mudanÇas sociais e construÇÃo de cidades … · legitimação do conjunto de orientações,...
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www.geosaberes.ufc.br ISSN: 2178-0463
Geosaberes, Fortaleza, v. 6, nmero especial (1), p. 250 264, Outubro. 2015. 2015, Universidade Federal do Cear. Todos os direitos reservados.
MUDANAS SOCIAIS E CONSTRUO DE CIDADES SAUDVEIS: ENTRE
DESAFIOS E OPORTUNIDADES
RESUMO
O artigo tem como objetivo pensar sobre a conjuntura das mudanas
sociais, considerando os desafios e as oportunidades a elas inerentes.
De modo especfico, tem como objetivos apresentar a situao do
envelhecimento populacional e tambm concordar que, com vistas a
minimizar os desafios e maximizar as oportunidades so urgentes medidas em setores estrtegicos. Dentre os quais se destacam os
sistemas de apoio social, os servios de educao e sade. E tambm
para os espaos urbanos, que igualmente esto relacionados com a
sade e o envelhecimento ativo. O contexto impe que as mudanas
sociais e na estrutura das cidades sejam postas em prtica,
especialmente nos pases em desenvolvimento, que tem ritmos
intensos de urbanizao e de envelhecimento, e, portanto devem ser
ageis para tirar proveito do bnus demogrfico, no sentido de
resolver parte de seus problemas, e simultaneamente preparar para o
envelhecimento populacional e para o bnus da logenvidade.
Palavras chave: Envelhecimento populacional. Transformaes
sociais. Setores estratgicos.
ABSTRACT
The article aims to think about the situation of social change,
considering the challenges and opportunities inherent to them.
Specifically, aims to present the situation of population aging and
also to agree that, with view to minimize the challenges and
maximize the opportunities are urgent measures in strategic sectors.
Among which highlights are the social support systems; education
and health services. And also for the urban spaces, which are also
related to health and active aging. The context requires social
changes and the structure of cities to be put into practice, especially
in developing countries, which have high rate of urbanization and aging, and therefore must be agile to take advantage of the
"demographic dividend" in the sense of solve part of their problems,
and simultaneously prepare for the aging population and the "bonus
logenvidade".
Keywords: Aging population. Social transformations.
Strategic sectors.
RESUMEN
El artculo tiene como objetivo reflexionar sobre la situacin de
cambio social, teniendo en cuenta los desafos y las oportunidades
inherentes a ellos. En concreto, tiene como objetivo presentar la
situacin de envejecimiento de la poblacin y tambin de acuerdo en
que, con el fin de minimizar los problemas y maximizar las oportunidades son medidas urgentes en los sectores estratgicos.
Entre los que podemos destacar los sistemas de apoyo social;
servicios de educacin y de salud. Y tambin para los espacios
urbanos, que tambin estn relacionados con la salud y el
envejecimiento activo. El contexto requiere cambios sociales y la
estructura de las ciudades para ser puesto en prctica, sobre todo en
los pases, que tienen alta tasa de urbanizacin y el envejecimiento
en desarrollo, y por lo tanto debe ser gil para aprovechar el "bono
demogrfico" en el sentido de resolver parte de sus problemas, y
preparar al mismo tiempo para el envejecimiento de la poblacin y
el "logenvidade bono". Palabras clave: Envejecimiento de la poblacin. Las
transformaciones sociales. Sectores estratgicos.
Lidiane Aparecida Alves [email protected]
Doutoranda pelo Instituto de Geografia/Universidade Federal
de Uberlndia
Vitor Ribeiro Filho
[email protected] Prof. Dr. do Instituto de
Geografia/Universidade Federal de Uberlndia
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INTRODUO
As sociedades so incessantemente passando por mudanas diversas, afinal
como nos explica a sociologia o social transitrio, ou ao menos, tem possibilidade de
mudar, em razo de modernizaes, progressos e desenvolvimentos. Como diria
Herclito de feso, tudo flui; nada permanente. Tais mudanas, seus condicionantes e
reflexos consistem em objetos de estudo de socilogos, mas tambm de outros
estudiosos das cincias humanas preocupados com as relaes socioespaciais assentadas
pelas mudanas sociais.
Entende-se por mudana social qualquer modificao ou transformao em
vrios aspectos/estruturas de uma sociedade. Diz respeito adaptao da sociedade s
novas necessidades particulares surgidas a cada momento histrico. Apesar de ser mais
facilmente visvel nas alteraes de cunho poltico e econmico, como nas mudanas
nas formas de governo e na evoluo dos programas econmicos, a alterao nos
sistemas de costumes, valores e comportamentos tambm so os exemplos de mudanas
sociais, que, em uma via de mo dupla, tm reflexos e refletem mudanas nas
dimenses demogrficas, organizaes sociais e at mesmo nas caractersticas das
cidades, onde est concentrada a maioria da populao.
Nesse sentido, considerando o mbito das cidades, para a explicao de tais
mudanas pertinente destacar o conceito de sistema de ao histrica, construdo
por A. Touraine (1974), segundo o qual:
[...] sociedade se define no apenas pelo modo como se organiza para
produzir, distribuir e consumir, mas tambm pelo sistema que comanda a sua
mudana. A historicidade de uma sociedade definida por um modelo
cultural e por relaes de classes. o modelo cultural o mecanismo de
legitimao do conjunto de orientaes, valores e signos sociais que definem
os padres de organizao, repartio e consumo. As classes sociais se
relacionam atravs desse modelo. Portanto, a historicidade de uma sociedade
e de uma cidade depende do fato de as vrias classes e fraes,
constitudas em atores sociais, compartilharem de um mesmo modelo
cultural. Ao mesmo tempo, atravs do modelo cultural que se reconhece, de um lado, os atores em sua pluralidade, diversidade e conflito e, de outro, os
interesses comuns, ainda que as classes economicamente dominantes
imponham os seus interesses e a sua viso de mundo. O que nos parece
relevante que a historicidade de uma sociedade depende da sua
unificao, o que possvel somente atravs da existncia de um modelo
cultural unificador, cujo controle o objeto de disputa entre os atores
sociais. (TOURAINE, 1974, p.112-113 apud RIBEIRO, 2002, p.89-90).
Portanto, nessa perspectiva da capacidade de adequao das pessoas/sociedade a determinadas circunstncias, a partir da unificao em torno de desejos comuns, aborda-se o
conjunto de mudanas, especialmente no mbito das caractersticas demogrficas,
nomeadamente o envelhecimento populacional, afinal conforme destacou Wilson (2006) o sculo XX foi, principalmente, um sculo de crescimento populacional: o sculo XXI ser um
sculo de envelhecimento populacional. Alm disso, o contexto deste sculo de uma sociedade
urbana em que governos, sociedade civil, empreendedores inspirados, lderes comunitrios, enfim todos, devem estar cientes da inevitabilidade, da necessidade de preparo ou mesmo ansiar
por cidades mais saudveis, que assegurem a convergncia das mudanas sociais e com a
qualidade dos espaos fsicos.
O Secretrio-Geral da ONU Ban Ki-moon no Prefcio do relatrio, Envelhecimento no Sculo XXI: Celebrao e Desafio destaca que as implicaes sociais e econmicas do
envelhecimento populacional so profundas, estendendo-se para muito alm da pessoa do idoso
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e sua famlia imediata, alcanando a sociedade mais ampla e a comunidade global de forma sem precedentes (UNFPA, 2012). Conjectura para se comemorar, mas tambm desafiadora, so
requeridas e reformas polticas, econmicas e sociais, com polticas e programas voltados a
setores estrtegicos, como dos sistemas de apoio social; dos servios de educao e sade. E tambm para os espaos urbanos, j que os idosos do sculo XXI tm potencialidade de
permanecerem com um estilo de vida ativo e saudvel e desfrutar dos espaos urbanizados,
especialmente no seu bairro.
Frente a tal contexto, o presente artigo tem como objetivo pensar sobre a conjuntura das mudanas sociais, considerando os desafios e as oportunidades a elas inerentes. De modo
especfico, tem como objetivos apresentar a situao do envelhecimento populacional e tambm
concordar que, com vistas a minimizar os desafios e maximizar as oportunidades so urgentes medidas prioritrias em setores estrtegicos.
TRANSFORMAES CLARAS E INEVITVEIS: ENTRE DESAFIOS E OPORTUNIDADES
Entre os processos mais relevantes dos ltimos dois sculos esto a urbanizao e as
mudanas na estrutura demogrfica, que resultaram no findar do sculo XXI, em uma
sociedade mundialmente urbana e envelhecida. Tais processos refletem,
simultaneamente, o desenvolvimento social e grandes desafios, especialmente no
contexto dos ditos pases em desenvolvimento. Estes processos so mais visveis nas
regies mais desenvolvidas, que concentram a maioria da populao urbana mais
envelhecida; mas tendem a ser mais representativos nas regies em desenvolvimento.
Pois iniciados, nomeadamente na Europa e Amrica do norte, ocorreram de forma lenta
permitindo certa transio, enquanto que no momento atual, tm destaque a ritmos mais
intensos nos pases do hemisfrio sul, principalmente frica e Amrica do Sul, e na
sia.
A urbanizao resulta na concentrao de mais da metade da populao mundial
em cidades, para 2030 previsto que cerca de trs em cada cinco indivduos vivero em
cidades. comum a formao de grandes cidades, com mais de 1 milho de habitantes e
as megacidades - cidades com mais de 10 milhes de habitantes, mas no somente,
conforme aponta o estudo da ONU Habitat state of the cities, (2006) para o contexto
mundial, as pequenas e mdias cidades tambm tm altas taxas de crescimento
demogrfico e espacial, abrigando 53% da populao mundial figura 1.
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Grfico 1: Populao mundial total por classe de tamanho da cidade (milhes).
Fonte: Naes Unidas, Departamento de Assuntos Econmicos e Sociais, Diviso de Populao:
Perspectivas de Urbanizao Mundial, de 2011 Revision. New York, 2012
Entretanto, para as regies menos desenvolvidas o grau de urbanizao ser
maior do que as mais desenvolvidas, em quatro vezes (OMS, 2008). Na regio da
Amrica Latina e Caribe, as cidades com mais de 1 milho de habitantes passaram de 8
em 1950 para 56 em 2010, sendo que, 1 em cada 3 pessoas desta regio vive em
cidades. Para o mesmo perodo, no Brasil as cidades com esta dimenso demogrfica
passaram de 2 para 15. Neste contexto, tambm comum a proliferao de favelas,
onde alm da pobreza, da informalidade e da precariedade habitacional, tem-se a falta
de muitos servios e condies bsicas, de mobilidade e acessibilidade.
Do ponto de vista demografico, como um triunfo do desenvolvimento,
resultante de progressos sociais como bem, estar econmico melhor nutrio,
saneamento, sade, educao (UNFPA, 2012), que refletem em melhores padres de
vida, de avanos nas cincias mdicas e tambm outras mudanas culturais, que
condicionaram a reduo das taxas de fertilidade, de mortalidade e o aumento da
longevidade cada vez maior, o envelhecimento populacional um fenmeno
estrutural, global, sem perspectivas de mudana e que tende a ser mais acelerado nas
regies e pases em desenvolvimento1, conforme representado no grfico 2 publicado no
estudo do Fundo de Populao das Naes Unidas (2012).
1 Segundo a ONU (2013), para os prximos 30 anos a previso que tanto nas regies menos desenvolvidas como nas mais desenvolvidas, o envelhecimento ocorra na mdia de 7,9% e 8,8 %, respectivamente. Ainda com base em Kinsella e Phillips (2005) tem-se que, enquanto a Frana demorou 115 anos e a Sucia 85 anos, os Estados Unidos da Amrica vai levar 69 anos, para mudar a proporo da populao de 60 anos ou mais de 7% para 14%; a China vai demorar apenas 26 anos, o Brasil 21 anos e a Colmbia apenas 20 anos.
idadeMenos
de
500.000
500.000 a
1 milho
1 a 5
milhes 5 a 10
milhes
Mais de 10
milhes
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Grfico 2: Nmero de pessoas com 60 anos ou mais: Mundo, pases desenvolvidos e em desenvolvimento, 1950-2050.
Fonte: Fundo de Populao das Naes Unidas (UNFPA, 2012)
No grfico 2, tambm possvel observar que, em 1950, havia 205 milhes de
pessoas com 60 anos ou mais no mundo. Em 2012, o nmero de pessoas mais velhas
aumentou para quase 810 milhes. Projeta-se que esse nmero alcance 1 bilho em
menos de 10 anos e que duplique at 2050, alcanando 2 bilhes.
Em 2012, 1/3 dos idosos do mundo estavam nas regies menos desenvolvidas
(11% na sia, 10% na Amrica Latina e Caribe e cerca de 7 % na frica). A Europa,
Amrica do Norte e Oceania, continham 22%, 18% e 15% respectivamente. Sendo que
para 2050 espera-se que 8 em cada 10 dos idosos vivero nas regies menos
desenvolvidas. Ao considerar os idosos com mais de 80 anos, a chamada quarta idade,
que representa 14% em 2012, esta poder ser em 2050, 3,5 vezes maior que hoje, ou
seja, 20% da populao mundial, afinal a espectativa de vida nas regies mais
desenvolvidas estimada em de cerca 80 - 90 anos, e nas regies menos desenvolvidas
entre 70 e 80 anos. (UNFPA, 2012)
Outra particularidade que, em meados deste sculo, projetado que a
populao idosa supere o nmero de jovens, grfico 3.
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Grfico 3: Populao mundial com idade de 0-4, 0-14, e mais de 60 anos, 1950-2050 (milhes).
Fonte: Fundo de Populao das Naes Unidas (UNFPA, 2012)
Segundo estimativas da ONU (2012), considerando dados sobre os padres de
consumo por idade e estimativas e projees da estrutura etria da populao, as pessoas
com 65 anos ou mais de idade em relao aos jovens (idades 0-19), enquanto h trinta
anos, no havia economias envelhecidas, em 2010, haviam 23 economias
envelhecidas, com exceo do Japo, localizadas na Europa; em 2040, haver 89,
incluindo pases do continente americano, os pases da America do Norte e os mais
desenvolvidos da Amrica do Sul, como Chile e Brasil, alm de pases dos continentes
Asitico e Oceania. Em 1970 sero 155 economias, em todos os continentes, em que o
consumo por pessoas mais velhas ultrapassaram o da juventude, figura 1.
Figura 1: Emergncia de economias envelhecidas (2010, 2040, 2050).
Fonte: Fundo de Populao das Naes Unidas (UNFPA, 2012).
Com foco no contexto brasileiro com base nos dados do censo demogrfico de
2010, segundo o Dieese (2012) 7,4% da populao brasileira tinha mais de 65 anos de
idade, sendo que para o ano de 2020, previsto que este contingente seja de 14%. Com
isso, por volta de 2025 provvel que o seja o pas 6 no mundo com maior contingente
de idosos. De acordo com o estudo do IBGE, Sntese de Indicadores Sociais: Uma
anlise das condies de vida da populao brasileira 2014, a participao relativa dos
idosos de 60 anos ou mais de idade foi de 13,0% da populao total, sendo que este
indicador foi mais elevado para a Regio Sul (14,5%) e menos expressivo na Regio
Norte (8,8%).
Pop. de 0 a 4 anos de
Pop. de 0 a 14 anos de idade
Pop. com mais de
60 anos de idade
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Grfico 4: Distribuio percentual das pessoas de 60 anos ou mais de idade, segundo os grupos de idade, sexo, cor ou raa, situao e condio do domiclio -
Brasil 2013.
Fonte: IBGE, Sntese de Indicadores Sociais: Uma anlise das condies de vida da populao
brasileira 2014 com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios 2013.
(1) No so apresentados resultados para as pessoas de cor ou raa amarela e indgena e os sem
declarao de cor ou raa.
Com base nas informaes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios
(IBGE, 2013), o estudo mostra para a populao com mais de 60 anos, o percentual por
grupos de idade, por sexo, raa situao e condio de domicilio, grfico 4. Na pesquisa
tambm destacado o fato de que entre as pessoas de 60 anos ou mais de idade, 23,9%
no recebiam aposentadoria ou penso, enquanto 7,8% acumulavam aposentadoria e
penso. Sendo que o no recebimento de aposentadoria ou penso pode ser explicado
pela insero no mercado de trabalho. J que ao considerar os dados da taxa de
ocupao, tem-se que apenas 27,4% das pessoas nesta faixa de idade estavam ocupadas,
porm se considerados os no eram aposentados ou pensionistas a taxa de ocupao foi
de 45,1% (IBGE, 2014).
Organismos mundiais como a Organizao de Cooperao e Desenvolvimento
Econmico (OCDE), a Comisso Europeia (CE), a Organizao das Naes Unidas
(ONU), a Organizao Mundial da Sade (OMS) e o Banco Mundial (BM) j tm em
suas agendas vrias recomendaes acerca desta conjectura que se desenha no sculo
XXI. Mas, ser que diante dos desafios sociais e econmicos2 intrnsecos aos processos
de urbanizao e envelheimento populacional, que se encontram inter-relacionados e
esto em curso de forma clere, cuja interveno j deveria estar em estgio avanado a
fim de assegurar bons resultados, ainda possvel pensar cenrios futuros positivos,
especialmente no mbito dos pases em desenvolvimento? So vrios os aspectos que
permitem afirmar que sim, sendo que, segundo a UNFPA (2012) o conjunto correto de
polticas pode equipar os indivduos, as famlias e as sociedades para enfrentarem estes
2 Tais desafios so ainda maiores nos pases em desenvolvimento, que diferentemente dos pases desenvolvidos, esto envelhecendo antes de acumularem riquezas e superar problemas como: pobreza, informalidade, precariedade habitacional e infraestrutura, a inacessibilidade e imobilidade. Alm disso, h aspectos ainda pouco conhecidos como a qualidade dos anos adicionados expectativa de vida.
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desafios, maximizarem as oportunidades para colher osbenefcios, do chamado
dividendo da longevidade.
Dentre as questes que permitem vislumbrar oportunidades, tm-se em relao
conjectura de envelhecimento populacional, o Plano de Ao Internacional para o
Envelhecimento, ou Plano de Madri (ONU, 2002) decorrente da II Assemblia Mundial
sobre Envelhecimento, que identificou as trs reas prioritrias para a superao dos
desafios: desenvolvimento, sade e bem-estar, e ambientes propcios e favorveis que
estimulem a autonomia. E chama a ateno para que ocorram mudanas de atitudes,
polticas e prticas que assegurem pessoa idosa no ser vista simplesmente como
beneficiria de planos de previdncia, mas como participante ativa do processo de
desenvolvimento (UNFPA, 2012). Portanto, a organizao vem conclamando pela
possibilidade de atividade, de contribuio economia e da independncia e autonomia
dos idosos, que como cuidadores, eleitores, voluntrios, empreendedores ou em outras
atividades (ONU, 2013).
J em relao aos espaos urbanos, conhecimentos relacionados mudana da
estrutura das cidades, segundo os conceitos da construo de cidades saudveis,
sustentveis ou para o pedestre, conforme a propostas e iniciativas apoiadas e
difundidas pela OMS.
CIDADES SAUDVEIS: RESSURREIO DAS CIDADES E DE CONCEITOS
Apesar de parecer atual, a concepo de Cidades Saudveis no surgiu
recentemente, ela remonta ao ano de 1876, quando Benjamin Richardson props o
modelo de Hygeia, uma cidade, segundo nossa realidade demograficamente classificada
como mdia, cuja organizao espacial deveria seguir padres que assegurassem a
salubridade local (RICHARDSON, 2005).
Na dcada de 1980, inspirado em documentos como: Relatrio Lalonde (1974),
Declarao de Alma-Ata (1978) e a declarao de Ottawa (1986) surgiu na Amrica do
Norte (Toronto/Canad) o Projeto/Movimento Cidades Saudveis, o qual se difundiu
em um primeiro momento na Europa, posteriormente nos EUA e restante do mundo,
sendo atualmente global, com redes estabelecidas nas seis regies da Organizao
Mundial da Sade (OMS). De acordo com a OMS (1997, p.9), uma Cidade Saudvel,
descrita pelos seguintes atributos:
1. Ambiente fsico limpo e seguro, de alta qualidade (incluindo a habitao de qualidade); 2. Ecossistema estvel e sustentvel a longo prazo; 3. Comunidade forte, com relaes de apoio mtuo e de no explorao; 4. Elevado grau de participao e controle da comunidade sobre as decises que afetam as
suas vidas, sade e bem estar;
5. Satisfao das necessidades bsicas (alimento, gua, moradia, renda, segurana e trabalho) para todos;
6. Acesso ampla variedade de experincias e recursos, que possibilite uma ampla variedade de contato, interao e comunicao;
7. Economia diversificada, vital e inovadora; 8. Fortalecimento de conexes dos cidados com o passado, com o patrimnio cultural e
biolgico e com outros grupos e indivduos;
9. Uma forma que seja compatvel com as caractersticas anteriores e as reforce; 10. Um timo nvel de sade pblica adequada e servios de cuidados a doentes acessveis a
todos;
11. Elevado ndice de sade (indicadores positivos para a sade e baixos para doenas).
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O Projeto/Movimento Cidades Saudveis considera o estado atual da cidade,
porm com uma viso de que esta pode se tornar uma cidade saudvel, a partir de
mediaes intersetoriais para melhoria dos seus ambientes e expanso dos seus recursos
para as pessoas apoiarem-se mutuamente na realizao de seu potencial mais elevado.
preciso pensar na cidade e sua organizao, que deve ser salubre/saudvel, e tambm
nas pessoas que devem ter condies de agir em direo melhoria continua da
Qualidade de Vida (QV), que consiste em um dos objetivos das Cidades Saudveis.
(OMS, 1997). Na figura 2, pode-se visualizar as relaes entre os setores chave da
sade, portanto essenciais Cidade Saudvel.
Figura 2: Setores chave de colaborao para a cidade saudvel
Fonte: (OMS, 2008b).
Os princpios deste projeto so convergentes com aqueles do Projeto Cidades
Sustentveis3, estabelecido pela Comisso Europeia em meados da dcada de 1990 com
base na Carta de Aalborg; do Projeto Cidades Amigas do Idoso criado em 2008 pela
OMS, por meio de uma rede de cidades e do Projeto Governana para a Sade no
Sculo XXI, entre outros, como o programa Comunidades Sustentveis, lanado pelo
governo ingls em 2003, com aprovao real em 2007 e do Parlamento em 2010,
quando sofreu alteraes, se tornou uma lei, a lei Act 2007 4. Seu objetivo viabilizar
a construo de ambientes locais sustentveis, tanto urbanos como rurais, onde as
pessoas possam viver e trabalhar em timas condies econmicas e socioambientais
(pilares do desenvolvimento sustentvel), bem como ter mais poder para moldar o que
acontece onde vivem, evitando assim o declnio de servios e comunidades locais.
3 http://ec.europa.eu/environment/urban/pdf/rport-pt.pdf
4 Em termos gerais, pela lei as pessoas locais, por meio de conselhos, devem participar mais
ativamente apresentando propostas acerca de como o governo pode ajudar na promoo da sustentabilidade nas comunidades locais ao Secretrio de Estado. Sendo que o governo tem um prazo de 6 meses para responder. Mais informaes em: https://www.gov.uk/government/publications/sustainable-communities-act-2007-decisions-on-local-councils-proposals-to-improve-local-areas.
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O fato que apesar de guardar particularidades os conceitos Cidade Saudvel e
Comunidades Sustentveis, so conhecidos internacionalmente, e convergem para o
objetivo de construo de ambientes em que a QV seja assegurada, alm de
apresentarem de modo complexo a interseco de componentes que lhes so comuns.
So conceitos que permitem pensar na vitalidade ideal das cidades, em funo da
valorizao da escala humana, dos aspectos social, econmico e cultural na ressureio
das cidades, no sentido da vida tal como Jane Jacobs, em seu livro A Morte e Vida de
Grandes Cidades (2000).
ASPECTOS QUE DEVEM SER PRIORITRIOS NESTE CONTEXTO
Diante da realidade demogrfica que se desenha para o sculo XXI em todo o
mundo, conforme recomenda o unfpa (2012) para gerar avanos concretos, com custo-
benefcio positivo, os governos nacionais e locais, organizaes internacionais,
comunidades e a sociedade civil devem investir no envelhecimento desde o nascimento,
considerando trs aspectos fundamentais, o capital humano, o ambiente e uma mudana
de cultura. O primeiro abarca melhorias do ensino, sade e de perspectivas de emprego
e renda; o segundo diz respeito promoo da mobilidade e acessibilidade, desde a
habitao at os espaos pblicos de modo a viabilizar a independncia e os contatos
sociais e o terceiro est relacionado com a adoo e promoo de novas perspectivas em
que os idosos contribuam para as economias e sociedades.
Concorda-se com Camarano (2007) no sentido de que nos contextos de
populao j envelhecida a prioridade deve ser ampliar os servios de ateno sade
para idosos, a delinear uma poltica de cuidados para os idosos dependentes e a buscar
fontes de financiamento para garantir os benefcios da seguridade social. Esta proteo
social, como destaca o unfpa (2012) especialmente, em contextos de crise, carncia ou
perda de empregos, tem grande importncia para a reduo da pobreza enfrentada por
muitas pessoas mais velhas, e tambm para auxiliar no s as pessoas mais velhas, mas
tambm toda a sua famlia, at mesmo ajudando a quebrar o ciclo intergeracional da
pobreza.
Ao passo que, nos contextos que em a populao ainda jovem, nomeadamente
nos pases em desenvolvimento, a prioridade deve ser em setores como habitao e
emprego e na expanso de servios como educao, sade para as crianas [para se ter
os adultos mais escolarizados e mais saudveis (Dieese, 2012)]. Afinal, nestes pases
tem-se a chamada "janela de oportunidade" do dividendo demogrfico, ou bnus
demogrfico [onde a taxa de dependncia relativamente baixa, posto que so mais
pessoas a trabalhar do que as pessoas que dependem das que esto a trabalhar]. Neste
contexto, pode gerar um aumento per capita de recursos que podem ser usado para
melhorar o consumo corrente, para investir em capital humano, para construir melhores
infraestruturas com efeito multiplicativo sobre o presente e futuro crescimento
econmico e bem-estar (ONU, 2013, p.28).
Porm, os resultados positivos desse fenmeno no so automticos e dependem
de uma srie de fatores, sobretudo relacionado ao capital humano, que, por vezes, no
esto disponveis. Para o contexto do Brasil, por exemplo, segundo Queiroz; Turra
(2014) o pas tem deixado de aproveitar os impactos positivos dos dividendos
demogrficos, devido a baixo investimento em capital humano, a falta de instituies
social e econmicas adequadas e em funo de polticas que no tomaram decises para
transformar as alteraes na idade da populao em crescimento econmico. Contudo,
h vises mais positivas, Alves; Cavenaghi (2012, p.32) destacam que haver no
Brasil, ainda nos prximos quinze anos, uma elevada proporo de pessoas em idade
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adulta que devem reforar a tendncia de crescimento econmico, aumentando as taxas
de poupana e o investimento nos diversos segmentos da economia.
Portanto, destaca-se a relevncia dos investimentos em setores estratgicos
como a sade e a educao, que devem ser asseguradas a todos e com qualidade,
segundo as novas exigncias impostas. consenso a importncia da educao, em
sentido amplo incluindo as oportunidades de aprendizagem ao longo da vida, para o
desenvolvimento pessoal e social e, por conseguinte econmico, na medida em que
possibilita o acesso a bens materiais e imateriais, alm da integrao no mercado de
trabalho formal de diferentes geraes. Desse modo, de acordo com o unfpa (2012), em
um contexto em que em termos globais, apenas 1/3 dos pases contam com planos de
previdncia social abrangentes, a maioria dos quais cobrem s quem se encontram em
empregos formais (menos da metade da populao economicamente ativa mundial),
possibilitar a mudana da concentrao da fora de trabalho do setor informal para o
formal, seria um caminho para a superao do desafio da previdncia social e a
cobertura das aposentadorias na velhice.
sabido que por meio de normas sociais, leis e decises, a sociedade pode
modificar os mecanismos de distribuio de recursos gerados pela PEA, em outras
palavras das transferncias intergeracionais (relaes de troca entre diferentes faixas
etrias) (LEE, MASON, 2014). Sendo que, tais modificaes tornam-se, especialmente
importantes neste contexto de rpido envelhecimento populacional, que implica em
profundas mudanas sociais. Com foco na economia, especificamente no mercado de
trabalho, o estimulo educao, sobretudo a continua, e tambm com foco em grupos
como mulheres e idosos e as mudanas nas relaes de trabalho, que devem ser mais
flexveis, esto entre os caminhos para alcanar a qualidade de vida. Em relao aos
idosos, mesmo que aposentados, muitos continuam(riam) ativos por necessidade de
obter mais rendimentos [os de estratos sociais mais baixos] e os que permanecem(riam)
ativos porque desejam [os mais educados e qualificados]. Posto a capacidade que
possuem para tal, destaca-se a importncia destes manterem-se na atividade produtiva
formal e contribuindo para a seguridade social. Contudo, est uma questo sensvel e
polmica, pois no caso brasileiro, por exemplo, as iniciativas e propostas de reforma da
Previdncia Social, como fixao de idade mnima de aposentadoria por tempo de
contribuio, aumento da idade mnima para a aposentadoria por idade, mudanas nas
regras das penses e eliminao da vantagem de idade das mulheres e dos trabalhadores
rurais para a aposentadoria foram questionadas pelas centrais sindicais (DIEESE, 2012,
p.33).
Conforme aponta as Naes Unidas, maiores nveis de educao esto
associados com melhor sade [qualidade de vida, bem estar], posto que podem
viabilizar o conhecimento e a prtica de hbitos saudveis em detrimento aos fatores de
risco como a inatividade fsica, consumo de lcool e tabaco, reduzindo a possibilidade
de doenas no transmissveis e crnicas; esto associadas tambm com melhor status
econmico da populao mais velha [em particular, mas no somente], que do mesmo
modo tem papel importante para a sustentabilidade da economia dos pases quando
estiverem envelhecidos. Acrescenta-se ainda, especificamente para o setor de sade, a
relevncia que assumem as polticas de promoo de estilos de vida saudveis,
preveno de doenas, tecnologia assistiva, pesquisa mdica e cuidados de reabilitao,
a fim de que as pessoas vivam mais e de forma mais indenpende e com qualidade. A
sade dever ser considerada para alm das paredes de um quarto de hospital, mas no
mbito das polticas ambientais, das condies habitacionais, infraestruturais e dos
equipamentos sociais e de lazer, como parques, praas, etc.
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Com foco no ambiente, destaca-se a importncia das condies habitacionais
que devem de baixo custo e obdecer aos preceitos de acessibilidade, que tambm devem
estar presentes nos espaos publicos. Logo, para o planejamento urbano, alm da
distncia aos servios e equipamentos urbanos, torna-se relevante que sejam
consideradas, essenciais acessibilidade, as noes de ciclo de vida e diversidade, posto
que ao longo da vida e entre os indivduos a capacidade funcional varivel, sendo que
fatores como estilo de vida, fatores sociais externos, ambientais e econmicos so
determinantes para seu declnio. Entretanto, este pode ser reversvel em qualquer
idade, por meio de aes individuais e polticas pblicas, como a promoo de um
ambiente amigvel ao idoso. (OMS, 2008, p.11).
Nesta conjectura destaca-se ainda a possibilidade da participao das pessoas
mais velhas, que a partir do conhecimento que possuem podem contribuir para a
construo de um futuro melhor. Logo, ao considerar o perodo da vida em que a
capacidade funcional menor, para a boa qualidade de vida do idoso, a OMS destaca
que sejam contemplados diferentes aspectos, dentre eles:
Espaos pblicos, edificaes, sistema de transporte e condies de moradia da cidade contribuem para uma mobilidade segura, um comportamento
saudvel, para a participao social e para a auto-determinao ou, ao
contrrio, para um isolamento amedrontado, para a inatividade e excluso
social. Uma ampla gama de oportunidades de participao social, sejam
integrando os diferentes grupos etrios ou voltadas para cada um deles
especificamente, estimula relaes sociais fortes e d poder s pessoas. O
empoderamento e a auto-estima so reforados por uma cultura que
reconhece, respeita e inclui os idosos. Informaes relevantes em formatos
apropriados tambm contribuem para o empoderamento pessoal e a
comportamentos saudveis. Servios de sade acessveis e bem coordenados
tm influncia direta na sade e no comportamento dos idosos. Apesar de nas
cidades as oportunidades de trabalho remunerado estarem relacionadas aos determinantes econmicos do envelhecimento ativo, as polticas que reduzem
as desigualdades econmicas no acesso a todas as estruturas, servios e
oportunidades que a cidade oferece so ainda mais importantes. (OMS, 2008,
p.63).
Muitos dos modelos vigentes carecem ser repensados, sobretudo nos setores: de
apoio social que devem ser abrangentes e assegurar os recursos necessrios, de modo
evitar, sobretudo a pobreza entre a populao idosa5; da sade, especialmente com foco
na promoo e preveno, uma vez que as pessoas mais velhas so geralmente mais
vulnerveis a doenas crnicas, um fardo no s para o indivduo, mas tambm para
famlia e para toda a sociedade; e do sistema previdencirio, a fim de evitar que a PEA
(populao entre 15 e 64 anos) sofra os impacto de altas cargas tributrias para a
manuteno do sistema, j que esta tende a ser menor que os idosos (principalmente
aqueles com idade acima de 65 anos).
A OMS (2008) considera o envelhecimento ativo como um processo de vida,
portanto com durao por toda a vida, moldado por vrios fatores materiais e sociais
que, isoladamente ou em conjunto, favorecem a sade, a participao e a segurana,
assegurando a qualidade de vida. A unfpa (2015) destaca que idosos ativos podem
oferecer sociedade grandes contribuies que, por vezes, no podem ser medidas em
termos econmicos, so exemplos: a prestao de cuidados, o voluntariado, passarem as
5 Estes sistemas so eficazes em apenas 1/3 dos pases, que correspondem a apenas 28% da
populao global. Em metade dos pases desenvolvidos, enquanto que entre os pases em desenvolvimento a variao maior, enquanto na frica so menos eficientes na Amrica Latina so mais eficientes.
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tradies culturais para as geraes mais jovens, como lderes, muitas vezes,
desempenhando um papel na resoluo de conflitos no seio das famlias, nas
comunidades e at mesmo em situaes de emergncia.
Em um contexto que em os idosos so um recurso para as suas famlias,
comunidades e economias, desde que em ambientes favorveis e propcios (OMS,
2008, p.7), logo preciso criar ambientes fsicos e sociais, nomeadamente nas cidades,
que influenciem no comportamento das pessoas, que segundo as Naes Unidas (2001),
devem continuar a participar da sociedade como cidados com plenos direitos, os quais
devem ser distintos daqueles de outras faixas etrias, alm de ressaltar que as relaes
entre as geraes devem ser nutridas e encorajadas.
CONSIDERAES FINAIS
Portanto, os avanos, especialmente em termos legais6, j foram significativos
em diversos contextos, sobretudo escala internacional, com vrios instrumentos de
direitos humanos voltados para os idosos. Nesta escala, nomeadamente no contexto dos
pases j envelhecidos, igualmente significativa a quantidade de estudos para a
compreenso das diversas questes que perpassam pela questo das mudanas na
estrutura demogrfica. Entretanto, em realidades como a brasileira, os avanos em
termos legais so mais recentes e ainda so relativamente, carentes de avanos em
termos prticos, do mesmo modo que os estudos tcnicos e a produo acadmica sobre
as diversas facetas intrnsecas ao envelhecimento populacional ainda so incipientes.
Para alm dos avanos em termos tericos e legais, so requeridas
intervenes, pontuais e abrangentes, que perpassam por diferentes setores, por questes
de ordem material e imaterial, que refletem e condicionam o desenvolvimento da
sociedade com boas condies socioambientais, infraestruturais, essenciais qualidade
de vida em todas as fases da vida. No mbito dos pases em desenvolvimento, o fato de
que, por vezes, prevalecer uma viso ampla das questes a serem tratadas (incluso
social, comunicao, sade, emprego, habitao, transportes etc) em detrimento ao olhar
especifico, sobre a questo do envelhecimento populacional, pode delongar, ainda mais,
a concretizao das mudanas para tirar proveito, no futuro prximo, do dividendo da
longevidade.
Considerando, que os processos de globalizao, urbanizao e envelhecimento
que esto inter-relacionados, assim como destaca o unfpa (2012) que no h prova
concreta de que o envelhecimento da populao, em si, tenha minado o
desenvolvimento econmico ou de que pases no disponham de recursos suficientes
para garantir penses e atendimento sade da populao idosa; ainda que sejam
contextos espaciais e temporais distintos, pases como o Brasil, tm como exemplos,
muitos a no serem seguidos, as aes e as tenses, sobretudo nas esferas econmicas e
sociais, geradas em alguns pases desenvolvidos (como Portugal e Espanha) no findar
do sculo XX, no contexto em que passaram por modificaes na estrutura social.
Logo, para a convergncia destas transformaes como a qualidade de vida,
preciso pensar e intervir em vrios aspectos, como a sade, assistncia social, a
6No mbito internacional, em termos legais destacam-se as assembleia promovidas pela ONU,
em 1982 em Viena, quando foi elaborado o I Plano Internacional para o Envelhecimento (Resoluo 37/51) e em 2002 em Madrid, que resultou no II Plano Internacional para o Envelhecimento revisto em 2007 na ocasio da II Conferncia Regional realizada em Braslia, quando foi elaborada a Carta de Braslia. Alm da promulgao do Princpio das Naes Unidas para as Pessoas Idosas, Resoluo 46/91; do decreto de 1999 como Ano Internacional das Pessoas Idosas, etc. Para o contexto brasileiro destacam-se a Constituio de 1988, a Poltica Nacional (1994) do Idoso e o Estatuto do Idoso (2003).
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previdncia etc, mas por serem objetos e agentes para a reproduo social, destaca-se
a estrutura urbana e a educao, ou seja, pensar o processo de envelhecimento e a
necessidade de espaos que estejam de acordo com as capacidades funcionais dos
idosos, pode ser uma oportunidade alcanar a qualidade dos espaos urbanos [e de vida]
no somente para idosos, mas para todos. Da mesma forma, a aprendizagem contnua,
para alm da educao escolar formal, especialmente considerando o conhecimento e
domnio das novas TICs difundidas pela globalizao, e tambm o acesso s
informaes, reconhecidamente estratgicos para a liberdade, para o envelhecimento
ativo e para a qualidade de vida.
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