n.º 2 - outubro de 2013

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RESENHA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM FOCO A CARTA DA TERRA NA EDUCAÇÃO ARTIGOS QUEIMADAS SISTEMAS AGRÍCOLAS SISTENTÁVEIS Indaial - SC Vol.: II - N.: 1 Out 2013

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RESENHADESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM FOCOA CARTA DA TERRA NA EDUCAÇÃO

ARTIGOSQUEIMADAS

SISTEMAS AGRÍCOLAS SISTENTÁVEIS

Indaial - SCVol.: II - N.: 1Out 2013

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CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCIRodovia BR 470, KM 71, nª 1.040, Bairro Benedito

Cx. Postal 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SCFone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

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Desenvolvimentosustentável

EDITORA

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Propriedade do Centro Universitário Leonardo da VinciFICHA CATALOGRÁFICA

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Revista UNIASSELVI-PÓS: Desenvolvimento Sustentável - Centro Universitário Leonardo da Vinci (Grupo UNIASSELVI). – Indaial: UNIASSELVI, 2013.

35p. : il. col. Periodicidade: Semestral. ISSN: 2317-5966

1. Ensino superior. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI. II. Programa de Pós-Graduação EAD.

CDD 378.005

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Reitor do Centro Universitário Leonardo da Vinci Prof. Dieter Sargeli Sardeli de Paiva

Diretor da Uniasselvi-pósProf. Carlos Fabiano Fistarol

Editor-ChefeProf. Evandro André de Souza

Presidente do Conselho EditorialProf. Norberto Siegel

Membros do Conselho EditorialProfª. Bruna Gabriela ScopelProfª. Clotilde Giliam RostocevProf. Anaor Junior Cardoso de AguiarProf. Edinan Cardoso DouradoProfª. Denise VoltoliniProfª. Patrícia Cesário Pereira OffialProfª. Ivan TesckProfª. Cláudia Regina Pinto MichelliProfª. Célia Regina AppioProf. Márcio SelhorstProf. Lírio RibeiroProfª. Natalie Aurélia CidralProf. Raphael A. Pereira da CostaProfª. Sorinéia GoedeProfª. Joanara G. P. Matuszaki

Revisão Editorial:Profª. Erika de Paula AlvesProfª. Bruna Alexandra Franzen

Projeto Gráfico:Raphael Povoas

APRESENTAÇÃOO programa de Pós-Graduação a Distância da Uniasselvi apresenta a segunda edição de sua revista on-line. Esta revista tem por objetivo socializar produções pertinentes e relevantes nas mais diversas áreas compreendidas pelo programa. Na presente edição o tema que orienta as discussões é: Desenvolvimento Sustentável.

Esse termo ganhou destaque no Relatório de Brundtland da ONU que o definiu como o atendimento das necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades. No Brasil o tema se destacou devido às conferências da Organização das Nações Unidas realizadas no país: a Eco 92 e a Rio + 20. Pesquisadores brasileiros, como o Dr. José Eli da Veiga, compreendem o desenvolvimento sustentável não como conceito, mas como um novo valor para a sociedade. Nessa perspectiva, o desenvolvimento sustentável é um marco histórico tão importante para a sociedade quanto foram as ideias defendidas na Revolução Francesa de liberdade, igualdade e fraternidade.

Nesta edição são quatro os trabalhos que compõem a revista, dois artigos e duas resenhas. O primeiro artigo intitulado “Queimadas: infração de responsabilidade administrativa objetiva ou subjetiva”, autoria de Josué Lazzaris Zampoli, discorre sobre a responsabilidade objetiva e a responsabilidade subjetiva no que diz respeito a queimadas. A discussão promovida pelo autor parte da observação feita acerca do uso do fogo, em atividades agropastoris, sem a autorização dos órgãos responsáveis.

No segundo artigo, “Viabilidade econômica de sistemas agrícolas sustentáveis: “uma proposta para incentivar desde um ponto de vista educacional e econômico a mudança para uma agricultura sustentável”” de José Alfredo Pareja Gómez de la Torre, a discussão se volta para a necessidade de considerar as questões financeiras e educacionais no momento de analisar o desenvolvimento de sistemas de agricultura sustentável. O autor discorre sobre a viabilidade de rendimentos financeiros nas lavouras sustentáveis, no entanto, destaca a importância de políticas governamentais, educacionais e monetárias para delinear essas questões.

Após os artigos, são apresentadas duas resenhas a fim de proporcionar algumas reflexões sobre as seguintes obras: Desenvolvimento sustentável em foco: uma contribuição multidisciplinar de Gilson Batista de Oliveira e José Edmilson de Souza-Lima e A Carta da Terra na educação de Moacir Gadotti. A primeira resenha é de autoria de Edinan Cardoso Dourado, este expõe a sua percepção acerca da temática abordada pelos autores, a saber: desenvolvimento sustentável. Em uma resenha crítica, Dourado resume a obra colocando o seu ponto de vista.

A segunda resenha, escrita por Sorinéia Goede, reflete sobre as transformações que o termo sustentabilidade tem apresentado nos últimos tempos, assunto discutido na obra. A autora finaliza sua discussão com algumas perguntas que levam o autor a refletir sobre o papel da sociedade na definição de determinados conceitos e valores.

Por fim, a revista apresenta uma coletânea de trabalhos pertinentes e com discussões atuais e importantes para quem é da área e estuda a temática proposta e, também, para a sociedade de modo geral. Esperamos que a partir da leitura deste material seja possível construir compreensões e desenvolver ideias.

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ÍNDICE

Queimadas: Infração de responsabilidade administrativa objetiva ou subjetiva

Josué Lazzaris Zampoli

Desenvolvimento sustentável: Uma breve reflexão

Edinan Cardoso Dourado

Viabilidade econômica de sistemas agrícolas sustentáveis: Uma proposta para incentivar desde um ponto de vista educacional e econômico a mudança para uma agricultura sustentável

José Alfredo Pareja Gómez de la Torre

Sustentabilidade na escola: Conciliando o ser humano, a aprendizagem e a educação

Sorinéia Goede

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ARTIGOQueimadaS: infração de

reSPonSabilidade adminiStratiVa

obJetiVa ou SubJetiVa

Josué Lazzaris ZampoliPós graduando em Direito Penal pela Uniasselvi. Bacharel em Direito pelo Centro Universitário FACVEST. Policial Militar Ambiental do Estado de Santa Catarina. Contato: [email protected]

RESUMO

O presente artigo trata da infração administra-tiva ambiental de queimadas, no que concerne à responsabilidade administrativa,pautando-se pe-las teorias da responsabilidade objetiva ou da res-ponsabilidade subjetiva.

O uso do fogo em atividades agropastoris, perpetrado sem autorização do órgão ambiental, é uma das práticas mais lesivas ao ambiente, seja pela destruição do meio, seja pela agressão à saú-de pública em detrimento da qualidade de vida. A pesquisa aqui discutida tem como objetivo geral, discutir sobre a infração administrativa ambiental de queimadas na região do planalto serrano cata-rinense. Como objetivos específi cos, tem-se: exa-minar a teoria da responsabilidade administrativa objetiva; analisar a teoria da responsabilidade ad-ministrativa subjetiva; identifi car a responsabilida-de administrativa do agente, diante da prática da infração ambiental de queimadas. A metodologia empregada foi a bibliográfi ca, documental e doutri-nária, sendo adotado o método indutivo, descritivo e interpretativo. Dentre vários teóricos estudados, cita-se: Fiorillo (2010); Freitas (2010), Machado (2011) e Milaré (2011). Nesse seguimento, por fi m, restou clarividente, que a responsabilidade admi-

nistrativa ambiental, por força da legislação vigen-te e da doutrina dominante, é de responsabilidade objetiva, na qual se confi gura a responsabilidade do degradador, desde que estabelecido um nexo de causalidade entre a conduta e o dano ambien-tal havido. Não obstante, verifi cou-se também, a possibilidade de ser aplicado ao infrator ambiental a responsabilidade administrativa subjetiva, quan-do comprovado nos autos que o proprietário do terreno rural em que ocorreram as queimadas não teve qualquer participação ou foi mandatário do ilí-cito ambiental em epígrafe.

Palavras-chave: Queimadas. Responsabili-dade. Administrativa Objetiva. Responsabilidade Administrativa Subjetiva.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo científi co trata da infração administrativa ambiental de queimadas, no que concerne à responsabilidade administrativa, pau-tando-se pelas teorias da responsabilidade objeti-va ou da responsabilidade subjetiva.

O tema se justifi ca uma vez que o uso in-sustentável do fogo em atividades agropastoris é

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considerado uma das práticas mais lesivas ao am-biente, lesionando a formação vegetal dos campos da serra catarinense, os quais são constituídos por diversas espécies nativas, pertencentes do Bioma Mata Atlântica que, por sua vez, estão tutelados pelas leis ambientais.

A pesquisa tem como objetivo geral discutir

sobre a infração administrativa ambiental de quei-madas na região do planalto serrano catarinense e como objetivos específicos: examinar a teoria da responsabilidade administrativa objetiva; analisar a teoria da responsabilidade administrativa subjeti-va; identificar a responsabilidade administrativa do agente, diante da prática da infração ambiental de queimadas.

A problemática sobre o tema está voltada à responsabilidade administrativa, indagando-se se o infrator ambiental que terá a responsabilidade administrativa objetiva ou subjetiva. Tendo como primeira hipótese que o infrator ambiental terá sua responsabilidade administrativa pautada pela teo-ria da responsabilidade objetiva, uma vez que os dispositivos legais e a doutrina dominante que con-ceituam a infração administrativa consideram ser independe da culpa ou dolo do agente degradador, bastando somente à caracterização da degradação ambiental e o nexo de causalidade para ser impu-tado a responsabilidade administrativa. E, como segunda hipótese, que o infrator ambiental, no que tange as infrações de queimadas, terá sua respon-sabilidade administrativa apurada com base na teoria da responsabilidade subjetiva, ou seja, faz--se necessário haver a culpa ou o dolo do agente degradador, combinado com o tipo administrativo infracional e o nexo causal.

A metodologia empregada na realização do presente trabalho foi a bibliográfica, documental e doutrinária, sendo adotado o método indutivo, des-critivo e interpretativo.

Destarte, o presente artigo científico será de-senvolvido em cinco seções: a seção 2 contempla as preliminares; a seção 3 está dividida em três subseções e discorre sobre as responsabilidades

ambiental civil (subdividido em responsabilidade subjetiva e objetiva), administrativa e penal; na seção 4 será abordada a infração de queimadas, ensejando definir a responsabilidade administrati-va do infrator ambiental no que tange à responsa-bilidade objetiva ou à responsabilidade subjetiva. Por fim, na seção 5 serão apresentadas as consi-derações finais.

2 PRELIMINARES

Historicamente praticado pelos agricultores e pecuaristas do planalto serrano catarinense, entre os meses de agosto e setembro, são comuns as incidências de queimadas: ações humanas, em desfavor do ambiente, constituindo basicamente em atear fogo nos campos, objetivando limpar e renovar as pastagens na propriedade propiciando melhores condições para a atividade agropastoril.

Figura 1 - Infração ambiental por fazer uso de fogo em áreas agropastoris sem autorização

Fonte: Imagem fotografada às margens da Rodvia SC-438, próximo ao município de Lages/SC.

Ressalta-se que o uso insustentável do fogo em atividades agropastoris é uma das práticas mais lesivas ao ambiente, uma vez que a forma-ção vegetal dos campos da serra catarinense é constituída por diversas espécies nativas, perten-centes do Bioma Mata Atlântica que, por sua vez, estão tuteladas pelas leis ambientais.

Nessa senda, visando à infração administrati-

va de queimadas, indaga-se acerca da responsa-bilidade administrativa, é objetiva ou subjetiva?

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3 RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

A responsabilidade no Direito Ambiental, so-mente se justifica, se este for capaz de estabele-cer mecanismos aptos a intervir no mundo econô-mico de forma a fazer com que ele não produza danos ambientais além daqueles julgados social-mente suportáveis. Quando tais limites são ultra-passados, necessário se faz que os responsáveis por exorbitar esses limites sejam responsabiliza-dos e arquem com os custos decorrentes de suas condutas ativas ou omissivas.

A responsabilidade por danos causados ao ambiente, no sistema jurídico brasileiro, é matéria que goza de status constitucional, visto que está inserida em um capítulo especialmente voltado à proteção do meio ambiente. A Carta Magna de 1988 estabeleceu uma tríplice responsabilidade a ser aplicada aos causadores de danos ambientais, como pode ser observado no art. 225, § 3º, CF/88: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas fí-sicas ou jurídicas, a sanções penais e administra-tivas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.

Não obstante, pela Constituição não definir se o regime da responsabilidade é objetiva ou subje-tiva a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente o definiu como sendo objetivo e, portanto, indepen-dente de culpa, como depreende-se do art. 14,§ 1º:

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

Assim sendo, cumpre ressaltar que a responsabilidade em matéria ambiental é bastante abrangente, po-dendo ser aplicada a pessoas físicas e a pessoas jurídicas, subdividindo-se em penal, administrativa e civil.

3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL

A responsabilidade civil pode ser definida pela obrigação que uma pessoa tem de ressarcir outra por danos a esta sofridos. A reparação da danosidade, como qualquer outro tipo de repara-ção, ocorre através das normas de responsabilida-de civil que, por sua vez, funcionam como meca-nismos, simultaneamente, de tutela e controle da propriedade.

Nas palavras de Edis Milaré:

A responsabilidade civil pressupõe prejuízo a terceiro, ensejando pedido de reparação do dano, consistente na recomposição do statu quo ante (repristinação = obrigação de fazer) ou numa importância em dinheiro (indenização = obrigação de dar). (MILARÉ, 2011, p. 1246).

Destarte, a responsabilidade civil ambiental resume-se no fato de que o poluidor, o degrada-dor, deve reparar os danos resultantes de sua ati-vidade. Essa responsabilidade pode ser subjetiva ou objetiva.

3.1.1 Responsabilidade subjetiva

Na teoria da responsabilidade subjetiva para que o dever de indenizar surja é requisito haver: a conduta do agente, o dano, o nexo de causalidade entre a conduta e o dano; ou seja, o dano deve ter decorrido da conduta do agente por culpa ou dolo.

O comportamento do infrator será reprovado ou censurado quando, ante circunstâncias concre-tas do caso, entender-se que ele poderia ou de-veria ter agido de modo diferente. Portanto, o ato ilícito, para fins de responsabilidade civil, qualifica--se pela culpa. Não havendo culpa, não há, em re-gra, qualquer responsabilidade reparatória.

Nessa senda, o Código Civil nos art. 186, art. 187 e art. 927, ca-put, aduz:

A responsabilidade em matéria ambiental é bastante abrangente, podendo ser aplicada a pessoas físicas e a pessoas jurídicas, subdividindo-se em penal, administrativa e civil.

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Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.[...]Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Assim, para se responsabilizar alguém é ne-cessário demonstrar a culpa do agente (a impru-dência, a negligencia e a imperícia), além da con-duta inicial, comissiva ou omissiva e do nexo de causalidade entre o fato e o dano. Ao passo que a imprudência refere-se à prática de ato perigoso, a negligência, por sua vez, refere-se à pratica de ato sem tomar as precauções adequadas e a im-perícia diz respeito à prática de ato por agente que não tenha aptidão técnica, teórica ou prática.

3.1.2 Responsabilidade objetiva

De outro norte, na teoria da responsabilida-de objetiva, ao contrário da subjetiva, o dever de indenizar surge considerando apenas a conduta, o dano e o nexo causal, independentemente do agente ter agido com culpa ou dolo.

Nessa linha, o Código Civil brasileiro, no art. 927, parágrafo único, alude que: “Haverá obriga-ção de reparar o dano, independentemente de cul-pa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os di-reitos de outrem.”.

Essa teoria, já consagrada no sistema jurídico brasileiro, quando aplicado no Direito Ambiental, adota a teoria do risco integral. Assim, todo aquele que causar dano ao ambiente ou a terceiros será obrigado a ressarci-lo mesmo que ocorra culpa ex-clusiva da vítima, caso fortuito ou força maior.

No mesmo caminhar, Machado alude que:

[...] Não interessa que tipo de obra ou atividade seja exercida pelo que degrada, pois não há necessidade de que ela apresente risco ou seja perigosa. Procura-se quem foi atingido e, se for o meio ambiente e o homem, inicia-se o processo lógico-jurídico da imputação civil objetiva ambiental. Só depois é que entra na fase do estabelecimento do nexo de causalidade entre a ação ou omissão e o dano. É contra o Direito enriquecer-se ou ter lucro à custa da degradação do meio ambiente. (MACHADO, 2011, p. 369).

Assim, a responsabilidade objetiva em matéria

ambiental, quer significar que quem danifica o ambien-te tem o dever jurídico de repará-lo. Não importando a razão da degradação para que haja o dever de repa-rar. A responsabilidade sem culpa tem a incidência na indenização ou na reparação aos danos causados ao ambiente e aos terceiros afetados por sua atividade.

3.2 RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL

A responsabilidade administrativa ambiental surge no cometimento de uma infração adminis-trativa, ou seja, o autor da infração ambiental es-tará sujeito às sanções administrativas, previstas na Lei de Crimes Ambientais Lei nº 9.605/98, em seu Decreto regulamentador Decreto Federal nº 6.514/08 e, subsidiariamente no Código Estadual do Meio Ambiente Lei Estadual nº 14.675/09.

No entanto, a importância da regulamentação dos ilícitos administrativos, em matéria de tutela ambiental, reside no fato de que essa esfera de responsabilidade não depende da configuração de um prejuízo, podendo coibir condutas que apresentem mera potencialidade de dano ou mes-mo de risco de agressão aos recursos ambientais.

No magistério de Vladimir Passos de Freitas:

[...] a responsabilidade administrativa tem por objeto a aplicação das penas, que todavia não fazem parte do direito penal, porque não são aplicadas pelo Estado na sua função jurisdicional, mas no exercício de um poder administrativo. (FEITAS, 2010, p. 26)

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Quando cometida uma infração administra-tiva em desfavor do ambiente, a responsabilidade administrativa do causador, pessoa física ou jurídica, será apurada através de procedi-mento administrativo próprio, ins-taurado pelos Órgãos Ambientais, vinculados ao Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA e ao Sistema Estadual do Meio Ambiente - SEMA, designados para as atividades fiscalizatórias, con-forme elenco do art. 70, §§ 1º, 3º e 4º, da Lei nº 9.605/98, objetivando, entre outras providências, defender e preservar os bens ambientais para as presentes e as futuras gerações, ante a proteção entalhada na Constituição Federal, nas leis, atos, normas e resoluções infraconstitucionais, aos in-teresses difusos e coletivos, em proveito da digni-dade da pessoa humana.

3.3 RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL

Precipuamente, Fiorillo, esclarece os funda-mentos constitucionais do direito criminal ambien-tal, aludindo que:

A Constituição Federal, ao estabelecer que “não há crime sem lei anterior que o defina” (art. 5º XXXIX), entendeu por bem disciplinar o conceito de crime através de instituto elaborado por força da própria determinação maior: é a lei que estabelece no direito positivo o que é crime. (FIORILLO, 2010, p. 625)

Nesse sentido, a responsabilidade penal am-biental surge no cometimento de um crime am-biental, ou seja, quando o agente tem suas con-dutas típicas e antijurídica elencadas nos tipos da Lei de Crimes Ambientais, Lei nº 9.605/98 ou em outra normal penal de cunho ambiental.

A tutela penal é sempre o re-curso extremo de que se vale o Es-tado para coibir as ações ilícitas. Nesse prisma, Vladimir Passos de Freitas cita Edgar Magalhães Noronha: “incube ao Direito Penal, em regra tute-

lar os valores mais elevados e preciosos, ou, se quiser, ele atua somente onde há transgressão de valores mais im-portantes ou fundamentais para a sociedade” (NORONHA, 1968, apud FREITAS, 2010, p.31).

Nota-se que um crime am-biental poderá obter dimensões internacionais, como: um desastre

nuclear, a poluição dos oceanos por vazamento de petróleo, a poluição de rios que transpassam por mais de um país, entre tantos outros. Por esse motivo é que a tutela penal do meio ambien-te passa a ser tão importante, pois o bem jurídico protegido é mais amplo do que o bem protegido em outros delitos penais.

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, na sua concepção moderna, é um dos direitos fundamentais da pessoa humana, o que, por si só, justifica a imposição de sanções penais as agressões contra ele cometidas. No mesmo ca-minho, Édis Milaré cita Ivette Senise Ferreira:

ultima ratio da tutela penal ambiental significa que esta é chamada a intervir somente nos casos em que as agressões aos valores fundamentais da sociedade alcancem o ponto do intolerável ou sejam objeto de intensa reprovação do corpo social. (FERREIRA, 1995, apud MILARÉ, 2011, p.1275)

Assim, para o direito penal moderno, a tute-la penal deve ser reservada à lei, partindo-se do princípio da intervenção mínima no Estado Demo-crático de Direito, tal tutela deve ser a ultra ratio, ou seja, só depois de se esgotarem os mecanis-mos intimatórios é que se procurará com a eficá-cia punitiva na esfera penal.

A responsabilidade penal ambiental segue a teoria da responsabilidade sub-jetiva, como pode ser observa-do no elenco do art. 2º, da Lei nº 9.605/98:

Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas,

Quando cometida uma infração administrativa em desfavor do ambiente, a responsabilidade administrativa do causador, pessoa física ou jurídica, será apurada através de procedimento administrativo próprio, instaurado pelos Órgãos Ambientais, vinculados ao Sistema Nacional do Meio Ambiente.

A responsabilidade penal ambiental segue a teoria da responsabilidade subjetiva, como pode ser observado no elenco do art. 2º, da Lei nº 9.605/98.

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na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.

Dessa forma, o infrator, ao perpetrar o crime em desfavor do ambiente, só responderá penal-mente caso tenha agido com culpa ou dolo, obser-vado o nexo de causalidade entre a conduta ini-cial, omissiva ou comissiva e o resultado. Alguns crimes ambientais exigem que o infrator tenha agi-do com dolo para responder penalmente, outros, agindo simplesmente com culpa, responderão igualmente, na medida da sua culpabilidade.

No mesmo sentido, nos termos do art. 3º, da Lei nº 9.605/98, a responsabilidade penal ambien-tal atinge também as pessoas jurídicas:

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.

Parágrafo único. A responsabilidade das pes-soas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.

Todavia, a responsabilidade penal ambien-tal da pessoa jurídica, apresenta-se controvertida na doutrina e nos entendimentos jurisprudenciais. Conduto, em que pese à discussão doutrinária e jurisprudencial, essa responsabilidade é legalmen-te prevista, como observado no dispositivo supra-mencionado, além de previsão constitucional, en-talhada no art. 225, §3º, da Carta magna de 1988.

Dessa feita, o sistema constitucional brasilei-ro reconheceu expressamente no art. 225, §3º, CF/88, a possibilidade de as pessoas jurídicas, pelos efeitos e decisões de seus dirigentes, produ-zirem danos ao meio ambiente, circunstâncias que justificaria a sua responsabilização pela prática de crimes ambientais.

4 INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA DE QUEIMADAS

A milenar cultura das queimas de campo, inicialmente citado, por muitos é ainda utilizada, para limpar as propriedades rurais ou com o ob-jetivo de renovar as pastagens, como se obser-va no planalto serrano catarinense. Ressalta-se que o Estado de Santa Catarina constitui o Bioma Mata Atlântica, sendo, portanto, objeto de especial preservação, por força da Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica e dá outras providências.

O uso do fogo em atividades agropastoris é uma das práticas mais lesivas ao ambiente, seja pela destruição do meio, pela agressão à saúde pública, pela deterioração da qualidade de vida e, sobretudo, por sobrepor o lucro à valorização da qualidade de vida do homem.

Nesse sentido, Curt Trennepohl aduz:

Infelizmente, ao invés do corte da vegetação em regeneração, o uso do fogo para a renovação de pastagem é uma prática muito comum no Brasil. Em inúmeros casos, sem que exista nenhuma autorização dos órgãos ambientais e sem obstar as mais elementares normas de precaução, o fogo utilizado foge ao controle e se alastrar pelas florestas, destruindo importantes recursos naturais. (TRENNEPOHL, 2009, p.270)

Por conseguinte, verifica-se que o solo, após as incidências de queimadas, torna-se arenoso, ocasionando o seu empobrecimento com perda da fertilidade e matéria orgânica; vulnerabilidade e carreamento de solo causando erosões devido à perda de vegetação e nutrientes; morte de ani-mais; emissão de gás carbônico, entre tantos ou-tros danos.

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Figura 2 - Infração ambiental por fazer uso de fogo em áreas agropastoris sem autorização

Fonte: Imagem fotografada na Reserva do Aguaí, município de Bom Jardim da Serra/SC.

Nesse interim, o Decreto Fede-ral nº 6.514/98, o qual dispõe sobre as infrações e sanções administra-tivas ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo federal para apuração dessas infrações e dá outras providências, trouxe a lume no art. 58, preconizando que: “Fazer uso de fogo em áreas agropastoris sem autorização do órgão competente ou em desacordo com a obtida: Multa de R$ 1.000,00 (mil reais), por hectare ou fração”.

Assim, o citado Decreto, o qual regulamentou a Lei de Crimes Ambientais, define que fazer uso do fogo em áreas agropastoris é considerado in-fração administrativa ambiental, desde que seja perpetrado, sem autorização do órgão ambiental competente ou em desacordo com a autorização obtida, fixando, a priori, a indicação da sanção administrativa de multa simples, no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), por hectare degradado ou fração deste.

No mesmo caminho, a Lei Estadual nº 14.675, de 13 de abril de 2009, a qual institui o Código Es-tadual do Meio Ambiente, estabelece que:

Art. 253. É proibido promover queimadas, inclusive para limpeza de áreas destinadas à formação de reservatórios, exceto quando

autorizado pelo órgão competente, que exigirá:I - comprovação de que constitui o único modo viável de manejo da propriedade, ante às suas peculiaridades, assim reconhecido por responsável técnico; II - adoção das medidas preventivas contra incêndios e queima de áreas protegidas; eIII - adoção das demais medidas previstas contidas em instrução normativa da FATMA.

Dessa forma, para que haja controle e susten-tabilidade na utilização do fogo, constata-se que o legislador pátrio acautelou-se para não ocorrer o uso indiscriminado do fogo. Porém, não o proi-biu, desde que presentes as condicionantes para a modalidade de queima controlada. Esta é cons-tituída basicamente da aplicação controlada do

fogo em combustível, tanto no es-tado natural como alterado sob de-terminadas condições de clima, de umidade do material combustível, de umidade do solo, entre outros, de tal forma que ele seja confirma-do a uma área predeterminada e

conduza a intensidade de calor e a taxa de propa-gação para favorecer certos objetivos do manejo.

Dessa feita, o interessado na obtenção de au-torização para queima controlada, deverá previa-mente à operação do emprego do fogo, definir as técnicas, os equipamentos e a mão de obra a se-rem utilizados; fazer o reconhecimento da área e avaliar o material a ser queimado; promover o en-leiramento dos resíduos de vegetação, de forma a limitar a ação do fogo; preparar aceiros de, no mí-nimo, três metros de largura, ampliando essa faixa quando as condições ambientais, topográficas, cli-máticas e o material combustível a determinarem; providenciar pessoal treinado para atuar no local da operação, com equipamentos apropriados ao redor da área, e evitar propagação do fogo fora dos limites estabelecidos; comunicar formalmente aos confrontantes a intenção de realizar a queima controlada, com o esclarecimento de que, opor-tunamente, e com a antecedência necessária, a operação será confirmada com a indicação da data, hora do início e do local onde será realizada a queima.

Para que haja controle e sustentabilidade na utilização do fogo, constata-se que o legislador pátrio acautelou-se para não ocorrer o uso indiscriminado do fogo. Porém, não o proibiu, desde que presentes as condicionantes para a modalidade de queima controlada.

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Vale lembrar, que, no viés do desenvolvimento ambiental susten-tável, as queimas devem ser utiliza-das quando existe real necessidade da sua aplicação, observando-se quais serão os benefícios e os da-nos causados por ela. Deve ser considerado o fato de que a ação do fogo sobre qualquer área não é totalmente benéfica e a sua utilização dependerá de análise técnica e viabilidade de sua execução, como norma preventiva.

De outra banda, em algumas situações em que ocorrem as queimadas sem a autorização do órgão ambiental competente, não são os proprie-tários que ateiam fogo no terreno, objeto de fisca-lização ambiental, e sim um transeunte que passa pela estrada marginal da propriedade. Em outras situações, é comum a alegação dos autuados pelo uso do fogo para renovação das pastagens, sem autorização, de que o incêndio foi provocado por terceiros ou por raios.

Nas palavras de Trennepohl:

As autoridades policiais dificilmente descobrem os autores de um incêndio (proposital ou intencional) numa pastagem, primeiro pela extrema dificuldade de chegar à autoria num caso desses, depois porque os próprios policiais sabem perfeitamente que a comunicação é uma mera tentativa de elidir a responsabilidade diante da legislação ambiental. (TRENNEPOHL, 2009, p.271)

Nessa esteia, os agentes fiscais ao empre-garem diligências com o fito de apurar a respon-sabilidade pela degradação ambiental, mediante a utilização do fogo em campos nativos, torna-se dificultoso identificar quem perpetrou a infração ambiental, se ele não é flagrado no cometimento da infração adminis-trativa ou logo após, com objetos que indiquem sua participação.

Nesse momento, surge um im-passe que deverá ser definido pela autoridade ambiental, quando jul-

gar o processo administrativo, uma vez que, se pautado pela responsa-bilidade objetiva da infração admi-nistrativa, o proprietário do terreno degradado pelo fogo, cometido por terceiro, arcará com a responsabili-dade civil ambiental em recuperar a área danificada e responderá pela sanção administrativa de queima-

das. De outro norte, se essa autoridade ambiental balizar-se pela responsabilidade subjetiva da infra-ção por fazer uso do fogo em áreas agropastoris, o proprietário do terreno em questão terá somente a obrigação de fazer, reparando o dano ambiental, e o causador do fogo, por sua vez, havendo nexo de causalidade combinado com o dano ambiental, responderá pela sanção de queimadas.

Dessa forma, o impasse apresentado é quesi-to vencido, pelo simples fato de a legislação am-biental adotar a responsabilidade objetiva como bem observado por Paulo Affonso Leme Macha-do: “[...] não se aprecia subjetivamente a conduta do poluidor, mas a ocorrência do resultado preju-dicial ao homem e seu ambiente.” (MACHADO, 2011, p. 273).

O passo decisivo veio com a Lei nº 6.938/81

que trata da Política Nacional do Meio Ambiente, sendo que a partir dessa norma a legislação am-biental brasileira consolidou a responsabilidade objetiva, mediante a qual se configura a respon-sabilidade do degradador desde que estabelecido um nexo de causalidade entre a conduta e o dano ambiental havido, sem a necessidade de caracte-rizar a intenção de causar o dano ou mesmo de ter havido culpa.

Para Freitas: “[...] com a responsabilidade objetiva a situação se equilibra, pois é possível o

réu fazer prova de que nenhuma responsabilidade teve.” (FREITAS, 2010, p. 175). Para eximir-se da responsabilidade pelos danos cau-sados ao ambiente, por intermédio de uma queimada sem autoriza-ção, cabe ao acusado comprovar

As queimas devem ser utilizadas quando existe real necessidade da sua aplicação, observando-se quais serão os benefícios e os danos causados por ela. Deve ser considerado o fato de que a ação do fogo sobre qualquer área não é totalmente benéfica e a sua utilização dependerá de análise técnica e viabilidade de sua execução, como norma preventiva.

Se pautado pela responsabilidade objetiva da infração administrativa, o proprietário do terreno degradado pelo fogo, cometido por terceiro, arcará com a responsabilidade civil ambiental em recuperar a área danificada e responderá pela sanção administrativa de queimadas.

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concretamente que tomou as medidas de precau-ção necessárias para evitá-la e que não teve ne-nhuma participação na sua realização.

Assim, estabelecido o nexo de causalida-de entre a ocorrência de fogo em campo nativo e o dano ambiental, não há que se procurar com a culpa ou dolo. A responsabilidade objetiva produ-ziu uma significativa mudança no que diz respeito à predominância do interesse da sociedade sobre o interesse individual, de modo que se alguém, em razão de sua atividade, cria um risco para socie-dade, esta deve defender-se atribuindo àquele os encargos decorrentes dos danos que porventura venham a ocorrer.

Todavia, verificou-se também que o Estado,

ao imputar à pessoa física ou jurídica a autoria de uma infração ambiental, deve este, através da au-toridade ambiental que instaurou o processo ad-ministrativo para apuração dessa infração, trazer aos autos comprovações que possam definir a responsabilidade do administrado, por ter utilizado o fogo em áreas agropastoris, sem autorização ou em desacordo com a obtida. Assim, quando essa autoridade, por insuficiência de provas no curso do processo que possam imputar ao infrator a responsabilidade pela degradação causada pelo fogo, ou quando comprovado nos autos que o proprietário do terreno rural em que ocorreram as queimadas não teve qualquer participação ou foi mandatário do ilícito ambiental em epígrafe, decidiu o pleito, como me-dida de inteira justiça, aplicando a teoria da responsabilidade subjeti-va, restando apenas ao proprietário do imóvel rural a obrigação de fa-zer, devendo reparar a área degradada, objeto de infração ambiental.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao findar o presente artigo científico se pode evidenciar alguns encaminhamentos no que tange

a utilização do fogo na agricultura, pratica milenar ain-da presente na região serrana do Estado Catarinen-se, mesmo sem autorização dos órgãos ambientais.

Nesse contexto, o uso do fogo em atividades agropastoris é uma das práticas mais lesivas ao ambiente, seja pela destruição do meio, agressão à saúde pública, em detrimento da qualidade de vida e, sobretudo, sobrepondo-se o lucro à valo-rização da dignidade da vida humana, bem como, da preservação ambiental.

Por conseguinte, verifica-se que, após as in-cidências de queimadas, o solo se torna arenoso, empobrecido, perde a fertilidade e a matéria orgâ-nica o que causa erosões devido à perda de vege-tação e nutrientes; morte de animais; emissão de gás carbônico, entre tantos outros fatores. Aborda--se, para tanto, que o ideal seria que o fogo fosse definitivamente banido das atividades agrícolas, contudo, fatores econômicos, sociais e culturais o impedem.

Nesse seguimento, por fim, a pesquisa em tela organizou-se buscando solucionar a proble-mática frente ao tema, restando claro e evidente

que a responsabilidade administra-tiva ambiental, por força da legisla-ção vigente e da doutrina dominan-te, é de responsabilidade objetiva, uma vez que, a Lei da Política Na-cional do Meio Ambiente Lei Fede-ral nº 6.938/81, a consolidou, na qual se configura a responsabilida-de do degradador, desde que esta-belecido um nexo de causalidade entre a conduta e o dano ambien-tal havido, sem a necessidade de caracterizar o animus de causar o

dano ou mesmo de ter havido culpa.

Assim, aponta-se que, na infração adminis-trativa de queimadas, independe da vontade do agente em atear fogo nas áreas de pastagens, ou ser mandatário deste, bastando somente, para que sua conduta motive uma sanção administra-tiva, ser comprovado nos autos do processo ad-

Por insuficiência de provas no curso do processo que possam imputar ao infrator a responsabilidade pela degradação causada pelo fogo, ou quando comprovado nos autos que o proprietário do terreno rural em que ocorreram as queimadas não teve qualquer participação ou foi mandatário do ilícito ambiental em epígrafe, decidiu o pleito, como medida de inteira justiça, aplicando a teoria da responsabilidade subjetiva, restando apenas ao proprietário do imóvel rural a obrigação de fazer, devendo reparar a área degradada, objeto de infração ambiental.

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ministrativo ambiental, o dano ambiental existente combinado com o nexo causal.

Não obstante, verificou-se também a pos-

sibilidade de ser aplicado ao infrator ambiental a responsabilidade administrativa subjetiva, quando comprovado nos autos que o proprietário do ter-reno rural em que ocorreram as queimadas não teve qualquer participação ou foi mandatário do ilícito ambiental em epígrafe, restando apenas ao proprietário do imóvel rural a obrigação de fazer, devendo reparar a área degradada, objeto de in-fração ambiental.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2010.

BRASIL. Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei nº. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em: 11 mar. 2012.

BRASIL. Código Civil, Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 11 mar. 2012.

BRASIL. Lei de Crimes Ambientais, Lei nº. 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2010.

BRASIL. Decreto Federal nº. 6.514, de 12 de Julho de 2008: Legislação de Direito Ambiental. 4. ed. São Paulo: Rideel, 2009.

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

FREITAS, Vladimir Passos. Direito Administrativo e Meio Ambiente. 4. ed. Curitiba: Juruá, 2010.MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito

Ambiental Brasileiro. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 7. ed. São Paulo: RT, 2011.

SANTA CATARINA. Código Estadual do Meio Ambiente, Lei Estadual nº. 14.675, de 13 de abril de 2009. 1. ed. Florianópolis, SC: SDS, 2009.

TRENNEPOHL, Curt. Infrações Contra o Meio Ambiente, Multas, Sanções e Processo Administrativo. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2009.

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ARTIGOViabilidade econômica de

SiStemaS agrícolaS SuStentáVeiS: uma ProPoSta Para incentiVar

deSde um Ponto de ViSta educacional e econômico a mudança

Para uma agricultura SuStáVel

José Alfredo Pareja Gómez de La TorreFormado em Administração, Webster University. Espacializações em: Finanças, Universidad Andina Simón Bolivar; em Educação a Distân-cia: Gestão e Tutoria, UNIASSELVI; cursando Gestão Ambiental na Uniasselvi. Contato: [email protected]

Orientadora: Professora Erika de Paula Alves

RESUMO

Neste estudo é analisada a problemática da segurança alimentar perante uma população que precisa de uma agricultura que consiga se manter no tempo e seja sustentável. Segundo as previ-sões dos especialistas não há maneira de conti-nuar tirando mais recursos da natureza sem con-siderar a reciclagem e/ou reincorporação destes ao meio ambiente. Nesse contexto, foi exposta primeiramente casos de sucesso internacional de sistemas de agricultura sustentável. Logo, são apresentadas quatro opções, levando em con-sideração a viabilidade econômica; pois se não houver potencial econômico não haverá interes-se em grande escala, consequentemente, reper-cussão real na sociedade com um todo. Logo, no estudo é desenvolvida uma proposta para incenti-var e implantar sistemas sustentáveis levando em conta os agentes da atividade agrícola. Isso sobre uma perspectiva educacional e econômica, por-quanto, para que os agricultores, como um todo, sejam motivados para mudar suas práticas tradi-cionais é fundamental que estes: tenham a base educacional para poder discernir entre agricultu-ra tradicional, aliás, consumidora constante de recursos, e uma prática sustentável. Tenham um

incentivo, ou justificativo, financeiro para se inte-ressar, pois não há atividade humana eficiente e inovadora sem um incentivo econômico. Ao final, o estudo leva a discussão para uma estratégia de inserção de análise de projetos excludentes dentro dos cursos que abordem gestão agrícola. Assim, os agricultores poderão visualizar, além das vanta-gens ambientais, o potencial financeiro de mudar suas práticas. Por último, observa-se que qualquer que seja a estratégia desta mudança é indispen-sável considerar políticas educacionais e monetá-rias por parte dos governos.

Palavra-Chave: Agricultura sustentável. Sis-temas Agrícolas. Viabilidade Econômica. Projetos excludentes. Educação agrícola e econômica.

1 INTRODUÇÃO

Nestes últimos anos tem-se escutado que a produção atual de alimentos provavelmente não poderá acompanhar o constante aumento da po-pulação, apresentando uma situação de pressão muito forte no uso da água, das matérias primas e das terras agrícolas. Essa pressão é refletida no

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fato que “apesar de um aumento de 30% na efici-ência de recursos, o uso de recursos globais au-mentou 50% nos últimos 30 anos.” (THE WORL-DWATCH INSTITUTE, 2010, p.22).

Desde uma perspectiva histórica, se dermos uma breve olhada à história das civilizações an-tigas que entraram em crise e que logo foram ex-tintas, todas elas começaram a ter reduções no fornecimento de alimentos. Nesta perspectiva, é conhecida a história dramática dos maias, civili-zação que diante da pressão alimentar provocou as condições para uma erosão acentuada de seus solos agrícolas, ajudando a gerar as secas muito fortes e contínuas, reduzindo o fornecimento de alimentos e causando as bases para uma crise, levando finalmente à extinção dessa civilização. Fazendo uma breve análise entre essa civilização e as condições atuais da sociedade moderna, o autor de livro Plano B 4.0, faz a seguinte pergunta:

Será que a nossa civilização enfrenta um destino semelhante? Até recentemente, isso não parecia possível. Resisti à idéia de que a escassez de alimentos também poderia derrubar a nossa civilização global no início do século XXI. Mas o contínuo fracasso para reverter às tendências ambientais que estão afetando a economia mundial de alimentos me leva a concluir que, se continuarmos a fazer negócios da maneira tradicional, um colapso não será apenas possível, mas provável. (BROWN, 2009, p.24).

Assim, levando em consideração a situação atual, a seguir apresenta-se três pontos críticos a serem seriamente refletidos para garantir a segu-rança alimentar da sociedade.

• Nutrição: Além do aumento da população, tem-se o problema do excessivo consumo de ali-mentos, ou seja, pratos cheios demais de comida e de proteína animal, resultado? Uma população com sobrepeso em números preocupantes e um desper-dício nos insumos. Por outro lado, há uma popula-ção desnutrida, e em situações extremas pessoas que não tem nada para comer ao final do dia.

• Proteína Animal em excesso: Na medida em que o mundo subdesenvolvido vai tomando conta de um padrão de consumo ocidental, ou

seja, vai-se aproximando à classe média consu-mista, há mais procura de carne. Com isto, há um aumento na procura de: terra, insumos, animais, pesca industrial e piscicultura. Assim, essa nova classe média, que, aliás, vai só aumentando, con-segue satisfazer seus novos “desejos” de proteína animal, que em muitas situações desnecessários. Resultado? Pressão forte na produção de grãos para sustentar as demandas de engorde destes animais de abate.

• Emissão de Gases: Pressão na emissão de gases de efeito estufa nos processos agrícolas, apresentando os seguintes pontos críticos:

a. Animais de engorde: Os animais domés-ticos que produzem uma grande quantidade de gás metano. “18% dos gases de efeito estufa são produzidos pelo gado que é criado para alimentar a crescente demanda da humanidade por carne.” (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2010, p.51).

b. Energia: O sistema convencional precisa de muito fornecimento de energia.

c. Desperdícios: Na agricultura tradicional os desperdícios orgânicos geralmente, folhas, cas-cas, etc., não são reincorporados ao solo, colabo-rando assim com os gases de efeito estufa.

Nesse cenário da atividade agrícola conven-cional atual e a sua relação direta entre a pressão populacional, o aumento exagerado no consumo de alimentos e a geração de gases de efeito es-tufa; cabe-se perguntar: Como o Brasil vai se pre-parar, sustentavelmente nesse cenário e como vamos educar nossos agricultores? Geopolitica-mente o Brasil tem uma posição única e privilegia-da, pois é o único país com extensões continen-tais disponíveis ainda para aplicações agrícolas.

A agricultura ocupa hoje em dia 60 milhões de hectares. Somos os únicos no mundo a dispor de 100 milhões de hectares para crescer, sem contar áreas de preservação permanente. (NEVES, 2011, p 29).

Em outras palavras, o país tem a disposição, através das tecnologias adequadas, 170% de ca-pacidade adicional em terras agrícolas, é uma ex-celente oportunidade para implantar um agrone-gócio sustentável. Logo, quais das atuais técnicas agrícolas sustentáveis podem ser consideradas

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viáveis em termos econômicos, para aproveitar dessa excelente oportu-nidade? Antes de responder essa pergunta primeiramente temos que deparar que o setor agrícola tem que enxergar a necessidade urgente de produzir alimentos sustentáveis em grande escala, em vistas de alimentar à população com um todo e não somente nichos de mercado de produtos orgâ-nicos.

Assim, há uma necessidade de produzir sus-tentavelmente com preços competitivos, logo, esse processo tem que captar o interesse dos agentes do setor agrícola: dos pequenos, médios e grandes agricultores; dos governos; dos inves-tidores financeiros; e, dos investidores não finan-ceiros: tais como: empresas agroindustriais.

Levando em consideração esse grande desa-fio, no artigo vão-se analisar técnicas de agricultu-ra simples, mas efetivas, com tecnologia de ponta em biotecnologia. Que aprimoram a incorporação da matéria orgânica de uma maneira científica, e ajudam na absorção de CO2 no solo e não à atmosfera. Essas técnicas neste artigo vão-se se alinhar junto com as ferramentas necessárias para conscientizar à sociedade da prática de uma agricultura sustentável.

Mudar o raciocínio dos agricultores e da popula-ção leva tempo, de fato anos, aliás, é um processo muito complexo. Assim, neste artigo vão-se apre-sentar opções para desenvolver uma ideia de proje-to educacional, em vistas de ter alternativas de téc-nicas de projetos agrícolas sustentáveis, e viáveis financeiramente, nos currículos educacionais.

2 OPÇÕES PARA UMA AGRICULTURA SUS-TENTÁVEL

Além da necessidade econômi-ca, a agricultura tem que ser dinâ-mica, atingindo um elo direto com os ecossistemas da região onde é praticada. Atividade que tem víncu-lo direto com os sistemas ecológi-cos e não é somente mais um setor

da economia. Assim, a produção de alimentos deve proteger: os ecos-sistemas, a segurança alimentar, o solo, a preservação dos recursos naturais, os lençóis freáticos, entre os mais importantes.

Em vistas de aprimorar esse elo, a seguir apresenta-se técnicas com um histórico já pro-vado e de sucesso: Sistemas agroflorestais, Policulturas Perenes, Permacultura, e Práticas Agroecológicas com Biotecnologia na Agroindús-tria. É interessante observar o potencial de apro-veitamento dessas técnicas, pois a maioria dos plantios não tem destino final nas agroindústrias. Somente 10% das lavouras mundiais tem esse destino, ou seja, só 10% ao nível mundial das culturas praticam monocultura a grande escala. (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2010, p.26).

Desta maneira, pode-se concluir que ao nível mundial muitas das atividades agrícolas de tamanho médio e pequeno praticam uma agricultura menos in-tensiva e com grande oportunidade para se implantar todo um novo sistema de sustentabilidade, aliás:

A maior parte das propriedades agrícolas estão localizadas em paisagens do tipo mosaico, com grande oportunidade para se usar áreas não cultivadas para fins de conservação e de ajuda para que as comunidades agrícolas sustentem ou restaurarem os valores do ecossistema e ao mesmo tempo aumentem a produtividade agrícola e atinjam objetivos mais amplos de desenvolvimento rural. (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2011, p.26).

Neste contexto, é fácil visualizar que se tem uma grande oportunidade para que os governos possam aplicar políticas que incentivem à agricultura e à edu-cação sustentável nas áreas rurais. Assim, o maior po-

tencial da agricultura sustentável é no pequeno e no médio produtor agrícola, pois os países terão que “aprender a cultivar mais alimentos e, paralelamen-te, melhorar a forma de proteger os ecossistemas e sustentar as comuni-dades rurais.” (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2011, p.26).

O país tem a disposição, através das tecnologias adequadas, 170% de capacidade adicional em terras agrícolas, é uma excelente oportunidade para implantar um agronegócio sustentável.

O maior potencial da agricultura sustentável é no pequeno e no médio produtor agrícola, pois os países terão que “aprender a cultivar mais alimentos e, paralelamente, melhorar a forma de proteger os ecossistemas e sustentar as comunidades rurais.” (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2011, p.26).

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Se levar a consideração a questão da neces-sidade de insumos, na agricultura sustentável, o consumo de agroquímicos poderá ser drastica-mente reduzido. Reduzindo os problemas ambien-tais relacionados à produção, aplicação e espalha-mento destes nas lavouras. Além disso, a redução na aplicação dos agroquímicos poderá ser refleti-da nas finanças dos agricultores. Hoje, esses in-sumos consumem grande parte dos orçamentos, ou seja, o agricultor é financeiramente dependente das produtoras de agroquímicos.

2.1 SISTEMAS AGROFLORESTAIS

Os sistemas agroflorestais é, em linguagem simples, uma mistura de árvores e arbustos no meio dos cultivos, assim, tenta se aproximar pelo menos um pouco aos processos naturais que as florestas fazem na ciclagem de nutrientes e da água. Água que enquanto passa através das flo-restas vai absorvendo nutrientes biológicos e mi-nerais, processo conhecido como água verde. Desta maneira, essa técnica pode minimizar os impactos ambientais e ainda ajudar aos ecossiste-mas, tanto na polinização como na manutenção da flora e fauna dos ecossistemas regionais.

Entre os maiores benefícios dos sistemas agroflorestais é a geração de água verde, que de fato pode ser tão importante quanto à água subter-rânea, dos rios e das chuvas. Logo, os sistemas agroflorestais tem o potencial de ajudar em minimi-zar os impactos das secas prolongadas, melhoran-do a boa gestão da água.

Figuras 1 e 2 – Sistemas Agroflorestais

Fonte: Disponível em: <www.ciflorestas.com.br>. Acesso em: 27 jul. 2013.

Fonte: Disponível em: <www.vivaverdelca.com.br>. Acesso em: 27 jul. 2013.

Outros dos grandes benefícios das agroflores-tas é a presencia de espécies arbóreas e arbustos que conseguem fixar nitrogênio no solo, ajudando na sua fertilização, essencial na produção agríco-la. Na natureza existem vários arbustos perenes e árvores que fixam nitrogênio, tais como:

[...] Sesbania, Gliricidia, Tephrosia e Faidherbia, que os agricultores podem plantar para melhorar a fertilidade do solo. Estas plantas retiram nitrogênio do ar e o transferem para o solo através das raízes e da serapilheira foliar, quando suas folhas podadas e outras biomassas são incorporadas ao solo. (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2010, p.109).

Assim pode-se observar que há uma série de métodos, sendo o elo entre todos eles o concei-to da Agricultura Sempre-Verde. Que na prática é uma maneira viável de fazer atividade agrícola, embasada na ciência, que preserva os solos e au-menta a produtividade dos agricultores.

2.2 POLICULTURAS PERENES

Nos Estados Unidos através do instituo “The Land Institute”, no estado de Kansas, vem se de-senvolvendo uma ideia inovadora para ser inse-rida na produção de grãos. A ideia é mudar a co-leta de grãos para que sejam perenes através da biotecnologia, em outras palavras, mudar o cultivo anual para uma lavoura que possa se manter pro-duzindo grãos pelos menos 4 anos, economizan-do assim energia e gastos vários.

Entre outros benefícios, na policultura perene há uma mistura com outras espécies que ajudam

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fixar nitrogênio, ajudando na fertilização e produ-zindo óleo dessa espécie parceira. Assim, a po-licultura perene consegue atingir três necessida-des: alimento, combustível e lubrificantes. “Essas policulturas imitam as comunidades vegetais que compõem a pradaria selvagem” (THE WORL-DWATCH INSTITUTE, 2010, p.53).

O simples fato de que essas plantas sejam perenes, torna-se bem mais fácil a lavoura. Por-tanto, elas trazem benefícios tanto ao agricultor como ao meio ambiente. No entanto, cabe-se lem-brar de que essa técnica não exime ao agricultor de praticar a rotação de plantios; a grande diferen-ça é que será em cada 5 anos, que seria a vida útil do plantio, e não só em 6 meses que é a vida útil dos cultivos de grãos tradicionais.

Pesquisas do Land Institute mostram que, comparadas às plantas anuais, as plantas alimentícias perenes oferecem maior proteção contra a erosão do solo, aproveitam a água e nutrientes de forma mais eficiente, sequestram mais carbono, são mais resistentes a pragas e intempéries e precisam de menos energia, trabalho e fertilizante. (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2010, p.53).

Além desses benefícios essas lavouras ge-ram muita matéria orgânica em comparação às culturas tradicionais que são demandantes desta.

Estudos resultantes de pesquisas de longo prazo revelam perdas médias de 328 libras de matéria orgânica por acre ao ano com aração convencional, enquanto análises do plantio direto relatam um aumento médio de 956 libras de matéria orgânica por acre ao ano. (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2010, p.54).

Deste modo, essa geração continua de maté-ria orgânica traz ainda outros benefícios reduzem a movimentação da água sobre a superfície do plantio, produzem maior penetração de água nas lavouras. Além disso, essas culturas geram raízes bem mais compridas, aprimorando a absorção de CO2. Estudos no Instituto, “The Land Institute”, têm demonstrado essa capacidade de absorção/incorporação de CO2:

Fonte: Disponível em: <http://ngm.nationalgeographic.com/2011/04/big-idea/perennial-grains-text>. Acesso

em: 25 jul.2013.

Os níveis de carbono no solo eram significativamente mais altos em áreas de gramíneas perenes na vegetação remanescente — cerca de 4%, em contraposição a 1,5% em áreas do sistema tradicional de cultivo contínuo. (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2010, p.55).

Uma das explicações disso é que ao gerar raízes mais profundas, essas plantas têm maior capacidade de absorver e incorporar carbono no solo, como pode ser observado na foto a seguir:

Figura 3 – Raízes de policulturas perenes

Embora as dimensões estejam exageradas, nesta foto, pode-se notar o enorme comprimen-to e densidade relativa da raiz de uma planta de grão perene. Ela é bem mais profunda, portanto, permite várias vantagens: melhorar a captação dos nutrientes, reduzir gastos em fertilizantes, aprimoramento na produtividade da planta, entre outras.

Outro benefício importante é que, as raízes, ao serem bem mais profundas, aprimoram o forne-cimento de água à planta. Quesito chave em anos muito secos, como aconteceu nos USA em 2012, de fato a pior seca há 60 anos. O aprimoramen-to no fornecimento de água faz que essas culturas possam ser mais produtivas, ao se comparar du-rante um período de tempo de longo prazo.

Uma comparação de longo prazo feita pelo Rodale Institute de 1981 a 2002 revelou que sistemas orgânicos produziam safras com rendimento equivalente ao dos métodos convencionais. Os ensaios mostraram que, quando a precipitação pluvial era 30% menor que o normal — nível típico de seca — o rendimento dos métodos orgânicos era 24% a 34% superior ao dos métodos convencionais. Os pesquisadores atribuíram o aumento do rendimento a uma melhor retenção de água

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em virtude de níveis mais altos de carbono no solo. (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2010, p.53).

Portanto, esses rendimentos equivalentes, que somados à diminuição na aplicação de in-sumos e gastos de energia, fazem dessa lavou-ra perene um potencial de reditos financeiros ao agricultor.

2.2 PERMACULTURA

A permacultura é uma com-binação de culturas em parcerias sinérgicas, ou seja, cultivos que conseguem produzir vários produ-tos na mesma lavoura, tais como a lavoura combinada de milho, feijão e abóbora. “Pesquisadores constataram que essas combi-nações conseguem gerar o dobro, ou mesmo o triplo, de rendimento do que se consegue com monoculturas.” (THE WORLDWATCH INSTITU-TE, 2010, p.55).

Além de melhorar o rendimento das lavou-ras alguns desses sistemas podem gerar ainda proteína animal. Neste contexto podemos citar as práticas aplicadas na China de aquicultura de arroz. “[...] cujos sistemas de arroz/peixe, arroz/caranguejo e arroz/camarão passaram de 5000 hectares em 1994 para 117.000 hectares em 2001” (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2011, p.84) Ou seja, um acréscimo na área cultivada de 2.240% num período de só 7 anos. Aumento bem significativo que reflete a capacidade produ-tiva desse tipo de lavoura.

A produtividade do arroz aumentou entre 10% e 15%, mas o maior ganho foi em proteína: cada mu (1/15 de um hectare) produziu 50 kg de peixe. Outros benefícios observados foram a redução no uso de inseticidas e na incidência de malária, pelo fato de os peixes serem predadores da larva do mosquito transmissor. (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2011, p.84).

Observes-se que a Permacultura pode ter grande potencial aqui no Brasil, assim, vários pro-jetos poderiam ser desenvolvidos. Pois há muitas lavouras de arroz e recursos hídricos no Brasil.

2.3 AGROINDÚSTRIA SUSTENTÁVEL

Depois de ter estudado esses sistemas de agricultura sustentável, a seguir será analisado a viabilidade delas na agroindústria. Além disso, será observada a relação existente entre essas

lavouras intensivas e sua neces-sidade de fornecimento energia. As atividades agroindustriais, es-pecialmente de commodities tais

como soja, milho e carne, demandam grande quantidade de energia, gerando assim gases de efeito estufa.

No caso do gado, essa atividade gera enor-mes quantidades de gás metano. Problemática que poderia ser minimizada por meio do aprovei-tamento desse gás, porém, para atingir isso tem que se mudar o jeito de enxergar essa atividade. Mas como pode ser feito isso? Através de uma combinação dos sistemas referidos acima com técnicas modernas que produzem energia desse gás metano, ou seja, biogás. Métodos que po-dem abrir várias possibilidades de aproveitamen-to dessa energia, tornando assim a agroindústria de consumidora energia para uma atividade au-tossuficiente nas suas necessidades energéti-cas, e até com a possibilidade de fornecer à rede elétrica.

Voltando à atividade pecuária, a produção intensiva de carne e leite, gera gás metano. Assim, para diminuir esse impacto e até para aproveitar esse fato várias fazen-das no Brasil, e em outros países, vêm aproveitado esse gás para produzir energia elétrica e adubo

natural. Com isso, consegue-se cobrir as neces-sidades energéticas e até fornecer energia à rede elétrica. Exemplo disto é a experiência de uma fa-

A permacultura é uma combinação de culturas em parcerias sinérgicas, ou seja, cultivos que conseguem produzir vários produtos na mesma lavoura

A produção intensiva de carne e leite, gera gás metano. Assim, para diminuir esse impacto e até para aproveitar esse fato várias fazendas no Brasil, e em outros países, vêm aproveitado esse gás para produzir energia elétrica e adubo natural. Com isso, consegue-se cobrir as necessidades energéticas e até fornecer energia à rede elétrica.

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zenda em Mato Grosso que produz carne e grão sem poluir, segundo o Globo Rural do dia 10/set/20121.

Outro exemplo disto é na China onde a fá-brica Huishan Laticínios tem investido em um gerador de energia que aproveita o gás metano gerado de mais de 60.000 vacas. Desta maneira, essa agroindústria virou autossuficiente nas suas necessidades energéticas e ainda consegue for-necer energia à rede elétrica, segundo o seguin-te artigo:

O resultado disso será a produção de 5,66 megawatts de energia, quantidade suficiente para suprir as necessidades de 3.500 famílias, nos padrões americanos, que são diferentes dos chineses, já que os orientais gastam menos energia em suas residências. (CICLOVIVO, 2010, s/p).

Nesta empresa, além da gera-ção de energia renovável é produzida mais de 600.000 toneladas de adubo natural. Ou seja, em termos econômi-cos a empresa faz economia de insumos e ain-da gera receitas adicionais, tais como: venda de energia à rede elétrica, venda de fertilizante na-tural e venda de créditos de carbono.

Nesses dois exemplos citados pode se en-xergar a enorme capacidade que há para aprimo-rar os processos agroindustriais atuais, visando: a) gerar lavouras sustentáveis nas agroindús-trias; b) mudar a gestão das fazendas e princi-palmente o paradigma de serem grandes deman-dantes de energia para se tornar autossuficientes e até potenciais fornecedores; e, c) gerar proje-tos sustentáveis integrados à cadeia produtiva de alimentos, através dos quais os medianos e grandes agricultores vão se integrando a uma agroindústria sustentável.

Tendo isto em mente, pode-se visualizar que no futuro essas mudanças poderão ser mais atraentes em termos financeiros. Os governos logo poderão reduzir os subsídios agrícolas e os

empresários poderão ter menores custos de pro-dução. Além disso, essas empresas poderão tam-bém melhorar suas receitas através da geração de energia e créditos de carbono, como foi expos-to acima e como diz o seguinte estudo:

O estudo indica que, se os 64 milhões de hectares das terras cultiváveis dos EUA, atualmente com plantação de milho e soja, fossem convertidos em lavoura orgânica, haveria sequestro de 264 milhões de toneladas de dióxido de carbono; isso é equivalente a fechar 207 usinas de carvão para produção de energia (225 megawatts), aproximadamente 14% da capacidade instalada de energia elétrica gerada por carvão nos Estados Unidos ou na China. (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2010, p.53).

Mas para que isso possa ter sucesso em gran-de escala e ter um impacto real na sociedade, é

necessário conscientizar à popu-lação e aos agentes que fazem parte do setor agrícola. Em outras palavras, massificar uma cultura de agricultura e alimentação sus-

tentável.

Isto pode e precisa ser atingido por meio da educação, começando desde o ensino básico até o ensino superior, inserindo esse quesito dentro dos planos já estabelecidos da Educação Am-biental (EA). Não basta ser cientes que a agricul-tura sustentável é melhor para o país e o planeta, é preciso enxergar que esse tipo de prática tam-bém pode ser financeiramente viável. Pois se as pessoas não conseguem enxergar ganhos finan-ceiros nas suas atividades, dificilmente elas ficam interessadas em mudar suas práticas. Logo, para atingir esse objetivo é necessário educar em ter-mos de agricultura economicamente sustentável.

3 EDUCAÇÃO VISANDO UMA AGRICULTURA ECONOMICAMENTE SUSTENTÁVEL

Em vistas para que as futuras gerações pos-sam valorizar a necessidade de uma agricultura e alimentação sustentável é importante desde o en-sino básico inserir essas questões nos currículos 1Fonte: http://globotv.globo.com/rede-globo/globo-rural/t/edicoes/v/

granja-sustentavel-modelo-produz-carne-e-grao-sem-poluir-no--mt/1984945/. Acesso em: 13/01/2013.

É necessário conscientizar à população e aos agentes que fazem parte do setor agrícola. Em outras palavras, massificar uma cultura de agricultura e alimentação sustentável.

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de Educação Ambiental (EA). Conceitos básicos e práticos de agricultura, para que logo essas no-vas gerações possam ter um conceito mais real de onde vêm os alimentos e como podem ser pro-duzidos sustentavelmente.

Sob esse contexto, vão-se expor duas etapas importantes no processo educativo da população, nos primeiros anos de ensino nas escolas e no ensino superior. Em vistas de gerar adultos que consigam enxergar nas alternativas de geração de alimentos sustentável uma opção de atividade eco-nômica que seja viável e que seja interessante.

3.1 NAS ESCOLAS

Considerando que na sociedade moderna a maior parte da população mora nas cidades, as crianças pequenas dificilmente sabem enxergar de onde vêm os alimentos, que o leite do super-mercado vem da vaca, que os ovos vêm da gali-nha, que a cenoura, e a mandioca são tubérculos, e assim por diante. Logo, como fazer de uma ma-neira prática e simples para que as crianças con-sigam ligar esses alimentos à natureza?

Uma alternativa é através das escolas. É im-portante levar em consideração que as refeições nas escolas são um termômetro da cultura alimentar, pois as crianças são vulneráveis aos novos gostos e modos de pensar que ainda estão--se formando.

Na realidade, apesar do estereótipo de um serviço simples, a alimentação escolar é parte de uma ecologia bastante complexa que exige sincronismo de diversas variáveis. Para ser eficaz, a reforma da merenda escolar exige mudanças em todo o sistema, dada a interdependência do processo que traz o alimento da terra até a mesa. (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2010, p.72).

Neste contexto, é importante relacionar a interdependência que traz esse conceito do alimento da terra até a mesa. Relação que pode

ser ensinado nas escolas através de lavouras simples, literalmente bem simples, onde as crianças possam enxergar de onde vêm os alimentos. Ensino que pode fazer a grande diferença para compreender todo um processo natural que a sociedade moderna não enxerga mais, pois a pessoa urbana não tem mais esse contacto direto que se tinha antigamente com o campo.

Assim, o potencial desse ensino poderá trazer as seguintes vantagens: a) Reduzir desperdícios, escolhendo produtos nutritivos e estimulando à fa-mília a se alimentar melhor; b) adquirir as bases do conhecimento para que logo quando as crian-ças sejam adultas possam: colaborar, incentivar e inovar na produção de alimentos sustentáveis; e, c) aprender a relação direta entre alimentação, ali-mento e a gestão agrícola:

Se uma pessoa não souber como cultivar, cozinhar ou preparar o alimento, não saberá como comê-lo. Essas lições vão muito além daquelas atualmente ensinadas em sala de aula. Os alunos ficam entusiasmados quando descobrem o sabor de alimentos frescos e de qualidade, e seus hábitos alimentares de fato mudam após aprenderem sobre nutrição. (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2011, p.41).

3.2 NO ENSINO SUPERIOR

No ensino superior essas crianças que têm estudado nas escolas as lavouras básicas pode-rão compreender melhor a logísti-

ca produtiva dos alimentos. Logo, aqueles alunos que decidirem optar por cursar alguma profissão atrelada à produção agrícola, poderão enxergar melhor a cadeia de produção de alimentos, po-dendo assim: inovar, aprimorar e criar opções agrícolas produtivas, sustentáveis e lucrativas.

Dessa maneira a sociedade poderá gerar pro-fissionais que apresentem ideias ou processos agrícolas sustentáveis. Ideias que, além disso, poderão ser estudadas desde uma perspectiva fi-

É importante levar em consideração que as refeições nas escolas são um termômetro da cultura alimentar, pois as crianças são vulneráveis aos novos gostos e modos de pensar que ainda estão-se formando.

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nanceira, através do ensino de análise de projetos agrícolas. Projetos que poderiam ser interpreta-dos como uma trilha para incentivar aos agentes que fazem parte da atividade agrícola, ou seja: o agricultor, enxergando maiores benefícios econô-micos de suas terras; o estado, enxergando maio-res receitas e menores subsídios; e, os agentes financeiros, enxergando serviços financeiros nes-sas atividades.

4 APLICAÇÃO DA INFORMAÇÃO CONSIDERA-DA EM ANÁLISE DE PROJETOS

Na questão financeira, uma opção para in-centivar as lavouras sustentáveis é através de análise de projetos excludentes, em vistas de mudar a agricultura tradicional para uma agricul-tura sustentável, deste modo, os agricultores e o governo poderão comparar atividades agrícolas equivalentes dos cultivos a serem produzidos.

Se analisar um projeto que seja sustentável versus um proje-to agrícola tradicional, sem dúvida, no curto e médio prazo o projeto tradicional poderia trazer melhores frutos financeiros para o empresário e para o Es-tado. Porém, se analisar sob uma perspectiva de longo prazo os projetos sustentáveis podem ser economicamente mais viáveis.

Assim, para captar o interesse, é necessário

que o governo faça incentivos fiscais e financeiros para o agricultor e as empresas agroindustriais. Com isso, a mudança torna-se bem mais atraente não só no longo prazo, mas também no mediano prazo. Consequentemente, o processo de análise da mudança de lavouras converte-se num convite interessante e real para fazer investimentos sus-tentáveis.

Neste sentido, a seguir apre-senta-se um exemplo no qual os sistemas agroflorestais demons-tram receitas atrativas. A pesar de ter que esperar um longo período

de tempo, aliás, anos.

O interesse dos agricultores no reflorestamento de suas terras pode crescer com a exploração das possibilidades de aumento de renda através do desenvolvimento de cadeias de valor do agroflorestamento. A semente de carité, na África Ocidental, é um exemplo bastante conhecido de um produto agroflorestal, com frequência, colhido por grupos de mulheres e adquirido por empresas nacionais e por indústrias farmacêuticas. (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2010, p.101).

Logo, e fácil enxergar os benefícios desse sistema, não em tanto, há toda uma estrutura eco-nômica e financeira que trava o inicio de uma ativi-dade sustentável e a grande escala. Por exemplo, o governo teria que fazer incentivos financeiros e tributários, os quais terão um peso adicional, ali-ás, muito forte no orçamento do estado. Assim, uma maneira para que o governo destravar esse

processo é considerando os contin-gentes naturais.

Em outras palavras, ao incenti-var a mudanças por meio de políti-cas monetárias, o governo reduzirá

o risco dos conhecidos contingentes econômicos, tais como uma seca prolongada e/ou variações extremas do clima. A questão é só começar, mas como todo processo complexo, a largada é bem atrapalhada. Assim, uma das grandes questões é como criar planos de investimento a grande esca-la para começar alavancar a mudança.

Toda questão que mexe com agricultura sus-tentável converte-se também uma questão eco-nômica, portanto, esses incentivos tem que ser norteados por políticas estruturais de longo prazo. Políticas que deverão delinear: O planejamento da educação; os investimentos necessários em

logística; e, o planejamento para desenvolver fontes de financiamen-to.

Deve-se lembrar, que ao final das contas, todo processo produ-

Ao incentivar a mudanças por meio de políticas monetárias, o governo reduzirá o risco dos conhecidos contingentes econômicos, tais como uma seca prolongada e/ou variações extremas do clima.

Deve-se lembrar, que ao final das contas, todo processo produtivo, sob um contexto capitalista e de mercado, é incentivado através das perspectivas financeiras das atividades econômicas. Logo, o incentivo econômico poderá ser um dos melhores parceiros para uma nova era agrícola.

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tivo, sob um contexto capitalista e de mercado, é incentivado através das perspectivas financei-ras das atividades econômicas. Logo, o incentivo econômico poderá ser um dos melhores parceiros para uma nova era agrícola.

Em vistas de desenvolver esses projetos e

que sejam conhecidos pelos agentes que atuam na atividade agrícola, a seguir se apresenta duas ideias que poderão servir como modelos para deli-near métodos pedagógicos nos cursos que envol-vam gestão agrícola. Esses formatos poderão ser esboçados e aprimorados por meio das pesquisas e processos específicos na atividade econômica em questão, levando em consideração:

• Projetos através de cooperativas agrícolas, através da gestão de espalhar esses novos sis-temas agrícolas entre os agricultores pequenos e médios.

• Projetos através das agroindústrias, as quais compram seus insumos a vários agriculto-res, desde pequenos até grandes fazendeiros.

Nessas duas alternativas o primeiro passo

é desenvolver o marco geral dos projetos excludentes. Se apresentando os seguintes passos macros:

Quadro 1 – Informações básicas para análises de projetos

Fonte: O autor.Uma vez que estamos tratando do desenvolvimento sustentável de sistemas produtivos no agronegócio, temos que pensar na viabilidade financeira e no desenvolvimento da cadeia como um todo. (NEVES, 2011, p.118).

Assim, como expressa Neves, ao se analisar

um processo de análise destes, é básico analisar a sustentabilidade começando desde a lavoura e

logo passando ao longo da cadeia de distribuição até o consumidor final dos produtos alimentícios a serem consumidos.

Neste processo de decisão, e tendo como perspectiva a questão financeira do agricultor, há dois pontos importantes, que podem fazer a gran-de diferença entre escolher um projeto sustentá-vel ou continuar com uma lavoura tradicional:

• Considerar os incentivos financeiros e de redução de impostos do governo. Se não houver, o projeto deverá considerar o tempo de recupera-ção financeira do investimento num maior prazo, logo, havendo um alto risco de não fazê-lo.

• Na etapa de avaliação do projeto é funda-mental considerar todos os insumos a serem con-sumidos e seu impacto no ecossistema da região.

Nesta etapa, pode-se considerar o aprovei-tamento de recursos naturais (água, solo, vege-tação), alternativas de minimizar impactos am-bientais, sistemas de tratamento e reutilização de resíduos (líquidos, sólidos e gasosos). (NEVES, 2011, p.121).

Dentro do período de análise, é bem crítico a fase de médio prazo, pois uma atividade agrí-cola sustentável poderia gerar na média um 30% a menos de produtividade, porém apresentando menor consumo de recursos naturais e insumos. (BARILLA CENTER FOR FOOD & NUTRITION, 2012, p.136) A pesar disso, um cultivo sustentá-vel poderia atingir receitas mais estáveis, tendo menor impacto aos contingentes naturais. No lon-go prazo é comprovado que iguala ou até pode superar as produtividades tradicionais, pois além das receitas da atividade agrícola em si, as sus-tentáveis consideram a bioagricultura como parte integral do negócio.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O foco deste artigo foi de argumentar sobre a necessidade de considerar a questão educacio-nal e financeira na hora de analisar o desenvol-

Oportunidade

PROJETO

Decisão

Lavoura Sustentável ouLavoura Tradicional

*Estudos*Pesquisas*Processos

*Demanda Energéticas*Demanda de Insumos

*Análise*Avaliações

Comparação Custo/Benefício

Valor Presente LíquidoPonderação dos Contingentes

*Custos Energéticos*Variação do CLima* Custos Insumos

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vimento de sistemas de agricultura sustentável, em especial considerando-o dentro do plano da Educação Ambiental (EA). Para atingir isso, foram apresentados os sistemas agrícolas sustentáveis com maior sucesso, assim, teve-se uma base para se comparar esses sistemas inovadores com as lavouras tradicionais.

A partir disso, foi analisado o “como” fazer para mudar, de fato a grande escala, as lavou-ras tradicionais para uma agricultura sustentável, ou seja, para que possam ter um impacto real na sociedade como um todo, norteando assim a dis-cussão para o campo da educação. Neste ponto, além da questão educacional, ficou mais fácil vi-sualizar a problemática ambiental e educacional em relação à questão econômica, em especial no que tange aos agentes da atividade agrícola como um todo. Assim, foram expostas opções, ou ferramentas financeiras, para mudar o paradigma “econômico” atual dentro da atividade agrícola, in-serindo a problemática econômica dentro da Edu-cação Ambiental.

Assim, ao final desta análise ficou em aberto a possibilidade de uma longa pesquisa a se de-senvolver e descobrir. Isso em vistas de implantar esse processo educacional, e, principalmente, de conscientizar aos agentes que fazem parte dessa atividade agrícola, tão importante para garantir a segurança alimentar da sociedade. Argumentan-do que é viável ter rendimentos financeiros nas lavouras sustentáveis, mas para atingir isso é preciso que haja políticas governamentais, em es-pecial educacionais e monetárias, que consigam delinear essas mudanças.

Desta forma, a análise apresentada é mais um caminho para estimular e atingir uma produti-vidade agrícola sustentável, procurando dar valor agregado à decisão econômica dessa mudança, aliás, fundamental para manter as atividades agrí-colas. Talvez uma segunda etapa desta propos-ta seja a elaboração de uma longa pesquisa que possa levar à prática o que foi argumentado neste texto.

REFERÊNCIAS

BARILLA CENTER FOR FOOD & NUTRITION. Eating Planet 2012, Nutrition Today: A challenge for manking and for the Planet. Ed. 1. Milan – Itália. Edizione Ambiente, 2012.

BROWN, Lester. Plano B 4.0: Mobilização para Salvar a Civilização. Ed. Português. São Paulo. New Content Produtora e Editora, 2009.

CICLO VIVO. Laticínio chinês aproveita o gás metano do gado para produzir energia. Disponível em: <http://www.ciclovivo.com.br/noticia/laticinio_chines_aproveita_o_gas_metano_do_gado_para_produzir_energia>.Último acesso: 10 jan. 2013.

GLOBO RURAL. Granja sustentável modelo produz carne e grão sem poluir no MT. Disponível em: <http://globotv.globo.com/rede-globo/globo-rural/t/edicoes/v/granja-sustentavel-modelo-produz-carne-e-grao-sem-poluir-no-mt/1984945>. Acesso em: 10 jan. 2013.

NEVES, Marcos. Agronegócios & Desenvolvimento Sustentável: Uma agenda para a liderança mundial na produção de alimentos e bioenergia. Ed. 1. São Paulo. Atlas, 2011.

THE WORLDWATCH INSTITUTE. 2010 Estado do Mundo: Transformando Culturas, do Consumismo à Sustentabilidade. Ed. Português. Salvador. UMA -Universidade Livre da Mata Atlântica, 2010.

THE WORLDWATCH INSTITUTE. 2011 Estado do Mundo: Inovações que Nutrem o Planeta. Ed. Português. Salvador- UMA- Universidade Livre da Mata Atlântica, 2011.

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RESENHA

deSenVolVimento SuStentáVel: uma breVe reflexão

Autor: Edinan Cardoso Dourado. Formação: mestrado em Desenvolvimento Regional pela Universidade Regional de Blumenau e graduação em Licenciatura em História pela Universidade do Estado da Bahia. Trabalha na Pós Graduação a Distância da Uniasselvi. E-mail: [email protected]

OLIVEIRA, Gilson Batista de; SOUZA-LIMA, José Edmilson de (orgs.). Desenvolvimento susten-tável em foco: uma contribuição multidiscipli-nar. São Paulo: Editora AnnaBlume, 2006. p.168. ISBN:978-85-7419-681-7.

Gilson Batista de Oliveira é Doutor em De-senvolvimento Econômi-co pela Universidade Fe-deral do Paraná - UFPR. Professor Adjunto II, em regime integral com de-dicação exclusiva, da Universidade Federal da Integração Latino-Ameri-

cana (UNILA). Membro do Grupo de Pesquisa In-terdisciplinar em Racionalidades, Desenvolvimen-to e Fronteiras (GIRA) da UNILA e do Grupo de Pesquisa em Gestão Pública e Desenvolvimento da UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Editor da Revista Orbis Latina/ Pesquisa os seguintes temas: desenvolvimento regional (rural e urbano) e políticas públicas para promo-ção do desenvolvimento das regiões.

José Edmilson de Souza Lima é Pós-Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento. Pesqui-

sador-docente do UNICURITIBA e do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desen-volvimento (PPGMADE-UFPR). Líder do grupo de pesquisa Epistemologia e Direito (CNPq/UNICU-RITIBA) e pesquisador do grupo Epistemologia e Sociologia Ambiental (CNPq/UFPR). Está à frente de um programa de investigação acerca dos fun-damentos epistêmicos, teóricos e metodológicos do campo de conhecimento ambiental no Brasil.

No livro sobre o qual discorre-se no presen-te momento, os autores caminham no sentido de propor novos conceitos, novos modos de ser ao inquietar formas tradicionais de fazer as coisas, que já não mais produzem resultados benéficos para a humanidade. O termo “desenvolvimento”, nesse livro, é encarado como algo plural. Muito mais que crescer e aumentar o montante de ri-quezas produzidas, é preciso fazer com que es-sas riquezas regressem àqueles que produziram. Enfim, o debate em questão é “como prosperar distribuindo riquezas nas mãos dos milhões que a produziram”. Esse ponto por si só já justifica a importância do debate, “contrariar o processo de crescer é concentrando, pois tal procedimento re-sulta em exclusão social”.

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O livro - Desenvolvimento Sus-tentável em Foco: Textos para Re-flexão-traz cinco textos com aná-lises que norteiam a questão da sustentabilidade socioambiental. Trata-se de uma reunião de artigos científicos pu-blicados em renomadas revistas, congressos ou seminários acadêmicos, o que restringiu a leitu-ra e a discussão do tema. Assim, esse livro teve como objetivo principal ampliar os debates a res-peito do desenvolvimento sustentável e, por que não dizer, desenvolvimento socioambiental.

No primeiro cenário - Uma discussão sobre o conceito de desenvolvimento – Gilson Batista de Oliveira. O principal objetivo é esclarecer o conceito de desenvolvimento, enfatizando a controvérsia existente entre este e o conceito de crescimento econômico, assim como discutir a relação entre desenvolvimento e ambiente, desenvolvimento e industrialização e o conceito de desenvolvimento humano. O autor procurou mostrar que a busca desenfreada pela industrialização e pelo desenvolvimento econômico levou a maioria dos países do mundo a concentrar seus esforços na promoção do crescimento do produto interno bruto (PIB), deixando a qualidade de vida em segundo plano, pois o crescimento econômico era visto como meio e fim do desenvolvimento. Por fim, demonstrou-se que essa visão está mudando lentamente, apesar de ter deixado graves danos para a humanidade.

Mergulhamos no segundo cenário - Elemen-tos Endógenos do desenvolvimento regional: considerações sobre o papel da sociedade local no processo de desenvolvimento sustentável – Gilson Batista de Oliveira e José Edmilson de Souza-Lima. Traz uma discussão sobre o papel da socie-dade local no processo de desen-volvimento. Ele nos mostra que o

objetivo desse capítulo é discutir o desenvolvimento regional sob a perspectiva endógena, isso é, es-tudar os fatores internos da região, capazes de transformar um impul-

so externo de crescimento econômico em desen-volvimento para toda a sociedade. Para tanto, si-multaneamente revisou e aproximou abordagens das ciências econômicas de aportes construídos, tendo por base as ciências socioambientais, apre-sentando novas pistas analíticas e interdiscipli-nares para a dimensão econômica das experiên-cias associativas humanas. A partir da discussão proposta, o autor conclui que as variáveis endó-genas, por definição, são as socioculturais, logo não podem ser negligenciadas durante as elabo-

rações das políticas de desenvolvi-mento socioeconômico.

No terceiro cenário - Econo-mia ambiental, ecológica e marxis-ta versus recursos naturais - José Edmilson de Souza-Lima. Toma-se

como referência os recursos naturais e a racio-nalidade instrumental para promover um diálogo epistemológico e exploratório, envolvendo três abordagens da economia: a ambiental, a ecológi-

ca e a marxista. Esse terceiro ce-nário recorreu a alguns fundamen-tos da teoria econômica tentando resgatar as diferentes formas com as quais essas teorias enfrentam os processos de apropriação dos recursos naturais. No final, o autor demonstra que as abordagens am-

bientais e ecológicas da economia, por fazerem concessões à racionalidade e à racionalidade ins-trumental, não conseguem questionar as causas centrais da crise ambiental, na medida em que enfrentam as referidas contradições.

O quarto cenário - A construção do imaginá-rio Ecológico em Curitiba – José Edmilson de Souza-lima. Analisa as possíveis influências dos meios escritos de comunicação de mas-sa no processo de construção do

Ampliar os debates a respeito do desenvolvimento sustentável e, por que não dizer, desenvolvimento socioambiental.

A busca desenfreada pela industrialização e pelo desenvolvimento econômico levou a maioria dos países do mundo a concentrar seus esforços na promoção do crescimento do produto interno bruto (PIB), deixando a qualidade de vida em segundo plano.

O autor demonstra que as abordagens ambientais e ecológicas da economia, por fazerem concessões à racionalidade e à racionalidade instrumental, não conseguem questionar as causas centrais da crise ambiental, na medida em que enfrentam as referidas contradições.

As variáveis endógenas, por definição, são as socioculturais, logo não podem ser negligenciadas durante as elaborações das políticas de desenvolvimento socioeconômico.

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imaginário ecológico da cidade de Curitiba. Essa experiência precisa ser estudada com mais pro-fundidade, uma vez que seus nexos causais e, sobretudo, seus significados socioculturais per-manecem obscuros para sua própria população. Nessa discussão, tomando como ponto de partida a comparação entre matérias jornalísticas sobre ecologia e o mundo vivido, o autor conclui parcialmente que a Curitiba ecológica não é resultado exclusivo e único da mídia e da imprensa, mas de todo um projeto histórico, caracterizado como modernidade. Conclui-se também que a Curitiba ecológica cons-truída com o propósito de produzir impactos positi-vos sobre ambiente, terminou por provocar efeitos contrários, ao atrair, com sua fama, uma série de problemas que vêm se multiplicando como fontes de desequilíbrios socioambientais. Como emblema desse efeito contrário, é possível destacar o cres-cimento de favelas, aliado ao crescimento popula-cional. Esse é o preço da fama, pago pela Curitiba ecológica.

O quinto cenário é denominado de Planejamento e Desenvolvimen-to Regional: considerações sobre a região metropolitana de Curitiba, escrito por Gilson Batista de Olivei-ra. No processo de planejamento regional, de acordo com o autor, é importante prestar atenção não somente nos problemas evidentes, mas igualmente buscar ajuda e pensar no todo gera o sucesso da qualidade de vida, pois, na metró-pole, só há vencedores se todos ganharem. As-sim, de forma didática, o autor apresenta que é preciso um plano diretor unificado para toda região, pois sem isso é impossível ter qualidade de vida. Na busca de desenvolvimento, é preciso priorizar investimentos nas áreas periféricas, com o propósito de reduzir disparidades e melhorar os serviços públicos da cidade polo para, então, resolver problemas nas regiões centrais, articu-

lar a cooperação e a participação dos agentes da sociedade civil organizada, sociedades de bairro, organizações não governamentais, sindicatos, en-tre outros. Esse planejamento deve ser em função dos habitantes e não somente de suas indústrias

e empreendimentos lucrativos. A ação conjunta é um dos pontos centrais da busca do desenvolvi-mento urbano sustentável.

O sexto Cenário - Inovação tecnológica e a pequena e média empresa local – escrito por Antoninho Caron – apresenta que as pequenas e médias empresas representam e simbolizam as forças produtivas vivas de uma so-ciedade e, por meio delas, se expressa o sentido de risco, de empreendimento, de auto-realização, de criatividade, de iniciativa e de autopreservação da realização do sonho empresarial, geração de empregos, da interiorização do desenvolvimen-to e complementação da ação de grandes em-presas. A contribuição específica do estudo foi

observar o fenômeno da inovação tecnológica na pequena e média empresa, com base na visão e na percepção do empresário sobre o ambiente econômico competitivo que o cerca e conhecer o compor-tamento e as atitudes dos empre-sários e dirigentes das empresas que querem e precisam inovar para competir. Constata-se, por meio da pesquisa de campo e das entrevis-tas apresentadas, que o conceito de inovação é que orienta as ações empresariais e pode ser sintetiza-

do como inovação tecnológica que nada mais é a ampliação da produção e a introdução de novos

produtos, isso é, passar a fabricar produtos que a empresa não fabri-cava, mas poderiam estar sendo produzidos por outros fabricantes ou concorrentes. De acordo com o autor, os empresários querem mu-dar, estão dispostos a mudar, en-

tendem que a mudança é necessária, todavia têm dificuldades e facilidades para gerir as mudanças

O autor conclui parcialmente que a Curitiba ecológica não é resultado exclusivo e único da mídia e da imprensa, mas de todo um projeto histórico, caracterizado como modernidade.

Só há vencedores se todos ganharem. É preciso um plano diretor unificado para toda região, pois sem isso é impossível ter qualidade de vida. Na busca de desenvolvimento, é preciso priorizar investimentos nas áreas periféricas, com o propósito de reduzir disparidades e melhorar os serviços públicos da cidade polo para, então, resolver problemas nas regiões centrais, articular a cooperação e a participação dos agentes da sociedade civil organizada, sociedades de bairro, organizações não governamentais, sindicatos, entre outros.

Não é somente o lucro que determina a estratégia da inovação, mas também a capacidade de empreender, de criar. Além disso, o modo de pesar do empresário e da empresa estimula a capacidade de perceber a oportunidade, de correr o risco de empreender.

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por serem suas empresas pequenas e locais. Não é somente o lucro que determina a estratégia da inovação, mas também a capacidade de empre-ender, de criar. Além disso, o modo de pesar do empresário e da empresa estimula a capacidade de perceber a oportunidade, de correr o risco de empreender.

O sétimo cenário - A ação do Estado em con-sequencia da interação e interdependência das dimensões do desenvolvimento sustentável: um modelo economé-trico e analítico dos equipamentos urbanos – desenvolvido por Chris-tian Luiz da Silva, Marcus santos Lourenço e Heloísa de Pupi e Silva – trata da transformação da ação do estado. Essa transformação, de acordo com os autores, ocorreu em virtude de uma nova dinâmica internacional, fundamen-tada no comércio internacional e na revolução tecnológica. A ação do Estado, como um sistema complexo, retroalimenta-se em prol de um cres-cimento e deve ser avaliada, levando-se em con-sideração que seus recursos são escassos. Tão fundamental quanto definir racionalmente o uso do recurso é acompanhar a sua aplicação e ava-liar a relação entre o impacto direto e indireto, previstos e realizados. Esse processo deve ser contínuo e gerar novos valores de análise. As-sim como o conceito multidisciplinar do desenvolvimento sustentável, a prática exige um sistema comple-xo em prol de maior interação e interdependên-cia dos agentes que garanta a continuidade das ações e o fortalecimento em um projeto direciona-do por um objetivo comum da comunidade local. Urge, então, desenvolver uma base de informa-ção que permita a retroalimentação da análise, a fim de se estabelecer um projeto de desenvolvi-mento sustentável. Nessa perspectiva, os autores propõem duas abordagens: uma teórica e outra prática. A teórica envolve análise de outros indica-dores–base. A prática está relacionada ao estudo de impacto de investimento de um equipamento público, a fim de relacioná-lo com os valores indi-cados nesse texto.

O oitavo e último cenário discorre sobre Ca-pital social e cooperativismo no processo de de-senvolvimento sustentável: estudo da cooperativa Bom Jesus-Lapa-PR. Esse capítulo é de autoria de Pedro Salanek Filho e Christian Luiz da Silva. De acordo com os autores, a ação da comunidade fortalece a rede pela educação e pela formação e estabelece os valores de confiança contra o opor-tunismo e a ação individual, estabelecendo laços verticais e um capital social estrutural. A base do

cooperativismo, contudo, é indivi-dual e não necessariamente pro-move o fortalecimento da rede. A adesão voluntária e individual pode ter base em transações econômi-cas e não da busca pela interação e ação coletiva. Enfim, de acordo com as discussões realizadas nes-

se capítulo, o cooperativismo é um tipo de organi-zação que promove a aproximação e a interação dos agentes, apesar de não ser suficiente para garantir o fortalecimento do capital social. Diferen-tes cooperativas podem ter capitais sociais dife-rentes em razão da sua história e das característi-cas dos cooperados. No estudo de caso realizado pelos autores, observou-se a preocupação de manter a rede e o capital social alimentado para

o longo prazo, contudo há uma dis-puta entre o resultado operacional (curto prazo) e estratégico (longo prazo) do cooperado. Os autores, ao final, sugerem a realização de um estudo comparativo entre as cooperativas de ramos e locais di-

ferentes, a fim de avaliar o capital social e relacio-nar as convergências e divergências.

O livro analisado é uma obra que pode ser criticada por alguns, por não ter um direciona-mento geral, mas, para outros, é o depoimento de estudos de caso sobre a temática “desenvolvi-mento sustentável”, como desafio de um modelo industrial-urbano consumista, que já provou que não é viável. Por essas palavras recomenda-se o livro para entender às possibilidades de uma nova sociedade que respeite os recursos e os atores sociais.

Assim como o conceito multidisciplinar do desenvolvimento sustentável, a prática exige um sistema complexo em prol de maior interação e interdependência dos agentes que garanta a continuidade das ações e o fortalecimento em um projeto direcionado por um objetivo comum da comunidade local.

De acordo com os autores, a ação da comunidade fortalece a rede pela educação e pela formação e estabelece os valores de confiança contra o oportunismo e a ação individual, estabelecendo laços verticais e um capital social estrutural.

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RESENHA

SuStentabilidade na eScola: conciliado o Ser Humano, a aPrendizagem e a educação

Autora: Sorinéia Goede. Formação: mestrado em Desenvolvimento Regional e graduação plena em Educação Física. Trabalha na Rede Municipal de Ensino de Pomerode e na Pós Graduação a Distância da Uniasselvi. E-mail: [email protected]

GADOTTI, Moacir. A Carta da Terra na Educção. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2010. ISBN: 978-85-61910-41-9.

Moacir Gadotti é Dou-tor em Ciências da Edu-cação pela Universidade de Genebra, professor de Filosofia da Educação na Universidade de São Pau-lo, diretor do Instituto Paulo Frei-re e autor membro do

Grupo de Referência da Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável. Par-ticipou da Conferencia Rio-92 e é autor de vários li-vros sobre educação e sustentabilidade. Atualmente desenvolve uma proposta educacional orientada pelo paradigma da sustentabilidade.

O livro versa sobre as transformações que o ter-mo sustentabilidade tem apresentado nas últimas dé-cadas, principalmente após publicação do documen-to “Carta da Terra”, em 1992. A história toda começou

quando, em 1987, a Comissão Brundtland recomen-dou a redação de uma nova carta sobre o desenvolvi-mento sustentável. A partir dessa data a temática sus-tentabilidade é referência para a evolução de todas as áreas de conhecimento.

A Carta da Terra, documento que norteia os es-critos do livro resenhado, foi redigida e aprovada no Fórum Global Rio 92, evento que ocorreu paralela-mente à Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, organi-zado pela Cúpula da Terra (ECO-92), ocorrida na cidade de Rio de Janeiro. Foram debatidos e aprovados 34 tra-tados, por mais de 108 países, dentre eles a Agenda 21, Tratado da Educa-ção Ambiental, Declaração do Rio de Janeiro, entre outros. A primeira pu-

blicação do documento pode ser encontrada no livro Tratado das ONGs, pelo Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desen-volvimento. Contudo, a Cúpula da Terra não aprovou a Carta da Terra nesse evento, sendo que as discus-sões sobre o tema foram retomadas após dois anos e, em 1996, Mirian Vilela passou a coordenar a Inicia-tiva da Carta da Terra. Após a organização de comi-tês nacionais e internacionais, em junho de 2000 foi

A Carta da Terra, documento que norteia os escritos do livro resenhado, foi redigida e aprovada no Fórum Global Rio 92, evento que ocorreu paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, organizado pela Cúpula da Terra (ECO-92), ocorrida na cidade de Rio de Janeiro.

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lançado o texto final da Carta da Terra, no Palácio da Paz em Haia, na Conferência Internacional da Carta da Terra.

As críticas afirmavam que faltava, na primeira versão do documento, a visão ética fundamentada na Declaração sobre os Direitos Humanos. Des-sa forma, oito anos após a primeira versão, a Carta da Terra foi reescrita e legitimada como documento norteador de projetos e ações sociais que buscam a sustentabilidade. Atualmente ele está traduzido em mais de 50 idiomas e conta com o apoio de 2,5 mil organizações.

De acordo com Gadotti (2010, p.54) “a missão da Carta da Terra é contribuir na cons-trução de formas sustentáveis de vida com base no seu marco ético, que inclui o respeito à comunidade de vida, a integridade ecológica, os direi-tos humanos, a diversidade, a justiça econômica, a democracia e a cultura de paz.” Desta forma, no primeiro ca-pítulo, o autor realiza uma abordagem histórica do desenvolvimento conceitual da Carta da Terra e do termo sustentabilidade, relacionando-os à educação.

A essência da Carta da Terra está em modifi-car a percepção humana para com o Planeta Terra e para com a vida em geral, trilhando, dessa forma, caminhos para a sustentabilidade. Para alcançar tal meta, o documento enumerou os seguintes subte-mas para discussão: I. Respeitar e cuidar da comu-nidade de vida; II. Integridade Ecológica; III. Justiça social e econômica; IV. Democracia, não violência e paz. Foram definidos também princí-pios e valores que ONGs, entidades e sujeitos precisariam partilhar para al-cançar a sustentabilidade: liberdade, igualdade, solidariedade, tolerância, respeito à natureza e responsabilida-de compartilhada.

No capítulo seguinte, o autor apresenta o pro-cesso de expansão da Carta da Terra no Brasil. De-senvolve o texto mediante a citação de vários proje-tos escolares sobre educação ambiental, cultura da paz entre jovens e crianças, construção de relações

vitais mais sustentáveis, entre outros. Percebe-se a intensão de firmar o documento como guia para orientar a formação e a capacitação dos cidadãos a fim de que possam melhorar a qualidade de vida de todos. Ao final do capítulo, apresenta-se uma lis-tagem nominal de instituições e sujeitos comprome-tidos com a promoção e sistematização da Carta da Terra no Brasil e no exterior.

O terceiro capítulo do livro versa sobre a temáti-ca da Ecopedagogia e atende, dessa forma, as atuais correntes pedagógicas relacionadas ao desenvolvi-mento sustentável, como a Pedagogia da Terra e a Pedagogia da Sustentabilidade. Após estudos ates-tarem que a Pedagogia do Desenvolvimento Sus-

tentável (GUTIERREZ, 1994) não apresentou a abrangência necessária para inovar a educação, lançou-se o conceito de Ecopedagogia, citado inicialmente no livro Ecopedagogia e cidadania planetária, de Cruz Prado e Francisco Gutierrez (1999). No Rio de Janeiro os discursos formais sobre a

Ecopedagogia iniciaram em 1999, quando ocorreu a aprovação da Carta da Ecopedagogia, com princípios que defendiam a Pedagogia da Terra. Desde essa data, o Instituto Paulo Freire (IPF), esta engajado na promoção da Década da Educação para o Desenvol-vimento Sustentável (2005-2014).

A Ecopedagogia parte da consciência planetária que busca nova consciência ética e social e que ultra-passa a cidadania ambiental, reeducando o olhar das pessoas para evitar agressões ao meio ambiente e à vida (GADOTTI, 2010). A educação para a cidadania

planetária consiste na renovação dos currículos nos sistemas formais e na educação popular, engajando sua ade-são em todos os níveis de ensino. A ci-dadania está relacionada com a consci-ência e, a formação desta depende da educação (GADOTTI, 2010).

As críticas das teorias pedagógicas pautadas nos conceitos da Ecopedagogia, aos modelos peda-gógicos tradicionais consiste na demasiada ênfase ao homem, concepção denominada de antropocen-

De acordo com Gadotti (2010, p.54) “a missão da Carta da Terra é contribuir na construção de formas sustentáveis de vida com base no seu marco ético, que inclui o respeito à comunidade de vida, a integridade ecológica, os direitos humanos, a diversidade, a justiça econômica, a democracia e a cultura de paz.”

A educação para a cidadania planetária consiste na renovação dos currículos nos sistemas formais e na educação popular, engajando sua adesão em todos os níveis de ensino. A cidadania está relacionada com a consciência e, a formação desta depende da educação (GADOTTI, 2010).

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trismo. Em contra ponto, as críticas à Ecopedagogia afirmam sua busca por mudanças nas relações so-ciais e ambientais da atualidade e, por isso, segundo Gadotti, ela é utópica.

O quarto e último capítulo, intitulado “Um passo a diante”, relata as mudanças futuras que permearão a Carta da Terra e os ambientes educacionais. Inicia-se com a pauta abordada pelo Conselho Internacional da Carta da Terra que reuniu-se em 2007 na Amana-Key, uma empresa de consultoria e educação executiva de São Paulo, para planejar a expan-são do processo de ação da Carta da Terra. Afirmou-se a necessidade de trabalhar como organização ca-órdica , na qual a essência deve ser duradoura e a sua forma transitória. As ações devem acontecer em rede, na horizontalidade e no respeito à diversidade, criando pontos de irradiação e proces-sos catalizadores em setores chaves da sociedade, ao invés de centralizadas e, assim, será formado um design organizacional diferente do modelo hierárqui-co predominante na atualidade.

No livro são citados três desafios da Carta da Terra mencionados por Oscar Motorama no seminá-rio na Amana-Key que são: disseminação, educação e mudança cultural. Gadotti defende a superação da fragmentação, a otimização e o empoderamento das ações que já são realizadas.

Como sequência do seminário em 2009, o Pro-grama de Educação da Carta da Terra publicou o do-cumento Um guia para usar a Carta da Terra na Edu-cação. A partir desse documento, inúmeros projetos escolares podem ser desenvolvidos na perspectiva da sustentabilidade, como o projeto de produções ar-tísticas do Instituto Harmonia da Terra, em Florianó-polis.

No entanto, com a expansão da proposta da sustentabilidade, as mudanças no ensino e na educa-ção descentralizam o aprimoramento do ser humano como foco principal da ação educativa. Tal fato impli-ca a reconfiguração dos valores sociais, culturais e econômicos, confirmando a necessidade da mudan-ça cultural mencionada por Oscar Motorama.

Admite-se que o paradigma centrado no desen-volvimento integral do ser humano é valorizado por-que possibilita a superação dos limites e a melhora das capacidades individuais. Para alcançar tal meta, há séculos as escolas trabalham a partir de estraté-gias de ensino e aprendizagem centradas na aqui-sição de novos conhecimentos e no aprimoramento biológico e social do ser humano. O que não pode

acontecer é a substituição das corren-tes pedagógicas antropocêntricas por aquelas que priorizam a aquisição de conhecimentos e de habilidades re-ferentes a valores sociais. Devemos superar a fragmentação das áreas de conhecimento por abordagens in-terdisciplinares, tanto na escola como

nas universidades e nos centros de pesquisa, conci-liando, por exemplo, a realização de atividades físi-cas em meio a natureza ou em habitações construí-das preocupando-se com a sustentabilidade.

Sempre será necessária a preocupação com o desenvolvimento biológico da criança. Isso diz res-peito à aprendizagem sobre a boa alimentação, o controle de emoções, a compreensão de conceitos e vocabulários, a pré-disposição à autonomia. As vertentes de aprendizagens culturais e políticas têm a obrigação de contemplar a aquisição de tais habi-lidades. No entanto, as aprendizagens de comporta-mentos culturais e/ou simbólicos é que o tornam su-jeito pertencente a determinado grupo ou sociedade. Dessa forma, todo ser humano tem as necessidades inerentes à espécie e aquelas adquiridas no contato social. E a educação e o ensino exercem o papel de instigar a escolha pessoal e a responsabilizar-se so-bre elas. Corroborando, Gadotti (2010, p.59) explica que “[...] em processos educativos não é possível se-parar competências de valores éticos”. Tal ideia pode ser enfatizada tanto para o sujeito que ensina como para aquele que aprende.

Adaptar concepções teóricas da educação e do ensino às necessidades de cada sociedade é uma alternativa que deve ser considerada nos planeja-mentos governamentais e escolares, tendo em vista que o acesso à informação é facilitado pelos meios de comunicação e tanto professores como estudan-

Devemos superar a fragmentação das áreas de conhecimento por abordagens interdisciplinares, tanto na escola como nas universidades e nos centros de pesquisa, conciliando, por exemplo, a realização de atividades físicas em meio a natureza ou em habitações construídas preocupando-se com a sustentabilidade.

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tes podem ter acesso aos escritos sobre a temática. É papel do Governo nortear as propostas educativas da nação, a partir da demanda que emana da socie-dade.

Se o tema sustentabilidade não for discutido em espaços públicos, novamente o foco do ensino e da educação formal se direcionará à aquisição de valo-res e conteúdos importantes somente para determi-nadas sociedades, prosseguindo com a aculturação, em que uma cultura se sobressai e diminui outra, e um ensino colonizante que acontece na realidade de muitas escolas brasileiras. Tal contexto contribui para acumular aprendizagens pouco significativas, des-contextualizadas com o entorno social do aprendiz. Talvez esse seja um dos motivos pelo desinteresse das crianças em estudar os conteúdos ministrados nas escolas.

O interesse de salvar o planeta da depredação da natureza mediante a diminuição da exploração de matérias-primas deve iniciar pela conscientização autônoma de cada sujeito e da sociedade. E esse deve ser o objetivo inicial a ser abordado nas escolas que pretendem aderir a proposta da sustentabilidade como conteúdo disciplinar.

Concluindo, as principais críticas ressaltam o pro-cesso de aculturação contínuo, caso não haja discus-sões na sociedade sobre o tema. As estratégias de ensino que priorizam a aprendizagem de forma autô-noma e a partir da cultura dos sujeitos são o cerne para que melhorias sejam possibilitadas, superando a fragmentação disciplinar pela interdisciplinaridade. O abandono do desenvolvimento biológico devido à ênfase na aprendizagem de conteúdos referentes a lutas sociais e valores culturais é um vetor que deve ser enfatizado quando se pretende ampliar a interdis-ciplinaridade entre áreas de conhecimento.

Dessa forma, nos próximos anos haverá mudan-ças não somente na educação e no ensino como é realizado atualmente, mas nas relações sociais e nas virtudes priorizadas pela sociedade. Cada sociedade é única e seus valores e sua cultura devem ser respei-tados. Ou não? Esse é o ponto principal nas discus-sões sobre educação e sustentabilidade, pois ao de-

fender a bandeira da sustentabilidade na educação estamos novamente ensinando e educando conteú-dos de forma colonizante e que, possivelmente, não terão significados para o aprendiz, nem no momen-to presente e talvez nem no futuro. A questão que permanece referente à aculturação e à colonização de conceitos é: cada sociedade pode definir o que é um conceito e valor importante para seu grupo ou determinados valores e conceitos dizem respeito à índole de todo o ser humano e de toda a sociedade enquanto partícipes desse mundo?