nº 72 - abril a junho de 1932

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Nº 72 1932

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Revista Dhâranâ editada pela Sociedade Teosófica brasileira entre os anos 1925-1973

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Nº 72 1932

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RRReeevvviii ssstttaaa DDDhhhââârrraaannnâââ Data : Dhâranâ nº 72 – Abril a Junho 1932 – Ano VII

Redator: Henrique José de Souza

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SUMÁRIO

– TIBETE E A TEOSOFIA – Roso de Luna

– UMA NOVA HUMANIDADE – Santiago Kohler (Presidente da “Sociedad Autosofica” de B. Aires)

– A MINHA MENSAGEM MUNDO ESPIRITUALISTA – H.J. Souza

– FOTOGRAFIAS DA “MONTANHA SAGRADA” – (Acompanhadas de alguns comentários por H. J. Souza)

– EXPEDIENTE:

– Loja Morya

– Loja Kut-Humi

– Loja Hilarião

– Dia do Loto Branco

– Palestras teosóficas pelo rádio

– Iniciando pelo rádio

– Alborea

O TIBETE E A TEOSOFIA 1

APONTAMENTOS DE UM FILÓSOFO

Pelo Dr. ROSO DE LUNA

II I

CAMINHOS TIBETANOS, O CAMINHO DOS HANN

Em torno do planalto da Ásia se agrupam milhões de homens, isolados quase por completo da chamada civilização européia. Esses milhões de homens são os herdeiros degenerados de uma sabedoria perdida; os que em épocas pré-históricas tiveram uma cultura florescente, hoje quase sepultada na neve ou na areia; os que criaram impérios colossais no medievo, cujas ondas irresistíveis tiveram de estender-se pelo resto da Ásia e invadir a Europa: hunos, mongóis, tártaros, turcos; os que, enfim, unem cinco antigas religiões e os que vivem hoje, mais ou menos, submetidos à teocracia feudal do Dalai-Lama de Lhassa – teocracia como a que tem procurado imitar e impor a Roma papal aos povos do Ocidente.

Porém, o país tibetano-mongol não é inacessível – embora que a ele não conduzam estradas de ferro, nem de rodagem, nem próprias para transeuntes. De fato, tem sido penetrado e visitado em diferentes séculos por heróicos exploradores, que daí voltaram maravilhados com o que viram e aprenderam, pois que, o Tibete é a terra clássica dos sortilégios, da magia e do ocultismo.

1 Algumas pessoas notarão, com certeza, que escrevemos a palavra Tibet em vez de Thibet, como usualmente se faz. Porém,

adotando a nova ortografia, excluímos o ‘h’, que nada representa na pronúncia de tal palavra, deixando, porém, o ‘t’ final, porque, de fato, ele deve ser pronunciado. Até os mais eruditos homens de letras dizem ‘Tibé’, quando tal pronúncia está errada. A verdadeira é Tibet (com o ‘t’ final).

O erro provém do ‘t’ final da palavra Thibet ser mudo em francês, cujo idioma é o mais empregado nas obras que se conhece sobre Esoterismo. Quanto às demais palavras tibetanas citadas no decorrer do presente artigo, procuramos respeitar – tanto quanto possível, a sua pronúncia. – Nota do Tradutor.

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Redator: Henrique José de Souza

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No Tibete propriamente dito existe um grande caminho, quase perdido, mas no entanto, muito citado nos anais chineses, que é “o caminho da seda”, caminho mais extenso do que todo o Mediterrâneo e que une a Rússia com a China através das hoje desoladas comarcas do Tarim. É “o caminho dos Hann”, que parte de Yarkend, Guma e Khotan na região Kirghis ou Turkestão russo e segue para o este paralelamente ao dito rio atravessando os dois enormes desertos de Taklamakan, ou melhor, Tak-lama-kan (império do lama Tak?) e de Gobi, até encontrar nas comarcas do curso superior do Hwan-ho o rio Amarelo, caminhos que descem do lago Baikal e outros lugares da Sibéria até o Golfo de Petchili (“golfo da Prata”?) onde se assenta Peking.

Por honrosa coincidência, tal caminho possui o nome de nossa mestra H. P. B., pois que, o primeiro dos seus principescos apelidos é o de “Hann” ou galo, segundo a lenda de que um dos seus antecessores calmucos, em suas empresas guerreiras pelas comarcas asiáticas, foi despertado pelo canto do galo em seu acampamento, livrando-se desse modo, de uma surpresa noturna por parte de seus inimigos. Isso envolve, ainda, um sentido oculto que se dirá um dia; do mesmo modo, como são famosos os Kiaug ou anais chineses dos Hann. 2

Esse caminho “sérico”, que é visível ainda sobre Keria Nia, oásis de Tchertchen e lago de Lob-nor (lago azul), viu morrer – em toda a sua extensão – cidades populosas, das quais, algumas alcançaram as épocas budista e cristã, destruindo-se definitivamente, já pelas guerras tártaras, como séculos antes, pela invasão das areias no deserto, ao mudar o rio Tarim o seu curso. A elas se refere a mestra na conhecida passagem da Doutrina Secreta, que diz: “Encontram-se, contudo, os vestígios de uma civilização imensa e pré-histórica na Ásia Central... A gigantesca e interrupta muralha de montanhas que ladeiam o planalto do Tibete, desde o curso superior do rio Kwan-Kné até as colinas de Karakorum, foi testemunha de uma civilização que durou milhares de anos e poderia revelar à humanidade bem estranhos segredos. Houve um tempo em que as porções oriental e central das regiões de Nan-chan e Altying-tag estiveram cobertas por cidades, que bem poderiam competir com Babilônia. Um completo período geológico passou sobre o referido lugar, desde que aquelas cidades exalaram seu derradeiro alento como testemunham as montanhas de movediça areia e o solo agora estéril e morto das imensas planícies centrais da bacia do Tarim. Os territórios fronteiros desses países é só o que de um modo superficial conhecem os viajantes. No interior daquelas planícies há água e frescos oásis, cheios de vegetação, onde nenhum pé europeu se aventurou a penetrar, temeroso de um solo hoje traiçoeiro. Entre esses floridos oásis, existem alguns completamente inacessíveis, até mesmo para os indígenas profanos que viajam pelo país. Os furacões que podem arrebatar as areias e com elas cobrir comarcas inteiras, são impotentes para destruir o que está fora de seu alcance. Os subterrâneos construídos nas entranhas da terra garantem os tesouros ali encerrados, e como as suas entradas se achem ocultas (“subterrâneos de Aladin” das “Mil e Uma Noites”), nã há perigo de que ninguém os descubra, mesmo que vários exércitos invadissem os arenosos desertos onde nem um poço, nem um arbusto, nem uma vivenda são apercebidos e a cordilheira

2 Existem coincidências interessantes em tudo quanto diz respeito a H. P. B. – como aliás na vida de todos os seres que trazem missão especial no mundo. Por exemplo: além de um dos seus apelidos (Hann) ter o significado de “galo” – conforme já se viu pela lenda referida pelo emérito polígrafo espanhol – Roso de Luna – tal animal (galo) é puramente solar. Do mesmo modo quanto ao seu primeiro nome “Helena”, que provém de “Helios” (o Sol). Ademais, nascendo H. P. B. de 30 para 31 de Julho, ipso-facto, possui como planeta de nascimento o Sol. Isso vem, mais uma vez, provar que tal “Ego” foi de fato, um Sol maravilhoso, que apareceu no século passado com o fim de iluminar uma multidão de seres – cujo mental se achava preparado para receber as suas potentíssimas e fulgurantes radiações.

Na S. T. B. também existe uma Helena (como um Henrique...) – embora que ambos estejam longe de ser equiparados à Mestra, e que, além de outras muitas coincidências, a Helena nasceu sob a influência de Sol (embora que em 13 de Agosto) e o Henrique sob a de Mercúrio (que tanto vale por outro Sol... oculto atrás do primeiro!...), ou seja, em 15 de Setembro e... à meia-noite em ponto (tal como nasceu H. P. B. e nascem algumas outras pessoas portadoras de certas missões no mundo, segundo nos ensinam as velhas tradições orientais). Somente Karma pode desvendar a razão de tais coincidências. – Nota do tradutor.

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forma uma poderosa barreira em torno das áridas planícies3. E nem é necessário conduzir o leitor através do deserto, porquanto, as mesmas provas se encontram em pontos relativamente povoados da região.

3 Como os tempos tenham chegado... não há nenhuma transgressão de nossa parte em dizer que tais “subterrâneos construídos nas entranhas da terra” vão dar ao “País Sagrado dos Deuses” (As “Sete famosas Cidades das Maravilhas” de que tanto falam os velhos códices do Oriente e do Ocidente e que, esotericamente, podem ser tidos como “reflexos dos 7 Dvipas ou continentes” e até, se quiserem, “dos 7 Globos planetários”...) Os homens na sua pertinácia em querer negar até mesmo aquilo que desconhecem, nos tomarão como fantasistas ou visionários – o que, aliás, é uma honra para nós, porquanto todas as obras grandiosas do engenho humano, outra coisa não foram, antes de serem postas em execução, do que “Sonhos ou Fantasias” criadas por cérebros em ebulição: formas vagas e indecisas como primeiros esboços de outras mais claras, mais precisas – tais como nuvens que se formam, que se condensam, e finalmente, se chocam produzindo horríveis tempestades e... que aqui se pode comparar ao período tempestuoso que se segue, ou seja, o da realização daquilo que foi imaginado, sonhado ou fantasiado. “Toda verdade importante”, diz Melchior Farré, “foi de certo modo, uma bela verdade que se buscou e admirou por si mesma, por sua mera e abstrata beleza. Os belos teoremas encontraram-se depois que se fizeram mais úteis. Kepler não viu, no começo, nas leis das órbitas planetárias, mais do que sublimidade; do mesmo modo que, se Newton afirmou a gravitação universal, foi porque sonhou como gênio uma universal harmonia, uma redução da variedade ou diversidade à unidade, uma fecundidade infinita na mesma simplicidade do princípio que formulava. O chamado real foi sempre coisa bem secundária para os Pascal e os Leibnitz, os quais, como todos os gênios, enxergaram mais além de todas as chamadas utilidades, vivendo em uma espécie de sonho acerca do possível, sem ver nos fenômenos físicos outra coisa, senão, ecos das mais elevadas harmonias”.

Prossigamos, pois, com “os nossos sonhos e fantasias”.

Quando o saudoso autor de “O Tibete e a Teosofia” diz, no mesmo período, que tais “subterrâneos construídos nas entranhas da terra garantem os tesouros ali encerrados e como as suas entradas se achem ocultas, não há perigo de que ninguém os descubra, mesmo que vários exércitos invadissem os arenosos desertos, onde, nem um poço, nem um arbusto, nem uma vivenda são apercebidos, e a cordilheira forma uma poderosa barreira em torno das áridas planícies” – prefere ocultar o que são de fato, tais subterrâneos... porque possuía razões bastantes para o fazer. No entanto, se os que lêem as suas obras fizessem o que o próprio autor indicava aos seus leitores – “que os lessem várias vezes e meditassem sobre tudo quanto neles se continha”, é provável que tirassem deduções interessantíssimas... que lhes abriria um novo horizonte diante dos olhos estáticos na contemplação de tantas maravilhas... até então desconhecidas!

Tais subterrâneos, dizemos nós, mais uma vez, vão ter à famosa SHAMBALLAH ou “Cidade imperecível, que nenhum cataclismo pode destruir”; conhecida, ainda na literatura do país com os vários nomes de “Ilha Branca”, Dejung, Belovodye, Bhante-Yaul (ou Jaul, como preferem outros, a fim de concordarem as suas iniciais com as duas Colunas do Templo de Salomão: Jakim e Bohaz); “Loja Branca” do Himalaia, dirigida pelo divino Maha-Chohan; como ainda, “Cidade de Erdemi”, dirigida pelo Rei do Mundo ou o célebre Rigden Jyepo, que a tradição aponta como “o Soberano que há de vir à frente de seu povo... para destruição dos maus e salvação dos bons...”

Reproduzimos aqui, algumas lendas famosas do Tibete e da Mongólia, para que o leitor inteligente possa deduzir, por si mesmo, desses “nossos sonhos e fantasias”, com que o obrigamos a compartilhar conosco, desde que nos quis dar a honra de fazer a leitura de tão exaustiva anotação:

“De uma cova aberta na rocha saiu um estrangeiro muito alto e misteriosamente vestido. Foi ao bazar de Turfán comprar algumas coisas e pagou-as com uma moeda de oiro. Depois, quando examinamos melhor essa moeda, verificamos que havia mais de mil anos que tal espécie de dinheiro não circulava. Esse homem veio da terra santa”.

Outra mais:

“De uma das passagens subterrâneas (o grifo é nosso) saiu uma mulher alta, de aspecto severo e cuja pele era mais escura do que a nossa. Veio ao povo para o auxiliar e proveniente da terra santa”...

“Cavaleiros de aspectos desconhecidos foram vistos nas proximidades de uma gruta; em seguida desapareceram. Provavelmente o fizeram através de uma passagem subterrânea de seu país. Por muitas dessas entradas se pode passar até a cavalo (é nosso o grifo)”

E assim outras muitas lendas onde se fala de Shamballah e seu povo misterioso!

Aconselhamos o leitor interessado no assunto a que faça a leitura das seguintes obras de Roso de Luna, onde encontrará material bastante para o instruir: De Sevilla al Yucatán, De gentes del otro mundo, El libro que mata a la muerte o libro de los jinas. Os de outros autores por nós citados em uma anotação do artigo de Don Santiago Kohler, que tem por título Uma nova Humanidade, publicado no presente número, também tratam do assunto, embora que sem comentários nem os reais valores do incomparável polígrafo espanhol Roso de Luna.

No decorrer de “A minha Mensagem” falaremos, por nossa vez, mui detalhadamente sobre o assunto, quando tratarmos da questão dos Adeptos, Mahatmas, etc, tão mal compreendidos nos nossos dias, ridicularizados pelos que os negam – sem conhecimento de causa; vilipendiados e profanados pelos que fazem uso de seus Nomes com fins egoístas – por isso mesmo, sujeitando-se às consequências karmicas que ora os afligem (como está acontecendo a certas Sociedades pseudo-ocultistas do Rio... às voltas com a Polícia... ) etc., etc.

Voltando à questão dos subterrâneos que conduzem ao seio da terra, devemos dizer que, não são apenas aqueles por nós referidos, os únicos conhecidos. É bem verdade que são os principais, pelo fato de... irem ter, talvez, à cabeça do Dragão ou... a sua 7ª escama (assim como se disséssemos, à sua corôa, tal como no homem o centro de força – chakra – do alto da cabeça, conhecido com os vários nomes de Coronal, Brahmananda, Sahasrara, Loto das Mil Pétalas, etc) já que o Oriente é o centro donde se irradia essa Luz maravilhosa, que banha toda a superfície da Terra, segundo a expressão sintética do grande vidente do século XVIII – Emmanuel Swedenborg: Ex Oriente Lux !

Existem diversas entradas subterrâneas no mundo – inclusive as do Deserto Líbico, de que já tratamos em antigos escritos nossos, através desta revista, cujos graus de latitude norte (no Trópico de Câncer...) coincidem perfeitamente com os mesmos graus de latitude sul (Trópico de Capricórnio...) da cidade de Niterói e da Capital da República brasileira (ou sejam 23º ) – por perto das quais e até mesmo, por sobre as quais, passam inúmeras caravanas, nas suas longas jornadas através do deserto africano – que conduzem ao seio misterioso da terra... onde é provável encontrar-se vestígios de uma antiquíssima “Fraternidade secreta”... cujos discípulos de tão Sábios componentes ou preclaros membros, é provável estarem cumprindo o seu dever em determinados lugares deste mundo de ilusões em que vivemos... Tal “Fraternidade” – que lhe poderíamos dar o nome de “Kaleb” e que tem o significado de Cão... se relacionava à Constelação “Cão Maior” (donde figura a mais brilhante estrela do céu, ou seja Sirio...), pouco importa que tal constelação pertença ao Hemisfério austral ou sul, pois nisso é que está, justamente, o seu mistério em relação com a Obra em que a

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“O oásis de Tchertche, por exemplo, acima do rio de seu nome, está hoje cercado em todas as direções, por ruínas de cidades arcaicas. Uns três mil seres humanos representam ali os restos de cem raças e nações extintas, cujos nomes desconhecem os próprios etnólogos. Um antropólogo encontrar-se-ía em apuros se os tivesse de classificar, dividir e subdividir – tanto mais, quando os próprios descendentes de todas aquelas raças e tribos antediluvianas sabem a respeito de seus antepassados, como se eles tivessem caído da Lua. Quando se lhes pergunta acerca de sua origem, respondem que não sabem donde vieram seus pais, mas que lhe ouviram dizer que os seus primitivos ascendentes foram “governados pelos Gênios (nossos “Jinas”, dizemos nós) daqueles desertos”. Tal coisa se poderia atribuir à ignorância e superstição, porém, em vista dos ensinamentos da Doutrina Secreta, a resposta pode considerar-se fundada na tradição primitiva. A própria tribo afegã do Khorasan (“Kaurio-assania”, os solares terapeutas?) possui lendas em corroboração com o fato.

“O viajante russo Prjevalsky encontrou – quase tocando o oásis de Tchertchen – as ruínas de duas imensas cidades, onde a mais antiga delas – segundo tradição local – foi destruída há 3.000 anos por um herói gigante, e a outra, pelos mongóis no século X. A superfície dessas duas cidades se acha, atualmente, coberta – devido aos furacões do deserto – de relíquias heterogêneas e estranhas: utensílios, moedas, múmias, jóias... O coronel Prejvalsky recolheu legendas referentes a mais 23 cidades e iguais tradições existem no lago Lob-Nor e no oásis de Kerya”.

Bem longe estava a Mestra de pensar que as suas revelações haviam de encontrar imediatamente uma parcial confirmação, já que ao viajante Prjevalsky sucedeu o intrépido e tenaz Sven V. Hedin que, com a sua obra No Coração da Ásia nos desvendou – graças às suas heróicas expedições pelos referidos desertos – duas daquelas cidades sepultadas.

O sueco Hedin nos fala, com efeito, de antiquíssimos mapas chineses do então povoadíssimo “caminho dos Hann”; do seco leito do Kurruk Daria, abandonado há mais de mil anos e que desembocava, ou melhor, cruzava o hoje, do mesmo modo, quase seco Lob-nor e das “múmias” ou esqueletos arbóreos, únicos restos de uma vida extinta, com cuja lenha o mesmo se aqueceu nas gélidas noites de seus heróicos itinerários (1893-1900). Mais além do “Oásis dos sessenta mananciais de Jardang, Bulak e Altimich-Bulak 4 visita o deserto de Lop e o pantanoso lago de Jara-Koxum, onde verte e se finda ou sepulta o Tarim – tal como o nosso Guadiana nas lagunas de Ruidera – em cuja margem norte se acham um povo quase sepultado com as ruínas de sua torre babilônica, ainda de pé e onde colecionou moedas chinesas, cerâmica, marmitas e taças de culto, etc., além de tábuas talhadas que, à primeira vista, nos fazem lembrar os restos do artesoado de nossa Mesquita cordobêsa. Odeh, o criado do sábio descobre, por sua vez, outro povo semelhante e no fim de 1899 a 1900 torna a encontrar no desconhecido Kurruk-tag, as ruínas por ele visitadas no ano anterior e uma terceira povoação com 19 casas, uma torre de ladrilho de tres metros, sobre uma colina de outros três, a duas jornadas do pântano de Kara-Koxum e onde encontra “tábuas talhadas com imagens de Budhas e inscrições”, centenas de papéis impressos com caracteres chineses, que remontam – segundo Himley de Wiesbaden – aos anos 264-279, nos tempos de Yuan e Wuti, por onde se vem a conhecer que aquela é a célebre cidade de Lu-lan ou Lunan (cidade “lunar”), onde estiveram aquartelados exércitos numerosos, como empório que foi há 1.600 anos, de uma civilização florescente, cuja extinguiu-se pelo fato do Tarim – que antes corria para o

STB se acha empenhada. E... paremos aqui para não nos acontecer o mesmo que aos demais... que se excederam em revelações a que o mundo não fazia ainda jus – segundo as palavras atribuídas ao Nazareno: “Não atireis pérolas aos porcos”...

Do mesmo modo, as entradas subterrâneas de Yucatã no México; as próximas a Manchu-Pichu, no Peru e... até no Brasil, em Mato Grosso e em outros lugares mais desse gigante imenso, onde futuramente vai surgir uma nova civilização portadora de melhores dias para o mundo. (Dos nosso “Livros de Revelações”). – Nota do Tradutor. 4 Note-se, de passagem, estes nomes de Bulak, encontrados várias vezes no célebre Museu do Egito. – Nota do autor.

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este – ter desviado seu curso para o sudeste, formando o lago de Kara-Koxum, enquanto abandonava a sua sorte desértica ao lago de Lob-nor. Os 800 mapas desenhados por Hedin em seus vários cruzeiros nos reservam, ainda, várias surpresas acerca desses países, cuja desolação sem limites, está por ele resumida nas seguintes palavras: “Se na Lua há desertos de areia, não conterão menos quantidade de vida orgânica do que os mares arenosos do centro da Ásia”, sepultadores de toda uma civilização”.

Tal é a lei daquele país... e de tantos outros! Não esqueçamos, porém, que a dinâmica natural evolutiva não cessa em lugar algum da terra e que, embora exista essa zona nórtica a que chamamos genericamente “o Tibete sepultado” ou Tibete mongol, cuja outra metade constitui o Tibete propriamente dito, neste último se esboça do mesmo modo o estrago desértico, ano após ano, até levar a esta segunda zona – hoje tão povoada – seu hálito mortífero. Senão, vejamos o que nos ensina a intrépida Alexandra David Neel em seus Místicos e Mágicos do Tibete:

“Junto a Lhassa, sobre a margem esquerda do Yerú-tsangpo (Brahmaputura) se encontra um Saara em miniatura, cujas brancas dunas avançam, cada vez mais, invadindo o país. Apesar da cadeia montanhosa que lhe cerca o caminho, as areias já alcançaram o vale do Kyi-tchú (“o vale quitchúa?”) e sua fina poeira começa a acumular-se ao longo das faias que cingem Norbuling, o palácio campestre do Dalai-Lama. Mais além do pitoresco mosteiro de Dordji-tag, já se torna um verdadeiro deserto. Acolhidas ainda sob a proteção da montanha, várias granjas vão sendo lentamente cobertas de areia. Depois, toda sombra de vitalidade desaparece em um mar arenoso de brancura deslumbrante. O céu de puríssimo azul, sem uma nuvem, é já a perfeita imagem do deserto africano, embora que, pelo ar rarefeito de seus três mil metros de altitude, continue a ser sempre o Tibete...”

E como a Espanha é, repetimos, um Tibete em miniatura, cujo destino será um dia o mesmo daquele – compare-se, por exemplo, a inexorável invasão desértica que entulhou outrora as regiões dos Hann e, século após século, ameaça o Tibete – com o que nos descobre em Espanha o jovem geógrafo Francisco Hernandez Pacheco em sua memória sobre As areias voadoras da província de Segovia:

“Há entre as província de Valladolid e Segovia uma região arenosa de montículos e páramos... A massa de areia, ao ver-se detida, forma pequenos médãos que avançam lenta, mas continuamente, cobrindo insidiosamente as terras de cultivo, como se pode observar dos dois lados da estrada de Navalilla a San Miguel de Bernuy. Os ventos NO e SE revolvem aquela massa, arrastando-a para os rios Cega, Pirón e Eresma, sendo a maior de suas barreiras o rio Duratón. O território assim coberto adquire o aspecto da duna marítima, com diversas lagunas para a região de Cuéllar”.

Caminhará, pois, o tempo e com ele o destino inexorável... e na Espanha – tal como no Tarim e no Brahmaputra – poderão as futuras gerações falar dos nascentes desertos do Duero e do Duratón, esses rios que foram outrora vergéis ibéricos e romanos e hoje caminham rapidamente para se transformarem em desertos semelhantes ao do arenoso Tarim...

UMA NOVA HUMANIDADE

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Sede Central: Calle Defensa nº 419 – Buenos Aires (Argentina)

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Do Sr. Don Santiago Kohler – ilustre Presidente da Sociedade cujo nome encima estas linhas – recebemos valioso trabalho literário intitulado “Uma Nova Humanidade” para ser publicado nas colunas desta revista.

Porém, como o assunto nele desenvolvido fosse de interesse coletivo – principalmente no que diz respeito aos povos sul-americanos – a S. T. B. resolveu primeiramente expo-lo à apreciação dos homens cultos de nosso País, por meio de uma sessão especial, levada a efeito em 26 de Maio p. p. na sua “Loja Morya”, que funciona na Capital da República, à Praça Tiradentes nº 73 (1º andar).

Antes de ser feita a leitura do referido artigo pelo Representante legal da “Sociedade Autosófica”, junto ao nosso Diretório – o Dr. Cicero Pimenta de Mello – o Presidente da S. T. B. fez a seguinte apresentação:

Prezados irmãos:

O estudo que vai ser lido na sessão de hoje pelo 1º Secretário da S. T. B. e Representante legal da “Sociedad Autosofica” de Buenos Aires – com a qual nos achamos ligados por indissolúveis laços da mais elevada espiritualidade, pois embora trate de duas Associações completamente independentes e autônomas, as suas diretrizes estão gizadas para o mesmo alvo – foi escrito especialmente para o nosso órgão oficial – a revista “Dhâranâ”.

No entanto, em se tratando de um trabalho literário de grande valor – que pode ser tido como um nobre e generoso apelo dirigido aos Povos sul-americanos, por um esforçado Obreiro do Edifício Humano – como é o honrado Presidente da “Sociedad Autosofica” de Buenos Aires – a S. T. B. tomou como um dever expo-lo, em primeira mão, à elite intelectual de nossa Terra – já que em toda parte do mundo é ela a classe em melhores condições de poder orientar os governos, sugestionando-lhes idéias nobres e elevadas, que possam concorrer para o progresso – cada vez mais crescente – da nação, cujos destinos estão em suas mãos; como ainda, quando através de uma crítica sabiamente conduzida – é forçada a apontar erros a esses mesmos governos, a fim de que possam tomar novas diretrizes capazes de satisfazer os sentimentos do povo que os escolheu para dirigir os seus destinos – principalmente quando se trate de governantes honrados e cônscios dos seus nobres deveres perante a sua própria consciência, da nação que dirige e das demais de que o mundo se compõe. É ainda, missão elevada dessas mesmas classes intelectuais – principalmente a Imprensa – cultivar os nobres e generosos sentimentos das massas populares, como corrigir-lhes todos os erros ou defeitos, a fim de integralizadas no máximo de sua evolução terrena, isto é, física, moral e intelectualmente, possam servir de exemplo edificante aos demais povos do mundo que, se encontrarem ainda manietados por falsas aspirações e, por isso mesmo, sujeitos às grandes dores que, hoje mais do que nunca, vêm avassalando a grande família espiritual, que se chama: Humanidade!

Eximimo-nos de qualquer comentário sobre os reais valores do autor de semelhante trabalho, não só por se tratar de um nome sobejamente conhecido no mundo culto 5 , como também, porque todo e qualquer elogio se torna inexpressivo e até vexatório para o Homem que sabe colocar o Dever de trabalhar pela Humanidade acima de outras quaisquer aspirações terrenas.

5 No número desta revista referente ao trimestre de Janeiro a Março de 1930, publicamos um brilhante estudo de Don Santiago Kohler

– ilustre Presidente da “Sociedad Autosofica” de Buenos Aires – cujo, tinha por título “Raças Humanas”. Do mesmo modo, os frequentadores de nossa “Loja Morya” da Capital da República, tiveram a oportunidade de ouvir a leitura do Manifesto que aquela prestigiosa Associação argentina lançou ao Povo Brasileiro – cujo Manifesto, além de expressar os seus nobres e sinceros sentimentos para com os seus irmãos do Brasil, possuía maior valor, ainda, pelo nome de quem o subscrevia.

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Do mesmo modo que, a exiguidade do tempo e razão da sessão de hoje, não nos permitam um estudo mais aprofundado sobre o papel importantíssimo, que possuem ambas essas instituições filantrópicas da América latina, pois, segundo dissemos, “ambas se acham ligadas por indissolúveis laços da mais pura e elevada espiritualidade” – num mútuo e perfeito entendimento, trabalhando pela aproximação de todos os povos de origem Ibero-Americana, nesse Concerto harmonioso e belo em que tomam parte, como os primeiros Elos da “Grande Cadeia de Fraternidade”, constituída pela futura Civilização, portadora de melhores dias para o mundo e para a qual se acham trabalhando sem desfalecimentos nem preocupações interesseiras e mesquinhas, como sói acontecer a tudo quanto não possui a menor parcela de espiritualidade – e que é, aliás, uma grande maioria do que hoje se manifesta na face da terra. E, por isso mesmo, dando razão de ser ao célebre aforismo oriental de que, “quanto mais pesado fizeres o mundo, mais o mundo pesará sobre ti”... 6

O trabalho de ambas essas Instituições irmãs, é o complemento do que foi iniciado em 1910 pelo grande Apóstolo do Bem e da Verdade, que teve o nome de Mario Roso de Luna, o qual prodigiosamente inspirado pelas Potências Superiores, que regem os destinos de homens e coisas, deixou a sua Pátria desta existência – a nobre e culta Espanha – para vir apontar aos povos sul-americanos, o papel importantíssimo que iam representar na História imediata do mundo. São elas, portanto, uma necessidade lógica desse grande movimento oculto que se opera no nosso continente, já que estamos no fim de um Ciclo para começo de outro – por isso mesmo, a sua primeira manifestação seja a pior possível, devido ao choque natural entre duas forças completamente opostas: uma representada pelos resíduos ou cinzas do fim de uma raça apodrecida e gasta; a outra, como a boa semente germinada entre o que de bom, de belo e grandioso produziu a anterior. É a seleção natural das coisas, e até uma das muitas interpretações que podem ser dadas à célebre frase bíblica da “separação do bom trigo do joio”.

O Sr. Don Ricardo Rojas – que honra as letras argentinas – prefaciando a maravilhosa obra de Nicolas Roerich, intitulada “O Coração da Ásia” – cuja obra, como outras mais no gênero7 podem ser tidas como um codicilo do inestimável testamento

6 Certos países cumulados de “skandhas” imperfeitas (“atributos ou tendências do ser”, que tanto podem ser boas como más) e de cuja palavra se originou, por exemplo, Scandinavia, ou o país dos povos indo-europeus, que já tiveram suas épocas terríveis na História, embora que, possuidores dos mais belos e valiosos mitos e lendas de que estão instruídos os Iniciados nos sagrados mistérios da vida – são aqueles que hoje pagam o seu tributo cármico. Do mesmo modo que se poderia dizer que, nos países onde se cogita desses ideais da mais grosseira materialidade – pouco importa a sua fantástica apresentação como “da mais elevada fraternidade entre os homens” – são aqueles onde predomina Tamas (obscuridade, inércia, negação, resistência, etc.) como a mais grosseira das 3 qualidades (gunas) de matéria. Tamas representa, ainda, ignorância, insensibilidade, etc. Ela é a qualidade que se opõe a Rajas, a atividade, desejo de agir, etc. Sattva, a terceira representa a Harmonia e, até, Verdade, Pureza, Justiça, Esplendor, etc. Cada uma delas possui a sua cor apropriada. Tamas se relaciona ao encarnado, como cor das paixões inferiores e lutas de várias naturezas. Do mesmo modo que, cada uma delas possui uma nota apropriada e de acordo com as três letras de que se compõe a palavra Sagrada. As três cordas harmônicas, formam um acorde perfeito... que liga os 3 corpos (não confundir com estados de consciência que são 7, segundo o Setenário da Manifestação de todas as coisas) entre si, formando, portanto, o Homem sintético! É ainda a solução do magno problema do Três em UM! (Do nosso “4º Livro de Revelações”). 7 Destacam-se entre as obras que se tem escrito sobre o assunto, as do Padre Huc intituladas Dans le Thibet, Dans la Tartarie e Dans la Chine – cujas lhe custaram uma excomunhão de sua Igreja e expulsão da Academia francesa, com certeza, insuflada pelo poder dos jesuítas na França. E isso por ter ele se referido aos fenômenos que presenciou no Tibete e haver constatado que vários ritos e símbolos de sua Igreja existiam no Lamaísmo – prova inconteste de que a mesma Igreja (Romana) dali copiou todos eles – aliás, como o fez de outras religiões mais antigas. E isso não é para admirar, porquanto, o erudito Frei Domingos Vieira, autor do “Dicionário da Língua Portugesa”, falando sobre a palavra Budhismo, diz: “No Catolicismo se encontram vários traços do Budhismo na sua formação”.

Outra obra de grande valor é a da Sra. Alexandra David Neel, que entusiasmou o próprio Roso de Luna, a ponto de lhe servir de base para a sua última obra, deixada ao mundo como um verdadeiro “canto de cisne” na hora da morte e que tem por título “El Thibet y la Teosofia”, ora em publicação nesta revista, por uma oferta toda espontânea do autor, como já é do conhecimento de nossos amáveis leitores.

Figura, ainda, em primeiro plano entre tais obras, a de Ferdinand Ossendowski, intitulada Bêtes, Hommes et Dieux – hoje divulgadíssima em todos os países do mundo (nas suas várias línguas). Não foram poucas as pessoas que a receberam como uma simples fantasia de tão afamado autor, por ignorarem, talvez, que a mesma foi escrita devido a reiterados pedidos de seu não menos ilustre amigo Lewis Stanton Paien, que aliás foi o prefaciador da dita obra.

Maravilhosas, por sua vez, as de Jean Marqués-Rivière – especialmente a que tem por título “A l’Ombre des Monastères thibétains”, como ainda, a do famoso Nicolas Roerich “O Coração da Ásia”, de cuja introdução nos servimos na apresentação que fizemos do valioso estudo de Don Santiago Kohler, para provarmos o papel que incumbe às nações de origem ibero-americana. Além de coisas

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literário, deixado ao mundo pelo imortal Roso de Luna, com o nome de “El Thibet y la Teosofia”, ora em publicação nas humildes páginas de nosso órgão oficial – entre outras coisas interessantíssimas, diz o seguinte: “Esta nossa América deve descobrir-se a si mesma, descendo até às entranhas de sua terra e de sua pré-história atlante, para aí erguer-se até à humanidade do futuro, quando haja encontrado nas sucessivas fases de sua própria evolução, a chave de seu ser nos eternos valores do homem, que ela também encerra, e que, sem cessar de ser sul-americano, é também universal...” provando com tais palavras o que estamos pondo em prática, ou seja: “de que aos povos sul-americanos incumbe trabalhar desde já por essa ‘humanidade do futuro’, ou melhor, pelo Advento dessa Era Nova de Paz, Amor, Sabedoria e Justiça entre os homens – já que, fronteiras separatistas entre os mesmos só existem para os que desconhecendo o único dogma da Humanidade – a Fraternidade Universal 8 – nos dão o direito de julgar que tais pessoas avaliam o mundo como um imenso armazém, repleto de prateleiras, onde são cuidadosamente arrumadas mercadorias de várias naturezas, ou então, uma vasta fazenda de criação, onde cada espécie de animais, possui o seu curral apropriado, para que se não devorem mutuamente – tal como o demonstra claramente essa pobre e animalizada civilização hodierna.

Todos quantos nele (mundo) vivem, se possuem idiomas e cores diferentes – além de outras razões de ordem transcendente, existe a da sua convivência ou habitação em lugares mais ou menos afastados dos pólos. E essa confusão de castas, raças, cores, etc., veladamente expressa na “Torre de Babel” bíblica que, “em espiral se erguia para os céus”, outra coisa não é, senão, um símbolo expressivo das mônadas humanas, em busca de ascensão para o divino – contrariamente àquela misteriosa visão de que falam os livros sagrados, ou seja, “Satanás descendo em espiral vertiginosa”... como o instante

interessantíssimas encontradas na referida obra, o autor descreveu alguns lugares e até documentos comprobatórios da passagem do pretenso Jesus de Nazareth (já que seu nome era bem outro) pelo Norte da Índia e outras cidades do Tibete.

No entanto, existe uma obra que passa como sendo uma das melhores que se tem escrito sobre aquele misterioso recanto do mundo e, ao contrário, embora certas passagens interessantes que em tal obra são encontradas, o resto não passa de uma “blague”, ou melhor, puras criações de um cérebro rico em fantasias... com o fim de agradar aos seus inúmeros leitores de Inglaterra. Sobressai entre todas, quando o autor diz que, para poder estudar os usos e costumes daquele povo, foi forçado a disfarçar-se em “sacerdote lamaísta”, chegando ao ponto de pintar a pele e até... os olhos! E isso, dizemos nós, em um país onde não falta quem diga a qualquer recém-chegado, quem ele é, donde vem e para onde vai... e as suas intenções visitando o lugar. Referimo-nos à obra de Mr. W. Montgomery Mc Govern, quem por título “Mon voyage secret a Lhassa”.

Em tal obra figuram fotografias diversas – dentre elas, as de dois “lamas”, tomadas ao acaso, mas, a cujas, o engenhoso autor quer fazer passar como sendo do Dalai-Lama e do Teshu-Lama. E outra não é a razão porque esses dois nomes se tornaram corriqueiros na boca de todo mundo – já que muita gente ignora que o Dalai-Lama não se apresenta a estrangeiros e o Teshu-Lama, vivendo em Tjigad-jé (que outros pronunciam Chigat-sé), ou seu Retiro Privado, só é visto por um número relativamente insignificante de pessoas, quase sempre, “lamas” de categoria elevada, que aí vão para consultar e receber ensinamentos, de acordo com a monumental Biblioteca oculta, de que o mesmo é fiel guardião. Existe uma lenda no Tibete, de que, todas as vezes que o Teshu-Lama entra no Templo, vizinho à sua residência, as luzes acendem por si mesmas. Muitas pessoas confundem o verdadeiro Teshu-Lama com uma personagem tibetana chamada Traichi-Lama – tal como se pode constatar, até mesmo, nas acatadas obras a que nos referimos acima.

Acontece, porém, que Mr. Montgomery não é mais do que um segundo tomo do famoso Comandante Dyott, que se dizia explorador em busca do Cel. Fawcett, perdido nas selvas do Brasil, quando não passava de um contratado por certa Cia. Editora de Norte América, para escrever uma novela, onde não faltassem vários encontros com as mais traiçoeiras feras das nossas florestas, e emboscadas, onde o mesmo e os seus ignorantes companheiros, deveriam cair, fatalmente, entre os nossos temíveis selvagens!!!

O nosso Governo devia ser mais exigente em casos tais, porquanto, essas “aves de arribação” que aqui aportam, trazendo ao pescoço um cartão-credencial – rótulo das falsas marcas que conhecemos como “famoso sábio”, “ilustre cientista” americano, inglês ou coisa que o valha – e com que se apresenta hoje em dia qualquer “bicho-careta” que vem ao Brasil, não passam de exploradores, exploradores, sim, dos nossos pobres índios... para que eles lhes apontem lugares ricos em oiro e diamantes, como se estivéssemos, ainda, atravessando os belos tempos coloniais! E para que não “pague o justo pelo pecador”, nada mais simples do que, exigências sobre exigências, pois só assim é possível “separar-se o bom trigo do joio”... sem falar naqueles que aqui são recebidos com honras de príncipes, protegidos e auxiliados pelo governo da União e dos Estados, como por exemplo, toda essa ingrata e criminosa equipe formada pelo argentino Toracis Fusoni, o italiano Sotir Introna, a espanhola Irene Heredia, o chileno José Iturbi, cuja equipe acaba de ser enriquecida com o capitão inglês Morise, cujas grosserias e invencionices contra a nossa civilização não tem qualificativo; do mesmo modo que outra inglêsa que acode com o nome de Miss Rosita Forbes, que se valendo do sexo para com os que se perturbam ou ficam fascinados dentro de qualquer ambiente onde trescale o “odor-femina” – para não dizer, que “se deixam levar pelo canto da sereia” – obteve vários favores das nossas autoridades... excessivamente benévolas para com essa espécie de “contrabandistas intelectuais”, que aqui aportam. 8 Empregamos o termo “Fraternidade Universal” – por ser o comumente usado. Porém, quer científica, quer filosoficamente falando, esse termo é errôneo, porque tal “Fraternidade” não pode ser extensiva ao que não conhecemos, isto é, os outros globos ou mundos de que é formado o Universo, por inteiro. Assim, o verdadeiro termo é “Fraternidade mundial”, humana – o que quiserem – menos, universal! Como sempre, quem está com a razão é a Ciência Esotérica ou Secreta e não, a profana ou oficial!

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em que se consumou o sacrifício mais tremendo de que foi testemunha a criação – o da “queda ou descida dos anjos rebeldes” que ao mundo vieram para dotar os homens de mente, até o dia em que os mesmos – vitoriosos ou redimidos por seus próprios esforços – possam voltar ao Seio donde vieram!...

Diz a Bíblia que, a “Torre de Babel” foi construída pelos filhos de Noé (que nós preferiríamos chamar de Eón), a fim de alcançarem o céu; mas que Deus aniquilou seus esforços, por meio da confusão das línguas, etc. A palavra Babel provém de Bab-el, ou melhor, Bab-ilu, que quer dizer “Porta do Deus Ilu”. Ilu ou Ilus, além de possuir outros sentidos, como lodo, barro, terra primordial das mitologias, provém da palavra grega Hyle, que quer dizer matéria, isto é, a matéria primordial, o Protylo, o Akasha... o que faz subentender aos mais esclarecidos no assunto, que o símbolo da “Torre de Babel” se prende, justamente, às mônadas que desejam atravessar a matéria Akashica – ou melhor, romper os véus da Ilusão em que vivem envolvidas – segundo o que nos ensinam os livros sagrados do Oriente (inclusive o Bhagavad-Gitâ), de que “aquele que ultrapassa o Akasha, é fonte de toda riqueza. É um Keshara – ou o próprio Logos manifestado, isto é, a união de Brahmã, Shiva e Vishnu, etc. ...”

A Igreja incapaz de compreender o verdadeiro sentido da Bíblia – embora ela seja um tesouro valiosíssimo de iniciações para aqueles que sabem interpretar – através da letra que mata, o espírito que vivifica” – por isso mesmo, aceita a “Torre de Babel”, como um fato real ou verdadeiro que teve lugar em outras épocas do mundo. E é assim que tal “confusão” ou “ilusão dos sentidos” em que vivem os homens, não é outra, senão, a do esquecimento de sua estirpe divina (já que “Deuses fomos e nos temos esquecido”, ou como disse Santo Agostinho, “vimos da Divindade e para Ela havemos de ir”...) e, por isso mesmo, ocasiona o egoísmo, o orgulho, a soberba, o ódio e tudo mais quanto está contido nas grandes dores que avassalam o mundo – inclusive quando dá aos homens “pátrias e línguas diferentes”, até que chegue o Dia em que a grande Família espiritual, que se chama Humanidade, houver compreendido a verdadeira razão de ser de sua existência terrena – a começar pelo até hoje indecifrável “problema do sexo” e como tal, se fazendo o mundo uma só Pátria para todos os homens!

Para terminar citaremos as palavras com que o ilustre prefaciador daquela famosa obra a que nos referimos, dá a entender aos povos sul-americanos o papel que lhes compete na atualidade: “O livro de Roerich, que Voce traduziu (referindo-se ao tradutor da mesma), é uma contribuição àquele silencioso esforço espiritual, que hoje realiza o mundo pela solidariedade dos homens na beleza e no bem. Porém, a América do Sul deverá ser um protagonista da Nova Idade, com a sua própria Mensagem e seus próprios Mensageiros”.

E daí o acrescentarmos: Se quiserdes reconhecer uma e outros, buscai-os, por exemplo, na memorável figura de um Roso de Luna – através de tudo quanto de belo e grandioso deixou escrito nas áureas páginas do Livro de sua última existência; como até mesmo, naquele que vos oferece no dia de hoje – como fruto dos seus valiosíssimos esforços, em prol do engrandecimento moral e intelectual da Humanidade – como forma dual da mais pura e elevada espiritualidade – o trabalho literário, que ides ouvir imediatamente. É ele, portanto, um desses poucos Homens que “a tudo souberam renunciar pelo bem de todos”, já que tal frase se coaduna perfeitamente com aquela outra da incomparável Mensageira do Bem e da Verdade, que foi Helena Petrovna Blavatsky: “Aquele que vive para a Humanidade faz muito mais do que aquele que por ela morre”.

Tenho dito.

UMA NOVA HUMANIDADE

Encontrar-se-á com dificuldade uma tema tão debatido, mas no entanto, imensamente valioso, como o do chamado “Ibero-americanismo”. Este tema vive quase

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em todos os lábios, em seus diferentes aspectos e pontos de vista. Cada um de nós – pode-se afirmar – tem uma concepção particular a tal respeito, sem contar a grande quantidade e variedade de iniciativas que, a serviço do mencionado assunto, existe em quase todos os países da América Ibérica, como também, na Espanha e em Portugal.

Do mesmo modo, quanto a uma série de instituições oficiais – mais ou menos protocolares – com o intuito de concorrer para a união em distintos terrenos – dos países americanos. Desde a “UNIÃO PAN-AMERICANA”, dirigida de Washington, até o relativamente local “ABC”, a quantidade de entidades de índole acadêmica, social, literária, etc, etc, existe como um verdadeiro museu de iniciativas, mais ou menos “americanistas”. Na sua maioria, fragmentárias e parciais, todas elas são fundadas em meras concepções particulares e por isso mesmo, se tornam igualmente estéreis. Umas, por excessivamente protocolares; outras, por francamente xenófobas, e finalmente, as simplesmente sentimentais e falhas na base racional.

As iniciativas efetivamente práticas de positiva aproximação entre os países ibero-americanos, permaneceram fora do campo de ação dos governos, embora que existam muitos estadistas de verdadeiro talento, sinceramente desejosos de alcançar tal aproximação. Governantes brasileiros, argentinos, uruguaios e de outros países – sem contar os dos diversos países centro-americanos, etc., se esforçaram por alcançar essa mútua compreensão dos interesses gerais, no ponto de vista econômico. Desgraçadamente, todas essas iniciativas – tão admiráveis e plausíveis, como animadoras de um futuro próximo, se despedaçaram logo contra mesquinhos interesses locais, manejados por capitalistas destituídos de uma mais amplo campo de visão, que constitui a característica de nosso momento, e indiferentes ao interesse do bem-estar coletivo de nossos países. As iniciativas particulares e as acadêmicas (sem prejuízo da utilidade cultural das últimas), se fizeram estéreis desde logo, pelas suas proporções e recursos reduzidos, já pela especialização exclusiva de suas atividades, já por não terem sabido alcançar à alma popular, base única eficaz para o bom resultado de todas as iniciativas.

Um erro capital que se nota desde logo e que torna estéril todo esforço de união entre os países ibero-americanos, é o de se crer que, sobre a base do sistema econômico local – pobre imitação das organizações européias, inadequadas para os nossos países, por múltiplas causas – podemos obter uma harmonização dos interesses econômicos dos diversos países de nosso continente. Essa base, que para nós vem a ser o mesmo que o trabalho de uma criança que, tendo cortado umas quantas flores em um campo, plantando-as depois em outro sítio, julgasse ter arranjado um “jardim”, além de ser mal entendida no nosso meio, possui o grave inconveniente de não ser dependente de nós. Com efeito: para onde quer que volvamos as nossas vistas, verificamos que as mais produtivas e necessárias indústrias, os meios de comunicação e transporte, ou são diretamente ESTRANGEIROS ou financiados por capital estrangeiro, ao que atribuímos resultados “civilizadores”. Assim, em vez de ser para os nossos países tal “civilização” um BENEFÍCIO, se torna uma verdadeira desgraça coletiva, já que esses capitais intervêm, mais ou menos, em nossa constituição e organização nacional, e nos convertem de um modo mais ou menos direto, em escravos dessa civilização, acorrentando nossos países a esse capital, o que não visa nosso bem-estar, mas simplesmente o lucro de outros. A “civilização” que nos proporciona a nossa dependência econômica (que não é a única por desgraça), vem a ser pior do que outra qualquer desgraça: embota os nossos sentidos, aniquila as nossas forças internas, submerge-nos no letargo do isolamento e apaga em nossa consciência a percepção da REALIDADE fundamental na vida de nossas pátrias, que é: a de que, TODAS ESSAS “NAÇÕES IBERO-AMERICANAS são uma só UNIDADE indivisível, por sangue, pela cultura, pelas comuns necessidades e interesses e, sobretudo, PELA MESMA MISSÃO TRANSCENDENTAL que elas possuem no

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desenvolvimento da Humanidade evolucionante: SERVIR DE CRISOL PARA UMA NOVA HUMANIDADE, para uma nova Raça Humana!

Eis aí o novo “evangelho”, que deve ser incutido na consciência dos filhos de países ibero-americanos. Longe de nossos corações os inferiores sentimentos de pueris “xenofobias”. Cada raça, cada ciclo evolutivo, possui a sua missão no desenvolvimento humano coletivo e individual. Índia, Pérsia, Egito, Grécia, Roma, etc., a possuíram e preencheram seus fins, deixando-nos em forma de faculdades assimiladas, as características que tinham por missão desenvolver ou extrair em princípio, havendo herdado, por sua vez, potencialidades já desenvolvidas, de outras raças humanas precedentes, desde idades milenares. Temos assistido a uma crise da mais vigorosa civilização, cujo foco central, ou melhor, inicial, foi a Alemanha, cuja consequência ou término final foi a hecatombe européia, isto é, a “Grande Guerra”. A sucessora dessa civilização é, atualmente, a nação que conhecemos com o nome de “ESTADOS UNIDOS de Norte América”. Sua base ética, os “puritanos” ingleses, amalgamados com alemães, irlandeses, judeus e outras raças ou resíduos raciais, deu lugar à formação de um novo tipo humano, original ética, emotiva e mentalmente, podendo-se mesmo dizer que, até física ou fisionomicamente.

Não falamos por presunções mais ou menos místicas ou míticas, sem que, por isso, queiramos dizer que desprezamos o mito ou os ensinamentos místicos. Porém, a idade dos misticismos, a nosso humilde juízo, já passou; atualmente requerem-se RAZÕES, que se tornem evidentes ao nosso intelecto e compreensíveis ao nosso sentimento. Seria preciso ser verdadeiramente um cego para não ver justificações, potenciais, se o quiserem, quanto ao fato de que, em nossos países se está desenvolvendo um novo tipo humano, novo pelo menos ética e intuitivamente. Volvei as vossas vistas para qualquer filho positivamente culto de um país ibero-americano e perguntai-lhe o que pensa e sente dos demais países de nosso continente. Vereis, na imensa maioria dos casos, uma manifestação de SOLIDARIEDADE, uma ânsia de aproximação cordial, de compreensão afetuosa, de identidade continental, de simpatia interna para com os demais países. E esse sentimento se faz efetivamente vigoroso, quando um país qualquer tem a desgraça de sofrer uma calamidade ou quando se produz um caso perigoso ou de choque entre os membros da comunidade de países americanos.

Onde e quando se viu essa compenetração e expressão espontânea de simpatia coletiva nos países europeus? Se de algum modo fosse possível descrever-se a disposição psico-mental das nações européias; se de algum modo tivéssemos que defini-las, seria dizendo que estão permanentemente de bote armado à espera de uma presa. Esta é a causa principal (as demais, como por exemplo, a pobreza de seus recursos, a necessidade consequente da “expansão”, estreiteza de limites, super-população, etc. ... etc...) que gerou em tais nações a ânsia destruidora, a ponto de que até os seus mais nobres inventos, as mais generosas criações de seu gênio, as prostituíram, em sua nefasta “civilização” (que os nossos países se empenham em imitar servilmente) unilateral, tarada por seculares ódios de “clã”, empregando-as como instrumentos de morte e como meios de destruição. A “grande guerra” é um eloquente exemplo dessa “civilização” desgraçada.

Nossos países, diz-se insistentemente, são no entanto, “jovens”, como se com isso se quisesse coonestar a servil imitação da apodrecida Europa, como se ignorássemos que, é justamente nessa “juventude” onde estão as nossas melhores esperanças para o futuro. É precisamente por serem os nossos países jovens e incipientes, que podemos organizá-los livremente, segundo nossos altos interesses, para servir à nobre missão evolutiva, que o destino apontou a esses bem-aventurados países, verdadeira “terra da promissão”, para a humanidade. Daí, ao invés de se cortar as más ervas de jardins europeus e transplantá-las para aqui, em nosso prejuízo, crendo com isso “transplantar” uma civilização – que de nenhum modo nos convém nem se harmoniza com a nossa

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missão, constituição e necessidades – devemos plantar, ou melhor, construir, NÓS MESMOS, em nossos países, em harmonia, em cooperação cordial e seguindo os naturais impulsos do coração popular, que não tem razões de estar envenenado por nenhuma espécie de ódios, choques, nem exclusivismos.

Não devemos, portanto, ser mais cegos do que aqueles que nos observam de fora, isto é, fora de nossa RAÇA. Somos um imenso crisol no qual se está fundindo uma nova humanidade mais nobre, mais generosa, mais consciente da própria dignidade humana, por isso mesmo que, mais responsável e mais compenetrada do ideal de efetiva FRATERNIDADE, com uma realização mais ampla da aproximação humana. Isso já está demonstrado, podemos dizer, como um fato evidente. Escolhei um cidadão, medianamente culto, de qualquer país ibero-americano e falai-lhe de outro país americano. Vereis que, geralmente, vos falará de tal país como se o tivesse próximo, sem ligar à distância física de suas fronteiras. Na Europa, no entanto, quando falais a um representante de qualquer dos seus países (salvo quando se trate de uma pessoa mui culta ou que tenha viajado: o que acontece apenas com gente rica ou muito pobre), embora que seja limítrofe, tereis a impressão de que lhe falais a respeito da lua. Na América, onde vários países com províncias ou “estados”, cuja extensão é quase sempre maior que mais de uma nação européia, seus habitantes têm, necessariamente, idéias de espaço muito mais amplas do que os europeus. Um argentino de Baía Blanca, por exemplo, fala de Tucuman ou de Mendoza com a mesma naturalidade ou idéia de sua “proximidade”, como se se tratasse de um povo vizinho. Um brasileiro do Rio Grande do Sul fala do Amazonas, Pará ou outro qualquer estado do Norte, com igual naturalidade. Não importa que estejam distantes de sua cidade ou povoação centenas ou milhares de quilômetros. Na Europa, ao contrário, ir de um povo a outro, distante algumas centenas de quilômetros, será preciso ultrapassar as fronteiras do país. A pequenez dos países determina a estreiteza de idéia a respeito das distâncias. Se a isso se acrescenta que, nossos países são todos essencialmente idênticos, tanto em idioma (com exceção do Brasil, onde se fala o português, mas idioma mui próximo do espanhol), como em costumes, em origem e nos demais aspectos vitais, se torna facilmente explicável que, entre nós tudo tende a aproximar-nos, a identificar-nos e irmanar-mos!

Vejamos o que a respeito de nossos países pensam os estadistas de nações não ibero-americanas, embora que se limitem apenas a questões políticas ou econômicas. Em uma recente conferência na Universidade de Illinois (Estados Unidos da América do Norte) o Dr. William Robertson sustentou que é iminente, em um futuro próximo, a formação de uma UNIÃO ECONÔMICA entre as nações ibero-americanas, se bem que a suponha dirigida “contra os Estados Unidos” (Maio, 4 de 1930). Em considerações análogas, professores de direito e estudiosos da envergadura de I. J. Cox, Max Winkler e outros, estudaram a influência na formação das referidas agrupações entre países ibero-americanos que exerce a “Doutrina Monroe” por um lado e a do comércio “yankee” por outro. Pensadores, como Waldo Frank e alguns mais reconheceram e declararam publicamente a infame exploração que exercem os comerciantes usuários de Wall Street sobre a quase totalidade dos países ibero-americanos e do apoio que têm em tal sentido dos poderes públicos norte-americanos. Isso, apenas no que se refere ao aspecto econômico do grande problema ibero-americano. Vozes análogas se fizeram e fazem ouvir com frequência nos diversos centros intelectuais dos Estados Unidos, clamando contra os usuários internacionais entronizados nos Estados Unidos, cuja impiedosa espoliação e intervenção solapada – desavergonhada às vezes – na formação e sustentáculo dos governos “patrióticos” a seu serviço, coloca perante o povo de nossos países em tão ingrata situação, a grande nação do norte.

E esse fato é, precisamente, a base de numerosas instituições e sociedades, francamente hostis à Norte América, pelo menos a “oficial”. Por outro lado, o idioma, a grande diferença psicológica e o enorme orgulho dos norte-americanos, explicam que se

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enraíze, facilmente, no povo a hostilidade de que os mesmos se queixam. E não falemos do que pensam de nós os europeus, já que eles preferem ignorar-nos, a não ser na qualidade de turistas dissipadores e “incultos” (quando não simplesmente “sauvages”). Com isso, os países ibero-americanos se fazem como que “descobertos”, recentemente, quando um viajante, depois de fugaz inspeção – fala de nós quase sempre truncando e falseando tudo que nos diz respeito ou “analisando-nos” com inverossímeis prejuízos, a fim de comover com descrições sensacionais o público de seu país. Ainda mais: para a maioria dos países europeus, só formam os nossos “as Américas”, ignorando os países e sua organização; imaginando-nos na época de tribo, governados por caciques, mais ou menos selvagens ou por ‘generalitos’, aos pacotes, em revoluções tão frequente quão absurdas. Em resumo, nossos países para o europeu, são uma terra em que se faz “facilmente” fortuna, onde todos são “ricos” e apenas são pobres os “escravos”, que se não existem “legalmente”, existem efetivamente. Somente Norte América é conhecida com alguma vantagem, porque os Estados Unidos souberam cerrar entre as suas mãos, a quase totalidade da Europa e são ali os verdadeiros ditadores econômicos, o que ocasiona verdadeiro ódio por parte de muitos.

Contemplemos agora o panorama da complexidade étnica dos povos ibero-americanos. Deliberadamente prescindimos do emprego da palavra “nação”, ao nos referirmos a tais povos, desde que a delimitação das fronteiras políticas entre os mesmos não constitui por si só a existência de uma “nacionalidade”, mas limita apenas a cidadania. E, para nós, em nosso conceito de americanos, essa limitação de cidadania é a mais nociva das práticas copiadas da Europa. Do Rio Grande do Norte (fronteira entre México e Estados Unidos), até a Terra do Fogo, não há mais que cidadãos de uma grande NAÇÃO, constituída por diversos países, com governos autônomos, porém, com os mesmos interesses, necessidades e uma mesma MISSÃO. Com tal premissa, estudaremos agora sua constituição étnica, com relação a nosso postulado de que neles está em gestação um novo tipo humano, isto é, UMA NOVA RAÇA.

Complexidade étnica é igual à complexidade cultural. Recordemos que a rápida vitória dos conquistadores espanhóis e portugueses em Sul e Centro de América, só resultou efetiva na ordem política. Cultural, psicológica e espiritualmente, se iniciou desde a conquista e subsiste até hoje um inextinguível conflito entre as culturas dos conquistadores e dos nativos, sendo o gênio de uns e de outros altamente evoluído. O gênio índio criou civilizações tão assombrosas e estados tão poderosos, como se pode ver ainda nas ruínas mexicanas, guatemaltecas, do Yucatã e outras regiões, como as do Alto Peru, Cuzco, etc., tendo criado impérios e artes como os peruanos, mexicanos e chibchas.

Conflitos culturais dessa natureza duram centenas e milhares de anos, cheios de alternativas. Têm eles por fim uma nova cultura, filha da fusão das anteriores, que segundo nos ensina a nossa História, se bem que esta se encontre em painéis e só abarque um mero instante do desenvolvimento da Humanidade, tem invariavelmente a virtude de sublimar, elevar, enobrecer e embelezar as anteriores culturas em pugna. Os centros iniciais desse conflito foram o México e Peru, cuja cultura era, nos tempos da conquista, uma herança da que floresceu no quase mítico continente “atlante”. Os conquistadores puderam massacrar ou capturar os mais destacados elementos culturais dos índios, porém, não puderam destruir a cultura milenar. Os índios aceitaram – ou pelo menos não resistiram exteriormente – à religião que se lhes impunha a sangue e a fogo, porém, obstinadamente se RECONCENTRARAM EM SI MESMOS, afastando-se dos conquistadores e sua decadência. Depois, veio o negro a complicar mais ainda esse conflito de culturas e raças.

O isolamento que os conquistadores impuseram além das dificuldades materiais já existentes naturalmente (altíssimas montanhas, selvas impenetráveis, desertos imensos, rios enormes, variedades de climas em termo mais extremos, etc., etc.) – aos diversos

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núcleos geográficos conquistados, concorreram para que passassem mais de trezentos anos antes que o necessário e natural processo de absorção e fusão racial e cultural pudesse começar. Os conquistadores quiseram fazer dos núcleos conquistados uma fonte de recursos para sustentar a metrópole, opondo-se ao irremediável dentro de seus meios. O irremediável, no caso de conflitos de cultura, é a formação de um NOVO MUNDO, de uma NOVA HUMANIDADE, ou melhor, de uma NOVA CIVILIZAÇÃO. Quanto à emancipação desses núcleos geográficos, hoje países, ela só pode ter lugar por causa de um fato “fortuito” (?), como dizem os historiadores, consistindo este em que, em 1806 a principal nação colonizadora – Espanha – estava demasiadamente atarefada com os franceses de Napoleão.

Como influência do solo e da fusão efetuada lentamente, ao apresentar-se a oportunidade de sacudir a tirania da metrópole, surgiram – quase de repente – heróis e formadores de países, da envergadura de San Martin, de Bolívar, de Sucre, Rivadavia e outros tantos. Verdade é que, depois da emancipação esses países caíram em um novo caos, onde viveram por mais de cinquenta anos. Assim, na Argentina, temos o caso de que logo depois de Caseros, quando foi vencido Rosas, surgiu um verdadeiro organizador, manifestando-se na pessoa de Domingo Faustino Sarmiento. Isso, quanto ao aspecto político. Vários países ibero-americanos esperam ainda seu Sarmiento organizador, que os coloque no lugar que de direito lhes pertence. Os que acreditam – inspirados na história dos atuais Estados Unidos – que podem organizar-se em países à parte, sofrem um grave erro... As treze colônias estadunidenses formavam um conjunto homogêneo, sem conflitos culturais nem étnicos, já educados praticamente na organização do estado. Nossos países, ao contrário, ao surgir a teórica maturidade da república, em forma repentina (pois que, tanto Espanha como Portugal, não admitia nem suspeitava que em suas “colônias” se pudesse formar um novo mundo, nem tolerava que este pudesse gestar-se – fazia o possível por ter separadas suas colônias e impedia a comunicação entre elas) se viram presos a múltiplos problemas que antes não “existiam” e que requeriam de seus filhos uma disciplina política – em aparência incompatível com seus desejos de independência, inerentes ao índio ou crioulo, ambos individualistas. Esse anelo foi o primeiro resultado psicológico da fusão racial operada no novo mundo.

A Humanidade do presente, segundo o evidencia até a mais superficial observação, está passando por uma etapa de crise. Uma crise profundíssima, de que a econômica – cuja agudeza é a que mais afeta os nossos sentidos – é apenas um simples detalhe, e por certo, não o de maior importância. A crise econômica poderia ser resolvida com relativa facilidade, se se pusesse nela apenas um pouco de boa vontade humana. Porém, as crises de cultura, as quebras dos valores morais, que têm lugar inevitavelmente ao chegarem ao seu ocaso a consequente “civilização”, como ocorre em nossa época, não podem remediar-se. Acontece-lhes o mesmo que ao corpo humano, chegado à senilidade. Possui, mais ou menos, em bom estado físico, os diversos órgãos, porém estes perderam sua pujança e sua eficiência, embora que subsista a vontade que os dinamizou até então.

Igual fenômeno observamos em nosso atual mundo, no relativo à cultura. O lucro, a desmedida ambição e a vaidade sacrificaram a seu serviço as faculdades e características mais nobres da natureza humana. As velhas e tradicionais normas éticas do “cristianismo” relaxaram-se ao extremo; seus clérigos se corromperam. A hipocrisia e a ignorância progressiva – à medida que se iam afastando da luminosa fonte de sua origem – foram fabricando dogmas cada vez mais absurdos e o sectarismo fanático foi substituindo paulatina, porém, vigorosamente, a verdadeira e pura fé. O temor ao castigo, um dos postulados éticos do cristianismo externo, relaxou-se e deixou de preencher a sua função de freio às paixões desregradas. A divulgação científica e a ineficácia da prédica (em conflito com a prática dos pregadores, avarentos servidores de mentiras, cada vez

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mais evidentes), fizeram estremecer, por sua vez, a única esperança, condenada à “struggle for life” (luta pela vida”, ou seja, a do prêmio “celeste”.

Quando um grupo particular da humanidade chega a essa etapa, é porque a morte de sua “cultura” se aproxima. Recordai o caso do Egito, da Grécia, de Roma, etc. Esses centros de formidável cultura, antes do desaparecimento de seus poderosos impérios, haviam caído na depravação e relaxação. Quanto a Roma, recordemos que foram os “bárbaros” de Breno que, depois de terem destruído a cultura e a civilização romana, herdaram realmente a missão desenvolver a que hoje constitui ainda nosso patrimônio.

Fato análogo está começando agora a produzir-se. Por toda parte vemos que fracassam os recursos da atual civilização. Vede, por exemplo, o fracasso das associações de poderosos, que só acertam justificar as iniquidades de outros poderosos. Vede a hipocrisia em todas as suas atitudes da famosa “Liga das Nações”. Vede que, enquanto se clama em altas vozes as palavras “direito”, “democracia”, “fraternidade” e outras não menos belas, o que realmente ocorre; o mais forte explora e esmaga o mais fraco, e hoje mais do que nunca, prevalece o lema dos homens: o “Vae victis”. (Ai dos vencidos!) de Breno. Estamos vivendo, precisamente, um momento em que esse fato tem a sua objetivação prática, quer no Oriente, quer nas sessões de Genebra, os dois focos capitais da nefasta civilização atual, em seus resultados: em um, triunfa a violência, no outro, a hipocrisia.

O estado de caos, caracteriza nosso momento humano, manifestando-se em todas as esferas e atividades da vida. A evolução não é resultado das atividades de um laboratório, mas o modelo ou cópia da assimilação individual e coletiva, através de extensos períodos – a “história” – da eterna verdade de que o “HOMEM” é potencialmente “Deus” em evolução, onde transforma a sua natureza “latente” em PODERES patentes e ativos (na Manifestação), mediante os quais submete aos meios ou formas, nas que se expressa, para elaborar assim a sua felicidade, atributo inerente à sua natureza. Cada um desses atributos ou poderes – que para se desenvolver, requer na manifestação, um “longo período” – caracteriza aquilo que no nível humano chamamos “civilização”, constituindo um tipo humano original, adequado à necessidade de expressão, objetivação e assimilação desse “poder” particular. Tal processo é mui lento para os nossos pobres sentidos e insignificância do registro de nossa “história”, abarcando infinitos graus e aspectos, isto é, humanidade e seus tipos. A cada poder novo, corresponde um tipo humano novo, o qual desenvolve a civilização correspondente, caracterizada pela índole desse poder. Assim, Egito, por exemplo, desenvolveu a arquitetura e a ciência; Grécia, a Beleza; Roma, a Ordem; e, finalmente, nossa época, a mente analítica. Citamos apenas fatos isolados e relativamente recentes, que podem ser investigados.

Não é nosso propósito querermos passar por “profetas”. Porém, observando os fatos e deduzindo deles os ensinamentos que apresentam, podemos dizer que a nova humanidade deve desenvolver uma civilização, cujo objeto ou atributo patente há de ser a “Organização”. Uma visão sobre a presente humanidade nos demonstra que em matéria de organização, seja social, política, econômica, filosófica ou científica, a humanidade está em situação verdadeiramente caótica. Esse fato é tão objetivo e evidente que nem sequer exige uma demonstração. O desequilíbrio é geral em todas as esferas: cria os exclusivismos locais e fomenta os isolamentos hostis (o afã de impor-se cada homem e grupo ao mais débil). Separações irredutíveis, baseadas na violência, em permanente estado de “guerra”, seja surda e solapada ou manifesta, o fato é que, tanto individual como coletivamente, os homens vivem uns contra os outros. Os países enfrentando-se em atitude hostil, destilam quando não, o ódio, a desconfiança mútua. Guia-lhes, segundo afirmam, (e quiçá também pensam e sentem) o interesse de seus respectivos cidadãos, inspirando-se para a sua conduta, no velho aforismo romano de que “os governos têm por missão o bem-estar de seus povos”; esquecendo-se que acima dos povos ou países isolados, está a HUMANIDADE!

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É evidente que a Humanidade está em crise e atravessa um período de transição, de uma civilização velha, cristalizada e caduca, para uma civilização nova, enobrecida por princípios novos e mais generosos, menos mesquinhos que os que constituíam a ética da moribunda. A presente Humanidade carece ainda da “Política científica”, ao menos no que diz respeito aos nossos países ibero-americanos, que são a esperança da Humanidade e nos quais, segundo todos os indícios, se desenvolverá o centro principal da nova civilização. Em seu seio se está elaborando uma nova orientação política, fundamentalmente distinta das políticas “científicas” que oprimem a numerosos países do velho e novo continente. Desde o arcaico sistema teocrático (tão grato a certa classe de “governantes”), até o sistema “democrático”, recente, todos os regimes políticos só causaram à Humanidade, dores e angústias como “escolas” ou sistemas, pois no fundo, todos os sistemas de governo são essencialmente bons e sua variedade só corresponde à natureza particular do núcleo humano por eles governados. Certamente, a humanidade não tolera, nem o homem permite que se lhe arrebatem as conquistas que realizou e a “democracia” é uma das mais fundamentais que ele fez na evolução.

Vemos, entretanto, que a “democracia”, em nosso tempo, é simplesmente uma aspiração. A política eleitoral em nossos países, se desenvolve apenas no meio de um interesse artificial (no que diz respeito ao POVO), pré-eleitoral, sendo a indiferença e até certa “repulsa” dos políticos em geral, a disposição habitual do povo. A DEMOCRACIA, para ser tal, requer de cada indivíduo uma ampla noção de sua RESPONSABILIDADE coletiva; como também, de cada cidadão uma clara compreensão do lugar que ocupa entre seus concidadãos e que esteja inspirado para com eles da mais pura manifestação de AMOR, que é a COOPERAÇÃO ao bem-estar comum. A indiferença pelo bem-estar coletivo é uma heresia da democracia, um verdadeiro crime de lesa-patriotismo, uma espécie de suicídio indireto do indiferente, enganado pela crença de que ele não sofre. Essa indiferença é o resultado da miopia social, que deve ser remediado nas escolas. Outro erro, não menos grave, é o isolamento em que pretendem empenhar-se em ficar os diversos países americanos, embora que, por outro lado, falem de “união” e “confraternidade”.

O atual fenômeno da “indiferença” é transitório e, em grande parte, atribuível à mescla de sangue nos países imigratórios e ao retraimento de grandes núcleos nativos, em outros, por causas óbvias, já acima analisadas: o conflito de culturas e a aparente peleja entre o índio e o “crioulo”. Porém, o “perigo” da mescla de sangue é um prejuízo romântico, sem nenhuma base real. É já conhecido o fenômeno da absorção e assimilação por nossos países, dos diversos elementos étnicos neles radicados. Esse poder de assimilação é uma das razões objetivas que justificam o postulado da nova humanidade. O necessário conflito de culturas, resultado da mescla de sangue, é precisamente o germe da nova cultura. As perturbações que existem, enquanto esse conflito se resolve, nada provam em contrário. Tal situação concorre para que se entorpeça a energia e se produzam choques bruscos, por lhe faltar um canal estável, que lhe permita fluir e manifestar-se harmonicamente. Pode estimular a melancolia e a resultante sensualidade, tanto no indivíduo, como na coletividade, quando está desorganizada ou neurótica. E, em certo ponto, nessa situação se acham quase todos os nossos países.

Está-se formando, repito, em nossos países, um novo tipo humano. Para se concentrar e expressar, só lhe falta um corpo coletivo capaz de fundi-lo em uma entidade. Já a atual população dos países ibero-americanos possui sobre outras uma imensa superioridade, sob o ponto de vista estético, culturalmente emotivo e ideológico. A descoberta não é nossa, se bem que o confirmemos; já o fizeram outros pensadores mais autorizados, que a nossa humilde pessoa. Por enquanto, podemos afirmar que até o mais baixo índio mexicano possui em seu imo uma profunda sensibilidade e capacidade de organização. Que viva em uma choça e que morra a metade de seus filhos, não é uma

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prova em contrário: em sua concepção dos valores da vida não entra o aparato dos castigos nem os problemas da morte. Em troca, está profundamente integrado no sentido de sua pessoa como FATOR DENTRO DE SUA COMUNIDADE. Nisso se estriba o aparente mistério de que produzam os milhares de índios uma arte plástica, de insuperável beleza, que só podem reproduzir, aproximadamente, mui poucos homens privilegiados de outras raças, verdadeiros gênios. Há perto de vinte anos, o gênio índio produziu no México a maior escola de pintura, sem exceção alguma e o maior ressurgimento dos grêmios de artesãos populares de nossa época.

Observadores superficiais, que não penetraram a fundo a nossa alma incipiente de ibero-americanos, nos atribuem uma inferioridade de organização, em relação aos países e civilizações velhas, sob o ponto de vista dos progressos urbanos e organismos sociológicos, como por exemplo, nos Estados Unidos, que se empenham em figurar como superiores a nós. Contudo, podemos dizer que essa pretensa inferioridade é, precisamente, a nossa melhor garantia de um futuro venturoso, já que ela está baseada no intenso individualismo, inerente aos iberos e aos índios, se bem que esses estivessem organizados profundamente para fins coletivos, mas não, sobre a base da escravidão individual, como ocorria na Europa. Antes de serem importados pelos europeus, os escravos e a escravidão eram desconhecidos na América. Se existe certa “inferioridade” na ordem política em alguns de nossos países, forma a alma nova da nova Humanidade. Podemos dizer que se “fracassa” em nossos países o sistema do republicanismo parlamentar, fracassou pior ainda nos Estados Unidos (por exemplo), justamente a consequência de seu “êxito”. Esse sistema revelou-se ali de um modo rasteiro, incapaz, totalmente, de exprimir a alma coletiva de um povo, seu espírito e suas emoções, tal como declararam, sentidamente seus pensadores, como Walt Whitman, Waldo Frank e outros de não menos valor.

Vejamos agora qual é, segundo as premissas derivantes da análise precedente, o próximo estado de nossos países. Corresponde examinar aqui o fator econômico em sua influência sobre esse estado. É sabido que os capitais estrangeiros, entre os quais predominam os estadunidenses e os ingleses (a mesma mentalidade e idiossincrasia no fundo) são os que exploram – quase que exclusivamente em seu benefício – a imensa maioria das riquezas e recursos naturais de nossos países, a tal extremo que, vários deles não são mais do que feitorias (aparentemente “autônomas” na ordem política, porém, com governos muitas vezes “postos” pelos referidos capitais ou sustentados por eles) dos grandes “trusts”. Essa situação detém e paralisa o natural processo de formação da alma ibero-americana; atiça uns contra os outros, ou, na maioria dos casos, fomenta e mantém por todos os meios, a separação e isolamento entre os mesmos. Por aparente paradoxo, mantêm e fomentam, em troca, os diversos meios de aproximação entre si, como por exemplo, os serviços de comunicação marítima, ferroviária e aérea, visando, certamente , muito mais “seu” benefício do que o “nosso”, embora que, de todos os modos nos aproxime.

Os próprios pensadores e estadistas estadunidenses reconhecem que o seu comércio conosco está longe, não só, de criar boas relações, como também, de facilitar, sequer, a compreensão entre os Estados Unidos e os nossos países. O alto comércio entre os grandes países capitalistas e as pequenas nações devedoras (à força dos insidiosos empréstimos), por mais que se trate de dissimular, é uma exploração destas últimas. E tal exploração efetua-se mais livremente quando se não vê, nem sente o explorado, desaparecendo todo o escrúpulo, já que a percepção da dor alheia acaba por comover. Não interessa neste momento tirar conclusões de tal situação, a respeito das relações entre os nossos países com os dos grandes capitalistas. Devemos observar e estudar NOSSO problema.

Devemos apenas apontar diversos fatos aparentemente desconexos e isolados, mas que são uma revelação. São eles, por exemplo, as frequentes visitas de intelectuais

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dos países ibero-americanos entre si; o intercâmbio já iniciado, dentro de certos limites, do pessoal docente de suas Universidades. Desde o México a Havana até Buenos Aires e Córdoba, as Universidades se animam com o novo espírito, propício à Organização ibero-americana, esforçando-se por transformar, organizar e unificar os nossos países, imprimindo-lhes uma direção que os faça capazes da sublime missão que possuem. Pouco a pouco vão surgindo iniciativas, em distintas esferas, tendentes a formar um conjunto de países, que seja apto para exprimir o gênio complexo e infinito de seus povos, os quais constituem uma escala múltipla, porém harmônica. Seus inesgotáveis recursos e toda a imensa riqueza de valores e de energias, estão destinados ao serviço da nova Humanidade, que não só se apresenta desde já, como também, que seus primeiros albores já são observados sem grande dificuldade, através do aparente caos. Esta nova “religião” ibero-americana, esta noção da unidade de seus países, possui já seus patriotas, seus apóstolos, seus santos e seus mártires. Por enquanto, está aparentemente limitada aos círculos intelectuais e universitários; porém, vão surgindo também, no próprio seio do povo, no sentido mais rigoroso da palavra, diversas iniciativas tendentes à união ibero-americana, tomando talvez aspectos mais concretos e definidos que os daquelas.

Nesse sentido se acham instituições originadas em ambientes tão modestos, como por exemplo, a “Sociedade Autosofica”, nascida entre os mais humildes elementos do povo argentino, ou a “Sociedade Teosófica Brasileira” que, não obstante seus títulos, possuem por missão essencial o serviço da nova Humanidade, em que não somente “crêem”, como também a “vêem” e se constituíram em vanguarda solidária da mesma, como núcleos iniciais. Enquanto as outras iniciativas se limitam ao aspecto econômico e universitário, as duas mencionadas Associações se dedicam também a elaborar a nova Humanidade, elementos éticos adequados às suas necessidades espirituais, baseados na razão.

De que o povo ibero-americano presente essa unidade íntima de nossos países, o prova, sem ser preciso ir mais longe, a reação geral ante qualquer calamidade que açoite a qualquer deles, seja de ordem natural ou proveniente da violência militar ou naval. Igual reação se nota quando dois membros dessa comunidade (ibero-americana) qualquer que seja a sua condição ou extensão, estão em perigo de perder a serenidade e por mesquinhos interesses locais na iminência de se agredirem, o que é considerado como uma verdadeira iniquidade entre irmãos.

A tarefa mais urgente a empreender, é incutir na consciência dos nascidos nos países ibero-americanos, a noção de sua unidade, de seus altíssimos destinos e sanear dos obstáculos acumulados pelos prejuízos, o caminho que conduz à constituição da CONFEDERAÇÃO IBERO-AMERICANA, que será o órgão expressivo do gênio cultural da nova Humanidade! Na Confederação está a garantia, graças aos recursos infinitos e às riquezas inesgotáveis de nossos países, que devem servir para este fim e não para benefício de nossos atuais exploradores. Todos estamos obrigados, por motivos de solidariedade ineludível, a procurar a efetiva libertação de nossos países, sua integral independência, a intensificação da cooperação mútua entre os mesmos. Para tal objeto devemos elaborar nossos próprios recursos, transformá-los em nosso bem-estar e torná-los úteis ao serviço da alta missão evolutiva que possuímos como crisol, na qual se está fundindo a nova Humanidade.

Nossa meta mais imediata, deve ser uma efetiva e estreita união aduaneira. Já diversos estadistas ibero-americanos sugeriram essa necessidade, para salvar os nossos países da ruína, em que os vão colocando os grandes “trusts”, cujos capitais os põem em situação de “pagar os cacos dos pratos” de seus desfalecimentos aos países esgotados pela Grande Guerra. Comecemos nossa missão civilizadora por organizar nossos recursos e nossa economia. A base dessa organização deve ser, como sustentamos em nossos Manifestos, o Livre-Câmbio entre todos os países ibero-americanos e uma aduana

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comum e uniforme para o exterior. Não há perigo de que abarrotemos os nossos depósitos: Europa será obrigada a comprar-nos, porquanto, não poderá prescindir dos nossos produtos, que são de primeira necessidade para ela ou matéria prima para suas indústrias. Fomentemos estas depois em nossos países, para nos tornarmos independentes das estrangeiras. Aprendamos a abastecer-nos a nós mesmos. Nisso está o segredo de nossa integral independência. Organizemos o crédito interno entre nós; façamo-lo digno de nossa confiança e eliminemos os empréstimos, cujos anteriores nos devemos apressar em cancelar, embora com qualquer sacrifício. Expropriemos, multipliquemos e reduzamos ao mínimo suas tarifas, os meios de comunicação e transporte entre os nossos países. Apliquemos à criação de nosso livre e pleno bem-estar nossas mais nobres iniciativas e recursos. Assim serviremos à sublime missão que os nossos países possuem na evolução humana! Abandonemos a especulação política, mística ou econômica dos moldes atuais; consagremo-nos à AÇÃO verdadeiramente americana, à realização do bem entendido IDEAL AMERICANO. Conheçamo-nos e amemo-nos como irmãos, pois o somos em realidade. Esse é o Auto-conhecimento coletivo, esta é a verdadeira AUTOSOFIA americana.

Maio de 1932.

Santiago Kohler

MSTB

Presidente da “Sociedade Autosofica”

A MINHA MENSAGEM AO MUNDO ESPIRITUALISTA

Quinta, sexta e sétima partes

––––––

ESPIRITISMO, OCULTISMO, TEOSOFIA E MAÇONARIA

––––––

A “MAYA-BUDHISTA” E A “RELATIVIDADE”

II

Antes de abordarmos o assunto que prometemos na anotação 1ª desta parte de nossa Mensagem, ou seja, quando nos propusemos a demonstrar Quem, como e porque se procurou ressuscitar de um passado já morto da Humanidade, aquilo que hoje se conhece com o nome de Espiritismo, tomamos como dever preparar o mental de quantos se interessam pelas nossas humildes palavras, por meio de um estudo – embora sintético – das várias etapas percorridas pela mesma (Humanidade) pois só assim se poderá compreender os motivos que nos levaram a soerguer o denso véu que encobre há tanto tempo um assunto tão transcendente – embora que, fartamente discutido, mas quase nada esclarecido – principalmente sob o novo aspecto que lhe queremos dar por meio da seguinte pergunta: Tendo a Humanidade vencido – na sua longa ascensão para o Divino – o estado de consciência em que se acha atualmente – pouco importa se longe ainda do término de experiências por que tem de passar até a sua completa redenção – é admissível que a mesma continue agindo segundo os graus de consciência alcançados

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em épocas remotíssimas de sua História – embora que todos eles afins ou harmônicos com a infância de sua vida? 9

9 O próximo Capítulo desta Mensagem será um estudo teosófico sobre as raças anteriores, com citações dos mais afamados

escritores, sobre a Atlântida ou o último Continente desaparecido, como um preparo mental para os leitores desta revista poderem ajuizar da resposta que vamos dar à nossa própria pergunta feita no presente Capítulo.

No entanto, o que hoje apresentamos já é material bastante para um perfeita concepção daquele e outros estudos futuros – sem falar nas anotações como comentários às fotografias da “Montanha Sagrada”, do mesmo modo, publicadas no presente número.

E por falarmos na “Montanha Sagrada”, não podemos deixar de aproveitar a ocasião para instruir – tanto quanto nos permite o pouco que sabemos – a algumas pessoas que, tendo recebido o número anterior desta revista, ousaram criticar o termo “sagrado”, que demos a um lugar para nós merecedor de outro (termo) mais valioso ainda, se é que ele existe.

Culpado, porém, foi aquele que transgredindo ordens superiores de “só ser a mesma (revista) distribuída entre pessoas e Associações de “elite”, ou melhor, relativamente em condições de compreender o que nela se divulga, o fez – em ânsias fraternais de auxiliar o próximo – esquecendo, ainda, aquele mui apropriado dito, que se atribui ao Nazareno, de que “não deveis atirar pérolas aos porcos” – embora que fosse o mesmo que ensinou por meio de símbolos e parábolas – tal como o fizeram os demais – porquanto tais símbolos e parábolas não são mais do que “mayas-budhistas” e “relatividades” com que se iniciam os homens – aquela (parábola) do “Bom Semeador”, maravilhosamente aplicada no caso da S. T. B., segundo o seu lema de “Spes messis in semine” ou “a Esperança da colheita reside na semente”. Sim, porque se contarão aos milhares as sementes que não germinarão, “caindo em terreno árido”, mas algumas (pouco importa o número), das que caindo em terreno fértil, germinarão e darão bons frutos no futuro!... E era por isso que um Ramakrishna, por exemplo, dizia: “Nascerei tantas vezes quantas forem necessárias para salvar um só homem que seja!...”

Assim é que fomos taxados de “malucos e fanáticos”, sem que os nossos amáveis juízes tivessem se dado ao trabalho de lançar os olhos para a capa interna desta revista onde se trata do Programa e meios de ação da S. T. B. – principalmente quando se fala no “combate intensivo ao analfabetismo, aos vícios e maus costumes sociais, à superstição, ao fanatismo, à mentira e ao erro – pouco importa a maneira pela qual se manifestem”... desde que são os maiores obstáculos à evolução humana – embora saibamos “que a Natureza não dá saltos”, mas a própria Lei que a rege exige que alguns Homens mais distanciados da maioria (não nos referimos à nossa humilde pessoa, mas àqueles a quem servimos!...) apontem as dificuldades da Vereda da Vida... mesmo porque, todas as coisas necessitam de ter o seu começo, a fim de marcharem, normalmente ou não, segundo as “mayas-budhistas e relatividades” naturais ao mundo da objetividade. Assim aconteceu com a Verdade impulsionada pelo Planetário no “começo da Ronda” – Verdade que se apresenta com várias modalidades em tudo quanto existe na face da terra, como já tivemos ocasião de dizer, e... que, para voltar à sua prístina integridade, exige que nós e outros muitos, nos sujeitemos a toda espécie de sofrimentos – inclusive passarmos como “fanáticos e malucos” pelos que possuem a Verdade fragmentada e com o potencial de 3 ou 4, por isso mesmo, sem a relatividade necessária para os que A possuem como potencial 7, por exemplo, pouco importa se longe ainda da Verdade por inteiro ou na sua original pureza!

E foi por esse motivo que, embora com ar de gracejo, mas com muita propriedade, Einstein – o descobridor da Relatividade – proferiu: “Não se pode conceber relatividade em um cérebro grande com inteligência curta”. E como exemplo, poderíamos citar o nosso incomparável Rui Barbosa, cuja cabeça era relativa à sua formidável potência mental! Baiano, como nós, mas sem a devida relatividade entre as duas capacidades intelectuais, porquanto era incomensurável a distância que separava uma da outra.

No entanto, não nos aflige a falta de relatividade entre a nossa cabeça e o que podemos produzir de valioso para o mundo, porquanto, ambas as coisas são pequenas: cabeça e valores intelectuais!

Voltando à nossa condição de “Réu” (confesso) perante um tão provecto Tribunal, por estarmos incurso no “Art. 777 do Código do Manu” da Sétima sub-raça, ou seja, o que só permite falar-se em “Montanhas Sagradas” e outras coisas mais, diante de pessoas que não estejam, por sua vez, incursas no “Art. 666 do Código das velhas Raças que se foram”... – dizemos que, muito mais “malucos e fanáticos” seríamos, se houvéssemos publicado e comentado certas fotografias da referida Montanha, pois aí, sim, estaríamos sujeitos à “pena máxima”, ou de morte – embora que, naturalíssima – tal como tem acontecido com outros Seres muito mais evoluídos do que nós – por se terem excedido nas suas revelações ao mundo profano.

E assim, na opinião de nossos ilustres e severos juizes, todas as “Montanhas Sagradas” ou iniciáticas, de que falam os antigos códices, como: Monte Sinai, Monte Gólgota, Tabor, Meru, Al-Bordi e dezenas outras, não têm direito ao subtítulo de “sagrada” – do mesmo modo que não deveriam ter o Pavilhão nacional, quando em forma poética e do mais acrisolado civismo (aparte as estúpidas idéias “xenófobas”, como contrárias ao mais belo dos ideais – a Fraternidade Humana) se diz “o sagrado Pavilhão de nossa Pátria”; ou até mesmo quando nós outros da S. T. B., referindo-nos ao papel grandioso que cabe ao Brasil (juntamente com as demais nações sul-americanas), dizemos: “O Brasil, cujo nome simbólico, define perfeitamente o seu papel maravilhoso de conservador do ‘Fogo Sagrado’, etc.”.

Para o mais exigente desses nossos amáveis Juizes, são apenas sagrados os “santos de sua Igreja” – embora que o seu tão apregoado Jesus houvesse proibido “a adoração de ídolos!”. Sagrada era ainda a Santa Inquisição, até mesmo quando queimava nas suas fogueiras armadas em praça pública, os que não concordavam com tão fantástica ou “mayavica” santidade! Sagradas, ainda, as larvas astrais, cascões ou almas dos defuntos (kama-rupas: veículos de desejos e paixões), que se apresentam nas sessões de Animismo que o mesmo frequenta – já que se trata de um “anfíbio espiritualista” (perdoem-nos o termo), ou “uma nau temerosa de mau tempo” que se serve de duas amarras: Catolicismo e Espiritismo!...

Não é possível fazermos – numa simples anotação – um estudo desenvolvido sobre a palavra “louco”. Diremos, apenas, que a mesma provém do termo sânscrito “loka”, que quer dizer, “lugar” – já que a loucura não é mais do que um estado de consciência relativo a determinado lugar ou plano em que se colocou o indivíduo. Por isso mesmo, aquilo que é uma realidade para quem esteja nesse grau de consciência, se torna confuso, incompreensível ou ilusório para os que vivem noutro lugar ou plano. Com isso, mais uma vez se prova “a lei da relatividade” e, até mesmo, da “maya-budhista”.

No entanto, louco, chamava-se a si mesmo São Paulo; loucos, têm sido para os homens vulgares, todos os grandes Iniciados que a este mundo vieram; loucos, foram Galileu, Newton, Beethoven, Wagner e outros tantos gênios, que apresentavam pela primeira vez, coisas que o mundo não conhecia, mas logo depois as adotava como belas e necessárias; loucos, são ainda os que falam de Montanhas Sagradas, de Mahatmas, gênios ou “jinas” – como Seres de uma “Hierarquia oculta” – e outras coisas mais, que a Humanidade, na sua ignorância crassa, ousa contestar e até ridicularizar... como se alguma vez na vida tivesse empregado as suas atividades mentais na solução de tão transcendentes problemas – porque, do mesmo modo, são loucos os que se acham em lugares tão elevados que as mentalidades vulgares não os podem atingir...

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Trata-se de uma questão dentro da “lei da relatividade”, porquanto, não se pode admitir que o estado de consciência humano seja igual ao de épocas que a própria História está longe de conhecer; do mesmo modo que, na vida de cada indivíduo (a menos que se trate de um degenerado psíquico e fisiológico), ninguém pode julgar os seus atos de hoje por aqueles que o mesmo praticava há anos atrás, e muitas vezes, no dia anterior. Tal como as células orgânicas, o homem evolui ou se transforma a cada instante de sua vida. E como um exemplo entre muitos, citamos o que diz respeito à nossa promessa de há noventa dias atrás, que hoje, em outras condições mentais – pouco importa se relativamente inferiores às de outros Homens mais evoluídos – ousamos contrariá-la ou modificá-la, na expectativa de podermos fazer algo de mais proveitoso em prol dos que não encontrando, de momento, algo de mais valioso, buscam agasalhar-se à sombra de tão pequena quão mirrada árvore, como é a nossa.

Maluco, é provável que sejamos; mas, “mentecapto”, nunca! Porque “maluco” é uma corruptela dos dois termos “mau” e “louco”, ou mesmo, “mal” e “louco”, o que importa dizer que não somos bem ou muito loucos, mas sim, pouco loucos. Bastante ou bem louco, nesse caso, só poderia ser quem se arvora em juiz de coisas que não conhece!!!

É o mesmo fato que se dá quando alguém, falando de uma casa assombrada, prefere chamá-la de “mal assombrada”; assim sendo, ninguém deveria temê-la – já que ela não é bem ou muito assombrada!...

Toda e qualquer pessoa que dê a outra os títulos de “maluca”, “fanática” e outras coisas mais, pelo simples fato de chamar a uma “Montanha” de sagrada, dá direito a que se lhe devolva tais títulos, por serem exclusividade sua. Vê-se, no caso vertente – onde se conta o milagre sem apontar o santo ou santos... (da corte terrestre) que se trata de pessoas ignorantíssimas em matéria oculta, ou melhor, em Simbologia Arcaica e... ao mesmo tempo, sem nenhuma vigilância dos sentidos. Senão, por que razão admite chamar-se de “lar sagrado” – ao seu, por exemplo? Do mesmo modo, quando um dos seus credos (a face católica e não, a espírita) usa os termos “sacra ou Sagrada Família”, em referência à trindade mítica Jesus-Maria-José (da qual nos vamos ocupar num dos futuros Capítulos desta Mensagem); da “santa eucaristia” (copiada do Santo Graal, pela sua Igreja), ou quando em forma poética se diz “os sagrados laços do matrimônio” e a tudo mais quanto se considera como são, santo ou perfeito?

Por que razão, ainda, a sacra mentalidade de nosso queridíssimo irmão (não em tom pejorativo, mas porque de fato o é, quer queira ou não) , não critica a Medicina quando chama de “região sacra”, àquela que corresponde ao “osso sacro”, colocado na parte inferior da coluna vertebral e que se articula com os ossos ilíacos, para formar a bacia? E que outra não é, senão, a que simboliza o sacrossanto mistério da criação dos seres – mas que, desgraçadamente, deixou de ser “sacra” para ser motivo de gozo ou prazer por parte dos degenerados psíquicos de todos os séculos – desde que a Humanidade se separou em sexos?

Muito pior, ainda... os que abusam de tal região por meio de vícios contra a Natureza, cuja consequência funesta – na maioria dos casos – é a que faz os “mentecaptos” (mens-capta)... que por aí existem, pelo fato, justamente, do abuso de tal região que, em sentido oculto, se acha vis-a-vis ao centro de força (chacra) colocado no frontal – já que, pela “lei de relatividade” ou da célebre fórmula hermética de que “o que está embaixo é igual ao que está em cima” – ocasionar o enfraquecimento do superior e daí... a loucura!...

No número anterior desta revista explicamos o verdadeiro sentido do termo “mentecapto”, que aliás possui um duplo sentido – como tudo na vida (exotérico e esotérico), ou seja, de “mente captada” por alguma coisa e “mente que abandona o indivíduo aos seus impulsos... passionais, psíquicos, etc., etc.

Nas escrituras teosóficas encontra-se a cada passo, “a luta entre o Eu e o Não-Eu”, ou melhor, entre a Alma humana e a Alma Divina. Como nenhum outro autor, explica muito bem o caso – na sua incomparável linguagem – o imortal Roso de Luna: “A Besta vive em sua carne; o Pensador, em seu Pensamento e o angélico Augoeides, em supremas esferas, onde tudo é amor, harmonia, verdade e ordem, e tudo mais quanto por divino reputamos aqui embaixo, já que o Homem, com maiúscula, é de divina estirpe, segundo Pitágoras, Davi e demais Iniciados nos místicos segredos dos céus e da terra”.

A luta entre os gladiadores romanos, por nossa vez, dizemos – tal como as toiradas e outras coisas mais que ainda se fazem nesta mísera terra... – nada mais é do que uma reminiscência das provas iniciáticas da velha Atlântida. Um dos lutadores trazia uma rede (lembrai-vos do que se disse a respeito da rede, tela ou teia de Maia por tecer e recoser de novo...), com a qual procurava, a todo custo, colher ou captar, o adversário. Ao lograr o seu intento, punha a espada na garganta daquele que tinha sido colhido na rede (de Maia, a ilusão dos sentidos) e esperava atento o sinal do César (simbólico de Karma) para decepá-la de um só golpe. Enquanto isso, a assistência gritava: “O peixinho foi colhido na rede; dá-lhe o castigo que merece”!... Esse termo “peixinho na rede” se relaciona com o signo de Júpiter (Piscis ou Peixes), cujo verdadeiro sentido é-nos vedado revelar de público!...

Assim é que, o gladiador vitorioso simboliza o Mental Superior, e o vencido, o Mental Inferior... colhido nas bem tecidas malhas (ou mayas) da rede de Maia!... Razão porque o verdadeiro sentido oculto de “mentecapto” (mens-capta) seja, de que o indivíduo foi colhido ou vencido pelo Mental, por ter justamente preferido as coisas de um mundo ou estado de consciência inferior àquele: o Astral ou mundo das ilusões dos sentidos. E uma das razões... por que somos forçados a bater na mesma tecla sempre – embora que isso desagrade a muita gente... mas a quem lembramos que ninguém procura sofrimentos pelas suas próprias mãos!... Por isso mesmo, “muito mais difícil é julgar do que ser julgado”. Acontece que o sofrimento é muito maior para quem tem de apontar o erro... do que mesmo para quem errou, quase sempre por ignorância! Assim sendo, que façam o mesmo conosco, segundo o que já ensinava a Mestra H. P. B.: “A crítica mútua é a política mais sadia e ajuda a estabelecer regras finais e definitivas na vida prática, não meramente teórica”. E acrescentava: “Temos tido teoria de sobra”...

Quanto ao termo “fanático”, a nossa linguagem “desassombrada”, o nosso Programa, meios de ação e... até, os fenômenos naturalíssimos que se deram no começo da Obra em que estamos empenhados – fenômenos para assombrar pessoas ignorantes, ou que desconhecem as leis ocultas da Natureza – respondem “quæ farte” se merecemos tal título!...

E, finalmente, por se tratar de um caso todo especial, ou de ordem privativa, transformado em profano pela intromissão indébita de um Juiz ou autoridade sem competência para julgar casos tais, nos servimos de preceitos ou idéias novas de defesa, embora que taxadas de “chicana” por novos juízes que se apresentarem, cristalizando os cânones fundamentais do direito penal moderno “nullum crimen sine lege”, “nulla poena sine lege”, “nulla poena sine crime”, como o preceito constitucional do art. 72 § 15 – “que ninguém será sentenciado, senão, por autoridade competente, etc.” !...

Leiam os que quiserem e interpretem... os que puderem!

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O grande gênio de nosso século que teve o nome de Mario Roso de Luna, diz no Cap. XXX e último de sua maravilhosa obra El Libro que mata a la muerte: “Um filósofo que, como bom filósofo, é polígrafo e como tal, conhecedor de física, de matemática e outras coisas mais, depois de haver vaticinado intuitivamente a valiosíssima questão do ‘peso da luz’, lançou valentemente a sua teoria da Relatividade – teoria que, bem entendida e generalizada, outra não é, senão, a antiquíssima da Maya-budhista (o grifo é nosso), reproduzida a seu modo por Schopenhauer, ao considerar (no O Mundo como vontade e representação) a tudo quanto nos cerca, como simples representação ou projeção, que dista, em verdade, da objetividade, quanto nossa mente finita dista da Mente infinita donde emanou o Universo. Esse filósofo benemérito – cujo intérprete espanhol vem sendo o catedrático Don Blas Cabrera, é o grande Einstein – nome que por si só representa – segundo palavras daquele, nas suas conferências na América e no Ateneu de Madri – ‘a vitória dos métodos filosóficos de raciocinar sobre os estritamente científicos’; do mesmo modo que assinala uma era nova, finalizadora do ciclo mental que Newton, ou melhor, Cartesio iniciou”. 10

Já nos temos ocupado, por várias vezes, dessa “Maya-budhista” de que tanto fala Roso de Luna nos seus valiosos trabalhos literários, como a mesma de que se servem as várias Escolas do Oriente – principalmente o Buddhismo do Norte, ou a Mahayana – através dos seus vários significados de “Grande Barca de Salvação”, “Larga Vereda”, “Grande Caminho”, etc., etc., – em oposição ao Buddhismo do Sul, ou a Hinayana, do mesmo modo, com os vários significados de “Pequena Barca de Salvação”, “A Estreita Vereda”, etc., etc.

Esses termos de “grande e pequena barcas de salvação” estão estreitamente ligados ao da misteriosa “Barca de Osíris”, que navegava no “mar da Imortalidade” e outras tantas barcas de que falam as antigas tradições, e donde a Igreja se serviu para chamar a si mesma de “a barca de São Pedro”, o que importa dizer que aquelas escolas iniciáticas do Oriente empregando tais termos nada mais queriam dizer, senão, que os seus ensinamentos eram aqueles que conduziam o homem à salvação ou redenção, de vis mortais na terra, para uma outra condição superior ou de ligação ou união (lembremo-nos do mesmo modo da palavra Yoga, que não significa outra coisa) com os mundos divinos...!

Como reminiscência, ainda, das iniciações do velho Egito, encontramo-las na Franco-Maçonaria – embora que duplamente “mayavicas” ou ilusórias, nas provas exigidas aos neófitos, que dão entrada em seu seio. Dizemos “duplamente mayavicas”, porque, as primeiras se passavam no mundo psíquico ou Astral, enquanto que, as segundas se passam no mundo físico, por meio de simples encenações.

Umas e outras têm por fim iniciar os homens nos secretos mistérios da vida – a começar pelos inúmeros obstáculos que os mesmos encontram a cada passo no seu caminho e que, é mister vencê-los por esforços próprios. Outra coisa não nos ensina a Esfinge com estas 4 simbólicas palavras: Saber – Ousar – Querer – Calar, de cuja posse estando o homem, é prova bastante de que dominou a sua natureza e, por isso mesmo, os quatro elementos (Ar, Fogo, Água e Terra), que a própria Esfinge representa. E foi por

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Em continuação ao que citamos de Roso de Luna, na sua monumental obra El Libro que mata a la muerte, encontra-se: “É certo que anteriormente a Einstein a Relatividade já estivesse admitida desde o século XVIII com as descobertas das geometrias não euclidianas, de que fizemos menção no primeiro capítulo; porém, graças a Einstein, tais descobertas tomaram outro caráter na mecânica e na física, apagando dois postulados que antes eram tidos como infalíveis, a saber: a absoluta rigidez dos sólidos percorrendo o espaço e a independência filosófica dos dois conceitos ou categorias de Tempo e Espaço, postulados que a ciência pôde explicar nos dois enigmas da física newtoniana, que se chamam encurvamento do raio luminoso ao passar pela borda dos campos celestes e a interpretação mecânica da rotação do periélio de Mercúrio, que os astrônomos Eddington e Cromwells comprovaram em um dos últimos eclipses. Ademais, seria absurdo que a relatividade regesse, em matemática, em mecânica, em física, etc, e não regesse na manifestação suprema e contínua das leis dessas ciências que constituem o fenômeno da Vida (todo o grifo é nosso). E se a Vida é uma idéia, como todas, relativa, a idéia contrária de Morte, também tem que ser relativa, porque os chamados ciclos vitais das formas não se manifestam, senão, à custa da morte de outras vidas, que assim encerram um curso evolutivo, e tão relativo e fugaz é um como outro em boa filosofia”.

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isso que terminamos a nossa palestra pelo Rádio com as seguintes palavras: “Quando o homem chegar a dominar-se conscientemente, dominará também a Natureza, porque, conhecendo as suas leis, a Natureza submissa e escrava – obedecerá às suas ordens. Porém, enquanto imperar o egoísmo entre os homens, os elementos transbordados serão tão caprichosos e cruéis como a humana natureza”.

E é assim que, tudo neste mundo de ilusões não passa de uma “maya” – budhista ou não – como malhas de uma rede que, envolvendo o homem por todos os lados, faz-lhe tomar, muitas vezes, “uma nuvem por Juno” – já que, no concernente à sua vida particular, é ele mesmo quem a tece – bem ou mal – para recose-la de novo – qual “Sísifo, mitológico, condenado a rolar eternamente o seu rochedo” (o Karma individual) – até que, tal rede, tela ou teia, possua todas as suas malhas perfeitamente harmônicas entre si e... com isso possa ele (homem) finalizar o seu exaustivo trabalho na terra...

Daí se concluir, desde logo, dos motivos ocultos que levaram o imortal Roso de Luna a comparar a “Relatividade einsteiniana” com a “Maya-budhista” – no seu transcendentalíssimo aspecto – já que a Verdade é concebida por cada homem na razão direta, ou melhor, relativamente ao grau de consciência pelo mesmo alcançado através de uma série sucessiva de experiências, melhor dito, tendências ou “skandas” adquiridas nas suas múltiplas encarnações!

Até mesmo no “campo espiritualista” – segundo a nossa concepção do momento – não só o que se conhece como Religiões – principalmente as ocidentais – como o Espiritismo (no seu aspecto mais em voga de Animismo ou o que lhe retira o direito ao título, do mesmo modo, incluindo as Ciências Ocultas – que já explicamos não ser o mesmo que Ocultismo, pois um é a violação das leis ocultas do Universo e o outro, a posse completa dos seus conhecimentos, sem a sua transgressão...) e, finalmente, a Teosofia (ou um dos muitos nomes com que em todos os tempos se procurou expressar a Verdade, na sua original pureza, como: Gupta-Vidya, Sanatana-Dharma, Religião-Sabedoria. Doutrina Secreta e mil outros termos) se manifesta a “lei da Relatividade” ou a misteriosa “maya-budhista” porquanto, o grau de consciência dos seus prosélitos está na razão direta dos reais valores dos mesmos (ramos do Neo-Espiritualismo) para não dizer, das várias modalidades com que a Verdade se manifesta em cada um deles.

Se se quisesse fazer um estudo comparativo (ou de “relatividade”) entre tais Ramos do Neo-Espiritualismo com os 3 mundos da teoria de Plutarco, acharíamos que as religiões (ocidentais, porque as orientais cogitam de coisas transcendentes, como: Reencarnação, Karma, etc, sobressaindo entre todas, o Budhismo) quase que se pode afirmar, não saem das raias do Mundo físico, porque os seus valores são puramente terrenos – mesmo quando prometem “a salvação eterna” – pois o fazem por processos puramente físicos (para não dizer, condenáveis pelo próprio Ser de cujo Nome se servem), como sejam: missas pagas por bom preço (esquecendo a passagem bíblica dos “vendilhões do templo”), indulgências, santos que se trocam por dinheiro (trocam para não serem profanados com o termo “vendem” – embora que o Vaticano tivesse colocado as suas efígies nas moedas pelo mesmo cunhadas ultimamente, enviando uma coleção aos governos dos diversos países do mundo...!) – processos esses, dizemos nós, que nada têm de filosóficos, muito menos, científico-religiosos... mas, dignos de figurar na conhecida obra do Padre Antonio Vieira, que tem por título “Arte de furtar” – pois, como é sabido, só por esforços próprios o homem alcançará a sua salvação na terra, porquanto, contrariamente, seria algo assim como era permitido fazer-se outrora em alguns países, onde o sorteado pagava a outro para servir em seu lugar...!

Quanto ao Espiritismo, é a Ponte misteriosa que conduz o homem à outra margem da vida, para que o mesmo possa banhar-se nas puras e tranquilas águas da Imortalidade – à guisa daquelas tradicionais “barcas de salvação” de que já nos ocupamos. Porém... ai daquele que teimar em ficar estacionário sobre a referida Ponte! Passará pela desilusão

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de a ver transformada em um mísero Pontilhão de dormentes carcomidos, que oscilando debaixo de seus pés, acabará por ceder, deixando o fatigado peregrino da Vereda da Vida, cair exangue nas profundezas do abismo, sobre o qual estava edificada a mesma Ponte...!

Ninguém pode alcançar os andares superiores de um edifício qualquer, sem tocar nos (andares) inferiores! Por isso mesmo, como Passagem de um mundo para outro, tal Ponte é uma necessidade imposta a todos os seres – embora que a mesma se reflita no seio de cada homem como conquista de um passado longínquo da evolução do seres (referimo-nos aos poderes psíquicos latentes no homem, para não dizer, esmagados com a vitória do Mental, por ser um estado de consciência imediatamente superior... e que é aquele ora em desenvolvimento pela Humanidade, a caminho do Espírito); mas, para nela viver perenemente... é como encetar uma longa caminhada e deixar-se desanimar no meio... embora que, divulgando no Horizonte à sua frente, o término da mesma jornada: a Terra promissora onde iria descansar, uma vez para sempre, das grandes investidas para alcançar a outra margem da Vida, tentadas nas suas várias encarnações...!

E daí, o Espiritismo sendo harmônico com o mundo psíquico, anímico ou Astral, nada ter com as questões do Espírito, que só podem ser encontradas num mundo imediatamente superior.11 Haja visto o que nos ensina A Voz do Silêncio (este incomparável tesouro literário extraído do Livro dos Preceitos de Oiro, para uso exclusivo dos lanús ou discípulos): “O nome do Segundo, é Vestíbulo da Instrução (probatória, dizemos nós). Nele, a tua alma encontrará as flores da vida; porém, debaixo de cada flor uma serpente enroscada”.

Essa região não é outra, senão, a do Astral ou o mundo psíquico de percepções super-sensíveis e das visões enganadoras...!

Na mesma Voz do Silêncio, encontram-se mais estas palavras repletas de um saber transcendente: “As sementes da Sabedoria não podem germinar e crescer no espaço sem ar. Para viver e colher experiência, o espírito precisa de âmbito e profundeza, além de pontos que o guiem para a Alma de Diamante (Vajradara, o Senhor de todos os mistérios). Não procures (todos os grifos são nossos) esses pontos no reino de Maya, mas, ergue-te acima das ilusões; busca o eterno e imutável Sat (a única realidade e verdade eterna), desconfiando das falsas sugestões da fantasia”.

“Porque a mente é como um espelho; cobre-se de pó ao mesmo tempo que reflete. É preciso que as ligeiras brisas da Sabedoria da Alma venham limpar o pós das nossas ilusões. Procura, ó principiante, fundir a tua mente com a tua alma!”

Só essas últimas palavras bastariam para iluminar o assunto posto hoje no tapete da discussão!...

“Afasta-te da ignorância e também da ilusão. Volve o rosto às decepções do mundo; desconfia dos teus sentidos; eles mentem. Mas dentro de teu corpo – escrínio das

11 O erro está no Espiritismo conceber o Astral como tudo quanto se acha acima do nosso mundo físico, taxando-o, apenas, como: Astral Superior e Astral Inferior, quando de fato, o Astral possui, como os demais planos, sete sub-planos ou qualidades de matéria e, por isso mesmo, não sendo errôneo, no ponto de vista teosófico, encontrar nele algo que se possa chamar de Astral Superior, do mesmo modo que, Astral inferior.

Porém, onde ficam outros estados sutilíssimos de matéria, impossíveis, portanto, de misturar-se até mesmo com o Astral Superior? Da mesma maneira que, o azeite não se mistura com a água, assim, essas várias qualidades de matéria – embora de uma só e mesma procedência – tal como as cores do espectro solar (vide por exemplo, o arco-íris, que nos apresenta sete cores distintas e uma só verdadeira, que é ele próprio, em sua síntese; do mesmo modo que, as sete notas da gama musical que, sendo diferentes, ou com vários tons, se transformam em harmonias extraordinariamente belas, por isso mesmo resolvendo o magno problema da “unidade na diversidade”...

Chamamos a atenção do leitor para o que dizemos neste sentido, na nossa palestra pelo Rádio, publicada no presente número desta revista, enquanto não chegue o Capítulo da presente Mensagem, onde seremos forçados a tratar do assunto com maiores detalhes.

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tuas sensações – procura no impessoal o Homem eterno. E tendo-O procurado, olha para dentro; tu és Budha”. 12

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Ser-se Budha e até mesmo Cristo – segundo o dito da Voz do Silêncio – não implica em que ninguém se transforme nos Seres, que o vulgo pensa terem possuído tais nomes – embora que, segundo a mais cristalina de todas as Verdades “de que tudo tende para a Unidade”, fosse admissível semelhante suposição.

Este assunto está sobejamente explicado nas págs. 45 e 46 (trecho da 4ª nota do texto “A minha mensagem ao mundo espiritualista – nota do digitador) do número anterior desta revista, por isso mesmo, desnecessário de ser aqui repetido.

Dizemos, apenas, que Budha vem do termo sânscrito Bodhi, que quer dizer: Sabedoria perfeita ou estado de Samadhi, isto é, em que foi realizado o mais alto grau de consciência espiritual. E Cristo – como já se viu no número anterior – é o Ungido, o Iluminado, etc, o que tanto vale pelo primeiro termo. Assim é que, tanto se poderia dizer Jesus, o Budha; como Gotama, o Cristo; do mesmo modo que, Jesus, o Cristo e Gotama, o Budha.

A famosa “Árvore de Bodhi”, debaixo da qual, o Senhor Gotama – pela meditação – resolveu os mais complicados problemas da Vida, outra coisa não significa, senão, a “Árvore do Conhecimento” (de que o Banian é apenas um símbolo) e sob a qual todos os homens devem acolher-se. A mesma coisa exprimem todas as “Árvores simbólicas das tradições antigas” – inclusive a da “Ciência do Bem e do Mal” (que a Bíblia aponta como existente no ‘Paraíso terrestre’ – o que é errôneo segundo a interpretação dada pela Igreja, mas, certo na de que os conhecimentos divinos são adquiridos no “mundo físico” ou “Paraíso terrestre”).

Já tivemos ocasião de dizer, em outros artigos nossos, que os conhecimentos são de duas espécies: esotéricos ou secretos, para os eleitos, ou pessoas capazes de compreender a linguagem velada dos “Grandes Mistérios da Vida”, e exotéricos ou revelados (“duas vezes velados”) para os profanos. E era por isso que o Mahatma Morya dizia, a respeito do Livro de Kiu-té: “O conhecimento pode ser de dois gêneros: real (Dgyn) e irreal (Dgyn-mi). Dgyn, ocupa-se das causas primárias e das verdades eternas; e Dgyn-mi, somente dos efeitos ilusórios (mayavicos, dizemos nós). Dgyn não depende absolutamente do que o homem crê ou deixa de crer; Dgyn-mi, exige a fé e repousa na autoridade”...

E por falar em Budha, não podemos deixar de fazer aqui uma ligeira crítica a respeito de uma obra espírita, que tem o título de Revelações dos Papas que – seja-nos permitido dizer – deveria desaparecer da coleção de obras desse gênero, por ser uma desmoralização à própria doutrina espírita.

Trata-se de uma obra de afamado “médium espírita” do Rio – como compilação de várias comunicações espíritas de homens célebres da História – inclusive Papas e até o próprio Senhor Gotama... que, como Jesus, condenava as evocações e tudo quanto se relacionasse às almas dos mortos! Tais comunicações vinham por intermédio do próprio autor.

Para não despendermos tempo e papel com semelhante obra, basta dizer que nela se encontra uma comunicação do Senhor Gotama, onde o mesmo pede perdão a todas as pessoas presentes e promete-lhes (cúmulo da profanação – para não dizer, mistificação vergonhosa!...) que, “na sua próxima vinda ao mundo será como espírita!...”

E dizer-se que, Espíritos Superiores ignoram quem foi Gotama, o Budha para O desprezar e ridicularizar dessa maneira, enquanto que, a Jesus que nem ao menos possui tal nome, pois em arameu, que foi a sua língua natal, ela não existe, como também, nenhuma outra palavra que traduzida para as demais línguas do mundo pudesse ser essa – é o Nome mil vezes repetido por todos eles (Espíritos Superiores, que se apresentam na maioria das sessões de Animismo!...)

Já temos dado explicações de sobra para que não nos queiram tomar como “inimigo do Espiritismo” – do mesmo modo que não o somos de ninguém, nem de nenhuma coisa, a não ser, de todo e qualquer erro que possa prejudicar à evolução humana! Em todo o caso, se houver alguém capaz de nos julgar como tal, aqui estamos para aclarar idéias ou desmanchar confusões!...

Ao contrário, no “mundo espírita” contamos com um grande número de amigos – alguns até honrando-nos com uma confiança que não merecemos, em tomar-nos conselhos sobre a magna questão que interessa tanto à Teosofia, como o Espiritismo – qual seja a do progresso espiritual da Humanidade; do mesmo modo que, favores de inestimáveis valores à S. T. B. – na sua (dele Espiritismo) ânsia incontida de praticar o Bem, onde o mesmo se faça necessário! Com tudo isso, embora o Dever que nos foi imposto, ou melhor, nos impusemos a nós mesmos, está acima dos deveres sociais e de outras naturezas, por mais que eles tenham calado de maneira, excessivamente carinhosa, dentro de nosso coração!

Como poderíamos, por exemplo, condenar alguém por ter nascido com poderes psíquicos transbordantes – para não dizer, desenvolvidos – quando sabemos que isso só tem acontecimento com aqueles que trazem missão especial ao mundo? Ou melhor, por “skandhas” (tendências) de outras vidas passadas, que lhes permitem tal missão cármica ? Não condenamos, tampouco, os que procuram desenvolver tais poderes latentes (em todo homem), desde que, depois de adquiridos, não os desperdicem com assuntos que não são da sua alçada ou missão – mesmo porque se o fossem (segundo a própria “lei da relatividade” e até mesmo da Lei Universal, que não é falível em nenhum caso), Karma incumbir-se-ia de lhos dar congênitos! Todo aquele que contraria a Lei se torna vítima dessa mesma Lei!...

Entre os possuidores de poderes psíquicos transbordantes ou excessivos, figura, por exemplo, um Francisco de Assis, que era o primeiro a admirar-se dos milagres que fazia, a ponto de ajoelhar-se e orar a Deus, pedindo-lhe perdão por aquela graça alcançada, mas para a qual, ele (Francisco de Assis) não tinha empregado a menor parcela de esforço, o que vem comprovar o que afirmamos de “ser um crime a provocação de fenômenos dessa natureza”...

E foi por isso mesmo que o Senhor Budha (não, o que apareceu nas sessões do autor de “Revelações dos Papas”... mas o verdadeiro!), quando o rei de Prasenajit – seu protetor – Lhe pediu que fizesse alguns milagres, ter respondido: “Grande Rei, não ensino a Lei aos meus discípulos, dizendo-lhes: Ide, ó santos e, aos olhos dos brâmanes e dos pais de família, fazei – graças aos vossos poderes sobrenaturais – milagres superiores àqueles que outro qualquer pudesse fazer. Ao contrário, digo-lhes, quando ensino a Lei: ‘Vivei, ó santos, ocultando vossas boas ações e mostrando os vossos pecados’.”

Com franqueza, se o nosso estado de consciência fosse relativo a qualquer das religiões existentes, outra não adotaríamos senão o Budhismo, por ser a única que conserva maiores traços da Religião-Sabedoria, pregada pelos nossos Pais ou antepassados: os fundadores dessa grande “família espiritual”, que se chama Humanidade! Porém, não o Budhismo do Sul, mas o do Norte. O Primeiro – por superior que seja a qualquer das outras religiões (basta a sua crença nas sábias leis da Reencarnação e Karma para provar superioridade!...) acabou sob o domínio férreo da superstição e do fanatismo – tal como aconteceu com as demais religiões do mundo!...

Algo de semelhante se encontra nas doutrinas de Confúcio, no Norte e de Lao-Tsé no Sul da China, ambas, como traços das de Sakia-Muni (Çahya-Muni), partidas do Tibete e invadindo a China. Do mesmo modo, quanto às origens do Cristianismo, como se pode verificar na definição de Budhismo (por sinal que, escrito com um D apenas), que dá o erudito Frei Domingos Vieira, no seu Dicionário da Língua Portuguesa: “No Cristianismo existem vários traços do Budhismo na sua formação”...

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Além disso, já o Padre Huc declarava a mesma coisa ao mundo (embora indiretamente... mas que lhe custou a sua excomunhão e expulsão da Academia Francesa) através das suas valiosas obras: Dans le Thibet, Dans la Tartarie, etc.

E o erro está em se pensar que Krishna, Budha e outros Iluminados foram os criadores das religiões que levam seus nomes.

Interpelado certa vez a tal respeito, respondeu o insigne Teósofo espanhol Roso de Luna: “Todos Eles foram Seres superiores que nos deram doutrinas eficazes para que nós, com os nossos próprios esforços nos redimíssemos. Nenhum deles fundou a religião confessional que se lhes atribui (todos os grifos são nossos). Quem logo fundou, todas elas, foi o imperialismo de seus pretensos discípulos, os quais, escravos do inerte dogma que criavam, esqueceram que, “religião” – não “crença” – não é, senão, a dupla “ligadura” (ligação, se o quiserem) de fraternidade entre os homens, segundo a sua própria etimologia latina. Sim, imperialismo psíquico, sucessor fatal de todo imperialismo físico. Ao império romano, sucedeu o império psíquico papal; ao império físico espanhol, o império psíquico jesuíta. Em Mahoma, os dois imperialismos se apresentaram juntos”.

A mesma H. P. B. considerou as religiões como “róseos contos infantis e meios de exploração e domínio”; e as suas “revelações, como duplos véus (ou ‘mayas’, dizemos nós neste artigo tão a propósito) lançados sobre a Sabedoria Iniciática das Idades, que foi antes de tudo, Ciência: uma Ciência perdida, que é mister descobrir”.

Voltando ao Budhismo do Sul, alheio – por completo – às grandes verdades que conserva, ainda, o do Norte, citaremos – entre muitos – um fato conhecidíssimo do “mundo teosófico”, comprovante do que dissemos, acima, a respeito do fanatismo e superstição, que no mesmo imperam: indo H. P. B. visitar um Templo budhista existente em Ceilão, um dos seus sacerdotes apresentou-lhe um rico estojo contendo enorme dente, que é conservado com todo respeito e veneração, como tendo pertencido ao Senhor Gotama. Interpelada H. P. B. se não acreditava que tal dente tivesse pertencido ao Bhagavad (Bem-Aventurado), ela respondeu (com a possível seriedade que se pode guardar em casos tais): “Sim, do tempo em que o mesmo foi pantera”...!

Do mesmo modo, quanto à uma concavidade existente em uma das rochas da localidade – que se assemelha a um enorme pé – e que é tida como uma “pegada do Senhor Gotama” que, dizemos nós agora, não poderia ser nem mesmo, se em tempos remotíssimos da vida humana – que a própria História desconhece – Ele tivesse sido um dos mais gigantescos lemurianos...!

Quanto ao Budhismo do Norte (Índia) e com o nome de Lamaísmo, por todo o Tibete e Mongólia – principalmente o que é conservado em certas Fraternidades secretas (porquanto nessa espécie de Budhismo, como em tudo mais, não faltam fanáticos e supersticiosos) – dizemos, em tais Fraternidades lamaístas secretas, é onde se encontram os maiores traços da Verdade primitiva pregada pelos nossos Pais ou antepassados – Verdade que, como disse H. P. B. em palavras por nós citadas em outros lugares desta anotação, é hoje “uma Ciência perdida, que é mister descobrir” (trabalho esse a que se propõe a Teosofia no mundo – pouco importando as suas várias escolas ou modalidades, desde que “a Verdade é uma só, embora que os homens lhe dêem nomes diferentes”, como diz o Rig-Veda). Vide o que se tem dito do Teshu-lama no Tibete, etc., em outros números desta revista.

Sem podermos entrar em certos detalhes – já que são de ordem privativa da S. T. B. – dizemos apenas que, a Obra em que estamos empenhados teve por ponto de partida ou origem, tais Fraternidades secretas. E a prova está na “maya budista” do seu início... por meio de fenômenos – cada qual mais desconcertante – a fim de poder ser feita a escolha ou “separação do bom trigo do joio”... e logo a Obra implantada na Terra, a suspensão imediata de tais fenômenos (como tivemos ocasião de falar em uma anotação das fotografias da “Montanha Sagrada”). Tais fatos – que o vulgo teima em chamar de “milagres”, embora naturais, por serem regidos pelas leis da Natureza... tiveram acontecimento quando esta Sociedade era ainda portadora do nome “DHÂRAN” e... por isso mesmo imediatamente modificado para o que ela é portadora na atualidade... E paremos aqui!

O mesmo fato se deu com a S. T. fundada por H. P. B. e o Cel. Olcott, como se pode verificar, por exemplo, à pág. 15 da obra Lettres des Maitres de la Sagesse, quando diz: “Quando o ‘Miracle Club’ desapareceu, a S. T. nasceu”. H. P. B. escrevia naquela ocasião: “Ordens recebidas da Índia, exigem a constituição de uma Sociedade filosófico-religiosa, com a escolha do nome a lhe ser dado e também a de Olcott. Julho, 1875”.

Ambas Associações – embora com missões completamente distintas – tal como tem acontecido com um número limitado de núcleos espiritualistas criados no mundo – tiveram a mesma origem, isto é, o que se preferiu chamar até hoje de Hierarquia Oculta (composta de Membros não só daquelas referidas Fraternidades secretas do Tibete, etc, como de outros lugares da Terra).

E foi uma das razões da Teosofia – logo que H. P. B. a transplantou para o Ocidente – ser encarada como uma nova forma de Budhismo (Neo-budhismo, como a chamaram e chamam ainda algumas pessoas desconhecedoras do assunto). No entanto, segundo a maneira pela qual se queira interpretar esse termo, tanto ele pode estar certo como errado. No ponto de vista da Teosofia que H. P. B. trouxe para o Ocidente ser o eco das antiquíssimas doutrinas do Oriente, ou melhor, a Sabedoria Iniciática das Idades, está errado. No ponto de vista de sua missão, ou melhor, das origens desse novo movimento espiritualista, alicerçado em 1875 com a fundação da S. T., isto é, segundo Ordens recebidas de seus Mestres (na maioria pertencentes àquelas Fraternidades secretas do Budhismo, que se diferenciam das da mesma localidade, como Budhismo escrito com dois ‘D’), está certo. E se quiserem, ainda, em ambos os casos, está certo, porque, como já foi dito, é naquelas Fraternidades trans-himalaias onde se conservam “os imensos tesouros da Verdade, hoje perdida para o mundo profano” (e que a Teosofia de todas as épocas – principalmente de Amonio Sacas até H. P. B., e desta para cá – se propõem descobrir...). E, assim sendo a Teosofia de H. P. B. (que é a mesma nossa), está na razão direta ou na relatividade precisa com o Budhismo escrito com um D só.

Esse fato já foi explicado por ela – em forma “mayavica”, como se iniciam os homens – na sua Chave da Teosofia (pág. 10 da ed. esp.) quando daquela confusão estabelecida entre Teosofia e Budhismo (com dois ‘D’) e motivado no título da obra de Mr. A. P. Sinnett, isto é, Buddhismo Esotérico. Dizia ela: “Nasceu o erro de não se interpretar bem o sentido do título da excelente obra de Sinnett – Buddhismo Esotérico – porque para expressar a sua idéia, o autor devia ter escrito a palavra buddhismo com um ‘D’ só, em vez de dois, ou seja: Sabedoria (Bodha, Bodhi, “Inteligência”, “Sabedoria”), em vez de Buddhismo, que significa a filosofia religiosa de Gotama, o Buddha. A da Teosofia, como já se disse, é a Religião da Sabedoria”.

E com isso provamos o nosso dito da “forma mayavica” que ela usou para explicar o caso, porquanto, Teosofia e Neo-Budhismo, escrito com um ‘D’ só, ao contrário da negação formal por parte da mesma (que aliás não negou, porque disse que Teosofia não era o mesmo que Buddhismo escrito com dois ‘D’, muito ao contrário, achou que o erro estava em Sinnett não ter dado o título de Budhismo com um ‘D’ só), são uma só e mesma coisa, na nossa humilde opinião, razão porque, dissemos em outros lugares que se tivéssemos de adotar uma religião, etc, outra não seria, senão, o Budhismo...!

Ademais, a “filosofia religiosa de Gotama”, não foi mais do que uma nova face com que a Verdade-Síntese se apresentou naquela época (mais ou menos há 2577 anos atrás) pois, tal Doutrina data de 645 anos antes da nossa era – a chamada “Era Cristã” – e não que fosse Ele o fundador dos “duplos véus lançados sobre a mesma (doutrina) pelos seus pretensos discípulos (apóstolos, sacerdotes, etc); do mesmo modo que, com os “Gnosticismo de outrora (Gnose: conhecimento) para o pretenso Cristianismo de hoje (ao qual se poderia chamar de Agnosticismo).

E por essas e outras afinidades espirituais entre ambas Associações – reconhecidas por limitadíssimo número de pessoas no mundo, com um Roso de Luna, por exemplo, até há bem pouco, à frente – é que, fazendo o papel de alguém que preza demasiadamente a

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Daí o Terceiro Vestíbulo (ou aquele que se acha logo acima do anímico, psíquico ou Astral), ser o da “Sabedoria”, sobre o qual se estendem as águas sem ondas de AKSHARA, a fonte inesgotável de Onisciência, ou a região da plena Consciência espiritual, onde não mais perigo existe para aquele que A alcançou”, justamente, por não mais estar sujeito a “mayas-budhistas” ou “leis de relatividades”, mas, a da Vida Una... que resolve todos os problemas!...

Finalmente, a Teosofia é algo assim como a “Estátua viva da Liberdade ou Redenção da Alma entregue ao Espírito”, por isso mesmo, de braços abertos do outro lado da Ponte, para receber do Irmão carinhoso e Amigo, que é o Espiritismo, todos quantos, vitoriosos, atravessaram a Ponte sem cair no abismo das ilusões dos sentidos, ou das falsas miragens, que se apresentam no Deserto árido da vida! 13.

outra, e lança mão de todos os meios quando a vê na iminência de fracassar ou morrer (já que no caso vertente se trata da Obra grandiosa da Mestra H. P. B., cuja vida de martírios infindáveis, valeu-lhe o título de “a mártir do século XIX”, pelo seu maior defensor e comentador no mundo – o inesquecível Roso de Luna), dizemos, fomos forçados a lançar mão, muitas vezes, de uma linguagem violentíssima – que nos fez, talvez, sofrer muito mais do que aos próprios por ela visados...!

Praza aos céus que, tais “laços espirituais que as unem entre si”, possam ser melhormente compreendidos, ao menos, pelos teosofista brasileiros – servindo de égide para essa compreensão, as próprias iniciais da Mestra – H. P. B. ou, Hoje Pelo Brasil – já que a Obra em que estamos empenhados, é um codicilo do seu valioso testamento espiritualista deixado a favor da Humanidade. Do mesmo modo que, perdoadas as nossas exigentíssimas palavras, nos momentos em que tudo ameaçava fracassar tal como na ocasião das más interpretações dadas às idéias expendidas pelo Sr. J. Krishnamurti (não foram poucos os que já achavam inútil à vida da S. T.) por esta mesma revista, indicamos, a nosso modo, “que tal Edifício deveria continuar de pé, custasse o que custasse”!!! Como perdão, ainda, desejamos obter sem que nos envergonhe dizê-lo de público – mesmo porque somos livres e independentes nas nossas ações – por parte daqueles que, consciente ou inconscientemente, se fizeram obstáculo no nosso caminho e... por motivos ocultos... fomos forçados a atacá-los, já que em jogo se achava a missão em que a S. T. B. está empenhada nesta parte do Globo – missão em que os mesmos “mayavicos” ou ilusórios inimigos (já que, realmente, não o poderiam ser!...) e todos os brasileiros estão envolvidos, sem o que, Karma – na sua “relatividade” para cada indivíduo e para a coletividade – não os teria feito nascer em tão privilegiado lugar...!

A um outro Núcleo de caráter teosófico estamos, do mesmo modo, ligados por indissolúveis laços espirituais, que é o “Ateneu Teosófico” de Madrid, por ser a Síntese de todas as grandiosas criações de Roso de Luna, nesta sua última trajetória por este Planeta de misérias – onde se adquire experiência através de múltiplas encarnações – à guisa das várias contas de que se compõe um só e mesmo colar. Sim, porque na nossa pobre condição de Homem pouco evoluído, não deixou de ser uma imensa felicidade, termos encontrado no Caminho de nossa atual existência, tão valioso, quão incompreensível Ser...! Bendita, pois, a sua excelsa memória!...

Voltando à questão primitiva ou da parte condenável da fenomenologia – que transforma o Espiritismo em Animismo – temos mais a acrescentar: que não desconhecemos as razões que obrigam a esta ou a aquela pessoa nascer em determinadas posições geográficas – principalmente o que diz respeito à linha equatorial e imediações (tal como no Brasil: Amazonas, Pará, etc.) porque – como tudo na vida – o dedo do deus Karma foi quem assim o quis, por isso mesmo, portadores de poderes psíquicos desenvolvidíssimos (pouco importa que outros não o tivessem dito anteriormente, pois, nem sempre vivemos “parasitariamente” da mentalidade alheia!...). E como prova, temos o fato dos mais conspícuos membros do Espiritismo na Capital da República – principalmente o seu maior baluarte – não encontrando maiores novidades ao seu redor, vai ao Pará em busca de “materializações” (inclusive de sua filha) e outras coisas mais... merecedoras de estudo, por parte dos que estejam passando sobre aquela Ponte de nossas simbólicas interpretações!

E dizemos mais: porque, toda linha equatorial – além de outras razões ocultas, que não nos é permitido dizer – abrange, ou melhor, é relativa à zona imensa que compreendia o antigo Continente atlante (cujo estado de consciência não era outro, como teremos de explicar no próximo Capítulo desta Mensagem), cuja afirmativa de nossa parte pode ser comparada com as seguintes palavras de Roso de Luna, no seu formidável trabalho intitulado Os Ensinamentos Orientais e a Geologia (Os três Continentes: Hiperbóreo, Lemuriano e Atlante), transcrito no número desta revista relativo aos meses Janeiro a Março de 1930: “Desde então, acreditou-se que o afundamento atlante afetou apenas a extensa região do Oceano de seu nome. Nós, todavia, suspeitamos (uma suspeita de Roso era uma certeza para outro qualquer...!), que tamanho fenômeno geológico afetou a toda a zona equatorial da Terra, etc.” (o grifo é nosso).

13 O Teósofo – como “livre-pensador” que é – não está sujeito aos vôos curtos de uma inteligência fanatizada, ou melhor, sugestionada pelo que percebe na matéria grosseira de que se acha envolvida, por isso mesmo, concebendo as coisas ilusórias como reais ou verdadeiras.

Os seus vôos (do Teósofo) não têm limites! Quanto mais alto ele se eleva, maiores desejos possui de subir sempre... em busca da Verdade – essa mesma Verdade que todos apregoam como sua – embora que até certo ponto tenham razão, principalmente no que ensina o Rig-Veda de que “A Verdade é uma só, embora os homens lhe dêem nomes diferentes”, mas, sujeita às várias modalidades ou “véus” (de Mayá) com que os tempos decorridos e as falsas e interesseiras interpretações dos sacerdotes das várias religiões e filosofias A envolveram impiedosamente!...

Do mesmo modo, o Teósofo sabe que alçar o vôo a longínquas paragens, não passa de expressões simbólicas da ascensão sempre crescente, que tem o Ego para o Divino, ou ponto donde partiu... Por isso mesmo, busca tal Verdade dentro de si mesmo, fiel às palavras do Templo de Delfos: Nosce te ipsum (melhor dito, Gnosce te ipsum... do grego Gnothi seauton).

A Teosofia adota o “método analógico” por ser o único que produz bons frutos – como provam todos os louros colhidos pelas Ciências profanas, com hipóteses, como: a do éter, a da gravitação universal, a da relatividade, etc, – todas elas fundadas na “lei de Analogia ou de Harmonia”, contida na famosa “Tábua esmeraldina” de Hermés Trimegisto, quando diz que, “o que está em cima é igual ao que está embaixo”, para realizar o mistério da Harmonia, que é a união do Vário no Uno.

Sim, porque, a época atual, como disse o incomparável Roso de Luna, exige uma nova orientação de síntese, porque, descoberta a unidade da Matéria no Cosmos, pela análise espectral; a da Força, pela gravitação universal e a da Vida pelos estudos biológicos, ter-se-á que procurar o meio de melhor conhecer e praticar a lei da Evolução, de Causalidade e da Finalidade do Cosmos, como síntese de todos os conhecimentos. Buscá-la, dizemos, até onde a nossa Ciência atual o permita, e ainda mais, além “com a Mística tradicional das escolas religiosas – aparentemente opostas” tendo presente as infinitas possibilidades que a mente humana abre à sentença

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Daí o afirmarmos que as religiões ocidentais representam o corpo físico, o Espiritismo, a Alma em ânsias de Redenção, e a Teosofia, o Espírito, como Sede da Sabedoria.

Todos eles, roseiras, com maior ou menor quantidade de espinhos, já que em mãos de humanas criaturas – segundo o “errare humanum est” – sujeitos estão às melhores ou piores interpretações dos homens, tal como a que acabamos de fazer neste momento; do mesmo modo que, obedecendo à questão que serve de título a este Capítulo de nossa Mensagem, ou seja: A Maya-budhista e a lei da Relatividade!...

H. J. Souza

Presidente da S. T. B.

FOTOGRAFIAS DA “MONTANHA SAGRADA”

Ilustração: fotos

Legenda:

Subida da “Montanha Sagrada”...14. No terceiro plano da fotografia – confundindo-se quase com o horizonte – podem ser divulgadas algumas casas da localidade.

No misterioso lugar da “Montanha Sagrada”, onde a 28 de Setembro de 1921 estiveram pela primeira vez Henrique e Helena. Três anos depois era fundada a S. T. B. com o seu primitivo nome – DHÂRANÂ – que foi mudado para o atual em 8 de Maio de 1928 (o chamado “Dia do Loto Branco”, ou aquele em que desencarnou o incompreendido “Ego”, que teve o nome de Helena Petrovna Blavatsky), isto é, 7 anos depois dos mesmos terem aí estado.

Acham-se na fotografia:

1º Plano – o Presidente da S. T. B., Prof. Henrique J. Souza;

2º Plano – Srs. Levy Panzera (Irmão Maior da S. T. B.), Francisco Martins de Abreu (Tesoureiro da “Loja Morya” e Irmão Maior da S. T. B.), Carlos G. Souza (filho do Presidente da S. T. B., Tesoureiro da mesma e Presidente da “Loja Kut-Humi”) e, finalmente, recostado sobre a rocha, o pequeno Valter – filho mais moço do Presidente da S. T. B. 15

pitagórica, ensinada por Jesus (?) de que “o Homem é de estirpe divina”, de que “deuses sois e vos tendes esquecido”, e até, a de Santo Agostinho: Vimos da Divindade e para Ela havemos de ir...! (Vide tudo quanto se diz sobre Teosofia no número desta revista relativo a Abril de 1930 a Junho de 1931).

E eis porque, todas as Associações de cunho teosófico, existentes no mundo – principalmente as que seguem a orientação “blavatskyana” – tenham por princípios os mesmos que servem de base à Sociedade por Ela (H. P. B.) criada na América e logo depois transplantada para as Índias inglesas (Adyar, Madras), ou sejam: 1º – raça, sexo, credo, casta ou cor (com vistas aos ideais de “última hora”, que desejam impor tal fraternidade pelas guerras, revoluções e... todo o seu cortejo funesto de dores: o saque, o incêndio, a desonra aos lares, etc., etc.); 2º – Estudar crítica e comparativamente as religiões, ciências, artes e filosofias, tanto do Oriente como do Ocidente; 3º – Investigar acerca das leis (investigar não é praticar... de público) desconhecidas da Natureza e dos poderes latentes no homem, como exige a lei de Evolução. – Todas as anotações são do autor da Mensagem.

14 O fato de terem alguns irmãos da S. T. B. distribuído vários exemplares do número anterior desta revista – onde iniciamos a publicação das fotografias da “Montanha Sagrada” – sem obedecerem ao que de há muito ficou estabelecido, ou seja, tal distribuição “ser feita, apenas, entre pessoas e Associções de reconhecido valor moral e intelectual”, concorreu para que algumas pessoas de mental pouco preparado para compreender assuntos de certa transcendência, julgassem mal do termo “sagrado”, que demos à tal Montanha.

Em uma das anotações de nossa “Mensagem ao mundo espiritualista”, trataremos não só deste fato, como também, de outros pontos de nossa Obra, que têm sido criticados por juizes mui pouco ajuizados, para julgar pessoas e coisas que não conhecem.

15 A S. T. B. possui no momento atual de sua vida, 7 pupilos (sócios “tutelados” como cogitam os seus Estatutos) e que, com os

futuros escolhidos, serão os substitutos ou sucessores dos membros da Seção esotérica (Irmãos Maiores) da mesma Sociedade. O pequeno Valter é um desses pupilos.

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Outra pose no mesmo lugar e com as mesmas pessoas.

Sobre a mesma rocha da fotografia anterior!...

Do lado oposto e coberto por espinhos e folhagens agrestes, há uma segunda rocha e logo a seguir uma terceira – assim, como se disséssemos que a própria Natureza houvesse ali implantado o símbolo da Tríplice Manifestação Divina. Na segunda cavidade, em cuja entrada se acha uma pedra em sentido horizontal, como se fora um altar aí armado e sob o qual, as abelhas fizeram – dessa última vez que aí estivemos – uma colméia. Acostumados, como estamos, a encontrar sempre nas menores coisas um sentido oculto, pensamos desde logo: As abelhas, como símbolo do esforço ou do trabalho que despendemos na Obra maravilhosa, que a todo custo nos incumbe levar avante; o mel, como o da “ambrosia” ou “licor sagrado dos deuses” e, finalmente, os espinhos e folhagens agrestes, que mascaram o “lugar sagrado”, como a “espinhosa Vereda da Vida”, ou de Karma... por onde trilha a humanidade inteira – na sua cegueira das coisas divinas – e, até mesmo, os espinhos (obstáculos de várias naturezas) que temos encontrado desde o momento em que tão sublime missão nos foi dada na terra – sem falar nos que futuramente teremos de remover do caminho – já que, para ser implantada no mundo qualquer Obra de origem divina, tudo e todos com ela se chocarão... por serem de natureza completamente oposta!...

Formando, portanto, um Triângulo simbólico dos 3 conglomerados de rochas, se acham sobre o primeiro: o Presidente da S. T. B., Helena, e o pequeno Valter 16.

Ilustração: foto:

Legenda:

A casa que hospedou Henrique e Helena há 10 anos atrás. 17

No início de sua vida (quando ainda portadora do nome “Dhâranâ”), a primeira escolha recaiu sobre o filho de um sócio – hoje do número dos trânsfugas da Obra. A ignorância de seus pais e de mais alguns membros daquele tempo, fez com que os mesmos o tomassem como uma “criança prodígio”, assim como se disséssemos, um “messias ou instrutor” – tal como os que estão em voga nos tempos que correm – esquecendo as mesmas pessoas que, “messias e instrutores” são todos os homens – sem exceção alguma, porquanto, não há um só que não tenha a sua missão na terra por mais incompreendida que seja – e do mesmo modo, não possua conhecimentos (insignificantes embora), para instruir a outros que saibam menos ainda – inclusive seus próprios filhos.

Na S. T. B. a única coisa que se faz questão de cultivar – tanto quanto possível – naqueles que se acham alistados nas suas fileiras, é o Mental – já que o conhecimento perfeito das coisas concorre desde logo para uma modificação completa do caráter, por isso mesmo, colocando o Homem na verdadeira jerarquia a que pertence – sem falar que o Mental é o estado de consciência em desenvolvimento na presente Raça: a ária, através das suas sete sub-raças, ramos e famílias. Como é do conhecimento dos verdadeiros Teósofos, estamos na sua 5ª sub-raça, embora a verdadeira fosse a germânica e hoje sermos apenas um ramo ou família daquela, segundo já tem sido explicado em vários artigos nossos, publicados nesta revista.

Com isso, pensamos ter desfeito qualquer dúvida que por acaso pudesse persistir no cérebro de algumas pessoas que desconheçam a vida interna de nossa Sociedade, ou melhor, Escola de iniciação filosófica.

16 As fotografias publicadas no presente número são as últimas que podemos oferecer ao mundo profano (mesmo assim, ao que se pode chamar de elite do “mundo profano”). E não foi pouca coisa, como bem prova termos sido crucificados na crítica de alguns severos Juizes... que nos julgando também se julgam, porquanto, o fazem sem saber das razões que nos levaram a proceder de tal maneira! Naturalíssimo, no entanto, porque... “quem tem dez não pode emprestar vinte”! 17

Aí tiveram lugar fenômenos interessantíssimos, embora que, naturais, por estarem justamente dentro das leis que regem a Natureza; por isso mesmo que, não devem ser tidos como “milagres” e, muito menos, como “fenômenos espiritistas”. Do mesmo modo que, foram todos eles espontâneos, isto é, não provocados pelos que aí se achavam hospedados, mas por Seres Superiores (vivos), que tinham o maior interesse em chamar a atenção para a Obra que desejavam implantar nesta parte do Globo – tal como continuaram fazendo na própria residência da família dos dois (Henrique e Helena) na Capital da República, até o dia em que foi exigido à mesma (família) transferir-se para Niterói, onde três anos depois foi fundada a Sociedade “Dhâranâ” – hoje “Sociedade Teosófica Brasileira”. Dos fenômenos realizados no início desta Sociedade, inútil qualquer comentário, não só por terem sido presenciados (uma mínima parte) por alguns jornais do Rio e Niterói, como também, pelas inúmeras vezes que a eles nos temos referido através de artigos nossos publicados nesta revista, sem falar nos que seremos forçados a citar no decorrer de nossa “Mensagem ao mundo espiritualista”.

Tal como aconteceu com a S. T. de Adyar e outros Núcleos espiritualistas de valor no mundo, logo implantada a Obra necessária à própria evolução humana, todos os fenômenos cessaram, a fim de que os seus dirigentes materiais – os que estão à sua frente – realizassem por si sós tudo quanto já estava delineado pelos Primeiros, isto é, pela chamada Hierarquia Oculta!... Razão porque

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assumiram plena responsabilidade em provocar tais fenômenos, cujos, são Eles os primeiros a proibir que outras pessoas (menos evoluídas) o façam – até mesmo, para que não desperdicem aquilo (sidhis ou poderes psíquicos inferiores, etc.) que não possuindo bastante dele não podem dispor a seu talante... a menos que desejem tais pessoas cortar, repentinamente, o fio de uma vida, que outra coisa não é, senão, “uma das contas do colar”, que representa as várias vidas) de que necessita cada Ego para a sua completa evolução na Terra!...

Já tivemos ocasião de explicar em uma das anotações de nossa “Mensagem” de que maneira certas Fraternidades trans-himalaias (lamaístas ou budhistas – não confundir com as do Budhismo do Sul, puramente sectárias) iniciam os seus discípulos nos altos mistérios da vida. Na Índia, por sua vez, essa primeira iniciação tem o nome de “Maya-Yoga” (Yoga da Ilusão) e no Budhismo – como já foi dito – de “Maya Vada” (Doutrina da Ilusão), justamente, pelo seu caráter puramente psíquico ou Astral – como mundo que é, das ilusões dos sentidos. Os próprios Iniciados, que a este mundo têm vindo, só davam ensinamentos claros aos eleitos, ou aqueles a quem julgavam com direito a tais privilégios. Aos demais, falavam-lhes por parábolas e símbolos, por isso mesmo, tão mal interpretados pelas religiões correntes.

O Astral representa um estado de consciência abaixo do Mental. É o 2º Vestíbulo de que fala “A Voz do Silêncio” e que deve ser logo transposto pelo discípulo, a fim de elevar-se pelas regiões sublimes que o conduzirão ao Seio ou Unidade Suprema donde procede. Foi o estado de consciência desenvolvido pela 4ª raça cósmica (a Atlante), quando a nossa (a Ária) desenvolve o Mental – caminho para o Espírito, Aqueles que primam por continuar harmônicos com tal estado de consciência (psíquico ou anímico da raça Atlante), ipso-facto, nada têm de evoluído; continuam, portanto, como atlantes. E é por esse motivo que alguns Homens de grande valor (Teósofos, na acepção da palavra) afirmam que, “no mundo ainda existem representantes da raça atlante e até da lemuriana!...” Meditem, portanto, os que se acham contrariados com o pouco que dissemos no início da parte de nossa Mensagem (referente ao Espiritismo) e acabarão se convencendo da razão de ser da nossa intolerância para com fatos e coisas, que se não coadunam com o estado evolutivo alcançado pela Humanidade!

Voltemos aos fenômenos produzidos na casa onde se achavam hospedados Henrique e Helena:

A família residente no dito prédio não soube, ou melhor, não pôde conter os sentimentos de admiração de que se achava possuída com tais fatos – embora lhe houvéssemos pedido o maior sigilo a respeito e – logo fizeram alarde dos mesmos entre os seus conhecidos. É provável que isso tivesse a sua razão de ser, sem o que, impossível seria uma repercussão mais ampla do próprio Trabalho, que ia em breve ser posto em execução nesta parte do Globo!...

Assim é que, de toda parte chegavam cegos, aleijados, atingidos por moléstias de várias naturezas – uma multidão, enfim, de infelizes criaturas, em busca de alívio aos seus sofrimentos, para os quais só nos foi permitido fazer o que faria qualquer outra pessoa, de posse dos conhecimentos teosóficos: instruí-los a respeito da razão dos seus sofrimentos – a começar pelas sábias leis de Reencarnação e Karma até a maneira pela qual se deviam conduzir na vida.

De fato, o homem só visa os bens terrenos! Ele só quer receber e nada oferecer! Os bens espirituais são secundários para ele, pois ignora ou finge ignorar que, a riqueza, por exemplo, nem sempre é um prêmio de virtudes, mas também um meio de depuração pela dor, por vicissitudes sem conta, como reação contra tudo quanto contrariamente à Lei Universal fez esta ou aquela pessoa – pouco importa se na vida presente ou em anteriores!

Não pequeno é o número de milionários, cuja fortuna colossal não lhes pode dar alívio aos seus males físicos e... até morais, não lhes concedendo, sequer, um minuto de alegria na vida! Assim acontece com os tabéticos, por exemplo – quando a moléstia já se acha em estado adiantado – que, para se locomoverem de um lugar para outro, ou se socorrem de uma cadeira de rodas, ou amparados a uma muleta viva, representada pelos seus camareiros. Do mesmo modo, aquele que possui uma úlcera no estômago, devido aos opíparos banquetes do passado, regados a bons vinhos, cervejas e demais tóxicos, de que uma grande parte da humanidade faz uso e... é capaz, até, de brigar a mão armada, para que lhe não retirem tão valioso prazer na vida – tal como acontece neste momento na América do Norte, onde se está cabalando tenazmente para acabar com “a lei seca” e.. tendo à sua frente o próprio Prefeito de New York. Tais milionários – “meio-defuntos, meio-sombras de gentes”, nem ao menos possuem o direito de tomar lugar ao lado de suas famílias, nas várias refeições do dia, porque têm horas certas para se alimentarem (o que não passa de mingaus e outros alimentos de fácil digestão, segundo as prescrições de seus médicos assistentes).

As estatísticas acusam maior número de mortes por alimentação demasiada e imprópria, do que pela alimentação frugal e até por se passar fome! E é por isso que se diz “que mais depressa morre um rico de indigestão do que um pobre!”

O oriental come uma vez por dia e uma minguada ração de arroz e, no entanto, chega a alcançar idades avançadas! Os espartanos – cujos rijos peitos “serviam de muralha contra os inimigos de Esparta”, eram frugais!

É que muita gente avalia a resistência, saúde e fortaleza de um homem pelo volume de seu ventre e desconformidade de seus membros – que lhe dão um aspecto de pipa volante, em cujo bôjo se agasalham os destroços de um lauto banquete, composto de cadáveres de vaca, de peixe, de aves, enfeitados de tomates, cebolas e demais ingredientes, com que se procura enganar a vista e o estômago, ao mesmo tempo, tornando assim suportável o que é insuportabilíssimo: a carne do cadáver, que deveria ser comida crua, tal como fazem os antropófagos!!! E... tudo isso, afogado em vários copos de vinho e cerveja – com um calicezinho de licor à sobremesa, onde, por um requinte de luxo ou vaidade, se molha a ponta do cigarro ou do charuto! E... “a pipa volante” que, não pode andar, devido ao vascolejar interno de tudo quanto contém o seu bojo roliço, refesta-se em uma “chaise-longue”, onde vai descansar daquela famosa batalha travada entre o animal vivo e vários animais mortos!

Hoje em dia, quando observamos alguém que até há bem pouco, era magro, delicado (até nos gestos e na palavra) e tomou, de repente, esse aspecto “hipopotâmico” a que nos referimos, acode-nos desde logo à mente, o “nouveau-riche” de todos os países do mundo! No passado era pobre e dizia-se infeliz por comer pouco e não ter à sua mesa os acepipes dos ricos; porém, não sofria de nenhuma moléstia! Hoje é rico; devora tudo quanto encontra à sua frente, mas... possui um amigo inseparável que não o larga um só instante: o médico, para curar as suas enxaquecas, as suas náuseas, tonteiras, vômitos e... até coceiras ou comichões por toda epiderme, porque as toxinas de toda essa balbúrdia alimentar, precisam sair por qualquer lugar do corpo. É o chamado “ácido úrico”, que vem crismar o já batizado doente, desde o dia em que começou a proceder de modo diverso, de quando era pobre!

É que muitos “vivem para comer”, em vez de “comerem para viver”!!!

E os males se avolumam: o estômago transforma-se em uma gaita de fole, que o médico prefere chamar de “dilatação do estômago” ou se torna ulcerado... de tanto triturar (digerir coisas indigeríveis!) o que lhe empurram a muque para dentro. Depois, adeus fígado, adeus rins e... finalmente, o coração – o que equivale por dizer: a morte.

E há ainda quem critique os famosos banquetes dos césares romanos, várias vezes vomitados e comidos, pois, como é sabido, havia apartamentos reservados , onde criados especialistas no “métier”, introduziam uma pena de ave na garganta da miserável vítima de sua decadência moral, a fim de a fazer despejar uma verdadeira cascata de alimentos e... tomar novamente assento à mesa dos césares. Vitellio – cujo nome se assemelha a um dos animais que o mesmo devorava, era conviva infalível de tais banquetes e como este, centenas de outros!

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Ilustração: foto

Legenda:

Visitando, em 1931, “A CASA MISTERIOSA”!... (lado dos fundos). Aí se acham algumas das pessoas já conhecidas nas fotografias anteriores. O Presidente da S. T. B. foi quem tirou o presente.

Ilustração: foto

Legenda:

Tomando leite às 6 da manhã... sob um frio rigoroso!... 18

E... como um vício atraía outro, logo... as verdadeiras bacanais que tinham lugar entre aquelas “sombras de gente”!...

No número anterior desta revista, já explicamos na anotação 3ª do artigo “As enfermidades dos médiuns e perigos que correm”, o que vem a ser as moléstias e como devem ser as mesmas prevenidas. No decorrer de nossa “Mensagem”, voltaremos a falar do mesmo assunto, já que a Humanidade inteira sofre por desídia e má vontade, por não querer preocupar-se com aquilo que de mais perto lhe interessa: a sua evolução espiritual, que só pode ser feita através do corpo físico, que possui em cada existência, como veículo dos demais. 18 Alguns dias antes de ser tirada a fotografia acima, a temperatura chegou a 3 e 4 graus abaixo de zero. Não é nada, em comparação ao frio rigoroso do Tibete, por exemplo, como de outros países próximos às zonas glaciais, como a Suécia, Noruega, etc., etc. No entanto, difícil de ser suportado por quem vive em Niterói e na Capital – lugares onde só se conhece inverno através de notícias que lhes chegam de algumas localidades do sul do País, ou as provindas da Europa, Norte América, etc., etc. Ou então, por... sugestão, na figura amável do “Papai Noel”, de longas e alvas barbas, coberto de neve e sobraçando o tradicional saco repleto de brinquedos... para serem colocados nos sapatinhos que, desde a véspera – mãozinhas delicadas, quase diáfanas, por serem de anjos ou devas – puseram no fogão, perto da chaminé... (perdoem-nos a distração!...) debaixo da cama e... em outros lugares, onde a neve jamais penetrou... mas, o calor sufocante do mês de Dezembro!

Por que não havemos de substituir o “Papai Noel” de outros países, em cujo mês o inverno é rigorosíssimo, por um Anjo – um “Cupido”, por exemplo – mesmo que lhe não queiramos dar a verdadeira interpretação teosófica de Augoeides – o Eu Divino, Princípio Átmico ou Crístico condizente com o verdadeiro Natal, que há de ser o da Redenção final da Humanidade – mas a do “Cupido” (que tanto vale pelo outro), simbolizando Amor, Paz, Felicidade, enfim, que aos poucos vai definhando ou esmorecendo em muitos lares... neste século de dores, que ora atravessamos?...

O “Papai Noel” – como o mais inofensivo – é uma das influências do filme americano sobre o nosso caráter, já que possuímos o espírito de imitação para as coisas que não são genuinamente nossas – imitação que nos retira a liberdade de agir e de pensar, por isso mesmo, tornando-nos escravos da vontade alheia.

Que as boas ações fossem imitadas, como maiores tesouros que se viessem juntar aos nossos, estamos de pleno acordo; porém, as más – como acervo natural da degenerescência de outros povos (porquanto, todos eles possuem a sua “elite” ou os mais evoluídos), é simplesmente intolerável!... E é assim que vamos copiando tudo: desde o “Papai Noel” fora de propósito no nosso país, até as modas aqui adotadas em estações completamente diversas das dos países donde procedem (por sinal que algumas bem indecorosas!...) – sem falar em boquinhas enigmáticas, à guisa de “corações escarlates”, incandescidos de paixões... a mascar um delicioso “chicletes” e... acompanhado do gesto nada gracioso – para não dizer “anti-higiênico” – de levar a mão à boca e estivar tal massa ensalivada... sorvendo-a, novamente, para dar o que fazer aos queixos, isto é, o que fazem certos seres do reino animal: ruminação! E logo, o complemento dessa complicadíssima exigência da moda: retirar da boca a massa informe e... pespegá-la no fundo da cadeira onde se assentava a paciente jovem!... E num revirar de olhos... de quem vai exalar o último suspiro, a pobre sombra de mulher desliza... com requebros epiléticos, até o filtro, para sorver alguns goles do precioso líquido... E com isso, está feita uma das refeições do dia!... E que dizer das suas sobrancelhas? Que não as possui mais... e sim, finos e negros traços – à guisa do til com que se escrevem as palavras paixões, sensações, ilusões e outras tantas?!... Já o grande escritor francês – Joséphin Péladan – há quase meio século atrás previa – na sua famosa obra “Finis latinorum”, essa amostra de gente a que ele cognominou de “os degenerados do fim da raça” e... a nossa verve incomparável, de “o almofadinha e a melindrosa”! E paremos aqui... para não desagradar a muita gente! Modernismo, dirão muitos! Mas nunca, “Coisas nossas”, como preferem outros... a menos que não passe tal expressão de um simples título de “filme nacional”!... Si non e vero!...

Felizmente que não somos os únicos a pensar de tal modo! Existe muita gente – quer no Brasil, quer em outros países do mundo – que preferiu o “reto caminho”... por isso mesmo, “verdadeira elite” entre os que fazem parte do “estoiro da boiada”, melhor dito, que se desgarrando da boiada correm dasabaladamente para destino ignorado!

Já em 1926 o eminente médico inglês Dr. J. S. Risten Russel (especialista em moléstias nervosas) formou ao lado dos moralistas e reformadores, que consideram em perigo, as “melindrosas” esguias, semi-atléticas e tomadoras de cocktail.

Dizia ele, entre muitas outras coisas: “A companhia à uma senhora é coisa do passado... As jovens hoje são livres, podem sair com rapazes, não apenas para os restaurantes e para as danças, como também para os clubes noturnos, com ou sem restrições à sua ação e sem limites às suas horas de regresso. Raparigas não distantes da idade escolar, podem ser vistas bebendo cocktails, champanhe e licores, sendo que, a seu tempo, o whisky e soda são acrescidos à lista”.

E depois de outras considerações, termina:

“É para supor que, quando moças dessa espécie cheguem à idade própria e se tornem mães, só possam produzir homens e mulheres de físico miserável e positivamente neuróticos”.

Mas é que o Dr. Russell não sabia que a maioria delas o que menos cogita, é do sublime e dignificante papel de mãe e, portanto... “vamos gozar a vidinha”, esquecendo que, desde o primeiro dia em que... encaminharam seus passos por esse falso caminho, o seu corpo de jovem recebeu no mesmo instante, o sinete fatal da tuberculose, que o fará em breve tempo, repasto dos germes debaixo da terra!

E com isso, leiam os que quiserem e interpretem os que puderem, já que nós, os Teósofos da S. T. B., por exemplo, preferimos – sempre que podemos – buscar a vida simples dos campos, em harmonia com a Natureza, na sua perene festividade; ouvindo o canto

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EXPEDIENTE

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TRABALHO DAS LOJAS DA S. T. B. DURANTE O ÚLTIMO TRIMESTRE

LOJA MORYA

Nesta primeira Loja da S. T. B. continua fazendo um brilhante estudo sobre Filosofias, Religiões, Línguas e Ciência (comparativamente) o Eng. agr. Dr. Antonio Castaño Ferreira – cujas sessões têm sido assistidas pela elite de nosso mundo intelectual.

Em 4 de Abril, o Eng. civil Dr. Eduardo Cicero de Faria – Presidente da referida Loja, realizou uma palestra através do microfone da “Rádio Sociedade Mayrinck Veiga”, intitulada Noite e Dia ou a Atlântida Rediviva, extraída de um estudo de um dos “Livros de Revelações”, que vem escrevendo o Presidente da S. T. B.

O digno Presidente da Loja Morya foi cumprimentado por várias pessoas amigas, que procuraram ouvir essa sua palestra e até mesmo, pelos que se encontravam no estúdio da referida Estação irradiadora.

Do mesmo modo, em 5 de Maio o Presidente da S. T. B. – em visita à Loja Morya, fez a leitura de um outro estudo do mesmo “Livro de Revelações”, com o título “Agni, o Fogo Sagrado”. Terminada tal leitura, foi executado o famoso Mantran (Hino védico) das tradições hindus, cantado pelo coro da S. T. B. e acompanhado ao harmônio pelo referido Senhor.

melodioso das aves, saudando Apolo, quando desponta no horizonte – em toda a sua majestática grandeza – conduzindo seu carro de oiro, circundado de fogo; o sussurrar da brisa fagueira, entre as folhagens respingadas do orvalho da noite; o murmúrio cadenciado das cachoeiras e... até mesmo, quando, para “a primeira refeição do dia”, somos forçados a buscar a bondosa companhia das “vacas” (tal como se vê na fotografia apresentada aos nossos leitores)...

Porém, não como alguns fanáticos hindus que, preferindo não “retirar o boi da linha” (ou mesmo a vaca, pouco importa o sexo...), suplicam-lhe, quase de joelhos, a que lhes deixe o trânsito livre, etc.; mas, por vários outros motivos, inclusive, o de seu simbólico sentido como da “Vaca Sagrada”, segundo a língua maravilhosa dos deuses – o Sânscrito – adotada outrora na velha Índia. Sim, porque, Vâch – vaca – quer dizer, o Verbo, o aspecto plástico, feminino do Segundo Logos, a Mãe ou Espírito Santo... manifestado como Natura-Naturada. Sarasvati, um dos seus aspectos, é a deusa da Palavra e da Eloquência, ou aquela que preside aos sons, a música, etc., etc. Ademais, nunca se deve esquecer que esse animal sagrado quando muge, o faz através da Palavra Sagrada (pouco importa que outros não o tivessem dito anteriormente, ou seja, o OM – outras vezes MÔ, ou o inverso da Palavra – Inefável), como Unidade ou Som, do misterioso AUM, depois de pronunciado pela boca de um Iniciado... e repercutido como Sopro ou Hálito... por isso mesmo, de acordo com as regras ocultas. (Dos nossos “Livros de Revelações”). Do mesmo modo, quanto à palavra Gotama (erroneamente escrita e pronunciada como Gautama, por esquecerem alguns que, esse erro é devido aos Livros de Ocultismo, em sua maioria franceses, usarem do au, que tem o som de ô). Como é sabido, Gotama é o nome do Budha (o Príncipe Sidharta) e cujo verdadeiro significado é: “Condutor de gado” – simbolizando o de “guia ou condutor de almas”. Este, como muitos outros termos empregados nos códices antigos, serviram para o plágio das religiões ocidentais, quando chamam de “pastores de ovelhas” aos seus sacerdotes, que se querem fazer de “guias ou condutores de almas”... quando são os mais necessitados de quem os conduza ou guie pelos verdadeiros ou reais caminhos!... Fato esse, que nos faz lembrar a célebre frase de Ovídio (Metamorfoses, VII, 20): Video meliora, proboque, deteriora seqüor. (Vejo o bem, aprovo-o e faço o mal) – palavras que se aplicam ao homem de caráter fraco, que possui noção clara do que é honesto e justo, mas que não sabe resistir às tentações do mal. Razão por que tais sacerdotes inventaram esta outra frase, muito ao seu gosto e paladar: “Faze o que eles disserem e não o que eles fizerem”! Sem mais comentários.

E como a maior parte dos homens ignore tudo quanto acabamos de dizer e, muito mais, ainda, é que vai destruindo ou aniquilando o que havia em si de mais puro ou espiritual – tal como se acha maravilhosamente expresso naquela Esperança, que restou no fundo da “Boceta de Pandora”, quando Prometeu abrindo tal caixa, deixou escapar todos os males que nela se continham e... que se espalharam sobre o mundo. Essa “Caixa secreta ou misteriosa” – como Secreta ou misteriosa é a “Sabedoria Divina” (melhor dito, dos deuses ou super-homens, etc.), por não poder ser dada, senão aos que a Ela fizerem jus, de acordo com o dito atribuído ao Nazareno – “Não atireis pérolas aos porcos” – foi dada à Pandora por Minerva, “deusa da Graça e da Sabedoria”... ou seja, a mesma que há de salvar a Humanidade inteira... da perene ignorância em que tem vivido até hoje!...

Porém, até que chegue esse Dia, continuará a manifestar-se o dedo do Deus-Karma; a onda do Destino, o Talião inexorável das coisas, diante da suprema piedade dos que transpuseram, vigorosos, as fronteiras do reino do Mistério, rompendo, hercúleos, o Véu de Maiá (Maya) ou de Ísis, do mais além das coisas... até chegar a estas crianças que se chamam homens e... que são más, porque são ignorantes; que são ignorantes, porque são egoístas, e que são egoístas, porque, desgraçadamente, têm mais de bestas ou de animais que de homens, pelo fato de mui poucos degraus terem subido na escada evolutiva dos seres!...

E com isso, sirvam as menores coisas para iniciar os homens, já que a Verdade se cobre com o véu diáfano da Fantasia!...

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A sessão, que foi pública, teve uma assistência regular, composta de pessoas cultas.

LOJA KUT-HUMI

Nesta segunda Loja da S. T. B. está fazendo um interessante estudo sobre as várias escolas filosóficas (orientais e ocidentais) o Eng. agr. Dr. Antonio Castaño Ferreira, embora que tais sessões tenham sido de caráter privativo dos sócios da mesma Loja.

LOJA HILARIÃO

A terceira Loja da S. T. B. com sede em Belém do Pará e sob a presidência de nossa Irmã Maior – Gracilia de Bittencourt Baptista, continua a sua gloriosa faina de espalhar “a semente boa e sadia” entre os sedentos de Luz – a começar pelos seus (para não dizer, nossos) mui queridos pupilos, aos quais ela procura fazê-lo, segundo a infância de sua inteligência, porquanto, estão ainda a ensaiar os primeiros passos na Vereda da Vida e... por isso mesmo, como os mais necessitados de auxílio por parte dos que se acham distanciados na “grande jornada cármica” das várias vidas que o Ego tem de percorrer.

A nota predominante do “trimestre da Loja Hilarião”, é a que se refere ao enlace matrimonial (em 30 de Abril p. p.) do Sr. Carlos Lucas de Sousa – mui digno Tesoureiro da referida Loja – com a senhorinha Alice Neves, sobrinha do Sr. Affonso Neves.

O ato civil realizou-se na residência dos tios da noiva, à praça Chefe de Esquadra Pedro da Cunha, nº 4, servindo como testemunhas, por parte da nubente, o Sr. Francisco Lucas de Sousa e esposa, e pelo noivo, o Sr. Affonso Neves e esposa; Manuel Lucas de Sousa e esposa e D. Gracilia de Bittencourt Baptista, digna Presidente da “Loja Hilarião”.

Nada de melhor podemos desejar ao jovem par do que a que já possuem: a grande felicidade de nesta vida se acharem alistados nas fileiras teosóficas e como tal, sob a benéfica proteção dos Grandes Seres de Sabedoria.

DIA DO LOTO BRANCO

Como todos os anos, o dia 8 de Maio, ou aquele em que o mundo teosófico comemora a desencarnação do grande Ego que teve o nome de Helena Petrovna Blavatsky, a S. T. B. realizou na sua Sede Central, em Niterói, uma sessão especial para comemorar não só esse acontecimento a que se deu o título de “O Dia do Loto Branco”, como o do 4º aniversário que esta Sociedade, deixando o seu primitivo nome passou a usar, isto é, “Sociedade Teosófica Brasileira”.

Além dos membros da S. T. B. e algumas de suas dignas famílias, estavam presentes pessoas que frequentam a Loja Morya e as quais receberam convite direto por parte do Presidente da S. T. B. quando três dias antes visitara a referida Loja.

Tal reunião – de caráter puramente festivo – obedeceu ao seguinte Programa:

a. abertura da sessão pelo Presidente da S. T. B., que fez um longo estudo iniciático;

b. mantram a Agni pelo coro da mesma Sociedade e acompanhado ao harmonium pelo mesmo senhor;

c. ligeiros traços biográficos de H. P. B. pelo eng. agr. Dr. Antonio Castaño Ferreira;

d. canto com acompanhamento ao piano pelas irmãs Lucilia e Julieta Faria;

e. homenagem da “Loja Morya” da S. T. B. a Helena P. Blavatsky, pelo Presidente da referida Loja;

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f. recitativo de uma bela poesia de nosso Irmão Sr. Vergilio Guavanás de Sousa, residente em São Paulo (cujo recitativo obedeceu a um pedido seu expresso por carta dirigida ao Pres. da S. T. B., pois se trata de um dos mais devotados admiradores da grande Mestra no mundo).

g. Hino social cantado pelo coro da S. T. B. e acompanhado ao piano pelo autor;

h. Encerramento da sessão pelo Vice-Presidente da S. T. B. – Com. Tancredo A. Gomes.

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PALESTRAS TEOSÓFICAS PELO RÁDIO

Foi esta a palestra realizada pelo Eng. civil Dr. Eduardo Cícero de Faria – ilustre Presidente da “Loja Morya” da S. T. B. – através do microfone da “Rádio Sociedade Mayrinck Veiga”, em 14/03/1932:

VIBRAÇÕES

Sem receio de errar eu ouso afirmar a todo o vasto auditório que me honra com sua atenção, que foi a Teosofia que forçou os cientistas a admitir a lei geral das vibrações que a “Doutrina Secreta” sempre afirmou ser a base fundamental de toda a vida.

Emmanuel Swedenborg, o grande teósofo sueco que viveu nos anos 1688 a 1772, já se exprimia naquela época dizendo que “a lei mais essencial da Natureza é a da vibração”. Um ponto morto, um ponto imóvel é absolutamente impossível dentro do nosso sistema. Os movimentos sutis que chamamos de vibrações ou ondas, os mais vigorosos que chamamos de oscilações, as trajetórias dos planetas que chamamos de órbitas, as épocas da História que conhecemos como ciclos, tudo é um movimento ondulatório, cíclico de ondas no ar, no éter, na água, na aura, na terra, por nebulosas, pensamentos, emoções de todo o imaginável, etc.”.

Assim continua o grande iluminado com expressões suficientes para que possamos nutrir a convicção de que as recentes teorias científicas não são mais do que reminiscências da Sabedoria Antiga, a que as obras teosóficas fazem alusões mais ou menos desenvolvidas.

A Ciência oficial ainda limita seus conhecimentos ao que afeta os sentidos atuais da espécie humana, ao passo que a Teosofia a excede, porque vai pesquisar em fontes onde encontra ensinamentos de Egos de capacidade de evolução muito mais desenvolvida, podendo entrar em ação com faculdades, de cuja posse não suspeita sequer a generalidade humana, dentro de suas reduzidas atividades físicas e mentais.

Para esta, o Universo com tudo que contém, é completamente ilusório, porque supõe que os fenômenos que observa, são como eles impressionam e não tais como são realmente.

A este propósito, o grande teósofo M. R. Luna, na sua obra magistral “SIMBOLOGIA ARCAICA”, nos conta a sugestiva história de quatro cegos amigos, que pretendiam fazer idéia do que era na realidade um elefante e, com a oportunidade que lhes foi oferecida, o apalparam simultaneamente e de modo ligeiro, como aliás o faz a generalidade dos observadores, e então, enquanto que um não conseguia abarcar com os braços abertos seu enorme ventre, outro apalpava uma das patas traseiras, o terceiro fazia o mesmo à tromba e o último limitava-se a sentir junto à face a sacudidela da orelha do paquiderme.

O primeiro, depois do exame declarou que o elefante era uma enorme talha, o segundo, que parecia antes uma coluna firme, o terceiro contestou, dizendo que se assemelhava a uma serpente flexível e o último afirmou que o elefante parecia mais um grande leque que se agitava no ar.

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Esses pobres homens privados do sentido visual, nos dão o exemplo frisante de quanto vale a cegueira moral dos que estão principalmente incluídos no brocardo popular que diz que “o pior cego é aquele que não quer ver”.

Se a verdade para cada um de nós está pois na conformidade da relação que existe entre o nosso entendimento e a realidade, segue-se que podem haver, no estado atual da humanidade, tantas verdades quantas modalidades segundo as quais se nos apresentam os fenômenos que observamos, assim como podem também haver verdades efêmeras ou transitórias.

Afirma a Teosofia que a lei que rege o nascimento, o desenvolvimento e o fim de tudo que se contém no Universo tem que ser a mesma, desde o Sol até o verme mais insignificante. Pode haver maior ou menor perfeição na sua realização, mas as forças que agem e a substância sobre a qual atuam, incontestavelmente são sempre as mesmas.

Estudando o Universo, desde a célula diferencial até as nebulosas, esforça-se o homem por conhecer as leis da Natureza, para chegar a conseguir dominar forças que, no estado atual de sua ignorância, agem discricionariamente, sem o necessário controle.

O real e positivo não é somente o que se vê, ouve, aspira ou apalpa, mas tudo quanto possa ser reduzido logicamente.

Não é possível mais negar o que não é constatado pelos órgãos sensoriais comuns, mas que pessoas de acuidade sensível acima da média geral, são suscetíveis de perceber, desde que recebam influência das forças latentes que existem neste colossal reservatório de energias que é o ambiente que nos cerca.

Se todos os prezados ouvintes não dispusessem desses aparelhos engenhosos que a técnica moderna das radiocomunicações pôs ao seu alcance, para conseguirem detetar e ampliar as vibrações que estão sendo irradiadas desta estação emissora, delas não teriam a menor noção, embora os estivessem envolvendo neste momento, e portanto, não teriam o direito de negá-las, nem de duvidar de sua existência, mas apenas poderiam afirmar a incapacidade própria de recebê-las por falta dos dispositivos apropriados à sua demonstração.

As teoria físicas existentes prestam-se perfeitamente para explicar de modo cabal tudo de que necessita o homem, para que, mesmo sem sair das observações através dos seus sentidos atuais, vá conseguindo verificações com o auxílio de experiências e, por meio de deduções, vá chegando até o conhecimento de determinadas leis da Natureza, sobre as quais se poderá basear então para compreender que segue caminho seguro nas suas investigações.

Falta preparar-se o investigador para ir entrando em harmonia com as forças latentes da Natureza, de modo a conhecer e pôr em ação as íntimas relações existentes entre o seu organismo e as forças que o cercam, que podem passar a repassar ao alcance da generalidade humana, sem que as perceba de nenhuma maneira.

A pessoa que vos fala está em idênticas condições, só tendo, a seu ver, a vantagem de estar convicto de que cada um de nós é suscetível de desenvolver faculdades que permitem ir entrando gradativamente no conhecimento de tais forças, em vez de ficar simplesmente e discricionariamente a elas submetido.

A constante preocupação de compreender a verdadeira finalidade da existência humana é, a meu ver, necessária e suficiente para que vamos controlando todas nossas ações, por mais insignificantes que nos pareçam, para conseguir dominar os instintos e deste modo, incentivar tudo que possa concorrer para nossa elevação moral.

Os conhecimentos da Ciência a respeito dos mundos invisíveis ou supra-sensíveis não podem mais pô-los em dúvida, desde que, por exemplo, pelas radiações ultravioletas são conseguidas impressões fotográficas que o espectro solar é incapaz de distinguir entre as colorações conhecidas.

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Placas fotográficas ultra-sensíveis reproduzem assim o que é imperceptível aos órgãos da visão ordinária.

Serão necessários argumentos mais decisivos para demonstrar a necessidade que têm os intelectuais de se dedicarem ao estudo da Teosofia, ou seja, à fonte primordial onde possam aurir as noções de que necessitam para poderem formar juízo seguro sobre o que estou afirmando?

Os mistérios da Natureza, que constituem o que geralmente toma o nome de Ocultismo, embora sob tal denominação se ocultem também os que o exploram ignobilmente, precisam ir sendo pouco a pouco desvendados, à medida que os estudiosos forem percebendo quanto é limitada a ação de seus sentidos atuais e procurarem desenvolvê-los, adaptando-se às leis invariáveis dessa mesma Natureza e, deste modo, abandonando a idéia egoísta e irrisória de que o Universo, com todas as maravilhas que o compõem, foi criado para mera satisfação de seus desejos pessoais, passando assim o observador a ser o centro de gravitação de todo o mesmo Universo.

Quanta estultícia, quanta presunção!

O que existe de fato, é a Lei e o estudante de Ocultismo é o adepto da BOA LEI que, tal como disse o Ven. Pres. da S. T. B., num dos seus vibrantes artigos publicados no “Diário do Estado” da vizinha cidade de Niterói, pertence a todos, desde que estejam de acordo com Ela, a começar pela própria Natureza, isto é, pelo aperfeiçoamento humano, por meio da união de seu espírito, com a VIDA UNA”.

A “VIDA UNA”, simples e harmoniosa, é a base de toda a Lei.

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É verdade que as concepções físicas modernas já estabeleceram propriedades comuns a todos os componentes do Mundo que se distinguem apenas pela diversidade da energia de que estão animados.

Essa diversidade da energia é considerada pelos seus efeitos porque não é difícil conhecer as íntimas correspondências que existem entre as diversas formas de energia.

Quer isto dizer que varia apenas o gênero da vibração, assim como o meio em que age, cujo grau de elasticidade permite mais ou menos facilmente a propagação vibratória e, à medida que aumenta a frequência vibratória, é óbvio que o ambiente se vá tornando cada vez mais sutil.

Num meio assim mais elevado, mais fino e apurado, as colorações devem ser mais brilhantes e os sons forçosamente mais harmoniosos.

O Som é, aliás, uma vibração ritmada que, embora para a sensação humana seja a que se serve de veículo mais denso para propagar-se, como é o ar atmosférico, tem uma significação muito elevada, pois que com ele é identificado o impacto primordial, que deu causa à formação do Universo.

Não é outra a razão por que a palavra que o distingue tanto pode derivar-se de Sonum, que procede do sânscrito swanas, cujo radical swan quer dizer retinir, ressoar, como também do latim summum, que indica o alto, o cume, o ponto mais elevado.

Swan também quer dizer cisne, ou seja, “a ave sagrada” que ao morrer, canta maviosamente, como o Ham-sa védico, que cria os Universos, como veículos do Som eterno, o Ôm sagrado das tradições.

Este Som é o Logos platônico, os trovões do Apocalipse, as trombetas de Ezequiel, ou o Vach indiano, que se manifesta como SARASVATI, a Deusa da Palavra e da eloquência.

Na China é representada por Swan-Yin, a “Voz Melodiosa”, a Mãe da Sabedoria, que deu origem a se chamarem os seus sacerdotes iniciados Lohans ou Sohans, nome também dado aos primitivos Arhats budistas, pelos belos hinos que entoavam.

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Daí os ocidentais da idade média terem criado o símbolo do Swan Ritter brabantino, ou do Cavaleiro do Cisne”, ou ainda, dos “Inspirados pelo verbo sagrado”, donde Wagner extraiu os elementos para o Lohengrin, palavra que por seus radicais demonstra sua filiação turânica.

A Ciência Esotérica ensina que todo som produzido no plano inferior, do mundo visível e audível, desperta outros sons harmônicos na parte mais sutil da Natureza.

Deste modo, o som que emitimos, com o poder mágico da palavra, oriundo do magnetismo pessoal de cada um, não deve ter limites senão os determinados, infelizmente para nós, pela restrição do nosso sentido de audição e qualquer vibração que dê lugar à produção do som deve agir assim, como disse, em todos os planos da Natureza.

Em outras palavras, toda a NATUREZA se apresenta assim como uma formidável escala de Harmonia.

Compreende-se, pois, sem grande dificuldade, como os estudantes do Esoterismo admitem que o som produzido pela palavra sagrada, emitida naturalmente pela Entidade que só possuam elementos puros na composição de sua personalidade, constitua por si só, o mantram dos mantrans, do mesmo modo que somente desgraça pode atrair para aqueles que a pronunciem com pensamentos indignos, sem consciência pura e sem conhecer o desejo firme de ser útil à Humanidade.

Essa palavra só pode ser emitida, com sua verdadeira vibração, pelos grandes Adeptos que, porém, nunca a pronunciam entre profanos, porque, como tais estes se acham em completa desarmonia com os centros de força sobre os quais ela atua imediatamente.

Como sabem os ouvintes, a palavra sagrada é a sílaba primitiva composta de três letras, outros sons correspondentes à Tríade Védica, na qual se contém toda a Ciência, porque representa a Essência de todo o Universo ou o Ser que existe por si mesmo, cujas alternativas, de sono e de vigília, produzem a destruição ou a Criação dos Universos.

Prezados ouvintes, como lamento não poder estar em condições de evolução tal que me facultassem encerrar esta pequena dissertação com o Som inefável da palavra sagrada, que permitisse, através do Akasha, que outro não é, senão, o Éter Sonoro, ou o ambiente onde se acham gravadas nossas ações e nossos pensamentos, fazer a translação de vibrações as mais puras que se difundissem em benefícios reais para toda humanidade...

Na impossibilidade cármica de assim proceder, seja-me lícito, ao menos, nutrir o íntimo desejo de que das vibrações emanantes das minhas simples e breves palavras, possa decorrer alguma energia que, sob a forma dos sons que vos atingem neste momento, seja capaz de vos fazer compreender os sentimentos de pura fraternidade que animam, para com todos vós, a S. T. B., em cujo nome eu tenho a grata satisfação de saudar cordialmente todo o auditório que me honrou com sua atenção, assim como a digna Associação do Rádio que benevolamente serve de veículo a estas mesmas vibrações.

––––––

Em continuação à primeira palestra, o Presidente da S. T. B. – Professor Henrique J. Souza – realizou a seguinte, pela mesma Estação irradiadora, em 21/03/1932, ou sejam, sete dias depois:

INICIANDO PELO RÁDIO

Prezados ouvintes:

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Sinto-me feliz por ocupar – por vez primeira – o microfone de uma Estação de Rádio – cujo microfone simboliza – tanto agora como em todas as vezes que serve de transmissor do SOM – daquilo que em TEOSOFIA denominamos de ANTAKARANA, ou ponte que separa duas coisas entre si, como por exemplo: a vida da morte; o homem encarnado de sua essência espiritual e até, como liame entre o Mental Superior e o Inferior, etc., etc.

Pelo que se vê, este, como qualquer outro microfone das diversas Estações irradiadoras do mundo – é a PONTE que separa o lugar onde é irradiado, ou melhor, transmitido o SOM, de outros lugares onde se encontram inúmeras pessoas interessadas por esta ou aquela palestra, por esta ou aquela música, etc.

Esotericamente falando, o centro de força no homem, que pode ser chamado de Antakarana, é a garganta ou lugar donde sai a voz. Algumas horas antes do homem partir deste baixo mundo, advém-lhe uma vida toda fictícia e, como “um canto de cisne” na hora de sua morte, ele se despede dos seus e do mundo, por meio de palavras repassadas de ternura e muitas vezes até, de saber elevado, como provam todas essas frases memoráveis que a História subscreve e que foram proferidas por diversos homens célebres do mundo. Porém, logo chegado o derradeiro momento, ou melhor, do abandono do corpo físico pelos demais veículos de que o mesmo se compõe, ele perde por completo a voz, restando-lhe apenas um ronco surdo e estertoroso na garganta – misto de humano e de animal, a que o vulgo chama de “cirro da morte”, mas um verdadeiro mar de gosma ou de saliva, que lhe embargando a voz, é como se fora a última de todas as tempestades que o mesmo teve de sustentar nesse mar difícil de navegar... que é a vida!

Porém... como a morte seja “a maior de todas as mentiras”, como disse São Paulo, mas um simples “adeus” ou até breve, dirigido aos que ficam – o corpo físico volve ao Sancta-Sanctorum da Mãe Terra... transformando-se logo em miríades de vidas à parte, enquanto a alma, a sua peregrinação, em busca do esposo – tal como inconscientemente já o buscava em vida – segundo nos ensina a célebre fábula grega de Psiké – e cujo esposo outro não é, senão, o Espírito, ou melhor, o Eu de cada homem. Daí o dizer-se: “Busca dentro de ti mesmo o que procuras fora”. E que concorda, ainda, com o “Nosce te ipsum” ou Conhece-te a ti mesmo do famoso templo de Delfos.

No caso vertente, o fato está simbolizado do seguinte modo: o físico ou material, nos ouvintes; o psíquico ou anímico, na Estação irradiadora – que os ouvintes sentem ou sabem existir, mas não vêem, e que é ainda, aquela que provoca sentimentos de várias naturezas na alma humana; enquanto que o espiritual está representado no próprio SOM, que embora apercebido pelos nossos ouvidos, não é visível ou palpável!...

A própria palavra PESSOA ou PER-SONA se faz demasiadamente clara para demonstrar o que acabamos de dizer, isto é, PER-SONA, ou “aquilo pelo qual o SOM se manifesta.

Aqueles que praticam certas YOGAS ou exercícios orientais, apropriados à vitalização desses mesmos corpos e que tendem, portanto, a formar o Homem Sintético – já que o próprio termo Yoga implica em UNIÃO – sabem que existe um centro de força no Homem, que está diretamente ligado à questão do SOM ou Éter Sonoro, isto é, a GARGANTA, ou o mesmo de que já tratamos no começo. A pessoa psiquicamente desenvolvida por tais processos ou exercícios, começa desde logo a ouvir vozes estranhas – muitas vezes frases inteiras e até músicas de harmonia transcendente, que lhe fazem deixar por momentos, as pesadas cadeias que a prendem ao mundo físico!...

Dentre tais frases figuram algumas pronunciadas pela própria pessoa em existências anteriores; e quando simultaneamente é desenvolvida a visão – aliás, pelo centro de força existente na fronte, o chamado “olho de Shiva” ou o “ureus mágico” dos egípcios e que os faraós tinham por símbolo nesse lugar uma serpente de bote armado

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para a frente – além dos sons, se manifestam cenas perfeitas de fatos, não só estranhos à pessoa, como relacionados às suas vidas anteriores!...

Infelizmente, a exiguidade do tempo não me permite abordar um assunto que poderia ocupar vários volumes de Ciência oculta, ficando isso para ser desenvolvido em doses fracionadas por outros que futuramente, venham ocupar este microfone e, talvez, com muito maior proficiência do que aquele que ora vos dirige a palavra.

Como sabeis, a Música é a arte de sentir e de pensar em sons; de modo que, agindo sobre nós, tanto pode estimular-nos intelectual como emocionalmente.

Vivemos constantemente assediados e inoculados pela música e o ruído. Nossos corpos vivem como antenas frágeis sob as constantes influências, ou melhor, impactos desse imenso oceano de vibrações que nos banha por toda parte. E dessas vibrações, as auditivas, ou as que impressionam o nervo auditivo, são as mais capazes de promover transformações bruscas, favoráveis ou desfavoráveis, em nossas humanas naturezas.

Assim é que, além dos momentos de prazer que o Rádio pode produzir em nossas almas – quase sempre entristecidas pelas grandes lutas que somos forçados a sustentar neste campo de batalha que é o mundo – quer pela música saltitante e alegre, tão do feitio de nossa gente, como um misto de reminiscência do sangue nobre do português fundido no da raça guerreira do tupi; quer pela dos clássicos – principalmente dessa Tríade inspiradora da Humanidade, que foi Beethoven – Wagner – Bach; como ainda, através das valiosas e instrutivas palestras que aqui fazem diariamente os homens cultos de nossa terra – pouco importa se de caráter político, social, filosófico, religioso, etc., etc, são fatalmente gravadas como Som físico nesse AKASHA ou Éter Sonoro de que já falamos e que foi motivo da última palestra do ilustre confrade Engenheiro civil Dr. Eduardo Cícero de Faria – Presidente da nossa Loja Morya, que funciona nesta capital.

A palavra sânscrita AKASHA, traduzida para a nossa língua, tanto vale por “a causa psíquica e espiritual do SOM”. Akasha (que alguns pronunciam erroneamente Ákasa), representa, ainda, a matéria plástica primordial.

É o Grande Livro da Vida, pois que é nele onde se registram todos os fatos da História, como também, os que se prendem ao mistério insondável das várias vidas percorridas pelas “mônadas”, em busca de Experiência, desde que, por vez primeira, saíram do Seio de Ishvara ou o Ser Supremo, o Logos donde emanaram todas as individualidades!...

Esotericamente falando, esse AKASHA tem estreitas ligações com Vênus e o grande mistério da Balança – signo desse mesmo planeta e... que resolve – para os Iniciados – o chamado “Problema do Sexo”, da “Queda dos Anjos”... e até, o da futura transformação dos “12 signos zodiacais” em Dez, como mui veladamente falam os Livros Sagrados do Oriente!

As religiões ocidentais se referem ao Anjo Mikael ou Miguel, “com a sua espada flamígera à porta do Paraíso”, ou o Gan-Eden das Escrituras sagradas (donde proveio, por exemplo, a palavra inglesa “Garden” – jardim, etc.) – esse mesmo Mikael a quem nós chamamos de “o adversário virgem do dragão Apophis”, de quem toda alma fracamente unida ao seu espírito imortal é a vítima. Do mesmo modo, ainda, quando tais religiões afirmam ser ELE quem pesa na sua BALANÇA as boas e más ações, deixam velado o verdadeiro sentido que somente Teósofos ou Iniciados podem decifrar ou desvendar – embora que lhes seja vedado divulgar aos profanos!...

Referem-se, ainda, a tão magno problema, as palavras atribuídas ao Nazareno: “Quem semeia ventos, colhe tempestades”, ou então, “Pedro, quem com ferro fere, com ferro será ferido”; e até, as do bendito Mahoma: “Dente por dente, olho por olho”. Sim, porque, tais frases demonstram fartamente que, tanto as boas como as más ações, são escritas no Grande Livro da Vida dos Seres!

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Aquele que deseja, portanto, evoluir, ou melhor, alcançar os mais elevados degraus da “grande escada da visão de Jacob”, ou seja, a da evolução humana – tal como um aerostato que necessita elevar-se pelas regiões do espaço, tem que se alijar do pesado lastro de seus maus atos e pensamentos gravados ou escritos – como vibração ou Som – naquele referido lugar – para que sua alma, unida ao seu Espírito – até então divorciados ou separados pela matéria grosseira construída pelo próprio homem – chegue um Dia a fundir-se no Espírito Universal, segundo o verdadeiro sentido da “Parábola do Filho Pródigo” que volta à Casa Paterna e não, a grosseira interpretação que lhe dão as religiões ocidentais.

Não raro é ouvir-se dizer: “Não sei porque razão hei de sofrer tanto nesta vida, pois não me lembro de mal algum ter feito a outrem!...”

Nem sempre o sofrimento é uma reação produzida por atos e pensamentos maus desta vida, mas sim, de anteriores. É a “lei de Causa e Efeito”, ou a que todos os Teósofos do mundo conhecem como a lei de “KARMA” e... a única razão das várias encarnações por que passa o Ego!...

A pessoa não se lembrar de suas vidas anteriores, é devido à ilusão natural da matéria física que nos rodeia, ou aquela que nós mesmos a tecemos, para com ela nos vestirmos!...

Revoltar-se contra tal Lei “é malhar em ferro frio”, ou proceder como a mariposa que tanto voluteia em torno da chama de uma vela... que acaba queimando as suas lindas asas! E por isso mesmo, aí está aberto ou desdobrado o misterioso Livro Akhasico – à guisa de cerúleo manto do Firmamento – onde irão chocar-se as formas mentais de nossa rebeldia contra a Lei Universal!...

Nunca se deve esquecer o velho aforismo: “Quanto mais pesado fizeres o mundo, mais o mundo pesará sobre ti!...”

Inútil, portanto, toda e qualquer queixa, toda e qualquer súplica, esperando que a chamada Divindade lhe venha em auxílio, porquanto o seu próprio Filho ensinou aos homens “Fazei por ti que eu te ajudarei” e não, revolta-te contra o meu e o teu Pai, que Eu te ajudarei!...

Por tudo quanto ficou dito, os nossos prezados ouvintes deduzirão que o próprio homem é uma Estação irradiadora – tanto de “boa, como de má música!, segundo seus atos e pensamentos, e por isso mesmo, é dever seu procurar irradiar tudo quanto se harmonize com o Bom, o Bem e o Belo, criando, desse modo, no interior e exterior de si mesmo, um ambiente que lhe fará feliz e a todos quantos de si se acercarem – já que a felicidade material é uma consequência lógica da espiritual!...

Orfeu fazendo vibrar as cordas de sua Lira, nos ensinava que devemos trazer harmônicas, ou melhor, afinadas pelo Diapasão Divino, as cordas de nossa Lira – a chamada Vina de Shiva, das escrituras orientais – cujas Três Cordas desferidas em uníssono, fazem vibrar as Sete da gama musical celeste, por isso mesmo, representam elas: Harmonia, Melodia e Ritmo. Ou melhor, segundo a Teosofia, as três Cordas ou “gunas” (qualidades de matéria), denominadas: Sattva – a Harmonia; Rajas – a Atividade; e Tamas – a obscuridade! E muito mais transcendentalmente: os três Corpos de que o Homem se compõe, segundo a teoria de Plutarco de que, “enquanto o homem se acha na Terra, seu corpo físico a ela está ligado; o psíquico ou Alma à Lua e o Espírito ao Sol!...”

E eis ainda a razão por que os livros sábios da Índia nos dizem: “Aquele que ultrapassa o Akasha, é fonte de toda Riqueza (melhor dito, pureza). É um Keshara ou o próprio Logos manifestado, isto é, a união de Brahmã, Shiva e Vishnú... sintetizados na Palavra Sagrada de que falou o nosso ilustre confrade Dr. Cicero de Faria, na segunda-feira passada, e cuja Palavra é composta justamente de tres letras (tal como as tres

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cordas de nossa Lira) e que logo pronunciadas, deixam de ser Palavra para ser SOM, demonstrando assim, o mistério dos Três em UM!...

Para terminar esta desvaliosa palestra, chamo a vossa benévola atenção para o Hino da S. T. B., que vai ser cantado pelo Coro da mesma sociedade, com acompanhamento ao piano... e cujo Hino a mesma Sociedade tem a honra de dedicar-vos no dia de hoje, com o valioso concurso da “Rádio Sociedade Mayrinck Veiga”.

Se algum valor ele possui, não é o do autor, que nada conhece de Música, mas do que ele mesmo (Hino) tem escrito ou gravado nos Anais Akashicos ou Éter sonoro, de que nos ocupamos nesta palestra – pelas várias vezes que tem sido executado. A sua letra é a síntese maravilhosa da missão em que estamos empenhados para o Brasil – missão que é bem vossa! E é por isso que ele tem por título: “O Alvorecer de um Novo Ciclo”...

Ademais, o seu primeiro e último tempos obedecem à tônica Si, ou sétima nota musical, de acordo com a nossa missão, isto é, a 7ª sub-raça ariana – embora que, nos demais tempos se sujeite às exigências musicais, isto é, entre no domínio de outros tons – à guisa da Obra grandiosa da Criação que se sujeitou, por sua vez, às sete notas da gama musical celeste – através dos Sete DHYANS-CHOHANS das tradições tibetanas, os Elohim 19 dos hebreus ou os Arcanjos das religiões ocidentais, copiados dos símbolos milenares do Oriente – até mesmo nos candelabros de 7 luzes, que ornam os altares de seus templos. Aí estão, ainda, os “7 Dias de Brahmã ou da Criação”, pois, como diz um dos Puranas: “O Grande Arquiteto do mundo dá o primeiro impulso ao movimento rotatório de nosso sistema planetário, caminhando alternadamente sobre cada planeta e sobre cada corpo” e cujos planetas, como sabeis, são 7 e coincidem com os 7 dias da semana – que aliás, possuem os seus nomes; do mesmo modo que 7 são as cores do espectro solar e mil outras coisas que o tempo não me permite citar. 20

19 Não dizemos “os Elohins”, porque tal palavra não é portuguesa e sim hebraica, e é o plural de Elohah ou El – o Ser dos Seres, ou o conjunto de seus pensamentos criadores; os Hebreus chegam a designar com esta palavra as forças criadoras do Cosmos, cujo Deus Inefável não seria, senão, a Chave ou o Centro. Os Elohim são análogos aos Dhyân-Chohans – palavra sânscrita, que quer dizer: Senhores de luz; Entidades espirituais elevadas, análogas aos Arcanjos ou Espíritos Criadores em número de Sete. 20 Maior mistério se oculta no 3 e no 7 a respeito dos Sons e das Cores! Diremos apenas que, segundo é sabido, as cores do espectro solar são 7, de acordo com os 7 raios de Luz, simbolizados naqueles mesmos Arcanjos, Elohim ou Dhyans-Chohans... e que, cada um possui a sua tônica natural.

Simbolizam, ainda, os Sete estados de consciência, pelos quais a Humanidade tem de passar, para alcançar a sua evolução completa na Terra, de cujos, os 3 primeiros são Atma-Budhi-Manas e os 4 outros, são os chamados “4 Princípios inferiores”, que um dia serão esmagados, ou melhor, cavalgados pela própria Humanidade redimida, segundo a tradição antiga do “Kalki-avatara” ou o “Guerreiro descido das nuvens, cavalgando um cavalo branco”.

Como é sabido, as Sete cores do prisma têm como matrizes ou cores primárias: o amarelo, o azul e o encarnado; as outras quatro são complementares, ou melhor, nuances daquelas três primeiras.

Assim é que, o magno problema da vida, comparado ao mistério das 7 cores do espectro solar, está em se fazer desaparecer as côres complementares, que são nuances, mistura ou falsas colorações das 3 cores primárias, ou melhor, da Tríade Superior – Atmâ-Budhi-Manas – a fim de que esta volva à sua original pureza e luminosidade... É o que se pode chamar a posse completa da Consciência Universal, já que a Tríade Superior, nada mais é do que manifestação da Unidade-Síntese, cuja cor é o branco para a maioria... mas, para os conhecedores dos altos mistérios da Vida, é outra mui diferente!... (Dos nossos “Livros de Revelações”).

O número Sete é profundamente venerado pelos que conhecem o mistério de tudo quanto se manifesta no universo, inclusive entre os brahmanes, em cujas escrituras se encontra, por exemplo, o seguinte:

Sapta-Richis, os sete sábios da Índia;

Sapta-Pura, as sete cidades celestes;

Sapta-Dwipa, as sete ilhas santas (continentes e também globos das cadeias planetárias, já que uma coisa é sombra da outra, segundo a teoria hermética de que o que “está embaixo é igual ao que está em cima”... Os continentes, segundo os Puranas, são sete: Jambu, Plaksha, Salmali, Kusha, Kraunka, Shaka e Pushkâra);

Sapta-Saamudra, os sete mares;

Sapta-Nady, os sete rios sagrados;

Sapta-Par atta, as sete montanhas santas;

Sapta-Arania, os sete desertos sagrados;

Sapta-Vrukcha, as sete arbores celestes;

Sapta-Cula, as sete castas;

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Em referência ao Brasil, já temos dito por vezes várias, que o seu Nome bem indica que é nele onde se mantêm vivas e crepitantes as brasas do Fogo Sagrado ou da Sabedoria! E, por isso mesmo, é o berço da futura civilização anunciada pelos Super-Homens que se fizeram Guias da Humanidade, embora que desde já, como uma Nova Canaã ou Terra da Promissão, onde encontrarão asilo seguro todos os homens da Terra – sem distinção alguma – tal a riqueza incomparável de seu solo e a fraternal hospitalidade que caracteriza a alma de seus filhos!...

Dizem os livros sagrados: “Entre as cores e sons descansam as chaves para os resultados objetivos dos processos ocultos do pensamento. Não só por eles se produzem os efeitos diretos, como também, por seu uso – consciente ou inconsciente – os poderes elementais da Natureza podem ser captados e guiados pela Vontade!

Toda a Magia dos antigos consistia em se dirigirem eles aos seus deuses nas suas próprias linguagens, isto é, segundo os ensinamentos ocultos de que “a linguagem dos homens não pode atingir aos Senhores. Para dirigir-se a tão elevados Seres, mister se faz empregar a linguagem de seu elemento respectivo... “E sobre a natureza da linguagem de tais elementos, são eles, ainda, que nos ensinam: ‘Ela é composta de SONS e não de palavras; de Sons, de números e formas. Aquele que souber servir-se dessas três coisas

Sapta-Loka, os sete mundos superiores e inferiores, etc. ...

Segundo os brâmanes, o número sete encerra em seu sentido místico, uma representação alegórica do Deus irrevelado, da Tríade inicial e da tríade manifestada: Zyaus, o Deus irrevelado – germe imortal de tudo o que existe; Tríade inicial, Nara-Nari-Viradj, porque Zyaus, tendo dividido seu corpo em duas partes (o Pai-Mãe das escrituras santas), macho e fêmea – Nara e Nari, produziu Viradj, o Verbo Criador. Tríade manifestada, Brahma, Shiva e Vishnu (São as tres deusas da Mitologia grega: Cloto, Lachesis e Atropos, uma que fiava, outra que tecia e outra que cortava o fio. Do mesmo modo que Brahmã é o Criador; Shiva o destruidor, ou melhor, transformador; e Vishnu, o conservador).

A Tríade inicial, puramente criadora, se transforma em Tríade manifestada, uma vez o Universo saído do Caos, para criar perpetuamente, conservar eternamente e consumar sem cessar.

Devemos lembrar como um sinal indelével de origem, como os Judeus deram, igualmente, um sentido misterioso ao número sete.

Segundo a Bíblia:

O mundo foi criado em Sete dias;

As terras devem repousar todos os Sete anos;

O ano do jubileu sabático, volta todas as sete vezes, sete anos;

O grande lustre de oiro do templo tem sete braços, cujas sete chamas representam os Sete planetas.

Sete sacerdotes fazem ressoar sete trombetas durante sete dias em volta de Jericó e as muralhas dessa cidade se desmoronam no sétimo dia depois que o exército israelita deu sete voltas em torno da mesma.

Encontra-se no Apocalipse de João:

As sete igrejas (as sete religiões, embora a de Roma queira ser a única);

Os sete candelabros;

As sete estrelas;

As sete lâmpadas;

Os sete selos (sinetes, símbolos, etc.);

Os sete anjos (Michael, Gabriel, Samael, Raphael, Sachiel, Anael e Cassiel. Seus nomes esotéricos são bem outros);

Os sete vasos;

As sete chagas;

Do mesmo modo, o profeta Isaías querendo dar uma idéia do brilho da auréola que cerca Jehovah, diz:

“Que ela é sete vezes maior do que a luz do sol e semelhante à luz dos sete dias reunidos”.

A religião Católica, que é uma cópia infiel de tudo isso, pois foi onde arrecadou todos os retalhos de que se compõe, também fala em Três Pessoas distintas e um só Deus verdadeiro”, reproduz o que dizem os judeus, etc., etc., fala nas Sete profecias de Ezequiel e até possui os candelabros de sete velas, que ela própria ignora ser um símbolo dos Sete Elohim, Arcanjos, etc. Sem falar em Jesus, Maria e José, que nunca foram entidades viventes ou pessoas, como ela (Igreja Romana) o julga; do mesmo modo que copiou o Padre Nosso, Ave Maria, Salve Rainha, etc., etc., do Kodishc hebreu, como também, dos textos hindus – como provaremos no decorrer de nossa “Mensagem ao mundo espiritualista”.

E como acabássemos de comemorar o centenário de Goethe, repetimos aqui estas suas palavras: “Para atingir a perfeição na arte do colorido, o artista deve coordenar os efeitos morais (o grifo é nosso) das cores, os seus efeitos fisiológicos, a sua natureza técnica, enfim, a influência que sobre elas exercem as circunstâncias exteriores. As cores atuam sobre a alma; podem excitar-lhe sensações, despertar-lhe emoções – idéias que nos tranquilizam ou nos agitam e que, ou provocam a tristeza ou as alegrias”.

Finalizaremos esta anotação, dizendo: e como “gostos e cores não se discutem”, foi que gostamos ou preferimos a TEOSOFIA, por ser a Cor Síntese donde as demais cores – as religiões e filosofias – se derivam!...

Estas duas anotações não foram irradiadas.

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conjuntamente, atrairá a resposta do poder dirigente, isto é, do Deus do gênio ou Força regente do elemento especial de que tem necessidade’.”

É a mesma linguagem, pois, das encantações ou dos mantrans, como são chamadas nas Índias. O SOM é, com efeito, o agente mágico mais poderoso e eficaz e a primeira das chaves que abrem a porta de comunicação entre os mortais e os Imortais.

O Hino da S. T. B. obedece – tanto quanto possível – a tais processos, razão porque, podeis estar certos de que, ao ser ele irradiado, é como se pudésseis presenciar no espaço, inumeráveis ovos ou conchas sonoras com as cores amarela e azul – símbolo do Amor e da Sabedoria que devem existir entre os homens – povoando, assim, o Firmamento azul de nossa Pátria – onde brilha em sua incomparável grandeza, o Cruzeiro do Sul – já que, poder maior não nos assiste de irradiarmos tal Hino ou Mantra sobre o mundo inteiro – hoje mais do que nunca, sob a dolorosíssima influência de seus próprios erros do passado!...

Quando o homem chegar a dominar-se conscientemente, dominará também a Natureza, porque, conhecendo e obedecendo as suas leis, a Natureza – submissa e escrava – obedecerá às suas ordens. Porém, enquanto imperar o egoísmo entre os homens, os elementos transbordados serão tão caprichosos e cruéis como a humana natureza.

E com isso vos agradeço a benévola atenção dispensada às minhas humildes palavras, como à “Rádio Sociedade Mayrinck Veiga”, seu valioso concurso prestado à Obra grandiosa em que a S. T. B. se acha empenhada.

ALBOREA

Revista eclética de Teosofia

Órgão da Federação Americana Vanguarda Teosófica

Tivemos a grata satisfação de receber os dois primeiros números dessa valiosíssima revista, cuja Redação e Administração é em Arcos, 1199, Buenos Aires (República Argentina).

É sua Diretora, a esforçada Presidente de “Vanguarda Teosófica” – Sra. Adela T. Cassinelli – cujos dotes morais e intelectuais, são sobejamente conhecidos, para que ousemos aqui – com as nossas humildes frases – concorrer para deslustrar ou diminuir os seus justos e reais valores.

Destacam-se entre os artigos do primeiro número de “ALBOREA” – Ritmos y Conflitos (Em torno da Paz e da “Conferência do Desarmamento”) da autoria da ilustre Sra. Adela T. Cassinelli. O referido artigo é uma alocução proferida pelo “Rádio”, no dia 24 de Janeiro do corrente ano.

Sobressai, ainda, um brilhante estudo de Don Carlos Castiñeira, intitulado “Antinomias” (Educacionales).

Da ilustre e esforçada propagandista da verdadeira Teosofia na América latina – já que a sua escola é puramente “blavatskyana” – merece ser destacado o que tem por título “Mi hallazgo de la Teosofia”, onde a mesma Senhora faz a sua profissão de fé no campo teosófico, devido o seu feliz encontro com o espírito iluminado que foi a Sra. Luisa Ferrer, fundadora de “Vanguardia Teosofica” e da revista “Acción Femenina”. Faz preceder esse seu brilhante trabalho de uma Profecia sobre o Papado – perfeita clarivisão da Sra. Luisa Ferrer, datada de 13 de Agosto de 1915. Cotejando-se tal Profecia com os fatos ocorridos

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desde aquela época até hoje, logo se compreenderá que a Senhora Ferrer não era uma dessas almas vulgares de que o mundo está repleto; mas, o espírito esclarecido de quem traz uma missão de valor, em prol da evolução espiritual da Humanidade!

Ela prevê a República espanhola (sem grande derramamento de sangue); com uma veemência própria dos espíritos independentes, para não dizer “rebeldes”, demonstra os maquiavélicos manejos dos “sotainas” donde destacamos o seguinte: “O Papado ao perder sua filha maior, Espanha, começarão a oscilar os alicerces de seu monumental ‘Poderio’, concorrendo tais oscilações para as fendas que hão de produzir o seu total desmoronamento”. E logo adiante: “Prolongada e também sangrenta será aquela guerra, devido o valor do assunto que a motivará; mas, cujo fim será a queda do ‘Clericalismo’ no precipício”. Diz mais: “Ao declarar-se a ‘Guerra Santa’, Itália perderá também seu reinado, convertendo-se em República”. E logo adiante: “Ao produzir-se a queda e desorganização do usurpador e malfeitor poder papal, a face do mundo mudará por completo: então, começará a era do desencanto e reconstrução prevista pela eminente H. P. Blavatsky em sua obra ‘Isis sem Véu’. Logo começarão a ressuscitar as antigas filosofias; o mundo entrará na posse de segredos ocultos; livros esquecidos de épocas remotas, brilharão de novo à luz do dia e o mundo abraçará a antiga e verdadeira religião, que é a que está em harmonia com a Natureza e adorará ao verdadeira Deus: o Deus Universal”.

Os prognósticos da Sra. Luisa Ferrer se harmonizam perfeitamente com tudo quanto vimos anunciando, por nossa vez, há longos anos, através das páginas de “DHÂRAN”. E, ao mesmo tempo, a sua linguagem veementíssima, é a melhor resposta que se pode dar aos que nos têm como “intolerantes e desrespeitosos para com as crenças alheias”...!

ALBOREA chama a atenção dos poucos que se interessam pelas coisas puras e verdadeiras, do seguinte modo: “A VANGUARDA TEOSÓFICA EM AÇÃO – É uma película cinematográfica em dois atos, onde se pode observar as diversas atividades que realiza a Sociedade. Foi impressionada durante o decorrer de vários anos e é um documento vivo, que deve ser conhecido por seus membros e simpatizantes. A Vanguarda em ação lhe ensinará que a Teosofia é mais uma filosofia do trabalho, do que uma especulação mental”.

Do segundo número de ALBOREA sobressai o não menos valioso artigo da ilustre Presidente de “Vanguarda Teosófica” – Sra. Adela T. Cassinelli – intitulado Viernes Santo y la Cruz Radiante, atendendo a insistentes pedidos dos assinantes da referida revista. Trata-se da primeira parte de uma dissertação com o mesmo título, feita pela Sra. Cassinelli através da “Rádio Nacional de Buenos Aires, em 25 de Março p. p. – trabalho esse que aconselhamos a leitura por parte dos que trilham a Vereda da Iniciação – já que o mesmo gira em torno do símbolo sagrado da Cruz, comparativamente a do Destino ou Karma, que a Humanidade inteira carrega sobre os ombros.

Agradecendo à Redação de “ALBOREA” as expressivas palavras a respeito de “Dhâranâ” e o trabalho em que a S. T. B. se acha empenhada para o Brasil, principalmente quanto ao referente a “que no Brasil se trabalha valiosa e eficazmente em prol da mais ampla difusão da Teosofia” – desejamos à “Vanguardia Teosofica” a completa realização dos sublimes Ideais que a inspiram; do mesmo modo que, sinceras felicitações pelo inestimável tesouro – que é “ALBOREA” – oferecido à verdadeira elite espiritual da Humanidade, a começar pelos nascidos nesta parte do Globo e que possuem a elevadíssima missão de preparar uma Era Nova de Paz, Amor, Sabedoria e Justiça na Terra!

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Corrigenda apensa ao nº 72 de Dhâranâ 21

(Trimestre Abril a Junho de 1932)

Na pág. 92, anotação 6ª de A Minha Mensagem ao Mundo Espiritualista, no período que começa com estas palavras: “A luta travada entre os gladiadores romanos, etc...” e cujo final é: “Esse termo ‘peixinho na rede’ se relaciona com o signo de Saturno (Piscis ou Peixes)”, etc, leia-se: “se relaciona com o signo de Júpiter...”

O erro está contido no próprio adágio popular de “O costume do cachimbo põe a boca torta”, porquanto aquilo que nos apressamos a corrigir, deixa de ser erro se o quizerem conceber no sentido transcendentalíssimo, que é vedado dizer-se de público, mas que a mão – automatizada, no momento, pelos impulsos vigorosos da mente – ousou atraiçoar!... Perdoem-nos os deuses a ofensa... embora que, alguns dias depois, procurando corrigir tão grave falta... nos sirvamos da “maya-buddhista” com que se iniciam os homens na Terra! Por isso mesmo, envolvendo-a com uma tela ou teia bem tecida, onde será difícil “sair do labirinto”... aquele que nela quiser penetrar!...

Teçamo-la, portanto:

Nos Doze Signos Zodíacos (as Doze jerarquias criadoras...) está contido todo o mistério da vida humana, pois logo se transformem em 10 (Io ou Ísis...) – pelo Equilíbrio da Balança (Signo de Vênus), que separa o Filho (Mercúrio... através do signo de Virgo) do Pai (Marte?... através o de Scorpio...), estará resolvido “o problema do sexo”, e com isso, o da Redenção Humana!

Quando tal fato se der, quem ousará contrariar o nosso dito de que Piscis seja Signo de Saturno e não de Júpiter? Do mesmo modo que, outras modificações... incompreensíveis para a Humanidade de hoje?

Até lá, os Peixes (Piscis), signo atual de Júpiter, continuarão vivendo nos Aquarius (Aqua e rius: rios de água – perdoem-nos o pleonasmo – regatos... e até, mares, já que Maria, Maia, etc, vem de Mare, o mar)... sem nos esquecermos que Aquarius é hoje Signo de Saturno. E... por isso mesmo um discípulo adiantado que quiser tomar o trabalho de verificar a maneira pela qual a Astrologia procura simbolizar Júpiter e Saturno, isto é, Júpiter – uma Lua sobre o braço horizontal da Cruz ou dos “4 Elementos” (lado esquerdo) e... Saturno – uma Lua sob o braço horizontal da mesma Cruz... (lado direito), descobrirá grandes coisas – inclusive o papel que esse terceiro planeta (Lua)... joga em tudo isso! (com vistas a Câncer!...).

Ademais, todas essas coisas – embora que veladamente – podem ser descobertas nos mitos e lendas antigos do “Filho que vem vingar a morte de seu Pai” – inclusive nas iniciações egípcias, no Horus vingador de Osíris, ao lado de sua Mãe Ísis; como na Maçonaria, Hiram ressuscitando... no seio do verdadeiro ou real (Raja) Iniciado que, se aplicou a conhecer a si mesmo e... a proceder às retificações recomendadas ao Alquimista, na fórmula: Visita Interiora Terrae, Rectificando Invenies Occultum Lapidem, que lembra a palavra VITRIOL (da Franco-Maçonaria), formada com as iniciais das sete palavras do preceito!...

E com isso nos sirvamos daquela frase com que se designava, na escolástica, o erro que consiste em tomar por causa o que é apenas um antecedente no tempo: Post hoc, ergo propter hoc!...

O autor da Mensagem, (J H S)

21 Aos que de fato se interessam na leitura de nosso órgão oficial (Dhâranâ), oferecemos esta Corrigenda – cujo termo poderia, muito bem, ser substituído pelo de Suplemento, já que, esotericamente falando, nada havia a corrigir – para ser colada entre a sua última página e capa interna.

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Propaganda comercial: remédio para doenças dos olhos – PRODIGALUZ – preparado pelo Dr. J. Martinez Menendez 22

A “Sociedade Teosófica Brasileira” fundada na cidade de Niterói com o nome “Dhâranâ”, aos 10 dias do mês de Agosto de 1924 e passando a usar o atual em 8 de Maio de 1928 – nada mais é do que uma “Escola de Iniciação filosófica”, cujos ensinamentos são os mesmos da gnóstica ou Neoplatônica alexandrina de Amonio Sacas – eco fiel das antiquíssimas doutrinas do Oriente – trazidas no século passado para o mundo ocidental pelo incompreendido Ego que teve o nome de Helena Petrovna Blavatsky.

A Teosofia ou “Sabedoria Iniciática das Idades” – através dos seus múltiplos nomes de Sanatana-Dharma, Gupta-Vidya, etc, etc, nada mais é do que a chamada Doutrina Esotérica – essência de todas as religiões presentes, passadas e futuras; ou melhor, é a Verdade inabordável que coleia inatingível, sempre, no fundo de todas as religiões e filosofias.

De fato, as religiões correntes ou exotéricas, não passam de pobres e embaciados espelhos onde se refletem pálidos raios da Religião-Sabedoria.

A Teosofia, é a lei fundamental da Ciência oculta – de que a profana ou positiva nada mais é do que uma tênue projeção, e à qual Blavatsky chamou de “a unidade radical e última essência de tudo quanto existe na Natureza, desde o átomo e o homem até o astro; desde o ínfimo infusório até o Anjo ou Dhyani mais elevado, tanto no mundo físico que conhecemos, como no mundo psíquico e espiritual que não percebemos, tal como disse Platão na sua República, “de que somos durante a escravidão desta vida ilusória, como eternos prisioneiros que, de costas para a luz, tomamos como realidades as sombras que se projetam nas paredes de nosso cárcere”. Verdade, dizemos nós, que é conservada na “Língua dos Mistérios” ou das raças pré-históricas, por Seres Superiores – “frutos excelsos de evoluções passadas”, com o nome de Doutrina salvadora da Suddha-Dharma-Mandala, ou a primitiva Religião-Sabedoria, da qual foram portadores todos os Iluminados que a este mundo vieram.

Teósofos ou “neo-platônicos”, “ecléticos e harmonistas”, foram chamados os filósofos alexandrinos que, com Amonio Sacas quiseram deduzir da “Gnosis”, o estudo comparado das religiões, normas científicas de conduta.

O próprio Amonio Sacas (Vide Chave da Teosofia de H. P. Blavatsky) não conseguiu religião alguma concreta, e seus sucessores, embora procedessem de campos opostos, como: Porfirio (o mosaísmo), Jamblico (a Teurgia egípcia), Proclo (o ocidentalismo), Plotino (Gnosis cristã), etc., foram chamados “filaleteos” ou amantes da verdade sem véu religioso.

“Ecléticos ou sincretistas”, por seu espírito de crítica; “harmonistas”, por buscarem a suprema Síntese filosófica; “analogistas”, por aplicarem a chave hermética de que “o que está no alto é como o que está embaixo”; e Teósofos, enfim, por buscarem para o homem vulgar, a suprema ciência da “superação”, que lhe há de fazer um rebelde, um titã, um Prometeu, um herói.

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O Programa de ensino na S. T. B. está organizado nas Sete Linhas seguintes:

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A seguir leia o texto integral da propaganda. Ao longo dos artigos do próximo número, haverão comentários e referências a este comercial – nota do digitador

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1. Línguas sábias, RELIGIÕES COMPARADAS, Ética, Simbologia arcaica. Instrutores: Prof. Henrique J. Souza e Eng. agr. Antonio C. Ferreira.

2. Matemáticas e Astronomia. Instrutores: Capm. de mar e guerra Tancredo de Alcântara Gomes e Eng. civil Antonio Tavares Leite.

3. Ciências naturais. Instrutor: Eng. civil Eduardo Cicero de Faria.

4. Ciências físico-alquímicas e agrícolas. Instrutores: Prof. Henrique J. Souza e Eng. agr. Antonio C. Ferreira.

5. Antropologia, História, Direito e Ciências Sociais. Instrutores: os mesmos da Linha anterior.

6. Belas artes, Estética. Instrutores: Diversos sob o controle do Presidente da S. T. B.

7. Ciências aplicadas à vida. Instrutores: Diversos sob o controle do Presidente da S.T.B.