naturalismo no teatro - antoine e stanislavski

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TEATRO LIVRE

Influenciado pelo Realismo, que deu origem a inmeros filsofos teatrais, o francs naturalista Andr Antoine (1859 1943) foi um dos primeiros diretores que procuraram adequar encenao filosofia. Para Antoine, a vida deve ser expressa no palco de maneira contundente, quase real, levando em considerao os mnimos detalhes que transportam a platia para dentro do palco. Com os recursos inovadores da iluminao artificial, a partir da eletricidade, alm de cenrios retratando o cotidiano, Antoine buscava criar um ambiente muito parecido com a realidade, o que influenciava os atores a pesquisar na sociedade maneiras verossmeis de representar os seus personagens. No era permitido o uso da pantomima e da concepo estilizada do personagem. Ex.: um bbado deveria ser representado com os ares reais e com as subjetividades reais de um alcoolizado, levando em considerao a curva dramtica, isso , a vida do personagem e suas relaes sociais. No era apenas imitar uma pessoa, enrolando a lngua, tropeando e soluando. Era necessrio imaginar o que levou o personagem a estar naquele estado, de forma direta e indireta. Os atores tinham que se identificar com seus personagens para assim buscar uma melhor forma de interpret-los com grande eficincia, buscando sempre passar verdade para o pblico.

Andre Antoine influenciou demasiadamente, com sua nfase na experincia prtica, o teatro mundial, inclusive no Brasil, onde se v muito o conceito da chamada quarta parede. A quarta parede foi uma forma que Antoine encontrou para mostrar aos atores que esses deveriam ignorar o pblico, como se, entre o palco e a platia, houvesse uma parede que impedisse o ator de trocar olhares com o pblico, dando a sensao de que tudo o que acontece no palco a pura verdade, sem espectadores, nem elementos artificiais. Segundo ele, ao esquecer que o assistem, o ator no se distrai e pode trabalhar em cima do texto com a carga dramtica ideal, tornando a pea ainda mais realista. O mtodo da quarta parede, assim como diversos outros mecanismos de Andr Antoine para constituir seu Realismo, foi muito contestado por simbolistas e expressionistas, que lhe propuseram mais imaginao e criatividade. Antoine tambm foi severamente contestado pelo genial Bertold Bretch, que em seu livro Estudos sobre Teatro props o distanciamento do pblico para com as emoes dos atores, em prol da objetividade da mensagem.

Antoine, apesar das duras crticas, obteve xito e consagrao como um dos primeiros teatrlogos, que, aps Aristteles, tiveram a audcia de criar teorias a respeito da arte, impondo-as e provando-as na prtica. Antoine obteve aceitao mundial e inspirou diversos teatrlogos, cujos nomes ficaram marcados na histria da humanidade, entre eles, o russo Konstantin Stanislvski, considerado por alguns autores como o pai do teatro moderno.

Konstantin Stanislvski

(1863 1938), autor de cinco livros imprescindveis para qualquer ator, A Construo do Personagem, A Preparao do Ator, A Criao de um Papel, Manual do Ator e Minha Vida na Arte, foi um dos grandes filsofos teatrais que, durante toda sua vida, dedicou-se ao teatro russo. Seguidor, a princpio, do gnero naturalista, Stanislvski tornou-se um ator de renome em seu pas, criando uma tcnica primorosa sobre interpretao. Segundo Aristteles, a arte de imitar uma prerrogativa do prprio homem, sendo que o filsofo nunca esmiuou o segredo de uma interpretao perfeita, de maneira que, na prtica, essa elaborao sempre ficou a cargo dos diretores e dos intrpretes. A partir de Aristteles, surgiram grandes mestres que buscaram encontrar uma melhor forma de concepo de personagem, ou seja, como o ator deveria postar-se em cena e como deveria fazer para encenar os textos de uma maneira coerente, sendo que, de todos esses grandes tericos, Stanislvski, Brecht e Artaud so os mais conhecidos.

Seguindo o perfil adotado por Andr Antoine, Stanislvski defendia a realidade da cena, com comportamentos inspirados na vida real. Antoine no expressou de maneira clara a forma como o ator deveria compor seus personagens, de forma que Stanislvski criou uma tcnica minuciosa, a qual sugere que o ator, por meio de exerccios e dinmicas, entre em contato com seus prprios sentimentos, a fim de inspirar seus personagens, de modo que esses possam ter vida prpria. Stanislvski, assim como Antoine, foi duramente criticado por Brecht, que achava imprescindvel a emoo, mas sem que isso servisse de desculpa para causar iluso no pblico. Stanislvski defendia a iluso do espectador, argumentando que os efeitos cnicos causam interao com a platia, deixando-a mais envolvida pela esfera mgica da pea teatral.

A interpretao Stanislavskiana

Konstantin Stanislvski defendia a interao com pblico de uma maneira muito prtica: para ele, o pblico tem que sentir as mesmas emoes que o personagem sente, de forma que, para isso acontecer, necessrio o perfeito entrosamento entre todos os elementos que constituem uma pea teatral. Para o terico, esse entrosamento no palco causa no espectador a iluso de que o contexto abordado no palco real, o que, segundo Stanislvski, motiva o pblico a acompanhar o espetculo. Para ele, o pblico s pode sentir-se interessado pelo espetculo se as mensagens emitidas pelos atores forem de grande interesse para quem assiste, sendo que, para isso, h uma necessidade imprescindvel de que o espectador se identifique com as emoes dos personagens.

Para que o pblico possa se identificar com o personagem apresentado no palco, cabe ao ator a transfigurao, ou seja, a personificao total no palco, de forma que o ator deve abrir mo de sua prpria personalidade, de suas prprias angstias e sentimentos particulares, emprestando o corpo para o esprito do personagem, para que esse possa viver uma vida prpria, dentro de um espao fsico relativo sua subjetividade. Para isso ocorrer sem problemas, o ator deve despir-se de seus preconceitos para com o personagem, no sentido de no tax-lo disso ou daquilo, de no critic-lo, no supervaloriz-lo, tampouco subjug-lo, afinal, o ator representa um personagem com caractersticas prprias, com sentimentos prprios e uma histria prpria, como qualquer personagem da vida real. No momento da transfigurao (o que Aristteles chamou de catarse), o ator no pode se distrair nem realizar atos que no condizem com o personagem, pois a disperso faz que o intrprete tenha uma atuao que transmite falsidade para o pblico.

A respeito da catarse, Aristteles elucidava: Ao inspirar, por meio da fico, certas emoes penosas, especialmente a piedade e o terror, a catarse nos liberta dessas mesmas emoes. Com a sua tcnica primorosa da memria emotiva e da observao, Stanislvski preencheu o vazio deixado por Aristteles nesse quesito, pois o filsofo no disse como o ator deveria realizar a catarse. Com a memria emotiva, o ator poderia se lembrar de um fato ocorrido no passado para encontrar a emoo do personagem, de modo que, logo, a construo do personagem estaria perfeita. Veja o exemplo abaixo:

O ator deve fazer uma cena extremamente dramtica, como um triste enterro por exemplo. Se, por ventura, ele no souber como interpretar a emoo do personagem, poder lembrar a morte de algum ente querido, um fato parecido que o tenha deixado entristecido, para inspirar-se e assim fazer a cena. Caso o artista no tenha vivido um caso parecido, poder lembrar-se de outra ocorrncia triste de sua vida para ter noo de como interpretar com mais realidade essa cena dramtica.

Esse mtodo da memria emotiva se torna interessante para compor um quadro, numa situao especial, de forma que o ator deve encontrar a emoo verdadeira do personagem sem ter que se apegar a essa tcnica sempre. O benefcio desse mtodo a dinmica que causa em cena, possibilitando que todo elenco embarque na emoo conjuntamente, num processo simples de ao e reao no palco, fluindo o texto, de forma que o personagem comece a manifestar-se instintivamente no espao cnico, de maneira natural, como se possusse vida prpria. De acordo com a interpretao da metodologia Stanislavskiana, entendemos que a memria emotiva um recurso a ser utilizado durante o processo de montagem do espetculo e preparao de personagem, pois, trabalhando com uma emoo verdadeira, fica difcil control-la de modo que o ator possa, por exemplo, comear a chorar e parar no momento que quiser em cena. Alm de ser, psicologicamente, perigoso pois estamos falando de um fato verdico que aconteceu no com o personagem, mas, sim, com o ator.

O ator, segundo o mtodo de Stanislvski, deve buscar a f cnica, ou seja, o ator deve acreditar, incondicionalmente, no que est acontecendo em cima do palco, com o objetivo de tornar a cena mais verdadeira.

O Teatro de Arte de Moscou

Em junho de 1897, houve um encontro, num restaurante de Moscou, entre o escritor Vladimir Ivanovitch Nemirovitch-Dantchenko e Stanislviski. A conversa durou dezoito horas (das 14h s 8h da manh) e o resultado foi a fundao de um novo empreendimento teatral privado: o Teatro de Arte de Moscou. Stanislvski assumiu a responsabilidade das questes artstico-cnicas, e Dantchenko, a direo literria. O Teatro foi fundado em 14/10/1898, com o drama histrico Czar Fiodor Ivanovitch, de Alexei Konstantinovitch Tolsti (parente do escritor Leon Tolsti), que possua uma exuberante pesquisa na parte plstica (cenrio e figurino), deu uma certa representao no meio artstico, mas que no obteve grandes xitos. xito mesmo o Teatro alcanou com a parceria de Stanislvski e o escritor Anton Tchekhov, a partir da montagem de A Gaivota. Esse o maior exemplo da importncia do diretor, pois A Gaivota havia sido um fracasso um ano antes, em outro teatro e com outro diretor, mas, com a direo de Stanislvski, voltada para o novo estilo de interpretao, esta encenao tornou-se a base do Teatro de Arte de Moscou, tanto que uma gaivota de asas abertas tornou-se o emblema do teatro. O Teatro possua agora o seu autor e o seu estilo de direo e atuao.

Configuraram, tambm, grandes sucessos, as peas de Tchkhov As Trs Irms, O Tio Vnia e O Jardim das Cerejeiras. Nesses textos, Stanislvski mobilizou todos os meios concebveis de iluso tica e acstica, para criar a atmosfera naturalista para os atores e para o pblico. Alm de Tchkhov, trabalhou com grandes dramaturgos, entre eles, Maxim Grki, com o qual o diretor ganhou um novo componente, o drama de acusao e crtica social.

Stan viajou por vrios pases, influenciou muitos outros e seu mtodo chegou at os Estados Unidos (atravs do sobrinho de Anton Tchkhov, Michael Tchkhov), sendo adotado por uma das maiores escolas de arte dramtica americana, o Actors Studio.

Konstantin Stanislavski morreu em Moscou, em 7 de agosto de 1938.

1. Sobre o Teatro Livre de Andre Antoine, responda ao que se pede.

a) O que justifica o nome Teatro Livre?

b) O que voc entende por curva dramtica?

c) Qual a finalidade da quarta parede?

2. Sobre o trabalho e a obra de Konstantin Stanislvski, responda, responda ao que se pede.

a) Qual a semelhana entre o pensamento de Stanislvski e Aristteles?

b) Por que Stanislvski defendia o naturalismo cnico?

c) O que voc entende por transfigurao?

d) No texto foi citado um recurso do mtodo de Stanislvski usado para atingir uma interpretao natural e realista. Que recurso esse? Qual o risco da utilizao desse recurso?

e) Explique com poucas palavras o que f cnica.

f) A partir do seu entendimento do texto, sem pensar em decoreba, datas e nomes, resuma o pensamento e a importncia do Teatro de Arte de Moscou, em relao interpretao e temtica abordada.