natureza erótica

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Um conto de Jorge de Palma

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Page 1: Natureza erótica
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Natureza erótica

Jorge de Palma

O vento soprou descompassadamente

como um coração descontrolado. Os galhos

das árvores foram se empurrando uns aos

outros até que lá no centro da floresta os

últimos galhos derrubaram folhas verdes no

lago azul. Todos ficaram sabendo que Léia

vinha banhar-se.

O lago empurrou rapidamente as suas

águas sujas e ficou mais limpo do que nunca,

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deixando transparecer no fundo as pedras

azuis que o tornavam daquela cor e os peixes

que nele viviam.

Léia vinha banhar-se e toda a floresta temia

que um dia ela não viesse mais. Por isso, o

vento, depois das primeiras lufadas, soprava

de mansinho, empurrando de leve a menina

moça para o meio da floresta, enquanto as

árvores dançavam ao canto dos passarinhos.

Há algum tempo era assim. Léia nascera à

beira da floresta e os primeiros passos que

dera foram em direção a ela. Tudo mudou

para aquela floresta triste onde só entravam

homens com espingardas e machados nas

mãos. Léia não tinha espingarda, nem

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machado. A floresta encantou-se.

Quando Léia conheceu o lago, ele não era

tão bonito. Mas depois, conforme a menina

ia crescendo e sua beleza se acentuando, ele

também foi ficando cada vez mais belo.

Agora, Léia já era mais moça que menina e a

floresta não sabia mais o que fazer para

agradar a sua amada humana.

Quando a moça começou a tirar a roupa, o

sol esquentou, o vento deu uma lufada rápida,

as árvores balançaram-se em regozijo e os

pássaros erraram o canto.

Os pés de Léia penetraram as águas do

lago, que lançou pequenas ondas de prazer.

Eram pés pequenos e tão delicados que não

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pareciam capazes de sustentar o peso de um

corpo.

Depois vieram as pernas, mais rosa que

bronze, com graciosa firmeza. O lago lançou

ondas maiores. Por fim possuiu-a

completamente quando nele penetraram as

outras partes do corpo.

De repente, um ruído estranho, que toda a

floresta percebeu, menos Léia. A floresta

aquietou-se em suspeita. Havia mais alguém

por ali. Um vulto esgueirava-se

cautelosamente por entre as árvores. Era um

moço loiro. Não trazia espingarda, nem

machado, mas a floresta inquietou-se.

O moço aproximou-se do lago, despiu-se

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entrou devagarinho na água para surpreender

a moça que brincava distraidamente.

A floresta estava tensa. Foi quando Léia

percebeu a presença do moço. Deu um

gritinho de susto e exclamou:

-Oh, André! Que susto você me deu!

Ele sorriu e disse:

- Léia, este lugar é lindo, mas você não vai

sentir falta dele. Nós vamos morar numa

cidade linda, cheia de coisas diferentes, que

você nunca viu, mas sei que vai gostar.

- Está bem, mas como você chegou até

aqui?

- Ora, bobinha, eu a segui sem que você

percebesse. Vim para apressá-la porque o seu

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pai já arrumou nossa bagagem e vamos partir

logo.

Então o sol esmaeceu; o vento soprou

angustiado e algumas árvores que rodeavam

o lago caíram sobre ele. E o lago azul ficou

vermelho...