musicalidade e dança, tamancas e moda de viola como ... · quanto à palavra fandango é assim...

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Musicalidade e Dança, Tamancas e Moda de Viola como Aspectos da Identidade de um Povo do Litoral Paranaense.

João da Silva Alves1

ResumoEste artigo se propõe a relatar aspectos da pesquisa sobre o folclore

brasileiro, dentro do eixo “cultura” especificamente no seu aspecto cultural, fundamentado na DCE (Diretriz Curricular do Estado do Paraná), construída durante o PDE/SEED 2010(Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da Educação do Paraná). Consiste na discussão teórica e nos resultados da implementação na escola. A temática surgia a partir da experiência em sala de aula e na participação como integrante da equipe de músicos do Grupo Fogança da UEM (Universidade Estadual de Maringá), sob a coordenação da professora. Sueli A. de Souza. Versará, portanto, sobre a necessidade de uma discussão a cerca da teoria que fundamenta o documento PDE/SEED e sua aplicabilidade e experimento em sala de aula sob a óptica e experiência como integrante da equipe de músicos do Grupo Fogança da UEM.O “Fandango Paranaense” de origem luso-espanhola, possivelmente tenha

sido levado à região da península ibérica por povos árabes. Seu estudo pode ser uma alternativa de intervenção pedagógica a qual preencheria uma lacuna existente no ensino de História do Paraná. Tal lacuna se configura no fato em que sempre privilegia os aspectos políticos e econômicos, excluindo os alunos e alunas da possibilidade de conhecer a cultura histórica do seu Estado. Preencher a lacuna existente no estudo de história do Paraná, pode contribuir na formação da identidade de alunos e alunas enquanto povo paranaense.Esta abordagem, motivadora, poderá despertar nos discentes a curiosidade

de conhecer, ou o interesse em estudar a história de sua própria origem. A escola, por sua vez, poderia provocar, em seus docentes e discentes, a necessidade do resgate cultural de seus ancestrais, primeiramente por intermédio da abertura de espaço pra apresentações de grupos de fandango paranaense como o “mestre Romão” de Paranaguá e Fogança, entre outros, bem como estimular a criação de novos grupos em seu meio.

Palavras chaves: Folclore, dança e cultura.

AbstractThis article proposes to describe aspects of research on Brazilian folklore,

in the axis "culture" (specifically in its cultural aspect), based on DCE (Curriculum Guidelines of the State of Paraná), built during the PDE / SEED 2010 (Program Educational Development of the Ministry of

1 Graduado em História pela UEM Especialista em História Social do Trabalho pela UEM. Professor da Rede Pública Estadual há 25 anos. Atualmente lotado no CEUP. O projeto PDE foi orientado pelo Profº. Dr. José Henrique Rollo Gonçalves do DHI-UEM.

Education of Paraná). It consists of theoretical discussion and the results of implementation in school. The issue arose from the experience in the classroom and participation as a team member of the group of musicians Fogança EMU (State University of Maringá), coordinated by the teacher. Sueli A. de Souza. Will focus therefore on the need for a discussion about the theory behind the document PDE / SEED and its applicability and experiment in the classroom from the perspective e experience as a team member of the group of musicians Fogança EMU.The "Fandango Paranaense" Luso-Spanish origin, possibly have been brought to the region of the Iberian Peninsula by Arab peoples. Their study can be an alternative educational intervention which would fill a gap in the teaching of History of Parana. This gap is in fact set in always gives priority to political and economic aspects, excluding pupils and students the opportunity to know the historical culture of their state. Fill the gap in the study of history of Paraná can contribute in shaping the identity of male and female students as a people of Paraná.This approach, motivating, can awaken in students a curiosity to know, or interest in studying the history of its origin. The school, in turn, could result in their faculty and students, the need to recover their ancestral culture, first through the opening of space for presentations of groups of Paraná fandango as the "Master Romao" Paranagua and Fogança, among others, as well as stimulate the creation of new groups in their midst.

Keywords: Folklore, dance and culture.

1. Introdução.

O interesse pela temática do folclore paranaense nasceu a partir

da experiência em sala de aula junto às turmas de 8ª série no CEUP

(Colégio Estadual Unidade Pólo) desde o ano 2000, e da participação como

integrante da equipe de músicos do Grupo Fogança da UEM. A sociedade

brasileira em diversas situações o apresenta uma visão de senso comum em

relação às raízes culturais, justificando por idéias pré-concebidas sem um

prévio conhecimento de aspectos da exclusão feita historicamente quanto

sua própria origem. Constatamos na realização de um diagnóstico realizado

com alunos e alunas que estas idéias são decorrentes do não conhecimento

do seu passado histórico, originado da falta de uma cultura de resgate da

memória coletiva.

Este desconhecimento também está ligado à contemporaneidade

das mídias globalizantes, ou seja, a cultura através das mídias globalizantes

ao mesmo tempo em que se torna universal, no sentido que está disponível

a todos também se fazem efêmera e superficial, desagregando ao invés de

unir, socializar e coletivizar. Em várias ocasiões ocorreram debates

intensos em sala de aula com os alunos e mesmo na sala dos professores

em que educadores de disciplinas afins concordavam com a necessidade do

resgate dessa temática.

Considerando estes aspectos entendemos que será necessária a

pesquisa dentro do eixo “cultura”, embasado na DCE (Diretriz Curricular

do Estado do Paraná), um aspecto expressivo do folclore brasileiro. O

“fandango paranaense” de origem espanhola e portuguesa, que por sua vez

fora levado à região da península Ibérica por comunidades ciganas e povos

árabes é uma possibilidade de estudo a qual preencheria uma lacuna

existente no ensino de História do Paraná. Visto que este ainda privilegia os

aspectos econômicos e políticos, excluindo os alunos e alunas da

possibilidade de conhecer a cultura histórica do seu Estado que poderia

contribuir na formação da identidade enquanto povo paranaense.

Quando iniciamos o ensino de História do Paraná sempre nos

deparamos com a falta de material, tanto por haver mais textos que tratam

aspectos políticos e econômicos, quanto ao fato de precisarmos de uma

abordagem mais motivadora, que desperta nos discentes a curiosidade ou

interesse em estudar sua própria origem. A escola poderá levar professores

(as) e alunos (as) a entender a necessidade do resgate cultural, abrindo

espaço para possíveis apresentações de grupos de fandangueiros já

existentes em localidades do litoral paranaense.

Nas DCE de História orientadas pelos estudos da Nova História

Cultural e Nova Esquerda Inglesa, as abordagens propostas permitem a

discussão da história à luz dos seguintes conceitos: “descrição densa,

dialogismo, representações, práticas culturais, descontinuidades culturais,

rupturas, hábitos, entre outros”. (PARANÁ, 2008, p. 51)

As danças sempre foram um importante componente cultural da

humanidade. O folclore brasileiro é rico em danças que representam as

tradições e culturas de uma determinada região. Estão ligadas a aspectos

religiosos, festas, lendas, fatos históricos, acontecimentos do cotidiano e

brincadeiras. As danças folclóricas brasileiras caracterizam-se pelas

músicas animadas com letras simples e populares, figurinos e cenários

representativos da realeza, aristocracia ou burguesia contemporânea ao

costume em estudo. Estas danças são realizadas, geralmente, em espaços

públicos: praças, ruas, escolas, entre outros por ocasião da comemoração

do referido costume, ou em datas comemorativas diversas. Considerando

estes aspectos, entendemos que a outra forma de viabilizar a pesquisa é a

formação de novos grupos de fandangueiros. Lançar mão da (Lei nº 8.313

de 23 de dezembro de 1991, também conhecida por Lei Rouanet que

institui benefícios a empresas para que invista em projetos culturais como a

música, teatro, cinema, entre outros. A categoria ou tipo de projeto

(Proteção do Folclore, Artesanato e Tradições Populares Nacionais) deverá

guardar estreita relação com os conteúdos da proposta curricular de

História, enfocando uma análise histórica contextualizada, bem como as

implicações deste discurso no cotidiano escolar objetivando a compreensão

da cultura.

Podemos justificar o tema com a citação de Alceu Maynard

Araújo (1975) “O folclore é a ciência que estuda a expressão do sentir, do

pensar, do agir, do reagir do ser social, do homem na sociedade em que

vive”. A citação privilegia acertadamente nosso objeto de pesquisa: o

fandango paranaense. Sabe-se que a cultura é algo complexo, ao mesmo

tempo em que é a essência que nos envolve que perpassa toda nossa vida, é

algo que gerou e gera tentativas diferenciadas de explicações e até mesmo

conflitos. É necessário lembrar que o homem, enquanto objeto de

conhecimento, é uma idéia recente, mas hoje faz parte do arcabouço teórico

de todas as ciências humanas.

Sendo assim, nesta perspectiva de estudo de tradições folclóricas

do Paraná, pretende-se formar o educando integralmente tanto

intelectualmente como sujeito social inserido em uma coletividade

histórica, pois o aluno, como diz Libâneo (1984) é um “ser concreto,

histórico, síntese de múltiplas determinações, produto de condições sociais

e culturais” e somente o conhecimento poderá contribuir de maneira

responsável para inserção do mesmo nesta sociedade historicamente

determinada, formando-o para o exercício da cidadania.

2. Conceituação das Palavras: Folclore e Fandango:

Criada pelo arqueólogo Willian John Thons, em Londres 1846,

para designar os registros dos cantos, das narrativas, dos costumes e usos

dos tempos antigos, escolheu duas velhas raízes saxônicas: “FOLK” que

significa povo, e “LORE” que significa saber formando assim “Folk-lore”

sabedoria do povo. No decorrer do tempo, as duas palavras foram grafadas

sem o hífem, formando uma só: folklore. No Brasil a reforma ortográfica

suprimiu a letra “K”, que foi substituída, no caso, pela letra “C” derivando

a forma folclore.

Quanto à palavra FANDANGO é assim definida, segundo

(ARAÚJO, 1964), “Acreditamos que o étimo da palavra fandango venha

do latim “fidicinare” que quer dizer “tocar lira”. E a lira era um

instrumento usado pelos latinos, povoadores da península.” Portanto,

podemos definir que é indispensável um instrumento de corda na execução

do fandango.

No decorrer do tempo, com a introdução de outros instrumentos,

o fandango foi se concretizando como uma dança em pares conhecida em

Espanha e Portugal desde o período Barroco, caracterizada por movimentos

vivos e agitados, com certo ar de exibicionismo, em ritmo ¾, muito

freqüentemente acompanhada de sapateado ou castanholas, seguindo um

ciclo de acordes característicos (lá menor, sol maior, fá maior e mi menor).

3. Historicização do Fandango no Brasil.

O que sempre se evidencia, seja na origem espanhola quanto

portuguesa, é de que o contato dos instrumentos e danças africanos com os

instrumentos e danças dos povos europeus na península Ibérica, de onde

originaram expressões como as malaguenhas. O estudioso e flamencólogo

David Hurtado, aponta que:

As primeiras mostras de fandangos que chegaram até nós datam de 1705 e foram incluídas em uma antologia de peças musicais para violão barroco chamado “Libro de diferentes cifras” que está, atualmente, guardado na Biblioteca Nacional Espanhola. Trata-se de um manuscrito de vital importância formado por 107 peças para violão dentre as quais estão estes primitivos fandangos. (http://flamencobrasil.com.br/2011/05/fandango-preponderancia-e-acuidade-na-historia-do-flamenco/)

Na península Ibérica o fandango teria estado já em moda antes da

invasão árabe no século VIII, mas teria chegado ao Brasil juntamente com

a colonização e sua influência espanhola no sul decorre do fato de que boa

parte ter sido colônia espanhola no século XVI. No século XIX o fandango

passou a fazer parte dos bailes da aristocracia, pois, tendo a família real

vindo para o Brasil fugida da invasão francesa, a nobreza trouxe também

suas festas para o Brasil.

Para, além disso, o fandango no litoral paranaense e sua

historicidade devem ser aproximados do fandango paulista, não somente

por ter sido o Estado do Paraná província de São Paulo, mas também, por

conta da reciprocidade e companheirismo que os grupos fandangueiros

possuíam entre si. Os paranaenses sempre estiveram ligados aos paulistas.

Como aponta Alceu Maynard Araújo, citando em sua obra o depoimento de

um fandangueiro paulista:

“Os romeiros paranaenses é que gostam imensamente de dançar o Chico. Quando eles vêm para os festejos do Bom Jesus de Iguape, no mês de agosto, essa é a dança que eles mais apreciam, e é por isso que hoje sempre iniciamos o Fandango com o Chico”. (ARAÚJO, 1964; p. 138).

Nesse sentido podemos compreender as três fases ou ciclos pelos

quais o fandango teria passado; um período áureo ou aristocrático; outro

período democrático ou de popularização; e um último de renascimento ou

restauração. O fandango saiu dos bailes da nobreza e democratizou-se, pois

como folclore é uma coisa viva, capaz de viajar no imaginário e na

sociabilidade popular. Passando, então, por um período de democratização

e popularização e, as considerações mais recentes apontam um

renascimento ou restauração. O fandango é traduzido em centros de

tradição da cultura sulista e representado em festivais do folclore ou

parafolclórico de danças. Entre esses festivais, talvez o maior e mais

tradicional, seja o que acontece todos os anos no mês de agosto na cidade

de Olímpia no Estado de São Paulo. Realizado há quase meio século o

Festival de Olímpia revigora a cultura nacional

Também não podemos deixar de citar aqui, fazendo justiça ao

trabalho da Diretoria de Cultura da Universidade Estadual de Maringá, o

desenvolvimento de um estudo realizado na prática da dança, o trabalho do

Grupo Fogança. Coordenado pela professora Sueli Alves de Souza. O

grupo Fogança como projeto beneficiado pelo Programa de Incentivo a

Arte, surgiu em 1989 e desde então participa de festivais em todo Brasil e

também já tendo representado o fandango e outras danças folclóricas na

Europa, em uma turnê no ano de 1997, no Festival Internacional dos

Montes Pirineus, na França e na Espanha.

Deve-se, além disso, apontar a existência do Museu do

Fandango, patrocinado pela Petrobrás, uma página da rede mundial de

internet onde são disponibilizados os locais, inclusive com mapa das

localidades onde se concentra grupos e materiais sobre o fandango como

livros, cd´s, teses e vídeos. Esse projeto da Petrobrás faz parte do incentivo

à cultura e visa fortalecer uma rede de pessoas e instituições ligadas ao

fandango criando um circuito de visitação nas cidades onde o fandango

nasceu. O Museu Vivo do Fandango tem como cenário principal, as

cidades de Paranaguá, Morretes e Guaraqueçaba (litoral norte do Paraná),

Cananéia e Iguape (litoral sul de São Paulo). Em 2005, no lançamento da

campanha da Companhia Brasileira de Petróleo em apoio e incentivo as

culturas do Fandango foram realizadas reuniões abertas à comunidade,

tendo sido registrado em fotos, gravações de áudio e vídeo com a

participação de 282 fandangueiros, ocasião em que houve a edição e

organização de um livro, de um CD duplo e do site do projeto. Além da

troca de experiências houve a formação de um grupo de quatorze jovem

das cidades participantes para o desenvolvimento e formulação de projetos

a serem geridos localmente. O Projeto Museu Vivo do Fandango também

fez, em maio do ano de 2006, oficinas para educadores da rede pública e

particular apontando as possibilidades de aproveitamento do circuito de

visitação e dos pontos de consulta para a realização de atividades

educativas sobre fandango e cultura caiçara, quando as oficinas contaram

com a participação dos fandangueiros locais.

O Poder Público Municipal de Paranaguá também tem

incentivado a formação e manutenção de grupos de fandango do litoral

paranaense. Exemplo disso é o grupo de fandangueiros liderado pelo

mestre Romão Costa. Formado em 1994, o grupo de mestre Romão possui

36 integrantes e também conta com a participação de alunos e alunas das

escolas da rede pública. Na época começou com a participação de 250

alunos (as) de oito escolas Municipais e Estaduais. Este grupo é

reconhecido em todo o Brasil e até fora do país com documentários em

Hanôver, na Alemanha e na Universidade da Califórnia, nos Estados

Unidos. Participam e se apresentam em fóruns educacionais e culturais,

como também a convite de Instituições de Ensino Superior nos Estados de:

São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Distrito Federal e

Piauí.

Na ilha do Cardoso, litoral paulista, o fandango subsiste graças

ao trabalho do grupo da família Neves. Podemos deixar aqui a referência de

uma entrevista gravada em vídeo pela TV Brasil contando a história e o

cotidiano do fandango na vida da família Neves. Esse documentário

gravado relata que até o início do século XIX o fandango fazia parte do

cotidiano das pessoas no litoral paulista, mas que pela influência européia

tal manifestação foi sendo esquecida. Ainda nessa entrevista aparece a

utilização e execução de um instrumento de cordas Sul-americano, da

família do alaúde, feito com o casco seco do tatu conhecido pelo nome de

charango, também de uma caixa de folia parecida com o adufe (tipo de

pandeiro, de origem árabe-portuguesa membranofone quadrangular, no seu

interior são colocadas sementes ou pequenas soalhas a fim de enriquecer a

sonoridade, os lados do caixilho medem aproximadamente 45 centímetros).

Aponta também elementos comuns ao fandango do Paraná como a

utilização das rabecas e das tamancas que somente os homens usavam.

Os dançadores levam os seus tamancos nas mãos. Podem estar

calçados com sapato, mas deixam o seu sapato de lado e calçam o

tamanco. (ARAÚJO, 1964; p. 149)

Os registros sobre o uso das tamancas na dança é bastante

interessante. Parte da idéia de que as tamancas eram utilizadas no mutirão

de “pisar arroz”, debulhando os cachos após a colheita, e que, de alguma

forma acabou fazendo parte da dança. Porém, aparentemente o fandango da

Ilha do Cardoso é bastante popularizado, passando a ser dançado de várias

formas, como um forró comum, um baile bastante freqüentado e animado.

Visto que há relatos em que artistas, músicos e estudantes visitam a ilha

para participarem dos bailes. As letras das músicas tratam da vida

cotidiana, do trabalho na agricultura ou da pesca. Um relato muito

interessante é gravado no final das entrevistas, expondo a importância de

não aceitar sempre os “modelos prontos” e de conhecer o que “o povo está

produzindo”. A conclusão mais concreta do fandango da família Neves foi

quando o músico Felipe Junqueira Gomide incentivou e produziu um cd

com o Fandango da Família Neves chamado “Povo do Ariri”.

4. Folclore: Fandango do Litoral Paranaense

Vários pesquisadores aventaram hipóteses sobre as origens do

fandango no Brasil, tarefa que parece bastante difícil. Algumas afirmativas

apontam a península ibérica como berço anterior à invasão árabe, quando

portugueses e espanhóis tiveram contato com a cultura moura na Europa

ocidental. Afirma (ARAÙJO, 1975) “Acreditamos que foram os

portugueses os introdutores dessa dança aqui no Brasil. Pelos nomes das

variações ainda correntes, nossas conhecidas, que fazem parte desse

conjunto de danças rurais, julgaram que a introdução lusa seja mais

defensável do que a espanhola”.

Sabemos também que no século XVIII, portugueses que

habitaram o litoral sul do Brasil tinham como costume o hábito de

preencher suas horas de lazer dançando fandango. Quando tratamos

especificamente do fandango do Paraná, temos que inserir o estudo de suas

características originais. Em sua chegada ao Brasil, trazido juntamente com

outros tantos elementos da tradição luso-espanhola, em 1750, casais de

colonos açorianos chegavam ao litoral brasileiro. Então, na composição do

fandango foi introduzida a viola, originada da lira (instrumento usado pelos

latinos, da península ibérica). O fandango estendeu-se pelo território

paulista e paranaense, pois o Estado do Paraná foi província de São Paulo,

emancipado em 1853. A dança do fandango está diretamente ligada ao

canto, e este por sua vez, aos instrumentos principalmente de cordas e

percussão. A rabeca vai aparecer entre fandangueiros da zona litorânea,

sendo ela parceira principal da viola; o adufe é um instrumento mais

recente, porque antes era utilizado somente nas folias.

No percurso entre a região sudeste e sul, o fandango foi

assumindo diferentes aspectos sendo introduzida a marcação musical da

batida das “tamancas”, e de instrumentos construídos artesanalmente como

a viola, a rabeca e o adufe. A rabeca é um instrumento musical semelhante

ao violino e o adufe é semelhante ao pandeiro.

Em localidades como Antonina, Morretes, Guaraqueçaba, ilha de

Valadares, ilha do Cardoso situados no litoral do Paraná, os instrumentos

do fandango são fabricados artesanalmente com madeira nativa da região.

Assim como quase tudo era fabricado com madeira na época

colonial, aqui também podemos observar tal elemento no cotidiano das

comunidades caiçaras, tanto o assoalho do salão de baile de fandango era

de madeira, quanto às tamancas eram feitas de madeira de cepo de

laranjeira, uma madeira que não racha. As violas por sua vez são feitas de

madeira da caxeta, árvore a qual expressa uma facilidade de se entalhar e

de cortar. A rabeca é também feita da caxeta, esculpida na madeira.

Apenas a tampa é colada, tendo o braço, e o arco de canela preta, ou

cedro. O bastão do arco é feito de crina de rabo de cavalo, ou, mesmo de

fios de linha. (Fundação Municipal de Cultura de Paranaguá).

O adufe ou adufo é feito em madeira da caxeta, mas sua parte de

couro que é esticada sob um arco; é obtido de pele de animais como a cotia,

o cachorro mangueiro (cachorro do mangue), suas platinelas muitas vezes

são reutilizações de tampinhas de garrafa amassadas.

A viola de cinco cordas duplas e uma meia corda, a que chamam

de turina, também feita com madeira da caxeta. São decoradas com

desenhos artísticos feitos pelos próprios músicos. Outros grupos de

fandangueiros do litoral utilizam também a viola de cocho, instrumento

típico do folclore mato-grossense fabricada artesanalmente e esculpida em

um pedaço único de madeira.

Outro importante elemento constituinte para se explicar o

fandango e que lhe insere a sociabilidade, está no momento em que o baile

ocorre. O fandango sempre está ligado ao trabalho cotidiano, em um

mutirão feito pelo povo, quando a comunidade mais humilde ou de menor

renda se reúne para construir uma moradia. “Segundo (LARA, 2008, p,

22)” O fandango paranaense trata-se de uma reunião de marcas – formas

gestuais de expressão por meio da dança – podendo ser batidas, valsadas

ou mistas. “Era dançado nos sítios por ocasião do pixirão, quando os

vizinhos se ajudavam nos trabalhos de roçada ou plantação”. Também

podemos citar que na Ilha do Cardoso no litoral paulista, o fandango se

originou porque os donos das terras ofereciam um baile aos trabalhadores

em comemoração ao final de uma boa colheita. O primeiro casal a dançar

era o dono da propriedade e sua esposa e, depois de um agradecimento

todos os outros casais passavam a dançar também.

Propriamente com relação à dança do fandango, que tem a

característica de dança folclórica, torna-se um equívoco precisar uma data

de origem, o que se encontra como referencia é que faz parte do

desenvolvimento da sociedade quando já a dança se distância do controle

das autoridades religiosas. A dança se expressa culturalmente em diversos

momentos da vida do ser humano e, mesmo em lugares distantes se verifica

tal elemento. Afirma FARO, 1986, p. 23. “É raro não se encontrarem

danças matrimoniais, de pastores, de competição entre os homens, de

agradecimento por uma boa colheita. A lista é bem extensa. Isso nos dá

uma idéia de que, em que pesem as distâncias e no passado, a falta de

comunicação entre as diversas regiões da terra, a dança está intimamente

ligada a certos pontos definidos da vida diária do ser humano”.

As variações que a dança do fandango foi assumindo durante

séculos são compostas por marcações, entre elas podemos descrever as

primeiras como marcas valsadas; Dondon, Vilão de fita ou de lenço, Cana-

verde, Chimarrita simples; Valsado, Bailado, Meia- canja, Caradura, Sapo

e Coqueiro. As segundas são marcas batidas e valsadas; Caranguejo,

Lajeana, Serrana, Sabiá, Porca, Tatu, Estrala, Tiraninha, Xará Grande,

Queromana, Marinheiro, Chico e Feliz. As terceiras são as marcas batidas:

Xarazinho, Recortado, Chimarrita (de 4, 6, 8), Tonta, Anu e Andorinha.

Entre as tantas marcações existentes no fandango, e não obstante cada qual

com sua importância escolheram aqui explicitar duas delas que são

originárias do Paraná. A primeira marca que abre a festa do fandango baile

é o “anu”, sendo também uma marca caracterizada pelo sapateado

masculino, em que a dama segue ao lado do cavalheiro realizando um

desenho imaginário de um número “oito” no salão do baile. A dança é

realizada aos pares alternando-se damas e cavalheiros. A “andorinha”

também é realizada desenhando o número “oito” imaginário, mas segue-se

uma roda em sentido anti-horário e com a realização de passos onde a dama

posiciona-se de costas para o cavalheiro à sua frente; com uma das mãos a

dama segura a sua saia e com a outra mão a direita levantada ela estende o

dedo à mão do cavalheiro, dando meia volta em torno dele.

Para conhecer o fandango paranaense também é importante saber

sobre a culinária típica que acompanha as festas das comunidades do

litoral. O barreado, prato típico muito apreciado pelas comunidades

litorâneas e bastante difundido em Antonina, Morretes, Guaraqueçaba e

Paranaguá. Seus ingredientes são basicamente: paleta bovina, toucinho

(bacon), cebola, alho, folha de louro, cominho, sal e pimenta do reino.

Para o preparo, a carne com o toucinho é colocada numa panela

de barro, juntamente com os condimentos (temperos). Lacrada, a panela é

enterrada, sendo a carne cozida por, aproximadamente, doze horas, até

desmanchar. Para acompanhar e ajudar na digestão, normalmente se bebia

o quentão, bebida composta basicamente de cachaça ou vinho, gengibre,

cravo e água. Deve ser servido bem quente, onde surge daí a nomenclatura

“quentão”. A seguir dispomos o link do vídeo que faz parte do acervo da

TV Brasil disponível no Youtube: http://www.youtube.com.br/watch?

v=1DeEv8SZZO0 (Janeiro de 2010).

5. Cultura: incentivo à formação de novos grupos.

Segundo a Constituição Federal de 1988, também conhecida

como “Constituição Cidadã” porque passou a garantir os direitos coletivos,

sociais e políticos, assegura aos cidadãos brasileiros o direito à memória e

ao exercício da cidadania em nosso país. Sendo ela a carta magna, também

dispõe sobre a importância da preservação desse bem patrimonial cultural

que é o folclore nacional.

Art. 215 - O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos

direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e

incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.

§ 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas

populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes

do processo civilizatório nacional.

§ 2º - A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de

alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.

§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração

plurianual, visando o desenvolvimento cultural do País e à integração das

ações do poder público que conduzem à:

I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;

II - produção, promoção e difusão de bens culturais;

III - formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em

suas múltiplas dimensões;

IV - democratização do acesso aos bens de cultura;

V - valorização da diversidade étnica e regional.

Art. 216 - Constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de

natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,

portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes

grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão;

II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços

destinados às manifestações artístico-culturais;

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,

artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade,

promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de

inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras

formas de acautelamento e preservação.

§ 2º - Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão

da documentação governamental e as providências para franquear sua

consulta os quantos dela necessitem.

§ 3º - A lei estabelecerá incentivos para a produção e o

conhecimento de bens e valores culturais.

§ 4º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos,

na forma da lei.

§ 5º - Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores

de reminiscências históricas dos antigos quilombos.

§ 6º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a

fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua

receita tributária líquida, para o financiamento de programas e projetos

culturais, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de:

I - despesas com pessoal e encargos sociais;

II - serviço da dívida;

III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente

aos investimentos ou ações apoiados.

Tendo conhecimento do estabelecido em lei, cabe aos educadores

e a escola, a iniciativa em incentivar e orientar os educando na execução de

novos projetos que fomente o resgate cultural, em especial o fandango de

tamancas mais conhecido no litoral paranaense, mas que faz parte do

patrimônio cultural nacional.

O Ministério da Cultura, preocupado com a produção cultural, o

financiamento e a execução de projetos mais ousados voltados à

preservação do patrimônio cultural, defende a aprovação de uma nova Lei

Rouanet, essa mais abrangente e dinâmica. O objetivo é obter mais recursos

e distribuí-los em todas as áreas e segmentos, em todas as regiões onde se

manifestem uma enorme riqueza de expressões e uma justa demanda de

acesso à cultura.

Trata-se de ampliar a universalização do acesso, defesa da

diversidade e fomento à criatividade cultural. A nova Lei incrementa o

orçamento, cria um novo fundo à altura da demanda e da qualidade da

cultura nacional, pois, os produtores e artistas não podem depender

exclusivamente de patrocinadores, nem do critério de retorno de imagem

que lhes são impostas.

Cumpre, também, outra necessidade emergente que é a

desburocratização dos procedimentos, pois estabelece uma gestão feita em

parceria com a sociedade e o setor cultural, garantindo aos novos

produtores e artistas a possibilidade de usufruir desses recursos sem a

interferência de intermediários que dificultem sua execução.

Assim, como afirma PELEGRINI, 2009, p. 37, “Desse modo, a

educação patrimonial necessita equacionar as questões da diversidade

cultural dos povos e assinalar as mudanças culturais referentes às

distintas identidades, aos conflitos e à solidariedade entre os seguimentos

sociais – apreendidos como produtores culturais permanentes e agentes

histórico-sociais. Por conseguinte, o empenho sistemático e duradouro da

educação patrimonial torna-se eficiente se for capaz de promover a

formação e a informação acerca do processo de construção de identidades

plurais e de propiciar o desenvolvimento de reflexões em torno do

significado coletivo da história e das políticas de preservação”.

É nesse sentido que se insere a discussão sobre o direito ao

acesso à cultura como parte do que se constitui a verdadeira cidadania,

aquela que forma o ser humano, não somente nas suas habilidades

escolares e saberes científicos, como também parte integrante do

patrimônio cultural historicamente acumulado pela humanidade, que no

tocante a este trabalho se revela na identidade nacional e paranaense dos

integrantes do ensino fundamental. Deve-se, aqui, compreender o ser

humano como um ser concreto, como resultado de múltiplas definições

sociais e culturais, quando somente o conhecimento desta sua

complexidade poderá contribuir de maneira responsável para sua atuação

no mundo em que vivemos e no exercício de sua cidadania.

Entretanto, o conhecimento concreto precisa ser reelaborado e

carece de obter sempre novas construções, amparadas na busca pessoal e

permanente de saberes não somente das áreas específicas ou formais das

grades curriculares, mas deve Conhecer a arte, o saber do povo, ou o

folclore é, em um sentido mais amplo, a manifestação dos sentimentos da

coletividade, de um pensar ou de um agir social dos homens e mulheres na

sua vida cotidiana, mas revelando seu aparato ou de seu imaginário popular

coletivo.

Singularidades entre esses pontos citados da Constituição Federal

e do trabalho da professora Sandra C. A. Pelegrini vão ao encontro às

colocações referidas do estudo feito sobre a dança do fandango, em

consonância principalmente no que tange a solidariedade e sociabilidade.

Tais conceitos são mormente relatados na obra de Alceu Maynard Araújo,

o qual faz um relato detalhado das formas como se realizavam as festas de

fandango.

“Na dança entram moças, moços, algumas meninotas, velhos e

velhas. Alguns pretos e algumas pretas. Branco dança com preta e preto

dança com branca. Todos estão vestidos com roupa comum.” (ARAÙJO,

1964; p. 149)

Percebe-se que a linguagem utilizada é bastante característica da

época, o autor utiliza a expressão “pretos e pretas”, o que pode parecer

estranho e até preconceituoso para nós hoje em dia, mas usual para um

tempo que o Brasil estava vivendo naquele momento e, as leis acerca da

nomenclatura relativa à etnicidade no Brasil, somente foi normatizada pela

lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que passa a considerar crime qualquer

preconceito, seja de raça ou de cor.

Porém, ao ultrapassarmos o debate acerca das palavras, poderá

perceber uma grande sociabilidade, onde não se fazia separação de pessoas

ou grupos quando se tratava das festas da dança de fandango. As pessoas se

integravam a partir da dança, seja através de uma comemoração festiva ou

de cooperação por ocasião da construção de uma moradia, de uma colheita,

na fabricação de uma canoa para pesca, entre outras.

6. Intervenção pedagógica na Escola:

Inicialmente buscamos o contato com a equipe pedagógica da

escola para a apresentação do material didático produzido (OAC – Objeto

de Aprendizagem Colaborativo), que planejamos desenvolver sua aplicação

junto à turma do 9º ano B, vespertino. De imediato o trabalho foi bem

aceito em virtude da necessidade da produção de material de pesquisa em

História do Paraná. Partiu da própria coordenação pedagógica a

possibilidade de que esse material fosse apresentado aos demais

professores e funcionários da escola na abertura dos trabalhos de início de

ano letivo, na semana pedagógica. Aceitamos o desafio, mas com a

perspectiva de aplicarmos de forma mais abrangente e com mais

profissionais especialistas de área do conhecimento, como em história na

pesquisa teórica.

Começamos a apresentação mostrando que as vivências

expressas na inserção nas pesquisas elaboradas através dos estudos no PDE

representaram um aprofundamento na temática das danças populares,

principalmente e mais intensamente do Fandango Paranaense. As danças

populares são em si mesmas um acervo cultural a ser investigado e

reescrito por novas gerações, contribuindo para manutenção das

expressões, que pela arte popular se tornam sensivelmente e historicamente

humanas.

Considerando que as orientações da SEED com base nas

Diretrizes Curriculares devam contemplar três eixos: Relações de Trabalho,

Relações de Poder e Relações Culturais; e que no caderno pedagógico de

História as relações culturais não estão devidamente consideradas. Ao

elencarmos os conteúdos de História deparamos com o exposto no caderno

pedagógico. Várias manifestações culturais das comunidades paranaenses

não são abordadas, como algumas festas populares das colheitas, festas

juninas que celebram a cultura do milho e do café, as modas de viola

acompanhadas por danças e comidas típicas de cada região do Paraná.

Diante dessa problemática elencamos os objetivos a serem

alcançados durante a fase de aplicação. Primeiramente, a importância do

folclore brasileiro, sua diversidade regional como manifestação legítima da

herança trazida pelos imigrantes e mantida historicamente através das

comunidades na tradição dos grupos folclóricos.

Para tal, seria necessário estudar a Diretriz Curricular da

Educação Básica de História e o Caderno Pedagógico de História do

Paraná, no sentido de analisar suas orientações nos aspectos que tratam a

cultura no ensino de História. A partir de então, justificar a importância da

aplicação do estudo de uma dança “o fandango de tamancas” do litoral

paranaense como parte da identidade de um povo, discutindo suas

características históricas e que se diferencia da cultura de massa que é

efêmera, passageira.

Produzir material de apoio aos professores do ensino

fundamental e médio oferecendo uma abordagem mais motivadora, que

desperte nos discentes a curiosidade ou interesse em estudar sua própria

origem. E, finalmente, possibilitar o corpo docente e discente da escola a

entenderem a necessidade do resgate cultural, abrindo espaço para

possíveis apresentações de grupos de fandango paranaenses já existentes,

como o Grupo Fogança da UEM, o Grupo dos Fandangueiros do Mestre

Romão de Paranaguá, entre outros.

7. Aplicação do OAC na Escola

A turma escolhida para a aplicação do material didático

produzido foi o 9º ano B das séries finais do ensino fundamental, composta

por cerca de 30 alunos (as) que freqüentam a aula no turno vespertino do

Colégio Estadual Unidade Pólo - Ensino Fundamental, Médio e

Profissional em que leciono há 13 anos.

A escola está localizada em um dos maiores bairros de periferia

da cidade de Maringá, o Jardim Alvorada com uma população aproximada

de 100.000 habitantes, onde moram famílias de renda variada oscilando

entre média e baixa renda.

O primeiro contato com a turma foi aproveitado para apresentar o

material produzido, estabelecer o cronograma das aulas e explicar o porquê

dessa intervenção diferenciada com eles e não com outras turmas da escola.

Também foi discutida a metodologia de aplicação e formas de avaliação do

conteúdo desenvolvido.

No segundo encontro foi feita uma exposição do tema

MUSICALIDADE E DANÇA, TAMANCAS E MODA DE VIOLA

COMO ASPECTO DA IDENTIDADE DE UM POVO DO LITORAL

PARANAENSE, através da TV pendrive, foi feita a apresentação e no final

feita abertura para debates.

No terceiro encontro foram retomadas as atividades e trabalhada

a importância da preservação do patrimônio cultural para a humanidade.

Foram colocadas no quadro-negro, duas questões para serem pensadas e

debatidas com objetivo final de produção de um texto por equipes de cinco

alunos (as) cada.

As questões foram:

• Qual a importância da cultura?

• Qual a importância do folclore?

Tal atividade teve a permissão de ser terminada como tarefa de

casa com o compromisso de entregar no próximo encontro, pois tinha

caráter de avaliação.

No quarto encontro foram recolhidos os textos produzidos e os

alunos (as) foram convidados à assistir a um vídeo da família Neves da Ilha

do Cardoso do litoral paulista. O objetivo foi recolher elementos para

facilitar a leitura de algumas obras importantes que abordam o tema no

decorrer do curso.

No quinto encontro os alunos (as) foram convidados a ocupar o

laboratório de informática da escola, a fim de acessar alguns sítios de

museus do folclore com a finalidade de pesquisa. Agrupados acessaram

dois sítios importantes de pesquisas folclóricas:

HTTP://museudoagreste.blogspot.com e

www.museuvivodofandango.com.br. Deles recolheram informações

importantes para montarem o trabalho de pesquisa final.

No sexto encontro, após a exposição e debate sobre o fandango

de tamancas do litoral paranaense, foram disponibilizados dois livros para

leitura e fichamento.

As obras são:

Arantes, A. A. O que é Cultura Popular. São Paulo, Ed.

Brasiliense, 1989.

Azevedo, Fernando Corrêa de. Fandango do Paraná. Curitiba,

publicado em Cadernos de Artes e Tradições Populares, órgão suplementar

da UFPR, 1978.

No sétimo e último encontro, fizemos as considerações finais,

debatemos a importância e o acúmulo dos conhecimentos obtidos e

procedemos à devolução das avaliações. O critério usado foi o conceito A,

B e C.

(A) para Ótimo.

(B) para Bom.

(C) para Regular.

Dos alunos (as) avaliados (as), 62% tiveram conceito (B), 20%

tiveram conceito (A) e 18% tiveram o conceito (C).

Alunos e alunas do 9º ano B pesquisaram e relataram as

apreensões elaboradas a partir de pesquisas. A seguir apresentamos alguns

fragmentos:

•Apontam o fandango como dança típica da região litorânea

paranaense. Que é um conjunto de danças chamadas marcas, e que são

bailadas ou dançadas. Apontam a utilização das tamancas de madeira.

Que existem muitas “marcas” de fandangos, e descrevem todos os

nomes que citamos no texto deste trabalho. Que as letras dos estribilhos

são fixas, mas que os versos são de improviso, dependendo da

capacidade e habilidade do cantor. Que era um costume antigo dançar o

fandango nos quatro dias de folia do carnaval. Que junto com o

fandango a comida típica era o barreado (comida característica do litoral

paranaense a base de carne bovina, toucinho e cozida em panela de

barro). Apontam o problema de que as novas gerações não conhecem o

fandango.

• Que o fandango “subiu a serra e chegou à capital, onde foi

estilizado ganhando assim uma nova roupagem na música. Que nossa

dança sendo interpretado pela banda “Sol da Terra” foi “distribuída no

Brasil inteiro pela universalidade de sua música. Que o nome de

“entrudo” era o nome dos folguedos carnavalescos de antigamente. Que

a autoria das músicas de fandango nas festas do entrudo era dos próprios

caboclos e pescadores. Que o fandango que chegou ao nosso litoral veio

juntamente com colonos açorianos por volta de 1750. Que os

instrumentos usados nas músicas de fandango são um tipo de viola com

cinco pares de cordas mais meia corda chamada de “turina”, uma

“rabeca” (espécie de violino rústico) com três ou quatro cordas, e o

“adufo” (pandeiro), são os próprios “tocadores” que fabricam seus

instrumentos. Que para fabricação das violas e das rabecas é usada

madeira mole, leve e fácil de trabalhar e que proporciona uma boa

sonoridade. Que nos dias de hoje o fandango já não é tão popular entre

as comunidades do litoral, devido à massificação, a alienação em que

são submetidos os jovens pela influência da televisão, das músicas de

rádio que poluem a cultura das novas gerações. Que não se podem

medir esforços para preservarmos essa cultura autêntica e pura, vivida

pelos homens simples e de bom coração, e que fazem de seus costumes

a verdadeira arte popular do litoral do Paraná.

(www.violaecantoria.com.br).

• De que o fandango é expressão de um modo de vida

característica do litoral paranaense, é a cultura popular caiçara e sua

prática é vinculada a organização dos trabalhos coletivos – mutirões na

roçada, nas colheitas, nas benfeitorias onde era oferecido como parte do

pagamento aos ajudantes e se encontrava ali comida farta. Era também a

principal diversão e socialização das comunidades, estava presente em

festas religiosas, batizados, casamentos e no carnaval.

• Existem regiões onde o fandango é dançado em homenagem

a São Benedito. De que existem apontamentos onde o fandango tenha

origem árabe, e que é apresentado como sendo um “baile ruidoso”.

8. Participação em Eventos

Em junho de 2012, por solicitação do NRE Maringá houve a

oportunidade de apresentarmos nosso estudo em forma de oficina,

discutindo com professores e professoras da Rede Estadual no evento

denominado “PARANÁ EM AÇÃO”, promovido pela SEED (Secretaria de

Estado da Educação). Em suas apreensões nossos colegas registraram as

seguintes considerações:

• Que se pode trabalhar a temática aqui apresentada em sala

de aula abordando conceitos como; estética e cultura regional. É

possível também ensaiar a dança do fandango para ser apresentada para

os demais alunos e alunas da escola.

• Estudar com o educando a tradição cultural contribui para

resgatar a tradição cultural para resgatar antigos costumes folclóricos já

tão suprimidos pela modernidade e pelo desenvolvimento.

• Procurar através das DCE’s introduzir o estudo da música

do fandango, valorizando a cultura e a tradição paranaense. Tal

aprendizagem contribuirá para cultivar valores de cidadania em nossos

alunos e alunas.

• Que valorizando a cultura popular, a cultura de raiz

paranaense estaremos contribuindo para conscientizar os alunos e alunas

a combater o imediatismo e futilidade da cultura massificada.

• De que se pode juntamente com outras áreas do

conhecimento, como arte e geografia, desenvolver projetos estudando e

depois apresentando peças teatrais nas mostras culturais das escolas.

Considerações Finais

O estudo sobre o resgate cultural de um elemento do Folclore

Nacional que é o fandango de tamancas do litoral paranaense contribuiu

para uma compreensão mais ampla sobre a importância da busca da

identidade dessas comunidades. Houve bastante interesse pela temática por

parte dos professores, que avaliaram o projeto de maneira muito positiva,

ressaltando sua contribuição para o processo formativo de nossos

educando.

Na aplicação do estudo junto aos professores e alunos, o

conhecimento proporcionado pela pesquisa, colaborou para uma percepção

mais aguçada sobre a influência da indústria cultural nos modelos vigentes

estabelecidos pela massificação da mídia.

O projeto nasceu a partir da necessidade de construir um novo

significado da História para os alunos, procurando fazer com que fosse

capaz estreitar a relação entre o passado e o seu presente cotidiano. As

transformações ou mudanças na História dos homens não ocorrem do dia

para a noite. Temos em muitos aspectos séculos de permanências e as

rupturas não ocorrem sem longos períodos de transição.

Trabalhar com um tema tão abrangente como o folclore, com a

intenção de buscar conhecer as tradições, a música, a dança, os costumes de

um povo do litoral paranaense, parecia um desafio extremamente

exaustivo, mas, a partir do momento que iniciamos na prática a pesquisa,

percebemos que seria também agradável, pois me fez lembrar-se dos anos

em que participei do Grupo Fogança da UEM - um aprendizado

inestimável.

Para um trabalho pedagógico na disciplina de História, mais

especificamente História do Paraná, sobre o conhecimento acumulado no

decorrer do tempo e que precisa ser preservado, é importante levar em

consideração os mecanismos ideológicos impostos socialmente que

determinam o comportamento dessa geração de jovens e adultos muitas

vezes levados a algum tipo de alienação.

O patrimônio cultural tem suas raízes na formação da população,

de seus conceitos sociais e religiosos, de suas tradições e influências, de

suas permanências e mudanças, e que o Estado organizado tem leis que

regularizam a preservação desse patrimônio.

Os resultados obtidos com os alunos foram animadores e

facilmente se pode perceber o interesse pela história e cultura locais, bem

mais próximas de suas vivências.

O tema pode ser aproveitado em todas as séries do Ensino

Fundamental e Médio, já que cada faixa etária poderá contribuir e

desenvolver as pesquisas à sua maneira, de acordo com o seu conhecimento

e capacidade, ampliando e aprofundando as descobertas, dando sempre um

novo valor e enfoque a este estudo.

Referências Bibliográficas:

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Marchi, Lia. SAENGER, Juliana. CORRÊA, Roberto. Tocadores, Homem, Terra Música e Cordas. Curitiba: Editor Adalberto Camargo / Studio Adalba, 2002.

NETO, Manoel José de Souza. (org.) A (dês) Construção da Música na Cultura Paranaense. Editora Aos Quatro Ventos, 2004.

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ARAÚJO, Alceu Maynard. FOLCLORE NACIONAL – Danças Recreação Música. Edições Melhoramentos, 1964.

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. Pequena História da Dança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1986.

LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1984.

GIFFONI, Maria Amália Corrêa. Danças Folclóricas Brasileiras. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1973.

LARA, Larissa Michelle. Danças da Cultura Popular Brasileira: Dimensões Pedagógicas. Coleção Fundamentum nº 38. Maringá: Editora da UEM, 2008.

Documentos Oficiais:

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. (Art. 215 e 216).

Lei Federal de Incentivo à Cultura. Lei Rouanet (Lei nº 8.313 de 23/12/1991).

Sítios e Vídeos:

www.violaecantoria.com.br

www.museuvivodofandango.com.br

HTTP://museudoagreste.blogspot.com

HTTP://www.youtube.com.br/watch?v=1DeEv8SZZO0

HTTP://flamencobrasil.com.br/2011/05/fandango-

preponderancia-e-acuidade-na-historia-do-flamenco