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04 - Editorial: Paulo Rocha06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional22 - Opinião: D. Manuel Linda24 - Opinião: Rita Figueiras26 - Semana de.. Henrique Matos28 - Dossier Comunicações Sociais

62 - Multimédia64 - Estante66 - Vaticano II68 - Agenda70 - Por estes dias72 - Por outras palavras73 - YouCat74 - Programação Religiosa75 - Minuto Positivo76 - Liturgia78 - Família80 - Ano da Vida Consagrada84 - Fundação AIS86 - Lusofonias

Foto da capa: D.R.Foto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,.Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

13 de maio entreBrasil e Portugal[ver+]

Franciscolembrou apariçõesde Fátima[ver+]

Dia Mundial dasComunicaçõesSociais[ver+]

D. Manuel Linda | Paulo RochaRita Figueiras | Ângela RoqueManuel Barbosa | Paulo Aido | TonyNeves | Inês Espada Vieira | PedroJerónimo

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Narrar de novo

Paulo Rocha Agência ECCLESIA

O debate sobre a comunicação desagua comfrequência no que todos desejariam e ninguémtem: os jornalistas gostariam de fazer notíciasdiferentes, os leitores passar por conteúdospositivos, os telespectadores ver imagens menosdramáticas, os ouvintes ir além de soundbites etodos os membros de grupos nas diferentesredes passar por menos de curiosidadesbacocas.Na origem desta constatação, tantas vezesexposta por profissionais dos media e poraqueles que aparentemente apenas se servemdeles, está a abundância globalizada demensagens, conteúdos, dramas, comentários,imagens ou filmes. E sobretudo o caos queinvade as diferentes possibilidades de comunicar.De facto, tanto se valoriza um comunicado comoum desabafo e pode ser notícia um relato ourelatório, independentemente de quem oproduza. Por outro lado, os critérios decredibilidade e valorização do que está aoalcance de todos os recetores apenas dependedo impacto que gera e das audiências queconquista. Sim, porque tanto um programa deentretenimento como uma fotografia estampadanum mural têm o mesmo objetivo: conquistaraudiência.A comunicação é cada vez mais um grandefórum, anárquico, onde confluem pequenas egrandes anúncios, local de novidades ecuriosidades, centro onde se procuram tantoreferencias fundamentais da Humanidade e comobisbilhotices de todos os quotidianos.Diante deste panorama surge um desafio: “narrar

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de novo”. É a proposta do Papa namensagem para o Dia Mundial dasComunicações Sociais, que seassinala este domingo. Franciscofala três vezes em “narrar”: valorizaos media enquanto possibilidade de“narrar e compartilhar”; afirma que odesafio hoje consiste em “aprenderde novo a narrar”, indo além dapossibilidade de “produzir econsumir informação”; e explica que“narrar significa compreender queas nossas vidas estão entrelaçadasnuma trama unitária, que as vozessão múltiplas e cada uma éinsubstituível”.“Narrar”, neste sentido, estádistante de qualquer processo decomunicação da galáxia digital queconstruímos. Porque a trama não éunitária, mas episódica,fragmentada, do instante.

“Narrar”, no conceito doPapa, distancia-se também dosprojetos de comunicação, tanto osempresariais que apenas visam olucro como os institucionais queprocuram solidificar um nome, umacomunidade de pessoas, onde sepodem incluir também osdesenvolvidos pela Igreja Católica.“Narrar de novo” exige não apenasatitude diferente diante do consumodos media, mas sobretudo novasestratégias de presença nesteambiente, de desenvolvimento deprojetos audiovisuais, descobrindo a“trama unitária” que os liga, mesmoque com “vozes múltiplas”, porque“cada uma é insubstituível.Narrar de novo passa, por certo,pela concretização de desejostantas vezes formulados de trabalhoem conjunto, parcerias e valorizaçãorecíproca do muito que se faz nosmedia.

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Procissão de Nossa Senhora de Fátima percorre as ruas de Macau.

13 de Maio de 2015. LUSA

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"Os indicadores de quedispúnhamos apontavam para esteresultado, um resultado decrescimento, que nos permitirá esteano alcançar a meta de 1,6% decrescimento, tal como o Governopreviu"Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro de Portugal, sobre os smais recentes dados do InstitutoNacional de Estatística, Lisboa,13.05.2015 “Tem de haver, como em todosos problemas de comportamentoe de saúde mental de jovens ecrianças, uma intervençãosistémica. Trabalhar com os paisdestas crianças – da vítima e doagressor – com as escolas (osprofessores e os assistentesoperacionais, porque são quemestá nos recreios e não sabemcomo lidar com este tipo desituações)”Filomena Gaspar, especialistaem educação parental emdeclarações à RR sobre vídeodivulgado nas redes sociais comimagens de agressão entrejovens, Coimbra, 14.05.2015

“Seria a cereja em cima do bolopara demonstrar a forma altamentenegativa como o Governo conduziutodo este processo”António Costa, líder do PS, sobre avenda da TAP, Lisboa, 14.05.2015 “[Je suis Charlie] Não contribuiupara coisa nenhuma. É umdaqueles movimentos de massaprovocados e manipulados”Jaime Nogueira Pinto, autor de"O Islão e o Ocidente", emdeclarações à RR, Lisboa,14.05.2015 “É importante que todo estemovimento de defesa e proteção davítima de crime seja compatível comaquilo que é o essencial da filosofiae da conceção da intervenção penalem Portugal”A Joana Marques Vidal,procuradora-geral da República, noâmbito da Conferência ‘Vítimas deCrime na Europa: O futuro é agora!’,Lisboa, 13.05.2015

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Imagem peregrina de Nossa Senhorainiciou visita ao paísO bispo de Leiria-Fátima manifestoua esperança de que a visita daimagem peregrina de NossaSenhora às dioceses de Portugal,que se iniciou a 13 de maio,contribua para uma sociedade cadavez mais justa e solidária. “Sêconselho dos que governam e dosque trabalham pela paz e olha paraa condição dos que vivem asdificuldades do mundocontemporâneo”, exortou D. AntónioMarto, na oração de envio daimagem peregrina, que durante ospróximos 12 meses estará depassagens por todas as diocesesportuguesas.Numa intervenção proferida no finalda Missa de encerramento da

peregrinação internacional de maio,na Cova da Iria, o prelado pediu aMaria que “acolha com solicitudematerna o grito de louvor e a súplicade todos os que, em cada lugar dePortugal, procuram a força da suaintercessão” e “trabalham por ummundo melhor”.Apelou ainda à intercessão deNossa Senhora para “os bispos,presbíteros e diáconos” de cadadiocese, para que Maria seja “oalento de todos os consagrados, aalma de cada família e a alegria dosagentes de pastoral”.A passagem da imagem peregrinade Nossa Senhora de Fátima pelopaís está englobada na preparaçãodo centenário das

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aparições, marcado para 2017.O início da iniciativa, esta quarta-feira, foi acompanhado por mais de200 mil peregrinos, dos maisvariados países e continentes, queencheram o Santuário de Fátimanas cerimónias 12 e 13 de maio,presididas este ano por D.Raymundo Damasceno Assis,cardeal-arcebispo de Aparecida.Após deixar o Santuário de Fátima,a imagem peregrina de NossaSenhora de Fátima fará de carro oseguinte percurso por Portugal:Viseu, Braga, Viana do Castelo, VilaReal, Bragança-Miranda, Lamego,Coimbra, Guarda,

Portalegre-Castelo Branco, Setúbal,Évora, Beja, Algarve, Santarém,Lisboa, Madeira, Aveiro, Açores,Porto, Leiria-Fátima.O Santuário espera que estainiciativa seja para os portugueses“uma forte experiência de fé” erecorda que “todos são convidadosa participar”.A primeira imagem peregrina, feitasegundo indicações da irmã Lúcia,foi oferecida pelo bispo de Leiria ecoroada pelo arcebispo de Évora a13 de maio de 1947, tendo desdeesta data, por diversas vezes,percorrido o mundo inteiro.

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Fátima e Aparecida mais unidos

O cardeal brasileiro D. RaymundoDamasceno Assis, presidiu emFátima à cerimónia de entronizaçãode uma imagem de Nossa SenhoraAparecida, sinal da “união” entrePortugal e Brasil. “Queremos que apresença desta imagem seja sinalda união destes povos, portuguesese brasileiros, que estão unidosprofundos laços históricos, pelamesma fé, pelo mesmo amor aNossa Senhora”, declarou oarcebispo de Aparecida.O presidente da peregrinaçãointernacional do 13 de maio rezoupela paz e colocou sob a proteçãoda Virgem Maria o próximo Sínodosobre a família, que vai decorrer emoutubro, no Vaticano.O cardeal brasileiro explicou a

devoção que nasceu em Aparecida,cuja importância “foi crescendo, aoponto de exigir a construção de umanova basílica”, para celebrar em2017 os 300 anos do encontrodesta imagem.D. António Marto também rezou pelapaz e evocou os "mártires" de hojeque são perseguidos por causa dasua fé em Jesus Cristo. “NossaSenhora Aparecida, abençoai estepovo que ora e canta, abençoaitodos os vossos filhos, abençoaiPortugal e o Brasil”.A entronização da imagem de NossaSenhora Aparecida faz parte dascomemorações dos 300 anos do“achamento” da imagem da “MãeAparecida no rio Paraíba do Sul”,que será celebrado em 2017.

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Segurança dos peregrinos naspreocupações da Igreja O bispo de Leiria-Fátima pediu queas autoridades civis “apressem” osprojetos de itinerários alternativospara os peregrinos que caminhamaté ao Santuário da Cova da Iria.“Temos tido já reuniões comautoridades municipais em ordem aencontrar percursos seguros erecomendáveis”, longe das vias de“grande circulação”, sobretudo nonorte do país, revelou D. AntónioMarto, na conferência de imprensade apresentação da peregrinaçãointernacional.O também vice-presidente daConferência Episcopal Portuguesa(CEP) deixou um apelo àsautoridades para que “apressem arealização destes projetos”. Nessecontexto, citou uma mensagem querecebeu, após a recente morte decinco pessoas, pedindo “caminhosespecíficos para peregrinos”, comoacontece com Santiago deCompostela.D. António Marto manifestou asolidariedade dos responsáveis doSantuário aos familiares dosperegrinos atropelados no início domês.Já o reitor do Santuário de Fátima,padre Carlos Cabecinhas,sublinhouque a "segurança" dosperegrinos tem sido uma prioridade,procurando

"verdadeiras alternativas que nãoaumentem" a distância. "Não é umasituação fácil de resolver, operegrino de Fátima procura sempreo caminho mais curto", explicou.Segundo o reitor, o Santuário tem"apoiado" as iniciativas que visammelhorar os percursos deperegrinação, incluindo do ponto devista económico, embora não tenhacompetências "no ordenamento doterritório".A intervenção ocorreu horas depoisde secretário da Conferência CEPter manifestado a solidariedade dosbispos católicos às famílias dosperegrinos que morreram a caminhode Fátima, elogiando o esforço doSantuário para tornar os percursosmais seguros.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosemwww.agencia.ecclesia.pt

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Lisboa homenageou vida do irmão Roger de Taizé

Filme de animação português sobre as aparições de Fátima

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13 de maio assinalado no VaticanoO Papa assinalou no Vaticano amemória da primeira das apariçõesde Fátima, junto de uma imagem deNossa Senhora, convidando oscatólicos a manter viva estadevoção. “Neste dia de NossaSenhora de Fátima, convido-vos amultiplicar os gestos diários deveneração e imitação da Mãe deDeus. Confiai-Lhe tudo o que sois,tudo o que tendes; e assimconseguireis ser um instrumento damisericórdia e ternura de Deus paraos vossos familiares, vizinhos eamigos”, afirmou, durante aaudiência pública semanal quedecorreu na Praça de São Pedro.

O encontro com milhares deperegrinos começou com ummomento de silêncio, quandoFrancisco se deslocou para junto daimagem, colocada perto da suacadeira, para rezar e fazer umpequeno gesto de carinho.“Agora, peço ao meu irmãoportuguês que, neste dia de NossaSenhora de Fátima, reze emportuguês uma Ave-Maria à Virgem,com todos em silêncio”, disse deimproviso, depois de saudar osperegrinos lusófonos presentes noVaticano.O Papa voltou a referir-se ao 13 demaio no final da audiência, durante

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a tradicional saudação aos gruposde jovens, doentes e recém-casados. “Hoje é a memória litúrgicada Beata Virgem Maria de Fátima.Caros jovens, aprendei a cultivar adevoção à Mãe de Deus com arecitação diária do Rosário; carosdoentes, senti Maria presente nahora da cruz; e vós, caros esposos,rezai-lhe para que não falte nuncana vossa casa o amor e o respeitorecíproco”, apelou.Uma imagem peregrina de Nossa

Senhora de Fátima está na Itáliapara uma visita de cinco meses àscomunidades católicas da região,em particular às dioceses de Lácio,Campânia e Puglia.Na agenda da passagem da imagemperegrina de Nossa Senhora deFátima por solo italiano esteve acelebração do 13 de maio, com umaprocissão entre a basílica romanade Santa Cruz de Jerusalém e abasílica papal de São João deLatrão.

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Dia de festa num encontrocom 7 mil criançasO Papa Francisco encontrou-seesta segunda-feira no Vaticano com7 mil crianças no Vaticano, numainiciativa da ‘Fábrica da Paz’, edisse que a sociedade deve apostarna reinserção, em vez da prisão demenores. “A solução da cadeia é amais cómoda para esqueceraqueles que sofrem”, sublinhou, emresposta a uma das 13 perguntasque lhe foram colocadas por algunsdos participantes, na sala Paulo VI.Questionado sobre os centros dedetenção para os mais novos,Francisco foi claro: “Não, não estoude acordo”. Segundo o Papa, opapel da sociedade passa porajudar cada jovem a “voltar alevantar-se, a reinserir-se, com aeducação, com o amor, com aproximidade”.A intervenção espontâneaquestionou ainda a “indústria damorte” que está ligada aos conflitosmilitares, consequência de ummundo em que “tudo anda em voltado dinheiro, não da pessoa”.“Porque é que tantas pessoaspoderosas não querem a paz?Porque vivem da guerra, daindústria das armas. Isto é grave”,alertou.

Após vários momentos de música erepresentações teatrais, o encontrocom o Papa levou um grupo decrianças para mais perto deFrancisco, que ouviu questões deum menino em cadeira de rodassobre o sentido do sofrimento. “Nãogosto de dizer que uma criança édeficiente, não, esta criança temuma capacidade diferente”,começou por dizer, sublinhando que“todos têm a capacidade de daralguma coisa”.Neste sentido, citou o escrito russoFiódor Dostoiévski e a sua questãosobre o sofrimento das crianças,sustentando que “não há resposta”e que é necessário “ajudar” aquelesque sofrem com uma presençamuito próxima.

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Cáritas debate prioridades globaisO Papa destacou no Vaticano aurgência da Igreja Católicacontinuar a apoiar em todo o mundoas populações vítimas da pobreza,da fome, da desigualdade social eda violência. Durante a missa deabertura da 20.ª Assembleia Geralda Cáritas Internacional, na Basílicade São Pedro, Francisco recordouas “muitas pessoas” que atualmentesó esperam que haja “comidasuficiente”, isto num mundo "comrecursos para todos” mas onde “háfalta de vontade em partilhá-los comtodos”.Para o Papa argentino, a IgrejaCatólica, através de instituiçõescomo a Cáritas, deve “fazer tudo oque está ao seu alcance para quetodos tenham de comer” e “recordaraos poderosos da Terra que um diaserão sujeitos ao julgamento deDeus”.

Nesse sentido, recordou aosresponsáveis das diversas Cáritasmundiais presentes em Roma -incluindo o presidente da CáritasPortuguesa, Eugénio Fonseca - omandato do Evangelho, que“quando é acolhido e anunciado,desafia a lavar os pés e as feridasdos que sofrem e a preparar umamesa para eles”.“Quem vive a missão da Cáritas nãoé um simples agente, é umatestemunha de Cristo. Uma pessoaque procura Cristo e se deixaprocurar por ele, uma pessoa queama com o espírito de Cristo, umespirito de gratuidade, de entrega.Todas as nossas estratégias eplanos serão vazios se nãolevarmos em nós este amor”,alertou.A 20.ª Assembleia Geral da CáritasInternacional decorre até domingoem Roma.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

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Audiência do Papa ao presidente de Cuba

Regina Caeli de 10 de maio

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Maria, a pobre dos pobres

D. Manuel LindaBispo das ForçasArmadas e de Segurança

A propósito dos contínuos e trágicosacontecimentos do Mediterrâneo, há dias, umdeputado europeu português dizia que a soluçãonão é de natureza política. Fico espantado, poisnão o imagino a defender uma medida biológicade extermínio das populações dos países dondeesses emigrantes provêm e, conhecendo as suasconvicções antiassistencialistas, também não ovejo a advogar que seja a Igreja a estender-lhesas mãos caridosas e a ocupar-se deles.Pois eu penso radicalmente o contrário: asolução é política e só política. Evidentemente,não com as coordenadas que o nosso mundoocidental está a traçar: isto não vai lá com umaréplica da muralha da China, transposta para aspraias da Itália ou da Espanha. Passa antes poruma nova visão da realidade global, algo a queos olhos de muitos se fecham.Os povos oriundos “das sombrias regiões damorte” intentam chegar cá para apanharem, aomenos, as migalhas que caem da nossa mesaabastada. Essas migalhas podem não consistir,exclusivamente, no alimento. Mas são também–e, porventura, fundamentalmente- aconservação da vida, a segurança, a liberdade,a paz e a identidade religiosa. Se duvidarem,perguntem-no aos refugiados da Síria e dasáreas controladas pelo ISIS, aos que fogem doBoko Haran ou a um qualquer outrofundamentalismo e tribalismo. E não será isto umproblema político?É, sim. Um problema criado por esta políticaimunda que leva, por exemplo, os EstadosUnidos,

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a Inglaterra e a França afornecerem as mais modernasarmas com as quais muitos sãodizimados e os que escapam,tomados de pavor, não veem outrasolução senão fugir. Armas tãosofisticadas que, na maior parte dasvezes, nem sequer os exércitosnacionais, legalmente constituídos,as possuem. E é claro que nãoforam os terroristas a fazer essasarmas: elas partem daqui, doOcidente.E que tem isto a ver com NossaSenhora, a Senhora de Maio? Temtudo. Ela canta: “O Senhorderrubou os poderosos de seustronos e exaltou os humildes, aosfamintos encheu de bens e aosricos despediu de mãos vazias”.Canta, portanto, uma nova

ordem mundial. Não discutida nasfrequentemente inúteis assembleiasinternacionais dos bem pensantes.Mas um fermento de novidade quehá de conduzir a um outro estado decoisas, a uma outra civilização. Nãoobstante esta política...Mas quem são estes “ricosdespedidos de mãos vazias”? Temobem que seja este nosso mundoocidental que, por dinheiro, vende aalma ao diabo e retira a cruz doemblema do Real Madrid, já que umqualquer sultão do petróleo dasarábias a isso obrigou e, na França,desloca a estátua de S. João PauloII, só porque segura na mão obáculo pastoral com a cruz...Afinal, que podemos esperar destamentalidade sociopolítica?

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Os kingmakers

Rita Figueiras Universidade Católica Portuguesa

Os papéis e os níveis de influência que os mediaexercem na vida política têm sido vastamenteanalisados pelos Estudos de ComunicaçãoPolítica. Doris Graber, uma das maisconceituadas investigadoras da área, chamou aatenção para uma das funções mais subtis queos jornalistas podem exercer em eleições, que éa participação na seleção de candidatos, funçãoque designou por ‘fazedores de reis’(kingmakers). A análise de um conjunto vasto decampanhas eleitorais tem demonstrado que esteoutro papel que os jornalistas desempenhamnem sempre é fácil de discernir, porque o quepertence à ordem das causas explicativas parauma determinada cobertura parece antes seruma consequência de um conjunto de fatores deordem partidária e eleitoral.O papel dos media enquanto ‘fazedores de reis’desenvolve-se ao longo do tempo e vai-serevelando através das várias peças sobre osprotocandidatos que não são outra coisa do quea short list de protocandidatos dos própriosmedia. Esta é elaborada tendo em conta critériospolíticos e mediáticos. Estes últimos são umproduto da relação que os protocandidatos têmcom os media e das suas competênciasmediáticas (desempenho, oralidade e telegenia),onde a performance em conformidade com umconjunto de expectativas dos media para o cargopolítico em concreto é um fator muito importante.Estas peças podem surgir, logo num primeiromomento, acompanhadas de sondagens deopinião sobre o tema ou, a esse

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pretexto, motivar a sua realização.Por outro lado, uma candidaturanão sancionada pelos media revela-se na forma como os candidatossão apresentados aos votantes, i.e.,como perdedores ou para nãoserem levados a sério. A maior dassanções é a invisibilidade mediática,não lhe sendo concedido acessoaos meios de comunicação.Nos primeiros meses em que estestemas começam a ser agendados, acobertura jornalística tende aprogredir em paralelo com arealização de sondagens, ondea short list é testada. Os candidatosque tendem a receber amplacobertura dos media tendemtambém a ter bons resultados nassondagens. Por sua vez, bonsresultados nas sondagens traduz-seem maior cobertura

mediática e é neste processo subtilque as causas se começam atransformar em consequências e atornarem-se indistintas umas dasoutras. Neste processo, osjornalistas vão construindo ocandidato que lhes parece melhorde entre os vários concorrentes. Istoé feito através de um amplo acessodo candidato dos media aos maisvariados tipo de programas ondepode expor o seu pensamento ehistória(s) de vida, o que vaicontribuindo para umreconhecimento favorável e lhealarga as expectativas de êxito.Chegados a este ponto, restaperguntar: Quem é que os media jáelegeram como os dois principaiscandidatos a Presidente daRepública em 2016? Já há muitosdados disponíveis e aceitam-seapostas.

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Aprender de novo a narrar...

Henrique Matos Agência ECCLESIA

A narrativa pede a capacidade de interpretar, deescutar... saber ler os sinais, exige a crítica etambém a dúvida que nos faz ir em busca derespostas. Se estes são requisitos que se pedema qualquer profissional da comunicação, o PapaFrancisco interpela cada um de nós aoinconformismo e a que nos tornemos capazes denarrar a vida como a entendemos. Segundo oPapa, não nos devemos ficar no consumo ou naprodução de conteúdos informativos simples...narrar é algo mais, é partilhar uma consciênciacrítica, debater com os outros as causas e asconsequências do que nos perturba os dias e aforma como, no encontro de ideias, superamosessa massificação do pensamento tãoconveniente para alguns.O Papa fala a propósito do 49.º Dia Mundial dasComunicações Sociais e não se fica pelo desafio,dá ideias. A boa ideia do Papa é descobrir acomunicação em estado puro, eficaz, autêntica echeia de conteúdo... segundo ele, não aencontramos nas mais prestigiadas faculdadesde jornalismo ou nas redações dos jornais degrande tiragem, tão pouco no brilho das imagensde quem lidera as audiências... Franciscoapresenta-nos a “Família” essa mesmo, a nossa,a de cada um, esse parentesco de laços e afetosque nos comunicou a mensagem maisimportante, a vida e como a levar por diante.Segundo o Papa, o que é genial na comunicaçãofamiliar é a partilha dos afetos e os vínculos quenos unem e tornam próximos. O Papa vai maislonge e sublinha um extraordinário meio decomunicação. Nada de informática, ou

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qualquer rede social. Francisco falado corpo, e desta vez ele não é ofacilitador do pecado ou alembrança fatídica da nossafragilidade, é mesmo uma mais valiaque nos permite dar expressãoconcreta aos afetos. O beijo, oabraço, o calor, a prova de quequem eu gosto está mesmo ali. Ocorpo é a nossa máquina decomunicar e de criarmos relaçãocom o outro.Nem tudo é um mar de rosas nacomunicação familiar, é certo. Bem-vindos ao mundo real, o que nãofaltam são silêncios demasiadolongos, indiferenças que impedemrestabelecer as cumplicidades deuma paixão que arrefeceu, ou asurgências do dia a dia que sesobrepõem sempre ao gesto deamor. Mas também estes sãodesafios e estímulos a umacomunicação verdadeira. Ela nãoprecisa de maquilhagem nem defingir o que não é. Essa é a que nosentra

em casa pelas novelas ou nosnoticiários que nos levam a olhartudo da mesma forma. Na família, ador pede o perdão, a separação oreencontro, e tudo isto se faz com apalavra e com o gesto, com o corpo.A falar é que a gente se entende,expressão bem portuguesa que S.João Paulo II lembrou numa dasvisitas que nos fez. Falar éimportante, mas o silêncio não émenos, ele amplifica a palavra.Escrevia Bento XVI que «o silêncio éparte integrante da comunicação e,sem ele, não há palavras ricas deconteúdo».Vivemos hoje possibilidadesgrandiosas com o que a tecnologiapermite. Não devemos recear osperigos mas apenas estar atentos.Importante é saber usar aferramenta poderosa paranarrarmos o quotidiano como oqueremos, com os vínculos e osafetos que aprendemos nessagrande escola de comunicação queé a Família de cada um.

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O Semanário ECCLESIA apresenta nesta edição um dossier dedicado ao DiaMundial das Comunicações Sociais 2015, partindo do tema escolhido porFrancisco, ‘Comunicar a família: ambiente privilegiado do encontro nagratuidade do amor’.O cónego João Aguiar Campos, diretor do Secretariado Nacional dasComunicações Sociais, aborda em entrevista a relação entre Igreja e Media,que é desenvolvida posteriormente em testemunhos de quem vive no dia adia os desafios lançados pelo Papa.

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Francisco defende na sua mensagem uma educação para o pluralismo, nointerior de cada família, e sublinha a importância de valorizar as váriasformas de comunicação.O Dia Mundial das Comunicações Sociais, única celebração do géneroestabelecida pelo Concílio Vaticano II (decreto ‘Inter Mirifica’, 1963), écelebrado no domingo que antecede o Pentecostes (17 de maio, em 2015).Os donativos recolhidos nas celebrações dominicais vão reverter, neste dia,para os projetos do secretariado nacional e dos secretariados diocesanosdo setor.

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Uma Igreja que comunicaO diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais apresenta ementrevista três objetivos com que a Igreja Católica assinala o Dia Mundial dasComunicações Sociais, este ano a 17 de maio, e contextualiza como é estapresença que informa mas também forma, desde o “meio tradicional” quesão as celebrações até à imprensa, os meios audiovisuais e o digital. Ocónego João Aguiar Campos comenta ainda a importância de o PapaFrancisco centrar a sua atenção na família que comunica e é comunicante.

Entrevista conduzida por Paulo Rocha Agência ECCLESIA (AE) – A IgrejaCatólica assinala e propõe o DiaMundial das Comunicações Sociaiscom que objetivos?Cónego João Aguiar Campos (JAC)– Assinala-o três objetivosessenciais. O primeiro um objetivode prestar homenagem à própriacomunicação social percebendoquanto ela contribui para acomunhão da própria humanidadepara nos manter socializados,dinamizados e informados. Depoisassinala também como reflexão,sobretudo sublinhar que acomunicação é essencialmentecomunhão, não é mera informaçãomas comunhão. E, terceiro objetivo,dentro do contexto do modo daIgreja olhar precisando de meios decomunicação, ou de estar presentenos meios de comunicação, paracumprir a sua identidade missionáriatambém este dia apela aos crentes

que contribuam para sustentar estamesma presença seja em meiosditos neutros, seja através de meiospróprios. AE – A par de outras iniciativas,nomeadamente de âmbito maisinterno, litúrgico, existe umaafirmação clara de que é precisoestar presente na comunicaçãosocial anunciada através dos meiosde comunicação social?JAC – Uma Igreja que nãocomunique nega-se a si própria, elaé enviada como missionária e estáao serviço de uma pessoaemprestando a sua voz, a suapresença. Por isso, além de afirmar-se como missionária e católica deveestar presente em todas ascircunstâncias e para todas aspessoas. Missionário só dentro daIgreja ou dentro do adro não seentende, tem de estar com a suaproposta humilde onde as pessoasse encontram.

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AE – É mais importante ter meiospróprios ou estar presente nosmeios generalistas?JAC – É interessante que quase há40 anos, a Communio et Progressio(Instrução Pastoral sobre os meiosde comunicação social de 1971)responde que as circunstânciasdirão. Com meios próprios é maisfácil passar a integridade damensagem mas estando presentenos ditos meios neutros por venturaestá mais presente geograficamentena universalidade porque estesoutros meios têm uma tiragem queos meios próprios da Igreja nãochegam a alcançar.Também estar presente nos meiosneutros através de jornalistascatólicos, não são pregadores, sãoessencialmente profissionais, e écom o seu serviço à verdade quetambém cumprem a sua missão. AE – Em qualquer meio, mesmo osda Igreja, não são pregadores?JAC – Não são pregadores, mesmoos meios de comunicação social daIgreja não são compêndios deteologia, o jornal não é umcompêndio de teologia, nem umprograma de

televisão é transmitido diretamenteda Faculdade de Teologia, daUniversidade Católica. É um olharsobre a normalidade da vida comolhos crentes, a chave de leitura écrente, as circunstâncias são o quesão. AE – Através de que meios decomunicação social a Igreja informae forma? O que é que existedisponível ao público?JAC – Existe um meio tradicionalque é o meio das celebrações, dapalavra, e estes meios einstrumentos tradicionais não devemser abandonados. Pelo contrário,devem ser tão cuidados que aindarecentemente foi publicado odiretório homilético, isto é, paraensinar aqueles que têm de dirigir-se a uma assembleia de crentes amelhor maneira de o fazerem semque seja uma aula de marketing masum serviço digno à palavra.Depois, concretamente em Portugaltemos a capacidade de fazeratravés da rádio de inspiraçãocristã, umas mais propriedade daIgreja e outras associadas a elaatravés da sua identidade. A RádioRenascença

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que é porventura o meio mais amplocom as suas diversas rádios, webtvse também um jornal online. Fazemo-lo através das marcas quepretendem à ECCLESIA, a agência,esta presença no meio público queé a RTP, o Semanário (digital)ECCLESIA e também a presença daIgreja nos tempos dedicados àsconfissões

religiosas na RDP.Depois a multiplicidade de jornaisparoquiais ou diocesanos comdiferentes tiragens mas queglobalmente podem ter três milhõesde potenciais contactos que não éde modo algum desprezível nestaação da Igreja.

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AE – É para todo este universo decomunicação que este dia apela.Que compromissos podem ter todosos cristãos para com esses meios?JAC – Há o compromisso de seremprodutores e serem consumidores.Não gosto de olhar apenas para oconsumidor até porque hojevivemos uma grande interação,intercâmbio. Produtoresescrevendo, produtores aceitandopronunciar-se e depois lendo,consumindo e apoiando. Se osmeios não tiverem audiência

dificilmente terão também razãoeficaz, suficiente para o de facto ser. AE – Em cada ano o Papa escreveuma mensagem para este diamundial e este ano está centrado nafamília. Que conteúdo propõe oPapa Francisco para o 49.º DiaMundial das Comunicações Sociaiscom o tema ‘Comunicar a família:ambiente privilegiado do encontrona gratuidade do amor’?JAC – Em primeiro lugar centradona

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família faz sentido, porque estamosnum tempo sinodal. Vivemos aassembleia extraordinária do sínodosobre a família e agora em outubroteremos a assembleia ordináriasobre a família. É neste intervalo dereflexão que de alguma forma faz adigestão do já dito e já discutido eao mesmo tempo prepara a refeiçãoda reflexão de outubro, o Papa querque a família esteja no centro destasua mensagem para a comunicaçãosocial.Família como escola decomunicação, como lugar decomunicação, como modelo decomunicação. Dizendoconcretamente que na famíliasentimos mais vivamente que noutroambiente qualquer que acomunicação tem de ser incarnada,onde o corpo esteja presente. Estaé uma nuance muito interessante damensagem do Papa para este anoaté pelas novas tecnologias e odigital. Muitas vezes centramo-nosnas potencialidades, no meio ounuma visão instrumental, felizmentejá passada, mas o que o Papa diz éque fora dos instrumentos acomunicação tem de ser umamensagem corpórea, de toque, deabraço, uma mensagem de ternura.Se o ano passado falava decomunicação ao serviço da cultura

do encontro, este ano diz que afamília é uma comunidadecomunicadora onde as diferentesgerações tocando-se, abraçando-senuma proximidade contínua nãoapenas comunicam mas aprendemefetivamente o essencial dacomunicação. AE – O Papa destaca que a famíliaé a primeira escola de comunicação.JAC - É a primeira escola decomunicação nos diferentesgéneros e nas diferentes geraçõesque ai se cruzam. Uma escola ondecada um pode ser ele mesmo edizer-se aos outros tal como é eaceitar ou ser chamado a aceitar osoutros tal como eles são. Pareceque em nenhum outros espaço háesta generosidade tão afirmada.

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AE – O Papa desafia também aaprender de novo a narrar. Quedesafio é este?JAC – É aprender a dizer-se,aprender a revelar-se, a contar e acontar-se. AE – Ultrapassando estereótiposque há sobre a família?JAC – Sim, com certeza masultrapassando também estadificuldade que muitas vezes temosde encontrarmos o ambiente e aforma de nos dizermos. Narrarmo-nos também pelo silêncio, pelaatenção, pela escuta. Narramo-nospela palavra, o Papa também chamaa atenção para isso, recuperarefetivamente a palavra porque é apalavra que nos diz e na suaexpressão, “que revigora o vínculo”.Quem não ouvimos negamos-lhes aexistência e aqueles a quem nãofalamos facilmente os desprezamose este é também um grande desafioque o Papa nos coloca.Apresentando aliás, como protótipode comunicação e da linguagem docorpo na comunicação, o exemplodo encontro entre Maria e a primaIsabel e o abraço entre as duasmulheres e aquela presençacomunicante, “o

menino saltou de alegria no meuseio”. Aquela presença comunicantede dois que ainda não se haviamrevelado mas já se sentiamvocacionados ou chamados aconhecer-se. AE – Numa conferência para casaisabordou o tema da comunicação emfamília como algo essencial para aestabilidade familiar. O vínculo entrepais, filhos, avós.JAC – Porque se não houvercomunicação, se cada membro dafamília não conhecer, não contactar,não conviver. Não se pode apenaslimitar a viver com, a estar por ali, senão partilhar a vida facilmente aquilovira residência noturna ou centro dedia onde cada um vai passando evendo eventualmente os post-itcolocado na porta do frigorífico queé um centro que quase todosvisitam, mesmo quem chega tarde.Antes havia um slogan, que ainda éatualíssimo, “família que reza unida,permanece unida”, família quecomunica é família que vive acomunhão, vive a alegria e vive afidelidade e a vaidade da pertença.E, depois, é também esta família

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que vive comunicando internamenteque depois se comunica com a suariqueza de família vivendo o amorna Igreja e se comunica nasociedade. Por isso, assim como oPapa perguntou “que Igreja dizes deti mesma”, hoje também temos deperguntar às nossas famílias:“Famílias que dizes de ti mesma?”Comunidade comunicativa, de amore igreja doméstica ou apenas umsítio de

reunião onde nos vamossuportando, no mau sentido dapalavra, considerando o outro comopeso, e não suportando no sentidode apoiando, acompanhando,vivendo uns com os outros.Família que comunica e depoisextravasa esta sua riqueza para aIgreja e para a sociedade.

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AE – Que impacto é exercido sobrea família através dos media, doambiente mediático onde tambémela se insere?JAC – Os media podem ter sobre afamília um efeito negativo e efeitopositivo. Naturalmente que atravésdos meios de comunicação – rádio,televisão, jornais – entram na famíliaum conjunto enorme de desafios eproblemas mas também entramenormes potencialidades deabertura ao mundo, à cultura e aperspetivas de vida ou problemasque não se tinham colocado.Dai que seja bom que as famíliasacolham como uma visita ilustre

e que se vai transformando familiaros meios de comunicação socialmas depois também os saibam usarpor exemplo para o diálogo. Não soudos que dizem que se deve cortarou acabar com mas muitas vezestemos de falar sobre. O que mecusta é que qualquer meio decomunicação entre em casa e sejaúnica pessoa que lá dentro podefalar à vontade e os outros sãomandados calar porque alguémquer ouvir falar aquele.Aliás o Papa nesta mensagem arespeito da civilização e culturadigital em que estamos fazrealmente o deve e haver entre oaldo positivo e o lado negativo aomesmo tempo que nos

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torna cidadãos de mundo e nosalarga horizontes é preciso quedentro de casa não nos isole. Ainternet, ou outros, não nos torneapaixonados pela comunicaçãovirtual esquecendo a comunicaçãodos corpos, a comunicação real, empresença. AE – Considera que o PapaFrancisco nesta mensagem toma oque a família tem de melhor, ouseja, estável, constituída de acordocom o que é mais habitual. Quandohoje existe muita destruturação,instabilidade e algo que quaseimpossibilita a comunicação como éproposta?

JAC – De qualquer maneira aproposta continua a ter de fazer-se.E depois em torno da família viramo-nos muito pessimistas e somoscapazes de contar todos os dramase esquecer os momentos de alegria.E concretamente neste momento emque olhamos muito e devemos olharpara as feridas na família e para asfamílias feridas não deixar de ter umpensamento positivo de gratidão elouvor para as famílias queatravessando todas as dificuldadescontinuam a afirmar-se amorosas,amantes e crentes nesta dimensãocontinuada do amor e dos afetos.

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AE – No contexto do Dia Mundialdas Comunicações Sociais queprojetos no âmbito do SecretariadoNacional das Comunicações Sociaisinteressa reafirmar como prioritáriospara a Igreja Católica nos media?JAC – Interessa-nos reafirmar econtinuar o bom trabalho que aEcclesia tem feito como agência deinformação da Igreja, sendo capazde percorrer com olhos atentos opaís e sendo capaz de olhar para aIgreja Universal e não apenas naAgência mas no aprofundamento dosemanário, e neste contributo diárioe semanal de presença na rádio ena televisão.Não posso esquecer oaprofundamento também necessárioe refletido de que a Igreja deveamar da própria Rádio Renascença,como emissora católica portuguesa.E depois os pequenos jornais quena sua dimensão são um enormesinal de proximidade e às vezesperder ou fechar a proximidade é oprimeiro passo para soberbamentenos ignorarmos uns aos outros.

AE – Que importância tem na suaopinião uma presença na RTP2 e naAntena 1 num espaço que é inter-religioso?JAC – Em primeiro lugar esta é umapresença das confissões e éimportante que todas as confissões,cumprindo os parâmetros que a leiexige para que sejam consideradasconfissões, tenham esta liberdade eoportunidade de se dizerem econtactarem os seus, não se tratade uma catequese.O fenómeno religioso faz parte davida humana e é bom que os meios,como a RTP, continuem a considerarque no seu serviço público seintegra perfeitamente esta presençadas confissões religiosas. AE – É importante para a sociedadeportuguesa na atualidade?JAC – É importante religiosa eculturalmente. Eu penso que seperdermos a noção da riqueza queo judaísmo e cristianismoemprestaram à nossa civilização, eoutras confissões noutros planos,perdemos também,

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muito da cultura, da nossahumanidade. Há, às vezes, atentação de pensar que Deusdiminui o homem, eu penso que nãoque Deus chama o homemefetivamente a ser.Camões tem uma expressão

interessantíssima quando fala daincarnação do Verbo diz que“desceu do céu à terra para levar ohomem da terra ao céu”. E estadivinização do homem éabsolutamente digna de meditação.

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Comunicar a família: ambienteprivilegiado do encontro nagratuidade do amorMensagem do Papa Francisco para 49.º Dia Mundialdas Comunicações SociaisO tema da família encontra-se nocentro duma profunda reflexãoeclesial e dum processo sinodal queprevê dois Sínodos, umextraordinário – acabado decelebrar – e outro ordinário,convocado para o próximo mês deoutubro. Neste contexto, considerei oportuno que o tema do próximoDia Mundial das ComunicaçõesSociais tivesse como ponto dereferência a família. Aliás, a família éo primeiro lugar onde aprendemos acomunicar. Voltar a este momentooriginário pode-nos ajudar quer atornar mais autêntica e humana acomunicação, quer a ver a famíliadum novo ponto de vista. Podemos deixar-nos inspirar peloícone evangélico da visita de Mariaa Isabel (Lc 1, 39-56). «QuandoIsabel ouviu a saudação de Maria, omenino saltou-lhe de alegria no seioe Isabel ficou cheia do EspíritoSanto. Então, erguendo a voz,exclamou: “Bendita és tu entre asmulheres e bendito é o fruto do teuventre”» (vv. 41-42).

Este episódio mostra-nos, antes demais nada, a comunicação como umdiálogo que tece com a linguagemdo corpo. Com efeito, a primeiraresposta à saudação de Maria édada pelo menino, que salta dealegria no ventre de Isabel. Exultarpela alegria do encontro é, em certosentido, o arquétipo e o símbolo dequalquer outra comunicação, queaprendemos ainda antes de chegarao mundo. O ventre que nos abrigaé a primeira «escola» decomunicação, feita de escuta econtacto corporal, onde começamosa familiarizar-nos com o mundoexterior num ambiente protegido eao som tranquilizador do pulsar docoração da mãe. Este encontroentre dois seres simultaneamentetão íntimos e ainda tão alheios umao outro, um encontro cheio depromessas, é a nossa primeiraexperiência de comunicação. E éuma experiência que nos irmana atodos, pois cada um de nós nasceude uma mãe.

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Mesmo depois de termos chegadoao mundo, em certo sentidopermanecemos num «ventre», queé a família. Um ventre feito depessoas diferentes,interrelacionando-se: a família é «oespaço onde se aprende a conviverna diferença» (Exort. ap. Evangeliigaudium, 66). Diferenças degéneros e de gerações, quecomunicam, antes de mais nada,acolhendo-se mutuamente, porqueexiste um vínculo entre elas. Equanto mais amplo for o lequedestas

relações, tanto mais diversas são asidades e mais rico é o nossoambiente de vida. O vínculo está nabase da palavra, e esta, por suavez, revigora o vínculo. Nós nãoinventamos as palavras: podemosusá-las, porque as recebemos. É emfamília que se aprende a falar na«língua materna», ou seja, a línguados nossos antepassados (cf. 2 Mac7, 21.27). Em família, apercebemo-nos de que outros nos precederam,nos colocaram em condições depoder

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existir e, por nossa vez, gerar vida efazer algo de bom e belo. Podemosdar, porque recebemos; e estecircuito virtuoso está no coração dacapacidade da família de sercomunicada e de comunicar; e, maisem geral, é o paradigma de toda acomunicação.A experiência do vínculo que nos«precede» faz com que a famíliaseja também o contexto onde setransmite aquela forma fundamentalde comunicação que é a oração.Muitas vezes, ao adormecerem osfilhos recém-nascidos, a mãe e o paientregam-nos a Deus, para quevele por eles; e, quando se tornamum pouco maiores, põem-se arecitar juntamente com eles oraçõessimples, recordandocarinhosamente outras pessoas: osavós, outros parentes, os doentes eatribulados, todos aqueles que maisprecisam da ajuda de Deus. Assim amaioria de nós aprendeu, emfamília, a dimensão religiosa dacomunicação, que, no cristianismo,é toda impregnada de amor, o amorde Deus que se dá a nós e que nósoferecemos aos outros.

Na família, é sobretudo acapacidade de se abraçar, apoiar,acompanhar, decifrar olhares esilêncios, rir e chorar juntos, entrepessoas que não se escolheram etodavia são tão importantes umapara a outra… é sobretudo estacapacidade que nos fazcompreender o que éverdadeiramente a comunicaçãoenquanto descoberta e construçãode proximidade. Reduzir asdistâncias, saindo mutuamente aoencontro e acolhendo-se, é motivode gratidão e alegria: da saudaçãode Maria e do saltar de alegria domenino deriva a bênção de Isabel,seguindo-se-lhe o belíssimo cânticodo Magnificat, no qual Maria louva oamoroso desígnio que Deus temsobre Ela e o seu povo. De um«sim» pronunciado com fé, derivamconsequências que se estendemmuito para além de nós mesmos ese expandem no mundo. «Visitar»supõe abrir as portas, não encerrar-se no próprio apartamento, sair, irter com o outro. A própria família éviva, se respira abrindo-se paraalém de si mesma; e as famílias queassim procedem, podem

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comunicar a sua mensagem de vidae comunhão, podem dar conforto eesperança às famílias mais feridas,e fazer crescer a própria Igreja, queé uma família de famílias. Mais do que em qualquer outrolugar, é na família que, vivendojuntos no dia a dia, se experimentamas limitações próprias e alheias, ospequenos e grandes problemas dacoexistência e do pôr-se de acordo.Não existe a família perfeita, masnão é preciso ter medo daimperfeição, da fragilidade, nemmesmo dos conflitos; preciso éaprender a enfrentá-los de

forma construtiva. Por isso, a famíliaonde as pessoas, apesar daspróprias limitações e pecados, seamam, torna-se uma escola deperdão. O perdão é uma dinâmicade comunicação: uma comunicaçãoque definha e se quebra, mas, pormeio do arrependimento expresso eacolhido, é possível reatá-la e fazê-la crescer. Uma criança queaprende, em família, a ouvir osoutros, a falar de modo respeitoso,expressando o seu ponto de vistasem negar o dos outros, será umconstrutor de diálogo ereconciliação na sociedade.

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Muito têm para nos ensinar, apropósito de limitações ecomunicação, as famílias com filhosmarcados por uma ou maisdeficiências. A deficiência motora,sensorial ou intelectual sempreconstitui uma tentação a fechar-se;mas pode tornar-se, graças aoamor

dos pais, dos irmãos e doutraspessoas amigas, um estímulo parase abrir, compartilhar, comunicar demodo inclusivo; e pode ajudar aescola, a paróquia, as associaçõesa tornarem-se mais acolhedoraspara com todos, a não excluíremninguém.

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Além disso, num mundo ondefrequentemente se amaldiçoa,insulta, semeia discórdia, polui comas maledicências o nosso ambientehumano, a família pode ser umaescola de comunicação feita debênção. E isto, mesmo nos lugaresonde parecem prevalecer comoinevitáveis o ódio e a violência,quando as famílias estão separadasentre si por muros de pedras oupelos muros mais impenetráveis dopreconceito e do ressentimento,quando parece haver boas razõespara dizer «agora basta»; narealidade, abençoar em vez deamaldiçoar, visitar em vez de repelir,acolher em vez de combater é aúnica forma de quebrar a espiral domal, para testemunhar que o bem ésempre possível, para educar osfilhos na fraternidade. Os meios mais modernos de hoje,irrenunciáveis sobretudo para osmais jovens, tanto podem dificultarcomo ajudar a comunicação emfamília e entre as famílias. Podem-na dificultar, se se tornam umaforma de se subtrair à escuta, de seisolar apesar da presença física, desaturar todo o momento de silêncioe de espera,

ignorando que «o silêncio é parteintegrante da comunicação e, semele, não há palavras ricas deconteúdo» (BENTO XVI, Mensagemdo XLVI Dia Mundial dasComunicações Sociais, 24/1/2012);e podem-na favorecer, se ajudam anarrar e compartilhar, a permanecerem contacto com os de longe, aagradecer e pedir perdão, a tornarpossível sem cessar o encontro.Descobrindo diariamente estecentro vital que é o encontro, este«início vivo», saberemos orientar onosso relacionamento com astecnologias, em vez de nosdeixarmos arrastar por elas.Também neste campo, os primeiros educadores são os pais.Mas não devem ser deixadossozinhos; a comunidade cristã échamada a colocar-se ao seu lado,para que saibam ensinar os filhos aviver, no ambiente da comunicação,segundo os critérios da dignidadeda pessoa humana e do bemcomum. Assim o desafio que hoje se nosapresenta, é aprender de novo anarrar, não nos limitando a produzire consumir informação, embora estaseja a direção para a qual nosimpelem os potentes e preciososmeios da

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comunicação contemporânea. Ainformação é importante, mas não ésuficiente, porque muitas vezessimplifica, contrapõe as diferenças eas visões diversas, solicitando atomar partido por uma ou pelaoutra, em vez de fornecer um olharde conjunto. No fim de contas, a própria famílianão é um objeto acerca do qual secomunicam opiniões nem umterreno onde se combatem batalhasideológicas, mas um ambiente ondese aprende a comunicar naproximidade e um sujeito quecomunica, uma «comunidade

comunicadora». Uma comunidadeque sabe acompanhar, festejar efrutificar. Neste sentido, é possívelrecuperar um olhar capaz dereconhecer que a família continua aser um grande recurso, e nãoapenas um problema ou umainstituição em crise. Às vezes osmeios de comunicação socialtendem a apresentar a família comose fosse um modelo abstrato que sehá de aceitar ou rejeitar, defenderou atacar, em vez duma realidadeconcreta que se há de viver; oucomo se fosse uma ideologia dealguém contra outro, em vez de sero lugar onde todos aprendemos oque

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significa comunicar no amorrecebido e dado. Ao contrário,narrar significa compreender que asnossas vidas estão entrelaçadasnuma trama unitária, que as vozessão múltiplas e cada uma éinsubstituível. A família mais bela, protagonista enão problema, é aquela que,partindo do testemunho, sabecomunicar a beleza e a riqueza dorelacionamento entre o homem e amulher,

entre pais e filhos. Não lutemos paradefender o passado, mastrabalhemos com paciência econfiança, em todos os ambientesonde diariamente nos encontramos,para construir o futuro. Vaticano, 23 de janeiro – Vigília da Festa de São Franciscode Sales – de 2015.

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Amar é comunicarComunicar é um desafiopermanente. Perdoar, aceitar ooutro como é, rezar, transmitir a fé,levando-a “em vasos de barro”.Embora as palavras, o diálogo,sejam importantes, são as atitudesque marcam. É assim com ascrianças, que pese embora aindanão percebam muitas das coisasque os adultos dizem, registam ossinais que os mesmos trasmitem. Odesafio é ainda maior na atualidade,quando somos constantementeestimulados por múltiplos media.A comunicação é algo que estevesempre presente desde que nosconhecemos. Não só no contextoem que isso aconteceu, mas porqueos primeiros contactos foram feitosde longas conversas. O diálogoesteve sempre presente.Procurámos nunca deixar umadiscussão ou desentendimento emaberto para o dia seguinte. Fosseaquando do namoro, seja enquantocasados. Nessas alturas é precisohumildade, para sairmos de nósmesmos e passarmos ao outro.Sobretudo quando ele, o outro, nãotem razão ou não tem aquela quegostariamos que tivesse. Isso énaturalmente uma graça de Deus eque resulta de

um percurso de perscruta e(re)descoberta permanente.Aprender a ser cristão é umprocesso sobretudo marcado peloamor de Deus. Que não se impõe,que não exige, que perdoa, queacolhe, que sara, mas que tambémcorrige quando é preciso. À imagemdo Hino à Caridade, que nosacompanha há muitos anos. “Oamor é paciente, é benigno, não éinvejoso; não se ufana, não seensoberbece, não é inconveniente,não procura o seu interesse, não seirrita, não suspeita mal, não sealegra com a justiça, mas rejubilacom a verdade. Tudo desculpa, tudocrê, tudo espera, tudo suporta” (1.ªCor. 13). Não queremos com istodizer que somos “santinhos”, pois amaioria das vezes ele não é umarealidade nas nossas vidas. Porém,reconhecemos nele a verdade. Quedialogar e agir em prol do outro, éamá-lo. É em casal, é no seiofamiliar que experimentamos queCristo Ressuscitou – quandopermite o perdão e nos passa datristeza à alegria – e que Deus nosama como somos – quando omanifesta através do outro. Amar é,pois, comunicar. E a família, comonos diz o Papa Francisco, é o“ambiente privilegiado do encontrona gratuidade do amor”.

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Pedro & ÂngelaEle tem 35 anos, é professoruniversitário, Doutor em Informaçãoe Comunicação em PlataformasDigitais; ela tem 29 anos, é técnicade comunicação numa Junta deFreguesia, Mestre em Ciências daComunicação. Conheceram-se

durante a Licenciatura emComunicação Social e EducaçãoMultimédia, em finais de 2006,casaram em Maio de 2013 e tiveramo José em Abril de 2014. Residemna Paróquia de Santiago deMarrazes, Diocese de Leiria-Fátima.

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"Família e Comunicação”Que importância tem a comunicaçãopara uma família como a nossa? Deque forma condiciona a nossa vida?O desafio foi-nos lançado pelaEcclesia, a propósito da mensagemdo Papa para o Dia dasComunicações Socias, por sermosuma família onde pai e mãetrabalham na comunicação social.Ainda por cima na mesma empresa.Podemos dizer que comunicar écentral nas nossas vidas. Pelasobrigações profissionais que temos,naturalmente, e porque sempretivemos a consciência de queequilibrar trabalho e família não seconsegue sem uma boa base decomunicação. Comunicar é partilhar,saber ouvir, é respeitar a opinião dooutro, mesmo quando é diferente danossa. É respeitar os silêncios, écompreender as ausências, éesclarecer dúvidas. É alimentar aconfiança. E é um desafiopermanente, que se vaitransformando à medida que osfilhos crescem. Trabalhar na mesma“casa mãe”, embora em rádiosdiferentes, também traz dificuldades.Não gostamos de levar “trabalhopara casa”, mas muitas vezes otrabalho vai connosco…

Somos uma família de quatropessoas, pai produtor musical derádio, mãe jornalista, e temos duasfilhas, uma já adulta e universitária(19 anos), outra ainda naadolescência (fará em breve 15). Aolongo dos anos, e nas várias fasesdas nossas vidas, fomos lidando eamenizando os constrangimentosnaturais das nossas profissões:horários flexíveis, trabalho aos fins-de-semana e feriados, reportagensque às vezes implicam ausências.Como se concilia isto tudo? Comboa vontade e bom senso. E commuita comunicação. Durante vários anos, por exemplo, oAntonio trabalhou na equipa do“Café da manhã” ( RFM). Entrar às6 da manhã obrigava-o a deitar-setão cedo que eram as filhas que iamdar o “beijo de boa noite” ao pai, enão o contrário. Quando eu tive deassegurar, durante anos, acontinuidade dos noticiários, era“normal” trabalhar todos os feriados,muitos Natais, domingos de Páscoae fins-de-ano. Foi a comunicaçãoque temos com a chamada “famíliaalargada”, com avós semprepresentes, que nos ajudou aultrapassar dificuldades.“Não existe a família perfeita”

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sublinha o Papa na mensagem parao Dia das Comunicações Sociais,acrescentando que “não é precisoter medo da imperfeição, dafragilidade, nem mesmo dosconflitos; o que é preciso éaprender a enfrentá-los de formaconstrutiva”. Tão verdade! Sabemosque na nossa família há coisas quenecessariamente não acontecemcomo noutras. Para uma jornalista eum criativo estar

informado é uma obrigação e umdever profissional, e nem sempre seconsegue “desligar”, há umanecessidade constante deinformação. O que para muitos podeser difícil de entender…Lá por casa continuamos a acordarcom o noticiário da rádio, interessa-nos saber, logo pela manhã, quaissão os destaques dos jornais, emuitas vezes acompanhamos asrefeições

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com a televisão acesa! Desaconselhável? Talvez. Masnunca foi dramático nem prejudicial.Pelo contrário, tem-nos ajudado acimentar a relação com as nossasfilhas numa base de confiança ediálogo permanente sobre o quevemos, seja informação, sejaentretenimento. A “moral da história”, que quandoeram mais pequenas procurávamossempre nos livros lhes líamos, ounos filmes que víamos em conjunto,foi sendo transposta para estaforma de “estar” frente à televisão.À medida que foram crescendotornou-se óbvio que erafundamental sermos nós, pais, a“desmontar” a informação querecebem, ajudá-las a interpretar omundo que as rodeia. Para além doque o simples exercício de falarsobre as coisas já traz de bom àrelação pais/filhas, e ao modo comose devem partilhar ideias.“Uma criança que aprende, emfamília, a ouvir os outros, a falar demodo respeitoso, expressando oseu ponto de vista sem negar o dosoutros, será um construtor dediálogo e reconciliação nasociedade”, afirma o Papa namensagem para o Dia dasComunicações Sociais. Não temos

quaisquer dúvidas sobre isso. Éfundamental desfazer equívocos,incentivar a tolerância quandodiscordamos uns dos outros,aprender a saber ouvir, a dar a vezao outro para se exprimir, ourespeitar quando se prefere osilêncio. Francisco também desafia asfamílias a “aprender de novo anarrar”, não se limitando “a produzire consumir informação”. Éprecisamente isso que tentamosfazer nesta ajuda que lhes damosna interpretação do que as rodeia,do que nos rodeia. A velocidadecom que as notícias hoje circulam elhes chegam através dos meios decomunicação social formais ou, porexemplo, nas redes sociais, tornatudo mais complicado. Não é fácilestar atento a tudo, empermanência, por isso há queinvestir na proximidade e naconfiança.O que significa “terrorista”, e porquerazão há terroristas que matam emnome de Deus? Como se combate oódio? Como podemos ajudar oscristãos perseguidos? O que é aviolência doméstica, e a que sinaisdevemos dar valor? E a pedofilia?Porque é que há tantos jovens aagredir outros? São algumas dasquestões que já motivaram longas

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e esclarecedoras conversas lá porcasa. A realidade é, por vezes, tãoviolenta que é fundamental os paisajudarem os filhos a interpretar oque vêem, lêem e ouvem, a teremsentido crítico, a saberem reflectir ecruzar acontecimentos, a saberemescolher o que consomem emtermos informativos ou deentretenimento.Valorizamos muito as conversas comas nossas filhas. Gostamos de ouvira opinião formada que têm sobre ascoisas, e não perdemos aoportunidade de uma boadiscussão, no bom sentido. E elastambém são, em relação às nossasprofissões, as nossas maiorescríticas, também nos ajudam a terolhares novos sobre as coisas,através dos seus olhares. E tambémnos aconselham! Já aconteceu ter aideia de uma reportagem depois deuma boa

conversa com as nossas filhas…“Comunicar a família: ambienteprivilegiado do encontro nagratuidade do amor” é o temada mensagem do Papa para o Diadas Comunicações Sociais que nosguiou nesta reflexão em família, e que aqui partilhamos. Umamensagem que nos interpela comoprofissionais da comunicação (seráque estamos a fazer as opçõeseditoriais certas e a tratardevidamente o tema da família?) e,simultaneamente, como pais eeducadores. E não temos dúvidasde que a família é, de facto, “oprimeiro lugar” onde se aprende eensina a comunicar.

Ângela Roque, jornalista da RR,editora de Religião

António Manuel Antunes, produtormusical da RFM

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A vivência do «Deus-amor nosgestos concretos» da famíliaNuno e Conceição Martins são ospais do Pedro, de 18 anos, e da Anade 16 anos, com deficiênciasmúltiplas. Os progenitores destacama “preponderância” e “importância”do Papa Francisco apelar à não-exclusão de ninguém na mensagempara Dia Mundial das ComunicaçõesSociais 2015.“Nós sabemos a potência e o poderque a comunicação social tem nasnossas vidas, na realidade dasfamílias e sociedade em geral. Épreponderante haver este alertapara existir um crescimento dasociedade para esta temática”,comentou Nuno Martins queconsidera que a sociedade podecrescer “no amor e nasolidariedade” com esta partilha.Para Conceição Martins é “muitoimportante” a referência do Papaporque sente “algum conforto”, queexiste alguém que “pensa e sepreocupa” com esta realidade.“Quer que também tenhamos voz ehaja atenção nesta sociedade ondeàs vezes a correria não permiteestar atento”, observou sobre arealidade das pessoas comdeficiência.

“Muito têm para nos ensinar, apropósito de limitações ecomunicação, as famílias com filhosmarcados por uma ou maisdeficiências”, escreveu o Papana mensagem ‘Comunicar a família:ambiente privilegiado do encontrona gratuidade do amor’.“A deficiência motora, sensorial ouintelectual sempre constitui umatentação a fechar-se; mas pode [..]ajudar a escola, a paróquia, asassociações a tornarem-se maisacolhedoras para com todos, a nãoexcluírem ninguém”, desenvolveuFrancisco no documento para o 49.ºDia Mundial das ComunicaçõesSociais.Conceição Martins concorda com oPapa e frisa que a sociedade podeser mais acolhedora com a inclusãode pessoas com deficiência, porqueelas se apresentam “sem disfarçar”.“A verdade que transmite o quesente torna-se uma riqueza e oamor que têm para dar, que é muitoverdadeiro, e percebe-se nosgestos, na afeição, na ternura,enriquece muito”, acrescentou.

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O “desafio maior” é passar aoconcreto com espaços e ambientespreparados para esse acolhimentoe exemplifica com a realidade das“igrejas normalíssimas etradicionais”, “geladas” entreoutubro e março, sãodesadequadas ao sistema imunitárioda Ana.“Pesquisamos e descobrimos queexistem Missas nos centroscomerciais que é fantástico.Estacionamos no parque e o acessoà capela é pelo interior”, disseConceição Martins.A espiritualidade e a fé sãotransmitidas aos dois filhos desde

pequenos e de maneiras diferentes,adequadas à realidade de cada um:“A Ana é sobretudo a oração emcasa, os gestos de amor”.Para além das orações antes dasrefeições, onde a Ana, jáfamiliarizada, “se benze” e espera, afamília Martins também tem umasala dedicada à oração.Conceição Martins não sabe qual a“perceção” que a filha tem de Deus,mas afirma que tem o “essencial”que é a “vivência do Deus-amor”nos gestos concretos da família edos que lhe são mais próximos.

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Carta a meus filhossobre a família que é a nossaNão sei, meus filhos, que famíliaserá a vossa. É possível, porquetudo é possível, que ela seja a quedesejo para vós, semelhante àquelaque construímos em conjunto todosos dias. Uma família quediariamente se procura e seencontra, no lar e no mundo, naintimidade e na exposição. Desejopara vós, uma simples família, emque prevaleçam o respeito e aalegria, o diálogo e a presença, amemória e a descoberta.É possível que não seja esta afamília que desejais ou a quepodereis vir a ter. E se, afinal, avossa família for diferente da nossa,desejo que nela vivam o mesmoamor, o mesmo perdão, a mesmafesta, que o Papá e eu aprendemosdiariamente convosco. Sobretudo,que vivais a mesma alegria querecebemos de vós, nos gestos doquotidiano: no abraço regateado, nocalor das vossas (já não tão)pequenas mãos, no silêncio doserão, no celebrar das conquistasescolares, nas “lições de vida” àhora do jantar, na observação dovosso caminho individual. Naquelaslinhas de afeto, enfim, com quevamos

cosendo a teia que nos suporta enos impele, a teia a que nosagarramos para sentir a segurançado hoje e de que nos servimos paraseguir adiante.Estas linhas, estes dias, esta vida,são um sonho que o Papá e a Mamãherdaram dos abuelitos, e da vovó edo vovô, a quem estamos gratossempre, e que ainda hoje são umcolo que nos ampara a todos.Há dias, porém, em que nem tudo écomo desejaríamos, em que nosdeparamos com dificuldades, comum quotidiano que nos subjuga, ecom as nossas próprias limitações.Há dias, em que querer ser a melhorprofissional e a melhor mãe sãorealidades incompatíveis, em quequerer estar presente choca com aimplacável agenda de um trabalhonoutro país. Sabeis certamente deque dias falo. Ou talvez não, talvez ovosso perdão fale mais alto do queos meus desabafos, porquanto étanta a generosidade do coraçãodas crianças.Mas esses dias existem e os perigosdesses dias também. E por isso, afamília que criamos nos cumpre tê-lacom cuidado, como coisa preciosa,

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conscientes da bênção querecebemos e que temos o privilégiode alimentar.Um dia, meus filhos, sabereis isto emais, e é possível até que saibaisque isto não é bem assim. Um dia,tereis as vossas certezas, as vossasvidas e, na liberdade e no respeito,elas serão múltiplas e únicas.Um dia, sabereis que o amor nemsempre pode tudo, se ele não forcomunicado; se no centro da

dinâmica familiar não estiver aimperiosa ação de comunicar esseamor. De o dizer, de o tocar, de opartilhar, por vezes até de o explicar,para o conseguir compreender.É por este amor e por esta famíliaque vos escrevo hoje.

(Uma apropriação do poema deJorge de Sena, «Carta a meus filhos

sobre os Fuzilamentos de Goya»)Inês Espada Vieira,

Universidade Católica Portuguesa

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Família, Media e IgrejaO cardeal-patriarca de Lisboa dissehoje que “em boa hora” o PapaFrancisco “juntou” o Dia Mundial dasComunicações Sociais ao tema dafamília, “que a Igreja está a debater”.Para o D. Manuel Clemente, amensagem do Papa intitulada‘Comunicar a família. Ambienteprivilegiado do encontro, nagratuidade do amor’, refere-se ao“tema da família”, às “comunicaçõessociais” e à “sociedade que precisade se encontrar como comunidade”.“É preciso que gostemos daspessoas ao ponto de estarmossempre motivados para resolver osproblemas nossos e os dos outros,que são nossos também”, sustentouD. Manuel Clemente, afirmando que éna família é o local de aprendizagemdessas atitudes. “A sociedade precisade se encontrar

como comunidade”,defendeu ocardeal, que representará, com D.Antonino Dias, a ConferênciaEpiscopal Portuguesa naassembleia do Sínodo dos Bisposde outubro próximo.Num encontro com jornalistas paraapresentar a aplicação móvel‘Missas em Lisboa’ e paracomentar a mensagem do Papapara o Dia Mundial dasComunicações Sociais, que se assinala este domingo, D.Manuel Clemente referiu que odebate do Sínodo dos Bisposacontece “em ligação à Igreja toda”.O presidente da ConferênciaEpiscopal Portuguesa constatouque o debate mediático sobre afamília está a ter “muito impacto”no debate sinodal. “A presençados media é realmente muito fortee tem uma velocidade que depoisdesafia à ponderação que tambémé preciso haver nestes assuntos”,sublinhou o cardeal-patriarca deLisboa.“Nas assembleias sinodais sente-se de uma maneira muito prementeque temos de falar, debater, massempre como representantesverdadeiros e informados, e porisso prudentes, de uma realidademuito vasta que é a realidadefamiliar”, acrescentou.

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O Patriarcado de Lisboa apresentou hoje a aplicação móvel ‘Missas emLisboa’, onde se divulgam os horários das celebrações eucarísticas das 285paróquias da diocese, propostas de cânticos para as missas de domingo e alocalização dos templos. Para D. Manuel Clemente, a aplicação gratuita éuma forma de “chegar a mais gente”. "Chegar a todos é um horizonte, maspelo menos que quem nos procura nos encontre”.De acordo com o diretor do Departamento da Comunicação do Patriarcadode Lisboa, padre Nuno do Rosário Fernandes, a aplicação móvel vaipotenciar a funcionalidade “mais procurada” na página da internet dodiocese.

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Comissão Episcopal para o laicado e família onlinehttp://www.leigos.pt/ Existem sítios que, do meu ponto devista, justificam que regularmente osrelembremos seja porquecelebramos datas que a isso nosobrigam ou porque a qualidade dosconteúdos disponibilizados são ricosdemais para serem deixados ao“abandono”. Celebra-se estasemana, entre 10 e 17 de maio,mais uma semana da vida. Estasemana já é comemorada desde1994 sendo organizada pelaConferência Episcopal Portuguesa,através da Comissão Episcopalpara o laicado e família. “Estainiciativa vem na sequência doapelo lançado em 1991 pelo PapaJoão Paulo II, na Encíclica OEvangelho da Vida sobre o valor e ainviolabilidade da vida humana, aopropor uma celebração que tenhapor objetivo «suscitar nasconsciências, nas famílias, na Igrejae na sociedade, o reconhecimentodo sentido e valor da vida humanaem todos os seus momentos econdições, concentrando a atençãode modo especial na gravidade doaborto e da eutanásia, sem contudomenosprezar os outros momentose

aspetos da vida…» (EV 85).”Assim esta semana propomos umavisita ao sítio da comissão episcopalresponsável pela organização destasemana em que se celebra o DiaMundial da Família (15 de Maio).Ao digitarmos oendereço www.leigos.pt encontramosum espaço eminentementeinformativo, apresentando umaestrutura e ambiente tradicionais,não fugindo aos cânones habituais.Na página principal além do menuencontramos as últimas notíciasinseridas e ainda algumassugestões para outros sítiosrelacionados.Ao clicarmos em comissão podemosver quem são os elementos que acompõem e perceber que a suafinalidade passa pelo“acompanhamento das associaçõesde fiéis na área do Apostolado dosLeigos (Movimentos Eclesiais, NovasComunidades, Obras de Apostolado,etc.) e a promoção da Pastoral nasáreas da Família, da Juventude e doEnsino Superior”.Em “família”, ficamos a perceber queesta área engloba a área dapastoral familiar e que é formada“por um

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grupo de pessoas com experiênciade trabalho nas questões daFamília”.Na opção “juventude”, descobrimosque nesse espaço estão incluídasas várias iniciativas no campojuvenil sendo coordenadas peloDepartamento Nacional da PastoralJuvenil (DNPJ).Por último, em ensino superior,ficamos ainda a saber que estacomissão episcopal é também

responsável pelo sector da pastoraldo ensino superior integrandoalunos e docentes.Em plena semana da vida fica odesafio de acederem a este espaçopara, além de consultarem osconteúdos apresentados, acederemaos materiais relativos a estasemana que tem como mote “Vidacom dignidade: opção pelos maisfracos”.

Fernando Cassola Marques

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Teu nome: MãeEste livro, com ilustrações aaguarela, apresenta-nos a VirgemMaria com muitos e variados títulos,mas há um que permanece comuma todos: Mãe. Ela é Mãe, em todasas horas da vida, de cada um denós e da humanidade. Mãe deCristo e por isso Mãe da Igreja, Mãeda humanidade. A experiência doamor da Mãe do céu que a autoranos ajuda a fazer leva-nos tambéma participar no amor privilegiado queNossa Senhora tem pelosperseguidos por amor a Cristo.A autora Maria Teresa MaiaGonzalez sente que a “vida deMaria é uma inspiração” e daí veio anecessidade de descobrir novoselementos “partindo das realidadesque agora se vivem”.“É a partir da cronologia de vida deMaria na Terra que estão incluídasas várias invocações que criamsintonia”, disse em declarações àECCLESIA.O livro é uma edição da FundaçãoAjuda a Igreja que Sofre, comilustração de Isabel Monteiro. Asreceitas revertem para apoiar váriosprojetos da vida consagrada noIraque em favor dos refugiadosnomeadamente a Congregação dasIrmãs Dominicanas, em Erbil, e no

“apoio aos milhares de refugiadosque dependem delas”, trabalho quea diretora da fundação AIS, CatarinaMartins, testemunhou diretamentena recente visita que fez ao Líbanoe ao Iraque.A sessão de lançamento, quedecorreu esta quarta-feira ao fim datarde na Sala Cónego Abranches,na Igreja de Nossa Senhora deFátima, em Lisboa, contou com aparticipação de Ângela Roque,jornalista da Rádio Renascença

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que, a pedido da autora, leu algunsdos textos do livro.A obra é também reflexo dasmeditações do padre Werenfried,devoto de Maria e fundador daFAIS, que serviram de inspiraçãopara a autora.Trata-se de um livro para “orar emeditar” que, segundo Maria TeresaGonzalez, se destina a crentes enão crentes, convidando mesmo osnão crentes a “não colaboraremapenas com a FAIS mas também arefletir nestes assuntos”.

“Orar a partir do coração” estáescrito na nota prévia do livro e aautora sente que é “para nãopapaguear, para criar sintonia comDeus, além de dialogar e escutarpara criar encontro”, propósitosdesta publicação.A autora refere que ao longo do diatodas as pessoas se deparam comdiferentes realidades, basta sair àrua, e podem encontrar-semomentos de encontro com Deus,“às vezes só em silêncio,contemplando” e este livro podeinspirar esses tempos de oração.

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II Concílio do Vaticano: Nas«encruzilhadas da vida» de D.António Ribeiro

O cardeal-patriarca de Lisboa, D António Ribeiro, nãoparticipou nas sessões do II Concílio do Vaticano(1962-1965), mas teve um papel fulcral na divulgaçãodesta assembleia magna realizada na Basílica de SãoPedro, no Vaticano.De 1959 a 1964 apresentou, aos sábados, na RTP, oprograma «Encruzilhadas da Vida», em que debatiatemas de atualidade, frequentemente, sugeridos pelospróprios telespectadores. Nos três anos seguintes(1964/67) foi o rosto do programa, no mesmo canaltelevisivo, «Dia do Senhor».Naqueles programas televisivos demonstrou “as suasqualidades de comunicador, aliadas a um apuradosentido crítico e a uma rara capacidade de leituracristã dos acontecimentos” – escreveu o diretor do«Correio de Coimbra», padre António Jesus Ramos,numa crónica dois dias depois da sua morte.Após prolongado sofrimento, no dia 24 de março de1998, faleceu, em Lisboa, este homem nascido em S.Clemente de Basto, na diocese de Braga, a 21 demaio de 1928. Depois de frequentar os semináriosdaquela diocese foi ordenado a 5 de julho de 1953. Oentão arcebispo de Braga, D. António Bento MartinsJúnior, mandou-o estudar para Roma (Itália) onde sedoutorou na Pontifícia Universidade Gregoriana com atese «A Doutrina do Evo em S. Tomás de Aquino.Ensaio sobre a duração da alma separa».Depois de uma séria formação humanística, filosóficae teológica, o jovem António Ribeiro cedo foi lançadopara a ribalta da Comunicação Social.

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Para além de trabalhar na área dacomunicação social, o futuro bispoauxiliar de Braga (eleito a 3 de Julhode 1967) foi assistente nacional ediocesano da Liga UniversitáriaCatólica e ainda das associaçõesprofissionais de médicos,farmacêuticos, juristas, engenheirose professores.“Ninguém estranhou, deste modo,que o jovem sacerdote fossechamado a assumir o múnusepiscopal aos trinta e nove anos deidade. A Igreja escolhera-o parasuceder, na diocese moçambicanada Beira, ao carismático

D. Sebastião Soares de Resende.Era uma tarefa difícil, o quedemonstra bem a confiança que aSanta Sé nele depositava. Só queDeus escreve direito por linhastortas. A sua figura ao mesmo tempoaberta e tranquila, a serenidade dasua postura perante os problemasmais difíceis e a prudência firme dassuas posições eram necessárias emPortugal num período que, naquelefinal dos anos sessenta, seadivinhava conturbado a diversosníveis” – redigiu o padre A. JesusRamos no «Correio de Coimbra» de26 de Março de 1998.

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Maio 2015 Dia 15 de maio* Espanha – Ávila - A UniversidadeCatólica de Ávila, em Espanha,promove uma competição defotografia, literatura e cinema nocontexto do V centenário donascimento de Santa Teresa deJesus e no âmbito de um congressointeruniversitário.

* Évora - Igreja do Salvador -Encerramento da exposição«Memórias de Conventos Femininosde Évora» (centra-se em quatroconventos femininos, dos oitoexistentes em Évora, em 1834, que,na sequência da extinção dasOrdens Religiosas, acabaram porser demolidos, total ouparcialmente.) Organizada pelaDireção Regional de Cultura doAlentejo e Cabido da Sé de Évora.

* Aveiro - XIV edição do Interescolasde EMRC com o tema «EMRC: Emmarcha no rumo certo!»

* Bragança - Auditório do NERBA -Sessão comemorativa dos 75 anosdo jornal diocesano «Mensageiro deBragança»

* Suíça - Saint Maurice -Encerramento do encontro sobre aradicalização do islão promovidopelo Conselho das ConferênciasEpiscopais da Europa.

* Lisboa - Sede do Banco SantanderTotta (Rua do Ouro, nº 88) -Simpósio «Conciliação, uma novaforma de gestão de pessoas»promovido pela ACEGE e aassociação «MásFamílias»(Espanha).

* Porto - Parque da Pasteleira - XIIIencontro de alunos de EMRC daDiocese do Porto

* Portalegre - Crato (Convento deSanto António) - JornadasMuseologia nas Misericórdias

* Porto - UCP - Dia Nacional daFaculdade de Teologia

* Porto - Igreja dos Clérigos - AAssociação Católica Internacional aoServiço da Juventude Feminina(ACISJF-Porto) comemora o seucentenário com um jantar e umacelebração na Igreja dos Clérigos.

* Braga - Famalicão (auditório daCESPU) - Debate sobre «Valoresnuma Sociedade Moderna» com apresença de D. Carlos Ximenes Beloe D. Jorge Ortiga.

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. * Lisboa - Igreja do SagradoCoração de Jesus - Celebração dos50 anos de sacerdócio do cónegoAntónio Janela presidida por D.Manuel Clemente

* Aveiro - Igreja de São Gonçalinho -Oração Taizé Solidária para celebraros 100 anos do nascimento doIrmão Roger e angariar bens para oBalneário Social das Florinhas doVouga.

* Viseu - Mosteiro de São Cristóvãode Lafões - Encontro Cultural deSão Cristóvão de Lafões com otema «De Cister a Portugal: o tempoe o(s) modo(s)». (15 e 16)

Dia 16 maio* Fátima - Dia nacional doMovimento Juvenil Salesiano

* Fátima - Reunião da Faculdade deTeologia da Universidade CatólicaPortuguesa

* Lamego - Moimenta da Beira - XXXJornada diocesana da Juventude

* Lisboa - Igreja de Santo António deMoscavide - Jornadas marianas doMovimento da Mensagem de Fátimacom o tema «Santificados emCristo» e presididas por D. JoaquimMendes.

* Aveiro - Casa das IrmãsDominicanas - Encontro «Àconquista de castelos» sobre aespiritualidade de Teresa de Jesus

* Lisboa - Alameda dasUniversidades - Bênção dosFinalistas presidida por D. ManuelClemente

* Setúbal - Sesimbra (Auditório doCentro de Estudos Culturais e deAcção Social Raio de Luz) -Conferência do padre José Lobato,vigário geral da Diocese de Setúbal,sobre os 40 anos do jornal «Raio deLuz»

* Lisboa - Museu de São Roque -Conferência sobre «Vieira e aNatureza Amazónica» por AneteCosta Ferreira e integrada no Diados Museus por uma sociedadesustentável.

* Coimbra - Sé Nova - Bênção dasgrávidas

* Lisboa - Igreja de São Roque -Espetáculo «Paiaçu ou Pai Grande»do padre António Vieira pelos atoresJoão Grosso e Sílvia Filipe.

* Fátima - Museu de Arte Sacra eEtnologia - Iniciativa «Noite dosMuseus»

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A cidade de Ílhavo vai receber esta sexta-feira o

interescolas da disciplina de Educação Moral eReligiosa Católica (EMRC), da Diocese de Aveiro,onde são esperados mais de 3000 alunos e o bispo dadiocese. Esta 14.ª edição tem como tema “EMRC: Emmarcha no rumo certo!”. Decorre nos dias 16 e 17 mais uma edição do DiaNacional do Movimento Juvenil Salesiano,destinado a pré-adolescentes, adolescentes ejovens do MJS dos ambientes salesianos ou comreferência salesiana. O domingo é assinalado em várias cidades do país porjornadas dedicadas à família, pela Igreja Católica. EmCoimbra, Chão de Couce acolhe a Festa Diocesanadas Famílias. Já a Diocese de Leiria-Fátima vairealizar uma grande festa, tendo como epicentro oParque da Cerca (Marinha Grande), para coroar obiénio de atividades pastorais à volta da família como“comunidade de fé, de amor e de vida”. O setor daPastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa e aVigararia de Sintra organizam a 2ª edição da Festa daFamília, que vai acontecer no Mucifal, em Colares,Sintra. No Vaticano, o Papa preside este domingo demanhã à Missa de canonização de quatroreligiosas: as palestinas Marie AlphonsineGhattas (1843-1927) e Maria de Jesus CrucificadoBawarti (1846-1878), a italiana Maria Cristina daImaculada Conceição (1856-1906) e Jeanne Émiliede Villeneuve (França, 1811-1854).

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POR OUTRAS PALAVRAS

6º Ascensão do Senhor - Ano B

O céu não é uma distracção, nem um desejo ou uma saudade, para onde sefique a olhar. A ascensão não é uma porta que se fecha para um longo intervalo até voltara abrir-se. Aquele que “virá de novo” não nos consente, por isso, a esperaestática; antes obriga a um anúncio e atenção permanentes. Tornou-se invisível a nossos olhos, mas não é um ausente, porque continuaconnosco de outro modo: a sua presença já não está confinada a um tempoou espaço. João Aguiar campos

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Devemos ser todos Santos?

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h30Domingo, dia 17 - Dia Mundialdas Comunicações Sociais RTP2, 15h30Segunda-feira, dia 18 -Entrevista sobre obicentenário de nascimentode São João BoscoTerça- feira, dia 19 -Informação e entrevista aJuan Ambrosio sobre aFaculdade de Teologia daUCP;Quarta-feira, dia 20 - informação e entrevista a MariaTeresa Maia Gonzales sobre o livro "Teu nome: Mãe"; quinta-feira, dia 21 - informação e entrevista à irmãBridget Eason;sexta-feira, dia 15 - entrevista de apresentação daliturgia dominical pelo padre João Lourenço e JuanAmbrosio. Antena 1Domingo, dia 17 de maio - 06h00 - Dia Mundial dasComunicações Sociais: comunicar em família; relaçãoentre mãe e filho na gravidez; aprender a narrar.Comentário com irmã Irene Guia. Segunda a sexta-feira, 18 a 22 de maio - 22h45 - Osacramento do Crisma com João Tovar; Festas doEspírito Santo nos Açores com o padre Helder Mendese a historiadora Margarida Lalanda; Festas do EspíritoSanto em Alenquer com o diácono Duarte João eFestas do Espírito Santo na Madeira com jornalistaManuel Gama e o Frei Nélio Mendonça.

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Ano B – Solenidade da Ascensão doSenhor Olhar o céu,partir emmissão

A Solenidade da Ascensão do Senhor Jesus, que hojecelebramos, sugere que, no final do caminhopercorrido no amor e na doação, está a vida definitiva,a comunhão com Deus. Os discípulos e seguidores deJesus são chamados a concretizar o seu testemunhohoje.Na primeira leitura dos Atos dos Apóstolos, repete-se amensagem essencial desta festa: Jesus, depois de terapresentado ao mundo o projeto do Pai, entrou navida definitiva da comunhão com Ele. Os discípulosmissionários não podem ficar a olhar o céu numapassividade alienante; têm de ir para o meio daspessoas, continuar o projeto de Jesus. Uma «Igreja emsaída», no dizer do Papa Francisco.A segunda leitura convida os discípulos a teremconsciência dessa esperança de vida plena emcomunhão com Deus. Devem caminhar ao encontrodessa esperança de mãos dadas com os irmãos,membros do mesmo corpo, e em comunhão comCristo, a cabeça desse corpo.«Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda acriatura... Eles partiram a pregar por toda a parte...»São palavras de Jesus ressuscitado no Evangelho,quando aparece aos discípulos e os envia em missãocomo testemunhas do projeto de salvação de Deus.E que fazemos nós hoje?É um grande desafio testemunhar no nosso mundo osvalores do Reino, esses valores que, muitas vezes,estão em contradição com aquilo que o mundodefende e que o mundo considera serem asprioridades da vida.Com frequência, os discípulos de Jesus são objeto dedesprezo e indiferença, de perseguição e morte,porque insistem em testemunhar que a felicidade estáno perdão e no amor, no serviço e no dom da vida.

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O confronto com o mundo geramuitas vezes, nos discípulos,desilusão, sofrimento, frustração.Nesses momentos sabe bemrecordar as palavras de Jesus: “Euestarei convosco até ao fim dostempos”. Esta certeza devealimentar a coragem com quetestemunhamos aquilo em queacreditamos.Olhar o céu implica estarmosatentos aos problemas e àsangústias dos homens, sentirmo-nos questionados pelasinquietações e misérias, pelossofrimentos e sonhos, pelasesperanças e alegrias que enchemo coração dos que nos rodeiam,

sentirmo-nos solidários com todos,particularmente com aqueles quesofrem. É isso que a Ascensão nospede hoje e nesta semana: olhar océu e partir em missão, levando oSenhor no coração.E neste Dia Mundial dasComunicações Sociais, procuremossintonizar com o convite do PapaFrancisco a centrar o nosso olharna família enquanto ambienteprivilegiado do encontro nagratuidade do amor.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.pt

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Pastoral da Cultura desafiadiferentes gerações a debater aFamília"Tempo de Cultura, Tempo deFamília" é o tema da próximaJornada da Pastoral da Cultura, quea 29 de maio reúne em Fátimaoradores de diferentes gerações,formações, situações profissionais evivências da condição cristã.O presidente do Centro Nacional deCultura, Guilherme d'OliveiraMartins, a maestrina Joana Carneiroe o escritor João Miguel Tavaresestão entre os participantes noencontro, que se situa entre os doisSínodos dos Bispos (outubro de2014 e outubro de 2015)convocados pelo papa Franciscopara refletir sobre a Família.A Jornada, que o SecretariadoNacional da Pastoral da Culturaorganiza pelo 11.º ano consecutivo,inclui a entrega do Prémio Árvore daVida - Padre Manuel Antunes 2015à personalidade, a anunciar embreve, que a Igreja católicadistingue com base em obrareveladora de humanismo eexperiência cristã.O encontro, com inscrições abertasao público em geral, que jádecorrem pela internet, inicia-se às10h15 com o presidente daComissão Episcopal da Cultura,Bens Culturais e

Comunicações Sociais, D. Pio Alves,bispo auxiliar do Porto.A conferência de abertura éproferida por Guilherme d'OliveiraMartins, com apresentação emoderação de Eduardo PazBarroso, professor de Estética eCiências da Comunicação,seguindo-se o diálogo com opúblico.Pelas 11h45 começa o primeiropainel, com Joana Carneiro e JoãoMinhoto Marques, professor deLiteratura PortuguesaContemporânea, moderado porMaria João Costa, jornalista daRenascença especializada emtemas de cultura, que introduziránovo espaço reservado à interaçãocom a assembleia.Uma instalação do artista e poetaAntónio Barros, marcada para as14h30, abre o programa da tarde.João Miguel Tavares, MargaridaMiranda, professora de EstudosClássicos, e Samuel Silva, artistaplástico, são os protagonistas dopainel que se segue, commoderação de Octávio Carmo, chefede redação da Agência Ecclesia.A sessão de encerramento, previstapara as 16h15, conta com asintervenções de D. Pio Alves eJosé

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Carlos Seabra Pereira, diretor doSecretariado Nacional da Pastoralda Cultura.A terminar, realiza-se o ato deentrega do Prémio Árvore da Vida -Padre

Manuel Antunes. O encerramento daJornada é esperado para as 17h30.Programa, informações sobre aJornada e formulário de inscrição

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A religiosa clarissa que impulsionouo culto do Senhor Santo Cristo dosMilagres‘Duas Almas Gémeas: SantaMargarida e Madre Teresa daAnunciada’ é o título do livro doreligioso dehoniano padre AgostinhoPinto, que foi lançado estasegunda-feira na Igreja doSantuário do Senhor Santo Cristo,com a apresentação do bispo deAngra, D. António de Sousa Braga.O responsável diocesano destacoua importância deste livro para a“compreensão do sentido demisericórdia divina tãosugestivamente revelada no EcceHomo, tão bem retratada na imagemdo Senhor Santo Cristo”, cujo cultoa Madre Teresa soube difundir eaprofundar. Por isso, diz D. Antóniode Sousa Braga, no ano em que oPapa convocou o Jubileu daMisericórdia, “seria bom não perderde vista esta publicação”.O livro resulta de uma investigaçãosobre a vida de Santa Margarida ede Madre Teresa da Anunciada,“que é coincidente na maioria dosaspetos” desde logo a suacontemporaneidade, o facto deterem entrado no mesmo dia para oconvento, de viverem as mesmasdificuldades e tribulações

mas, sobretudo “pelos esforços quefazem para dar a conhecer umJesus humano que ama e deve sercorrespondido”.“ Para além das coincidênciasambas tinham este desejo reparadora partir de contextos diferentes:mostrar que Deus tem coraçãohumano, que palpita, que nos ama enós temos de ser capazes dedevolver e de valorizar esse amor,correspondendo-lhe”, disse ao Sítio‘Igreja Açores’ o autor do livro.A investigação começou ainda notempo do anterior bispo de Angra,D. Aurélio Granada Escudeiro, quelhe pediu para fazer umaautobiografia da religiosa. “Aimagem que nos passam destamulher não corresponde ao seu realvalor. Na juventude pode ter sidodependente e limitada mas à medidaque a sua fé foi amadurecendo e elatinha a plena convicção que o quedefendia era a vontade do SenhorSanto Cristo afrontava toda a gente,inclusive o Rei”, diz o sacerdote, nãoescondendo “uma verdadeirapaixão” pela vida e obra destaclarissa.“Se ela estivesse mais perto deRoma já

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estava nos altares. A distância e afalta de quem trabalhe de formaárdua e com o coração nesta causatêm impedido que o processoavance” refere o religioso. “Épreciso alguém que leve isto nocoração, que se dedique de almapara que o trabalho avance”.“Teresa da Anunciada era umadiscípula da paixão mas a dimensãoreparadora fez dela uma mulhervigorosa”, ressalva o padreAgostinho

Pinto, afirmando que compara asduas - Teresa e Margarida, comonze anos de diferença - “até comoforma de dar um empurrão” à causada Madre Teresa.A Diocese está neste momento adesenvolver “todos os esforços paranomear mais rapidamente possívelum novo postulador” que terá de“residir nos Açores, particularmenteem São Miguel”, disse ao Sítio‘Igreja Açores’ o bispo de Angra.

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Religiosas de Maria Imaculadaassinalam 125 anos da morte da suafundadora“Temos que reconhecer na criaçãodesta Congregação uma obra daDivina Providência que segundo asnecessidades dos tempos enviaremédios oportunos”. É com estafrase de Santa Vicenta Maria que seapresentam as Religiosas de MariaImaculada, uma congregação quenasceu em Espanha, em 1876, nodia da Festa da SantíssimaTrindade, e se estendeu aos quatrocontinentes, tendo hojecomunidades muito

“expressivas” na Índia, no Brasil eem África.“Nós, Religiosas de MariaImaculada, somos as continuadorasdo Carisma e da Missão de SantaVicenta Maria, na Igreja” esclareceao Sítio ‘Igreja Açores’ a superiorado Convento da Esperança, a casadestas religiosas em Ponta Delgada,nos Açores.“A opção por Jesus Cristo, comoresposta ao seu chamamento, estána base da totalidade da nossavida.

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É um rasgo da nossa identidade”,sublinha a Irmã Maria Alice.Os elementos constitutivos doCarisma das Religiosas de MariaImaculada são: O amor - “Sem esteamor-caridade não se poderálevantar o edifício do Instituto”; odesejo de procurar e realizar avontade de Deus; a “paixão pelasjovens, pelo seu amadurecimentohumano, formação, promoção esantificação”; a obediência; aoração a partir da vida e para avida; o amor a Maria- “modelo demulher nova e a alternativa de ummodo de ser mulher”, para a jovemde hoje” e o amor à Eucaristia.

“Ela era uma mulher muitoeucarística, é aí que ela dedica oamor a Jesus e ao próximo e depoisconcretiza na missão” destaca aindaa Irmã Maria Alice, lembrando o seuempenho na defesa das jovens, oque a levou a afirmar mais tarde,depois da realização de algunsexercícios espirituais com as jovense de ter conseguido fundar acongregação “as jovens triunfaram”.Este ano, a Congregação assinalaos 125 anos da morte da suafundadora que foi beatificada peloPapa Pio XII em 1950 e canonizadaem 1975 por Paulo VI.

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República Centro-Africana:uma tragédia humanitária esquecida

As guerras do Padre AurelioAs Nações Unidas dizem que naRepública Centro-Africana está aacontecer a maior crisehumanitária esquecida nomundo. Os números sãotrágicos. Mas lá, neste paísafricano, há um missionário que,todos os dias, ofereceesperança onde já só havialágrimas. República Centro-Africana. A ONUvoltou a lançar um alerta para estepaís que vive “a maior crisehumanitária esquecida” no nossotempo. Os números sãoassustadores: Cerca de 60% dapopulação precisa de ajuda deemergência. Há 900 mil pessoasdeslocadas. As Nações Unidasestão sem recursos financeiros parauma resposta eficaz. A tragédia aíestá, de novo. Porém, desta vez háum aparente desinteresse domundo e um cruel silêncio dosjornais. Parece que há outrastragédias, outras prioridades. Desde2013 que este país tem vividosurtos de violência protagonizadospor milícias muçulmanas, partidáriasdos rebeldes de um movimentodenominado Séléka, e de um outrogrupo,

que se lhe opõe, os anti-Balaka.Padre AurelioAurelio Gazzera é missionárioitaliano, tem 52 anos, usa cabelocurto, tem a pele escurecida peloinclemente sol de África e continua aser um teimoso combatente pelapaz. Desde há muito que estecarmelita tem levantado a sua vozpara denunciar esta tragédia. Acidade de Bozoum, com 25 milhabitantes, é a sua terra de missão.Porém, muitas vezes os seus gestossão incompreendidos.Recentemente quase foi linchadopela multidão. Seguia no meio dacidade quando começaram a atirarpedras contra o carro. Erammuçulmanos. Queriam matá-lo. OPadre Aurelio confessou, mais tarde,que, naquele instante se limitou arezar o Terço. Sentiu-se impotente.Parecia o fim. Foi então que doishomens, vindos não sabe de onde,se colocaram em frente do carro egritaram para a multidão. Tudoparou. O Padre Aurelio reconheceulogo um deles. Era um dos maisprocurados e temidos líderes dosSéléka. Inacreditavelmente, aquelehomem que todos temiam estava

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agora ali, de braços abertos, aacalmar a multidão como se ativesse hipnotizado. Fome e medoEste país continua sequestrado porgrupos armados. Muitos dos queapedrejaram o carro do PadreAurelio passaram a acantonar-senos seus bairros à espera sempredo dia em que também seriamatacados. É a lógica da violênciasem fim. É preciso inverter isto.Criar pontes. “Uma vez por mês, osnossos paroquianos costumamoferecer algumas provisões edinheiro para os mais pobres da

comunidade, os órfãos. Então, falei-lhes na possibilidade de ajudarmosos muçulmanos pobres de Bozoum.”Como iriam reagir? “Eles são todosextremamente pobres, mas reuniramimensos alimentos e juntaram quase70 euros, o que é uma verdadeirafortuna!”. Afinal, a paz é possívelquando se acredita nareconciliação. A Fundação AIS apoiao trabalho do Padre Aurelio. Estánas nossas mãos impedir que aRepública Centro-Africana seja opaís onde está a acontecer a maiorcrise humanitária esquecida nomundo.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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Paz e Segurança

Tony Neves Espiritano

São duas palavras que nem sempre estão namesma página do dicionário. Habituei-me, emcontexto de governo de partido único, a entenderque estas duas realidades não podiam andar debraço dado. Sempre que me falavam desegurança, vinha-me à mente um sistemabárbaro e desumano de controlo das pessoas esuas ideias que era posto em prática por gentecapaz de tudo, até matar. Era assim que atuava achamada ‘segurança do estado’ em Angoladurante a guerra civil. E desta segurança nãotenho saudades nenhumas e fico sempre maldisposto quando me recordo de algumas dassuas práticas.Mas aqui estamos a querer falar de outrasegurança: a que permite ás pessoas viverseguras, circular á vontade sem seremincomodadas, dizer o que acham que é averdade, manter um conjunto de condiçõesmínimas para viver, estar numa terra onde oseventuais inimigos internos ou externos nãopoderão atentar contra a dignidade e os direitosdas pessoas. Esta segurança, sim, interessamanter e implementar. É esta segurança, aliadada paz, que o Ano Europeu do Desenvolvimentoque estamos a viver quer valorizar neste mês deMaio.A Paz, essa sim, é um valor inquestionável. Ir áprocura de guerras para resolver problemascontinua a ser moeda corrente, mas não fazqualquer sentido. Ninguém está seguro emtempo de guerra, sem sequer aqueles que apromovem e com ela ganham milhões. A guerraserá sempre ato de barbárie e é urgenteencontrar caminhos

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alternativos á violência quando sepretendem resolver problemas.Para percebermos os efeitosbárbaros da guerra, basta darmosuma olhada para o que se está apassar na Síria e no Iraque. Ocortejo de destruições e mortesparece não ter fim e fico sem saberquem sairá vencedor. Talvez osfabricantes e vendedores dearmas…

Numa Europa com sinais claros derupturas políticas (Ucrânia…),económicas (Grécia…) e sociais, háque investir na cimentação de umapaz que crie condições reais desegurança para todos. Mas nuncana lógica de uma Europa queconstrói muros, mas de umaEuropa-Ponte para o resto domundo.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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