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ESTUDOS/ÉTUDES 3 n° 28 - décembre 2006 L A T I T U D E S Nação, Identidade e Unidade Nacional em Angola Conceitos, Preceitos e Preconceitos do Nacionalismo Angolano Manuel Jorge* Introdução O nacionalismo é a expressão da luta de uma nação para obter o reconhecimento da sua Identidade Nacional, o que supõe a existência de um substracto cultural comum, a afirmação de valores e interesses gerais, em detrimento dos interes- ses particulares. Em Angola o nacio- nalismo encontra-se enfraquecido por causa do relaxamento do espí- rito de Nação. E a luta pela etno- cracia, que veio substituir a luta pela democracia, ameaça a unidade do Estado angolano e a existência de Angola como nação independente. As autoridades portuguesas declararam sempre que a sua prin- cipal preocupação era a assimila- ção do homem africano. Mas, durante muito tempo, se excluir- mos o esforço efectuado pelas esco- las missionárias, os africanos foram deixados, na sua maioria, na igno- rância. O Acto Colonial de 1930, que reformulou a terminologia oficial, chamando de novo colónias, o que até ali tinha o nome de Províncias de Ultramar, propunha- se, como objectivo essencial, fazer participar os africanos à comuni- dade cultural portuguesa. É sobre- tudo a partir desse momento que a dupla realidade cultural angolana vai tomar forma. Ao lado da reali- dade cultural africana, vai criar-se uma cultura europeia que será, pouco a pouco, dominante. A realidade cultural africana está enraizada na realidade geográfica mesma de Angola. Mas ela é dife- rente das outras realidades culturais existentes em África e aparece assim como o ponto de partida para a formação de uma estrutura civiliza- cional de um tipo novo. Durante muito tempo o colonialismo portu- Luanda - Photo Michel Pérez

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3n° 28 - décembre 2006 LATITUDES

Nação, Identidade eUnidade Nacional em

AngolaConceitos, Preceitos e Preconceitos do

Nacionalismo Angolano

Manuel Jorge*

Introdução

O nacionalismo é a expressãoda luta de uma nação para obter oreconhecimento da sua IdentidadeNacional, o que supõe a existênciade um substracto cultural comum, aafirmação de valores e interessesgerais, em detrimento dos interes-ses particulares. Em Angola o nacio-nalismo encontra-se enfraquecidopor causa do relaxamento do espí-rito de Nação. E a luta pela etno-cracia, que veio substituir a luta pelademocracia, ameaça a unidade doEstado angolano e a existência deAngola como nação independente.

As autoridades portuguesasdeclararam sempre que a sua prin-cipal preocupação era a assimila-

ção do homem africano. Mas,durante muito tempo, se excluir-mos o esforço efectuado pelas esco-las missionárias, os africanos foram

deixados, na sua maioria, na igno-rância. O Acto Colonial de 1930,que reformulou a terminologiaoficial, chamando de novo colónias,o que até ali tinha o nome deProvíncias de Ultramar, propunha-se, como objectivo essencial, fazerparticipar os africanos à comuni-dade cultural portuguesa. É sobre-tudo a partir desse momento que adupla realidade cultural angolanavai tomar forma. Ao lado da reali-dade cultural africana, vai criar-seuma cultura europeia que será,pouco a pouco, dominante.

A realidade cultural africana estáenraizada na realidade geográficamesma de Angola. Mas ela é dife-rente das outras realidades culturaisexistentes em África e aparece assimcomo o ponto de partida para aformação de uma estrutura civiliza-cional de um tipo novo. Durantemuito tempo o colonialismo portu-

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pacífica do projecto cultural docolonialismo português, dentre osquais, Assis Júnior, no início doséculo, será o principal represen-tante, e vão radicalizar, cada vezmais, as suas reivindicações cultu-rais.

Os fundamentos

Quando, nos anos 1940, osjovens intelectuais angolanoslançam a palavra de ordem: “Vamosdescobrir Angola”, as premissasestão criadas para a passagem daresistência cultural não armada àresistência cultural armada. Comefeito, é esta geração de jovensescritores que nos finais dos anos1950, constando o impasse a queconduz a resistência não armada,não se contenta já a partir “à desco-berta de Angola”. Como as portasestavam sistematicamente fechadaspelo colonizador português, estesjovens decidem abrir uma brechapela força.

A geração de Viriato da Cruz,Agostinho Neto, Mário de Andrade,António Jacinto e tantos outros éuma geração de literatos empurra-dos para a política, em virtude daforça de inércia do colonialismoportuguês. Aliás, são esses mesmosliteratos que, em várias ocasiões,nos lembrarão esse facto. Para eles,a luta armada de libertação nacio-nal é um facto cultural, senão uminstrumento de cultura. O idealismodessa geração condu-los a conce-ber o nascimento do homem novo,fruto da nova cultura.

Para os líderes do Movimentopela Independência, a cultura é avida mesma do povo, porque, emúltima análise, a nação se alimentacom a sua própria cultura. A resis-tência cultural revela-se, aos membrosda sociedade dominada, como oúnico reduto em que foram encur-ralados. A identidade cultural apre-senta-se, assim, no seu aspectoactivo, quer dizer, como elementoprincipal da identidade nacional.

A angolanidade

Não é, aliás, por acaso que umcerto número de autores tentaram

definir a angolanidade “como umfacto simultaneamente político ecultural”. Os contornos da angola-nidade foram definidos ao longodos tempos por camadas sucessi-vas. A angolanidade já não é hoje(mas foi-o porventura alguma vez?)o que Costa Andrade entendia poreste conceito: “Um processo histó-rico que tem as suas raízes na negri-tude”, dizia ele. A angolanidademudou de natureza e, sobretudo, defundamento. A angolanidade foitecida pela acção conjugada de trêsfactores: a realidade geográfica, aestrutura social e a organização polí-tica. É este último factor que pareceser determinante no processo deevolução da angolanidade.

O esforço feito pela classe inte-lectual angolana, no sentido da afir-mação do facto cultural africanoencontrou dois obstáculos: a faltade instrumentos e a falta de umquadro autónomo de e para a suaexpressão. É que a colonizaçãoportuguesa impunha um limiteduplo a todos aqueles que preten-diam representar os valores locais:não somente a língua utilizada deviaser a do colonizador, mas também,e sobretudo, o pensamentoexpresso devia estar em sintoniacom os princípios da colonizaçãoportuguesa.

Um desses princípios foi enun-ciado por Ernesto de Vilhena nostermos seguintes: “O negro, para sepoder aperfeiçoar e melhorar ascondições materiais e morais da suavida, deverá abandonar uma grandeparte do que constituía a suaprópria cultura, e adoptar os valo-res da nossa civilização, adaptando-se, nos seus limites, a certas funçõese obrigações, com o fim de demons-trar a sua aptidão e a sua capaci-dade, e mostrar que tais valorespodem ser necessários e profícuospara o progresso geral da comuni-dade de que fará parte, a partir deagora.”

Nesse processo a escola portu-guesa vai desempenhar um papelimportante, senão principal. Mas ofluxo cultural não se fará em sentidoúnico. Sob a influência do meioambiente, produzir-se-á uma inter-acção entre a cultura local e acultura europeia dominante.

guês negou a realidade dessacultura. Mas essa sempre resistiu eestá hoje em expansão. O pensa-mento dos colonialistas em Angolafoi um dos mais redutores. Aomesmo tempo que na esfera econó-mica procurava-se reduzir o homemafricano ao simples papel de produ-tor de mercadorias, de que o colo-nialismo tinha necessidade, naesfera social, ele reduzia o africanoao simples papel de sujeito, nosentido de submetido. Na esferacultural, a ambição do colonialismo,várias vezes repetida, era a de redu-zir o africano ao simples papel deportador de valores europeus.

É verdade que não podemosnegar que a coexistência no mesmoterritório de europeus e africanosimplica uma interacção que se faz,independentemente dos pontos devista das sociedades em presença.Mas não é sob este ângulo que aquestão deve ser analisada. Trata-se, aqui, de saber se a interacçãoimplica, obrigatoriamente, a exclu-são de uma das culturas emcontacto. A resposta é, necessaria-mente, negativa. Porque, se aindanão fosse, já não haveria interac-ção. Ora, sob a influência do colo-nialismo português, desenvolveu-seuma tendência, mesmo entre osintelectuais de origem angolana, anegar a possibilidade e a realidadeexpressiva das culturas negro-afri-canas, cada vez que estas não seregulassem pelos valores culturaiseuropeus.

A realidade social impunha, noentanto, a realização dos princípiosexpressos por aqueles que se recla-mavam da tradição humanista ecristã na colonização. A resistênciacultural vai partir dos beneficiáriosdestas ilhas de tolerância. Desde asegunda metade do século XIX,jornalistas, no início (Paixão Francoe Pereira do Nascimento, sobre-tudo) e escritores, em seguida,tomam a decisão de exprimir o seuapego aos valores sócio-culturaisafricanos, ao mesmo tempo quedenunciam o carácter obscurantistada política de assimilação praticadapelos portugueses.

As sementes estavam lançadas!As gerações, no século XX, vãoprosseguir a obra de contestação

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Dois dos elementos do métodode colonização português devemser postos em relevo, em virtudedo papel que desempenham: porum lado, a língua, por outro, ainstrução. A língua, segundo A. SilvaRego, é um elemento tão impor-tante na colonização que ela éposta, em segundo lugar, depois dareligião. “A língua da metrópoleportuguesa, diz ele, foi o veículode expressão de todos estes milhõesde seres humanos empenhados naobra comum, para a grandeza daPátria comum... E o resultado foimaravilhoso.”

A assimilação

Mas, no seu esforço para a assi-milação dos espíritos é a escolaportuguesa que vai desempenhar opapel principal. Era preciso criarelites locais, que serviriam de pilarà política colonial. Mas os proble-mas suscitados pelo sistema educa-tivo eram graves. Para evitar essesproblemas, o regime de Salazar, queresultou do golpe de Estado de1926, apoiando-se na distinçãoentre indígenas e civilizados, criouum sistema de educação com doisdegraus: um para portugueses eassimilados e outro para indígenas.

Enquanto o primeiro seguia oregime em vigor na metrópole, osegundo limitava-se a dispensar umensino rudimentar, cujo fim essen-cial era ensinar os seus destinatá-rios a falar, ler e escrever a línguaportuguesa. Um tal sistema nãopodia deixar de ter repercussõessobre os outros níveis de ensino e,sobretudo, sobre o ensino superior.

Foi preciso esperar os meadosdos anos 1960 para que, sob ainfluência da política conduzidapelo angolano Pinheiro da Silva,então Secretário de Estado daEducação em Angola, se constateum acréscimo importante da popu-lação angolana escolarizada. Oprogresso do sistema de ensinoangolano é, então, tão importanteque o facto é assinalado naimprensa estrangeira.

Tendo acedido à cultura portu-guesa através da instrução, o ango-lano encontra-se face a um dilema

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cultural: politicamente, ele é umassimilado aos portugueses, masdeverá ele, também, ser cultural-mente português? A solução dodilema depende de factores depen-dentes e independentes da vontadedos indivíduos. Sob o efeito da inter-acção das culturas, a língua portu-guesa africanizou-se e o homemeuropeu também se angolanizou.

Veículo da cultura portuguesa einstrumento de dominação, a línguaportuguesa não sai vencedora nocombate que lhe impõe o meioambiente africano, que resiste aosseus assaltos.

Silva Rego exprime esse factocom elegância e cortesia: “A línguanacional, adaptando-se a todas aslatitudes, tomou novas ressonân-cias, vergou-se a quase todas asexigências, perdeu consoantes,abriu vogais, imitou novos sons,empobreceu, enriqueceu... para obem da humanidade.”

O exemplo da transformação dalíngua portuguesa no Brasil vairepetir-se em Angola, porque, comodiz Viriato da Cruz, “os colonizado-res portugueses não negam a exis-tência de uma cultura negra; o queeles negam, através de uma argu-

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lhada de povos, de raças, de cultu-ras e de ideais, Angola é um paísprojectado para o futuro.

A Nação

E a primeira tarefa a realizar eraa edificação do principal pilar doEstado, quer dizer, unir a Nação.Para atingir tal objectivo, nenhummétodo é exclusivo ou definitivo.Mas, no caso particular de Angola,tendo em conta a complexidade datarefa, duas direcções parecemessenciais: a redefinição dos contor-nos da Nação e o reconhecimentodo direito à diferença de todas assuas componentes.

Os contornos da Nação ango-lana, em construção, eram, quandoAngola acedeu à independência,mais vastos do que os que existemactualmente. No domínio racial,compreendia todos aqueles que,pelo sangue, pelo nascimento oupelo trabalho, tinham laços com oterritório angolano e desejavammantê-los. Fazia parte desseconjunto a quase totalidade dosnegros, mas também a quase totali-dade dos mestiços e uma grandeparte dos brancos, que tinham como território angolano laços profun-dos, que não eram somente senti-mentais. Ignorar esse facto nãopode senão tornar definitiva a divi-são da Nação angolana e contribuirassim para o seu enfraquecimento.

Nação e diversidade étnica

No domínio étnico, trata-se dereconhecer o direito à diferença, àsdiferentes componentes da Nação.A ideia central que comanda talacção é o postulado seguinte: osmembros da nação são, simultanea-mente, iguais e diferentes. Se elessão iguais perante a lei, eles sãodiferentes quanto às origens, àsculturas e às psicologias. É, pois,necessário reconhecer a diversidadeétnica da Nação e, sobretudo, afir-mar o princípio segundo o qual nãoexiste, no território angolano, umaetnia dominante.

É que a Nação enriquece-se comas suas próprias contradições e,com o esforço feito, para resolvê-las de maneira justa e apropriada.Onde não há contradição, não háevolução. Com efeito, a luta delibertação nacional é, também, umaluta pela identidade nacional. Asoberania não é, no fundo, senão oresultado do esforço feito por umacomunidade, que decide de a utili-zar, para melhor afirmar a sua exis-tência e a sua originalidade.

Na luta contra a opressão colo-nial, essa afirmação da personali-dade nacional supõe, entre outrascoisas, a libertação cultural. É arazão pela qual Mário de Andrade,falando de Angola, revela que: “...a questão cultural sempre estevearticulada nas diferentes fases donacionalismo.”

Não se trata aqui, aliás, de umaquestão particular das sociedadesdependentes. Max Weber, por exem-plo, fazia da cultura o fim e o funda-mento de toda a política de potência.

Em África, o problema da afir-mação da identidade nacional conti-nua na ordem do dia dos debatesentre intelectuais e homens políti-cos. As questões debatidas conti-nuam a ser, com algumas nuances,as que foram levantadas por Máriode Andrade, desde 1962: “Comoassegurar o renascimento culturaldos países anteriormente coloniza-dos? Que espaço deverá ser reser-vado à tradição ? Como elaboraruma cultura africana original, quetenha em conta, ao mesmo tempo,a tradição a as aquisições da civili-zação moderna?”

mentação que eles intitulam decientífica e definitiva, e mesmo nosactos - o que é mais importante - éque tais culturas possam servir debase a verdadeiras e novas civiliza-ções.” Este processo de transforma-ção linguística, que se desenvolvepela força das coisas, tem quevencer a oposição dos puristas que,em nome da superioridade dalíngua portuguesa recusam todo oefeito à interacção.

Mas não é somente a língua quesucumbe às exigências do meioambiente. O próprio homem nãopode resistir à atracção da terra edas gentes. Enraizado na terra e nacultura angolanas, o homem euro-peu, que se instalou em Angola,muitas vezes sem esperança deretorno, e mesmo sem nunca terpensado abandonar essa terra, ondenasceu, é um homem cada vezmenos europeu. António Jacinto,Luandino Vieira, António Cardoso etantos outros são os testemunhosda força e do valor da angolani-dade, enquanto expressão da iden-tidade nacional.

Mas, como diz Viriato da Cruz,“O intelectual colonizado, maiscedo ou mais tarde, dar-se-á contade que não se prova a sua Nação apartir da cultura. A Nação prova-seno combate que o povo trava contraas forças de ocupação.” Era precisopreparar o futuro de Angola. E,nesse combate, o papel dos intelec-tuais foi fundamental. País encruzi-

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Juventude na Escola

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Em Angola, os nacionalistastentaram responder a tais questõesnuma proclamação adoptada em1975 pela União dos EscritoresAngolanos. Constatava-se nessedocumento: “1°) a necessidade e aurgência de defender a dignidade ea especificidade cultural do homemangolano e salvaguardar, especial-mente, as suas tradições culturais,historicamente perspectivadas egarantidas, por séculos de resistên-cia popular, assim como as conquis-tas culturais obtidas ao longo daluta pela independência nacional;2°) a necessidade e a urgência deactivar, a partir dessas tradições econquistas, o inventário cultural dopaís, no contexto particular dorenascimento cultural africano,como contribuição original para ummundo verdadeiramente livre.”

Tratava-se, no fundo, de umaincitação à pesquisa dos elementossusceptíveis de permitir a constru-ção da angolanidade, com vista àsua integração na africanidade. Éque a presença portuguesa deixoutraços profundos na terra, nas coisase nas gentes. Do ponto de vistahumano, a assimilação foi a armaessencial utilizada para a “conquistadas almas.”

Os nacionalistas angolanos, nasua luta para estabelecer uma enti-dade estadual no solo angolano,contestaram essa política, tantocomo princípio quanto comométodo. E a razão principal residiano facto que, segundo o movimentopela independência de Angola, oquadro político colonial não eraapto para satisfazer a necessidadeque se fazia sentir de um desabro-char da cultura angolana.

Em última análise, o que os nacio-nalistas angolanos procuravam eraum bilhete de identidade para oEstado angolano em vias de constru-ção, de maneira a poder fazê-lo valer,tanto no interior como no exterior doterritório. Segundo Mário de Andrade,as questões que se punham aosnacionalistas eram as seguintes:“Rejeição definitiva do substractonegro-africano? Diluição na culturadominante? Aceitação da pseudo-condição de mestiço cultural?”

Essas interrogações marcaramtoda a reflexão dos nacionalistas

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sobre a cultura angolana. As respos-tas que foram dadas estão longe deser unânimes. A razão principalreside no facto que, aqueles queprocuraram definir a angolanidade,esqueceram, muitas vezes, os seuselementos constitutivos.

Os factores de unidade

A angolanidade é um dos múlti-plos neologismos que os naciona-listas angolanos forjaram, nodecurso da luta de libertação.Criado, talvez, por AlfredoMargarido, em 1960-61, o termoaparece pela primeira vez numartigo de Fernando Costa Andrade,que dá desse conceito a definiçãoseguinte: “É preciso entender-se porAngolanidade não somente a negri-tude, mas também a perspectiva dohomem-novo que Frantz Fanonmenciona como sendo indispensá-vel para um diálogo efectivo entreos homens de África e dos outroscontinentes”.

Essa definição, elaborada sob apressão dos acontecimentos polí-tico-militares, que se desenrolavamem Angola, não aparece apta paradescrever a realidade cultural ango-lana. Ela não toma em considera-ção a historicidade do fenómenocultural angolano. É Agostinho Netoque nos lembra essa historicidadequando declara: “O povo e o meioambiente foram, aqui em Angola,marcados pelo ferro da escravatura,

e a colonização marcará, durantemuito tempo ainda, a vida do nossopovo angolano.”

Não é, pois, na negritude que sedeve procurar as raízes da culturaangolana. Proceder dessa maneiraseria negar o efeito de aculturaçãoque resultou da colonização. Ofenómeno cultural angolano deveser estudado como um fenómeno

social total, e não como o simplesresultado de um contacto de cultu-

ras. Devemos, infelizmente, consta-tar que o próprio Agostinho Netotambém caiu no erro de uma abor-dagem culturalista do fenómenosocial angolano. “A cultura ango-lana, diz ele, está constituída, hoje,por partes que vão das áreas urba-nas assimiladas até às áreas ruraisapenas influenciadas pela assimila-ção cultural europeia”. É esqueceros critérios da aculturação, namedida em que ele reduz essa acul-turação à sua forma forçada,enquanto ela também pode serespontânea, natural, livre ou mesmocontrolada.

Talvez seja a definição de AlfredoMargarido a que mais se aproximedaquilo que é, verdadeiramente, aangolanidade; quer dizer “a substân-cia nacional angolana”. Essa noçãopermite re-situar a problemáticacultural angolana na sua historici-dade, porque mostra que: “Angolatem uma característica culturalprópria, que resulta da sua históriaou das suas histórias”, para retomaruma expressão de Agostinho Neto.

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lidade é a do homem angolano, emluta contra os processos erosivosda alienação”.

Não se pode deixar de constatarque todo este esforço de constru-ção da angolanidade se faz emabstracto. Ela não tem assentonenhum na realidade, que elaignora, para se refugiar nas núvensfungíveis da filosofia. Mas, mesmonesse terreno a opção não pareceadaptada.

Sabemos quanto a negritude,enquanto afirmação do facto cultu-ral africano, está hoje contestada.Do mesmo modo, o “retorno àsorigens” ou à busca da autentici-dade encontram hoje tais dificulda-des, que vão sendo, pouco a pouco,abandonados como conceitos.

A angolanidade deve construir-se a partir dos elementos concretosem que se manifesta, não como umesforço de negação de uma reali-dade cultural imposta, mas comoum esforço de afirmação de umarealidade cultural nova, que nasceudo cruzamento de civilizações. Sóuma abordagem desse tipo podepermitir-nos ligar o cultural e osocial, porque, diz Roger Bastide,“...essas duas séries de factos nãose podem separar e estão em rela-ção dialéctica estreita: a integraçãoconduz à assimilação; a competiçãoimplica uma contra-aculturação. Osfenómenos de contactos culturaisestão ligados às relações raciais econdicionados por elas”.

O problema da angolanidadeultrapassa, pois, o quadro restritoda pesquisa sobre a noção, paraatingir o próprio conteúdo. A ques-tão já não é tanto a de saber o quese deve rejeitar, mas a de reunirtodos os elementos susceptíveis departicipar na construção da angola-nidade. Se procurássemos respon-der às questões tal como as põeMário de Andrade encontrar-nos-íamos diante de um vazio. É que,tais questões, não parecem correc-tamente formuladas. É verdade, eeste factor é importante, que taisquestões foram elaboradas no fogodo combate pela independêncianacional. Não podemos, nem deve-mos, ignorar esse facto. Mas, sejacomo for, é importante constatarque a angolanidade não se constrói

pela rejeição do substracto negro-africano, nem pela diluição numaqualquer cultura dominante e, aindamenos, pela aceitação da “pseudo-condição de mestiço cultural”.

A angolanidade constrói-se comtudo aquilo que a História legou aopovo angolano: o substracto negro-africano e os elementos da culturadominante que, ao longo dos sécu-los, penetraram até ao fundo doinconsciente popular. Será que essaconcepção conduz à aceitação dacondição de mestiço cultural?Absolutamente, não! É que essaconcepção é a única que sejaconforme à realidade. Ela parte doprincípio que não há cultura pura,como não há raça pura. E é por issoque devemos assumir, plena e intei-ramente, a realidade histórica queforjou Angola e a sua cultura.

Os preconceitos

A análise dos elementos constitu-tivos da cultura angolana mostra queessa concepção é conforme à reali-dade. Tomemos, por exemplo, doiselementos: o elemento linguístico eo elemento psicológico. No domíniolinguístico, a língua portuguesa foiadoptada como língua oficial dopaís. Mas os nacionalistas parecemlamentar essa opção e pronunciam-se por um combate contra a línguado colonizador. É o próprioAgostinho Neto que se exprime nostermos seguintes: “... o uso exclu-sivo da língua portuguesa, comolíngua oficial, veicular e utilizável,actualmente, na nossa literatura nãoresolve os nossos problemas”.

Língua e linguagens

É verdade que os portuguesesprocuraram impor a língua portu-guesa em todos os degraus daconstrução social angolana. Eles nãohesitaram em tentar a utilização demétodos conducentes à destruiçãodas línguas indígenas, como elesdiziam. Mas, nesse combate, comarmas desiguais, o projecto portu-guês nem sempre saiu vencedor.Restará, certamente, a ilusão de umavitória. Mas somente a ilusão!

O que é verdade é que a noçãode angolanidade foi obscurecidacom o tempo e parece, por vezes,imprecisa na sua formulação ouinexacta no seu conteúdo, porqueé uma noção evolutiva. Aqueles queprocuraram esclarecê-la não toma-ram em conta os factores da suaevolução. Com efeito a angolani-dade tem dois fundamentos: umpolítico e outro cultural.

No domínio político, a angolani-dade aparece como um instrumentonecessário, senão indispensável,para a criação e a afirmação da iden-tidade nacional em construção. Nofundo esse fundamento é a conse-quência lógica da reflexão e dainfluência que Frantz Fanon exerceuna luta pela independência: “Nóspensamos que a luta organizada econsciente empreendida por umpovo colonizado para restabelecer asoberania da Nação constitui a maiormanifestação cultural possível”, diziaele, desde 1959.

Mas esse fundamento políticovai sempre acompanhado com umfundamento cultural, que lhe dá asua dimensão real. É que a angola-nidade serve de revelador aosalicerces da cultura autónoma daNação angolana em formação.Mário de Andrade apresenta essaproblemática da seguinte maneira:“No caso dos portugueses, a assimi-lação sempre se traduziu, na prática,pela destruição dos quadros negro-africanos e a criação de uma elitequantitativamente reduzida. Elaapresenta-se como a receita mágicaque conduziria o indígena dastrevas da ignorância até à luz dosaber. Uma forma de passagem donão-ser ao ser cultural, para utilizara linguagem hegeliana’.

Para sair do impasse ao qualconduz tal política, os nacionalistasangolanos propõem um estudoaprofundado “...das questões queadvêm das culturas das diferentesnações angolanas, hoje confundi-das numa só, e dos efeitos da acul-turação, dado o contacto com acultura europeia”. Em suma, a estra-tégia proposta visa, ao mesmotempo, “um retorno às origens”, euma rejeição da contribuição estran-geira porque, como diz CostaAndrade: “a perspectiva da angona-

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Porque, se a língua portuguesa foiintroduzida como língua oficial emAngola, ela será, como diz AlfredoMargarido, “...influenciada pelalíngua autóctone e determinará acriação - não do que se chama oportuguês do colonizador - mas deuma forma híbrida, mais negra doque portuguesa”.

O colonizador, para melhor sefazer compreender, acaba por adop-tar um meio de expressão imposto,indirectamente, pelo colonizado. Ouso dessa nova língua é muitocorrente e, mesmo na obra de certospoetas que melhor conhecem oportuguês, encontramos deforma-ções muito características: MárioAntónio, António Jacinto.

Aqueles que conduzem umcombate contra a língua portuguesaignoram, portanto, completamenteo processo de “invenção da línguaangolana”. O mesmo processo já sedesenrolou no Brasil. AlfredoMargarido explica assim essa inven-ção da língua: “...a relação entre alíngua do colonizador e a língua docolonizado é precária. Mais ainda:verifica-se que os africanos, apesarda sua presença prolongada juntodo colonizador, não aprendem oportuguês. Eles aprendem umalíngua intermédia, que lhes permitesomente uma identificação superfi-cial.”

Haverá uma rejeição do subs-tracto negro-africano no processode invenção da língua angolana? Aresposta, como podemos verificar,só pode ser negativa. E também éevidente que não há diluição nacultura dominante. A língua ango-lana é o produto da história comumde duas civilizações, que fizerammais do que coexistir (porque doispovos podem coexistir, mesmopacificamente, e, no entanto, odiar-se profundamente). A língua ango-lana é o produto da história de doispovos que viveram juntos, duranteséculos.

Ao utilizar a língua portuguesa, ointelectual angolano também nãoaceita a “pseudo-condição demestiço cultural”. Para compreendero sentido e o alcance dessa afirma-ção, voltemos a Alfredo Margarido.Para este autor, a língua portuguesanão é a língua do intelectual ango-

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lano. “Ele serve-se somente dela,porque o colonizador lhe permite,por um lado, e o obriga, por outro(na verdade tal obrigação não énunca total; as deformações fonéti-cas começam, desde que o coloni-zado é forçado a utilizar a língua docolonizador). Assim, se a palavra nãoo distancia dos problemas humanose permite-lhe entrever uma soluçãopara tais problemas, também o forçaa exprimir em português as particu-laridades da sua posição de negrocolonizado, cuja cultura tradicionaltem as suas raízes no Kimbundu.”

Se se tiver em conta o facto deque esse extracto foi tirado de umartigo sobre a poesia de AgostinhoNeto, não é difícil concluir-se que alíngua angolana, quer dizer, oportuguês falado em Angola, é umelemento importante da construçãoda angolanidade. Num país em quea diversidade linguística é uma fontede instabilidade e de confrontaçõesentre as diversas etnias, a existên-cia de uma língua comum, supra-étnica, aparece como um elementode aglutinação da Nação. Essalíngua é o português falado emAngola, nascido, não de uma defor-mação do português, mas de uma“...reinvenção da língua, que pareceprovar a grande vitalidade do portu-guês, mas também a necessidadeangolana de abandonar o espaçode glotofagia, para utilizar umaexpressão em voga, actualmente.

Depois de ter, assim, delimitadoo elemento linguístico da angolani-dade, resta-nos a delimitar oelemento psicológico. É que, naverdade, como diz Roger Bastide,“...a dialéctica que intervém noscruzamentos de civilizações dife-rentes deve ser destacada de toda apostulação filosófica e ficar pura-mente empírica: ela põe-nos empresença de um duplo movimento,que vai das supra-estruturas à infra-estrutura e vice-versa, que produztoda uma série de reacções emcadeia, ou dos valores que mudamaté ao nível ecológico, ou das estru-turas que se modificam e transfor-mam os valores, as normas e ossímbolos.”

O elemento psicológico daangolanidade não será tratado aqui,nem em toda a sua complexidade,

nem na totalidade. O nosso objec-tivo é, simplesmente, de mostrarcomo o mundo dos valores e dossímbolos, por um lado, e as expres-sões da vontade do povo, por outrolado, apesar de sofrerem os efeitosda civilização europeia, não perde-ram em nada a sua especificidade.

Culturas e vivências

Aquilo a que se chama, porexemplo, a mentalidade angolana,quer dizer, o conjunto das maneirasde viver, de sentir e de pensar,próprios ao povo angolano, foramfortemente influenciados pelocontacto directo ou indirecto com acivilização europeia. A contribuiçãotecnológica desta última e as suastécnicas comerciais e culturaismarcaram profundamente as trans-formações das formas de expressãoda mentalidade angolana.

Essa realidade foi constatada porAgostinho Neto nos termos seguin-tes: “... no contexto angolano, aexpressão cultural resulta, senão decópia -por enquanto - pelo menosdo resultado duma aculturaçãosecular, que pretende reflectir aevolução material do povo que, deindependente, tornou-se submissoe completamente dependente paratornar-se de novo independente,em novas condições.”

É verdade, sim, que a culturaangolana, a nova cultura angolanaé aquela que foi construída pelahistória, e o realismo exige queassumamos a história. É o próprioAgostinho Neto que nos indica essavia. Escutemo-lo: “A cultura evoluicom as condições materiais e a cadaetapa corresponde uma forma deexpressão e de concretização deactos culturais.”

Os estudos dos etnólogos sobreAngola mostram bem que, apesarda influência portuguesa, a socie-dade angolana não se dissolveu noscânones e valores propostos pelacultura dominante. Ela adaptou-see produziu um novo sistema devalores e de normas, que consti-tuem os elementos, não de umamentalidade portuguesa, mas deuma mentalidade angolana. É certoque houve sincretismos religiosos

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“...a cultura angolana é africana, elaé sobretudo angolana”.

As “tradições, princípios e méto-dos da colonização portuguesa”para retomar o título do estudo doprofessor Marcelo Caetano, tiveramem Angola uma característica parti-cular: o esforço para assimilar o afri-cano ao europeu. Essa orientaçãorepousava sobre duas bases: elatinha, por uma lado, um funda-mento filosófico, cujo núcleo era amoral cristã, e por outro, a necessi-dade de uma certa eficácia, naimplantação do sistema administra-tivo português. Seja qual for aimportância do juízo de valor quepossamos ter sobre as ambições dosportugueses, não podemos, demaneira nenhuma esquecer a obrarealizada.

O assimilado era um africanodesenraizado que cortou os laçosculturais com a sociedade africanaoriginária, para adquirir e utilizar“os hábitos e costumes” dos euro-peus. Para obter esse estatuto, eledevia passar com sucesso um testeque compreendia, entre outrasprovas, as seguintes: falar e escre-ver correctamente o português,viver de um trabalho regular edispor de um certo rendimento. Oafricano que tivesse passado comsucesso esse teste era assimiladoaos europeus e beneficiava, assim,dos privilégios reservados à socie-dade europeia. Foi assim que a

que “...incluem o culto de Cristo emquase todo o território...” Mas “omundo sobrenatural dos indígenas”,para retomar a expressão de JorgeDias, ficou afastado do racionalismocientífico, que teria, sem isso,destruído a sua própria substância.

As normas e os valores queentram na constituição da angolani-dade podem encontrar-se, na suaexpressão concentrada, nas reco-lhas de Óscar Ribas e Estermann,que nos revelam, não um mundopetrificado, voltado para si mesmo,mas um mundo que, ao mesmotempo que tem as suas raízes naterra angolana, não resistiu à atrac-ção dos factores exógenos.Agostinho Neto exclamou-se um dianos termos seguintes: “Felizmente ahesitação e a dúvida foram criadassobre a questão de saber se acultura portuguesa, que serviu algu-mas camadas sem ligação com oseu povo, é ou não a que deveriaser apresentada como a emanaçãocultural do povo angolano. Mas aquestão não se põe nesses termose nunca foi assim posta, mesmo porangolanos de origem europeia. Areivindicação de angolanidade foisempre um facto para todos osangolanos, tenham eles ou nãoparticipado no esforço de contesta-ção do colonialismo português. Ohomem angolano nunca se sentiuculturalmente português, porque,como diz o próprio Agostinho Neto,

10 n° 28 - décembre 2006LATITUDES

sociedade euro-africana se estrutu-rou.

A colonização portuguesa criou,assim, um africano de tipo novo.Destribalizado, não sabendo, porvezes, falar a língua local, impelidopara as estruturas organizacionaiseuropeias e, enfim, urbanizado, oassimilado desempenha, plena-mente, o seu papel de pilar da colo-nização. A partir de 1961, o desen-volvimento do sistema educativo vaipermitir o aumento da miscelânearacial e do número de africanos quefazem parte da sociedade euro-afri-cana. A identificação do estatutosócio-económico com a raça encon-tra-se já em vias de desaparecimento.A diferenciação biológica vai sersubstituída pela diferenciação cultu-ral.

Conclusão

Nas vésperas da independência,a Nação angolana ainda não se tinhaconsolidado. A luta pela indepen-dência foi um dos factores de aglu-tinação da nação. A divisão daNação angolana está na base daguerra fratricida. A política colonialde dividir para reinar fez com quese reforçassem os germes da divi-são: o racismo, o regionalismo, asreivindicações de carácter étnico.Foi assim que o projecto naciona-lista falhou. A paz só é possívelquando os nacionalistas se decidi-rem a lutar, não por interessesmesquinhos, mas pela causa dademocracia, fazendo tudo pelaNação e nada contra a Nação.

O que está em causa é a unidadede Angola enquanto Estado: ou aunidade se faz na diversidade, ou adivisão da Nação se perpetua, comas suas repercussões sobre aunidade do Estado. Em suma, aequação a resolver resume-se nobinómio seguinte: regionalismo ounacionalismo. A questão parecia tersido resolvida durante a luta pelaindependência. Ela volta a pôr-secom grande acuidade, o que vemjustificar a trilogia que constitui otítulo deste artigo �

* Maître de conférence à l’Université deParis V; président de la Maison del’Angola (Paris).

No mercado - Huila - Photo Michel Pérez

Cris Nascimento
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