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ESTADO DO MARANHÃO
SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA POLÍCIA MILITAR DO MARANHÃ
DIRETORIA DE ENSINO CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE PRAÇAS
Criado pela Lei Estadual nº 3.602, de 04/12/1974 Tel: (98) 3258.2128/2146 Fax: (98) 3245.1944 – End: BR 135, Km 2,Tirirical
Internet: www.cfappm.ma.gov.br – E-Mail: [email protected]
São Luis 2012
APRESENTAÇÃO
Este trabalho representa um esforço coordenado dos integrantes do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças – CFAP e objetiva fomentar a produção de conhecimento e proporcionar subsídios àqueles interessados em adquirir informações, proporcionando também base teórica que pode ser aprimorada e utilizada em outros cursos que, com certeza, haverão de acontecer. Certamente, os conhecimentos não foram exauridos e também não foi essa a nossa pretensão, e sim deixarmos nossa parcela de contribuição nesse contexto.
Equipe de Coordenação Técnica: Cap QOPM Marcelo José Macedo
de Carvalho, 1º Ten QOPM Marco Aurélio Galvão Rodrigues, 1º Ten QOPM Marcel Algarves Cardoso, 1º Ten QOPM Josinei Ramos Sales, Cb PM 319/93 Ralph Miranda Melo e Sd PM 230/02 Gleidson Humberto Polary Nascimento.
Responsavel pela edição e aprimoramento textual: Ten Cel QOPM Laercio Ozorio Bueno - Cmt CFAP
“Faça de tua vida um marco indelével de tua passagem pela terra, para tal basta que entendas a tua missão e a cumpras com grandiosidade e humanidade” (TC QOPM Ozório).
MENSAGEM DO COMANDANTE
O desenvolvimento e crescimento da sociedade estão associados à larga utilização do conhecimento, proporcionado pela educação. Afinal, é por meio da educação que as pessoas aprendem a ser cidadãos éticos, responsáveis e patriotas, contribuindo para o exercício pleno da Cidadania.
Como Comandante Geral da Corporação, passados cinco meses a frente da Instituição, tenho a responsabilidade e o desafio de melhorar a qualidade e a satisfação do nosso policial militar em bem servir a sociedade, implantando o Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos – CAS, Curso Especial de Formação de Sargentos - CEFS e o Curso Especial de Formação de Cabos – CEFC, na modalidade ensino à distância, que propiciará a capacitação dos nossos policiais militares, como gestores de segurança pública, dentro da sua especialidade de formação, o qual facilitará o cumprimento da missão constitucional da Polícia Militar do Maranhão.
Usando o modelo do EAD, estamos oferecendo uma ferramenta pedagógica e motivacional, visando oportunizar aos policiais, suas promoções subseqüentes ampla, geral e irrestrita, com base na legislação especial vigente.
Portanto, caros alunos, nessa nova jornada de ensino-aprendizagem desenvolvida pela Diretoria de Ensino, desejamos toda sorte, dedicação e empenho, na busca incessante do conhecimento eficaz, e resultados satisfatórios para o desenvolvimento das diversas atribuições que lhes são pertinentes. “Uma mente que se abre a uma nova idéia
jamais voltará a seu tamanho original.” Albert Einstein
Cel QOPM FRANKLIN PACHECO SILVA Comandante Geral da PMMA
PALAVRAS DO COMANDANTE DO CFAP Apropriando-nos das idéias do cientista Claude Henry Gorceix, se
faz nosso compromisso o desafio habilitar nossos praças a resolverem problemas cujas metodologias dependam das teorias contidas em cada curso de formação e aperfeiçoamento, de modo a desenvolver –lhes o espírito inventivo sem o qual haverá esterilidade na prática policial.
Desconhecemos melhor ginástica intelectual que ofertar substrato teórico de qualidade visando instigar aos alunos o raciocínio e habituá-los ao apetite pelas pesquisas. Assim sendo, necessário se faz, sem dúvida, conhecer-se tudo o que produziram os grandes homens em todas as áreas do pensamento, porém muito melhor é saber servir-se do que eles fizeram para induzir ao instruendo à descoberta. Trata-se do espírito inventivo que cada ser humano carrega latente desde a infância e que germina nos bancos de colégios e escolas.
O grande pensador suíço e pai da pedagogia moderna, Jean Piaget, definiu os fundamentos do papel do educador:
“O principal objetivo da educação é criar pessoas que são capazes de fazer novas coisas, não simplesmente de repetir o que outras gerações já fizeram – pessoas que são criativas, inventivas e exploradoras. “
Essa é também a nossa proposta e entendimento sobre o papel fundamental de unidades de ensino e professores no desenvolvimento da criatividade, do suporte teórico e do espírito de pesquisa nos policiais militares.
Estaiados na concepção filosófica “Cum mente et malleo“(com a mente e o martelo), o papel do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças da Polícia Militar do Maranhão vai muito além de ofertar o domínio de técnicas e uso de ferramentas e do simples disponibilizar conhecimento. Buscamos cunhar verdades, valores e saberes multiplicadores, cujo papel primordial é o de desenvolver em nossos alunos, mesmo a distância, a engenhosidade e a capacidade de edificar procedimentos e saberes, tornando-os aptos a questionar, discernir e, por conseqüência, ter domínio intelectual e técnico para solução de problemas e satisfação da população assistida.
Ten Cel QOPM Laércio Ozório Bueno COMANDANTE DO CFAP
MÓDULO 08 : Uso Progressivo da Força
Disciplina Uso Progressivo da Força Carga-Horária 60 h/a Tutores/Instrutores Cap QOPM Marcelo José Machado de Carvalho
Público Alvo Alunos do CEFS
Objetivo Geral
• Orientar os policiais a respeito dos vários fatores de influência da sua utilização ou não, do tipo de força e das possíveis reações do policial em relação às atitudes do suspeito encontradas no dia-a-dia operacional.
Objetivos Específicos
• Conhecer as leis que balizam o seu uso, sejam nacionais ou internacionais, bem como as várias circunstâncias e intensidades disponíveis do uso da força, é uma necessidade.
• Identificar os modelos existentes sobre o uso da força • Conhecer os princípios básicos que norteiam a
atuação policial.
Ementa
• Uso da Força pela Polícia • Modelos de uso progressivo da força • Princípios básicos do uso da força • Uso progressivo da força
Contatos: E -mail e telefone geral do
EAD 2012 (para mensagens
direcionadas à Coordenação do EAD
OBSERVAÇÃO :Para Diretores, Chefes,
Comandantes de Unidades, P/3 e alunos que desejarem informações gerais sobre o
EAD 2012.
E-MAIL [email protected]
TELEFONE (98) 32451944
E-mails específicos para
ALUNOS/TUTORES (para dúvidas perguntas, e
observações ao Tutor)
e-mail e telefone do CEFS SENHA: cefscfappmma
[email protected] Cap Marcelo : 8848-2166
CALENDÁRIO DE ATIVIDADES
Início do Módulo 16/04/2012
Término do Módulo 25/05/2012
Data da Verificação do Aprendizado
A CARGO DO CMT DO CFAP
SUMÁRIO
1. USO DA FORÇA: CONCEITOS E DEFINIÇÕES ………………………
2. USO DA FORÇA E A POLÍCIA …………………………………………..
3. LEGISLAÇÃO SOBRE O USO DA FORÇA …………………………….
3.1 Princípios básicos sobre o uso da força e arma de fogo –
PBUFAF ……………………………………………………………………..
3.2 Legislação Brasieira ………………………………………………….
4. O POLICIAL E O USO DA FORÇA ………………………………………
5. MODELOS DE USO PROGRESSIVO DA FORÇA …………………….
5.1 Descrição dos modelos ……………………………………………...
5.2 Análise comparative dos modelos apresentados …… …………
5.3 Proposta de um modelo básico do uso progressive da força ..
6. PRINCÍPIOS BÁSICOS SOBRE O USO DA FORÇA ………………….
1.1 Uso da força: questões antecedentes ……………………………
1.2 Uso da força: ações indispensáveis ……………..…………… ….
1.3 Níveis de Força Progressiva …………………………………….
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS ……………………………………….
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1. USO DA FORÇA: CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Conheça alguns conceitos básicos:
• FORÇA é toda intervenção compulsória sobre o indivíduo ou
grupos de indivíduos, reduzindo ou eliminando sua capacidade de autodecisão.
• NÍVEL DO USO DA FORÇA é entendido desde a simples
presença policial em uma intervenção até a utilização da arma de fogo, em seu
uso extremo (uso letal).
• ÉTICA é o conjunto de princípios morais ou valores que
governam a conduta de um indivíduo ou de membros de uma mesma
profissão.
• USO PROGRESSIVO DA FORÇA consiste na seleção adequada
de opções de força pelo policial em resposta ao nível de submissão do
indivíduo suspeito ou infrator a ser controlado.
O Estado investe na seleção de um cidadão, dando-lhe formação e
treinamento de forma a outorgar-lhe autoridade e poder para que possa ser
reconhecido como um encarregado de aplicação da lei. A autoridade e o poder
dados a este cidadão e agora policial são muito grandes, e em nome de uma
vida, um policial, no desempenho de suas atividades, poderá até retirar a vida
de outro cidadão.
Nas sociedades mais democráticas, observa-se que a autoridade
dos representantes do poder público está intimamente relacionada às suas
obrigações, evidenciando que o uso da força está cada vez mais subordinado
ao interesse coletivo, servindo até mesmo como medidor de desenvolvimento
social.
Segue abaixo uma série de autores e estudiosos do assunto em
pauta, como fonte de referência bibliográfica:
Toda intervenção compulsória sobre o indivíduo ou grupos de
indivíduos, quando reduz ou elimina sua capacidade de
autodecisão.(BARBOSA & ANGELO 2001, p.107)
Os países outorgam suas organizações de aplicação da lei à
autoridade legal para usarem a força, se necessário, para servirem aos
propósitos legais de aplicação da lei. (ROVER 2000, p. 275)
O Estado intervém, com violência legítima, quando um cidadão usa
a violência para ferir, humilhar, torturar, matar outros cidadãos, de forma a
garantir a tranqüilidade. É a lógica da violência legítima contendo a violência
ilegítima. (SILVA 1994, p. 48).
COMENTÁRIO
Entende-se, assim como Vianna (2000), que o termo utilizado por
Silva (1994), violência legítima não é o mais adequado. Por isso, é importante
você empregar e conhecer o seguinte termo: “uso legítimo da força”. Termo
que melhor atende ao assunto, pois este exige padrões legais e éticos,
enquanto a expressão violência não se coaduna, no mínimo, com padrões
éticos.
Portanto, se a polícia deixar de cumprir tais requisitos, o uso da força
se caracterizará como ilegítimo, sendo então, apontado como violência,
truculência, abuso de poder entre outras formas de desvios de procedimentos
não concebíveis ao policial profissional, integrante de uma organização que
promove a paz social e como tal deve seguir os parâmetros legais.
2. USO DA FORÇA E A POLÍCIA
Parte dos problemas enfrentados hoje com relação ao abuso da
autoridade policial, e sua expressão última que é a brutalidade e a violência
policial resultam da ausência de uma reflexão substantiva sobre o emprego
qualificado e comedido da força. A polícia é justamente um meio de força
comedida, que atua na legalidade e na legitimidade dadas pela conciliação na
prática dos requisitos do consentimento público. Não se pode pensar polícia
que não seja neste intervalo, senão não é polícia, é outra coisa qualquer que
vigia, que bate, que oprime. Trecho de entrevista extraído do site Consciência.
Na sua experiência e na sua vivencia como policial você acredita
que os policiais que estão na ativa têm consciência da importância do legítimo
uso da força? Do contrário, a que você atribuiria o uso indevido da força no
desempenho da função policial?
As organizações policiais brasileiras recebem uma série de meios
legais para capacitar seus integrantes a cumprir seus deveres de aplicação da
lei e preservação da ordem, sempre em busca da paz. Sem estes e outros
poderes, tal como aquele de privar as pessoas de sua liberdade, você não
conseguiria desempenhar a sua missão constitucional em defesa da
sociedade. É bom estar atento às palavras de Vianna (2000), quando afirma
que embora a atividade policial possa ser descrita como uma série de funções,
como, por exemplo, fazer aplicar a lei ou preservar a ordem, ela pode também
ser definida como sendo uma função só, ou seja, responder a qualquer
situação que aconteça no seio da sociedade, em que a força deve ser usada,
de modo a restabelecer uma situação de normalidade temporária.
As organizações policiais brasileiras recebem uma série de meios
legais para capacitar seus integrantes a cumprir seus deveres de aplicação da
lei e preservação da ordem, sempre em busca da paz. Sem estes e outros
poderes, tal como aquele de privar as pessoas de sua liberdade, você não
conseguiria desempenhar a sua missão constitucional em defesa da
sociedade. É bom estar atento às palavras de Vianna (2000), quando afirma
que embora a atividade policial possa ser descrita como uma série de funções,
como, por exemplo, fazer aplicar a lei ou preservar a ordem, ela pode também
ser definida como sendo uma função só, ou seja, responder a qualquer
situação que aconteça no seio da sociedade, em que a força deve ser usada,
de modo a restabelecer uma situação de normalidade temporária.
Você recebe do Estado a autorização para fazer uso da força e
quando age, está fazendo-o em nome dele. Sobre esse pensamento Rover
(2000) lembra que:
Os Estados não negam a sua responsabilidade na proteção do
direito à vida, liberdade e segurança pessoal quando outorgam aos seus
encarregados de aplicação da lei a autoridade legal para a força e arma de
fogo.
O policial tem o dever de aplicar a lei e de reprimir com energia a
sua transgressão em defesa da sociedade. A mesma sociedade da qual ele faz
parte e de onde ele foi escolhido para se juntar à força policial.
A tarefa da polícia é delicada na medida em que se reconhece
como inteiramente legítimo o uso de força, para resolução de conflitos, desde
que esgotadas todas as possibilidades de negociação, persuasão e mediação
(FARIA, 1999).
A polícia existe para servir à sociedade e para proteger os seus
direitos mais fundamentais.
Cerqueira (1994, p. 1), acrescenta essa idéia ao relatar que “O
sistema de justiça criminal, no qual se inclui a polícia, atua fundamentalmente
para garantir os direitos humanos, em sentido estrito, e, portanto, a lógica de
uso da força para conter a violência é perfeitamente compreensível”.
A Força Policial por intermédio da sua atuação existe para
assegurar que os direitos fundamentais dos cidadãos, individual e
coletivamente, sejam protegidos. O direito à vida deve ter a mais alta
prioridade. Rover (2000) afirma que o uso de força, principalmente o uso
intencional e letal de armas de fogo, deve ser limitado em absoluto aos casos
de circunstâncias excepcionais.
Ao atuar dentro desse parâmetro de “proteger e socorrer”, você
está amparado por uma série de legislações, seja no âmbito internacional como
nacional.
3. LEGISLAÇÃO SOBRE O USO DA FORÇA
3.1 Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo – PBUFAF
Esses princípios foram adotados no oitavo Congresso das Nações
Unidas sobre a “Prevenção do Crime e o Tratamento dos Infratores”, realizado
em Havana, Cuba, de 27 de agosto a 7 de setembro de 1990. Também não é
um tratado, porém, objetiva proporcionar normas orientadoras aos Estados
membros na tarefa de assegurar e promover o papel adequado dos policiais,
sendo que neste curso, será tratado somente da Força Policial com relação ao
uso da força.
Os PBUFAF estabelecem que os princípios contidos no documento
devem ser considerados e respeitados pelos governos no contexto da
legislação e da prática nacional, e levados ao conhecimento dos policiais,
assim como de magistrados, promotores, advogados, membros do executivo,
legislativo e do público em geral. O preâmbulo dos PBUFAF reconhece a
importância e complexidade do trabalho dos policiais, além de destacar seu
papel de vital importância na proteção da vida, liberdade e segurança de todas
as pessoas. Acrescenta que ênfase especial deve ser dada à eminência da
manutenção da ordem pública e paz social, bem como da importância das
qualificações, treinamento e conduta dos encarregados da aplicação da lei.
Em suma, o presente instrumento destaca os seguintes pontos:
o Os governos deverão equipar os policiais com vários tipos de armas e
munições, permitindo um uso diferenciado de força e armas de fogo;
o A necessidade de desenvolvimento de armas incapacitantes não-letais
para restringir a aplicação de meios capazes de causar morte ou
ferimentos;
o O uso de armas de fogo com o intuito de atingir fins legítimos de aplicação
da lei deve ser considerado uma medida extrema;
Os policiais não usarão armas de fogo contra indivíduos, exceto em
casos de legítima defesa de outrem contra ameaça iminente de morte ou
ferimento grave, para impedir a perpetração de crime particularmente grave
que envolva séria ameaça à vida, para efetuar a prisão de alguém que resista à
autoridade, ou para impedir a fuga de alguém que represente risco de vida.
Para efetuar o uso da arma de fogo, os policiais deverão identificar-
se como tal, avisar prévia e claramente a sua intenção de usar armas de fogo;
Para o uso indevido da força e armas de fogo, os governos deverão
assegurar que o uso arbitrário ou abusivo da força e armas de fogo pelo
policial, seja punido como delito criminal, de acordo com a legislação;
A responsabilidade de governos, superiores e o próprio policial
quanto ao uso indevido da força.
FIQUE ATENTO A ISTO!
3.2 Legislação Brasileira
São vários os instrumentos nacionais que regulam o uso da força e
arma de fogo pela Força Policial. Veja:
3.2.1 Código Penal
O Código Penal contém justificativas ou causas de exclusão da
antijuridicidade relacionadas no artigo 23, ou seja, estado de necessidade,
legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de
direito, como se vê:
Exclusão de ilicitude
Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato:
I – em estado de necessidade;
II – em legítima defesa;
III – em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular
de direito.
3.2.2 Código de Processo Penal
O Código de Processo Penal contém em seu teor dois artigos que
permitem o emprego de força por policiais no exercício profissional, são eles:
Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a
indispensável no caso de resistência ou tentativa de fuga do preso.(...)
Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança, que
o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador será intimado a
entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for obedecido imediatamente, o
executor convocará duas testemunhas e, sendo dia, entrará à força na casa,
arrombando as portas, se preciso; sendo noite, o executor, depois da intimação
ao morador, se não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa
incomunicável, e logo que amanheça, arrombará as portas e efetuará a prisão.
3.2.3 Código Penal Militar
O Código Penal Militar contém em seu teor, o artigo 42 relacionado
com a polícia, no tocante ao emprego de força, como se vê:
Exclusão de crime
Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato:
I – em estado de necessidade;
II – em legítima defesa;
III – em estrito cumprimento do dever legal;
IV – em exercício regular de direito.
3.2.4 Código de Processo Penal Militar
O Código de Processo Penal Militar contém, em seu teor, artigos
relacionados com o emprego de força na ação policial. Veja estes artigos na
página seguinte.
ARTIGO 231 - CAPTURA EM DOMICÍLIO
Se o executor verificar que o capturando se encontra em alguma
casa, ordenará ao dono dela que o entregue, exibindo-lhe o mandado de
prisão. Parágrafo único. Se o executor não tiver certeza da presença do
capturando na casa poderá proceder a busca, para a qual, entretanto, será
necessária a expedição do respectivo mandado, a menos que o executor seja a
própria autoridade competente para expedi-la.
ARTIGO 232 - CASO DE BUSCA
Se não for atendido, o executor convocará duas testemunhas e
procederá da seguinte forma: sendo dia, entrará à força na casa, arrombando-
lhe a porta, se necessário; sendo noite, fará guardar todas as saídas, tornando
a casa incomunicável, e, logo que amanheça, arrombar-lhe-á a porta e efetuará
a prisão.
ARTIGO 234 - EMPREGO DE FORÇA
O emprego da força só é permitido quando indispensável, no caso
de desobediência, resistência ou tentativa de fuga. Se houver resistência da
parte de terceiros, poderão ser usados os meios necessários para vencê-la ou
para defesa do executor e seus auxiliares, inclusive a prisão do ofensor. De
tudo se lavrará auto subscrito pelo executor e por duas testemunhas.
4. O POLICIAL E O USO DA FORÇA
Ao fazer uso da força, o policial deve ter conhecimento da lei,
deve estar preparado tecnicamente, através da formação e do treinamento,
bem como ter princípios éticos solidificados que possam nortear sua ação. Ao
ultrapassar qualquer desses limites não se esqueça de que você estará
igualando-se às ações de criminosos. Você deixa de fazer o uso legítimo da
força para usar a violência e se tornar um criminoso.
O policial é um cidadão que porta a singular permissão para o uso
da força e das armas, no âmbito da lei, o que lhe confere natural e destacada
autoridade para a construção social ou para sua devastação (Ricardo
Balestreri).
Quando o policial está envolvido na solução de uma ocorrência
policial, se outra medida não restar, o uso devido e legal da força ou das armas
estará submissa às situações de estrito cumprimento do dever legal, estado de
necessidade, ou à legítima defesa própria, de terceiros ou putativa, conforme
ressalta.
O uso legítimo da força não se confunde com truculência. Como
assevera Balestreri: A fronteira entre a força e a violência é delimitada, no
campo formal, pela lei, no campo racional pela necessidade técnica e, no
campo moral, pelo antagonismo que deve reger a metodologia de policiais e
criminosos.
A aplicação da lei não é uma profissão em que se possa utilizar
soluções padronizadas para problemas padronizados que ocorrem em
intervalos regulares. (ROVER 2000, p. 274).
Espera-se que você tenha a compreensão do espírito e a forma
da lei, bem como saiba como resolver as circunstâncias únicas de um
problema particular. Trata-se de uma arte na aplicação de palavras como
negociação, mediação, persuasão e resolução de conflitos. No entanto,
existem situações em que para se obter os objetivos da legítima aplicação da
lei, ou você deixa como está e o objetivo não será atingido, ou você decide
usar a força para alcançá-los.
Seja profissional e decida adequadamente conforme a ocorrência,
partindo sempre de sua conduta legal.
Em algumas ocorrências, o policial tem o dever de fazer o uso da
força para que os objetivos da aplicação da lei sejam alcançados, desde que
não haja outro modo de atingi-los. Um caso típico é quando um cidadão infrator
coloca em risco a vida de pessoas atirando em suas direções. Nessa situação
o policial deve fazer o uso da força para neutralizar a ação do infrator.
Os países não apenas autorizaram seus encarregados da
aplicação da lei a usar a força, mas alguns chegaram a obrigar os
encarregados a usá-la”. (ROVER 2000, p. 275)
As dificuldades que os chefes e dirigentes das Organizações
Policiais enfrentam se referem ao desenvolvimento de atitudes pessoais dos
policiais que demonstrem a incorporação de valores éticos, morais e legais,
fazendo diminuir o comportamento impulsivo, substituído por reações
tecnicamente sustentadas que não colocarão em risco a população atendida, a
imagem pública da organização policial e do próprio policial.
É importante que você faça uma avaliação individualmente
quando houver uma situação em que surja a opção de uso da força. O policial
somente recorrerá ao uso da força, quando todos os outros meios para atingir
um objetivo legítimo tenham falhado, justificando o seu uso.
O policial deve ser moderado no uso da força e arma de fogo e a
agir proporcionalmente à gravidade do delito cometido e o objetivo legítimo a
ser alcançado. Somente será permitido ao policial empregar a quantidade de
força necessária para alcançar um objetivo legítimo. O policial pode chegar à
conclusão de que as implicações negativas do uso da força em uma
determinada situação não são equiparadas à importância do objetivo legítimo a
ser alcançado, recomendando-se, neste caso, que os policiais se abstenham
de prosseguir.
A autoridade legal para empregar a força, incluindo o uso letal de
armas de fogo em situações em que se torna necessário e inevitável para os
propósitos legais da aplicação da lei, ROVER (2000, p. 271) lembra que isso
cria uma situação na qual o policial e membros da comunidade se encontram
em lados opostos o que pode influenciar na qualidade do relacionamento entre
a Força Policial e a comunidade como um todo. No caso de uso da força ilegal
e indevida, este relacionamento será ainda mais prejudicado.
Uso indevido da força
O uso legítimo da força evidencia-se quando o policial aplica os
princípios da legalidade, necessidade, proporcionalidade e ética:
O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE é a observação das normas legais
vigentes no Estado;
O PRINCÍPIO DA NECESSIDADE verifica se o uso da força foi feito
de forma imperiosa;
O PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE é a utilização da força na
medida exigida para o cumprimento de seu dever;
A ética dita os parâmetros morais parara a utilização da força.
O não-atendimento a qualquer desses princípios caracteriza uso
indevido da força pela polícia. Não esqueça disto, policial!
Fica fácil concluir que o uso da força é uma das atividades
desempenhadas pela polícia. Mas, cada policial deve estar cônscio da
importância da sua atividade para as políticas de segurança pública. É
necessário que a Força Policial tenha mecanismos de controle da atuação de
seus integrantes para evitar dissabores quanto ao abuso de poder.
Os PBUFAF relatam que os governos deverão assegurar que o uso
arbitrário ou abusivo da força e armas de fogo pelos policiais seja punido como
delito criminal, de acordo com a legislação internacional e nacional.
O uso arbitrário da força e arma de fogo pelos policiais constitui
violação do direito penal, bem como violações dos direitos humanos, cometidos
por aqueles que são chamados a manter e preservar esses direitos. O abuso
do uso da força pode ser visto como uma violação da dignidade e integridade
humana. Caso aconteçam, as violações prejudicarão o frágil relacionamento
entre a Polícia e toda a comunidade a que serve.
Para restaurar com sucesso a confiança em um relacionamento
abalado, deverá haver um esforço genuíno por parte da Organização Policial.
Sempre que existir uma situação de abuso alegado ou suspeitado, deve haver
uma investigação imediata, imparcial e total, com punição aos policiais
responsáveis.
Necessidade do uso da força
Quando você perceber a necessidade de usar a força para atender o
objetivo legítimo da aplicação da lei e manutenção da ordem pública, responda
a algumas questões importantes que lhe serão como guias.
A primeira é se a aplicação da força é necessária.
Para responder, o policial precisa identificar o objetivo a ser atingido.
A resposta adequada atende aos limites considerados mínimos para que se
torne justa e legal a ação. Caso contrário, o policial cometerá um abuso e
poderá ser responsabilizado.
A segunda refere-se a um questionamento se o nível de força a ser
utilizado é proporcional ao nível de resistência oferecida.
Este questionamento sugere verificar se todas as opções estão
sendo consideradas e se existem outros meios menos danosos para se atingir
o objetivo desejado. Neste momento, verifica-se a proporcionalidade do uso da
força, e caso não haja, estará caracterizado o abuso de poder.
O terceiro e último questionamento verifica se a força a ser
empregada será por motivos sádicos ou maléficos.
Busca-se verificar a boa fé por parte do policial e os seus princípios
éticos. A boa fé demonstra a intenção do policial, embora ele possa errar ao
adotar uma opção equivocada, decorrente de uma análise também equivocada.
Como já foi exposto anteriormente, vale ressaltar as conseqüências
drásticas que a violência policial ilegítima pode acarretar, levando-a a uma
séria desordem pública, a qual a polícia tem, então, que responder, podendo
assim expô-la a situações perigosas e desnecessárias, fazendo com que ela se
torne mais vulnerável aos contra-ataques, conduzindo a uma falta de confiança
na própria polícia por parte da comunidade. E ainda, o policial será
responsabilizado civil e criminalmente pelo uso abusivo da força.
Responsabilidades pelo uso da força
Na rotina da Força Policial, os policiais agem individualmente ou em
pequenos grupos. Para cada intervenção policial existe o potencial de se fazer
necessário o exercício de sua autoridade e poderes. Procedimentos adequados
de supervisão e revisão servem para garantir a existência de um equilíbrio
apropriado entre o poder discricionário exercido individualmente pelos policiais
e a necessária responsabilidade legal e política das Organizações Policiais
como um todo (ROVER 2000, p. 272).
A responsabilidade cabe tanto aos policiais envolvidos em um
incidente particular com o uso da força e armas de fogo, como a seus
superiores. Os chefes têm o dever de zelo, o que não retira a responsabilidade
individual dos encarregados por suas ações. (ROVER, 2000, p. 286).
É importante a compreensão de que o reconhecimento, pelo Estado,
de sua responsabilidade, apontando o erro de seu representante, não implica
postura subalterna ou desvalorização do agente da polícia( BARBOSA &
ANGELO (2001). Mas sim, assume a mais nobre das suas funções, que é a
proteção da pessoa, célula essencial de sua existência abstrata, além de
cumprir importante papel exemplificador, fator de transformação e solidificação.
5. MODELOS DE USO PROGRESSIVO DA FORÇA
O que é um modelo?
Um modelo é um esquema que contém linhas gerais sobre
determinado assunto, sobre determinadas ações, sobre determinados
procedimentos e, que pode quando utilizado, orientar a execução de algo.
Os modelos de uso progressivo da força surgiram para orientar o
policial sobre a ação a ser tomada a partir das reações da pessoa flagrada
cometendo um delito, ou até mesmo em atitude suspeita quando questionada.
Alguns países e estudiosos sobre o assunto criaram diversos
modelos que explicam e exemplificam a escala de gradação necessária à
utilização da força. Estudá-los será sua tarefa nesta aula.
PROPOSTAS DE MODELOS DE USO PROGRESSIVO DA FORÇA
Cada modelo criado possui um nome que geralmente está
associado ao nome do autor que o apresentou ou à sua origem, como se vê a
seguir:
Modelo FLETC: Aplicado pelo Centro de Treinamento da Polícia
Federal de Glynco (Federal Law Enforcement Training Center), Georgia,
Estados Unidos da América (EUA).
Modelo GILIESPIE: Apresentado no livro Police – Use of force – A
Line Officer’s Guide”,1998.
Modelo REMSBERG: Apresentado no livro: The Tactical Edge –
Surviving High – Risk Patrol” – 1999.
Modelo CANADENSE: Utilizado pela Polícia Canadense.
Modelo NASHVILLE: Utilizado pela Polícia Metropolitana de
Nashville, EUA.
Modelo PHOENIX: Utilizado pelo Departamento de Polícia de
Phoenix, EUA.
5.1 Descrição dos modelos
MODELO FLETC
É um modelo gráfico em degraus com cinco camadas e três painéis.
Em um dos painéis está a percepção do policial em relação à atitude do
suspeito. Em outro painel, a percepção de risco para o policial, simbolizado por
números em algarismos romanos e cores, que também correspondem às
camadas. No terceiro painel, encontramos as respostas (reação) de força
possíveis em relação à atitude dos suspeitos e percepção de riscos.
As setas duplas descrevem o processo de avaliação e seleção de
alternativas. De acordo com a atitude do suspeito e percepção de risco, haverá
uma reação do policial, na respectiva camada.
Os níveis são crescentes de baixo para cima.
Comentário
O autor não considera a “presença policial” como um nível de força,
vinculando o primeiro nível com comandos verbais.Trata-se de um modelo de
fácil adaptação a todas as organizações policiais e pode ser utilizado
perfeitamente pela policia.
Veja a figura 1 que mostra o modelo FLETC.
Modelo FLETC
Figura 1 - Modelo "FLETC de uso progressivo da força. Fonte - GRAVES & CONNOR (1994, p.8); BARBOSA & ANGELO
(2001, p.126)
MODELO GILLESPIE
É um modelo gráfico em forma de tabela, com cinco colunas
graduadas por cor e seis linhas básicas, divididas em comportamento do
agente e ação-resposta do policial. A atitude do suspeito é dividida em quatro
colunas que estão subdivididas respectivamente em situações diferentes sobre
a percepção do policial em relação a ele. Para a progressão de força, possui
cinco níveis, com subdivisões crescentes de respostas pelo policial, que
interagem entre si. O modelo correlaciona a atitude do suspeito com a
avaliação de risco, condição mental do policial e resposta de força a ser
utilizada.
COMENTÁRIO: Para o autor, a verbalização é uma graduação de
força que se interage com outros níveis. Inicia-se no segundo nível de força e
prossegue até o penúltimo, antes de se usar a força letal. É um modelo
complexo, porém bem completo em suas opções de ação e reação. O policial
que compreende a sua dinâmica está apto a fazer o uso correto da força. Pode
ser adaptado para uso na Polícia Brasileira, com o devido treinamento, dada a
sua complexidade.
MODELO REMSBERG
Este modelo é concebido em forma de degraus em elevação. Os
degraus mais baixos simbolizam os níveis de força mais baixos e os mais altos,
os níveis de força mais altos. O modelo não faz correlações do nível de força
com a ação do suspeito ou percepção de risco por parte do policial, embora o
autor observe este fato na sua teoria explicativa. São cinco níveis de força e
cada um é subdividido em sub-níveis que também estão em ordem crescente
de baixo para cima. Para utilizar esse modelo, o policial utiliza o degrau
correspondente ao nível de força de resposta que julgar melhor para a situação
vivida. Em caso de mudanças de situação, deve-se subir ou descer os níveis.
COMENTÁRIO: É muito simples e de fácil assimilação pelos
policiais. No entanto, não é um modelo completo.
Faz apenas o escalonamento do uso da força.
Modelo REMSBERG
ARMA DE FOGO
� ATIRAR
� APONTAR
� SACAR
� MÃO NA ARMA
� COMANDO VERBAL
INSTRUMENTO DE IMPACTO
� USAR O BASTÃO
� AMEAÇA COM BASTÃO
� MOSTRAR O BASTÃO
� APRESENTAR O BASTÃO
� MÃO NO BASTÃO
� AVISO VERBAL
MÃOS LIVRES
� CHAVE DE PESCOÇO
� MEDIDAS DE CONTENÇÃO ATIVA
� MEDIDAS DE CONTENÇÃO PASSIVA
� PONTO DE PRESSÃO
� PEGADA CONDUÇÃO
VERBALIZAÇÃO
� AVISO
� ACONSELHAMENTO
� PERSUASÃO
� ENTREVISTA
PRESENÇA
� POSTURA DEFENSIVA
� POSTURA ALERTA
� POSTURA ABERTA
Figura 2 - Modelo "REMBERG" de uso progressivo da força.
Fonte - REMSBERG (1999, p.433)
MODELO CANADENSE
É composto por círculos sobrepostos e subdivididos em níveis
diferentes. O círculo interno corresponde ao comportamento do suspeito e o
círculo externo à ação de resposta do policial.
No círculo interno, existem cinco subdivisões, para cada situação de
ação do suspeito. É utilizada uma graduação de tonalidades que vai da cor
branca para a ação de menor ameaça do suspeito, até a cor preta, para a ação
de maior ameaça. O círculo externo corresponde à ação de resposta do
policial que está graduada em sete níveis diferentes. Cada nível interage com o
outro através da mudança de cores. A mudança não é estanque, ou seja, onde
termina um nível de força, outros ainda estão disponíveis. São usadas sete
cores para cada uma das graduações de força.
COMENTÁRIO: É um modelo muito prático, de fácil entendimento e
memorização por parte do policial. Pode ser facilmente adaptado pela Polícia
Brasileira.
Modelo CANADENSE
Figura 3 - Modelo "CANADENSE" de uso progressivo da força.
Figura 4 – Modelo “NASHVILLE” de uso progressivo da força.
Fonte - Metropolitan Nashville Police (1996)
MODELO PHOENIX
É o mais simples dos modelos estudados. Foi elaborado no
formato de tabela, com duas colunas.
A primeira coluna corresponde à ação do policial e a segunda
coluna à atitude do suspeito. O modelo divide os níveis de força e atitude dos
suspeitos em sete graduações diferentes. O primeiro nível é a ausência de
força e a ausência de resistência pelo suspeito.
COMENTÁRIO: É de fácil assimilação por parte dos policiais e pode
ser adaptado por qualquer organização policial.
Figura 6 - Modelo "PHOENIX" de uso progressivo da força.
Fonte - Phoenix Department Police (1996)
5.2 Análise comparativa dos modelos apresentados
Em essência, os modelos estudados são semelhantes entre si. Eles
relacionam o uso progressivo da força pela polícia à atitude demonstrada pelo
suspeito.
Veja o quadro comparativo dos modelos apresentados (Anexo 2).
Alguns como os modelos “FLETC”, “GILIESPIE”, colocam
umaavaliação de risco como parte integrante do gráfico e outros não. Dos
modelos estudados, três são interessantes para serem utilizados pela Polícia
Brasileira, por terem um conteúdo mais completo e reproduzirem bem a
realidade operacional da polícia: modelos “FLETC”, “GILIESPIE” e
“CANADENSE”.
Considera-se, porém, o modelo “CANADENSE”, o mais indicado, por
apresentar facilidade de aprendizagem e riqueza de conteúdo de forma gráfica.
A adoção de um modelo pela Polícia é perfeitamente viável. Servirá
para orientar os policiais em seu dia-a-dia operacional, dando-lhes um
parâmetro mais perceptivo sobre quando, onde, como e porque fazer o uso da
força. Além do mais, uma vez utilizada a força, fornece um bom fundamento
para a avaliação e acompanhamento do processo por parte da organização
policial, facilitando o planejamento, treinamento, supervisão e a revisão sobre o
assunto. A divulgação ampla do modelo escolhido é o segredo para o sucesso
de seu emprego. Na prática, o uso de um modelo é realizado através da
distribuição de cartões plastificados para policiais, através de cartazes
colocados em locais de reuniões, em salas de aula, durante o treinamento de
abordagens, estudos de casos, dentre outros.
5.3 Proposta de um modelo básico do uso progressivo da força
Sabendo que um “modelo de uso da força” é um recurso visual,
destinado a auxiliar na conceituação, planejamento, treinamento e na
comunicação dos critérios sobre o uso da força utilizado pelos policiais, deve-
se seguir um modelo básico:
Figura 6 - Modelo básico do uso progressivo da força
O modelo apresentado é um gráfico em forma de trapézio com
degraus em seis níveis, representados por cores. De um lado (esquerdo) há a
percepção do policial em relação a atitude do suspeito. Do outro lado (direito)
as respostas (reação) de forças possíveis em relação à atitude do suspeito. A
seta, que é dupla, descreve o processo de avaliação e seleção de alternativas.
De acordo com a atitude do suspeito, haverá uma reação do policial, na
respectiva camada. Os níveis são crescentes de baixo para cima. Relembrando
que o uso efetivo da força depende da compreensão sobre as relações de
causa e efeito entre o policial e o suspeito, gerando uma avaliação prática e
conseqüente resposta.
Observando as ações do suspeito dentro de um contexto de
confrontação, o policial escolhe o nível mais adequado de força a ser usado, ou
não. Na prática, sua resposta como policial será orientada pelo procedimento
do suspeito. Ele decide o que quer de você, e, com suas próprias ações ou
pelo modo como se comporta, esse suspeito justificará a utilização de certo
nível de força pela polícia. Você deve empregar apenas a força necessária
para controlá-lo.
Da base para o topo, cada nível representa um aumento na
intensidade de força. Isto é, a escala se move daquelas opções que são mais
reversíveis para aquelas que são menos reversíveis; daquelas que oferecem
menor certeza de controle, para aquelas que oferecem maior certeza. Assim,
quanto mais você sobe na escala de nível, maior será a necessidade de se
justificar posteriormente. Uma vez que existam resistências e agressões em
variadas formas e graus de intensidade, o policial terá que adequar sua reação
à intensidade da agressão, estabelecendo formas de comandar e direcionar o
suspeito provendo seu controle. Em contato com um suspeito que está
atentando contra sua vida, é claro que você não terá que progredir nível por
nível sua escala de força até você alcançar alguma forma de fazê-lo parar. O
ideal é que você fale antes e use a força somente se sua habilidade de
negociar falhar. Existem, entretanto, circunstâncias em que você poderá dizer
nada além de “Pare!”.
Você pode mentalmente percorrer toda a escala de força em menos
de um segundo e escolher a resposta que lhe parecer mais adequada ao tipo
de ameaça que enfrenta. Se sua manobra falha ou as circunstâncias mudam,
você pode aumentar seu poder, ampliando o nível de força de um modo
consciente, ao invés de agir com raiva ou medo. Essa avaliação entre as
opções para a abordagem ajuda você a manter seu equilíbrio tático.
CONCLUSÃO
Não se pode falar em melhor modelo e nem em único modelo. Cada
modelo apresentado foi criado para representar como cada estudioso, ou
determinada polícia, observa e orienta a gradação do uso da força. Neste
módulo você teve a oportunidade de analisá-los. No próxima, seu estudo terá
como foco os princípios básicos do uso da força.
6. PRINCÍPIOS BÁSICOS SOBRE O USO DA FORÇA
Aspectos gerais
Apesar de não ser um tratado, os Princípios sobre o Uso da Força
e Armas de Fogo têm como objetivo proporcionar normas orientadoras aos
Estados-membros, sendo o Brasil um deles, na tarefa de assegurar e promover
o papel adequado dos policiais na aplicação da lei. Não resta a menor dúvida
quanto à importância e complexidade do trabalho dos policiais, onde destaca-
se seu papel de vital importância na proteção da vida, liberdade e segurança
de todas as pessoas. Acrescenta-se que ênfase especial deve ser dada à
qualificação, treinamento e conduta destes policiais, tendo em vista seu contato
direto com a sociedade quando das suas intervenções operacionais. As
organizações policiais recebem uma série de meios legais que as capacitam a
cumprir seus deveres de aplicação da lei e preservação da ordem. Sem este e
outros poderes, tal como aquele de privar as pessoas de sua liberdade, não
seria possível à polícia desempenhar sua missão constitucional.
As organizações policiais devem equipar seus integrantes com
vários tipos de armas e munições, permitindo um uso diferenciado da força,
procurando ainda disponibilizar armas incapacitantes não- letais e
equipamentos de autodefesa que possam diminuir a necessidade do uso de
armas de fogo de qualquer espécie.
6.1 Uso da força: questões antecedentes
Antes de prosseguir, pare e reflita: quais os questionamentos que
um policial deve fazer a si mesmo antes de fazer o uso da força? Antes de
fazer o uso da força em uma intervenção policial, responda aos seguintes
questionamentos:
1. O emprego da força é legal?
Neste primeiro questionamento o policial deve buscar amparar
legalmente sua ação, devendo ter conhecimento da lei e estar preparado
tecnicamente, através da sua formação e do treinamento recebidos. Cabe
ressaltar que vários são os casos em que ocorrem ações legítimas decorrentes
de atos ilegais. Como exemplo, podemos citar o caso do policial que durante
uma abordagem, tenta conseguir uma “confissão” do suspeito, à força, e em
virtude disto, este policial é desacatado. A prisão por desacato é uma ação
legítima, contudo, ela ocorreu em virtude de um ato ilegal, portanto o uso da
força pela polícia é questionável posto que ela própria provocou a situação.
2. A aplicação da força é necessária?
Para responder, o policial precisa identificar o objetivo a ser atingido.
Se a ação atende aos limites considerados mínimos para que se torne justa e
legal sua intervenção. Este questionamento, ainda, sugere verificar se todas as
opções estão sendo consideradas e se existem outros meios menos danosos
para se atingir o objetivo desejado.
3. O nível de força a ser utilizado é proporcional ao nível de resistência
oferecida?
Está se verificando a proporcionalidade do uso da força, e caso não
haja, estará caracterizado o abuso de poder. Como exemplo podemos citar a
ilegitimidade da ação quando o policial não sabe a hora de parar, ou seja, o
suspeito já se encontra dominado e ainda assim é submetido ao uso da força
que naquele momento passará a ser considerada desproporcional.
4. O uso da força é conveniente?
O aspecto referente à conveniência do uso da força diz respeito ao
momento e ao local da intervenção policial. Por exemplo, não seria conveniente
reagir a uma agressão por arma de fogo, se você estivesse em um local de
grande movimentação de pessoas, tendo em vista o risco que sua reação
ocasionaria naquela circunstância, ainda que fosse legal, proporcional e
necessário.
Princípios essenciais para o uso da força:
� Legalidade
� Necessidade
� Proporcionalidade
� Conveniência
Conforme previsto nos “Princípios Básicos para o Uso da Força e
Armas de Fogo”, o policial NÃO deve USAR arma de fogo, exceto: Em caso de
legítima defesa ou defesa de outra pessoa em situações de ameaça iminente
de morte ou ferimento grave; Para impedir que se cometa crime
particularmente grave que envolva séria ameaça à vida; Efetuar prisão ou
impedir a fuga de alguém que represente tal risco e resista à autoridade. Os
casos citados anteriormente dizem respeito à utilização das armas de fogo por
policiais, contudo, sem dispará-las com fins letais (sacar, apontar disparos de
proteção, fixação pelo fogo para evacuação).
Para fazer o uso da arma de fogo você deverá:
Identificar-se como policial
E
Avisar prévia e claramente sua intenção de usar armas de fogo, com tempo
suficiente para que o aviso seja levado em consideração.
A NÃO SER QUE
Tal procedimento represente risco indevido para os policiais ou acarrete risco
de dano grave ou morte para terceiros.
OU
Seja totalmente inadequado ou inútil, dadas as circunstâncias da ocorrência.
6.2 Uso da força: ações indispensáveis
Ao utilizar sua arma de fogo durante uma intervenção operacional o
policial deve lembrar-se de: Verificar se as características técnicas de alcance
do armamento e munições utilizados enquadram-se nos padrões adequados à
situação real em que o tiro está sendo realizado. Identificar-se como POLÍCIA
de forma clara e inequívoca, advertindo o agressor sobre sua intenção de
disparar, usando o comando verbal:
POLÍCIA! - Solte sua arma! - Se reagir, vou disparar!”
É preciso ainda considerar o tempo necessário ao acatamento do
comando de forma que seja dada ao agressor a oportunidade de desistir do
seu intento criminoso e render-se. providências citadas na página anterior são
obrigatórias, desde que, devido às circunstâncias reais do caso, não afetem a
segurança imediata dos policiais ou de outros envolvidos. O policial insiste na
ordem de forma firme e imperativa buscando estar sempre protegido e
mantendo o controle visual sobre o agressor. Não disparar sua arma de fogo
quando o cidadão infrator (agressor) simplesmente desacatou a polícia, ou
retruca, ou pondera a ordem, ou ainda, quando este tentar empreender fuga.
Prestar imediato socorro médico à pessoa ferida. Procurar minimizar os efeitos
lesivos dos disparos.
Informar a família e as instituições encarregadas de tutelar os
Direitos Humanos sobre o estado de saúde da pessoa ferida e onde ela será
socorrida. A transparência na ação policial consolida a credibilidade e
legitimação quando se torna necessário o emprego da força. Relatar
detalhadamente o fato ocorrido registrando as providências adotadas antes e
após o uso da arma de fogo, mencionando a quantidade de disparos, as armas
que atiraram e seus detentores.
COMENTÁRIO
Assistência psicológica e jurídica
Os dirigentes nos diversos níveis e a instituição policial de forma
geral deverão empenhar-se em prestar assistência psicológica e jurídica aos
servidores que tenham se envolvido em uso letal de arma de fogo. O policial
não pode vulgarizar os disparos de arma durante o serviço operacional
invertendo a premissa de que somente deve atirar como último recurso. De
igual maneira ele deverá contar com o amparo institucional, dando-lhe
segurança e confiabilidade para que não se intimide diante do confronto
operacional sempre que agir dentro dos parâmetros profissionais preconizados.
Treinamento prático
O treinamento deve guardar semelhança com as situações
vivenciadas na atividade de proteção da sociedade e ser mais prático do que
estático, devendo ainda ser contínuo e meticuloso, colocando os policiais aptos
ao desempenho de suas funções. As técnicas e táticas vivenciadas no
treinamento são os instrumentos que você tem para utilizar e fazer a diferença
para tornar o confronto desigual a seu favor, ajudando-o a solucionar os mais
diversos tipos de intervenções policiais. Assim, você deve dominar técnicas
que lhe proporcionem o máximo de controle, com o mínimo de esforço e dentro
de uma estrutura tática e legal que se ajustem (taticamente aplicável e
legalmente aceita).
COMENTÁRIO
Questões éticas
É importante salientar as questões de natureza ética, que,
juntamente com os princípios dos direitos humanos, devem ser parte
importante no treinamento, sendo que esta qualificação deve preparar os
policiais também para o uso de alternativas de força, incluindo a solução
pacífica de conflitos, compreensão do comportamento de multidões e métodos
de persuasão, que podem reduzir consideravelmente a possibilidade de
confronto.
Utilização de arma de fogo
Sobre a utilização de arma de fogo, os policiais precisam estar
devidamente treinados para tal mister, devendo ainda, estarem orientados sob
o ponto de vista emocional acerca do estresse que envolve situações dessa
natureza. O treinamento deve conter ainda aspectos relacionados aos fatos
ocorridos no cotidiano policial, aspectos estes que servem como exemplos
quando da realização dessa atividade, facilitando o trabalho dos policiais em
novas intervenções de natureza semelhante.
COMENTÁRIO
Uso arbitrário da força: violações
O uso arbitrário da força pelos policiais constitui violações do direito
penal. Também constituem violações dos direitos humanos, cometidas
justamente pelos policiais que são os responsáveis por manter e preservar
esses mesmos direitos. O abuso da força pode ser visto como uma violação da
dignidade e integridade humana tanto dos policiais envolvidos como dos
próprios suspeitos ou infratores (alvos da intervenção), que agora passam a
assumir a condição de vítimas. No entanto, não importa como as violações
sejam vistas, elas prejudicarão de fato o sensível relacionamento entre a
organização policial e toda a comunidade a que estiver servindo, sendo
capazes de causar ferimentos" que levarão muito tempo para “cicatrizar”. É por
todas as razões expostas acima que o abuso não pode e não deve ser
tolerado.
Indevido uso da força: responsabilidades
Cabe deixar bem claro que em um incidente particular com o uso
indevido da força, a responsabilidade recairá tanto sobre os policiais envolvidos
quanto sobre seus superiores, pois, os chefes têm o dever de zelar pela boa
atuação dos policiais sob seu comando, sem que isso retire a responsabilidade
individual de cada policial por suas ações.
Deverão ser responsabilizados aqueles policiais que tendo o
conhecimento de que outros, sob o seu comando, estão ou tenham estado,
recorrendo ao uso ilegítimo de força e também aqueles que não tenham
tomado todas as providências a seu alcance a fim de impedir, reprimir ou
comunicar tal abuso.
Não serão responsabilizados, no entanto, aqueles que se recusarem
a cumprir uma ordem ilegal para usar força ou armas de fogo ou comunicarem
tal uso ilegal realizado por outros policiais.
Obediência a ordens superiores não será nenhuma justificativa
quando os policiais souberem que o uso da força era ilegal e tiverem
oportunidade razoável para se recusarem a cumpri-la: Nessas situações, a
responsabilidade caberá também ao superior que tenha dado as ordens ilegais.
Justifica-se a conclusão de que o uso da arma de fogo seja visto como o último
recurso. Os riscos no uso da arma de fogo em termos de danos, ferimentos
(graves) ou morte, assim como de não apresentar nenhuma opção real após
seu uso, transformam-na na última barreira na avaliação dos Disparos de
Armas de Fogo como Resposta aos Infratores Faz-se necessário distinguir
claramente, sob o enfoque prático, as diferenças existentes entre os disparos
de armas de fogo efetuados pelos policiais em resposta aos tiros contra eles
realizados pelos infratores.
CONCLUSÃO
As implicações do uso (letal) de armas de fogo podem ser, é claro,
limitadas nos termos legais. No entanto, é bom que as conseqüências pessoais
para os policiais envolvidos sejam destacadas. Embora existam regras gerais
de como os seres humanos reagem a acontecimentos estressantes, a reação
específica de cada pessoa depende, em primeiro lugar, da própria pessoa,
sendo após, ditada pelas circunstâncias particulares e únicas do
acontecimento. O fato de que haja aconselhamento psicológico disponível ao
policial quando do acontecimento não elimina a profunda experiência
emocional que este policial sofre em conseqüência dos disparos de armas de
fogo por ele realizado, mas deve ser visto como a aceitação da gravidade do
incidente. É preciso evitar a vulgarização operacional de ações desta natureza.
Nos casos de morte, ferimento grave ou conseqüências sérias, um
relatório pormenorizado deve ser prontamente enviado às autoridades
competentes, responsáveis pelo controle e avaliação administrativa e judicial.
O abuso não deve ser tolerado. A atenção deve estar voltada para a
prevenção destes atos, mediante formação e treinamento regular apropriado e
procedimentos de avaliação e supervisão adequados. Sempre que existir uma
situação de abuso legado ou suspeitado, deve haver uma investigação
imediata, imparcial e total. Os responsáveis devem ser punidos. As vítimas
devem receber atenção adequada de acordo com suas necessidades especiais
durante toda a investigação. Para que se possa restaurar com sucesso a
confiança da sociedade pelo relacionamento abalado, deverá haver um esforço
genuíno por parte da organização policial.
O USO PROGRESSIVO DA FORÇA
Espera-se que o encarregado de aplicação da lei tenha a
capacidade de distinguir entre inúmeras tonalidades de cinza, em vez de
apenas fazer a distinção entre o preto e branco, certo ou errado.
Ao policial exige-se que tenha um alto grau de profissionalismo,
inteligência e percepção. Diante de uma intervenção, poderá ser exigido a ele
que trate com cortesia, dignidade e respeito humano todas as pessoas, e,
paradoxalmente, ser-lhe exigida precisão ao efetuar um disparo letal de arma
de fogo para proteger a vida de um cidadão. Este módulo oferece as condições
necessárias para que você possa discutir sobre este assunto:
Uso progressivo da força
Ao trabalhar na rua, o policial necessita trazer consigo um leque de
respostas variadas para situações de enfrentamento. Ter apenas uma ou duas
respostas não será suficiente para enfrentar uma agressão.
Uma vez que existam resistências e agressões em variadas formas
e graus de intensidade, o policial terá que adequar sua reação à intensidade da
agressão, estabelecendo formas de comandar e direcionar o suspeito provendo
seu controle. (MOREIRA, 2001).
ROVER (2000) afirma que: “Os governos deverão equipar os EAL
com uma série de meios que permitam uma abordagem diferenciada ao uso da
força e armas de fogo”.
LEMBRE-SE
O uso legítimo da força pressupõe, como já foi dito, além dos
princípios éticos, que seja baseado na legalidade, necessidade e
proporcionalidade.
Cada encontro entre o policial e o cidadão deve fluir em uma
seqüência lógica e legal de causa e efeito, baseada na percepção do risco por
parte do policial e na avaliação da atitude daquele que é o suspeito. Este fluxo
deve ser uma constante, como um medidor de suas ações: aumento ou
intervenção, assim como de diminuição ou não-intervenção durante um
confronto. Esta seqüência é chamada de uso progressivo da força.
O uso progressivo da força é a seleção adequada de opções de
força pelo policial em resposta ao nível de submissão do indivíduo suspeito ou
infrator a ser controlado. O uso progressivo da força pode também ser definido
como uma ferramenta para ajudar na determinação de que técnicas ou nível de
força é apropriado para as várias situações que possam surgir. É uma lista de
técnicas que possuem uma graduação que vai das mais “fracas” ou menos
violentas até as mais “fortes” ou mais extremas, como a força letal. WILLIAMS
(2001)
A aplicação progressiva da força compreende três elementos
principais de ação:
Instrumentos, táticas e uso do tempo (GRAVES & CONNOR (1994,
p.3): Os instrumentos incluem os tópicos disponíveis no currículo dos
programas de treinamento da organização policial tais como as armas e
equipamentos disponíveis, os procedimentos, perspectivas comportamentais,
dentre outros;
As táticas incorporam os instrumentos às estratégias consideradas
necessárias e viáveis no contexto da iniciativa de repressão; e
O tempo é demonstrado pela presteza da resposta do policial às
ações do indivíduo, medida em termos da instantaneidade e da necessidade.
A ênfase do confronto situa-se nas “ações” do indivíduo suspeito ou
infrator.
A resposta do policial será:
Preventiva, baseada em sua experiência;
Ativa, dentro dos limites da segurança e eficácia; e
Reativa para prevenir ações agressivas por parte do transgressor.
Sempre que o policial faz uma intervenção com o uso da força,
principalmente em seu uso extremo que é o uso letal de armas de fogo, deve
ter uma prioridade em termos de segurança: em primeiro lugar a segurança do
público; em segundo lugar a segurança do policial; e em terceiro lugar a
segurança do indivíduo suspeito ou infrator.
Segundo VIANNA (2000), “A ordem de prioridades deve pressupor
que a polícia, pela sua própria condição, deve aceitar alguns riscos e estar
certa de que o público em geral não será exposto ao perigo e que o emprego
de armas e métodos serão previamente avaliados para cada caso”.
A polícia está em segundo plano em relação à segurança do público
visto que é paga e treinada para enfrentar o perigo.
O uso progressivo da força consiste na avaliação de três situações
diferentes:
o Percepção do policial em relação ao indivíduo suspeito;
o Alternativas do uso da força legal; e
o Resposta do policial.
O policial decide a respeito da utilização de força em relação à
perspectiva de sua percepção do indivíduo suspeito, dentro de circunstâncias
que são tensas, incertas e rapidamente envolventes.
6.3 Níveis de força progressiva
O ponto central na teoria do uso progressivo da força é a divisão da
força em níveis diferentes, de forma gradual e progressiva. O nível de força a
ser utilizado é o que se adequar melhor às circunstâncias dos riscos
encontrados, bem como a ação dos indivíduos suspeitos ou infratores durante
um confronto.
Os níveis de força apresentam cinco alternativas adequadas do uso
da força legal como formas de controle a serem utilizadas pelos policiais, como
se vê a seguir:
NÍVEL 1
- Presença física
NÍVEL 2
- Verbalização
NÍVEL 3
- Controles de contato ou controle de mãos livres
NÍVEL 4
- Técnicas de submissão (Controle físico)
NÍVEL 5
- Táticas defensivas não-letais
Veja em que consiste cada um dos níveis.
NÍVEL 1 – PRESENÇA FÍSICA
A mera presença do policial uniformizado, muitas vezes, será o
bastante para conter um crime ou contravenção ou ainda para prevenir um
futuro crime em algumas situações. Sem dizer uma palavra, um policial alerta
pode deter um criminoso passivo, usando apenas gestos. Isso pode ocorrer,
por exemplo, quando um policial se aproxima de uma “briga” em um show
barulhento, em que não se consegue ouvi-lo e os envolvidos cessam suas
atitudes. Pois, a presença do policial é entendida legitimamente como a
presença da autoridade do Estado.
NÍVEL 2 – VERBALIZAÇÃO
Baseia-se na ampla variedade de habilidades de comunicação por
parte do policial, capitalizando a aceitação geral que a população tem da
autoridade. É utilizada em conjunto com a “presença física” do policial e pode
usualmente alcançar os resultados desejados. As palavras podem ser
sussurradas, utilizadas normalmente ou gritadas dependendo da atitude do
suspeito.
O conteúdo da mensagem é muito importante. A escolha correta das
palavras, bem como a intensidade a serem empregadas, traduz com precisão a
eficácia da investida policial.
Assegurado desta postura, o policial terá mais chances de alcançar
o seu objetivo. Por outro lado, há que se tomar cuidado em situações mais
sérias, onde deve se evitar comandos longos, ou seja, deve se usar comandos
curtos.
Este nível de força pode e deve ser utilizado em conjunto com
qualquer outro nível de força, sempre que possível.
O treinamento e a experiência melhoram a capacidade do policial
para verbalizar. As palavras-chaves na aplicação da lei serão negociação,
mediação, persuasão e resolução de conflitos. A comunicação é o caminho
preferível para se alcançar os objetivos de uma aplicação da lei legítima
(ROVER).
COMENTÁRIO:
A verbalização é vista como um recurso positivo em meio a uma
intervenção policial, porém, nesta unidade, serão apontadas, não apenas as
vantagens de se adotar a boa comunicação como aliada, mas também
situações simuladas, extraídas do seu dia-a-dia, para que você, policial, se
convença de que a verbalização é uma poderosa “arma”, que bem manejada,
lhe trará resultados efetivos em sua constante atuação policial.
Você deve procurar reduzir as possibilidades de confronto pela
adequada utilização da verbalização antes, durante e após o emprego de força.
Veja alguns exemplos na próxima página.
EXEMPLO 1
Um policial foi chamado a um bar para separar uma briga entre dois
homens. Ele acalmou a todos e preparava-se para sair quando alguém gritou:
“Eles começaram de novo!” O policial correu até o balcão do bar e, quando
dava a volta, viu um dos balconistas caído no chão e um jovem em cima dele.
Um brilho metálico na mão do jovem parecia ser uma arma de fogo, ou uma
faca no pescoço do balconista. O policial que já tinha sacado seu revólver,
pronto para atirar (uma reação parecia ser urgente), mas o policial teve tirocínio
suficiente para fazer uma verbalização antes de usar sua arma de fogo. Foi
uma decisão da qual ele jamais se arrependeria.
O balconista sofria uma crise epiléptica e o jovem era o cozinheiro
do bar que tentava, com uma colher, desenrolar a língua de seu colega.
Comentários sobre o Exemplo 1:
Ao proceder a abordagem verbal, explique, através de comandos,
cada ação que o suspeito deve realizar. Trate-o com dignidade e respeito
utilizando linguagem profissional. Entenda que o fato do suspeito olhar para
você não é uma ofensa ou desafio.
Esteja sempre preparado, pois é difícil prever o que pode acontecer
quando se ordena ao suspeito: PARADO! POLÍCIA! Ele pode obedecer
imediatamente sua ordem ou sair correndo feito um louco ou, imediatamente,
atirar. Qualquer que seja a reação, o momento é tenso, crítico e cheio de
riscos. Ao abordar verbalmente um suspeito esteja preparado para tudo.
Seja firme! Um comando enérgico pode evitar uma tragédia,
impedindo o uso da força física ou letal. A abordagem verbal estabelece quem
você é e o que você quer que o suspeito faça. Se o suspeito segue as suas
ordens, sua segurança, a princípio, estará garantida e o controle será mantido
sem que haja necessidade do uso de arma de fogo. Aborde verbalmente para
que você não seja abordado.
EXEMPLO 2
Um homem foi considerado em atitude suspeita por uma dupla de
policiais, pois agia como tal, observando insistentemente um beco escuro. Os
policiais então conduzem a viatura até o suspeito e desembarcam para
investigar. Ele não parecia muito suspeito, mas assim que colocaram o pé para
fora da viatura, o homem sacou uma espingarda com o cano serrado de seu
paletó e abordou os policiais verbalmente: "Larguem suas armas, ou estouro
vocês”. Em desvantagem, os policiais não estavam em condições de
pronunciar qualquer comando. Um dos policiais foi tomado de refém por muitas
horas, com a arma apontada para sua cabeça, enquanto os outros negociavam
o fim do episódio.
Comentários sobre o Exemplo 2
Ao abordar algum suspeito, você estará mais seguro se proceder
como se o suspeito fosse reagir, ainda que haja indicações de que ele não
resistirá, você não perderá nada em se resguardar abordando de uma posição
abrigada ou aproximando-se com cautela. Se possível, proceda da seguinte
maneira:
Efetue a abordagem verbal de um local abrigado
Dessa forma, se houver uma reação você estará protegido e em
condições de se defender.
Esteja com a arma pronta na posição de busca “01” ou “02”
conforme o nível de risco determine.
Como regra mínima de segurança, caso entenda não ser necessário
sacar a arma, você deve desabotoar o coldre e “localizar” a arma colocando
sua mão sobre a coronha. Dessa forma, se for necessário sacar a arma, você
não necessitará procurá-la. Caso a si tuação evolua e o uso da arma de fogo
seja recomendável, proceda conforme as orientações contidas no capítulo
sobre uso da força.
Tome a iniciativa fazendo a abordagem verbal antes que o suspeito
a faça.
Aquele que fala primeiro ganha importante proteção psicológica e,
freqüentemente, física, que poderá favorecer a solução da ocorrência.
Empregue, durante todo o tempo, o pensamento tático, pense no processo
mental necessário para que o suspeito possa desferir uma agressão. Pense
pró-ativamente!
COMENTÁRIO:
Caso o suspeito desobedeça, não encerre os comandos. De
preferência, com a cobertura (reforço) de outros policiais, tente dominá-lo.
Insista nos comandos! Há chance de que o suspeito não esteja ouvindo por
estar no meio do barulho da rua, ou dentro de um automóvel com o rádio ligado
ou ainda pode ser que ele tenha deficiência auditiva ou esteja sob efeito de
álcool e outras drogas. Estando em supremacia de força, juntamente com os
colegas, em trabalho de equipe, tente dominá-lo fisicamente. Enquanto
procedem ao domínio físico, não interrompa os comandos para que ele pare de
resistir e se entregue!
OUTROS PONTOS IMPORTANTES SOBRE A VERBALIZAÇÃO:
1. Atenção à linguagem
Uma atenção especial deve ser dada à linguagem. Alguns policiais
acreditam que, utilizando uma linguagem vulgar, “chula” e ameaçadora,
desencorajam a resistência do suspeito. Diálogos dessa natureza causam
espanto e demonstram falta de profissionalismo. Além disso, uma “ameaça
verbal” pode desencadear uma reação e propiciar o agravamento da situação.
O que se busca, ao realizar a abordagem verbal, é a redução do uso da força e
o controle do suspeito.
Considere ainda que a sua linguagem pode angariar antipatizantes
que, possivelmente, testemunharão contra você em qualquer processo,
afirmando que houve agressão desnecessária e uso abusivo da força
(despreparo do policial).
2. Use sua autoridade
Seja firme e controle a situação. Dirija comandos claros, curtos e
audíveis para cada atitude que o suspeito deva tomar. Em geral, apenas um
dos policiais deve falar: “Parado! Polícia!... Coloque as mãos na cabeça!...
Entrelace os dedos!... Vire de costas para mim!... Ajoelhe-se!... Cruze a
perna....”
3. Importância do contato visual
Procure sempre manter o contato visual com o abordado, fique
abrigado, mas sem perdê-lo de vista. Diga frases usando os verbos no modo
imperativo, em tom alto de voz; demonstre convicção e determinação no que
está fazendo.
4. Nível da voz
Lembre-se de flexionar o nível de voz sempre que houver
acatamento, abaixe o tom, conquiste a confiança da pessoa abordada. Mas
fique sempre atento ao recurso de elevar bruscamente o tom de voz, caso
perceba algo errado. A posição em que o policial empunha sua arma também
ajuda na verbalização, no sentido que ele tenha o recurso de apontá-la ou não,
conforme o desenrolar do caso, buscando sempre partir do nível mínimo de
força e evoluir gradativamente.
5. Não entre em discussão
Caso o suspeito não acate, repita os comandos, insista com firmeza,
procure não ficar nervoso caso não seja acatado de imediato. Continue
insistindo, mantenha seu profissionalismo e não se exponha a riscos. Procure
o diálogo, contudo evite discutir, não entre em “bate-boca”, resista à tentação
de ficar disputando na voz com o suspeito. Deixe que ele fale e após
mantenha-se calmo, insistindo em seus comandos firmes e imperativos
demonstrando sua determinação. Faça perguntas como: O que está
acontecendo aqui?/ Por que você não acata minhas ordens?
Razões para reações passivas do suspeito
Considere as possíveis razões pelas quais o suspeito estaria
resistindo passivamente, entre outras:
• Ele não te escuta ou não compreende (por deficiência auditiva,
por efeito de álcool ou outras drogas).
• Ele não acata o seu comando como forma de meramente desafiar
ou desmerecer a ação da polícia, visando provocar o policial, conduzindo-o a
uma situação vexatória ou de abuso de força(por vezes buscando angariar
simpatia de transeuntes).
• Ele tem algo a esconder e tenta ganhar tempo e distrair a atenção
dos policiais (por vezes com a presença de comparsas). Ele tenta ganhar
tempo para empreender fuga ou reagir fisicamente contra os policiais.
Quaisquer que sejam as possibilidades, procure pensar taticamente;
priorize a sua segurança e evite cair na armadilha das provocações. Conduza o
desfecho com isenção e profissionalismo.
Existe policial que leva este tipo de situação para o campo pessoal e
perde o controle mediante a mínima ponderação do suspeito. Este corre o sério
risco de expor desnecessariamente sua vida e as de seus companheiros, ou
ainda, de cometerem atos de violência.
Faça o que deve ser feito. Adote todas as medidas legais que
couberem ao caso em particular, conduza sua atuação conforme preconizado
no escalonamento do uso da força. Seja firme e seja justo. Aja com ética,
técnica e legalidade.
Não ameace ao suspeito
Nem diga nada que não possa cumprir, como por exemplo: “vou lhe
dizer pela última vez”. Se ele resolver testar seu blefe você perderá sua
credibilidade. Por outro lado, se ele obedecer, esteja preparado, não relaxe sua
segurança! Esse pode ser o momento mais perigoso da abordagem.
Controle sobre as mãos do suspeito
Em todo o tempo, mantenha o controle sobre as mãos do suspeito.
Elas são o mais provável local de onde pode surgir uma agressão. Mantenha o
controle sobre o suspeito, não permita que ele se mova sem sua autorização.
Se ele se movimentar levemente, a sua tendência será acostumar-se com a
movimentação e relaxar, aumentando os riscos. Saiba em todo o tempo a
localização exata do suspeito.
Possibilidade de desafiar o local verbalmente
Considere a possibilidade, caso não saiba a localização exata de um
suspeito escondido, de “desafiar” o local verbalmente. Por exemplo, se durante
uma busca em uma edificação você suspeitar que alguém se encontra
escondido dentro de um armário, você pode utilizar algo parecido como:
“Polícia! Você, dentro do armário, saia DEVAGAR, com as mãos para cima!”.
Caso ele realmente esteja dentro do armário ele poderá obedecer,
permanecer escondido e até atirar através da porta. Portanto, ao comandar,
esteja em uma posição abrigada.
Quando você “blefar” um provável local de esconderijo se não
houver uma resposta, você terá, obrigatoriamente, que fazer a verificação
antes de prosseguir.
Posição para algemar
A escolha da posição para algemar deve ser feita a partir de uma
avaliação da situação e do comportamento do suspeito. Pessoas cooperativas
e que não ofereçam riscos não devem ser abordadas e algemadas nas
posições de joelho e deitada. Utilize, quando for o caso, posições de pé ou
apoiado na parede que são táticas mais razoáveis e adequadas.
NÍVEL 3 – CONTROLES DE CONTATO OU CONTROLE DE MÃOS
LIVRES
Trata-se do emprego de talentos táticos por parte do policial para
assegurar o controle e ganhar cooperação. Em certas situações haverá a
necessidade de dominar o suspeito fisicamente. Nesse nível, os policiais
utilizam-se primeiramente de técnicas de mãos livres para imobilizar o
indivíduo. Compreende-se em técnicas de condução e imobilizações, inclusive
através de algemas.
NÍVEL 4 – TÉCNICAS DE SUBMISSÃO (CONTROLE FÍSICO)
Emprego da força suficiente para superar a resistência ativa do
indivíduo, permanecendo vigilante em relação aos sinais de um comportamento
mais agressivo. Nesse nível, podem ser utilizados cães, técnicas de
forçamentos e agentes químicos mais leves. O indivíduo suspeito é violento.
NÍVEL 5 – TÁTICAS DEFENSIVAS NÃO LETAIS
Uma vez confrontado com as atitudes agressivas do indivíduo, ao
policial é justificado tomar medidas apropriadas para deter imediatamente a
ação agressiva, bem como ganhar e manter o controle do indivíduo, depois de
alcançada a submissão. É o uso de todos os métodos não-letais, através de
gases fortes, forçamento de articulações e uso de equipamentos de impacto
(cassetetes, tonfa). Aqui ainda se enquadram todas as situações de utilização
das armas de fogo, desde que excluídos os casos de disparo com intenção
letal (sacar e apontar a arma com finalidade de controle intimidatório do
suspeito, dentro dos procedimentos da verbalização).
NÍVEL 6 – FORÇA LETAL
Ao enfrentar uma situação agressiva que alcança o último grau de
perigo, o policial deve utilizar táticas absolutas e imediatas para deter a
ameaça mortal e assegurar a submissão e controle definitivos. É o mais
extremo uso da força pela polícia, e, só é utilizado em último caso, quando
todos os outros recursos já tiverem sido experimentados. A possibilidade de se
ter um equipamento ou arma não-letal faz com que o policial tente utilizar
outros meios que não esse. Caso contrário, sendo o único recurso disponível, o
policial poderá fazer um disparo letal.
Tiro intimidativo
Embora este assunto fora ressaltado anteriormente, de maneira
resumida, que esta temática deve ser trabalhada de modo apurado para que
você tenha uma melhor visão do que está sendo proposto não apenas por meio
de teorias, mas também por meio de supostas situações práticas em que você,
enquanto policial, poderá enfrentar no seu dia-a-dia. Por isso a razão de uma
aula à parte. O policial no desempenho de suas atividades de polícia ostensiva
e preservação da ordem pública, pode e deve fazer uso da força, sempre que
necessário, desde que seja sem excesso ou arbitrariedade. Examinando sob
esse ângulo, quando um policial DISPARA sua arma como recurso operacional
simplesmente para intimidar ou advertir o infrator acaba causando na
sociedade sensação de medo e insegurança. Tal atitude relaciona-se com
policiais com pouca capacidade técnica e contraria a essência do serviço
policial, pois, a insegurança, neste caso, parte justamente daqueles que têm o
dever de proteger. A arma do policial que seria instrumento de segurança para
a população, passa a representar mais um risco para ela própria.
Verifica-se que a prática de disparos intimidativos efetuados por
policiais despreparados, trabalhando de forma amadora, provoca situações de
alto risco para a sociedade cujas conseqüências você verá a seguir , através
de alguns exemplos instrutivos:
Exemplo 1
Durante uma operação de blitz em uma rua da região central da
cidade, o policial determinou que um motoqueiro parasse. Contudo, o condutor,
inabilitado, nervoso por estar com a moto emprestada de um amigo, tentou
fugir. Momento em que o policial saca sua arma e grita para que ele pare. Em
seguida, efetua um disparo intimidativo no chão, que ricocheteia e acerta as
costas do motoqueiro vindo este a falecer devido ferimento causado pelo
projétil.
Exemplo 2
Um grupo de policiais estava empenhado em capturar um andarilho
que de posse de uma foice estava perturbando as pessoas em uma zona rural;
ao localizá-lo deitado debaixo de uma árvore, o comandante da operação faz
um disparo para o alto para acordá-lo, momento em que um outro policial da
equipe se assusta com o barulho do tiro e efetua um disparo contra o andarilho.
Exemplo 3
Durante policiamento a pé, o policial recebe mensagem, via rádio,
tratando sobre as características de um cidadão infrator que acabara de
cometer um roubo a um transeunte. Ao avistar uma pessoa com as
características semelhantes, passadas anteriormente. Sendo assim,
determinou que este parasse, como não foi obedecido, efetuou disparo para
cima vindo acertar uma pessoa que estava na janela do terceiro andar de um
prédio vizinho.
Exemplo 4
Infratores conhecidos disparam contra carro da polícia que os
perseguia após assaltarem uma loja comercial, os policiais revidam, e alguns
tiros atingem o carro em fuga, o qual pertencia a um cidadão que fora obrigado
a entregar aos infratores a direção do veículo. Após os disparos dos policiais
contra tal veículo, o dono deste é atingido mortalmente por um dos disparos,
pois estava amarrado dentro do bagageiro do veículo.
Exemplo 5
Uma dupla de policiamento empenhada em solucionar uma briga
generalizada dentro de uma pizzaria, ao chegarem no local e diante da
confusão formada, os policiais efetuam vários disparos para cima, um dos
projéteis ricocheteia no teto e atinge uma pessoa inocente.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos proclama que todos
têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. O direito à vida é o bem
supremo que, se não assegurado, faz com que todos os demais percam o
sentido. Como policial, a sua missão primária é proteger e socorrer as pessoas
promovendo os direitos humanos e garantindo a inviolabilidade do direito à
vida.
Dessa maneira, a decisão apropriada a respeito do uso da força letal
é o mais crítico desafio enfrentado pela polícia. O ideal é que toda ocorrência
seja resolvida sem o uso da força utilizando, principalmente, a verbalização.
Porém, nem sempre isso é possível. Os princípios que irão dirigi-lo no uso da
força são a legalidade, necessidade, proporcionalidade e conveniência . O
emprego da força pressupõe a busca de um objetivo legítimo, e, você deve
fazê-lo de forma moderada, agindo proporcionalmente à agressão ou à ameaça
de agressão, utilizando a quantidade de força necessária para controlar o
suspeito.
Se você é ameaçado ou agredido com força letal, a resposta legal,
necessária e proporcional poderá ser reagir, utilizando força letal para controlar
o agressor, defendendo a sua vida ou de uma terceira pessoa.
O uso da FORÇA LETAL constitui-se em medida extrema e somente
é justificado para a legítima DEFESA DA VIDA!
Triângulo da força letal
O triângulo da força letal é um modelo de tomada de decisão
designado para desenvolver sua habilidade para responder a encontros de
força, permanecendo dentro da legalidade e de parâmetros aceitáveis.
Os três lados de um triângulo eqüilátero representam três fatores:
habilidade, oportunidade e risco
Habilidade
Capacidade física do suspeito de causar dano em um policial ou em
outra pessoa inocente. Isso significa, em outras palavras, que o suspeito possui
uma arma capaz de provocar morte ou lesão grave, como por exemplo, uma
arma de fogo ou uma faca. Habilidade pode ainda incluir a capacidade física,
através de arte marcial ou de força física, significativamente superior à do
policial.
Oportunidade
Diz respeito ao potencial do suspeito em usar sua habilidade para
matar ou ferir gravemente. Um suspeito desarmado, mas muito alto e forte
pode ter a habilidade de ferir seriamente ou matar uma outra pessoa menor e
menos condicionada. A oportunidade, entretanto, não existe se o suspeito está
a 20 metros de distância, por exemplo. De igual modo, um suspeito armado
com uma faca tem habilidade para matar ou ferir seriamente, mas pode faltar
oportunidade se você aumentar a distância entre as partes, no caso, você e
ele, ou na busca de um abrigo.
Risco
Existe quando um suspeito toma vantagem de sua habilidade e
oportunidade para colocar um policial ou outra pessoa inocente em um
iminente perigo físico. Uma situação onde um suspeito de roubo recusa-se a
soltar a arma quando acuado após uma perseguição a pé pode se constituir em
risco.
COMENTÁRIO
Raciocinar sobre o triângulo da força letal pode auxiliá-lo a decidir.
Além disso, ao lidar com um suspeito não-cooperativo que está armado, você
deve, em primeiro lugar, buscar um abrigo para, então, lidar com ele. Em
seguida deve aumentar a distância entre você e o agressor o que dificultará o
ataque. Em terceiro lugar, solicite cobertura. Não tente resolver a situação
isoladamente. Aumentar o número e qualidade (equipes especializadas) dos
policiais no local pode desencorajar o agressor. Em último caso, havendo risco
demasiado para você e para a comunidade, avalie a possibilidade de se retirar
do local ou facilitar a fuga do agressor, pois “uma prisão sempre pode aguardar
uma nova oportunidade”, mas a perda de uma vida é irreversível! Estando
protegido, e, sendo possível, utilize a negociação e a persuasão determinando
ao suspeito que se renda. Quando a situação permitir, a verbalização deve ser
combinada com a demonstração de força. O suspeito deve entender a sua
disposição e firme resolução em controlá-lo utilizando-se, inclusive, de força
letal.
Estudo das reações fisiológicas
O corpo humano sofre reações fisiológicas involuntárias que afetam
as habilidades motoras quando confrontado com situações de sobrevivência.
Muitas dessas reações provocam efeitos negativos na capacidade do policial
de se defender em situações de vida ou morte. As habilidades motoras
combinam processos cognitivos e ações físicas que capacitam a pessoa a
realizar tarefas físicas, como, por exemplo, disparar uma arma. Conheça os
tipos de coordenação motora e suas respectivas características:
Coordenação motora grossa
Envolve a ação de grandes grupos musculares preparando a pessoa
para lutar ou fugir. Essas tarefas dependem de grande força e são provocadas
em situações de alto estresse onde o organismo processa adrenalina e outros
hormônios.
Coordenação motora fina
Utiliza pequenos grupos musculares como os das mãos e dedos.
Essas habilidades sempre envolvem coordenação das mãos com os olhos,
como, por exemplo, atirar. Essa tarefa requer um nível baixo ou não existente
de estresse para se obter um resultado ótimo. Em situações de alto estresse,
não é a melhor indicada.
Coordenação motora complexa
Envolve múltiplos componentes, como, por exemplo, coordenação
olho/mão, tempo de reação, equilíbrio e localização de alvo móvel. Técnicas de
defesa pessoal que envolve defesa de faca, projeções ao solo, posições de tiro
defensivo são exemplos de coordenação motora complexa.
Para atingir um resultado ótimo nessas habilidades, os níveis de
estresse devem estar baixos. Por isso, o alto estresse encontrado em situações
de sobrevivência, reduz a habilidade do policial para executar ações que
demandem coordenação motora complexa.
Durante situações que envolvam o uso de força letal, os policiais
experimentam aceleração do batimento cardíaco, deterioração da coordenação
motora fina e complexa, dificultando o manuseio de arma ou a adoção de
posições de tiro. A elevação do batimento cardíaco afeta o Sistema Nervoso de
tal modo que prejudica a respiração e outras funções vitais involuntárias. O
organismo produz hormônios poderosos como a adrenalina e outras
substâncias similares, que aumentam o batimento cardíaco, a pressão do
sangue e redireciona o sangue das extremidades (dedos) para os grandes
grupos musculares (peito, pernas e braços).
A coordenação e destreza das mãos reduzem drasticamente com a
vasoconstrição. Ocorrem ainda a redução da visão periférica e a visão se
ajusta para focalizar objetos próximos. Tudo isso dificulta a visão em
profundidade e fazem com que o policial atire para baixo. Mantidas todas essas
reações descontroladas, o policial entrará em estado de pânico.
Uma das chaves para lidar com o estresse em situação de
sobrevivência é controlar o batimento cardíaco, o que pode ser feito respirando
profundamente algumas vezes enquanto tenta “relaxar” e manter o controle.
A respiração tática, como é chamada, proporciona mais oxigênio ao
organismo, reduzindo os batimentos cardíacos. A partir disso, percebe-se que
as habilidades são melhoradas consideravelmente e a ansiedade diminuída.
Direcionamento dos disparos realizados por policiais Diante de uma
situação como esta, não é possível, para a grande maioria dos policiais, fazer
disparos precisos, como por exemplo, nas mãos e nas pernas. Tendo que usar
força letal, essa força dever ser designada para a massa central. Quando se
utiliza uma arma de fogo, você não atira para assustar, nem para ferir, nem
para desarmar. Atira-se para interromper a agressão ou a ameaça que é feita à
sua vida ou à de outra pessoa.
O objetivo é fazer com que o suspeito cesse seu ataque ilegal, o
mais rápido possível com total eficiência.
Considerando todas as variáveis fisiológicas que interferem
negativamente, dificultando o comportamento do policial nestas situações de
emergência, caso seja possível, os disparos devem ser feitos visando
minimizar os efeitos traumáticos no agressor.
Você quer e precisa pará-lo, neutralizá-lo! Você não deseja matá-lo!
Atirar em certas partes do corpo irá, provavelmente, incapacitar o
suspeito de um modo mais eficiente do que em outras. A área do corpo
humano em que o impacto de projéteis tem maior eficiência é na massa central
ou região do tronco. Assim, o melhor local para controlar o agressor e que se
constitui em um maior alvo, onde o projétil terá alto poder de parada, é na
massa central. Dependendo da potência de arma e da parte do corpo atingida
pode ser necessário mais do que um disparo para fazer cessar a agressão.
Com base em estudos balísticos, o número razoável, e que normalmente
provoca o resultado pretendido, são dois tiros disparados em rápida seqüência,
contudo, este aspecto dependerá efetivamente de cada caso prático.
Utilização dos níveis de força
Dentro de cada nível, existem subdivisões de intensidade que
indicam que mesmo dentro de determinada resposta de força, existem opções
de menor ou maior força. O policial seleciona a opção de nível de força que
mais se ajusta à resistência enfrentada. A progressão será avaliada e
adequada ao tipo de ação do suspeito. Se um nível de força já adotado falha
ou as circunstâncias mudam, o policial pode e deve aumentar o nível de força
utilizada de forma consciente. Segundo MOREIRA (2001), cada nível de força
utilizado representa um aumento na intensidade da força. Quanto maior o nível
da força, menos reversível será, maior certeza de controle haverá e maior será
a necessidade de sua justificativa.
Na visão de HUNTER (2001), o uso progressivo consiste em níveis
de força representados em uma escala. Para se alcançar os resultados
desejados, cada situação deve ser abordada no nível o mais baixo possível,
tendo em vista os fatores de segurança dos policiais e responsabilidades da
organização policial. Esclarece ainda que o uso da força em um nível “abaixo
do necessário” poderá expor o policial ou outros a um perigo.
Um nível “acima do necessário” poderá ser considerado abuso de
poder. E por isso, uma avaliação correta do nível de força é muito importante
para o atingimento dos objetivos legítimos do uso da força.
Segundo MOREIRA (2001), se o policial possui confiança e
habilidades nos componentes verbais ou físicos da escala do uso da força, é
menos provável que venha a recorrer à sua arma prematuramente. O nível de
força utilizada dependerá, em boa parte, do nível de confiança que o policial
possui.
O nível de confiança por parte do policial militar ao intervir em uma
ocorrência será tanto maior quanto for o seu nível de treinamento,
conhecimento de técnicas, experiência e possibilidade de uso de equipamentos
e tipos de armas diferentes.
Conforme diz WILLIAMS (2001), um alto nível de confiança do
policial possibilita um grau maior de escolha entre: tentar evitar o uso da força;
ser capaz de decidir por usar a força; e usar a força com conhecimento.
A escolha do nível adequado de força a ser usado depende muito de
como o policial está equipado e como está treinado.
A opção variada de uso de equipamentos como cassetetes (tonfa),
gás pimenta ou lacrimogêneo, armas não-letais, coletes à prova de balas,
conhecimento de técnicas de defesa pessoal, possibilita um aumento da
confiança do policial.
Para atuar em uma ocorrência em que seja necessário o uso da
força, o policial precisa estar equipado com opções variadas de força. Caso o
policial chegue em uma intervenção, somente com sua arma de fogo, sem
conhecimento de técnicas de defesa pessoal, lhe restará como única opção o
uso da arma de fogo, na eventual falha da verbalização. O resultado obtido
poderá não ser o mais adequado. Portanto, é muito importante o preparo do
policial e a disponibilidade de equipamentos para uma boa escolha no nível de
força a ser utilizado. Quanto maior o número de técnicas e equipamentos
disponíveis aos policiais, melhores serão as condições de escolha do nível de
força a ser usado.
É o que afirma ROVER (2000, p. 279) quando esclarece que os
policiais devem ser equipados com vários tipos de armas e munições,
permitindo um uso diferenciado de força e armas de fogo.
Segundo os PBUFAF, em seu segundo princípio, os policiais devem
ser equipados com equipamentos de autodefesa como escudos, capacetes,
coletes à prova de balas e meios de transporte blindados, de modo a diminuir a
necessidade do uso de armas de qualquer espécie. (ONU, 1990).
O desenvolvimento de armas incapacitantes não-letais para
restringir a aplicação de meios capazes de causar morte ou ferimentos são
incentivados, também, pelos PBUFAF. (ONU, 1990).
Na busca da utilização de armas não-letais, foi desenvolvida uma
munição de borracha para distúrbios civis. O uso desse recurso não pode ser
indiscriminado. Conforme afirma os PBUFAF, em seu terceiro princípio, as
organizações policiais são encorajadas a implementar normas que assegure
que o desenvolvimento e o emprego de armas incapacitantes não-letais sejam
cuidadosamente avaliadas de modo a minimizar o risco de pôr em perigo
pessoas que não estejam envolvidas, e que o uso de quaisquer dessas armas
seja cuidadosamente controlado. (ONU, 1990).
Algumas polícias utilizam o cão como uma arma. Eles são treinados
na captura de suspeitos armados e perigosos, na busca de suspeitos
escondidos e em auxílio à apreensão de drogas. ROVER (2000, p. 279) lembra
que: “Embora não mencionados nos PBUFAF, o cão policial é uma “arma”
valorizada incluída entre aquelas que permitem às organizações uma
abordagem diferenciada ao uso da força e armas de fogo”.
Níveis de submissão dos suspeitos
Basicamente os suspeitos que você lida se enquadram em uma das
seguintes situações:
NORMALIDADE - É a situação rotineira do patrulhamento em que
não há a necessidade de intervenção da força policial.
COOPERATIVO - O suspeito é positivo e submisso às
determinações dos policiais. Não oferece resistência e pode ser abordado,
revistado e algemado facilmente, caso seja necessário prendê-lo.
RESISTENTE PASSIVO - Em algumas intervenções, o indivíduo
pode oferecer um nível preliminar de insubmissão. A resistência do suspeito é
primordialmente passiva, com ele não oferecendo resistência física aos
procedimentos dos policiais, contudo, não acata às determinações, fica
simplesmente parado. Ele resiste, mas sem reagir, sem agredir.
RESISTENTE ATIVO - A resistência do indivíduo tornou-se mais
ativa, tanto em âmbito quanto em intensidade. A indiferença ao controle
aumentou a um nível de forte desafio físico. Como exemplo, podemos citar o
suspeito que tenta fugir empurrando o policial ou vítimas.
AGRESSÃO NÃO-LETAL - A tentativa do policial de obter uma
submissão à lei chocou-se com a resistência ativa e hostil, culminando com um
ataque físico do suspeito ao policial ou a pessoas envolvidas na intervenção.
AGRESSÃO LETAL - Representa a menos encontrada, porém, a
mais séria, ameaça à vida do público e do policial. O policial pode
razoavelmente concluir que uma vida está em perigo ou existe a probabilidade
de grande dano físico às pessoas envolvidas na intervenção, como resultado
da agressão. Concluindo de maneira incisiva, e até mesmo repetitiva, como
forma de deixar claro a você, que o uso efetivo da força depende da sua
compreensão, enquanto policial, sobre as relações de causa e efeito. O policial
observa as ações do suspeito dentro de um contexto de confrontação para
escolher o nível mais adequado de força a ser usado. Assim, o policial
responde de maneira preventiva, ativa ou reativa conforme sua avaliação.
Como já foi pontuado, no que tange à importância do conhecimento
do uso progressivo da força, sem perder de vista que cada situação é única.
É preciso estar ciente de que o uso progressivo da força é um
processo contínuo e flexível, podendo progredir a um nível mais avançado ou
regredir a um nível de menor graduação de força, no qual os vários meios para
exercer o controle de indivíduos suspeitos já estão posicionados . Para
legitimar tal posicionamento, tome como base a citação de (MOREIRA,2001)
como suporte, segundo ele, a resposta do policial será orientada pelo
procedimento do suspeito. Tal procedimento norteará a ação do policial na
escolha de certo nível de força exigida na intervenção em caso, o que
justificará suas ações.
Percepção do risco
Cada encontro entre o policial e o cidadão deve fluir em uma
seqüência lógica e legal de causa e efeito, baseada na percepção do risco por
parte do policial, uma vez que faz parte do conceito de uso progressivo da
força a avaliação dos riscos. Os policiais podem classificá-la da seguinte forma:
Percepção profissional
Representa o fundamento do processo perceptivo. Este nível de
percepção abrange as atividades policiais do dia-a-dia e as exigências cruciais
do ambiente em que funciona. Percepção tática O policial percebe um aumento
da ameaça no cenário do confronto.
Percepção do limiar de ameaça
Sinaliza o aumento do estado de alerta devido à percepção da
ameaça e ao perigo detectado. Percepção de ameaça danosa Denota uma
constatação acelerada do perigo para o policial que deve agora apontar suas
energias e suas táticas na direção da defesa.
Percepção de ameaça mortal
É o nível mais alto de ameaça. O policial deve manter o mais alto
nível de avaliação de risco e apelar para suas máximas habilidades de
sobrevivência.
OBS.: No decorrer do confronto, o policial pode refazer a avaliação
dos riscos envolvidos, reduzir ou avançar em sua percepção, de acordo com a
classificação apresentada.
Aspectos que influenciam no nível de força aplicada
Durante uma intervenção policial, uma ou mais variáveis podem
justificar o aumento do nível de força. As quais sejam:
1ª variável: Número de policiais e número de suspeitos envolvidos.
2ª variável: Tipo físico, idade e sexo dos policiais em relação às
mesmas variáveis dos indivíduos suspeitos.
3ª variável: Habilidade técnica em defesa pessoal dos policiais
envolvidos.
4ª variável: Estado mental, emocional, do policial no momento do
confronto.
Do mesmo modo, algumas circunstâncias especiais podem
influenciar no nível de força utilizada pelos policiais, como se vê abaixo:
1ª circunstância : Possibilidade de o suspeito, em proximidades ao
policial, estar portando arma de fogo, viabilizando um suposto acesso imediato
de disparos. Neste caso, o policial pode ser forçado a fazer uso de um nível
maior de força.
2ª circunstância: Posicionamento de desvantagem. Um policial
encurralado em um “beco” de favela (aglomerados) sem pontos de proteção à
sua segurança, pode ser forçado a empregar um nível de força mais elevado.
3ª circunstância: Nível de habilidade do suspeito. Necessidade de
saber se ele possui habilidades em artes marciais ou possui treinamento
militar, por exemplo.
4ª circunstância: O policial recebe informações precisas sobre a
presença de armas de fogo com o suspeito, provocando a utilização de um
nível mais alto de força para controlar a situação.
5ª circunstância: Perigo eminente. O suspeito agride o policial ou
ameaça a vida de uma vítima. Existem inúmeras outras circunstâncias que não
podem deixar de ser avaliadas e treinadas pelos policiais. Aqui, foram
destacadas as principais para melhor entendimento do assunto. MOREIRA,
(2001) ao orientar os policiais em seu trabalho, afirma que: “Você precisa estar
apto para avaliar circunstâncias, não apenas para sua opção de uso de força,
mas também para se justificar mais tarde diante daqueles que irão avaliar se
sua escolha foi apropriada”.
A combinação de variáveis e circunstâncias em relação à atitude dos
suspeitos, durante o atendimento de uma ocorrência, pode determinar o
aumento ou o decréscimo no nível de força usado. Em situações de alto
estresse, o policial pode ficar sem reação. A menos que tenha uma estrutura
prática que possa ajudá-lo a organizar suas opções. Eis um outro ponto forte
para dar crédito aos treinamentos, como este que será dado por meio do curso
em exibição, o qual proporcionará ao policial uma melhora significativa em seu
desempenho, frente às situações de risco, não apenas em sua estrutura física
como também mental e psicológica.
CONCLUSÃO
A profissão de policial exige um alto grau de profissionalismo, pois
lida com a proteção da vida humana. Ao se deparar com uma situação de risco,
o policial terá que julgar se irá fazer o uso da força, e se será necessário usá-la
em seu grau mais extremo, através do uso letal da arma de fogo, tirando a vida
de alguém, com o intuito de salvar uma outra vida. Muitas vezes, este
julgamento é feito em frações de segundo, exigindo um alto grau de preparo
para se evitar erros fatais. Passando a valer a citação de (VIANNA,2000): O
uso progressivo da força é uma valiosa ferramenta para os policiais no seu dia-
a-dia operacional. O sucesso dele depende em muito do treinamento de
técnicas de abordagem, defesa pessoal e em utilização de equipamentos e
armamentos. Logo, a qualidade do desempenho da atividade policial é
amplamente dominada pela qualidade dos recursos humanos disponíveis. A
Polícia Militar, para melhorar cada vez mais sua prestação de serviço à
comunidade, deve aprimorar sempre a qualidade de seu recrutamento, de sua
formação e de seu treinamento.
Os PBUFAF exigem que os governos e as agências defensoras da
lei assegurem que todos os EAL recebam um treinamento profissional contínuo
e profundo. A partir deste, os policiais devem estar perfeitamente preparados e
testados de acordo com os padrões de perfil apropriados ao uso da força
(ONU, 1990). No treinamento dos policiais, os governos e as organizações
devem dar atenção especial a: questões de natureza ética na aplicação da lei e
direitos humanos; alternativas ao uso da força e armas de fogo, incluindo a
solução pacífica de conflitos; compreensão do comportamento de multidão e
métodos de persuasão, negociação e mediação com vistas a limitar o uso da
força e armas de fogo (ROVER, 2000).
Sabendo que o policial é treinado para responder de uma maneira
preventiva, ativa ou reativa para o uso progressivo da força, conforme sua
avaliação do comportamento do indivíduo suspeito ora em observância. O
treinamento dado acontece por meio de simulações de elaboração de cenários,
palestras, demonstrações e instruções por computador. Segundo McGOEY
(2001), o treinamento é a chave para o correto uso progressivo da força.
Exercícios práticos ajudarão a reforçar as reações do policial para que as
tornem mais apropriadas, evitando as ações instintivas. Ele acelera as
respostas para a escolha do nível de força adequado para cada situação. A
prática e o treinamento contínuo diminuem os efeitos do estresse e torna o
resultado pretendido mais seguro.
Contribuindo com seu pensamento, MOREIRA (2001) afirma que o
policial deve treinar e ter condições de controlar um suspeito escolhendo entre
respostas táticas que vão desde a simples presença no local até o uso de arma
de fogo. Esse treinamento deve guardar semelhança com as situações
vivenciadas na rua e ser mais prático do que estático, começando lento e
ganhando velocidade.
Portanto, a existência de um modelo de uso progressivo da força
ajuda em muito na absorção dos conhecimentos por parte do policial. Uma
organização policial que possui um modelo como diretriz básica tem uma
facilidade maior em treinar o uso progressivo da força.
REFERÊNCIAS
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edição. Narthbroox. Ilinois. Calibre Press, inc. 1999. 430p.
CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth. Polícia, violência e Direitos Humanos.
Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro - Série cadernos de polícia – nº 20 –
. Rio de Janeiro, 1994.
CORRÊA, Marcelo Vladimir. Abordagem Policial Militar no Patrulhamento
Motorizado Face ao Treinamento Profissional Específico no 8º RPM, Período
de 1998 a 2000. Polícia Militar de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001.
GIRALDI, Nilson, Cel QOR PMESP. Manual de Tiro Defensivo de Preservação
da Vida, 1995.
PMMG – Polícia Militar de Minas Gerais. NOTA DE INSTRUÇÃO Nº 1. O uso
de força no exercício do poder de polícia. Belo Horizonte: Estado Maior da
Polícia Militar, 1984.
CICV. Manual Servir e Proteger