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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DO CURSO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS ANÁLISE DA EXPRESSÃO DAS PROTEÍNAS SycH E YopH DE Yersinia enterocolitica EM DIFERENTES LINHAGENS DE Escherichia coli Thiago de Salazar e Fernandes RECIFE 2002.2

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Page 1: Monografia(Thiago)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DO

CURSO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS

ANÁLISE DA EXPRESSÃO DAS PROTEÍNAS

SycH E YopH DE Yersinia enterocolitica

EM DIFERENTES LINHAGENS DE Escherichia coli

Thiago de Salazar e Fernandes

RECIFE

2002.2

Page 2: Monografia(Thiago)

ANÁLISE DA EXPRESSÃO DAS PROTEÍNAS

SycH E YopH DE Yersinia enterocolitica

EM DIFERENTES LINHAGENS DE Escherichia coli

Thiago de Salazar e Fernandes

Orientador: Osvaldo Pompílio de Melo Neto

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães – FIOCRUZ

Monografia apresentada ao

Curso de Bacharelado em

Ciências Biomédicas da

Universidade Federal de

Pernambuco, como parte dos

requisitos para obtenção do

grau de Bacharel em Ciências

Biomédicas.

Page 3: Monografia(Thiago)

Ao meu avô José (in

memoriam) e aos meus

pais.

Page 4: Monografia(Thiago)

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus, por mais uma etapa concluída.

Ao meu pai Pedro Fernandes Neto, por me incentivar o espírito científico e a minha mãe

Vera Lúcia de Salazar e Fernandes, pelo apoio, carinho e compreensão.

Aos meus irmãos Henrique e Rodrigo, por me motivarem cada um da sua maneira, e aos

demais familiares e amigos.

Ao meu orientador, Dr. Osvaldo Pompílio de Melo Neto, pelos conhecimentos transmitidos

e pela amizade.

À doutoranda Patrícia Haver, pelo interesse em discutir os resultados, sempre me passando

novas idéias e desta forma me motivando a seguir adiante.

Às Dras. Alzira Maria Paiva de Almeida, Nilma Cintra Leal e Tereza Cristina Leal Balbino,

do Departamento de Microbiologia do CPqAM.

Aos amigos e colegas de bancada: Henrique, Emanuelle, Rodrigo, Tamara, Cheila,

Alessandra, Rodolfo, Christian, Pollyanna, Rafael, Felipe, Marise, Cariri, Jemima, Liciana,

Cláudia, Soraya, Gerlane, Carol, assim como os que fizeram parte do grupo: Mariana,

Suzana, Mirna, Élcio e Raquel.

A Isaac, Yara, Silvana, Nelson e Edson, pelo suporte no preparo de todo o material

utilizado neste trabalho.

Ao grupo de pesquisadores e técnicos dos demais Departamentos, que permitiram a

utilização de certos espaços e equipamentos, que contribuíram para a realização deste

trabalho.

Enfim, a todos os que fazem o Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães – FIOCRUZ.

Page 5: Monografia(Thiago)

ÍNDICE

LISTA DE FIGURAS E GRÁFICO ii RESUMO iii

INTRODUÇÃO 1

REVISÃO DA LITERATURA 2 1. Yersinia enterocolitica 2 1.1 Mecanismo de infecção 2 1.2 Fatores de virulência 3 1.3 Proteínas efetoras: Yops 4 1.4 Chaperones: Sycs 5 2. EPEC (Escherichia coli enteropatogênica 6 2.1 Mecanismo de infecção 6 2.2 Fatores de virulência 7 2.3 Proteínas de virulência: Esps 7 3. Aparato secretório tipo III 8 4. Operon araBAD 10 5. Construção dos plasmídios utilizados neste trabalho 12 JUSTIFICATIVA 12 OBJETIVO GERAL 13 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 13 MATERIAIS E MÉTODOS 14 Linhagens bacterianas, plasmídios e meios de cultura 14 Composição do MGM 15 Transformação das bactérias Escherichia coli TG2 15 Eletrotransformação das bactérias EPEC 16 Expressão da proteína SycH nas bactérias E. coli TG2 em meio glicerol mínimo 16 Indução do gene que codifica para a proteína YopH nas bactérias E. coli e EPEC em meio LB

17

Indução dos genes yopH e sycH na bactéria EPEC cotransformada, a 37oC e adicionando-se arabinose em diferentes concentrações ao meio LB

17

SDS-PAGE e “WESTERN-BLOT” 18

RESULTADOS 19

1- Expressão da proteína SycH nas bactérias E. coli TG2 em meio MGM 19 2- Expressão de SycH na bactéria EPEC em meio LB 20 3- Expressão da proteína YopH em função da temperatura em bactérias EPEC 21 4- Expressão da proteína YopH em função da temperatura e densidade ótica (DO) em bactérias EPEC

22

5- Co-expressão das proteínas YopH e SycH, na EPEC, em função da temperatura e adicionando-se diferentes concentrações de arabinose ao meio LB

23

Page 6: Monografia(Thiago)

DISCUSSÃO 26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 28

LISTA DE FIGURAS E GRÁFICO

Figura 1 – Mecanismo de infecção das Yersinias enteropatogênicas 3

Figura 2 – Interação entre as proteínas YopH e SycH 5

Figura 3 – Esquema dos sistemas de secreção tipo I, II e III 9

Figura 4 – Regução do “operon” ara 11

Figura 5 – Plasmídio pBAD18Kan 14

Figura 6 – Expressão de SycH na bactéria E. coli TG2 em MGM 19

Figura 7 – Expressão de SycH na bactéria EPEC em LB 20

Figura 8 – Expressão de YopH na EPEC em função da temperatura em LB 21

Figura 9 – Expressão de YopH na EPEC em função da temperatura e DO em LB 23

Figura 10 – Expressão de YopH e SycH em EPEC c adição de arabinose 25

Figura 11 – Efeito da adição do açúcar arabinose na expressão de YopH 25

Gráfico – Curva de crescimento da EPEC a 24oC e 37oC 22

LISTA DE ABREVIAÇÕES

Yop – “Yersinia Outer Protein”

Syc – “Specific Yop Chaperone”

pYV – “Yersinia Virulon Plasmid”

EPEC – “Escherichia coli enteropatogênica”

Esps – “EPEC-Secreted Proteins”

Ces – “Chaperone for E. coli secretion”

TTSS – “Type Three Secretion System”

Page 7: Monografia(Thiago)

DO – Densidade Ótica

SDS-PAGE – Gel de poliacrilamida em condições desnaturantes

PBAD – Promotor do operador araBAD

PC – Promotor do gene araC

RESUMO

Várias bactérias Gram-negativas como a Yersinia enterocolitica e Escherichia coli

enteropatogênica (EPEC), são capazes de atravessar o epitélio intestinal e translocar

proteínas citotóxicas para o interior de células eucarióticas, utilizando o aparato secretório

tipo III (TTSS). Em Y. enterocolitica, essas proteínas são conhecidas por Yops, que

necessitam de chaperones, as Sycs, para serem secretadas e translocadas para o interior de

macrófagos. Em estudos anteriores, foram realizadas as amplificações dos genes que

codificam para as proteínas SycH e YopH de Y. enterocolitica, e suas respectivas clonagens

nos plasmídios da série pBAD e no plasmídio pTZ18R. Neste trabalho, foi realizada a

expressão destas proteínas em bactérias EPEC e Escherichia coli TG2. A EPEC foi

utilizada por codificar para TTSS, e visando um posterior estudo da conservação deste

sistema de secreção e translocação de proteínas de virulência entre estas diferentes

bactérias. A expressão de SycH pôde ser obtida tanto no meio glicerol mínimo quanto no

meio LB, sob o controle do promotor PBAD, onde a arabinose estimula a transcrição e a

glicose reprime. Também foi observada a expressão de YopH sob o controle do seu próprio

promotor, que se mostrou regulado pela temperatura e fase de crescimento. A co-expressão

das proteínas SycH e YopH revelou que a adição de arabinose, que leva a expressão de

SycH, provoca a redução de YopH, o que permanece não esclarecido. A otimização das

condições de expressão e secreção destas proteínas é importante, uma vez que a utilização

deste sistema na secreção de proteínas heterólogas fusionadas a YopH, a exemplo de

antígenos de outros organismos, pode ser empregada no desenvolvimento de vacinas.

Page 8: Monografia(Thiago)

INTRODUÇÃO

Como parte de sua patogênese, várias bactérias Gram-negativas utilizam um sistema de secreção tipo

III (TTSS de “Type Three Secretion System”) para translocar efetores protéicos diretamente no citosol de

células eucarióticas do organismo hospedeiro (24). Escherichia coli enteropatogênica (EPEC) e Yersinia

enterocolitica utilizam este mecanismo para injetar proteínas citotóxicas para o interior de macrófagos e

leucócitos polimorfonucleares, como mecanismo de defesa contra a resposta imune.

Y. enterocolitica expressa uma classe de proteínas conhecidas por Yops (“Yersinia outer proteins”),

que para serem secretadas para o interior de macrófagos necessitam de chaperones individuais chamadas Sycs

(“Specific Yop Chaperone”), que previnem a degradação das Yops, além de guiá-las de seu local de síntese

até a maquinaria de secreção (15). Estas chaperones também são capazes de se ligar a proteínas de fusão,

como foi comprovada com a ligação da SycH e fosfatase alcalina de E. coli, contanto que na região amino-

terminal da mesma estivessem fusionados pelo menos os primeiros 69 aminoácidos da região amino-terminal

da YopH (44).

Outros microrganismos patógenos Gram-negativos, que codificam para TTSS, são capazes de

secretar proteínas Yops de Y. enterocolitica, mostrando que há uma conservação funcional deste sistema. Foi

observada a secreção de YopE na presença da chaperone SycE, em Salmonellae typhimurium, que possui o

locus inv/spa que codifica para TTSS. Não houve secreção da YopE quando uma parte essencial do gene sycE

foi removida ou quando foi introduzida uma mutação no gene inv/spa (35). Isto sugere que a EPEC, que

utiliza este mecanismo de secreção, seria capaz de secretar Yops, na presença da Syc correspondente.

Bactérias dotadas de TTSS foram propostas como carreadoras vivas para vacinas de uso oral, pois

possuem a capacidade de injetar antígenos para dentro de células do sistema imune do hospedeiro vertebrado.

A construção de proteínas heterólogas, a exemplo de antígenos de Leishmania brasiliensis fusionados à YopH

(22), poderia potencializar a resposta imune celular associada com a proteção contra este parasita.

REVISÃO DA LITERATURA

1. Yersinia enterocolitica

1.1. Mecanismo de infecção

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Yersinia sp. são bacilos Gram-negativos pertencentes à família Enterobacteriaceae. Baseado em

características bioquímicas diferentes, 11 espécies tem sido identificadas, das quais apenas 3 são patógenos

humanos: Y. pestis, Y. pseudotuberculosis e Y. enterocolitica.

A infecção por Y. enterocolitica ocorre através da ingestão de água ou comida contaminada, a

exemplo da carne de porco (15). Uma vez ingerida, esta bactéria adere ao muco intestinal e às células

intestinais, produzindo uma enterotoxina que provoca diarréia. A Y. enterocolitica é capaz de atravessar o

epitélio intestinal, através das células M, e se proliferar nos agregados linfóides do intestino, conhecidos como

placas de Peyer. Isso leva a uma infiltração de monócitos, que se maturam em macrófagos inflamatórios e

iniciam a produção de citocinas como a interleucina-12 (IL-12), interferon gama (IFNγ), e o fator de necrose

tumoral alfa (TNF-α), auxiliando no desenvolvimento da resposta imune (6). Os macrófagos restringem

severamente o ritmo que a Yersinia se multiplica no tecido hospedeiro, permitindo que o hospedeiro

desenvolva uma resposta imune específica. Entretanto, a Yersinia pode impedir que haja fagocitose,

translocando para o interior dos macrófagos proteínas citotóxicas, chamadas Yops, que suprimem a liberação

normal de interleucinas e levam a apoptose. Uma vez estabelecida nas placas de Peyer, a bactéria pode se

disseminar pelo tecido linfóide e eventualmente para o fígado e baço (4).

Figura 1- Mecanismo de infecção das Yersinias enteropatogênicas.

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1.2. Fatores de virulência

As Yersinias patogênicas possuem um plasmídio de virulência de 70Kb, denominado pYV

(“Yersinia Virulon”). Este plasmídio codifica para o virulon Yop e inclui os seguintes fatores protéicos:

proteínas Yops; chaperones correspondentes chamadas Sycs; proteínas Yscs, que constituem o aparato de

secreção tipo III (TTSS); e o ativador transcricional VirF (da família AraC), que controla a transcrição da

maioria dos genes envolvidos na síntese e secreção das Yops (20). Este aparato está envolvido na resistência

contra a fagocitose por macrófagos e neutrófilos polimorfonucleares (PMNs), o que induz a morte celular

programada em macrófagos e inibe a liberação de citocinas (7). Nas populações de Yersina que possuem este

plasmídio, apenas 35% das bactérias são fagocitadas, contra 95% das que não possuem o plasmídio. O sinal

fisiopatológico para a secreção das Yops é a aderência à membrana do fagócito, mas in vitro, a síntese de

Yops é controlada pela temperatura, 37oC, e ausência de íons Ca2 (20).

1.3. Proteínas-efetoras: Yops

A maioria das proteínas Yops (“Yersinia Outer Proteins”) pode ser classificada funcionalmente em

Yops translocadoras e Yops moduladoras. As Yops translocadoras (YopB, YopD e LcrV) formam um poro na

membrana da célula eucariótica, através do qual as Yops efetoras (YopE, YopH, YopP, YopO, YopT e

YopM) penetram no citosol da célula hospedeira. Já as proteínas YopN e YopK exercem uma função de

controle do sistema de secreção, controlando a translocação. Após a penetração, YopH inibe a fagocitose bem

como os mecanismos de opsonização dependentes dos receptores do complemento e receptores para a fração

Fc das imunoglobulinas. As proteínas YopE, YopO e YopT alteram o citoesqueleto e a YopP induz apoptose.

Assim, a secreção é polarizada: as proteínas não são meramente secretadas para o meio extracelular, mas

translocadas para o interior dos macrófagos (15, 17).

Um domínio importante para a translocação das Yops é a região amino terminal, com no mínimo 15

resíduos de aminoácidos , onde também se ligam as “chaperones”, o que sugere que as Sycs desempenham

um papel não apenas na secreção, mas também na translocação das Yops para a célula hospedeira (2, 3, 37,

44). Foi sugerido que o sinal para a secreção das Yops poderia estar na região 5’do mRNA e que seria

regulado à nível de tradução, por ter sido verificado que mutações nos genes da YopE e YopN, que alteraram

completamente a seqüência peptídica, não impediu que houvesse secreção destas proteínas (2, 3). Porém, esta

hipótese sobre o sinal do mRNA ainda é contraditória. Em estudo recente, foi demonstrado que a secreção de

YopE ocorre mesmo após os primeiros 11 códons terem sofrido mutação, o que modifica a estrutura do

mRNA mas não a seqüência de aminoácidos do polipeptídeo formado. Isto sugere que é a região amino

terminal da proteína YopE e não a região 5’do mRNA que serve como sinal de secreção (29). Desta forma, é

bem provável que ambos os sinais podem ocorrer, dependendo da fase da infecção, ou seja,. aquelas Yops que

são requeridas para a formação do poro na célula eucariótica ou as que são componentes estruturais do canal,

necessitam ser secretadas antes das proteínas Yops efetoras, possuindo portanto um sinal no mRNA, enquanto

que as efetoras seriam secretadas mais tardiamente mediadas pelas Sycs (2, 3, 23,33).

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1.4. Chaperones: Sycs

A secreção de algumas Yops requer a presença de pequenas “chaperones” (14 a 15 KDa) de

uma família chamada de proteínas Syc (“Specific Yop Chaperone”) (44). Estas são proteínas ácidas (pI 4,4 a

5,2) com pouca ou nenhuma seqüência similar entre elas, mas com uma alfa-hélice anfifílica carboxi-terminal

em comum. As Sycs se ligam às Yops específicas, e na ausência delas a secreção de Yop é severamente

reduzida, se não interrompida. Em geral, as proteínas Sycs são codificadas por genes adjacentes aos das

proteínas Yops correspondentes, porém cada uma controlada pelo seu próprio promotor. A função exata das

proteínas Sycs permanece misteriosa. Foi demonstrado que a secreção de YopE depende da presença tanto da

chaperone SycE quanto do sistema de secreção tipo III (35). A análise da estrutura cristalizada do domínio de

ligação da YopE com a sua chaperone específica SycE, revelou uma conservação estereoquímica, apesar da

ausência de similaridade da seqüência, indicativo de um modo universal de interação entre chaperones e

efetores (5). Acredita-se que essas “chaperones” previnem a degradação das Yops, além de guia-las de seu

local de síntese até a maquinaria de secreção (16). Sendo assim, a secreção das Yops provavelmente não

envolveria o reconhecimento de uma seqüência comum no terminal amino, que pode ser compensada pela

existência de chaperones individuais. Então, a seqüência da proteína Syc envolveria pelo menos dois

domínios adjacentes: um domínio variável, envolvendo o reconhecimento da Yop, e um constante, requerido

para a interação específica com o aparato secretório (44).

Figura 2: Modelo proposto para a secreção de YopH, na presença da SycH, pela maquinaria de

secreção tipo III.

Foi observado em cepas de Y. enterocolitica mutantes deficientes em SycH, que estas bactérias

secretam todas as Yops, exceto a YopH. Ao mesmo tempo, tais bactérias contêm em seu citoplasma uma

quantidade bem maior de YopH que a cepa selvagem. Portanto, a mutação no gene da SycH bloqueia

especificamente a secreção da YopH, que se acumula no citoplasma da bactéria (44). Entretanto, em outro

estudo realizado com cepas mutantes que codificam somente para a proteína YopE, verificou-se que esta é

yop mRNA

Syc

Yop

Receptor

Yop

Page 12: Monografia(Thiago)

translocada mesmo na ausência da SycE, sugestivo de que a “chaperone” só é necessária quando a Yop

específica concorre com outras para ser translocada, como se houvesse uma “hierarquia da translocação”. Isso

está de acordo com a observação de que nem todas as Yops possuem Sycs correspondentes (10).

2. EPEC (Escherichia coli enteropatogênica)

2.1. Mecanismo de infecção

A Escherichia coli enteropatogênica (EPEC) pertence a uma família de organismos patógenos

conhecidos por causar uma lesão denominada A/E (“Attaching and Effacing” lesion), incluindo a E. coli

enterohemorrágica (EHEC) e vários patógenos que causam doenças em animais (p. ex., REPEC em coelhos e

PEPEC em porcos) (13). Estes organismos causam um desarranjo do citoesqueleto da célula hospedeira,

formam ‘um pedestal com células epiteliais, e codificam proteínas conservadas que mediam estes efeitos. As

lesões A/E são caracterizadas pela dissolução da borda intestinal e perda da microvilosidade intestinal no

local onde a bactéria aderiu. A associação de diarréia com EPEC tem sido atribuída a perda da superfície

absortiva devido a perda da microvilosidade das células epiteliais (25). A ativa secreção de íons também está

envolvida no desenvolvimento de doenças diarréicas infecciosas (36). Estudos recentes demonstram que a

EPEC causa uma despolarização significante em culturas de células epiteliais HeLa e Caco-2, alterando a

distribuição de íons através da membrana celular, o que estaria envolvido na perda de fluido e diarréia (40). O

decréscimo da resistência elétrica transepitelial também seria devido a fosforilação da cadeia de miosina, que

leva a um desarranjo na citoaquitetura da célula (31).

2.2. Fatores de virulência

O desenvolvimento da lesão provocada pela EPEC tem sido dividido em três estágios. O primeiro

estágio é caracterizado pela ligação da EPEC a superfície da célula epitelial numa região denominada LA

(“adesão localizada”), que é associada com a produção de uma fímbria tipo IV conhecida por BFP (“Bundle-

Forming Pili”). Durante o secundo estágio, um grupo de proteínas secretadas pela EPEC (Esps), ativam um

sinal que leva a desarranjos no citoesqueleto da célula hospedeira. Finalmente, durante o terceiro estágio, uma

proteína de membrana externa conhecida por “intimin” permite a EPEC ligar-se intimamente a membrana da

célula hospedeira em interação com o receptor de “intimin” chamado Tir, uma proteína que é secretada pela

bactéria e inserida na membrana da célula eucariótica do organismo hospedeiro (13).

EPEC possui um plasmídio de 69Kb que codifica para BFP, necessária para a aderência inicial entre

a bactéria e a célula eucariótica, e o locus Per, que regula a expressão dos fatores de virulência da EPEC. Os

fatores de virulência da EPEC são codificados numa região do DNA cromossomal chamada LEE (“Locus for

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enterocyte effacement”). A região LEE por sua vez pode ser subdividida em três regiões funcionais: uma

codifica para o sistema de secreção tipo III; outra é necessária para a adesão com a célula eucariótica (codifica

Tir e Intimin), e por fim a que codifica para os efetores protéicos que são secretados (Esps) e suas chaperones

chamadas Ces (“Chaperone for E. coli secretion”) (41).

2.3. Proteínas efetoras: Esps

As proteínas Esps estão envolvidas com o desarranjo do citoesqueleto das células eucarióticas e com

a resposta antifagocítica (17). Como outros efetores tipo III de bactérias patogênicas, as Esps possuem um

sinal na região amino-terminal que requer uma chaperone para a secreção apropriada (25, 43). EspA é uma

proteína secretada com um peso molecular de 25 Kda. Foi proposto que esta estrutura serve como um sistema

de liberação para outras Esps e Tir, pois mutantes do gene da EspA não conseguem liberar estas moléculas no

interior das células hospedeiras (26). EspA não parece ser injetada dentro da célula hospedeira. Estes

filamentos promovem uma primeira etapa no contato entre a célula bacteriana e a célula hospedeira. Portanto,

o papel da EspA é crítico para a virulência, pois mutações no gene espA tornam a EPEC avirulenta (1). Já a

EspB é translocada diretamente para o interior da célula hospedeira. Linhagens com mutação do gene espB

são incapazes de ativar sinais nas células hospedeiras, como o desarranjo do citoesqueleto, ou de produzir as

lesões A/E. (26, 46). EspD, de 40 KDa, é inserida dentro da membrana da célula hospedeira, mas

aparentemente não é translocada para dentro do citoplasma. Por analogia com a proteína YopB de Yersinia, a

EspD parece ser parte do aparato de translocação da EPEC (42). Outra proteína Esp secretada é a EspF,

identificada em 1998 (33). Não foi observado papel in vitro para esta proteína, o que não exclui a

possibilidade de que exerça alguma função in vivo. A maior proteína Esp é a EspC, que possui 110 KDa,

secretada mesmo em linhagens com mutação no sistema de secreção tipo III, o que sugere que esta proteína

também media sua própria secreção utilizando um mecanismo de autotransporte (39). Assim como ocorre no

sistema de secreção tipo III de Y. enterocolitica, a secreção das Esps requerem chaperones individuais para

serem secretadas de maneira eficiente, codificadas na região LEE do cromossomo bacteriano. Por exemplo, a

chaperone para EspD, CesD (chaperone for E. coli secretion D), já foi descrita. Foi observado num estudo que

a mutação no gene que codifica para CesD aboliu a secreção de EspD e reduziu a de EspB, mas teve pouco

efeito na quantidade de EspA secretada (43).

3. Aparato secretório tipo III

O sistema de secreção tipo III (TTSS) permite a liberação de proteínas efetoras da célula bacteriana

diretamente para o citosol da célula eucariótica (20). Os componentes responsáveis pela secreção de proteínas

através do envelope da célula bacteriana são geralmente conservados em todos sistemas de secreção do tipo

III, portanto proteínas de uma bactéria podem ser exportadas por outra dotada do mesmo mecanismo de

secreção. Entretanto, as proteínas secretadas através da parede da célula bacteriana variam de sistema para

Page 14: Monografia(Thiago)

sistema. Em Yersinia, elas são conhecidas por Yops, de “Yersinia outer-proteins”; em Shigella flexneri são as

Ipas, de “Invasion plasmid antigens”; e em Salmonella Sips e Sops, de “Salmonella inner proteins” e

“Salmonella outer-membrane proteins”, respectivamente (35). Em EPEC, as proteínas conhecidas por serem

exportadas pelo sistema de secreção tipo III são chamadas de Esps, como já foi dito acima.

Revisando rapidamente os tipo I e II, o sistema de secreção tipo I utiliza três proteínas, uma de

membrana interna (proteína transportadora ABC), uma periplasmática (ligada à membrana interna, mas

localizada no espaço periplasmático) e uma de membrana externa (em geral, a proteína TolC) (23). O

mecanismo tipo II é o mais semelhante ao das células eucarióticas. As proteínas são transportadas em duas

etapas: primeiro elas são secretadas para o periplasma e, numa segunda etapa, para fora da célula. No aparato

de secreção tipo III não há fase periplasmática, como ocorre no tipo II (34), e não há clivagem da proteína

durante o processo de secreção (10).

Figura 3: Esquema dos sistemas de secreção tipo I, II e III. O tipo I utiliza três proteínas, uma de membrana interna e uma de membrana externa. No tipo II as proteínas são transportadas em duas etapas: primeiro elas são secretadas para o periplasma e, numa segunda etapa, para fora da célula. No aparato de secreção tipo III não há fase periplasmática, como ocorre no tipo II, e não há clivagem da proteína durante o processo de secreção. Fonte: Hueck, 1998 (24).

O sistema de secreção do tipo III é denominado de “contato-dependente”, pois depende do contato

entre a célula bacteriana e a célula eucariótica. Em Yersinia, 29 genes ysc já foram identificados dentro de um

loci contíguo. Quatro proteínas, LcrD, YscD, YscR, e YscU, preenchem o interior da membrana, enquanto

YscC é uma proteína de membrana externa que pertence a família das secretinas, um grupo de proteínas

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envolvidas no transporte de várias macromoléculas e filamentos através da membrana externa (27). A

lipoproteína VirG é requerida para uma eficiente ligação da YscC com a membrana externa, onde este

complexo forma um poro estrutural com um diâmetro externo de cerca de 200 Å e um poro central de 50 Å

(25). YscN contém um domínio de ligação ao ATP que provavelmente gera energia para a secreção de Yops

(45). Quatro proteínas Yscs são secretadas: YopR, codificada pelo gene yscH, YscO, YscP e YscM/’LcrQ.

Estas proteínas estão geralmente envolvidas no controle da síntese e secreção das Yops (38). As proteínas

Yscs do sistema de secreção tipo III apresentam homologia com componentes do aparato de biossíntese

flagelar de bactérias gram-negativas e gram-positivas (24).

4. Operon araBAD

O gene araC, presente em alguns microrganismos como E. coli., codifica para a proteína AraC,

pertencente à mesma família da proteína VirF de Y. enterocolitica. Esta proteína se liga ao indutor L-

arabinose para ativar a transcrição de três “operons” ou operadores ara. Dois destes estão envolvidos no

transporte de arabinose, e o terceiro, o operador araBAD, codifica enzimas que participam do catabolismo

deste açúcar (8). Todos os três operadores ara possuem sítios de ligação à proteína AraC, que consistem em

seqüências de DNA repetidas em “tandem” de 17 pares de base (pb), além de um sítio de ligação ao CAP.

Quando o complexo CAP-cAMP se liga a este último sítio, ativa os promotores PBAD , promotor do operador

araBAD, e PC , promotor do gene araC., que estão em direções opostas na molécula de DNA. O açúcar

glicose exerce uma ação repressora da transcrição destes promotores por ligar-se ao cAMP, impedindo que

este se ligue ao CAP. A proteína AraC é biologicamente ativa em ambas as formas, ligada ou não ao açúcar

arabinose. Na presença de arabinose, a proteína AraC altera sua conformação estrutural para um estado

ativador e se liga à seqüência araI dentro do promotor PBAD, promovendo a transcrição deste promotor (27).

Desta maneira, a proteína regulatória AraC reconhece o substrato indutor e inicia a síntese das proteínas

requeridas. Na ausência do indutor arabinose, a transcrição do promotor PBAD é reprimida pela ligação da

proteína AraC a uma região distante e de baixa afinidade do DNA, chamada operador araO2 (13). Foi

proposto que a repressão requer uma associação entre moléculas AraC com os operadores araO2 e araI,

separados por 210 pares de bases, que forma um “loop” no DNA (31). A habilidade de unir estes operadores é

perdida quando a proteína AraC se liga ao açúcar arabinose. Neste estado ativador, a proteína AraC se liga ao

sítio araI desfazendo o “loop” do DNA, o que facilita a transcrição do promotor PBAD. Esta interação também

produz uma autoregulação negativa do promotor Pc do gene araC que resulta da ocupação de araO2 e araO1,

separados por 170 pares de bases. Deste modo, parece que a atividade de promotores ara é regulada pela

ocupação da proteína AraC em determinados sítios do DNA (21).

Page 16: Monografia(Thiago)

Figura 4: Regulação do “operon” ara. (a) Quando a proteína AraC está ausente, o gene araC é transcrito por seu próprio promotor. (b) Quando os níveis de arabinose estão baixos, a proteína AraC se liga a ambos os sítios araI e araO2 e forma um “loop” no DNA aproximando estes sítios. A transcrição do promotor PBAD é reprimida neste estado. A proteína AraC também se liga a araO1, reprimindo ainda mais a síntese de AraC. (c) Quando o açúcar arabinose está presente, a proteína AraC se liga a este açúcar, o que altera a conformação estrutural da proteína para um estado ativador. O “loop” do DNA é aberto, e a proteína AraC atua em conjunto com CAP-cAMP para facilitar a transcrição. Fonte: LEHNINGER, A. L., NELSON, D. L., COX, M. COX. Principles of Biochemistry. 1993. 1013. 5. Construção dos plasmídios utilizados neste trabalho

Este trabalho é a continuidade do projeto que foi iniciado em 2000 pela aluna de

iniciação científica Mariana de Lacerda Guerra (19), cujos resultados incluem a realização

da Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) do gene que codifica para a proteína SycH de Y.

enterocolitica, sem a região promotora deste gene. Para isso foram sintetizados dois

oligonucleotídeos: o primer 3116 (5’), contendo o sítio da enzima XbaI, situa-se

imediatamente antes da seqüência SD (“Shine-Dalgarno”) de ligação ao ribossomo e o

primer 3117 (3’), contendo o sítio da enzima PstI, situa-se após a seqüência codificadora.

Foi obtido então o fragmento 3116/3117, que corresponde ao gene sych sem o promotor.

Este fragmento foi clonado no plasmídio pGEM3zf+ e em seguida realizado o

sequenciamento automático no laboratório de Bioquímica da Universidade de Cambridge,

Inglaterra, que confirmou que este fragmento codifica para a proteína SycH. Para os

ensaios de expressão da proteína SycH, o gene sycH sem a seqüência promotora foi

subclonado nos plasmídios pBAD18Kn e pBAD33Cm, que conferem resistência à

Kanamicina e à cloranfenicol, respectivamente, estando sob o controle do promotor PBAD

presente nestes plasmídios (29).

JUSTIFICATIVA

A expressão e secreção de proteínas pela Y. enterocolitica ainda é um assunto pouco conhecido.

Tendo em vista o interesse do grupo em utilizar estas bactérias como vetores para a secreção de antígenos de

outros organismos, é essencial entender melhor como esse processo ocorre. Para isso, a proposta deste

trabalho é definir quais as melhores condições para a expressão das proteínas SycH e YopH em bactérias E.

Page 17: Monografia(Thiago)

coli TG2 e EPEC. Utilizou-se a bactéria EPEC para a expressão destas proteínas de Y. enterocolitica, com a

finalidade de estudar posteriormente se há conservação funcional do sistema de secreção tipo III (TTSS)

codificado por estas bactérias.

OBJETIVO GERAL

O objetivo geral consiste em colaborar para o melhor entendimento dos mecanismos

envolvidos com a regulação transcricional da proteína YopH e regulação do promotor PBAD

dos plasmídios da série pBAD, onde está subclonado o gene sycH. Posteriormente

pretende-se secretar proteínas heterólogas fusionadas à YopH na presença da chaperone

SycH, por exemplo antígenos de Leishmania brasiliensis, no intuito de gerar novas vacinas

contra patógenos humanos, além de verificar se EPEC é capaz de secretar proteínas de Y.

enterocolitica utilizando a maquinaria de secreção tipo III compartilhada por estes

patógenos.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Diante destes objetivos gerais, a proposta deste trabalho é definir quais as melhores

condições de expressão das proteínas YopH e SycH, ambas de Yersinia enterocolitica, em

bactérias Escherichia coli TG2 e EPEC. Para tanto, foram definidos os seguintes objetivos:

1- Expressar a proteína YopH, cujo gene está clonado no plasmídeo pTZ18R, sob o controle do seu

próprio promotor e regulado pela temperatura e fase de crescimento.

2- Expressar a proteína SycH, cujo gene sem a região promotora está subclonado nos plasmídios da

série pBAD, sob o controle do promotor PBAD.

3- Analisar a expressão simultânea de ambas as proteínas na mesma bactéria.

Page 18: Monografia(Thiago)

MATERIAIS E MÉTODOS

Linhagens bacterianas, plasmídios e meios de cultura

As bactérias utilizadas foram a Escherichi coli TG2 e EPEC (Escherichia coli

enteropatogênica). O plasmídio pTZ18R/yopH que confere resistência ao antibiótico

Ampicilina, contendo o inserto do gene yopH, foi obtido durante tese de Mestrado de

Suzana Costa (12). Já os plasmídios pBAD18Kan/sycH e pBAD33Cm/sycH, que conferem

resistência aos antibióticos Kanamicina e Cloranfenicol, respectivamente (30), que contém

o gene sycH sem a região promotora, foi subclonado pela aluna de iniciação científica

Mariana de Lacerda Guerra (19).

Figura 5: Plasmídeo pBAD18Kan. Este é um dos plasmídios da série pBAD no qual foi subclonado o gene da sycH sem a região promotora no sítio MCS2, sob o controle do promotor PBAD.. O mesmo confere resistência a kanamicina e tem origem de replicação derivada do pBR322. Fonte: Guzman, 1995 (30).

Page 19: Monografia(Thiago)

As bactérias cresceram em meio de cultura LB (“Luria Bertani”) e MGM (Meio

Glicerol Mínimo), suplementados com antibióticos nas seguintes concentrações:

Ampicilina (Amp) 100 µg/ml; Cloranfenicol (Cm) 30 µg/ml; Kanamicina (Kan) 20 µg/ml.

Composição do MGM

Para o preparo de cada litro do meio M63 cinco vezes concentrado adicionou-se 10g

de (NH4)2SO4, 68 g de KH2PO4 e 2,5 mg de FeSO4.7H2O com o pH ajustado para 7,0 com

KOH. A partir desta solução concentrada, foi feita a diluição para a concentração de uso

com água estéril e adicionando-se as seguintes soluções, também estéreis e para um volume

final de um litro: 1ml de 1M de MgSO4.7H2O; 10 ml de fonte de carbono a 20% (açúcar ou

glicerol); e se for requerido: 0,1 ml de vitamina B1 (Tiamina) a 0,5%; 5 ml de aminoácidos

caseína ou aminoácidos L a 20% para 10 µg/ml ou aminoácidos DL para 80 µg/ml e

Antibiótico.

Transformação das bactérias Escherichia coli TG2

Essas bactérias foram transformadas com os plasmídios pBAD18Kan/sycH, que confere resistência

ao antibiótico Kanamicina, e pTZ18R/yopH, que confere resistência a Ampicilina, seguindo o protocolo

abaixo:

Adicionaram-se 5 µl do DNA para 20 µl de tampão de transformação (MgCl2 5M e Tris-Cl pH 7.4

5M), seguido de 50 µl de células competentes preparadas com cloreto de cálcio 100mM/glicerol a 15%. Após

homogeneizar brevemente foi deixado no gelo por 30 minutos. A seguir, colocou-se em banho-maria a 37oC

por 5 minutos, resfriado brevemente e semeado em meio LB sólido acrescido do antibiótico nas

concentrações que já foram especificadas. Caso o antibiótico não seja Ampicilina, existe uma etapa adicional,

Page 20: Monografia(Thiago)

que consiste em, passados os 5 minutos no banho-maria, adiciona-se 0,4 ml de LB, homogeneíza e incuba o

tubo por mais 1 hora a 37oC, para só então semear

Eletrotransformação das bactérias EPEC

Esta linhagem também foi transformada com os plasmídios citados acima, com a diferença de que a

transformação foi por eletroporação segundo Conchas & Carniel (9), descrito a seguir:

As cuvetas de 0,2 cm e o recipiente para eletroporação do aparelho “E. coli PulserTM Transformation

Apparatus” da BIORAD, foram colocadas no gelo com 30 minutos de antecedência. Foram adicionados 40 µl

de células eletrocompetentes, preparadas com sacarose 272mM/glicerol a 15%, na cuveta e em seguida 5 µl

do plasmídio. A mistura foi resfriada por um minuto no gelo e as células foram então sujeitas a um único

pulso elétrico de 2,5 kv/cm. Após a descarga elétrica, adicionou-se rapidamente 1 ml de SOC (2% Bacto-

Tryptone/0,5% Bacto yeast extract/10mM NaCl/2,5mM KCl/10mM MgCl2/10mM MgSO4/20mM Gicose) às

cuvetas, e as células foram então transferida para um eppendorf e incubada a 28oC com agitação suave de 225

rpm no “Blood Tube Rotator” por 2 horas. Em seguida, fez-se o semeio em meio suplementado com o(s)

antibiótico(s).

Expressão da proteína SycH nas bactérias E. coli TG2 em meio glicerol mínimo

As bactérias E. coli TG2 cresceram no “Shaker” a 37oC durante a noite em 3ml de meio glicerol mínimo

(MGM), acrescido de 0,2% de glicose. No dia seguinte foram transferidos 100 µl para 5ml do mesmo meio. O

crescimento bacteriano foi monitorado até atingir uma DO (densidade ótica) de 0,4 (comprimento de onda

600 nm). A cultura foi então centrifugada e lavada uma vez com meio glicerol-mínimo acrescido de 0,05% de

arabinose e o sedimento ressuspendido neste meio. Coletou-se o tempo zero, onde 200 µl da cultura foram

centrifugados e o sedimento ressuspendido em 100 µl de tampão de amostra para gel de proteína. A partir

desta etapa foram coletadas com 24 e 48 horas de indução.

Para a expressão da proteína SycH nas bactérias EPEC em meio LB, a metodologia empregada é a

mesma da indução em meio MGM, com diferença de que após a bactéria atingir a DO 0,4, retirou-se a

primeira amostra como controle, e foi adicionado o açúcar arabinose na concentração 0,05% e o açúcar

glicose na concentração 0,2% como controle negativo. As amostras seguintes foram coletadas com 1 e 2 horas

de indução.

Page 21: Monografia(Thiago)

Indução do gene que codifica para a proteína YopH nas bactérias E. coli TG2 e EPEC em meio LB

Foi realizada a indução do gene YopH no plasmídeo pTZ18R, cuja expressão é regulada através da

temperatura, a 37OC, em bactérias Escherichia coli e EPEC. As bactérias cresceram a 24oC, e no dia seguinte

foram diluídas para uma DO final de 0,4. As colônias foram colocadas na temperatura de 37oC, e um grupo

controle permaneceu a 24oC. As amostras foram então coletadas a cada uma hora até completar 5 horas de

indução.

Em outro experimento, realizou-se a indução do gene yopH comparando a expressão desta proteína a

24oC e a 37oC numa mesma DO. Para isso, o crescimento bacteriano foi monitorado até completar 20 horas

de indução.

Indução dos genes yopH e sycH na bactéria EPEC cotransformada, a 37oC e adicionando-se arabinose em diferentes concentrações ao meio LB

Diluiu-se o pré-inóculo em meio LB para uma DO de 0,05 e então a cultura foi colocada no “Shaker”

para crescer a 37oC. Após atingir uma densidade ótica de 0,4/0,5; retirou-se a primeira alíquota como

controle, e então foi adicionado o açúcar arabinose em diferentes concentrações: 0,02%, 0,2% e 2%. Foram

mantidos dois tubos controles, um onde não se adicionou arabinose e outro que continha bactérias EPEC com

apenas o plasmídio pTZ18R/yopH. Foram coletadas alíquotas a cada uma hora, até completar quatro horas.

SDS-PAGE e “WESTERN-BLOT”

As amostras obtidas foram separadas em gel SDS-PAGE 15%, coradas com Azul de Comassie e

submetidas a uma solução descorante (25% de metanol, 7% de ácido acético e H2O). Para o “Western-blot”,

as proteínas foram transferidas para uma membrana de nitrocelulose (Hybond C – Amersham Pharmacia

Biotech), em sistema semi-seco. A membrana foi então neutralizada com uma solução de TBS (solução salina

Page 22: Monografia(Thiago)

tamponada com Tris) acrescida de 2% de leite e Tween 20 a 1%, durante a noite. Após esta etapa, a

membrana foi lavada três vezes com PBS puro e incubada por 2 horas com o anticorpo contra a proteína

YopH (soro anti-YopH obtido de coelhos, no CPqAM, por Bruno Leal A. da Silva), diluído 1:15000 em

TBS/leite 1%/Tween 20 a 1%. A membrana foi então submetida a uma nova lavagem e incubada, por uma

hora e meia, com o segundo anticorpo anti-IgG de coelho conjugado à peroxidase (Jackson Immunoresearch

laboratories INC) diluído 1:5000 em TBS/leite 1%/Tween 20 a 1%, depois lavada com TBS. A revelação foi

realizada por quimioluminescência, adicionando-se a solução de 50 ml de luminol (1,25mM Na-Luminol;

0,1M Tris-HCl, pH 8,5), 0,5 ml de iodofenol (40,9 mM, 9mg/ml; 4-iodofenol; DMSO - dimetilsulfóxido) e

por último 15,3 ml de peróxido de hidrogênio (H2O2).

RESULTADOS

1- Expressão da proteína SycH nas bactérias E. coli TG2 em meio MGM

As bactérias E. coli TG2 foram transformadas com os plasmídios

pBAD18Kan/sycH e pBAD33Cm/sycH, para se analisar a expressão da proteína SycH sob

o controle do promotor PBAD, em meio glicerol mínimo (MGM) suplementado com os

antibióticos kanamicina e cloranfenicol, respectivamente. Este meio de cultura foi

escolhido por tratar-se de um meio pobre em glicose, pois este açúcar exerce um estímulo

repressor sobre o promotor PBAD. Entretanto, na presença de arabinose, este promotor é

estimulado e ocorre a transcrição do gene sycH. Seguindo estes preceitos, realizamos um

experimento em que culturas de E. coli TG2 transformadas com os plasmídios citados

acima cresceram em MGM desprovido de arabinose até atingir a DO de 0,4. A partir daí,

foi adicionado o açúcar arabinose na concentração de 0,05%, e após 24 horas de

crescimento bacteriano a 37oC, observou-se em gel de poliacrilamida a 20% o surgimento

de uma banda entre os marcadores 14 e 20 KDa, correspondente ao tamanho da proteína

M C 24h 48h C 24h 48h946746302014

pBAD18Kn/sycH pBAD33Cm/sycHM C 24h 48h C 24h 48h

946746302014

E. coli

M C 24h 48h C 24h 48h946746302014

pBAD18Kn/sycH pBAD33Cm/sycHM C 24h 48h C 24h 48h

946746302014

E. coli

Page 23: Monografia(Thiago)

SycH (19 KDa), tanto no transformante que contém o plasmídio pBAD18Kan/sycH quanto

no que contém o pBAD33Cm/sycH.

Figura 6: Gel SDS-PAGE mostrando a síntese da proteína SycH (seta) em células de E.

coli TG2 transformadas com os plasmídeos pBAD18Kan/sycH e pBAD33Cm/sycH. A letra C indica as culturas de bactérias que foram crescidas em meio MGM desprovido de arabinose até atingir a DO de 0,4. A partir desta DO foi adicionado ao meio o açúcar arabinose na concentração de 0,05%. Alíquotas foram coletadas com 24 e 48 horas, ressuspendidas em tampão de amostra para SDS-PAGE e analisadas em gel a 20%. As setas indicam a banda presumida da proteína SycH (19 KDa). À esquerda da figura estão assinalados em kDa os pesos dos marcadores moleculares.

2- Expressão de SycH na bactéria EPEC em meio LB

A bactéria EPEC foi transformada com o plasmídio pBAD18Kan/sycH, para

verificar se estas bactérias são capazes de expressar SycH. A EPEC é dotada de maquinaria

de secreção tipo III, daí o interesse em se trabalhar com estas bactérias, para que no futuro

possa se analisar a secreção de YopH na presença de SycH através deste sistema de

secreção. Esta expressão foi realizada em meio LB, no intuito de verificar se a expressão de

SycH é possível neste meio, após a adição do indutor arabinose a 0,05% e adicionando-se

também o repressor glicose a 0,2%, como controle negativo, ao meio LB. O interesse de se

utilizar o meio LB é porque o crescimento bacteriano é mais rápido neste meio em

comparação com o MGM, o que encurta o tempo necessário para a expressão protéica.

Apesar da glicose ser um fator de repressão do promotor PBAD e o meio LB conter este

açúcar, observou-se a expressão da SycH após 1 hora e 2 horas de indução a 37oC em meio

LB acrescido do indutor arabinose na concentração de 0,05%.

M C A G G A

1 h 2 h

EPEC + pBAD18Kan/ sycH

9467

46

30

20

14

Page 24: Monografia(Thiago)

Figura 7: Expressão de SycH em células EPEC transformadas com o plasmídeo pBAD18Kan/sycH e analisadas em gel SDS-PAGE de 20%. A letra C indica as culturas desta bactéria que cresceram em meio LB desprovido de arabinose até atingir a DO de 0,4 a 37oC. A seta indica a banda induzida após a adição de arabinose a 0,05%, entre os marcadores de peso molecular 20 e 14 KDa, correspondente ao tamanho da SycH, após 1h e 2 horas de indução, indicada pela letra A. A letra G indica a cultura onde foi adicionado o açúcar glicose a 0,2%, como controle negativo. À esquerda da figura estão assinalados em kDa os pesos dos marcadores moleculares.

3- Expressão da proteína YopH em função da temperatura em bactérias EPEC

Tendo já sido realizada a expressão da chaperone SycH em MGM e meio LB,

partimos para a expressão da proteína YopH correspondente na bactéria EPEC em meio

LB. A expressão de YopH é controlada por seu próprio promotor, regulado pela

temperatura. Estas bactérias foram transformadas com o plasmídio pTZ18R/yopH por

eletroporação, e então foi realizada a indução do gene da YopH na temperatura de 37oC.

Bactérias contendo apenas o plasmídio pTZ18R, como controle negativo, e o

pTZ18R/yopH, cresceram a 24°C, até atingir uma DO de 0,4 e foram em seguida

transferidos para 37°C. Pôde ser observado em SDS-PAGE 15% e confirmado por

Western-Blot, que a YopH apresenta uma expressão basal a 24oC mas que, após 2 horas de

indução a 37°C, já ocorre um aumento da intensidade da banda correspondente ao tamanho

da YopH (51 KDa), indicando que a expressão desta proteína é regulada pela temperatura .

Page 25: Monografia(Thiago)

Figura 8: (A) Gel SDS-PAGE 15% mostrando a síntese da proteína YopH entre os marcadores de peso molecular 67 e 46 (seta) em células EPEC transformadas com o plasmídeo pTZ18R/yopH. Do lado esquerdo estão as culturas de EPEC transformadas com o plasmídio pTZ18R sem o gene yopH, como controle negativo. A letra C indica as culturas que cresceram a 24oC até uma DO de 0,4. As culturas foram então colocadas na temperatura de 37oC por até 5 horas, tendo sido coletadas alíquotas a intervalos de tempo regulares. À esquerda da figura estão assinalados em kDa os pesos dos marcadores moleculares. (B) Confirmação da expressão da proteína YopH realizada através do Western-Blot, com soro policlonal de coelho específico contra esta proteína.

4- Expressão da proteína YopH em função da Temperatura e densidade ótica (O.D.) em bactérias EPEC

Neste experimento, realizado para confirmar se a fase de crescimento estava

influenciando a expressão da proteína YopH, foi comparado numa mesma densidade óptica

(DO), a expressão a 24oC e a 37oC. Portanto, se a densidade ótica tiver alguma influência,

ocorrerá o aumento na expressão de YopH a 24oC à medida que a bactéria cresce.

As culturas foram inicialmente diluídas para uma DO de 0,05. A curva de

crescimento revelou que nas primeiras horas de indução, o crescimento da cultura de

bactérias a 37oC é maior do que a 24oC, mas se igualam após 8 horas de indução. A partir

daí, o crescimento a 24oC supera o crescimento a 37oC até completar 20 horas de

experimento.

M C 2h 3h 4h 5h M C 2h 3h 4h 5h

EPEC+pTZ18R/yopH

C 2h 4h 5h

Western-Blot

9467

46

30

20

M C 2h 3h 4h 5h M C 2h 3h 4h 5h

C 2h 4h 5h

Western-Blot

9467

46

30

20

(A) (B)

M C 2h 3h 4h 5h M C 2h 3h 4h 5h

C 2h 4h 5h

Western-Blot

9467

46

30

20

M C 2h 3h 4h 5h M C 2h 3h 4h 5h

EPEC+pTZ18R

C 2h 4h 5h

Western-Blot

9467

46

30

20

(A) (B)

M C 2h 3h 4h 5h M C 2h 3h 4h 5h

EPEC+pTZ18R/yopH

C 2h 4h 5h

Western-Blot

9467

46

30

20

M C 2h 3h 4h 5h M C 2h 3h 4h 5h

C 2h 4h 5h

Western-Blot

9467

46

30

20

(A) (B)

M C 2h 3h 4h 5h M C 2h 3h 4h 5h

C 2h 4h 5h

Western-Blot

9467

46

30

20

M C 2h 3h 4h 5h M C 2h 3h 4h 5h

EPEC+pTZ18R

C 2h 4h 5h

Western-Blot

9467

46

30

20

(A) (B)

Page 26: Monografia(Thiago)

Gráfico 1: Curva de crescimento da EPEC transformada com o plasmídio pTZ18R/yopH a 24oC e a 37oC. No eixo das abscissas estão os tempos de coleta das amostras. No eixo das ordenadas estão as densidades óticas das culturas a 24oC e 37oC, correspondentes. No que se refere à indução do gene yopH, observa-se que ocorreu tanto a 37oC

quanto a 24oC, porém no início essa expressão é basal nesta última temperatura. Com o

passar do tempo, a expressão de YopH a 24oC e 37oC vão se igualando, o que indica uma

influência da fase de crescimento na expressão desta proteína, já que a expressão de YopH

a 24oC é estimulada com o aumento da densidade ótica. No final do experimento, a

densidade ótica da cultura a 24oC chega a ser o dobro em relação a da cultura a 37oC,

enquanto que a intensidade da expressão de YopH em ambas as culturas é praticamente a

mesma.

Curva de Crescimento

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

11 13 16 19 7

Tempo (h)

O.D.(600nm)

24°C

37°C

Curva de Crescimento

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

0 2 5 8 20

Tempo (h)

O.D.(600nm)

24°C

37°C

Page 27: Monografia(Thiago)

Figura 9: (A) Análise comparativa da expressão da YopH em diferentes densidades de crescimento. Acima das figuras estão as densidades óticas e logo abaixo as temperaturas em que cresceram as culturas de EPEC transformadas com o plasmídio pTZ18R/sycH. Observa-se que a 37°C há uma maior expressão da YopH quando comparado a expressão a 24°C. (B) Western-blot, confirmando uma expressão basal de YopH na DO de 0.2 a 24oC. No final do experimento a densidade ótica da cultura a 24oC é o dobro da cultura a 37oC, mas a intensidade das bandas em ambas é praticamente a mesma.

5- Co-expressão das proteínas YopH e SycH na EPEC, em função da temperatura e adicionando-se ao meio LB diferentes concentrações de arabinose

Tendo sido demonstrada a indução da expressão tanto da SycH como da YopH

separadamente nas bactérias EPEC, iniciou-se a tentativa de expressar simultaneamente

ambas as proteínas, para no futuro tentar secretar a YopH na presença de sua chaperone

SycH pela maquinaria de secreção tipo III da EPEC. Para isso foram realizadas as

transformações da EPEC com os plasmídios pTZ18R/yopH e pBAD33Cm/sycH, para em

seguida se tentar a expressão das duas proteínas. Houve a preocupação de se utilizar dois

DO= | 0.2 | 0.7 | 3 | 1.5 |M 24oC 37oC 24oC 37oC 24oC 37oC

(A) (B)

24oC 37oC 24oC 37oC 24oC 37oC

DO= | 0.2 | | 0.7 | | 3 | | 1.5 |

Page 28: Monografia(Thiago)

plasmídios pertencentes a grupos de compatibilidade distintos para não haver o risco da

bactéria rejeitar um deles. As células foram inicialmente crescidas a 24oC e em seguidas

transferidas para 37oC e incubadas na presença ou ausência de arabinose. Como ainda não

havia sido determinado qual a concentração ideal de arabinose para que haja a síntese de

SycH regulada pelo promotor PBAD, foi realizada uma indução onde este açúcar foi

adicionado ao meio LB nas concentrações 0,02%, 0,2% e 2%, enquanto que a proteína

YopH foi expressa regulada pelo seu próprio promotor. Foi observado que a adição de

arabinose induz a expressão de SycH principalmente na concentração de 0,2%. Contudo,

embora a YopH esteja sendo expressa a 37oC na ausência de arabinose, a adição do açucar

reprime a expressão de YopH, sendo esta repressão maior na concentração de 2%. Mesmo

na ausência de arabinose houve uma diminuição discreta da expressão de YopH quando

comparada com a expressão em EPEC contendo apenas o pTZ18R/yopH (figura 10A). Os

resultados obtidos com a YopH foram confirmados por meio de Western-Blot com o soro

disponível contra esta proteína (figura 10B).

Outro experimento foi realizado visando verificar o efeito da arabinose em células

EPEC transformadas apenas com o plasmídeo pTZ18R/yopH. Ao adicionar o açúcar

arabinose nesta cultura, que não contém o plasmídio pBAD18Kan/sycH, mesmo assim

houve diminuição da expressão de YopH na ausência deste plasmídio e da chaperone SycH

(figura 11). Resumindo estes experimentos na presença do plasmídeo pBAD a indução da

YopH é levemente reprimida e a arabinose potencializa essa repressão, enquanto que este

mesmo açúcar estimula a transcrição do promotor PBAD e síntese da proteína SycH.

M 0 4h 0 4h 0 4h 0 4h 0 4h

-sycH -Arab 0,02% 0,2% 2%

0 4h 0 4h 0 4h 0 4h 0 4h

-sycH -Arab 0,02% 0,2% 2%

(A) (B)

M 0 4h 0 4h 0 4h 0 4h 0 4h

-sycH -Arab 0,02% 0,2% 2%

0 4h 0 4h 0 4h 0 4h 0 4h

-sycH -Arab 0,02% 0,2% 2%

(A) (B)

94 67 46 30 20 14

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Figura 10: Co-expressão de YopH e SycH em células EPEC co-transformadas com os plasmídios pTZ18R/yopH e pBAD33Cm/sycH (A) SDS-PAGE 15% de células crescidas a 24oC até a DO de 0,4 e em seguida transferidas para 37oC por 0 ou 4 horas de incubação. A seta a esquerda do gel indica a banda da YopH enquanto que a seta em diagonal mostra a SycH. (-sycH) refere-se a cultura de bactérias que continham somente o plasmídio pTZ18R/yopH e (-Arab) é a cultura em que não foi adicionado o açúcar arabinose. (B) Western-blo com as amostras analisadas em A testadas com o soro policlonal contra a YopH.

Figura 11: Efeito da arabinose na expressão da YopH em células EPEC transformadas com o plasmídio pTZ18R/yopH. Células crescidas como descrito na figura 10 e amostras analisadas em SDS-PAGE 15%.

DISCUSSÃO E PERSPECTIVAS

A expressão de uma proteína com peso molecular correspondente ao da proteína SycH pôde ser

obtida tanto em meio glicerol-mínimo quanto em meio LB, apesar deste último conter glicose, que é um fator

de repressão do promotor PBAD presente no plasmídio pBAD18Kan/sycH e pBAD33Cm/sycH (19, 30). A

vantagem de se expressar genes clonados em plasmídios da série pBAD em meio LB é que neste meio o

crescimento bacteriano é mais rápido quando comparado ao MGM, além de que é possível realizar a

expressão de YopH a 37o, juntamente com a de SycH, num intervalo de tempo curto. A expressão da proteína

YopH revelou ser regulada pela temperatura e fase de crescimento. Na fase inicial do crecimento (DO=0.4) a

24oC, ocorre uma expressão muito discreta da proteína YopH, quando comparada com a expressão a 37oC, o

que indica que o promotor do gene yopH é regulado pela temperatura. A regulação mediada pela temperatura

decorre do fato de que, em temperaturas menores que 30oC, a molécula de DNA na região do promotor da

YopH se encontra encurvada de maneira que não permite a transcrição, enquanto que temperaturas maiores

desfazem estas curvas (22). Entretanto, a medida que as bactérias crescem, a expressão de YopH a 24oC

0 4h 0 4h 0 4h 0 4h

-Arab 0,02% 0,2% 2%

EPEC + pTZ18R/yopH

YopH

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aumenta, o que demonstra que a transcrição do gene yopH clonado no plasmídio pTZ18R depende da fase de

crescimento. No que se refere à curva de crescimento, foi observado que o crescimento da EPEC a 24oC passa

a superar o crescimento da mesma cepa a 37oC, provavelmente porque a expressão de YopH seja tão intensa a

37oC que esta proteína passa a se acumular no interior das células bacterianas, sendo tóxica para as mesmas.

A partir destes estudos, partiu-se para a análise da indução dos genes yopH e sycH, clonados em plasmídios

de grupo de compatibilidade distintos para que não haja o risco de que a bactéria rejeite um deles. Para

expressar ambas as proteína e determinar a concentração ideal de arabinose para que ocorra a expressão da

proteína SycH, as bactérias cotransformadas com os plasmídios pBAD18Kan/sycH e pTZ18R/yopH

cresceram a 37oC em meio LB acrescido do açúcar arabinose nas concentrações 0,02%, 0,2% e 2%. Esta

tentativa gerou um resultado inesperado, pois a adição do açúcar arabinose, que é o indutor do promotor PBAD

responsável pela transcrição do gene da proteína SycH clonado nos plasmídios da série pBAD, acabou por

reduzir a expressão da YopH, por motivos ainda não totalmente esclarecidos. A princípio suspeitou-se de que

a proteína YopH estaria sendo secretada, contudo, mesmo na ausência de arabinose houve diminuição discreta

da expressão de YopH quando se compara com a EPEC contendo apenas o pTZ18R/yopH. O que também

contraria esta hipótese é o fato de que ao se adicionar o açúcar arabinose na cultura que não contém o

plasmídio pBAD18Kan/sycH, mesmo assim há diminuição da expressão de YopH na ausência da SycH. Este

resultado é um indicativo de que a YopH não está sendo secretada, mas na realidade a presença do plasmídeo

pBAD reprime de alguma forma a indução da YopH e a arabinose potencializa essa repressão. Isto ocorre

talvez por que este açúcar serve como substrato indutor para alguma molécula que tenha a propriedade de se

ligar a determinados sítios do DNA, a exemplo da proteína AraC presente em E. coli ou a VirF, da mesma

família da AraC, presente em Y. enterocolitica. Esta ligação poderia ocorrer com o plasmídio pTZ18R ou

diretamente com algum sítio do promotor do gene yopH, a exemplo do próprio sítio de ligação à proteína

VirF, levando a um estímulo repressor (28, 32). Esta interação poderia formar um “loop” na molécula de

DNA, como é observado com a ligação do complexo AraC-arabinose aos sítios araO1 e araO2 do operon

araBAD, que impede a transcrição do gene araC (21), lembrando o que ocorre também em temperaturas mais

baixas.

A utilização destes vetores se mostrou eficiente para a expressão das proteínas SycH e YopH

isoladamente, porém o mesmo não se pode afirmar para a co-expressão de ambas, já que o fator de transcrição

de um gene inesperadamente reprimiu o outro. Para os ensaios de secreção, é mais sensato tentar utilizar

algum outro plasmídio como vetor de expressão. se não clonar os dois genes no mesmo plasmídio sob o

controle do mesmo promotor. A tentativa de secretar a proteína YopH e antígeno de Leishmania braziliensis

fusionado à YopH (22), na presença da SycH, pode ser realizados em bactérias E. coli enteropatogênicas

(EPEC), para verificar a capacidade destas em secretar proteínas de Y. enterocolitica e proteínas de fusão, o

que permite subsídios para o desenvolvimento de futuras vacinas além de se determinar se há conservação

funcional do sistema de secreção tipo III (TTSS) compartilhado por estas bactérias.

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