newsletter agosto 2013

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Edição # 25 5 de Agosto 2013 Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro,Janice Lemos, Ruben Mama e Vanessa Cabanelas/ Layout & design: Ticha / Editor : Ruben Manna Propriedade da JA! Justiça Ambiental , Av:Mao Tse Tung no 549, 1o andar MaputoTel: 21496668 Foto:D.Ribeiro A Desmistificação de "Os Mitos por trás do Prosavana " de Natalia Fingermann Foi publicado a 29 de Maio, na página de internet do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o boletim Nº 49, intitulado Os Mitos por Trás do ProSavana de Natalia N. Fingermann (I). Um artigo que de forma bastante leviana e sem qualquer fundamentação pretendia desacreditar as preocupações das organizações da sociedade civil moçambicana, e até brasileira e japonesa em relação ao Programa ProSavana, retratando estas mesmas preocupações como Mitos, por de acordo com a autora, não serem reais. O documento em si nada traz de novo. Não apresenta argumentos nem informação nova, não responde de forma alguma às referidas preocupações da sociedade civil, limitandose a camuflar as mesmas com alusões ingénuas à Lei de Terra, sobre a qual diz que apesar de se considerar que defende e protege os direitos das comunidades à terra não tem sido cabalmente respeitada e portanto até ao momento de pouco ou nada tem servido para assegurar os direitos dessas mesmas comunidades à terra. Este documento assemelhase em tudo a um artigo de opinião encomendado. Mais recentemente, a 22 de Julho, foi publicada uma “resposta” a este artigo, sob o título Fukushima, ProSavana and Ruth First: Examining Natalia Fingermann’s “Myths behind ProSavana” da Dra. Sayaka FunadaClassen (II). O documento discute a importância da investigação responsável no contexto do Programa ProSavana em Moçambique, as actuais discussões pós Fukushima no Japão, e muito claramente rebate todos os fracos e supostos argumentos apresentados por Natália N. Fingermann. A Dra. Sayaka, uma académica japonesa, demonstra claramente não só a pobreza do artigo acima referido, como a legitimidade das preocupações da sociedade civil. É uma leitura bastante interessante e promove uma profunda reflexão em torno do ProSavana em primeiro lugar, e ainda sobre a responsabilidade e papel dos académicos na investigação. (I) http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/ideias_49.pdf (II)http://farmlandgrab.org/uploads/attachment/Fukushima%20ProSAVANA%2 0Ruth%20First%20(IR%20Final22July2013).pdf “ A pesquisa é sobre o que não sabemos e sobre o que sabemos. Não comecem pelas "soluções", mas antes pelo enfoque "no que está a acontecer" e em "como está a acontecer". Não se foquem "no que está em falta", mas em "como é a situação actual" e em "porque é assim". A Política e a Economia parecem existir em separado, mas estão sempre ligadas. Continuem a questionar, questionem mesmo o vosso próprio quadro cognitivo"Ruth First O Disse Não Disse De Quem Não Quer Dialogar Foi com imenso prazer que a JA se fez representar na última Quintafeira na Conferência Triangular dos Povos: Moçambique, Brasil e Japão, coorganizada pela UNAC (União Nacional de Camponeses) e ORAM (Associação Rural de Ajuda Mútua), e que teve lugar na sala de conferências das Telecomunicações De Moçambique em Maputo. A conferência, que teve como principal tópico o ProSavana, contou com a presença de vários representantes do campesinato nacional, do Ministro da Agricultura José Pacheco e alguns dos Directores Nacionais do seu ministério, bem como das mais diversas Organizações da Sociedade Civil Moçambicana e também representantes das sociedades civis Japonesa e Brasileira, entre outros intervenientes. O evento ficou marcado pelo “disse não disse” do governo e pela consequente e inevitável reacção de indignação das OSCs. Pressionado pela sociedade civil, o governo meteu os pés pelas mãos, alegou que o projecto estava ainda em fase de investigação e acabou por acusálas de trabalhar com base em documentos “piratas” em versão draft, apetrechados de dados especulativos. A resposta das OSCs foi imediata. Contrapuseram que infelizmente não podem contar com a partilha de informação do governo, e que como tal, o governo só se pode queixar dele próprio se os dados com os quais as OSCs trabalham não são exatos. Garantiram também que os documentos que o governo agora rotula de “piratas”, apesar de ainda não terem sido devidamente partilhados pelo governo com os moçambicanos, já foram alvo de escrutínio em reuniões das OSCs com os seus potenciais parceiros tanto em Moçambique como no Brazil e Japão, tendo chegado à essas mesas de reuniões pela mão deles. Leia o resto deste artigo no nosso blog.

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Newsletter mensal da organização não governamental moçambicana Justiça Ambiental

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Page 1: Newsletter Agosto 2013

Edição # 25 5 de Agosto 2013

Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro,Janice Lemos, RubenMama e Vanessa Cabanelas/ Layout & design: Ticha / Editor : RubenManna

Propriedade da JA! Justiça Ambiental , Av:Mao­ Tse­ Tung no 549, 1o andar ­Maputo­Tel: 21496668 Foto:D.Ribeiro

A Desmistificação de "Os Mitos por trás doProsavana " de Natalia FingermannFoi publicado a 29 de Maio, na página de internet do

Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o boletimNº 49, intitulado Os Mitos por Trás do ProSavana de NataliaN. Fingermann (I). Um artigo que de forma bastante leviana esem qualquer fundamentação pretendia desacreditar aspreocupações das organizações da sociedade civilmoçambicana, e até brasileira e japonesa em relação aoPrograma ProSavana, retratando estas mesmaspreocupações como Mitos, por de acordo com a autora, nãoserem reais. O documento em si nada traz de novo. Nãoapresenta argumentos nem informação nova, não respondede forma alguma às referidas preocupações da sociedadecivil, limitando­se a camuflar as mesmas com alusõesingénuas à Lei de Terra, sobre a qual diz que apesar de seconsiderar que defende e protege os direitos dascomunidades à terra não tem sido cabalmente respeitada eportanto até ao momento de pouco ou nada tem servido paraassegurar os direitos dessas mesmas comunidades à terra.Este documento assemelha­se em tudo a um artigo de opiniãoencomendado.Mais recentemente, a 22 de Julho, foi publicada uma“resposta” a este artigo, sob o título Fukushima, ProSavanaand Ruth First: Examining Natalia Fingermann’s “Myths behindProSavana” da Dra. Sayaka Funada­Classen (II). Odocumento discute a importância da investigação responsávelno contexto do Programa ProSavana em Moçambique, asactuais discussões pós Fukushima no Japão, e muitoclaramente rebate todos os fracos e supostos argumentosapresentados por Natália N. Fingermann. A Dra. Sayaka, umaacadémica japonesa, demonstra claramente não só a pobrezado artigo acima referido, como a legitimidade daspreocupações da sociedade civil. É uma leitura bastanteinteressante e promove uma profunda reflexão em torno doProSavana em primeiro lugar, e ainda sobre aresponsabilidade e papel dos académicos na investigação.(I) http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/ideias_49.pdf(II)http://farmlandgrab.org/uploads/attachment/Fukushima%20ProSAVANA%20Ruth%20First%20(IR%20Final22July2013).pdf“ A pesquisa é sobre o que não sabemos e sobre o quesabemos. Não comecem pelas "soluções", mas antes peloenfoque "no que está a acontecer" e em "como está aacontecer". Não se foquem "no que está em falta", mas em"como é a situação actual" e em "porque é assim". A Política ea Economia parecem existir em separado, mas estão sempreligadas. Continuem a questionar, questionem mesmo o vossopróprio quadro cognitivo"Ruth First

O Disse Não Disse De Quem Não QuerDialogar

Foi com imenso prazer que a JA se fez representar na últimaQuinta­feira na Conferência Triangular dos Povos:Moçambique, Brasil e Japão, coorganizada pela UNAC(União Nacional de Camponeses) e ORAM (AssociaçãoRural de Ajuda Mútua), e que teve lugar na sala deconferências das Telecomunicações De Moçambique emMaputo.

A conferência, que teve como principal tópico o ProSavana,contou com a presença de vários representantes docampesinato nacional, do Ministro da Agricultura JoséPacheco e alguns dos Directores Nacionais do seuministério, bem como das mais diversas Organizações daSociedade Civil Moçambicana e também representantes dassociedades civis Japonesa e Brasileira, entre outrosintervenientes.

O evento ficou marcado pelo “disse não disse” do governo epela consequente e inevitável reacção de indignação dasOSCs. Pressionado pela sociedade civil, o governo meteu ospés pelas mãos, alegou que o projecto estava ainda em fasede investigação e acabou por acusá­las de trabalhar combase em documentos “piratas” em versão draft, apetrechadosde dados especulativos. A resposta das OSCs foi imediata.Contrapuseram que infelizmente não podem contar com apartilha de informação do governo, e que como tal, o governosó se pode queixar dele próprio se os dados com os quais asOSCs trabalham não são exatos. Garantiram também que osdocumentos que o governo agora rotula de “piratas”, apesarde ainda não terem sido devidamente partilhados pelogoverno com os moçambicanos, já foram alvo de escrutínioem reuniões das OSCs com os seus potenciais parceirostanto em Moçambique como no Brazil e Japão, tendochegado à essas mesas de reuniões pela mão deles.Leia o resto deste artigo no nosso blog.

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A Manifestação de que Ninguém falou

Nos dias 22 e 23 de Julho, em Chirodzi na provínciade Tete, teve lugar na concessão da Empresa MineradoraJINDAL uma manifestação com cenas de violência ondequatro funcionários da Empresa, todos de raça indiana, foramagredidos pela população local. Para quem ainda não sabe ecertamente agora se pergunta o porquê desta manifestação, aJindal está a extrair carvão de uma mina a céu aberto naprovíncia de Tete, sem um Estudo de Impacto Ambiental esem zelar pela segurança daqueles que teria obrigação de terreassentado devidamente, mas que continuam a viver dentrodo seu espaço de concessão.

Dos quatro funcionários agredidos, um foi atacado no seugabinete de trabalho e os outros três em suas residências. Osseguranças da empresa, a quem cabia garantir a segurançada área de concessão junto aos portões e cancelas montadasno perímetro de toda a Empresa, foram igualmente agredidos,e sem local para se esconderem da fúria popular, foramforçados a pôr­se em fuga.É de realçar que tanto a segurança da Empresa como a PRMdo Comando Distrital de Changara, a PRM do PostoAdministrativo de Marara e o Comando da PRM do Distrito deCahora Bassa, embora presentes no local eram muito poucosface ao número de manifestantes e não conseguiram acalmaros ânimos da população, limitando­se a assistir impotentes àsinvestidas da população. A massa popular que se concentrouem protesto às portas dos escritórios da Jindal, é compostapor quatro comunidades locais: Chirodzi/Cahora Bassa,Chirodzi/Changara, Cassoca e Nyantsanga, sendo que estasduas últimas estão localizadas dentro da área de concessãoda mina.Segundo os depoimentos destas comunidades, o protestoteve lugar em virtude do incumprimento das promessas que aEmpresa fez quando se instalou no local no ano de 2008.­ Prometeram que não haveriam de extrair carvão antes do

reassentamento, embora há mais de oito meses que já oestejam a fazer;­ Prometeram não ocupar terras, mais concretamente asmachambas das comunidades locais, sem primeiro negociarcom os seus legítimos donos;­ Garantiram que solucionariam o abastecimento de água compoços e represas;­ E prometeram empregos para os membros da comunidade.De acordo com as comunidades de Cassoca e Nyantsanga,em Dezembro a Jindal usurpou parte das suas machambas,repletas de culturas, sem qualquer aviso ou contemplaçãopela importância destas para a sua segurança alimentar.

As comunidades queixam­se de problemas respiratóriosfrequentes entre outros efeitos colaterais, motivos que noentender destas, são mais do que suficientes para justificaresta manifestação. As comunidades garantem ainda quecaso os seus direitos continuem a ser ignorados e a empresanão enverede esforços no sentido de cumprir com aspromessas que lhes foram feitas, haverá mais protestos.Pelo que constatámos, o relacionamento entre a empresaJindal e as quatro comunidades circunvizinhas é péssimo eeste protesto foi prova disso. A poluição atmosféricaresultante da actividade da mina é visível, deplorável e estábem patente na vegetação da área, preta de tanta poeira.Como estarão os pulmões de quem por falta de opção seencontra a viver ali? – perguntámo­nos. E os dos alunos davergonhosa escola em ruínas sem cobertura que láfunciona?

O mais triste nisto tudo, a nosso ver, foi o facto de sabermosque havia várias equipas de órgãos de comunicação socialnacionais em Chirodzi no meio de todo este circo, mas fora oDiário de Moçambique, ninguém mais publicou esta história.

A relação entre empregados e empregadores na Jindal éigualmente má. Segundo os funcionários da empresa queaceitaram falar connosco, há bastantes querelas em relaçãoa alegadas discrepâncias na remuneração e subsídiosatribuídos aos trabalhadores, e há também que referir que ostrabalhadores que operam na mina dizem não dispor de todoo equipamento de proteção pessoal necessário, como assupostamente imprescindíveis máscaras respiratórias.A Jindal e o Governo, segundo consta, têm umrelacionamento excelente. Facto fundamentado por algunsentrevistados que chegaram mesmo a dizer que o Governoarrecada “impostos” junto à empresa. Já a relação daempresa com as organizações da sociedade civil éextremamente complicada, uma vez que a empresa entendeas OSCs como o grupo de agitadores por detrás dosprotestos das comunidades.Quando questionados pelo nosso pesquisador sobre se emalgum momento as comunidades teriam abordado a empresaou o Governo sobre o porquê do incumprimento daspromessas que lhes foram feitas, membros da comunidaderesponderam o seguinte:“A Jindal, diz que o Governo ainda não aprovou a tabela depagamento de indemnizações e o plano de reassentamento,enquanto o Governo diz que está a fazer os estudos comcalma porque a licença da operadora Jindal tem prazos e épor isso que já iniciou a extração de carvão, mesmo antes doreassentamento".No fim do dia, apesar de, de acordo com as leis vigentes naRepública de Moçambique e com as convençõesinternacionais que existem sobre a matéria a Jindal estarclaramente em falta, é a passividade e permissividade (paranão dizer conluio) do nosso governo a principal responsávelpor esta situação. Quando interpelada por nós, a Jindal nãoquis fornecer qualquer informação, mas numa atitude declara opressão, convocou à posteriori uma reunião com oslíderes das comunidades para os intimidar em não fornecerqualquer informação às OSCs, ameaçando não renovarcontratos com quem o fizesse.

Quanto ao reassentamento, não está a acontecer.

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“WAMBAO AGRICULTURE”OS RECENTES E REAIS IMPACTOS DE MAISUMA BOLADA DOS DRAGÕES EM NOME DODESENVOLVIMENTOProdução de Arroz Vs Direitos das Comunidades

Desde Junho que, sem qualquer satisfação, famíliasde agricultores e camponeses que há mais de duas décadasproduzem nas terras férteis do Baixo Limpopo na província deGaza, distrito de Xai­Xai, mais concretamente nas zonas deKana Kana e Baixa Fome, se encontram desesperadas erevoltadas com o governo do dia devido à presença deescavadoras em suas terras, responsáveis pela destruição desuas culturas já em fase de colheita, como resultado daimplantação e expansão do Projecto Chinês “WambaoAgriculture”.

Os mais de 500 produtores agrícolas e camponesesresidentes em diferentes bairros do distrito de Xai­Xai quepraticam agricultura nas zonas de Kana Kana e Baixa Fomeno Regadio do Baixo Limpopo, foram surpreendidos no finaldo mês de Junho com a presença de escavadoras e tractoresem suas terras de produção, destruindo suas culturas (na suamaioria prontas para serem colhidas) e alterando de formadesregrada as necessárias e importantes característicasfísicas daquelas parcelas. Tudo isto sem prestar qualquersatisfação ou dar qualquer tipo de informação acerca daactividade que estavam desenvolver. Isto teve lugar comoresultado da implantação, implementação e expansão dasáreas de produção de arroz, pela empresa chinesa WambaoAgriculture. Esta empresa, que desde que chegou à área em2012, tem violado sistematicamente os direitos dascomunidades, agindo em violação, não só das leis eregulamentos nacionais, mas também de regulamentosinternacionais, ao usurpar as terras de produção dascomunidades, sua única fonte de rendimento e subsistência.

O preocupante e revoltante nesta situação é o facto detudo estar a acontecer sob o conhecimento e óbvioapadrinhamento, tanto do Governo provincial como do central,pois, apesar de continua e irrevogavelmente informado querpelas vítimas como pela sociedade civil acerca do que temestado a acontecer naquela zona do país, o Governo nadatem feito para salvaguardar os direitos destas famílias, a quemevita mesmo receber por não estar minimamente interessadoem dialogar.

Aliás, esta prática e comportamento do nosso Governotem­se observado um pouco por todo o território nacional,sobretudo em locais onde existem projectos de grandecapital (em grande parte, capital estrangeiro)

Em Gaza, os próprios Chineses têm deixado bastanteclaro aos camponeses (ainda que gesticulando, uma vez quelhes é difícil falar o Português ou o Xitchangana) que jáderam dinheiro aos “Bosses do Governo” para poderem fazero que têm estado a fazer. Isto é, para poderem usar aquelaterra como e para o que bem entendem. Deixando clarotambém, que os que se sentirem lesados deverão expressara sua insatisfação ou procurar esclarecimentos junto aoGoverno Moçambicano, pois eles apenas estão a fazer o quelhes compete e é permitido, com base no acordo edesembolso financeiro por eles já estabelecido e efectuado”.

No âmbito do seu plano de monitoria do projecto emcausa, uma equipa nossa encontra­se no terreno a fazer oacompanhamento directo dos eventos que não só ofendem,marginalizam e empobrecem as famílias afectadas, masacima de tudo retiram sua única fonte de subsistênciacolocando em risco a sua segurança alimentar. Essa equipatem vindo igualmente a realizar encontros com a sociedadecivil local, que conhece melhor do que ninguém esta situaçãoe suas irregularidades, e que é quem narra as tais tentativasaté agora frustradas de obter respostas de algumasinstituições públicas e governamentais acerca do assunto.

Não só com base nas várias denúncias feitas pelasvítimas, mas também no que claramente constatamos noterreno, a Wambao Agriculture, com ou sem a lei do seulado, invadiu e tem diariamente vindo a dizimar as culturasagrícolas dos mais de 500 agricultores, através do uso deescavadoras e tractores, para expandir os 20 mil hectares aeles concedidos pelo Governo de Moçambique. Trata­se deinvasão e consequente bruta usurpação da terra dapopulação. Terra esta, que segundo fontes locais,anteriormente ao projecto havia sido concedida à populaçãopelo estado, ora em resultado de processos deindemnização, ora como compensação a antigos militaresem reconhecimento da sua participação nas guerras delibertação nacional e civil durante o processo dedesmobilização, numa altura em que o governo reconhecera

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a necessidade de ajudar este grupo a produzir para suasubsistência e de suas famílias, uma vez que não teria comolhes dar outra ocupação e ou possibilidade de os enquadrarno sector público.Ainda no terreno, a nossa equipa pôde certificar que a invasãoe destruição de culturas agrícolas nas zonas de Kana Kananos finais de Junho, bem como na zona de Baixa Fome no dia7 de Julho, alegadamente autorizadas pelo administrador,continuam até hoje sem qualquer explicação formal. Aempresa continua a operar, trabalhando inclusivamente nacalada da noite, período em que aproveita para abrir valas queafectam directamente a circulação de pessoas e bens, poissão de tal profundidade e largura que é impossível atravessá­las. O gado fica também frequentemente preso nessas valasao tentar beber água ou atravessar para outros campos embusca de pasto.Posto isto, muitas pessoas ficaram praticamente interditas dechegar a certas zonas, e como tal privadas de alguns bens eserviços e de comunicar com outros, tendo como únicasolução, percorrer longas distâncias para contornarem asituação. O gado, não podendo circular à vontade para outrasáreas de pastagem, tem estado a invadir as poucasmachambas que ainda restaram para se poder alimentar,destruindo desta forma também, essas culturas sobreviventesembora gerando ainda mais conflitos.

É importante referir aqui, que devido a estas acções dosChineses, como são vulgarmente chamados na região, umasenhora agricultora, perdeu a vida no local, tendo apanhadoum enfarte, por não aguentar ver as suas culturas, única fontede subsistência para si e sua família, a serem destruídas.

Como resultado destes eventos e por haver umdescontentamento generalizado por parte da população eagricultores, os mesmos decidiram reunir­se e dirigiram­se namanhã de terça­feira dia 9 de Julho à administração do distritode Xai­Xai, com o objectivo de obter uma satisfação e soluçãodo administrador, exigindo que o mesmo se deslocasse aolocal para, não só observar o que está a acontecer, mas acimade tudo para dar uma explicação a aquela população que hámais de duas décadas usa aquela terra para garantir a suasubsistência. Só nesta zona, estamos a falar de mais de 500pessoas. Há igualmente que referir que no passado dia 4 domês de Julho, o administrador foi chamado a dar umaexplicação ao mesmo grupo de agricultores, pela invasão edestruição de culturas pela empresa na zona de Baixa Fome.Invasão que teve lugar apôs uma autorização doadministrador, mas sem nenhum conhecimento por parte daliderança local (lideres tradicionais), e muito menos dosagricultores, ocupantes e praticantes de agricultura naquela

zona. O administrador, encurralado, limitou­se em pedirdesculpas às vítimas por não as ter informado.Infelizmente, a tentativa das vítimas se reunirem com oadministrador neste dia foi gorada, assim como frustradatambém foi a tentativa da equipe da Justiça Ambiental sereunir com o mesmo. Alegadamente por estar ausente...A única resposta que foi dada aos camponeses, foi quepossivelmente lhes seriam dadas novas terras para a práticade agricultura e algumas sementes. Mas que não haviacomida para eles nos armazéns.Uma vez frustrada a tentativa, no dia seguinte, quarta­feiradia 10 de Julho, os agricultores e camponeses, que eramacima de 100 e na sua maioria mulheres, reuniram­se maisuma vez em busca de respostas em Kana Kana. Procurandoesclarecer a situação, juntaram­se numa das vias de acessoaos campos por onde acreditavam que o administradorpassaria, e em jeito de manifestação e protesto, fizeramautêntica espera defronte das as suas terras, palco dedestruição das suas culturas pela Wambao Agriculture. Asituação era volátil, até catanas havia nas mãos da multidão.Mas não passou nem administrador, nem membro nenhumdo governo em seu lugar. Um técnico do Regadio do BaixoLimpopo foi o único transeunte com quem puderamdesabafar, a quem puderam demonstrar a sua insatisfação,frustração e sentimento de revolta e pedir respostas esoluções. Para além de expressarem os seus sentimentosem relação ao projecto e o modelo de governação do partidoFrelimo, fizeram também exigências, sugestões erecomendações, sem deixar de fora os vários recados aogoverno provincial e ao central. Alguns chegaram mesmo aameaçar não votar ou votar contra o actual governo.Às várias manifestações de insatisfação daquele grupovulnerável de agricultores e camponeses, o técnicorepresentante do Regadio do Baixo Limpopo pouco podedizer, mas depois de acompanhado por alguns membros dogrupo de vítimas ali reunido, aos vários locais disputadosentre a população e a Wambao, o mesmo garantiu que avala aberta que dificulta a comunicação e interdita acirculação não só de pessoas e bens, mas também de gado,seria fechada para a garantir a livre e facilitada circulação damaquinaria da empresa. O representante garantiu ainda quea população de Kana Kana nunca mais veria as máquinasem causa nas suas terras, alegando que tal era de suacompetência, mas que nada podia fazer e ou garantir emrelação à área de Baixa Fome, pois não tinha competênciapara mudar aquilo que já fora decidido pelo administrador,embora tenha garantido que encaminharia as preocupaçõese indignação daquele grupo ao administrador.

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Uma pessoa inteligente resolve um problema,um sábio o previne. "Albert Einstein"

Há que referir que as vitimas exigem também ser compensadas pelas culturas destruídas e que já estavam em fase decolheita, pois aquela actividade é a sua única fonte de rendimento e subsistência e através da qual também garantem asubsistência de suas famílias, incluindo a educação da mesma (o que pode ser feito através de dinheiro ou de ensumos).É importante mencionar também que este projecto, ao qual foram concedidos 20 mil hectares de terra para exploração noRegadio do Baixo Limpopo por um período de 50 anos pelo Governo de Moçambique em 2012, e que conta com uminvestimento de mais de 200 milhões de dólares americanos, é famoso no Xai­Xai por estar a fornecer e vender arroz estragado(podre).O projecto em causa, Wambao Agriculture, encontra­se inserido e faz parte da implementação do Plano Estratégico para oDesenvolvimento Agrário (PEDSA) aprovado em 2011 e que tem como objectivos centrais, alegadamente: o aumento daprodutividade, melhoria de acesso ao mercado, melhoria da gestão dos recursos naturais e o fortalecimento das instituições quetrabalham no sector agrário como um todo.

A Monsanto na União EuropeiaA Monsanto vai deixar ativamente de produzir seusinsumos na União Europeia, exceto nos países aondeexista apoio politico, como Portugal e Espanha.Essa noticia surgiu exatamente depois de que mais de doismilhões de pessoas em todo o mundo se manifestaram nasruas contra a ingerência politica da Monsanto e os danosambientais causados por seus produtos.Leia mais em http://www.mpabrasil.org.br/noticias/monsanto­se­retira­da­europa

Hungria destrói plantações com sementestransgênicas da Monsanto

A Hungria decidiu eliminar as plantações da Monsanto, eforam queimados cerca de 500 hectares das lavouras demilho. A intenção é que o país não tenha nenhum fruto comorigem de material geneticamente modificado.As plantações de milho destruídas estavam espalhadas peloterritório húngaro e haviam sido plantadas recentemente.Assim, o pólen venenoso do milho ainda não estava a pontode ser dispersado no ar, não oferecendo, então, perigo àpopulação.Os húngaros são os primeiros a tomar uma posiçãocontundente na União Europeia em relação ao uso desementes transgênicas.Leia mais em:http://www.cut.org.br/agencia­de­noticias/52171/ hungria ­destroi­plantacoes­com­sementes­transgenicas­da­monsanto

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"Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último riofor poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro."Indios Cree

Jornal o País: Ética Procura­seNo dia 18 do mês de Junho, o Jornal o País publicou, tanto nasua edição online como na impressa, um artigo (I) ou bastantemal intencionado ou bastante mal escrito e referenciado, cujaautoria foi de um senhor chamado Luís Rodrigues. Ora, comoseria de esperar, porque não permitimos nem permitiremosjamais que nos caluniem sem exercermos o direito de nosdefendermos, e embora pudéssemos muito bem tê­lo feitoexercendo imediatamente o nosso consagrado direito deresposta na mesma publicação, decidimos ser maisconsensuais e escrevemos a seguinte carta à redação dojornal, a exigir que se retratassem:“Excelentíssimos Senhores,Em virtude da notícia intitulada “Delimitação de terra reduzconflitos no corredor de Nacala”, publicada por vós no dia 18de Junho de 2013, tanto na vossa edição online como napágina 8 da vossa edição impressa, e cuja autoria é do Sr.Luís Rodrigues, vimos por este meio solicitar que se dignem aretratar­se de forma cabal daquilo que consideramos seremerros graves, fruto de uma falta de profissionalismo abismal.Apesar de não percebermos claramente com que intenção oautor estabelece a ligação entre a delimitação de terra e oProSavana , e de acharmos que uma vez estabelecida essaligação da forma como foi feita o artigo adquire imediatamenteum carácter opinativo, respeitamos a vossa política editorial ea liberdade que vos é consagrada de escreverem o que bementendem, como bem entendem. No entanto, a liberdade deuns, termina onde começa a dos outros, e conforme jáhavíamos mencionado, lamentavelmente o artigo contémlapsos inaceitáveis, e que a nosso ver atentam ao nosso bomnome e tornam esta peça jornalística num excelente exemplode contrainformação.

em Moçambique, ProSavana”. Se a vossa intenção não eraa de insinuar que fazemos parte desse “lote” deorganizações convenientemente não identificadas, nãopercebemos de todo o porquê da utilização da nossaimagem neste artigo, uma vez que este não nos mencionanem reflete ou aborda a nossa posição sobre o ProSavana(que felizmente é clara e de conhecimento público).

1)A fotografia utilizada na peça (e que é do nosso arquivo,apesar de não estar devidamente identificada como exige alei sobre os direitos de autor) está escandalosamente mallegendada. Ao fazer uso dela, o artigo mente descarada ecategoricamente e induz o leitor em erro, como passo entãoa explicar:

2)A fotografia data de Agosto de 2012 e retrata a marcha deapoio à Cúpula dos Povos, não uma manifestação contra oProSavana. Nem a Justiça Ambiental, nem nenhuma outraONG ou movimento (de que tenhamos conhecimento)alguma vez marchou ou se manifestou nas ruasexclusivamente contra o ProSavana. Ou seja, a marcha oumanifestação que a fotografia diz retratar nunca aconteceu.3)O artigo em questão lesa o nosso bom nome, pois,propositada ou inadvertidamente, ao legendar mal e nãocontextualizar a fotografia com o assunto abordado, o textodeixa subentendida a ideia de que a Justiça Ambientalagora já “percebe” a essência do ProSavana. Esta ideia édescaradamente plantada pelo primeiro parágrafo do texto,onde não especificando a que organizações se refere, oautor escreve que “Organizações Não Governamentais queoperam na área de gestão de terra no corredor de Nacalacomeçam a perceber a essência do Programa deCooperação Triangular entre Moçambique, Japão e Brasilpara o Desenvolvimento Agrícola da Savana Tropical em

Posto isto, em nome da boa relação que pretendemoscontinuar a manter convosco, pedimos encarecidamente quenos expliquem o sucedido e exigimos que (abordando os 3pontos a que fazemos menção neste texto) se retratempublicamente em todos os espaços de vossaresponsabilidade em que esta notícia foi publicada.”Escusado será dizer que não obtivemos resposta alguma,mesmo embora tenhamos feito um follow­up e chegadomesmo a contactar telefonicamente o jornal a fim deperceber se faziam tenção de nos responder. Mas um mês emeio depois... nada. Toda e qualquer dúvida que tínhamosem relação à eventual possibilidade de o artigo ter sido umainfeliz conjugação de factos foi dissipada. A intenção ficouclara, resta saber de quem era.Igualmente clara ficou a noção de ética e responsabilidadedeste órgão e daqueles que gerem a sua política editorial.Deixa muito a desejar...(I)http://www.opais.co.mz/index.php/sociedade/45­sociedade/25831­delimitacao­de­terra­reduz­conflitos­no­corredor­de­nacala.html

Barragens, Realocação, e a Ilusão deDesenvolvimentoFoi recentemente publicado nos Estados Unidos da Américaum livro intitulado Dams, Displacement, and the Delusion ofDevelopment: Cahora Bassa and its Legacies inMoçambique, 1965­2007 (Barragens, Realocação, e a Ilusãode Desenvolvimento: Cahora Bassa e os seus legados emMoçambique), cuja autoria é do Professor Allen F. Isaacmane Barbara S. Isaacman. O livro é um testemunho vivo dosimpactos das Megabarragens nas comunidades,biodiversidade e da usurpação em grande escala de terra eágua.Como se não chegassem os impactos da Barragem deCahora Bassa, o Governo de Moçambique planeia construirainda mais barragens no Zambeze, sendo que a edificaçãode Mphanda Nkuwa é dada como praticamente certa.Igualmente certa será também a devastação do Rio, dosseus ecossistemas e das comunidades que tanto dependemdos seus recursos para viver.“A razão de construir outra barragem em Mphanda Nkuwa, é,como outrora, a de obter capital estrangeiro através da vendade energia a nações sedentas de energia como a África doSul e outros países da região. A electrificação ruralpermanece uma prioridade secundária, apesar de apenas7% dos lares moçambicanos terem eletricidade. Nesteaspecto, o Moçambique pós­independência continua a ver,pensar e agir de modo colonial.” – explicam Allen e BarbaraIsaacman na introdução da sua mais recente obra (pg6).