n uma verdadeira questão de saúde pública · tão está relacionada à ... mos que crianças...

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Bruno Campelo - DP Uma verdadeira questão de saúde pública Mais do que apenas demonstrar a falta de educação dos donos, as fezes dos cachorros deixadas pela rua se transformam em foco de doenças Peres leva sacola plástica para juntar aquilo sobre o qual ninguém quer pisar A praça deveria ser aproveitada pelas pessoas, mas a sujeira dos cães tem atrapalhado.” Luís Boari, Luís Boari, Luís Boari, Luís Boari, Luís Boari, pároco da Catedral Oque está fora de lugar na imagem acima, claro, não é o personagem Wally, mas o excremento deixado pelo cão e, infelizmente, não recolhido por seu dono O adestrador de animais André da Costa diz que dá o exemplo e sempre recolhe os dejetos Alguma coisa está fora da ordem nesta imagem. Descubra o que é e contribua para um mundo melhor. Ou mais limpo, ao menos. Recolher ou não recolher, eis a questão No time dos que não deixam os excrementos na rua está o adestrador de animais André Cos- ta que há 25 anos passeia com cães. “Eu tenho que dar o exem- plo. Saio de casa com vários sa- quinhos para juntar tudo”, orgu- lha-se. Além disso, Costa não deixa os animais fazerem as ne- cessidades em entradas de pré- dios ou no pavimento. “Mas vejo muitos donos que não estão nem aí. É uma questão de educação. Os pais têm que ensinar os fi- lhos”, opina. O pecuarista Sandro Peres passeava com o casal de beagles, Bush e Batovi, no parque Dom Antônio Zattera no mesmo dia em que o Diário Popular estava en- trevistando o adestrador. Sandro havia levado uma sacola plástica, porém, confessou que nem sem- pre é assim: “Às vezes esqueço de pegar o saco ou se o local está meio abandonado não recolho”, justificou. “Mas só deixo eles fa- zerem na grama”, completou. F F F F Fernanda V ernanda V ernanda V ernanda V ernanda Varela arela arela arela arela Ao olhar a figura ao lado você nota alguma coisa fora do lugar, que destoa da cena? Preste bem atenção. Encontrou? Se você acertou a resposta, parabéns, você está no pequeno time das pessoas que recolhem os dejetos fecais de seus cães. Mas se você não percebeu nada de errado, en- tão talvez esteja na hora de rea- valiar seus conceitos - e atitudes. Mais que um problema com- portamental, a ques- tão está relacionada à saúde pública. Basta andar por algumas quadras no Centro e nos bairros ou caminhar em pra- ças para encontrar a presença de fezes de cães. E não estamos falando de cachorros de rua, mas daqueles que são levados pelos donos para passear. A proprietá- ria de uma escola de Educação Infantil, Ingrid Lieberknecht, co- nhece muito bem esse cenário. Há anos ela precisa ficar atenta à grama em frente ao educandá- rio localizado no centro de Pelo- tas. “Temos frequentadores as- síduos que trazem os animais para fazerem as necessidades aqui e nunca limpam. Sempre sobra para nós”, indigna-se. Ela conta que já tentou colocar uma placa no gramado e con- versar com os donos, mas a situação não mudou. “Explica- mos que crianças circulam por aqui, que as fezes podem transmitir doenças, mas ne- nhum argumento conven- ce”, diz Ingrid ao confessar que até discutiu com algumas pessoas. Outro ponto onde é preciso desviar dos deje- tos é a quadra da Catedral São Francisco de Paula. O padre Luís Boari diz que o problema é antigo e que a limpeza do local fica a cargo dos funcionários da igreja, os quais juntam os resíduos duas vezes por semana. “A praça tornou-se um local de passeio para cachorros. No início da manhã e no final da tarde está sempre cheio de pes- soas circulando com eles”, aponta. Segundo Boari, além do problema das fezes, a urina está danificando postes de luz e lixei- ras. “A praça deveria ser apro- veitada por pessoas, mas a su- jeira dos cães tem atrapalhado muito”, lamenta. PE PE PE PE PELOTAS DIÁR IÁR IÁR IÁR IÁRIO P O P O P O P O POPULAR R R R R - DOMINGO, 7 DE JUNHO DE 2009 10 Fotos Moizés Vasconcellos - DP

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Page 1: n Uma verdadeira questão de saúde pública · tão está relacionada à ... mos que crianças circulam por aqui, que as fezes podem transmitir doenças, mas ne-nhum argumento conven-ce”,

Bruno Campelo - DP

Uma verdadeira questão de saúde públicaMais do que apenas demonstrar a falta de educação dos donos, as fezes dos cachorros deixadas pela rua se transformam em foco de doenças

Peres leva sacola plástica para juntar aquilo sobre o qual ninguém quer pisar

A praça deveria seraproveitada pelaspessoas, mas asujeira dos cãestem atrapalhado.”

Luís Boari, Luís Boari, Luís Boari, Luís Boari, Luís Boari, párocoda Catedral

“Oque está fora de lugar na imagem acima, claro, não é o personagem Wally, mas oexcremento deixado pelo cão e, infelizmente, não recolhido por seu dono

O adestrador de animais André da Costa diz que dá o exemplo e sempre recolhe os dejetos

Alguma coisa está fora da ordem nesta imagem.

Descubra o que é e contribua para um mundo melhor.

Ou mais limpo, ao menos.

Recolher ou não recolher, eis a questãoNo time dos que não deixam

os excrementos na rua está oadestrador de animais André Cos-ta que há 25 anos passeia comcães. “Eu tenho que dar o exem-plo. Saio de casa com vários sa-quinhos para juntar tudo”, orgu-lha-se. Além disso, Costa nãodeixa os animais fazerem as ne-cessidades em entradas de pré-dios ou no pavimento. “Mas vejomuitos donos que não estão nemaí. É uma questão de educação.Os pais têm que ensinar os fi-

lhos”, opina.O pecuarista Sandro Peres

passeava com o casal de beagles,Bush e Batovi, no parque DomAntônio Zattera no mesmo dia emque o Diário Popular estava en-trevistando o adestrador. Sandrohavia levado uma sacola plástica,porém, confessou que nem sem-pre é assim: “Às vezes esqueçode pegar o saco ou se o local estámeio abandonado não recolho”,justificou. “Mas só deixo eles fa-zerem na grama”, completou.

n F F F F Fernanda Vernanda Vernanda Vernanda Vernanda Varelaarelaarelaarelaarela

Ao olhar a figura ao lado vocênota alguma coisa fora do lugar,que destoa da cena? Preste bematenção. Encontrou? Se vocêacertou a resposta, parabéns,você está no pequeno time daspessoas que recolhem os dejetosfecais de seus cães. Mas se vocênão percebeu nada de errado, en-tão talvez esteja na hora de rea-valiar seus conceitos- e atitudes. Mais queum problema com-portamental, a ques-tão está relacionada àsaúde pública.

Basta andar poralgumas quadras noCentro e nos bairrosou caminhar em pra-ças para encontrar apresença de fezes decães. E não estamosfalando de cachorros de rua, masdaqueles que são levados pelosdonos para passear. A proprietá-ria de uma escola de EducaçãoInfantil, Ingrid Lieberknecht, co-nhece muito bem esse cenário.Há anos ela precisa ficar atentaà grama em frente ao educandá-rio localizado no centro de Pelo-tas. “Temos frequentadores as-síduos que trazem os animaispara fazerem as necessidadesaqui e nunca limpam. Sempresobra para nós”, indigna-se. Ela

conta que já tentou colocaruma placa no gramado e con-versar com os donos, mas asituação não mudou. “Explica-mos que crianças circulam poraqui, que as fezes podemtransmitir doenças, mas ne-nhum argumento conven-ce”, diz Ingrid ao confessarque até discutiu com algumas

pessoas.Outro ponto

onde é precisodesviar dos deje-tos é a quadra daCatedral SãoFrancisco dePaula. O padreLuís Boari dizque o problema éantigo e que alimpeza do localfica a cargo dos

funcionários da igreja, os quaisjuntam os resíduos duas vezes porsemana. “A praça tornou-se umlocal de passeio para cachorros.No início da manhã e no final datarde está sempre cheio de pes-soas circulando com eles”,aponta. Segundo Boari, além doproblema das fezes, a urina estádanificando postes de luz e lixei-ras. “A praça deveria ser apro-veitada por pessoas, mas a su-jeira dos cães tem atrapalhadomuito”, lamenta.

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Fotos Moizés Vasconcellos - DP

Page 2: n Uma verdadeira questão de saúde pública · tão está relacionada à ... mos que crianças circulam por aqui, que as fezes podem transmitir doenças, mas ne-nhum argumento conven-ce”,

Nos últimos mesesa procura pela pácoletora aumentou,mas ainda é baixa.”

Tleber Carvalho,Tleber Carvalho,Tleber Carvalho,Tleber Carvalho,Tleber Carvalho,vendedor

Hora de catar o que fica pelo chão

O mau cheiro não é o pior problema

Lá é lei, aqui ainda não

O veterinário ensina como apa-nhar os dejetos - ato que podeser desagradável, mas não pos-sui mistério: “Sempre leve umapá e um saco plástico para reco-lher as fezes e não deixe o animalurinar nem defecar na porta ouna entrada das casas”.

O mercado já disponibilizaobjetos próprios para isso, algunscom nomes sugestivos como oCata Caca, um chaveiro em for-mato de osso que acompanha sa-quinhos personalizados. Custaem média R$ 18,40 e pode serencontrado em Pelotas. Outraopção é a pá coletora ao custo deR$ 20,25. Não tão fashion quan-to o Cata Caca e nem tão práticopara levar no passeio, mas idealpara quem tem cães de médio egrande porte ou que não ingeremração. Segundo o vendedor deuma pet shop, Tleber Carvalho,

nos últimos meses a procura au-mentou bastante, apesar de a ven-da ainda ser considerada baixa -dez unidades por mês.

Em cidades como Florianó-polis e Porto Alegre as prefeitu-ras oferecem pontos de distribui-ção de sacolas plásticas para quea população possa juntar os deje-tos de seus animais de estimação.

Mais do que mau cheiro ouincômodo de sujar o calçado aopisar nos dejetos fecais, deixá-losno chão também causa riscos àsaúde. O veterinário Marco Au-rélio Motta explica que as fezessão eliminadas com ovos de pa-rasitas, podendo gerar patologi-as como a giárdia e a doença depele chamada “bicho geográfi-co”. De acordo com Motta é pre-ciso ter cuidado principalmenteem pisos arenosos ou gramadosos quais favorecem o desenvol-vimento de larvas como ancilós-tomos e ascarídeos. “Tanto se-res humanos quanto os bichos deestimação correm riscos. O idealseria que os animais não defecas-sem na rua”, salienta.

Como isso é um outro passoe possivelmente mais complica-do por ser difícil prever a horaque o cachorro precisa expelir osexcrementos, Motta enfatiza quea posse responsável vai além doscuidados básicos com alimenta-ção e vacinação. “Os donos sãoresponsáveis por todos os atosdo seu animal inclusive o de nãodefecar em via pública. São elesque devem recolher as fezes.”

Em 2001, Porto Alegre san-cionou a Lei 8.840 que tornouobrigatório o recolhimento dosresíduos fecais de animais con-duzidos em espaços públicos.A pena prevista para quem nãocumprir a norma é de cem uni-dades financeiras municipais,hoje equivalente a R$ 236,59.No mesmo ano, São Paulo apro-vou a Lei 13.131 com o mes-mo objetivo, mas na cidade o

valor da multa é fixado em R$10,00 por animal.

Em Pelotas não existe legis-lação parecida, contudo, antesque seja necessário utilizar esserecurso, todos podem contri-buir para a limpeza da cidade eprevenção de doenças transmi-tidas pelos excrementos dosanimais. A solução é simples: nopróximo passeio, leve a sacola.A comunidade agradece.

O ideal seria, claro,que os animais nãodefecassem na rua.”

Marco Aurélio Motta,Marco Aurélio Motta,Marco Aurélio Motta,Marco Aurélio Motta,Marco Aurélio Motta,veterinário

Atualmente já existeminstrumentos para evitarcontato mais direto comas fezes dos bichos

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Fotos Paulo Rossi - DP