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1 AS TREVAS MORAM AO LADO Noah de lima

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AS TREVAS MORAM AO LADO

Noah de lima

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Para minha mãe com muito carinho

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Quando escurecer

Capítulo 1

Vida, o que sabemos sobre ela? Eu não me lembro de muita coisa da minha.

Meu nome é Taylor Adelle Peapons e eu vou contar para vocês a história de minha vida.

Bem, eu cresci em uma cidade pequena chamada Anlisly. Mas eu gosto de chamar de cidade

sem rumo, pois se você não tem vida social é simples, se mude para lá. É um lugar pequeno com

mais ou menos dez mil habitantes.

Eu tenho dezessete anos, sou baixinha, sou asmática, sofro de bipolaridade, tinha seis

gatos, sou uma garota plus size, morava com meu pai e minha mãe morreu quando eu nasci. Não

tenho amigos na cidade inteira. A única pessoa que considero a minha família é meu pai, Robert,

porque o resto dela sempre nos detestou... Tenho cabelos cacheados e pretos, sou mal humorada

e muitas vezes irônica... O que estou esquecendo? Ah, é mesmo. Eu estou morta.

Agora você está assim: meu deus, como assim morta?!

Bom é sobre isso que irei contar. Quando eu tinha dezesseis anos, minha vida virou de

cabeça para baixo por causa de um segredo guardado pelo meu pai durante boa parte da minha

vida. Esse segredo e mais algumas outras coisas resultaram em minha morte.

Eu atualmente estou presa em um lugar que eu chamo de breu, é escuro, sombrio, sem vida,

tudo vermelho e preto, escuro o bastante para não enxergar um palmo a sua frente.

Mas sei que não estou sozinha nesse lugar, tem outras pessoas aqui também... Quanto

mais tempo você fica aqui, mais rápido vai se esquecendo das coisas e eu não quero ser esquecida.

Então achei melhor contar a minha vida para você, para que passe para outra pessoa, que passará

para outra, e para outra. E assim sucessivamente.

Eu tenho medo desse lugar, é simplesmente horrível viver aqui.

E por que as memórias vão sendo esquecidas? É para a morte se manter imortal. Ela se

alimenta das nossas lembranças boas, das nossas esperanças e sonhos – são tipo os

dementadores de Harry Potter - até mesmo das lembranças das ruins, mas ela guarda tudo para

si, quanto mais, melhor. E depois que se perde uma memória (agradável ou não), não há como

recuperá-la.

A minha vida não é um conto de fadas onde tudo é fofinho. Ao contrário, ela foi cruel comigo...

Muito cruel.

Mas eu não quero uma história triste e depressiva, por isso vou contá-la a você de uma forma

divertida.

Sabe, morrer não é bom. Se você acha ou achou algum dia que a morte seria a sua salvação,

é bem o contrário: ela é a sua maldição... Por isso eu não acho muito certo uma pessoa que quer

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morrer, né? Daí fica assim: “ai meu deus, minha vida e uma merda, vou me matar”. E de repente,

a pessoa morre. Que graça tem fazer isso? A vida precisa ser aproveitada, ela é muito curta para

ser desperdiçada. Seja feliz, a felicidade é o melhor remédio para curar a si mesmo.

Meu pai me ensinou isso. Ele disse que minha mãe, Sophia, por mais que tivesse um

temperamento forte, via felicidade nas coisas.

Eu não tenho muitas memórias sobre a minha infância, mas posso dizer que, sem dúvida,

meu pai ficou muito triste depois que a minha mãe morreu. Ele a amava muito.

Mas ele percebeu que não podia ficar daquele jeito, pois tinha uma filha para cuidar. Uma

mini Taylor ou uma mini bruxinha, por causa do cabelo bagunçado e armado. Ou talvez porque

colocava fogo nas coisas sem querer.

***

A história que eu vou contar é sobre dois mundos que perderam seu equilíbrio natural: o

mundo da luz e o mundo das trevas, compostos por seres de luz e por povos banidos.

Uma das coisas que aprendi morrendo foi que a vida que levamos é como uma linha preste

a se partir, pois carrega de tudo acima dela.

Agora vou pular essa narração besta e confusa e ir direto ao ponto em que essa história

se inicia: o dia em que as coisas na minha vida começaram a mudar, o dia em que comecei a trilhar

o meu verdadeiro destino. E comecei a viver.

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Sempre há amanhã

Capítulo 2

Odeio segundas-feiras – falei, batendo no meu despertador para que ele parasse de tocar.

Eu estava com tanta preguiça de me levantar- que tampei meu rosto com a coberta por causa da

luz que vinha da janela- e voltei a dormir.

Sabe, por mais que estivéssemos no início das férias, eu odiava o fato de segunda-feira

existir.

A semana não poderia começar direto na terça-feira?

Acho que não. Por mais que daí odiaríamos as terças.

O tempo em Anlisly era muito frio, mas como fui criada lá desde pequena, já havia me

acostumado com o clima tempestuoso da cidade. Não chegava a cair neve, as coisas tampouco

congelavam no inverno. Porém era um lugar gélido, não só no inverno, mas também durante o ano

todo.

E para ajudar, eu ainda morava no meio da floresta que contornava a cidade inteira.

Também havia me acostumado com alguns barulhos presentes à noite e um clima meio sombrio.

Um verdadeiro filme de terror quando anoitece. Só faltava um demônio sair das sombras.

(Aqui no breu é muito quente para uma garota que veio de um lugar onde sempre era frio.

Considero esse ambiente o lado quente do inferno).

Logo que acordei, reparei que eram dez da manhã e estava atrasada para o café. Coloquei

meu roupão de estrelas e sai correndo pelo corredor, desci as escadas para chegar ao andar inferior

da casa, cheguei à sala e comecei a andar devagar. Quando avistei a cozinha gritei:

- Meus fãs, a espera acabou e estou aqui.

Vi meu pai sentado à mesa lendo o jornal. Assim que me viu, sorriu para mim.

– Oi, pai.

– Oi, filha - falou ele - fiz seu café da manhã, mas já deve ter esfriado.

Antes de chegar à mesa, parei onde estava como uma estátua, fiz uma cara estranha e

pensei:

Cereal esfria... Estranho

– Desde quando cereal esfria? - perguntei, voltando a andar.

– Não esfria, mas amolece – disse ele sem olhar, ainda com o rosto no jornal e tomando

um gole de café – o cereal está em cima do micro-ondas.

– Não podemos simplesmente jogá-lo fora e preparar outro? – perguntei sorrindo enquanto

alcançava o cereal.

– E desperdiçaria comida? - disse meu pai - e as pessoas que passam fome?

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– Desde que eu não passe fome, está tudo bem – disse pegando uma colher do cereal e

colocando na boca.

– Taylor... - meu pai me chamou a atenção – você tem que se importar mais com os outros.

– Eu me importo com as pessoas - mas aquele cereal estava horrível - Meu Deus, isso

está horrível.

- Então, engraçadinha – disse ele rindo e se levantado para colocar a xícara na pilha de

louça suja – Vá e faça outro, tenho que me arrumar para trabalhar.

Ele me deu um beijo na testa e disse: “eu te amo filha” e então foi para o quarto tomar banho

e se arrumar. Quando deu a hora de meu pai sair de casa, eu estava na sala, mexendo no

computador e com a tv ligada. Meu pai trabalhava durante o dia. Saía às onze e meia da manhã e

voltava às seis da noite.

Naquela tarde eu não estava muito afim de ficar em casa só comendo porcarias ou vendo

tv. Estranho né? Que tipo de pessoa não gosta de ficar sem fazer nada o dia todo, só relaxando?

Talvez eu, cadê a merda de aventura na minha vida?

Como na cidade eu não tinha amigos além do meu pai, eu ficava em casa aos sábados à

noite assistindo a filmes, sozinha ou com ele. Para que eu não ficasse entediada o dia todo naquela

casa enorme, resolvi dar um pequena saída. Eu havia colocado uma calça legging verde água, uma

blusa preta e um casaco rosa claro. Peguei uma bolsa pequena e coloquei coisas lá dentro, comida,

suco de laranja, uma tolha de mesa listrada, dois livros e meu celular para ouvir música.

Como a minha casa ficava na floresta da cidade, uma coisa que eu aprendi: sempre há um

lugar secreto que nos faz sentirmos bem. Um pouco acima de minha casa havia uma campina

pequena que eu adorava, um espaço aberto com um lago e árvores com flores. Fui até lá com o

intuito de ler ao ar livre e não sentada no sofá da minha casa. Logo que cheguei, tive de usar minha

bombinha para asma, pois a falta de ar era grande. Coloquei a toalha no chão, peguei os meus

fones de ouvido e comecei a ler pela décima vez o livro Paula. Devorei-o. Ao final da tarde o sol

começou a se pôr, eu havia comido meu lanche e precisava voltar para casa. Ajeitei as minhas

coisas e desci a ladeira.

Quando cheguei a casa, levei a minha mochila até o meu quarto e coloquei-a ao lado da

minha estante de livros – em cima da minha cama havia três gatos dormindo. Peguei meu notebook,

voltei para a sala e comecei a fazer algumas pesquisar na internet ao mesmo tempo em que via tv.

Um tempo se passou. Eu fui à cozinha, fiz um macarrão alho e óleo, sentei para comer no sofá.

Nesse momento, meu pai chegou a casa. Eram sete da noite.

- Você vai à festa de despedida da escola? – perguntou ele colocando a pasta preta de

escritório na escrivaninha que havia ao lado da porta. - Sei que odeia os alunos de lá, mas vá, pode

ser legal – então ele afrouxou a gravata vermelha.

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- Pai, ser atropelada por um caminhão seria mais divertido do que ir a um lugar onde todos

te odeiam.

- Por que não dá uma chance para eles? As coisas podem mudar - falou meu pai fechando

a porta atrás de si.

- Pai ... Olha, eu te amo - me levantei do sofá e fui falar com ele cara a cara - mas eu posso

dar quantas chances for para aqueles filhos da mãe que nada vai mudar, eles são uns bostas, e

uma vez bostas, bostas até morrer.

- Taylor Adelle Peapons, olha como fala – disse ele me abraçando. - Sei que odeia eles e

não importa o que faça eles vão te odiar também, mas você tem que fazer amigos , sair de casa,

conhecer gente nova.

Para que amigos quando se tem gatos e um pai que te ama?, pensei.

- Mas eu tenho amigos. Tenho muitos amigos.

- Quais?

Mentirosa, havia pensado, agora você se ferrou. Revirei os olhos procurando uma resposta

rápida e então sem ideias, falei o que meu subconsciente me mandou falar.

- Tenho você como amigo, tenho nossos gatos como meus amigos, tenho amigos.

- Não. Não tem - falou ele me soltando e segurando os meus braços , um de cada lado –

você precisa de amigos da sua idade, que gostem do que você goste.

- Acho que quando fui feita por você e mamãe, alguma coisa saiu errada, pois a sociedade

me rejeita. Não gostam de mim por eu ser diferente. Eles me acham a esquisita que coleciona

insetos mortos e que acredita no sobrenatural. Eles me acham louca, pai.

Por que será que isso acontece? Acho que é medo de aceitar as coisas diferentes que

existem no mundo, então o ser humano simplesmente gosta de rejeitar aquilo que se destaca. Acho

as pessoas não gostavam de mim porque eu não me encaixava na porra do padrão de beleza

deles.

- Você gosta de si mesma, filha?

Não, pensei.

- Sim, claro que gosto - mentirosa até o último fio de cabelo.

- Então se orgulhe de quem você é - falou meu pai. – Agora vá se arrumar e vá para aquela

festa, faça amigos se divirta.

Mal sabia eu que aquela festa idiota ficaria marcada na minha cabeça, mas eles pagaram

o preço depois.

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Sem medo

Capítulo 3

Eu não me lembro direito daquela festa. Somente algumas coisas, e algumas partes dessas

lembranças não existem mais.

Mas vou contar o que eu lembro. Tudo foi horrível. Eu havia voltado para casa

completamente suja de ovo com cerveja e limonada – alguns alunos levaram cerveja para a escola,

por mais que isso fosse proibido. O que tinha acontecido? Sabe quando você acha que finalmente

achou o seu lugar, acha que finalmente foi aceita? Foi mais ou menos isso que aconteceu: quando

eu cheguei à festa, todos me acolheram de uma maneira tão legal...

Devem estar muito bêbados mesmo. Estão me tratando tão bem. Tem caroço nesse angu,

pensei.

E tinha mesmo. Depois de um tempinho, eles mostraram mesmo suas verdadeiras

intenções. Sabe, na minha escola aconteciam coisas estanhas todos os anos e ninguém sabia o

porquê. Antes de eu ir para aquela escola nada acontecia, então eles começaram a colocar a culpa

em mim por tudo de desastroso que acontecia lá. E por isso começaram a me tratar daquele jeito.

Desde que eu era pequena me tratavam assim.

Acho que eu me tornei quem sou porque, fui tratada como um monstro, e no fim, acabei

virando um.

- Acha que gostamos de você, estranha? – falou uma garota chamada Amanda que tinha

os cabelos loiros, pele com bronzeamento artificial, olhos verdes e uma personalidade fria. – Você

é feia e gorda, volte para o inferno, demônio, seu lugar não é aqui, nem sei como ousou ter vindo.

Ela subiu em cima de uma mesa que havia no local e disse todas essas coisas apontado o

dedo indicador com a unha cor-de-rosa para mim. Uma pessoa alcançou uma caixa de ovos para

ela. Quando percebi, ela tinha jogado um em mim.

- Volte para casa, anã ridícula. Vá chorar no colo da mamãe – disse ela com um sorriso no

rosto, irônica. – Ah, mas eu havia me esquecido... você não tem mãe, ela morreu!

E todos da sala riram.

- Ela morreu porque sabia que carregava um monstro no ventre dela – a garota loira desceu

da mesa com a ajuda de um garoto e isso fez com que o vestido curto dela levantasse um pouco.

– Você achou mesmo que vir aqui seria boa ideia? Ah, Taylor, que tolinha, aprende logo, garota,

eu sou a rainha dessa escola e todos são meus servos, e eu digo para todos odiarem você e eles

me obedecem. Você nunca será amada, sem dúvida morrerá sozinha.

- Escuta aqui, vaca... – falei tentando protestar.

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Ela jogou mais um ovo na minha cabeça e depois outro e outro.

- Você não é ninguém para falar comigo.

Ela chegou perto de um dos garotos do time futebol e sussurrou algo no ouvido dele.

- Ei – disse Felipe, um dos jogadores – que tal jogarmos a porca na lixeira? – ele olhou para

mim com um olhar de nojo e depois olhou para Amanda, que sorriu.

- O que eu fiz para me odiarem tanto? – disse – eu não fiz nada de mal para vocês.

Ninguém respondeu. Os meninos do time de futebol me carregaram até os fundos da escola.

Eles me jogaram no contêiner de lixo, derramaram algumas bebidas sobre a minha cabeça e

retornaram sorrindo à escola.

Pouco tempo depois, a música voltou a tocar dentro da escola. Eu saí do contêiner de lixo.

Havia ratos por todos os lados e eu quase pisei em um deles. Comecei a chorar. Decidi ir para casa

caminhando. De repente, uma chuva forte começou a cair e limpou uma boa parte da sujeira que

estava em mim em meu cabelo. Ainda assim, os odores de ovo e cerveja permaneciam em mim.

Eu não sabia o porquê de não me encaixar na sociedade. Mas eu tinha esperança de que

algum dia eu acharia um lugar onde as pessoas iriam gostar de mim. Eu tinha fé.

Quando cheguei ao meio do caminho da minha casa, ouvi um som de galhos se quebrando

e a sensação de alguém estar me observando. Quando olhei para trás, vi dois olhos felinos, mas

não eram de um gato, e sim os de uma pessoa. O medo me abateu e comecei a andar mais

depressa. Os olhos me seguiam por onde eu andava, até que cheguei em casa, abri o portãozinho

de ferro preto rapidamente e entrei na varanda de casa. Olhei para trás, entre os galhos. Mas o par

de olhos havia sumido.

Achei que tudo tinha sido imaginação, então bati na porta de casa e meu pai logo a abriu.

- Filha! – disse meu pai me puxando para dentro de casa. – Meu Deus, o que aconteceu

com você?

- Tentei fazer amigos, mas o tiro saiu pela culatra!

- Meu Deus... – disse ele me abraçando. – Venha cá, calma. Eu estou aqui, já passou.

- Eu disse, pai, todos me odeiam. - E comecei a chorar de novo lembrando do que fizeram

comigo.

- Pare de chorar, filha, nem um deles merece as suas lágrimas – disse ele se abaixando

para ficar mais ou menos da minha altura. Ele limpou o meu rosto sujo por causa do contêiner de

lixo. – Já passou, vai tomar um banho, se limpe, vou esquentar o jantar para você. E não chore,

minha linda.

- Como não chorar?

- Lembrando que sua felicidade deve ser mais forte – ele beijou a minha testa- vai, vai tomar

banho.

- Está bem – disse – Estou fedendo, sem dúvida.

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- Na verdade, não – disse ele. Eu virei o rosto fazendo e fiz uma careta.

- Sério, pai?

- Só um pouquinho- sorriu.

Ele se levantou e foi até a cozinha. Acendeu o fogão para esquentar o jantar que havia feito.

Se eu pudesse voltar ao tempo, eu teria me defendido daqueles merdinhas. Pena que não

posso mais fazer isso.

Acho que quando eu morri, essas pessoas que me odiavam foram ao meu enterro. E depois

foram comemorar. Só pode, porque ‘ô’ vidinha de merda que eu levei.

Eu tomei um banho demorado, vesti uma roupa quentinha e desci para a sala. Meu pai tinha

esquentado o jantar, que era espaguete com almôndegas.

Depois que eu comi, nós dois sentamos para conversar sobre o que tinha acontecido. Ele

sempre me animava. Meu pai era tão vingativo quanto eu, nós dois éramos muito parecidos em

algumas coisas.

Depois decidimos ver um filme juntos debaixo da coberta. Assistimos a “Sweeney Todd –

O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet”.

Mas eu estava tão cansada que acabei dormindo no sofá e só fui acordar no dia seguinte,

babando. Acho que meu pai não quis me acordar e me deixou lá mesmo porque meu travesseiro

está debaixo da minha cabeça.

Eu me sentei no sofá e olhei em volta. O dia estava claro, e pelo jeito, meu pai já havia ido

para o trabalho.

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Dias de sorte

Capítulo 4

Sabe aquele momento em que você gostaria de mudar o mundo, fazer as órbitas

caminharem de um jeito diferente, poder fazer da sua vida um filme, viver uma história diferente?

Pena que a vida não é assim, bem pelo contrário. Na verdade, é fria e sem coração, é capaz de

nos apunhalar pelas costas.

Tive que aprender de uma maneira ruim que nem tudo é um sonho. Uma história de romance.

Que na verdade, é um tapa na cara... literalmente. A vida pode machucar muitas vezes. Sofremos

e quando nos é necessário, lutamos contra o mundo todo para chegar onde desejamos. Tentei

mostrar que nem todo mal é mal e que nem todo bem é bom.

Sei muito bem que onde eu estou não há luz, não há esperança, mas eu sei que terei que

lutar outra vez para viver de novo. Terei que brigar com o que mais temo.

Eu tenho que ver a luz que há dentro de mim.

Se for necessário destruirei o mundo para vê-la novamente, cada mísera barreira que a

escuridão colocar no meu caminho. Eu as destruirei com as minhas próprias mãos.

***

Quando levantei, estava com falta de ar.

Asma já de manhã... Ô merda.

A lembrança do que tinha acontecido ontem à noite ainda vagava na minha cabeça, e só de

lembrar o que eles fizeram, eu ficava com raiva. Então tentei ignorar pelo resto do dia que aquilo

aconteceu. Eu coloquei um sorriso no meu rosto, respirei fundo e guardei toda aquela raiva e

angústia dentro de mim. Às vezes era melhor fingir que nada aconteceu.

Era terça-feira, meu pai saíra às seis da manhã para ir trabalhar e retornava às quatro da

tarde. Pelo menos, toda a terça-feira era assim. Ou seja, ficaria sozinha mais uma vez. Mas já

havia me acostumado pois eu sempre soube: nunca estamos tão sozinhos quanto achávamos.

Pena que eu achava isso somente quando estava viva.

Levantei-me, espreguicei-me como se eu fosse um gato. Preparei meu café e fui comê-lo

em frente à tv.

Depois que tomei café, fiquei deitada no sofá até umas dez da manhã. Decidi que seria uma

boa ideia dar uma volta por aí... Eu já estava virando mobília de tanto que ficava em casa. Coloquei

uma saia até a costela flutuante que tocava um palmo acima de meu joelho gordinho, uma blusa

de manga comprida preta, um casaco quentinho e groso e uma bota marrom de pelinhos por dentro.

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Fui até a garagem e vi minha vespa encostada na parede direita – perto das prateleiras de

tintas velhas que estão ali desde que a casa foi pintada. Coloquei o capacete e saí. Ainda bem que

eu estava de short por baixo da saia, senão acabaria mostrando a minha calcinha para deus e todo

o mundo...!

Para você que não sabe o que é uma vespa, é uma lambreta: algumas têm asas atrás (a

minha tinha) e geralmente é amarela e branca. Eu não gostava de chamar atenção, mas acho que

era obviamente impossível quando eu ia para os lugares com uma lambreta com asas.

Andei pelas ruas de paralelepípedo, vi os prédios velhos da cidade, com as tintas

descascando. Vendo o céu cinza e o vento com poeira que infestava o ar. O que era péssimo para

minha renite.

Sim, também tinha renite.

Parei na cafeteria do Luiz e comprei um cappuccino. E me sentei em uma das mesas perto

da janela. Fiquei olhando a movimentação ao lado de fora. Com as letras grandes e pintadas em

amarelo escrevendo na janela: Cafeteria Luiz... Nome brega, né? De repente um garoto metido a

retardado veio falar comigo.

- Oi - falou o menino. - Posso sentar aqui? O resto da cafeteria está cheia.

Eu olhei para o garoto, tinha algo errado nisso, ninguém vinha falar comigo assim do nada.

A menos que ele não me conhecesse o que, provavelmente, era o que estava acontecendo.

- Ah... Claro, só vou tirar isso daqui – disse eu, tirando o capacete de minha vespa do banco

e colocando-o em cima da mesa quadrada.

Adorava o Luiz. Lá era legal, mas vivia vazio, porém aquele dia estava cheio, por algum

motivo desconhecido.

- Meu deus... - falou o garoto.

Um garoto ruivo, de olhos azuis. Ele me lembrou muito o Ed Sheeran, com aquele cabelo e

o jeito do rosto.

- Você se mudou para a cidade? - perguntei.

Aquele garoto não me era estranho, sentia que já tinha o visto antes em algum lugar.

- Não e sim ao mesmo tempo - falou ele, ajeitando-se no sofá vermelho beterraba do Luiz -

É meio difícil de explicar...

- Qual é o seu nome, ruivinho? - falei rindo.

- Jackson, mas meus amigos me chamam de Jack - falou ele olhando para mim, depois de

sentado e ajeitado - e você?

- Taylor - falei - meus amigos me chamam de Tay. Se eu tivesse algum, sem dúvida ia pedir

para me chamarem de Tay.

- Já ouvi falar de você – ele estava demorando a soltar a franga.

Dei uma risada.

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- Agora conta uma novidade, que eu já não saiba... – falei tomando o cappuccino.

- Como assim? - ele perguntou.

- Você é novo, havia me esquecido disso – falei, mas ele me interrompeu.

- Quase, já estou aqui há um bom tempo.

- Então já deveria saber quem eu sou. - Ele deu de ombros. - Eu sou a ovelha negra dessa

cidade, se você achar alguém que goste de mim será milagre. E você tem duas opções de escolha,

para pessoas que gostam de mim: uma delas é meu pai. As outras duas são meus gatos.

- Gatos? - disse ele virando o rosto.

- Sim, gatos. Sabe aqueles coberto por pelos, quatro patas e bigodes, que fazem miau?

- Eu sei o que é um gato, Tay.

- Que bom para você, Sr. Jackson.

- Você pelo jeito é bem irônica. - falou ele pegando o cardápio - sabe o que é bom de comer

aqui, pequena?

Pequena? Pequena? Que porra de apelido era esse.

- Não me chama assim de novo ou eu te bato!

- Tá... - falou Jack - mas você sabe...

- Sei o que? – eu tenho o grave costume de esquecer as coisas muito rápido...

Tipo perda de memória recente.

- O que é bom de comer aqui?

- O bolo de cenoura com chocolate ou misto quente. Na verdade quase tudo, menos a

vitamina.

- Por que? Qual é o problema com a vitamina? – perguntou ele me olhando – Eu estava

querendo uma vitamina...

- Peça então, mas vai ter mais plástico do que vitamina.

- Como assim? – disse Jack

- Não é muito de sair, né? - ele fez que não com a cabeça, e eu só revirei o olho – Bom, eles

usam uma coisa- comecei a explicar- eles usam polpa de fruta para fazer a vitamina. Eles colocam

tudo no liquidificador e batem com gelo, água ou leite, mas muitas vezes aqui é tão frio que o

plastiquinho que cobre a polpa não sai direito... Então, eles colocam mesmo assim... - ele me

interrompe porque eu estava fazendo careta e gestos com a mão enquanto contava

- Já entendi, não precisa mais explicar – disse ele - você tem sangue italiano?

- Não – sabia o que ele queria dizer mas, dei uma de chata - tenho A positivo –tomei mais

um gole de café.

- Não esse tipo de sangue! – disse ele rindo – Quero dizer descendência. Você parece

italiana porque fala fazendo gestos engraçados.

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- Tá bom – falei - ainda bem que me mandou parar de falar, estava ficando constrangedor

para mim.

Ele logo fez seu pedido e não demorou muito para que chegasse. Logo eu ia para casa,

assistir a um filme e ficar na minha.

- Okay Jack, já vou indo... Foi legal e estranho te conhecer.

Mas antes que eu pudesse ir, ele segurou meus pulsos e falou:

- Antes de ir, você pode me dar seu número? - perguntou ele.

- Claro – falei.

Ele puxou o celular do bolso de um capuz vermelho que ele usava junto com a calça jeans

e disse:

- Pode falar, estou anotando.

- É ... 2198

- uhum

- e por fim, vá ver se eu estou na esquina!

- E vá ver... Espera um pouco - ele falou, enquanto eu ria. Ele queria mesmo o meu número,

mas nem "morta" eu daria. E se ele espalhasse o meu número por aí, e as pessoas me ligassem

falando para eu transar com elas?

- Fala sério, pequena, isso é maldade! – disse Jack.

- Não. Eu é que não sou muito de ter amigos.

Eu já tinha perdido a esperança de que algum dia eu poderia fazer amigos naquela cidade,

todos eles eram, de alguma forma, um bando de imbecis. E tem mais: quando eu era pequena,

tentava fazer amigos, eu era gentil, eu até mesmo sorria, mas nunca dava certo. Então eu desisti,

simplesmente isso. Desde então, cada pessoa que vinha falar comigo, por mais que fosse legal e

eu sentisse que ela não era como os outros, eu fugia para me poupar da dor e sofrimento que talvez

viesse depois.

- Ficar sozinha é ruim – disse Jack sorrindo.

- Eu quero ficar sozinha – pena que a única forma que eu achei de não sofrer era me afastar

das pessoas, e mesmo assim, os cornos vinham e humilham a gordinha aqui.

A quem eu queria enganar? Eu não queria ficar sozinha, queria ter amigos... Sorte a minha

que acabei tendo amigos incríveis depois. Éramos todos locos, éramos do tipo “se um se joga do

penhasco, todos iam atrás só para saber como é”, não era como Maria vai com as outras, fazíamos

porque queríamos. E era muito divertido

Regra número um das regras que eu tinha na minha vida. As pessoas são más então, tome

cuidado.

Mas Jack era o Jack. E eu gostei dele quando o vi pela primeira vez naquela cafeteria.

Que falta sinto dele. Queria vê-lo outra vez. Somente mais uma vez.

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Já estava na hora

Capítulo 5

Eu contaria para você o que tinha acontecido depois daquele dia em que conheci o Jack,

mas eu não me lembro de nada... nadica de nada. Uma droga mesmo.

Bad eterna.

Então acho que vou pular um bom tempo de minha vida.

Havia se passado quase uma semana. Era noite, e eu e meu pai estávamos jantando – o

jantar era espaguete - e conversando como foi o dia dele – algo típico que normalmente fazíamos.

Meu pai não era muito fã do trabalho dele, porém ele não podia fazer aparecer dinheiro do nada.

Depois disso, assistimos a um filme de comédia. Meu pai havia dormido numa cena do

supermercado – me pergunto como ele pode dormir justo naquela cena, é a mais divertida do filme

todo. A gente tinha comido um balde gigante de pipoca de panela com manteiga.

Eu estava com os pés para fora do sofá e meu pai deitado no meu ombro. Só fui perceber

que ele havia dormido depois que eu perguntei se havia gostado de uma cena que passou e ele

não me respondeu.

- Pai... - falei acordando-o - Vai dormir na cama. Senão vai ficar igual a mim na semana

passada, morrendo de dor no pescoço.

Ele abriu os olhos lentamente e disse:

- Okay - ele se levantou do sofá cambaleando - boa noite, filha – e ele beijou minha testa.

- Boa noite, pai – disse sorrindo e colocando meus pés para cima do sofá.

Eu decidi ficar assistindo mais um pouco do filme. Pelo que me lembro acabei indo dormir

tarde naquela noite congelante. Tive que levantar para ir pegar mais uma coberta. Também fiquei

com sede.

Andei pela casa ainda meio sonolenta.

Sabe aquela sensação de que tem alguém atrás de você? Eu estava tendo aquela sensação.

De repente, ouvi um barulho.

- Pai? - falei - É você?

Não houve resposta, mas logo vi um dos meus gatos descendo as escadas. Aí entendi que

era o meu gostosinho, meu Léo, com aquele pelo fino e brilhoso. Ele estava caçando ratos que

normalmente havia na floresta e que entravam em casa.

Então, como achei a cena fofa, peguei o gato no colo e disse:

- Seu safado! - eu amava tanto aquele gato que dava vontade de apertá-lo.– Safadinho da

mamãe! - mas logo ele saiu correndo dos meu braços caindo de pé na escada. Ele tinha me

aranhado na bochecha

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Mais um para a coleção de arranhões, pensei.

Quando cheguei à cozinha, peguei um copo no armário e enchi de água gelada.

Eram 3:00 da manhã e eu estava sem sono – o arranhão do gato devia ter me acordado de

alguma forma – e sem saber o que fazer, fui mexer no notebook.

A luz dele iluminava a sala toda, pelo menos era uma luz alta o suficiente para eu acender

a da sala que ficava ao lado do cômodo. Então decidi... Fazer chocolate quente! Depois que eu

acabei e arrumei a cozinha toda, resolvi checar meus e-mails.

Havia 1 na caixa de entrada.

Abri o e-mail empolgada porque normalmente ninguém me mandava e-mails, nem mesmo

o facebook.

Quando eu vi o remetente, minha animação foi parar nas trevas.

De: Jackson. Para: Taylor Adelle Peapons.

Oi, Taylor. Não pergunte como achei seu e-mail. Eu simplesmente achei. Queria saber se posso ver você de novo. Vc deixou uma coisa lá na cafeteria, E eu queria devolve para vc.

Jack.

- Merda! - falei – o que ele quer agora? Respondi. De: Taylor Adelle Peapons

Para: Jackson.

Caro Jack. Ok. Então vamos nos encontrar na frente do Luiz? Hoje, às três da tarde. Mas somente isso,

e tem certeza que eu esqueci alguma coisa? Não me lembro de ter esquecido nada, mas de qualquer forma te vejo lá, ruivinho. T.A.

Eu tinha quase certeza de que não havia esquecido nada, e eu não esqueci mesmo. Mas

resolvi dar mais uma chance para o Jack, vamos ver se ele iria merecê-la. Além disso, acabei de

conhecê-lo, um garoto, lindo, gentil, engraçado e atrapalhado. Isso não era bom sinal nem aqui

nem na China... Ele tinha um ar de geek, o que era bem legal.

Mas tenho que admitir: fiquei feliz em receber aquele e-mail. Por mais que eu tivesse sido

grossa com ele, ele queria me ver de novo. Consegui dar um passo a mais, comigo mesma.

Mas se você confiar nele, talvez tudo acontecerá novamente. Pensei.

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Falei isso naquele dia, porém quando eu o vi de novo, esqueci completamente a regra

número dois de minha vida. O mundo é feito de traidores. Isso é verdade, vocês têm que concordar

comigo, ninguém é 100% fiel aos outros.

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Amigos

Capítulo 6

Conforme fui conhecendo Jack, descobri que ele esconde um grande segredo, um mal

segredo. Você está tentando se esconder atrás de uma mentira boba, meu querido Jack. Desculpe

te dar essa notícia, mas nunca minta para mentirosos, sempre descobrimos tudo. Principalmente

eu.

Todos nos sangramos, somos normais. Uma pessoa pode acreditar em qualquer coisa.

Vampiros, lobisomens, fantasmas, bruxas, fadas, gárgulas... Ou qualquer outra coisa. No mundo

em que "vivemos" e se eles existem – e existem sim - nós somente somos cegos. Sempre fomos e

sempre vamos ser.

Quando viva, Jack era como meu cão guia, me levava a onde eu precisava ir e me conduzia

na escuridão da vida.

A pior coisa de se ter amigos é que você ganha de brinde inimigos e como se não bastasse,

as pessoas da escola me odiavam.

Eu estava entrando no LUIZ aquele dia, e logo que entrei, ouvi alguém me chamando.

- Taylor! - falou Jack acenando de longe apontando para a cadeira em que ele sentava –

Aqui!

Era estranho para mim ter um amigo, principalmente o Jack, sentia que algo muito estranho

vinha dele. Algo... Sombrio.

Como eu odiei aquele dia.

Eu vou resumir o que aconteceu.

Encontramos a puta da Amanda lá com o namorado dela. Como sempre, ela usava uma saia

curta a ponto de mostrar um pedaço da calcinha, saltos de dezoito centímetros, os cabelos loiros

tingidos cheios de laquê para continuar com o topete das líderes de torcida, e a barriga de fora.

Ela disse:

- Olha só se não é a horrorosa obesa da Taylor! Soube que as rosquinhas de chocolate estão

na promoção, vá lá comprá-las e aproveita e não volta mais.

- Não, estou bem aqui... – respondi.

- Você está bem, bem gorda isso sim, fófe – disse ela olhando para as unhas pintadas de

vermelho-cereja.

- É melhor ser gorda do que ser uma garota como você. – respondi, mas na minha cabeça

eu estava fazendo uma dancinha e cantando: vai Taylor, vai Taylor, você é demais e sim você é

demais e sim!

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- Idiota! – ela disse apontando para a blusa que eu usava de um gato andando de bicicleta

– Sabe, sua blusa é tão feia que quero vomitar.

- Já me xingou assim na semana passada – falei. Para mim, Amanda era uma vadia

assumida, que se deixassem, transava com deus e todo o mundo. Ela sim devia ser arrombada

(que deus que me perdoe pelo palavrão, mas é a verdade). Ela era uma maçaneta onde todos

passavam a mão.

- Feia, ridícula, estúpida... Bipolar doente - disse Amanda colocando a mão no quadril –

que precisa de remédios, você é um lixo , deveria ter ficado naquela lixeira quando te jogamos lá

dentro. Lá é o seu lugar, com o restos de comidas podres.

- Posso ser bipolar e precisar de remédios para me manter calma, mas pelo menos eu

nunca transei com o time de futebol inteiro – isso era verdade, não sei como não pegou AIDS ...

Acho que por sorte. Porque pelo que sei, ela não usa proteção.

- Pelo menos eu tenho uma vida sexual, e você que é virgem, uma baleia encalhada, com

um cabelo que parece mais um animal morto e também ele fede como um gambá. Diferente de

você, fófe, eu sou bonita e tenho um namorado, eu vou me formar casar com um cara bem gostoso

e você ficará sozinha com um monte de gatos, morrerá e ninguém perceberá.

E assim, senhoras e senhores, Amanda Dalyns me colocou contra a parede.

Eu podia odiá-la mais ela tinha razão, eu provavelmente acabaria sozinha.

Logo que ela terminou de falar, me olhou de cima a baixo, riu e saiu do Luiz segurando seu

'namorado' pelo pulso.

- Nossa... – falou Jack, olhando para mim que fiquei com uma cara nada boa.

- Que foi? – disse brava – se está incomodado de ficar comigo pode sair, nunca pedi para

ser meu amigo.

- Não preciso de sua permissão para ser seu amigo – disse ele – não ligue para ela, você

algum dia vai achar alguém que te ame. E ele terá muita sorte.

- Depois de mais de 16 anos convivendo com elas, aprendi a lidar com esses urubus – falei

balançando a cabeça e tomando um gole do cappuccino que eu tinha pedido antes.

- O piercing dela era meio estranho. – disse ele também tomando um gole do café preto sem

açúcar- Não gosto muito de piercing.

- Eu tenho dois na orelha direita. - virei e mostrei para ele as argolinhas prateadas. – Eu

coloquei ano retrasado escondido do meu pai.

- Sério? – perguntou ele, como se não fosse nenhuma surpresa.

- Não. Eu falei para ele que ia colocá-los. – disse – Ele fez de tudo para me ver sorrir, me

levou para coloca-los e pagou por eles.

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- E devia mesmo, a filha dele tem um sorriso lindo. – disse ele olhando nos meus olhos

escuros e eu olhei nos verdes dele... Espera, os olhos dele não eram azuis? Eram sim... acho que

ele usava lentes, só pode, nem um olho pode mudar de cor.

Ele logo riu. E depois tomou mais uma xícara de café, sem açúcar, não sei como ele gostava

de café assim, eu morri sem saber também.

Ele me olhou comendo uma torta de maçã, com a boca toda lambuzada de chantili. Olhei

para ele, quando me estendeu um guardanapo.

- Obrigada, foi mal, mas acho que todo mundo fica assim quando come a torta do Luiz, eles

colocam muito chantili – disse limpando a boca.

- Ninguém é perfeito – ele disse revirando os olhos.

- Mas quase todos querem ser – isso era fato, pelo menos ali na cidade as garotas sempre

pareciam fogos de artifício de tão chamativas.

- Como assim quase todos? – disse ele – Você não quer ser perfeita

- Eu não quero ser perfeita, ser perfeito é chato – falei.

Isso sempre foi e sempre será verdade.

Depois que acabamos de comer, Jack me levou para casa, me deu um beijinho na bochecha

e disse:

- Te vejo amanhã.

- Vamos nos ver amanhã? – perguntei e ele sorriu.

- Claro que vamos, pequena, eu sou seu novo amigo.

- Então agora somos amigos? – perguntei na porta de casa com o vento batendo ao redor.

A poeira no ar fazia meu nariz coçar, como naquele momento.

- Claro que somos amigos. – disse ele e então repetiu – Te vejo amanhã. No Luiz de novo

ou... sei lá, em qualquer lugar.

- Está bem – disse e ele se virou e foi embora.

Eu peguei as chaves de casa que havia dentro da minha bolsa vermelha de alça e abri a

porta. Entrei e meus gatos logo vieram miando e se esfregando nas minhas pernas.

- Vocês estão com fome, né? – falei para eles e joguei a bolsa no sofá – Vamos logo, me

deixa dar comida para vocês.

E segui em direção à lavanderia, onde ficava a comida deles. Minha lavanderia era bem

grande, enorme na verdade.

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Não a deixaremos para trás

Capítulo 7

Queria que o jeito que conheci os meus amigos tivesse sido diferente.

Depois daquela última vez que vi Jack, ele havia sumido, simplesmente sumido. Sem mais

nem menos.

Eu estava com um motivo na cabeça, um motivo porque ele havia sumido, preferia acreditar

que não era aquele motivo. Porque se fosse, eu teria certeza que oficialmente, as pessoas se

afastavam de mim.

***

Era noite e meu pai fazia o jantar – legumes ao bafo e arroz com feijão.

Eu estava no meu quarto colocando o colocando o pijama. Comecei a pensar que Jack era

um idiota por completo, definitivamente. “Claro que somos amigos”. Pensei: “se somos amigos, por

que você sumiu?”

Então, de repente ouvi um barulho muito grande vindo do andar de baixo.

- Pai! – gritei, descendo as escadas correndo – Pai, está tudo bem? Que barulho foi esse?

Quando cheguei à cozinha, só via uma luz muito forte e meu pai estava gritando para eu

voltar ao meu quarto. Mas a teimosia não me permitiu voltar, eu precisava ver se meu pai estava

bem.

Cheguei perto da luz o suficiente para enxergá-la melhor: vi uma mulher de cabelos loiros

cacheados quase até os pés. Os olhos eram azuis como um mar sem fim. Boca vermelha sangue,

usava um vestido azul de estilo indiano.

- Pai! - eu gritava – Pai, quem é essa mulher? Pai, me responde!

- Quieta! – disse.

Quando eu pude ver, meu pai estava desmaiado, caído no chão com um machucado na

testa que sangrava.

- Peguem a garota! - falou a mulher - Mas não a machuquem. Eu farei isso depois- disse a

mulher sorrindo com os dentes brancos como neve.

- Andem logo, seus imprestáveis, peguem a garota! – falou ela com raiva.

Antes mesmo que eu pudesse correr, as duas pessoas que estavam com a mulher iluminada

– os guardas - me seguraram pelo braço com força. Colocaram rapidamente um saco em minha

cabeça e bateram na minha nuca com algo.

Entao, eu desmaiei.

CINCO HORAS DEPOIS

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- Pai.... -falei baixo recuperando a consciência - Pai, pai onde você está? - logo olhei para

cima totalmente desperta. Via a mulher na minha frente.

Percebi que estava amarrada em uma cadeira. E as cordas ,toda vez que eu as puxava,

brilhavam, ficavam da cor azul claro e apertavam mais a minha pele.

- Seu pai está bem. – ela disse se aproximando de mim- Mas se tentar escapar daqui, eu o

mato na sua frente. E depois a torturarei na praça principal da cidade.

Que? Que diabos está acontecendo? Quem era ela?

- Onde estou? - falei olhando ao redor. Era um lugar, muito grande com mobílias claras,

pinturas nas paredes, havia uma escada ao lado esquerdo, e na porta tinha guardas. Era um lugar

muito luxuoso e bem decorado. Era um castelo.

- Está em minha casa, meu palácio. - falou ela afastando-se de mim – e você tem algo que

eu quero.

- Como... Eu posso ter algo que você quer sendo que nem te conheço? - mal eu sabia que

aquela mulher mudaria minha vida.

- Sou Julie, a rainha da luz, e você é Taylor, filha dos meus inimigos: você é um obstáculo

no meu caminho e preciso acabar com você – ela disse calma.

Obstáculo? Essa mulher falava bobagens muito grandes.

- O que? Do que você está falando? Me solta, me deixa ir embora.

Ela começou a caminhar e ficou de costas para mim, mas logo se virou e me encarou.

- Se eu te soltar, vai fugir. Não sou burra. Sei que assim que te soltar, você sairá correndo.

Ela passou a mão pelo meu queixo e sorriu.

- O que você quer de mim? – perguntei olhando para ela.

- Eu quero a sua vida. Você não deveria existir. Como disse, você é um obstáculo no meu

caminho. E para que tudo saia de acordo com meu plano de libertar o mundo das criaturas do mal,

você tem que morrer.

Julie não era a melhor pessoa do mundo, mesmo sendo a rainha do lado da luz, ela era

considerada um dos inimigos para os que moram do outro lado da divisa.

Mas quem disse que nessa história os mocinhos são bons?

Então, um de seus guardas chegou com uma espada de cabo dourado, em cima de uma

almofada de cetim vermelha. A rainha pegou a espada e olhou para a arma com um sorriso.

Quando, de repente, eu vi uma garota que e andava como um gato entre as paredes do

castelo. Ela usava uma máscara que cobria seu rosto e uma capa preta para não ser vista nas

sombras, pois sua pele laranja era bem visível no escuro do canto da parede. Ela estava com uma

roupa de couro curta com botas de cano alto, havia um cinto cheio de adagas afiadas pendurado

ao lado de seu short curto.

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Seus olhos brilharam quando ela olhou para mim. Ela sorriu através da máscara. E fez sinal

com a mão para que eu ficasse quieta e me acalmasse.

Minha pergunta era: COMO EU VOU ME ACALMAR SE VOU MORRER?

- Sabe, não me arrependo do que vou fazer, normalmente não sou muito de violência, mas

vou adorar acabar com a sua vida – disse a rainha, quando iria enfiar a espada em mim. Eu virei o

rosto e fechei os olhos, mas uma sombra preta apareceu segurando a espada, uma mão pálida

acinzentada apareceu primeiro e logo depois apareceu o corpo, alto com ombros largos o rosto.

Também estava coberto por uma máscara e a capa preta, mas eu podia ver os olhos vermelhos e

o cabelo preto que caía em seus olhos. Ele era lindo, mesmo sem ver seu rosto.

- Vamos te tirar daqui. - ele disse para mim antes de se virar para a rainha de novo - Não

vai tocar nela. - falou ele com uma voz linda – Só por cima do meu cadáver!

- Então está bem, eu mato você também. – disse a rainha, que enfiou a espada na boca do

estômago do garoto.

- Ai! - disse ele.

Não tinha pingado nem um pouco de sangue

A rainha soltou a espada e andou para trás assustada, porém nem um pouco impressionada.

- Vocês, seres da luz, são tão idiotas – disse o garoto.

Então, a garota que eu tinha visto nas paredes saltou, deu um pulo enorme parou atrás de

mim. A capa dela havia caído e reparei que ela tinha um rabo e a pele toda manchada com listras

pretas.

- Fica calma, Tay. Vamos tirá-la daqui! – ela logo tirou as longas unhas para fora e cortou as

cordas que me atavam os pés e as mãos.

Não sei por que, mas confiei na garota. Sentia que eu podia confiar. Ela me estendeu a

bombinha da asma que já tinha Alenia, um dos melhores remédios para asma.

- Use-a todos os dias quando acordar, vai te ajudar e não te dará asma o dia todo – disse

ela sorrindo.

Levantei da cadeira e fiquei em pé, cambaleando. O garoto que havia levado uma espadada

na boca do estômago está com a espada na mão agora, prensando a rainha contra a parede com

a arma em seu pescoço.

Eu vi um vulto saindo das sombras: outro garoto, com um olho verde e outro azul e os

cabelos ruivos. Como se estivessem pegando fogo.

Logo reconheci quem era ele. Jack! Como aquele filho da puta foi parar ali? Como ele

poderia saber onde eu estava?

Então, de repente, ele puxou meu braço, me levou até a janela e me empurrou! Por sorte,

alguém me pegou quando cheguei lá embaixo: era o garoto de cabelo preto.

- Peguei! – disse ele com uma voz sedutora e me colocando no chão.

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De repente, a garota metade gato apareceu ao meu lado com um estrondo terrível e fez a

poeira levantar. O garoto de cabelo preto começou a me puxar e então eu me lembrei de meu pai.

- Espera, mas e meu pai? - falei quando eles me faziam correr por uma cidade cheia de

pessoas que olhavam para eles... Para nós, na verdade.

- Meu pai, onde ele está?

A garota metade gato que corria rapidamente (rápida como um gato), disse sem ao menos

olhar para mim:

- Não temos tempo para buscá-lo, temos que sair daqui – ela ofegou.

- Mas ele é meu pai. Temos de voltar e pegá-lo! - falei enquanto corria o mais rápido que

podia.

- Não podemos voltar. - falou o garoto de olhos vermelhos- Como ela falou, – apontou para

a garota - não temos tempo para buscá-lo. Mas acho que ele ficará bem. Tenha fé nisso.

- Por que não podemos voltar? - falei gritando.

Mas ninguém respondeu.

- Por aqui - a garota gato apontou para trás com as mãos que pareciam patas de gato.

Eu me virei para trás rapidamente e vi um monte de guardas. Aqueles homens pareciam se

multiplicar do nada, eram muitos!

- Temos que nos livras dos guardas ou não chegaremos à divisa nunca! - falou Jack que me

puxava pelo braço com força para que eu pudesse acompanhar a velocidade deles. O que era

quase impossível, pois eles eram muito rápidos.

Eles viraram à esquerda, e quando estávamos chegando perto de um portão velho e muito

grande, havia guardas bloqueando a passagem. Eles pararam de correr e voltaram somente alguns

passos para verem melhor quantos guardas estavam ali.

- Perstefany, você quer fazer isso ou a gente faz? – perguntou Jack que me puxava para

perto dele.

Por favor, pensei, para de me puxar, isso está doendo se não percebeu.

Aquilo ficaria roxo depois. Ou pelo menos eu iria sentir uma dor muito grande no pulso.

A garota gato, a tal Perstefany, deu uns passos a frente rebolando e então parou com as

pernas um pouco afastadas. Ela deu um sorriso e pegou duas das facas que tinha no cinto, segurou

uma faca em cada mão, e então, as lançou. Elas atingiram o meio da testa de dois guardas – era

impressionante, parecia que para ela havia um alvo em cada lugar em que ela ia atirar. Os guardas

em que ela havia atirado caíram mortos exatamente na mesma hora em que as facas foram

cravadas em suas cabeças.

- Vamos brincar, otários? – falou ela com uma voz sexy.

Ela pegou mais duas facas, as girou na mão, gritou e as atirou em direção aos guardas. Eles

avançaram e então, o garoto de olhos vermelhos resolveu ajudar: ele tirou a capa e em suas costas

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eu pude ver que havia um grande machado vermelho. Ele então rosnou feito um demônio e entrou

na briga também, mas era um pouco diferente, ele amava – pelo jeito –decapitar as pessoas,

porque cada guarda que ele enfrentava tinha a sua cabeça arrancada. Ele fazia tudo isso com um

sorriso na boca. Era estranho, ele tinha presas, eu achava que ele devia ser um vampiro. Mas ao

final de tudo ele não era.

- Perstefany, mira, atira e acerta.

Logo que o caminho ficou livre, Perstefany abriu os portões de ferro feitos de ouro que logo

depois de abertos, começaram a brilhar com uma luz branca. Perstefany foi a primeira a se jogar

dentro dele, o garoto de olhos vermelhos foi depois e então Jack disse:

- Venha com a gente se quiser viver.

Fala sério né, Jack! Essa frase é de um filme, seja mais original do que isso, pensei.

- Eu quero viver.

- Então pula – disse ele me jogando para dentro do portal. Aquele portão era somente algo

que dividia um mundo de outro.

E tudo o que eu vi durante um tempo foi uma luz que parecia um arco íris em círculos.

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Você deve nos ouvir

Capítulo 8

Sabe, existe um ditado que diz: meia verdade é uma mentira completa. Jack me contou uma

meia verdade, o que significa que ele mentiu para mim. E isso é imperdoável... Porém não importa

o que eu faça, Jack sempre foi uma exceção nesse departamento de perdão.

Quando cheguei ao chão, me sentia tonta e minhas pernas estavam dormentes e coçando

de tanto que eu havia corrido.

Tristeza, como se já não bastasse eu ter que correr nas aulas de educação física, tive de

correr para salvar minha vida. Sacanagem! Eu sou gordinha, não consigo correr direito.

Logo Jack me ajudou a levantar, e eu comecei a tossir.

- Posso ... posso...voltar ... lá para trás? – falei brava apontando o dedo para o portal, que

naquele tempo eu achava que era um portão velho e mágico.

Eles trocaram olhares, e depois olharam todos para mim , o que não prestou muito porque

eu era um pouco – só um pouco – tímida

- Só uma coisa, antes de me responderem. – falei puxando meu braço com força – Seu

idiota, desgraçado! – disse olhando para Jack que se encontrava com os olhos arregalados de

susto – Você mentiu para mim Jack, que merda foi essa que acabou de acontecer? O que você é

afinal? – ele abriu a boca para falar mas eu o interrompi antes que ele falasse alguma coisa – Deixa

eu adivinhar: antes, você é um cara que quer se aproveitar de mim , pois se for isso, vá tomar

naquele lugar, filho de mãe! – disse dando um soco no peito dele, e continuei e falando horrores

para ele ao mesmo tempo até ficar cansada e ofegante .

- Já acabou? – falou ele, mas logo a garota gato falou antes que eu pudesse responder algo.

- Como você sabe o nome dele?

Eu olhei para ela e apontei o dedo para Jack.

-Porque “garota que eu esqueci o nome”, eu conheço ele . Reconheço esse estilo de ser de

longe, e além, disso ele tem cabelo bagunçado e sempre usa esse moletom vermelho.

Ele olhou para o capuz e disse:

- Eu devia ter tirado essa merda de capuz pelo menos hoje.

-Tudo bem ... Você é estranha ... Gostei de você Taylor, meu nome – disse a garota gato –

é Perstefany. – ela tirou a máscara e jogou o cabelo ruivo fogo para o lado. Pude ver que ela tinha

uma parte raspada, e por mais que ela tivesse orelhas de gato, o corte ficava lindo mesmo que as

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orelhas estivessem no caminho. – Perstefany Dakins. Eu te conheço e você também me conhece,

mas não sabe disso.

Ela pegou o cinto que havia em sua mão e ajeitou-o novamente no short preto que ela usava.

- Onde... Onde eu estou? Por que estou em uma floresta? - perguntei – Quem são vocês?

O que querem comigo?

Estávamos num lugar onde só havia grandes árvores: curvas e sons de corujas e corvos.

Atrás da gente estava o portal da divisa entre os reinos da luz e o reino que eu estava. O portal era

velho e enferrujado e parecia o de uma mansão: havia plantas crescendo em cima dele e um pé de

rosas negras ao lado.

Perstefany se aproximou e afastou um pouco Jack de perto demim.

- Escute, sei que tem várias perguntas com você, e sei que minha aparência te assusta –

como ela sabia que eu achei a aparência dela meio estranha e assustadora? – Mas, aconteça o

que acontecer, vamos te proteger. Agora respire fundo, e vamos nos apresentar de novo... Oi, eu

sou Perstefany. Aquele – disse apontando para o garoto de olhos vermelhos – aquele é o Black,

irmão do Jack e ... Bom, o Jack você já conhece.

Perstefany sorriu mostrando as presas de gato e os olhos dela eram brilhantes no escuro e

tremendamente verdes. Tão verdes que quando você olhava dentro deles, era como se ela

enxergasse sua alma. Eram penetrantes.

De repente uma voz surgiu entre as árvores, falando:

- E aí, conseguiram? – uma garota que parecia ter uns 23 anos apareceu na luz da lua e eu

me assustei com o que vi.

A garota era alta, com um corpo lindo, mas isso não foi o que eu achei estranho. Ela parecia

um unicórnio. Tinha cabelos com várias mechas coloridas, um chifre no meio da testa, um rabo

colorido como o cabelo e os olhos pareciam o universo ... Eram o universo, com a poeira das galáxia

dentro deles e cheios de estrelas. Ela tinha a pele branca, porém as mãos eram pretas.

- Conseguimos, Jane. – falaram Jack e Black juntos

Logo Black apareceu na minha frente sem nem um sentido: percebi que ele estava sem a

máscara e sem a capa preta. Eu tinha que admitir, ele era bem bonito, o rosto era bem ossudo,

porém a pele acinzentada disfarçava a finura. Ele era o cara mais lindo que já tinha visto. E isso

me fez odiá-lo desde que o vi.

Ele veio andando até mim e olhou bem nos meus olhos

- Olha! – disse ele olhando para mim e depois para Jack – você parece um Hobbit, qual sua

altura? 1,50 no máximo né?

- Isso não lhe interessa, seu escroto?

Ele deu de ombros, mas logo a garota metade unicórnio o empurrou para o lado e falou:

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- Cale a boca, Black, deixe a moça em paz. Não vê que ela está assustada e com raiva? –

ela pegou a minha mão e completou a frase – Suas perguntas serão respondidas, mas terá de vir

conosco. Jack e Black, vocês dois podem voltar para o reino da luz pois o pai dela ainda esta lá .

Fiquei feliz quando ela em meu pai pois eles iriam buscá-lo e aquilo era muito bom .

- Não podemos ir amanhã. – disse Black – Estamos cansados, os guardas da rainha nos

perseguiram do castelo até o portal e ainda tive que brigar com um monte deles para conseguirmos

chegar aqui .

- Nada disso, se não voltarem lá agora sentarei em cima de vocês – falei me virando e

olhando para eles. – Ou vocês vão ou irei eu.

- Vá, então – disse Black cruzando os braços olhando para o irmão – aposto o meu baixo

que ela morre em menos de cinco minutos.

- Black! – gritaram Perstefany e Jane ao mesmo tempo.

- Vocês dois ouviram a garota, vão logo atrás dele. Taylor, você pode seguir Perstefany e

ficará segura – disse Jane.

Eu olhei para Jane e disse brava colocando as mãos no quadril:

- Escuta aqui, chifruda, não vou sair daqui até que meu pai esteja comigo.

- Ela não fez isso! – disse Black sussurrando – Taylor, se eu fosse você, corria.

Os olhos de Jane ficaram vermelhos, mas logo ela respirou fundo, olhou para Jack e disse:

- Ela é sempre assim? – ela voltou a me encarar – Escute, menina burra, se não quiser virar

comida de sereia sugiro que vá com Perstefany, e se me chamar de chifruda, eu te mato. Okay? –

balancei a cabeça positivamente e com medo – Ótimo! – retrucou ela.

- Mas sereias não vivem na água? – perguntei.

- Sim e não ao mesmo tempo. – falou Jack. Eu me virei e olhei para ele para prestar atenção

– Elas são bonitas porém são criaturas assassinas que comem carne humana, pequena, me ouça

– ele disse chegando perto de mim - Sei que você está irritada comigo e que tem perguntas, mas

eu te falo uma coisa: vá com a Perstefany. Vamos te ajudar e trazer o seu pai de volta – ele se

aproximou e beijou minha testa delicadamente – eu prometo

- Mas eu nem conheço essa garota, Jack – falei.

- Mas seu pai conhece, confie neles.

Meu pai os conhecia?

- Verdade. – disse Perstefany se aproximando de mim – Fique calma, Taylor. Posso ser

metade gato mas não sou traidora.

Black olhava para mim com um olhar assassino e estava com os braços cruzados.

- Jack, deixa de romantismo e vamos logo. – disse Black – Eu quero voltar antes do

amanhecer. Sabe que odeio sol.

- Tá bom. – ele olhou para o irmão – Você vai ficar bem, Taylor.

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- Está bem, eu vou com ela.

- Ótimo, te vejo mais tarde.

Eu olhei para Perstefany que sorriu com mostrando as presas. Ela colocou a mão nas minhas

costas e foi me empurrando devagar até eu começar a andar. Ela foi à frente e eu fiquei atrás. A

garota unicórnio Jane veio junto com a gente.

E Jack e Black foram de novo ao reino da luz.

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A Terra dos Banidos

Capítulo 9

Eu, como sempre, não tenho mais a lembrança do que aconteceu depois que conversamos

na floresta.

Então vou presumir o que aconteceu. Provavelmente estará errado, mas contarei assim

mesmo. Porque perdidos nessa história vocês não podem ficar.

E antes que eu me esqueça, lá vai a terceira regra da minha vida: amigos verdadeiros você

vai poder contar nos dedos.

***

Perstefany havia me levado pela floresta. Andamos por mais ou menos uma meia hora e

meus pés chegaram a ficar doloridos.

Quando finalmente chegamos, em um lugar que parecia um acampamento de circo. Com

vários trailers e coisas do tipo, mas havia algumas casas de material.

- Só uma coisa: - falou Perstefany gentilmente - não encare ninguém. Isso nos deixa irritado.

A gente, pensei.

Eu entendi aquele dia: todos somos cegos por não enxergamos que há um mundo escondido

dentro de nós.

Fiquei boquiaberta com o que meus olhos viam. Aquilo era lindo demais.

-Bem-vinda a Forgeteens, a terra dos banidos. - disse ela abrindo os braços na minha frente.

Quando olhei para cima, vi um portal de madeira e metal todo entrelaçado, plantas crescendo

ao lado e grudadas às extremidades. Bem acima do portal havia um pentagrama de cabeça para

baixo, uma plaquinha de madeira escrita em letras grandes e bonitas: Forgeteens.

- Pelo amor de deus! - exclamei baixinho quando atravessei o portal com Perstefany que

estava me puxando pelo braço porque minhas pernas tinham travado. Parecia que eu não tinha

mais controle sobre elas.

- Siga-me. - disse ela – Não encare ninguém, não gostamos disso. – ela disse a última frase

com vigor.

Havia luzes de velas em todos os cantos tinha passarelas de madeira que levavam a todos

os lugares de Forgeteens e elas estavam cheias de transeuntes. Algumas delas seguravam coisas

estranhas como uma bacia cheia de carne crua. As "pessoas" eram como Perstefany, eram

diferentes umas das outras diferentes: uns tinham chifres, mas não eram sátiros. Outros tinham a

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pele de penas ou com escamas ou tinha um machado atravessado na cabeça. Enfim, ninguém era

igual a ninguém.

Andamos por cima das passarelas e logo chegamos a uma das barracas que presumi ser

de Perstefany pois havia o nome dela na caixa de correio, com uma pata pintada nela .

E a garota Jane havia sumido, acho que ela havia seguido outro caminho diferente do nosso.

- Bom, essa é minha casa. Você gostou? - ela perguntou olhando para mim entusiasmada

- Eu amei, é linda! - falei olhando para a barraca azul e rosa listrada.

- Entra. - disse ela me guiando pelo pulso. Ela abriu o portãozinho de ferro branco que havia

e depois me guiou para dentro da casa dela.

A barraca era maior do que eu pensava: por dentro era como uma casa de verdade com TV,

uma pilha enorme de filmes de comédias. O quarto dela tinha uma cama de casal estilo princesa,

com vários pôsteres de cantores e filmes, um tapete de pele falso no chão que era com lajotas com

cupcakes por toda a cabana ou casa – não sabia como chamar aquilo. A cozinha era muito parecida

com a da minha casa, o banheiro pequeno e simples sem muito enfeite, era um lugar com um clima

aconchegante.

- Bom, aqui é onde eu moro. - falou ela sorrindo.

- Esse lugar é mais que lindo e incrível - falei andando em círculos com os braços abertos e

super animada. - Olha só essa sala, é mais bonita que a lá de casa, e você tem meu quarto dos

sonhos com uma cama desse modelo. Sério, eu daria tudo para morar aqui.

Ela sorriu com o que eu disse.

- Você vai ter de passar um tempo aqui comigo, tudo bem? - eu olhei para ela e dei um

abraço apertado, ela era macia por ser metade gato - Você é quentinha. Parece que estou

apertando meu travesseiro - me afastei dela e ela completou:

- Quer tomar um banho? Porque o seu pijama está todo sujo de terra.

- Eu ... Eu não tenho roupas ou calcinha, só esse pijama que estou vestindo.

- Eu te empresto algo, qual é o número de roupa você usa?

- Perstefany ... É Perstefany, né? – ela fez que sim com a cabeça – Sem dúvida não vai

servir, eu uso 48 e 50, mas às vezes, dependendo do modelo da roupa, 52.

- Nossa, não vai servir mesmo eu uso 36, se me permite perguntar, qual é a sua altura ?

- Tenho 1,58.

- Hummm. Bom, vou dar um jeito de achar algo para você vestir, não se preocupe, okay?

- Tá bom ... Onde é o banheiro? - não questionei nem falei muita coisa, aquela proposta do

banho era ótima porque eu estava fedendo a suor e terra.

Perstefany às vezes fazia coisas que eu não tinha a mínima ideia de como ela conseguiu.

Eu tomei um banho e quando acabei, ela bateu na porta com roupas do meu tamanho e com

roupa íntima perfeita para mim: minha bunda é grande. Eu me vesti e a roupa era linda – era algo

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bem estilo rock’n roll e combinou comigo. Eu amarrei meu cabelo em um coque alto e alguns cachos

ficaram soltos.

Quando abri a porta para sair do banheiro, Perstefany passou por mim indo para a cozinha

e eu pude ouvir o som de pipoca estourando na panela. Logo após de uns três minutos ela apareceu

e perguntou:

-Chocolate? – ela segurava uma bacia de pipoca e duas barras de chocolate com amendoim,

simplesmente o meu preferido.

- Claro! - disse eu pegando a barra – Perstefany, obrigada por me ajudar a sair sei lá da

onde, quase fui morta, mas eu queria entender o que está acontecendo.

- Já é tarde e é melhor você dormir, amanhã te explicarei tudo que quiser.

- Onde eu vou dormir? – falei ao redor.

- No meu sofá, ele é um sofá-cama, e é super confortável então, vai se sentir nas nuvens!

– disse ela sorrindo – Caso precise de mim, é só me chamar, tá bom?

- Okay. Por que você fez pipoca?

- Eu tenho o sono igual a de um gato, eu durmo a qualquer hora e agora não estou com

sono então vou ver um filme no meu quarto.

- Tá bom. – eu fingi bocejar e disse – Eu vou dormir, estou cansada.

- Certo. – disse Per.

Ela arrumou o sofá-cama para eu dormir – com um lençol laranja, uma coberta bege e dois

travesseiros de penas – eu deitei, e Per, tinha razão, o sofá-cama era muito confortável, mas eu

não conseguia pegar no sono, estava com a cabeça cheia de coisas. Comecei a chorar no escuro.

Eu fiquei com medo de nunca mais ver meu pai.

Aquilo para mim, era muito estranho, porém ao mesmo tempo normal, sabe quando você

acha que encontrou seu lugar? Era assim que me sentia.

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Somos uma família unida

Capítulo 10

Quando o sol começou a nascer, a luz entrava pela janela da sala. Eu não havia pregado o

olho.

Eu ouvi a porta do quarto de Perstefany se abrir, e ela apareceu com um pijama de manga

curta de bolinhas pretas e com renda, ela foi em direção à cozinha e começou a preparar café. Ela

veio até a sala para ver se eu estava acordada, e eu fingi dormir naquele momento. Ela sentou-se

no sofá-cama e começou a me cutucar até que eu abrisse os olhos.

- Bom dia, flor do dia! – disse ela sorrindo.

- Oi, Perstefany. – falei sentando-me – Que horas são?

- Sete da manhã, você tem que levantar, temos muita coisa a fazer hoje, a começar com eu

te explicando tudo o que está acontecendo.

- Certo. Estou precisando de respostas mesmo.

- Vamos fazer isso enquanto tomamos café lá fora, a uma hora dessas muitos já acordaram.

Eu fiquei quieta e respirei fundo, ontem nessa mesma hora eu estava dormindo em paz sem

nem uma preocupação, hoje eu estava cansada e com algo dentro de mim que não desejava.

Gostaria de estar em outro lugar que não fosse Fogeteens. Isso era muito estranho, mas eu sentia

que lá era realmente meu verdadeiro lugar.

Per preparou duas xícaras com café e comemos com uma torta salgada que ela havia feito

ontem durante o dia.

- Muito bem, Tay, o que você quer saber?

Eu olhei a minha volta e perguntei:

- O que são vocês?

Ela sorriu e respondeu:

- Somos banidos, seres considerados com sangue ruim por termos sido banidos do mundo

da luz.

- Huuum... Mas isso não ajudou em nada. Pode me explicar direito? Primeiramente... Quem

é você?

- Eu sou uma banida, eu nasci em um lugar onde tudo era bom e havia paz em todo lugar,

porém o local em que nasci era comandado por uma tirana rainha, que sempre mandava matar ou

banir quem ousasse quebrar as suas regras. – Ela levantou a blusa e mostrou que havia um

pentagrama virado para baixo em suas costas – Essa é a marca dos traidores, um símbolo que

representa banimento no mundo mágico e em nosso mundo.

- Como...

- Ganhei essa marca? Simples, vou contar a minha história para você.

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***

Perstefany era uma camponesa com lindos cabelos cor de fogo e vivia em uma família

miserável. Um certo dia, sua família passava fome e para ajudá-los, era foi à feira e começou a

roubar comida para alimentá-los. Mas ela foi pega pela rainha e isso custou a expulsão de seu lar

pobre pela tirana rainha Julie.

- Não! - disse Julie antes que um de seus guardas começasse a torturar Perstefany - não

vamos torturá-la, vamos fazer algo muito pior. NÓS VAMOS BANI-LA! – gritou para que todos

ouvissem.

- Não podem fazer isso, ela é a minha filha! - falou o pai de Perstefany chegando perto da

rainha.

- Eu posso fazer tudo, eu mando nessa cidade, imundo! - disse ela batendo no rosto do pai

de Perstefany - VAMOS BANI-LA - gritou novamente - ESSA GAROTA QUEBROU AS REGRAS

DA CIDADE E EU ODEIO PESSOAS ASSIM. ENTÃO VAMOS LEVÁ-LA PARA FORA DAS

TERRAS DA LUZ, VAMOS MANDÁ-LA PARA UM LUGAR ONDE AS TREVAS E A DOR POSSAM

CONSUMI-LA. MAS ANTES, IREMOS MARCÁ-LA COM O SÍMBOLO DA MORTE E A PARTIR DE

HOJE, TODOS QUE QUEBRAREM UMA MÍSERA REGRA SERÃO BANIDO TAMBÉM. - ela se

aproximou e falou no ouvido de Perstefany - Sofrerá as consequências.

- Eu imploro, vossa majestade! - disse ela chorando - Minha família passa fome, precisávamos

de comida.

- Eu não ligo, aberração, eu faço o que quero. – falou a rainha.

Então ela andou até onde o ferreiro estava, em frente à praça, e pegou um ferro do fogo

talhado com o pentagrama. A rainha caminhou até Perstefany que se encontrava amarrada a um

mastro de ferro, e como ela vestia trapos como roupa, não fazia diferença se tirasse ou não sua

blusa para marcá-la.

- ESSA GAROTA - gritou a rainha - RECEBERÁ UMA MARCA QUE A DIFERENCIARÁ

DOS DEMAIS E SE CHEGAREM PERTO DELA, SE FALAREM COM ELA, EU OS JOGAREI NAS

MASMORRAS.

- Não, por favor - falou o pai de Perstefany tentando se aproximar da rainha, mas os guardas

o detiveram.

- Cale-se ou os guardas o matarão – disse a rainha.

Logo ela se aproximou mais de Perstefany lhe enfiando o ferro em suas costas. A garota

podia sentir o cheiro de sua carne em brasa e a dor e o medo saíam de sua boca em forma de

gritos. Perstefany, naquele tempo, ainda era uma garota normal, não era metade gato, era somente

uma garota. Era inocente.

- Tirem-na daqui! – ordenou a rainha.

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Logo os guardas foram até onde o corpo de Perstefany se encontrava, a tiraram do mastro

e foram a arrastando até o portal da divisa entre o mundo da luz e o das trevas . E a jogaram como

se fosse um cadáver... Quando ela tocou o chão, acabou ganhando essa forma felina e os poderes

que possui atualmente...

***

- Ela te jogou nesse lugar porque você roubou para alimentar sua família? - insinuei de boca

aberta.

- Sim, pelo que fiquei sabendo, logo depois que fui banida, mataram os meus pais.

- Per, isso foi uma injustiça, você só queria ajudar sua família.

- Eu sei, mas ela não liga para nós. Minha aparência não era assim, eu não sou metade gato

desde o nascimento. Isso ocorreu quando acabei de atravessar o portal. Todos nós ficamos com

uma aparência diferente.

- Então, todos vocês foram banidos do mundo da luz e pararam aqui. Mas vocês foram

banidos por causas injustas, certo ?

- Sim. – ela disse pegando um pacote de balas - E sobre a sua segunda pergunta. Nós

precisamos de você, pois todos estão cansados de sermos tratados como lixo e precisamos de

você para vencer essa guerra que está para surgir, uma guerra entre mundos opostos, que estarão

prestes a entrar em colapso.

- Per, como vou fazer isso? Sou somente uma garota – disse dando de ombros.

- Não, você não é, Taylor. O mundo é feito de mentirosos.

- Eu sei, eu falo isso sempre. – disse pegando a barra de chocolate de amendoim na cama

e abrindo.

- Todos nós mentimos mas seu pai mentiu para te proteger . Porém chegou a hora de você

saber a verdade. E a verdade é que você é filha das trevas e filha da luz. Você é metade anjo,

metade demônio.

Jesus pensei. Acho que aquilo explicava muitas coisas.

- Demônio e anjo? – falei cerrando os olhos – Você só pode estar brincando.

- Minha querida Taylor, depois que você entra na terra das sombras não tem o que te faça

querer sair. – Ela disse sorrindo , depois virou a cabeça e me olhou sentada na cama– Aqui somos

todos uma família, unidos pelo sangue ruim.

- Uma família? – falei sem ânimo.

- Sim, e agora você faz parte dela. Bem-vinda à família. – ela se levantou e me abraçou – e

eu não estou brincando, você é uma aberração, assim como eu, assim como Jack e Black, Jane ,

todos, até seu pai. Você tem mais alguma pergunta?

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Não sabia o que perguntar.

Uma aberração? Como eu poderia ser isso, eu era uma garota normal até ontem de manhã,

eu não podia ser assim, não podia.

- Por quanto tempo eu ficarei aqui?

- Não sabemos. – ela ainda estava em pé, colocou os braços na cintura e respirou fundo –

Eu realmente não sei.

- Onde meu pai está? – essa era a principal pergunta.

- Sem dúvida, preso nas masmorras da rainha. Mas não se preocupe, demônios não morrem

fácil. Ele vai ficar bem, prometo.

- Não prometa algo que não possa cumprir, cara Perstefany. – falei séria.

Ela sentou-se ao meu lado e me abraçou, falando ao mesmo tempo:

- Fica calma.

Agora eu estava irritada e levantei furiosa.

- Todo o mundo diz para eu ficar calma, mas não são vocês que estão na minha situação,

estou com raiva, quero quebrar algo!

- Taylor, – ela disse calma – já passamos por isso, todos nós também já ficamos sozinhos

aqui sem ninguém. Agora fica calma, merda. Vai ficar tudo bem com você.

Eu não queria me acalmar, queria ir para casa. Ou melhor queria acordar desse pesadelo,

isso não podia ser real, não podia.

- Desculpa, eu vou me acalmar.

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Caminho sem volta

Capítulo 11

Havia se passado uma semana e Jack e Black não conseguiram salvar meu pai. Aquilo

havia me deixado muito triste. Para não demonstrar fraqueza, eu não chorei perto deles mas acho

que sem dúvida, por essa você já esperava, porque se eles tivessem conseguido salvá-lo não

haveria história, não haveria emoção .

Era madrugada e eu dormia no sofá-cama da Perstefany – que era um pouco desconfortável,

mas eu não estava em condições de reclamar naquela altura .

Ela havia comprado algumas roupas para mim – E todas acompanhavam uma frase como:

“não sou estranha e sim louca”, “coma pudim porque o tempo passa” e a minha preferida, “gatos

também são nossa família”. Elas não faziam muito meu estilo, porém eu tinha que admitir: elas

realmente eram legais .

Naquela noite eu estava acordada, tive pesadelos – que tipo de pesadelo não vou lembrar,

mas vocês não precisam saber dos meus pesadelos, só que eu os tive. Não é mesmo, bando de

cornos? – De repente eu ouvi a porta se abrindo e a luz da vela que havia na sala se apagando.

Fiquei aflita porque vi a sombra da pessoa que refletia no chão, e eu medrosa do jeito que sou,

simplesmente me encolhi e decidi cobrir o meu rosto com a coberta. A pessoa se aproximou de

mim pois eu pude ouvir os passos na madeira da casa. Lembro-me do cobertor sendo puxado e eu

quase gritando, mas logo a pessoa tapou minha boca com a mão . E então vi quem era.

- Oi, pequena – disse Jack tirando a mão da minha boca – pelo jeito te assustei .

- Assustou porra nenhuma, ruivo. – falei empurrando-o e levantando no sofá – Aquilo não foi

um susto, aquilo foi uma atuação de atriz.

- Sei! – disse ele sentando no sofá cama e a luz que vinha de fora era o que iluminava a

sala – Você teve uma ótima performance.

- Obrigada, ruivo. – disse me curvando com a cabeça – Por que está aqui? E por que está

armado com um arco e flecha? Pretende me matar por acaso?

- Não. – disse ele se levantando. Ele usava o moletom vermelho e uma calça jeans com all

star também vermelho, a típica roupa de Jack. Ele sorriu e falou – Quero te levar para ver uma

coisa. Eu estou armado porque aqui é um pouco perigoso à noite... Ou pelo menos sair fora de

Forgeteens é.

- E por que eu sairia de Forgeteens? – perguntei – Não cara, para pra pensar: eu estou aqui,

quentinha, aconchegada, de pijama, ... Por que diabos eu iria sair para um lugar cheio de bichos

malvados que podem me comer ? Olha aqui, em sou gorda, tenho muita carne – falei rindo do que

eu disse.

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- Qual é a graça nisso? – perguntou ele me estendendo a mão para que eu pudesse me

levantar.

- Você não tem senso de humor? – perguntei séria enquanto levantava.

- Não para o seu peso, gosto de você sendo gordinha .

- Eu também – falei – mas tem uma grande diferença quando eu falo do meu peso quando

as outras pessoas falam.

- Boa dedução. – falou ele – Bom, vem comigo, quero que veja uma coisa.

- O que seria essa coisa? – perguntei o encarando.

- Vai ver quando chegarmos lá.

Ele estendeu a mão e fez o sinal com a cabeça para eu segui-lo. Eu coloquei uma galocha

que a Perstefany tinha – uma coisa boa é que eu e ela vestíamos o mesmo número de calçado –

de bolinhas brancas e fui com Jack. Estava escuro, mas ele pegou uma lanterna que tinha na casa

dele e fomos para a floresta – floresta negra, era um lugar tremendamente assustador que na minha

opinião, você poderia morrer em três minutos simplesmente por estar lá. Aquela floresta era um

lugarzinho desgraçado pra caralho.

Fomos para um lugar onde a única luz era a luz da lua que refletia em um lago grande e

cristalino, onde a grama era um lugar macio e havia um cheiro gostoso no ar – parecia de rosquinha

de morango – havia estrelas no céu e todas desenhavam unicórnios.

- Vem, vamos ficar por aqui. – disse Jack . Nos escondemos atrás de um arbusto que havia

entre duas árvores, porem tínhamos a visão perfeita do lago – Aconteça o que acontecer, não faça

movimentos bruscos ou fale alto, isso os assusta.

- Eles quem, ruivo? só tem a gente aqui. – disse. Mas logo vários brilhos começaram a

surgir e a se mover; na verdade, começaram a dançar – O que é isso?

- São as fadas. – disse ele. Uma música de flauta soou no ar – Olha só isso .– ele apontou

para as estrelas e eu olhei .

Os desenhos de unicórnios que se formavam nas estrelas logo se mexeram, e então se

tornaram reais. Havia unicórnios de verdade, com asas e todos eles estavam voando em direção

ao lago. Eles eram lindos, completamente brancos e o pentagrama estava marcado em suas coxas.

Os olhos deles eram como os de Jane, eles eram o infinito . Alguns deles foram beber água, já

outros foram um pouco mais cruéis e começaram a comer as fadas que dançavam perto do lago

– Viu? Eu disse que eles não eram bons e sim, assassinos .

- Por que estão comendo as fadas? – perguntei olhando para Jack. Ele sorriu e respondeu:

- Vamos dizer que os unicórnios estão no topo da lista dos mais perigosos no reino das

trevas.

- Sempre achei que eles fossem bonzinhos. – falei dando de ombros – Por que eles são

assim?

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- Porque quando um unicórnio é banido para o reino, ele perde toda a sua pureza e bondade,

despertando em si mesmo um instinto assassino.

- E por que Jane não é assim? – perguntei. Ele virou a cabeça para o lado como se não

soubesse a resposta .

- Jane é diferente dos outros, por isso foi banida. Ela se recusava a ser tão má e a assumir

a forma de um verdadeiro unicórnio. Ela não queria matar coisas ou viver sob a lei rígida dos

unicórnios que institui que depois que você jamais poderá voltar a ser quem era depois de se tornar

um deles e terá de deixar para trás toda a sua vida.

- Ah... Então Jane foi banida por isso, por não querer ser como os outros?

- Isso mesmo, pequena. – disse ele sorrindo – Todos nós já passamos por algo ruim, não foi

só você .

- Você não faz ideia do que eu passei Jack, então não me venha com essa de ‘eu sei o que

você passou’ porque não sabe. Porque você não sabe o que é sofrer bulliyng até quase morrer.

- Taylor – disse ele sentado – só porque você sofria bulliyng não simboliza que não tenha

sido amada. Eu sei o que você passou, de verdade eu sei e sei que a sua vida não tem nada a ver

com a minha, só estou falando que seja você ou seja eu, já passamos por coisas que nos marcaram.

No meu caso, literalmente. – disse ele dando um sorriso de lado e revirando os olhos – O que achou

dos unicórnios ?

- São bonitos. – falei sentando-me também – São diferentes do que eu imaginava, beeem

diferentes. Existe o bicho papão?

- Sim.

- A rainha do gelo ?

- Sim também

- Demônios também ? – perguntei mais uma vez.

- Sim – disse ele – e não verdade eles são nossos parentes mais próximos. O Black é metade

demônio, pelo menos por parte de mãe é .

- Tá legal... – falei com uma cara estranha de quem nem se importava com aquilo – E você,

é metade alguma coisa? – quando ele ia responder , eu o interrompi e fiz logo outra pergunta – Ei,

você tem poderes?

- Tenho sim, pequena – disse ele cheio de orgulho.

- Posso ver ?

Ele chegou perto, bem perto mesmo, encostou a testa na minha e me disse para fechar os

olhos. Logo comecei a rever a época em que eu tinha dois anos enquanto corria na campina em

cima de casa. Logo depois, quando tinha cinco e ganhei o meu primeiro gato. Em seguida, quando

eu tinha dez e estava começando a ler e então quinze, o dia em que fui humilhada na escola pelo

centésima vez e finalmente quando eu tinha dezesseis e conheci o Jack na cafeteria.

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Ele se afastou de mim e disse:

- Eu vejo o futuro e o passado das pessoas.

Tá, eu precisava admitir que aquilo era legal.

- Isso é incrível! – falei rindo – Espera... você pode ver o meu futuro ? Qual é?

Ele ficou quieto por um tempo, e olhou novamente para frente.

- O seu futuro – disse ele fazendo uma cara de desgosto – digamos que é o único que eu

vejo escuro, é como se você não tivesse, como se você fosse morrer no dia seguinte.

- Cara, se não quiser levar um soco sugiro que pare de falar que vou morrer jovem – falei

mostrando o punho.

- Tudo bem. – falou ele levantando os braços em sinal de redenção. Tenho que admitir, a

cara que ele fez naquele momento foi engraçada – Mas e aí, gostou dos unicórnios? – perguntou

ele de novo.

- Jack, que tipo de garota no mundo não iria gostar de ver unicórnios comedores de gente?

E você já me fez essa pergunta.

- Eu sei , e a Jane odeia unicórnios mesmo tendo sangue deles.

- Estranho. – falei – Mas legal.

- Pequena, temos que voltar – disse ele sorrindo de um jeito fofo – antes que Perstefany note

que você sumiu.

- Tudo bem, ruivo – disse.

- Tá, vai de joelhos para que eles não nos vejam – ele disse maliciosamente - porque se

virem, vão nos atacar e não estou afim de ter que matar unicórnios.

- Isso é um jeito estranho de você dizer que quer ficar olhando para a minha bunda.

- Não vou desmentir porque realmente quero.

- Tarado! – falei rindo.

- Tarado ou não, você tem que me aturar.

Aquilo foi demais para eu aguentar. Eu não iria ficar de quatro na frente do Jack então, me

levantei com bastante cuidado para não fazer barulho e fui correndo até um lugar afastado dos

unicórnios.

- Louca! – disse ele vindo rápido atrás de mim, me pegando pelo pulso e olhando fundo nos

meus olhos – Se te pegassem, eu não ira atrás de você, só para constar.

- Iria sim. – falei sarcástica – Vamos logo .

- Convencida das coisas, hein?

- É que você é meu amigo agora e quando você se tornou meu amigo, se prendeu a mim e

agora não tem como se soltar – puxei ele para perto e dei um beijo em sua bochecha. Ele me

abraçou.

- Vamos voltar logo. E só para constar, eu estava brincando, eu iria atrás de você sim .

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- Eu sei, ruivo. – falei – Eu sei .

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Rabiscos

Capítulo 12

Eu estava enjoada de ficar na casa da Per o dia todo. Então, eu decidi dar uma volta por

Forgeteens. Pois pelo visto, eu ficaria lá por muito tempo. Mas pensando bem agora, não passei

muito tempo lá não. Teve a guerra depois umas outras coisas na minha vida, e daí eu morri. Eu

fiquei olhando o vento frio batendo nas folhas das árvores que tinham ao redor de Forgeteens. Logo

que cheguei, vi Black sentado em um banco grande de madeira com um bloco de desenhos no

colo. E junto, um prato de cookies e uma xícara de café.

Meu estômago não demorou muito para começar a roncar com o cheiro dos biscoitos. Eu

havia perdido o café da manhã por ter dormido demais. Logo que cheguei perto ele já se afastou

um pouco para o lado para me dar espaço para sentar .

- Olha só se não é a namorada do Jack – falou ele abaixando o caderno de desenhos preto

e olhando para mim com um sorriso de deboche.

- Não me chame assim, não sou namorada dele. – falei me sentando .

- Não ... Eu não vou parar de te chamar assim. – ele riu de uma forma má e disse – Namorada

do Jack!

Black me chamou daquele jeito por um bom tempo ... Um longo tempo, mas chega uma hora

que tudo cansa ... Ou morre.

- Pelo que reparei, você gosta de irritar as pessoas.– falei.

Não, ele gosta de caçar borboletas saltitando pela floresta mágica, pensei. Óbvio que ele

gostava de irritar as pessoas, era mais fácil para ele.

- Sim gosto! – disse ele me estendendo o prato com cookies e eu morta de fome, aceitei –

Mas e você ?

Franzi a testa com a pergunta.

- O que tem eu?

Ele olhou para mim e sorriu.

- Como você se vê ?

- Sei lá , não sou um espelho para me definir.

Ele deu uma risada alta levantando a cabeça.

- Espelhos mentem. – disse ele – Eles te fazem ver coisas que não são verdade.

- Grande bosta. – falei revirando o olho – Mas acho que sou meio estranha.

- Meu irmão não te acha estranha, pelo menos é o que ele diz .

AI MEU DEUS, ele fala de mim para o irmão dele... meio meloso e estranho mas tudo bem.

- Ele fala de mim? – perguntei sorrindo.

- Não, ele fala de Madre Teresa . Óbvio que é de você, menina burra – disse ele.

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- Você me acha burra?

- Te acho um monte de coisas – disse ele , se aproximou de mim e disse – mas acima de

tudo te acho uma garota que gosta de se destacar – ele olhou para minha blusa – e de

chamar atenção, até pouco tempo você era uma garota normal – ele olhou para mim e fez

uma voz grossa e assustadora – você tem medo de mim?

- não. E o que eu acho de você, é um garoto que tem medo de mostrar para as pessoas a

verdade.

- que verdade?

- que por trás dessa pose de bad boy, existe um cara legal.

Black era um tanto idiota, ele me lembrava muito os garotos do time de futebol que viviam

falando do meu peso ou da minha aparência...depois as pessoas ainda me perguntam por que eu

tentei suicídio.

Ele pegou no meu braço e um grande frio percorreu a extensão dele, e chegando até meu

coração que doeu muito. E uma imagem de Black virado para trás e na outra hora para frente com

as mãos cobertas de sangue e com rosto de um demônio

- Acho que é essa a hora que você se levanta, sai furiosa daqui e corre para os braços do

meu irmão – disse ele .

Mas eu não saí dali continuei sentada olhando para aqueles olhos vermelhos.

-Não vou sair daqui. – falei – Você pode ser um idiota, mas eu quero conversar. Como é que

Jack te atura ?

- Não faço a mínima. – falou ele respirando fundo – Bom, ele é meu irmão então acho que

tecnicamente, e tem que me aturar por muito tempo .

- Espera.. Vocês são irmãos de sangue? – perguntei.

- Não, sua tonta ... Ele não falou para você? Mas que corno desgraçado. -disse ele.

- Se me falou eu não me lembro – eu na verdade me lembrava naquele tempo, mas agora

fodeu, porque não lembro mais.

- Não. Não somos irmãos de sangue e estamos juntos desde pequenos. Depois que ele saiu

do orfanato para tentar ser alguém na vida, foi banido dias depois. Como eu já nasci nas trevas e

conhecia todo o lugar, decidimos virar amigos e conforme os séculos foram passando, nos tonamos

irmãos. Praticamente. Bom, espera um pouco. – disse ele voltando a desenhar, mas logo parou

de desenhar, arrancou a folha do caderno e me entregou . Tinha um desenho do meu rosto .

- Obrigada, você desenha bem.

- Obrigado, namorada do Jack. – disse ele se curvando com a cabeça de uma maneira formal

e estranha na minha opinião – Desenho desde que eu tinha 3 anos.

- Quantos anos você tem agora?

- Quase mil anos.

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- Meu Deus do céu e da terra! – falei boquiaberta – Como assim quase mil anos de idade?

- Ah, fala sério! Você não sabia disso?

Neguei com a cabeça.

- Jack nunca me falou isso.

- Bom, meu irmão é mais novo que eu, ele deve ter uns novecentos e noventa e quatro.

- Vocês são imortais?

- Não. – disse ele – Quer dizer, eu sou, mas o outros de Forgeteens não. A idade deles

funciona de uma maneira diferente, é como se um mês fosse equivalente a cem anos na vida deles.

- Não entendi. – falei virando o rosto – Fale português, por favor.

- Vamos supor que tenha se passado uma década para todos de Forgeteens. É como se

tivesse passado somente cem ou cinquenta anos. O tempo para eles anda mais devagar, bem

lento, então eles envelhecem, só que demora e muito .

- Ah tá, isso é loucura, mas legal – falei – Eu sou assim também?

- Não sei, não sou meu irmão para saber. – disse ele voltando a desenhar – Eu sou o imortal.

Eu decidi mudar de assunto porque tudo aquilo para mim era um choque. Descobrir que o

garoto que você gosta é muito mais velho do que você imaginava era completamente estranho.

Não era nojento e sim, diferente . Um estranho bom.

- O que mais você sabe fazer além de desenhar bem? – perguntei.

- Eu poderia te fazer gemer e gritar meu nome – ele disse maliciosamente parando de

desenhar e olhando para mim.

- Pervertido! – ele riu e eu sabia que ele estava brincando.

- Na verdade, sou um pervertido, mas acho que se eu mostrasse para você quem eu

realmente sou, você talvez ficasse com medo de mim, namorada do Jack.

- Black – falei levantado a manga blusa que eu usava e mostrei as cicatrizes no meu pulso

– se eu te contasse sobre o meu passado, você ficaria assustado.

- Bom ... - ele olhou para mim e apontou com o lápis para os meus pulsos - Espero que você,

namorada do Jack, tenha tido uma boa razão para ter feito isso.

- E eu tinha

- Bom, eu posso falar. A morte não é uma coisa tão boa assim.

Eu quem digo isso .

- Você, por um acaso, conhece a morte ?

- Conheço sim. – disse ele voltando a desenhar – Ele é meu pai . E te falo, ele é um psicopata,

cruel e mau.

- Seu pai é a morte?

- Por essa você não esperava, né? Talvez você já esperasse mas enfim, a história é minha.

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- Sim e eu odeio o meu pai. Mas uma coisa sobre mim é que quando eu nasci, meu pai tirou

todos os meus sentimentos, todos mesmos. É por isso que sou assim com os outros. Depois de

um tempo recuperei alguns, mas não são os bons.

- E porque ele fez isso ?

- Para eu não ter de matar as pessoas – falou ele de uma maneira como se amasse a palavra

morte.

- Então ... – girei a mão para ele continuar a explicar.

Por fora eu estava normal, mas por dentro eu estava angustiada e me perguntando: como

uma pessoa pode ser tão cruel, meu deus? Isso é maldade, ele não sente nada?

- Taylor, namorada do Jack, o que eu posso falar é que eu não tenho sentimentos

relacionados ao amor, é como se eu fosse feito somente de arrogância. Mas acho que esse e um

dos motivos para eu ter uma vida sexual tão ativa. Eu gosto de transar com as garotas, fazerem

elas se apaixonarem e entregar seus corações frágeis para mim. Depois eu as deixo, simplesmente

sem olhar para trás e sem me arrepender de tudo que eu fiz.

- Então seu pai te amaldiçoou com isso?

- Não, meu pai me fez um favor. Ele me deu um dom de não sentir remorso e eu sou grato

por isso.

- Temos que amar, Black. – disse fazendo uma cara de pena para ele, eu tinha me sentido

mal por isso.

- Nem todos. Para mim, o amor é como um buraco negro que destrói tudo que tem em seu

caminho .

- Então você não ama a nada nem a ninguém ?

- Não.

- Nem ao Jack ?

- Ninguém.

Olhei para ele.

- Vou te mostrar como pode ter sentimentos, todas as pessoas sentem.

- acontece que não sou uma pessoa. Não sou como vocês bárbaros.

Bárbaros?

- como assim “nos bárbaros”?

- é assim que chamamos os humanos, quem não é um ser das trevas é considerado um

bárbaro.

Eu me levantei para pensar um pouco, e ele não parou de desenhar nem um minuto em

que conversamos o papo dele não amar, era como se ele não quisesse olhar para a minha cara e

falar tudo aquilo. Mas na verdade ele não olhou porque não quis, se ele não sente, não tem o que

temer.

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Logo eu vi Jack andando em minha direção : ele usava uma calça jeans e o capuz vermelho.

- Oi, pequena. – disse ele me beijando na testa.

- Oi, ruivo. – falei olhando para cima , para aqueles olho heterocrômicos, azul e verde.

- Oi, Jack.– falou Black sem tirar os olhos do caderno.

- Oi, Black. – disse ele – O que você está desenhando dessa vez? Mais um desenho de

coisas sangrentas? Ou dessa vez é diferente?

- Diferente dessa vez. – ele falou com um sorriso falso – Acabei de desenhar a sua

namorada e agora estou desenhando a Laila – ele levantou o caderno sem linhas mostrando o

esboço de uma garota com cabelos compridos e ondulados e um corpo deitado em uma cama

completamente nu.

- Laila? – disse Jack – A filha da rinha da luz? Black, já não falei para parar com isso?

- Ela é gostosa. – disse ele olhando para gente – E além disso, eu não me importo com a

opinião de vocês.

- Vamos dizer – disse Jack no meu ouvido baixinho – que Laila é uma tremenda puta e meu

querido irmão não dispensaria nunca uma trepada sacana.

- Isso é uma coisa estranha de se falar para um garota. – disse devolvendo os sussurros –

Black precisa de amor com urgência.

- É, pequena, ele precisa. – ele disse colocando os braços ao meu redor – Quer assistir a

um filme na minha casa?

- Prefiro a da Per – falei sorrindo timidamente . Eu não iria para a casa do Jack nunca. Se

ele tentasse algo, eu morreria de novo.

- Tudo bem então, vamos para a casa da Per. – disse ele sorrindo.

- Usem camisinha. – falou Black voltando a desenhar – Nada melhor que sexo com

segurança.

- Black, cala a boca. – disse Jack. Eu estava completamente corada de vergonha alheia –

Calma, pequena, no momento quero ver um filme.

- Tá legal. – falei respirando fundo duas vezes para voltar à cor normal

- Você fica linda corada – disse Jack no meu ouvido .

E logo começamos a andar para a casa da Per. Ainda bem que lá tinha comida porque só

havia comido dois cookies e ainda estava morta de fome.

- Que filme vamos ver, pequena? – falou ele entrando na casa da Per que não estava

porque foi visitar uma amiga de um outro reino.

- ‘Garota em progresso’.– falei – Eu juro pelo amor de deus que se você tentar me tocar,

eu arranco seu braço fora com a faca de churrasco.

- Okay. – disse ele – Mas calma, não sou meu irmão para tentar te convencer a transar

comigo.

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Ele foi até a pilha de Dvds e pegou o filme . Eu fui para a cozinha fazer pipoca e achar algo

para comer enquanto ela não ficava pronta.

E então, depois que a pipoca ficou pronta, fomos ver o filme.

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Sorvete de sushi

Capítulo 13

Pela primeira vez em muitos anos de dias nublados e chuvosos em Forgeteens, finalmente

saiu um pouco de sol por mais que fraco que fosse. Quando estava saindo da casa de Perstefany,

a encontrei na cozinha alimentando meus gatos com atum.

Eu tinha dois gatos: Lorde e Chiver, meus dois amores. Amava eles, porém acho que

Perstefany os amou mais.

- Bom dia, Perstefany. - falei pegando Muriska em meu colo , com o pelo vira lata que eu

falava que parecia sorvete com coca - E aí, como estão meus pequeninos?

- Bem - ela disse pegando lorde no colo - seus gatos estão se acostumando com o lugar,

mas como você está aqui eles não fogem.

- Mysmysmys - chamei os gatos e eles vieram miando e se esfregando na minha perna –

sabe, aqui não é tão ruim, e sossegado, mas tenho que admitir que sinto falta de tomar cappuccino

no centro da cidade. Você ia gosta de lá - falei encostando a cabeça no ombro dela, com as

manchas de um gato, preto e laranja - tem sorvete de sushi. Eu não gosto, mas acho que você iria.

Então ela se levantou e pegou uma bolsa vermelha de alça grande , para ir até a casa de

Jack e Black que se encontravam jogando vídeo games de zumbis. Logo eles saíram pela porta e

vieram em minha direção.

É óbvio que você já sabe o que eles vão fazer , mas mesmo assim tenho que contar .

- Bom, se você quer sair - falou Perstefany - não vai deixar a gente aqui.

- Mas não disse que queria sair. – falei. Black deu meia volta para voltar ao jogo que foi

interrompido por Perstefany.

- Black, volta aqui agora - disse ela sem olhar para trás e mesmo assim, não perdeu o efeito

feroz da voz – Vamos, Taylor, você não disse que sente falta de sair?

- Não, eu disse que sentia falta de tomar cappuccino - falei sorrindo - mas agora que estão

aqui, vamos mesmo assim . E depois vocês podem me levar para minha casa para pegar alguns

livros.

- Tá - disse Jack - mas esperem um pouco, vou pegar uma blusa - ele se virou e saiu

correndo para dentro da casa. Quando voltou, estava com uma blusa de moletom vermelha com

capuz.

E então seguimos até a cidade. Quando chegamos, estava cansada de tanto andar.

Perstefany tinha dito que o caminho era rápido, que ‘dava para ir numa perna e voltar na outra’.

- Per, você não disse que era rapidinho? Que era daqui para ali?- falei pegando a bombinha

de asma - Meu Deus ... Alguém mais está com calor ou sou só eu?

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- Deixa de ser dramática. - falo Black fazendo cara de deboche - Não foi tanto assim,

namorada do Jack.

- Quantas vezes - falou Jack olhando para o irmão - vou ter que falar, ela não é minha

namorada.

- Mas aposto que queria que ela fosse - falou Black com um sorriso de lado.

- Vocês dois - falou Perstefany puxando Jack para longe de Black - parem de tanta

retardadisse. E Black, se continuar com isso, entro no seu quarto à noite e raspo seu cabelo. E eu

sei como você gosta do seu cabelo.

Verdade verdadeira, Black amava o cabelo, o que era meio estranho pois o cabelo dele era

uma bagunça, todo arrepiado. Parecia que ele se levantava da cama e nem penteava o cabelo. Era

estilo do Jack, sabe, eles podiam não ser irmãos de sangue mas tinham muita coisa parecida. Não

era à toa que eles sempre foram melhores amigos.

- Não, meu cabelo não! Corta o do água de salsicha - falou apontando para Jack.

- Olha como fala com seu irmão! - falou Perstefany com raiva - vamos logo antes que eu

bata nesse cara, Taylor. Onde é que fica esse café?

Olhei para frente e vi a placa que indicava a cafeteria.

- Ali - apontei com o dedo quando vi Letícia , Amanda e Ariana entrarem o que me fez suspirar

e fazer uma cara de ‘MEU DEUS, POR QUE EU?’.

Quando entramos, achamos uma mesa perto da janela, a mesma em que eu conheci Jack.

Como sempre ninguém foi atender a gente por estarem comigo ... Acho que naquele tempo onde

eu ainda era inocente, as coisas pareciam mais fáceis.

Até que Black, como sempre desde que o conheço impaciente, foi até o garçom e disse:

- Estamos esperando há mais de meia hora e nada então, larga a porra dessa mesa e venha

atender a gente - e logo ele voltou à mesa com o garçom o seguindo.

- Poderia anotar o seu pedido - falou ele. O garçom era um adolescente que estudava na

minha escola, mas nunca trocou sequer meia palavra comigo, mas já era normal ninguém falar

comigo.

- Bom, eu - falei olhando para o cardápio - vou querer chocolate quente sem chantilly e um

prato de cookies de chocolate.

- Vou querer uma lata de atum e sorvete de sushi com um copo de leite - falou obviamente

Perstefany com sua apetite felino e estranho.

- Eu vou querer uma porção de batata frita com bacon e maionese – falou Jack - e um copo

de Coca-Cola.

- Eu - falou Black olhando para o garçom com cara de tédio - um x-burger duplo .

- Está bem - falou ele anotando tudo - vai dar vinte e três reais e quinze centavos mais a

gorjeta. Vão querer mais alguma coisa ou só isso?

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- Só isso. Obrigada, David - eu sabia o nome dele, claro que sabia, mas pergunte se ele

sabia o meu? Claro que não.

- De nada - falou ele sem olhar na minha cara e saindo.

Lado bom de estar morta .... Não aturo mais esses desgraçados me atormentando as

fuças, bando de imprestáveis que não servem nem para trocar uma lâmpada.

- Aqui estão os pedidos - falou David segurando uma bandeja com nossa comida - seu

sorvete, leite e atum, suas fritas e refri, seu chocolate quente e cookies, e seu x-burger e a garota

da mesa sete me mando entregar isso. - um papel com o número dela .... Que imaginação criativa.

Ele se virou de novo e saiu.

- Pelo jeito, Black vai ter com quem "brincar” hoje à noite - falou Perstefany pegando uma

colher do sorvete e o saboreando - Meu Deus, que coisa boa, dá para sentir o sushi!

Mas vamos começar com as verdades e fatos sobre sair entre amigos.

Para mim era meio estranho começar ter amigos pois passei minha vida achando que todos

me odiavam e de repente, Jack aparece naquela cafeteria lotada e senta justo ao meu lado, então

acho que eu posso falar que tudo começo no lugar onde minha história começou. Geralmente a

nossa história normalmente começa em um lugar e termina no mesmo.

Acho que como eu sinto e escrevo essa história, decido como ela vai ocorrer: eu posso

mentir ou inventar qualquer coisa sem você saber se aconteceu ou não, mas não vou fazer isso,

não quero que se lembre de mim como uma grande mentirosa ou enganadora solitária e teimosa.

Quero só que escute e preste atenção a tudo, pois só poderei contar uma vez.

- Acho que eu queria ser imortal. - falei de repente, e todo mundo em silêncio olhou para

mim - Seria mais fácil e também adoraria poder ver como vão ser as coisas daqui a cem, duzentos

ou trezentos anos, ver as coisas mudarem e evoluírem.

- Mas a imortalidade tem um preço, Tay. - falou Black - O preço da perda. Já falamos sobre

isso.

- Acho que não tenho muito a perder, já perdi meu pai, minha liberdade, minha mãe que nem

conheci... acho que não tenho mais o que perder.

- Seu pai não está morto, te falamos isso - falou Jack deitando nos braços que se encontravam

em cima da mesa - quando voltamos de Light, nós ...

- Eu sei - falei colocando um dos cachos que caíam no meu olho atrás da orelha - mas em

dúvida não vou voltar a vê-lo mesmo. Sem dúvida ela vai matá-lo.

- Tenha fé, Taylor - falou Perstefany colocando a mão no meu ombro - irá vê-lo de novo .

- Tenho fé, mas não acredito muito nessa possibilidade.

- Se você fosse imortal - falou Black - teria que viver cada dia de sua vida sentindo falta

dele .

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- Eu superaria, pois estaria distraída - falei tomando mais um gole do chocolate quente -

vivendo minha vida. Vendo o mundo, participando da história.

- Mas perderia a gente, - falou Jack - iria ver todos crescendo e vivendo suas vidas um dia

por vez, e você ficaria para trás, solitária, sendo uma das poucas imortais do mundo. Você teria

tudo mas ao mesmo tempo não teria nada – por mais que demoremos para morrer, nos

morreremos um dia, e você verá a nossa morte. Black terá que conviver com isso, mas ele não se

importa.

Por que esse ruivo sempre teve razão? Ou melhor, por que todos eles sempre tinham

razão?

Talvez porque Jack vê o passado, o presente e o futuro. Mas é só um talvez. Ou ele é

somente um cara com muita sorte de saber adivinhar e ler as pessoas, desvendando seus destinos

confusos.

- Como vocês conseguem me fazer mudar de ideia? - porque eles eram... quase, eu disse,

quase mais teimosos que eu.

- Digamos que é um segredo - falou Black em meu ouvido, o que me fez arrepiar, pois sua

voz mortalmente perfeita era tentadora.

Mas voilà, uma coisa daquele dia, naquela cafeteria, por sorte tanto Leticia, Amanda e como

Ariana não vieram me encher o saco com os palidinhos, com o meu peso ou minha postura ou

altura... Enfim, elas não ficaram no meu pé. Então chega para lá, caralho.

Mas acho que elas não me atormentaram porque estavam ocupadas demais babando nos

pés de Black, o que era ridículo, não sei o que tinha nele que as atraía, charme sexy de vampiro

não era, porque ele não era um; podia ter presas, mas não era: era o filho da própria morte que

está sempre presente comigo. Malditas sejam as pessoas bonitas. Não tenho inveja delas, e sim

nojo, pois perdem seus tempos com coisas desnecessárias. Tudo bem se arrumar, mas nossa é

chato ver aquelas garotas no banheiro feminino passando batom, penteando o cabelo ou passando

perfume, o que, resumindo, para mim era uma completa futilidade. Pelo que sei banheiro é para as

necessidades humanas e não para as barbies ficarem passando massa corrida na cara .

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Dias de luta

Capítulo 14

Era madrugada, uma noite fria, com meus gatos deitados comigo no sofá-cama de

Perstefany, que dormia em seu quarto. Era grande o tédio de somente ouvir o som do vento batendo

nas folhas das árvores que haviam dentro e ao redor de toda Forgeteens.

Sem nada o que fazer, e tremendamente entediada, fechei meus olhos, não para dormir,

mas para pensar na minha casa, no meu pai, em como ele deve estar nas mãos de Julie, na fome

que devia estar sentindo, na falta da minha companhia... eu acho que naquele momento fechei os

olhos para imaginar e fugir deste mundo, ir além de minha imaginação, ir para um lugar onde ser

estranho era muito mais que uma maneira de agir: era se sentir livre. Ser estranho à sua maneira

sem ser criticado - será que é sonhar demais, pedir um mundo onde tanto eu como você tenhamos

nossa verdadeira liberdade de expressão?

Acho que sim, eu acho que não era somente meu pai que sentia falta de minhas maluquices

pela casa, das minhas peças de roupas jogadas pelos cantos, dos meus livros de fantasia em cima

das mesas, ou das noites em que eu tinha pesadelos e ia dormir com ele. Das bagunças dos nossos

gatos quebrando tudo da casa. Acho que pela primeira vez naquela noite eu pude sentir o que era

sentir a falta de um pedaço dentro de você, me senti solitária, confusa e com medo de enfrentar o

mundo e falhar.

Mas não posso temer o que no presente vivo todos os dias, a saudade de quem me ama

ou de quem me amou.

- Eu quero você de volta - falei começando a chorar - quero minha vida de novo, quero tudo

que tinha de novo. Não quero mais ser quem estou me tornando - sussurrando no meio da noite

por amor, quem nunca?

Seja como for, não podia continuar sendo a garota depressiva durante a noite e de dia ser a

garota-sorriso que esconde a dor dentro de si mesma.

Eu era e continuo sendo um iceberg, que somente um pedaço aparece acima da água, mas

se olhar direito verá muito mais que a soma das partes. E eu sou assim, me escondo e não me

mostro de verdade.

Não sei se você entende direito o que quero falar com isso, mas me sinto destruída, como

se tivesse acabado de sair das sombras e visto a luz... Como se fosse possível... Ainda estou no

escuro, presa com meu medo no mesmo lugar.

Eu pude ouvir passos por fora da "casa", e como sou a curiosa que algum dia vai perder a

cabeça por isso, fui ver o que ou quem era. Peguei o cobertor e me enrolei nele e saí. As estrelas

brilhavam forte no céu e a lua cheia iluminava o caminho junto com minha lanterna.

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Foi quando vi que era nada mais, nada menos que Black andando com o caderno de

desenhos na mão e na outra o lápis. Ele foi até uma fogueira, afastada de onde todos se

encontravam dormindo.

Me sento em um toco de madeira no chão e começo a desenhar.

Fui falar com ele para ver se ele estava bem... Cheguei perto dele e disse:

- Black - falei ajeitando o cobertor em volta do meu corpo - posso me sentar aqui?

- Claro namorada do Jack - falou ele sorrindo, mostrando as presas - o que faz acordada a

uma hora dessas?

- Eu ia perguntar a mesma coisa - disse - eu perdi o sono. E você, qual sua desculpa?

- Acabei de voltar da cidade de luz, depois de uma madrugada quente com Laila, e não

consigo dormir. Tô muito agitado.

- Você sem dúvida é do tipo "eu transo e muito"? - perguntei

- Na verdade sou, mas nunca de me apaixonar. Mas o porquê você já sabe.

- Sei - falei olhando o desenho que ele fazia - está desenhando o que? Parece ser um

unicórnio.

- Mas é - disse ele me mostrando o desenho lindo - eu sempre fui meio que um fã das

criaturas belas e assassinas.

Eu ri do comentário, e ele voltou a desenhar enquanto eu olhava ao redor observando o

lugar.

- Pelo jeito você gosta de ficar sozinho... Escolheu um lugar bem afastado das casas

Forgeteens.

- Na verdade não, eu só gosto de ficar quieto no meu canto, me sinto à vontade.

- Sozinho onde ninguém te escuta?

- Não estou sozinho, estou com meus demônios internos.

- Esses são os piores tipos que existem - falei me lembrando dos que eu enfrento até hoje.

- Acho que você e eu, Taylor, temos muito em comum, nós dois enfrentamos nossos

demônios internos sem armas e acabamos feridos no final da batalha.

- Acho - falei encostando a cabeça em seu ombro - que você esconde coisas dentro de

você que não quer que os outros saibam, por isso age como um bad boy que come o mundo todo.

- É complicado - falou ele pegando minha mão - a minha vida é complicada.

- Estamos pegando fogo - disse sorrindo e sentindo o cheiro que saía da blusa de Black.

Era de algo sombrio e do perfume de Laila.

- O quê ? Como assim, " estamos pegando fogo "?

- Minha coberta - falei pegando ela com uma mão - ela tá pegando fogo, encostou na

fogueira.

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Logo ele riu e assoprou bem forte, e o fogo ainda baixo que havia na ponta da coberta se

apagou.

- E acho que literalmente estamos pegando fogo - disse ele – sabe, namorada do Jack, você

tem mais poder do que imagina.

- Por que vocês falam isso, sendo que eu não tenho dom para nada?

- Você tem, e pelo jeito não é um dom da luz, e sim das trevas. Assim como o meu, como o

do Jack, como o de todos daqui.

- Você - disse soltando a mão fina, comprida e pálida dele - também tem poderes? Quais

são?

- Ser extremamente gostoso - levantei a sobrancelha com uma cara que falava "sério, deixa

de ser idiota " - na verdade, meu poder é um pouco mais complicado.

- Qual é?

- Eu posso te torturar, torturar você com seu maior medo, te fazendo desejar a morte, até

não poder mais e só enxergar a escuridão.

Meu deus, aquilo, na minha cabeça, parecia uma cena de filme de terror, estilo “Invocação

do Mal”... Ou “Jogos Mortais”, cruz-credo, não quero nem pensar em ser devorada por meu maior

medo até desejar a morte... Quero viver minha vida com os defeitos e medos normais que ela tem

a me oferecer, mas principalmente as alegrias e emoções.

- ser filho de um psicopata não deve ser bom - disse com cara de pena.

- E não é. - disse ele olhando nos meus olhos; pude ver que Black não era somente mau:

ele era bom, dava para ver através dos olhos - Você é virgem?

- Quê? – falei, surpresa; por essa eu não esperava - Como assim virgem?

- Ah, você sabe, você já teve relações sexuais?

Cara, eu sei o que a palavra virgem significa, não precisa me explicar, não sou burra, posso

ser um monte de coisa mas burra jamais serei.

- Fala sério, se eu não tinha nem amigos ia ter um namorado?

- Depende, namorada do Jack, você é bonita. Acho que um cara teria sorte de te ter.

Não entendo o Black, uma hora ele está querendo me assustar e na outra fala coisas fofas,

estranho.

Naquela hora fiquei pensativa antes de responder, mas no final tudo que falei foi um simples

e idiota:

- Obrigada – disse, corando e surpresa, o que resulta em eu ter ficado toda estranha - mas

não sei, eu não ligo para namorados, ou sei lá.

Não sei por que eu corei, porque sou... Sei lá, retardada por ter achado que aquilo era um

bom elogio... A quem eu quero enganar, eu havia gostado dele ter falado aquilo, achei fofo vindo

dele, mas, bem, Black, por que tão... Black?

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- Você não é lésbica, é ? - disse ele.

Lésbica, eu? Sério, Black, tenho cara de ser lésbica?

- Não, claro que não, não sou como a Perstefany.

Aposto que vocês não sabiam, porque esqueci de contar, mas conto agora: Perstefany era

e ainda é lésbica, notei de primeira, ela podia ser chique e ter estilo, mas era uma completa gay...

A gay mais gata que já vi... Sacaram, a gay mais " gata " que já vi, porque ela é metade gato e...

Ah, deixa para lá, não sei fazer piada mesmo, na verdade não sei ser engraçada. Sarcástica, talvez.

Ficamos conversando por um bom tempo. Ele passava depressa, na verdade passou muito

rápido... Ou fui eu que nem prestei atenção, porque quando eu percebi já estava amanhecendo e

eu precisava dormir um pouco, pois senão não aguentaria ficar de pé no dia seguinte.

- Bom acho melhor você voltar, logo vai amanhecer - disse ele levantando e me olhando –

e, a menos que queira que boatos de que estou com você rolem por todo esse lugar, é bom voltar

para a casa de Perstefany.

- Tá bom – disse, tentando me levantar, o que também não deu certo, só me fez cair para

trás - você... ai... será que você pode me ajudar, não consigo... haaa - disse quando ele pegou

minha mão e me puxou para levantar - brigada, ser gorda tem suas desvantagens. Mas tudo bem.

- Tá... Bom, boa madrugada, namorada do Jack, sonhe comigo .

Nem era bem mais madrugada, era quase dia, mas tudo bem.

- Por que sonharia com você? - perguntei

- Que garota não queria sonhar comigo? Olha só para mim. A beleza chega a cegar.

Como ele era convencido, pelo amor de Deus... Convencido da vida, convencido sobre

garotas, convencido de que era o rei dos infernos mais gelados.

- Idiota - falei brincando.

- estupida - retrucou ele, rindo e saindo andando com o caderno e o lápis na mão - te vejo

no café-da-manhã, se não for comer na casa da Per.

- Tá bom – disse, começando a andar - te vejo amanhã, psicopata.

Ele riu e saiu flutuando, entrando em sua casa e de Jack. E eu fui para a casa da Per.

Era disso que eu precisava, conversar com alguém, com um amigo, para parar de pensar

nas saudades que sinto do meu pai, esquecer o que eu sinto por dentro de mim, mas foi legal,

naquele tempo, conhecer aquela parte de Black, saber que eu não era a única a sofrer com

demônios internos. Pois o filho da morte tinha muita coisa a contar para o mundo, e um dos jeitos

que ele achou de se expressar foi desenhando, pois na minha vida ou na sua você não vai achar

um cara que desenhe unicórnios. Nunca. Pode procurar, mas vai ser difícil achar.

Principalmente um lindo e convencido, com um irmão magrinho e sexy com um lindo cabelo

ruivo laranja e um gosto estranho para moda, que gosta de repetir a mesma combinação de roupa,

que se chama Jack e é o cara por quem me recuso por dentro, e meio que por fora, a acreditar que

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estou apaixonada ... Ou sei lá, tendo uma simples quedinha cheia de flores ao redor... Será que é

normal olhar para uma pessoa, ou simplesmente ouvir ele falando que você é linda, e seu coração

acelerar, ou derreter como manteiga em cima de uma torrada?

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Capitão Gancho

Capítulo 15

Black estava em cima de uma árvore tocando baixo durante uma madrugada, e, como eu

nunca conseguia dormir sem estar em minha casa, eu ficava à noite conversando com ele. E hoje

foi uma dessas noites em que eu fiquei conversando com ele.

Estávamos no mesmo lugar de um tempo atrás, com a fogueira acesa e alguns

marshmallows no fogo.

- Bom, pera só um pouco - falei - me explica de novo, Perstefany tem uma paixão platônica

por uma garota chamada Tamara, que é uma sirena da floresta das trevas, mas o problema é que

ela é uma completa hétero?

- Sim - falou ele - espera aqui, vou lá chamar ela para te explicar. Bom, ela realmente a

ama, pena que a Tami não nota isso. Ou, se ela sabe, provavelmente nunca retribuirá o amor de

Perstefany, porque pelo que sei ninguém vira lésbica, a pessoa já nasce assim.

Concordei com ele e então me veio à cabeça: o que que era uma sirena?

- Tá, mas uma pergunta... O que são sirenas?

- Não sou muito bom para explicar as coisas, mas sirenas são meio que como sereias, na

verdade são parentes bem próximos na mitologia grega. As sirenas são metade pássaros, foram

expulsas do monte Olimpo por inveja das deusas.

Concordei com a cabeça; então foi assim que Tamara tinha sido banida, por inveja das

deusas do Olimpo. Mas bem que eu queria saber por que ela teve inveja das deusas... Acho que

foi pela beleza, porque sem dúvida elas eram lindas.

- Black - falei olhando para a fogueira e para os marshmallows - se eu tenho poderes, quais

são ele?

- Na verdade - disse ele, encostando em mim e tocando o baixo, cantando a música “Capitão

Gancho”, da Clarice Falcão - eu não posso ver isso, quem pode ver é meu irmão, eu posso somente

arrancar seu coração pela boca. - passou um tempo e ele continuou cantando - Ou se eu menino

fosse mais amado, se não desse errado, não seria eu... – ele parou de cantar por um momento e

então falou, sorrindo: - Quer dar uma volta à luz noturna? Acho que você iria gostar.

- Não sei não. - olhei ao redor e ouvi o vento soprar forte e uns barulhos - Eu tenho medo do

escuro, não seria meio legal se eu ... Não quero, obrigada.

Mas Black era muito teimoso, ele se levantou colocando o baixo nas costas e falou no meu

ouvido:

- Prometo não te machucar, namorada do Jack – aquilo me fez tremer, porque quando ele

falou aquilo a voz parecia a de um demônio, estilo aqueles filmes de terror.

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- Black , nem pense nisso - falei tarde demais, ele já havia me puxado para o meio da

floresta e eu medrosa como sempre, me segurei para não gritar. A mão de Black era muito fria,

parecia gelo – Black, podemos chamar o Jack para vir com a gente e Perstefany também? Não tô

muito segura indo só com você.

- Você não vai sozinha comigo mas também com meu irmão e a gay mais felina do mundo.

- concordei bem na cara de pau - Vai lá sua tolinha – ele deu uma risada - e vê se não acorda todo

mundo de Forteenges.

- Melhor gorda do que ser uma pessoa que nem você. – falei. Então eu ele me largou e fui

até a casa dele e de Jack.

-Ai! - falei tropeçando em uma raiz de árvore e quase caindo no chão molhado de sereno -

Eu tô bem - falei me levantando e olhando para traz - puta que pariu - falei percebendo a ausência

de Black - estou falando sozinha. Estou oficialmente ficando maluca.

Acho que naquele tempo eu era mais retardada do que sou agora , pois eu estava falando

sozinha , mas não notei até chegar na casa dos irmãos fraternos Jack e Black, o que também não

faz sentido porque os dois nem são irmãos de sangue, muito menos gêmeos.

Entrei na casa dos dois que por sorte estava destrancada, não era como uma típica de

garotos adolescentes, bem pelo contrário. Era tudo bem organizado e eu, curiosa como sou, fui dar

uma olhada em tudo.

O sofá laranja era bem macio e confortável diferente do da Per. Os jogos de vídeo game

eram organizados em ordem alfabética, a TV de tela plana era preta e grudada na parede, havia

do outro lado da sala uma estante de livros organizados por ordem alfabética do nome do autor, no

corredor logo em frente tinha duas portas uma ao lado da outra .

Abri sorrateiramente uma delas e dava no quarto do Jack, que se encontrava dormindo feito

pedra; a outra estava trancada, então presumi que era o quarto de Black. Mas então voltei ao quarto

do Jack.

- Jack! - falei cutucando ele - Jack - dei mais uma cutucada e o idiota não acordava. Jack

era o primeiro cara que eu conheci que dormia mais que eu. – Jack, por favor, acorda!

- Só mais meia hora Black- disse ele sonolento.

- Não é o Black, é a Taylor. Anda, Jack, sai dessa cama! - mas o filho da puta teimoso ignorou

o que eu tinha falado colocando a coberta no rosto.

- JACK - gritei no ouvido dele - A TAYLOR FOI RAPTADA PELA JULIE.

Contei na minha cabeça e em menos de três segundo ele pulou da cama. Todo atrapalhado

enrolando a coberta nos pés.

- O que?! - falou ele se levantando do chão depois de cair da cama pelo susto - Taylor, o

que faz aqui? Está tudo bem?

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- Melhor impossível ... Pelo menos de saúde está tudo bem. Na verdade não, não muito mais

okay - ele me interrompeu e disse.

- Você fala demais, sabia ?

Sério, até você? Ah, vá tomar naquele lugar, eu vejo os meus defeitos então não preciso que

fique me lembrando deles, pensei.

- Eu sei disso. Mas queria saber se não que dar uma volta comigo e Black e estou com

medo de ir sozinha com ele. Ele tem cara de... – balancei as mãos em círculos para mostrar mais

ou menos o que eu queria dizer.

- Um maníaco. Que quer te estripar entre as árvores?

- Isso mesmo. Mas eu ... - pensei um pouco antes de falar que ele era legal, mas no final

mudei de ideia - Deixa para lá - acho que não pegaria bem falar que Black tinha uma mente

perturbada pela solidão.

- Bom, você quer conhecer o que, pequena?

Revirei a cabeça de um lado para o outro feito uma boba para pensar melhor.

- Não sei, Black que sugeriu dar uma volta, então não imagino para onde ele vai me levar.

- E para o seu bem, sugiro que nunca pergunte, Black é como um poço sem fundo de tanta

... Idiotice e mistério.

- Ele não é misterioso. – disse.

Enquanto isso, ele começou a tirar a blusa na minha frente. Pude ver seu corpo lindo- que

por acaso eu havia me enganado, não era muito magricela assim - e o pentagrama marcado nas

suas costas, uma tatuagem nas costelas escrito em inglês não sei o que. E então, ele reparou que

eu estava olhando para ele e disse:

- Se não quiser me ver só de cueca, sugiro que saia – ele se aproximou de mim, bem

pertinho e então acendeu a luz que me cegou rapidamente – fiquei vermelha; ele sorriu de lado.

- Você quer que eu não fique com vergonha de te ver tirando a roupa na minha frente ,assim

do nada, sem aviso nenhum? Ah, vai se danar!

- Calma, pequena.

- Estou calma, muito calma. – falei e ele deu uma risada abafada – Não ria de mim.

- Me obrigue – e então ele se virou e foi ate uma cômoda e tirou de lá uma blusa branca.

Eu me aproximei um pouco antes que ele colocasse a blusa e então, sem permissão dele,

toquei no pentagrama em suas costas. Ele não fez nada, não se virou ou coisa do tipo .

- Taylor, tenho que vestir a blusa.

- Esqueça essa blusa idiota, um corpo bonito como o seu tem que ser mostrado. - passei

os dedos pelo circulo e a estrela que afundavam em sua pele – isso dói?

- Não.

- E isso? – falei desenhando a estrela com o dedo.

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- Também não.

- E se eu der um soco nas costas?

- Aí depende.

Então ele se virou e sorriu.

- E doeu quando você foi marcado? – perguntei.

- Sim, doeu muito . – ele riu mais uma vez só que um pouco mais alto – Então você achou

meu corpo bonito?

Bom... era um corpo magrelo, pálido, e com várias pintinhas, mas não prestei muita atenção

nisso e sim no seu tanquinho, nisso sim que prestei atenção.

- Sim, mas acho que sem dúvida você não aguenta me pegar no colo, sou meio pesada para

um garoto tão magrinho.

- As aparências enganam, pequena.

Logo depois que Jack terminou de se vestir, fomos dar a maldita volta que Black queria.

Chamamos a Perstefany para irmos de uma vez, mas adivinhem quem se cansou de andar logo

no começo? ... Eu! Sim, sou preguiçosa. E o pior, sedentária. Então a conclusão é: não sirvo para

muita coisa, sim, sou uma inútil, mas tirando o fato que eu não andei muito o passeio foi legal e

assustador, ô lugarzinho que parece cenário de filme de terror.

Acho que você já deve ter reparado que eu odeio filme de terror, não sei como uma pessoa

pode gostar desse tipo de filme, algumas dizem que gostam da sensação que o filme traz a elas,

mas acho que essas pessoas nunca viram um bom filme de comédia, só pode! Desde quando um

filme de terror pode ser melhor do que um filme de comédia maravilhoso?

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Aqueles Amores Platônicos.

Capítulo 16

Acho que já está na hora de eu contar para vocês sobre a Tammy. O amor platônico da Per.

Mesmo que vocês já saibam que ela tem um amor platônico por ela e que.... Ah, foda-se essa

narração infernal, vamos logo com isso . Vou contar para vocês como eu conheci a Tamara,

naquela volta que Black decidiu ter comigo.

A luz da lua brilhava entra as árvores e depois de andarmos até meus pés quase criarem

vida e levar meu corpo que já estava jogado em cima de Jack, porque pense em pessoas que

andaram até encontrar uma Sirena hétero no cu do fim das trevas.

Porque as sirena não ficam no reino delas não, elas ficam andando pelo reino inteiro –

mentira, ele é grande demais para isso - porque são guardiãs de TODO o reino das trevas, por

mais que cada reino tivesse o seu o trabalho, o delas ainda era o mais importante de todas as

trevas.

- Falta muito? - falei pela décima nona vez de tão cansada que eu estava - Eu estou com

fome e sono, vamos voltar logo para ...

- Taylor, - falou Perstefany - fica quieta, já vamos chegar.

- Mas você falou isso - disse eu encostando a cabeça no braço de Jack, era para ser no

ombro, mas era muito baixinha para alcançar então acabou sendo no meio do braço mesmo um

pouco acima do cotovelo - há mais de uma hora.

Um detalhe: estava quase amanhecendo quando finalmente achamos a sirena, pois quando

saímos de Forgeteens era somente duas da manhã.

Mas por uma graça divina a encontramos flutuando de volta para casa. A maluca da

Perstefany ficou numa felicidade, que saiu correndo e a abraçou bem forte, na verdade Per abraçou

as pernas dela , mas isso não vem ao caso.

- Tammy! - falou ela - Quanto tempo que não te vejo - ela encostou a cabeça na dela depois

de puxá-la ao chão - Eu senti sua falta.

- Eu também - falou ela afastando-se de Perstefany .

Esse detalhe da Perstefany ser apaixonada por Tamara se tornou um grande debate durante

a declaração de guerra contra a luz. Mas vamos deixar a Per ser feliz e vamos voltar para a história

porque tô desviando do assunto .

- Tammy, quero que conheça uma pessoa - falou Perstefany puxando Tami pelo pulso até

chegar na minha frente - essa é Taylor, uma grande amiga.

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- Oi, sou Tamara Lays - disse ela se curvando - Perstefany vivia falando de você antes

mesmo de você chegar no reino das trevas.

- É um prazer, Tammy... - aí eu me toquei – espera, como assim antes mesmo de chegar

no reino das trevas?

Ouve um silêncio de três segundos entre todos, mas na minha cabeça aquele tempo era

muito mais que somente três segundos, parecia uma meia hora, até para mais .

- É... - falou Jack – que...

Odeio esse suspense idiota que sempre fazem as pessoas, é perda de tempo, falem de uma

vez, parem de enrolar!, pensei.

- Continua- falei.

Jack muitas vezes parava no meio das frases para fazer suspense e como disse, odeio

suspense .

- Perstefany cuidava de você às vezes - falou Black, invadindo a conversa - antes mesmo

de conhecer meu irmão, antes de tudo, quando você era uma simples humana Per sempre esteve

perto de você, esperando o dia em que a luz viria te buscar.

- Perstefany me vigiava? - perguntei assustada mas não surpresa; minha vida estava tão

confusa que aquilo não era a coisa mais estranha do mundo – Olha, isso não é um grande choque,

vocês podiam ter me falado, não é grande coisa.

- Que bom que você não achou estranho. – falou Perstefany – Você quer continuar a ver o

resto do reino ou quer ir para casa dormir, e lembrando que daqui a pouco irá amanhecer?

- Bom, eu estou cansada de tanto andar – falei – e eu já perdi uma noite na semana passada,

então acho melhor eu ou nós voltarmos, porque quando eu encostar minha cabeça no travesseiro

irei dormir feito uma pedra .

- Então – disse Jack – vamos voltar porque pequena, você não é a única cansada aqui,

também estou exausto.

E nós voltamos para Forgeteens. Perstefany ficou um tempo com Tamara e disse para eu

não a esperar acordada ... Óbvio que eu não esperei, eu simplesmente fui tomar um banho para

relaxar. Como Per havia comprado algumas roupas para mim, dormi com uma camisolinha rosa

com babados no final e algumas florezinhas coloridas azuis e rosas, mas quando eu voltei do banho

Jack estava na sala sentado no sofá-cama me esperando.

- O que faz aqui? Achei que tinha ido para casa.

- Eu fui, mas voltei porque queria te dar boa noite.

Ele se aproximou de mim, pegou meu queixo e levantou e eu fiquei cara a cara com aqueles

olhos lindos que eu tanto amava... Ele então deu um beijo no meu nariz e depois outro na testa, eu

esperava que ele descesse até a boca, mas ele simplesmente me beijou na testa e no nariz e

depois disse:

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- Boa noite ... Minha pequena.

E então foi embora. eu fui deitar e fiquei pensando nesses dois beijos que por dentro me

fizeram suspirar, senti uma coisa estranha no meu estômago, umas borboletas, mas eu não queria

sentir aquilo, não queria me apaixonar ... Eu não vou e não quero, serei firme e não me apaixonarei

por aqueles lindos olhos verde e azul, aquele cabelo ruivo, aquele sorriso brilhante, aquele jeito

fofo ... Ahh pare, Taylor, pare de pensar nele, pense em outra coisa, pense em comida , em seus

gatos , mas não nele pense em tudo menos ele ... Pense e não se iluda porque no final , você sabe

que sairá de coração partido e não é isso que você quer , então não se iluda por algo que você

sabe que não tem futuro ...

Mas parte de mim queria Jack, queria ele comigo para sempre ... Oh, meu Jack, se você

algum dia for meu eu juro que serie sua e nunca o esquecerei.

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Um dia no reino da luz

Capítulo 17

Bom, eu gosto muito de contar como são os meus dias junto com Jack , Black e Perstefany,

mas eu também tenho que contar sobre meu pai ... Como eu sinto falta dele. Muita falta do meu

melhor, melhor amigo.

Era um dia com sol no reino de Julie e ela, como todas manhãs, ia até as masmorras

especular se meu pai ainda estava sofrendo com a fome e a dor da falta do seu segundo maior

amor na vida .

- Ora, ora, ora - falou Julie abrindo os portões que rangiam com a ferrugem e poeira de

ossos dos antigos cervos que ficavam presos lá até a morte - parece que meu prisioneiro está com

fome ...

- Você ... - falou meu pai fraco, mas nunca demonstrava dor, meu pai era um guerreiro, um

dos mais fortes porque nunca se mostrava fraco em meio aos desafios que a vida lançava a ele -

Você já tirou o que mais amava de mim então não tenho mais o que sentir dor .

- Eu poderia acabar com ela - falou a rainha sentando-se na cama de ferro - basta me falar

onde é a estrada de Forgeteens.

- Eu nunca vou falar - disse ele muito fraco mesmo pois meu pai estava deitado no chão

morrendo de fome, sujo de poeira e sangue de barata - minha filha está segura lá e é isso o que

importa.

O portal de entrada de Forgeteens era enfeitiçado mas somente os banidos por crimes

cometidos na luz podiam vê-lo, os que tinham corações poluídos de maldade e sofrimento. O que

era diferente dos seres da luz que tinham corações puros, mas assim como todos os bons

jogadores, nós, os seres da trevas, tínhamos nossos aliados no lado da luz que nos contavam tudo.

Eu conheci a Daphine, uma feiticeira muito poderosa que podia fazer feitiços tanto bons

quanto os ruins, mas era isso que fazia todos temê-la por seu talento na bruxaria. E sendo assim,

seres bons não viam a entrada do meu antigo lar e ficávamos protegidos, longe da luz que nos

cegava.

- Por que você luta tanto Robert? Sabe bem que sua filha irá morrer - falou ela zombando de

mim - ela é metade da luz e metade das trevas, uma mistura que nunca existiu, perigosa para todos

que ela ama .

- Deixa a minha filha em paz! - disse ele tentando pegar o resto de água que havia em uma

xícara no chão, mas a rainha de tão má e cruel, a chutou para longe, pegou pelo colarinho dos

farrapos de roupas do meu pai e disse:

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- Sua filha está amaldiçoada, estou fazendo um favor a ela e a livrando de ter que ver a

todos que ela ama definharem em seus braços, então deixe de ser idiota e me fale logo onde ela

está - disse a rainha gritando.

- Prefiro a morte.

- Então está bem. - falou a rainha jogando meu pai contra a parede – Guardas! - falou ela

alto o bastante para um guarda chegar ao portal e logo se multiplicar em vários - Quero que ele

seja torturado até indicar o paradeiro da filha, caso contrário, se ele não disser onde é o portal,

joguem-no para os cães celestiais comerem o resto de sua carne apodrecida.

- Sim, majestade. - disse o chefe da segurança se curvando - Sua filha a chama em seus

aposentos vossa alteza .

- Cuide dele sem dó ou piedade. Vou ver o que a peste de minha filha quer.

- Sim, majestade - ela se retirou quando o guarda arrastou e direcionou meu pai à sala de

tortura que ficava do lado de fora das masmorras.

***

Logo que a rainha chegou ao primeiro andar do castelo, teve que subir as escadas até o

quarto de sua filha mimada Laila.

- Poderia me falar o que você quer agora - falou a rainha abrindo a porta e encontrando a

filha rebelde, ouvindo música deitada na cama. A princesa tinha cabelos loiros que iam até os pés,

a pele muito branca e o olhar assassino como o da mãe, de um azul sem fim de tão profundo.

Resumindo: Laila era a cara da rainha. - Tenho coisas a fazer.

- E desde quando torturar o pai da gorda da Taylor é um trabalho? - falou ela se levantando

e mostrando a roupa curta que usava, acho que se ela se abaixasse para pegar alguma coisa no

chão daria para ver sua calcinha ... Se ela usasse calcinha. – Ai, estou tão entediada e nem um

criado quer brincar comigo.

Ela foi a frente de um espelho lindo que havia em seu quarto, com moldura dourada e brilhos

.

- Meus criados não são para a suas diversões, Laila - disse ela dando meia volta.

- Então acho que vou chamar meu queridinho Black. - falou ela provocando a mãe, que parou

em frente à porta por se surpreender com a informação de que sua filha conhecia um dos seres

das trevas - Ele me obedece, come na palma de minha mão.

- Black, o filho da morte ? - perguntou ela indo em direção à a cama da filha - Onde ele está?

Se eu o tiver, ele pode revelar a entrada de Forgeteens.

- Meu queridinho serve só para me divertir.- falou ela indo atá a sua penteadeira para retocar

a maquiagem - E além disso, obedece a mim e não a você.

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- Eu mando em você, imprestável! - falou Julie quebrando o espelho que a filha se olhava -

Você saiu de mim e portanto, pertence a mim.

- Pelo jeito, a mamãezinha ficou irritadinha! - falou ela se aproximando da mãe com um olhar

desafiador - Pena que não é você que controla as pessoas, você só as cega com os próprios

medos. Black é meu, não seu.

Mas Julie nunca foi a pessoa mais paciente do mundo; assim como Black, ela não podia

amar a ninguém, seu coração era tão frio quanto o de uma geleira.

Então agarrou o pulso da filha, olhou em seus olhos e disse:

- Você é minha filha, faz parte de meu reino, eu mando em tudo, sou a rainha desse mundo.

E tenho uma filha ingrata que não me obedece. Laila, quando eu estiver no poder de tudo e acabar

com o reino das trevas e restaurar a paz, quero que você reine ao meu lado.

- Se quiser saber onde é o portal, por que não o procura? - perguntou Laila.

- Porque sou da luz, não posso sair daqui. - disse ela - Mas Black sabe onde é, e é por isso

que preciso de você Laila, para forçá-lo a revelar onde fica.

- Olha só, eu nunca pensei que veria você pedindo ajuda. - disse Laila com um sorriso de

lado ainda na frente da mãe - Não é você que odeia ajuda?

- Cale-se! - gritou ela sentando na beira da cama da filha - Robert é teimoso e protegerá a

filha a qualquer custo e não se importa de morrer por ela. - disse a rainha ouvindo meu pai gritar

na sala de tortura no porão - Mas ele não sabe o que está por vir. A luz não esperara para sempre.

Um dia iremos atacar e sairemos vitoriosos nessa guerra, meu exército está montado e o deles

nem sequer começou a surgir.

- Pelo jeito alguém está de TPM - falou a filha rindo do papo sombrio de Julie.

Mas naquele tempo o reino das trevas realmente não sabia o que estava por vir , nem o que

teríamos que enfrentar. Sabíamos que a guerra seria declarada, mas não a ponto de perder a única

que podia salvá-los: eu.

Depois de um tempo, de uma conversa longa pra caralho daquelas duas, Laila decidiu

chamar Black para uma pequena diversão em seu quarto. Mas naquele dia uma pequena

mensagem foi mandada.

Eles estavam prontos para o ataque.

Mas nós tínhamos nosso truques e trapaças para vencer a luz.

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Silêncio, silêncio agora

Capítulo 18

Havia se passado um tempo desde que a rainha mandou um recado através de Black : o

recado foi dado recebido e odiado por todos os seres das trevas, todos entraram em pânico. A

rainha nunca havia machucado um do nosso povo como machucou Black, mas por sorte aquele

idiota conseguiu atravessar o portal antes que a rainha o machucasse mais. Ainda me lembro que

foi Tamara que o achou desmaiado no chão no início da floresta das trevas, que começava quando

se terminava de atravessar o portal.

Ela tinha corrido até Forgeteens para avisar Jack que ficou super preocupado. O irmão foi

buscá-lo ainda com os machucados sangrando recentes, o que significava que não fazia muito

tempo que aquilo havia acontecido do outro lado.

Mas Jack sendo era diferente do irmão, ele se preocupava com as pessoas ... Principalmente

com quem ele amava. E ele não deixaria barato, a rainha iria pagar o preço. Seres das trevas

quando ficam com raiva fique bem longe deles se não é você que acaba pagando o pato mesmo

sem ter nada a ver com eles .

Eu disse a Jack que tudo ia ficar bem, mas ele ficava tenso pois o irmão não melhorava

nunca ... Mas na minha opinião ele era somente muito dramático porque Black não estava tão ruim

assim, só estava quase perto de seu pai lhe fazer uma visita, só isso . Viu, quase morrer não é

muita coisa.

- Jack - disse batendo na porta da casa dele que se encontrava trancada – Jack, por favor

abre, quero falar um pouco com você.

Mas nada , ele não a abriu , então me irritei , e disse brava :

- Escuta aqui ruivo, seu irmão está vivo e pare de tanto drama idiota, não vai fazer ele

melhorar - peguei a bombinha de asma porque aquele estresse sempre me fazia ficar sem ar - e

você fica aí, trancado nessa casa ... - esperei um pouco pois sabia que ele estava me ouvindo

dentro da casa - E sei que você me ouviu, a saudade dói muitas vezes, eu também a sinto. Sinto

uma maior que a sua,- falei baixo lembrando de meu pai , preso e sofrendo nas garras daquela

bruxa - bem maior.

Houve um silêncio por um tempo até que ele abriu a porta; achei que era para me expulsar

dali e falar que não sabia o que ele estava sentindo. Mas foi bem o contrário, ele abriu a porta e me

abraçou falando em meu ouvido:

- Eu tenho medo de perder ele. - sussurro - Ele é a minha única família

- Ei - falei me afastando um pouco - você não tem só a ele , você também tem a mim, sou

sua amiga eu estou aqui .

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E então ele me abraçou de novo me dando um beijo na bochecha, um beijo quente, com o

lugar frio como aquele em que vivia um abraço de um amigo era um dos maiores modos de se

aquecer alguém.

- Jack! – gritou Jane vindo em nossa direção , e ele logo me soltou olhando para os olhos

infinitos de Jane - Black acordou!

- Sério? - disse ele sorrindo - Posso vê-lo?

- Ainda não, seu irmão está fraco, ele ficou apagado por duas semanas Jack , precisa se

recuperar , com isso quero dizer que ele tem que se alimentar e tomar banho ,porque está

parecendo que os zumbis fizeram uma festa lá.

Sim, lá tinha zumbis mas eram diferentes, muitos deles também tinham o pentagrama em

suas corpos. Mas justamente por isso que são zumbis, porque morreram na cidade luz e depois

jogados do para cá . E eles revivem só que como o zumbis, com isso ou sem aquilo. Suas peles

também eram de cor cinza, mas isso não era estranho e sim mortal, ter um chifre no meio da testa

como Jane ou corpo de uma aranha, três olhos... Tudo lá era completamente normal, tudo era

aceito .

Ditado de Forgeteens: quanto mais estranho, melhor . E isso era bom para mim, era muito

bom mesmo porque meus únicos amigos eram os banidos, os odiados ou os demônios que são

mau vistos na sociedade humana.

- Como assim? - falei colocando a mão na cintura - Ele ficou muito tempo sem ver a única

família, deixa Jack ver o irmão, isso não vai matá-lo , pois se ele viveu à tortura de Julie, esse não

morre fácil não!

- Aqui não é o mundo carnal. - falou Jane friamente - Aqui não é como sua cidadezinha,

seguimos regras, e uma delas é não visitar os doentes.

- Por que não? - falei - Ele é irmão, poxa, dá um desconto!

- O porquê é fácil :quando nós ficamos doentes perdemos o controle dos poderes e podemos

matar qualquer um sem ligar se é família ou amigo só num simples toque - e ela desviou o olhar do

meu e foi para o de Jack - então se quiser ver seu irmão vá , mas saiba que você vai e não volta

mais.

Sabe quando você fala besteira e fica tipo: Ai meu deus, eu quero morrer de vergonha? Pois

é, eu estava daquele jeito, o que não pegou muito bem mas agora não ligo mais, Jane tinha razão

sobre o que dizia pois era uma das mais velhas banidas que existia em Forgeteens. Jane sabia o

que falava e mandava, principalmente se a pessoa em questão é filho da morte e comanda a lista

do “eu fui para o beleléu”. Black descontrolado era encrenca na certa, bastava proximidade para

ele enfiar a mão em sua boca e puxar seu coração para fora, parece estranho falar dessa forma,

mas era realmente isso que ele fazia.

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- Quando vou poder ver meu irmão? - perguntou ele cruzando os braços e esperando a

resposta de Jane.

- Me pergunta isso no final da tarde - ela deu as costas e saiu em direção à enfermaria que

ficava longe das "casa " de lá.

- Como assim “me pergunta no final da tarde”? - perguntei ,e ele riu.

- Significa que vou poder vê-lo só no final da tarde.

Então ele me convidou para entrar, mas tive que recusar pois estava com fome, aquele dia

não tinha tomado café, então precisava ir até a casa de Per checar se ela tinha algo para comer;

caso ela não tivesse, ia até à cozinha principal e pegava algo lá . Mas antes de ir, perguntei a Jack:

- Jack - ele se virou e me encarou abaixando a cabeça - Será que meu pai está vivo?

Porque pelo que pude ver o que Julie pode fazer, será que ele ainda vai voltar ou será que ele já

era?

Então ele pegou minha mão.

- Ele deve estar vivo. - falou ele - Julie quer saber onde você está e seu pai e nós somos os

únicos protegidos pelo pentagrama, então ela não vai matá-lo até ele falar o que ela quer ouvir. E

além disso, quem fez aquilo com Black não a foi Julie, foi Laila, ela é tão má quanto a mãe. Mas

fica calma, seu pai está bem.

- Como você pode ter tanta certeza disso?

- Porque eu vejo o futuro, o passado e o presente, então falo as coisas sempre certas pois

sei as respostas ... Agora se você puder me dar licença, eu quero terminar de ver o filme que eu

estava vendo antes de você vir me encher o saco.

- Tá, mas...- era tarde, ele já tinha entrado e fechado a porta na minha cara . Eu dei meia

volta pois não ia ficar babando nos pés daquele ruivo nem a pau e fui até a casa de Perstefany

comer algo.

- Per - falei e logo que cheguei, a ninhada dos meus gatos saiu pela porta indo lá para fora

– Oi, Pertefany! Tá aqui? – gritei.

- Tô no banheiro tomando banho - disse ela – Tay, se estiver com fome, tem lasanha no

forno.

Naquele momento arregalei o olho, pois sempre, não importa quando, Perstefany sabia o

que eu queria ou sentia. Era legal nos primeiro messes lá mas depois essa intuição começou a me

assustar. Bom, tudo depois de um tempo naquele lugar começava a me assustar. Mas tudo, tudo

mesmo.

Então eu comi a lasanha assistindo a um filme chamado “O fabuloso destino de Amélie

Poulain” que era o preferido da Perstefany. Estava se tornando o meu também porque gente, o

filme é muito bom, queria ter visto ele com meu pai já que eu e ele amávamos ver filme e comer ao

mesmo tempo. O filme ainda se passava no lugar do mundo em que eu era doida para conhecer,

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a Franca. Eu não era o tipo de garota perua fútil, eu só achava que um jeito de aproveitar a vida

era conhecendo o mundo.

Pena que eu só fui a dois lugares minha vida toda: Amlisshy e o reino das trevas ... E na

morte eu fui para um lugar também chamado breu. Ou será que aqui é o inferno?

Enfim, não sei, mas o caso é que eu não vi o mundo, morri só vendo lugares chatos, mas

acho que o mundo das trevas não era tão chato assim, era até divertido. Pena que não pude ver

ele todo.

Mas pelos desenhos que Black fazia de todo o lugar, eu devia ter perdido muita coisa bonita

mesmo .

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Conselhos Amorosos De Uma Garota Metade Gato

Capítulo 19

Sabe, teve uma madrugada em que eu tive um sonho terrível, acho que a lasanha que eu

tinha comido na mesma tarde não caiu bem, mas também lasanha com leite nunca caiu bem

mesmo, principalmente para mim, mas eu não sei o porquê, eu era meio louca, gostava de coisas

que desafiavam as pessoas a fazer coisas diferentes e aproveitar a vida ... Pena que comigo não

foi assim.

Mas enfim, o sonho não foi bem um sonho, foi mais uma visão no estilo das que o Jack

tinha.

Eu queria poder contar o sonho mas sempre que chegamos aqui no breu, as primeiras

lembranças roubadas foram os meus sonhos e pesadelos.

Mas sonhos para mim sempre retomam lembranças de uma vida passada, não que eu

acredite em reencarnação, mas se existisse , acho que eu era uma pessoa muito insana, pois eu

era , e ainda continuo sendo... Mas normal é chato e por isso que eu era tão maluca daquele jeito,

pois para mim ser diferente ou até mesmo chata, insana e bipolar era divertido, eu podia estar

sozinha mas ao mesmo tempo nunca estava sozinha, eu não sei porque, mas não estava , sabia

que não estava . Mas são minhas memórias que me mantém viva e não me deixam perder a

esperança.

Mas naquela noite, na casa de Per, eu não era a única a estar acordada, meu pai também

estava, eu podia sentir isso e ele queria ajuda , ele queria liberdade daquela prisão, mas Jack e

Black ou qualquer outro que ia lá não consegui trazê-lo de volta. E tinha coisas que eu queria

perguntar, respostas que ele podia me dar, confissões que precisava desabafar. O fato é que eu

sinto sua falta papai, e posso estar parecendo uma criancinha agora mas era você que me

aconchegava nos piores momentos.

Tem coisas que só meu pai conseguia fazer, Jack podia fazer companhia a mim e sempre

estar comigo mas ele não sabia o que eu tanto sentia dentro de mim, por trás dos meus sorrisos e

da minha maluquice de retardada naquele lugar, eu estava sofrendo, sozinha, era como gritar sem

ninguém te ouvir, era uma coisa agoniante e estranha ... E pensar que agora eu vivo dentro do meu

maior medo.

- Per! - chamei entrando no quarto dela devagar – Per, você está acordada?

- Estou - falou ela se levantando para olhar para mim - Não consigo dormir direito, acho que

comi atum demais - então ela me olhou pensativa e perguntou – O que foi, Taylor, está tudo bem?

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- Claro que está! – menti. Não estava tudo bem, meu medo estava virando realidade, estava

longe de quem me amava. Per sabia quando eu mentia então, ela virou a cabeça como um gato e

disse:

- Mentirosa! - então ela se afastou um pouco e tateou o colchão com suas garras – Vem, me

conta o que aconteceu.

- Tá bom - e eu fui até ela e me sentei encostando a cabeça em seu ombro- Per, eu tô com

saudades dele - então do nada comecei a chorar - eu sei que deve estar me achando uma idiota

por estar chorando por coisas desse tipo ... Mas... - então ela me interrompeu .

- Taylor Peapons, desde quando chorar por quem se ama é uma coisa ruim ?Olha, eu sei

que você sente falta dele, mas pense que ele ainda está vivo e vai voltar para você. E além disso,

minha querida, o amor é uma coisa incompreendida, eu só conheço uma pessoa que não ama e

essa pessoa é o Black, mas todos nós sabemos que lá no fundo, mas bem lá no fundo mesmo ele

tem uma gota de amor que sobrou em seu coração.

- Eu não sei - falei abraçando os joelhos com o pijama de bolinhas de barras sujas de poeira

da casa - essa é a maldição, os seres humanos amam - disse por final.

- Bom, para mim amar é diferente mas cada um com sua opinião .- ela disse se deitando –

Sabe, se quiser dormir comigo aqui tudo bem, eu não vou te agarrar nem nada.

- Posso mesmo? – perguntei já deitando - Não vai ser incômodo? Eu me mexo demais.

- Claro que não - disse ela ajeitando o rabo de gato na cama numa posição confortável - Eu

sou a gatinha aqui, eu é que me mexo de verdade.

Não sei vocês, mas encarei isso como segunda intenções, mas calma, Per não faz meu

tipo. E além disso ela gosta da Tami. Nós duas só somos amigas. E eu tenho quase ... Sei lá

quantos anos, eu era a mais nova de todo aquele lugar, até Jack era mais velho que eu que tinha

17 e ele 900 anos ou sei lá, quase... Tá, não é grande diferença mas mesmo assim.

- Taylor - falou Per deitada de lado - Você já se apaixonou alguma vez?

- Não. - falei virando para encará-la – Eu não quero me apaixonar porque sei que no final

sairei de coração partido.

Ela somente riu do meu comentário e falou sonolenta:

- Sorte a sua. - disse Per. - Mas eu digo o amor é uma coisa legal, você tem razão nisso, o

amor pode te abater muitas vezes e te odiar sem motivo, mas depois que você se apaixona, sua

história toma outro rumo. - disse ela fechando os olhos - Mas é estranho pois Jack gosta de você

e você sabe disso, só não admite para si mesma por pura insegurança.

- Será mesmo que... - mas ela já tinha dormido, estava serenamente com alguns cachos

ruivos fogo caindo em seu rosto - Boa madrugada, Per. - então me levantei e voltei para a sala que

era onde eu dormia.

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Eu não ia ficar lá e atrapalhar o sono dela não, eu fui para o sofá- cama onde todos os

meus gatos tomaram posse, mas mesmo assim iria deitar ali, não sei como, mas ia. Então tirei Leo

que dormia no meu travesseiro e me deitei, fechando os olhos e pensado o que aquele maldito

pesadelo significava.

O que agora fez sentido na minha cabeça é que eu sonhei com a morte, eu acho . E só

agora o sonho se concretizou. Acho que eu devia entrar num programa chamado assim: “Sonho x

realidade: quem vencerá esse desafio?” Pelo amor de toda a escuridão, eu era lerda, nossa, como

eu era lerda pincipalmente em relação ao que a Per falou: ao amor. E há muitas outras coisas que

não vêm ao caso agora, mas enfim. Eu acho que era realmente uma sonsa pois como naquele

tempo eu não notei que Jack gostava de mim? Iriam fazer quase 4 meses que nos conhecemos e

eu não reparei naquilo? Que droga mesmo. Como pude não perceber depois dos beijos na testa,

com ele me chamando de pequena com um toque de atrapalhação ... Mas como disse, não quero

me apaixonar por ele ... E não vou.

Aprende comigo, a vida é uma droga. E uma grande droga viciante que mata e fere

Mas na minha vida, morrer foi o meu prêmio.

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Eu só quero ficar sozinha

Capítulo 20

Antes que tudo em minha vida se misturasse e virasse uma grande confusão, eu acho que

posso falar que coisas foram conquistadas e amizades feitas.

Mas se ele me ama, eu acho que o amava um pouco mas eu não quero me apaixonar por

ele... Não sei o que eu fiz quando viva porque fui idiota.

Era a manhã depois da minha conversa com a Per. Eu não tinha dormido direito mas pelo

menos dormi um pouco pois toda vez que eu fechava o olho, o mesmo pesadelo acontecia de novo

e de novo. Eu tentei ler um livro para dormir mais rápido mas não deu muito certo, e como Black

ainda estava na enfermaria se recuperando, não pude ficar a madrugada com ele. E eu também

não ia até a enfermaria vê-lo não, ficava longe da casa de Perstefany e não estava afim de andar.

A noite é feita para sonhar e não para ficara acordado. Principalmente para mim que era uma baita

preguiçosa .

Acho que seu fosse menos louca, se eu fosse normal, se minha vida não tivesse tantos

gatos ao meu redor, ou se meu pai não tivesse perdido minha mãe e nós tivéssemos um quintal

sem lama, minha vida teria sido diferente, a começar pelo fato que eu teria aprendido a andar de

bicicleta ao invés de uma vespa, eu teria feito amigos e não seria chamada de estranha, se eu

gostasse de cachorros, confiaria mais nos outros ... Não, acho que pensando bem eu gosto de

gatos, cachorros me irritam.

Mas o fato é que se minha vida fosse diferente eu não seria eu. Claro que não seria eu .

Seria outra coisa, uma outra pessoa.

Bom, mas nunca é tarde para recomeçar. Pena que comecei a vida num lugarzinho

estranho, cheio de pessoas das trevas, todos banidas por assassinato, regras quebradas, se não

fossem os danos acho que minha vida teria sido mais longa . E eu não estaria presa aqui nesse

lugar, contando essa história para vocês, contando a história de minha vida.

Meu dia em Forgeteens: acordei, tomei café da manhã junto com Jack e Black – que estava

com muletas e todo quebrado e cheio de curativos - na cozinha principal, assisti a um filme com

Perstefany, fui à cidade tomar um café e encontrei as vadias da Amanda e suas cadelinhas. Acho

que elas são o que eu realmente posso falar ... Vadias com V maiúsculo.

Eu não estou muito afim de contar meu embate com elas porque não foi muito legal, eu saí

perdendo e quando cheguei ao reino das trevas estava chorando. Enxuguei as minhas lágrimas,

engoli completamente aquela angústia de dor que eu sentia, coloquei um sorriso falso no meu rosto

e enfrentei o mundo deles novamente. E por mais que Jack estivesse comigo, eu queria ficar

sozinha naquele momento.

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Acho que na escola, antes de eu entrar de férias eu era o tipo de pessoa odiada e que devia

aceitar isso. Fui forçada a aceitar, mas era chato, sempre que eu achava que um garoto gostava

de mim, eles diziam que eu era feia, gorda, ridícula. Na hora dos jogos de futebol ninguém me

escolhia para os times porque eu tenho asma e problemas respiratórios.

Eu fazia grupos sozinhas todas as vezes e nas provas eu nunca conseguia prestar atenção

porque tinha e ainda tenho Défict de Atenção. Pois é, minha vida escolar não foi fácil.

Mas não deixava aquilo me afetar, eu não estava sozinha, meu pai era meu amigo, ele me

ajudava sempre que precisava, ele era o meu melhor amigo. E também o meu único

Era meio estranho para mim naquele tempo saber que ele podia estar tão perto mas ao

mesmo tempo tão longe. Mas na ausência longa de meu pai , uma pessoa o substituiu, não como

meu pai ou como uma família, mas como um amigo, como um ombro para eu chorar nas horas em

que a saudade chegava. Quem era a linda, a gostosa e peituda com botas sete oitavos e saias

curtas e cabelo ruivo? A minha irmã não de sangue Perstefany.

Acho que os loucos entendiam os loucos por terem mentes incompreendidas. Porque acho

que assim como o chorão de Charlie Brow Jr, só os loucos sabem.

Vou contar um pouco da hora em que eu estava na cafeteria junto com Amanda e suas

cadelinhas.

- Ser diferente é bom - disse para mim mesma abaixando a cabeça e encostando na mesa

de madeira com a xícara de café em cima, mesmo depois da baita briga com Amanda e suas

cadelas, eu estava cansada de lutar, acho que se a vida fosse uma escalada, eu tinha morrido no

caminho - mas por quanto tempo vale a pena continuar sofrendo?

Então do nada eu ouvi uma voz me chamando.

- Taylor, - falou Jack. Acho que aquele cara era do tipo que te achava onde quer que você

esteja - tudo bem?- e ele colocou a mão no meu ombro puxando uma cadeira da outra mesa para

se sentar.

- Tá sim - falei sem levantar a cabeça, não queria que ele me visse chorando , acharia que

sou fraca .

- Olha, uma dica minha para você: não minta para quem vê o futuro. - disse ele colocando a

mão no meu ombro - Você está cansada disso, né?

- Não é isso - disse levantando a cabeça com o choro preso na garganta - não é nada , eu

disse que estou bem .

- Você não está bem. Se estivesse, não estaria chorando.

- Eu disse que estou bem.

- Não está - disse ele teimando.

- Tô sim.

- Eu disse que não está!

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- Eu disse que tô bem, droga.

- Mas eu digo que não está.

- Tô sim e não se meta onde não é chamado. E vai em bora daqui e me deixe sozinha.

- Por que você é tão teimosa ? - disse ele desistindo – Moça! - chamou a garçonete que logo

veio - Eu vou querer um café duplo e um pedaço de torta de maçã – então ele voltou-se para mim

e disse – Eu não vou embora, não quero e você não manda em mim para falar o que eu devo fazer.

- Para que a torta? – perguntei tomando um gole do café- pelo que sei, você não gosta.

Sempre que tem em Forgeteens você nunca come.

- Mas ela não é para mim - disse ele - é para você, sei que comer te anima, então coma e

seja feliz .

- Tá bom - falei sorrindo - mas não faça isso de novo, sei cuidar de mim mesma, posso falhar

às vezes mas sempre posso me levantar de novo.

- O meu ditado é: se não puder voar, ande. Se não puder voar, corra. Se não puder correr,

ande. Se não puder andar, se arraste ... Mas não desista.

- Nossa! - falei impressionada com a frase - Posso pegar essa frase para mim, ruivo?

- Não, esse ditado é meu, arranja o seu, pequena.

Fazer o que, não se pode ganhar todas.

- Black - falei – por que você o deixou lá?

- Black tá em repouso. Caso tenha esquecido, ele quase morreu.

- Eu sei - disse - estava lá quando Tamara chamou a gente, lembra?

- Claro, pequena - disse ele com um sorriso de lado.

Logo a torta chegou e o café dele também e como sempre, ele tomava café sem açúcar. Até

hoje, quatro meses depois que o conheço, não descobri o porquê dele só tomar café sem açúcar.

Bom, acho que é como Black me disse uma vez: ‘gosto é igual cu, cada um tem o seu’ . E como

ele tinha fugido do orfanato quando pequeno e logo depois foi parar nas trevas? Não entendo

mesmo, eu simplesmente não entendo.

As ruas estavam desertas, pouquíssimas pessoas passavam pelas calçadas molhadas de

chuva. A cafeteria estava fechando e fomos os últimos a sair de lá. Que triste, o papo estava ótimo.

Jack era bacana de se conversar. Uma das coisas que eu gostei nele é que ele tinha as

rédeas de sua própria vida e decidia para onde ia e o queria fazer e não se importava com as

críticas, ele era um vitorioso. Bem diferente de mim. Mas estou longe do fim dessa história.

- Sabe, - falou ele enquanto andava do meu lado - Black faz o que quer, exemplo foi quando

ele raspou a cabeça, ficou super punk mas não liguei, ainda estamos em evolução para a destruição

mesmo.

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- Você fala como se o mundo fosse acabar amanhã! - disse arregalando o olho – Bom, eu

me importo com os outros, principalmente vocês que são meus únicos amigos. Eu tenho que tomar

cuidado para não fazer besteira e perder suas amizades.

- Se isso te preocupa, eu posso falar por todos nós: fica calma. - então olhei para ele pois

não entendi muita coisa - É que está no seu sangue ser do tipo de pessoa que fez besteira o tempo

todo?

- Eu não - falei mentindo; óbvio que eu fazia cagadas o tempo todo sim, mas não admitia

nem para mim nem para ninguém.

- Quer deixar de ser teimosa? - falou ele parando de um jeito irritado.

- Eu não sou teimosa, só nunca admito meus erros, é bem diferente. Vamos logo! - disse

pegando a mão dele e o puxando comigo - Como você disse, a floresta é perigosa à noite então

não quero chegar lá quando as estrelas surgirem. E Forgeteens é cercada por elas. Então anda,

ruivo!

- Está bem, nervosinha.

- Dá para soltar a minha mão?- disse puxando mais, ele me segurava como se não quisesse

soltar - Ou vai continuar a segurá-la?

- E se eu não quiser soltá-la?

- Não perguntei se queria, eu mandei você soltar agora! Ou você é surdo? – disse.

- Não sou surdo, só sou mais forte que você.

- Tá, então enfia a sua força naquele lugar e me solta.- então ele soltou e eu fui para trás e

quase caí, só que não, continuei em pé – Obrigada, estava machucando meu pulso.

- Seu pulso já é cortado. O que acontece se eu apertá-lo ?- disse ele se aproximando de

mim, não que eu estivesse com medo, mas não gostei daquilo - Aposto que nada.

- Jack,- falei sussurrando - vamos logo, tá anoitecendo .

- Tá bom, - ele se aproximando e dando um beijo em minha bochecha – vamos! - e ele

estendeu a mão e eu a peguei. Jack me guiou até o caminho da minha casa pois o ditado de

‘mantenha os inimigos perto’ era o que eles seguiam por isso, Forgeteens ficava na floresta que

cercava a cidade mas era bem escondida com magia e muitas, mas muitas árvores .

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Diamantes

Capítulo 21

Algumas coisas na vida afetam até demais a vida dos outros; um grande exemplo morto ou

vivo sou eu. Nas aulas, sentia todos me olhando, quando na realidade não estavam; cada riso eu

achava que era de mim - a maioria era, mas não sabia -; eu andava pelos corredores, somente com

meus pensamentos. E quando eu chegava chorando em casa, porque me... humilhavam, me

chamando de estranha e de esquisita, meu pai não sabia o porquê. E quando ele dizia que ia falar

com a diretora, eu não deixava, porque tudo iria piorar. Me sentia como se eu fosse uma aberração,

algo não-humano. Eu nunca tinha sido tímida - bem pelo contrário, eu não era: fazia as coisas sem

medo de errar ou de me machucar. Mesmo sendo bipolar e com uma penca de defeitos eu tentava;

algumas vezes eu podia ter medo e fugir, mas todos já passamos por isso. É normal fugir do que

não se consegue fazer.

Eu podia ser excluída pelos outros, mas eu escondia minha dor atrás dos meus sorrisos; eu

falava que estava tudo bem, quando na realidade não estava. Foi com uns treze anos que me

machuquei pela primeira vez. Não me senti bem fazendo aquilo. Era como Black falou, ou Jack

(não me lembro direito qual dos dois foi): a morte nem sempre é a resposta para seus problemas,

mas quando os demônios dentro de você falam mais alto, você não tem escolha, tem que fazer o

que eles mandam.

Eu sentia e sangrava como todos os outros, mas por que não me ouviam? Por que justo eu

era a excluída, por que eu não tinha amigos?

Porque eu era eu e não podia mudar sem machucar a única pessoa que me amava. Ou será

que isso é somente uma desculpa para eu não mudar para melhor?

Meu pai me dava forças para enfrentar tudo que eu mais temia ... a vida. Pena que ele não

está mais comigo para me ajudar.

Eu queria ele para me aconselhar, para me trazer para o chão quando eu fico avoada e sem

rumo. Nunca pude falar para meu pai tudo que eu queria dizer; deveria tê-lo amado mais.

Se isso fosse um pesadelo eu queria acordar e viver de novo, da maneira correta. Não

perderia meu tempo com coisas idiotas. Eu iria viver como nunca vivi, e provavelmente como nunca

irei novamente.

E acho que a essa altura eu uso vocês como psicólogos.

***

Era um dia mais frio que o normal, estava chovendo pra caralho lá fora, e como Perstefany

estava passando o dia na casa da Tami, eu fiquei com o Jack. Era para eu passar um tempo a mais

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com Black, mas ele gostava de ficar sozinho ignorando o resto do mundo, somente ele e o baixo e

nada mais. Então deixei ele para lá.

Então Jack me levou para dar uma volta com ele pela floresta das trevas que eu não

conhecia muito bem, pois ficava a maior parte do tempo em Forgeteens tomando chocolate quente

e assistindo a filmes de comédia.

Jack disse para eu colocar uma roupa confortável, então como sempre eu coloquei uma

calça preta apertada, e uma blusa de mangas compridas da kill-bill com uma botinha preta com

tachas e com um pouco de salto.

Jack colocou o capuz vermelho que tanto amava com um All-Star também vermelho, uma

calça jeans azul e os cabelos ruivos brilhantes como sempre bagunçados - ele não se importava

em arrumar achava que era perda de tempo. De vez quando ele passava uma escova naquele

cabelo, mas era bem de vez em quando mesmo. Mas não importava muito, eu estava começando

a gostar daquele ruivo, e não tinha como negar, ele era legal e gentil comigo, coisa que as pessoas

nunca eram. Mas eu não queria me apaixonar, e não deixaria um ruivo lindo, magrelo e fofo daquele

jeito me seduzir, mas nem fodendo.

A gente parou para descansar perto de uma árvore bem grande. Sentamos em uma das

raízes e ficamos conversando sobre... sobre... tudo. E graças às mil folhas que havia em cima da

gente a chuva não nos acertava ... E continuávamos sequinhos, confortáveis e... fofos.

Eu descobri coisas que não sabia sobre Jack, coisas como: ele prefere comidas salgadas a

comidas doces, e o prato preferido dele é lasanha. Descobri que ele queria ser escritor quando

tinha duzentos anos, mas nunca teve a chance de mostrar o que sabia. Descobri que ele nunca foi

do tipo festeiro, de ir muito em baladas: ele gostava mais de ficar em casa, escrevendo ou jogando

vídeo game. Ele também gostava de gatos, o que me fez dar um sorriso de orelha a orelha - não é

todo dia que se acha um cara que gosta de gatos.

Jack era um cara que eu gostava de ter em minha companhia. Ele me fazia rir, me fez

chorar e me ajudava com a saudade de meu pai, que naqueles momentos era muito grande. Então

Jack ficava comigo constantemente e não me incomodava nem um pouco. Eu fiquei sem amigos

por 16 anos, mas não importava quanto tempo se passasse, eu nunca me acostumava a ficar

sozinha. E agora que sabia o que era ter amigos, não queria mais ser solitária. Se bem que parando,

para pensar agora, ficar sozinha nem sempre foi um pé naquele lugar... Quem quero enganar, era

horrível, um inferno gelado e sem fim.

Mas vou parar de falar sobre isso porque está ficando chato.

Jack já havia me mostrado quase todo o lugar, o que na minha cabeça era teoricamente

impossível, porque a floresta das trevas é um lugar enorme, grande o bastante para ter o Reino

das Fadas, a Campina da Névoa (que era onde os unicórnios ficavam), a Ponte dos Trons (que era

proibido atravessar sem ser convidado), a Floresta de Gelo... enfim, eram vários lugares dentro de

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um só. E como tudo naquele lugar era mágico, não importava o quanto você andasse, nunca

terminaria de percorrer todo o lugar com vida. Talvez até terminasse... ou não

Então eu presumi que Jack me mostrou até o lugar a que os limites de Forgeteens permitem

ir sem quebrar algumas regras, cuja a punição seria a morte.

Já que todos de lá já eram os seres banidos da luz, não tinha como bani-los de novo, então

como punição eles os matam. Simples assim. Então uma dica: se por um acaso você também for

um ser da luz que acabou de ser banido... siga as regras, ou você se fode... literalmente.

Mas enfim, quando chegamos em Forgeteens a coisa estava tensa, todos estavam

preocupados porque a rainha esteve lá atrás de mim, mas a corte dos reinos de todo o lugar não

iria deixa-la... Ou iria? Ainda bem que a chuva havia diminuído para uma leve garoa.

Assim que eu pus os pés dentro do portal de Forgeteens todos ficaram me olhando e

sussurrando, coisas como “é ela a culpada disso, vamos matá-la”, “essa garota só nos traz

problemas”.

Jack viu o irmão falando com Jane no meio da multidão, e foi em direção a eles.

- Black... Jane, o que houve aqui, por que estão todos assim? – disse Jack.

- A rainha esteve no reino das trevas – falou Jane cruzando os braços – por causa da sua

amiguinha.

- Como assim, ela esteve aqui? – Jack falou pro irmão que se encontrava com o baixo nas

costas e roupas pretas que caíam bem nele - Ela não pode ultrapassar o portal sem que vire pó.

- Pelo jeito, ela pode - falou Black sarcástico - ela queria a Taylor, disse que se ela não se

entregasse ela mataria Robert.

Como já tinha se passado um tempo, Black já estava melhor, só estava ainda com alguns

curativos na testa e nos braços, mas os ossos já haviam voltado ao lugar e ele estava inteiro e

novinho em folha... ou quase.

- Julie não pode tocar nele, - falou Jane se metendo na conversa; ela estava com uma

roupa de frio e botas que combinavam com o universo de seus olhos - se ela machucar um dos

nossos, é guerra na certa.

- Caso não tenha notado, - disse Black - já estamos praticamente em guerra. Se Julie matá-

lo não será uma guerra, será muito mais que isso.

- Nisso Black tem razão - falou Jack para Jane, que já estava com os olhos vermelhos de

raiva.

Fui até eles com um nó preso na garganta por causa do medo, e falei:

- Você não consegue ver o futuro? - perguntei - Então olha o de todos nós.

- Não é bem assim - disse Jane - Jack vê o passado, o presente e o futuro, mas é somente

das pessoas com quem ele tem intimidade, ele não é um vidente para ver o que vai acontecer com

todos do mundo das trevas. Ele é somente mais um, não tem poder suficiente para conseguir isso.

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- Então temos que achar... - falei mas fui interrompida por Jack.

- Não. - disse ele.

- Como assim, não? Temos que fazer isso - falei olhando para ele.

- Não posso – disse Jack

- Dê um jeito – falei, e ele me olhou sério.

- Taylor, isto não é um filme, o que Jane quer dizer é o fato de que eu ou qualquer um dos

videntes, ou os que têm os mesmos dons que eu, vamos acabar mortos. Ver o futuro de uma

pessoa é fácil, mas ver o de todo o mundo das trevas é demais, nem mesmos os mais fortes da

minha espécie conseguem.

- Mas se não for um vidente, - falou Tamara que surgiu do nada com Perstefany junto –

outros podem ser banidos, como uma feiticeira.

- Qual? - falou Jane, virando para encará-la.

E na hora seu chifre de unicórnio quase bateu na testa de Perstefany, que se afastou

levemente para não ser espetada por ele.

- Existem milhões de feiticeiros, e não dá para ser um feiticeiro das trevas, porque eles só

fazem magia negra. Deixaram de ser bruxos da luz há muito tempo. Desde que foram banidos,

para ser mais especifico.

- Então vamos usar uma bruxa branca, uma que ainda esteja na cidade da luz - falou

Tammy sorrindo - eu conheço uma que nos ajudaria.

- Quem, Madre Teresa? - falou Black rindo - nenhuma bruxa da luz ajudaria seres das

trevas.

- Daphine sim - falou Tamara.

- Quem é Daphine? - perguntei, e então Jack se aproximou do meu ouvido e disse:

- Ela é uma bruxa branca que odeia o povo da luz, então ela trabalha para os das trevas,

meio que como uma espiã. Ela sabe de tudo o que acontece nos dois mundos.

- Isso mesmo, - falou Perstefany; como ela tem audição de gato, que é super boa, não era

difícil ouvir as conversas dos outros, mesmo que sejam por sussurro - se ela nos ajudar a ver o que

nós, o futuro do reino inteiro, podemos fazer para evitar o caos iminente, será ótimo.

- Mas Daphine não faz nada de graça, ela sempre quer alguma coisa - disse Jane.

- E o que podemos dar para alguém que tem tudo? - falou Black – Pegar um unicórnio e

dizer: olha, eu trouxe um cavalo com uma cenoura no meio da testa, que também é assassino? -

Jane olhou para ele com raiva, pois o chifre de unicórnio em sua testa brilhou na ponta.

- Podemos entregar o Black, não fará falta alguma aqui em Forgeteens - disse Jane

sorrindo diabolicamente.

- Não, meu irmão, não - falou Jack - manda o faxineiro dos lobisomens, vai ser ótimo para

ela praticar magia corporal - falou ele malicioso.

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- Não, ele não - falou Perstefany - daí o cheiro horrendo que sai daquele lugar onde eles

dormem irá matar todos sufocados antes mesmo da guerra começar.

- Querem saber? - falei, interrompendo todo mundo que entrou num debate escandaloso -

deem para ela algo da corte das fadas ou dos unicórnios, tenho certeza que ela vai gostar. Como

as pedras que cercam o reino deles e são proibidas, ela vai gostar de ter uma. E parem de agir

feitos crianças no jardim de infância.

- Essa ideia é... - falou Black, que foi interrompido por Tamara.

- Uma ótima ideia, ela irá amar ter algo que pertence aos assassinos dos unicórnios - falou

ela virando para Jane - sem ofensa, mas eles são assassinos e não dá para negar, poderíamos

levar um dos diamantes do reino dos unicórnios, ela queria um para poder investigar de onde o

poder dos unicórnios vem.

- Não é do chifre - falou Perstefany, fazendo cara de pensativa - pelo que sei.

- Na verdade - falou Jane - o poder não vem dos chifres, ele vem da terra que é cercada

pelo sangue dos inocentes que matamos. Pegamos aquela essência e armazenamos nos

diamantes do reino, mas não é dos chifres coisa nenhuma.

- Então como você está aqui, não deveria estar com os outros unicórnios? - falei, sorrindo

- Já que você é metade unicórnio.

- Isso mesmo - falou ela friamente, sem gentileza ou carisma - eu sou metade unicórnio, não um

cavalo: só tenho os chifres, olhos e poderes, mas não chego a ser um completo. Então eu fico aqui,

e não na campina. Mas, - balancei a cabeça positivamente, pois tinha entendido tudo - mas tem

também o fato de eu ter sido banida do reino dos unicórnios e blá blá blá, é uma longa história, mas

sem dúvida Jack já te contou, né?

- Já sim – falei.

- Então ótimo - falou Tamara sorrindo - vamos dar a ela um diamante do reino dos

unicórnios. Mas tem uma coisa, quem vai entregar a ela?

- Bom, manda Jack e Black - falou Jane se retirando da conversa e indo até o portal de

Forgeteens - eles sempre vão lá mesmo, então conhecem o lugar. Agora me deem licença, que eu

vou até o reino dos unicórnios falar com a lorde de lá para conseguir um dos diamantes.

- Mas - falou Jack, só que ela já tinha ido - eu não quero ir... Merda mesmo - falou baixo e

resmungando.

Como sempre naquele lugar, Jane era quem mandava, ela era meio que uma diretora de

todo o lugar. Quem não a obedecia se ferrava, porque não era fácil lidar com ela. É complicado,

mas era como se Forgeteens fosse uma escola: quem desobedece vai parar na detenção, que no

caso era limpar o dormitório dos lobisomens. Eu não tenho nada contra os lobisomens, só tenho

que admitir que na lua cheia as coisas ficam meio descontroladas, porque eles não podem sair de

Forgeteens e ficam lá durante todo o período de transformação, e os uivos incomodavam.

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Eu estou te ouvindo

Capítulo 22

Uma coisa que você tem que saber sobre o reino dos unicórnios é que tocar nos diamantes

que cercam o lugar é extremamente proibido, o que resulta que Jane não tinha conseguido pegá-

los para entregar a Daphine, e ela não iria ajudar sem algo em troca, não importa quanto

implorássemos. Ser uma espiã das trevas era complicado, pois ela sabia que se fosse pega iria ser

banida e nunca mais poderia tocar um pé na cidade da luz. Por isso ela trabalhava por favores,

coisas difíceis de se encontrar em todo o reino das trevas e da luz. E sendo rígida com os preços

por sua magia, significava que seu trabalho era realmente bom.

Ela podia fazer os dois ao mesmo tempo, mas como sua natureza são as trevas, apesar de

estar na luz, ela não tem forças o bastante para realizar desejos sombrios e muito poderosos... mas

para ela, enxergar um futuro devia ser uma coisa fácil. Então fomos vê-la sem medo, e eu, sendo

uma chata, implorei para ir junto, só para me divertir um pouco: era muito chato só ficar em

Forgeteens, sem agitação. Está bem... eu não era de sair muito, mas me sentia entediada naquele

lugar. Em casa, eu pelo menos tinha meu pai para conversar, mas aqui só tem a Per. E Jack, o que

era bom, mas eles não eram íntimos o bastante para que eu pudesse falar com eles tudo que falava

com meu pai. Coisas do tipo:

- Pai, como foi que você soube que estava apaixonado pela mamãe? - lembro que perguntei

isso um dia em que cheguei chorando em casa, reclamando que os garotos me achavam feia. Mas

meu pai sempre soube me animar nos momentos de escuridão.

Ele era como uma luz, a luz que me mostrava a saída do meu interior atormentado por 16

anos de muito bullying e de depressões que já tive, por pessoas que me zoavam na escola... mas

meu pai me mostrava que um dia eu iria achar alguém que me amasse. Poderia ser hoje, ou

amanhã, ou até depois de amanhã, mas acharia. E aquilo me animava, e conforme o tempo

passava me aceitei sendo gorda, sendo baixinha, sendo vesga; eu aprendi a me amar mesmo

tendo defeitos; convivia com eles na minha vida e convivo agora na minha morte sem reclamar. E

essas são as lembranças de que não me esqueci, as lembranças que me fazem ser eu. Pois não

é só pela minha vontade de sair do breu, ou pela vontade de poder descansar em paz: é a vontade

de poder um dia reencontrar quem mais me amo nesse mundo e quem sempre vai me amar.

Olha, eu sei que posso ficar repetindo esse assunto do bullying mais de mil vezes, mas eu

esqueço das coisas que digo. E peço desculpas por isso, sério mesmo... Okay? Quer saber, vamos

fazer o seguinte, daqui em diante não irei mais falar disso sem que esteja na história, okay? Ótimo,

eu prometo per demônios que não irei mais falar essas baboseiras de bullying e depressão.

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***

A noite fria de congelar condenava todos os cantos do reino das trevas.

- Parece que a aparição de Julie aqui em Forgeteens foi grande – falei, sentada com Jack,

Perstefany, Tamara e Black, que estavam em cima da árvore que havia perto da fogueira em volta

da qual todos estávamos. Eu, como sempre, com um cobertor enrolado em mim, Tammy com a

roupa das sirenas, que não a deixava sentir frio, e Jack, o friorento, batendo os dentes, encolhido

junto comigo, enrolado no cobertor – Black, você não está com frio aí em cima?

Não houve uma resposta. De fato, como ele usava os fones de ouvido super altos em cima

daquele galho, não podia ouvir. Ele só ficava lá olhando para as estrelas, no seu próprio mundo.

- O que Black pensa tanto? - perguntei para Jack, que olhou para mim; o frio que ele estava

sentindo devia ser grande, porque sua boca estava roxa, e a pele, quase azul, como um de seus

olhos – Eu achava que era avoada, mas ele me superou.

- Black gosta de ficar sozinho - falou Jack, e olhou para cima vendo o irmão com os fones

deitado no galho, só olhando para cima - acho que tentar entender o porquê do Black ser o Black

é mais difícil que fazer a Perstefany parar de gostar da Tammy.

- Ei! - falou Perstefany, olhando com uma careta para Jack - para a sua informação, ela

gosta de mim... Né, Tammy? - olhou para Tammy, que logo a respondeu sinceramente, tirando o

sorriso com presas da boca de Perstefany.

- Claro que gosto – e bem na hora em que Per olhou para Jack e falou alto "Viu?" ela

completou - como uma amiga.

- Ai, essa doeu - falou ela, rindo e dando um tapinha nas costas da Tammy - mas aposto

que algum dia você vai me amar como eu te amo.

- Vocês duas... - falou Jack, rindo e logo depois tremendo - Perstefany - falou ele se

encolhendo mais na coberta de lã - como é que você não sente frio? Olha só, você está aí só com

essa blusinha fina preta, e calça, e sapatilha! Me explica, como não está encarangando ou

congelando?

- Jack, meu caro ruivo e amado Jack - ela se levantou e colocou uma das mãos na cintura,

curvando-a para o lado e balançando o rabo de gato - olha para mim, eu pareço alguma coisa ou

animal?

- Que pergunta idiota é essa, Per? - falou Jack.

- Só me responde se sim ou não - retrucou Perstefany, sorrindo.

- Sim, você parece um gato, mas isso é óbvio, porque você tem cabelos que mais parecem

pelos de gato, e tem um rabo e orelhas de gato, marcas no rosto que mais parecem bigodes, e

garras de gatos. Mas o que isso tem a ver com você não sentir frio?

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- O fato é... eu sou metade gato, e gatos não sentem tanto frio, por causa dos pelos. No

meu caso, eu tenho a habilidade felina de me acostumar a qualquer clima, seja calor ou frio.

- Ah, tá - falou Jack, se levantando, tremendo - acho que vou à minha casa dormir, estou

morrendo de sono e frio, e quero o conforto da minha cama.

- Mas já? – falei, fazendo biquinho - não vai, não quero ficar aqui no frio só com as duas

que NÃO sentem frio, por incrível que pareça.

- Bom - falou Tammy - é só ir na casa dele junto com ele, quem sabe vocês não aproveitam

para ficar sozinhos um pouco? - falou ela com um sorriso malicioso que sempre me fazia ficar

assustada.

- Quer deixar de brincadeira, Tammy... - olhei para Jack que sorriu com sua boca ainda roxa

- ele sem dúvida não gosta de mim.

- Não vou dizer nada - falou Perstefany, passando pela minha frente com o rabo de gato

levantado - vamos para a casa do Jack assistir algo. Você vem, Black?

- Quê? - falou ele se virando para olhar Perstefany – Ah, eu... quero ficar aqui, depois eu

vou.

- Com “depois” ele quer dizer “nunca” - falou Jack no meu ouvido, e eu ri.

- Pelo menos, Jack, eu não preciso fica bancando o babaca só para falar que amo alguém...

se eu amasse.

- Pelo menos eu posso amar. Você vive sob uma maldição - falou ele friamente, encarando

o irmão.

- Não poder amar é o meu prêmio - falou ele se virando para encarar de novo as estrelas,

colocando os fones de ouvido.

Black não tinha medo. Não só porque ele não podia amar, mas porque era como se o

escuro da noite o aconchegasse; ele não tinha frio, nem sentia falta de amigos ou coisas do tipo.

Não, ele era do tipo que ficava lá, desenhando no seu canto. Às vezes, eu queria ter entendido o

Black antes de morrer: poderia ter sido capaz de entende-lo. Mas não, Black era um poço sem

fundo.

Então fomos para a casa dos irmãos Jack e Black, ficar num lugar onde tinha aquecedor e

comida na geladeira, e não precisaríamos atravessar meia Forgeteens só para pegar um misero

cupcake.

Houve um debate sobre que filmes íamos ver, se seriam de terror - o que eu votei que não

e não de novo - ou de comédia - óbvio que eu, sendo uma chata, ganhei pela persistência, e

acabamos vendo comédia.

Mas por mais que eu tentasse, não conseguia relaxar. Algo me incomodava, algo como

uma vontade de chorar, mais ela ficava presa na garganta, então nem prestei atenção no filme: só

fiquei deitada, pensativa, de olhos fechados, para acharem que dormi e não me encherem o saco.

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Não sabia se era saudade ou se era o fato de eu ter tanta coisa a fazer, mas só ficava parada,

esperando.

A saudade era como se ficasse cada vez maior. Parte de mim estava presa nas trevas, o

que me permitiu não ficar tão histérica, mas a outra parte era boa, era comportada, a parte que me

fazia me preocupar com meu pai. Eu não podia fazer nada, só ficava naquele sofá, comendo feito

uma condenada e assistindo a filmes. Como se isso fosse ajudar a trazer meu pai de volta...

Eu precisava ser amada de novo, como fui por ele; queria ele comigo de volta, nas noites

de pesadelos que estavam me condenando há semanas.

E naquele momento tudo que eu tinha eram minhas lembranças; somente elas, mais nada.

O amor é algo frágil com que não se brinca, e naquele momento era do que eu mais precisava:

precisava ser amada.

Eu não me importava com o que iria acontecer, se havia ou não uma guerra que causaria

mortes; não me importava se Daphine iria ou não nos ajudar. Eu só queria saber se ele estava bem,

só isso.

***

Acho que a resposta para aquele meu sentimento era fácil: seu pai vai estar vivo até você

me dar o que quero.

Naquela noite meu pai estava naquela prisão, somente ele, os ratos e os ossos dos condenados.

Morrendo de frio, acorrentado naquele lugar. Não tinha como salvá-lo sem perder um dos poucos

cavaleiros das trevas, então o deixavam lá, sofrendo.

Para eles podia ser uma coisa normal, ser forçado a esquecer quem se amava, mas não

para mim: ele era tudo que me restou da minha família inútil, que fingia que nenhum de nós dois

existia.

Naquela noite, nem eu nem ele dormimos; eu ficava acordada, chorando em silêncio e

fazendo carinho no meu gato Leo, enquanto meu pai, deitado na cama de ferro, só olhava para as

estrelas através das grades de ferro celestial.

A minha dor e a dele eram iguais.

Acho que histórias tristes nunca fizeram muito o meu gosto. A vida é curta demais para

viver deprimido, então sempre procurei ficar feliz e não me abalar deixando meu mundo cair e

simplesmente desistir. Então eu ficava com isso na minha cabeça e me alegrava porque meu pai

me falava aquilo... então, lembranças, por favor me levem para bem longe, onde tudo seja como

antes. Eu não quero mais chorar todas as noites por ter pesadelos, eu quero ser feliz, quero poder

viver feliz e ter esperanças de vê-lo de novo, e não posso deixar o medo me guiar nesse lugar. Eu

tenho que ser feliz sem me preocupar com as dores.

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Por mais que hajam coisas em meu caminho, eu estava determinada a ser feliz. Chega de

ficar chorando.

Pelo meu pai eu ia ser feliz, e prometo que vou vê-lo de novo.

Mal sabia eu que as palavras que eu pensava à noite, meu pai ouvia. Como?

Eu não sei, mas as ouvia, como se fosse uma música. Eu queria ouvir a dele, mas não

podia. Mas não importa muito, se ele está feliz, eu estou feliz.

Como antes de eu ser carregada até aqui pelo Jack, porque fingia que estava dormindo,

ele me deu um beijo de boa-noite falando que me amava, aquilo me alegrou um pouco – talvez

muito, mas não demonstrei. Mas mesmo assim, como disse, eu não dormi à noite, porque a

saudade é pior que o luto.

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Se um cair, todos caem juntos

Capítulo 23

- Como assim, não? - perguntou Jane, dentro do castelo do reino unicórnio.

Como já disse, era proibido pegar os diamantes de todo o lugar, e Jane era chata: ela queria

um, senão Daphine nunca nos ajudaria

- Eu preciso somente de um dos diamantes, não de todos... será que é pedir demais?

Sabem, eu não entendo como um simples diamante podia ser tão importante. Gente, ela

era só uma bruxa, se ela não quisesse ajudar, iríamos atrás de outra. Mas que porre é esse, né?

Ééééé...

- Para você, é. - respondeu o ministro, se levantando do trono de madeira e indo até Jane -

É muita ousadia vir aqui, minha filha, me pedir o que nós mais prezamos em toda a nossa terra.

- Já disse não sou sua filha. Posso ser metade unicórnio, mas nunca serei como vocês.

Então calem a boca e me deem o que eu pedi. Se não, todo mundo estará perdido - disse Jane

com raiva; ela já estava lá há um bom tempo tentando convencer o ministro a lhe entregar somente

um dos diamantes.

O que não fazia muito sentido na minha cabeça era que ela só queria um mísero diamante

mágico com almas humanas dentro, será que era pedir demais?

- Não ligo para isso, - falou ele andando pela sala, que ficava dentro de uma árvore muito

grande no meio do reino - vocês de Forgeteens sabem muito bem que na hora da guerra lutaremos

com vocês, banidos.

- Sabemos disso, todos de Forgeteens sabem, mas se nos entregar um dos diamantes,

podemos evitar essa possível catástrofe. Por favor, ministro, nos entregue um deles.

- Já disse que não, Jane. - falou ele - O que acha de uma troca?

- Você quer o quê?

- Você - disse ele.

E Jane logo se assustou, pois não sabia direito o que isso significava.

- Lhe entregarei quantos diamantes quiser, se você prometer ficar no reino e não sair, pois

sabe muito bem que sangue assassino, o sangue dos unicórnios, corre em suas veias. - fato sobre

Jane: ela era um unicórnio do lado da luz, mas depois que foi banida se tornou uma assassina,

como os das trevas, e com isso ganhou nova personalidade e nova aparência.

Os olhos dela nem sempre foram esse infinito brilhando pela raiva que a fez cerrá-los e

encarar o ministro mortalmente.

- Escuta aqui - disse ela, desafiando - não nos entregue o diamante, mas fique sabendo que

quando estivermos no campo de batalha dos dois mundos a culpa será sua.

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- A guerra já vai acontecer, nós querendo ou não - disse o ministro.

Pelo jeito aquela uni exagerou no glitter no café da manhã, porque o mau humor estava dos

infernos.

Mas como ela não conseguiu pegar o diamante com o ministro, voltou para Forgeteens

irada com o que aconteceu. Ela odiava quando as coisas não saíam como ela planejava, então

sempre tentava fazer as coisas com perfeição e sozinha, para garantir. Mas naquela situação em

que estávamos não tinha jeito, ela não podia ficar só, senão perderia a cabeça.

Quando ela chegou em Forgeteens, Jack, eu, Per e Tamara esperávamos sentados em um

dos bancos da cozinha principal, com esperanças que acabaram quando ela disse que não

conseguiu o diamante. E Daphine não nos ajudaria sem algo em troca, nem que a vaca tussa. O

que, como eu já disse, era um porre.

Mas nada nos impediria, Julie iria pagar pela dor que causou a cada um dos seres das

trevas, e iríamos vencer aquela guerra, não importa quem esteja em nosso caminho. Iríamos

enfrentar a luz, e finalmente as trevas dominariam o mundo.

Porque não somos tão maus quanto diziam nas histórias de contos de fadas. Tudo tem um

motivo para acontecer, e eu conto a visão que eu tinha das trevas: a escuridão de lá e diferente da

daqui; a daqui, sim, pode se falar que é o lado mau, e não o lado bom.

Porque lá as coisas aconteceram meio injustas, por isso se tornaram diferentes... Antes de

nos julgar, nos conheça, e veja as coisas como realmente são por um ponto de vista diferente.

- Sabemos de duas coisas, - falou Tamara interrompendo a discussão que estávamos tendo

sobre o que iríamos fazer – uma: esqueçam Daphine, ela não nos ajudará sem algo em troca, e

Jack sabe muito bem que se não for um diamante será a Taylor.

- Eu? – falei, apontando para mim mesma e arregalando os olhos – por que ela iria me

querer?

- Por que? - disse Black, descendo flutuando de cima de uma das árvores que haviam em

todo o lugar - Porque você é o troféu entre os mundos: o ganhador fica com a filha das trevas e da

luz.

- Mas como eu posso ser a toda gostosona dessa história sendo que nem tenho os poderes

ou sei lá o que vocês têm? - disse - Eu sou uma nada, sempre fui e provavelmente sempre vou ser.

- Você não é uma nada. - falou Jack - Você é muito mais que a soma das partes.

- Jack - falei a mais pura verdade de como eu me via - eu sou vesga, gorda, baixa e muito

mais.

- Pelo jeito, o espelho mente para você de um jeito que não sabe - disse Black, revirando

os olhos vermelhos.

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- Como assim? Se isso é um modo de dizer que sou bonita, diga de uma vez. - disse meio

irritada; isso é chato pra caralho, pare de ficar enrolando e perdendo tempo com conversas

desnecessárias, fale o que quer sem metáforas ridículas que não entendo nunca.

- Nada. - falou Tamara, impedindo Black de falar qualquer coisa – Agora, suas crianças,

parem de ficar procurando chifre em cabeça de cavalo e vamos achar um jeito de pegar um dos

diamantes do reino dos unicórnios, porque, caso contrário, eu juro que vou pendurar vocês pelados

bem numas das árvores do reino das neves.

- Per, - falei baixo em seu ouvido felino – o que você viu na Tammy mesmo?

- Uma outra versão minha. Muito bem, - disse ela se afastando de mim e falando alto o

suficiente para me dar um susto que me fez pular para trás - vamos começar a Operação Gatuno.

Se queremos roubar o Reino dos Unicórnios, é bom sermos ágeis e espertos – ela deu um pulo,

parando em uma posição engraçada e logo fazendo uma arminha com os dedos.

- Não falamos nada sobre roubar - disse Jack pensativo - pelo menos eu não ouvi nada

sobre o assunto.

- Bom, não falamos mesmo, - disse Per - mas foi uma ideia louca que tive, vi na TV que

sempre dá certo.

- Ham... Per? - disse eu enquanto ela dizia “oi?” para minha pergunta - acho que assistir

TV demais está te fazendo uma lavagem cerebral. Nunca que a gente vai conseguir entrar num dos

reinos fora de Forgeteens, é suicídio...

- Na verdade, - disse Jane – não é suicídio, Jack e Black conseguem. - disse, olhando para

os dois - Se eles já invadiram o castelo de Julie, roubaram uma taça de ouro e saíram sem nem

um arranhão sequer, eu acho que esses filhos da mãe conseguem tudo.

Bela frase, Jane, muito motivadora, pena que não pensamos num detalhe nesse plano idiota

de invadir um reino cheio de criaturas mágicas que vomitam arco-íris: como é que vamos passar

pelo castelo, antes de tudo? Está tudo bem, Jack e Black já fizeram isso, mas na Cidade da Luz e

não na das Trevas, gênio; lá na Luz os poderes deles funcionam bem, porque eles pegam a

maldade dos corações mortais, mas agora é nas trevas, onde todos matam pessoas a sangue frio,

onde elas são um bando de filhos da puta que só prestam atenção neles mesmos, num lugar que

mais parece um manicômio do que um reino enfeitiçado pela maldade.

Mas tá, faça o que quiser, vai lá e se mata e manda beijos para os guardas do castelo por

mim, está bom, querida? Um beijo....

- Tá bom, - falou Black sarcasticamente - e quem disse que eu e meu irmão vamos arriscar

nossos pescoços por um diamante encantado cheio de almas?

- Porque, meu querido Jack, - falou Jane - você não quer morrer, quer? - disse Jane

apontando para o corpo de um dos banidos que quebraram uma das regras de toda Forgeteens e

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pagou com a própria vida numa forca. O corpo já estava branco e com cheiro horrível de carne

podre.

Mas eles sempre faziam aquilo de propósito para mostrar o que eles fazem com os rebeldes

de todo o lugar. Mas em cada reino era diferente.

Como o do gelo, onde você tinha que enfrentar 184 dias numa toca de tigres da neve

famintos.

No Reino dos Unicórnios, a punição era ter seu chifre arrancado e perder completamente

seus poderes. É a total desonra para todo o Reino unicórnio.

No das fadas, era apodrecer nos calabouços do castelo da Rainha Vermelha.

Em Forgeteens, pagava-se com a própria vida.

Também tem o reino dos trasgos. Lá não há crimes muito fortes, só tem que fazer trabalho

comunitário no reino Unicórnio como catador de almas.

Tem outros lugares também, mas não me lembro. Esses são os principais a saber .

- Okay - disse Jack puxando o irmão pelo pulso para se afastar de Jane. Ele já estava

irritado porque fumaças escuras começaram a sair de suas mãos. Black as chamava de fumaça do

desespero, mas esse nome é muito idiota e não vou usá-lo - Black, temos que fazer isso. Caso

contrário, sabe o que acontecerá.

- Claro que sei e não quero perder a minha peguete do momento. - disse ele virando para

Tamara que estava perto de Perstefany conversando sobre sei lá o que – Nós vamos, mas com

uma condição.

- Qual? - perguntou Tamara.

- Vamos querer que você faça Jack e eu sermos imunes a qualquer magia de qualquer reino

que seja, seja da luz ou das trevas.

- Sem chance. - disse Perstefany - A magia dos reinos é muito poderosa, não tem como

deixá-los imunes com um simples tocar de chifre de unicórnio.

- Tá, né. - falou Black cruzando os braços - Não custo tentar. Vamos, maninho, temos

espadas para pegar no ferreiro das fadas e um longo caminho até o reino Vermelho.

- Tá, só vou pegar meu casaco e já vou - disse ele .

- Okay, me encontra na frente do portal daqui a pouco. E não demora ou te deixo aqui.

Ele acenou com a cabeça e Black logo foi em direção ao portal de abertura de Forgeteens.

Black estava com o cabelo preto bagunçado pelo vento forte que batia no lugar e a jaqueta de couro

que combinava com a blusa xadrez vermelha por baixo da roupa, com a calça jeans escuro e

surrado .

Black era bonito mas não fazia muito meu tipo, não era fã de bad boys, eles me tratavam

mal, e a qualquer vaca também, né? Porque um cara não vai gostar de você porque você é magra

, linda , tem um cabelo perfeito , não se ele for um cara que preste. Isso vai ver muito além da

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aparência, ele vai ver o interior, não vai olhar para o decote ou pra os peitos ou só querer sexo.

Talvez seja porque ele te ama de um jeito que somente ele a ame, vai ver como você age contra o

mundo. Triste é que esse tipo de cara não existe, e como eu já disse para Jack e Black, o mundo

é uma grande festa com sexo, garotas e dinheiro e eu não fui convidada, só pode! Ô garotinha

tonta, pelo amor de deus. O que eu fiz para merecer ser odiada? Nada.

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Juntos? Juntos.

Capítulo 24

Certas coisas não podem ser mudadas, mas a principal coisa é que podemos mudar o

mundo com o poder de palavras sem precisar sofrer para isso, aposto que eu não teria sido tão

odiada se tivesse pensado assim. O mundo é feito de idiotas, é tudo que tenho a dizer. São

essas pessoas idiotas que me mataram antes mesmo de eu morrer. Não sei me orgulho por ser

quem era ou se eles realmente me achavam estranha. Por que seres humanos têm medo do que

é diferente? Eu não podia ser normal, não podia ser magra como as outras ? Não podia ter um

cabelo perfeito e liso? Os olhos numa posição normal? Acho que não . Nasci imperfeita... Mas pelo

menos nasci feliz, sempre fui meio surtadinha e aquilo bastava. Por mais que que nessa história

não pareça, eu era.

Ser diferente era legal, ser normal era chato demais .

***

Estávamos na cozinha principal com uma coisa que mais parecia um espelho falando com

Jack e Black que estavam a caminho do reino dos Unicórnios. Eles estavam prestes a roubar o

nosso diamante querido, nosso precioso que amamos e não será nosso por muito tempo porque

pertence a uma bruxa super poderosa e linda chamada Daphine.

- Jack, você está me ouvindo? - falou Jane por um aparelho muito ingênuo que não era um

walktalk, mas sim que um espelho mágico de comunicação entre as criaturas mágicas do reino

Unicórnio E como Jane já morou lá, ela tem um e outro ela roubou de um ex-namorado enquanto

ele dormia. Sim, ela já teve namorado ... Conheci ele rapidamente, e ele era lindo

- Bom, até agora estamos bem mas não posso dizer a mesma coisa quando invadirmos a

linha inimiga - disse ele rindo – os inimigos estão chegando, os inimigos estão chegando.

- Não sabia que vocês não se davam bem com os unicórnios, vocês são até vizinhos de um

quilômetro que distância. - falei pensativa depois de uma longa pausa entre a conversa de Jane e

Jack sobre onde ir no reino - Na minha cabeça, os unicórnios eram bonzinhos, criaturas que

vomitavam arco-íris de glitter, mas pelo jeito estou errada.

- Vem cá, Taylor. - dessa vez foi Black quem falou interrompendo Jack antes que ele me

respondesse - Você pelo jeito viu muito desenho animado do Bambi quando pequena porque minha

querida gorducha, unicórnios podem vomitar arco-íris, mas eles não são o que se pode falar de

criaturas muito amigáveis .

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- Ei! - disse Jane – Para a sua informação, Black – falou meio gritando - não somos só

pacificadores, também somos ótimos assassinos, então tomaria cuidado com o que fala.

- Se eu ligasse para o que falo - disse Black - sem dúvida não estaria mais vivo, se depender

de quanta coisa idiota ele fala já estaria morto desde que nasceu.

Então Black brincando com o Jack, pegou o espelho e voou alto com ele na mão, podíamos

ver a grande altura que ele alcançou e aquela porra me deixava tonta porque sim, eu tinha medo

de altura, muiiitoooo medo de altura!

- Black, - disse Jack gritando com o irmão do outro lado do espelho - me dá essa droga

aqui, estamos quase no reino dos Unicórnios e não quero fazer todo o trabalho sozinho, então

vamos deixar de papo e desligar esse espelho. Desce logo aqui!

- Irmão chato e triste! - disse Black olhando para o espelho – A gente liga se acontecer algo

ao dormir e deixe esse trabalho com a gente, ia ser rápido.

- Okay – dissemos eu e Jane juntas.

Um tempo se passou e Jane estava em sua casa e eu fui para a de Per que se encontrava

deitada no sofá falando com meus gatos. Como ela era meio gato entendia o que eles falavam.

Devia ser bem legal ser uma garota metade gato. Muito legal.

- Oi, Per - disse sentando do lado dela.

- Oi, Tay. Black e Jack já chegaram no reino Unicórnio?

- Não, eles estavam quase lá quando desligaram o espelho - parei naquele tempo para

pensar um pouco, não era muito normal uma pessoa ter um espelho mágico em Forgeteens – Per,

como funciona esse lugar? Eu não entendo muito do reino das trevas.

- Bom, o que falar sobre aqui que seja boa coisa - disse ela se aconchegando mais no sofá

- acho que mais fácil falar como alguém vem parar aqui ...- mas eu a interrompi, aquilo eu já sabia

e não precisava saber, por mais que eu quisesse saber mais e mais sobre esse lugar.

- Mas isso eu sei, minha cara. - disse - Não quero saber de novo.

- Será mesmo que você sabe a nossa história?

- Bom, eu....- disse mas Per interrompeu.

- Então me conte o que você sabe .... Estou aqui para ouvi-la.

Meu deus, naquela hora me deu um gelo grande, minhas pernas começaram a tremer e

meu coração acelerou, fiquei nervosa e quando comecei a falar, gaguejei, não era somente medo,

acho que era algo a mais, mas o que? Só deus sabe.

- Você está com vergonha ou coisa do tipo?

- Não sei, - disse abaixando o rosto - acho que só medo . - ela colocou a mão no meu ombro

como uma amiga que nunca tive devia fazer.

- Calma, não precisa ficar assim, eu explico tudo - disse ela sorrindo com as presas de

gato à mostra .

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- Tá bom.

- Quando somos jogados nesse mundo cheio de escuridão, o que decide para onde vamos

é nossos verdadeiros rostos. É por isso que muitos de nós mudam de aparência porque isso -

apontou para ela mesma - é o que somos, é o que eu sou. Alguns de nós permanecem iguais,

outros mudam tanto que acabam não sendo reconhecidos. Depois que atravessamos o portal e a

aparência muda, mas isso você já sabe, seguimos um rumo sem saber para qual destino. É como

se nossos pés soubessem para onde devemos ir, para cada reino de todo o reino das trevas, e

olha que o reino das trevas não é um lugar pequeno não! Mas depois que chegamos onde devemos

ficar, recebemos uma marca para nos diferenciar dos outros, como os unicórnios que ganham os

chifres e olhos infinitos, os do reino das fadas recebem asas, os dos tragos recebem aquela

aparência verde, enfim, o fato é que cada lugar tem sua marca, é isso que faz a gente ser quem é.

- Mas e eu, por que não tenho uma marca de banida como todos vocês?

- Você não é um ser das trevas - disse Perstefany e eu disse espantada "Não? " - mas

também não é um da luz, muito menos do mundo humano. Mas também tem o fato de você não

ter sido banida de nenhum lugar porque se recebe a marca depois que se é banido, você é marcado

com ferro quente.

- Se eu não sou um ser da luz, um ser das trevas ou humana... Quem sou eu?

- Você é Taylor Adelle Peapons, a filha da escuridão e luz, nascida entre os dois mundos,

a garota que levará a escuridão para o coração do inimigo e irá fazê-lo ver quem somos. Existe

dentro de você uma garota que irá queimar o mundo e acabar com a luz.

- Como? - disse meio assustada - Eu não quero isso para mim, não quero ser líder de um

exército sombrio. Muito menos queimar o mundo.

- Não existe querer, Tay - disse Perstefany com as sobrancelhas curvadas para baixo -

dentro de você há maldade mas também há pureza.

- Per, por favor, me explica isso direito.

- Bom... Sabe aquele ditado ‘o bem sempre vence o mal’ ?

- Sei - disse balançando a cabeça positivamente.

- Ele não é verdadeiro - disse Perstefany dando um sorriso de lado e fazendo carinho na

Murisca, uma dos 6 gatos que se encontravam no sofá - o mal existe e isso não se pode negar mas

na verdade, a luz é a verdadeira inimiga, é ela que cega as pessoas, que faz todos acreditarem em

coisas erradas. Já nas trevas podemos ser maus mas somos bons, fomos banidos da luz por

querermos o bem para os humanos, alguns podem ter matados servos da luz mas foi por bons

motivos. Eles são os verdadeiros inimigos, foram eles que tiraram tudo o que temos, nossas

famílias, nossas casas, nossos amores, tudo o que tínhamos. Eles arrancaram de nossos peitos

nossos corações e vivemos no escuro por não termos nada no que nos apoiar - eu não estava

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entendendo muita coisa e Per acabou percebendo aquilo, então resumiu - a escuridão, na verdade,

é a luz disfarçada.

Agora fez sentido para mim, a escuridão é a verdadeira luz disfarçada, o que significa que

nada e tão mau quanto eu imaginava.

Perstefany havia me falado sobre os reinos, sobre a sensação de virar outra coisa que não

você - não é tão ruim.

Mas enquanto eu e Perstefany conversávamos, Jack e Black corriam para salvar a própria

pele.

***

Os dois estavam entrando pela divisória da floresta para o reino dos Unicórnios que era

marcado com um portal arco-íris . O castelo do ministro não ficava muito longe do portal, por mais

que o reino deles fosse bem grande - o triplo do de Forgeteens - o castelo ficava logo de cara.

Jack saiu andando sem fazer ruídos para não chamar a atenção dos guardas do castelo,

já Black, por outro lado, preferiu fazer do próprio jeito e ir pelas árvores - não era má ideia, mas

acho que ele esqueceu que os unicórnios podiam voar - ele ficava dando sinal para o irmão vir

porque a área estava limpa. Black estava com um machado nas costas e Jack com um arco e

flecha.

- Jack, – sussurrou Black - você sabe onde os diamantes ficam, né?

- Sei, eles ficam um pouco depois do palácio.

- Acho tenho uma boa e má noticia ... Qual quer primeiro?

- A boa.

- A boa é que finalmente vou poder estrear meu machado novo - Jack logo olhou para o

irmão com cara de quem falava “sério, você realmente disse isso?”. Bom, ele não tinha dito que

era uma boa notícia para a busca dos diamantes.

- Tá, e a má noticia?

- A má notícia é que o ministro reforçou a guarda real e está mais complicado de entrar nesse

castelo do que fazer a Taylor parar de tomar chocolate quente.

- Bom, pelo menos ela não é enjoada para comida, diferente das magrinhas de toda

Forgeteens. Meu irmão, se nós conseguimos invadir o castelo da luz e roubar o livro da luz,

conseguimos invadir um castelo com um bando de vomitadores de arco-íris.

- Às vezes tenho vergonha de ser seu irmão, sabia ? - Jack fingiu não ouvir, Black podia

falar quanto ele quisesse porque ele sabia que eles eram tudo o que tinham perto de uma família.

Ele foram em frente: Jack pegou uma das flechas e a preparou para atirar caso necessário

e Black tirou o machado super bem afiado das costas e segurou-o com força. Jack, com o capuz

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vermelho de sempre, colocou a touca sobre a cabeça cobrindo quase todos os fios ruivos de fogo.

Andaram até chegar em uma parede de pedras do castelo.

- Okay. - falou Jack - Se quisermos sair vivos daqui, é melhor bolarmos alguma coisa.

- Tá, - falou Black sarcasticamente - mas o que?

- Não sei. – falou Jack - Quer saber, vamos deixar essa história de plano para lá, vamos

entrar lá, pegarmos o diamante e sair logo desse lugar.

- Então o plano é ir na louca e fazer o que der na telha como sempre fazemos? – falou Black.

- Isso mesmo, maninho. Três ... Dois... Um ...

E eles foram. Black, como sempre, preferiu usar os poderes herdados pelo pai: virou fumaça

preta de uma maneira que quase não se enxerga anoite e foi para o último galho da árvore que

dava para o castelo. Chegando lá, pôde ter uma visão melhor de onde tinha que ir e achou que

Jane estava louca quando disse que era coisa rápida, era muito longe do castelo o lugar onde

ficavam os diamantes. Mesmo assim, teriam que chegar lá e pegar pelo menos um, senão Daphine

nunca nos ajudaria a decifrar o futuro que nenhum vidente consegue ver porque o futuro dos seres

das trevas sempre é incerto.

Jack, diferente do irmão, prefere seguir a razão ao invés da emoção e decidiu ver o que iria

acontecer. E ele fico feliz com o resultado. Ao invés de invadir o castelo e atravessá-lo, decidiu dar

a volta. O que? Muito ingênuo, né? Você está lá, num lugar onde não conhece, com criaturas que

podem te matar e resolve dar a volta no palácio sendo que se entrar, já sai na frente do lugar onde

ficam os diamantes. Ele era um tonto mesmo.

Mas ele era um tonto inteligente: ao invés de dar a volta, chamou o irmão atirando uma

flecha no lugar em que ele se encontrava e logo Black desceu de novo para ver o que o irmão

queria.

- Bom, o lugar está todo cercado por guardas. - disse Black - Lá de cima consegui ver e não

tem jeito, não dá para irmos por cima e nem pela volta, temos que entrar no reino mesmo.

- Se os guardas fossem nosso único problema, poderíamos matar todos, mas não tem como

fazer isso sem violar a regra de todas as trevas: proibido matar...- disse Jack.

- Proibido matar criaturas que habitam o reino das trevas. Sei disso, Jack, estava aqui

quando essa regra foi lançada a todos os banidos.

- Temos duas escolhas: uma é voltar para casa e jogar Dead Rising ou colocar nossas vidas

em riscos fazendo uma coisa extremante louca e invadir esse castelo.

- A primeira opção é boa - disse Black.

- Black ...- chamou a atenção do irmão.

- Mas infelizmente vamos ter que fazer a segunda.

Então finalmente, por uma graça divina, eles decidiram ligar para Jane que explicaria para

eles como chegar do outro lado do castelo sem serem vistos ou mortos.

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- Bom, - disse Jane através do espelho que aparecia seu rosto - tem algumas maneiras de

entrar no castelo, porém irei dizer a forma mas fácil. Primeiro, vocês têm que ir até a parede

esquerda do castelo, lá vai ter uma pedra com um símbolo. Quando um de vocês dois tocar na

pedra, logo ao lado aparecerá uma passagem secreta, vocês poderão entrar mas não poderão sair

por ela, terão que achar outra saída depois. A passagem levará vocês ao centro de todo o castelo

e de lá, Jack terá que adormecer os guardas usando o poder de possessão de Black para possuir

um corpo de um dos guardas, porque para entrar na campina dos Unicórnios, só é possível usando

o poder que levamos nos chifres. Depois que entrar na campina, você verá à esquerda o lugar

aonde os diamantes estão escondidos. Mas eu digo, lá e um lugar com um cheiro horrível de morto.

- Tá, eu faço o que - disse Jack - além de adormecer os guardas?

- Você terá que proteger seu irmão de qualquer ameaça. Vocês dois terão que trabalhar

juntos e se um de vocês falhar, acabarão morrendo.

- Okay - falou Black- agora temos que ir senão, não pegaremos esse diamante antes do

amanhecer. - e desligou o espelho.

- Muito bem, meu irmãozinho. Juntos?

- Juntos.

E assim fizeram tudo que Jane mandou. Como Black tinha uma memória ótima para guardar

as tarefas que tinha que fazer, não foi difícil para eles. Os irmãos podiam ser diferentes em muitas

coisas mas sempre foram ótimos ajudando um ao outro. Era como Jane falou, eles trabalhavam

como uma boa dupla, se um falhava, o outro também.

Black gostava de ser filho da própria morte porque ele tinha boa lembrança, poderes da

escuridão, de possessão aos mortos ou vivos, ele podia fazer várias coisas que normalmente

qualquer membro de todo o reino das trevas não conseguia.

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A coisa

Capítulo 25

Jack e Black se encontravam no meio da sala do trono do lorde Unicórnio. Eles estavam

cercados por guardas com lanças e espadas mas o sangue deles estava frio. Alguns guardas

tinham um corpo de cavalo, o rosto de um humano com chifres e os olhos infinitos e com as peles

brilhosas, outros eram unicórnios por completo e estavam com os olhos vermelhos de raiva.

Os dois arfavam e um estava de costas para o outro. Os dois tinham duas opções: lutar ou

desistir e serem condenados à morte por todo o reino das trevas por quebrarem a lei sagrada que

diz que ‘nenhum banido pode matar outro banido que não seja de seu povo ou de seu reino’.

Mas os dois sabiam dessa lei e não estavam nem um pouco afim de serem mortos, então

ele teriam que pegar o diamante sem matar ninguém do reino Unicórnio.

Ele atacaram, Jack com a rapidez em suas mãos ia lançando uma flecha atrás da outra e

tomava muito cuidado para não atingir o coração dos guardas, já Black estava com raiva, mas ficou

com mais ainda, pois teve que controlar seu impulso de morte para não decapitar cada unicórnio

naquela sala. Mesmo ele sendo imortal tinha que tomar cuidado para não matá-los, então ele se

concentrou em outras coisas. Como Jack era mil vezes mais cuidadoso do que Black, ia atingindo

umas flechas com um veneno na ponta que os paralisava totalmente. Black, pelo contrário, já ia

arrancando fora seus membros dos unicórnios, braços, pernas e também alguns chifres e por mais

que eles crescessem de novo em menos de dois dias, os unicórnios ficavam sem poder quando

não tinham mais os cornos.

Os guardas que possuíam escudos foram os que mais resistiam, eles não eram atingidos

pelas flechas de Jack e o machado de Black.

E quando se viram cercados por guardas e já estavam cansados e suados de tanto lutar,

decidiram começar a levar essa brincadeira mais a sério: quando um dos guardas se lançou para

atingir Black com a espada, ele virou fumaça e pegou o machado que estava grudado em um dos

escudos no chão. Usou toda a sua força para tirá-lo do escudo e então, quando o guarda foi para

atingir Black de novo, ele virou fumaça e parou atrás do guarda, flutuando fora de sua vista. Black

jogou o machado nas costas do guarda que se curvou de dor e então caiu no chão imobilizado e

sangrando, sujando o lindo tapete branco que havia na sala.

Jack ainda estava cercado por guardas, suas flechas estavam acabando, o cabelo ruivo

estava grudado em sua testa. Ele deixou a flechas de lado porque sem dúvida, havia mais guardas

do lado de fora do castelo. Quando os guardas foram para cima de Jack novamente com as

espadas afiadas, ele usou toda sua força e acertou os arcos restantes na cabeça dos que o

ameaçavam. Três deles desmaiaram.

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- Black! – gritou Jack.

O irmão estava caído no chão e um dos guardas apontava a espada para seu peito e estava

prestes a matá-lo mas Jack pegou uma das últimas flechas e lançou em direção ao guarda o

atingindo bem no peito, fazendo as pernas do cavalo paralisarem. Logo em seguida, ele caiu no

chão.

Os três guardas que restaram na sala atacaram Jack e Black gritando, mas Back então

possuiu um do corpo dos guardas e o fez matar seus companheiros com sua espadas e depois

Black fez ele se matar.

A regra dizia: ‘não mate quem não for de seu reino’ mas como Black havia possuído o corpo

do guarda, ele automaticamente se tornou por alguns segundos um dos unicórnios, então a regra

não o atingia.

E os guardas de todo o cômodo estavam mortos e os irmãos, cobertos de sangue rosa e

roxo de unicórnios.

- Mandou bem! - disse Jack.

- Obrigado, irmão – logo Black começou a olhar para toda a sala para procurar o machado

que estava grudado nas costas de um cavaleiro.

Jack começou a retirar suas flechas que estavam grudados nos corpos dos unicórnios,

alguns deles tiveram de ser atingidos por duas pois eles eram muito fortes e não eram derrubados

facialmente.

Os irmãos seguiram andando por todo o castelo que era tão contraditório como as “casas”

de Forgeteens: por fora eram uma coisa, por dentro eram outra. Os dois ficaram impressionados

com o tamanho do lugar, havia quadros nas paredes de madeira dos antigos lordes e de algumas

pessoas importantes da corte, mas o mais estranho é que havia um quadro de Jane na parede

quando mais jovem, era possível perceber que era ela pois tinha o mesmo cabelo arco- íris, os

olhos infinitos, as maçãs do rosto bem saltadas, a pele branca, o rabo que ficava para fora do

vestido rosa bebê... Ela tinha um sorriso lindo, em seu rosto parecia que ela realmente estava feliz.

Mas mesmo assim eles não tinham entendido o porquê de ter um retrato de Jane na parede

onde ficava os mais importantes e históricos do reino.

- Quando chegarmos em Forgeteens, perguntamos a ela. – disse Black – Agora vamos,

temos um diamante para roubar.

Eles podem ter se perdido no meio do caminho até chegarem a “portas dos fundos” do reino

que levava em direção ao lugar onde os diamantes ficavam. Mas quando finalmente chegaram,

mas exatamente assim que pisaram os pés na grama molhada de sereno, flechas começaram a

cair como chuva em cima deles, por sorte nem uma delas acertaram um dos dois.

Black voou até onde os guardas estavam atirando as flechas e sem dó nem piedade, mesmo

sabendo da lei, estava cansado de não matar pelo menos uma vidinha, e com isso ele pegou seu

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machado vermelho e decapitou cada um deles. Um pouco de sangue caiu em cima dele. Os corpos

dos guardas despencaram de cima dos galhos da árvore em que atiravam, caindo um em cada

lado de Jack.

Quando Black desceu flutuando de volta para o chão, eles puderam ver o lugar onde os

diamantes ficavam, era um pouco estranho pois parecia uma estrada de tijolos feitos de diamante,

todos eles grudados nos chão, nas copas das árvores, e alguns ao lado do piso, enfiados no meio

da terra.

- Meu deus, que cheiro de morto nesse lugar – falou Jack tampando o nariz com a mão.

- Pare de reclamar, o cheiro da morte é delicioso e divino – disse Black sorrindo com os

dentes brancos.

- Pois bem – disse Jack – vai ser tudo muito fácil daqui em diante, simplesmente pegaremos

um diamante e sairemos desse lugar.

- Okay, só uma coisa: não conta para ninguém que acabei matando aqueles guardas, não

estou afim de ir para o inferno tão cedo.

- Você é imortal, Black.

- Eu sei, mas não quero ser morto.

- Mas se você é imortal, como vai morrer? De qualquer forma você vai voltar à vida.

- Okay, então espalhe para Lúcifer e todo mundo que sou um assassino em série.

- Você não tem jeito mesmo! – disse Jack batendo a mão no rosto – Vamos logo pegar essa

droga de diamante, quero ir para casa.

Assim que os dois colocaram o pé na estrada – “o pé na estrada eu vou botar que já está na

hora de ir ...” Okay isso não teve graça mas eu adoro assistir irmão urso, acho o Coda muito fofo -

alguma coisa que não consigo descrever como era... Era um ... Um bicho de quatro patas, com

cabeça de um unicórnio e com a crina feita espinhos, andava reto como uma pessoa e os olhos

eram de fogo... Um fogo preto.

Aquele bicho ou coisa rugiu para eles e fez seus cabelos irem para trás. O bafo dele fedia

a vômito com cebolas e alhos e algo azedo.

Logo então ele colocou suas garras para fora – garras de urso, só que maiores – e as ergueu,

acertando rosto de Jack. Logo começou a pingar seu sangue no chão.

Jack havia ficado furioso – sabe aquele ditado ‘cutuquei o leão com vara curta’? Bom, nesse

momento, a pessoa que cutucou era aquela coisa e o Jack era o leão . Jack havia ficado tão nervoso

com aquilo que pegou uma de suas flechas, mirou na garganta daquela coisa – vamos fazer o

seguinte, vamos dar um nome para esse bicho: vou chama-lo de coisa que é fácil de se lembrar e

combina com ele ... Porque sinceramente, aquilo era uma coisa – quando ele rugiu de novo para

os dois, Jack disparou e a flecha entrou direto na garganta da coisa. Surpreendente, o bicho abriu

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a boca gigante e pegou a flechinha que havia em sua garganta. Ele cuspiu um pouco de sangue e

então atacou de novo, mas dessa vez ele foi para cima dos dois.

Black pegou o machado vermelho em suas mãos e saiu voando por cima da coisa e deixando

o irmão sozinho. Ele se posicionou em cima da cabeça horrenda do bicho e desceu-lhe o machado.

A coisa somente gritou – mas sem dúvida, com o tamanho que ele tinha, não foi quase nada o que

ele sentiu. Black tirou o machado da cabeça da coisa e então gritou para o irmão:

- Distrai ele que eu pego o diamante.

- Okay.

Jack gritou para chamar a atenção da coisa que rugiu novamente. Naquele momento, Jack

sentiu ânsia de vômito e quase vomitou mas respirou fundo e foi pegando suas flechas e acertando

em todo lugar que podia na coisa. Enquanto isso, Black foi flutuando até o primeiro diamante que

viu e o colocou em uma sacolinha marrom de tecido. E assim que ele prendeu a bolsinha em sua

calça pelo cordão que ela possuía, a coisa deu uma caudada nele que voou longe e caiu em uma

poça de lama com glitter.

Ele havia ficado todo brilhante e cheio de ódio.

Agora a cobra vai fumar, pensou ele.

Black foi flutuando até ficar cara a cara com o bicho. Ele pôde olhar nos olhos negros que

eram uma completa escuridão, pegou seu machado e com toda a sua força desceu em um dos

olhos do monstro que urrou – mas dessa vez de dor. Black logo virou um monstro completamente

feito de osso e sangue escorrendo por toda parte, ele pegou na cauda da coisa e tocando nela,

logo ficou verde musgo. A coisa olhou pare Black e viu que algum tipo de metamorfose começou a

afetar todo o resto do corpo. Então, do nada, o chifre de unicórnio da coisa brilhou em sua cabeça

e tudo aqui desapareceu. O bicho lambeu as garras de urso e então atingiu Black, que caiu no chão

de volta a sua forma normal.

- Mas o que?

E então, sem mais nem menos, o monstro atacou Jack que disparou uma flecha, mas ao

mesmo tempo que a coisa abriu a boca para ... – por mais estranho que seja – comê-lo, mas antes

que ele chegasse em Jack, Black foi flutuando o mais rápido possível, pegou o braço do irmão e

então entraram no castelo novamente. De repente, a coisa desapareceu... Simplesmente

desapareceu.

- Para onde ele foi? – perguntou Jack.

- Aquela coisa – disse Black ofegando – é o guardião dos diamantes, ele não pode ser

derrotado e normalmente os que o enfrentam saem mortos.

- E por que ele não nos matou? – perguntou Jack

- Porque saímos de perto dos diamantes.

- Tá legal. Pegou o diamante?

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- Peguei. A nossa sorte foi que ele não me viu pegando porque senão ele teria nos matado.

Aquela coisa achou que não tínhamos pego nada... Bom, meu caro irmão, vamos para casa, tenho

certeza que sua namorada está com saudades.

- Já disse mil vezes: Taylor não é minha namorada.

- Vou fingir que acredito.

E então os dois atravessaram todo o castelo de novo, saíram através da grande porta de

madeira branca e voltaram para casa.

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Panquecas de morangos + mel = fome

Capítulo 26

Jack e Black haviam chegado em Forgeteens pela manhã quando a única alma penada viva

naquele lugar era a de Jane, que esperava por eles.

- Conseguiram o diamante? - perguntou ela se aproximando dos dois que estavam cobertos

por sangue de unicórnio e lama.

- Claro que sim. - disse Black. Ele pegou a sacolinha marrom que estava presa a sua calça

e tirou o diamante de dentro dela com as mãos sujas e pálidas - Mas tem uma coisa ... Você vai

precisar falar com o ministro do reino porque por querer, não resisti e tive que matar aqueles

malditos unicórnios.

- Você o que? - disse ela furiosa, tanto que os olhos ganharam uma cor de raiva - Como

assim, matou unicórnios? Black, isso é contra as regras, sabe disso, vai meter toda Forgeteens em

um desequilíbrio de reinos, você percebe o que fez?

- Jane, - disse Jack interrompendo um pouco a bronca cheia de raiva - Black não teve culpa,

eles eram muitos contra eu e ele, não tinha jeito. Ou matávamos eles ou teríamos que voltar de

mãos abanando para cá.

- Ainda bem que não voltamos. - disse Black- Aqui está sua encomenda, mal-humorada.

- Ótimo, - disse ela - vocês dois estão encrencados comigo, ouviram? Amanhã vou lá

resolver isso. - disse ela, e os dois logo começaram a andar - Esperem um pouco ... Black não

esqueça que o reino das trevas vai receber a visita de seu pai para levar algumas almas, então é

bom não sair de casa amanhã senão vai ter briga infernal entre vocês dois na certa.

- Okay, mas se meu pai passar por aqui para dar um "oi" para mim ou para qualquer um,

sugiro que não saia ninguém de casa. - disse Black sorrindo - Ele não é nada paciente com qualquer

integrante vivo.

- Jane, – disse Jack – quando estávamos dentro do castelo, vimos um retrato seu em uma

das paredes... Por que você estaria em uma das paredes do castelo? Normalmente só os mais

importantes que já se foram tem um quadro na parede real.

- É uma longa história que não irei contar para vocês, meu passado não interessa a ninguém.

- Mas ...- disse Jack.

- Nada de ‘ mas’, não irei contar nada a vocês dois.

Ela se retirou, voltando até sua casa para gradar o diamante bem guardado. Pelo jeito, Jane

não ia ficar de bom-humor naquela manhã. Então, era melhor nem falar com ela por um tempo.

Então já que ela não falou eu falo: Jane era uma das princesas do reino dos unicórnios,

amada por todos, porém teve fases rebeldes e acabou saindo um pouco das regras, e seu pai o

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Lorde, não a matou porque não queria perder sua filha, e ele simplesmente a mandou para outro

reino, alterando a história dela, e apagando a memória de seus súditos, e ele dissera que a criança

nas pinturas era sua filha já morta.

***

Na tarde seguinte, todo o lugar estava de congelar até mesmo o cérebro, mas não importa

quanto frio faça, Perstefany colocou um vestido estampado que marca bem sua cintura junto com

uma bota de montaria marrom . E eu como sempre usei um moletom confortável e quentinho.

Jack e Black nem sequer deram sinal de vida de tanto que dormiam. Normalmente dava

para ouvir do lado de fora o som de Jack jogando vídeo game ou o som do baixo de Black . Mas

naquele dia, ninguém não ouvia nada, somente o silêncio e o som dos passos cheios de terror da

morte caminhando pela flores indo em direção ao reino dos Unicórnios.

- Pelo jeito, - disse Perstefany pulando de cima da árvore que tinha perto da casa dela e

caindo em pé – Black não aguentou muito e teve que matar alguns unicórnios. O que é uma pena

porque eles são lindos.

- Verdade, mas eu só os vi uma vez de longe, Jack me disse para não chegar muito perto,

disse que eles têm instinto assassino .

- E eles têm. - disse ela sorrindo e mostrando as presas de gato bem afiadas - Mas acho

que Black não é só um caso perdido e sim, alguém que precisa de ajuda.

- Para que? - perguntei curiosa, olhando para ela com meu olhinho vesgo que eu odiava.

- Para poder se livrar do assassino que há dentro dele. - disse ela - Está com fome? Se

estiver, faço panquecas com mel e morango para nós duas!

- Claro, estou sempre com fome! Per, - disse entrando dentro de casa junto com ela - será

que agora vou poder ver meu pai?

- Não sei, querida. - disse ela andando até a cozinha laranja de sua casa - Talvez sim, talvez

não. Mas sem querer acabar com sua felicidade, é provável que não. – admito, aquela doeu na

alma - Não quero magoá-la, mas seu pai está num lugar onde muitos entram e poucos saem.

- Eu sei vocês vivem falando isso para mim, mas eu não quero um conselho sobre como

esperar o impossível. Tudo o que eu quero é o meu pai de volta, ele é minha família.

-Sei como a saudade de um amor machuca, - disse ela olhando para mim com os olhos

verdes de gato - mas essa dor tem que ser sentida.

Então ela foi até a cozinha e me pediu para esperar na sala depois de dar algo para os gatos

comerem, já que agora, ela me ajuda a cuidar deles .

Acho que uma coisa que o tempo não cura é os nosso sentimentos. Depois que morri,

entendi que eu não podia me entristecer por míseras pessoas que não mereciam tudo o que eu

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ofereci. O mundo é feito de pessoas ignorantes, acho que a única coisa boa de eu estar presa

nesse buraco escuro, é que agora sou forçada a chamar de casa e que não preciso mais viver com

essas pessoas.

Eu contaria mais sobre aquele dia, mas como sempre, eu fui a burra que deixou o pai de

Black me fazer uma visitinha e levar algumas lembrancinhas.

Mas acho que não tem nada demais para falar, o resto do dia foi bem chato mesmo, pelo

menos eu acho que foi.

Como não posso deixar pedaços dessa história faltando, vou colocar o que acho que

aconteceu. Depois que Per fez as panquecas com mel, ela foi ver Tamara e dizer que já tínhamos

pego o diamante para Daphine. Agora, tudo o que precisávamos era de uma ideia para entrar no

reino do inimigo sem ser morto, falar com uma bruxa espiã, passar por toda a cidade até chegar a

ela sem parecermos que éramos integrantes das trevas... E ia ser complicado porque a escuridão

no meio da luz é tão silenciosa quanto um elefante numa loja de porcelanas.

Mas bem, acho que Jane e Tamara já pensaram no que fazer. E se não pensaram, elas que

coloquem aquelas cabeças cheias de escuridão para funcionar e tratem de serem rápidas porque

o tempo não para, bem pelo contrário, ele passa rápido demais. Porque podemos ser maus, mas

ao mesmo tempo somos bons.

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Três da manhã

Capítulo 27

Insônia nunca foi uma coisa boa. E como se não bastasse somente a maldita insônia,

também pesadelos. Inferno mesmo. Eu acordei à noite e Perstefany havia pegado no sono no sofá-

cama em que eu sempre dormia . Então tive que levantar com muito cuidado para não acordá-la.

Mas com o meu peso fez com que uma das molas rangessem. Graças a deus que ela tem o sono

profundo de um gato.

Eu abri a porta e saí para relaxar um pouco, para pensar e olhar as estrelas e ver se eu

achava constelações. Sem querer me gabar, eu sabia todas. Porem as das trevas eram diferentes,

elas se mexiam e meio que “brigavam” entre elas. Mas fechei os olhos para viajar no meu próprio

mundinho.

Se eu não podia ver o mundo além do portal de Forgeteens, eu iria trazer o mundo até mim.

Fechei os olhos e pude ver o mundo lá fora . Mesmo sem sair de lá, eu viajava através da

minha própria espaçonave e via as estrelas. #quecoisaridicula. Logo que abri os, vi o céu cheio de

desenhos. E aquilo me encantou.

Eu via as estrelas cadentes e podia jurar que poderia tocá-las se esticasse a mão. A

imaginação muitas vezes é mais forte que a realidade. E naquele momento, pude sentir o mundo

a minha volta. Com seus defeitos, prazeres, maldades e bondades. Eu podia me sentir livre, mesmo

estando presa.

Então fiquei olhando para o céu que logo se moveu formando um redemoinho com todas as

estrelas de cada reino. Acho que até mesmo o céu podia saber que a maldade se aproximava.

Lá nada era como a cidade. Onde eu morava era mais bonito e perigoso. Lá tinha aventuras, por

mais que eu não as sentisse, porque fala sério, essa história está meio parada. Eu não podia tirar

um pé de Forgeteens sem que alguém me acompanhasse.

- hey, Taylor- falou Black me tirando do meu mundinho e me arrastando para a realidade

maldita que eu era forçada a viver. Uma hora os sonhos acabam e somos trazidos para o chão.

- Black, - disse me levantando e tremendo – o que esta fazendo aqui.

- Caso tenha esquecido, namorada do Jack, eu não sou meu irmão. Não tenho costume de

dormir. A morte não dorme.

- Tá bom... - disse revirando os olhos - Mas então me responda, Sr. filho da morte. Por que

as estrelas daqui são assim? - apontei para cima e ele logo olhou.

- Todo o reino, cada canto desse mundo secreto tem sempre algo novo a ser descoberto. E

como um quebra cabeça de mil peças, você nunca pode parar ou nunca irá acabar.

- Todo o lugar é enfeitiçado? - perguntei mesmo já sabendo a resposta.

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- Não, todo o lugar é amaldiçoado pela luz que nos mandou para cá. Tiveram que fazer isso

para se protegerem.

- Então aqui é como o País das Maravilhas? Que sempre há algo novo e misterioso?

- Mais ou menos ... Mas pode pensar que sim.

- eu não estendo o Por que de eu não sentir medo desse lugar. É como se tudo isso já

estivesse presenta na minha vida a muito tempo.

- Taylor, você é metade demônio, suas raízes vem desse lugar então não tem porquê, você

é a filha das trevas.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que eu falei.

- Por que você não fica em casa? - perguntei quebrando o silêncio

- Pelo mesmo motivo que você sai da casa da Per de madrugada. -falou dando um sorriso

de lado.

- Por pesadelos? – perguntei.

- Na verdade é por paz. Gosto da noite, é calma e silenciosa. Não tenho Jane ou qualquer

um matracando no meu ouvido. É somente eu, meu baixo e as estrelas ... E de vez em quando,

você. - disse Black.

- Eu te incomodo? - perguntei - Se incomodo, me diga, eu vou para dentro.

- Não, você não é incômodo. Gosto da sua ... Digamos, maluquice. Okay, você as vezes é

um pouco irritante, mas é legal.

- isso era para ser um elogio?

- Na verdade era.

- você pode sonhar?

- Infelizmente, namorada do Jack, não é um sonho Mas calma, seu pai tá vivo, só está na

mãos de uma bruxa chamada Julie.

Sabe, a maldade existe de diversas formas nesse mundo e algumas vezes ela não está viva.

Algumas vezes ela possui as pessoas, acho que é como um velho ditado falava ‘se quer conhecer

alguém, dê poder a ela’. E era a mais pura verdade, o poder era uma das formas de dar maldade

a alguém porque ele te muda de um jeito impressionante.

Julie era uma camponesa antes de se tornar uma rainha maluca seca pela sede de poder.

Pobre Julie, ela era cega pela luz.

Por demônios, como fui me meter nessa história de magia...

Black e eu conversamos só mais um pouco, depois logo me despedi dele, e então entrei de volta

na casa de Perstefany. Fui para o quarto dela e a acordei.

- O que? - disse ela acordando e logo despertando de vez ao ver que era eu – Tay, está tudo

bem? Teve pesadelos de novo? Se teve, pode dormir aqui comigo, prometo não me abraçar a você,

ou ... O que foi?

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-Não consegui dormir entao fui dar uma volta lá fora, será que você tem alguma coisa para

me fazer dormir?

- Por demônios! - disse ela levantando da cama com a camisola escrita ‘eu amo ler em

francês’ ( j'aime lire ) - tenho sim, vem cá minha flor.

Ela foi até a cozinha e trouxe um copo de suco de maracujá natural.

- Aqui está – falou ela me entregando o copo.

Eu tomei o suco e então falei que precisava usar o banheiro. E quando sai Black estava na

casa de Per, conversando com ela sobre sei lá o que. E seja o que tinha sido, não me interessava.

Per tinha me surpreendido porque estava de óculos, devia ser para leitura ou coisa do tipo.

- Oi, Black - disse balançando a mão - de novo.

- Oi, namorada do Jack - disse ele, sorrindo.

- Tay, - falou Perstefany levantando e tirando os óculos de leitura encostando - Black veio

perguntar se você está bem.

- Estou ótima! – disse – Black, posso falar com você um minuto?

- Já não basta Jane, agora você também? - falou ele rindo e levantado da cama com colcha

cor de rosa.

Saí do quarto de Per e fui para a sala.

- Seu idiota! - disse batendo no ombro dele – O que está fazendo aqui?

- Ué, - disse ele sarcástico – vim ver como você está, não posso mais fazer isso?

- Haha, Black o que você quer?

Ele abriu a boca para responder quando Perstefany apareceu.

- Para com isso Black, você não percebe que, a Tay não te suporta? - disse - Perstefany

nesses últimos tempos tem sido como uma irmã que eu nunca tive, uma amiga, então não estrague

o que raramente acontece comigo.

- Tá, até parece. - disse ele – mentir é algo muito feio - disse ele dando meia volta e saindo

pela porta da frente.

Black não sabia o que falava, eu não era mentirosa, eu era verdadeira. Sempre fui com

meu pai, então não ia deixar um simples comentário besta de um garoto sem sentimentos me

atingir. Mesmo que quem tenha começado a discussão fui eu. Mesmo assim não importa,

acreditava em mim mesma e mesmo que eu errasse, algum dia iria acertar porque mentira tem

perna curta e Per iria saber que eu menti , mas até esse dia chegar, eu prefiro que ela não tenha

uma má impressão de mim.

- Tay, - falou Per do quarto dela - tudo bem aí?

- Tudo. - disse entrando no quarto dela – Per, você ouviu algo que eu falei com Black?

- Não, respeito sua privacidade, mesmo que eu quisesse ouvir e eu podia, não iria. - ela

olhou um pouco para o lado procurando pela sombra de Black – Cadê o Black.

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- Já foi. - disse sentando ao lado dela – O que você está lendo?

- No momento, estou lendo ‘E o vento levou’.

- É bom?

- É sim, um dos meus clássicos preferidos. Posso te perguntar uma coisa meio estranha ?

- Claro - disse olhando em volta do quarto dela. Era um belo quarto, havia muitas coisas

customizadas de um jeito bem criativo. Também tinha vários brinquedinhos dos meus gatos

espalhados pelo quarto dela.

- Como se faz para alguém te amar?

Olhei para ela com uma cara de surpresa. Nunca me perguntaram isso antes, era meio

estranho ouvir isso dela também.

- Não sei. - disse sem saber - Acho que você tem que ser você mesma, por que?

- Tamara. - disse ela fechando o livro - Eu a amo mas ela nunca retribui. E é meio complicado

para mim esquecê-la, ela é linda com aqueles cabelos pretos e longo, aquele rostinho com as

maçãs do rosto saltadas, a boca carnuda, os lindos olhos negros dela . Acho que eu daria quase

tudo para tê-la ao meu lado.

- Sabe, - disse para ela sorrindo, mas acho que meu olho vesgo acabou estragando a cara

que eu queria fazer – Tami só vai ver que você a ama realmente quando já for tarde. Olha só para

você, é tão bonita, aposto que acharia uma garota que a amasse rapidinho. O reino das trevas é

bem grande.

- Mas eu não quero outra garota. - disse ela encostando a cabeça no meu ombro. Alguns

cachos ruivos fogo caíram em seu rosto mas ela nem se incomodou em tirá-los - Eu quero a Tammy,

é ela quem eu amo e sempre vou amar nas minhas próximas sete vidas.

- Bom, - disse - tenha fé, ela ainda vai amá-la, garanto. Para o amor, tudo é possível.

Principalmente o lindo amor de vocês duas.

- Merci pour comprendre ce que je veux dire - o que foi que ela disse? pensei.

- o que isso quer dizer? Desculpa, não falo francês.

- Quer dizer ‘obrigada por entender o que eu quero dizer’.

- De nada. - falei - Não sabia que falava francês, sempre quis aprender mas nunca pude.

- Já passei um tempo na França com alguns parentes banidos por lá.

- Legal! - disse me virando e olhando para o relógio em forma de cubo mágico em cima de

uma pilha de livros da Per. – Perstefany, acho melhor a gente ir dormir, já é bem tarde.

- Okay - falou ela desencostando do meu ombro e colocando a máscara de dormir que tinha

desenhos de olhinhos de gato - Poderia apagar a luz quando sair?

- Claro. - falei levantando - Obrigada pelo pijama.

- De nada. - disse ela bocejando - Boa noite, Taylor .

- Boa noite, Perstefany.

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Seria uma longa noite de pesadelos.

Sorte que não me lembro do resto que aconteceu. Então, não vamos ficar sabendo se eu

tive ou não uma boa noite de sono mas provavelmente, não. E como também não tenho mais

lembranças daquela manhã , vou ter que contar sobre final da tarde, perto de anoitecer.

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Cookies de Nutella

Capítulo 28

Perstefany estava na sala junto comigo. Ela lendo e eu vendo tv.

O sol já estava se pondo porque como falei, não tenho mais as lembranças desde o início

do dia, merda mesmo, se eu pudesse, matava a morte para me livrar da escuridão desse inferno

que estou.

Mas enfim, Perstefany estava com uma calça larga com estampas fofas, parecia aquelas

calças hippie e uma blusa meio apertada laranja, o que combinava bastante com os cabelos ruivos

e a cor de sua pele.

Estávamos assistindo a um filme chamado “A vida secreta de Walter Mitty” que trazia uma

mensagem muito boa que era: pare de viver na fantasia e viva a realidade.

Mas na minha opinião, era meio complicado viver na realidade quando a fantasia é um

mundo bem melhor. O filme estava em uma parte em que o personagem estava indo atrás da foto

25, quando ele pula no helicóptero.

- Me diga uma coisa: - falou Perstefany ainda com o rosto no livro - Se nós já temos o

diamante, por que ainda não fomos para a cidade luz? -Então ela me encarou com os olhos bem

verdes.

- Bom, Jack disse que Tamara, sua linda e amada Tamara está com a Jane planejando o

"plano perfeito ". - disse eu sorrindo - Per?

- Oi. - disse ela voltando a ler.

- Acha que vamos conseguir salvar meu pai dessa vez?

- Não sei, querida Tay. Você realmente sente falta dele?

Não, imagina, só estou perguntando se a única família que ainda me ama vai estar do meu

lado de novo algum dia.

- Óbvio que sim, Per. Tá, meu pai nem sempre esteve comigo desde que eu era pequena.

Mas não importa quanto tempo passe, ainda vou continuar o amando. Ele é meu pai. Ele é meu

melhor amigo.

- Taylor fofa. Todos nós perdemos alguém e tivemos que aprender a lidar com a saudade.

Ele está com você em seu coração sempre presente, até mesmo a sua mãe que era uma guerreira.

Ela te ama e ele te ama. Nós te amamos.

- Eu não quero ele no meu coração, quero ele comigo de novo.

- Vem cá comigo. - disse ela saindo do sofá- cama - Eu vou te animar com os meus famosos

cookies de Nutella com confeitos enquanto vamos assistir a outro filme, um de comédia e moda.

Perstefany cozinha? Nossa, não lembrava disso... Mas deixa eu continuar.

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- Você cozinha? - falei e ela concordou com a cabeça abanando o rabo e mexendo as

orelhas com vários brincos – Que filme vamos assistir?

- “Os delírios de consumos de Becky Bloon”, meu filme preferido. E vou te dar uma dica de

como falar pro Jack que gosta dele.

Como?

- Eu não gosto do Jack - menti e menti feio. Bom pelo menos naquela época eu gostava dele

do mesmo jeito que ele gostava de mim.

- Tá, e eu não sou metade gato. Vem, baixinha, vamos fazer uns cookies porque se deus

quiser hoje à noite, a cidade luz vai receber uma visita de 6 banidos.

- Sabe, eu não entendo vocês. Agem como se tudo fosse normal, como se nada de ruim

fosse acontecer, como se nem soubessem que estão prestes a entrar em uma guerra que trará

mortes e sofrimento.

Era a mais pura verdade, não falei aqui só por falar. Era algo que eu havia reparado, parece

que eles são como lesmas ou caracóis que demoram muito tempo para sair do lugar ou para

começar a se preocupar com tudo. Por que a vida tinha que ser tão .... Chata, sem nada, sem

aventuras?

Esse era o motivo de eu ver tantos filmes. Nas telas, a vida parecia mais divertida, com

animação . E não algo chato como a vida de um caracol. Livros também, eles te tiram do chão com

o poder da imaginação.

- Taylor, -disse ela abrindo o armário e pegando um pote de Nutella e farinha – Taylor, minha

querida amiga. Nós nos importamos, só não demonstramos. No fundo, estamos com uma tensão

dos infernos por não sabermos o que vai acontecer. Mas por fora, estamos vivendo nossas vidas.

Elas podem ser bobas e chatas mas é tudo o que temos.

- Sabe, aqui é bem melhor que Anlisly não é tão... Depressivo.

- Na verdade, - disse ela levantando com tudo que precisa para os cookies em uma bacia

amarela com desenhos de bolinhas - a sua cidade, a sua casa, o seu mundo estão aqui ao lado.

Se você andar até se cansar com a mente voando e ouvir o vento chamando chegará até lá onde

os seres humanos habitam ... Essa é a rima para o mundo humano.

Como assim? Pensei que estávamos esse tempo todo ao lado daquela cidade infernal, mas

como? Magia? Deus, estava tonta. Não sei se era porque eu esqueci meu remédio para a

bipolaridade ou se era porque estava com fome. Acho que a segunda opção é a mais provável.

- Per, - disse - estamos do lado do mundo humano. Mas como eles não veem o mundo das

trevas?

- Somos a escuridão, querida, estamos em toda a parte e a floresta que cercava sua casa á

a floresta que habitamos, seu pai pode não ter te falado. Mas desde que se mudou a vigiávamos

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nas sombras. Quando sofria bullying, estávamos lá só te olhando e esperando a hora que você se

juntaria a nós no nosso reino.

- Então... Vocês viam tudo?

- Sim.

- Até quando eu falava sozinha quando eu ia no banheiro? Tudo mesmo?

Per havia me olhado com aquela cara de ‘VOCÊ TEM PROBLEMA’.

- Não, nem tudo assim, louca - disse ela quebrando o ovo e pondo na tigela - só quando

realmente precisava. Seu pai era forte, mas não a ponto de te proteger de tudo.

- Então quando a rainha veio até mim ...

- Seu pai nos convocou e fomos atrás de você. Bom, pelo menos eu queria ir. Já Black, não.

- Mas por que Jack se aproximou de mim antes do tempo?

- Ora, porque ele queria te conhecer, ele sabia que cedo ou tarde vocês dois se cruzariam

então só apressou esse processo.

- Nossa, é muita coisa para essa gorda aqui absorver. Me deixa pensar – falei fazendo cara

de paisagem - e enquanto eu penso, por favor, faça os cookies pois devem ser deliciosos.

Ela riu enquanto mexia a massa.

- Posso pôr uma música? - perguntou ela - Eu gosto de cozinhar ou de fazer qualquer coisa

com música.

- Claro, posso escolher. - disse sorrindo - Onde está seu celular?

- está sala, em cima da sua “cama”.

Fui até o sofá- cama, peguei o celular, aproveitei e desliguei a tv e o dvd que estavam

ligados para ninguém assistir. E vi que o livro que Per lia estava em cima do sofá aberto e o título

dizia: ‘entre a luz e as trevas’.

Baita ironia, hein, Perstefany!

Então quando voltei para a cozinha, Perstefany tinha sumido. Simplesmente sumiu sem nem

um grito ou algo do tipo. Ela simplesmente desapareceu.

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Novos amigos só são novos no primeiro dia

Capítulo 29

Sabe, eu vou fazer um pouco de drama agora e não vou falar aonde Per foi parar ou onde

aquela gatinha havia se enfiado. Vou fazer isso para não enjoar da mesma história de meu grupo

de amigos idiotas.

Vamos contar um pouco do reino da luz dessa vez, okay?

Bom, digamos que meu pai irá receber um colega de cela ao lado. Seu nome era Horfídeo.

Eu sempre achei que esse nome combinava muito bem com ele.

- Me soltem, seus idiotas! - dizia ele enquanto era empurrado à força para a cela que havia

do lado da de papai - Me deixem ir, eu não fiz nada de errado!

Horfídeo era magro, tinha cabelos castanhos claros. Olhos escuros e de uma paixão

inigualável por cobras.

- Me soltem! - gritou ele enquanto era trancado na cela empoeirada e cuja única divisória

entre a cela de meu pai era mais uma grande da masmorra - Por favor, me deixem ir, não quero

apodrecer aqui!

- Você não vai, garoto imundo! -disse o guarda - Logo será morto por seu crime contra a

rainha da luz.

E o guarda se retirou com um chapéu estranho estilo aquele das pessoa de Londres.

- Merda! - disse ele batendo furioso na grade de ferro – Por que comigo, pela luz celeste, o

que eu fiz para merecer isso?

Meu pai só observava o garoto que para ele parecia ser mais velho que eu, uns 18 anos por

assim dizer. Mas logo se virou e encarou o teto.

Depois que ele praticamente havia esgotado todas as suas forças tentando quebrar as

grades com a raiva que ele sentia dele mesmo, desistiu e caiu no chão de terra da cela. Logo ele

olhou para o lado e viu meu pai deitado em cima da cama de ferro com uma das mãos atrás da

cabeça olhando para cima.

- Ei, coroa! - disse Horfídeo mal educadamente - Como se sai desse lugar?

Mas ele não respondeu, só ficou olhando para o teto, pensando. No que eu não sei dizer porque

não posso ler mentes, só estou repassando o que um dia ele me falou.

- Ei! - disse ele novamente - Fala a minha língua? Fala português? Me responde se tem

como sair daqui.

Mas nada, meu pai só olhou para ele. Mas logo virou a cabeça de novo.

Acho que meu pai naquele momento deu uma de ‘Ou me respeita, ou corto sua garganta

com meu poderes’.

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Triste ter um pai das trevas. Bom, melhor das trevas do que da luz.

- Oiiii - disse ele irritado - Você é surdo ou mudo? Me responda!

Mas nada. Ele não falou nada, era como se ele tivesse guardando forças para alguma coisa

importante que iria acontecer. Ou como se ele dormisse de olho aberto. Cujo não se ouve ou não

se vê , mas todos acham que você está acordado.

O que me lembra de quando eu tinha 14 anos e acabei dormindo na carteira por causa dos

remédios que eu tinha que tomar por causa da bipolaridade, eles me davam muito sono mas muuito

sono mesmo então no que resulta, eu dormia na carteira da sala, do nada. E que resultou no apelido

de elefante falante durante muito tempo porque não bastava eu só dormir na carteira, eu também

falava. Sempre falei dormido. Então lembre-se, nunca me dê ouvidos enquanto eu estiver dormindo

... Muito menos me pergunte algo porque eu respondo.

- Tá, Sr. Caladão, fique aí - falou ele subindo na cama de ferro que ficava a alguns metros

do chão.

A noite foi chegando e o frio também, de dia a cidade luz era quentinha mas de noite, era

tão fria quanto do deserto. Mas a lua brilhava fora da prisão, meu pai a enxergava através de uma

janela feita pelos ratos da prisão. Ele ouvia os uivos dos lobos do reino das trevas cujo a vibração

era tão grande que era ouvida por todos aqueles com a marca das trevas. Aquilo o confortava de

alguma maneira.

Papai sabia que algum dia, não importava quando fosse, irá voltar e prometer me proteger

para sempre.

Ele estava sentado na cama de ferro com um tecido fino e mofado que a forrava.

Meu pai não dormia, na verdade, poucos seres das trevas dormiam, muitos ficavam

acordados. Eram como vampiros que dormiam de dia e à noite ficavam acordados.

Mas os que não dormiam eram sempre os mais velhos como Black (mesmo ele já nascendo

nas trevas foi um dos primeiros a habitarem o reino), como meu pai que foram um dos primeiros a

serem banidos.

Então, de repente um barulho, um barulho meio estranho. Uma cobra rastejava pela

pequena janela caindo no chão do lado do meu pai. Ela o encarou e mostrou a língua, mas não o

atacou. Só o olhou rapidamente e desviou o olhar, olhando para Horfídeo na cama tremendo de

frio, rastejou lentamente até a cela ao lado e subiu até a cama.

Horfídeo logo acordou com um sorriso vendo a cobra ali com ele, era uma cobra grande,

com escamas todas verdes escuras, os olhos penetrantes e fatais e as presas tão grandes como

agulhas afiadas também.

- Genivy, - falou ele levantando – oh, minha querida Geny. Como entrou aqui, sua danada?

E ela olhou para a janela da cela do meu pai.

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- Menina esperta! - e então ela subiu em seu braço enrolando-se de leve em seu pescoço -

mamãe e papai estão bem. - e ela balançou a cabeça positivamente - E minha irmã Mohyn? - Ela

olhou de novo balançando a cabeça pontuda.

Meu pai ficou impressionado com a inteligência da cobra que o respondia através de seus

gestos. Horfídeo a entendia tão bem como se ela falasse, era isso que ele tanto apreciava, a

inteligência dessas criaturas assassinas.

Mas a cobra não ficou muito tempo, logo saiu por onde entrou sem nem mesmo atacar os

ratos do lugar. Horfídeo só falou para ela avisar os pais que ainda estava vivo.

- Ainda acordado? - perguntou Horfídeo a meu pai – Por que você não fala? Por acaso

aconteceu algo com sua voz? - dessa vez ele tinha sido mais gentil.

- Não, - respondeu meu pai - eu falo.

- Que bom!- disse – Por que não me respondia antes?

- Não sei. – disse sentando na cama, o encarando - Só não queria, faz tempo que não falo

com ninguém.

- Há quanto tempo está aqui?

- Mais ou menos - disse papai apontando para a parede embaixo da cama cheia de riscos,

cada dia que passava ele fazia um - seis meses pelas minhas contas.

- Qual é seu nome, vovô ? Sou Horfídeo.

- Primeiro: não sou vovô, sou pai, não me envelheça antes do tempo. E segundo: prazer,

sou Robert.

- Robert ... Como o da família Peapons.

O que? Eu tenho um pai famoso? Quer dizer, eu tinha um pai famoso. Tá, isso devia ter sido

divertido. Mas acho que não e tão maravilhoso assim afinal de contas, eu estou morta mesmo, não

tem como tirar proveito disso.

- Sim. - disse papai franzindo a testa – O que sabe sobre os Peapons?

- Você não os conhece? Nossa, é o único então. É a família amaldiçoada com um ser do

nosso reino e um ser das trevas, eles quebraram as regras e ficaram juntos, mas isso custou a vida

deles e de seu filho que era um monstro. Dizem que tem uma maldição nessa família, que algum

dia um deles vai queimar o mundo em dor e sofrimento .

Pera aí, mocinho, dor e sofrimento? Qual e? Eu não sou malvada, bem pelo contrário, posso

ser bipolar e ter surtos de estresse mas eu não sou má, não sou cruel e não matei quem não devia,

eu briguei para que o mundo seja salvo e você está me falando que sou má ? Ah, vá tomar naquele

lugar, monte de estrume.

- Hum, - resmungou papai irritado - essa lenda não é bem assim, está mais errada que um

unicórnio sem chifre.

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- Não, na verdade não, Julie nos contou essa história - disse Horfídeo sorrindo e orgulhosos

por ser um da luz - E a rainha não mente.

- Não, Julie mente, Julie é uma vaca controladora que engana as pessoas, as usa para seus

próprios interesses.

- Cara, toma cuidado em como fala da rainha.

- Caso não tenha reparado, mocinho - disse papai pulando da cama e andando até a grande

- se eu fosse você, tomaria mais cuidado de em fala com um ser das trevas porque posso arrancar

seu coração lentamente e ar para os ratos comerem depois. Não fale assim de minha família, de

minha filha. Ela não é um monstro. Vocês são.

- Ai, meu deus! - falo ele - Você é um Peapons, fique longe de mim ser demoníaco, volte

para o inferno.

Ele fez uma cruz com as mãos, sabe aquele ditado ‘com fogo não se brinca’?

Bom, naquele momento meu pai era o fogo e Horfídeo, a criança burra que foi mexer com as

chamas .

- VOCÊ NÃO SABE QUEM EU SOU, GAROTO, TENHO MAIS TEMPO DE VIDA DO QUE

VOCÊ TEM DE FIOS DE CABELO - gritou ele - mas não vou te machucar porque não sou um

assassino.

- Desculpe, sr, não queria - falou ele abaixando a cabeça.

Não sei se ele sentiu medo ou algo assim mas se desculpou. E prometeu nunca mais falar

daquilo.

Mas acho que não importa se ele estava na luz, seus poderes sombrios ainda estavam à

toda. Seus olhos sempre ficavam pretos quando ele ficava irritado, eu reparei nisso no dia da

batalha.

Um lobo disfarçado de ovelha. Que coisa mais clichê, mas tinha que admitir, ele não se saía

bem como lobo porque ele não era mal.

Mas esse lobo tinha um lobinho esperando por ele do outro lado da cidade, além do reino e

além do portal.

- Cuidado, Horfídeo, não costumamos ser pacientes . E antes que comece, se você tocar

no assunto de minha família ou coisa do tipo quando sua cobra de estimação voltar, farei com que

ela te mate .

- Já pedi desculpas, - falou Horfídeo meio bravo – que merda!

E ele voltou para a cama, pulou para conseguir subir nela.

Acho que meu pai não devia se dar muito bem com "visitas” por assim dizer, ele odiava

quando algo dava errado, isso o deixava muito irritado e com a raiva dele, perdia o controle dos

poderes, então era difícil.

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Viu, está aí um dos motivos por pelos quais nos afastamos da nossa família, eles eram

irritantes para a gente e nós, irritante para eles. Um ódio bem grande. E não era amor disfarçado,

era não gostar e odiar e desejar a morte mais dolorida e lenta de todo o mundo para cada um.

Ai ai, por mais que eu queira fugir disso, meu passado me condena a sofrer.

Como não quero uma história triste e depressiva pulo as partes ruins. Pena que a morte não

as levam de mim, ela não gosta, ela tira a sua felicidade. Mas isso você já sabe. E não preciso

lembrar.

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O sumiço de Perstefany parte 1

Capítulo 30

Eu não ouvi nada nem mesmo um mísero ruído, a cozinha estava completamente sem

ninguém.

Acho que ela está no banheiro, pensei comigo.

- Per! - falei indo bater na porta do banheiro que logo abriu rangendo – Perstefany! - mas

nada, Per tinha sumido geral – Perstefany, sério, para! Aonde você está? Isso já está me

assustando.

Um fato sobre mim : eu morro de medo de um monte de coisa , mas principalmente filmes

de terror e escuro, meu deus se você algum dia quiser ver uma garota da minha idade chorando e

chamando o pai, é só me colocar num lugar escuro porque a minha escotofobia é grande. Enorme,

na verdade.

Mas o principal dessa parte não são meus medos e sim o sumiço de Perstefany... Olha, daria

um bom título de filme ‘O sumiço de Perstefany Parte 1’. Daria, não daria?

Claro que daria! Ou talvez não.

- Per- então eu fui lá fora ver se a encontrava.

Mas não, ela realmente não estava lá.

Jesus, pensei naquele instante, dei-me paciência porque se me der força matarei essa

garota quando achá-la.

- Jack! - vi ele passando segurando um copo de café mexendo no celular – Jack, você viu a

Perstefany?

- Não. Por que pequena? Parece preocupada, aconteceu algo?

- Não, imagina, não aconteceu nada, só estou aqui perguntando onde está a Per. Porque do

nada ela sumiu - ironizei, mas logo fiquei com dó. Às vezes eu era meio dura com qualquer pessoa.

Bipolaridade, essa é minha verdadeira maldição.

- Nossa, grosseira. - disse ele – Calma, pequena, toma um pouco de café, me ajuda, talvez

ajude você também.

- Obrigada - peguei o copo e tomei um gole.

Tomei com vontade porque estava com fome e no que resultou? Queimei a língua! Jack amava

coisas quentes e amargas ou azedas já eu preferia coisas melada e frias como um belo pudim de

Maria Mole. Viu só a diferença? - Meu deus, Jack.

- O que foi? - perguntou ele pegando o café da minha mão, ele estava com o capuz vermelho

de sempre e um jeans azul surrado junto com um all-star branco. O que não ajudou porque lá tinha

barro e naquela altura nem era mais branco, era marrom. Mas havia as passarelas de madeira em

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todo lugar, e isso ajudava a não sujar nada, elas passavam na entrada de cada casa e no caminho

para cada lugar, havia curvas e em linhas retas.

- Que café horrível! - falei, mas logo me lembrei do que eu estava procurando - Deixa para

lá sr. nada doce. Jack, a Per sumiu.

- Você já disse isso, pequena, - falou ele e eu franzi as sobrancelhas. Eu já tinha dito e nem

me toquei . - quando falou irônica há uns segundos.

Haaaa tá, me lembrei. Me esqueço rápido das coisas. Muito rápido, na verdade.

- Tá, mas você viu ela? Ela passou por aqui ?- ele negou com a cabeça. - Meu deus, cadê

essa garota?

- Não sei e só vamos descobrir depois, porque agora temos que ir até a casa da Jane, ela

está chamando a gente.

- Para?

- Se esqueceu, né pequena? Já temos o que precisamos, próxima parada reino da luz - disse

ele sorrindo, acho que Jack era uma pessoa bem humorada.

- Mas espera, como você sabia que eu iria sair de casa e vim te perguntar sobre a Per?

- Você tem duas razões: uma esqueceu que eu vejo o futuro? E segundo: eu estava indo te

chamar para irmos à casa da Jane.

- Prefiro acreditar na segunda. – falei revirando os olhos – Então vamos, ruivo.

Segui Jack até a casa da Jane porque não fazia a mínima ideia de onde ficava, e acabei

descobrindo que ficava praticamente no final de toda Forgeteens, debaixo de uma árvore da floresta

com as raízes saindo do chão e os galhos curvos e sinistros.

A casa de Jane estava de porta aberta e Jack entrou na minha frente, tinha cheiro de mofo

com poeira e doce, era um lugar grande com quadros nas paredes, o piso de madeira e as paredes

eram todas listradas de verde claro e branco, o que deixava o lugar com um toque de conforto, era

tudo muito arrumado. Super arrumado. Acho que Jane tinha vícios em limpeza.

Logo vi Jane no fundo do corredor. Assim que se entrava, tinha a sala e um pouco mais a frente a

cozinha que era onde ela estava com Tamara olhando um mapa de todo o reino da luz. Tammy,

como sempre, usava uma capa preta e longa meio rasgada, e pela primeira vez vi Jane usando um

vestido que revelava os braços e pernas pálidos, tão pálidos que eram até brancos, o cabelo com

todas as cores do arco-íris presos em um rabo de cavalo alto, a franja que ficava dividida

exatamente no meio por causa do chifre em sua testa , fazendo cachinhos nas pontas.

Cachos? Não.

Ondulações, cachos era o que eu tinha. Sabe aquele cachinho bem cacho mesmo, um

cachinho médio não muito grande nem muito pequeno? Então, era assim, e também tinha o volume

do meu cabelo que era bem grande, mas mesmo assim eu gostava porque ficava bonito, ou pelo

menos para mim porque para a maioria das pessoas odiavam e preferiam que ele fosse liso.

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Jack e eu paramos em frente da mesa em que Jane e Tamara conversavam sobre como

entrar e sair sem serem pegas ou descobertas.

- Jack, cadê o Black? - perguntou Jane.

- Aqui. - disse Black saindo de uma sombra que havia na cozinha – Jane... - ele a

cumprimentou ele com a cabeça.

- Maninho, namorada do Jack – é, o apelido pegou. Fazer o que, por mais que eu odiasse

aquele apelido besta e tivesse vontade de enfiar ele naquele lugar do Black, tinha que aturar porque

não se pode ou podia discutir com o filho de quem pode te mandar para o inferno.

Então estávamos todos lá. Ou quase todos.

- Gente, cadê a Perstefany? - perguntou Tamara procurando o olhar lindo e verde de

Perstenfany ao redor da cozinha – Taylor, cadê Perstefany? Por que ela não veio junto com você?

- Tammy, - respirei fundo - Perstefany sumiu. Eu não tive culpa, ela simplesmente sumiu do

nada.

- Por demônios! - disse Tamara preocupada e nem ligou para o que Jane estava falando,

naquele momento tudo que ela queria e achar a Per. Acho que Tamara deve estar em uma grande

crise de sentimentos dentro de si– Jane, para tudo! Não vamos invadir a cidade luz sem Perstenay

conosco.

- O que Tamara? Não temos que fazer isso, já enrolamos demais. - disse Jane ficando com

os olhos de universo vermelhos de raiva - Não vamos parar tudo só por causa da Pertefany, ela já

é grande o suficiente para cuidar dela mesma.

- Se já enrolamos tudo isso, uma semana inteira, podemos enrolar por mais um dia, e se

você, JANE resolver seguir com isso sem mim, eu lhe arranco as cordas vocais com a mão, agora

deixa essa droga de mapa para lá, tenho que achar Perstefany .

- Tenho? - disse Black - Não é temos! Pelo jeito Perstefany está conseguindo conquistar o

grande amor platônico que há séculos tem por você.

- Cale a boca! - disse Tammy irritada - Perstenany tem 7 vidas mas não é indestrutível.

Finalmente, obrigada Jesus, alguém naquela sala tomou consciência e resolveu ir atrás da

nossa querida cozinheira felina Perstefany. Ela não terminou de fazer os cookies e eu lá, morta de

fome para comê-los.

Mas acho que eu tinha que concordar com Black, Per deve ter sido apaixonada pela Tammy

durante muito tempo, já estava na hora de Tamara abrir os olhos.

- Tammy, - disse Jack paciente - entenda uma coisa, sei que você quer achar a Per, mas

tem horas que os deveres devem ser cumpridos e deixar os prazeres para mais tarde. Perstefany

nesse momento é uma distração muito grande, já desperdiçamos muito tempo.

- Jack, eu gosto de você - disse Tamara colocando as mãos nos ombros - mas eu tenho

que achar a Perstefany. É minha obrigação como uma das guardiãs do reino.

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O que? Jesus, não pode ser! Tamara era uma das guardiãs do reino? Achei que ela só fosse

guardiã da floresta, não do reino todo.

- Tamara, - disse Jane irritada - existem outros guardiões, podemos falar para ele procurem,

precisamos de você para chegarmos até Daphine. Somente você conhece todo o reino da luz.

- Merda, merda, merda! - disse Tamara uma fera, acho que não era boa aquela sensação

que ela sentia – Tá, eu vou convocar as outras Sirena, mas como farei, Jane? Perstefany é minha

obrigação e de mais ninguém, se algo acontecer a ela me sentirei culpada. Vamos logo com essa

porra.

Acho que cutucamos um monstro com uma vara muito curta , eu não estava afim de ver

Tamara irritada porque se assim era com ela calma, ela com raiva deviria poder mover montanhas.

- Okay. - disse Jane - Como vamos entrar à noite, teremos mais vantagens. Black você

entrará primeiro e se certificará que não há nenhum guarda vigiando o portal, caso contrário, tem

minha permissão para matar o indivíduo e durante todo o percurso, será responsável pelas mortes.

- Black teve um brilho nos olhos, um brilho maligno e sanguinário - Jack entrará por último, ficará

responsável de ser o guarda costas. Precisamos da sua boa mira nas flechas. Tamara, você irá por

segundo, assim que Black entrar, você guiará a gente até o norte da cidade. De lá vamos até a

casa de Daphine, pegaremos o que precisamos e trabalho feito.

- Tá, mas e eu? - perguntei, eu não estava nem um pouco afim de ficar em Forgeteens.

- Você ... Você não sei , mas se quiser ir com a gente, terá que colaborar e não interromper

ou atrapalhar.

- Okay, não vou atrapalhar, prometo! - fiz sinal de... De... Ai, sabe aquele que se coloca a

mão na testa indicando sentido? Não lembro qual é mas fiz esse sinal.

- Está bem, esperemos anoitecer, o que não levará muito tempo. Nos encontraremos no

portal de Forgeteens às nove horas, caso ao contrário... Deixarei vocês de castigo – disse Jane.

- Você não manda em mim - disse Black.

- Mando sim e se tiver problema com isso, dane-se.

Bom, nem te conto como foi mas vou contar mesmo assim daqui a pouco. Antes, eu quero

deixar uma coisa clara: o que Tamara fez assim que Jane nos chutou de sua casa? Isso mesmo,

foi atrás de Per. E pelo jeito Tamara queria Per. Enchendo o saco dela de novo.

Tamara era teimosa, muito teimosa, gostava de fazer as coisas do jeito dela e não aceitava

ajudas, a menos que fosse forçada a aceitá-las. Ela podia ser doce às vezes, mas quando se metia

com ela, saiba que você sairia de olho roxo.

Com os cabelos pretos e super longos, os olhos escuros e a marca do pentagrama cravado

nas costas da mão, e como era uma Sirena, possuía uma máscara em seu rosto. Mas linda, acima

de tudo era linda.

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Depois de ela ter ido avisar as outras guardiãs do reino para procurarem Per, não demorou

muito para ela ser encontrada. Perstefany podia ser metade gata, super boa em fugir ou se

esconder, mas não tem como se esconder delas.

Ela acharam Perstefany desmaiada perto de uma caverna com um poço dentro dela, na

verdade não era bem um poço, era mais uma banheira feita de pedra, a água que tinha dentro era

bonita como uma safira, brilhava e refletia nas paredes da caverna, e não havia musgo nem nada

nas paredes, somente desenhos estranhos... Símbolos, na verdade. Preste atenção nisso pois é

importante

Quando Tamara viu Perstefany no meio da floresta junto das duas Sirena que a acharam,

ela saiu correndo para abraçá-la mesmo a moça metade gato estando toda suja de lama.

- Perstefany! - falou Tamara gritando - Onde se meteu? Por que está toda suja de lama?

- Tamara, como é bom vê-la – disse Per retribuindo o abraço caloroso da amiga.

- Onde você estava? Onde se meteu, Perstefany? Eu fiquei tão preocupada com você!

- Eu não sei onde eu estava, era como se eu andasse sem rumo. – disse ela ainda abraçada,

mas logo se separou de Tamara e olhou dentro dos lindos olhos de Tammy – Eu não via nada, era

como se eu tivesse cega, andava sem um rumo, mas eu não batia em nenhuma árvore ou

tropeçava, e então eu me senti mole e caí no chão desmaiada, mas antes de tudo, eu ouvi um grito

e uma imagem de alguma pessoa , não consegui ver se era homem ou mulher, só sei que ela

estava surpresa e com medo.

- Nunca mais suma assim. – disse Tamara a puxando volta para um abraço – Eu te amo.

Perstefany se soltou de Tamara e olhos para ela surpresa e então pronunciou com um sorriso

na boca:

- Tammy ... Você me ama? Finalmente você disse isso!

Então Per se aproximou de Tamara para beijá-la, mas Tammy a segurou pelos ombros e

falou:

- Sua boba, eu amo você como uma amiga – e então o sorriso de Per desapareceu.

- Bom – disse Per segurando as lágrimas e com o coração apertado- Forgeetens, tenho que

tomar um banho, me limpar e explicar a todos porque eu sumi ... E terminar os cookies da Taylor –

ela respirou fundo e falou rouca – Te vejo mais tarde, Tamara.

E então ela saiu correndo e pulou em um dos galhos da árvores e começou a chorar.

Quando se virou para, ela reparou que Tammy já estava andando de volta ao seu reino.

E Per voltou para casa com o coração partido e pulando de galho em galho para chegar

mais rápido.

Per já estava acostumada a ser rejeitada por Tammy. Há séculos isso já acontecia, mas ela

estava ficando cansada de sofrer por quem não a queria... Por quem não a amava.

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Minha heroína ... Só que não

Capítulo 31

Anoiteceu e o que aconteceu? Tudo literalmente se fodeu, porque Perstefany podia ter

aparecido depois de acordar naquele lugar que nem um integrante das trevas sabia que existia,

mas o clima estava tenso. Perstefany tinha se sentido como se algo tivesse sido arrancado dela,

provavelmente ela já havia recebido mais foras diretos de Tamara, mas acho que vai chegar uma

hora em que ela não vai mais aguentar ser rejeita por quem nunca vai amá-la como ela a ama . E

algo me diz que esse momento não está muito longe de chegar .

Black, como sempre, era um corno que nunca colabora. Fez tudo de seu jeito e acabou

tendo uma discussão enorme com Jane sobre o plano. Por mais que ela tenha lhe dado permissão

de "matar todos ", ele sempre quer mais do que já tem.

- Okay, - disse Jane - estão todos aqui. Perstefany, tem certeza que está bem?

Per olhava para Tamara com uma cara pensativa e nem havia prestado muito atenção no

que Jane havia dito, então Jane a chamou mais umas três vezes e aí ela respondeu:

- Está tudo bem sim.

Perstefany tinha ido para a enfermaria depois que tomou banho, ela havia feito um grande

corte profundo da parte da nuca e Jane teve de fazer alguns pontos junto com as outras

enfermeiras. Jane também ajudava em tudo em Forgeteens e por mais que Perstefany fosse forte,

talvez aqueles pontos pudessem interferir. Mas ela disse que estava bem, eu espero que ela

realmente esteja.

- Tá bom. - disse Jane que logo olhou para Black irritada - E você, mocinho, se desobedecer,

te bato até não poder mais ouvir. Não quero que tudo saia errado por causa de um adolescente

rebelde.

- Não fale muito, Jane, você não é mais velha que eu. - disse ele retrucando com um sorriso

- Na verdade, eu sou mais velho do que você pensa. Estou aqui antes mesmo dos unicórnios ou

de qualquer um dos reinos.

- Foda-se. - disse ela indo até ele que se encontrava com o machado nas costas. Os olhos

de Jane estavam mais profundos que um buraco negro – Aqui, quem manda sou eu e não você.

E então fomos, atravessamos o portal de Forgeteens, passamos pela frente do reino das

fadas e perto do lago sem fim das sereias. E chegamos na divisa entre a trevas e a luz.

Ficar naquele lugar arrepiava até os pelos do meu dedão do pé. Não era muito fã de lá,

digamos que minhas experiências naquela divisa nunca foram e provavelmente nunca mais serão

boas. Olha só, estou dando graças por estar morta e presa aqui nessa escuridão porque aqui pelo

menos não tem um reino da luz para declarar guerra e destruir tudo.

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Nenhum ser da luz e nem um ser das trevas, só tem vocês que ficam aqui me ouvindo falar feito

uma gralha louca sobre minha vida.

Ainda bem que vocês não podem falar, senão já teriam me mandado tomar naquele lugar.

- MUITO BEM! - gritou Jane, animada. Os olhos chegavam a estar cerrados e as estrelas

que se podiam ver neles estavam brilhantes - Vou relembrá-los do que fazer : Black, você primeiro;

Tamara, você por segundo junto com Perstefany; Taylor, você entra com Jack, ou sei lá, mas não

atrapalha. Não me faça eu arrepender de ter lhe trazido.

Tá, ela me fez pressão e eu não podia ficar sob pressão. Fazia muito tempo que não tomava

meus remédios da bipolaridade e eu podia muito bem ter um surto de raiva forte sem eles,

normalmente aconteciam por eu estar sobre pressão ou coisa do tipo.

Controle aquele que exigia controle de mim mesma.

- Pode deixar, prometo não atrapalhar.

Então ela abriu o portão enferrujado e um brilho apareceu.

Jane fez sinal para Black ir primeiro. Ele entrou no portal e depois de um tempo, gritos foram

ouvidos do outro lado.

Perstefany, junto com Tamara, entrou logo em seguida amparada por Jane, depois eu, e por

último Jack, que pegou uma flecha e a ajeitou no arco.

Do outro lado era tudo escuro. Havia a lua grande e brilhante no céu cheio de estrelas. Eram

estrelas normais, diferente das do reino das trevas que se mexe e formavam desenhos perfeitos.

As cabanas velhas de tecidos eram as casas dos cidadãos. Algumas eram sólidas, de

material, porém velhas e rachadas.

De “cidade luz” só o nome mesmo, porque a cidade estava aos pedaços.

Mas a grande exceção era o castelo da rainha, era grande com as torres. No centro da

cidade, o local onde a cerimônia de banimento ocorria era na casa do ferreiro, não muito longe de

onde ela os batia com o chicote.

Passando pela frente, pude ver o ferro em forma de pentagrama, era velho, sujo de cinzas

e pele velha daqueles que morriam depois de serem torturados pela rainha. Eu ficava pensando

como uma pessoa podia ser tão cruel com um nome tão dócil. Gente, fala sério, “Julie” era um

nome bonito, meigo, que dava uma impressão que a pessoa era diferente mas no caso dela, acho

que seu nome tem outro significado. O nome dela devia ser Úrsula ou sei lá.

Eu fiquei parada durante um tempo, olhando para aquela coisa, e quando eu fui tocar, ouvi

Jack me chamando:

- Taylor, rápido! - disse - Não olhe para isso, não é algo que você deveria ver.

- Mas como ela pôde fazer isso? - olhei em volta, vendo a citação de todo o lugar - Ela trata

a tudo e a todos como nada.

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- É porque ela não liga para a vida das outras pessoas. Nem ela, nem a própria filha ela trata

bem. Julie mandou torturar o rei até a morte. - disse ele – Vem, você não pode ficar para trás, os

guardas vigiam a cidade inteira e logo logo passarão por aqui fazendo ronda.

- Você tem essa marca?

- Óbvio que tenho, todos temos e você já viu a minha, esqueceu? Mas deixa isso para lá,

agora ande!

Ele não foi rude, só mandão. Eu, naquele momento, era um peso morto. Mas como insisti

para vir, Jane teve que ceder.

Passamos pela frente do castelo de Julie. A pintura era perfeita, o portão da frente grande

de madeira, mas foi então que eu vi as masmorras... Ou pelo menos as janelas delas.

Naquela hora me deu vontade de sair correndo e ir até meu pai ... E com esse pensamento

suicida, eu fui.

- Taylor! - gritou Jack fazendo Jane e Black olharem para trás.

- Jack! - disse Tamara - Vá atrás dela!

Jack concordou e saiu correndo atrás de mim.

Eu cheguei até as janelas no chão e olhei dentro de cada uma procurando por meu pai.

- Pai! - falei – Pai, cadê você? – Todas as celas estavam vazias.

Dentro das masmorras ele pôde me ouvir chamando e logo saiu da cama de ferro, caindo

no chão. Se levantou e foi até a janela.

- Filha! – sussurrou ele – Taylor, aqui!

Então eu o vi. Ele estava a umas três janelas da onde eu estava. E fui tentar ir até ele, mas

quando ia dar mais um passo, Jack segurou meu braço, sua expressão era furiosa.

- Você é louca? Vamos logo, não vai demorar muito para você estragar tudo.

- Jack, me solta, ele é meu pai!

- Taylor, seu pai é um homem morto, ele já esta condenado há muito tempo. Temos que sair

daqui, o quarto da filha de Julie fica logo acima.

Mas eu era teimosa. Puxei meu braço com toda a força que eu tinha e fui até a última janela

que era onde ele estava. Me abaixei com pressa no chão de terra, sujando a minha calça e o casaco

preto que eu usava caiu do meu ombro, o que não tinha ajudado em nada.

- Pai, por favor, você está bem?

- Filha, saia daqui! - disse ele . Jack já estava ao meu lado tentando me puxar – Jack, tire-a

daqui e nunca mais a traga. Filha, eu te amo, não se esqueça disso!

- Não, pai, eu não vou voltar sem você.

- Taylor, pare de ser teimosa! – gritou Jack - Você ouviu seu pai, não tem como tirá-lo daí,

não tem. Desista.

-Eu não vou desistir, eu o amo! Ele é a minha única família.

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Então eu toquei nas grades da janela e olhei para os olho de meu pai. Comecei a ofegar por

falta de ar. Merda, aquela não era uma boa hora para um ataque de asma.

- Filha, por favor, vá com ele! - disse meu pai implorando.

- Pai, o dia em que eu te deixar para trás, vai ser o dia em que eu estiver morta. - e eu não

tirava a mão livre que ainda tinha da barra e Jack, me chateando, não parava de puxar a outra. De

repente, ele soltou a minha mão.

- Taylor! - disse ele.

E quando olhei para trás, vi vários guardas com suas espadas em mãos, os sobretudos que

somente com a luz da lua ficavam pretos.

- Eu disse para você me obedecer e parar de ser teimosa! - disse Jack. Eu me levantei e

olhei, eram muitos. Eram muitos contra, o que não deixa a situação nada justa.

- Rápido, pai! Como te tiro daí?- me abaixei de novo e toquei as grades, mas algo diferente

aconteceu. As grandes começaram a se dissolver junto com a parte do chão de toda a cela – O

que é isso?

- Ai, não! - disse meu pai – Taylor, não toque em nada, você me ouviu? Não encoste nem

em Jack.

- Pai, você sabe o que é isso ? - disse assustada – Pai?

Quando me deparei, boa parte de tudo já havia sumido e tudo o que restava era uma mancha

negra nas bordas que haviam desaparecido.

- Meu deus, Taylor - disse Jack, mas ficou quieto quando viu o grande buraco no chão – Ah

não, Sr. Peapons!

- É isso mesmo, Jack. - disse meu pai saindo da masmorra – Horfídeo, tenho uma proposta:

se quiser, é só vir comigo.

- Gente, - disse - lamento dizer isso mas caso tenham esquecido, ainda estamos cercados

por guardas com espadas afiadas.

- Ah, é! - disse Jack que logo começou a atirar as flechas que voaram em tiros certeiros nas

cabeças de cada um, mas ainda sim, eram muito - Não tem como matar todos!

Mas logo um fogo verde apareceu e congelou cada um dos guardas. No meio desse fogo,

uma figura de uma mulher que parecia ter uns 25 anos, alta com longos cabelos morenos, um rosto

fino, com 1,65 de altura.

Ela olhou para nós e se curvou com a cabeça. Era um jeito legal de dizer “oi”.

- Filha, quero que conheça a melhor feiticeira das treva: Daphine Fonseca. - disse papai

estendendo os braços – Horfídeo, você vem?

Nossa, para uma bruxa ele tem um nome bem comum, pensei.

Horfídeo olhou para os lados e como ele não tinha muitas opções, saiu das masmorras e

parou ao lado de meu pai.

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- Horfídeo, essa é Taylor, minha filha. - disse ele com um sorriso mal - Lembra dela? Você

falou dela para mim no dia em que nos conhecemos.

Ele ficou sem jeito e me cumprimentou mas logo ele soltou minha mão porque sentiu uma

dor terrível no pulso. Quando percebeu, tanto sua mão quanto seu pulso estavam pretos e parecia

haver areia escura em cima deles.

- Ah é, foi mal. - disse Jack para Horfídeo, mas logo olhou para mim e disse - Acho melhor

escutar seu pai, não toque em nada para o seu bem e o dos outros.

- Mas o que está acontecendo?

- Você não contou para ela, Robert? - disse Daphine chegando mais perto. Os olhos dela

eram escuros, com um jeito sedutor e meigo- Taylor, você está prestes a conhecer seu lado negro.

O seu melhor lado.

- Onde estão Jane, Perstefany, Tamara e meu irmão, Daphine?

- Na minha casa. - disse Daphine dando meia volta - Vamos, Taylor precisa de luvas

urgentemente.

Então meu pai me disse que tudo bem eu segui-la. Daphine era uma velha amiga . Mas

naquele tempo, eu não tinha ido muito com a cara de Horfídeo, eu não era de julgar pelas

aparências mais sinceramente, não fui muito com o jeito dele. Talvez fosse porque ele estivesse

todo sujo da poeira da masmorra ou porque ele tinha uma paixão inigualável por cobras, outra de

minhas mil fobias: horfideofobia, pânico constante de cobras.

Ai, Jesus, acho que ninguém é tão medrosa quanto eu. Nem conto o porquê de ser daquele

jeito. Sério, não conto porque não me lembro, já perdi boa parte da minha memória.

Fomos até a casa de Daphine que ficava um pouco longe de todas as outras. Era uma casa

enfeitiçada: por fora, era uma coisa. Por dentro, outra.

A sala era escura, com vários desenhos nas paredes. Ao centro, uma mesa com uma bola

de cristal e dentro, uma fumaça branca. Um cachorro preto dormia em cima do sofá roxo em uma

almofada preta com bolinhas.

Jane, Tamara, Perstefany e Black estavam sentados em outro sofá tomando chá. Sem

dúvida, ela leria o futuro deles depois.

Acho que com Jack ela não precisa se preocupar porque ele já sabia o dele e o dos outros

também.

Mas tem uma coisa: a magia de Daphine era negra. A bruxaria não é misteriosa, pelo

contrário, ela está ao alcance de todos... E de qualquer um. Para alguns os poderes são mais fortes

do que para outros. E Daphine era o que se podia chamar de grande feiticeira.

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Finalmente o tenho de volta

Capítulo 32

Tudo o que você perde se transforma em algo novo que pode mudar o passado. Um simples

erro pode mudar a sua vida e condenar e condenar a dos outros.

A casa de Daphine era uma casa típica de uma bruxa, escura, porém aconchegante.

- Pois bem, Taylor - disse ela, estando os dedos. Uma poltrona de tecido escuro apareceu

de forma mágica ao lado do sofá – Senta, pode se sentar agora.

- Obrigada! - disse indo até a poltrona e me sentando. Tinha que admitir: aquela poltrona

era mesmo muito macia - E meu pai e o outro que não me lembro o nome?

- Eles ficam de pé. - disse ela indo até a cozinha para pegar uma xícara de chá - Tome,

mas não tudo - ela estendeu a xícara branca com detalhes em flor.

- Mas por que? – por que será, né? Às vezes acho que eu tinha nascido meio burra. Não,

na verdade, eu tenho certeza disso.

- Porque eles estão sujos e cheio de poeira. Não quero que eles sujem a minha casa inteira

e além disso, só o cheiro deles já está quase matando o meu cachorro.

pensei, cantarolando na minha cabeça. Tá, mas eu odiava admitir, tinha que concordar com

ela: eles estavam mesmo com um cheiro de coisa morta. Até o cabelo do meu pai não era mais

preto, já tinha virado marrom.

- Bom, - disse ela se virando para encarar todos nos – por que vieram até mim? Tudo o que

me falaram quando chegaram aqui, foi que precisavam de ajuda para salvar seus amigos idiotas e

isso eu já fiz. Vem cá, o que vocês aprontaram?

- Daphine, isso não interessa. - disse Jane - Você não ia dar luvas para a Taylor? E sim,

Taylor, eu já sei.

Como ela sabia? Pera aí, ai meu deus que dor de cabeça mais filha da puta, pensei

- Verdade, a garota morta. - disse ela indo até um cômodo onde a única porta era um tecido

com um pentagrama cheio de detalhes – Toma, - disse ela, voltando - espero que sirvam, meus

dedos são bem mais magros que os seus.

Peguei as luvas e as coloquei. Ficaram um pouco, mas só um pouco apertadas. Por mais

que meus dedos focem... Na verdade, eles eram normais mas bem, eu tinha que usar mesmo, pelo

jeito era isso ou ... Apodrecer tudo. Muahahaha eu era má! Muito má! Eu podia matar todos da

minha escola com um sorriso na minha boca e um olhar perverso, eu os mataria sem dó nem

piedade. Cada um deles, até os professores e diretores, aqueles filhos da mãe.

- Por que eu tenho que colocar isso? - perguntei.

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- Digamos que você esteja despertando seu lado negro - disse Daphine - e você vai ter que

começar a usar luvas enfeitiçadas, caso contrário, você fará um estrago enorme em qualquer coisa

que tocar. Calma, é fácil de controlar, basta seguir seus instintos. E confiar em si mesma...

Confiança acima de tudo.

- Tá bom. - que droga é essa que ela está falando? Pensei. Desculpa, mas eu sou bem lerda

para captar as coisas. Fazer o que, meu pai me fez assim e assim fiquei até morrer. Porém algumas

pessoas mudam conforme o tempo. Algumas. Eu não estava naquele meio . Sempre fui encalhada

com tudo, tudo menos comer. Nisso eu era super boa.

Eu era péssima em me apaixonar também, acho que no início da minha vida, ou melhor, no

início em que eu comecei a gostar de garotos era até que legal. Eu já havia me apaixonado uma

duas vezes e no final de tudo, eles dois acabaram me chamando de louca porque descobriam que

eu me cortava, descobriram minha bipolaridade e não gostaram muito disso porque quem iria

querer namorar uma garota doente que tem surtos de raiva e de tudo que pode ter um ataque

psicótico? Uma vez eu tive um no meio de uma aula e não foi nada legal e eu não vou contar o

motivo.

- Bom, - disse Daphine - agora desembuchem, banidos.

- Queremos ver o futuro – disse Tamara.

- Mas por que o ruivo não faz isso? Tenho certeza que ele consegue - disse ela, cruzando

os braços. As mangas do vestido preto eram meio largas e a maquiagem dela, perfeita.

- Na verdade, não consigo. - disse Jack - Você é uma feiticeira que pratica magia negra e

boa. Eu sou diferente, só vejo a magia negra. O futuro dos banidos. E de pessoas que eu sou

próximo , como meu irmão ou Perstefany.

- Mas isso está relacionado- disse Daphine sorrindo ironicamente - com os seres das trevas,

garoto.

- Na verdade não está. - disse Tamara - Não queremos ver nossos futuros, queremos ver o

que pode acabar com esse caos.

- Okay. - disse ela levantando os braços - Eu até faço isso, é fácil para mim. Sou a mais

talentosa de todas as feiticeiras mas não faço nada de graça e suponho que vocês não têm o que

eu quero.

Jane deu um sorriso de lado, os olhos ficaram azuis escuros com a poeira galáctica dentro

deles se movendo junto com as estrelas.

Ela se levantou, foi até a mesa e começou a sussurrar essas palavras:

- estupds acredists andmora, crespts one presquitos, kore andmora, crusps orientals.

E logo uma caixa vermelha com um desenho de uma estrela como fechadura apareceu. Ela

destrancou a caixa com um simples toque de seu dedo indicador que brilhava na ponta. A unha

comprida e pintada de azul escuro fez um som de cilindro quando tocou o metal.

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A caixa se abriu e o diamante apareceu. A primeira vista ele estava preto, mas logo ficou

transparente: brilhou forte o bastante para iluminar a sala inteira com um desenho de um unicórnio

e o relinchado de um cavalo... Unicórnio! Não sei.

- Ai, por demônios - disse Daphine sorrindo. Os olhos brilharam ao ver o diamante - pelo

jeito, a coisa é séria mesmo.

Ela se aproximou para pegá-lo, mas quando ia tocar a caixa, Jane afastou as mãos de

Daphine, pálidas por falta de tomar sol.

- Iremos entregar - disse Tamara se levantando. Toda vez que Tammy falava ou se mexia,

Perstefany olhava para ela com um olhar triste - mas só se nos ajudar. E sabemos que você quer

isso - ela apontou para o diamante - para desvendar os mistérios dos poderes dos unicórnios.

Olha, uma coisa que nenhuma pessoa, não importa o século, conseguiu descobrir é como o

poder dos unicórnios funciona. Muitos já tentaram e muitos falharam. Alguns feiticeiros antes da

melhor feiticeira, Daphine, nunca conseguiram. Porém, a bruxa acreditava que conseguiria.

Também há muitos boatos de como os poderes dos unicórnios funcionam: alguns acreditam

que vêm de almas humanas que ficam presas nos diamantes; outros acreditam que vêm dos

deuses ou dos arco-íris.

Mas enfim, tudo não passa de um grande mistério sem fim.

Ela cerrou os olhos que brilharam de maldade .

- Tudo bem, eu ajudo vocês. - disse ela – Porém, uma pergunta: por que Jane recitou um de

meus feitiços? Ninguém tem permissão de recitá-lo "pela maldade nos corações humanos, pelo

sangue envenenado dos assassinos, mostre-me aquilo que eu tomo e guardo que escondo e o que

quero" ?

- Porque - disse Jane fechando a caixa que logo desapareceu - sou metade unicórnio e tanto

quanto vocês, bruxas, precisamos dos feitiços guardados nos livros antigos de magia negra. E esse

feitiço não é seu.

- Sonhar nunca me matou - disse ela levantando o dedo indicador para cima e fechando os

olhos.

Que a verdade seja dita. Sonhar nunca matou ninguém. E quando ela disse aquilo, eu olhei

para o Jack que ainda estava tomando o chá mas com um mal gosto. Era estilo eu quando via arroz

doce que era a comida que eu mais odiava no mundo. Arroz doce e canjica.

- Ah, gente! - disse meu pai - Será que podemos deixar a fofoca de lado e nos

concentrarmos? Não quero bancar o chato, mas ...

- Rob tem razão. - disse Perstefany - Viemos aqui por um motivo. Então, Daphine, será que

você poderia fazer um humilde favor e pegar seu livro de feitiços proibidos?

- Você não manda em mim. - disse Daphine cruzando os braços de novo - Mas eu quero o

diamante e vocês, meus serviços então, estamos no mesmo barco ... Já volto, vou pegar o livro.

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Ela saiu do cômodo e foi até a porta que tinha o tecido com o pentagrama desenhado.

Quando voltou, estava com um livro grande de capa verde e dourada. As páginas eram amareladas.

Ela colocou o livro na mesa de ferro em que a bola de cristal estava centralizada. A frente havia

escrito algo em letras douradas assim como a arredondada do livro Book of shadown .

Jack se levantou e colocou a xícara de chá em cima de um criado mudo que havia ao lado

do sofá. Foi até aonde Tamara e Jane se encontravam.

- este é meu bebê.

- Muito bem, crianças, vamos à magia! - disse ela estalando os dedos. De repente, uma

cadeira de metal apareceu, com uma almofada para se sentar em cima - E como acabei me

confundindo e achei que queriam que eu visse o futuro de vocês e acabaram com o meu chá, que

merda mesmo, bom, vou ver o futuro de vocês também . Menos o do ruivo, porque aposto que ele

já sabe.

- Meu nome é Jack - disse ele ironicamente.

- Não perguntei seu nome. - Meu deus, chupa, otário! Pensei. Não, que maldade a minha,

tadinho dele. Jack era o que eu gostava de chamar de erro de fabricação. Brincadeira, só chamei

ele assim uma vez . Só, acabou , mais nada, fim, ponto final.

Daphine abriu o livro. E o que a gente viu? Nada.

Isso mesmo, nada.

- Huuum... - disse Black empurrando Jane e Tamara para dar espaço para ele – Daphine,

acho que você deve ter algum problema de visão porque não tem nada escrito aí - disse Black,

gritando a última frase.

- É um livro para bruxas das trevas. Então, somente bruxas podem lê-los. E sim, as palavras

não existem para aqueles que são normais como vocês.

- Eu não sou...- começou Black mas Daphine o interrompeu.

- Não perto de mim. - disse Daphine estressada - Você não é nada, é um simples garoto

ridículo que não gosta da companhia de ninguém, que não sente nada e nunca irá sentir – Errado,

errado, mil vezes errado... errado

Ai. Essa deve ter doído. Não, esta aí é uma das vantagens de não sentir dor.

Daphine foi folheando páginas e páginas do livro até que parou em uma. A feiticeira começou

a ler não sei o que, porque não dava para ver.

Então ela fechou o livro e o levou de novo para o cômodo atrás do pano com o pentagrama.

Quando voltou, se sentou na cadeira e olhou para a bola de cristal e começou a recitar em

sueco de novo.

- Blommorna faller, strider som vinner, elden brinnande, smärta som Cente. Det osäkra öde

stoppas oo sanna framtiden kommer jag att riva upp.

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A fumaça que havia dentro da bola de cristal logo começou a se virar. Daphine a olhou

fixamente, sem nem uma expressão, somente piscava e olhava atentamente. E então acabou. Ela

cobriu a bola com um tecido e olhou para a gente e logo falou:

- Não tem como parar essa guerra, o lado de vocês será o mais fraco. Vocês precisarão de

um exército forte ou vidas serão perdidas. Terão que fazer as escolhas certas nas horas certas,

deverão obedecer se quiserem viver, mas antes, terão que sofrer, sofrer muito. Eu vi sangue de

inocentes, amigos que se tornarão inimigos e inimigos que se tornarão amigos.

- O que isso quer dizer? - perguntou meu pai franzindo as sobrancelhas. Horfídeo não saía

de seu lado de jeito nenhum.

- Você é burro ou o que? Não posso ser mais clara, Rob. A guerra irá acontecer, vocês

querendo ou não. E serão vocês que declararão guerra, e não a luz. - disse Daphine - Eu só sei

que o futuro de vocês é um enigma mais complicado que existe, não é somente uma guerra, é

muito mais que isso. E se não tomarem cuidado, todo o reino das trevas, cada banido, tudo será

destruído pela luz e nós acabaremos queimando no fogo do inferno. Menos o Black.

- Sempre quis conhecer o inferno - disse Black virando a cabeça e colocando a mão no

queixo.

- Mas você não irá conhecer. Lamento lhe dizer isso.

Na mão dele tinha sangue já seco. Provavelmente era dos guardas que havia matado na

entrada do portal porque no machado em suas cotas também havia.

- Te garanto, Black, - disse Jane - o inferno não é nada divertido.

Eu quem diga. Não estou lá mas já odeio. Pensando bem, acho que aqui é bem parecido

com o inferno, é sujo, tem cheiro de demônio, almas atormentadas vagam por todo o lugar, o pai

de Black faz visitas a todos os presos aqui incluindo eu e somos forçados a não ter contato com

ninguém. Vamos “morrer” depois que todas as nossas lembranças sumirem. O que não faz o

mínimo sentido porque já estou morta. Mas isso acho que quer dizer que iremos para outro lugar

como o céu ou o inferno? Não sei bem, mas acho que é isso.

- Muito bem, agora já acabaram de tomar o chá? - pergunta Daphine - Pelo jeito, já. Muito

bem, me deem as xícaras. Deixem eu ler o futuro de vocês.

Ela pegou a xícara de Perstefany, olhou e logo mordeu o lábio.

- Para você, querida felina, vejo alguém do passado.

Pegou a de Tamara, cerrou os olhos e disse:

- Para você, vejo indecisão.

Pegou a de Black e arregalou os olhos, sorrindo.

- Vejo sentimentos no seu futuro, caro Black. Pelo jeito você vai começar a sentir tudo o que

nunca sentiu .

Eu levei a minha até ela que franziu as sobrancelhas.

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- Vejo fantasmas e monstros no seu futuro. Fantasmas que já estão em você e ao seu redor

há muito tempo.

Sim, fantasmas. Mas isso não é para essa parte, é só para frente, não para agora.

- Jack, vejo que não tomo seu chá.

- Eu odeio chá e além disso, não preciso que você veja meu futuro, eu já sei .

Daphine somente deu de ombros. Olhou para meu pai que não havia tomado chá algum.

Nem ele, nem Horfídeo . Mesmo assim, ela podia ver o futuro dos dois tanto era o seu poder.

- Rob, - disse ela se levantando, indo até ele e pegando sua mão suja - vejo amor no seu

futuro.

Não me lembro de ela ter dado chá para meu pai e Horfídeo. Bom, talvez ela tenha dado e

eu não tenha percebido.

Ela olhou para Horfídeo que parecia inseguro, e sem dúvida estava . Ele não havia dito nada

e só ficou perto de meu pai. Ele não conhecia nenhum de nós e sem dúvida, deveria ter nos achado

um bando de loucos .

- E você - disse Daphine pegando a mão dele – vejo cobras, muitas cobras. Bom, isso eu

não sei o que significa. – disse ela colocando a mão na bochecha dele e dizendo – Meu querido

Horfídeo.

Ela virou e foi até Jane. O vestido que a feiticeira estava usando arrastava no chão e durante

todo esse tempo, o cachorro dela ainda dormia. Coisa de cachorro: eles dormem, dormem e

dormem mais.

- Meu pagamento! - disse Daphine estendendo a mão – Quero agora. Quanto antes começar,

mais cedo desvendarei vocês, malditos unicórnios.

- Está aqui - disse Jane sorrindo. O chifre em sua testa logo brilhou e a caixa apareceu na

mão de Daphine que sorriu e depois mordeu o lábio inteiro.

Jane tocou na fechadura que logo se abriu. Daphine pegou o diamante com a mão livre e

olhou atentamente para dentro dele que ficou vermelho sangue por alguns instantes mas logo

voltou a sua verdadeira cor.

- Creio que já acabamos. - disse Daphine – Agora, fora de minha casa.

- Okay. Adeus, mal humorada - disse Jane abrindo a porta. Anoite estava quase no fim e

tínhamos que sair logo da cidade.

- A propósito, se eu fosse vocês seria rápida porque a rainha sabe que vocês estão aqui e

está vindo para cá .

E todos nós levantamos e saímos porta afora. Assim que fizemos isso, vimos guardas, os

mesmos que Daphine havia congelado quando eu dei uma de louca e fui salvar meu pai.

- Ora, ora ora! - disse a rainha saindo do meio dos guardas. Ela usava uma um vestido azul

gelo cheio de brilho com uma capa e quando andava, rebolava - Vejam o que temos aqui!

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- Daphine! - disse Jane se virando para trás mas quando viu, a feiticeira já tinha estalado os

dedos e toda a casa e ela sumiram. Simplesmente evaporaram no ar – Merda de bruxa.

Eu havia me perguntado como Daphine conseguia viver em meio a todos os plebeus numa

boa, sem ser descoberta. Bom, era simples, ela tinha um feitiço nela mesma e quando ela saía na

rua, as pessoas a viam de um jeito diferente, assim como eles: simples e pobre. E ela sempre

andava bem arrumada, com vestidos lindos e pretos ou com saias perfeitas. Ela era bem chique,

uma das feiticeiras mais lindas e bem vestidas. Pena que só o povo das trevas a via como ela

realmente era: perfeita.

- Calem-se, filhos do diabo! Bani cada um de vocês - disse Julie má e friamente - mas dessa

vez, não farei isso, não deixarei que saiam do meu reino com vida.

Havia muitos guardas com as lanças apontadas para nós. Para melhorar, Daphine tinha

sumido para salvar a si mesma e ao seu cachorro dorminhoco e nos deixado lá para morrer. Mas

também ela não tinha nada mais com a gente.

- Será que sou só eu - disse - que acha que a gente vai morrer?

Naquela hora senti os olhares de morte vindo deles. Por isso, não fiz a mínima questão de

olhar para o lado para ver a cara deles para mim.

- Tenha um pouco de fé - disse Black pegando o machado. Quando ele arrancou a arma de

suas costas, fez aquele barulho de coisa afiada passando em algo, que normalmente dá arrepio

nas pessoas - ou fodeu tudo.

A rainha nos olhava com um olhar fatal e mortal. A pele dela era transparente, dava para ver

através.

Ela deu um sorriso de lado e simplesmente fez um simples sinal com as mãos. Os guardas

nos atacaram. Eu, medrosa, obviamente me encolhi como uma ervilhona, já os outros nem tanto.

Perstefany com os dons felinos rugiu e foi à luta, expôs as garras e se enfiou entre os

guardas com a flexibilidade e o talento que ela possuía. A moça metade gato podia dar conta de

mais de seis guardas de uma vez, ela aranhava, rugia e dava saltos impressionantes e altos.

Tamara, a mais talentosa das Sirenas,logo fez honra ao sangue marcado. Ela pegou fôlego e logo

começou a cantar. Sua voz era linda e perfeita mas para os guardas da luz, parecia algo agudo e

ensurdecedor. O barulho fez com que os guardas tapassem os ouvidos. A todos, na verdade.

Aquele som era uma das maiores e poderosas poluições sonoras.

Black já fazia as coisas do jeito dele. Iniciou a luta, como sempre. Com o machado nas duas

mãos, partiu para o ataque arrancando a cabeça de cada um deles. Jack foi menos chamativo: ele

saiu correndo e subiu no telhado de uma casa e depois de outra, até ficar num ponto alto o bastante

para atirar as flechas lá de cima. Ele foi rápido e as flechas possuíam um veneno em suas pontas

que com um corte paralisava a pessoa, às vezes, matava. Mas isso vocês já sabem .

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Jane fez uma coisa que nem sabia que ela podia fazer. As mãos logo ganharam uma luz

forte com algumas chamas pretas. Ela tinha um olhar mal e um sorriso de lado e de repente,

começou a lançar bolas de luz em alguns guardas que logo viravam pó, mas por uma estranha

razão parecia que quando mais morriam, mais apareciam.

Até meu pai tinha entrado nessa. Ele, pela primeira vez desde que eu nasci, usou seus

poderes. Os olhos ficaram inteiramente pretos como a de um demônio e em suas mãos apareceu

um chicote preto que ele jogou para trás e lançou contra os guardas, abrindo espaço entre os eles.

- Filha - disse ele chegando perto de mim, em choque - Me escute bem: tire as luvas que

Daphine a deu, guarde no bolso da sua calça e quero que você saia correndo entre os guardas. Se

algum deles chegar perto de você, mate todos. Horfídeo, vá com ela.

- Mas não sou um ser das trevas, sou da luz. Eu tenho uma família aqui, não posso deixa-

los.

- Ou você vai ou irá morrer. - disse meu pai a Horfídeo - Atravesse o portal com minha filha.

Mas antes... - disse meu pai o pegando pelo pulso e levando até a casinha do ferreiro que não

estava muito longe dali. Abrindo espaço com o chicote, chegou lá rápido. Os outros ainda estavam

brigando e eu segui meu pai.

- O que você vai fazer? - perguntou ele. Quando Horfídeo percebeu, meu já havia pegado a

barra de ferro com o pentagrama na ponta, tocou com o dedo indicador no ferro que logo pegou

fogo – Não, por favor! Não faça isso!

Mas meu pai não se importou, segurou mais forte a mão do garoto e o trouxe para perto e

com Horfideo resmungando de dor.

- Me desculpe. - disse meu pai levantando uma pequena parte da blusa de Horfídeo e

encostando fortemente o ferro nele. Um grito de dor. Nunca achei que meu pai fosse assim. Agora

e até o final de seus dias, o admirador de cobras seria um banido. Ou mais ou menos. Bom, um

integrante das trevas porque todos que tinham a marca eram um, não importava se foi banido pela

rainha ou não - Agora vá.

E soltou Horfídeo que logo caiu no chão, a dor devia ser grande, sangue correu por onde ele

havia sido marcado. Abaixou a blusa e com dificuldade, se levantou. Eu não sei como é essa dor

porque não recebi nenhum pentagrama a ferro em chamas então, não faço a mínima de como é.

- Pode ir. Filha, lembre-se: é só tocar neles! - eu não sabia o que fazer, aquilo que ele fez

com Horfídeo foi mais um trauma que iria ficar marcado em mim - Seja corajosa! - ele beijou minha

testa e disse - Eu te amo, prometo te encontrar do outro lado do portal.

- Pai, você acabou de... - ele tapo minha boca com a mão suja. E sim, aquilo foi nojento.

- Eu sei o que fiz, mas você tem que ir agora.

E eu dei um passo para trás, aquilo ficou na minha cabeça e não saiu. Quando cheguei perto

da multidão de guardas, muitos deles olharam para mim.

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- Peguem a garota! - disse a rainha apontando para mim – Vão, bando de imprestáveis!

Eu saí correndo em direção a eles, tirei as luvas o mais rápido que pude, mas como elas

estavam apertadas em minha mão, foi meio complicado. Mas quando um dos guardas chegou

perto, eu consegui tirar.

É só tocar neles, pensei. E fui. Horfideo estava atrás de mim com uma cara de dor, toquei

nos guardas que chegaram perto de mim e quando olhei para trás, cada um deles estavam mortos

e definhados no chão, com a carne podre e os ossos escuros.

- Não pode ser! - disse a rainha - Ataquem a garota, deixem eles de lado, eu quero a menina!

- gritou.

Os guardas vieram em minha direção. TODOS vieram em minha direção. Mas de repente,

uma das flechas de Jack acertou a cabeça de um que caiu morto. Perstefany saltou de novo no

meio deles e gritou:

- Corra para o portal! AGORA!

Como eu sou eu, fiquei que nem barata tonta, mas achei a direção que tinha que correr e

fui para direção errada. Logo me toquei disso, dei meia volta e fui para o caminho certo. Eles me

deram cobertura, cada um deles. Eu estava cansada quando cheguei na divisão dos reinos, mas

pulei com tudo. Horfídeo foi logo atrás de mim.

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Eu não queria beijar você

Capítulo 33

Quando senti o chão, ou melhor, quando minha cara sentiu, foi um grande alívio estar de

volta ao velho e “sombrio” reino das trevas. Horfídeo caiu logo atrás de mim. Literalmente, ele caiu

em cima de mim e aquilo havia doído pra caralho.

O triste é que ele ficou em cima de mim... Como se ele me achasse um travesseiro. Sou

gorda, não uma cama.

- Quer sair de cima de mim, seu desgraçado? – disse e ele logo se levantou.

- Desculpa – disse ele gentilmente.

- Bom, não foi nada. Por mais que você seja um chumbo, não me machuquei.

Ficamos na divisa durante um tempo até que Perstefany, Tamara, Black, Jack e Jane

aparecessem.

Demorou um pouquinho mas logo ouvimos um grito e de repente, Per caiu rolando e logo

ficando de pé em cima das botas de salto alto.

Logo em seguida veio Jane, que caiu um pouco a frente do portal. Ela caiu como eu, de

cabeça no chão. O triste é que o chifre de unicórnio acabou ficando preso no chão... Aquilo devia

doer! Então ela depois que caiu e prendeu o chifre, é claro, ficou lá tentando tirá-lo da terra.

Black caiu logo em seguida e foi rolando até bater em uma árvore. Jack, bom, o tombo dele

foi o mais engraçado porque foi uma coisa catastrófica, ele caiu estilo Black – rolando – e caiu

sentado e meio tonto.

E logo atrás veio Tamara. Ela caiu desmaiada no chão e vocês já devem ter imaginado a

preocupação: assim que Tammy tocou o chão, Perstefany foi correndo ver se ela estava bem.

- Hoooou! – disse Jack se recompondo – Isso foi demais! Podemos ir de novo, hein? Vamos

de novo! Ai meu deus, deixa eu ver se estou inteiro, cabeça, braços, pernas, pés, nariz...

- Uma boca grande que não para de falar... – disse Black se levantando.

- Gente, dá para me ajudar aqui? - falou Perstefany – Tamara não quer acordar.

Ela encostou as orelhas em seu peito para ver se ela estava viva.

Uma coisa que pensei naquela hora era: se ela tem orelhas de gato - que são ótimas para

se ouvir porque gatos ouvem sete vezes mais que os humanos – porque precisou encostar as

orelhas no peito dela? Perstefany já ouvia o coração de Tammy batendo... Bom, o dela e de todos.

Ah! Devia ser porque havia muito barulho ao redor, porque tinha o som dos unicórnios comendo e

perseguindo as fadas. Os trolls faziam muito barulho...enfim, havia muitos ruídos ao redor dela.

- Tammy – falou ela preocupada – Tammy, meu amor, fale comigo.

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De repente ela começou a chorar em cima do corpo de Tammy, mas logo Black foi lá ver o

que ela tinha... Black entendia sobre mortes tão bem como o pai dele.

Ele olhou bem para o corpo e logo sacou o problema.

- Perstefany, pare de tanto drama, ela está viva! – ele abaixou e foi ate a perna dela – Aqui

está o problema, ela só está inconsciente porque foi atingida acho que sem querer por uma lança

dos guardas e assim como as flechas do Jack, as lanças deles possuem um treco que apaga a

pessoa, precisamos levar ela para Forgeteens para ver isso antes que ela morra de vez.

- O que? Ai graças a lucífer! – disse ela se levantando – Rápido, Black, me ajude a levantá-

la.

- Eu não. Não estou afim de levar um peso morto em minhas costas.

- Então, por favor, alguém me ajuda!

- Eu ajudo você, Per. – falou Jack – Eu consigo carregá-la. Jane, vamos precisar de você,

então vamos logo.

- Okay.

E eles foram andando. Correndo, na verdade. Era meia hora de caminhada do portal até

Forgeteens e correndo, dependendo da sua rapidez, não era nem 10 minutos e Jack, Perstefany,

e Jane eram rápidos.

Então só ficou eu, meu pai e Horfídeo em frente ao portal.

E Black? Bom, Black podia flutuar até lá que chegava rapidinho então, ele não ficou com a

gente.

Logo que começamos a andar, Horfídeo caiu não chão, gritando. De repente, ele começou

a se contorcer e então as pernas dele se esticaram e se juntaram, foi uma coisa meio inexplicável,

ele estava mudando de forma. Enquanto ele gritava, seus ossos se quebravam e se juntavam de

novo. De repente, ele se esticou com força e tudo acabou. Quando reparei, ele havia se tornado

algo metade cobra metade humano: da cintura para cima ele era um humano, com o pentagrama

marcado nas costas. Ele abril a boca, avançou e presas enormes de cobras haviam surgido em

sua boca que pingavam um veneno verde musgo. Os olhos ficaram como os de uma cobra,

inteiramente cheio de detalhes e com um risco bem fino no meio. E da cintura para baixo, ele era

metade cobra, com escamas pretas que por baixo elas eram brancas.

Ele tinha uma barriga de tanquinho, que delícia. A pele havia ficado bem clarinha, mais

escura que de Jane, mas também mais clara que a minha.

Eu não sei o que aconteceu, eu quase desmaiei de medo, senti meu sangue inteiro gelar.

Mas antes que eu caísse no chão, meu pai me segurou pelo braço e disse que ficaria tudo bem.

Bom, pelo que me lembro, criaturas da trevas não machucam uns aos outros. E isso era

bom... Não era ?

- Ai meu deus! – disse Horfídeo olhando para gente – Eu estou... Estou...

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- Assustador – disse eu, baixinho.

- Eu estou incrível! Olhe só para mim, eu sou metade o que mais amo, mas eu estou vendo

estranho, parece...

- Você agora é metade cobra então irá agir feito uma, caçará como uma, matará como uma

e verá como uma, ou seja, você agora tem visão de cobra que é aquela visão só de luzes.

- É meio ruim de enxergar.

- Bom, vamos até Forgeetens, eu ajudarei com isso – disse meu pai.

- Tudo bem.

E nós voltamos a andar. Como eu tinha dito, levava horas, não, horas não, minutões para

chegar até Forgeteens.

Meus pés estavam doloridos e por mais que eu estivesse com uma sapatilha de cadarço

confortável, um calo gigante se formou no meu pé depois, e sem dúvida, aquilo viraria bolha.

Quando chegamos, fomos direto para a enfermaria. Vimos Tamara deitada na maca e

Perstefany ao seu lado só olhando para ela, vendo Jane tirar os pedaços de ferro e madeira

envenenados dentro da perna de Tamara. Perstefany estava com um olhar meio estranho, não era

nojo, era mais um pânico, então eu resolvi ir perguntar pra ela se estava tudo bem.

- Claro, estou ótima, só não gosto nem um pouco de sangue.

- Ah, tá. Bom, então é só não olhar para Tammy.

- Não, eu quero ficar aqui vendo ela para ter certeza de que vai ficar tudo bem – eu concordei

com a cabeça e ela disse – Jack quer te ver, ele esta lá na casa dele te esperando.

- O que ele quer comigo?

- Ele não disse, só avisou que queria falar com você.

Eu saí da enfermaria – uma coisa: eu odeio hospitais, eles trazem cheiro de morte e de dor,

me dá uma coisa ruim. Aquela enfermaria era toda branca, super bem feita, havia um armário de

remédios com todo o tipo de coisa, tinha poções rosa, verdes, roxas, brancas, e todas com

purpurina (era lindo, parecia uma borboleta cheia de glitter). Eu queria poder toma-las para ver o

efeito que elas podiam ter. Tipo, vai que uma me dê asas para sair voando por aí? Ou, quem sabe,

visão a laser assim eu podia matar todo mundo e furar a cabeça deles. Ai, ai como sou malvada.

Havia também várias camas. Em algumas delas havia pessoas deitadas com soro na veia e

chifres ou braços enfaixados, era estranho de ver.

Eu saí da enfermaria e não vi Horfídeo lá fora, só meu pai que entrou, foi até o armário e

pegou um óculos de grau.

- Cadê o Horfídeo? – perguntei para meu pai.

- Ele foi embora, disse que aqui não era o lugar dele.

- Ah, tá e por que você pegou aquele óculos?

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- Aquele óculos era para Horfídeo. É um óculos enfeitiçado, vai fazer com que ele enxergue

como uma pessoa normal e não como uma cobra.

- Tá bom. – disse dando um abraço forte nele – Eu senti sua falta, papai – ele retribuiu o

abraço bem apertado.

- Eu também senti sua falta, minha filha.

- Bom, eu tenho que ir. Jack quer falar comigo, depois temos muitos papos para colocar em

dia!

- Okay, minha linda. – ele beijou minha testa – Eu te amo.

- Também te amo.

Eu fui andando até a casa de Jack e quando bati, foi Black quem abriu. Ele estava sem

camisa e vi a barriga definida dele. O filho da morte estava com um corte nas costelas e por mais

que ele estivesse cheio de sangue, deus do céu, como ele estava sexy! Ai, queria ele para mim,

mas jamais falaria isso para ele, eu não amo Black e só para constar eu não amo nem o Jack. Eu

não amo ninguém além do meu pai.

- Jack está?

Ele se afastou da porta e vi ele jogando vídeo game.

- Jack! – chamei.

- Ah, oi pequena! – ele se levantou e nem deu pausa no vídeo game.

- Você vai morrer.

- Como assim, vou morrer? – apontei para a tela da TV e de repente, o bonequinho que ele

jogava morreu comido por zumbis – Nem ligo. Vem, vamos, quero te mostrar uma coisa.

- O que é?

- O sol nascendo.

- Mas quem disse que eu quero ver o sol?

- Bom, você não quer? Se quiser, ficamos aqui jogando.

- Não, vamos ver esse maldito sol.

Saímos da casa dele e passamos no lago que tinha no meio da floresta. Passamos também

o reino das fadas e o dos unicórnios, até que chegamos a um lugar onde havia duas montanhas de

gelo. Vistas de longe elas eram lindas, esperamos um pouco, logo as estrelas foram embora e o

sol começou a nascer.

- Isso é lindo – falei.

- Verdade. – disse Jack segurando minha mão - Lindo assim como você.

Não me chame assim, pensei. Eu não quero isso, não quero gostar dele mesmo sendo lindo,

inteligente, gentil. NÃO. Concentração e muito cuidado.

Eu olhava fundo em seus olhos e via aqueles lindos olhinhos de cores diferentes. Eram tão

fofos, combinavam com ele, combinavam muito.

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E então ele foi se aproximando e quando chegou perto o suficiente, perguntou:

- Seria estranho se eu te beijasse agora?

- Seria, e muito!

- Ah! – então ele se afastou com um cara de magoado.

Desculpe Jack, mas eu não quero te beijar, eu não quero me apaixonar por você porque sei

que se fizer isso, no final de tudo você vai me chamar de louca e eu acabaria de coração partido.

Eu voltei a olhar para frente.

- Bom, é melhor voltarmos, devem estar se perguntando onde a gente foi.

- Tudo bem.

E então quando eu dei um passo para me afastar, ele segurou meu braço e disse:

- Então que isso seja estranho – e ele me beijou.

Era um beijo bom, era doce, tinha gosto de bala de morango.

Eu tentei me afastar mas não conseguia, ele me segurava forte.

Então, sem perceber, me entreguei àquele beijo. Depois que experimentei um pouco dele,

acabei gostando.

Ele parou de me prender junto ao seu corpo e segurou minha bochecha. Eu, sem um pingo

de experiência nesse assunto, não soube onde colocar a minha mão, então decidi colocar na cintura

ele.

E então ele parou de me beijar e eu respirei fundo porque aquele beijo tinha me tirado todo

o fôlego.

- Uau! – disse ele virando o rosto.

- Acho melhor voltarmos.

- Ou eu posso te beijar de novo.

- Acho melhor não.

- Okay. – mas ele era teimoso, se aproximou de mim de novo e me beijou.

E de novo eu me entreguei a ele, só que dessa vez senti um frio na minha barriga. Não sei

se isso o primeiro sintoma da paixão. Não, xô, xô daqui, demônio do inferno! Você não vai me

possuir!

Ele de repente pediu a passagem da língua na minha boca e eu acabei deixando, era

molhado, mas bom e estranho ao mesmo tempo.

- Jack, – disse com a boca grudada na dele – pare.

Ele se afastou de mim e olhou nos meus olhos.

- O que foi, Taylor? Até parece que você... Não quer me beijar.

- Não é isso, é só que eu não quero me apaixonar por você.

- Taylor, minha pequena, eu juro que não irei deixá-la sozinha. Eu te amo, sua boba.

- Você promete ?

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- Prometo, pequena.

Ele se aproximou do meu ouvido e falou:

- Eu nunca irei deixá-la.

Aquilo me fez arrepiar inteira. Se ele não vai me deixar, acho que devia dar uma chance para

ele. Peguei o rosto dele e dei um beijo bem de leve e coloquei o braço ao redor do braço dele.

- Okay. – disse ele sorrindo na minha boca. – Pequena, temos que ir.

- Temos mesmo.

- Temos.

- Vem! – ele estendeu a mão e nós fomos andando de volta a Forgeteens.

E eu não consegui tirar aqueles beijos da minha cabeça. Mesmo que eu não o ame, ou pelo

menos eu achava que não amava, por que eu me negava a acreditar nisso?

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Lasanha tamanho família

Capítulo 34

Não vou falar que a maior felicidade é você amar e receber esse amor de volta. Pera, por

que estou falando essa merda? Eu não amo o Jack.

Os raios do sol pareciam mais quentes naquele dia, mas eu juro que se eu visse o sofá-

cama de Perstefany, me jogava nele e dormia até o dia seguinte ou anoitecer. Sim, sou

dorminhoca, admitido. Mas quem não é?

Eu não andei de mão dada com Jack de volta para Forgeteens porque... Não sei, acho a

coisa mais idiota andar de mão dada. Nunca na minha vida e na morte entendi o porquê de andar

de mão dada. Era nojento, a mão da pessoa fica suada. Eu sei que eu tinha dado a mão para ele,

mas logo soltei porque sei lá, como falei, acho nojento.

Quando atravessamos a beira do lago de volta, pude ver Perstefany fora da enfermaria que

ficava no final de toda Forgeteens. Ela tinha mudado de roupa, estava com um salto alto de flor ,

com um vestido de cintura alta e o cabelo amarrado em uma trança de lado.

Aquela se trocava voando, era a mulher maravilha, que num passe de mágica, pronto! Tinha

mudado de roupa.

E eu de preguiçosa, para não ter que andar um monte até chegar em Forgeteens, cortei

caminho, passei entre as árvores e pulei a cerca. Quem disse que gorda não consegue pular uma

cerca?

- Oi, Per. - disse, cambaleando e chegando perto da Perstefany que estava com a mão na

cintura e com olheiras enormes - Meu deus, você parece cansada.

- E eu estou. - disse ela bocejando - Mas Tammy ainda está com o ferimento exposto e não

quero ir sem saber se ela está bem.

- Taylor, - disse Jack chegando perto de mim. Pelo jeito, não fui a única a cortar caminho –

por que você cortou caminho?

Deus, paciência, porque se me der força eu o mato, pensei.

- Para não ter que andar um caminho enorme. No final, acabaremos no mesmo lugar mesmo,

então por que não pegar um atalho? - ele ficou quieto.

- Per, eu queria te fazer uma pergunta. Duas, na verdade - disse eu segurando o braço,

realmente aquela luva de médico incomodava.

- Fala.

- Uma: será que você sabe por que eu não posso tocar em mais nada sem aquilo acontecer?

Segunda: você viu meu pai?

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- Tá, respondendo à primeira: isso está acontecendo porque, minha fofinha, você está se

tornando uma banida. O seu lado das trevas está crescendo dentro de você. - ela disse sorrindo -

Segunda resposta: ele está lá em casa tomando banho e disse que quer falar com você .

- Okay, eu vou pra lá - disse eu sorrindo. Meu pai e eu tínhamos papo para colocar em dia

– Beijos, Jack - dei um beijo em sua bochecha – Tchau, Per, espero que Tammy não tenha que

amputar a perna .

- Meu deus, não fale isso do amor da minha vida, sua louca - eu ri daquilo, ela fez uma cara

hilária que não tinha como segurar .

Então saí andado e fui até a casa de Per. Abri o portãozinho branco de ferro que rangeu

quando entrei. A árvore de dento do cercado tinha derrubado algumas folhas que caíram por causa

do vento. Abri a porta, tirei os sapatos e entrei. A casa cheirava a gato e a perfume de jasmim.

Meus gatos vieram miando no meus pés, menos Leo porque sem dúvida, estava dando uma volta

pelo reino.

O barulho que vinha do banheiro da agua caindo . Que logo se sessou e meu pai depois de

cinco minutos saio de lá com uma roupa toda branca , que provavelmente era da enfermaria.

- Oi, filha - disse olhando para mim sentada no sofá-cama que dava uma pequena visão do

banheiro e do corredor estreito que levava a cozinha pequena de Per. - Como é bom tomar banho,

jesus.

- Oi, pai. - disse levantando e indo abraçá-lo - Senti saudades.

- Eu também, minha bebê.

- Pai, não sou mais criança. - disse fechando os olhos.

- Não importa quanto tempo passe, você será sempre o meu bebê.

Era bom sentir aquilo de novo. Por mais que meu pai nem sempre ficasse comigo ou que

esteve ausente por uns seis meses, ele não mudava em nada. Pai é pai, é como carrapato que

gruda e fica até não poder mais.

- Tem algo para comer? - perguntou ele, estragando o clima do abraço animado – Desculpa,

só comi sopa de ervilhas por seis meses, preciso de algo que tenha gosto de comida de verdade .

- Tá, - disse eu, rindo - vou ver se tem algo na geladeira.

A cozinha era pequena, com o fogão e pia grudados e espremidos num canto. A geladeira

do lado esquerdo e uma janela ficava acima do fogão. Abri a geladeira e vi suco de laranja natural,

um peixe frito antigo, alguns pote que eu não vazia questão de ver o que tinha dentro e no frízer

lasanha congelada e batata frita em pacote.

- Quer lasanha? - perguntei com a cara ainda na geladeira.

- Pode ser - diz ele na sala .

Pequei a lasanha, tirei da caixa e levei ao micro ondas que havia em cima de uma prateleira

pequena junto com alguns bibelôs.

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Fui até a sala e meu pai estava deitado no sofá-cama, os olhos estavam fechados.

- Pai, você está dormindo? - mas não logo ele abriu os olhos e olhou para mim, sorrindo.

- Não, estou somente descansando. - disse ele - Essa cama é bem melhor que uma cama

de ferro.

- Como foi ficar preso lá? – perguntei. Ele levantou as sobrancelhas e arregalou os olhos

com a pergunta .

- Foi ruim, bem ruim. Ela me chicoteava quando me recusava a responder às perguntas

sobre você, sobre o reino, sobre qualquer coisa.

- E Horfídeo? - cheguei perto e me sentei na cama com ele. Papai me abraçou e disse:

- A rainha o condenou a ficar preso lá até a morte porque ele se manifestou em uma das

palestras das regras dela. Antigamente era para a pessoa ser banida mas Jane não que banir

ninguém, não quer que nós consigamos um exército decente.

- Hum... Você está bem agora? - disse olhando pera ele - Porque ela te bateu? Te torturou?

Agora você está bem?

- Tô sim, filha. - e ele beijou minha testa - Sou velho, mas não quer dizer que não tenha

força. A rainha tirou sua mãe de nós dois e eu não vou deixar ela desfazer a família que temos.

Nunca, minha filha.

Logo depois que ele acabou de falar, o bipe bipe do micro-ondas apitou. Eu fui pegar a

lasanha e a coloquei em dois pratos: um para mim e um para ele. Levei até lá e nós comemos no

sofá-cama. Perguntei se ele queria ver um filme como nos velhos tempos. Assistimos a um filme

chamado “V de vingança”. Era um filme estranho, me assustou , mas não sei direito como acabou

porque acabei pegando no sono e capotei no braço do meu pai. Ah, qual é, tem que dar desconto,

eu tinha comido, estava cansada, tinha beijado um garoto lindo... Óbvio que iria cair no sono.

Sei que beijar o Jack não tem nada a ver com eu estar cansada, mas do mesmo jeito, eu

queria falar que eu tinha beijado ele. Ai, foi tão estranho! Mesmo não sendo meu primeiro beijo, foi

o primeiro de alguém como ele: um banido ruivo, muito nerd e sexy.

Gente, vou contar como foi meu primeiro beijo: um desastre! Foi com um garoto novo na

escola que usava aparelho freio de burro. Depois que eu o beijei, minha boca ficou cheia de baba.

Aquilo foi tremendamente nojento! Na época, eu nem sabia o nome dele, mas depois daquele beijo

apelidei ele de garoto saliva. Claro que esse apelido ficou só para mim, mas depois de um tempo,

ele começou a me odiar como todos os outros, eu não sei o porquê, nós não trocávamos nem meia

palavra.

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Abadom

Capítulo 35

Quando eu acordei, decidi ir para casa do Jack e Black. Sei lá, não tinha nada pra fazer

então, decidi ir para lá.

Quando cheguei, encontrei Jack jogando e Black tocando baixo em seu quarto com a porta

fechada (eu podia ouvir a música alta). Jack jogava um jogo de ação, com muita morte e sangue

por todo lado.

Sabe, por alguma razão odiava receber ajuda das pessoas. Sempre gostei de fazer as coisas

sozinha. Acho que era porque queria provar que não importa o tamanho do problema, vou enfrentá-

lo sozinha.

Pena que as coisas não são assim, eu dançava de um jeito diferente da música que tocava.

E digamos que quando Jack foi ...Bom, pelo menos ele tentou me ensinar a jogar videogame mas

desistiu na metade do caminho. Oficialmente, eu era um caso perdido em jogos. Ou em qualquer

outra coisa.

- Meu deus! - disse Jack jogando o controle no sofá que quicou e caiu no chão – Eu desisto.

É mais fácil ensinar o Black a amar do que você a jogar.

- Ótimo, se você não me ensinar, não vai mudar minha vida. E além do mais, é só um jogo.

Quando terminei de falar, Jack me olhou com uma cara nada boa. Acho que sem querer, tinha

pisado na bola novamente. Ô vidinha de merda, hein.

- Não é somente um jogo, - disse ele apontado o dedo indicador para mim - é um mundo

onde pessoas nerds como eu amam viver.

- Não quis dizer ‘jogar’? - perguntei fazendo cara de confusão- Porque pelo que sei, não se

vive um jogo.

- Claro que se vive. É só jogar RPG comigo e Perstefany. É uma forma de viver o jogo .

- Perstefany joga RPG? Achei que ela odiasse esse tipo de coisa. Pelo menos é o que o jeito

dela demonstra.

- Per na verdade é tão nerd quanto ... Eu - disse apontado para si memo.

Esse cra era estranho .

***

Agora vamos pular para a casa de Per. A poderosa das sirenas, Tamara, se encontrava lá.

Na cozinha, junto com Perstefany que fazia o jantar.

Tamara estava sentada na bancada da pia conversando com Perstefany.

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- Tammy, uma pergunta. - disse Per olhando para a torta de maçã que havia acabado de c

rechear - Será que se eu adicionar baunilha, o recheio fica mais gostoso?

- Não sei. - falou Tamara olhando para ela . - Acho que sim.

Logo ela olhou para o pé enfaixado por uma atadura branca que tinha uma mancha de sangue. E

Perstefany foi até o armário e pegou a baunilha para colocar junto com o recheio.

Aquela torta devia estar uma maravilha de gostosa. Pena que eu não estava lá para poder

comê-la.

Eu era tonta mesmo. Que tipo de pessoa troca videogame por comida? Ainda por cima uma

torta de maçã, linda e preciosa, feita com muito amor e carinho por uma garota com pata? Ou mais

ou menos.

Assim que Perstefany colocou a torta no forno, alguém bateu na porta. E esse alguém

parecia desesperado .

Quando Perstefany tirou a luva de cozinheira e colocou na pia, foi atender a porta. Viu uma

garota que parecia ser uma das Sirenas.

- Tamara - disse ela ofegando - está aqui?

- Claro. - disse ela – TAMARA, - gritou e Tammy logo apareceu na porta da cozinha - é para

você .

- Jaque! - disse Tamara andando. Ou melhor, mancando. – Jaque, o que faz em

Forgeteens?

- Eu devia te fazer essa pergunta! Tamara, você é uma irresponsável . Você não estava no

seu posto durante à noite. Onde estava?

- Eu falei para vocês que precisava ajudar Perstefany a entrar no mundo da luz - disse

Tammy.

- Eu não ligo, Perstefany já é grande o bastante para cuidar de si mesma, não precisa de

você para cada passo .

- Conselheira, qual é o problema? Por que veio até aqui? Fale de uma vez, porque você

nunca deixa o reino!

- Porque por sua culpa, duas de nossas guardiãs morreram. Assassinadas.

- Como assim? - disse ela apavorada - Por quem? Quem as matou?

- Os guardas da rainha. Você sabe que você cuida da divisa dos dois mundos. Se você

estivesse no seu posto! - disse gritando - Agora venha, sua imprestável, precisamos avisar os

outros reinos.

- Mas eu ... Não consigo nem andar direito.

- Não estou nem aí se você não pode andar ou não.

Tamara estava impressionada com o que estava acontecendo. Ela me disse uma vez que

Jaque era a conselheira das Sirenas, que comandava todo o reino delas. Jaque era uma das mais

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bonitas Sirenas, ela tinha lindos cabelos castanhos claro, as orelhas pontadas davam um toque

assustador, mas ao mesmo tempo de se invejar, pois davam um toque que toda líder precisa ter.

Os olhos eram azuis, o rosto pálido e possuía varias marcas pretas nos braços e nas pernas,

marcas que pareciam fumaças estilo as de Tamara , mas a dela ficavam ao redor dos olhos.

Tamara então ficou um tempo sem saber o que fazer, sabia que era culpa dela , mas não

queria acreditar na tamanha burrada que havia feito.

- Vamos logo, menina burra, temos reinos a proteger, esqueça essa garota. - disse ela

saindo, dando meia volta e indo lentamente até a entrada de Forgeteens.

- Per, - disse Tammy - foi mal mas tenho que ir. Talvez demore um tempo até me ver

novamente, existem muitos reinos para ir.

- Eu poderia ir com você.

- Não dá - disse ela. Por final, ela abraçou Perstefany e saiu porta afora.

Sabe, gatos vão quando querem, não obedecem as pessoas, gostam de fazer tudo de seu

jeito. E Perstefany era assim, uma gata teimosa que fazia o que bem queria.

E mesmo ela sabendo que mais tarde ferraria com Tamara, desobedeceu e a seguiu cinco

minutos depois que ela deixou sua casa.

Foi até a casa de Jack me avisar que iria demorar para chegar novamente, mas eu podia

ficar calma pois a porta estaria a aberta.

E eu também não posso dizer que sou um exemplo de garota. Eu aproveitei a chance para

finalmente, sair daquele lugar. Precisava ver novamente o mundo lá fora. Então resolvi sair de

Forgeteens sem alguém para me proteger.

Mas eu ia para minha casa e sem dúvida, não aconteceria nada de mal comigo, pois nada é

mais seguro que sua casa ... Ou sua cama. E também meu pai estaria lá, então realmente nada de

mal aconteceria.

- Mas você não pode contar para ninguém que eu sai daqui – disse Perstefany.

- Então tá bom. - disse eu para Perstefany - Pode ir sim, prometo não falar para ninguém,

sou uma gorda que você pode confiar suas sete vidas .

- Ótimo, pois você sabe: se contar para alguém, te expulso da minha casa.

Fiz um sinal de confiança de escoteiros, e ela foi embora. Estava na hora dessa gordinha

tomar as rédeas de suas decisões, não ficar dependendo de pessoas para sair de algum lugar.

- Jack, - falei indo até ela - eu vou até a casa de Per. Ela disse que deixou uma torta de

maçã no fogo e é para eu cuidar.

- Tá bom, pequena. - disse ele se levantado e beijando minha testa - Se precisar, vou estar

aqui.

- Te garanto não vou precisar. - disse abraçando ele - Até daqui a pouco, graveto, me conta

depois o placar do jogo, okay?

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- Pode deixar, pequena. Mas você sabe que não é um jogo de futebol e sim de ação, né?

- Sei. Bom, então deixa o placar para lá.

Muito bem, hora de me libertar, pensei . Então fui até a casa de Persfefany, desliguei o fogo

com a torta ainda lá dentro e aquele cheiro me deu uma fome enorme mas não tinha tempo para

comer. Então ignorei o que sentia e fiz o que devia.

Esperei um tempo e então saí, deixando a porta aberta mesmo. Como eu não tinha a chave,

não havia como fechá-la então só a encostei e fui. Ninguém iria roubar, todos se respeitavam.

Saí do portãozinho branco e peguei o caminho mais comprido até a entrada de Forgeteens.

Passei por trás das outras casas ou cabanas.

Quando chequei até a entrada de Forgeteens, não pensei duas vezes e saí.

Perstefany estava nos galhos das árvores, sorrateiramente seguindo Tamara que nem

desconfiava que Perstefany a seguiu. Ela podia ter a sensação mas não desconfiava dela pois em

todo o reino das trevas havia fantasmas. Eles não gostavam muito de ficar em seu reino então,

vagavam por todo as trevas.

Tamara como não conseguia andar direito foi flutuando baixo atrás de Jaque, que não

olhava para trás e andava de queixo erguido, com um olhar sério e confiante.

Até que chegaram a um lugar onde havia a estátua de uma das primeiras Sirenas que

existiu no reino das trevas. Ela segurava uma espada que ia até sua cintura.

- Aqui, - disse Jaque - foi aqui que tivemos que colocar os corpos para nenhum dos banidos

descobrir.

- Tá bom, mas não tínhamos que avisar os reinos? - disse ela .

- Nada disso - disse Jaque.

Os olhos da Sirena se viraram e ficaram brancos, o corpo ganhou uma forma curvada e

estranha, um par de asas de morcegos e olhos vermelhos sangue. Dentes afiados e saltados para

fora e pelo preto.

- Hora de morrer, Sirena! - disse a criatura a atacando.

Como o reino das Sirenas era afastado dos outros ninguém, pode ouvir ela gritar ... Ou

quase ninguém. Quando o monstro atacou Tamara, Perstefany saltou do galho que estava e soltou

um rugido, caindo em cima da criatura que era um Abadom, uma espécie de anjo protetor do reino

da luz. Por mais que ele parecesse um demônio, ele era do bem para o povo da luz, uma espécie

aliada a eles.

- Perstefany! - disse Tamara assustada e caída no chão.

- Tamara! - estendeu a mão para que Tammy pudesse levantar .

Quando de repente, o Abadom rugiu com uma voz aguda e assustadora e atacou as duas,

voando. Tamara logo gritou alto a ponto de fazer os ouvidos do monstro começarem a sangrar.

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Perstefany expôs as unhas afiadas e arranhou o monstro com tudo, deixando quatro cortes

paralelos na pele que jorravam um sangue verde.

- Temos que matar essa coisa! - disse Perstafany - Cadê Black quando precisamos dele?

- Já que ele não está aqui, temos que improvisar.

Tamara foi até a estátua e tocou na espada que logo se tornou real. O Abadom havia

atacado Perstefany, tinha pegado ela pelo rabo e voou com ela. Quando estava a uma altura

enorme, o Abadom soltou a moça metade gato que caiu rolando pelo ar. Por mais que ela sempre

caísse de pé, naquela altura não ira adiantar nada. Cada osso de seu corpo iria quebrar pois com

a queda, o peso de Perstefany iria quintuplicar.

O Abadom a atacou enquanto ela ainda caía. Perstefanye gritou. As garras do bicho eram

venenosas. Então, ela foi paralisada completamente.

E quando ela ia tocar o chão ,Tamara fez surgir uma espécie de colchão de poeira negra e

Per caiu em cima, toda desajeitada. O Abadom voltou ao chão e rosnou, montando a boca cheia

de dentes. Devia ter umas três fileiras de dentes enormes e afiados naquela bocarra.

Tamara não pensou duas vezes e atacou o monstro com a espada que estava começando

a virar pedra de novo. Pelo jeito, os feitiços dela ainda não estavam se enfraquecendo.

O Abadom gritou. Então, Tamara teve uma ideia: segurou a espada acima da cabeça e

entrou pela boca do monstro, fazendo ele virar pedra. E explodiu em cinzas, porém, suas entranhas

não se tornaram pedra como toda a pele. Quando ele explodiu, as entranhas do bicho voaram para

todo o lado.

Fazendo com que Perstefany, Tamara e tudo ao redor parecesse uma sopa com órgãos e

sangue.

- Perstefany! - gritou Tamara se levantando e cambaleando – Perstefany, acorda!

Perstefany estava pálida e com seu sangue ou redor, sujando as botas sete oitavos e o

vestido cheio de detalhe. Viu só, eu disse que ela trocava de roupa rápido, acho que enquanto eu

dormia, ela tomou banho e se trocou. Por isso ela estava com uma roupa diferente.

- Perstefany, por favor, - disse Tamara – acorda! Não tenho como te levar até Forgeteens.

Tamara, no meio da briga, nem tinha reparado que levou uma mordida do bicho no mesmo

lugar em que tinha machucado no reino da luz .

Então, como as presas também possuíam o veneno paralisante, ela desmaiou ao lado de

Perstefany.

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Black está “morto”

Capítulo 36

Quando eu estava nos limites do reino das trevas, bateu aquela indecisão: ou eu atravesso

e levo uma bronca de todo mundo por desobedecê-los ou eu não atravesso e volto para Forgeteens

.

Ah, quer saber? Fodam-se os outros, eu sou eu e nada vai me fazer mudar, pensei.

Então atravessei. Insegura, mas atravessei. Olhei para trás para ver se não estava sendo

seguida e não; também olhei para cima porque nunca se sabe.

Eu logo dei de cara com a campina que havia em cima de minha casa. Pelo jeito, as trevas

sempre estiveram bem pertinho de mim e eu nunca soube.

Pude ver um pouco da minha casa, ou pelo menos uma parte dela: a parte do meu quarto.

Vi meu pai entrando nele rapidamente, passando pela janela sem nem me reparar e logo saiu.

Desci a pequena ladeira e fui até a porta de casa, mas vi que a garagem estava aberta

então resolvi entrar por lá pois não seria muito legal meu pai saber que eu estava na casa.

Entrei na garagem e vi de primeiro a minha vespa. Como sinto falta daquela vespa! Ela podia

não ser rápida, mas pelo menos, andava e tinha um par de asas, era muito fofa.

Abri a porta que dava na lavanderia. Vi que meu pai havia colocado algumas roupas para

lavar porque a máquina batia feito louca. Entrei na próxima porta que deu na minha cozinha enorme

e logo vi a sala pois a única coisa que dividia a cozinha da sala era a bancado de tijolos em que

eu sempre colocava vários bibelôs.

Fui para meu quarto discretamente para meu pai não me reparar na casa e quando entrei ,

a primeira coisa que fiz foi suspirar.

Ai, meu quarto meu cantinho! A maioria das coisas estavam meio empoeiradas, mas quando

vi meu celular, foi uma felicidade. Eu, quando estava em Forgeteens, até ouvia músicas no celular

de Perstefany , mas nada se compara ao meu “poder” de abrir e fechar.

Pensei que como eu teria que voltar para Forgeteens, dessa vez iria voltar com as minha

coisas.

Fui até meu guarda- roupa peguei, uma mala. A coloquei em cima da cama e comecei a fazer

minha "bagagem de sobrevivência longe de casa".

Coloquei tudo o que precisava: celular, notebook, roupas de frio, umas de calor por mais que

lá nunca tenha um dia quente de verão, escova de dentes, entre outras coisas que iria precisar .

Ajeitei tudo e fui até lá embaixo porque meu quarto ficava no segundo andar. Quando desci,

vi meu pai na cozinha e a cara dele quando me viu não foi nada boa.

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- Taylor Adelle Peapons você tem menos de dez segundos para me dizer o que faz aqui -

disse ele, bravo.

- Olha, se eu tivesse uma boa desculpa, falaria. Mas vou ser sincera, não tenho. Cansei de

ficar num lugar onde não tenho liberdade.

- É melhor ficar presa e segura do que livre e em perigo.

- Mas pai, me diga se ser livre não tem seus perigos?

- Claro que tem, mas a questão não é essa. A questão é que a uma hora dessas, Julie já

deve estar atrás de você. Sem estar no reino das trevas, ninguém pode protegê-la. Filha, peço com

carinho. - disse ele se aproximando e segurando meus braços - Volte, não vou suportar perder

você. Já perdi sua mãe pelos mesmo motivos e erros e não os cometerei de novo.

- Pai ...- respirei fundo e quando ia falar, uma voz nos interrompeu .

- Ora, ora, ora, mas que tocante o papai tentando proteger a filhinha! - disse Julie em frente

à porta. O olhar maldoso estava em seu rosto, e em mim uma sensação de deja vu. Creio que já

vivemos essa cena. Não é mesmo, cavalheiros?

Toda a vez que eu pisava fora do reino das trevas, Julie sentia isso e usava seus poderes

para se transportar até onde eu estava. Por isso ela apareceu tão rápido.

Quando vimos, guardas estavam praticamente cercando o lugar, impedindo qualquer chance

de sairmos de lá. A luz, naquele momento, estava acabando com toda a nossa escuridão.

- Pai... - disse sussurrando.

- Vai ficar tudo bem - disse ele devolvendo o sussurro.

- Não, não vai.- quando Julie terminou de dizer isso, uma luz forte apareceu.

Nesse momento, dois guardas super armados invadiram a casa com as espadas apontadas

para nós dois. Não tínhamos para onde correr.

Eu tirei as luvas e soltei da mão do meu pai. Quando dois dos guardas avançaram eu toquei

neles, mas nada aconteceu. Eles simplesmente sentiram uma dorzinha e só.

Então um deles pegou a espada e me atacou, cortando a minha perna. Aquilo doeu pra

caralho. Até mesmo depois de morta me lembro da dor. Isso não tenho como esquecer pois ficou

cicatriz .

Eu caí no chão e sangue saía do ferimento.

- Taylor! - ouvi Black gritando meu nome .

Ele entrou na casa por uma das janelas, sacou o machado e cortou umas cabeças. Os corpo

dos dois guardas caíram no chão e sangue manchou o tapete.

- Vem, levante. - disse ele estendendo a mão – Por demônios, não enrole e levante logo,

tem milhões de guardas ao redor dessa casa.

Levantei cambaleando em meio a dor.

- Temos que sair daqui - disse meu pai - e rápido.

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Logo apareceram mais dois guardas armados, e de repente, os corpos que estavam no chão

jorrando sangue evaporaram, simplesmente viraram pó.

- Como? - disse – De onde vem tantos guardas ?

- É porque todos os guardas são uma pessoa só com o poder de se multiplicar quantas vezes

quiser.

- Então fodeu.

- Isso mesmo, fodeu.

- Robert, você leva a Taylor. - disse Black me colocando nos ombros do meu pai - Eu tenho

guardas para matar.

Black de repente virou fumaça e apareceu do lado de fora da casa com o machado na mão.

Ele foi matando um a um.

- Vem logo! - disse ele matando o guarda que estava na porta – VENHAM! - gritou.

Eu e meu pai fomos mas de repente, Julie apareceu e encostou no Black com as mãos

brilhando com uma luz muito forte. Ele caiu não chão arfando e com os olhos arregalados.

Black caiu morto.

- NÃO! - gritei – Black!

- vamos logo! - disse meu pai me puxando. Passamos por cima dos corpos mortos - Vá e

não olhe para trás. Eu te amo, filha - disse beijando minha testa.

- Pai! - disse.

- Vamos nos ver de novo.

Meu pai pegou o machado que estava no chão e começou a atacar os guardas que

revidavam com suas espadas. Eu tive que ir mesmo machucada, cambaleei até a campina e Julie

atrás de mim, falando:

- Você vai morrer, pequena Taylor - e ela lançou uma bola de luz que queimou o chão com

grama ficando um círculo preto.

Ela tinha praticamente o mesmo poder dos unicórnios só que mais forte e mais aperfeiçoado.

Eu desviava dos tiros de luz mas era difícil subir aquela ladeira machucada, ainda mais que

naquele maldito carreiro havia várias plantas com espinhos que me furavam o tempo todo.

Mas eu não desisti. Continuei subindo e quando cheguei na campina, o vento das árvores

bateram mais forte. Eu ofegava.

Quando pude ver a divisa do reino das trevas, me joguei. Literalmente me joguei de onde eu

estava até lá. Era um caminho curtinho porém a queda doeu.

E bem na hora que me joguei, a rainha gritou lançando mais uma bola de luz.

- Venha, Taylor querida, eu só quero te matar- e a bola de luz acertou meu pé que se queimou

um pouco.

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Quando eu cai na grama, percebi que a vegetação em volta havia se empretecido. Eu estava

definhando como sempre acontecia quando eu ficava sem luvas.

Como a rainha não podia atravessar para o lado das trevas, estava segura.

Ela simplesmente deu meia volta e saiu, dizendo:

- Seu pai ainda está aqui e ele é meu agora.

Não, papai. Pensei. Mas quando, de repente, ouvi uma voz atrás de mim.

- Na verdade, Vossa Majestade, estou bem aqui - disse meu pai sorrindo e colocando o

machado em seus ombros.

- Mas como? - disse a rainha – Era para meus guardas terem te matado.

- Na verdade, eu só precisei matar o principal guarda - disse ele, sorrindo.

- Vão se arrepender, criaturas imundas!

- Então venham, majestade. Estamos preparados. E você?

E ela se retirou dando as costas. O cabelo loiro voou com o vento.

Eu olhei para meu pai que logo estendeu as luvas para mim. Eu as coloquei e me lembrei

que Black estava morto.

- Pai, e Black? - perguntei.

- Black é o Black. Mesmo morto, ele sabe se virar. - disse ele - Agora vamos.

Bom, acho que não é somente Black que sabe se virar depois de morto: eu também sei.

Olhe só para mim, uma garota presa num breu sem fim onde a morte domina. Estar morta é horrível

, não tentem suicídio, crianças , porque não é nada agradável morrer e ir parar no inferno.

Voltamos para Forgeteens. Jane estava maluca, andando de um lado para o outro ,e quando

viu meu pai e eu, foi correndo até nós.

- Soube do ataque da rainha. - disse ela - Vocês estão bem? E Black? Cadê ele?

Era simples, Jack tinha tido uma visão do ataque e falou para Jane o que estava para

acontecer ou o que no caso, já tinha acontecido.

- Black morreu, Jane.

Jane ficou espantada mas logo havia alívio em seu olhar. Os olhos infinitos ficaram azul claro e

as estrelas formaram a constelação de gêmeos.

- Black ficará bem. - disse - agora, srta. Taylor, pode me falar como ou melhor, por que você

saiu do reino das trevas? Falamos para você que era perigoso sua .... Sua ... Ah, não posso te

xingar porque seu pai está aqui.

- Desculpa, - disse - não fiz por mal. Achei que não teria nada de mau em sair.

- Taylor, te falamos: Julie é má. Ela é a água que apaga o nosso fogo, não podemos dar

trégua a ela. Se ela colocar as mãos em você, te matará sem dó nem piedade.

Será que pelo amor de tudo que é bom, ninguém vê o meu lado das histórias? Meu deus, eu

dei minha vida por um motivo: eu saí de Forgeteens por um motivo, eu quis liberdade por um motivo.

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Calem a boca, bando de cornos, se eu ficar aqui para sempre, o que provavelmente ficarei, serei

morta. Novamente virarei um fantasma, um demônio porque aqui, as lembranças são o que te

mantém inteiro depois que você as perde completamente. Esqueça tudo, você já era. Vira um

monstro, um nada.

- Onde estão Perstefany e Tamara? - perguntou Jane - Não estão no reino, estavam com

vocês na hora da invasão?

- Não, - disse meu pai - estávamos somente eu, Black e Taylor. Nem um sinal das duas.

Então de repente, eu senti uma dor de cabeça muito forte e acabei caindo no chão com as

mãos na cabeça e a imagem de Perstefany e Tamara caídas no chão me veio. Elas estavam quase

mortas, brancas, com sangue e entranhas ao seu redor.

- Estão mortas. - disse sem saber - Estão mortas, eu vi. Elas estão mortas.

- Já chega, nos cansamos de ser capachos do povo da luz! Vamos atrás do nosso exército!

Nós declaramos guerra ao povo da luz!

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Sumário

1. Quando escurecer.......................................................................................... 02

2. Sempre há amanhã........................................................................................ 04

3. Sem medo do medo........................................................................................ 07

4. Dias de sorte................................................................................................. 10

5. Já estava na hora............................................................................................ 14

6. Amigos............................................................................................................ 16

7. Não a deixaremos para trás............................................................................ 19

8. Você deve nos ouvir........................................................................................ 24

9. A terra dos banidos........................................................................................ 28

10. Somos uma família unida................................................................................. 31

11. Caminho sem volta......................................................................................... 35

12. Rabiscos.......................................................................................................... 39

13. Sorvete se sushi.............................................................................................. 44

14. Dias de luta..................................................................................................... 48

15. Capitão gancho............................................................................................... 53

16. Aqueles amores platônicos não correspondidos............................................ 57

17. Um dia no reino da luz.................................................................................... 60

18. Silêncio, silêncio agora................................................................................... 63

19. Conselhos amorosos de uma garota metade gato......................................... 67

20. Eu só quero ficar sozinha................................................................................ 70

21. Diamantes....................................................................................................... 74

22. Eu estou te ouvindo........................................................................................ 80

23. Se um cair, todos caem juntos......................................................................... 85

24. Juntos? Juntos................................................................................................ 90

25. A coisa............................................................................................................. 96

26. Panquecas de morango + mel = fome............................................................ 101

27. Três da manhã................................................................................................ 104

28. Cookies de Nutella......................................................................................... 109

29. Novos amigos só são novos no primeiro dia.................................................. 112

30. O sumiço de Perstefany parte 1..................................................................... 117

31. Minha heroína... Só que não........................................................................... 123

32. Finalmente o tenho de volta............................................................................ 128

33. Eu não queria beijar você............................................................................... 137

34. Lasanha tamanho família................................................................................ 143

35. Abadom........................................................................................................... 146

36. Black está “morto”........................................................................................... 151

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Agradecimentos:

Quero agradecer a minha mãe, que sempre me apoiou, a minha melhor amiga Samara,

que esteve ao meu lado durante as crises de falta de inspiração, a Samira, minha colega que é

tão apaixonada por livros quanto eu, e que também me deu muito apoio no livro. E a vocês que

vão ler o livro e me ajudar a realizar meu sonho.