movimentos sociais negros e a institucionalizaÇÃo … · 2019. 11. 12. · discutem as relações...

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MOVIMENTOS SOCIAIS NEGROS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL NO BRASIL. Drielly Nascimento Holanda 1 Natalia Braga de Souza 2 Kaiany Joice Vasconcelos Rodrigues 3 Maria Zelma de Araújo Madeira 4 RESUMO: O presente artigo evidencia uma compendiosa análise acerca da institucionalização das Políticas de Promoção da Igualdade Racial como consequência das organizações e reivindicações dos movimentos sociais negros. Objetivando possibilitar uma compressão da luta da população negra para obtenção de conquistas no que tange aos direitos sociais, bem como as dificuldades enfrentadas na atual conjuntura. Palavras-chave: Movimento Negro. Movimento de Mulheres Negras. Políticas de Promoção da Igualdade Racial. ABSTRACT: This article presents a comprehensive analysis of the institutionalization of policies to promote racial equality as a consequence of the organizations and demands of black social movements. Aiming to make possible a compression of the struggle of the black population to obtain achievements in social rights, as well as the difficulties faced in the current conjuncture. Keywords: Black Movement. Black Women's Movement. Policies to Promote Racial Equality. 1 INTRODUÇÃO 1 Acadêmica do Curso de Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Pesquisadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Afrobrasilidade, Gênero e Família (NUAFRO/UECE). E- mail: [email protected] 2 Acadêmica do Curso de Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Pesquisadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Afrobrasilidade, Gênero e Família (NUAFRO/UECE). E- mail: [email protected] 3 Acadêmica do Curso de Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Pesquisadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Afrobrasilidade, Gênero e Família (NUAFRO/UECE). E- mail: [email protected] 4 Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Coordenadora Estadual de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial do Ceará. Professora do Curso de Serviço Social e do Mestrado Acadêmico em Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará (MASS/UECE). Coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Afrobrasilidade, Gênero e Família (NUAFRO/UECE). E-mail:[email protected]

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MOVIMENTOS SOCIAIS NEGROS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS DE

PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL NO BRASIL.

Drielly Nascimento Holanda1

Natalia Braga de Souza2

Kaiany Joice Vasconcelos Rodrigues3

Maria Zelma de Araújo Madeira4

RESUMO: O presente artigo evidencia uma compendiosa análise acerca da institucionalização das Políticas de Promoção da Igualdade Racial como consequência das organizações e reivindicações dos movimentos sociais negros. Objetivando possibilitar uma compressão da luta da população negra para obtenção de conquistas no que tange aos direitos sociais, bem como as dificuldades enfrentadas na atual conjuntura.

Palavras-chave: Movimento Negro. Movimento de Mulheres Negras. Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

ABSTRACT: This article presents a comprehensive analysis of the institutionalization of policies to promote racial equality as a consequence of the organizations and demands of black social movements. Aiming to make possible a compression of the struggle of the black population to obtain achievements in social rights, as well as the difficulties faced in the current conjuncture.

Keywords: Black Movement. Black Women's Movement.

Policies to Promote Racial Equality.

1 INTRODUÇÃO

1Acadêmica do Curso de Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Pesquisadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Afrobrasilidade, Gênero e Família (NUAFRO/UECE). E-mail: [email protected] 2Acadêmica do Curso de Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Pesquisadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Afrobrasilidade, Gênero e Família (NUAFRO/UECE). E-mail: [email protected] 3Acadêmica do Curso de Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Pesquisadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Afrobrasilidade, Gênero e Família (NUAFRO/UECE). E-mail: [email protected] 4Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Coordenadora Estadual de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial do Ceará. Professora do Curso de Serviço Social e do Mestrado Acadêmico em Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará (MASS/UECE). Coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Afrobrasilidade, Gênero e Família (NUAFRO/UECE). E-mail:[email protected]

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O debate sobre as relações raciais no Brasil vem ganhando destaque desde os anos

de 1950 após as pesquisas da Organização das Nações para a Educação, Ciência e Cultura

(UNESCO) no qual, colocou em xeque a democracia racial. É sabido, que o Brasil propagava

aos demais países o paraíso racial que a sociedade brasileira havia construído entre as três

raças (branca, indígena e negra).

É oportuno afirmar que as desigualdades raciais sempre foram pautas de

organizações da população negra como os clubes negros da década de 20, as manifestações

das imprensas negras ou mesmo as apresentações e seminários organizados pelo Teatro

Experimental do Negro (TEN) nos anos finais da década de 40 até culminar na maior

organização política da população afro-brasileira, o Movimento Negro (MN) e a organização

das Mulheres Negras construindo o Movimento Feminista Negro.

A importância desses movimentos para a construção e conquista das Políticas

Antirracistas no Brasil é primordial, portanto, o objetivo central do presente artigo é apresentar

a construção e institucionalização destas políticas a partir da influência dos movimentos

sociais negros. Para obter tal resultado, utilizou-se de produções bibliográficas de autores que

discutem as relações étnico-raciais no Brasil, movimentos sociais negros e a Política de

Promoção da Igualdade Racial, com isso, para tanto dialogaremos com Domingues (2007 e

2015), Madeira (2014, 2018), bell hooks (2015), Ribeiro (2013) e demais autores.

Por fim, o artigo encontra-se dividido em três momentos: o primeiro momento é

caracterizado por uma breve apresentação sobre os movimentos sociais no qual,

apresentamos o contexto que emerge o movimento negro organizado no período republicano

e suas particularidades. Após a exposição do movimento negro, debatemos como surge o

movimento de mulheres negras que sentiam urgência em debater suas pautas dadas pela

condição racial e de gênero, pois, estas sentiam-se silenciadas tanto no movimento negro

como no movimento feminista. No último tópico, trazemos ao leitor o debate central deste

artigo, o processo de institucionalização das Políticas de Promoção da Igualdade Racial e o

papel fundamental dos movimentos sociais negros para trazer efetividade em âmbitos legais

que corroboram com a luta antirracista. Por fim, apresentamos nas considerações finais, os

avanços e os retrocessos que as Políticas de Promoção da Igualdade Racial vivenciam na

sociedade brasileira.

2 A ORIGEM DO MOVIMENTO NEGRO

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Para contextualizar as discussões acerca dos Movimentos Sociais Negros no Brasil5

evidenciamos a análise feita por Domingues (2007), no qual o autor elabora apontamentos

históricos e conceituais para situar o movimento negro dentro da história no período

republicano. Assim, a ideia central do autor é demonstrar a trajetória desse movimento e pôr

em evidência o dinamismo que acompanha a elaboração das estratégias de luta do povo

negro.

De acordo com Madeira (2014), a raiz dos problemas definidos pelas desigualdades

sociorraciais é encontrada a partir da compreensão de que o modo de produção escravagista

(perdurou aproximadamente 400 anos) produziu no seio societário o racismo estrutural,

definindo os lugares da população negra marcando-a com as negações dos direitos. Esse

sistema moldou as relações sociais, econômicas e políticas de modo que restringiu a

ascensão e mobilidade social da população negra. Em vista disso, compreendemos o fator

basilar que inaugura a luta do povo negro no Brasil – a escravidão. Para Domingues (2007:

p.101) “o movimento negro é a luta dos negros na perspectiva de resolver seus problemas na

sociedade abrangente, em particular os provenientes dos preconceitos e das discriminações

raciais”.

Ademais, consideramos a afirmativa de Maria da Glória Gonh (2015), em seu livro

intitulado “Movimentos sociais no início do século XXI: antigos e novos atores sociais”, no qual

é definido que os movimentos sociais são “ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e

cultural que viabilizam distintas formas da população se organizar e expressar suas

demandas” (p.13). A autora ainda reitera que os movimentos sociais ao efetivarem um

diagnóstico social propõem uma construção de propostas, ou seja, atuam a partir de fazeres

propositivos.

Nesse sentido, Domingues (2015) delineia o movimento negro organizado no período

da República em quatro fases: Primeira fase (1889-1937) compreende-se da Primeira

República ao Estado Novo. Nesse primeiro momento o autor destaca que esse sistema

político não acarretou ganhos para a população negra, pelo contrário, foram se produzindo

muitas problemáticas, em diversas esferas como, política, psicológica e economicamente

(ANDREWS, 1991 apud DOMINGUES, 2015, p.103) O movimento negro nesse período

buscava reverter este quadro de marginalização. Um dos principais destaques desse período

5 É preferível o uso do termo Movimentos Sociais Negros dada a pluralidade que agrega, pois este constitui-se de diferentes formas de organização para reivindicar direitos para a população negra, de múltiplas formas, alguns com ênfase na cultura, na música, na estética, por segmentos etário (juventude negra),ou das mulheres negras, estes reúnem pautas como o combate ao racismo, denuncia a intolerância e racismo religioso.

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foi a imprensa negra6 e a Frente Negra Brasileira (FNB)7, que por sua vez, expandiu o

movimento com exigências políticas.

A segunda 2° fase (1945-1964): da Segunda República à Ditadura Militar

compreende-se um período no qual o Brasil passou por dois regimes ditatoriais (Estado novo

e início da ditadura militar), em contrapartida o movimento negro passa a ampliar suas ações.

Gonh (2015) destaca que algumas mudanças ocorreram dentro dos movimentos sociais no

Brasil e América Latina no final da década de 70 e início dos anos 80. Denotando um cenário

de profundas mudanças societárias nas quais os movimentos sociais se articularam em

oposição ao regime militar.

A terceira fase (1978-2000): Inicia o processo de redemocratização à República

Nova, o autor destaca que o “movimento negro organizado entrou em refluxo’’ (DOMINGUES,

2015, p. 111), nesse momento cabe destacar que a superação do racismo se daria por uma

via política, com destaque na elaboração de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Já a

4° fase (2000- ?): uma hipótese interpretativa, o autor acentua o movimento cultural, pondo

em evidência o hip-hop, por sua crescente popularidade nas periferias, expressando a

resistência da juventude negra por meio de denúncia racial e social e da positivação das

identidades negras.

Ainda explanando algumas mudanças ocorridas ao longo do período republicano,

como a sua relação com a cultura negra, no qual na primeira fase é percebido um

distanciamento frente alguns símbolos associados a cultura negra, na segunda fase uma

ambiguidade valorativa diante de alguns símbolos e na terceira fase uma valorização dos

símbolos associados às culturas negras (DOMINGUES, 2015, p.115). O mesmo autor ainda

salienta que algumas concepções não mudaram, como por exemplo a denúncia do mito da

democracia racial e o entendimento de que a escravidão deu origem para a marginalização

do povo negro.

No que tange as mulheres negras, é sabido que além de ser vítima do machismo

sofre com racismo, ou seja, a mulher negra sofre com uma dupla discriminação, por ser mulher

e por ser negra. Madeira (2014) coloca que dentre a população negra, são as mulheres que

sentem de forma mais intensa as manifestações do racismo e grande parte dessas mulheres

são submetidas a péssimas condições de vida e empregabilidade, a exemplo das meninas e

jovens negras no estado do Ceará que são comumente exploradas sexual e/ou

6 Jornais publicados por negros e elaborados para tratar de suas questões (DOMINGUES, 2015 p.104). 7 Na primeira metade do século XX, a FNB foi a mais importante entidade negra do país. Com “delegações” – espécie de filiais – e grupos homônimos em diversos estados (Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Bahia) ... conseguindo converter o Movimento Negro Brasileiro em movimento de massa. Pelas estimativas de um de seus dirigentes, a FNB chegou a superar os 20 mil associados. (DOMINGUES 2015 p. 106).

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comercialmente. Isso se dá, pois, se fez uma imagem negativa da mulher negra que reverbera

em situações de violência e fetichização que se cria em torno de seu corpo e sexualidade.

Partindo-se dessa dupla discriminação, emerge na sociedade brasileira, o movimento de

mulheres negras. Portanto, na próxima seção, pretendeu-se ampliar as discussões em torno

dos movimentos de mulheres negras.

2.1 A organização das mulheres negras

As relações raciais e de gênero constituem-se dimensões indissociáveis do contexto

histórico na vida brasileira, em que o processo de escravidão e colonização em terras

nacionais acabou por definir hierarquicamente espaços específicos para homens e mulheres,

brancos/as e negros/as. Com isso, tendo em vista a estrutura social permeada pelo sistema

racista e patriarcal, as mulheres negras são as maiores prejudicadas, encontrando-se sob

maior vulnerabilidade social se comparadas às mulheres brancas e aos homens negros, como

aponta Bell hooks:

Como grupo, as mulheres negras estão em posição incomum nesta sociedade, pois não só estamos coletivamente na parte inferior da escada do trabalho, mas nossa condição social geral é inferior à de qualquer outro grupo. Ocupando essa posição, suportamos o fardo da opressão machista, racista e classista. Ao mesmo tempo, somos o grupo que não foi socializado para assumir o papel de explorador/opressor, no sentido de que não nos permitem ter qualquer “outro” não institucionalizado que possamos explorar ou oprimir (2015, p.207).

Ainda que as opressões de gênero e de raça operem de formas distintas e possuam

construções e raízes históricas diferentes, é necessário atentar-se para as

interseccionalidades destas, quando se observa a questão da mulher negra com pontos chave

como; o acesso ao mercado de trabalho formal, a educação de qualidade, ao lazer e ao bem

viver e também o alerta a situação dessas mulheres em relação à violência, ao

empobrecimento, ao encarceramento e as diversas realidades que estão sendo vivenciadas,

produzindo e reproduzindo locais demarcados socialmente. Aspectos como a baixa

escolaridade, o emprego informal, o desemprego e a violência são constantes na vida da

mulher negra, pois esta vive em um contexto de exploração, opressão e discriminação

(MADEIRA, 2014).

Partindo das desigualdades apresentadas acima e não tendo espaço de fala no

movimento negro, as mulheres negras adentram no movimento de mulheres que estava em

efervescência nos anos de 1970 no Brasil. Entretanto, mesmo fazendo parte de organizações

feministas e do movimento negro, participando de reuniões e encontros, as mulheres negras

não se sentiam totalmente contempladas com as pautas do movimento feminista. É

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importante ressaltar, que não pretende criar um falso dualismo entre mulheres negras x

mulheres brancas e muito menos insinuar que a discriminação que a mulher branca enfrenta

na sociedade brasileira é menos importante, porém é necessário reconhecer e compreender

que a mulher negra vem sendo vítima de um conjunto de desvantagens que são reflexos da

dupla discriminação que vivenciam historicamente no país fazendo assim, as mulheres

negras ocupar a base da pirâmide social abordada por hooks (2015).

Portanto, as mulheres negras mesmo estando inseridas em lutas coletivas tinham a

percepção da ausência das discussões de interseccionalidade entre raça e gênero e a partir

disso, começam a organizar-se. Em 1988, ocorre o I Encontro Nacional de Mulheres Negras

(ENMN) no Rio de Janeiro, onde estiveram presentes 450 mulheres negras de 17 Estados do

país. Segundo Coelho e Gomes (2015: p.6) o encontro foi “[...]considerado um importante

marco na trajetória de luta das ativistas negras, proporcionou um impulso na construção de

sua organização com referência própria e uma articulação nacional”.

A importância da construção da organização de mulheres negras é sem dúvidas,

marco na luta antirracista e antissexista o no país, a partir das feministas negras,

pesquisadoras negras foi possível iniciar e fomentar discussões que permitissem reflexões

acerca da condição de ser mulher negra no Brasil proliferando assim, políticas que olhassem

as particularidades desta população.

O Movimento de Mulheres Negras está crescendo e dando visibilidade e voz a estas

sujeitas que foram silenciadas ao longo da história e assim, construindo estratégias e

alternativas para que as mulheres negras possam movimentar a pirâmide social. Carneiro

(2013) aponta uma efervescência no protagonismo do movimento de mulheres negras,

demonstrado principalmente pelo fortalecimento das organizações e articulações que

culminou na Marcha de Mulheres Negras Contra o Racismo a Violência e pelo Bem Viver,

ocorrida em Brasília no ano de 2015.

3 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS ANTIRRACISTAS

Feito essa apreciação, consideramos importante salientar as contribuições políticas

e institucionais advindas dos movimentos sociais negros, nesse sentido é fundamental

compreender, como afirma Riberio (2013) que tais políticas são conquistas da luta dos

movimentos sociais. Além disso, estas políticas são respostas do Estado às demandas que

tais movimentos reivindicam. A autora reitera:

[...] é possível identificar uma mudança de postura e ampliação de estratégias mobilizadoras e articulatórias por parte do Movimento Negro mantendo o ideal crítico

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as estruturas do estado e das instituições políticas. A questão central do ponto de vista racial, crítica contundente a falsa democracia racial e a exclusão histórica de negros da vida política, social e econômica nacional. (RIBEIRO, 2013, p.126).

Dessa maneira, quando se trata de políticas públicas como também a influência

desses movimentos nessas ações, faz necessário ressaltar as estratégias de enfrentamento

e os impactos trazidos na perspectiva de um estado neoliberal8. Contudo, é de suma

importância explanar como deu-se a construção das políticas sociais no Brasil e após a breve

contextualização, adentrar na institucionalização das políticas de promoção da igualdade

racial.

Portanto, de acordo com Pereira (2008, p.135) “Nas sociedades contemporâneas, a

menção a esse tipo de política, associadas aos conceitos de políticas públicas, necessidades

sociais e direitos de cidadania, tornou-se recorrente tendência intelectual e política”. Porém

essa tendência é apresentada de forma contraditória, visto que nos tempos atuais em que as

dimensões e ideais políticos estão em constante conflitos e disputas de poder, e por

conseguinte, dificulta o desenvolvimento de ações de enfrentamento. Cabe então, acentuar

os motivos pelos quais essas políticas e seus contextos tanto ideológico como político ocorrem

de forma antagônica, corroborando para as formas de concretização tornarem-se de certo

modo mais lentas e superficiais. Efetivamente, faz-se necessário deixar evidente o termo

conceitual de políticas públicas e quais suas características particulares. Dessa forma,

“[...]pode-se resumir política pública como o campo do conhecimento que busca ao mesmo tempo “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor mudanças nos rumos ou cursos dessas ações (variável dependente). A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que os governos democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações para produção de resultados ou mudanças no mundo real. (AGUM, RISCADO E MENEZES, 2015, p. 16).

Dessa maneira, entender o funcionamento de políticas públicas e suas discussões

necessita de certo modo, apontar quais as dificuldades/ problemas que precisam ser sanados

seja na atuação ou desenvolvimento dessas ações. Sendo assim, cabe a formulação e

pesquisa sobre o contexto social e as demandas vistas para dar início as discussões.

8 De acordo com (Abreu, 2017, p.7) “o neoliberalismo inicia sua consolidação por meio de discursos que definem o Estado como ineficaz, corruptível, propulsor de crises, dispendioso e traz como resposta um projeto messiânico pautado em reformas a níveis jurídicos, econômicos e sociais, em um sentido que permite maior flexibilidade nas relações [...]” Dessa maneira, a intervenção do estado e suas ações na regulação e administração da economia do país são fatores que hesitam os neoliberalistas, que buscam mercantilizar as ações desenvolvidas pelo estado, na busca de ampliar o mercado acima das relações elaboradas pelo Estado, isto é, minimização da intervenção do estado em fatores econômicos e uma maior incisão do mercado na gestão da economia.

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A importância histórica e o reconhecimento dessas questões no que diz respeito aos

tipos de políticas públicas (regulatória, distributiva, redistributiva)9, revelam grandes marcos

para o avanço desses debates. Desse modo, observar a importância da criação de políticas

para a promoção da igualdade racial e a discussão sobre as ações afirmativas, bem como a

existência de leis como conquistas das organizações dos movimentos sociais e movimentos

sociais negros são fatores como estes que corroboram para possíveis mudanças no seio

societário.

Assim, importa destacar a necessidade de um resgate histórico do Brasil em razão,

das heranças do modo de produção escravagista. Tendo em vista, as consequências

produzidas neste período terem corroborado na justaposição de locais sociais, os quais os/as

negros/as estão inseridos/as nos espaços e território do país.

Nesse sentido, é necessário abordar alguns marcos legais como o artigo 5° da

Constituição Federal de 1988, na qual o racismo é reconhecido como crime inafiançável e

imprescritível, a Lei Caó n° 7.716 de 05 de janeiro de 1989, que define “os crimes resultantes

de preconceito de cor/raça tipificando condutas que obstem de acesso a serviços, cargos e

empregos ” (RIBEIRO, 2013, p.23). Destaca-se, ainda a Marcha Zumbi dos Palmares Contra

o Racismo, pela Cidadania e a Vida (MZP) em 1995, organizado pelo movimento negro e

tendo como um dos ganhos a elaboração de um documento entregue ao então presidente

Fernando Henrique Cardoso, esta data demarcou um processo fundamental, denotando-se

como as primeiras conquistas institucionais para a população negra. Em vista disso, o Brasil

passa a considerar a existência da discriminação racial em 199610. Outro marco importante

foi a participação do Brasil na III Conferência Internacional de Durban em 2001 que ocorreram

desdobramentos para propor e formular ações de promoção da igualdade racial no âmbito

das políticas públicas. Dessa maneira é dado o início do reconhecimento do racismo como

9 De acordo com SECCHI (2012), a política reguladora, pode ser entendida como forma de determinar as práticas de atores privados e públicos. Atuam no desenvolvimento e demonstração das forças em que cada uma exerce na busca de estabelecer comportamentos, serviços ou produtos. No que diz respeito a política distributiva, tem como principal característica a centralização de alguns benefícios sob a diminuição de outros, isto é, as decisões podem ser estabelecidas para alguns grupos em detrimento de outros. Dessa maneira, esse tipo de política possui pouca oposição na sociedade, mas não é dada universalmente a todos. Referente a política redistributiva é apresentada como forma de redistribuição de renda através de financiamento em serviços e equipamentos e na configuração de recursos. Nesse caso, as camadas mais altas da sociedade são as responsáveis por financiar as pessoas rendas menores, os chamados beneficiários. 10 “Ainda em 1996, o Ministério da Justiça reuniu em Brasília pesquisadores americanos e brasileiros, assim como lideranças dos movimentos negros, para o seminário Multiculturalismoe racismo: o papel da ação afirmativa nos estados democráticos contemporâneos. Esta foi a primeira vez, como pontua Guimarães (2005), que um governo brasileiro admitiu discutir políticas públicas específicas para a ascensão dos negros no Brasil”. Moraes (2013, p.31)

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estruturante das relações sociais, sendo possível proporem estratégias de âmbito estatal para

combatê-lo.

Cabe salientar que no ano de 1990 ocorrem várias mudanças no que diz respeito ao

debate e ações destinados as relações raciais no Brasil. Tais mudanças tanto no cenário

político como ideológico trazem consigo avanços imensuráveis para a população negra e sua

inserção na academia, economia e política. Dessa maneira conforme afirma Figueiredo (2009,

p.223)

Esse movimento, que se consolida na década de 1990, contou, fundamentalmente, com a contribuição de dois atores: o ativismo negro e as Ciências Sociais. Do ponto de vista da produção acadêmica nesse âmbito, é incontestável a contribuição de alguns autores que se encarregaram de demonstrar, já na década de 1970, as desigualdades raciais na configuração do mercado de trabalho e, dos seus desdobramentos em períodos posteriores, nas pesquisas sobre as desigualdades no acesso à educação e nos desníveis de renda entre negros e brancos.

Dentro dessa perspectiva, o reconhecimento na esfera federal contribuiu para novos

desdobramentos e algumas efetivações, que foram observadas no ano de 2003 como a

criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), atribuindo

uma maior densidade nos processos, visto sua relação direta como ministério e a Presidência

da República. Entre os anos de 2004-2007 foram instituídos através do Plano Plurianual (PPA)

diversos desafios e programas para promoção e redução das desigualdades raciais.

Em consonância com o movimento que estava ocorrendo no país, o Ministério da

Saúde apresenta em 2009 a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra que tem

como objetivo o reconhecimento do racismo institucional como fator que determina as

condições de saúde dessa população. Dessa maneira, a política busca efetivar a promoção

da saúde integral da população negra, priorizando a redução das desigualdades étnico-

raciais, o combate ao racismo e à discriminação nas instituições e nos serviços do SUS.

É possível identificar outros avanços, como a institucionalização das cotas sociais

com subcotas raciais as quais são adotadas pelo Sistema de Seleção Unificado (SISU/cotas)

nas universidades públicas brasileiras e seu caloroso debate almejam a construção de uma

sociedade mais justa e igualitária. Porém, surge através de discussões intensas tanto no meio

acadêmico como para a população de modo geral. Dessa forma, o processo de

implementação principiou-se em 2012, ano de aprovação da Lei nº 12.711/12, que aborda

sobre a obrigatoriedade nas instituições federais em reservar 50% das vagas para estudantes

oriundos de escolas públicas, pretos, pardos ou indígenas e de baixa renda nas instituições

federais de ensino superior e técnicos.

A exemplo disso, a Universidade de Brasília (UnB), inclusive uma das pioneiras na

construção e adesão das cotas raciais, na qual, 20% das vagas dos cursos de graduação

eram reservadas para os alunos que se declarassem negros/as ou pardos/as. Além disso, o

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Plano de Metas prevê acompanhamento acadêmico e psicossocial para os alunos cotistas e

para os índios para dessa forma acolher de forma ampla os cotistas.

Ainda no contexto da educação, foram criadas Leis com caráter valorativo de grupos

excluídos, como a Lei nº 10.639/2003, que inclui a educação sobre a história e cultura africana

e afrobrasileira nos currículos escolares da educação básica e a Lei nº 11.645/08 que altera

a Lei nº 10.639/2003 que inclui a educação indígena nos currículos escolares, dentre outras.

As Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial são subdivididas em face das

suas ações específicas, sendo estas: valorativas, repressivas e afirmativas. As políticas

valorativas visam combater os estereótipos negativos construídos historicamente acerca da

identidade negra, estas ações buscam valorizar questões relacionadas a diversidade étnico-

racial e apresentam um caráter não focalizado e permanente. As políticas repressivas têm um

caráter punitivo, objetivando enfrentar ações de discriminação racial, por meio da legislação.

As ações afirmativas são programas adotados pelo Estado que tem caráter reparativo e

compensatório, ou seja, estas servem para amenizar as desigualdades raciais promovendo

assim uma igualdade de oportunidades. Por exemplo, o sistema de cotas nas Instituições de

Ensino Superior (IES) e nos concursos públicos. Reiterando esse pensamento Jaccoud e

Beghin (2002) afirmam que:

[...] as ações afirmativas e as políticas repressivas são entendidas [...] como aquelas que se orientam contra comportamento e conduta. As políticas repressivas visam combater o ato discriminatório – a discriminação direta usando a legislação criminal existente. Note-se que as ações afirmativas pro- curam combater a discriminação in- direta, ou seja, aquela discriminação que não se manifesta explicitamente por atos discriminatórios, mas sim por meio de formas veladas de comportamento cujo resultado provoca a exclusão de caráter racial. As ações afirmativas têm como objetivo, assim, não o combate ao ato discriminatório [...], mas sim o combate ao resultado da discriminação, ou seja, o combate ao processo de alijamento de grupos raciais dos espaços valorizados da vida social (p. 55-56).

As ações afirmativas são dirigidas à correção de desigualdades/disparidades e

discriminações forjadas com base nas dimensões de gênero, etnia, raça, porte de deficiência

permanente, idade. Trata-se de medidas especiais e temporárias instituídas pelo Estado e/ou

suas instituições, bem como pela iniciativa privada, de forma espontânea, facultativa ou

compulsória (obrigatória). Dessa forma, as políticas de ações afirmativas podem ser definidas

como uma maneira de garantir oportunidades de acesso dos grupos discriminados, ampliando

sua participação em diferentes setores da vida econômica, política, institucional, cultural e

social.

4 CONCLUSÃO

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Dessa maneira, considera-se necessário salientar a importância dos movimentos

sociais negros para as conquistas das políticas de promoção da igualdade racial e,

consequentemente, os ganhos que as ações afirmativas promoveram/promovem para a

população negra e pobre. Cabe elucidar a importância que teve a SEPPIR para a execução

das políticas de igualdade racial, como abordado acima.

Porém mudanças tanto no âmbito político como na estruturação das políticas

destinadas aos direitos humanos trouxeram novas articulações na qual a atual secretaria,

apesar de não perder a nomenclatura, está integrada na pasta dos direitos humanos. Dessa

maneira, vinculada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH).

Com isso, é importante ressaltar que o atual MMFDH, é responsável pela articulação

interministerial e intersetorial das Políticas de Promoção e Proteção aos Direitos Humanos no

Brasil.

A atual estrutura tem origem nas antigas Secretarias Especiais da Presidência da

República: a Secretaria de Direitos Humanos (SDH), Secretaria de Políticas para Mulheres

(SPM), Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e a

Secretaria Nacional da Juventude (SNP). Evidenciando assim, o desmonte nas políticas que

dizem respeito a promoção da igualdade racial, dado a subordinação e secundarização da

pauta.

Com isso, afirmar-se mais do que nunca a importância dos movimentos sociais

negros para o monitoramento das conquistas que obtidas e garantindo sua execução como,

permanecendo na luta antirracista para construções de novas políticas com intuito de diminuir

o fosso existente entre negros/as e brancos/as.

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