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DESIGUALDADES SOCIAIS, QUESTÃO SOCIAL E POLÍTICAS PÚBLICAS Simone de Jesus Guimarães 1 RESUMO O Brasil é um país profundamente desigual. A concentração da riqueza e dos bens socialmente produzidos está nas mãos de poucos. A questão social, síntese do conjunto das desigualdades, aprofunda-se com a chegada de Michel Temer à presidência da República (2016), via golpe parlamentar. As políticas públicas respostas do Estado à questão social vêm sofrendo restrições e abalos produzidos por medidas e reformas, que afetam os direitos dos trabalhadores, garantidos pela Constituição e outras normativas. O objetivo deste trabalho é discutir a realidade brasileira na relação desigualdade, questão social e políticas públicas. PALAVRAS-CHAVE: Desigualdades sociais. Questão Social. Políticas Públicas. ABSTRACT Brazil is a deeply unequal country. Wealth and socially produced goods are concentrated in the hands of few. Social issues, synthesis of all the inequalities that affect the country, deepen with the rising of Michel Temer to the Presidency (2016), through a parliamentary coup. Public policies - State's responses to the social issues - are being weakened and modified by reforms that 1 Professora Doutora do Departamento de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Piauí. E-mail: [email protected].

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DESIGUALDADES SOCIAIS, QUESTÃO SOCIAL E POLÍTICAS PÚBLICAS

Simone de Jesus Guimarães1

RESUMO

O Brasil é um país profundamente desigual. A concentração da

riqueza e dos bens socialmente produzidos está nas mãos de

poucos. A questão social, síntese do conjunto das

desigualdades, aprofunda-se com a chegada de Michel Temer à

presidência da República (2016), via golpe parlamentar. As

políticas públicas – respostas do Estado à questão social – vêm

sofrendo restrições e abalos produzidos por medidas e reformas,

que afetam os direitos dos trabalhadores, garantidos pela

Constituição e outras normativas. O objetivo deste trabalho é

discutir a realidade brasileira na relação desigualdade, questão

social e políticas públicas.

PALAVRAS-CHAVE: Desigualdades sociais. Questão Social.

Políticas Públicas.

ABSTRACT

Brazil is a deeply unequal country. Wealth and socially produced

goods are concentrated in the hands of few. Social issues,

synthesis of all the inequalities that affect the country, deepen

with the rising of Michel Temer to the Presidency (2016), through

a parliamentary coup. Public policies - State's responses to the

social issues - are being weakened and modified by reforms that

1 Professora Doutora do Departamento de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em

Políticas Públicas da Universidade Federal do Piauí. E-mail: [email protected].

affect workers' rights, guaranteed by the Constitution and other

regulations. The objective of this paper is to discuss the Brazilian

reality in relation to inequality, social issues and public policies.

KEYWORDS: Social inequality. Social issues. Public policies.

1. INTRODUÇÃO

O Brasil é um país de contrastes: de um lado, rico em potencialidades naturais,

econômicas, sociais e culturais, sendo considerado, por muitos autores e lideranças políticas

(de matizes políticas diferentes), como uma nação em desenvolvimento ou emergente, cujo

desenvolvimento econômico, nos anos dos governos Lula da Silva (2003 a 2010), por

exemplo, apresentava índices que a colocava entre as principais economias mundiais; de

outro lado, a riqueza e os bens socialmente produzidos, historicamente, concentram-se nas

mãos de poucos, enquanto a maioria da população trabalhadora convive com a pobreza, a

miséria, o desemprego e condições de vida indignas, injustas e desumanas. Esses dois lados

fazem parte de uma mesma realidade: alimentam-se mutuamente. Como diz Ianni (1996, p.

112) “a mesma sociedade que fabrica a prosperidade econômica fabrica as desigualdades”.

Aqui estão as principais razões do contraste brasileiro: as desigualdades produzidas por um

modo de produção que se alimenta e se reproduz material e socialmente à custa da

exploração, dominação e alienação da força de trabalho da maioria da população.

Esse conjunto de desigualdades, denominadas de questão social (CERQUEIRA

FILHO, 1982), está presente, sobretudo, desde os anos de 1930, quando o Brasil ingressa

definitivamente nos rumos do modo de produção capitalista. De lá para cá, a questão social

em suas diversas expressões e manifestações, aprofunda-se e se amplia. Nesse contexto, o

século XXI adentra, no país, com taxas de desemprego da população ativa alarmantes (entre

outras desigualdades existentes) causadas, principalmente, pelos novos rumos impostos pelo

capitalismo mundial e brasileiro em resposta às suas crises, advindas desde os anos de 1970,

mas que permanecem aos dias atuais. Dentro dessas respostas encontram-se a

reestruturação produtiva – que traz desemprego estrutural e precarização do trabalho – e o

neoliberalismo – que redefine o papel do Estado na área social, diminuindo políticas e direitos

sociais para a classe-que-vive-do-trabalho (ANTUNES, 2005).

O neoliberalismo vige no Brasil, sobremaneira, desde os governos de Fernando

Henrique Cardoso (1995-2002). Nesse período, ainda que a Constituição de 1988 tenha

garantido direitos sociais e que muitas leis normatizassem o que lá estava exposto, verificou-

se que entre o instituído e o cotidiano dos trabalhadores e pobres, houve um abismo real na

efetivação de tais direitos, sem contar que, a maioria deles, de fato, não chegou a ser

experimentado por essa população. Os governos de Lula da Silva (2003-2010) e Dilma

Rousseff (2011-2016), mesmo incrementando uma face mais voltada para os interesses da

classe-que-vive-do-trabalho, atenderam aos ditames fundamentais das elites capitalistas

dominantes e não fugiram das propostas neoliberais vigorantes no mundo. Nesse cenário, em

todos esses governos as políticas públicas estatais, de corte social – destinadas a responder

à questão social – sofrem restrições orçamentárias, passam para iniciativas privadas,

desfiguram-se como políticas universais entre outras situações.

Esse quadro agrava-se com a chegada de Michel Temer à presidência da

República, no ano de 2016, através de um golpe parlamentar. Em um ano de governo ilegítimo

e impopular, as garantias sociais conquistadas na atual Constituição estão sendo ameaçadas

constantemente. Várias propostas de dilapidação dessas conquistas foram encaminhadas

para o Congresso, majoritariamente aliado do presidente e responsável direto pelo golpe.

Algumas dessas medidas já foram aprovadas, como as que dizem respeito ao congelamento

dos gastos sociais por 20 anos e à terceirização indiscriminada no mundo do trabalho. São

essas questões que serão discutidas e analisadas no presente texto, que num primeiro

momento, fará uma discussão geral das desigualdades sociais no Brasil como expressões da

questão social produzida pelo modo de produção capitalista, num segundo momento,

abordará, as políticas públicas como respostas produzidas pelo Estado à questão social e

suas múltiplas expressões, afetadas pelas propostas neoliberais e, num último momento, fará

incursões mais atuais sobre os impactos das medidas do governo Temer nas políticas

públicas e no cotidiano da classe-que-vive-do-trabalho.

2. DESENVOLVIMENTO

As desigualdades no Brasil são históricas. Antes mesmo do Brasil assumir a

condição de país capitalista, elas estão presentes. Não se deve esquecer que o Brasil foi

colonizado por Portugal nos anos de 1500 e que, com a chegada dos portugueses, as nossas

riquezas bem como a população indígena, que aqui habitava, foram exploradas, dominadas

e até dizimadas (como aconteceu com a maior parte dos indígenas) em nome de seus

interesses e privilégios. No período da escravidão, os negros eram considerados propriedades

dos que os compravam, sem direito à condição de gente, pessoa ou cidadão, sendo, portanto,

“expropriado no produto do seu trabalho e na sua pessoa” (IANNI, 1996a, p. 88). A partir da

abolição da escravidão e com o ingresso do país nos rumos dominantes do capitalismo

(sobretudo dos anos de 1920 a 1930) e seu modo de ser como modo de exploração,

dominação e alienação da força de trabalho, tendo em vista a mais-valia e o lucro, as

desigualdades sociais, econômicas, políticas e culturais adquirem centralidade nas relações

sociais entre as classes fundamentais presentes nesse modo de produção – os trabalhadores,

que vendem a sua força de trabalho, e a burguesia, que detém os meios de produção – e nas

relações entre Estado, sociedade e classes sociais. E essa realidade se torna mais grave,

ainda, porque, desde o início até os dias atuais o Brasil, tem se inserido, primordialmente, no

quadro do capitalismo mundial como uma nação dependente e associada aos ditames dos

países capitalistas centrais.

A concentração da riqueza, da terra e dos bens socialmente produzidos tem

estado, portanto, nas mãos de poucos – os que detêm os meios de produção – enquanto a

maioria da população – que vende a sua força de trabalho - vive em condições injustas e

desumanas, que se expressam entre outros aspectos: na miséria, na pobreza, no desemprego

ou em situações de precarização de trabalho, no analfabetismo ou em baixos índices

educacionais, em condições precárias de habitabilidade e saúde etc. Associa-se a essa

realidade uma série de outras desigualdades permeadas não só pelas relações econômicas,

mas também de gênero, raça, etnia, condição de saúde, orientação sexual e, ainda,

desigualdades regionais (em um país de dimensões continentais) e aquelas provenientes das

relações entre o homem, a natureza e o meio ambiente. Enfim, as desigualdades no país são

de várias ordens e natureza, mas sempre estão na relação imediata ou mediata com os rumos

capitalistas dominantes do país em suas diferentes conjunturas sociais e políticas. E aqui,

nestes rincões, o capitalismo, como modo de produção, associou-se à herança conservadora

e autoritária da escravidão e dos tempos remotos em que tal modo de produção não se fazia

presente ou não era determinante. Então, as desigualdades produzidas pela sociedade

caminham pari passum com práticas conservadoras e autoritárias que se expressam, por

exemplo, no mandonismo, no favor, nas prebendas, “no jeitinho brasileiro” etc., que tem

permeado as práticas das elites, dos governantes de plantão e da sociedade em geral.

Essa é a história de mais de 500 anos de Brasil. Assim, nos períodos do império

português, da 1ª e 2ª República, da Era Vargas, do desenvolvimentismo, da ditadura militar,

da “nova” República e de todos os presidentes eleitos diretamente, sem exceção, as

desigualdades, alimento do modo de produção capitalista, não diminuíram em seus aspectos

fundantes, ou seja, só ampliaram e se aprofundaram. Os discursos das elites e classes

hegemônicas, entre um governo de plantão e outro mudam conforme a conjuntura, os

interesses e as forças em jogo. Alguns se preocupam, nesses discursos, em “dividir o bolo

quando este crescer (época da ditadura – 1964/1984), outros com o discurso do “tudo pelo

social” (época do presidente Sarney - 1985/1990), mas nas práticas governamentais e das

elites dominantes, o substancial das desigualdades permanece.

Nas épocas do governo Lula da Silva, há um certo direcionamento das políticas

governamentais, é verdade, para as necessidades da classe-que-vive-do-trabalho. Nesse

período, verificam-se uma relativa estabilidade econômica – em meio às constantes crises do

capitalismo mundial desde os anos de 1970 –, uma intensificação e ampliação de programas

de transferência de renda dirigidos para os mais pobres e vulneráveis socialmente –

capitaneados pelo Programa Bolsa Família –, além de outros programas sociais como o Minha

Casa Minha Vida e aqueles, por exemplo, voltados para um maior acesso às universidades

públicas. Em decorrência, houve redução no quantitativo da pobreza e da desigualdade bem

como ampliou-se o acesso à moradia e às universidades. É bom lembrar, que nesse período,

também, o país era visto como emergente, disputando o 5º lugar entre as economias

mundiais. Não é de estranhar que, quando Lula da Silva sai da presidência seus índices de

popularidade são altíssimos. Nesse contexto, as classes dominantes não deixaram de

aumentar os seus lucros e dividendos. E o cerne das desigualdades capitalistas não foi

alterado: a riqueza é produzida coletivamente enquanto sua apropriação é,

fundamentalmente, privada.

Nos governos de Dilma Rousseff, do mesmo partido de Lula da Silva (PT), ela

busca dar sequência às propostas gerais de seu antecessor, sobretudo no que respeita aos

programas sociais voltados para as classes trabalhadoras. As desigualdades históricas

permaneceram e até se agravaram. É que o país irá conviver com uma grave crise econômica,

influenciada pela crise do capitalismo mundial, que até então, nos governos de Lula da Silva,

ainda não tinha “sacudido” o Brasil do ponto de vista econômico, social e político, dado,

sobremaneira, aos pactos políticos firmados, por esse líder e governante, durante seus

governos, envolvendo o Estado, a sociedade, os trabalhadores e o mercado. O vice da

primeira presidenta eleita, Michel Temer, junto com seus apaniguados e asseclas no

Congresso Nacional, apoiado pela mídia hegemônica conservadora e por um Supremo

Tribunal Federal, majoritariamente, conservador e, ainda, por uma conjuntura de insatisfação

popular generalizada, desfecha um golpe em Dilma, golpe esse intitulado pelos setores mais

progressistas e de esquerda (que compõem partidos, movimentos sociais, mídia alternativa,

etc.) como parlamentar e midiático. Só para se ter uma ideia, o desemprego, calculado pelo

Dieese - Pesquisa (2017), em estudos realizados no ano de 2016, revela que de janeiro a

abril, nas regiões metropolitanas de São Paulo, Porto Alegre e Salvador além do Distrito

Federal, só aumentou, indo de 15,6% da população ativa, em janeiro, para 17,5% dessa

população em abril, sendo que as mulheres e os jovens foram os mais atingidos.

O governo de Michel Temer ilegal, ilegítimo e sem representatividade junto à

maioria da população trabalhadora, ascende ao poder, interinamente, em maio de 2016, e

“definitivamente” em agosto de 2016 com o impeachment de Dilma. De lá para cá, as

condições de vida da classe-que-vive-do-trabalho só têm piorado. No mesmo estudo do

Dieese acima, o que se tem, como expressão da desigualdade e que diz respeito à taxa de

desemprego, do período maio a dezembro, é que esta aumentou mais ainda ao se comparar

com os meses anteriores, indo de 17,8% em maio para 18,6% em dezembro (DIEESE,

Pesquisa, 2017). Neste ano de 2017, em abril, referida taxa, já passava dos 20% (idem, 2017).

Nesses índices as mulheres e os jovens continuam sendo os mais atingidos. Deve-se

considerar, também, que os Programas Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família entre

outros, têm sofrido reveses em seus objetivos principais e nos recursos a eles destinados.

Todos esses índices mostram que as raízes das desigualdades permanecem inalteradas.

Os fatores que têm contribuindo profundamente para a crise brasileira desde os

governos de Dilma Rousseff e agora Michel Temer, referem-se, em primeiro lugar, às crises

que vêm atravessando o capitalismo mundial desde a década de 1970 e que irão repercutir,

sobremaneira, no país, a partir dos governos de Dilma, conforme já apontado. A crise de 70,

mostra, segundo Netto e Braz (2006), que os “anos dourados” do capitalismo (1940-1970)

chegam ao fim. Nesses anos o capitalismo experimentou uma “onda longa expansiva, na

qual ‘os períodos ciclos de prosperidade [são] mais longos e intensos, e mais curtas e

superficiais as crises cíclicas’ (MANDEL, 1982, p. 85)” (NETTO; BRAZ, 2006, p. 213 – grifos

dos autores). Completam Netto e Braz (2006, p. 214 – grifos dos autores): “A onda longa

expansiva é substituída por uma onda longa recessiva: a partir daí e até os dias atuais,

inverte-se o diagrama da dinâmica capitalista: agora, as crises voltam a ser dominantes,

tornando-se episódicas as retomadas”.

Esse contexto levará o capitalismo a uma série de alternativas visando sair da

crise instalada nos anos de 1970, com repercussões aos dias atuais. No quadro das

alternativas citam-se: a globalização – correspondendo a uma nova fase do capitalismo como

modo de produção e processo civilizatório (IANNI, 1996); a reestruturação produtiva – nova

forma de organização da produção e reprodução das relações sociais, com a introdução da

acumulação flexível, da flexibilização e da precarização das relações do contrato e do

trabalho; o neoliberalismo – um conjunto de ideias e práticas políticas destinadas a conformar

a realidade da globalização e da reestruturação produtiva, mas, especialmente, visando

conformar um novo Estado capitalista: “mínimo para o trabalho e máximo para o capital”

(NETTO; BRAZ, 2006, p. 227 – grifos do autor). E, ao mesmo tempo, combater e “quebrar” o

sindicalismo classista, apoiando, no máximo, um sindicalismo colaboracionista de classe

É necessário ressaltar que o Brasil, de um modo ou de outro, vem convivendo

com essas questões desde os governos de Fernando Henrique Cardoso. Assim, do ponto de

vista da primeira saída, não esqueçamos: o Brasil, historicamente se insere, quase sempre,

atrasado, mas sempre de maneira associada e dependente. Do ponto de vista da segunda

alternativa, o mundo do trabalho brasileiro tem passado por transformações profundas cujas

premissas aportam aos princípios da reestruturação produtiva, só que no país, a realidade

desse mundo sempre foi aviltante, injusto e desumano comparado a outros países

capitalistas. Nesse sentido o desemprego estrutural, a precarização e a terceirização tem sido

uma realidade. Sobre a terceirização, os estudos do Dieese – Nota Técnica 172 (2017, p. 23),

apontam “que nas atividades tipicamente terceirizadas, as condições de trabalho e a

remuneração são inferiores às verificadas nas atividades tipicamente contratantes”, embora

se saiba que a precarização, de modo geral, tem levado à redução das taxas do emprego, do

salário e dos direitos dos trabalhadores. Por fim, considerando as propostas neoliberais,

ressalta-se mais uma vez: nenhum dos governos, pós anos de 1990, deixaram de seguir esse

receituário. E as consequências maiores do mesmo estão na relação direta com a diminuição

dos gastos públicos com programas sociais voltados para a população trabalhadora e pobre

e com a transferência das responsabilidades estatais para a família e a sociedade civil via

ONGs e outras entidades do Terceiro Setor. Tudo isso irá repercutir no quadro das

desigualdades reinantes.

Um segundo fator que tem contribuído para o aprofundamento da crise brasileira

diz respeito à crise política que assola o país nos últimos anos. Esta crise já está presente no

governo de Lula da Silva, mas é a partir do início do segundo governo de Dilma que ela se

colocará de modo mais aberta e dramática. No governo de Temer, a mesma ganha

proporções de difíceis projeções futuras sobre até onde ela irá se estender e quando ou se se

finalizará a médio prazo. Seus contornos principais concernem às práticas conservadoras e

autoritárias da relação Estado, sociedade, partidos políticos, mercado e classes sempre

presentes nos rumos fundamentais do país em associação direta ou não com os interesses

capitalistas. Caracteriza-se, no cotidiano, por inúmeros e variados tipos de denúncias e

práticas de corrupção de governantes, parlamentares, elites políticas, empresas, instituições

públicas, membros da justiça, mídia etc.

Assim, durante o governo Lula, nos idos de 2005 e 2006, explode, por exemplo, o

“Mensalão”, compreendendo ministros, partidos políticos, o Congresso Nacional, empresas,

bancos, agências de propaganda etc. Tal escândalo abrangeu, especialmente, a compra de

votos de parlamentares no Congresso Nacional. Dos anos 2014 para cá surge um dos maiores

escândalos das últimas décadas já conhecidos: a Lava Jato, que inicia com a questão do

envolvimento de uma rede de combustíveis que movimentava dinheiros ilícitos referentes a

propinas de vários agentes e entidades políticas e empresariais. Levada a efeito pela Polícia

Federal, Ministério Público, Procuradoria Geral da República e Supremo Tribunal Federal,

hoje representa um conjunto de operações de investigações relativas a pagamentos de

propinas e outros ilícitos circundando a Petrobrás, partidos, políticos, governadores,

empresários, ministros, publicitários, mídia, doleiros etc. Nesta chamada “Operação Lava

Jato” tenta-se incriminar o ex-presidente Lula, como integrante de esquemas ilícitos, embora

até o momento, não se tenha tido provas cabais do seu envolvimento. No entanto, o

presidente ilegítimo Michel Temer, envolto em inúmeras denúncias de corrupção, por ter foro

privilegiado, continua incólume no cargo, embora cresça, a cada dia, a sua rejeição perante a

sociedade em geral. Inclui-se aí aqueles que foram às ruas pedir o impeachment de Dilma,

acusada formalmente, não de fazer corrupção, mas de cometer crime de responsabilidade

por desrespeitar, segundo seus acusadores, a lei orçamentária e de Responsabilidade Fiscal.

Independente dos casos de corrupção que têm sido comprovados e punidos pelas

autoridades do país, o que se verifica, no entanto, é que a crise política, também é alimentada

por setores, encastelados no Estado e fora dele, insatisfeitos com os rumos tomados pelo

país, a partir da eleição de Lula da Silva, ainda que boa parte destes tenham feito alianças

com os governos de então e necessitem fazer novas alianças fora do arco dos partidos de

esquerda que compuseram esses governos. Outros setores, no entanto, ou não “engoliram”

as derrotas eleitorais havidas com a ascensão de Lula ou sintonizam-se com as vertentes

mais de direita e reacionária existente no país. Cresce, a cada dia, o desejo e a luta por

“diretas já”, que está sendo encabeçada por setores mais à esquerda e progressista da

sociedade, como saída para a crise vigente no país. Quiçá que ela vingue e se tenha eleições

livres e diretas para a Presidência da República!.

Em resumo, esse conjunto de fatores contribuem decisivamente para a crise que

passa o país com repercussões na economia, na sociedade e, sobretudo, no cotidiano de vida

dos trabalhadores e pobres. Se a desigualdade (econômica, social, política, cultural, etc.),

como tem se mostrado, é uma realidade presente e persistente, as condições estruturais,

conjunturais e situacionais das relações sociais vigentes, exponenciam esse quadro.

Mas, as desigualdades só ganham maior compreensão se se entendê-las como

expressão da questão social, pois, esta, em seus termos universais, como diz Cerqueira Filho

(1982, p. 21) significa “o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o

surgimento da classe operária impôs no mundo no curso da constituição da sociedade

capitalista”, portanto, seu vínculo está estritamente ligado ao conflito capital e trabalho. Ou

como afirma Iamamoto (1998, p.27):

Questão social apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade.

Ampliando essa linha de raciocínio, Ianni (1996) explicita que a questão social

põe em causa as relações entre amplos segmentos da sociedade e do Estado, abrangendo

aspectos de ordem variada: econômicos, políticos e culturais. E sintetiza: “Umas vezes

envolve principalmente operários, outras camponeses. Aqui podem estar presentes os

negros, lá, os índios. Sem esquecer que um muitas vezes é o outro” (IANNI, 1996, p. 94).

O que se depreende dessas discussões? É que as desigualdades só se

expressam como questão social nos marcos dos conflitos, das reinvindicações e das lutas

sociais dos trabalhadores, dos pobres e dos diferentes sujeitos sociais discriminados,

espoliados e submetidos a toda sorte de injustiça produzida pela sociedade capitalista. Enfim,

é com o capitalismo que a pobreza, a miséria e as desigualdades, produzidas por esse tipo

de sociedade, tornam-se questão social. Mas é somente quando há “desdobramentos sócio-

políticos” (NETTO, 2001), que o conjunto das desigualdades se torna, de fato, questão social.

Reafirmando essas assertivas, Iamamoto (1998, p. 28), conclama: “Questão social que, sendo

desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a

ela resistem e se opõem”.

E é por conta das lutas que têm sido levadas a efeito por diferentes sujeitos

coletivos, em particular pelos trabalhadores e excluídos por um modo de produção injusto e

desumano que a questão social se torna pública, legítima e legal desde os anos de 1930.

Sendo tratada pelos governantes e elites dominantes ora como “caso de polícia”, ora como

“caso de política” ou ambos (CERQUEIRA FILHO, 1982; IANNI, 1996). É o que tem ocorrido

em todos os governos a partir de então. A repressão e a criminalização dos movimentos

sociais tem sido sempre uma tônica. Exemplo disso: nos últimos tempos, os movimentos

sociais que têm ocorrido na esteira das crises econômicas e políticas dos governos Dilma e

Temer, têm sido duramente reprimidos pelos aparelhos repressivos do Estado. Repressão,

essa, que pode ser comparada muitas vezes, aos tempos da ditadura militar, claro,

guardando-se as devidas proporções do “terrorismo de Estado” implantado no país entre 1964

e 1984 (GUIMARÃES, 1998).

Ao ser tratada como “caso de política”, a questão social, historicamente, perpassa

pela introdução e implementação de políticas públicas governamentais e pela introdução e

garantias legais expressas na Constituição e outros instrumentos normativos, que dão

respaldo a essas políticas. Todos devem ser considerados como parte das conquistas

provenientes das lutas dos trabalhadores e dos grupos vinculados a seus interesses e

necessidades de classe. Desse modo, a Constituição de 1988 e as leis proclamadas desde

então, apresentam um conjunto de direitos e garantias sociais, fruto das lutas históricas

travadas por essa população, em especial, no período da Constituinte. Citam-se, por exemplo,

as leis voltadas para a defesa das crianças e dos adolescentes, a lei dos idosos, a Lei Maria

da Penha que combate e pune a violência contra as mulheres, as leis que organizam o

Sistema Único de Saúde (SUS) e a Assistência Social (SUAS) etc. É nessa Constituição,

também, que surge a ideia de Seguridade Social, envolvendo saúde, assistência social e

previdência social como direito e responsabilidade estatal, que traz uma série de avanços nos

direitos relativos à garantir melhores condições de vida à classe-que-vive-do-trabalho. É no

quadro desses avanços que boa parte das políticas públicas vem sendo organizadas,

implementadas e monitoradas, pelos governantes, visando responder às várias expressões

da questão social. Sendo motivo, inclusive, de controle social por parte da sociedade, via

Conselhos de Direitos entre outras formas de controle social. É nesse quadro de análise que

se colocaram as políticas dos governos de Lula e Dilma, por exemplo, que melhoraram as

condições de vida, sobremaneira, das populações pobres. É o caso dos Programas de

Transferência de Renda, do Minha Casa Minha Vida, das políticas voltadas para o acesso à

educação entre outras

Mas, as políticas públicas, dos anos de 1990 para cá, sob as influências da

Constituição de 1988 e das leis daí advindas, têm sofrido as influências dos aportes

neoliberais, ainda que os governos de Lula e Dilma, como já se reportou, tenham buscado

responder à questão social do período a partir das necessidades sociais provenientes das

lutas sociais. Nesse sentido, conviveram com os ideários neoliberais: transferência de

responsabilidade para a sociedade civil, privatização da coisa pública, diminuição gradativa

do fundo público etc. Sem contar que, investir grandemente em programas de transferência

de renda e não em políticas de emprego e renda, é sintonizar-se com as estratégias

neoliberais do Estado: voltar-se mais para os extremamente pobres com programas sociais

focalizados e não universais.

O impeachment de Dilma Rousseff, entre outros motivos, já comentados, explicita,

a incidência, cada vez maior, das estratégias neoliberais, nos rumos dos caminhos apontados

pelo governo de Michel Temer, em especial no que diz respeito: aos direitos sociais - que

vêm sendo dilapidados, diminuídos ou eliminados; às políticas de corte social - de natureza

minimalista. Sem contar que, aquelas procedentes dos governos anteriores, têm sido

descaracterizadas, corrompidas em seus objetivos e metas fundamentais; criminalização e

repressão aos movimentos sociais em geral, mas, principalmente, combatendo e tentando

esfacelar os movimentos mais classistas através do Estado policial repressor.

Como parte dessas estratégias, o governo ilegítimo de Temer vem adotando uma

série de medidas que têm sido enviadas ao Congresso Nacional e que alcançam

profundamente os direitos sociais historicamente conquistados. Boa parte delas já foram

aprovadas e outras estão a caminho da aprovação, caso as forças contra-hegemônicas,

dentro e fora do Congresso, não conseguirem barrar. Entre essas mediadas citam-se: o

congelamento dos gastos sociais por 20 anos; a terceirização irrestrita no mundo do trabalho,

as reformas trabalhistas e da previdência entre outras.

Sobre o congelamento dos gastos públicos, esta medida se deu através da

proposta de Emenda Constitucional – a PEC de nº 241 – aprovada em 2016, tratando da

limitação do crescimento dos gastos públicos por 20 anos, mas que, na realidade, congela

esses gastos por todo esse tempo, com repercussões hoje e, principalmente, para as futuras

gerações. Conhecida como a PEC do Teto, ela congela, especialmente, os gastos sociais

com a saúde e a educação. No que concerne a terceirização irrestrita, também aprovada,

esta, deu-se sob a tutela do Projeto de Lei – PL nº 4.302/1988 – hoje, Lei nº 13.429 – aprovado

em março de 2017 com o objetivo de retirar toda as barreiras e restrições legais, ainda

existentes, quanto à terceirização das atividades fins nos contratos de trabalho. Esta Lei altera

a estrutura do mercado de trabalho, liberando, geral, a terceirização, aumentando a

rotatividade, a precarização etc., portanto, aumentando, sobremaneira, as desigualdades

sociais.

As reformas trabalhistas e da previdência estão em discussão no Congresso

(considerando o momento que se escreve este texto). A primeira, sob a forma de Projeto de

Lei, de nº 38/2007, trata de modificar as relações de trabalho, instituindo entre outras coisas:

ampliação do trabalho temporário e parcial; contenção da ação sindical via representação dos

trabalhadores no interior das empresas; estímulo a acordos individuais; ênfase na negociação

coletiva por fora do legislado e do garantido em lei e na Constituição. Enfim, seus principais

objetivos são: “reduzir a proteção institucional aos trabalhadores, por parte do Estado e do

Sindicato, e aumentar as garantias, a autonomia e a flexibilidade para as empresas nas

relações de trabalho” (DIEESE - Nota Técnica 179, p. 8). A Reforma da Previdência, por seu

turno, apresentada como Emenda à Constituição, sob o nº 287/2016, irá alterar profunda e

substancialmente os direitos relativos à aposentadoria e pensões. Como diz o Dieese – Nota

Técnica 181 (2017, p. 2-3), haverá um “endurecimento das regras de acesso e rebaixamento

do valor médio dos benefícios, e a consequente diminuição do alcance e da importância da

Previdência Social no país”, incluindo, “dificuldades [..] em manter os direitos ao longo do

tempo, mesmo aqueles que foram considerados ‘direitos adquiridos’ em reformas anteriores”

(idem, p. 3).

Em síntese, direitos e políticas públicas são respostas do Estado à questão

social e, portanto, necessários e fundamentais para o combate às desigualdades reinantes no

país. No entanto, neste governo ilegítimo de plantão, o neoliberalismo das forças mais

conservadoras e retrógradas da cena brasileira mostra a sua “cara” sem desfaçatez e sem

meios termos, colocando-se, portanto, em sua brutalidade de propósitos com a classe-que-

vive-do-trabalho, sempre na direção da manutenção de um capitalismo selvagem em sua

inteireza.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desigualdade, como questão social, é constituinte e constitutiva do modo de

produção capitalista. Sendo questão social é parte das lutas imediatas ou mediatas dos

indivíduos, grupos e classes sociais subalternizadas por um modo de produção que explora,

domina e aliena em nome do lucro e das classes que detém os meios de produção e

necessitam ampliar e perpetuar tal modo de produção. As políticas públicas, como se disse,

são respostas do Estado capitalista à questão social. Mas o Estado e suas políticas, sobretudo

as de corte social, ainda que contraditórios e permeados por diferentes forças sociais,

atendem, em última instância, aos interesses dos setores dominantes, face a dadas

conjunturas e estruturas sociais. Assim as propostas governamentais sob as influências

neoliberais e da reestruturação produtiva, numa fase de capitalismo globalizado, pós anos de

1970, dão a tônica dominante dos rumos principais da relação Estado, sociedade, mercado e

classes sociais. Essa é a realidade que se apresenta ao Brasil a partir da década de 1990,

mas, é no governo ilegítimo e sem respaldo popular, de Michel Temer, que se verifica um dos

maiores abalos aos direitos sociais e às políticas públicas voltadas para os trabalhadores,

pobres e excluídos por esse tipo de sociedade.

REFERÊNCIAS

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NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia Política. São Paulo: Cortez, 2006.

A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE GESTÃO E AVALIAÇÃO DE

POLÍTICAS E PROGRAMAS SOCIAIS

Maria do Rosário de Fátima e Silva2

RESUMO

A atuação do Serviço Social nas políticas públicas e sociais

conforma atribuições relacionadas ao processo de decisão,

formulação, adoção, gestão, implementação e avaliação das

políticas e de seus desdobramentos em programas, projetos e

serviços sociais. A intervenção profissional nesse campo, supõe

competência teórica, política e técnica fundamentadas no

Código de Ética profissional e na lei que regulamenta a

profissão. Tomando por base as políticas de assistência social,

saúde e educação, o presente artigo reflete sobre a inserção dos

(as) assistentes sociais, apreendendo o seu desempenho na

gestão e avaliação de políticas e programas atinentes a estas

áreas.

PALAVRAS-CHAVE: Serviço Social, gestão, avaliação,

políticas públicas

ABSTRACT

The perfomance of the Social Service in public and social policies

includes attributions related to the process of decision,

formulation, adoption, management, implementation and

evaluation of policies and their unfolding in programs, projects

2 Professora Doutora do Departamento de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em

Políticas Públicas da Universidade Federal do Piauí.

and social services. The professional intervention in this field,

supposes theoretical competence, political and technical based

on the Professional Code of Ethics and in the law that regulates

the profession. Based on the policies of social assistance, health

and education, this article reflects on the insertion of social

workers, apprehending their performance in the management

and evaluation of policies and programs related to these areas.

KEYWORDS: Social work, management, evaluation, public

policies.

1.INTRODUÇÃO

As atribuições e competências dos profissionais de Serviço Social no Brasil,

desenvolvidas nos diferentes espaços sócio-ocupacionais, são norteadas pelos princípios,

direitos e deveres inscritos nos seguintes documentos: Código de Ética Profissional de 1993,

Lei de Regulamentação da Profissão (Lei 8.662/1993), bem como nas Diretrizes Curriculares

da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social/ABEPSS (1996). Com base

nestes instrumentos legais considera-se importante a inserção dos assistentes sociais nos

espaços de gestão, planejamento, execução e avaliação de políticas e programas sociais,

tendo como diretriz o projeto ético-político profissional.

Para o objeto dessas reflexões acerca da atuação do Serviço Social no campo

da gestão e avaliação de políticas, programas e projetos sociais, ponho em destaque algumas

atribuições definidas para a profissão de Serviço Social considerando os parâmetros

estabelecidos para a atuação do Assistente Social nas áreas da Assistência Social, Saúde e

Educação.

Na Política de Assistência Social a ação do Serviço Social envolve atribuições

nas funções de gestão, planejamento e execução direta de serviços a indivíduos, famílias,

grupos e coletividades, potencializando a gestão em favor dos cidadãos.

A contribuição dos Assistentes Sociais na Política de Saúde busca a inserção dos

usuários e demais trabalhadores da área inclusive no que se refere às deliberações,

reforçando a importância da participação social na gestão.

Na política de educação, as competências específicas dos Assistentes sociais,

se expressam em ações junto às famílias e estudantes, como também, na intervenção coletiva

junto aos movimentos sociais em prol da educação pública. Neste sentido o esforço

profissional tem buscado a inserção dos Assistentes sociais nos espaços democráticos de

controle social da política.

A compreensão das atribuições profissionais do Serviço social no processo de

gestão e avaliação das políticas e programas sociais, considerando a três áreas de políticas

públicas aqui destacadas, toma por base o entendimento de gestão social desenvolvido por

Carvalho (2014), quando associa a gestão social

à concepção de um Estado social de direito e, portanto, comprometida com a cidadania de todos os cidadãos de uma nação. Ancora-se em princípios constitucionais que dão forma e conteúdo às políticas, aos programas e aos serviços públicos, reconhecendo o Estado como autoridade reguladora das ações públicas. Nesta perspectiva, a gestão social tem significado abrangente, não se reduzindo apenas à gerência técnico-administrativa de serviços e programas sociais. Refere-se fundamentalmente à governança das políticas e programas sociais públicos; à qualidade de bem-estar ofertada à nação e à cultura política impregnada ao fazer social. (CARVALHO, 2014, p.33)

As reflexões sobre a atuação do Serviço Social no processo de gestão e avaliação

de políticas públicas, pretende apreender o cotidiano do fazer profissional no cumprimento

de atribuições relativas ao desenho e desenvolvimento das políticas, tendo como contexto a

vigência de um Estado democrático de direito, respaldado por uma Constituição que

reconhece a primazia do Estado na condução das políticas públicas com a participação da

sociedade.

A sistematização ora apresentada é resultante de estudos e pesquisas realizadas

sobre o processo de gestão e avaliação de políticas e programas sociais, articulados ao

diálogo com profissionais de Serviço Social que tem assumido cotidianamente atribuições

nesta área, além de experiências pessoais no processo de gestão e avaliação de políticas,

bem como o acúmulo teórico-metodológico sistematizado ao longo dos anos de experiência

enquanto docente na área do Serviço Social e ministrante das disciplinas: Planejamento e

Gestão de Políticas e Serviços Sociais e Avaliação de Políticas e Projetos Sociais, tanto no

ensino em nível de graduação quanto na pós-graduação, na Universidade Federal do Piauí.

2. A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE GESTÃO E

AVALIAÇÃO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

A área da Assistência social ao ser reconhecida com o estatuto de política pública

e integrar as políticas que compõem o tripé da seguridade social incorporada a Constituição

de 1988, abriu um leque de possiblidades de inserção da atuação do Serviço Social,

consonantes com as atribuições privativas previstas pela lei de regulamentação da profissão

no Brasil. A esse respeito o Conselho Federal de Serviço Social-CFESS, interpretando o

dispositivo legal que regula a ação profissional no país, produziu e sistematizou os

denominados “Parâmetros para a atuação de Assistentes Sociais na Política de Assistência

Social”, inaugurando a Série: Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Sociais, publicação

que contêm reflexões sobre a intervenção profissional do Serviço Social em diversos espaços

sócioocupacionais. Os referidos parâmetros têm como referência,

as normas reguladoras do Serviço Social, sobretudo os valores e princípios do Código de Ética Profissional, as atribuições e competências asseguradas na lei de regulamentação da profissão (Lei 8662 /1993), na Resolução CFESS 493/06 e nas Diretrizes curriculares do Serviço Social elaborada pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social ABEPSS” (CFESS,2010,p.1-2).

No cotidiano de ação dos Assistentes sociais na Política de Assistência Social as

atribuições profissionais são regidas por normas operacionais básicas emanadas do Sistema

Único de Assistência social que regula e orienta as diretrizes que conformam o

desenvolvimento operacional da referida política. As atribuições profissionais configuram

ações no espaço da formulação, gestão, implementação, execução, monitoramento e

avaliação da política, materializando toda uma trajetória histórica de lutas da profissão no

sentido do reconhecimento da área da assistência social enquanto política pública que

assegura direitos, superando e contrariando a antiga lógica do favor, da caridade e da

benemerência que marcou o passado de atuação da profissão nesta área. A conquista do

estatuto de política pública pela área da assistência social reafirma os termos da

responsabilidade pública do Estado para com os segmentos sociais em situação de

vulnerabilidade numa perspectiva de garantia de direitos e reconhecimento da sua condição

de cidadania.

As competências específicas dos (as) assistentes sociais no âmbito da política de

assistência social, conforme os parâmetros estabelecidos para a atuação profissional para

esta área, abrangem diversas dimensões interventivas, complementares e indissociáveis:

uma dimensão que engloba as abordagens individuais, familiares ou grupais na perspectiva de atendimento às necessidades básicas e acesso a direitos(...)uma dimensão de intervenção coletiva junto a movimentos sociais, na perspectiva da socialização da informação, mobilização e organização popular [...] uma dimensão voltada para inserção nos espaços democráticos de controle social e construção de estratégias para fomentar a participação [...] uma dimensão de gerenciamento, planejamento e execução direta de bens e serviços [...] uma dimensão que se materializa na realização sistemática de estudos e pesquisas sobre as reais condições de vida e demandas da classe trabalhadora, e possam alimentar o processo de formulação, implementação e monitoramento da política de assistência social (....) uma dimensão pedagógica-interpretativa e socializadora de informações e saberes no campo dos direitos, da legislação social e das políticas públicas. (CFESS, 2010,p.18-19).

Estas dimensões ao tempo em que expressam a ampliação do campo de

intervenção da profissão de Serviço Social na área da assistência social realça o compromisso

político profissional com as demandas atinentes aos segmentos sociais de atenção prioritária

da referida política.

As atribuições profissionais que envolvem as atividades de gestão e avaliação

da política de assistência social, compreendem um espaço de acúmulo de experiências e

saberes que está de alguma forma articulado ao desenho e desempenho da política, cujas

ações conformam um campo de correlação de forças e condições sociais, econômicas e

políticas diretamente relacionadas a localização da política na agenda pública governamental.

A atuação dos(as) assistentes sociais no campo da gestão da política de

Assistência e como parte de uma equipe interdisciplinar composta por outras áreas

profissionais a exemplo dos psicólogos e pedagogos, tem enfrentado o desafio de buscar

formas de materialização da perspectiva da intersetorialidade, num primeiro plano, entre a

assistência e as demais políticas que compõe o tripé da seguridade social, e, em um segundo

plano, estabelecendo o diálogo com outras áreas que compreendem o raio amplo de ação

das políticas públicas e sociais. Esta intersetorialidade supõe um esforço no sentido de

concretizar parcerias institucionais fundamentais para garantir o êxito das ações planejadas e

evitar o velho paralelismo de ação que compromete a utilização eficiente dos recursos

disponíveis frente as demandas sociais identificadas. Nesta perspectiva não se pode analisar,

planejar e eu acrescentaria, gerir a política de assistência social,

Isolada do conjunto das políticas públicas e nem se pode reforçar a perspectiva de que o enfrentamento das desigualdades estruturais pode se dar pela via da resolução de problemas individualizados e que desconsiderem as determinações objetivas mais gerais da sociabilidade. Os desafios que se colocam demandam dos/as profissionais, e dos/as assistentes sociais especialmente, uma articulação na defesa do SUAS e de todas as políticas sociais, a partir de uma leitura crítica da realidade e das demandas sociais (CFESS, 2010, p.27).

Neste panorama as atribuições e competências dos (as) assistentes sociais

acumuladas no campo da avaliação de políticas públicas significará uma contribuição

fundamental para a reflexão sobre o desempenho da política na articulação direta com as

demandas sociais que a originaram. Neste sentido ressalta-se a contribuição dos estudos de

avaliação na direção do aperfeiçoamento da gestão do estado na adoção, operacionalização

e redimensionamento das políticas sob sua responsabilidade.

3. A CONTRIBUIÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE GESTÃO E AVALIAÇÃO

DA POLÍTICA DE SAÚDE

A atuação profissional do Serviço Social permeia o campo de ação das políticas

que compõem a seguridade social, com destaque neste artigo para as políticas de assistência

social e saúde, sendo a área de saúde depois da assistência social o espaço de maior

inserção dos assistentes sociais. A prática profissional do Serviço Social nesta área tem

registrado uma trajetória de possibilites e limites no tocante ao significado e contribuição da

profissão no sentido da implementação da política de saúde enquanto um direito do cidadão

e dever do Estado. Neste aspecto a ação do Serviço Social tem se articulado à luta dos demais

profissionais da área no sentido de encarar a saúde na sua multimensionalidade, ou seja,

enquanto resultante de múltiplas determinações e condições que cercam a vida dos cidadãos.

Nesta perspectiva os profissionais de Serviço Social têm historicamente se

somado as fileiras dos movimentos sociais que lutam pelo direito à saúde, a exemplo do

movimento da reforma sanitária que foi responsável em grande parte pelos avanços no

tocante à formulação da nova lei orgânica da saúde (Lei nº8.080/1990) em vigor no país, e

que concretizou o Sistema Único de Saúde o qual orienta e disciplina as ações e investimentos

governamentais nesta área.

A saúde foi uma das áreas em que os avanços constitucionais foram mais significativos. O Sistema Único de Saúde (SUS), integrante da seguridade social e uma das proposições do projeto de reforma sanitária, foi regulamentada em 1990,

pela Lei Orgânica da Saúde (LOS). Ao compreender o SUS como uma estratégia, o Projeto de Reforma sanitária tem por base o Estado democrático de direito, responsável pelas políticas sociais, consequentemente, pela saúde. Destacam-se como fundamentos dessa proposta a democratização do acesso, a universalização das ações; a melhoria da qualidade dos serviços, com a adoção de um novo modelo assistencial pautado na integralidade e equidade das ações; a democratização das informações e transparência no uso dos recursos e ações de governo; a descentralização com controle social democrático; a interdisciplinaridade nas ações (CFESS,2013, p.117).

A intervenção dos (as) assistentes sociais como parte de uma equipe

interdisciplinar no campo da saúde tem apoiado as suas ações nos parâmetros estabelecidos

pelo CFESS para atuação dos profissionais na saúde, os quais representam um acúmulo de

reflexões sobre o trabalho profissional nesta área, sistematizado pelo Grupo de Trabalho:

Serviço Social na Saúde, instituído pelo CFESS em 2008. Com base nesses parâmetros que

por sua vez se encontra fundamentado no projeto ético político profissional,

Os (as) assistentes sociais na saúde atuam em quatro grandes eixos: atendimento direto aos usuários; mobilização, participação e controle social; investigação, planejamento e gestão; assessoria, qualificação e formação profissional [...] Importante destacar que esses eixos não devem ser compreendidos de forma segmentada, mas articulados dentro de uma concepção de totalidade (CFESS,2013, p.39).

A atuação dos (as) assistentes sociais no atendimento direto aos usuários se

processa nos diversos espaços que compõe a assistência em saúde, evolvendo ações na

área da atenção básica como também nos serviços de média e alta complexidade.

“Predominam no atendimento direto as ações sócioassistenciais, as ações de articulação

interdisciplinar e as ações socioeducativas” (CFESS, 2013, p. 39-40). No eixo mobilização,

participação e controle social, a atuação profissional dos (as) assistentes sociais contribui

para instrumentalizar a organização da população e dos usuários enquanto sujeitos políticos

no sentido de influenciar no formato da agenda pública de saúde. Nesta direção estimulam a

participação e o controle social nos fóruns, conferências e comissões como forma de

interferência no desenho e implementação da política de saúde.

O eixo investigação, planejamento e gestão, envolvem ações que põem como

perspectiva o fortalecimento da gestão democrática e participativa, onde a

interdisciplinaridade e a intersetorialidade são condições essenciais para dimensionar a

política de saúde em consonância com os anseios dos usuários e dos trabalhadores do setor.

Neste espaço os (as) assistentes sociais têm sido requisitados para assumir funções nos

níveis de planejamento, gestão, avaliação e coordenação de equipes, programas e projetos.

Funções estas embasadas em estudos e pesquisas sobre as reais condições de vida e de

saúde dos trabalhadores brasileiros e em estudos que buscam avaliar o desempenho da

política e a repercussão dos investimentos. O eixo assessoria, qualificação e formação

envolve as atividades de assessoria e capacitação técnica no âmbito institucional, tendo em

vista o aprimoramento profissional com o objetivo de melhorar a qualidade dos serviços

prestados à população. As atividades de assessoria desenvolvidas pelos profissionais de

Serviço Social extrapolam o espaço institucional e se aproximam dos movimentos sociais

somando forças na luta em defesa da saúde pública e de qualidade.

4. A POLÍTICA DE EDUCAÇÃO E A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

Após uma breve reflexão sobre a atuação do Serviço Social em duas grandes

áreas de políticas públicas que integram a seguridade social, ou seja, assistência social e

saúde, cujo espaço de inserção profissional é uma realidade concreta em termos do acúmulo

de experiências e saberes, resolvemos incluir a área da educação como um espaço a ser

conquistado no tocante à ampliação da inserção profissional. Em anos de história de inserção

dos (as) assistentes sociais nos espaços sóciocupacionais, a área da educação tem

representado um desafio no sentido de localizar e posicionar a contribuição da profissão na

equipe interdisciplinar que opera a política educacional no Brasil. O espaço de maior inserção

dos assistentes sociais tem sido as ações no campo da educação especial, destinada às

pessoas com deficiência, ficando a educação regular nos níveis infantil, fundamental e médio,

como um território ainda a ser conquistado no sentido da concretização da contribuição do

Serviço Social na equipe pedagógica.

Nas instituições de ensino superior a presença dos (as) assistentes sociais tem

se localizado nas áreas do ensino, pesquisa e extensão, considerando os níveis de graduação

e pós-graduação. A atuação desses profissionais também tem sido requisitada para a

implementação da política de assistência estudantil e para as funções de gestão das unidades

administrativas que compõem a estrutura das instituições de ensino superior, tanto em nível

de graduação quanto de pós-graduação, integrando comissões, colegiados e câmaras

setoriais que formulam, implementam e avaliam a política de educação neste campo

institucional.

Consciente dos desafios a serem enfrentados para posicionar a contribuição

especializada do Serviço Social na política de educação o conjunto CFESS/CRESS, elaborou

o documento intitulado: “Subsídios para a Atuação de Assistentes Sociais na Política de

Educação” resultante do acúmulo teórico-metodológico, técnico-operativo e ético político,

sistematizado pelo Grupo de Trabalho Nacional Serviço Social na Educação, a partir das duas

últimas décadas da trajetória de ação de profissionais que atuam no setor educacional. O

referido documento tem como objetivo

Contribuir para que a atuação profissional na Política de educação se efetive em consonância com os processos de fortalecimento do projeto ético-político do serviço social e de luta por uma educação pública, laica, gratuita, presencial e de qualidade, que enquanto um efetivo direito social, potencialize formas de sociabilidade humanizadoras (CFESS, 2013, p.7-8).

A exemplo dos parâmetros produzidos para as áreas de assistência social e

saúde, os Subsídios para atuação de assistentes sociais na Política de educação pretende

ser um guia orientador no sentido de melhor dimensionar ação profissional neste campo. “Os

Subsídios vão ao encontro da histórica demanda da categoria acerca de orientações para o

exercício profissional no âmbito da referida política” (CFESS, 2013, p.8). Com base nesses

subsídios a ação do Serviço Social na política de educação envolve um conjunto de

competências específicas dos assistentes sociais as quais articulam diversas dimensões da

atuação profissional, dentre elas podemos destacar:

- Abordagens individuais junto ás famílias e aos estudantes e ou trabalhadores e

trabalhadoras da política;

- Intervenção coletiva junto aos movimentos sociais na luta pela ampliação

efetivação dos direitos sociais a uma educação pública, laica e de qualidade; a dimensão

investigativa que contribui para a compreensão das condições de vida, de trabalho e de

acesso da população à educação;

- A dimensão do trabalho profissional que particulariza a inserção dos (as)

assistentes sociais nos espaços democráticos de controle social da política de educação;

- A dimensão pedagógico-interpretativa e socializadora dos conhecimentos que

se produzem no campo educacional consoantes com a garantia de direitos nesta área;

- E a dimensão do gerenciamento, planejamento e execução direta de bens e

serviços educacionais, dimensão esta que representa um campo de possibilidades de

interferência profissional na perspectiva de se assegurar processos de gestão democráticos

e participativos que potencializem o trabalho interdisciplinar e democrático e que operem a

intersetorialidade entre a política educacional e as demais políticas públicas (CFESS, 2013,

p.50-55).

As atribuições profissionais no campo da gestão da política de educação, agrega

necessariamente a dimensão da avaliação como instrumento de averiguação do desempenho

da política, de sua repercussão social e como forma de aperfeiçoamento da gestão do Estado.

Neste aspecto conforme Belloni (2001),

a avaliação de uma política pública deve considerar alguns parâmetros referenciais de análise: política como um dos instrumentos de ação do Estado, conceitos e perspectivas político-filosóficas relativas ao objeto da política, e a política específica tal como é formulada e implementada (BELLONI, et al, 2001, p.28).

A avaliação de políticas públicas se constitui um campo de produção de

conhecimentos onde o Serviço Social tem conquistado reconhecimento e acumulado

experiências, sempre na perspectiva de dimensionar o alcance social das políticas na relação

direta com as demandas que motivaram a sua adoção. Segundo Ozanira Silva e Silva (2008),

assistente social e estudiosa desta área, a atividade da avaliação integra o movimento do

processo das políticas públicas, está articulada às etapas de formulação e implementação da

política, configurando um esforço de análise crítica sobre a sua intencionalidade, seu alcance

e sobre o jogo de interesses contraditórios que a constitui. (SILVA, 2008, p.89-90). A

contribuição do Serviço Social através de estudos avaliativos tem significado possibilidades

de redimensionamento de políticas, programas e projetos sociais na direção de se estabelecer

coerência entre recursos investidos e demandas sociais identificadas.

A educação e a saúde, conforme Barreira, 2000, foram as primeiras áreas no

campo social a demandar à academia, a realização de estudos avaliativos que contribuíssem

para melhorar a qualidade dos serviços e a própria ação do Estado nestes setores. Hoje este

raio de ação de estudos de avaliação se ampliou para as demais políticas públicas e sociais.

Nesta direção a produção de conhecimento do Serviço Social na área da pesquisa avaliativa

de políticas, programas, projetos e serviços, tem se ampliado nas últimas décadas,

representando subsídios necessários ao processo de decisão das políticas públicas.

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

O campo de atuação do Serviço Social no Brasil apresenta um leque de

possibilidades de inserção profissional considerando o movimento de processamento das

políticas públicas e sociais. Somos a profissão por excelência que desenvolve a mediação

entre os interesses do Estado enquanto indutor de políticas públicas e os interesses da

população enquanto demandante destas ações e investimentos. A concretização dessa

mediação profissional se dar no contexto de uma sociedade profundamente desigual,

assumindo as políticas públicas caráter principalmente compensatório em relação à grande

dívida social que tem se aprofundado com o fortalecimento do processo de acumulação

capitalista. Neste cenário, compreendendo principalmente os espaços sócioocupacionais

assumidos pelos assistentes sociais nas organizações públicas estatais, identificamos um

campo de atribuições, entre as quais destaco como foco destas reflexões, a gestão e a

avaliação de políticas e programas sociais.

A atuação profissional no cumprimento dessas atribuições específicas de gestão

e avaliação, não se processa dissociada das demais atribuições relacionadas com o

planejamento, e execução da política, enquanto partes componentes de uma totalidade,

permeada por interesses contraditórios que ultrapassam o campo institucional e reflete o

movimento da realidade social. Neste caminho, de acordo com os parâmetros que orientam a

atuação profissional, os (as) assistentes sociais pela sua formação e experiência têm uma

função estratégica na análise crítica da realidade no sentido de fomentar a adoção de políticas

que representem a garantia dos direitos e melhoria das condições de vida da população,

principalmente considerando os estratos sociais historicamente excluídos.

Nesses espaços sócioocupacionais em grande parte, integrando equipes

interdisciplinares, os (as) assistentes sociais fundamentam as suas ações em direitos,

deveres, atribuições e competências, constantes no Código de Ética Profissional, na Lei de

regulamentação da profissão, e na sua especificidade profissional adquirida mediante

formação profissional baseada em diretrizes curriculares que lhes dão consistência teórica,

política e técnica. O que permite aos Assistentes sociais um posicionamento crítico e

compromisso político com as demandas sociais que requisitam a sua intervenção no cotidiano

profissional. Neste sentido procuram dimensionar a sua atuação sempre na perspectiva da

luta e defesa de direitos e reconhecimento da condição de cidadania para todos, em

conformidade com a Constituição Federal vigente no país e com o projeto ético-político

profissional.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Direcionadas à Pobreza), 2008.

A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL COMO MECANISMO DE ACESSO E

PERMANÊNCIA DOS ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS NA UNIVERSIDADE FEDERAL

DO PIAUÍ

Maria D’Alva Macedo Ferreira3

RESUMO

Apresenta-se um estudo sobre a Política de Assistência

Estudantil como meio para o acesso e permanência nas

universidades públicas. Fundamentado nos estudos e pesquisas

realizadas por estudantes da graduação em Serviço Social,

sistematiza-se questões para o debate relacionadas as

condições de jovens que, por falta de condições

socioeconômicas e culturais abandonam, evadem e trancam os

cursos que acessaram nas universidades públicas. Esta

realidade demanda por políticas públicas que contribuam com o

processo de formação educacional superior. Os Programas de

Assistência Estudantil têm contribuído para a permanência de

estudantes pobres nos cursos universitários, porém não

atendem a demanda apresentada nas universidades.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Superior. Políticas Públicas.

Assistência Estudantil.

SUMMARY

A study on the Student Assistance Policy is presented as a

means to access and stay in public universities. Based on the

3 Professora Doutora do Departamento de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em

Políticas Públicas. E-mail: [email protected].

studies and research carried out by undergraduate students in

Social Work, questions are organized for the debate related to

the conditions of young people who, due to a lack of

socioeconomic and cultural conditions, abandon and avoid the

courses they have accessed at public universities. This reality

demands public policies that contribute to the process of higher

education. The Student Assistance Programs have contributed

to the permanence of poor students in university courses, but

they do not meet the demand presented in the universities.

KEYWORDS: Higher Education, Public policies, student

assistance.

1. INTRODUÇÃO

A sociedade brasileira é marcada, historicamente, por desigualdades e injustiça

social e por parcas políticas públicas que possibilitem minorar as condições sociais,

econômicas, políticas e culturais da maioria da população. Nesse contexto a educação

constitui-se uma política fundamental, no processo de formação educacional para o exercício

da cidadania e, um direito humano fundamental, como condição indispensável para a garantia

dos demais direitos.

Para que a educação cumpra esse papel nesse complexo de desigualdade social

é necessário a implementação de políticas públicas que executem ações específicas no

campo da educação, não só na educação básica, mas também no ensino superior. No que se

refere à educação superior, o Brasil vem desenvolvendo política pública de acesso e

permanência dos estudantes de baixa renda na universidade, uma vez que ainda permanece

a seletividade econômica e étnico-racial do ensino superior brasileiro.

Nesse trabalho será enfatizada a contextualização da educação superior no Brasil,

os programas de assistência estudantil de acesso e permanência na universidade e, a

Universidade Federal do Piauí e suas ações afirmativas, como exemplo de concretude de

políticas públicas no âmbito do ensino superior.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL

Formulação e implementação do sistema de educação superior, no Brasil, pode

ser considerada um caso diferente no conjunto latino-americano, considerando suas raízes e

peculiaridades uma vez que, desde o século XVI, os espanhóis fundaram universidades em

seus domínios na América, as quais se caracterizavam como instituições religiosas. O Brasil

Colônia, no entanto, não criou instituições de ensino superior em sua jurisdição até início do

século XIX, ou seja, quase três séculos mais tarde.

A primeira universidade brasileira foi criada em 1920, data próxima das

comemorações do Centenário da Independência (1922). Resultado do Decreto n° 14.343, a

Universidade do Rio de Janeiro reunia, administrativamente, Faculdades profissionais pré-

existentes sem, contudo, oferecer uma alternativa diversa do sistema: ela era mais voltada ao

ensino do que à pesquisa, elitista, conservando a orientação profissional dos seus cursos e a

autonomia das faculdades (IELSAC, 2002).

No decorrer dos anos de 1950 a 1970 criam-se as universidades federais e

multiplicaram-se as universidades estaduais, municipais e particulares. Em 1961, entra em

vigor a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), então a participação

da livre iniciativa do ensino superior torna-se ativa. Em 1968, o Congresso Nacional aprovou

a Reforma Universitária, pela Lei n° 5.540, de 28/11/68, fixando normas de organização e

funcionamento do ensino superior.

Na década de setenta, a rede de ensino superior no país cresce de modo

relevante, expandindo-se significadamente. Em apenas uma década, de 1970 a 1980, as

matrículas nos cursos universitários subiram de 300.000 para um milhão e meio. As razões

para tal fenômeno foram diversas, tendo destaque à modernização econômica do país, que

passou a exigir recursos humanos mais qualificados.

No ano de 1981, o Brasil contava com 65 universidades, sete delas com mais de

20.000 alunos (OLIVEN, 2002, p.40). A segunda fase de forte expansão do sistema de ensino

superior ocorre a partir de 1995. Com a pressão pelo aumento da procura de vagas no ensino

superior e a incapacidade no setor público em oferecer mais vagas, ocorreu uma expansão

de acesso no setor privado. Havia muitos grupos do setor privado interessados nas verbas

públicas, marcando uma fase de mercantilização do ensino.

Em 2007, segundo dados do Censo de Educação Superior realizado pelo Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) o Brasil contava com

a existência de 2.281 instituições de Educação superior, sendo 249 do setor público e 2.032

do setor privado. Nesse sentido, diante do crescimento das escolas de nível superior privadas

no Brasil, observou-se, a partir da Reforma Universitária (1995), o comprometimento do Brasil

com o setor privado, no lugar da democratização do ensino superior público, com vistas a

atender os anseios da sociedade, e minimizar os processos históricos de exclusão vividos por

grupos sociais.

A ampliação das vagas nas universidade privadas atendem ao projeto neoliberal

de descentralizar os serviços públicos no âmbito Política Educacional para o mercado,

reduzindo o papel do Estado com a Educação de Qualidade defendida pelos setores

organizados da sociedade civil.

3. POLÍTICAS PÚBLICAS DE ACESSO E PERMANÊNCIA NA UNIVERSIDADE

No Brasil, a Constituição de 1988 representou o marco jurídico que garantiu

constitucionalmente a institucionalização dos direitos humanos na sociedade brasileira. Nesse

contexto, a educação aparece como condição essencial para a garantia dos direitos humanos,

pois possibilita uma maior conscientização dos indivíduos e grupos acerca de seus direitos e

deveres para com a sociedade. Aparece, nesse quadro, como eficaz mecanismo para o

exercício da cidadania, capaz de tornar os cidadãos passivos, participantes ativos de sua

própria história. Ela se apresenta como principal ferramenta de mobilidade social rumo à

redução da desigualdade e da pobreza.

Apesar de atualmente a assistência ao estudante assumir papel de centralidade para o Estado brasileiro na estratégia de combate às desigualdades sociais e regionais através da democratização da Educação Superior (MEC, 2013), cabe destacar que esse espaço foi conquistado, resultado de intensas lutas sociais, encabeçadas principalmente pelo movimento estudantil, organizado pela União Nacional dos Estudantes (UNE), e pelo Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace). Essas constituem as principais entidades engajadas na luta por uma AE como direito social e como política pública. (DUTRA; SOUZA SANTOS, 2017).

Para que a política de educação atinja o objetivo de contribuir no processo de

transformação sociocultural na sociedade brasileira urge a necessidade de implementar

programas no âmbito da Assistência estudantil, como meio a possibilitar àqueles que

conseguem se inserir nas vagas das universidades públicas concluírem os seus cursos.

Nesse sentido, o Brasil no âmbito da educação superior, vem desenvolvendo políticas

públicas de acesso e permanência dos estudantes de baixa renda na universidade, uma vez

que a seletividade econômica e étnico-racial do ensino superior brasileiro continua intensa: o

segmento composto pelos 20% mais ricos ocupa 70% das matrículas no ensino superior

brasileiro, ao passo que os 40% mais pobres ocupam apenas 3% das vagas (ROSEMBERG,

2003).

No processo de implementação da Política de Educação Superior são

identificadas demandas que requer uma tomada de decisão política no que tange a

materialização do direito a educação, como assim está garantido na Constituição Federal de

1988, que concebe a Educação como direito fundamental, universal, inalienável e um

instrumento de formação ampla na luta pelos direitos da cidadania e pela emancipação social,

regulamentado na Lei de Diretrizes de Base da Educação. No entanto, apesar desse direito

ser garantido no plano formal, é grande a parcela de jovens brasileiros de classes sociais

menos privilegiadas que vivenciam, de forma extremamente injusta e desigual, os espaços

institucioais, como as universidades públicas brasileiras.

Diante das dificuldades que os estudantes nas universidades públicas

apresentam, evasão, abandono e trancamento dos cursos, foram criados programas de

acesso e permanência na esfera federal, buscando, não apenas, o acesso à universidade,

mas a garantia da permanência durante os anos de graduação. Fazendo relação com o texto

a seguir de Carvalho (2005),

a população de baixa renda não necessita apenas de gratuidade integral ou parcial para estudar, mas de condições que apenas as instituições públicas, ainda, podem oferecer, tais como: transporte, moradia estudantil, alimentação subsidiada, assistência médica disponível nos hospitais universitários, bolsas de pesquisa, entre outros. (CARVALHO, 2005, p. 13 apud APRILE; BARONE, 2009).

Fazendo parte da grande maioria da população brasileira em situação de pobreza

os jovens carecem de ações que estimulem a permanência tanto no campo da assistência

material quanto no âmbito da assistência psicossocial como se constata na Monografia de

conclusão de curso intitulada “Análise da condição de permanência na residência universitária

(BARROSO, 2016).

No período de 2003 a 2004 o FONAPRACE (2012) desenvolve a II Pesquisa sobre

“O Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das IFES brasileiras” para

atualização dos dados anteriores. A pesquisa obteve a participação de 47 do total de 53 IFES,

o que representa 88,68%. Confirmou o que foi constatado na primeira pesquisa, pois os dados

mostraram que 42,8% dos estudantes encontram-se nas classes C, D e E, cuja renda familiar

alcançava o máximo de R$ 927,00, caracterizando situação de vulnerabilidade social. A

pesquisa indicou, ainda, um aumento de 10% para 13% dos assistidos pelos programas

existentes (FONAPRACE, 2012).

Com estes dados percebe-se que a assistência estudantil é reconhecida pelo

Fórum e, entre o período de 2003 a 2010, ao mesmo tempo que ocorre o processo de

reestruturação e expansão das universidades federais que é representado pelo Programa de

Apoio a Planos de Reestruturação das Universidades (REUNI), instituído por meio do Decreto

nº 6.096, de 24 de abril de 2007, traz no seu art. 1º, “[...] o objetivo de criar condições para a

ampliação do acesso e permanência na educação superior, no nível de graduação, pelo

melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos nas universidades federais”

(BARROSO, 2012 p. 28).

Com o REUNE aconteceu um processo de ampliação das vagas nas

universidades, consequentemente, a população universitária. O mesmo aconteceu em

relação a demanda por serviços assistenciais àqueles que são oriundos das classes sociais

mais pobres, o que requer serviço acessível que apoiem as necessidades sociais,

psicológicas e pedagógicas, surgidas durante o processo de formação acadêmica.

O Plano Nacional de Educação, aprovado em 10 de janeiro de 2001, atendendo a

uma reivindicação direta do FONAPRACE, determina: “a adoção de programas de assistência

estudantil tais como bolsa trabalho ou outros destinados a apoiar os estudantes carentes que

demonstrem bom desempenho acadêmico”.

Os principais programas de acesso e permanência no ensino superior no Brasil

são: O Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) de 1999; Programa

de Educação Tutorial (PET) de 1979; Programa Universidade para Todos (ProUni) de 2003;

Bolsa Monitoria; O Programa de Bolsa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID); Hospitais

Universitários (HU); O programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das

Universidades Federais (REUNI) de 2007.

4. A UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ E SUAS AÇÕES AFIRMATIVAS

A Universidade Federal do Piauí (UFPI) instituição de ensino superior, que tem

por objetivo cultivar o saber em todos os campos do conhecimento puro e aplicado e incumbiu-

se de formar diplomados nas diferentes áreas do conhecimento, aptos para inserção em

setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e

colaborar na sua formação contínua (UFPI, 1999)

Para ter acesso ao ensino público ofertado pela UFPI é necessário submeter-se

ao vestibular, caso seja classificado e aprovado, o mesmo será admitido em curso de

graduação. Os alunos podem ser alunos estrangeiros, em virtude de convênio cultural do

Brasil com outros países e candidatos já graduados em nível superior, como determina

Regimento Geral da UFPI, em seu artigo 79, da seção I, do Capítulo III (UFPI, 1999, p. 27).

Mas, nos últimos anos, o processo de seleção do vestibular da Universidade

passou por mudanças, dentre elas a mudança do tradicional vestibular feito no final do ensino

médio pelo Programa Seriado de Ingresso a Universidade - o PSIU no ano de 2003, visando

valorizar o ensino médio e desmistificar a questão do vestibular (UFPI, p.19).

Nele, a UFPI foi pioneira em reservar 5% das vagas do vestibular para estudantes

de escolas públicas no ano de 2008, disponibilizando 247 vagas para os alunos cotistas. Já

no ano de 2009 a Universidade passou a reservar 20% das vagas para candidatos oriundos

do ensino público, disponibilizando mais de mil vagas, aumento esse resultado de um estudo

sobre o desempenho dos alunos já beneficiados com o sistema de cotas sociais (UFPI, p.19).

A assistência estudantil na UFPI tem como princípio básico o atendimento às

demandas de alimentação, moradia, bolsas e apoio estudantil, incluindo-se assistência

médica, odontológica e psicossocial (UFPI, p.64). Mas, os serviços que dão concretude a

assistência aos estudantes na UFPI já estavam sendo garantidos antes mesmo do decreto de

n º 7.234, do Governo Federal através do Ministério da Educação, em dezembro de 2007, que

instituiu o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES).

Por meio dele a assistência estudantil passou a ser vista como estratégia de

combate às desigualdades sociais e regionais, servindo de instrumento para ampliação e

democratização das condições de acesso e permanência dos jovens no ensino público

superior federal, ou seja, ela transformou a assistência estudantil em uma política de Estado

(GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010, p.01).

A assistência estudantil prestada pela UFPI antes desse decreto era direcionada

para a garantia ao apoio acadêmico e social aos alunos, promovendo condições básicas para

a sua permanência na instituição, atuando preventivamente nas situações de repetência e

evasão decorrentes de dificuldades socioeconômicas (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010,

p.01).

A política de Assistência Estudantil implantada em 2005, reforçada pelo Plano

Nacional de Assistência Estudantil em 2007, tem assegurado o planejamento orçamentário

para a manutenção dos restaurantes universitários, as bolsas estudantis e aos diversos

programas que a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários - PRAEC na UFPI

mantém (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010, p.01)

Esta Pró-Reitoria é a gestora dos programas e serviços por meio de suas

Coordenadorias, sendo elas a Coordenadoria de Nutrição e Dietética (CND), que tem a

finalidade de planejar, coordenar e supervisionar os serviços prestados pelas unidades do

Restaurante Universitário (RU) e pelo Serviço de Orientação Nutricional e Dietética (SOND) e

a Coordenadoria de Assistência Comunitária (CACOM) “que planeja, executa, acompanha e

avalia os programas e projetos de assistência estudantil e comunitária mantidos pelo PRAEC”

(UFPI, 2010).

Atualmente os Serviços e benefícios oferecidos pela PRAEC são: a Bolsa

Residência Universitária, a Bolsa de Apoio Acadêmico, a Bolsa Alimentação, o Projeto

Inclusão Social, o Atendimento Odontológico, o Auxílio ao Estudante Estrangeiro e o

Atendimento Psicossocial e Pedagógico, cada um será explicado nos parágrafos a seguir.

A Bolsa Residência Universitária consiste em propiciar moradia e alimentação ao

estudante da UFPI em situação de vulnerabilidade social e econômica, proveniente do interior

do Piauí ou de outros estados, garantindo a sua permanência na Instituição e conclusão do

Curso no tempo regulamentar. A Bolsa de Apoio Acadêmico é um benefício financeiro

concedido ao estudante da UFPI em dificuldade socioeconômica, tendo como contrapartida a

prestação de serviços administrativos nos diversos setores desta instituição, ou em projetos

de extensão e de pesquisa (UFPI, 2010).

A Bolsa Alimentação é um benefício que garante o acesso do estudante em

dificuldade socioeconômica ao Restaurante Universitário, com isenção total da taxa. Nos

campi do interior do estado, a Bolsa Alimentação é concedida aos estudantes na forma de

auxílio financeiro. “Segundo VIEIRA (2010, p. 02 apud GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010, p.01)

o restaurante universitário é uma forma de garantir a permanência do aluno na universidade,

fazendo com que este tenha condições de estudar e terminar seu curso no tempo

regulamentar”.

O Projeto Inclusão Social integra a política de inclusão social e apoio ao estudante

com deficiência, facilitando a sua permanência na instituição e melhorando,

consequentemente, a sua qualidade de vida, sendo uma de suas atividades a concessão de

bolsa especial destinada aos universitários da UFPI que desejam e tenham disponibilidade

para auxiliar e acompanhar, nas atividades acadêmicas, os colegas com deficiência (visual,

auditiva e outras) (UFPI, 2010).

O Atendimento Odontológico é um benefício gratuito para toda a comunidade

universitária, com atendimento clínico na área de diagnóstico (clínico e radiológico),

restauração, prevenção e profilaxia de segunda a sexta-feira. Já o Atendimento Psicossocial

e Pedagógico é acessível à comunidade universitária, com a finalidade de apoiar o estudante

e o servidor, contribuindo para a superação de dificuldades sociais, psicológicas e

pedagógicas e por fim o Auxílio ao Estudante Estrangeiro que abrange o atendimento

Odontológico, o atendimento Psicossocial e Pedagógico e a Bolsa Alimentação (UFPI, 2010).

Estes são serviços prestados, em especial, a estudantes pobres, após processos

seletivos, no caso das bolsas, que contribuem para a permanência e a conclusão dos cursos,

no âmbito da educação superior. Porém, é constatado que a grande maioria dos estudantes

escritos não é atendida pela incapacidade destes programas fazerem a cobertura das

demandas apresentadas nesta área.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Identifica-se, com esse estudo, avanços no âmbito das políticas públicas para o

ensino superior, tanto no que tange ao acesso quanto nas condições disponibilizadas para

que a população de baixa renda permaneça na universidade e conclua o curso superior,

quanto nos serviços proporcionados como transporte, moradia estudantil, alimentação

subsidiada, assistência médica disponível nos hospitais universitários, bolsas de pesquisa,

etc.

A criação de mecanismos de acesso e permanência ao ensino superior brasileiro,

ainda que tenham se multiplicado e aprimorado nestes últimos anos, como padrões mais

extensos e democráticos, podem contribuir para minimizar os distanciamentos entre as

disparidades sociais, culturais e econômicas que dificultam o acesso e a permanência dos

estudantes de baixa renda na universidade pública brasileira, porém não conseguem superar

diante dos limites na oferta dos serviços e o grande número de estudantes que procuram os

programas.

Assim, a Universidade Federal do Piauí no âmbito das políticas públicas para a

educação superior mostra-se emergente com seus mecanismos de acesso, dentre eles o

sistema de cotas e de permanência, as bolsas remuneradas que auxiliam na diminuição da

evasão dos estudantes nos cursos permitindo que os mesmos concluam a graduação dentro

do quadro determinado pela grade curricular do curso.

Verifica-se que a cada ano cresce o número de estudantes que se escrevem por

benefícios remunerados, no entanto, a oferta destes serviços não cobre a demanda

apresentada. Nos últimos processos seletivos constata-se a redução das bolsas e o aumento

de estudantes escritos para concorrer às vagas ofertadas, exigindo, com isto, critérios mais

seletivos e excludentes.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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para inclusão social. Revista @mbienteeducação, São Paulo, v. 2, n.1, p. 39-55, jan./jul.

2009.

DUTRA, Natália Gomes dos Reis e SOUZA SANTOS, Maria de Fátima de. Assistência

estudantil sob múltiplos olhares: a disputa de concepções. In. Ensaio: avaliação de política

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construída com ações positivas da UFPI. In: InformAtivoPraec, Teresina, n.1, p.1-4, 2010.

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_____. Decreto nº 72.140, de 26 de abril de 1973. Dispõe sobre o da Universidade Federal

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_____. Resolução nº 45/ 1999, de 16 de dezembro de 1999. Dispõe sobre o Regimento

Geral da Universidade Federal do Piauí. Adaptação à LDBE (Lei nº 9.394, de 20 de

dezembro de 1996), Teresina, 1999.

_____. Relatório de Gestão – 2004/ 2008. Teresina, 72 p.

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Serviço Social na Assistência Estudantil: reflexões a cerca da dimensão político-pedagógica

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Teresina: 2010, p. 02.

POLITICAS DE TRANSFERENCIAS DE RENDA: Armadilha ou êxito na diminuição da

pobreza?

Ana Rojas Acosta4 RESUMO

As políticas sociais no Brasil, sob a justificativa de proteção

social e reproduzindo o modus operandi de países em

desenvolvimento, tem assumido a transferência como o carro

chefe que atende as famílias em situação de pobreza.

Evidencia-se neste estudo dados estatísticos e seus usos no

manejo da diminuição e/ou incremento da pobreza. Lança-se

mão de dados oficiais nacionais e de organizações multilaterais

que estudam a questão em tela. Apresenta-se a discussão das

tendências contrárias que permitirão refletir sobre o êxito e ou a

armadilha da perpetuação da pobreza nesta configuração

socioeconômica e sua proficuidade na prática da assistência

social.

PALAVRAS-CHAVE: Pobreza, Desigualdade, Assistência

Social, Transferência de Renda,

SUMMARY

Social policies in Brazil, under the justification of social

protection and reproducing the modus operandi of developing

countries, have assumed the transfer as the flagship car that

serves the families in poverty situation. Statistical data and their

uses in the management of poverty reduction and / or increase

are shown in this study. It draws on national official data and

multilateral organizations that study the issue on screen. It

presents the discussion of the contrary tendencies that will allow

4 Assistente Social, com pós-doutorado em Políticas Públicas, docente da Universidade Federal de São

Paulo - UNIFESP. E-mail: [email protected]

to reflect on the success and or the trap of the perpetuation of

the poverty in this socioeconomic configuration and its proficuity

in the practice of the social assistance.

KEYWORDS: Poverty, Inequality, Social Assistance, Income

Transfer.

1. INTRODUÇÃO

Os programas de transferência de renda, inseridos como padrão dos programas

sociais nos países em desenvolvimento, voltados à população mais pobre tem ganhado

importância central nas políticas publicas em países em desenvolvimento e especialmente no

Brasil, de modo a buscar proteção social das famílias em situação de vulnerabilidade.

O Bolsa Família é um programa federal para às famílias em situação de pobreza

e extrema pobreza, o acesso está garantido para aqueles sujeitos que contam com renda per

capita de até R$ 154 mensais e que associa à transferência do benefício financeiro do acesso

aos direitos sociais básicos - saúde, alimentação, educação e assistência social. Atualmente

o Brasil conta com mais de 13,2 milhões famílias em todo o país. O valor médio do benefício

é de R$ 180,49. (http://bolsafamilia.datasus.gov.br/w3c/bfa.asp, acesso in 12_06_17).

Coexiste na academia divergências sobre as tendências de políticas universais5 e

políticas focalizadas, assim como dissensões sobre as condicionalidades junto a outros

programas e sua correspondente eficácia e eficiência quanto a seus impactos, além de

dúvidas em relação à sua sustentabilidade política e econômica a curto prazo diante do

cenário de contra-reformas da atual gestão do governo federal.

Citamos, a modo de exemplo, a Emenda Constitucional que estabeleceu limites

para o crescimento de gastos para os próximos 20 anos; a terceirização do trabalho para

atividades-fim; a flexibilização das leis trabalhistas; o estabelecimento de critérios mais

rigorosos para a aposentadoria e previdência, adiando a possibilidade dos contribuintes se

aposentarem (conforme anteriormente estabelecido pela Consolidação das Leis Trabalhistas

de 1943), entre outros.

5 Entendido como a igualdade entre todas as pessoas e atender todos sem distinção alguma.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)6 no primeiro trimestre de 2017 foram mais

de 14 milhões de desempregados no país. Isto é, 14, 9% superior ao ultimo trimestre de 2016

ou o equivalente a 1,8 milhão de pessoas a mais desocupadas nestes primeiros três meses.

Nesse sentido, os programas de transferência de renda afirmam-se cada vez mais

como política de Estado, e não de governo, o que reforça a importância de sua análise.

Procura-se com este trabalho trazer a discussão as políticas estratégicas de intervenção

profissional do Assistente social no palco de incertezas econômicas sociais, que vem se

sucedendo no Brasil a partir de 20147.

Estruturamos este trabalho em dois grandes momentos, num primeiro munidos

com dados nacionais que chamamos de Transferência de renda em dados e num segundo

com dados de organizações multilaterais que questionamos se é Armadilha o êxito para

diminuição de pobreza?, seguidos de algumas considerações finais onde indicamos avanços

e recuos que a busca por uma política de melhor distribuição da renda cria nesse cenário de

pobreza e desigualdade social. Notadamente se estampa o antagonismo de classes, ditadas

pela lei de quem detém o poder econômico excluindo cada vez mais a maior parte da

sociedade e a concentração da riqueza em menos pessoas.

2.TRANSFERENCIA DE RENDA EM DADOS

Usando os termos do mercado, a clientela preferencial dos programas de

transferência são os pobres8. Conforme o Banco Mundial mais de 28,6 milhões de brasileiros

saíram da pobreza entre 2004 e 2014. Isto é, quase metade da redução da miséria na América

Latina e Caribe no mesmo período. Os avanços foram possíveis pelo crescimento econômico,

6 Conforme nota metodológica do IBGE, a cada trimestre, são investigados 211.344 domicílios

particulares permanentes, em aproximadamente 16.000 setores censitários, distribuídos em cerca de 3.500 municípios , http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pnad_continua/. Acesso in 12_06_2017.

7 Após o pleito eleitoral para escolha da Presidência da República onde Dilma Rousseff, foi reconduzida no mandato de 04 anos e interrompidos em abril de 2016 por impeachmant.

8 Entendido como fenômeno multidimensionais, ao igual que a desigualdade, onde os sujeitos que compõem a sociedade de determinado território possuem insuficiência de renda para suprir as necessidades biológicas.

que gerou novas oportunidades de emprego, sobretudo no setor de serviços, e também por

programas como os de transferência de renda e, especialmente, o Bolsa Família. A queda na

pobreza extrema no Brasil registrada entre 2004 e 2014 foi na ordem de 58% associada a

mudanças nos rendimentos de fontes que não incluíam o trabalho, como o Bolsa Família.

Atualmente o Brasil conta com mais de 13,2 milhões famílias em todo o país usuários do

programa Bolsa Família, sendo que o valor médio do benefício é de R$ 180,49. reconhecimento maior

no mundo público que deve ser administrada na maioria das vezes pela mulher, como responsável pela família9.

Na busca perseverante da conquista e efetiva universalização dos direitos cidadãos por

meio do Estado e, havendo demandas emergenciais das mais diversas naturezas com esse contingente

populacional em situação de pobreza, não pode as políticas de transferência de renda se tornar a

principal política governamental. Nem exigir da sociedade civil sua exclusiva responsabilidade, isto é,

atribuindo maior incumbência para a família, principalmente das mulheres, pelos cuidados de

seus membros.

Todavia segundo o Relatório do PNUD (2017), elaborado com base em dados

até 2015, “não será possível alcançar o desenvolvimento humano se metade da humanidade

é ignorada. A desigualdade de gênero e a falta do empoderamento das mulheres é um desafio

ao progresso global em todas as regiões e grupos”.

Nesse sentido, há necessidade do estabelecimento de novas políticas e

estratégias nacionais e globais para alcançar as populações atualmente excluídas. No

relatório, em menção anterior, são apresentadas em quatro eixos de intervenção imediata:

I) Piso de proteção social (políticas universais de saúde e educação; de assistência social, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada; benefícios previdenciários para grupos vulneráveis; inclusão financeira); II) Políticas de ação afirmativa (para mulheres, negros, indígenas, pessoas com deficiência entre outros grupos vulneráveis); III) Desenvolvimento humano sustentável (para que choques, como recessões econômicas, epidemias, desastres naturais, não façam as pessoas voltarem à situação de pobreza); IV) Participação e autonomia dos excluídos (efetivar os tratados de direitos humanos, garantir o acesso à justiça, promover inclusão, efetivar o direito à informação). Grifo nossos. (2017)

9 Por outro lado agrega-se o paradigma da responsabilidade da família a mulher e são estes paradigmas que

sustentam o foco das políticas nas mulheres e crianças, e não inserem o homem nesta perspectiva.

Isto significa atribuir maior responsabilidade as sociedades em desenvolvimento

para com seus povos, ou melhor, caminhar em prol de interesses convergentes para alcançar

tais eixos.

Nesse sentido, para se aproximar dessa caminhada a prosperidade depende do

trabalho formal, e nos dias de hoje, na atual recessão, as conquistas alcançadas da

diminuição dos índices de pobreza se vem ameaçados diante do incremento de

desempregados.

Enquanto a estrutura econômica do sistema capitalista não distribuir

equitativamente as rendas nacionais, a lógica dos Ms: mantém, melhora e minimiza mais,

continua a criar a ilusão de que diminui a pobreza pela evidencia deste ciclo.

Assim, julgamos necessária a propositura de mais ações para o enfrentamento da

pobreza, devido à crise econômica que o continente enfrenta na atualidade.

Devemos, também, juntar esforços coletivos municipais, regionais, nacionais e

internacionais das organizações dos trabalhadores, das categorias profissionais,

especialmente as do Serviço Social, para que, no cotidiano, junto a outros

operacionalizadores das políticas públicas, enfrentemos os desafios

Segundo o Banco Mundial, o aumento da pobreza no Brasil, em 2017, pode girar

entorno de 2,5 e 3,6 milhões de pessoas, vitimadas pela crise econômica isto é, quase 20

milhões de total de pobres no país, dentre esses 8-9 milhões em situação de extrema pobreza.

Até o final de 2017, deve ter aumento de 2,5 milhões até 3,6 milhões no número de pessoas

vivendo na miséria, razão pela qual o Banco Mundial recomenda a expansão do Bolsa Família

para atender a esse incremento populacional com vistas a evitar que a miséria alcance valores

estratosféricos

O incremento no Bolsa Família sugerido pelo Banco Mundial representa um

acréscimo de cerca de 900 milhões de reais na verba prevista para o programa pela lei

orçamentária de 2017.

3. ARMADILHA O ÊXITO PARA DIMINUIÇÃO DE POBREZA?

Na análise de Microssimulação do Banco Mundial10 o aumento na pobreza para

este ano de 2017, foi calculado com base em variações de índices macroeconômicos. No

cenário mais otimista, estimou a retomada do crescimento econômico, com saldo positivo —

de 0,5% — para o Produto Interno Bruto (PIB). O desemprego, portanto, continuaria em

ascensão, chegando aos 11,8%, valor 0,6% mais alto do que a taxa de desocupação no ano

passado.

Todavia a proporção de pessoas pobres deverá ter aumento considerável, o

número de pessoas extremamente pobres crescerá em 1,5 milhão, de 6,8 milhões em 2015

para 8,3 milhões em 2016 (e para 8,5 milhões em 2017), elevando a proporção de pessoas

extremamente pobres de 3,4% em 2015 para 4,1% em 2016 (e 4,2% em 2017).

O número de pessoas moderadamente pobres aumentará em 2,3 milhões, de

17,3 milhões em 2015 para 19,6 milhões em 2016 (e 19,8 milhões em 2017). Assim, a

proporção de pessoas pobres subirá de 8,7% para 9,7% em 2016.

Por outro lado, considera este relatório, num cenário mais sombrio, que a taxa de

pobreza extrema continuará crescendo, chegando a 4,6% em 2017, representando um

crescimento de 2,6 milhões no número de pessoas extremamente pobres entre 2015 e 2017,

enquanto a taxa de pobreza chegará a 10,3% em 2017 representando um crescimento de 3,6

milhões no número de pessoas moderadamente pobres (entre 2015 e 2017).

Contudo, o aumento nas taxas de pobreza deve ser maior em áreas urbanas e

menor em áreas rurais. Contrastando com as áreas urbanas, onde a proporção de pessoas

pobres deve aumentar em 2016 e continuar elevada em 2017, a proporção de pessoas pobres

em áreas rurais deverá ser apenas levemente maior em 2017 que em 2015.

O aumento da pobreza durante a crise no Brasil deve vir acompanhado de um

aumento na desigualdade de renda no país além do alargamento da desigualdade.

Nesse sentido a Assistência Social tem um papel preponderante na busca pela

garantia de direitos de seus usuários, razão pela qual vem trabalhando, em busca da proteção

social, com os seguintes eixos de intervenção:

10 Disponivel in http://documents.worldbank.org/curated/pt/469091487328690676/pdf/112896-WP-

P157875-PORTUGESE-PUBLIC-ABSTRACT-SENT-SafeguardingBrazilEnglish.pdf

- O Beneficio de Prestação Continuada (BPC) - concedido a idosos e pessoas

com deficiências na forma de transferências de renda conhecidas como Benefício de

Prestação Continuada (BPC);

- a Previdência Social Rural (PSR) - concessão aos trabalhadores autônomos ou

trabalhadores da agricultura familiar na seguridade social;

- o Transferência Condicional de Renda (TCR) Bolsa Família.

Portanto, a recomendação do Relatório para a ampliação do orçamento para o

PBF é necessário tendo em conta o quadro de perversidade da distribuição equitativa da

riqueza.

Operacionalmente, para receber os benefícios do Bolsa Família em 2015 a renda

mensal per capita da família precisa ser inferior a R$ 154. O montante total do benefício

depende do nível de renda per capita e do número de crianças na família.

Importante é destacar a apropriação e o uso dos dados que retratam o território

identificando a utilização dos serviços oferecidos nela, caso o dos Centros de Referencia de

Assistência Social CRAS, CRAS e CREASPop.

Em estudo recente pelo MDS - Relatório da Pesquisa de opinião sobre o Sistema

Único de Assistência Social: percepções de gestores municipais de assistência social e de

coordenadores de CRAS, CREAS e Centros Pop11, constata-se prioritariamente que a busca

por serviços socioassistenciais é um motivo freqüente para a ida ao equipamento na grande

maioria dos casos (95,2%), bem como a busca de informações e encaminhamentos (91,9%).

Os demais motivos (Cadastro Único, Benefícios Eventuais, BPC, Qualificação Profissional)

também são frequentes na percepção de cerca de três quartos dos respondentes. Outros

motivos são citados por 51,3% dos coordenadores . Observa-se nesta opção “outros” duas

novas categorias, que apareceram com certa relevância: “atendimento, acolhida e orientação”

e “participação em atividades coletivas”. A primeira se refere a atendimentos individualizados

e à orientação dos usuários em geral. Dentro deste grupo, destacam-se a busca por

atendimento psicológico. Uma outra justificativa, é pela busca de atividades como cursos,

palestras e oficinas.

11 MDS - Departamento de Avaliação Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Brasília, março de. 2016

Quando indagados sobre o principal motivo para as pessoas irem até sua unidade,

a percepção de 41,7% dos coordenadores é que o principal motivo é para fazer ou atualizar

o Cadastro Único e demandas relacionadas. Em apenas 19,8% dos casos o principal motivo

declarado é a busca por serviços socioassistenciais, enquanto para 15,5% o principal motivo

é a demanda por benefícios eventuais. Embora possa se argumentar que muitas unidades

não prestam diretamente determinados serviços socioassistenciais, terceirizando a prestação

de serviços para entidades privadas ou encaminhando para unidades públicas específicas, o

resultado é bastante significativo.

Atesta-se assim a necessidade de busca de convergência entre os interesses dos

usuários e a oferta de serviços nos equipamentos existentes nos territórios que permitam,

atender com maior eficiência e eficácia e em menor tempo.

Outro fator importante a tratar é a necessidade de articulação setorial ou a

chamada de intertesorialidade que pode ser observada nos territórios, por exemplo, na área

de saúde com os Núcleo de Apoio a Família - NASF inseridos nas Unidades Básica de

Saúde12. O trabalho em equipe e entre as equipes do PBF e do NASF que prevê outras

categorias profissionais além do serviço social como: fisioterapeutas, psicólogos,

nutricionistas e, educadores físicos e fundamental para o êxito do trabalho assim como na

área da educação com o pr5ogtrama jovem aprendiz, acompanhamento escolar e, na área da

habitação com o programa Minha Casa Minha Vida, entre outros programas

4. CONSIDERAÇÃOES FINAIS

A vasta e dura atual crise econômica no Brasil cria a oportunidade para expandir

o papel do Bolsa Família, que pode vir a ser um programa redistributivo eficaz para um

verdadeiro programa de rede de proteção flexível suficiente para expandir a cobertura aos

domicílios dos mais necessitados, sendo necessário, portanto o aumento de seu orçamento

para sua assertiva implementação e afirmação na sociedade.

A construção de políticas centralizadas nas famílias pobres provoca analises

profundas que precisam ser debatidas e problematizadas. Injusto é transferir às famílias uma

grande carga de trabalho e uma gama de responsabilidade às mulheres indicadas como

12 4.230 estão implantadas em 3.329 municípios brasileiros. (DATASUS, Agosto/2015).

únicas responsáveis, sem que sejam levados em consideração os aspectos contraditórios

dessa relação. Há necessidade de um olhar de gênero que estabeleça políticas igualitárias,

aliviando as mulheres do eixo central das políticas sociais.

A análise apresentada no relatório sugere que um aumento no orçamento (em

termos reais) de cerca de 4,73% (R$ 1,25 bilhão) e 6,9% (R$ 1,82 bilhão) com relação ao

orçamento de R$ 26,4 bilhões de 2015. A distribuição do orçamento adicional do Bolsa Família

pode evitar que a taxa de pobreza extrema aumente muito.

Nesses tempos de incerteza, devemos ter a prioridade da certeza da necessidade

do atendimento aos mais pobres. Volta, portanto a indagação inicial: armadilha ou êxito do

PTR?

Por um lado, diminuição da pobreza cíclica e por outro lado, os processos de

iniqüidades do sistema que investem na cisão da sociedade dentre os poucos que tem muito

e os muitos que não nem um pouco.

5. REFERÊNCIAS

BANCO MUNDIAL. Salvaguardas contra a Reversão dos Ganhos Sociais durante a Crise

Econômica no Brasil Disponível.

http://documents.worldbank.org/curated/pt/469091487328690676/pdf/112896-WP-P157875-

PORTUGESE-PUBLIC-ABSTRACT-SENT-SafeguardingBrazilEnglish.pdf. Acesso in

28_04_2017.

BRASIL. Política Nacional da Assistência Social 2004. Disponível em

http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/PNAS2004.pd

f: www.social.rj.gov.br/familiar/pdf/pnas.pdf. Acesso em 08_06_2017.

_______. Sistema Único da Assistência Social - Norma Operacional Básica. 2005. Disponível

em: http// www.mds.gov.br. Acesso em: 15 jul. 2010.

________. MDS - Departamento de Avaliação Secretaria de Avaliação e Gestão da

Informação Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Brasília, março de.

2016

________. Implantação do NASF. Disponível

http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_nasf_modalidades.php. Acesso in 28_04_17

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Perfil dos municípios

brasileiros: 2015 / IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. - Rio de Janeiro:

IBGE, 2016. 61 p.

PNUD - Informe del Desarrollo Humano de las Personas.

http://www.br.undp.org/content/dam/brazil/docs/RelatoriosDesenvolvimento/undp-br-2016-

human-development-report-2017.pdf. Acceso in 28_04_17.