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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” ESPECIALIZAÇÃO EM TERAPIA DE FAMÍLIA MULHERES CHEFES DE FAMÍLIA MILENE CRISTIANE GOMES RIO DE JANEIRO, OUTUBRO DE 2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

ESPECIALIZAÇÃO EM TERAPIA DE FAMÍLIA

MULHERES CHEFES DE FAMÍLIA

MILENE CRISTIANE GOMES

RIO DE JANEIRO, OUTUBRO DE 2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

ESPECIALIZAÇÃO EM TERAPIA DE FAMÍLIA

MULHERES CHEFES DE FAMÍLA

MILENE CRISTIANE GOMES

Monografia apresentada à Universidade

Cândido Mendes como requisito parcial da

realização do Curso de Especialização Lato

Sensu em Terapia de Família.

RIO DE JANEIRO, OUTUBRO DE 2001

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AGRADECIMENTOS * A DEUS pela família que tenho e que foi de fundamental importância para o meu

desenvolvimento. * Aos amigos que contribuíram de alguma maneira para a realização deste trabalho. * Ao meu local de trabalho, onde tenho a oportunidade de aprender todos os dias. * À universidade e ao campo de estágio pelos profissionais capacitados para a arte de

ensinar. * E o meu muito obrigado às mulheres chefes de família que se deixaram entrevistar

expondo seus sentimentos e vivências.

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SUMÁRIO

1. Resumo ............................................................................................................. 04

2. Introdução ......................................................................................................... 05

3. Cap. 1 Uma breve análise das concepções de família elaboradas pela

sociedade ao longo da história .........................................................................

07

4. Cap. 2 A nova modalidade de família: “Mulheres Chefes de Família” ............ 11

5. Conclusão ......................................................................................................... 16

6. Anexo ................................................................................................................ 17

7. Bibliografia ....................................................................................................... 28

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1 – RESUMO

Este trabalho tem por objetivo mostrar o desenvolvimento das famílias chefiadas por

mulheres de várias classes sociais no Rio de Janeiro, através da pesquisa de campo

realizada em forma de entrevista. O trabalho analisa o desenvolvimento das famílias ao

longo da história, abordando as concepções de família elaboradas pela sociedade desde a

antigüidade. Verifica-se os vários modelos desde a família autocrática até o modelo de

família moderna. Em um segundo momento dedica-se à esta nova modalidade de família:

“Mulheres Chefes de Família”. São explicitadas as formas das famílias se enquadrarem na

sociedade brasileira e as normas estabelecidas deste movimento de famílias chefiadas por

mulheres, principalmente visto nas camadas pobres da sociedade, utilizando como fonte a

coleta de dados. Os instrumentos utilizados foram a pesquisa bibliográfica, a pesquisa de

campo, as entrevistas e o questionário.

Obteve-se resultado gratificante, verificando que apesar de na maioria das famílias, haver a

ausência da figura paterna em um lar, as mulheres chefes de família conseguem estabelecer

um vínculo forte com a prole e agregados. A batalha diária para o sustento dos filhos e

netos faz destas mulheres heroínas de suas próprias histórias.

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2 – INTRODUÇÃO

Esta pesquisa com base em análise bibliográfica, descreverá o real papel das

mulheres chefes de família no Brasil, em diversas classes sociais.

A iniciativa para a formulação deste projeto partiu do interesse em saber como

ocorre o processo em que mulheres chefiam suas famílias.

Os principais objetivos são: aproximar-se da realidade verificando como ela é

vivida por estas mulheres no cotidiano; demonstrar a importância de um lar, ainda que este

seja formado e liderado somente por mulheres, para o desenvolvimento pleno da criança e

do adolescente; e possibilitar a reflexão das práticas até então adotadas.

O assunto foi escolhido por ser um dos campos em que atua o Serviço Social e para

contribuirmos para o enriquecimento do nosso saber, discutindo sobre uma realidade que

em nosso país se faz tão necessária, em virtude do número de famílias que crescem sendo

chefiadas por mulheres que exercem dupla jornada de trabalho, acumulando a função de

mãe e pai.

Uma das referências para a elaboração desta pesquisa foi a utilização do texto A

FAMÍLIA QUE SE PENSA E A FAMÍLIA QUE SE VIVE, da autora Heloíza Szymanski

que trata da questão familiar através da visão de seus próprios membros.

Segundo sua pesquisa, as pessoas citam que sua família não é o modelo ideal.

Sendo assim, ela faz uma comparação e chama de família pensada, a família que se deseja

ter. E, em geral, essa família que se almeja é impossível diante da organização de sua

própria família. Esta família pensada torna-se um referencial, sem que ninguém da família

tenha intenção de seguí-la.

Um dos principais motivos que me incentivou a empreender um estudo sobre

mulheres chefes de família foi a constatação do fenômeno crescente visualizado por mim

durante o exercício da profissão de Assistente Social nos Programas Sociais desenvolvidos

pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social onde trabalho com famílias e a

maioria delas é chefiada por mulheres de baixa renda.

O que mais despertava atenção era como a mulher estava cada vez mais assumindo

a responsabilidade econômica pelas suas famílias e consequentemente os estudos

realizados apontam que a chefia de família por mulheres é um fenômeno relacionado a

pobreza.

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O interesse a partir destas questões é empreender um estudo sobre a condição da

mulher chefe de família nas diversas classes sociais, mas principalmente nos morros da

zona norte carioca.

Neste trabalho os objetivos são: realizar uma breve análise das concepções de

família elaboradas pela sociedade ao longo da história e identificar essa nova modalidade

de família.

O interesse é entrevistar as mulheres chefes de família e a partir disto empreender

uma análise sobre sua situação, conhecer o depoimento destas mulheres, compreender a

sua posição na comunidade onde vivem e sua inserção no mercado de trabalho.

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3 – CAPÍTULO 1

Uma breve análise das concepções de famílias elaboradas

pela sociedade ao longo da história

Segundo Philippe Ariès, na antiga Grécia e em Roma condenava-se o celibato, e

tinha-se aversão à esterilidade, sendo este um motivo para o fim do casamento. O

desaparecimento da família era considerado uma das desgraças mais terríveis.

Com o progresso da psicologia, psiquiatria e da psicanálise ocorre um avanço no

que diz respeito à criança; reconhecendo suas necessidades próprias. A família torna-se o

meio natural e o único ambiente adequado onde a criança encontrará meios favoráveis ao

seu desenvolvimento.

A família em sociedades medievais tinha as seguintes funções: a conservação dos

bens, a prática comum de um ofício e a ajuda mútua cotidiana. Homens e mulheres não

podiam viver isolados. Neste momento havia um Estado fraco e com isso os indivíduos

uniam-se para se proteger.

Na nobreza as afinidades surgiam em função de laços sangüíneos, sem levar em

conta os valores nascidos da intimidade. Por outro lado, o entendimento da família nas

camadas mais pobres passava pela idéia do grupo social que habitava uma mesma casa.

Ainda segundo Philippe Ariès, neste período era difícil se encontrar imagens

internas de família. O que se encontrava na rua era a multidão que se caracterizava pelo

povo nas ruas. As pessoas se misturavam na multidão.

Tais transformações resultaram da organização das relações sociais de produção da

sociedade industrial. Na Idade Média e no início dos tempos modernos, os filhos eram

cuidados e protegidos por seus pais, no seio de uma organização familiar. Mas a existência

de família não implicava um sentimento de família que unisse emocionalmente seus

membros em núcleos isolados, o que iria se desenvolver lentamente a partir do século

XVII, em torno do sentimento de infância.

Anteriormente à sociedade industrial, a duração da infância se limitava à tenra

idade em que ela necessitava dos cuidados físicos para a sua sobrevivência. Logo que este

desenvolvimento físico fosse assegurado (aproximadamente aos sete anos), a criança

passava a conviver diretamente com os adultos, compartilhando do trabalho e dos jogos. A

aprendizagem de valores e costumes se dava a partir do contato com os adultos ou seja, a

criança aprendia ajudando aos mais velhos. Portanto, a socialização acontecia no convívio

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com a sociedade, não sendo determinada ou controlada pela família. Nesta forma coletiva

de vida se misturavam idades e condições sociais, não havendo lugar para a intimidade e a

privacidade.

Com o tempo é que se vê a necessidade de se isolar a família, mas até o século

XVII isso não existia; o que se valorizava era a vida pública. Isso se faz exemplificar

quando, após os casamentos, os convidados faziam inúmeras brincadeiras com os noivos,

chegando até a visitá-los na noite de núpcias. Não era preservada nessa época a intimidade

do casal. As casas tinham suas portas abertas e as pessoas se misturavam.

Mas isso não quer dizer que a família não existisse, ela apenas não era vista como

valor. A família começa a surgir como valor (sentimento) no século XVIII e se confunde

com o sentimento de individualismo que na verdade não existia, até então.

A família moderna se estabeleceu na burguesia a partir do século XVIII, veio

instalar a intimidade, a vida privada, o sentimento de união afetiva entre o casal e entre

pais e filhos.

A partir do século XVIII, a família deixa de fazer da sua casa um espaço público, os

cafés e os clubes passam a ser menos freqüentados.

Segundo Philippe Ariès, a aprendizagem deixa de se realizar através do convívio

com os adultos, sendo substituída pela escola, a partir do fim do século XVII. Deste modo,

a família e a escola retiram a criança da sociedade.

Essas transformações ocorrem primeiramente nas famílias burguesas, pois a alta

nobreza e o povo conservaram por mais tempo os antigos padrões.

Para Philippe Ariès, a primeira família moderna foi a dos homens ricos, da

burguesia. Como imperava a miséria na sociedade capitalista, a família recolhia-se em suas

casas e isolava-se, reformulando seus valores. Já nas camadas mais pobres, as

características da família medieval permanecem mais tempo.

A concepção de Mark Poster da família aristocrática tinha como modelo a família

européia. Em suas casas havia uma mistura de parentes, ou seja, viviam juntos: criados,

dependentes e clientes. Os aristocratas tinham muitos filhos e os casamentos eram feitos

por interesse, onde o amor não tinha importância e sim, os dotes que eram verdadeiras

fortunas. Neste tipo de família não havia preocupação com a criação dos filhos, as esposas

tinham a função de tê-los e organizar a vida social da família.

Conclui-se que a família aristocrática atribuía pouco valor à privacidade,

domesticidade, cuidados maternos, amor e relações de afeto com as crianças. Estas

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características apontadas por este autor corroboram a concepção de Ariès sobre a família

no Antigo Regime.

Constata-se que a família camponesa era pequena, onde se casava tarde e tinha-se

poucos filhos vivos porque poucos sobreviviam até a idade adulta. Embora fossem famílias

pequenas, os parentes viviam muito próximos e havia uma relação de proximidade entre

eles que fazia com que não houvesse fechamento do ciclo familiar.

O pai não representava a autoridade máxima da casa e sim, as relações da aldeia, ou

seja, os senhores da terra é que ditavam as regras que deveriam prevalecer na vida

cotidiana.

O papel da mulher camponesa se diferenciava da mulher aristocrata e da burguesa.

Esta tinha em seu trabalho uma função vital para a sobrevivência da família. Ela

cozinhava, cuidava dos filhos, dos animais, da horta e na época da colheita juntava-se aos

demais membros da aldeia.

É importante que se tenha em mente a concepção de crianças desde a antigüidade

até os dias de hoje para que se possa entender as mudanças ao longo da história.

Na época medieval a criança não possuía o significado que tem hoje. Ela não se

distinguia do adulto e muito pequeno se misturava a eles.

A criança do período aristocrático era muitas vezes enviada para outras casas de

nobres para ser criada por empregados desde o momento do nascimento. Os pais não se

preocupavam com os filhos e para as damas, cuidar de seus filhos era inviável, ou seja, não

era sua função na sociedade.

Os bebês nobres eram amamentados por amas-de-leite, estabelecendo vínculos com

alguém que não pertencia à família. A criança não tinha uma vida emocional ligada

somente aos pais e sim, a um grande número de adultos e a educação não era fator

relevante neste período.

A criança camponesa não era submetida e controlada pelos pais, era abandonada

durante o dia enquanto a mãe precisava ir trabalhar no campo. As mães que possuíam

recursos enviavam seus filhos recém-nascidos para amas-de-leite e as que não tinham

condições mandavam as crianças embora, a fim de ficarem livres para o trabalho

remunerado.

A criança da família trabalhadora era criada sem a constante atenção e fiscalização

da mãe. As mães amamentavam os filhos forçosamente, exaustas e preocupadas. Os filhos

eram criados “pela rua” e não pela família.

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A criança da família burguesa tem uma criação melhorada que permite algum

desenvolvimento de acordo com seu próprio ritmo. Existe uma forma de demonstração de

amor, proteção, preocupação com alimentação e educação.

Para Philippe Ariès, a partir do século XVII a criança começa a ter importância, seu

traje se diferencia do adulto e ela é vista como forma de relaxamento, de distração, pois ela

é engraçada.

Essa fase caracteriza o momento de paparicação, e era mais apreciado pelas amas e

pelas mães. Com isto, as pessoas assumem não ter vergonha de dizer que se divertem com

as crianças porque elas lhe dão prazer. Surge também o momento de exasperação que se

deseja separar a criança do adulto, sobretudo durante as refeições.

No século XVIII surge, entre as famílias, a preocupação com a higienização. A

escola aparecia como uma forma de instruir. Jovens, adultos e idosos se misturavam,

faziam cursos técnicos.

A diferença entre a escola medieval e a moderna é a disciplina. Já no final do

século XVII começa uma preocupação com a educação e a considerar um tempo mínimo

de quatro a cinco anos de permanência na escola. A infância se prolonga por todo o

período escolar.

Toda esta mudança se relaciona com a questão familiar, pois a partir do momento

em que ela se fecha, deixa de fazer de sua casa um espaço público, ela abandona a rua.

Segundo Cláudia Fonseca (1993), para a classe média o modelo mais comum de

família é a conjugal onde se investe nos filhos a fim de construir uma família. A identidade

familiar é dada a partir do nascimento e as crianças são parte integrante do grupo familiar.

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4 – CAPÍTULO 2

A nova modalidade de família: “Mulheres Chefes de Família”

Neste capítulo II será apresentado o resultado desta pesquisa, para tanto foi

utilizado a aplicação de questionário com perguntas fechadas em 10 mulheres chefes de

família.

No decorrer da história chega-se nos tempos modernos e são grandes as

modificações. A família não tem mais por base o modelo patriarcal.

As novas famílias são oriundas dos novos processos de reprodução e surge o

aumento de lares em que só a mulher os dirigem.

Segundo recente pesquisa da Unicamp (Universidade de Campinas), entre 1981 e

1989 a predominância de mulheres chefes do lar aumentou de 16 para 20%. Esta é uma

nova família típica dos tempos modernos.

Não há dúvidas de que a modernização que a América Latina experimentou e

depois das guerras mundiais, houve uma crescente urbanização oriunda dos processos

migratórios rurais-urbanos que trouxe a pobreza e a desorganização familiar. Tudo isso

culminado com o descuido e o abandono de um número crescente de crianças.

A família, enquanto uma instituição social, aparece ligada à situação concreta de

um momento histórico e assume diferentes características, nos diferentes grupos sociais.

A família trabalhadora surge do deslocamento do campesinato para as cidades, ou

seja, do êxodo rural e dos níveis mais baixos da sociedade urbana. A classe trabalhadora

industrial desenvolveu uma estrutura de família sob condições de angústia social e

econômica.

No início da industrialização, a expectativa de vida dos trabalhadores fabris era

muito baixa devido às condições precárias de trabalho. Toda a família tinha que trabalhar

para garantir a subsistência, inclusive as crianças.

As condições de moradia eram precárias, os banheiros eram insuficientes para um

grande número de moradores, os quartos, onde habitavam até oito pessoas, não tinham

ventilação, pois nesta época era comum se alugar vagas nas casas para ajudar a pagar

despesas.

Os casamentos não tinham por base o interesse, a autoridade do marido prevalecia,

embora a mulher assumisse uma nova condição, ela trabalhava na fábrica, desta maneira

ganhava o seu dinheiro e ainda realizava os afazeres domésticos.

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Segundo as idéias de Mark Poster no livro Teoria Crítica da Família (1978), o autor

aborda uma visão diferenciada de Philippe Ariès, quando ele fala sobre a família burguesa

ter surgido como o modelo de sociedade capitalista avançada do século XX. Enquanto

Ariès sustenta a tese de que a família moderna foi originada da burguesia do século XVIII.

Esta família está localizada nas áreas urbanas e traz consigo características próprias que em

termos demográficos significa o padrão da baixa fertilidade e baixa mortalidade, e desta

forma, o planejamento familiar surgiu primeiro neste grupo.

Na vida cotidiana, as relações entre os membros da família burguesa assumiram um

padrão distinto de intimidade emocional e privacidade. Ainda de acordo com Poster, foi

votado que os casamentos realizados por amor não duravam. Embora fossem para sempre,

viver junto não era, neste período, ser feliz e sim ter respeito mútuo. Então o amor

terminava mas o casamento não. Ao homem cabia prover as necessidades básicas da

família: alimento, casa, etc. E à mulher, os cuidados dos filhos e do lar, desta forma as

mulheres ficavam confinadas em casa.

O estudo realizado pela autora Leila Linhares Barstred foi publicado em 1987 e

apresenta uma análise histórica onde mostra a visão de família estruturada pela legislação

brasileira. Segundo ela, em nosso país o modelo legal de família é patriarcal, monogâmica

e nuclear atravessando épocas e mudanças sociais.

O Código Civil de 1916 considera como família apenas o grupo constituído através

do casamento civil. A família é constituída por pai, mãe e filhos.

De 1930 a 1946 a legislação sobre a família ainda predomina a figura do pai como

autoritária e reguladora da família.

Somente a partir da década de 70 houve modificações significativas no que diz

respeito ao direito sobre a família, incorporando reivindicações feitas por mulheres que

propõem o fim do poder absoluto do homem perante a família.

Atualmente o crescimento do número de casais separando-se e casando-se

novamente, dá origem às novas famílias, fazendo com que se modifique o conceito de

família. Tais como os outros tipos de composição familiar: binuclear, onde pai e mãe estão

separados e os filhos dividem seu tempo entre as casas de cada um; a família

monoparental, com pai ou mãe solteiro (a); a família de recasamento que é um novo

casamento com ou sem filhos incomuns.

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, é garantido à criança e ao

adolescente a vida, a saúde, a liberdade, o respeito, a dignidade, a educação e a

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convivência familiar. De acordo com o artigo 19, capítulo III, seção I deste Estatuto, fica

estabelecido que:

“Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.”

No artigo 25 deste Estatuto “entende-se por família natural a comunidade formada

pelos pais ou qualquer deles e seus dependentes.” Ou seja, atualmente considera-se como

família não somente aquela que é composta pelos pais e filhos, mas também a formada por

apenas um deles, diferenciando daquela família patriarcal, oriunda do Código Civil de

1916.

É importante citar um estudo realizado pela antropóloga Cláudia Fonseca onde ela

esclarece um movimento chamado de “circulação de crianças”. Trata-se do grande número

de crianças que passam anos da sua infância ou juventude em casas que não são de seus

pais. Este movimento se origina nas classes mais pobres da população brasileira.

A visão sobre as crianças nas populações de baixa renda é a de que elas são a alma

de um lar e sem elas, a casa não tem graça, alegria e barulho, enfim, não possui vida.

No trabalho etnográfico realizado por Cláudia Fonseca, as crianças dominam as

ruas e a escola aparece em segundo plano, algumas não a freqüentam. Esta situação facilita

a circulação delas em famílias diferentes, pois a escola prende a criança em determinado

lugar até que ela conclua o ano letivo. Mas o fato de que grande parte não estuda, propicia

que um final de semana na casa de uns tios, perdure por meses ou anos.

Um dos aspectos levantados acerca desta questão diz respeito à possibilidade das

crianças, ao circularem por diversos lares, provocarem entrelaces do grupo familiar. Desta

forma, não é só a sobrevivência das crianças que conta, mas também o jeito de se

constituírem como forma de trocas entre famílias. Isto se exemplifica quando uma pessoa

mais velha da família toma conta de uma criança, ela acaba por esperar alguma coisa em

troca que neste caso seria atenção, carinho e uma posterior ajuda financeira.

A antiga Família Brasileira Padrão era constituída por um “pai” que além de

sustentar a casa era o “chefe” absoluto do lar, enquanto que a “mãe” era uma simples dona-

de-casa.

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Uma pesquisa divulgada pela Datafolha no dia 21 de setembro de 1998 provou que

muita coisa mudou: “A mãe evoluiu de dona-de-casa para a dona da casa.”

A pesquisa que está sendo desenvolvida para este curso de pós-graduação é de

cunho qualitativo visando esclarecer o pensamento destas mulheres chefes de família sobre

seus sentimentos com relação às suas famílias, a responsabilidade que carregam, a forma

como encaram a realidade perante a sociedade e assim prosseguem criando seus filhos e

muitas vezes, seus netos, dividindo ou não esta responsabilidade da criação com o genitor.

Para elucidar a pesquisa, será feita a comparação com as respostas das entrevistadas

a respeito do que elas consideram como sendo família.

.Entrevistada A - “A família da gente é tudo. São nossos filhos, nossos netos. Sem família não é um lar”.

.Entrevistada B -“Significado de família é união, compromisso, dedicação, amor, felicidade, enfim, é tudo. Minha família é feliz”!

.Entrevistada C - “Família é com quem se pode contar, desenvolver afeto”.

.Entrevistada D - “Significa construção”.

.Entrevistada E - “Uma união muito séria”.

.Entrevistada F - “Amor, companheirismo, respeito, compreensão, individualidade (sem invadir a privacidade do outro)”.

.Entrevistada G - “É o elo maior da vida de uma pessoa. Sem família, a gente não tem nada”.

.Entrevistada H - “Família para mim são pessoas ligadas por laços sangüíneos que convivem entre si no dia-a-dia”.

.Entrevistada I - “Pai, mãe, filhos e responsabilidade”.

.Entrevistada J - “Família é a base de tudo. Família é tudo”.

Apesar das alterações ocorridas em relação à família, ainda percebe-se que

predomina o modelo da família tradicional, formado por pais e filhos. E que continuam

estigmatizados pela sociedade, os modelos de famílias que se constituem por mulheres

chefes de famílias, mães solteiras, casais homossexuais, pai e filhos, etc.

Para reforçar a questão que vem a ser o tema desta pesquisa, foi perguntado às

entrevistadas, se sentem-se totalmente responsáveis por sua família.

. Entrevistada A - “Lógico. Porque eu tenho três menores sob a minha responsabilidade. A minha filha apesar de ser casada, está sob a minha responsabilidade por ter dois filhos menores. Eu sou pra tudo. O que precisa ser resolvido com relação à casa, sou eu que resolvo”.

. Entrevistada B - “Com toda certeza. Porque sou eu a provedora dessa família; dou estudo, educação, carinho, amor, segurança, bem-estar, lazer, etc.”.

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. Entrevistada C - “Me sinto mas por relação de afeto, sem dependentes. Por questão de afeto, carinho e amor”.

. Entrevistada D - “Sinto. Porque moro sozinha com elas”.

. Entrevistada E - “Sinto. Pelo fato de ser a filha mais velha, ter me casado mais tarde, por me sentir responsável por eles todos, principalmente depois da morte da minha mãe”.

. Entrevistada F - “Sinto até demais! Quando a gente ama, a gente cuida. Eu converso muito com minha filha, procuro fazer as refeições com ela. Me preocupo com sua educação e suas amizades”.

. Entrevistada G - “Com certeza! Porque todos dependem de mim, só a mim que recorrem. Sou eu pra tudo”.

. Entrevistada H - “Me sinto. Porque às vezes isso dá até medo por ser muita responsabilidade. Sou eu pra tudo, eu que dou a palavra final, eu que resolvo. O pai ajuda”.

. Entrevistada I - “Sinto. Porque a minha família sou eu e meu filho”.

. Entrevistada J - “Sim. Porque me sinto responsável, sou uma mulher chefe de família e não tenho um companheiro para dividir as responsabilidades, então sou obrigada a exercê-las sozinha”.

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5 – CONCLUSÃO

Ao longo deste trabalho observa-se que a estrutura de família sofreu muitas

modificações até chegar a atual situação apresentada.

Antes do Estatuto da Criança e do Adolescente e da Constituição Brasileira, não

havia tamanha preocupação com a família. Com o seu surgimento, foi possível uma

discussão maior e melhor, possibilitando aos profissionais trabalharem com a questão

referente à família com uma conscientização dos seus direitos e deveres. Não tratando a

família como uma classe estigmatizada e sem perspectivas.

A família foi vista no decorrer da história através de vários ângulos, hoje verifica-se

uma profunda alteração. Deste modo, se vê que de acordo com cada contexto histórico, o

modo de se pensar a família se diferencia.

Constata-se que na antigüidade a família era formada por pais e filhos, e nos dias de

hoje, há novas famílias chefiadas por mulheres.

As entrevistas realizadas objetivaram identificar a característica desta nova

modalidade de família. E percebe-se que as concepções imprimem uma marca da realidade

que elas vivenciam.

Desta forma, o fato de trabalhar com famílias e pesquisar sua história, permitiram

uma comparação na mudança de valores, abrindo espaço para novas possibilidades de

organização familiar. Todas estas situações têm que ser avaliadas, pois a criança se

encontra posta na família e necessita de um lar mais salutar possível.

Vê-se que a comparação entre as concepções arraigadas de família e a experiência

profissional permitiu que a idéia de vida familiar saudável não ficasse restrita ao modelo de

família nuclear composta por pais e filhos.

De acordo com as mudanças que vem sofrendo nossa sociedade, a tendência que se

verifica é que deverá haver uma maior abertura com relação à esta nova modalidade de

família que faz parte principalmente do cotidiano da classe menos favorecida que é regida

por códigos culturais próprios.

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6 – ANEXO

1 – Qual o significado de família?

R: A família da gente é tudo. São nossos filhos, nossos netos. Sem família não é um lar.

2 – A Srª. sente-se totalmente responsável por sua família?

R: Lógico. Porque eu tenho três menores sobre a minha responsabilidade. A minha filha apesar de ser casada, está sob minha responsabilidade por ter dois filhos menores. Eu sou pra tudo. O que precisa ser resolvido com relação à casa, sou eu que resolvo.

3 – A Srª. sente pela ausência de seu companheiro em sua família? Por quê?

R: Não. Porque eu gosto de ser independente. Quando eu estava com o companheiro era só sofrimento. Antes só do que mal acompanhada!

4 – A Srª. pretende unir-se a um companheiro e morar junto (na mesma casa)? Por

quê?

R: Não. Só amizade colorida, se pintar. Mas não faço questão.

5 – A Srª. sente algum tipo de preconceito por parte da sociedade por ser uma mulher

chefe de família? Por quê?

R: Sim, porque têm pessoas que pensam que a mulher sozinha não pode ir a determinados lugares porque pode ficar mal falada. Mas eu não esquento, sigo a minha vida.

6 – A Srª. acredita que seus filhos sentem falta de conviver sem uma presença

masculina em casa? Por quê?

R: Não. O meu neto sente falta do pai sobre o mesmo teto, mas ele tem o carinho dele.

Maria Helena

54 anos

1º grau completo

Auxiliar Administrativo

Data da entrevista: 06/04/2001

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1 – Qual o significado de família?

R: Significado de família é união, compromisso, dedicação, amor, felicidade, enfim, é tudo. Minha família é feliz!

2 – A Srª. sente-se totalmente responsável por sua família?

R: Com toda certeza. Porque sou eu a provedora dessa família; dou estudo, educação, carinho, amor, segurança, bem-estar, lazer, etc.

3 – A Srª. sente pela ausência de seu companheiro em sua família? Por quê?

R: Não. Porque ultimamente ele era uma pessoa violenta, agressiva e constantemente trazia risco para meus filhos.

4 – A Srª. pretende unir-se a um companheiro e morar junto (na mesma casa)? Por

quê?

R: Sim. Porque atualmente estou vivendo uma grande paixão, uma coisa muito boa. Um companheiro que me completa integralmente e que me mostra o real sentido da palavra mulher.

5 – A Srª. sente algum tipo de preconceito por parte da sociedade por ser uma mulher

chefe de família? Por quê?

R: Sinto. Porque quando meu filho se apresenta na Luta Livre (esporte), só têm pais e eu de mulher. Eu me sinto inferior.

6 – A Srª. acredita que seus filhos sentem falta de conviver sem uma presença

masculina em casa? Por quê?

R: Não. Porque tem tio, primos, amigos e só a presença masculina não adianta nada. Mas têm os familiares que cobram essa figura.

Heloísa Helena

42 anos

2º grau completo

Educadora Social

Data da entrevista: 09/04/2001

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1 – Qual o significado de família?

R: Família é com quem se pode contar, desenvolver afeto.

2 – A Srª. sente-se totalmente responsável por sua família?

R: Me sinto mais por relação de afeto, sem dependentes. Por questão de afeto, carinho e amor.

3 – A Srª. sente pela ausência de seu companheiro em sua família? Por quê?

R: Sou independente financeiramente, acho importante quando se pode dividir, pois já tive um companheiro e moramos juntos. Atualmente tenho um companheiro mas não reside comigo.

4 – A Srª. pretende unir-se a um companheiro e morar junto (na mesma casa)? Por

quê?

R: Não pretendo morar junto. Não faz parte dos meus planos.

5 – A Srª. sente algum tipo de preconceito por parte da sociedade por ser uma mulher

chefe de família? Por quê?

R: Nas relações estabelecidas não sinto. Pessoalmente não ocorre, mas já passei por esta situação no prédio onde morava.

6 – A Srª. acredita que seus filhos sentem falta de conviver sem uma presença

masculina em casa? Por quê?

R: Eles não viveram isso, moraram com o pai, tiveram e têm sua presença.

Márcia Franco

50 anos

3º grau completo

Professora

Data da entrevista: 24/08/2001

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1 – Qual o significado de família?

R: Significa construção.

2 – A Srª. sente-se totalmente responsável por sua família?

R: Sinto. Porque moro sozinha com elas.

3 – A Srª. sente pela ausência de seu companheiro em sua família? Por quê?

R: Não. Porque eu dou conta das necessidades básicas que um companheiro poderia fazer.

4 – A Srª. pretende unir-se a um companheiro e morar junto (na mesma casa)? Por

quê?

R: Pode ser, algum dia.

5 – A Srª. sente algum tipo de preconceito por parte da sociedade por ser uma mulher

chefe de família? Por quê?

R: Sinto. Porque a figura masculina ainda é uma figura forte. As pessoas respeitam mais a figura masculina do que a feminina, por parte dos homens mesmo. Mas não me incomoda.

6 – A Srª. acredita que seus filhos sentem falta de conviver sem uma presença

masculina em casa? Por quê?

R: Acredito, pois a construção é feita por vários personagens e quando falta a presença masculina, você acaba desenvolvendo todos os papéis e deste modo, confunde um pouco a cabeça dos filhos.

Marta Lúcia

38 anos

2º grau completo

Educadora Social

Data da entrevista: 24/08/2001

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1 – Qual o significado de família?

R: Uma união muito séria.

2 – A Srª. sente-se totalmente responsável por sua família?

R: Sinto. Pelo fato de ser a filha mais velha, ter me casado mais tarde, por me sentir responsável por eles todos, principalmente depois da morte da minha mãe.

3 – A Srª. sente pela ausência de seu companheiro em sua família? Por quê?

R: Não. Porque ele não faz a menor diferença dentro da minha família.

4 – A Srª. pretende unir-se a um companheiro e morar junto (na mesma casa)? Por

quê?

R: Não. Porque não tenho a menor vontade.

5 – A Srª. sente algum tipo de preconceito por parte da sociedade por ser uma mulher

chefe de família? Por quê?

R: Não.

6 – A Srª. acredita que seus filhos sentem falta de conviver sem uma presença

masculina em casa? Por quê?

R: Sente porque a figura paterna representa muito para a criança porque ela quer mostrar que tem um pai..

Valéria Fraga

45 anos

2º grau completo

Auxiliar Administrativo

Data da entrevista: 27/08/2001

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1 – Qual o significado de família?

R: Amor, companheirismo, respeito, compreensão, individualidade (sem invadir a privacidade do outro).

2 – A Srª. sente-se totalmente responsável por sua família?

R: Sinto até demais! Quando a gente ama, a gente cuida. Eu converso muito com minha filha, procuro fazer as refeições com ela. Me preocupo com sua educação e suas amizades.

3 – A Srª. sente pela ausência de seu companheiro em sua família? Por quê?

R: Eu e o pai da minha filha somos amigos. Às vezes eu telefono para ele dizendo que ela sente sua falta e ela própria demonstra isso.

4 – A Srª. pretende unir-se a um companheiro e morar junto (na mesma casa)? Por

quê?

R: Não. Mas tenho um namorado há 5 anos e ele está sempre na minha casa no fim de semana. Minha filha e ele se dão bem, mas não tenho essa vontade de morar junto agora. Portanto, não penso em ficar sozinha na velhice. Às vezes me sinto sozinha.

5 – A Srª. sente algum tipo de preconceito por parte da sociedade por ser uma mulher

chefe de família? Por quê?

R: Antigamente teve esse preconceito na sociedade, hoje em dia não.

6 – A Srª. acredita que seus filhos sentem falta de conviver sem uma presença

masculina em casa? Por quê?

R: Sente. Às vezes ela fala, mas nem tanto. Ela já sentiu mais; já estou separada há 8 anos.

Dayse Farias

38 anos

2º grau completo

Agente de Pessoal

Data da entrevista: 21/09/2001

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1 – Qual o significado de família?

R: É o elo maior da vida de uma pessoa. Sem família, a gente não tem nada.

2 – A Srª. sente-se totalmente responsável por sua família?

R: Com certeza! Porque todos dependem de mim, só à mim que recorrem. Sou eu pra tudo.

3 – A Srª. sente pela ausência de seu companheiro em sua família? Por quê?

R: Por uma parte sim, por causa dos filhos que perguntam pelo pai.

4 – A Srª. pretende unir-se a um companheiro e morar junto (na mesma casa)? Por

quê?

R: Não. Porque quem teve uma experiência ruim, teme por uma segunda união. Você não vai repetir o mesmo erro. Prefiro continuar como estou, só namorando.

5 – A Srª. sente algum tipo de preconceito por parte da sociedade por ser uma mulher

chefe de família? Por quê?

R: Preconceito nenhum. Porque a mulher hoje em dia está conquistando um espaço que não era o seu.

6 – A Srª. acredita que seus filhos sentem falta de conviver sem uma presença

masculina em casa? Por quê?

R: Com certeza. Porque para certas coisas, a presença masculina faz falta. Para aconselhar coisas que a mãe não domina.

Ana Márcia Rodrigues

33 anos

2º grau completo

Orientadora Social

Data da entrevista: 21/09/2001

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1 – Qual o significado de família?

R: Família para mim são pessoas ligadas por laços sangüíneos que convivem entre si no dia-a-dia.

2 – A Srª. sente-se totalmente responsável por sua família?

R: Me sinto. Porque às vezes isso dá até medo por ser muita responsabilidade. Sou eu pra tudo, eu que dou a palavra final, eu que resolvo. O pai ajuda.

3 – A Srª. sente pela ausência de seu companheiro em sua família? Por quê?

R: Às vezes sim. No caso dos filhos, às vezes sente-se a necessidade de um pai, para dar a palavra final. Os filhos cobram pela presença de um pai. Hoje eu tenho essa visão, antes achava que produção independente era nota 10!

4 – A Srª. pretende unir-se a um companheiro e morar junto (na mesma casa)? Por

quê?

R: Se for para conviver com meus filhos, vai ser o pai deles. No entanto, se aparecer um homem especial que possa proporcionar tudo de bom, eu vou morar com ele. Mas para morar na casa que eu construí, somente meus filhos e eu.

5 – A Srª. sente algum tipo de preconceito por parte da sociedade por ser uma mulher

chefe de família? Por quê?

R: Muita gente pergunta porque você mora sem a presença de um homem, por curiosidade.

6 – A Srª. acredita que seus filhos sentem falta de conviver sem uma presença

masculina em casa? Por quê?

R: Sim. Porque nas comemorações, eles sentem falta de não ter um pai presente.

Sirléia Estevão

40 anos

3º grau completo

Secretária

Data da entrevista: 21/09/2001

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1 – Qual o significado de família?

R: Pai, mãe, filhos e responsabilidade.

2 – A Srª. sente-se totalmente responsável por sua família?

R: Sinto. Porque a minha família sou eu e meu filho.

3 – A Srª. sente pela ausência de seu companheiro em sua família? Por quê?

R: Não sinto a ausência do pai do meu filho, mas de uma pessoa para dividir as responsabilidades.

4 – A Srª. pretende unir-se a um companheiro e morar junto (na mesma casa)? Por

quê?

R: Não pretendo. Para manter a individualidade da minha família.

5 – A Srª. sente algum tipo de preconceito por parte da sociedade por ser uma mulher

chefe de família? Por quê?

R: Não. Somente uma vez tive a experiência de preconceito. As pessoas simples demonstram mais preconceito.

6 – A Srª. acredita que seus filhos sentem falta de conviver sem uma presença

masculina em casa? Por quê?

R: Sente a ausência do pai, mas tem a presença do avô. Meu filho pergunta pelo pai, sobre nossa união.

Cláudia de Farias

37 anos

3º grau completo

Administradora

Data da entrevista: 27/09/2001

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1 – Qual o significado de família?

R: Família é a base de tudo. Família é tudo.

2 – A Srª. sente-se totalmente responsável por sua família?

R: Sim. Porque me sinto responsável, sou uma mulher chefe de família e não tenho um companheiro para dividir as responsabilidades, então sou obrigada a exercê-las sozinha.

3 – A Srª. sente pela ausência de seu companheiro em sua família? Por quê?

R: Sim, sinto. Porque a sociedade cobra isso de você, discrimina muito.

4 – A Srª. pretende unir-se a um companheiro e morar junto (na mesma casa)? Por

quê?

R: No momento eu digo que não porque são muitos anos sozinha e eu acho que não consigo dividir as minhas individualidades com outra pessoa.

5 – A Srª. sente algum tipo de preconceito por parte da sociedade por ser uma mulher

chefe de família? Por quê?

R: Sinto. Porque as pessoas realmente discriminam, principalmente as mulheres que tomam cuidado com seus maridos.

6 – A Srª. acredita que seus filhos sentem falta de conviver sem uma presença

masculina em casa? Por quê?

R: Sinto falta por um apoio. O lado masculino impõe uma segurança. Sente falta do carinho paterno, pois fica um vazio dessa parte..

Célia Freire

49 anos

2º grau completo

Do lar

Data da entrevista: 30/09/2001

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ATIVIDADES EXTRA-CLASSE

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7 – BIBLIOGRAFIA

ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. RJ: Guanabara. 2ª edição. BARSTED, Leila Linhares. Pensando a família no Brasil: da Colônia à Modernidade. RJ:

edição Espaço e Tempo/Editora da UFRJ, 1987. Código Civil Brasileiro, 1916. Debates Sociais – Número especial – Família, ontem, hoje e amanhã – co-edição: CBCISS

e Rede, Seminário PUC-Rio/Novembro de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei 8069, de 13/07/1990.

Constituição e Legislação relacionada. SP: Cortez, 1991. FONSECA, Cláudia – Criança, Família e Desigualdade Social no Brasil in Rizzini, Irene...

et al – A Criança no Brasil Hoje: Desafio Para o Terceiro Milênio. Rio de Janeiro, Editora Universitária Santa Úrsula, 1993.

Poster, Mark. Teoria Crítica da Família. SP, 1978. SILVA, Lídia Maria Monteiro R. da. – Serviço Social e Família: A Legitimação de Uma

Ideologia, 3a. edição, São Paulo, Cortez, 1987. Cap. 2. SZYMANSKY, Heloísa. Trabalhando com famílias, Caderno de Ação. no. 1, 1991.