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PRÓLOGO

ACABARAM-SE OS ERROS!

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Quartel-general da Itexicon Flórida, EUA

— Traçámos meticulosamente o esqueleto do nosso novo mundo — proclamou a Diretora no grande ecrã na sala de confe-rências. — Partes deste esqueleto estão espalhadas pelo mundo. Agora chegou a altura de ligarmos essas partes, de as tornarmos num todo! E, como um todo, iniciaremos a nossa Re-Evolução!

A Diretora parou de falar quando percebeu que o telemóvel que tinha no bolso da bata branca estava a vibrar. Franzindo o sobrolho, pegou nele e leu a mensagem. A situação no Edifício 3 tornara-se crítica.

— Está na hora — disse, olhando para um colega que não se encontrava visível no ecrã. — Selem o Edifício 3 e gaseiem tudo o que estiver lá dentro.

Do outro lado da mesa de conferências, Roland ter Borcht sorriu. Jeb Batchelder ignorou-o e a Diretora dirigiu-se novamente à câmara.

— Está tudo a postos e vamos iniciar o Plano da Metade a par-tir das sete da manhã de amanhã. Como sabe, Jeb, a única peça do puzzle que não encaixa, a única pedra no sapato, a única ponta solta, são os seus irritantes, incontroláveis, patéticos e inúteis erros voadores.

Ter Borscht assentiu com uma expressão séria e olhou para Jeb.— Implorou-nos que esperássemos até à data de expiração pré-

-programada dos miúdos-pássaros — prosseguiu a Diretora, com a voz tensa. — Mas esse luxo acabou, independentemente da

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proximidade da data. Livre-se dessas ameaças descontroladas agora, Dr. Batchelder. Estou a fazer-me entender?

Jeb assentiu. — Compreendo. Vou tratar do assunto.A Diretora não se deixou convencer facilmente. — Quero uma

prova da extinção desses erros em forma de miúdos-pássaros até amanhã às sete da manhã — disse. — Caso contrário, é o senhor quem será extinto. Estamos entendidos?

— Sim. — Jeb Batchelder pigarreou. — Já está tudo a postos, Diretora. Estão só à espera do meu sinal.

— Então dê-lhes o sinal — rosnou a Diretora. — Esta tolice tem de estar terminada quando o senhor chegar à Alemanha. É um dia glorioso… o despertar de uma nova era para a humanidade… e não temos tempo a perder. Temos muito a fazer se queremos reduzir a população mundial para metade.

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PARTE 1

EM BUSCA DAS BOLACHAS QUENTES COM PEPITAS DE CHOCOLATE

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1— Larga a porcaria da buzina! — digo, massajando a testa.Nudge afastou-se do volante que Fang estava a segurar. — Des-

culpa — disse ela. — É que é tão divertido… Parece uma festa.Olhei pela janela da carrinha e abanei a cabeça, tentando con-

ter a irritação.Parecia que ainda ontem tínhamos conseguido aquilo que era

quase impossível e escapado ao quartel-general da Itex na Flórida, tão assustador e perturbador.

Na verdade, tinham passado quatro dias. Quatro dias desde que Gazzy e Iggy abriram um buraco numa das paredes do quartel--general da Itex, libertando-nos do nosso mais recente cárcere diabólico.

Por sermos grandes entusiastas da coerência, estávamos nova-mente em fuga.

No entanto, numa mudança interessante e terrestre, agora fugía-mos de carro. Tínhamos tomado a decisão sensata de pedir empres-tada uma carrinha de oito lugares que aparentemente servira de ninho de amor nos anos oitenta: com alcatifa de pelos compridos por toda a parte, janelas tapadas e um néon a circundar completa-mente a matrícula, que desativámos por dar demasiado nas vistas.

Havia, para variar, espaço de sobra para nós os seis: eu (Max); Fang, que ia a conduzir; Iggy, que estava a tentar convencer-me a deixá-lo conduzir, apesar de ser cego; Nudge, que ia no banco da frente ao lado de Fang, aparentemente incapaz de tirar as mãos da buzina; o Gases (Gazzy); e Angel, o meu bebé.

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E Total, que era o cão falante da Angel. É uma longa história.Gazzy estava a cantar uma música do Weird Al Yankovic e soava

exatamente como o original. Admirei a extraordinária capacidade de imitação de Gazzy, embora não me agradasse o seu fascínio com os processos fisiológicos do corpo, que aparentemente partilhava com o Weird Al.

— Para com a música da conspiração — resmungou Nudge, quando Gazzy se preparava para se lançar na segunda estrofe.

— Vamos parar em breve? — perguntou Total. — Tenho uma bexiga sensível. — Franziu o nariz e fitou-me com os seus olhos claros por eu ser a líder e tomar as decisões relativas às paragens. E a um milhão de outras coisas.

Olhei para o mapa no ecrã do portátil que tinha ao colo e abri a janela para contemplar o céu noturno, tentando determinar a nossa localização.

— Podias ter escolhido um carro com GPS — disse Total, tentando mostrar-se útil.

— Sim — respondi. — E também podia ter trazido um cão que não falasse. — Lancei um olhar a Angel, que me sorriu com uma expressão… angelical.

Total bufou, ofendido, e subiu-lhe para o colo, aconchegando bem o pequeno corpo preto ao dela. Angel beijou-o na cabeça.

Ainda há uma hora tínhamos atravessado a grande velocidade a fronteira estatal, para o Luisiana, cumprindo meticulosamente o nosso plano brilhantemente concebido de «ir para Oeste», traçado com todo o cuidado. Para longe da farra que fora a nossa breve estada no sul da Flórida. Isto porque ainda tínhamos uma missão: travar a Itex e a Escola e o Instituto e quem mais esti-vesse envolvido na nossa destruição e na destruição do mundo. Ninguém nos pode acusar de falta de ambição.

— Luisiana, o estado esquecido pelo departamento de manuten-ção de estradas — murmurei, fazendo um esgar quando passávamos por cima de mais um buraco no piso. Pensei que não ia aguentar muito mais tempo aquela viagem. Tínhamos demorado uma eterni-dade a ir de carro dos Everglades até ali, em comparação com um voo.

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Por outro lado, até um ninho de amor dos anos oitenta em forma de carrinha dava menos nas vistas do que seis miúdos e um cão falante a cruzarem os céus.

Portanto, não havia outro remédio.

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2Não estava a brincar quando me referi a nós como miúdos voa-

dores. Ou ao cão falante.Aqueles que estão a par das Aventuras da Espantosa Max

e dos Seus Adoráveis Companheiros Voadores podem saltar a pró-xima página. Aqueles que pegaram neste livro sem conhecerem o nosso passado, apesar de esta ser claramente a terceira parte de uma série, vejam se se atinam! Não disponho de dois dias para vos pôr a par de tudo! Aqui fica a versão abreviada (que é muito boa, aviso desde já):

Uma série de cientistas doidos (doidos varridos, não doidos de raiva — embora muitos deles pareçam ter dificuldades em con-trolar o seu temperamento, especialmente quando estão perto de mim) andou a brincar com formas de vida combináveis, mistu-rando o ADN de espécies distintas.

A maior parte das experiências falhou desastrosamente ou teve uma vida horrível, ainda que breve. Alguns miúdos sobrevi-veram, incluindo nós, o miúdos-pássaros, essencialmente huma-nos, mas com um pouco de ADN de pássaro à mistura.

Nós os seis estamos juntos há anos. Fang, Iggy e eu já somos velhos, com catorze anos de idade. Nudge, a tagarela, tem onze, Gazzy tem oito e Angel tem seis.

Os outros que funcionam relativamente bem e duram mais do que escassos dias são híbridos humano-lupinos ou lobisomens. Chamamos-lhes Erasers e têm um tempo de vida aproximado de seis anos. Os cientistas (ou batas-brancas) treinaram-nos para

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caçar e matar, usando-os como seu exército particular. São fortes e sanguinários, mas têm grandes dificuldades em controlar os seus impulsos.

Nós os seis estamos foragidos e a tentar deitar por terra o plano dos batas-brancas para nos destruir, a nós e à maior parte da huma-nidade, o que dá com os batas-brancas em doidos. Ou mais doidos. Por este motivo, têm tomado medidas extremas, por vezes patéticas, para nos capturar.

Aí têm: o breve resumo das nossas vidas, que são tão loucas como parecem.

Mas se o que acabaram de ler deixou a vossa imaginação a dar voltas frenéticas, aqui fica algo ainda mais interessante: Fang começou a escrever um blogue (http:maximumride.blogspot.com). Não que seja egocêntrico ou tenha a mania que é moderno ou algo do género. Não, nada a ver.

Nós «adquirimos» um portátil muito fixe quando fugimos do quartel-general da Itex. Tem uma ligação por satélite permanente, por isso temos sempre acesso à net. E uma vez que a Itex é alta-mente tecnológica, ultrassecreta e muito dada a paranoias, a ligação altera constantemente os códigos e chaves de acesso, tornando a localização do sinal completamente impossível de detetar. É o nosso acesso secreto a todas as informações existentes no mundo.

Para já não falar de informações sobre os horários dos cinemas e críticas a restaurantes. Não consigo conter o riso sempre que penso nisto.

Seja como for, com o nosso maravilhoso portátil Fang está a transferir para a net todas as informações que conseguimos reco-lher sobre o nosso passado, a Escola, o Instituto, a Itex, etc. Quem sabe? Talvez alguém nos contacte e nos ajude a resolver o mistério da nossa existência. Entretanto, conseguimos localizar o Dunkin’ Donuts mais próximo em, tipo, segundos.

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3Continuar a circular por estradas esburacadas pareceu-nos um

trabalho desnecessário, portanto, convenci o bando a abandonar a carrinha e a voar durante o resto do percurso.

Regressámos ao básico.À meia-noite, tínhamos passado do Luisiana para o Texas e está-

vamos a aproximar-nos da enorme extensão de luzes difusas que era Dallas. Concentrando-nos na zona menos iluminada que conse-guimos avistar, começámos a voar cada vez mais baixo, descrevendo círculos lentos e largos, sempre em descida.

E aterrámos num parque público, onde demorámos cerca de um minuto a encontrar umas árvores acolhedoras onde podería-mos dormir.

E quando digo dormir nas árvores, refiro-me ao interior das copas, não a dormir no chão, junto ao tronco. Viva o financia-mento do governo, pessoal! Acreditem, os parques públicos são um recurso valioso! Vamos protegê-los! Nem que seja por causa dos miúdos-pássaros mutantes da vossa zona.

— Então, já definiste melhor o plano? — perguntou-me Fang, depois de termos cumprido o nosso ritual de boas-noites e de os outros já estarem a dormir. Eu estava estendida no ramo largo de um abeto, a balançar uma perna e a desejar poder tomar um duche quente.

— Por mais que me esforce, as contas não batem certo — res-pondi. — Temos a Escola, o Instituto, a Itex… nós, os Erasers, o Jeb, a Anne Walker, as outras experiências que vimos em Nova lorque.

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Mas o que significa tudo isto no panorama geral? Como é que todas estas peças se encaixam? Como é que podemos salvar o mundo?

Eu nunca teria admitido a minha ignorância na presença dos mais novos. Os miúdos precisam de líderes, precisam de saber que alguém controla a situação. Ou melhor, eu não preciso. Mas a maioria dos miúdos precisa.

— Não consigo deixar de sentir que devíamos começar pela Escola — continuei, ignorando o aperto no meu estômago só de pensar no assunto. — Lembras-te de quando a Angel disse ter ouvido gente na Escola a pensar no terrível desastre que se avizi-nhava, depois do qual restariam poucas pessoas?

Sim, ouviram bem. Angel «ouviu pessoas a pensar». Mais uma indicação de que não somos personagens banais. Angel não se limita a ler pensamentos; às vezes também consegue controlá-los.

Fang assentiu. — E que nós íamos sobreviver por termos asas. Suponho que isso quer dizer que podemos voar para longe do desastre em questão.

Permaneci em silêncio por um minuto e pensei tanto que até fiquei com dores de cabeça.

— Duas perguntas — disse Fang. Os olhos dele pareciam fazer parte do céu noturno. — Primeira: onde está a tua Voz? E segunda: onde estão todos os Erasers?

— Estava a pensar o mesmo — respondi.Aqueles de vós que não estão a par do resto da história devem

estar a perguntar-se: qual Voz?Ora, a Voz que ouço na minha mente, claro. Não me digam

que não têm uma. Eu tinha.Ultimamente não a tenho ouvido, mas pensei que se tratasse de

uma simples falha técnica. Não era como se a minha Voz tivesse horas para aparecer. Era demasiado bom pensar que ela tinha desaparecido para sempre, mas ao mesmo tempo assustei-me com a forma como me sentia sozinha sem ela.

— A única explicação que me ocorre é que a Voz está, de alguma forma, a ser transmitida para a minha mente e que estamos fora do alcance da emissão.

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Fang encolheu os ombros.— Sim. Quem sabe? E quanto aos Erasers, também não sei.

Nunca tinha passado tanto tempo sem os ver — respondi, pers-crutando rapidamente o céu. Ainda tinha um microchip no braço que, não duvidava, os guiava até mim, mas há quatro dias que não avistávamos um único Eraser. Normalmente, apareciam do meio do nada, independentemente de onde nos encontrássemos ou do que estivéssemos a fazer. Mas estava tudo assustadoramente silencioso no que lhes dizia respeito. — É sinistro e faz-me sen-tir que se avizinha algo pior. Como se houvesse um cofre de ferro com uma tonelada suspenso sobre as nossas cabeças, preparado para cair a qualquer momento.

Com um aceno de cabeça, Fang disse lentamente: — Sabes o que me faz lembrar? O momento em que os animais desapare-cem de repente antes de uma tempestade. Subitamente não há pássaros e fica tudo mergulhado no silêncio. E depois olhamos para cima e um ciclone está a avançar na nossa direção.

Franzi o sobrolho. — Achas que os Erasers não estão aqui por-que estão a fugir de uma catástrofe iminente?

— Ah… sim — respondeu ele.Voltei a encostar-me à árvore e a examinar o céu. Mesmo a quinze

quilómetros de Dallas, as luzes da cidade ocultavam o brilho das estrelas. Não tinha respostas para aquelas perguntas. Subitamente, senti que não sabia nada. A única certeza na minha vida eram estes cinco miúdos à minha volta. Eram a única coisa de que estava certa e a única coisa na qual podia confiar.

— Vai dormir — disse Fang. — Eu fico de vigia. Além disso, quero ver o meu blogue.

As minhas pálpebras fecharam-se enquanto ele tirava o com-putador do saco.

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4— Os fãs ainda seguem atentamente todas as tuas palavras?

— perguntou Max, pouco depois, com uma voz sonolenta.Fang ergueu o olhar do blogue. Ele não sabia quanto tempo pas-

sara. Por algum motivo, o ténue brilho rosado no horizonte fazia o resto do mundo parecer ainda mais escuro. Mas ele conseguia, ainda assim, distinguir todas as sardas do rosto cansado de Max.

— Sim — respondeu. Max abanou a cabeça e depois aninhou-se na curva de um ramo grande. Os seus olhos voltaram a fechar-se, mas ainda não adormecera. Os músculos estavam contraídos e o corpo tenso.

Tinha dificuldade em baixar a guarda. Era-lhe difícil rela-xar completamente. Carregava um grande peso sobre aqueles ombros alterados geneticamente e, no geral, tinha feito um exce-lente trabalho.

Mas ninguém é perfeito.Fang olhou para o ecrã que se desligara quando Max se apro-

ximou. Deu um toque com o dedo no rato e o ecrã iluminou-se novamente.

O blogue estava a atrair a atenção de cada vez mais pessoas. A palavra estava a espalhar-se. Só nos últimos três dias o número de visitas aumentara de vinte para mais de mil. Mil pessoas estavam a ler o que escrevia e amanhã seriam provavelmente mais ainda.

Graças a Deus que o corretor ortográfico já tinha sido inventado.Mas a mensagem que estava neste momento a ser apresentada

no ecrã era particularmente estranha. Não conseguia responder,

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não conseguia localizar a sua origem, nem sequer conseguia apagá--la sem que ela reaparecesse misteriosamente momentos mais tarde.

Recebera outra mensagem do género no dia anterior. Agora releu a nova, tentando decifrar-lhe a origem e o significado. Erguendo o olhar, Fang olhou para o bando, todos eles adormecidos em árvo-res próximas. Estava a ficar mais escuro a cada segundo que pas-sava e também ele se sentia exausto.

Iggy estava deitado sobre dois ramos, com as asas semifecha-das, a boca aberta e uma perna a estremecer ligeiramente.

Nudge e Angel tinham-se enroscado na curva dos ramos largos de um carvalho.

Total estava aninhado ao colo de Angel, seguro no seu lugar pelo gesto protetor de uma das mãos da pequena. Fang seria capaz de apostar que a rapariga estaria incrivelmente quente com aquela fonte de calor felpuda a dormir em cima dela.

O Gases estava encolhido, quase invisível, dentro de um enorme buraco que um raio tinha aberto na árvore muito tempo antes. Parecia ter menos de oito anos de idade, sujo e pálido de cansaço.

E depois havia Max. Dormia um sono leve, franzindo, como era típico nela, as sobrancelhas ao sonhar. Enquanto Fang observava, uma das mãos da rapariga fechou-se num punho e ela agitou-se no seu ramo.

Ele voltou a concentrar-se no ecrã, na mensagem exatamente igual à que recebera no dia anterior.

Um de vocês é um traidor, dizia. Um dos membros do bando passou--se para o lado dos maus.

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5Nunca tínhamos estado em Dallas e no dia seguinte decidimos

visitar o John F. Kennedy Memorial, como parte da nossa excur-são aos «Marcos do Texas». Pelo menos os outros assim resolveram e vergaram-me à minha decisão tresloucada de «não dar nas vistas».

Agora estávamos a deambular pelo exterior do monumento e confesso que me teriam dado jeito algumas placas explicativas.

— Isto vai cair-nos em cima a qualquer momento — disse Total, examinando as quatro paredes gigantescas que nos rodea-vam e olhando em volta com desconfiança.

— Não diz nada sobre o Presidente Kennedy — queixou-se o Gases.

— Acho que esperam que já saibamos — interveio Iggy.— Foi presidente — disse Nudge, deslizando uma mão morena

pelo cimento liso. — E foi assassinado. Acho que estava destinado a ser um bom presidente.

— Ainda acredito que houve um segundo atirador. — Total fungou e deixou-se cair na relva.

— Já podemos ir? — perguntei. — Antes que apareça um auto-carro carregado de miúdos numa visita de estudo?

— Sim — disse Iggy. — Mas para onde vamos agora? Vamos fazer algo de divertido.

Parece que fugir de Erasers sanguinários e cientistas loucos não lhe chegava. Os miúdos de hoje são mesmo mimados.

— Existe um museu de vaqueiras — disse Nudge. Como é que ela sabia? Não faço ideia.

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Fang abriu um site de turismo de Dallas no computador portátil.

— Há um grande museu de arte — disse, com pouco entu-siasmo. — E um aquário.

Angel sentou-se pacientemente no chão, acariciando o pelo cada vez mais sujo do seu urso de peluche, Celeste. — Vamos visi-tar o museu das vaqueiras — disse.

Mordi o lábio. Por que é que não podíamos simplesmente sair dali, escondermo-nos algures e tirar um tempo para decidir o que fazer? Por que é que eu era a única pessoa a sentir uma forte necessidade de perceber que raio estava a acontecer?

— Jogo de futebol americano — disse Fang.— O quê? — perguntou Iggy, com a expressão a alegrar-se.— Há um jogo de futebol americano esta noite, no Texas

Stadium. — Fang fechou a tampa do computador portátil e levantou-se. — Acho que devíamos ir.

Fitei-o. — Estás doido? Não podemos ir a um jogo! — disse com a minha delicadeza e tato habituais. — Estaríamos rodeados de dezenas de milhares de pessoas, presos lá dentro, com câma-ras por toda a parte. Meu Deus, só de pensar nisso já me parece um pesadelo!

— O Texas Stadium é aberto — disse Fang com um tom firme. — Os Cowboys vão jogar contra os Chicago Bears.

— E nós vamos lá estar! — acrescentou Iggy, dando um murro no ar.

— Fang, posso falar contigo em particular por um segundo? — perguntei secamente, fazendo-lhe sinal para que me acompa-nhasse para o exterior do monumento.

Passámos por uma abertura na parede de cimento e afastámo--nos alguns metros. Pus as mãos nas ancas. — Desde quando é que dás ordens? — exigi saber. — Não podemos ir a um jogo! Vai haver câmaras por toda a parte. Onde é que tinhas a cabeça?

Fang olhou-me com uma expressão séria e um olhar críptico. — Para começar, vai ser um jogo fantástico. Em segundo lugar, vamos estar a gozar a vida. Terceiro: sim, vai haver câmaras por

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toda a parte. Vamos ser detetados. A Escola e o Instituto, o Jeb e o resto dos batas-brancas provavelmente vão estar a intercetar as imagens de todas as câmaras. Portanto, vão saber onde estamos.

Fiquei furiosa e sem saber o que pensar. — É curioso: não pare-cias louco quando acordaste hoje de manhã.

— Eles vão descobrir onde estamos e virão atrás de nós — disse Fang com um tom sério. — E assim vamos saber onde está o ciclone.

Finalmente compreendi onde ele queria chegar. — Queres levá--los a mostrar-se.

— Não aguento ficar na ignorância — disse ele em voz baixa.Pesei a sensatez de Fang contra a minha determinação em con-

tinuar a ser a líder. Finalmente, suspirei e assenti. — OK, estou a perceber. Venha a luta. Mas ficas mesmo em dívida para comigo. Tipo, a sério: futebol americano!

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6Isto pode surpreender-vos, mas as pessoas do Texas gostam

muito de desportos de contacto. Vi mais de um bebé a usar um babygro dos Cowboys.

Eu estava mais tensa do que a coleira estranguladora de um Rottweiler, detestando tudo o que representava a nossa presença ali. O Texas Stadium era (imagine-se!) grande como tudo e estávamos rodeados por mais de sessenta mil oportunidades de nos passar- mos da cabeça.

Nudge estava a comer algodão-doce azul, com os olhos arre-galados, a observar tudo. — Quero ter o cabelo assim, levantado! — exclamou, entusiasmada, enquanto me puxava pela camisa.

— A culpa é tua — disse eu a Fang, e ele quase sorriu.Sentámo-nos nos lugares mais em baixo, junto ao centro do

campo, o mais longe possível de qualquer saída. Ter-me-ia sentido muito mais feliz, ou pelo menos não me teria sentido tão infeliz, nos lugares mais acima, junto ao céu aberto. Aqui em baixo, embora o estádio fosse aberto, sentia-me encurralada e presa.

— Lembra-me lá o que é que estamos aqui a fazer — disse, observando constantemente o ambiente à minha volta.

Fang enfiou uma mão-cheia de pipocas e de amendoins carame-lizados na boca. — Estamos aqui para ver homens a fazer atividades masculinas.

Segui o olhar de Fang. Estava a observar as chefes de claque dos Dallas Cowboys, que não estavam a desempenhar atividades masculinas, nem por sombras.

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— O que se passa? — perguntou Iggy. Ao contrário dos outros, estava tão tenso como eu. Num lugar estranho, rodeado por sons ruidosos que ecoavam por todo o espaço, sem se conseguir orien-tar… questionei quanto tempo demoraria a perder o controlo.

— Se acontecer alguma coisa — disse-lhe —, sobe para a cadeira e voa para fora daqui, dez metros para a frente e depois sobe a pique. Percebeste?

— Sim — disse ele, virando nervosamente a cabeça e limpando as mãos às calças de ganga sujas.

— Quero ser chefe de claque — disse Nudge, com uma expres-são sonhadora.

— Oh, por amor de Deus — exasperei-me, mas o olhar que Fang me lançou fez-me calar. Era um olhar que dizia «Não lhe estragues a festa». Por mais errada e sexista que a dita festa fosse. No meu íntimo, eu estava a ferver. Nunca deveria ter concordado com uma coisa destas. Estava extraordinariamente chateada com a insistência de Fang. Agora, ao vê-lo praticamente salivar enquanto olhava para as chefes de claque incrivelmente espevitadas, fiquei ainda mais zangada.

— Os calções delas são minúsculos. Uma delas tem cabelos ruivos compridos — murmurava ele para Iggy, que acenou com a cabeça, como que hipnotizado.

E todos sabemos o quanto gostas de ruivas, pensei, lembrando--me de como me senti ao ver Fang beijar a Beldade Ruiva na Virgínia. O meu estômago parecia estar a ser corroído pelo seu próprio ácido.

— Max? — Angel olhou para mim. Ao ver os seus caracóis loiros caídos, dei-me conta de que em breve precisaria de dar um banho a estes miúdos.

— Diz, querida? Tens fome? — Comecei a fazer sinal a um vendedor de cachorros-quentes.

— Não. Ou melhor, sim, quero dois cachorros-quentes, e o Total também quer dois. Mas o que queria dizer é que está tudo bem.

— O que é que está bem?

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— Tudo. — Ela olhou-me com uma expressão séria. — Vai correr tudo bem, Max. Já chegámos até aqui. Vamos sobreviver. Vamos sobreviver e tu vais salvar o mundo, como te compete.

Bem, parece que às vezes a verdade vem à tona sem mais nem menos, não é?

— Não me sinto bem neste estádio — expliquei, tentando mostrar-me calma.

— Eu sei. E detestas ver o Fang a olhar para aquelas raparigas. Mas, apesar de tudo, estamos a divertir-nos, e o Fang ainda gosta de ti e tu ainda tens de salvar o mundo. OK?

Fiquei boquiaberta, com o cérebro a tentar desesperadamente decidir a qual daquelas afirmações haveria de responder pri-meiro — Fang gosta de mim? — quando ouvi alguém sussurrar: — Aquele é um dos tais miúdos-pássaros?

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7Angel e eu olhámo-nos e vi na expressão dela um conheci-

mento que transcendia em muito os seus seis anos de idade.O resto do bando demorou apenas escassos segundos a ouvir os

sussurros e a perceber que estavam a subir de tom e a espalhar-se.— Mãe! Acho que são aqueles miúdos-pássaros que vimos

no jornal!— Jason, olha ali. São os miúdos das fotografias?— Oh, meu Deus!— Rebecca, anda cá!Etc., etc., etc. Suponho que algum fotógrafo conseguiu apanhar-

-nos a fugir do Disney World e espalhou as fotografias por todos os jornais. Deus nos livrasse de conseguirmos ver uma porcaria de um jogo de futebol sem nos acontecer algo de radical.

Pelo canto do olho, vi dois seguranças fardados a descerem o corredor na nossa direção. Com uma rápida volta de 360 graus, constatei que nenhum dos presentes estava a transformar-se em Eraser, mas estávamos a ser observados por muitas pessoas boquiabertas de espanto.

— Devemos correr? — perguntou Gazzy, nervoso, a olhar para a multidão que nos rodeava e a fazer um levantamento de todas as possíveis rotas de fuga, como nos fora ensinado.

— Se corrermos, não conseguimos fugir suficientemente depressa — respondi.

— O jogo ainda nem começou — disse Total, com um tom amar-gurado, logo abaixo do assento de Iggy. — Eu apostei nos Bears!

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— Podes ficar aqui para ver como o jogo acaba. — Levantei--me, comecei a pegar nas mochilas e a contar os membros do bando. O costume.

Total saiu de debaixo do banco e saltou agilmente para os bra-ços de Iggy.

Dei duas palmadinhas ligeiras na mão de Iggy. Num instante, saltámos para cima das cadeiras. Os murmúrios continuavam a aumentar de volume a toda a volta e, quando dei por isso, os nos-sos rostos estavam a ser projetados nos enormes ecrãs do estádio, imagens com seis metros de altura. Exatamente o que Fang queria. Restava-me esperar que estivesse feliz.

— Levantem voo e fujam quando eu contar até três — disse eu. Dois outros seguranças aproximavam-se a grande velocidade pelo nosso lado direito.

As pessoas estavam a afastar-se e eu senti-me feliz por o está-dio seguir uma lamechas política de proibição de armas. Agora, até as chefes de claque estavam de olhos fixos em nós, embora não tivessem interrompido a sua coreografia.

— Um — iniciei a contagem, e todos nos erguemos no ar, acima das cabeças de toda a gente.

Whoosh! Abri as asas brusca e rapidamente. Tenho uma ampli-tude de asas de quase quatro metros, de ponta a ponta, e as de Fang e de Iggy são ainda maiores.

Aposto que parecíamos anjos vingadores a pairar sobre a mul-tidão estupefacta. Uns anjos vingadores com mau aspeto. Anjos a precisarem de um valente banho.

— Despachem-se! — ordenei, ainda a observar o público, à procura dos Erasers. O último grupo de Erasers que encontrá-mos conseguia voar, mas agora ninguém pareceu levantar voo, além de nós.

Com duas batidas de asas estávamos ao nível do topo do está-dio, a olhar para baixo, para o campo fortemente iluminado e para os rostos minúsculos que nos fitavam fixamente. Algumas pessoas sorriam e erguiam os punhos no ar. A maioria parecia chocada e assustada. Reparei que alguns rostos pareciam zangados.

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Mas nenhum dos presentes estava a crescer, a cobrir-se de pelo e a desenvolver enormes caninos. Todos continuavam a ter uma forma humana.

Quando nos erguemos no céu noturno, a voar em formação perfeita como aviões a jato militares, perguntei-me: O que é feito dos Erasers?

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8— Foi uma chatice, mas ao mesmo tempo também foi muito

fixe — disse Gazzy. — Senti-me como se fizesse parte dos Blue Angels!

— Sim, se excluirmos o facto de os Blue Angels disporem de um grande financiamento, estarem extraordinariamente bem equi-pados, serem bem treinados e bem alimentados e de constituírem, sem dúvida, um grupo de pilotos militares incrivelmente limpos — disse eu. — E nós não passamos de um grupo de híbridos de pássaros e seres humanos que não tem dinheiro ou equipamento, mal treinados, insuficientemente alimentados e imundos. Mas, tirando isso, é exatamente a mesma coisa.

No entanto, percebi o que ele estava a querer dizer. Por muito que me desagradasse estar nesta situação, por muito que detestasse estar outra vez em fuga e por mais que esta última aventura nos tivesse deixado vulneráveis, voar em formação, com as nossas belas, amplas e maravilhosas asas estendidas… era incrivelmente fixe.

Gazzy mostrou um sorriso hesitante, detetando a minha ten-são, sem saber se eu estava a tentar ter piada. Sentei-me, espetei uma palhinha num pacote de sumo e bebi-o todo de uma só vez. Depois, pu-lo de parte e bebi outro.

Estávamos escondidos nas montanhas do Texas, perto da fronteira com o México. Tínhamos encontrado um desfiladeiro profundo e muito estreito que nos protegia do vento e agora está-vamos instalados no fundo do mesmo, em frente a uma pequena fogueira.

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Nunca tinha estado tão zangada com Fang. Era certo que con-cordara com a sua péssima ideia, mas agora, ao pensar melhor no assunto, percebi que era seis vezes mais estúpida do que parecera inicialmente.

— Hum — disse Fang, olhando para o computador portátil. — Estamos em toda a parte: na televisão, nos jornais, na rádio. E parece que muita gente tirou fotografias.

— Olha que surpresa — respondi. — Aposto que isso explica os helicópteros que ouvimos.

— Estás bem, Max? — perguntou Nudge, timidamente.Respondi com um sorriso quase convincente. — Claro, querida.

Estou só… cansada.Não consegui evitar lançar um olhar a Fang.Ele ergueu o olhar. — O meu blogue teve cento e vinte e uma

mil visitas hoje.— O quêêê? A sério? — Teria ele um público assim tão vasto?

Mal conseguia escrever sem erros!— Sim. As pessoas estão a organizar-se e a tentar realmente

obter informações para nós.Iggy franziu o sobrolho. — E se forem apanhadas pelos

batas-brancas?— Sobre o que é que escreves? — Confesso que não lia o blogue

dele. Estava demasiado ocupada a tentar manter-me viva e isso…— Sobre nós. Estou a tentar divulgar todas as peças do puzzle,

para ver se alguém nos pode ajudar a juntá-las.— É uma boa ideia, Fang — disse Angel, virando o cachorro-

-quente para assar a outra extremidade. — Temos de estabelecer ligações.

O que quereria dizer com aquilo?As ligações são importantes, Max.A Voz tinha regressado.

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9Fiquei tão alarmada com o súbito reaparecimento da Voz que

dei um salto e praticamente choquei com a parede de pedra.Instintivamente, levei uma mão à têmpora, como se conseguisse

sentir a Voz a correr-me sob a pele, como um rio.— Estás bem? — Iggy estendeu a mão e tocou-me nas calças

de ganga. Sentira o meu sobressalto.— Sim — murmurei, afastando-me do grupo. Senti que esta-

vam todos a olhar para mim, mas não quis explicar.Voz. Há muito tempo que não me chateavas, pensei.Estavas a safar-te muito bem sozinha, respondeu ela. Tal como

antes, era impossível perceber se era jovem ou velha, masculina ou feminina, humana ou de máquina. Tive automaticamente cons- ciência de uma reação esquizoide: parte de mim sentia-se irritada, invadida, desconfiada, ressentida; outra parte de mim sentia um grande alívio, como se experimentasse menos solidão.

O que era uma estupidez. Eu vivia com os meus cinco melho-res amigos e um cão. Eram a minha família e a minha vida. Como podia sentir-me só?

Todas as pessoas estão sempre sozinhas, Max, disse a Voz, alegre como de costume. É por isso que as ligações são importantes.

Andaste outra vez a ler as mensagens dos cartões festivos?, pensei. Caminhei até ao fundo do desfiladeiro e dei comigo a uns escas-sos três metros de um parapeito que descia a pique para um outro desfiladeiro, muito maior e mais profundo.

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As ligações, Max. Lembras-te do teu sonho? Franzi as sobrance-lhas, sem saber ao que se referia a Voz.

Estás a falar do meu sonho de me tornar a primeira ave a ser eleita Miss América?, pensei, num tom sarcástico.

Não. Refiro-me ao teu sonho em que estás a ser perseguida pelos Erasers e corres pelo meio do bosque até chegares a um rebordo. Depois cais do rebordo, mas começas a voar. E foges.

Nesse momento, a minha respiração transformou-se num sus-piro audível. Não tinha esse sonho desde… bem, desde que o sonho fora substituído por uma realidade bem pior. Como é que a Voz sabia daquilo?

— Sim, e depois? — perguntei em voz alta.Este desfiladeiro é muito parecido com o sítio do teu sonho. É como

o fechar de um círculo. Não fazia a mínima ideia. Não imaginava o que a Voz quere-

ria dizer.Ligações. Juntar as peças. O teu sonho, o computador do Fang, as pes-

soas que conheceste, os sítios onde estiveste. A Itex, a Escola, o Instituto. Não estará tudo ligado?

OK, mas como?, perguntei, praticamente aos gritos.Quase me pareceu ter ouvido a Voz suspirar, mas provavel-

mente tratou-se apenas da minha imaginação.Verás. Vais descobrir. Antes que seja tarde de mais.Que reconfortante, pensei, zangada. Obrigada.Depois ocorreu-me outro pensamento. Voz? O que é feito dos

Erasers?Claro que a Voz nunca tinha respondido diretamente a uma per-

gunta minha. Não, isso seria demasiado fácil. Não nos limitamos a dar um bocado de queijo a um rato, obrigamo-lo a esforçar-se para o conseguir, não é?

Encolhendo os ombros, virei-me e voltei para junto dos outros.Estão mortos, Max, disse a Voz. Foram… retirados.Estaquei subitamente, paralisada pelo choque. A Voz sempre

fornecera as informações timidamente, mas, tanto quanto sabia,

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nunca me tinha mentido. (O que, percebi, não era garantia de nada.) Mas… mortos?

Mortos, repetiu a Voz. Foram retirados. Em todo o mundo, todos os ramos da organização têm vindo a exterminar as experiências de combinação de ADN. Vocês estão entre os últimos sobreviventes. E eles andam à vossa procura.

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10Ooh, entra a música sinistra, não é? «E eles andam à vossa pro-

cura.» Grande novidade. Já andavam atrás de nós há quatro anos. Até agora não se tinham saído muito bem.

Dirigi-me de novo para junto do bando.— Estás bem? — perguntou Fang.Assenti com a cabeça e depois lembrei-me de que estava zan-

gada com ele.Desviei o olhar e sentei-me deliberadamente ao lado de Nudge,

junto à outra parede do desfiladeiro.— Acabo de ter notícias da Voz — informei.— O que é que ela disse? — perguntou Nudge, enfiando na

boca uma fatia de mortadela enrolada.Angel e Total estavam a observar-me atentamente e Fang tinha

parado de escrever no computador.— Disse que não temos visto os Erasers porque estão todos

mortos — respondi secamente.Todos arregalaram muito os olhos.— O que é que isso quer dizer? Estão todos mortos? — per-

guntou Nudge.Abanei a cabeça. — Não sei. Se não estava a gozar comigo,

suponho que quer dizer… que todos os Erasers foram desta para melhor. — Pensei em Ari, o filho de Jeb, que fora transformado em Eraser, e senti um aperto no peito. Pobre Ari. Que porcaria de vida que lhe tinha calhado. E breve, ainda por cima.

— Quem os matou? — perguntou Fang, direto como era seu hábito.

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— A Voz disse que… em todo o mundo, todos os ramos da Itex e do Instituto e da Escola estão a exterminar as experiências de combinação de ADN. E que já só restamos praticamente nós. — Comecei a aperceber-me do que aquilo significava e um arre-pio levou-me a pôr os braços em volta dos joelhos.

Ficámos todos em silêncio por um minuto, tentando processar aquela informação.

Depois, Total disse: — OK, se alguém perguntar, eu não posso falar, está bem?

Revirei os olhos. — Ah, sim, isso há de enganá-los.— O que vamos fazer agora? — perguntou o Gases. Parecia

muito preocupado e veio sentar-se junto de mim. Estendi a mão e espetei-lhe o cabelo da crista, que já tinha crescido.

— Temos uma missão — comecei a dizer, já preparada para nos animar para resolvermos este enigma. E possivelmente dar-mos cabo de alguns batas-brancas pelo caminho.

— Precisamos de uma casa — disse Fang, quase exatamente ao mesmo tempo.

— O quê? — perguntei, alarmada.— Precisamos de encontrar uma casa permanente — disse

Fang, muito sério. — Não podemos continuar em fuga por muito mais tempo. Sugiro que esqueçamos a missão. Eles que deem cabo do mundo. Podemos encontrar um esconderijo onde ninguém consiga encontrar-nos e simplesmente… viver.

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