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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE – UNIBH MYRELI XAVIER DE LIMA
O BRASIL E O BRIC: UM ESTUDO COMPARATIVO
Belo Horizonte
2010
MYRELI XAVIER DE LIMA
O BRASIL E O BRIC: UM ESTUDO COMPARATIVO
Artigo apresentado ao Centro Universitário de Belo Horizonte como requisito à obtenção de Aprovação na disciplina Monografia II Orientadora: Professora Geraldine Rosas
Belo Horizonte
2010
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RESUMO
Atualmente muito se tem falado a respeito da importância das economias emergentes
no médio-longo prazo. Dentre todas essas economias as que ganharam maior destaque são
Brasil, Rússia, Índia e China (não necessariamente nessa ordem) e, portanto, se encontram
reunidas em torno do acrônimo BRIC criado pelo economista John O’Neil do Instituto
Goldman Sachs.
Por possuírem um conjunto de características bastante favoráveis que os confere um
grande potencial de crescimento econômico, os BRIC vêm se tornando cada vez mais objeto
de investimentos e especulações.
Contudo, muito ainda se discute a respeito da veracidade de tais informações, bem
como sobre o mérito do Brasil em participar de tal “grupo”. A fim de tentar esclarecer e
responder este questionamento segue o presente artigo.
Ao final deste trabalho será proposto um ranking que classificará cada um dos quatro
BRIC em ordem decrescente, de modo que será possível visualizar a posição do Brasil perante
aos demais.
Palavras-chave: BRIC – Brasil – economias emergentes – poder
ABSTRACT
Nowadays there is a lot of speak around the importance of emerging economies in the
medium/long-term. Among all this economies, Brazil, Russia, India and China (not
necessarily in this sequence) are the ones that have acquired more prominence and because of
that they were gathered in the acronym BRIC, created by the economist John O`Neil from the
Goldman Sachs institute.
By having a very favorable set of characteristics that grant them a great potential for
economic growth, the BRIC countries have been being constant objects of investments and
speculation.
However, there is still a big debate about the veracity of this forecasts, as well as on
the Brazilian merit in taking part of such a “group”. Considering that, this article follows as an
attempt to clarify and answer this question.
2
At the end of this paper a ranking that classifies each of the four BRIC counties in
descending order will be reached, so there will be possible to check Brazilian’s position
among the others
Key-words: BRIC – Brazil – emerging economies – power
INTRODUÇÃO
Brasil, Rússia, Índia e China. Esses são os quatro países que compõe o chamado
BRIC. O termo cunhado pelo economista John O’Neil do Instituto Goldman Sachs tem a
intenção de sugerir a idéia de novos fundamentos, novos tijolos (briks) para a economia
mundial. Em seu estudo “Building Better Global Economic Brics” publicado em 2001,
O’Neil defende que estes quatro emergentes seriam as maiores economias do mundo até
2050, superando o PIB do atual G8.
Apesar da grande repercussão alcançada pelo termo, é importante atentar para o fato
de que o BRIC não constitui um grupo ou bloco formalizado. Entretanto, devido à
popularidade conquistada entre os analistas e a imprensa, seus líderes passaram de fato a se
reunirem ocasionalmente como tal, tendo inclusive firmado alguns tratados multi/bilaterais
(ainda tímidos) nas áreas comerciais e de cooperação1.
Vários são os questionamentos e discussões a respeito dos BRIC, entretanto, um dos
debates mais polêmicos diz respeito ao “mérito” do Brasil em integrar tal “grupo”, pois para
muitos ele se encontra em posição inferior em relação aos demais. Esse é o foco central deste
artigo que tem, portanto, o objetivo de responder à seguinte pergunta: qual a posição do Brasil
perante aos outros BRIC? A fim de alcançar esse objetivo, serão utilizados índices de diversas
áreas temáticas, que após devidamente analisados e comparados, gerarão um ranking que
mostrará a posição do Brasil frente aos demais.
Para tanto, este trabalho será divido em três seções além da presente introdução e das
considerações finais. Na primeira sessão denominada panorama comparativo, será feita uma
contextualização mais detalhada do debate proposto, além de uma descrição histórica dos
1 Durante a II Cúpula dos chefes de Estado e de Governo do BRIC foram firmados acordos entre os bancos de desenvolvimento dos quatro Estados para o fomento de projetos de infra-estrutura entre os mesmos. Além disso, também foi firmado um acordo bilateral entre Brasil e China – o plano de ação conjunta. Este acordo permitirá ao Brasil exportar carne bovina, tabaco, carne suína e petróleo; a China, por sua vez, anunciou um investimento de 5 bilhões para a construção de um complexo siderúrgico no Rio de Janeiro (O GLOBO, 2010)
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países, com a apresentação de alguns dos índices e estatísticas pertinentes para fins de
comparação. Na seção seguinte – “perspectivas teóricas de ordem, poder e estabilidade
interna para os BRIC” – serão trabalhadas as teorias nas quais essa análise se embasará e, por
fim, na terceira seção intitulada um exercício comparativo, será feita a análise de fato, que
tentará responder à pergunta central desse trabalho de acordo com as seguintes hipóteses:
estaria o Brasil em posição melhor que todos os demais? Seria ele o que em pior posição se
encontra? Ou ainda, seria ele um país de posição intermediária perante aos outros?
A fim de atender a este propósito, será utilizado o método comparativo associado à
análise de conteúdo. O método quantitativo também será por vezes utilizado uma vez que a
comparação numérica entre alguns índices se fará necessária para os propósitos da análise
final.
A relevância desse tema deve ser levada em consideração, uma vez que esses quatro
Estados reunidos representam uma nova possibilidade, sobretudo econômica, para o futuro
das relações internacionais. Por ser um tema bastante atual e que desperta grande curiosidade
e polêmica, o lugar do Brasil no “grupo” é frequentemente criticado – tanto positiva quanto
negativamente. Dessa forma, é válido o esforço ao qual este trabalho se propõe, de tentar
demonstrar qual seria a posição do Brasil frente aos demais.
É importante ressaltar, novamente, que se reconhece aqui o fato de que esses
emergentes se encontram reunidos em torno da sigla BRIC devido a questões e expectativas
puramente econômicas e que não constituem um grupo ou um bloco de quaisquer espécies.
Porém, como já trabalhado por Morgenthau (1948), o poder e a relevância de um Estado não
perpassam apenas por aspectos econômicos. Sendo assim, serão considerados outros
elementos na elaboração desta análise de modo a tentar obter um resultado que não seja
estritamente econômico e que esteja mais próximo da realidade atual das relações
internacionais. Consideraremos aqui quatro grandes áreas temáticas e alguns índices
pertinentes às mesmas para a análise da posição do Brasil frente aos demais países do BRIC:
1) Economia: PIB, PIB per capta, taxa de crescimento do PIB, taxa de crescimento da
produção industrial.
2) Aspectos militares: Gastos com o setor militar (em porcentagem do PIB e em
números absolutos), contingente em condições de servir às forças armadas e
tecnologia nuclear para fins bélicos.
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3) Aspectos demográficos e sociais: extensão territorial, tamanho da população,
tamanho da população jovem, taxa de reposição (no de filhos por mulher), IDH,
taxa de urbanização e taxa de mortalidade pelo HIV entre a população
economicamente ativa.
4) Recursos naturais: terras aráveis per capta, disponibilidade de água per capta,
produção de alimentos e matéria prima.
Todos esses índices não foram escolhidos aleatoriamente. A importância e relevância
de cada um deles será apresentada e trabalhada a partir de diferentes prismas teóricos.
O primeiro deles é composto por Buzan & Waver (2003), que distinguem os conceitos
de superpotência, grande potência e potência regional, apontando quais Estados estariam
inseridos em cada uma dessas categorias no ambiente pós Guerra Fria. Tais categorias
analíticas serão utilizadas para classificar, de início, cada um dos BRIC apenas para que se
tenha um panorama geral da posição desses Estados naquele contexto, uma vez que esses
autores não propõem de fato índices ou parâmetros a serem considerados.
A segunda base teórica é proveniente da escola realista clássica. Será utilizada a
perspectiva de Morgenthau (1948), onde são enumerados vários fatores que devem ser
considerados para a determinação do poder de um Estado.
Por fim, será utilizada a perspectiva teórica dos autores Cincotta, Engelman &
Anastasion (2003), para complementar a abordagem de cunho realista de Morgenthau. Esses
autores tratam de aspectos demográficos, sociais e de recursos naturais, demonstrando como
eles podem influenciar a estabilidade interna de um Estado.
É principalmente com base nessas duas últimas perspectivas teóricas que a maior parte
dos índices mencionados acima foram escolhidos. Alguns dos índices trabalhados – PIB, PIB
per capta, taxa de crescimento da economia, gastos com setor militar e IDH – não têm sua
importância defendida pontualmente e teoricamente neste artigo por se tratarem de índices
costumeiros e rotineiros, cujo uso é tido como senso comum em análises desse gênero. Todos
os índices mencionados nesse artigo se encontram devidamente organizados e referenciados
na tabela do anexo I – os BRIC em números – presente ao final do trabalho2.
2 A base de dados majoritariamente utilizada nesse artigo foi a disponibilizada pelo Banco Mundial. Entretanto, alguns dados necessários a este estudo não são disponibilizados pelo mesmo. Nesses casos, foram utilizados dados provenientes da CIA Factbook. Para os dados ausentes nessas duas bases, foram utilizadas outras fontes idôneas devidamente referenciadas no corpo do anexo I.
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PANORAMA COMPARATIVO
Devido aos estudos e expectativas criadas pelo grupo Goldman Sachs, os BRIC têm
cada vez mais atraído para si os holofotes. Toda essa euforia, entretanto, abre espaço também
para dúvidas, discussões e questionamentos favoráveis ou não às expectativas criadas em
torno desses emergentes.
Muito das críticas atuais se dá em função do alto otimismo em relação às “profecias”
do grupo Goldman Sanchs. Para muitos, essas “previsões” não passam de “uma invenção
criada na prancheta de um economista” (ALMEIDA , 2008 pag. 41) e para outros, entretanto,
elas podem e devem ser consideradas relevantes para o futuro das relações internacionais:
(...) entre 2003 e 2007, o crescimento dos países do BRIC representou 65% da expansão do PIB mundial. Juntos eles são responsáveis por 15% do PIB mundial, representam quase metade da população mundial e ocupam um quarto da superfície terrestre, além de possuírem recursos naturais abundantes e estratégicos (SILVA, 2010)
Sooner or later, the economic importance of the BRICs will have to be adequately taken into account. (…) The BRICs, with 40 percent of the world’s population spread out over three continents, already account for 25 percent of global GDP (IMF, 2009).
Apesar do vasto leque de opiniões a respeito, não se deve perder de vista o fato de que
essas quatro economias são completamente distintas em suas realidades histórica, política,
econômica, social e militar. Além disso, seus interesses individuais também são em larga
medida divergentes chegando mesmo a serem conflitantes em algumas áreas. “They don't
have a common agenda and their interests diverge and are [at] many times conflicting. For
example, Russia and Brazil benefit from rising commodity prices, while for China and India it
is a completely different story” (BBC NEWS, 2010).
Voltando-se para o questionamento central deste artigo – o Brasil – existe um vasto
leque de opiniões em relação ao mesmo. Para Almeida (2008), o Brasil não tem ganhado tanto
peso e importância no cenário mundial quanto os outros e para Bauman (2010), a sigla BRIC
deveria até mesmo ser invertida – CIRB – de modo a melhor representar a real posição desses
Estados, uns perante os outros.
Entretanto, para Bonnato (2009) o Brasil não só tem condições de integrar o “grupo”,
como também é aquele que dos quatro apresenta maior potencial em matéria econômica,
política e social, além de ser o único dos quatro que, de acordo com Junior (2010), possui
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habilidades diplomáticas para fazer com que os BRIC saiam da “prancheta de um
economista” e se tornem realidade.
Mesmo em relação aos países do Bric (...), o mercado brasileiro é destaque. A China tem um dos melhores crescimentos, mas um mercado de ações que não protege o acionista minoritário e sem governança. A Rússia, apesar de barata, perde em atratividade por conta de problemas políticos e forte dependência dos preços do petróleo. Por último, a Índia, apesar do potencial, ainda sofre com a desconfiança do investidor, após o caso de fraude contábil de uma grande empresa de tecnologia. No pano de fundo da preferência por Brasil, está uma economia sólida, com demanda doméstica aquecida, consumidores que assim que retomaram a confiança no emprego voltaram a gastar, bancos bem capitalizados e baixa dependência de mercados como o americano (BONATTO, 2009)
A fim de investigar a posição do Brasil frente aos seus demais “companheiros”, se faz
necessária a apresentação de um panorama histórico que permita conhecer de forma geral a
trajetória de cada um deles, com seus momentos de ruptura e transição mais significativos.
Essa apresentação será separada em subseções que não seguirá necessariamente a ordem
proposta pela sigla BRIC.
Índia
Segunda civilização mais antiga do mundo, a Índia abriga uma vasta gama de culturas
e etnias distintas que torna difícil a identificação de uma unidade cultural neste país.
Não há, propriamente, e nunca houve unidade cultural na Índia e sua história “política” só parece fazer sentido com base na “unidade” temporária introduzida por invasões estrangeiras, em especial o Império Mongol, seguido pela dominação de uma companhia de comércio inglesa, depois convertida em supremacia britânica sobre povos muito distintos entre si, lingüística e religiosamente falando (ALMEIDA, 2008 pag. 27).
Seu Estado é proveniente de uma colonização britânica que durou oficialmente de
1857 até 1947 quando obteve a independência. Entretanto, a Índia nasceu politicamente
amputada pela perda dos territórios do Paquistão e posteriormente de Bangladesh, que se
originou do primeiro.
Mesmo nascendo politicamente deficiente, economicamente a Índia já conformava
uma jurisdição monetária própria com território aduaneiro reconhecido pelo GATT antes da
data de sua independência política em 1947 (ALMEIDA, 2008).
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Os britânicos se retiraram da Índia deixando-a com um sistema científico-industrial
extremamente rudimentar, uma população grande e pobre, que crescia a índices cada vez
maiores, e com várias disputas internas devido ao sistema de castas. Além disso, várias de
suas fronteiras se encontravam sob litígio, o que gerou muitos conflitos posteriores.
Foi a combinação de uma economia planificada nos moldes socialistas com a
iniciativa privada entre os anos de 1950 e 1970 que levou a Índia a uma grande
industrialização. Isso perdurou até os anos 1980 quando a planificação da economia e o
programa de substituição de importações foram paulatinamente sobrepostos por medidas
liberalizantes que impulsionaram a classe média que emergia na Índia naquele momento.
Simultaneamente, a tecnologia da informação se desenvolvia de modo a consolidar-se como
um importante setor econômico para o país que àquela época apresentava taxas de
crescimento impressionantes, que giravam em torno de 4.6% ao ano na década de 1980,
passando a uma média de 5.7% nos anos 1990 (BARBOSA, 2008).
Assim, mesmo com dificuldade, a Índia conseguiu se desenvolver consideravelmente
bem, o que pode ser percebido através de seu sistema educacional que hoje treina um dos
maiores contingentes técnico-científico do mundo. Além disso, através da Revolução Verde
na agricultura o país conseguiu dar um considerável salto na produção de alimentos de modo
a aumentar bastante a produção de gêneros alimentícios em seu território3.
Entretanto, apesar de todo esse avanço e desenvolvimento, problemas como a pobreza,
o aumento da diferença entre ricos e pobres, um grande número de pessoas incapacitadas para
participar economicamente da sociedade e o aumento de grupos insurgentes que ameaçam a
integridade territorial ainda se fazem presentes na Índia.
Politicamente a Índia enfrenta problemas que são reflexos da imensa diversidade
cultural que abriga em seu território. Essa diversidade se faz presente nos grupos,
representações e partidos políticos. Tamanha divergência cultural e ideológica acaba se
tornando um obstáculo significativo para a implementação de inúmeras políticas necessárias
ao desenvolvimento indiano, constituindo, portanto, outro entrave ao seu desenvolvimento.
Atualmente, a economia indiana está majoritariamente embasada no setor de serviços
que, apesar de empregar menos de um quarto da força de trabalho disponível, é responsável
por 54.9% do PIB do país. A agricultura, entretanto, emprega três quintos da força de trabalho
e é responsável por apenas 17% do PIB, o que revela a imensa ineficiência que ainda persiste
3 Mesmo havendo melhora na produção de gêneros alimentícios a partir da Revolução Verde, a miséria na Índia ainda é alarmante, pois grande parte dessa produção é destinada à exportação. A FAO estima que um em cada cinco indianos padece de fome e que a mal nutrição afeta quase metade das crianças menores de cinco anos no país (FAO, 2010).
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neste setor. A indústria também possui destaque na economia, representando 28.2% do PIB
sendo os produtos têxteis e os softwares para computadores seus principais produtos (CIA
FACTBOOK, 2010).
De todos os BRIC a Índia é o que possui o menor IDH – 0,612 (PNUD, 2010) – e a
maior taxa de crescimento populacional – 1,34% aproximadamente (WORLD BANK, 2010)
o que, devido à sua realidade social, é fonte muito mais de preocupação do que de
tranqüilidade, como será melhor abordado na análise final.
Apenas 29,8% de sua população vive em zonas urbanas (WORLD BANK, 2010), o
que ilustra a realidade econômica acima mencionada de um grande contingente empregado
em uma agricultura ineficiente e um pequeno número de pessoas no setor econômico mais
significativo do país.
A Índia não apresenta nenhum recurso natural em qualidade e/ou quantidade suficiente
que mereça destaque. Entretanto, podem-se apontar como principais o carvão, minério de
ferro, manganês, mica, bauxita, minério de titânio, diamante, dentre outros (CIA
FACTBOOK, 2010).
Cerca de 3% do PIB é investido no setor militar (WORLD BANK, 2010), sendo que
aproximadamente 480,390,156 cidadãos se encontram em condições de servir militarmente ao
país (CIA FACTBOOK, 2010) que, mesmo não possuindo assento no Conselho de Segurança
da ONU, é um dos detentores da tecnologia militar para fins bélicos.
Rússia
A Rússia, por sua vez, figura entre uma das nações mais antigas do mundo, e ao
contrário da Índia, apresenta uma unidade cultural e lingüística que a caracteriza desde a
Idade Média (ALMEIDA, 2008).
Ela vem de um passado ao mesmo tempo grandioso e problemático que passa pelos
vikings, pelas invasões mongóis e pela constituição do império russo, derrubado
posteriormente por revoluções e guerras civis que resultaram na criação da União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS. Este período singular de sua história pode ser
caracterizado principalmente pela grande repressão e extrema intervenção estatal na economia
través dos planos qüinqüenais, que se baseavam majoritariamente na indústria pesada e
regulavam todos os setores econômicos da sociedade. Entretanto, foram tamanha repressão e
intervenção estatal os fatores responsáveis pela transformação da Rússia (principalmente)
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junto aos demais países da URSS que saíram de uma economia baseada numa agricultura
extremamente primária para se tornarem uma superpotência industrial mundial.
Um exemplo disso é que durante a I Guerra Mundial quando a Rússia se tornou um
dos principais atores do conflito, havia uma imensa diferença em termos econômicos quando
comparada aos demais países ocidentais. Já na ocasião da II Guerra Mundial a URSS saiu,
juntamente com os Estados Unidos, como uma das duas superpotências mundiais, o que
posteriormente deu início à Guerra Fria.
Apesar de seus benefícios, a era soviética também teve problemas, principalmente
econômicos, que acabaram por resultar na implosão da URSS.
O “império soviético” representou, de certo modo, um paradoxo na trajetória da “grande” Rússia, posto que lhe deu a segurança nacional a que sempre aspirou aquele Estado semi-europeu e semiasiático, ao mesmo tempo em que criou um sistema econômico profundamente irracional no plano de seu funcionamento, o que determinou, inclusive, sua crise estrutural e derrocada estrondosa, basicamente por auto-implosão, não por ter sido minada por um poder exterior ou guerra de usura (ALMEIDA, 2008 pag. 27).
Com a morte do líder soviético Stalin, a URSS iniciou um processo de liberalização
tímido que conservava ainda o confronto ideológico com o ocidente. Ao longo dos anos esse
processo foi se fortalecendo e culminou no colapso da URSS em 1991, dando origem à
Federação Russa governada por Boris Yeltsin e a outros Estados menores.
Em seus nove anos de governo (1991-2000) a transição do antigo sistema para o
sistema capitalista gerou uma situação caótica para a Rússia, que perdia seu status de
superpotência mundial da época da Guerra Fria. Reformas econômicas foram minadas pela
corrupção e desconfiança pública, a economia decrescia notoriamente, e o país se endividava
cada vez mais para tentar sustentar-se em meio à crise e recessão. As reformas eram
fragmentadas e ineficazes e, simultaneamente, as relações com o ocidente começaram a ficar
desgastadas devido a questões como o conflito com a Chechenia, a expansão da OTAN e a
oposição aos Estados Unidos à invasão do Iraque em 2003 (ZHEBIT, 2003).
Com a eleição de Vladmir Putin em 2000, a Rússia começou a se reerguer novamente
através de uma economia baseada principalmente no fornecimento de matérias primas
energéticas. Mesmo censurando fortemente a liberdade de expressão e a democracia, Putin
teve um índice de aprovação em torno dos 70% entre os russos por ser freqüentemente
associado à melhora econômica e, de certa forma, social da Rússia (POMENRANZ, 2005).
Apesar de a Rússia ter atingido, em alguma medida, êxito ao final da transição
socialismo-capitalismo, ela ainda possui muitos desafios que ainda estão por ser superados.
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Dentre eles podemos citar problemas como a imensa desigualdade social entre seus cidadãos,
corrupção, crime organizado, saúde pública e decrescimento populacional.
Com relação à economia, a Rússia se encontra majoritariamente embasada no setor
mineral e energético, que constituem os principais recursos naturais do país. Apesar de serem
setores que, devido à grande abundância no território russo, são bastante “rentáveis” ao
Estado, a Rússia vem empenhando esforços para que o setor de alta tecnologia desponte (BBC
BRASIL, 2010 e ANPEI, 2010). Essa tentativa vem como uma busca pela diversificação das
fontes de seu PIB de modo a evitar a vulnerabilidade diante de possíveis mudanças externas
nos os preços.
Passando aos aspectos demográficos e sociais, temos que a Rússia é o maior país do
mundo em extensão territorial e o oitavo em tamanho da população – 141.850.000 habitantes
(WORLD BANK, 2010).
De todos os países do grupo a Rússia é o que apresenta o maior IDH – 0,817 (PNUD,
2010) – e, em contrapartida, o menor crescimento populacional: -0,1% (WORLD BANK,
2010). O que ocorre é que além da baixa natalidade, a Rússia apresenta um alto índice de
mortalidade devido aos altos índices de HIV, bem como o alcoolismo que é responsável por
um grande número de mortes, principalmente entre os homens (BBC BRASIL, 2010). Além
disso, a imigração é desestimulada, fenômeno este que segundo o presidente do centro de
pesquisa sobre problemas da população, Valery Yelizarov, é atribuído, em alguma medida,
aos aspectos culturais do povo russo que “não gostam de estrangeiros, não gostam de se
misturar com pessoas de outras culturas e credos” (BBC BRASIL, 2010).
Para tentar combater isso a Rússia tem tentado melhorar a qualidade de vida e a
qualidade dos serviços de saúde pública através de um projeto piloto denominado The Health
Reform Implementation Project (HRIP), que conta com financiamento do Banco Mundial.
Projetos de estímulos financeiros para famílias que decidirem ter o segundo filho também
vêem sendo implantados desde 2006 como uma tentativa de reverter o quadro. Caso medidas
não sejam tomadas e resultados de fato não sejam alcançados, dentro de pouco tempo esses
números se farão sentir com maior firmeza na economia, na previdência e em outros setores
estratégicos como o da segurança.
Quanto aos aspectos militares, a Rússia investe aproximadamente 4.3% de seu PIB
nesse setor (WORLD BANK, 2010). Segundo dados de 2009, o país conta com 47,893,925
cidadãos em condições de integrar o serviço militar do país (CIA FACTBOOK, 2010), e
possui também tecnologia nuclear para fins bélicos além do assento permanente no Conselho
de Segurança da ONU.
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China
A China, juntamente com o povo judeu, constitui a civilização contígua mais antiga do
mundo e conta com uma unidade cultural bastante forte em seu território (ALMEIDA, 2008).
Ela vem de um remoto passado dinástico, seguido por um período de relativo
desenvolvimento econômico e desentendimentos políticos que culminaram na proclamação da
República Popular da China por Mao Tsé Tung, em 1949.
Na busca pela implementação do socialismo, a China adotou um modelo de economia
planificada focado na indústria pesada nos moldes praticados pela URSS, além de uma
reforma agrária que coletivizou todas as propriedades rurais.
Todos esses esforços, entretanto, fracassaram e, posteriormente, com o Grande Salto
para Frente4, a situação tanto social quanto econômica piorou ainda mais, resultando na morte
de milhares de pessoas.
Sua história, moderna e contemporânea é, no entanto, dramática, senão trágica, no sentido da decadência econômica, da instabilidade política, da humilhação militar e de retrocessos sociais expressos em degradação profunda do tecido social, quando as loucuras do maoísmo levaram o país a uma verdadeira hecatombe humana, com uma “lacuna” demográfica que pode ser estimada em algumas dezenas de milhões de pessoas sacrificadas. Em claro: a população e a economia diminuíram, em conseqüência dos anos de socialismo totalitário. Marcas profundas desse passado recente são ainda visíveis na sociedade chinesa, que emerge de um longo intervalo – provavelmente mais de três séculos – de declínio e de deterioração da qualidade de vida no imenso país asiático (ALMEIDA, 2008 pag. 26).
Com a morte de Mao e a tomada de poder por Deng Xiaoping, a China implanta o
socialismo de mercado que buscava conciliar políticas comunistas com a abertura e
liberalização da economia, embasadas em uma abordagem bastante pragmática.
As reformas iniciadas por esse governo em 1978 alavancaram a China para que ela
pudesse se tornar uma das maiores economias do mundo, além de uma potência militar. As
modernizações ocorreram principalmente nos setores agrícola, industrial, técnico-cientifico e
de defesa, e através delas os níveis de bem estar da população cresceram consideravelmente.
É importante destacar o fato de que as reformas chinesas no período de transição
ocorreram de baixo para cima, sendo implantadas primeiro nos municípios e nas províncias,
4 Os três grandes projetos de Mao eram, nessa ordem, a coletivização das propriedades rurais, o Grande Salto para Frente e a Revolução Cultural. O Grande Salto para Frente consistia em uma tentativa de industrialização pesada da economia chinesa a fim de gerar a igualdade socialista pretendida. Esse objetivo exigiu um esforço imenso da população que trabalhava até 16 horas por dia para atingir as metas. O resultado final, entretanto, foi fome, miséria e morte generalizadas (NABUCO, s/d).
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através de seus cidadãos mais simples, para depois alcançarem o país como um todo. A
Rússia que também experimentou um período de reformas intensas em sua fase de transição
executou tais reformas de maneira inversa, ou seja, de cima para baixo5. Esse é com certeza
um ponto importante para a explicação da atual situação da China que, apesar de também ter
problemas, está hoje “a todo vapor”, enquanto a Rússia ainda encontra grandes obstáculos
para o desenvolvimento de seu potencial (CSABA, 1996).
Atualmente a economia chinesa é uma das que mais cresce no mundo, segundo dados
de 2009 do Banco Mundial, e está embasada principalmente na produção em massa de bens
de consumo duráveis.
Com uma população de 1.331.460.000, a China é o país mais populoso do mundo e
apesar de não ter um crescimento populacional negativo como o da Rússia, seu índice de
0.5% (WORLD BANK, 2010) é bastante preocupante. Seu IDH é de 0,772 (PNUD, 2010) e
que 2,8% da população vive abaixo da linha da pobreza (WORLD BANK, 2010).
Com exceção do potencial hidrelétrico6 – o maior do mundo seguido por Rússia e
Brasil, respectivamente (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA DO BRASIL, 2007), a
China não apresenta nenhum recurso natural que mereça remarcado destaque. Podem-se
apontar o carvão, ferro, petróleo, gás, mercúrio, estanho, tungstênio, manganês, molibdênio,
vanádio, magnetita, alumínio, chumbo, zinco e urânio como sendo os recursos principais
(CIA FACTBOOK, 2010).
Caso queira manter seu ritmo acelerado de crescimento, a China terá que enfrentar
inúmeros desafios como a redução da corrupção, garantir um mercado de trabalho em
ascensão para os imigrantes e para os próprios chineses que ainda irão ingressar nesse
mercado, redução dos altos níveis de poupança doméstica conjugados com a baixa demanda
interna e aumento de transferências empresariais e, por fim, reforçar a segurança social (CIA
FACTBOOK, 2010).
No setor ambiental, a China também enfrentará problemas como a perda crescente de
terras agricultáveis em razão da erosão resultante de seu grande desenvolvimento econômico.
Além disso, problemas como a chuva ácida, poluição da água, erosão do solo e a queda
constante dos lençóis freáticos também merecem destaque (CIA FACTBOOK, 2010)
5 Isso pode ser explicado por razões circunstanciais, uma vez que ao contrário do ocorrido na China, Gorbachev não pode contar com predecessores – como Deng teve Mao – que desmontassem, desorganizassem e desmoralizassem o Partido e os aparelhos Estatais, de modo a preparar o terreno para reformas futuras (CSABA, 1996). 6 Potencial hidrelétrico refere-se à capacidade total de produção de energia elétrica de todos os rios e bacias hidrográficas (ANTUNES, 1996).
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Quanto aos gatos militares, a China investe aproximadamente 2 % de seu PIB neste
setor (WORLD BANK, 2010) e possui um contingente de 613,414,603 cidadãos aptos ao
serviço militar (CIA FACTBOOK, 2010). Além disso, ela possui juntamente com a Rússia
um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e é um dos “poucos” Estados no
mundo que detém tecnologia nuclear para fins bélicos.
Brasil
Ao contrário da Índia que teve sua independência econômica reconhecida antes da
política, o Brasil se unificou primeiro politicamente e só depois veio a se integrar
economicamente, tanto no âmbito nacional quanto no internacional
Passando pelo período imperial caracterizado por uma economia quase que
estritamente agrícola com base no trabalho escravo, é só em 1930 com Getúlio Vargas, que o
Brasil começa a dar seus primeiros passos rumo a uma economia (semi) industrializada.
As mudanças mais intensas tanto políticas quanto econômicas, porém, se deram entre
os anos de 1950 e 1980 quando o Brasil, além de ter passado por um golpe militar,
experimentou altos índices de crescimento que geraram uma intensa expectativa e euforia.
Contudo, como todo esse crescimento foi alcançado à custa de um grande ônus social
e endividamento externo, ele não conseguiu se sustentar no longo prazo. A partir dos anos
1980 – a década perdida – quando a era militar já estava prestes a chegar ao fim, a economia
passou a decrescer, chegando mesmo a estagnar.
Apesar de ter chegado aos anos 1990 com uma economia diversificada
(principalmente quando comparada a do período colonial), o Brasil ainda enfrenta
consideráveis problemas estruturais, muitos deles comuns aos dos outros BRIC, e que
permanecem como entrave ao seu desenvolvimento. Dentre tais problemas, destaca-se a
pobreza e grande desigualdade social, corrupção, elevada carga tributária, o problema da
previdência e o sistema educacional precário.
Com 193,733,795 habitantes, e 8.514.880 Km2 de extensão territorial, o Brasil é o
quinto país mais populoso do mundo sendo as estimativas de crescimento demográfico para
os próximos anos de aproximadamente 0.9% (WORLD BANK, 2010). Segundo o ranking de
2009 o IDH brasileiro é o segundo maior do “grupo” – 0.813 (PNUD 2010) – ficando atrás
apenas da Rússia. Entretanto, 26% de sua população vive abaixo da linha da pobreza
(WORLD BANK, 2010) – maior índice entre os BRIC.
14
Atualmente a economia brasileira é a maior da América do Sul, sendo caracterizada
principalmente pelo setor agrícola e pela existência de indústrias bem desenvolvidas, bem
como pela mineração e pelo setor de serviços. Apesar de sua notória vocação agrícola, este é
o setor que menos contribui para o PIB do país – 6,1% (CIA FACTBOOK, 2010) que se
encontra majoritariamente embasado no setor de serviços (68.5%) seguido pela indústria
(25.4%) (CIA FACTBOOK, 2010).
Quanto aos recursos naturais, o Brasil possui grandes reservas de ouro, bauxita,
minério de ferro, manganês, níquel, fosfatos, platina, estanho, urânio, petróleo, madeira, além
de grandes reservas de água doce, grande potencial hidrelétrico e grande capacidade para a
produção de alimentos (CIA FACTBOOK, 2010)
Já em relação ao setor militar, o Brasil é o país do BRIC que apresenta menor índice
de investimento: 1,7% do PIB (WORLD BANK, 2010). Isso muito provavelmente se dá em
função de sua geopolítica estável e ausência de problemas lindeiros comuns aos demais
BRIC.
(...) o Brasil nunca foi de fato imperial ou dominador, como talvez as duas grandes potências militares dos BRICS; assim como ele não exibe a mesma “pujança” demográfica e os problemas geopolíticos da Índia. Trata-se de um país “contente” com sua geografia e bastante tranqüilo quanto ao relacionamento regional, o que não é o caso dos demais BRICS, envolvidos em disputas de diversos tipos, nem sempre solucionáveis de modo fácil ou rápido. Esse contexto de “paz regional” – pelo menos desde o final da Guerra do Paraguai – e de ausência de ameaças externas define o Brasil em sua singularidade geopolítica no quadro dos BRICS e deve ser considerado com um “ativo” positivo no seu processo de inserção regional e internacional (ALMEIDA, 2008 pag. 27).
O país conta com um contingente de 83,079,539 cidadãos aptos a servirem
militarmente (CIA FACTBOOK, 2010). Apesar de seus esforços, o Brasil não é detentor de
um assento no Conselho de Segurança da ONU e também não possui tecnologia nuclear para
fins bélicos como todos os demais BRIC 7.
7 Ao tratar do Brasil, a base de dados oficial disponibilizada pelo IBGE não foi utilizada por conter dados já desatualizados, principalmente em comparação com o das outras fontes utilizadas. Em certa medida, pode-se atribuir tal fato ao CENSO que está sendo realizado este ano, de modo que os dados atualizados ainda estão sendo coletados pelo governo.
15
PERSPECTIVAS TEÓRICAS DE ORDEM, PODER E ESTABILIDAD E INTERNA
PARA OS BRIC:
Nessa seção serão apresentadas as bases teóricas sobre as quais esse trabalho se
firmará. Começando pela perspectiva de Buzan & Waver (2003), pode-se afirmar que a ordem
mundial no pós Guerra Fria é compreendida por ambos a partir da ótica regional. As regiões
têm, para eles, remarcada importância por constituírem o primeiro palco de atuação dos
Estados no plano internacional. Para melhor entendimento da estrutura do sistema
internacional naquele contexto, três categorias (dentro das quais podemos identificar os quatro
BRIC) foram propostas: superpotência, grande potência e potência regional.
A categoria superpotência é composta por Estados que possuem poder militar e
econômico de alcance global, além de serem também atores securitizantes8, ou seja, possuem
uma influência e abrangência tal que os permite securitizar praticamente qualquer tema por
meio de seus discursos. De acordo com os autores, o único ator que atualmente se enquadra
nessa categoria são os Estados Unidos.
A categoria grande potência é composta por atores com considerável poder econômico
e militar e que são percebidos como atores que no curto prazo podem ascender rapidamente à
condição de superpotência. Dentro dessa categoria os autores enumeram Inglaterra, Alemanha
e França tomadas juntas como União Européia, Japão, China e Rússia sendo essa última
percebida muito mais como um ator que declinou de sua antiga categoria de superpotência do
que um ator que tenha realmente condições de ascender novamente a ela no curto prazo.
Já as potências regionais são aquelas que definem a polaridade dentro de seus
complexos de segurança9. Aqui se enquadram um vasto número de atores com destaque para
Brasil e Índia.
Desse modo, a estrutura do sistema internacional do pós Guerra Fria, de acordo com o
prisma de Buzan & Waver (2003), pode ser representada pela expressão 1(superpotência)
+4(grandes potências) + potências regionais. Nesse contexto, os BRIC seriam um “grupo”
8 Segundo Buzan, Waever & Wilde (1991), agentes securitizantes são aqueles que detêm o poder de, através de seus discursos, declararem algo como uma questão de ameaça existencial, de modo que todos os demais não só aceitem seu discurso, como também comecem a empenhar esforços de fato para a contenção de tal ameaça. Dessa forma, esses agentes possuem o poder de securitizar qualquer assunto que lhes sejam convenientes. 9 A proximidade geográfica é um fator central para a constituição de um complexo de segurança regional. Esses complexos são definidos a partir de fatores exógenos percebidos mutuamente por um grupo de Estados como uma ameaça, ou seja, “[...] um grupo de Estados cujas principais percepções e preocupações em segurança estão de tal modo interligadas, que seus problemas de segurança nacional não podem ser razoavelmente analisados ou resolvidos separadamente dos demais Estados”. Vale também mencionar que a dinâmica interna de um complexo é determinada pelas relações de amizade/inimizade entre seus integrantes, que devem constituir um padrão de relacionamento durável ao longo do tempo (BUZAN, WAVER & WILDE, 1991).
16
misto formado por potências e potências regionais. Tomados no período da Guerra Fria,
podemos inferir, de acordo com a perspectiva dos autores, que o acrônimo BRIC seria melhor
representado pela sigla CRIB ou CRBI de modo a refletir de fato a posição de cada um deles
perante aos outros – China ocupando a primeira posição seguida bem de perto pela Rússia,
com Brasil e Índia empatados em último lugar.
Para encontrar a melhor distribuição de letras para esse acrônimo nos dias atuais, serão
considerados, de início, os fatores nomeados por Morgenthau (1948) como fundamentais para
a análise do poder de um Estado perante aos demais.
Apesar de encontrar na abordagem neo-realista uma nova roupagem, mais sofisticada
e frequentemente mais utilizada nos dias de hoje, a escolha do realismo clássico se deu pelo
fato de o mesmo permitir a combinação com elementos que não estão diretamente ligados à
concepção tradicional de poder – capacidades militares e econômicas – mas que são
igualmente importantes para a composição do poder de um Estado, principalmente quando se
leva em conta o atual cenário mundial onde os recursos naturais têm se tornado cada vez mais
escassos e as questões ambientais ganhado cada vez mais importância.
Em sua obra “A Política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz” Morgenthau
(1948) enumera nove fatores a serem considerados, divididos em dois grupos: os
relativamente estáveis e os que estão sujeitos a mudanças constantes.
Como os quatro últimos fatores apontados são de caráter extremamente subjetivo,
apenas os cinco primeiros serão considerados para os fins dessa análise.
Começando pelos relativamente estáveis, temos a geografia como o fator mais estável
de todos. Apesar dos crescentes avanços tecnológicos e de transporte, a posição geográfica de
um Estado continua a ser bastante relevante para seu relacionamento com os demais Estados,
podendo em alguns casos favorecê-lo e em outros prejudicá-lo. Dois fatores são
especialmente importantes: a extensão territorial e as barreiras fronteiriças naturais10.
A extensão territorial é de extrema importância para a caracterização do poder de um
Estado, especialmente quando existe a possibilidade de conflito nuclear. Considerando o raio
de alcance de um ataque nuclear, o Estado só terá chances de se defender caso possua um
território amplo o suficiente que o permita dispersar sua população, seus centros industriais e
suas instalações nucleares. Já as barreiras fronteiriças naturais desempenham um papel
importante na defesa do país, uma vez que qualquer ataque inimigo será retardado, senão
contido por essas barreiras.
10 As barreiras fronteiriças não serão consideradas para os fins da análise a que se propõe este artigo.
17
O segundo fator relativamente estável que exerce influência sobre o poder de uma
nação são os recursos naturais, quais sejam alimentos e matérias primas. Quanto aos
alimentos, Morgenthau (1948) afirma que um Estado que seja totalmente ou pelo menos
majoritariamente auto-suficiente na produção desse gênero possui uma vantagem considerável
sobre outros que dependem da importação desse recurso. Estados com facilidade na produção
de alimentos não precisarão desviar-se de seus objetivos para garantir o fornecimento desses
recursos básicos à sua população e como conseqüência disso, poderão focar-se na elaboração
de políticas internas e externas mais rigorosas e ativas.
O mesmo raciocínio se aplica para as matérias-primas. Esse fator é determinante para
o poder nacional na medida em que determina os limites da produção industrial e bélica de
um Estado. Caso não detenha as matérias primas necessárias para movimentar esses dois
setores, principalmente, o Estado estará fadado ao atraso frente àqueles que dispõem de tais
recursos. Morgenthau (1948) afirma ainda que a disponibilidade de certas matérias primas
como o petróleo, por exemplo, foram e em alguma medida continuam sendo capazes de
alterar a o grau de poder relativo entre os países. Atualmente urânio vem desempenhando
papel similar ao do petróleo, fato este já abordado por Morgenthau (1948).
Devido à dificuldade de encontrar fontes seguras que forneçam dados idôneos a
respeito da produção total de matéria prima e alimentos de um Estado, a seguinte perspectiva
será adotada: será considerada a porcentagem de alimentos/matéria primas exportadas por um
país subtraindo-se desse total o percentual importado pelo mesmo, de modo a obter um
balanço geral, o qual será denominado de saldo da produção de alimentos/matéria primas.
O terceiro fator mencionado é a capacidade industrial. Segundo Morgenthau (1948) de
nada adianta contar com vastos recursos naturais se o Estado não possui uma capacidade
industrial tal que o permita transformar esses recursos em fontes reais de armamentos, poder e
riqueza. Sem esse elemento, o Estado permanecerá apenas como um poderio em potencial,
sem condições de se consolidar de fato como um poder real. Na falta de fontes confiáveis que
retratem o tamanho da capacidade industrial de um país, será adotado o índice de crescimento
da produção industrial para mensuração desse fator.
O quarto fator listado é o grau de preparação militar. Esse seria o fator que, segundo o
autor, confere real importância aos três listados anteriormente para fins da determinação do
poder de um Estado. Ele é diretamente dependente de outros subfatores quais sejam a
tecnologia, liderança e quantidade/qualidade das forças armadas. Como a liderança e
qualidade são fatores de difícil mensuração, serão consideradas apenas a quantidade
18
(contingente apto ao serviço militar) e a tecnologia entendida aqui como a detenção ou não da
tecnologia nuclear para fins bélicos.
A tecnologia para Morgenthau (1948) é importante porque, a princípio, é capaz de
determinar o destino de muitas guerras, onde o lado que a possui obtém vantagem em função
da incapacidade do lado desprovido de fazer frente ou mesmo resistir. Mesmo que na maioria
das vezes seja temporária, essa vantagem é de extrema importância. A tecnologia nuclear,
contudo, representa um paradoxo uma vez que o aumento de armas nucleares não significa,
como no caso dos armamentos comuns, um aumento do poder nacional, pois ao lançar mão da
mesma, o Estado pode colocar sua própria existência em risco. Em todo caso, ela confere
alguma vantagem – mesmo que apenas nominal e/ou temporária – à parte que a possui.
O quinto fator relatado é a população. Segundo o autor, é incorreto afirmar que o
poder de um Estado é proporcional ao seu número de habitantes, porém não se pode negar que
para se tornar e/ou permanecer uma potência, o Estado deve figurar entre as nações mais
populosas do globo. A vital importância da população para um Estado reside no fato de que
ela é, ao final, a responsável por prover soldados para os campos de batalha e girar a
economia de modo a desenvolver o Estado e prover o suficiente para as forças armadas em
termos de alimentos, comunicação, transporte, munição e armas.
Apesar de necessária àqueles Estados que desejem ascender como potência, uma
população demasiadamente grande também pode ser fonte de problemas, caso esteja alocada
em países subdesenvolvidos que terão, então, que deslocar os seus já parcos recursos para a
manutenção desse grande contingente.
De qualquer modo, como o tamanho da população é um fator muito relevante na
determinação do poder de um Estado, as taxas de crescimento populacional e a distribuição
etária devem ser objetos de constante atenção e monitoramento.
Como não existe um percentual ideal, um parâmetro para a taxa de crescimento
populacional, será adotada a taxa de reposição populacional cujo ideal é de 2,1 filhos por
mulher – um para repor o pai, um para repor a mãe e 0,1 para compensar a mortalidade de
crianças que não chegam à idade adulta (BARROS, 2009) – para avaliar se um Estado está
acima ou abaixo da média recomendada.
Ao final, Morgenthau (1948), descreve quatro fatores qualitativos para a determinação
do poder de um Estado – índole nacional, moral nacional, qualidade da diplomacia e
qualidade do governo. Entretanto, por serem fatores extremamente subjetivos e difíceis de
serem mensurados, eles não serão considerados para fins de análise.
19
Por fim, será abordada a perspectiva dos autores Cincotta, Engelman & Anastasion
(2003), para complementação dos índices envolvidos neste exercício de comparação entre os
BRIC. O trabalho desses autores, baseado em observações feitas nos anos 1990, retrata a
realidade do pós Guerra Fria onde o número de conflitos inter-estatais diminuiu drasticamente
enquanto o número de conflitos internos cresceu exponencialmente11.
A fim de tentar antecipar tal fenômeno, os autores tratam de quatro fatores que
indicam a maior ou menor propensão de um Estado à instabilidade e conflitos de natureza
interna, e atribuem valores de referência a cada um deles:
1. Tamanho da população jovem
2. Taxa de urbanização
3. Disponibilidade de água e terras agricultáveis
4. Número de mortes devido ao HIV
É importante ressaltar que nenhum desses fatores é, por ele mesmo, a causa única de
um conflito interno e mesmo indicando uma maior propensão a esse tipo de conflito, esses
fatores não devem ser considerados barreiras intransponíveis e tão pouco determinantes para a
existência de issureições civis.
Começando pelo tamanho da população jovem, os autores definem essa categoria como
sendo composta por pessoas entre 15 a 29 anos. Em economias onde esses jovens possuem
grande produtividade, onde conseguem fazer uma poupança e onde existe um pequeno
número de crianças e idosos para que eles “sustentem”, prevalece o chamado bônus
demográfico12. Já em economias onde o trabalho é escasso e as condições sociais são
precárias, uma grande população jovem é uma grande fonte de instabilidade e de potenciais
conflitos internos.
De acordo com o padrão observado pelos autores, a população jovem de um Estado deve
ser considerada significativamente grande quando o número de jovens adultos é 40% maior
do que o número de todos os adultos13. Nesse caso, tem-se que a probabilidade de ocorrência
de um conflito civil é de 33% (alta).
11 Durante o pico de conflitos internos em 1992 registrou-se um total de 55 conflitos armados, sendo que desse total apenas um não era de caráter interno. Ao final da década de 1990 o total de conflitos internos foi de 107 que se encontravam espalhados por 63 diferentes Estados (CINCOTTA, ENGELMAN & ANASTASION, 2003). 12 Período onde a população economicamente ativa supera a população de dependentes – idosos e crianças. (CINCOTTA, ENGELMAN & ANASTASION, 2003). 13 Adultos são todos definidos como todos aqueles com idade superior a 15 anos (CINCOTTA, ENGELMAN & ANASTASION, 2003).
20
Quando o número de jovens adultos é maior que o número de adultos em uma faixa de 30-
39%, as chances de conflito civil são consideradas médias (18%) e quando essa proporção é
menor do que 30%, as chances de conflito interno são de 11%, um índice considerado baixo.
Como esse é um índice muito específico, cujos valores não foram encontrados a partir de
outras fontes confiáveis, será utilizado para cada BRIC o valor mencionado pelos autores na
referida obra. Entretanto, é importante notar que esses valores são referentes ao ano de 2005,
mas como abrangem intervalos de classes bastante amplos ao invés de um número específico,
a análise final não ficará prejudicada.
Passando ao fator urbanização, o estudo feito pelos autores aponta que altas taxas de
urbanização presentes em países em desenvolvimento é fonte muito mais de preocupações do
que de benefícios14. Isso porque esse fenômeno em larga escala concentrado em um “curto”
período de tempo tem como conseqüência o inchaço do mercado de trabalho e acirramento
das competições entre grupos étnicos distintos, representando ainda um desafio aos serviços e
à infra-estrutura estatais que não conseguem atender tamanha demanda.
É importante destacar que tal demanda é composta pelas mais diversas camadas da
sociedade como desempregados, estudantes, políticos, ex-moradores do campo, pessoas de
classe média, etc., sendo esses últimos os que concentram da maneira ótima (dentro de suas
possibilidades, claro) habilidades e recursos para a organização de protestos civis
(CINCOTTA, ENGELMAN & ANASTASION, 2003).
Altas taxas de urbanização podem ser, portanto, um indicativo de maior possibilidade
à instabilidade interna. De acordo com os autores, taxas anuais de urbanização iguais ou
maiores que 4% indicam que o risco de instabilidade é bastante alto. Para taxas que variam de
1% a 3.9% o risco é médio e para taxas menores que 1% o risco é considerado baixo.
O terceiro fator que pode indicar a propensão de um Estado à instabilidade é a
disponibilidade de água doce e terras agricultáveis. Segundo Cincotta, Engelman &
Anastasion (2003), a maioria dos Estados no mundo já atingiram níveis alarmantes de
disponibilidade desses recursos. Alguns devido às suas condições naturais como desertos ou
áreas congeladas e outros devido à rápida industrialização que sofreram.
A literatura a respeito aponta que esse é um fator de risco adjacente quando
comparado aos dois anteriores o que é atribuído à tecnologia e à capacidade dos Estados de
importar tais recursos.
14 Apenas quatro das vinte cidades mais populosas do mundo se encontram nos países mais desenvolvidos. Três de cada quatro latino americanos e quatro de cada dez asiáticos e africanos habitam centros urbanos (CINCOTTA, ENGELMAN & ANASTASION, 2003).
21
É também observado que conflitos civis, que tem como principal causa a água, são
mais recorrentes do que os que ocorrem por terras agricultáveis, o que é explicado pela maior
dificuldade em se adquirir esse recurso quando ele não está presente ou é escasso em um
território, pelos preços mais elevados e por ser o de todos os recursos o mais vital.
Entretanto, esses conflitos tendem a não se estender muito. Isso se deve em grande
parte ao compartilhamento do ideal de que a água é um bem comum e global pertencente a
todos, e também ao bom trabalho de solução de conflitos desempenhado pelas instituições e
órgãos responsáveis por questões relativas à água. Em contrapartida, os conflitos por terra se
fazem mais longos e incisivos, uma vez que esse recurso está ligado muito mais à idéia de
propriedade do que ao ideal de um bem comum.
De acordo com o trabalho dos autores, os seguintes índices que relacionam a escassez
desses recursos com probabilidade de conflitos civis foram encontrados:
1. Disponibilidade de terras agricultáveis
a. Menor que 0.21 hc/habitante: 30% de propensão à instabilidade interna
b. De 0.21 à 0.35 hc/habitante: 29% de propensão à instabilidade interna
c. Maior que 0.35 hec/habitante: 13% de propensão à instabilidade interna
2. Disponibilidade de água
a. Menor que 1,667 m³/habitante: 30% de propensão à instabilidade interna
b. De 1,667 à 3,000 m³/habitante: 29% de propensão à instabilidade interna
c. Maior que 3,000 m³/habitante: 13% de propensão à instabilidade interna
Por fim, o último fator de risco apontado pelos autores são os índices de mortes
causadas pelo HIV entre pessoas em idade economicamente ativa15. O grande número de
baixas nessa camada da população se faz sentir ao Estado de diversas maneiras, sendo as mais
recorrentes e preocupantes a diminuição da força de trabalho disponível e a diminuição do
contingente disponível às atividades militares.
O decrescimento da força de trabalho faz com que um número cada vez menor de
cidadãos tenha que sustentar toda a população de crianças e de idosos de seu país, o que, em
última instância, gera aumento da pobreza e miséria aumentando assim a propensão à
15 90% das mortes devido ai HIV ocorrem entre pessoas em idade economicamente ativa (CINCOTTA, ENGELMAN & ANASTASION, 2003).
22
instabilidade interna. Isso se torna ainda mais exacerbado quando adicionamos a tal realidade
a existência de um pequeno contingente militar insuficiente para exercer a defesa do Estado.
Além desses setores, situações críticas também se estendem ao sistema de saúde,
escolas, fábricas e até mesmo propriedades rurais que por não contarem com número
suficiente de pessoas, não conseguem a produção e os serviços necessários.
De acordo com os autores, Estados que apresentam um índice de mortalidade dos
portadores de HIV em idade ativa superior a 10% são considerados Estados onde o risco de
instabilidade interna é extremo. Para índices de 7 até 10%, o risco é considerado alto. Caso o
índice seja de 2 à 7% o risco é médio e para valores menores que 2% o risco é considerado
baixo.
Ainda de acordo com os autores, entre os anos de 1995 e 2000 era muito pequeno o
número de Estados que se enquadravam nas categorias de risco extremo e alto para que se
pudesse encontrar uma associação entre HIV e conflitos internos. Entretanto, eles continuam
defendendo que Estados que se encontram nas categorias extrema e alta estão muito mais
propensos a esses conflitos do que os outros e propõem ainda que isso poderá ser melhor
verificado ao final da primeira década do século XXI.
Para fins da análise a que se propõe este artigo, as categorias e os parâmetros
propostos pelos autores para a questão do HIV serão considerados na íntegra para a análise do
grau de instabilidade interna dos BRIC. Assim como no caso do tamanho da população
jovem, não foi possível obter o índice de morte pelo HIV entre população economicamente
ativa através de fontes idôneas, de modo que o valor apresentado pelos autores para cada país
do globo será considerado para essa análise, mesmo sendo referente ao ano de 2000-2005. A
análise certamente não será prejudicada, pois como ocorreu anteriormente, os autores não
apresentam um número específico e sim um intervalo de classes consideravelmente
confortável que possibilita a adoção de tal procedimento. Todos esses valores podem ser
verificados na tabela do anexo I, ao final do artigo.
Mesmo considerando os quatro índices acima como os mais significativos para a
demonstração do nível de instabilidade de um Estado, os autores reconhecem que a taxa de
natalidade e de mortalidade são os índices primários a partir dos quais todo o resto se origina.
Trabalhando juntos ao longo do tempo, esses índices constituem forças demográficas muito
poderosas, e é a partir deles que tudo se desencadeia – crescimento ou decrescimento da
população, demanda por comida, água, energia, taxa de urbanização, migração interna, dentre
outros fatores.
23
Da mesma forma, determinadas tendências nas taxas de nascimento, mortalidade e
migração são responsáveis por determinar a estrutura etária da população, que por sua vez
determina o número de dependentes das pessoas economicamente ativas, o tamanho da
população em idade escolar e o número de pessoas entrando e saindo do mercado de trabalho.
Para os fins desta análise, as taxas de nascimento e mortalidade serão consideradas através da
taxa de reposição populacional já mencionada acima, uma vez que a mesma nos fornece um
parâmetro para análise e classificação de cada BRIC.
UM EXERCÍCIO COMPARATIVO
Esta seção se propõe a responder a pergunta central deste artigo: Qual a posição do
Brasil perante aos demais BRIC? Para tanto, serão consideradas as quatro áreas temáticas e
seus respectivos índices apresentados na introdução cuja relevância e importância foram
discutidas e defendidas à luz de perspectivas teóricas trabalhadas na seção anterior, que
forneceu também importantes parâmetros quantitativos. Ao final, será estabelecido um
ranking que classificará os quatro BRIC demonstrando, portanto, a posição de cada um deles
(inclusive do Brasil que é o objeto central da discussão) perante aos outros.
Para a elaboração desse ranking as áreas capacidade militar e economia terão peso 2
na classificação final, por estarem ligadas diretamente ao hard power (NYE, 2004). Os
recursos naturais e aspectos demográficos terão peso 1 uma vez que não estão relacionados
diretamente ao hard power como os dois anteriores. Todos os índices propostos para essa
análise se encontram devidamente especificados e referenciados no anexo I ao final desse
artigo.
A classificação será feita da seguinte forma: foram propostas quatro grandes áreas a
serem analisadas (economia, aspectos militares, recursos naturais e aspectos
demográficos/sociais) e cada uma dessas áreas possui uma série de índices que as compõe.
Cada área com seus respectivos índices será analisada dentro de uma tabela, de modo que
quatro tabelas serão geradas.
Para cada índice dentro de uma dada tabela será gerada uma classificação que
mostrará, em ordem decrescente, qual Estado possui o maior/melhor valor numérico para o
24
índice trabalhado16. Na última linha de cada tabela será gerada a classificação geral para a
área que se trabalhou na mesma. Desse modo, ao final de cada uma das quatro tabelas será
gerado um ranking que apresentará o Estado que mais se sobressaiu na área analisada,
seguido pelos segundo, terceiro e quarto lugares, respectivamente.
Após repetir o procedimento para as quatro grandes áreas propostas, será apresentada
uma quinta tabela onde essas quatro áreas estarão mencionadas, bem como qual o Estado se
sobressaiu em cada uma delas. Assim, será gerado o ranking final que mostrará o BRIC que
se sobressaiu em um maior número de áreas, seguido pelos outros em ordem decrescente.
É importante notar que para todas as classificações propostas acima será usado como
referência a primeira letra do nome de cada Estado, separados por vírgula. Em caso de empate
as letras serão separadas por uma barra, e para evitar favoritismos entre os empatados, as
letras de seus respectivos nomes serão apresentadas na ordem proposta pelo acrônimo BRIC.
Para ilustrar, será tomado como exemplo uma situação hipotética de primeiro lugar da Índia,
empate entre China e Brasil, e último lugar da Rússia para o índice PIB. Nesse caso, a
referência utilizada para essa classificação será I, B/C, R.
A contagem dos pontos para obtenção da classificação geral ao final de cada uma das
quatro tabelas já mencionadas será feita da seguinte forma: para cada índice individualmente
analisado durante a tabela, o país que pontuar em primeiro lugar somará 4 pontos, o segundo
lugar 3 pontos, o terceiro 2 e o quatro 1 ponto. Em caso de empate, os Estados empatados
somarão o mesmo número de pontos referente à posição em que se encontram empatados. Por
exemplo, caso tenhamos China em primeiro lugar, Brasil e Índia empatados em segundo
lugar, e Rússia em último lugar, a China somará 4 pontos, Brasil e Índia 3 pontos e Rússia 2
pontos. Como o quarto lugar foi excluído, nenhum Estado somará 1 ponto.
Para um melhor entendimento dessa metodologia, segue abaixo uma tabela hipotética,
apenas para fins de esclarecimento:
16 A expressão “melhor” foi utilizada para se referir aos índices cujos valores são indiretamente proporcionais, ou seja, quanto menor o valor, melhor a situação do Estado. Isso se aplicará para os índices taxa de urbanização, tamanho da população jovem e mortalidade devido ao HIV entre a população economicamente ativa.
25
Em caso de empate na quinta tabela, onde será gerado o ranking final (dois Estados se
sobressaindo em um mesmo número de áreas de mesmo peso), todos os quatro rankings
gerados nas tabelas anteriores serão retomados e uma contagem de acordo com a proposta
acima será feita, levando em consideração o peso de cada área.
Iniciando-se pela economia, temos os seguintes índices a serem analisados: PIB, PIB
per capta, taxa de crescimento do PIB e taxa de crescimento da produção industrial. Todos os
índices trabalhados se encontram devidamente especificados e referenciados no anexo I ao
final desse artigo17.
Ao compararmos todos os índices que compõem a esfera econômica, conclui-se que a
China possui superioridade em todos, exceto no PIB per capta, o que pode ser justificado pelo
fato de possuir a maior população dentre os quatro BRIC. Para a economia tem-se, portanto, a
seguinte classificação:
17 Devido à delimitação do objetivo proposto, bem como à falta de espaço, este artigo não tem como intenção analisar e/ou problematizar a razão de ser, o porquê dos índices apresentados. Vale também mencionar que a diferença absoluta entre os valores de um determinado índice entre dois ou mais Estados pode não ser muito significativa, entretanto, por questões quantitativas e metodológicas, eles serão classificados tomando por base o valor numérico absoluto para os índices apresentados.
ÁREA ABORDADA: ECONOMIA
ÍNDICES COMPONENTES CLASSIFICAÇÃO
PIB
(B=100; R=90; I=50; C=80) B(4pt),R(3pt),C(2pt),I(1pt)
PIB per capta
(B=7; R=9; I=4; C=6) R(4pt),B(3pt),C(2pt),I(1pt)
Taxa de crescimento do PIB
(B=30; R=50; I=20; C=40) R(4pt),C(3pt),B(2pt),I(1pt)
Taxa de produção industrial
(B=15; R=17; I=16; C=18) C(4pt),R(3pt),I(2pt),B(1pt)
Desse modo teremos Brasil com 10 pontos, Rússia com 14 pontos, Índia com 5 pontos e China com 11 pontos, o que nos dará a classificação abaixo:
Classificação geral R,C,B,I
26
ECONOMIA
Índice Classificação
PIB C,B,I,R
PIB per capta R,B,C,I
Taxa de crescimento do PIB C,I,B,R
Crescimento da produção industrial C,I,B,R
Classificação geral C,B,I,R
China=14; Brasil=10; Índia=9; Rússia=7
Passando-se aos aspectos militares, novamente que a China se sobressai em todos,
com exceção do percentual do PIB empregado no setor militar. Entretanto, como seu PIB é o
maior dos quatro, em números absolutos, a China supera todos os demais em investimentos
nesse setor.
Outro ponto que merece destaque é o contingente apto ao serviço militar. A Rússia
apresenta o menor dentre os BRIC, o que pode ser fortemente atribuído ao problema
demográfico enfrentado por esse país e que já está se fazendo sentir na segurança do mesmo.
Esse problema será melhor retratado na tabela seguinte, mas para fins de comparação,
podemos citar que o crescimento populacional da Rússia, em 2008, foi de -0,1%, o único
negativo entre os BRIC (WORLD BANK, 2010).18
ASPECTOS MILITARES
Índice Classificação
Gastos com setor militar em %PIB R,I,C,B
Gastos absolutos com setor militar em USD C,R,I,B
Contingente disponível ao setor militar C,I,B,R
Tecnologia nuclear para fins bélicos R/I/C,B
Classificação geral C,R/I,B
China=14; Rússia=12; Índia=12; Brasil=7
18 O crescimento populacional em 2008 foi de 0.9% no Brasil, -0,1% na Rússia, 1.3% na índia e 0.5% na China (WORLD BANK, 2010).
27
Quanto aos aspectos demográficos e sociais, a Rússia tem preponderância, seguida por
Brasil e China empatados em segundo lugar e pela Índia em último lugar. É interessante notar
que, de certa forma, a classificação geral obtida retrata quase exatamente o proposto pelo IDH
que sugere praticamente a mesma classificação.
Também é relevante mencionar aqui o problema da população. A Rússia possui o
maior IDH do grupo e, simultaneamente, vive um déficit populacional imenso, com
crescimento demográfico negativo, taxa de nascimentos por mulher menor do que o
recomendado e a menor população do grupo. Isso deve ser fonte de preocupação uma vez que,
caso medidas não sejam tomadas para reverter o quadro rapidamente, em pouco tempo
problemas na previdência, oferta de mão de obra, segurança, dentre outros serão intensos.
A Índia, por sua vez, apresenta uma situação completamente oposta, mas igualmente
problemática. Ela possui a segunda maior população, o maior crescimento populacional, a
maior taxa de filhos por mulher, e o pior IDH do grupo. Como já mencionado anteriormente,
de acordo com Morgenthau (1948), todo Estado que almeje se tornar uma grande potência
deve contar com uma grande população, entretanto, caso o Estado não seja desenvolvido o
suficiente para suportá-la (como a Índia), ela deixará de ser um benefício e se tornará um
problema, pois o Estado terá que deslocar recursos que já o são escassos para a manutenção
da mesma.
ASPECTOS DEMOGRÁFICOS E SOCIAIS
Índice Classificação
Extensão territorial R,C,B,I
População C,I,B,R
Tamanho da população jovem R, B/I/C
Taxa de reposição populacional I,B,C,R
IDH R,B,C,I
Taxa de urbanização R,B,I,C
Mortes por HIV entre população economicamente ativa C, B/R/I
Classificação geral R,B/C,I
Rússia=21, Brasil e China=19; Índia=17
28
Quanto aos recursos naturais, a China já não se sobressai tanto assim, sendo o Brasil e
Rússia os que possuem maior destaque. É importante ressaltar aqui a imensa vantagem que o
Brasil possui com relação à produção de alimentos e matéria prima. No quesito
disponibilidade de água per capta o Brasil fica atrás da Rússia somente porque possui uma
população numericamente maior que a mesma, pois em números absolutos as fontes
renováveis brasileiras de água doce superam todos os demais, como pode ser observado na
tabela do anexo I ao final do artigo.
RECURSOS NATURAIS
Índice Classificação
Terras aráveis – hc per capta R,B,I/C
Disponibilidade de água per capta R,B,C,I
Saldo das exportações/importações de alimentos (%) B,I,C,R
Saldo das exportações/importações de matéria prima (%) B,R,I,C
Classificação geral B,R,I,C
Brasil=14; Rússia=12; Índia=8; China=7
Passando agora ao ranking final, temos que a China aparece em primeira posição com
4 pontos, uma vez que lidera as duas áreas de peso 2. Em seguida seguem Brasil e Rússia
empatados, cada um com 01 ponto, e ao final a Índia que não pontuou em nenhuma área.
29
ÁREA TEMÁTICA BRASIL RÚSSIA ÍNDIA CHINA
Economia X
Aspectos militares X
Recursos naturais X
Aspectos demográficos e sociais X
RANKING FINAL C,B/R, I
OBS.: Os fatores economia e aspectos militares possuem peso 2 enquanto os demais possuem peso 1
Para fins de desempate será adotado o esquema apresentado anteriormente – os quatro
rankings anteriores serão retomados e contabilizados de acordo com o esquema de pontos
utilizado até agora, considerando também os pesos de cada área temática. Como as áreas
economia e aspectos militares possuem peso 02, cada Estado contabilizará o dobro de pontos
normalmente distribuídos. Dessa forma, o primeiro lugar contabilizará oito pontos, o segundo
seis, o terceiro quatro e o quarto dois pontos. As outras áreas continuam com a contagem
padrão de quatro pontos para o primeiro lugar, três para o segundo, dois para o primeiro e um
para o último colocado. Segue a tabela abaixo com o resultado final:
DESEMPATE FINAL
ÁREA RANKING OBTIDO NAS CLASSIFICAÇÕES
GERAIS
Economia C,B,I,R
Aspectos militares C,R/I,B
Aspectos demográficos e sociais R,B/C,I
Recursos naturais B,R,I,C
Ranking final C,B,R,I
China=20; Brasil=17; Rússia=15 e Índia=14
30
Assim, tem-se que o ranking final será composto por China em primeiro lugar, Brasil
em segundo, Rússia em terceiro e Índia em último lugar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do resultado obtido, podemos concluir que a China é de fato a estrela do
“grupo”, mas o Brasil não deve ser de todo menosprezado. Ele se encontra em uma posição
intermediária – segundo lugar – seguido por Rússia e Índia, respectivamente. Dessa forma,
conclui-se que o acrônimo não permanece como no período pós Guerra Fria retratado por
Buzzan & Waever (2003) onde a China ocupava o primeiro lugar, Rússia o segundo e Brasil e
Índia dividiam o terceiro lugar e nem tampouco deve ser totalmente invertido como o
proposto por Baumam (2010). Ao invés disso, o acrônimo deve apenas ser rearranjado para
CBRI. Dessa forma, a posição de cada um perante aos demais poderá ser melhor retratada.
Reconhece-se que os índices escolhidos podem ser passíveis de crítica, entretanto, eles
são reflexo de uma escolha teórica devidamente apresentada que mostra a relevância e a
importância dos mesmos. A metodologia classificatória também pode ser passível de
contestação, o que inclusive é desejável em termos científicos, não excluindo, entretanto, o
mérito e a contribuição da mesma.
É importante também mencionar que a análise feita por esse artigo retrata um período
de tempo bastante restrito (2008-2009, aproximadamente) como pode ser percebido nas
referências e datas utilizadas na tabela do anexo I. Portanto, essa classificação é totalmente
passível de alteração de acordo com o passar dos anos que podem – e certamente irão – levar
a modificações nos valores dos índices aqui analisados19.
Para encerrar vale introduzir a perspectiva de Zakaria (2008) a respeito do lugar
ocupado atualmente pelos Estados Unidos, seu relacionamento com a China e a forma de
inserção da mesma no cenário internacional. Esta é uma abordagem bastante interessante, e
deve ficar como tema de reflexão para trabalhos futuros. Segundo o autor, o mundo vem
experimentando nas últimas décadas um fenômeno que ele chama de a “ascensão do resto”,
19 Alguns índices de períodos anteriores foram usados, mas como já explicado durante o artigo, eles são amplos o suficiente para não prejudicarem a análise proposta. Outros índices anteriores a 2008 também foram utilizados na análise (terras aráveis, terras aráveis per capta, disponibilidade de água, e disponibilidade de água per capta) uma vez que não foi possível encontrar dados idôneos para o ano de 2008/2009. De qualquer forma, por se tratar de um período de tempo bastante próximo, a análise não ficou comprometida.
31
ou seja, não há propriamente o declínio dos Estados Unidos20 e sim uma melhora significativa
de outros Estados, principalmente no setor econômico, considerada impensável até então21.
Nesse contexto a importância da China é indiscutível, bem como o impacto de suas
relações com os Estados Unidos. Segundo Zakaria (2008), a relação entre esses dois Estados
é, por enquanto, de dependência mútua “a China precisa do mercado americano para vender
suas mercadorias e os Estados Unidos precisam da China para financiar sua dívida”.
Entretanto, o futuro desse relacionamento, bem como da forma de inserção da China no
cenário mundial ainda são incertos.
Segundo Zakaria (2008), existem duas alternativas para a inserção chinesa. A primeira
seria a de uma inserção política e militar extremamente agressiva, que anularia totalmente de
lado a cooperação praticada até então. Nesse caso, a ameaça que isso representaria aos
Estados Unidos se daria em uma escala menor, e de uma forma já é bastante conhecida pelos
mesmos, vide os exemplos da Guerra Fria e da luta contra o nazismo. Os Estados Unidos
teriam maior facilidade em controlar tal ameaça, visto que continuam sendo a maior potência
militar do globo, além de contar com parceiros estratégicos na região asiática como Japão,
Índia, Austrália e Vietnã que se uniriam para combater a ameaça chinesa.
O problema maior seria se, ao invés disso, a China optasse por uma forma gradual e
silenciosa de inserção que preconiza o estreitamento dos laços econômicos, agindo com calma
e moderação, de modo a aumentar lentamente sua esfera de influência no mundo.
Segundo Zakaria (2008), agindo dessa forma a China poderia conseguir, aos poucos,
“colocar Washington de escanteio na Ásia”, se posicionando sem alarde como uma alternativa
à arrogância e intimidação estadunidense. Caso a China realmente consiga tal feito, outros
questionamentos se fazem pertinentes: qual seria a forma de reação dos Estados Unidos? Uma
nova espécie de Guerra Fria se iniciaria, dessa vez retratando não um conflito entre dois
modelos distintos, e sim entre duas grandes economias de mercado?
Para o autor, esse seria um novo desafio para os Estados Unidos, diferente de todos
que já enfrentaram e para o qual estão, em larga medida, totalmente despreparados.
20 Para Zakaria (2008), os Estados Unidos são considerados a nação mais poderosa do mundo desde o final do séculi XIX. 21 Em 2006 e 2007, 124 países cresceram a uma taxa de 4% ou mais (ZAKARIA, 2008).
32
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37
ANEXO I: OS BRIC EM NÚMEROS
ÍNDICE BRASIL RÚSSIA ÍNDIA CHINA
PIB em USD em 2009
(WB,2010) 1,571,980,000,000 1,230,730,000,000 1,310,170,000,000 4,984,730,000,000
PIB per capta em 2009 USD 8114.12 USD 8676.28 USD 1134.00 USD 3743.80
Taxa anual de
crescimento do PIB em
2009 (WB, 2010)
-0,2% -7.9% 7.7% 9.1%
Crescimento da produção
industrial em 2009
(TRADING
ECONOMICS, 2010)
-7.03 % -9.18% 6.6% 12.45%
Constituição do PIB em
2009
(CIA FACTBOOK, 2010)
Agricultura: 6.1%
Indústria: 25.4%
Serviços: 68.5
Agricultura: 4.7%
Indústria: 34.8%
Serviços: 60.5%
Agricultura: 17%
Indústria: 28.2%
Serviços: 54.9%
Agricultura:
10.6%
Indústria: 46.8%
Serviços: 42.6%
Gastos com setor militar
em % do PIB de 2009
(WB, 2010)
1.7% 4.3% 3.0% 2.0%
Gastos com setor militar
em bilhões de USD
(2009)
26 723 660 000 52 921 390 000 39 305 100 000 99 694 600 000
Contingente em condições
de servir ao setor militar
– est. 2010
(CIA FACTBOOK, 2010)
83 079 539 47 893 925 480 390 156 613 414 603
Tecnologia nuclear para
fins bélicos Não Sim Sim Sim
38
Terras aráveis – hc em
2007(TRADING
ECONOMICS, 2010)22
59 500 000 121 574 000 158 650 000 140 630 000
Terras aráveis – hc per
capta em 2007
(WB, 2010)
0.3 0.9 0.1 0.1
Água – recursos
renováveis disponíveis
em2007 (TRADING
ECONOMICS, 2010)
5 418
bilhões de m³
4 312.7
bilhões de m³
1 260.54
bilhões de m³
2 812.4
bilhões de m³
Disponibilidade de água
per capta em 2008
(TRADING
ECONOMICS, 2010)
28 222.94 m³ 30 383.04 m³ 1 105.30 m³ 2 123.57 m³
Produção de alimentos -
% mercadorias
exportadas em 2008
(TRADING
ECONOMICS, 2010)
27.58% 1.78% 9.95% 2.51%
Produção de alimentos -
% mercadorias
importadas em 2008
(TRADING
ECONOMICS, 2010)
4.37% 12.04% 2.49% 4.76%
Saldo das
exportações/importações
de alimentos em 2008
23.21% -10.26% 7.46% -2.25%
Matéria prima - %
mercadorias exportadas
em 2008 (TRADING
ECONOMICS, 2010)
3.53% 2.07% 1.74% 0.43%
39
Matéria prima - %
mercadorias importadas
em 2008(TRADING
ECONOMICS, 2010)
1.22% 0.77% 1.57% 3.56%
Saldo das
exportações/importações
de matéria prima em
2008
2.31% 1.3% 0.17% -3.13%
IDH 2009 (PNUD, 2010) 0.813 0.817 0.612 0.772
População em 2009
(WB, 2010)
193 733 795
141 850 000 1 155 347 678 1 331 460 000
Extensão territorial
(IBGE, 2010) 8 514 880 km² 17 075 400 km² 3 287 590 km² 9 596 961 km²
Tamanho da população
jovem adulta em relação
à população adulta –
2005 (CINCOTTA,
ENGELMAN &
ANASTASION, 2003)
Menor que 40% Menor que 30% Menor que 40% Menor que 40%
Composição da
população em 2009
(WB, 2010)
0-14 anos: 26%
15-64 anos: 67%
> 65 anos: 7%
0-14 nos: 15 %
15-64 nos: 72%
> 65 anos: 13%
0-14 anos: 31%
15-64 anos: 64%
> 65 anos: 5%
0-14 anos: 20%
15-64 anos: 72%
> 65 anos: 8%
Crescimento populacional
em 2008 (WB, 2010) 0.9% -0.1% 1.3% 0.5%
40
Fonte: Todos os dados utilizados foram referenciados no corpo da tabela. Para maiores informações, consulte a bibliografia.
_________________________ 22 Arable land (in hectares) includes land defined by the FAO as land under temporary crops (double-cropped areas are counted once), temporary meadows for mowing or for pasture, land under market or kitchen gardens, and land temporarily fallow. Land abandoned as a result of shifting cultivation is excluded. Fonte: http://www.tradingeconomics.com/russia/arable-land-hectares-wb-data.html Acessado em 18/10/2010 às 23h19min.
Taxa de reposição
populacional – filhos por
mulher – est. 2010
(CIA FACTBOOK, 2010)
2.19 1.41 2.65 1.54
Taxa de urbanização em
2008 (TRADING
ECONOMICS, 2010)
1.51% -0.13% 2.29% 2.62%
População habitando
centros urbanos em 2009
(WB, 2010)
86% 72.8% 29.8% 44%
População abaixo da
linha da pobreza em 2007
(WB, 2010)
26% 15.8% 25% 2.8%
HIV - % população de 15
à 49 anos infectada em
2007 (TRADING
ECONOMICS, 2010)
0.6% 1.1% 0.3% 0.1%
Morte devido ao HIV
entre população
economicamente ativa de
2000 a 2005
(CINCOTTA,
ENGELMAN &
ANASTASION, 2003)
2 à 7% 2 à 7% 2 à 7% Menos de 2%