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    Estratégias de polaridade negativa em Tenetehára (Tupí-Guaraní)

     Neste trabalho, o intuito é descrever estratégias de codificação de polaridade

    negativa em Tenetehára tanto no nível nominal quanto no verbal (cf. RODRIGUES,

    1953; BOUDIN, 1966; BENDOR-SAMUEL, 1972; HARRISON, 1986, 2013;

    DUARTE, 1997, 2003, 2005, 2007; CARVALHO, 2001; CASTRO, 2007; SILVA,

    2010; CAMARGOS, 2013; CAMARGOS & CASTRO, 2013, 2015).

    Mais especificamente, veremos que a língua Tenetehára pode exibir os seguintes

    recursos para indicar a negação. Em relação aos nomes e às estruturas nominalizadas a

    língua disponibiliza o morfema {-’ym}. No eixo verbal, aciona-se (a) o circunfixo

    {n(a)-.....-kwaw} em sentenças que figuram no modo indicativo e (b) a partícula  zo cuja

    função pode ser negar sentenças no modo imperativo. Comecemos, então, com a

    negação nominal. Nos contextos em que predicados são submetidos a nominalizações

     por meio dos afixos {-har } e {- pyr }, por exemplo, o sufixo de negação nominal {-’ym}

    é engatilhado, como se pode notar por meio dos exemplos (1) e (2).

    (1) w-exak kuzà awa ma’e-kwaw-har -' ym   a’e 3-ver mulher homem coisa-saber- NOML- NEG  ela

    “A mulher viu o homem que não sabe das coisas (i. e. o ignorante)” 

    (2) w-exak awa kuzà-waza i-aky-pyr -’ym  a’e 

    3-ver homem menina-moça 3-mexer- NOML- NEG  ele

    “O homem viu a menina que não foi mexida (i. e. a virgem) ” 

    O fato de o morfema de negação {-’ym} na língua Tenetehára poder figurar

     juntamente com um nome não derivado de verbo na estrutura em (3) abaixo corrobora a

    hipótese de que os dados em (1) e (2) são, de fato, nomes. Em exemplos tais como em

    (3), o sentido da tradução corresponde à palavra “sem” denotando ausência, como se pode notar a seguir.

    (3) a-’u  pira taz-‘ ym ihe 

    1-comer peixe pimenta- NEG  eu

    “Eu comi peixe sem pimenta” 

    Em relação à negação verbal, a língua Tenetehára disponibiliza o circunfixo

    {n(a)-.....-kwaw} com o intuito de negar sentenças no modo indicativo, conforme os

    dados que se seguem:

    (4) u-pyhyk awa pira a’e 3-pegar homem peixe ela

    “O homem pegou o peixe” 

    (5) n -u-pyhyk-kwaw   awa pira a’e 

     NEG-3-pegar- NEG  homem peixe ela

    “O homem não pegou o peixe” 

    Finalmente, ainda no que se refere à negação verbal, a língua analisada faz uso

    da partícula de polaridade negativa zo a partir de orações cujo modo é o imperativo, de

    acordo com os seguintes exemplos.

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    (6) e-monohok ywyra nehe

    2SG.IMP-cortar madeira FUT 

    “Corte a madeira” 

    (7) e-monohok zo   ywyra nehe

    2SG.IMP-cortar  NEG  madeira FUT 

    “ Não corte a madeira” 

    Referências

    BOUDIN, Max Henry.  Dicionário de Tupi Moderno: dialeto tembé-ténêtéhar do alto

    rio Gurupi. São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1966.

    BENDOR-SAMUEL, David.  Hierarchical structures in Guajajára. Norman: Summer

    Institute of Linguistics, 1972.

    CAMARGOS, Quesler Fagundes & CASTRO, Ricardo Campos. Paralelismo entre DP

    e CP a partir das nominalizações na língua Tenetehára.  Revista da ANPOLL  34 (2),

    2013.

    CAMARGOS, Quesler Fagundes & CASTRO, Ricardo Campos. Morfemas causativos

    nas línguas indígenas brasileiras. Revista Sociodialeto, 2015.

    CASTRO, Ricardo Campos; CAMARGOS, Quesler Fagundes. Propriedades verbais

    em estruturas nominais e nominalizadas na língua Tenetehára (família Tupí-Guaraní).

    Revista LIAMES, Campinas: Unicamp, p. 39-54, primavera 2015.

    CASTRO, Ricardo Campos. Interface morfologia e sintaxe em Tenetehára. Dissertação

    de Mestrado em Linguística. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 81

    f., 2007.

    COMRIE, Bernard. Language universals and linguistic typology. 2nd edition. Chicago:

    University of Chicago. 1989.

    DUARTE, Fábio Bonfim  Análise gramatical das orações da Língua Tembé.

    Dissertação de Mestrado em Linguística. Brasília: Universidade de Brasília, 1997.

    DUARTE, Fábio Bonfim. Ordem dos constituintes e movimento em Tembé:

    minimalismo e anti-simetria. Tese de Doutorado em Linguística. Belo Horizonte:

    Universidade Federal de Minas Gerais, 2003.

    DUARTE, Fábio Bonfim. Manifestação de traços de tempo em D/NPS na língua

    Tenetehára.  Revista de Estudos Linguísticos do Grupo de Estudos Linguísticos do

     Estado de São Paulo 35: 773-881, 2005.

    DUARTE, Fábio Bonfim.  Estudos de morfossintaxe Tenetehára. Belo Horizonte:

    Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. 2007.

    HARRISON, Carl. Verb prominence, verb initialness, ergativity and typological

    disharmony in Guajajara. In: DERBYSHIRE, Desmond C.; PULLUM, Geoffrey K.

    (Orgs.). Handbook of Amazonian Languages. Berlin: Mouton de Gruyter, 1986. p. 407-

    439.

    HARRISON, Carl & Harrison, Carole. Dicionário Guajajara-Português. Associação

    Internacional de Linguística SIL. Anápolis –  Goiânia, 2013.

    ISAC, Daniela. A verb moviment analisis. Oxford University Press. 2015.

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    RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Morfologia do Verbo Tupi.  Revista Letras 1: 121-152,

    1953.

    SILVA, Tabita Fernandes.  História da língua Tenetehára: contribuições aso estudos

    histórico-comparativos sobre a diversificação da família Tupí-Guaraní do tronco Tupí .

    Tese de Doutorado em Linguística. Brasília: Universidade de Brasília, 2010.