monografia ferrovias

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UNIVERSIDADE DE UBERABA GERALDO SANTANA NETO RELAÇÃO ENTRE O TIPO DE FIXAÇÃO DE TRILHOS EM DORMENTES DE MADEIRA E A CIRCULAÇÃO DE TRENS: UM ESTUDO DE CASO UBERLÂNDIA MG 2012

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RELAÇÃO ENTRE O TIPO DE FIXAÇÃO DE TRILHOS EM DORMENTES DE MADEIRA E A CIRCULAÇÃO DE TRENS: UM ESTUDO DE CASO

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Page 1: Monografia Ferrovias

UNIVERSIDADE DE UBERABA

GERALDO SANTANA NETO

RELAÇÃO ENTRE O TIPO DE FIXAÇÃO DE TRILHOS EM DORMENTES DE MADEIRA E A CIRCULAÇÃO DE TRENS:

UM ESTUDO DE CASO

UBERLÂNDIA – MG 2012

Page 2: Monografia Ferrovias

GERALDO SANTANA NETO

RELAÇÃO ENTRE O TIPO DE FIXAÇÃO DE TRILHOS EM

DORMENTES DE MADEIRA E A CIRCULAÇÃO DE TRENS: UM ESTUDO DE CASO

Trabalho apresentado à Universidade de Uberaba, como parte das exigências à conclusão da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, do 10º Período, do curso de Engenharia Civil. Orientador: Prof. George Wilton Albuquerque Rangel.

UBERLÂNDIA – MG 2012

Page 3: Monografia Ferrovias

GERALDO SANTANA NETO

RELAÇÃO ENTRE O TIPO DE FIXAÇÃO DE TRILHOS EM DORMENTES DE MADEIRA E A CIRCULAÇÃO DE TRENS:

UM ESTUDO DE CASO

Trabalho apresentado à Universidade de Uberaba, como parte das exigências à conclusão da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, do 10º Período, do curso de Engenharia Civil. Orientador: Prof. George Wilton Albuquerque Rangel.

Aprovado em: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________ Prof. George Wilton Albuquerque Rangel

Universidade de Uberaba Orientador

___________________________________________ Prof.a Drª. Cristiane Tumang Frare

Universidade de Uberaba Examinadora

__________________________________________ Prof. Esp. Fernando Araújo Universidade de Uberaba

Examinador

Page 4: Monografia Ferrovias

Dedico esse trabalho à minha família.

Meus pais Hélio e Olga por me educarem

e ensinarem que os estudos são

primordiais na formação da pessoa

humana. Meu irmão Rodrigo pelo exemplo

no zelo das atividades acadêmicas. Minha

esposa Sônia, fiel companheira e auxílio

em todos os desafios impostos na nossa

vida em comum.

Page 5: Monografia Ferrovias

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, autor da vida e Pai muito amado em que ponho todo meu

caminhar.

Aos meus tios, tias, primos, primas, afilhados e afilhadas, meu muito

obrigado pela torcida e confiança que em mim depositam.

Ao Professor George Wilton Albuquerque Rangel pelo apoio e incentivo na

busca dos assuntos referentes ao meio ferroviário, orientação e presteza na

realização desse trabalho e do aprendizado das disciplinas por ele ministradas.

Aos Professores Fernando Araújo e Cristiane Tumang, por comporem a

banca examinadora, bem como pelas considerações feitas durante a apresentação

do trabalho.

A todos os professores do curso de Engenharia Civil da UNIUBE –

Universidade de Uberaba, meu muito obrigado pela troca de experiências que

contribuíram na minha formação acadêmica e no meu amadurecimento pessoal e

profissional, entendendo em muitas vezes minhas falhas e limitações.

Em especial os professores Carlos Henrique Barreiro, Diretor do curso de

Engenharia Civil; Vanessa Rosa Pereira Fidelis, Túlio Augusto Caleiro Acerbi, Maria

Regina Ayres de Lima, Dagoberto Camargo Caria, José Franklin Moreira.

A assistente pedagógica Telma Calixto Pereira pela atenção prestada e

quem muito me incentivou matricular na disciplina de trabalho de conclusão de curso

desse semestre.

As assistentes pedagógicas Iza Lúcia e Leonilda pelo esforço na solução

dos problemas acadêmicos do dia-a-dia.

Aos amigos da Ferrovia Centro-Atlântica que direta ou indiretamente me

ajudaram nesse trabalho e na conclusão desse curso de Engenharia Civil.

A cada um dos amigos e amigas do curso de Engenharia Civil, meu respeito

e consideração e obrigado pela presença nesses anos.

A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização do

curso e elaboração deste trabalho.

Page 6: Monografia Ferrovias

Linha é capricho, é o detalhe; não é uma estrutura inerte, tem vida!

(Eduardo de Aquino Carneiro)

Page 7: Monografia Ferrovias

RESUMO

O presente trabalho consistiu principalmente num estudo de caso cujo principal objetivo foi apresentar as premissas para operação de locomotivas de grande porte e trens com composições mais pesadas num determinado trecho de via férrea, apontando as principais adequações que precisariam ser realizadas nesse segmento. Para tanto foi realizada inicialmente uma revisão bibliográfica apresentando particularidades relativas ao trabalho na via permanente, que envolveu a descrição dos principais tipos de dormentes (madeira, aço, concreto e plástico) bem como dos sistemas de fixação (direta e indireta; e rígida ou elástica) de trilhos e seus principais componentes. Considerando o estudo de caso, constatou-se que são necessárias retificações da linha férrea no sentido de corrigir raios de curvas menores que 145 metros, bem como é necessária a substituição das fixações rígidas atualmente utilizadas no trecho considerado, por fixações elásticas, de modo a garantir maior estabilidade e segurança do tráfego de composições. Palavras chaves: Ferrovia; Via Permanente; Fixação de trilhos; Dormentes.

Page 8: Monografia Ferrovias

ABSTRACT

This work consisted mainly of a case study whose main objective was to show the premises to operate a large locomotives and trains with heavier compositions in a given stretch of rail, pointing out the main adjustments that need to be made in this segment. Initially a literature review was made showing particularities on the work in the railway, which involved descriptions about the types of ties or sleepers (timber, concrete, steel, or plastic), as well as about the fastening systems of track (direct and indirect fixations; elastic or rigid fixations) and its major components. Considering the case study, it was found that corrections are required of the railroad in order to correct bend radii less than 145 meters, as well as is necessary to replace the rigid fixation currently used in the section considered with elastic fixations, to ensure greater stability and safety of traffic compositions. Keywords: Railroad; Trackage, Fastening system of track; Ties (or sleepers).

Page 9: Monografia Ferrovias

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Elementos da Via Permanente..................................................................12

Figura 2 – Tipos de Dormentes. Da esquerda para a direita: dormente de madeira,

concreto, aço e plástico..............................................................................................15

Figura 3 – Via com dormente de madeira e fixação rígida.........................................19

Figura 4 – Via com dormente de madeira e fixação elástica do tipo Pandrol............19

Figura 5 – Prego de Linha para dormente de madeira...............................................20

Figura 6 – Tirefond.....................................................................................................21

Figura 7 – Prego de linha elástico simples para dormente de madeira.....................23

Figura 8 – Fixação tipo K ou GEO para dormente de madeira..................................24

Figura 9 – Grampo elástico duplo para dormente de madeira...................................25

Figura 10 – Grampo Elástico Pandrol........................................................................25

Figura 11 – Grampo Deenik para dormente de madeira............................................26

Figura 12 – Grampo elástico SKL para dormente de madeira...................................26

Figura 13 – Placa de apoio elástica Deenik, furação ¾.............................................28

Figura 14 – Arruela de Pressão Dupla e sua aplicação no conjunto de fixação........30

Figura 15 – Retensores e sua aplicação no conjunto de fixação...............................31

Figura 16 – Forças atuantes num veículo rodoviário.................................................34

Figura 17 – Simulador de Inscrição em curvas para locomotiva DDM.......................36

Figura 18 – Fluxo dos Cálculos..................................................................................40

Figura 19 – Esforços transversais entre Goiandira e Catalão com três locomotivas

DDM e 35 vagões, fixação rígida............................................................41

Figura 20 – Esforços transversais entre Goiandira e Catalão com três locomotivas

DDM e 35 vagões, fixação elástica.........................................................42

Quadro 1 – Vantagens e desvantagens dos principais tipos de dormentes..............16

Quadro 2 – Tipos de fixações em dormentes de madeira – Ferrovias da VALE.......32

Page 10: Monografia Ferrovias

SUMÁRIO

1. Introdução............................................................................................................10

1.1. Justificativa............................................................................................10

1.2. Objetivos...............................................................................................11

1.2.1. Objetivo Geral.............................................................................11

1.2.2. Objetivos Específicos.................................................................11

2. Fundamentação Teórica.......................................................................................12

2.1. Via Permanente.....................................................................................12

2.1.1. Dormentes..................................................................................13

2.1.2. Tipos de Dormentes: Vantagens e Desvantagens.....................14

2.1.3. Dormentes de Madeira...............................................................17

2.1.4. Sistemas de fixação para dormentes de madeira......................18

2.1.4.1. Componentes de Sistemas de Fixação Rígida..........20

2.1.4.2. Componentes de Sistemas de Fixação Elástica........22

2.1.5. Considerações sobre fixação rígida e fixação elástica...............27

2.1.6. Outros acessórios importantes no comportamento do conjunto

de fixações.................................................................................27

2.1.6.1. Placas de apoio.........................................................27

2.1.6.2. Arruelas de pressão e Retensores............................30

3. Metodologia para fundamentação e estudo de caso............................................33

4. Resultados e Discussão.......................................................................................33

4.1. Estudo de caso......................................................................................33

4.1.1. Análises quanto à inscrição da locomotiva DDM nas curvas.....36

4.1.2. Análises quanto aos esforços transversais para o trecho

Goiandira-Catalão......................................................................37

4.1.3. Resultado das Simulações.........................................................39

5. Conclusão.............................................................................................................44

Referências..........................................................................................................46

Page 11: Monografia Ferrovias

10

1. INTRODUÇÃO

De acordo com os dados do ano de 2007 do Centro de Excelência em

Engenharia de Transportes (CENTRAN), a representatividade do modal ferroviário

de transporte no Brasil é de 25 %, inferior ao do transporte rodoviário. Desde a

primeira ferrovia implantada no Brasil em 1854, os objetivos atendidos com a

expansão ferroviária foram permitir a grande entrada de investimentos estrangeiros

no Brasil e contribuir para o crescimento da economia exportadora.

Rodrigues (2001) afirma que esta modalidade de transporte foi

importantíssima para o escoamento de produtos agrícolas, principalmente o café,

entre 1870 e 1930. Entretanto, com o investimento maior nas rodovias, as ferrovias

foram deixadas de lado pelo governo, o que foi lamentável.

Assim, segundo Fleury (2007), a partir de 1997 iniciou-se o processo de

privatização das ferrovias brasileiras. Desde então é observada uma evolução

positiva no que diz respeito ao volume total transportado e aos investimentos no

setor ferroviário, entretanto, o sistema ferroviário brasileiro continua com um

desempenho a desejar.

A principal vantagem das ferrovias é a alta capacidade de transporte de

carga, o baixo consumo energético e os fretes decrescentes. Entre as desvantagens

está o tempo longo de viagem, a baixa flexibilidade de rotas, além da alta exposição

a roubos.

Neste sentido, a construção, uso e manutenção da via é comum para este

tipo de transporte. Contudo, a deterioração dos dormentes é algo inevitável, de

modo que muitos questionamentos surgem a partir deste fato, tais como: o que fazer

para diminuir o desgaste dos dormentes? Qual modalidade de fixação contribui para

a melhor estabilidade e durabilidade da estrutura dormente-trilhos? Quais são as

vantagens da utilização dos dormentes de madeira para a fixação dos trilhos?

1.1. JUSTIFICATIVA

Este trabalho se justifica pela importância que se tem o transporte ferroviário

no Brasil, seja de carga ou de pessoas. Também pela posição e necessidade de

diminuir gastos com os custos operacionais deste transporte, sejam de instalação ou

manutenção. Além disso, o presente trabalho mostra-se relevante também por

Page 12: Monografia Ferrovias

11

contribuir com mais informações para o campo de estudos da ferrovia que, como foi

percebido na revisão bibliográfica ainda é escasso.

1.2. OBJETIVOS

1.2.1. Objetivo Geral

Realizar um estudo de caso sobre a relação entre o tipo de fixação utilizada

na via férrea e o tipo de locomotivas utilizadas.

1.2.2. Objetivos Específicos

a) Apresentar particularidade sobre a fixação e trilhos em dormentes de

madeira;

b) Mostrar a importância da avaliação técnica da fixação de trilhos em

dormentes de madeiras;

c) Conhecer os tipos de fixações mais utilizados;

d) Analisar os diversos modelos de fixação;

e) Analisar os requisitos de desempenho das fixações em dormentes de

madeira.

Page 13: Monografia Ferrovias

12

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Via Permanente

De acordo com Brina (1988), a Superestrutura das estradas de ferro é

constituída pela via permanente, que está sujeita à ação de desgastes das rodas

dos veículos e do meio e que é construída de modo a ser renovada quando o seu

desgaste atingir o limite de tolerância exigido pela segurança ou comodidade da

circulação, podendo até mesmo vir a ser substituída em seus principais constituintes,

quando assim o exigir a intensidade de tráfego ou o aumento de peso do material

rodante.

Segundo Schramm (1977) a implantação da bitola (distância entre faces

internas de dois trilhos da linha férrea) é a essência da via permanente.

Considerando a ferrovia convencional, há duas rodas de aço dotadas de friso e

aplicadas solidamente nas extremidades de um eixo, que rolam sobre dois trilhos,

sendo que neste caso tanto as rodas quanto os trilhos devem manter entre si uma

determinada distância. As rodas exercem grandes esforços nos trilhos e estes, por

sua vez, exercem grande força no solo, e para a perfeita e adequada transmissão

dos esforços é necessário recorrer a componentes construtivos especiais: os

dormentes, os trilhos e o lastro (Figura 1).

Figura 1 - Elementos de via permanente. Fonte: PORTO (2006)

Page 14: Monografia Ferrovias

13

Schramm (1977) afirma que os trilhos e os dormentes não estão rigidamente

ligados ao solo e sim flutuando sobre o lastro, de modo que os aspectos dinâmicos e

estáticos apresentados por esse conjunto (trilho/dormente) são diferentes destes

mesmos aspectos quando observados na construção civil convencional

caracterizada por sólidas ancoragens ao solo.

Ainda para Schramm (1977), tudo o que está sob a superestrutura ou via

permanente denomina-se Infraestrutura ou leito ferroviário, formado pelo corte, pelo

aterro, pelas obras de artes especiais (pontes, túneis) e obras de artes correntes

(bueiros, drenos).

Assim, as características da via permanente são próprias e requerem estudos

de construção e manutenção, com normas e padrões técnicos próprios, que

contribuem para a segurança da própria via.

2.1.1. Dormentes

Brina (1988) define dormente como um elemento da superestrutura ferroviária

que tendo dimensões apropriadas, fixa e mantem a distância entre os trilhos,

transmitindo ao lastro as cargas recebidas dos veículos ferroviários. Para cumprir

essa finalidade é necessário que:

a) Suas dimensões, comprimento e largura, forneçam uma superfície de

apoio suficiente para que a taxa de trabalho no lastro não ultrapasse certo

limite;

b) Sua espessura permita uma rigidez capaz de gerar alguma elasticidade;

c) Tenha durabilidade e resistência suficientes aos esforços e que se oponha

aos deslocamentos longitudinais e transversais da via;

d) Permita uma boa fixação do trilho, sem ser excessivamente rígida.

De acordo com Schramm (1977) a seção transversal dos dormentes é

determinada mais em função de fatores construtivos e de economia de material do

que tendo em vista detalhes estáticos. Já no que diz respeito ao comprimento dos

dormentes, por vários anos os cálculos eram feitos pensando esse elemento imerso

ao lastro e com comportamento estático, onde teria apoio uniforme em toda sua face

Page 15: Monografia Ferrovias

14

inferior. Porém, esse pensamento não corresponde à realidade e nem sequer é

desejável tal comportamento do dormente.

Se um dormente ficar imerso no lastro e for socado sob toda sua superfície de

apoio, com a passagem dos trens tende a sofrer um movimento semelhante ao de

uma gangorra, ou seja, a parte média do comprimento está mais firme do que suas

extremidades levando a superestrutura a uma situação de instabilidade da via. Por

estas razões, adota-se um comprimento e modo de socaria em uma extensão média

do dormente onde fica apenas fracamente apoiada, ou mesmo livre, permitindo

durante a passagem dos trens atuação de cargas verticais que não geram na parte

média do dormente, reações de apoio e, consequentemente, fica livre de tensões de

flexão.

2.1.2. Tipos de Dormentes: Vantagens e Desvantagens

Quanto ao material de que são feitos, os dormentes usados atualmente

podem ser classificados em quatro tipos (Figura 2):

a) Dormentes de madeira;

b) Dormentes de concreto;

c) Dormentes de aço;

d) Dormentes de plástico – que ainda não são muito utilizados, mas que vem

sendo estudados em algumas ferrovias, como é o caso da MRS Logística.

No caso, o plástico é um material que oferece resistência e durabilidade,

além de ser uma fonte renovável de material. Contudo, não é um material

que resiste a altas temperaturas, que no caso da linha férrea, podem

chegar a 50°C, além do risco de fogo na vegetação que margeia a via.

Deste modo ainda são necessários estudos que permitam aumentar a

resistência e proteção deste tipo de dormente diante destas intempéries.

Page 16: Monografia Ferrovias

15

Figura 2 – Tipos de Dormentes. Da esquerda para a direita: madeira, concreto, aço e plástico. Fonte: Manual Técnico de via permanente da Vale (2009)

De acordo com Schramm (1997), os dormentes de madeira, concreto e aço

atendem aos aspectos técnicos e finalidades previstas, mas apresentam

semelhanças e diferenças importantes entre si, conforme pode ser observado no

quadro da página seguinte (Quadro 1).

Diante das informações apresentadas, é importante salientar que os

dormentes de madeira levam ligeira vantagem em relação aos dormentes de

concreto e aço no que se refere principalmente ao custo, de modo que ainda é o

mais utilizado nas vias férreas atualmente. Em função disso, a seguir são

apresentadas algumas particularidades referentes a este tipo de dormente.

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16

Quadro 1 - Vantagens e desvantagens dos principais tipos de dormentes

Tipos de Dormentes

Vantagens Desvantagens

MADEIRA

Boa resistência e elasticidade;

Facilidade de manuseio e de substituição na linha;

Bom isolamento em linhas sinalizadas;

Menores danos em caso de descarrilamento;

Facilidade de substituição da fixação sendo simples e eficiente.

Vida útil relativamente curta;

Apodrecimento progressivo;

Vulneráveis ao ataque de insetos e fungos e ao fogo;

Gradativa redução da capacidade de manter a bitola e o estado geral das fixações;

Sujeito à escassez

CONCRETO

Longa vida útil (40 a 50 anos);

Peso elevado: o que favorece a maior estabilidade à via e segurança máxima em relação à flambagem da linha;

Boa e permanente manutenção da bitola;

Ótima capacidade isolante em linhas sinalizadas;

Resistência aos agentes atmosféricos;

Características físicas e mecânicas uniformes;

Redução de custos de conservação da linha.

Processo de fabricação apurado;

Preço elevado;

Dificuldade de transporte e manuseio, devido ao peso; Fixação pouco eficaz; Necessidade de linha com alto padrão de lastro e nivelamento.

AÇO

Material perfeitamente homogêneo e de fácil moldagem por laminação;

Boa resistência aos esforços longitudinais e transversais da linha, pois estão assentados no lastro;

Durável manutenção da bitola;

Facilidade de manuseio e assentamento;

Longa vida útil;

Fácil venda como sucata dos dormentes imprestáveis

Desgaste dos elementos de fixação, devido à vibração;

Preço elevado quando comparados aos dormentes de madeira ou concreto;

Dificuldade de isolamento, por ser bom condutor de eletricidade;

Socaria inicial difícil, devido à sua forma;

Vulneráveis aos ambientes quimicamente agressivos

Fonte: Ferrovia Centro Atlântica - VALE. Manuais técnicos de via permanente (2009)

Page 18: Monografia Ferrovias

17

2.1.3. Dormentes de madeira

Segundo Brina (1988) a madeira apresenta todas as qualidades exigidas para

o dormente e continua a ser, até o presente, o principal tipo de dormente utilizado

pelas ferrovias, inclusive no Brasil.

Para Schramm (1977) a escolha dos tipos de madeira para a confecção de

dormentes não é feita exclusivamente em função das propriedades e das

características técnicas dos materiais. Outros fatores são de fundamental

importância tais como: disponibilidade de reservas florestais adequadas nas regiões

em que estão instaladas as ferrovias; condições econômicas, que permitam a

eventual importação de madeira bruta ou mesmo dormentes já beneficiados.

Segundo Porto (2006), os dormentes de madeira de lei, no Brasil, duram de

15 a 20 anos, dependendo do tratamento. Os dormentes fabricados a partir de

madeiras comuns duram de 5 a 6 anos, e os dormentes não tratados possuem uma

vida útil de 2 a 10 anos. No restante do mundo, os dormentes tratados com

pentaclorofenol duram de 25 a 30 anos, os tratados com sais, de 15 a 20 anos e o

não tratado, de 3 a 15 anos.

De acordo Brina (1988) além da qualidade da madeira, outros fatores tem

influência na durabilidade, como: o clima; a drenagem da via; o peso e a velocidade

dos trens; a época do ano em que a madeira foi cortada; o grau de secagem; o tipo

de fixação do trilho usado; o tipo de lastro e a que condição está submetido; o tipo

de placa de apoio do trilho no dormente, dentre outros fatores.

Além disso, o ponto mais vulnerável do dormente é o local onde se dá a

fixação do trilho. Apesar de poder ser substituída a pregação, fazendo-se outro furo

ao lado do primeiro furo, geralmente o dormente é considerado inutilizado, devendo

ser substituído por não mais resistir à nova pregação (DUVAL, 2001).

Por fim, é relevante mencionar que as propriedades mecânicas de

compressão paralela e perpendicular às fibras, bem como a dureza são muito

importantes, principalmente a de topo, uma vez que o trilho transmite à

superestrutura os esforços horizontais – principalmente nas curvas – na medida em

que empurra a fixação (prego, tirefonds, etc.) contra as paredes laterais do furo.

Page 19: Monografia Ferrovias

18

2.1.4. Sistemas de Fixação para dormentes de madeira

Segundo Brina (1988) as fixações são os elementos/acessórios ferroviários

necessários à fixação do trilho ao dormente e podem ser de dois tipos fundamentais:

fixação rígida (Figura 3) e fixação flexível (Figura 4). Conforme Vilhena (1976) esta

última fixação também é chamada de elástica, denominação que será empregada

neste trabalho.

Os componentes utilizados nos sistemas de fixação rígida podem ser:

a. As placas de apoio;

b. Os pregos;

c. Os tirefonds.

Já os componentes usados nos sistemas de fixação elástica compreendem:

a. As placas de apoio;

b. Os tirefonds;

c. As arruelas duplas de pressão;

d. Os grampos;

e. As garras tipo K ou GEO;

f. E os parafusos (utilizados nos sistemas de fixação tipo K, GEO).

A seguir são explicados em maiores detalhes alguns desses componentes.

Page 20: Monografia Ferrovias

19

Figura 3 - Via com dormente de madeira e fixação rígida. Fonte: acervo pessoal do autor.

Figura 4 - Via com dormente de madeira e fixação elástica do tipo Pandrol. Fonte: acervo pessoal do autor.

Page 21: Monografia Ferrovias

20

2.1.4.1. Componentes de Sistemas de Fixação Rígida

O prego ou grampo de linha é o tipo mais comum de fixação de trilho. É

geralmente de seção retangular, terminando em cunha e cravado a golpes de

marreta, em furo previamente preparado, cujo diâmetro dever ser ligeiramente

menor que o diâmetro do circulo circunscrito à seção do prego, a fim de dar a

necessária pressão no dormente. A cabeça do prego de linha apresenta uma

saliência que se apoia no patim do trilho – parte inferior do trilho que fica apoiada

sobre os dormentes e permite a fixação do trilho ao dormente, também denominada

de sapata – e tem na parte inferior a mesma inclinação do patim. No sentido

perpendicular à saliência, o prego dispõe de duas “orelhas” para permitir seu

arrancamento, por meio de alavanca “pé-de-cabra”. Conforme o tipo de cabeça tem-

se duas espécies de prego: cabeça de cachorro e cabeça asa de barata (Figura 5).

Figura 5 - Prego de Linha para dormente de madeira Fonte: Manual Técnico de via permanente da Vale (2009)

O prego é considerado o menos eficiente dos tipos de fixação, pois

funcionando como “cunha” na madeira, cria a tendência de rachar o dormente, e

ainda oferece pouca resistência ao arrancamento (aproximadamente 2200 kg) e em

determinada madeiras com fibras lisas, costuma subir, deixando folga entre a fixação

e o patim do trilho (BRINA, 1988).

O Tirefond (Figura 6) é um parafuso prisioneiro, que é cravado no dormente,

para fixar os trilhos, mediante pressão exercida pela aba existente na cabeça da

Page 22: Monografia Ferrovias

21

peça. Normalmente a cabeça é de seção quadrada ou retangular e o comprimento

do fuste varia (SCHRAMM, 1977).

Brina (1988) define tirefond como um parafuso de “rosca soberba” – roscas

comuns que começam finas e vão engrossando devido ao aumento da distância

entre filetes, e no qual o próprio parafuso abre a rosca caracterizando-os como auto-

atarraxantes. Além disso, a cabeça do tirefond pode-se adaptar a uma chave

especial ou ao cabeçote de máquina “tirefonadeira”, que é um instrumento de

pequeno porte que aparafusa o tirefond na madeira. A cabeça do tirefond tem uma

base alargada, em forma de aba de chapéu, que na face inferior tem a mesma

inclinação do patim do trilho, de modo a adaptar-se ao mesmo.

Figura 6 - Tirefond. Fonte: Manual Técnico de via permanente da Vale (2009)

O tirefond é um tipo de fixação superior ao prego, pois sendo aparafusado,

fica mais solidário com a madeira do dormente, sacrificando menos as fibras desta e

oferecendo uma resistência ao arrancamento bem superior (aproximadamente 7000

kg). O furo do dormente fica hermeticamente fechado pelo tirefond, impedindo

entrada de água, o que nem sempre acontece com o prego (BRINA, 1988).

Considerando ainda o sistema de fixação rígida, é importante mencionar que,

costumeiramente, neste tipo de fixação é feita a pregação cruzada, que consiste em

colocar os pregos ou tirefonds deslocados do centro do dormente, em posições

desencontradas a fim de permitir nova pregação, em posição simétrica, quando a

primeira afrouxar (BRINA, 1988).

Page 23: Monografia Ferrovias

22

Além disso, quanto à resistência ao arrancamento de pregos e tirefonds, é

sabido que as composições ferroviárias em movimento exercem consideráveis

pressões laterais e verticais sobre os trilhos, em função de seu peso e do efeito da

força centrífuga, que aumenta consideravelmente nas curvas. Considera-se, pois,

uma característica extremamente importante para um dormente a de segurar bem os

pregos e tirefonds para evitar que o afrouxamento dos mesmos enfraqueça o

sistema de fixação (Brina, 1988).

Segundo Schramm (1977) todo parafuso prisioneiro, quando devidamente

retensionado, exerce sobre a madeira de dormente certa força de cisalhamento.

Com a progressiva deterioração por apodrecimento, a resistência das fibras da

madeira dos dormentes diminui. Assim quando se aplicar reaperto excessivo, a força

de fixação do tirefond ao dormente torna-se insuficiente para adequada fixação do

trilho ao dormente.

Objetivando contornar essa situação, foram propostas sugestões e efetuadas

experiências que preconizavam a substituição dos tirefonds por parafusos com

porcas, que atravessavam totalmente o dormente. Contudo, tal solução não se

mostrou eficaz, em função de dificuldades de aplicação e de manutenção. A fixação

simples e de reduzido custo, que emprega unicamente o tirefond, antigamente era

padrão na França, inclusive em trechos de tráfego pesado. Na Alemanha essa

fixação também foi empregada, se bem que em pequena escala e somente em

trechos de tráfego mais leve.

2.1.4.2. Componentes de Sistemas de Fixação Elástica

Considerando agora a modalidade de fixação elástica, Brina (1988) apresenta

diversos tipos de fixações elásticas cuja eficiência é superior às fixações rígidas já

apresentadas. Os principais componentes são descritos a seguir.

O prego de linha elástico simples (Figura 7) foi provavelmente uma das

primeiras fixações elásticas idealizadas e que visava proporcionar uma melhor

conservação dos dormentes. Esse prego apresentou bons resultados, quando

aplicado em linhas de tráfego leve ou médio. Sua seção transversal é

aproximadamente quadrática, sendo formado por uma fita de aço dupla de 8 x 16

mm, com o que se alcança um favorável e amplo curso de mola de 10 mm. Sua forte

Page 24: Monografia Ferrovias

23

e resistente fixação no dormente não resulta somente da sua aderência por atrito na

madeira, como também e principalmente pela circunstância de receber, em sua

extremidade e excentricidade, a força exercida pelo patim do trilho (SCHRAMM,

1979).

Segundo Brina (1988) a parte superior deste prego quando tensionada

oferece pressão de aproximadamente 400 kg sobre o patim, pressão suficiente para

impedir os deslocamentos longitudinais do trilho, funcionando como retensor. Em

cada ponto de fixação aplicam-se 2, 3 ou 4 pregos, ou sejam, 4, 6 ou 8 por

dormente.

Figura 7 - Prego de linha elástico simples para dormente de madeira Fonte: BRINA (1988)

Outro tipo de fixação flexível é o prego de linha elástico duplo. Conforme

explica Schramm (1979), este prego diferencia-se basicamente dos tipos de pregos

anteriores por ter duas extremidades cravadas no dormente. Na Rede Ferroviária

Federal da Alemanha, em específico na ferrovia Deutsche Bundesbahn, o tipo duplo

foi empregado em trechos de tráfego médio e em linhas em túneis, no intuito de

reduzir ao máximo os acessórios de trilhos, em face de forte corrosão que

normalmente se verifica em túneis. Sendo que em muitos casos é comum recorrer à

galvanização dos pregos, ou então, recobri-los com pinturas protetoras.

Prosseguindo, temos ainda a fixação tipo K ou GEO (Figura 8). De acordo

com Schramm (1977), após a 1ª Guerra Mundial, as diversas ferrovias estatais da

Alemanha, que adotavam variados tipos de fixação de trilhos reuniram-se para

decidir sobre a adoção de um tipo único de fixação, que passaria a ser o padrão

Page 25: Monografia Ferrovias

24

para toda Ferrovia, tendo como condições preliminares que o padrão deveria ser

robusto, e a fixação do tipo indireto, e que as peças de fixação do trilho se situassem

todas sobre a placa de apoio. O tipo projetado por Doehlert, em Dresden,

correspondia às condições que haviam sido previamente estabelecidas e foi adotado

como padrão em 1926, sob a denominação de “Fixação K”, mais conhecida no

exterior como “Fixação GEO”.

De acordo com Brina (1988), este é um dos melhores tipos de fixação.

Consiste em uma placa de aço fixada ao dormente por meio de tirefonds e composta

de nervuras, nas quais se encaixam as cabeças dos parafusos, que apertam uma

castanha contra o patim do trilho. Entre a castanha e a porca dos parafusos são

colocadas uma ou mais arruelas, o que torna a fixação elástica e com aumento na

resistência por atrito, que se opõe ao deslocamento longitudinal do trilho em relação

ao dormente, dispensando assim a necessidade da aplicação de retensores na

linha.

Figura 8 - Fixação tipo K ou GEO para dormente de madeira Fonte: BRINA (1988)

Outro tipo de fixação elástica é o Grampo elástico duplo. Usado

principalmente na Alemanha e em linhas de tráfego médio, possui duas hastes

cravadas no dormente ou encaixadas na placa de apoio (Figura 9).

Page 26: Monografia Ferrovias

25

Figura 9 - Grampo elástico duplo para dormente de madeira Fonte: BRINA (1988)

Temos ainda a Fixação Pandrol (Figura 10), que segundo Brina (1988) é uma

fixação moderna, fabricada na Inglaterra e que consiste em um grampo fabricado

com aço de mola, temperado e revenido. Esse grampo se encaixa nos furos da

placa de apoio, de tipo especial. A importância de ser revenido está no tratamento

térmico feito para corrigir os inconvenientes decorrentes da têmpera, a qual pode

tornar o aço excessivamente rígido e frágil. O revenido aumenta a ductibilidade e

elasticidade do aço, tornando-o um aço-mola. Contudo, esse tipo de fixação está

sujeito a vandalismo devido à facilidade com que pode ser retirada por terceiros,

embora existam dispositivos instalados em conjunto que dificultam essa ação.

Figura 10 – Grampo Elástico Pandrol Fonte: Manual Técnico de via permanente da Vale (2009)

A Fixação Deenik é fabricada em aço-mola e possui bom desempenho na

função de retensionamento dos trilhos. O seu encaixe sobre o patim do trilho é

Page 27: Monografia Ferrovias

26

perpendicular. A seção do grampo possui três modelos: circular, variável e quadrada

(Figuras 11).

Figura11 - Grampo Deenik para dormente de madeira Fonte: Manual Técnico de via permanente da Vale (2009)

Finalmente, temos o Grampo elástico SKL, que possui hastes de seção

redonda e é aplicado através do aperto do tirefond, ou outro parafuso, diretamente

sobre ele, resultando em sua compressão sobre o patim do trilho (Figura 12).

Figura 12 - Grampo elástico SKL para dormente de madeira Fonte: Manual Técnico de via permanente da Vale (2009)

Page 28: Monografia Ferrovias

27

2.1.5. Considerações sobre fixação rígida e fixação elástica

Segundo Vilhena (1976) na fixação rígida, o trilho é preso ao dormente por

tirefond ou prego, intercalando-se comumente, entre o trilho e dormente, a placa de

apoio, para permitir melhor distribuição de esforços. O dormente acompanha o trilho

no seu movimento vertical. No sentido horizontal o trilho tende a caminhar sobre o

dormente, exigindo o emprego de outro elemento, o retensor, que visa impedir esse

caminhamento. A fixação rígida, sob a ação repetitiva da carga por roda, sofre um

rápido afrouxamento, e sob a ação de uma carga dinâmica de uma roda sobre o

dormente surge uma solicitação vertical na superfície de contato do dormente,

provocando um choque que tenta arrancar os pregos e tirefonds, resultando em

consequências desastrosas para a linha.

Ainda segundo Vilhena (1976), na fixação elástica, a premissa básica é a

intercalação, entre trilho e dormente, de um elemento elástico que tenha um curso

suficiente e a necessária força tensora. Distingue-se ainda a fixação elástica direta e

indireta, sendo que a primeira une-se diretamente ao dormente, enquanto a segunda

admite uma placa de apoio com sua fixação ao dormente e a fixação separada ou

independente do trilho à placa.

2.1.6. Outros acessórios importantes no comportamento do conjunto de

fixações

2.1.6.1. Placas de Apoio

Segundo Brina (1988), a placa de apoio (figura 13) consiste em uma chapa de

aço introduzida entre o patim do trilho e o dormente que proporciona o aumento da

área de apoio e consequentemente uma melhor distribuição de carga sobre o

dormente. Além disso, apresenta os furos necessários à passagem dos elementos

de fixação do trilho ao dormente.

Segundo Stopatto (1987), a utilização de placas de apoio na fixação dos

trilhos apresenta as seguintes vantagens:

Page 29: Monografia Ferrovias

28

a) Elas distribuem a pressão do trilho uniformemente sobre a superfície de

apoio dos dormentes;

b) Impedem que o patim do trilho, em decorrência de forças laterais, exerça

pressões horizontais sobre os pregos e tirefonds. As forças laterais são a

eles transmitidas através das placas de apoio, sendo que parte destas

forças é absorvida pelo atrito entre placa de apoio e dormente; e no caso

de ausência da placa, só a pregação externa não suportaria o esforço

transversal;

c) Reduzem os custos de manutenção e aumentam a vida útil dos

dormentes.

Figura 13 - Placa de apoio elástica Deenik, furação ¾”. Fonte: Manual Técnico de via permanente da Vale (2009)

Há ocasiões em que a superfície de apoio das placas de apoio no dormente é

dotada de afiadas nervuras, com alguns milímetros de altura, que penetram na

madeira dos dormentes, com o intuito de criar uma melhor resistência ao

deslocamento lateral das placas de apoio. Entretanto, devido à baixa eficiência

observada tal prática foi abandonada (BRINA, 1988).

Brina (1988) explica que a placa de apoio tem geralmente a inclinação de

1:20 (tg = 0,05) para o lado de dentro dos trilhos, sendo dispensada, neste caso, a

entalhação do dormente. Esta inclinação faz-se necessária para que o trilho fique

inclinado do mesmo modo que o aro das rodas, que tem conicidade de 1:20,

evitando assim combater o reviramento dos trilhos externos, nas curvas.

Page 30: Monografia Ferrovias

29

A fixação dos trilhos nas placas de apoio, em vez de sua fixação diretamente

sobre os dormentes, apresenta as seguintes vantagens:

a) As placas de apoio são aplicadas aos dormentes com máquinas

adequadas, ainda em estaleiros fixos, o que garante uma boa

uniformidade e perfeição na aplicação, eliminando os naturais

inconvenientes e imperfeições, inevitáveis quando a operação é realizada

nos próprios canteiros de serviço, ainda não descartando essa opção;

b) Quando do assentamento da superestrutura, basta aplicar e fixar os trilhos

às placas de apoio;

c) A fixação dos trilhos pode ser afrouxada ou retirada totalmente, sem a

necessidade de tocar nos tirefonds, e este detalhe é importante para todos

os trabalhos de conservação da linha, evitando inclusive a degradação do

dormente entre uma retirada ou outra da fixação quando a mesma é

direta.

Normalmente a placa de apoio é fixada ao dormente por 2 a 4 tirefonds,

recomendando-se aplicar ainda arruelas de pressão, que evitam a progressiva

redução do retensionamento pela gradativa penetração da placa de apoio no

dormente. Um exemplo do tipo indicado é o da fixação Deenik (Holanda), já citado,

que é composto essencialmente de um grampo elástico aplicado nas ombreiras das

placas de apoio.

Muitos profissionais do ramo ferroviário perguntam por que nos Estados

Unidos os vários trechos de ferrovia possuem fixações a prego e com placa de apoio

– tipos de fixação mais simples – e ainda assim conseguem uma boa qualidade da

via, enquanto em países como o Brasil são adotadas fixações mais “robustas”, como

a elástica Deenik ou Pandrol. Porque não conviver com um tipo de fixação mais

simples e mais barata?

Schramm (1979) lembra que este tipo de fixação é padrão nos Estados

Unidos, onde é empregado inclusive em linhas de tráfego pesado. Normalmente as

placas de apoio são dotadas de oito furos quadrados. De acordo, com a

necessidade de cada caso, aplicam-se, por ponto de fixação, 2 a 8 pregos. Já na

Europa, esse tipo de fixação é considerado deficiente e superado. O fato de ser

admitido como satisfatório nos Estados Unidos, poderia ser explicado pelo fato de

que nos Estados Unidos empregam-se exclusivamente dormentes de madeira duras;

Page 31: Monografia Ferrovias

30

além disso, o espaçamento dos dormentes é pequeno e dificilmente superior a 50

cm; e os trilhos empregados, normalmente são de perfis pesados, com 65 a 77 kg/m.

Estes detalhes compensam, em parte, as deficiências da fixação. Além disso,

atribui-se aos dormentes uma vida útil média de apenas 25 a 30 anos. Dormentes

defeituosos ou deficientes são isolados e correntemente substituídos por novos.

Nestas condições, poderia admitir-se que a dormentação sempre está em bom

estado. Face aos elevados salários, a economia é dirigida no sentido de redução de

mão-de-obra, e também em muitos casos, o baixo nível técnico dos trabalhadores de

linha, leva a uma preferência aos tipos de superestrutura o mais simples possível.

O maior consumo de materiais é considerado como fator secundário. Além

disso, prefere-se que os trilhos não sejam rigidamente comprimidos contra os

dormentes, para que, assim, seja garantida certa folga vertical entre a fixação e o

patim do trilho, permitindo com isso, que as ondas de flexão provocadas nos trilhos

pela passagem dos trens, os dormentes não sejam compelidos a se movimentarem

verticalmente no lastro.

2.1.6.2. Arruelas de Pressão e Retensores

Diante da importância de que o conjunto formado pela placa de apoio e pelo

dormente esteja “solidário”, Schramm (1979) explica a importância da utilização das

arruelas de pressão (Figura 14), acessórios de aço, que são empregados sob as

porcas dos parafusos ou cabeça dos tirefonds com o objetivo de proporcionar uma

compressão uniforme, sendo de dois tipos: dupla ou tripla.

Figura 14 – Arruela de Pressão Dupla e sua aplicação no conjunto de fixação. Fonte: acervo pessoal do autor

Page 32: Monografia Ferrovias

31

Finalmente, considerando os retensores (Figura 15), Brina (1988) explica que

a utilização destes acessórios visa impedir o deslocamento dos trilhos no sentido

longitudinal, com a finalidade de transmitir aos dormentes o esforço longitudinal que

tende a deslocar o trilho. Para tanto, o retensor que é preso ao patim do trilho por

pressão, fica encostado à face vertical do dormente, transmitindo a este os esforços

longitudinais e estando o dormente engastado no lastro, o seu movimento fica

impedido.

Figura 15 – Retensores e sua aplicação no conjunto de fixação. Fonte: acervo pessoal do autor

Nas fixações rígidas é indispensável contar-se com a ação dos retensores. Já

as fixações elásticas praticamente impedem o deslocamento longitudinal dos trilhos

na passagem dos trens e nesse caso o retensor apenas complementa o

retensionamento da pregação, sendo até em muitas vezes abolido o seu uso

(BRINA, 1988). Contudo, Schramm (1977), recomenda a utilização de retensores em

fixações elásticas naqueles trechos com declividades superiores a 5%, em trechos

com fortes frenagens e em extremidade de linhas com trilhos contínuos soldados.

Concluindo, a guisa de curiosidade é apresentado o Quadro 2, que reúne

informações sobre a utilização de dormentes de madeira em algumas ferrovias

brasileiras e suas principais composições de fixações conhecidas, que foram

apresentadas até na fundamentação teórica.

Page 33: Monografia Ferrovias

32

Quadro 2 - Tipos de fixações em dormentes de madeira – Ferrovias da VALE

Ferrovia Espécie

Dormente

Perfil de

Trilho

Tipo de Fixação

Placa de

Apoio

Fixação Trilho

Fixação Placa de Apoio

EFVM Madeira TR-68 Elástica Sim Deenik Tirefond com

arruela

EFVM Madeira TR-57 Rígida Sim Prego Prego

EFC Madeira TR-68 Elástica Sim Pandrol Tirefond com

arruela

EFC Madeira TR-68 Elástica Sim Deenik Tirefond com

arruela

FCA Madeira TR-37 Rígida Sim / Não

Prego / Tirefond

Prego / Tirefond

FCA Madeira TR-45 Rígida / Elástica

Sim Prego /

Tirefond / Deenik

Prego / Tirefond com e

sem arruela

FCA Madeira TR-57 Rígida / Elástica

Sim

Prego / Tirefond / Deenik / Pandrol

Prego / Tirefond com e

sem arruela

FCA Madeira TR-68 Elástica Sim Deenik Tirefond com

arruela

Fonte: Manual Técnico de Via Permanente da Vale.

Nota: EFVM: Estrada de Ferro Vitória Minas; EFC: Estrada de Ferro Carajás; FCA: Ferrovia Centro Atlântica.

Page 34: Monografia Ferrovias

33

3. METODOLOGIA PARA FUNDAMENTAÇÃO E ESTUDO DE CASO

A realização deste trabalho apoiou-se principalmente na revisão bibliográfica

do tema. A partir de buscas de artigos e livros nas principais bases de dados e

bibliotecas disponíveis foi realizada a coleta e posterior seleção do material que

pudesse oferecer o embasamento teórico necessário para a confecção do estudo de

caso, que será apresentado a seguir na seção de resultados e discussão.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Estudo de Caso

Atualmente são fabricadas locomotivas de maior potência de tração, vagões

mais leves e materiais mais confiáveis para aplicação na via permanente. Todas

estas inovações convergem para um ponto em comum, o ganho de produtividade

nas ferrovias, que pode distribuir-se de diversas formas como: aumento da

capacidade transportada por eixo, aumento no tamanho dos trens, aumento da

velocidade de circulação, aumento da força tratora do trem etc. Com essa

distribuição de novas tecnologias demonstrará em que ponto a produtividade da

ferrovia poderá avançar, assim como, qual melhoria será escolhida para aplicação.

Nesse aspecto, ainda vale ressaltar que assim que uma variável for estruturada, com

certeza outra precisará de alguma intervenção para correção, ampliação ou

modernização, visto o novo sistema produtivo ser diferente e mais exigente.

Avaliando o ganho de produtividade para uma determinada ferrovia, cita-se

como exemplo o aumento do esforço trator das locomotivas e do tamanho do trem,

ou seja, o aumento do número de locomotivas puxando os vagões e o aumento do

número de vagões desse trem, gerando, desse modo, mais cargas transportadas e

melhor eficiência desse trem. Pensando em todo o universo de produtividade da

ferrovia essa ação permite aproveitar o potencial energético das locomotivas, que

outrora tinham menor potência e tracionavam menos vagões.

Quando se pensa num veículo inscrevendo-se numa curva rodoviária (Figura

16), vê-se que o motorista dirige constantemente equilibrando as forças atuantes no

veículo, ou seja, por meio do volante e da aceleração e desaceleração, o motorista

Page 35: Monografia Ferrovias

34

consegue alterar o raio de curvatura do veículo, equilibrando as forças atuantes no

sistema.

Figura 16: Forças atuantes num veículo rodoviário Fonte: o autor

Quando o assunto é ferrovia, o caso é diferente, os raios de curvatura são

definidos para cada elemento curva e todos os trens devem obrigatoriamente fazer

aquela trajetória, transferindo para a linha, forças externas que devem ser

combatidas de modo que o conjunto dormente-trilho-fixação suporte e gere

segurança necessária para a circulação, visto que, a não ocorrência de

descarrilamentos é fator primordial para a segurança e garantia do regime contínuo

e crescente de produção.

Afastar do processo produtivo ferroviário todas as ocorrências de acidente

com trem é um fator de rotina de uma ferrovia, e para isso várias técnicas são

controladas, aplicadas e tratadas. Tais técnicas não serão o foco desse trabalho,

porém as decisões aqui discutidas acrescentam substancialmente, medidas de

controle e parâmetros que requerem cuidados na decisão, uma vez que, um simples

aumento de número de locomotivas e vagões no trem influenciará todo sistema.

As curvas ferroviárias são elementos essenciais nos estudos de aumento de

capacitação dos trens. É válido ressaltar que a literatura técnica atual restringe o

estudo das fixações apenas a parâmetros estruturais (forma, peso, espessura das

peças, bitola, etc.) e consolidação da via permanente. Contudo, não são

encontradas relações entre o tipo de fixação empregada e a velocidade de

circulação permitida, por exemplo.

Page 36: Monografia Ferrovias

35

Mas estudos observados por Castelo Branco (2002) fazem recomendação

acerca da utilização de uma determinada fixação para um determinado tipo de

trecho com uma determinada tonelagem bruta anual trafegada neste trecho. Por

exemplo, quando um veículo ferroviário circula em via reta surgem movimentos de

natureza transversal e de baixo esforço lateral, em especial o chamado movimento

de “Lacet”, o qual conduz o veículo a uma oscilação transversal alternada em que os

frisos das rodas são projetados lateralmente, ora numa das filas, ora na outra. Sendo

suficiente, neste caso, a recomendação do emprego de fixação rígida. Já no caso

das curvas onde o esforço transversal é maior – ou seja, curvas mais fechadas com

raios menores que 180m – verifica-se a recomendação de fixação elástica,

composta na maioria dos casos por grampos de fixação, que têm a tendência de

melhorar a absorção dos choques provocados na passagem dos trens, aumentando

a vida útil dos componentes devido ao baixo choque e vibração.

Castelo Branco (2002) ainda lembra a importância de o lastro ferroviário estar

isento de impurezas e contaminações e que tenha uma altura variando em torno de

30 centímetros, permitindo assim um confinamento dos dormentes e

consequentemente uma maior resistência transversal da linha.

O estudo de caso agora apresentado considerou um trecho pertencente à

Ferrovia Centro-Atlântica, com extensão de 29 quilômetros de via férrea, o qual vem

sendo estudado pela operação ferroviária com o objetivo de adequá-lo para que

possa receber locomotivas de maior porte (tipo DDM, com 4000HP), e composições

com mais de 5000 toneladas brutas. Ressaltando que atualmente, as locomotivas

utilizadas nesse trecho são de 2400HP e as composições não ultrapassam 2800

toneladas.

A Ferrovia Centro-Atlântica pretende alterar o trem-tipo no trecho

compreendido entre as cidades de Goiandira e Catalão, situadas no estado de

Goiás, devido a alterações operacionais de formação de trens e elevação da

produtividade por meio do aumento da quantidade de locomotivas e vagões de um

mesmo trem. O estudo de caso tem como principal objetivo estabelecer as

premissas para operação de locomotivas do tipo DDM (4000 HP/unidade tratora)

neste trecho, apresentando posteriormente quais as medidas a serem tomadas para

a permissão operacional dessa locomotiva. Para isso cabe avaliar as condições de

inscrição dos truques da locomotiva; e os esforços transversais devido ao trem-tipo e

as condições estruturais da via permanente.

Page 37: Monografia Ferrovias

36

4.1.1. Análises quanto à inscrição da locomotiva DDM nas curvas

A locomotiva DDM foi projetada especificamente para as ferrovias da Vale,

apresentando dois truques, cada um com quatro eixos, perfazendo uma base rígida

efetiva de 5,50 metros, bem maiores quando comparadas às locomotivas de menor

potência (aproximadamente 3,57 metros de base). Sendo que tal configuração de

truque restringe sua operação em trechos com curvas de raios reduzidos (menores

que 180m) devido a dificuldades de inscrição.

Contando com um simulador desenvolvido pela engenharia de via

permanente, chamado “Simulador de Inscrição em Curvas” (Figura 17), é possível

verificar o raio de curva mais adequado para os diferentes tipos de locomotiva.

Figura 17: Simulador de Inscrição em curvas para locomotiva DDM Fonte: Simulador de Esforços da Via Permanente

Os dados de entrada de interesse para esse estudo correspondem às

características técnicas da locomotiva DDM. Desse modo, os principais dados

fornecidos para a determinação do raio mínimo em que a locomotiva DDM se

inscreve numa curva ferroviária são:

Page 38: Monografia Ferrovias

37

a. Os valores de base rígida, que é o comprimento de um truque da

locomotiva, que neste caso é a distância entre o primeiro e quarto

eixos;

b. O diâmetro da roda acoplada aos eixos;

c. A bitola de eixamento, que é a distância interna entre as rodas de cada

extremidade do eixo;

d. E a bitola da via, que neste caso é de 1000 milímetros.

Após o processamento do programa, o mesmo apresenta o resultado do raio

mínimo para inscrição livre e o raio mínimo para inscrição forçada, onde o primeiro

referencia o valor seguro para circulação normal da locomotiva, enquanto o segundo

fornece o raio limite de inscrição, onde abaixo dele podem ser provocados inclusive

descarrilamentos da locomotiva.

Assim, observando o resultado na figura 17 para uma configuração da

locomotiva DDM, o valor do raio mínimo para inscrição é de 145 metros, sendo que

curvas abaixo desse valor deverão ter seus traçados retificados. De acordo com o

banco de dados técnicos informados pela Ferrovia Centro-Atlântica, no trecho de via

férrea considerado (Goiandira-Catalão) composto por 53 curvas, somente três

destas necessitarão ser retificadas, já que apresentam raios menores que 145

metros (no caso, 100, 140 e 144 metros).

4.1.2. Análises quanto aos esforços transversais para o trecho Goiandira –

Catalão

O quadro de tração de uma ferrovia é uma tabela obtida a partir do

conhecimento e estudo das variadas combinações de locomotivas, suas potências e

os perfis altimétricos das estradas, definindo assim a formação das composições e

das locomotivas de cada trecho. Na realidade, o quadro de tração demonstra o pior

perfil, ou seja, aquele que limita a quantidade de vagões rebocados para um

determinado número de locomotivas.

Conforme quadro de tração da Ferrovia Centro-Atlântica, o trecho de

Goiandira-Catalão tem uma capacidade de reboque de 1.190 toneladas brutas por

locomotiva do tipo DDM. Considerando que a perspectiva da ferrovia seja a

operação de um trem formado por 51 vagões com 5.100 toneladas brutas, para o

Page 39: Monografia Ferrovias

38

trecho mais critico serão necessárias 4,3 locomotivas para tracionar o trem.

Portanto, este trem-tipo requererá uma tração formada por cinco locomotivas DDM.

Conforme padrões estabelecidos pela operação de trens da Ferrovia Centro-

Atlântica, devido ao elevado valor de potência na “cabeça” do trem, não é possível a

formação de um trem com cinco locomotivas consecutivas. Para tanto é preciso

utilizar um artifício operacional conhecido como tração distribuída. Desse modo,

considerando o estudo de caso em questão, em que se pretende movimentar 51

vagões com locomotivas DDM, faz-se necessário então a formação desse trem em

duas composições. Uma com três locomotivas e 35 vagões carregados; e uma

segunda com duas locomotivas e 16 vagões carregados.

Page 40: Monografia Ferrovias

39

4.1.3. Resultado das Simulações

Os resultados das simulações foram gerados através do “Simulador de

esforços da via permanente” que faz uma correlação entre as características de

material rodante e da via permanente através da seguinte equação:

Equação (1)

Sendo:

Hc = Esforço de Aceleração não-compensada

Ha = Esforço de Velocidade e estado de manutenção

Hv = Resultante de esforços na via

He = Resultante da componente do esforço trator no engate

L = Limite de resistência transversal da via

Como:

Equação (2)

Logo:

Equação (3)

O fator α é o coeficiente de segurança entre a solicitação (somatório de

esforços) e a resistência da via. A partir do valor de α é possível identificar o quão

próximo as solicitações estão da resistência, podendo ser utilizado como um

indicador de criticidade. Valores muito altos de α indicam que as solicitações estão

Page 41: Monografia Ferrovias

40

excessivas e que, portanto, deslocamentos e/ou deformações estão presentes ou

iminentes.

Resumidamente o fluxo para obtenção dos resultados é apresentado na figura

18 a seguir.

Figura 18 - Fluxo dos Cálculos Fonte: Simulador de Esforços da Via Permanente

Para a entrada dos dados, conforme figura 19, é necessário informar o trecho

a ser avaliado que neste caso é Goiandira – Catalão que tem respectivamente as

siglas de EGN e EAE. É informado também o tipo de trilho, neste caso TR-45 (trilho

com 45 kg/metro) e bitola da via, que é de 1 metro.

O tipo de vagão é informado para avaliação dos desempenhos como peso,

comprimento e principalmente, altura do centro de gravidade da caixa do vagão em

relação ao topo dos trilhos, que determina o quão estável está ou não o vagão

circulando numa curva. Quando carregado, o vagão apresenta centro de gravidade

alto, ao passo que quando vazio, o centro de gravidade é mais baixo.

Page 42: Monografia Ferrovias

41

É informada também a quantidade de vagões e sua carga por eixo, além da

velocidade de circulação do trem e um indicador de variação de temperatura mínima

e máxima dos trilhos, que para esta região varia em torno de 20ºC. Além disso,

deve-se selecionar a quantidade e o tipo de locomotivas no trem que será simulado,

no caso 3 DDMs de 4000HP por unidade tratora.

No campo dormente e fixação são selecionados os vários tipos existentes e a

avaliação é feita em conjunto, informando ao simulador as várias opções e arranjos

que podem ser propostos e comparados para a definição técnica final sobre qual o

tipo de fixação é mais adequado.

Na figura 19, estão os dados do trem proposto e a superestrutura atual da via

permanente no trecho Goiandira-Catalão – que conta com fixações rígidas com

tirefond em dormentes de madeira – e abaixo os resultados dos trechos críticos que

requerem atenção quanto aos esforços transversais.

Figura 19 – Esforços transversais entre Goiandira e Catalão com três locomotivas DDM e 35 vagões, fixação rígida.

Fonte: Simulador de Esforços da Via Permanente

É possível observar três curvas com o coeficiente de segurança (α crítico),

acima da resistência da via, o qual limita a circulação da locomotiva DDM dentro dos

parâmetros atuais da via. As demais curvas apresentam também valores de α

próximos ao valor crítico.

Page 43: Monografia Ferrovias

42

Numa segunda simulação (Figura 20), está a mesma configuração de trem,

porém com um tipo diferente de fixação, no caso, uma fixação elástica em dormente

de madeira.

Figura 20 – Esforços transversais entre Goiandira e Catalão com três locomotivas DDM e 35 vagões, fixação elástica.

Fonte: Simulador de Esforços da Via Permanente

No caso, os trechos críticos e que requerem atenção quanto aos esforços

transversais estão apresentados na figura, onde se observa apenas uma curva com

valor de α critico.

A análise quanto aos esforços transversais demonstra que a superestrutura

do trecho Goiandira – Catalão adequa-se melhor ao comportamento da fixação

elástica, que aumenta a resistência longitudinal e transversal da via, permitindo

assim combater os efeitos gerados pelas forças externas transmitidas à linha, além

do fenômeno de caminhamento de trilhos; alteração de bitola e quebras de fixações

como o tirefond, com consequentes efeitos de desalinhamento; alteração no

posicionamento de juntas e desnivelamentos.

Percebe-se nas duas simulações que as características de trem e via

permanecem as mesmas, sendo diferente apenas o tipo de fixação proposto. No

caso da segunda simulação, apenas com a modificação para fixação elástica já é

Page 44: Monografia Ferrovias

43

possível notar que os esforços gerados acima do alfa crítico ocorrerão em apenas

um caso de elemento de curva, ao passo que todos os demais se adaptam aos

parâmetros da via.

Finalmente, tendo em vista que o principal objetivo do estudo de caso foi

apresentar as premissas para operações de locomotivas do tipo DDM no trecho

Goiandira-Catalão, apresentando ainda quais as medidas a serem tomadas para a

permissão operacional desse tipo de locomotiva no referido trecho, podemos dizer

que após a análise das simulações apresentadas as principais medidas a serem

tomadas envolvem a retificação das curvas com raio inferior a 145 metros, bem

como a substituição dos tipos de fixação dos trilhos em todas as curvas da via férrea

em questão. No caso, observou-se que as fixações rígidas deverão ser substituídas

por fixações elásticas do tipo Deenik utilizando quatro tirefonds de 24mm com

arruelas duplas de pressão nas placas de apoio, permitindo assim que as

locomotivas do tipo DDM possam operar e movimentar cargas superiores a 5000

toneladas brutas, elevando os ganhos em produtividade ao mesmo tempo em que

são mantidos os parâmetros de segurança almejados pela operação ferroviária.

Ressalta-se ainda que esse trabalho de substituição das fixações trilho-dormente

não elimina a necessidade da constante manutenção da via permanente,

especialmente a substituição de trilhos e dormentes quando se fizer necessário.

Page 45: Monografia Ferrovias

44

5. CONCLUSÃO

O presente trabalho apresentou inicialmente, a partir de bibliografia técnica,

uma relação que engloba os principais tipos de fixações para dormentes de madeira

presentes no mercado brasileiro e utilizadas nas ferrovias de transporte de carga.

Buscou-se também apresentar, de maneira breve, a relação de propriedades,

características e funções desses materiais, publicados nos livros técnicos e também

em informações provenientes de algumas das operadoras de ferrovias brasileiras.

Foi possível reunir em um único texto dados a respeito da variedade de

componentes de fixação, contribuindo assim para a consulta dos profissionais

envolvidos em projetos e manutenção de ferrovias, para suas futuras tomadas de

decisão e estudo de melhores requisitos técnicos.

As informações referentes aos custos de implantação e manutenção de cada

componente de fixação apresentado não foi considerado na avaliação do estudo em

questão, pois se buscou englobar apenas aspectos técnicos.

Visando a continuidade do trabalho aqui apresentado, podem ser feitas as

seguintes sugestões para estudos futuros:

a) Abordar os custos iniciais e de manutenção relativos a cada componente de

fixação para facilitar a tomada de decisão a respeito de qual modelo

implantar;

b) Elaborar um estudo que compare os dormentes de madeira e de plástico

quanto aos aspectos de desempenho e de atendimento às exigências de

projeto de ferrovias de carga. Grande parte das operadoras de carga

possuem dormentes de plástico instalados em suas vias sob a forma de teste,

onde são monitorados continuamente. A reunião e análise dos dados já

existentes de cada operadora quando comparados com os dos dormentes de

madeira correntemente utilizados, seria de grande utilidade aos profissionais

atuantes em projetos ferroviários, que poderiam avaliar as informações

atualizadas relativas a esse novo material, cujas propriedades ainda são

pouco conhecidas;

c) Elaborar um simulador que compare o tipo de fixação a ser adotado numa via

férrea tendo em vista os parâmetros de velocidade máxima autorizada do

trecho, propiciando assim uma forma mais simples e prática para a definição

da fixação a ser empregada;

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d) E finalmente, realizar estudos sobre os vários tipos de tração de trem, tendo

em vista, o auge da utilização de tração distribuída, hoje utilizada por várias

ferrovias, porém com características ainda muito internas e restritas à

operadora, inclusive com poucos estudos publicados dos ganhos e efeitos

colaterais observados nesse modelo durante o tempo que vem sendo testado

e operado.

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REFERÊNCIAS

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CASTELO BRANCO, José Eduardo Sabóia. Tratado de Estradas de Ferro. Volume

II, Prevenção e Investigação de Descarrilamentos, Rio de Janeiro, RJ, 2002. DUVAL, Ernani. Curso de Via Permanente Ferroviária. 2001. 24 p. Ferrovia Centro Atlântica, 2001. FERROVIA CENTRO ATLÂNTICA. Manuais técnicos de via permanente da Vale,

2009. FLEURY, P. F. Ferrovias Brasileiras: dez anos de privatização. 2007. PORTO, Telmo Giolito. Ferrovias. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. Disponível em: <http://www.poli.usp.br/d/PTR0540/download/ApostilaNova.pdf> Acesso e download em: 13 abr. 2012.

RODRIGUES, Carlos Alceu. Contribuição ao Planejamento da Manutenção Preditiva da Superestrutura Ferroviária. Tese (Doutorado em Engenharia de

Transportes) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2001.

SCHRAMM, G. Técnica e Economia na Via Permanente. Tradução de Rudy A.

Volkmann. Rio de Janeiro, 1977. 297p. STOPATTO, Sérgio. Via Permanente Ferroviária: Conceitos e aplicações. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1987. 251 p.

VILHENA, Antônio Henrique Alves. Transporte Ferroviário Pesado a Velocidades Médias, 2ª Edição. Rio de Janeiro, 1976. 154p.