nº 01 - 08/2013 boletim do setor da mobilidade humana · programas voltados para demandas como:...

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OS IMIGRANTES HAITIANOS NO RIO GRANDE DO SUL - Informes Gerais - A chegada massiva de imigrantes haitianos no Brasil e no Rio Grande do Sul tem gerado desafios e intensos debates. Este Boletim Nº 01 foi elaborado com o intuito de fazer despertar consciências, iluminar caminhos e mobilizar a sociedade, em especial a gaúcha, para debater as condições dos haitianos em situação de mobilidade em nosso Estado. Não buscamos produzir um guia técnico- jurídico, e sim um material que, sob a ótica daqueles que se encontram marginalizados por uma sociedade e economia excludente, sensibilize pessoas e mobilize instituições que possam, de alguma forma, modificar essa dura realidade. Trata-se de um passo em busca de garantir a dignidade e cidadania de imigrantes que encontramos em nossos caminhos e que se tornam muitas vezes invisíveis a nossos olhos, mentes e coração. Os imigrantes carregam sonhos, esperanças, desejos, dignidade, caráter, afeto e amor. Somos iguais e diferentes, porém somos todos humanos. Não os vemos como vítimas, mas cidadãos com direitos à saúde, à moradia, à alimentação, à educação e ao trabalho como todos nós. Como sacerdote dos migrantes, que acredita que o amor possa cada vez mais assumir seu fundamental papel transformador de uma realidade social, conclamo o Setor da Mobilidade Humana das Dioceses, da CNBB - Regional Sul III, comunidades de acolhida, voluntários que dedicam parcela de seu tempo para populações em mobilidade, empresários que contratam os imigrantes haitianos para que juntos aprendamos a conviver com culturas diferentes. Este Boletim quer ser um subsídio de estudo de duas realidades que tentam caminhar, partilhar, conviver e integrar-se. Pe. João Marcos Cimadon cs. Assessor do Setor de Mobilidade Humana Regional Sul III Nº 01 - Agosto/2013 Boletim do Setor da Mobilidade Humana CNBB - Sul 3 Apresentação Nº 01 - 08/2013 12 Colaboradores na confecção do Boletim: Pe. João Marcos Cimadon, Pierre Dieucel, Denise Cogo, Ir. Egidia Muraro, Ir. Claudete Lodi Rissini, Ivonete Teixeira, Jurandir Zamberlam, Juliana M. Flores, Pe. Lauro Bocchi, Pe. Joaquim R. Filippin, Ir. Nyzelle Juliana Dondé, Ir. Neli Basso. Referência bibliográfica: TÉLÉMAQUE, Jenny. Imigração haitiana na mídia brasileira: entre fatos e representações. Rio de Janeiro: UFRJ/ECO, 2012. KENKEL, Kai. Haiti, história marcada por conflitos, ditaduras e instabilidades. Palestra. PUC/RS, Rio de Janeiro, 2012. MILESI, Rosita. IMDH, Brasília, www.migrante.org.br Setor de Mobilidade Humana CNBB Regional Sul 3 Rua Dr. Barros Cassal, 220 Porto Alegre - RS Fone: 51.3226.8800 E-mail: [email protected]

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OS IMIGRANTES HAITIANOS NO RIO GRANDE DO SUL- Informes Gerais -

A chegada massiva de imigrantes haitianos noBrasil e no Rio Grande do Sul tem gerado desafios eintensos debates. Este Boletim Nº 01 foi elaboradocom o intuito de fazer despertar consciências, iluminarcaminhos e mobilizar a sociedade, em especial agaúcha, para debater as condições dos haitianos emsituação de mobilidade em nosso Estado.

Não buscamos produzir um guia técnico-jurídico, e sim um material que, sob a ótica daquelesque se encontram marginalizados por uma sociedade e economia excludente,sensibilize pessoas e mobilize instituições que possam, de alguma forma,modificar essa dura realidade. Trata-se de um passo em busca de garantir adignidade e cidadania de imigrantes que encontramos em nossos caminhos e quese tornam muitas vezes invisíveis a nossos olhos, mentes e coração.

Os imigrantes carregam sonhos, esperanças, desejos, dignidade, caráter,afeto e amor. Somos iguais e diferentes, porém somos todos humanos. Não osvemos como vítimas, mas cidadãos com direitos à saúde, à moradia, àalimentação, à educação e ao trabalho como todos nós.

Como sacerdote dos migrantes, que acredita que o amor possa cada vezmais assumir seu fundamental papel transformador de uma realidade social,conclamo o Setor da Mobilidade Humana das Dioceses, da CNBB - Regional Sul III,comunidades de acolhida, voluntários que dedicam parcela de seu tempo parapopulações em mobilidade, empresários que contratam os imigrantes haitianospara que juntos aprendamos a conviver com culturas diferentes. Este Boletim querser um subsídio de estudo de duas realidades que tentam caminhar, partilhar,conviver e integrar-se.

Pe. João Marcos Cimadon cs.Assessor do Setor de Mobilidade Humana

Regional Sul III

Nº 01 - Agosto/2013

Boletim do Setor

da Mobilidade HumanaCNBB - Sul 3

Ap

resen

tação

Nº 01 - 08/2013

12

Colaboradores na confecção do Boletim:Pe. João Marcos Cimadon, Pierre Dieucel, Denise Cogo, Ir. Egidia Muraro, Ir. Claudete Lodi Rissini, Ivonete Teixeira, JurandirZamberlam, Juliana M. Flores, Pe. Lauro Bocchi, Pe. Joaquim R. Filippin, Ir. Nyzelle Juliana Dondé, Ir. Neli Basso.

Referência bibliográfica:TÉLÉMAQUE, Jenny. Imigração haitiana na mídia brasileira: entre fatos e representações. Riode Janeiro: UFRJ/ECO, 2012.KENKEL, Kai. Haiti, história marcada por conflitos, ditaduras e instabilidades. Palestra.PUC/RS, Rio de Janeiro, 2012.MILESI, Rosita. IMDH, Brasília, www.migrante.org.br

Setor de Mobilidade Humana CNBB Regional Sul 3Rua Dr. Barros Cassal, 220

Porto Alegre - RSFone: 51.3226.8800

E-mail: [email protected]

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CONTEXTUALIZAÇÃO

A recente chegada de numerosos Imigrantes Haitianos ao Brasil desafia asestruturas de acolhida de um país que sempre se orgulhou de seu tradicionalespírito acolhedor e hospitaleiro e deixa expostas suas limitações sobrecarregandoassim as instituições civis e religiosas que trabalham com a migração a improvisarsocorros de emergência.

Este fenômeno fez perceber claramente que o Brasil não tem uma política deacolhimento e nem experiência de mediação com os migrantes. Mostrou também aséria carência na rede de serviços públicos e políticas públicas no que se refere aprogramas voltados para demandas como: aprendizagem da língua portuguesa,postos de trabalho, moradia e atendimento de saúde.

A maioria das comunidades acolheu os Haitianos com notável respeito, nãofazendo distinção de cor, religião e cultura agindo com verdadeiro espírito fraternode partilha (oferecendo roupas no período do inverno, alimentos, moradia,alfabetização da língua portuguesa), dando apoio na regularização dadocumentação entre outros aspectos.

A grande maioria dos haitianos procedentes das cidades de Manaus,(Amazonas) e de Brasiléia (Acre), chegou ao RS trazida por empresários. Asintenções desses empresários vão desde a carência de mão de obra local,passando pelo interesse de possíveis ganhos fáceis, chegando até à motivação deum espírito de solidariedade.

Sejam quaisquer que tenham sido os motivos, percebe-se que o principio dalegislação trabalhista está sendo respeitado. A classe patronal tem apoiado na fasede adaptação com a questão da moradia e alimentação, porém, nesta relação demercado, existem conflitos decorrentes de visões culturais diferentes, deexpectativas de ganhos salariais, entre outros.

Nós da equipe da Mobilidade Humana da CNBB Sul III, assim como inúmeroscolaboradores voluntários ou institucionais, estamos acompanhando os haitianosdesde sua chegada ao RS em 2010. Muitas experiências foram vivenciadas egostaríamos de socializar algumas delas:

a. A grande maioria dos imigrantes haitianos tem dificuldade de adaptação,num país com uma cultura diferenciada da sua, com enorme saudade dos familiarese de seu país.

b. Buscam trabalhar próximos a seus compatriotas numa tentativa de, comisso, resgatar e se aproximar de suas raízes. Usam a internet para comunicação comos familiares especialmente as redes sociais como o e-mail e o facebook.

c. Como quaisquer trabalhadores brasileiros eles também buscam sempreuma melhor remuneração para sua sobrevivência e de seus familiares (fazendoremessas sistemáticas através da rede bancária), e uma melhor qualidade de vida.

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DOCUMENTAÇÃO OBRIGATÓRIA PARA AREVALIDAÇÃO DE DIPLOMAS DE GRADUAÇÃO

EXPEDIDO NO EXTERIOR

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Pró-Reitoria de Graduação

Departamento de Consultoria em Registros Discentes – DECORDI

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Renovação do Passaporte

Documentos para a Renovação do Passaporte:- Xerox do Passaporte- Xerox da Carteira de Identificação Nacional ou da Certidão de

nascimento ou casamento- Ficha “Demande de Passeport” preenchida (ficha oficial fornecida

pela Embaixada do Haiti)- Ficha “Fiche d'Enregistrement des Citoyens Haïtiens” preenchida- 3 fotos 35x45, recentes, coloridas, fundo branco, de frente.- Pagamento de uma taxa de 140 dólares americanos (cotação do

dia)- Pagamento de uma taxa de 80 Reais

Obs. As taxas devem ser pagas separadamente, fazer Xerox dosrecibos de depósito (para guardar como comprovante de pagamento) eenviar os originais para a: Embaixada do Haiti; no Banco do Brasil –Agência 1606-3 – Conta Corrente 68.694-8

- Custo do Sedex para enviar os documentos a Brasília – Mais oumenos 50 Reais

Embaixada do Haiti

SHIS Ql 13 – Conjunto 8 – Casa 18

Lago Sul – Brasília – 71635-080 – DF

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d. Os migrantes haitianos, muitos deles jovens e alguns tendo cursadoestudos universitários em seu país de origem ou em outros, como a RepúblicaDominicana, chegam com expectativas de não apenas dedicar-se ao trabalho, masde seguir com sua formação para melhorar sua condição de vida e, neste caso,enfrentam, entre outras, a dificuldade da validação de seus diplomas.

e. Muitos haitianos professam a religião batista, a qual é minoritária no suldo Brasil, e costumam frequentar sua igreja.

f. A origem étnica (negra) é uma dimensão importante na inserção doshaitianos em cidades do RS que tem maioria branca e de origem europeia, por issofacilmente são segregados por racismo.

g. Os idiomas falados no Haiti são o “creole” e o francês. Alguns migrantesfalam também o espanhol por terem morado na República Dominicana.

h. Culturas, língua e costumes diferentes dificultam a comunicação entrehaitianos e as comunidades que os acolhem no Rio Grande do Sul.

i. Tem dificuldade em entender posturas de empresários, normas dalegislação trabalhista brasileira, porque comparam os salários ganhos aqui com osde familiares que emigraram para o EUA e Canadá.

População oriunda daAmérica Central, da região doCaribe. O Hait i tem umapopulação de aproximada-mente10 milhões de habitantes, comquase 25% residindo em outrospaíses: nos Estados Unidos maisd e 1 m i l h ã o , R e p ú b l i c aDominicana em torno de 500 mil,Cuba com aproximadamente 300mil, Canadá com 150 mil eAmérica do Sul com 80 mil, sendoque no Brasil são em torno de 12mil (TÉLÉMAQUE, 2012).

O território do Haiti tem uma área de 27.750 Km2 (metade do estado deSergipe) e sua população tem raízes de povos indígenas, espanhóis, franceses eespecialmente de povos africanos. Sua história política é assim sintetizada porTélémaque (2012) e Kai Kenkel (2013):

� Período de ocupação colonial pelos franceses para exploração da cana-de-açúcar com importação de milhares de escravos de países africanos,especialmente do Senegal, Moçambique, Benin...

QUEM SÃO OS HAITIANOS

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Luta pela libertação

Longo período de instabilidade política

Cruenta ditadura

A frágil democracia

O terremoto de janeiro de 2010

A situação hoje

dos escravos e independência política. Com o fim daRevolução Francesa (1789) os escravos se revoltaram e proclamaram o fimda escravidão (1791) e imediatamente deram início à luta pelaindependência que conseguiram em 1804.

. Até 1915 os haitianos viveramum período de instabilidade política com a troca de mais de uma dezenade governos. De 1915 a 1934 houve a ocupação militar e administração dopaís pelos Estados Unidos. Ao se retirarem estes do país a instabilidadepolítica voltou a continuar.

. Em 1957 assumiu o poder o médico François Duvalier (OPapa Doc) que se tornou ditador até sua morte em 1971. O filho Jean-Claude Duvalier (o Baby Doc) o sucedeu no poder e organizou uma milíciade repressão para-policial com os famosos e violentos “tontonsmacoutes”. Ele caiu em 1986 por uma grande revolta popular. Depois desua queda, houve um governo efêmero.

. Em 1991 assumiu o primeiro governo democrático dopaís Jean-Bestrand Aristide, permanecendo no poder por poucos meses.Conseguiu ser reeleito em 2001, mas, em 2004, foi retirado pela forçamilitar dos USA e, em seguida, forças militares da ONU intervieram no paísonde permanecem até os dias atuais. O Brasil comanda a missão de paz noHaiti.

. À instabilidade política e às decorrentesprecárias condições sociais do povo, agregou-se o grande terremoto de2010 que matou mais de 300 mil pessoas, deixando 310 mil feridos e 1,6milhão de desalojados.

. A economia do Haiti centra-se na exploração do refino doaçúcar, produção de farinha, indústria têxtil, cimento, cacau, café eprodução de alimentos para consumo interno. Há grande concentração deriqueza e renda, nas mãos de poucos. Mais de 47% da população éanalfabeta, com uma expectativa de vida de apenas 51 anos. Mais de 80%da população vive emsituação de vulnerabilidades o c i a l . H á u m f o r t es i n c re t i s m o re l i g i o s o(cristianismo e crençasafricanas tal como o Voduque exerceu um papelm u i to i m p o r ta nte n aindependência do país).

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O QUE O HAITIANO PRECISA FAZER PARA O PEDIDODE RESIDÊNCIA PERMANENTE NO BRASIL

Conforme orientação do Instituto de Migração e Direitos Humanos(IMDH), coordenado pela Irmã Rosita Milesi de Brasília, podemos responder:

No dia 29 de abril de 2013 o Governo Federal começou a segunda etapa demedidas para regularizar a imigração de haitianos no Brasil. A Resolução Normativa102/2013 do Conselho Nacional de Imigração, publicada no Diário Oficial da União,revoga o limite de concessão de 1,2 mil vistos por ano aos imigrantes do Haiti. Amesma estabelece que a concessão dos vistos não se restringirá à Embaixada doBrasil em Porto Príncipe, capital do Haiti podendo ser solicitada também emconsulados brasileiros de outros países.

Os haitianos, após receberem o de ingresso no país,podem solicitar a . Assim, a partir da publicação do seunome no Diário Oficial da União, dentro do prazo de 90 dias, cada Haitiano deveapresentar-se à Polícia Federal para fazer o Registro de sua Carteira de Identidadede Estrangeiro (RNE ou CIE), com os seguintes documentos:

1. Duas fotos 3X4 recentes, fundo branco, coloridas, de frente.2. Certidão de Inscrição Consular (é fornecida pelo Consulado do

Haiti no Brasil). (Se a pessoa tiver certidão de nascimento convém ver com a

Polícia se é necessária a Inscrição Consular, pois é possível que a Certidão

de Nascimento seja suficiente).3. Protocolo original do processo anterior (era o processo de pedido

de refúgio. Devem devolver o protocolo à Polícia Federal)4. Cópia da página do Diário Oficial da União, na qual conste, além do

nome da pessoa, a data, Seção I, pág...5. Formulário preenchido no site da Polícia Federal https:

//servicos.dpf.gov.br/sincreWeb/, imprimi-lo e levá-lo pronto.6. Recolher duas taxas, no Formulário GRU-FUNAPOL para

estrangeiros. Uma com o código 140082, no valor de R$ 64,58: outra com o

código 140120, no valor de R$ 124,23. Para preencher estas Guias, entra-se

no site da Polícia Federal e preenche-se a GRU-FUNAPOL com os dados:

Unidade arrecadadora (cidade) indicada no site da Polícia Federal onde o

processo é encaminhado.

Visto Temporário

Residência Permanente

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QUESTÃO DO TRABALHO EM REDE

Formar uma rede de atendimento em cada município é uma forma deviabilizar a garantia dos direitos dos cidadãos haitianos. Deveriam fazer parte darede dos órgãos públicos, sociedade civil, instituições eclesiais e outras. Com issoserá possível alcançar algumas metas básicas, como:

Aluguel Social/ locação solidáriaCriação de Centros de Recebimento de DoaçõesCampanhas em situações de emergências, para dar suporte às famílias quechegam.Intermediação com a rede de atendimento à saúde nos casos deinternações hospitalares e atendimentos nos postos de saúde e paraaquisição do cartão do SUS.Realização de um mapeamento de possibilidades junto às secretarias decada município.Incentivo para criação de um grupo de voluntários que possam serchamados em momentos de maiores necessidadesMotivação a escolas, universidades, mídia e, principalmente, órgãospúblicos para fomentar um debate sobre o tema.Promoção de oficinas, grupos de convivência, festas culturais e religiosasproporcionando espaços onde os migrantes possam sentir-se livres paraexpressar sua cultura.Debate com brasileiros para conhecerem e respeitarem outras culturas,valorizando aspectos positivos, produzindo material didático para famílias,escolas e empresas a fim de amenizar os preconceitos e a tendência àxenofobia.Distribuição aos migrantes haitianos de cartilha sobre seus direitos edeveres no Brasil.

Informação sobreProgramas Sociaisexistentes, como o“Minha Casa, MinhaVida” e o Bolsa Família.Abrir e promoverespaço de lazer aosh a i t i a n o s n acomunidade em quee s t ã o i n s e r i d o s ,p r o m o v e n d o s u aintegração.

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POR QUE OS HAITIANOS VIERAM PARA O BRASIL?

QUEM SOMOS NÓS QUE OS ACOLHEMOS?

Os haitianos vieram para o Brasil depois do terremoto. Muitos delesperderam seus empregos, suas casas e as condições de vida pioraram. Vierampensando que o Brasil pudesse favorecer lhes oportunidades de trabalho. Noinício, não foram as vítimas do terremoto que chegaram ao Brasil, foram outrosque se encontravam em países da América Latina, como Chile, Equador, RepúblicaDominicana, etc. Depois do cordo entre os governos brasileiro e haitiano a grandemaioria começou a sair diretamente do Haiti para o Brasil.

Os haitianos historicamente têm sofrido conflitos internos e invasõesinternacionais por variados motivos, como, destacam Télémaque (2012) e KaiKenkel (2013):

Discórdias políticas com longos períodos ditatoriais.Violência praticada por grupos para militares (os tontons makoutes).Concentração de riqueza e renda expondo a maioria da população à situação devulnerabilidade, visto que 80% vivem abaixo da linha da pobreza.Recente catástrofe natural que matou mais de 300 mil e deixou mais de1.600.000 cidadãos em situação de vulnerabilidade social.Intervenção estrangeira no país.A presença de força militar brasileira, de Serviços humanitários (especialmentePastorais, Sociais) e de outras instituições brasileiras no Haiti.A postura do governo brasileiro oferecendo Visto Humanitário inicialmentecom um número anual fixo de ingressos visados pelo Consulado do Brasil emPorto Príncipe, e agora com a Resolução Normativa do CNIg queautorizou outros consulados brasileiros em quaisquer países na rota entre Haitie Brasil, a conceder o visto de entrada.

A população do Rio Grande do Sul tem suas raízes predominantes na culturaindígena, espanhola, portuguesa e africana, pois desde o período colonialtem recebido migrantes procedentes das grandes migrações do século XIXcomo os alemães, italianos, poloneses, russos, entre outros países e, maisrecentemente de japoneses, latino americanos de origem hispânica e oriundosdo oriente médio.Com predominância da cultura europeia sobressaem práticas individualistas,mas também cooperativistas, empreendedorismo, e a forte influenciapositivista nos torna uma população legalista (os conflitos não são resolvidospelo diálogo, mas com predominância na esfera judicial), a religiosidadepredomina a oriunda do cristianismo.

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A partir da segunda metade do século XX começou um processo demiscigenação das inúmeras nacionalidades pelo êxodo rural e êxodo depequenas cidades para centros urbanos polos regionais. Isto fragmentou asculturas trazidas pelos imigrantes, avançando para uma cultura maisdiversificada.Contudo muitas regiões do RS ainda mantêm características oriundas dos“colonizadores” ou desbravadores da região. Assim se pode identificar 4grandes regiões no Estado:

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Os gaúchos

Costumes:

têm o hábito do chimarrão, do churrasco, de seus cantos típicos enaltecendo o passado, usam umavestimenta própria na homenagem ao passado, porém cada região é marcada por costumes típicos seja porinfluencia indígena, açoriana/portuguesa, africana ou dos imigrantes europeus.Os haitianos vestem-se com roupas de cores vivas, como laranja e rosa e, especialmente, durante festividades,sobretudo com as cores da bandeira. A cor da roupa usada em funerais é preta. O preto é uma cor de luto, o quesignifica tristeza. No Haiti, há uma infinidade de costumes: o respeito com adultos, crianças e idosos. Os olhosnunca se encontram. No primeiro dia do ano, a população toma a sopa de "Giroumou” (abóbora) para dar sorte e

saúde. A comida no Haiti baseia-se na carne de galinha, vegetais, frutas e cereais, tais como arroz. Costumam

comer também arroz com feijão, frango, peixe e carne de cabrito. Comem ainda arroz com legumes como

berinjela, cenoura, etc.

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O CLIMA DO RS E A QUESTÃO DO INVERNO

SUGESTÕES PARA TRABALHAR COM OS HAITIANOS

Para os imigrantes que chegam ao estado (sejam haitianos ou do nordeste

do Brasil) é importante conhecer o período do inverno (de meados de maio a início

de setembro). Nesses meses há uma mudança do clima: fortes ventos minuanos,

queda da temperatura próxima a zero grau, o ar é úmido, sucedem-se dias

prolongados de chuvas e chuviscos. As pessoas precisam ter roupas mais

agasalhadoras para o dia a dia e cobertores apropriados para a noite. As pessoas

ficam sujeitas a frequentes gripes. Aconselha-se, no uso de vestimentas: primeiro

colocar uma camiseta de algodão que fica em contato com a pele e depois outra

blusa de lã ou similar para que sejam mais bem protegidos do frio e, por fim, um

casaco especial. Proteger as extremidades do corpo (luvas para as mãos, meias

adequadas para os pés e touca na cabeça). Ao deitar, usar o lençol e, por cima, o

cobertor ou edredom para que o corpo possa se aquecer mais rápido.

Na caminhada de nossas Pastorais Sociais temos experiências importantes

como:

1. Providencie-se um local de acolhimento e encontro para os imigrantes

haitianos.

2. Seja feita uma escuta sensível e uma aproximação acolhedora junto aos

imigrantes haitianos.

3. Encaminhe-se o conhecimento da realidade para o estabelecimento de

pactos/acordos de mútua colaboração.

4. Organize-se a formação de uma rede de atendimento como: assistência

social, Policia Federal, secretarias municipais (educação, saúde, habitação,

trabalho e emprego...) e outros órgãos que seja possível sensibilizar. Para isso

existem em cada município

instituições, secretarias,

órgãos públicos que precisam

ser sensibilizados.

5. E labore-se uma

estratégia de atendimento

com a rede e os imigrantes.

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