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0501 um pouco' mais quente Desde 1978, a quantida- de de radiação emitida pelo sol em seus perío- dos de baixa atividade sobe em média 0,05% por década, de acordo com um índice publica- do em março pela Nasa, a agência espacial nor- te-americana. Nos últi- mos 24 anos, a radiação solar teria assim contri- buído com um aumento de 0,1% para a elevação da temperatura global. "Se a tendência persistir durante muitas décadas, o clima poderá mudar significativamente", diz Richard Willson, co- ordenador do estudo. Mas, como não existem levantamentos anterio- res, ainda não é possível saber até que ponto o sol do passado pode ser responsabilizado pelo calor do presente. • Nova base para drogas anti-HIV Michael Summers, da Uni- versidade de Maryland, Es- tados Unidos, identificou um grupo decompostos que, em laboratório, mostraram- se capazes de intervir na mon- tagem do HIV, o vírus causa- dor da Aids. Essa descoberta pode fundamentar o desen- volvimento de uma nova clas- se de potenciais drogas contra Aids, os chamados inibidores de montagem (assembly inhi- bitors), que dificultam a união de proteínas que formam o capsídeo, uma estrutura em forma de cone que envolve o RNA viral. Embora não pa- rem o processo, esses inibido- res levam os vírus a produzir capsídeos defeituosos - e es- ses vírus anormais não infec- tam outras células, conforme 28 • MAIO DE 2003 PESQUISA FAPESP 87 relatado na edição on line de 28 de março do [ournal of Molecular Biology. Um desses compostos, CAP-1, é bem to- lerado por células humanas, de acordo com os resultados obtidos por Summers, que já havia solucionado as estrutu- ras de três proteínas impor- tantes do HIY. • Equação explica as formas da natureza A superfórmula, nome que o belga Iohan Gielis, da Uni- versidade de Nijmegen, na Holanda, deu à sua surpreen- dente descoberta, faz tudo: de triângulos a pentágonos, de espirais a pétalas "Depois que a descobri, pensei: não é pos- sível que ninguém nunca te- nha imaginado isso antes", diz ele (Nature, 2 de abril). Foi só depois de muito con- versar com matemáticos que ele se convenceu de que, de fato, tinha uma novidade nas mãos. A fórmula é uma versão modificada da equa- ção do círculo. Muda-se um termo, e a proporção varia, transformando círculos em elipses. Mudam-se outros, e o que varia são os eixos de si- metria, transformando círcu- los em triângulos, quadrados, pentágonos e assim por dian- te. A variação da proporção e da simetria ao mesmo tempo produz as mais diversas for- mas poliédricas, regulares ou não, além de estruturas tri- dimensionais e sólidos inani- mados, como flocos de neve ou cristais. Há séculos, os cientistas sonham com um instrumento capaz de tradu- zir em termos matemáticos formas naturais, como, por exemplo, uma folha, uma con-

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0501um pouco'mais quenteDesde 1978, a quantida-de de radiação emitidapelo sol em seus perío-dos de baixa atividadesobe em média 0,05%por década, de acordocom um índice publica-do em março pela Nasa,a agência espacial nor-te-americana. Nos últi-mos 24 anos, a radiaçãosolar teria assim contri-buído com um aumentode 0,1% para a elevaçãoda temperatura global."Se a tendência persistirdurante muitas décadas,o clima poderá mudarsignificativamente", dizRichard Willson, co-ordenador do estudo.Mas, como não existemlevantamentos anterio-res, ainda não é possívelsaber até que ponto osol do passado pode serresponsabilizado pelocalor do presente. •

• Nova base paradrogas anti-HIV

Michael Summers, da Uni-versidade de Maryland, Es-tados Unidos, identificou umgrupo decompostos que,em laboratório, mostraram-se capazes de intervir na mon-tagem do HIV, o vírus causa-dor da Aids. Essa descobertapode fundamentar o desen-volvimento de uma nova clas-se de potenciais drogas contraAids, os chamados inibidoresde montagem (assembly inhi-bitors), que dificultam a uniãode proteínas que formam ocapsídeo, uma estrutura emforma de cone que envolve oRNA viral. Embora não pa-rem o processo, esses inibido-res levam os vírus a produzircapsídeos defeituosos - e es-ses vírus anormais não infec-tam outras células, conforme

28 • MAIO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 87

relatado na edição on line de28 de março do [ournal ofMolecular Biology. Um dessescompostos, CAP-1, é bem to-lerado por células humanas,de acordo com os resultadosobtidos por Summers, que jáhavia solucionado as estrutu-ras de três proteínas impor-tantes do HIY. •

• Equação explica asformas da natureza

A superfórmula, nome que obelga Iohan Gielis, da Uni-versidade de Nijmegen, naHolanda, deu à sua surpreen-dente descoberta, faz tudo: detriângulos a pentágonos, deespirais a pétalas "Depois quea descobri, pensei: não é pos-sível que ninguém nunca te-nha imaginado isso antes",diz ele (Nature, 2 de abril).Foi só depois de muito con-

versar com matemáticos queele se convenceu de que, defato, tinha uma novidadenas mãos. A fórmula é umaversão modificada da equa-ção do círculo. Muda-se umtermo, e a proporção varia,transformando círculos emelipses. Mudam-se outros, e oque varia são os eixos de si-metria, transformando círcu-los em triângulos, quadrados,pentágonos e assim por dian-te. A variação da proporção eda simetria ao mesmo tempoproduz as mais diversas for-mas poliédricas, regulares ounão, além de estruturas tri-dimensionais e sólidos inani-mados, como flocos de neveou cristais. Há séculos, oscientistas sonham com uminstrumento capaz de tradu-zir em termos matemáticosformas naturais, como, porexemplo, uma folha, uma con-

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cha ou um chifre de carneiro.Gielis está tão certo de que temo que eles querem, que já pa-tenteou sua superfórmula eagora quer transformá-Ia emprograma de computador. •

• Férias fazembem ao coração

Há sempre um workaholicdisposto a elogiar a abnegaçãodo trabalhador norte-ame-ricano, que tira, no máximo,dez dias de férias por ano. En-quanto isso, nos Estados Uni-dos, uma pesquisa sugere queo hábito da labuta ininter-rupta estraçalha os coraçõesdo país (Wall Street [ournal,27 de março). O estudo, queacompanhou durante noveanos um grupo de 12 mil ho-mens de meia-idade com pro-pensão para doenças coro-narianas, registrou um índicemaior de probabilidade demorte - por quaisquer causas,mas principalmente por ata-que cardíaco - entre os que nãotêm o hábito de tirar fériasregularmente. Também vaipor água abaixo a idéia de quepular férias seja uma escolhaespontânea de profissionaisconscientes: 67% dos norte-americanos declaram que pre-cisam urgentemente de umdescanso prolongado. •

• Luz perdevelocidade

Pesquisadores da Universida-de de Rochester, nos EstadosUnidos, reduziram a veloci-dade da luz à de um trem(Nature, 26 de março). Parafazer com que ela caísse de 300mil quilômetros por segundoa pouco mais de 200 quilô-metros por hora à temperatu-ra ambiente, precisaram ba-sicamente de um rubi. Comuma técnica especial queusa laser, a equipe de RobertBoyd infiltrou um feixe lumi-

Barreira: luz 5 milhões de vezes mais lenta que a normal

noso de baixíssima amplitudeem um rubi comum e assim otornou transparente à luz. Ofeixe de luz que atravessa orubi é 5 milhões de vezesmais lento que o normal. Ex-periências anteriores já ti-nham conduzido a resultadossemelhantes, mas a tempera-turas próximas a 2600 Celsiusnegativos. A conquista datemperatura ambiente pode-rá levar ao uso da chamadaluz lenta em telecomunica-ções e redes de computadorescom o propósito de transmi-tir sinais de informação. •

• O mais antigodeus andino

Arqueólogos no norte doPeru encontraram um frag-mento de cabaça de cerca de

4 mil anos gravado com umaimagem do deus dos báculos,também conhecido como Vi-racocha, principal divindadeda América do Sul durantemilhares de anos. "Parece sero ícone religioso mais antigojá encontrado nas Américas';diz Ionathan Hass, especialis-ta em antropologia da TheField Museum, dos EstadosUnidos, e um dos autores doartigo relatando a descober-ta na edição de maio-junhoda revista Archaeology."E issosugere a existência de umareligião organizada nos An-des pelo' menos mil anosantes do que havíamos pen-sado." O fragmento foi lo-calizado nas ruínas de umcemitério, a mais de 300 qui-lômetros de Lima, na regiãoconhecida como Norte Chi-

Urna peruanade 500 a 800 a.C.com a divindade

co - que teria sido bastan-te habitada, entre 2600 a.c. e2000 a.c., por povos andinosque, 3.500 anos mais tarde,dariam origem aos incas. Da-tada por radiocarbono comosendo de 2250 a.c., a peçatraz uma representação enta-lhada e pintada do deus dosbáculos. Apesar dos traçossimplificados do estilo arcai-co em que foi feita, podem-sever claramente os dentes àmostra, os pés separados, obáculo na mão direita e a ca-beça de serpente em que ter-mina a mão esquerda - mo-tivos clássicos que marcarama representação da divindi-dade ao longo da história dacultura andina. •

• Fertilizantesnaturais

As raízes das plantas entramem contato com numerososmicrorganismos. Nem todossão nocivos. Alguns são atébenéficos, como as chamadasPGPRs (rizobactérias pro-motoras do crescimento, nasigla em inglês), que ajudamos vegetais a crescer. Cho-ong-Min Ryu, da Universida-de de Auburn, nos EstadosUnidos, examinou sete varie-dades de PGPRs encontradasnas folhas da Arabdopsis tha-liana, uma planta modelo emgenética, e identificou doiscompostos com papel decisi-vo no crescimento da planta:o 2,3 butanodiol e a acetoína(Proceedings of the NationalAcademy of Science, 31 demarço). O primeiro, aplica-do diretamente ao broto daArabdopsis, promove o cres-cimento da planta em pro-porções que variam com adosagem. Também se consta-tou que uma injeção de en-zimas envolvidas na síntesedos dois compostos conse-gue suspender o efeito decrescimento. •

PESQUISA FAPESP 87 • MAIO DE 2003 • 29

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Músculos feitos de nanotubos de carbonoEm maio de 1999, físicos li-derados por Ray Baugh-man, então pesquisador daempresa de tecnologia Al-liedSignal, demonstraramem um artigo publicado naScience que folhas forma-das por tubos microscópi-cos de carbono se curvavamao ganhar ou perder elé-trons, partículas com cargaelétrica negativa. Esse re-sultado era a prova de quecamadas desses cilindros,chamados nanotubos porterem poucos nanômetrosde diâmetro (um nanôrne-tro é a bilionésima parte dometro), tinham um com-portamento semelhante aodas fibras musculares. Masainda não era possível ex-plicar por que essas folhas -na verdade, um sanduíchede duas folhas com bilhõesde nanotubos de caracterís-ticas distintas separadas por

Flexibilidade: elétrons dobram folha de nanotubos

um material isolante - sedobravam. Coube à equipedo físico Rodrigo Capaz, daUniversidade Federal do Ríode Janeiro (UFRJ), esclarecer

o enigma. Simulações emcomputador indicaram quenanotubos que se compor-tam como metais e nanotu-bos semicondutores funcio-

nam de modo diferente, co-mo mostrou a equipe emartigo na Physical Review Bde 15 de abril. Adicionandoelétrons à superfície do na-notubo semicondutor, seusátomos se afastam e o cilin-dro estica - o mesmo ocor-re com a saída de elétrons.Os nanotubos metálicosapresentam o mesmo com-portamento quando rece-bem elétrons, mas seus áto-mos se tornam mais coesos,até um determinado limite,e o cilindro encolhe com asaída de partículas de carganegativa - após um limite decoesão, o nanotubo volta aexpandir. "Caso se consigamanipular em separado osdiferentes tipos de nanotu-bo, será possível explorarcom mais eficiência essesefeitos e utílizá-los para pro-duzir fibras musculares ar-tificiais", comenta Capaz. •

• Menstruação reduzplaquetas no sangue

No primeiro dia da menstru-ação, o número de plaquetascirculantes no sangue pode serlevemente menor, de até 6,2%,em relação ao dia médio dociclo menstrual, segundo es-tudo realizado na Faculdadede Farmácia da UniversidadeFederal de Minas Gerais(UFMG). Durante a mens-truação, o endométrio, a ca-mada superficial do útero, sedesintegra e os vasos sangüí-neos que o irrigam se rom-pem. As plaquetas - célulasanucleadas essenciais no pro-cesso de coagulação - sãomobilizadas para estancar osangramento. Se ocorre um

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consumo superior à capaci-dade de reposição, há umadiminuição temporária donúmero dessas células. Co-ordenado por Luci MariaSant'Ana Dusse e publicadono Jornal Brasileiro de Patolo-gia e Medicina Laboratorial,o estudo fundamentou-se nacontagem de plaquetas de 15mulheres, feita no primeirodia da menstruação e no diamédio do ciclo menstrual. Aequipe mineira recomendaque os laboratórios de análi-ses clínicas investiguem a fasedo ciclo na qual se encontra amulher no momento da cole-ta do sangue ou, se possível,evitem a realização da conta-gem de plaquetas no primei-ro dia da menstruação. •

• Baratas ampliamrisco de asma

O resultado de um estudodeve aumentar a ojeriza - oumesmo o pavor - às baratas:já se sabia que esses insetoscausam alergia, tal qual áca-ros, pêlos de gato ou cão, po-eira ou mofo, mas agora háindícios de que esses insetosestejam associados ao surgi-mento ou ao desenvolvimentode asma em crianças. Pesqui-sadores da Universidade Fe-deral de Pernambuco (UFPE),sob a coordenação dos médi-cos José Ângelo Rizzo e Erna-nuel Sarinho, encontraramuma nítida relação entre aexistência de baratas nas resi-dências e a asma em crianças:

em 172 domicílios recém-de-detizados, 79 crianças de 4 a12 anos estavam expostas abaratas e 93, não. Analisandoos dados, descobriu-se que32% das crianças expostas abaratas tinham asma, encon-trada em apenas 12% do se-gundo grupo, de casas sembaratas. "Há uma probabili-dade quase três vezes maiorde uma criança ter asmaquando há baratas em casado que quando não há", co-menta Rízzo. Ainda não sepode afirmar que exista umarelação direta entre as baratase a asma, mas os resultadosobtidos, segundo Rízzo, va-lem como alerta, em especialpara os portadores de doen-ças respiratórias. •

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o estado atual da paisagemA América do Sul abriga amaior diversidade de climas,terrenos e vegetação do plane-ta, de acordo com o mais com-pleto mapa da cobertura vege-tal da região, a ser publicadona Global Change Biology.Produzido com imagens do

satélite Spot 4, o mapa de-limita as áreas urbanas,agrícolas (23%), além davegetação natural, comoflorestas (46,3%) e de-

sertos (1,1%). A análise daporção brasileira detalha a

área das cidades: 20.737 km'ou 0,24% do território. Feitopor instituições de seis paí-ses, esse trabalho integra umlevantamento da coberturavegetal do planeta. "É um do-cumento que poderá ter umpapel importante na deter-minação do mercado mun-dial de carbono, previsto pe-lo protocolo de Kyoto", dizEvaristo de Miranda, da Em-brapa Monitoramento porSatélite. •

Classes com dominância de vegetação natural_ Florestas ombrófilas_ Florestas estacionais semideciduais_ Florestas estacionais deciduais_ Estepes e caatingasD Campos e cerradosD Vegetação espersaD Áreas rochosas e de solo nuD DesertosD Áreas salinizadaso Áreas com neves eternas_ Corpos d'água

Classes com dominância de ação antropogênicaD "Plantations"lIiIIIIlI Mosaicos de agricultura e floresta degradada_ Mosaicos de agricultura e vegetação naturalD Agricultura e/ou pecuária_ Áreas urbanizadas

Classes em áreas inundáveis_ Manguezais_ Florestas inundáveis sazonalmenteD Campos inundáveis sazonalmente

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ITECNOLOGIA

• LINHA DE PRODUÇÃO MUNDO

Pneus viram óleo combustívelo Instituto de Carboquí-mica do Conselho Superiorde Investigação Científica(CSIC), em Zaragoza, Es-panha, desenvolveu e pa-tenteou um método limpoe auto-suficiente, baseadoem um processo térmico,para produzir combustíveissintéticos a partir do pro-cessamento de pneus usa-dos. A energia necessária égerada pela combustão departe do resíduo sólido daborracha, de alto poder ca-lorífico, resultante do pró-prio processo (R+D CSIC,publicação eletrônica daOficina de Transferência deTecnologia, 4 de abril). Oprocesso começa com a se-

• Polímeros comum toque de silício

Uma equipe de pesquisadoresliderada pelo professor Mi-chael Sailor, da Universidadeda Califórnia, nos EstadosUnidos, conseguiu transferirpara diversos plásticos orgâ-nicos as propriedades ópticasdos sensores de cristal de silí-cio, matéria-prima dos chipsde computador. O avanço po-de levar ao desenvolvimentode dispositivos implantáveisno corpo humano para umasérie de aplicações médicas."O processo é muito seme-lhante ao da fabricação debrinquedos com plástico in-jetado em molde", disse Sai-lor, em nota da Universidadeda Califórnia. A diferença éque o resultado é uma nano-estrutura flexível e biocorn-

paração da borracha das fi-tas metálicas que compõemo pneu. O próximo passoé submeter o material aum processo de pirólise(decomposição pelo calor).Dessa forma obtém-se, deum lado, gases com altaporcentagem de hidrocar-bonetos, submetidos a um

processo de condensaçãopara obter óleo combustí-vel, e, de outro, um resíduosólido, que corresponde aum terço do produto ini-cial. Exceto para começar oprocesso, em que é necessá-rio um pequeno aporteenergético relativo a nãomais de 5% do total, toda a

patível, que pode controlarcom precisão a transmissão daluz à maneira dos sernicon-dutores na transmissão de elé-trons. Polímeros dotados daspropriedades do silício po-dem ajudar os médicos a ver,por exemplo, se as suturas bio-degradáveis usadas para fe-char uma incisão se dissolve-ram. Também será possívelsaber qual a quantidade deuma droga aplicada em umpolímero biodegradável queestá sendo liberada para o or-ganismo de um paciente. "Asdrogas se dispersam à medidaque o polímero degrada, numprocesso que pode variar deum paciente para outro", ob-

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serva Sangeeta Bhatia, mem-bro da equipe de Sailor. "Ago-ra, é possível monitorar adegradação do dispositivo,decidir sobre sua substitui-ção e avaliar sua função." •

• Mistura paratoda obra

Os pesquisadores do InstitutoNacional de Ciência e Tecno-logia (Nist) dos Estados Uni-dos não cansam de encontrarnovas aplicações para o rnistu-rador industrial que criaram.Desenvolvido originalmentepara facilitar o trabalho de me-dição de gases, o aparelho dáconta, em segundos, de tarefas

energia necessária é geradapelo próprio sistema, com acombustão de gases e deresíduo sólido. O grupo depesquisadores, coordenadopor Ana Maria Mastral,está à procura de parceirosinteressados em adotaresse sistema de reciclagemem escala industrial. Maté-ria-prima não falta: os espa-nhóis jogam fora todo anocerca de 300 mil toneladasde pneus usados, sendo queapenas 16% voltam ao mer-cado, depois de serem re-cauchutados. •

Problema mundial:que destino dar a tantospneus descartados

que antes demandavam horas.A principal delas talvez seja amistura industrial de gases elíquidos, um problema clás-sico nos procedimentos daindústria química. Um rotor(parte giratória de uma má-quina ou motor) em formade dupla hélice é acoplado aum recipiente fechado, querecebe o líquido. Em seguida,o gás é bombeado para den-tro do misturador e um cam-po magnético externo faz giraro roto r. O gás circula inter-namente por orifícios estra-tegicamente posicionados,permitindo uma rápida dis-tribuição no líquido. O novomisturado r também já estásendo utilizado para facilitarreações químicas e removermetais pesados da água - umaaplicação promissora do pon-to de vista ambiental. •

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• Sensor alimentadopor fluido corporal

Que tal ser o feliz portador deuma série de sensores médicosem miniatura implantadossob a pele e capazes de avisar,por meio de discretos alarmes,qualquer alteração que com-prometa seu estado físico? Opesquisador Nicolas Mano edois de seus colegas da Uni-versidade do Texas, nos Es-tados Unidos, juntaram-se aFei Mao, da companhia cali-forniana TheraSense, paratentar encontrar uma fontede energia para esses sensores(The Economist, 13 de feve-reiro). O problema é que qual-quer aparelho alimentado porbateria seria volumoso de-mais. A idéia inicial foi usarcélulas a combustível, espéciede bateria que transforma hi-drogênio em energia. O pro-blema é que esses aparelhosnecessitam de componentesquímicos fornecidos por umtanque externo. Foi quandosurgiu outra idéia: e se oscomponentes químicos vies-sem do meio em que as célu-las operam? O corpo huma-no poderia ser o local idealpara receber um novo tipode equipamento que usa osfluidos corporais para gerarenergia. A glicose e o oxigênioseriam os geradores de ener-gia. Estava criada a chave para

o desenvolvimento da "célulabiocombustível', uma estru-tura que consiste de duas fi-bras de carbono, com 7 mí-crons (a milionésima partedo metro) de diâmetro cada.É verdade que, por enquanto,ainda não passa de um expe-rimento, mas a TheraSensenutre sérias esperanças de,um dia, vê-Ias implantadassob a pele dos diabéticos, porexemplo, alertando-os sobreeventual ultrapassagem dosníveis de glicose. •

• OVO para TVde alta definição

O primeiro gravador de DVDa laser azul-violeta, da Sony,está chegando ao mercado.Esse novo tipo de laser pro-porciona maior capacidade deleitura do que aquele usadoatualmente nos aparelhos deDVD, de cor vermelha. As-sim, os disquinhos podem tertambém maior capacidade dearmazenamento. Com a no-vidade, a empresa espera ga-nhar dianteira na luta pela li-derança do setor de TV de altadefinição (HDTV), que co-meça a crescer no Japão e Es-tados Unidos. O aparelho ado-tará os discos do formato doconsórcio Blu-Ray - grupo deempresas que desenvolve e li-cencia o' produto, do qual aSony é membro fundador. •

Laboratório móvel carrega instrumentos para testes

Prumo vai ao NordesteA metodologia de atendimen-to do Projeto Unidades Mó-veis (Prumo) para o setor deplásticos está sendo repassadapara o Nordeste. O Prumo éum laboratório móvel queatende pequenas empresas.Ele é montado dentro de umfurgão, com equipamentos fi-nanciados pela FAPESP,Insti-tuto Nacional do Plástico eServiço Brasileiro de Apoio àsMicro e Pequenas Empresas(Sebrae). Um engenheiro eum técnico do Instituto dePesquisas Tecnológicas (IPT),responsável pela execução doprojeto, fazem as visitas dediagnóstico. "Nosso papel é detransferência de tecnologia',diz Mari Tomita Katayama,diretora-adjunta para projetosespeciais do IPT. O roteiro co-meçou pelo Ceará, onde 20empresas procuraram solu-ções tecnológicas para seusproblemas. A Ceplal, da cida-de de Aquiraz, que trabalhacom materiais reciclados paraproduzir baldes e bacias, que-ria melhorar a qualidade doseu produto. A equipe analisoumatérias- primas, acompanhouas etapas de produção e fezensaios de fluidez e ponto de

fusão em amostras de mate-riais termoplásticos. "As solu-ções apontadas foram acertonos parâmetros de tempera-tura, na velocidade e na pres-são de injeção': diz Mari. Desdeentão, os utensílios fabrica-dos apresentaram maior re-sistência. Atualmente os aten-dimentos concentram-se naParaíba, depois será a vez dePernambuco e Bahia. No to-tal, segundo convênio firma-do com a Financiadora de Es-tudos e Projetos (Finep) e oBanco do Nordeste, serão aten-didas cem empresas. •

• Programas paragerenciar rodovias

O Instituto Tecnológico de Ae-ronáutica CITA)e a empresa desistemas Compsis, de São Josédos Campos, assinaram convê-nio para desenvolver progra-mas eletrônicos de gerencia-mento de tráfego rodoviário.A duração total do projeto éde 24 meses, mas a previsão éque, dentro de um ano, algu-mas ferramentas tecnológicasjá estejam disponíveis, comoas de rastreamento de veícu-los e logística de carga. •

PESQUISA FAPESP 87 • MAIO DE 2003 • 65

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Zanotto, Airoldie Perez:

cheque porparticipação na

venda de brocasodontológicas

uma parte para a FAPESP,outra para os três invento-res (Vladimir, Evaldo JoséCorat e João Roberto Mo-ro) e a terceira para o Inpe."Esse repasse de royalties éum indicador de sucesso doNúcleo de Patenteamento eLicenciamento de Tecnolo-gia (Nuplitec) da FAPESP",disse Perez. "Esses royaltiesdemonstram a viabilidadedo processo de financia-

a realização de trabalhos e in-venções com temática ama-zônica que possam contribuirpara o desenvolvimento daregião. O primeiro lugar fi-

. cou com um projeto que uti-liza o pecíolo (parte do troncoque sustenta as folhas) do bu-riti, palmeira que chega a atin-gir 30 metros, para fabricardivisórias usadas na constru-ção civil,em substituição à ma-deira, gesso e isopor. Quandoo pecíolo chega à fase de en-velhecimento, quebra junto

mento das patentes", afir-mou Edgar Dutra Zanotto,coordenador do Nuplitec.Atualmente, o núcleo possui61 patentes depositadas noInstituto Nacional de Pro-priedade Industrial (INPI),8 em análise, e 14 denega-das. Muitas delas são oriun-das de pesquisas feitas nasuniversidades ou em em-presas financiadas pelo Pro-grama de Inovação Tecno-

FAPESP recebe roya/ties por patente

66 • MAIO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 87

lógica em Pequenas Empre-sas (PIPE), como é o casoda Clorovale, que recebeuR$ 135 mil e US$ 76 mil. "OPIPE possibilitou o desen-volvimento dos protótiposdas brocas': explicou Airoldi.O diamante sintético usadonas brocas foi desenvolvidono Inpe e utilizado para aprodução de um tubo queestá em testes na Nasa, paraservir a uma futura nave ex-ploradora do solo de Marte.A Cloravale foi fundada em1997, e a trajetória da em-presa foi mostrada em re-portagens nas edições 52, 78e 83 de Pesquisa FAPESP. Sãosete sócios e quatro funcio-nários. Airoldi espera con-quistar grande parte do mer-cado, de 140 mil dentistasno Brasil, 250 mil na Amé-rica Latina e 2 milhões noresto do mundo. Confiandona eficiência e no ineditismoda broca, ele prevê um fatu-ramento de R$ 28 milhõesem dois anos. Isso deverágerar R$ 993 mil em royal-ties para a FAPESP,dinheiroque será reinvestido em no-vos projetos de pesquisa. •

Palmeira amazônica é matéria-prima de divisórias

Um cheque de R$ 4.150,45é o primeiro resultado emroyalties de uma patente fi-nanciada pela FAPESP. Aentrega do cheque foi reali-zada pelo físico VIadimir Je-sus Trava Airoldi aos di-retores da Fundação, JoséFernando Perez e Joaquimde Camargo Engler. Airoldié pesquisador do InstitutoNacional de Pesquisa Espa-ciais (Inpe) e fundador daClorovale Diamantes, de SãoJosé dos Campos, empresaque desenvolveu e está pro-duzindo brocas odontológi-cas com ponta de diamanteartificial. Esses instrumen-tos, quando acoplados aum aparelho de ultra-som,são utilizados em tratamen-tos dentários que provocammenos dor e barulho. Lan-çadas há três meses, as bro-cas já foram vendidas paracerca de 350 dentistas queparticiparam de cursos deum dia e renderam um fatu-ramento para a empresa deR$ 117 mil. Os R$ 4.150,45,resultado de 4% do fatura-mento menos os impostos,vão ser divididos em três,

• Buriti naconstrução civil

O Instituto de Pesquisas daAmazônia (lnpa) foi o grandevencedor do Prêmio Funda-ção Centro de Análise, Pes-quisa e Inovação Tecnológica(Fucapi) de Tecnologia 2002,em sua oitava edição. Do pri-meiro ao quinto lugar, todosos premiados são pesquisa-dores do instituto. Criado em1994, o prêmio tem como ob-jetivo reconhecer e estimular

Page 8: 0501revistapesquisa.fapesp.br/.../2003/05/tecnociência_878.pdf · 2015-04-27 · cha ou um chifre de carneiro. Gielisestátão certo de que tem o que eles querem, que já pa-tenteou

ao tronco e, em cerca de 72horas, entra em processo dedecomposição. Os pesquisa-dores do Inpa interromperamessa seqüencia para extrair opecíolo. "Dessa forma, não énecessário derrubar as palmei-ras para manufaturar as pla-cas': explica o coordenador doprojeto, [adir Rocha, que tra-balhou com outros seis pes-quisadores. "Realizamos estu-dos tecnológicos para avaliara secagem do material, resis-tência mecânica, densidade ecomportamento em máqui-nas de serra", conta. •

• Menos riscos noprocesso produtivo

Dois pesquisadores paranaen-ses desenvolveram um soft-ware, batizado de GMP Con-trol System, para identificar egerenciar pontos críticos decontrole que representem ris-cos de transmissão de doençasem cada etapa do processode fabricação de alimentos emedicamentos. A professoraLúcia Helena da Silva Miglio-ranza, da Universidade Esta-dual de Londrina, e o profes-sor Bruno Mazzer de OliveiraRamos, da Unicentro, de Gua-rapuava, resolveram traba-lhar nessa ferramenta quan-do constataram que muitasindústrias estavam com difi-culdades para seguir as nor-mas das boas práticas de fa-bricação (BPF), da Agência deVigilância Sanitária (Anvisa).Segundo Lúcia Helena, paraverificar o cumprimento des-sas normas, o primeiro passoé distribuir aos responsáveis decada setor material impressosobre itens que devem sercumpridos. As irregularidadesobservadas são anotadas emarquivos, disponíveis nos ter-minais de computadores, eenviadas a um computadorcentral, que emite relatóriospara correção das falhas. •

PatentesInovações financiadas pelo Núcleo de Patenteamento e Licenciamento

de Tecnologia (Nuplitec) da FAPESP. Contato: [email protected]

Sensor amperométrico: detecta parasita em 40 minutos

• Diagnóstico dadoença de Chagas

Um novo método de diag-nóstico para detectar a pre-sença de anticorpos da do-ença de Chagas, que utilizaum imunossensor ampe-rométrico (o resultado apa-rece na leitura da correnteelétrica), tem como vanta-gens a precisão e a rapidezde processamento. Desen-volvido no Instituto de Quí-mica da Universidade Es-tadual de São Paulo (Unesp),o dispositivo detecta nosoro sangüíneo quantida-des' pequenas de anticor-pos do parasita causadorda moléstia, o protozoárioTrypanosoma crusi. A aná-lise dura cerca de 40 mi-nutos, tempo bem inferiorao dos testes sorológicosconvencionars.

Título: ImunossensorAmperométrico para Doençade ChagasInventores: HidekoYamanaka, Antonio AparecidoPupim Ferreira, Paulo Inácioda Costae Walter ColliTitularidade: FAPESP/Unesp

• Controle paravenda de gás

Software desenvolvido noDepartamento de Engenha-ria de Telecomunicações eControle, da Escola Politéc-nica, mede vazão volumé-trica, pressão e temperaturado gás natural nas opera-ções de compra e venda doproduto. Como a mediçãovolumétrica de vazão dogás é afetada tanto pelapressão 'como pela tempe-ratura, esses parâmetrostêm de ser considerados namedição compensada devazão. Esse programa faz aleitura desses dados a cadasegundo. As estações demedição disponíveis nomercado, chamadas de com-putadores de vazão, sãovendidas na forma de umpacote completo, que incluihardware e software. Aproposta dos pesquisadoresé fornecer apenas o softwa-re, que pode ser instaladoem qualquer computadorque tenha plataforma Win-dows. E com um únicocomputador é possível ope-rar com até 20 estações vir-

tuais, enquanto pelo méto-do tradicional é necessárioum instrumento para cadaponto de medição.

Título: ProgramaComputacional de MediçãoCompensadade Vazãode GásNaturalInventores: Cláudio Garciae Osmel Reyes VaillantTitularidade: FAPESP/USP

• Sonda avalia gasesde matéria orgânica

Uma sonda desenvolvidapor pesquisadores da Fa-culdade de Ciências Agro-nômicas de Botucatu, daUniversidade Estadual Pau-lista (Unesp), auxilia naamostragem de substân-cias voláteis, como oxigê-nio, gás carbônico, monó-xido de carbono e outros,produzidas pela decom-posição de matéria orgâ-nica no solo. Para avaliar otipo de gás gerado e a suaquantidade, acopla-se nasonda um equipamentoanalisado r de gases. A lei-tura é instantânea e feitano próprio local. Os da-dos coletados são úteispara avaliar quais gasespresentes nos diferentestipos de matéria orgânicasão mais eficientes paracombater os microrganis-mos do solo que causamdoenças em plantas.

Título: Sonda Coletorade Gases do SoloInventores: Nilton Luiz deSouza e César Júnior BuenoTitularidade: FAPESP/Unesp

PESQUISA FAPESP 87 • MAIO DE 2003 • 67