motivação para o aprender: análise dos possíveis padrões ... · foi verificado que o professor...

39
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA DENILSON MENDES DE OLIVEIRA VIÇOSA – MG 2015 MOTIVAÇÃO PARA APRENDER: ANÁLISE DOS POSSÍVEIS PADRÕES MOTIVACIONAIS PARA A APRENDIZAGEM DA QUÍMICA EM SALAS DE AULA DO ENSINO MÉDIO

Upload: duongthien

Post on 20-Jul-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA

DENILSON MENDES DE OLIVEIRA

VIÇOSA – MG

2015

MOTIVAÇÃO PARA APRENDER:

ANÁLISE DOS POSSÍVEIS PADRÕES MOTIVACIONAIS PARA A

APRENDIZAGEM DA QUÍMICA EM SALAS DE AULA DO ENSINO MÉDIO

Page 2: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

DENILSON MENDES DE OLIVEIRA

VIÇOSA – MG

2015

MOTIVAÇÃO PARA APRENDER:

ANÁLISE DOS POSSÍVEIS PADRÕES MOTIVACIONAIS PARA A

APRENDIZAGEM DA QUÍMICA EM SALAS DE AULA DO ENSINO MÉDIO

Monografia apresentada ao Departamento de

Química da Universidade Federal de Viçosa, como

parte das exigências de conclusão do Curso de

Licenciatura em Química.

Orientador: Prof. Vinícius Catão de Assis Souza

Page 3: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

DENILSON MENDES DE OLIVEIRA

Aprovada em 01 de julho de 2015.

Profa. Aparecida de Fátima Andrade da Silva

Departamento de Química – UFV

(Avaliadora)

Profa. Regina Simplício Carvalho

Departamento de Química – UFV

(Avaliadora)

Felipe Stephan Lisboa

Divisão Psicossocial – UFV

(Avaliador)

Prof. Vinícius Catão de Assis Souza

Departamento de Química – UFV

(Orientador e Coordenador da Disciplina)

MOTIVAÇÃO PARA APRENDER:

ANÁLISE DOS POSSÍVEIS PADRÕES MOTIVACIONAIS PARA A

APRENDIZAGEM DA QUÍMICA EM SALAS DE AULA DO ENSINO MÉDIO

Monografia apresentada ao Departamento de

Química da Universidade Federal de Viçosa,

como parte das exigências de conclusão do Curso

de Licenciatura em Química.

Page 4: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

Dedico este trabalho aos meus professores da

Escola Estadual Professor Cícero Torres Galindo,

em Senador Firmino (MG), especialmente à Profa.

Águida, à Profa. Sônia e ao Prof. Dircimar.

Page 5: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por me dar a força necessária para superar os obstáculos que aparecem pelo

caminho.

Agradeço aos meus pais e irmãos, por todo suporte e apoio nos diferentes momentos da minha

vida.

Agradeço a minha namorada Monyca, pelo apoio, incentivo e carinho constantes.

Agradeço ao Prof. Vinícius, pela orientação, apoio e sugestões indispensáveis para a

realização desta monografia.

Agradeço à Profa. Regina, à Profa. Fátima e ao Felipe, por aceitarem participar da banca de

avaliação.

E, por fim, agradeço a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a

concretização desse trabalho.

Page 6: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

“It is the supreme art of the teacher to awaken joy

in creative expression and knowledge.”

[A arte suprema do professor está em despertar prazer

por meio da expressão criativa do conhecimento.]

Albert Einstein

Page 7: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

RESUMO

OLIVEIRA, Denilson Mendes. Motivação para Aprender: Análise dos Possíveis Padrões

Motivacionais para a Aprendizagem da Química em Salas de Aula do Ensino Médio.

Monografia de conclusão do Curso de Licenciatura em Química. Universidade Federal de

Viçosa, Julho de 2015. Orientador: Prof. Vinícius Catão de Assis Souza.

A motivação para aprender é fundamental para garantir engajamento dos estudantes na

aprendizagem. Muitos estudos têm apontado que a motivação diminui à medida que os

estudantes avançam nas séries escolares, principalmente nas áreas de Ciências e Matemática.

A motivação de um indivíduo resulta de uma interação dinâmica entre aspectos contextuais e

pessoais. Em sala de aula, os aspectos contextuais da motivação, também denominados

estruturas do ambiente, podem ser facilmente manipulados pelo professor. Alguns exemplos

de tais estruturas são a organização das atividades escolares, a avaliação e a autonomia. A

teoria das metas de realização define dois tipos de metas contrastantes que podem se

sobressair em sala de aula, de acordo com as estratégias instrucionais utilizadas: as metas de

performance e as metas de domínio. Nesse trabalho, foram comparadas as estratégias

instrucionais de dois professores de Química do Ensino Médio (Professor A e Professor B) de

duas escolas públicas localizadas em Viçosa-MG. A comparação foi baseada na teoria das

metas de realização, organizadas dentro das três estruturas de sala de aula mencionadas

anteriormente. Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes

com os dois tipos de metas e o Professor A utiliza estratégias mais consistentes com as metas

de domínio. Possíveis padrões motivacionais foram apontados para os dois casos.

Palavras-chave: Motivação; Teoria das Metas; Estruturas de Sala de Aula; Ensino Médio

Page 8: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

ABSTRACT

OLIVEIRA, Denilson Mendes. Motivation to Learn: Analysis of Possible Motivational

Patterns for Chemistry Learning in High School Classrooms. Undergraduate Thesis

Submitted to the Department of Chemistry in Partial Fulfillment of the Requirements for the

Degree of Bachelor in Chemistry. Federal University of Viçosa, July 2015. Supervisor: Dr.

Vinícius Catão de Assis Souza.

Motivation to learn is essential to ensure students’ engagement in learning. Several studies

have reported that students’ motivation decreases as they progress through grades, especially

for Science and Mathematics. Individual motivation results from a dynamic interaction

between contextual and personal aspects. In the classroom, teachers can easily manipulate

contextual aspects of motivation, which are also referred to as structures of the classroom

environment. Some examples of classroom structures are design of learning activities,

evaluation and autonomy. Achievement goal theory of motivation defines two contrasting

types of goals that can become salient in classrooms according to instructional strategies:

performance goals and mastery goals. In this work, instructional strategies of two high school

chemistry teachers (Teacher A and Teacher B) from two public schools located in Viçosa-MG

were compared. The comparison was based on the achievement goal theory and organized

within the three classroom structures aforementioned. It was verified that the Teacher A

utilizes instructional strategies that are consistent with the two types of goals, while the

Teacher B utilizes strategies more consistent with mastery goals. Possible motivation patterns

were inferred for both cases.

Keywords: Motivation; Goal Theory; Classroom Structures; High School

Page 9: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

SUMÁRIO

1 Introdução............................................................................................................................ 9

2 Aprendizagem e Motivação .............................................................................................. 10

2.1 Teorias sobre Motivação ............................................................................................ 11

2.1.1 Motivação Intrínseca .......................................................................................... 11

2.1.2 Motivação Extrínseca ......................................................................................... 13

2.1.3 Teoria das Metas de Realização ......................................................................... 13

2.2 Motivação Escolar ..................................................................................................... 14

2.2.1 A Motivação e o Ambiente de Aprendizagem ................................................... 15

2.2.2 Motivação e Ensino de Ciências ......................................................................... 18

3 Objetivo ............................................................................................................................. 19

3.1 Objetivos Específicos ................................................................................................ 19

4 Justificativa........................................................................................................................ 19

5 Metodologia ...................................................................................................................... 20

6 Descrição das Aulas de Química Observadas ................................................................... 21

6.1 Aula de Química na Escola 1 ..................................................................................... 21

6.2 Aula de Química na Escola 2 ..................................................................................... 23

7 Resultados e Discussão ..................................................................................................... 24

7.1 Organização das Atividades ....................................................................................... 25

7.2 Avaliação ................................................................................................................... 28

7.3 Autonomia ................................................................................................................. 30

8 Conclusões e Implicações para o Ensino de Química e Ciências ..................................... 32

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 34

ANEXO A ................................................................................................................................ 36

ANEXO B ................................................................................................................................ 38

Page 10: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

9

1 Introdução

A questão relacionada ao interesse dos estudantes em sala de aula é muitas vezes

preocupante para os professores, sendo esse assunto abordado nas diferentes áreas de estudo e

níveis educacionais. Para entender o motivo da falta de engajamento dos estudantes em sala

de aula, algumas justificativas, as quais parecem ser as mais plausíveis, são comumente

apontadas. Pode-se, por exemplo, atribuir esse baixo interesse a um ambiente escolar pouco

motivador para a aprendizagem, à falta de recursos materiais para realização dos trabalhos, à

infraestrutura precária (salas de aula, laboratórios etc.), à desvalorização da educação etc.

Embora não seja possível afirmar se essas explicações estão corretas sem o suporte de um

estudo corretamente conduzido, é evidente a preocupação em identificar as causas do

desinteresse para possibilitar uma atuação docente que permita que os estudantes recuperem

ou despertem interesse pelas atividades escolares.

O interesse escolar e a motivação dos estudantes para a aprendizagem aparecem

frequentemente relacionados na literatura. Existem, por exemplo, autores que atribuem o

interesse dos estudantes a uma motivação natural necessária para a aprendizagem, isto é, os

estudantes precisam possuir essa motivação para que desenvolvam interesse pelas atividades

escolares. A motivação dos estudantes pode também ser relacionada às suas expectativas de

sucesso e/ou ao valor atribuído por eles às atividades escolares, bem como a eventos externos,

que são aqueles que envolvem os aspectos ambientais, culturais e sociais da vida do

estudante.

A motivação de um estudante para a aprendizagem reflete no comportamento que ele

apresenta em sala de aula. Um estudante motivado a aprender procura desenvolver suas

atividades escolares e se engajar no desenvolvimento das mesmas. É desejável, pois, que se

desenvolva uma motivação que seja duradoura, ou seja, que o estudante consiga ter a

“energia” necessária para a aprendizagem nos diferentes momentos da vida escolar.

O comportamento dos estudantes pode ajudar os professores a compreenderem a

motivação em sala de aula. Os professores, entre outras coisas, podem: observar os diferentes

padrões de participação dos estudantes (se os estudantes estão dispostos para responderem as

perguntas e questionamentos em sala de aula ou se é necessário que os professores lhes

perguntem diretamente); perceber como os estudantes reagem às críticas e/ou aos elogios;

observar as reações dos estudantes perante as atividades (se fazem reclamações por

considerarem as atividades como imposições; se sentem prazer ao trabalhá-las, buscando

desenvolver estratégias para soluções) etc. Todas essas observações podem ser úteis para o

Page 11: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

10

professor no momento do planejamento das aulas, uma vez que passa a ser possível uma

atuação mais eficaz que permita o desenvolvimento de uma motivação duradoura.

Os conhecimentos sobre as teorias da motivação aparecem no contexto escolar por

possibilitar adequações práticas nas estratégias de ensino de maneira que estas sejam eficazes

para desenvolver nos estudantes a motivação para aprender. Uma teoria de motivação prática

é aquela que pode ser facilmente adequada ao ambiente de aprendizagem e favorecer o

processo de aprendizagem.

2 Aprendizagem e Motivação

Bordenave e Pereira (2008) definem aprendizagem como uma:

Modificação relativamente permanente na disposição ou na capacidade do homem,

ocorrida como um resultado de sua atividade e que não pode ser simplesmente

atribuída ao processo de crescimento e maturação ou a outras causas tais como:

doença, mutações genéticas, etc. (BORDENAVE & PEREIRA, 2008, p. 38).

Para o contexto da sala de aula, essa modificação ocorre pela interação do estudante

com o ambiente, de maneira que sejam possíveis a captação e o processamento de estímulos1

externos que foram selecionados, organizados e sequenciados pelo professor (FITA, 2009).

Para haver a recepção desses estímulos, necessita-se que o estudante se esforce e se dedique.

Nesse contexto, aparece a questão da motivação: quais estratégias o professor pode utilizar

para que haja um maior envolvimento dos estudantes durante o processo de ensino?

Apesar da aparente simplicidade, essa questão trata de algo complexo por natureza.

Dentro da sala de aula, existem estudantes com diferentes histórias de vida, problemas

pessoais, metas, crenças e valores. Portanto, a atuação do professor pode ser mais ou menos

eficaz para um determinado estudante.

Os conhecimentos de psicologia da aprendizagem, especialmente aqueles relacionados

à motivação, podem ser, nesse contexto, bastante úteis para o professor no planejamento, na

implementação e na avaliação dos processos de ensino e aprendizagem (FITA, 2009). Quando

o professor está consciente das características dos estudantes e do ambiente da sala de aula, é

possível que ele elabore um planejamento que esteja em concordância com a realidade e

interesses dos mesmos, possibilitando, dessa forma, uma atuação com impacto na motivação

para a aprendizagem.

1 No contexto dessa discussão, estímulos podem ser compreendidos como mudanças no meio externo ou nas

dinâmicas estabelecidas na sala de aula capazes de provocar mudanças internas e, consequentemente, no

comportamento frente à atividade.

Page 12: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

11

2.1 Teorias sobre Motivação

A raiz da palavra motivação tem origem latina e significa mover (do latim, moveres).

Dessa forma, é intuitivo que compreender a motivação envolva compreender as razões pelas

quais os indivíduos agem. Reeve (2009) destaca que a motivação direciona e fornece energia

ao comportamento.

Tendo essa ideia geral do que é motivação, é natural que o próximo questionamento

que se faça seja quais as razões para estudá-la. Reeve (2009) ressalta que o estudo da

motivação permite entender e responder as seguintes perguntas: (1) Por que queremos o que

queremos? e (2) Por que fazemos o que fazemos? O estudo da motivação permite entender o

comportamento, as razões para o mesmo, e também suas variações em intensidade. Além

disso, os conhecimentos teóricos sobre motivação podem ser facilmente colocados em prática.

Podem ser usados, por exemplo, na motivação de empregados, no treinamento de atletas, na

orientação de clientes, na motivação dos estudantes em sala de aula, ou, de uma forma geral,

podem ser aplicados para ocasionar mudanças na maneira de pensar, sentir e comportar-se.

As teorias sobre motivação em psicologia provêm de diferentes tradições filosóficas,

sendo que as teorias mais modernas abordam especificamente a relação de crenças, metas2 e

valores3 com a ação (ECCLES & WIGFIELD, 2002). Reeve (2009) lista vinte e quatro teorias

modernas sobre motivação. Esse extenso número aponta a importância que tem sido dada ao

estudo do tema e indica que o conceito tem sido abordado de diferentes maneiras.

Existem na literatura algumas propostas de categorização para as teorias sobre

motivação. Porém, a discussão destas foge ao objetivo desse trabalho. Para uma categorização

envolvendo modelos de comportamento baseados nas expectativas4 individuais e nos valores

atribuídos às tarefas ver Eccles e Wigfield (2002). Para uma categorização baseada na

conduta humana e na conduta de aprendizagem ver Fita (2009).

Dentre as teorias sobre motivação, existem algumas que são mais recorrentes no

campo educacional. Três delas são apresentadas a seguir: a teoria da motivação intrínseca, a

teoria da motivação extrínseca e a teoria das metas de realização.

2.1.1 Motivação Intrínseca

A motivação intrínseca é aquela em que um indivíduo se envolve e se engaja em uma

atividade pelo prazer inerente à mesma. Reeve (2009) argumenta que esse prazer por realizar

2 Metas referem-se aos objetivos a serem alcançados. Por exemplo, um estudante possui como meta a aprovação

em uma disciplina ou possui a meta de dominar os conteúdos trabalhados. 3 Valores têm a ver com os incentivos e as razões que o indivíduo possui para realizar suas atividades. 4 Expectativas referem-se às crenças sobre como o indivíduo desempenhará diferentes tarefas e atividades.

Page 13: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

12

atividade pode ter origem nos sentimentos de competência, autonomia e conexão com outros

indivíduos (Figura 1).

Sendo a motivação intrínseca um tipo de motivação natural, ela garante o

envolvimento do indivíduo por sua própria volição, gerando satisfação, prazer e engajamento

(CAETANO & JANUÁRIO, 2009). A motivação intrínseca, argumenta Reeve (2009), deve

ser encorajada e desenvolvida por ser favorável ao indivíduo no que diz respeito à

persistência, à criatividade e ao entendimento conceitual.

Figura 1. Origens para a motivação intrínseca.

O conceito desse tipo de motivação pode ser relacionado à tendência que o ser

humano apresenta para lidar com as novidades e os desafios pessoais e profissionais,

exercitando as suas múltiplas capacidades para mediar problemas e conflitos de diferentes

ordens5. Ryan e Deci (2000) destacam que a motivação intrínseca é o fenômeno que melhor

representa o potencial da natureza humana, sendo essencial ao desenvolvimento cognitivo e à

inserção social dos sujeitos.

No contexto educacional, a motivação intrínseca tem sido apontada como um tipo de

motivação que garante o envolvimento dos estudantes com as tarefas de aprendizagem,

preferência por desafios, persistência, esforço e uso de estratégias de aprendizagem

(GUIMARÃES & BORUCHOVITCH, 2004).

5 A mediação social pode ser associada ao conceito de resiliência. Tal conceito, que foi originalmente cunhado

da Física, é definido no campo da Psicologia como a capacidade de o sujeito mediar problemas e situações

conflituosas, superando obstáculos ou resistindo à pressão de situações adversas (JOB, 2003). Barlach, Limongi-

França e Malvezzi (2008) argumentam que a resiliência se trata de uma tomada de decisão quando se depara

com uma situação limite entre a tensão do ambiente e a vontade de superar o desafio apresentado. Essas decisões

favorecem o desenvolvimento de ações para enfrentar a situação problema em questão. Assim, pode-se

considerar que a resiliência é uma combinação de fatores que propiciam ao ser humano condições para mediar e

superar as adversidades do seu dia a dia.

MotivaçãoIntrínseca

Conexão com outros indivíduos

Autonomia

Competência

Page 14: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

13

2.1.2 Motivação Extrínseca

A motivação extrínseca se refere ao envolvimento e engajamento em atividades por

outras razões que não a satisfação inerente à realização das mesmas. Este tipo de motivação se

origina de incentivos e consequências ambientais, tais como elogios, atenção recebida,

privilégios, aprovação, créditos extra, prêmios, reconhecimento público, entre outros. Os

indivíduos motivados extrinsecamente se engajam nas atividades por consequências que não

provém das atividades em si.

Apesar de a motivação extrínseca ser apresentada na literatura clássica como um tipo

de motivação fraco e empobrecedor em contraste com a motivação intrínseca, Ryan e Deci

(2000) argumentam que há vários tipos de comportamentos extrinsecamente motivados e

alguns destes podem resultar em padrões motivacionais positivos por caracterizarem estados

de ação e engajamento com a atividade. Nesse mesmo sentido, Reeve (2009) argumenta que

um sujeito pode desempenhar a mesma atividade por motivos extrínsecos ou intrínsecos sem

que haja prejuízo à qualidade do produto final da atividade. Dessa forma, comportamentos

intrínseca e extrinsecamente motivados podem parecer os mesmos, sendo:

[...] difícil observar alguém casualmente e saber se ele ou ela está motivado(a)

intrínseca ou extrinsecamente. A diferença essencial entre os dois tipos de

motivação reside na fonte que energiza e dirige o comportamento (REEVE, 2009).

A motivação extrínseca seria danosa, por exemplo, em situações em que o indivíduo

sente-se obrigado a realizar a atividade e, portanto, age com desinteresse e resistência. Por

outro lado, se o indivíduo percebe o valor e a utilidade da atividade, aceitando-a, o mesmo

sente-se compelido a realizá-la.

2.1.3 Teoria das Metas de Realização

As metas de realização definem padrões integrados de crenças, atribuições e afeto que

permitem alcançar um determinado objetivo. A adoção de um tipo de meta ou outro ocasiona

diferentes maneiras de abordar, engajar e responder às atividades a serem realizadas.

Consequentemente, indivíduos com metas diferenciadas possuem diferentes concepções de

sucesso, autoavaliações e resultados.

Na literatura, são enfocados basicamente dois tipos de metas de realização6 para a

aprendizagem: (i) Metas de domínio; e (ii) Metas de performance. As metas de domínio são

centradas em crenças de que esforço e resultado estão inter-relacionados. Esse tipo de meta

6 As denominações aqui utilizadas são aquelas propostas por Ames e Archer (1988). Esses dois tipos de metas

têm assumido diferentes conotações na literatura como, por exemplo, metas de domínio versus metas de

performance e metas de aprendizagem versus metas ego.

Page 15: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

14

caracteriza-se pelos padrões motivacionais adaptativos, nos quais os indivíduos são orientados

para o desenvolvimento de habilidades, entendimento dos trabalhos realizados e

aprimoramento de competências (AMES, 1992). As metas de performance, por sua vez,

resultam em padrões motivacionais não-adaptativos, pois enfocam no senso de habilidade e

autovalor individuais, sendo a fonte de motivação a possibilidade do indivíduo obter melhor

rendimento que um colega ou realizar uma atividade com o mínimo de esforço. Para esse tipo

de orientação, o indivíduo considera importante receber reconhecimento público para

evidenciar seu melhor desempenho em relação aos demais (AMES, 1992).

Para o contexto de sala de aula, professores e estudantes que possuem um ou outro

tipo de meta apresentarão diferentes visões e percepções do ambiente e do processo de

aprendizagem. A Tabela 1 apresenta a caracterização de alguns parâmetros da sala de aula de

acordo com o tipo de meta saliente naquele ambiente.

Tabela 1. Parâmetros de sala de aula e as diferentes visões de acordo com as metas de domínio e performance.

Retirado de Ames e Archer (1988). Traduzido pelo autor.

Parâmetros de sala de aula Metas de domínio Metas de performance

Sucesso é definido como... Aperfeiçoamento, Progresso Notas altas, Desempenho alto

É valorizado ... Esforço, Aprendizagem Habilidade

Razões para satisfação são ... Trabalho árduo, Desafio Melhor desempenho

Professores preocupados em ... Como os estudantes estão

aprendendo Como os estudantes estão rendendo

Erros são vistos como ... Parte do processo de aprendizagem Causadores de ansiedade

O foco da atenção é ... Processo de aprendizagem Desempenho relativo aos demais

As razões para esforço são ... Aprendizagem de algo novo Notas altas, melhor rendimento

Os critérios de avaliação são... Progresso Normativos

2.2 Motivação Escolar

Muitos trabalhos na literatura abordam a motivação no sentido do que é necessário ao

indivíduo para que ele se interesse e/ou se engaje nas diferentes atividades. Dentre esses

trabalhos, existem vários na área da psicologia da educação que apontam a importância da

motivação para a aprendizagem (TURNER & PATRICK, 2004; MAEHR & MEYER, 1997;

PATRICK et al., 1993; dentre outros). Para Fita (2009), a motivação é “um conjunto de

variáveis que ativam a conduta e a orientam em determinado sentido para poder alcançar um

objetivo”. Dessa forma, o professor pode atuar de diferentes maneiras de modo a contribuir

para o desenvolvimento e estabelecimento de condutas caracterizadas pelo comprometimento

e envolvimento dos estudantes com as atividades escolares.

Tapia (2009) ressalta que o interesse escolar é uma variável multifatorial e resultante

de uma interação dinâmica entre aspectos pessoais e contextuais. Aspectos

Page 16: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

15

pessoais são, por exemplo, aqueles relacionados à importância das metas e

expectativas para o processo de aprendizagem. Já os aspectos contextuais são os relacionados

com a organização de atividades, a interação estudante-estudante e professor-estudante

(Figura 2), a avaliação da aprendizagem, entre outros.

Figura 2. Diagrama representando as interações no ambiente de sala de aula. Essas interações e mediações do

professor podem contribuir para a emergência de padrões motivacionais distintos entre os estudantes.

2.2.1 A Motivação e o Ambiente de Aprendizagem

Para um professor favorecer ou contribuir com a motivação dos estudantes para a

aprendizagem, é importante que ele tenha conhecimentos de como ocorre o processo de

aprendizagem e, portanto, dos ambientes de aprendizagem nos quais os estudantes estão

imersos, sejam eles formais ou informais (FITA, 2009).

Os estudantes vivenciam a sala de aula não apenas como um espaço intelectual, mas

também como um ambiente social, físico e emocional. O Quadro 1 apresenta os aspectos da

sala de aula aos quais os professores podem estar atentos para favorecer o engajamento dos

estudantes com o conteúdo e desenvolverem as habilidades necessárias à disciplina.

Na literatura, o ambiente de aprendizagem é abordado basicamente sobre duas

perspectivas: i) como este ambiente se relaciona com a aprendizagem dos estudantes; e ii)

Page 17: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

16

como este ambiente se relaciona com as visões do estudante relacionadas à natureza e aos

propósitos da aprendizagem (AMES, 1992). A estrutura7 dos ambientes de aprendizagem

pode influenciar no modo como os estudantes se autoavaliam nos quesitos de capacidade e

habilidades para realização de suas atividades escolares, bem como a importância que eles

atribuem a tais atividades.

A motivação dos estudantes para a aprendizagem está relacionada com as metas de

aprendizagem estabelecidas, conforme apontado por Ames (1992). Esta autora aborda as

estruturas da sala de aula (a saber, a organização das atividades escolares, avaliação e

autonomia) que, ao serem manipuladas pelo professor, podem levar ao

desenvolvimento/estabelecimento de diferentes metas pelos estudantes, bem como influir ou

modificar as metas que os mesmos já possuem. Essas diferentes metas podem condicionar o

aparecimento de diferentes padrões motivacionais.

Um entendimento dessas diferentes estruturas da sala de aula é bastante útil para o

professor que pode manipulá-las de maneira que torne evidente suas expectativas em relação

aos estudantes. De fato, muitas pesquisas na área educacional se preocupam em determinar os

comportamentos dos professores que são efetivos no desenvolvimento/estabelecimento da

motivação dos estudantes para a aprendizagem (SKINNER & BELMONT, 1993).

A Tabela 2 apresenta algumas estratégias instrucionais para três estruturas da sala de

aula e os padrões motivacionais que podem tornar-se salientes naquele ambiente devido ao

uso de tais estratégias. Os padrões motivacionais listados nessa tabela são condizentes com

uma motivação duradoura. É importante destacar, entretanto, que o uso das estratégias ali

apresentadas facilita o desenvolvimento daqueles padrões motivacionais, mas não garante que

os estudantes venham a desenvolvê-los, visto que a motivação depende não somente dos

aspectos contextuais, mas também dos aspectos pessoais dos estudantes.

Para José Moran (2013) é muito difícil manter (em contexto escolar) a motivação dos

sujeitos na interação pessoal e, também, no virtual, “se não envolvermos os alunos em

processos participativos, efetivos, que inspirem confiança” (MORAN, 2013). Este mesmo

autor aponta que no processo de ensino e aprendizagem, os professores que limitam à

transmissão de informação de conteúdo, mesmo com as melhores intenções, não são capazes

de garantir uma motivação no educando. Nesse sentido, corre-se “o risco da desmotivação a

longo prazo e, principalmente, de que a aprendizagem seja só teórica, insuficiente para dar

conta da relação teoria/prática” (MORAN, 2013).

7 Estrutura se refere à quantidade de informação no contexto de sala de aula sobre como resultados desejados

podem ser alcançados efetivamente.

Page 18: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

17

Quadro 1. Aspectos e características da sala de aula que podem gerar engajamento dos estudantes com o

conteúdo e permitir o desenvolvimento de habilidades. Retirado do website do Center for Innovative Teaching

and Learning (CLASSROOM CLIMATE, 2015). Traduzido pelo autor.

As aulas desenvolvem os conhecimentos, as

habilidades e as atitudes disciplinares dos

estudantes;

Expectativas de rendimento são explicítas;

Estudantes praticam regularmente as habilidades

disciplinares;

As atividades são desafiadoras, importantes e

autênticas;

Os estudantes recebem feedback rápidos e

específicos.

INTELECTUAL

Expectativas de comportamento são explicítas;

Os estudantes têm oportunidades para trabalharem

juntos;

O professor garante interações igualitárias e

respeitosas entre os estudantes;

O professor é acessível, habilidoso para lidar com

dificuldades e pró-ativo;

O professor solicita e responde ao feedback dos

estudantes.

SOCIAL

EMOCIONAL

A atmosfera é não-competitiva e motivante e lida

com os estereótipos;

O contexto e as identidades dos estudantes são

valorizados;

É permitido que os estudantes cometam erros de

baixo risco;

FÍSICO

Os estudantes podem interagir entre si e ver uns

aos outros;

Os estudantes possuem acesso igualitário aos

materiais físicos e disponibilizados on-line;

A sala de aula é livre de distrações;

ASPECTOS

DA SALA DE

AULA

Page 19: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

18

Tabela 2. Estruturas de sala de aula, estratégias instrucionais e padrões motivacionais característicos das metas

de domínio. Retirado de Ames (1992). Traduzido e adaptado pelo autor.

Estrutura Estratégias instrucionais Padrões motivacionais

Organização das atividades

Focar nos aspectos significantes das

atividades de aprendizagem;

Desenvolver tarefas variadas e inovadoras

que despertem interesse dos estudantes;

Ajudar os estudantes a estabelecerem metas

no desenvolvimento das atividades;

Fornecer suporte ao desenvolvimento e uso

de estratégias de aprendizagem efetivas.

Foco no esforço e na

aprendizagem;

Alto nível de interesse

intrínseco nas

atividades;

Atribuições ao

esforço;

Atribuições a

estratégias baseadas

no esforço;

Uso de estratégias de

aprendizagem efetivas

e estratégias de

autorregulação;

Engajamento ativo;

Afeto positivo em

relação às atividades

que demandam

esforços maiores;

Sentimento de

inclusão

Tolerância ao

fracasso.

Autonomia

Permitir a participação dos estudantes nas

decisões;

Fornecer escolhas ‘reais’ nas quais as

decisões são baseadas no esforço, não em

avaliações de habilidades;

Fornecer oportunidades para

desenvolvimento de responsabilidade e

independência;

Fornecer suporte para o desenvolvimento e

uso de habilidades de gerenciamento e

monitoramento.

Avaliação

Focar no aperfeiçoamento, progresso e

domínios individuais;

Fazer avaliações privadas, não públicas;

Reconhecer o esforço dos estudantes;

Fornecer oportunidades para

aperfeiçoamento;

Reforçar que erros fazem parte do processo

de aprendizagem.

2.2.2 Motivação e Ensino de Ciências

Estudos sobre mudanças na motivação escolar têm apontado que a motivação dos

estudantes para a aprendizagem diminui ao longo dos primeiros anos de escolaridade

(BORUCHOVITCH & BZUNECK, 2009), sendo o declínio mais acentuado para a

aprendizagem de Ciências e Matemática (GOTTFRIED et al., 2001). É evidenciado também

que, enquanto a motivação intrínseca tende a diminuir, a motivação extrínseca tende a

aumentar à medida que os estudantes progridem (OTIS et al., 2005). Essas mudanças na

motivação apresentam impacto no desempenho escolar e, novamente, levantam questões

sobre como a atuação docente e o ambiente escolar podem influenciar a motivação do

estudante.

Page 20: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

19

Nas últimas décadas ocorreu um aumento significativo de estudos envolvendo a

motivação escolar. Contudo, ainda é muito pequeno o número de trabalhos realizados,

principalmente na área de Ciências e em âmbito nacional.

Pesquisas têm apontado que estudantes que possuem visões positivas em relação às

Ciências no cotidiano passam a ter visões negativas devido à maneira em que elas são

ensinadas nas escolas (SWARAT et al., 2012). Dessa forma, é importante que os professores

de Ciências tomem consciência dos aspectos que influenciam positivamente a motivação dos

estudantes para a aprendizagem, selecionando tópicos, atividades e definindo metas de

aprendizagem.

Para o ensino de Ciências, Dettweiler et al. (2015) destacam que as atividades do tipo

“mão na massa” e que fazem uso de tecnologias geralmente despertam maior interesse dos

estudantes. Segundo os autores, o uso desse tipo de atividades permite construir um ambiente

de aprendizagem diferenciado a partir de aspectos facilmente manipuláveis pelos professores.

3 Objetivo

Por reconhecer a importância das estruturas do ambiente de sala de aula para a

motivação dos estudantes frente à aprendizagem, este trabalho tem o objetivo de analisar os

possíveis padrões motivacionais resultantes da atuação de dois professores de Química do

Ensino Médio em escolas distintas localizadas na cidade de Viçosa (MG).

3.1 Objetivos Específicos

Os objetivos específicos deste trabalho são:

Identificar as estratégias instrucionais utilizadas por dois professores de

Química do Ensino Médio de duas escolas públicas localizadas em Viçosa

(MG);

Relacionar as estratégias instrucionais com as possíveis metas de

aprendizagem dos estudantes;

Inferir os possíveis padrões motivacionais relacionados com as estratégias

instrucionais utilizadas.

4 Justificativa

Os três estágios obrigatórios realizados durante o curso de Licenciatura em Química

permitiram que o autor conhecesse salas de aulas e atuações docentes distintas em três escolas

Page 21: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

20

públicas na cidade de Viçosa-MG. Essas experiências levaram o autor a questionar o porquê

de haver diferenças tão significativas de uma escola para a outra: Por que os estudantes de

uma escola pareciam mais interessados e comprometidos com a aprendizagem que os

estudantes da outra escola? Por que as atuações dos professores, as abordagens dos conteúdos

em sala de aula diferiam tanto de uma escola para a outra?

Ademais, o autor teve a oportunidade de participar de um intercâmbio acadêmico nos

Estados Unidos, no qual foi possível experimentar um ambiente de sala de aula universitário

distinto do ambiente de sala de aula na universidade brasileira. Dessa forma, foi possível notar

diferenças significativas entre os comportamentos dos estudantes brasileiros e americanos,

tanto durante os processos avaliativos quanto no desenvolvimento das atividades acadêmicas.

Questionamentos novamente apareceram: Por que os estudantes brasileiros se comportam tão

diferentemente dos estudantes americanos em salas de aula? Por que os professores

americanos possuem atuações que parecem diferir tanto das atuações dos professores

brasileiros?

A motivação para aprender é a resposta que se propõe para esses questionamentos.

Considera-se que a motivação dos estudantes é dependente de vários fatores e influencia o

comportamento dos mesmos em sala de aula. Professores motivados e estudantes motivados é

o que se espera para a construção de um ambiente onde a aprendizagem é a meta de todos.

5 Metodologia

Para a realização deste trabalho, foi utilizada uma estratégia de pesquisa qualitativa. A

coleta de dados foi feita através de um diário de bordo por observação de duas aulas de

Química, e entrevistas com dois professores de Química do Ensino Médio (Professor A e

Professor B) em duas escolas públicas distintas (Escola 1 para o Professor A e Escola 2 para o

Professor B) localizadas na cidade de Viçosa. As entrevistas foram do tipo semiestruturada,

portanto fundamentadas em um questionário previamente elaborado. Nas entrevistas foram

abordadas as três estruturas do ambiente de sala de aula (organização das atividades escolares,

avaliação e autonomia) propostas por Ames (1992). Para o Professor B, foi necessária a

observação de duas aulas porque a primeira aula acompanhada consistiu em entrega de

avaliações e não permitiu uma análise comparativa adequada com a aula do outro professor.

O trabalho consistiu basicamente de quatro fases: (1) Definição da Questão a Ser

Estudada; (2) Preparação e Coleta de Dados; (3) Análise dos Dados; (4) Conclusões.

A Tabela 3 apresenta as etapas de cada fase do trabalho.

Page 22: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

21

Tabela 3. Etapas constituintes de cada fase do trabalho.

Fases Etapas

Fase 1:

Definição da Questão a Ser Estudada

Revisão da literatura

Definição do foco de estudo

Fase 2:

Preparação e Coleta de Dados

Revisão bibliográfica

Preparação dos questionários para entrevista

Observação das aulas

Realização das entrevistas

Fase 3:

Análise dos Dados

Tratamento dos dados

Interpretação dos dados

Fase 4:

Conclusões

Elaboração de conclusões baseadas nas respostas

obtidas nas entrevistas, nos dados obtidos pela

observação das aulas e pela revisão bibliográfica.

6 Descrição das Aulas de Química Observadas

6.1 Aula de Química na Escola 1

O Professor A entra na sala de aula e divide o quadro em quarto partes, sendo uma

destas de menor dimensão. O professor utiliza essa parte do quadro para deixar um lembrete

aos estudantes: “ATENÇÃO: Aula de revisão sobre funções químicas com o monitor”. Em

seguida o professor faz um levantamento de quantos estudantes possuem a intenção de

comparecer à referida aula.

Para iniciar a aula, o professor solicita que os estudantes desliguem os aparelhos

eletrônicos (celulares, notebooks etc.). Antes de qualquer coisa, o professor relembra os

estudantes sobre a necessidade de resolver os exercícios passados nas aulas anteriores,

destacando a importância de não deixar a matéria acumular.

O professor dirige-se ao quadro e coloca o título do conteúdo a ser trabalhado naquela

aula: Pureza dos Reagentes Químicos. Nesse início da aula, os estudantes ainda estão

dispersos e conversam bastante entre si enquanto o professor escreve no quadro.

Antes de iniciar a explicação, o professor escreve no quadro enunciados para três

exemplos de problemas envolvendo o cálculo de pureza de reagentes químicos. A seguir, está

a transcrição dos mesmos:

Exemplo 1: Uma amostra de 120 g de magnésio, cuja a pureza é 80% é queimada.

Determinar a massa de produto (MgO) obtida.

Exemplo 2: Determinar a massa de uma amostra de carbonato de cálcio com pureza de 80%

se a decomposição térmica produziu 84 g de óxido de cálcio (CaO).

Exemplo 3: O processo de obtenção de amônia pode ser descrito pela equação química:

N2 (g) + 3 H2 (g) ⟶ NH3 (g)

Page 23: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

22

Uma amostra de 200 g de N2 produziu 120 g de NH3. Determine a pureza do nitrogênio.

Segundo o professor, esses três exemplos são os mais significativos e garantem o

entendimento necessário para a solução de qualquer outro problema envolvendo pureza de

reagentes químicos por envolverem abordagens diferentes.

Antes de iniciar a explicação, o professor se recorda de um trabalho realizado em

grupo, cuja data limite para entrega era a data daquela aula. O professor solicita, então, que os

estudantes lhe passem os trabalhos impressos.

A seguir, o professor mostra aos estudantes dois frascos: 1) frasco de soda cáustica

comercial; e 2) frasco de hidróxido de sódio padrão analítico. O professor pergunta o que é

soda cáustica e chama atenção para as informações contidas no rótulo a respeito da

corrosividade e pureza. Destaca a seguir a necessidade de cuidado com o manuseio. O

professor menciona acidentes envolvendo a soda cáustica e chama a atenção principalmente

para cuidados envolvendo o armazenamento do produto em casa. São apontadas as diferenças

de como cada rótulo relata as impurezas: o produto de padrão analítico possui informações

sobre quais são as impurezas e quais as porcentagens destas no produto; o produto

comercialmente vendido com soda cáustica não traz quaisquer informações nesse sentido.

O professor inicia a resolução dos exercícios, ressaltando que, no caso de não haver

nenhuma menção sobre pureza nos enunciados dos exercícios, os estudantes considerem que o

produto tenha pureza de 100%.

Para a solução dos problemas de exemplo, o professor chama a atenção para o que

considera as palavras-chave dos enunciados: amostra e pureza. Começa então a resolução,

recapitulando com os estudantes os passos a serem seguidos para resolução de exercícios de

estequiometria.

1) Equacionar e balancear a equação para a reação química envolvida;

2) Consultar a tabela periódica para ter certeza das fórmulas químicas dos compostos;

3) Verificar o que é perguntado (massa, mols etc.). Para, dessa forma, saber que tipos de

proporções serão usadas;

4) Aguardar para fazer simplificações de cálculo ao final do exercício.

Durante a resolução dos exercícios, o professor chama a atenção dos estudantes

quando os mesmos pareciam estar mais dispersos e envolvidos em conversas paralelas.

Ao final da aula, o professor indica os exercícios do livro-texto que devem ser

resolvidos para praticar o conteúdo trabalhado, pergunta se há dúvidas sobre o que foi

abordado na aula, pede aos estudantes que organizem seu tempo e sempre analisem as

questões dos problemas porque não há apenas um método para resolução (não existe algo

Page 24: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

23

como uma “receita de bolo” a ser seguida). O professor ressalta a importância da monitoria e

pede que os estudantes procurem o monitor caso possuam dúvidas ou que o procure nos

horários de atendimento. Além disso, ressalta mais uma vez a importância dos estudantes se

organizarem e não deixarem que a matéria se acumule.

6.2 Aula de Química na Escola 2

O Professor B entra na sala e em um canto do quadro escreve um lembrete a respeito

da segunda avaliação bimestral que seria dentro de uma semana. O conteúdo da avaliação

abordaria os três capítulos trabalhados depois da primeira avaliação.

O professor inicia a aula perguntando aos estudantes sobre o que foi discutido na aula

anterior. Alguns estudantes pesquisam nas anotações e respondem ao professor: Classificação

das substâncias nos sistemas. O professor prossegue, então, com uma recapitulação sobre o

que são substâncias simples e o que são substâncias compostas. Pede que os estudantes

anotem os conceitos. A seguir, o professor solicita a opinião dos estudantes a respeito de qual

tipo de substância está presente em maior quantidade na natureza.

O professor incentiva que os estudantes tragam observações do dia a dia para a sala de

aula, oferecendo ponto extra para estudantes que trouxerem estes tipos de exemplificações.

O professor escreve no quadro a equação para uma reação química:

H2O (l) ⟶ H2 (g) + 1/2 O2 (g)

É solicitado aos estudantes que classifiquem cada uma das substâncias envolvidas na

reação como simples ou composta.

O professor utiliza mais um exemplo, perguntando aos estudantes qual substância

composta que eles conhecem que está presente na água do mar. Os estudantes respondem sal.

O professor nesse momento pede que os estudantes sejam mais específicos porque o termo sal

é muito geral. Os estudantes reformulam a resposta dizendo que é o sal de cozinha. O

professor complementa dizendo que este sal é o cloreto de sódio (NaCl).

Prosseguindo com conteúdo, o professor informa aos estudantes sobre outro tipo de

substância: as substâncias alotrópicas. O professor escreve a definição no quadro e pergunta

diretamente a um estudante se ele pode dar um exemplo.

Os estudantes continuam a conversar muito entre si, e eventualmente o celular de um

estudante tocou. Os estudantes começaram a “gritar” por causa desse evento com a intenção

de expor o colega. Contudo, o professor não manifesta nenhum tipo de intervenção.

Continuando o tópico da aula o professor coloca dois exemplos para substância

alotrópicas no quadro: C (grafite) e C (diamante); e O2 (gás oxigênio) e O3 (gás ozônio). O

Page 25: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

24

professor informa diferentes propriedades das formas alotrópicas: o diamante é péssimo

condutor de eletricidade enquanto que o grafite é bom condutor. A seguir, o professor

pergunta aos estudantes se eles têm conhecimento sobre o uso do ozônio. Nenhum estudante

se manifesta e o professor fala da aplicação do ozônio com bactericida em piscinas. Alguns

estudantes falam que é interessante e perguntam se a professora vai cobrar na avaliação.

O professor passa então para as diferentes maneiras de representação dos sistemas. Diz

que há duas representações possíveis: (1) representação por modelos de esferas; (2)

representação por fórmulas químicas. O professor faz, então, a representação de alguns

sistemas no quadro e pedem que os estudantes classifiquem as substâncias presentes em

simples, compostas e alotrópicas e digam se o sistema é homogêneo ou heterogêneo.

Durante essa parte da aula o professor recapitula as diferenças entre substâncias,

misturas homogêneas e heterogêneas. Faz questionamentos sobre a dificuldades de se separar

os componentes das misturas, se é mais fácil realizar a separação em sistemas homogêneos ou

em sistemas heterogêneos.

Por fim, o professor passa uma atividade para ser realizada em casa: Propor um

método para separar areia, cloreto de sódio e limalha de ferro. Ao final da aula o professor

solicita que os estudantes mostrem os cadernos para dar vistos e checar quem tomou notas da

aula.

7 Resultados e Discussão

Os questionários para as entrevistas foram elaborados de maneira a possibilitar a

identificação das estratégias instrucionais utilizadas pelos professores considerando as

diferentes estruturas de sala de aula propostas por Ames (1992).

A Tabela 4 apresenta os aspectos de cada estrutura analisada e os números das

questões do questionário correspondentes a cada uma delas. Essa organização foi proposta

para delinear e explicitar as diferenças entre as atuações dos dois professores entrevistados.

Cada estrutura será discutida separadamente a seguir, tentando, quando possível, fazer uma

conexão entre o que foi observado nas aulas descritas anteriormente e as respostas dos

professores nas entrevistas.

Page 26: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

25

Tabela 4. Estruturas da sala de aula e seus aspectos avaliados de acordo com o questionário da entrevista.

Atividades Questões

1) Variedade e diversidade 1 e 6

2) Razões e importância das atividades 3 e 4

3) Desafio 6, 4 e 9

4) Esforço 5 e 9

5) Componentes sociais 7 e 8

6) Tempo 2

Avaliação Questões

1) Critérios e métodos 1 e 6

2) Frequência e conteúdo 2

3) Aspectos da avaliação 3, 4, 7 e 9

Autonomia Questões

1) Decisão 1, 3 e 5

2) Estabelecimento de prioridades,

passo e método de aprendizagem 2 e 4

7.1 Organização das Atividades

A primeira estrutura abordada no questionário foi a organização das atividades

escolares. O planejamento das atividades para a aprendizagem é um elemento central em sala

por gerar percepções que influenciam a maneira que os estudantes abordam as atividades e

também como eles utilizam o tempo que possuem disponível para trabalhá-las.

Atividades que envolvem variedade e diversidade são mais prováveis de resultar em

maior engajamento dos estudantes. Isso é possível porque os estudantes percebem razões

significativas para dedicarem tempo a tais atividades. As atividades permitem, nesse sentido,

que os estudantes desenvolvam um entendimento do conteúdo e aprimorem/desenvolvam

habilidades. Pode ser apontado também que atividades com maior grau de variedade fornecem

menos oportunidades para que os estudantes façam comparações de rendimento (AMES,

1992).

As atividades que incluem desafios e criam nos estudantes percepção de controle do

processo ou do produto da aprendizagem geralmente atraem/despertam o interesse. Isso pode

ser atribuído a um propósito intrínseco à aprendizagem. As crenças de que o esforço resulta

em sucesso durante a realização das atividades podem gerar maior engajamento e empenho

dos estudantes para a realização das atividades (AMES, 1992).

A Tabela 5 sumariza as respostas dos professores com relação a essa estrutura dentro

de cada um dos aspectos apresentados na Tabela 4.

Page 27: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

26

Tabela 5. Atividades escolares, seus aspectos e respostas dos professores.

Aspectos das atividades

1) Variedade e diversidade

Professor A:

Adota abordagens de vários autores; Contextualização; Exemplos

significativos e representativos

Professor B:

Contextualização; Aplicações práticas; Para séries iniciais:

atividades mais simples, superficiais; Para séries finais: atividades

mais complexas

2) Razões e importância das atividades

Professor A:

Estudantes não veem razões imediatas da importância das atividades

Professor B:

Nem todos estudantes percebem a importância das atividades

3) Desafio

Professor A:

Observar e discutir resultados de aulas práticas; Questões

compreendem questões de nível básico e nível complexo

Professor B:

Depende do nível do estudante

4) Esforço

Professor A:

Valorização do esforço e da participação; Estudantes se preocupam

com os resultados e são competitivos

Professor B:

Valorização do esforço e da disposição; Estudantes se preocupam

com resultados

5) Componentes sociais

Professor A:

Projetos e aulas práticas são realizadas em grupo; Atividades das

aulas teóricas são realizadas individualmente; Estudantes decidem

os membros das equipes de trabalho

Professor B:

Estudantes não entendem o significado de trabalho em grupo;

Estudantes decidem os membros das equipes de trabalho

6) Tempo

Professor A:

Planejamento é necessário; o tempo de aula pode ser insuficiente

para trabalhar o conteúdo caso não seja bem administrado

Professor B:

Flexibilidade no quesito do tempo devido à diversidade entre os

estudantes em sala de aula

Os dois professores buscam abordar os conteúdos da Química de forma

contextualizada, sendo que o Professor A tenta selecionar as abordagens de vários autores

para propor exemplos significativos e representativos para os estudantes. Pode-se perceber

pela descrição apresentada na seção 6.1 que os exemplos apresentados para o conteúdo de

pureza dos reagentes químicos no tópico de estequiometria são de fato representativos e

necessários para trabalhar exercícios mais complexos. Ao trabalhar os exemplos propostos, o

Professor A buscou deixar claro para os estudantes uma sequência de passos para a solução

dos problemas, o que é interessante para indicar aos estudantes a necessidade de desenvolver

estratégias para a solução. Além disso, nota-se que o professor preocupou-se em

contextualizar o conteúdo ao mencionar a soda cáustica e um acidente envolvendo tal

produto. O Professor B, por sua vez, gosta de apresentar aplicações práticas (o que pode ser

confirmado pelos exemplos utilizados durante a aula, conforme descrito na seção 6.2), mas

Page 28: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

27

possui preferência por exemplos mais simples para estudantes nas séries iniciais. De acordo

com o que foi apresentado anteriormente, estas duas abordagens podem influenciar

positivamente a motivação por atraírem a atenção dos estudantes para a necessidade de

desenvolver estratégias e/ou despertar a curiosidade.

A Tabela 5 permite entender que, apesar dos esforços dos professores em

contextualizar, os estudantes ainda não percebem de imediato a importância das atividades.

Isso provavelmente diminui o tempo e o esforço que os mesmos dedicam para trabalhar as

atividades. Os estudantes da Escola 1 possuem um adicional que os estudantes da Escola 2

não possuem que são as aulas práticas. O Professor A destacou que as aulas práticas

constituem um desafio para os estudantes por demandarem deles organização e planejamento

durante a aula. Os dois professores indicaram que valorizam e incentivam os estudantes a se

esforçarem, destacando que o esforço pode levar ao sucesso.

Os dois professores destacaram que os estudantes se preocupam mais com os

resultados. O Professor A destaca ainda que os estudantes são altamente competitivos,

buscam sempre obterem os melhores rendimentos e costumam fazer algumas comparações

entre si. Para o caso dos estudantes da Escola 2, o Professor B reportou que observa muito

poucas comparações entre os estudantes, mas que os estudantes gostam de terem as notas

divulgadas publicamente. Entretanto, foi observado durante a aula de entrega das avaliações

que estudantes faziam muitas comparações de notas, uma vez que muitos se deslocaram pela

sala para perguntarem aos colegas as notas durante aquele tempo. Esse tipo de

comportamento está de acordo com as metas de performance, quando os estudantes buscam

reconhecimento público.

No que concerne ao aspecto do tempo, percebe-se que o Professor A busca fazer um

planejamento mais rigoroso de maneira que seja possível trabalhar o conteúdo que está

programado para a aula. Além disso, o Professor A incentiva os estudantes a se organizarem e

planejarem melhor para não deixar o conteúdo acumular. Essa estratégia pode ser bem

sucedida por transmitir aos estudantes a ideia do que o professor espera que eles alcancem

dentro de determinado tempo e também incentiva-os a monitorarem e desenvolverem

estratégias de aprendizagem para não “ficarem para trás”. O Professor B reporta ser mais

flexível com o tempo (inclusive no momento de avaliação) por ter consciência de que os

estudantes são diversos e apresentam capacidades de aprendizagem diferenciadas. Essa

flexibilidade, entretanto, deve ser direcionada para não permitir que os estudantes entendam

que esse é um meio para se esforçarem menos durante a realização das atividades.

Page 29: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

28

Com relação aos componentes sociais das atividades, percebe-se que os estudantes da

Escola 1 possuem mais oportunidades de trabalharem em grupo, principalmente por terem

aulas práticas. Os dois professores reportaram que permitem que os estudantes decidam os

membros das equipes, o que confere aos estudantes autonomia e evita conflitos que poderiam

desmotivá-los durante a realização dos trabalhos em grupo.

Pode-se inferir que, com relação à estrutura de organização das atividades escolares, o

Professor A utiliza estratégias instrucionais que estão em maior acordo com a

emergência/estabelecimento das metas de domínio entre os estudantes, enquanto o Professor

B faz uso de estratégias que se encaixam nos dois tipos de metas (de domínio e de

performance). Percebe-se indicações de que os estudantes (de acordo com o que foi reportado

pelos professores) possuem uma preocupação maior com o desempenho escolar (obter

maiores notas, aprovação etc.) do que com o desenvolvimento de estratégias que garantem a

aprendizagem, o que caracterizariam padrões motivacionais característicos das metas de

performance.

7.2 Avaliação

A segunda estrutura de sala de aula abordada nos questionários foi a avaliação. A

maneira em que os estudantes são avaliados é um dos fatores mais importantes no que diz

respeito à motivação. Práticas avaliativas incluem critérios, métodos, frequência e conteúdo

das avaliações. Assim como no caso das atividades escolares, as percepções que os estudantes

possuem sobre as avaliações podem gerar diferentes padrões motivacionais.

Alguns aspectos das práticas avaliativas podem ocasionar efeitos prejudiciais à

motivação dos estudantes. Comparações de rendimento, como divulgações das maiores e

menores notas, podem afetar a maneira que os estudantes se autoavaliam. As autoavaliações

dos estudantes são geralmente negativas quando eles estão focados em obter melhores

resultados que colegas de classe. Por outro lado, quando os estudantes são orientados a se

esforçarem e a participarem, as autoavaliações são normalmente positivas. Estudantes em

salas de aula caracterizadas por avaliações e notas públicas podem vir a acreditar que lhes

faltam habilidades e que são vistos pela turma como menos habilidosos (AMES, 1984).

A Tabela 6 apresenta as respostas obtidas nas entrevistas dos professores para a

estrutura referente à avaliação dentro dos aspectos delineados anteriormente (Tabela 4).

Os dois professores reportaram que o principal meio avaliativo utilizado consiste em

aplicação de provas, sendo as questões aplicadas diversificadas e contextualizadas. O

Professor B solicita que os estudantes justifiquem todas as respostas das questões (tanto

Page 30: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

29

objetivas quanto discursivas). Adicionalmente, o Professor A avalia como os estudantes

trabalham nas aulas práticas e nos projetos extraclasse e busca passar para os estudantes a

ideia de que as práticas avaliativas são também momentos de aprendizagem, sendo que erros

podem ocorrer em qualquer momento, sendo o raciocínio e o esforço feito pelos estudantes

valorizados. O Professor B busca avaliar a participação dos estudantes e oferece pontos extra

para os estudantes, o que pode ser confirmado pela aula descrita na seção 6.2: o professor

oferece pontos para os estudantes que trouxerem exemplos do cotidiano para compartilharem

com a turma e também solicita as anotações dos estudantes ao final da aula para conferência

de quem estava acompanhando o conteúdo apresentado.

Tabela 6. Respostas dos professores nas entrevistas para os aspectos da avaliação.

Aspectos da avaliação

1) Critérios e métodos

Professor A:

Provas com questões discursivas e objetivas, geralmente questões

contextualizadas; Avaliação de projetos e aulas práticas; Avaliação

é momento de aprendizagem, valorização do esforço dos estudantes

Professor B:

Avaliações através de provas, estudantes possuem oportunidades

para corrigir as avaliações e possuem oportunidades de recuperação;

Avalia participação nas aulas; Questões de prova são diversificadas

(discursivas e objetivas) e contextualizadas, sendo necessário que os

estudantes forneçam justificativas em todos os itens

2) Frequência e conteúdo

Professor A:

Duas provas por bimestre com conteúdo predeterminado

Professor B:

Duas provas por bimestre com conteúdo predeterminado, mas

podem existir modificações de acordo com a turma

3) Aspectos da avaliação

Professor A:

Diversidade de reações diante das provas; Provas marcadas com

antecedência e os estudantes são orientados a manterem os estudos

em dia; Estudantes comparam resultados; Estudantes desvalorizam

atividades às quais não é atribuída nota

Professor B:

Reações diante das provas variam de estudante para estudantes;

Provas marcadas com antecedência e estudantes são relembrados de

acordo com a proximidade das datas; Estudantes não fazem muitas

comparações; Estudantes desvalorizam atividades às quais não é

atribuída nota

As datas das provas dos dois professores são pré-determinadas e divulgadas para os

estudantes no início de cada bimestre. O Professor B, entretanto, reporta ser flexível e que

modificações podem ocorrer de acordo com a turma. A definição das datas permite que os

estudantes busquem se programar e se tornarem cientes da quantidade de conteúdo para cada

prova. Dessa forma, é possível que se desenvolvam as habilidades de automonitoramento na

medida que os professores passem as orientações para os estudantes manterem os estudos em

dia.

Page 31: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

30

O Professor A reporta ter notado que os estudantes costumam realizar comparações de

rendimento entre si. Por outro lado, o Professor B não percebe esse tipo de comportamento

entre os estudantes. Para o caso da Escola 1, esse tipo de comportamento já era esperado uma

vez que o professor já havia notado que os estudantes são bastante competitivos conforme

descrito na seção 7.1. Por outro lado, apesar de o Professor B reportar não notar comparações

de rendimento entre os estudantes, foi bastante óbvio, na primeira aula acompanhada (entrega

de provas), que os estudantes procuravam sim saber como os colegas de classe

desempenharam na prova. Esse tipo de comportamento era esperado por estar de acordo com

estratégias instrucionais dentro das metas de performance.

Os dois professores reportaram que os estudantes desvalorizam as atividades às quais

não são atribuídas notas. Esse tipo de orientação se encaixa nas metas de performance visto

que os estudantes não se empenham para realizar as atividades sem a oferta de uma

recompensa externa (pontos).

O Professor B apresenta estratégias instrucionais dentro da estrutura da avaliação

condizentes com o desenvolvimento dos dois tipos de metas de aprendizagem (performance e

domínio). Uma vez que o professor reporta que os estudantes já estão focados no rendimento,

o uso de estratégias de performance pode ocasionar aumento da motivação extrínseca e

desviar os estudantes das metas de domínio. O Professor A, por sua vez, faz uso de estratégias

de ensino mais coerentes com as metas de domínio, as quais podem vir a ocasionar padrões

motivacionais mais focados na aprendizagem (motivação intrínseca) e abandono/diminuição

de comportamentos relacionados com a performance (motivação extrínseca).

7.3 Autonomia

Padrões motivacionais positivos (ou adaptativos) estão relacionados com ambientes de

sala de aula em que os professores suportam o desenvolvimento da autonomia dos estudantes.

Isso ocorre quando os professores oferecem opções e incluem os estudantes nas tomadas de

decisões. Ames (1992) destaca que as opções oferecidas aos estudantes devem conduzir a

escolhas baseadas no interesse e não em escolhas intencionadas a diminuir o esforço ou evitar

fracassos.

A Tabela 7 mostra que o Professor A procura incluir os estudantes nas decisões, mas

deixando claro que as escolhas devem ser escolhas reais, visto que o professor está no

comando e decidirá sobre a viabilidade de cada escolha de acordo com os objetivos da aula. O

Professor B, por outro lado, prefere determinar as regras de acordo com o que acredita

proporcionar os melhores resultados para as aulas. Os estudantes da Escola 1, de acordo com

Page 32: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

31

o Professor A, possuem organizações estudantis que permitem que haja participação discente

nos assuntos escolares. Esse tipo de atividade também influencia positivamente a motivação

porque permite que os estudantes adquiram um envolvimento maior com os eventos escolares.

Tabela 7. Respostas dos professores para os aspectos da autonomia em sala de aula.

Aspectos da autonomia

1) Decisão

Professor A:

Decisões tomadas de forma democrática, mas o

professor deixa claro que está no comando, na

coordenação; Estudantes possuem organizações e

fazem reinvindicações; Incentivo à participação

através de discursos

Professor B:

O professor determina as regras; Estudantes são

orientados a se organizarem e expressarem suas

opiniões

2) Estabelecimento de prioridades, passo e método de

aprendizagem

Professor A:

Estudantes podem colocar as dúvidas a qualquer

momento; Todos estão em sala de aula para aprender,

inclusive o professor; As aulas práticas permitem que

os estudantes gerenciem e monitorem o

desenvolvimento das atividades

Professor B:

Estudantes são incentivados a participar e a buscar o

entendimento; Poucos estudantes possuem capacidade

de organizar e gerenciar o tempo de acordo com suas

prioridades.

Segundo o Professor A, os estudantes podem colocar dúvidas a qualquer momento,

visto que a sala de aula é um espaço de aprendizagem tanto para o professor quanto para os

estudantes. Esse tipo de estratégia cria um ambiente de aprendizagem agradável por transmitir

a ideia de que erros podem acontecer e que a sala de aula é um ambiente de construção em

que todos podem contribuir para o processo de aprendizagem. Na Escola 1, os estudantes

possuem aulas práticas que permitem que sejam desenvolvidas habilidades de

automonitoramento e autogerenciamento, pois os estudantes são responsáveis por realizar os

experimentos das aulas práticas, os quais demandam atenção e organização para garantir

resultados satisfatórios e entendimento dos procedimentos e conceitos trabalhados.

Percebe-se que os estudantes da Escola 1 são direcionados ao desenvolvimento das

metas de domínio. Isso acontece tanto pelas estratégias instrucionais do Professor A quanto

por outros aspectos físicos do ambiente escolar, visto que é possibilitado para os estudantes a

realização de aulas práticas e participação mais direta em eventos escolares, o que permite aos

estudantes desenvolverem a autonomia. Os estudantes da Escola 2 são mais direcionados para

as metas de performance visto que o professor se considera controlador e não incentivador da

autonomia. Além disso, o fato do Professor B dizer incentivar que os estudantes a

Page 33: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

32

participarem, mas ser quem determina as regras no final pode influenciar negativamente a

motivação por não deixar claro as expectativas em relação aos estudantes.

8 Conclusões e Implicações para o Ensino de Química e Ciências

Foi verificado que o Professor A faz uso de estratégias instrucionais

predominantemente coerentes com as metas de domínio para as três estruturas de sala de aula,

enquanto o Professor B faz uso predominante de estratégias mais condizentes com as metas

de performance. Os padrões motivacionais inferidos para os estudantes da Escola 1 são

resultantes de uma combinação de padrões adaptativos e não-adaptativos (os dois tipos de

metas de aprendizagem são enfocados pelos estudantes, ainda que haja predominância de

estratégias instrucionais condizentes com as metas de domínio por parte do Professor A). Por

outro lado, os estudantes da Escola 2 estão mais voltados a desenvolverem padrões

motivacionais dentro das metas de performance, devido às estratégias instrucionais utilizadas

pelo Professor B. Uma atuação docente centrada nas metas de domínio pode favorecer a

diminuição dos padrões motivacionais não-adaptativos para os dois casos.

Por meio da comparação das estratégias instrucionais de dois professores de Química

e os eventuais padrões motivacionais dos estudantes, é possível perceber a abrangência

educacional da teoria das metas de realização. Uma vez que a motivação é influenciada por

aspectos contextuais, é importante que os professores estejam cientes de como manipular as

estruturas de sala de aula para ocasionar a emergência e/ou o desenvolvimento das metas de

domínio entre os estudantes. Tais metas caracterizam-se por padrões motivacionais

adaptativos que ajudam os estudantes desenvolverem as habilidades e competências

necessárias à disciplina.

Devido ao tempo curto para a coleta dos dados, esta pesquisa é limitada no que diz

respeito à interpretação dos mesmos por não ser possível traçar conclusões muito abrangentes.

O trabalho mostra, através de uma triangulação de dados entre os pesquisadores e as teorias

analisadas, que as estratégias instrucionais dos professores podem influenciar

significativamente a motivação dos estudantes para a aprendizagem. Em trabalhos futuros, é

importante buscar verificar como estratégias instrucionais focadas nas diferentes metas

influenciam a motivação dos estudantes a longo prazo. Um trabalho longitudinal, com o

acompanhamento de mais aulas e avaliando a variação da motivação dos estudantes, é

interessante para demonstrar a eficácia das estratégias de ensino e reforçar as diferenças que o

foco em um ou outro tipo de meta pode ocasionar nos padrões motivacionais.

Page 34: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

33

Além disso, é importante que nos cursos de formação inicial e continuada de

professores seja discutido como ocorre o processo de aprendizagem e a sua relação com as

teorias sobre motivação, de modo a ser possível colocá-las em prática durante a mediação do

conhecimento em sala de aula.

Page 35: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

34

REFERÊNCIAS

AMES, C. Achievement attributions and self-instructions under competitive and

individualistic goal structures. Journal of Educational Psychology, v. 76, p. 478-487, 1984.

______. Classrooms: Goals, structures, and student motivation. Journal of Educational

Psychology, v. 84, n. 3, p. 261-271, 1992.

AMES, C.; ARCHER, J. Achievement goals in the classroom: Students' learning strategies

and motivation processes. Journal of Educational Psychology, v. 80, n. 3, p. 260, 1988.

BARLACH, L.; LIMONGI-FRANÇA, A. C.; MALVEZZI, S. O conceito de resiliência

aplicado ao trabalho nas organizações. Interamerican Journal of Psychology, v. 42, n. 1, p.

101-112, 2008.

BORDENAVE, J. D.; PEREIRA, A. M. O que é aprender. In: Estratégias de ensino-

aprendizagem. 29. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

BORUCHOVITCH, E.; BZUNECK, J. A. (Org.). A motivação do aluno: contribuições da

psicologia contemporânea. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.

CAETANO, A.; JANUÁRIO, C. Motivação, Teoria das Metas Discentes e Competência

Percebida. Pensar a Prática, v. 12, n. 2, 2009.

Classroom climate. Center for Innovative Teaching and Learning (Website), 2015.

Disponível em: < http://citl.indiana.edu/resources_files/teaching-resources1/classroom-

climate.php >. Acesso em: 13 Abril 2015.

DETTWEILER, U. et al. Investigating the motivational behaviour of pupils during outdoor

science teaching within self-determination theory. Frontiers in Psychology, v. 6, 2015.

ECCLES, J. S.; WIGFIELD, A. Motivational beliefs, values, and goals. Annual Review of

Psychology, v. 53, n. 1, p. 109-132, 2002.

FITA, E. C. O professor e a motivação dos alunos. In: A motivação em sala de aula. 8 ed.

São Paulo: Edições Loyola, 2009.

GOTTFRIED, A. E.; FLEMING, J. S.; GOTTFRIED, A. W. Continuity of academic intrinsic

motivation from childhood through late adolescence: A longitudinal study. Journal of

Educational Psychology, v. 93, n. 1, p. 3-13, 2001.

Page 36: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

35

GUIMARÃES, S. E.; BORUCHOVITCH, E. O estilo motivacional do professor e a

motivação intrínseca dos estudantes: uma perspectiva da teoria da autodeterminação.

Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 17, n. 2, p. 143-150, 2004.

JOB, F. P. P. Os sentidos do trabalho e a importância da resiliência nas organizações.

2003. Tese (Doutorado em Administração de Empresas). São Paulo: Fundação Getúlio

Vargas.

MAEHR, M. L.; MEYER, H. A. Understanding motivation and schooling: Where we've been,

where we are, and where we need to go. Educational Psychology Review, v. 9, n. 4, p. 371-

409, 1997.

MORAN, J. A integração das tecnologias na educação. In: A Educação que desejamos:

novos desafios e como chegar lá. 5. ed. Campinas: Papirus, 2013.

OTIS, N.; GROUZET, F. M.; PELLETIER, L. G. Latent Motivational Change in an

Academic Setting: A 3-Year Longitudinal Study. Journal of Educational Psychology, v. 97,

n. 2, p. 170, 2005.

PATRICK, B. C.; SKINNER, E. A.; CONNELL, J. P. What motivates children's behavior and

emotion? Joint effects of perceived control and autonomy in the academic domain. Journal of

Personality and Social Psychology, v. 65, n. 4, p. 781-791, 1993.

REEVE, J. Understanding motivation and emotion. 5. ed. Wiley, 2009.

RYAN, R. M.; DECI, E. L. Intrinsic and extrinsic motivations: Classic definitions and new

directions. Contemporary Educational Psychology, v. 25, n. 1, p. 54-67, 2000.

SKINNER, E. A.; BELMONT, M. J. Motivation in the classroom: Reciprocal effects of

teacher behavior and student engagement across the school year. Journal of Educational

Psychology, v. 85, n. 4, p. 571-581, 1993.

SWARAT, S.; ORTONY, A.; REVELLE, W. Activity matters: Understanding student

interest in school science. Journal of Research in Science Teaching, v. 49, n. 4, p. 515-537,

2012.

TAPIA, J. A. Contexto, motivação e aprendizagem. In: A motivação em sala de aula. 8 ed.

São Paulo: Edições Loyola, 2009.

TURNER, J.; PATRICK, H. Motivational influences on student participation in classroom

learning activities. The Teachers College Record, v. 106, n. 9, p. 1759-1785, 2004.

Page 37: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

36

ANEXO A

QUESTIONÁRIO PARA ENTREVISTA DOS PROFESSORES

Aspectos abordados

- Organização das atividades escolares;

- Avaliação;

- Autonomia.

Organização das atividades escolares

1. Que elementos você considera no momento da elaboração e estruturação das

atividades que serão apresentadas aos estudantes?

2. Como você articula a questão do uso e distribuição do tempo para realização das

atividades propostas?

3. As propostas de ensino apresentadas nas atividades permitem aos estudantes o

reconhecimento da importância das mesmas?

4. Como é abordada a questão relativa ao desenvolvimento das habilidades atitudinais,

conceituais e procedimentais dos estudantes nas atividades propostas?

5. Como é visto por você a questão do esforço ou disposição dos estudantes para a

realização das atividades propostas?

6. Quanto ao grau de variedade e desafio, como você avalia as atividades apresentadas

aos estudantes?

7. Como são colocadas as atividades do ponto de vista de seus componentes sociais

(interações estudante-estudante e professor-estudante)? Há mais atividades para serem

feitas individualmente ou em grupo?

8. Como são escolhidos os integrantes das equipes para a realização das atividades em

grupo?

9. Na sua percepção, os estudantes preocupam mais com o desenvolvimento das

estratégias ou com os resultados a serem obtidos com a realização das atividades?

Page 38: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

37

Avaliação

1. De quais métodos, critérios e padrões de avaliação você faz uso? Há predominância de

algum sobre os demais?

2. Como são articuladas as questões da frequência e conteúdo das avaliações?

3. Quais reações você percebe nos estudantes diante das atividades avaliativas?

4. Você geralmente faz algum tipo de comentário sobre a proximidade das datas das

avaliações? Se sim, que tipo?

5. Como são reportados aos estudantes as qualificações das atividades avaliativas?

6. Qual o tipo de abordagem predominante nas avaliações de Química (questões

discursivas, de múltipla escolha, questões contextualizadas)? Qual a importância da

avaliação para diagnosticar/aferir o processo educativo (ensino e aprendizagem)?

7. Você já percebeu alguma comparação entre os estudantes dos resultados obtidos nas

avaliações? Em caso afirmativo, que tipo de comparação ocorre entre eles?

8. Você já notou mudança de comportamento em algum estudante após o recebimento de

um resultado pouco satisfatório em uma avaliação?

9. Como os estudantes encaram as atividades às quais não é atribuída nota?

Autonomia

1. Como são abordadas em sala de aula as questões de escolha e tomada de decisões

frente aos trabalhos escolares propostos?

2. São oferecidas aos estudantes oportunidades para estabelecimento de dúvidas com

relação à realização das atividades, bem como ao passo e ao método de aprendizagem?

3. São fornecidas aos estudantes oportunidades para o desenvolvimento da autonomia?

4. Existem estratégias que suportam o desenvolvimento e uso de habilidades de

autogerenciamento e de monitoramento?

5. São utilizadas recompensas ou incentivos para que os estudantes se engajem nas

atividades?

6. Como são planejados os trabalhos mais longos (projetos de ensino interdisciplinares,

por exemplo)? Qual o grau de responsabilidade atribuído aos estudantes nesses casos?

Page 39: Motivação para o Aprender: Análise dos Possíveis Padrões ... · Foi verificado que o Professor B utiliza estratégias instrucionais consistentes com os dois tipos de metas e

38

ANEXO B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado(a) professor,

Convidamo-lo(a) a participar da pesquisa “MOTIVAÇÃO PARA O APRENDER:

ANÁLISE DOS POSSÍVEIS PADRÕES MOTIVACIONAIS PARA A APRENDIZAGEM DA

QUÍMICA EM SALAS DE AULA DO ENSINO MÉDIO”, desenvolvida pelo licenciando

Denilson Mendes de Oliveira, sob a orientação do professor Vinícius Catão de Assis Souza.

Sabemos que a questão do interesse dos estudantes em sala de aula é muitas vezes

preocupante para os professores, estando presente nas diferentes áreas de estudo e níveis

educacionais. Este trabalho reconhece a importância da motivação para a aprendizagem e

procura analisar a influência que as estruturas do ambiente de sala de aula possuem na

motivação dos estudantes, especificamente para a aprendizagem da Química. A análise das

suas respostas ajudará na verificação do impacto da motivação para a aprendizagem, assim

como poderá indicar as direções para uma atuação docente que favoreça o desenvolvimento e

estabelecimento de padrões motivacionais que influenciem positivamente a aprendizagem da

Química pelos estudantes.

Para tanto, os seguintes aspectos serão levados em consideração e respeitados:

a) Liberdade de se recusar a participar ou retirar seu consentimento em qualquer fase

da pesquisa, sem penalização alguma e sem prejuízo ao seu cuidado;

b) Garantia de sigilo quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa;

c) Participação voluntária na pesquisa, sem ônus algum para o participante.

Nesses termos, declaro ter sido informado e concordo em participar, como

voluntário(a), fornecendo informações para o projeto de pesquisa acima descrito ao responder

o questionário e/ou participar da entrevista proposta.

Viçosa, _____ de _______________ de 2015.

_____________________________________________

Assinatura para a obtenção do consentimento

Nome do Licenciando responsável pela pesquisa: Denilson Mendes de Oliveira

E-mail: [email protected]