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MORGAN:
A SACERDOTISA ATLANTE
Geórgia Freitas
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Nenhuma parte desta obra poderá ser
reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
qualquer meio. Todos os direitos são reservados.
Dedicada a meus filhos, Tiago e Ana Cecília, ao
meu esposo Wilson, meus pais e a todos que sempre
Morgan, A Última Sacerdotisa Atlante
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me apóiam nessa difícil empreitada da escrita
autônoma.
INDICE
Geórgia Freitas
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CAPÍTULO 1 – EU, APRENDIZ DE SACERDOTISA ........ 5
CAPÍTULO 2 - NOS BRAÇOS DA GRÂ-
SACERDOTISA .................................................................... 10
CAPÍTULO 3 – A INICIAÇÃO PELA ORDEM DE
MORGAUSE ......................................................................... 15
CAPÍTULO 4 - O ESTÁGIO DA ILHA
FLUTUANTE NO DE ASSE ............................................... 36
CAPÍTULO 5 – CHEGANDO A NOVA ATLÂNTIDA ..... 63
CAPÍTULO 6 – A DUQUESA BRINNER ......................... 70
CAPÍTULO 7– O NOVO REI DA NOVA
ATLANTIDA ........................................................................ 93
CAPÍTULO 8 – O CIRCULO DAS SACERDOTISAS
ATLANTES ......................................................................... 103
CAPÍTULO 9 – NA DIREÇÃO DO RUBI .........................113
CAPÍTULO 10 – O REENCONTRO ................................ 135
Morgan, A Última Sacerdotisa Atlante
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CAPÍTULO 1 – EU, APRENDIZ DE SACERDOTISA
inguém é uma ilha. Água cercada de
terras para todos os lados. Água que nos
encobre e nos guia para um egônico
submundo misterioso.
Dei-me conta disso quando via a minha vida parada.
Estagnada. Tinha terra para todos os lados, mas não tinha as
setas sinalizando para qual lado ir. Fechei-me. Tranquei-me
nas vias do autoconhecimento, sofri, chorei em tumbas frias
e ermas. Olhava para os cantos e não vi mão que se
estendesse. Olhava para os túneis e não avistava nenhuma
luz. Procurei dentro de mim, cordas, rochas, quanto
íngremes fossem para subir pelas paredes escuras da alma e
abandono de minha história. E nada. Continuava a me
afogar no pântano do vazio e da solidão, escondendo-me de
mim, servindo no mosteiro da Grã-Sacerdotisa Isis: aquela
que me recebeu quando, pequena, singrei da Antiga
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Atlântida para as águas de um mundo novo, em Asse.
Escondia-me nas paredes do mosteiro certa de que minha
família um dia apareceria para me acolher.
Era tudo vazio e repleto de névoas para atravessar de
um mundo a outro. Viver o passado obscuro era, agora, a
única ponte para a Antiga Atlântida, terra de meus
antepassados. Lá deveria revisitar a minha geração, descobrir
a minha verdadeira identidade. Antes disso, deveria passar
por todas as etapas da iniciação no mosteiro. Ser sacerdotisa.
Viver a missão depois de me preparar para ela. Eu deveria
reencontrar a minha linhagem: as Sacerdotisas da Ordem de
Morgause. O meu clã de origem, o qual deveria voltar a se
reunir por muitos anos. Para alcançar esse objetivo, a
mudança interior deveria ser completa. Superar o abandono,
a escassez de afeto. Recuperar a minha essência que ficara
perdida no meu passado, que me expulsou da minha própria
história.
Eu me descobri assim. Num labirinto infindo. Nem
as minhas lágrimas ouviam o meu grito de socorro. Na gruta
do meu ego: ninguém. Meu sofrimento era uma tentativa
muda de autopiedade. Eu não me ouvia.
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Neste mundo não há coisa pior do que morrer
desconhecidamente por dentro. E, mortos interiormente,
nunca se sabe por onde seguimos e para onde vamos.
Estamos arraigados como plantas submersas no lodo,
imobilizadas para a vida, perdidas para o mundo, distantes
do nada. Nada, nunca, ninguém. Eu não tenho passado.
Por muito tempo peregrinei por terras desconhecidas
e pelos territórios inférteis do meu eu. Sem rumo, sem meta.
Viver por viver. Viver para sobreviver. Rodando no labirinto
do meu inconsciente, rezando por um aceno de Ícaro. Por
mais alta que fosse a queda, eu tentei aproximar-me do Sol.
Mas nem a claridade piedosa veio ao meu encontro. Nem
ela.
Choro vulcânico, lavas lacrimejantes. Eu não me
conhecia. E desconhecia a quem recorrer para me fazer
conhecida. Quem eu era? A que vim? Qual o meu destino?
Uma palavra gritava em meio a essa lamúria: perdão.
Perdoar-me
A quem pedir perdão? A mim mesma!
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Só quando me distanciei de mim, é que a Essência da
Mãe pode pousar no meu ser, resgatar minha história. Do
meu passado eu nada conhecida. A Grande Mãe fez-me
render à graciosidade da linhagem sacerdotisas de Morgause,
último, único clã de Atlanta, terra quase extinta. E que um
dia gerara as sacerdotisas. Perpétuas em suas magias.
Grandes na alma. Penitentes no viver.
A Grande Mãe estendeu-me a mão e desobstruiu a
ponte do meu passado levando-me a terras longínquas para
salvar meu clã. E hoje eu sou Morgan, a Sacerdotisa Atlante.
Depois de iniciada pela minha orientadora, a Grã-
Sacerdotisa Isis, pude compreender mistérios gestados pelo
meu passado e paridos pelo presente. Futuro? Só após a
missão que seria revelada depois da Iniciação. Vou contar
todas as fases da minha história que, ainda encantadora e
arriscada, fez-me ser farol na vida de pessoas perdidas no
breu do passado. Pessoas que estavam em minha vida sem
eu saber que participaria ativamente de suas caminhadas.
Entender humildemente que o outro continua a nossa
missão é grandioso para o caminho de uma pós-iniciada.
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Atlanta ruía. O ouro, prata e as riquezas preciosas
sobrecarregavam a terra que, em pouco tempo, não
agüentaria tanta abastança. Como cheguei lá? O que
aconteceu? É um relato que deixarei aqui, neste livro, para as
futuras sacerdotisas.
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CAPÍTULO 2 - NOS BRAÇOS DA GRÂ-SACERDOTISA
mundo veloz e furioso da atualidade
traz com ele grandes males. Cada um de
nós foi criado por Deus e, se criados
Dele, temos uma chama da criação. Ou nos submetemos às
vias de um mundo egoísta, desumano, seletivo ou nos
entregamos aos pés da chama Criadora Universal, o
potencial criativo que existem em nós.
Abençoados com potencial criativo são aqueles que
trabalham com a terra. Os céus, Deus nos deu para que
pudéssemos contemplar a Grande Luz da lua todas as noites
antes de descansarmos. O dia, Deus nos deu para a vida,
para vivê-la com alegria e esmero a Grande Luz solar.
Quando Deus criou o céu e a terra deu a nós toda a sorte de
plantas, espécies de faunas e floras, muitas sementes e frutas.
Foram tantas, que milhões de anos passaram e o homem
ainda não conhece a propriedade benéfica de muitas
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sementes.
Os exercícios da contemplação e a essência da fé,
juntos, nos reanimam sim. E podemos ter o despertar da
centelha divina interior observando e cultivando a nossa fé –
sem deixá-la esmorecer – encantando-se com os elementos
da Criação. O sol todos os dias nos aviva. A lua todas as
noites diz que o dia seguinte é uma nova oportunidade.
Ambos abrem uma caixa interna, muitas vezes trancada à
chave, que trouxemos quando ganhamos a filiação divina:
essa caixa chama-se a vida – inspiração criativa – e quem nos
presenteou foi Deus.
Grande obra da Fonte Criativa foi o homem. À sua
semelhança fez o homem.
A cada dia Deus envia uma criança para este mundo
para reafirmar o seu Poder Criativo, Ele diz que jamais
desistirá de nós. Não extinguirá a humanidade. E assim
Deus se revela a nós pela simplicidade de sua criação.
Presenciando o sol, contemplando a lua e alegrando-se com
um sorriso de uma criança. Foram as palavras do profeta.
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As Sacerdotisas da Linhagem de Morgause eram
atlantes. Até hoje embalam o sono das crianças que vêm ao
mundo com a mensagem de Deus. Deus as envia. As
Sacerdotisas da Grande Mãe as guardam no amor e na
liberdade.
Foi assim que cheguei ao mosteiro da Grã-
Sacerdotisa Isis Pelo rio Asse diretamente para os braços da
Grã-Sacerdotisa.
Foi a ganância do homem que me fez estar aqui. Fui
cuspida do cataclisma que assombrou e devastou parte da
minha ilha, Antiga Atlântida. Eu não tinha nome, não tinha
história. Dos meus antepassados, apenas aquela que me
trouxe à vida. Com a minha mãe morta pela perseguição
desenfreada do seu próprio marido, o rei da Muralha de
Bronze, minha tia, Críssia, retirou-me de ventre dela.
Enquanto todos amaldiçoavam o meu nascimento,
Tia Críssia, me salvou. Embalou-me meio a peles e cobertas
de linho e fechou no baú de suas vestimentas. Ali me separei
de meus antepassados pela correnteza do rio que me levou a
Asse e continuou a me embalar até as margens do
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promontório. A Antiga Atlântida, o invisível; Asse, o visível.
Fronteiras que não se viam, mas se alinhavam. Só Deus
tinha o mapa. Deus, a Deusa e a Grã-Sacerdotisa.
A Antiga Atlântida dependia das profecias dos
Conselheiros Espirituais. Eu era filha do Rei da Muralha de
Bronze – Corus - , meu nascimento aconteceu juntamente
com a passagem do cometa Absinto que destruiu parte das
ilhas e a dividiu em duas eras: a Antiga Atlântida e a Nova
Atlântida. A primeira, eu tive que abandonar por força da
luta política e ameaças de meu próprio pai. A segunda me
aguardava. Mas apenas uma pessoa poderia me destinar ao
conhecimento da minha missão. Novamente ela: a Grã-
Sacerdotisa.
Sair da Antiga Atlântida não deu novo ar à minha
história. Mal pude reescrevê-la, pois, ao chegar ao mosteiro
eu ainda era um bebê e com o passar da idade continuei sem
saber o meu nome verdadeiro, muito menos a minha
origem. A escuridão interior incomodava-me por ser
declaradamente um ser sem conhecer os antepassados, fruto
de uma negação profética que me amaldiçoou. Quando
cheguei aos braços da Grã-Sacerdotisa, apenas o amor me
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acolhia. Amor é universal: acontece sem hora, data,
consentimento. Amor não é um fato histórico. Amor é
amor. E quanto mais damos, mais recebemos.
Amor não tem aspecto, não tem visão. Amor...
Amor não tem características físicas ou pessoais. Amor
pessoal? Não aprendi assim. Às margens do rio Asse, eu
aprendia que todas as crianças que ali chegavam, haviam de
ser muito amadas, independente da origem histórica.
Independente de serem ou não futuras sacerdotisas. Seriam,
sim, muito acolhidas e cuidados por nós, noviças, a Monja
Leiria e pela Isis.
Amor... Eu sai da Antiga Atlântica, pois lá, não fui
amada. Os profetas disseram ao meu pai que o meu
nascimento seria o início da destruição da Antiga Atlântida.
Por isso, deixei de ser fruto de amor para ser objeto de
perseguição e ódio do meu próprio pai e de seus seguidores.
Atlântida, terra rica e próspera, renegava, pela primeira vez, a
cidadã da nobreza.
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CAPÍTULO 3 – A INICIAÇÃO PELA ORDEM DE MORGAUSE
o mosteiro da Grã-Sacerdotisa Isis a
única busca direcionava-me a uma só
palavra: purificação. Muitos infernos
atravessei e muitas avalanches trevosas tentaram me
soterrar. Vícios mundanos, superficialidades e enganos. Eu
tentei sair ilesa dessas batalhas travadas com o mundo
exposto. E hoje, em reclusão total, descubro-me em preparo
sacerdotal. Descubro-me também refém das marcas do
passado, do vazio, da anulação da minha história. Eu não sei
quem sou. Não sei quem fui. E qual marca deixei em minha
nação. Que nação? Parte de minha ilha se foi pelas
catástrofes naturais restaram apenas dez ilhas.
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