narrativa do jornalismo de revista na web¹

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Narrativa do jornalismo de revista na web¹ Cassandra Barteló² Resumo Narrar os fatos é a essência do jornalismo. E o fazer jornalístico possui uma narrativa particular, que vem ganhando novos “contornos” desde o surgimento do webjornalismo. O jornalismo na rede mundial de computadores possui características que ampliam as possibilidades da narrativa jornalística. A ideia aqui é analisar como as revistas - publicações com periodicidade diferenciada dos jornais diários, geralmente semanais ou mensais, e, portanto, com tempo distinto de realização e um intervalo maior para chegar até os leitores - utilizam as especificidades da narrativa na web, abordando o processo de convergência entre os veículos impresso e on-line. A referência é o blog da Revista Muito, publicação semanal do Grupo A TARDE - de âmbito regional, e o site da Bravo!, revista mensal de circulação nacional da editora Abril. Palavras-chave: jornalismo, narrativa, revista, web, blog Do papel à tela do computador No começo dos webjornais, início da década de 90, a maioria trazia apenas a transposição da publicação impressa. Hoje, as características da internet são cada vez mais exploradas como um diferencial para fazer jornalismo na rede. Os princípios do jornalismo não sofrem alterações conceituais. Os critérios de noticiabilidade, por exemplo, continuam os mesmos. Porém, as especificidades da rede fazem com que surjam novas possibilidades de narrativa. Na revista, as características da publicação já são por si só um diferencial. A revista se distingue do jornalismo

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Narrar os fatos é a essência do jornalismo. E o fazer jornalístico possui uma narrativa particular, que vem ganhando novos “contornos” desde o surgimento do webjornalismo. O jornalismo na rede mundial de computadores possui características que ampliam as possibilidades da narrativa jornalística. A ideia aqui é analisar como as revistas ¬- publicações com periodicidade diferenciada dos jornais diários, geralmente semanais ou mensais, e, portanto, com tempo distinto de realização e um intervalo maior para chegar até os leitores - utilizam as especificidades da narrativa na web, abordando o processo de convergência entre os veículos impresso e on-line. A referência é o blog da Revista Muito, publicação semanal do Grupo A TARDE - de âmbito regional, e o site da Bravo!, revista mensal de circulação nacional da editora Abril.

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Page 1: Narrativa do jornalismo de revista na web¹

Narrativa do jornalismo de revista na web¹

Cassandra Barteló²

Resumo

Narrar os fatos é a essência do jornalismo. E o fazer jornalístico possui uma narrativa particular, que vem ganhando novos “contornos” desde o surgimento do webjornalismo. O jornalismo na rede mundial de computadores possui características que ampliam as possibilidades da narrativa jornalística. A ideia aqui é analisar como as revistas - publicações com periodicidade diferenciada dos jornais diários, geralmente semanais ou mensais, e, portanto, com tempo distinto de realização e um intervalo maior para chegar até os leitores - utilizam as especificidades da narrativa na web, abordando o processo de convergência entre os veículos impresso e on-line. A referência é o blog da Revista Muito, publicação semanal do Grupo A TARDE - de âmbito regional, e o site da Bravo!, revista mensal de circulação nacional da editora Abril.

Palavras-chave: jornalismo, narrativa, revista, web, blog

Do papel à tela do computador

No começo dos webjornais, início da década de 90, a maioria trazia apenas a

transposição da publicação impressa. Hoje, as características da internet são cada vez

mais exploradas como um diferencial para fazer jornalismo na rede. Os princípios do

jornalismo não sofrem alterações conceituais. Os critérios de noticiabilidade, por

exemplo, continuam os mesmos. Porém, as especificidades da rede fazem com que

surjam novas possibilidades de narrativa.

Na revista, as características da publicação já são por si só um diferencial. A revista se

distingue do jornalismo diário por ser uma publicação especializada com uma

periodicidade maior, geralmente semanal ou mensal. A revista possui ainda o formato

físico como diferencial. “Design de revistas é algo mais refinado que o de outros

produtos comunicacionais impressos”. (SCALZO, 2003, pág. 37)

______________¹Este artigo foi produzido como segunda parte do trabalho de conclusão da disciplina Narrativa Jornalística Multimidiática do curso de Pós-graduação em Jornalismo e Convergência Midiática da Faculdade Social da Bahia (FSBA). Inicialmente, em sala de aula, houve uma apresentação sobre a narrativa do blog da Revista Muito, escolhido pelo caráter de convergência com a publicação impressa, tema de estudo da autora. Na versão escrita, além do blog da Muito, foi acrescido o site da Bravo!, revista que também desenvolve um processo de convergência. ²Jornalista, graduada pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), em 1995, e com Especialização em Relações Públicas pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em 2005. Trabalhou como repórter em veículos impressos e assessorias e hoje atua como editora no Jornal A TARDE.

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Partindo do princípio de que existe um tempo maior para elaboração, o produto possui

também uma proposta de qualidade diferenciada. Mas é exatamente também esta

periodicidade maior que vem tornando necessário, “em tempos de internet”, uma versão

on-line que complemente e “atualize” a versão impressa a cada dia ou até mesmo cada

“instante”, se for de interesse da publicação.

“Sejam projetos comerciais, alternativos ou de auto-publicação, o que estas publicações trazem é uma forma de jornalismo muito mais sofisticada em termos tecnológicos, estéticos e de linguagem, ao incorporar praticamente todas as ferramentas disponíveis na experiência digital” (NATANSOHN, SILVA e BARROS, 2009, pág. 2)

Não foi a toa que a Revista Bravo! criou em seu site a coluna Assunto do Dia. De que

outra forma uma publicação mensal poderia oferecer aos seus leitores um assunto

diário, se não por meio de uma publicação na internet? É através da rede que as revista

podem se tornar presentes no dia-a-dia de seus leitores. Na publicação impressa, de

julho de 2008, a revista anunciava o novo site: “O grande destaque é a coluna Assunto

do Dia, o mais importante conteúdo do site. Ali, diariamente, se trata um tema cultural

que a redação e a equipe do site considera ser o mais importante do momento”.

Na Revista Muito, a mesma equipe que produz o material para a publicação impressa

também “alimenta” a versão on-line ao longo da semana. O blog³ da Muito, antes um

hotsite, dentro do portal A TARDE, começou apenas transpondo para a internet seções

da revista. Hoje, além de anunciar o que será publicado na edição impressa, - em geral,

na véspera - o blog ganha vida própria quando revela bastidores de matérias já

publicadas e traz atualizações ao longo da semana, com notícias exclusivas, que não

foram e nem serão publicados na revista. A descrição no próprio blog ratifica a

finalidade do produto criado para a web: “A Muito é a revista semanal do grupo A

TARDE. Circula gratuitamente no jornal A TARDE de domingo, em toda a Bahia. Este

é nosso blog, com notícias de bastidores e reportagens exclusivas”.

______________³A Muito, quando foi criada em abril de 2008, possuía um hotsite dentro do portal A TARDE. Um ano depois, em abril de 2009, o formato na web passou a ser de um blog. A opção pelo formato teve como objetivo facilitar a atualização pela própria equipe da Revista Muito.

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Capas das revistas Muito, de 16 de agosto, e da Bravo!, de outubro

Múltiplas possibilidades

A repórter é pautada para fazer o perfil de Dorival Caymmi. A deixa, ou melhor, o

gancho4, como se diz no jargão jornalístico, é o aniversário de um ano de morte do

músico baiano. Para tanto, a profissional realiza pesquisas e entrevista filhos, amigos,

fãs e especialistas. O tema, principal da edição da Revista Muito número 72, de 16 de

agosto de 2009, ganha nove páginas, um espaço dividido entre texto, fotografia e

publicidade. O assunto tem destaque ainda na capa e na página três, com uma chamada5

para a matéria e um cartum.

Mas, além do trabalho condensado na publicação impressa, a repórter conta ainda com

farto material, resultado de sua pesquisa e dos depoimentos das fontes. Um material que

é disponibilizado no blog da revista. São postadas na web entrevistas na íntegra,

imagens inéditas garimpadas em acervos, vídeo de um apresentação de um dos filhos e

uma neta do músico, e também uma entrevista exclusiva – que não é citada na versão

impressa – com uma estudiosa em baianidade, que pode ter sido realizada antes ou

depois que a publicação impressa já estava pronta.

______________4O gancho é pretexto que gera a oportunidade de um trabalho jornalístico. “Quanto mais pretextos há para a produção de uma investigação jornalística mais oportuna ela é. Quanto mais ‘ganchos’ estiverem por trás de uma edição mais “quente” ela é. Um fato que se ligue, que dê margem a outro, que sirva de ponte, de gancho, enfim, para a notícia”. A definição é do Glossário de Jornalismo, disponível na web, que tem como referência o Manual de Redação do Globo. 5A chamada é um texto pequeno usado na primeira página para chamar a atenção do leitor para determinado material, descreve o Glossário de Jornalismo.

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“Os constrangimentos específicos de outras mídias, como a falta de espaço, na Web passam por mudanças. Em função das limitações, por exemplo, no geral usa-se apenas uma foto. Quando o material é disponibilizado na rede, podem ser usadas galerias de imagens, reforçando a ancoragem do fato ao real. Não apenas as opiniões são multiplicadas, mas também os enquadramentos da realidade. Esses elementos contribuem para que o Webjornalismo amplie as modalidades de construção dos efeitos de real, pois há uma maior explicitação dos pontos de contato entre a narrativa jornalística e a realidade retratada”. (DALMONTE, 2008, pág. 230)

A Bravo! também desenvolve trabalho um semelhante com uma outra personagem em

sua edição de outubro: a cantora Maria Bethânia. A entrevista, que é publicada na

revista impressa, ganha uma versão on-line com ensaio fotográfico e trechos da

entrevista em áudio. Em um processo de convergência entre os dois veículos, o trabalho

produzido inicialmente para a publicação impressa ganha mais que um novo espaço,

ganha uma nova narrativa. O leitor/internauta pode ver as fotografias e ouvir trechos da

entrevista, ou ao contrário: ouvir a entrevista e depois olhar as imagens de Maria

Bethânia. Pode também optar apenas por uma das alternativas ou até mesmo fazer as

duas ao mesmo tempo.

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Site da Revista Bravo! – links levam ao ensaio fotográfico e áudio de entrevista com Maria Bethânia

A nova narrativa só é possível graças às características da web, descritas como seis:

multimidialidade/convergência, interatividade, hipertextualidade, personalização,

memória e instanteneidade (PALÁCIOS, 2003, pág. 16). A multimidialidade, ou seja, a

convergência dos formatos das mídias tradicionais (imagem, texto e som) na narração

do fato jornalístico é um dos principais potenciais de transformação da narrativa. Mas as

demais também trazem novas possibilidades.

Quebra da linearidade

A web não apenas rompe com a noção restrita de espaço, característica própria dos

veículos impressos, mas também transforma a relação de tempo. A hipertextualidade

possibilita a interconexão de textos por meio de links e subverte a ideia da leitura linear,

de que uma página vem após outra. Na parte de cima da página em que se lê entrevista

de Paloma Amado sobre Caymmi, dois links podem levar para uma entrevista com

Nana Caymmi ou mesmo para aquela que tinha sido a primeira postagem sobre o tema:

a chamada para a publicação impressa.

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Blog da Revista Muito – links levam a chamada para a matéria de revista impressa e para outra entrevista

A notícia no site da Bravo! que relata a morte do fotógrafo norte-americano Irving

Penn, ícone da fotografia de moda, falecido na quarta-feira, dia 7 de outubro de 2009,

aos 92 anos, em Nova York, também é outro exemplo da utilização do hipertexto. A

notícia traz um texto com um breve histórico do artista, uma fotografia dele abrindo o

post e um link para um livro eletrônico com obras do fotógrafo. O link leva o leitor para

além da notícia. Quem conhece, clicando no link, pode rever o trabalho de Irving. Quem

não conhece, tem a oportunidade de observar fotografias de famosos e anônimos que

passaram diante da sua câmera fotográfica.

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Site da Bravo! – link leva para o livro com fotografias de Irving Penn

“O hipertexto oferece uma possibilidade de organização textual inovadora, segundo sua origem – blocos de texto unidos por links, o que permite uma escrita marcada pela convergência de modalidades comunicacionais – texto, vídeo, foto, integrando um mesmo ambiente”. (DALMONTE, 2007, pág. 141)

A hipertextualidade possibilita a interconexão por meio de links e também amplia a

ideia do paratexto. A Revista Muito produziu um ensaio fotográfico na Feira de São

Joaquim, maior feira livre de Salvador, com as bonecas Barbie6, ícone da cultura pop

norte-americana, vestidas por oito estilistas baianos. Durante a produção do ensaio

fotográfico, foi também realizado um vídeo. Uma história fictícia que tinha as bonecas

como protagonista. Bem como o ensaio fotográfico, o vídeo foi postado no blog da

Muito, passando a ser um paratexto no sentido daquilo que vai além do “texto”.

“O conceito de paratexto se apresenta como uma possibilidade através da qual podemos avançar nas abordagens sobre o link. O que seria simplesmente um recurso técnico, que viabilizaria o elo entre blocos de

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textos, com a idéia de paratexto, assume também o status de texto, um texto com funções específicas no ambiente hipertextual” (MIELNICZUK, 2003, pág. 115)

“A partir das possibilidades da web, os elementos paratextuais são ampliados e ganham um novo significado, pois a interação com o produto propicia aos leitores a capacidade de estabelecer vínculos com outros leitores. A criação de “comunidades de experiência” permite o estreitamento de vínculos entre a comunidade de leitores e a instância enunciadora”. (DALMONTE, 2008, pág. 17)

Interatividade ampliada

Em sua versão web, uma revista amplia também a possibilidade de interação com seu

público. A Muito em sua versão impressa, por exemplo, publica em média entre quadro

a cinco comentários a cada edição. É o que cabe no espaço de meia página geralmente

destinado a opinião dos leitores, que postam comentários no próprio blog ou mandam

cartas para a revista. O que não se compara a interatividade permitida pelo blog,

______________6Em uma parceria entre a revista, a fabricante Mattel e a loja Le Biscuit, as bonecas, chamadas de Barbies da Muito, estão sendo agora comercializadas, inclusive podendo ser comprada pelo próprio blog da revista.

A partir dos primeiros comentários, no blog, os leitores podem até iniciar uma discussão

sobre um determinado assunto. Foi o que aconteceu após o post com uma chamada para

a seção Bio da revista impressa número 70, de 2 de agosto de 2009. A chamada para o

perfil do o videomaker Diego Lisboa, disponibiliza três dos seus vídeos. A postagem

teve durante o mês nada menos do que 32 comentários, sobre o trabalho do

videomaker. Um verdadeiro fórum de discussão se instalou: uns criticaram, outros

defendiam as idéias do Diego Lisboa.

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Blog da Muito – Um dos vídeos de Daniel Lisboa no blog; postagens geraram 32 comentários

O debate, desta maneira, é praticamente impossível de imaginar em um outro meio de

comunicação, se não a web. O impresso jamais possibilitaria a discussão em função da

restrição do espaço, característica peculiar ao meio. Em outra mídia, como a TV, o

tempo seria o impeditivo. Na versão on-line da revista, a discussão não apenas

possibilita a participação de um número maior de pessoas como também se estende por

semanas, meses ou o tempo em que os internautas estiverem dispostos a postar suas

opiniões, já que os comentários vão continuar naquele espaço. A memória - acumulação

de informações - é mais viável técnica e economicamente na web do que em outras

mídias. (PALÁCIOS, 2003, pág. 20).

Mas os exemplos de interatividade permitidos pela web não param por aí. No post da

entrevista com o ator Lázaro Ramos, publicada na revista número 74, de 30 de agosto

de 2009, a repórter conta no blog os bastidores, chamando para a leitura da revista.

Além disso, posta fotos que não estão na revista e ainda um vídeo onde Lázaro imitando

Michael Jackson em cima de um trio elétrico gravando para a nova temporada da série

de televisão Ó pai ó. Clicando no link disponível no blog, o leitor é levado para a página

Page 10: Narrativa do jornalismo de revista na web¹

do jornal Extra – em uma rara reverência entre veículos de comunicação de grupos

diferentes. Além das características de multimidialidade e hipertextualidade, a postagem

também é um exemplo de interatividade. O vídeo foi enviado por uma leitora que

gargalha enquanto grava a cena do ator imitando o ídolo da música pop.

Blog da Muito – Vídeo de Lázaro Ramos imitando Michael Jackson, encaminhado por uma leitora

“A característica basilar do relato interativo é que ele congrega uma diversidade de modalidades comunicacionais, como texto, imagens, vídeos, etc. Escritura e leitura apartam-se de delimitações lineares. O texto prevê ainda a participação do leitor, que pode comentá-lo e reenvia-lo. A tecnologia possibilita ao texto uma existência cada vez mais marcada pela fluidez”. (DALMONTE, 2008, pág. 2)

Por meio da possibilidade de personalizar, a relação do veículo da web com o leitor

extrapola o envio de comentários, fotografias e vídeos. A personalização é a opção

oferecida ao usuário para configurar os produtos jornalísticos de acordo com os seus

interesses. Por meio de seu site, a Bravo! interage com seus leitores por meio do RSS, o

Real Simple Syndication, um padrão usado para distribuir conteúdo do site. O RSS é

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utilizado para enviar notícias específicas por e-mail para os leitores que se cadastrem e

indiquem suas preferências.

Considerações finais

“A possibilidade de dispor de espaço ilimitado para a materialização do material noticioso é a maior Ruptura a ter lugar como advento na web como suporte mediático para o jornalismo. Para além dessa ‘quebra dos limites físicos’ (ou crono-espaciais) da disponiblização do material noticioso, acreditamos que o jornalismo na web encontra sua especificidade não apenas pela Potencialização das características já descritas, mas principalmente pela combinação dessas características potencializadas, gerando novos efeitos”. (PALÁCIOS, 2003, pág. 24)

A revista na web traz a herança do impresso. A construção temporal na rede possui o

mesmo tempo do impresso: o presente. Postado no blog da Muito no dia 29 de agosto, o

título informa Tiago Aziz compartilha momentos da gravação do primeiro disco, com

onze faixas inéditas. No dia 12 de outubro, um outro título afirma A Roda Teatro de

Bonecos ganha prêmio da Funarte. Nos dois exemplos, os verbos estão no presente.

Embora no caso do músico, a ação já tivesse acontecido e lá esteja o vídeo gravado

anteriormente, e no post da premiação, o evento ainda estivesse por ocorrer, ambos têm

títulos no presente.

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Blog da Muito – A premiação ainda vai acontecer, mas o título traz o verbo para o presente

O site da Revista Bravo!, embora quase não utilize verbo na construção de seus títulos e

subtítulos, quando usa, também traz para o presente aquilo que está no futuro ou no

passado. A notícia postada mais de uma semana antes do evento informava: João

Ubaldo Ribeiro conversa com os leitores de Bravo! na segunda-feira, 19/10, na Fnac

Pinheiros (centro cultural em São Paulo). O verbo é usado no presente - conversa - e

não no futuro – conversará. Em jornalismo, o título no presente é um “expediente” que

permite uma “aproximação” temporal para não parecer velho aquilo que já “não” existe

mais ou “inatingível”, “incerto”, se construído no futuro.

Page 13: Narrativa do jornalismo de revista na web¹

Site da Bravo! – O título no presente se refere a um encontro com João Ubaldo que ainda ia acontecer

Embora a web traga a herança do impresso, o que a diferencia é o que potencializa sua

narrativa: suas características. Como o filme que começa no final e subverte a narração

tradicional, a web possui características que possibilitam essa subversão. São as

características da web que permitem que um veículo de comunicação on-line se estenda

para além das matérias editadas na versão impressa e construa seus próprios caminhos,

suas próprias narrativas.

“O movimento de constituição de novos formatos mediáticos não como um processo evolucionário linear de superação de suportes anteriores por suportes novos, mas como uma articulação complexa e dinâmica de diversos formatos jornalísticos, em diversos suportes, “em convivência” (e complementação) no espaço mediático, as características do Jornalismo na web aparecem, majoritamente, como continuidades e potencializações e não, necessariamente, como Rupturas com relação ao jornalismo praticado em suportes anteriores” (PALÁCIOS, 2003, pág. 22)

“O webjornalismo deve ser entendido em sua existência virtual, real, mas que, para tomar forma, deve ser acessado. Páginas, cadernos, editorias, esses conceitos oriundos da tradição do jornalismo impresso, na web tomam forma à medida que o leitor navega por

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espaços que vão sendo construídos interativamente, com base nas possibilidades oferecidas pelo veículo em questão”. (DALMONTE, 2008, pág. 7)

Um site ou blog de uma revista na web, como nos casos da Muito e da Bravo!, pode

complementa e atualizar o impresso e ainda potencializar as possibilidades de narrativa.

Porém, mesmo em um processo de convergência, não é simplesmente jogar as “sobras”

no veículo da web, muito menos transpor, fase que ao que tudo indica vem ficando cada

vez mais no passado. É preciso compreender que a web possui especificidades. Não

adianta simplesmente colocar na web o material que foi produzido ou pensado para um

veículo impresso. É necessário pensar no suporte e suas novas formas de narrar para

aprimorar o que já vem sendo feito e encontrar os caminhos que ainda estão para ser

descobertos.

Page 15: Narrativa do jornalismo de revista na web¹

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