não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

106
Um Estudo sobre ao-Comutatividade e Dualidade T em Cordas Bosˆ onicas Rafael D’Andrea Alves da Rocha Orientador: Nelson Ricardo de Freitas Braga

Upload: ronaldo-lobato

Post on 01-Jul-2015

251 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

Um Estudo sobreNao-Comutatividade e

Dualidade T emCordas Bosonicas

Rafael D’Andrea Alves da Rocha

Orientador: Nelson Ricardo de Freitas Braga

Page 2: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

Um Estudo sobre Nao-Comutatividade eDualidade T em Cordas Bosonicas

Rafael D’Andrea Alves da Rocha

Tese de Mestrado apresentada ao Programa dePos-Graduacao em Fısica, Instituto de Fısica, daUniversidade Federal do Rio de Janeiro, comoparte dos requisitos necess´arios a obtencao dotıtulo de Mestre em Ciˆencias (Fısica).

Orientador: Nelson Ricardo de Freitas BragaColaborador: Carlos Alfonso M. Ball´on Bayona

Rio de JaneiroMarco de 2008

Page 3: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas
Page 4: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

D’Andrea, Rafael

Um Estudo sobre N˜ao-Comutatividade e Dualidade T em

Cordas Bosonicas/ Rafael D’Andrea A. da Rocha. Rio de

Janeiro: UFRJ/IF, 2008.

xi, 91f.: il. ; 30cm.

Orientador: Nelson Ricardo de Freitas Braga.

Dissertacao (Mestrado) - UFRJ / Instituto de Fısica /

Programa de P´os-graduacao em Fısica, 2008.

Referencias Bibliograficas: f. 90-93.

1. Teoria de Cordas. 2. Nao-Comutatividade. 3. Du-

alidade T. 4. Quantizacao de Dirac. 5. D-branas. I. Braga,

Nelson Ricardo de Freitas. II. Universidade Federal do Rio

de Janeiro. Instituto de Fısica. Programa de P´os-graduacao

em Fısica. III. Um Estudo sobre N˜ao-Comutatividade e D-

ualidade T em Cordas Bosonicas.

Page 5: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

Resumo

Um Estudo sobre Nao-Comutatividade e Dualidade T em Cordas

Bosonicas

Rafael D’Andrea Alves da Rocha.

Orientador: Nelson Ricardo de Freitas Braga.

Colaborador: Carlos Alfonso M. Ball´on Bayona.

Resumo da Dissertacao de Mestrado submetida ao Programa de Pos-graduacao em Fısica, Instituto de Fısica,

da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessarios a obtencao do t´ıtulo de

Mestre em Ciˆencias (Fısica)

A dissertacao e um estudo sobre nao-comutatividade e dualidade T em D-branas de cor-

das bosonicas. Particularmente, o objetivo e investigar se (ou como) a nao-comutatividade

se manifesta no sistema dual a uma D2-brana com campo magnetico, este sendo um espaco

nao-comutativo. O trabalho organiza-se como a seguir: 1. Introducao da corda bosonica. 2.

Quantizacao da corda. Surgimento da n˜ao-comutatividade em cordas ligadas a D-branas com

campo de fundo constante. 3. Breve exposicao sobre dualidade T em cordas fechadas e abertas.

Apresentacao dos ”candidatos” a sistema dual. 4. Quantizacao dos candidatos. 5. Conclus˜oes.

Palavras-chave: teoria de Cordas, nao-comutatividade, dualidade T, quantizacao de Dirac, quantizacao

simpletica, D-branas.

Rio de Janeiro

Marco de 2008

Page 6: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

Abstract

A Study of Noncommutativity and T-Duality in Bosonic Strings

Rafael D’Andrea Alves da Rocha.

Advisor: Nelson Ricardo de Freitas Braga.

Collaborator: Carlos Alfonso M. Ballon Bayona.

Abstractda dissertacao de Mestrado apresentada ao Programa de Pos-graduacao em Fısica, Instituto de Fısica,

da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessarios a obtencao do t´ıtulo de

Mestre em Ciˆencias (Fısica)

The dissertation is a study on noncommutativity and T-duality in D-branes for bosonic

strings. In particular, the goal is to figure out whether (or how) noncommutativity appears in a

system dual to a D2-brane with background, which a known noncommutative space. The work

is organized as follows: 1. The bosonic string setup is introduced. 2. The string is quantized by

means of several methods; noncommutativity shows up for a D2-brane with a constant B-field

spread over it. 3. A brief explanation on T-duality in closed and open strings is given; the

candidates for a dual system are presented. 4. Those candidates are quantized. 5. Conclusions.

Key-words: string theory, noncommutativity, T-duality, Dirac quantization, symplectic quanti-

zation, D-branes.

Rio de Janeiro

March 2008

Page 7: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas
Page 8: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

Indice

1 Introduc ao 6

1.1 A acao da corda bosonica livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

1.2 Introducao dos campos de fundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

1.3 Compatibilidade entre comutadores e condicoes de contorno . . . . . . . . . . 13

1.4 A expans˜ao em modos de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2 Quantizacao e Nao-Comutatividade 18

2.1 Quantizacao via equacao de Heisenberg . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.2 Quantizacao simpletica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.3 Quantizacao de Dirac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3 Dualidade T 33

3.1 Cordas fechadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

3.1.1 Cordas fechadas emR1,25 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

3.1.2 Cordas fechadas emS1 ⊗ R1,24 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

3.2 Cordas abertas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

3.2.1 Caso livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

3.2.2 D2-brana num toroT 2 com campo B . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

3.2.3 Uma prescricao para a dualizacao deX2 . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

3.2.4 Uma outra dualizacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

3.2.5 DualizandoX1 eX2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

xi

Page 9: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

xii

4 Quantizacao do Sistema Dual 60

4.1 Dualizacao por condicoes de contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

4.1.1 Quantizacao via equacao de Heisenberg . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

4.1.2 Quantizacao via metodo de Dirac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

4.2 Dualizacao por multiplicador de Lagrange . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

4.3 Dualizacao deX1 eX2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

Apendices 69

A M etodo de quantizacao de Dirac para a corda livre num espaco 1-d 69

B Calculo da massa 76

B.1 Cordas fechadas emR1,25 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

B.2 Cordas fechadas emS1 ⊗ R1,24 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

B.3 Cordas abertas livres emS1 ⊗ R1,24 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

B.4 D2-brana num toroT 2 com campo B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

B.5 Sistemas duais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

C Conexoes entre simetrias da teoria e simetrias do toro 85

D Descricao da worldsheet comX i adimensionais 88

Conclusoes 90

Page 10: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

Primeiras palavras

Motivacao: Uma breve historia das cordas

A teoria de cordas surgiu nos anos 60 como uma tentativa de descrever as interacoes fortes.

Apos um perıodo inicial de popularidade, essa iniciativa foi suplantada em 1974 pela rec´em-

nascida cromodinamica quantica. N˜ao obstante, logo em seguida se descobriu que o gr´aviton

surge naturalmente nessa descricao baseada em cordas, e comecou-se a pensar nas cordas como

um modelo para a gravitacao. Estava inaugurada a teoria de cordas bosonicas.

No entanto, a teoria tinha problemas. Por exemplo, o espectro das cordas apresentava esta-

dos de massa negativa (taquions). Alem disso, percebeu-se que a teoria apresentaria anomalias

a menos que o espaco-tempo tivesse inopinadas 26 dimensoes; demais, os fermions n˜ao eram

descritos pela teoria. Para consertar esses embaracos, acrescentou-se-lhe a supersimetria, que

promoveu as cordas a “supercordas”, e nao s´o introduziu os fermions no jogo como eliminou os

taquions. E, se nao livrou a teoria das inacredit´aveis 22 dimensoes extras, reduziu seu numero

para mais toleraveis 6, constituindo um espaco-tempo de (1+9) dimensoes.

Na decada de 80, com a chamada primeira revolucao das supercordas, a teoria despontou

como uma possıvel descricao de todas as interacoes conhecidas, e portanto uma promessa de

unificacao da fısica. Foi nessa epoca que comecou a ser chamada de “teoria de tudo”. Vier-

am os anos 90, e, com eles, a segunda revolucao das supercordas, que trouxe as D-branas, as

equivalencias da teoria (tais como a dualidade T), e a correspondˆencia AdS/CFT [18], que en-

gatilhou uma nova busca por descricoes das interacoes fortes via modelos fenomenologicos de

1

Page 11: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

2

cordas, uma area muito ativa hoje na fısca te´orica. Ela possui muitas caracter´ısticas de interesse

matematico e incorpora naturalmente todas as propriedades essenciais do Modelo Padr˜ao, tais

como grupos de calibre nao-abelianos e As supercordas, entretanto, tˆem seus cr´ıticos, que n˜ao

sao poucos. A teoria ainda n˜ao foi verificada fermions quirais. experimentalmente. Na ver-

dade, nenhuma versao da teoria de cordas apresentou qualquer resultado sujeito aos meios de

verificcao atuais que difira daqueles de outras teorias. A escala de energia em que seria possıvel

ver o carater “cordico” das partıculas e muito maior do que as disponıveis experimentalmente.

O LHC e visto como uma oportunidade sem precedentes de se obter suporte empırico a teo-

ria, como a deteccao de part´ıculas supersimetricas ou a observacao de um car´ater inedito da

interacao gravitacional condizente com dimensoes extras. De qualquer modo, a teoria tal como

esta poderia sobreviver mesmo a ausencia de quaisquer novidades experimentais encorajadoras

que o LHC possa trazer, e por isso alguns argumentam [30] que at´e o momento a teoria de

cordas n˜ao e falseavel, e portanto talvez sequer mereca ser chamada de ciˆencia.

Nao esta claro como as supercordas produzirao um modelo realista e preditivo da natureza,

se e que um dia o far˜ao. Mas a teoria e elegante, e no mınimo ja apresentou a comunidade cien-

tıfica novos conceitos, como D-branas e dimensoes extras compactificadas, que possivelmente

serao parte fundamental de uma descricao completa do Universo. De maneira que, assim me

parece, n˜ao faltam motivos para investigar o que mais pode advir desta “not´avel e fascinante

teoria” [4].

A dissertacao

Os conceitos-chave nesta dissertacao saonao-comutatividade, dualidade Te D-branas.

Segue abaixo uma explanacao sobre o que sao esses conceitos e o que se prop˜oe fazer com

eles neste trabalho.

Page 12: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

3

Nao-comutatividade

Este nao e um assunto novo. Pelo menos desde 1947 [51] concebeu-se um espaco-tempo

nao comutativo em mecanica quantica. No entanto, at´e recentemente nao se levava realmente a

serio tal tipo de tratamento, por raz˜oes que envolvem a n˜ao-localidade intrınseca a tais modelos

e ate mesmo quebra da invariancia de Lorentz e da causalidade [10, 22].

No entanto, h´a mais de uma boa raz˜ao para estudar n˜ao-comutatividade. Uma delas seria a

possiblidade de melhorar a divergencia UV em teorias de campos. Uma segunda motivacao e

a tentativa de se encontrar variantes de teorias de Yang-Mills que sejam mais trat´aveis pertur-

bativamente. Entre essas variantes, figuram teorias de calibre n˜ao-comutativas [40, 52]. Uma

outra razao e a busca pela gravidade quantica. Talvez espacos nao-comutativos sejam mais ad-

equados para descrever a gravidade a pequenas distancias.E possıvel que a gravidade sequer

seja local nessa escala. O fato e que a n˜ao-localidade ainda n˜ao e bem entendida, e n˜ao faria

mal estuda-la em modelos simples a fim de aplic´a-las em tentativas realistas de se chegar a uma

teoria quantica da gravitacao.

Essa e uma das principais motivacoes para a atual atividade na area em teoria de cordas. De

fato, a nao-comutatividade surge em modelos muito simples de cordas interagindo com campos

de fundo. E o melhor e que as patologias apresentadas em teorias com nao-comutatividade do

espaco-tempo nao aparecem em teorias de cordas [22]. Um desses modelos simples e analisado

nesta dissertacao.

D-branas

Existem dois tipos gerais de cordas: fechadas e abertas, e varias versoes de teorias de cordas

envolvem ambas (nem todas envolvem as abertas). Cedo se deu conta de que existe um fluxo

de energia pela corda, e no caso da corda aberta isso implica um problema com conservacao da

energia. Portanto, uma teoria de cordas abertas consistente deve incluir um lugar para onde a

Page 13: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

4

energia flua uma vez que deixe a corda pelas pontas. Esse lugar e a chamadaD-brana. Toda

corda aberta deve ter cada uma de suas pontas presas a alguma D-brana, que ali´as, nao e encar-

ada como uma estrutura matematica, e sim como um objeto fısico, t˜ao real quanto as pr´oprias

cordas.

D-branas sao hiper-superfıcies e podem possuir qualquer numero de dimensoes, com um

limite maximo estabelecido pela dimensionalidade do espaco-tempo (no caso das cordas bosonicas,

25 dimensoes espaciais). Como as pontas de uma corda aberta n˜ao podem se soltar da D-brana,

decorre que D-branas determinam a condicao de contorno que as cordas devem satisfazer. Uma

ponta de corda presa a uma D1-brana que se estende sobre o eixoX1 pode mover-se apenas

nesta direcao, enquanto que uma ponta de corda presa a uma D25-brana (space-filling brane)

esta livre para mover-se sobre todo o espaco. No caso mais simples, as condicoes de contorno

satisfeitas pelas 25 coordenadas de uma ponta de corda sao indepententes entre si, e teremos

condicoes de Neumann para todas as direcoes paralelas a D-brana e de Dirichlet (o “D” em

D-brana e deDirichlet) para as ortogonais. As coisas se complicam quando existem campos na

D-brana, como veremos.

As D-branas, como objetos fısicos que sao, possuem tensao, massa, e uma acao que deter-

mina sua dinamica. No entanto, para os nossos fins, basta que elas sejam tratadas como objetos

infinitamente massivos e sem dinˆamica, e nossa acao nao incluira termos de D-branas.

Dualidade T

A palavra “dualidade” sera usada aqui com o significado deequivalencia fısicaentre difer-

entes descricoes ou teorias. Em fısica, uma dualidade e sempre bem-vinda, porque nos permite

aplicar resultados de um dado modelo trat´avel mas n˜ao realista no sistema que efetivamente

queremos descrever, que em geral e bem menos simples e palat´avel.

A dualidade T, especificamente, relaciona diferentes teorias de corda (uma vez que se lhes

inclua supersimetria, uma caracter´ıstica importante de teorias de cordas mais realistas mas que

nao sera incluıda nesta dissertacao), o que aponta para uma unificacao de duas das diferentes

Page 14: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

5

versoes de supercordas (quais sejam, IIA e IIB) [16, 20, 4]. Para n´os, no entanto, o que interessa

e que a dualidade T aparece sempre que se tem espacos em que ao menos uma direcao possui a

topologia de uma c´ırculo (o que chamaremos de “compactificacao”), e conecta um espaco com

raio de compactificacao pequeno a um de raio grande (essencialmente, de raio inverso). Mais

detalhes sobre essa propriedade a conferir no cap´ıtulo 3.

Roteiro do trabalho

E sabido [1, 23, 8, 14, 5] que uma D-brana com campo magnetico (ou, equivalentemente,

um campo de Kalb-Rammond) configura um espaco n˜ao-comutativo. Nosso objetivo principal

e estabelecer a permanencia (ou n˜ao) do car´ater nao-comutativo na teoria que cont´em o espaco

dual a esse (dual via dualidade T, entenda-se). Chegamos a um resultado surpreendente, que

pede uma reinterpretacao do papel fısico desempenhado pelas propriedades de comutacao de

campos em dimensoes compactificadas. Pelo caminho, encontramos mais de uma maneira de

encontrar o espaco dual (cap´ıtulo 3), e um curioso paralelismo entre simetrias da nossa teoria e

simetrias do toro sobre o qual a situamos (apˆendice C).

No cap.1, introduzimos a acao da corda bosonica, o tal sistema da D-brana com um cam-

po magnetico, as expans˜oes de Fourier dos campos e da hamiltoniana, e mostramos a incon-

sistencia dos comutadores canˆonicos no sistema referido. No cap.2, apresentamos tres difer-

entes maneiras consistentes de quantizar as cordas, o que nos leva as relacoes de comutacao

apropriadas. No cap.3, falamos de dualidade T, mostramos como ela assoma em sistemas sim-

ples e, em particular, obtemos o espaco dual ao sistema de interesse deste estudo. No cap.4,

aplicamos os metodos de quantizacao do cap.2 ao sistema dual apresentado no cap.3. Fechamos

com as conclusoes e os apˆendices.

Page 15: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

Capıtulo 1

Introduc ao

Neste cap´ıtulo apresentamos o ferramental basico da teoria de cordas bosonicas abertas,

delineamos o sistema sobre o qual desejamos nos deter, e mostramos por que a quantizacao

canonica nao funciona para ele.

A corda bosonica possui coordenadasX i(τ, σ) e momentos canˆonicosP i(τ, σ), como se

vera. Assim, parece razo´avel postular os comutadores canˆonicos

(X i(τ, σ), P j(τ, σ′)) = iδijδ(σ − σ′)

(X i(τ, σ), Xj(τ, σ′)) = 0 (1.1)

(P i(τ, σ), P j(τ, σ′)) = 0.

No entanto, e necess´ario verificar a compatibilidade dos comutadores com as condicoes

de contorno para uma corda aberta. O campo de fundo (background) altera as condicoes de

contorno que aparecem para a acao de corda livre, de modo que n˜ao e automatico que relacoes

de comutacao que valham em um caso sejam aceit´aveis em outro. A bem da verdade, mesmo

para uma corda livre os comutadores acima n˜ao sao permitidos.

1.1 A acao da corda bosonica livre

6

Page 16: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

7

Devido ao fato de que uma part´ıcula relativıstica livre se move numa geod´esica sobre o

espaco-tempo, sua acao e aquela que extremiza o comprimento invariante de sua trajet´oria (linha

de mundo, ouworldline),

Sparticula ∝∫

ds, (1.2)

Da mesma forma, a acao de um objeto dep dimensoes movendo-se no espaco-tempo e

proporcional ao hiper-volume (p+1)-dimensional da trajet´oria [20, 13, 4, 17, 16]. Para o caso

espec´ıfico de cordas, que sao objetos bidimensionais, a acao e proporcional aareade suafolha

de mundoou worldsheet(que nada mais e que a extens˜ao natural da linha de mundo de uma

partıcula a corda):

S = T

∫d2σ

√− det Gαβ (1.3)

ondeT e a tens˜ao da corda e a metrica induzida e dada por

Gαβ = gµν(X)∂αXµ∂βXν α, β = 0, 1. (1.4)

e a worldsheet e parametrizada pelas coordenadasσ0 = τ , de carater temporal, eσ1 = σ,

de carater espacial. Para cordas abertas,σ assume valores num intervalo finito (que aqui e

escolhido comoσ ∈ [0, π], sendo queσ = 0 corresponde a uma das pontas da corda eσ = π

corresponde a outra). No caso de cordas fechadas,σ e periodico (ja que as “pontas” devem ser

identificadas).

O espaco no qual a worldsheet esta inserida e descrito pelas coordenadasXµ(τ, σ), cf.

Fig.1.2.

Para o caso de um espaco de Minkowski, a acao (1.3) toma a forma

SNG = T

∫d2σ

√(X · X ′)2 − X2X ′2, (1.5)

chamadaacao de Nambu-Goto[31]. O ponto denota derivada emτ , e a linha, emσ. Devido

a raiz quadrada que aparece em 1.5, esta acao e complicada de quantizar. Para contornar esse

problema, usa-se uma acao classicamente equivalente: a chamadaacao de modelo sigma de

Page 17: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

8

Figura 1.1: worldline de uma partıcula, worldsheet de uma corda aberta, e worldsheet de umacorda fechada

Figura 1.2: Worldsheet no embedding space. A linha na worldsheet representa uma corda numdado tempoτ . Um ponto da corda e mapeado para as coordenadasXµ(τ, σ).

cordas, ouacao de Polyakov[20, 4]:

Sσ =T

2

∫d2σ

√−hhαβ∂αX · ∂βX, (1.6)

Repare que a´ı se utiliza um campo auxiliar, ametrica da worldsheet, hα,β, comh = det hαβ

e hα,β = (h−1)α,β. Esta acao possui simetrias, que nos permitirao, ao serem fixadas com

escolhas de calibre convenientes, tornar a quantizacao particularmente simples. Ei-las:

• Transformacoes de Poincare

Page 18: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

9

• Reparametrizacoes. A acao e invariante sob os difeomorfismos

σα → fα(σ) = σ′α, hαβ(σ) =∂f γ

∂σα

∂f δ

∂σβhγδ(σ

′)

• Transformacoes de Weyl. A acao e invariante sob a transformacao de escala

hαβ → eφ(σ,τ)hαβ, δXµ = 0

As ultimas duas sao simetrias locais, que podem ser usadas para escolher um calibre em que

a metricahαβ assume uma forma particular. Fixaremos nossa metrica como se segue:

hαβ = ηαβ =

1 0

0 −1

(1.7)

Com isso, (1.6) toma a forma

S =T

2

∫d2σ(X2 − X ′2) (1.8)

A tensaoT da corda pode ser escrita em termos de um parˆametro da teoria de cordas, o

parametro de Regge (Regge slope), α′, que remonta aos primordios da teoria de cordas e prov´em

da associacao das trajetorias de Regge observadas para hadrons a estados de cordas. A relacao

e [31] T = 12πα′ . Esse parˆametro tambem se relaciona com a escala de comprimento da corda,

ls, sendols =√

2α′. Para simplificar a notacao, estabeleceremos daqui em dianteT = 1 [8].

Esta, pois, apresentada a acao para a corda livre. Estaremos interessados, entretanto, no

caso em que existe um campo de fundo com o qual a corda interage.

1.2 Introducao dos campos de fundo

Quando se calcula o espectro de cordas abertas e fechadas, aparecem campos nao mas-

sivos (entre eles, o graviton e o foton). Estes campos, assim como as D-branas, possuem uma

Page 19: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

10

dinamica ditada por uma acao. Novamente como com as D-branas, n˜ao estamos interessados

na dinamica deles, e sim em como eles afetam a dinˆamica das cordas, de modo que aqui ol-

haremos apenas para o termo de interacao da corda com os campos. Estes, pois, serao tratados

como campos de fundo prescritos. No caso, para nossos fins (quais sejam, de obter um espaco

nao-comutativo), basta-nos considerar a interacao da corda aberta com dois desses campos, o

campo de Kalb-Rammond [31] e o de Maxwell. Na verdade, sequer precisamos considerar os

dois. O acoplamento deles com as cordas e tal que, como sera mostrado abaixo, existe uma

liberdade de calibre que nos permite ajustar, e.g., o campo de Maxwell para zero.

Investiguemos, portanto, o caso de cordas abertas interagindo com um campo de fundo

composto por um campo antissimetrico de Kalb-Rammond e um campo de Maxwell. A acao

sera composta do termo livre (1.8) mais os termos de interacao com os respectivos campos [20]:

S = Sf + SB + SA

Sf =1

2

∫d2σ gµν(X

µXν − X ′µX ′ν)

SB =1

2

∫d2σ εαβBµν∂αXµ∂βXν

SA =

∫dτAµ∂τX

µ|σ=πσ=0 (1.9)

ondeεαβ =

0 1

−1 0

.

Podemos expressarSA em uma forma mais interessante. SejaF = dA uniforme. Temos

Aµ = −12FµνX

ν, e

SA = −1

2

∫dτFµνX

ν∂τXµ|σ=π

σ=0

= −1

2

∫dτdσ∂σ(FµνX

ν∂τXµ)

= −1

2

∫dτdσFµν∂σXν∂τX

µ − 1

2

∫dτdσFµνX

ν∂σ∂τXµ

Page 20: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

11

Integrando por partes emτ o ultimo termo, temos

SA = −1

2

∫dτdσFµν∂σXν∂τX

µ +1

2

∫dτdσFµν∂τX

ν∂σXµ − 1

2

∫dσ Fµν∂σXνXµ|τ2τ1

= −∫

dτdσεαβFµν∂αXµ∂βXν (1.10)

onde se suposFµν(τ1) = Fµν(τ2) = 0.

Note-se que a acao resultante,

S =1

2

∫d2σhαβgµν∂αXµ∂βXν + εαβ(Bµν − Fµν)∂αXµ∂βXν, (1.11)

possui uma simetria de calibre nos campos debackground,

Bµν → Bµν + ∂(µΛν)

Fµν → Fµν + ∂(µΛν)

(1.12)

de modo que o campo fisicamente significativo (invariante de calibre) eF := B − F . Isso sig-

nifica que podemos escolher um calibre em que, por exemplo,B = 0, ouF = 0. Trabalharemos

com este ultimo. Nossa acao, portanto, simplifica-se:

S =1

2

∫d2σ(hαβgµν + εαβBµν)∂αXµ∂βXν. (1.13)

Usamos o princ´ıpio variacional para encontrar as equacoes de movimento e as condicoes de

contorno:

δS =1

2

∫d2σ(∂αXµ∂βδXν + ∂αδXµ∂βXν)(hαβgµν + εαβBµν)

=1

2

∫d2σ ∂β(∂αXµδXν(hαβgµν + εαβBµν)) − δXν∂α∂βXµ(hαβgµν + εαβBµν)

=1

2

∫d2σ ∂β(∂αXµδXν(hαβgµν + εαβBµν)) − δXν∂α∂βXµhαβgµν

= 0. (1.14)

Na segunda linha, integramos por partes, e, na terceira, eliminamos o ultimo termo pela

Page 21: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

12

antissimetria deεαβ. A equacao de movimento e, portanto,

hαβ∂α∂βgµνXµ = 0 (1.15)

Vemos, com isso, que o campoB nao contribui para a equacao de movimento (que e a

mesma encontrada no casoB = 0), o que e esperado, j´a que o campo interage com a corda

somente nas pontas. Para o termo de superfıcie, encontramos

δXν(∂σgµνXµ + ∂τBµνX

µ) = 0. (1.16)

Vamos trabalhar com um campoBµν constante e uniforme e tal queB12 = −B21 = B e

Bµ,ν = 0 ∀ µ, ν 6= 1, 2.1 Al em disso, estaremos num espaco plano de Minkowski,gµν = ηµν =

diag{−1, 1, ..., 1}. A equacao de movimento torna-se a equacao de onda

X′′µ(τ, σ) − Xµ(τ, σ) = 0, µ = 0, 1, ..., 25. (1.17)

Usaremos o calibre est´atico,X0(τ, σ) = τ . Neste calibre, a equacao de movimento (1.17) e

trivialmente satisfeita paraµ = 0.

Do conjunto de condicoes de contorno que anulam o termo de superfıcie, escolhemos o

seguinte:

X ′a|σ=0,π = 0, a = 0, 3, 4, ..., 25

X′1 + BX2 |σ=0,π = 0

X′2 − BX1 |σ=0,π = 0

(1.18)

Nos limitesB = 0 eB → ∞, obtemos condicoes de Neumann e Dirichlet, respectivamente.

Portanto, eis a´ı a contribuicao do campoB: ele torna o que seriam as usuais condicoes de

contorno de Neumann e de Dirichlet em condicoes mistas, e que correlacionam as coordenadas

1Repare-se que isso e equivalente, por uma transformacao de calibre do tipo (1.12), a ter-seF12 = B eFµν =0 ∀ µ, ν 6= 1, 2. Em outras palavras, um campo B de Kalb-Rammond constante sobre todo o espaco-tempo efisicamente equivalente a um campo magnetico constante sobre a superfıcie onde as cordas prendem suas pontas.

Page 22: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

13

X1 eX2. Veremos que este sistema n˜ao e compatıvel com os comutadores canˆonicos, fazendo-

se necess´arios metodos de quantizacao que levem em conta esse conjunto de condicoes de

contorno.

1.3 Compatibilidade entre comutadores e condicoes de con-

torno

Vamos analisar a estrutura canˆonica desta corda bosonica. Da acao (1.13), temos a la-

grangeana

L(τ) =1

2

∫dσ (X)2 − (X ′)2 + 2B(X1X ′2 − X ′1X2) (1.19)

Os momentos conjugados2 sao

P a(τ, σ) = Xa(τ, σ) (1.20)

P 1(τ, σ) = X1(τ, σ) + BX ′2(τ, σ) (1.21)

P 2(τ, σ) = X2(τ, σ) − BX ′1(τ, σ) (1.22)

Nota: Como se pode ver, a escolha deBµν = 0 ∀ µ, ν 6= 1, 2 deixa as coordenadasXa into-

cadas, com o momento e as condicoes de contorno usuais. Doravante, portanto, registraremos

Xa apenas quando for relevante.

Escrevamos as c.c. (condicoes de contorno) em funcao de X e P:

MX ′1 + BP 2 |σ=0,π = 0 (1.23)

MX ′2 − BP 1 |σ=0,π = 0 (1.24)

comM := 1 + B2. Conforme veremos no Cap´ıtulo 2, podemos encarar (1.23) e (1.24) como

2A rigor, densidades de momento.

Page 23: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

14

vınculos. Nesse caso, o comutador entre (1.23) e (1.24) deve se anular:

(MX ′1(σ) + BP 2(σ)|σ=0, MX ′2(σ′) − BP 1(σ′)|σ′=0) ≈ 0

Se aplicarmos as relacoes usuais de comutacao, (1.1), e usarmos a relacao entre a distribuicao

de Dirac e sua derivadaδ′(x) = −δ(x)/x [29], isso torna-se

−MB((∂σX1(σ), P 1(σ′))|σ,σ′=0 + (∂σ′X2(σ′), P 2(σ))|σ,σ′=0

)=

−2MB(∂σδ(σ − σ′)

)|σ,σ′=0 = 2MB

δ(σ − σ′)

σ − σ′ |σ,σ′=0 ≈ 0, absurdo !

Outra maneira de constatar esse conflito e discretizar a coordenadaσ, dividindo o intervalo

[0, π] numa malha deN pontos, comN → ∞:

X i(σ) → X in

X i(σ = 0, π) 7→ X i0,π

com X i0 e X i

π correspondendo as pontasσ = 0 e σ = π, respectivamente. A lagrangeana

discretizada e

L → 1

2

n=0

ε[(Xn)2 − 1

ε2(Xn+1 −Xn)2 +

2B

ε

(X1

n(X2n+1 −X2

n)− (X1n+1 −X1

n)X2)]

, (1.25)

e os momentos,

P 1n = εX1

n + BX2n+1 n (1.26)

P 2n = εX2

n − BX1n+1 n (1.27)

ondeXn+1 n := Xn+1 − Xn. Note-se que no limiteε → 0, temosP (σ) → Pn

ε, dondePn e de

ordemO(ε).

Page 24: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

15

Os comutadores canˆonicos (1.1) para a vers˜ao discretizada sao

(X im, P j

n) := δijδmn (1.28)

(X im, Xj

n) := (P im, P j

n) := 0 (1.29)

Observe que, no limiteε → 0, esses comutadores reproduzem os da versao cont´ınua.

As c.c. tornam-se

φ1 :=1

ε(MX1

10 + BP 20 ) = 0 (1.30)

φ2 :=1

ε(MX2

10 − BP 10 ) = 0. (1.31)

Assim, para que valham as c.c., devemos ter(φ1, φ2) ≈ 0.

1

ε2(MX1

10 + BP 20 , MX2

10 − BP 10 ) ≈ 0.

Se aplicarmos (1.28) e(1.29), obtemos

MB

ε2

(−(X1

10, P10 ) + (P 2

0 , X210)

)=

MB

ε2

((X1

0 , P 10 ) + (X2

0 , P20 )

)≈ 0, (1.32)

o que e uma contradicao.

Portanto, vemos que este sistema n˜ao aceita os comutadores canˆonicos3. Devemos proceder

a quantizacao com cuidado. Proporemos neste estudo tres metodos de quantizacao: quantizacao

via equacao de Heisenberg, a quantizacao simpletica e a quantizacao de Dirac, a serem desen-

volvidos no proximo cap´ıtulo. Os dois primeiros metodos fazem uso da expansao das coorde-

nadas e momentos em modos de Fourier, que apresentaremos a seguir.

3A rigor, as relacoes (1.1) devem ser modificadas mesmo no caso de corda livre. A saber, aδ(σ − σ′) deve sersubstitu´ıda por uma funcao semelhante, mas cuja derivada se anule paraσ(′) = 0, π

Page 25: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

16

1.4 A expansao em modos de Fourier

A expansao de Fourier da solucao mais geral possıvel para a equacao de movimento (1.17)

e

X i(τ, σ) = xi + piτ + wiσ + i∑

n 6=0

1

nαi

ne−inτ cos nσ +∑

n 6=0

1

nβi

ne−inτ sin nσ, (1.33)

comi = 1, 2. A condicao de realidade sobreX i(τ, σ) impoe as relacoesαin = αi

−n, βin = βi

−n.

Com isso, podemos reescrever (1.33):

X i(τ, σ) = xi+piτ +wiσ+i∑

n>0

1

n(αi

ne−inτ−αineinτ ) cos nσ+

n>0

1

n(βi

ne−inτ +βine

inτ ) sin nσ.

(1.34)

Vamos introduzir os modos dependentes deτ , αin(τ) := αi

ne−inτ , βin(τ) := βi

ne−inτ , e a

notacaoαi+n (τ) := αi

n(τ) + αin(τ); αi−

n (τ) := αin(τ) − αi

n(τ); (analogo paraβ). A expans˜ao

fica

X i(τ, σ) = xi + piτ + wiσ +i

nαi−

n (τ) cos nσ +1

nβi+

n (τ) sin nσ. (1.35)

Daqui em diante, o somatorio emn > 0 fica implıcito. Se substituirmos (1.35) em (1.18),

obtemos relacoes entre os modos deX1 eX2:

X ′1 + BX2 |σ=0,π = w1 + β1+n (τ) + Bp2 + Bα2+

n (τ) = 0

X ′2 − BX1 |σ=0,π = w2 + β2+n (τ) − Bp1 − Bα1+

n (τ) = 0

w1 = −Bp2 w2 = Bp1 β1n(τ) = −Bα2

n(τ) β2n(τ) = Bα1

n(τ)

Para simplificar a notacao, vamos renomear os modos:

p := p1 w := p2 αn(τ) := α1n(τ) βn(τ) := α2

n(τ)

Page 26: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

17

Com isso, as expans˜oes paraX1(τ, σ) eX2(τ, σ), tornam-se, finalmente,

X1(τ, σ) = x1 + pτ − Bwσ +i

nα−

n cos nσ − B

nβ+

n sin nσ (1.36)

X2(τ, σ) = x2 + wτ + Bpσ +i

nβ−

n cos nσ +B

nα+

n sin nσ, (1.37)

onde, por brevidade, omitiremos o argumento dosα′s e β ′s, mantendo em mente que eles sao

funcoes deτ .

As expans˜oes para os momentos (1.21) e (1.22) s˜ao

P 1(τ, σ) = M(p + α+n cos nσ) (1.38)

P 2(τ, σ) = M(w + β+n cos nσ) (1.39)

A hamiltoniana e

H(τ) =

∫dσ P · X − L

=

∫dσ (X1 + BX ′2)X1 + (X2 − BX ′1)X2 − 1

2

[(X)2 − (X ′)2 + 2B(X1X ′2 − X ′1X2)

]

=1

2

∫ π

0

dσ (X)2 + (X ′)2

=1

2

∫ π

0

dσ (P )2 + M(X ′)2 + 2B(−P 1X ′2 + P 2X ′1) (1.40)

=Mπ

2[(p2 + w2) + αnαn + αnαn + βnβn + βnβn] (1.41)

Obs: Conquanto a hamiltoniana receba contribuicoes das coordenadas transversais ao cam-

po,Xa, a = 3, 4, ..., 25, focaremo-nos apenas nas coordenadasX1 e X2, ja que, como dito, as

transversais comoportam-se de maneira identica a do caso livre.

Page 27: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

Capıtulo 2

Quantizacao e Nao-Comutatividade

Aqui, apresentamos os metodos de quantizacao usados neste estudo (para outras abordagen-

s, cf., e.g., [19, 6, 21]).E neste cap´ıtulo que obtemos a n˜ao-comutatividade, ao calcularmos as

relacoes de comutacao numa D2-brana com campo magnetico.

2.1 Quantizacao via equacao de Heisenberg

O metodo mais simples de encontrar os comutadores(Xµ(τ, σ), Xν(τ, σ′)), (Xµ(τ, σ), P ν(τ, σ′)),

(P µ(τ, σ), P ν(τ, σ′)) consiste em aplicar a equacao de Heisenberg nos operadoresXµ. Com-

paramos as expans˜oes do comutador entreX i(τ, σ) e a Hamiltoniana com a expans˜ao deX i(τ, σ).

Com isso, fazendo uso de algumas hip´oteses simplificadoras, obtemos muito diretamente os co-

mutadores dos modos de expans˜ao. Finalmente, usamos estes para calcular os comutadores

desejados.

Usando as expansoes (1.35) paraX e (1.41) para a hamiltoniana, aplicamos a equacao de

Heisenberg emX1(τ, σ):

(X1(τ, σ), H(τ)) =Mπ

2[(x1, p2 + w2) +

i

n(α−

n , αmαm + αmαm) cos nσ −

−B

n(β+

n , βmβm + βmβm) sin nσ]

= X1(τ, σ) = p + α+n cos nσ + iBβ−

n sin nσ ,

18

Page 28: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

19

onde fizemos nossa primeira hip´otese, de que os modos-zeroxi, p, w comutam com os modos

de oscilacao,αn, αn, etc. Comparando os termos emτ eσ, vem

2(x1, p2 + w2) = p

iMπ

2n(αn − αn, αmαm + αmαm) = α+

n

−MπB

2n(βn + βn, βmβm + βmβm) = iBβ−

n

Supondo, agora, que os comutadores1 dos modos de expans˜ao sejam n´umeros, obtemos

(x1, p) =1

πM(2.1)

iMπ

2n[αm(αn, αm) + (αn, αm)αm − (αn, αm)αm − αm(αn, αm)] =

iMπ

n[(αn, αm)αm + (αm, αn)αm] = α+

n

→ (αn, αm) = − in

πMδmn (2.2)

(βn, βm) = − in

πMδmn (2.3)

Aplicando o mesmo procedimento paraX2(τ.σ), o unico comutador novo e

(x2, w) =1

πM(2.4)

Todos os outros comutadores se anulam.1Na verdade, estes s˜ao os parenteses de Poisson, da teoria cl˜assica. Como usaremos sempre a prescricao

usual de quantizacao,[A, B]P.B. 7→ i(A, B), tomaremos a liberdade de nos referirmos aos parenteses de Poissoncomo “comutadores” por todo o resto do trabalho, subentendendo-se sempre essa prescricao para os comutadoresquanticos.

Page 29: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

20

Para futura referencia, eis algumas expans˜oes de Fourier uteis [3]:

1

π(1 + 2

n>0

cos nσ cos nσ′) = δN(σ − σ′)2, para σ, σ′ ∈ [0, π] (2.5)

1

π2∑

n>0

sin nσ sin nσ′ = δD(σ − σ′)3, para σ, σ′ ∈ [0, π]. (2.6)

2∑

n>0

1

nsin n(σ + σ′) =

π − (σ + σ′), para 0 < σ + σ′ < 2π

0, σ, σ′ = 0 ou π(2.7)

De posse disso, procedemos aos comutadores dos campos:

(X1(τ, σ), P 1(τ, σ′)) = (X2(τ, σ), P 2(τ, σ′)) = M(x1, p) +iM

n(α−

n , α+m) cos nσ cos nσ′

=1

π(1 + 2 cos nσ cos nσ′)

= δN(σ − σ′) (2.8)

(X1(τ, σ), P 2(τ, σ′)) = (X2(τ, σ), P 1(τ, σ′)) = 0 (2.9)

(P 1(τ, σ), P 2(τ, σ′)) = 0 (2.10)

(X1(τ, σ), X2(τ, σ′)) = (x1, x2) + (x1, p)Bσ′ − (w, x2)Bσ +

iB

nm(α−

n , α+m) cos nσ sin mσ′ − iB

nm(β+

n , β−m) sin nσ cos mσ′

= (x1, x2) +B

πM[(σ′ + σ) + 2

1

nsin n(σ′ + σ)] (2.11)

De (2.7), vemos que o somatorio acima sofre uma descontinuidade entre o corpo (bulk) e as

pontas da corda. Nobulk, ele cancela a dependˆencia do comutador emσ e σ′. Portanto, nesta

regiao(X1(τ, σ), X2(τ, σ′)) e constante,

(X1(τ, σ), X2(τ, σ′)) = (x1, x2) +B

M.

Como B nao interage com a corda nesta regi˜ao, e natural impormos(X1(τ, σ), X2(τ, σ′)) =

Page 30: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

21

0, como no caso livre. Com isso, fixamos o valor da constante,(x1, x2) = − BM

, e podemos

avaliar o comutador(X1(σ), X2(σ′)) em todos os pontos. Resumindo nossos resultados, fi-

camos com

(P i(σ), P j(σ′)) = 0 (2.12)

(X i(σ), P j(σ′)) = δijδN(σ − σ′) (2.13)

(X i(σ), Xj(σ′)) =

0, 0 < σ, σ′ < π

−Bij

M, ponta σ = σ′ = 0

Bij

M, ponta σ = σ′ = π

(2.14)

onde subentendem-se comutadores a tempos iguais.

Nota-se que a unica diferenca entre os comutadores neste sistema e aqueles no caso de uma

D2-brana sem campo e a n˜ao-comutatividade entreX1(τ, σ) e X2(τ, σ), que, alias, se anula

paraB = 0. Todas as outras relacoes de comutatividade sao identicas.

A diferenca de sinal entre os comutadores nas pontas

Observe-se que o sinal do comutador na ponta0 e oposto ao da pontaπ. Tal situacao

e intrigante porque, em princ´ıpio, a nao-comutatividade e uma caracter´ıstica do espaco, nao

devendo ter dependˆencia com a corda.

Em [8], argumenta-se que isso e esperado, porque estamos trabalhando com uma teoria de

cordas orientadas (isto e, uma teoria sensıvel a uma inversao na orientacao da corda). De fato,

se reorientarmos a corda, via uma reparametrizacaoσ → σ := π − σ, inverte-se o sinal do

Page 31: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

22

acoplamento com o campoB na acao, efetivamente mudando o sinal do campo:

S =

∫dτ

∫ π

0

dσ (∂τX)2 − (∂σX)2 + 2B(∂τX1∂σX2 − ∂σX1∂τX

2)

= −∫

∫ 0

π

dσ (∂τX)2 − (∂σX)2 − 2B(∂τX1∂σX2 − ∂σX1∂τX

2)

=

∫dτ

∫ π

0

dσ (∂τX)2 − (∂σX)2 − 2B(∂τX1∂σX2 − ∂σX1∂τX

2).

Ou seja, a mudanca de sinal no comutador que ocorreria por causa da reorientacao e neu-

tralizada pela correspondente mudanca de sinal deB.

Mas isso n˜ao liquida o problema. Se tivermos uma corda aberta com ambas as pontas presas

a uma mesma brana, ou duas cordas de orientacoes opostas tocando a mesma D-brana, difer-

entes pontos na D-brana apresentar˜ao diferentes valores para(X1, X2). E, e.g., se porventura

um ponto da brana que num dado tempo foi visitado por uma ponta da corda vier a ser visitado

pela outra, teremos uma inversao no sinal do comutador ali. Mais ainda, pode-se perguntar o

que acontece com a nao-comutatividade na D-brana quando nao h´a cordas presas a ela.

Figura 2.1: (A) Uma corda com as duas pontas presas a mesma brana; (B) Duas cordas deorientacoes opostas presas a uma brana; (C) Uma corda movendo-se: a ponta0 tocara o pontoque no momento e tocado pela pontaπ; (D) Uma brana sem cordas

Enfim, se aceitarmos a dependˆencia do comutador na brana com a ponta de corda em

questao, somos levados a questoes como que significado fısico tem as relacoes de comutacao

entre as coordenadas da ponta corda na D-brana.

Page 32: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

23

2.2 Quantizacao simpletica

Outro metodo para encontrar os comutadores e o de quantizacao simpletica. Aqui, o mecan-

ismo tambem consistira em obter os comutadores dos modos de expans˜ao e usa-los para calcular

os comutadores entreX eP .

Primeiramente, escrevemos a lagrangeana na forma simpletica (i.e., com somente termos

lineares nas velocidades),

L(τ) = −H(τ) +

∫dσ P · X

= −H + M

∫ π

0

dσ (p + α+m cos mσ)(p +

i

nα−

n cos nσ − B

nβ+

n sin nσ)

+(w + β+m cos mσ)(w +

i

nβ−

n cos nσ +B

nα+

n sin nσ) (2.15)

Integrando emσ, obtemos

L = πM(p2 + w2) +iπM

2n(α+

n α−n + β+

n β−n ) +

MB

n2(cos nπ − 1)(pβ+

n − wα+n )

+MB

n2 − m2(1 − cos mπ cos nπ)(β+

mα+n − α+

mβ+n ) − H (2.16)

Aqui, estenderemos ao nosso caso o metodo apresentado por Faddeev e Jackiw em [11]:

L =∑

n>0

µ=1,2

i=1,2

aµin ξµi

n − H

=∑

n>0

anαn + an ˙αn + bnβn + bn˙βn − H, (2.17)

comµ sendo o ındice de Lorentz ei indicando se se trata deα eβ, ou de seus complexos con-

jugados. Aqui, portanto, as variaveis simpleticasξ sao osαn, ˙αn, βn, ˙βn e os coeficientes sao

osan, an, bn, bn.

Parentese: um modo alternativo, com uma notacao menos pesada, e usar um unico ındice,

que de conta de todos os osciladoresαn, βn e seus conjugados. Nesse caso, ter´ıamos um sistema

Page 33: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

24

nao muito diferente do tratado em [11]:

L =∑

n

anξn − H

No entanto, a notacao usada nesta secao, com v´arios ındices, e vantajosa no ato de calcular os

comutadores.

Os comutadores dos osciladores – que aqui sao as vari´aveis simpleticas – sao dados pela

inversa da matriz Hessiana da Lagrangeana.

(ξµim , ξνj

n ) =[[(fµν)−1]ji

]mn

(2.18)

(fµνij )mn =

∂aνin

∂ξµjm

− ∂aµjm

∂ξνin

(2.19)

Assim,

(fµν11 )mn =

∂aνn

∂ξµm− ∂aµ

m

∂ξνn

=

∂an

∂αm− ∂am

∂αn

∂bn

∂αm− ∂am

∂βn

∂an

∂βm− ∂bm

∂αn

∂bn

∂βm− ∂bm

∂βn

(2.20)

(fµν12 )mn =

∂aνn

∂ξµm− ∂aµ

m

∂ξνn

=

∂an

∂αm− ∂am

∂αn

∂bn

∂αm− ∂am

∂βn

∂an

∂βm− ∂bm

∂αn

∂bn

∂βm− ∂bm

∂βn

(2.21)

etc.

No caso,

an =∂L

∂αn=

iπM

2nα+

n − MB

n2(cos nπ − 1)w +

MB

n2 − m2(1 − cos mπ cos nπ)β+

m

an =∂L

∂ ˙αn= − iπM

2nα+

n − MB

n2(cos nπ − 1)w +

MB

n2 − m2(1 − cos mπ cos nπ)β+

m

bn =∂L

∂βn

=iπM

2nβ+

n +MB

n2(cos nπ − 1)p − MB

n2 − m2(1 − cos mπ cos nπ)α+

m

bn =∂L

∂ ˙βn

= − iπM

2nβ+

n +MB

n2(cos nπ − 1)p − MB

n2 − m2(1 − cos mπ cos nπ)α+

m

Page 34: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

25

donde obtemos

(fµν11 )mn = (fµν

22 )mn = 0

(fµν12 )mn = −(fµν

22 )mn = iπM

δmn

n0

0 δmn

n

.

Portanto,

fµν = iπM

0 0 δmn

n0

0 0 0 δmn

n

− δmn

n0 0 0

0 − δmn

n0 0

⇒ (fµν)−1 =i

πM

0 0 nδmn 0

0 0 0 nδmn

−nδmn 0 0 0

0 −nδmn 0 0

.

Assim, os unicos comutadores nao-nulos para os osciladores sao

(αm, αn) = (βm, βn) = − in

πMδm,n (2.22)

identico a (2.2) e (2.3). Os comutadores restantes, entre os modos-zero, sao obtidos pela

equacao de movimento dos operadores, com exatamente o mesmo mecanismo desenvolvido

na secao anterior, de modo que o resultado e necessariamente o mesmo.

Portanto, o metodo de quantizacao simpletica dos osciladores fornece os mesmos resultados

que obtivemos com o metodo via equacao de Heisenberg: (2.12), (2.13), (2.14).

2.3 Quantizacao de Dirac

Page 35: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

26

Um modo alternativo de quantizacao e encarar as condicoes de contorno como v´ınculos e

usar o metodo de Dirac para sistemas vinculados [23].

O mecanismo consiste em, primeiramente, construir uma serie de vınculosφ(m), m =

0, 1, 2, ... a partir das condicoes de contorno. Entao, se o conjunto de vınculos obtido for de

segunda classe, define-se a matriz inversıvel C a partir dos comutadores canˆonicos entre os

vınculos,Cmn := (φ(m), φ(n)) (se os v´ınculos formarem um conjunto de primeira classe, ent˜ao

ainda subsiste uma simetria a fixar na teoria). Com isso, os comutadores de Dirac sao definidos

por

(A, B)∗ := (A, B) − (A, φ(m))C−1mn(φ(n), B) (2.23)

Comutadores de Dirac implementam os vınculos na quantizacao do sistema. Esses comuta-

dores possuem a propriedade de valer fortemente para os v´ınculos, pois

(A, φ(p))∗ = (A, φ(p)) − (A, φ(m))C−1mn (φ(n), φ(p))︸ ︷︷ ︸

= (A, φ(p)) − (A, φ(m))δmp Cnp

= 0

Para fins de ilustracao, no apˆendice A aplicamos o metodo ao caso da corda livre (sem

campo de fundo) num espaco 1-d (uma dimensao espacial). Na secao a seguir, estendemos para

o caso de interesse – a D2-brana com campoB.

D2-brana com campo B

Comecamos pela cadeia de v´ınculos, que obtemos de modo an´alogo ao usado no apˆendice

A.

φi(m) =

M∂(m+1)X i + Bij∂(m)P j |σ=0,π, m par

∂(m)P i |σ=0,π, m impar(2.24)

Page 36: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

27

A matriz C, neste caso, e

Cijmn =

0, m, n impar

−2MBij∫

dσdσ′δ(σ)δ(σ′)∂(m+1)σ ∂

(n)σ′ δ(σ − σ′), m, n par

Mδij∫

dσdσ′δ(σ)δ(σ′)∂(m+1)σ ∂

(n)σ′ δ(σ − σ′), m par, n impar

(2.25)

Aqui, podemos escrever C comoC = D ⊗ E + A ⊗ N , com

D =

−2MB 0

0 0

A =

0 M

−M 0

sendo que

Cij(2m′−2)(2n′−2) = Dij

00Em′n′ := −2MBij(−1)2m′−1(2(m′ + n′) − 3)! limε,σ→0

e−(σ/ε)2

ε√

π

1

σ2(m′+n′)−3

Cij(2m′−2)(2n′−1) = Aij

01Nm′n′ := M ij(−1)2m′−1(2(m′ + n′) − 2)! limε,σ→0

e−(σ/ε)2

ε√

π

1

σ2(m′+n′)−2

comm′, n′ = 1, 2, 3, .... De modo que

Em′n′ = Gm′n′ limε,σ→0

1

ε

1

σ2(m′+n′)−3

Nm′n′ = Fm′n′ limε,σ→0

1

ε

1

σ2(m′+n′)−2

ondeGm′n′ = − 1√π(2(m′ + n′) − 3)! eFm′n′ = − 1√

π(2(m′ + n′) − 2)!. Com isso,

E−1m′n′ = G−1

m′n′ limε,σ→0

εσ2(m′+n′)−3 (2.26)

N−1m′n′ = F−1

m′n′ limε,σ→0

εσ2(m′+n′)−2, (2.27)

Quanto a inversa de C

C = M

−2BE N

−N 0

⇒ C−1 =

1

M

0 −N−1

N−1 −2BN−1EN−1

(2.28)

Page 37: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

28

Os comutadores de X e P com os vınculos sao

(X i(σ), φ(m)j) =

∫dσ′ δ(σ′)(X i(σ), ∂

(m)σ′ P j(σ′)), m impar

Bjk∫

dσ′ δ(σ′)(X i(σ), ∂(m)σ′ P k(σ′)), m par

∫dσ′ δ(σ′)∂

(m)σ′ δ(σ − σ′) = (−1)m

∫dσ′ δ(σ′)∂(m)

σ δ(σ − σ′)

= (−1)m∂(m)σ δ(σ) = m!

δ(σ)

σm

= m!δ(σ) limσ→0

1

σm

⇒ (X i(σ), φ(m)j) =

δijm!δ(σ) limσ→0

1

σm, m impar

Bjim!δ(σ) limσ→0

1

σm, m par

(2.29)

(φ(n)i, P j(σ′)) =

0, n impar

M ij∫

dσ δ(σ)∂(n+1)σ δ(σ − σ′), n par

=

0, n impar

M ij(n + 1)!δ(σ′) limσ′→0

1

σ′n+1, n par

(2.30)

Usando (2.26), (2.27), (2.28), (2.29) e (2.30), procedemos aos comutadores. Para(X i, P j),

Page 38: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

29

temos

(X i(σ), P j(σ′))∗ = δijδ(σ − σ′) − (X i(σ), φ(m)k)(C−1)klmn(φ(n)l, P j(σ′))

= δijδ(σ − σ′) − (X i(σ), φ(2m′−1)k)(C−1)kl(2m′−1)(2n′−2)(φ

(2n′−2)l, P j(σ′))

−(X i(σ), φ(2m′−2)k)(C−1)kl(2m′−2)(2n′−2)(φ

(2n′−2)l, P j(σ′))

= δijδ(σ − σ′) −[δik(2m′ − 1)!δ(σ) lim

σ→0

1

σ2m′−1

][− 1

MδklN−1

m′n′

[M lj(2n′ − 1)!δ(σ′) lim

σ′→0

1

σ2n′−1

]−

[−Bik(2m′ − 2)!δ(σ) lim

σ→0

1

σ2m′−2

[− 2

MBkl(N−1EN−1)m′n′

][M lj(2n′ − 1)!δ(σ′) lim

σ′→0

1

σ2n′−1

]

= δijδ(σ − σ′) + δijδ(σ)δ(σ′)ε(2m′ − 1)!(2n′ − 1)!F−1m′n′

−2BikBklδljδ(σ)δ(σ′)(2m′ − 2)!(2n′ − 1)!(N−1EN−1)m′n′ limσ→0

σ−(2m′−2)−(2n′−1)

= δijδ(σ − σ′) + δijδ(σ)δ(σ′)εκ − B2δijδ(σ)δ(σ′)ελ limσ→0

σ2 (2.31)

comκ :=

∞∑

m′,n′=1

(2m′−1)!(2n′−1)!F−1m′n′ eλ :=

∞∑

m′,n′=1

2(2m′−2)!(2n′−1)!(F−1GF−1)m′n′ .

Regularizando as funcoes delta em (2.31), vemos que o ultimo termo se anula. Ficamos com

(X i(σ), P j(σ′))∗ = δij[δ(σ − σ′) + κεδ(σ)δ(σ′)

](2.32)

Page 39: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

30

Para o comutador(X i, Xj), temos

(X i(σ), Xj(σ′))∗ = −(X i(σ), φ(m)k)(C−1)klmn(φ(n)l, Xj(σ′))

= −(X i(σ), φ(2m′−1)k)(C−1)kl(2m′−1)(2n′−1)(φ

(2n′−1)l, Xj(σ′))

−(X i(σ), φ(2m′−2)k)(C−1)kl(2m′−2)(2n′−1)(φ

(2n′−1)l, Xj(σ′))

−(X i(σ), φ(2m′−1)k)(C−1)kl(2m′−1)(2n′−2)(φ

(2n′−2)l, Xj(σ′))

= −(δikδ(σ)(2m′ − 1)!ε−(2m′−1)

)(− 2

MBkl(N−1EN−1)m′n′

(−δljδ(σ′)(2n′ − 1)!ε−(2n′−1))

−(−Bikδ(σ)(2m′ − 2)!ε−(2m′−2)

)(− 1

MδklN−1

m′n′

)(−δljδ(σ′)(2n′ − 1)!ε−(2n′−1)

)

−(δikδ(σ)(2m′ − 1)!ε−(2m′−1)

)( 1

MδklN−1

m′n′

)(−Bljδ(σ′)(2n′ − 2)!ε−(2n′−2)

)

= −Bij

Mδ(σ)δ(σ′)ε2

((2m′ − 1)!(2n′ − 1)!(F−1GF−1)m′n′

−(2m′ − 2)!(2n′ − 1)!F−1m′n′ − (2m′ − 1)!(2n′ − 2)!F−1

m′n′

)(2.33)

Definindo ξ := 1π

((2m′ − 1)!(2n′ − 1)!(F−1GF−1)m′n′ − 2(2m′ − 2)!(2n′ − 1)!F−1

m′n′

),

obtemos

(X i(σ), Xj(σ′))∗ = −ξBij

Mε2δ(σ)δ(σ′) (2.34)

O comutador(P i, P j)∗ e nulo, como e facil de ver.

Para calcular as constantesκ e ξ, usamos um truque semelhante ao do caso livre. Exigimos

consistencia no comutador de um v´ınculo com uma funcao arbitraria,

(M∂σX1(σ) + BP 2(σ)|σ=0, f(X, P ))∗ =

∫dσδ(σ)

{M∂σ(X1(σ), P 1(σ′))∗

∂f

∂P 1(σ′)

+M∂σ(X1(σ), X2(σ′))∗∂f

∂X2(σ′) + B(P 2(σ), X2(σ′))∗

∂f

∂X2(σ′)

}

= 0

Page 40: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

31

Comof e arbitraria, isso implica

∫dσδ(σ) M∂σ(X1(σ), P 1(σ′))∗

∂f

∂P 1(σ′) = 0

∫dσδ(σ)

[M∂σ(X1(σ), X2(σ′))∗ + B(P 2(σ), X2(σ′))∗

] ∂f

∂X2(σ′) = 0

Substituindo (2.32) e (2.34),

∫dσδ(σ) M∂σ [δ(σ − σ′) + κεδ(σ)δ(σ′)]

∂f

∂P 1(σ′) = 0

(2.35)∫

dσδ(σ)[M∂σ(−ξ

B

Mε2δ(σ)δ(σ′)) − B(δ(σ − σ′) + κεδ(σ)δ(σ′))

] ∂f

∂X2(σ′) = 0

(2.36)

A expressao (2.35) e igual a (A.11), de modo que obtemosκ =√

π. Devemos, agora,

determinarξ atraves de (2.36).

∫dσδ(σ)

[ξε2δ(σ′)∂σδ(σ) + δ(σ − σ′) +

√πεδ(σ)δ(σ′)

] ∂f

∂X2(σ′) = 0

∫dσδ(σ)

[δ(σ − σ′) + (

√π − ξ

ε

σ)εδ(σ′)δ(σ)

] ∂f

∂X2(σ′) = 0 (2.37)

onde na segunda linha usamos (A.6). Realizando a integral sobreσ:

(δ(σ′) + (√

π − ξ)1√π

δ(σ′))∂f

∂X2(σ′) = 0 (2.38)

onde usamos (A.7) e fizemoslimε,σ→0

ε

σ= 1. Integremos sobreσ′,

(2 − ξ√π

)∂f

∂X2(0) = 0, (2.39)

Page 41: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

32

dondeξ = −2√

π. Abaixo segue o resumo dos resultados, incluindo a pontaπ:

(P i(σ), P j(σ′))∗ = 0 (2.40)

(X i(σ), P j(σ′))∗ = δijδN(σ − σ′) (2.41)

(X i(σ), Xj(σ′))∗ =

0, bulk

− 2√π

Bij

M, σ = σ′ = 0

2√π

Bij

M, σ = σ′ = π

(2.42)

Comparando os resultados acima com (2.12), (2.13) e (2.14), vemos que a unica diferenca

e o fator numerico em (2.42).

Encontramos aqui o efeito de termos afrouxado o rigor ao lidar com os limites. De fato,

diante da impossibilidade de definir de forma inequıvoca o valor de expressoes comolimx,y→0

x

y,

nao se deve considerar a risca os resultados obtidos.E razoavel supor que estes resultados aqui

obtidos sao definidos a menos de constantes.

O metodo de Dirac foi aqui desenvolvido como um procedimento alternativo para obter

as relacoes de comutacao, de modo a dar respaldo a nosso resultado anterior e efetivamente

confirmar a n˜ao-comutatividade neste sistema, o que, como se ve, foi realizado com sucesso.

Na pratica, entretanto, preferimos o metodo da equacao de Heisenberg, que e mais facil de

ser implementado e n˜ao possui essas ambiguidades provenientes da regularizacao das funcoes

delta.

Page 42: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

Capıtulo 3

Dualidade T

Apresentamos aqui um breve resumo do que e a dualidade T, como surge, o que representa,

e como implementa-la para o caso de branas com campo de fundo.

A dualidade T aparece em teorias de cordas quando se tem compactificacao toroidal (daı

o “T”) de uma ou mais dimensoes espaciais. Ela relaciona espaco-tempos compactificados de

raios pequenos com espacotempos de raios grandes.

Sob dualidade T, cordas fechadas em uma geometria transformam-se em cordas fechadas

na geometria dual, que e diferente, mas similar. Com cordas abertas, no entanto, a situacao

e outra. Veremos que uma transformacao de dualidade T altera as condicoes de contorno da

corda aberta, de modo que a dualidade T em cordas abertas mapeia estruturas essencialmente

distintas.

Historicamente, a dualidade T fundamenta o conceito de D-brana, que e ent˜ao definida

como uma hiper-superfıcie onde se prendem as pontas das cordas abertas. A D-brana nao e

um artifıcio matematico; ela e um objeto fısico, possui momento, tens˜ao, cargas. Uma parte

da importancia das D-branas reside no fato de que elas sao capazes de introduzir simetrias

de calibre nao-abelianas na teoria de cordas. Al´em disso, D-branas facilitam a identificacao

de dualidades entre as aparentemente distintas teorias de cordas existentes. Isso nos motiva a

estudar a dualidade T numa D-brana.

Comecamos mostrando o aparecimento da dualidade em cordas fechadas e depois estende-

mos para cordas abertas livres. Finalmente, aplicamos ao caso de interesse, de uma D2-brana

33

Page 43: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

34

com campoF constante.

3.1 Cordas fechadas

A fim de demonstrar a simetria contida na dualidade T, estudemos a expressao para a massa

da corda fechada bosonica.

3.1.1 Cordas fechadas emR1,25

Para cordas fechadas, estabelecemos que o intervalo sobre o qualσ e definido e[0, 2π].

Obviamente, dado o car´ater periodico da corda, temos a condicao de periodicidade

Xµ(τ, σ + 2π) = Xµ(τ, σ) (3.1)

A solucao mais geral da equacao de movimento paraXµ e

Xµ(τ, σ) = XµL(τ + σ) + Xµ

R(τ − σ) (3.2)

Aplicando (3.1) em (3.2), obtemos

XµL(u + 2π) + Xµ

R(v − 2π) = XµL(u) + Xµ

R(v)

→ XµL(u + 2π) − Xµ

L(u) = XµR(v) − Xµ

R(v − 2π) (3.3)

ondeu := τ + σ ev := τ − σ.

As expans˜oes das solucoes que satisfazem (3.3) sao

XµL(u) =

1

2xµ

L +

√α′

2lµ0u +

√α′

2

n 6=0

i

nlµne−inu (3.4)

XµR(v) =

1

2xµ

R +

√α′

2rµ0v +

√α′

2

n 6=0

i

nrµne−inv (3.5)

Page 44: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

35

De (3.3), temos

rµ0 = lµ0 (3.6)

Em termos do momento total (momento do centro de massa), escrevemos

pµ =

∫ 2π

0

dσ P µ(τ, σ) =

∫ 2π

0

dσ Xµ(τ, σ) = 2π 2

√α′

2lµ0

→ lµ0 =

√α′

2pµ (3.7)

onde, como sempre, fizemos12πα′ = 1.

O calculo da massa (cf. Apˆendice B) fornece a expressao

M2 =2

α′ (NL + NR − 2) (3.8)

comNL =∑

n>0

l−n · ln e NR =∑

n>0

r−n · rn os operadores n´umero.

3.1.2 Cordas fechadas emS1 ⊗ R1,24

Se compactificarmos circularmente uma direcao, e.g.,x25 ∼ x25 + 2πmR, as condicoes de

periodicidade nesta coordenada mudam:

X25(σ + 2π) = X25(σ) + 2πmR. (3.9)

A interpretacao param e o numero de voltas (winding number) que se da ao redor do c´ırculo

quando se percorre a corda uma vez (i.e., no intervaloσ = [0, 2π]). Como estamos trabalhando

com uma teoria de cordas orientadas,m pode ser negativo. Veja alguns exemplos de cordas

fechadas com diferenteswinding numbersna Fig.3.1.

Uma caracter´ıstica interessante de uma dimensao compactificada e que o momento nesta

direcao fica discretizado (o que n˜ao e prerrogativa das cordas; aqui, isso ocorre exatamente co-

mo em mecanica quantica, onde o momento de uma part´ıcula confinada e sempre discretizado).

Page 45: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

36

Figura 3.1: Exemplos de winding number. (A)m = 1; (B) m = −1; (C) m = 2; (D) m = 0.

Senao, vejamos: uma translacao de uma volta inteira (ou qualquer n´umero inteiro de voltas)

na direcao compactificada corresponde a nao sair do lugar. Ou seja, o operador de translacao,

eip·∆x, tem de corresponder a identidade quando o deslocamento for de∆x = 2πR.

eip 2πR = 1 = e2inπ

p =n

R, n ∈ Z. (3.10)

Aqui, como emR1,25, as expans˜oes sao

XµL(u) =

1

2xµ

L +

√α′

2lµ0u +

√α′

2

n 6=0

i

nlµne−inu (3.11)

XµR(v) =

1

2xµ

R +

√α′

2rµ0v +

√α′

2

n 6=0

i

nrµne−inv (3.12)

A partir da equacao (3.9), obtemos, aqui,

l250 − r250 = 2πmR.

Definamosw := mRα′ . Assim, temos

l250 − r250 =

√2α′w.

A expressao analoga a (3.7) para a coordenadap25 (que chamaremos, por brevidade, dep)

Page 46: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

37

do momento total, neste caso, e:

p =

∫ 2π

0

dσ X25 =1√2α′

(l250 + r250 ) (3.13)

Portanto, temos as relacoes

l250 + r250 =

√2α′p

l250 − r250 =

√2α′w

(3.14)

Aqui, a expressao para a massa torna-se (cf. Apˆendice B)

M2 = p2 + w2 +2

α′ (NL + NR − 2)

=( n

R

)2

+(mR

α′

)2

+2

α′ (NL + NR − 2) (3.15)

Com esta expressao obtem-se o espectro de massa de uma teoria com dimensao compacti-

ficada de raioR. Mas existe uma simetria nesta expressao: ela tambem fornece o espectro de

massa para uma teoria com dimensao compactificada de raioR = α′

R. Em outras palavras, duas

teorias distintas possuem o mesmo espectro de massa. Isso nos leva a considerar a possibilidade

de haver uma equivalˆencia fısica (dualidade) entre tais teorias. Vejamos: sejam

p =m

Rw =

nR

α′ com R :=α′

R

⇒ p =mR

α′ = w w =n

R= p

Nota-se queM2(R, p, w) = M2(R, p, w), com

p 7→ p = w

w 7→ w = p

R 7→ R = α′/R

Isso nos leva a cogitar dualidade entre uma teoria com uma coordenadaX25(τ, σ) compact-

Page 47: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

38

ificada num raioR de momentop e winding numberw, e uma teoria com uma coordenada

X25(τ, σ) compactificada num raioα′/R de momentow e winding numberp. As expans˜oes

em modos seriam

X25(τ, σ) = x + α′p τ + α′wσ + osciladores

X25(τ, σ) = x + α′p τ + α′wσ + ˜osciladores

= q + α′wτ + α′p σ + ˜osciladores

E possıvel relacionarX25 e X25? Nota-se pelos modos-zero queX25 parece poder ser

construıdo com os mesmos modos de expansao queX25, a partir da regra

X(τ, σ) = XL(τ + σ) + XR(τ − σ) (3.16)

X(τ, σ) = XL(τ + σ) − XR(τ − σ) (3.17)

Podemos, ent˜ao, definir uma transformacao,

∼ : S1(R) × R1,24 → S1

(R)× R1,24

: X25(τ, σ) 7→ X25(τ, σ) (3.18)

X25(τ, σ) := XL(τ + σ) − XR(τ − σ),

investigar os aspectos fısicos desse sistema dual e compara-los com nossa teoria original.

A partir da regra de transformacao (3.17), podemos tracar um mapa entre os modos:

XL(τ + σ) =1

2(x + q) +

1

2α′(p + w)(τ + σ) + i

√α′

2

n 6=0

1

nlne−in(τ+σ) (3.19)

XR(τ − σ) =1

2(x − q) +

1

2α′(p − w)(τ − σ) + i

√α′

2

n 6=0

1

nrne−in(τ−σ) (3.20)

Page 48: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

39

X(τ, σ) = x + α′p τ + α′wσ + i

√α′

2

n 6=0

1

ne−inτ (lne−inσ + rneinσ) (3.21)

X(τ, σ) = q + α′wτ + α′p σ + i

√α′

2

n 6=0

1

ne−inτ (lne−inσ − rneinσ) (3.22)

x 7→ x = q p 7→ p = w ln 7→ ln = ln

w 7→ w = p rn 7→ rn = −rn

O mapeamento dos modos das outras coordenadas, correspondentes as dimensoes nao com-

pactificadas, e a identidade.

Comparemos as hamiltonianas. Na teoria original, a partir da acao

S =1

2

∫d2σ (X)2 − (X ′)2, (3.23)

obtemos a hamiltoniana

H =1

2

∫dσ XµX

µ + X ′µX ′µ

= πα′2(pipi + p2 + w2) + πα′∑

n 6=0

(ln · l−n + rn · r−n)

=α′

2(pipi + p2 + w2) + NL + NR − 2 (3.24)

onde−2 e a constante de ordenamento necess´aria apos a quantizacao [4, 31].

A hamiltoniana dual e

H =α′

2(pipi + p2 + w2) + NL + NR − 2

=α′

2(pipi + w2 + p2) + NL + NR − 2

= H (3.25)

Portanto, a hamiltoniana e preservada sob a transformacao!

Precisamos, agora, checar os comutadores. Todavia, essa e uma tarefa simples, pois os mo-

Page 49: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

40

dos de expans˜ao duais sao os mesmos que os da teoria original (sem compactificacao); suas

relacoes de comutacao j´a estao determinadas. Os unicos comutadores novos sao os que en-

volvem q, o unico novo termo. Podemos calcula-los com o metodo da expans˜ao, usado no

Capıtulo 2, e o resultado obtido e

(rm, rn) = (−rm,−rn) = (rm, rn) = −in

(lm, ln) = (lm, ln) = −in

(rm, ln) = −(rm, ln) = 0

(p, w) = (w, p) = 0

(q, w) = (x, p) = 1

Daı, seguimos para as relacoes de comutacao entre os campos:

(X(τ, σ), P (τ, σ′)) = α′(x, p) +iα′

2n[(βn, β−n) + (αn, α−n)] = 2α′ =

1

π

(X(τ, σ), P (τ, σ′)) = α′(q, w) +iα′

2n[(βn, β−n) + (−αn,−α−n)] =

1

π

= (X(τ, σ), P (τ, σ′))

Portanto, temos uma simetria completa: a Hamiltoniana e as relacoes de comutacao se

preservam sob a transformacao (3.18). Assim, concluımos que a dualidade T e uma simetria

verdadeira da teoria de cordas fechadas livres (na verdade, isso tambem vale para cordas com

interacoes [4, 16]).

No exemplo que acabamos de considerar, a dualidade T mapeia entre si duas teorias do

mesmo tipo, comparametros(raios de compactificacao) diferentes – veremos que nas cordas

abertas isso n˜ao e tao simples. O raio do c´ırculo deve ser visto como um parˆametro de uma

classe particular de espaco-tempos compactificados que permitem uma definicao consistente da

teoria de cordas. O raio n˜ao e um parˆametro da teoria em si, e sim um parˆametro ajustavel do

Page 50: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

41

espaco-tempo usado na teoria. A existencia de uma dualidade est´a nos mostrando que o espaco

de tais parˆametros e restrito, contendo apenas raios maiores ou iguais ao raio auto-dual,R∗,

R∗ =α′

R∗ = R∗ ⇒ R∗ =√

α′.

Repare que este raio especial e da escala do comprimento da corda,lS =√

2α′. Assim,

nao e de surpreender que em teoria de cordas ocorram quebras de conceitos geometricos usuais,

tais como a equivalencia fısica entre um c´ırculo de raioR e um c´ırculo de raioα′/R, pois,

para raios da ordem deR∗ ou menores, estamos sondando um espaco geometrico que possui a

mesma escala dos objetos que nele interagem.

3.2 Cordas abertas

Uma questao natural a se fazer neste ponto e se algo an´alogo ocorre no caso de cordas

abertas. Veremos separadamente o caso de cordas abertas livres (sem campo de fundo) e o de

cordas na presenca de um campo de Kalb-Rammond.

3.2.1 Caso livre

Seja uma corda livre num espaco com uma dimensaox compactificada, de raioR.

S[Xµ, X] =1

2

∫d2σ XµX

µ − X ′µX ′µ + (X)2 − (X ′)2. (3.26)

ondeX i sao as outras coordenadas.

As condicoes de contorno sao

∂σXµ|σ=0,π = 0

∂σX|σ=0,π = 0

Page 51: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

42

A expansao do campoX na direcao compactificada e

X(τ, σ) =1

π(x + p τ +

i

nα−

n cos nσ)1,2 (3.27)

com momento total (momento do centro de massa)

∫ π

0

dσ P (τ, σ) =

∫ π

0

dσ X(τ, σ) = p =n

R,

como visto anteriormente.

A hamiltoniana e

H =1

2

∫dσ XµXµ + X ′

µX ′µ + (X)2 + (X ′)2

=1

2π(pµpµ + αµ

nαµn + p2 + αnαn) (3.28)

e o espectro de massa (cf. Apˆendice B) e

M2 = p2 +1

α′ (N − 1) =( n

R

)2

+1

α′ (N − 1) (3.29)

A primeira coisa a se notar e que aqui n˜ao hawinding; uma corda aberta livre sempre pode

se contrair a um ponto. Como owindingfoi crucial para relacionar o espectro da corda fechada

com seu dual, n˜ao se deve esperar que a dualidade T se de da mesma maneira com cordas aber-

tas. Ao contrario das cordas fechadas, as abertas claramente distinguem uma compactificacao

de raioR de uma de raioα′

R. Parece entao que talvez n˜ao se deva esperar dualidade T para

cordas abertas. E, no entanto, existe uma maneira!

Separemos (3.27) emXL eXR:

X(τ, σ) := XL(τ + σ) + XR(τ − σ)

1Esta notacao para a expansao deX(τ, σ) sera mais conveniente doravante.2Lembremo-nos de que o somatorio sobren > 0 esta implıcito.

Page 52: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

43

XL(τ + σ) =1

((x + x) + p(τ + σ) +

i

n(αne

−inσ − αneinσ))

XR(τ − σ) =1

((x − x) + p(τ − σ) +

i

n(αneinσ − αne−inσ)

)

Investiguemos o campoX(τ, σ) definido por

X(τ, σ) := XL(τ + σ) − XR(τ − σ)

=1

π

(x + p σ +

1

nα+

n sin nσ)

(3.30)

Qual a interpretacao para essa coordenada? Note-se que (3.30) e a expans˜ao de uma corda

que se estende entre duas branas paralelas, comX(τ, π) − X(τ, 0) = d.

Figura 3.2: Corda com pontas em duas branas paralelas.

Acontece que, de (3.30),

X(τ, π) − X(τ, 0) = p =n

R= d

Podemos interpretar isso como uma serie infinita de D-branastransversaisa direcao X,

separadas a uma distancia de1/R uma da outra, ou, equivalentemente, a termos uma unica D-

brana num espaco cuja direcaoX e periodica (compactificada), de per´ımetro2πR = 1/R (cf.

Fig.3.3).

Portanto, segundo esta definicao, a coordenada dual a uma coordenadaX compactificada

num raioR e uma coordenadaX compactificada num raioR = 1/2πR = α′/R.

Page 53: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

44

Figura 3.3: Infinitas D1-branas separadas a uma distancia1R

= 2πR entre si na direcaoX, ou,equivalentemente, uma D1-brana num c´ırculo de raioR.

E interessante notar a relacao entre as condicoes de contorno:

∂σX = ∂τX ∂τ X = ∂σX (3.31)

Consideremos uma acao

S[Xµ, X] =1

2

∫d2σ XµX

µ − X ′µX ′µ + ( ˙X)2 − (X ′)2. (3.32)

A hamiltoniana para essa teoria e

H =1

2

∫dσ XµXµ + X ′

µX ′µ + ( ˙X)2 + (X ′)2

=1

2

∫dσ XµXµ + X ′

µX ′µ + (X ′)2 + (X)2

= H (3.33)

e o espectro de massa (cf. Apˆendice B) e

M2 = p2 +1

α′ (N − 1) =( n

R

)2

+1

α′ (N − 1) = M2 (3.34)

Portanto, descobrimos nossa dualidade. Em cordas abertas em espacos compactificados,

existe dualidade entre um sistema com corda livre (que possui momento, mas nenhumwind-

ing) e outro com D-branas (que possuiwinding, mas nenhum momento), e a relacao entre os

Page 54: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

45

parametros de compactificacao eR 7→ R = α′

R.

Observe-se que a coordenadaX(τ, σ), dual aX(τ, σ), foi construıda com o mesmo algorit-

mo usado nas cordas fechadas:

X(τ, σ) = XL(τ + σ) + XR(τ − σ) 7→ X(τ, σ) = XL(τ + σ) − XR(τ − σ) (3.35)

Descobrimos que a dualidade T relaciona uma corda aberta livre (condicoes de Neumann

em todas as coordenadas) com uma corda aberta presa a uma D-brana (condicao de Dirichlet

na direcao dualizada), e vice-versa. O fato de ela nao alterar as coordenadas n˜ao envolvidas na

dualizacao permite generalizar trivialmente esse resultado para o caso de dualizacao simultanea

den dimensoes:

Dp − branas ↔ D(p − n) − branas

As relacoes de comutacao, para comparacao, sao

(X(τ, σ), P (τ, σ)) = δN (σ − σ′) (3.36)

(X(τ, σ), P (τ, σ)) = δD(σ − σ′) (3.37)

O fato de serem diferentes, se por um lado e facilmente compreendido a luz das diferentes

condicoes de contorno satisfeitas porX(τ, σ) eX(τ, σ), por outro levanta a questao de se deve-

mos esperar invariancia dos comutadores (e do carater comutativo do espaco) sob transformacao

de dualidade T, e como interpretar isso. Estudaremos melhor esta questao adiante.

3.2.2 D2-brana num toroT 2 com campo B

Tratemos agora do sistema apresentado no cap´ıtulo 1, de cordas presas a uma D2-brana com

campo de Kalb-Rammond constante e uniforme. Retomemos a acao, a hamiltoniana (1.40), as

Page 55: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

46

condicoes de contorno (1.18), e as expans˜oes (1.36), (1.37):

S =

∫d2σ (X1)2 − (X ′1)2 + (X2)2 − (X ′2)2 + 2B(X1X ′2 − X ′1X2) (3.38)

H =1

2

∫ π

0

dσ (P 1)2 + (P 2)2 + M((X ′1)2 + (X ′2)2) + 2B(−P 1X ′2 + P 2X ′1) (3.39)

X′1 + BX2 |σ=0,π = 0

X′2 − BX1 |σ=0,π = 0

(3.40)

X1(τ, σ) =1

π(x1 + pτ − Bwσ +

i

nα−

n cos nσ − B

nβ+

n sin nσ) (3.41)

X2(τ, σ) =1

π(x2 + wτ + Bpσ +

i

nβ−

n cos nσ +B

nα+

n sin nσ) (3.42)

P 1(τ, σ) =M

π(p + α+

n cos nσ) (3.43)

P 2(τ, σ) =M

π(w + β+

n cos nσ) (3.44)

Suponhamos, tambem, queX2 e uma direcao compactificada, de raioR2.

A compactificacao deX1 e a quantizacao do fluxo deB

Um fenomeno interessante acontece quando consideramos a simetria de calibre do campo

de Maxwell,Aµ.3 Em espacos compactificados, a simetria de calibre do campo de Maxwell,

Aµ ∼ Aµ + ∂µλ, adota uma forma especial. Em particular, no nosso caso de uma D2-brana

com compactificacao emX2, a periodicidade emX2 gera paraA2 a seguinte transformacao de

calibre [31]:

A2 ∼ A2 +n

R2.

3Lembremo-nos de que, como visto no Capıtulo 1, existe uma simetria de calibre que conecta um sistema comcampoBµν e sem campo de Maxwell a um sistema com campo de Maxwell e sem campoBµν . Portanto, o quevale para um tambem vale para o outro.

Page 56: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

47

Para um campoFµν constante dado porF12 = B, temos

A1 = 0

A2 = Bx1

Assim, a simetria de calibre induz uma compactificacao emX1!

Bx1 ∼ Bx1 +n

R2⇒ R1 =

n

2πmBR2, com n, m ∈ Z. (3.45)

Ou seja, estamos falando de uma D2-brana enrolada num toro,T 2(R1, R2).

Figura 3.4: Brana enrolada sobre um toroT 2(R1, R2)

Calculando o fluxo do campoB sobre o toro, obtemos

ΦB = B(2πR1)(2πR2) = 2πn

m(3.46)

Dadas estas compactificacoes, ocorre, como vimos, discretizacao dos momentos:

∫ π

0

dσP 1(τ, σ) = Mp =n1

R1⇒ p =

n1

MR1(3.47)

∫ π

0

dσP 2(τ, σ) = Mw =n2

R2⇒ w =

n2

MR2(3.48)

Page 57: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

48

O espectro para este sistema (cf. Apendice B) e dado por4

M2 = M(p2 + w2) +1

α′ (NB − 1) = M

(( n1

R1

)2

+( n2

R2

)2)+

1

α′ (NB − 1), (3.49)

Cabe-nos, agora, encontrar o sistema T-dual a esta D2-brana neste toro. Primeiramente,

dualizamos apenas a direcaoX2. Depois, dualizaremos tambemX1.

3.2.3 Uma prescricao para a dualizacao deX2

Da nossa experiˆencia com as cordas fechadas e a corda aberta livre, e natural cogitarmos

aplicar a transformacao (3.35) sobre (3.42), ou, o que e equivalente, definirX2 pelas suas

derivadas:

∂σX2(τ, σ) := ∂τX2(τ, σ) (3.50)

∂τ X2(τ, σ) := ∂σX2(τ, σ) (3.51)

Isso nos basta para construir a expansao deX2(τ, σ):

X2(τ, σ) =1

π(x2 + Bpτ + wσ +

iB

nα−

n cos nσ +1

nβ+

n sin nσ) (3.52)

Da mesma forma que em (3.32), construiremos nossa acaoSB[X1, X2] simplesmente tro-

candoX2(τ, σ) por X2(τ, σ):

SB :=1

2

∫d2σ (X1)2 − (X ′1)2 + ( ˙X2)2 − (X ′2)2 + 2B(X1X ′2 − X ′1 ˙X2) (3.53)

Os momentos, portanto, sao

P 1(τ, σ) =1

π[(p + Bw) + (α+

n + Bβ+n ) cos nσ + iB(β−

n − Bα−n ) sin nσ] (3.54)

P 2(τ, σ) =1

π[B(p + Bw) + B(α+

n + Bβ+n ) cos nσ − i(β−

n − Bα−n ) sin nσ]. (3.55)

4Nao confundir o operador massa ao quadradoM2 com o parametroM ≡ 1 + B2.

Page 58: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

49

As condicoes de contorno satisfeitas porX1(τ, σ) e X2(τ, σ) sao

X ′1 + BX ′2 |σ=0,π = 0

˙X2 − BX1 |σ=0,π = 0(3.56)

diferindo de (3.40) apenas em que as derivadas emτ eσ deX2 sao trocadas entre si.

Podemos notar que, se definirmos

Y 1 ≡ 1√M

(X1 + BX2) (3.57)

Y 2 ≡ 1√M

(X2 − BX1), (3.58)

teremos

∂σY 1|σ=0,π = 0

∂τY2|σ=0,π = 0

, (3.59)

ou seja, teremos uma D1-brana, estendida na direcaoY 1 e transversal aY 2. As direcoesY 1, Y 2

relacionam-se aX1,X2 por uma rotacao de um anguloϕ = tan−1 B.

Figura 3.5:

ComoX1 nao foi alterada, ainda e uma dimensao compactificada. Supondo queX2 tambem

e compactificada, temos uma D1-brana cingindo um toro dualT 2(R1, R2) (cf. Fig.3.6.).

Na Fig.3.6., a D1-brana d´a um numero inteiro de voltas no toro, tornando a coordenada

Y 1 periodica (compactificada). Isso, em princ´ıpio, nao e necessariamente verdade. Veremos,

Page 59: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

50

entretanto, que a condicao de quantizacao do fluxoΦB, (3.46), garante essa situacao.

Y 2, sendo uma direcao perpendicular a brana, e necessariamente compactificada. Sen˜ao,

vejamos: seja uma corda com as pontas presas a D-brana, e que possui winding numberm = 1

na direcaoX2, cf. Fig.3.7. Note-se que ambas as pontas possuem mesma coordenadaY 2,

Y 2(0) = Y 2(π) = 0. Supondo que a corda tenha tamanho finito, e facil ver que, para que isso

seja possıvel,Y 2 tem de ser compactificada.

Figura 3.6: D1-brana circundando o toroT 2(R1, R2). O angulo entre a brana e a direcaoX1 eϕ.

Figura 3.7: Esquema do toro dual planificado, mostrando a compactificacao deY 2.

Da Fig.3.7., vemos que

RY 2 = R2 cos ϕ =R2√M

(3.60)

Page 60: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

51

Isso sera util para determinarmos o raio dualR2, como veremos adiante.

Para a hamiltoniana, temos

H =

∫d2σ P · X − L

=1

2

∫d2σ(X1)2 + (X ′1)2 + ( ˙X2)2 + (X ′2)2

=1

2

∫d2σ(X1)2 + (X ′1)2 + (X ′2)2 + (X2)2

= H (3.61)

Portanto, nossa transformacao preserva a hamiltoniana. O espectro tambem e preservado

(cf. Apendice B). Podemos ver que, na verdade, as teorias paraX2 e X2 diferem apenas em

suas condicoes de contorno, e nos referiremos a essa forma de dualizar como dualizacao por

condicoes de contorno.

3.2.4 Uma outra dualizacao

Podemos encontrar na literatura [4, 16, 17] uma acao dual distinta da nossa. Ela e con-

struıda por meio de um campo auxiliar e um multiplicador de Lagrange. Discutimos agora essa

dualizacao.

Seja um espaco com campo de fundoBµν (Aµ = 0) onde a direcaoXk e compactificada.

Seja

Vα := ∂αXk. (3.62)

Entao a acao (1.13) e

S =1

2

∫d2σ

√−hhαβ(gkkVαVβ + 2gkµVα∂βXµ + gµν∂αXµ∂βXν)

+εαβ(2BkµVα∂βXµ + Bµν∂αXµ∂βXν) (3.63)

Page 61: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

52

De (3.62), temosεαβ∂βVα = 0. Assim, podemos incluir um multiplicador de Lagrange,

S =1

2

∫d2σ

√−hhαβ(gkkVαVβ + 2gkµVα∂βXµ + gµν∂αXµ∂βXν)

+εαβ(2BkµVα∂βXµ + Bµν∂αXµ∂βXν) + 2Xkεαβ∂αVβ (3.64)

Variando a acao em relacao aVα, encontramos a equacao de movimento

Vα =1

gkk

εβα(Bµk∂βXµ − ∂βXk). (3.65)

ondeεβα ≡ hαρε

ρβ =

0 1

1 0

.

EliminandoVα da acao, encontramos

S =1

2

∫d2σ

√−hhαβ(gkk∂αXk∂βXk + 2gkµ∂αXk∂βXµ + gµν∂αXµ∂βXν)

+εαβ(2Bkµ∂αXk∂βXµ + Bµν∂αXµ∂βXν) (3.66)

onde

gkk =1

gkk, gkµ = gµk =

Bkµ

gkk, gµν = gµν +

BkµBkν − gkµgkν

gkk,

Bkµ = −Bµk =gkµ

gkk

, Bµν = Bµν +gkµBkν − Bkµgkν

gkk

(3.67)

Nesta abordagem, trata-seXk como o dual deXk. E uma abordagem em que tambem os

campos sofrem dualizacao.

Para o nosso caso, temosk = 2 e

g22 = 1, g21 = −B, g11 = M, B21 = 0

e a acao fica

SS[X1, X2S] =

1

2

∫d2σ M((X1)2−(X ′1)2)+( ˙X2

S)2−(X ′2S )2−2B(X1 ˙X2

S−X ′1X ′2S ). (3.68)

Page 62: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

53

onde passaremos a denotar a coordenada dual nesta acao porX2S. VariandoSS, obtemos as

equacoes de movimento e o termo de superfıcie:

X ′′i − X i = 0, i = 1, 2 (3.69)

δS(sup.)S =

∫dσ ∂σ

((MX ′1 − BX ′2

S )δX1 + (−X ′2S + BX ′1)δX2

S

)(3.70)

Uma escolha de condicoes de contorno que anula o termo de superfıcie e

δX2S|σ=0,π = 0 → ˙X2

S = 0

MX ′1 − BX ′2S |σ=0,π = 0

(3.71)

De (3.62) e (3.65), sai

X2S = −X2

B + BX1 (3.72)

ondeX2B := X2 = XL − XR e a coordenada dual definida na secao anterior. Substituindo

(3.72) em (3.71), obtemos

˙X2B − BX1|σ=0,π = 0

X ′1 + BX ′2B |σ=0,π = 0

, (3.73)

identicas a (3.56). Comparando (3.72) com as coordenadasY i, vemos que

X2S = −

√M Y 2, (3.74)

sendo, pois, uma combinacao linear deX1 e X2.

No entanto, as acoesSS e SB nao sao equivalentes. Sen˜ao, vejamos:

SS[X1, X2B] =

1

2

∫dσ M((X1)2 − (X ′1)2) + (− ˙X2

B + BX1)2 − (−X ′2B + BX ′1)2

−2BX1(− ˙X2B + BX1) + 2BX ′1(−X ′2

B + BX ′1)

=1

2

∫dσ (X1)2 − (X ′1)2 + ( ˙X2

B)2 − (X ′2B )2

6= SB[X1, X2B]

Page 63: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

54

Seguem as expans˜oes dos campos que satisfazem (3.69) e (3.71):

X1S(τ, σ) = xS + pSτ +

B

MwSσ +

i

nαn

−S cos nσ +

B

Mnβn

+S sin nσ (3.75)

X2S(τ, σ) = qS + wSσ +

1

nβn

+S sin nσ (3.76)

IgualandoX1S = X1 (o que e razo´avel, ja que a dualizacao se d´a apenas emX2), obtemos

X1(τ, σ) =1

π(x + pτ − Bwσ +

i

nα−

n cos nσ − B

nβ+

n sin nσ) (3.77)

X2S(τ, σ) =

1

π(q − Mwσ − M

nβ+

n sin nσ) (3.78)

Prosseguimos para os momentos e a hamiltoniana5:

P 1S(τ, σ) = MX1 − B ˙X2

S =M

π(p + α+

n cos nσ) (3.79)

P 2S(τ, σ) = ˙X2

S − BX1 = − 1

π(Bp + Bα+

n cos nσ − iβ−n sin nσ) (3.80)

HS =

∫dσ P 1

S(τ, σ)X1(τ, σ) + P 2S(τ, σ) ˙X2

S(τ, σ) − LS

=1

2

∫dσ M((X1)2 + (X ′1)2) + ( ˙X2

S)2 + (X ′2S )2

−2B(X1 ˙X2S + X ′1X ′2

S )

=M

2π(p2 + w2 + 2αnαn + 2βnβn)

= HB = H (3.81)

O espectro aqui, assim como na dualizacao por condicoes de contorno, e preservado (cf.

Apendice B).

Raios

5Note-se queP 1S = P 1

Page 64: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

55

Determinemos, agora, os raios de compactificacao paraX2S e X2

B. Como X2S obedece

condicao de Dirichlet, esta direcao e perpendicular a D1-brana, e, conforme vimos na secao

anterior, essa dimensao e compactificada. Assim, uma corda presa a D1-brana possuiwinding

nesta direcao:X2S(π) − X2

S(0) = 2πmRS. Substituindo a expans˜ao (3.78), sai

w = mRS

α′M

Aplicando (3.48), obtemosRS = α′

R2. Se agora levarmos em conta as relacoes (3.74) entre

X2S eY 2 e (3.60) entreRY 2 e R2, chegamos a

RS = R2 =α′

R2

. (3.82)

O raio se inverte! Argumentando que a dualidade T e uma simetria da teoria, temos aqui

uma consequencia muito interessante: existe um raio de compactificacao mınimo. Qualquer

raio R menor que esse raio crıticoRc =√

α′ ∼ lS sempre pode ser relacionado com um raio

R > Rc usando dualidade T.

Resgatemos a expressao (3.46) para o fluxo deB:

ΦB = B(2πR1)(2πR2) = 2πn

m

Introduzindo o resultado acima paraR2, (3.82), obtemos

BR1

R2

=n

m⇒ tan ϕ =

n

m

R2

R1

(3.83)

o que significa que a D1-brana d´a n voltas inteiras emX2B para cadam voltas inteiras emX1

no toro dual, justificando a Fig.3.6.

Page 65: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

56

Comparando as prescricoes

Vemos, pois, que os dois esquemas de dualizacao apresentados aqui sao semelhantes em

varios aspectos, o que nos encoraja a consider´a-los como modelos igualmente validos, ape-

sar de essencialmente diferentes. Como ambas as versoes comportam a mesma hamiltoniana,

as mesmas condicoes de contorno, e a mesma topologia, ent˜ao ambas descrevem (ou podem

descrever) o mesmo sistema fısico, e representam a mesma dualidade da teoria de cordas.

A dualizacao por condicoes de contorno apresenta problemas, no entanto. Ela n˜ao nos diz

que acao usar. Nosso ansatz (3.53) para a acao dual parece razo´avel, mas nao mantem o mo-

mentoP 1(τ, σ) invariante, como faz a acao (3.68) na dualizacao por multiplicador de Lagrange.

Com efeito, os momentos totais definidos a partir de (3.53) sao problematicos, introduzindo

vınculos estranhos quando tentamos discretiz´a-los. Sem embargo, podemos confiar pelo menos

nos resultados cujos c´alculos nao dependem dos momentos, como a invariˆancia da hamiltoni-

ana e do espectro, o c´alculo do raio, e, especialmente, a relacao de comutacao entreX1(τ, σ) e

X2(τ, σ).

3.2.5 DualizandoX1 eX2

Como a dualidade T e uma simetria de cordas em espacos compactificados, podemos tam-

bem ver o que acontece quando, al´em deX2, dualiza-se tambemX1.

Desenvolveremos a dualizacao pelo metodo apresentado na secao 3.2.3, e referiremos o

resultado obtido seguindo o processo de dualizacao da secao 3.2.4.

Dualizacao por derivadas

Page 66: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

57

De acordo com o metodo de dualizacao da secao 3.2.3, temos as seguintes definicoes:

˙X1 := X ′1

X ′1 := X1

X1(τ, σ) =1

π(x1 + pτ − Bwσ +

i

nα−

n cos nσ − B

nβ+

n sin nσ)

X1(τ, σ) =1

π(x1 − Bwτ + pσ − i

B

nβ−

n cos nσ +1

nα+

n sin nσ) (3.84)

Quanto aX2(τ, σ), ja o temos:

X2(τ, σ) =1

π(x2 + Bpτ + wσ + i

B

nα−

n cos nσ +1

nβ+

n sin nσ) (3.85)

O ansatz para a nova acao e an´alogo ao ja usado na secao 3.2.3, de modo que os momentos

sao

P 1(τ, σ) = ˙X1(τ, σ) + BX ′2(τ, σ) = −iM

πα−

n sin nσ (3.86)

P 2(τ, σ) = ˙X2(τ, σ) − BX ′1(τ, σ) = −iM

πβ−

n sin nσ (3.87)

Agora, para as condicoes de contorno: podemos obte-las de dois modos. O primeiro, muito

simples, e pelo mapa entre as derivadas. O segundo e pelo mapa entre as coordenadas, que se

obtem comparando as expansoes (3.84) e (3.85) com (1.36) e (1.37):

B → B = − 1

B

X1(B, τ, σ) → X1(B, τ, σ) =1

BX2(B, τ, σ)

X2(B, τ, σ) → X2(B, τ, σ) = − 1

BX1(B, τ, σ) (3.88)

Page 67: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

58

Com ambos, chega-se a

X ′1 + BX2|σ=0,π = 0

X ′2 − BX1|σ=0,π = 0→

˙X1 + BX ′2|σ=0,π = 0

˙X2 − BX ′1|σ=0,π = 0(3.89)

que se pode reescrever

X ′2 + 1B

˙X1|σ=0,π = 0

X ′1 − 1B

˙X2|σ=0,π = 0(3.90)

Pode-se usar o mapa (3.88) ou as c.c. (3.90) para antecipar a relacao de comutacao

(X1(σ), X2(σ′)) (cf. Cap.4).

Uma pergunta que logo assoma e: em que tipo de estrutura de branas vivem as cordas aqui?

Pode-se argumentar que, dada a similaridade entre as condicoes de contorno (3.90) e (3.40),

e dado o mapa (3.88), tratar-se-ia de uma D2-brana combackground, como no caso “primal”.

Entretanto, outra interpretacao tambem e possıvel.

No caso primal, a id´eia de que se tratava de uma D2-brana combackgroundvinha do fato de

que as c.c. satisfeitas porX1 eX2 sao do tipo Neumann no limiteB → 0. Aqui, as c.c. deX1

e X2 no limite de campo nulo sao do tipo Dirichlet. Portanto, pelo mesmo racioc´ınio, deduz-se

que aqui temos D0-branas.E claro que para D0-branas estaticas comuns n˜ao ha qualquer tipo

de movimento das pontas da corda, de modo que as c.c. seriam irremediavelmente de Dirichlet.

Assim, nao pode ser uma estrutura ordin´aria de D0-branas est´aticas. Fala-se em D0-branas

dissolvidasnuma D2-brana (Fig.3.8) [1, 24, 31].

Portanto, temos uma ambiguidade na estrutura de brana do nosso sistema bi-dualizado.

Ele tanto pode ser encarado como uma D2-brana combackgroundquanto como D0-branas

dissolvidas numa D2-brana. Tal ambiguidade poe em questao o car´ater fısico da estrutura de

brana de uma teoria.

Dualizacao por multiplicador de Lagrange

Citaremos o resultado obtido por esta dualizacao (que pode ser encontrado em [12]): con-

Page 68: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

59

Figura 3.8: (A) sistema inicial: D2-brana combackground; (B) dualizacao deX2: D1-branainclinada; (C) e (D) dualizacao deX1: D0-branas dissolvidas numa D2-brana, ou uma D2-branacombackgroundB = − 1

B.

sidere compactificacao emT 2 com um campoB de Kalb-Rammond constante. Sob dualizacao

simultanea de todas as coordenadas, a combinacaoFij = (G − B)ij inverte-se, ondeG e a

metrica expressa em unidades da corda (cf. Apˆendice D).

Portanto, para o toro dual, e

F = G − B =1

R21R

22 + B2

R22 B

−B R21

Aqui, nota-se que so ha invers˜ao dos raios no limiteB → 0. Fora desse regime, coisas

interessantes podem acontecer. Por exemplo, se um dos raios e pequeno (de modo queR21R

22 �

B2), temos efetivamente uma troca entreR1 eR2. Pois se, e.g.,R2 ' 0, teremos (cf. Apˆendice

D)

G11 = R21 ∼

R22

B2G22 = R2

2 ∼ R21

B2,

dondeR1 ∼ R2/B e R2 ∼ R1/B. Para mais comentarios sobre isso, ver [39].

Page 69: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

Capıtulo 4

Quantizacao do Sistema Dual

O objetivo deste cap´ıtulo e aplicar os mecanismos de quantizacao usados no Cap´ıtulo 2 as

teorias duais apresentados no Cap´ıtulo 3. Desejamos verificar se as relacoes de comutacao e,

em particular, o car´ater nao-comutativo do espaco, se preservam sob a dualidade T.

4.1 Dualizacao por condicoes de contorno

Nesta secao, quantizaremos o sistema exposto na subsecao 3.2.3, que constr´oi a coordenada

dual a partir de suas derivadas. Como no Cap´ıtulo 2, implementaremos o metodo de quantizacao

por equacao de Heisenberg, e, em seguida, o de Dirac.

4.1.1 Quantizacao via equacao de Heisenberg

Eis as expansoes:

X1(τ, σ) = x1 + pτ − Bwσ +i

nα−

n cos nσ − B

nβ+

n sin nσ (4.1)

X2B(τ, σ) = x2 + Bpτ + wσ +

iB

nα−

n cos nσ +1

nβ+

n sin nσ (4.2)

P 1B(τ.σ) = (p + Bw) + (α+

n + Bβ+n ) cos nσ + iB(β−

n − Bα−n ) sin nσ (4.3)

P 2B(τ.σ) = B(p + Bw) + B(α+

n + Bβ+n ) cosnσ − i(β−

n − Bα−n ) sin nσ. (4.4)

60

Page 70: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

61

Como as novas coordenadas e momentos,X2B(τ, σ), P 1

B(τ.σ), P 2B(τ.σ), sao expressas em

termos dos mesmos modos do sistema “primal”, n˜ao precisamos recalcular todos os comuta-

dores. O unico novo termo ex2. Aplicando a equacao de Heisenberg emX2B(τ, σ), obtemos

(x2, w) =B

πM.

Com isso, podemos calcular os comutadores dos operadores duais:

(X1(τ, σ), X2B(τ, σ′)) = (x1, x2) + (p, x2)τ + (x1, p)Bτ

= (x1, x2) (4.5)

(X1(τ, σ), P 1B(τ, σ′)) = (x1, p) +

i

n(α−

n , α+n ) cos nσ cos nσ′

− iB2

n(β+

n , β−n ) sin nσ sin nσ′

=1

πM[(1 + 2 cos nσ cos nσ′) + 2B2 sin nσ sin nσ′]

=1

M(δN(σ − σ′) + B2δD(σ − σ′)) (4.6)

(X1(τ, σ), P 2B(τ, σ′)) = B(x1, p) +

iB

n(α−

n , α+n ) cos nσ cos nσ′

+iB

n(β+

n , β−n ) sin nσ sin nσ′

=B

πM[(1 + 2 cosnσ cos nσ′) − 2 sinnσ sin nσ′]

=1

M(δN (σ − σ′) − δD(σ − σ′)) (4.7)

(X2B(τ, σ), P 1

B(τ, σ′)) = (x2, p) +iB

n(α−

n , α+n ) cos nσ cos nσ′

+iB

n(β+

n , β−n )sin(nσ)sin(nσ′)

=B

πM[(1 + 2 cos nσ cos nσ′) − 2sin(nσ)sin(nσ′)]

=1

M(δN(σ − σ′) − δD(σ − σ′)) (4.8)

Page 71: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

62

(X2B(τ, σ), P 2

B(τ, σ′)) = B(x2, p) +iB2

n(α−

n , α+n ) cos nσ cos nσ′

− i

n(β+

n , β−n ) sin nσ sin nσ′

=1

πM[B2(1 + 2 cosnσ cos nσ′) + 2 sin nσ sin nσ′]

=1

M(B2δN (σ − σ′) + δD(σ − σ′)) (4.9)

(P 1B(τ, σ), P 2

B(τ, σ′)) = iB[(α+n , α−

n ) − (β+n , β−

n )] cos nσ cos nσ′

+iB2[(β−n , β+

n ) − (α−n , α+

n )] sin nσ sin nσ′

= 0 (4.10)

Reescrevemos esses comutadores abaixo, destacando seu comportamento dıspar entre obulk

e as pontas:

(X1(τ, σ), X2B(τ, σ′)) = (x1, x2) (4.11)

(X1(τ, σ), P 1B(τ, σ′)) =

δ(σ − σ′), bulk

1M

δN(σ − σ′), pontas(4.12)

(X1(τ, σ), P 2B(τ, σ′)) = (X2

B(τ, σ), P 1B(τ, σ′)) =

0, bulk

BM

δN(σ − σ′), pontas(4.13)

(X2B(τ, σ), P 2

B(τ, σ′)) =

δ(σ − σ′), bulk

B2

MδN(σ − σ′), pontas

(4.14)

(P 1B(τ, σ), P 2

B(τ, σ′)) = 0. (4.15)

O comutador(X1(τ, σ), X2B(τ, σ′)) e constante sobre toda a corda. Esta constante n˜ao pode

ser determinada por este metodo, a n˜ao ser por consideracoes fısicas: uma vez que o campo

interage com a corda apenas na brana, n˜ao esperamos encontrar n˜ao-comutatividade nobulk.

Assim,escolhemos (x1, x2) = 0, e, com isso, temoscomutatividade para este sistema.

Novamente, observamos que a discrepˆancia entre as relacoes de comutacao para o caso com

campo e aquelas para o caso livre existe apenas nas pontas da corda. Nota-se que no limite

Page 72: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

63

B = 0 os comutadores reduzem-se aos do caso Neumann paraX1 e Dirichlet paraX2B, como e

de se esperar.

4.1.2 Quantizacao via metodo de Dirac

As condicoes de contorno escritas em termos deX i eP i,

φ(0)1 = ∂σX1 + B∂σX2|σ=0,π

φ(0)2 = P 2 − BP 1|σ=0,π

dao origem a cadeia de vınculos

φ(m)1 =

∂(m+1)(X1 + BX2)|σ=0,π, m par

∂(m)(P 1 + BP 2)|σ=0,π, m impar(4.16)

φ(n)2 =

∂(n)(P 2 − BP 1)|σ=0,π, n par

∂(n+1)(X2 − BX1)|σ=0,π, n impar(4.17)

Para a matriz C, temos:

C11mn =

M∫

dσdσ′ δ(σ)δ(σ′)∂(m+1)σ ∂

(n)σ′ δ(σ − σ′), m par, n impar

0, outros casos

C22mn =

−M∫

dσdσ′ δ(σ)δ(σ′)∂(m)σ ∂

(n+1)σ′ δ(σ − σ′), m par, n impar

0, outros casos

Assim,C11 eC22 sao produtos diretos de matrizes, do tipo

C11 = M

0 1

−1 0

︸ ︷︷ ︸

⊗ N C22 = M

0 −1

1 0

⊗ N

A

Page 73: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

64

sendo que

C11mn = M(−1)n∂(m+n+1)

σ δ(0) = M(−1)m+2n+1(m + n + 1)! limσ→0

δ(σ)

σm+n+1, m par

n impar

C22mn = −M(−1)n+1∂(m+n+1)

σ δ(0) = M(−1)n∂(m+n+1)σ δ(0), m par

n impar= C11

mn

Assim,

Cij(2m′−2)(2n′−1) = δijA01Nm′n′ (4.18)

comNm′n′ = − 1√π(2(m′ + n′) − 2)! lim

ε,σ→0

1

ε σ2(m′+n′)−2= fm′n′ lim

ε,σ→0

1

ε σ2(m′+n′)−2.

C = M

0 12×2

−12×2 0

⊗ N C−1 =

1

M

0 −12×2

12×2 0

⊗ N−1

N−1m′n′ = εf−1

m′n′ limσ→0

σ2(m′+n′)−2 (4.19)

(C−1)ij(2m′−2)(2n′−1) = −δij

Mεf−1

m′n′ limσ→0

σ2(m′+n′)−2 (4.20)

Os comutadores entre as coorenadas e os vınculos seguem-se:

(X1(σ), φ(m)1) =

0, m par∫

dσ′δ(σ′)∂(m)σ′ δ(σ − σ′) = m!δ(σ) lim 1

σm , m impar(4.21)

(X2(σ), φ(m)1) = B(X1(σ), φ(m)1) (4.22)

(X2(σ), φ(m)2) =

∫dσ′δ(σ′)∂

(m)σ′ δ(σ − σ′) = m!δ(σ) lim 1

σm , m par

0, m impar(4.23)

(X1(σ), φ(m)2) = −B(X2(σ), φ(m)2) (4.24)

Page 74: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

65

(P 1(σ), φ(n)1) =

−∫

dσ′δ(σ′)∂(n+1)σ′ δ(σ − σ′) = (n + 1)!δ(σ) lim 1

σ(n+1) , n par

0, n impar(4.25)

(P 2(σ), φ(n)1) = B(P 1(σ), φ(n)1) (4.26)

(P 2(σ), φ(n)2) =

0, n par

(n + 1)!δ(σ) lim 1σ(n+1) , n impar

(4.27)

(P 1(σ), φ(n)2) = −B(P 2(σ), φ(n)2) (4.28)

Os comutadores de Dirac, neste caso, sao

(X1(σ), P 1(σ′))∗ = δ(σ − σ′) − (X1(σ), φ(2m′−1)1(C−1)11(2m′−1)(2n′−2)(φ

(2n′−2)1, P 1(σ′))

−(X1(σ), φ(2m′−2)2(C−1)22(2m′−2)(2n′−1)(φ

(2n′−1)2, P 1(σ′))

= δ(σ − σ′) +ε

Mδ(σ)δ(σ′)(h − B2h), (4.29)

ondeh :=∑

(2m′ − 1)!(2n′ − 1)!f−1m′n′ , h :=

∑(2m′ − 2)!(2n′)!f−1

m′n′.

(X2(σ), P 2(σ′))∗ = δ(σ − σ′) +ε

Mδ(σ)δ(σ′)(B2h − h) (4.30)

(X1(σ), P 2(σ′))∗ = (X2(σ), P 1(σ′))∗ =ε

Mδ(σ)δ(σ′)B(h + h) (4.31)

(X i(σ), Xj(σ′))∗ = −(X i(σ), φ(m)k)(C−1)klmn(φ(n)l, Xj(σ′)) (4.32)

De (4.20), vemos que o elemento de matriz(C−1)ijmn e nao-nulo apenas sei = j e se a

paridade dem e oposta a den. Se impusermos isso em (4.32) e considerarmos (4.21) a (4.24),

vemos que(X i(σ), Xj(σ′))∗ = 0. (o comutador entre os momentos se anula pelo mesmo

motivo). Temos, portanto, que o espaco dual ecomutativo!

Podemos, em face da dificuldade de calcularh e h, deduzi-los a partir dos resultados con-

Page 75: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

66

hecidos no limiteB = 0. Neste caso, temos

(X1(σ), P 1(σ′))∗ = δN (σ − σ′) = δ(σ − σ′) +√

πεδ(σ)δ(σ′) (4.33)

(X2(σ), P 2(σ′))∗ = δD(σ − σ′) = δ(σ − σ′) −√

πεδ(σ)δ(σ′) (4.34)

Impoe-se isso em (4.29) e (4.30), e conclui-se queh = h =√

π. Substituindo, obtemos

(X1(σ), P 1(σ′))∗ = δ(σ − σ′) +(1 − B2)

M

√πεδ(σ)δ(σ′)

=1 + B2

Mδ(σ − σ′) +

(1 − B2)

M

√πεδ(σ)δ(σ′)

=1

M(δN(σ − σ′) + B2δD(σ − σ′)) (4.35)

(X2(σ), P 2(σ′))∗ = δ(σ − σ′) − (1 − B2)

M

√πεδ(σ)δ(σ′)

=1

M(B2δN (σ − σ′) + δD(σ − σ′)) (4.36)

(X1(σ), P 2(σ′))∗ = (X2(σ), P 1(σ′))∗ = 2B

M

√πεδ(σ)δ(σ′)

=B

M(δN(σ − σ′) − δD(σ − σ′)) (4.37)

(X1(σ), X2(σ′))∗ = (P 1(σ), P 2(σ′))∗ = 0. (4.38)

Comparando com (4.5)-(4.10), observamos a consistencia entre estes resultados e aqueles

obtidos pelo metodo da expans˜ao.

4.2 Dualizacao por multiplicador de Lagrange

Nesta secao, quantizamos o sistema mostrado na subsecao 3.2.4. Usaremos o metodo da

equacao de Heisenberg, mas o resultado e previsıvel, uma vez que os camposXS(τ, σ) e

Page 76: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

67

PS(τ, σ) relacionam-se aX(τ, σ) eP (τ, σ) pelo seguinte:

X2S = −X2

B + BX1 (4.39)

P 1S = X1 + B ˙X2

B = X1 + BX ′2 = P 1 (4.40)

P 2S = − ˙X2

B = −P 2B − BX ′1 (4.41)

Retomemos as expansoes (3.77)-(3.80):

X1(τ, σ) =1

π(x + pτ − Bwσ +

i

nα−

n cos nσ − B

nβ+

n sin nσ) (4.42)

X2S(τ, σ) =

1

π(q − Mwσ − M

nβ+

n sin nσ) (4.43)

P 1S(τ, σ) =

M

π(p + α+

n cos nσ) (4.44)

P 2S(τ, σ) = − 1

π(Bp + Bα+

n cos nσ − iβ−n sin nσ) (4.45)

H =M

2π(p2 + w2 + 2αnαn + 2βnβn) (4.46)

Aplicando as equacoes de Heisenberg, temos os resultados de antes1

(x, p) =π

M(αm, αn) = (βm, βn) = − inπ

Mδmn

mais

(q, ...) = 0

1I.e., os mesmos do Capıtulo 2, corrigidos para a nova notacao para a expansao das coordenadas e momentos.

Page 77: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

68

As relacoes de comutacao, portanto, sao

(X1(σ), X2S(σ′)) = (x, q) = 0 (4.47)

(X1(σ), P 1S(σ′)) = δN (σ − σ′) (4.48)

(X2S(σ), P 2

S(σ′)) = δD(σ − σ′) (4.49)

(X1(σ), P 2S(σ′)) = − B

M(δN(σ − σ′) − δD(σ − σ′)) (4.50)

(X2S(σ), P 1

S(σ′)) = 0 (4.51)

(P 1S(σ), P 2

S(σ′)) = 0 (4.52)

que est˜ao em sintonia com as relacoes (4.39), (4.40) e (4.41). Apesar de os comutadores n˜ao

serem identicos aos obtidos na secao 4.1 (comentarios sobre o significado f´ısico dos comuta-

dores sao feitos nas Conclus˜oes), e de se notar que aqui, tambem, a nao-comutatividade desa-

parece.

4.3 Dualizacao deX1 eX2

Aplicando o procedimento de quantizacao via equacao de Heisenberg, obtem-se

(P 1(σ), P 2(σ′)) = 0 (4.53)

(X i(σ), P j(σ′)) = δijδD(σ − σ′), para σ, σ′ ∈ [0, π] (4.54)

(X1(σ), X2(σ′)) =

BM

, ponta 0

− BM

, ponta π

0, bulk

(4.55)

Ou seja, recupera-se a n˜ao-comutatividade que havia para a D2-brana com campoB. Isso

ja era esperado, uma vez que estas coordenadas satisfazem condicoes de contorno mistas, como

as da D2-brana combackground. Nao se deve pensar, entretanto, que as relacoes de comutativi-

dade se preservam: n˜ao so os comutadores entre as coordenadas e os momentos alteraram-se

(cf.(2.13)), como(X1(σ), X2(σ′)) tem sinal inverso ao de(X1(σ), X2(σ′)) (cf.(2.14)).

Page 78: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

Apendice A

Metodo de quantizacao de Dirac para a

corda livre num espaco 1-d

Para a corda livre, o v´ınculo primario e a condicao de contorno de Neumann:

φ(0) = ∂(1)X(σ) |σ=0,π (A.1)

Calculemos a derivada temporal deste v´ınculo:

φ(0) = (φ(0), H) =1

2

∫ ∞

−∞dσ

∫ π

0

dσ′ δ(σ) ∂(1)σ (X(σ), (P (σ′))2)

=

∫dσdσ′ δ(σ) ∂(1)

σ δ(σ − σ′)P (σ′)

= −∫

dσ ∂(1)σ δ(σ)

∫dσ′ δ(σ − σ′)P (σ′)

= ∂(1)σ P (σ) |σ=0

(a pontaπ produz resultado semelhante). Comoφ(0) = 0 deve valer para todos os tempos, sua

derivada deve se anular. Assim, obtemos um novo v´ınculo,φ(1) := ∂(1)σ P (σ) |σ=0.

Devemos, agora, aplicar esta mesma verificacao de consistencia ao novo v´ınculo:

φ(1) = (φ(1), H) + λ0(φ(1), φ(0))

69

Page 79: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

70

ondeλ0 e um multiplicador de Lagrange (uma vez estabelecidos v´ınculos no sistema, a hamil-

toniana fica definida a menos de termos do tipoλmφ(m)). A partir daqui, podem resultar 2

situacoes:

1) (φ(1), φ(0)) < ∞. Neste caso, obtem-se uma equacao paraλ0, e a serie de vınculos e

interrompida;

2) (φ(1), φ(0)) = 0 ou → ∞. Aqui, λ0 fica indefinido (ou e nulo), e nao e capaz de truncar a

serie de vınculos. Neste caso, o surgimento de novos v´ınculos depende de se(φ(1), H) se anula

trivialmente ou n˜ao.

No caso em questao, temos(φ(1), φ(0)) → ∞:

(φ(1), φ(0)) = −∫

dσdσ′ δ(σ)δ(σ′) ∂(1)σ ∂

(1)σ′ δ(σ′ − σ) (A.2)

Isso forcaλ0 = 0. Procedendo com a verificacao de consistencia deφ(1),

φ(1) = (φ(1), H) =1

2

∫dσdσ′ δ(σ) ∂(1)

σ (P (σ), (∂(1)σ′ X(σ′))2)

= −∫

dσdσ′ δ(σ) ∂(1)σ ∂

(1)σ′ δ(σ − σ′)∂

(1)σ′ X(σ′)

= −∫

dσ ∂(1)σ δ(σ)

∫dσ′ δ(σ − σ′)∂

(2)σ′ X(σ′)

= ∂(3)σ X(σ) |σ=0

Temos, portanto, um novo vınculo,φ(2) := ∂(3)σ X(σ) |σ=0. Aplicando mais uma vez a

verificacao de consistencia, temos

φ(2) = (φ(2), H) + λ1(φ(2), φ(1)).

Mais uma vez,(φ(2), φ(1)) → ∞, de modo que e

φ(2) = (φ(2), H) =

∫dσdσ′ δ(σ) ∂(3)

σ δ(σ − σ′)P (σ′)

= −∫

dσ ∂(3)σ δ(σ)

∫dσ′ δ(σ − σ′)P (σ′)

= ∂(3)σ P (σ) |σ=0

Page 80: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

71

e assim temosφ(3) := ∂(3)σ P (σ) |σ=0.

Prosseguindo com esse processo, obtemos uma cadeia infinita:

φ(m) =

∂(m+1)σ X(σ) |σ=0, m par

∂(m)σ P (σ) |σ=0, m impar

(A.3)

Os calculos est˜ao sendo feitos explicitamente para a ponta0, mas e facil ver que os resulta-

dos valem igualmente para a pontaπ.

Assim, a matriz antissimetrica C e dada por

Cmn =

0, m par e n par

0, m impar e n impar∫

dσdσ′ δ(σ)δ(σ′)∂(m+1)σ ∂

(n)σ′ (X(σ), P (σ′)), m par e n impar

(A.4)

Trabalhemos o elemento n˜ao-nulo da matriz. Sejamm := 2m′ − 2 en := 2n′ − 1.

C(2m′−2)(2n′−1) =

∫dσdσ′ δ(σ)δ(σ′)∂(2m′−1)

σ ∂(2n′−1)σ′ δ(σ − σ′)

= (−1)2n′−1

∫dσdσ′ δ(σ)δ(σ′)∂(2(m′+n′−1))

σ δ(σ − σ′)

= (−1)2m′+4n′−3

∫dσ ∂(2(m′+n′−1))

σ δ(σ)

∫dσ′ δ(σ′)δ(σ − σ′)

= −∂(2(m′+n′−1))σ δ(σ) |σ=0 (A.5)

Podemos, portanto, escreverCmn como um produto direto de matrizes:

C = A ⊗ N,

comA =

0 1

−1 0

e Nmn = −∂

(2(m+n−1))σ δ(σ) |σ=0, m, n = 1, 2, 3, ... . Usando a relacao

[29]

xn∂(n)δ(x) = (−1)nn!δ(x) (A.6)

Page 81: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

72

e a regularizacao da funcao delta,

δ(x) = limε→0

1

ε√

πe−

x2

ε2 , (A.7)

reescrevemosNmn

Nmn = −(−1)2(m+n−1)(2(m + n − 1))! limσ→0

δ(σ)

σ2(m+n−1)

= −(2(m + n − 1))!√π

limε→0

limσ→0

1

ε

1

σ2(m+n−1)e−

σ2

ε2

= fmn limε,σ→0

1

ε σ2(m+n−1),

comfmn = fnm (N, pois, e uma matriz simetrica).

Para a inversa de C, temos

C−1 = A−1 ⊗ N−1

. De modo que

C−1(2m′−2)(2n′−1) = −N−1

m′n′ (A.8)

C−1(2m′−1)(2n′−2) = N−1

m′n′ (A.9)

A inversa de N e dada por

N−1mn = f−1

mn limε,σ→0

ε σ2(m+n−1),

pois

NmpN−1pn = fmnf−1

pn limσ→0

σ2(n−m)

= δmn limσ→0

σ2(n−m)

= δmn.

Para calcularmos os comutadores de Dirac (2.23), ainda precisamos calcular(X(σ), φ(m))

Page 82: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

73

e (P (σ), φ(m)).

(X(σ), φ(m)) =

0, m par∫

dσ′δ(σ′)∂(m)σ′ δ(σ − σ′), m impar

(P (σ′), φ(m)) =

−∫

dσ′′δ(σ′′)∂(m+1)σ′′ δ(σ′′ − σ′), m par

0, m impar

Usando algebra semelhante a aplicada no c´alculo da matriz C, temos

(X(σ), φ(m)) = (−1)m∂(m)σ δ(σ) = m!

δ(σ)

σm

= m!δ(σ) limσ→0

1

σm, m impar

(P (σ′), φ(n)) = −(n + 1)!δ(σ′) limσ→0

1

σn+1, n par

Finalmente, podemos escrever os comutadores de Dirac:

(X(σ), P (σ′))∗ = δ(σ − σ′) − (X(σ), φ(m))C−1mn(φ(n), P (σ′)).

Este ultimo termo e

(X(σ), φ(m))C−1mn(φ(n), P (σ′)) = (X(σ), φ(2m′−1))C−1

(2m′−1)(2n′−2)(φ(2n′−2), P (σ′))

= (X(σ), φ(2m′−1))N−1m′n′(φ

(2n′−2), P (σ′))

=((2m′ − 1)!δ(σ) lim

σ→0

1

σ2m′−1

)(f−1

m′n′ limε,σ→0

εσ2(m′+n′−1))

((2n′ − 1)!δ(σ′) lim

σ→0

1

σ2n′−1

)

= −κεδ(σ)δ(σ′),

onde subentende-seε no limite ε → 0, e onde

κ := −∑

m′,n′>0

(2m′ − 1)!(2n′ − 1)!f−1m′n′

Page 83: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

74

e uma constante a ser determinada.

Assim, ficamos com

(X(σ), P (σ′))∗ = δ(σ − σ′) + κεδ(σ)δ(σ′). (A.10)

Para determinarκ, usemos a propriedade do comutador de Dirac de que(φ(0), f)∗ = 0 para

toda funcaof(X, P ):

(φ(0), f)∗ =

∫dσ δ(σ)(∂σX(σ), f)∗

=

∫dσ δ(σ)∂σ(X(σ), P (σ′))∗

∂f

∂P(σ′)

=

∫dσ δ(σ)∂σ

(δ(σ − σ′) + κεδ(σ)δ(σ′)

) ∂f

∂P(σ′)

=

∫dσ δ(σ)

(δ(σ − σ′)

σ − σ′ − κεδ(σ′)δ(σ)

σ

) ∂f

∂P(σ′)

=(δ(σ′)

σ′ − κ√π

δ(σ′) limσ→0

1

σ

) ∂f

∂P(σ′) (A.11)

= 0

onde na quarta linha usamos (A.6) e, na quinta, (A.7). Integremos (A.11) emσ′:

(limσ′→0

1

σ′ −κ√π

limσ→0

1

σ

) ∂f

∂P(0) = 0

Como f e arbitraria, resultaκ =√

π. Encontramos, portanto, o comutador entre X e P para

uma corda com condicoes de contorno de Neumann:

(X(σ), P (σ′))∗ = δ(σ − σ′) +√

πεδ(σ)δ(σ′). (A.12)

O trabalho aqui foi todo feito sobre a pontaσ = σ′ = 0. O processo e inteiramente

analogo sobre a outra ponta. Podemos, tambem, aplicar o mesmo procedimento numa corda

com condicoes de contorno de Dirichlet. Segue o resultado completo para uma corda com

Page 84: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

75

condicoes de contorno de Neumann e para uma corda com condicoes de contorno de Dirichlet:

(X(σ), P (σ′))∗ = δ(σ − σ′) +√

πε(δ(σ)δ(σ′) + δ(σ − π)δ(σ′ − π)

)= δN (σ − σ′). (A.13)

(X(σ), P (σ′))∗ = δ(σ − σ′) −√

πε(δ(σ)δ(σ′) + δ(σ − π)δ(σ′ − π)

)= δD(σ − σ′). (A.14)

onde identificamos

δ(σ − σ′) +√

π limε→0

ε(δ(σ)δ(σ′) + δ(σ − π)δ(σ′ − π)

)(A.15)

δ(σ − σ′) −√

π limε→0

ε(δ(σ)δ(σ′) + δ(σ − π)δ(σ′ − π)

)(A.16)

como as expressoes anal´ıticas, respectivamente, para as funcoesδN e δD definidas pelas series

(2.5) e (2.6). De fato, usando (A.6) e (A.7), mostra-se que, paraσ = 0, π, (A.15) possui derivada

nula e (A.16) se anula. Sen˜ao, vejamos:

∂σ

[δ(σ − σ′) +

√π lim

ε→0ε

(δ(σ)δ(σ′) + δ(σ − π)δ(σ′ − π)

)]|σ=0

=[−δ(σ − σ′)

σ − σ′ −√

π limε→0

εδ(σ′)δ(σ)

σ

]|σ=0

=δ(σ′)

σ′ − δ(σ′) limε→0

ε limρ→0

1

ρlimσ→0

1

σ

= δ(σ′)[limσ′→0

1

σ′ − limε→0

ε limρ→0

1

ρlimσ→0

1

σ

]= 0

[δ(σ − σ′) −

√π lim

ε→0ε

(δ(σ)δ(σ′) + δ(σ − π)δ(σ′ − π)

)]|σ=0

= δ(σ′)[1 − lim

ε→0ε lim

ρ→0

1

ρ

]= 0

Note-se que nesses c´alculos deram-se alguns passos n˜ao plenamente justificados no trata-

mento de expressoes envolvendo limites. Por exemplo, supos-se quelimε→0

limρ→0

ε

ρ= 1. Isso nao se

sustenta, pois o valor real da expressao depende de como (com que rapidez)ε eρ vao a zero. Na

melhor hipotese, tal expressao e definida a menos de uma constante. Para efeito de praticidade,

usamos esse tratamento pouco rigoroso nesta subsecao e na proxima, mas deve-se ter em mente

que nao se deve surpreender se o resultado final discrepar do esperado por um fator numerico.

Page 85: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

Apendice B

Calculo da massa

A acao e

S =1

2

∫d2σ

√−hhαβgµν∂αXµ∂βXν (B.1)

Como nao ha termo cin´etico parahαβ na acao, sua equacao de movimento implica o cance-

lamento do tensor energia-momentoTαβ ∝ δSδhαβ = 0

δS

δhαβ=

1

2

∫d2σδ(

√−hhαβ)∂αX · ∂βX

=1

2

∫d2σ(

1

2

hαβ

√−h

δh +√−h δhαβ)∂αX · ∂βX

=√−hδhαβ(∂αX · ∂βX − 1

2hαβh

γδ∂γX · ∂δX) (B.2)

donde obtemos

Tαβ ∝ ∂αX · ∂βX − 1

2hαβhγδ∂γX · ∂δX = 0 (B.3)

A escolha do calibre por meio da fixacao da metrica emhαβ = diag{1,−1} produz, com

(B.3),

(X) · (X) + (X ′) · (X ′) = 0 (B.4)

X · X ′ = 0 (B.5)

76

Page 86: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

77

que se podem escrever como

gµν(Xµ ± X ′µ)(Xν ± X ′ν) = 0 (B.6)

SeparandoXµ(τ, σ) emXµL(u) eXµ

R(v), comu ≡ τ + σ ev ≡ τ − σ, temos

∂τXµ + ∂σXµ = 2X ′µ

L (u) (B.7)

∂τXµ − ∂σXµ = 2X ′µ

R (v) (B.8)

Como (B.7) e funcao apenas deu e (B.8) apenas dev, podemos definir

gµν(Xµ + X ′µ)(Xν + X ′ν) ≡ 2

π

n∈Z

LLne−in(τ+σ) (B.9)

gµν(Xµ − X ′µ)(Xν − X ′ν) ≡ 2

π

n∈Z

LRn e−in(τ−σ) (B.10)

Os coeficientes de FourierLLn eLR

n sao osoperadores de Virasoro, e (B.6) implica que cada

um deles deve ser nulo. Isso e imposto como um v´ınculo,

Lm = Lm = 0 ∀m ∈ Z. (B.11)

No caso deL0 e L0, deve-se adicionar uma constante de ordenamento [20]:

(L0 − 1)|φ〉 = (L0 − 1)||φ〉 = 0 (B.12)

⇒ (L0 + L0 − 2)|φ〉 = 0 (B.13)

para todo estado fisico|φ〉.

Note que (B.6) prov´em diretamente da escolha do calibre, independendo de condicoes de

contorno e de campos de fundo. Destarte, (B.13) vale indistintamente para cordas fechadas ou

abertas, com ou sem campo de fundo.

Calcularemos os operadores de Virasoro em termos dos modos de expans˜ao para cada caso,

e, por meio deles, obeteremos as respectivas expressoes para a massa.

Page 87: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

78

B.1 Cordas fechadas emR1,25

Neste caso, usamos as expans˜oes (3.11) e (3.12):

(Xµ + X ′µ)2 = 4(X ′µL )2

= 2α′(lµ0 +∑

n 6=0

lµne−in(τ+σ))2

= 2α′(∑

n∈Z

lµne−in(τ+σ))2

= 2α′∑

n∈Z

(∑

p∈Z

lµn−plµp

)e−in(τ+σ) (B.14)

(Xµ − X ′µ)2 = 4(X ′µR )2

= 2α′∑

n∈Z

(∑

p∈Z

rµn−pr

µp

)e−in(τ−σ) (B.15)

donde

LLn =

1

2

p∈Z

lµn−plµp (B.16)

LRn =

1

2

p∈Z

rµn−pr

µp (B.17)

de modo que os operadoresLL0 eLR

0 sao

LL0 =

1

2l0 · l0 +

p>0

l−p · lp (B.18)

LR0 =

1

2r0 · r0 +

p>0

r−p · rp (B.19)

A massa ao quadrado e dada por

M2 = −pµpµ = − 2

α′

25∑

µ=0

lµ0 lµ0 = − 2

α′

25∑

µ=0

rµ0 rµ

0 = − 1

α′

25∑

µ=0

(lµ0 lµ0 + rµ0 rµ

0 ) (B.20)

Page 88: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

79

Aplicamos, agora, o v´ınculo (B.13) sobre (B.18) e (B.19), que se traduz por

1

2(l0 · l0 + r0 · r0)

︸ ︷︷ ︸+

n>0

(l−n · ln + r−n · rn) − 2 = 0 (B.21)

−α′

2M2

Portanto,

M2 =2

α′ (NL + NR − 2) (B.22)

onde

NL ≡∑

n>0

l−n · ln NR ≡∑

n>0

r−n · rn

sao os operadores numero [13, 20, 4, 31].

B.2 Cordas fechadas emS1 ⊗ R1,24

Neste mundo compactificado, a massa e calculada do ponto de vista de quem vive nosX i –

as dimensoes restantes:

M2 = −pipi = − 2

α′

24∑

i=0

ri0r

i0 = − 2

α′

24∑

i=0

li0li0 = − 1

α′

24∑

i=0

(li0li0 + ri

0ri0). (B.23)

Ja os operadores de VirasoroLL0 , LR

0 recebem contribuicoes de todas as dimensoes:

(Xµ ± X ′µ)2 = (X25 ± X ′25)2 + (X i ± X ′i)2 ≡∑

n∈Z

LL,Rn e−in(τ±σ)

LL0 =

1

2(l250 l250 + li0l

i0) +

n>0

l−n · ln

LR0 =

1

2(r25

0 r250 + ri

0ri0) +

n>0

r−n · rn

Aqui, pois, o vınculo (B.13) se traduz por

Page 89: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

80

1

2(l250 l250 + r25

0 r250 ) +

1

2(li0l

i0 + ri

0ri0) + N + N − 2 = 0

Usando (3.14) e (B.23), temos

M2 = p2 + w2 +2

α′ (NL + NR − 2)

=( n

R

)2

+(mR

α′

)2

+2

α′ (NL + NR − 2) (B.24)

Observacao: Este resultado tambem vale para o caso de ligarmos um campo B numa acao

de cordas fechadas, porque aqui, em vez de condicoes de contorno, a expans˜ao e determinada

pelas condicoes de periodicidade,X i(τ, σ + 2π) − X i(τ, σ) = 2πmiRi, que nao sao afetadas

pela presenca do campo.

B.3 Cordas abertas livres emS1 ⊗ R1,24

Fazendo uso da expans˜ao

X(τ, σ) =1

π(x + p τ +

i

nα−

n cos nσ) (B.25)

para a direcao compactificada e de

X i(τ, σ) =1

π(xi + piτ +

i

nαi−

n cos nσ) (B.26)

para as outras coordenadas, obtemos

(Xµ ± X ′µ)2 =2

π

n∈Z

( 1

p∈Z

αn−p · αp

)e−in(τ±σ)

comα0 ≡ p eαi0 ≡ pi.

Page 90: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

81

Portanto, os operadores de Virasoro sao

LLn = LR

n ≡ Ln =1

p∈Z

αn−p · αp

e o vınculo (B.13) e1

π(p2 + pipi + 2

p>0

α−p · αp) − 2 = 0, (B.27)

donde

M2 = −pipi = p2 +1

α′ (N − 1), (B.28)

comN ≡ 1π

p>0

α−p · αp.

Repare que paraX, relacionado comX via (3.56), a massa e a mesma, pois

( ˙X ± X ′)2 = (X ± X ′)2.

B.4 D2-brana num toro T 2 com campo B

Aqui,

(Xµ + X ′µ)2 = (X1 + X ′1)2 + (X2 + X ′2)2 + (X i + X ′i)2 ≡ 2

π

n∈Z

LLne−in(τ+σ)

(Xµ − X ′µ)2 = (X1 − X ′1)2 + (X2 − X ′2)2 + (X i − X ′i)2 ≡ 2

π

n∈Z

LRn e−in(τ−σ)

Retomemos as expansoes

X1(τ, σ) =1

π(x1 + pτ − Bwσ +

i

n

n>0

α−n cos nσ − B

n

n>0

β+n sin nσ) (B.29)

X2(τ, σ) =1

π(x2 + wτ + Bpσ +

i

n

n>0

β−n cos nσ +

B

n

n>0

α+n sin nσ) (B.30)

X i(τ, σ) =1

π(xi + piτ +

i

n

n>0

αi−n cos nσ), i = 0, 3, 4, ..., 25 (B.31)

Page 91: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

82

Daı, vem

X1 + X ′1 =1

π

(p − Bw + (α−

n − Bβ+n )

n>0

cos nσ − i(α−n − Bβ−

n

) ∑

n>0

sin nσ)

=1

π

(p − Bw +

n>0

(αn − Bβn)e−in(τ+σ) +∑

n>0

(αn − Bβn)ein(τ+σ))

=1

π

n∈Z

l1ne−in(τ+σ), com

l1n ≡ αn − Bβn, n 6= 0

l10 ≡ p − Bw

X1 − X ′1 =1

π

(p + Bw + (α−

n + Bβ+n )

n>0

cos nσ + i(α−n + Bβ−

n

)∑

n>0

sin nσ)

=1

π

(p + Bw +

n>0

(αn + Bβn)e−in(τ−σ) +∑

n>0

(αn + Bβn)ein(τ−σ))

=1

π

n∈Z

r1ne−in(τ−σ), com

r1n ≡ αn + Bβn, n 6= 0

r10 ≡ p + Bw

Analogamente,

X2 + X ′2 =1

π

n∈Z

l2ne−in(τ+σ), com

l2n ≡ βn + Bαn, n 6= 0

l20 ≡ w + Bp

X2 − X ′2 =1

π

n∈Z

r2ne−in(τ+σ), com

r2n ≡ βn − Bαn, n 6= 0

l20 ≡ w − Bp

X i ± X ′i =1

π

n∈Z

rine−in(τ−σ), com

rin = lin ≡ αi

n, n 6= 0

ri0 = li0 ≡ pi

Page 92: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

83

De modo que

LL0 = LR

0 =1

2π[(p ∓ Bw)2 + (w ± Bp)2 + pipi

+2∑

n>0

((α−n ∓ Bβ−n)(αn ∓ Bβn) + (β−n ± Bα−n)(βn ± Bαn) + αi

−nαin

)]

=1

2π[M(p2 + w2) + pipi + 2

n>0

M(α−nαn + β−nβn) + αi−nαi

n]

e do vınculo (B.13) obtemos

M2 = M(p2 + w2) +1

α′ (NB − 1), (B.32)

ondeNB ≡ 1π

p>0

M(α−n · αn + β−n · βn) + αi−nαi

n.

B.5 Sistemas duais

E facil ver que o espectro de massa do sistema dual proposto na secao 3.2.3 e igual a (B.32).

O unico objeto diferente – e que, portanto, poderia alterar o espectro – eX2B. Acontece que sua

contribuicao para a massa e sob a forma do quadrado da soma/diferenca de suas derivadas. Ora,

( ˙X2B ± X ′2

B)2 = (X2 ± X ′2)2.

Dada essa invariˆancia nos fatores que aparecem no c´alculo da massaM2, temos que a propria

massa e invariante.

Ja o caso do sistema da secao 3.2.4 e menos trivial. Para comecar, o v´ınculo (B.6) e modifi-

cado, tornando-se

gµν(Xµ±X ′µ)(Xν±X ′ν) = M(X1±X ′1)2+(X2

S±X ′2S)2−2B(X1±X ′1)(X2

S±X ′2S)+(X i±X ′i)2 = 0

Page 93: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

84

comi = 3, 4, ..., 25.

Lembrando a relacao (3.72), pode-se escrever a expressao acima em termos das coordenadas

“primais”:

M(X1 ± X ′1)2 +(B(X1 ± X ′1) − (X2

B ± X ′2B)

)2 − 2B(X1 ± X ′1)(B(X1 ± X ′1) − (X2

B ± X ′2B)

)

+(X i ± X ′i)2 =

M(X1 ± X ′1)2 +(B(X1 ± X ′1) ∓ (X2 ± X ′2)

)2 − 2B(X1 ± X ′1)(B(X1 ± X ′1) ∓ (X2 ± X ′2)

)

+(X i ± X ′i)2 =

(X1 ± X ′1)2 + (X2 ± X ′2)2 + (X i ± X ′i)2 = 0

Novamente, os fatores se igualam. Assim, conclui-se que tambem aqui o espectro e invari-

ante.

Note-se que essa invariancia no espcetro constatada para os sistemas duais vale tanto para

as cordas abertas quanto para as fechadas, porque n˜ao entramos no merito das expans˜oes.

Page 94: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

Apendice C

Conexoes entre simetrias da teoria e

simetrias do toro

Nosso interesse aqui e estabelecer uma correspondˆencia entre as simetrias da teoria (world-

sheet) e as simetrias do toro (target space).

Comecemos pelas cordas abertas num 2-toro livre (sembackground):

Este toro pode ser parametrizado no plano complexo por [31, 12]

τ ≡ iR1

R2

(C.1)

O espectro para essa teoria e

M2 =(( n1

R1

)2

+( n2

R2

)2)+ ... (C.2)

Uma simetria obvia deste espectro eR1 → R2, R2 → R1. Ou seja, uma teoria com raios

85

Page 95: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

86

de compactificacao paraX1 e X2 trocados e dual a essa. Outra dualidade existe quando se

invertem os raiosR1 eR2 (secao 3.2.5). Para ambas estas teorias duais, o parˆametro do toro e

τ = iR1

R2

= iR2

R1= −1

τ(C.3)

Acontece que toros definidos porτ e− 1τ

estao na mesma classe de equivalˆencia sob mapea-

mentos conformes, i.e., existe uma sequencia finita de transformacoes conformes que levam o

toro τ no toro− 1τ.

Tal correspondˆencia entre simetrias tambem se verifica para o caso com background. Para

ver isso, escrevamos o parametro complexo do toro em termos dos camposGµν, Bµ,ν (veja

Apendice C para a descricao com os raios na metrica):

τ ≡ −G12

G22+ i

√G

G22(C.4)

A parte real se anula para um toro retangular (ou, equivalentemente, paraG12 = 0). Repare

que esta expressao se reduz a (C.1) para o toro retangular.

Devido a presenca do campoB, outro parametro e necess´ario para se descrever completa-

mente o toro:

ρ ≡ B12 + i√

G (C.5)

As seguintes transformacoes formam um conjunto minimal de geradores do grupo de sime-

tria deste toro [12]:

S : ρ → ρ, τ → −1

τ(C.6)

T : ρ → ρ, τ → τ + 1 (C.7)

D2 : ρ → τ, τ → ρ (C.8)

W : ρ → −ρ, τ → τ (C.9)

Page 96: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

87

S corresponde a troca de raios;D2 e a transformacao dual definida na secao 3.2.4 (para ver

isso, basta substituir os campos transformados de (3.67) em (C.4) e (C.5));W corresponde a

transformacao de paridade da worldsheet,σ → −σ, que, cf. secao 2.1.1, trocaB → −B.

O que estamos vendo aqui e que simetrias da teoria (simetrias da worldsheet) tˆem paralelo

nas simetrias do toro (target space).

Page 97: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

Apendice D

Descricao da worldsheet comXi

adimensionais

Na acao

S =1

2

∫d2σ hαβgµν∂αXµ∂βXν, (D.1)

as coordenadasX i, i = 1, 2 possuem unidade de comprimento. Alternativamente, podemos

trabalhar com coordenadas angulares:

X i ≡ Riφi (D.2)

e transferir os raios para a metrica, ficando

S =1

2

∫d2σ hαβ

(α′Gij∂αφi∂βφj + gµν∂αXµ∂βXν

), (D.3)

com

Gij =

R21

α′ 0

0R2

2

α′

(D.4)

O fator 1α′ foi introduzido para manter a metrica adimensional.

Calculemos a area do toro formado pela compactificacao das coordenadasX1 eX2:

88

Page 98: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

89

Figura D.1: Toro reto.

A = (2πR1)(2πR2) =1

α′

√R2

1

α′R2

2

α′ =1

α′

√G (D.5)

Para coordenadas nao-ortogonais, temos

Figura D.2: Toro geral.

A = |−→u 1 ×−→u 2| = (2πR1)(2πR2) sin θ =1

α′

√R2

1

α′R2

2

α′ −R2

1

α′R2

2

α′ cos2 θ =1

α′

√G (D.6)

comG12 = R1R2

α′ cos θ.

Para o toro reto, a estrutura complexa geral,

τ ≡ −G12

G22+ i

√G

G22

torna-se imaginaria pura,

τ = i

√G

G22= i

√G11

G22= i

R1

R2.

Page 99: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

Conclusoes

Sobre o carater fısico da nao-comutatividade

Este trabalho se propos a investigar o comportamento da nao-comutatividade observada

num dado sistema sob uma simetria da teoria de cordas – a dualidade T. Desenvolveu-se em

minucias e de v´arias maneiras o calculo das relacoes de comutacao entre os camposXµ e P µ.

Viu-se que, ao se passar de uma D2-brana que embala um 2-toro com campo de fundo para

o seu equivalente dual – qual seja, uma D1-brana rosqueando um 2-toro sem campo –, a n˜ao-

comutatividade desaparece.

Tambem se observou um fenˆomeno curioso e inesperado sobre a n˜ao-comutatividade na

D2-brana: o valor do comutador entreX1 eX2 depende da orientacao da corda.

Dadas a equivalˆencia fısica entre um sistema comutativo e um n˜ao-comutativo, e o ele-

mento de arbitrariedade introduzido pela dependˆencia com a orientacao das cordas, e razo´avel

supor que o car´ater de comutacao dos campos relacionados as dimensoes compactas n˜ao tem

relevancia fısica, pelo menos n˜ao para as coordenadas transversais, do espaco nao-compacto.

Em outras palavras, comutadores como(X1(τ, σ), X2(τ, σ′)) nao constituem em si um ob-

servavel para o mundo efetivo, onde sao calculados o espectro e outras grandezas fısicas ob-

servaveis.

Em vez disso, esse sistema de relacoes de comutacao passa a ser encarado como parte de

umadescricaoda teoria, havendo outras descricoes possıveis. De fato, as relacoes de comutacao

90

Page 100: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

91

obtidas para a D2-brana com o campoB nao sao invariantes sob uma transformacao de calibre

Λ [21, 25], e [21] constr´oi um mapeamento entre teorias de calibre n˜ao-comutativas e uma

teoria de calibre comutativa modificada (onde h´a comutatividade, mas o produto dos campos e

redefinido).

Sobre a dualidade T

Outro aspecto do trabalho e que ele usa mais de uma receita para T-dualizar um sistema.

Uma delas leva em conta a transformacao do campoBµν e da metricaGµν. Para a outra, eles sao

meramente o palco em que atuam os camposXµ. Apesar de a primeira parecer ser mais rigorosa

e completa, ambas produzem, para efeito de interesse, os mesmos resultados. Na verdade,

pode-se conceber uma conex˜ao entre elas, e encar´a-las como descricoes diferentes da mesma

coisa: vemos que a coordenada dualX2S nao passa de uma rotacao deX2

B. Parece ent˜ao que

se pode concluir que a dualizacao dos camposGµν , Bµν corresponde a uma rotacao no eixo de

coordenadas dotoro dual. Podemos, com isso, conjeturar que todas as eventuais prescricoes que

levem o toro nao-comutativo ao toro dual sao equivalentes, produzindo os mesmos resultados

fisicamente significativos.

E nao sao so os comutadores que diferem entre as multiplas descricoes equivalentes de uma

classe de teorias: o mesmo ocorre com a estrutura de branas. Vimos que dualizar pode levar

um sistema Dp-brana +backgrounda uma D(p±1)-brana ou a um sistema Dp-brana + D(p-2)-

branas (que, inclusive, pode ser identificado com um sistema Dp-brana +background). A teoria

inteira, com sua hamiltoniana, seu espectro, seu tensor energia-momento etc, e n˜ao a estrutura

de brana, e que e invariante sob a dualidade T.

Sobre a correspondencia entre simetrias

Outra questao interessante e a conex˜ao entre a dualidade T e as simetrias do toro. Viu-se

Page 101: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

92

no Apendice C que dualizar a D2-brana no 2-toro de acordo com a prescricao da secao 3.2.4

corresponde a trocar os parametrosτ e ρ do toro. A dualidade T e uma simetriada teoria de

cordase a trocaτ ↔ ρ e uma simetriado toro. A esta altura, aprecia-se a possibilidade de a

todasimetria daworldsheetcorresponder uma simetria dotarget space. Isso daria a teoria de

cordas um sabor geometrico.

Page 102: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

Referencias

[1] F. Ardalan, H. Arfaei, M.M. Sheikh-Jabbari, “Noncommutative Geometry from Strings

and Branes”, JHEP 9902:016,1999. [e-Print: hep-th/9810072].

[2] F. Ardalan, H. Arfaei, M.M. Sheikh-Jabbari, “Dirac Quantization of Open Strings and

Noncommutativity in Branes”, Nucl.Phys.B576:578-596,2000. [e-Print: hep-th/9906161].

[3] G.Arfken, H. Weber, “Mathematical Methods for Physicists”, Academic Press, 2005.

[4] K. Becker, M. Becker, J. Schwarz, “String Theory and M-Theory”, Cambridge University

Press, 2007.

[5] N. Braga, C. Godinho, “Symplectic quantization of open strings and noncommutativity in

branes”, Phys.Rev.D65:085030,2002. [e-Print: hep-th/0110297].

[6] N. Braga, H. Carrion, C. Godinho,“Normal ordering and boundary conditions in open

bosonic strings”, J.Math.Phys.46:062302,2005. [e-Print: hep-th/0412075].

[7] C.-S.Chu, P.-M.Ho, “Constrained quantization of open string in background B field and

noncommutative D-brane”, Nucl.Phys.B568:447-456,2000, [e-Print: hep-th/9906192].

[8] C.-S.Chu, P.-M.Ho, “Non-commutative open string and D-brane”, Nucl.Phys.B550:151-

168,1999. [e-Print: hep-th/9812219].

[9] M. Douglas, C. Hull, “D-branes and the Noncommutative Torus”, JHEP 9802:008,1998.

[e-Print: hep-th/9711165].

93

Page 103: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

94

[10] M. Douglas, N. Nekrasov, “Noncommutative field theory”, Rev.Mod.Phys.73:977-

1029,2001. [e-Print: hep-th/0106048 ].

[11] L. Faddeev, L. Jackiw, “Hamiltonian Reduction of Unconstrained and Constrained Sys-

tems”, Phys.Rev.Lett.60:1692,1988.

[12] A. Giveon, M. Porrati, E. Rabinovici, “Target Space Duality in String Theory”,

Phys.Rept.244:77-202,1994. e-Print: hep-th/9401139].

[13] M. Green, J. Schwarz, E. Witten, “Superstring Theory: Volume 1, Introduction”, Cam-

bridge University Press, 1988.

[14] J. Jing, Z. Long, “Open string in the constant B-field background”, Phys.Rev.D 72,

126002, 2005.

[15] C. Johnson, “D-Branes”, Cambridge University Press, 2006.

[16] C. Johnson, “D-Brane Primer”, 2000. [e-Print: hep-th/0007170].

[17] E. Kiritsis, “String Theory in a Nutshell”, Princeton University Press, 2007.

[18] J.M. Maldacena, “The Large N limit of superconformal field theories and supergrav-

ity”, 1997, Adv.Theor.Math.Phys.2:231-252,1998, Int.J.Theor.Phys.38:1113-1133,1999.

[e-Print: hep-th/9711200].

[19] J. Maharana, S.S. Pal, “Noncommutative Open String, D-brane and Duality”,

Phys.Lett.B488:410-416,2000. [e-Print: hep-th/0005113].

[20] J. Polchinski. “String Theory Volume I”, Cambridge University Press, 1998.

[21] N. Seiberg, E. Witten, “String Theory and Noncommutative Geometry”, JHEP

9909:032,1999. [e-Print: hep-th/9908142].

[22] N. Seiberg, L. Susskind and N. Toumbas, “Space-time noncommutativity and causality”,

JHEP 0006:044,2000. [e-Print: hep-th/0005015 ].

Page 104: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

95

[23] M.M. Sheikh-Jabbari, A. Shirzad, “Boundary Condition as Dirac Constraints”, Eu-

r.Phys.J.C19:383,2001. [e-Print: hep-th/9907055].

[24] M.M. Sheikh-Jabbari, “Noncommutative Open String Theories and Their Dualities”,

2001, arXiv:hep-th/0101045v1.

[25] M.M. Sheikh-Jabbari, correspondˆencia pessoal.

[26] R. Szabo, “ Quantum Field Theory on Noncommutative Spaces”, Phys.Rept. 378 (2003)

207-299, arXiv:hep-th/0109162v4.

[27] W. Taylor, “D-brane field theory on compact spaces”, Phys.Lett.B394:283-287,1997. [e-

Print: hep-th/9611042].

[28] W. Taylor, “Lectures on D-branes, Gauge Theory and M(atrices)”, [e-Print: hep-

th/9801182].

[29] E. Weisstein, ”Delta Function” from MathWorld – A Wolfram Web Resource.

http://mathworld.wolfram.com/DeltaFunction.html

[30] Wikipedia, http://en.wikipedia.org/wiki/Stringtheory#citenote-26

[31] B. Zwiebach, “A First Course in String Theory”, Cambridge University Press, 2004.

Outras referencias

[32] A. Abouelsaood, C.G. Callan, C.R. Nappi et al, “Open Strings in Background gauge Field-

s”, Nucl.Phys.B280:599,1987.

[33] D. Bigatti, L. Susskind, “Magnetic Fields, Branes and Noncommutative Geometry”, it

Phys. Rev. D62 (2000) 066004, hep-th/9908056.

Page 105: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

96

[34] N. Braga, C. Godinho, “Fermionic anticommutators for open superstrings in the presence

of antisymmetric tensor field”, Phys.Lett.B570:111-117,2003. [e-Print: hep-th/0306163].

[35] T.H. Buscher, “Path-Integral Derivation of Quantum Duality in Nonlinear Sigma-Models”,

Phys.Lett.B201:466-472,1988.

[36] A. Connes, M. Douglas, A. Schwarz, “Noncommutative geometry and matrix theory:

Compactification on tori”, JHEP 9802:003,1998. [e-Print: hep-th/9711162].

[37] O.J. Ganor, G. Rajesh, S. Sethi, “Duality and Noncommutative Gauge Theory”, hep-

th/0005046.

[38] R. Gopakumar, J.M. Maldacena, S. Minwalla and A. Strominger, “S-Duality and Non-

commutative Gauge Theory”, hep-th/0005048.

[39] M.R. Douglas, “Superstring dualities, Dirichlet branes and the small scale structure of

space”, 1996, arXiv: hep-th/9610041.

[40] A. Gonzalez-Arroyo, C.P. Korthals Altes, “Reduced Model For Large N Continuum Field

Theories”, Phys.Lett.B131:396,1983.

[41] W.L. He, L. Zha, “The Origin of noncommutativity?”, Phys.Lett.B532:345-349, 2002,

[e-Print: hep-th/0111041].

[42] J.Jing, Z.W. Long, “Faddeev-Jackiw approach to the noncommutativity”,

Phys.Lett.B560:128-132,2003.

[43] J. Jing, Z.W. Long, L.J. Tian, S. Jin., “Symplectic quantization of open strings in constant

background B-field”, Eur.Phys.J.C29:447-451,2003.

[44] T. Lee, “Canonical quantization of open string and noncommutative geometry”,

Phys.Rev.D62:024022, 2000. [e-Print: hep-th/9911140].

[45] B. Pioline, A. Schwarz, “Morita equivalence and T duality (or B versus Theta)”, JHEP

9908:021,1999. [e-Print: hep-th/9908019].

Page 106: Não comutatividade e dualidade t em cordas bosônicas

97

[46] J. G. Russo, M. M. Sheikh-Jabbari, “On Noncommutative Open String Theories”, JHEP

0007 (2000) 052, hep-th/0006202.

[47] A. Schwarz, “Morita equivalence and duality”, Nucl.Phys.B534:720-738,1998. [e-Print:

hep-th/9805034].

[48] A. Schwarz, “Superstring dualities”, 1996, Nucl.Phys.Proc.Suppl., 49, 183. [e-Print: hep-

th/9509148].

[49] N. Seiberg, L. Susskind and N. Toumbas, “String in Background Electric Field, S-

pace/Time Noncommutativity and a New Non-critical String Theory” , hep-th/0005040.

[50] M.M. Sheikh Jabbari, “Superstring Noncommutative string and field theories, a review of

the status”, Nucl.Phys.Proc.Suppl.108:113-117,2002.

[51] H. Snyder, “Quantized space-time”, Phys.Rev.71:38-41,1947.

[52] G.’t Hooft, “A Planar Diagram Theory for Strong Interactions”, Nucl.Phys.B72:461,1974.