mulheres em acção: prevenindo a violência armada · 2011-06-02 · o mali, a nigéria, a noruega...

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Mulher Mulher es em es em Acção: Acção: Pr Prev enindo a enindo a V iolência iolência Ar Ar mada mada International Action Network on Small Arms (IANSA), Development House, 56-64 Leonard Street, London, EC2A 4LT, UK T: +44 20 7065 0876 F: +44 20 7065 0871 E: [email protected] W: www.iansa-women.org A Rede de Mulheres da IANSA participou activamente na Comissão da ONU sobre o Estatuto das Mulheres, que teve lugar nas Nações Unidas, em Nova Iorque, de 22 de Fevereiro a 4 de Março. No dia 23 de Fevereiro, a Rede de Mulheres co-promoveu o evento paralelo “O Progresso precário da Resolução sobre Mulheres, Paz e Segurança”. Jasmin Nario-Galace, da Rede de Mulheres da IANSA, falou sobre o trabalho em prol da paz e da segu- rança nas Filipinas. Durante uma sessão das Nações Unidas sobre a Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas 1325, Jasmin falou ainda sobre a nova rede de acção 'Mulheres envolvidas na Implementação da 1325’, que tem vindo a trabalhar para operacionalizar o Plano Nacional de Acção Filipino sobre Mulheres, Paz e Segurança – o primeiro a incluir a questão das armas de pequeno porte e arma- mento ligeiro. Martha Quintero, da Rede de Mulheres da Colômbia, par- ticipou também no painel. Em conjunto com outras organiza- ções e Estados membros das Nações Unidas, a Rede de Mulheres divulgou ainda a acção do Comité Preparatório (PrepCom) para o Tratado sobre o Comércio de Armas e sublinhou a necessidade de garan- tir que as perspectivas de género e das mulheres estejam presentes neste processo. No dia 24 de Fevereiro de 2011, Jasmin Nario Galace (Filipinas) e Martha Quintero (Colômbia) estiver- am presentes no lançamento da ONU Mulheres, que teve lugar no Hall da Assembleia Geral, na sede das Nações Unidas. Pelo menos 4 das 5 áreas prioritárias da ONU Mulheres estão directamente asso- ciadas com o trabalho da Rede de Mulheres da IANSA: 1) Ampliar a voz, liderança e partici- pação das mulheres; 2) Combater a violência contra as mulheres; 3) Reforçar a participação das mul- heres na resolução de conflitos e nos processos de paz; 4) Garantir que as prioridades de género estão presentes nos planos nacionais e respectivos orçamentos, incluindo a capacidade para apoiar o processo de relatoria da CEDAW. NESTE NÚMERO: NESTE NÚMERO: Rede de Mulheres da IANSA activa nas Nações Unidas Este ano, a Comissão das Nações Unidas para o Estatuto das Mulheres (CSW, na sigla inglesa) e o Comité Preparatório do Tratado sobre o Comércio de Armas (ATT PrepCom) tiveram lugar em para- lelo, permitindo trazer as mulheres para o campo do controlo de armas e relacionar a questão da vio- lência contra as mulheres perpetrada com armas de fogo com o trabalho mais amplo do movimento de mulheres do qual fazemos parte. Outros destaques: Armas de Pequeno Porte na Jordânia, Lançamento da ONU Mulheres; Semana de Acção Global e Notícias da Rede. Opinião Armas de Pequeno Porte e Género na Jordânia Notícias da Rede Campanha para Desarmar a Violência Doméstica na República Democrática do Congo (RDC) Enfoque especial O Tratado sobre o Comércio de Armas Recursos A base de dados sobre Violência contra as Mulheres do Secretário Geral das Nações Unidas Agenda Semana de Acção Global Contra a Violência Armada 2011 Fórum SVRI Boletim Nº 24, Maio de 2011 Rede de Mulheres da IANSA Membros da Rede de Mulheres da IANSA no lançamento da ONU Mulheres em Nova Iorque, Março de 2011. No dia 4 de Março de 2011, a Rede de Mulheres da IANSA organizou o evento ‘Desarmamento através da educação: as mulheres tomam a dianteira’, em conjunto com o Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos de Desarmamento, a Missão da Noruega nas Nações Unidas e a Religions for Peace. ISSN 1994-2206 (Print) ISSN 1994-2214 (Online)

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Page 1: Mulheres em Acção: Prevenindo a Violência Armada · 2011-06-02 · o Mali, a Nigéria, a Noruega e a Austrália, que defender-am um TCA que responda ao impacto dos conflitos armados

MulherMulheres em es em Acção:Acção: PrPreevvenindo a enindo a VViolência iolência ArArmadamada

International Action Network on Small Arms (IANSA), Development House, 56-64 Leonard Street, London, EC2A 4LT, UKT: +44 20 7065 0876 F: +44 20 7065 0871 E: [email protected] W: www.iansa-women.org

ARede de Mulheres da IANSAparticipou activamente naComissão da ONU sobre o

Estatuto das Mulheres, que tevelugar nas Nações Unidas, em NovaIorque, de 22 de Fevereiro a 4 deMarço. No dia 23 de Fevereiro, aRede de Mulheres co-promoveu oevento paralelo “O Progressoprecário da Resolução sobreMulheres, Paz e Segurança”.Jasmin Nario-Galace, da Rede deMulheres da IANSA, falou sobre otrabalho em prol da paz e da segu-rança nas Filipinas. Durante umasessão das Nações Unidas sobre aResolução do Conselho deSegurança das Nações Unidas1325, Jasmin falou ainda sobre anova rede de acção 'Mulheresenvolvidas na Implementação da1325’, que tem vindo a trabalharpara operacionalizar o PlanoNacional de Acção Filipino sobreMulheres, Paz e Segurança – oprimeiro a incluir a questão dasarmas de pequeno porte e arma-mento ligeiro. Martha Quintero, daRede de Mulheres da Colômbia, par-ticipou também no painel.

Em conjunto com outras organiza-ções e Estados membros dasNações Unidas, a Rede de Mulheresdivulgou ainda a acção do Comité

Preparatório (PrepCom) para oTratado sobre o Comércio de Armase sublinhou a necessidade de garan-tir que as perspectivas de género edas mulheres estejam presentesneste processo.

No dia 24 de Fevereiro de 2011,Jasmin Nario Galace (Filipinas) eMartha Quintero (Colômbia) estiver-am presentes no lançamento daONU Mulheres, que teve lugar noHall da Assembleia Geral, na sededas Nações Unidas. Pelo menos 4das 5 áreas prioritárias da ONUMulheres estão directamente asso-ciadas com o trabalho da Rede deMulheres da IANSA:

1) Ampliar a voz, liderança e partici-pação das mulheres;

2) Combater a violência contra asmulheres;

3) Reforçar a participação das mul-heres na resolução de conflitos enos processos de paz;

4) Garantir que as prioridades degénero estão presentes nos planosnacionais e respectivos orçamentos,incluindo a capacidade para apoiar oprocesso de relatoria da CEDAW.

NESTE NÚMERO: NESTE NÚMERO: Rede de Mulheres da IANSA activa nas Nações Unidas Este ano, a Comissão das Nações Unidas para o Estatuto das Mulheres (CSW, na sigla inglesa) e oComité Preparatório do Tratado sobre o Comércio de Armas (ATT PrepCom) tiveram lugar em para-lelo, permitindo trazer as mulheres para o campo do controlo de armas e relacionar a questão da vio-lência contra as mulheres perpetrada com armas de fogo com o trabalho mais amplo do movimentode mulheres do qual fazemos parte. Outros destaques: Armas de Pequeno Porte na Jordânia, Lançamento da ONU Mulheres;Semana de Acção Global e Notícias da Rede.

OpiniãoArmas de Pequeno Porte eGénero na Jordânia

Notícias da RedeCampanha para Desarmar aViolência Doméstica naRepública Democrática doCongo (RDC)

Enfoque especialO Tratado sobre o Comércio deArmas

Recursos A base de dados sobre Violênciacontra as Mulheres do SecretárioGeral das Nações Unidas

AgendaSemana de Acção Global Contraa Violência Armada 2011

Fórum SVRI

Boletim Nº 24, Maio de 2011 Rede de Mulheres da IANSA

Membros da Rede de Mulheres daIANSA no lançamento da ONU

Mulheres em Nova Iorque, Março de 2011.

No dia 4 de Março de 2011, a Rede de Mulheres da IANSA organizou o evento‘Desarmamento através da educação: as mulheres tomam a dianteira’, emconjunto com o Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos deDesarmamento, a Missão da Noruega nas Nações Unidas e a Religions forPeace.

ISSN 1994-2206 (Print) ISSN 1994-2214 (Online)

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Boletim Nº 24, Maio de 2011 Rede de Mulheres da IANSA

OPINIÃO: OPINIÃO: Armas depequeno porte e génerona Jordânia

Mona Mkhamreh

Na Jordânia, a posse e o usode armas de fogo passam degeração em geração.

Antigamente, as armas eramusadas para anunciar eventos espe-ciais, como casamentos. Os tirospara o ar substituíam as telecomuni-cações, na altura inexistentes.Actualmente, esta prática já não sejustifica. As armas são perigosas econstituem uma fonte de ansiedadepara a sociedade jordana.

Para uma parte significativa da pop-ulação jordana, contudo, disparararmas de fogo permanece umaforma comum de expressão de sen-timentos em ocasiões públicas e pri-vadas. O perigo aumenta em contex-tos sobre-povoados, como asgrandes cidades. Em virtude do usonegligente de armas de fogo, muitoscasamentos e outras ocasiões festi-vas tornaram-se catástrofes. Nosanos noventa, e em consequênciado uso de armas automáticas nesteseventos, o Ministério daAdministração Interna elaborou reg-ulamentação que previa a suspen-são de todas as licenças de possede armas. Em Janeiro de 2011, alegislação nacional sobre armas defogo foi aplicada pela primeira veznum caso de uso de armas em even-tos, quando um homem foi condena-do a 5 anos de prisão por ter dis-parado para o ar durante um casa-mento, tendo ferido uma pessoa.

A violência armada contra mulheresna Jordânia está muitas vezes asso-

ciada à violência perpetrada emnome da honra. Este tipo de violên-cia resulta de crenças enraizadasque consideram a morte como umdos meios para ‘limpar o nome’ eeliminar a vergonha. A disseminaçãode armas de pequeno porte e ligeirastem facilitado esta prática e resulta-do em muitas vítimas. Em Fevereirode 2011, o Tribunal Penal condenouum agricultor de 43 anos a 15 anosde prisão por ter morto a tiros a suasobrinha no vale da Jordânia. Ajovem foi atingida 30 vezes nacabeça, peito e costas. Depois do

sucedido, o agricultor dirigiu-se àpolícia e entregou a arma utilizada,informando as autoridades que haviamorto a sobrinha para repor a honrada família.

Todavia, nem sempre os tribunaiscondenam os crimes de honra.Recentemente uma mulher foi atingi-da com uma arma de fogo pelosseus tios, depois de se ter divorciadodo marido por motivos de violênciadoméstica. Os tios foram ilibados daacusação por falta de provas.Ninguém foi punido pelo sucedido.

Os crimes motivados por vingançatambém são uma forma comum deviolência armada na Jordânia. Estãoassociados a noções tribais de mas-culinidade e violência e afectam asmulheres de várias formas.

Além disso, a disseminação dearmas de pequeno porte afecta de

forma negativa a estabilidade psi-cológica e emocional das pessoas,nomeadamente mulheres, especial-mente em contextos onde se assisteà:

1. Disseminação da ansiedade,medo e distúrbios psicológicos entreos e as cidadãos e cidadãs, emresultado da presença de armas,legais e ilegais.

2. Tendência acrescida para a agres-sividade, especialmente entre jovense adolescentes do sexo masculino, oque pode levar a distúrbios psicológi-cos no futuro.

3. Acidentes com armas de fogo emcerimónias como casamentos, bemcomo outros incidentes de violênciaarmada, que ocasionam ferimentostemporários ou permanentes emortes. Em grande parte dos casos,cabe às mulheres em particular ocuidado dos e das familiares vitima-dos, enfrentando os problemaseconómicos e sociais que surgemapós a tragédia.

Uma vez que as mulheres sofrem deforma desproporcional os impactosadversos da presença de armas defogo nas sociedades, esforços têmde ser levados a cabo para monitorare controlar as armas de pequenoporte, bem como garantir que asquestões de género e idade sãotidas em consideração nos níveis deplaneamento e desenho de políticas.

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Mona Mkhamreh é uma advogada jor-dana, consultora na área do direito

internacional e direitos das mulheres.

Mulheres em Acção: Prevenindo aViolência Armada, boletim trimestral daRede de Mulheres da IANSA, disponívelem inglês, francês, espanhol e por-tuguês. Compilado por Rebecca Gerome

International Action Network on Small Arms (IANSA), Development House, 56-64 Leonard Street, London, EC2A 4LT, UKT: +44 20 7065 0876 F: +44 20 7065 0871 E: [email protected] W: www.iansa-women.org

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Boletim Nº 24, Maio de 2011 Rede de Mulheres da IANSA

International Action Network on Small Arms (IANSA), Development House, 56-64 Leonard Street, London, EC2A 4LT, UKT: +44 20 7065 0876 F: +44 20 7065 0871 E: [email protected] W: www.iansa-women.org

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Asegunda sessão do Comité de Preparação doTratado sobre o Comércio de Armas (ATTPrepCom, na sigla inglesa) teve lugar de 28 de

Fevereiro a 4 de Março de 2011 e foi presidida peloEmbaixador Roberto Garcia Moritan. Membros daIANSA e staff estiveram presentes em Nova Iorque emconjunto com cole-gas da campanha“Controlar asArmas” paradesenvolver activi-dades de lobby eincidência política,monitorar assessões formais,organizar e partici-par em eventosparalelos e reunircom as dele-gações nacionais.O programa detrabalho permitiu adiscussão em pro-fundidade do paperelaborado porMoritan, que abran-gia um conjunto amplo de armas convencionais, critériose parâmetros. No quarto dia (3 de Março), um novopaper redigido peloEmbaixador Moritan foidistribuído, compilandoas declarações dosprimeiros dias de trabal-ho. Este paper estádisponível emhttp://www.un.org/disar-mament/convarms/ATTPrepCom/Statements.html

A Rede de Mulheres da IANSA congratulou-se pelo factode as questões de género terem sido suscitadas aolongo dos debates por alguns Estados, nomeadamenteo Mali, a Nigéria, a Noruega e a Austrália, que defender-

am um TCA que responda ao impacto dos conflitosarmados na vida das mulheres, de acordo com os com-promissos assumidos previamente, incluindo asResoluções do Conselho de Segurança das NaçõesUnidas 1325, 1820, 1888 e 1889.

Contudo, reiter-amos a ideia deque as referênciasa ‘mulheres e cri-anças’, tidasenquanto umgrupo homogéneo,são perversas,uma vez que indici-am que as mul-heres bem comoas crianças sãovítimas passivas,com capacidadeslimitadas, em vezde um recursochave para o com-

bate e prevenção daviolência armada.De facto, as cri-

anças são menores, não podem votar ou tomar decisõese necessitam atenção especial e protecção. Por causa

da sua imaturidade físi-ca e mental e da suadependência face aadultos, as criançassão consideradas vul-neráveis. É por issoessencial distinguirentre mulheres e cri-

anças de forma a garantir que cada grupo receba aatenção específica que requer.

ENFOQUE ESPECIAL: ENFOQUE ESPECIAL: O Tratado sobre o Comércio de Armas (TCA)

Mulheres nas delegações nacionaisMulheres nas delegações nacionaisNo total, 487 pessoas participaram nas sessõesoficiais enquanto parte de delegaçõesnacionais. 130 (27%) eram mulheres, enquantoque 357 (73%) eram homens.

Instrumentos relevantes de Direitos Humanos:Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres [CEDAW];o Protocolo Opcional à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres;o Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes;o Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, 1948o Declaração de Pequim e Plataforma de Acção, Quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres, 1995;o Convenção para a Supressão do Tráfico de Pessoas e da Exploração da Prostituição de Outrém;o Declaração sobre a Eliminação da Violência Contra as Mulheres;o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI), 1998 o Documento final da 23ª sessão especial da Assembleia Geral das Nações Unidas, Mulheres 2000: Igualdade deGénero, Desenvolvimento e Paz para o Século XXI, 2000;o As quarto Convenções de Genebra de 1949 e;

o Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas 1325, 1820, 1888, 1889 e 1960.

Jasmin Nario-Galace, do Centro para a Educação para a Paz, Filipinas, comas delegadas das Filipinas no Comité de Preparação do Tratado sobre oComércio de Armas. Toda a delegação das Filipinas era composta por mul-heres.

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PONTPONTOS ESPECÍFICOS DE LOBBYOS ESPECÍFICOS DE LOBBY:: Porquêmencionar homicídios perpetrados com armasde fogo? Discussões sobre violência armada têm sub-linhado de forma repetida que o uso de armas de fogoem contextos de não conflito constitui a forma maiscomum de violência armada, resultando em muitasmortes e ferimentos. É por isso importante consideraros actos de violência armada em outros cenários quenão contextos de conflito armado. A referência geral a“violência armada” enfraquece a linguagem e é difícil deaplicar na prática.

PONTPONTOS ESPECÍFICOS DEOS ESPECÍFICOS DELOBBYLOBBY: : Porquê referir especi-ficamente a violência de génerono texto do Tratado sobreComércio de Armas? As mul-heres são frequentemente alvo deviolências específicas por causa doseu sexo e de outras formas de vio-lência não só em contextos de confli-to armado, mas também emcenários de paz. O modo como asarmas convencionais e respectivasmunições facilitam violências contraas mulheres é uma questão trans-versal que exige mais atenção. Deforma a proteger os direitos das mul-heres, os instrumentos legais dedireitos humanos que abrangemtemas como a violência de género,incluindo a violência sexual, têm deser aplicados às decisões sobretransferências de armas.

Durante a década anterior, osEstados e as Nações Unidas recon-heceram a importância de abordarde forma particular a violência contraas mulheres quer em contextos deconflito armado, quer em outros

cenários. Nesteperíodo, as agências das NaçõesUnidas aprovaram várias resoluçõessobre violência de género, recon-hecendo a necessidade de enfatizareste tipo de violência de forma sepa-rada e específica, apesar dos dire-itos das mulheres integrarem o dire-ito internacional humanitário e o dire-ito internacional de direitoshumanos.

Em 2000, o Conselho de Segurançadecidiu abordar a questão das mul-heres, paz e segurança de formaparticular, depois de uma década defracassos de operações demanutenção de paz, nomeadamentena Somália, no Ruanda e na ex-Jugoslávia. Depois da análise dasatrocidades cometidas, tornou-seclaro que as mulheres tinham sidoalvos específicos de violência,incluindo violência sexual.

Os debates sobre o Tratado sobre oComércio de Armas constituem umaoportunidade para examinar osinstrumentos usados para facilitar aviolência de género, nomeadamente

as armas de pequeno porte e ligeirasno âmbito das decisões sobre trans-ferências internacionais de armas.

É dever dos Estados “abster-se depraticar violência de género” e incor-porar a questão em todas as políti-cas a todos os níveis e áreas(Declaração sobre a Eliminação daViolência Contra as Mulheres, 1993).Estes aspecto é particularmenteimportante no que diz respeito à pre-venção de violações e outras formasde violência sexual, reconhecidaspelo direito internacional como“crimes de guerra, crimes contra ahumanidade ou instrumento degenocídio” (Resoluções do Conselhode Segurança das Nações Unidas1325, 1820 e 1888).

A Relatora Especial da ONU para a Violência contra asMulheres, Rashida Manjoo (à esquerda) e Agnès Marcaillou,Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos doDesarmamento (UNODA) (à direita), sublinham as ligaçõesentre género e armas num evento paralelo do Comité dePreparação do Tratado sobre o Comércio de Armas, realiza-do no dia 2 de Março e intitulado “Salvar Vidas: Prevenindo aViolência Armada através do Tratado sobre o Comércio deArmas”. O evento contou com o apoio da IANSA, AmnistiaInternacional, ForUM e Missão da Noruega nas NaçõesUnidas.

Possíveis suplementos ao texto actual:Possíveis suplementos ao texto actual:“Um Estado não deverá autorizar a transferência dearmas se existir, no entender do Estado responsávelpela transferência, um risco substancial de estasarmas serem: - Usadas para perpetrar ou facilitar níveis elevados deviolência de género, em particular violações e outrasformas de violência sexual. - Usadas para perpetuar um padrão ou facilitaríndices elevados de homicídio, ferimentos graves ouviolência de género cometidos com armas de fogo.- Usadas para cometer ou facilitar violações do direitointernacional humanitário, em particular/incluindo vio-lência de género, nomeadamente violações e outrasformas de violência sexual.

Instrumentos de Instrumentos de lobbylobby sobre o ATT sobre o ATT

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No relatório sobre Armas de Pequeno Porte e Ligeiras, submetido pelo Secretário Geral das Nações Unidas ao Conselho deSegurança em Abril de 2008, sublinha-se que as abordagens de género são particularmente relevantes para as políticas. Orelatório refere que as mulheres e jovens do sexo feminino são muitas vezes as mais afectadas pela violência causada por estetipo de armas, em particular a violência sexual, intimidação, coerção, incluindo enquanto sobreviventes e responsáveis peloagregado familiar. O relatório menciona ainda a importância das mulheres enquanto agentes de mudança em processos comoo Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) e iniciativas de segurança das comunidades (Relatório do SecretárioGeral sobre Armas de Pequeno Porte e Ligeiras, S/2008/258.)

Em 2010, o Presidente do Conselho de Segurança reconheceu na sua declaração sobre armas de pequeno porte e armamen-to ligeiro (SALW) na região da África Central que “O Conselho de Segurança está muito preocupado com a produção ilícita,transferência e circulação de SALW bem como com a sua excessiva acumulação e disseminação em várias regiões do mundo,sobretudo na sub-região da África Central. Esta situação tem tido consequências graves em termos humanitários e socio-económicos, em particular no que diz respeito à segurança dos civis uma vez que exacerbara probabilidade de conflitos, o que,por sua vez, agrava os riscos de violência de género, recrutamento de crianças soldado, ameaçando a paz, reconciliação, segu-rança, estabilidade e desenvolvimento sustentável local, nacional, regional e internacional. (Declaração Presidencial doConselho de Segurança, Março de 2010, S/PRST/2010/6)

Referências as conexões entre armas de pequeno porte e ligeiras e género presentes em documentos dealto nível das Nações Unidas

Exemplos de como as armas convencionais e respectivas munições, e em particular as armas depequeno porte, facilitam e agravam a violência perpetrada contra mulheres no dia-a-dia

Em cenários de não-conflito:Em cenários de não-conflito: HaitiEm Janeiro de 2011, a Amnistia Internacional publicouum relatório sobre o Haiti intitulado “Depois do choque:Mulheres denunciam violência sexual”. A maioria dasvítimas entrevistadas foi ameaçada por grupos de home-ns com armas de fogo. No seio dos gangs do Haiti, a vio-lência sexual perpetrada com arma de fogo aumentoudesde o terramoto, mas mesmo antes era já uma práti-ca comum. Entre 2002 e 2004, estima-se que 19 000 por100 000 jovens do sexo feminino tenham sido violadasna área de Port-au-Prince.

Instrumentos de Instrumentos de lobbylobby sobre o ATT sobre o ATT

Contextos pós-conflito: Contextos pós-conflito: BalcãsMacedónia: Durante doze anos, o marido de Vesnaagrediu-a fisicamente, perseguindo-a com uma arma defogo. Um dia, embriagado, disparou sobre Vesna e oseu filho. Ambos sobreviveram mas sofrem até aos diasde hoje sequelas físicas e psicológicas graves. NosBalcãs, mesmo depois do fim da guerra, as armas con-tinuaram a ser usadas em actos de violência contra asmulheres, sobretudo na esfera doméstica. De acordocom um estudo de 2007, no Montenegro, 90% das 1500mulheres presentes em centros de acolhimento destina-dos a vítimas de violência tinham sido ameaçadas comarmas de fogo pelos seus companheiros.

Situações de conflito armado: Situações de conflito armado: República Democrática do Congo: Duranteo Verão de 2010, ao longo de quarto dias,tiveram lugar violações em massa emLuvungi, Leste do Congo. Quase todos os 303casos de violação denunciados foram perpe-trados por grupos de dois a seis homens arma-dos, na sua maioria em frente aos maridos e fil-hos das vítimas. Só em 2009 mais de 15 000casos de violência sexual foram denunciados.

Colombia: Na Colômbia, que tem actualmentea segunda taxa mais elevada do mundo dedeslocados internos, 2 em cada 10 pessoasdeslocadas internas são mulheres, que identifi-cam a violência sexual perpetrada sob ameaçade armas de fogo como a principal causa paraa deslocamento. Em 2008, 21 000 pessoasforam vítimas de violência sexual no país,muitas delas sob ameaça de armas.

Serra Leoa: Estima-se que 64 000 mulheres ejovens do sexo feminino tenham sofrido violên-cia sexual durante a guerra civil de 1991-2002.Alguns testemunhos de mulheres vítimas deviolência sexual declararam que tinham sidoameaçadas com armas de fogo por parte dosperpetradores, de forma a garantir que nãoofereciam resistência.

Jasmin Nario-Galace, da Rede de Mulheres da IANSA, dirige-se ao plenário no âmbito da sessão do Comité de Preparação doTratado sobre o Comércio de Armas, discursando sobre género e armas de pequeno porte e ligeiras.

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Boletim Nº 24, Maio de 2011 Rede de Mulheres da IANSA

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No dia 24 de Março de 2011, a ComissãoNacional de Controlo de Armas de PequenoPorte e Ligeiras e Redução da Violência

Armada lançou uma campanha de sensibilização daopinião pública sobre os riscos da disseminação dearmas de pequeno porte na República Democráticado Congo. O Ministro da Administração Interna pre-sidiu ao lançamento, na presença das forças polici-ais e militares e do Inspector Nacional da Polícia. Acomunidade diplomática também esteve presente.No seu discurso, o Ministro sublinhou a importânciade integrar as questões de género nos processos

de controlo de armas e prevençãoda violência

armada eapelou a todas as mulheres con-golesas que denunciem os e as membros das suascomunidades que portem armas ilegais ou queestejam envolvidos em qualquer acto de violênciaarmada, independentemente do local onde estaocorra. Especialistas da sociedade civil trabalharamcom a Comissão Nacional na preparação da cam-

panha,que decorreu entre 24 e 31 de

Março de 2011.

De 28 a 31 de Março, a ONU Mulheres conduziuconsultas participativas no Norte e Sul de Kivu pararecolher informações sobre problemas e necessi-dades específicas das mulheres na região, tendoem vista contribuir de forma eficaz para a políticanacional de género. A organização congolesa FMJC(em português, Mulheres dos Media para a Justiça)aproveitou a oportunidade para sensibilizar os par-ticipantes para o problema da violência armada naesfera doméstica, bem como partilhar a visão daRede de Mulheres da IANSA sobre este assunto.Os e as participantes do workshop, representantesde ONG nacionais e internacionais, movimentossociais, autoridades locais, nomeadamente doMinistério de Género, Família e Infância, manifes-taram vontade em trabalhar em prol do apoio dasvítimas desta violência.

NOTÍCIAS DANOTÍCIAS DA REDE:REDE: Campanha para Desarmar a ViolênciaDoméstica na República Democrática do Congo (RDC)Kinshasa, 11 de Abril de 2011

http://webapps01.un.org/vawdatabase/home.action

Em Dezembro de 2006, a Assembleia Geral da ONU adoptou uma resolução apelando à intensificação de esforços paraeliminar todas as formas de violência contra as mulheres e solicitando ao Secretário Geral que estabelecesse uma base dedados coordenada sobre o âmbito, natureza e consequências das violências contra as mulheres e sobre o impacto e eficáciadas políticas e programas destinados a combater este tipo de violência.

As principais fontes de informação da base de dados são as respostas dos Estados Membros ao questionário sobre violênciacontra as mulheres de Setembro de 2008 e sucessivas actualizações. Entre as restantes fontes de informação, incluem-se:

* Relatórios dos Estados Membros enviados aos secretariados de tratados de direitos humanos; * Informações disponibilizadas pelos Estados Membros na sequência da IV Conferência Mundial sobre Mulheres (1995);

relatórios do Secretário Geral; e declarações feitas nos diversos organismos das Nações Unidas;* Informações disponibilizadas por agências relevantes das Nações Unidas.

RECURSO:RECURSO: A base de dados sobre Violência contra as Mulheres do Secretário Geral das Nações Unidas

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Boletim Nº 24, Maio de 2011 Rede de Mulheres da IANSA

International Action Network on Small Arms (IANSA), Development House, 56-64 Leonard Street, London, EC2A 4LT, UKT: +44 20 7065 0876 F: +44 20 7065 0871 E: [email protected] W: www.iansa-women.org

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Fórum Sexual Violence Research Initiative(SVRI) 2011: Ampliando a agenda10 - 13 Outubro 2011Convocatoria abierta

Aberta a submissão de abstracts

Globalmente, um número crescente de campanhastem-se dedicado a denunciar a violência sexualcomo uma grave violação dos direitos humanos,uma arma de guerra e uma questão de saúde públi-ca. O Secretário Geral das Nações Unidas lançou acampanha UNiTE to End Violence Against Women[em português, Unidos para Erradicar a Violênciacontra as Mulheres]. Até 2015, esta campanha pre-tende pressionar os vários Estados a adoptar eimplementar Planos Nacionais de Acção multi-sec-toriais que respondam às violências perpetradascontra as mulheres. Neste contexto, é necessáriocompilar experiências e iniciativas eficazes nestecampo, bem como identificar a agenda de investi-gação que deve consubstanciar os programas deprevenção e resposta à violência sexual. Em 2009,a Iniciativa de Investigação sobre Violência Sexual[em inglês, Sexual Violence Research Initiative]organizou a primeira conferência internacional

sobre violência sexual, com ênfase particular nospaíses em desenvolvimento. Nesta ocasião, reuni-ram-se vários e várias especialistas e activistaspara debater, discutir e compartilhar ideias de inves-tigação neste domínio. Um dos resultados principaisdo Fórum de 2009 foi a identificação de áreas prior-itárias de investigação. Tendo como ponto de parti-da estas questões, a SVRI convida, especialistas,responsáveis políticos, activistas, profissionais eagências financiadoras a partilhar ideias e estraté-gias e contribuir para as campanhas internacionaisactualmente em curso.

Os principais temas da conferência são:- Prevenção Primária (incluindo intervenções aonível comunitário);- Respostas à Violência Sexual: modelos deatenção; e- Conflito e Crises.

Para mais informações sobre o Fórum ou sobre oSVRI, por favor contacte [email protected] ou visitewww.svri.org

Este ano, a Semana de Acção Global contraa Violência Armada realiza-se de 13 a 19de Junho.

Todos os anos a Semana de Acção dá voz às ini-ciativas internacionais que visam combater a dis-seminação e uso indevido de armas de pequenoporte e ligeiras. Na edição anterior, em 2010, aSemana de Acção Global contra aViolência Armada contou com a partici-pação de 267 membros da IANSA em102 países, revelando que a Semanade Acção é já sinónimo de adesão dasociedade civil organizada a estaquestão. Entre as actividades desen-volvidas em 2010 estiveram a realiza-ção de uma petição de apoio a umTratado sobre Comércio de Armasassente em princípios éticos sólidos, aadesão de várias estrelas do futebol mundial àcampanha “Um Mundial de Futebol Sem Armas” e

a promoção da campanha “Desarmar a ViolênciaDoméstica”.

Para a Semana de Acção deste ano, a IANSApropõe três temas prioritários, mas as iniciativasnão se limitam a estes. Os temas são:

• Tratado sobre o Comércio deArmas• 10 anos de Programa de

Acção• Sobreviventes de Violência

Armada

A participação das mulheres e asquestões de género são questõestransversais que serão sublinhadasem cada um dos temas propostos.

Para este efeito, a IANSA está a elaborar materiaisde apoio para a Semana de Acção.

AGENDA: AGENDA: Semana de Acção Global contra a Violência Armada

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Boletim Nº 24, Maio de 2011 Rede de Mulheres da IANSA

International Action Network on Small Arms (IANSA), Development House, 56-64 Leonard Street, London, EC2A 4LT, UKT: +44 20 7065 0876 F: +44 20 7065 0871 E: [email protected] W: www.iansa-women.org

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A Rede de Mulheres da IANSA é a única rede internacional dedicada às conexões entre género, direitosdas mulheres, armas de pequeno porte e violência armada. Foi estabelecida em 2001 enquanto um grupode discussão de mulheres nos eventos da IANSA, tendo sido formalizada em 2005. Actualmente associapaíses tão diversos como as Ilhas Fiji, Senegal, África do Sul, Argentina, Canadá e Sudão.

Agradecemos o apoio do governo norueguês.