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Artigo apresentado ao Curso de Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção ao título de Bacharel em Engenharia Ambiental. O artigo foi aprovado por: Sérgio Luiz Garavelli – Orientador, Edson Benício Carvalho Júnior – Examinador. Brasília, 18 de novembro de 2011.
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Pró-Reitoria de Graduação Curso de Engenharia Ambiental Trabalho de Conclusão de Curso
NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO SONORA DEVIDO À UTILIZAÇÃO DE APARELHOS DE MÚSICA INDIVIDUAIS
Autor: Mayra Santos de Freitas Orientador: Prof. Dr. Sérgio Luiz Garavelli
Brasília - DF 2011
Artigo apresentado ao Curso de Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção ao título de Bacharel em Engenharia Ambiental. O artigo foi aprovado por: Sérgio Luiz Garavelli – Orientador, Edson Benício Carvalho Júnior – Examinador. Brasília, 18 de novembro de 2011.
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NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO SONORA DEVIDO À UTILIZAÇÃO DE APARELHOS DE
MÚSICA INDIVIDUAIS
Mayra Santos de Freitas
Sérgio Luiz Garavelli (Professor Orientador)
Curso de Graduação em Engenharia Ambiental – Universidade Católica de Brasília
RESUMO
A exposição a níveis elevados de ruídos, por longos períodos, pode provocar perda auditiva
permanente, irreversível e zumbido num indivíduo. Os efeitos do ruído ambiental na audição
já são reconhecidos como problema de saúde pública entre crianças. A sociedade ainda não
está ciente de que as atividades de lazer podem ser fonte de ruído ambiental perigoso entre
pessoas de todas as idades. Com a popularização dos aparelhos portáteis de música, o
problema se agravou, já que os fones de ouvido potencializam os níveis sonoros, por estarem
em contato direto com o aparelho auditivo. Neste trabalho, o principal objetivo foi avaliar os
níveis de pressão sonora (NPS) durante o uso dos aparelhos de música portáteis, considerando
o ruído do ambiente em que o pesquisado se encontrava. A pesquisa foi realizada com 200
voluntários, preferencialmente jovens, já que estes são os que poderão ter maiores prejuízos
futuros, pelo maior tempo de exposição, e pelo fato de não procurarem se proteger. No
momento da pesquisa, além da análise dos NPS e do ruído de fundo (RF), também foi
aplicado um questionário. Os resultados mostram os hábitos de utilização destes dispositivos
pelos jovens e seus comportamentos de risco, indicando que a maioria escuta música em seus
aparelhos portáteis com volume elevado por longos períodos. Pela análise dos possíveis danos
induzidos pelo uso destes aparelhos, pode-se verificar que a norma europeia é a mais rígida do
que as brasileiras, colocando mais da metade dos pesquisados dentre de uma área de risco
para perda da audição.
Palavras-chave: Níveis de Exposição Sonora. NPS. Ruído de Fundo. MP3. Fones de
ouvido.
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ABSTRACT
Prolonged exposure to high levels of noise can induce permanent hearing loss, irreversible
and tinnitus in an individual. The effects of environmental noise on hearing have being
recognized as a public health problem among children. The society may not be aware of the
many recreational activities can be source of hazardous environmental noise for people of all
ages. With the spread of portable music players, the problem has increased dramatically,
because the earbuds potentiate the sound levels, being in direct contact with the auditory
canal. In this study, the objective was to evaluate the sound pressure levels (SPL) for the use
of portable music players, considering the noise environment where the investigated stood.
The survey was conducted with 200 volunteers, usually young, since these are the ones who
may have greater future losses, for exposure time, and because they do not seek to protect
themselves. At the moment of study, we analyzed the SPL and the ambient noise levels
(ANL), along with the application of a questionnaire. The results come down listening habits
of music playing devices by the young and their risky behaviors, indicating that most listen to
music on their portable devices at high volume for long periods. Through the analysis the
possible damage induced by the use of these devices, we can see that Europe is more severe
than the Brazilian norms, adding more than half of respondents within an area at risk for
hearing loss.
Keywords: Noise exposure levels. SPL. Ambient noise levels. MP3. Headphones.
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1. INTRODUÇÃO
O efeito do ruído sobre a audição é conhecido desde tempos remotos. A história deste
contaminante como um dos fatores que leva a perda auditiva remonta ao ano de 1700
(SALAZAR et al., 2006). Desde então, o conhecimento sobre o assunto vem sendo
acumulado e como consequência a legislação e recomendações que visam prevenir a perda
auditiva induzida por ruídos (PAIR, 2006), está evoluindo. Nos países mais desenvolvidos,
incluindo o Brasil existem legislações (NR 15) que fixam limites para a exposição a ruídos
ocupacionais. Porém, ainda não existem normas que limitem a exposição ao ruído associado
às atividades não-ocupacionais (SALAZAR et al, 2006; KATBAMNA e FLAMME, 2008), o
que não significa que este tipo de exposição não seja prejudicial à saúde.
Nos últimos anos ocorreu uma extraordinária popularização dos aparelhos portáteis de
músicas, principalmente os celulares. Na onda deste crescimento a exposição de jovens e
adolescentes a música em volume elevado aumentou consideravelmente e na mesma
proporção os riscos de danos à saúde (KASPER, 2006; VOGEL et al., 2008). Os efeitos do
ruído ambiental na audição ainda são mais reconhecidos como um risco ocupacional entre
adultos do que como problema de saúde pública entre crianças (NISKAR et al., 2001;
VOGEL et al., 2011). Contudo, assim como a perda auditiva induzida pelo ruído ocupacional,
a perda auditiva induzida pelo uso de aparelhos de música portáteis está evoluindo para
significativos problemas de saúde social e pública atingindo jovens em diversos países,
incluindo o Brasil. Porém, a sociedade ainda não está ciente das muitas atividades não-
ocupacionais que podem ser fontes de ruído ambiental perigoso para pessoas de todas as
idades (VOGEL et al., 2011).
Especialistas de vários campos buscaram estratégias para a prevenção da perda
auditiva induzida pelo uso de MP3 players entre adolescentes, através do método de estudo
Delphi (VOGEL et al., 2009). Este estudo baseia-se num processo estruturado para a coleta e
síntese de conhecimentos de um grupo de especialistas por meio de uma série de
questionários, acompanhados de um feedback organizado de opiniões. Concluiu-se que as
partes mais relevantes para esta prevenção são os próprios adolescentes, os pais, os
fabricantes de MP3 players e fones de ouvido, e as autoridades. Identificou-se duas medidas
de proteção ambiental de saúde como sendo as mais relevantes e viáveis de serem
implementadas: as autoridades incentivarem os fabricantes a produzir produtos mais seguros,
e a realização de campanhas de saúde pública para melhorar o conhecimento sobre os riscos
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de alto volume da música, possíveis medidas de proteção, e as consequências (perda de
audição) (VOGEL et al., 2009).
O Comitê SCENIHR (Scientific Committee on Emerging and Newly Identified Health
Risks), que trata sobre questões relativas aos riscos emergentes ou recém-identificados para a
saúde da população, situado em Bruxelas, aplicou uma metodologia de avaliação de risco à
saúde da exposição ao ruído de dispositivos de música portáteis, que avalia se existe relação
casual entre a exposição e efeitos adversos à saúde. Considerando comportamento de risco a
utilização por mais de 1 hora diária destes aparelhos com um NPS igual ou superior a 89
dB(A).
Na literatura especializada, há vários trabalhos relacionando a exposição de jovens a
níveis elevados de pressão sonora provocados por música e perdas auditivas. Vogel e
colaboradores publicaram recentemente uma revisão e artigos sobre o assunto (VOGEL et al.,
2008, 2009 e 2011). Outros trabalhos que relacionam perdas auditivas e a exposição a ruídos
causados por música, podem ser destacados como os realizados pelos pesquisadores: Peng et
al. (2007); Williams (2005) e Comitê SCENIHR (2011). No Brasil, apesar de nossos jovens
estarem expostos ao mesmo tipo de agente, estudos neste sentido ainda são raros.
Para avaliar os possíveis danos à saúde física, mental e a audição que a utilização de
tais equipamentos pode causar, se faz necessário medir os níveis de pressão sonora a que os
usuários estão expostos. Porém, esta medida não é uma tarefa simples e deve ser feita onde o
pesquisado se encontra, já que pode depender do ruído ambiente.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. SOM E RUÍDO
O som é uma variação da pressão ambiente detectável pelo sistema auditivo, possui
natureza mecânica e se propaga longitudinalmente pelo ar (BISTAFA, 2006; FERNANDES,
2005). O ruído é geralmente considerado o som indesejável, sendo uma definição muito
subjetiva, pois o que pode ser indesejável para uns pode não ser para outros (BISTAFA,
2006). Um ruído é um tipo de som, porém um som não é necessariamente um ruído.
O ruído de fundo (RF) é uma terminologia utilizada para designar o nível sonoro
medido quando a fonte específica não é audível e, algumas vezes, tem o valor de um
parâmetro de ruído, tal como o L90.
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2.2. NÍVEIS DE PRESSÃO SONORA
O nível de intensidade sonora (NIS) é a escala logarítmica usada para medir as
variações de intensidade sonora detectadas pelo ouvido humano (GERGES, 2000). A
grandeza relativa que avalia a razão entre duas intensidades sonoras é medida em decibels
(dB) e sua intensidade acústica é proporcional ao quadrado da pressão sonora.
O nível de pressão sonora (NPS) é um padrão de referência equivalente à menor
pressão audível, e é dado pela Equação (1):
𝑁𝑃𝑆 = 10 × log �𝑝2
𝑝02� = 20 × log � 𝑝
𝑝0� (1)
Onde: p é a pressão sonora em N/m2 e p0 é a pressão de referência = 0,00002 N/m2 e
corresponde ao limiar da audição para a frequência de 1000 Hz (GERGES, 2000).
2.3. EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL AO RUÍDO
A exposição prolongada a níveis de ruído elevado no trabalho é ainda é oficialmente a
uma das causas mais frequentes de perda de audição (BISTAFA, 2000). O Ministério da
Saúde (2006) considera a perda auditiva induzida por ruído (PAIR, 2006) como sendo a perda
provocada pela exposição por tempo prolongado ao ruído, sendo esta perda neurossensorial,
bilateral na maioria das vezes, irreversível e progressiva com o tempo de exposição ao ruído.
A PAIR se deve a união de dois fatores: pressão sonora e tempo de exposição (BISTAFA,
2006).
2.4. EXPOSIÇÃO NÃO-OCUPACIONAL AO RUÍDO
Uma das principais causas de problemas auditivos em todo mundo é a exposição ao
ruído excessivo. A Diretiva Europeia 2003/10/CE para ruído, estabeleceu o limite equivalente
de exposição ao ruído de 80 dB(A) como sendo o mínimo de nível de segurança. Cada vez
mais está surgindo um alto risco de deficiência auditiva fora do local de trabalho, com: o uso
leitores de música pessoais (MP3’s), ida frequente a shows, bares, assistindo esportes
barulhentos, enfim, se expondo há ambientes barulhentos. Estas fontes de ruído de lazer
geram sons dentro de uma ampla frequência e faixas de nível de pressão. Os sons que veem
da música podem ser considerados tão perigosos para a audição quanto o ruído industrial
(Comitê SCENIHR, 2011).
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Enquanto o ruído ocupacional vem diminuindo, estima-se que o número de jovens
com exposição ao ruído não-ocupacional só vem crescendo. Fatores como: um aumento da
qualidade dos aparelhos de música portáteis; diminuição de preços; um aumento na venda
destes aparelhos; aparelhos celulares com a função de reprodução de música; tudo isto vem
gerando uma tendência para um risco crescente devido ao uso de fones de ouvido, quando o
uso é inadequado (Comitê SCENIHR, 2011).
Atualmente, é possível alcançar altos níveis de saída de som, sem distorção, com os
formatos digitais de som disponíveis (MP3, por exemplo). Os leitores de música pessoais e
celulares produzem uma gama de níveis máximos em torno de 80-115 dB(A), dependendo do
dispositivo. O real nível sonoro no tímpano vai ser influenciado pela profundidade de inserção
do fone no canal auditivo, podendo chegar a níveis de 120 dB(A), no pior dos casos (Comitê
SCENIHR, 2011).
Outro fator que está envolvido na avaliação do risco potencial, além do nível de
intensidade, é o tempo de exposição. Nível de exposição ao som superior a 80 dB(A) é
considerado risco potencial se a exposição a esse nível continua durante 8 horas por dia, cinco
dias por semana por dezenas de anos. A cada duplicação do nível de exposição (+3 dB), deve-
se reduzir pela metade o tempo de exposição. Segundo o Comitê SCENIHR (2011), o tipo de
música e o ambiente pouco influenciam os níveis de exposição.
A população de risco devido ao uso de aparelhos de música portáteis está crescendo e
os aparelhos possibilitam o uso em níveis de som cada vez mais altos. Especialistas (Comitê
SCENIHR, 2011) apontam suas preocupações em relação à falta de dados relacionados ao
tema, como: as características dos aparelhos, os atuais padrões de uso, duração, nível de saída,
exposição de usuários a várias fontes de som ao mesmo tempo em que escutam música em
altos níveis; a contribuição de sons em volumes elevados para a perda auditiva e zumbido,
assim cognitivos (atenção, percepção, memória, raciocínio, imaginação) e déficits de atenção
em crianças e jovens; estudos de longo prazo através de medidas mais sensíveis de deficiência
auditiva para avaliar os impactos do uso dos dispositivos de música portáteis, e identificar os
subgrupos com maior potencial de risco (como crianças, usuários que trabalham ou estudam
em locais ruidosos, subgrupos genéticos ou ambientais); uma base biológica da
susceptibilidade individual ao ruído e aos benefícios dos tratamentos farmacológicos; e se o
uso excessivo leva a perda cognitiva e déficits de atenção permanentes e irreversíveis após a
interrupção do ruído (Comitê SCENIHR, 2011).
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2.5. LEGISLAÇÕES
As normas e legislações que tratam do problema do ruído ambiental de trabalho
estabelecem limites que tentam enquadrar o risco de perda de audição dentro de limites
admissíveis, reconhecendo, no entanto que alguns indivíduos terão perda auditiva mesma em
ambientes suavemente ruidosos, já que algumas pessoas são mais suscetíveis do que outras à
perda de audição provocada por ruído (BISTAFA, 2006). Como não existem normas
especificas para o ruído em situações de lazer, os regulamentos e limites que se aplicam aos
locais de trabalho poderão ser utilizados, pois eles tratam sobre os níveis de exposição e
duração em que o som tem um efeito negativo, como o de leitores de música pessoais (Comitê
SCENIHR, 2011).
A norma que regulamenta o ruído em ambientes de trabalho no Brasil é a NR-15
(Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho), que regulamenta as atividades e
operações insalubres. Adotando 85 dB(A) como nível-critério para a jornada de trabalho de 8
horas, e 5 dB como o fator de conversão ou de troca (q) (BISTAFA, 2006; NR-15, 2008). O
fator de conversão corresponde a relação entre o nível de ruído e a duração da exposição a
este ruído, expressando o aumento em dB(A) que leva a duplicidade do risco de lesão auditiva
par um determinado tempo de exposição (SANTOS, 1999). Outra norma que também se
aplica à exposição ocupacional é a NHO 01 (Norma de Higiene Ocupacional), que adota o
mesmo limite de exposição diária que a NR-15, porém é mais rígida em relação ao fator de
troca (q), adotando 3 dB como incremento de duplicidade de dose (NHO 01, 2001).
Os padrões internacionais (ISO 1999:1990) recomendam o nível de pressão sonora
equivalente de 85 dB(A) como o limite de exposição ao ruído ocupacional. Porém, este limite
não garante a segurança para o sistema auditivo dos trabalhadores (Comitê SCENIHR, 2011).
Na União Europeia, existem duas Diretivas do Parlamento Europeu e do Conselho que
regulamentam o ruído: a Diretiva 2002/49/CE relativa à avaliação e gestão do ruído ambiente;
e a Diretiva 2003/10/CE relativa às prescrições mínimas de segurança e de saúde em matéria
de exposição dos trabalhadores aos riscos devidos aos agentes físicos (ruído). A Diretiva
2003/10/CE apresenta um valor de exposição de 80 dB(A) para Leq,8hs, recomendando três
níveis de ação para ambientes profissionais, dependendo do nível de ruído equivalente a 8
horas de trabalho por dia. Com fator de troca (q) de 3 dB; reduzindo o tempo de exposição
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para metade do tempo para cada aumento de 3 dB(A) no nível de exposição (Comitê
SCENIHR, 2011).
A Figura 1 expressa a máxima exposição diária permissível sem protetor auditivo em
função dos níveis de pressão, fazendo uma adaptação das normas NR-15, NHO 01 e Diretiva
2003/10/CE. Observa-se pelo gráfico, que a NR-15, apesar de ser a mais atual, é a menos
restritiva em relação à permissividade do tempo de exposição em função dos níveis de pressão
sonora. Segundo Bistafa (2006) e de acordo com a legislação, quando o tempo de exposição e
o nível de ruído assumem valores até aqueles tolerados, a maioria da população não adquirirá
perda auditiva induzida por ruído (PAIR).
Figura 1: Máxima Exposição Diária Permissível em Função dos Níveis de Pressão Sonora (adaptação das normas NR-15, NHO 01 e Directiva 2003/10/CE)
2.6. EFEITOS DO RUÍDO NA SAÚDE
O excesso de ruído pode provocar diversas reações às pessoas, como mudanças
fisiológicas reversíveis, mudanças bioquímicas ou até mesmo problemas cardiovasculares.
Cada pessoa reage de uma maneira ao ruído exposto, umas sendo mais afetadas e outras
menos. O ruído pode afetar o bem-estar de algumas pessoas, gerando irritabilidade, estresse e
distúrbios do sono. Outros problemas são a fadiga, alergias, distúrbios digestivos, úlceras,
falta de concentração, depressão, dificuldade de comunicação, perda de produtividade, além
80
85
90
95
100
105
110
115
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 390 420 450 480
Nív
eis
de P
ress
ão S
onor
a (d
B)
Máxima Exposição Permissível (min)
NR-15 (q=5 dB)
NHO 01 (q=3 dB)
Diretiva 2003/10/CE (q=3 dB)
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de perda de audição, que é o mais perceptível. Enfim, o ruído prejudica a saúde geral e o bom
desempenho nas atividades profissionais e escolares dos que se submetem a este problema.
(CARVALHO JÚNIOR, 2006; DANI, A. e GARAVELLI, S. L., 2000; FERNANDES, 2002).
2.7. DISPOSITIVOS DE MÚSICA PESSOAIS
Os aparelhos de música portáteis têm um campo de aplicação muito amplo, que vão
desde ferramentas profissionais no trabalho, lazer para o consumidor e brinquedo para as
crianças. Tocam música como arquivos de áudio digitais, como MP3, e em alguns casos
permitem armazenar vídeos, fotos, rádio, e atualmente estão presentes em muitos aparelhos
celulares.
A saída típica destes dispositivos para transmitir o som aos ouvintes é através de fones
de ouvido ou alto-falantes externos. Existem basicamente quatro estilos diferentes de fones de
ouvido, os mais importantes para o estudo em questão estão descritos a seguir.
• Earbud: modelo mais tradicional e universal, costumam acompanhar os dispositivos
de mídia portáteis e celulares. Com dimensões reduzidas, ficam presos dentro da
orelha, porém fora do canal auditivo. São os modelos mais baratos e fáceis de
encontrar, mas também os que apresentam menor qualidade sonora, com raras
exceções. Como não liberam toda sua frequência em volumes baixos, é normal
aumentar a intensidade do som ao usar esse modelo, o que em longo prazo tende a
prejudicar a audição.
• Intra-auricular: modelo que possui uma ponteira de silicone que deve ser introduzida
no canal auditivo. Como consequência deste modo de uso, conseguem isolar o som
externo de maneira mais eficiente que os earbuds, o que permite ouvir música em
volume menos intensos. Devido à proximidade com o canal auditivo, os fones do tipo
garantem uma maior fidelidade sonora comparada aos earbuds. Porém, o fato de
ficarem dentro do ouvido é motivo de incômodo para muitas pessoas, tomando esta
alternativa pouco atrativa para alguns.
• Supra-auricular: modelo que possui dimensões bem maiores que os demais, e
geralmente contam com uma haste que passa por cima da cabeça do usuário. Vários
modelos contam com almofadas que garantem um maior conforto, além de permitir
um isolamento acústico sem comparação. As maiores dimensões garantem uma maior
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fidelidade de som, o que faz com que seja o tipo mais usado por DJs e outros
profissionais do mundo da música. A desvantagem fica pela falta de praticidade em
ambientes abertos, especialmente durante caminhadas ou quanto se pratica esportes.
O volume do som emitido por estes aparelhos varia de fabricante para fabricante, e é
difícil de estimar. Os formatos digitais de gravação de som e reprodução disponíveis
atualmente alcançam altos níveis de saída de som, sem distorções. Considerando o mesmo
fabricante, os fones de ouvido do tipo inserção aumentam os níveis de saída por volta de 7 a 9
dB em relação aos que normalmente vêm juntos com o dispositivo, recomendando-se a
diminuição do tempo de exposição se estiver fazendo uso destes fones (Comitê SCENIHR,
2011).
Para identificar os níveis de risco de dispositivos de música portáteis deve-se perceber
que a cadeia de reprodução de música é organizada em etapas que são mais ou menos
independentes umas das outras, mas juntas afetam o nível do sinal de saída (Comitê
SCENIHR, 2011).
Os níveis máximos de ruído produzido pelos dispositivos de música portáteis de
última geração são muito mais elevados e causam um aumento no risco de deficiência
auditiva. Os fatores envolvidos no potencial risco de perda auditiva são a intensidade de ruído
e a duração da exposição a um determinado nível. O ambiente de audição, o tipo de fone de
ouvido, e o tipo de música podem desempenhar papéis adicionais (Comitê SCENIHR, 2011).
Atualmente, a Apple e alguns fabricantes já apresentam um limitador ou indicador de
volume em seus aparelhos. A proposta da Comissão Europeia é para que todos os tocadores
de música tenham uma configuração-padrão de 80 dB(A), aplicada também a celulares que
tocam música. Essa proposta não se aplica à configuração máxima do aparelho, apenas para a
configuração-padrão. Porém, o consumidor pode ignorar ou exceder o padrão, mas vai receber
um aviso para que saiba o risco que está correndo.
3. MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo teve como objetivo a analisar os níveis de pressão sonora (NPS)
devido à utilização de aparelhos de música individuais (MP3 players). Os objetivos
específicos são a verificação da existência de correlação entre os NPS e o ruído de fundo (RF)
no momento da exposição; a correlação entre os NPS e a idade dos usuários; a correlação
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entre os NPS e tempo de exposição, analisando o risco de perda auditiva devido à utilização
destes dispositivos.
3.1. ELABORAÇÃO DO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA
A elaboração do questionário (Apêndice A) foi realizada pelo Grupo de Pesquisa da
UCB, que iniciou o processo com estudos de conceitos básicos e bibliografias específicas
sobre o tema da pesquisa. O questionário apresentado foi uma mistura das adaptações dos
apresentados por Williams (2005) e Vogel (2009) e seguindo as dicas fornecidas por Günther
(2003), em Como Elaborar um Questionário, tentando se aproximar de uma linguagem que
todos pudessem compreender. O processo de elaboração e adaptação do questionário teve
várias versões e levou cerca de cinco meses. Antes de finalizado, aplicou-se um teste de
verificação e validação com a participação de 20 voluntários. Este teste serviu para mostrar os
pontos mais fracos do questionário e eliminou algumas questões que não obtiveram resultados
satisfatórios.
O questionário apresentou questões sobre idade, sexo, média de anos de utilização
destes aparelhos, tempo médio de utilização diária, locais que mais costuma ouvir música,
questões de percepção auditiva e análise dos NPS e RF.
3.2. COLETA DOS DADOS
A pesquisa foi realizada com 200 jovens, com idades que foram de 11 a 38 anos,
fugindo da faixa de idade sugerida inicialmente, que seria de jovens entre 12 e 25 anos. O
número foi estimado em função do tempo disponível, para dois avaliadores. A preferência
pelos jovens foi pelo fato destes estarem na faixa de maior risco, que poderão ter maiores
prejuízos futuros, principalmente pelo maior tempo de exposição diária e cumulativa.
O Grupo de Pesquisa da UCB, com a colaboração da área de prótese do Hospital Sarah
Kubitschek de Brasília, desenvolveu um adaptador que busca simular o canal auditivo, já que
não se pode desprezar a complexidade deste artefato acústico no processo de medição. O
adaptador, Figura 2, foi utilizado para as medições dos NPS dos dispositivos de música.
10
Figura 2: Protótipo do adaptador
A coleta dos dados foi realizada nos locais em que os pesquisados se encontravam,
como escolas (dentro e fora), bibliotecas, paradas de ônibus e na rua. Nos locais de medição
foram feitas análises dos NPS emitidos pelos aparelhos portáteis e também o RF, todas as
medidas foram realizadas em bandas de oitava frequência. Para a medição, utilizou-se o
medidor de nível de pressão sonora Solo da marca 01dB, devidamente calibrado, com tripé e
protetor de vento. Os parâmetros avaliados foram coletados em resposta rápida (fast) a cada 1
segundo, no modo de compensação A. As medidas tiveram duração de 1 minuto para a
música emitida pelos aparelhos portáteis e de 3 minutos para o ruído de fundo. Juntamente
com as medidas acústicas foi aplicado o questionário de pesquisa.
3.3. ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS
Os dados do questionário foram tabulados no software Microsoft Excel e analisados
com o software estatístico SPSS. Para avaliar a possibilidade de perda auditiva foi
considerado o tempo médio diário e o nível de exposição diária, foram adotados como
referência os dados presentes no Figura 1, referentes aos limites das normas NR 15, NHO 01
e Diretiva 2003/10/CE.
Para avaliar a possível relação entre as variáveis quantitativas, foi realizada a
correlação de Pearson (r) resultando em uma matriz de correlações. A matriz de correlação
calcula a correlação entre todas as variáveis, sendo uma matriz simétrica e na diagonal sempre
terá o valor 1, uma vez que se trata da correlação da variável com ela mesma. O coeficiente de
correlação varia entre -1 e 1, sendo que 1 indica uma relação perfeita e -1 indica que quando
uma das variáveis aumenta a outra diminui. Quanto mais próximo estiver de 1 ou -1, mais
forte é a associação linear entre as duas variáveis.
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A análise estatística dos dados consistiu basicamente na avaliação de pressupostos de
normalidade das variáveis, pois esse pressuposto verifica se a distribuição segue os
parâmetros da distribuição normal.
Também foi realizada uma análise pelos índices de assimetria (skewness) e curtose
(kurtosis). As medidas de assimetria deve ter igual a 0 (zero) e a de curtose deve ter valor
igual a 3. Contudo, o SPSS altera a padronização da medida de curtose para que ela possa ser
bem avaliada. Qualquer alteração nessas medidas já é um indicativo de possibilidade de
problemas na normalidade. As variáveis possuem alguma assimetria e curtose. Torna-se
necessário verificar a significância desses valores pro meio da obtenção do escore Z (HAIR et
al., 2009).
O escore Z é obtido por meio da divisão dos valores (skewness, kurtosis) pelos erros
padrões. É necessário verificar se o escore Z possui significância ou não. Se o valor do score
Z calculado alcançar um valor que exceda ±1,96, haverá problemas de assimetria para um
nível de significância de 0,05. Para uma significância de 0,01, haverá problema se o score Z
exceder o valor de ±2,58 (FIELD, 2009).
Em seguida foram realizados os testes de normalidade Teste Kolmogorov-Smirnov
(K-S) e Teste Shapiro-Wilk (S-W). Esses testes verificam se a distribuição como um todo, se
desvia de uma distribuição normal modelo comparando escores de uma amostra a uma
distribuição normal modelo de mesma média e variância dos valores encontrados na amostra.
Se o teste é não-significativo (p>0,05), ele nos informa que os dados da amostra não diferem
significativamente de uma distribuição, podendo ser normal. Por outro lado, se o teste é
significativo (p<0,05), a distribuição em questão é significativamente diferente de uma
distribuição normal, sendo não-normal (FIELD, 2009).
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através das análises dos 200 questionários aplicados, encontrou-se uma média dos
níveis de pressão sonora (NPS) de 90,4 dB(A) com desvio-padrão de 11,0 dB(A); o menor
valor encontrado foi de 62,9 dB(A) e o maior de 116,3 dB(A). Os NPS foram superiores a 85
dB(A) no momento da pesquisa em 74% dos aparelhos, e 37 pesquisados estavam utilizando
seus níveis superiores a 100 dB(A). Quanto aos valores de ruído de fundo (RF) encontrados
no momento da pesquisa, a média foi de 69,5 dB(A) com desvio-padrão de 9,5 dB(A); valor
mínimo de 49,4 dB(A) e valor máximo de 92,3 dB(A). A Tabela 1 apresenta os locais onde a
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pesquisa foi realizada, com os valores mínimos e máximos de RF, em cada local no momento
das análises. Tabela 1: Locais onde foram aplicados os questionários
Local no momento da pesquisa Frequência RF
(dB(A)) Mínimo
RF (dB(A)) Máximo
RF (dB(A)) Média
NBR 10.152(*) (dB(A))
Senado Federal 4 - 69,1 69,1 - Academia de Ginástica 4 54,5 70,7 66,7 45 – 60 CECB – Circulação (escola) 33 62,1 89,1 74,6 45 – 55 JMJ – Sala (escola) 61 61,5 83,9 73,3 40 - 50 N. Bandeirante 13 60,5 72,6 67,9 - Pistão Sul/Metrô 1 - 92,3 92,3 - UCB - Circulação (universidade) 49 49,4 87,5 66,6 45 - 55
UCB – Biblioteca (universidade) 15 50,3 56,3 54,0 35 - 45
UCB – Sala (universidade) 20 55,3 86,8 69,9 40 - 50 (*) Níveis de conforto acústico (valor inferior) e níveis sonoros aceitáveis (valor superior) para a finalidade.
Dos pesquisados 51% eram do sexo feminino e 49% do sexo masculino. Em relação à
idade dos entrevistados, 8% possuem entre 10 e 15 anos; 61% entre 16 e 20 anos, 25% entre
21 e 25 anos, o restante (5%) possui mais de 25 anos, estando fora da faixa inicial da
pesquisa. Conforme a Tabela 2, quase todos os pesquisados estão cursando o ensino médio ou
o ensino superior. Tabela 2: Escolaridade dos pesquisados
Escolaridade
1. Fundamental Incompleto (4,5%) 3. Médio Incompleto (41,5%) 5. Superior Incompleto
(41,0%) 2. Fundamental Completo (2,0%) 4. Médio Completo (3,5%) 6. Superior Completo (5,5%)
Quanto à análise dos resultados obtidos na Tabela 3, podem-se verificar alguns hábitos
de uso dos aparelhos de música portáteis. Observar-se que atualmente o celular é o dispositivo
mais utilizado para ouvir música (51%). Em relação à média de horas de uso por dia, a
maioria dos pesquisados (40%) costuma utilizar estes dispositivos entre 1 e 3 horas por dia.
Quanto aos anos de utilização, 29% utiliza estes aparelhos entre uma faixa de 3 e 5 anos. Os
locais que os pesquisados mais costumam usar aparelhos com fone de ouvido são em suas
próprias casas (57%), no trânsito (48%), e nas escolas (43%). E afirmaram que utilizam o
volume em nível igual (55%) ou mais alto (35%) ao que foi verificado no momento da
pesquisa.
13
Tabela 3: Hábitos de uso dos aparelhos de música individuais
QUESTÃO 01 MP3/MP4 Discman iPod Celular Outros Aparelho mais utilizado para ouvir música. 16,5% - 15,5% 51,0% 15,5% QUESTÃO 02 Menos
que 1 Entre 1 e
3 Entre 3 e
5 Entre 5 e
8 Mais que
8 Em média, quantas horas de uso por dia? 23,0% 40,0% 21,5% 7,5% 6,0% QUESTÃO 03 Menos de
1 Entre 1 e
3 Entre 3 e
5 Entre 5 e
8 Mais que
8 Há quantos anos você usa esses aparelhos? 11,5% 23,5% 29,0% 20,5% 14,5% QUESTÃO 04 Escola Trabalho Casa Trânsito Academia Em qual(is) local(is) você costuma usar o aparelho?
42,5% 10,5% 57% 47,5% 22,0%
QUESTÃO 05 Mais baixo
Igual Mais alto
Você costuma usar o volume mais baixo, igual ou mais alto que o atual? 7,5% 54,5% 35,0% A Tabela 4 faz uma análise subjetiva da percepção de cada pesquisado quanto aos
possíveis problemas relacionados ao ruído. Cerca de 90% dos pesquisados, afirmaram que
conseguem se concentrar mesmo com outros sons à sua volta, pelo menos às vezes. Ouvir
música também ajuda a manter a atenção e a concentração, de 76% dos pesquisados, algumas
vezes ou até todo o tempo. Cerca de 60% dos pesquisados conseguem ignorar barulhos ao seu
redor, às vezes ou quase sempre, enquanto que uns 30% não conseguem ignorar nunca ou
quase nunca o mesmo tipo de barulho. Dos pesquisados, 75% afirmaram que nunca ou quase
nunca costumam ouvir zumbidos ou sentem dificuldade de audição, isso pode se justificar
pelo fato da maioria dos pesquisados ainda não terem ultrapassado os 20 anos, e
provavelmente ainda não foram afetados por estes sintomas ou não os percebem ainda. Dos
pesquisados 82% afirmaram nunca colocar o volume da TV mais alto que o resto da família
ou só algumas vezes. Mesmo afirmando que não sentem dificuldades de audição, apenas 12%
dos pesquisados nunca pedem que as pessoas repitam o que disseram.
Tabela 4: Percepção de possíveis problemas relacionados ao ruído
Nunca Quase nunca
Às vezes
Quase sempre Sempre
1. Você consegue se concentrar mesmo com outros sons à sua volta?
4,0% 5,5% 41,5% 32,5% 16,5%
2. Ouvir música te ajuda a manter a atenção e a concentração?
11,5% 11,5% 35,0% 25,5% 15,0%
3. Para você, é fácil ignorar barulho ao seu redor? 13,5% 15,5% 34,5% 25,0% 10,5%
4. Costuma ouvir zumbidos? 42,0% 33,0% 17,0% 2,5% 4,5%
5. Sente dificuldades de audição? 53,0% 22,0% 19,0% 3,5% 1,5%
14
6. Coloca o volume da TV ou do rádio mais alto que o resto da sua família?
32,0% 27,5% 22,5% 8,0% 10,0%
7. Pede que as pessoas repitam o que disseram? 11,5% 26,0% 35,0% 11,0% 6,5%
Uma real percepção para estes possíveis danos causados pelo ruído só seria possível
com uma avaliação audiológica de alguns pesquisados para a confirmação da existência ou
não de alterações auditivas.
Na Tabela 5, pode-se observar que a escola é o local onde metade dos pesquisados
passa a maior parte do dia. Quanto à percepção de barulho, na maioria das vezes, estes locais,
são pouco barulhentos (32%) ou moderadamente barulhentos (29%). Isso pode ser
confirmado na Tabela 1, que apresenta os níveis de conforto acústico e os níveis aceitáveis
para a finalidade do local. Em relação às escolas, todas as médias dos níveis de RF, estão bem
acima dos níveis sonoros aceitáveis para a atividade exercida no local.
Tabela 5: Local onde passa a maior parte do dia
QUESTÃO 01 Escola Casa Trabalho Outros Onde você passa a maior parte do dia? 50,0% 21,0% 17,5% 11,5% QUESTÃO 02 Silencioso Pouco
barulhento Moderadamente
barulhento Muito
barulhento Extremamente
barulhento Você considera este local: 10,5% 31,5% 29,0% 14,5% 8,0%
Na Tabela 6, foi feita uma comparação entre os níveis de ruído de fundo e os níveis de
pressão sonora no momento da pesquisa. Com a tabela, pode observar que os níveis de
pressão sonora na maioria das vezes serão maiores quanto maiores forem os níveis de ruído de
fundo. Realizou-se também, uma comparação da frequência dos pesquisados que
apresentavam NPS superiores a 85 dB(A) dependendo da faixa de nível de RF. Nesta
comparação, pode-se observar que a porcentagem dos pesquisados que apresentaram NPS
superiores a 85 dB(A) foi crescendo de acordo com o aumento da faixa de ruído de fundo.
Adotou-se 85 dB(A) por ser o limite de exposição seguro estabelecido pela NR-15.
Tabela 6: Comparação entre ruído de fundo e níveis de pressão sonora
RF e NPS Faixa de RF
(dB(A)) Quantidade
Média (dB(A))
Máximo (dB(A))
Mínimo (dB(A))
< 85 dB(A) (%)
> 85 dB(A) (%)
Entre 49 e 59,9 27 80,0 104,0 62,9 67 33 Entre 60 e 69,9 88 91,5 116,3 69,6 28 72 Entre 70 e 79,9 82 93,0 111,3 74,1 10 90
15
A Tabela 7 apresenta uma comparação entre os NPS e a idade dos pesquisados.
Através dessa tabela, pode-se observar que a média dos NPS vai diminuindo com o aumento
da idade dos pesquisados. A faixa que apresentou os níveis mais alto e mais baixo de NPS foi
a dos que possuíam idade entre 16 e 20 anos (116,3 dB(A) e 62,9 dB(A)), sendo a faixa que
apresentou maior número de pesquisados. A faixa que apresentou o maior nível mínimo foi a
que estava entre 10 e 15 anos. Entre as faixas a partir dos 16 anos até as com mais de 25 anos,
os níveis máximos de NPS foram diminuindo, enquanto os níveis mínimos de NPS foram
aumento.
Tabela 7: Comparação entre NPS e Idade
NPS e Idade Faixa de Idade Quantidade Média (dB(A)) Máximo (dB(A)) Mínimo (dB(A)) 10 a 15 anos 31 94,6 109,7 78,6 16 a 20 anos 106 90,2 116,3 62,9 21 a 25 anos 41 89,5 114,8 63,2 Mais de 25 anos 8 85,0 105,4 66,2 Idade não informada 14 88,0 111,3 64,6
Os coeficientes de Pearson encontrados na matriz de correlação foram considerados
baixos. Os resultados, considerando apenas as variáveis quantitativas, foram os seguintes:
0,317 entre as variáveis NPS e RF, para uma amostra de 198 pesquisados, não comprovando a
comparação feita na Tabela 6; -0,194 entre as variáveis NPS e Idade, para uma amostra de
186 pesquisados, a negatividade confirmou que quando a idade aumenta as médias de NPS
irão diminuir, porém o coeficiente de Pearson não comprova a comparação feita pela Tabela
7; em relação às variáveis de RF e Idade, não faz sentido fazer uma correlação entre elas. As
correlações podem ser consideradas significativas para níveis acima de 0,01.
Para fazer uma análise dos possíveis danos induzidos pelo uso de aparelhos portáteis
de música adaptou-se uma tabela de comportamento de risco sugerido pela Scientific
Committee on Emerging and Newly Identified Health Risks (SENIHR, 2011), considerando
comportamento de risco utilizando como base os limites fornecidos pelas normas brasileiras
NR-15 e NHO 01 e a europeia Diretiva 2003/10/CE, de acordo com o tempo de exposição
diário e os NPS utilizados no momento da pesquisa.
A Tabela 8 apresenta os resultados da comparação, demonstrando que a norma
europeia é bem mais rígida em relação aos limites que as normas brasileiras. De acordo com a
Diretiva europeia, 64,5% dos pesquisados estariam dentro da área de risco para uma possível
16
perda auditiva induzida pelo uso de fones de ouvido, enquanto que na NR-15 apenas 39% dos
mesmos pesquisados estariam dentro da área de risco. Tabela 8: Comparação entre as normas vigentes
Legislação Risco
Diretiva 2003/10/CE NHO 01 NR-15 Frequência Porcentagem Frequência Porcentagem Frequência Porcentagem
Há risco 129 64,5% 103 51,5% 78 39%
Não há risco 68 34,0% 94 47,0% 119 59,5%
Estudos semelhantes (NISKAR et al., 2001; VOGEL et al., Maio 2009; VOGEL et al.,
Junho 2009; e VOGEL et al., 2010) afirmam que a exposição prolongada à música alta pode
provocar perda de audição, e que os jovens são cada vez mais expostos a música em alto
volume por causa dos aparelhos de música portáteis. Eles comprovam que os jovens estão
mais propensos a se envolverem em comportamentos de risco do que comportamentos que
busquem a proteção, como ouvir música em volumes elevados e deixar de usar os limitadores
de ruído presentes em alguns dispositivos.
Especialistas da área afirmam que além dos jovens e de seus pais, os fabricantes dos
aparelhos e fones de ouvido e as autoridades também devem se envolver e se responsabilizar
pela realização de ações de proteção de saúde ambiental, procurando criar mais segurança aos
usuários e tomar medidas para proteger a juventude contra os perigos de ouvir música com
fones de ouvido com volume elevado (VOGEL et al., Maio 2009).
Em 1994, um estudo (NISKAR et al., 2001) comprovou, através de testes de
audiometria, que as crianças já estavam sendo afetadas com mudanças no limiar de audição
devido ao excesso de exposição a ruído. O estudo em questão indicava a necessidade de haver
programas de triagem audiométrica em crianças de idade escolar e campanhas adequadas de
conservação auditiva.
Vogel e colaboradores (2010) realizaram um estudo que teve como objetivo investigar
a teoria da motivação de proteção baseada em construções, bem como a força das
considerações de consequências futuras e os hábitos como correlatos de risco entre
adolescentes que utilizam MP3 players. O estudo encontrou algumas limitações,
principalmente pelo fato de ter contado apenas com o auto-relato dos adolescentes. Não sendo
realizadas medidas dos níveis de volume real a que os pesquisados foram expostos, utilizando
apenas os níveis de som encontrados na literatura relacionada.
17
Cada estudo relacionado ao assunto apresenta uma abordagem diferente da
metodologia aplicada e da análise dos resultados. Nenhuma das pesquisas analisadas em
relação ao tema apresentou os níveis de pressão sonora a que cada usuário de aparelhos de
música portáteis estava exposto no momento da pesquisa, como foi realizado no presente
estudo.
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A análise dos resultados mostrou os hábitos de utilização de aparelhos de música
individuais pelos jovens pesquisados e seus comportamentos de risco.
A pesquisa identificou que a maioria dos jovens escuta música em seus aparelhos
portáteis com volume elevado por longos períodos. O celular é atualmente o disposto mais
utilizado para ouvir música com a utilização de fones de ouvido, sendo utilizados diariamente
de 1 a 3 horas. A maioria dos jovens já utiliza estes aparelhos por mais de 3 e menos de 5
anos.
Os pesquisados costumam usar estes aparelhos com mais frequência em casas, no
trânsito e nas escolas. A maioria deles afirmou que costuma passar a maior parte do dia nas
escolas, depois em casa, sendo que consideraram este local de pouco a moderadamente
barulhento. As escolas em que a pesquisa foi realizada apresentaram níveis sonoros superiores
aos indicados como sendo adequados para a finalidade do local, de acordo com a NBR
10.152.
Os jovens afirmam que o ruído de fundo não os atrapalha sempre, sendo fácil ignora-
los às vezes. Também asseguram que ouvir música, às vezes, os ajudar a manter a
concentração e a atenção. Eles alegaram não ouvirem zumbidos e não sentirem dificuldades
de audição, isto pode se justificar pelo fato da maioria ainda ser muito jovem, 69% dos
pesquisados possui menos de 20 anos.
Inicialmente a pesquisa apontou a existência de duas correlações: entre os NPS e o RF
e entre os NPS e a idade dos pesquisados. Em relação à primeira correlação, aparentemente os
níveis de pressão sonora são mais elevados em locais em que o ruído de fundo era maior.
Considerando a segunda correlação, pode-se observar que existe ligação inversa entre as duas
variáveis, pois as médias de NPS foram diminuindo com o aumento da idade dos pesquisados.
O teste estatístico de correlação de Pearson apresentou valores baixos para os coeficientes de
18
correlação entre estas variáveis (0,317 entre NPS e RF; e -0,194 para NPS e Idade), porém os
valores podem ser considerados significativos para níveis superiores a 0,01.
O comportamento de risco foi analisado observando as normas brasileiras e europeias.
Pela análise dos possíveis danos induzidos pelo uso de aparelhos de música portáteis,
considerando os limites fornecidos nas normas, 65% dos usuários estariam dentro da área de
risco considerando a Diretiva Europeia, 52% considerando a NHO 01 e apenas 39% dos
mesmos pesquisados pela NR-15. Isto pelo fato da última ser menos rígida em relação aos
limites de exposição que as outras duas.
Em uma pesquisa futura, recomenda-se que haja um acompanhamento de um grupo
com realização de avaliações audiológicas por um período relativamente longo. Isto seria
importante para que se possa confirmar a existência ou não de alterações auditivas e que haja
uma real percepção dos possíveis danos que o ruído está causando.
Pesquisas sobre as estratégias de prevenção sobre a fonte de ruído em questão
recomendam que as autoridades incentivem os fabricantes a produzirem produtos mais
seguros e que sejam realizadas mais campanhas de saúde pública para melhorar o
conhecimento sobre os riscos do alto volume das músicas, as possíveis medidas de proteção e
as consequências da perda auditiva. Estas seriam as medidas mais relevantes e viáveis para
serem implementadas buscando a proteção da saúde.
6. REFERÊNCIAS
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WHO. Guidelines for Community Noise 1999. London: WHO, 1999.
22
Agradecimentos
Primeiramente agradeço a Deus, pela minha vida, e por ter me proporcionado esta
conquista.
Aos meus pais, que sempre me apoiaram, acreditaram em mim e me ajudaram a
chegar até aqui.
A minha irmã, primas e demais familiares, que sempre torceram pelo meu sucesso.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Sérgio Luiz Garavelli pela atenção e apoio, por sempre
estar disposto a me atender e tirar minhas dúvidas nestes anos de pesquisa; e que sempre me
ofereceu todo o suporte necessário para o desenvolvimento da mesma.
Ao Prof. Edson Benício Carvalho Júnior, por ter acreditado em mim e ter me oferecido
as primeiras oportunidades de pesquisa, pela ajuda em algumas etapas do projeto, e por todos
os conselhos construtivos que me ofereceu.
A toda equipe que participou em algum momento da pesquisa, à Jeane Marques, que
me ajudou nos primeiros testes, à Nathália Rodrigues de Sousa, que participou da elaboração
do questionário e da aplicação de uma boa parte deles, e ao Hugo de Brito Lisboa, que sempre
estavam dispostos a oferecer ajuda, eles foram fundamentais para a coleta dos dados.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à
Universidade Católica de Brasília pela ajuda financeira oferecida a pesquisa.
A todos os professores que contribuíram para minha formação e para o meu
aprendizado como Engenheira Ambiental.
Obrigada a todos os meus amigos e colegas que de alguma maneira participaram da
minha vida durante esses anos, principalmente a Diego Abreu, Hugo de Brito, João Pedro,
Vinícius Adriano e Will de Moura, que sempre estiveram ao meu lado desde o inicio do
curso, nos bons e maus momentos.
Obrigada a todos os que não foram citados, mais que de alguma maneira contribuíram
para essa conquista.
Obrigada por tudo!
23
7. APÊNDICES
7.1. APÊNDICE A: Questionário Aplicado
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO SONORA DEVIDO AO USO DE APARELHOS MP3
SEÇÃO 01 (Não Responda) Código: Local: Hora: Data: Nível de Pressão Sonora: dB(A) Ruído de Fundo: dB(A) SEÇÃO 02 QUESTÃO 01 MP3/MP4 Discman iPod Celular Outros Aparelho mais utilizado para ouvir música. 1 2 3 4 5
QUESTÃO 02 Menos que 1
Entre 1 e 3
Entre 3 e 5
Entre 5 e 8
Mais que 8
Em média, quantas horas de uso por dia? 1 2 3 4 5
QUESTÃO 03 Menos de 1
Entre 1 e 3
Entre 3 e 5
Entre 5 e 8
Mais que 8
Há quantos anos você usa esses aparelhos? 1 2 3 4 5 QUESTÃO 04 Escola Trabalho Casa Trânsito Academia Em qual(is) local(is) você costuma usar o aparelho? 1 2 3 4 5
QUESTÃO 05 Mais baixo Igual Mais alto
Você costuma usar o volume mais baixo, igual ou mais alto que o atual? 1 2 3 SEÇÃO 03
Nunca Quase nunca
Às vezes
Quase sempre Sempre
1. Você consegue se concentrar mesmo com outros sons à sua volta? 1 2 3 4 5
2. Ouvir música te ajuda a manter a atenção e a concentração? 1 2 3 4 5
3. Para você, é fácil ignorar barulho ao seu redor? 1 2 3 4 5 4. Costuma ouvir zumbidos? 1 2 3 4 5 5. Sente dificuldades de audição? 1 2 3 4 5 6. Coloca o volume da TV ou do rádio mais alto que o resto da sua família? 1 2 3 4 5
7. Pede que as pessoas repitam o que disseram? 1 2 3 4 5 SEÇÃO 04 QUESTÃO 01 Escola Casa Trabalho Outros Onde você passa a maior parte do dia? 1 2 3 4
QUESTÃO 02 Silencioso Pouco barulhento
Moderadamente barulhento
Muito barulhento
Extremamente barulhento
Você considera este local: 1 2 3 4 5
24
SEÇÃO 05 Gênero 1. Feminino 2. Masculino Idade: Cidade onde mora?
Escolaridade 1. Fundamental Incompleto 3. Médio Incompleto 5. Superior Incompleto 2. Fundamental Completo 4. Médio Completo 6. Superior Completo
Observações:
7.2. APÊNDICE B: Histograma De Idade Dos Pesquisados
Gráfico B1: Histograma de idade dos pesquisados