nas margens da cidade francisco nunes correia na rota dos

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reportagem Nas Margens da Cidade entrevista Francisco Nunes Correia Ministro do Ambiente territórios Na Rota dos Templarios Dezembro | 2006 4

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reportagemNas Margens da CidadeentrevistaFrancisco Nunes CorreiaMinistro do Ambiente

territóriosNa Rota dos Templarios

Dezembro | 20064

P r o p r i e d a d e

CCDR‑LVT Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do TejoRua Artilharia 1, nº 33 – 1269‑145 Lisboa

Tel.: 21 383 71 00 | Fax: 21 383 12 92

www.ccdr‑lvt.pt

D i r e c t o r

António Fonseca Ferreira

D i r e c t o r E x e c u t i v o

Lúcia Cavaleiro

P r o j e c t o E d i t o r i a l , P r o d u ç ã o e G r a f i s m o

DDLX Design [www.ddlx.pt]José Teófilo Duarte [Direcção de Arte]Eva Monteiro [Design]Sofia Costa Pessoa [Contacto]

R e d a c ç ã o

Ana Filipa CandeiasAna Sousa DiasCarla Maia de AlmeidaDavid Lopes RamosFernanda CâncioInês Costa PessoaLuís de CarvalhoPedro Almeida Vieira

F o t o g r a f i a

Carlos Garcia [Fotoletras | RTTFCA]Guto FerreiraInês GonçalvesJulieta do ValeLuísa Ferreira

R e v i s ã o d e Te x t o s

Soares dos Reis

A g r a d e c i m e n t o s | P a r t i c i p a ç ã o E s p e c i a l

António Mega FerreiraCarlos CurtoEduardo NeryJorge SalavisaMarina Bairrão RuivoMiguel Lobo AntunesPaolo PinamontiPaulo HenriquesPedro LapaRui Vieira Nery

I m p r e s s ã o e A c a b a m e n t o

Armazéns de Papéis do Sado, Lda.

T i r a g e m 2500 exemplares

I S S N 1646‑1835

D e p ó s t i o L e g a l 224633/05

L V T # 4 – D e z e m b r o | 2 0 0 6

Fotografia da capa: Inês Gonçalves

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Editorial Novos Desafios.......................................................................... 2 António Fonseca Ferreira

Notícias Breves.........................................................................4

OpiniãoA Baixa, o Plano, a Maria José e a Laura.......................6 Fernanda Câncio

EntrevistaFrancisco Nunes Correia......................................................12 Ana Sousa Dias

EntrevistaRui Baleiras.............................................................................. 20Ana Sousa Dias

Destaque | ReportagemNas Margens da Cidade..................................................... 26 Inês Costa Pessoa

Destaque | ReportagemUm Filão entre a Lezíria e o Mar.....................................34Pedro Almeida Vieira

TerritóriosNa Rota do Templários........................................................38 Inês Costa Pessoa

AcontecimentoCCB Festa das Artes....................................................................... 46 Luís de Carvalho

PatrimónioA Vida Interior dos Brinquedos..................................... 48 Carla Maia de Almeida

Destaque | CulturaEduardo NeryA Obra Urbana.........................................................................52 Ana Filipa Candeias

RoteiroAs Delícias de Tomar e seus Vizinhos...........................56 David Lopes Ramos

Agenda Cultural..................................................................60

ín dice

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Novos Desafios

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Ao terminar o ano de 2006,.creio.ser.o.momento.de.perspectivar.os.desafios.e.problemas.que.iremos.enfrentar.e.as.decisões.que.é.necessário.preparar,.no.futuro.imediato,.sobretudo.quando.se.anunciam.novas.responsabilidades.nas.políticas.do.planea­

mento.e.gestão.do.território.e.de.gestão.dos.investimentos.públicos..Em. 2007. há. prioridades. que. a. CCDR. se. impôs. e. que. envolvem..decisão.e.coragem.para.atacar.os.problemas,.cada.vez.mais.ina­diáveis.Assim,. podemos. designar. como. a. primeira. prioridade. a. estra­tégia.e.a.organização.para.a.gestão dos fundos comunitários.do.próximo.QREN.Com.um.período.de.execução.que.vai.de.2007.a.2013,.e.que.se.nos.apresenta. como. a. última. grande. oportunidade. para. alterar. os.padrões.de.competitividade.da.economia.nacional.e.regional.e.a.qualificação.dos.recursos.humanos,.condição.indispensável.para.melhorar. o. desempenho. da. economia. portuguesa.. Ser­nos­ão.exigidas. medidas. ambiciosas. para. mudar. processos. de. fazer,.organizar.e.decidir.Em. segundo. lugar,. temos. a. elaboração. e. aprovação. dos. instru­mentos.fundamentais.para.a.estratégia.de.desenvolvimento.das.regiões,.os.PROT.–.Planos Regionais de Ordenamento do Território.–.que.desenham.o.programa.de.investimentos.estruturantes.e.as.estratégias.de.acção.sustentáveis,.de.acordo.com.as.prioridades.de.uma.nova.visão.da.gestão.do.ordenamento.do. território..Na.RLVT,.os.trabalhos.do.PROT.avançam,.com.graus.de.participação.elevados. por. parte. das. entidades. representadas. na. Comissão.Mista.de.Coordenação..Regista­se.também.a.competência.e.entu­siasmo. das. equipas. técnicas. sectoriais. que. já. apresentaram.os.respectivos. diagnósticos. e. os. contributos. para. a.“Visão”. e. as.“Opções.Estratégicas”.

Recorde­se.que.neste.momento.estão.em.fase.de.elaboração.os.Planos.Regionais.do.Norte,.Centro,.Oeste.e.Vale.do.Tejo.e.Alentejo,.com.conclusão.e.aprovação.previstas.para.finais.de.2007,.encon­trando­se.apenas.os.PROT.da.área.metropolitana.de.Lisboa.apro­

vado.e.o.PROT.do.Algarve.em.fase.final.de.revisão..Neste.âmbito,.a.aprovação.do.Plano.para.a.região.Oeste.e.Vale.do.Tejo,.enquanto.território. com. fortes. ligações. à. área. metropolitana. de. Lisboa,..ganha.um.significado.especial,.pois.aí.será.construído.o.aeropor­to.da.Ota.e.outras.plataformas.logísticas,.a.instalação.de.indús­trias,.sem.esquecer.a.importância.dessa.região.para.o.turismo.de.qualidade.. Assim,. a. missão. da. CCDR­LVT. consiste. em. assegurar.a.qualidade. e. operacionalidade. do. PROT­OVT. e. a. sua. conclusão.nos.prazos.determinados.A.simplificação administrativa dos processos de licenciamento urbanísticos.e.ambientais.em.que.estamos.empenhados.é.a.ter­ceira. prioridade.. A. racionalização. de. procedimentos. e. circuitos,.com. a. introdução. de. novos. modelos. organizativos,. deram. já.alguns.ganhos.de.tempo.e.eficácia..Desde.2005.que.a.CCDR­LVT.adoptou.um.Manual de Gestão,.onde.é.clarificada.a.tramitação.dos. processos,. reduzindo­se. a. burocracia. e. ganhando. tempo..Vamos.aprofundar.e.melhorar.os.circuitos.de.informação.e.decisão,.nomeadamente. através. da. utilização. intensiva. das. tecnologias.de.informação.e.disponibilizar.online.os.processos.para.consulta.dos.interessados..Outro.passo.importante.foi.o.início.da.descon­centração.de.serviços,.facilitando.a.vida.aos.utentes.na.resolução,.de. proximidade,. dos. seus. problemas.. Contamos. já. com. delega­ções.em.Setúbal,.Santarém,.Torres.Novas.e.Caldas.da.Raínha..O.quarto.aspecto.decisivo.no.processo.de.modernização.dos.nos­sos.serviços.será.a.reestruturação orgânica da CCDR.no.quadro.da.reforma. do. PRACE.. Propomos. uma. redução. substancial. dos.nossos. quadros,. através. da. transferência. de. funcionários. para.serviços.municipais.e/ou.para.as.delegações.subregionais..Ao.mesmo.tempo,. torna­se. absolutamente. necessário. o. rejuvenescimento.dos.colaboradores..Iremos.intensificar.a.formação.profissional.ao.mesmo.tempo.que.continuamos.apostados.em.avaliar.o.desem­penho.dos.nossos.serviços.e.funcionários..A CCDR-LVT, durante os anos de 2005 e 2006, aplicou integralmente o SIADAP.(Sistema.Integrado. de. Avaliação. da. Administração. Pública),. instrumento.de.gestão.vital.para.mudar.a.administração.pública,.modernizando­­a.e.tornando­a.mais.eficiente..

Editorial.|.António Fonseca Ferreira

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NO

TÍCA

S BR

EVES

Os.Laboratórios.da.Comissão.de.Coordenação.e.Desenvolvimento.Regional.de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo.(CCDR­LVT).foram.objecto.de.auditoria.externa.de.concessão.pelo.IPAC.(Instituto.Português.de.Acreditação),.segundo.norma.NP.EN.ISO/IEC.17025:2005..Desta.forma,.e.após.obtenção.do.certificado.de.acreditação,.os.Laboratórios.encontram­se.reconhecidos.a.nível.nacional.para.os.39.ensaios.a.que.se.candidataram,.bem.como.para.todos.os.requisitos.de.gestão.da.qualidade.impostos.pela.referida.norma.

Os.Laboratórios.da.CCDR­LVT.estão..inseridos.na.Divisão.de.Laboratórios.com.instalações.em.Lisboa.e.nas.Caldas.da.Rainha..Têm.como.atribuições.a.execução.de.análises.laboratoriais.no.âmbito.das.competências.da.CCDR­LVT..Actualmente.são.efectuadas.análises.físico­químicas,.microbiológicas.e.biológicas.de.águas.naturais.e.efluentes.

Os.laboratórios.praticam.controlo.de.qualidade,.nomeadamente.participando.em.ensaios.interlaboratoriais.nacionais.e.internacionais.e.usando.materiais.de.referência.certificados..

Um compromisso com a qualidadeCCDR-LVT aposta na certificação dos seus laboratórios

Está.concluído.o.Concurso.Público.para.atribuição.de.quatro.concessões.em.Domínio.Público.Marítimo.nas.praias.da.Duquesa,.da.Poça,.de.Ribeiros.da.Azarujinha.e.de.Carcavelos,.abrangidas.pelo.Plano.de.Ordenamento.da.Orla.Costeira.(POOC).Cidadela/.Forte.de.S..Julião.da.Barra..A.execução.das.obras.de.cons­trução.e.adaptação.das.estruturas,.que.se.encontram.abandonadas.e.em.estado.de.grande.degradação.há.já.vários.anos.e.foram.objecto.deste.concurso,.estarão.concluídas.durante.o.próximo.ano..

Encontra­se.também.concluído.outro.concurso.igualmente.realizado.no.âmbito.da.execução.do.protocolo.de.colaboração.celebrado.entre.a.CCDR­LVT.e.a.Câmara.Municipal.de.Cascais..Trata­se.de.um.concurso.limitado,.lançado.pela.CCDR­LVT,.para.elaboração.do.projecto.de.execução.relativo.ao.plano.da.praia.das.Avencas­­Parede..O.desenvolvimento.do.projecto.de.execução.foi.adjudicado.à.CIAM.–.Companhia.de.Investigação.e.Arquitectura.pelo.valor.de.39.500.euros..O.projecto.de.execução.estará.concluído.antes.do.final.do.ano.e.a.intervenção.decorrerá.durante.2007..O.essencial.das.intervenções.previs­tas.pelo.POOC,.ao.nível.da.requalificação.das.praias.classificadas.como.balneares,.já.se.encontram.concluídas.ou.em.fase.de.execução,.correspondendo.a.praia.das.Avencas.à.última.das.praias.a.interven­cionar.no.âmbito.do.plano..

AmbientePraias de Cascais com novas concessões

Localização.Praia da Duquesa.Área.de.Esplanada.150 m2.Concessão.Albatroz – Actividades Hoteleiras, S.A.

Localização.Praia da Poça.Área.de.implementação.e.de.construção.300 m2.Área.de.esplanada.80 m2.Concessão.Opíparo – Actividades Hoteleiras

Localização.Praia da Azarujinha.Área.de.implementação.250 m2.Área.de.construção.500 m2.Concessão.Cais dos Sentidos, Lda.

Localização.Praia de Carcavelos.Área.de.implementação.e.de.construção.600 m2.Área.de.esplanada.400 m2.Concessão.Grupo Doca de Santos

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Vinte.altos.funcionários.da.Comissão.Europeia.visitaram.a.CCDR­LVT,.no.passado.dia.3.de.Outubro,..no.âmbito.de.um.encontro.promovido.pelo.Instituto.Nacional.de.Administração.e.inserido.num.programa.da.Comissão.Europeia.realizado.em.alguns.Estados­membros.

O.objectivo.foi.proporcionar.um.melhor.conhecimento.dos.países.da.União.Europeia,.do.ponto.de.vista.social,.político,.económico.ou.cultural.

Os.representantes.da.Comissão.Europeia.tiveram.a.oportunidade.de.conhecer.os.trabalhos.que.a.CCDR­LVT.está.a.realizar.no.âmbito.da.Estratégia.Regional.Lisboa.2020.e.das.perspectivas.para.o.Quadro.de.

Referência.Estratégico.Nacional.(QREN),.bem.como.todo.o.processo.de.Gestão.de.Fundos.Comunitários..Além.da.CCDR­LVT,.o.grupo.de.funcionários.europeus.visitou.ainda.várias.instituições.como.o.Gabinete.do.primeiro­ministro,.a.Assembleia.da.República.e.o.Parque.das.Nações..

Boas práticas na aplicação de fundos comunitários trazem delegações estrangeiras à CCDR-LVT para troca de experiências

…bem como alguns representantes da administração local da Bulgária

Numa.altura.em.que.a.Bulgária.se.prepara.para.dar.um.passo.decisivo.na.sua.história.com.a.entrada.para.a.União.Europeia.a.partir.de.2007,.alguns.representantes.da.Administração.local.daquele.país.visitaram.Portugal.entre.26.e.30.de.Junho.numa.iniciativa.organizada.pelo.Programa.Operacional.da.Administração.Pública.(POAP).

O.contacto.com.os.serviços.centrais.da.CCDR­LVT.foi.um.dos.pontos­chave.numa.visita.que.teve.como.objectivos.principais.a.aprendizagem.sobre.o.sistema.de.gestão.

dos.Fundos.Estruturais.em.Portugal.(QCA.III.e.futuro.QREN),.o.papel.dos.Fundos.na.reforma.da.Administração.Pública.portuguesa.e.os.sistemas.de.informação.de.gestão.e.planos.de.comunicação.utilizados.

O.Governo.búlgaro.está.a.preparar.o.futuro.QREN.e.pretende.incluir.um.programa.para.a.Administração.Pública.(central,.regional.e.local),.sendo.considerada.a.vinda.desta.delegação.a.Portugal.como.uma.acção.determinante.no.trabalho.de.preparação..

Aplicação de modelo de qualidade do ar na região

Estimar.as.concentrações.de.determinados.poluentes.atmosféricos.em.toda.a.região.e.também.simular.a.aplicação.de.algumas.medidas.de.redução.da.poluição.é.o.objectivo.do.modelo.de.qualidade.do.ar.que.está.a.ser.implementado.pela.CCDR­­LVT.na.Região.de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo..Através.deste.projecto.é.possível.simular.e.avaliar.a.eficácia.das.principais.medidas.propostas.nos.Planos.e.Programas.para.Melhoria.da.Qualidade.do.Ar.nas.aglome­rações.da.Região.de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo.

O.desenvolvimento.desta.ferramenta.de.auxílio.à.gestão.da.qualidade.do.ar.na.região.está.a.ser.efectuado.pela.Universidade.de.Aveiro.na.sequência.de.um.protocolo.celebrado.com.a.CCDR­LVT.em.Dezembro.de.2005..

Acreditação da CCDR-LVT como entidade formadora renovada até 2009

A.CCDR­LVT.está.acreditada.para.realizar.acções.de.formação,.dirigidas.aos.seus.funcionários,.no.âmbito.das.suas.compe­tências,.financiadas.pelo.Fundo.Social.Europeu.(FSE).até.2009..A.acreditação.da.CCDR­LVT.como.entidade.formadora.foi.renovada,.por.mais.três.anos,.por.despacho.do.secretário.de.Estado.do.Desenvolvimento.Regional,.Rui.Baleiras,.de.6.de.Outubro.de.2006..Esta.renovação.corresponde.à.validação.e.reconhecimento.formais.da.capacidade.da.CCDR­LVT.desen­volver.actividades.de.natureza.formativa.nos.domínios.para.os.quais.demonstre.competências,.meios.e.recursos..

Altos funcionários da Comissão Europeia deslocaram-se a Portugal…

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A Baixa, o Plano, a Maria José e a Laura

Há a Baixa da Maria José (Nogueira

Pinto) e a da Laura. A Baixa do plano

dos hotéis de charme, das “lojas

âncora” e do novo mobiliário

urbano e a Baixa sem parques

infantis, sem sítio para comprar

iogurtes e com passeios cheios

de carros. A Baixa nova-rica,

das grandes operações imobiliárias,

pensada como uma cidade lego,

e a Baixa da menina de três anos

que lá vive, sem um baloiço para

brincar. Algum dia se encontrarão?

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Ana tem 36 anos e uma filha com três..Mudou­­se.para.a.Baixa.em.2001..Vive.na.rua.da.Prata,.num.terceiro.andar.sem.elevador.que.reabilitou.integral­mente..É.uma.casa.bonita,.com.100.metros.qua­drados.e.muita.luz,.a.dois.passos.da.Praça.da.Figueira..

Ana.adora.a.casa,.mas.gostaria.ainda.mais.dela.se.pudesse.abrir.as.janelas.da.sala..Se.a.fumarada.e.o.barulho.do.trânsito.não.fossem.tão. insuportáveis,.se.o.prédio.não.vibrasse.a.cada.autocarro.ou.eléctrico.que.acelera.lá.em.baixo..Se.pudesse.encontrar.na.rua.de.trás.um.lugar.para.o.automóvel.durante.o.dia.e.se.à.noite.não.temesse.que.lho.arrombem.outra.vez.–.já.seria.a.terceira.–.para.roubar.o.rádio..

Se.pudesse.levar.a.Laura.a.passear.até.um.jardim.ou.um.parque.infantil.ali.perto.(não.há.nenhum)..Se.não.se.lembrasse.tão.bem.do.dia.em.que.voltou.com.ela.do.hospital.e,.dorida.do.parto,.teve.de.fazer.a.pé.um.quarteirão,.porque.nenhum.veículo,.nem.sequer.os.táxis,.pode.largar.passageiros.na.rua.da.Prata..Se.não.tivesse.de.deixar.o.lixo.num.saco.à.porta.do.prédio.porque.o.caixote.standard.da.câmara.não.cabe.na.entrada,.parcialmente.ocupada.por.uma.loja..Se.não.tivesse.passado.mais.de.quatro.anos.em.papeladas.e.vistorias.para.conseguir.transformar.o.registo.comercial.do.seu.apartamento,. que. funcionara. como. armazém,. num. registo. de.habitação..Se.os.azulejos.que.revestem.a.fachada.do.prédio.não.tivessem. começado. a. cair. há. dois. anos,. e. se. o. condomínio. não.andasse.desde.então.em.troca.de.cartas.e.conversas.com.a.edili­dade.a.averiguar.da.possibilidade.de.financiamento,.para.agora.receber.como.resposta.definitiva.que.não.verá.da.autarquia.ou.de.qualquer. dos. fundos. estatais. de. reabilitação. urbana. nem. um.cêntimo. –. a. existência. de. mais. de. uma. fracção. ocupada. por.comércio.assim.o.determina.–,.mesmo.se.lhes.é.exigido.que.repo­nham.os.azulejos.novecentistas,.pintados.à.mão,.tal.qual..

Opinião.|.Fernanda CâncioFotografia.|.Julieta do Vale

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Ana.gostaria.ainda.mais.da.sua.casa.e.da.opção.que.fez.se.não.sentisse.que.ser.morador.e.proprietário.numa.zona.classificada.como.monumento.é.uma.espécie.de.sentença.perpétua.de.exi­gências,. proibições. e. maçadas. sem. contrapartidas.. Que. os. dis­cursos.sobre.a.‘falta.de.vida’.e.a.‘desertificação’.e.os.planos.para.a.reabilitação.da.Baixa.passam.sempre.ao.seu.lado,.como.se.ela.e.a.Laura.e.o.pai.da.Laura.não.fossem.parte.da.solução,.mas.do.problema..

Ana.não.está.só.no.seu.sentimento.de.abandono,.frustração.e.injus­tiça..Fernanda.sente.o.mesmo..Desde.que,.em.2002,.comprou.uma.fracção.de.um.prédio.da.rua.da.Madalena.para.lá.instalar.o.seu.atelier.(é.artista.plástica).que.se.tem.deparado.com.uma.procissão.de.dificuldades,.obstáculos,.incompreensões.e.despesas.inesperadas..Primeiro.foi.o.interminável.processo.de.divisão.da.fracção.original,.dois.enormes.andares.divididos.em.quatro.armazéns,.comprada.em.conjunto.com.outros.artistas..Entre.levantamentos.minuciosos.da.planta,.pedidos.para.o.IPPAR.e.para.a.câmara,.apresentação.do.projecto. de. reabilitação,. vistorias,. informações. contraditórias,.incomunicabilidades,.exigências.e.mais.exigências.por.parte.das.duas.entidades.de.elementos.e.mais.elementos.adicionais,.tudo.isto.temperado.pela.tradicional.dormência.dos.‘serviços’,.a.coisa.levou.mais.de.um.ano,.período.em.que,.não.sendo.possível.fazer.qualquer.obra.no.espaço,.Fernanda.esteve.a.pagar.a.prestação.do.empréstimo.respectivo.sem.poder.usá­lo..

Quando. a. reabilitação. do. atelier. pôde. finalmente. iniciar­se,. o.executivo.de.Santana.Lopes.decidiu. fechar.a. rua.–.para.‘a. fazer.mais. bonita’,. como. anunciavam. os. cartazes. por. toda. a. cidade..Quem. os.lesse. ficaria. com. a. ideia. de. que. a. Câmara. de. Lisboa.assumira. a.responsabilidade. da. reabilitação.. Mas. Fernanda.depressa.concluiu.que.assim.não.era:.os.proprietários.foram.inti­mados.a.fazer.obras,.de.acordo.com.os.diagnósticos.efectuados.pelos. técnicos. camarários.. Linhas. de. crédito. específicas. para. a.operação,.zero:.quem.estivesse.em.condições.de.recorrer.aos.pro­

É possível encarar com seriedade

um documento que olha para

a Baixa/Chiado como um deserto

de pessoas e sentido, no qual

é possível e desejável fazer tudo

de novo, como se o que existe,

arquitectura à parte, não tivesse

nenhum valor, nenhuma alma?

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gramas. disponíveis,. como. o. Recria. ou. o. Recriph. (cujos. critérios.excluem.grande.parte.dos.imóveis.devido.à.existência.de.várias.fracções.de.registo.comercial),.tinha.uma.hipótese,.os.outros.ou.arranjavam.dinheiro.para.pagar.a.reabilitação.ou.passavam.por.um.processo.de.obras.coercivas.–.o.que,.na.prática,.significa.que.a.propriedade.do.imóvel.passa.a.ser.dividida.com.a.câmara..Como.nenhum. dos. programas. de. financiamento. se. aplicasse. no. seu.caso,.o.condomínio.de.que.Fernanda.faz.parte.procurou.informar­se.sobre.futuras.linhas.de.crédito.associadas.ao.anunciado.plano.de. recuperação. da. Baixa.. Quando. a. associação. de. moradores. da.Baixa. se. constituiu,. Fernanda. foi. dos. primeiros. membros.. Soube.assim,.em.primeira­mão,.graças.às.conversações.entre.o.gabinete.da.vereadora.Maria.José.Nogueira.Pinto.e.a.associação,.que.o.plano.de. requalificação. da. Baixa­Chiado,. anunciado. em. Setembro. de.2006. para. a. zona,. não. prevê. qualquer. investimento. em. casos.como.o.do.seu.prédio..O.mesmo.se.passa.com.o.de.Ana,.apesar.de.o. relatório. do. plano,. ao. elencar. os.“males”. da. Baixa,. apontar. a.“excessiva.vibração”.causada.pelo.elevadíssimo.volume.de.tráfego,.nomeadamente.pesado.(passam,.em.hora.de.ponta,.98.autocar­ros.e.eléctricos.na.rua.da.Prata).como.um.factor.de.fragilização.do.edificado.–.o.que.poderá,.por.exemplo,.contribuir.para.“descascar”.azulejos..Mas,.parece,.isso.agora.não.interessa.nada:.a.responsabi­lidade,.e.a.consequente.despesa,.é.de.quem.teve.a.peregrina.ideia.de.lá.comprar.uma.casa,.reabilitá­la.e.viver.nela,.iniciando.assim,.a.título.individual,.o.processo.que.agora.se.erige.como.imperativo.nacional.

Pouco.importa,.pois,.que.o.plano.invoque.a.necessidade.de.sedu­zir.jovens.de.classe.média,.actores.culturais.e.profissões.“novas”,.prevendo. a. atracção. de. um. conjunto. de. novos. habitantes. e/ou.proprietários.que,.nas.características.etárias,.socioculturais.e.eco­nómicas.coincidem.com.Ana.e.Fernanda..Elas.já.lá.estão,.atraídas.e.seduzidas.pela.Baixa.tal.como.está,.tal.como.era.–.e,.pelos.vistos,.mantê­las.e.acarinhá­las.não.é.uma.prioridade..Nas.163.páginas.do. documento. lançado. com. grande. pompa. e. circunstância. por.

Maria.José.Nogueira.Pinto,.as.dezenas,.talvez.centenas.de.pessoas.que.nos.últimos.anos.se.têm.fixado.na.Baixa.não.mereceram.mais.que.uma.espécie.de.elegia.aos.‘resistentes’.que.louva.comovida­mente. como. aqueles. que. mantiveram. a. zona. viva,. apesar. do.longo.elenco.de.mazelas,.dificuldades.e.inconvenientes..O.dinheiro.disponível,.se.algum.–.afinal,.no.quadro.dos.investimentos,.tudo.aquilo.que.diz.respeito.a.reabilitação.do.edificado.é.remetido.para.a.misteriosa.entidade.“privados”.–.depreende­se,.será.para.as.‘grandes.obras’..Para.auxiliar.o.investimento.de.imobiliárias.na.recuperação.de.imóveis.para.arrendamento.“condicionado”.e.para.as.“residências.assistidas”.dos.residentes.idosos.que,.retirados.das.suas.actuais.moradas,. deverão. ser. reunidos. em. prédios. da. câmara. transfor­mados.numa.espécie.de.lares..Para.financiar.a.criação.de.“mobiliá­rio.urbano”.e.até,.imagine­se,.uma.“sinalética”.especial,.que.toma.como.exemplo.a.intervenção.na.zona.da.Expo.98,.actual.Parque.das.Nações..E.para.aliciar.a.“operação.mobiliária.específica”.que.prevê.transformar.duas.ruas,.a.da.Vitória.e.a.de.Santa.Justa,.num.centro. comercial. integrado. de. gestão. única. –. o. que. acontecerá.às.lojas.que.actualmente.ali.funcionam.e.como.se.ultrapassarão.as.questões.relacionadas.com.a.propriedade.distinta.e.os.usos.actuais.de.cada.imóvel,.logo.se.verá.(ou.não),.como.se.percebe.desta.cita­ção:.“é.necessário.criar.condições.para.que.uma.entidade.única.agregue.a.propriedade.dos.vários.edifícios.que.constituem.cada.uma. destas. ruas,. promova. as. operações. de. realojamento,. se.necessário.negoceie.contratos.de.arrendamento,.realize.as.obras.de.restauro.e.renovação.necessárias.e.redistribua.os.usos.pelos.diferentes.edifícios.e.pesos”..

Os.fundos.disponíveis.deverão.ser.aplicados.também.na.modifi­cação.e.reparação.dos.pavimentos.(“para.reduzir.o.ruído.nas.faixas.de.rodagem”.e.tornar.os.passeios.“mais.cómodos.para.os.peões”),.e.na.criação.de.sistemas.de.recolha.de.resíduos.e.de.iluminação.“mais.eficazes”..Tudo,.dir­se­á,.coisas.que.se.esperaria.que.a.autar­quia. fizesse. no. desempenho. normal. das. suas. atribuições,. sem.necessidade. de. planos. especiais. e. que,. juntamente. com. frases.

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como. estas. –. “Para. um. funcionamento. eficaz. do. sistema. de..estacionamento,. é. essencial. garantir. a. existência. de. uma. boa..fiscalização.do.estacionamento.na.via.pública”;.“[é.necessária.a].construção.do.grande.colector.ao.longo.da.margem.do.Tejo,.que.vai.permitir.recolher.os.esgotos.da.zona.central.de.Lisboa.evitando.o.lançamento.das.águas.poluídas.ao.rio.no.Cais.das.Colunas”.–,.contribui.para.a.impressão.de.que.quem.gizou.esta.proposta.partiu.para.o.assunto.com.uma.visão.iniciática.(como.se.estivesse.em.causa.erguer.de.raiz.uma.parte.da.cidade).e.infantil.no.seu.despro­positado.optimismo..Afinal,. se.quem. tem.a.função.de. fiscalizar.o.estacionamento. (a. polícia). e. construir. o. colector. (autarquia),.não.o.fez.até.agora.–.o.que.é.obviamente.um.escândalo.–.por.que.motivo.passaria.a.fazê­lo.agora?

Não,.a.Proposta.de.Revitalização.da.Baixa.Pombalina.não.se.deteve.muito.na.realidade.e.no.realismo..Nem.nas.Anas,.nas.Fernandas.e.ainda.menos.nas.Lauras..É.notória,.por.exemplo,.a.ausência.de.qualquer. tipo. de. equipamento. dirigido. a. crianças:. nem. jardim.infantil,. nem. escola,. nem. creche. são. mencionados. na. centena.e.meia.de.páginas.do.relatório.apresentado.em.Setembro.de.2006..Pelo.contrário:.especifica­se.ser.o.“público­alvo”.da.grandiosa.ope­ração.imobiliária.proposta,.a.visar.aumentar.em.muitos.milhares.a.quota.de.moradores.(dos.actuais.estimados.4900.para.cerca.de.17.000),.gente.“em.início.de.vida”.ou.no.seu.quarto.final,.já.que,.parece,.as.tipologias.existentes.na.zona.não.se.prestariam.a.famí­lias.com.crianças..Isto,.evidentemente,.segundo.a.superior.análise.de.quem.delineia.o.futuro.e.que,.para.além.de.estar.ciente.dos.imensos.palacetes.em.que.vive.a.maioria.das.famílias.portugue­sas.(cem.metros.quadrados.não.lhes.chegariam.então,.nem.pouco.mais.ou.menos),.terá.imaginado.uma.forma.engenhosa.de.impedir.as.pessoas.de.procriar.depois.de.instaladas.na.Baixa..No.mesmo.sentido.de.autismo.vai.a.notória.ausência.de.preocupação.com.a.oferta.de.comércio.de.víveres:.o.único.mercado.existente.na.zona,.o. do. Chão. do. Loureiro,. perto. do. Largo. Adelino. Amaro. da. Costa.(à.rua.da.Madalena).onde,.nos.últimos.tempos.do.seu.funciona­mento,.ocorria.ao.sábado.uma.venda.de.produtos.biológicos,.foi.desactivado.há.anos,.prevendo­se.para.ali.um.parque.de.estaciona­mento..Em.compensação,.aventa­se.a.possibilidade.de.reconstrução.de.uma.estrutura.de.mercado.na.Praça.da.Figueira..Aí.poderão,.propõe­se,.ter.lugar.“feiras.de.produtos.regionais.ou.biológicos”..Sucede,.porém,.que.a.zona.da.Praça.da.Figueira/Rossio.é.a.mais.bem.servida.em.termos.da.oferta.de.produtos.alimentares:.funcio­nam.ali.dois.pequenos.supermercados.(um.na.própria.Praça.da.Figueira.e.outro.na.rua.1.º.de.Dezembro).e.uma.charcutaria..O.resto.da.Baixa.conta.apenas.com.uma.mercearia.na.rua.da.Prata,.outra.na.rua.da.Madalena.e.um.minimercado.na.rua.dos.Fanqueiros;.no. Chiado. não. há. nada,. nem. sequer. uma. loja. de. conveniência..Qualquer.morador.da.zona.ver­se­á.obrigado.a,.para.comprar.um.pacote.de.leite,.iogurtes.ou.salada,.andar.quilómetros.ou.meter­­se.num.carro..Poder­se­á.dizer.que.o.plano.não.tem.que.se.preo­cupar.com.esse.tipo.de.minudências,.mas.um.documento.que.fala.da.“cultura.de.café”,.que.inventa.museus.para.“aumentar.a.oferta.cultural.da.zona”.e.vai.ao.ponto.de.preconizar.ideias.“giras”.como.a. de. assinalar. as. “fronteiras”. ou. “portas. de. entrada”. na. Baixa.Chiado.de.uma.forma.qualquer.(não.explica.qual),.talvez.devesse.lembrar­se.que.os.residentes,.actuais.e.futuros,.necessitam.de.comer..E.portanto.de.ter.acesso.fácil.e.prático.à.venda.de.víveres.e.produtos.de.primeira.necessidade,.não.apenas.de.“boa.restauração”,.hotéis.de. charme. e.“lojas­âncora”.. A. título. de. exemplo,. a. maioria. dos.centros.urbanos.de.grandes.cidades.europeias.alberga.pequenos.mercados.de.rua,.geralmente.ao.fim.de.semana,.de.modo.a.que.os.

moradores. possam. abastecer­se. sem. ter. de. sair. do. seu. bairro:.uma.ideia.que.não.colheu.no.futuro.imaginado.pelos.artífices.desta.ideia.de.requalificação.

Pensada.“de. fora”,. e.“de. cima”,. especialmente. preocupada. com.o.turismo.(a.Baixa.como.“sala.de.visitas”.da.capital).e.o.comércio,.a.proposta.de.requalificação,.se.apresenta.algumas.boas.e.inova­doras. ideias. (como. a. das. residências. assistidas. para. idosos). ou.afirmações/intenções. corajosas. e. até. iconoclastas. que,. a. serem.concretizadas,.poderão.fazer.muita.diferença.(impedir.a.circula­ção.de.tráfego.entre.Cais.do.Sodré.e.Campo.das.Cebolas.para.“cortar”.a. avalanche. de. carros. que. assalta. o.Terreiro. do. Paço. –. cerca. de.65.mil.por.dia.–,.demolição.de.edifícios.sem.qualidade.arquitectó­nica.recusando.a.substituição.em.pastiche.pombalino,.destruição.de.“acrescentos”.que.põem.em.causa.a.estética.e.a.segurança,.nomea­damente.sextos.e.sétimos.andares.em.prédios.cuja.estrutura.foi.desenhada.para.três.ou.quatro.pisos,.impedimento.da.impermea­bilização. dos. poucos. logradouros. permeáveis. existentes),. está.longe.de.responder.a.alguns.dos.principais.problemas.de.quem.ali.vive.e.de.quem.ali.passa..Por.outro.lado,.sendo.alguns.dos.seus.diagnósticos.e.soluções.pacíficos.e.mais.que.rebatidos.–.só.não.se.percebendo.por.que.motivo.continuam.na.esfera.dos.possíveis.e.dos.desejos,.como.é.o.caso.da.fiscalização.eficaz.do.estaciona­mento,.da.recolha.eficiente.dos.resíduos.ou.da.flexibilização.dos.horários. comerciais. e. a. requalificação. dos. estabelecimentos. –.outros.surgem.como.contraditórios.com.o.próprio.texto.do.rela­tório..Assim.é.a.ideia.de.fazer.um.parque.de.estacionamento.sob.a.Praça.do.Comércio,.apresentada.sem.qualquer.menção.à.con­trovérsia.gerada.pelo.folhetim.do. túnel.do.metro.naquela.zona.e.como.se.não.fosse.o.próprio.relatório.a.estabelecer,.pelo.punho.do.engenheiro.João.Appleton,.a.necessidade.premente.do.“mapea­mento.geológico.e.hidrológico.de.toda.a.zona.da.Baixa”.em.relação.ao.qual.afirma.não.haver.“informação.tratada.e.actualizada”,.con­cluindo:.“A.Carta.Geológica.da.Baixa.será,.então,.um.elemento.de.referência.essencial.para.todas.as.intervenções.que.venham.a.ser.realizadas,.quer.em.termos.de.escavações.no.espaço.público.ou.sob.edifícios,.quer.de.operações.de.reforço.estrutural.e.de.fundações”.

Parece.pois.evidente.que.apresentar.a.ideia.de.um.parque.subter­râneo.sob.o.Terreiro.do.Paço.é.“pôr.o.carro.à.frente.dos.bois”,.neste.caso,.à.frente.das.precauções.e.dos.estudos,.e.da.própria.raciona­lidade.do.plano..A.questão.do.estacionamento.é.de.resto.globalmente.mal.tratada.no.relatório,.já.que,.se.uma.das.suas.ideias.mais.fortes.e.correctas.é.a.da.limitação.do.fluxo.automóvel.à.zona.(estimado.em.cerca.de.65.mil.viaturas.por.dia),.a.criação.de.mais.estacionamento.deveria.ter.em.consideração.a.taxa.de.ocupação.do.já.existente..Essa.infor­mação.está,.porém,.ausente.do.documento,.que.se.limita.a.garantir.que.a.Baixa.é.“globalmente.bem.servida.de.estacionamento”.(“1800.lugares. na. via. pública,. 5000. em. parques. de. estacionamento.público.e.1200.em.parques.privados”).e.que.se.compreende.mal.que.a.taxa.de.ocupação.ilegal.da.via.pública.seja.de.mais.de.35%..Ora.é.muito.fácil.obter,.através.da.Bragaparques,.a.empresa.con­cessionária.dos.parques.da.Praça.da.Figueira.(500.lugares).e.do.Martim.Moniz.(720),.uma.estimativa.da.taxa.de.ocupação.média.das.duas.estruturas..Esta.nunca.é,.mesmo.em.hora.de.ponta,.mais.de.60%,.caindo.a.pique.nos.períodos.nocturnos..Nem.nas.noites.em. que. há. espectáculos. no. Coliseu,. por. exemplo,. e. nas. quais.o.estacionamento.selvagem.transforma.os.passeios.dos.Restaura­dores.e.da.avenida.da.Liberdade.em.parques.gratuitos,.o.da.Praça.da.Figueira.fica.lotado..Diz.a.Bragaparques.já.ter.tentado,.várias.

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vezes,.sensibilizar.a.autarquia.para.o.problema.do.estacionamento.ilegal,.mas.que.não.tem.“poder.para.impor.nada”.e.que.“fica.tudo.na.mesma”.

Que.soluções.apresenta.o.relatório.da.proposta.de.requalificação.para.esta.inoperância?.Nenhumas..Que.explicação.encontra.para.o.estado.das.coisas?.Nenhuma..A.mesma.lógica.–.ou.falta.dela.–.se.constata.na.proposta.de.“avaliar.a.necessidade.de.modernizar.a.rede.de.transmissão.de.dados”:.não.se.diz.que.a.inexistência.de.rede.de.cabo.na.zona.se.deve.a.uma.recusa.da.autarquia,.sem.que.esta.adiante.ou.fundamente.o.motivo.para.tal.(*)..É.possível.encarar.com.seriedade.um.documento.que.se.limita.a.constatar.problemas.e.a.enumerar.desejos.sem.se.dar.à.maçada.de.tentar.perceber.o.que.correu.mal.e.porquê,.de.modo.a.encontrar.soluções. reais,. que. funcionem?. Um. documento. que. olha. para.a.Baixa/Chiado.como.um.deserto.de.pessoas.e.sentido,.no.qual.é.possível. e. desejável. fazer. tudo. de. novo,. como. se. o. que. existe,.arquitectura.à.parte,.não.tivesse.nenhum.valor,.nenhuma.alma,.como.se.a.cidade.não.fosse.mais.que.o.desenho.das.ruas.e.das.praças. e. das. fachadas,. lojas.“boas”. e. gente. aprumada?. Quando.Maria.José.Nogueira.Pinto.lamenta,.num.artigo.publicado.no.DN.(“Desabafo.de.uma.lisboeta”,.10/11/2006),.o.Chiado.onde.se.“mis­tura.lojas.de.luxo.com.quiosques.pindéricos”.e.onde,.escândalos.dos.escândalos,.há.“o.homem.dos.cães”.(numa.alusão.a.uma.das.figuras.mais.típicas.da.Baixa.dos.últimos.anos,.o.homem.que.pas­seia.cinco.ou.seis.cães,.todos.eles..brancos),.invocando.a.memória.de.uma.infância.em.que.nas.mesmas.ruas.reteve.“os.engraxadores,.os.cauteleiros,.a.velhota.que.vendia.pegas.de.crochet,.as.vendedoras.de.violetas,.o.preto.da.Casa.Africana,.o.cego.do.acordeão,.os.inte­lectuais.bem­falantes.da.Brasileira,.os.ociosos.da.Casa.Havanesa,.a.Tatão.do.Grandela,.imortalizada.no.‘Pai.Tirano’,.e.uma.pequena.classe.média.que.também.ela.se.enfarpelava.para.ir.à.Baixa.com­prar. tecidos.e. retroses.e.as.classes.populares.para.desfrutarem.das. suas. folgas”,. está,. sem. se. dar. conta,. a. expor. a. contradição.entre.a.Baixa.homogeneizada.e.artificial.que.propõe.e.a.alma.que.lhe.louva..Entre.uma.noção.de.cidade.asséptica,.saída.tal.qual.da.mesa.de.desenho,.e.o.lugar.de.misturas.felizes.que.faz.bater.ainda.aquilo.a.que.chama.o.“coração.de.Lisboa”.

Operar.o.coração.sem.o.substituir.por.um.simulacro.que.da.vida.não.tenha.mais.que.a.batida.mecânica.é.o.desafio.certo..O.desafio.que.a.proposta.de.requalificação.falha.claramente..Preferível.então.lê­la.como.uma.espécie.de.guião.das.falhas.dos.sucessivos.executivos.autárquicos,.no.seu.elenco.de.“ideias”.e.“exi­gências”.que,.como.já.se.viu,.mais.não.são.que.um.atestado.da.incapacidade.que.a.Câmara.de.Lisboa.tem.demonstrado.no.que.respeita. a. esta. área. da. cidade,. sempre. eleita. como.“prioritária”.e.sempre.abandonada.na.mesma,.ou.quase,.a.cada.mudança.de.cadeiras..Vista.assim,.a.proposta.pode.ser.um.bom.ponto.de.par­tida.–.e,.sobretudo,.uma.interpelação.a.quem.está.para.que.faça.o.que.é.seu.dever.fazer..Fazendo.o.obséquio.de.se.lembrar.das.Anas,.das.Fernandas.e.das.Lauras,.as.tais.cujos.corações.fazem.o.da.Baixa.. ..

.

(*).Em.Agosto.de.2006,.o.Centro.de.Atendimento.ao.Munícipe.foi.questio­

nado,.por.mail,.quanto.aos.motivos.pelos.quais.a.Câmara.de.Lisboa.recusa.

a.introdução.de.cabo.na.Baixa,.Sé.e.Castelo..Quatro.meses.depois,.não.havia.

ainda.resposta..

À.data.da.conclusão.deste.texto,.Maria.José.Nogueira.Pinto.era.ainda.a.res­

ponsável.pelo.dossier.da.requalificação.da.Baixa...

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Francisco Nunes CorreiaMinistro do Ambiente, do Ordenamento do Território e das Cidades e do Desenvolvimento Regional

A água tem estado sempre presente na vida profissional de Francisco Nunes Correia,

55 anos, nascido em Lisboa. Licenciado em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico

de Lisboa, doutorou-se na Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, precisamente

na área da Hidrologia e dos Recursos Hídricos. Fez todo o percurso como investigador

de Hidráulica e Ambiente no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, do qual era

presidente quando, em Março de 2005, foi chamado a assumir o cargo que hoje ocupa:

ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e das Cidades e do Desenvolvimento

Regional. Coordenou o programa Polis, foi vogal do Conselho Nacional da Água desde

a sua criação em 1993 – hoje é presidente deste órgão, por inerência.

Nesta entrevista, há um vasto sector da actividade do Ministério que não é aprofundado

– o Desenvolvimento Regional e, nomeadamente, a preparação do QREN – visto que neste

mesmo número da LVT o secretário de Estado Rui Baleiras dele fala longamente.

No centro das atenções do ministro estão os grandes problemas ambientais, e em especial

as alterações climáticas e o Protocolo de Quioto – mas quando deles fala é já numa

projecção para o futuro, até porque a fase “quente” da preparação do período pós-Quioto

será precisamente no segundo semestre de 2007, quando Portugal ocupar a Presidência

da União Europeia.

Entrevista.|.Ana Sousa DiasFotografia.|.Luísa Ferreira

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Comecemos pelo Ambiente, o primeiro tema do título do Ministério. A possibilidade de um país comprar direitos de emissão de dióxido de carbono não introduz uma injustiça em relação a países mais pobres?

Pode­se.ir.tão.longe.quanto.se.queira.nas.restrições.e.mesmo.assim.continuará.a.haver.emissões.de.CO2.porque.parte.delas.é.incon­trolável..A.biomassa.que.se.degrada.nos.solos,.os.incêndios.flores­tais….mesmo.que.cessássemos.todas.as.actividades.económicas,.continuaria.a.haver.emissões..A.ideia.de.poder.comprar.créditos.faz.parte.dos.mecanismos.de.flexibilidade.de.Quioto,.um.sistema.extraordinariamente. bem. concebido. que. está. numa. fase. inci­piente..O.princípio.é.este:.os.países.desenvolvidos.são.chamados.a.atingir.determinados.objectivos.mas,.se. tiverem.muitas.dificul­dades.em.atingi­los,.existe.um.conjunto.de.mecanismos.de.flexi­bilidade,.entre.os.quais.a.aquisição.de.direitos.de.outros.países.desenvolvidos.que.deles.prescindem..O.valor.global.das.emissões.de.CO2.não.aumenta.Mas. o. Protocolo. de. Quioto. prevê. uma. vertente. mais. nobre,.os.mecanismos.de.desenvolvimento.limpo.e.essa.é.uma.grande.aposta.de.Portugal..A.ideia.é.investir.ou.apoiar,.em.países.menos.desenvolvidos,. projectos. com. grande. mérito. ambiental,. e. ser.recompensado.em.créditos.de.emissão..O.país.mais.desenvolvido.obtém. créditos. de. emissão. e. os. países. em. desenvolvimento.têm.um. reforço,. a.nível. internacional,. das. políticas. de. apoio. ao.desenvolvimento.

Em que projectos desse tipo está Portugal envolvido?

Não.há.ainda.projectos.concretos..Portugal.tem.vindo.a.preparar.dois. instrumentos. para. abrir. o. caminho. a. iniciativas. que. serão.relevantes.no.período.de.Quioto,.de.2008.a.2012..No.plano.diplomá­tico,.fizemos.acordos.com.vários.países,.começando.pelos.da.CPLP..Temos.participado.em.cimeiras.anuais.de.ministros.do.ambiente.dos.países.ibero­americanos,.animadas.pela.Espanha,.assinámos.já. acordos,. por. exemplo,. com. o. México,. o. Brasil,. a. Argentina,. El.Salvador,.e.temos.outros.em.negociação..Um.terceiro.eixo.é.com.países.do.Mediterrâneo.–.Marrocos,.Argélia,.Tunísia.–.com.quem.estamos. a. negociar.. Entretanto,. criámos. o. Fundo. Português. de.Carbono.

E qual é a finalidade desse Fundo?

O.Fundo.Português.do.Carbono,.dotado.em.2006.com.6.milhões.de.euros.e.em.2007.com.78.milhões.de.euros,.dá.ao.país.meios.financeiros. para. apostar. nos. mecanismos. de. desenvolvimento.limpo..É.com.esse.valor.que.são.financiados.os.acordos.que.per­mitem.obter.créditos..Os.projectos.financiados.podem.ser.estrita­mente.públicos.mas.pode.haver.incentivos.a.investimentos.priva­dos.que.empresas.portuguesas.queiram.fazer.nestes.países.Não.se.trata,.como.vê,.de.ir.ao.mercado.comprar.direitos.para.trans­gredir,.é.mais.nobre.do.que.isso..Flexibilizo.o.meu.limite.máximo.mas.ponho.em.cima.da.mesa.meios.de.apoio.ao.desenvolvimento.que.têm.de.ser.validados.por.instâncias.internacionais.

Em relação ao nosso território, o que está a ser feito para limitar as emissões de CO2?

Aprovámos.recentemente.o.Programa.Nacional.para.as.Alterações.Climáticas,.incluindo.o.Plano.Nacional.de.Atribuição.de.Licenças.de. Emissão.. São. umas. siglas. um. pouco.“macarrónicas”,. o. PNAC.e.o.PNALE….O.Plano.já.foi.apresentado.a.Bruxelas,.esperamos.até.ao.fim.do.ano.abrir.as.negociações,.uma.vez.que.tem.de.ser.apro­vado.pela.Comissão.Europeia.Existem. há. dois. anos. licenças. de. emissão. de. CO2. atribuídas.às.empresas.dos.sectores.predefinidos.numa.directiva.europeia..As.licenças.foram.agora.revistas,.para.obrigar.a.uma.redução.das.emissões.em.perto.de.10.por.cento,.através.de.uma.maior.eficiência.energética.. Ao. mesmo. tempo,. criou­se. uma.“folga”. de. cerca. de.cinco.milhões.de.toneladas.para.novas.indústrias.que.entretanto.se. queiram. lançar.. As. emissões. que. são. permitidas. a. Portugal,.calculadas.numa.lógica.per capita,.são.das.mais.baixas.da.Europa,.e.isso.cria.uma.sensação.de.constrangimento.excessivo.

Por que é que temos esse valor tão baixo?

Dizem­me.que.foi.uma.negociação.muito.dura,.em.1997,.no.quadro.do.Protocolo.de.Quioto..A.União.Europeia.assumiu.uma.responsa­bilidade.global,.ainda.na.Europa.a.15,.no.sentido.de.reduzir.as.emis­sões.em.8.por.cento..A.generalidade.dos.países.–.como.a.Alemanha.e.a.Inglaterra.–.propôs­se.reduzir.mais.do.que.isso,.mas.os.menos.

Temos seguramente um problema de seca, assim como temos problemas

de cheias. O nosso clima tem uma influência fortemente mediterrânica

e caracteriza-se pela irregularidade, com estações do ano muito chuvosas

e um período de estiagem muito prolongado. Todos sabemos que existe,

de ano para ano, uma variabilidade enorme. É um problema estrutural.

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desenvolvidos,.os.“países.da.convergência”,.podem.aumentar.mais.Na.altura,.Portugal.conseguiu.um.aumento.de.27.por.cento.mas,.infelizmente,.não.foram.tomadas.medidas.suficientemente.enér­gicas.para.que.essa.percentagem.não.fosse.ultrapassada..Chegá­mos.a.2004.com.valores.da.ordem.dos.42.por.cento,.excedendo.15.por.cento.relativamente.ao.máximo.permitido.para.o.período.de.2008/2012..Foi.preciso.pôr.travões.a.fundo,.mas.não.se.pode.parar.sectores.da.actividade.económica.nem.criar.uma.perturbação.imensa.na.vida.das.pessoas..Foi.feita.uma.revisão.em.baixa,.com.a.identi­ficação.de.medidas.sector.a.sector,.está.a.montar­se.um.sistema.de.monitorização,.foi.retomada.uma.comissão.interministerial.para.acompanhar.o.processo,.foi.criado.o.Fundo.de.Carbono..Temos.cons­ciência.de.que.poderemos.não.conseguir.chegar.aos.27.por.cento,.e.por.isso.apostamos.nas.várias.frentes.

O tema das Alterações Climáticas está na ordem do dia a nível mundial. Pensa que as pessoas estão hoje mais conscientes da situação?

Felizmente,.há.uma.consciência.crescente.e.dois.elementos.contri­buíram. recentemente. para. isso.. Uma. foi. o. chamado. Relatório.Stern,.feito.a.pedido.do.Governo.britânico,.que.apresenta.números.impressionantes.–.ainda.que.haja.quem.conteste.esses.números.a. verdade. é. que. podemos. vir. a. sofrer. prejuízos. monumentais..O.outro. contributo. foi. o. filme. de. Al. Gore,. que. é. extraordinaria­mente.pedagógico.Mas.a.consciência.das.pessoas.ainda.é.insuficiente,.parece.que.falam.como.se.os.problemas.tivessem.que.ver.com.os.outros..Esquecem­­se.de.que.os.poluidores.somos.todos.nós.enquanto.consumidores..Para.eu.usar.este.fato.azul,.em.alguma.empresa.têxtil.algum.corante.foi.lançado.como.efluente,.supostamente.tratado..Os.nossos.padrões.de.consumo.condicionam.os.padrões.de.produção..Não.podemos.falar.disto.como.um.problema.dos.outros.ou.de.alguns.prevarica­dores..É.toda.a.sociedade.que.tem.de.assumir.a.responsabilidade.

O que é que se pode fazer? Campanhas de informação, proibições?

No.limite,.são.necessárias.proibições.mas.o.fundamental.são.as.medidas.de.desincentivo..Os.dois.sectores.que.mais.contribuem.para.as.emissões.de.gases.com.efeito.de.estufa.são.a.energia.e.os.

transportes,.que.utilizam.de.forma.pesada.os.combustíveis.fósseis.Estão.a.ser.dados.passos.muito.importantes.com.o.fomento.das.eólicas.e.a.considerável.melhoria.da.eficiência.da.produção.energética..Portugal.tem.um.potencial.hidroeléctrico.grande.que.poderá.ainda.explorar.mais.A.questão.dos.transportes.é.mais.complexa.porque.atinge.direc­tamente.a.vida.dos.cidadãos..São.fortemente.recomendáveis.as.medidas.que.contribuam.para.a.utilização.de.transportes.colec­tivos.em.detrimento.dos.individuais,.da.ferrovia.em.detrimento.da.rodovia,.por.exemplo.Este.é.um.problema.global,.tecnicamente.falando,.um.problema.à.escala.planetária.e.a.solução.tem.de.ser.à.escala.planetária..E.é.para.isso.que.existe.uma.convenção.das.alterações.climáticas,.é.para.isso.que.existe.o.Protocolo.de.Quioto,.mecanismos.internacionais.à.escala.das.Nações.Unidas..E.a.Europa.tem.tido.em.todo.este.pro­cesso.um.grande.protagonismo,.uma.posição.claramente.pioneira.Chamo­lhe.a.atenção.para.o.facto.de.Portugal.desempenhar.as.funções.de.Presidência.da.União.Europeia.num.momento.crítico.para.esta.discussão.

Crítico porquê?

O.segundo.semestre.de.2007.é.o.período.directamente.antes.da.aplicação.de.Quioto,.e.nessa.altura.vai.fazer­se.o.ponto.da.situação..Mais.do.que.isso,.é.o.momento.da.Conferência.das.Partes.do.Proto­colo.de.Quioto,.reunião.que.será.na.Ásia,.em.Bali.ou.Pequim,.para.discutir.o.pós­Quioto..É.uma.discussão.fundamental.e.envolve.até.a. oportunidade. de. trazer. ao. processo. economias. muito. impor­tantes.que.têm.estado.arredadas.dele…

Como os Estados Unidos?

Os.Estados.Unidos.e.a.China..Se.a.Conferência.for.em.Pequim,.é.ouro.sobre.azul,.porque.a.China.está.crescentemente.próxima.da.lógica.do.Protocolo.de.Quioto,.fala.insistentemente.em.se.associar.ao.pós­­Quioto..O.próprio.governo.actual.dos.Estados.Unidos.diz.que,.apesar.de.ser.hostil.ao.Protocolo,.está.preocupado.com.as.alterações.climá­ticas.e.está.muito.interessado.na.discussão.pós­Quioto.e.que,.se.forem.salvaguardadas.certas.questões,.quer.associar­se.ao.processo.Vai.caber.a.Portugal.coordenar.as.posições.europeias.e.representar.

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a.Europa.no.fórum.internacional..Vão.tomar­se.decisões.muito.impor­tantes. que. podem. ser. de. importância. histórica.. Por. outro. lado,.vai.reabrir­se.a.discussão.a.nível.europeu.sobre.como.distribuir.esta.responsabilidade.partilhada.

Portugal tem tido um problema de seca, mesmo que seja estranho falar nisso num momento em que chove imenso. Isso está relacionado com as alterações climáticas?

Temos. seguramente. um. problema. de. seca,. assim. como. temos.problemas.de.cheias..O.nosso.clima.tem.uma.influência.fortemente.mediterrânica.e.caracteriza­se.pela.irregularidade,.com.estações.do.ano.muito.chuvosas.e.um.período.de.estiagem.muito.prolon­gado..Todos.sabemos.que.existe,.de.ano.para.ano,.uma.variabili­dade.enorme..É.um.problema.estrutural.As.cheias.de.1967.na.Grande.Lisboa.foram.catastróficas,.com.cen­tenas. de. mortes,. houve. cheias. terríveis. em. 1983.. Assim. como.houve.secas:.os.anos.de.1944.e.de.1945.continuam.a.ser.dos.anos.mais.secos.de.sempre,.nos.anos.setenta.e.nos.anos.noventa.houve.secas.graves,.em.2005.tivemos.uma.das.maiores.do.século.Não.sabemos.se.estamos.já.a.assistir.a.efeitos.das.alterações.cli­máticas,.mas.as.previsões.nesse.quadro.apontam,.precisamente.para.uma.maior.irregularidade.do.clima,.com.mais.secas.e.mais.cheias.

O que é possível fazer? Em relação à seca e às cheias temos mecanismos expeditos de resposta?

A.experiência.de.2005.foi.muito.rica..Não.sei.se.os.portugueses.se.aperceberam.disso,.mas.as.consequências.da.seca.foram.muito.mitigadas. pela. existência. de. maior. capacidade. de. armazena­mento.e.de.captações.alternativas..Dez.ou.vinte.anos.antes,.teria.tido. consequências. muito. mais. graves,. sobretudo. no. abasteci­mento.público.de.água.Além.disso,.houve.um.conjunto.de.medidas.para.accionar.origens.de.água.a.título.de.emergência..Foram.abertos.novos.furos,.foram.criadas.medidas.especiais.para.que.as.câmaras.municipais.o.fizes­sem.com.grande.rapidez..E.foi.dado.um.imenso.apoio.técnico,.por.parte.do.Instituto.Nacional.da.Água.e.por.parte.do.Instituto.Regu­lador.de.Águas.e.Resíduos,.para.que.a.qualidade.da.água.fosse.garantida..Foram.utilizadas.albufeiras.que.não.existiam.antes.ou.que. não. estavam. ao. serviço. dos. sistemas. de. abastecimento. de.águas..Ainda.assim.há.muito.que.fazer.para.garantir.reservas.estra­tégicas.e.para.conseguir.a.gestão.articulada.das.águas.superfi­ciais.e.das.águas.subterrâneas.

É possível estudar as questões da seca em conjunto com outros países mediterrânicos, uma vez que se trata de um problema da região?

Portugal,.Espanha.e.França,.e.outros.países.depois,.subscreveram.uma. carta. dirigida. à. Comissão. Europeia. e. à. Presidência. (então.austríaca),. chamando. a. atenção. das. instâncias. comunitárias.para.a.necessidade.de.atribuir.mais.relevância.ao.tema.da.seca.e.da.escassez.de.água..Existe.no.sistema.legislativo.europeu.a.Direc­tiva.Quadro.da.Água,.que.chama.a.atenção.para.a. importância.das.cheias.e.da.seca..As.cheias,.que.afectam.muito.os.países.do.norte. e. do. centro,. foram. consideradas. uma. área. estratégica,.a.Comissão. Europeia. promoveu. estudos. e. há. uma. directiva. em.fase.final.de.aprovação.Por.achar.que.este.tema.é.estrutural.e.merece.mais.atenção.por.

parte.da.União.Europeia,.Portugal.elegeu­o.como.um.dos.temas.prioritários.da.Presidência.Portuguesa,.em.matéria.de.ambiente..Estamos.a.pensar.organizar.um.conselho.informal.de.ministros.dedicado.à.escassez.de.água.

O comissário europeu, Stavros Diomas, é grego, provavelmente conhece bem o problema.

Tal.como.Portugal,.a.Grécia. tem,.em.média,.bastante.água..Por­tugal. tem.mais.água.per capita.do.que.a.Bélgica.e,.no.entanto,.sofre.de.problemas.de.seca..É.que.na.Bélgica.está.sempre.a.chover.e. há. milhões. de. pessoas. para. o. mesmo. espaço,. enquanto. Por­tugal.tem.uma.população.mais.rarefeita.e.tem.uma.grande.irre­gularidade.no.ciclo.chuva/estiagem.Com.base.em.todos.os.estudos.que.têm.sido.feitos.sobre.as.alte­rações.climáticas,.este.problema.vai.generalizar­se.cada.vez.mais.a. toda. a. Europa.. A. Finlândia. acabou. de. passar. por. um. período.de.seca. como. jamais. teve. na. sua. história. e. o. Reino. Unido. teve.recentemente.uma.seca.muito.grave.

Podemos relacionar os incêndios com a seca?

Sim,.embora.de.uma.forma.que.não.é. linear..Condições.prolon­gadas.de.seca.podem.agravar.os.problemas.dos.incêndios,.sobre­tudo. quando. estão. associados. a. períodos. quentes. e. uma. vege­tação.ressequida..Mas,.por.exemplo,.um.Inverno.muito.chuvoso.seguido.de.uma.estiagem.prolongada.faz.com.que.se.crie.na.flo­resta.muita.biomassa,.isto.é,.cresce.com.pujança.muita.vegetação.rasteira..Se.depois.há.uma.estiagem.prolongada,.as.condições.são.propícias.a.incêndios..Para.combater.os.incêndios,.é.fundamental.ir.buscar.água.às.reservas,.o.que.é.difícil.em.períodos.de.seca.pro­longada,.quando.as.barragens.estão.vazias.

Os estudos sobre a subida do nível das águas do mar são realistas?

São.estudos.preocupantes,.seguramente,.mas.muitas.vezes.não.consideram.a.resposta.que.a.sociedade.pode.dar.a.esses.proble­mas.no.sentido.de.os.conter.e.de.os.mitigar.Mas.a.subida.do.nível.das.águas.é.um.facto.incontroverso.e.tem.várias.consequências..Desde.logo,.porque.perturba.imenso,.pela.salinização,.os.ecossistemas.estuarinos.que.estão.a.cotas.muito.baixas..Leva.esses.ecossistemas.mais.para.o.interior.e.muda.o.tipo.de.processos,.o.que.pode.ter.grandes.consequências.económicas.porque.os.estuários.são.zonas.muito.ricas,.são.viveiros,.as.chama­das.nurseries,.e.portanto.podem.perturbar.os.ciclos.das.espécies.que.povoam.o.mar.e.rios..A.segunda.dimensão.do.problema.é.uma.maior.agressividade.sobre.as.praias.e.as.falésias,.acentuando.pro­cessos.erosivos..Portugal,.hoje,.já.está.sujeito.a.processos.erosivos.gravíssimos.no.litoral.

Por exemplo?

Principalmente.as.arribas.do.oeste.onde.temos.situações.críticas,.mas.também.há.zonas.de.erosão.a.sul.de.Aveiro,.a.sul.da.Figueira.da.Foz,.em.certas.zonas.do.Algarve..Por.exemplo,.a.zona.do.Vale.do.Lobo.só.se.mantém.por.alimentação.artificial,.há.ali.uma.grande.agressividade.das.águas.Há.uma.terceira.dimensão.do.problema.que.é.esquecida:.a.inope­racionalidade.de.certas.infra­estruturas.como.as.redes.de.esgo­tos,. de. drenagem.. Foram. projectadas. para. determinados. níveis.

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e.algumas.já.funcionam.mal.quando.há.marés­altas,.provocando.cheias. urbanas.. Setúbal. é. o. exemplo. clássico. mas. em. Lisboa..também.há.problemas.na.zona.de.Alcântara,.quando.coincidem.chuvas.grandes.com.picos.de.maré­alta..Com.mais.meio.metro.de.água.em.cima,.o.problema.agrava­se..Há.muitas.infra­estruturas.construídas,. e. isso. significa. dezenas. ou. centenas. de. milhões.de.euros.gastos,.que.podem.perder.eficiência.por.via.da.subida.do.nível.do.mar..É.um.problema.que.nos.deve.preocupar.

A erosão do litoral pode ser contida?

O. litoral. é. uma. componente. do. território. português. de. excep­cional.valor.ambiental.e.económico,.e.não.tem.recebido.a.atenção.que.merece..No.princípio.dos.anos.noventa,.foram.criados.os.planos.de. ordenamento. da. orla. costeira. mas. só. em. 2005. foi. aprovado.o.último.desses.planos..Gastaram­se.15.anos.para.fazer.uma.coisa.que.estava.previsto.levar.dois..Coube­nos.a.nós,.com.muito.orgulho,.completar.esse.processo..E. infelizmente.não. tem.havido.persis­tência.na.aplicação.dos.planos.já.aprovados..Temos.vindo.a.fazer.um. grande. esforço. para. sistematizar. esses. planos. de. ordena­mento,. para. encontrar. as. medidas. prioritárias. e. para. procurar.avançar.com.essas.medidas,.por.iniciativa.nossa.ou.em.parceria.com.as.câmaras.municipais.Além. destas. intervenções. continuadas,. de. Caminha. a. Vila. Real.de.Santo. António,. pretendemos. lançar. algumas. intervenções..integradas,. aquilo. que. na. gíria. chamámos. os. Polis. do. Litoral..O.primeiro. já. está. a. avançar,. na. Ria. Formosa. [Algarve]. está. em.preparação.uma.intervenção.de.qualificação,.com.as.autarquias.envolvidas..Gostávamos.de,.no.ano.2007,.lançar.mais.um.ou.dois.projectos. de. intervenção,. valorizando. partes. emblemáticas. do.litoral.O.que.está.em.causa.na.Ria.Formosa.é.compatibilizar.as.vertentes.naturais,.trata­se.de.um.parque.natural.e.há.todo.um.conjunto.de. preocupações. de. conservação. da. natureza,. mas. ao. mesmo.tempo. todos.compreendem.que.há.ali.uma.riqueza.económica.muito. grande:. pelo. turismo,. é. necessário. permitir. a. visitação,.disciplinar. a. ocupação..Trata­se. de. um. conjunto. muito. diversi­ficado.que.envolverá.outros.ministérios.no.sentido.de.criar.um.impulso.articulado,.integrado,.de.valorização.

Que parcerias estão em perspectiva para a gestão de projectos dentro das áreas protegidas e dos parques naturais, no âmbito do Instituto de Conservação da Natureza?

O. Instituto. de. Conservação. da. Natureza. desempenha. funções.muito.distintas.mas.compatíveis.e.articuladas.entre.si..É.a.autori­dade.nacional.para.a.conservação.da.natureza.e.para.a.biodiversi­dade.e.representa.Portugal.em.protocolos.e.acordos.internacionais.nessa.matéria..Tem.uma.competência. transversal,.no.país. todo,.e.é.o.garante.e.o.executor.da.política.que.promove.a.biodiversi­dade,.a.conservação.da.natureza.Tem.outra.função,.que.não.se.confunde.com.esta,.que.é.a.gestão.de.extensas.áreas.sob.a.sua.jurisdição,.essencialmente.os.parques.naturais,.um.parque.nacional.e.algumas.áreas.de.paisagem.pro­tegida..É.nesse.quadro.que.surge.a.função.de.valorizar.um.espaço,.de. fazer. uma. gestão. territorial,. directa. ou. por. via. de. pareceres.vinculativos,.sempre.dentro.da.função.da.defesa.da.biodiversidade.e.da.conservação.da.natureza.Essas.áreas,.dada.a.sua.beleza.natural.e.dado.o.apelo.que.exercem.sobre.os.fluxos.turísticos,.têm.um.valor.económico,.são.procura­das.e.disputadas..O.que.está.em.causa.não.é.tanto.partilhar.indis­tintamente.as.suas.responsabilidades.do.ICN.com.entidades.pri­vadas..Trata­se.de,.em.torno.de.projectos.específicos.de.valorização.de.parcelas.do.território.que.são.muito.valiosas,.procurar.parce­rias. que. ajudem. a. potenciar. esse. valor.. As. parcerias. podem. ser.com.câmaras.municipais,.como.podem.ser.com.empresas.turísti­cas. ou. hotéis,. numa. lógica. de. criar. valor. nessas. zonas,. o. que. é.importante.para.as.economias.locais..Mas.de.uma.forma.discipli­nada.

E quem é que garante essa disciplina? É o ICN?

É.o.Instituto,.a.vários.níveis,.desde.logo.a.nível.regional,.e.a.nível.central,.sob.a.égide.do.Ministério.do.Ambiente.em.última.instân­cia..São.sistemas.muito.participados.pelas.autarquias.que.aliás.reconhecem,. cada. vez. mais,. a. importância. de. preservar. estas.zonas.e.de.permitir.a.sua.visitação.de.forma.disciplinada.e.orde­nada..Não.se.trata.de.uma.invenção,.é.prática.comum.em.muitos.países.

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Entre os vários trabalhos do Ministério no plano do ordenamento do território, há um que tem sido bastante mediatizado – a inter-venção em bairros críticos. Em que ponto está neste momento?

Veja.o.caminho.que.se.fez.desde.a.visita.do.então.Presidente.Jorge.Sampaio.[em.Junho.de.2005].ao.Bairro.da.Cova.da.Moura….Mobi­lizámo­nos. para. criar. de. imediato,. apesar. das. restrições. finan­ceiras,.um.programa.que.permitisse,.mesmo.antes.de.estar.em.vigor.o.próximo.ciclo.de.fundos.comunitários,.acorrer.a.algumas.situações.críticas..Foram.seleccionados.três.bairros,.precisamente.a.Cova.da.Moura.no.concelho.da.Amadora,.o.Vale.da.Amoreira.no.concelho.da.Moita,.e.um.terceiro.no.Porto,.em.princípio.no.Lagar­teiro.mas.estamos.ainda.em.discussão.com.a.Câmara.Municipal.

O que é que se pretende com estes projectos? Já não é deitar abaixo e construir um bairro social, como chegou a estar projectado?

Discordo.completamente.da.abordagem.de.deitar.abaixo.e.fazer.um.“bairro.social”,.é.obsoleta..Há.uma.memória.negativa.dos.bairros.sociais,.muitas.vezes.são.eles.próprios.uma.fonte.de.exclusão..Não.vou. generalizar,. há. até. situações. bem. sucedidas,. mas. no. nosso.imaginário.o.bairro.social.são.uns.caixotes.na.periferia.da.cidade,.com.um.espaço.público.degradado..Veja.um.caso.como.a.Cova.da.Moura..Há.ali.habitação.absoluta­mente.irrecuperável.para.um.padrão.digno.de.salubridade.e.nesses.casos.haverá.que.deitar.abaixo.e.reconstruir.com.outros.padrões..Mas. há. uma. marca. cultural. muito. forte,. formas. de. construção.associadas.a.laços.sociais.e.a.uma.vivência.de.bairro.que.não.deve.ser.contrariada,.pelo.contrário,.deve.ser.potenciada..Sem.nenhuma.espécie.de.dogmatismo,.devem.ser.postas.de.parte.as.ideias.de.deitar.tudo.abaixo.e.de.manter.tudo..Deve.haver.uma.visão.equili­brada..Aquilo.que.puder.ser.recuperado.e.qualificado.deve.prevalecer.Há.duas.coisas.que.nos.surpreendem.quando.mergulhamos.um.pouco.naqueles.bairros..Uma.delas.é.a.presença.de.associações.locais.muito.diversificadas.e.com.uma.grande.riqueza..Cada.uma.terá. os. seus. objectivos,. não. se. pode. generalizar. e. admitir. que.existe.bondade.em.todas,.mas.a.verdade.é.que.estamos.perante.associações. que. são,. elas. próprias,. formas. de. inclusão. social..Exprimem.pontos.de.vista.relevantes.para.o.exercício.global.que.se. quer. fazer.. Nunca. pensei. que,. por. exemplo. no.Vale. da. Amo­

reira,.me.aparecessem.15.associações.a.subscrever.os.protocolos.Também.me.surpreendeu.a.dimensão.cultural,.e.no.caso.da.Cova.da.Moura.isso.é.evidente..Há.uma.riqueza.cultural.que.deve.ser.vista.também.como.factor.de.inclusão..É.pela.afirmação,.pela.abertura.daquela.cultura.e.daquele.espaço.aos.outros.que.se.deve.fazer.a.inclusão.São.projectos.muito.complexos.que.exigem.grande.coordenação,.envolvem.sete.ministérios.e,.em.alguns,.mais.do.que.uma.compo­nente..Temos.no.Ministério.uma.equipa.dedicada.a.essa.coordena­ção,.e.para.cada.um.dos.ministérios.foi.feito.um.“plano.de.trabalho”.

Os ensinamentos destas experiências são aplicáveis, no futuro, a outras situações?

Sim,.pretende.dar­se.uma.natureza.demonstrativa..Neste.momento,.com.recurso.aos. fundos.EFTA,.é.possível. lançar.estes. três.casos..O.nosso. objectivo. é. que. este. tipo. de. intervenções. se. enquadre.no.próximo.ciclo.de.fundos.comunitários,.tirando.partido.da.expe­riência.entretanto.recolhida..Isto.corresponde.a.uma.das.facetas.da.política.de.cidades.que.queremos.animar.no.período.de.2007/2013,.no.próximo.ciclo.de.fundos.comunitários,.as.chamadas.interven­ções.intra­urbanas.Como.o.nome.indica,.estas.intervenções.incidem.sobre.partes.da.cidade,.que.podem.ser.problemáticas.–.como.no.caso.dos.bairros.críticos.–.ou.surgir.na.lógica.do.programa.Polis,.em.zonas.nobres.que.queremos.qualificar.

Foi o coordenador do projecto Polis de 2001 a 2003. Pensa que é uma boa maneira de encarar as cidades?

O.legado.do.Polis.é.muito.rico,.mesmo.se.os.projectos.têm.hoje.de.evoluir,.adaptar­se..A.melhor.arquitectura.portuguesa.e.alguma.boa. arquitectura. estrangeira. vão. estar. presentes. no. cômputo.global..A.identificação.das.cidades.com.os.projectos.foi.enorme,.na.generalidade.dos.casos,.e.a.sua.valia.material.é.muito.signifi­cativa..Foram.usados.instrumentos.institucionais.inovadores.e.rele­vantes..Fizeram­se.perto.de.100.planos.de.pormenor.cujas.discus­sões,.em.muitos.casos,.foram.as.mais.participadas.de.sempre.Encaramos.também.as.cidades.como.nós.de.uma.rede..As.cidades.não.existem.sozinhas,.muito.menos.na.sociedade.global,.é.preciso.

As cidades não existem sozinhas, muito menos na sociedade global, é preciso

encontrar o papel de cada uma no espaço mais alargado, na rede onde se insere.

Gosto de chamar a isto a “diferenciação competitiva”. E há ainda a relação da

cidade com a região. As cidades portuguesas – pequenas, médias, vilas de alguma

dimensão – são portas de entrada e de saída para espaços regionais maiores.

Potenciar a relação da cidade com a sua envolvente, com “as suas aldeias”,

é extraordinariamente importante como processo de desenvolvimento regional.

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encontrar.o.papel.de.cada.uma.no.espaço.mais.alargado,.na.rede.onde.se.insere..Gosto.de.chamar.a.isto.a.“diferenciação.competitiva”.E. há. ainda. a. relação. da. cidade. com. a. região.. As. cidades. portu­guesas.–.pequenas,.médias,.vilas.de.alguma.dimensão.–.são.portas.de.entrada.e.de.saída.para.espaços.regionais.maiores..Potenciar.a.relação.da.cidade.com.a.sua.envolvente,.com.“as.suas.aldeias”,.é.extraordinariamente. importante. como. processo. de. desenvol­vimento.regional.

No que diz respeito ao abastecimento de água e ao tratamento de águas residuais, neste momento temos uma boa cobertura em Portugal?

Não.totalmente..Isso.é.objecto.do.Plano.Estratégico.de.Abasteci­mento.de.Água.e.Saneamento.de.Águas.Residuais.(PEAASAR),.para.2007/2013,. que. estamos. a. ultimar,. depois. de. um. longo. período.de.discussão.pública,.para.ser.tido.em.conta.no.próximo.ciclo.de.fundos.comunitários.No. que. diz. respeito. ao. abastecimento. de. água,. ultrapassámos.a.fasquia.dos.90.por.cento,.o.que.é.muito.razoável.num.país.com.um.tipo.de.habitat.bastante.disperso..O.problema.está.na.fiabilidade.dos.sistemas,.porque.muitos.não.oferecem.garantias.de.abasteci­mento.e.têm.algumas.vulnerabilidades.à.seca.Estamos. um. pouco. atrasados. quanto. ao. tratamento. de. águas.residuais,.não.foi.atingida.a.fasquia.dos.80.por.cento.e.há.investi­mentos.consideráveis.a.fazer..Parte.desses.investimentos.diz.res­peito,. sem. dúvida,. a. águas. residuais. domésticas. mas. há. uma.componente.muito.importante,.aqueles.célebres.casos.das.suini­culturas.e.outras.actividades.agro­pecuárias.que.não.estão.ainda.devidamente.enquadradas.por.este.sistema.

Outro tema que levanta sempre muita discussão é o tratamento dos resíduos perigosos e a co-incineração.

A.co­incineração.destina­se.aos.resíduos.que.não.têm.outra.forma.de.reutilização.ou.de.desvalorização..Admite­se.que.85.por.cento.dos.resíduos.industriais.perigosos.podem.ser.reciclados.e.reutili­zados,.e.é.isso.que.vai.ser.feito.em.primeiro.lugar..Para.os.15.por.cento.restantes,.a.solução.melhor.é.a.co­incineração..A.estrutura.molecular.desses.resíduos.é.destruída.a.temperaturas.da.ordem.

dos.800.a.mil.graus.e.os.fornos.de.uma.cimenteira.ou.de.uma.indústria.cerâmica,.ou.outras.do.género,.atingem.os.1400.graus.e,.portanto,. fazem. a. destruição. cabal,. a. termodestruição. dessas.moléculas..A.designação.“resíduos.industriais.perigosos”.cria.uma.imagem. de. grande. perigosidade. em. si,. como. se. estivéssemos.a.tratar.de.produtos.excepcionalmente.venenosos,.mas.é.preciso.notar.que.lidamos.todos.os.dias.com.alguns.desses.produtos,.por.exemplo.tintas,.vernizes,.óleos,.solventes..Não.se.pode.é.dispor.deles.no. ambiente. de. qualquer. maneira. sem. que. isso. cause. danos,.e.por.isso.levam.a.classificação.de.perigosos..Para.esses,.a.co­incine­ração.é.a.solução.adoptada.na.generalidade.dos.países.europeus.Estamos.em.processo.de.licenciamento.de.dois.Centros.Integrados.para. a. Valorização. de. Resíduos. (CIRVER),. ambos. na. Chamusca,.e.que. espero. que. estejam. em. funcionamento. ainda. em. 2007..No.futuro,.os.resíduos.que.não.possam.ser.tratados.nesses.centros.serão.aí.preparados.para.a.co­incineração.

Falou há pouco da iniciativa conjunta de Portugal, Espanha e França em relação à seca. Existem mais casos de políticas coordenadas com outros países?

No.quadro.dos.fundos.comunitários,.existe.a.chamada.cooperação.territorial.que.pode.ter.três.dimensões:.a.cooperação.transfron­teiriça,.entre.regiões.e.países.que.partilham.uma.fronteira,.a.coo­peração.inter­regional,.entre.regiões.no.espaço.europeu,.e.a.coope­ração.transnacional,.entre.países.de.espaços.predefinidos..Neste.último.campo,.Portugal.está.em.todos.os.espaços.possíveis:.o.Atlân­tico,.com.Espanha,.França,.Inglaterra.e.Irlanda;.o.Sudoeste.europeu,.com.Espanha,.Itália,.Malta;.o.Mediterrâneo;.e.ainda.a.Macaronésia,.que.nos.permite.a.cooperação.da.Madeira.e.dos.Açores.com.as.Canárias.e.Cabo.Verde.Queremos. dar. maior. ênfase. à. cooperação. transfronteiriça,. que.tem.uma.tradição.muito.forte.em.Portugal..Em.Janeiro.de.2006.organizámos. um. encontro. em. Vila. Viçosa,. com. a. presença. de.todas.as.regiões.fronteiriças.portuguesas.e.espanholas.e.com.um.representante. do. Governo. de. Madrid.. Aprovámos. um. conjunto.de.princípios,.a.Carta.de.Vila.Viçosa,.que.estabelece.os.parâmetros.para.a.cooperação.e.prevê.a.articulação.dos.programas.regionais,.para.obter.sinergias..Procuramos.animar.projectos.emblemáticos,.numa.cooperação.que.já.é.bastante.considerável.entre.as.regiões..

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Rui BaleirasSecretário de Estado do Desenvolvimento Regional

A partir do próximo ano, novos critérios presidem à atribuição de fundos comunitários,

não apenas através da diferenciação dos valores que passam a depender do PIB per capita

de cada região, mas também no envolvimento de diferentes sectores em cada programa

operacional, numa transversalidade que é uma inovação. Estas modificações trazem

também novas siglas: esqueça os QCA (Quadros Comunitários de Apoio), que já eram

bastante enigmáticos, e reconheça agora o QREN, o novo amigo que por extenso se chama

Quadro de Referência Estratégica Nacional, do qual nascem os PO (Planos Operacionais)

que passam a ser temáticos e transversais.

O secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, Rui Baleiras, explica estes mecanismos

numa entrevista em que expõe também as três grandes tarefas do seu gabinete e sublinha

como os próprios comportamentos beneficiaram com as regras europeias: planeamento

plurianual, avaliações e auditorias como não havia antes.

Com um extenso currículo académico, Rui Baleiras, nascido em Lisboa em 1963, formou-se

em Economia na Universidade Nova de Lisboa, onde veio a doutorar-se na área da economia

urbana. Em 1986, fez na cidade belga de Bruges um curso de Estudos Europeus Avançados.

No mesmo ano, começou a dar aulas na escola onde se formou e percorreu aí os sucessivos

passos da carreira académica até professor auxiliar, mas foi na Universidade do Minho

que se tornou recentemente professor associado. Secretário de Estado do Desenvolvimento

Regional desde Março de 2005, Rui Baleiras tinha tido contactos com a Administração

central mas esta é a primeira experiência governamental.

Entrevista.|.Ana Sousa DiasFotografia.|.Luísa Ferreira

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Antes de falarmos sobre as novas regras para a atribuição dos fundos comunitários, tema que está na ordem do dia, comecemos por outra das grandes áreas de trabalho, a chamada territorialização que, se bem entendo, tem que ver com o equilíbrio do desenvolvimento das diferentes regiões.

Tem.que.ver.com.isso.e.com.a.forte.transversalidade.do.desenvolvi­mento.regional..Não.tenho.pejo.nenhum.em.reconhecer.que.outros.ministérios.têm.instrumentos.de.política.mais.eficazes.para.influen­ciar.o.estado.de.desenvolvimento.das.regiões..Por.exemplo,.os.resul­tados.da.política.de.educação.têm.um.efeito.determinante.na.qua­lificação.dos.recursos.humanos,.de.que.depende,.em.larga.medida,.a.competitividade.da.economia.e.a.capacidade.de.atrair.actividades.que.exigem.mais.competências.e.geram.maior.valor.e.melhores.salários..A.política.de.acessibilidades.influencia.decisivamente.as.oportunidades.de.desenvolvimento.de.cada.território..O.mesmo.posso.dizer.da.política.industrial.

A sua Secretaria de Estado e o Ministério de que faz parte têm alguma interferência nessas opções?

A.responsabilidade.é,.naturalmente,.dos.respectivos.membros.do.Governo..O.nosso.papel,.nesta.primeira.frente,.passa.por.muita.persuasão.e.sensibilização.para.a.necessidade.de.as.especificidades.dos.vários.territórios.serem.tomadas.em.conta.na.concepção.das.políticas.sectoriais..Quem.estiver.no.sector.do.desenvolvimento.regional.tem.de.dedicar.uma.boa.parte.do.seu.tempo.à.persuasão.dos.outros.membros.do.Governo.para.a.necessidade.de.transversa­lizarmos,.nas.políticas.públicas,.a.preocupação.com.o.território.

Geralmente são sensíveis aos vossos argumentos?

Naturalmente. que. temos. boa. receptividade,. mas. compreende­mos.que.há.objectivos.muito.importantes.de.natureza.sectorial.que.têm.de.ser.atendidos.em.primeiro.lugar..Por.exemplo,.é.muito.provável.que.os.programas.operacionais.regionais.do.QREN.possam.

conceder.incentivos.ao.investimento.empresarial,.que.dependiam.sempre.do.Ministério.da.Economia.e.agora.poderão.aparecer.em.parcerias.estratégicas.

E isso não existia?

Não.existia.um.modelo.de.governação.partilhado,.sistemas.de.incen­tivos. para. um. programa. nacional. e. para. programas. regionais..É.um.exemplo.de.parceria,.neste.caso.entre.dois.ministérios,.onde.nos. parece. que. ficará. reforçada. a. territorialização. da. política.industrial.O.ministro.Nunes.Correia.[do.Ambiente,.do.Ordenamento.do.Terri­tório.e.do.Desenvolvimento.Regional].costuma.usar.uma.expressão.curiosa,.diz.que.o.território.é.o.elemento.integrador.das.políticas.sectoriais,. porque. é. no. território. que. a. política. de. educação. se.cruza. com. a. política. de. formação. profissional,. que. por. sua. vez.se.cruza. com. a. actividade. das. empresas,. e. esse. cruzamento. na.Área.Metropolitana.de.Lisboa.não.é.forçosamente.o.mesmo.que.na.Beira,.no.pinhal.interior.norte,.ou.no.Algarve..Os.programas.de.formação. profissional. devem. ser. concebidos. tendo. em. atenção.a.procura,.que.não.é.a.mesma.em.todas.as.regiões..É.no.território.que.se.cruzam.as.actividades.das.empresas.com.a.política.de.for­mação..O.mesmo.podemos.dizer.da.educação:.problemas.de.aban­dono. escolar. não. são. exactamente. iguais. em. todo. o. território,.as.estratégias.para.lidar.com.os.mesmos.têm.de.ser.diferenciadas.e.aplicadas.em.função.do.território.alvo,.sob.pena.de.não.serem.tão.eficazes.quanto.poderiam.

A questão dos fundos comunitários tem um grande peso na actividade da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Regional? E Portugal continua muito dependente destes fundos?

Desde.que.Portugal.aderiu.à.União.Europeia,.a.política.regional.passou. a. ser. absorvida. pela. gestão. dos. fundos. comunitários..Este.Ministério. herdou. as. funções. de. planeamento. de. outros.ministérios.

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Os.fundos.comunitários.têm.influência.nas.decisões.das.empre­sas.e.nas.decisões.públicas,.mas.com.expressão.diferente..Em.termos.puramente. financeiros,. podemos. dizer. que,. em. 2006,. cerca. de.60.por.cento.do.investimento.realizado.pela.Administração.pública.está.ligado.à.utilização.de.fundos.comunitários..No.sector.privado,.essa.dependência.é.de.16.a.17.por.cento.da.formação.bruta.de.capital.fixo. empresarial.. Estou. a. referir­me. à. componente. comunitária.somada.à.contrapartida.nacional.que.é.obrigatório.juntar..Do.ponto.de.vista.financeiro,.é.mais.importante.para.a.Administração.pública.do.que.para.o.sector.privado..Mas.do.ponto.de.vista.de.comporta­mento.dos.agentes,.a.importância.é.muito.superior.à.que.os.orça­mentos.revelam.

Porque tem um efeito multiplicador?

Em. termos. dinâmicos,. a. injecção. destes. recursos. comunitários.tem,. sem. dúvida,. um. efeito. multiplicador,. e. que. se. prolonga.por.muitos.anos.para.além.do.final.de.cada.quadro.comunitário.de.apoio.Mas.há.vantagens.qualitativas.associadas.à.utilização.dos.fundos.comunitários..As.regras.europeias.da.política.de.coesão.eram.ino­vadoras.para.a.forma.como.os.orçamentos.públicos.para.o.inves­timento,.e.até.os.das.empresas,.eram.realizados..Esta.política.tem.uma.perspectiva.plurianual,.é.concebida.com.estabilidade.durante.ciclos.de.sete.anos,.obriga.a.um.exercício.muito.sério.de.planea­mento.estratégico..Começámos.a.preparar.o.próximo.ciclo.de.sete.anos.em.2004..Esta.política.envolve.exercícios.de.avaliação.perió­dica.de.resultados,.e.não.estávamos.habituados.a.avaliar.políticas..Os.resultados.das.avaliações.têm.consequências.na.utilização.dos.fundos..Foram.feitas.duas.reprogramações.em.2004,.ou.seja,.alte­rações.de.verbas.entre.programas.operacionais,.em.grande.parte.em. resultado. das. avaliações.. A. participação. nesta. experiência.europeia. aumentou. muito. a. prática. de. exercícios. de. auditoria..Não. há. em. Portugal. actividade. tão. sistematicamente. auditada.como.a.utilização.de.fundos.comunitários..Isto.alterou.profunda­mente.os.comportamentos.

As decisões são mais “profissionais”?

Mais.profissionais,.menos.casuísticas,.menos.improvisadas,.muito.mais.planeadas..Temos.de.prestar.contas.à.Europa.e.aos.Portu­gueses.pela.utilização.de.recursos.que.são.volumosos:.estamos.a.falar.de.50.mil.milhões.de.euros.de.recursos.dos.contribuintes.europeus,.em.vinte.anos.

Todo esse dinheiro foi utilizado?

As.perdas.de.fundo.são.insignificantes..Tenho.apenas.presentes.os.números.do.actual.Quadro.Comunitário.de.Apoio:.entre.2000.e.2005,.nos.primeiros.seis.anos.de.execução.deste.QCA,.nós.apenas.não.conseguimos.aproveitar.cerca.de.0,12.por.cento.do.dinheiro.que.a.Europa.colocou.à.nossa.disposição.

Nos primeiros anos, esse não era um dos grandes problemas?

Não. perdíamos. o. dinheiro. mas. por. vezes. o. processo. demorava.quatro,.cinco,.seis.anos..Outros.Estados­membros.manifestaram.a.mesma.característica.e.por.isso.a.União.Europeia.decidiu,.em.1999,.reformar.a.política.de.coesão.e.introduzir.uma.regra.nova,.chamada.“regra.da.guilhotina”.ou.“regra.N+2”..Desde.o.ano.2000,.os.Estados­membros.têm.três.anos.para.gastar.o.fundo.comunitário.

desse.ano,.ou.então.é.devolvido.ao.orçamento.comunitário.. Isto.exerceu.grande.pressão.para.se.gastar.depressa.

Disse que o QREN está a ser preparado desde 2004. Está tudo definido?

A.construção.do.QREN.é.feita.em.várias.fases.com.alguma.sobre­posição.temporal..Existe.uma.fase.de.trabalhos.internos,.que.está.a. decorrer,. e. uma. fase. de. interacção. com. a. Comissão. Europeia,.a.quem.cabe.a.última.palavra..A.interacção.começou.no.início.de.2006,.com. troca. de. informações.. Em. termos. formais,. só. desde. 6. de.Outubro.a.União.Europeia.está.mandatada.pela.lei.comunitária.para.receber.propostas.de.programas.operacionais.e.de.QREN.por.parte. dos. Estados­membros.. Cada. país. tem. cinco. meses. para.entregar.os.documentos.finais.que.depois.entram.em.processo.de.negociação..Contamos.apresentar.os.nossos.ainda.este.ano.

Isso não acontece em cima do fim do prazo, “à portuguesa”?

Não..Aliás,.temos.interesse.em.não.ser.os.últimos.nem.os.primeiros..Os.primeiros.países.servem.um.pouco.como.“cobaias”.para.afinação.de.critérios.da.Comissão.Europeia..Também.não.convém.ser.dos.últimos,.até.por.uma.questão.de.imagem..Fomos.sempre.o.primeiro.país.a.entregar,.e.o.facto.de.não.o.fazermos.desta.vez.causou.um.certo.nervosismo.na.Comissão..Temos.interesse.em.entregar.depressa.e.bem,.mas.não.necessariamente.em.sermos.o.primeiro.

O quadro de referência está pronto?

É. uma. espécie. de. chapéu. enquadrador…. e. está. quase. pronto..Temos. o. diagnóstico. feito,. a. estratégia. traçada,. os. valores. e. as.orientações. de. cada. programa. operacional. estão. decididos,.e.o.Governo.já.anunciou.decisões.sobre.o.modelo.de.governação,.o.que.é.importante.para.que.isto.funcione.bem..Falta.estruturar.os.programas.operacionais,.dizer.quais.são.as.medidas,.as. tipo­logias.de.investimento.que.cada.um.deles.irá.apoiar..

A avaliação do ciclo que agora termina é positiva, do ponto de vista de Portugal?

De.uma.maneira.geral,.correu.bem.face.aos.objectivos.traçados..O.actual.Quadro.Comunitário.de.Apoio,.na.sequência.aliás.dos.dois.primeiros,. incidiu. sobretudo. nas. infra­estruturas,. nos. equipa­mentos.de.utilização.colectiva..Passados.vinte.anos,.os.balanços.feitos.por.estudos.independentes.e.também.por.estudos.da.pró­pria.Administração.demonstram.que.o.país.deu.passos.de.gigante.nessas.coberturas,.como.o.saneamento.básico,.a.rede.de.estradas.e.auto­estradas.Uma.das.inovações.para.o.futuro.é.a.criação.de.metas.estratégicas..Cada. programa. operacional. tem. de. alcançar. resultados. especí­ficos.e.haverá.uma.avaliação.do.grau.de.cumprimento..No.actual.quadro,. avançámos. muito. em. termos. de. monitorização. finan­ceira,.até.de.monitorização.física.–.ou.seja,.quantos.quilómetros.de.estrada.fizemos.e.quanto.dinheiro.gastámos.nisso..Mas.é.tão.ou.mais.importante.termos.uma.boa.execução.estratégica:.fazer.estradas. é. importante,. mas. pode. ser. mais. importante. saber.quanto.tempo.poupam.as.pessoas.na.jornada.casa/trabalho.em.resultado.dos.quilómetros.construídos.O.que.já.foi.feito.é.importante.para.criar.condições.para.o.desen­volvimento.mas.não.é.suficiente..O.mundo.à.nossa.volta.mudou.muito.. Temos. pela. frente. o. desafio. da. globalização. que. coloca.

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a.nu.dificuldades.de.muitas.empresas.portuguesas.produzirem.com. qualidade. e. preços. interessantes.. Tivemos. um. progresso.razoável.em.matéria.de.coesão,.isto.é,.de.preenchimento.das.lacu­nas.infra­estruturais,.mas.tivemos.um.desempenho.menos.bom,.particularmente. nos. últimos. seis. ou. sete. anos,. em. matéria. de.competitividade.

É nesse sentido que vão ser feitas correcções?

Exactamente..Vamos.reorientar.recursos.em.direcção.ao.que.nos.parecem.ser.as.debilidades.estruturais..O.Governo.decidiu.reforçar.os.apoios.financeiros.à.qualificação,.passando.de.4,6.para.6.mil.milhões.de.euros.os.fundos.para.a.formação.profissional,.educa­ção,.apoio.à.formação.avançada.de.recursos.humanos.e.também.intervenções.na.área.da.integração.social.É.dado.grande.enfoque.à.chamada.“dupla.certificação.de.activos”,.isto.é,.combater.as.saídas.precoces.da.escola.e.aumentar.as.qualifi­cações.escolares.das.pessoas.que.já.estão.no.mercado.de.trabalho.e.têm.baixa.educação.formal..No.fundo,.é.procurar.que.as.escolas.secundárias.ofereçam.outros.curricula.a.alunos.que,.noutras.cir­cunstâncias,.abandonariam.a.escola.no.9.º.ano,.para.poder.dar­lhes.uma.formação.que.não.será.a.mesma.em.todo.o.país,.pois.será.adaptada.às.necessidades.de.cada.território..Ficam.mais.três.anos.na.escola.e.saem.com.o.12.º.ano.e.com.formação.profissional.Ao.mesmo.tempo,.as.pessoas.que.estão.no.mercado.de.trabalho.e.que.têm.pouca.escolaridade.poderão.ser.chamadas.ao.sistema.de.formação.profissional,.onde.terão.também.disciplinas.do.ensino.formal..Quando.saírem,.terão.uma.certificação.em.formação.pro­fissional.e.uma.certificação.em.educação.A.competitividade.das.empresas.e.a.redução.dos.custos.públicos.de. contexto. são. também. reforçados.. São. dois. vectores. daquilo.que.chamamos.factores.de.competitividade.da.economia,.e.têm.um.acréscimo.de.mil.milhões.de.euros.ao.longo.dos.sete.anos.

De onde sai esse dinheiro?

Não.há.bela.sem.senão..O.valor.de.recursos.comunitários.cai.cerca.de.12.por.cento,.o.que.significa.que.as.verbas.comunitárias.disponí­veis.para.infra­estruturas.diminuem.49.por.cento,.de.12.para.6,1.mil.milhões.de.euros..As.apostas.políticas.são.claras:.há.uma.reorienta­ção.significativa,.uma.mudança.de.regime.nas.nossas.prioridades.A.isto.acoplamos.uma.forma.de.governação.completamente.dife­rente..Ao.longo.dos.vinte.anos.de.política.de.coesão,.habituámo­­nos.a.que.os.programas.operacionais.de.alcance.nacional.tivessem.uma.organização.vertical,.cada.ministério.com.o.seu.programa..A.avaliação.ensina­nos.que.esta.não.é.a.melhor.organização.para.as.prioridades.nacionais.de.competitividade.e.qualificação,.que.exigem.um.exercício.multidisciplinar..As.várias.políticas.sectoriais.têm.de.“falar”.umas.com.as.outras.e.contribuir.de.forma.equili­brada.para.os.mesmos.objectivos.nacionais.De.doze.programas.sectoriais.vamos.passar.para.três.e,.em.vez.de.estarem.organizados.por.sectores,.estão.organizados.por.temas:.fac­tores.de.competitividade,.potencial.humano.e.valorização.do.território.

Já falou dos dois primeiros, mas quais são as linhas da valorização do território?

A.actividade.económica.não.decorre.num.espaço.abstracto,.exerce­se.num.território.muito.particular..Queremos.dar.as.melhores.oportu­nidades.para.que.todos.os.territórios.sejam.atractivos.para.as.empresas.e.para.quem.lá.queira.viver..Torna­se.necessário.promover.a.valori­zação.ambiental,.por.exemplo,.tratar.áreas.mineiras.degradadas,.combater. fenómenos. de. erosão. no. litoral,. prevenir. os. riscos. de.catástrofes.naturais..Temos.ainda.algumas.infra­estruturas.que.é.necessário.completar,.nas.áreas.dos.transportes,.das.águas.e.dos.resíduos,.e.também.há.redes.de.equipamentos.sociais.nas.áreas.da.cultura,.da.educação.e.da.saúde.a.que.é.necessário.dar.resposta.

O mundo à nossa volta mudou muito. Temos pela frente o desafio da globalização que coloca a nu dificuldades de muitas empresas portuguesas produzirem com qualidade e preços interessantes. Tivemos um progresso razoável em matéria de coesão, isto é, de preenchimento das lacunas infra-estruturais, mas tivemos um desem-penho menos bom, particularmente nos últimos seis ou sete anos, em matéria de competitividade.

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Relativamente à Região de Lisboa e Vale do Tejo, há uma alteração fundamental: a Grande Lisboa deixa de ser Objectivo 1 – não sei se este é o termo certo…

Os. eurocratas. gostam. muito. de. nos. confundir…. Actualmente.chama­se.Objectivo.1..A.partir.de.Janeiro.de.2007,.passa.a.chamar­se.Objectivo.Convergência..Mas.a.Região.de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo.vai.ser.cindida,.quanto.ao.acesso.a.financiamentos.comunitários..A.Área.Metropolitana.de.Lisboa.passa.para.o.Objectivo.Competitividade.Regional.e.Emprego,.mais.ou.menos.o.actual.Objectivo.2..O.Ribatejo.e.o.Oeste.estão.na.saída.progressiva.do.Objectivo.1,.num.regime.de.transição,.porque.o.PIB.per capita.de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo.já.era.em.2000.superior.a.75.por.cento.da.média.comunitária.A.política.de.coesão.visa.acelerar.o.crescimento.das.regiões.menos.desenvolvidas,. e. faz. sentido. que. os. apoios. sejam. inversamente.proporcionais. ao. nível. de. rendimento. per capita,. ou. ao. desvio.face.à.média.europeia:.quanto.mais.desenvolvida,.menos.apoios.por.habitante.recebe.cada.região,.é.esta.a.lógica.

Quem recebe menos devia ficar contente, porque isso quer dizer que está mais perto do nível europeu?

É.o.reconhecimento.dos.progressos.que.a.região.realizou..No.Conse­lho.Europeu.de.Dezembro.de.2005,.o.primeiro­ministro.irlandês.fez.uma.declaração.de.agradecimento.aos.outros.Estados­membros.e.à.União.Europeia,.pelo.apoio.que....a.política.de.coesão.deu.ao.seu.país.desde.a.adesão,.em.1981..De.grande.beneficiária,.a.Irlanda.passa. a. modesta. beneficiária,. dado. o. grande. desenvolvimento.que.teve..Temos.de.estruturar.o.país.e.adaptá­lo.para.viver.com.menor.nível.de.fundos.comunitários.Há.razões.para.nos.congratularmos.por.Lisboa.ter.conseguido.um.bom.desempenho,.tal.como.a.Madeira.e.o.Algarve..Naturalmente.que.somos.ambiciosos,.queremos.mais.e.melhor..Mas.se.há.novos.Estados­membros.na.família.que.necessitam.do.apoio.de.que.nós.beneficiámos.no.passado,.é. justo.que.os.recursos.comunitários.lhes.sejam.afectados.

Há também uma mudança nas prioridades em Lisboa e no Vale do Tejo?

Sim,. e. são. diferentes. para. os. dois. conjuntos. que. refere.. A. Área.Metropolitana.de.Lisboa.(em.termos.de.NUTS.III,.estamos.a.falar.da.península.de.Setúbal.e.da.Grande.Lisboa),. só.pode.conceder.apoios.públicos.para.um.leque.de.investimentos.mais.apertado.do.que.as.outras.regiões.do.país,.e.em.particular.o.Oeste,.a.Lezíria.do.Tejo.e.o.Médio.Tejo.Em.Lisboa,.de.uma.forma.simples.apenas.os.investimentos.mais.amigos. da. Estratégia. de. Lisboa. poderão. receber. financiamento.comunitário..Mas.o.Oeste. e. o.Médio.Tejo. passam.para.a. região.centro.e.a.Lezíria.do.Tejo.para.o.Alentejo,.em.termos.de.utilização.de. recursos. comunitários. –,. e. estas. são. regiões. com. Objectivo.Convergência.que.podem.beneficiar.de.maiores.apoios.e.de.tipo­logias.de.investimento.mais.alargadas.

Já se sabe para onde vão os principais financiamentos em Lisboa e Setúbal?

Sabemos.o.montante.de.financiamento.a.afectar.à.região.de.Lisboa..No.conjunto.de.sete.anos,.de.2007.a.2013,.estarão.disponíveis.finan­ciamentos.comunitários.no.âmbito.do.FEDER.e.do.Fundo.Social.Euro­peu.da.seguinte.ordem:.Fundo.Social.Europeu.151.milhões.de.euros;.FEDER.(Fundo.Europeu.de.Desenvolvimento.Regional).258.milhões.de.euros..Estamos.a.falar.de.409.milhões.de.euros,.a.que.acrescerá.um.montante.do.Fundo.de.Coesão,.que.não.tem.repartição.regional..Os.fundos.para.o.desenvolvimento.rural.e.as.pescas.deixam.de.pertencer.à.política.de.coesão,.mas.continuarão.em.cada.região.

O Oeste e o Vale do Tejo ganham ou perdem por passarem a pertencer a outras regiões?

Ficam.a.ganhar..Vamos.admitir.que.o.dinheiro.de.cada.programa.temático. é. aplicado. nas. regiões. em. função. da. sua. população..Pode.ser.ou.não,.é.apenas.um.exercício.para.termos.uma.ideia.dos.valores..Portugal.disporá.de.19,99.mil.milhões.de.fundos.comuni­tários.de.2007.a.2013,.o.que.é.entre.um.sétimo.e.um.oitavo.do.PIB.anual.de.Portugal..Ficaríamos.com.as.seguintes.capitações:.o.Norte.com.282.euros.por.habitante/ano;.Centro,.280.euros;.Lisboa,.22.euros;.Alentejo,.330.euros;.Algarve,.88.euros..Se.o.Oeste.e.o.Vale.do.Tejo.ficassem.na.região.de.Lisboa,.veriam.os.409.milhões.divididos.por.todos..Indo.para.as.outras.regiões.sobem.muitíssimo..

O que é o QREN, a sigla que vai estar presente na nossa vida nos próximos sete anos?

Os fundos que a Comunidade Europeia coloca à disposição de Portugal para financiar o investimento das empresas e das admi­nistrações públicas estão distribuídos por envelopes que se chamam programas operacionais, cada qual com um objectivo. Vamos ter três programas temáticos de aplicação no continente, e mais um programa operacional para cada região NUTS II do continente. Em cada uma das regiões autónomas, os Açores e a Madeira, teremos dois programas operacionais. São “sacos de dinheiro” para distribuir ao serviço de determinado objectivo, com deter­minada estratégia.A montante dos programas operacionais existe um documento de enquadramento estratégico, o chamado QREN – Quadro de Referência Estratégica Nacional. Faz um diagnóstico do desenvol­vimento socioeconómico, ou seja, a identificação das oportunidades,

ameaças, forças e fraquezas da economia, e portanto a identifi­cação do caminho que queremos seguir. No capítulo seguinte explica­se, em linhas genéricas, o que cada programa operacional visa realizar e com que recursos financeiros comunitários e nacio­nais, públicos e privados. Vem depois um capítulo com a chamada avaliação ex-ante, antes de se começar a gastar o dinheiro.Um painel de avaliadores independentes emite opinião sobre a qualidade do diagnóstico, da estratégia e da concepção dos programas operacionais, se são coerentes com a estratégia tra­çada e se ajudam a superar as debilidades identificadas – este é um elemento importante para a União Europeia formular a sua opinião. Surge depois uma avaliação dos impactos macroeconó­micos a esperar da aplicação do novo envelope financeiro. O último capítulo contém uma avaliação ambiental estratégica – é um segundo tipo de avaliação, feita também por independentes, para definir se os vários programas operacionais estão conformes com a legislação comunitária em matéria de ambiente.

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De professor a governante

Profissionalmente, a sua vida tem sido principalmente académica. O que encontrou nestas funções governativas é muito diferente do que se ensina na universidade?

A.surpresa.não.foi.muito.grande.porque,.no.passado,.tive.contactos.profissionais.com.a.administração.e.fiz.trabalhos.para.a.Associação.Nacional.de.Municípios.Portugueses..Não.desconhecia.o.mundo.da.decisão.política.Devo.confessar.que.o.meu.treino.enquanto.economista.universi­tário. ajudou­me. nalgumas. tarefas. de. governação,. mas. segura­mente.há.competências.necessárias.para.o.desempenho.de.cargos.políticos.que.eu.não.tinha.e.estou.a.fazer.um.exercício.de.apren­dizagem.Trazia. o. gosto. pelo. planeamento,. pela. avaliação. de. resultados,.uma.grande.auto­exigência,.estava.habituado.a.longas.jornadas.de.trabalho..Isso.ajudou­me,.porque.não.concebo.que.haja.deci­são.política.sem.boa.fundamentação.técnica.e.sem.planeamento..Não.há.boas.decisões.políticas.sem.avaliação.dos.resultados.das.políticas.anteriores..E.penso.que.tinha.deficiências.nas.activida­des.de.gestão,.porque.um.decisor.político.é.um.gestor.de.recursos.humanos,. orçamentais,. de. talentos,. de. dificuldades. também;.estava.insuficientemente.preparado.para.interacções.pessoais.–.na.actividade.política.a. interacção.com.outras.pessoas.é.muito.maior.do.que.na.academia..Todos.os.dias.tenho.reuniões,.preciso.de. ouvir. e. conversar. com. imensas. pessoas.. Não. estava. muito.preparado. para. gerir. conflitos,. estou. a. aprender. depressa. para.procurar.ser.eficaz.

Nestes anos de governação, sentiu pressões de origem partidária?

Sinceramente,. esperava. muito. mais.. Directamente,. nunca. senti.pressões.desse.tipo,.embora.perceba.que.tenha.de.ter.em.conside­ração. esse. enquadramento.. As. sociedades. modernas. têm. uma.dinâmica.muito.influenciada.pela.gestão.de.interesses,.aos.mais.variados. níveis.. Os. centros. de. decisão,. em. qualquer. empresa.ou.na. administração,. são. pontos. de. confluência. de. interesses.ou.de.conflitos..E.também.há.interesses.por.parte.de.quem.ajuda.os.partidos.políticos.a.ganhar.as.eleições.Felizmente,.devo.reconhecer.com.honestidade.que.não.tenho.sen­tido.dificuldades.nem.pressões.a.esse.nível..Fui.inteiramente.livre.e.soberano.na.composição.do.meu.gabinete..Não.conhecia.pessoal­mente.a.maior.parte.dos.colaboradores.mas.recolhi.informações.e.fui.à.procura.deles,.entrevistei­os,.estudei.os.currículos,.cruzei.informações,. e. decidi. em. consciência. e. sem. qualquer. pressão..Nas.opiniões.que.dei.ao.senhor.ministro.para.nomeação.de.diri­gentes. ao. nível. superior. dos. serviços. que. ajudo. a. tutelar,. não.recebi.nenhuns.recados.por.parte.do.partido.ou.de.pessoas.a.ele.afectas.

Há decisões que têm efeitos importantes no desenvolvimento de uma região, por exemplo a localização de uma grande empresa internacional ou de uma incineradora, e geralmente pensa-se que há pelo meio pressões dos partidos. O controlo das regras comunitárias é um obstáculo a essas pressões?

Sem.dúvida..Essas.pressões.–.de.clientelismo.partidário,.empre­sarial,.sindical.ou.de.outro.tipo.qualquer.–.campeiam.num.enqua­dramento. sem. regras,. onde. predomina. a. discrição. na. decisão..Se.temos.regras.por.cujo.cumprimento.temos.de.prestar.contas,.a.margem.de.decisão.arbitrária.diminui.consideravelmente.e.por­tanto.a.capacidade.de.essas.pressões.determinarem.a.orientação.dos. recursos. financeiros. públicos. também. diminui.. Este. é. um..sistema.em.que.todos.escrutinam.todos.

Independentemente de critérios políticos, um regime como o anterior ao 25 de Abril nunca poderia enquadrar-se nestas regras?

Era.muito.complicado.que.assim.fosse..Desde.logo,.os.municípios.não.tinham.autonomia.política.antes.do.25.de.Abril,.os.presidentes.eram.nomeados.pelo.governo..E.os.municípios.são.grandes.exe­cutores.dos.QCA,.têm.capacidade.para.orientar.os.financiamentos.a.que.se.candidatam..Por.outro.lado,.a.cultura.de.escrutínio.público.de. avaliação. está. nos. antípodas. do. paradigma. então. vigente..Já.quanto.ao.planeamento,.recordo.que.no.tempo.do.Marcelo.Caetano.começaram.os.planos.de.fomento,.que.eram.planos.multianuais.de.planeamento.do.investimento.público.

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A problemática da exclusão social está hoje, mais do que nunca, na ordem do dia, tendo-se convertido numa preocupação premente dos vários poderes – local, regional, central, comunitário. A aposta na requalificação urbana e social de bairros periféricos carenciados da Área Metropolitana de Lisboa, mediante o desenvolvimento de programas e projectos multi-sectoriais, integrados, participados e continuados constitui, por isso, uma das vias eleitas para melhorar as condições de vida dos segmentos populacionais mais vulneráveis, favorecendo a sua integração quer nas zonas que habitam, quer na sociedade portuguesa.

NAS MARGENS DA CIDADE

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Pobreza, desemprego, insucesso e.abandono.escolar,.desestruturação.familiar,.solidão,.delinquência,.desen­raizamento,.hipoidentidade,.segregação.e.estigma­tização.constituem.exemplos.de.problemas.que,.vividos.isolada. ou. cumulativamente,. desenham. o. retrato.

da.exclusão.social.que.afecta.vastos.quantitativos.de.indivíduos.em.Portugal:.os.imigrantes,.os.idosos,.os.desempregados,.as.pessoas.com.deficiência,.os.toxicodependentes,.os.sem­abrigo.são,.amiúde,.referidos.como.grupos.particularmente.vulneráveis..

Muitos. deles. habitam. nas. margens. das. grandes. cidades,. zonas.periféricas.ou.“subúrbios”,.como.usualmente.designados..Esquece­se,.porém,.que.os.centros.também.têm,.em.torno.dos.seus.núcleos,.as.suas.margens,.possuindo.estas,. igualmente,.os.seus.próprios.centros. –. de. produção. cultural. e. artística,. de. solidariedades.sociais,.de.iniciativas.bem.sucedidas,.de.sociabilidades.inclusivas.–.dinâmicas.que.urge.descentralizar,.arrancar.das.margens,.para.que. se. tornem. visíveis,. para. que. sejam. reconhecidas,. para. que.venham.a.ser.socialmente.“incluídas”..

Destaque.|.Reportagem.|.Inês Costa PessoaFotografia.|.Inês Gonçalves

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Viver.na.periferia.urbana.é,.não.raras.vezes,.sinónimo.de.viver.na.periferia. social.. Quando. essa. sobreposição. sucede,. observa­se.uma.exclusão.redobrada,.uma.vez.que.a.distância.geográfica.dos.centros. urbanos. alia­se. à. ocupação. dos. lugares. mais. distantes.do.topo.da.hierarquia.social..

É.verdade.que.as.cidades.configuram.pólos.de.atracção.e.de.con­centração.de.riqueza,.investimentos,.emprego.e.actividades.econó­micas,. onde. abundam. bens,. recursos,. serviços. básicos,. equipa­mentos.sociais,.educativos,.culturais.e.de.recreio;.mas.não.o.é.menos.que. se. convertem. simultaneamente. em. pólos. de. repulsão. dos.segmentos.populacionais.mais.carenciados..São,.por.isso,.centros.de.oportunidades,.transformados.com.frequência.em.centros.de.expectativas.goradas.de.habitar.um.alojamento.condigno.numa.zona.habitacional.confortável,.segura.e.atractiva;.de.obter.formação.qualificada.e.adequada.às.necessidades.e.aspirações.individuais;.de.encontrar.um.trabalho.onde.as.competências.e.aptidões.de.cada.um. sejam. valorizadas. e.fomentadas;. de. usufruir. das. condições.necessárias.(direitos,.recursos.e.serviços).para.elaborar.e.concretizar.um.projecto.de.vida.

Mas.viver.nas.“margens”.da.cidade.tem.sido.também.sinónimo.de.invisibilidade.social.e.cultural..Uma.invisibilidade.persistente.que,.as.mais.das.vezes,.somente.se.torna.visível.quando.ocorrem.comportamentos. disruptivos,. a. via. que,. de. forma. mais. efectiva.(se.bem.que.indesejável),.tem.chamado.a.atenção.política.e.mediá­tica.para.as.condições.de.vida.tantas.vezes.desumanas.enfrentadas.por.aqueles.que.habitam.nesses.espaços,.problemas.durante.muito.tempo.escamoteados.pelos.poderes.central.e. local,.assim.como.pelos.media.e.a.sociedade.civil.

“Bairros sensíveis” nos concelhos de amadora e moita: breve retrato social

Amadora.e.Moita.são.dois.dos.concelhos.da.Área.Metropolitana.de.Lisboa.(AML).onde.encontramos.alguns.dos.bairros.mais.proble­máticos.a.necessitar.de.intervenções.estruturantes.e.continuadas.de.requalificação.urbana.e.social. (poderiam.assinalar­se.outros.tantos.nos.quais.se.emitem.sinais.de.alerta.como.os.concelhos.de.Odivelas.e.Loures,.os.eixos.Oeiras­Cascais,.Cacém­Sintra,.a.par.de.exemplos.vários.na.península.de.Setúbal).

Não.obstante.as.diferentes.especificidades.apresentadas.pelas.zonas.mais.degradadas.desses.concelhos,.em.termos.de.génese,.morfo­logia,.carências,.potencialidades,.recursos.físicos.e.humanos,.dinâ­micas.sociais.e.culturais,.existem.traços.de.superfície.partilhados..De.um.modo.geral.estes.bairros.foram.ocupados.de.forma.mais.ou.menos.anárquica,.sejam.eles.de.génese.espontânea.e. ilegal,.como.a.Cova.da.Moura,.sejam.bairros.de.habitação.social,.como.o.Vale.da.Amoreira.

Grosso modo,.pautam­se.por.uma.expansão.urbana.desmesurada.e.desqualificada,.marcada.pela.ausência.de.um.planeamento.urba­nístico.adequado;.por.um.crescimento.demográfico.significativo.e.forte.concentração.residencial,.daí.resultando.uma.fragmentação.sociourbanística.acentuada..No.Alto.da.Cova.da.Moura,.por.exemplo,.contavam­se.em.1981,.1000.residentes;.dez.anos.mais.tarde,.entre.3500. e. 4000;. e. em. 2000. registaram­se. 5057. habitantes,. numa.área.de.16,5.hectares..A.densidade.populacional.é.de.aproximada­mente.84.fogos.e.306.habitantes/hectares..

De.acordo.com.os.Censos.de.2001,.residem.na.freguesia.do.Vale.da.Amoreira. cerca. de. 12. 360. indivíduos. (e. 3572. famílias),. valor. um.pouco.menor.face.ao.registado.em.1991:.13.522..Valor.também.muito.distante. do. estimado. pelos. diagnósticos. de. associações. locais.que.apontam.para.a.presença.de.17.000/18.000.indivíduos.num.espaço.com.cerca.de.244ha.

Observam­se.diversos.outros.denominadores.comuns:.alojamentos.precários,.espaços.públicos.degradados,.descaracterizados,.disfun­cionais,.desvitalizados,.desumanizados.e.insalubres;.acessibilidades.deficientes.que.dificultam.e.desincentivam.o.interface.com.o.exterior.do.bairro,.a.despeito.da.dependência.algo.acentuada.das.populações.face.ao.centro,.nomeadamente.em.termos.de.emprego.e.educação.(em.particular.para.aqueles.que.frequentam.o.ensino.superior)..Acresce.ainda.a.carência.de.uma.rede.de.infra­estruturas.básicas.e.equipamentos.sociais,.escolares,.culturais.e.de.recreio.colectivos.qualificados.(salientando­se.o.défice.de.espaços.verdes),.suscep­tíveis. de. suportar. e. incentivar. as. vivências. quotidianas. locais,.o.que.leva,.em.algumas.destas.zonas,.à.eleição.da.rua.como.palco.de.sociabilidades.e.de.convívio..

Refira­se.que.a.génese.destes.bairros.é.em.muito.tributária.dos.sucessivos.surtos.de.imigração.que,.desde.meados.do.século.XX.à.actualidade,.se.fizeram.sentir.nos.grandes.centros.urbanos.e.suas.periferias:.as.migrações.internas.com.origem.no.interior.do.país,.que.adquiriram.uma.forte.expressão.nos.anos.sessenta.e.setenta;.o.afluxo,.na.segunda.metade.da.década.de.setenta,.de.uma.vaga.de.retornados.das.ex­colónias;.a.entrada,.nas.décadas.de.oitenta.e.de.noventa,.de.um.enorme.contingente.de.população.oriunda.dos.PALOP;.e.mais.recentemente,.a.afluência.de.imigrantes.da.Europa.de.Leste.e.do.Brasil..Processo.marcado.por.políticas.de.imigração.e. urbanização. deficitárias. e. desadequadas. para. responder. aos.profundos.desafios.que.esta.realidade.colocava,.e.ainda.hoje.coloca,.em.termos.sociais,.económicos,.culturais,.territoriais.e.ambientais..

O.Alto.da.Cova.da.Moura.tornou­se,.sobretudo.até.ao.início.da.década.de.oitenta,.o.chão.de.inúmeras.famílias.imigrantes,.com.destaque.para.indivíduos.de.nacionalidade.cabo­verdiana.que.representam.cerca.de.70%.da.população.que.ali.reside..Por.seu.turno,.no.Vale.da.Amoreira,.o.grosso.dos.habitantes. tem.nacionalidade.portu­guesa,.embora.haja.uma.forte.presença.de.naturais.de.países.afri­canos.como.Angola,.Cabo.Verde,.Guiné­Bissau,.São.Tomé.e.Príncipe.e.Moçambique.que.se.instalaram.no.bairro,.essencialmente.nos.anos.setenta,.ocupando.casas.de.habitação.social..Embora.em.menor.número,.há.ainda.registo.de.pessoas.oriundas.de.outros.países.

Quanto.às.principais.características.sociodemográficas.das.popu­lações.residentes.nestes.bairros,.sublinhe­se.o.peso.maioritário.de.indivíduos.com.menos.de.24.anos.–.cerca.de.45%.na.Cova.da.Moura.e.mais.de.40%.no.Vale.da.Amoreira.–,.o.que.imprime.uma.feição.extre­mamente. jovem. a. estas. duas. zonas. geográficas.. Ainda. assim,.é.crescente,.em.ambas,.o.número.de.indivíduos.com.idade.superior.a.64.anos.

No.que.concerne.à.escolaridade,.apesar.de.se.registar.ao.longo.dos.anos.um.acréscimo.percentual.dos.níveis.de.instrução.médios.da.população. –. para. isso. contribuindo. o. aumento. do. número. dos.que.concluem.os.estudos.superiores.–.as.habilitações.são,.grosso modo,.extremamente.baixas..Na.freguesia.do.Vale.da.Amoreira,.por.exemplo,.29,1%.dos.habitantes.tem.o.1.º.ciclo;.11,6%,.completou.o.2.º.ciclo;.15%.o.3.º..Apenas.24,3%.terminou.o.ensino.secundário.

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e.6,3%.obteve.formação.de.nível.superior..Verifica­se.igualmente.a.persistência.de.taxas.de.abandono.precoce.e.insucesso.escolar.assinaláveis.nos.vários.graus.de.ensino..Acresce.que.parte.da.popu­lação.é.afectada.pelo.desemprego,.sendo.ainda.de.realçar.o.pre­domínio.de.trabalhadores.desqualificados.com.vínculos.laborais.precários.e.rendimentos.mensais.reduzidos.

O.cenário.urbano.e.socioeconómico.destes.e.outros.bairros.perifé­ricos.da.AML,.caracterizado.pela.situação.de.grande.vulnerabilidade.em.que.vive.um.largo.segmento.da.população.(parte.dela.ilegal),.com.uma.concentração.de.índices.significativos.de.pobreza.e.de.exclusão.social,.denunciando.ainda.alguns.sinais.de.autocentra­mento.e.mesmo.de.segregação,.apresenta.reflexos.visíveis.no.agrava­mento.dos.níveis.de.insegurança.pública,.de.concentração.do.tráfico.e.consumo.de.estupefacientes,.da.criminalidade,.marginalidade.e.delinquência.juvenil..Cenário.que.urge.reverter.por.meio.de.pro­gramas.de.inclusão.social.que.visem.o.incremento.dos.níveis.de.riqueza.e.de.bem­estar.daqueles.que.habitam.nesses.espaços..

Programas de intervenção sociourbanística

A.problemática.da.exclusão.social.está.hoje,.mais.do.que.nunca,.na.ordem.do.dia,.tendo­se.convertido.numa.preocupação.premente.dos.vários.poderes.–.local,.regional,.central,.comunitário.–.assim.como.de.entidades.diversas..Confirma­o.a.promoção,.em.Março.de.2000,.do.Plano.Nacional.de.Acção.para.a. Inclusão.(PNAI).em.

cada.um.dos.25.Estados­Membros.da.União.Europeia.(o.Ministério.do.Trabalho.e.da.Solidariedade.Social.é,.em.Portugal,.a.entidade.responsável),.com.o.intuito.de.pôr.em.prática.–.à.luz.das.orientações.europeias.–.políticas,.estratégias,.instrumentos.e.medidas.comuns.em.prol.da.erradicação.da.pobreza.e.das.exclusões,.até.2010..

O.mesmo.objectivo.subjaz.a.outros.planos.e.programas.de.acção,.a.saber:.Plano.Nacional.de.Emprego,.Estratégia.Nacional.de.Desenvol­vimento.Sustentável,.Plano.de.Acção.para.a.Sociedade.da.Informação,.Plano.Global.para.a.Igualdade.de.Oportunidades,.Plano.Nacional.contra.a.Violência.Doméstica,.Plano.Nacional.de.Saúde,.sendo.de.referir.ainda.os.Programas.Rede.Social.e.Escolhas,.Escolhas.2.ª.Geração.e.Escolhas.3.ª.Geração.(no.âmbito.deste.último,.prevê­se.o.desenvol­vimento.de.120.projectos.que.irão.abranger.cerca.de.40.mil.jovens.e.um.investimento.de.21.milhões.de.euros.até.2009,.com.o.propó­sito.de.promover.a.inserção.social.da.população.juvenil.mais.caren­ciada,.nomeadamente,.os.descendentes.de.imigrantes)..

Subjaz.também.às.múltiplas.intervenções.sectoriais.e.plurissecto­riais.de.reabilitação.sociourbanística.(umas.mais.bem.sucedidas.que.outras).empreendidas.nos.últimos.anos.em.algumas.das.zonas.mais.degradadas.da.Área.Metropolitana.de.Lisboa.–.como.os.conce­lhos.da.Amadora.e.Moita.–.intervenções.suportadas.por.financia­mento.nacional,.local.e.pelo.apoio.de.fundos.estruturais.comunitá­rios..Este.facto,.complementado.pelo.reforço.do.sistema.de.protecção.social.nacional,.permitiu.dar.alguns.passos.com.vista.à.inclusão.

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social.dos.segmentos.populacionais.com.maiores.necessidades,.por.via.do.realojamento,.qualificação.urbana,.formação,.acção.social.e.melhoria.das.acessibilidades.

Particular.contributo.foi.dado.pelo.Programa.Especial.de.Realojamento.(PER),.criado.em.1993.com.o.intuito.de.solucionar.um.problema.específico. e. premente,. como. é. o. caso. do. habitacional,. visando.erradicar.por.completo.as.barracas.e.construções.similares.exis­tentes.nos.Municípios.das.Áreas.Metropolitanas.de.Lisboa.e.Porto..Problema.cuja.resolução.foi.e.continua.a.ser.considerada.indis­pensável.para.a.melhoria.das.condições.de.vida.das.populações,.bem.como.para.a.sua.plena.integração.nos.bairros.onde.residem.e.na.sociedade.portuguesa..Todavia,.a.persistência.de.problemas.estruturais,.sociais.e.urbanísticos,.conduziu.à.elaboração.de.outros.programas.de.requalificação.dos.quais.destacaríamos.três:.o.PROQUAL,.o.URBAN.II.(que.veio.dar.continuidade.ao.URBAN.I).e.os.“Bairros.Críticos”.(em.fase.de.arranque),.todos.eles.direccionados.para.zonas.suburbanas.extremamente.sensíveis..

PROQUAL – Programa Integrado de Qualificação das Áreas Suburbanas da Área Metropolitana de Lisboa (2001-2006)

Lançado.em.2001,.no.âmbito.do.III.Quadro.Comunitário.de.Apoio.(QCA),.pelo.Ministério.do.Planeamento.em.articulação.com.outros.minis­térios.e.autarquias,.o.PROQUAL.constitui.um.programa.de.qualifi­cação.sociourbanística.de.bairros.fortemente.degradados.da.AML,.cujas.características.dominantes.tivemos.já.oportunidade.de.anotar..Foram.sete.os.municípios.abrangidos:.Moita.(Baixa.da.Banheira/Vale.da.Amoreira),.Amadora.(Brandoa),.e.ainda.Loures.(Sacavém/Prior.Velho),. Odivelas. (núcleo. urbano. de. Odivelas),. Oeiras. (Outurela­­Portela/Algés),.Setúbal.(Belavista.e.envolvente).e.Vila.Franca.de.Xira.(Bom. Sucesso/Arcena).. As. operações. de. qualificação. abarcaram.uma.área.global.de.1251.hectares.e.mais.de.250.mil.pessoas.

Os.domínios.prioritários.de.intervenção.do.PROQUAL.no.concelho.da.Moita­Baixa.da.Banheira.e.Vale.da.Amoreira.–.foram.os.seguintes:.revitalização.do.espaço.público.(inúmeras.ruas,.praças.e.jardins);.apoio.à.acção.social,.a.qual.se.concentrou.basicamente.em.dois.projectos.de.jardim­de­infância;.melhoria.do.contexto.educativo.através.de.inúmeros.investimentos.na.reabilitação.do.edificado.e.do.enquadramento.paisagístico.de.diversas.escolas,.a.par.da.criação.de.infra­estruturas,.da.aquisição.de.mobiliário.e.material.informá­tico..Também.se.realizaram.várias.intervenções.ao.nível.de.equipa­mentos.colectivos,.de.desporto,.lazer.e.recreio,.com.destaque.para.a.requalificação.de.polidesportivos.e.parques.infantis..O.montante.investido. foi. de. 13. 792. 387,83. euros. (7. 836. 466,70¤. –. PROQUAL;.4.867. 731,54¤. –. FEDER;. 2. 968. 735,16¤. –. Orçamento. de. Estado;.e.5.955.921,13¤.de.comparticipação.do.Município).

URBAN II Amadora (2000-2006)

O.Programa.de.Intervenção.Comunitária.(PIC).URBAN.II.Amadora.(Damaia­Buraca).abarcou.um.território.de.102,2.hectares.no.qual.se.insere.o.Bairro.da.Cova.da.Moura,.um.dos.mais.problemáticos.e.estigmatizados.do.concelho.da.Amadora.e.da.Área.Metropolitana.de.Lisboa..Nele.observam­se.e.conjugam­se.diversos.indicadores.de.problemas.estruturais.complexos.de.ordem.social,.económica,.urbanística.e.ambiental,.bem.como.níveis.significativos.de.exclusão.social.com.especial.incidência.na.população.imigrante,.designa­damente. os. oriundos. de. Cabo­Verde,. com. presença. maioritária.nesta.zona.de.intervenção.

Com.um.custo.global.de.5.088.786.euros.(3.562.152¤.relativos.a.apoio.comunitário. via. FEDER. e. 1.526.634¤. de. financiamento. público.nacional,.repartido.entre.a.Administração.Central.–.30.242¤.–.e.a.Administração.local.–.1.496.392¤),.este.programa.procurou.de.forma.integrada. e. participada. encontrar. respostas. adequadas. e.dura­douras.para.alguns.dos.problemas.urbanos.e.sociais.desta.área,.de. modo. a. combater. os. focos. de. pobreza. existentes. e. a. impedir.o.surgimento.de.novos..

Foram.essencialmente.quatro.os.objectivos.estratégicos.estabele­cidos.para.inverter.a.situação.de.“crise”.diagnosticada..O.primeiro.remete.para.a.requalificação.do.ambiente.urbano.e.valorização.do. espaço. público,. com. vista. a. dotar. o. local. de. intervenção. de.zonas.verdes.e.áreas.de.recreio.e.lazer,.bem.como.a.melhorar.as.suas.condições.de.salubridade.e.conforto..

O.segundo.prende­se.com.a.integração.socioeconómica.da.popu­lação,.concedendo.particular.relevância.à.sua.(re)inserção.no.mer­cado.de.trabalho,.por.via.do.incentivo.à.criação.de.auto­emprego.e.de.microempresas,.em.paralelo.com.a.promoção.de.actividades.económicas.locais..Visou­se.o.desenvolvimento.de.competências.pessoais. e. sociais. através. de. acções. de. formação. e. qualificação.profissional.dirigidas.à.população.em.idade.activa.(com.destaque.para. as. mulheres,. jovens. e. desempregados. de. longa. duração),.de.modo.habilitar.e.motivar.os.participantes.a.estruturar.o.seu.próprio.projecto.de.vida..O.projecto.Cegonha,.que.teve.como.destinatárias.16.mães.adolescentes,.representou.um.exemplo.de.“Boas.Práticas”.deste.eixo.de.intervenção..

O.terceiro.objectivo.direccionou­se.para.a.regeneração.do.contexto.socioeducativo.das.crianças.e.jovens,.quer.ao.nível.de.infra­estru­turas.locais,.aumentando.e.melhorando.a.oferta.de.equipamentos.escolares.e.de.lazer,.quer.dos.instrumentos.de.aprendizagem.e.de.iniciativas.susceptíveis.de.impulsionar.o.sucesso.escolar,.impedir.o.abandono.precoce,.bem.como.prevenir.comportamentos.disrup­tivos.e.trajectórias.desviantes.

O.último.incidiu.sobre.a.revitalização.da.área.abrangida.nas.suas.várias.dimensões.–.social,.cultural,.desportiva.e.ambiental.–.com.o. propósito. de. estimular. a. coesão. social,. a. sociabilidade. intra.e.intergeracional,.a.par.do.associativismo,.proporcionando.às.asso­ciações.locais.meios.para.o.desenvolvimento.de.acções.de.apoio.social,. dado. o. envolvimento. favorável. da. população. residente.com.as.mesmas..

Em.jeito.de.balanço.pode.dizer­se.que.volvidos.cinco.anos.desde.o.início.do.programa.URBAN.II.na.Amadora.foram.várias.as.medidas.implementadas.. A. aposta. recaiu. sobretudo. nas.“pessoas”,. mais.concretamente.no.apoio.social,.a.par.de.acções.vocacionadas.para.o. emprego,. qualificação. e. formação. profissional,. participação. e.cidadania,. mediante. parcerias. com. agentes. locais.. Na. Cova. da.Moura,.para.além.do.já.mencionado.projecto.Cegonha,.desenvol­veram­se.cursos.de.formação.de.mediadores.culturais,.auxiliares.de.educação.e.“peritos.da.experiência”,.visando.este.último.o.reco­nhecimento.e.validação.de.competências.não.formais.de.indiví­duos.estigmatizados..Na.esfera.da.Educação.e.Ensino.Básico.foi.promovido.o.projecto.Escolas.de.Excelência.na.EB1.–.Buraca.2,.situada.no.bairro,.com.o.intuito.de.prevenir.o.abandono.e.insucesso.escolar,.por.meio.do.envolvimento.dos.alunos.em.clubes.de.actividades,.em.conjunto.com.o.recurso.a.metodologias.pedagógicas.específicas.e.o.reforço.do.equipamento.escolar.

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Quanto.às.chamadas.intervenções.“materiais”,.assinale­se.o.inves­timento.na.melhoria.dos.acessos.à.Cova.da.Moura,.assim.como.a.qualificação. paisagística. da. área. envolvente,. sendo. de. realçar.o.Jardim.Central.da.Buraca..No.plano.dos.equipamentos,.recupe­rou­se.o.Polidesportivo,.de.grande.importância.para.a.ocupação.dos.tempos.livres.dos.jovens,.sendo.que.contribui.para.estreitar.as.relações.de.vizinhança.e.consolidar.as.sociabilidades.juvenis..Construíram­se.duas.creches:.a.Árvore,.com.quatro.salas,.e.a.do.Centro.Paroquial.São.Gerardo,.com.três..A.população.pode.bene­ficiar. também.das. intervenções.realizadas.no.espaço.adjacente.ao.bairro,.como.é.o.caso.das.instalações.desportivas.e.culturais.da.R..Andrade.Corvo,.na.Buraca,.que.dispõe.de.um.salão.comunitário.polivalente..

Importa.acrescentar.que,.no.quadro.das.associações.locais,.o.Moinho.da.Juventude.desempenhou.um.papel.relevante.neste.programa,.enquanto. agente. dinamizador. de. iniciativas. inovadoras,. tendo.revelado. uma. capacidade. ímpar. de. mobilização. da. população.

para.as.mesmas,.à.semelhança.do.que.já.vinha.ocorrendo.com.os.projectos.concretizados.desde.a.criação.da.associação..Constituem.exemplos.o.ATL.(1987),.que.recebe.crianças.do.1.º.ciclo.do.ensino.básico;.o.grupo.de.batuques.Finka.Pé.(1987),.destinado.a.preservar.a. herança. musical. cabo­verdiana;. O. Pulo. (1997),. formação. que.visou. sensibilizar. os. pais. para. a. educação. dos. filhos;. Emprego.Apoiado. (2000),. acção. enquadrada. pela. iniciativa. comunitária.EQUAL. que. pretende. fomentar. a. empregabilidade;. a. já. referida.creche. A.Árvore. (2003). que. das. 5h30. às. 21h30. acolhe. crianças.entre.os.quatro.meses.e.os.três.anos,.funcionando.como.alterna­tiva.às.amas.ilegais;.Sabura.(2004),.projecto.que.consiste.na.orga­nização.de.visitas.turísticas.à.Cova.da.Moura,.com.o.intuito.de.dar.a.conhecer.algumas.das.referências.culturais.presentes.no.bairro.(no.domínio.da.gastronomia,.música,.dança,.literatura,.artesanato,.etc.). e. reverter. as. representações. sociais. negativas. dominantes.acerca.do.mesmo..A.proximidade.que.detêm.com.os.habitantes.do.bairro.não.só.coloca.esta.e.outras.associações.numa.posição.privilegiada.para.conhecer.os.seus.problemas,.carências.e.sobre­tudo.as.suas.múltiplas.capacidades.e.valências.–.sobre.as.quais.é.premente.apostar.–.como.as.converte.numa.importante.alavanca.para.estimular.a.população.a.envolver­se.na.reconstrução.do.espaço.que.habita.

“Bairros Críticos” (2007-2011)

A.Iniciativa.governamental.Bairros.Críticos,.com.a.designação.formal.de.Operações.de.Qualificação.e.Reinserção.Urbana.de.Bairros.Críticos,.foi.aprovada.pelo.Governo.em.Setembro.de.2005,.integrando.numa.fase.experimental.três.casos­piloto..As.áreas.geográficas.abrangidas.são.os.bairros.da.Cova.da.Moura.(Amadora),.o.Vale.da.Amoreira.(Moita).e.o.Lagarteiro.(Porto),.todas.elas.consideradas.zonas.“sensíveis”.do.ponto.de.vista.socioeconómico.e.urbanístico..Depois.de.testados.os.instrumentos.e.modelos.de.intervenção.nestes.espaços,.a.inicia­tiva.poderá.estender­se.a.outros.núcleos.urbanos,.no.âmbito.do.próximo.quadro.comunitário.de.apoio..

De.grande.envergadura,.este.Programa.de.Intervenção.visa.operacio­nalizar.um.vector.estratégico.da.Política.das.Cidades.que.se.prende.com.a. qualificação.urbanística.sustentada. de. zonas. com.níveis.acentuados.de.vulnerabilidade,.a.par.da.sua.integração.espacial.e.social.no.tecido.urbano.que.as.enquadra..Pretende­se.que.as.inicia­

tivas.sejam.concretizadas.em.articulação.com.outros.programas.de.requalificação,.como.o.PROQUAL.e.o.URBAN.II,.bem.como.com.as. acções. empreendidas. pelos. municípios,. de. modo. a. propor.soluções.coerentes,.inovadoras,.estratégicas.e.de.longo.prazo.para.os.problemas.estruturais.complexos.registados,.tendo.como.fim.último.a.melhoria.substancial.das.condições.e.da.qualidade.de.vida.das.populações.residentes.

Coordenado.pelo.Ministério.do.Ambiente,.do.Ordenamento.do.Terri­tório.e.do.Desenvolvimento.Regional.(através.do.Instituto.Nacional.de.Habitação),.a.Iniciativa.Bairros.Críticos.associa.ainda.os.Ministérios.da.Administração.Interna;.Trabalho.e.Solidariedade.Social;.Educação;.Cultura;.Saúde;.a.Presidência.de.Conselho.de.Ministros.através.da.colaboração.do.ACIME.e.cerca.de.25.parceiros.

Trata­se.de.uma.intervenção.interministerial.integrada.e.concer­tada.que,.à.semelhança.de.outros.programas,.como.o.URBAN.II,.procura.reunir.sinergias.várias.na.concepção.e.execução.dos.planos.de.intervenção:.para.além.dos.representantes.das.Administrações.Central.e.Local,.o.Grupo.de.Parceiros.Locais,.criado.nos.três.bairros,.garante.o.envolvimento.de.Associações,.IPSS’s.e.outras.entidades,.líderes.locais,.etc..Conta.ainda.com.o.trabalho.de.equipas.de.acompa­

…os centros também têm, em torno dos seus núcleos, as suas margens,

possuindo estas, igualmente, os seus próprios centros - de produção cultural

e artística, de solidariedades sociais, de iniciativas bem sucedidas,

de sociabilidades inclusivas - dinâmicas que urge descentralizar, arrancar

das margens, para que se tornem visíveis, para que sejam reconhecidas,

para que venham a ser socialmente “incluídas”.

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nhamento.dos.projectos.no.terreno,.prevendo­se.também.a.colabo­ração.de.parceiros.públicos.e.privados.nos.modelos.de.financiamento.e.de.gestão.das.acções.a.empreender.em.cada.zona.abrangida..Foram.já.organizadas.diversas.reuniões.temáticas,.workshops.e.semi­nários.que.envolveram.os.membros.dos.grupos.de.trabalho;.especia­listas.sobre.os.eixos.de.intervenção.prioritários.(políticas.da.juven­tude,.desenvolvimento.local.e.comunitário,.espaço.urbano,.formação,.emprego.e.empreendedorismo,.saúde);.bem.como.residentes.do.bairro,.cuja.contribuição.foi.fundamental,.tendo.em.conta.que.cons­tituem.os.principais.destinatários.dos.programas.de.desenvolvi­mento.local.previstos..

Assim,.pretendem­se.concretizar.uma.série.de.intervenções.“mate­riais”.ao.nível.da.melhoria.das.acessibilidades,.da.reabilitação.do.edificado.e.dos.alojamentos,.da.revitalização.do.espaço.público,.da.paisagem.urbanística,.assim.como.dos.equipamentos.colectivos,.sociais.e.de.lazer,.complementando­as.com.intervenções.“imateriais”.associadas.ao.apoio.social,.a.acções.de.formação,.a.iniciativas.que.visem. a. inserção. profissional,. em. conjunto. com. a. dinamização.económica.e.cultural.dos.bairros..

No.Vale.da.Amoreira.será.feito.um.investimento.global.de.cerca.de.15.milhões.de.euros,.montante.a.redistribuir.na.requalificação.da. área. urbana,. dos. edifícios. e. das. habitações. (enfatizando­se.a.expressão.artística.no.espaço.público);.na.construção.e.reabilita­ção.de.equipamentos.desportivos.e.de.recreio;.a.par.de.arranjos.exteriores.nas.escolas.básicas..Outro.dos.objectivos.é.a.melhoria.das.acessibilidades..Paralelamente,.está.prevista.a.criação.de.um.Gabinete.de.Emprego.e.Apoio.ao.Empreendedorismo;.a.implementa­ção.de.um.Espaço.de.Experimentação.Artística.destinado.aos.jovens,.como.forma.de.prevenir.o.insucesso.e.o.abandono.escolar;.a.cons­trução.de.um.Centro.Comunitário;.a.criação.de.um.serviço.24.horas.de.apoio.à.criança;.a.abertura.de.um.Centro.Local.de.Apoio.ao.Imigrante.com.vista.à.sua.inserção.social,.entre.várias.outras.iniciativas.

No.Bairro.da.Cova.da.Moura,.uma.parcela.substancial.do.investi­mento.será.canalizada.para.a.demolição.de.parte.do.edificado,.por.não.apresentar.condições.de.habitabilidade.adequadas,.e.conse­quentemente.para.a.construção.de.novas.habitações,.em.conjunto.com.a.implementação.de.estabelecimentos.comerciais,.de.equipa­mentos.escolares,.sociais.e.de.lazer.(realçando­se.os.espaços.verdes)..Procurar­se­á.ainda.potenciar.as.sociabilidades.da.população.nos.espaços.públicos.e.estimular.o.tecido.associativo,.com.expressão.já.relevante.no.bairro..Serão.também.contempladas.medidas.no.domínio.do.emprego,.tais.como.acções.de.formação.que.melhorem.as.competências.da.população.desempregada.para.se.inserir.no.mercado.de.trabalho.e.estímulo.à.criação.de.microempresas.através.da.atribuição.de.microcrédito,.com.vista.a.dinamizar.as.iniciativas.económicas.no.bairro..Particular.enfoque.será.dado.também.à.regu­larização.da.população.estrangeira.

Os. jovens. representam. uma. preocupação. especial. deste. plano..A.eles.serão.dirigidas.iniciativas.várias,.como.a.criação.de.um.Espaço.Saúde.(que.divulgará.informação.sobre.os.riscos.inerentes.ao.consumo.de.estupefacientes.e.desenvolverá,.entre.outras,.acções.vocacio­nadas.para.a.prevenção.de.doenças.infecto­contagiosas)..Fazem.ainda.parte.das.principais.prioridades.do.plano.de.intervenção.desenhado.para.a.Cova.da.Moura.o.combate.ao.tráfico.de.droga.e.à.toxicode­pendência,.com.forte.incidência.e.visibilidade.no.bairro,.práticas.estas.que.contribuem.significativamente.para.o.aumento.da.cri­minalidade.e.dos.níveis.de.insegurança.registados..

Espera­se.deste.modo.que.as.medidas.previstas.contribuam.para.a.regeneração.de.um.bairro.onde.a.grande.maioria.da.população.gosta.de.viver.(70%).e.pretende.continuar.a.viver.(82%),.a.avaliar.pelos.recentes.resultados.de.um.Inquérito.aos.residentes.realizado.pela.Associação.Cultural.Moinho.da.Juventude.(725.inquéritos)..

Daquilo.que.foi.dito.e.tendo.em.conta,.por.um.lado,.que.cerca.de.um.terço.da.população.residente.na.Área.Metropolitana.de.Lisboa.vive.em.áreas.desqualificadas,.por.outro,.que.algumas.das.iniciativas.desenvolvidas.em.prol.da.inclusão.social.das.populações.mais.carenciadas.têm.revelado.um.carácter.sectorial.e.descontinuado.com.resultados,.não.raras.vezes,.inconsequentes.e.pouco.palpáveis,.urge.apostar.na.criação.de.um.programa.global,.pluridisciplinar,.articulado.e.inte­grado.de.requalificação.sociourbanística.para.a.AML,.com.base.num.modelo.de.desenvolvimento.sustentável.que.enfatize.alianças.entre.os.sectores.público.e.privado,.com.vista.à.capitalização.de.recursos.(financeiros.e.humanos).e.à.partilha.de.responsabilidades..Há.ainda.um.longo.trabalho.pela.frente.que.requer.um.empenho.tanto.maior.quanto.mais.nos.aproximamos,.no.âmbito.QREN.IV,.de.um.novo.ciclo.de.programação.financeira.(2007­2013),.pautado.pela.redução.dos.fundos.estruturais,.nacionais.e.comunitários.

As.ambições.económicas,.sociais.e.culturais.subjacentes.à.Estratégia.Regional:.LISBOA.2020,.delineada.pela.Comissão.de.Coordenação.e.Desenvolvimento.Regional.de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo.(CCDR­LVT).para.a.próxima.década,.passam.por.tornar.a.Região.de.Lisboa.(Grande.Lisboa.e.península.de.Setúbal).mais.atractiva,.competitiva,.cosmo­polita,.economicamente.dinâmica.e.inovadora,.capaz.de.se.projectar.internacionalmente;.e,.em.simultâneo,.mais.equitativa,.bem.como.social.e.territorialmente.coesa..Propósitos.estes.estabelecidos.na.sequência.da.Cimeira.de.Lisboa,.ocorrida.em.Março.de.2000,.e.que.estão. em. total. consonância. com. a. política. de. desenvolvimento.urbano.promovida.pela.União.Europeia..

Concretizar.esses.desígnios.obriga.a.rectificar.as.assimetrias.terri­toriais,.inter.e.intra­regionais,.revitalizar.o.cenário.social.e.espacial.degradado.das.periferias.urbanas,.criar.e.modernizar.as.suas.estru­turas.económicas,.sociais.e. institucionais,.melhorar.o.ambiente.urbano.e.as.condições.de.habitação.dos.indivíduos,.proporcionar.espaços.de.sociabilidade.e.de.integração.social.e.cultural..Obriga.também.a.um.forte.investimento.nas.“Pessoas”,.ou.seja,.na.qualifi­cação.escolar,.profissional,.científica,.cultural.e.pessoal.do.capital.humano,.de.modo.a.melhorar.a.qualidade.de.vida.das.populações.e.a.prevenir.situações.de.exclusão.social..

No.caso.particular.dos.imigrantes,.o.primeiro.passo.para.uma.inte­gração.social.bem.sucedida.nas.sociedades.de.acolhimento.implica,.por.um.lado,.que.sejam.reconhecidos.como.indivíduos,.o.que.não.acontece.quando.são.amalgamados.em.categorias.homogenei­zantes.que.essencializam.as.suas.identidades;.por.outro,.que.lhes.sejam.proporcionadas.condições.de.vida.dignas.e.o.acesso.aos.direi­tos.e.recursos.básicos.(em.termos.de.habitação,.saúde,.emprego,.formação.escolar.e.profissional),.já.que.é.a.privação.dos.mesmos.que.geralmente.os.impele.a.desenvolver.modalidades.de.inserção.de. feição. comunitarizada. (cuja. expressão. limite. é. o. gueto),. ou.não.fosse.a.comunidade,.como.assinala.Bauman,.“o.recurso.dos.pobres”..Não.se.pode,.pois,.esperar.e.muito.menos.exigir.que.ajam.por. relação. à. sociedade. hospedeira. como. sendo. sua,. nem. que.despertem. por. ela. um. sentido. ou. um. sentimento. de. pertença,.enquanto. forem. política,. mediática. e. socialmente. (re)tratados.como.“outros”..

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Destaque.|.Reportagem.|.Pedro Almeida VieiraFotografia.|.Carlos Garcia

UM FILÃO ENTRE A LEZÍRIA E O MARTURISMO NO OESTE E VALE DO TEJO

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Coser uma manta de retalhos parece.ser.o.objectivo.essencial.para.o.sector.de.turismo.do.Plano.Regional.de.Ordenamento.do.Território.do.Oeste.e.Vale.do.Tejo.(PROT­OVT),.que.se.encontra.numa.fase.inicial.de.ela­boração.desde.Março.deste.ano..O.uso.do.termo.“manta.

de.retalhos”.pode.parecer.depreciativo,.mas.neste.caso.não.é..Os.reta­lhos.–.ou.seja,.as.potencialidades.turísticas.–.são,.nesta.região,.teci­dos.preciosos.em.estado.bruto..Ou,.se.quisermos.passar.da.costura.para.a.joalharia,.são.pequenos.montículos.de.diamantes.ainda.não.delapidados,.que.necessitam.desta.operação.para,.depois,.serem.incrustados.em.outras.gemas..E,.aí.sim,.tornarem­se.verdadeiras.jóias..

De.facto,.nas.regiões.do.Oeste,.Lezíria.e.Médio.Tejo.–.englobando.33.municípios,.com.pouco.mais.de.800.mil.habitantes.que.ocupam.apenas.9%.do.território.português.–.não.falta.nada.para.que.seja.um.destino.turístico.de.excelência..Possui.mesmo.potencialidades.únicas,.mais.ainda.por.via.da.diversidade.em.tão.reduzido.território..Entre.Torres.Vedras.e.Alcobaça.estendem­se.praias.de.grande.varie­dade.morfológica,.onde.pontuam.areais,.dunas.e.as.falésias,.sempre.desejadas.para.o.descanso,.banhos.e.actividades.desportivas.como.o.surf,.a.pesca.e.o.mergulho..A.natureza.também.tratou.de.oferecer.espaços.para.belas.caminhadas.e.descobertas.para.satisfazer.todos.os.gostos.e.direcções..Quem.preferir.o.contacto.com.áreas.prote­gidas.tem.as.Berlengas,.a.serra.de.Montejunto.ou.as.de.Aire.e.Cande­eiros,.para.além.do.Planalto.de.Cesarede,.a.Lagoa.de.Óbidos.e.os.pauis.da.Tornada.e.do.Boquilobo..Se.quiser.extasiar­se.com.as.maravi­lhas. que. o. tempo. foi. moldando,. pode. contemplar. as. inúmeras.grutas. visitáveis. no. extenso. maciço. calcário. entre.Torres. Novas.e.Fátima,.quer.como.turista.convencional.quer.como.espeleólogo..Ou,.noutra.vertente,.dar.um.pulo.à.Lourinhã.ou.à.serra.de.Aire.para.

uma.viagem.até.ao.tempo.dos.dinossáurios..Mais.para.o.interior.encontram­se.muitos.e.diferentes.atractivos..Nas.bacias.do.Zêzere.e.Tejo.há.água.para.pescar,.campo.para.caçar,.lezírias.para.cavalgar,.albufeiras.e.rios.para.navegar..

E,.depois,.há.sempre.a.possibilidade.de.descansar.em.tanto.espaço.aberto.e.rumar.para.lugares.onde.a.mão.do.Homem.fez.maravilhas.idênticas.à.Natureza..Pela.importância.económica.e.agrícola.do.país.desde.tempos.remotos,.esta.região.concentra.agora.um.património.histórico.riquíssimo,.com.especial.destaque.para.a.vertente.reli­giosa.e.militar..Óbidos,.Alcobaça,.Batalha,.Santarém.e.Tomar.são.apenas.os.sítios.mais.óbvios,.mas.longe.de.esgotarem.a.variedade..No.meio.disto.–.ou.melhor,.entre.tantas.deambulações.possíveis.–,.há.sempre.a.possibilidade.de.agradar.ao.palato,.usufruindo.de.uma.gastro­nomia.apetitosa,.variada.e.secular,.regada.por.bons.vinhos..Porém,.para.os.adeptos.da.gula,.pode­se.fazer.coincidir.as.visitas.com.feiras.e.mostras,.onde.a.digestão.e.diversão.comungam.a.mesma.alegria..Para. não. se. ser. exaustivo,. propõe­se. a. Feira. do. Cavalo. (Golegã),.a.Feira.do.Chocolate.(Óbidos),.a.Festa.dos.Tabuleiros.(Tomar).....

Na. verdade,. o. que. acaba. por. ser. estranho. é. que. perante. tanta.diversidade.a.região.do.Oeste.e.Vale.do.Tejo.não.seja.um.ex­líbris.do.turismo.português..Ou.melhor,.provavelmente.é,.mas.de.uma.forma.muito.discreta.e.sem.explorar. todo.o. filão..Por. isso,.para.integrar.todos.estes.ingredientes.que.podem.tornar.esta.região.num. suculento. caldo,. uma. equipa. liderada. pelos. arquitectos.Bruno.Soares.e.Ana.Lebre.encontra­se.exclusivamente.a.desenvolver.a.componente.do.turismo,.lazer.e.cultura.do.PROT­OVT..“Pretende­mos.fazer.uma.abordagem.mais.abrangente.do.que.a.que.classi­camente.se.faz..O.sector.do.turismo.implica.muito.mais.do.que.

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a.mera.oferta.de.alojamentos,.pois.para.ser.sustentável.necessita.também. de. interligar­se. com. outras. actividades. fundamentais,.como. o. lazer. e. a. cultura”,. advoga. Bruno. Soares,. acrescentando.que,.nessa.perspectiva,.“não.se.podem.esquecer.os.diversos.nichos.de.mercado.nem.o.facto.de.esta.região.estar.intimamente.ligada,.por.razões.territoriais,.à.Área.Metropolitana.de.Lisboa”..

Embora.não.se.esteja.perante.um.plano.sectorial,.a.abordagem.da.componente.turística.acaba.por.beneficiar.de.uma.metodolo­gia.semelhante,.pelo.menos.no.que.diz.respeito.à.elaboração.do.diagnóstico. inicial..Ou.seja,.daquilo.que.existe.para.estabelecer.objectivos..“Como.esta.região.é.muito.diversificada.do.ponto.de.vista.de.potencial.turístico,.tem.de.se.seguir.estratégias.diferen­ciadas,.mas.integradas,.quer.na.identificação.de.nichos.de.merca­do. quer. na. satisfação. da. procura. e. na. divulgação. da. oferta”,.salienta.Ana.Lebre..Porém,.e.para.já,.uma.das.maiores.dificulda­des. da. equipa. de. arquitectos. foi. conseguir. uma. caracterização.fidedigna.do.sector,.sobretudo.por.falta.de.estatísticas.fiáveis.ou.por. estas. estarem. disseminadas,. dado. que. a. gestão. turística.desta. região. está. sob. a. alçada. de. quatro. diferentes. regiões. de.turismo. (Leiria­Fátima,. Templários,. Oeste. e. Ribatejo).. Por. isso,.quando.iniciaram.a.compilação.de.mais.dados,.surgiram.surpre­sas:. ao. contrário. do. que. se. poderia. imaginar,. o. produto.“sol. e.praia”.não.é.o.que.actualmente.mais.se.destaca..“O.maior.pólo.turístico.da.região.é,.na.verdade,.Fátima,.que.recebe.cerca.de.cinco.milhões.de.visitantes.por.ano,.dos.quais.dois.milhões.são.estran­geiros”,.revela.Ana.Lebre..No.entanto,.não.se.pense.que.este.enor­me. fluxo. tem. apenas. como. fito. a. devoção. religiosa. à. Virgem.Maria..“Fátima.é.uma.das.zonas.desta.região.com.maior.activida­de;.tem.picos.em.certos.períodos,.mas.não.é.um.destino.apenas.sazonal,. dado. que. acolhe. inúmeros. congressos. e. reuniões. ao.longo.do.ano”,.acrescenta.a.arquitecta.

Porém,.mesmo.com.este. levantamento.exaustivo.–.que.impres­siona.pela.quantidade.de.entidades.que.já.desenvolvem.activida­des. turísticas. nas. diversas. componentes. (alojamento,. restaura­ção,.caça,.pesca,.hipismo,.desportos.de.aventura,.etc.),.ainda.pouco.se.conhece.sobre.os.perfis.dos.turistas.que.visitam.a.região,.nem.o.seu.verdadeiro.impacto.económico..E.mesmo.quando.se.conhece.alguns.percursos.clássicos,.nota­se.que.há.um.enorme.filão.por.explorar..“Por.exemplo,.embora.o.objectivo.essencial.dos.visitantes.de.Fátima.seja.religioso,.sabemos.que,.por.regra,.fazem.depois.um.

périplo. por. Nazaré,. Batalha. e. Alcobaça.. Por. isso,. tem. de. se. lhes.mostrar. que. existe. mais. oferta.. Isso. aplica­se. ao. visitante. de.Fátima.e.a.todos.os.outros;.é.preciso.garantir.que.as.pessoas.se.expandam.pela.região.e.que.não.visitem.apenas.aos.lugares.mais.conhecidos..E.isso.só.acontece.se.houver.diversificação.das.ofer­tas. turísticas,. campanhas. de. marketing. e. maior. capacidade. de.alojamento”,.defende.Ana.Lebre..

Em. todo. o. caso,. de. entre. os. desafios. para. desenvolvimento. do.turismo.nesta.região,.a.capacidade.de.alojamento.–.englobando.a. construção. ou. requalificação. –. não. será. apenas. direccionada.para.as.unidades.hoteleiras.clássicas..As.habitações.destinadas.a.turismo. rural. e. de. campo,. por. exemplo,. deverão. merecer. uma.atenção.especial.no.PROT­OVT..“Existem.muitas.quintas,.desde.a.Lourinhã. até. à. zona. da. Lezíria. do. Tejo,. com. enorme. potencial.turístico,. que. pode. mesmo. ser. fulcral. para. a. viabilização. das.explorações. agrícolas.. Mas. haverá,. nestes. casos,. de. se. fazerem.rectificações. e. desburocratizar. os. processos. de. licenciamento,.pois. muitos. planos. directores. municipais. não. permitem. ainda.essa.componente.turística”,.refere.Bruno.Soares..Outra.preocupa­ção.da.equipa.de.arquitectos.é.combater.o.preconceito.associado.aos. alojamentos. turísticos. considerados. erradamente. menos.nobres,. nomeadamente. o. campismo. e. o. caravanismo..“Grande.parte. dos. alojamentos. existentes. nesta. região. encontra­se. em.parques.de.campismo..Podem.ser,.é.certo,. requalificados,.mas.é.importante. salientar. que. servem. um. turismo. não. necessaria­mente. pobre”,. sustenta. Ana. Lebre.. Na. mesma. linha,.“será. tam­bém.proposto.a.criação.de.locais.adequados.para.o.caravanismo,.com.boas.condições,.como.acontece.em.outros.países,.dado.serem.muito.procurados.por.uma.franja.de.turistas.nacionais.e.estran­geiros,.que.procuram.zonas.mais.calmas”,.acrescenta.

Mas.o.aspecto.talvez.mais.fundamental,.em.termos.territoriais,.será.a.abordagem.territorial.para.a.expansão.de.segunda.habitação,.um.dos.sectores.desta.região.com.maior.crescimento.na.última.década,.sobretudo.na.faixa.mais.litoral.e.junto.à.zona.envolvente.à.albufeira.de.Castelo.de.Bode..Este.será,.porventura,.um.dos.aspec­tos­chave.que.decidirá.se.o.litoral.oeste.caminhará.para.um.segundo.Algarve.massificado.de.betão,.onde.as.localidades.se.entopem.de.gente. durante. certos. períodos. do. ano. e. se. encontram. desertas.nos.restantes..Bruno.Soares.sustenta.que,.na.região.do.Oeste.e.do.Vale.do.Tejo,.a.segunda.habitação.tem,.devido.à.proximidade.com.

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a.zona.de.Lisboa.–.de.onde.provêm.a.maioria.dos.proprietários.–,.uma.maior.taxa.de.ocupação.ao.longo.de.todo.o.ano.e.sobretudo.aos.fins­de­semana..Em.todo.o.caso,.parece.ser.evidente.a.existência.de.alguns.exageros.em.determinados.locais..Por.exemplo,.de.acordo.com.os.Censos.de.2001,.70%.dos.alojamentos.da.freguesia.de.São.Martinho.do.Porto.(Alcobaça).tinha.uma.ocupação.sazonal.–.uma.das.taxas.mais.elevadas.do.país..Outras.27.freguesias.tinham.uma.componente.de.segunda.habitação.entre.40%.e.65%.do.total.de.casas,.quando.a.média.nacional.actualmente.ronda.os.20%..E,.além.disso,.não.haja.dúvidas.de.que.existem.algumas.zonas.onde.a.cons­trução.está.longe.de.casar.com.a.harmonia,.sobretudo.na.região.envolvente.a.Santa.Cruz,.Areia.Branca,.Consolação,.Peniche,.Foz.do.Arelho,.Nazaré.e.São.Martinho.do.Porto..Em.alguns.casos.mesmo.junto.às.falésias,.que.para.além.de.destruir.a.paisagem.acaba.por.obrigar.a.investimentos.públicos.de.protecção.para.salvaguarda.dos.bens.privados..E.um.pouco.por.todo.o.lado,.por.via.de.planos.directores.municipais.permissivos,.grande.parte.do. litoral.–.em.especial.na.faixa.a.sul.de.Peniche,.integrada.na.Rede.Natura.–.está.ocupada.por.vivendas.disseminadas.sem.nexo.nem.ordem.. Isto.para.além.de.alguns.dos.empreendimentos.turísticos,.sobretudo.na.zona.de.Óbidos,.que.têm.sido.alvo.de.polémica.devido.à.sua.localização,.por.vezes.em.cima.de.dunas...

“Tem.de.existir.um.esforço.de.requalificação,.e.se.houver.regras.claras.de.planeamento.e.de.ordenamento.–.repetindo.um.pouco.aquilo.que.se.fez.com.sucesso.em.Vilamoura.e.em.São.Pedro.de.Muel.–,.o.sector.da.segunda.habitação.pode.ser.bastante.rentável.em.termos.de.turismo.de.qualidade,.uma.vez.que.é.bastante.pro­curado”,.defende.Ana.Lebre..Nesse.aspecto,.a.equipa.responsável.pelo.turismo.do.PROT­OVT.pretende.propor.a.criação.de.áreas.de.aptidão. turística,. mas. implementadas. num. novo. modelo,. que.evite.a.especulação.e.a.localização.inadequada.(ver.caixa)...

No. meio. disto,. há. também. que. ter. em. consideração. o. impacto.que.advirá.com.a.chegada.do.futuro.aeroporto.da.Ota.(Alenquer),.integrado.na.parte.sul.da.região.do.Oeste..Contudo,.embora.seja.previsível.que.esta.infra­estrutura.desencadeie.uma.maior.pres­são. urbanística. na. região,. Bruno. Soares. não. prevê. que. resulte.numa.modificação.significativa.da.procura.turística.para.a.zona.oeste. e. do. Vale. do. Tejo.. “O. turista. que. actualmente. aterra. na.Portela.para.visitar.a.região.de.Lisboa,.continuará.a.ir.lá.quando.o.aeroporto.estiver.a.funcionar.na.Ota”,.refere..

Por regra, quando da aprovação de planos de ordenamento, a delimitação das áreas urbanizáveis ou destinadas a pro­jectos turísticos acabam por se transformar numa per­feita lotaria: os proprietários dessas zonas recebem a sorte grande, porque ficam com os seus terrenos valorizados de um dia para o outro. Em muitas situações, fica­se mesmo com a sensação de que, neste aspecto, os planos apenas se encaixaram nas pretensões de determinados proprietá­rios, mesmo se essas zonas nem sempre são as mais ade­quadas para o uso estabelecido. Neste processo pouco justo surgem também, por vezes, jogadas de antecipação: na posse de informação privilegiada há quem compre ter­renos baratos, que anteriormente não tinham uso poten­cial para construção, antes de serem conhecidos os planos de ordenamento. Logo que o plano é aprovado, resta ao antigo proprietário “chorar” a venda a baixo custo e ao novo proprietário esfregar as mãos de contente. E, claro, se um terceiro estiver interessado em desenvolver um projecto urbano ou turístico, a especulação dispara e ele vai ter de abrir muito bem os cordões à bolsa para a compra dos terrenos.

Para terminar com estes esquemas e aumentar a compe­titividade – algo que traz sempre qualidade –, a equipa liderada pelos arquitectos Bruno Soares e Ana Lebre pre­tendem que sejam criadas, no âmbito do PROT­OVT, áreas de aptidão turística que não sejam necessariamente fixas em termos territoriais, lançando­se depois concursos públicos para o desenvolvimento de projectos, previa­mente definidos e balizados pela Administração Central ou Local. “Se, por exemplo, ficar estabelecido que num determinado concelho se deve localizar um hotel ou outro tipo de equipamento, dentro de uma área bastante abran­gente, qualquer empresário poderá apresentar uma pro­posta, pelo que os decisores terão assim um leque de opções mais vasto e nas localizações mais adequadas”, advoga Ana Lebre. Esta opção evitará, além disso, os fenó­menos de especulação, uma vez que, como explica Bruno Soares, “na fase de concurso, o promotor, caso não possua ainda os terrenos, precisará apenas de um contrato de promessa de compra e venda do terreno, com preços pre­viamente estabelecidos, e que será apenas accionado se o seu projecto for vencedor”. Como o dono de um terreno que seja contactado por um empresário sabe que existe mais opções de localização não se arriscará a subir muito o preço, pois correrá o risco de ser preterido pelo potencial interessado, que poderá optar por outras localizações. Esta é, aliás, uma das grandes vantagens deste modelo: obrigar a um maior dinamismo empresarial e a uma maior contenção da especulação, pois os terrenos com uso urbanístico ou turístico previsto nos planos de ordena­mento não têm, como até agora, a garantia de beneficiar de mais­valias.

“Propusemos esta solução nos planos directores municipais de Olhão e Faro, embora tenha sido algo desvirtuada”, refere Bruno Soares, acrescentando, contudo, que um modelo similar já foi aplicado para a construção de um hotel em espaço rural no município algarvio de Lagoa. Espera­se que, desta vez, vingue como modelo para toda a região.

Competir sem especular

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Territórios.|.Inês Costa PessoaFotografia.|.Carlos Garcia

NA ROTA DOS TEMPLÁRIOS

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Cidades, aldeias, florestas, albufeiras, miradouros, parques naturais, praias

fluviais, castelos e igrejas fazem da Região Templária uma zona de contrastes

e diversidades. Passado e presente, património histórico e paisagístico, conheci-

mento e lazer andam de braço dado, imprimindo uma identidade singular

a este pólo turístico. Jorge Neves, presidente da Região de Turismo dos Templários,

fala-nos do potencial da região, enquanto roteiro alternativo de turismo

nacional e internacional.

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O Dr. Jorge Neves preside a Região de Turismo dos Templários, Floresta Central e Albufeiras há cerca de cinco anos. Quais têm sido as principais linhas de intervenção da política de turismo para a região? E quais as prioridades ou estratégias para o futuro com vista a uma maior dinamização e qualificação do sector?

A.política.de.turismo.para.a.região.enquadra.e.reflecte.a.existên­cia. de. duas. realidades. complementares:. a. existência. de. conce­lhos.com.características.marcadamente.urbanas.(Entroncamento,.Tomar.e.Torres.Novas);.e.outros.rurais.(Ferreira.do.Zêzere,.Mação,.Oleiros,.Proença.a.Nova,.Sardoal,.Sertã.e.Vila.de.Rei),.e,.naturalmente,.o. diferente. peso. e. grau. de. desenvolvimento/importância. do.turismo.em.cada.um..Sendo. a. sua. principal. atribuição. promover. os. seus. territórios.e.produtos.turísticos,.estrategicamente.são.identificados.dois.pro­dutos.turísticos.âncora.–.o.turismo.cultural.e.o.turismo.natureza..Toda.a.promoção.é.organizada.neste.pressuposto,.tendo.no.produto.Touring.Cultural.e.Paisagístico.o.produto.de.excelência..Também.a.Gastronomia.e.os.Vinhos.são.relevantes.para.a.região,.assim.como.o.Artesanato,.as.Artes.e.as.Tradições..Divulgar,.promover.e.informar.sobre.esta.oferta,.tem.sido.uma.das.linhas.de.intervenção.da.Região.de.Turismo.A.qualificação.dos.recursos.humanos,.a.organização.do.produto.turístico.e.o.acompanhamento.dos.potenciais.investidores,.através.do.Gabinete.de.Apoio.ao.Investidor,.são.outras.das.atribuições.desen­volvidas.e.que.decorrem.da.política.de.turismo.para.a.região.As. prioridades. centram­se. na. necessidade. de. envolver. todos. os.responsáveis.públicos,.privados.e.comunidades.locais.na.prosse­cução.do.objectivo.de.requalificar.e.qualificar.o.destino.que,.ao.apresentar.diferentes.graus.de.desenvolvimento.turístico.e.dife­rentes.velocidades.de.região.para.região,.necessita.de.se.consolidar..Qualificar. os. serviços. turísticos,. inovar. na. comercialização. dos.produtos. turísticos,. promover. parcerias. estratégicas. adequadas.e.continuar. a. aposta. na. formação. profissional. são. alguns. dos.desafios.prioritários.Aproveitar.e.responder.às.tendências.criando.oportunidades.de.desenvolvimento.na.região.“interior”,.rural.e.não.só,.em.produtos.como.o.TER.(Turismo.no.Espaço.Rural),.Turismo.Náutico,.Gastro­nomia.e.Vinhos,.Golfe,.Turismo.Residencial,.entre.outros.Para.isso.importa,.pois,.promover.uma.intensa.articulação.entre.o.dinamismo.da.iniciativa.privada.empresarial.e.a.gestão.e.o.inves­timento.públicos.(gestão.urbanística,.gestão.ambiental,.ordena­mento.do.território).

Como avalia a evolução do sector de turismo na região em termos de oferta e de procura?

Quanto.à.oferta.instalada.(número.de.camas).no.período.de.2004/.2005,.assinala­se.um.crescimento.de.10,4%.na.capacidade.de.aloja­mento.. Quanto. à. procura,. as. dormidas. de. hóspedes. nacionais.e.estrangeiros.na.região,.teve.no.mesmo.período.(2004/2005).um.acréscimo.de.11,3%..De.realçar.que.a.procura.desde.o.ano.de.2001.revelou.algumas.quebras,.invertendo­se.essa.tendência.em.2004,.ano.de.recuperação..O.ano.de.2005.foi.bom.para.a.região,.até.porque,.se.considerarmos.que.Portugal.sofreu.nesse.período,.em.relação.a.período.homó­logo.de.2004,.uma.quebra.no.número.de.dormidas.nos.estabeleci­mentos.hoteleiros.de.mais.de.oito.milhões,.representando.menos.29,5%.de.dormidas,.podemos.afirmar.que.a.nossa.região.teve.um.bom. desempenho.. Estes. resultados. confirmam. a. oportunidade.

para. novos. investimentos. em. termos. de. oferta,. quer. a. nível. de.infra­estruturas.de.alojamento.quer.de.outros.serviços.e.produtos..Se.é.certo.que.nos.últimos.anos.a.nossa.região.tem.estado.retraída.em.termos.de.investimentos,.esse.facto.deve­se.em.parte.às.alte­rações.provocadas.pela.impossibilidade.de.acesso.a.Sistemas.de.Incentivos.por.parte.da.iniciativa.privada,.pela.entrada.em.vigor.do.novo.Plano.de.Ordenamento.da.Albufeira.do.Castelo.do.Bode.(POACB),. à. morosidade. que. caracteriza. o. processo. de. licencia­mento.de.projectos.turísticos.no.nosso.país.e.às.acessibilidades.deficientes.em.alguns.concelhos.Actualmente,.na.região.existem.vários.projectos. já. iniciados.ou.em.fase.de.conclusão,.outros.em.análise.nas.respectivas.entidades.competentes,.com.alguns.ainda.em.fase.de.consulta.de.viabilidade..De.iniciativa.privada,.em.diferentes.tipologias.e.áreas.de.actividade.turística,.os.investimentos.previstos.nos.próximos.tempos.são.os.seguintes:.Hotéis.de.4.e.5.estrelas.(6);.Aldeamentos.Turísticos.(2);.TER.(4);.Campos.de.Golfe.(3);.Projectos.de.Animação.–.Parque.Temá­tico. (1). e. Kartódromo. (1);. Parques. de. Campismo. (4),. entre. outros..Embora. em. diferentes. fases. de. desenvolvimento,. estes. investi­mentos.permitem.que.se.possa.afirmar.que.uma.nova.dinâmica.na.região.está.a.surgir.e,.assim,.responder.nos.próximos.tempos.não.só.ao.aumento.da.procura.mas.também.às.novas.motivações,.pois.são.investimentos.que.se.enquadram.num.destino.que.tem.na.diversidade.de.atractivos.turísticos.o.seu.ponto.mais.forte.e,.no. previsível. crescimento. da. procura. de. natureza. e. paisagem,.de.desportos.aquáticos,.de.turismo.cultural,.de.turismo.de.reuniões.e.negócios,.uma.oportunidade.e.a.sua.sustentação.do.processo.de. desenvolvimento. turístico. –. turismo. náutico,. golfe,. turismo.residencial,.turismo.rural,.etc.

Em que medida poderá a actividade turística da Região de Turismo dos Templários beneficiar com projectos de requalificação urbana e valorização ambiental das cidades, como o Programa Polis, ainda em curso na cidade de Tomar?

Toda.a.actividade.turística.beneficia.com.os.projectos.de.requali­ficação.urbana.e.valorização.ambiental,.pois.os.espaços.passam.a.ter.não.só.novas.aptidões.mas.também.outra.“dignidade”,.possi­bilitando.uma.utilização.e.fruição.mais.consentânea.com.os.novos.hábitos.e.exigências.dos.tempos.modernos..O.espaço.público,.como.local.de.encontro.e.de.estímulo.à.socialização,.tem.um.papel.mais.social,.oferecendo.alternativas.aos.espaços.de.lazer.urbanos.mas­sificados.como.são.os.centros.comerciais..O.Programa.Polis.é.um.exemplo.de.como.o.investimento.público,.quando. bem. sucedido,. pode. potenciar. o. investimento. privado..As.requalificações.urbanas.devem.induzir.o.investimento.privado,.despertando.os.proprietários.de.espaços.residenciais.e.os.empre­sários. para. a. necessidade. e. utilidade. de. requalificação. urbana.e.da.adaptação.dos.espaços.comerciais.aos.novos.ambientes.e.hábi­tos.de.consumo..Desta.forma.promove.o.bem­estar.social,.melho­rando.a.qualidade.de.vida.dos.residentes.e.dos.turistas.e.visitantes.Em.Tomar,.o.projecto.POLIS.encontra­se.ainda.em.execução..Algumas.intervenções.já.concretizadas,.nomeadamente.a.recuperação.e.requa­lificação.das.margens.do.Nabão.em.zona.urbana.e.de.parte.do.seu.leito,.indiciam.um.bom.resultado.na.intervenção..Não.sendo.ainda.visíveis.no.seu.todo,.os.benefícios.para.a.actividade.turís­tica.que.deverão.decorrer.da.concretização.do.POLIS,.as.intervenções.já.realizadas.e.a.criação.de.estacionamento.vieram.de.imediato.melhorar.a.qualidade.de.vida.dos.residentes,.promovendo.também.benefícios.aos.turistas..Sobre.o.POLIS.em.geral.um.alerta:.o.cami­nho.deve.ser.feito.“….evoluindo.e.preservando”..

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Manifesto.muita.preocupação.quanto.à.descaracterização.de.que.têm. sido. alvo. alguns. dos. locais. intervencionados. –. cidades. –,.onde. a. paisagem. urbana. perdeu. as. evidencias. da. acumulação.dos.tempos,.ou.seja,.parte.da.sua.história.em.beneficio.de.soluções.replicadas.em.vários.outros.locais,.eliminando.as.singularidades.que.cada.uma.encerrava..Assim.se.destrói.património.emocional,.vivências.históricas,.elementos.distintivos.em.benefício.de.uma.banalização.e.estandardização.–.idênticas.soluções.arquitectónicas,.idênticos.equipamentos.urbanos,. idênticos.materiais,.etc..–.que.são.o.contrário.daquilo.que.o.turista.procura,.a.diferença.

De acordo com dados do INE e do ITP, os principais destinos turísticos em Portugal têm sido Lisboa, o Algarve e a Região Autónoma da Madeira. No entanto, a criação de novos pólos de atracção turística é vista como uma medida susceptível de corrigir as assimetrias regionais e a litoralização do país.

Que.valências.considera.ter.a.região.que.preside,.com.os.seus.dez.concelhos,.para.tornar­se.um.destino.mais.competitivo.e.atractivo.em.determinados.nichos.de.mercado,.nacionais.ou.internacionais?.E.que.problemas.necessitam.de.ser.resolvidos.para.que.esse.objec­tivo.seja.alcançado?A.Região.dos.Templários.–.Floresta.Central.e.Albufeiras.tem.como.principal.produto.o.Touring.Cultural.e.Paisagístico..Vários.são.os.recursos. turísticos. primários. que. oferece,. numa. variedade. que.contém.elementos.de.diferenciação,.onde.é.possível.organizar.e.hie­rarquizar.produtos.susceptíveis.de.corresponderem.às.motivações.

As albufeiras, rios e a floresta

tornam a região um destino

recomendável que a par com

testemunhos dos Templários e dos

Cavaleiros de Cristo cruza interesses

e motivações diversas. Potencia a

criação de um novo pólo de

atracção e a sua consolidação como

destino alternativo para turismo.

dos.turistas.e.que.complementam.o.Touring..São.exemplos.disso.o. turismo.de.reuniões.e.de.negócio,.a.gastronomia.e.o. turismo.desportivo.na.vertente.aquática,.com.a.sua.oferta.de.vários.planos.de.água,.principalmente.nos.destinos.rurais,.onde.reconhecidas.praias.fluviais.fazem.os.encantos.dos.seus.visitantes..A.região.ofe­rece.diversidade.de.experiências.e.vivências..Integra.oferta.cultural.com.um.vasto.espólio.de.património.classificado,.incluindo.classi­ficações.de.Património.da.Humanidade.pela.UNESCO.quer.a.nível.de.património.cultural,.quer.ao.nível.de.património.natural..As.albu­feiras,.rios.e.a.floresta.tornam.a.região.um.destino.recomendável.que,.a.par.com.testemunhos.dos.Templários.e.dos.Cavaleiros.de.Cristo,.cruza.interesses.e.motivações.diversas..Potencia.a.criação.de.um.novo.pólo.de.atracção.e.a.sua.consolidação.como.destino.alternativo.para.turismo..Apostando.principalmente.em.segmentos.de.alto.valor,.casais,.turistas.com.motivações.culturais.e.seniores,.importa.criar.as.condições.para.que.as.expectativas.do.turista.não.sejam.defraudadas..Assim,.é.prioritário.que.se.promova.a.requa­lificação.e.qualificação.da.oferta.quer.ao.nível.de.algumas.infra­­estruturas. e. recursos. naturais,. quer. do. serviço. e. dos. recursos.humanos.O.percurso.é.evoluir.do.potencial.turístico.para.o.produto.turís­tico,.criando.novos.produtos.através.da.dinamização.do.patrimó­nio.cultural. tangível.e. intangível,.do.património.arquitectónico,..proporcionando.ao.turista.uma.experiência.dos.locais.visitados..Importa.agora.articular.os.recursos,.as.infra­estruturas,.os.equi­pamentos.de.apoio.e.serviços.e. integrá­los.no.destino. turístico..Envolver.todas.as.pessoas,.qualificá­las,.pois.nada.se.conseguirá.

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sem.envolver.as.comunidades.locais,.os.empreendedores.turísticos,.o.Estado.e.os.visitantes..Dar.maior.visibilidade,.quer.interna.quer.externamente,. criando. a. moda. pelo. destino.Templários,. desen­volver. uma. promoção. e. divulgação. a. uma. só. voz,. consertada.e.concentrada,.entre.os.diferentes.actores.privados.e.públicos.que.deverão. para. o. efeito. reunir. os. meios. necessários,. saber,. finan­ceiros.e.outros,.para.dessa.forma.criar.a.massa.crítica.que.permita.atingir.esse.objectivo.

Em Janeiro de 2006, o Governo lançou as linhas orientadoras do PENT 2006-2015 (Plano Estratégico Nacional do Turismo), no qual se reconhece a importância do sector do turismo como alavanca para o desenvolvimento socio-económico quer a nível regional, quer nacional. Na sua opinião, qual tem sido, e qual poderá vir a ser no futuro, o contributo desta actividade para o desenvolvimento social e económico dos dez concelhos abrangidos pela Região Templária?

Sendo. o. turismo. uma. actividade. geradora. de. infra­estruturas,.de.equipamentos,. de. actividades,. de. bens. e. serviços. transaccio­náveis.e.de.empregos,.pode.proporcionar.uma.verdadeira.cadeia.de.riqueza.com.repercussões.directas.nas.economias.locais,.regio­nais.e.na.economia.nacional..Porém,.nos.concelhos.da.região.não.será. razoável. atribuir. ao. turismo,. até. aos. dias. hoje. e. no. futuro.próximo,.um.peso.determinante.e.uma.importância.nuclear.no.seu. desenvolvimento. social. e. económico.. O. turismo. ainda. não.é.uma.actividade.dominante.em.nenhum.dos.concelhos.da.região,.poderá. vir. a. sê­lo. principalmente. em. concelhos. urbanos. e. em.alguns.que.confinam.com.planos.de.água.Na.generalidade,.nos.concelhos.urbanos.insere­se.uma.base.pro­dutiva.diversificada.onde.a.estratégia.turística.deverá.rever­se.na.defesa. de. recursos. histórico­culturais,. na. criação. de. produtos.turísticos.fortes.e.diferenciados,.de.qualidade.e.numa.promoção.muito.agressiva.e.contínua..Os.concelhos.de.cariz.rural.são.regiões.sem.uma.forte.vocação.turística.pelo.que.o.apoio.público.ao.seu.desenvolvimento.turístico.é.imprescindível,.por.exemplo.no.domí­nio.da.melhoria.das.acessibilidades,.nos.incentivos.a.estratégias.de.desenvolvimento,.de.comercialização.e.promoção.de.produtos.turísticos.decorrentes.das.características.naturais.desses.espaços.e.da.sua.tradição.rural.(aldeias.de.xisto,.turismo.natureza,.turismo.activo,.percursos.pedestres,.gastronomia,.tradições,.etc.).O.PENT.define.produtos.estratégicos.e.estabelece.pólos.de.desen­volvimento.turístico.que.resultam,.neste.último.caso.e.em.minha.opinião,. de. um. conjunto. de. situações/oportunidades. (investi­mento.privado.já.previsto.para.os.territórios.em.apreço).que.con­ciliadas.e.ajustadas.a.um.conjunto.de.interesses.e.a.alguns.recursos.turísticos.permitiram.definir.e.delimitar.zonas.do.país.que.mais.uma.vez.coincidem,.em.parte,.com.o.litoral.e.as.regiões.mais.desen­volvidas,.pelo.que.dificilmente.irão.contribuir.para.a.desejada.correc­ção.de.assimetrias.e.inverter.a.litoralização.do.país,.em.tempo.útil.Na.nossa.região.facilmente.se.identificam.recursos.(Património.da. Humanidade. cultural. e. natural). e. potencial. para. trabalhar.alguns.dos.produtos.estratégicos.identificados.pelo.PENT,.mas.o.seu.grau.de.desenvolvimento.como.produto.é.ainda,.na.maior.parte.dos.casos,.incipiente.e.necessita.de.requalificação.e.qualificação..Os.dez.concelhos.que.compõem.a.região,.onde.sete.confinam.com.a.albufeira.do.Castelo.do.Bode,.têm.projectos.privados.e.públicos.previstos.para.implementar,.comprovando.a.apetência.pela.activi­dade.do.turismo..Investimentos.que.se.identificam.com.produtos.PENT,.em.touring.cultural.e.paisagístico,.turismo.natureza,.turismo.residencial,.turismo.náutico,.entre.outros.

A.existência.de.um.Plano.Estratégico.para.o.Turismo.na.Albufeira.do.Castelo.do.Bode,.em.tempo.promovido.pela.Região.de.Turismo.dos.Templários.–.FCA,.em.parceria.com.as.autarquias.confinantes.com.a.albufeira,.a.CCDR­LVT.e.a.Região.de.Turismo.do.Centro,.per­mite.ultrapassar.em.tempo.oportuno.alguns.dos.constrangimentos.agora.existentes.O.recurso.local.–.reserva.de.água.para.produção.de.energia.–.trans­formou­se. num. recurso. nacional. –. reserva. estratégica. de. água.para.consumo.e.produção.de.energia.­,.provocando.externalidades.negativas.às.populações.destas.localidades,.ao.privá­las.em.parte.da.possibilidade.de.afectar.o.recurso.ao.turismo.e.a.outras.activi­dades.económicas..Importa.perceber.de.que.forma.tratar.os.legítimos.interesses.e.expectativas.destes.concelhos,.pois.que.na.sua.estra­tégia. de. desenvolvimento. está. presente. a. actividade. turística,.naturalmente.dirigida.de.forma.ecológica,.integrada.e.sustentável.

A afirmação da marca Portugal Turismo nos mercados internacionais constitui um dos principais eixos de intervenção do PENT 2006-2015. No que respeita à promoção da Região Templária no estrangeiro, que campanhas ou iniciativas têm sido levadas a cabo, e se pretendem empreender para potenciar os seus produtos e destinos? E em Portugal o que tem sido feito? Quais os resultados concretos já alcançados e a alcançar com essas iniciativas?

A. promoção. da. Região. Templária. no. estrangeiro. não. pode. ser.desenvolvida.de.forma.isolada,.sendo­o.no.seio.da.Agência.Regional.de.Promoção.Turística,.em.conjunto.com.outras.regiões.de.turismo.e.o.Turismo.de.Lisboa..Participa.em.acções.específicas.como.a.pre­sença.em.feiras,.workshops,.press.e.fam trips,.visitas.educacionais.e.outros.meios.de.promoção..Assim.se.dá.cumprimento.às.políticas.nacionais.de.turismo.nesta.matéria.de.promoção..A.Região.de.Turismo,.na.promoção,.só.pode.actuar.directamente.no.mercado.interno..As.acções.desenvolvidas.em.Portugal.são.diversificadas.e.realizadas.através.de.diferentes.meios.(Publicidade,.Publicações,.Internet,.Press trips,.etc.)..Destaca­­se.a.promoção.feita.em.parceria.com.o.Instituto.de.Turismo.Portugal.(ITP).e.a.Associação.Nacional.das.Regiões.de.Turismo.(ANRET).no.contexto.do.projecto.“Escapadinha”,.a.presença.em.vários.eventos.nacionais. e. regionais,. como. feiras. de. turismo. e. de. artesanato,.a.promoção.de.eventos.e.a.produção.e.distribuição.de.vários.mate­riais. de. informação.. Este. conjunto. de. acções. tem. como. pressu­posto.atingir.objectivos.de.reconhecimento.da.região.como.destino.turístico.e.o.crescimento.do.número.de.dormidas.em.estabeleci­mentos.de.alojamento.classificado.

É hoje unanimemente reconhecido que a expansão do sector do turismo deve ser impulsionada no quadro de uma perspectiva de planeamento e desenvolvimento sustentáveis. Como é que a Região de Turismo dos Templários assegura a compatibilização entre a fruição turística dos espaços e a salvaguarda do património histórico e arquitectónico, do meio ambiente e dos recursos naturais?

As.regiões.de.turismo.têm.uma.actuação.que.se.caracteriza.essencial­mente.pela.divulgação.e.promoção.da.sua.área.de.influência,.ou.seja,.a.jusante.da.cadeia.de.valor..De.alguns.anos.a.esta.parte,.e.tam­bém.na.sequência.da.criação.de.gabinetes.de.apoio.ao.investidor,.as.regiões.de.turismo.passaram.a.fazer.o.acompanhamento.dos.potenciais.investidores.e.dos.empresários.na.actividade,.promo­vendo.a.“ponte”.entre.a.Administração.Pública.e.o.investidor,.o.que.

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passou.a.fazer.parte.das.suas.rotinas.normais..O.seu.envolvimento.na.emissão.de.pareceres.sobre.projectos.e.outros.investimentos,.e.a.sua.presença.em.diferentes.órgãos.consultivos.na.área.do.planea­mento.da.gestão.dos.recursos,.possibilitaram.as.condições.para.o.seu.envolvimento.nas.decisões.de.planeamento.a.vários.níveis..Assim,. e. como. não. podia. deixar. de. ser,. as. suas. preocupações. e.actividade.também.se.estendem.à.problemática.da.salvaguarda.do.património.histórico.e.arquitectónico,.da.preservação.do.meio.ambiente.e.dos.recursos.naturais,.pois.que.se.trata.da.matéria­­prima.de.qualquer.destino.turístico.A. parceria. com. outras. entidades. públicas. tem­se. reforçado. no.sentido.de,.perante.problemas.comuns,.se.encontrar.soluções.comuns.que.tenham.como.consequência.a.melhoria.e.a.preservação.dos.recursos,. como. são. exemplo. as. parcerias. com. o. ICN,. Parques.Naturais,.Autarquias,. IPPAR.–. Instituto.Português.do.Património.Arquitectónico,.CCDR’s,.Institutos.Politécnicos,.e.outros.agentes..Não. sendo. um. destino. de. massas,. na. região. tem­se. facilmente.monitorizado. os. espaços. para. a. fruição. turística,. não. existindo.quaisquer.problemas.em.termos.de.capacidade.de.carga.turística.de.recursos.ou.localidades.Existem.contudo.bastantes.problemas.na.preservação.de.espaços.naturais,.localizados,.e.ainda.na.preservação.de.algum.património.construído.e.classificado,.decorrentes.da.falta.de.meios.financeiros.públicos,.que.urge.ultrapassar.no.imediato,.de.forma.a.inverter.o.curso.de.degradação.

A inovação, o conhecimento, a qualidade e a formação são actualmente requisitos incontornáveis a uma estratégia de desenvolvimento e reforço da competitividade do sector de turismo. Que medidas estão a ser tomadas para que a Região Templária consiga responder eficazmente a essas exigências?

Qualificar. serviços,. o. destino. e. qualificar. os. recursos. humanos.são.objectivos.perseguidos.há.vários.anos.e.que.a.todo.o.tempo.se.encontram.por.atingir,.pois.as.dinâmicas.actuais.obrigam.a.uma.adaptação.constante..Hoje,.a.conjuntura.é.de.descontinuidade..Padrões.de.comporta­mento.e.estilos.de.vida.que.se.alteram.e.consequentes.transfor­mações.nos.hábitos.sociais.obrigam.a.todo.o.tempo.a.reinventar.o.turismo..Novos.produtos,.novos.equipamentos.respondendo.a.novos.tipos. de. utilidade,. logo. de. utilização,. para. as. quais. os. recursos.humanos.devem.estar.devidamente.preparados..Neste. quadro,.a.Região.de.Turismo. tem. particular.preocupação.com. as. questões. do. ensino,. educação. e. formação. profissional,.acompanhando.no.âmbito.dos.Conselhos.Consultivos.do.Politécnico.de.Tomar.e.da.Escola.Profissional.o.planeamento.anual..Promove.cursos.de.formação.para.activos.em.parceria.com.o.INFTUR.e.as.escolas.de.hotelaria.de.Lisboa.e.Coimbra.Qualificar.e.formar,.aprender.a.fazer.bem.à.primeira,. tendo.em.atenção.a.mudança,.as.novas.realidades,.os.novos.hábitos.de.con­sumo,.em.suma,.ouvir.a.voz.do.consumidor/.turista.e.agir..

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A Região de Turismo dos Templários, Floresta Central e Albufeiras é.constituída.por.dez.conce­lhos:. Entroncamento,. Ferreira. do. Zêzere,. Mação,.Oleiros,.Proença­a­Nova,.Sardoal,.Sertã,.Tomar,.Torres.Novas.e.Vila.de.Rei..

As.Rotas.da.Água,.do.Vinho,.das.Aldeias,.do.Infante.e.dos.Templários.representam.cinco.grandes.percursos.turísticos.que.os.visitantes.podem.realizar..Através.deles.mergulha­se.no.património.histórico,.cultural.e.natural.desta.região,.localizada.no.coração.de.Portugal..

Dornes / Ferreira do Zêzere

Dornes.é.considerada.um.dos.principais.destinos.turísticos.do.con­celho.de.Ferreira.do.Zêzere,.dado.o.património.histórico.e.natural.que.abundam.nesta.milenar.e.pitoresca.aldeia­península,.banhada.pelas.belas.águas.do.rio.Zêzere.

De.entre.os.principais.monumentos.existentes.sobressai.a.torre.templária.pentagonal.de.Dornes,.dos.tempos.da.Reconquista,.junto.da.qual.foi.construída.a.igreja.matriz.que.tem.a.Nossa.Senhora.do.Pranto.como.símbolo.de.devoção,.e.a.quem.se.presta.culto.desde.a.Idade.Média..Podem.admirar­se.aqui.objectos.de.arte.sacra.do.século.XVI,.bem.como.assistir.a.concertos.que.mantêm.vivo.o.órgão.de.tubos.de.Dornes.

O.turismo.histórico.vê­se.complementado.com.o.turismo.natural,.porquanto.o.concelho.de.Ferreira.do.Zêzere.beneficia.de.um.dos.maiores.lagos.artificiais.da.Europa..Com.sessenta.quilómetros.de.extensão,. a. albufeira. de. Castelo. de. Bode. é. palco. de. desportos.aquáticos.como.o.mergulho,.o.remo.e.a.canoagem,.a.par.de.circui­tos.de.barco.como.o.que.é.proporcionado.a.bordo.do.São Cristóvão..Também.as.feiras,.festas.e.romarias.contribuem.para.a.animação.turística.desta.região.

Mação

Conhecida.pelas.suas.“boas.águas,.bons.ares.e.bom.azeite”,.Mação.é.por.muitos.designada.“a.terra.dos.três.‘Ás’”..Trata­se.de.um.con­celho.de.vasta.riqueza.paisagística,.serpenteado.por.diversas.ser­ras.e.ribeiras..As.serras.de.Santo.António,.da.Amêndoa,.da.Galega.e.das.Águas.Quentes.situam­se.a.norte;.o.Bando.dos.Santos.e.o.Bando.de.Codes.ao.centro;.as.serras.da.Alfeijoeira,.do.Casal.e.a.do.

Moledo.a.sul..Irrigam.este.cenário.as.ribeiras.do.Coadouro,.Boas.Eiras,.Pracana,.Ocreza.e.Bostelim..

Com.um.património.arqueológico.assinalável.podem.testemunhar­­se.nesta.região.vestígios.do.Paleolítico,.descobertos.nas.proximi­dades.da.ribeira.das.Boas.Eiras,.bem.como.as.gravuras.rupestres.encontradas.nos.vales.do.Ocreza.e.do.Tejo,.com.destaque.para.a.repre­sentação.de.um.cavalo.que.se.pensa.ter.mais.de.20.mil.anos..

O.legado.histórico.mais.simbólico.do.concelho.de.Mação.integra.a. anta. da. foz. do. rio. Frio. e. diversos. monumentos. classificados,.como. o. Castelo.Velho. do. Caratão,. da. Idade. do. Bronze;. o. Castro.de.São.Miguel,.da.Idade.do.Ferro;.inúmeras.pontes.romanas.–.de.que.as.pontes.da.Ladeira.e.da.Isna.constituem.exemplos.–.a.que.se.junta.a.Estação.Arqueológica.Romana.do.Vale.do.Junco.

A. praia. fluvial. da. Ortiga. é,. de. todas. as. da. região,. aquela. que.melhores.infra­estruturas.de.apoio.oferece..O.artesanato.é.também.uma.atracção.turística.deste.concelho,.nomeadamente.as.peças.de. olaria. e. latoaria,. brinquedos. de. madeira;. tecelagem,. rendas.e.bordados.em.linho,.entre.outros.produtos.

Sardoal

Berço.da.infanta.D..Maria,.filha.de.D..Duarte.e.de.D..Leonor,.que.aqui.nasceu.em.7.de.Dezembro.de.1432.e,.quatro.séculos.mais. tarde,.palco.das.Invasões.Francesas,.o.Sardoal.guarda.uma.série.de.regis­tos.de.vários.períodos.da.história.de.Portugal..O.século.XVI.foi.par­ticularmente.áureo.para.a.terra,.a.ele.remontando.a.fundação.da.Santa.Casa.da.Misericórdia,.a.edificação.da.Igreja.da.Misericórdia,.a. construção. do. Convento. de. Santa. Maria. da. Caridade,. assim.como.a.elevação.do.Sardoal.a.vila,.por.D..João.III,.em.1531.

Actualmente,. proliferam. no. Sardoal. vestígios. arqueológicos.. Da.época.romana.encontramos.alguns.troços.de.calçada:.um,.próximo.do.casal.da.Graça,.em.Valhascos,.outro,.junto.à.Ponte.de.S..Francisco..Quanto.à.presença.Árabe,.embora.seja.dada.como.certa,.não.se.avistaram.ainda.sinais.da.mesma..

Testemunhos.do.espólio.trazido.da.Índia.e.do.Brasil.na.época.dos.Descobrimentos.podem.ser.admirados.na.Igreja.Matriz.do.Sardoal,.na.Igreja.da.Misericórdia,.na.Igreja.de.Santa.Maria.da.Caridade,.na.Casa.dos.Almeidas.e.em.diversas.quintas,.como.a.do.Vale.da.Lousa.ou.do.Constâncio,.a.Quinta.das.Gaias.e.a.do.Arcez..

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Tomar

Situada.nas.margens.do.rio.Nabão,.Tomar.é.um.marco.da.história.de. Portugal. e. dos. Descobrimentos,. tendo. sido. conquistada. aos.Mouros,.em.1147,.por.D..Afonso.Henriques..

Reconhecido. em. 1984. como. Património. Mundial. pela. UNESCO,.o.Convento.de.Cristo.destaca­se.como.o.principal.cartão.de.visita.da.cidade..Pertenceu.à.Ordem.dos.Templários.e.tornou­se,.em.1344,.propriedade. da. sucessora. Ordem. de. Cristo.. Aqui. encontram­se.registos.de.todos.os.movimentos.estéticos.e.arquitectónicos,.do.século.XII.ao.XVIII,.sendo.de.salientar.o.estilo.manuelino.da.Janela.do.Capítulo..Mas.este.ex­líbris.da.cidade.permite.não.só.revisitar.a.história.como.também.recriá­la.em.determinados.eventos.que.ali. ocorrem,. proporcionando. momentos. únicos. de. diversão. aos.visitantes..

Tomar.oferece,.para.além.do.convento.e.do.castelo.templário.que.tem.a.charola.como.marca,.um.centro.histórico.de.traçado.medieval.onde.se.concentra.o.maior.núcleo.de.monumentos.nacionais.do.distrito,. bem. como. edifícios. museológicos. e. espaços. de. lazer..A.Sinagoga,.um.dos.raros.templos.judaicos.de.Portugal.erguido.no.século.XV,.a.Igreja.Matriz.de.São.João.Baptista,.a.Igreja.de.Santa.Maria.dos.Olivais,.a.Capela.de.Nossa.Senhora.da.Conceição,.o.Par­que.do.Mouchão.e.o.Museu.dos.Fósforos.–.cuja.colecção.com.mais.de.50.mil.exemplares.é.a.maior.da.Europa.–.são.outras.propostas.aliciantes.a.contemplar.no.roteiro.da.cidade.

No.domínio.das.festividades,.a.Festa.dos.Tabuleiros.constitui.um.ritual.de.religiosidade.popular.cristã,.inspirado.em.cultos.pagãos.associados.à.fertilidade..É.uma.das.mais.antigas.e.tradicionais.de.Portugal..Com.início.no.Domingo.de.Páscoa,.esta.festividade.do.Espírito.Santo.é.animada.por.um.cortejo.de.centenas.de.tabuleiros.decorados. com. pão. e. cestos. de. coloridas. flores,. transportados.na.cabeça.de.raparigas.vestidas.de.branco.que.percorrem.as.ruas.de.Tomar,.também.conhecida.por.“cidade.jardim”.

Torres Novas

Conquistada.aos.Árabes.em.1148.por.D..Afonso.Henriques,.mais.tarde.perdida,.para.vir.a.ser.definitivamente.reconquistada,.Torres.Novas.recebe.das.mãos.de.D..Sancho.I.o.primeiro.foral,.em.1190..

Consta.que.para.além.dos.árabes.foi.habitada.por.gregos,.celtas.e.romanos,.sendo.a.presença.destes.últimos.marcada.pelas.imper­díveis.ruínas.da.vila.de.Cardílio,.situada.nos.arredores.da.cidade.e.onde.foi.encontrado.um.significativo.espólio.arqueológico.

Tal.como.os.demais.concelhos.da.Região.Turística.dos.Templários,.Torres.Novas.é.um.foco.turístico.de.elevado.valor.histórico,.arqueo­lógico,.espeleológico.e.paisagístico..Contribuem.para.essa.riqueza.patrimonial. inúmeras. referências.. O. castelo. medieval,. antiga.fortaleza.árabe.e.monumento.nacional.de.enorme.grandiosidade,.tornou­se.o.epicentro.do.primeiro.aglomerado.populacional.de.Torres.Novas.o.qual,.até.ao.século.XVI,.permaneceu.no.interior.da.mura­lha.que.circundava.a.fortaleza..

As.igrejas.da.Misericórdia.e.de.Nossa.Senhora.do.Carmo,.ambas.classificadas. como. imóveis. de. interesse. público,. constituem,.de.entre.as.mais.de.uma.dezena.de.igrejas.e.capelas.de.Torres.Novas,.pontos.incontornáveis.de.passagem,.assim.como.a.Ermida.gótica.de.Nossa.Senhora.do.Vale,.o.mais.antigo.templo.do.concelho..As.grutas.de.Lapas.que,.segundo.estudos.recentes,.remontam.à.época.romana,.situam­se.na.aldeia.com.o.mesmo.nome,.a.dois.quilómetros.de.Torres.Novas,.sendo.também.um.pólo.de.interesse.turístico.a.assinalar.

No.Museu.Municipal.Carlos.Reis,.fundado.em.1933,.existe.um.impor­tante.núcleo.arqueológico,.a.par.de.um.valioso.acervo.de.pintura.quinhentista.e.18.obras.do.pintor.a.que.o.museu.é.dedicado..O.Museu.de.Etnografia.e.Arqueologia.Industrial,.assim.como.o.Museu.Agrí­cola.de.Riachos.permitem.que.se.apreciem.as.referências.culturais.e.as.condições.de.vida.tradicionais.da.região.

Propostas.igualmente.atractivas.no.domínio.do.turismo.cultural.e. ecológico. deste. concelho. são. as. visitas. à. Quinta. do. Marquês.e.à.Casa.Memorial.Humberto.Delgado..Também.à.Reserva.Natural.do. Paúl. de. Boquilobo,. a. primeira. área. protegida. integrada. na.Rede.Mundial.de.Reservas.da.Biosfera.da.UNESCO,.dada.a.riqueza.da.sua.flora.e.das.aves.migratórias.que.ali.se.abrigam.no.Outono.e. Inverno.. A. esta,. junta­se. o. Parque. Natural. das. serras. de. Aire.e.Candeeiros,.onde.se.encontra.o.geomonumento.da.Pedreira.da.Galinha. e. o. mais. extenso. (147. metros). e. antigo. (175. milhões. de.anos).trilho.de.pegadas.de.dinossáurios.do.mundo..

Para.mais.informações.visite.o.site.oficial.www.rttemplarios.pt

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António.Mega.Ferreira,.Presidente.do.Conselho.de.Administração.do.CCB,.abre.a.série.de.entrevistas.a.responsáveis.por.equipamentos.culturais.da.região.

de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo..Nesta.entrevista.fala.do.futuro.do.Centro.Cultural.de.Belém,..das.ideias.que.tem.para.aquele.espaço,.das.suas.convicções.e.estratégias.

para.a.renovação.da.programação.cultural.

Acontecimento.|.Luís de Carvalho

CCBfesta das artes

Ao completar o seu primeiro ano de mandato como Presidente do Conselho de Administração da Fundação Centro Cultural de Belém, que balanço faz?

É.ainda.prematuro.fazer.balanços,.porque.a.primeira.temporada.na.programação.da.qual.assumi.responsabilidades.ainda.vai.a.meio..No.entanto,.creio.que.se.conseguiu,.com.os.meios.disponíveis.à.partida,.dar.uma.certa.coerência.à.programação,.arriscar.em.alguns.acontecimentos.de.grande.dimensão,.propor.uma.oferta.de.espec­táculos.mais.equilibrada.(em.boa.parte.resultante.de.uma.nova.filosofia.de.trabalho.com.os.produtores.privados).e.começar.a.dina­.mizar.os.amplos.espaços.públicos.do.CCB..Além.disso,.“mexeu­se”.no.próprio.edifício:.instalaram­se.as.plataformas.elevatórias.para.deficientes. há. muito. reclamadas,. criou­se. um. novo. sistema. de.sinalética.encomendado.ao.designer.Francisco.Providência.e.alterou­­se.a.denominação.das.diversas.salas.do.Centro.de.Reuniões.e.do.Centro.de.Espectáculos,.dando­lhes.nomes.de.criadores.e.artistas.portugueses.do.século.XX,.de.Amália.Rodrigues.a.Eugénio.de.Andrade,.de.Fernando.Pessoa.a.Carlos.Paredes.

Que estratégia de programação foi desenhada para o CCB? Existem áreas prioritárias?

Com.a.decisão.do.Governo.de.entregar.a.totalidade.do.Centro.de.Exposições.a.uma.nova.fundação,.decisão.que.ocorreu.dois.meses.após.a.minha.entrada.em.funções,.o.CCB.viu­se.reduzido.às.suas.valências.de.espectáculos.e.de.animação,.ambas.complementadas.e.apoiadas.financeiramente.pela.actividade.comercial..Como.centro.de. espectáculos,. o. CCB,. pela. natureza. dos. seus. equipamentos,.é.sobretudo.uma.casa.para.a.música.e.para.a.dança..A.música.clás­sica.e.o.jazz.assumem.na.programação.de.2006/2007.um.especial.relevo,. e. esta. orientação. deve. consolidar­se. nos. próximos. anos..Mas.a.generosidade.dos.espaços.públicos.é.um.desafio.à.imagi­nação.dos.programadores:.no.Verão.de.2007.haverá.pela.primeira.vez.uma.oferta.diversificada.especialmente.adequada.à.estação,.com.um.grande.número.de.espectáculos.ao.ar.livre,.do.novo­circo.ao.jazz,.do.teatro.de.marionetas.à.música.multiétnica.

Um dos objectivos da sua gestão será o de terminar o último módulo previsto no projecto de Gregotti/ Salgado. Que valências estão pensadas para aí? Que modelo de financiamento irá viabilizar a sua concretização?

Na.realidade,.o.projecto.original.prevê.mais.dois.módulos,.a.implan­tar.nos.17.mil.metros.quadrados.de.terreno.que.ficam.por.trás.da.Praça. do. Museu.. Um. deles,. destinado. a. ser. um. hotel. de. luxo,.deverá.ser.autofinanciado,.através.do.mecanismo.de.concessão.do.direito.de.superfície.por.prazo.bastante.dilatado.que.nos.é.per­mitido.pelo.Estatuto.da.Fundação..O.outro.módulo.deverá.albergar,.para.lá.de.uma.área.comercial,.uma.biblioteca.e.centro.de.docu­mentação.e.um.auditório.com.uma.capacidade.intermédia.entre.o. Pequeno. e. o. Grande. Auditório.. É,. naturalmente,. um. equipa­mento.de.financiamento.mais.complexo,.já.que.a.área.comercial.prevista.é.complementar.da.oferta.cultural,.não.libertando.por­tanto.recursos.suficientes.para.financiar.a.construção..Mas,.em.ambos.os.casos,.temos.que.esperar.melhores.dias:.é.de.elementar.prudência.e.sã.gestão.que,.quando.os.constrangimentos.orçamen­tais.aumentam,.não.nos.abalancemos.a.investimentos.novos,.para.os.quais.é.difícil.encontrar.cobertura.financeira.

É de opinião que a formação de públicos é imprescindível para as artes do espectáculo? O que está a ser feito nesta área?

De.que.falamos.quando.falamos.de.formação.de.públicos?.Como.é.que,.enquanto.elemento.do.público,.eu.me.formei?.Vendo,.vendo.muito,.vendo.e.ouvindo.e.lendo.o.máximo.que.pude.ao.longo.da.minha.vida..Do.ponto.de.vista.dos.agentes.culturais,.o.primeiro.factor.de.formação.de.(novos).públicos.consiste.na.quantidade.e.diversi­dade. da. oferta. proporcionada. ao. número. mais. amplo. possível.de.potenciais. consumidores,. onde. quer. que. eles. se. encontrem..Mas.é.natural.que.se.introduzam.nessa.oferta.critérios.qualitativos.de.comunicação.que.favoreçam.a.emergência.de.novos.segmentos.de.público..Deixe­me.dar­lhe.um.exemplo:.uma.da.nossa.maior.preo­cupação,.em.termos.de.programação.musical,.é.aquilo.a.que.eu.gosto.de.chamar.a.“des­guetização”.da.música.contemporânea..

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Tenho.a.sensação.de.que,.à.excepção.da.música.pop.e,.em.parte,.do. jazz,.entrámos.no.século.XXI. ignorando. largamente.o.muito.que.se.criou.de.novo.e.interessante.no.século.passado..O.que.esta­mos.a.tentar,.na.programação.do.CCB,.é.“dar”.essa.música.ao.público.contextualizando­a,. estabelecendo. pontes. e. dando. a. conhecer.linhas.de.continuidade..O.concerto.de.Páscoa.de.2007,.juntando.sobre.um.mesmo.tema.(As Sete Últimas Palavras de Jesus Cristo na Cruz). peças. de. Haydn. e. da. compositora. contemporânea. Sofia.Gubaidulina. é. um. exemplo. dessa. experiência,. que. se. pretende.consolidar.com.a.apresentação.de.quatro.quartetos.de.câmara.que.seguem.esta.mesma.linha.de.programação,.e.beneficiando.ainda.dos.muito.inovadores.programas.da.Orquestra.Metropolitana.de.Lisboa. e. da. Orquestra. Sinfónica. Portuguesa.. Eu. acredito. que.ganhámos.alguns.novos.admiradores.da.música.de.Schostakovich.com.o.ciclo.que.lhe.dedicámos,.a.propósito.do.centenário.do.seu.nascimento.É.por.aí,.mais.do.que.pela.política.dos.preços.muito.baixos.(que.nem.sequer.estamos.em.condições.financeiras.de.suportar),.que.eu.penso.podermos.contribuir.para.atrair.novos.públicos,.dando­­lhes.expressão.mesmo.quando.não.se.sabia.que.eles.existiam.

Acredita que a Região de Lisboa e Vale do Tejo tem possibilidades de se afirmar num contexto ibérico através da sua oferta cultural? Que políticas podem ser propostas?

Claramente..Arrisco­me.mesmo.a.dizer.que,.já.hoje,.Lisboa.é,.junta­mente.com.Madrid.e.Barcelona,.um.dos.três.grandes.pólos.culturais.da.Península..Mas.creio.que.a.etapa.seguinte.deve.ser.a.de.“marketar”.essa. oferta. no. próprio. mercado. espanhol,. em. relação. ao. qual.mantemos.uma.reserva.que.é.fruto.do.ressentimento..E.é.preciso,.naturalmente,.desenvolver.relações.de.parceria.que.nos.possibili­tem.aceder.ao.circuito.internacional.em.melhores.condições.finan­ceiras.do.que.aquelas.de.que.podemos.dispor.actuando.sozinhos..Mas,. para. isso,. torna­se. também. necessário. estabelecer. pontes.e.formas.de.intercâmbio.que.até.aqui.só.escassa.e.pontualmente.têm. existido.. Existem. em. Espanha. hoje. três. ou. quatro. grandes.orquestras. sinfónicas.. Já. tocaram. em. Lisboa?. E. da. meia. dúzia.de.excelentes.pianistas.de.que.dispomos,.quantos.actuam.regular­mente.em.Espanha?.Pela.nossa.parte,.estamos.a.trabalhar.nisso:.gostaríamos.de.organizar,.em.2008,.um.ciclo.de.música.ibérica,.ao.longo.da.temporada,.com.a.participação.de.artistas.portugueses.e.espanhóis.–.e.que.esse.ciclo.fosse.replicado.depois.numa.cidade.espanhola.

Existem excelentes equipamentos culturais nas capitais de distrito que deveriam trabalhar em rede, pondo em prática uma política de descentralização. Em sua opinião, o que tem falhado?

Alguns,.valha.a.verdade,.já.trabalham..Mas.há.um.caminho.enorme.a.percorrer..Eu.acho.que,.no.essencial,.o.que.falta.é.perspectiva.na.gestão.dos.investimentos.em.cultura..É.claro.que.os.equipamen­tos.são.indispensáveis..Mas,.depois,.há.dinheiro.para.programar?.É.como.se.toda.a.nossa.energia.criativa.se.esgotasse.no.gesto.de.inaugurar.a.obra.pública,.mas.na.realidade.deparamo­nos.com.uma.situação.de.subfinanciamento.crónico.desses.equipamentos,.por.parte.de.autarquias.que,.no.entanto,.os.reclamam.e.apregoam.como.obra.sua.(e.o.Estado.central.também.tem.a.sua.responsabi­lidade.neste.estado.de.coisas)..Há,.apesar.disso,.excepções,.realidades.emergentes.interessantes:.recentemente,.promovemos,.conjunta­mente.com.o.Rivoli.e.o.Teatro.de.Faro,.o.espectáculo.de.uma.com­

panhia.francesa.que.vinha.actuar.nos.três.sítios..Mas.participamos.activamente. em. pelo. menos. duas. redes,. uma. das. quais. junta.14..centros.produtores.de.espectáculos.espalhados.por.todo.o.país,.na. tentativa. de. descobrir. e. apresentar. os. trabalhos. de. Jovens.Artistas.Jovens.

Como aproveitar e racionalizar os financiamentos comunitários tendo em conta as restrições do próximo QREN? Investir em equipamentos? Na formação de gestores culturais?

Do.que.já.lhe.disse,.resulta.que.tenho.um.grande.cepticismo.em.relação.à.construção.de.novos.equipamentos.culturais,.enquanto.os. que. já. existem. não. tiverem. uma. vida. saudável. e. produtiva..Todos. os. dias. vejo. anunciar. (ou,. pelo. menos,. reivindicar),. daqui.e.dali,.novos.museus.e.auditórios..Pois.sim,.mas.será.avisado.pôr.em.marcha.novos.museus.na.mesma.altura.em.que.se.reduz.o.finan­ciamento.aos.já.existentes?.É.uma.política.muito.discutível.e,.a.meu.ver,.absolutamente.errada..Nos.últimos.vinte.anos,.construíram­­se.centenas.de.equipamentos.culturais.pelo.país.fora,.alguns.dos.quais.claramente.sobredimensionados..Quantos.têm.uma.tempo­rada.regular.de.espectáculos.e.actividades.culturais?.Uma.meia.dúzia..De.modo.que,.não.excluindo.que.há.situações.de.carência.infra­estrutural. que. têm. de. ser. resolvidas,. me. parece. mais. útil.orientar. os. recursos. disponíveis. para. a. criação. de. condições. de.eficácia.para.a.oferta.existente.e.de.formação.de.meios.humanos.capazes.de.assegurarem.uma.oferta.sustentada.no.tempo..

O CCB é um dos equipamentos culturais mais importantes para a cidade de Lisboa. Pensa estabelecer programas de co-produção com outros agentes europeus? Como?

Europeus.ou.americanos..Ou.mesmo.portugueses..Em.2007/2008,.o.CCB.vai.ser.co­produtor.de.uma.nova.criação.do.The.Wooster.Group,.que.envolve.outras.instituições.europeias.e.norte­ameri­canas..Estamos.a.estudar.uma.proposta.do.Piccolo.Teatro.di.Milano.para.nos.associarmos.à.produção.de.um.festival.dedicado.ao.teatro.de.Goldoni..Já.em.2007.desenvolveremos.duas.criações.em.co­pro­dução.com.o.Teatro.de.S..João,.do.Porto..E.estamos.a.trabalhar.com.o.Teatro.Municipal.de.S..Luiz.para.a.realização.em.Lisboa,.em.2008,.de.um.grande.festival.dedicado.a.Pina.Bausch..Mas.é.verdade.que.nem.sempre.há.receptividade.de.algumas.instituições.portugue­sas.para.trabalharem.connosco.em.co­produção..É.pena,.mas.é.a.mentalidade.que.temos.

Em sua opinião, o que é necessário fazer para que Lisboa se afirme como uma das capitais culturais europeias?

Comunicar.–.e.bem..Alguém.tem.a.noção.de.que.a.actual.tempo­rada.da.Fundação.Gulbenkian.é,.provavelmente,.em.intensidade.e.em.qualidade,.a.melhor.temporada.de.música.clássica.do.mundo.inteiro?. Lisboa. precisa,. neste. domínio,. de. se. promover. como.um.destino.cultural.de.primeira.linha..Quando.chegamos.a.Paris.e.Londres,.não.vamos.à.procura.dos.concertos,.exposições,.espectá­culos.que.lá.se.apresentam?.Por.que.estranha.razão.é.que.os.que.nos.visitam.haviam.de.ser.diferentes.de.nós?.Ora,.para.um.turista.interessado.que.aterre.em.Lisboa,.em.qualquer.dia.do.ano,.há.sem­pre.coisas.que.estão.a.acontecer..Só.que.a.comunicação.é.frouxa,.aleatória,. envergonhada.. E,. se. não. dominar. o. português,. então.fica.praticamente.a.zero..Há.uma.questão.de.atitude.(que.é.tam­bém.cultural).que.se.nos.coloca.se.queremos.valorizar.aquilo.que.temos..Ninguém.o.fará.por.nós..

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Em Sintra, o Museu do Brinquedo

propõe uma viagem pela história

do homem e desse gesto, tão inútil

como imprescindível, que é brincar.

São cerca de 40 mil peças de uma

colecção privada, reunida ao longo

de mais de 50 anos. E, até Fevereiro,

convida a ver a exposição temporária

Bombeiros, Heróis de Sempre.

Está aberto também no Dia de Natal.

Noblesse oblige.Património.|.Carla Maia de Almeida

Fotografia.|.Guto Ferreira

a vida interior dos brinquedos

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N a história do Museu do Brinquedo há.episódios.originais,.como.o.caso.daquele.turista.inglês.que.se. encontrou. no. cortejo. de. coroação. da. rainha.Isabel.II,.reduzido.à.miniatura.de.um.soldado.de.cavalaria..«I’m.here!.I’m.here!»,.exclamou,.e.a.seguir.

saiu.porta.fora.a.chamar.pela.mulher,.para.que.também.ela.viesse.partilhar.aquela.estranha.sensação,.uma.pessoa.descobrir­se.de.repente.numa.vitrina,.exposta.à.curiosidade.alheia..Digamos.que.não.acontece.todos.os.dias..Aconteceu,. também,.alguém.chorar.ao.rever.o.único.brinquedo.permitido.a.uma.infância.pobre,.igual.a.tantas.outras..Era.só.um.arco.de.ferro.com.um.gancho.ao.lado,.feito.para.rolar.na.terra.ou.na.estrada,.mas.a.memória.dessa.emo­ção.regressou.e.venceu­o.ali.mesmo..Num.instante,.a.vida.toda..Quem.sabe.onde.o.levou.o.arco.a.rolar..

O.geógrafo.grego.Artemidoro.de.Éfeso.escreveu,.no.seu. tratado.Dos Sonhos,. que.“quando. sonhamos. que. conduzimos. um. arco,.isso.significa.que.estamos.no.caminho.de.uma.vida.difícil.mas.que.será.seguida.de.uma.superabundância.de.felicidade.”.Só.per­guntando.àquele.visitante.poderíamos.saber.se.foi.mesmo.assim,.se.a.felicidade.cresceu.e.se.multiplicou,.resgatando.uma.infância.atropelada;.mas.é.evidente.que.certas.perguntas.não.se.fazem,.pelo.menos.de.qualquer.maneira..E,.no.entanto,.é.sobretudo.para.isso.que.os.brinquedos.servem,.diz.João.Arbués.Moreira,.o.homem.que. está. na. origem. desta. preciosa. colecção:.“Toda. a. nossa. vida.é.uma.tentativa.de.transformar.os.sonhos.em.realidade,.e.os.brin­quedos.são.a.nossa.primeira.ferramenta.”.

Começou.a.coleccionar.desde.os.14.anos..Mas.apetece.dizer.“desde.sempre”,.porque.tudo.principiou.muito.antes..O.avô,.empresário.rico.e.excêntrico,.gostava.de.recompensar.os.netos.com.brinquedos.quando.os.estudos.corriam.mal,.convicto.da.inutilidade.da.edu­cação.escolar..O.“neto.do.senhor.Capucho”.tinha.conta.aberta.em.duas.das.melhores.lojas.de.Lisboa,.era.só.entrar.e.escolher..Podemos.vê­lo.na.fotografia.a.preto.e.branco,.com.um.ano.de.idade,.sentado.no.carro.vermelho.de.folha,.de.fabrico.português..Sabemos.que.o.carro.é.vermelho.porque.está.ali.à.nossa.frente,.exposto.na.vitrina..“Guardei.tudo,.nunca.perdi.um.brinquedo..E.os.que.perdi,.recu­perei­os.mais.tarde”..

Para.contornar.a.insólita.pedagogia.promovida.pelo.patriarca.da.família,.foi.preciso.prosseguir.os.estudos.em.Inglaterra..Formado.em.engenharia.mecânica.pela.Universidade.de.Lester,.João.Arbués.Moreira.aprendeu.outras.línguas.e.viajou,.trazendo.sempre.mais.um.brinquedo.na.bagagem:.jogos.de.tabuleiro,.casas.de.bonecas,.serviços.de.chá,.exércitos.de.soldados,.comboios.eléctricos,.auto­móveis.de.folha,.barcos,.motas,.aviões....Hoje,.são.cerca.de.40.mil.peças. em. exposição,. mais. umas. 12. mil. guardadas. em. reserva,.à.espera.de.vez..No.antigo.quartel.dos.bombeiros.recuperado.pela.mão.dos.arquitectos.Francisco.e.Manuel.Aires.Mateus,.cada.centí­metro.é.alvo.de.uma.gestão.cuidadosa,.tal.como.o.orçamento.do.museu.. O. espaço. foi. cedido. à. Fundação. Arbués. Moreira. pela.Câmara.Municipal.de.Sintra,.que.assumiu.os.custos.da.intervenção.arquitectónica,.concedendo.ainda.um.fundo.de.apoio,.agora.situado.em.4500.euros.mensais..Porque.as.receitas.de.bilheteira.são.essen­ciais,.as.portas.estão.abertas.até.nos.dias.de.festa.e.feriados..Perto.de.60.mil.visitantes.passam.todos.os.anos.por.aqui,.desde.a.inau­guração.em.Novembro.de.1997.

Ana.Arbués.Moreira,.directora.da.instituição,.afirma.que.conseguir.este.lugar.para.o.Museu.do.Brinquedo.“não.foi.difícil”,.comparando.

Peixe com rodas fabricado por Luciano Moura (1945)

Crocodilo em folha fabricado por Luciano Moura (c. 1950)

Mandarim em folha de fabrico alemão (1895/1914)

Figuras em massa de fabrico alemão representando a Mocidade Portuguesa (c.1935)

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com.o.tempo.que.demorou.fazê­lo..A.vocação.coleccionista.de.João.Arbués.Moreira.não.se.limitou.a.seguir.as.particularidades.de.um.gosto. pessoal,. antes. se. propôs. outros. objectivos:.“Apesar. de. ele.gostar. mais. de. carros,. a. preocupação. foi. sempre. comprar. um.pouco. de. tudo,. porque. a. ideia. era. contar. a. história. do. homem.através.do.brinquedo..Costumamos.dizer.às.escolas.que,.se.vierem.com.tempo,.é.uma.autêntica.lição.de.História.que.podem.dar.aqui.”

Lições.de.paciência.e.pormenor,.também..Milhares.de.brinquedos.alinhados. conseguem. provocar. uma. impressão. vertiginosa.. Na.pressa. do. fim­de­semana. ou. do. circuito. excursionista,. alguns..visitantes.passam.a.correr.pelas.vitrinas..Crianças.e.adultos.com.a.cabeça.noutro.lugar,.às.vezes.nota­se..É.possível.que.não.vejam,.por.exemplo,.a.fatia.de.torta.em.cima.da.mesa.da.sala.de.jantar,.na.casa.de.bonecas.decorada.na.perfeição,.não.há.muito.tempo.atrás..Porque.a.prateleira.é.alta,.quase.de.certeza.não.vão.reparar.no. avião. disfarçado. de. gaiola. de. grilos,. uma. réplica. artesanal.do.Spirit of Saint Louis. com. que. Charles. Lindbergh. sobrevoou.o.Atlântico,.em.1927..E.como.distinguir,.se.não.olhando.duas.e.três.vezes,.se.Hitler.era.maior.do.que.Mussolini,.ao.vê­los.juntos.nas.paradas.militares.para.entretenimento.das.crianças,.o.“bê­a­bá”.da.propaganda.nazi?.

Contar. a. história. do. homem. através. do. brinquedo. implica. não.branquear.o.seu.lado.mais.obscuro..Talvez.alguns.visitantes.prefe­rissem.não.encontrar. tantos.desfiles.militares,.cruzes.suásticas,.soldados.em.combate,.as.figuras.máximas.dos.regimes.totalitários.europeus..Alguns.exprimem.mesmo.o.seu.descontentamento.no.livro.de.visitas..“Demasiada.guerra”,.dizem..E.é.verdade.que.por.trás.destes.inofensivos.“bonequinhos”.se.escondem.guerras.trágicas..Ana. e. João. Arbués. Moreira. não. vão. esquecer. o. dia. em. que. um.

grupo. de. turistas,. judeus. de. ascendência. polaca,. se. emocionou.profundamente.ao.ver.as.reproduções.dos.oficiais.nazis.passando.revista.às.tropas..Eles.próprios.tinham.zelado.pelo.aprumo.daque­las.fardas,.no.tempo.em.que,.ainda.crianças,.trabalhavam.nas.fábricas.alemãs.patrocinadas.por.mão­de­obra.escrava..“Tinham.de.fazer.62.figuras.de.Hitler.todos.os.dias,.impecavelmente.bem.pintadas”,.conta.o.coleccionador..“A.Gestapo.vinha.fiscalizar.e,.se.falhavam.duas.vezes,.eram.enviados.para.o.campo.de.concentração.de.Dachau,.de.onde.ninguém.saía.vivo.”.

De.forma.indelével,.nem.sempre.inocente,.os.brinquedos.reflectem.os.valores.e.as.aspirações.dos.homens..Os.seus.excessos.e.contra­dições,.também..À.escala.de.um.mundo.diminuto,.fácil.de.arrumar.e.de.organizar,.revelam.as.circunstâncias.em.que.foram.criados..Brinca­se.às.guerras,.às.famílias.felizes,.às.corridas.de.automóveis,.ao.colonialismo,.à.chegada.à.Lua..Cada.brinquedo.transporta.a.marca.do.seu.tempo..Um.ano.depois.do.acontecimento,.um.jogo.francês.reproduzia.a.grande.aventura.sobre.rodas.do.início.do.século.XX,.o.raid.Pequim­Paris.de.1917..Ao.lado,.encontram­se.uma.série.de.máquinas.alusivas.à.Revolução.Industrial.(incluindo.um.alambique.para.fazer.whisky!),.hoje.difíceis.de.imaginar.em.mãos.pequenas..Sem.o.rótulo.de.“perigoso”,.mas.provocando.idêntica.perplexidade,.é.o.jogo.As Eleições e os Partidos,.produto.típico.dos.anos.quentes.da. Revolução. dos. Cravos:. o. tabuleiro. tem. a. forma. de. hemiciclo.e.as.peças.exibem.as.cores.do.PS,.PSD,.PCP.e.UDP..De.pequenino.se.torce.o.político.

Depois,.há.o.brinquedo.da.época.dos.grandes.impérios,.veículo.do.triste.“racismo.que.faz.rir”,.na.expressão.de.João.Arbués.Moreira..Caso.do.mandarim.em.folha.produzido.na.Alemanha,.conforta­velmente.instalado.na.sua.liteira,.a.puxar.as.tranças.ao.carregador.

Carro de bombeiros presente na exposição “Bombeiros, Heróis de sempre”

Kart de fabrico francês (c.1950), um dos primeiros no género

Os automóveis estão entre as peças mais valiosas da colecção do museu

Autocarro em folha de fabrico alemão (1900/1914)

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como.quem.toca.a.campainha..O.pior.de.todos,.para.o.coleccionador,.é.o.do.boneco.negro.que.engole.moedas,.retrato.perverso.da.pobreza.made in.USA..Há.outro.dos.anos.1950,.este.de.fabrico.português,.mostrando.um.negro.em.cima.de.um.crocodilo,.a.vida.humana.exposta.com.o.valor.de.uma.atracção.de.circo..

Desta.época,.entre.as.décadas.de.1930.e.1950,.provêm.os.brinquedos.mais.nacionalistas,.por.vezes.decalcados.dos.regimes.de.Franco,.Hitler.e.Mussolini..É.um.período.de.expansão.para.o.brinquedo.português,.que.beneficia.com.o.fim.da.importação.barata.do.seu.congénere.espanhol,.por.força.da.vizinha.guerra.civil,.e.tem.ainda.à.disposição.o.mercado.ascendente.das.colónias..A.II.Guerra.Mundial.impulsiona.a.produção.industrial.e.favorece.os.temas.bélicos,.muitas.vezes.só.mudando.a.cor.das.fardas.e.das.bandeiras..Copiando.os.modelos.estrangeiros,.na.maioria.das.vezes,.os.fabricantes.também.conseguem.usar.a. imaginação.para.criar.brinquedos.exclusiva­mente.portugueses..De.1939.(ano.em.que.também.surge.a.Majora).até.1949,.a.empresa.Fabrinca.vai.pôr.cá.fora.a.Traineira,.o.Lusitânia.Expresso,. a. Casa. Nova. Portuguesa,. o. Circuito. de. Portugal. ou. o.Camião.Luso..Depois.da.guerra,.novos.materiais.como.o.plástico.e.o.alumínio.entram.na.fabricação.de.brinquedos,.substituindo.gradualmente.outros.materiais.mais.arcaicos..

Nem.sempre.os.brinquedos.chegam.ao.museu.em.perfeitas.condi­ções..Na.oficina,.duas.ou.três.pessoas.trabalham.na.sua.recuperação,.à.vista.do.público..Ninguém.é.especializado.e.as.artes.do.ofício.revestem­se.de.engenho.e.improviso,.de.modo.a.vislumbrar.solu­ções.onde.não.existem.manuais..Os.de.lata.e.de.corda.são.os.mais.difíceis.de.consertar;.se.estiverem.muito.estragados.não.se.guar­dam,.mesmo.que.sejam.importantes..Nas.vitrinas,.todos.funcionam..O.forte.da.colecção.situa­se.entre.1880.e.1970,.mas.há­os.muito.

mais.remotos,.com.três.mil.e.dois.mil.anos..São.berlindes.e.figurinhas.em.pedra.e.bronze,.verdadeiros.protótipos.da.infância.do.brinquedo..No.essencial,.as.crianças.da.antiga.Grécia,.Egipto.ou.Mesopotâmia.não.eram.assim.tão.diferentes.das.nossas.

João.Arbués.Moreira.continua.a.acompanhar.a.história.contem­porânea.dos.objectos.a.que.resolveu.dedicar­se..Tem.quatro.filhos.e.doze.netos,.o.que.também.serviu.de.pretexto..Os.jogos.de.com­putador.não.o.interessam,.mas.passa.regularmente.pelos.escapa­rates.do.Toys’R’Us,.à.procura.do.brinquedo.que.hoje.é.novidade.e.amanhã. será. passado.. Preserva. o. sentido. de. humor. próprio.de.quem.aprendeu.a.brincar.e.nunca.mais.se.esqueceu..O.único.problema,.conta,.é.quando.os.mais.pequenos.acreditam.em.tudo.o.que.diz..“Lembra­se.daquele.cavalo.que.está.lá.em.baixo?.Eu.fui.dizer.que.todos.os.dias.se.tem.de.mudar.a.palha,.e.eles.pediam.à.mãe.que.telefonasse.para.eu.não.me.esquecer..Também.digo.que,.à.noite,.os.soldadinhos.saem.das.vitrinas.e.desata. tudo.ao. tiro..Claro.que.depois.eles.querem.vir.cá.ver.por.eles.próprios.”.E.quem.pode.ter.a.certeza.do.que.iriam.encontrar….

.Museu do Brinquedo Rua.Visconde.de.Monserrate.–.Sintra..

www.museu­do­brinquedo.pt.

Horário:.de.terça.a.domingo,.das.10h00.às.18h00.(incluindo.feriados)..

Encerra.à.segunda­feira..

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Preços.especiais.para.escolas.públicas..

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De forma indelével, nem sempre

inocente, os brinquedos reflectem

os valores e as aspirações dos homens.

Os seus excessos e contradições,

também. À escala de um mundo

diminuto, fácil de arrumar e de

organizar, revelam as circunstâncias

em que foram criados. Brinca-se

às guerras, às famílias felizes,

às corridas de automóveis,

ao colonialismo, à chegada à Lua.

Jogo francês comemorativo do raid automobilístico Paris-Pequim, realizado em 1917

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Destaque.|.Cultura.|.Ana Filipa Candeias

EduardoNery

A OBRA URBANA

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N ascido na Figueira da Foz em 1938, Eduardo.Nery.tem. desenvolvido. nas. últimas. quatro. décadas.uma.obra.plástica.muito.vasta,.investindo.numa.grande.diversidade.de.suportes..O.seu.percurso.individual. tem. sido. apontado. como. exemplar,.

pelo.interesse.manifestado,.de.forma.continuada.e.coerente,.na.investigação.no.domínio.da.“arte.pública”.e.do.desenho.urbano,.sensibilizada.para.a.renovação.da.disciplina.do.azulejo..Criativi­dade.e.controlo.racional.surgem.pois,.como.elementos.indissociáveis.do.trabalho.de.Nery,.também.conhecido..pela.sua.reflexão.–.pioneira.em.Portugal.–.em.torno.da.arte.óptica.e.do.cinetismo.

No.quadro.do.presente.artigo,.destacaremos.alguns.aspectos.do.trabalho.deste.artista.que.nos.permitam.reflectir.acerca.da.função.cívica. e. social. da. arte. urbana,. chamada. a. interagir,. no. espaço.público,. com. o. movimento. informal. das. populações. citadinas,.marcadas.globalmente.pelo.cosmopolitismo.dos.actores.sociais.e.pela.concentração.demográfica...

Antes.de.prosseguirmos.na.nossa.análise.da.obra.de.vocação.urbana.de.Eduardo.Nery,.convirá.insistir.na.sua.inscrição.num.projecto.de.vida.único.que.remonta.a.1957,.ano.em.que.o.artista.expõe.pela.primeira.vez..Desde.esta.época,.com.efeito,.o.trabalho.de.Eduardo.Nery.prepara­se.para.transcender.a.diversidade.de.práticas.e.téc­nicas.(azulejo,.pintura,.tapeçaria,.vitral,.fotografia),.para.reencontrar.o.tema.do.Espaço.–.ora.tratado.como.metáfora,.ora.como.extensão.física,.experimentada.através.de.processos.de.construção.racional.–.

como.se.vê.sobretudo.na.sua.obra.pública,.isto.é,.“inserta”.no.espaço.da.cidade,.conforme.expressão.do.próprio.artista.

Eduardo.Nery.formou­se.em.Pintura,.na.Escola.de.Belas.Artes.de.Lisboa,.tendo.efectuado.uma.breve.passagem.pelo.Curso.de.Arquitectura,.na.mesma.escola..Decisiva.para.a.sua.orientação.no.sentido.de.um.destino.social.para.a.arte,.parece. ter.sido.a.sua.estadia.em.França,.no.início.dos.anos.60,.no.atelier.de.Jean.Lurçat,.mestre.que.desde.o.fim.da.2ª.Guerra.Mundial.vinha.defendendo.uma.reno­vação,.segundo.preceitos.modernos,.da.prática.da.Tapeçaria..

Pode­se.considerar.desta.época,.a.inflexão.que.a.vocação.para.a.criação.plástica.de.Nery,.sofre,.na.via.de.uma.orientação.funcional.e.inter­disciplinar.que.se.consolida.a.par.das.suas.experiências.no.domínio.da.Pintura.e.da.Gravura..

A.tapeçaria,.portanto,.o.azulejo,.pouco.depois,.afirmam­se.como.cam­pos.que.permitem.ao.artista.investigar.problemas.fundamentais.como. a. função,. a. localização. e. a. fruição. –. pública/privada. –. da.obra.plástica..A.interacção.desta.última.com.o.sítio,.com.o.olhar.do. espectador,. as. possibilidades. da. multiplicação. de. espécies,.o.enquadramento.destas.espécies.em.séries,. são.qualidade.que.emergem,.desde.então,.das. investigações.pessoais.em. torno.da.forma.plástica.

Uma.das.primeiras.experiências.que.lhe.permitem.testar.a.integra­ção.da.“forma­cor”.na.arquitectura.e.no.espaço.urbano.concretiza­se,.

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entre. 1966­1967,. com. o. convite. para. a. criação. do. painel. monu­mental.em.cerâmica.e.azulejo.para.a.unidade.fabril.da.Sociedade.Central.de.Cervejas,.em.Vialonga,.Vila.Franca.de.Xira..

Funcionando.como.revestimento.de.uma.ampla.parede.cega.sobre.o. acesso. principal. da. fábrica,. esta. composição. veio. sublinhar.todas.as.potencialidades.do.azulejo.quando.utilizado.em.combi­nações. elementares. de. cores. contrastando. em. espessura,. lumi­nosidade. e. saturação. (do. azul. escuro. ao. lilás,. do. ocre. ao. casta­nho).. A. multiplicação. programada. das. superfícies. de. cor,. em.função.de.valores.de.contraste.ou.harmonia.tonal,.vinha.animar.um. pano. de. parede,. estático. e. sem. função,. de. efeitos. cinéticos.virtuais,.controlados.apenas.pela.ordem.geométrica.aplicada.às.formas.e.às.cores,.tendo.como.unidade.base.o.quadrado.cerâmico.

A.reflexão.sobre.as.cores.implica.o.conhecimento.prévio.dos.efeitos.de.reversão,.retracção.e.expansão.que.as.cores.podem.exercer.umas.nas.outras,.no.acto.da.percepção.humana,.o.estudo.dos.compor­tamentos.dos.campos.coloridos.quando.afectados.por.variáveis.externas.como.são.o.tempo.e.a.velocidade.de.percepção..

O. controlo. dos. meios. cromáticos. e. luminosos. –. estudados. em.função.do.lugar.e.das.suas.características.físicas.e.topográficas.–.tornou.possível.a.obtenção.de.efeitos.ópticos.muito.sugestivos,.de. vibração. das. cores. e. de. movimento. aparente,. que. Eduardo.Nery.vinha.desenvolvendo,.pela.mesma.época,.na.tapeçaria.ou.na.pintura. (veja­se. as. séries. Progressões. de. Cor. ou. Harmonia. de.Quadrados).

Outra.experiência.notável,.numa.situação.aparentada.à.do.azulejo.por.ser.uma.técnica.de.revestimento.tradicionalmente.associada.à.arquitectura.e.ao.desenho.urbano.portugueses,.é.aquela.que.Eduardo.Nery.desenvolve.em.torno.do.pavimento.em.calçada.de.pedra.bicolor..Datado.de.1968,.o.projecto.de.revestimento.do.passeio.pedonal.envolvente.na.Praça.da.República,.na.vila.alentejana.de.Redondo,.mostrou.como.a.problemática.da.arte.destinada.a.espaços.sociais.públicos.podia.ser.resolvida.de.forma.dinâmica.e.criativa,.a.partir.da.renovação.de.uma.técnica.tradicional.entre.nós.(a.cal­çada.de.paralelepípedos.de.pedra).pelo.desenho.geométrico..

Realizado.em.parceria.com.o.arquitecto.Formosinho.Sanches.(†.2004),.que.elaborou.o.estudo.de.requalificação.urbana,.o.programa.de.animação.da.superfície.exterior.da.praça.sugerido.por.Eduardo.Nery.retoma.o.formulário.da.calçada.portuguesa.–.contraste.de.preto/branco,.formas.geométricas.simples.–.aprofundando.varia­ções.de.escala.e.dimensão.de.quadrados.e.losangos,.integrando.no.desenho.de.conjunto,.os.eixos.definidos.pelos.edifícios.circun­dantes.(Câmara.Municipal.de.Redondo.e.Tribunal)..Estes.eixos.–.perpendiculares.ou.oblíquos.–.imprimem.linhas.de.força.ao.pavi­mento,. dinamizando. o. plano. horizontal. da. praça. que. parece.ondular.e.quebrar­se.ritmicamente,.com.o.movimento.do.olhar.

O. trabalho. com. a. calçada. portuguesa. seria. retomado. noutros.projectos,. nomeadamente,. na. obra. da. Praça. do. Município. em.Lisboa.(1997)..Aqui,.Eduardo.Nery.tirou.partido.das.características.espaciais.já.presentes,.a.existência.de.um.pelourinho.como.uni­dade.central,.a.delimitação.do.perímetro.da.praça.por.edifícios.de.desenho.perpendicular,.para.criar.um.padrão.geométrico.dinâmico.e.de.efeitos.ópticos.reforçados.pela.conjugação.de.triângulos.e.qua­drados..Ao.centro,.envolvendo.a.base.do.pelourinho.–.que.marca.simbolicamente.a.identidade.histórica.da.cidade.–.Eduardo.Nery.

optou.por.uma.matriz.de.linhas.circulares.estruturando.a.malha.de.triângulos.segundo.eixos.radiais.que.convergem.no.eixo.central.desenhado. pelo. pelourinho.. Ligeiramente. sobrelevado,. o. plano.central.da.praça.foi.ainda.delimitado.por.um.círculo.preto,.escudo.protector.simbólico.do.pequeno.monumento,.que.assinala.uma.transformação.de.efeitos..Os.triângulos.ordenam­se.agora.numa.matriz.que.já.não.é.circular.mas.ortogonal,.num.contraste.de.preto.e.branco.desenhado.pelo.cruzamento.e.intersecção.de.linhas.rectas.e.oblíquas..

O.efeito.de.conjunto.–.favorecido.pelo.afastamento.do.olhar.tal.como.pode.ser.obtido.a.partir.das.janelas.e.balcões.dos.edifícios.circundantes.–.resulta.não.apenas.do.relevo.virtual. inerente.ao.contraste.entre.preto.e.branco,.mas.igualmente.de.um.contraste.geral.entre.dois.efeitos.complementares:.o.movimento.virtual.de.rotação.que.circunda.o.pelourinho,.incrustado,.por.sua.vez,.numa.malha.em.vibração.virtual.permanente,.no.perímetro.exterior.

Noutros. locais. da. cidade. de. Lisboa,. Eduardo. Nery. tem. podido.desenvolver.um.conceito.muito.pessoal.de.valorização.dos.espaços.urbanos,.de.acordo.com.uma.sintaxe.idêntica.de.luz.e.cor,.definida.em.torno.do.movimento.aparente.projectado.a.partir.de.combi­nações. de. formas. geométricas. e. planos. coloridos.. Convocando.portanto.o.Espaço.como.eixo.temático.estruturante,.a.arte.urbana.de.Eduardo.Nery.funda­se.numa.concepção.coerente.de.articula­ção,.no.espaço.da.Cidade,.de.espaços.outros,.virtuais,.imaginários,.qualificados. pela. riqueza. e. multiplicidade. de. efeitos. sensoriais.que.proporciona.aos.transeuntes.

A.qualificação.plástica.do.ambiente.urbano,.na.perspectiva.de.Eduardo.Nery,.passa.pela.construção.de.um.“hipertexto”.a.partir.do.texto.que.constitui.a.cidade.com.o.seu.tráfego.e.cruzamento.incessante.de.gentes,.culturas,.imagens,.seus.edifícios,.equipamentos,.arté­rias.e.eixos.de.comunicação..Nesta.medida,.é.arte.integrada.e.dessa.integração. –. in. situ,. no. lugar,. no. edificado. –. retira. o. seu. maior.sentido. e. riqueza. cívica. e. social,. estruturando­se. em. oposição.à.ideia.de.Monumento.(marca.ou.objecto.isolado.no.espaço).

De.1983.datam.os.primeiros.estudos.para.o.revestimento.em.azu­lejo. da. Estação. de. Metropolitano. do. Campo. Grande. em. Lisboa..Concluído. em. 1992. e. distinguido. no. mesmo. ano. com. o. Prémio.Municipal.Jorge.Colaço.de.Azulejaria,.o.programa.previa.o.trata­mento.plástico.dos.interiores.e.exteriores.da.estação.e.seus.respec­tivos.acessos..A.solução.encontrada.consistiu.na.adopção.de.um.formulário.abstracto.de.“formas­cor”.(barras.ou.quadrículas.em.contraste.cromático,.sobre.fiadas.de.azulejos.brancos),.nas.partes.exteriores.do.conjunto.e.nas.escadas.de.acesso.

Inversamente,. no. grande. átrio. interior,. o. artista. optou. por. um.efeito.de.surpresa.gerado.pela.incorporação.de.figurinos.trajados.à. moda. de. Setecentos. –. as. chamadas.“Figuras. de. Convite”. que.Eduardo.Nery.foi.investigar.no.repertório.da.azulejaria.portuguesa.do.século.XVIII,. transpondo­as.para.o.cenário.de.uma.moderna.estação.de.metropolitano.e.transfigurando­as.em.elementos.de.sinalética.com.função.de.orientação.espacial.dos.utentes.daquele.meio.de.transporte.

As.figuras.aparecem.desmembradas,.fragmentadas.ou.invertidas..A.sugestão.de.movimento.é.reforçada.com.a.distorção.do.desenho.de.contorno.que.parece.emergir.e.ocultar­se.no.plano.uniforme.formado.pelas.fiadas.de.azulejo.liso..Estes.corpos.vibrantes,.mar­

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cam.ritmos,.pausas,.inclinações,.definem.movimentos.e.trajectos.que.regulam,.de.forma.cenográfica.e.lúdica.os.percursos.pedonais.e.zonas.de.circulação.na.galeria.interior.

Uma.vez.mais,.o.conjunto.beneficia.o.utente.ao.colaborar.funcio­nalmente.com.a.sintaxe.espacial.necessária.à.circulação.subter­rânea..Conjunto.notável,.na.combinação.das.possibilidades.eco­nómicas.e.seriais.da.forma.abstracta.geométrica,.com.a.referência.lúdica.e.até.irreverente.à.tradição.azulejar.portuguesa,.assinala.a.presença.de.um.humor.dadaísta,.que.se.inscreve.na.continuação.de.experiências.pictóricas.e.fotográficas.desenvolvidas.desde.os.anos.60.e.70.e.retomadas,.por.exemplo,.no.programa.de.revesti­mento.dos.pilares.que.sustentam.o.viaduto.da.2ª.Circular.(1998),.em.Lisboa,.com.figuras.e.objectos.sobrepostos.ou.invertidos..

(...).O.efeito.de.estranheza.que.resulta.da.sobreposição.de.elemen­tos. figurativos,. por. vezes. invertidos,. numa. grade. de. formações.ópticas.coloridas,.seria.retomada.em.projectos.posteriores.como.o.do.revestimento.da.Estação.Ferroviária.de.Campolide.(1998),.em.Lisboa,.ou.no.parque.da.margem.do.rio.Trancão.(1998),.em.Sacavém,.onde.as.criaturas.aquáticas.e.o.movimento.do.rio,.são.sugeridos.por.bandas.de.cor.que.se.transfiguram.umas.nas.outras.

(...). Outros. trabalhos. de. Nery. despertam. a. nossa. atenção. pela.maior.simplicidade.e.economia.no.jogo.com.planos.e.barras.de.cor..Um.dos.mais.interessantes,.na.cidade.de.Lisboa,.é.o.programa.(concluído.em.2002).de.revestimento.dos.viadutos.que.ligam,.res­pectivamente,. a. Avenida. 24. de. Julho. à. Avenida. Infante. Santo.e.esta.à.Avenida.de.Cintura.do.Porto.de.Lisboa,.numa.zona.ribeirinha.da.cidade.integrada.num.vasto.processo.de.requalificação.urbana..Aqui,.a.escolha.de.Eduardo.Nery.recaiu.num.vocabulário.muito.depurado. de. barras. verticais. coloridas,. de. largura. variável,. em.que.os.tons.saturados.de.azulão,.amarelo,.laranja.e.vermelho.con­trastam.com.as.tonalidades.intermédias.e.mais.pálidas.de.rosa.e.verde.água,.provocando.um.afundamento.virtual.e.ritmado.nos.amplos.panos.de.parede..

Outra.experiência.assinalável.é.aquela.que.Eduardo.Nery.conce­beu.para.revestimento.das.paredes.interiores.do.túnel.do.viaduto.de. Massamá,. em. Queluz,. nos. arredores. de. Lisboa. (2001).. Aqui,.a.gama.de.cores.restringiu­se.a.uma.variação.em.torno.de.dois.tons.dominantes.(azul/amarelo)..O.efeito.de.movimento.virtual.sai.reforçado.da.inscrição.em.barras.horizontais.de.largura.variável,.que.funcionam.como.guias,.de.faixas.oblíquas.de.direcção.alter­nada..Com.este.dispositivo.óptico,.o.plano.vertical.e.estático.da.parede.anima­se.de.arestas.em.relevo,.de.volumes.geométricos,.apenas.pela.interacção.calculada.das.“formas­cor”.

(...). Passando. em. revista. o. trabalho. de. Eduardo. Nery,. podemos.constatar.como.ele.joga.com.o.prazer.e.a.surpresa..O.prazer.e.a.surpresa.que.nascem.do.encontro.entre.as.técnicas.tradicionais.–.o.azulejo,.a.cerâmica.de.revestimento.–.e.a.dinâmica.das.formas.geométricas.que.constitui.o. legado.maior.da.arte.do.século.XX,.no.contexto.da.Cidade..Inscrevendo­se.em.lugares.de.passagem,.em.lugares.de.espera,.movimento.e. trânsito,. tira.partido.maior.dessa. dimensão. efémera,. ritmada. e. simultaneamente. caótica.do.tráfico.urbano.(...).

Um.site.dedicado.à.actividade.de.Eduardo.Nery.acaba.de.ser.colocado.online..

Este.endereço.documenta,.de.uma.forma.bastante.substancial,.a.Obra.do.artista..

www.eduardonery.pt

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as delícias de tomar e seus vizinhos

A visita gastronónomica desta edição

foi à região dos Templários.

Pelo punho de David Lopes Ramos

descobrimos os paladares que encantam

os muitos visitantes adeptos da boa mesa

regional. Destaque para os excelentes

restaurantes aqui existentes.

Uma viagem aliciante e saborosa, portanto.

Roteiro.|.David Lopes RamosFotografia.|.Carlos Garcia

Aregião de Tomar e os seus arredores, todas.as.terras.que.andam.associadas.à.designação.dos.Templários,.têm.de.tudo.e.em.abundância:.paisagens.naturais,.como.os.rios.e.ribeiras;.paisagens.que.tudo.devem.à. intervenção. humana,. como. as. albufeiras. e. as.

florestas;.património.construído,.como.o.tomarense.Convento.de.Cristo,.com.a.sua.charola.e.a.emblemática.janela.manuelina.do.Capítulo,.o.Castelo.de.Almourol,.a.Torre.de.Dornes.e.a.Sinagoga.de.Tomar;.zonas.protegidas,.como.o.Paul.de.Boquilobo.e.o.Parque.Natural.de.Serra.de.Aire;.um.conjunto.de.rios.conhecidos,.em.que.se.desta­cam.o.Tejo,.o.Zêzere.e.o.Nabão;.as.albufeiras.de.Castelo.do.Bode,.Cabril.e.Pracana;.praias.fluviais;.festas.famosas,.como.a.dos.Tabuleiros,.em.Tomar,.ligada.ao.culto.do.Espírito.Santo..E,.para.o.que.aqui.nos.interessa,.uma.oferta.gastronómica.rica.e.variada,.em.que.avultam.especialidades.únicas,.sem.semelhança.em.qualquer.outro.ponto.do.território.nacional.

Nos.rios.pescam­se.peixes,.como.os.barbos,.as.bogas,.as.enguias.e.as.fataças.ou.os.mais.recentes.achigãs,.que.são.matéria­prima.de. caldos. apaladados. e. ensopados. reconfortantes,. condimen­tados.com.ervas.aromáticas,.de.escabeches. refrescados. por.um.bom.vinagre.e.perfumados.com.o.azeite.fino.regional..No.tempo.dela,.a.lampreia.chama.às.terras.dos.Templários.muitos.devotos.do.divino.ciclóstomo..E.também.o.sável,.apesar.de.desaparecido.dos.rios,.continua,.na.Primavera,.a.animar.as.mesas.dos.restau­rantes. regionais.. As. sopas,. em. que. o. protagonismo. é. dado. aos.legumes.das.hortas.da.região,.são.de.tal.modo.importantes.que.Tomar. lhe. dedica. um. festival. anual.. Em. terras. de. azeite. não. se.podem.esquecer.as.tibornas,.prato.dos.dias.em.que.o.azeite.sai.directamente.da.bica.para.temperar.as.fatias.de.pão.quente,.seja.de. trigo,. seja. de. milho,. companhia. ideal. para. umas. sardinhas.

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assadas.ou.fritas,.umas.petingas.no. forno,.peixe.do.rio. frito.ou.um.pedaço.de.bacalhau.assado.na.brasa.

Das.florestas.sai.o.assustadiço.javali.ou.a.lebre.saltarilha,.o.coelho,.a.perdiz.ou.a.galinhola.para.cozinhas.inspiradas,.dando.origem.a.assados,.guisados.e.estufados.alguns.tão.trabalhosos.e.sofisti­cados.como.são.as.almôndegas.de.lebre..E.não.nos.esqueçamos.que,.nas.albufeiras,.voa.e.nada.o.pato.bravo,.ele.também.um.belo.petisco,.se.preparado.por.paladar.conhecedor.e.apurado.

Cabrito estonado e maranhos

Nas. capoeiras. e. currais. medram. aves. e. bichos. que. as. cozinhas.da.região.transformam.noutras.tantas.delícias..Os.galináceos,.por.exemplo,.acompanhados.pelos.condimentos.precisos,.estufam­nos.na.púcara;.os.cabritinhos.assam­nos.no.forno,.havendo.uma.forma.de. os. preparar. que. é. única.. São. os. cabritos. estonados.. Depois.de.mortos,.os.bichinhos.são.rapidamente.mergulhados.em.água.a.ferver.e.esfregados.até.que.os.pelos.saiam,.ficando.a.pele.intacta..Depois.de.devidamente.temperados,.são.assados.no.forno,.ficando.a. pele. esticada. e. estaladiça,. semelhante. à. do. leitão. à. moda. da.Bairrada,.uma.verdadeira.delícia..Na.região.dos.Templários.também.se.assa.o.leitão.inteiro.no.forno,.sendo.o.de.Ferreira.do.Zêzere.o.mais.conhecido..Com.o.bucho.dos.borregos,.transformado.em.peque­nas. bolsas,. faz­se. um. dos. enchidos. mais. originais. de. todos. os.existentes.em.Portugal,.os.maranhos.com.o.seu.recheio.de.arroz,.carne. de. cabrito. ou. de. cabra,. presunto,. tudo. temperado. com.vinho.branco.e.hortelã.fresca,.que.lhe.transmite.um.aroma.e.um.sabor.de.uma.frescura.e.delicadeza.sem.par..Come­se,.após.coze­dura.demorada,.às.fatias..Há.quem.goste.de.os.comer.depois.de.os.barrar.com.azeite,.dando­lhes.algum.tempo.de.forno.

O. porco,. a. exemplo. do. que. sucede. noutras. terras. portuguesas,.merece.um.capítulo.à.parte..Há.pratos.da.matança,.como.as.couves.e.o.feijão.da.matança,.o.sarrabulho,.a.cachola,.os.miolos,.e.há.outros,.como.o.cozido.ou.o.bucho.recheado,.que.se.encontra.em.todas.as.terras.da.região..O.de.recheio.mais.rico.leva,.cortados.em.pedacinhos.pequeninos,.febras.de.porco,.presunto,.galinha.ou.frango,.chouriço,.temperos.de.sal,.alho,.azeite,.vinho.branco.e.malagueta..Faz­se.um.refogado,.guisam­se.estas.carnes.e.junta­se­lhes.arroz,.envolvendo­se,.no.final,.este.cozinhado.com.duas.gemas.de.ovos..Recheia­se.o.bucho,.que.não.deve.ficar.muito.cheio.para.não.rebentar,.cose­se.com.linha,.pica­se.e.vai.ao.forno.até.ficar.com.a.pele.tostada..Serve­se.às.fatias..Os.plangaios,.também.feitos.com.bucho.de.porco,.arroz,.febra.e.entre­costo. de. porco,. com. tempero. de. sal,. alho,. massa. de. pimentão­­doce,.vinho.branco,.salsa.e.hortelã,.são.igualmente.muito.populares.

São. muito. famosos. os. queijos. regionais,. sobretudo. os. de. cabra.e.de.ovelha.e.cabra,.uns.pequeninos,.outros.maiores,.muito.apre­ciados.pelos.conhecedores.

Da. doçaria. regional. destacam­se. (ver. texto. nestas. páginas),. as.fatias.de.Tomar,.a.palha.de.Abrantes,.as.tigeladas,.mas.há.muitos.mais.. Alguns. exemplos:. castanhas. doces,. velhoses,. coscorões,..cartuchos.de.amêndoa,.fritos.de.abóbora,.broas.dos.santos,.queija­dinhas,.cavacas,.bolo.de.mel....um.nunca.mais.acabar.

Há.também.vinhos.em.Tomar.e.nas.terras.vizinhas,.cuja.fama.não.ultrapassa. o. âmbito. regional.. Recentemente,. porém,. surgiram.empresas. que. parecem. querer. arrancar. os. brancos. e. tintos. da.região.da.mediania.em.que.têm.vivido..Se.o.conseguirem,.então.poderemos.dizer.que.à.região.dos.Templários.não.lhe.fica.a.faltar.nada..Mesmo.nada..

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Dona Céu, proprietária. de. um. restaurante. com. características.únicas,.o.Chico.Elias,.explica:.“Só.servimos.por.encomenda..É.claro.que.se.tiver.cá.um.grupo,.se.aparecer.alguém.não.vai.sem.comer..Mas.quando.não.há,.não.há..Prefiro.não.servir.do.que.servir.mal..Às.vezes.ainda.me.perguntam.se.não.posso.fazer.um.prego..Não.faço..Pregos.e.bifes.com.batatas.fritas.podem.comer.em.qualquer.sítio..Aqui.não.”

Não.há.pesporrência.na.afirmação.de.Dona.Céu..Ela.tem.consciência.da.diferença.de.oferta.do.seu.restaurante,.localizado.em.Algarvias,.a.dois.quilómetros.de.Tomar,.na.estrada.velha.para.Torres.Novas..Ela.serve.uma.cozinha.opulenta,.criativa,.deliciosa,.saída.dos.dois.fornos.a. lenha.que.Dona.Céu.maneja.com.grande.mestria..E.só.cozinha.por.encomenda..Quando.se.chega.a.Algarvias,.à.sala.de.jantar.luminosa.e.limpa,.tem­se.à.espera.o.banquete.encomendado.

Por.exemplo,.umas.proletárias.petingas.no.forno.e.uma.inusitada.feijoada.de.caracóis,.como.entradas..Bacalhau.no.forno.com.carne.de.porco.e.cachola,.como.pratos.de.resistência..Caso.haja.sete.ou.oito.parceiros. pode. encomendar­se. um. coelho. na. abóbora.. Além. do.nomeado,.no.Chico.Elias.pode.ainda.comer­se:.chispe,.enguias.de.fricassé,.cabrito.no.forno.e.couves.à.Dom.Prior..Na.sua.época,.no.fim.do.Inverno,.início.da.Primavera,.há.lampreia.e.cabrito.com.grelos.

As.petingas.no.forno.são.um.achado.culinário.da.região,.uma.vez.que,.em.geral,.os.restaurantes.servem­nas.fritas.e.acompanhadas.por.açorda,.arroz.de.legumes.ou.de.feijão,.ou,.então,.de.escabeche..No.Chico.Elias,.os.peixinhos. temperados.com.sal.são.acamados.numa.assadeira.sobre.cebola.cortada.às.rodelas,.levam.ainda.uns.dentes.de.alho,.azeite,.vinagre.e.farinha.de.milho..O.forno.faz.o.resto..Belíssimas.estas.petingas..O.guisado.dos.caracóis.com.feijão.branco,.ao. contrário. do. que. sucede. com. o. marisco,. resulta. muito. bem..O.sabor.final.é.marcado.pela.presença.no.cozinhado.de.umas.rodelas.de.chouriço.de.carne.de.superior.qualidade.

O.bacalhau.assado.no.forno.com.carne.de.porco.(nós,.portugueses,.tal. como. os. catalães,. valorizamos. esta. associação. de. produtos.

da.terra.e.do.mar).é.um.grande.prato,.em.que.se.casam.harmonio­samente. camadas. de. batatas. cozidas. aos. quartos,. pedacinhos.de.carne.de.reco.previamente. temperada.e.salteada,. rodelas.de.chouriça.extra,.lascas.de.bacalhau,.ovo.cozido.cortado.às.rodelas,.tudo. coberto. por. um. molho. branco. que. fica. amarelo. provavel­mente.por.acção.ou.de.gemas.ou.de.abóbora..A.Dona.Céu.recusa­se.a.dar.a.receita,.o.que.se.percebe..O.preparado.vai.ao.forno.a.grati­nar..A.assadeira.chega.à.mesa.a.fumegar.com.o.amarelo.do.molho.da.cobertura.pontuado.de.castanho..É.tão.lindo.quanto.saboroso..Acompanha.uma.salada.de.alface.fresca.e.cebola.crua.

A.cachola.é.outro.monumento..Pedaços.de.febra.e.de.fígado.de.porco.fritos/estufados.em.pingo,.miolo.de.broa.esfarelado.e.frito,.batatas.fritas.cortadas.aos.palitos.e.couve.lombarda.cozida.e.leve­mente.temperada.de.azeite.de.qualidade.excelsa..Anote­se.que.as.batatas,.frescas.e.não.congeladas,.são.fritas.em.azeite..Resultam.douradas.e.de.sabor.único..Por.elas.seria.capaz.de.ir.ao.Chico.Elias.

A.refeição.pode.encerrar.com.leite­creme,.amarelinho.das.gemas.de. ovos,. coberto. de. caramelo. obtido. no. momento. pela. queima.do.açúcar.com.ferro.em.brasa..Muito.bom..Outro.tanto.se.diga.das.peras.bêbadas,.quer.dizer,.cozidas.em.vinho.tinto.e.açúcar..O.café,.feito. em. cafeteira,. recomenda­se.. O. serviço. é. desembaraçado,.atento,.gentil..

Dona Céu, uma cozinheira singular

As sugestões de restaurantes que se seguem estão longe de abarcar tudo o que há na região; a escolha é, até, muito restrita. Este é um domínio em que cada um gosta de fazer as suas listas, o que é um exercício excelente.

RestauRante a LúRiaPortela.de.São.Pedro,.TomarTelefone:.249.381.402;.fax:.249.381.206Aceita.cartões.de.créditoEncerra.domingos.ao.jantar.e.2ªs.todo.o.diaNão perder as silarcas (cogumelos carnudos, aqui chamados silercas) com ovos ou simplesmente grelhadas com umas pedrinhas de sal grosso, o cabrito assado no forno e, no tempo dela, a lampreia com arroz.Aos fins-de-semana é arriscado ir sem reservar mesa.

RestauRante ChiCo eLiasEstrada.Nacional.113,.Algarvias,.70,.TomarTelefone:.249.311.067Não.aceita.cartões.de.créditoEncerra.domingos.ao.jantar.e.3ªs.feirasNunca vá ao Chico Elias sem telefonar previamente a combinar a ementa e a marcar mesa. Certas especialidades, cabrito assado no forno, coelho na abóbora, por exemplo, só são confeccionadas para grupos ou famílias de seis ou mais pessoas. Falem com a dona Céu, que é Deus no céu e ela no Chico Elias, podem crer.

RestauRante o PRontinhoPraça.do.Município,.OleirosTelefone:.272.682.338Não.aceita.cartões.de.créditoAberto.todos.os.dias

RestauRante FamadoEstrada.Nacional.233.Vale.de.Uno,.Proença­a­NovaTelefone:.274.672.872;.fax:.274.672..874Aceita.cartões.de.créditoEncerra.às.2ªs.feiras

RestauRante Ponte VeLhaAlameda.da.Carvalha,.SertãTelefone:.274.600.160;.fax:.274.600.169Aceita.cartões.de.créditoEncerra.às.2ªs.feiras

RestauRante aLbeRgaRia d. dinis o LaVRadoRRua.Dr..Eduardo.Castro,.Vila.de.ReiTelefone:.274.890.100;.fax:.274.890.109Aceita.cartões.de.créditoEncerra.às.4ªs.feiras

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AGEN

DA C

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URA

L

teatro nacional de são Carlos

o Ring de Lisboa

Montar.uma.nova.produção.de.Der.Ring.des.Nibelungen.representa.para.qualquer.teatro.lírico.enorme.desafio.e,.ao.mesmo.tempo,.uma.oportunidade.única.de.comprovar.o.estado.de.saúde.do.próprio.teatro..O.desafio.e.oportunidade.são.ainda.mais.significativos.quando.quem.se.propõe.produzir.um.novo.Ring.é.um.teatro.como.o.São.Carlos.que,.aparentemente,.não.reúne.as.condições.necessárias.para.a.realização.de.um.projecto.de.tal.envergadura..O.edifício.data.de.1793.e,.para.além.dos.normais.trabalhos.de.restauro.e.conservação.que.se.sucederam.ao.longo.dos.dois.séculos.que.perfazem.a.sua.história,.nenhuma.intervenção.estrutural.veio.modificar.as.dimensões.do.palco.ou.as.do.fosso..Perante.estas.condições,.quando,.em.Janeiro.de.2003.por.ocasião.da.produção.de.Manon.Lescaut.de.Puccini,.abordei.com.Graham.Vick.a.hipótese.de.realizar.um.novo.Ring.em.Lisboa,.recordando.a.grande.índole.wagneriana.do.São.Carlos,.surgiram.de.imediato.as.limitações.técnicas.do.teatro..A.partir.desta.mesma.impossibilidade,.rompeu.então.a.ideia.de.transformar.essas.limitações.–.muito.concretas.–.numa.nova.oportunidade.de.repensar.aquilo.que.havia.já.significado.a.inovação.da.proposta.teatral.wagneriana.aquando.da.sua.origem.na.segunda.metade.do.século.XIX.Graham.Vick,.com.uma.longa.carreira.de.encenador.de.ópera.atrás.de.si,.centralizou.a.sua.reflexão.teatral.na.procura.de.uma.nova.relação.com.o.público..Para.Vick,.é.sempre.fundamental.que.o.texto.lírico.encenado.consiga.falar,.comunicar,.emocionar.e.ser.assunto.de.reflexão.para.o.público.que.assiste.aos.seus.espectáculos..Pensei.sempre.que.Vick.se.associasse.idealmente.à.breve.mas.intensa.experiência.da.“Kroll­Oper”.de.Berlim.de.1927.e.de.1931,.que,.sob.a.direcção.de.Otto.Klemperer,.foi.um.exemplo.extraordinário.de.radical.inovação.da.cena.lírica.europeia..Através.de.uma.programação.inteligente.e.de.um.compromisso.com.propostas.cénicas.inovadoras,.Klemperer.firmou.as.bases.de.um.“teatro.de.encenação”,.que.é.hoje.considerado.imprescindível,.e.fê­lo.numa.época.em.que.o.adjectivo.‘operístico’.era.sinónimo.de.velho,.bafiento.e.privado.de.interesse,.trabalhando.justamente.sobre.textos.wagnerianos.Assim,.quando.Graham.Vick.aceitou.o.convite.de.Lisboa.propondo­se.transformar.o.espaço.teatral.“aristocrático”.do.São.Carlos.num.novo.espaço.“democrático”.que.pudesse.reinterpretar.o.que.Wagner.tencionou.realizar.com.a.construção.de.Bayreuth,.recebi.a.sua.proposta.com.entusiasmo..Enquanto,.até.à.actualidade,.as.encenações.wagnerianas.se.caracterizavam.pelo.uso.de.uma.tecnologia.espectacular,.com.efeitos.especiais.inspirados.na.indústria.cinematográfica,.Vick,.ao.contrário,.

pretendia.repensar.o.grande.e.indubitavelmente.texto.‘polívoco’.wagneriano.em.termos.de.uma.proposta.cénica.capaz.de.fazer.reviver.o.mito.Nibelungo,.conferindo­lhe.a.sua.plena.dimensão.teatral..Depois.do.início.no.passado.mês.de.Junho,.com.o.prólogo.Das.Rheingold,.a.aventura.continua.no.próximo.mês.de.Fevereiro.com.a.primeira.jornada,.Die.Walküre,.e.conclui­se.no.Outono.de.2008.Creio.que,.testemunhada.a.recepção.por.parte.do.público.e.da.crítica.internacional,.o.São.Carlos.venceu.este.seu.primeiro.desafio.demonstrando.poder.concorrer.com.os.maiores.teatros.europeus..Mesmo.que.o.caminho.a.percorrer.seja.ainda.longo,.espero.que.as.incógnitas.institucionais.e.as.dificuldades.financeiras.que.ensombram.o.único.teatro.lírico.português.não.provoquem.a.derrocada.dos.resultados.obtidos.até.agora..Paolo Pinamonti

teatro nacional de são CarlosLargo.de.São.Carlos,.1200­442.LisboaTelefone:.213.253.045/6.|.Fax:.213.253.047

Projecção,.em.directo,.para.o.exterior,.de.Der.Ring.des.Nibelungen

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são Luiz teatro municipal.Wim mertens10 dezembro, domingo, 21h00Piano e Voz: Wim Mertens | Violino: Gudrun Vercampt

Concerto.integrado.na.tournée.que.celebra.os.seus.25.anos.de.carreira.e.apresenta.o.novo.álbum.partes.extra.partes,.último.trabalho.da.longa.obra.deste.músico.e.compositor.minimal.Belga..A.música.de.Wim.Mertens.rege­se.por.premissas.da.música.minimal.americana,.embora.recuse.seguir.por.inteiro.as.normas.de.um.género..Um.dos.recursos.melódicos.usados.é.o.da.repetição,.que.dá.espaço.às.canções.para.transmitirem..“sensações.de.prazer”.sem.desvirtuar.a.dimensão.rítmica.A.vertente.ao.vivo.é.uma.faceta.muito.importante.do.trabalho.de.Wim.Mertens.Por.vezes.ouvimo­lo.a.cantar.numa.voz.caracteristicamente.aguda,.quase.etérea,.fazendo.uso.de.uma.linguagem.pessoal.cuidadosamente.trabalhada.e.imaginária..Musico.e.compositor.minimal,Wim.Mertens.é.um.artista.internacional.com.uma.carreira.que.inclui.inúmeros.concertos,.tanto.a.solo.como.com.o.seu.ensemble,.por.toda.a.Europa,.na.América.do.Norte.e.do.Sul.e.no.Japão..Depois.da.bem.sucedida.digressão.do.ano.passado.em.Portugal,Wim.Mertens.está.de.volta.e.com.ele.um.espectáculo.único.e.intimista..Co­Produção.SLTM.–.Magic.Music

unreal – sidewalk CartoonDE BERNARDO SASSETTI14, 15, 21, 22 e 23 dezembro, Quinta a sábado, 21h00Música original e Arranjos: Bernardo Sassetti | Intérpretes: Drumming Grupo de Percussão, Perico Sambeat, Alexandre Frazão,José Salgueiro, Rui Rosa, Bernardo Sassetti e músicos convidadosParticipação Especial: Beatriz Batarda

Filme/cartoon.musical.realizado.por.Filipe.Alçada.e.Bernardo.SassettiAnimação.de.Filipe.Alçada.baseada.na.história.original.e.no.trabalhode.fotografia.e.patchwork.(2003/06).de.Bernardo.Sassetti.Na.Península.de.Quasi­algures,.numa.altura.em.que.as.modas.se.confundem.ou.deixam.(por.isso).de.ser.moda,.vamos.conhecer.Ernesto.Ductilo.Benito.–.administrador.primeiro.de.uma.fábrica.de.cooperação.e.recuperação,.na.região.demarcada.de.Cidadania­a­nova..Um.dia,.depois.de.longas.horas.de.trabalho,.o.bom.Ernesto.encontra.alguns.dos.seus.operários.de.fabricação.em.série.misteriosamente.empoleirados.em.estranhas.máquinas,muito.para.além.das.laborárias,.produzindo.sons.musicais,.de.nível.estético.apreciável,.que.nunca.imaginara.possíveis.nas.suas.

instalações..Deste.pequeno.episódio,.nasce­lhe.o.entusiasmo,.a.ideiae.o.sonho.de.rearmonizar.o.Domínio.da.Música.–.sua.principal.herança.de.família,.agora.convertido.num.reino.de.anarquia,.onde.todos.os.estilos.musicais.se.(con)fundem.numa.enorme.sarrafusca..Inspirado.pelosestudos.musicais.da.sua.bisavó.Antónia,.aconselhado.por.um.sábio.bruxo,.Retortilho.Castraz,.e.apoiado.por.um.génio.inventor,.Mestre.Ramalho.Solau,.Ernesto.transforma.aqueles.operários.idiotas.(pensava.ele)em.luminosos.elementos.de.ciências.musicais,.rumo.ao.conturbado.Domínio.da.Música..Unreal.–.um.hino.ao.desenvolvimento.da.classe.de.trabalhadores,.artífices.e.operários.por.conta.d’outrém:música;.visão;imaginação;.entrega;.solicitação;.aventura;.mistério;.paixão;.“Indumentária”;.desventura;.solicitação;.desenvolvimento;.entrega;.música;.visão;.delírio;.falácia;.zombaria.e….experiências.científicas.na.Península.de.Quasi­algures..No.foyer.serão.expostos.os.painéis.fotográficos,.da.autoria.de.Bernardo.Sassetti,.que.deram.origem.a.Unreal.–.Sidewalk.Cartoon.

moby dickDE HERMAN MELVILLE18 Janeiro a 3 março, Quinta a sábado, 21h00, domingo, 17h30Sessões.para.escolas.às.Terças.e.Quartas,.às.14h00Texto: Herman Melville | Adaptação: Maria João Cruz | Encenação: António Pires | Cenografia: João Mendes Ribeiro | Figurinos: Luís Mesquita | Música: Paulo Abelho e João Eleutério | Documentário: João Botelho | Interpretação: Maria Rueff, Miguel Guilherme, Ricardo Aibéo, Rui Morisson, Miguel Borges, Graciano Dias, Milton Lopes, João Barbosa Produtor Alexandre Oliveira Directora de Produção: Ana Bordalo | Coordenadora de Produção: Solange Santos

Uma.baleia,.um.capitão,.um.navio,.alguns.marinheiros.e.o.mar..A.Herman.Melville.bastaram.estes.simples.elementos.para.compor.o.complexo.rendilhado.de.Moby.Dick.e.construir.uma.saga.capaz.de.resumir.em.si.o.fluxo.da.vida.em.toda.a.sua.grandiosidade..No.seu.livro,.Melville.conduz.o.leitor.pelos.caminhos.da.aventura,.da.ciência,.do.misticismo,.da.história.e.até.do.humor,.para.depois.desenhar.à.frente.dos.seus.olhos.o.quadro.maior.da.existência.do.Homem.Também.neste.espectáculo,.com.textoadaptado.a.partir.do.original.do.autor,.se.percorrem.os.mesmos.caminhos.de.Melville..A.partir.dos.mesmos.crus.e.simples.elementos.–.a.baleia,.o.capitão,.o.navio,.alguns.marinheiros.e.o.mar.–.transporta­se.o.público.numa.grandiosa.aventura.pelos.oceanos,.que.mais.não.é.do.que.uma.viagem.pela.própria.condição.humana..Co­produção.SLTM.–.Ar.de.Filmes

são Luiz teatro municipalRua.António.Maria.Cardoso,.38,.1200­027.LisboaTelefone:.21.325.76.40.|.Fax:.21.325.76.31

Win Mertens

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tas | teatro animação de setúbal

O.TAS.–.Teatro.Animação.de.Setúbal.comemora.dia.22.de.Dezembro.o.seu.31º.Aniversário,.com.a.apresentação.da.sua.mais.recente.produção.“As.Aventuras.de.João.sem.Medo”.no.Fórum.Municipal.Luísa.Todi.pelas.21.30.h,.com.entrada.gratuita,.bastando.para.tal.que.os.espectadores.se.dirijam.à.bilheteira.do.Fórum.para.levantarem.os.seus.bilhetes.

as aventuras de João sem medoproibida a entrada a quem não andar espantado de existirde José Gomes Ferreira | Adaptação: Carlos Curto

Recorrendo.a.um.imaginário.mágico,.prodigioso.de.imaginação.e.engenho.narrativo,.João.Sem.Medo.é.“…um.rapaz.que.vive.em.Chora­Que­Logo­Bebes.…onde.os.homens,.perdidos.dos.enigmas.da.infância,.haviam.instalado.uma.espécie.de.Parque.de.Reserva.de.Entes.Fantásticos.”.Fábula.fantástica.por.vezes.de.inspiração.surrealista,.retrata.um.“estar”.que,.de.todo,.não.nos.é.alheio,.“…os.choraquelogobebenses.—.infelizes.chorincas.que.se.lastimavam.de.manhã.até.à.noite.—.mal.tinham.força.para.arrastar.o.bolor.negro.das.sombras…”.transporta­nos.de.uma.imagem.de.um.Portugal.–.Estado.Novo,.para.a.nossa.vivência.num.país.que.no.século.XXI.mantém.inalterável.um.estado.de.espírito,.“…a.andarem.de.monco.caído,.sempre.constipados.por.causa.da.humidade,.e.a.ouvirem.com.delícia.canções.de.cemitério.ganidas.por.cantores.trajados.de.luto,.ao.som.de.instrumentos.plangentes.e.monótonos.”João.Sem.Medo,.somos.nós,.ou.muitos.de.nós,.que.nos.refugiamos.na.utopia,.no.sonho,.acabando.a.maior.parte.das.vezes,.não.resignados,.mas.antes.num.estado.de.sobrevivência.quotidiana,.na.esperança.que.um.João.qualquer,.mas.sem.medo,.desmantele.o.“Muro”.que.nos.priva.do.livre.pensamento..“…um.dia,.João.Sem.Medo.farto.de.tanta.chorinquice.e.de.tanta.miséria.que.gelava.as.casas.e.cobria.os.homens.de.verdete,.disse.à.mãe…”

Pic-nic no Campo de batalhaTexto: Fernando Arrabal | Adaptação/Direcção: Carlos Curto

Com.estreia.marcada.para.Janeiro.no.Fórum.Municipal.Luísa.Todi,.O.TAS.–.Teatro.Animação.de.Setúbal.prepara.a.sua.104ª.produção.“Pic­Nic”.de.Fernando.Arrabal.com.direcção.de.Carlos.Curto..Conta.a.história.de.um.soldado.entrincheirado.num.campo.de.batalha,.local.onde.o.verosímil.e.o.inverosímil.se.confunde.numa.série.de.acontecimentos,.como.a.guerra,.o.inimigo,.a.família,.o.indivíduo.e.a.morte,.tornando.por.momentos.a.guerra.num.acontecimento.exterior...‘Pic­Nic’,.é.uma.obra.reveladora.das.raízes.estéticas.fundamentais.do.teatro.de.vanguarda..Nela.combinam­se.uma.série.de.elementos,.como.a.família,.a.guerra,.o.indivíduo.e.a.morte,.tendo.como.resultado.um.modo.original.de.tratar.o.verosímil.e.o.inverosímil,.próprio.tanto.do.teatro.realista.como.do.surrealista..‘Pic­Nic’.representa.uma.crítica.feroz.a.uma.sociedade.cada.vez.mais.desumanizada,.homogénea,.tecnocrática.e.vazia.que.submerge.um.número.assustadoramente.crescente.de.pessoas.na.mais.absoluta.solidão.e.alienação.

tas | teatro animação de setúbal Rua.Dr..Aníbal.Alvares.da.Silva,.2.­.1º.Esq.,.2900­227.SetúbalTelefone:.265.532.402.|.Fax:.265.229.130

museu do Chiado.sharon LockhartPine Flatfestival europeu temps d’images, lisboa4 outubro 2006 a 7 Janeiro 2007Curador: Pedro Lapa

Pine.Flat,.o.recente.filme.e.projecto.fotográfico.de.Sharon.Lockhart,.é.apresentado.no.Museu.do.Chiado.–.MNAC.até.7.de.Janeiro..Incluindo.uma.instalação.de.fotografias.e.um.filme.de.16.mm.de.longa.duração,.o.projecto.aborda.os.jovens.de.Pine.Flat,.uma.comunidade.rural.na.Califórnia..Sharon.Lockhart.é.internacionalmente.reconhecida.pelos.seus.filmes.e.fotografias,.que.enquadram.o.quotidiano.enquanto.exploram.as.relações.subtis.entre.os.dois.media..Muito.do.seu.trabalho.fotográfico.envolve.a.encenação.através.de.um.método.reminiscente.do.cinema,.enquanto.os.seus.filmes.enfatizam.a.base.fotográfica.da.imagem.em.movimento..Formalmente.concisos,.estes.trabalhos.examinam.a.estrutura,.a.sequência.e.a.narrativa.de.um.modo.que.os.sintoniza.com.a.arte.conceptual.e.o.cinema.estruturalista.Apoio:.Fundação.Luso­Americana.[www.flad.pt]

Columbano bordalo Pinheiro19 Janeiro a 22 abril, inauguração: 18 Janeiro, Quinta-feira, 19h00Curador: Pedro Lapa

O.Museu.do.Chiado.–.Museu.Nacional.de.Arte.Contemporânea.celebra.em.2007.o.centésimo.quinquagésimo.aniversário.do.nascimento.de.Columbano.Bordalo.Pinheiro,.com.a.apresentação.ao.público.de.mais.de.uma.centena.de.obras.de.sua.autoria,.sobretudo.pinturas.e.desenhos.pertencentes.à.colecção.do.museu..Desta.forma.se.presta.a.devida.homenagem.a.uma.figura.incontornável.da.história.da.arte.portuguesa,.autor.de.obras.como.O.Grupo.do.Leão.(1885),.Concerto.de.Amadores.(1882).ou.Retrato.de.Antero.de.Quental.(1889),.professor.na.Escola.de.Belas.Artes.e.director.deste.museu.entre.1914.e.1929.

museu do ChiadoRua.Serpa.Pinto,.4,.1200­444.LisboaTelefone:.213.432.148.|.Fax:.213.432.151

As Aventuras de João Sem Medo

Sharon Lockhart – Pine Flat

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museu nacional do azulejo

no antigo Convento da madre de deusUm acervo exemplar num conjunto arquitectónico monumental

Criado.em.1980,.o.Museu.Nacional.do.Azulejo,.situa­se.na.zona.oriental.de.Lisboa,.junto.ao.rio.Tejo,.no.antigo.Convento.da.Madre.de.Deus,.fundado.pela.rainha.D..Leonor,.em.1509..Os.espaços.monumentais.constituídos.pelo.conjunto.arquitectónico.que.integra.a.Igreja.da.Madre.de.Deus.e.áreas.conventuais.são.hoje.espaços.públicos.que.o.Museu.salvaguarda.e.abre.aos.visitantes,.juntamente.com.as.obras.de.arte.remanescentes.do.antigo.tesouro.conventual,.que.incorpora.valiosas.peças.de.pintura,.escultura,.talha,.ourivesaria,.na.sua.maior.parte.do.período.barroco..O.acervo.museológico.é,.por.seu.lado,.exemplar.e.único,.cobrindo.a.produção.azulejar.desde.o.século.XV,.com.espécimes.hispano­mouriscos,.até.à.contemporaneidade,.representada.em.obras.de.pintores.e.ceramis­tas.das.últimas.gerações.A.oferta.cultural.do.Museu.Nacional.do.Azulejo.–.as.colecções.apresentadas.em.exposição.permanente,.as.exposições.temporárias,.o.conjunto.arquitec­tónico.monumental.–.têm.sido.objecto.de.programações.diversificadas.concebidas.para.atrair.um.largo.público.nacional.e.internacional.A.programação.exigente.de.exposições.temporárias,.acessíveis.aos.visitantes.sem.tarifas.suplementares,.tem.vindo.a.apresentar.obras.de.produção.antiga.e.contemporânea,.abrindo.ainda.fronteiras.geográficas.ao.apresentar.autores.e.colecções.de.outras.culturas,.em.confronto.com.a.apresentação.das.colecções.do.acervo.Com.o.objectivo.de.aproximar.novos.públicos.à.fruição.e.práticas.culturais,.o.Museu.Nacional.do.Azulejo.oferece.regularmente.programas.de.actividades.de.exploração.das.colecções,.complementados.com.oficinas.práticas.e.cria.programas.excepcionais.associados.a.acontecimentos.nacionais.e.internacionais.específicos,.tais.como.o.Dia.Internacional.dos.Museus,.a.Noite.dos.Museus.e.outros..Também.os.públicos.com.neces­sidades.especiais.são.abrangidos.por.programações.específicas.permitindo.a.todos.a.acessibilidade.às.colecções.É.assim.que.o.programa.de.actividades.para.2006/2007.contempla.ainda.no.final.de.2006.e.associando­se.às.festividades.da.época.natalícia,.a.apresentação,.na.Capela.de.Santo.António,.do.Presépio.do.Convento.da.Madre.de.Deus.constituído.por.quarenta.e.duas.figuras.e.executado.por.António.Ferreira.entre.1700.e.1730,.recentemente.objecto.de.restauro.e.exposição.ao.público.em.Dezembro.Em.Março,.homenageando.os.oitenta.anos.de.Manuel.Cargaleiro,.“artista.europeu”.autor.de.uma.vastíssima.obra.cerâmica,.o.Museu.Nacional.do.Azulejo.mostrará.em.exposição.temporária.a.última.produção.de.painéis.cerâmicos,.executados.em.Vietri.Sul.Mare.(Itália),.acompanhada.da.publicação.do.respectivo.Catálogo..No.decorrer.do.ano.de.2007.será.ocasião.de.comemorar.o.centenário.do.nascimento.do.fundador.do.Museu,.João.Miguel.dos.Santos.Simões.(1907/2007).com.um.programa.excepcional.de.homenagem.que.culminará,.em.Julho,.com.a.exposição.e.catálogo.dedicados.ao.Investigador,.Conservador.e.Historiador.da.Cerâmica.e.do.Azulejo.em.Portugal.As.exposições.programadas,.incluindo.ainda.uma.apresentação.de.Cerâmicas.de.Miguel.Barceló.(Novembro),.serão.acompanhadas.de.actividades.específicas.de.exploração.e.de.divulgação.procurando.abranger.o.mais.vasto.público.A.divulgação.de.todas.as.actividades.do.Museu.Nacional.do.Azulejo,.tal.como.do.seu.acervo.e.serviços,.são.disponibilizadas.em.sítio.na.Internet.com.a.morada:.www.mnazulejo­ipmuseus.pt

museu nacional do azulejoRua.da.Madre.de.Deus,.4,.1900­312.LisboaTelefone:.218100340.|.Fax:.218100369

Culturgest.

Entre.21.e.28.de.Dezembro.a.Culturgest,.em.co­produção.com.o.Teatro.Nacional.de.São.Carlos.apresenta,.em.estreia.em.Portugal,..a.ópera.infantil.de.Hans.Werner.Henze,.Pollicino,.baseada.na.história.do.Pequeno.Polegar..40.crianças.e.jovens.participam.como.cantores.ou.músicos.ao.lado.de.intérpretes.profissionais..A.versão.para.português.e.a.encenação.é.de.Eugénio.Sena,.que.tem.desenvolvido.um.magnífico.trabalho.na.criação.de.óperas.infantis...Participam.neste.produção.nomes.como.Luís.Miguel.Cintra,.Ana.Brandão,.Luís.Rodrigues,.João.Paulo.Santos,.Pedro.Proença..Um.espectáculo.de.Natal.que.maravilhará.pais.e.filhos.Três.históricos.músicos,.Wayne.Shorter.(a.9.de.Novembro),.Andrew.Hill.(26..desse.mês).e.McCoy.Tyner.(24.de.Fevereiro),.o.quarteto.do.jovem.trombonista.italiano.Gianluca.Petrella.(6.de.Janeiro),.e.o.piano.solo.de.João.Paulo.Esteves.da.Silva.(28.de.Fevereiro).compõem.a.programação.de.jazz.até.Março.de.2007..No.domínio.do.teatro,.a.Companhia.belga.tg.STAN,.apresenta.Anathema.(5.a.8.de.Novembro),.um.espectáculo.com.texto.de.José.Luís.Peixoto.que.esteve.no.Festival.de.Outono.de.Paris.o.ano.passado,.e.a.29.e.30.desse.mês.o.Teatro.Nacional..de.Estrasburgo.traz­nos.um.texto.de.Pirandello,..Vestir.os.Nus,.encenado.por.Stéphane.Barunschweig,.um.dos.maiores.encenadores.europeus..Com.estreia.a.13.de.Fevereiro,.pode.ser.visto.Duas.Metades,.um.espectáculo.do.Mundo.Perfeito.sobre.textos.de.Tiago.Rodrigues.e.de.Patrícia.Portela..GG.é.uma.criação.de.Maria.Duarte.e.Gonçalo.Ferreira.de.Almeida.a.partir.do.documentário.de.culto.Grey.Gardens,.dos.irmãos.Maysles.que.estará.em.cena.de..19.a.24.de.Março.A.nova.criação.da.coreógrafa.Vera.Mantero.estreia.em.Portugal.na.Culturgest,.a.23.e.34.de.Novembro....Em.Janeiro,.Domicilia,.a.persona­gem.criada.por.Sílvia.Real.e.Jorge.Pelágio.para.os.espectáculos.Casiotone.e.Subtone,..faz.dez.anos..O.aniversário.será..comemorado.com.a.reposição.desses.dois.espectáculos,.que.já.fizeram.centenas.de.representações,..a.estreia.absoluta.do.terceiro.da.série,.Tritone,.um.concerto,.uma.exposição.e.uma.festa.de.anos..Para.todas.as.idades..Ainda.no.domínio.da.dança,.teremos.as.novas.criações.de.Joclécio.de.Azevedo.(9.e.10.de.Fevereiro).e.de.Madalena.Victorino.(29.de.Março.a.1.deAbril).Durante.todo.ao.ano.de.2007.serão.apresentados.concertos.sob.o.tema.“Filhos.de.Abraão”..São.escolhidos.programas.que.se.relacionam.com.as.três.grandes.religiões.monoteístas.que.veneram.o.patriarca.Abrãao:.judaísmo,.criatianismo,.islamismo..O.ciclo.começa.a.24.de.Janeiro.com.o.grupo.americano.Klezmatics.,.um.dos.mais.célebres.na.prática.da.música.klezmer,.prossegue.com.a.polifonia..religiosa.da.Sardenha.pelo.Coeur.de.Sartène.(3.de.Fevereiro),.e.com.um.recital.a.dois.pianos.com.Miguel.Borges.Coelho.e.Marta.Zabaleta.interpretando.Visions.de.l’Amen.de.Messiaen.e.uma.peça.de.Kurtág.(9.de.Março).A.música.popular.portuguesa..estará.representada.pela.fadista.Aldina.Duarte.(17.de.Novembro).e.por.Amélia.Muge.(17.de.Fevereiro).Até.30.de.Dezembro.está.patente.nas.galerias.de.Lisboa.da.Culturgest.a.exposição.de.trabalhos.seleccionados.de.João.Paulo.Feliciano,.produzidos.entre.1989.e.1994,.numa.fase.especialmente.produtiva.deste.artista,.em.que,.de.uma.forma.percursora,.recorreu.a.uma.enorme.diversidade.de.matérias.e.meios.de.expressão..No.primeiro.trimestre.de.2007,.teremos,.em.simultâneo,.uma.exposição.de.vídeos.do.artista.inglês.Benjamin.Callaway.,cujo.trabalho.se.apropria.de.imagens.que.submete.a.manipulações.para.chegar.a.resultados.visuais.tão.surpreendentes.como.fascinantes,.e.uma.exposição.de.pintura.de.Bruno.Pacheco,.artista.português.que.vive.e.trabalha.em.Inglaterra.cuja.obra,.nas.suas.palavras.“leva.as.pessoas.a.prestar.mais.atenção.à.pintura”..

CulturgestRua.Arco.do.Cego,.1000­300.LisboaTelefone:.21.790.51.55.|.Fax:.21.848.39.0

Sharon Lockhart – Pine Flat

Gianluca Petrella

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Fundação arpad szenes – Vieira da silva

sonia delaunayatelier simultané 1923-193427 outubro 2006 a 25 Fevereiro 2007

Sonia.Delaunay.e.Vieira.da.Silva.conheceram­se.em.Paris.e.partilham.um.papel.importante.na.arte.francesa.do.século.XX..Imbuídas.de.reminiscências.de.um.outro.país.natal.que.se.reflectiu.na.obra.de.ambas,.a.memória.de.Portugal.tem.um.lugar.especial.e.diferente.para.cada.uma..No.início.da.sua.prática.artística.em.Paris.(início.dos.anos.trinta),.a.abordagem.da.cor.em.Vieira.da.Silva.tem.alguma.coisa.em.comum.com.Robert.Delaunay.e.as.maquetas.de.tecidos.que.fez.em.1929.têm.muito.a.ver.com.o.trabalho.de.Sonia.Delaunay.Na.origem.da.exposição.agora.apresentada.na.Fundação.Arpad.Szenes.­.Vieira.da.Silva.está.um.projecto.com.o.mesmo.título,.co­comissariada.por.Annette.Malochet.e.Matteo.Bianchi,.que.teve.lugar.no.Museo.Villa.dei.Cedri,.Bellinzona.de.12.Abril.a.13.de.Agosto.2006.Para.a.realização.desta.exposição.contámos.com.a.generosa.colaboração.da.Fundação.Marconi.de.Milão,.proprietária.de.todas.as.obras.expostas,.84.guaches.sobre.papel.Sonia.Delaunay.teve.uma.ligação.especial.com.Portugal..Fugindo.da.Primeira.Grande.Guerra,.Sonia,.o.seu.marido.Robert.e.o.seu.filho.Charles,.instalam­se.no.Minho,.numa.casa.a.que.chamaram.“La.simultanée”.(1915.e.início.de.1916),.em.Vila.do.Conde.onde.se.fixaram.por.sugestão.do.pintor.Eduardo.Viana.que.chegou.a.viver.com.eles..Conviveram.também.com.Amadeo.de.Sousa­Cardoso,.José.de.Almada.Negreiros,.José.Pacheco,.em.ambiente.estimulante.e.criativo,.com.inúmeros.projectos.que.nem.sempre.se.chegaram.a.concretizar..Os.Delaunay.sempre.mencionaram.a.importância.desta.passagem.na.sua.vida.e.obra..Sonia,.em.particular,.sempre.referiu.a.importância.da.luminosidade.de.Portugal..Também.Robert,.em.nenhum.outro.lugar,.melhor.do.que.em.Portugal,.aplicou.as.suas.teorias.sobre.a.cor.simultânea,.elaborada.por.volta.de.1910..Sonia.Delaunay.utiliza.a.estética.do.simultaneísmo.em.objectos.têxteis,.padrões.de.tecidos.que.lhe.estimularam.a.criatividade.e.permitiram.a.própria.subsistência,.sobretudo.após.o.seu.regresso.definitivo.a.Paris,.em.1921..Em.1923.uma.empresa.têxtil.de.Lyon.encomenda­lhe.padrões.de.tecidos..Foi.a.profissionalização.de.uma.vocação.e.a.sua.concentração.nos.guaches.que,.apesar.da.técnica.e.do.pequeno.formato,.são.experiências.plásticas,.pesquisas.baseadas.na.sensibilidade.e.pensadas.como.pintura..Em.1924.funda.o.Atelier.Simultané,.onde.são.impressos.os.tecidos.simultâneos.e.produzidos.os.acessórios..Entre.1923.e.1934.(data.em.que.os.Delaunay.decidem.deixar.o.nº.19.do.boulevard.Malesherbes.onde.funcionava.o.Atelier.Simultané).Sonia.Delaunay.realiza.inúmeros.“desenhos.de.tecidos”.como.lhes.chamou,.numa.pesquisa.puramente.pictórica.de.relações.de.cores.com.formas.geométricas.ritmadas..Era.um.trabalho.de.que.Sonia.gostava.e.o.guache.sobre.papel.foi.uma.técnica.que.lhe.serviu.particular­mente;.mais.leve,.rápido.e.fluído.do.que.o.óleo.sobre.tela,.permitiu­lhe.multiplicar.experiências..Múltiplas.variações.executadas.metodicamente.num.ritmo.frenético,.em.cadernos.e.folhas.soltas,.com.numerações.da.própria.artista,.séries.de.variantes,.sucessões.e.imbricados.de.estruturas,.formas.e.cores,.contrastes,.todas.estas.obras.permitiram.a.Sonia.Delaunay.relacionar.os.desenhos.de.tecidos.com.a.modernidade.e.a.arte.abstracta..Numa.linguagem.sensível.e.rítmica,.Sonia.Delaunay.conseguiu.uma.divulgação.espectacular.e.democratizada.de.pesquisas.pictóricas,.palpitantes.de.sensibilidade.que.lhe.conferem.um.lugar.privilegiado.na.criação.contemporânea,.guaches.sobre.papel.durante.muito.tempo.desvalorizados.

Fundação arpad szenes – Vieira da silvaPraça.das.Amoreiras,.56/58,.1250­020.lisboaTelefone:.21.388.00.44./.53.|.Fax:.21.388.00.39.

José somer Ribeiro.(José.Aleixo.da.França.Sommer.Ribeiro),.nasceu.em.Lisboa.a.26.de.Junho.de.1924..Ingressou.na.Escola.Superior.de.Belas­Artes.de.Lisboa.–.curso.de.Arquitectura.em.1942..Enquanto.estudante.trabalhou.nos.ateliers.dos.Arquitectos.António.Lino.e.Victor.Palla.e.do.Prof..Cristino.da.Silva.e.ainda.na.Empresa.de.Cimentos.de.Leiria,.onde.executou.projectos.industriais.e.casas.para.os.operários..Defendeu.tese.de.licenciatura.em.1951,.obtendo.a.classificação.de.17.valores..Exerceu.profissão.liberal.durante.dois.anos.e.em.1953.ingressou.no.Gabinete.de.Estudos.de.Urbanização.da.Câmara.Municipal.de.Lisboa,.onde.participou.na.elaboração.do.Plano.Director.de.Lisboa.e.diversos.planos.parcelares.Foi.encarregue.pelo.G.E.U..de.elaborar.um.relatório,.em.colaboração.com.o.Engº..João.Hipólito.Raposo.para.a.localização.da.Sede.e.Museu.da.Fundação.Calouste.Gulbenkian.e.em.1956.foi.convidados.por.esta.Fundação.para.fazer.parte.da.equipa.que.elaborou.o.programa.para.o.concurso.daquele.complexo..Por.acordo.com.os.arquitectos.vencedores.do.concurso.(Rui.Atouguia,.Alberto.Pessoa.e.Pedro.Cid).foi.nomeado.pelo.Conselho.de.Administração.para.chefiar.a.equipa.de.Arquitectura.dos.interiores.da.Sede.e.Museu..Em.1969.é.nomeado.Director.do.Serviço.de.Exposições.e.Museografia.e.em.1981.Director.do.Centro.de.Arte.Moderna.José.de.Azeredo.Perdigão,.cujo.projecto.é.autoria.de.Sir.Leslie.Martin,.com.quem.colaborou.Em.1993.reformou­se.a.seu.pedido.da.Fundação.Calouste.Gulbenkian,.mantendo­se.todavia.como.consultor.daquela.instituição,.para.tomar.posse.do.lugar.de.Director.e.Administrador.da.Fundação.Arpad.Szenes.­Vieira.da.Silva.É.co­autor.do.projecto.da.Residência.André.de.Gouveia.na.Cidade.Universitária.de.Paris.e.da.Fundação.Arpad.Szenes.–.Vieira.da.Silva.e.autor.do.projecto.Casa.de.Bocage,.em.Setúbal.e.do.Museu.de.Óbidos.Organizou.mais.de.600.exposições.em.Portugal.e.no.estrangeiro.Foi.Comissário.da.representação.portuguesa.na.Bienal.de.São.Paulo.desde.1969.até.1996.e.seu.representante.para.a.Europa.e.África.desde.1974.até.1981.Fez.parte.de.inúmeros.júris.nacionais.e.estrangeiros,.escriveu.artigos.e.proferiu.conferências.quer.sobre.arte.quer.sobre.museologia.Entre.1993.e.1995.foi.professor.convidado.para.reger.a.cadeira.de.Exposições.e.Instalações.dos.três.primeiros.cursos.de.Mestrado.em.Museologia.e.Património,.da.Faculdade.de.Ciências.Sociais.e.Humanas.da.Universidade.Nova.de.Lisboa.Foi.membro.da.secção.portuguesa.da.União.Internacional.dos.Arquitectos,.da.Ordem.dos.Arquitectos,.Sociedade.Nacional.de.Belas­Artes,.do.Conselho.Internacional.dos.Museus.(ICOM).­.Comité.de.Arte.Moderna.(CIMAM),.e.sócio.correspondente.da.Academia.Nacional.de.Belas­Artes.e.da.Academia.de.San.Fernando,.Madrid.Foi.agraciado.com.as.seguintes.condecorações:.Grande.Oficial.da.Ordem.Militar.de.Sant’Iago.da.Espada,.Grande.Oficial.da.Ordem.do.Infante.D..Henrique,.Grande.Oficial.da.Ordem.de.Mérito,.Comendador.da.Ordem.do.Rio.Branco.(Brasil),.Comendador.da.Ordem.de.Mérito.Civil.(Espanha),.Oficial.da.Ordem.National.de.Mérite.(França),.Oficial.da.Ordem.de.la.Couronne.(Bélgica),.Oficial.da.Ordem.du.Grand.Mérite.(Áustria),.Oficial.da.Ordem.Orange.Nassau.(Holanda),.Cavaleiro.da.Ordem.de.de.Saint.Ölaf.(Noruega).e.Ordem.British.Empire.(U.K.).Faleceu.em.Lisboa.a.16.de.Setembro.de.2006.

Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território

e Desenvolvimento Regional