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Novembro/20103

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86certificaçãoUma penca de selos verdes

Economia

20seca Na amazôNiaÉ o fundo do poço ou do rio Negro?

Especial

Delícias flutuantes

Cor predominante: verde

Lixo zero

Rota das Emoções

Rota das Cores

Rota das Águas

No movimento dos sonhos

Svetlana Maria

Mobilidade pessoal

Descarga legal

Água na Oca

Delson Amador

Edemar Gregorio

Oberti Pimentel

No meio

Consumo

Carros

Resíduos

Capa

Capa

Capa

Capa

Artigo

VLP

Saneamento

Exposição

Artigo

Artigo

Velho Ambiente

Lente Limpa

Da Redação

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ÍndiceÍ

16sUsteNtabilidadeUm lugar para viver

Urbanismo

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CApA Turismo

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Brasil mostra seu potencial turístico com o aumento expressivo no número de turistas, que, em 2010, pretende bater todos os recordes históricos de visitações, seja por brasileiros, seja por gringos. o ministro do turismo aponta à Revista Novo Ambiente novas rotas e planos, mas nesta edição nós fomos mesmo para o Nordeste, a fim de trazer para você alguns dos lugares mais impressionantes do planeta. Na estrada, na areia ou na piscina, dicas de lugares magníficos que ficam impressos na retina para sempre.

Os ventos fortes são parte fundamental da realidade da costa nordestina brasileira. movimentam as jangadas, alimentam turbinas eólicas, movem suavemente as re-des e refrescam o calor intenso da região mais ensolarada do país. Para os turistas, em paraísos como Jericoacoara o vento é perfeito para a prática de surfe, windsurf e o crescente kit surf, como registra a foto de leonilson Gomes na capa desta edição.

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Editorial E

encerrando uma série de matérias sobre o turismo sustentável no Brasil, nesta edição, você terá o resultado coletado pelas equi-

pes da Revista Novo Ambiente que estiveram em quase todos os lugares belos dos nove estados que compõem a região Nordeste, uma região onde a fai-xa de pobreza ainda é bastante preocupante e urge por medidas socioeconômicas imediatas. O turismo sustentável é o setor que se apresenta mais viável e que responde mais rapidamente contra a pobreza e a devastação da natureza.

O Nordeste é turístico por vocação natural e pela riqueza histórico-cultural, e apresenta, quase em sua totalidade, excelente estrutura para o turismo, de boas estradas a ótimos locais de hospedagem. Criamos al-guns roteiros que são mais uma provocação para que você conheça lugares inesquecíveis e únicos do que um resumão para te contar como era por lá. Vá e veja, mas pegue umas dicas importantes nesta edição.

A reportagem especial traz uma grande e tris-te surpresa: a montanha de lixo que surgiu quando o lendário rio Negro atingiu, no final de outubro, o nível mais baixo desde que este começou a ser medi-do, em 1902. Cai mais uma fronteira do nosso imagi-nário, a de que a Amazônia é um local de rios puros e onde os animais existem em abundância infinita. A Amazônia ainda é riquíssima, mas é impossível que o seja dentro de mais alguns anos se este ritmo de degradação continuar.

Se algumas notícias não são tão boas, é bom sa-ber que esta edição também tem ótimas iniciativas que mostram que é possível repensar o planeta com uma visão sustentável e agir, fazendo toda a diferen-ça. Este é o caso do bairro Cidade Pedra Branca, um novo conceito urbanístico, e do supermercado flu-tuante da Nestlé, um instrumento de “democratiza-ção” dos produtos industrializados sem impactos, já que a embarcação também é um posto de coleta de recicláveis e produtos como pilhas e baterias.

O comportamento do mercado diante de uma onda de selos ambientais mostra a proliferação de certificações, e é isso o que mostra nossa matéria de economia deste mês.

Boa leitura!

Central de Jornalismo

COmERCiAl (DEC)Paulo Roberto Luz

[email protected]ão claudio rupp

[email protected]

João augusto [email protected]

Uma publicação da Novo Ambiente Editora e Produtora ltda.CNPJ/mF.: 12.011.957/0001-12

Rua Professor João Doetzer, 280 - Jardim das Américas - 81540-190 - Curitiba/PRTel/Fax: (41) 3044-0202 - [email protected]

revistanovoambiente.com.br

Ano 01 - Edição 06 - Novembro/2010 - Distribuição dirigida e a assinantes

RElAÇõES DE mERCADOJoão rodrigo bilhan

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DiRETORiA GERAldagoberto rupp

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FiNANCEiROJaqueline Karatchuk

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ADmiNiSTRATiVO

CONSElhO EDiTORiAldagoberto rupp

[email protected]ão rodrigo bilhan

[email protected] marassi

[email protected] Roberto Luz

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fábio eduardo c. de [email protected]

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JORNAliSTA RESPONSÁVEl - Edemar [email protected]

PROJETO GRÁFiCO - Rafael de Azevedo [email protected]

CENTRAl DE JORNAliSmO

ATENDimENTO E ASSiNATURAS

lOGíSTiCA

carlos [email protected]

fernando beker ronque [email protected]

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marcelo ferrari [email protected]

Oberti Pimentel [email protected]

Uirá [email protected]

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Raquel Coutinho [email protected]

ricardo adriano da silva [email protected]

tiago casagrande ramos [email protected]

Aélcio Luiz de Oliveira Filho [email protected]

BEm-ESTARclau chastalo

[email protected] Cristina Karpovicz

[email protected] c. K. de oliveira

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WEBDESiGNfernando beker ronque

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ilUSTRAÇõESmarco Jacobsen

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imPRESSãO - PosigrafTiRAGEm - 30 mil exemplares

A tiragem desta edição de 30.000 exemplares é comprovada pela bdo auditores independentes.

Artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da Revista, sendo de total responsabilidade do autor.

FSC

maria telma da c. lima [email protected]

Paulo fausto rupp [email protected]

Janete ramos da silva [email protected]

Paula [email protected]

mônica cardoso [email protected]

REViSãO - Karina dias occaso [email protected]

Juliano [email protected]

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No meioR$ 1 bi para reduzir emissões na agricultura

O BNDES acaba de aprovar a criação de um programa para financiar ações que contribuam para a redução de emissões de gases causadores de efeito estufa geradas pela atividade agropecuária. O Programa ABC (Programa para Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura) tem orçamento de R$ 1 bilhão e taxa de juros de 5,5% ao ano (custo final para o tomador).

Outro objetivo do programa, que vigorará até 30 de ju-nho de 2011, é contribuir para a redução do desmatamento.

O limite de financiamento será de até R$ 1 milhão por beneficiário por ano-safra. O programa poderá apoiar in-vestimentos fixos e semifixos destinados a projetos de recuperação de áreas e pastagens degradadas; implanta-ção de sistemas de integração lavoura-floresta, pecuária--floresta ou lavoura-pecuária-floresta; e implantação e manutenção de florestas comerciais ou destinadas à re-composição de reserva legal ou de áreas de preservação permanente.

lula todo elétrico

“Tenho defendido a ideia de que o Brasil é quase invencível nessa disputa por novos produtos menos poluentes”, disse o Presidente lula, elétrico, ou me-lhor, em um elétrico. A frase foi dita depois que lula deu uma voltinha no modelo i-miEv, construído na fá-brica da montadora em Catalão, Goiás.

O carro elétrico possui autonomia de 160 km e pode deixar de emitir 1 tonelada de carbono se com-parado ao equivalente à gasolina, além de reduzir em quase 70% o custo do quilômetro rodado. A velocidade máxima é de 130 km/h. O veículo, que vendeu cerca de 9 mil unidades este ano em outros países, deve chegar ao Brasil somente em 2013 e ainda não há previsão do custo ao consumidor. Segundo a empresa, vai depen-der dos incentivos fiscais para sua produção, a exem-plo do que vem acontecendo em boa parte dos países europeus e nos Estados Unidos.

fotos: agência brasil

foto: revista Novo ambiente/leonilson Gomes

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mulheres no Campo

O programa mulheres no Campo, da DuPont Brasil Produtos Agrícolas, aposta na força das mulheres sobretu-do para conscientizar maridos e filhos quanto ao manejo seguro e responsável de agroquímicos nas lavouras. mu-lheres no Campo dá sequência a uma série de ações pa-trocinadas pela empresa dentro do programa Segurança e Saúde no Campo, adotado há mais de 10 anos, que tem a missão central de treinar e incentivar agricultores em tor-no de boas práticas agrícolas, com vistas ao uso seguro de defensivos agrícolas e de equipamentos de proteção indi-

Energia solar em 400 mil novas moradias

A Secretaria Nacional de habitação anunciou que cerca de 400 mil casas a serem construídas em 2011, dentro do progra-ma minha Casa, minha Vida, serão equipadas com dispositivos para a utilização da energia solar, assim como ocorre hoje no in-terior da Bahia e em londrina, no Paraná. As casas, em especial as construídas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, contarão com a energia do Sol para aquecimento de água, basicamente no chuveiro, um dos dispositivos que, em sua forma convencional, são os que mais consomem energia elétrica.

mudas na lata

O Grupo Petrópolis, terceiro maior fabricante de cerve-jas do país, lança oficialmente nesta semana as novas latas das cervejas itaipava e Crystal com o logotipo do projeto AmA – Área de mobilização Ambiental. Produzidas em edi-ção especial, as 30 milhões de latas serão distribuídas em todo o Brasil. A lata personalizada foi a forma encontrada para brindar o esforço da empresa na preservação do meio ambiente. “Grupo Petrópolis plantando 1,1 milhão de mu-das em respeito ao meio ambiente” é o slogan utilizado para propagar a campanha. O projeto é desenvolvido nas cidades de Petrópolis (RJ), Teresópolis (RJ), Boituva (SP) e Rondonópolis (mT), onde foi lançada uma série de ações em prol do meio ambiente. Faz parte do projeto o plantio de 1,1 milhão de mudas de árvores nativas, que junto com as áreas de mata preservada, permitirá a retirada de mais de 85 mil toneladas de CO2 da atmosfera e a retenção de aproximadamente 36 bilhões de litros de água por ano. Até o momento, já foram plantadas 324.619 mudas nativas da mata Atlântica. A primeira etapa da AmA terá duração de três anos e está orçada em R$ 10 milhões.

vidual (EPis) nas lavouras. Entre os programas da DuPont para promover a responsabilidade socioambiental no cam-po, existem iniciativas destinadas a crianças (filhos de agri-cultores), por meio do programa DuPont na Escola; a estu-dantes de Agronomia, com o projeto DuPont na Universi-dade; e aos agricultores, atendidos pelo Segurança e Saúde no Campo. Já o programa chamado Natureza DuPont trata de promover a sustentabilidade nas comunidades onde a DuPont está presente. Quase 460 mil pessoas já foram be-neficiadas pela iniciativa desde 2002.

foto: revista Novo ambiente/leonilson Gomes

foto: divulgação

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Delícias

flutuantesO projeto “Nestlé até você a bordo”, uma iniciativa realizada em parceria com a Tetra Pack, leva um supermercado flutuante aos moradores ribeirinhos da Amazônia. Além de comercializar produtos alimentícios, o projeto também desenvolve um importante papel socioambiental recolhendo materiais recicláveis e destinando-os para a geração de renda de comunidades locais. São iniciativas que mostram a diferença entre frases de efeito e ações de fato.

Consumo Responsabilidade

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cá entre nós, quantas pessoas que você conhece não gostam de chocolate? Par-te desse grande envolvimento com essa

pasta alimentícia solidificada, composta de cacau e açúcar, se deve, em grande parte, à maior empresa mundial de nutrição, bem-estar e saúde, que atende pelo nome de Nestlé. Nome herdado de seu criador, o alemão Henry Nestlé. engana-se quem pensa que esta marca se restringe somente ao chocolate, pois ela abrange a area de cereais, cafés e outros gêne-ros alimentícios. Sua primeira fábrica, instalada em terras brasileiras foi no ano de 1921. a evolução se traduz em números: atualmente a empresa possui 30 unidades industriais no país.

a nova etapa de crescimento da marca consiste em acompanhar a ascendência da preocupação ambiental , e era, sem trocadilhos, natural que a marca marcasse posição sobre o assunto. inovadora, criou o primeiro a supermercado flutuante do país, atendendo as popu-lações ribeirinhas da Amazônia, que estão recebendo materiais contendo informações sobre como fazer a se-paração correta dos resíduos, ressaltando que o objetivo é estimular a coleta seletiva e também incentivar o re-torno das embalagens consumidas e adquiridas no pró-prio supermercado flutuante. Assim, a empresa coloca em prática as determinações da Lei de Resíduos Sólidos, sancionada em pelo presidente lula em agosto e que prevê a logística reversa, ou seja, que as empresas sejam responsáveis por recolher as embalagens ou o produto que vendeu e que já não serve mais para uso, como ba-terias e lâmpadas.

O supermercado flutuante, que possui acesso para idosos e pessoas com necessidades especiais, oferece mais de 300 produtos Nestlé. o projeto “Nestlé até você a bordo” é uma iniciativa realizada em parceria com a lí-der mundial em soluções para processamento e envase de alimento, Tetra Pack. Ambas estão comprometidas em colaborar com o meio ambiente e contribuir com a inclusão social, uma vez que o material arrecadado será direcionado para as cooperativas da cidade de Belém, gerando uma oportunidade de melhora na renda das fa-mílias localizadas na região. O Diretor de Regionalização da Nestlé Brasil, Alexandre Costa, afirma: “Queremos conscientizar as pessoas de que, ao embarcar na onda da reciclagem, elas colaboram com a diminuição da ex-tração de recursos naturais, com a redução do consumo de energia e da poluição, contribuem para a limpeza da cidade e também para a geração de empregos.”

servindo de exemplo para as outras empresas no mesmo ramo, a Nestlé mostra que seu compromisso com o cliente rompe as barreiras do simples comér-cio, levando suas guloseimas a, literalmente, todos os cantos do país. embora o intuito seja ter um negócio sustentável economicamente, existe muito mais que lucro envolvido. a empresa está realmenete preocu-pada em aproximar seus produtos (a forma mais gos-tosa de fixar sua marca) das populações mais distantes e ignoradas até então pelo mercado brasileiro. E faz isso de maneira responsável, apontando rumos para solucionar o grave problema do lixo, principalmente em santuários naturais como a Amazônia, onde só não bate palmas para a iniciativa quem está com uma das mãos ocupadas por uma barra de chocolate.

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CArros Tecnologia

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Cor predominante:

verdeA indústria automobilística, de tempos em tempos, se move como um “efeito manada” em determinada direção. Cada época reflete um padrão de consumo, que identifica como e o que querem os consumidores. O 26.o salão internacional do automóvel marca uma grande movimentação da indústria automobilística em direção à sustentabilidade.

definitiva, irrevogável e intransigente. A onda verde que, como um tsunami, varre virtualmente toda a indústria há pelo menos uns dez anos mostra sinais do aumento de sua

intensidade. repaginadas, combinadas ou recém-lançadas, as tecno-logias que prometem fazer com que eu e você rodemos poluindo me-nos daqui para frente estavam todas lá. mais do que mostrar soluções em produtos, os expositores buscaram mostrar a “mudança de com-portamento” por meio das suas atitudes, como foi o caso da Renault, que aproveitou a ocasião para apresentar seu instituto, e da Toyota, que, entre outras iniciativas, tem seu “projeto Arara Azul”, na esteira do pensamento de que os consumidores, além de poluir menos, que-rem ver a responsabilidade ambiental aplicada em toda a cadeia pro-dutiva de seus objetos de desejo.

Sob a ótica de que os carros podem ser considerados um reflexo de sua época, podemos concluir que o homo verdi procura integrar seu modo de vida pleno de movimento e distâncias a serem percor-ridas no menor tempo – até mesmo na busca de materiais mais fa-cilmente processáveis, recicláveis e menos dispendiosos do ponto de vista energético – à fabricação do meio de transporte que deu auto-nomia aos cidadãos, interiorizou nações e marcou uma das grandes revoluções da mobilidade humana no final do século 19 e início do sé-culo 20. Participar de um Salão do Automóvel como este, em última análise, é participar da construção de um momento histórico.

foto: divulgação

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Um lugar para viver

o bairro cidade Pedra branca, em Palhoça, região da Grande florianópolis, está apontando ao mundo um caminho viável e inteligente para o espaço que o homem escolhe para viver, na essência mais agradável dessa palavra. É um megaempreendimento sustentável e integrado, com universidade, comércio, empresas e residências. Projetado para ter 47 quadras e 30 mil pessoas em dez anos, a Cidade Pedra Branca já possui vida própria, com mais de 4 mil habitantes. Desenvolvida por um grande time de profissionais, já é referência para o mundo.

urbAnismo sustentabilidade

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o bairro sustentável cidade Pedra branca, em Palhoça, região metropolitana de Florianópolis (SC), vem se apresentando

como um dos mais bem-sucedidos projetos do new urbanism na América Latina. Os conceitos que nor-teiam o empreendimento preveem a ideia de conví-vio racional e cooperativo entre residências, comér-cio, escritórios e instituições de ensino, diferente dos modelos tradicionais que separam, muitas vezes por longas distâncias, o lugar de morar do lugar de traba-lhar ou estudar.

assim, representa redução de emissões de gases poluentes dos veículos, economia de combustível e proporciona a melhoria da qualidade de vida, já que o bairro prioriza o pedestre com espaços agradáveis e seguros, reduzindo drasticamente o uso do auto-móvel – o que também se reflete na saúde, diminuin-do o sedentarismo daqueles que ali vivem.

a alta performance dos prédios é prioridade, e sistemas completos de aproveitamento de água e energia, além de ações inteligentes para a minimiza-ção dos resíduos (esquemas de coleta seletiva, óleo de cozinha, baterias, lâmpadas) e a utilização de lâm-padas led na iluminação pública, estão entre as me-didas para aplicar na prática o conceito de sustenta-bilidade. Não por menos, foi um dos 18 projetos fun-dadores do Programa de desenvolvimento do clima Positivo, da ONG Climate Initiative, do ex-Presidente norte-americano bill clinton. o projeto encantou es-pecialistas climáticos e de urbanismo do mundo todo e é visto também como um modelo de bairro-cidade que pode contribuir de maneira decisiva para a redu-ção de impactos ambientais e o controle climático, evitando a devastação das encostas do entorno da Pedra branca.

Interior do Pátio das Flores

foto: divulgação

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o bairro, cujo projeto foi desenvolvido por gran-des nomes da arquitetura (como o do arquiteto Jai-me Lerner), engenharia, paisagismo e urbanismo, é ousado para os padrões brasileiros. ele começou a ser construído há cerca de 10 anos, em uma área de 250 hectares em torno do maciço da Pedra branca, onde havia uma fazenda, por iniciativa (ainda mais visionária na época em que foi iniciado) de Valério Gomes Neto, um dos herdeiros do grupo Portobelo. mais de 4 mil pessoas já residem no bairro, as quais ocuparam rapidamente as primeiras etapas do lote-amento destinado à construção de casas. Hoje, 40 empresas ali instaladas geram 4.500 empregos. exis-te um campus da Unisul e uma escola técnica, além de unidades de ensino para todas as idades e séries. Quadras sustentáveis

No início de novembro, a Pedra branca Urbanismo sus-tentável, empresa responsável pelo megaempreendimento, lançou a pedra fundamental para a segunda quadra integra-da, o Pátio das Flores. A exemplo do primeiro empreendi-mento, chamado Pátio da Pedra, é uma joia da sustentabi-lidade. O Pátio da Pedra possui seis belos prédios, com mais de 200 apartamentos residenciais de alto padrão, definidos como torres, cuja distribuição é bastante curiosa, pois em um mesmo prédio existem apartamentos com diversas me-tragens, que vão de 2 a 4 quartos. este é um dos muitos pon-tos que mostram que o conceito de diversidade é latente, embora nem sempre seja possível diante dos preços, que (e não teria como ser diferente neste caso) variam de R$ 200 mil a R$ 1 milhão. Os imóveis do Pátio da Pedra já estão qua-se todos vendidos; e o Pátio das Flores, a nova quadra em construção que terá outras cinco belas torres que unem em-presas, comércio e residências, deve ficar pronto em 2013.

Interior da torre de escritórios

Projeção das torres do Pátio das Flores

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o segredo de se criar uma cidade dos sonhos está no projeto, como explicou o engenheiro dilnei Bittencourt, Diretor da Cidade Pedra Branca, durante a 7.a Conferência Internacional do Lixo Zero, realiza-da no final de outubro em Florianópolis. “O custo do projeto é de 1% nas construções tradicionais. É neste momento que a preocupação com os aspectos ‘ver-des’ deve ser prevista. depois de ocupado, não há como tornar um edifício sustentável. A sustentabili-dade tem que se traduzir no bolso do cliente. Redu-ção de custos do condomínio e facilidade na manu-tenção”, disse Bittencourt.

o bairro cidade Pedra branca deve se transfor-mar, nos próximos 10 anos, em uma minicidade com 47 quadras e 30 mil moradores, com universidade (a Unisul já possui um campus ali), escolas (inclusi-ve técnica), supermercados, empresas, shoppings e áreas de lazer atraentes e seguras. Segundo a empre-sa, hoje já vivem mais de 4 mil pessoas no bairro sob o signo do maciço imponente que lhe empresta o nome. o empreendimento ainda precisa provar que será viável tal qual nos projetos, o que tem feito até aqui, mas não é exagero dizer que ele é já o futuro, concreto, que esperamos para que nossas civiliza-ções enfim evoluam.

Depois de ocupado, não há como tornar um edifício sustentável. A sustentabilidade tem que se traduzir no bolso do cliente.

Redução de custos do condomínio e facilidade na manutenção.

Dilnei Bittencourt, engenheiro da Cidade Pedra Branca

criando cidades inteligentes

Pedaladas em volta da lagoa

Planta do Pátio das Flores

01. bicicletário no subsolo02. Piscina adulto03. Piscina infantil04. Playground05. salão de festa06. espaço gourmet07. fitness08. sala de jogos09. solário10. Área de estar11. Espaço zen12. deck externo13. espelho d’água14. brinquedoteca

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É o fundo do poço ouo fundo do rio Negro?

espeCiAl Seca na Amazônia

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em 2009, o rio Negro, que banha manaus, teve o nível mais alto de sua história. Neste ano, o nível mais baixo já registrado. A inconstância climática preocupa e faz com que o brasileiro tenha que repensar a Amazônia com urgência. desmatamento, montanhas de lixo, matança de animais em extinção, não é essa a realidade que queremos para uma das maiores riquezas naturais do planeta.

Foto: Revista Novo Ambiente/Oberti Pimentel

Novembro/201021

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Para o homem amazônico, os rios são mais que rios, são entidades. E assim, quando o rio Ne-gro, que generosamente cedeu suas margens

para que a capital amazônica nascesse, atingiu, em 24 de outubro, dia do aniversário de manaus, o patamar mais baixo desde que seu nível começou a ser medido, em 1902, essas entidades mostraram que são mais vul-neráveis do que se pensava. depois de descer 13,63 m (chegou a descer 24 cm por dia), o que se viu foi um cho-que para a população: toneladas de lixo se escondiam no fundo do rio. Geladeiras, sofás, vasos sanitários se enroscam em sandálias de plástico, milhares de infalíveis sacolas plásticas, seringas – e dá para o leitor fazer sua própria lista de objetos olhando as fotos desta matéria. Quem joga o lixo é a mesma população que sobrevive do rio. e pior que o cenário que não faria inveja ao tietê foi a reação diante de tanta podridão: nenhuma. o lixo

continua lá, tal qual foi revelado lentamente pela baixa das águas. Não se observa nenhuma movimentação or-ganizada para retirada do lixo, nem mesmo os morado-res dos flutuantes, que vivem daquelas águas, parecem ter se incomodado com os entulhos que cercam suas re-sidências, agora assentadas no leito seco do rio.

Nos quase 300 km que a equipe da Revista Novo Ambiente percorreu entre Novo airão e a boca do Jaú, um trecho ainda com boa navegabilidade, as dificulda-des com os bancos de areia são constantes, e as faixas de areia que surgiram nas margens do rio criam praias inéditas. “A seca traz problemas no transporte e faz com que o preço dos alimentos aumente, o abastecimento nas cidades ribeirinhas fica comprometido”, conta Sílvio lima, assessor da secretaria de estado meio ambiente e de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (SDS), que acompanhou nossa equipe.

Bancos de areia no Rio Jaú

As águas do Rio Negro desceram mais de 13 m. Da orla de Manaus pode-se ver muitas embarcações encalhadas

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No mesmo trajeto, foi possível avistar balsas de extração de areia, comuns no alto rio Negro, total-mente encalhadas. outro representante da sds que nos acompanhava, o chefe de Unidade de conserva-ção francisco oliveira, comentou: “a maioria destas balsas têm permissão para extrair areia e seixo em áreas pré-determinadas, mas também encontramos algumas irregulares, sem documentação em dia, por exemplo. estas encalhadas vêm de roraima e, se não conseguirem desencalhar, vão ficar sem sair do lugar até quando o rio encher. só resta esperar”, disse.

Poucos quilômetros adiante do ponto de onde os trabalhadores das balsas tentavam desencalhar inu-tilmente, com o auxílio de um rebocador, nossa re-portagem foi abordada por uma lancha da marinha: “Vocês sabem se é possível passar para a Boca do Jaú com esta lancha?”, indagou o oficial. A resposta de nosso barqueiro foi seca como o rio: “Não.”

com a variação entre 2010 e o ano passado, quando o Negro atingiu o nível mais alto já registrado, 29,77 m, o contraste climático é grande. Embora espe-cialistas apontem que as alterações no nível das águas dos rios da Amazônia podem ser apenas um processo natural, ainda pouco se sabe sobre o quanto o desmata-mento está colaborando com a seca. É indiscutível que o regime de chuvas na região é fortemente influenciado pela floresta equatorial. Em uma conta simples: menos mata, menos chuva. o Governo federal se prepara para assumir o compromisso de reduzir em 80% o desma-tamento da Amazônia. Em vez de isso soar como uma boa notícia, na verdade é um “tiro no pé”, pois o Estado assume sua incapacidade de controlar 100% o territó-rio brasileiro. Cientistas apontam que áreas de savana avançam sobre as bordas do bioma amazônico. Mais de 1,5 milhão de famílias amazônicas dependem direta-mente dos recursos naturais para sobreviver.

Boca do Jaú

Fotos: Revista Novo Ambiente/Oberti Pimentel

23 Novembro/2010

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malária e dengue

O ciclo hidrológico da Amazônia é de oito meses de água subindo e quatro meses de água baixando. a que-bra desse ritmo pode causar desequilíbrios no ecossis-tema que afetam diretamente a saúde humana. No cli-ma quente, o metabolismo dos insetos se acelera e seu desenvolvimento é muito mais rápido, assim como sua proliferação. Neste caso, os mosquitos transmissores de doenças como a dengue e a malária são os maiores pro-blemas, pois encontraram ótimas condições neste ano e em uma região onde as duas doenças já são, mesmo sem a seca, problemas de saúde pública.

Para se ter uma ideia das dimensões que a malária pode ganhar, no município de anajás, no Pará, somen-te no primeiro semestre de 2010, foram registrados 10 mil casos da doença. detalhe: anajás tem 25 mil ha-bitantes. Nos primeiros seis meses do ano, o ministé-rio da saúde registrou mais de 120 mil casos no país. A distância e a dificuldade de acesso por meio aqua-viário não ajudam no atendimento aos doentes. Para complicar ainda mais, o Ministério da Saúde admitiu que houve falta de remédios para malária por alguns períodos em determinadas regiões.

Um membro de uma equipe de reportagem da Re-vista Novo Ambiente destacada para cobrir a Amazônia foi contaminado pela dengue no mês passado, quando esteve em manaus e parques dos arredores. em cáce-res, no mato Grosso, a situação é de risco. em outros 18 municípios dos estados que compõem a Amazônia Le-gal, inclusive todas as capitais (com exceção de cuiabá, cujos números ainda não foram atualizados), a vigilância sanitária está em estado de alerta por causa da dengue.

ataques de animais,votos e aulas

mais de quatro mil crianças ribeirinhas estão sem assistir às aulas no Amazonas por causa da di-ficuldade de locomoção das canoas e rabetas que as levam às escolas, metade delas fechadas. municípios como Ipixuma, Carauari e Maraã, no Amazonas, re-gistraram espantosos índices de abstenções na úl-tima eleição. O motivo, além da impossibilidade de

usar o rio, a única opção de transporte disponível, também é mais assustador: os jacarés, que frequen-temente fazem vítimas humanas na região, ficam ainda mais agressivos com o leito do rio seco e não é raro que se lancem sobre as canoas. o jacaré-açu, ou jacaré-gigante, só existe na bacia Amazônica e pode medir 6 m e pesar até 350 kg. ao contrário do que parece, é um animal ágil e veloz e sua abundân-cia por ali chega a ser um problema – existem pro-gramas de caça controlada para tentar equilibrar o ecossistema.

Difícil navegabilidade

Foto: Revista Novo Ambiente/Oberti Pimentel

foto: divulgação

foto: ascom/ampa

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matança de peixe-boi

Por outro lado, animais de grande porte, como o peixe-boi, estão sendo vítimas de matanças que co-locam em sério risco a espécie – o mamífero aquático mais ameaçado de extinção do Brasil. As águas baixa-ram, revelando vários animais em seus esconderijos e berçários, e deixaram os animais, que podem atingir até 2,5 m de comprimento e 300 km, encalhados e à mer-cê dos caçadores. O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) informou que entre 4 e 10 peixes-boi estão sendo mortos diariamente em rios amazônicos, em especial nos municípios de Autazes, Coari, Silves e Tefé. Apesar da dificuldade para chegar aos infratores, os fiscais do Ipaam apreenderam, no fim de outubro, vários apetrechos de pesca proibidos, como espinhéis e arpões, durante abordagens a canoas e barcos. Os fiscais encontraram também 10 kg de carne de peixe-boi (que é vendida entre R$ 3 e R$ 5) e 133 ovos de tartaruga. O problema ainda aumenta porque, para chegar aos ani-

mais, os caçadores acabam destruindo o delicado ecos-sistema do rio.

os pesquisadores temem que, muito em breve, o peixe-boi possa ter o mesmo destino de uma paren-te próxima, a vaca-marinha-de-Steller, extinta no sé-culo 18. o diretor da associação amigos do Peixe-boi (Ampa), Jone César Silva, explica: “O peixe-boi é uma es-pécie endêmica da região. ele tem um papel importan-te para o equilíbrio do ecossistema; como é um animal herbívoro, alimenta-se de plantas aquáticas, portanto evita que as plantas se acumulem no rio, permitindo a passagem de canoas. Além disso, suas fezes servem de alimento para microorganismos, que por sua vez são co-mida dos peixes. Já os peixes fazem parte de nossa die-ta.” A Ampa faz um grande trabalho de conscientização e proteção e é um dos últimos faróis que piscam em um mar de ignorância e ganância, lutando por indicar um fu-turo para o peixe-boi e para o próprio ser humano.

A Associação Amigos do Peixe-boi trabalha para a conservação da espécie

foto: ascom/ampa

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Garantir o cumprimento da Lei de Resíduos Sólidos é papel do estado. mudança no padrão de consumo e produção é responsabilidade das pessoas e da indústria. mas é o mercado que tem tomado as iniciativas mais importantes para a adoção do audacioso conceito de eliminar qualquer tipo de lixo. E isso não é remorso ou engajamento, é um negócio lucrativo que pode ajudar de maneira decisiva para descontaminar o planeta e evitar um colapso mundial por falta de recursos naturais.

resíduos Consciência

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esperar que a consciência ambiental desper-te para que enfim a humanidade encare o problema do lixo ainda é uma utopia. ao

menos para esta geração, que não está lá muito dis-posta a assumir um passivo destes de uma hora para outra. E é difícil mesmo. Afinal, este despertar exige não só uma preocupação imediata e individual com a destinação do lixo, mas também requer mudanças no padrão de produção e consumo, e é diante deste que o engajamento ecológico muitas vezes esmorece.

Na edição de setembro, a Revista Novo Ambiente mostrou a realidade do lixão de brasília, onde cente-

nas de pessoas avançavam sobre o lixo despejado pe-los caminhões. isso algumas horas depois de o Presi-dente lula, a poucos quilômetros dali, ter sancionado a Política Nacional de Resíduos Sólidos. O marco regu-latório foi estabelecido. Tardou, mas o Poder Legislati-vo fez sua parte. Resta agora que a lei seja cumprida.

diante de montanhas cada dia mais descomu-nais de lixo sobre a terra, das montanhas invertidas de lixo sob a água – um triste espetáculo da lei da Gravidade – e da nossa incapacidade de atender aos gritos de socorro da natureza com a dedicação que nos é exigida, quem irá nos salvar?

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As pessoas precisam entender que os resíduos

não são lixo. Quem faz o lixo somos nós, que misturamos

e sujamos os materiais.

Richard Anthony, pressidente da Zero Waste International San Diego e Rodrigo Sabatini na 7.a Conferência Internacional Lixo Zero.

Ninguém diria, mas o mesmo mercado que levou a humanidade a uma “sinuca de bico”, na qual não é mais possível esconder nossas sujeiras, é o único que pode nos salvar. É a iniciativa privada que tem sido a principal paladina da causa. Pragmática mas sempre obediente ao mercado, tem se empenhado para mostrar que os resíduos, quando aproveitados, podem representar lucro, mas que, quando mal des-tinados, representam dinheiro pelo ralo e todas as implicações negativas na qualidade de vida.

“Se tudo em nossa vida é organizado, por que com o lixo precisa ser diferente?”, disparou o enge-nheiro Rodrigo Sabatini durante a 7.a conferência in-ternacional lixo zero, que reuniu, em florianópolis, 19 especialistas de educação e gestão ambiental de vários países do mundo para discutir a destinação dos resíduos sólidos. “as pessoas precisam entender que os resíduos não são lixo. Quem faz o lixo somos nós, que misturamos e sujamos os materiais”, disse Sabatini durante a palestra de abertura da conferên-cia, que aconteceu em outubro, pela primeira vez no brasil. o evento trouxe grandes nomes interna-cionais do setor de reciclagem e reaproveitamento, como richard anthony, Presidente da zero Waste International San Diego, uma organização que reúne entidades de vários países, somando experiências de sucesso e apresentando soluções para a questão da destinação do lixo em grande escala. “Temos que realizar um processo cíclico, onde os materiais conti-

nuam sendo encaminhados para reaproveitamento nas indústrias”, diz Sabatini, o engenheiro Presidente da Novociclo ambiental, empresa de florianópolis especializada em consultoria na área de gestão de re-síduos e uma das organizadoras do evento. Durante a palestra, ele falou sobre a necessidade de alteração nas etapas do processo produtivo para reduzir o im-pacto ambiental. Para Sabatini, a solução é eliminar as etapas de descarte e seleção.

O Presidente do Instituto Lixo Zero, Kalil Salim, defendeu que é possível, utilizando práticas que já se mostraram possíveis em outros países, extinguir os resíduos sólidos em florianópolis até 2030. mais pela força do mercado, e menos pela força de ideais, é pos-sível que uma revolução e descortine diante de nós nas próximas décadas, que torne o mundo mais limpo, reutilizável e mais belo, enfim, mais inteligente.

Rodrigo Sabatini, Presidente da Novociclo Ambiental

foto: revista Novo ambiente/Juvino Grosco

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CApA Nordeste

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a onda é essaBrasil mostra seu potencial turístico com o aumento expressivo no número de turistas, que, em 2010, pretende bater todos os recordes históricos de visitações, seja por brasileiros, seja por gringos. o ministro do turismo aponta à Revista Novo Ambiente novas rotas e planos, mas nesta edição nós fomos mesmo para o Nordeste, a fim de trazer para você alguns dos lugares mais impressionantes do planeta. Na estrada, na areia ou na piscina, dicas de lugares magníficos que ficam impressos na retina para sempre.

Praia de Jericoacoara

foto: revista Novo ambiente/leonilson Gomes

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embalado pelo crescimento no número de desembarques domésticos e internacio-nais, o turismo brasileiro vive um momen-

to de euforia. Segundo o Ministério do Turismo (MT), entre janeiro e setembro deste ano foram 5,7 milhões de desembarques internacionais e 49,2 milhões de nacionais. A expectativa do MT é que esses números atinjam 7 milhões e 65 milhões respectivamente, ba-tendo todos os recordes históricos, gerando um cres-cimento sustentável motivado pelo bom momento da economia nacional e pela copa do mundo de 2014, com grande atenção para o chamado turismo domés-tico, que tem ganhado todas as atenções do setor.

dois bons mecanismos do Governo federal têm dado respostas eficientes à demanda e para que o brasil, embora em um movimento crescente, deixe de representar apenas 0,62% da receita cambial que o turismo gera no mundo, segundo o próprio minis-tério do turismo. a infraestrutura, principalmente vi-ária, tem conseguido avanços inéditos para apoiar a atividade turística – a “indústria sem chaminés”, que pode ser a única solução de vida digna de centenas de comunidades pobres que vivem em torno de atrativos de grande potencial. “além da opção aérea, estamos

Além da opção aérea, estamos criando alternativas rodoviárias que são fundamentais para que

se mantenha o fluxo não somente do turismo, mas comercial e

industrial. É uma saída para que o Brasil escoe seus produtos para o Pacífico, e cada vez mais ver a

América Latina integrada.Luiz Barreto, Ministro do Turismo

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criando alternativas rodoviárias que são fundamentais para que se mantenha o fluxo não somente do turis-mo, mas comercial e industrial. É uma saída para que o Brasil escoe seus produtos para o Pacífico, e cada vez mais ver a América Latina integrada. Esse tipo de interação já existe no Cone Sul, entre Argentina e Uruguai, brasil e Peru, e existe a possibilidade de abrir uma estrada com o chile, com quem temos boas rela-ções”, contou o Ministro do Turismo, Luiz Barreto, com exclusividade à Revista Novo Ambiente durante a 38.a edição do Congresso Brasileiro de Agências de Viagens (Abav 2010 – Feira das Américas), o maior evento do setor no continente americano.

Para barreto, a preocupação do ministério não é apenas com o turismo em si, mas também com as condições sociais e econômicas que o sustentam. “estabelecer roteiros que sejam integradores dos processos não só de turismo, mas também do de-senvolvimento dos países, brasil e Peru. a inaugura-ção de uma rota área que liga a região da Amazônia brasileira ao Pacífico com o objetivo de promover um intercâmbio entre regiões como Acre e Amazônia, com Cuzco e vários estados, peruanos e brasileiros, tanto na questão turística quanto cultural e comer-cial”, conta o ministro, que anuncia que tal rota será viabilizada ainda neste mês de novembro.

Pé na estrada, na areia e no mar

seguindo a série de matérias sobre turismo sus-tentável iniciada na edição passada, a Revista Novo Ambiente enviou três equipes para visitar todos os estados da região mais ensolarada e com a costa mais abençoada do brasil. ora como turistas, ora observa-dores do desenvolvimento sustentável em torno do turismo, tentamos trazer até você um pouco destes recantos que guardam tesouros naturais fascinantes e que podem fazer toda a diferença na retomada de perspectivas para um novo e viável Brasil. Na estrada, na areia ou no mar, este foi o Nordeste que sugerimos.

Embora não fiquemos alheios a impactos causa-dos pela atividade turística ou aos sérios problemas de saneamento que comprometem a balneabilidade em boa parte das capitais e jogam no lixo tesouros naturais, é de seu povo alegre e atencioso, da sua rica culinária, de seus cenários embasbacadores e de sua cultura profunda que guardamos as melhores lem-branças. esperamos que, para o leitor, elas sirvam ape-nas como um convite para que cada um confira pes-soalmente o que nem nossas melhores fotos podem traduzir em toda sua plenitude.

BR-402 no Ceará

foto: revista Novo ambiente/leonilson Gomes

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rota dasEmoções

CApA Nordeste

Lagoa do Paraíso, Jericoacoara

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Uma inteligente união entre a iniciativa privada e o poder público de três estados criou uma rota que leva os turistas a um conjunto espantoso e encantador de maravilhas da natureza. São dunas entrecortadas por centenas de lagoas criadas pelas chuvas, praias idílicas, matas intocadas. o sol é constante e o vento torna o clima insuperável. Um contato inesquecível com a natureza. Prepare-se para conhecer uma região cada vez mais estruturada para receber turistas e que tem tudo para ser um modelo de sustentabilidade.

se tem uma coisa difícil de conquistar é o título de melhor roteiro turístico de um país como o Brasil. em 2009, rota das emoções, um roteiro que integra

Maranhão, Piauí e Ceará, realizou esta façanha e foi vence-dora do Troféu Roteiros do Brasil, uma iniciativa do Programa de Regionalização do Turismo, do Ministério do Turismo, que reconhece exemplos de sucesso do setor em oito categorias. Nem precisa dizer que foi escolhido não por acaso. É um ro-teiro que honra o nome que carrega, um passaporte para um quase inacreditável mundo ensolarado e fascinante. do pon-to de vista socioeconômico, seus benefícios são imperativos. “a rota das emoções, além de ser uma via para a divulgação e promoção dos estados, se torna importante para levar turis-tas para várias localidades, o que, por sua vez, movimenta a economia e gera divisas econômicas para o estado”, conta o secretário de turismo do estado do maranhão, tadeu Palá-cio, com exclusividade à Revista Novo Ambiente.

A Rota das Emoções, apesar de consagrada pela crítica, ainda é muito pouco conhecida pelos brasileiros. Na verda-de, é só uma boa desculpa para conhecer a costa mais oci-dental do Nordeste, uma região de natureza rara, poderosa e ao mesmo tempo delicada. os três principais pontos de re-ferência são os Parques Nacionais de Jericoacoara e dos len-çóis maranhenses e a Área de Proteção ambiental do delta do Parnaíba. Não existe uma ordem correta para se conhecer esses locais ou tempo determinado de permanência em cada lugar. deixe seu espírito decidir, de preferência, lá mesmo.

Recomendamos a escolha de uma agência de confiança que ofereça e providencie hospedagem de acordo com suas preferências. Os pacotes vão de R$ 3 mil a R$ 6 mil por pes-soa, mas isso é só uma média. a agência que escolhemos foi a tropical adventure, que tem sua sede em barreirinha, a “ca-pital dos lençóis maranhenses”, e, por isso, ao contrário do costumeiro, resolvemos começar pelo maranhão. dividimos a viagem em cinco etapas, que incluem no roteiro as capitais, que serviram como nossos pontos de partida e chegada.

fotos: revista Novo ambiente/leonilson Gomes

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etapa 1 a ilha do amor

Embora São Luís não faça parte oficialmente do roteiro das emoções, não tem graça ir ao maranhão e não visitar a “Cidade dos Azulejos”. “Quem optar por conhecer os lençóis maranhenses também tem a facilidade de esticar um pouco mais a viagem e visi-tar a capital, são luís, conhecida por sua rica cultura, artesanato, culinária e ainda carimbada como cidade Patrimônio da Humanidade, atrativos que pesam na hora de escolher o destino turístico”, aponta sabia-mente tadeu Palácio.

Que se saiba, poucas praias em São Luís são re-comendadas para banho por causa da falta de sanea-mento. espera-se uma solução rápida para isso, pois o turismo maranhense não pode prescindir de tão belas praias pela falta de resolução de um problema básico.

são luís é a única capital fundada por franceses no brasil, em 1612. a arquitetura lusitana, no entan-to, predomina e dá uma beleza única, principalmen-te no centro Histórico e suas ruas que terminam em grandes escadarias. são mais de 3.500 casarões e sobrados tombados pelo Patrimônio Histórico. Pelos becos dali, por onde se pode sentir a inspiração que fabricou grandes poetas brasileiros, pode-se ouvir música dos diversos centros culturais e acompanhar outras belas manifestações artísticas, como tapeça-ria e artesanato. Os azulejos predominam na arquite-tura, uma inteligente solução para conter a umidade. a cultura quadricentenária do lugar deixa a essência do povo quase palpável. deixe-se levar pela cidade, mas cuidado com a segurança. Máquinas fotográfi-cas expostas e muita pinta de turista podem atrair assaltantes, que, infelizmente, são recorrentes em todo o litoral brasileiro.

a “capital brasileira do reggae”, ou a insuspeita “ilha do amor”, tem uma noite movimentada e com várias opções tanto para apreciar a culinária rica em frutos do mar quanto lugares agradáveis para beber com os amigos ou dançar com a pessoa amada. “da hora!”, como se diz por lá, numa versão local do “ok”.

Praia da Ponta da Areia, São Luís

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etapa 2 lençóis maranhenses

distribuídos por 155 mil hectares, onde dunas e milhares de lagoas de água quase morna repousam tranquilas, o Parque Nacional dos lençóis mara-nhenses configura-se como um lugar único no plane-ta. os pontos mais belos estão mais próximos de san-to amaro, mas é a pequena cidade de barreirinhas que, pela infraestrutura turística, ficou conhecida como a “capital dos lençóis”.

Dali, uma boa pedida é sair bem cedo para fazer um instigante passeio pelo rio Preguiças, com suas águas azuis e translúcidas e seu fundo de areia. No trajeto até o mar, é só beleza. Impressionantes e imponentes man-guezais cercam o rio. Ali se encontram os biomas ama-zônicos, a caatinga e a Mata Atlântica. Também é possí-vel ver os coletores de açaí trabalhando em seus barcos que singram os igarapés. Na primeira parada, na locali-dade de Vassouras, o visitante pode se dirigir a uma ten-da nas dunas que surgem à beira do rio e se refrescar tomando uma água de coco ou um guaraná Jesus, um hit parade no estado, tão gostoso que a coca-cola com-prou sua fábrica para que fosse comercializado apenas no maranhão e não invadisse o brasil.

Já em Vassouras, pode-se arriscar um passeio pelas dunas, mas não é o melhor lugar para isso.

bom mesmo é conhecer o orlando, o Geraldo e a Simone. Quem são? Alguns dos macacos-prego que vivem soltos no mangue e aparecem por ali quando chamados pelos donos da tenda, porque sabem que lá vem banana. o turista pode comprar as bananas para dar aos bichos, que vêm pegar em sua mão de-pois correm de volta para as árvores. Você paga o quanto achar justo pela atração, mas certamente pa-gará sempre menos do que valeu a experiência.

seguindo pelo rio – excelente para um mergu-lho porque ali perto das dunas o calor refletido pela areia branca torna-se insuportável –, a água vai se tornando salobra até, já bem próxima a sua foz, fi-car salgada. Quando isso acontecer, é porque você já chegou a um restaurante que vai servir um escondi-dinho de carne de sol acompanhado de uma comida caseira que vai fazer você ter inveja desse povo.

outros passeios arrebatadores podem ser feitos de quadriciclo, cavalos ou nas guerreiras toyota, que são praticamente as únicas que suportam com classe as trilhas pelas dunas, que levam a dezenas de lagoas alucinantes (em outubro, final do período de estia-gem, várias delas secam, restando bem poucas, até a volta das chuvas).

Distribuídos por 155 mil hectares, onde dunas e milhares de lagoas de água quase mornas repousam tranquilas, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses configura-se

como um lugar único no planeta.

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Que Preguiças!

se você está precisando mesmo é ser tratado como um pachá, fique uns três dias no Porto Preguiças resort. depois de instalado, coloque sua roupa de ba-nho, vá correndo e pule na piscina de mais de 700 m2,

mergulhe até o bar molhado e peça uma margarita. Pode ser de dia ou à noite, porque a água está sempre em torno de 30 graus, sobre o inédito fundo de areia branca que vai massagear seus pés. Se esta atividade cansar você, leve seu corpo para descansar em uma das dezenas de redes espalhadas nos gazebos e fique olhando as folhas de coqueiro que cobrem o teto. o som ambiente é por conta da natureza.

o Porto Preguiças é um desses empreendimentos do bem que não significam apenas um oásis para os turistas, mas trabalho digno e qualificação para a co-munidade local, de onde vêm todos os funcionários. Para Barreirinhas, é um chamariz de turistas ávidos para gastar. construído por um paulistano que sabe o que é bom e mudou-se para o local depois de pronto, o resort está à margem do rio Preguiças, incrustado respeitosamente em um bosque nativo de carnaúbas de 150.000 m2. durante sua construção, um exemplo de cuidados ambientais, preservou toda a mata ciliar de mais de 120.000 m2. o lugar possui instalações de alto padrão, mas com todo charme de um arraial do interior, e tem até uma igrejinha, além de animais como gansos africanos e galinhas-d´angola que circu-lam livremente. Uma olaria funciona ali e produz be-líssimas peças, e os hóspedes também podem arriscar fazer suas artes sob orientação de um funcionário. Enólogos podem fazer uma trabalhosa pesquisa de campo em um universo de 100 rótulos de vinhos cui-dadosamente escolhidos. dedique-se, mais de 1.500 garrafas o esperam. Viu?! Menos de três dias não dá.

Resort Porto Preguiças

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etapa 3 delta do Parnaíba

Um dos mais intocados ecos-sistemas do planeta está no delta do Parnaíba, quando o rio adentra no oceano distribuído em cinco braços no meio dos quais há mais de 70 ilhas – um relicário ecológi-co com muitas praias despovoa-das onde pensar em passear sem roupas pela areia não parece uma má ideia. Afinal, se tem um lugar bom de brincar de adão e eva, este lugar é ali.

Na costa continental, mais dunas e lagoas lindas de viver o esperam. seguindo pelo mar, a costa leste do Piauí descortina-se completamente desconhecida do grande público. existem sete praias no município de luís cor-reia para atender dois pecados capitais: a gula e a preguiça – os outros pecados são por conta do

freguês. cajueiro da Praia, pró-ximo à foz do rio Timonha, já na divisa com o ceará, é um paraíso para os ecoturistas. ali, o projeto Peixe-boi marinho já preserva a espécie há 13 anos e tornou-se ainda mais importante diante dos massacres ocorridos por causa da baixa dos rios amazônicos neste ano. O projeto estimula o desen-volvimento socioambiental da re-gião, levando cidadania, pesquisa, turismo e educação para a popu-lação local e assim protegendo es-tes fabulosos mamíferos da água.

Parnaíba, a segunda maior ci-dade do Piauí e “capital do delta”, foi uma terra de grande pujança nos séculos 18 e 19. os comér-cios nacional e internacional co-locavam o estado entre as quatro maiores economias do país. Hoje

Porto das Barcas, rio Parnaíba

é uma cidade espalhada, com ra-zoável infraestrutura, e possui poucos atrativos urbanos, mas uma excelente culinária e os pre-ços médios mais baixos da rota. Lagoas azuis e transparentes não faltam perto da cidade. a belíssi-ma Lagoa do Portinho é, parafra-seando o fôlder oficial, “um convi-te ao prazer”.

Não deixe de visitar o charmo-so Porto das barcas, uma região de construções históricas onde você encontra bares, restaurantes e lo-jas com um artesanato de primei-ra. Parnaíba não tem grandes ho-téis, mas possui o simpático Hotel Portal dos Ventos, com confortá-veis instalações e um atendimento de primeira. Nele, você também não vai esquentar a cabeça com hospedagem.

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etapa 4 Jericoacoara

Se você seguiu a rota na ordem em que a fizemos, deve estar muito próximo de acreditar que nenhum cenário mais o espantaria por sua beleza, mas você vai adorar saber que está enganado. bem-vindo a Jerico-acoara, um lugar deslumbrante cuja estrutura turísti-ca teve a chance de crescer de forma ordenada. Para chegar à pequena e organizada estância turística, você deve seguir até Jijoca, quando então recomendamos que pegue um guia cadastrado, que poderá guiar seu carro até Jericoacoara. só os guias conhecem as trilhas seguras – e nem tente dirigir por conta própria, pois terá de passar por duas estradas onde você afunda até as canelas! só os guias e os compressores portáteis que carregam nas mochilas conseguem não encalhar nas armadilhas de areia (que ainda assim torraram dois pneus do nosso carro).

Jericoacoara possui ao menos 120 pousadas de to-dos os padrões, com diárias que vão de R$50 a R$700. O que impressiona é a enorme quantidade e qualidade dos restaurantes, decorados de forma atraente e impe-cável, mesmo quando parecem casuais. Pode-se comer pratos do mundo todo e, claro, todas as variantes da comida nordestina. Música de primeira. Samba, MPB, choro, pop rock e reggae. Ótimo lugar para eternas luas de mel. Não é difícil encontrar, principalmente em julho e agosto, mais estrangeiros do que brasileiros em Jeri; por isso, se você for branco, não estranhe que todos lhe dirijam a palavra em inglês ou espanhol.

Mas tudo isso são apenas consequências das belezas naturais protegidas pela criação de um parque nacional.

as praias são banhadas por um mar de muitas to-nalidades. No entanto, o vento chega a ser incômodo para os banhistas. Não para os praticantes de kitesurf e windsurf, que coalham as águas. Passeios de buggy pe-las praias desertas são uma boa pedida, principalmente se o destino for alguma tenda ao lado daquelas que são as mais belas lagoas do Nordeste – a lagoa do Paraíso e a Lagoa Azul –, onde se pode tomar uma água de coco deitado na rede, dentro da água que invariavelmente estará quase morna, mas boa o suficiente para refres-car e permitir vasculhar seu fundo de areia e vegeta-ções esparsas usando óculos de mergulho.

Aqui vai uma dica que vale um sorriso toda vez que lembrar: vá até a Lagoa Azul, pegue o veleiro do Pirata para atravessar até a ilha onde existe a tenda. isso de-mora só uns 10 minutos e custará R$ 2, ida e volta. Che-gando à tenda, verifique nas margens da lagoa, dentro da água, alguns suportes simples para dar uns pulos de ponta. entre na água e suba em um deles. Pule de pon-ta e continue mergulhando até atingir o fundo da lagoa, uns dois metros e meio. Aí, volte para a superfície lenta-mente, olhando em direção ao sol, que se multifacetará na água de muitas cores simultâneas. Você poderá acre-ditar que está vendo os raios solares aprisionados em bolhas que voltam dançando para a superfície. Quando chegar lá em cima, você saberá por que Jericoacoara é considerada um dos lugares mais bonitos da terra.

entre as melhores coisas de Jeri, estão os passeios de quadriciclo, mas você não vai deixar de dar uma vol-tinha em um jegue, vai?! O passeio à enigmática Pedra furada e à Árvore da Preguiça vale a pena. Não se es-queça de parar diante de um dos milhares de cajueiros espalhados por toda parte e experimentar uma fruta cheirosa e doce como o mel. doce como Jericoacoara, de onde nunca se volta o mesmo.

Lagoa Azul

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etapa 5 Fortaleza

Ao final de uma rota como essas, em que todos os sentidos foram presenteados pela natureza, era de se esperar que o viajante fosse tomado pela tris-teza. Mas foi por isso que trouxemos você por esse caminho, porque no fim da trilha está um lugar onde é proibido ser triste: Fortaleza, a “Capital da Ale-gria”. Um programa rápido e certeiro é passar o dia no parque aquático Beach Park, que conta com uma ótima estrutura, agradável e segura, e depois jantar na Praia do futuro, em uma das barracas mais bem estruturadas do litoral nordestino. No dia seguinte, você pode aproveitar as belezas de Canoa Quebra-da, próximo da capital cearense, e ainda voltar para assistir aos famosos (e numerosos) shows de humor que deram os melhores humoristas aos país.

Rota das EmoçõesRota das Emoções

Para conhecer a Rota das Emoções, recomendamos: Tropical Adventure Expedições:(98) 3349 - 1987 • (98) 9993 - 0322www.tropical-adventure-expedicoes.com

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A Rota das Cores

CApA Nordeste

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Cor é luz. Refletida ou emitida, cor é luz. Também é frequência, que a retina capta e o cérebro decodifica. O processo frio descrito no papel, no entanto, torna-se algo maior, subjetivo e por isso mesmo inexplicável, que chamamos de olhar. Neste contexto, se o Brasil é um país pictórico, a palheta de tintas é o Nordeste. convidamos você a ver tons e nuances únicas, que compõem parte da escala cromática nordestina: Alagoas, com sua badalada e azul Maceió; Pernambuco, com sua culta e turquesa recife; e Paraíba, com a sua verde e imortal João Pessoa. Você pode discordar das cores que usamos para definir as cidades ou suas qualidades. Não faz mal. Sob o prisma do olhar de quem contempla, não há resposta certa, nem errada.

foto: revista Novo ambiente/Juliano Grosco

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João Pessoa

o sol. Pablo Picasso costumava representar o sol como uma lâmpada. ele também re-presentava deus desta forma, fundindo

astro e conceito em força geradora. da mesma forma binomial, parece que basta que “ele” (astrológica ou metafisicamente, o leitor fique à vontade para esco-lher) entre em cena para iniciar o movimento na vida desta João Pessoa. sacra, ela detém uma curiosidade que não escapou à equipe da Revista Novo Ambiente, que teve o privilégio de galgar os degraus do conjunto (e centro cultural) São Francisco. Não se trata do fato de ela ser o mais oriental ponto das américas, dando bom-dia ao sol antes de todos, mas sim do fato de ela ter seu marco zero, e por conseguinte seu centro his-tórico, distante da orla, ao contrário do que é mais co-mumente verificado na maioria das capitais e cidades litorâneas do brasil.

João Pessoa, primeiramente chamada de Po-voação de Nossa senhora das Neves, nasceu do rio Sanhauá, afluente do Paraíba. Peculiar desde o co-meço, ela possui atrações únicas, sem paralelo com outras cidades do alvorecer do brasil.

• Dois em um

embora, curiosamente, uma fachada as congre-gue igreja e “convento” (como denominado erro-neamente no prospecto que nos foi entregue, pois convento, segundo o dicionário michaelis, possui acepção para gênero feminino, mais adequado a frei-ras, portanto, e não para frades ou monges – no caso franciscanos –, cujo termo correto seria monastério ou mosteiro), as edificações do conjunto São Francis-co coexistiram desde a taipa à construção do muro, mais recente, concluída em 1788.

Centro Cultural São Francisco: Praça São Francisco, s/n, Centro – João Pessoa /PB – Fone: (83) 3218 4505

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• Arte como invólucro da arte

Passar o adro significa escolher entre dois cami-nhos, ambos interessantes. Um histórico, outro com um quê de contemporâneo. Para o visitante que op-tar pela “sinistra”, o olho mágico vazado deixará en-trever a visão da gênese da cidade, adentrando um pouco a rotina franciscana. Já o que optar pela “des-tra” estará inserido em um mix artístico refinado, que engloba arte contemporânea, sacra e uma ar-quitetura que faz lembrar os tempos de escola a to-dos que estudaram em colégios antigos de tradição cristã. A professora de História ficaria feliz: barroco e rococó estão em perfeitas condições, com pisos ori-ginais da época (em alguns ambientes 100%) e res-taurações primorosas.

olindaas estreitas e coloridas vielas são testemunhas

da criatividade assaz ilimitada do pernambucano. O labirinto estende-se até um mirante onde todas as cores se fundem no infinito e indizível azul do mar, tendo como suporte o skyline de recife. olinda é mesmo maravilhosa (escrever “linda” seria pouco) e

• Pedala, João Pessoa

A convidativa e bem planejada orla de João Pessoa passou a con-tar neste início de ano com mais um atrativo para aqueles que curtem pedalar livremente: o “Pedala, João Pessoa”, uma interes-sante iniciativa da Prefeitura que possibilita o empréstimo de bi-cicletas em pontos específicos como o que pudemos ver no Cabo branco. É só seguir as instruções para liberar a bicicleta, via celu-lar, mediante a compra antecipada de créditos, e sair pedalando. Não é necessário devolver a magrela exatamente onde você a pegou, desde que haja uma posição livre em outro ponto. basta encaixá-la e voilá, você permite que outra pessoa a utilize.

plena de experiências inusitadas. o lugar respira arte por todos os cantos. onde quer que se vá, a produ-ção dos “mestres” está disponível para todos os bol-sos, dando a cada visitante a oportunidade de levar consigo – e sem dano para o patrimônio histórico – um pedacinho do charmoso bairro na bagagem.

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as rodas tocam o chão. a potente pinça dos freios exerce sua pressão. tudo, em progressão matemática, é jogado para a frente. A realidade presa por um cinto que se quer desafivelado ao menor sinal luminoso do teto. A ansiedade se justifi-ca. todos querem pôr os pés em recife primeiro. senão em primeiro, em segundo lugar, e para ficar – como quis o holandês Maurício de Nassau, que pelejou com os portugueses, mas sucumbiu ante à inanição provocada pela própria companhia das índias que o fomentou. aliás, o curto domínio sob seu júdice deixou profun-das marcas na gente e na cultura da capital pernambucana. Uma personalidade cosmopolita, cujo refinamento artístico e a valorização de manifestações culturais populares foram capazes de gerar, entre outras coisas, gêneros musicais como não se via desde a tropicália (vide o mangue beat, que congregava chico science, fred 04, Jorge du Peixe e suas bandas, Nação zumbi e mundo livre s/a, fundamentais para quem gosta de MPB e quer entender música brasileira). A equipe da Revista Novo Ambiente ainda esperou pacientemente pelas malas que teimavam em não aparecer na esteira. o carro alugado, à espera, já estava com o rádio ligado: “al-zira bebendo vodca defronte da Torre Malakoff / Descobre que o chão do Recife afunda um milímetro a cada gole...” muito bem. lenine dá o tom para que a cidade ofereça o que tem de melhor: conteúdo e estética inebriantes.

recife

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• Sinagoga Kahal Zur Israel

Parece história de filme. Durante escavações para as obras de uma reforma, é encontrada uma sé-rie de artefatos muito antigos. É decretada, então, a transformação do canteiro de obras em sítio arque-ológico. cada pincelada dos arqueólogos revela os detalhes de uma insuspeita correlação direta entre Recife e Nova Iorque. O sítio em questão é a primeira sinagoga das américas, construída durante domínio holandês – tolerante quanto à liberdade de culto, como rezava o regimento da Companhia das Índias Ocidentais: “(...) que não sejam molestados ou su-jeitos a indagações em suas consciências ou em suas casas” (Haia, 13 de outubro de 1629). Estavam lança-das as bases para um movimento migratório tanto de judeus holandeses quanto de portugueses, que para cá vieram e estabeleceram uma comunidade que, na época, correspondia a 50% da população branca de Recife. Profissionais liberais, comerciantes e senho-res de engenho, eles rapidamente se inseriram na vida econômica da capital.

• Guerra, cerco e fuga Por três vezes, antes da rendição, em 1654, os ho-

landeses foram derrotados pelas tropas portuguesas. durante o cerco, a população sofreu muito, pois falta-vam gêneros de primeira necessidade, e qualquer coisa que pudesse ser comida o era. Porém, para os judeus, a salvação veio no nome de duas embarcações, o falcão e o Elisabeth, que chegaram a tempo para permitir a fuga: “No dia nove do quarto mês, dois navios tornaram-se para meu povo como que remédio predestinado”, es-creveu o rabino isaac aboab da fonseca, autor do pri-meiro texto hebraico das américas e líder espiritual da comunidade. expulsa do recife, parte dessa população voltou a amsterdã ou foi para “Nova amsterdã”, futura Nova Iorque, sendo os primeiros judeus admitidos lá. findo o período brutal da inquisição, a cidade somente voltaria a receber judeus na segunda metade do século 19, passando a ter uma comunidade judaica realmente forte no século 20, demonstrando, assim, a consolida-ção do Brasil como uma nação democrática, pronta a acolher as mais diversas etnias.

Visite a Sinagoga Kahal Zur Israel: Rua do Bom Jesus (antiga Rua dos Judeus) , 197, Recife - PE. Por apenas R$ 5,00 você pode aprender um pouco mais do Brasil do século 17 e, de quebra, ainda conhecer um pouco mais da cultura judaica.

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Oficina Cerâmica Francisco Brennand. Propriedade Santos Cosme e Damião, s/n - Várzea Recife/PE . Fone: (81) 3271 2466.Lá é possível comprar um pouquinho da arte de Brennand, em um “café” cli-matizado onde, entre um gole e outro do refrigerante gelado – necessário após caminhar sob o sol forte que dá moldura às obras ao ar livre, conversa-se sobre a magnífica experiência de “imersão”.

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• A dimensão Brennand

“mestre dos sonhos”, como estampado no fôlder. esta é a mais adequada tradução do nome francisco Brennand para o português. Expressão idiomática fun-damental em uma língua desconhecida, o criador é o verbo. O verbo que desde o princípio conduz o apre-ciador a um universo particular, cuja simbologia am-bígua está apoiada no repertório daquele que a con-templa. Deus e o diabo na terra do sol. A santidade, a volúpia, a luxúria, a exuberância, a inocência. tudo convive harmoniosamente de forma integrada e natu-ral dentro da oficina que dá ao artista sua “base” no planeta terra. o canto gregoriano que soa pelas caixas de som denota um cuidado magistral, em uma com-posição que coisifica pessoas e personaliza animais.

• Pequeno. Sinta-se pequeno

as mulheres pernambucanas são também a per-sonificação do colosso de peso e barro maciço da obra de uma vida. Parte de uma exposição permanente, cuja curadoria é legitimada pelo sentido literal da pa-lavra, na figura de uma guardiã abnegada. O passeio é um prazer que não tem prazo de validade, assim como as praias que fazem a fama deste chão que vira arte, quando o “midas” pernambucano o toca.

a presença viva em constante evolução não deve ser importunada. o deus vivo caminha ante suas cria-turas: “Não, não vamos incomodá-lo.” Uma oração no idioma nativo, apreendido entre o rinchar intermiten-te e lépido da borracha do tênis nas pastilhas, basta como reverência.

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• De buggy, em maragogi

• Praia do Francês

Igualmente belas, porém distintas em suas pro-postas. A calmaria das areias de Maragogi faz um con-traponto diametralmente oposto à agitação e badala-ção das que estão espalhadas pela Praia do francês. tal qual duas irmãs gêmeas, a distância que separa dois caminhos e gostos – conciliáveis, é verdade – pos-sibilita amplas escolhas dentro dos estilos compatíveis com o devaneio que cada um de nós procura ao longo das mudanças de humor ou das fases da vida.

A grafia é uma incógnita até hoje. Boogie, bug-gie, bugue, bugre... há formas (assim como mode-los) para todos os gostos e idiomas. Acredita-se que venha da palavra bug, em inglês, assim, para inseto mesmo. O fato é que o termo se refere àquele tipo de carro feito a partir do chassi do Fusca, coinciden-temente também chamado de “besouro”. em uma montagem cuja anatomia permite um comporta-mento dinâmico excelente na areia, a vocação é re-forçada pelos pneus “balão” com grande superfície, próprios para acrobacias na praia.

Há muitos anos eles estão associados à paisagem nordestina. “Jegues modernos”, eles fazem a alegria da turistada, levando os mais aventureiros a lugares incríveis. Há mais de 40 bugueiros cadastrados na prefeitura. Organizada, a categoria é unida e se reve-sa para atender a todos que quiserem dar suas “in-certas” pelas belas praias de alagoas. conscientes de que, mais do que profissionais em exercício, são re-presentantes das comunidades que percorrem, fica patente o cuidado dos “pilotos” ao trafegar pela orla, em baixa velocidade, normalmente até cumprimen-tando os trauseuntes, vez ou outra dando algumas buzinadinhas de longe, para não assustar os mais incautos, extasiados com a beleza do mar. Acertado um dia antes, o passeio que fizemos contou com a perícia do “comandante” amilton, profundo conhe-cedor da região e muito popular na comunidade. Nosso itinerário incluiu Maragogi, praia do Camacho, praia do são bento, praia do salgado e foi até Japara-tinga, com direito a paradas estratégicas para as be-líssimas fotos que você vê nesta reportagem e a três águas de coco colhidas diretamente do coqueiro.

a equipe da Revista Novo Ambiente também pôde ver como funciona uma pequena fábrica de sequilhos, feitos à mão com auxílio de tesouras, que ajudam a dar formatos inusitados para a massa. Há-

beis, as doceiras imprimem um ritmo forte de traba-lho, aparentemente indiferentes ao pano de fundo, composto pelo mar, pelas areias da praia e as baloi-çantes palmeiras. sabor atestado, é hora de voltar. a chave gira e os gordos pneus põem a equipe em mo-vimento: é hora de sair do caminho de areia e “cair no asfalto” novamente.

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• Conhecer e preservar

o belíssimo patrimônio que salta aos olhos de todos, independente do perfil, é uma questão de estado, tida como prioridade absoluta, como a revista Novo ambien-te pôde verificar em uma entrevista exlusiva com a Secre-tária de Turismo de Alagoas, Danielle Govas Pimenta Novis: “Alagoas possui o segundo maior recife de corais do mundo, atrás somente da Austrália. Existe um termo de conduta para disciplinar o uso desses corais, que nos permite preservar esse ativo de valor incalculável que é o meio ambiente” diz, complementando a declaração com uma dica para a equipe: “No litoral sul, temos al-guns cartões-postais como a Praia do francês e a barra de são miguel, que possuem muita diversidade, um turismo mais massivo, mas que vem se configurando dentro de um padrão de qualidade alto que estamos consolidando como diferencial.” ao visitar alagoas, a revista Novo am-biente é taxativa: reserve tempo, conheça todas as praias e forme você mesmo sua opinião.

Rota das CoresRota das Cores

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A rota das Águas

CApA Nordeste

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O calor do Nordeste sugere atividades refrescantes. Banho de praia ou de rio é uma tentação debaixo de um sol que faz os termômetros passarem facilmente dos 40 graus. Se esse banho tiver um cenário de cartão-postal, então, torna o passeio mais interessante. Na Bahia e em Sergipe, partimos das capitais com destino a dois paraísos diferentes. No estado baiano, o litoral sul e as paisagens de itacaré. em sergipe, trocamos a água salgada de aracaju pela água doce do rio são francisco. em um mergulho nos cânions de canindé de São Francisco, próximo à usina de Xingó, percebemos e transmitimos as emoções de estar junto da imponência da natureza nordestina.

foto: revista Novo ambiente/leandro dvorak

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Visto de cima, da janela do avião, o litoral baia-no atiça os instintos

de explorador em qualquer ser humano que tenha o mínimo de espírito aventureiro. É impossí-vel não imaginar-se desbravando aqueles quilômetros de costa, que se perdem no infinito. Praias desertas, manguezais, rios, baías e muito, muito coqueiro.

durante o sobrevoo, junto com a capital salvador chega o impacto:

navios carregados, prontos para descarregar, com o Pelourinho ao fundo; os blocos de concreto, sime-tricamente ajustados às ladeiras e à geografia da Baía de Todos os San-tos; condomínios e favelas integra-dos aos desníveis da terra e, ao mes-mo tempo, tão próximos do mar.

salvador é sempre uma sur-presa. como toda capital, tem seus dias e noites agitados. a cidade, com quase 3 milhões de habitan-tes, deve receber no próximo verão

algo entre 1,5 milhão e 2 milhões de turistas. mas essa baiana parece ter o que outras capitais não têm: um sotaque que só ali se percebe, diferente até mesmo do de outras cidades da bahia. Uma pimenta tão forte que só tem lá. Quem não é de salvador, mesmo negro ou calado, não consegue disfarçar e acaba se entregando forasteiro no jeito de andar ou por meio de uma expres-são facial diferente da despretensio-sa maioria que vive ali.

bahia

A capital Salvador

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• Terra à vista

depois de atravessar o túnel de bambus na saída do aeroporto e viajar pela baía de todos os san-tos a bordo de um ferry boat até a ilha de itaparica, a rodovia ba-001 guia o carro por lugares im-pressionantes. Uma viagem pelo litoral sul da bahia, que está mais

Lançamos o turismo náutico, há isenção de imposto para as empresas que se instalarem

na Bahia e construir barcos de passeio. Nosso mar é de almirante e nosso céu é de brigadeiro durante os doze meses do ano.

curta graças à conclusão da ponte entre camamu e itacaré, diminui a distância em um bom punhado de quilômetros.

Para o secretário de turismo da bahia, antonio carlos tramm, a grande recuperação da malha rodoviária estadual é um dos prin-cipais incentivos ao turismo no estado, visto que 52% dos turis-tas são os próprios baianos. além das estradas, o governo pretende investir no transporte marítimo, com construção de terminal de

passageiros e outras ações. “lan-çamos o turismo náutico, isenção de imposto às empresas que se instalarem na bahia para construir barcos de passeio. Nosso mar é de almirante e nosso céu é de briga-deiro durante os doze meses do ano”, afirma o Secretário.

Ele conta que US$ 90 milhões, vindos de um financiamento do Prodetur, serão aplicados na baía de todos os santos, em obras de construção de pontes e recompo-sições, bem como outras ações.

antonio carlos tramm, secretário de turismo da bahia

Túnel de bambus na saída do aeroporto de Salvador

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• Paixão além-mar

Talvez muito mais conhecida no exterior que no próprio Brasil, Itacaré atrai cada vez mais turis-tas estrangeiros. Europeus e americanos ficam tão encantados com aquele pedaço de terra, cercado de praias, rios, cachoeiras e coqueiros por todos os lados, que, além de visitar frequentemente, voltam para residir e investir.

O fenômeno é compreensível. Quantos lugares no mundo concentram tanta beleza em uma área tão pequena? bem próximas ao centro da cidade, seis praias são acessíveis de carro, bicicleta ou a pé. coroinha, uma praia dentro do rio de contas, guarda com segurança as embarcações pesqueiras e de pas-seio. Na foz do mesmo rio fica a Concha, com águas tranquilas, ideal para banho para quem não tem mui-ta habilidade com a natação. Continuando pela mar-gem direita, sentido sul, vêm na sequência: Resende, depois Tiririca, Costa e por último, Ribeira. Todas saídas de cartão-postal. mar lindo, ondas perfeitas, areia limpa e clara e mata nativa, principalmente co-queiros. A partir daí o acesso às praias começa a ficar mais difícil. Alcançadas somente por trilhas ou barco, podem ser comparadas a irmãs, filhas dos mesmos pais, e top models. todas são parecidas, mas não iguais. Cada qual com sua beleza, nenhuma delas tem unanimidade, mas todas têm. contam as más línguas que a Prainha seria a preferida de quem as “concebeu”. concursos a elegeram entre as mais be-las “miss praia” em concursos internacionais.

o fotógrafo mario Noronha conta que na praia da tiririca, que recebe eventos do circuito mundial de surf por causa da qualidade e constância de suas ondas, os estrangeiros chegaram a refazer o cenário.

arrumaram o jardim e construíram uma pista de ska-te para deixar o lugar ainda mais agradável. “os grin-gos investem, mas os nativos acabam morando nas favelas”, reclama ele, que trabalha em um projeto social que traz cinema para a comunidade.

boa parte de hotéis e pousadas, restaurantes ou lojas pertencem ou têm recurso de algum gringo que se apaixonou pelo lugar. Há os que se apaixonam en-tre si e vão celebrar em itacaré. eóin mac maoilir e louise malone, americanos de orlando, vieram para o casamento de amigos que escolheram fazer a fes-ta no mini paraíso. Quando conversaram com nossa equipe, já estavam há uma semana em itacaré, en-cantados com tanta beleza natural.

Prainha

Pista de skate na praia da Tiririca

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Nicole lacampagne também desenvolveu uma relação passional com itacaré. Primeiro acomodou, pouco a pouco, uma pousada dentro da mata atlân-tica. Passados 15 anos, dá para perceber que o am-biente não só não reclamou como gostou da ideia. as árvores centenárias abraçaram os quartos, que lhes pareceram simpáticos, já que têm paredes de madei-ra, telhados de palha, coletam água da chuva e ainda por cima não têm televisão.

Nicole, que é francesa, foi além. Não só contrata funcionários que sejam do local como, na zona rural de itacaré, na periferia, desenvolve projetos sociais dentro das comunidades. o importante, segundo ela, é “viver de uma maneira simples, mas suficiente”.

• A gestão pública

alguns moradores reclamam da administração municipal. Dizem que os votos estão na periferia, então praticamente não existe interesse dos políti-cos em investir nas praias. Se avaliarmos a questão a partir da coleta de lixo, por exemplo, devemos con-siderar a bronca. Nossa equipe flagrou cenas como a de cavalos como se fossem cães vira-latas, comendo sacos de lixo direto das lixeiras em frente às residên-cias. Em outra ocasião, a cinematográfica praia da costa serviu de pano de fundo para um saldo indi-gesto de embalagens e cocos, resultado de um fim de semana de sol, areia, mar, calor e muito consumo.

O Prefeito Antônio Damasceno se defende e afir-ma que a área territorial de itacaré é muito grande (730 km2) e os recursos são poucos. “A cidade não estava preparada para a quantidade de turistas que passou a receber após a conclusão da estrada entre

ilhéus e itacaré. Não foi feito um planejamento urba-no. Agora é que estamos organizando o Plano Diretor de Itacaré, que não existia, apesar de o município es-tar dentro de uma Área de Proteção ambiental.” ele afirma que o pior problema não é a coleta, mas sim a destinação do lixo. “A prefeitura está desenvolven-do um plano básico de destinação de lixo urbano. Em parceria com a Universidade Estadual de Santa Cruz, adquirimos equipamentos para a separação e tria-gem”, aponta.

Prainha

Árvores centanárias

Cavalos comendo sacos de lixo direto das lixeiras

Embalagens e cocos

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• De veleiro pelo litoral brasileiro

alheios a essa discussão, Gustavo sabino e Nilton baluch (o primeiro, carioca residente em florianó-polis; e o segundo, paranaense morador da ilha do Mel) escolheram a praia da Coroinha para ancorar o veleiro que os leva de volta ao sul. a viagem de ida começou no final de julho. Depois de uma viagem que partiu da capital catarinense e fez escalas em diversos pontos do litoral brasileiro, eles apostaram corrida com outros barcos à vela, em uma regata que saiu de recife para fernando de Noronha. chegaram em quarto lugar e agora, sem nenhuma pressa, estão voltando na velocidade do vento, como um piloto que passeia pela pista de corrida enquanto come-mora sua conquista. a dupla recebeu nossa equipe a bordo do super Pimpo, o vitorioso veleiro de 32 pés construído num estaleiro em santa catarina.

Nilton diz que tem planos de construir um Villa-ge sustentável na ilha do mel. “durante a viagem, aproveito para conhecer como funcionam essas ins-talações ao longo da costa brasileira. se for construir em um lugar como esse, tem que ser uma constru-ção sustentável.” Gustavo, o comandante, conta das principais passagens do trajeto: dias sem vento, encontros com baleias e a comunicação com outras embarcações fazem parte do cotidiano dos três, Gus-tavo, Nilton e super Pimpo. “teve um companheiro, em outro barco, que chegou a colidir com uma ba-leia. o veleiro sofreu avarias e a baleia, apesar de não ter se ferido gravemente, perdeu muito sangue. as imagens foram chocantes. Por isso, quando avis-tamos uma baleia, já mudamos a rota para evitar o choque”, explica o comandante.

a secretaria de meio ambiente trabalha para equa-cionar o investimento em infraestrutura, de hotéis e de transporte, com políticas fundamentais de preservação da biodiversidade. segundo o Secretário Eugênio Spen-gler, ações de recuperação de áreas degradadas, melho-ria no saneamento e treinamento de comunidades que vivem no entorno de áreas de preservação são algumas das ações desenvolvidas pelo governo estadual para buscar o equilíbrio.

“Não podemos desconsiderar as outras atividades econômicas. Temos que criar condições de convivência entre elas e até o fortalecimento de uma pela presença da outra”, diz o Secretário, que é filósofo por formação. ele usa como exemplo o cacau-cabruca, um sistema de produção de cacau plantado no meio da Mata Atlântica sem prejudicar a vegetação remanescente.

• O governo estadual e o meio ambiente

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sergipe

No estado com a menor área territorial do brasil (o Sergipe tem 21.900 km2), escondem-se riquezas e belezas de tamanho grande demais para ser mensura-do. a capital, aracaju, ainda está longe de ser um dos principais roteiros turísticos do Brasil. Com exceção do carnaval e das festas de junho, quando acontece o for-ró Caju, o fluxo de visitantes não está entre os grandes responsáveis pela movimentação econômica da cidade. Na opinião de José Hamilton de santana, faltam campa-

nhas de divulgação nacional por períodos prolongados e sem interveniência ou cortes. “o problema é que um go-verno chega e faz um trabalho, o que sucede desmancha e começa outro. Nosso turismo ainda é muito pequeno, mas se tiver 100 turistas em Aracaju, 80 vêm ao Cariri”, garante o proprietário da tradicional casa de forró e res-taurante, situada na famosa via gastronômica Passarela do caranguejo, e que há 12 anos oferece a cultura nor-destina em forma de música, dança e gastronomia.

Itacaré – Pousada Sítio Ilha Verde www.ilhaverde.com.br

• Sugestão de hospedagem

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vv

• Projeto Tamar

seguindo pelo litoral na direção norte, logo chega-se a Pirambu, onde começa a re-serva biológica de santa isabel. lá, uma base do projeto tamar guarda boas histórias. Nos-so cicerone, José antônio dos santos, confessa que já esteve do outro lado. era pescador e admite que o ovo da tartaruga é muito saboroso. Hoje, zé an-tônio é um dos principais defen-sores dos simpáticos animais. “monitoramos mais de 46 km de praia. Quatro espécies brasi-leiras (cabeçuda, pente, verde e oliva) desovam aqui na praia de Pirambu. de mil ovos, apenas um ou dois irá sobreviver”, aler-ta ele. A raposa e os cachorros domésticos são os pio-res predadores na fase inicial, quando os ovos ainda estão nos ninhos. depois o perigo vem do céu. aves e caranguejos interceptam o caminho das tartarugui-nhas rumo ao mar. Quando enfim atingem a água, os filhotes têm que escapar de bagres, corvinas, cações e tubarões. Não bastassem todos esses adversários

da cadeia alimentar, as tartarugas têm que lutar con-tra redes de pesca e diversos tipos de lixo, lançados ao mar pelo homem. “as sobreviventes, depois de 30 anos, voltam para a praia em que nasceram e deso-vam pela primeira vez. Isto está acontecendo agora aqui em Pirambu. É um clico que se completa”, come-mora o protetor das tartarugas marinhas.

• Banho de rio na terra do Cangaço

canindé de são francisco seria mais um municí-pio comum do interior de sergipe não fosse a passa-gem do rio, que é cantado por poetas e repentistas nordestinos. O São Francisco faz a fronteira de Ser-gipe com alagoas e compõe cenários dignos de pre-servação, visitas e estudos aprofundados o ano todo.

em um passeio de catamarã, barco a motor com espaço para até 250 pessoas, pode-se avistar forma-ções rochosas com mais de 60 milhões de anos. o câ-nion do Xingó é o quinto maior cânion navegável do mundo. o ponto alto do tour está na Gruta do talha-do, quando o barco atraca e os encalorados passagei-ros podem mergulhar no rio são francisco e, de den-tro da água, se encantar com os paredões de rocha.

a história do cangaço está incrustada na região. atravessando a ponte para alagoas, está Piranhas, ci-dade que teve a cabeça de lampião e a de outros de seu bando expostas em praça pública. Piranhas é re-conhecida como Patrimônio Histórico Nacional pelo

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vv

Rota das ÁguasRota das Águas

canindé de são francisco – Xingó Parque Hotel www.xingoparquehotel.com.br

• Sugestão de hospedagem

• Banho de rio na terra do Cangaço

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No movimentodos sonhos

o sol nasce para todos, mas nasce mais para quem está em Natal, ensolarada 300 dias por ano. tanto as praias urbanas da capital como outras 50 praias na costa do Rio Grande do Norte possuem uma beleza que mexe com os sentidos de forma avassaladora. Estão todas ali, ao alcance dos seus desejos mais profundos de encontrar a paz (ou a festa) de que precisa. Apesar de quadricentenária, Natal é uma cidade moderna, alegre e dinâmica que vai te seduzir, fácil, fácil.

CApA Nordeste

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Meu pai dizia que a rede fazia parte da família. A rede colabora no

movimento dos sonhos.

câmara cascudo, sociólogo, pesquisador e escritor. Natalense, foi uma das mais brilhantes cabeças do brasil e conhecia a alma de seu povo como ninguém.

se você for bem esperto, o melhor é duvidar dos folhetos de propaganda sobre Natal, re-tocados pelo Photoshop, e conferir essas

informações pessoalmente. Não se deixe enganar! aí, você vai descobrir que ainda vai demorar cem anos para que exista um software com talento (e petulância) para fazer retoques em imagens da capital potiguar.

Estes presentes da natureza, especialmente em estados áridos como o rio Grande do Norte, repre-sentam mais que um cenário perfeito para turistas entrarem em contato com seu deus, seja qual for ele (embora não devamos esquecer que o nome de sua capital, fundada em 25 de dezembro de 1599, é uma homenagem ao nascimento de Jesus). O turismo representa a possibilidade de redenção econômica para uma população com poucas opções no campo ou na indústria. “estamos trabalhando para diver-sificar nossos produtos turísticos do Rio Grande do Norte, criando oportunidades que não somente as praias, que são o nosso carro-chefe, mas investindo no turismo de aventura e ecoturismo, turismo cultu-ral e turismo de negócios”, diz à Revista Novo Am-biente José Paulo dantas, diretor de eventos da se-cretaria municipal de turismo de Natal.

a cadeia de serviços em torno do turismo em Natal girou quase R$ 6 bilhões em 2008, contra pou-co mais de R$ 13 milhões da pecuária, segundo o IBGE. O desafio é o mesmo no mundo todo para o setor: não matar a galinha dos ovos de ouro. É hora de investir em obras de infraestrutura urbana e ho-teleira (que já é uma das melhores do país, dispon-do de cerca de 28 mil leitos), de qualificar pessoas e comunidades sem que isso represente a destruição do patrimônio natural. O desafio é grande. O poder público ganha por um lado, combatendo com vitó-rias importantes os lixões; por outro, não consegue acompanhar o crescimento vertiginoso da população que dobrou nas últimas três décadas, e o crescimen-to desordenado causa seus estragos, do saneamento à segurança pública, mesmo Natal sendo considera-da a mais segura das capitais brasileiras.

foto: revista Novo ambiente

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Praias e lagoas

Várias praias urbanas de Natal apresentam boas condições de banho, com destaques para a concorri-da Praia dos Artistas, bastante utilizada pela popula-ção local e por surfistas. A praia da Ponta Negra, me-nor e mais charmosa, também é mais elitizada e com boas baladas. Ali está localizado o famoso Morro do Careca, um tanto devastado pelo lazer no passado e que hoje é uma área de proteção ambiental.

a Praia do forte, em torno do forte dos três reis magos, apresenta uma formação inconstante por causa da maré. de um verde muito claro e intenso, suas águas são sedutoras, convidativas e aparente-mente muito limpas, o que se pode notar quando a maré baixa e o fundo de areia das piscinas naturais e do rio Potengi, que ali deságua, fica exposto e não se vê lixo algum, tampouco se nota mau cheiro. É uma generosa mistura de vegetação, sol, mar e areia. ir-resistível.

As lagoas, no entanto, decepcionam. Quase todas as mais famosas estão em propriedades particulares, que criam clubes, restaurantes e brinquedos aquá-ticos (cuja falta de normas mínimas de segurança es-panta) em torno delas, alterando por completo sua beleza natural com estrutura bastante questionável e feia. Programa furado é o nome disso, evite. se você se contenta com contemplação, não deixe de visitar a lagoa de Jenipabu, uma área protegida onde não é possível dar nem um mergulhinho. ainda assim, você pode arriscar um divertido passeio de dromedário, com direito a roupas árabes e tudo para tirar fotos.

Quer nadar?

o melhor mesmo é o mar, mas também existem algumas ressalvas. tanto na costa sul quanto na cos-ta norte existem dezenas de praias, invariavelmente belas. Para o norte, por exemplo, existe a bela praia de muriú – mas cuidado, porque há momentos em que ela parece uma autopista de buggies, que têm a

pachorra de buzinar para os pedestres saírem do ca-minho. Natal é conhecida como a capital mundial do buggy e não é nada difícil perceber por quê. Maraca-jaú também é uma praia linda e o paraíso dos mer-gulhadores, que podem apreciar um mundo de cores incríveis que compõem o ecossistema marinho local.

Forte dos Reis Magos

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As melhores dicas estão no sul. Em Tabatinga, no município de Nísia floresta, você pode se deleitar em grandes piscinas naturais que se formam atrás das im-ponentes barreiras de corais, que viram muros separan-do as piscinas do mar, à medida que a maré vazante vol-ta para o mar (é bom ter cuidado com a forte correnteza nessa hora). Uma cerveja, camarões na manteiga da terra acompanhados de feijão verde (mergulhe sem dó na culinária local), logo ali ao lado daquelas águas ab-surdamente confiáveis, farão você repensar a vida, pra melhor. bem, isso até as quatro da tarde, quando o sol

começa a se pôr e a maré baixa, secando quase todas as piscinas e abrindo um espaço sabe para quem passar, às manadas, alegremente? sim, eles, os buggies, uma diversão insuperável nas dunas, mas inconvenientes e perigosos à beira-mar, alheios às placas que indicam que é proibida a entrada de carros na praia.

Já o diretor de eventos da Prefeitura aponta os lo-cais com melhor estrutura no estado: “o europeu vem ao brasil em busca de sol e mar. No estado, temos a cidade de Natal e a praia do Pipa, são os dois destinos turísticos mais consolidados”, informa Dantas.

Programa de turista

aos olhos dos mais aventureiros que gostam fazer suas próprias e exclusivas descobertas, os ôni-bus descarregando dezenas de velhinhos da melhor idade, com seus chapeuzinhos brancos, não são um prenúncio de que aquele atrativo seja lá muito emo-cionante. mas, que isso! Não seja assim tão precon-ceituoso! Na capital e arredores, existem vários pas-seios de massa que valem muito a pena, como as tri-lhas no Parque das dunas, o segundo maior parque urbano do país, e o museu câmara cascudo.

outras duas dicas imperdíveis são o forte dos reis magos e o maior cajueiro do mundo. construí-do em 1599, e portanto dando origem a Natal, o forte alimenta o relicário em torno da história de cristo. É belo, reconfortante (e não é que suas paredes cen-

Ponte de Todos - Newton Navarro

Praia de Muriú.

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tenárias transmitem mesmo segurança?), além de bastante arejado, refrescado pelo vento incessante que forma as dunas, infla as velas e gera energia no estado. toda a história, desde antes da construção, até próximo aos dias atuais, é contada nos comparti-mentos. Já o maior cajueiro do mundo é interessante não apenas por suas dimensões, que ocupam mais de 8 mil m2 e não param de crescer. Você também pode colher e comer cajus dulcíssimos (o pé produz nada menos que 80 mil frutas por ano) de uma árvore que tem um motivo muito especial para ter o tamanho

que tem. Ela foi plantada por Luiz Inácio de Oliveira em 1888, que desde sempre se apaixonou pelo ca-jueiro. oliveira morreu aos 93 anos de idade sob a sombra do cajueiro, deixando como legado uma be-líssima história de respeito e convívio, além de um ne-gócio que gera renda para centenas de comerciantes, guias e funcionários que organizam a visitação. A en-trada custa só R$ 3, mas imagine isso multiplicado por milhares de velhinhos de chapéus brancos por mês. o lugar conta com uma boa feirinha de artesanato onde é bem possível que você deixe uns trocos.

Hotel-escola

Uma ótima dica de hospedagem é o Barreira roxa, um hotel-escola administrado pelo senac/rN que fica no suntuoso parque hoteleiro da Via Costei-ra. o nome se deve às cores das belas falésias que se precipitam para o mar, logo ao fundo do hotel, vista que pode ser devidamente apreciada do bar molha-do da piscina. O Barreira Roxa é emblemático e sua história é interessante: ele foi inicialmente projetado para servir como residência do Governador, mas, por uma visão empreendedora de José agripino maia, então Governador do rio Grande do Norte, foi trans-formado em hotel-escola e inaugurado em 1985. de lá para cá, formou milhares de profissionais do turis-mo, que colaboraram para que o estado tivesse um dos corpos de profissionais mais qualificados para o turismo em todo o Nordeste.

“são possibilidades de as pessoas mudarem sua qualidade de vida ganhando qualificação profissio-nal e expandindo seus horizontes. Com o advento da copa do mundo, na qual Natal será uma das se-des, essa qualificação torna-se ainda mais necessá-ria e urgente, para que a sociedade brasileira como um todo possa se beneficiar diretamente com este evento”, conta Newton Guerra Filho, Subgerente do hotel-escola.

O maior cajueiro do mundo.

Farol da Mãe Luíza

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Svetlana Maria de Mirandaadvogada especialista em Direito Ambiental

ilustração: revista Novo ambiente/marco Jacobsen

O Direito à informação Ambiental

o direito à informação ambiental decorre do di-reito fundamental da pessoa humana de viver

em ambiente ecologicamente equilibrado. asseguran-do-se isso, permite-se a conscientização dos indivíduos para a devida e esperada participação nas decisões e controle do estado.

o direito ao acesso à informação está assegura-do no inciso XIV do art. 5º da Constituição Federal e estabelecido como um dos objetivos da Política Na-cional do meio ambiente.

Nessa seara, enuncia o princípio 10 da declara-ção do rio de Janeiro de 1992 sobre meio ambiente e Desenvolvimento (ECO-92) que a melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a par-ticipação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públi-cas, inclusive informações acerca de materiais e ativi-dades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos decisórios. Os estados vão facilitar e estimular a conscientização

e a participação popular, colocando as informações à disposição de todos. (...)

Almeja-se, assim, garantir a participação comu-nitária ativa e consciente no desenvolvimento e na implementação das políticas públicas referentes às questões ambientais.

O grande desafio está na instrumentalização dos meios de aquisição da informação por meio de pro-cedimentos, instâncias, prazos, formas, sistematiza-ção, organização e padronização de banco de dados. de igual modo, carece de aprimoramento a legisla-ção que regulamenta o sigilo industrial, indispensá-vel à segurança da sociedade e do próprio estado.

contudo, apesar dos entraves a serem solucio-nados, compete a cada um de nós, no exercício de nossa cidadania, despertar a nossa consciência am-biental em busca da informação ambiental, que, in-discutivelmente, será nossa maior e mais eficiente arma na luta pela preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado, de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, sendo este nos-so dever para as presentes e futuras gerações.

ilustração: revista Novo ambiente/marco Jacobsen

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VTP Tecnologia

carros elétricos sem motorista guiam a ficção científica para as vias urbanas, otimizando tempo, organizando o fluxo e não interferindo na qualidade do ar. Trânsito congestionado nunca mais.

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segunda-feira, Washington, 2.054. o vapor tê-nue do café quente se dissipa no ar, o relógio no table marca em um canto discreto da notí-

cia 7:30. Livre do trânsito caótico, o funcionário faz o nó cruzado na gravata enquanto espera o horário do VTP.

Se o filme Minority Report, de steven spielberg, é a visão do vindouro, bem-vindo, você está no futuro. Com 21 veículos em atividade, o aeroporto de Hea-throw, Reino Unido, traz das telas do cinema a realida-de dos Veículos de Trânsito Pessoal (VTP). O VTP é um minitrem elétrico sem motorista que recebe os passa-geiros na estação, o ponto final é selecionado em um monitor touchscreen que envia as informações para

uma central de controle, a central decide a melhor rota enquanto o passageiro aproveita a viagem em segu-rança e com tranquilidade. o veículo se move por tri-lhos de estação por estação, e o fluxo permanece cons-tante nas pistas sem conflito.

o veículo tem capacidade para cinco adultos e tem sistema de temperatura interna. Hoje, o terminal tem estações em pontos como o metrô, prédios públicos, universidades, centros empresariais e shoppings. Já em abu dhabi, emirados Árabes, está sendo constru-ída a cidade sustentável de masdar, onde a intenção é substituir, até 2015, todo o transporte por carros elé-tricos guiados por marcadores magnéticos no chão.

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Descarga legalah, por que ninguém pensou em algo tão óbvio antes?! soluções simples como as descargas de dois botões prometem promover uma pequena revolução. os sistemas de reaproveitamento de água estão cada vez mais presentes nos projetos urbanísticos, mas, enquanto isso não se populariza para as estruturas já existentes, o negócio é racionalizar, sem ter que racionart.

se é um desperdício utilizarmos água potá-vel nos vasos sanitários, mais desperdício é jogar dez litros cano abaixo por causa de

um xixizinho inocente. Conheça alguns sistemas que controlam o volume de água em cada descarga. Um botão para resíduos líquidos, outro para descarga completa. É inteligente: você economiza na conta de água, reduz a retirada de água dos rios e manda me-nos líquidos para o esgoto. É também uma descarga de consciência.

Um botão para resíduos líquidos, outro para descarga completa. É inteligente: você economiza

na conta de água, reduz a retirada de água dos rios e manda menos líquidos para o esgoto.

sAneAmento Equipamentos

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• Acabamento para válvula de descarga Clássica Salvágua Chrome (Docol)Reduz o volume de água utilizado por meio do acio-namento de duas teclas de acionamento parcial, para os líquidos e total. O consumo pode ser reduzi-do em mais de 30%.

• Decaseu design inovador permite fácil iden-tificação do volume de descarga dese-jado: descarga rápida no botão menor e descarga total no botão maior. Na descarga de 3 litros (botão menor), o volume é limitado, mesmo quando o botão permanece pressionado. isso é possível graças ao seu mecanismo in-terno, que limita o ciclo de descarga. Economiza até 40% de água em com-paração com um sistema de descarga convencional, uma vez que 80% da uti-lização do sanitário residencial é para remoção de dejetos líquidos.

• FabrimarPor meio de um controle externo, apenas com uma chave, é possível regular a vazão e o tempo de des-carga. aprovada para uso em banheiros para pessoas com dificuldades motoras, pela facilidade de aciona-mento. É ideal para uso público, dada sua economia e menor consumo de água. tem a única válvula de ci-clo fixo do mercado, enquadrada no Programa de Uso racional de Água.

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Água na Ocade 26 de novembro de 2010 até 8 de maio de 2011, acontece na oca, Parque do ibirapuera, aquela que promete ser a maior exposição sobre água já feita no mundo. Um evento cheio de atrações para quem quer mergulhar no universo de um dos bens mais preciosos do planeta.

ÁguA Exposição

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a megaexposição Água na oca trata da relação entre a água e o planeta, enfatizando o que essa substância representa para o brasil e o seu povo,

detentor do maior manancial do globo. aliando ciência, arte e tecnologia, serão apresentadas instalações interativas, obras de arte, peças de acervo museológico, aquários reais e virtuais, fotografias e instalações audiovisuais, que ocupa-rão os 8.000 m² do pavilhão da oca. durante os cinco meses em que permanecerá em São Paulo, Água na Oca realizará também palestras, workshops e um extenso programa edu-cacional, voltado para toda a rede de ensino.

Idealizada e realizada pelo Instituto Sangari em parce-ria com o museu de História Natural de Nova iorque, Água na oca é apresentada pela ibm e pela Petrobras. o que será visto nos 8.000 m² do pavilhão “é uma mostra integralmente concebida no brasil e para o brasil. em termos de espaço, di-versidade e alcance, é quase dez vezes maior do que a ameri-cana. Fazer uma exposição sobre a água é como montar uma exposição sobre a vida, um assunto igualmente grandioso e infindável”, afirma o curador brasileiro Marcello Dantas.

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a mostra é dividida por temas, de acordo com cada andar do pavilhão da oca:

• o subsolo é o andar dedicado às obras de arte que envolvem água, seja como elemento de inspiração ou como material que pode ser esculpido. denomi-nado “desaguar”, o piso apresenta cinco obras que foram comissionadas a artistas brasileiros;

• no térreo, o visitante encontra o “Mundo d’Água”, que trata das relações entre a água, a vida e o planeta, suas propriedades, problemas e potenciais. Neste es-paço, é possível conhecer as diferentes relações entre a água e os seres vivos, desde aqueles que vivem no mar até os que sobrevivem em condições extremas de escassez deste recurso. Esse andar terá uma faixa de aquários com mais de 60 espécies de peixes que vivem em sete ecossistemas diferentes. será possível conhecer espécies que habitam o rio Negro, cursos d’água da floresta de Sumatra e a bacia do Congo;

• o primeiro andar mostrará cenas como a fúria das enchentes, um problema grave, principalmente no verão, que devasta cidades, casas, leva vidas e se re-pete todos os anos. Os visitantes serão conduzidos por uma instalação que simula uma casa durante uma tempestade e a ameaça da enchente;

• o zona abissal é uma a grande atração do segundo andar, chamado de “A Última Fronteira”. Neste espa-ço, o espectador assistirá a um vídeo que o levará a diferentes lugares, desde os conhecidos recifes de coral até as partes mais obscuras do oceano.

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Delson Amadorengenheiro eletricista

Do “Grooving” ao “Finger” reformas incipientes, tardias e subdimensio-

nadas marcam os “esforços” brasileiros para fazer com que a infraestrutura aeroportuária possa atender às agendas internacionais que se acumulam. Na maioria dos casos, nas rápidas conversas de fila de check in, as experiências compartilhadas, quan-do não de desorganização e desinformação, são de pura e simples irritação. “Voar no Brasil é complica-do!”, ouço da analista de sistemas formada em Nova Jersey que se acomoda à minha esquerda. realmen-te, voar no brasil é complicado, repito, enquanto procuro mentalmente uma justificativa para as três mudanças de portão de embarque pelas quais passa-mos e para a demora demasiada da permanência de nossa aeronave em solo.

aéreas e administradores de aeroportos pare-cem não falar a mesma língua. truncada, a informa-ção divulgada na tela se apaga e é automaticamente deletada da memória dos atendentes, que, via seus pequenos Ht’s, passam a receber de uma espécie de “oráculo” invisível as vidências e previsões de um sis-tema em transe. “Por que voar no brasil é complica-do?” talvez seja a correta inflexão de frase a ser pro-ferida. Convidando à reflexão, ao planejamento, ao entendimento e à análise, não ao conformismo.

Há quem julgue inúmeros exemplos como o “modelo” a ser seguido. os americanos e sua grande capilaridade de linhas aéreas, ágeis e desembaraça-das; os precisos ingleses com sua justificada pontu-alidade e organização. Mais do que inspiração em modelos externos, o brasil pode – e deve – voltar-se para as experiências de sucesso levadas a efeito in-

ternamente. bons modelos de gestão existem, estão à disposição e extremamente adaptados para a reali-dade nacional, que possui demandas específicas que caracterizam o “jeito” brasileiro de voar. As soluções importadas, à primeira vista, soam melhores, po-rém, uma vez que a “festa acabar”, podem tornar-se monumentais elefantes brancos, inviáveis em sua operação cotidiana.

Vejo com bons olhos, dentro do raciocínio acima proposto, o modus operandi dos aeroportos regio-nais do estado de são Paulo. como foi possível ob-servar, em parte, por meio da reportagem “seguran-ça e respeito”, veiculada no debut desta publicação. estruturados no monitoramento constante das va-riantes ambientais e em um cuidadoso acompanha-mento da demanda, eles operam sem alvoroço e sem surpresas para os usuários. Eficientemente di-mensionados e com projeções corretamente estabe-lecidas, eles propiciam uma interação que difere da de outras estruturas visivelmente saturadas e, quan-do não, desgastadas e defasadas.

É preciso melhorar o desempenho dos aeropor-tos brasileiros. É preciso estabelecer condições den-tro dos arranjos financeiros da união, dos estados – e por que não dos municípios? – que tornem mais pulverizada a captação dos investimentos para estas benfeitorias, viabilizando aportes constantes, pro-gressivos e não apenas ações pontuais, com mon-tantes razoáveis, expressos com grande alarde nas placas de obras que podemos ver onde há alguma intervenção em andamento. Não dá para ficar nas aparências. É preciso agir – e agir agora.

ilustração: revista Novo ambiente/marco Jacobsen

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eConomiA Certificação

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Uma penca de

selos verdesa discussão acerca das formas de produção e consumo ganha força no mundo todo a cada mês. e como sabemos, em quase tudo na vida, para cada nova solução, temos um novo problema. Um tema que deve ganhar cada vez mais destaque nos debates sobre um mundo sustentável parece ser a proliferação dos chamados “selos verdes”.

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V ocê já parou para se perguntar quantos “selos verdes” existem hoje? antes ape-nas comprávamos um produto por achar

que sua marca era confiável, seu acabamento decen-te, e sua qualidade garantidora da utilidade deseja-da e duradoura. certamente nosso consumo segue o mesmo desenrolar, mas nos tempos de busca de compras responsáveis, estes novos selos parecem procriar-se mais rapidamente do que a própria ino-vação de produtos, em todas as esferas possíveis da indústria global.

Prova de tal afirmação está disponível na grande teia cibernética. Pela web, você se depara com mar-cas mais “verdes” que outras, processos produtivos mais socialmente responsáveis e empresas que ale-gam “emissão zero” de carbono em suas operações, e tudo isso supostamente embasado em “selos” de autenticidade daquilo que se afirma.

Em setembro, representantes de entidades glo-bais como a Organização Internacional do Trabalho ou o Conselho de Manejo Florestal (Forest Stewar-dship Council – FSC), Rainforest Alliance e WWF In-ternational, discutiam, em Londres, um tema amplo e relevante: Certificação, Consumo e Mudança (Cer-tification, Consumption, and Change).

Por aqui, a Revista Novo Ambiente, em sua edi-ção 5, cobriu um evento que reuniu o setor privado e o Governo Federal com o objetivo de avançar em tema semelhante e desenvolver o Plano de ação para Pro-dução e consumo sustentáveis – o PPcs. ou seja, as intenções são boas, mas o consumidor final talvez se veja emaranhado em uma outra teia – a da certifica-ção de produtos sustentáveis ou produzidos de manei-ra mais eco-inteligente que outros.

Para se ter uma ideia da evolução trazida pela certificação, um interessante artigo publicado pela companhia SustainAbility – entidade que atua desde 1987 “para catalisar inovações e prover soluções para tornar os negócios e os mercados sustentáveis” – e as-sinado por uma de suas gerentes, Patrin Watanatada, aponta nada menos que 349 selos certificadores de práticas sustentáveis ou positivas nas mais variadas áreas de atuação de empresas do mundo todo.

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O artigo intitulado “Confiança, Influência e Ca-deias Globais de Valores: qual o próximo passo para certificações e selos?” traz luz sobre os tais selos eco-lógicos. São selos certificando boas procedências na produção de lã na Nova zelândia, como é o caso do “zque”, ou o “Green label”, comprovando produtos de qualidade ambiental em israel, e o “Green crane”, uma marca nacional de selo ecológico da Ucrânia. Na lista, é possível encontrar ainda selos ecológicos para produtos das filipinas, estados Unidos, inglaterra, su-íça, África do sul e brasil, como é o caso da abio (asso-ciação de agricultores biológicos do estado do rio de Janeiro), ou ainda da Chão Vivo (Associação de Certifi-cação de Produtos Orgânicos do Espírito Santo).

“O que todos estes selos e certificações estão tentando fazer?”, questiona Watanatada em seu ar-tigo. “O objetivo básico de um selo ecológico é dizer ao consumidor uma história para que ele possa con-fiar no que acontece na cadeia produtiva e de valor daquele produto”, explica.

A partir destas percepções e do debate ocorrido em londres, a especialista lista algumas tarefas que os tais selos parecem querer cumprir:

• estabelecer definições em comum, metas e men-surações;• engajar as pessoas na tomada de decisões e na busca de soluções;• comunicar performance positiva aos consumidores na hora da compra;• prover segurança aos consumidores e ao público em geral;• aumentar as vendas.

O que parece, por fim, é que estamos diante de muito mais do que apenas buscar um consumo co-erente ou sustentável. a própria forma de consumir está em transformação. os consumidores passam a ser cidadãos e consumidores de forma indissociá-vel. Diante do universo da certificação ambiental dos mais variados produtos, vemos uma qualificação do ato de consumir, e também de produzir.

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ilustração: revista Novo ambiente/marco Jacobsen

90 Edemar Gregorioescritor e jornalista

ilustração: revista Novo ambiente/marco Jacobsen

mesmo que a culpa do desequilíbrio climá-tico que esvaziou rios amazônicos recen-

temente não seja do homem, o que veio à tona di-retamente do silencioso fundo do rio é. milhares de toneladas de lixo surpreenderam até os manauaras que se depararam com um inferno de entulhos sur-gindo, cada dia mais visíveis, no leito seco do pode-roso (e até então tido como limpo) rio Negro. Os pró-prios moradores flutuantes se espantaram. “Nossa, quanto lixo! E eu só joguei aquele sofazinho ali!” Ele sabe que não pode, todos sabem. ele sabe que polui e faz mal. Ele tem consciência e conhece as regras, mas elas só valem para os outros.

Aquela lenda hollywoodiana da selva amazônica intocada, nunca dantes pisada por um homem civiliza-do, da pureza quase edílica, isso já era faz muito tem-po. em torno da br-163, a mata desapareceu por cen-tenas e centenas de quilômetros. de cuiabá até perto de santarém. Nada. agora, o braço mais forte do maior rio do mundo, o Amazonas, mostrou suas vísceras do-entes a todos. Não, senhora, não finja que não viu. As tais “vergonhas que mostramos”, das quais Pero Vaz de caminha falou à corte portuguesa ao conhecer um brasil terrivelmente lindo, eram nossos sexos. se ca-minha desembarcasse hoje por aqui, certamente teria que criar uma palavra muito mais forte que “vergonha” para o lixo que se acumula em nossa costa.

A mesma seca que castigou a Amazônia subju-gou o cerrado brasileiro. os incêndios causaram um prejuízo incalculável para a fauna e a flora brasileiras. Queimadas criminosas, descaso das comunidades, fal-catruas em terras indígenas, ineficiência do estado em punir os culpados e combater o fogo. Puf! cadê a ade-são ao ano internacional da biodiversidade da oNU? Não há definições concretas, apenas esboços simbóli-cos. Não foi tão alardeado o tal compromisso do brasil com a redução de emissões? mas como faremos isso? deixando o país queimar? em tempo, a esmagadora maioria da emissão de gases do efeito estufa do brasil provém do desmatamento e queimadas.

No Pernambuco e em alagoas, as enchentes mata-ram. Águas revoltosas, sem controle, cujos cursos são

violentados pelos desvios ilógicos a eles impostos, aca-bam por despejar onde não deviam. Não parece, então, imbecilidade reduzir a largura destinada à mata ciliar, que protege o rio e as pessoas, como prevê o projeto do Novo código florestal, ainda a ser votado pelo congresso?

Nos últimos dois anos, estive em todos esses lu-gares. Vi por mim, ninguém me contou. Estive em Ma-naus. Percorri toda a br-163, inclusive o lendário trecho Cuiabá-Santarém, e depois cortei a Transamazônica, em cujas margens os índios pedem esmola. Tive o prazer de navegar o rio Negro em 2009 e, imaginem, era o ano em que esteve mais cheio. Na serra da canastra passei ma-drugadas, junto com meus colegas de equipe, cobrindo o trabalho dos brigadistas que lutavam contra cortinas de fogo para salvar o cerrado. Uma luta bela e injusta. o dinheiro de uma viagem ministerial ao Japão pagaria mais 100 homens, e o fogo teria sido controlado rapida-mente. Não, não é mais importante discutir conceitos abstratos de biodiversidade enquanto ela se esvai por causa de alguns trocados. o homem ateou fogo e o es-tado demorou para apagar. É na serra da canastra que nasce o rio São Francisco. Tive a tristeza de ver o sagrado olho d´agua de onde nasce o Velho Chico estorricado, cheio de cinzas; entre elas, um gavião carcará procura-va comida, assim como o tamanduá desesperado que corria entre os campos devastados pelo qual passamos. Com meus colegas, também cruzei o sertão e desertos brasileiros, fruto do desmatamento de muitos séculos. onde somente os mais resistentes sobrevivem, mas guardando um patrimônio cultural incalculável. o inte-rior do brasil, os santuários naturais, a costa brasileira. são impressões entre o que se vê e o que se prega, e isso serve para o estado como para nós mesmos. são im-pressões com toda a força da palavra. cenas e fatos im-pressos na retina, na alma, na cabeça e nestas páginas.

Temos exemplos excelentes de iniciativas verdes, públicos e privados, mas eles ainda são insuficientes. Não, não somos modelo de consciência verde nem nunca fomos. esse pensamento reconfortante é peri-goso, porque pensamos que tudo está sob controle, e não está. Não, senhor, não finja que não leu isto. essa responsabilidade é sua também. sua indignação já é um bom começo. oxalá eu a tenha causado.

Não finja que não viu

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Operação Bateia

a operação bateia, envolvendo ibama, Polícia Federal e Fundação Nacional do Índio (Funai), com apoio do exército e da força Nacional, desmon-tou um garimpo de ouro dentro da terra indígena Kayapó, no sul do Pará. Há suspeitas de que o ga-rimpo vinha contaminando com mercúrio os rios da região. segundo a funai, cresceu o número de reclamações dos índios sobre doenças associadas à substância em todas as 14 aldeias kayapó loca-lizadas abaixo da área da extração ilegal. Cerca de 50 edificações improvisadas – entre cabanas, vendas e instalações para minerar –, tratores, ca-minhões e o sistema de captação de água foram destruídos pelo Ibama. O setor especializado da Polícia federal destruiu com explosivos uma pista de pouso de 440 m de extensão que era um dos acessos dos garimpeiros à terra indígena, além de 40 dragas e um grupo gerador de energia. de acor-do com estimativas, o garimpo podia faturar até R$ 3 milhões mensais.

Aerossóis de queimadas aumentam na Amazônia

a emissão de aerossóis, fuligem de queimadas em suspensão na atmosfera, aumentou significati-vamente na Amazônia em relação aos dois últimos anos (2008 e 2009). A constatação é do grupo de pesquisa de Qualidade do Ar, do CPTEC/Inpe (Insti-tutos de Pesquisas Espaciais).

estudos recentes e preliminares vêm apontan-do a possibilidade de os aerossóis assumirem um papel relevante no clima destas regiões amazôni-cas, ao impactar o regime de chuvas. o tema, ain-

da muito recente, começa a atrair grupos de pes-quisa, do país e exterior, que iniciam estudos sobre a relação entre aerossóis e o clima da região.

a medição dos aerossóis é também de in-teresse da área de saúde pública, que a utiliza como indicador de políticas públicas. A maior concentração destas partículas na atmosfera afe-ta diretamente a saúde das populações destas re-giões, aumentando a incidência de doenças res-piratórias.

foto: ascom/ibama

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1 versus 400.000

o acidente com um caminhão tanque causou transtornos e prejuízo para quase meio milhão de pessoas no sul fluminense. Cerca de 26 mil litros de resíduos de óleo mineral foram parar dentro de um afluente do rio Paraíba do Sul, em Barra Mansa e o abastecimento de água foi interrompido, por quase um dia. a companhia estadual de Águas e esgoto (Cedae) está monitorando a mancha de óleo utili-zando um laboratório móvel. Parte do Paraíba do sul deságua no rio Guandu, que abastece boa parte da região metropolitana do rio de Janeiro.

Um peso, duas medidas

cerca de 100 castanheiras foram derrubadas em Parintins, no Amazonas, para a construção do con-junto residencial Vila Cristina, do programa Minha Casa, Minha Vida, financiado pela Caixa Econômica federal. os ambientalistas locais e os moradores que exploravam as castanheiras protestaram diante das imensas toras deixadas próximo às construções. eles denunciaram o corte ao Ministério Público e à Justi-ça, mas o licenciamento da instalação do conjunto foi dado pelo Instituto de Proteção Ambiental do Ama-zonas (Ipaam). No entanto, o corte da castanheira é proibido por lei federal. moradores reclamam que foram despejados da região, por ordem judicial, jus-tamente porque estariam ameaçando as castanhei-ras. Segundo eles, eram retiradas de lá mais de 50 mil latas de castanha. a denúncia é feita pela matéria do blog ambientalista “O Eco” (www.oeco.com.br).

Amazônia inacessível Horas antes do fechamento desta edição, a Re-

vista Novo Ambiente consultou suas fontes na ama-zônia para obter informações sobre a seca que aflige o rio Negro (leia matéria completa nesta edição).

relatos dão conta que acessos como o da boca do Puduari, continuam fechados por falta de nave-gabilidade. a demora do rio para voltar a seu nível normal obriga muitas comunidades a depende-rem exclusivamente de ajuda aérea para receber mantimentos diversos, como kits de higiene pes-soal e alimentos. o levantamento, feito em parte por sobrevoo, não deixa dúvidas: a situação per-manece crítica.

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Oberti Pimentel

embora a situação do galo-da-serra seja pouco preocupante em relação aos perigos de sua extinção, não é fácil registrar imagens do bicho, que constrói seus ninhos bem escondidos dentro de cavernas. Nosso fotógrafo Oberti Pimentel, o talento mais recentemente revelado na Revista Novo Ambiente, não descansou até trazer esta foto, feita no Parque do Moroaga, em plena floresta amazônica, no município de Presidente Figueiredo, a cerca de 100 km de Manaus.

Lente Limpa

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Nos olhos da selva

dA redAÇÃo Amazônia

a folha que cai melancolicamente encer-rando um ciclo e iniciando outro é, para nós da Revista Novo Ambiente, mais um

dos ensinamentos da natureza a serem aplicados em nosso cotidiano. A cada edição que preparamos para nossos milhares de leitores, pouco tempo há para comemorar. a pauta da próxima já cobra atenção e o nosso novo ciclo já começou.

O universo de informações que precisam ser fil-tradas, compiladas e aprofundadas é gigante. Para onde quer que viremos nossas letras e lentes, des-cortinam-se inúmeros temas passíveis e carentes de divulgação. A magnitude de uma floresta nos invade a mente: Amazônia. Como uma misteriosa mulher que nos nega seus segredos mais ocultos, a maior floresta do mundo encanta e inspira nossa redação.

a cada ida de nossas equipes por seus arredo-res, mais nos atraem seus mistérios. tão distante dos grandes centros urbanos em que nos apinhamos. tão perto dos grandes olhos do mundo que a cobiça. Talvez ela esteja carente de maior atenção dos povos que a têm em seus territórios, pois a melhor manei-ra de preservar é conhecer.

Na edição de dezembro, faremos chegar até você um pouco daquela que alguns chamam de pul-mão do mundo, outros de um deserto em potencial. Sem alarmismos apocalípticos, sem olhares dissimu-lados. Vamos, com espírito de vigilante, olhar um pouco do patrimônio que, antes de ser de todos, é de cada um. E ter patrimônio significa estar atento, demanda responsabilidades do cidadão e da socie-dade. Enquanto as equipes avançadas estiverem sentindo na pele o calor úmido das cidades definidas por nós como pontos de partida, outra voltará suas ações para Brasília, pois algo nos diz que a decisão de manter a árvore em pé ou não depende muito mais da capital do brasil do que propriamente dos que habitam as distantes regiões amazônicas.

e se estaremos no Norte e no coração do poder ao mesmo tempo, não deixaremos de envidar esfor-ços para ouvir uma tão conhecida senhora que tem no sangue os resquícios da malária, na memória o cheiro do seringal e nos olhos a cor da mata.

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