pureza do solvente, que pode variar drasticamente com a

temperatura (ALMEIDA et al., 2004; OKADA et al., 2015). Outro fator que também pode

influenciar na estabilidade do ozônio em meio aquoso é o pH, uma vez que os íons hidroxila

iniciam o processo de decomposição do ozônio (por exemplo, Equações 32 e 33), onde a

decomposição do ozônio pode ser acelerada pelo aumento do pH ou pela adição de peróxido

de hidrogênio (por exemplo, Equação 31). Desta maneira, a oxidação de compostos orgânicos

e inorgânicos durante a ozonização pode ocorrer via ozônio molecular (reação direta –

predominante em meio ácido) ou radical hidroxila (reação indireta – predominante em meio

alcalino), embora na prática haja contribuição dos dois mecanismos (ALMEIDA et al., 2004).

A concentração do ozônio no meio reacional é dependente da velocidade da

transferência de massa do ozônio na interface gás/líquido e da cinética de degradação do

ozônio promovida pelo ânion hidroxila. Já a supersaturação do O3 em reatores de coluna não é

significativa devido este sistema operar em regime aberto com pressão constante igual a

pressão atmosférica.

Do ponto de vista dinâmico, a velocidade do processo de dissolução do O3 em

fase aquosa é proporcional ao fluxo da mistura O2/O3 introduzida no reator em coluna (por

exemplo, Figura 11), já que a constante de velocidade da transferência de massa tende a

aumentar com a elevação do fluxo volumétrico dos gases. Adicionalmente, tem-se que para

uma massa constante de ozônio presente em fase gasosa, a velocidade da ozonização do

composto orgânico na coluna de tratamento é consideravelmente dependente da eficiência da

dispersão das bolhas na extremidade inferior da coluna (DA SILVA; JARDIM, 2006).

Page 54: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

50

Figura 11 – Modelos de reatores de coluna de bolhas. Adaptado de (SCHMIDELL; FACCIOTTI, 2001).

A forma mais efetiva de aumentar a velocidade da transferência de massa durante

a ozonização está fundamentada no aumento da área interfacial disponível para o transporte

de massa, o qual pode ser efetuado promovendo a redução do tamanho médio das bolhas de

gás que são dispersas em solução e aumento no seu tempo de residência. Assim, a velocidade

da transferência de massa será máxima quando uma dada massa da mistura gasosa (O2/O3) for

introduzida na coluna de líquido formando um grande número de pequenas bolhas,

aumentando assim ao máximo a área da zona reacional localizada na interface gás/líquido

(DA SILVA; JARDIM, 2006).

Do ponto de vista teórico, o tamanho médio de bolha depende não somente das

propriedades do gás e do líquido, mas também, em uma maior extensão, dos mecanismos

responsáveis pela quebra e coalescência mútua das bolhas, isto é, da hidrodinâmica do reator

em coluna (DA SILVA; JARDIM, 2006).

Na interface gás-líquido, onde a absorção do gás é seguida por uma reação

química irreversível (por exemplo, ozonização de poluentes), duas etapas controlam a

velocidade do processo global: (i) a transferência de massa da fase gasosa para a fase líquida e

(ii) a reação de degradação. De acordo com Da Silva e Jardim (2006), o processo de

ozonização pode ser representado pelas etapas mostradas nas Equações 34 e 35.

𝑂3(g)⟶𝑂3(aq) (Transferência de massa) Eq. (34)

[𝑂3(aq)⟺∑(𝑅𝑎𝑑𝑖𝑐𝑎𝑙)(aq)] + 𝑣𝑋(aq)⟶ 𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑠(aq) (Degradação) Eq. (35)

Fonte: Adaptado de (DA SILVA; JARDIM, 2006)

Nas Equações 34 e 35, O3(g) e O3(aq) representam o ozônio presente nas fases

gasosa e líquida, respectivamente. Onde [𝑂3(aq)⟺∑(𝑅𝑎𝑑𝑖𝑐𝑎𝑙)(aq)] representa a

Page 55: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

51

decomposição do O3 responsável pela geração de radicais oxigenados livres, 𝑣 é o coeficiente

estequiométrico, e X(aq) é o composto a ser degradado. Portanto, a eficiência de degradação

via ozonização depende consideravelmente da velocidade da transferência de massa do ozônio

e de sua cinética de decomposição em espécies radicalares.

O modelo mais simples proposto para representar o comportamento da interface

gás-líquido é baseado na “teoria do filme”, onde é assumido que a mistura oxigênio/ozônio é

pouco solúvel em água, que não há nenhuma limitação devido à transferência de massa está

presente na fase gasosa, e que, portanto, somente a resistência da transferência de massa na

fase líquida é operante (DA SILVA et al., 2009). Assim, é assumido a existência de um filme

líquido de espessura média, L, entre o seio da fase líquida e a interface gás-líquido (DA

SILVA; JARDIM, 2006).

Em virtude da possibilidade de otimização no que tange à produção eletroquímica

de ozônio a partir da eletrólise da água pura, será estudado a possibilidade de eliminar a

utilização de metais nobres que são usados como intercamadas de proteção ao substrato na

produção eletroquímica de ozônio e adição de íons de relevância no β-PbO2, como por

exemplo, o ferro, visando uma redução na RDO e uma maior eficiência na PEO em reator do

tipo EPS.

Page 56: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

52

Page 57: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

53

2 OBJETIVO GERAL

Aperfeiçoar a produção eletroquímica de ozônio a partir da eletrólise da água pura;

Reduzir os custos efetivos da PEO;

Aplicar o O3 produzido eletroquimicamente no processo de degradação de amostras

sintéticas, contendo Paracetamol®.

2.1 Objetivo específico

Substituição do titânio sinterizado recoberto com platina, elevado custo, por substrato

de tela de aço ou tecido de carbono (material de baixo custo);

Adição de íons Fe3+ nos filmes de dióxido de chumbo visando aumentar a PEO;

Aplicar o ozônio produzido eletroquimicamente no processo de

degradação/mineralização de soluções aquosas contendo Paracetamol.

Page 58: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

54

Page 59: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

55

3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

3.1 Ânodos de PbO2 suportado em substrato tela de aço ASTM 316

3.1.1 Preparo dos eletrodos de trabalho

Foi usado como substrato tela de aço (TA) ASTM 316 (ε = 154,3 μm com área

entre fios de 7,8 × 10─4 μm2) com dimensões de 2,0 × 2,0 cm e 4,0 × 5,0 cm (caracterização

física/química e investigação da produção de ozônio, respectivamente), que foi limpa com

água e sabão, posteriormente submersa em isopropanol P.A. (Isofor®) sob agitação branda por

30 min, T = 25 °C.

Os substratos metálicos normalmente empregados no preparo de ânodos de -

PbO2 são de titânio (placas planas ou metal sinterizado (placas porososas)) previamente

cobertos com finas camadas constituídas de metais nobres, como é o caso da platina.

Contrariamente, no presente estudo os eletrodos constituídos de -PbO2 foram preparados

sobre uma camada intermediária, método proposto pelo presente orientador (INPI – PI

1101892-5), mediante inclusão dos íons dopantes na mistura precursora. No presente estudo,

foram preparados eletrodos não dopados e dopados com íons de Fe3+ nas concentrações de 1,

10 e 100 mmol dm3 no banho eletrolítico. Os eletrodos foram confeccionados, em triplicata

(por exemplo, 2,0 × 2,0 cm), pelo método de eletrodeposição com agitação branda

empregando-se uma célula eletroquímica convencional de compartimento único.

3.1.2 Processo de eletrodeposição

A célula eletroquímica utilizada foi munida de eletrodo auxiliar constituído de

duas barras de grafite (50 × 20 × 5 mm) fixadas com cola de silicone em posições opostas na

parte interna de um Becker de 100 cm3. As barras de grafite foram interligadas por um fio de

cobre para estabelecer contato elétrico com uma fonte de corrente contínua modelo OS-4000

(3 A/30 V) da ICEL (Brasil). Essa configuração do eletrodo auxiliar na célula eletroquímica

permitiu uma melhor distribuição das linhas de campo na superfície do eletrodo de trabalho,

permitindo assim uma eletrodeposição uniforme da camada de dióxido de chumbo sobre o

substrato.

A solução eletrolítica foi preparada a partir do nitrato de chumbo ([Pb(NO3)2] =

0,2 mol dm─3) (Dinâmica®), na presença de 0, 1, 10 e 100 mmol de Fe(NO3)2 (Dinâmica®),

Page 60: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

56

respectivamente. O pH da solução foi ajustado para 2,0 com ácido nítrico (Neon®). A célula

eletrolítica foi colocada sobre um agitador magnético com aquecimento, onde a temperatura

da solução (≈ 95,0 cm─3) foi mantido a 50 °C com agitação branda (DA SILVA et al., 2010).

Após a estabilização da temperatura, o eletrodo foi submerso na solução, iniciando o processo

de eletrodeposição por 30 min a uma densidade de corrente de 40 mA cm─2. Após esta etapa,

o eletrodo ficou em repouso por 24 h em temperatura ambiente.

3.1.3 Preparo do conjunto eletrodo membrana (MEA)

Foi utilizada uma célula eletroquímica semelhante à desenvolvida por Costa e Da

Silva (2012), onde os coletores de corrente de Ti foram perfurados (anódico e catódico) (ver

Figura 12). Os eletrodos de trabalho foram constituídos de TA/-PbO2, TA/-PbO2-Fe,

enquanto que uma micro tela de aço ASTM 316 foi utilizada como eletrodo auxiliar (contra

eletrodo).

O EPS utilizado foi o Nafion® 324 (membrana reforçada com Teflon®) adquirido

da DuPont do Brasil, o qual que foi submetido a um pré-tratamento por imersão em ácido

nítrico (Neon®) 50% (V/V) em ebulição por 30 min com posterior hidratação em água

destilada em ebulição por 2 h (SIMOND; COMNINELLIS, 1997).

Para que houvesse a remoção das impurezas, os eletrodos foram lavados com

água destilada, imerso em ácido acético P.A. (Vetec®) por 30 s, lavados novamente com água

destilada, imerso em peróxido de hidrogênio comercial 10% e, por fim, lavados com água

destilada.

Os elementos constituintes do MEA foram prensados (0,5 kgf cm─2) empregando-

se um conjunto de parafusos munidos de molas helicoidais sustentadas nas placas de titânio,

como mostrado na Figura 12B. Entre os coletores de corrente e os respectivos eletrodos

(cátodo e ânodo) foram inseridas telas de aço auxiliares ASTM 316 (ϕ = 0,8 mm e porosidade

= 45%) para assegurar que todo o contato ânodo/EPS/cátodo fosse bem distribuído. Após o

preparo do MEA, todo o conjunto foi submerso em água destilada por 24 h, visando formar a

camada “gel” na superfície do eletrodo devido o processo de hidratação.

Page 61: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

57

Figura 12 – Característica do MEA: (A) Vista frontal e lateral (dimensões em cm), e (B) Montagem da célula

eletroquímica (COSTA; DA SILVA, 2012).

Para os estudos eletroquímicos empregando-se arranjos de três eletrodos (Contra

eletrodo – CE, eletrodo de trabalho – ET, e eletrodo de referência – ER) o sistema foi inserido

em uma célula eletroquímica de único compartimento com capacidade de 100 cm3. Uma parte

(tira) do EPS foi imersa em um recipiente externo contendo solução aquosa 5% (V/V) de

H2SO4 (Isofar®) para que o contato iônico entre o EPS e o eletrodo de referência (eletrodo de

calomelano saturado – ECS) fosse estabelecido de forma adequada sem, no entanto,

influenciar na condutividade da água a ser submetida ao processo de eletrólise (Figura 12B).

3.1.4 Caracterização dos eletrodos e detalhes sobre o reator filtro-prensa

A caracterização estrutural (identificação das fases) dos filmes foi feita através da

técnica de difração por raios X (DRX) utilizando um difratômetro da Shimadzu (modelo XRD

6000) empregando-se radiação CuK com comprimento de onda () de 0,154060 nm (40 kV e

30 mA) e uma velocidade de varredura de 2º min1, cobrindo o intervalo 2 de 20 a 70º. A

análise estrutural das amostras foi efetuada por comparação dos difratogramas experimentais

com as fichas do banco de dados do JCPDS (Joint Committee on Powder Diffraction

Standards) empregando-se o software Crystallographica Search-match® (versão 2.0). Foram

utilizados os cartões PDF (“Powder Diffraction File”) de número 41-1492 e 45-1416 para

identificação das fases -PbO2 e α-PbO2, respectivamente.

Page 62: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

58

A caracterização morfológica dos eletrodos TA/-PbO2 e TA/-PbO2-Fe

eletrodepositados em substratos de tela de aço foram analisadas através da técnica de

microscopia eletrônica de varredura (MEV), onde foi utilizado um Microscópio Eletrônico de

Varredura da HITACHI modelo TM-3000.

O estudo eletroquímico envolvendo obtenção da curva de polarização para a

reação de desprendimento de oxigênio (RDO) combinada com a produção eletroquímica de

ozônio (PEO) foi realizado com o MEA imerso em água destilada com uma inclinação de 45°

para facilitar a liberação de bolhas do lado anódico. A temperatura da água foi controlada em

25 °C e o estudo foi realizado usando um potenciostato/galvanostato da AUTOLAB (Eco

Chemie, The Netherlands) modelo 302N.

Antes da obtenção das curvas de polarização, os eletrodos foram submetidos a

uma pré-polarização galvanostática (100 mA cm2) por 30 min (HO et al., 1994; AMADELLI

et al., 1999, 2002). Em seguida, curvas de polarização (E vs. jap) no domínio da RDO/PEO

foram registradas sob condições quase-estacionárias a uma velocidade de varredura de 1,0

mV s1 tendo como potencial inicial o potencial em circuito aberto (PCA ≈ 1,60 V/ECS) e

como potencial final aquele correspondente a uma densidade de corrente máxima de 150 mA

cm2.

3.1.5 Quantificação do ozônio produzido e obtenção das figuras de mérito da PEO

Nos estudos de quantificação do ozônio foi empregado um protótipo de reator

filtro-prensa previamente descrito por Da Silva et al. (2010), tendo como eletrodo de trabalho

o TA/-PbO2 e TA/-PbO2-Fe (Ag 20 cm2) e como eletrólito o Nafion® 324.

O comportamento hidráulico do fluido anódico dentro dos colectores contendo

canais de distribuição em forma de S (dimensões: área de seção transversal de 0,30 cm2, com

80 cm de comprimento e volume do canal de 24 cm3) pressionado contra o coletor de corrente

perfurada (condição de intervalo zero) foi caracterizado por um tempo de residência de 1,02 s

e uma velocidade do fluido de 7,08 cm s─1, com um volume anódico total de 3 dm─3. A

Figura 13 mostra o esquema do reator utilizado neste estudo.

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59

Figura 13 – Esquema do reator eletroquímico utilizado nos estudos da PEO (A) e foto do aparato experimental

utilizado no processo de degradação (B).

Page 64: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

60

A eficiência de corrente referente ao processo da PEO (PEO) foi determinada

registrando-se valores da absorbância do O3 proveniente do frasco separador de gases, em 254

nm (cubeta de fluxo, de quartzo) em função da densidade de corrente aparente aplicada ao

ânodo, cobrindo o intervalo de 0,1 a 2,5 A cm2. O reator foi operado no modo galvanostático

empregando-se uma fonte de corrente/potencial pulsante da AMZ (100 A/12 V), sendo a

medição do potencial de célula e da corrente aplicada conferida com uso de um alicate

amperímetro/voltímetro digital de precisão da Fluke® modelo 336.

A temperatura da água foi medida através de termômetros digitais conectados

imediatamente após a saída da água do reator filtro-prensa a partir dos respectivos

compartimentos anódico e catódico.

Foram utilizado trocadores de calor do tipo serpentina com tubo de cobre

(confeccionados em nosso laboratório) conectado em linha após a saída da água dos diferentes

compartimentos do reator. Cada trocador de calor foi confeccionado com tubos de PVC de

100 mm, capacidade de 4 dm3 de líquido refrigerante que circula por fora da serpentina de

cobre (3,5 m de comprimento e diâmetro 1,6 cm) colocada dentro do tubo de PVC no formato

de espiral. Neste caso, a água contendo ozônio flui dentro da serpentina de cobre circundada

pelo líquido refrigerante proveniente do banho termostatizado (Tecnal®, modelo TE-2005)

com temperatura devidamente ajustada para este fim.

A circulação do fluido foi realizada por um conjunto de duas bombas centrífugas

ligadas em série (34 W cada) mantendo o líquido a um fluxo volumétrico constante (Q = 23,6

cm3 s1).

Como a concentração de O3 em fase gasosa (O2 + O3) era muito elevada

(absorbância > 1), a mistura gasosa foi diluída utilizando-se gás nitrogênio ultrapuro injetado

na saída do frasco separador de gases (antes do fluxômetro). O fluxo volumétrico total dos

gases 𝑄 provenientes do frasco separador (O2 + O3) e N2 adicionado foi determinado usando

um fluxômetro de precisão calibrado previamente utilizando-se o método padrão do

bolhômetro.

Para o cálculo da PEO foi utilizada a Equação 36 (DA SILVA et al., 2010).

𝛷PEO(% m,m) = 191,4 (𝐴𝑏𝑠𝑄

𝑖𝑡) Eq. (36)

Page 65: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

61

onde Abs é a absorbância da mistura gasosa em = 254 nm, 𝑄 é o fluxo volumétrico total

dos gases (em L s1) e 𝑖𝑡 é a corrente total aplicada ao reator. Foi utilizado o N2 ultrapuro para

se obter o branco nas medidas da absorbância.

O consumo de energia elétrica específica para a PEO, (𝑃PEO), foi calculado

usando a Equação 37 (DA SILVA et al., 2010).

𝑃PEO(Whg−1) =

𝑈𝑧𝐹

1,73×105ΦPEO Eq. (37)

onde U é o potencial da célula, z é o número de elétrons (= 6), F é a constante de Faraday (=

96485 C mol1).

A velocidade da geração de ozônio (𝑣PEO) foi calculada a partir da Equação 38

(DA SILVA et al., 2010).

𝑣PEO(gO3h−1) = 0,2985(ΦPEO𝑖𝑡) Eq. (38)

A concentração do ozônio [O3] em mg dm-3 foi calculado usando a Equação 39

(DA SILVA et al., 2010).

[𝑂3](mgdm−3) = (

𝑣𝑃𝐸𝑂

𝑄×3,6) × 1000 Eq. (39)

O desempenho global do reator (𝜗PEO) foi calculado usando a Equação 40 (DA

SILVA et al., 2010).

𝜗PEO(gO3W−1h−1) = 𝑣PEO/𝑖𝑡𝑈 Eq. (40)

3.2 Ânodos de PbO2 suportado em substrato tecido de carbono tipo sarja

Foi usado como substrato tecido de carbono (TC) com trama do tipo sarja com

dimensões de 2,0 x 2,0 cm e 4,0 × 5,0 cm (caracterização física/química e investigação da

produção de ozônio, respectivamente), previamente imerso em isopropanol P.A. (Isofor®) sob

agitação por 30 minutos, T = 25 °C.

No presente estudo os eletrodos constituídos de -PbO2 foram preparados sobre

microfibras de tecido de carbono, em substituição de materiais nobres, mediante inclusão dos

íons dopantes no banho eletrolítico contendo nitrato de chumbo. Foram preparados eletrodos

Page 66: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

62

não dopados e dopados com íons de Fe3+ nas concentrações de 1, 10 e 100 mmol dm─3 no

banho eletrolítico.

O procedimento de preparo do eletrodo de trabalho seguiu a mesma metodologia

descrita no procedimento de preparo dos eletrodos suportados em tela de aço, sessão 3.1.1 e

3.1.2.

3.3 Otimização da produção eletroquímica de ozônio

Como a confecção dos eletrodos de trabalho usando substrato de tecido de

carbono demanda um menor tempo para produção (não necessita de camada intermediária),

todos os estudos de otimização e degradação foram realizados usando ânodos de β-PbO2

suportado em tecido de carbono.

Como o fluxômetro utilizado para aferir a quantidade da mistura gasosa oriunda

do frasco separador não era viabilizado, por isso, foi desenvolvido um método de

quantificação de gás alternativo, com precisão de 99%.

Considerando que o maior custo na produção do MEA está associado ao Nafion®,

que além de servir como transportador de íons H+, também é usado como separador dos

compartimentos anódicos e catódicos. Para reduzir os custos, foi desenvolvida uma técnica

que reduz em mais de 70% a quantidade de Nafion® a ser usado, mantendo a mesma

eficiência no transporte dos íons.

Como a matéria prima usada no processo da PEO é a água, foram realizados

estudos visando aperfeiçoar a eficiência de corrente na eletrólise de geração de ozônio, bem

como reduzir os custos operacionais da PEO.

3.4 Aplicação do ozônio gerado eletroquimicamente em processo de degradação

3.4.1 Degradação do paracetamol

Paracetamol (C8H9NO2) (Acetaminophen – CAS: 103-90-2, pureza > 99%, mm

151,16 g mol─1, solubilidade de 12,75 g dm─3 e pka = 9,38) foi adquirido da Sigma-aldrich.

Os solventes orgânicos e outros produtos químicos empregados foram de grau HPLC

(Fluka®). A água ultra pura utilizada para a preparação das soluções foi obtida usando um

sistema de purificação MS 2000 modelo de Gehaka (Brasil) com uma resistividade de 18,2

MΩ cm a 25 °C.

Page 67: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

63

3.4.1.1 Ozonização das soluções de paracetamol utilizando reator de coluna de bolha

Com uma produção constante de ozônio 0,5 g h─1, equivalente à 5,3 g dm─3, o

ozônio eletrogerado foi utilizado para degradar amostras sintéticas de paracetamol em um

reator de vidro em coluna de bolha (ver Figura 14). Condição onde o reator eletroquímico

apresenta grande estabilidade por utilizar densidade de corrente moderada (j = 1 A cm─2) e

menores gastos com trocador de calor.

A degradação oxidativa do paracetamol durante o processo de ozonização foi

estudada em condições de semi-batelada (VT = 1,0 dm3). A mistura de gás (O2/O3) foi

borbulhada através de um difusor do tipo prato poroso de vidro sinterizado (Schott # 2 e A =

3,5 cm2) colocado na parte inferior do reator em coluna de bolhas. Além da avaliação da

influência da concentração inicial do fármaco (20, 30 e 50 mg dm─3), também foi avaliado a

influência do pH (2,0, natural (6,3) e 10,0). O controle do pH foi realizado com adição de

H2SO4 0,1 M (Isofor®) ou de NaOH 0,1 M (Sigma-aldrich®). O pH foi mantido constante,

exceto para a condição de pH natural, com o auxílio um pHmetro Digimed DM-22, acoplado

no Reator de Vidro.

Figura 14 – Reator de coluna de bolha (Reator de Vidro) usado no processo de degradação de solução contendo

paracetamol.

Para avaliar o processo de degradação, as amostras (VT = 3 cm3) foram retiradas a

cada 5 min para análise de espectrofotometria/UV até o tempo total de degradação, 60 min.

Neste estudo em particular, todas as amostras foram retornadas ao reator da coluna de bolhas

Page 68: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

64

após a medição da absorbância. Amostras adicionais (VT = 1 cm3) foram retiradas para análise

cromatográfica com detector UV.

As amostras ozonizadas foram analisadas utilizando um espectrofotômetro Cary

50 modelo de Varian, com varredura de 200 a 400 nm. Para os estudos de Cromatografia

Líquida de Alta Eficiência (CLAE), foi utilizado um cromatógrafo da Varian, modelo ProStar

315. Para separar os diferentes compostos orgânicos, foi utilizado uma coluna C18 da Supel

CasilTM (250 × 4,6 mm, 5 μm), modo reverso, com eluição isocrática na proporção de 70%

(ACT + TFA (0,08%))V/30% (H2O + TFA (0,1%))V, fluxo 1,0 mL min─1, volume de injeção

20 μL e detecção no UV em λ = 243 nm.

3.4.1.2 Demanda Química de Oxigênio (DQO)

Para avaliar o processo de mineralização, foram coletados amostras (VT = 8 cm3)

a cada 10 min até o tempo total de ozonização. A análise de DQO foi realizada a partir de

adaptação da metodologia relatada nos métodos padrão de análise (APHA, 1995).

A DQO foi determinada empregando-se o método titulométrico de refluxo

fechado. A análise consiste na digestão de 2,5 cm─3 de amostra (150 oC por 2 h) num tubo de

vidro hermeticamente fechado, na presença de um excesso de dicromato de potássio e de

ácido sulfúrico.

O sulfato de prata (Ag2SO4) é utilizado como catalisador para assegurar a

oxidação total de compostos alifáticos de cadeia reta. Entretanto, o sulfato de prata pode

reagir com cloro, bromo e iodeto, produzindo precipitado que oxida parcialmente. Para evitar

tal precipitado, adiciona-se sulfato de mercúrio II. Como a molécula de paracetamol não

contém cloro, bromo ou iodeto, não foi utilizado o sulfato de mercúrio II para evitar

precipitação.

Para a realização das análises de DQO, foram preparadas as seguintes soluções: (i)

Solução padrão de dicromato de potássio (0,01667 mol dm─3) com qualidade padrão primário,

previamente seco a 105 oC por 2 horas. Para cada litro desta solução digestora, colocou-se 167

cm─3 de ácido Sulfúrico; (ii) A solução catalisadora foi preparada dissolvendo-se 10,12 g de

Ag2SO4 em cada litro de H2SO4 concentrado (5,5 g de Ag2SO4/kg de H2SO4). A dissolução

completa ocorreu após 24 horas; (iii) A solução titulante, padrão de sulfato ferroso amoniacal

(0,05 mol dm─3), foi preparada na presença de 10 cm─3 de H2SO4 concentrado para cada litro

de solução. Esta solução foi preparada diariamente e padronizada com solução padrão de

dicromato de potássio. Para isso, foi adotado o mesmo procedimento das amostras com

Page 69: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

65

exceção de levar no bloco para digerir, substituindo o volume das amostras de paracetamol

por água. Para efeito de calculo da concentração do sulfato ferroso amoniacal, usou a Equação

41.

𝑀1 =1,50𝑉𝑇𝑆2

× 0,1000 Eq. (41)

onde M1 é a molaridade da solução de sulfato ferroso amoniacal, VTS volume total de sulfato

ferroso amoniacal usado na titulação em cm─3; (iv) A solução de biftalato de potássio foi

utilizada como amostra controle, pois a mesma possui um valor de DQO conhecido (1,176 mg

O2 / mg). Foi pesado 170 mg de C8H5KO4 (seco por 2 h a 120 °C) e dissolvido para 1000

cm─3 (valor teórico de 199,92 mg O2 dm─3); (v) A solução de indicador ferroína foi preparada

dissolvendo-se 1,485 g de 1,10-fenantrolina-monohidratada (C12H8N2.H2O) juntamente com

0,695 g de FeSO4.7H2O em água destilada e completando-se o volume a 100 cm─3.

Todas as análises foram realizadas em triplicata, incluindo o branco e o biftalato

de potássio em tubos de 10 cm─3 da HACH. A sequência colocada nos tubos obedeceu a

ordem: 2,5 cm─3 da amostra ozonizada (ou água para o brando ou biftalato de potássio como

padrão); 1,5 cm─3 de solução de dicromato de potássio; 3,5 cm─3 da solução catalisadora,

colocada lentamente para não aquecer (para evitar o aquecimento, a solução catalisadora foi

colocada gelada). Em seguida, os tubos foram hermeticamente fechados e homogeneizados e

colocados num bloco digestor da HACH a 150 C por 2 horas. Após a digestão, as amostras

foram resfriadas em temperatura ambiente até que atingisse o equilíbrio térmico. Em seguida,

foi adicionado aproximadamente 15 cm─3 de água ultra pura (usado para lavar os tubos) em

cada tubo e, titulada volumetricamente com solução de sulfato ferroso amoniacal, com adição

de uma gota de indicador.

Para que as análises de DQO tivesse um erro mínimo (menor que 2% - padrão de

biftalato de potássio), foram utilizadas apenas vidrarias calibradas e exclusivas para DQO

(pipeta e bureta de 5 cm─3). Como o volume de cada gota dispensada pela bureta era muito

grande, foi feito uma adaptação com uma ponteira amarela universal de 200 μL (colada com

silicone e vedada com parafilm).

Para calcular o valor de DQO em mg O2 dm-3, foi utilizado a Equação 42.

𝐷𝑄𝑂 =(𝑉𝑇𝑆𝐵−𝑉𝑇𝑆𝐴)×𝑀1×8000

𝑐𝑚─3 𝑑𝑎 𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎 Eq. (42)

Page 70: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

66

onde VTSB é o volume total de sulfato ferroso amoniacal usado na titulação do branco (cm─3),

VTSA é o volume total de sulfato ferroso amoniacal usado na titulação da amostra (cm─3) e

8000 é o peso miliequivalente de oxigênio × 1000 cm─3 dm-3.

3.3.1.3 Caracterização dos subprodutos de oxidação usando Ressonância Magnética

Nuclear (RMN)

Os espectros de RMN do paracetamol e seus subprodutos de oxidação foram

registrados utilizando um espectrômetro modelo Fourier 300 de Bruker (Suíça) que opera a

300,18 MHz para H1 e 75,48 MHz para C13, seguindo protocolos padrão (RESENDE et al.,

2008).

O paracetamol e os seus subprodutos de oxidação foram dissolvidos numa mistura

de H2O:D2O (95:5, v/v) contendo 5 μmol dm─3 de tetrametil-silapentane e utilizando 10 mmol

dm─3 de TMS (referência interna). Em todos os casos, os espectros de RMN unidimensionais

(1D) foram gravados usando uma sonda padrão 1H/13C de 5 mm a 20 °C. Todas as análises

foram processadas usando o software Topspin 3.1 desenvolvido pela Bruker BioSpin. Os

espectros de 1H foram adquiridos com a supressão de água usando técnicas de pré-saturação

com sequência de pulso zgcppr. A largura espectral foi de 6103,52 Hz para ambas as

amostras, 512 números de varredura, 2,0 número de varreduras falsas e 16384 de tamanho de

dados do domínio do tempo. Os espectros 13C e DEPT-135 13C desacoplados foram

adquiridos utilizando a sequência de pulso zgpg30 e dept135, respectivamente. Os espectros

13C foram adquiridos para ambas as amostras com largura espectral de 24414,06 Hz, 4096

números de varredura, 4 números de varreduras simuladas e 65536 de tamanho de dados do

domínio do tempo. Os espectros de DEPT-135 13C foram adquiridos com largura espectral de

24414,06 Hz, 2048 números de varredura, 4 números de varreduras falsas e 65536 de

tamanho de dados do domínio do tempo.

3.5 Otimização do processo de transferência de massa

Visando a otimização do processo de transferência de massa, foram

confeccionados reatores caseiros a partir de tubos de policloreto de vinila (PVC), conforme

esquema apresentado na Figura 15.

Page 71: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

67

Figura 15 – Reator caseiro confeccionado a partir de material alternativo.

A Figura 15 apresenta o esquema utilizado para confeccionar o reator de coluna

com recheio de esferas sólidas inertes ao ozônio. Foram confeccionados dois modelos de

reator de tubo de PVC, sendo que o Reator PVC 75 foi construído com tubo de 75 mm de

diâmetro e 60 cm de altura e o Reator PVC 50 foi confeccionado a partir do tubo de PVC de

50 mm de diâmetro e altura 80cm. Cada reator foi idealizado para comportar 1 dm─3 de

solução contaminada. O material da coluna de recheio é inerte e tem o objetivo de aumenta o

caminho percorrido pela bolha de gás no seio da solução contaminada.

Page 72: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

68

Page 73: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

69

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Ânodos de PbO2 suportado em substrato tela de aço ASTM 316

4.1.1 Caracterização ex situ dos eletrodos de β-PbO2

O processo de dopagem do PbO2 consiste na inclusão de íons estranhos na

estrutura do óxido mediante arraste no processo de eletrodeposição. Alguns autores

consideram que podem ocorrer a substituição do Pb(IV) por Fe(III) na rede cristalina do óxido

(FENG et al., 1994), mas nem sempre a substituição é evidenciada diretamente por raios X e

imagens de MEV. No entanto, a difração de raios X pode fornecer uma forte evidência da

presença do dopante, pois o dopante afeta o processo de nucleação, no caso do Fe3+ ocorre o

aumento da taxa de nucleação, provocando mudanças nos parâmetros de rede.

4.1.1.1 Análise por DRX

Os difratogramas de raios X obtidos para os eletrodos confeccionados na presença

de diferentes concentrações dos íons Fe3+ no banho eletrolítico estão apresentados na Figura

16, onde podem ser observados picos bem definidos que são característicos do dióxido de

chumbo com elevado grau de cristalinidade.

Page 74: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

70

Figura 16 – Difratogramas de raios X dos filmes eletrossintetizados sobre tela de aço na presença de distintas

concentrações dos íons Fe3+ presentes no banho eletrolítico.

Page 75: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

71

A presença do dopante pode ser evidenciada indiretamente na estrutura do PbO2

devido o deslocamento de pico e/ou às mudanças no seu padrão de difração observados

quando as camadas de dióxido de chumbo são eletroformadas na presença de íons Fe3+

(VELICHENKO et al., 2000; REN et al., 2009). Alguns estudos usando XPS foram

conduzidos para demonstrar a presença dos íons dopantes na estrutura do PbO2

eletrodepositado. Yang e Colaboradores (YANG; YANG; LIN, 2012) sugerem que o dopante

reduz o tamanho médio das partículas de PbO2, provocando mudanças no parâmetros de

célula e estreitamento do “band gap”. Velichenko et al. (2000) propôs uma incorporação de

espécies entranhas em locais defeituosos do PbO2, sendo que o Fe3+ substitui o Pb2+ ou o Pb4+

em condições de baixas e altas temperaturas de eletrodeposição, respectivamente.

A análise da Figura 16 demostra que a presença do dopante no processo de

eletrodeposição do PbO2 afetou os padrões de difração, sendo a alteração mais drástica

observada para os padrões do PbO2 eletrodepositado nas condições contendo 100 mM de Fe3+

no banho eletrolítico, pois tal eletrodo apresentou comportamento atípico em comparação

com os demais.

Também, foi possível observar que a intensidade relativa dos picos

correspondente à fase (β-PbO2) mudou em função das condições de eletrodeposição. Por

exemplo, as intensidades relativas exibidas pelos picos que representam os planos

cristalográficos β(110), β(101), β(200) e β(211) mudaram em função da concentração do

dopante. No entanto, apenas com a análise das intensidades dos picos de difratogramas de

raios X não é possível inferir se houve substituição do chumbo pelo ferro. Outros autores

evidenciaram alterações na intensidade relativa, mas não encontraram traços do dopante em

análise de DRX, atribuindo tal fato a não incorporação do dopante na estrutura do PbO2 (REN

et al., 2009) ou porque a quantidade do dopante que substitui o Pb2+ ou o Pb4+ é mínima,

necessitando de análise de radiotraçadores e XPS para identificar a presença do dopante

(VELICHENKO et al., 2002b).

Para a fase alfa (α-PbO2), observou-se o seu desaparecimento nos padrões de

difração onde o dióxido de chumbo foi eletrodepositado na presença de 10 mM de Fe3+.

Outra evidência da interferência do dopante no processo de eletrodeposição seria

o deslocamento dos principais picos de difração caracterizados pela presença do dopante. A

Figura 17 mostra o deslocamento dos picos de difração para os principais planos utilizado na

identificação o dióxido de chumbo.

Page 76: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

72

Figura 17 – Deslocamento de pico dos principais planos cristalográficos do β-PbO2: (A) β(110); (B) β(101); (C)

β(200); e (D) β(211).

A análise da Figura 17 sugere que a presença do dopante no processo de

fabricação do óxido provocou deslocamento dos picos dos principais planos cristalográficos

característicos do β-PbO2, indicando que a presença do Fe3+ provocou expansão/contração do

retículo cristalino (rede cristalina). O deslocamento pode ser decorrente da diferença entre os

raios iônicos entre o chumbo e o ferro (por exemplo, Pb2+ 0,119 nm, Pb4+ 0,078 nm, Fe2+

0,078 nm e Fe3+ 0,064 nm).

Para calcular o tamanho médio dos cristalitos foram utilizados os principais

planos cristalográficos, (por exemplo, β(110), β(101), β(200), e β(211)). Os dados

apresentados na Tabela 2 foram calculados utilizando a Equação de Scherrer, Equação 43

(MIKRAJUDDIN; KHAIRURRIJAL, 2008).

𝑑 =𝑘𝜆

𝐵𝑐𝑜𝑠𝜃𝐵 Eq. (43)

Page 77: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

73

onde d é o diâmetro médio das partículas; k: constante de proporcionalidade que depende da

forma das partículas, assumida como sendo esférica (0,9), λ é o comprimento de onda da

adiação do Cu (1,5406 Å), B é a largura à meia altura do pico (rad) e θB é o ângulo de Bragg.

Tabela 2 – Tamanho médio dos cristalitos (nm) dos filmes de TA/PbO2-Fe eletrossintetizados.

Eletrodo TA/PbO2 Orientação Cristalográfica

Média β(110) β(101) β(200) β(211)

Sem adição de Fe3+ 59,8 63,2 67,5 72,2 65,7

1 mM Fe3+ 74,1 72,3 77,5 78,7 75,7

10 mM Fe3+ 60,1 71,4 71,6 85,8 72,2

100 mM Fe3+ 70,9 17,0 17,9 28,6 33,6

Como pode ser observado na Tabela 2, a variação da concentração do dopante

influenciou na formação dos cristais de PbO2, em acordo com os dados da literatura (ZHOU

et al., 2005). A presença de baixas concentrações de íons Fe3+ (por exemplo, 1 mM) fez com

que os cristais sofressem um pequeno aumento em todas as orientações. Porém, o aumento da

concentração dos íons Fe3+ em solução fez com que os cristais sofressem uma redução de

tamanho, tendo como exceção o planos β(211) para o eletrodo confeccionado na presença de

10 mM de Fe3+ e β(110) para 100 mM de Fe3+ que sofreram aumento em relação às

respectivas concentrações inferiores do dopante. No entanto, o eletrodo que apresentou maior

variação entre os respectivos valores dos cristalitos foi confeccionado na presença de 100 mM

de Fe3+.

4.1.1.2 Análise por MEV

A Figura 18 mostra imagens do substrato, da camada intermediária de suporte

para o dióxido de chumbo, e a morfologia do eletrodo na sua configuração final pronta para

uso no reator.

Page 78: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

74

Figura 18 – Imagens de MEV: (A) substrato de suporte; (B) camada intermediária denominada ZY60; (C) PbO2

eletrodepositado na ausência de dopante; e (D, E, e F) PbO2 eletrodepositado na presença de dopante Fe3+ (1, 10

e 100 mM, respectivamente) presente no banho eletrolítico.

A análise da Figura 18 revela que a camada intermediária denominada ZY60

cobre toda a superfície metálica, possibilitando uma completa aderência com o material a ser

eletrodepositado. Também foi possível observar as diferentes camadas de PbO2 (não dopado e

dopado) com estruturas bem definidas, propiciando uma cobertura de óxido uniforme ao

Page 79: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

75

longo de todo o substrato. Além disso, verificou-se uma espessura da camada de dióxido de

chumbo de ≈ 33 μm para o eletrodo não dopado. A geometria média dos poros após a

eletrodeposição foi caracterizada, principalmente, por uma área da secção transversal ≈ 22

×102 μm2. Para os eletrodos de PbO2 contendo dopante, a espessura média da camada de

dióxido de chumbo é dependente da quantidade de íons presente no banho de eletrodeposição.

De acordo com a literatura (YEO et al., 1989; VELICHENKO et al., 1998, 2002b;

AMADELLI et al., 1999; AMADELLI; VELICHENKO, 2001; COSTA; DA SILVA, 2012;

CHRISTENSEN; YONAR; ZAKARIA, 2013; COSTA; FRANCO; DA SILVA, 2013), os

principais fatores que influenciam a morfologia, estrutura e atividade catalítica das camadas

de dióxido de chumbo eletrodepositadas são: (i) temperatura; (ii) densidade de corrente do

processo de eletrodeposição; (iii) pH; (iv) concentração de Pb2+ e (v) a presença de íons

estranhos que atua como dopante (F─, Fe3+, etc). Na verdade, a presença de possíveis dopantes

afeta as propriedades físico-químicas do depósito de PbO2 por meio da alteração da proporção

de formas inerte e lábil das partículas contendo oxigênio na superfície do óxido (AMADELLI

et al., 1999; VELICHENKO; DEVILLIERS, 2007; COSTA; DA SILVA, 2012;

CHRISTENSEN; YONAR; ZAKARIA, 2013; COSTA; FRANCO; DA SILVA, 2013).

A Figura 19 mostra imagens de MEV da microestrutura (morfologia superficial)

das camadas de dióxido de chumbo eletro-formadas sobre o substrato de aço inoxidável

utilizando diferentes concentrações de íons Fe3+ no banho de eletrodeposição.

Figura 19 – Imagens de MEV: (A) PbO2 eletrodepositado na ausência de dopante; e (B, C e D) PbO2

eletrodepositado na presença de dopante Fe3+ (1, 10 e 100 mM, respectivamente) presente no banho eletrolítico.

Page 80: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

76

De acordo com a Figura 19, a presença de Fe3+ no banho eletrolítico têm efeitos

consideráveis na estrutura superficial do óxido. Com base nos formatos de crescimento e na

geometria do PbO2 gerados na presença das respectivas concentrações do dopante, sugere que

os íons presentes no banho eletrolítico afetaram na formação óxido durante o processo de

eletrodeposição. Estes resultados estão de acordo com os dados da literatura (VELICHENKO

et al., 1998; AMADELLI et al., 1999).

A presença em diferentes concentrações sugere alterações na estrutura superficial,

ou seja, o tamanho e o aspecto do óxido formado são dependentes do processo de

eletrodeposição. A presença de 100 mM de íons Fe3+ na solução de revestimento, aumentou

aparentemente a taxa de nucleação para a deposição de óxido permitindo que as partículas

individuais sejam menores.

Há relatos que a eletrodeposição de PbO2 na presença de possíveis dopantes (por

exemplo, Fe3+) resulta em mudanças nos aspectos cristalinos e morfológicos do eletrodo

(VELICHENKO et al., 2000, 2002a). Em alguns casos, pequenas partículas bem definidas

foram obtidas na presença de dopantes. No entanto, dependendo da concentração do dopante

no banho de eletrodeposição, sugere uma alteração no óxido eletrodepositado, resultando em

uma estrutura de pouca resolução com topografia superficial atípica, quando comparada com

os demais eletrodos de dióxido de chumbo (VELICHENKO et al., 2000), como por exemplo,

Figura 19D.

No presente estudo, no caso da eletrodeposição efetuada na presença de íons Fe3+,

a espessura média da camada de óxido diminuiu com o aumento da concentração do dopante

no banho eletrolítico. Para concentrações de 1, 10, e 100 mM, as espessuras médias

correspondentes foram de 22, 16, e 4 μm, respectivamente. Além disso, como pode ser visto

Page 81: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

77

na Figura 19, o tamanho e a morfologia superficiais do dióxido de chumbo foram fortemente

afetados pela concentração de Fe3+.

De acordo com a literatura (AMADELLI; VELICHENKO, 2001), a incorporação

de íons Fe3+ no PbO2, mesmo durante uma polarização positiva do eletrodo, conduzida em

temperaturas moderadas, pode ser explicada por meio da formação de complexos com carga

inferior como [Fe(OH)]2+, [Fe(OH)2]+ e Fe(OH)3. Como resultado, a repulsão eletrostática

pode ser diminuída, permitindo assim a incorporação do Fe3+ na matriz de dióxido de

chumbo.

Em princípio, a presença de íons Fe3+ no banho de eletrodeposição pode retardar o

processo de nucleação para a formação de PbO2, conduzindo assim a formação de estrutura

bem definida. No entanto, como se vê na Figura 18, no caso da solução eletrolítica contendo

100 mM de Fe3+, não apresentou resolução bem definida, em comparação com os demais

eletrodos. De acordo com Andrade et al. (2007), uma possível explicação para esses

resultados pode ser atribuída a uma maior interação eletrostática do Fe3+ e de seus complexos

com a interface polarizada positivamente quando comparado aos íons de Pb4+.

A partir dos resultados aqui apresentados, pôde-se inferir que a inclusão de Fe3+

no banho eletrolítico afeta consideravelmente o processo de crescimento do PbO2

eletrodepositado sobre o substrato de tela de aço recoberto pela camada intermediária

designada de ZY60. Consequentemente, é de se esperar que o comportamento eletroquímico

para PEO dos eletrodos também seja diferente.

Os dados de MEV estão correlacionados com os de DRX, pois a camada de PbO2

eletroformada na presença de 100 mM de Fe3+ apresentou maior alteração superficial,

corroborando com os resultados de DRX, onde o mesmo eletrodo apresentou menor

cristalinidade.

4.1.2 Estudos cinéticos da RDO/PEO

O mecanismo eletródico da RDO envolve etapas consecutivas, sendo que, cada

etapa pode ser determinante da velocidade (BOCKRIS, 1956). A velocidade de cada etapa do

mecanismo eletródico para a RDO pode ser influenciada pela composição química do ânodo,

energia de adsorção dos intermediários da reação, arranjos geométricos dos átomos na

superfície, etc. (TRASATTI, 1981). A etapa determinante da velocidade (EDV) pode ser

determinada através do registro das curvas corrente-potencial sob condições quase-

estacionárias a partir da análise do gráfico de Tafel correspondente.

Page 82: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

78

Além do coeficiente de Tafel (b), a determinação da EDV deve também envolver

a determinação do número estequiométrico referente ao mecanismo proposto. Além disso,

segundo Vetter (1961), deve-se também considerar a determinação da ordem de reação

referente às espécies estáveis que participam da reação (por exemplo, íons H+ ou OH no caso

da RDO).

Apesar de este ser o procedimento correto a ser adotado do ponto de vista da

cinética eletródica, ocorre que no presente estudo a “escolha” da EDV foi baseada apenas no

coeficiente de Tafel, devido o uso de EPS impossibilitar a determinação dos demais

parâmetros mencionados acima.

Seguindo a abordagem utilizada por Da Silva e Colaboradores (DA SILVA; DE

FARIA; BOODTS, 2001, 2003), faz-se uso dos valores experimentais de “b” para o cálculo

do coeficiente de transferência de carga aparente (αap) para a descarga primária da água.

O valor idealizado do coeficiente de transferência de carga (α) a 25 °C é 0,50,

considerando o eletrodo plano e ausência de adsorção específica (BOCKRIS, 1956). Neste

caso idealizado, a inclinação de Tafel teórica referente à descarga primária da água é de 120

mV dec-1 (25 °C), (DA SILVA; DE FARIA; BOODTS, 2003).

De acordo com Böckris (1956), inicialmente a água é oxidada no domínio das

baixas densidades de corrente dando origem aos radicais HO●, sendo esta etapa a EDV do

processo quando se tem um coeficiente de Tafel igual ou superior a 120 mV dec-1. Uma vez

formados, os radicais HO● adsorvidos na superfície do eletrodo são oxidados, originando

radicais O●, que ao interagir com outro radical (O●), leva a formação de O2. As moléculas

formadas podem permanecer adsorvidas temporariamente na superfície do eletrodo, ou

difundir-se para o seio do meio líquido não saturado com oxigênio, ou ainda iniciar a

formação de bolhas de gás na superfície do eletrodo. Conforme relatado por Da Silva e

Colaboradores (DA SILVA; DE FARIA; BOODTS, 2001, 2003), a elevada concentração

superficial das espécies O2(ads) e O●(ads) pode resultar na produção eletroquímica de ozônio

(ver Equações 16 à 23).

A Figura 20 mostra curvas de Tafel referentes ao processo da RDO (baixos

sobrepotenciais) ou RDO/PEO (elevados sobrepotenciais) obtidas em condições quase-

estacionárias (1 mV s1) para um amplo intervalo da densidade de corrente (0,1 a 150 mA

cm2) utilizando-se o eletrodo de TA/-PbO2.

Page 83: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

79

Figura 20 – Curvas de Tafel obtidas para os eletrodos de TA/-PbO2-Fe produzidos a partir de distintas

concentrações dos dopantes, disposto no MEA e imerso em água destilada (T = 25 oC). Dados não corrigidos

para a queda ôhmica IRΩ.

Todas as curvas de Tafel apresentaram uma linearidade no domínio das baixas

densidades de corrente e uma curvatura ascendente para valores superiores de jap. De acordo

com a literatura (FARIA; BOODTS; TRASATTI, 1996; SILVA et al., 1997; DA SILVA; DE

FARIA; BOODTS, 2001, 2003; DA SILVA; BOODTS; DE FARIA, 2001) este desvio da

linearidade é devido ao somatório das resistências ôhmicas não compensadas, RΩ, presentes

na interface eletrodo/solução, a qual é dada por RΩ = REPS + Rfilme. No entanto, a baixa

resistividade do β-PbO2 (0,95 × 10─4 Ω cm) (HO et al., 1994), aliada a uma reduzida

espessura do filme, faz com que REPS >>Rfilme e, portanto, RΩ REPS.

Para o eletrodo confeccionado na presença de 10 mM de íons Fe3+ e o eletrodo

sem dopante, o comportamento foi praticamente o mesmo. Entre os eletrodos dopados com

íons Fe3+, o que foi eletrodepositado na presença de 1 mM deste metal apresentou um menor

sobrepotencial para a RDO. Em princípio, tal efeito poderia estar diretamente relacionado a

efeitos morfológicos (aumento da área real). Entretanto, as imagens de MEV mostradas na

Figura 19 revelaram a diminuição dos grãos superficiais à medida que se aumentou a

concentração dos dopantes no banho eletrolítico.

Page 84: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

80

Todas as curvas de Tafel experimentais mostraram, em sobrepotenciais elevados,

um desvio de linearidade, necessitando realizar correção para influência da queda ôhmica

(IRΩ) a fim de permitir a análise de regressão linear. Inicialmente, isto foi feito empregando o

processo proposto pelo Shub e Reznik (1985). No entanto, uma vez que o procedimento não

resultou em uma linearização totalmente satisfatória das curvas de Tafel, foi necessário repetir

o procedimento várias vezes. Isso foi feito usando o software Origin (versão 8.0) mudando os

valores RΩ em incrementos de 0,01 Ω (DA SILVA; BOODTS; DE FARIA, 2001).

A influência da queda ôhmica na curva de polarização pode ser representada pela

Equação 44.

𝐸𝑐𝑜𝑟𝑟𝑖𝑔𝑖𝑑𝑜 = 𝐸𝑒𝑥𝑝𝑒𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙 − 𝐼𝑅Ω = 𝑎 + 𝑏 log(𝐼) Eq. (44)

O melhor valor de RΩ é alcançado quando se obtém no processo de correção uma

boa correlação linear (r2 ≥ 0,997) da Equação (44) para o domínio dos elevados

sobrepotenciais.

A Figura 21 apresenta a curvas de Tafel ((A) sem e (B) com correção para IR)

obtida em condições quase-estacionárias ( = 1 mV s1) para o eletrodo TA/-PbO2 tendo a

água livre de eletrólitos como fase líquida e o EPS como eletrólito.

Figura 21 – Curva de Tafel obtida para o eletrodo de TA/-PbO2 (meio líquido: água; = 1 mV s1; T = 25 C).

(A) Sem correção para a queda ôhmica; (B) com correção para a queda ôhmica.

Page 85: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

81

Todos os eletrodos de TA/β-PbO2 investigados apresentaram o mesmo perfil

mostrado na Figura 21, tendo como variação apenas os valores das resistências ôhmicas (R =

1,302,21 Ω). Todas as curvas apresentaram pouca histerese entre as varreduras de ida e de

volta e sempre duas inclinações ocorreram: b1 (baixos sobrepotenciais) e b2 (elevados

sobrepotenciais). Em condições experimentais semelhantes onde foi utilizado β-PbO2

suportado em tecido de carbono, Costa e Da Silva (2012) encontraram valores de RΩ

similares, atribuindo seu valor principalmente à resistência do EPS (REPS).

Segundo relatos anteriores (TRASATTI, 1981; HO et al., 1994), o valor de b1

obtido para a RDO sobre eletrodos de PbO2 no domínio dos baixos valores do sobrepotencial

() pode sofrer variações. A grande diferença observada nos valores de b1 obtidos por

diferentes autores está principalmente associado às variações nas propriedades morfológicas

(fatores de natureza geométrica, como o grau de rugosidade/porosidade) e estruturais (forma

cristalográfica do óxido (α e/ou -PbO2)) e tamanho dos cristalitos), que por sua vez resultam

em variações no valor experimental do coeficiente de transferência de carga aparente (αap).

Segundo a literatura (KÖTZ, 1987; BABAK et al., 1994; HO et al., 1994; DA

SILVA; BOODTS; DE FARIA, 2001; DA SILVA; DE FARIA; BOODTS, 2003) as

principais causas da existência de duas inclinações na curva de Tafel são: (i) mudança no

comportamento cinético causado por alteração na EDV; (ii) variação no αap; (iii) formação de

uma camada isolante na interface ânodo/EPS devido ao acúmulo de bolhas, e ou (iv) mudança

na energia de adsorção dos intermediários de reação.

De acordo com mecanismo exposto por Costa e Da Silva (2012), baseado no

mecanismo eletródico proposto por Pavlov-Monahov, durante o processo de eletrólise da água

com ânodos de -PbO2 conduzido em água livre de eletrólitos, o radical HO● permanece

fortemente ligados na camada gel do óxido, enquanto que o radical O● fica livre para se

deslocar sobre a superfície do eletrodo. Assim, assumindo-se que a etapa de descarga primária

da água (primeira transferência eletrônica) é a EDV, tem-se na aproximação de alto campo (

> 0,1 V) que a velocidade da RDO poder ser representada pela Equação 45.

𝑣 =𝑗

4𝐹≅ 𝑘ap

0 (1 − 𝜃)[H2O]MEAexp [𝛼ap𝐹(𝐸−𝐸

0)

𝑅𝑇] Eq. (45)

onde k0ap é a constante de velocidade aparente, θ é a cobertura superficial do radical hidroxila,

[H2O]MEA é a concentração da água nas zonas reacionais, e αap é o coeficiente de transferência

de carga aparente.

Page 86: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

82

Considerando-se que a cobertura superficial dos radicais hidroxila é muito baixa

(θ → 0), visto que estas espécies transitórias são formadas na EDV e, consequentemente, são

rapidamente consumidas na etapa posterior que é considerada rápida, obtém-se a expressão

cinética mostrada na Equação 46.

𝑗 ≅ 4𝐹𝑘ap0 [H2O]MEAexp [

𝛼ap𝐹(𝐸−𝐸0)

𝑅𝑇] Eq. (46)

Como o coeficiente de Tafel é definido por b = (∂E/∂log(j))T, a expressão para o cálculo do

αap pode ser expressa pela Equação 47.

𝛼ap = 1,985 × 10−4𝐾−1𝑉 (

𝑇

𝑏) Eq. (47)

onde b é a inclinação experimental de Tafel e T a temperatura absoluta.

O valor de αap incorpora os desvios da idealidade inerentes ao processo da

transferência eletrônica em eletrodos sólidos, refletindo sobre a parcela do potencial elétrico

efetivo para a etapa de transferência eletrônica (DA SILVA; DE FARIA; BOODTS, 2003). O

símbolo para o coeficiente de transferência de carga denotada por αap é usado para enfatizar

que o verdadeiro valor de α é obtido somente quando para eletrodos perfeitamente planos e na

ausência de efeitos oriundos da adsorção específica de íons na dupla camada elétrica

(GILEADI, 2011).

Os valores dos parâmetros cinéticos obtidos do gráfico de Tafel (jo, koap, b e αap)

são apresentados na Tabela 3.

Tabela 3 – Dependência dos parâmetros cinéticos obtidos para a RDO em função do tipo de eletrodo.

Condições: água pura; = 1 mV s1; T = 25 C).

b/mV dec-1 αap jo(ap)/A cm─2 koap/cm s─1

Baixos

valores de η

Sem dopante 275 0,215 7,14 × 10─6 3,33 × 10─10

1 mM Fe3+ 139 0,426 2,22 × 10─7 1,03 × 10─11

10 mM Fe3+ 228 0,260 1,72 × 10─6 8,02 × 10─11

100 mM Fe3+ 204 0,290 2,21 × 10─6 1,03 × 10─10

Elevados

valores de η

Sem dopante 463 0,128 1,57 × 10─4 5,40 × 10─9

1 mM Fe3+ 280 0,211 2,55 × 10─5 1,19 × 10─9

10 mM Fe3+ 377 0,157 3,95 × 10─5 1,84 × 10─9

100 mM Fe3+ 97 0,610 7,41 × 10─11 3,46 × 10─15

Page 87: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

83

A análise da Tabela 3 (por exemplo, baixos sobrepotenciais) revelou que todos os

eletrodos apresentam coeficiente de Tafel elevado (b ≥ 120 mV dec-1 (25 °C)), a EDV mais

provável do ponto de vista teórico é a ‘descarga primária da água’, ou seja, a etapa referente à

primeira transferência eletrônica. O eletrodo confeccionado na presença de 1 mM de íons Fe3+

apresentou valores de coeficiente de transferência de carga aparente mais próximo do ideal,

além de ser o eletrodo que apresentou maior sobrepotencial para a RDO, consequentemente, é

o eletrodo mais promissor para PEO. Como a curva de polarização é realizada nas condições

onde o eletrodo de PbO2 apresenta um elevado grau de hidratação, camada “gel” definida, a

presença do dopante pode ter influenciado na condutividade do eletrodo. Com isso, é possível

sugerir que a presença do dopante estimulou a formação de radicais (HO●) na camada “gel”,

provocando diminuição na cobertura de espécie de oxigênio ativo, podendo restringir no

movimento de átomos de oxigênio livre.

Para as condições de elevados sobrepotenciais, onde do ponto de vista teórico a

primeira transferência eletrônica do eletrodo confeccionado na presença de 100 mM de íons

Fe3+ não é a ‘descarga primária da água’. Entre os demais eletrodos, o confeccionado na

presença de 1 mM de íons Fe3+ demostrou, teoricamente, ser o mais viável para a PEO, pois,

apresentam maior sobrepotencial para a RDO e melhores coeficientes de transferência de

carga aparente.

Os estudos eletroquímicos corroboram com os estudos apresentados para os

eletrodos suportados em tela de aço, por exemplo, análise por DRX e MEV, onde, o eletrodo

dopado com 1 mM Fe3+ apresentou maior cristalinidade para a fase β- PbO2 e uma superfície

menos rugosa. Além disso, o comportamento mais atípico foi apresentado para o eletrodo

eletrodepositado na presença de 100 mM de íons Fe3+.

Conforme discutido por Da Silva e Colaboradores (DA SILVA; DE FARIA;

BOODTS, 2003), o desvio da idealidade (αap ≠ 0,50), frequentemente encontrado para

eletrodos sólidos sob fortes condições de polarização, pode ser atribuído à influência da

distribuição não uniforme do campo elétrico sobre a superfície do eletrodo, que por sua vez

afeta o processo da transferência eletrônica por permitir a formação de sítios

eletroquimicamente ativos com diferentes atividades para o processo da transferência

eletrônica.

Os valores dos parâmetros cinéticos encontrados para a condição onde não houve

adição de ferro estão em acordo com os apresentados por Costa e Da Silva (2012).

Outros autores (HO; HWANG, 1994; DA SILVA; DE FARIA; BOODTS, 2003)

também obtiveram valores elevados da inclinação de Tafel no domínio dos baixos

Page 88: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

84

sobrepotenciais para a RDO em eletrodos de PbO2 imersos em soluções ácidas. Por exemplo,

Ho e Hwang (1994) relataram um coeficiente de Tafel de 256 mV dec-1, bem como αap = 0,30

e jo(ap) = 5,48 × 106 A cm2.

4.1.3 Produção eletroquímica de ozônio

Em muitos casos, o desempenho do reator para a PEO não é avaliado

adequadamente do ponto de vista da engenharia eletroquímica, ou seja, eficiência de corrente

versus taxa de produção de ozônio, estabilidade de eletrodos, possibilidades de aumento de

escala, etc. (STUCKI et al., 1987; DA SILVA et al., 2010; NISHIKI; KITAORI;

NAKAMURO, 2011). De fato, um ozonizador eletroquímico pode apresentar uma elevada

eficiência de corrente para a PEO sem, no entanto, apresentar valores moderados/elevados

para o rendimento espaço-tempo, estabilidade mecânica e química (resistência ao desgaste)

e/ou valores moderados/baixos do consumo de energia elétrica específica. A partir destas

considerações, a avaliação do desempenho global de um ozonizador eletroquímico foi

realizada no presente estudo considerando diferentes figuras de mérito constituídas por

parâmetros intensivos e extensivos descritos anteriormente na literatura (DA SILVA et al.,

2010).

Pelo menos em princípio, no caso de eletrodos "planos" imersos em um eletrólito

líquido, toda a área de superfície do eletrodo está disponível para a eletrólise da água. No

entanto, conforme discutido anteriormente por Da Silva et al. (2010), no caso de um

ozonizador eletroquímico do tipo filtro-prensa, munido de EPS, permite realizar a eletrólise

apenas usando a água pura (livre de eletrólitos), os locais de superfícies ativas dos eletrodos

(ânodo e cátodo) ficam restritos às regiões interfaciais trifásicas (por exemplo, junção

EPS/H2O/ânodo) que possibilitam a transferência simultânea do próton hidratado para o

condutor iônico (por exemplo, EPS) e do elétron para o condutor eletrônico (por exemplo,

ânodo) de modo que cada sítio eletroquimicamente ativo permaneça eletricamente neutro

(princípio da neutralidade local).

De fato, para efetuar a eletrólise da água isenta de eletrólito, o MEA deve

satisfazer condições estruturais (conformação geométrica) para que haja condutividades

iônica e eletrônica eficientes nas zonas trifásicas, as quais devem ser eletricamente neutras

durante o ato da transferência eletrônica. Portanto, a razão da área de contato do eletrodo do

tipo malha por área unitária de EPS deve ser elevada (por exemplo, 0,30-0,60 (DA SILVA et

al., 2010, 2014)) de modo a maximizar a concentração superficial dos centros ativos para a

Page 89: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

85

eletrólise sem, no entanto, restringir o transporte do reagente (por exemplo, água) e a

liberação dos produtos gasosos. Portanto, a “porosidade” do eletrocatalisador deve ser

otimizada para que haja o devido contato iônico-eletrônico nas zonas ativas com perdas

ôhmicas mínimas e o devido transporte da água e do oxigênio ou oxigênio/ozônio nas regiões

trifásicas. De modo geral, o uso de uma porosidade adequada permite diminuir as perdas

ôhmicas na interface trifásica e aumentar a importante figura de mérito da engenharia de

reatores denominada ‘space-time yield’ (por exemplo, rendimento espaço-tempo).

Das considerações acima, fica óbvio que a água que percorre a um dado fluxo

volumétrico os canais do ‘elemento distribuidor de fluido’ (por exemplo, ‘fluid-manifold’),

que ficam pressionados contra o MEA, deve atravessar a estrutura porosa do ânodo para

alcançar os centros ativos localizados nas regiões trifásicas (por exemplo, junção

EPS/H2O/ânodo) e os produtos gasosos (por exemplo, O2 e O3) devem escapar da estrutura do

ânodo poroso para permitir a substituição da água nos locais de reação (DA SILVA et al.,

2010). Portanto, a superfície do ânodo deve ser altamente hidrofílica de modo a facilitar a

captura superficial de moléculas de água e propiciar uma boa taxa de remoção das pequenas

bolhas de gás que permanecem temporariamente aderidas. Assim, do ponto de vista

experimental, um eletrodo que apresenta um grau de porosidade adequado deve propiciar a

ocorrência de uma curva de polarização (U vs. j) com ausência de patamar para a corrente

elétrica. Este tipo de comportamento seria indicativo de obstrução da região micro porosa do

MEA pela presença de bolhas e/ou ausência de um número adequado de sítios ativos

superficiais para o processo da transferência eletrônica em elevadas densidades de corrente.

De acordo com a literatura, (FRANCO et al., 2008; DA SILVA et al., 2009), as

propriedades hidrodinâmicas do fluido que circula no interior do elemento distribuidor de

fluido e do fluido que percorre a estrutura micro porosa do eletrodo podem ser bastante

distintas devido ao “amortecimento” das linhas de convecção à medida que o fluido penetra

na estrutura micro porosa. Em tese, nas regiões ativas trifásicas não deve haver influência da

convecção imposta pela circulação forçada da água visto que há impedimento para a

circulação do fluido após o seu contato com a barreira impenetrável ao transporte molecular

conferida pelo EPS. Assim, o processo convectivo dominante nas zonas trifásicas responsável

pelo abastecimento dos sítios ativos por moléculas de água é ocasionado pelo fenômeno da

formação/desprendimento de bolhas que propicia em grandes flutuações da pressão local e,

consequentemente, no efetivo transporte de moléculas de água a partir de uma camada de

fluido adjacente praticamente estagnada (DA SILVA et al., 2010, 2014).

Page 90: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

86

Das considerações acima, vale ressaltar que o regime hidrodinâmico (por

exemplo, laminar ou turbulento) que pode ser avaliado a partir da velocidade linear da água

em deslocamento dentro do elemento distribuidor de fluido não reflete o regime

hidrodinâmico real na vizinhança das zonas trifásicas, o qual é, de fato, desconhecido.

Do ponto de vista teórico, as eficiências de corrente teóricas para a RDO (RDO) e

a PEO (PEO) são funções das coberturas superficiais referentes aos intermediários de reação

oxigenados (por exemplo, O● e HO●) (DA SILVA; DE FARIA; BOODTS, 2003), visto que a

PEO é controlada pela reação química superficial decorrente do encontro do oxigênio

atômico adsorvido (O●)ads com o oxigênio molecular (O2)ads que fica temporariamente

adsorvido sobre o eletrodo e, portanto, não contribuirá para o processo da RDO. Portanto, a

influência positiva das propriedades intrínsecas da interface EPS/H2O/ânodo sobre os valores

da ΦPEO pode ser atribuída à capacidade da interface trifásica em permitir uma alta

concentração superficial dos ‘sítios ativos locais’ onde a geração de ozônio ocorre (por

exemplo, (O●)ads + (O2)ads → (O3)ads).

Deve-se enfatizar que, do ponto de vista termodinâmico, é pouco provável que se

possa produzir ozônio a partir da eletrólise da água. Portanto, os bons eletrocatalisadores para

o processo da PEO são constituídos por materiais que exibem um elevado sobrepotencial para

a RDO, a qual é o processo eletródico favorecido, em relação à PEO, do ponto de vista

termodinâmico. Em geral, os materiais anódicos que são classificados como "inertes" (por

exemplo, PbO2, DDB e Ni/Sb-SnO2) representam os melhores desempenhos para o processo

da PEO.

O estudo teórico referente à dependência das eficiências de corrente para os

processos da PEO e RDO em termos o grau de cobertura dos intermediários de reação

oxigenados foi previamente proposto por Da Silva e Colaboradores (DA SILVA; DE FARIA;

BOODTS, 2003; DA SILVA et al., 2010) onde foi demonstrado com base na análise de um

mecanismo de reação eletroquímica que para haver uma elevada eficiência de corrente para a

PEO deve haver uma elevada quantidade de zonas ativas superficiais distribuídas sobre toda a

extensão superficial do eletrodo onde as moléculas de oxigênio ficam constantemente

circundadas por uma grande quantidade de oxigênio atômico adsorvido.

A Figura 22 mostra a dependência do potencial do reator e a eficiência de corrente

da PEO em função da densidade da corrente aplicada e da concentração de íons Fe3+ presentes

no banho de eletrodeposição.

Page 91: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

87

Figura 22 – Dependência do potencial do reator U (A) e eficiência de corrente da PEO (PEO) (B) em função da

densidade de corrente aplicada (j) e da concentração de íons Fe3+ presentes no banho de eletrodeposição.

Condições: água livre de eletrólitos, T = 24 °C e Q = 23,6 cm3 s1.

Como pode ser visto na Figura 22A, o potencial não sofreu alteração significativa

com a variação da concentração do dopante. No entanto, os maiores potenciais foram

observados para o eletrodo eletrodepositado na ausência de dopante. Em geral, o perfil das

curvas U vs j é quase o mesmo para os diferentes eletrodos de PbO2.

A análise da Figura 22B mostrou claramente que a adição de íons Fe3+ no

processo de fabricação do PbO2 afeta os valores de ΦPEO. No caso onde não houve dopagem

do PbO2, foi observada uma concordância com os dados da literatura (STUCKI et al., 1987).

Como pode ser visto, a presença de íons Fe3+ na estrutura do óxido pode atuar tanto como

promotor (por exemplo, 1 mM Fe3+ e j > 1,0 A cm2) ou como inibidor (por exemplo, 10 e

Page 92: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

88

100 mM Fe3+) para o processo da PEO, apresentando correlação com os dados apresentados

até o momento (por exemplo, DRX, MEV e estudos eletroquímicos).

Conforme discutido por Velichenko et al. (2000), a atividade eletrocatalítica

exibida pelo PbO2 dopado com íons Fe3+ apresentou valores extremos, isto é, com o aumento

do teor de ferro o sobrepotencial para a RDO primeiro aumenta e, em seguida, diminui com o

aumento do dopante.

Adicionalmente, verificou-se no presente estudo que os valores da ΦPEO são quase

estacionários para uma densidade de corrente aparente superior a aproximadamente 1,25 A

cm2. Resultados semelhantes foram relatados por Stucki et al.(1987) e Da Silva et al. (2010)

onde verificou-se que a ΦPEO atinge um patamar acima de 1,3 A cm2. Dados da literatura

revelaram que a função ΦPEO vs. j para os ozonizadores filtro-prensa do tipo EPS é afetada

pelas condições particulares usadas no processo de fabricação do MEA (STUCKI et al., 1987;

DA SILVA et al., 2009, 2010).

Conforme discutido anteriormente por Da Silva et al. (2010), a influência do

MEA na ΦPEO pode ser entendida pelo mecanismo de reação eletroquímica proposto para a

produção simultânea de oxigênio e ozônio em eletrodos inertes (DA SILVA; DE FARIA;

BOODTS, 2003), onde as mudanças na função ΦPEO vs. j podem ser correlacionadas com as

propriedades intrínsecas das regiões interfaciais trifásicas (por exemplo, EPS/H2O/TA-PbO2),

as quais, por sua vez, controlam a concentração superficial dos centros ativos da eletrólise

(DA SILVA; DE FARIA; BOODTS, 2003; COSTA; DA SILVA, 2012; COSTA; FRANCO;

DA SILVA, 2013).

Conforme discutido por Velichenko et al. (2000), a incorporação do íon de

dopagem no PbO2 ocorre em locais defeituosos da estrutura cristalina, isto é, o Fe3+ pode

substituir o Pb4+ na rede cristalina provocando defeitos estequiométricos para as camadas

eletrodepositadas em temperaturas elevadas. Como resultado, a presença do íon dopante pode

modificar a camada “gel” do PbO2 hidratado (PAVLOV; MONAHOV, 1996; COSTA; DA

SILVA, 2012; COSTA; FRANCO; DA SILVA, 2013), que por sua vez governa as

propriedades eletrocatalíticas do eletrodo de PbO2.

Portanto, com base nos estudos apresentados e resultados similares encontrados

por diversos autores, pode ser proposto no presente caso que a presença de íons Fe3+ nas

regiões interfaciais trifásicas do MEA seja capaz de promover alterações nas coberturas

superficiais dos intermediários de reação oxigenados. Assim, no caso especial do ânodo

confeccionado com 1 mM de íons Fe3+, a interface trifásica pode atuar como um melhor

eletrocatalisador para a PEO quando comparado ao caso do TA-PbO2 em virtude do aumento

Page 93: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

89

da concentração superficial dos centros ativos contendo as espécies (O●)ads e (O2)ads e/ou

formar intermediários (por exemplo, HO●) que promove a formação do ozônio.

Como visto na Figura 21B, a ΦPEO quase atinge um patamar em correntes

elevadas, ou seja, em condições onde uma expressiva perda ôhmica (efeito Joule) pode

ocorrer nos sítios ativos. De acordo com a literatura (DA SILVA et al., 2010), este

comportamento pode ser compreendido tendo em vista que a temperatura nos centros ativos

formados nas regiões interfaciais trifásicas pode ser superior à temperatura medida no fluido

circulante. Conforme discutido por Stucki et al. (1987), a formação de "pontos quentes" nos

centros ativos em densidades de corrente mais altas pode levar à degradação térmica parcial

das moléculas de ozônio (2O3 → 3O2) antes que as pequenas bolhas contendo O2 e O3 sejam

desprendidas dos centros ativos. Isto é, a condução de calor através da emulsão formada

dentro da estrutura de malha do ânodo é inferior em comparação com a condução de calor na

fase líquida densa presente nos canais do elemento distribuidor de fluido.

Figura 23 mostra a dependência da velocidade de geração de ozônio, concentração

do ozônio eletrogerado, o consumo de energia elétrica específica para a PEO e o desempenho

global do reator em função da corrente aplicada.

Page 94: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

90

Figura 23 – Dependência da velocidade de geração de ozônio (νPEO) (A), concentração do ozônio na fase gasosa

[O3] (B), consumo de energia elétrica específica para PEO (PPEO) (C) e desempenho global do reator (ϑPEO) (D)

em função da densidade de corrente aplicada (j). Condições: água livre de eletrólitos, T = 24 °C e Q = 23,6 cm3

s1.

Page 95: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

91

Como visto na Figura 23A, a velocidade de produção de ozônio aumenta quase

linearmente com a densidade de corrente aplicada. Esse comportamento está de acordo com

relatos anteriores (DA SILVA et al., 2010). Ao comparar com os dados apresentados na

Figura 22B, percebe-se uma correlação entre os dados experimentais, onde foi produzido mais

ozônio quando se utilizou o eletrodo TA-PbO2 obtido com 1 mM de Fe3+ no banho de

eletrodeposição.

Tal como discutido por Da Silva et al. (2006), em várias aplicações envolvendo a

purificação e ultra purificação da água, uma dose baixa de ozônio de 0,5-2,0 mg dm3 é

suficiente para promover o efeito desejado em processo de ozonização, como é o caso do

tratamento da água usada nas indústrias farmacêuticas e eletrônicas, no processo de

engarrafamento de água, etc. Portanto, a análise dos dados da literatura (STUCKI et al., 1987;

DA SILVA et al., 2009) permite propor que a produção máxima de ozônio mostrada na

Figura 23A (νPEO = 1,58 g h1) e Figura 23B ([O3] = 15 mg dm─3) é compatível com a

demanda de ozônio necessária para tratar cerca de 800-3200 dm3 de água por hora.

No caso da remoção de poluentes orgânicos emergentes os benefícios

proporcionados pela condição onde a concentração do ozônio presente na fase gasosa está

principalmente relacionada com a grande eficiência de utilização do ozônio, acelerando

fortemente a taxa da reação de degradação. No caso da tecnologia Corona, uma grande parte

do ozônio produzido não é capturado pela solução (meio de reação) devido a um transporte de

massa ineficiente da fase gasosa para o líquido inerente a todos os tipos de sistemas

dispersivos (por exemplo, elevado fluxo volumétrico) (RICE, 1982).

A Figura 23C mostrou os valores de PPEO em função da densidade de corrente

aplicada. Como visto, PPEO diminuiu com o aumento da densidade de corrente aplicada [ver

Equação (37)]. Estes resultados experimentais revelaram que a influência da corrente aplicada

e a composição do eletrodo (nível de dopagem) na PPEO onde um valor mínimo de 0,250 kW

h g1 foi obtido a j > 1,0 A cm2 para o eletrodo TA-PbO2 preparado na presença de 1,0 mM

de Fe3+.

A revisão da literatura (STUCKI et al., 1987; KATOH; NISHIKI;

NAKAMATSU, 1994; YANG; YU; RAY, 2008) revelou que os valores da PPEO obtidos para

ozonizadores eletroquímicos do tipo filtro-prensa usando eletrodos sinterizados e do tipo

malha foram de aproximadamente 58-75 W h g1 para densidades de corrente em torno de 1,5

A cm2. Vale ressaltar que não foram encontrados dados na literatura referentes à PEO

utilizando-se eletrodos de PbO2 dopados do tipo malha fina.

Page 96: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

92

A Figura 23D mostrou o aumento de massa do ozônio por consumo total de

energia em função da densidade de corrente aplicada. Conforme discutido anteriormente por

Da Silva, et al. (2009, 2010), a ϑPEO leva em conta a demanda total de energia, incorporando a

perda ôhmica total e os sobrepotenciais (anódico e catódico). Portanto, é evidente a partir da

análise da Figura 23D, que o melhor desempenho global do reator filtro-prensa de EPS para a

PEO foi obtido com o eletrodo TA-PbO2 obtido com a solução contendo 1 mM de Fe3+,

especialmente para o intervalo de densidade de corrente 1,0-2,5 A cm2.

Portanto, todos os estudos apresentados até o momento apresentaram correlações,

onde o melhor eletrodo é o confeccionado na presença de 1,0 mM de Fe3+ e os piores

resultados foram para o de 100 mM de Fe3+.

4.1.4 Estabilidade do MEA durante a eletrólise de água livre de eletrólitos

A estabilidade do reator para o processo da RDO/PEO foi avaliada registando-se o

potencial do reator e a taxa de produção de ozônio durante a eletrólise de longo prazo (j = 1,0

A cm2 e T = 24 °C) conduzida de forma interrupta por um período de 60 dias. Pelos motivos

já expostos, este estudo em particular foi realizado utilizando-se o eletrodo TA-PbO2

eletrodepositado na presença de 1,0 mM de Fe3+. Verificou-se que a eficiência de corrente

para a PEO e o potencial de reator não sofreram alterações significativas, revelando assim

uma elevada estabilidade química e mecânica do MEA utilizado.

De acordo com dados da literatura (STUCKI et al., 1987; FRANCO et al., 2008;

DA SILVA et al., 2010), a estabilidade apresentada pelo eletrodo de dióxido de chumbo (β-

PbO2) alojado em um reator de filtro-prensa durante a eletrólise da água isenta de eletrólitos é

propiciada pela baixa convecção forçada nas regiões ativas trifásicas (por exemplo,

EPS/H2O/ânodo) e/ou a elevada eficiência de remoção dos prótons gerados na superfície do

ânodo ocasionado pela atuação do EPS que desloca instantaneamente estes íons positivos para

a superfície do cátodo poroso sob forte polarização negativa. Portanto, no caso da eventual

formação dos íons Pb2+ nas regiões superficiais ativas do MEA durante a RDO/PEO na

condição de pH 0 (valor previsto para a zona ativa do ânodo), estes íons são imediatamente

redepositados na forma de β-PbO2 nas regiões circunvizinhas à zona ativa onde pH 7

(regiões contendo apenas água) (STUCKI et al., 1987; DA SILVA et al., 2009).

Os resultados experimentais acima mencionados são muito importantes do ponto

de vista tecnológico, visto que a maioria dos materiais eletródicos e os correspondentes MEA

utilizados para o processo da PEO não são tão estáveis durante eletrólises intensas e

Page 97: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

93

prolongadas. Infelizmente, a maioria dos estudos recentes sobre a PEO relatados na literatura,

principalmente aqueles utilizando os eletrodos constituídos de Ni/Sb-SnO2 (CHRISTENSEN;

YONAR; ZAKARIA, 2013), são altamente especulativos visto que nestes casos não são

apresentados dados referentes ao tempo de vida útil do eletrodo e/ou MEA frente aos

processos de desgaste químico (corrosão) e/ou mecânico (erosão). De fato, estes estudos

especulativos são focados na supervalorização dos valores de eficiência de corrente bastante

elevados ( 25-50%), mas obtidos em densidades de corrente muito baixa ( 10-50 mA cm2)

e para curtos intervalos de tempo ( alguns minutos até cerca de 2 h).

4.2 Ânodos de PbO2 suportados em substrato tecido de carbono tipo sarja

4.2.1 Caracterização ex situ dos eletrodos de β-PbO2

4.2.1.1 Análise por DRX

Os difratogramas de raios X obtidos para os óxidos suportados em tecido de

carbono e confeccionados na presença de diferentes concentrações dos íons Fe3+ presentes no

banho eletrolítico, estão apresentados na Figura 24, onde podem ser observados picos bem

definidos que são característicos do dióxido de chumbo com elevado grau de cristalinidade.

Page 98: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

94

Figura 24 – Difratogramas de raios X dos filmes eletrossintetizados sobre tecido de carbono a partir de distintas

concentrações dos íons Fe3+ no banho eletrolítico.

Page 99: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

95

Em geral, o DRX apresentou picos estreitos bem definidos indicativos de que o

filme de dióxido de chumbo são bastante cristalinos, além do favorecimento da fase β-PbO2

em relação à α-PbO2. Estas observações estão de acordo com a literatura (VELICHENKO et

al., 2002a; MAHALINGAM et al., 2007).

A presença do íon Fe3+ no banho de eletrodeposição não pode ser evidenciado

pela técnica DRX provavelmente devido à sua baixa concentração na estrutura do dióxido de

chumbo. No entanto, a presença do dopante na estrutura do PbO2 pode ser sugerida

indiretamente por mudanças nos padrões de difração observados quando os filmes de óxidos

são eletroformados em soluções contendo Fe3+ (VELICHENKO et al., 2000; REN et al.,

2009).

A análise da Figura 24 revelou que a presença do dopante na estrutura do PbO2

afetou pouco os padrões de difração. A alteração mais pronunciada foi verificada para os

padrões do PbO2 eletrodepositado nas condições contendo 100 mM Fe3+ no banho eletrolítico.

A Figura 25 apresenta o deslocamento dos principais picos representados pelos

planos cristalográficos β(110), β(101), β(200) e β(211).

Figura 25 – Deslocamentos dos planos β(110) (A), β(101) (B), β(200) (C) e β(211) (D) devido a presença do íon

dopante.

Page 100: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

96

Análise da Figura 25 sugere que a presença do Fe3+ no processo de

eletrodeposição afetou a estrutura do óxido, alterando o parâmentro podendo ser

expansão/contração da rede cristalina do β-PbO2. O deslocamento das orientações

cristalográficas foi diretamente proporcional à concentração do dopante no processo de

eletrodeposição, sendo que em alguns planos o deslocamento foi mais pronunciado.

Para calcular o tamanho médio dos cristalitos foram utilizados os principais

planos cristalográficos para a PEO, (por exemplo, β(110), β(101), β(200), e β(211)). Os dados

apresentados na Tabela 4 foram calculados utilizando a Equação de Scherrer (Equação 43).

Tabela 4 – Tamanho médio dos cristalitos (nm) dos filmes de TC/PbO2-Fe eletrossintetizados.

Eletrodo TC/PbO2 Orientação Cristalográfica

Média β(110) β(101) β(200) β(211)

Sem adição de Fe3+ 49,1 56,0 46,2 56,8 52,0

1 mM Fe3+ 49,0 55,5 44,9 57,7 51,8

10 mM Fe3+ 49,8 59,5 47,4 64,3 55,3

100 mM Fe3+ 34,9 42,6 32,5 44,3 38,6

Os dados apresentados na Tabela 4 correlacionaram com os dados da literatura,

pois a variação da concentração do dopante influenciou na formação dos cristais de PbO2

(ZHOU et al., 2005). Sendo que em baixas concentrações de íons Fe3+ (por exemplo, 1 mM)

houve pouca alteração em comparação com eletrodo confeccionado na ausência de dopante,

como por exemplo, pequeno deslocamento dos picos e mudanças nas intensidades relativas. A

maior diferença do tamanho médio do cristalito foi observada para o eletrodo confeccionado

na presença de 100mM de Fe3+, onde houve uma diminuição significativa em comparação

com os demais eletrodos.

4.2.1.2 Análise por MEV

A Figura 26 mostra imagens do tecido de carbono (suporte) e a estrutura do filme

de dióxido de chumbo na sua configuração final pronta para uso no reator.

Page 101: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

97

Figura 26 – Imagens de MEV: (A) Suporte de tecido de carbono, (B) Imagem superficial do filme suportado de

β-PbO2 (C) PbO2 eletrodepositado na ausência de Fe3+ e (D, E e F) PbO2 eletrodepositado na presença de Fe3+ (1,

10 e 100 mM, respectivamente) presente no banho eletrolítico.

Como pode ser visto na Figura 26B, o processo de eletrodeposição do PbO2 sob o

tecido de carbono tipo sarja, previamente tratado, resultou em uma cobertura de dióxido de

chumbo com uma boa aderência e uma grande uniformidade. Quando comparado com a

literatura (AMADELLI et al., 2002; MOHD; PLETCHER, 2005), o fato de não ter sido usado

um metal nobre como substrato não influenciou no formato das partículas individuais. No

entanto, o uso de um substrato poroso propiciou a formação de regiões isoladas, ou seja,

Page 102: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

98

formou uma estrutura tridimensional porosa que permite o fluxo de água e o transporte dos

produtos gasosos (por exemplo, O2 e O3) através do MEA.

Ao comparar as imagens da Figura 26(C a F), percebe-se que a presença de Fe3+

no banho eletrolítico tem efeitos visualmente consideráveis na superficial do óxido. Devido a

diferença de crescimento do PbO2, sugerindo que os íons de Fe3+ presentes no banho

eletrolítico afetaram o processo de eletrodeposição. Os resultados estão de acordo com relatos

apresentados na literatura (VELICHENKO et al., 1998; AMADELLI et al., 1999).

A presença do Fe3+ em diferentes concentrações provocou alterações superficiais,

ou seja, o formato do óxido eletrogerado é dependente das condições de eletrodeposição.

Similarmente aos resultados anteriores (suporte de tela de aço), a presença de 100 mM de íons

Fe3+ no banho eletrolítico, alterou, visualmente, o formato das partículas individuais do óxido

formado de forma mais pronunciada.

O aumento da concentração do dopante no banho de eletrodeposição ocasionou

uma diminuição no tamanho das partículas individuais do dióxido de chumbo. Uma possível

explicação para esses resultados pode ser atribuída à afinidade eletrônica de Fe3+ e seus

complexos com a interface polarizada quando comparada ao Pb4+ (ANDRADE et al., 2007).

Os resultados das análises de MEV (Figura 26) corroboram com os de DRX

(Figura 23), pois o eletrodo que apresentou comportamento diferenciado para ambas as

análises foi o de PbO2 eletroformado na presença de 100 mM Fe3+, apresentando os menores

grãos superficiais e menor tamanho dos cristalitos.

4.2.2 Estudo cinético da RDO/PEO

A Figura 27 mostra curvas de Tafel referentes ao processo da RDO (baixos

sobrepotenciais) ou RDO/PEO (elevados sobrepotenciais) obtidas em condições quase-

estacionárias (1 mV s1) para um amplo intervalo da densidade de corrente (0,1 a 150 mA

cm2) utilizando-se o eletrodo de TC/-PbO2.

Page 103: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

99

Figura 27 – Curvas de Tafel obtidas para os eletrodos de TC/-PbO2-Fe com diferentes dopagens e alojados no

MEA e imerso em água destilada (T = 25 oC), antes da correção para IRΩ.

Todas as curvas de Tafel apresentaram uma linearidade no domínio das baixas

densidades de corrente e uma curvatura ascendente para valores superiores de jap. O desvio da

linearidade é devido ao somatório das resistências ôhmicas não compensadas, RΩ, presentes

na interface eletrodo/solução, a qual é dada por RΩ = REPS + Rfilme. Como REPS >> Rfilme,

podemos sugerir que RΩ REPS.

Para os eletrodos confeccionados na ausência e na presença de baixas

concentrações de íons Fe3+ (1 e 10 mM) no banho eletrolítico, o comportamento foi

praticamente o mesmo. Apenas o eletrodo dopado com 100 mM de íons Fe3+ apresentou

comportamento diferenciado.

Todas as curvas de Tafel experimentais mostraram, em sobrepotenciais elevados,

um desvio de linearidade, necessitando da correção para IRΩ a fim de permitir a análise de

regressão linear. Foi utilizado o mesmo procedimento adotado para os eletrodos

confeccionado em substrato de tela de aço.

A Figura 28 apresenta as curvas de Tafel ((A) sem e (B) com correção IR)

obtidas em condições quase-estacionárias ( = 1 mV s─1) para o eletrodo de TC/-PbO2-Fe3+,

confeccionado na presença de 1 mM de Fe3+, tendo a água como meio líquido e o EPS como

eletrólito.

Page 104: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

100

Figura 28 – Curva de Tafel para o eletrodo de TC/-PbO2-Fe3+ (meio líquido: água; = 1 mV s─1; T = 25 oC).

(A) Sem correção para a queda ôhmica; (B) Com correção para a queda ôhmica.

Todos os eletrodos de TC/β-PbO2 estudados apresentaram o mesmo perfil

apresentado na Figura 28, tendo como variação apenas as resistências que variaram entre 1,29

– 2,85 Ω cm2. Todas as curvas apresentaram pouca histerese entre as varreduras de ida e volta

e sempre duas inclinações ocorreram: b1 (baixos sobrepotenciais) e b2 (elevados

sobrepotenciais). Resultados semelhantes foram encontrados por outros autores e atribuíram o

valor da resistência ao EPS (REPS) (COSTA; DA SILVA, 2012).

O comportamento cinético dos eletrodos confeccionado em substrato de tecido de

carbono foi muito próximo ao observado para os eletrodos eletrodepositado sob a tela de aço,

incluindo as duas inclinações para as curvas de Tafel. Sugerimos que as principais causas que

levaram a tais comportamentos cinéticos são as mesmas apresentadas na sessão 4.1.2.

Para calcular os parâmetros cinéticos da curva de Tafel (jo, koap, b e αap), foram

utilizados as Equações 45 a 47, onde o valor de αap incorpora os desvios da idealidade

inerentes ao processo da transferência eletrônica em eletrodos sólidos. Os valores são

apresentados na Tabela 5.

Page 105: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

101

Tabela 5 – Dependência dos parâmetros cinéticos obtidos para a RDO em função do tipo de eletrodo.

Condições: água pura; = 1 mV s1; T = 25 C).

b/mV dec-1 αap jo(ap)/A cm─2 koap/cm s─1

Baixos

valores de η

Sem dopante 411 0,144 7,58 × 10─5 3,53 × 10─9

1 mM Fe3+ 330 0,179 2,43 × 10─5 1,13 × 10─9

10 mM Fe3+ 196 0,301 1,24 × 10─6 5,77 × 10─11

100 mM Fe3+ 187 0,316 9,43 × 10─7 4,40 × 10─11

Elevados

valores de η

Sem dopante 287 0,206 3,45 × 10─6 1,61 × 10─10

1 mM Fe3+ 334 0,177 1,78 × 10─5 8,30 × 10─10

10 mM Fe3+ 386 0,153 7,85 × 10─5 3,66 × 10─9

100 mM Fe3+ 512 0,116 2,60 × 10─4 1,21 × 10─8

A análise da Tabela 5 revelou que os parâmetros de Tafel são fortemente afetados

pela composição/estrutura do eletrodo, no entanto, não houve uma correlação com a

concentração de íons Fe3+.

Para as condições de baixo sobrepotencial, revelou que todos os eletrodos

apresentam coeficiente de Tafel elevado (b ≥ 120 mV dec-1 (25 °C)), a EDV mais provável

do ponto de vista teórico é a ‘descarga primária da água’, ou seja, a etapa referente à primeira

transferência eletrônica. O eletrodo confeccionado na presença de 100 mM de íons Fe3+

apresentou valores de coeficiente de transferência de carga aparente mais próximo do ideal.

Análise dos demais parâmetros sugere, teoricamente, que o eletrodo confeccionado na

presença de 100 mM de íons Fe3+ pode ser mais promissor para o processo de geração de

ozônio. No entanto, essa diferença não é tão pronunciada em comparação com os demais

eletrodos.

Para as condições de elevados sobrepotenciais, houve a predominância da EDV,

onde do ponto de vista teórico a primeira transferência eletrônica é a ‘descarga primária da

água’. Todos os eletrodos apresentaram valores próximos, sendo que o confeccionado na

presença de 100 mM de íons Fe3+ apresentou valores de coeficiente de transferência de carga

aparente mais próximo do ideal e menores valores de jo(ap) e koap, indicando, teoricamente, as

piores condições para a RDO e, consequentemente, o melhor eletrodo para o processo de

PEO. No entanto, os dados cinéticos não apresentaram correlação com os demais estudos

realizados para o eletrodo de β-PbO2 suportado em tecido de carbono.

Os desvios da idealidade podem ser encontrados nos eletrodos sólidos devido a

influência da distribuição não uniforme do campo elétrico sobre a superfície do eletrodo, que

Page 106: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

102

por sua vez afeta o processo da transferência eletrônica devido permitir a formação de sítios

eletroquimicamente ativos com diferentes atividades para o processo da transferência

eletrônica (COSTA; DA SILVA, 2012).

Valores elevados da inclinação de Tafel no domínio dos baixos sobrepotenciais

para a RDO em eletrodos de PbO2 já foram registrados na literatura (HO; HWANG, 1994;

DA SILVA; DE FARIA; BOODTS, 2003).

4.2.3 Produção eletroquímica de ozônio

Em princípio, no caso de ozonizadores eletroquímicos usando eletrodos "planos"

imersos em um eletrólito líquido, toda a área de superfície do eletrodo está disponível para a

eletrólise da água. No caso de um ozonizador eletroquímico do tipo filtro-prensa, munido de

EPS que permite realizar a eletrólise apenas usando a água pura, os locais de superfícies

ativas dos eletrodos ficam restritos às regiões interfaciais trifásicas que possibilitam a

transferência simultânea do próton hidratado pelo EPS e do elétron para o ânodo,

permanecendo eletroquimicamente neutro.

O fato do ânodo ser poroso e tridimensional e os coletores de corrente serem

perfurados permitem o suprimento de reagentes nas ZNA e também permitem a saída dos

produtos gasosos, possibilitando a substituição da água nos sítios de reação. Com isso, espera-

se que a região de tríplice-fronteira mantenha-se com líquidos renovados para garantir a

geração de radicais, próton e elétron. Face ao exposto, os eletrodos tridimensionais possibilita

uma concentração superior dos centros ativos responsáveis pela PEO em decorrência de um

contato mais efetivo das espécies oxigenadas no interior dos poros do eletrodo, sendo isto

ocasionado pelo elevado valor da densidade de corrente real. Como resultado, ocorreu uma

otimização da eficiência de corrente para PEO que é função da concentração dos centros

ativos.

O emprego da PEO em relação ao processo convencional Corona e os reatores

eletroquímicos convencionais tem a vantagem de permitir a dissolução direta de uma elevada

concentração de ozônio na água pura, eliminando assim os problemas relacionados ao contato

da fase gasosa com a fase aquosa (processo de solubilização do gás) presentes em outras

tecnologias (FOLLER; KELSALL, 1993).

A Figura 29 mostra a dependência do potencial do reator e eficiência de corrente

da PEO em função da densidade de corrente aplicada.

Page 107: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

103

Figura 29 – Dependência do potencial do reator U (A) e eficiência de corrente da PEO PEO (B) em função da

densidade de corrente aplicada (j). Condições: água livre de eletrólitos, T = 24 °C e Q = 23,6 cm3 s─1.

Como pode ser observado na Figura 29A, o potencial sofre alterações com a

variação da concentração do dopante. Esta diferença no valor do potencial fica mais nítida

com o aumento da densidade de corrente (j > 1,5 A cm─2), onde a variação é inversamente

proporcional à concentração do dopante no processo de eletrodeposição. Os maiores

potenciais foram observados para o eletrodo eletrodepositado na presença de 1 mM Fe3+ no

banho eletrolítico.

Em geral, o perfil das curvas U vs j é quase o mesmo para os diferentes eletrodos

de PbO2. Pode-se observar que há grande variação (≈ 3,0 V) no valor do potencial para todos

os eletrodos estudados em função do aumento da densidade de corrente. No presente caso, o

valor de U incorpora além dos componentes ôhmicos não compensados localizados entre os

Page 108: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

104

eletrodos (resistência do EPS e resistência das bolhas aderidas no eletrodo), os

sobrepotenciais dos processos catódicos (reação de desprendimento de hidrogênio (RDH)) e

anódicos (RDO + PEO). Devido a este fato, tem-se que a energia elétrica total consumida

pelo reator é resultante do somatório dos diversos componentes ôhmicos e não-ôhmicos

(cinéticos) envolvidos no processo global.

A princípio, pode-se considerar que os valores de U apresentam-se um pouco

acima daqueles verificados na maioria dos trabalhos encontrados na literatura (STUCKI et al.,

1987; DA SILVA; DE FARIA; BOODTS, 2001, 2003; DA SILVA et al., 2010; COSTA; DA

SILVA, 2012). Porém, em nenhum destes trabalhos foi utilizado o EPS Nafion® 324 da

DuPont, que é um material reforçado que apresenta uma maior resistência ôhmica. Segundo a

literatura (NISHIKI; KITAORI; NAKAMURO, 2011), em trabalho visando a PEO utilizando

a mesma membrana (Nafion® 324) como EPS, foi registrado um potencial de 16 V para uma

corrente de 0,8 A.

A análise da Figura 29B mostrou claramente que a presença de Fe3+ no processo

de confecção dos eletrodos de TC-PbO2 afeta os valores de ΦPEO. No caso dos resultados

obtidos para o filme de PbO2 não dopado, foi observado uma concordância com dados da

literatura (STUCKI et al., 1987). Como pode ser visto, a presença de Fe3+ no processo de

confecção dos eletrodos de TC-PbO2 pode atuar tanto como um promotor (por exemplo, 1

mM Fe3+ e j > 1,5 A cm─2) como um inibidor (por exemplo, 10 e 100 mM Fe3+) para o

processo da PEO.

Os dados apresentados na Figura 29 não corroboram com os dados cinéticos do β-

PbO2 suportados em tecido de carbono, pois não era esperado que o eletrodo confeccionado

na presença de 1 mM Fe3+ fosse apresentar maior eficiência no processo de geração de

ozônio. Porém, com base nos resultados de DRX e MEV, era esperado que tal eletrodo

demostrasse maior eficiência na geração de O3, pois apresentou uma superfície cristalina de β-

PbO2 e uma distribuição superficial uniforme.

A dependência da eficiência de corrente da PEO com j proporcionou resultados

satisfatórios, encontrando valor máximo de ΦPEO na ordem de 9,5%, que apresenta

concordância com resultados da literatura (KÖTZ, 1987; STUCKI. et al., 1987; FENG et al.,

1994; VELICHENKO et al., 1998; DA SILVA; DE FARIA; BOODTS, 2001, 2003;

VELICHENKO et al., 2002a; ZHOU et al., 2005; DA SILVA et al., 2010; NISHIKI;

KITAORI; NAKAMURO, 2011).

Com base nas discussões apresentadas na sessão 4.1.3, e devido à similaridade do

comportamento nos estudos visando à produção de ozônio, pode ser proposto no presente

Page 109: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

105

caso que a presença de íons Fe3+ nas regiões interfaciais trifásicas do MEA seja capaz de

promover alterações nas coberturas superficiais dos intermediários de reação oxigenados.

Assim, no caso especial do ânodo confeccionado com 1 mM de íons Fe3+, a interface trifásica

pode atuar como um melhor eletrocatalisador para a PEO quando comparado ao caso do TC-

PbO2 em virtude do aumento da concentração superficial dos centros ativos contendo as

espécies (O●)ads e (O2)ads.

Figura 30 mostra a dependência da velocidade de geração de ozônio, concentração

de ozônio na fase gasoso, o consumo de energia elétrica específica para a PEO e o

desempenho global do reator em função da densidade de corrente aplicada.

Page 110: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

106

Figura 30 – Dependência da velocidade de geração de ozônio (νPEO) (A), concentração do ozônio na fase gasosa

[O3] (B), consumo de energia elétrica específica para PEO (PPEO) (C) e desempenho global do reator (ϑPEO) (D)

em função da densidade de corrente aplicada (j). Condições: água livre de eletrólitos, T = 24 °C e Q = 23,6 cm3

s1.

Page 111: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

107

Como visto na Figura 30A, a velocidade de produção de ozônio aumenta quase

linearmente com a densidade de corrente. Esse comportamento está de acordo com dados da

literatura (DA SILVA et al., 2010). Ao comparar com os dados apresentados na Figura 23B,

percebe-se uma correlação entre os dados experimentais, onde foi produzido mais ozônio

quando se utilizou o eletrodo TC-PbO2 dopado (1,0 mM de Fe3+ presente no processo de

eletrodeposição).

Em aplicações envolvendo a purificação e ultra purificação da água, uma dose

baixa de ozônio de 0,5-2,0 mg dm3 é suficiente para promover o efeito desejado em

diferentes aplicações do ozônio, como é o caso do tratamento da água usada nas indústrias

farmacêuticas e eletrônicas, no processo de engarrafamento de água, etc (STUCKI et al.,

1987; DA SILVA et al., 2009). Isto permite propor que a produção máxima de ozônio

mostrada na Figura 25A (νPEO = 1,45 g h1) é compatível com a demanda de ozônio

necessária para tratar cerca de 800-3000 dm3 de água por hora.

A Figura 30B apresenta a concentração do ozônio gerado eletroquimicamente,

disponível na fase gasosa. Para a remoção de poluentes orgânicos emergentes os benefícios

proporcionados pela condição onde a concentração do ozônio presente na fase gasosa está

principalmente relacionada com a grande eficiência da utilização do ozônio produzido, o que

acelera fortemente a taxa de reação de degradação.

A Figura 30C mostrou os valores de PPEO em função da corrente aplicada. Como

visto, PPEO diminuiu com o aumento da densidade de corrente aplicada. Estes resultados

experimentais revelaram a influência da corrente aplicada e da composição do eletrodo

([Fe3+]) na PPEO, onde um valor mínimo de 0,30 kW h g─1 foi obtido em j > 1,5 A cm─2 para o

eletrodo TC-PbO2 preparado na presença de 1,0 mM de Fe3+ no processo de eletrodeposição.

Como discutido anteriormente, os valores de PPEO obtidos para ozonizadores eletroquímicos

do tipo filtro-prensa usando eletrodos sinterizados e de malha fina foram de aproximadamente

58-75 W h g─1 para densidades de corrente próximas de 1,5 A cm─2 (STUCKI et al., 1987).

A dependência de ϑPEO com a densidade de corrente aplicada revelou um

desempenho máximo do reator para a PEO com tendência a estabilizar em valores de jap > 2,0

A cm─2, discordando de alguns dados da literatura (STUCKI et al., 1987; DA SILVA et al.,

2010) onde foram usados substrato de titânio e tela de aço ASTM 304. Considerando que a

área superficial do tecido de carbono é grande (COSTA; FRANCO; DA SILVA, 2013), isto

possibilita uma maior superfície de contato e, consequentemente, a densidade de corrente real

pode ser menor em comparação com os outros substratos. Portanto, a dissipação de calor,

teoricamente, é mais favorecida na PEO usando tecido de carbono como substrato, evitando

Page 112: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

108

assim, a destruição do ozônio devido ao aquecimento nos sítios ativos (“hot-spots”) (STUCKI

et al., 1987). Com isso, em certas densidade de corrente o melhor desempenho global do

reator do tipo EPS usando filtro-prensa visando a PEO foi registrado utilizando o eletrodo

TC-PbO2 dopado (1,0 mM de Fe3+) no processo de eletrodeposição, especialmente para

densidade de corrente maiores que 1,5 A cm─2 (ver Figura 30D).

Ao comparar os dados da PEO com ânodos de β-PbO2 preparados na presença de

íons Fe3+ no processo de eletrodeposição, eletrogerados em diferentes substratos (tela de aço e

tecido de carbono), percebe-se que os dados estão correlacionados. Sendo a principal

discrepância apresentada para o eletrodo TA- β-PbO2 preparados na presença de 100 mM de

Fe3+. No entanto, com base nos resultados de DRX e análise por MEV para tal eletrodo, o

comportamento era esperado, pois foi o eletrodo que apresentou menor cristalinidade para os

planos cristalográficos com orientação β-PbO2, os quais, são desejáveis para uma alta

eficiência no processo ânodos de dióxido de chumbo.

Similarmente aos estudos descritos na sessão 4.1.4 (eletrodos de TA-PbO2), foram

realizados testes de estabilidade do reator durante a PEO registando-se o potencial do reator e

a produção de ozônio durante a eletrólise em longo prazo (j = 1,0 A cm─2 e T = 24 °C) por um

período de 30 dias. Este estudo foi conduzido utilizando a eletrodo TC-PbO2 eletrodepositado

na presença de 1,0 mM de Fe3+ no banho eletrolítico devido este apresentar o melhor

desempenho geral para o processo de PEO.

Verificou-se neste estudo uma estabilidade na eficiência de corrente e o potencial

da célula, pois não sofreram alterações durante a eletrólise prolongada. A análise destes

resultados revelou que o MEA, utilizando eletrodo confeccionado sobre substrato de carbono,

apresenta viabilidade em diferentes processos envolvendo aplicação do ozônio como é o caso

do tratamento da água, da combustão de compostos orgânicos resistentes, na limpeza de

efluentes, indústria farmacêutica, entre outros.

4.3 Otimização da produção eletroquímica de ozônio

Devido ao grande poder oxidativo das reações diretas ou indiretas nos processos

de ozonólise (DA SILVA et al., 2009), uma pequena concentração de ozônio é suficiente para

poder degradar diferentes tipos de efluentes sintéticos (DA SILVA; DE FARIA; BOODTS,

2001). Devido a isto e ao fato do eletrodo suportado em tecido de carbono tipo sarja ser mais

fácil de preparação (não necessita de uma camada intermediária), doravante todos os estudos

Page 113: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

109

envolvendo a RDO/PEO e suas aplicações foram conduzidos com o eletrodo TC-PbO2/1mM

Fe3+.

4.3.1 Construção de um fluxômetro alternativo

A confiabilidade do cálculo para a determinação da eficiência de corrente

referente à PEO está diretamente relacionada com a precisão e exatidão da medida do fluxo

volumétrico dos gases provenientes do reator eletroquímico.

Existem vários modelos de medidores eletrônicos de fluxo. Alguns usam sensores

baseados na condutividade térmica (chamados sensores de fluxo de massa). Na maioria das

vezes, os fluxômetros são calibrados para cada gás específico. Outro modelo é o mecânico e

funciona medindo a corrente induzida pelo deslocamento de um diafragma. Um terceiro

modelo é uma versão eletrônica de um medidor de fluxo de bolha com sensores que detectam

a passagem da bolha através da coluna do equipamento (BISHOP; SANDERS, 1989).

Uma alternativa para quantificar a quantidade de gás é o tempo necessário que

uma película manométrica de sabão gasta para percorrer um determinado volume conhecido

da coluna do equipamento. Esta técnica tem sido usada há muito tempo para determinar

baixas e moderadas taxas de fluxo de gás sendo o equipamento denominado de bolhômetro

(LEVY, 1964). A técnica do medidor de bolhas, embora seja formada uma película estável, é

um método absoluto (padrão) para medir fluxo volumétrico de gases em condições isobárica e

isotérmica.

A Figura 31 mostra esquema utilizado na construção de um

fluxômetro/bolhômetro de baixo custo e de alta eficiência usado para quantificar o fluxo

volumétrico (Q) da mistura gasosa contendo (por exemplo, O2 e O3) produzido no reator

eletroquímico na ausência de eletrólito líquido.

Page 114: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

110

Figura 31 – Fluxômetro confeccionado em laboratório usado para quantificar o fluxo volumétrico da mistura

gasosa contendo (N2, O2 e O3).

Para construir um fluxômetro alternativo, foi necessário realizar uma adaptação de

uma bureta de precisão (100 mL), adaptando a entrada da mistura gasosa. Na parte inferior foi

colocada uma tetina de borracha contendo solução de sabão. Os valores de Q foram

calculados a partir da razão entre o volume percorrido pelo menisco da película de sabão no

interior do bolhômetro e o tempo gasto para percorrer todo o percurso da bureta, no qual

apresenta um volume conhecido. Para cronometrar o tempo, foi usado um cronômetro digital.

Cada valor de Q foi obtido por média aritmética simples de no mínimo 3 leituras. Este

procedimento visou minimizar os erros aleatórios relacionados ao manuseio do cronômetro e

a leitura visual da posição do menisco no interior do bolhômetro. Com o novo fluxômetro foi

possível quantificar o fluxo volumétrico da mistura gasosa com uma reprodutividade acima de

95%.

4.3.2 Redução da quantidade de Nafion® 324

A membrana mais comum a ser usada como EPS é o Nafion®, que é um polímero

de ácido sulfônico perfluorado que opera como eletrólito sólido devido à sua alta eficiência no

transporte de prótons proporcionado pelos grupamentos sulfônicos. Além do transporte de

Page 115: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

111

íons, a membrana também tem a função de separar os gases eletrogerados, que normalmente

são comprimidos entre o ânodo e cátodo (GIERKE; MUNN; WILSON, 1981; MAURITZ;

MOORE, 2004; ZHANG et al., 2007).

O reator utilizado foi confeccionado com material de baixo custo e de alta

resistência aos processos corrosivos. O corpo (carcaça) do reator é composta por acrílico

visando o alojamento do conjunto eletrodo-membrana e do sistema distribuidor de fluidos do

tipo serpentina.

A ausência de substrato metálico constituído de material nobre na confecção do

ânodo já acarretou em uma redução significativa nos custos de fabricação do MEA.

Portanto, o maior custo envolvendo a tecnologia usada no presente trabalho para a

produção de ozônio está associado à membrana Nafion® 324 comercializada pela DuPont

(0,30 × 0,30 m / ≈ $300.00). Por isso, é muito importante desenvolver uma alternativa que

possibilite a redução do tamanho da membrana sem que ocorra alteração na quantidade de

ozônio eletrogerado.

A Figura 32 mostra o esquema adotado para reduzir a quantidade de Nafion® em

mais de 70%. Isso significa que os custos de fabricação do MEA foram reduzidos

drasticamente com substituição de grande parte da membrana por película de polietileno de

baixo custo. Portanto, na presente configuração o EPS foi utilizado apenas como condutor

iônico ao invés de também ser utilizado como “vedante” para impedir trocas de gases entre os

compartimentos anódicos e catódicos.

Page 116: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

112

Figura 32 – Esquema usado para separar o compartimento anódico do catódico.

Como pode ser observado no esquema demonstrado na Figura 32, a maior parte

da membrana foi substituída por material plástico. A geometria da membrana separadora não

impede o contato do Nafion® com ambos os compartimentos (por exemplo, ânodo e cátodo),

bem como o processo de transferência de H+. Também é possível observar que não houve

obstrução no processo de vedação do reator (passagem dos parafusos).

Para garantir que não houvesse passagem da água ou dos gases gerados entre o

Nafion® e o plástico, a parte interna do plástico foi vedada com cola de silicone e prensada

sobre parte do Nafion® por no mínimo 5 horas antes da montagem do reator.

Todos os estudos subsequentes envolvendo a produção eletroquímica de ozônio

foram realizados utilizando a nova membrana que permitiu reduzir a quantidade de Nafion®,

sem, no entanto, afetar a eficiência da produção de ozônio.

Page 117: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

113

4.3.3 Otimizações anódicas

Toda a água destilada usada no processo de geração de ozônio foi substituída por

água de torneira com uma condutividade de 33 μS cm. Como já era esperado, não houve

alteração dos valores obtidos experimentalmente, possibilitando uma redução do processo de

geração de ozônio.

4.3.3.1 Fluxo volumétrico da água circulante no sistema

Existem vários estudos envolvendo a influência da velocidade linear do fluído

anódico no processo de geração eletroquímica de ozônio. Para os estudos contendo ânodos de

dióxido de chumbo, podemos destacar alguns trabalhos (STUCKI et al., 1985; ONDA et al.,

2005), onde os autores obtiveram uma maior eficiência de corrente com o aumento do fluxo

da água circulante. Segundo Stucki et al. (1985), o aumento do fluxo de água no

compartimento anódico provocou uma diminuição na concentração de ozônio na fase gasosa e

um aumento na concentração do O3 na fase aquosa. No entanto, a concentração total

permanece praticamente inalterada. Nos resultados relatados por Onda et al. (2005), também

foi observado uma diminuição da taxa de produção de ozônio na fase gasosa e um aumento na

fase aquosa. Porém, segundo os resultados apresentados, houve um aumento significativo da

somatória (por exemplo, fase gasosa e fase aquosa) com o aumento do fluxo de água no

compartimento anódico.

Nas condições envolvendo ânodos de dióxido de platina, segundo Okada e

Colaboradores (OKADA; NAYA, 2012; OKADA et al., 2015), o aumento na taxa de fluxo de

água no compartimento anódico provocou um acréscimo na eficiência de corrente devido à

velocidade de renovação da superfície da platina coberta por bolhas de gás, aumentando assim

a área ativa do ânodo. Segundo os trabalhos desse grupo de pesquisa, com a formação de

gases na superfície da platina a área catalítica efetiva do ânodo tende a diminuir. Portanto, a

diminuição do fluxo provocou uma redução na eficiência de corrente, sendo que em fluxo

baixo a concentração do ozônio dissolvido na água aumentou.

Para ânodos compostos por dióxido de estanho, Cui et al. (2009) relataram que o

aumento do fluxo anódico provocou um acréscimo na produção de ozônio. Segundo os

autores, um aumento no fluxo anódico reduziu a concentração de ozônio aquoso devido a

remoção dos produtos da eletrólise perto da superfície do eletrodo, melhorando a transferência

de massa das reações eletroquímicas. Além disso, segundo os autores, a convecção forçada

Page 118: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

114

pode ter evitado o acúmulo de bolhas que afeta a transferência de prótons na interface ânodo-

Nafion®. Também foi observado uma diminuição do potencial de célula para uma dada

corrente com o aumento do fluxo anódico. Os autores também destacaram que o aumento do

fluxo anódico provocou uma redução da resistência de transferência de massa na interface

Nafion®/ânodo/H2O.

Também há relatos de aumento na eficiência de corrente relacionado ao aumento

do fluxo anódico para o processo da produção eletroquímica de ozônio usando eletrodos de

diamante dopado com boro (KRAFT et al., 2006; NISHIKI; KITAORI; NAKAMURO,

2011).

Apesar de vários estudos, não há um consenso para poder identificar o melhor

fluxo a ser adotado, pois a estabilidade da produção de ozônio é dependente de cada condição

experimental, sendo que cada trabalho apresenta uma condição ideal que pode variar

drasticamente para o mesmo tipo de ânodo (0,5 a 4 L min─1). Como já mencionado, as

propriedades hidrodinâmicas do fluido que circula no interior dos campos de fluxo e o fluido

que percola a estrutura do eletrodo poroso podem ser bastante diferentes devido à redução das

linhas de convecção (FRANCO et al., 2008; DA SILVA et al., 2009).

Face a tais variações experimentais no que tange o fluxo anódico, as Figuras 33 e

34 apresentam os nossos estudos envolvendo variações do fluxo volumétrico da água

circulante, bem como o melhor volume de água visando um aumento na eficiência de corrente

para a PEO com um menor custo (análise do potencial de célula).

Page 119: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

115

Figura 33 – Variação da vazão no compartimento anódico com avaliação ponto-a-ponto do potencial de célula e

a eficiência de corrente em função do tempo de ozonização. (A) Análise de U; (B) Análise PEO. Volume total

anódico = 1 L H2O.

A Figura 33 apresentam os valores do potencial de célula e a eficiência de

corrente para a produção eletroquímica de ozônio usando 1 L de água de torneira no

compartimento anódico, tendo como variável a vazão da água no reator. A cada 15 min a

corrente foi aumentada em 4 A até que se atingisse uma densidade de corrente de 1,5 A cm─2

(120 min). O mesmo procedimento foi adotado para todas as análises envolvendo a vazão da

água e o volume total da água no compartimento anódico.

Como pode ser observado, na condição de menor vazão analisada (0,25 L min─1),

o valor do potencial de célula foi mais elevado para todo o intervalo analisado. Para as demais

vazões não houve alteração significativa nos valores de potencial de célula.

Page 120: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

116

A análise da Figura 33B mostrou claramente que a PEO é otimizada para o caso

onde a vazão foi de 0,25 ou 1,0 L min─1. Intrigantemente, não se verificou uma evidente

tendência de queda ou aumento na eficiência para a PEO em função da vazão da água no

compartimento anódico do reator.

Figura 34 – Variação da vazão da água no compartimento anódico com avaliação ponto-a-ponto do potencial de

célula e a eficiência de corrente em função do tempo de produção de O3. (A) Análise de U; (B) Análise PEO.

Volume total anódico = 2 L H2O.

Contrariamente aos dados apresentados na Figura 33 (VT = 1 L), verificou-se no

caso dos dados apresentados na Figura 34 (VT = 2 L) que há uma clara tendência de aumento

do potencial de célula e eficiência de corrente para a PEO com a redução da vazão da água

circulante no compartimento anódico do reator.

Page 121: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

117

Conforme a engenharia do nosso reator eletroquímico, todo o ozônio formado na

superfície do eletrodo é imediatamente arrastado pelo líquido que percola pelos canais

difusores de gases. Portanto, antes do ozônio ser separado no frasco separador de gases, o

mesmo pode dissolver na água. Como o tempo de meia vida do ozônio dissolvido em água

nas condições de trabalho (temperatura próximo da ambiente) é relativamente curto, se a

mesma porção de água demorar a recircular no compartimento anódico, o ozônio dissolvido

pode ter sido degradado naturalmente. Nas condições onde o volume da água que circula o

compartimento anódico é menor, existe a possibilidade da água entrar no reator (por exemplo,

compartimento anódico) saturada com ozônio, evitando assim o consumo do gás com o

processo de saturação. Por isso, sugerimos que a maior eficiência para a condição onde o

volume de água é menor (Figura 33), em comparação onde o volume anódico era mais

elevado (Figura 34).

4.3.4 Otimizações catódicas

Segundo dados da literatura a maioria dos trabalhos envolvendo a PEO utiliza

como material catódico o titânio, platina, aço inoxidável, etc. (FOLLER; TOBIAS, 1982;

KÖTZ, 1987; BABAK et al., 1994; DA SILVA et al., 2010).

Apesar de termos relatado estudos com uso da malha de aço (DE SOUSA;

FRANCO; DA SILVA, 2016), que é um material muito barato, a tela com menor trama que

atua como cátodo foi substituída por tecido de carbono tipo sarja. Inicialmente, houve um

pequeno aumento no valor de potencial. No entanto, o tecido promove uma maior distribuição

da tensão mecânica devido a sua maleabilidade, garantindo assim uma maior durabilidade do

Nafion®. Além disso, com o uso do tecido no compartimento catódico foi possível controlar a

temperatura com mais facilidade. Por isso, atribuímos à adição do tecido de carbono no

compartimento catódico como uma possível diminuição do número de “zona quente”. Não foi

identificado nenhuma variação nos valores da eficiência de corrente para a PEO.

Há relatos do uso de soluções iônicas no cátodo para compensar a baixa

condutividade de uma membrana extra utilizada para proteger o Nafion® 117 (OKADA;

NAYA, 2009). Para tais experimentos foram testadas soluções contendo sulfato de sódio e

cloreto de sódio. Segundo os autores, o NaCl com concentrações acima de 0,5 M foi

considerado como ideal, pois promoveu um aumento na eficiência de corrente e uma maior

durabilidade do MEA.

Page 122: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

118

Para os estudos envolvendo o uso do cátodo de platina, a solução de NaCl com

concentrações acima de 0,085 M evitou a formação de óxido na superfície do ânodo

(OKADA; NAYA, 2012). Segundo os autores, os íons Cl─ que migram do cátodo para o

ânodo através do Nafion® inibiu a formação do PtO2. Com isso, o ânodo permaneceu limpo

promovendo uma maior eficiência de corrente na PEO e aumentando o tempo de vida útil do

conjunto experimental.

No caso de ânodos constituídos de diamante dopado com boro (BDD), segundo

Honda et al (2013), o uso de soluções de Na2SO4 (0,85 M) ou NaCl (0,85 M) não promove

alteração significativa nos valores de eficiência de corrente, sugerindo que o uso de água pura

para a PEO é mais viável.

Considerando a possibilidade de uma melhora na quantidade de ozônio a ser

produzida com ânodos de dióxido de chumbo, foram realizados experimentos utilizando-se o

cloreto de sódio a uma concentração de 0,5 M, que foi otimizada previamente por outros

autores (OKADA; NAYA, 2012). Os resultados obtidos neste estudo estão apresentados na

Figura 35.

Page 123: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

119

Figura 35 – Influência do uso de NaCl no compartimento catódico sobre a PEO em função do tempo de

ozonizaçao: (A) Potencial (U); (B) Eficiência de corrente da PEO PEO; (C) Consumo de energia elétrica

específica para a PEO (𝑃PEO); (D) Desempenho global do reator (𝜗PEO).

Page 124: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

120

Como pode ser observado na Figura 35A, o valor de potencial para todo o

intervalo de análise sofreu uma redução significativa. Há relatos do uso de soluções iônicas no

compartimento catódico visando compensar a baixa condutividade do material eletródico

(OKADA; NAYA, 2009). Considerando que o Nafion® 324 possui uma resistência superior

das principais membranas da família Nafion® utilizadas na literatura, foi atribuída a redução

de potencial como forma de compensação devido ao aumento das regiões de contato (por

exemplo, zona de nucleação catódica – ZNC).

Com os novos valores de potencial, o consumo de energia elétrica específica

sofreu uma redução significativa como mostrado na Figura 35C, refletindo diretamente nos

custos operacionais da PEO. Na Figura 35D, é possível observar o ganho obtido pelo

desempenho global do reator, evidenciando ainda mais as otimizações da PEO, com um

aumento de 40% no desempenho global do reator. No entanto, não foi observada nenhuma

alteração significativa nos dados de eficiência de corrente, bem como aumento de ozônio

produzido (Figura 35B).

Devido a problemas operacionais (por exemplo, corrosão dos parafusos), a

solução iônica do compartimento catódico não foi utilizada na PEO para os estudos de

degradação de solução sintética de paracetamol, mas será utilizada nos estudos futuros.

4.4 Aplicação do ozônio gerado eletroquimicamente em processo de degradação

Antes de iniciar o processo de tratamento dos efluentes simulados, o eletrodo

TC/β-PbO2 foi submetido a um teste de resistência sob condições galvanostaticas usando a

água livre de eletrólitos [I = 23 A (j ≈ 1 A cm-2); U = 7,3 ± 0,2 V, T = 24 ± 2 °C e t = 24 h]

com a finalidade de verificar a estabilidade do eletrodo para o processo da PEO. Nos

presentes estudos, foram utilizadas as otimizações realizadas anteriormente, tais como volume

de água no compartimento anódico, redução do tamanho da membrana Nafion®, água de

torneira e o medidor de fluxo gasoso alternativo. De acordo com este estudo, o eletrodo TC/β-

PbO2 permaneceu altamente estável com uma taxa constante de produção de ozônio de 0,50 ±

0,01 g h─1, o equivalente 5,3 mg dm-3.

Com exceção do experimento destinado aos estudos de RMN, onde apenas iniciou

com pH 10, os demais ensaios de degradações das amostras sintéticas de paracetamol foram

conduzidos com monitoramento de pH, sendo que na condição alcalina necessitou adicionar

NaOH ao longo de todo o experimento. Para a condição ácida, não houve a necessidade de

Page 125: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

121

regular o pH ao longo do experimento. Na condição natural, houve um decaimento no valor

de pH ao longo do experimento (6,3 até 4,8).

4.4.1 Estudos preliminares do material a ser degradado

O paracetamol (PCT), também conhecido como acetaminofeno, é o principal

componente ativo de vários antipiréticos e analgésicos, que podem ser adquiridos, na maioria

dos países sem prescrição médica. Quando ingerido, cerca de 60-70% do composto original

são excretados inalterados pelo organismo (MUIR et al., 1997) e devido isso, é

frequentemente detectado em ambientes aquáticos.

Figura 36 – Estrutura química do paracetamol.

Com intuito de avaliar o comportamento do fármaco via análise

espectrofotométrica na região UV, foi feito uma curva de calibração visando identificar a

melhor concentração de trabalho. A Figura 37 mostra o comportamento espectrofotométrico

do fármaco.

Page 126: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

122

Figura 37 – Comportamento espectrofotométrico do paracetamol na região UV.

O comportamento do paracetamol na região do UV é caracterizado por um

máximo de absorbância no comprimento de onda de 243 nm. Além disso, verificou-se a

possibilidade de analisar concentrações de até 50 mg dm─3. Para soluções do paracetamol com

concentrações acima de 50 mg dm─3 há desvios da lei de Lambert-Beer deixando de existir a

proporcionalidade linear entre concentração e absorbância. Após a realização da varredura

espectrofotométrica, foi possível construir uma curva analítica com a absorbância no

comprimento de onda de 243 nm, conforme apresentado na Figura 38.

Page 127: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

123

Figura 38 – Curva analítica demonstrando o comportamento linear da concentração do PCT vs Absorbância

espectrofotométrica em λ = 243 nm.

Como pode ser visto na Figura 38, o PCT apresenta um excelente comportamento

linear para a extensa faixa de concentração de 1-50 mg dm─3 o que possibilitou o

monitoramento por espectrofotometria UV do processo de degradação oxidativa do PCT.

Outra técnica analítica que também foi usada para quantificar diferentes níveis de

concentração do PCT é a Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE). Portanto, antes

de iniciar o processo de degradação do PCT foi construída uma curva de calibração para

poder avaliar a correlação entre a área do pico cromatográfico e a concentração de PCT.

Page 128: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

124

Figura 39 – Comportamento cromatográfico do paracetamol na região 243 nm.

A análise da Figura 39 demonstrou que os cromatogramas obtidos para o PCT

num extenso intervalo de concentração são caracterizados por um dubleto (bando com picos

acoplados), com tempo de retenção de 4,3 min devido presença de pré-coluna. Para efeito de

identificar concentrações do PCT para as amostras degradadas, foi construída uma curva de

calibração com as áreas dos dubletos referentes ao PCT conforme mostrado na Figura 40.

Page 129: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

125

Figura 40 – Curva analítica demonstrando o comportamento linear concentração do PCT vs Área de pico.

A análise da Figura 40 também demostra uma excelente linearidade para um

amplo intervalo de concentração do PCT (1-100 mg dm─3). Com isso, é possível quantificar

de forma precisa as concentrações do PCT em valores intermediários ao longo do processo de

degradação.

Apesar das especificidades analíticas das técnicas espectrofotométrica/UV e

cromatográfica, somente com estas não é possível obter informações sobre o grau de

mineralização (combustão) da matéria orgânica dissolvida durante o processo de ozonização.

Portanto, o uso de medições da demanda química de oxigênio (DQO) também foi adotado

para obter um cenário mais conciso sobre o processo de degradação via ozonização do

poluente modelo e seus subprodutos de degradação.

Para efeito de validação das análises de DQO, foram realizados estudos da

influência da concentração do PCT sobre os valores da DQO. Como o procedimento de

análise de DQO usado foi o método do refluxo fechado, onde a recomendação do uso é para

amostras contendo 40 mgO2 dm─3, concentrações muito baixas podem dificultar o processo de

análise. Por isso, foi considerado no presente estudo um intervalo de concentração do PCT de

25-150 mg dm─3 para se efetuar as medições da DQO.

A Figura 41 mostra a correlação linear entre a DQO e [PCT] obtida para as

análises realizadas em triplicata.

Page 130: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

126

Figura 41 – Curva analítica demonstrando o comportamento linear da concentração do [PCT] vs DQO.

Como pode ser observado, houve uma excelente linearidade no perfil gráfico para

um amplo intervalo de [PCT].

Portanto, com base nos estudos analíticos realizados para as diferentes técnicas a

serem usadas para quantificar e comprovar a eficácia do processo de ozonização na

degradação oxidativa do PCT, optou-se por trabalhar com efluentes sintéticos do PCT

contendo concentrações de 20, 30 e 50 mg dm─3. Com isso, foi possível realizar todas as

análises com um grande grau de confiabilidade dos resultados sem a necessidade de realizar

diluição ou adição de padrão nas amostras.

4.4.2 Ozonização do paracetamol em reator de coluna de bolhas e avaliação da

eficiência de degradação via espectrofotometria/UV e CLAE

A ozonização de compostos orgânicos é dependente do pH, da reação química

(por exemplo, cinética intrínseca), da transferência de massa de ozônio e da carga de ozônio

introduzida na fase aquosa (HUBER et al., 2003; DA SILVA; JARDIM, 2006; FRANCO et

al., 2008). Portanto, o processo de ozonização é afetado pelo tipo de sistema de dispersão de

gás que controla a taxa de transferência de massa do gás para a fase líquida. Além disso, a

força motriz para a transferência de massa do ozônio é dada pela diferença na concentração de

Page 131: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

127

ozônio nas fases distintas, isto é, dentro da fase gasosa (por exemplo, bolhas) e na fase líquida

(por exemplo, ozônio dissolvido) (DA SILVA et al., 2006, 2009; DA SILVA; JARDIM,

2006). De fato, conforme discutido anteriormente por Da Silva e Colaboradores (DA SILVA;

JARDIM, 2006; DA SILVA et al., 2009), a ozonização de águas contaminadas (ou efluentes)

depende fortemente da pressão parcial do ozônio presente na fase gasosa (O2 + O3) e também

da transferência de massa do ozônio para a fase aquosa. No primeiro caso, o desempenho do

processo de ozonização é regido pela taxa de produção de ozônio exibida pelo sistema

gerador de ozônio (por exemplo, corona), enquanto que no último caso depende da

solubilização do ozônio na fase líquida promovida por um eficiente sistema dispersor para

realizar o contato gás-líquido.

Quando as bolhas de ozônio estão em contato com a fase aquosa, existe a

formação de uma interface "gás-líquido", onde a solubilidade do gás é seguida pela reação de

oxidação irreversível (por exemplo, processo de ozonização). Como resultado, duas etapas

podem controlar o processo geral de ozonização: (i) a transferência de massa de ozônio da

fase gasosa para a fase líquida e/ou (ii) a reação química que ocorre na interface gás/líquido.

De acordo com a "teoria do filme" (DA SILVA; JARDIM, 2006; DA SILVA et al., 2009), e

considerando-se que o gás é pouco solúvel em água e não possui limitação de transferência de

massa dentro da fase gasosa, tem-se que apenas a resistência à transferência de massa na fase

líquida é considerada em situações práticas. Como resultado, é muito provável a formação de

um "filme líquido" de uma espessura média, dL, que é estabelecida entre o líquido e a

interface gás-líquido (DA SILVA; JARDIM, 2006). Além disso, considera-se que a

transferência de massa do ozônio está no estado estacionário dentro do filme na ausência de

acumulação de massa (DA SILVA; JARDIM, 2006; DA SILVA et al., 2009).

Quando a mistura de gás exibe uma alta concentração de ozônio é introduzida na

água contaminada e, consequentemente, a degradação oxidativa do paracetamol pode ser

controlada principalmente pelos processos cinéticos elementares que ocorrem em solução

aquosa. Consequentemente, resulta na ruptura do anel aromático, diminuindo a absorbância a

243 nm e originando vários subprodutos de oxidação que podem permanecer estáveis em

solução (subprodutos de oxidação persistentes) (FRANCO et al., 2008). Este processo de

degradação compreende apenas o passo inicial de um processo de oxidação avançado

exaustivo que pode resultar em uma boa mineralização da matéria orgânica dissolvida (por

exemplo, redução moderada/alta de valores da DQO e/ou TOC).

Experimentalmente, a condição cinética de pseudo-primeira ordem para a reação

de ozonização pode ser assegurada pela aplicação de uma concentração constante de ozônio

Page 132: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

128

na fase aquosa em condições de semi-batelada, onde a mistura de oxigênio/ozônio é

constantemente fornecida no fundo do reator de coluna de bolhas a uma taxa de fluxo

volumétrico fixo (DA SILVA; JARDIM, 2006; FRANCO et al., 2008; DA SILVA et al.,

2009). Portanto, do ponto de vista teórico, a ozonização do paracetamol pode ser descrita

usando a Equação 48 (DA SILVA; JARDIM, 2006; SKOUMAL et al., 2006; FRANCO et al.,

2008; DA SILVA et al., 2009):

𝑙𝑛 ([𝐶]

[𝐶]0) = −𝑘ap𝑡 Eq. (48)

onde kap é constante de taxa aparente (min─1) e kap = k[O3(aq)]α[HO•

(aq)]γ, onde α e γ são

constantes empíricas. [C] e [C]0 são as concentrações da droga instantânea e inicial,

respectivamente. Considerando que a concentração pode ser representada pela absorbância, a

equação cinética pode ser demostrada pela Equação 49.

𝑙𝑛 (𝐴

𝐴0) = −𝑘ap𝑡 Eq. (49)

onde A/A0 representa a absorbância normalizada no comprimento de onda máximo.

Os espectros das análises de espectrofotometria/UV para as soluções aquosas

contendo paracetamol foram registados em função do tempo de ozonização. Como pode ser

visto na Figura 42, o espectro do paracetamol (t = 0 min) foi caracterizado por uma banda

intensa em 243 nm que foi utilizada para monitorar a degradação da matéria orgânica

dissolvida em função do tempo de ozonização. Foram consideradas neste estudo diferentes

concentrações do PCT (20, 30 e 50 mg dm─3) e diferentes pHs (2, natural (sem ajuste, 6,3) e

10).

Page 133: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

129

Figura 42 – Evolução espectral do processo de degradação da solução de paracetamol de 50 mg dm─3 em

distintos pHs: (A) 2,0; (B) Sem ajuste (6,30); e (C) 10,0.

A Figura 42 mostra a evolução da degradação das amostras de paracetamol. Ao

comparar a degradação das amostras conduzidas em pH ácido (Figura 42A) com a condição

onde não houve alteração do meio (Figura 42B), percebe-se que onde houve alteração de pH o

Page 134: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

130

processo de remoção da absorbância foi mais acentuado, com destaque para a diminuição da

absortividade molar na região próximo a 200 nm. Tal fato pode está associado à ruptura do

anel aromático com mais facilidade devido o mesmo ter sido protonado com a alteração do

pH.

A Figura 42C apresenta os dados onde o processo de ozonização foi conduzido

em condições alcalinas. Percebe-se que a diminuição da absorbância foi bem mais acentuada,

em comparação com as outras condições. Isso se deve ao fato da maior possibilidade de

ocorrer reações indiretas no processo de degradação do paracetamol devido a presença do

ânion HO− em pH básico, que catalisa a reação de degradação do próprio ozônio em fase

aquosa, resultando na formação de várias espécies radicalares como é o caso dos radicais

hidroxila. Os radicais hidroxila são rapidamente consumidos após sua formação, devido a

pouca seletividade na reação com o substrato.

Em princípio, a diminuição da absorbância nas análises de espectrofotometria/UV

indica a ocorrência de um ataque eletrofílico no anel aromático promovido pelos agentes

oxidantes: O3 (soluções ácidas e neutras) e HO● (solução alcalina) (DA SILVA; JARDIM,

2006; HAMDI EL NAJJAR et al., 2014). Geralmente, as espécies desprotonadas formadas

nesta reação reagem rapidamente com o ozônio em um ataque eletrofílico, pois são

nucleófilos fortes (HUBER et al., 2003; FRANCO et al., 2008).

A Figura 43 mostra o decaimento da absorbância normalizada nas análises

espectrofotometria/UV com o tempo de ozonização para diferentes valores de pH e de

concentração inicial das amostras de paracetamol.

Page 135: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

131

Figura 43 – Influência do pH na degradação do paracetamol em λ = 243 nm: (A) [PCT] = 20 mg dm─3; (B)

[PCT] = 30 mg dm─3; (C) [PCT] = 50 mg dm─3.

Como pode ser visto na Figura 43, a diminuição da absorbância foi mais intensa

na solução alcalina, seguido das soluções ácidas e neutras, respectivamente, nas condições de

concentração de 20 e 50 mg dm─3. Onde a concentração do paracetamol era intermediária

Page 136: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

132

(Figura 43B) houve pouca alteração para os experimentos conduzidos em meio ácido e

neutro. Para todas as concentrações analisadas o comportamento das condições alcalina foram

semelhantes. Sendo que após no máximo 25 min de ozonização houve estabilização do

processo de remoção de absorbância. Assim, o processo de oxidação indireta (menos

seletivo), que está associado principalmente ao ataque eletrofílico promovido pelos radicais

hidroxila na substância alvo, resultou em uma diminuição de absorbância.

Andreozzi et al. (2003), relataram resultados semelhantes para a degradação do

paracetamol usando a ozonização e o sistema H2O2/UV. O mecanismo de reação proposto por

esses autores indicou que o ataque eletrofílico (O3 e/ou HO●) ocorreu principalmente no anel

aromático com formação de glioxal e ácido oxálico (condições ácidas) e ácido fórmico

(condições alcalinas).

Para melhor avaliar a eficiência da degradação do paracetamol via análise de

espectrofotometria/UV, foram calculados os valores da constante de velocidade aparente. A

Figura 44 apresenta os perfis cinéticos obtidos para a ozonização conduzida em meio alcalino

enquanto os valores de kap de todos os estudos de degradação estão apresentados na Tabela 6.

Figura 44 – Perfis cinéticos de pseudo-primeira ordem obtidos para diferentes concentrações do PCT em meio

alcalino.

Page 137: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

133

Como pode ser visto na Figura 44, houve uma redução progressiva nos valores da

inclinação (por exemplo, kap) em função da concentração de paracetamol. Em princípio, este

comportamento é esperado uma vez que, devido a uma quantidade fixa do agente oxidante

fornecido à interface gás/solução, há um aumento na quantidade de substâncias alvo para

sofre ataque eletrofílico propiciado pelos agentes oxidantes O3 e/ou HO●. Mais precisamente,

em soluções ácidas ou neutras, a degradação do paracetamol é principalmente governada pela

ozonização direta, uma vez que a concentração dos radicais hidroxila pode ser bastante baixa

nesse caso (DA SILVA et al., 2009; HAMDI EL NAJJAR et al., 2014).

No entanto, após o início do processo de ozonização, a resposta

espectrofotométrica (valores de absorbância) é composta pela sobreposição dos sinais das

absorbâncias oriundas do paracetamol (substância parental) e de seus subprodutos de

degradação ativos opticamente. Em alguns casos bandas adicionais podem aparecer no

espectro de UV. Por conseguinte, é bastante difícil quantificar via análise de

espectrofotometria/UV a taxa de degradação individual da substância parental. Como

resultado, a técnica UV permite monitorar apenas a "taxa de degradação geral" que explica a

remoção da substância parental (paracetamol) e seus subprodutos de oxidação com referência

a um comprimento de onda particular (fixo). Por isso, necessita-se de uma técnica

complementar como o CLAE para poder avaliar a eficiência da remoção específica do PCT

nas amostras ozonizadas.

Contrariamente das análises de espectrofotometria/UV que avalia o produto de

degradação e os subprodutos gerados sem separá-los, nos estudos de CLAE as diferentes

espécies orgânicas são separadas por diferentes tempos de eluição. Portanto, a presença de

diferentes substâncias orgânicas pode ser identificada uma a uma no cromatograma, como é o

caso da substância parental e seus subprodutos. Como resultado, a técnica de CLAE permite

monitorar separadamente o desaparecimento específico da substância parental e o eventual

aparecimento de subprodutos de degradação. A Figura 45 apresenta dados da análise de

CLAE conduzida em 243 nm para as amostras de paracetamol com concentração inicial de 50

mg dm─3, ozonizadas em diferentes pHs.

Page 138: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

134

Figura 45 – Cromatograma das amostras oriundas da ozonização do paracetamol com concentração inicial 50 de

mg dm─3: (A) pH ácido; (B) pH natural (sem alteração); (C) pH básico.

A Figura 45 apresenta cromatogramas das amostras contendo paracetamol em

função do tempo de ozonização que foram caracterizadas por um tempo de retenção do PCT

de 1,2 min, devido a não utilização da pré-coluna. Como pode ser visto, houve uma grande

Page 139: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

135

diminuição na intensidade dos picos em função do tempo de ozonização, sugerindo que a

"remoção" do paracetamol pelos processos de conversão e/ou mineralização é pronunciada

durante a aplicação da ozonização. A Figura 45C apresenta os dados obtidos em condições

alcalina, onde foi possível observar que o processo de ozonização foi mais eficiente que os

demais, pois em tal condição há maior possibilidade de se formar radicais hidroxila. Também

foi possível observar que em nenhuma condição avaliada houve novos picos nos

cromatogramas devido à formação de subprodutos oriundo do processo de ozonização. Uma

possível explicação para este comportamento pode ser encontrada considerando que os

produtos oriundos do composto parental não absorvem energia radiante no comprimento de

onda de 243 nm usado para detecção no estudo de CLAE e/ou que os subprodutos de

degradação apresentam tempo de eluição diferente do intervalo analisado. Na verdade, como

relatado por Skoumal et al. (2006), uma técnica mais precisa e sensível (por exemplo, CG-

MS) seria necessária para detectar os subprodutos formados durante a ozonização do

paracetamol.

A Figura 46 mostra a normalização da concentração do paracetamol realizada a

partir dos cromatogramas para diferentes valores de pH e de concentração inicial das amostras

ozonizada.

Page 140: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

136

Figura 46 – Influência do pH no processo de ozonização do paracetamol: (A) [PCT] = 20 mg dm─3; (B) [PCT] =

30 mg dm─3; (C) [PCT] = 50 mg dm─3.

A Figura 46 demonstra claramente que o processo de ozonização conduzido em

condições alcalinas foi mais eficiente que os demais em todas as condições de degradação de

solução sintética de PCT. Em concordância com os dados das análises

Page 141: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

137

espectrofotométricas/UV, para todas as concentrações analisadas em meio básico foram

necessário no máximo 30 min de ozonização para se alcançar o estado estacionário do

processo de degradação.

Para avaliar a eficiência da remoção das análises de CLAE, foram calculados os

valores da constante de velocidade aparente. A Figura 47 apresenta os dados da ozonização

conduzida em meio alcalino enquanto os valores de kap de todos os estudos estão apresentados

na Tabela 6.

Figura 47 – Perfil cinético de pseudo-primeira ordem referente à remoção do PCT segundo os dados obtidos

com a técnica CLAE.

A Figura 47 mostra os perfis cinéticos de pseudo-primeira ordem obtidos para a

remoção do paracetamol durante o processo de ozonização. Os dados apresentados

corroboram com os estudos de espectrofotométricos (ver Figura 44). No entanto, vale a pena

mencionar que, no presente estudo, utilizando a técnica de CLAE, a constante de velocidade

(kap) é específica para a remoção do paracetamol por meio de sua mineralização parcial ou

total, pois caso haja algum subproduto que absorva radiação eletromagnética em 243 nm, não

necessariamente vai ser detectado por CLAE, pois vai depender do tempo de eluição. Pelo

contrário, no caso do estudo espectrofotométrico via análise UV, o valor kap refere-se à

degradação parcial ou total da molécula parental e subprodutos de oxidação que absorvem

Page 142: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

138

radiação eletromagnética em 243 nm ou em regiões próximas (acoplamento de banda).

Portanto, os dados cinéticos experimentais obtidos usando essas diferentes técnicas

experimentais são complementares.

A figura de mérito denotada como "energia elétrica por ordem" (EEO) (expressa

em W h m─3 ordem─1) foi calculada usando a Equação 50 (BOLTON et al., 2001).

𝐸EO =38,4𝑃

𝑉𝑇𝑘ap Eq. (50)

onde P é a potência nominal do ozonizador eletroquímico (W), VT é o volume efluente

(dm─3), e kap é a constante de taxa aparente (min─1).

A Tabela 6 mostra os valores da EEO consumidos para tratar as amostras (VT = 1,0

dm3) como uma função das variáveis operacionais (concentração de paracetamol e pH) para

um tempo de ozonização de 60 min. Os valores da EEO foram calculados considerando as

constantes de velocidade aparentes obtidas nos estudos de espectrofotometria/UV e CLAE.

Tabela 6 – Energia elétrica por ordem calculada em função das variáveis operacionais da ozonização.

[PCT]0/mg

dm─3 pH

Espectrofotometria/UV CLAE

Kap/

min─1

EEO/kW h m─3

ordem─1

Kap/

min─1

EEO/kW h m─3

ordem─1

20

2 0,109 38 0,101 41

Nat 0,069 60 0,114 36

10 0,159 26 0,172 22

30

2 0,068 61 0,076 55

Nat 0,073 57 0,086 48

10 0,111 37 0,151 27

50

2 0,028 148 0,034 122

Nat 0,020 207 0,022 189

10 0,088 47 0,103 40 Potencia total 108W.

A análise dos dados apresentados na Tabela 6 revelou que os valores de kap da

análise de espectrofotometria/UV foram baixos (0,020 min─1 < kap < 0,159 min─1) em

comparação com o valor experimental do coeficiente de transferência de massa volumétrica

do ozônio (kLa = 0,41 min─1) o qual foi determinado para o presente reator de coluna de

bolhas conforme relatado previamente na literatura (SANTANA et al., 2009). Os resultados

indicaram que a reação química que compõe a degradação oxidativa do paracetamol é um

processo lento quando comparado à transferência de massa de ozônio no reator de coluna de

bolhas. Portanto, o processo da ozonização realizado no reator de coluna de bolhas é

Page 143: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

139

principalmente governado pelo processo oxidativo [reações direta (O3) e/ou reações indireta

(HO●)] ocorrendo na interface gás-solução.

Os valores de kap obtidos via técnica de CLAE (ver Tabela 6) revelaram que os

efeitos das variáveis operacionais sobre a degradação oxidativa do PCT são bem semelhantes

aos verificados com os dados obtidos com a técnica de espectrofotometria/UV. Obviamente,

as magnitudes dos valores de kap são diferentes para as análises espectrofotometria/UV e

CLAE.

Além disso, a análise dos resultados experimentais obtidos nas análises de

espectrofotometria/UV e CLAE em meio alcalino, onde a formação dos radicais hidroxila é

altamente provável (DA SILVA; JARDIM, 2006), revelaram que a reação de degradação

oxidativa promovida via oxidação indireta é caracterizada por valores maiores de kap (ver

Tabela 6). Também foi possível verificar que os valores de EEO variaram, cobrindo o amplo

intervalo de 26 kW h m─3 ordem─1 < EEO < 207 kW h m─3 ordem─1 para as análises de UV e

de 22 kW h m─3 ordem─1 < EEO < 189 kW h m─3 ordem─1 para as análises de CLAE (ver

Tabela 6). Para ambas as técnicas utilizadas para avaliar a eficiência de degradação das

amostras de paracetamol durante todo o processo de ozonização, verificou-se que o menor

consumo de energia foi obtido para o processo de ozonização realizado em meio alcalino. Os

valores da EEO obtidos no presente trabalho estão em bom acordo com os dados da literatura.

Por exemplo, Mehrjouei e Colaboradores (MEHRJOUEI; MÜLLER; MÖLLER, 2014)

relataram valores da EEO para a degradação do PCT cobrindo o amplo intervalo de 12 kW h

m─3 ordem─1 < EEO < 500 kW h m─3 ordem─1.

4.4.3 Combustão do paracetamol via ozonólise

As medições da demanda química de oxigênio (DQO) e/ou do carbono orgânico

total (COT) são necessárias para se avaliar o grau de mineralização da matéria orgânica

dissolvida (paracetamol e seus subprodutos de oxidação) em função do tempo de ozonização,

uma vez que a análise espectrofotométrica/UV sozinha não é comumente suficiente para

atingir este fim. No entanto, quando a absorbância da análise espectrofotométrica/UV é

fortemente reduzida, isso pode ser um indicativo de que a matéria orgânica está sendo

mineralizada (MRKVA, 1983).

A DQO é um parâmetro utilizado para avaliar a quantidade de oxigênio necessária

para converter a matéria orgânica em substâncias minerais na presença de um poderoso agente

oxidante (VON SPERLING, 1996). Assim, uma redução nos valores da DQO em função do

Page 144: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

140

tempo de ozonização pode ser associada de forma indireta ao grau de mineralização da

matéria orgânica dissolvida.

A Figura 48 mostra a redução da DQO como função do tempo de ozonização

obtido para diferentes concentrações de paracetamol e pHs.

Figura 48 – Percentagem de redução de DQO em função do tempo de ozonização do paracetamol: (A) [PCT] =

20 mg dm-3; (B) [PCT] = 30 mg dm-3; e (C) [PCT] = 50 mg dm─3.

Page 145: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

141

A análise da Figura 48 revela que houve uma forte redução nos valores de DQO

em todas as amostras de paracetamol principalmente nos primeiros 30 min de ozonização.

Além disso, a taxa de redução de DQO foi dependente do pH do meio reacional,

especialmente para condições onde a concentração do fármaco era mais elevada. Isto é devido

ao fato de que quando o ozônio molecular entra em contato com o ânion hidroxila presente

em soluções aquosas, inicia-se rapidamente a degradação catalisada levando à formação de

várias espécies radicais, incluindo o radical hidroxila (DA SILVA; JARDIM, 2006). Uma vez

que este radical exibe um maior poder de oxidação (E0 = 2,80 V) quando comparado ao

ozônio molecular (E0 = 2,07 V), a degradação da matéria orgânica dissolvida pode ser mais

pronunciada em condições alcalinas (ANDREOZZI et al., 2003).

Além disso, a Figura 48 revela uma maior redução nos valores de DQO obtidos

para a ozonização realizada sem o ajuste do pH (pH natural) quando comparado com a

degradação em condições de pH ácido. Esse comportamento não foi verificado no estudo

prévio do trabalho atual onde as amostras de ozônio foram analisadas com base apenas na

análise espectrofotométrica/UV. De acordo com Andreozzi et al. (2003), o consumo de

ozônio em meios quase neutros (pH ≈ 7) é maior do que em soluções ácidas, uma vez que,

nesse caso, há a formação do peróxido de hidrogênio, que por sua vez pode resultar na

formação dos radicais hidroxila.

Conforme discutido anteriormente por Thomas et al. (1999), a absorbância

medida na por análise de espectrofotometria/UV (a 254 nm) e carbono orgânico total (ou

mesmo DQO) podem fornecer informações complementares sobre o sistema investigado. De

fato, a redução da absorbância em ≈ 254 nm, análise de espectrofotometria/UV, dá indícios

que está havendo ruptura do anel nos compostos aromáticos presentes na água em função do

tempo de ozonização, enquanto a redução dos valores da DQO durante a ozonização indica

um aumento na susceptibilidade da matéria orgânica dissolvida à oxidação química com

formação de substâncias minerais.

A Figura 49 mostra a tendência linear verificada entre as diferentes técnicas

experimentais usadas para caracterizar as amostras de ozônio (por exemplo, DQO e CLAE

com espectrofotometria/UV 243).

Page 146: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

142

Figura 49 – Tendência linear obtida entre as diferentes técnicas analíticas (DQO e CLAE com

espectrofotometria/UV 243).

Em comparação com os dados apresentados por Mrkva (1983), onde foram

correlacionadas análises de espectrofotometria/UV com DQO, visualmente, os resultados da

Figura 49 revela que os valores de DQO segue uma tendência com uma boa

proporcionalidade com os valores de absorbância obtidos a partir da análise

espectrofotométrica realizada a 243 nm. Além disso, também foi possível observar,

visualmente, uma tendência com uma boa proporcionalidade entre as análises de

espectrofotometria/UV com as análises de CLAE (CLAE com detecção UV em 243 nm). Em

princípio, esses resultados revelaram a existência de uma complementaridade entre as

diferentes técnicas experimentais utilizadas para caracterizar as amostras ozonizadas.

4.4.4 Estudos de RMN

A espectroscopia de RMN foi utilizada para analisar a forma estrutural do

paracetamol (substância parental) e seus subprodutos de oxidação formados durante o

processo de ozonização. Para este estudo particular, obteve-se uma grande quantidade de

subprodutos de oxidação após a ozonização de 250 cm─3 de uma solução concentrada de

paracetamol (250 mg dm─3 e pH 10) realizada durante um período de 240 min com uma taxa

constante da produção de ozônio de 0,50 ± 0,01 g h─1. Depois disso, a amostra ozonizada foi

Page 147: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

143

liofilizada e solubilizada numa mistura de H2O:D2O (95:5, v/v) com a finalidade de realizar

análises unidimensionais e descentradas de 1H, 13C e 13C DEPT-135. As Figuras 50 a 52

apresentam os espectros de RMN unidimensional (1D) obtidos a partir da análise das

amostras de paracetamol (antes e após ozonização).

Figura 50 – Espectro de RMN 1D de 1H (300 MHz) das amostras de paracetamol: (A) Antes da ozonização; (B)

Após ozonólise.

As atribuições inequívocas de ressonância 1H de paracetamol (ver tabela 7) podem

ser realizadas com base nas mudanças químicas de padrão observadas na literatura

(WISHART et al., 2008). O singleto intenso em 1,94 ppm foi atribuído aos hidrogênios

metílicos e os dois dupletos próximo de 6,69 e 7,03 ppm foram relacionados aos hidrogênios

aromáticos. Também pode ser observado na Figura 49 a presença de um deslocamento

Page 148: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

144

químico em 9,43 ppm, correlacionando com a ressonância de hidrogênio amídico. Após o

processo de ozonização (Figura 49B) houve o desaparecimento dos dois dupletos atribuídos

aos prótons aromáticos e um pequeno deslocamento químico do grupo amídico.

Destaque para os picos de aromáticos que não foram observados após o processo

de ozonização e o próton amídico está em menor mudança química quando comparado ao

espectro de paracetamol 1H. A análise dos espectros permite observar claramente que há um

ambiente químico diferente do hidrogênio amídico devido à ausência de efeito anisotrópico a

partir do anel aromático na amostra ozonizada, indicando uma possível clivagem de C-N entre

o grupo acetamida e o fenol seguido da degradação do anel aromático.

Figura 51 – Espectro de RMN 1D de 13C (75 MHz) das amostras de paracetamol: (A) Antes da ozonização; (B)

Após ozonização.

Page 149: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

145

Como pode ser visto na Figura 51A, o espectro 13C apresenta todos os sinais

característicos da estrutura de paracetamol. Após o processo de ozonização (Figura 51B), os

espectros de RMN 1D revelaram o desaparecimento dos sinais de 13C de grupos aromáticos.

No entanto, foi observado um sinal de carbono hidrogenado intenso e outro não hidrogenado

em 162,69 ppm. Já para o carbono carbonílico (173,09 ppm) e o carbono do metílico (23,23

ppm) do grupo acetamida, não foram observadas alterações significativas.

Figura 52 – Espectro de RMN 1D de 13C e DEPT-135 desacoplados das amostras de paracetamol: (A) Antes da

ozonização; (B) Após ozonização.

Similarmente ao observado nos sinais de 1H e 13C, a Figura 52B foi caracterizada

pelo desaparecimento dos grupos aromáticos devido o processo de ozonização das amostras

de paracetamol. Portanto, é possível sugerir que a maior parte do anel fenólico foi oxidada

Page 150: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

146

para HCO𝟑− (MORET; DYSON; LAURENCZY, 2013) enquanto não ocorre nenhuma reação

no grupo acetamida da molécula de paracetamol durante a reação da ozonólise. A Tabela 7

representa todas as mudanças químicas observadas no RMN.

Tabela 7 – Mudanças químicas do paracetamol para 1H e 13C, obtidas a 20 ºC em uma mistura H2O:D2O (95:5,

v/v) (300 MHz).

Núcleo/Grupo Paracetamol Produto de oxidação

1H (ppm) 13C (ppm) 1H (ppm) 13C (ppm)

Metilo 1,94 (s) 22,36 1,91 23,23

Amídico 9,43 (s) ─ 8,44 ─

Aromático 6,69 (d)

7,03 (d)

115,67

124,66

129,28

153,33

─ ─

Carbonílico ─ 173,00 ─ 173,09

𝐇𝐂𝐎𝟑− ─ ─ ─ 162,69

Com base em mecanismo de ozonização do paracetamol em meio alcalino

disponível na literatura (ANDREOZZI et al., 2003) e nos estudos de RMN1D, foi proposto

um mecanismo de reação apresentado na Figura 53.

Figura 53 – Possível esquema de reação para o processo de ozonização do paracetamol em meio alcalino.

HN

OH

O

HN

OH

O

HO

O3HO ou O3

O3

HOOC

HOOC

HOOC

HOOC

HN

O

OH

HOOC

HN

O

HOOC

+

HOOC

HN

O

O

HO

HN

O

O+CO2

O3

- H+

- CO2

HO

H+

HCO3-

1 2 3

4

56

7

Page 151: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

147

A Figura 53 apresenta uma possível rota de degradação do paracetamol via

processo de ozonização, onde a molécula de paracetamol (1) pode ser hidroxilada via reação

direta ou por reação radicalar, dando origem ao 2-hidroxi-4-(N-acetil)-aminofenol (2). Na

sequência, moléculas de ozônio podem atacar o anel aromático do composto via mecanismo

de clivagem oxidativa provocando a ruptura do anel aromático, resultando no composto (3). A

descarboxilação pode levar à formação do intermediário representado por (4), que pode

novamente sofre clivagem oxidativa por ozônio resultando no ácido malônico (5) e

intermediário representado por (6).

A degradação de comporto orgânico via ozonólise é normalmente acompanhada

por uma variação do pH do meio reacional devido a formação de ácidos orgânicos e

inorgânicos oriundos da oxidação parcial da molécula alvo e do consumo do íon OH durante

o processo de decomposição do O3 em fase aquosa (SANTANA et al., 2009). Na presença de

íons H+ e de radicais hidroxila, o intermediário (6), que é muito instável, forma um composto

mais estável, representado por (7) e CO2.

O composto representado por (7) foi previamente identificado via análise de

RMN, pois o mesmo contém hidrogênio e carbono do grupo metilo (por exemplo, 1H em 1,91

ppm e 13C em 23,23 ppm, respectivamente), hidrogênio do grupo amídico (por exemplo, 1H

em 8,44) e carbono do grupo carbonílico (por exemplo, 13C em 173,09 ppm). O CO2 liberado

no processo de ozonólise devido a ruptura do anel aromático pode combinar com íons H+,

levando a formação de bicarbonato, que também foi previamente identificado via análise de

RMN.

4.5 Otimização do processo de transferência de massa

A velocidade do processo de dissolução do O3 em fase aquosa é dependente da

concentração e do fluxo da mistura O2/O3 introduzida no reator em coluna, já que a constante

da velocidade de transferência de massa tende a aumentar com a elevação do fluxo

volumétrico dos gases e/ou da quantidade de ozônio disponível na mistura gasosa. Portanto,

devido às otimizações do processo de geração de ozônio, torna-se necessário aperfeiçoar o

processo de transferência de massa da mistura O2/O3, tendo em vista que parte do ozônio

eletrogerado não estava sendo consumido no processo de degradação utilizando o reator de

coluna de bolhas.

Para aumentar o processo de dispersão da mistura gasosa no seio da solução

contendo paracetamol, em ambos os reatores foram utilizado uma pedra difusora de gás na

Page 152: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

148

parte inferior. A adição das esferas (recheio) tem a finalidade de aumentar a coluna de

solução, fazendo com que a mistura de O2/O3 percorra maior distância, aumentando o tempo

de residência e, consequentemente, melhorando o processo de transferência de massa entre o

ozônio/solução contaminada.

Para avaliar a eficiência do processo de degradação do paracetamol nos reatores

de coluna recheada, foram utilizado solução de PCT 50 mg dm─3, com volume total de 1

dm─3, sem alteração de pH (o novo reator ainda não permite monitoração online de pH) com

injeção de O2/O3 (0,55 g h─1) por um período de 60 min.

A Figura 54 mostra o comportamento espectrofotométrico, região UV, das

amostras de PCT para os três reatores, com intervalo de 10 min entre as coletas.

Page 153: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

149

Figura 54 – Comportamento espectrofotométrico do paracetamol na região UV: Reator de vidro (A); Reator

PVC 50 (B); e Reator PVC 75 (C).

A análise da Figura 54 demostra que o processo de redução da absorbância via

análise de espectrofotometria/UV foi mais acentuado no Reator PVC 50, sendo que após 30

min houve a estabilização, Figura 54B. Sendo que a segunda melhor condição para

degradação foi observado no Reator PVC 75, Figura 54C.

Page 154: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

150

Para melhor observar a eficiência do processo de redução da absorbância via

análise de espectrofotometria dos diferentes tipos de reatores, foi feito a normalização da

absorbância máxima (λ = 243 nm) das amostras de paracetamol ozonizadas, como mostrado

na Figura 55.

Figura 55 – Normalização da absorbância espectrofotométrica/UV para os distintos reatores.

A Figura 55 comprova que a redução da absorbância via análise

espectrofotométrica/UV foi mais eficiente para o reator confeccionado com tubo de PVC de

50 mm. De fato, tal reator apresentou uma maior coluna de líquido (solução de paracetamol)

durante o processo de ozonização. Com isso, o caminho percorrido pela mistura gasosa

(O2/O3) é maior, fazendo com que ozônio permaneça mais tempo dentro da solução e,

consequentemente, aumenta a área interfacial disponível para transferência de massa entre

gás/solução.

Além do aumento da altura da coluna do líquido degradante, visualmente, a pedra

porosa diminuiu o tamanho médio das bolhas do gás promovendo uma maior dispersão da

mistura gasosa no seio da solução. Há relatos que a diminuição das bolhas da mistura gasosa

pode provocar aumento na taxa de remoção dos compostos orgânicos devidos e alteração na

constante de velocidade (SHIN et al., 1999).

Page 155: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

151

Para avaliar o comportamento cinético do processo de redução da absorbância via

análise espectrofotométrica/UV das amostras de paracetamol ozonizadas, foram realizados os

cálculos das constantes de velocidade aparente, como demonstrado na Figura 56.

Figura 56 – Perfis cinéticos de pseudo-primeira ordem obtidos para os distintos reatores.

A Figura 56 demostra que houve uma variação nos valores das constantes

cinéticas (por exemplo, kap) em função do tipo de reator utilizado no processo de ozonização

das amostras de paracetamol. Tal comportamento pode está associado ao fato de que nos

reatores fabricados com material alternativos (tubos de PVC) o processo de dispersão de

bolhas pode ter sido mais eficiente que o difusor do tipo prato poroso utilizado no Reator de

Vidro. Além disso, os reatores alternativos apresentaram uma maior coluna de solução,

fazendo com as bolhas gasosas permaneçam mais tempo em contato com a solução de

paracetamol.

A partir das constantes cinéticas apresentadas na Figura 56, podemos inferir que

houve um aumento de mais de 60% no processo de redução da absorbância via análise de

espectrofotometria na região UV (por exemplo, Reator PVC 50 em relação ao Reator de

Vidro) para os primeiros 30 min de degradação, tornando o Reator PVC 50 mais eficiente

para conduzir o processo de ozonização de amostras de paracetamol com concentração de 50

mg dm─3 na condição de pH natural.

Page 156: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

152

Também foi feita análise de CLAE para monitorar a degradação da substância

parental durante o processo de ozonização, como mostrado na Figura 57.

Figura 57 – Comportamento cromatográfico do paracetamol via análise de CLAE em função do tipo de reator

utilizado no processo de ozonização: Reator de Vidro (A); Reator PVC 50 (B); e Reator PVC 75 (C).

Page 157: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

153

A Figura 57 apresenta cromatogramas das amostras de paracetamol em função do

tempo de ozonização para diferentes tipos de reatores. Houve redução da intensidade dos

picos característicos da amostra de paracetamol para todas as condições analisadas. No

entanto, o processo de degradação conduzido no Reator PVC 50 (Figura 57B) demonstrou ser

o mais eficiente, seguido pela ozonização conduzida no Reator PVC 75 (Figura 57C).

Para melhor visualizar o processo de redução da concentração das amostras

contendo solução sintética de paracetamol, foi realizada a normalização da concentração do

fármaco em função do tempo de ozonização para os distintos modelos de reatores, como

mostrado na Figura 58.

Figura 58 – Normalização da concentração do PCT via análise CLAE, em função do tempo de ozonização nos

distintos reatores.

A análise da Figura 58 demostra claramente que o processo de ozonização

conduzido no Reator PVC 50 foi mais eficiente que os demais processos de degradação, em

função do tempo de ozonização. Os dados estão em concordância com os resultados

apresentados via análises espectrofotométricas realizadas na região UV.

Para avaliar a eficiência da redução da concentração das amostras sintéticas de

paracetamol, em função do tempo de ozonização para os distintos ambientes de degradação,

Page 158: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

154

foram calculados os valores das constantes cinéticas de velocidade aparente para a condição

de pseudo-primeira ordem (Figura 59).

Figura 59 – Perfis cinéticos de pseudo-primeira ordem obtidos pela degradação do PCT via CLAE conduzidos

em distintos reatores.

A análise da Figura 59 revela que, para os primeiros 30 min de ozonização, o

Reator PVC 50 foi mais eficiente que os demais reatores analisados. Sendo que o processo de

redução da concentração foi otimizada em mais de 60%, ao compara-lo com o Reator de

Vidro.

A partir dos dados apresentados nas Figuras 56 e 59, e com base nas relações

propostas por Bolton et al. (2001) (Equação 52), foi possível calcular a energia elétrica por

ordem para os distintos reatores utilizados para otimizar o processo de transferência de massa

da interface gás/solução. A Tabela 8 demonstra os valores de EEO para os primeiros 30 min de

ozonização de solução sintética de paracetamol (50 mg dm─3), sem alteração de pH (pH

inicial de 6,3), em função do reator utilizado. Para calcular os valores de EEO, foram

consideradas as constantes cinéticas aparentes obtidas nos estudos de espectrofotometria/UV

e CLAE.

Page 159: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

155

Tabela 8 – Energia elétrica por ordem calculada em função dos distintos reatores utilizados na ozonização.

Tipo de reator

Espectrofotometria/UV CLAE

Kap/

min─1

EEO/kW h m─3

ordem─1

Kap/

min─1

EEO/kW h m─3

ordem─1

Reator de Vidro 0,050 83 0,055 75

Reator PVC 50 0,132 31 0,145 29

Reator PVC 75 0,116 36 0,091 46 Potencia total 108W.

A análise dos dados apresentados na Tabela 8 revelam que o Reator PVC 50

apresentou uma menor dependência energética para o processo de degradação de solução

sintética contendo paracetamol com uma concentração de 50 mg dm─3, tanto para as análises

realizadas via espectrofotômetro/UV, quanto para análise de CLAE com detector UV.

No intuito de comprovar a eficácia do novo modelo de reator desenvolvido no

laboratório, também foi realizada a análise da demanda química de oxigênio. Com tal análise,

é possível evidenciar o grau de mineralização da matéria orgânica dissolvida após a realização

de ozonização em diferentes ambientes.

A Figura 60 mostra a redução da DQO em função do tempo de ozonização para

diferentes reatores de degradação.

Figura 60 – Percentagem de redução de DQO em função do tempo de ozonização do paracetamol conduzida em

distintos reatores; [PCT] = 50 mg dm-3; pH sem alteração.

Page 160: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

156

A análise da Figura 60 revela que para os primeiros 30 min de degradação da

solução sintética contendo paracetamol foi mais acentuada para o experimento conduzido no

Reator PVC 50, seguido pelo Reator PVC 75 e por último o Reator de Vidro. No entanto,

após 60 min de degradação os valores da redução de DQO foram bem próximos para os três

reatores, sugerindo um limite máximo da eficiência de degradação para as condições

analisadas (por exemplo, pH).

Em todas as técnicas utilizadas para avaliar a eficiência do processo de

degradação das amostras sintéticas de paracetamol (espectrofotometria/UV, CLAE e DQO), a

degradação conduzidos no Reator PVC 50 foi mais eficiente. Além da otimização do processo

de dispersão do gás (por exemplo, pedra do tipo porosa), pode sugerir que a altura da coluna

de líquido influenciou no processo de degradação, pois possibilitou maior área de contato

durante o processo de difusão gás/solução. Consequentemente, podemos inferir que o

processo de transferência de massa para o Reator PVC 50 foi mais eficiente, em comparação

com os demais.

Espera-se que a eficiência do Reator PVC 50 seja maior para o processo de

degradação de efluentes sintéticos contendo paracetamol conduzidas nas condições de pH

alcalino. Pois nestas condições, o ozônio molecular entra em contato com o ânion hidroxila

presente em soluções aquosas, iniciando o processo de degradação do ozônio,

consequentemente, forma radical hidroxila que exibe um maior poder de oxidação.

Page 161: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

157

5 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

Eletrodo suportado em Tela de Aço ASTM 316:

Apresentaram boa aderência com estrutura bem definida;

Predominância da fase β-PbO2 sobre a fase α-PbO2;

A presença do dopante sugeriu alterações nas características morfológicas superficiais

das camadas de óxido;

Estudos revelaram que 10% da corrente total aplicada ao reator (j > 1,25 A cm2) pode

ser direcionada para a produção de O3 (1,0 mM Fe3+);

Obteve uma taxa de produção de ozônio de 1,58 g h1 e um consumo de energia

elétrica específica de 250 W h g1;

A eletrólise de longo prazo (60 dias, j = 1,0 A cm2 e 24 °C) revelou que a eficiência

de corrente para a PEO e o potencial do reator não sofreram alterações significativas;

O eletrodo e o MEA são bastante promissores para aplicação de O3 em fase aquosa.

Eletrodo suportado em Tecido de Carbono com trama tipo sarja:

Apresentaram boa aderência com estrutura bem definida;

Predominância da fase β-PbO2 sobre a fase α-PbO2;

A presença do dopante sugeriu alterações nas características morfológicas superficiais

das camadas de óxido;

Estudos revelaram que 9,5% da corrente total aplicada ao reator pode ser direcionada

para a produção de O3 (1,0 mM Fe3+);

Obteve uma taxa de produção de ozônio de 1,40 g h1 e um consumo de energia

elétrica específica de 290 W h g1;

A eletrólise de longo prazo (30 dias, j = 1,0 A cm2 e 24 °C) revelou que a eficiência

de corrente para a PEO e o potencial do reator não sofreram alterações;

O eletrodo e o MEA são bastante promissores para aplicação de O3 em fase aquosa.

Otimizações do MEA:

Redução da quantidade de Nafion® em até 70%, sem afetar a eficiência no transporte

de H+;

Aumento na eficiência de correte de 4% (j ≈ 1,5 A cm2) na PEO.

Aplicação do O3 gerado eletroquimicamente:

A degradação/mineralização foi mais eficiente em meios alcalinos devido ao

importante ataque eletrofílico propiciado pelos radicais hidroxila;

Page 162: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

158

Obteve um grau de mineralização de 80% após 60 min de degradação;

As amostras ozonizadas foram analisadas utilizando-se diferentes técnicas

experimentais (espectrofotometria/UV243, DQO e CLAE). Verificaram-se boas

tendências lineares entre os resultados experimentais;

Utilizou RMN para caracterizar os subprodutos de oxidação do paracetamol (VT = 250

cm3; [PCT] = 250 mg dm3; pH 10; t = 240 min; vPEO = 0,5 g h1), sendo que a maior

parte do anel fenólico foi oxidado a carbonato enquanto que aparentemente nenhuma

reação ocorreu no grupo acetamida.

Otimização do processo de transferência de massa:

Amostras de paracetamol (50 mg dm─3) foram degradadas em reatores alternativos,

avaliando-se por três técnicas distintas (espectrofotometria/UV243, CLAE e DQO);

Nos primeiros 30 min de ozonização do PCT conduzidas no Reator PVC 50, as análise

de espectrofotometria/UV, CLAE e DQO, apresentou aumento de eficiência em até

60%, em comparação com o Reator de Vidro;

As principais otimizações da transferência de massa dos reatores alternativos foram

atribuídas ao processo de difusão do gás e a altura da coluna de líquido.

Estudos futuros:

Elucidação do mecanismo de ozonização do paracetamol via análise de RMN;

Degradar amostra real, por exemplo, efluentes da ETE campus JK, UFVJM, com

análise de toxicidade e demanda bioquímica de oxigênio – DBO 5 dias.

Page 163: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

159

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170

Page 175: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

171

7 ANEXO I

PUBLICAÇÕES

CONGRESSOS:

SIBEE 2015: Apresentação Oral

Fabrication and characterization of electrodes constituted of β-PbO2 supported on carbon

cloth substrate for the electrochemical ozone production

SIBEE 2017: Apresentação em Poster

Degradation of paracetamol using a bubble-column reactor with ozone generated

electrochemically in a solid-polymer electrolyte filter-press reactor

ARTIGOS:

1° Artigo

Page 176: ÂNODOS TRIDIMENSIONAIS COM ELEVADO TEMPO DE VIDA …

172

2° Artigo