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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE FISIOTERAPIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA NEUROMODULAÇÃO CORTICAL E MEDULAR APÓS ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA REPETITIVA ASSOCIADA À FISIOTERAPIA EM PACIENTES COM HEMIPARESIA ESPÁSTICA PÓS-ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: ENSAIO CLÍNICO, RANDOMIZADO E DUPLO CEGO REBEKA BORBA COSTA DOS SANTOS RECIFE | 2013

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Page 1: NEUROMODULAÇÃO CORTICAL E MEDULAR APÓS … · do reflexo-H do nervo mediano e da espasticidade após-AVE. No entanto, são necessários mais estudos para esclarecer os mecanismos

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE FISIOTERAPIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA

NEUROMODULAÇÃO CORTICAL E MEDULAR APÓS ESTIMULAÇÃO

MAGNÉTICA TRANSCRANIANA REPETITIVA ASSOCIADA À FISIOTERAPIA EM

PACIENTES COM HEMIPARESIA ESPÁSTICA PÓS-ACIDENTE VASCULAR

ENCEFÁLICO: ENSAIO CLÍNICO, RANDOMIZADO E DUPLO CEGO

REBEKA BORBA COSTA DOS SANTOS

RECIFE | 2013

Page 2: NEUROMODULAÇÃO CORTICAL E MEDULAR APÓS … · do reflexo-H do nervo mediano e da espasticidade após-AVE. No entanto, são necessários mais estudos para esclarecer os mecanismos

NEUROMODULAÇÃO CORTICAL E MEDULAR APÓS ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA

TRANSCRANIANA REPETITIVA ASSOCIADA À FISIOTERAPIA EM PACIENTES COM

HEMIPARESIA ESPÁSTICA PÓS-ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: ENSAIO CLÍNICO,

RANDOMIZADO E DUPLO CEGO

REBEKA BORBA COSTA DOS SANTOS

RECIFE | 2013

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Fisioterapia da

Universidade Federal de Pernambuco,

como requisito parcial à obtenção do

título de Mestre em Fisioterapia.

Linha de Pesquisa: instrumentação e

intervenção fisioterapêutica.

Orientadora:

Profª Drª Kátia Karina do Monte-Silva

Coorientador:

Profº Drº Alberto Galvão de Moura Filho

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“NEUROMODULAÇÃO CORTICAL E MEDULAR APÓS ESTIMULAÇÃO

MAGNÉTICA TRANSCRANIANA REPETITIVA ASSOCIADA À FISIOTERAPIA EM

PACIENTES COM HEMIPARESIA ESPÁSTICA PÓS-ACIDENTE VASCULAR

ENCEFÁLICO: ENSAIO CLÍNICO, RANDOMIZADO E DUPLO CEGO”.

REBEKA BORBA COSTA DOS SANTOS

APROVADA EM: 14/03/2013 ORIENTADORA: PROFª. DRª. KÁTIA KARINA DO MONTE SILVA COORIENTADOR: PROF. DR. ALBERTO GALVÃO DE MOURA FILHO COMISSÃO EXAMINADORA:

PROFª. DRª. DANIELLA CUNHA BRANDÃO – FISIOTERAPIA/UFPE

PROF. DR. OTÁVIO GOMES LINS – NEUROPSIQUIATRIA/UFPE

PROF. DR. ABRAHÃO FONTES BAPTISTA – BIOMORFOLOGIA/UFBA

Visto e permitida à impressão

_______________________________________________ Coordenador(a) do PPGFISIOTERAPIA/DEFISIO/UFPE

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“Tenha coragem, vá em frente.

Determinação, coragem e autoconfiança

são fatores decisivos para o sucesso.

Não importam quais sejam os obstáculos e

as dificuldades, se estamos possuídos de

uma inabalável determinação,

conseguiremos superá-los.

Independentemente das circunstâncias,

devemos ser sempre humildes, recatados e

despidos de orgulho.”

Dalai lama

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AGRADECIMENTOS

Sinceros agradecimentos ao meu grande amor e marido Cláudio por ser meu

amigo, companheiro do todas as horas e por quem eu tenho enorme admiração. À

minha filha Giovanna pelo amor e carinho maior desse mundo, por ser a razão da

minha vida. Vocês dois fazem de mim a melhor “Rebeka” que eu poderia ser.

Aos meus pais, Joventino e Adriana, eu devo toda gratidão desse mundo.

Vocês são a base da minha vida, estão sempre ao meu lado nos momentos mais

difícies. Obrigada por tudo! Aos meus queridos irmãos Rafael e Gabriela e minha

irmã do coração Nathália, por serem meus grandes amigos.

Aos meus segundos pais, Lygia e Cláudio e meus irmãos do coração Gabriel

e Roberta, pelo acolhimento, amor e carinho que sempre tiveram por mim e por

Giovanna.

À minha orientadora Kátia Karina do Monte Silva, pela confiança, dedicação e

ensinamentos. Obrigada por todo aprendizado ao longo desses dois anos que

passamos juntas como orientadora e orientanda. Certamente estou concluindo o

mestrado diferente de quando ingressei, afinal, foram dois anos de muito trabalho e

amadurecimento.

Ao meu coorientador Alberto Galvão, pelos ensinamentos e contribuições

neste trabalho.

À minha colega de mestrado e coautora Silvana Galvão, por ter sido minha

amiga companheira, meu braço direito. Pessoa mais que fundamental na realização

deste projeto.

Às minhas queridas alunas de iniciação científica: Labibe Pinel, Nathália

Lucena, Priscila Borba, Milena Carneiro e Maria Eduarda Cabral, Obrigada pela

dedicação e comprometimento com a pesquisa. Vocês foram as melhores alunas de

iniciação científica que alguém poderia ter. E a toda equipe do LANA pela

colaboração.

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Aos meus queridos amigos de turma de mestrado: Silvana Galvão, Ramon

Távora, Renato Melo, Lucas Ithamar, Cibelle Andrade, Cybelle Nery, Kamilla Dinah,

Taciano Rocha, Ianne Mourato, Helga Muniz, Karina Reishow, Marsílio Brasil e em

especial Clarice Nicéias (i.m.), por fazerem da nossa turma de mestrado uma grande

família.

Às professoras Adréia Lemos e Shirley pelas inúmeras contribuições e críticas

construtivas.

Aos funcionários do DEFISIO, em especial Niége e Carol, pela paciência e

disponibilidade em sempre resolver nossos problemas.

Agradecimento especial a todos os pacientes que participaram deste estudo e

contribuíram para o desenvolvimento da ciência.

Page 8: NEUROMODULAÇÃO CORTICAL E MEDULAR APÓS … · do reflexo-H do nervo mediano e da espasticidade após-AVE. No entanto, são necessários mais estudos para esclarecer os mecanismos

RESUMO

Dentre as sequelas sensório-motoras mais comuns que acometem pacientes após

acidente vascular encefálico (AVE) a espasticidade é a mais limitante. A estimulação

magnética transcraniana repetitiva (EMTr) associada ao treino motor vem sendo

empregada no tratamento da hemiparesia espástica crônica pós-AVE. O objetivo do

estudo foi avaliar as repercussões eletrofisiológicas do uso da estimulação

magnética transcraniana repetitiva (EMTr) associada à fisioterapia motora (FM) no

tratamento da hemiparesia espástica de pacientes após-AVE. Foi realizado um

ensaio clínico, randomizado e duplo cego. 20 indivíduos crônicos após-AVE foram

alocados aleatoriamente em dois grupos: experimental (n=10; GE) submetido a

EMTr-ativa (1Hz, sobre hemisfério não-lesado) e FM; e controle (n=10; GC)

submetido a EMTr-fictícia e FM. O tratamento consistiu de 10 sessões, 3x/semana

de EMTr ativa/sham seguida por 30 minutos de FM. Avaliação da excitabilidade

medular pelo reflexo de Hoffmann do nervo mediano (reflexo H; valor normalizado:

Hmax/Mmax) foi realizada antes (pré-intervenção), após 10 sessões terapêuticas

(pós-intervenção) e 4 semanas de follow-up. Avaliação da excitabilidade cortical,

através de potenciais evocados motores (PEM) e o grau de espasticidade dos

músculos flexores de punho, através da escala modificada de Ashworth (EMA),

foram realizados antes e após cada sessão terapêutica. Foi observado que a EMTr-

ativa associada à FM reduziu significantemente a amplitude da razão Hmax/Mmax

no follow-up tanto quando comparado aos valores da pré-intervenção (p=0,013)

quanto, ao GC (p=0,026). Houve redução da espasticidade a partir da 6ª sessão de

tratamento no GE quando comparado ao GC. Os resultados encontrados também

sugerem um aumento da excitabilidade cortical no hemisfério não-lesado ao longo

das sessões no GE tanto em relação aos valores pré-intervenção quanto comparado

ao GC. Portanto a EMTr associada à FM pode ser benéfica na redução da amplitude

do reflexo-H do nervo mediano e da espasticidade após-AVE. No entanto, são

necessários mais estudos para esclarecer os mecanismos eletrofisiológicos

observados.

Palavras-chave: Estimulação magnética transcraniana, Espasticidade, Acidente

Vascular Encefálico, Fisioterapia.

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ABSTRACT:

Amongst the sensorimotor disabilities more common that affect the patients after

stroke, the spasticity is the most limiting. The repetitive transcranial magnetic

stimulation (rTMS) combined with physical therapy (PT) has been used in the

treatment of chronic spastic hemiparesis following stroke. The objective of the study

was to evaluate the electrophysiological effects of using rTMS associated with PT in

the treatment of patients with spastic hemiparesis post-stroke. A randomized and

double bind clinical trial was performed. Twenty chronic stroke patients were

randomly assigned into one of two groups: experimental (n=10; EG), submitted to

active-rTMS (1Hz on the non-lesional hemisphere) and PT; and control (n=10; CG),

submitted to sham-rTMS and PT. The treatment consisted of 10 sessions

active/sham prior to 30min of PT, 3 days per week. Evaluations of spinal excitability

through the Hoffmann reflex of the median nerve (H-reflex; normalized value: Hmax/

Mmax) were perfomed before (baseline), after 10 therapy sessions (post-

intervention) and 4 weeks of follow-up. Assessment of cortical excitability through the

motor evoked potentials (MEPs), and the degree of spasticity in the wrist flexor

through the modified Ashworth scale (MAS), were performed before and after each

session. It was observed that active-rTMS associated with PT significantly reduced

the amplitude of Hmax/Mmax ratio at follow-up when compared to the baseline

(p=0.013) and to the CG (p=0.026). There was a reduction of spasticity from the 6th

session of treatment in the EG compared to the CG. The results also suggest an

increase in the cortical excitability of the non-lesional hemisphere the long of

treatment in the EG compared to baseline and tothe CG. Therefore rTMS associated

with PT can be beneficial in reducing the H-reflex amplitude of the median nerve and

post-stroke spasticity. However, more studies are needed to clarify the observed

electrophysiological mechanisms.

Keywords: Transcranial magnetic stimulation, Spasticity, Stroke, Physiotherapy.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

% Percentual

AVE Acidente vascular encefálico

cm Centímetros

DP Doença de Parkinson

EMA Escala modificada de Ashworth

EMG Eletromiografia

EMT Estimulação magnética transcraniana

EMTr Estimulação magnética transcraniana repetitiva

EMT-p Estimulação magnética transcraniana por pulso simples

FM Fisioterapia motora

FNP Facilitação neuromuscular proprioceptiva

HAS Hipertensão arterial sistêmica

Hmax Máxima amplitude do Reflexo H

Hmax/Mmax Razão entre a máxima amplitude do Reflexo H/ máxima resposta

motora

Hz Hertz

KHz Kilohertz

LANA Laboratório de Neurociência Aplicada

LMR Limiar motor de repouso

LTD Do inglês: long-term depression

LTP Do ingles: long-term potentiation

mA Miliampére

MIF Medida de indepedência funcional

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min Minuto

mm Milímetro

Mmax Máxima resposta motora

ms Milissegundos

mV Milivolts

μV Microvolts

Onda H Reflexo H visualizado por EMG

Onda M Resposta motora visualizada por EMG

PEM Potencial evocado motor

PID Músculo primeiro interósseo dorsal

Reflexo H Reflexo de Hoffmann

SENIAM Do inglês: surface electromyography for the non-Invasive assessment

of muscles

Sham Estimulação fictícia

UFPE Universidade Federal de Pernambuco

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LISTA DE QUADROS E TABELAS

INTRODUÇÃO

QUADRO 1 – ESCALA MODIFICADA DE ASHWORTH .......................................................... 27

QUADRO 2 – ESCALA DE TARDIEU ................................................................................. 28

RESULTADOS: ARTIGO CIENTÍFICO ORIGINAL

TABELA 1 – CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA DOS GRUPOS EXPERIMENTAL E CONTROLE ..... 72

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LISTA DE FIGURAS

INTRODUÇÃO

FIGURA 1 - MODULAÇÃO TERAPÊUTICA DA EXCITABILIDADE CORTICAL APÓS AVE .............. 22

FIGURA 2 - POSTURA PATOLÓGICA ESPÁSTICA APÓS ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO

(POSTURA DE WERNICKE-MANN) ................................................................................... 24

FIGURA 3 - MECANISMOS ESPINHAIS DE CONTROLE DO TÔNUS MUSCULAR ........................ 25

FIGURA 4 - MECANISMO FISIOLÓGICO DO REFLEXO DE HOFFMANN ................................... 29

FIGURA 5 - MODELO ESQUEMÁTICO DO MECANISMO DE AÇÃO DA EMT-P PARA OBTENÇÃO DE

PEM ........................................................................................................................... 33

MATERIAIS E MÉTODOS

FIGURA 1 - POSICIONAMENTO DA BOBINA DE EMT-P PARA OBTENÇÃO DOS PEM............... 43

FIGURA 2 - POSICIONAMENTO DOS ELETRODOS DE ESTIMULAÇÃO E DE REGISTRO ELETRO-

MIOGRÁFICO PARA OBTENÇÃO DO REFLEXO DE HOFFMANN E DA ONDA M .......................... 44

FIGURA 3 - POSICIONAMENTO PARA REALIZAÇÃO DE UMA SESSÃO DE EMTR DE BAIXA

FREQUÊNCIA APLICADA NO HEMISFÉRIO NÃO LESADO PELO AVE ...................................... 46

FIGURA 4 - PROGRAMA DE EXERCÍCIOS DA FISIOTERAPIA MOTORA .................................... 47

RESULTADOS: ARTIGO CIENTÍFICO ORIGINAL

FIGURA 1 – FLUXOGRAMA DE CONSTITUIÇÃO DA AMOSTRA DO PRESENTE ESTUDO ............. 71

FIGURA 2 – DIFERENÇA DA INTENSIDADE DO ESTIMULADOR MAGNÉTICO ENTRE A 1ª SESSÃO

DE TERAPÊUTICA E CADA SESSÃO DE TRATAMENTO DOS GRUPOS EXPERIMENTAL E CONTROLE

.................................................................................................................................. 73

FIGURA 3 – VALOR DO PEM DAS 10 SESSÕES TERAPÊUTICAS NORMALIZADO PELO PEM

INICIAL DE CADA SESSÃO DOS GRUPOS EXPERIMENTAL E CONTROLE ................................. 74

FIGURA 4 – COMPORTAMENTO EM PERCENTAGEM DA VARIAÇÃO DA RAZÃO HMAX/MMAX EM

RELAÇÃO AO VALOR INICIAL DE PRÉ-INTERVENÇÃO AO LONGO DO TEMPO NOS GRUPOS

EXPERIMENTAL E CONTROLE ......................................................................................... 75

FIGURA 5 – DIFERENÇA DO ESCORE DA ESCALA MODIFICADA DE ASHWORTH ANTES DE CADA

SESSÃO TERAPÊUTICA EM COMPARAÇÃO Á 1ª SESSÃO DOS GRUPOS EXPERIMENTAL E

CONTROLE ................................................................................................................... 76

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ........................................................................................................... 14

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 16

REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................................. 19

1. Acidente Vascular Encefálico .......................................................................... 19 1.1. Fisiopatologia do Acidente Vascular Encefálico ........................................... 20 2. Espasticidade .................................................................................................. 22 2.1. Fisiopatologia da Espasticidade ................................................................... 24 2.2. Métodos de Avaliação da Espasticidade...................................................... 26 3. Fisioterapia e Reabilitação na Espasticidade.................................................. 30 4. Estimulação Magnética Transcraniana ........................................................... 31 4.1. Técnicas de Estimulação Magnética Transcraniana .................................... 31 4.2. Mecanismos de Ação ................................................................................... 33 4.3. Aplicação Terapêutica da Estimulação Magnética Transcraniana ............... 34 4.4. Aplicação Terapêutica da EMT na Espasticidade ........................................ 36

HIPÓTESE .................................................................................................................... 37

OBJETIVOS .................................................................................................................. 37

1. Objetivo Geral ................................................................................................. 37 2. Objetivos Específicos ...................................................................................... 37

MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................ 39

1. Desenho do Estudo ........................................................................................ 39 2. Local e Período do Estudo .............................................................................. 39 3. Aspectos Éticos .............................................................................................. 39 4. População/Amostra e Critérios de Elegibilidade ............................................. 39 5. Variáveis do Estudo ........................................................................................ 41 5.1. Variável Independente ................................................................................. 41 5.2. Variáveis Dependentes ................................................................................ 41 6. Avaliação ........................................................................................................ 41 6.1. Medidas de Desfecho .................................................................................. 41 6.1.1. Desfechos Primários ................................................................................. 42 6.1.1.1. Variação da excitabilidade cortical ......................................................... 42 6.1.1.2. Variação da excitabilidade da medula espinal ....................................... 43 6.1.2. Desfecho Secundário ................................................................................ 45 6.1.2.1. Variação do grau de espasticidade ........................................................ 45 7. Intervenções Terapêuticas .............................................................................. 45 7.1. Estimulação Magnética Transcraniana Repetitiva ....................................... 45 7.2. Fisioterapia Motora ...................................................................................... 47 8. Procedimentos Experimentais ........................................................................ 48 8.1. Randomização, Sigilo de Alocação e Cegamento ....................................... 48 8.2. Sessões Experimentais................................................................................ 48 9. Processamento e Análise de Dados ............................................................... 49

RESULTADOS ............................................................................................................... 51

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ARTIGO CIENTÍFICO ORIGINAL: MUDANÇAS NA EXCITABILIDADE CORTICAL E MEDULAR APÓS

ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA REPETITIVA ASSOCIADA À FISIOTERAPIA EM

PACIENTES COM HEMIPARESIA ESPÁSTICA PÓS-ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: ENSAIO

CLÍNICO, RANDOMIZADO E DUPLO CEGO .......................................................................... 51

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 77

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 78

APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

APÊNDICE B – FICHA DE TRIAGEM CLÍNICA

APÊNDICE C – FICHA DE AVALIAÇÃO CLÍNICA

APÊNDICE D – PROTOCOLO DE FISIOTERAPIA MOTORA

ANEXO I – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA EM SERES HUMANOS

ANEXO II – ESCALA MODIFICADA DE ASHWORTH

ANEXO III – FOLSTEIN MINI MENTAL STATUS EXAMINATION

ANEXO III – PRODUÇÃO TÉCNICA - Apresentação de trabalho formato oral e publicação

de resumo em anais, 2012.

ANEXO IV – PRODUÇÃO TÉCNICA - Apresentação de trabalho formato pôster e

publicação de resumo em anais, 2012.

ANEXO V – PRODUÇÃO TÉCNICA - Apresentação de trabalho formato pôster e

publicação de resumo em anais, 2012.

ANEXO VI – PRODUÇÃO TÉCNICA - Apresentação de trabalho formato oral e publicação

de resumo em anais, 2012.

ANEXO VII – PRODUÇÃO TÉCNICA - Apresentação de trabalho formato pôster e

publicação de resumo em anais, 2012.

ANEXO VIII – PRODUÇÃO TÉCNICA - Apresentação de trabalho formato pôster e

publicação de resumo em anais, 2012.

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APRESENTAÇÃO

Esta dissertação faz parte da linha de pesquisa “estudo da aplicabilidade de

técnicas de estimulação cerebral na reabilitação de pacientes neurológicos” do

Laboratório de Neurociência Aplicada – LANA do departamento de Fisioterapia da

Universidade Federal de Pernambuco. Os estudos realizados nesta linha de

pesquisa têm direcionado a atenção em: (i) entender como as técnicas de

estimulação transcraniana interferem no controle motor de sujeitos saudáveis e (ii)

verificar as repercussões terapêuticas da aplicação das estimulações transcranianas

na recuperação/reabilitação de pacientes neurológicos. A presente dissertação

enquadra-se no último tópico por propor analisar as repercussões terapêuticas de

estimulação magnética transcraniana (EMT) sobre a hemiparesia espástica de

pacientes pós-acidente vascular encefálico (AVE). Em particular, o propósito desta

dissertação foi investigar o impacto da EMT associada à fisioterapia sobre a

hemiparesia espástica do membro superior de pacientes acometidos por AVE

avaliando alguns aspectos fisiológicos envolvidos na fisiopatologia da enfermidade.

A proposta do estudo surgiu por duas razões da prática clínica. A primeira

veio da observação de que a recuperação da função do membro superior é crítica no

retorno à funcionalidade de indivíduos após AVE e que na maioria dos casos, a

recuperação da função do membro superior é mais lenta e menos eficiente do que a

do membro inferior. Neste cenário, a busca por novas abordagens que apresentem

um melhor resultado na reabilitação do membro superior tem sido incentivada. A

segunda veio do fato que muito dos pacientes são impedidos de serem submetidos

a novas abordagens terapêuticas, como por exemplo, a terapia de contensão e

indução do movimento e a terapia por realidade virtual, devido à presença de níveis

de espasticidade que os impedem de realizar pequenas amplitudes de movimento

com o membro parético, requesito essencial para a realização das abordagens

terapêuticas.

Os dados obtidos com este estudo resultaram em contribuições científicas,

como o convite para apresentação oral dos resultados da pesquisa para um dos

mais importantes encontros da área de neuromodulação, IV Simpósio Internacional

em Neuromodulação (São Paulo/ 2012) e a elaboração do artigo original intitulado

Page 17: NEUROMODULAÇÃO CORTICAL E MEDULAR APÓS … · do reflexo-H do nervo mediano e da espasticidade após-AVE. No entanto, são necessários mais estudos para esclarecer os mecanismos

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“Mudanças na excitabilidade cortical e medular após estimulação magnética

transcraniana repetitiva associada à fisioterapia em pacientes com hemiparesia

espástica pós-acidente vascular encefálico: ensaio clínico, randomizado e duplo

cego” que será enviado para a revista NeuroRehabilitation & Neural Repair (qualis

A1 para área 21 da CAPES)

Atendendo às normas vigentes do Programa de Pós-graduação Strictu Sensu

em fisioterapia da UFPE para elaboração da dissertação, o presente exemplar está

estruturado em capítulos da seguinte forma:

Introdução: contém uma breve introdução, a revisão da literatura, hipótese e

os objetivos do estudo.

Materiais e métodos

Resultados: apresentado no formato de artigo original

Referências bibliográficas da introdução e materiais e métodos

Considerações finais

Apêndices e Anexos

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INTRODUÇÃO

O acidente vascular encefálico (AVE) é uma das maiores causas de

mortalidade e incapacidade em todo o mundo (KLOTZ et al., 2006; GILES;

ROTHWELL, 2008). O AVE é definido pela Organização Mundial de Saúde (WORLD

HEALTH ORGANIZATION, 2013) como sendo uma síndrome de rápido

desenvolvimento, com sinais clínicos de perturbação focal ou global da função

cerebral por mais de 18 horas sem nenhuma causa aparente senão de origem

vascular. Atualmente o AVE é a doença que mais mata no Brasil, em 2010 foram

registrados 99.732 óbitos por esta doença, destes, 4.962 óbitos ocorreram em

Pernambuco (MINISTÉRIO DA SAÚDE- DATASUS, 2010)

Clinicamente, diversas deficiências são possíveis, incluindo danos às funções

motoras, sensitivas, mentais, perceptivas e de linguagem (CANEDA et al., 2006).

Dentre as sequelas sensitivo-motoras mais comuns que acometem o paciente, a

espasticidade é a mais limitante, contribuindo não apenas para a perda da

movimentação voluntária como também para o desenvolvimento de contraturas

articulares e dor (COUSINS et al., 2009), o que dificulta a realização das tarefas

diárias e limita a funcionabilidade dos membros afetados (HARRIS; ENG, 2007).

A espasticidade pode ser definida como o aumento velocidade-dependente do

tônus muscular, com exacerbação dos reflexos profundos, decorrentes da

hiperexcitabilidade do reflexo do estiramento. Apesar de não ter a fisiopatologia

totalmente compreendida, estudos apontam que esta condição patológica é

resultante da lesão do neurônio motor superior (LANCE, 1980). O córtex motor

exerce efeito inibitório sobre a medula espinal, através do trato corticoespinal

(VALERO-CABRE; PASCUAL-LEONE, 2005; VALLE et al., 2007). Dessa maneira, a

lesão do córtex motor pode resultar em perda do efeito inibitório através do trato

corticoespinal promovendo aumento da excitabilidade espinal e dos motoneurônios

gama e alfa, resultando em espasticidade (MEUNIER; PIERROT-DESEILLIGNY,

1998; GOLDSTEIN, 2001). Assim, especula-se que aumentando a atividade neural

no córtex motor do hemisfério lesado pelo AVE resultaria em redução da

espasticidade.

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A fisioterapia está entre os recursos disponíveis para o controle do tônus

muscular. O tratamento fisioterapêutico consiste basicamente da aplicação de

técnicas inibitórias que incluem exercícios baseados no método neuroevolutivo

Bobath (BOBATH, 1980), uso de órteses (LANNIN et al., 2007), estimulação elétrica

neuromuscular (MIYAZAKI et al., 2008), alongamento prolongado (YEH; CHEN;

TSAI, 2004), Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva – FNP (ADLER et al., 2007),

dentre outras. No entanto, estudiosos apontam algumas limitações destas técnicas

quanto à normalização do tônus muscular (SIMON; YELNIK, 2010).

Abordagens terapêuticas antiespásticas vêm sendo empregadas nos últimos

anos através da estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr). Esta vem

sendo aplicada no tratamento da espasticidade não somente após-AVE (KAKUDA et

al., 2011; TAKEUCHI et al., 2005) mas também em várias outras desordens

neurológicas como por exemplo: esclerose múltipla (CENTONZE et al., 2007),

paralisia cerebral (VALLE et al., 2007) e lesão medular (KUMRU et al., 2010).

Dois diferentes protocolos de EMTr têm sido usados no tratamento da

espasticidade: EMTr de alta frequência aplicada sobre o córtex motor lesado

(CENTONZE et al., 2007; VALLE et al., 2007) e EMTr de baixa frequência sobre o

córtex motor não lesado (KAKUDA et al., 2011). EMTr de baixa frequência promove

diminuição temporária da excitabilidade cortical, enquanto que a EMTr de alta

frequência promove o efeito oposto (CONFORTO et al., 2003; TERAO; UGAWA,

2002).

Os mecanismos fisiológicos pelos quais a EMTr de alta frequência reduz a

espasticidade foram atribuídos, no estudo de Valle et al. (2007), ao aumento da

excitabilidade cortical, induzida pela estimulação cerebral, o que levaria a maior

influência inibitória do trato corticoespinal, reduzindo a hiperativação dos

motoneurônios alfa e gama com consequente diminuição da espasticidade.

A explicação do benefício causado pela EMTr inibitória sobre o córtex não

lesado na espasticidade é um pouco mais complexa e está baseada no modelo de

competição inter-hemisférica de processamento sensorial e motor. A

neuroplasticidade após lesão encefálica ocorre por meio da modulação da

transmissão sináptica e/ou reorganização das áreas de representações funcionais

lesionadas ou circunvizinhas no hemisfério lesado, como também em áreas

homólogas no hemisfério não lesado. Entretanto, algumas dessas mudanças são

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inadequadas e facilitam o aumento da inibição inter-hemisférica exercida pelo

hemisfério não lesado e dificulta a recuperação do hemisfério lesado (NOWAK et al.,

2009). Assim, estimulações inibitórias sobre o córtex motor não lesado têm sido

aplicadas com intuito de promover o reequilíbrio da arquitetura fisiológica entre os

hemisférios cerebrais, diminuindo a inibição do hemisfério não lesado e por

consequência aumentando a atividade cortical no córtex lesado (TAKEUCHI; IZUMI,

2012).

Em paralelo, as estimulações cerebrais não invasivas vêm também sendo

empregadas como terapias complementares à fisioterapia (SCHABRUN;

CHIPCHASE, 2012). Estudos clínicos apontam para resultados promissores na

melhora do desempenho motor de pacientes neurológicos, quando as estimulações

cerebrais são associadas à fisioterapia (BOLOGNINI; PASCUAL-LEONE; FREGNI,

2009). É possível que as estimulações cerebrais não invasivas exerçam um papel

neuropreparatório no intuito de maximizar os efeitos de técnicas terapêuticas

subsequentes (SCHABRUN; CHIPCHASE, 2012).

Recentemente, alguns estudos têm reportado efeitos positivos do uso da

EMTr associada ao treino motor sobre o membro superior espástico de pacientes

pós-AVE (CONFORTO et al., 2010; KAKUDA et al.,2011). Kakuda et al. (2011)

observaram que a EMTr de baixa frequência aplicada sobre o hemisfério não lesado

quando associada à terapia ocupacional foi eficiente em reduzir o grau de

espasticidade quando esta foi avaliada por medida de desfecho clínico, a escala

modificada de Ashworth (EMA). No entanto, as alterações eletrofisiológicas

responsáveis por tais achados clínicos ainda não são totalmente compreendidas. No

presente estudo foi avaliado as repercussões eletrofisiológicas, no córtex motor e na

medula espinal, da associação da EMTr inibitória no córtex não lesado com a

fisioterapia no tratamento da hemiparesia espástica crônica do membro superior de

pacientes pós-AVE.

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REVISÃO DA LITERATURA

1. ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO

O acidente vascular encefálico (AVE) ocorre devido ao comprometimento

funcional neurológico causado por um suprimento inadequado de sangue ao tecido

cerebral, normalmente isto ocorre devido ao bloqueio de um vaso sanguíneo (forma

isquêmica) ou rompimento de um vaso com extravasamento de sangue para dentro

ou para o entorno das estruturas do sistema nervoso central (forma hemorrágica).

Ambas as situações culminam em impedir o fornecimento de oxigênio e nutrientes,

causando danos ao tecido encefálico (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2013;

CHAVES, 2000).

Ao todo, cerca de 85-88% dos casos de AVE são isquêmicos,

predominantemente embólicos, e 12-15% hemorrágicos, porém não é possível

diferenciá-los ao exame clínico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010; DE LA PAZ, 2007).

Os prejuízos de um acidente vascular encefálico podem depender da área do

encéfalo atingida e da extensão e severidade da lesão. Um AVE grave, por exemplo,

pode provocar morte súbita (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2013).

Mundialmente são registrados 16 milhões de novos casos de AVE por ano, destes, 6

milhões vão a óbito. No Brasil são cerca de 68 mil mortes anualmente. Esta doença

representa a primeira causa de morte e incapacidade no país, o que gera grande

impacto econômico e social (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010). De acordo com o

Portal da Saúde do ministério da saúde (2012) foram realizadas no Brasil 179.185

internações por AVE no ano de 2011, que custaram R$ 197,9 milhões para o

Sistema Único de Saúde.

Em Pernambuco os números também são preocupantes. De acordo com a

avaliação do desempenho do sistema nacional de saúde, no ano de 2008 a taxa de

mortalidade por AVE em Pernambuco foi de 57,7/100 mil habitantes, superior à

média nacional de 51,6/100 mil habitantes (CADERNOS DE INFORMAÇÃO DE

SAÚDE - DATASUS, 2010).

São muitos os tipo de sequelas decorrentes do AVE, incluindo alterações do

nível de consciência, alterações cognitivas, da percepção, linguagem, motoras e

sensitivas (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 2003; LAVADOS et al., 2007). A

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função motora mais comumente afetada é a do membro superior gerando inúmeras

consequências deletérias à função corporal e à realização de atividades cotidianas

(DROMERICK; EDWARDS; HAHN, 2000; LUM et al., 2009; LEVIN; PANTURIN,

2011). Apesar de submetidos a tratamentos intensivos de reabilitação, a

recuperação dos déficits motores que acometem a extremidade superior decorrentes

de um AVE é incompleta na grande maioria dos indivíduos afetados (LAI et al., 2002;

NAKAYAMA et al., 1994). Seis meses após a lesão, até 60% dos sobreviventes de

AVE ainda sofrem com a destreza manual prejudicada, o que afeta suas atividades

de vida diária. Apenas uma minoria dos pacientes retornam à sua vida profissional

(KOLOMINSKY-RABAS et al., 2001; KWAKKEL et al., 2002; NAKAYAMA et al.,

1994).

Dentre os distúrbios motores mais incapacitantes decorrentes do AVE

destaca-se a espasticidade, por estar associada à redução da capacidade funcional,

perda da movimentação voluntária, limitação da amplitude de movimento articular e

desencadeamento de dor (COUSINS et al., 2009; MOREIRA; KIMAID, 2011).

1.1 FISIOPATOLOGIA DO ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO

Nas últimas décadas, as pesquisas em neurociência têm avançado no

conhecimento a respeito da fisiopatologia da lesão no intuito de desenvolver

abordagens terapêuticas mais eficientes. Inúmeros estudos com modelos humanos

e animais têm demonstrado que a plasticidade neural pode modificar a estrutura

e/ou a função do sistema nervoso central após um AVE (CHEN; EPSTEIN; STERN,

2010; HOSP; LUFT, 2011). Embora na maioria das vezes, a plasticidade neural

esteja envolvida na recuperação motora após o AVE, sabe-se que nem todas essas

mudanças plásticas contribuem de fato para a melhora da função motora

(DANCAUSE; NUDO, 2011; JOHNSTON, 2009).

A recuperação após AVE é um processo complexo que ocorrem

provavelmente através de uma combinação de processos espontâneos e/ou

dependentes da prática motora (KWAKKEL; KOLLEN; LINDEMAN, 2004). Com base

neste conhecimento da neurociência, acredita-se que promovendo plasticidade no

cérebro lesado se estaria indiretamente promovendo a recuperação do paciente.

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A plasticidade reparadora, a grande responsável pela recuperação

espontânea na fase aguda e subaguda, inicia-se logo após o AVE por meio da

regeneração (brotamento axonal e dendrítico) e/ou reorganização das áreas do

córtex motor, tais como modulação da plasticidade sináptica e remapeamento das

representações funcionais a partir de áreas em torno da lesão ou áreas homólogas

do hemisfério não lesado (contralesional) (CRAMER; RILEY, 2008). O

remapeamento das regiões lesionadas para o hemisfério contralateral tem sido

confirmado por estudos que revelaram, através de imagens de ressonância

magnética funcional, ativação bi-hemisférica quando o membro superior parético de

pacientes pós-AVE era movimentado (NAIR et al., 2007).

No entanto, o remapeamento motor para o córtex contralateral ao AVE nem

sempre pode ser adaptativo ou promover a recuperação do paciente. Na fase

crônica, o aumento exagerado da ativação do hemisfério contralateral à lesão pode

prejudicar a recuperação funcional do paciente (FERBERT et al., 1992). Isso porque,

no cérebro saudável, a atividade neural das áreas motoras de ambos os lados dos

hemisférios são funcionalmente acopladas e igualmente equilibradas através de

controle inibitório mútuo exercido por meio de circuitos de inibição transcalosos, este

fenômeno é conhecido como inibição inter-hemisférica. O AVE pode afetar esse

equilíbrio gerando um padrão de ativação neural maladaptativa no qual o córtex

motor não lesado pelo AVE exerce inibição patológica, considerada exagerada,

sobre o córtex motor lesado (NOWAK et al., 2009; TAKEUCHI; IZUMI, 2012), o que

prejudicaria sua recuperação.

Tais mudanças induzidas pelo AVE são consideradas como as possíveis

causas do aumento da excitabilidade cortical encontrado no hemisfério não lesado e

redução da excitabilidade cortical no hemisfério lesado (HUMMEL; COHEN, 2006;

MURASE et al., 2004). De fato, estudos de imagem em seres humanos mostram que

logo após a lesão ocorre um desequilíbrio, observando-se níveis anormalmente

elevados de atividade no hemisfério contralesional e baixa atividade ipsilesional

(GAUTHIER et al., 2011; LIN et al., 2010).

O conceito de inibição inter-hemisférica anormal no AVE é o modelo

hipotético utilizado nas terapias de modulação da excitabilidade cortical através das

estimulações cerebrais não invasivas, conforme ilustrado na figura 1, nas quais são

utilizadas estimulações excitatórias sobre o córtex motor lesado e/ou estimulações

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inibitórias sobre o córtex motor não lesado, sempre com intuito de promover o

reequilíbrio da arquitetura fisiológica entre os hemisférios cerebrais (TAKEUCHI;

IZUMI, 2012).

Figura 1. Modulação terapêutica da excitabilidade cortical após AVE. Reequilíbrio da inibição inter-hemisférica após AVE, promovido pela inibição do córtex motor primário não lesado (contralesional) em “A” e facilitação do córtex motor lesado (ipsilesional) em “B”. Adaptado de Nowak et al., 2009.

2. ESPASTICIDADE

A espasticidade é um distúrbio motor frequente nas lesões congênitas ou

adquiridas do sistema nervoso central. A definição mais aceita diz se tratar de um

distúrbio motor caracterizado pelo aumento velocidade-dependente do tônus

muscular, ofertando maior resistência ao movimento passivo, secundário à lesão do

neurônio motor superior do trato corticoespinal. Esta condição está associada à

exacerbação dos reflexos profundos (LANCE, 1980; YOUNG, 1994).

Não existem dados epidemiológicos nacionais a respeito da incidência e

prevalência da espasticidade no Brasil. Segundo números internacionais a

prevalência da espasticidade no adulto é relatada em cerca de 20-35% dos

pacientes após AVE (LUNDSTROM; TERENT, 2008; SOMMERFELD et al., 2004),

Hemisfério lesado

Mão afetada Mão afetada

Hemisfério lesado

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13-20% em pacientes que sofreram traumatismo crânio-encefálico moderado a

grave (VIVANCOS-MATELLANO et al., 2007), 65-78% em pacientes com lesão

medular (MAYNARD et al., 1990) e mais de 85% em pacientes com esclerose

múltipla (RIZZO et al., 2004). Em crianças, a paralisia cerebral é a responsável pela

maioria dos casos, afetando cerca de 70-80% dos indivíduos (VIVANCOS-

MATELLANO et al., 2007).

Os sinais clínicos da espasticidade são variáveis e dependem da localização,

gravidade e tempo de instalação da lesão, geralmente promovem redução da

capacidade funcional associada a prejuízos na qualidade de vida (CONSENSO

NACIONAL SOBRE ESPASTICIDADE, 2001; WELMER et al., 2006). Os principais

sintomas associados à espasticidade são: fraqueza muscular, diminuição da

destreza manual, aumento do tônus muscular em resposta à movimentação passiva,

aumento dos reflexos profundos (miotáticos) – fásicos (hiper-reflexia, clônus) e

tônicos (hipertonia generalizada do membro de rápido desenvolvimento no início do

movimento), aumento dos reflexos nociceptivos espinhais em flexão (tripla flexão –

resposta de retirada), presença de reflexos cutâneomusculares patológicos (sinal de

Babinski), hiper-reflexia autonômica, contraturas e dor (CONSENSO NACIONAL

SOBRE ESPASTICIDADE, 2001; MOREIRA; KIMAID, 2011).

A evolução natural dos sintomas é na direção da cronicidade, promovendo um

desequilíbrio muscular clássico com predomínio da espasticidade em determinados

grupos musculares tais como: músculos flexores nos membros superiores, com

postura em adução e rotação interna do ombro, flexão do cotovelo, punho e dedos e

pronação de punho e músculos extensores nos membros inferiores, com extensão e

rotação interna de quadril, extensão do joelho, flexão plantar e inversão do pé. Esta

postura patológica clássica é conhecida como atitude ou postura de Wernicke-Mann

(Figura 2) (TEIVE; ZONTA; KUMAGAIA, 1998; VIVANCOS-MATELLANO et al.,

2007).

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Figura 2. Postura patológica espástica após acidente vascular encefálico (postura de Wernicke-Mann). Evidenciando hemiparesia espástica à esquerda.

2.1. FISIOPATOLOGIA DA ESPASTICIDADE

A espasticidade está associada à hiperativação dos mecanismos espinhais

ilustrados na figura 3, em especial, à exacerbação do reflexo de estiramento. O arco

reflexo de estiramento é composto, principalmente, por um conjunto de dois tipos de

neurônios, na qual as fibras sensoriais Ia e II (intrafusais) são ativadas em resposta

ao alongamento do fuso muscular. As fibras desses neurônios, por sua vez,

penetram na raiz dorsal da medula espinal e fazem sinapses excitatórias com

interneurônios e com neurônios motores alfa (do corno ventral da medula)

direcionados para as fibras extrafusais do mesmo músculo, resultando em contração

muscular. Além disso, a excitabilidade deste circuito é regulada por uma rede de

interneurônios espinhais que são responsáveis por fenômenos específicos, tais

como, inibição dissináptica recíproca e inibição pré-sináptica Ia e Ib. Todos esses

mecanismos encontram-se alterados na espasticidade (MORI et al., 2009).

A fisiopatologia da espasticidade é complexa e pouco compreendida.

Acredita-se que haja uma condição de desinibição espinal ocasionada e modulada

por diferentes mecanismos. Indicando que esta condição pode não ser causada por

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uma única alteração, mas sim por uma cadeia complexa de alterações em diferentes

sistemas interdependentes. Entre seus principais mecanismos já elucidados

podemos citar:

(i) Redução da inibição pré-sináptica das fibras aferentes sensitivas Ia

intrafusais dos músculos flexores (NIELSEN; PETERSEN; CRONE,

1995);

(ii) Redução da inibição recíproca dissináptica das fibras aferentes

sensitivas Ia intrafusais de músculos antagonistas, provocando um

estado de cocontração (MEUNIER; PIERROT-DESEILLIGNY, 1998;

NIELSEN; CRONE; HULTBORN, 2007);

(iii) Atividade anormal dos aferentes sensitivos Ib dos órgãos tendinosos de

Golgi, facilitando (em vez de inibir) a atividade dos motoneurônios

alfa (DELWAIDE; OLIVIER, 1988).

(iv) Deficiente inibição recorrente dos motoneurônios alfa mediada pelas

células de Renshaw (CHAPMAN; WIESENDANGER, 1982; KATZ;

PIERRROT-DESEILLIGNY, 1999).

Figura 3. Mecanismos espinhais de controle do tônus muscular. Adaptado de (DRESSELER et al., 2005).

Não somente alterações ao nível pré-sináptico podem ser as responsáveis

pelo desenvolvimento da espasticidade, alterações na excitabilidade das

membranas dos motoneurônios parecem também estar envolvidas nesta

patogênese. Em estudos com modelos animais, após denervação do neurônio motor

Tendão

Fuso muscular

Músculo

Junção

neuromuscular

Motoneurônio α

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superior, houve alterações da excitabilidade das membranas dos motoneurônios

espinhais, devido à hiperativação dos canais voltagem-dependentes de cálcio e

sódio (NICKOLLS et al., 2004; GORASSINI et al., 2004).

Desde os estudos de Charles Sherrington’s em 1906 tem se discutido a ação

integrada do sistema nervoso, inclusive em apontar a participação do córtex motor

na fisiopatologia da espasticidade (BURKE, 2007). De fato, o córtex motor exerce

efeito inibitório sobre a medula espinal, através do trato corticoespinal (VALERO-

CABRE; PASCUAL-LEONE, 2005; VALLE et al., 2007). Dessa maneira, uma lesão

do neurônio motor superior pode resultar em perda do efeito inibitório através do

trato corticoespinal, promovendo um aumento da excitabilidade dos motoneurônios

alfa e gama, resultando em espasticidade (GOLDSTEIN, 2001).

Assim, especula-se que ao aumentar a atividade neural no córtex motor do

hemisfério lesado pelo AVE, resulta em aumento da influência inibitória através do

trato corticoespinal, levando a redução da excitabilidade dos motoneurônios alfa e

gama e consequentemente reduzindo a espasticidade (MEUNIER; PIERROT-

DESEILLIGNY, 1998; GOLDSTEIN, 2001).

2.2. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA ESPASTICIDADE

Os sinais clínicos da espasticidade podem ser avaliados por meio de

indicadores quantitativos e qualitativos, estes por sua vez, são importantes por

identificar o grau do acometimento e sua influência na função motora, sendo assim,

fundamentais na indicação de intervenções terapêuticas (ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE MEDICINA FÍSICA E REABILITAÇÃO, 2006a). Para a avaliação da

espasticidade podem ser utilizadas medidas clínicas e eletrofisiológicas. Na medição

clinica da espasticidade é realizada a estimativa do grau de resistência encontrado

quando uma articulação é movida em seu arco de movimento, fazendo com que

grupos musculares específicos sejam alongados (BOHANNON, 1987). A velocidade

da movimentação deve ser padronizada para assegurar a fidedignidade das

medidas.

A escala mais amplamente utilizada na avaliação da espasticidade é a Escala

Modificada de Ashworth (EMA) (ASHWORTH, 1964; BOHANNON, 1987). Esta é

uma escala ordinal de 5 pontos para graduação da resistência encontrada durante o

alongamento passivo, na qual 0 corresponde ao tônus normal e 4 corresponde ao

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aumento do tônus severo com rigidez articular (Quadro 1). Bohannon e Smith (1987)

observaram as seguintes vantagens na EMA: pode ser aplicada sem gastos

materiais, não é necessária utilização de equipamentos e trata-se de uma técnica

simples e de rápida aplicação. Ansari et al. (2012) mostram excelente confiabilidade

dessa escala, para avaliar espasticidade dos membros superiores, tanto entre

examinadores quanto intraexaminador.

Quadro 1. Escala Modificada de Ashworth. Análise quantitativa do tônus muscular.

GRAU DESCRIÇÃO

0 Nenhum aumento no tônus muscular;

1 Leve aumento do tônus muscular, manifestado por contração e relaxamento ou mínima resistência ao final da amplitude de movimento (ADM), quando a(s) parte(s) afetada(s) é(são) movimentadas(s) em flexão ou extensão;

1+ Leve aumento do tônus muscular, manifestado por uma contração, seguida por mínima resistência na ADM restante (menos da metade);

2 Aumento marcado no tônus muscular na ADM, mas parte(s) afetada(s) movimenta-se facilmente;

3 Considerável aumento no tônus muscular, dificuldade no movimento passivo;

4 Parte(s) afetada(s) rígida(s) em flexão ou extensão.

Fonte: BOHANNON; SMITH, 1987.

Outra escala ordinal bastante utilizada para mensurar a espasticidade é a

Escala de Tardieu, que gradua a rigidez elástica de acordo com o ângulo de maior

resistência, utiliza goniometria da amplitude articular (medida em graus). Esta avalia

a intensidade da reação muscular ao estiramento lento e o mais rápido possível

(Quadro 2) (TEIXEIRA; FONOFF, 2004).

Em adição a isto, as repercussões funcionais da espasticidade podem ser

avaliadas através das escalas funcionais, as mais utilizadas são: Índice de Barthel

(MAHONEY; BARTHEL, 1965) e Medida da Independência Funcional - MIF

(LINACRE et al., 1994).

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Quadro 2. Escala de Tardieu. Análise quantitativa da reação muscular.

GRAU DESCRIÇÃO

0 Sem resistência em toda amplitude de movimento passivo;

1 Discreta resistência no movimento passivo sem rigidez clara em determinado ângulo;

2 Interrupção clara de movimento passivo em determinado ângulo seguido de relaxamento;

3 Clônus fatigável (<10s de pressão mantida) em determinado ângulo;

4 Clônus não fatigável (>10s de pressão mantida) em determinado ângulo.

Fonte: TEIXEIRA; FONOFF, 2004.

Os métodos neurofisiológicos de avaliação da espasticidade geralmente

incluem medidas de excitabilidade da medula espinal, os testes mais utilizados são o

reflexo de Hoffman (reflexo H) e a onda F.

O reflexo H representa o mais importante reflexo miotático monossináptico.

Alterações na amplitude e latência deste reflexo fornecem informações a respeito do

grau de excitabilidade dos motoneurônios e indiretamente da medula espinal

(ANGEL; HOFFMANN, 1963; TEIXEIRA; OLNEY; BROUWER, 1998). Este reflexo

tem sido amplamente utilizado no âmbito das pesquisas científicas em neurologia e

neurociência como uma ferramenta não invasiva, indolor e de fácil realização para

investigar a espasticidade (MORI et al., 2010; VALERO-CABRE; PASCUAL-LEONE,

2005; BAKHEIT et al., 2003). A fisiologia atribuída a este arco reflexo está ilustrada

na figura 4 no qual, um nervo periférico é estimulado eletricamente, sob

características adequadas de estímulo, fazendo com que fibras aferentes sensitivas

Ia despolarizem, enviando impulsos para o corno dorsal da medula espinal. Na

medula, estas fibras fazem sinapses com interneurônios e motoneurônios alfa, que

por sua vez levam a uma resposta muscular chamada de onda H. Se aumentada a

intensidade do estímulo, outra resposta pode surgir: a onda M.

A onda M ocorre antes da onda H (ou seja, de menor latência) trata-se de

uma resposta direta do músculo à estimulação elétrica. Supressão da onda H pode

ocorrer com intensidades elevadas do estímulo elétrico, pois quando as intensidades

são muito altas e atingem as fibras nervosas eferentes, um impulso antidrômico vai

em direção ao corpo celular dos motoneurônios e faz com que as ondas H que iriam

ocorrer sejam canceladas. Por outro lado, é possível obter respostas apenas com a

onda H, pois a fibras sensitivas Ia possuem menor limiar do que as fibras motoras,

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permitindo através de estimulações de baixa intensidade, o surgimento apenas da

onda H (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 2003; PIERROT-DESEILLIGNY;

BURKE, 2005).

A onda F também é provocada por estímulo elétrico de um nervo periférico.

Diferentemente do reflexo H, a onda F não pode ser considerada um arco reflexo,

uma vez que ambas as vias aferente e eferente desta resposta pertencem ao

mesmo axônio motor alfa. Acontece quando um estímulo supramáximo, que abole o

reflexo H, é deflagrado sobre o nervo periférico e o potencial elétrico caminha em

duas direções: ortodrômico e antidrômico. O potencial ortodrômico atinge a placa

motora do músculo gerando a onda M. O potencial antidrômico atinge a medula

espinal e ativa 2 ou 3 motoneurônios, que em seguida, disparam novamente

retornando pelas mesma fibras motoras, produzindo um potencial de ação

relativamente pequeno chamado de onda F (KATZ; RYMER, 1989).

Figura 4. Mecanismo Fisiológico do Reflexo de Hoffmann. Adaptado de Huang et al. (2006).

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3. FISIOTERAPIA E REABILITAÇÃO NA ESPASTICIDADE

O principal objetivo da fisioterapia no tratamento da espasticidade é a

reabilitação funcional dos pacientes através da inibição da atividade reflexa

patológica visando à normalização tônica, restaurando os padrões normais,

consequentemente melhorando a funcionabilidade e controlando a dor

(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MEDICINA FÍSICA E REABILITAÇÃO, 2006b).

Inúmeras técnicas se propõem a cumprir estas finalidades, as principais são:

crioterapia (LEE; BANG; HAN, 2002), cinesioterapia, órteses (LANNIN et al., 2007) e

estimulação elétrica periférica (MIYAZAKI et al., 2008; CONFORTO et al., 2010).

Dentre essas, a cinesioterapia é a modalidade terapêutica mais citada no

tratamento da espasticidade, sendo a base da reabilitação. Essa atua na prevenção

de sequelas motoras secundárias e na reeducação neuromotora. Incentiva padrões

funcionais normais, fortalece a musculatura, mantém as amplitudes de movimento

articulares e promove estimulação sensorial e proprioceptiva, além de reduzir a

hipertonia (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MEDICINA FÍSICA E REABILITAÇÃO,

2006b). Os movimentos devem ser lentos e realizados diariamente, para evitar

induzir a hipertonia espástica. Os exercícios com grandes resistências devem ser

evitados nesses casos por reforçar as reações tônicas anormais e, portanto

aumentando a espasticidade (BOBATH, 1980).

Os princípios fisiológicos da cinesioterapia envolvem: inibição da

hiperatividade reflexa, promoção de neuroplasticidade do sistema nervoso central,

manutenção da condição músculo esquelética (número de sarcômeros e

elasticidade do tecido conjuntivo) e melhora da condição cardiorrespiratória (HOF,

2001).

São técnicas bastante empregadas: o método neuroevolutivo Bobath

(BOBATH, 1980), o alongamento prolongado (YEH; CHEN; TSAI, 2004), a

facilitação neuromuscular proprioceptiva – FNP (ADLER et al., 2007), dentre outras.

Evidências apontam que não há diferenças significantes entre os resultados

encontrados com a utilização das mesmas, mostrando não haver superioridade

entre qualquer uma dessas técnicas (BHAKTA, 2000).

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4. ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA

Estimulação magnética transcraniana (EMT) é uma ferramenta não invasiva

de estimulação elétrica do tecido neural baseada no princípio da indução

eletromagnética, postulada por Michael Faraday em 1838. Supõe-se que, a

passagem de uma corrente elétrica alternada, suficientemente rápida e potente,

através de uma bobina posicionada sobre a cabeça de um indivíduo é capaz de

gerar um campo magnético variável que penetra o couro cabeludo e o crânio,

chegando ao cérebro com atenuação insignificante. Esse campo magnético induz,

no tecido cerebral, uma corrente iônica secundária, focal e capaz de despolarizar

neurônios que estão em uma orientação apropriada ao campo magnético e,

consequentemente, gerar potenciais de ação (PASCUAL-LEONE, 2002). A

profundidade de penetração do campo magnético no tecido cerebral é de 1,5 – 2cm

abaixo do crânio, porém estruturas profundas podem ser indiretamente estimuladas

através das conexões das redes neurais (CONFORTO et al., 2003; PASSARD et al.,

2007).

Os primeiros relatos da utilização do uso “medicinal” da estimulação elétrica

no cérebro humano datam de 46 a.c. com os relatos de Scribonius Largus a respeito

da aplicação da descarga elétrica de um determinado peixe elétrico para alívio da

cefaleia. Apenas no final do século XVIII, com os estudos de Luigi Galvani e

Alessandro Volta, a terapia elétrica teve uma nova projeção. Na metade do século

XX, a introdução da eletroconvulsoterapia marcou definitivamente a posição da

terapia elétrica como uma ferramenta da psiquiatria. Porém, a introdução da EMT

com desenvolvimento de um equipamento biomédico capaz de promover alterações

na excitabilidade cerebral por meio de indução eletromagnética só foi elaborada e

publicada em 1985 por Anthony Barker et al. (Universidade de Sheffield, Inglaterra).

Neste experimento Barker et al. produziram movimentos involuntários através de

estimulação não invasiva do córtex motor em humanos (para revisão ver FREGNI;

BOGGIO; BRUNONI 2011).

4.1. TÉCNICAS DE ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA

Existem dois tipos principais de EMT: a de pulso único (EMT-p), utilizada para

fins de avaliação/diagnóstico; e a de pulso repetitivo (EMTr), utilizada para fins de

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tratamento. A EMT-p foi a primeira a ser desenvolvida e ainda é a modalidade mais

amplamente utilizada. A técnica se caracteriza pela passagem de um pulso de

corrente elétrica pela bobina de estimulação, repetido após intervalos de alguns

segundos. Desta maneira são geradas correntes elétricas no córtex cerebral abaixo

da bobina de estimulação, podendo promover a estimulação direta ou indireta (trans-

sináptica) do trato corticoespinal e consequentemente de unidades motoras. É

possível registrar, através de eletromiografia de superfície, o potencial evocado

motor (PEM) que representa a ativação de fibras musculares (resposta motora) das

unidades motoras estimuladas pela EMT-p no córtex motor contralateral ao registro

(CONFORTO et al., 2003), cujo mecanismo se encontra ilustrado na figura 5. A

amplitude do PEM depende basicamente da intensidade do estímulo magnético e do

grau de contração pré-estimulação. Esta medida pode ser utilizada para checar a

integridade do trato corticoespinal assim como, avaliar o seu grau de excitabilidade.

A localização no couro cabeludo na qual a estimulação magnética evoca maior

resposta motora (PEM), para um determinado músculo alvo, é chamado de hot spot,

e este é considerado a área de representação cortical do músculo.

Uma medida de excitabilidade do trato corticoespinal obtida através de EMT-p

é o limiar motor em repouso (LMR). Esta medida é definida como sendo a menor

intensidade de estímulo necessária para evocar um PEM de pelo menos 50 µV de

pico a pico, em pelo menos 50% das tentativas sucessivas, com o músculo alvo em

repouso (KOBAYASHI; PASCUAL-LEONE, 2003; CONFORTO et al., 2003).

Acredita-se que o LMR reflete a excitabilidade da membrana dos neurônios do trato

corticoespinal e de interneurônios do córtex motor, bem como a excitabilidade dos

neurônios motores espinhais, junções neuromusculares e músculo (MANN et al.,

1996). O LMR encontra-se alterado em algumas desordens neurológicas como, por

exemplo, aumentado no AVE, esclerose múltipla e no traumatismo crânio encefálico,

e reduzido na esclerose lateral amiotrófica (KOBAYASHI; PASCUAL-LEONE, 2003).

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33

Figura 5. Modelo esquemático do mecanismo de ação para obtenção de potencial evocado motor (PEM) através estimulação magnética transcraniana por pulso simples (EMT-p). IN: Interneurônio; NTCE: neurônio do trato corticoespinal; INM: interneurônio medular; Mα: motoneurônio alfa; MA: músculo alvo; EMG: eletromiografia de superfície; PEM: potencial evocado motor. Adaptado de CONFORTO et al., 2003 e RIDDING; ROTHWELL, 2007.

A aplicação de trens de pulsos magnéticos de mesma intensidade, a uma

determinada frequência e no mesmo local do cérebro, é conhecida por estimulação

magnética transcraniana repetitiva (EMTr). Conforme já explanado anteriormente, as

séries de EMTr costumam exercer efeitos modulatórios sobre a excitabilidade

cortical, a depender da frequência dos estímulos deflagrados, podendo promover

tanto inibição quanto facilitação. Baixas frequências de EMTr (≤ 1Hz) causam

inibição, enquanto que a EMTr de alta frequência (> 1Hz) promove facilitação

(CONFORTO et al., 2003; TERAO; UGAWA, 2002).

4.2. MECANISMO DE AÇÃO DA EMT

Pouco se sabe a respeito dos mecanismos fisiológicos responsáveis pela

capacidade de neuromodulação da EMTr. Estudos com neuroimagem combinada a

EMTr em humanos, demonstraram haver, na área de estimulação, um aumento ou

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uma redução do fluxo sanguíneo e do metabolismo cerebral, quando utilizada EMTr

de alta frequência e de baixa frequência respectivamente (FOX et al., 1997). A EMTr

parece exercer efeitos na plasticidade sináptica, por isso muitos estudo têm atribuído

os seus efeitos à mecanismos de potenciação de longa duração (LTP, do inglês

long-term potentiation) e depressão de longa duração (LTD, do inglês long-term

depression).

Originalmente proposta por Bliss e Lomo em 1973, a LTP é definida como um

aumento prolongado da magnitude da resposta sináptica de um neurônio, traduzida

em aumento do potencial excitatório pós-sináptico, quando o neurônio pré-sináptico

for estimulado por alta frequência (estímulo tetânico). O resultado é um aumento da

eficácia sináptica. Homologamente a isto, porém com efeito oposto, na ausência de

repetição, a LTP entra em um período de decadência passiva. Desta maneira, a LTD

é um fenômeno oposto à LTP, neste caso ocorre uma redução da sensibilidade da

membrana pós-sináptica. Propostos como mecanismos recíprocos a LTP e LTD têm

sido considerados como possíveis mecanismos para explicar os efeitos da EMTr de

alta frequência e baixa frequência, respectivamente. Outros mecanismos como

indução gênica e modulação de neurotransmissores também têm sido sugeridos

como mecanismos de ação da EMTr (KOBAYASHI; PASCUAL-LEONE, 2003;

FREGNI; MARCOLIN, 2011; GUSTAFSSON; WIGSTROM, 1988; PASCUAL-LEONE

et al., 1998).

4.3. APLICAÇÃO TERAPÊUTICA DA ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA

O uso clínico da EMTr têm sido alvo de inúmeros estudos recentes no âmbito

da neurologia e psiquiatria. Efeitos benéficos têm sido reportados no tratamento de

diversas desordens, entre elas: epilepsia (TASSINARI et al., 2003); Distonia

(LEFAUCHEUR et al., 2004); afasia (NAESER et al., 2005); transtornos de memória

(SOLE-PADULLÉS et al., 2006); disfunções executivas (REKTOROVA; MEGOVA;

REKTOR, 2005); doença de Alzheimer (ALAGONA; BELLA; FERRI, 2001); dor

aguda (TAMURA et al., 2004); dor crônica (PASSARD et al., 2007); tinnitus (DE

RIDDER et al., 2005); depressão refratária (HASEY, 2001); doença de Parkinson

(KHERDR et al., 2006); AVE (MACHADO et al, 2011); espasticidade (KAKUDA et al.,

2011). No entanto, os resultados nem sempre são favoráveis, sendo necessários

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mais esclarecimentos a respeito das bases fisiológicas responsáveis pelos efeitos

comportamentais alcançados por estas técnicas.

O tratamento da depressão refratária possui o maior potencial para aplicação

clínica atualmente. Recentes estudos apontam efeitos benéficos em cerca de 40%

dos pacientes com depressão resistente à medicação. Nestes estudos foram

utilizadas ambas as formas de EMTr, tanto alta frequência aplicada sobre o córtex

pré-frontal dorsolateral esquerdo, quanto baixa frequência aplicada sobre o lado

direito promoveram efeitos benéficos nestes casos (HASEY, 2001).

A recuperação motora de doentes neurológicos é um grande desafio para as

terapias de neuromodulação, pois, conforme discutido anteriormente, a perda da

função motora nesses pacientes não ocorre somente devido ao dano cerebral, mas

também às mudanças plásticas maladaptativas que geram padrões

comportamentais patológicos. Fregni et al. (2005) apontaram benefícios na função

motora de pacientes com doença de Parkinson (DP) após a utilização da EMTr.

Porém a magnitude dos efeitos foi baixa, talvez devido ao número reduzido de

pacientes nos estudos e às diferenças dos protocolos de tratamento. Vários estudos

têm reportado melhora da função motora da mão de pacientes com DP após EMTr

de alta frequência (5Hz) (PASCUAL-LEONE et al. 1994; SIEBNER et al., 1999). Em

adição a isto, Kherdr et al. (2006) estudaram 51 indivíduos com DP e observaram

uma melhora significativa da função motora nos indivíduos que receberam 6

sessões consecutivas de EMTr de 25Hz quando comparados aos grupos que

receberam EMTr 10Hz e sham.

Inúmeros estudos vêm demonstrando resultados satisfatórios na aplicação da

EMTr tanto de alta frequência como de baixa frequência em pacientes com AVE.

Emara et al. (2010) trataram 60 pacientes com AVE subagudo utilizando EMTr (5Hz,

1Hz ou sham) e fisioterapia. Os pacientes que receberam a estimulação ativa 5Hz

(sobre o hemisfério lesado) ou 1Hz (sobre o hemisfério não lesado) apresentaram

significante recuperação motora, que se manteve por 12 semanas. Este efeito não

ocorreu no grupo sham, porém não houve diferença estatística entre os grupos de

estimulação ativa. Chang et al. (2010) utilizaram a EMTr de alta frequência (10Hz)

ou sham, aplicadas sobre o córtex motor lesado, associada à prática motora para

tratar 28 pacientes após AVE. Foi observado que a função motora melhorou em

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ambos os grupos após o tratamento, porém a melhora foi mais evidente no grupo de

estimulação real. Estes efeitos continuaram a ser observados até três meses após o

período de intervenção. A maioria dos estudos atribui a recuperação da função

motora dos pacientes após AVE à reorganização da atividade cortical (NOWAK et

al., 2009; MACHADO et al., 2011).

4.4. APLICAÇÃO TERAPÊUTICA DA EMT NA ESPASTICIDADE

Tem crescido o número de estudos que se propõe a desenvolver protocolos

de EMTr, algumas vezes associados à fisioterapia, com finalidade de promover a

normalização tônica de pacientes após AVE. Kakuda et al. (2011) observaram

melhora da função motora e redução da espasticidade em 39 pacientes com

hemiparesia espástica no membro superior após AVE, ao final de 22 sessões

terapêuticas de EMTr (1Hz, sobre o hemisfério não lesado) e terapia ocupacional.

Porém este estudo não foi controlado.

A espasticidade também tem sido objetivo de estudo em várias outras

desordens neurológicas que não somente o AVE. Num estudo conduzido por

Centonze et al. (2007) foi utilizada EMTr de 5Hz em 19 pacientes com esclerose

múltipla, uma significante melhora da espasticidade do membro inferior e um

aumento da excitabilidade cortical traduzida por aumento da amplitude dos PEM,

foram observados após duas semanas de tratamento. Valle et al. (2007)

submeteram 17 pacientes, com quadriplegia espástica devido à paralisia cerebral, a

EMTr ativa (5Hz ou 1Hz) ou EMTr sham sobre o córtex motor primário. A

estimulação foi aplicada por cinco dias consecutivos e os resultados mostraram que

houve uma redução significativa da espasticidade nos indivíduos que receberam

estimulação de 5Hz e não de 1Hz nem sham. 15 pacientes com espasticidade em

membros inferiores após lesão medular incompleta receberam sessões diárias

durante cinco dias consecutivos de EMTr de alta frequência (20Hz) ou sham sobre o

córtex motor primário. Uma significante melhora clínica da espasticidade foi

observada apenas no grupo que recebeu estimulação ativa. Nenhum efeito

eletrofisiológico foi observado neste estudo (KUMRU et al., 2010) . O mecanismo

fisiológico pelo qual a EMTr reduz a espasticidade têm sido atribuído ao aumento da

influência inibitória exercida pelo trato corticoespinal, o que resultaria em redução da

atividade dos motoneurônios alfa e consequente diminuição da espasticidade

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(VALLE et al., 2007; MORI et al., 2009; CENTONZE et al., 2007; KUMRU et al.,

2010).

HIPÓTESE

A estimulação magnética transcraniana repetitiva de baixa frequência

associada à fisioterapia motora reduz o quadro espástico crônico de pacientes pós-

AVE diminuindo a excitabilidade da medula espinal e a atividade elétrica cortical do

hemisfério não lesado.

OBJETIVOS

1. Objetivo geral

Foi objetivo deste estudo avaliar os efeitos neurofisiológicos da estimulação

magnética transcraniana repetitiva de baixa frequência associada à fisioterapia

motora comparada a estimulação magnética transcraniana repetitiva fictícia

associada à fisioterapia motora na redução da espasticidade do membro superior de

pacientes após acidente vascular encefálico.

2. Objetivos Específicos

Em pacientes pós-AVE crônicos submetidos à estimulação magnética

transcraniana repetitiva de baixa frequência associada à fisioterapia mototra

comparado a pacientes pós-AVE crônicos submetidos à estimulação magnética

transcraniana repetitiva fictícia associada à fisioterapia motora:

Avaliar a variação da excitabilidade do córtex motor através da variação

da amplitude do potencial evocado motor (PEM) e da variação da

intensidade de estimulação necessária para gerar PEM de 1 mV;

Avaliar a variação da excitabilidade da medula espinal e dos

motoneurônios alfa através da variação da razão Hmax/Mmax (Reflexo H)

do nervo mediano;

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Avaliar a variação do grau de espasticidade dos músculos flexores do

punho através da escala modificada de Ashworth.

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MATERIAIS E MÉTODOS

1. DESENHO DO ESTUDO

O presente estudo trata-se de um ensaio clínico, randomizado, sham

controlado, duplo cego.

2. LOCAL E PERÍODO DO ESTUDO

O estudo foi realizado no Laboratório de Neurociência Aplicada (LANA) do

departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no

período de novembro de 2011 a novembro de 2012.

3. ASPECTOS ÉTICOS

Os procedimentos experimentais do estudo foram elaborados e desenvolvidos

respeitando as diretrizes da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e

conduzidos respeitando a Declaração de Helsinki de 1964. Adicionalmente os

pacientes, através do termo de consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE A),

estiveram cientes dos riscos e benefícios da sua participação e que a qualquer

momento durante a realização do estudo poderiam retirar-se do mesmo, sem

nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou a instituição que apoiou este

estudo. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo

seres humanos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de

Pernambuco, CAAE nº: 0053.0.172.000-11 (ANEXO I).

4. POPULAÇÃO/AMOSTRA E CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE

Pacientes hemiparéticos decorrentes de acidente vascular encefálico na fase

crônica da doença, foram recrutados através de anúncios em meios de comunicação

populares (jornais, rádios e sites) e por encaminhamento de hospitais e clínicas-

escola da região metropolitana do Recife-PE. Os critérios de inclusão foram:

Diagnóstico de AVE primário ou recorrente, isquêmico ou hemorrágico,

com no mínimo 6 meses e máximo de 10 anos entre o íctus e sua inclusão no

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estudo, comprovado por tomografia computadorizada ou ressonância

magnética, com comprimento delimitado;

Grau de espasticidade moderado a severo detectado por meio da escala

modificada de Ashworth (ANEXO II) (BOHANNON; SMITH, 1987), com

escore +1, 2 ou 3 para os flexores do punho do membro superior afetado;

Idades entre 40 a 75 anos;

Ambos os sexos;

Ausência de déficit cognitivo verificado através do Folstein Mini Mental

State Examination (escore ≥ 20; ANEXO III) modificado para a população

brasileira (BRUCKI et al., 2003).

Foram excluídos pacientes que apresentavam:

Evidência clínica de lesões encefálicas múltiplas;

Uso de medicação para tratamento da espasticidade no período de seis

meses anteriores a inclusão no estudo;

Contraindicação para realização da EMTr (gravidez, Implantes metálicos,

marcapasso, histórico de episódio de crise convulsiva ou epilepsia);

Realização de fisioterapia ou terapia ocupacional no período do estudo.

Inicialmente foi realizado contato telefônico com os pacientes (Triagem I), no

qual eram checados os seguintes critérios de inclusão e exclusão: idade, tempo de

lesão, contraindicação para utilização da EMTr, uso de medicamento para

tratamento da espasticidade e realização de fisioterapia e terapia ocupacional. Nos

casos em que o paciente atendia aos critérios checados na triagem I, o mesmo era

convidado a comparecer pessoalmente ao LANA para a realização da triagem

presencial (Triagem II). Nesta era checado o restante dos critérios de elegibilidade

do estudo através de uma ficha padronizada para triagem clínica (APÊNDICE B). Os

pacientes que atendiam aos critérios checados na triagem I e II foram convidados a

participar do estudo. Os voluntários que concordaram em participar assinaram o

termo de consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE A) antes de iniciar o estudo.

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5. VARIÁVEIS DO ESTUDO

5.1. VARIÁVEL INDEPENDENTE:

Estimulação magnética transcraniana repetitiva de baixa frequência

5.2. VARIÁVEIS DEPENDENTES:

- Variação da amplitude do potencial evocado motor: variável contínua

- Variação da intensidade de estímulo necessária para evocar PEM de 1mV:

variável contínua.

- Variação da razão Hmax/Mmax do nervo mediano: variável contínua.

- Variação do grau de espasticidade dos músculos flexores radiais do carpo:

variável ordinal.

6. AVALIAÇÃO

Para caracterização da amostra, inicialmente foram coletados dados

antropométricos, demográficos e clínicos através de uma ficha padronizada de

avaliação clínica (APÊNDICE C) e, em seguida, avaliações com as medidas de

desfechos foram realizadas.

Todas as avaliações foram conduzidas por um examinador familiarizado com os

testes e medidas usados no estudo e realizadas em momentos distintos. A medida

do Reflexo de Hoffmann, foi feita antes do início das intervenções terapêuticas (pré-

intervenção), imediatamente após o término das sessões (pós-intervenção) e 4

semanas após o fim das sessões terapêuticas (follow-up). As medidas do PEM e da

escala modificada de Ashworth foram realizadas antes e após cada sessão

terapêutica.

6.1. MEDIDAS DE DESFECHOS

No presente estudo as variações na excitabilidade cortical e espinal foram

utilizadas como medidas de desfecho primário e a variação do grau de espasticidade

como medida de desfecho secundário.

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6.1.1. DESFECHOS PRIMÁRIOS

6.1.1.1. VARIAÇÃO DA EXCITABILIDADE CORTICAL

Potenciais evocados motores (PEM) foram obtidos através da estimulação

magnética transcraniana por pulsos simples (EMT-p) e utilizados para medir o nível

de excitabilidade do trato corticoespinal. Para isso, os pacientes foram instruídos a

sentar em uma cadeira e buscar uma posição confortável. Inicialmente, estímulos

simples de EMT-p foram administrados, através de uma bobina em forma de “8”

(70mm de diâmetro) conectada a um estimulador magnético (marca/modelo:

NEUROSOFT- Neuro-MS). A bobina foi posicionada manualmente, encostada no

escalpo alinhada em 45° da linha média e apontada para a região anterior do crânio

sobre o córtex motor não lesado para determinar a área de representação cortical do

músculo primeiro interósseo dorsal da mão (PID)—região a qual apresentava

amplitudes de PEM mais elevadas, medida através de eletromiógrafo

(marca/modelo: NEUROSOFT- Neuro-MS; Figura 1). Para registro eletromiográfico

dos PEM era solicitado ao paciente realizar adução do polegar e um eletrodo de

registro posicionado no local de maior massa muscular visível sobre o PID. O

segundo eletrodo eletromiográfico era posicionado na proeminência óssea da

articulação interfalangeana do polegar da mesma mão. Os sinais eletromiográficos

foram amplificados e filtrados com um filtro da passa-banda de 2.0 kHz e digitalizado

em um frequência de 5kHz.

Para avaliar os efeitos da EMTr ativa/sham combinada com a fisioterapia,

antes de cada sessão, a intensidade do estimulador magnético, dado em

percentagem da capacidade máxima do equipamento, era ajustado para produzir

PEM de amplitude média de 1 mV no músculo PID (PEM antes). Para esta medida

eram registrados 20 PEM de forma a se obter uma média de PEM de

aproximadamente 1 mV. Após cada sessão, com a mesma intensidade do

estimulador utilizada para o PEM antes, eram registrados mais 20 PEM e obtida uma

nova média (PEM depois). Para avaliar o comportamento da excitabilidade cortical

foi utilizado o valor normalizado dos PEM (PEM depois/PEM antes) a cada sessão

terapêutica e a análise da intensidade do estimulador necessária para evocar PEM

de 1 mV ao longo das sessões de tratamento. Para garantir o mesmo

posicionamento ao longo da sessão, o posicionamento da bobina foi marcado com

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lápis negro numa touca de tecido elástico que envolvia o crânio do indivíduo. Este

método de avaliação da excitabilidade cortical tem sido bastante utilizado para

investigar diversas condições terapêuticas (PASCUAL-LEONE et al., 1992).

Figura 1. Posicionamento da bobina de estimulação magnética transcranina por pulsos simples (EMT-p) para obtensão dos PEM.

6.1.1.2. VARIAÇÃO DA EXCITABILIDADE DA MEDULA ESPINAL

A variação da amplitude do reflexo H foi utilizada como medida da variação da

excitabilidade da medula espinal. Para isso, foi realizada a normalização da

amplitude do reflexo H com a resposta muscular máxima. A razão H Max/M Max, na

qual H Max corresponde à máxima amplitude, de pico a pico, da onda H e a M Max

corresponde à máxima amplitude, de pico a pico, da onda M, ambas foram obtidas

através de estimulação elétrica de um nervo periférico.

O reflexo H e a onda M foram obtidos com o paciente confortavelmente

sentado com o braço parético em posição supina sobre um travesseiro apoiado nas

pernas. O reflexo e a onda M foram gerados por estimulação elétrica cujo protocolo

de estimulação consistiu de pulsos retangulares com 1ms de duração e frequência

de estímulo de 0,2Hz, aplicados através de eletrodos bipolares fixados sobre o nervo

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mediano na face antero-medial da articulação do cotovelo (marca: NEUROSOFT;

figura 2). A intensidade inicial do estímulo elétrico (1mA) foi gradativamente

aumentada em 0,2mA até ser obtida as amplitudes máximas, de pico a pico, do

reflexo H e da onda M.

As ondas Hmax e Mmax eram registradas por eletromiografia (EMG) de

superfície no músculo flexor radial do carpo, o eletrodo eletromiográfico ativo era

posicionado à 1/3 proximal da distância total entre o epicôndilo medial do úmero e o

processo estiloide do rádio, o eletrodo eletromiográfico de referência era posicionado

sobre o tendão do mesmo músculo na face anterior do punho, um eletrodo terra era

posicionado entre os eletrodos de registro, conforme evidenciado na figura 2,

baseado em Palmieri, Ingersoll e Hoffman (2004). De modo a diminuir a impedância,

higienização da pele com álcool 70% foi realizada no local onde os eletrodos foram

fixados e um gel eletrolítico para contato entre os eletrodos e a pele foi usado. Os

sinais de EMG foram amplificados e passados por um filtro passa-banda com

frequência de corte de 10 a 1KHz e utilizada uma frequência de amostragem da

EMG de 2500Hz por canal.

Figura 2. Posicionamento dos eletrodos de estimulação e de registro eletromiográfico para obtenção do reflexo de Hoffmann e da onda M. (1) eletrodo de estimulação, (2) eletrodo de registro eletromiográfico ativo posicionado à 1/3 proximal da distância entre o epicôndilo medial do úmero e o processo estiloide do rádio (linha vermelha), (3) eletrodo terra, (4) eletrodo de registro eletromiográfico.

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6.1.2. DESFECHO SECUNDÁRIO

6.1.2.1. VARIAÇÃO DO GRAU DE ESPASTICIDADE

A escala modificada de Ashworth (EMA) é um dos recursos mais utilizados

para mensuração da espasticidade (BOHANNON; SMITH, 1987). Este é um

instrumento qualitativo com medidas do tipo ordinal de escores que graduam em

ordem crescente a resistência ao movimento passivo (ANEXO II). A EMA foi

realizada antes e após cada sessão de EMTr e sempre pelo mesmo avaliador.

Para esta avaliação o paciente foi instruído a manter-se relaxado, sentado

confortavelmente numa cadeira, com a cabeça e tronco posicionados em linha reta,

com o membro superior parético descansando sobre um travesseiro apoiado sobre

seus membros inferiores, com cotovelo levemente fletido, antebraço em posição

neutra e flexão de punho. O avaliador esteve posicionado lateralmente ao lado

parético do paciente, com uma mão estabilizando o punho e a outra mão segurando

a mão do paciente pela superfície dorsal. O avaliador realizava o movimento de

extensão do punho partindo de uma flexão máxima. A resistência ao movimento dos

músculos flexores do punho (grau de espasticidade) era pontuada de 0 a 4 segundo

a tabela da EMA (ANEXO II).

7. INTERVENÇÕES TERAPÊUTICAS

7.1. ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA REPETITIVA

Conforme ilustrado na figura 3, para realização das sessões de estimulação

magnética transcraniana repetitiva (EMTr), os pacientes foram instruídos a sentar

em uma cadeira e buscar uma posição confortável. Com a bobina posicionada sobre

a área de representação cortical do músculo PID, previamente identificada pela

EMT-p, a EMTr foi aplicada adotando parâmetros de estimulação previamente

usados por Valle et al. (2007) para reduzir a espasticidade de crianças com paralisia

cerebral: frequência de 1Hz sobre o hemisfério não lesado pelo AVE; 1500 pulsos

com intensidade de 90% do limiar motor de repouso (LMR).

O LMR de cada paciente foi determinado através dos métodos descritos por

Rossini e Rossi (1998) utilizando EMT-p sobre a área de representação cortical do

músculo PID. O LMR foi considerado como a menor intensidade dada em

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percentagem da capacidade máxima do estimulador magnético capaz de

desencadear ao menos 5 potenciais evocado motores (PEM) maiores que 50μV, de

pico a pico, em 10 tentativas, visualizados através de eletromiografia de superfície

do músculo primeiro interósseo dorsal da mão.

A estimulação fictícia (sham) foi aplicada de modo que fosse percebida pelo

paciente como o tratamento real. Assim, durante as sessões de EMTr sham foram

empregados os mesmos procedimentos das sessões de EMTr ativa, no entanto, a

estimulação foi realizada com duas bobinas: uma bobina conectada ao estimulador

era colocada sobre uma cadeira próxima, mas não visível ao paciente para que o

som, característico da estimulação, fosse audível, e a outra bobina, desconectada

do estimulador, era posicionada sobre a cabeça do individuo.

Figura 3. Posicionamento para realização de uma sessão de estimulação magnética transcraniana repetitiva de baixa frequência aplicada no hemisfério não lesado pelo AVE.

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7.2. FISIOTERAPIA MOTORA

O programa de tratamento fisioterápico foi baseado no guia para prática

clínica de fisioterapia em pacientes pós-AVE, publicado em 2004 na língua Inglesa

pela Sociedade Real Holandesa de Fisioterapia (KONINKLIJK NEDERLANDS

GENOOTSCHAP VOOR FYSIOTHERAPIE, 2004). Este guia, baseado em

evidências científicas, foi criado para uniformizar a prática da fisioterapia em AVE

(PEPPEN et al., 2004).

O programa de atividades da fisioterapia motora, em parte na figura 4, foi

voltado principalmente para reabilitação do membro superior e abordou os seguintes

aspectos: (i) flexibilidade; (ii) transferência e postura; (iv) coordenação e equilíbrio;

(v) estimulação sensorial (APÊNDICE D). O programa de atividades era ajustado de

acordo com a capacidade individual de cada paciente conforme as determinações

do guia para prática clínica de fisioterapia em pacientes pós-AVE (PEPPEN et al.,

2004).

Figura 4. Programa de exercícios da fisioterapia motora. (A) transferência, (B) dissociação de cinturas, (C) alongamento e (D) mobilização articular.

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8. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

8.1. RANDOMIZAÇÃO, SIGILO DE ALOCAÇÃO E CEGAMENTO

Após a avaliação inicial (pré-intervenção), os pacientes foram alocados

aleatoriamente, por meio de uma tabela de sequência numérica aleatória gerada

pelo site www.randomization.com, em um dos dois grupos: grupo experimental

(EMTr ativa e fisioterapia) e grupo controle (EMTr sham e fisioterapia). A geração da

sequencia numérica foi feita por estratos (randomização estratificada). As

características utilizadas para a formação dos estratos foram: tempo de AVE e grau

de espasticidade pré-intenvenção. Este tipo de randomização é usada para evitar a

formação de grupos com características clínicas diferentes.

De modo a manter o sigilo de alocação, logo após a avaliação pré-

intervenção, um pesquisador responsável pela randomização e não envolvido com

as coletas era contatado para informar em qual grupo o voluntário deveria ser

alocado. Durante todo o período do estudo, os pacientes e os pesquisadores

responsáveis pela realização das avaliações e da fisioterapia motora permaneceram

cegos a respeito do grupo no qual o paciente tinha sido alocado, ou seja, apenas o

pesquisador responsável pela estimulação magnética tinha conhecimento do grupo

do paciente.

8.2. SESSÕES EXPERIMENTAIS

No grupo experimental, os pacientes eram submetidos a sessões de EMTr

ativa e fisioterapia motora. No grupo controle, os pacientes apenas recebiam a

fisioterapia motora como intervenção terapêutica ativa. Para permitir o cegamento do

paciente em relação ao seu grupo, o grupo controle foi submetido a sessões de

EMTr fictícias (EMTr sham), nas quais a EMTr foi simulada, mas o paciente não foi

estimulado.

Em ambos os grupos todos os pacientes realizaram 10 sessões

experimentais, 3 vezes por semana, totalizando cerca de 1 mês de tratamento. A

fisioterapia motora foi sempre realizada imediatamente após o fim da EMTr

ativa/sham.

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9. PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

Foi realizada uma análise descritiva para acaracterização da amostra,

utilizando medidas de tendência central e de dispersão (média, desvio padrão) para

as variáveis: idade e tempo de AVE e frequência para as variáveis: sexo, tipo de

AVE, lado da hemiparesia e escore inicial da EMA dos flexores do punho. Para

verificar se os grupos eram comparáveis quanto às características clínicas no inicio

do estudo, o teste qui-quadrado foi aplicado para as variáveis categóricas e o teste t

para amostras independentes para as variáveis contínuas.

Para análise do comportamento da excitabilidade cortical durante o

tratamento, a diferença da intensidade utilizada do estimulador magnético

necessária para evocar PEM de 1mV entre cada sessão de tratamento e a 1º sessão

foi analisada e comparada entre os grupos, assim:

Variação da intensidade do estimulador = Intensidade da sessão – intensidade da

1°sessão

Os valores do PEM de cada sessão normalizados com os valores pré-

intervenção da mesma sessão também foram considerados para avaliar a variação

na excitabilidade cortical, assim em cada sessão:

PEM normalizado = Amplitude do PEM pós-sessão / Amplitude do PEM pré- sessão

Para avaliar a variação na excitabilidade cortical intragrupos, os valores

absolutos da intensidade do estimulador e do PEM foram considerados.

Para análise da excitabilidade da medula espinal e dos motoneurônios foi

utilizado na análise intergrupos o percentual de variação da razão Hmax/Mmax após

10 sessões de tratamento (pós-intervenção) e após follow-up de 4 semanas em

relação ao valor inicial pré-intervenção, assim:

Percentual de variação (%) = (Hmax/Mmax pós-intervenção ou follow up -

Hmax/Mmax pré-intervenção) / Hmax/Mmax pré-intervenção x 100

As formas de análise dos dados aqui apresentadas foram padronizados de

acordo com a literatura de modo a permitir que os resultados do presente estudo

pudessem se comparados com outros estudos.

Após checagem da normalidade (Kolmogorov-Smirnov) e homogeneidades de

variância (Levene), análise de variância (ANOVA) de medidas repetidas (3x2) foi

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usada para comparar os efeitos principais em relação ao tempo (pré, pós-

intervenção e follow up) e a interação entre o tempo e grupos (experimental X

controle), para a razão Hmax/Mmax. O test t para amostra independentes foi usado

para comparações post-hoc quando necessário. O teste t pareado foi usado para

análise dos resultados intragrupo e o teste t para amostras independentes para a

comparação entre os grupos nas análises do PEM e da intensidade do estimulador.

Na análise comportamental (desfecho secundário), para tornar possível a

análise estatística, foi atribuído um valor numérico aos escores da EMA, ou seja, o

valor 2 foi atribuído ao escore 1+, o valor 3 foi atribuído ao escore 2 e o valor 4 foi

atribuído ao escore 3. A diferença da EMA entre a 1º sessão terapêutica e antes de

cada sessão de tratamento foi analisada e comparada entre os grupos, assim:

Diferença da EMA da sessão = Escore EMA antes da sessão – Escore EMA antes

da 1° sessão

Por se tratar de uma variável categórica, a análise intragrupos desta medida

foi realizada através do teste de Wilcoxon e a comparação entre os grupos através

do teste Mann-Whitney.

O nível de significância adotado para todas as medidas foi de p≤0,05. Os

dados coletados foram tabulados no Microsoft Office Excel® 2007 e a análise

estatística realizada através do software SPSS® 18.0.

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RESULTADOS

ARTIGO CIENTÍFICO ORIGINAL

NEUROMODULAÇÃO CORTICAL E MEDULAR APÓS ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA

TRANSCRANIANA REPETITIVA ASSOCIADA À FISIOTERAPIA EM PACIENTES COM HEMIPARESIA

ESPÁSTICA PÓS-ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: ENSAIO CLÍNICO, RANDOMIZADO E

DUPLO CEGO.

Este artigo está sendo traduzido para a língua inglesa e será enviado para a revista

NeuroRehabilitation & Neural Repair (qualis A1 para área 21 da CAPES) e sua

formatação está de acordo com as normas exigidas pela revista.

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NEUROMODULAÇÃO CORTICAL E MEDULAR APÓS ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA

TRANSCRANIANA REPETITIVA ASSOCIADA À FISIOTERAPIA EM PACIENTES COM HEMIPARESIA

ESPÁSTICA PÓS-ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: ENSAIO CLÍNICO, RANDOMIZADO E

DUPLO CEGO.

Rebeka Borba Costa dos Santos1

Silvana Carla Barros Galvão1

Labibe Mara Pinel Frederico 2

Nathália Serrano de Lucena 2

Alberto Galvão de Moura Filho3

Kátia Karina do Monte-Silva3

1Fisioterapeuta, aluna de mestrado do programa de Mestrado em

Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife-

PE, Brasil;

2Graduanda do curso de Fisioterapia da Universidade Federal de

Pernambuco (UFPE), Recife-PE, Brasil;

3Professor(a) Adjunto do departamento de Fisioterapia da

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife-PE, Brasil;

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RESUMO

Objetivo: avaliar as repercussões eletrofisiológicas do uso da estimulação

magnética transcraniana repetitiva (EMTr) associada à fisioterapia motora (FM) no

tratamento da hemiparesia espástica de pacientes após-AVE. Materiais e Métodos:

ensaio clínico, randomizado e duplo cego. 20 indivíduos crônicos após-AVE foram

alocados aleatoriamente em dois grupos: experimental (n=10;GE) submetido à

EMTr-real (1Hz, sobre hemisfério não-lesado) e FM; e controle (n=10;GC) submetido

à EMTr-fictícia (sham) e FM. O tratamento consistiu 10 sessões, 3x/semana de

EMTr ativa/sham seguida por 30min de FM. Avaliação da excitabilidade espinal pelo

reflexo de Hoffmann do nervo mediano (reflexo H; valor normalizado: Hmax/Mmax)

antes (pré-intervenção) e após 10 sessões terapêuticas (pós-intervenção) e 4

semanas de follow-up. Avaliação da excitabilidade cortical, através de potenciais

evocados motores (PEM), e o grau de espasticidade dos músculos flexores de

punho, através da escala modificada de Ashworth (EMA), foram realizados antes e

após cada sessão terapêutica. Resultados: EMTr-ativa associada à FM reduziu

significantemente a amplitude da razão Hmax/Mmax no follow-up tanto quando

comparado aos valores da pré-intervenção (p=0,013) quanto, ao GC (p=0,026).

Houve redução da espasticidade a partir da 6ª sessão de tratamento no GE quando

comparado ao GC. Os resultados encontrados também sugerem um aumento da

excitabilidade cortical no hemisfério não-lesado ao longo das sessões no GE tanto

em relação aos valores pré-intervenção quanto comparado ao GC.Conclusão: EMTr

associada à FM pode ser benéfica na redução da amplitude do reflexo-H do nervo

mediano e da espasticidade após-AVE. No entanto, são necessários mais estudos

para esclarecer os mecanismos eletrofisiológicos observados.

Palavras-chave: Estimulação magnética transcraniana, Espasticidade, Acidente

Vascular Encefálico, Fisioterapia.

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Objective: to evaluate the electrophysiological effects of using rTMS associated with

PT in the treatment of patients with spastic hemiparesis post-stroke. Materials and

Methods: a clinical trial, randomized and double blind. 20 post-stroke patients were

randomized into two groups: experimental (n=10; EG): active-rTMS (1Hz on non-

lesional hemisphere) and PT, and control (n=10; CG): sham-rTMS and PT.

Treatment consisted of 10 sessions of rTMS 3x/week active/sham followed by 30min

PT. Evaluation of spinal cord excitability by Hoffmann reflex median nerve (H-reflex;

normalized value: Hmax/ Mmax) before (baseline) and after 10 therapy sessions and

4 weeks of follow-up. Assessment of cortical excitability by motor evoked potentials

(PEM), and the degree of spasticity in the flexor of wrist using modified Ashworth

scale (EMA), was performed before and after each therapy session. Results: active-

rTMS associated with PT significantly reduced the amplitude ratio Hmax/Mmax at

follow-up both when compared to the values of pre-intervention (p=0.013) as, the CG

(p=0.026). There was a reduction of spasticity from the 6th session of treatment in

EG compared to the CG. The results also suggest an increase in cortical excitability

in non-lesional hemisphere during the sessions in EG compared to baseline as

compared to CG. Conclusion: rTMS associated with PT can be beneficial in

reducing the H-reflex amplitude of the median nerve and post-stroke spasticity.

However, more studies are needed to clarify the electrophysiological mechanisms

observed.

Keywords: Transcranial magnetic stimulation, Spasticity, Stroke, Physiotherapy.

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INTRODUÇÃO

Considerado uma das maiores causas de mortalidade e incapacidade em

todo o mundo (1), o acidente vascular encefálico (AVE) comumente ocasiona

sequelas, que podem variar desde danos às funções motoras, sensitivas e de

linguagem a danos cognitivos (2). Dentre as sequelas sensório-motoras mais

comuns, a espasticidade é a mais limitante por contribuir para a perda da

movimentação voluntária, para o desenvolvimento de contraturas articulares e dor, o

que dificulta a realização das tarefas diárias e limita a função dos membros afetados

(3)(4).

A espasticidade pode ser definida como o aumento velocidade-dependente do

tônus muscular, com exacerbação dos reflexos profundos, decorrentes da

hiperexcitabilidade do reflexo do estiramento. Esta enfermidade é causada por uma

condição neurológica anormal resultante de lesão do neurônio motor superior (5) e

está associada à hiperativação e disfunção dos mecanismos espinhais de controle

do tônus muscular (6).

Apesar de não ter a fisiopatologia totalmente compreendida, estudos apontam

para a participação do córtex motor no desenvolvimento da espasticidade. Sabe-se

que o córtex motor exerce efeito inibitório sobre a medula espinal através do trato

corticoespinal (7)(8). Dessa maneira, a lesão do córtex motor pode resultar em perda

do efeito inibitório através do trato corticoespinal, promovendo aumento da

excitabilidade espinal e dos motoneurônios, resultando em espasticidade (9)(10).

Baseado neste conceito, alguns estudos têm reportado a utilização de técnicas de

estimulação cerebral não invasiva com intuito de aumentar a atividade neural do

córtex motor lesado pelo AVE objetivando a redução da espasticidade (11)(12).

Recentemente, alguns estudos têm reportado efeitos positivos do uso da

estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr) associada ao treino motor

sobre o membro superior espástico de pacientes pós-AVE (12)(13). Kakuda et al.

(12) observaram que a EMTr de baixa frequência aplicada sobre o hemisfério não

lesado quando associada à terapia ocupacional foi eficiente em reduzir o grau de

espasticidade quando esta foi avaliada por medida de desfecho clínico, a escala

modificada de Ashworth (EMA). No entanto, as alterações eletrofisiológicas

responsáveis por tais achados clínicos ainda não são totalmente compreendidas. No

presente estudo foi avaliado as repercussões eletrofisiológicas (cerebral e medular)

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da associação da EMTr inibitória no córtex não lesado com a fisioterapia no

tratamento da hemiparesia espástica crônica do membro superior de pacientes pós-

AVE.

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo trata-se de um ensaio clínico randomizado, sham

controlado e duplo cego, realizado no Laboratório de Neurociência Aplicada (LANA)

do departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),

no período de Novembro de 2011 a Novembro de 2012 Os procedimentos usados

no estudo foram devidamente aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa

envolvendo seres humanos do Centro de Ciências da Saúde da UFPE, CAAE nº:

0053.0.172.000-11.

PARTICIPANTES

Fizeram parte deste estudo vinte pacientes de ambos os sexos, com sequela

motora espástica no membro superior após AVE em fase crônica. Os participantes

foram recrutados através de anúncios em meios de comunicação e por

encaminhamento de hospitais e clínicas da região metropolitana do Recife-PE.

Os critérios de inclusão na pesquisa foram: (i) diagnóstico de AVE primário ou

recorrente, isquêmico ou hemorrágico, com no mínimo 6 meses e máximo de 10

anos entre o íctus e sua inclusão no estudo, comprovado por tomografia

computadorizada ou ressonância magnética, com comprimento delimitado; (ii) grau

de espasticidade moderado a severo detectado por meio da escala modificada de

Ashworth (14), com escore +1, 2 ou 3 para os flexores do punho do membro superior

afetado; (iii) idades entre 40 e 75 anos; (iv) ausência de déficit cognitivo verificado

através do Folstein Mini Mental State Examination (escore ≥ 20) modificado para a

população brasileira (15).

Foram excluídos do estudo os pacientes que apresentavam: (i) evidência

clínica de lesões encefálicas múltiplas; (ii) uso de medicação para tratamento da

espasticidade no período de seis meses anteriores a inclusão no estudo; (iii)

contraindicação para realização da EMTr (gestantes, implantes metálicos,

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marcapasso, histórico de episódio de crise convulsiva ou epilepsia); (iv) realização

de fisioterapia ou terapia ocupacional no período do estudo.

Inicialmente foi realizado contato telefônico com os pacientes (Triagem I), no

qual eram checados os seguintes critérios de inclusão e exclusão: idade, tempo de

AVE, contraindicação para utilização da EMTr, uso de medicamento para tratamento

da espasticidade e realização de fisioterapia e terapia ocupacional. Nos casos em

que o paciente atendia aos critérios checados na triagem I, o mesmo era convidado

a comparecer pessoalmente ao LANA para a realização da triagem presencial

(Triagem II). Nesta eram checados os demais dos critérios de elegibilidade. Os

pacientes que atenderam aos critérios checados nas triagens I e II foram convidados

a participar do estudo. Para participação no estudo, todos os pacientes assinaram o

termo de consentimento livre e esclarecido.

MEDIDAS DE DESFECHO

Todas as avaliações foram conduzidas por um examinador cego e

familiarizado com os testes e medidas utilizados no estudo. As variações da

amplitude do potencial evocado motor, da intensidade necessária para evocar PEM

de 1mV e a variação da razão Hmax/Mmax do nervo mediano foram usadas como

medidas de desfecho primário e a variação do grau de espasticidade como medida

de desfecho secundário.

Avaliação da excitabilidade cortical através da variação da amplitude dos

PEM e da intensidade necessária para evocar PEM de 1mV. Potenciais evocados

motores (PEM) foram obtidos através da estimulação magnética transcraniana por

pulsos simples (EMT-p). Os PEM foram realizados antes e após cada sessão

terapêutica e sempre pelo mesmo avaliador. Para isso, os pacientes foram

instruídos a sentar em uma cadeira e buscar uma posição confortável. Inicialmente,

estímulos simples de EMT-p foram administrados, através de uma bobina em forma

de “8” (70mm de diâmetro) conectada a um estimulador magnético (marca/modelo:

NEUROSOFT- Neuro-MS). A bobina foi segurada manualmente, encostada no

escalpe alinhada em 45° da linha média e apontada para a região anterior do crânio

sobre o córtex motor não lesado para determinar a área de representação cortical do

músculo primeiro interósseo dorsal (PID)—região a qual apresentava amplitudes de

PEM mais elevadas, medidas através de eletromiógrafo. Os sinais eletromiográficos

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foram amplificados e filtrados com um filtro da passa-banda de 2.0 kHz e

digitalizados em um frequência de 5kHz. Para avaliar os efeitos da EMTr ativa/sham

combinada com a fisioterapia, antes de cada sessão, a intensidade do estimulador

magnético, dado em percentagem da capacidade máxima do equipamento, foi

escolhida para evocar PEM de amplitude média de 1 mV no músculo PID. Após

cada sessão, com a mesma intensidade do estimulador definida antes da sessão

terapêutica, 20 PEM foram registrados para avaliar o comportamento da

excitabilidade cortical. Para garantir o mesmo posicionamento ao longo da sessão, o

posicionamento da bobina foi marcado com lápis negro no crânio do indivíduo.

Avaliação da excitabilidade da medula espinal através da variação da razão

Hmax/Mmax do nervo mediano. A variação da amplitude do reflexo H foi utilizada

como medida da excitabilidade da medula espinal. Este reflexo mede a

excitabilidade dos motoneurônios e indiretamente da medula espinal, e é usado para

investigar a espasticidade (16)(7). Para isso, foi realizada a normalização da

amplitude do reflexo H com a resposta muscular máxima através da razão

Hmax/Mmax, na qual Hmax corresponde à máxima amplitude, de pico a pico, da

onda H e a Mmax corresponde à máxima amplitude, de pico a pico, da onda M.

Ambas foram obtidas através de estimulação elétrica periférica do nervo mediano. O

reflexo H foi avaliado antes do início das sessões terapêuticas (pré-intervenção),

após as 10 sessões terapêuticas (pós-intervenção) e após follow-up de 4 semanas.

Durante o teste o paciente permaneceu confortavelmente sentado com o

braço parético em posição supina apoiado sobre um travesseiro. O reflexo e a onda

M foram gerados por estimulação elétrica (pulsos retangulares, 1ms de duração;

frequência de 0,2Hz) aplicada através de eletrodos bipolares fixados sobre o nervo

mediano na face antero-medial da articulação do cotovelo. As ondas Hmax e Mmax

foram registradas através da eletromiografia (EMG) de superfície, com o eletrodo

ativo posicionado sobre o músculo flexor radial do carpo à 1/3 proximal da distância

total entre o epicôndilo medial do úmero e o processo estiloide do rádio, e o eletrodo

de referência posicionado sobre o tendão do mesmo músculo na face anterior do

punho. Um eletrodo terra em pulseira foi posicionado no punho do paciente (17). Os

sinais de EMG foram amplificados e passados por um filtro passa-banda com

frequência de corte de 10 a 1KHz e utilizada uma frequência de amostragem da

EMG de 2500Hz por canal.

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Avaliação do grau de espasticidade dos músculos flexores do carpo através

da escala modificada de Ashworth (EMA). Este é um dos recursos mais utilizados

para mensuração da espasticidade (14). Este é um instrumento qualitativo com

medidas do tipo ordinal de escores que graduam a resistência ao movimento

passivo em ordem crescente. A EMA foi realizada antes e após cada sessão de

EMTr e sempre pelo mesmo avaliador. Que realizava o movimento de extensão do

punho partindo de uma flexão máxima e pontuava de 0 a 4 o grau de espasticidade

dos músculos flexores do punho segundo a tabela da EMA.

INTERVENÇÕES TERAPÊUTICAS

Estimulação magnética transcraniana repetitiva. Para realização das sessões

de EMTr, os pacientes foram instruídos a sentar em uma cadeira e buscar uma

posição confortável. Com a bobina posicionada sobre a área de representação

cortical do músculo PID, previamente identificada pela EMT-p, a EMTr ativa foi

aplicada adotando parâmetros de estimulação preconizado por Valle et al. (8):

frequência de 1Hz aplicada sobre o hemisfério não lesado pelo AVE; 1500 pulsos

com intensidade de 90% do limiar motor de repouso (LMR).O LMR foi considerado

como a menor intensidade dada em percentagem da capacidade máxima do

estimulador magnético capaz de desencadear ao menos 5 PEM maiores que 50μV,

de pico a pico, em 10 tentativas, visualizados através de eletromiografia de

superfície do músculo PID da mão (18). Para estimulação fictícia (EMTr sham), uma

bobina conectada ao estimulador foi colocada sobre uma cadeira próxima, mas não

visível ao paciente para que o som, característico da estimulação, fosse audível, e a

outra bobina, desconectada do estimulador, foi posicionada sobre a cabeça do

individuo.

Fisioterapia motora. O programa de tratamento fisioterápico foi baseado no

guia para prática clínica de fisioterapia em pacientes pós-AVE, publicado em 2004

na língua Inglesa pela Sociedade Real Holandesa de Fisioterapia (19). Este guia,

baseado em evidências científicas, foi criado para uniformizar a prática da

fisioterapia no tratamento de vítimas de AVE (20). O programa de atividades da

fisioterapia motora, ajustado de acordo com a capacidade individual de cada

paciente, foi voltado principalmente para reabilitação do membro superior e abordou

as seguintes áreas: (i) flexibilidade; (ii) transferência e postura; (iv) coordenação e

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equilíbrio; (v) estimulação sensorial. O terapeuta que aplicava a fisioterapia motora

permaneceu cego durante todo o período do estudo.

PROCEDIMENTOS

Após a avaliação inicial (pré-intervenção), os pacientes foram alocados

aleatoriamente em um dos dois grupos: grupo experimental, submetidos à EMTr

ativa e fisioterapia motora e grupo controle, submetidos à EMTr sham e fisioterapia

motora. A randomização do tipo estratificada foi gerada pelo site

www.randomization.com. As características clínicas utilizadas para formar os

estratos foram: grau de espasticidade e tempo de AVE.

Em ambos os grupos, todos os pacientes realizaram 10 sessões terapêuticas,

3 vezes por semana, totalizando cerca de 1 mês de tratamento. A fisioterapia motora

foi sempre realizada imediatamente após o fim da EMTr ativa/sham.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

Foi realizada uma análise descritiva a caracterização da amostra, utilizando

medidas de tendência central e de dispersão (média, desvio padrão) para as

variáveis: idade e tempo de AVE e frequência para as variáveis: sexo, tipo de AVE,

lado da hemiparesia e escore inicial da EMA dos flexores do punho. O teste qui-

quadrado foi aplicado para as variáveis categóricas e o teste t para amostras

independentes para as variáveis contínuas.

Para análise da excitabilidade cortical, a diferença da intensidade utilizada do

estimulador magnético necessária para evocar PEM de 1mV entre cada sessão de

tratamento e a 1º sessão foi analisada e comparada entre os grupos.

Os valores do PEM de cada sessão normalizados com os valores pré-

intervenção da mesma sessão também foram considerados para avaliar a variação

na excitabilidade cortical. Para avaliar e variação na excitabilidade cortical

intragrupos, os valores absolutos da intensidade do estimulador e do PEM foram

considerados.

Para análise da excitabilidade da medula espinal e dos motoneurônios foi

utilizado na análise intergrupos o percentual de variação da razão Hmax/Mmax após

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10 sessões de tratamento (pós-intervenção) e após follow-up de 4 semanas em

relação ao valor inicial pré-intervenção

Após checagem da normalidade (Kolmogorov-Smirnov) e homogeneidades de

variância (Levene), análise de variância (ANOVA) de medidas repetidas (3x2) foi

usada para comparar os efeitos principais em relação ao tempo (pré, pós-

intervenção e follow up) e a interação entre o tempo e grupos (experimental X

controle) da razão Hmax/Mmax. O test t para amostra independentes foi usado para

comparações post-hoc quando necessário.

O teste t pareado foi usado para análise dos resultados intragrupo e o teste t

para amostras independentes para a comparação entre os grupos nas análises do

PEM e da intensidade do estimulador.

Na análise comportamental (desfecho secundário), para tornar possível a

análise estatística, foi atribuído um valor numérico aos escores da EMA, ou seja, o

valor 2 foi atribuído ao escore 1+, o valor 3 foi atribuído ao escore 2 e o valor 4 foi

atribuído ao escore 3. A diferença da EMA entre a 1º sessão terapêutica e antes de

cada sessão de tratamento foi analisada e comparada entre os grupos. A análise

intragrupos desta medida foi realizada através do teste de Wilcoxon e a comparação

entre os grupos através do teste Mann-Whitney.

O nível de significância adotado para todas as medidas foi de p≤0,05.

RESULTADOS

A figura 1 ilustra o fluxo de constituição da amostra do presente estudo no

qual, foram realizados 148 contatos telefônicos entre novembro de 2011 e outubro

de 2012. Destes, 110 pacientes foram triados por telefone (triagem I) e 40 pacientes

participaram da triagem presencial (triagem II), restando 20 pacientes incluídos na

pesquisa. As razões das exclusões em cada triagem são apresentadas na figura.

Todos os pacientes que iniciaram o estudo concluíram as 10 sessões terapêuticas,

no entanto 2 pacientes, 1 do GE e 1 do GC, não compareceram para o follow-up de

4 semanas. Não foram observados efeitos adversos durante a realização do estudo

em ambos os grupos.

[Figura 1]

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62

A tabela 1 representa a caracterização da amostra dos grupos controle e

experimental. A análise estatística revelou comparabilidade entre os grupos para as

características clínicas.

[Tabela 1]

EXCITABILIDADE CORTICAL

Conforme demonstrado na figura 2, comparado com o GC, os resultados

mostram uma diminuição da intensidade necessária para evocar PEM de 1 mV ao

longo das sessões de tratamento no grupo experimental. Apenas na 10° sessão,

esta diferença entre os grupos foi significativa (p=0,04). Na análise intragrupos, foi

observada diferença estatística entre a 5ª e 1ª sessão (p=0,05) e entre a 10ª e 1ª

sessão (p=0,03) no grupo experimental.

[Figura 2]

Analisando cada sessão experimental, foi observado que quando

comparado com os valores pré-intervenção, o grupo submetido à EMTr ativa

associada à fisioterapia (GE) aumentaram os valores do PEM na maioria das

sessões: 3°, p=0,05;4°, p=0,001; 6°, p=0,02; 7°, p=0,041; 9°, p=0,06 (tendência) e

10°, p=0,011. Não foram encontradas diferenças estatísticas entre os grupos,

conforme mostrado na figura 3.

[Figura 3]

EXCITABILIDADE DA MEDULA ESPINAL

Em quatro pacientes, dois do GC e dois do GE, o reflexo H não foi

encontrado, sendo estes, portanto, excluídos desta análise. A ANOVA de medidas

repetidas mostrou uma interação significativa entre grupo x tempo (F= 3,27;

p=0,057; com poder observado= 0,561). Na figura 4 pode-se observar o

comportamento de variação (%) da razão Hmax/Mmax em relação ao valor pré-

intervenção ao longo do tempo em ambos os grupos. Os resultados mostram que

houve uma tendência à redução da razão Hmax/Mmax no grupo experimental logo

após o fim das 10 sessões terapêuticas (p=0,08), porém esta redução se mostra

significativa após follow-up de 4 semanas (p=0,013). Este comportamento não foi

observado no grupo controle, o qual não obteve significância em nenhuma das

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comparações (p=0,837 no pós-intervenção e p=0,326 no follow-up). Uma diferença

no comportamento da razão Hmax/Mmax entre os grupos foi encontrada no follow-

up (p= 0,026).

[Figura 4]

GRAU DE ESPASTICIDADE

Em relação à EMA de pré-intervenção de cada sessão terapêutica comparada

com os valores da 1° sessão, foi encontrada diferença estatística entre os grupos

controle e experimental a partir da 6° sessão de tratamento. Na análise intragrupos,

foi observada diferença estatística a partir da 3º sessão, no grupo experimental. No

grupo controle não foram encontradas diferenças significantes ao longo do

tratamento. (Figura 5).

[Figura 5]

DISCUSSÃO

De modo geral, os resultados do presente estudo mostraram pela primeira

vez que a EMTr inibitória aplicada sobre o córtex motor não lesado associada à

fisioterapia motora, mas não a fisioterapia isolada, reduziu a excitabilidade da

medula espinal e o quadro espástico do membro superior de pacientes pós-AVE,

assim como ocasionou um aumento da excitabilidade cerebral no hemisfério

contralateral à lesão.

Do ponto de vista clínico, uma redução significativa na resistência ao

alongamento passivo dos músculos flexores do punho foi observado no presente

estudo a partir da 6ª sessão de tratamento apenas no grupo estimulado quando

comparado ao controle, indicando que a estimulação cortical interferiu direta ou

indiretamente na fisiopatologia da espasticidade. Há evidências na literatura do

efeito antiespástico da EMTr em pacientes neurológicos. Por exemplo, uma redução

dos escores na EMA para os flexores de punho após 22 sessões de EMTr inibitória

no hemisfério não lesado associada à terapia ocupacional, foi demonstrada em

pacientes com AVE crônico (12). Também em pacientes pós-AVE, foi reportado que

a EMTr de 1Hz aplicada por 1 semana sobre hemisfério não lesado é eficiente em

reduzir a espasticidade do membro inferior desses pacientes (21). Após duas

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semanas de EMTr excitatória (5Hz) no hemisfério lesado, também foi relatado uma

melhora clínica no grau de espasticidade do membro inferior de pacientes com

esclerose múltipla (22). Esse efeito também observado em pacientes com lesão

medular (23).

O mecanismo fisiológico pelo qual a EMTr reduz a espasticidade têm sido

atribuído ao aumento da influência inibitória exercida pelo córtex lesado através do

trato corticoespinal, o que resultaria em redução da atividade dos motoneurônios alfa

e consequente diminuição da espasticidade (8)(6)(22)(23). O presente estudo se

propôs a investigar as alterações eletrofisiológicas corticais e medulares causadas

pela aplicação de um protocolo de estimulação (EMTr de 1Hz sobre o hemisfério

não lesado associada ao treino motor) descrito na literatura como eficiente em

reduzir o quadro espástico do membro superior de pacientes pós-AVE crônico (12).

Divengindo do esperado, a redução do quadro clínico de espasticidade foi

acompanhada de um aumento da excitabilidade cortical no hemisfério não lesado, a

julgar pela diminuição da intensidade do estimulador magnético necessária para

provocar potenciais evocados motor de 1mV no grupo experimental. O aumento da

excitabilidade cortical no hemisfério não lesado ao longo das sessões terapêuticas

não corroboram os achados encontrados no estudo de Fregni et al. (24) em 15

pacientes pós AVE crônico. Nesse estudo, durante 5 sessões, os pacientes

receberam EMTr de baixa frequência no hemisfério não lesado. Os achados

apontaram que EMTr inibitória ocasionou uma redução da excitabilidade cortical no

hemisfério não lesado e um aumento da excitabilidade no hemisfério lesado.

Resultados semelhantes aos achados de Takeuchi et al. (25).

Contrariando o efeito primário da ETMr de 1Hz (efeito inibitório), na presente

pesquisa o grupo submetido a sessões de EMTr inibitória teve sua excitabilidade

cortical contralateral à lesão, aumentada. O que, a primeira vista, pode parecer uma

contradição às evidências da literatura, é facilmente justificado pela regulação

homeostática do organismo. Sabe-se que de acordo com a atividade neural prévia

existem alguns mecanismos homeostáticos que regulam a plasticidade sináptica,

fonte primária dos efeitos neuromodulatórios das estimulações transcranianas. Essa

plasticidade homeostática permite a modificação seletiva da força sináptica dentro

de uma faixa fisiológica (26)(27).

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65

Inúmeros achados comprovam a ação destes mecanismos homeostáticos.

Por exemplo, Iyer et al. (28) realizaram um estudo com 25 voluntários saudáveis.

Nele observaram uma forte depressão da excitabilidade do córtex motor naqueles

que receberam pré-estimulação excitatória de 6Hz (alta frequência) seguida de

estimulação inibitória de 1Hz (baixa frequência), com redução de 30 – 40% da

amplitude dos PEM em comparação ao grupo que recebeu estimulação fictícia antes

da estimulação inibitória.

A existência de mecanismos fisiológicos homeostáticos no córtex motor de

humanos responsáveis por estabilizar a excitabilidade corticoespinal também foi

relatada por Siebner et al. (29). Neste estudo, voluntários saudáveis foram

submetidos à EMTr de baixa frequência (1Hz) sobre o córtex motor primário

esquerdo precedida de ETCC excitatória (anódica), inibitória (catódica) ou sham

(fictícia). Os resultados mostraram que quando os níveis de excitabilidade cortical

tinham sido aumentados previamente pela ETCC anódica, a EMTr de 1Hz

subsequente levou a uma maior e mais duradoura depressão da excitabilidade

cortical. Inversamente, quando ETCC catódica foi utilizada para reduzir previamente

a excitabilidade cortical, a mesma EMTr de 1Hz promoveu uma aumento sustentado

da excitabilidade cortical. Os autores deste estudo sugerem que o pré-

condicionamento da excitabilidade corticoespinal com ETCC sobre o córtex motor

pode modular a direção da plasticidade induzida pela administração subsequente de

EMTr de 1Hz. É possível que mecanismos homeostáticos também tenham sido

ativados no nosso estudo, o qual a estimulação transcranina foi associada a outra

técnica neuromodulatória, a fisioterapia.

Semelhante ao presente estudo, Huang et al. (30) associaram EMTr inibitória

ao treino motor. Neste estudo, foi observado que contrações musculares voluntárias

(10% da contração voluntária máxima mantida por 1min) realizadas imediatamente

após a estimulação cortical inibitória promoveu um aumento da excitabilidade

cortical, revertendo o efeito supressor da técnica em facilitação. Em contrapartida,

contrações musculares realizadas após estimulação cortical excitatória

potencializaram os efeitos facilitatórios da estimulação cortical. Esses resultados

levantam a hipótese de que a atividade voluntária possa interferir nos efeitos

neuromodulatórios decorrentes da estimulação prévia.

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Diante dessa observação, acreditamos que, no hemisfério não lesado, o efeito

facilitatório da atividade física foi potencializado quando esta foi precedida por uma

técnica de neuromodulação inibitória, ocasionando, portanto, um aumento da

atividade neural. Enquanto que, no primeiro momento, a inibição exercida pela EMTr

sobre o hemisfério não lesado, possivelmente ocasionou uma facilitação no

hemisfério lesado. Isto porque em condições patológicas, como o AVE, a lesão em

um dos hemisférios pode afetar o equilíbrio do controle inibitório mútuo exercido por

meio de circuitos de inibição transcalosos conhecido como inibição inter-hemisférica,

gerando um padrão de ativação neural maladaptativa no qual o córtex motor não

lesado pelo AVE exerce inibição patológica, considerada exagerada, sobre o córtex

motor lesado (31)(32). Dessa maneira, acreditamos que a EMTr inibitória aplicada

sobre o córtex motor não lesado, possa ter promovido uma facilitação no córtex

motor lesado, ao reestabelecer o equilíbrio de interação inter-hemisférica. Num

segundo momento, ao associar à pratica motora (atividade excitatória do córtex

motor), o hemisfério lesado, que já se encontrava facilitado, teve sua atividade

neural ainda mais potencializada após esta atividade.

O possível aumento da atividade neural do córtex motor lesado pode ter

aumentado o efeito inibitório que o córtex exerce sobre a medula espinal, inibindo o

reflexo H, conforme observado no presente estudo. Esta interação corticoespinal

vem sendo relatada em pesquisas recentes, no qual tem sido observado que o

aumento da excitabilidade cortical promove inibição medular e redução da amplitude

do reflexo H, através de efeito inibitório exercido pelo trato corticoespinal, com

consequente redução da espasticidade (22)(33). No entanto é importante salientar

que os possíveis mecanismos envolvidos nos efeitos observados ainda são

hipotéticos, uma vez que a excitabilidade do córtex motor lesado pelo AVE não foi

avaliada, sendo esta uma limitação do presente estudo.

Foi observado, a nível espinal, uma redução da excitabilidade medular ao

longo do período do estudo apenas no grupo experimental, confirmada pela

estatística somente no follow-up de 4 semanas após o fim do tratamento. Uma vez

que a redução da espasticidade ocorreu a partir da 6ª sessão de tratamento,pode-se

intuir que a redução da resistência muscular ao alongamento passivo encontrado no

estudo não tenha sido influenciado apenas pela redução da excitabilidade espinal e

dos motoneurônios. Estudos mostram que múltiplos mecanismos estão envolvidos

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na fisiopatologia da espasticidade humana e acredita-se que muitos deles ainda não

foram elucidados (34). É possível que, no presente estudo, esses outros

mecanismos tenham sido primariamente ativados pela estimulação e sejam os

responsáveis pela redução precoce, a partir da 6ª sessão, da espasticidade.

Em resumo, no presente estudo a EMTr de baixa frequência aplicada sobre o

córtex motor não lesado associada à fisioterapia motora reduziu a excitabilidade

medular assim como a espasticidade do membro superior de pacientes pós AVE

em fase crônica quando comparados ao uso da fisioterapia motora isolada. Assim,

pode-se sugerir que no futuro a EMTr possa vim a ser utilizada como terapia

complementar à fisioterapia no tratamento da hemiparesia espástica crônica. Porém

para o uso clínico seguro das técnicas de neuromodulação transcraniana, mais

estudos são necessários para esclarecer quais mecanismos neurofisiológicos são

envolvidos com os efeitos observados.

Em adição, para avançar no estudo do uso terapêutico da EMTr em pacientes

neurológicos, estudos com técnicas de neuroimagem são necessários para

identificar os pacientes mais propensos a beneficiar-se de EMTr, assim como os

ajustes da duração, intensidade e o número de sessões, de acordo com diferentes

estágios e níveis de comprometimento após AVE. Além disso, é relevante

investigações acerca da modulação cortical exercida pela EMTr associada a terapia

física, assim como a influência do tipo (bilateral ou unilateral) e intensidade da

atividade motora realizada.

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ANEXOS DE ELEMENTOS GRÁFICOS

Figura 1. Fluxograma de constituição da amostra do presente estudo.

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Tabela 1- Caracterização da amostra do grupo experimental, submetido à estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr) associada à fisioterapia motora e do grupo controle, submetido à EMTr sham e à fisioterapia motora.

a teste T Student para variáveis contínuas e

b Teste Qui quadrado

para variáveis categóricas.

Grupo Experimental (n=10)

Grupo Controle (n=10)

Valor de p

Média ± Erro Padrão

n (%)

Média ± Erro Padrão

n (%)

Sexo 0,64b

Feminino 4 (40) 3 (30)

Masculino 6 (60) 7 (70)

Idade (anos) 52,4 ± 3,8 64,6 ± 2,2 0,12a

Tempo de AVE (meses) 47,8 ± 13,7 50,1 ± 8,9 0,90a

Tipo de AVE 0,53b

Hemorrágico 1 (10) 2 (20)

Isquêmico 9 (90) 8 (80)

Hemiparesia 0,07b

Direita 7 (70) 3 (30)

Esquerda 3 (30) 7 (70)

EMA do punho (pré-intervenção)

0,65b

1+

2

3

5 (50)

5 (50)

-

6 (60)

4 (40)

-

AVE: acidente vascular encefálico

EMA: escala modificada de Ashworth

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Figura 2. Diferença da intensidade do estimulador magnético (dada em percentagem da capacidade

máxima do equipamento) entre a 1º sessão terapêutica e cada sessão de tratamento do grupo

experimental, submetido a sessões de estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr)

associada à fisioterapia e do grupo controle, submetido a sessões de EMTr sham e fisioterapia. A

barra de erro representa o erro padrão médio. Asterisco representa diferença estatística entre os

grupos. Os símbolos preenchidos representam diferença com relação a 1° sessão terapêutica. O

teste t pareado foi usado para análise dos resultados intragrupo e o teste t para amostras

independentes para a comparação entre os grupos.

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Figura 3. Valor do potencial evocado motor (PEM) das 10 sessões terapêuticas normalizado pelo

PEM inicial de cada sessão (pré-intervenção) do grupo experimental, submetido a sessões de

estimulação magnética transcraniana (EMTr) associada à fisioterapia e do grupo controle, submetido

a sessões de EMTr sham e fisioterapia. A barra de erro representa o erro padrão da média. Os

símbolos preenchidos representam diferença significativa quando comparado com os valores pré-

intervenção de cada sessão. O teste t pareado foi usado para análise dos resultados intragrupo e o

teste t para amostras independentes para a comparação entre os grupos.

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Figura 4. Comportamento em percentagem da variação da razão Hmax/Mmax em relação ao valor

inicial de pré-intervenção ao longo do tempo (pré-intervenção, pós-intervenção e follow-up de 4

semanas) no grupo experimental, submetido à estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr)

associada à fisioterapia motora e no grupo controle, submetido à EMTr sham e à fisioterapia motora.

A barra de erro representa o erro padrão da média. O asterisco indica diferença significativa entre os

grupos. Os símbolos preenchidos representam diferença significativa com relação aos valores pré-

intervenção. Foi realizada análise de variância (ANOVA) de medidas repetidas (3x2) para comparar

os efeitos principais em relação ao tempo (pré, pós-intervenção e follow up) e para verificar interação

entre o tempo e grupos (experimental X controle). O test t para amostra independentes foi usado para

comparações post-hoc.

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Figura 5. Diferença do escore da Escala Modificada de Ashworth (EMA) antes de cada sessão

terapêutica em comparação à 1º sessão do grupo experimental, submetido a sessões de estimulação

magnética transcraniana (EMTr) associada à fisioterapia e do grupo controle, submetido a sessões de

EMTr sham e fisioterapia. Os símbolos preenchidos representam estatística significante da diferença

entre cada sessão e a 1º sessão (teste de Wilcoxon, p<0,05) e os asteriscos representam diferença

significante entre os grupos. A barra de erro representa o erro padrão da média (teste de Mann-

Whitney, p>0,05). Para análise intragrupos foi utilizado o teste de Wilcoxon e para comparação entre

os grupos o teste Mann-Whitney.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

EMTr de baixa frequência aplicada sobre o córtex motor não lesado

associada a fisioterapia motora reduz a excitabilidade medular assim como a

espasticidade do membro superior de pacientes pós AVE em fase crônica. Pode-se

sugerir o uso da EMTr como terapia complementar à fisioterapia, por se tratar de

uma técnica de modulação cortical, segura, indolor e não invasiva.

Considera-se que os resultados do presente estudo contribuíram para a

hipótese de que estratégias de facilitação da neuroplasticidade podem ser utilizadas

nas clínicas de fisioterapia, com o propósito de maximizar os efeitos terapêuticos do

programa de reabilitação. O que poderia levar à recuperação precoce e efetiva dos

pacientes e reduzir os custos com reabilitação. Entretanto é importante salientar que

os possíveis mecanismos envolvidos nos efeitos observados ainda são hipotéticos,

por isso mais ensaios clínicos randomizados com follow-up são necessários para

esclarecer os mecanismos neurofisiológicos subjacentes a estes efeitos.

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APÊNDICE A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

(de acordo com a Resolução 196/96 - CNS)

Título do Projeto: Impacto da Estimulação Magnética Transcraniana repetitiva (EMTr) associada à fisioterapia e toxina botulínica (Tipo A) no tratamento da espasticidade de pacientes pós-Acidente Vascular Encefálico.

Coordenadora: Profª.Drª. Kátia Karina do Monte Silva

Endereço do local de pesquisa: Laboratório de Neurociência Aplicada– Departamento de Fisioterapia – Centro Ciências da Saúde – Universidade Federal de Pernambuco

Endereço profissional das pesquisadoras: Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Ciências da Saúde. Departamento de Fisioterapia. Av. Prof. Moraes Rego,1235 - Cidade Universitária. Recife/Pe-Brasil CEP: 50670-901. Telefone: (81) 2126-8939 Fax: (81) 2126-8939

Comitê de Ética em Pesquisa: Av. Prof. Moraes Rego s/n, Cidade Universitária, Recife-PE, CEP: 50670-901, Tel.: 2126 8588

Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa sobre “Impacto da Estimulação Magnética Transcraniana repetitiva (EMTr) associada à fisioterapia e toxina botulínica (Tipo A) no tratamento da espasticidade de pacientes pós-Acidente Vascular Encefálico” realizada no Laboratório de Neurociência Aplicada do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Pernambuco, tendo como responsáveis a Profª.Drª Kátia Karina do Monte Silva. Se decidir participar, é importante que leia as informações sobre a pesquisa e o seu papel enquanto participante dela. É preciso entender a natureza, os riscos e benefícios da sua participação, dando também seu consentimento livre e esclarecido por escrito. Você pode recusar sua participação nesta pesquisa desde já ou a qualquer momento durante a realização da pesquisa, retirando seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou a instituição que apóia esta pesquisa. Em caso de decidir retirar-se do estudo, deverá notificar, mas não justificar, ao pesquisador que o esteja atendendo.

Objetivo e Justificativa da pesquisa: O propósito deste estudo é avaliar se a estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr) pode maximizar os efeitos da fisioterapia e da toxina botulínica na espasticidade de pacientes pós-acidente vascular encefálico (derrame) e justifica-se, pela necessidade de avaliar de forma sistemática e controlada estratégias terapêuticas complementares que potencialize os efeitos dos tratamentos convencionais (fisioterapia e toxina botulínica) sobre espasticidade destes pacientes. Procedimentos da Pesquisa: Você receberá informações a respeito do estudo e receberá uma cópia deste termo de consentimento para o seu registro. Se concordar em participar, você participará de 10 sessões terapêuticas com duas ou com as três das seguintes técnicas: fisioterapia; estimulação magnética transcraniana repetitiva; aplicação da toxina botulínica. Dependendo do grupo para o qual você será selecionado, as sessões de estimulação magnética transcraniana poderão ser fictícias, ou seja, você não receberá a estimulação. É importante esclarecer que não será dito se ou não você foi de fato submetido à estimulação e também não será permitida a escolha da técnica terapêutica. Para as sessões de estimulação, você sentará em uma cadeira confortável e pulsos magnéticos serão aplicados sobre a sua cabeça. É importante esclarecer que não será permitida a escolha da técnica terapêutica a qual você será submetido. Riscos: O estudo oferece pouco risco à sua saúde, uma vez que as técnicas terapêuticas empregadas já são bem estabelecidas e serão realizadas sob a supervisão de pesquisadores experientes. Pode-se considerar que sua participação no presente estudo não lhe causará desconfortos, além dos mínimos que poderiam ser esperados em uma avaliação e tratamento fisioterápico, como por exemplo, cansaço. É possível que após a EMTr, você sinta cefaléia (dor de cabeça) que desaparecerá em algumas horas.

Benefícios: Você será beneficiado pela possibilidade de realizar um tratamento gratuito que poderá minimizar a espasticidade e melhorar seu desempenho motor. Através de sua participação na pesquisa, você também estará beneficiando o conhecimento científico das técnicas empregadas para o tratamento do Acidente Vascular Encefálico. Relevância da pesquisa: A relevância da pesquisa reside no fato de que ela fornecerá dados para (i) o desenvolvimento uma estratégia terapêutica não-invasiva que minimize a espasticidade dos pacientes com Acidente Vascular Encefálico que poderá futuramente ser incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS); (ii) o desenvolvimento de técnica complementar a fisioterapia e a toxina botulínica que potencialize seus efeitos o que levaria à recuperação mais rápida e efetiva do paciente e, portanto, reduziria os custos com reabilitação.

Custos/Reembolso: Esse estudo não requer nenhum tipo de ônus para você, sendo todos os custos de total responsabilidade dos pesquisadores. Sua participação também será voluntária, ou seja, você não receberá nenhuma retribuição financeira.

Caráter confidencial da pesquisa: Todos os dados da pesquisa serão armazenados no Laboratório de Neurociência Aplicada do Departamento de Fisioterapia da UFPE sob a responsabilidade dos pesquisadores e quaisquer dados que venham a ser publicados não constará seu nome, ou seja, sua identidade não será revelada.

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Eu,_______________________________________________________________________________________,

RG _______________________, CPF:____________________________, Idade________,declaro que fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade. Estou ciente que os resultados deste estudo poderão ser aproveitados para fins de ensino e pesquisa, desde que minha identidade não seja revelada. Enfim, tendo sido orientado quanto à natureza e o objetivo do estudo, manifesto meu livre consentimento em participar, estando totalmente ciente de que não há nenhum valor econômico, a receber ou a pagar, por minha participação.

____________________________

Local e Data

_______________________ ________________________

Voluntário(a) Testemunha 1

________________________ ________________________

Pesquisador Testemunha 2

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APÊNDICE B

FICHA DE TRIAGEM CLÍNICA

DATA: ___ /___ /_____ IDENTIFICAÇÃO Nº:______________

AVALIADOR: ____________________________________________________

PACIENTE: □ aceito □ enquadrado □ excluído

ANAMNESE

Nome:_______________________________________________________________________

Data Nasc.: ___ /___ /_____ Idade: ____ Sexo: ____ Est. Civil:_______________________

Endereço:________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Telefones:____________________________________________________________________Naturalidade:_________________________Nacionalidade:____________________________Escolaridade:_________________________Profissão:________________________________

Responsáveis:________________________________________________________________

Médicos acompanhantes:_______________________________________________________

Encaminhado por:_____________________________________________________________

Acompanhante/cuidador:________________________________________________________

H.D.:________________________________________________________________________

Q.P:________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

H.D.A.:______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

POSSUI: □ HAS □ DIABETES

HIST. FAMILIAR: ______________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ USO DE MEDICAÇÃO: (horário da medicação) □ sim □ Não

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________JÁ FEZ OU FAZ ALGUM TRATAMENTO FISIOTERÁPICO? □ sim □ Não

QUAL? POR QUANTO TEMPO? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO:

□ Gestação □ Implantes metálicos □ Realizando outro tratamento no momento □ Marcapasso □ Dç neurológica anterior □ Epilepsia/crise convulsiva □ evidência clínica de lesões encefálicas múltiplas □ Uso de medicação para tratamento da espasticidade □ Nega todos

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CRITÉRIOS DE INCLUSÃO:

□ Diagnóstico clínico de AVE comprovado por exames de imagem

□ Tempo de AVE maior que 6 meses: □ 6 meses – 2,5 anos □ 2 anos e 7 meses – 5 anos

□ Folstein Mini Mental State Examination > 20

□ Ashowrth 1+ a 3

Escala de Espasticidade de Ashworth

□ 0 = Nenhum aumento no tônus muscular;

□ 1 = Leve aumento do tônus muscular, manifestado por uma tensão momentânea ou porresistência mínima, no final da amplitude de movimento articular (ADM), quando a região é movida em flexão ou extensão;

□ 1+ = Leve aumento do tônus muscular, manifestado por tensão abrupta, seguida de resistência mínima em menos da metade da ADM restante;

□ 2 = Aumento mais marcante do tônus muscular, durante a maior parte da ADM, mas a região é movida facilmente;

□ 3 = Considerável aumento do tônus muscular,o movimento passivo é difícil;

□ 4 = Parte afetada rígida em flexão ou extensão;

PREFERÊNCIA DE HORÁRIO PARA ATENDIMENTO: ___________________________

DECLARAÇÃO

Eu,____________________________________________________________________________________________ declaro que todas as informações prestadas acima são verdadeiras, que não omiti nem faltei com a verdade em nenhum dado relevante e responsabilizo-me inteiramente por qualquer consequência que advenha de informações inexatas.

Recife,___/____/____, ______________________________

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APÊNDICE C

FICHA DE AVALIAÇÃO CLÍNICA

DATA: ___ /___ /_____ IDENTIFICAÇÃO Nº:_____________

EXAMINADOR: _______________________________________________________________

DADOS DEMOGRÁFICOS

Nome: _____________________________Sexo: _______ Telefone: _____________________ Data de Nascimento: ___ /___ /_____ Idade (anos):_______Naturalidade:_________________ Estado Civil: ____________________Mora com: ____________________________________ Escolaridade:________________________Profissão:_________________________________ Endereço: ___________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Nome do Acompanhante: ____________________________ Telefone: ___________________ Endereço: ___________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ DADOS CLÍNICOS DO AVE

DATA: ___ /___ /_____ Área da Lesão:________________________________________________________________ Tempo de evolução (meses): ____________________________________________________

( ) Isquêmico ( ) Hemorrágico ( ) Hemi Esq ( ) Hemi Dir

Confirmado por: _______________________________________________________________ Descrição dos exames complementares: __________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ DADOS CLÍNICOS GERAIS

Hipertensão arterial ( ) sim ( ) não

Diabetes ( ) sim ( ) não

Déficit Auditivo: ( ) sim ( ) não

Déficit Visual: ( ) sim ( ) não

Disartria: ( ) sim ( ) não Medicamentos em uso: _________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ EXAME FÍSICO

Membro superior dominante:_____________Membro inferior dominante: ____________

Órteses/Auxílio de marcha: ( ) sim ( ) não

Dor: ( ) sim ( ) não Região: ________________________

Peso: _________ Altura: _________

PA: _________mmHg FC:_________bpm FR: _________ipm

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APÊNDICE D

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ANEXO I

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ANEXO II

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ANEXO III

FOLSTEIN MINI MENTAL STATUS EXAMINATION

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ANEXO IV

PRODUÇÃO TÉCNICA - Apresentação de trabalho formato oral e publicação de resumo:

Anais do IV Simpósio Internacional de Neuromodulação, 2012, v1, p. 27-28.

ISBN: 978-85-65408-01-1.

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ANEXO V

PRODUÇÃO TÉCNICA – Apresentação de trabalho formato pôster e publicação de

resumo: Anais do IV Simpósio Internacional de Neuromodulação, 2012, v1, p.23-24.

ISBN: 978-85-65408-01-1.

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ANEXO VI

PRODUÇÃO TÉCNICA – Apresentação de trabalho formato pôster e publicação de

resumo: Anais do IV Simpósio Internacional de Neuromodulação, 2012, v1, p. 33-34.

ISBN: 978-85-65408-01-1.

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ANEXO VII

PRODUÇÃO TÉCNICA – Apresentação de trabalho formato oral e publicação de resumo:

Anais do II Congresso Brasileiro de fisioterapia Neurofumcional, 2012, v16 (2), p.27.

ISSN: 1413-3555.

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ANEXO VIII

PRODUÇÃO TÉCNICA – Apresentação de trabalho formato pôster e publicação de

resumo: Anais do II Congresso Brasileiro de fisioterapia Neurofumcional, 2012, v16

(2), p.237. ISSN: 1413-3555.