musicografias lockdown. para big band. - unb

Musicograf ias

Lockdown. Para big band.

Marcus MotaUniversidade de BrasíliaE-mail: [email protected]

Revista do Laboratório de Dramaturgia | LADI - UnBVol. 16, Ano 6 | Musicografias

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Resumo

Partitura da composição Lockdown, elaborada para a Orquestra Popular Candanga da UnB.

Palavras-chave: Lockdown, Pandemia, Fusion, Orquestração, Big Band.

Abstract

Score of Marcus Mota’s Lockdown, created to the Popular Candanga Orchestra of the University of Brasília, Brazil.

Keywords: Pandemia, Fusion, Orchestration, Big Band.


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E m março de 2021, após contato com o professor Vadim da Costa Arsky do Departamento de Música da Universidade de Brasília, decidi escrever uma música para a Orquestra Popular Candanga da UnB. Tais possibili-

dades para o compositor são um impulso – elaborar algo especificamente para um determinado grupo. E na mesma semana que a decisão foi tomada, eis que novamente as escoladas fecham em razão da pandemia, fazendo com que retornássemos a março de 2020. Tanto tempo perdido e o Brasil ainda preso nessa ciranda maluca de mortes e má gestão e outras coisas impublicáveis.

Então, estava novamente com as crianças em ensino remoto, ao meu lado, me-xendo seus dedinhos na tela que antes era apenas um lugar de brincadeiras...

Inicialmente, a provocação era para ser um funk. E assim comecei. Peguei umas bases a partir de What is Hip, do Tower of Power e reestudei outros funks,


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a partir de materiais como “The Great James Brown Rhythm Sections”, “Standing in the Shadows of Motown. The Life and Music of Legendary Bassist James Jamerson”, ambos de Dr. Licks e “R&B Bass Masters”, de Ed Friedlan.

A partir dessa playlist inicial foi gerada a parte inicial da música, que de-pois ficou com a seguinte estrutura:

SEÇÃO CARACTERÍSTICAS DURAÇÃO

Intro Inserção de diversos elementos que vão ser explorados mais adiante: base rítmica Hi-Hats (Chimbal), tema no baixo, arpejo de quartas empilhadas no piano, perguntas e respostas entre palhetas e metais, fragmento de solo na guitarra.

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Seção 1 Foco no acúmulo das perguntas e respostas entre palhetas e metais

29- 1:06

Seção 2 Dividida entre o tema do baixo duplicado pelo piano e expandido para os metais/palhetas e entrada do tema caribenho.

1:07-1:51

Seção 3 Tema caribenho na Guitarra, depois cadências finais, como se a música fosse acabar

1:52-2:27

Coda Mudança rítmica para o maracatu, com metais explorando frases rítmicas funk. Ao fim um grande acorde em quartas empilhadas, como um grito final.

2:29- 3:28

Esta estrutura é a posteriori: de fato, ela mostra uma preocupação minha em integrar redistribuição de motivos entre as vozes, aproximar erudito e popular, e não trabalhar com progressões harmônicas recorrentes – na verdade não tra-balhar com progressões harmônicas e sim com sonoridades. A ideia de fusion, de mistura, de me valer do espaço da tela/pauta como um espaço imaginativo, coreográfico, aproximando escrituras (som, desenho, literatura, teatro). Ao fim o “não musical”, o vivido em aproximação com o “musical”, o expressivo. Algo, enfim, roteirizável.

Em conversa via whats up com o colega Ricardo Dourado, do Departamento de Música, em 15/03/2021, os efeitos dessa estrutura foram assim traduzidos em diálogo:

Ricardo DouradoA peça ficou muito boa, com uma tensão ininterrupta e uma vontade de fa-zer alguma coisa, mas estamos presos e não podemos sair do lugar.

Marcus MotaIsso. Lockdown mesmo. Eu trabalhei a partir de Gm, expandindo com quar-


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tas , para dar a ideia de clausura , lockdown. Peguei um acorde e expandi. E na medida que o cara tá preso , prisão de repetições , ele sonha , sonho que traduz em uma viagem pro Caribe , que não dá certo. Mas que depois resta pra ele lutar. Dai o maracatu final. Foi isso. Eu explorei a estrutura do “What is hip” do Tower of Power. E entreteci sentimentos contraditórios. E dei ênfase no baixo. Pois sentimento e baixo pra são coisas convergentes

Ricardo DouradoExato, o sentimento e a vontade de gritar estão presentes, eminentes e aca-bam presos em um grito frustrado no acorde final.

Marcus MotaÉ isso mesmo!!! Escrevi com as crianças ao lado, lutando para elas ficarem na tela das aulas on-line . Esse grito final é minha catarse também !!! Rsss.

Agradeço a todos os colegas citados e aos músicos e artistas e audiências que entram em contato com os mundos gerados em tempos de pandemia. Isso tudo é um alento em meio a tantas desgraças.


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