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    Promotor ia de Justia do ConsumidorAv. Joana Anglica, 1312, Nazar

    Bl oco Anexo, Sala 302-A , 3. andarSalvador/Bahi a CEP 40050-001

    Tel.: (71) 3103-6801 Fax: (71) 3103-6812

    em face do POLICURSOS EDUCAO BSICA E PROFISSIONALLTDA, na condio de entidade de ensino mantenedora do COLGIO

    NACIONAL DE PTICA E OPTOMETRIA, pessoa jurdica de direito

    privado, inscrito no CNPJ/MPF sob o no 03.808.782/0010-79, com filial nesta

    Capital, sediada na Av. Joana Anglica, no 1019, Nazar, tendo como

    representantes legais o Sr. Danny Carvalho Magalhes, brasileiro, casado, natural

    de Colinas do Tocantis-TO, RG n 1865568 SSP/GO, CPF n 454293161-72 e a

    Sra. Maria Natalina Magalhes, brasileira, casada, RG n 4669122 SSP/GO, CPFn 324604653-00, ambos residentes e domiciliados na Rua 6A, n 799,

    Condomnio Vilage, Apt. 1103, Setor Aeroporto, Goinia-GO, em razo dos

    argumentos fticos e jurdicos expostos a seguir:

    I DOS PRESSUPOSTOS

    FTICOS

    As informaes obtidas por meio do mencionado Inqurito Civil revelam

    que o acionado presta servios educacionais, mediante remunerao, para os

    interessados em contrat-lo, estando, assim, inserido, no mercado de consumo,

    como verdadeiro fornecedor. Os indivduos, portanto, que formalizam relao

    contratual com o acionado, para a obteno dos servios, atravs do pagamento

    devido, so qualificados como consumidores. Configurada, ipso facto, a relao

    jurdico-consumerista, os conflitos desta resultantes devem ser debelados no

    presente Juzo por intermdio da aplicao das normas constantes no Cdigo de

    Proteo e Defesa do Consumidor.

    No evolver da investigao cvel que serve de supedneo para a

    propositura desta ao, restou expressamente demonstrado que parte do contedo

    programtico dos cursos tcnicos na rea de optometria, em vista da legislao

    que versa sobre o ramo de atuao destes profissionais, de atribuio exclusiva

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    Promotor ia de Justia do ConsumidorAv. Joana Anglica, 1312, Nazar

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    dos profissionais com formao acadmica em medicina, e, em conseqnciadeste fato, ficou provada a prtica de propaganda enganosa por parte do

    requerido.

    Verificou-se, tambm, que o Colgio Nacional de ptica e Optometria j

    se encontra autorizado a funcionar no Estado da Bahia, eis que o rgo

    competente para deliberar sobre a questo manifestou-se favoravelmente,

    consoante o teor da Resoluo CEE - 54/2005 e do Parecer CEE - 0012971-

    2/2005 do Conselho Estadual de Educao, datados, respectivamente, de 21 dejunho e 12 de julho sobre o casosub oculis, conforme comprovam as fls. 192 e

    193 do feito.

    A despeito da sua regularidade perante os rgos competentes, no h

    previso legal autorizatria de parte do projeto pedaggico constante do curso

    tcnico em ptica e optometria, consoante pode-se verificar no plano de curso

    juntado s fls. 394:

    PERFIL PROFISSIONAL DE CONCLUSO

    Ao final do curso o Tcnico em ptica e Optometria o profissionalser aquele que: Examina pessoas portadoras de perturbaes da funo visual

    como um todo, diagnosticando, compensando e orientando osdiferentes tipos de tratamento para promover a recuperaodesses distrbios.

    Ocupa-se do exame do processo visual em seus aspectosfuncionais e comportamentais, determinando e medindocientificamente os defeitos de refrao, acomodao e mobilidadedos olhos, prevenindo e compensando os transtornos da viso,prescrevendo e adaptando os meios pticos sejam lentesoftlmicas em geral, lentes de contato em geral.

    Reconhece condies patolgicas oculares sistmicasencaminhando esses casos ao profissional especializado.

    Busca oferecer o mximo de rendimento visual com mnima fadiga. Por mtodos objetivos e subjetivos, reconhece, determina,

    compensa as anomalias visuais, de modo funcional e dinmico. Fornece dados aos profissionais especializados para efeito de

    auxlio nos casos patolgicos carentes de tratamentos especficose/ou cirrgicos.

    Orienta a famlia do cliente atravs de contatos informais paraobter o maior rendimento possvel.

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    Completa o tratamento usando filtros, lentes adicionais, prismas,corretores, processos de ocluso, para assegurar maior rapidez eeficincia, analisando os resultados obtidos.

    Realiza triagem ou seleo de profissionais, para avaliao dospadres exigidos pelo rgo requisitante.

    Fabrica e monta lentes oftlmicas. Adapta lentes de contato.O Tcnico em ptica e Optometria profissional no-mdicoespecialista da viso. E treinado especificamente para a prtica daoptometria plena ou para qualquer uma das suas especialidades, comautonomia e responsabilidade. Atua na sade pblica (escolas,universidades, hospitais, postos de sade, empresas e etc.), podendoprestar seus servios na esfera privada (escolas, universidades,

    clnicas, hospitais, indstria, empresa e etc.), em consultrios prpriosou estabelecimentos comerciais de pticas. (grifo nosso)

    O exame de perturbaes da funo visual, com diagnstico e orientao

    dos diferentes tipos de tratamento constitui habilitao especfica dos mdicos

    oftalmologistas. A prescrio, adaptao de lentes oftlmicas ou de contato em

    geral como forma de preveno e compreenso dos tratamentos da viso,

    tambm so atividades que competem aos referidos profissionais. A prescrio

    de filtros, lentes adicionais, prismas, corretores, processos de ocluso, paraassegurar rapidez e eficincia na recuperao do distrbio da viso so

    habilitaes mdicas.

    Deste modo, as atividades preventivas da rbita mdica, no poderia o

    acionado afirmar ao pblico consumidor que contratou os servios educacionais

    a possibilidade de pratic-los aps a concluso do curso. A efetivao da

    propaganda enganosa expressa.

    Outra prtica proibida por lei constitui a instalao de consultrios porpticos e optometristas para atendimento de clientes, que, malgrado ilegal

    prevista no plano de curso uma opo de atuao no mercado de trabalho. O

    acionado, com a promessa de que podero ser instalados os referidos consultrios

    cometeu, mais uma vez, propaganda ilcita.

    O Colgio Nacional de ptica e Optometria defende as habilitaes dos

    profissionais em ptica e optometria presentes no plano de curso, alegando que

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    estes possuem a tarefa de identificar e tratar os defeitos anatmicos da viso,enquanto que aos oftalmologistas, caberia o diagnstico e tratamento das doenas

    oculares. Um outro argumento utilizado pelo acionado para justificar legalmente

    a atuao desses profissionais est baseado na nova Classificao Brasileira de

    Ocupaes CBO de 2002, que vem substituir a anterior, publicada em 1994,

    disponibilizada sociedade pelo Ministrio do Trabalho e Emprego - MTE.

    A CBO o documento que reconhece, nomeia e codifica os ttulos e

    descreve as caractersticas das ocupaes do mercado de trabalho brasileiro. Osprofissionais do setor ptico (Tcnicos em ptica, Tcnicos em Optometria,

    Contatlogos e outros) esto reunidos na famlia descrita como PTICO

    OPTOMETRISTA com o cdigo 3223. Em sua descrio sumria diz in verbis:

    Realizam exames optomtricos; confeccionam lentes; adaptamlentes de contato; montam culos e aplicam prteses oculares.Promovem educao em sade visual; vendem produtos e serviospticos e optomtricos; gerenciam estabelecimentos.Responsabilizam-se tecnicamente por laboratrios pticos,estabelecimentos pticos bsicos ou plenos e centros de adaptaode lentes de contato. Podem emitir laudos e pareceres pticos-optomtricos.

    Tais argumentos no prevalecem a uma anlise mais detida acerca da

    legitimidade de algumas habilitaes descritas no plano de curso que o acionado

    oferece aos consumidores. Embora no se discuta a existncia ou licitude do

    exerccio da profisso dos pticos e optometristas, nem a legitimidade para oexerccio da maioria das suas atividades, questiona-se, luz do ordenamento

    jurdico vigente, nesta demanda, a legalidade do exerccio destes profissionais de

    atividades exclusivas da medicina.

    Apesar da Coordenao de Defesa do Consumidor CODECON e da

    Superintendncia de Proteo e Defesa do Consumidor - PROCON,

    respectivamente, atravs dos ofcios nos 060/2005 e 155/2005, localizados nas fls.

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    185 e 186, informarem que no existem procedimentos instaurados destinados aapurar condutas abusivas implementadas pelo estabelecimento educacional em

    tela, no h como o acionado negar pela prtica de propaganda enganosa.

    Releva-se, ainda, a potencialidade lesiva por vir do servio oferecido

    sociedade, pois h consumidores que podero dirigir-se ao estabelecimento dos

    futuros profissionais formados pelo Colgio Nacional de ptica e Optometria,

    sem saberem que podero vir a receber um diagnstico inadequado; o que, de

    fato, acarretaria conseqncias malvolas em suas vises.A fim de se buscar um consenso acerca do exerccio profissional da

    optometria e a feitura do Compromisso de Ajustamento, foi designada a

    audincia realizada no dia 19/12/2005, oportunidade em que se fez presente o Sr.

    Danny Carvalho Magalhes, na condio de Diretor do Colgio Nacional de

    ptica e Optometria. Todavia, apesar dos esforos desprendidos, o acionado se

    negou a firmar o termo de compromisso de ajustamento de conduta, em razo de

    entender que os profissionais pticos optometristas podem prescrever, adaptar

    lentes oftlmicas e de contato em geral, alm da realizao de exames e testes de

    viso, sem anterior prescrio mdica.

    Assim, finda a instruo inquisitorial sem a concretizao de termo de

    compromisso, concluiu-se que a conduta do acionado fere a esfera jurdica dos

    consumidores de duas formas diversas, a saber: expe os mesmos a uma

    propaganda enganosa, posto que no podero exercer, ao final do curso e no

    mercado de trabalho, parte das habilitaes que pagaram para aprender, face

    sua ilegalidade; bem como expe, difusa e coletivamente, atravs do exerccio

    ilegal da medicina, a vida e a sade dos demais consumidores, a partir do

    momento em que presta um servio potencialmente nocivo e perigoso. Diante

    disto, outra alternativa no resta ao Ministrio Pblico seno o caminho da lide.

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    II - DOS PRESSUPOSTOSJURDICOS

    2.1 - Da propaganda enganosa

    Todo e qualquer servio colocado disposio dos consumidores dever

    estar pautado na legalidade e na lisura quanto aos seus propsitos. Divulgando

    informaes inverdicas sobre as habilitaes que os consumidores teriam ao

    final do curso, o acionado terminou praticando propaganda enganosa, criando,

    nos consumidores, uma falsa expectativa.

    Houve desrespeito aos arts. 6, incisos I e IV, 10, caput, bem como dos

    arts. 36 e 37, do Cdigo de Proteo e Defesa do Consumidor, que tratam da

    propaganda enganosa. Tal Diploma contm normas que visam coibir e sancionar

    os engodos materializados atravs de propalaes inverdicas e abusivas. Os

    artigos 30, 36 e 37, pargrafo 1o, daquele Codex constituem pedras essenciais na

    articulao da defesa dos consumidores contra as propagandas irregulares.

    Importante frisar que a propaganda enganosa constitui infrao penal prevista no

    art. 66 daquele Codex. Analise-se o teor do art. 37, pargrafo 1, do CDC:

    Art. 37. proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.Pargrafo 1o enganosa qualquer modalidade de informao oucomunicao de carter publicitrio, inteira ou parcialmente falsa, ou,por qualquer outro modo, mesmo por omisso, capaz de induzir emerro o consumidor a respeito da natureza, caractersticas, qualidade,quantidade, propriedades, origem, preo e quaisquer outros dadossobre produtos e servios.

    Constitui preocupao do legislador, inserta no Cdigo de Consumo, a

    preservao da lealdade do fornecedor e do consumidor, essenciais ao

    desenvolvimento normal dos vnculos contratuais de consumo. Como corolrio,

    torna-se reprimvel a prtica comercial que desatender aos princpios e normas

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    No caso sub oculis, identifica-se a prtica de propaganda enganosa deforma comissiva, pois o Acionado divulga e oferece informaes sabidamente

    inverdicas acerca da ptica, optometria e suas habilitaes. De sorte que nos

    termos da legislao j citada, para uma publicidade ser enganosa, basta a

    potencialidade de induzir o consumidor em erro, no sendo necessrio que algum

    consumidor tenha sido efetivamente enganado.

    2.2 - Da violao aos demais ditames legais

    O ponto fucral da problemtica que no h autorizao legal para que o

    profissional ptico e optometrista prescreva os meios pticos compensatrios

    para correes dos defeitos na viso ou adapte lentes de contato e oftlmicas em

    geral. As atividades praticadas por tais profissionais encontram-se regidas pelos

    Decretos nos 20.931/32 e 24.492/34 que, apesar da longnqua data de existncia,

    ainda permanecem em vigor.

    Os arts. 38 e 39 do Decreto no 20.931/32 determinam, de forma expressa,

    quais so as atividades que no podem ser exercidas pelos pticos optometristas:

    Art. 38 - terminantemente proibido aos enfermeiros, massagistas,optometristas e ortopedistas a instalao de consultrios para atenderclientes, devendo o material a encontrado ser apreendido e remetidopara o depsito pblico, onde ser vendido judicialmente (...)

    Art. 39 vedado s casas de tica confeccionar e vender lentes degrau sem prescrio mdica, bem como instalar consultrios mdicosnas dependncias dos seus estabelecimentos. (Grifo nosso)

    O contedo dos arts. 1o e 4o do aludido instrumento normativo encontra-se, abaixo, transcrito:

    O chefe do Governo Provisrio da Repblica dos Estados Unidos doBrasil, usando das atribuies que lhe so conferidas pelo Art. 1 dodecreto n 19.398, de 11 de novembro de 1930, decreta:

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    Art. 1 A fiscalizao dos estabelecimentos que vendem lentes degrau em todo o territrio da Repblica regularmente na forma dosArt. 38, 39, 41 e 42 do decreto n 20.931, de 11 de janeiro de 1932, eexercida, no Distrito Federal, pela inspetoria de Fiscalizao doExerccio da Medicina Da Diretoria Nacional de Sade e AssistnciaMdico-Social, por intermdio do Servio de Profilaxia das MolstiasContagiosas dos Olhos, e nos Estados ficar a cargo das repartiespblicas sanitrias estaduais competentes. (...)

    Art. 4 Ser requerido, a quem o requerer, juntamente provas decompetio de idoneidade, habilitar-se a ser registrado como ticoprtico na Diretoria Nacional de Sade e Assistncia Mdico-Socialou nas reparties Higiene Estaduais, depois de prestar exames

    perante peritos designados para este fim. Pelo diretor da Diretorianacional de Sade e Assistncia Mdico-Social, no Distrito Federal,ou pela autoridade sanitria competente, nos estados.

    O Decreto no 24.492/34, que baixou instrues sobre aqueloutro, na parte

    relativa venda de lentes de grau, no art. 6o, dispe que a obteno de

    autorizao para funcionamento do estabelecimento depender da presena de,

    no mnimo, um ptico prtico sujeito a registro, consoante o artigo 4o do mesmo

    decreto. O art. 9o deste Decreto estabelece a competncia do tico, restando sem

    sombra de dvidas que no poder executar atos privativos dos mdicos:

    Art. 9 Ao tico prtico do estabelecimento compete:

    a) manipulao ou fabrico das lentes de grau;b) o aviamento perfeito das frmulas ticas fornecidas por mdicooculista;c) substituir por lentes de grau idntico aquelas que lhe foremapresentadas danificadas;d) datar e assinar diariamente o livro de registro do receiturio detica.

    E os arts. 13, 14, 15 e 17, do referido decreto que regulamenta a venda de

    lentes de grau, por sua vez, preceituam:

    Art. 13. expressamente proibido ao proprietrio, scio, gerente,tico prtico e demais empregados do estabelecimento, escolher oupermitir escolher, indicar ou aconselhar o uso de lentes de grau, sobpena de processo por exerccio ilegal da medicina, alm das outraspenalidades previstas em lei.

    Art. 14. O estabelecimento de venda de lentes de grau s poderfornecer lentes de grau mediante apresentao da frmula tica de

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    mdicos, cujo diploma se ache devidamente registrado na repartiocompetente.

    Art. 15. Ao estabelecimento de venda de lentes de grau s permitido, independente da receita mdica, substituir por lentes degrau idntico, aquelas que foram apresentadas danificadas, vendervidros protetores sem grau, executar concertos nas armaes quandonecessrio.

    Art. 17 . proibida a existncia de cmara escura no estabelecimentode venda de lentes de grau, bem assim ter em pleno funcionamentoaparelhos prprios para o exame dos olhos, cartazes e anncios comoferecimento de exame de vista.

    Note-se que os Decretos n 20.931/32 e 24.492/34, ainda em vigor,

    probem a confeco e venda de lentes de grau sem prescrio mdica, bem

    assim a instalao de consultrios mdicos nas dependncias das casas de ptica,

    situao que se estende aos optometristas, empregados e outros profissionais no

    mdicos oftalmologistas a escolher, indicar ou at mesmo aconselhar o uso de

    lentes de grau ao consumidor. Outrossim, a Lei n 3.968/61 estabelece, em seu

    art. 3, que terminantemente vedado aos enfermeiros, optometristas eortopedistas a instalao de consultrios.

    Importante salientar, mais um vez, que no se discute a legitimidade da

    ocupao profissional, corroborada pelo que estabelece o Decreto-Lei no

    8.345/45 que versa sobre a habilitao para o exerccio da profisso de ptico e

    optometrista, dispondo, no art. 1o que S permitido o exerccio das profisses

    de protticos, massagistas, ticos prticos, prticos de farmcia, prticas de

    enfermagem, parteiras prticas e profisses similares, em todo o territrio

    nacional, a quem estiver devidamente habilitado e inscrito no Servio Nacional

    de Fiscalizao da Medicina e nos respectivos servios sanitrios, nos Estados

    (fl. 83).

    O Departamento Nacional de Sade, atravs do Servio de Fiscalizao do

    Exerccio Profissional, rgo existente em 1958, baixou a Portaria no 86, de 28

    de junho de 1958, estabelecendo conceitos fundamentais sobre os profissionais

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    intitulados de ptico e optometristas (v. fls. 84 e 85). Examinando-se o art. 13 damencionada Portaria, vislumbra-se que no h previso para que os pticos

    optometristas prescrevam, adaptem lentes oftlmicas e de contato em geral, nem

    realizem exames e testes de viso. Esses profissionais no esto legalmente

    habilitados para o exerccio de atos referentes rea mdica:

    ptico-Prtico e tico-prtico em lentes de contatoArt. 1 O exerccio da profisso acima enumerada em todo o

    territrio nacional, s permitido a quem estiver devidamente inscritono Servio Nacional de Fiscalizao da Medicina e Farmcia ouServio Nacional de Fiscalizao da Odontologia para o DistritoFederal e, nos respectivos Servios Sanitrios competentes, para osEstados e Territrios.Art. 12 Entende-se por tico prtico e tico prtico em lentes decontato, quem for habilitado nos exames procedidos na forma dapresente portaria para assumir a responsabilidade pelofuncionamento dos estabelecimentos de tica.Art. 13 - So obrigaes do tico-prtico e do tico-prtico em lentesde contacto:2. Assumir a responsabilidade de todas as atividades de tica do

    estabelecimento comercial de tico prtico ou de prtico em

    lentes de contacto;3. Assinar e datar as receitas registradas no livro apropriado;4. Tratar de todos os assuntos referentes ao estabelecimento do qual

    responsvel, com a autoridade sanitria fiscalizadora.

    Com a edio da Lei no 5.692/71 fora instituda a formao profissional

    em nvel tcnico dos mulcitados profissionais. O Parecer n 45/72 do Conselho

    Nacional de Educao instituiu a grade curricular mnima para cada curso

    tcnico, sendo, portanto, estruturado o Curso Tcnico em ptica, dispondo de umcurrculo mnimo composto pelas disciplinas de Optometria, Surfaagem,

    Montagem, Materiais e Equipamentos, Psicologia e Tcnica de Vendas,

    atualmente, fiscalizado pelo Ministrio da Educao.

    O referido Parecer assim define, in verbis - As habilitaes profissionais

    que so obtidas mediante o cumprimento de currculo oficialmente aprovados e

    os respectivos diplomas e certificados, devidamente registrados, conferem aos

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    portadores direitos especficos de exerccio das profisses. Novamente, no hpreviso para que os pticos optometristas prescrevam, adaptem lentes

    oftlmicas e de contato em geral, nem realizem exames e testes de viso.

    verdade que o Decreto no 12479/78, no ttulo XII, que versa sobre os

    estabelecimentos que industrializam ou comercializam lentes oftlmicas, ao tratar

    do exerccio profissional, exige a presena dos multicitados profissionais.

    Entretanto, em material apresentado pelo Colgio Nacional de ptica e

    Optometria, nas fls. 87 e 88, constam os seguintes esclarecimentos sobre aatuao do tcnico ptico e do optometrista, demonstrando-se que o mesmo

    poderia vir a desempenhar atividades, sem a necessidade de anterior prescrio

    mdica; o que, de certo, caracteriza o exerccio irregular da medicina. No que diz

    respeito ao tcnico ptico, asseverou-se que:

    Uma das reas de trabalho do ptico a ptica oftlmica, umaespecializao profissional que trabalha exclusivamente com amelhoria da qualidade visual e para isso utiliza os culos, as lentes decontato.O ptico especializado em ptica oftlmica trabalha tambm naconfeco de lentes oftlmicas, na montagem de culos, noatendimento ao cliente e na adaptao de lentes de contato.

    Segundo o Colgio Nacional de ptica e Optometria, esta ltima tem sido

    definida como a determinao e medidas cientficas dos defeitos de refrao,

    acomodao e mobilidade do olho humano. O ensaio, prescrio e adaptao de

    lentes que compensam tais defeitos.A alegao, reiterada na audincia realizada em 19.12.2005, pelo

    representante legal do Ru de que os ditos profissionais da optometria podem

    prescrever lentes, evidencia a invaso desta atividade na seara especfica e

    privada dos mdicos. Isto porque os Decretos n 20.931/32 e 24.492/34, ainda em

    vigncia, cobem, expressamente, a confeco e venda de lentes de grau sem

    prescrio mdica, bem assim a instalao de consultrios mdicos nas

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    Tel.: (71) 3103-6801 Fax: (71) 3103-6812

    dependncias das casas de ptica, situao que se estende aos optometristas,empregados e outros profissionais no mdicos oftalmologistas a escolher,

    indicar ou at mesmo aconselhar o uso de lentes de grau ao consumidor.

    Em 2002, o Ministrio do Trabalho e Emprego TEM, por meio da

    Portaria n 397, de 09 de outubro de 2002, aprovou a nova Classificao

    Brasileira de Ocupaes CBO, que veio substituir a anterior, publicada em

    1994. A citada Classificao Brasileira de Ocupaes, constante nas fls. 145 a

    148, trata dos pticos optometristas da seguinte forma:

    3223: pticos optometristas3223-05 Tcnico em ptica Contatlogo, ptico esteticista, pticomontador de culos, ptico Oftlmico, ptico refracionista, pticosurfaagista, Tcnico contatlogo.

    3223 Tcnicos em ptica e Optometria3223-05 Tcnico em ptica e optometria - Contatlogo, pticocontatlogo, ptico oftlmico, ptico optometrista, ptico protesista,Tcnico optometrista.Descrio sumria

    Realizam exames optomtricos, confeccionam lentes, adaptam lentesde contato, montam culos e aplicam prteses oculares. Promovemeducao em sade visual, vendem produtos e servios pticos eoptomtricos, gerenciam estabelecimentos. Responsabilizam-setecnicamente por laboratrios pticos, estabelecimentos pticosbsicos ou plenos e centros de adaptao de lentes de contato.Podem emitir laudos e pareceres pticos-optomtricos.

    REALIZAR EXAMES OPTOMTRICOSMedir acuidade visual, analisar estruturas externas e internas do olho,medir presso intra-ocular (tonometria), identificar deficincias eanomalias relacionadas s alteraes da funo visual, encaminharcasos patolgicos a mdicos, medir refrao ocular (refratometria e

    retinoscopia) e determinar compensaes e auxlios pticos.ADAPTAR LENTES DE CONTATOFazer avaliao lacrimal, definir tipo de lente, calcular parmetros daslentes, selecionar lentes de teste, colocar lentes de teste no olho,combinar uso de lentes (sobre refrao), avaliar adaptao da lente,retocar lentes de contato, recomendar produtos de assepsia, executarrevises de controle da adaptao de lentes de contato e medircrnea (queratometria, topografia).

    Na relao de atividades que podem ser desenvolvidas pelos pticos

    optometristas, constam a confeco de lentes, a montagem de culos e auxlios

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    pticos, a promoo da educao em sade visual, a venda de produtos e serviospticos e optomtricos e gerenciar estabelecimento. Entretanto, no h a previso

    de prtica pelo ptico optometrista de condutas como exame de pessoas

    portadoras de pertubaes da funo visual como um todo, com diagnstico,

    compensao e orientao dos diferentes tipos de tratamento para promover a

    recuperao desses distrbios. Quanto questionada prescrio de lentes, na

    alnea g do subgrupo 3223-05, da Classificao Brasileira de Ocupaes, que

    trata da venda de produtos e servios, encontra-se, claramente, a limitao de queos pticos optometristas podem apenas Interpretar prescrio e no atuarem

    como verdadeiro oftalmologistas.

    Ressalte-se que, em 6 de novembro de 1990, o art. 4 do Decreto n

    99.678/90 emanado pelo ento presidente Fernando Collor de Mello revogou

    todos os decretos-lei de 16 de maro de 1931 a abril de 1936, atingindo as leis de

    n 20.931 de 11/01/1932 e 24.492 de 28/06/1934. De sorte que, a oftalmologia

    ficou sem nenhum instrumento para exercer e fiscalizar a confeco da receita, o

    que levou o Conselho Brasileiro de Oftalmologia e a Sociedade Brasileira de

    Oftalmologia a entrarem com uma ao direta de inconstitucionalidade no S.T.F.

    (n 533/2), que foi aceita em sua totalidade e por unanimidade dos ministros do

    Supremo Tribunal Federal, decidiu-se pela suspenso daquele ato normativo, por

    vcio de inconstitucionalidade formal, bem assim os Decretos 20.937/32 e

    24.492/34 continuam plenamente em vigor, e foram recepcionados com fora de

    lei.

    Recentemente, em 10 de agosto de 2005, a Primeira Seo do Superior

    Tribunal de Justia, ao julgar recurso especial interposto no bojo do MANDADO

    DE SEGURANA MS 9469 / DF 2003/0235523-8, tendo como Relator o

    Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, questionando a legitimidade da

    optometria, disps sobre a legitimidade da profisso, que poder ser lecionada,

    inclusive, em sede do Ensino Superior, mas ventilou a possibilidade de se

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    questionar que algumas atividades dos optometristas no podero ser exercidas,dada a sua irregularidade, posto que esto inseridas no campo da medicina.

    Observe-se a ementa:

    ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANA. ENSINOSUPERIOR. CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EMOPTOMETRIA. RECONHECIMENTO PELO MINISTRIO DAEDUCAO. LEGITIMIDADE DO ATO.1. A manifestao prvia do Conselho Nacional de Sade exigidaapenas para os casos de criao de cursos de graduao em

    medicina, em odontologia e em psicologia (art. 27 do Decreto n.3.860/2001), no estando prevista para outros cursos superiores,ainda que da rea de sade.2. Em nosso sistema, de Constituio rgida e de supremacia dasnormas constitucionais, a inconstitucionalidade de um preceitonormativo acarreta a sua nulidade desde a origem. Assim, asuspenso ou a anulao, por vcio de inconstitucionalidade, danorma revogadora, importa o reconhecimento da vigncia, ex tunc, danorma anterior tida por revogada (RE 259.339, Min. SeplvedaPertence, DJ de 16.06.2000 e na ADIn 652/MA, Min. Celso de Mello,RTJ 146:461; art. 11, 2 da Lei 9.868/99). Esto em vigor, portanto,os Decretos 20.931, de 11.1.1932 e 24.492, de 28 de junho de 1934,que regulam a fiscalizao e o exerccio da medicina, j que o ato

    normativo superveniente que os revogou (art. 4 do Decreto n.99.678/90) foi suspenso pelo STF na ADIn 533-2/MC, por vcio deinconstitucionalidade formal.3. A profisso de optometrista est prevista em nosso direito desde1932 (art. 3 do Decreto 20.931/32). O contedo de suas atividadesest descrito na Classificao Brasileira de Ocupaes - CBO,editada pelo Ministrio do Trabalho e Emprego (Portaria n. 397, de09.10.2002).4. Ainda que se possa questionar a legitimidade do exerccio, pelosoptometristas, de algumas daquelas atividades, por pertencerem aodomnio prprio da medicina, no h dvida quanto legitimidade doexerccio da maioria delas, algumas das quais se confundem com asde tico, j previstas no art. 9 do Decreto 24.492/34.

    5. Reconhecida a existncia da profisso e no havendo dvidaquando legitimidade do seu exerccio (pelo menos em certo campode atividades), nada impede a existncia de um curso prprio deformao profissional de optometrista.6. O ato atacado (Portaria n. 2.948, de 21.10.03) nada disps sobreas atividades do optometrista, limitando-se a reconhecer o CursoSuperior de Tecnologia em Optometria, criado por entidade deensino superior. Assim, a alegao de ilegitimidade do exerccio, poroptometristas, de certas atividades previstas na ClassificaoBrasileira de Ocupaes matria estranha ao referido ato e, aindaque fosse procedente, no constituiria causa suficiente paracomprometer a sua validade.5. Ordem denegada. (grifos nossos)

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    Ademais, alguns Tribunais ptrios j firmaram posio no sentido da

    inadmissibilidade de o optometrista receitar lentes de grau, conforme decises

    transcritas abaixo:

    MANDADO DE SEGURANA. EMPRESA QUE CONTA COMTCNICO PTIVO. EQUIPAMENTO PARA TESTE VISUAL(CERATMETRO). FORNECIMENTO DE LENTES E CULOSSEM RECEITA MDICA. CMARA ESCURA. REALIZAO DE

    TESTES DE REFRAO PARA MEDIR A ACUIDADE VISUAL EADAPTAO DE LENTES DE CONTATO. DECRETO N 24.492 DE28.06.34. RECURSO DESPROVIDO.So de competncia exclusiva do mdico oftalmologista a anlise,visualizao e descrio de outras anomalias encontradas no globoocular, no sendo possvel atribuir-se estas atividades ao tcnico daoptometria.Entre os atos permitidos ao ptico prtico pelo art. 9 do Decreto n24.492/34, no se insere o de realizar exames oftalmolgicos, e, emrazo disto, receitar ao paciente a lente de grau que entende cabvel. que o aviamento permitido a este comerciante aquele decorrenteda apresentao, pelo consumidor, de frmula fornecida pelo mdicooftalmologista devidamente credenciado(in Apelao Cvel n

    46.963, de Biguau, Rel. Des. Eldio Torret Rocha, Terceira CmaraCvel, j. em 07.11.95. (TJSC, Cmara Cvel Especial, Ap. Cvel emMandado de Segurana n 96.009307-9, Rel. Des. Nelson SchaeferMartins, j. em 26-1-99, capturado na Internet atravs do sitewww.tj.sc.gov.br)

    Ao movida por mdicos oftalmologistas contra inmeras ticas daCapital e do Estado, objetivando que estas ltimas se abstivessem deanunciar ou proceder exames de vista ou testes de viso; de venderpara clientes, culos com lentes de grau ou lentes de contato, semapresentao de receita mdica, contida na receita; da vender ouconceder, para os clientes, lentes de contato, quando estesapresentarem receita mdica prescrevendo uso de culos de grau.Sentena de procedncia parcial, com o acolhimento, porm, dos

    pedidos acima enumerados. Nega-se provimento. A legislao federalexistente d sustentao ao pleito dos autores apelados. Odiagnstico e a prescrio do tratamento ato mdico, exclusivo,estando os ticos proibidos de aconselhar, indicar o uso de lentes degrau ou, ainda, converter receita de culos para lentes de contato.(TJRS 6 Cm. Cvel. Apelao Cvel n 595191263, Rel. Des.Paulo Roberto Hanke, j. 06.08.96)3. (grifos nosso)

    Como bem se sabe, a atividade mdica muito bem definida no meio

    cientfico, a consulta oftalmolgica por demais complexa e consiste de vrias

    3 Acrdo completo s fls. 130/134 dos autos do Procedimento Administrativo.

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    http://www.tj.sc.gov.br/http://www.tj.sc.gov.br/
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    etapas, alm de investigar os defeitos de refrao do olho e sua correo, outrosprocedimentos tambm so realizados cabendo-lhe com exclusividade o

    exerccio da prescrio de lentes de grau, alm de definio de patologias

    oftlmicas, no podendo, portanto, haver ingerncia por terceiros no habilitados

    a tal exerccio. Sendo de competncia exclusiva do oftalmologista examinar e

    descrever anomalias eventualmente encontradas no globo ocular, cabendo ao

    optometrista apenas, de posse das receitas, aviar as lentes de grau e de contato. J

    ao mdico compete o diagnstico e o tratamento das doenas oculares,procedendo anlise com acuidade do complexo rgo que olho humano.

    Diante do exposto, e aps apurada anlise da legislao pertinente,

    conclui-se que aos tcnicos pticos e optometristas, profissionais de nvel mdio,

    compete apenas a manipulao ou fabricao de lentes de grau, de acordo com

    prescrio mdica, sendo-lhe vedado examinar, diagnosticar, compensar, tratar

    distrbios do aparelho visual, atribuies privativas dos mdicos, profissionais de

    nvel superior. vista da necessidade de acompanhamento de pacientes, face a

    possibilidade de graves complicaes, a adaptao de lentes de contato, por suas

    caractersticas tcnicas, ato de competncia exclusiva dos mdicos

    oftalmologistas.

    Destarte, o acionado deve indenizar todos os consumidores alcanados

    pela propaganda enganosa praticada, uma vez que esta gerou naqueles uma falsa

    expectativa quanto a quais habilitaes teriam ao final do curso.

    Outrossim, o acionado, ao proceder de modo abusivo, tambm, acabou por

    acarretar danos aos consumidores difusamente considerados, na medida em que

    exps toda a coletividade, que porventura objetivasse contratar os servios

    divulgados, e outros, que, posteriormente, viessem a procurar profissionais

    imperitos, colocando em risco a sua sade. Neste particular, a reparao no

    basta para proteger a coletividade de consumidores afetados pela propaganda

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    enganosa e os que firmaram contrato, mas, tambm, todos os demais,considerados de forma difusa, que foram ou venham a ser atingidos de qualquer

    forma com a prtica ilcita.

    III DA MEDIDA LIMINAR

    No caso sub judice, impe-se a expedio de ordem liminar, inaudita

    altera parte, com base no art. 12 da Lei n 7.347/85 (Lei de Ao Civil Pblica) e

    no art. 84, 3 do CDC, uma vez que se encontram, plenamente, caracterizados

    os seus pressupostos jurdicos, quais sejam, o fumus boni juris e o periculum in

    mora. Outrossim, o ordenamento jurdico ptrio prev a possibilidade de

    concesso de medida liminar nas obrigaes de fazer ou no fazer para que

    alguns dos efeitos do provimento final possam ser desde logo implementados.

    Ofumus boni juris constitui, conforme disposto pelo art. 273 do Cdigo deProcesso Civil, a prova inequvoca da verossimilhana do pedido, ou seja a

    fumaa do bom direito. A norma contida no art. 10 do CDC de clareza

    meridiana quando probe ao fornecedor de servio colocar no mercado de

    consumo um servio potencialmente perigoso e nocivo sade ou segurana dos

    consumidores, fato devidamente comprovado na investigao. De modo que

    demonstrada a prtica de propaganda enganosa e a periculosidade do servio

    ofertado pelo acionado, urge que o mesmo seja retirado do alcance dosconsumidores. Ao tratar dos pressupostos fundamentais para a concesso de

    medida em carter liminar, Jos Frederico Marques4 aduz que:

    4 MARQUES, Jos Frederico.Manual de Direito Processual Civil. So Paulo: Saraiva, p. 334 e335.

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    No processo cautelar, dois so os pressupostos: a probabilidade dexito da pretenso e o perigo de ficar comprometida,irremediavelmente, pela demora processual (periculum in mora).(...) O fumus boni juris outro pressuposto da tutela cautelar, razopela qual, quando se pede uma antecipao provisria do resultadofinal do processo, deve haver uma pretenso provvel, como objetoindireto ou mediato do processo cautelar.H, por isso, na sentena cautelar, um juzo de probabilidade, comolastro da aplicao da providncia requerida. Esse juzo consiste,como fala CONIGLIO, no afirmar-se a existncia provvel de umdireito cujo reconhecimento ficar para uma fase post-cautelar, isto, para o processo principal.

    J o periculum in mora est patenteado na necessidade de inibir, o quanto

    antes, a referida prtica abusiva. Existe, sem dvida, o fundado receio de dano a

    caracterizar o perigo resultante da demora na deciso, pois o acionado continuar

    agindo de modo abusivo, estimulando nos seus cursos a atividade ilegal por

    pessoas no competentes para a realizao de exames e testes de viso,

    adaptao de lentes de contato e confeco de lentes de grau, sem prvia e

    expressa receita mdica, o que constitui exerccio ilegal da medicina.

    Nelson Nery Jnior e Rosa Maria de Andrade Nery5, na parte referente

    aos elementos exigidos para que providncias cautelares sejam determinadas pelo

    Estado-Juiz, apresentam a seguinte deciso jurisprudencial sobre o que se

    configura o perigo de aguardar-se o decisum final da lide:

    Periculum in mora. Caracterizao. Periculum in mora dado domundo emprico, capaz de ensejar um prejuzo, o qual poder ter,inclusive, conotao econmica, mas dever s-lo, antes de tudo esobretudo, eminentemente jurdico, no sentido de ser algo atual, reale capaz de afetar o sucesso e a eficcia do processo principal, bemcomo o equilbrio das partes litigantes (Justia Federal- SeoJudiciria do Esprito Santo, Proc. N. 93-0001152-9, Juiz MacrioJdice Neto, j. 12.5.1993).

    5 NERY JNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Cdigo de Processo CivilComentado. 7 ed. Rev. E ampl. So Paulo: Revista dos Tribunais, p. 1086

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    b) informar, por escrito, a todos os consumidores j matriculadosno Curso Tcnico em ptica e Optometria, que no sero habilitados a

    prescreverem os meios pticos compensatrios, esclarecendo, inclusive, que este

    ato privado dos oftalmologistas;

    c) registrar, quer seja atravs de folders, cartazes, folhetos, ou

    quaisquer outros instrumentos escritos, bem como por intermdio do Jornal do

    Colgio Nacional de pticos e Optometristas e demais meios de comunicao de

    massa eInternet, a restrio prevista na alnea a.

    IV DO PEDIDO:

    Em carter definitivo, pugna o Ministrio Pblico que sejam mantidos os

    pleitos liminares, julgando-se, ao final, procedente esta demanda, condenando-se

    a acionada, sob pena de pagamento de multa diria no valor de R$ 10.000,00

    (dez mil reais), sujeito a atualizao monetria, a ser recolhida ao Fundo de

    Reparao de Interesses Difusos Lesados, previsto no art. 13 da Lei n 7.347/85,

    sem prejuzo do crime de desobedincia, a cumprir o seguinte:

    a) suprimir do plano de Curso Tcnico em ptica e Optometria,

    bem como de quaisquer outros documentos relativos, a informao de que, ao

    final do mesmo, o profissional poder prescrever e adaptar os meios pticos

    preventivos compensatrios, sejam lentes oftlmicas em geral e lentes de

    contato, j que constitui prtica restrita aos mdicos oftalmologistas;

    b) informar, por escrito, a todos os consumidores j matriculados

    no Curso Tcnico em ptica e Optometria, que no sero habilitados a

    prescreverem os meios pticos compensatrios, esclarecendo, inclusive, que este

    ato privado dos oftalmologistas;

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    Tel.: (71) 3103-6801 Fax: (71) 3103-6812

    c) registrar, quer seja atravs de folders, cartazes, folhetos, ouquaisquer outros instrumentos escritos, bem como por intermdio do Jornal do

    Colgio Nacional de pticos e Optometristas e demais meios de comunicao de

    massa eInternet, a restrio prevista na alnea a.

    d) a efetivar o pagamento de indenizao pelos danos causados

    (patrimoniais e morais) aos consumidores que individualmente foram atingidos

    pela prtica enganosa do acionado;

    e) a condenao do acionado ao pagamento de indenizao pelo

    dano difuso causado no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), com reverso ao

    Fundo de Reparao de Interesses Difusos de que trata a Lei 7.347/85 (Lei da

    Ao Civil Pblica).

    V - DOS REQUERIMENTOS:

    a) seja determinada a citao do ru, na pessoa do seu

    representante legal, a fim de que, advertido da sujeio aos efeitos da revelia, a

    teor do artigo 285, ltima parte, do Cdigo de Processo Civil, apresente,

    querendo, resposta demanda ora deduzida, no prazo de 15 (quinze) dias;

    b) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros

    encargos, desde logo, em face do previsto no artigo 18 da Lei no 7.347/85 e do

    art. 87 da Lei no 8.078/90;

    c) sejam as intimaes do autor feitas pessoalmente, mediante

    entrega dos autos, na 5a Promotoria de Justia do Consumidor, situada na

    Avenida Joana Anglica, no 115, 1o andar, Centro, Salvador-Ba, com vista, em

    face do disposto no art. 236, 2, do Cdigo de Processo Civil e no art. 199,

    inciso XVIII, da Lei Complementar Estadual n 11/96 (Lei Orgnica do

    Ministrio Pblico do Estado da Bahia);

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