morfemas cap.3

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Quando nos envolvemos com o aprendizado das línguas naturais, normalmente voltamos nossa atenção para o seu vasto conjunto de palavras, apostando, ingenuamente, que, quanto maior for o número de palavras que conhe- cermos, maior será nosso domínio dessa língua. Logo des- cobrimos não ser bem essa a realidade, uma vez que a aquisição de uma língua envolve, além da familiaridade com o significado das suas muitas palavras, a compreen- são das suas estruturas. E as estruturas lingüísticas come- çam a atuar na própria formação das palavras. O estudo da morfologia nos ensinará como são formadas as pala- vras dentro dos quadros de uma dada língua natural. Morfologia: A construção das palavras 1 2 TÓPICO Elementos mórficos, 2 TÓPICO Formação de palavras (I): radicais gregos e latinos, 10 Autoras: Maria Luiza M. Abaurre e Marcela Nogueira Pontara MÓDULO DE LÍNGUA PORTUGUESA GRAMÁTICA Sistema de Ensino Obra “Juízo Final”, 1912, de Wassily Kandinsky, pintura à água e tinta-da-china em vidro, 33,6 x 45,3 cm. Museu Nacional de Arte Moderna, Centro George Pompidou, Paris (Livro Kandinsky, quadro 52). MUSEU NACIONAL DE ARTE MODERNA, CENTRO POMPIDOU, PARIS 3 MÓDULO Ensino Médio • Uno Modular • Gramática • Módulo 3 Ensino Médio • Uno Modular • Gramática • Módulo 3 487

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Page 1: Morfemas cap.3

Quando nos envolvemos com o aprendizado das línguasnaturais, normalmente voltamos nossa atenção para o seuvasto conjunto de palavras, apostando, ingenuamente,que, quanto maior for o número de palavras que conhe-cermos, maior será nosso domínio dessa língua. Logo des-cobrimos não ser bem essa a realidade, uma vez que aaquisição de uma língua envolve, além da familiaridadecom o significado das suas muitas palavras, a compreen-são das suas estruturas. E as estruturas lingüísticas come-çam a atuar na própria formação das palavras. O estudoda morfologia nos ensinará como são formadas as pala-vras dentro dos quadros de uma dada língua natural.

Morfologia:A construção das palavras

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T Ó P I C O

Elementos mórficos, 2

T Ó P I C O

Formação depalavras (I): radicaisgregos e latinos, 10

Autoras: Maria Luiza M. Abaurre eMarcela NogueiraPontara

MÓDULO DE

LÍNGUA PORTUGUESA GRAMÁTICA

Sistema de Ensino

▲ Obra “Juízo Final”, 1912, de Wassily Kandinsky, pintura à água e tinta-da-chinaem vidro, 33,6 x 45,3 cm. Museu Nacional de Arte Moderna, Centro GeorgePompidou, Paris (Livro Kandinsky, quadro 52).

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T Ó P I C O

Elementos mórficos

1. A construçãodas palavras e seussentidos, 2

2. O que é umaGramática? 2

3. A estrutura internadas palavras, 3

4. Os mofermas, 3

1

1. A CONSTRUÇÃO DAS PALAVRASE SEUS SENTIDOS

elucidar, interpretar e comentar criticamente ostextos clássicos.

Em um certo sentido, pode-se dizer que a cha-mada gramática normativa, conforme ainda é con-cebida e ensinada nos dias de hoje, continua a man-ter os mesmos objetivos que a acompanham des-de o seu surgimento entre os pensadores gregosda cultura helenística. Volta-se essencialmentepara o estudo das chamadas classes de palavras esuas regras de combinação na modalidade escritaculta da língua. Como na época em que surgiu, agramática continua, hoje, preocupada com o esta-belecimento das regras do “bem escrever”, embo-ra, justiça lhe seja feita, tenha também passado,com o tempo, a interessar-se pelo estabelecimen-to de regras do “bem falar”.

2. O QUE É UMA GRAMÁTICA?

Entende-se por Gramática de uma língua o es-tudo das palavras, de suas classes e de suas fle-xões (Morfologia); de suas funções e relações nassentenças da língua (Sintaxe); de seu significadoliteral, de sua organização em um léxico e das re-lações de sentido que entre elas aí se estabale-cem, bem como o significado das sentenças (Se-mântica). Os estudos gramaticais incluem tam-bém a identificação dos fonemas da língua, suaspossibilidades de combinação em sílabas e a re-lação que eles mantêm com os grafemas na escri-tra alfabética (Fonologia).

A Fonologia, a Morfologia, a Síntaxe e a Semân-tica constituem os chamados níveis de descriçãolingüística.

Quando a uma gramática interessa apenas a des-crição das formas da língua nos níveis fonológico,morfológico, sintático e semântico, temos uma gra-mática descritiva. Quando a descrição se faz como objetivo de determinar as formas “corretas” e ex-cluir as consideradas “erradas”, temos uma gramá-tica normativa, isto é, aquela que prescreve as nor-mas do bem falar e escrever.

PLURALIDADE CULTURAL

A disciplina gramatical é uma criação da era helenística(…). A época helenística (…) cuida não da criação, masda preservação. A cultura é, acima de tudo, a memóriado passado, e se baseia, assim, em ensino e aprendi-zagem. E o estudo de poetas e oradores de expressãobela e correta é atividade do filólogo [o que ama a pa-lavra]. (…)

Era para facilitar a leitura dos primeiros poetas gregosque os gramáticos publicavam comentários e tratadosde gramática [do grego téchne grammatiké, “a arte deler e escrever”, a partir de grámma, “letra”], que cum-priam duas tarefas: estabelecer e explicar a língua des-ses autores (pesquisa) e proteger da corrupção essa lín-gua “pura” e “correta” (docência), já que a língua quo-tidianamente falada nos centros do helenismo era consi-derada corrompida. E, servindo à interpretação e à criti-ca, realiza-se o estudo metódico dos elementos da lín-gua e compõe-se o que tradicionalmente seria qualifica-do propriamente como gramática.

NEVES, M. H. M.A Vertente Grega da Gramática Tradicional.São Paulo: Hucitec/Ed. UnB/Fapesp, 1987.

O texto localiza na Grécia Antiga o surgimento,na cultura ocidental, da preocupação explícitacom os estudos da língua escrita. Na verdade, é ocontexto cultural da época helenística, tambémmencionado no texto, que explica por que a gra-mática, além de restringir-se à escrita, limitavasuas preocupações apenas à língua grega literá-ria de autores antigos. Não interessavam aos filó-sofos que discutiam a gramática nem as modali-dades orais da língua grega, nem suas variedadescoloquiais. Também não havia o menor interessepor outras línguas que não o grego (lembre-se deque os povos “bárbaros”, para os gregos, eramjustamente aqueles que não falavam a língua gre-ga…), uma vez que o objetivo maior dos estudosgramaticais era o de fornecer elementos para queos filólogos (os “amantes da palavra”) pudessem

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Morfologia

— Eles me deram isso — continuou Humpty Dumptypensativamente, enquanto cruzava um joelho sobre ooutro e colocava em torno deles as mãos entrelaçadas —como presente de desaniversário.

— O quê, me desculpe? — indagou Alice, perplexa.— Não estou ofendido — disse Humpty Dumpty.— Quer dizer, o que é um presente de desaniversário?— Um presente dado quando não é nosso aniversário,

é claro.Alice refletiu um pouco. — Acho que gosto mais de

presentes de aniversário — concluiu finalmente.

CARROLL, L. Através do espelho e o que Alice encontrou lá.In: Aventuras de Alice. 3. ed. Trad. Sebastião Uchoa Leite.

São Paulo: Summus, 1980.

3. A ESTRUTURA INTERNADAS PALAVRAS

Vamos conhecer, agora, como são formadas aspalavras na Língua Portuguesa. Começaremos peladefinição de “palavra”:

IGordo, gordinho, gordura, gorducho, gordão,

engordar.Falo, falamos, falam, falei, falaram, falaria,

falasse, falásseis, falar.

IIDesenrolar, desmontar, desrespeitar, desfa-

zer, desmentir.Atualmente, felizmente, docemente, barba-

ramente, estupidamente.

No conjunto I há partes idênticas, comuns às pa-lavras de cada grupo: gord– e fal–. Estes são os radi-cais dessas palavras. A estes radicais acrescenta-se,em cada caso, um morfema diferente, responsávelpelas diferenças de significação entre as palavras.

Já no conjunto II, os mesmos morfemas, o prefixodes– e o sufixo –mente, foram acrescentados a radicaisdiferentes, determinando, em cada caso, um sentidodiferente para as palavras. Os exemplos mostram quemuitas vezes as palavras são divisíveis em elementosmórficos menores, os morfemas, que são unidadesmínimas de significação lexical ou gramatical.

Existem também palavras constituídas de um úni-co morfema. Essas palavras não podem, portanto, serdivididas em elementos mórficos menores. Algunsexemplos são: “feliz”, “mar”, “que”, “sempre”, “papel”.

Na seção seguinte, vamos estudar os diferentestipos de morfemas que entram na formação daspalavras da Língua Portuguesa.

4. OS MORFEMAS

Embora muitas palavras sejam indivisíveis (flor,giz, dois, mal, em), outras podem ser analisadas emelementos menores, portadores de sentido próprio(menin + o, menin + a + s, est + a + s, fal + a + mos, in+ cert + a, fam + os + a, constitucion + al). Essas unida-des elementares de significação que entram na cons-tituição das palavras da língua são os morfemas.Existem, na língua, palavras constituídas apenas deum morfema (flor) e palavras constituídas de maisde um morfema (des + esperad + a + mente).

Palavra é uma unidade lingüística de som e significadoque entra na composição dos enunciados da língua.

DAVIS, Jim. Garfield. Correio Popular, 27/11/1997.

Há diferentes tipos de morfemas. Observemos, porexemplo, os morfemas que constituem a palavra feliz+ e + s. O primeiro deles, o radical feliz, é consideradouma forma livre, pois também pode ocorrer isola-damente, sem os demais morfemas. Esse radical ser-ve de base para a formação de outras palavras da lín-gua, como felic + idade, felic + ita + r, feliz + mente.

Morfema (do grego morphe, “forma”) é a menorunidade lingüística que possui significado próprio.

Figura 1

As palavras podem ser, na maioria das vezes,decompostas em elementos menores, os morfe-mas. Observe, por exemplo, os dois conjuntos, Ie II, abaixo:

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Vogais temáticas verbais: são as vogais [–a], [–e]e [–i] que, acrescidas aos radicais verbais, formamas classes verbais a que denominamos conjugações:

vogal temática –a (primeira conjugação):am-a-r, am-a-va, am-a-rão, am-á-ssemos;vogal temática –e (segunda conjugação):beb-e-r, beb-e-rá, beb-e-ssem, beb-ê-ramos;vogal temática –i (terceira conjugação): fug-i-r,fug-i-rmos, fug-i-rem, fug-i-remos.

O estudo das desinências nominais e verbais fazparte da chamada morfologia flexional.

Afixos

São morfemas que, acrescentados a um radical,alteram sua significação básica. São utilizados pelalíngua nos processos de derivação lexical, motivo peloqual seu estudo faz parte da chamada morfologiaderivacional. Subdividem-se em prefixos e sufixos,segundo a posição que ocupam com relação aoradical da palavra.

WALKER, Mort. Recruta Zero. O Estado de S. Paulo, 14/6/1999.

Prefixos

Os prefixos são morfemas que se acrescentamantes do radical, modificando seu sentido básico.Veja:

Impossível, desarticular, contradizer, expor,opor, semicírculo.

Sufixos

Os sufixos são morfemas que se acrescentamdepois do radical, modificando ou especificando oseu sentido básico. Os sufixos podem também alte-rar a classe gramatical a que os radicais pertencemoriginalmente.

Figura 2

Mudança ou especificação do sentido básico:papel, papelada; folha, folhagem; pedra, pe-draria; rocha, rochedo; laranja, laranjal; ferro,ferrugem.

Mudança de classe gramatical: lembrar (ver-bo), lembrança (substantivo); trair (verbo),traição (substantivo); úmido (adjetivo), umi-dade (substantivo); livre (adjetivo), livremente(advérbio).

Vogais e consoantes de ligação

São elementos mórficos que fazem a mediaçãoentre determinados radicais e determinados sufi-xos. São desprovidos de significação gramatical pró-pria, e sua função é simplesmente a de efetuar aligação entre outros morfemas.

Vogal de ligação: bárbaro, barbaridade (a vo-gal de ligação, i, que ocorre entre o radical e osufixo –dade, otimiza a seqüência silábica najuntura do radical e do sufixo, pela criação dasílaba ri.

Outros exemplos: gasômetro; auriverde.

Consoante de ligação: café, cafeteira; tricô,tricotar (consoante de ligação: t); chaleira (con-soante de ligação: l); cajazeira (consoante deligação: z).

As consoantes de ligação costumam ocorrer en-tre um radical oxítono terminado em vogal e umsufixo iniciado por vogal.

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Já os demais elementos mórficos, a vogal de liga-ção [e] e o morfema de plural [s], aparecem na cons-tituição de várias outras palavras da língua (audaz+ e + s, capaz + e + s) e nunca ocorrem isoladamente,razão pela qual são considerados formas presas.

Os morfemas, com relação ao tipo de significa-ção que traduzem, são classificados em lexicais egramaticais. Diz-se que os morfemas lexicais (tam-bém denominados semantemas ou lexemas) têmuma significação “externa”, porque possuem refe-rentes extralingüísticos, ou seja, fazem referência aentidades ou conceitos da realidade objetiva ou sub-jetiva (Ricardo, dor, luz).

Os morfemas gramaticais, por outro lado, têmuma significação “interna” ao sistema lingüístico.Dentre estes últimos incluem-se, por exemplo, osmorfemas que marcam as categorias gramaticais degênero [a] e de número [s], na Língua Portuguesa,e outros morfemas, como os artigos, as preposições,as conjunções, e demais elementos funcionais, mar-cadores de relações específicas que se estabelecementre os constituintes das orações.

Morfemas que entram na constituiçãodas palavras

Radical

Essas flexões podem ser de gênero e de númeronos nomes (substantivos, adjetivos e pronomes),onde vêm indicadas pelas desinências nominais, ede modo-tempo e número-pessoa nos verbos, ondevêm indicadas pelas desinências verbais. Exemplos(sublinhados):

Desinências nominais: menina, meninas, can-sada, cansadas, esta, estas.Desinências verbais: namorar, namoramos,namorávamos, namorassem, namoraríamos

Vogal temática

É o morfema que corresponde ao sentido básico dapalavra.

Ao radical acrescido de uma vogal temática dá-se o nome de tema. Os temas podem ser nominaisou verbais.

Há nomes que não apresentam a vogal temática(oxítonas terminadas em vogais e consoantes: sofá,café, cipó, saci, caju, amor, papel, feliz).

Vogais temáticas nominais: são as vogais átonasfinais –a, –o e –e que ocorrem em palavras paro-xítonas ou proparoxítonas. Essas vogais temáticasformam as classes nominais das palavras de temaem –a (bal-a), –o (camp-o) e –e (serpent-e).

vogal temática –a: poet+a; artist+a; mes+a;escol+a; bol+a; patet+a;vogal temática –e: cort+e; sort+e; dot+e; pot+e;estudant+e; inteligent+e;vogal temática –o: menin+o; caval+o; amig+o;alun+o; bonit+o; magr+o.

As palavras da língua que são formadas, como nos exem-plos acima, a partir de um mesmo radical, constituindoas famílias de palavras, são chamadas de cognatas.

São os morfemas que correspondem às flexões daspalavras variáveis.

A desinência nominal indicadora de gênero femi-nino, –a, é a que se acrescenta aos temas nominaisconstituídos de radical mais vogal temática [–o]: “omenino” (radical: menin–; vogal temática: –o) – “amenina” (radical: menin–; desinência nominal degênero feminino: –a). Nesses casos, para a forma-ção do feminino, desaparece a vogal temática –o dotema nominal, e a desinência de gênero acrescenta-se diretamente ao radical.

Todos os verbos, no entanto, têm uma vogal temá-tica, que os classifica em conjugações.

As vogais temáticas nominais não indicam o gênerogramatical, uma vez que podem ocorrer tanto empalavras de gênero masculino como de feminino: “oartista”, “o poema”, “a virago”, “a corte”.

É um moferma vocálico que se acrescenta a deter-minados radicais antes das desinências.

Em alguns casos, pode ser depreendido por com-paração entre várias palavras de uma mesma famí-lia (grupo de palavras que se organizam a partir deum mesmo radical e que mantêm, por esse motivo,um vínculo semântico).

Veja que nos exemplos abaixo os radicais apare-cem sublinhados:

Pedra, pedrinha, pedreira, pedregulho, pedrada,pedregoso.Estudar, estudamos, estudarei, estudante, estu-dio, estudioso.

Desinências

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LAERTE. Classificados, livro 2. São Paulo: Devir, 2002. p. 13.

LAE

RTE

O poeta brasileiro Manoel de Barros já foi chamado de“alquimista do verbo” devido a seu trabalho minucioso esensível com as palavras. Leia, abaixo, um de seus poemas,e responda às questões de 4 a 7.

VII

No descomeço era o verbo.Só depois é que veio o delírio do verbo.O delírio do verbo estava no começo, lá onde acriança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.A criança não sabe que o verbo escutar não funcionapara cor, mas para som.Então se a criança muda a função de um verbo, eledelira.E pois.Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazernascimentos –O verbo tem que pegar delírio.

BARROS, M. de. Uma didática da invenção.In: O livro das ignorãças. 9. ed.

Rio de Janeiro: Record, 2000, p. 15.

4 O primeiro verso do poema faz alusão a uma célebrecitação. Identifique-a.

5 Qual é a palavra criada pelo poeta?

6 Explique por meio de quais mecanismos gramaticais essaconstrução se tornou possível.

7 Indique pelo menos três outros substantivos da línguaportuguesa que são construídos com o emprego doprefixo des-.

Com base na tirinha a seguir, responda às questões 8, 9 e 10.

8 Explique, do ponto de vista morfológico, a construçãoda palavra “engavetamento”.

9 Procure identificar pelo menos duas definições para essapalavra, de preferência, as mais possivelmente relacio-nadas à situação descrita na tirinha.

10 O tema dessa tirinha é, tecnicamente falando, o efeitodo sentido literal produzido pela palavra “engaveta-mento”. A partir dos elementos verbais e visuais apre-sentados, procure explicitar o efeito de humor produzidopela palavra “engavetamento”.

Trata-se da citação bíblica “No princípio era o verbo”.

Descomeço.

A palavra “descomeço”, empregada com valor de substantivo, é for-mada por des- (prefixo de origem latina) + começ (radical) + o (vogaltemática).

O prefixo des-, de origem latina, pode ter valor de oposição, de nega-ção ou de falta, como em desconfiança, deslealdade, desabrigo, desa-mor, desafeto, desabafo, desacato, desproporção, desabono, desco-brimento etc.

A palavra “engavetamento” é formada por en- [prefixo de origem la-tina que, nesse caso, significa “colocar em”] + gaveta (radical) + mento[sufixo também de origem latina].

Engavetamento é o ato ou efeito de engavetar, pôr dentro da gavetade um cômodo. Engavetamento também pode ser a colisão entremeios de transporte, com produção de acidente que interrompe omovimento dos veículos.

O emprego de engavetamento tem um duplo sentido: trata-se do co-mentário, bastante óbvio, que explica por que os carros encontram-se parados, enfileirados. Há algo e/ou alguém que produziu um im-pedimento do fluxo dos veículos. Trata-se, também, da explicaçãoliteral do acidente, no qual um caminhão de mudança deixa escapara gaveta de um móvel que transportava, a qual atinge um motoquei-ro que passava ao lado. Pode-se dizer que o humor é produzido,principalmente, pelo emprego do sufixo –mento na formação do subs-tantivo engavetamento que descreve, nesse caso, o ato de acertaruma gaveta na cabeça de um motorista no trânsito.

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Atividades

GALHARDO, Caco. Os pescoçudos. Folha de S.Paulo, 16/5/2001.

FOLH

A IM

AG

EM

1 Em um texto intitulado “Uma nação de desmemoria-dos”, o jornalista Augusto Nunes escreveu o seguinteparágrafo:

No Brasil, o que é histórico costuma desmanchar-se nas chamas da indiferença, do desamor ao passado,do menosprezo pelo antigo. O casarão de Ouro Pretoconsumido pelo fogo deveria ficar como está: osdestroços ergueram um monumento à nação dosdesmemoriados. Num país velhaco, o velho e avelharia vivem a curtíssima distância: retoque-se aúltima vogal e se acrescente um trio de letras. Valepara gente, prédios, cidades.

NUNES, A. Jornal do Brasil, 20 abr. 2003.

a) Considerando o que você aprendeu sobre as palavrascognatas, identifique, no texto, uma passagem em queo autor faz uso de termos formados a partir de ummesmo radical.

b) Qual é o radical a partir do qual foram formadas aspalavras cognatas?

c) Qual é o sentido de cada uma das palavras formadasa partir desse radical?

d) Forme outras palavras a partir do mesmo radical.

Observe atentamente a tira abaixo para responder às questões 2 e 3.

2 Na tira acima, observa-se a utilização do sufixo –inhopara caracterizar o restaurante citado e tudo o mais quese refere a ele. É comum atribuir ao diminutivo um valorafetivo. É esse o sentido que podemos identificar na tira?Justifique sua resposta.

3 Ao apresentar como “contra” o fato de tudo ser abso-lutamente “super inho” no restaurante citado, o car-tunista se vale do afixo de diminutivo, além do prefixosuper, para expor sua opinião. Qual é ela?

O trecho em que aparecem os termos cognatos é: “Num país ve-lhaco, o velho e a velharia vivem a curtíssima distância”.

O radical é velh–.

velho: tudo que não é novo, que tem muito tempo de vida ou deexistência.velharia: tudo o que é visto como antiquado, superado, ultra-passado, obsoleto.Observação importante: apesar da semelhança fonética, “velha-co” não é cognato de “velho”. O termo, segundo Houaiss, derivado espanhol bellaco, “homem de má vida”.

Velhusco, velhinho, envelhecer, envelhecido, etc.

Não. Na verdade, a utilização do diminutivo, associada ao prefixosuper, indica afetação e não afetividade.

O cartunista ironiza, por meio da linguagem, as pessoas que demons-tram, pelo seu comportamento e por sua maneira de falar, uma afe-tação exagerada.

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Exercícios Complementares

CTNBio: Comissão Técnica Nacional de Bios-segurança, subordinada ao Ministério de Ciência eTecnologia.Ibama: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dosRecursos Naturais Renováveis, subordinado ao Minis-tério do Meio Ambiente.

a) De acordo com o texto, por que o projeto de leiaprovado pela Câmara inviabiliza o plantio de sojatransgênica no País?

b) Explique, do ponto de vista dos estudos morfológicos,a formação do substantivo biossegurança e doadjetivo transgênico(a).

Leia o texto abaixo para responder às questões 1 e 2.

A leitora Elza Marques Martins me escreve uma cartadivertida estranhando que “brasileiro” seja o únicoadjetivo pátrio terminado em “eiro”, que, segundo ela, éum sufixo pouco nobre. Existem suecos, ingleses ebrasileiros, como existem médicos, terapeutas ecurandeiros. As profissões de lixeiro, coveiro e carcereiropodem ser respeitáveis, mas o “eiro” é sinal de que elasnão têm status. É a diferença entre jornalista e jornaleiro,entre músico ou musicista e roqueiro, timbaleiro ouseresteiro. Há o importador e o muambeiro. “Se vocêcomeçou como padeiro, açougueiro ou carvoeiro” —escreve Elza — “as chances são mínimas de acabar comoadvogado, empresário, grande investidor ou latifundiário,a não ser que se dê ao trabalho político antes”. Aliás, hápolíticos e politiqueiros. Continua Elza: “Eu nunca vouchegar a colunável ou socialite se comecei como faxineiraou copeira. Você pode ser católico, protestante, maome-tano, budista ou oportunista ou então macumbeiro.” Mas

a leitora nota que o dono do banco é banqueiro, enquantoo funcionário é bancário, o que pode ser um julgamentoinconsciente de caráter feito pela língua.

Elza — que por sinal se considerava uma harpeiraaté começar a tocar numa sinfônica e virar harpista —me sugere uma campanha nacional para passarmos a noschamar de “brasilinos, brasileses, brasilenses, brasilianos,brasilitanos, brasilitas, brasileus, brasilotos ou brasilões”,o que aumentaria muito nossa auto-estima e nossaschances de chegar ao mundo maravilhoso dosamericanos, belgas e monegascos.”

VERISSIMO, L. F. Jornal do Brasil, 7/10/1995.

1 (UFU-MG) Construa um parágrafo, explicando o sentidoque a leitora Elza atribui ao sufixo “-eiro”.

2 (UFU-MG) Ainda com base no texto de Verissimo, expli-cite a razão pela qual dono de banco é denominado ban-queiro, enquanto o funcionário é bancário.

11 Leia o texto a seguir:

Bio passa pé

O projeto de lei sobre biossegurança, aprovadona Câmara, saiu diferente do consenso resumido peloantigo relator do projeto Aldo Rebelo e, segundo es-pecialista na área, inviabiliza o plantio da soja trans-gênica no Brasil em novas áreas. O novo relator doprojeto, Renildo Calheiros, acabou cedendo em ques-tão que muda tudo: a decisão vinculante da CTNBio.

No projeto de Rebelo, a CTNBio poderia deliberarsobre pesquisa, produção e comercialização. Agora,a parte da comercialização e produção terá que passartambém pelo crivo do Ibama. E, se houver divergên-cias, o tema passará pela aprovação do ConselhoNacional de Biossegurança (CNBS), formado por 15ministros que tomam a decisão final do governo.

RACY, S. Direto da fonte.O Estado de S. Paulo, 6 fev. 2004. p. B2.

Porque, segundo o projeto aprovado, as questões da comerciali-zação e da produção da soja transgênica devem passar pela apre-ciação do Ibama, órgão responsável pelas questões ambientaisno Brasil. Em caso de veto do Ibama, o tema deve passar pelaaprovação de um conselho formado por 15 ministros. Para osinteressados no plantio do produto, haverá, portanto, maior fis-calização e, conseqüentemente, maior burocracia.

O substantivo biossegurança é formado por bio- (prefixo de ori-gem grega) + s (consoante de ligação) + segur(ar) (radical) +-ança (sufixo), enquanto o adjetivo transgênico é formado portrans- (prefixo de origem latina) + gen(e) (radical) + -ico (sufixode origem grega formador de adjetivos).

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Lei

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1998

.

Sistema de Ensino

Leia os poemas abaixo para responder à questão 3.

Texto 1

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;

É um querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favorNos corações humanos amizade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

CAMÕES, L. de. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1989, p.123.

Texto 2

Soneto do amor maior

Maior amor nem mais estranho existeQue o meu, que não sossega a coisa amadaE quando a sente alegre, fica tristeE se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resisteO amado coração, e que se agradaMais da eterna aventura em que persisteQue de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu que, quando toca, fereE quando fere vibra, mas prefereFerir a fenecer – e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instanteDesassombrado, doido, deliranteNuma paixão de tudo e de si mesmo.

MORAES, V. de. Poesia completa e prosa.Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, p. 202.

3 (UFF-RJ, adaptada) Vinicius de Moraes (século XX) e Luísde Camões (século XVI) se aproximam, nesses sonetos,em relação à forma poética. Compare os poemas deVinicius de Moraes e Camões, destacando:a) Do soneto de Camões, uma antítese, isto é, uma figura

pela qual se opõem, numa mesma frase, duas palavrasou dois pensamentos de sentido contrário, construídapela formação de nomes que tenham o mesmo radical.

b) Do soneto de Vinicius de Moraes, uma antítese cons-truída pela formação de nomes com radicais di-ferentes.

4 (UFJF-MG, adaptada) O trecho a seguir foi extraído deum ensaio de Roberto Pompeu de Toledo, publicado narevista Veja, de 7 de agosto de 2002. A partir de sualeitura, responda à questão.

A ressurreição tem futuro?

Há coisas incompreensíveis no mundo. Que seestá dizendo? Que banalidade é essa? Claro que hácoisas incompreensíveis. Na verdade, a maior partedas coisas é incompreensível – a vida e a morte, aorigem e o fim... Não. Sossegue o leitor que não édessas altas questões que se vai tratar aqui. É de casomais pedestre, extraído da atualidade – o caso dojogador de beisebol americano Ted Williams, mortohá poucas semanas, aos 83 anos, e cujo corpo foicongelado, à espera de que, descoberta a cura dadoença que o matou, seja ressuscitado.

(...)

Considere a relação de sentido entre o prefixo e o radi-cal da palavra destacada abaixo:

“Há coisas incompreensíveis no mundo.”

Assinale a opção em que a forma grifada não mantém amesma relação de sentido com o radical:a) “A imortalidade é antiga aspiração”b) “Na verdade, a maior parte das coisas é incom-

preensível...”c) “... hipótese improvável, pois, por mais que venha

crescendo, o congelamento...”d) “Os que morrem jovens e têm o corpo congelado

estarão poupados de alguns dos incômodos sofridospor Williams”

e) “Implantado o cérebro em outro corpo ...”

5 (Fuvest-SP) As palavras adivinhar, adivinho e adivinhaçãotêm a mesma raiz, por isso são cognatas. Assinalar aalternativa em que não ocorrem três cognatos:a) alguém – algo – algumb) ler, leitura – liçãoc) ensinar – ensino, ensinamentod) candura – cândido – incandescênciae) viver – vida – vidente

6 (PUC-RJ) A palavra engrossar apresenta o mesmoprocesso de formação de:a) embalançar d) encobrirb) abstrair e) perfurarc) encaixotar

7 (Unifenas-MG) Assinale a alternativa em que o vocábulonão pertence à mesma família etimológica da palavralegista.a) legítimo d) legisperitob) legal e) legívelc) legislar

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