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MURCHA CAUSADA POR Fusarium oxysporum, UMA NOVA DOENÇA DA PIMENTA-DO-REINO NO ESTADO DO PARÁ MARIA L. R. DUARTE 1 , FERNANDO C. ALBUQUERQUE 1 , MASAHIRO HAMADA 1 * & ANA P. COSTA 2 " " /I " IEmbrapa Amazônia Oriental, Tv. Dr. Eneas Pinheiro, s/na, Caixa Postal 48, CEP 66095-100, Bclérn, PA, fax (091) 276-9845, e-mail: [email protected];2FaculdadedeCiênciasAgráriasdoPará.Tv. Tancredo Neves, s/na, CEP 66077-530, Belém, PA (Aceito para publicação em 12/03/99) Autor para correspondência: Maria de Lourdes Reis Duartc DUARTE, M.L.R., ALBUQUERQUE, F.C., HAMADA, M. & COSTA, A.P. Murcha causada por Fusarium oXySpOrtllll, uma nova da pimenta-da-reino no Estado do Pará. Fitopatologia Brasileira 24: 178-181. 1999. RESUMO Uma nova doença vem sendo observada, desde 1992, afetando plantas de pimenta-do-reino (Piper nigrum L.) nos municípios de Tomé-Açu, Santa Izabel e Capitão Poço, no Estado do Pará. Nas hastes das plantas doentes surgem lesões necróticas triangulares, ao redor da linha do nó, que pro- gridem no sentido ascendente, concentrando-se unilateral- mente, dc modo que os entrenós apresentam-se metade verde, metade necrosado. Ocorre ainda, internamente, o es- curecimento dos vasos e posteriormente, queda de folhas e de entrenós e no estádio avançado da doença as plantas murcham e morrem rapidamente. O patógeno foi identifi- cado como Fusarium oxysporum Schlecht.: Fr.. Mudas sadias das cultivares Bragantina, Cingapura e Guajarina inoculadas por imersão em suspensão de esporos do pató- geno (3,7 x 10 5 conídios ml') mostraram sintomas típicos da doença quatro semanas após a inoculação. A cultivar Guaja- rina comportou-se como altamente susceptível ao patógeno quando comparada às Bragantina e Cingapura. Trata-se da primeira ocorrência de Fusarium oxysporuni infectando plantas de pimenta-do-reino no Brasil. Palavras-chave: Piper nigrum, doenças fúngicas, des- crição de doenças, reação de cultivares. ABSTRACT Black pepper wilt-caused by Fusarium oxysporum in lhe state of Para Since 1992, black pepper plants planted in the field for identified as Fusarium ox)'sporLlm Schlecht.: Fr., a new more than four years have been affected by a new disease, in pathogenic form infecting black pepper. Plants of 'Bragan- the municipalities of Tomé-Açu, Santa Izabel and more re- tina', 'Cingapura' and 'Guajarina', the more popular culti- cently, Capitão Poço, in the state of Pará, Brazil. Infected vars, inoculated by immersion in a spore suspension of F. plants have shown yellowing, shedding of leaves and inter- oxysporum (3.7 x 105 cells ml"), showed typical symptoms nades, showing triangular and nccrotic lesions around the nodes of the main branch which have resulted in unilateral after four weeks. 'Guajarina' behaved as highly susceptible necrosis of internodes, turning them half green, half necrotic. in comparison to 'Bragantina' and 'Cingapura'. This is the Internally, vessels show discoloration which extends from first report of Fusarium oxysporum infecting black pepper the roots to the main vein of leaves. The pathogen was plants in Brazil. A pimenta-do-reino (Piper nigrum L.) constitui uma opção agrícola rentável para os produtores da Amazônia. Explorada, atualmente, em cultivos consorciados principal- mente com maracujazeiro, cupuaçuzeiro ou essências flores- tais, como o mogno, ocupa o segundo lugar na pauta das exportações de produtos agrícolas, do Estado do Pará. Nas condições de cultivo a pleno sol, a planta é afetada por várias doenças causadas por fungos, vírus, alga e nema- tóides, as quais, embora causem danos à cultura, são conside- radas de importância secundária quando comparadas à po- dridão das raízes c secamento dos ramos causado por Nectria liaematococca Berk & Br. f. sp. piperis Albuq., a mais des- trutiva doença dessa cultura no Brasil (Duarte & Albuquer- que, 1997). • Estagiária da Ernbrapa Amazônia Oriental 178 A partir de 1992, vêm sendo observadas plantas com sintomas de murcha seguida de morte rápida, em expcrirnen- tos instalados no campo experimental da Embrapa Amazônia Oriental, em Tomé-Açu, onde estava sendo testada apenas a eultivar Guajarina (Duarte et al., 1997). Posteriormente, a doença foi também observada no município de Santa Izabel do Pará e em Capitão Poço afetando a mesma cultivar. O exame das plantas doentes mostrou que, embora exibissem sintomas de murcha, estes eram distintos daqueles incitados por N. haematococca f. sp. piperis. No presente trabalho são apresentados os resultados referentes à caracterização dos sintomas, identificação d agente causal, testes de patogenieidade e a resposta de tré, cultivares ele pimenta-da-reino ao patógeno. Foram feitas visitas em diferentes quadras cxpcrimcn- tais no campo experimental da Embrapa Amazônia Oriental, Fitopatol. bras. 24(2), junho 1999 J

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MURCHA CAUSADA POR Fusarium oxysporum, UMA NOVA DOENÇA DAPIMENTA-DO-REINO NO ESTADO DO PARÁ

MARIA L. R. DUARTE1, FERNANDO C. ALBUQUERQUE1, MASAHIRO HAMADA1* & ANA P. COSTA2" " /I "

IEmbrapa Amazônia Oriental, Tv. Dr. Eneas Pinheiro, s/na, Caixa Postal 48, CEP 66095-100, Bclérn, PA, fax (091)276-9845, e-mail: [email protected];2FaculdadedeCiênciasAgráriasdoPará.Tv. Tancredo Neves, s/na,

CEP 66077-530, Belém, PA

(Aceito para publicação em 12/03/99)Autor para correspondência: Maria de Lourdes Reis Duartc

DUARTE, M.L.R., ALBUQUERQUE, F.C., HAMADA, M. & COSTA, A.P. Murcha causada por Fusarium oXySpOrtllll, uma novada pimenta-da-reino no Estado do Pará. Fitopatologia Brasileira 24: 178-181. 1999.

RESUMO

Uma nova doença vem sendo observada, desde 1992,afetando plantas de pimenta-do-reino (Piper nigrum L.) nosmunicípios de Tomé-Açu, Santa Izabel e Capitão Poço, noEstado do Pará. Nas hastes das plantas doentes surgem lesõesnecróticas triangulares, ao redor da linha do nó, que pro-gridem no sentido ascendente, concentrando-se unilateral-mente, dc modo que os entrenós apresentam-se metadeverde, metade necrosado. Ocorre ainda, internamente, o es-curecimento dos vasos e posteriormente, queda de folhas ede entrenós e no estádio avançado da doença as plantasmurcham e morrem rapidamente. O patógeno foi identifi-

cado como Fusarium oxysporum Schlecht.: Fr.. Mudassadias das cultivares Bragantina, Cingapura e Guajarinainoculadas por imersão em suspensão de esporos do pató-geno (3,7 x 105 conídios ml') mostraram sintomas típicos dadoença quatro semanas após a inoculação. A cultivar Guaja-rina comportou-se como altamente susceptível ao patógenoquando comparada às Bragantina e Cingapura. Trata-se daprimeira ocorrência de Fusarium oxysporuni infectandoplantas de pimenta-do-reino no Brasil.

Palavras-chave: Piper nigrum, doenças fúngicas, des-crição de doenças, reação de cultivares.

ABSTRACT

Black pepper wilt-caused by Fusarium oxysporum in lhe state of ParaSince 1992, black pepper plants planted in the field for identified as Fusarium ox)'sporLlm Schlecht.: Fr., a new

more than four years have been affected by a new disease, in pathogenic form infecting black pepper. Plants of 'Bragan-the municipalities of Tomé-Açu, Santa Izabel and more re- tina', 'Cingapura' and 'Guajarina', the more popular culti-cently, Capitão Poço, in the state of Pará, Brazil. Infected vars, inoculated by immersion in a spore suspension of F.plants have shown yellowing, shedding of leaves and inter- oxysporum (3.7 x 105 cells ml"), showed typical symptomsnades, showing triangular and nccrotic lesions around thenodes of the main branch which have resulted in unilateral after four weeks. 'Guajarina' behaved as highly susceptiblenecrosis of internodes, turning them half green, half necrotic. in comparison to 'Bragantina' and 'Cingapura'. This is theInternally, vessels show discoloration which extends from first report of Fusarium oxysporum infecting black pepperthe roots to the main vein of leaves. The pathogen was plants in Brazil.

A pimenta-do-reino (Piper nigrum L.) constitui umaopção agrícola rentável para os produtores da Amazônia.Explorada, atualmente, em cultivos consorciados principal-mente com maracujazeiro, cupuaçuzeiro ou essências flores-tais, como o mogno, ocupa o segundo lugar na pauta dasexportações de produtos agrícolas, do Estado do Pará.

Nas condições de cultivo a pleno sol, a planta é afetadapor várias doenças causadas por fungos, vírus, alga e nema-tóides, as quais, embora causem danos à cultura, são conside-radas de importância secundária quando comparadas à po-dridão das raízes c secamento dos ramos causado por Nectrialiaematococca Berk & Br. f. sp. piperis Albuq., a mais des-trutiva doença dessa cultura no Brasil (Duarte & Albuquer-que, 1997).

• Estagiária da Ernbrapa Amazônia Oriental

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A partir de 1992, vêm sendo observadas plantas comsintomas de murcha seguida de morte rápida, em expcrirnen-tos instalados no campo experimental da Embrapa AmazôniaOriental, em Tomé-Açu, onde estava sendo testada apenas aeultivar Guajarina (Duarte et al., 1997). Posteriormente, adoença foi também observada no município de Santa Izabeldo Pará e em Capitão Poço afetando a mesma cultivar. Oexame das plantas doentes mostrou que, embora exibissemsintomas de murcha, estes eram distintos daqueles incitadospor N. haematococca f. sp. piperis.

No presente trabalho são apresentados os resultadosreferentes à caracterização dos sintomas, identificação dagente causal, testes de patogenieidade e a resposta de tré,cultivares ele pimenta-da-reino ao patógeno.

Foram feitas visitas em diferentes quadras cxpcrimcn-tais no campo experimental da Embrapa Amazônia Oriental,

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J

Murcha de fusária da pimenta-da-reino do Pará

localizado em Torné-Açu e em áreas de produtores que plan-tam as cultivares Cingapura e Guajarina, nos municípios deSanta Izabel do Pará, Capitão Poço, Ipixuna, Tomé-Açu eParagominas com o objetivo de registrar a distribuição dadoença em outras áreas produtoras, além de Tomé-Açu.Isolamento e identificação do patógeno - Nas áreas afeta-das foram coletadas porções da haste e do sistema radicularde plantas da cultivar Guajarina. Em laboratório, esse mate-rial foi lavado em água corrente, desinfectado com hipoclo-rito de sódio (1,25%) e lavado duas vezes em água destiladaesterilizada. Porções dos tecidos internos descoloridos foramtransferidas para placas de Petri contendo ágar-água (0,15%)e mantidas a 25 aC sob 12 horas de iluminação, em umaincubadora. Após 3-4 dias, porções da periferia das colônias,desenvolvidas a partir dos tecidos infectados, foram trans-feridas para tubos de ensaio contendo batata-dextrose-ágar(BDA). Colônias puras do patógeno foram preservadas emtubos de BDA e em solo esterilizado a vapor úmido.

Culturas puras do organismo isolado cultivadas emtubos de BDA foram enviadas ao International MycologicalInstitute (1MI), em Egham, Inglaterra, para identificação emnível de espécie.

Estacas herbáceas contendo dois nós foram pré-enrai-zadas em caixas de madeira (1,0 m x 0,40 m x 0,20 m)contendo casca de arroz carbonizada, onde permanecerampor dois meses. A fim de estimular a emissão de folhasjovens e manter as mudas em bom estado nutricional, asplantas foram regadas com adubo foliar comercial, na con-centração de 0,1 % com intervalo quinzenal (três aplicações),permanecendo em telado com 50% de sombreamento, até omomento da inoculação. Porções de solo contendo clami-dosporos, retiradas de tubos de ensaio para preservação dofungo, foram transferidas para tubos de ensaio contendoBDA. Após 7-10 dias foi preparada uma suspensão concen-trada de conídios (I ml/tubo de cultura). Cerca de I ml dessasuspensão foi vertido e distribuído na superfície de placas dePetri com um bastão de vidro. As placas foram incubadas a25°C sob iluminação (12 h luz/12 h escuro) durante 10 dias.Após esse período uma nova suspensão de esporos na con-centração de 3,7 x 105 rnl' foi preparada. Mudas das culti-vares Bragantina, Cingapura e Guajarina foram retiradas dascaixas de pre-enraizamento, lavadas em água corrente paraeliminação da casca de arroz remanescente e imersas nasuspensão de esporos por duas horas, sem ferimentos adi-cionais. Em seguida, as mudas foram plantadas em sacosplásticos pretos (32 cm x 17 cm x O, \O cm) perfurados,contendo substrato (terra preta + adubo orgânico + caleário +NPK) esterilizado quimicamente, etiquetadas e mantidas emtelado com 50% de sombreamento até o aparecimento dosprimeiros sintomas. Plantas das mesmas cultivares, imersassomente em água destilada, por igual período, constituíram otratamento Testemunha.Avaliação e Analise dos dados - Após quatro semanas,quando surgiram os primeiros sintomas da doença, as plantasforam retiradas dos sacos plásticos, lavadas em água correntee avaliadas considerando-se a intensidade dos sintomas ex-ternos e a invasão vascular. Na avaliação dos sintomas exter-nos foi usada uma escala de notas onde: I = folha túrgida,ausência de sintomas; 2 = folha verde e flácida; 3 = folhasflácida e amarelecida; 4 = folhas inferiores murchas, queda

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de folhas jovens e de entrenós; 5 = amarelecimento e murchadas folhas, necrose da brotação.

Para avaliar a extensão da invasão dos tecidos internosfoi usada a escala de avaliação, adaptada e modificada, deRibeiro & Ferraz (1984), onde: I = ausência de descoloraçãovascular; 2 = descoloração vascular em 25% dos entrenós; 3= descoloração vascular em 50% dos entrenós; 4 = descolo-ração vascular em todos os entrenós; 5 = necrose completado tecido vascular.

A fim de se observar a freqüência de recuperação dopatógeno foram feitos reisolamentos em todas as plantasinoculadas.

O delineamento experimental usado foi inteiramentecasualizado com quatro tratamentos e dez repetições. Osdados obtidos foram analisados pelo método estatístico deKruskal- Wallis e o total dos ranks comparados pelo teste deTukey modificado para dados não paramétricos, em nível de5% de significância (u = 0,05) (Zar, 1984).

As inspeções realizadas mostraram que a doença temafetado plantas da cultivar Guajarina, nos municípios deTomé-Açu, foco inicial da doença, Santa Izabel do Pará eCapitão Poço. Nesses locais, estima-se que cerca de 20% dasplantas dessa cultivar já tenham sido dizimadas pela doença.Não há registro de ocorrência da doença em Paragominas,onde há uma grande concentração de pimentais. Devido àdestruição de pimentais formados com a cultivar Guajarinano município de Ipixuna, suspeita-se que a morte das pimen-teiras nessa localidade, tenha sido resultante da infecçãocausada por Fusarium oxysporum.

O fungo penetra na planta através das raízes, favore-cido ou não, por ferimentos causados por Meloidogyneincognita, M. javanica ou de outra natureza .. No processo decolonização, invade o sistema vascular causando o escure-cimento e impedindo a absorção e circulação de água enutrientes. Essa necrose vascular, inicialmente unilateral,estende-se até as nervuras das folhas dos ramos apicais,

, resultando na murcha rápida e morte das plantas. Externa-mente, a planta afetada exibe amarelecimento, queda gradualdas folhas e entrenós c ausência de brotações novas. Naregião nodal surgem lesões necróticas de forma triangular,cuja base se estende ao redor do nós, em semicírculo. Essasmanchas progridem no sentido ascendente dos entrenós, uni-lateralmente, de modo que os entrenós apresentam-se metadeverdes, metade necrosados. Quando várias raízes são infec-tadas, a planta tende a secar rapidamente, permanecendo amaior parte da folhagem presa aos ramos. Em condições decampo, a doença tem sido observada, até o momento, empimentais formados com a cultivar Guajarina, com mais dequatro anos de idade, mesmo em propriedades onde o pro-dutor possui mais de uma cultivar.Identificação do agente causal - O fungo foi isolado deporções internas de tecido descolorido dos ramos ortotrópi-COS, exibindo lesões necróticas as quais foram transferidaspara placas de Petri contendo ágar-água a 0,15%. Em meiode cultura batata-dcxtrose-ágar (BDA), o patógeno produzmicélio flocoso, esparso, de coloração branca a violeta claro.Conídios hialinos e abundantes são produzidos no centro dacolônia. Os macroconídios são faleados a quase retos, deparedes finas, medindo 12 um - 44 um x 4 um - 8 um, com acélula apical terminando em gancho e a basal em forma de

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M.L.R. Duarte et ato

pé. °número de septos varia de 3 a 7, sendo mais freqüenteencontrar macroconídios com 4 septos. Os microconídios,formados em falsas cabeças e em monofiálides sobre hifascurtas e não ramificadas, são unicelulares, ovais a elípticos emedem 3,6 11m - 9,6 11m x 2,4 11m - 6,0 11m. Os primeirosclamidópsoros são observados quando a colônia atinge oitodias de desenvolvimento, mas, aos 30 dias, grande parte domicélio e dos conídios apresentam-se diferenciados em ela-midosporos globosos, de parede espessa e de cor marromclara. O patógeno foi identificado pelo Dr. D. Brayford doInternational Mycological Institute (IMI), como sendo umaforma patogênica de Fusarium oxysporum Schlecht.: Fr..Culturas do fungo encontram-se na coleção do IMI, registron? 364479 e na coleção de fungos fitopatogênicos do Labo-ratório de Fitopatologia da Embrapa Amazônia Oriental.Resposta de três cultivares de pimenta-do-reino à coloni-zação pelo patógeno - Os primeiros sintomas da infecçãoforam observados na cultivar Guajarina, quatro semanasapós a inoculação. As plantas infectadas exibiram diferentestipos de sintomas que variaram desde murcha, amareleci-mento, lesões necróticas na região nodal, ausência de brota-ção e necrose do broto, descoloração parcial ou completa dosistema vascular o qual estendeu-se das raízes até a nervuradas folhas, culminando em morte da planta.

A análise dos dados revelou ser a cultivar Guajarinamais suscetível à infecção que as cultivares Bragantina eCingapura, quando os sintomas externos e a invasão vascularforam considerados (Tabela I).

TABELA 1- Severidade da murcha da pimenta-do-reino causada por F. oxysporum em trêscultivares de pimenta-do-reino. (Média de10 repetições).

Tratamento/cultivarSintomas externos Invasão vascular

Média dos Ranks1

GuajarinaCingapuraBragantinaTestemunha

55,3 a38,1 b34.1 b18,5 c

34,1 a21,4 b19,6 b7,0

I Médias seguidas de mesmas letras não diferem entre si em nível de 5% designificância, segundo o teste de Tukey modificado. para dados nãoparamétricos (Zar, 1984).

A maior taxa de recuperação de colônias do patógeno,re-isolado a partir de tecidos das plantas inoculadas, foi ob-servada com a cultivar Guajarina.

A ocorrência de uma forma patogênica de Fusariumoxysporum Schlecht.: Fr. infectando a pimenta-do-reinoconstitui uma nova ameaça à pipericultura na região ama-zônica, principalmente em áreas onde é explorada a cultivarGuajarina que se mostrou muito suscetível.

As lesões triangulares na região nodal e a necroseunilateral dos entrenós são sintomas característicos da mur-cha causada por F. oxysporum que permitem uma clara dife-renciação entre essa nova doença e a podridão das raízes esecamento dos ramos causadas por Nectria haematococca f.sp. piperis, já que ambos patógenos podem provocar a quedadas folhas, dos entrenós e a morte das plantas afetadas. Essasemelhança na aparência dos sintomas externos têm levado

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os pipericultores à conclusão errônea de que a cultivar Gua-jarina é mais susceptível à fusariose da pimenta-do-reino doque a 'Cingapura', tradicional na região.

Nos testes de patogenicidade, as cultivares Bragantinae Cingapura exibiram apenas folhas túrgidas e flacidas comausência de brotação quando comparadas com a 'Guajarina'.O exame dos tecidos internos mostrou entretanto, descolo-ração vascular e, em 50% das plantas, essa descoloração seestendeu por 50% dos entrenós, indicando que o patógenotem habilidade de penetrar os tecidos dessas cultivares emcondições experimentais. Quando a penetração ocorreu atra-vés do nó, no nível do solo, lesões triangulares característicasforam observadas, principalmente na cultivar Guajarina.Nessa cultivar, além da murcha, necrose dos brotos, queda defolhas e entrenós, algumas plantas apresentaram necrose uni-lateral dos entrenós comprovando-se desse modo, a alta sus-ceptibilidade dessa cultivar a F. oxysporum. Essa observaçãocontribuiu para esclarecer melhor o fato de que essa doençatem ocorrido, em condições de campo, somente na cultivarGuajarina. A invasão vascular das nervuras das folhas poderáfacilitar a dispersão dos esporos do patógeno, formados so-bre as folhas secas, para áreas mais distantes através dovento, máquinas agrícolas e dos operários rurais que têmlivre trânsito nas propriedades, principalmente na época dacolheita.

A cultivar Guajarina, lançada em 1982 pela EmbrapaAmazônia Oriental, é um ecotipo da cultivar indiana 'Arku-lan Munda' que apresenta folhas largas e espigas longas.Embora seja suscetível a N. haematococca f. sp. piperis, essacultivar vem tendo a preferência dos produtores por apresen-tar produtividade superior à 'Cingapura'. nas mesmas con-dições de cultivo. Os preços atraentes da pimenta-do-reinono mercado internacional, cerca de US$ 5.000,00/t, têm esti-mulado a ampliação da área plantada Cerca de 30% dosnovos pime'ntais são formados pela cultivar Guajarina. Medi-das de controle devem ser tomadas com urgência, para mini-mizar as perdas causadas pela doença aos produtores. Algunsprodutores do município de Tomé-Açu vêm tentando reduzira propagação da doença através de práticas culturais comouso de formulações de fertilizantes com alto teor de K20,proteção do solo com cobertura viva através da roçagemperiódica da vegetação nativa da área cultivada e pulveriza-ções com benomyl, alternado com mancozeb.

A origem dessa nova forma patogênica ainda é desco-nhecida. Ainda não foram identificados hospedeiros nativos,mas, é provável que estes sejam encontrados dentro da popu-lação de piperaceas nativas, como ocorre com N. liaemat o-cocca f. sp. piperis (Albuquerque et al., 1997).

O único relato de uma forma de F. oxysporum asso-ciada à pimenta-do-reino foi feito por Mustica et ai. (1988)quando constataram que o amarelecimento da pimenta-do-reino, na Indonésia, poderia ser causado por um múltiploataque de Fusarium oxysporum associado a Rhadopholussinulis e Meloidogyne incognita. Não há registro de ocorrên-cia de murcha incitada apenas por F. oxysporum.

Tratando-se de um fungo de solo, o arranquio e queimadas plantas doentes, lJSO de estacas oriundas de plantas sadiase o tratamento preventivo de estacas com fungicidas eficien-tes são medidas básicas de controle recomendadas para pre-venir a disseminação do patógeno para novas áreas.

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Murcha de fusária da pimenta-da-reino do Pará

Este é o primeiro registro de F. oxysporum infectandoplantas de pimenta-da-reino no Brasil.

LITERATURA CITADA

ALBUQUERQUE, F.C., HAMADA, M. & DUARTE,M.L.R. Piper aduncum, espécie nativa da Amazôniahospedeira de Nectria haematococca f. sp. piperis.Fitopatologia Brasileira 22: 201-204.1997.

DUARTE, M.L.R. & ALBUQUERQUE, r.c. Doenças daPimenta-da-reino. ln: Valle, F. C. R. & Zambolim, L.(Eds.) Controle das doenças das plantas cultivadas-Culturas Industriais. Viçosa. Imprensa Universitária.1997. pp.879-923.

DUARTE, M.L.R., ALBUQUERQUE, r.c. & HAMADA,M. Murcha da pimenta-do-reino causada por Fusariumoxysporum. Fitopatologia Brasileira 22(Suplemento):260-261. 1997. (Resumo).

MUSTICA, 1., SUDRADJAT, D. & VIKANDA, A. Contraiof pepper yellow disease with fertilizer and pesticides.Review of Plant Pathology 67: 670. 1988. (Abstract).

RIBEIRO, C.A.G. & FERRAZ, S. Resistência varietal dofeijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) a Fusariumoxysporum f. sp. phaseoli. Fitopatologia Brasileira 9:37-44.1984.

ZAR, l.H. Biostatistical Analysis. 2nd ed. New Jersey.Prentice Hall, Englewood Cliffs. 1984.

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