literatura e jornalismo: a importância da revista verde

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Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde Para o Movimento Modernista Brasileiro 1 MARTINUZZO, Victor Augusto Bastos (Graduado) 2 NATHANAILIDIS, Andressa Zoi (Doutora) 3 Universidade Vila Velha, Espírito Santo Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar um estudo sobre a importância da revista Verde que circulou de setembro de 1928 a maio de 1929 - para o movimento modernista brasileiro e se a mesma manteve os objetivos iniciais ao longo de suas publicações. O estudo intenta, a partir de um resgate histórico, ressaltar as interseções existentes entre o jornalismo e a literatura, sendo o periódico em questão, uma ferramenta fundamental para a difusão do movimento já referido e de seus ideais, sendo ainda, assim, um agente construtor da história brasileira, por meio das vertentes jornalísticas. A fim de viabilizar o presente trabalho, são adotados os métodos de pesquisa bibliográfica e, principalmente, de análise de conteúdo, em que serão utilizadas como material de pesquisa três edições da Revista Verde, sendo elas a primeira, a terceira e a quinta. Palavras-chave: Modernismo; Jornalismo literário; Revista Verde; Movimento Verde; Análise de conteúdo Introdução O Modernismo Brasileiro foi uma das principais correntes artísticas que ocorreram no Brasil e, nesta época, o jornalismo no país não havia sofrido interseções estrangeiras, estando ligado intimamente à literatura. Por isso, torna-se importante o estudo da influência do jornalismo literário na difusão de um movimento artístico, delimitando como tema de estudo a Revista Verde, criada em Cataguases por jovens em 1927, e sua importância para o modernismo brasileiro em sua fase inicial (1922-1930). Douglas Tufano (2007), na obra Modernismo Literatura brasileira (1922-1945) disserta sobre tal fase. Segundo o autor, trata-se de um período que se iniciou em 1922, após a Semana de Arte Moderna, quando: As ideias modernistas saíram de São Paulo e do Rio de Janeiro e espalharam-se por todo o Brasil, gerando polêmicas e contribuindo para a formação de diversos grupos 1 Trabalho apresentado no GT de História do Jornalismo, integrante do IV Encontro Regional Sudeste de História da Mídia – Alcar Sudeste, 2016. 2 Graduado em Jornalismo pela Universidade Vila Velha (UVV); email: [email protected] 3 Graduada em Jornalismo, Mestre em Letras/Estudos literários pela Universidade do Espírito Santo (UFES), Doutora em Letras/Estudos Literários pela UFES, Docente da Universidade Vila Velha (UVV) e orientadora deste presente trabalho; email: [email protected]

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Page 1: Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde

Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde Para o

Movimento Modernista Brasileiro1

MARTINUZZO, Victor Augusto Bastos (Graduado)2

NATHANAILIDIS, Andressa Zoi (Doutora)3

Universidade Vila Velha, Espírito Santo

Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar um estudo sobre a importância da revista Verde –

que circulou de setembro de 1928 a maio de 1929 - para o movimento modernista brasileiro e se a mesma

manteve os objetivos iniciais ao longo de suas publicações. O estudo intenta, a partir de um resgate

histórico, ressaltar as interseções existentes entre o jornalismo e a literatura, sendo o periódico em

questão, uma ferramenta fundamental para a difusão do movimento já referido e de seus ideais, sendo

ainda, assim, um agente construtor da história brasileira, por meio das vertentes jornalísticas. A fim de

viabilizar o presente trabalho, são adotados os métodos de pesquisa bibliográfica e, principalmente, de

análise de conteúdo, em que serão utilizadas como material de pesquisa três edições da Revista Verde,

sendo elas a primeira, a terceira e a quinta.

Palavras-chave: Modernismo; Jornalismo literário; Revista Verde; Movimento Verde; Análise de

conteúdo

Introdução

O Modernismo Brasileiro foi uma das principais correntes artísticas que ocorreram no

Brasil e, nesta época, o jornalismo no país não havia sofrido interseções estrangeiras, estando

ligado intimamente à literatura. Por isso, torna-se importante o estudo da influência do

jornalismo literário na difusão de um movimento artístico, delimitando como tema de estudo a

Revista Verde, criada em Cataguases por jovens em 1927, e sua importância para o modernismo

brasileiro em sua fase inicial (1922-1930). Douglas Tufano (2007), na obra Modernismo

Literatura brasileira (1922-1945) disserta sobre tal fase. Segundo o autor, trata-se de um

período que se iniciou em 1922, após a Semana de Arte Moderna, quando:

As ideias modernistas saíram de São Paulo e do Rio de Janeiro e espalharam-se por

todo o Brasil, gerando polêmicas e contribuindo para a formação de diversos grupos

1 Trabalho apresentado no GT de História do Jornalismo, integrante do IV Encontro Regional Sudeste de História

da Mídia – Alcar Sudeste, 2016.

2 Graduado em Jornalismo pela Universidade Vila Velha (UVV); email: [email protected]

3 Graduada em Jornalismo, Mestre em Letras/Estudos literários pela Universidade do Espírito Santo (UFES),

Doutora em Letras/Estudos Literários pela UFES, Docente da Universidade Vila Velha (UVV) e orientadora

deste presente trabalho; email: [email protected]

Page 2: Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde

de vanguarda, que dariam novos matizes ao processo de renovação artística [...]

surgiram também várias revistas de arte [...] (TUFANO, 2007, p.33)

O presente artigo é resultado de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), defendido

em julho de 2016, para obtenção do grau de bacharel em jornalismo da Universidade Vila Velha

(UVV), e teve como intenção estudar e examinar a influência do jornalismo literário por meio

da análise de conteúdo a ser realizada sobre três exemplares da Revista Verde, o primeiro, o

terceiro e o quinto. Pretendeu-se verificar, então, conforme o exposto, em que medida a

publicação manteve presente em suas matérias os objetivos iniciais identificados por este autor

a partir, inicialmente, de um estudo superficial dos exemplares, sendo eles: a ênfase ao

fortalecimento identitário regional, a difusão dos propósitos do movimento e a ênfase ao

fortalecimento identitário nacional.

A hipótese que fora levantada se constituiu no fato de que a Revista Verde mantera sua

linha editorial e de pensamento ao longo das publicações por meio da análise de conteúdo.

Herscovitz (2010) disserta que essa metodologia é importante para constatar tendências,

características de produções de um certo grupo, como, o grupo Verde da Revista de mesmo

nome aqui analisada, além de ser possível categorizar o conteúdo jornalístico de várias culturas

e mídias.

Há pouco conteúdo produzido sobre a grande difusão dos veículos jornalísticos, que, à

época, estabeleciam correlações com a literatura, do expansionismo que o movimento

vanguardista assumia em território brasileiro. Os estudos iniciais apontam para a participação

da grande maioria dos modernistas na fundação e ou colaboração das revistas literárias, sendo,

elas, criadas a priori para a divulgação dos princípios vanguardistas da época. Crê-se, portanto,

que este será um trabalho a oferecer certa contribuição à comunidade acadêmica.

Durante a confecção da monografia, que resultou no presente artigo, um objetivo geral

foi empreendido: realizar um estudo que proporcione a avaliação sobre o papel do jornalismo

literário, praticado pela revista Verde, na difusão do movimento modernista e a hipótese de que

o periódico manteve uma linha editorial durante toda sua circulação.

Este trabalho também sustentou objetos específicos, como: reforçar o expansionismo

que o movimento teve fora dos principais centros; coletar informações e dissertar sobre a

importância cultural e vanguardista do movimento verde, formado pelo grupo de jovens que

fundaram a revista Verde; explicar os principais pontos que marcaram o modernismo em âmbito

brasileiro e de Minas Gerais; compreender a história do jornalismo literário; propagar o

Page 3: Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde

conhecimento sobre o movimento verde para a sociedade.

De acordo com o pesquisador Douglas Tufano (2012), o modernismo é dividido em duas

partes: a primeira fase compreende de 1922, após a Semana de Arte Moderna, até 1930 e a

segunda de 1930 a 1945. E neste trabalho, será abordada a primeira fase, na qual Tufano (2012)

compreende ser um período de “combate ou destruição”. “Nessa fase, a primeira geração

modernista procura difundir as novas ideias e não hesita em criticar violentamente a literatura

tradicionalista, provocando muitas polêmicas” (TUFANO, 2007, p.9)

Neste primeiro momento do modernismo, são criadas publicações jornalísticas, tais

como, revistas e jornais, conforme relata o escritor Raul Bopp:

[...] formou-se um campo fecundo para publicações literárias. O grande público tinha

fome de explicações. Cada ensaísta, com doutrinas próprias, fazia interpretações a seu

modo, muitas vezes em contradições com outros ‘semanistas’, que definiam

diferentemente as suas posições e ideias (BOPP, 2012, p.65)

Ainda segundo Bopp (2012), os periódicos tiveram grande relevância para a repercussão

dos novos valores artísticos, a fim de manifestar estímulos e debates sobre formas diferentes de

se ver um mesmo tema.

O autor relata em seu livro, Movimentos Modernistas do Brasil (1922-1928), os

principais periódicos sobre o assunto na época, dentre eles as revistas Klaxon e Estética:

A revista Klaxon foi a primeira do gênero e criada logo após a Semana de Arte de

Moderna, em São Paulo. Segundo Bopp, o periódico era ultravanguardista e carregava um

cunho agressivo. Colaboraram, principalmente, Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Manuel

Bandeira e Sérgio Millet.

Já a revista Estética, segundo periódico modernista brasileiro, foi fundada por Sérgio

Buarque de Hollanda e Prudente de Morais no Rio de Janeiro. Bopp relata que foi a primeira

revista a expor os ideais do movimento e teve em seus materiais estudos brasileiros, ensaios e

análises de doutrinas.

Bopp (2012) também dissertou o aparecimento da corrente em outros núcleos

intelectuais do Brasil, como, em Minas Gerais, em que foram fundadas duas revistas.

A Revista (1925, Belo Horizonte) fora fundada no centro cultural de Minas Gerais e

contou com as colaborações de grandes modernistas, como, Carlos Drummond de Andrade,

Martins de Almeida, Emíio Moura e João Albuquerque.

A outra importante publicação modernista em solo mineiro foi a revista Verde, fonte de

Page 4: Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde

análise e pesquisa desse trabalho. O periódico foi inspirado em um movimento de mesmo nome,

criado em 1927, por jovens escritores vanguardistas da zona da mata mineira, como relata a

pesquisadora Ana Lúcia G. Richa L. de Menezes (USP/UFRJ)4.

A penetração da revista fundada por esses moços foi significativa. O grupo conseguiu

lançar seis números da revista e quatro livros de poemas – além do “Manifesto do

Grupo Verde de Cataguases”, em novembro de 1927. A publicação circulou não só

por Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, como chegou via correio a diversas

partes do país [...]. Verde também se internacionalizou, acolhendo textos de autores

uruguaios e argentinos, sendo enviada a grupos da América do Sul, entre os quais os

que editavam as revistas Proa e Martin Fierro

O movimento alcançou repercussão nacional e até internacional, sendo considerado uma

das mais importantes publicações fora do “eixo RJ-SP”.

A pesquisadora Rivânia Maria Trotta Sant’Ana (UFOP)5 relata também que a revista

teve a contribuição, desde seus primeiros exemplares, de modernistas consagrados no Brasil,

como, Oswald de Andrade, Carlos Drummond e Mário de Andrade. A autora explica que fora

a audácia dos “meninos de Cataguases” que chamou a atenção desses escritores mais

conhecidos.

O Movimento Modernista No Brasil: Do Futurismo à Arte Brasileira

O movimento modernista brasileiro é resultante de outro agrupamento artístico, o

Futurismo italiano. Segundo Annateresa Fabris (1994), a corrente foi idealizada pelas premissas

apresentadas por Filippi Tommaso Marinetti (1876-1944), renomado poeta italiano, em um

manifesto. Ainda de acordo com a autora a publicação de “Fundação e Manifesto do

Futurismo”, no jornal Le Figaro, de Paris em 20/02/1909 tinha como slogan a “liberdade para

as palavras” e fora influenciada pelas teorias dos filósofos Friedrich Nietzsche (1844-1900),

Georges Sorel (1847-1922) e Henri Bérgson (1859-1941).

De acordo com a pesquisadora Mariarosaria Fabris6, a escolha da capital francesa para

o lançamento oficial do movimento se deve a uma maior repercussão em semelhança ao seu

4 MENEZES, Ana Lúcia G. Richa L. de. A correspondência de Mário de Andrade com os rapazes

do grupo verde de Cataguases como território de criação. Disponível em:<

http://www.filologia.org.br/xv_cnlf/tomo_2/96.pdf> Acesso em: 01 de Abr. de 2016 5 SANT’ANA, Rivânia Maria Trotta. O Movimento Modernista Verde, de Cataguases — MG.

Disponível em:< O Movimento Modernista Verde, de Cataguases — MG> Acesso em: 01 de Abr de 2016.

6 FABRIS, Mariarosaria. Notas sobre o futurismo literário. Disponível em:<

http://www2.assis.unesp.br/cilbelc/triceversa/publicacao/ed1/mariarosariafabris.pdf>. Acesso em 09 Mar. 2016.

Page 5: Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde

país de origem, mesmo que pesquisas recentes apontem para publicações do manifesto dias

antes em dois periódicos de Nápoles.

Com a publicação de “Fundação e Manifesto do Futurismo em Le Figaro, a 20 de

fevereiro de 1909, o movimento futurista era lançado em Paris. A escolha da cidade-

luz para a apresentação oficial do Futurismo e sua veiculação num jornal como Le

Figaro não foram gratuitas, pois vinham assegurar ao movimento uma repercussão no

meio cultural italiano e internacional muito maior do que se tivesse sido anunciado no

país de origem. De fato, apesar do lançamento na França, pesquisas mais recentes

assinalam que “Fundação e Manfesto do Futurismo” já havia sido divulgado alguns

dias antes em dois periódicos napolitanos. Na revista La Tavola Retonda (14 de

fevereiro), que publicou na íntegra, e no jornal Il Giorno (16-17 de fevereiro), que

reproduziu alguns de seus trechos

O objetivo parece ter sido alcançado e o manifesto em Paris ecoou de maneira global,

chegando até mesmo ao Brasil, “distante dos grandes cenários artísticos”, por meio do

intelectual Oswald de Andrade, que tomou conhecimento do Futurismo após uma viagem à

Europa em 1912, como aponta Raul Bopp (2102), em sua obra Movimentos Modernistas no

Brasil – 1922- 1945. Em uma dessas viagens à França, Oswald tomou conhecimento dos ideais

futuristas de Marinetti e resolveu difundir o movimento, inicialmente, nas rodas de intelectuais

da elite paulista. Segundo Bopp (2012) Oswald em uma das primeiras conversas do movimento

denunciou que o país estaria atrasado culturalmente pelo menos cinquenta anos, “afundado na

lama” do parnasianismo.

O pesquisador e professor Douglas Tufano (2007) relata que, após a divulgação da ideia

futurista em São Paulo, aos poucos começaram se formar círculos de escritores a fim de levantar

a ideia de renovação e modernidade, mesmo que sem uma convicção clara do que pretendiam.

Os jovens escritores só entendiam que a renovação era necessária, chegando até a uma série de

ataques à Academia Brasileira de Letras, que era considerada ali o centro do tradicionalismo

literário nacional.

Tufano (2007) discorre ainda que no início de 1921 fora publicado um texto em que são

explanadas as principais ideias do Modernismo, por Menotti del Picchia, no Correio Paulistano.

O autor relata que as ideias foram, assim, resumidas pelo historiador Mário da Silva Brito:

O rompimento com o passado, ou seja, a repulsa às concepções românticas,

parnasianas e realistas; a independência mental brasileira, abandonando-se as

sugestões europeias, mormente as lusitanas e gaulesas; uma novas técnicas para a

representação da vida em vista de que os processos antigos ou conhecidos não

apreendem mais problemas contemporâneos; outra expressão verbal para a criação

literária, que não é mais a mera transcrição naturalista mas recriação artística,

transcrição para o plano da arte das realidades vitais (TUFANO APUD BRITO, 2007,

Page 6: Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde

p.16)

Segundo Tufano (2007), ainda no mesmo ano, o escritor Mário de Andrade assenta que

os intocados poetas do Parnasianismo, assim como, o próprio movimento, já não eram mais

inspiradores e seu tempo já havia passado.

De acordo com Bopp (2012), o clima era de inquietação na roda dos intelectuais de São

Paulo, com Oswald de Andrade a perguntar o motivo pelo qual a capital paulista não realizava

de vez uma “renovação geral das artes”. Tufano (2007) completa ainda que os paulistas e

cariocas estavam se comunicando intensamente a fim de encontrar um marco definitivo para o

movimento, que viria a ser a Semana de Arte Moderna de 1922. O autor narra o primeiro

projeto:

Segundo depoimento do pintor Di Cavalcanti, foi ele quem sugeriu a realização de

uma semana de arte moderna. Inicialmente, o objetivo era modesto: uma pequena

exposição de arte moderna na livraria e editora O livro, em São Paulo. Nessa livraria,

os modernistas costumavam reunir-se para palestras, declamações e mostras de

trabalho (TUFANO, 2007, pp.17-18)

Bopp (2012) disserta que a ideia inicial do projeto foi ampliada para que a Semana de

Arte Moderna tomasse uma maior repercussão e Tufano (2007) completa que a presença intensa

de pessoas da alta sociedade paulista fez com que a cobertura da imprensa se intensificasse e,

assim, o espaço de uma livraria acabara se tornando pequeno para o evento. “Escolhe-se, então,

um novo local para a realização da semana: o majestoso Teatro Municipal de São Paulo, que

tinha sido inaugurado em 1912 e era o reduto da aristocracia da cidade” (TUFANO, 2007, p.18).

O marco inicial do modernismo brasileiro, a Semana de Arte Moderna, aconteceu nos

dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922 e contou com a participação dos artistas mais influentes

da corrente vanguardista, como, por exemplo, a exposição das obras de Anita Malfatti e Victor

Brecheret, poemas de Menotti del Picchia, Mário de Andrade, Sérgio Millet, Oswald de

Andrade e ainda uma apresentação musical de Villa-Lobos, segundo disserta Bopp (2012).

O autor completa que mesmo diante de reações negativas do público, avaliou a

importância e a repercussão do evento, considerando que o mesmo:

[...] teve inegavelmente reflexos proveitosos. Sua penetração, como notícia, foi

enorme. Jornais do Rio deram-lhe ampla cobertura. Entrou até, com ar de burlão, pelos

teatros do Largo do Rocio e em canções carnavalescas. A iniciativa, não há dúvida,

teve méritos enormes. Abriu caminho a manifestações literárias modernas, incutindo

ideias de renovação, pelos centros culturais do país. Fez o inventário dos efetivos de

arte nacional e de uma literatura, prenhe de gostos retóricos (BOPP, 2012, p.39)

Page 7: Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde

É possível concluir que para ambos escritores o evento, mesmo diante dos obstáculos e

da estranheza pelo público, foi um marco inicial para a quebra das antigas regras de bom gosto

na arte brasileira e a criação de uma consciência do movimento, como Bopp (2012) relata:

O impacto de ideias de vanguarda, que teve uma ressonância em todo o país, lançou

os intelectuais em posições novas. Consequentemente, verificou-se, em vários setores,

um abandono gradativo dos princípios, que sujeitavam letras e artes aos moldes

formais da época. Iniciou-se um ciclo diferente para a conquista da expressão própria,

em ruptura com o conformismo (BOPP, 2012, p.41-42)

Ainda de acordo com Bopp (2012) foi entendido pela sociedade que a Semana de 22

não fora só uma “psicose de uma pequena elite” e que a evolução era imprescindível. Para o

autor, o movimento não parou com o término do evento e uma sensação jovem adentrou nos

espíritos dos artistas e escritores em todo o brasil.

Foi um ponto de partida, para [...] irem se buscando, aos poucos, com uma nova

compreensão do momento. Embora ela não tivesse exercido uma influência imediata,

o movimento formou, gradualmente, e cm um alcance coletivo, um conjunto de ideias

básicas, coerentes com a realidade brasileira (BOPP, 2012, p.42)

O deleite inicial fez com que os maiores nomes modernistas saíssem pelo Brasil a fim

de divulgar ainda mais o novo movimento e sua revolução nas letras e na arte, como relata Bopp

(2012). O autor ainda disserta que com a difusão das ideias nasceram vários movimentos

regionais, como, em solo mineiro, onde fora fundada a Revista Verde, objeto deste estudo e que

será detalhada no próximo capítulo sobre o modernismo em Minas Gerais.

A Revista Verde e o Movimento Homônimo de Cataguases

A Revista Verde teve como principais escritores e fundadores Ascânio Lopes, Rosário

Fusco, Guilhermino César, Francisco Ignácio Peixoto, Enrique de Rezende e Martins Mendes.

Todos tinham à época entre 17 e 28 anos e formavam inicialmente o grupo Verde, do qual se

originou a revista de arte e cultura denominada com o mesmo nome do movimento e ainda uma

editora, do qual lançou-se vários livros dos Verdes, com trechos inéditos e divulgações dentro

da revista.

De acordo com o pesquisador Joaquim Branco7, o inicio do movimento se dá no Ginásio

7 BRANCO, Joaquim. Verdes vozes modernistas. Disponível

em:<http://http://alpha.unipam.edu.br/documents/18125/19714/verdes-vozes.pdf> Acesso em 23 Mai. 2016

Page 8: Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde

Municipal de Cataguases, uma instituição educacional, onde os Verdes se reuniram pela

primeira vez para “combater os velhos ideais”, por meio do Grêmio Literário Machado de Assis.

Branco relata que:

[...] foi com o trabalho dos ‘verdes’ – no grêmio, nos jornais e revistas – que aconteceu

a ruptura com a velha ordem para se instalar o Modernismo em Cataguases. A ação

desenvolvida pelo grupo deveu-se à ação de cada um dos participantes do movimento,

desde meados dos anos 20

Ainda segundo Branco, as ações do grupo se dividiam por jornais da cidade, que

serviram como ensaio para o que viria a ser Revista Verde, tendo em 1926 sido publicado poema

“Rua”, de autoria de Camilo Soares, no jornal Mercúrio e considerado como o primeiro texto

com teor modernista publicado pelo grupo.

Branco disserta que o movimento fora ganhando repercussão nacional e animados com

o contato de modernistas de outros estados, como Mário de Andrade e Oswald de Andrade, de

São Paulo, e Carlos Drummond de Andrade, de Belo Horizonte, o grupo criou em 1927 a

Revista Verde, mesmo com a oposição local, ainda tradicionalista. Essa oposição poderá ser

acompanhada durante a análise das edições, uma vez que os Verdes citam continuamente esse

fato na revista.

Branco ainda relata sobre os passos seguintes da publicação:

Emergia a nova arte cataguasense nos seis números editados da revista Verde – de 1927 a

1929 –, na correspondência que mantiveram no país e no exterior, na troca de ideias com

outros modernistas, nas polêmicas com um e outro conservador. Nesse momento

distinguiram-se mais as vozes de Rosário Fusco, Ascânio Lopes e Enrique de Resende

O fim da Revista, segundo Branco, se deu por dois fatores: a morte prematura de um

dos maiores colaboradores da Verde, Ascânio Lopes e a dissidência do grupo, com alguns dos

seus integrantes se mudando para a capital mineira e para o Rio de Janeiro.

Análise de Conteúdo: Método Principal

Neste trabalho o principal método utilizado foi a análise de conteúdo, a fim de resolver

a problematização inicial das hipóteses aqui defendidas. Segundo Leonor Bardin (2001), na

obra Análise de conteúdo, a metodologia homônima consiste em:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por

procedimentos sistemáticos e objetivos do conteúdo das mensagens indicadores

(quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às

condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens". (BARDIN,

2011, p. 48)

Page 9: Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde

Bardin (2001) disserta também que esta metodologia, de uma forma geral, compreende

os propósitos da ultrapassagem da incerteza e do enriquecimento da leitura, além de ter duas

funções que podem ou não interagir: a função heurística, que compreende a tentativa de

descoberta, “para ver o que dá”, como define a autora, e a função de administração de provas,

em que o pesquisador irá utilizar quando há uma hipótese estabelecida em seu estudo, a fim de

confirmar ou invalidar essa questão, como o que se pretende fazer neste trabalho.

Passado à contextualização do método e as primeiras definições, irá se utilizar da

bibliografia da pesquisadora Heloiza Golbspan Herscovitz (2010), que trata exclusivamente do

método aplicado ao jornalismo, no qual este trabalho se utiliza.

Herscovitz (2010), é uma importante pesquisadora sobre inferência de arquivos

jornalísticos, como, por exemplo, vídeos, DVDs, CDs, jornais e até uma revista, exemplo sobre

o qual recai o objeto de estudos desta pesquisa, como previamente externado, será analisada a

Revista Verde de Cataguases.

A autora relata que o método é bastante utilizado nas pesquisas jornalísticas a fim de:

[...] detectar tendências e modelos na análise de critérios de noticiabilidade,

enquadramentos e agendamentos. Serve também para descrever e classificar produtos,

gêneros e formatos jornalísticos, para avaliar características da produção de

indivíduos, grupos e organizações, para identificar elementos típicos, exemplos

representativos e discrepâncias e para comparar o conteúdo jornalístico de diferentes

mídias em diferentes culturas (HERSCOVITZ, 2010, p.123)

A partir da definição das hipóteses, Herscovitz (2010) disserta que é necessário delimitar

uma unidade de análise, que neste trabalho será toda a parte de conteúdo de três edições da

Revista Verde, a primeira, a terceira e a quinta edição, excluídos os anúncios comerciais.

As edições escolhidas para a análise seguem a necessidade de se credibilizar o estudo e,

para isso, foram extraídos os conteúdos de três edições, considerando, assim, o inicio com a

primeira edição, em setembro de 1927, o meio com a terceira edição, lançada em novembro do

mesmo ano e o fim, com a quinta edição, publicada em janeiro de 1928, uma vez que a sexta

edição do periódico só viera a ser publicada em maio de 1929, devido a homenagem à morte de

um dos fundadores da Verde, o poeta Ascanio Lopes (1906-1929), que decretara o fim do

periódico.

Segundo Herscovitz (2010), o processo da análise de conteúdo organiza-se em quatro

pontos: a conceituação; a definição nominal; a definição operacional; e a interpretação

Page 10: Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde

estabelecida sobre o mesmo, a mensuração.

De acordo com a pesquisadora, grande parte dos conteúdos jornalísticos medidos são

conceitos e “[...] para trabalhar com estes conceitos é preciso especificá-los com precisão,

estabelecendo os indicadores, [...] as dimensões [...] e os atributos” (HERSCOVTIZ, 2010,

p.132).

A definição nominal da análise se dá, segundo a autora, por meio de outras pesquisas,

dicionários e pela literatura específica. Deste modo, procurou-se incluir neste trabalho o que há

de mais relevante e interessante sobre os assuntos abordados, com as bibliografias e pesquisas

em comum mais importantes.

Herscovitz (2010) disserta ainda que dentro da definição nominal, há o processo de

codificação, que circunda decidir a especificação da categoria e os níveis de medição, ficando,

assim, deliberado no trabalho a utilização destas categorias ordinais: altamente engajada aos

objetivos iniciais do projeto da Revista Verde, moderadamente engajada aos objetivos iniciais

do projeto da Revista Verde e pouco engajada aos objetivos iniciais do projeto da Revista Verde.

O nível de medição das categoriais foi sentenciado tendo em vista três abordagens que

definem o engajamento modernista do conteúdo a ser analisado: ênfase ao fortalecimento

identitário regional; ênfase ao fortalecimento identitário nacional; e a difusão dos propósitos

do movimento modernista. O aparecimento das três questões no objeto analisado, será definido

como altamente engajado, de duas questões, moderadamente engajado e de apenas uma

questão, pouco engajado. Todos os conteúdos jornalísticos analisados da revista foram

codificados, mesmo os que em primeira vista eram considerados sem postura aparente, e se

confirmados, foram taxados como sem importância para a pesquisa, não sendo classificados

qualitativamente e só quantativamente, como, as categorias outros e estrangeirismo.

A fim de realizar a codificação, Herscovitz (2010) relata que é preciso definir uma

unidade de registro para dar início a questão operacional da pesquisa, que pode ser a palavra, o

tema, um parágrafo e o texto inteiro, que fora utilizado nesta análise. A escolha por essa unidade

de texto se dá por ser uma contagem de frequência em que será preciso saber o conteúdo

manifesto por inteiro, se recomendando assim por pesquisadores “[...] a utilização de textos

inteiros como unidades de registro no caso de manchetes, notícias e reportagens curtas[...]”

(HERSCOVITZ apud WEBER, 2010, p. 135). É o caso da Revista Verde, composta em média

por 25 páginas de conteúdo – poesias, poemas, críticas, reportagens e notícias - por edição

analisada.

Page 11: Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde

Análise Quantitativa da Primeira Edição da Revista Verde

Foram identificadas 23 matérias que se enquadraram em categorias da pesquisa

quantitativa, dos quais, destes, 16 textos continham aspectos relacionados aos objetivos iniciais

do projeto da Revista Verde, iniciado pelo grupo de mesmo nome em Cataguases, e foram

analisados também qualitativamente.

Atentando-se para a análise dos resultados da pesquisa qualitativa e quantitativa desta

primeira edição da Revista Verde, foi possível observar que 16 matérias contemplaram algum

dos objetivos dispostos inicialmente no projeto, contra sete matérias em que não foram

observadas nenhuma característica. Desta forma, pode-se considerar que o trabalho de

fortalecimento identitário e de divulgação do movimento fora bem realizado, conforme

projetado pelos idealizadores.

É possível destacar que das 16 matérias, nove foram altamente engajadas à esta

propensão inicial, quatro foram moderadamente engajadas e somente três matérias foram pouco

engajadas. Este predomínio de matérias altamente engajadas denota ainda mais que os

fundadores conseguiram, nesta edição, seguir a linha dos intentos preliminares.

Outra nota a se fazer que ajuda a comprovar que os fundadores cumpriram nesta edição

do periódico o que promoviam pelo grupo mineiro é a de que nenhuma colaboração estrangeira

fora constatada.

Análise Quantitativa da Terceira Edição da Revista Verde

Na terceira edição da Revista Verde, a segunda analisada nesta pesquisa, foram

encontrados 26 textos que se adequaram às categorias da pesquisa quantitativa, dos quais 18

conteúdos continham aspectos relacionados aos objetivos iniciais do projeto da Revista Verde,

iniciado pelo grupo de mesmo nome em Cataguases, e foram analisados também

qualitativamente.

Observando-se a análise dos resultados da pesquisa qualitativa e quantitativa desta

terceira edição da Revista Verde, foram notadas 18 matérias que contemplaram algum dos

objetivos dispostos inicialmente pelos fundadores da publicação, contra cinco textos que foram

descartados da pesquisa, considerados como “outros”, e três matérias contendo estrangeirismos,

aparecendo, assim, pela primeira vez na análise.

É possível identificar uma diminuição de matérias que não tinham ligação com os

Page 12: Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde

objetivos da Revista e um aumento das matérias que seguiram a linha proposta pelos Verdes.

Porém, em contraponto e paradoxalmente à questão do fortalecimento identitário nacionalista,

conta-se com as primeiras ocorrências de matérias e colaborações estrangeiras.

Atentando-se agora às matérias que se enquadraram em algum dos objetivos

identificados como alvos iniciais dos Verdes, o predomínio de matérias altamente engajadas

continua, com os mesmos nove textos da primeira edição analisada. As matérias consideradas

moderadamente engajadas também mantiveram a mesma frequência, com quatro aparições.

Desta vez, porém, os textos pouco engajados tiveram um aumento e contaram com cinco

ocorrências na edição aqui analisada. Esse fenômeno pode se dar uma vez que as matérias no

total também aumentaram, de 26 para 28 textos enquadrados em alguma categoria qualitativa.

Análise Quantitativa da Quinta Edição da Revista Verde

Na quinta edição da Revista Verde, a terceira e última analisada nesta pesquisa, foram

encontrados 25 textos que se adequaram às categorias da pesquisa quantitativa, sendo destes,

17 matérias que continham aspectos relacionados aos objetivos iniciais do projeto da Revista

Verde, iniciado pelo grupo de mesmo nome em Cataguases, e foram analisados também

qualitativamente. Assim, se percebe que houve uma diminuição de conteúdos da última edição

analisada para esta.

Observando-se a análise dos resultados da pesquisa qualitativa e quantitativa desta

terceira edição da Revista Verde cinco textos que foram descartados da pesquisa, oito matérias

não se adequaram aos termos da pesquisa e não foram qualitativamente analisadas, das quais

quatro foram consideradas como “outros”, e quatro considerados “estrangeirismos”, ou seja,

matérias referentes à assuntos estrangeiros.

Atentando-se as matérias que se enquadraram em algum dos objetivos identificados

como alvos iniciais dos Verdes, o predomínio de matérias altamente engajadas não continuou,

sendo, desta vez, as matérias moderadamente engajadas a maioria, com dez textos contra apenas

cinco matérias altamente engajadas e, ainda, outras duas matérias pouco engajadas.

Podemos ressaltar que esse dado mostra que a Revista saiu da linha dos objetivos iniciais

na última edição e tal afirmação se agrava quando analisamos que as matérias sem nenhuma

ligação ao movimento aumentaram, visto que as denominadas “outros” tiveram frequência de

quatro textos e, principalmente, as matérias consideradas estrangeirismos, em paradoxo ao que

tanto os Verdes pregavam, o “abrasileiramento do Brasil” nos contextos literários e ideológicos,

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tiveram também quatro aparições.

Considerações Finais

A pesquisa desenvolvida nesta monografia procurou trabalhar, através da análise de

conteúdo, a influência da revista Verde e dos elementos jornalísticos para a divulgação do

Movimento Modernista Brasileiro e, deste modo, fora analisada três edições da publicação

acima citada para responder à tese inicial.

O primeiro passo deste estudo foi discernir, por meio da contextualização histórica do

modernismo e da Revista Verde, as peculiaridades que podem ser consideradas importantes no

levantamento das propostas. Foram reconhecidas três características – ênfase ao fortalecimento

identitário regional, difusão dos propósitos do movimento e a ênfase ao fortalecimento

identitário nacional – e que, posteriormente, foram analisadas individualmente perante os

conteúdos das edições.

Este estudo foi incitado pela observação da importância dos periódicos para a difusão

do movimento modernista e ainda pelo pouco material encontrado sobre a Verde referente à sua

tamanha importância. Em uma leitura superficial, a partir da contextualização histórica do

periódico, a Verde continha elementos característicos do seu início ao fim, apontando pelo

seguimento das linhas editoriais e de tais objetivos determinados inicialmente pelo grupo que a

fundou, de mesmo nome. Constatou-se que a revista Verde manteve essa linha de pensamento,

mas modificara sua diretriz ao longo das edições, inclusive, adotando o estrangeirismo em duas

publicações, a terceira e a quinta, criando, assim, um paradoxo referente à um dos conceitos

que pregou desde a apresentação na primeira tiragem: o fortalecimento identitário regional e,

principalmente, o nacional.

Abrangendo os resultados, foi constatado que na primeira edição a Verde se mostrou

majoritariamente com um alto teor de engajamento e seguindo a linha já definida pelo grupo

antes de seu lançamento. A ênfase ao fortalecimento identitário regional constou em 13

matérias, a difusão do movimento modernista teve frequência também em 13 matérias e a

ênfase ao fortalecimento identitário nacional foi identificada em 12 matérias. Esse equilíbrio

mostra que as matérias analisadas confirmam o que fora acima levantado. Esta afirmação ainda

se fortalece com este dado quantitativo: dos 23 conteúdos analisados, 16 se enquadraram nas

características estudadas e sete matérias foram classificadas como outros, sem nenhum

estrangeirismo. Ou seja, mais de 69% das matérias contidas na edição inicial seguiram os

Page 14: Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde

objetivos inicias do Movimento Verde.

Notou-se ainda na terceira tiragem o fenômeno descrito acima na primeira edição da

Verde, uma notória preocupação em se publicar conteúdos ligados ao fortalecimento identitário

e à difusão do Movimento e que podem ser confirmadas na análise quantitativa, em que se

obteve ainda a constatação que mais de 69% das matérias analisadas continuaram a linha

objetiva inicial dos fundadores.

O equilíbrio na distribuição das características também continuou, com 14 matérias

ligadas à difusão do movimento modernista, 12 textos à ênfase ao fortalecimento identitário

nacional e 11 ao fortalecimento identitário regional. Desta vez, porém, houve uma mudança

nesta questão, prevalecendo os textos carregados na difusão da corrente e não mais relacionados

à regionalização do movimento em Cataguases e Minas Gerais.

Na terceira edição ainda temos o aparecimento do estrangeirismo nas matérias, em que

se ressalta o que já fora citado, esse paradoxo referente ao objetivo de fortalecer a questão

identitária. Foram as primeiras três matérias desse tipo nesta pesquisa.

A mudança de visão dos Verdes ficara clara com os resultados presentes na quinta edição

e última analisada nesta pesquisa. A começar com a queda de mais de 1% dos conteúdos que se

alinhavam aos objetivos iniciais da Verde, o que pode parecer pouco, mas não é diante das

observações a seguir. Pela primeira vez as matérias com alto teor de engajamento não

dominaram a publicação, tendo figurado em apenas cinco textos analisados, metade das

matérias com moderado teor de engajamento. E ainda se obteve duas matérias pouco engajadas.

Corroborando estas informações, pode-se atentar a questão qualitativa, em que se notou

esta mudança no ponto de vista dos Verdes, agora mais focados em se valorizar perante o

movimento e sua difusão em contraponto à valorização identitária, tão presença nas primeiras

publicações. A única característica que obteve aumento nas aparições durante as tiragens foi a

difusão dos propósitos do movimento, chegando a ter 17 textos na quinta edição ligados a esse

traço.

Atentando-se às matérias que não foram analisadas qualitativamente e somente

quantitativamente, com os resultados da quinta edição, pode-se concluir que os Verdes se

tenderam a buscar uma maior valorização perante as outras correntes, principalmente, os

presentes na Argentina, Uruguai e na França, de onde vieram as contribuições artísticas. A

quinta edição obteve, logo nas páginas iniciais de conteúdo, duas matérias referentes à artistas

estrangeiros. Fora as matérias presentes na terceira e última edição totalmente em espanhol ou

Page 15: Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde

em francês. Indo contra ao “abrasileiramento do Brasil” que pregaram no inicio do Movimento

Verde.

Conclui-se, então, que a Revista Verde seguiu uma linha proposta inicialmente até o fim

de sua publicação, havendo uma leve diminuição na última edição, com as porcentagens de

matérias engajadas de 69% nas edições um e três e 68% na quinta edição. Entretanto, houve

uma alternância no enfoque dentro dessas características e os fundadores intensificaram ao

longo das edições a difusão do movimento modernista, deixando a questão identitária regional

e nacional em segundo plano.

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