budapeste, londres, lisboa e o licor de merda londres lisboa e o licor de... · no dia seguinte eu...

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Budapeste, Londres, Lisboa e o Licor de Merda O Campeonato Mundial Master de Natação seria realizado em Budapeste no mês de agosto de 2017. Alexandre, o meu parceiro em inúmeras competições de natação em piscinas e no mar, me convidou a participarmos, já que ambos tínhamos os índices nas provas em que nadávamos e estávamos aptos a participar. Como eu não conhecia ainda Budapeste me animei em participar e a Sandrinha também gostou muito da ideia, e foi assim que no dia 13 de agosto de 2017 embarcamos num voo da TAP com destino a Lisboa com uma conexão para Budapeste. O Alexandre tinha viajado na sexta dia 11, já que na segunda já estaria competindo. Devido ao horário da nossa conexão nós ficamos cinco horas no aeroporto de Lisboa e aproveitamos para comprar um chip para um aparelho, tipo wi-fi portátil, que nos tinha sido emprestado pelo meu sobrinho Iuri, mas que acabou não funcionando adequadamente, nem mesmo em Portugal. A informação que eu tinha da Hungria era que a língua era respeitada até mesmo pelo diabo, logo não pensei em nem mesmo arriscar algumas palavras. Em húngaro não existe nenhuma palavra parecida com a equivalente em qualquer outra língua, por exemplo, mulher é noi, com dois acentos agudos na letra o. Isso realmente causava uma certa confusão na hora de irmos ao banheiro já que homem é ferfi. Além da língua eu já tinha percebido pelo site do campeonato que os húngaros eram um povo enrolado, pelo menos nos nossos parâmetros de entendimento, o que eu não sabia era que eram também mal-humorados. Eu tinha contratado um transporte no aeroporto para nos levar ao nosso hotel em Budapeste, isso havia sido tratado pelo site do nosso hotel, que era o Carat Boutique Hotel. Quando desembarcamos realmente havia várias placas com diversos nomes, mas não vi o meu nome em nenhuma delas. Procuramos durante alguns minutos e a Sandrinha resolveu pedir ajuda no balcão de apoio aos turistas. Nesse momento eu vi longe uma moça falando ao celular com um papel abaixado na mão. Fui até lá e então encontrei o meu nome. Quando chegamos na recepção do hotel notamos que a recepcionista estava mal-humorada. Quando perguntávamos alguma coisa ela respirava fundo e dizia que devíamos esperar que ela iria falar tudo o que nos interessava e que não havia motivos para interrupções. Além disso falava numa voz baixa e monocórdia e certamente com um sotaque húngaro, o que dificultava o nosso entendimento. O hotel Carat Boutique era realmente muito bom. Um prédio antigo com quartos amplos e o que era melhor, muito bem localizado, num local com centenas de restaurantes e bares, além de um mercado a poucos metros do nosso hotel. Após nos acomodarmos entrei em contato com o Alexandre para nos encontrarmos para jantar e ele falou que passaria no nosso hotel junto com a Renata, sua namorada.

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Budapeste, Londres, Lisboa e o Licor de Merda

O Campeonato Mundial Master de Natação seria realizado em Budapeste no

mês de agosto de 2017. Alexandre, o meu parceiro em inúmeras competições

de natação em piscinas e no mar, me convidou a participarmos, já que ambos

tínhamos os índices nas provas em que nadávamos e estávamos aptos a

participar. Como eu não conhecia ainda Budapeste me animei em participar e a

Sandrinha também gostou muito da ideia, e foi assim que no dia 13 de agosto

de 2017 embarcamos num voo da TAP com destino a Lisboa com uma conexão

para Budapeste. O Alexandre tinha viajado na sexta dia 11, já que na segunda

já estaria competindo.

Devido ao horário da nossa conexão nós ficamos cinco horas no aeroporto de

Lisboa e aproveitamos para comprar um chip para um aparelho, tipo wi-fi portátil,

que nos tinha sido emprestado pelo meu sobrinho Iuri, mas que acabou não

funcionando adequadamente, nem mesmo em Portugal.

A informação que eu tinha da Hungria era que a língua era respeitada até mesmo

pelo diabo, logo não pensei em nem mesmo arriscar algumas palavras. Em

húngaro não existe nenhuma palavra parecida com a equivalente em qualquer

outra língua, por exemplo, mulher é noi, com dois acentos agudos na letra o. Isso

realmente causava uma certa confusão na hora de irmos ao banheiro já que

homem é ferfi. Além da língua eu já tinha percebido pelo site do campeonato que

os húngaros eram um povo enrolado, pelo menos nos nossos parâmetros de

entendimento, o que eu não sabia era que eram também mal-humorados.

Eu tinha contratado um transporte no aeroporto para nos levar ao nosso hotel

em Budapeste, isso havia sido tratado pelo site do nosso hotel, que era o Carat

Boutique Hotel. Quando desembarcamos realmente havia várias placas com

diversos nomes, mas não vi o meu nome em nenhuma delas. Procuramos

durante alguns minutos e a Sandrinha resolveu pedir ajuda no balcão de apoio

aos turistas. Nesse momento eu vi longe uma moça falando ao celular com um

papel abaixado na mão. Fui até lá e então encontrei o meu nome.

Quando chegamos na recepção do hotel notamos que a recepcionista estava

mal-humorada. Quando perguntávamos alguma coisa ela respirava fundo e dizia

que devíamos esperar que ela iria falar tudo o que nos interessava e que não

havia motivos para interrupções. Além disso falava numa voz baixa e monocórdia

e certamente com um sotaque húngaro, o que dificultava o nosso entendimento.

O hotel Carat Boutique era realmente muito bom. Um prédio antigo com quartos

amplos e o que era melhor, muito bem localizado, num local com centenas de

restaurantes e bares, além de um mercado a poucos metros do nosso hotel.

Após nos acomodarmos entrei em contato com o Alexandre para nos

encontrarmos para jantar e ele falou que passaria no nosso hotel junto com a

Renata, sua namorada.

Alexandre e Renata já conheciam bem o local e fomos a uma galeria nas

proximidades com centenas de restaurantes. Escolhemos o Café Vian Gozsdu

que possui um menu executivo com uma entrada, um prato principal, uma

sobremesa e também um vinho adocicado tradicional da Hungria para ser bebido

junto com a sobremesa. O meu sobrinho Max já tinha me falado desse vinho

(toka3i aszu) que era medido por puttonios, ou seja, três, cinco e sete plutônios.

O nosso tinha três puttonios. Não me pergunte exatamente o que significa essa

medida e ainda vou perguntar ao Max quando estiver com ele. Disse o garçom

do restaurante que indica o grau de doçura da bebida. A comida de uma forma

geral em Budapeste é muito barata, mas o sabor não é dos melhores.

Eu e Sandrinha em Budapeste na parte velha da cidade (Buda) com o Rio

Danúbio ao fundo e ao longe o belo prédio do Parlamento (em Peste)

No dia seguinte (15/08) fomos com Alexandre e Renata ao Accreditation Center

para pegarmos os nossos crachás, que por sinal, davam acesso gratuito a

qualquer transporte público em Budapeste. A Arena Duna onde ficada o centro

é um complexo aquático de alto nível, que na minha vida de nadador, não tinha

ainda visto nada parecido. No local tinha algumas piscinas de aquecimento e

aproveitei para nadar um pouco numa que era descoberta e ficava as margens

do rio Danúbio. Alexandre foi comigo, mas não nadou e encontramos outros

brasileiros nadando inclusive a Maria Padilha do Fluminense e uma outra moça

de Tocantins.

Eu tinha contratado uma Citi Tour pela internet quando estávamos no Brasil e

eles iriam nos buscar no hotel às 14 horas e 30 minutos. Eu e Sandrinha

convencemos ao Alexandre e a Renata a irem junto e desta forma partimos os

quatro e mais um húngaro e sua namorada americana para visitar a belíssima

cidade de Budapeste. O guia falava sem parar em inglês com o seu sotaque

húngaro. Não dava nem tempo para perguntarmos alguma coisa pois ela já

estava no outro assunto. Descobrimos que para ele interromper um pouco a sua

falação tínhamos que dar-lhe alguma coisa para comer, e Renata então passou

a oferecer batata frita e balas para que os nossos ouvidos pudessem descansar

um pouco. Quando a situação começava a ficar crítica alguém gritava: Renata

está na hora de dar comida ao guia. Na verdade, a cidade é dividida em duas

partes já que é cortada pelo rio Danúbio, o mesmo que depois corta a também

belíssima cidade de Viena na Áustria. Numa margem temos Buda, a parte velha

e muito antiga da cidade, e da outra Peste a parte mais moderna.

A maior parte das pessoas em Budapeste fala inglês, mas em certos locais você

acaba esbarrando com alguém que não fala e nesse caso a comunicação é

praticamente impossível. Isso acontecia sempre no mercado onde todo dia

comprávamos água e outras coisas mais. De noite resolvemos jantar num

restaurante italiano, já que o menu húngaro não tinha agradado muito, que ficava

na mesma galeria com as centenas de restaurantes e se chamava Trattoria

Gozsdu. O local do restaurante era o Gozsdu Upvar ou seja Jardim Gozsdu em

português. Os pratos de massa supostamente italiana nos agradaram mais do

que a comida tradicional húngara.

As competições do mundial eram disputadas em dois locais diferentes cada qual

com duas piscinas oficiais, ou seja, rolavam quatro competições ao mesmo

tempo. No primeiro dia (16/08) eu iria nadar 400 medley num local que ficava na

Ilha Margarida. Essa ilha se situava no meio do rio Danúbio e era realmente um

local muito bonito e bastante arborizado. Nós tínhamos que pegar dois ônibus

para poder chegar ao local da competição. Por um erro de cálculo quando

chegamos na Arena eu vi pelo telão que já estava rolando a primeira série e eu

nadaria na terceira. Ou seja, não tinha tempo para fazer o aquecimento. Saí

correndo e trocando de roupa fui para a sala de espera onde estavam os

nadadores das próximas séries. Quando sentei e já estava conversando com o

Alfred (Fred) que por sinal é húngaro e mora no Brasil, me lembrei que não tinha

pego a minha toca e nem os meus óculos de natação. Saí correndo atrás da

Sandrinha que tinha ido procurar a Herilene que já tinha nadado. Por muita sorte

eu a encontrei rápido. O fato estranho foi eu ter visto do Kovalsky que nada em

Curitiba, e resolvi não falar com ele devido ao atraso e pensei em procura-lo

depois da prova, já que naquele ano tínhamos nadado juntos num campeonato

em Fortaleza. Quando retornei, a segunda série já estava nadando e o pessoal

da minha série já se encaminhava para o local. Em resumo, nadei sem ter me

aquecido o que é muito ruim. O meu tempo não foi bom, mas a minha colocação

foi boa, pois fiquei em 12º num total de 23 atletas na minha faixa etária.

Após a competição eu e Sandrinha, os andarilhos profissionais, resolvemos

voltar a pé margeando o Danúbio para ir para Buda e conhecer com mais calma

a parte velha da cidade, já que a excursão não dá muito tempo para você ver

nada. Fomos caminhando pelos lindos jardins da Ilha Margarida até a ponte

Lanchid. Tomamos um café (o café expresso custou 5 reais) num local chamado

Café Casa Bianca, muito bom por sinal. Quando estávamos retornando ao

Centro da cidade, na parte chamada Peste, pensando em comer alguma coisa,

coincidentemente encontramos com Alexandre e Renata que tinham ido visitar

o Mercado Central. Almoçamos uma salada num restaurante mexicano, muito

ruim por sinal, e depois fomos tomar um café no Costa onde conhecemos um

casal endinheirado de brasileiros de Belo Horizonte que nos indicou um

restaurante chamado Menza. Nós decidimos então ir tentar esse restaurante já

que não estávamos dando sorte nas nossas comidas.

A pequena equipe do Master Icaraí no Campeonato Mundial Masters

O restaurante ficava uns 20 minutos a pé dos nossos hotéis e chegamos lá por

volta das 20:30 horas mas estava lotado e com uma fila de espera de

aproximadamente 40 minutos.

Resolvemos então procurar outro restaurante para jantar e fomos a um italiano

onde os garçons resolveram nos ignorar e nem notaram quando decidimos sair.

Já tínhamos tido uma experiência semelhante quando resolvemos tomar uma

cerveja Guiness num bar e ninguém deu a mínima bola para a nossa presença.

Descobrimos que esse comportamento em relação aos turistas em Budapeste é

bastante comum. Como a Hungria é um país que foi invadido por mongóis,

austríacos, nazistas, russos dentre outros povos na antiguidade, talvez esse

comportamento seja consequência desses inúmeros sofrimentos por que passou

o povo húngaro. Acabamos voltando a Trattoria Gozsdu, mas para nosso azar

não estavam servindo nenhum outro prato a não ser pizzas, que por sinal são

muito ruins pois não têm queijo e são muito duras. Nesse dia eu e Sandrinha

andamos no total 15,3 quilômetros.

No dia seguinte eu iria nadar 100 metros borboleta (fiquei em 15º lugar) na Arena

Dana, que era a principal, e no café da manhã no hotel conhecemos um sul-

africano que estava na competição. O inglês de sul-africano é quase que uma

outra língua e foi difícil conversar com ele. Eu nadei na piscina B e mais uma vez

não fiz aquecimento já que a piscina, a que eu tinha usado no primeiro dia para

nadar ao lado do rio, ficava um pouco distante do local da competição e eu fiquei

com medo de me atrasar. Nesse dia eu soube que o Kowalsky, aquele que eu

tinha visto no dia anterior, tinha falecido. Eu levei um susto pois pensei que ele

tinha morrido em Budapeste, mas me disseram que ele tinha morrido em

Maringá. Não sei realmente se foi muita coincidência de ver uma pessoa muito

parecida com ele ou se foi outra percepção sem explicação. Nunca vou esquecer

esse fato.

Encontramos com Alexandre e Renata e fomos almoçar num outro restaurante

mexicano também muito ruim chamado Taco. Depois do almoço resolvemos ir

visitar a Igreja de Santo Estevão, que é o santo padroeiro da Hungria. Andando

pela igreja descobrimos que a mão de Santo Estevão tinha sido mumificada no

ano 1000 e que estava em exposição dentro da igreja. Sem querer chegamos ao

local onde estava a mão, mas o ambiente era escuro e não dava para ver nada

para o nosso alívio pois nós quatro não tínhamos nenhuma vontade de ver uma

mão mumificada. O problema era que se você colocasse um euro num buraco

acendia uma luz que iluminava a mão por dois minutos. Nesse momento o

japonês na nossa frente colocou a mão no bolso e colocou uma moeda no tal

buraco e fomos obrigados a ver a mão de Santo Estevão. Não podemos discutir

religião dos povos e nem as suas crenças, mas para nós brasileiros realmente

era uma situação bizarra.

Na volta para o hotel a Sandrinha resolveu comprar numa barraca uma batata-

frito tipo portuguesa que são feitas num espeto. Ninguém conseguiu comer pois

era muito gordurosa embora muito bonita de se ver. Outra comida típica é uma

espécie de pizza feita na chapa chamada Lango mas não tivemos coragem de

provar devido a experiência ruim com o espeto de batata-frita.

Espeto de batata-frita muito gorduroso (prato típico húngaro)

Naquela noite fomos mais cedo (19:30 horas) e conseguimos jantar no Menza

que talvez seja o melhor restaurante de Budapeste.

O dia 18/08 estava reservado para os revezamentos e como a nossa equipe

tinha 6 mulheres e dois homens eu e o Alexandre só poderíamos nadar no

revezamento misto. A nossa equipe feminina conseguiu um quarto e um quinto

lugar. No caso do revezamento misto pegamos um oitavo e um décimo segundo

lugares. O interessante é que nos dois revezamentos mistos ao nosso lado

nadou uma equipe de Portugal. O Alexandre por nadar muito rápido era o

escalado para fechar o nosso revezamento e por Portugal estava o José, um

português meio maluco. Enquanto os dois esperavam para nadar o português

falou para o Alexandre que quem chegasse em primeiro tinha que dar um beijo

no outro. Alexandre, do alto da sua educação, disfarçou e levou na brincadeira,

mas o português não estava brincando, como o nosso revezamento chegou na

frente do deles o português foi atrás do Alexandre dizendo que ele tinha que dar

um beijo nele. Alexandre conseguiu fugir e ficou nisso mesmo, porém no

segundo revezamento a história se repetiu e neste caso a equipe de Portugal

chegou na nossa frente e quando Alexandre saiu da água já vinha o português

querendo beija-lo.

- Pô! O português veio me beijar dizendo que tinha ganho a aposta. – falou

Alexandre comigo enquanto já estávamos no saguão para sair do complexo

aquático.

Neste momento apareceu o português gritando que ele iria dar um beijo no

Alexandre, e como chegou de surpresa, acabou dando um beijo na bochecha de

um constrangido Alexandre e eu aproveitei para registrar a cena com o meu

celular e enviar para o pessoal no Brasil e com isso garantir a encarnação por

alguns meses.

O Erik, nosso filho que vive em Londres, neste dia tinha chegado de Londres e

nos acompanhou na competição seguindo o ritual complexo, como tudo na

Hungria, onde atletas tem que entrar por um lado e assistentes por outro, mesmo

que depois todos se encontrem nas arquibancadas.

Com Erik na Arena da competição

Nessa noite fizemos um passeio noturno muito bonito pelo rio Danúbio. As

colegas da nossa equipe aproveitaram para entrar fundo no vinho e na cerveja.

Elas quanto mais bebiam tanto melhor nadavam e eu e Alexandre, os únicos

homens da equipe, não conseguíamos nem chegar perto delas quando o

assunto era bebida.

No dia 19/08 eu fui junto com Sandrinha e Erik para nadar a minha última prova.

O Alexandre não iria nadar neste dia, mas já tínhamos reservado uma mesa no

restaurante Menza, talvez aquele melhor de Budapeste, para jantarmos na

nossa última noite na cidade. Aliás no dia seguinte, 20/08, seria um feriado

nacional na Hungria, data de Santo Estevão, padroeiro do país, quando então a

mão mumificada do santo sairia em procissão pela cidade.

Eu nadei os 200 borboleta e fiquei em 13º lugar, o que foi uma boa colocação

tendo em vista o número de concorrentes, num total de mais de 20 atletas. Há

alguns dias a Sandrinha tinha ido numa loja próximo ao nosso hotel para comprar

três calendários para dar de presente a alguns parentes com fotos da cidade de

Budapeste. Para vender só tinha um calendário, mas como tinham dois outros

na vitrine procuramos um vendedor e explicamos que queríamos comprar três e

se ele podia pegar os da vitrine. Ele disse que não podia pegar. A Sandrinha

disse que nós poderíamos passar no dia seguinte, mas ele disse que o que

estava na vitrine não podia ser retirado. Ficamos sem entender porque alguma

coisa estaria na vitrine se na loja não tinha mais para vender. Resolvemos voltar

na loja para uma tentativa com outro vendedor, mas para nossa surpresa a

resposta foi a mesma.

- O que está na vitrine não pode ser vendido.

Essa foi apenas mais uma demonstração de como os húngaros são presos a

algumas regras imutáveis.

Outro fato interessante foi que a Renata, namorada do Alexandre, estava

andando na rua e uma moça ofereceu uma coisa que parecia uma bala. Ela

pegou e já ia colocando na boca, quando então a moça começou a gritar

assustada. Na verdade a Renata quase comeu um pedaço de sabão.

No dia seguinte (20/08) partimos para a nossa ida para Londres, onde ficaríamos

na casa do Erik por uns dias. O interessante é que o rapaz que estava dirigindo

o carro nos levando para o aeroporto perguntou o que tínhamos achado da

atendente do hotel. Nos dissemos que tínhamos achado ela mal educada.

- Todos acham isso – foi a resposta do nosso motorista.

Em Londres nós seguimos a mesma rotina das idas anteriores e logo não vou

voltar a descrever nesta crônica para não cansar os leitores, já que passamos

por Londres pelo menos uma vez por ano, desde que o nosso filho Erik mora lá

há 12 anos. No entanto eu gosto de lembrar que o Tibits é o melhor restaurante

vegetariano que eu conheço e olha que eu entendo desse assunto. O Tossed é

uma excelente saladeira e o Strada e o Pizza Express são bons restaurantes

italianos. O Real Greek também continua imbatível, e agora descobrimos que

eles servem no almoço um menu executivo muito mais barato do que os valores

cobrados para jantarmos. A diferença desta viagem foi que fomos visitar, por

falta do que fazer, o estádio do Chelsea que realmente é muito bonito e tem uma

estrutura de hotéis, spa, museu, lojas e outras coisas interessantes, e você pode

ir direto de metrô.

No dia 25/08 partimos para Lisboa para manter a tradição e continuar andando

sem parar. O nosso recorde de andanças foi batido em Lisboa onde fizemos 17

quilômetros num dia, contra a média de 15 quilômetros em Londres e Budapeste.

Ficamos no mesmo hotel, o Marques de Pombal, e fomos aos mesmos

restaurantes já citados em crônicas anteriores. A diferença que notamos desta

vez é que Lisboa tem muitos mendigos e os traficantes vendem drogas em certos

lugares marcados livremente, como, por exemplo, na Rua Augusta esquina com

a Rua Vitória. Acho que isso não preocupa a polícia e logo não existe problemas

de traficantes armados como aqui.

No dia 26/08 jantamos e estávamos indo para o nosso hotel na bela Avenida da

Liberdade quando resolvemos parar num pequeno mercado para comprar água.

Dois mendigos estavam na porta mexendo com uma estátua quando entramos.

Pegamos a água, pagamos e já estávamos de saída quando ouvimos uma

mulher gritando. Eu fui até a porta e vi uma moça pulando para proteger um

rapaz que estava acuado pelos dois mendigos. Um deles estava com uma

garrafa na mão que ameaçava bater no rapaz. Eu fiquei na porta pensando no

que poderia fazer para evitar a agressão quando olhei para tras dos mendigos e

vi um sujeito alto, talvez uns dois metros de altura, forte, junto com outro rapaz

também forte e uma outra moça, que estavam no mesmo grupo. Eu pensei:

coitado dos mendigos, o fortão vai acabar com eles. Nisso o mendigo da garrafa

se vira de frente para o fortão. E não é que o fortão sai correndo, e olha que o

cara corria muito. Neste momento os mendigos cresceram, inflaram o peito, e

saíram atrás dos cinco, que liderados pelo fortão corriam para cima na Avenida

da Liberdade. Não sei a língua que o grupo falava pois não consegui identificar,

talvez alguma das línguas do leste europeu. Eu e Sandrinha seguimos para o

nosso hotel que era na mesma direção onde o grupo, perseguido pelos

mendigos, tinha ido. Andamos um pouco e percebemos que os mendigos

estavam voltando, ambos sem camisa, falando alto e foi então que notamos que

um dos mendigos era brasileiro.

No dia seguinte (27/08) o nosso voo era as 23:30 horas logo tínhamos que fechar

a conta do hotel até as 14 horas (conseguimos prorrogar o prazo de 12 para 14

horas) e saímos a andar por Lisboa, pelos mesmos locais, Rossio, Chiado, Rua

Augusta, fomos a um museu que conta a história de Lisboa, até que numa loja

de bebidas, que estava fechada pois era domingo, nos deparamos com uma

bebida inusitada chamada Licor de Merda. Prometo na próxima viagem entender

de que é feito realmente esse licor.

O famoso e inusitado Licor de Merda