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7 1. INTRODUÇÃO Após diversos séculos e inúmeras revoluções, o mundo mudou substancialmente. As revoluções dividem o passado e presente e ao tratarmos do passado e o rompimento para o presente devemos destacar a principal delas a revolução industrial, onde trabalhadores conclamavam por condições melhores de trabalho. Aristóteles sustentava acerca do trabalho antes representada pela escravidão que a "Escravidão de uns é necessária para que outros possam ser virtuosos" e verificamos no presente que tais conceitos filosóficos nunca foram tão atuais se observados por um novo prisma, o trabalho deixou de ser um castigo dos deuses, para tornar-se uma pena determinada pelos homens. O mundo velho extinguiu-se e o passado ficou somente como um ponto marco de referencia para o presente, entretanto, o mundo novamente se depara com outra divisão do presente para o futuro, na qual, o homem moderno necessita de todas as condições e aperfeiçoamentos constantes para se tornar ainda útil. Mas ante a abertura de mercado que tende a se expandir pelo mundo e a concorrência cada vez maior, novas condições de trabalho se fazem necessárias. Para a maioria dos juristas o mundo vive uma revolução tecnológica, com forte tendência de mudar o cenário do trabalhador moderno. Poderíamos concluir portanto, que vivemos uma revolução fria, pois não há uma manifestação evidenciada, mas que evidentemente se alastra no silêncio dos nossos plenários.

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Page 1: Monografia EPD - Servidor Público - Greve (Salvo Automaticamente)

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1. INTRODUÇÃO

Após diversos séculos e inúmeras revoluções, o mundo mudou

substancialmente. As revoluções dividem o passado e presente e ao tratarmos do

passado e o rompimento para o presente devemos destacar a principal delas a

revolução industrial, onde trabalhadores conclamavam por condições melhores de

trabalho.

Aristóteles sustentava acerca do trabalho antes representada pela

escravidão que a "Escravidão de uns é necessária para que outros possam ser

virtuosos" e verificamos no presente que tais conceitos filosóficos nunca foram tão

atuais se observados por um novo prisma, o trabalho deixou de ser um castigo dos

deuses, para tornar-se uma pena determinada pelos homens. O mundo velho

extinguiu-se e o passado ficou somente como um ponto marco de referencia para o

presente, entretanto, o mundo novamente se depara com outra divisão do presente

para o futuro, na qual, o homem moderno necessita de todas as condições e

aperfeiçoamentos constantes para se tornar ainda útil. Mas ante a abertura de

mercado que tende a se expandir pelo mundo e a concorrência cada vez maior,

novas condições de trabalho se fazem necessárias.

Para a maioria dos juristas o mundo vive uma revolução tecnológica, com

forte tendência de mudar o cenário do trabalhador moderno. Poderíamos concluir

portanto, que vivemos uma revolução fria, pois não há uma manifestação

evidenciada, mas que evidentemente se alastra no silêncio dos nossos plenários.

O novo mundo é competitivo, é produtivo, é concorrido e, ainda é feroz em

suas criações. Para se atingir a excelência no mundo novo muito trabalho deverá ser

despendido, e como sempre o trabalhador estará envolvido e senão bastasse,

tornar-se-a novamente o centro das atenções. Não são mais feudais, não são mais

escravos, não fazem parte do proletariado, o novo trabalhador deve ser uma mistura

de todos os antigos trabalhadores acrescido com informação e disposição.

As sociedades evoluem e o desemprego acompanha o crescimento e o

desenvolvimento, cada vez que a tecnologia evolui, apenas alguns têm a

oportunidade de acompanhar o desenvolvimento tecnológico, porquanto os menos

favorecidos, que não correrem para informar-se terão seus postos de trabalho

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extintos, e por muitas vezes se submetendo a trabalhos que antes jamais

executariam, como todos os dias acontecem.

Mas a solução para o desemprego, para muitos é tornar-se um servidor

público, onde muitos acreditam que esta chave abrirá todas as portas, solucionará o

desemprego proporcionando segurança tão desejada pelo trabalhador.

Será que o emprego no setor público é mesmo a solução? Será que o

trabalhador moderno conseguirá manter suas condições sociais de trabalho, mas

acima de tudo consubstanciado no princípio da dignidade humana?

Ocorre que diante desta realidade muitos setores públicos tornam-se

inflados de funcionários enquanto que outros possuem poucos profissionais

habilitados a exercer a atividade pública, ocasionando no setor público muita

desigualdade e ineficiência no atendimento do povo, o que gera insatisfação do

servidor público, que na sua maioria trabalha sem reconhecimento profissional, e

aumento de salário, como também sujeitando a trabalhar sem condições mínimas de

segurança e entre outros que norteiam o dia-a-dia do serviço público.

Então encontra-se o questionamento de que se há ou não direitos aos

servidores públicos, estes podem ou não exercerem o direito de greve?

Ademais o que difere o servidor público civil do servidor militar e do

trabalhador da empresa privada.

Destacamos a atuação do Ministério Público ao impetrar o dissídio coletivo,

para atuação nos casos de greve, temos ainda a vertente do legislador e o dever do

Supremo em decidir sobre o tema.

O presente trabalho é de suma importância para destacar que ante as

irregulares paralisações o legislador deverá socorrer a sociedade, protegendo das

greves nos setores mais importantes como saúde, segurança e transporte, e não

somente quando depara-se com um conflito que atinge de certa forma, uma classe

mais privilegiada, como aconteceu com os controladores de vôos.

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2. GREVE

2.1. DENOMINAÇÃO

“Grève em francês quer dizer cascalho, areal. Antes da canalização do rio

Sena, em Paris, as cheias do rio depositavam pedras e gravetos numa praça, a qual

se denominou de Place de Grève”. (MARTINS, 2006, 825).

“A palavra greve parece referir-se a uma praça de Paris na qual os

operários se reuniam quando paralisavam os serviços . Nesse local

acumulavam-se gravetos (de onde surgiu o nome Grève), trazidos pelas

enchentes do rio Sena. Servia de palco para contratação de mão-de-obra

pelos empregadores e de ponto de encontro dos trabalhadores

descontestes com as condições da prestação de serviços.” (NASCIMENTO,

2008,1211).

“Em português, emprega-se a palvra greve. Em italiano, sciopero. Em inglês,

Strike. Em espanhol, huelga. Em Alemão, streik (litígio, conflito)”. (MARTINS, 2006,

825)

2.2 ANTECEDENTES AO DIREITO DE GREVE

Embora o termo greve tenha surgido na França, o fenômeno já existia muito

antes do termo como ensina Amauri Marcaro do Nascimento:

“Já no antigo Egito, no reinado de Ramsés III, no século XIIa.C., a história registrou uma greve de “pernas cruzadas” de trabalhadores que se recusaram a trabalhar porque não receberam o que lhes fora prometido. Roma foi agitada por movimentos de reinvidicações no Baixo-Império. Espartáco, no ano 74 a.C., dirigiu conflitos.” (NASCIMENTO, 2008, 1212)

“Há também registros históricos de que no Império Romano sucederam-se conflitos violentos entre patrícios e escravos de guerra, que na realidade consistiam em lutas de classes oprimidas pela relação de subordinação de cativos de discórdias bélicas. Havia, portanto, uma 168 Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região motivação sócio-cultural acerca das reivindicações das relações de trabalho que ultrapassavam os limites da labuta. É tocante mencionar que, os trabalhadores do mundo antigo eram, em sua maioria, escravos que se submetiam a trabalhos degradantes, com excessivas jornadas de trabalho, condições precárias de salubridade e periculosidade, que nos dias atuais são impensáveis, apesar de toda a exploração que ainda figura nas relações laborais. Todavia não há legalidade para essas explorações, como havia no mundo antigo. Esses

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indícios, destarte, não ensejavam a greve, propriamente dita, posto que eram relações de escravidão.Essas reivindicações só passaram a delinearcontornos eminentemente trabalhistas com o advento do trabalhador livre.O fortalecimento da greve, conseqüentemente, foi concomitante ao surgimento do trabalho assalariado, após a Revolução Industrial, sendo os ingleses, então, os precursores de tal forma de protesto. As idéias da Revolução Francesa muito contribuíram para o surgimento dessas reivindicações. Mas foi com a doutrina Marxista e posteriormente a Revolução Socialista Russa que as manifestações de trabalhadores organizados ganhou impulso. As constantes condições degradantes de trabalho e conseqüentemente de vida a que a classe operária era submetida, ensejou a indignação popular frente às disparidades sociais cada dia mais insuperáveis. Na contra-mão dessas manifestações surge a Encíclica Papal Rerum Novarum que pregava a total aversão às idéias Marxistas. Editada no papado do Papa Leão XIII, essa encíclica protegia o direito à propriedade, mas admitia a organização sindical como defesa à afronta patronal. Todavia, negava veementemente a possibilidade de reivindicação por meio do movimento grevista, que para a Igreja era um meio nocivo à estrutura social vigente. Com o fim da Primeira Grande Guerra Mundial, o Tratado de Versailles estabeleceu que o trabalho não se constituía em mercadoria, e a busca pela valorização da pessoa humana deveria incidir nas relações trabalhistas. Além disso, criou a OIT, Organização Internacional do Trabalho, que configura até os dias atuais como importante organismo internacional nas relações laborais. (ATAÍDE & QUIRINO, 2004.)

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3. A GREVE NO DIREITO INTERNACIONAL

Sérgio Pinto Martins dispõe sobre a greve no direito estrangeiro e

internacional no que tange:

“Na argentina, o artigo 14-bis da Constituição garante apenas o direito de greve aos sindicatos. O Decreto nº 2.184/90 determina nas atividades essenciais em que há limitação de greve. Há necessidade de comunicação da realização de greve com antecedência de cinco dias à autoridade do Ministério do Trabalho, devendo haver convenção entre as partes sobre a prestação de serviços mínimos à comunidade no transcorrer do movimento paredista.No Chile, o artigo 19 da Constituição permite a greve, porém há proibição nos serviços públicos e nos essenciais.Em Cuba, a legislação do trabalho não trata do tema, apenas a greve é considerada como crime tipificado no código penal.Na Espanha, o artigo 28 da Constituição assegura a greve como direito fundamental dos trabalhadores, visando defesa dos seus interesses, cabendo a legislação ordinária regular o seu exercício e estabelecer garantias para a manutenção dos serviços essenciais. Os funcionários públicos têm direito à greve, porém ela é proibida para os membros das forças armadas e dos corpos de segurança (Lei nº 2, de 13-3-86)Na França, a Constituição de 1946 faz menção ao direito de greve em seu preâmbulo, devendo ser exercido nos termos das leis e seus regulamentos. Seus contornos são estabelecidos pela jurisprudência. No setor público a Lei de 3.7.63 limita o direito de greve ao pessoal civil, empresas públicas ou privadas encarregadas de serviço público. Há necessidade de aviso prévio de cinco dias. O governo poderá requisitar trabalhadores para prestar serviços durante a greve. Proibe-se a greve nas Forças Armadas, na magistratura e na polícia. Na Itália, a Constituição de 1948 estabelece o direito de greve, remetendo-o à legislação ordinária. A lei nº 146, de 14.06.90, trata da greve nos serviços públicos. Exige-se aviso prévio de no mínimo 10 dias.No México, o artigo 123 da Constituição de 1917 assegura o direito de geve e lockout, sendo que este depende de autorização prévia do Estado. Admite-se a greve no serviço público, necessitando de aviso prévio de 10 dias à Junta de Conciliação e Arbitragem.No Uruguai a greve é entendida como direito sindical. A lei nº 13.720 delega ao Ministério do Trabalho a possibilidade de determinar os serviços essenciais que deverão ser assegurados durante a greve.Nos Estados Unidos, a Constituição não trata da greve, nem de nenhum direito dos trabalhadores. Os funcionários públicos são proibidos de fazer greve, pois caso contrário serão dispensados. O Wagner Act e a Lei Taft-Harley (1947) traçam contornos gerais da greve, sendo que a última define as responsabilidades dos sindicatos, inclusive em greve em atividades essenciais. A greve é exercida pelo sindicato que congregar maior número de trabalhadores da empresa ou de sua atividade. Foram criadas as injunctions, que são ordens proibitivas de greves, por meio de pronunciamentos judiciais.Em Portugal, o art. 58 de sua Constituição reconhece o direito de greve, competindo aos trabalhadores definir os interesses que serão definidos e seu âmbito. Proíbe-se o lockout. A decretação da greve é prerrogativa os sindicatos. Não se define a greve ou se a restringe, não proibindo, inclusive, a greve se solidariedade. Admite-se a greve no serviço público. Nas atividades essenciais, há necessidade de se atender a certos serviços

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mínimos. Garante-se a manutenção e segurança de equipamentos e instalações.” (MARTINS, 2006, 826)

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4. EVOLUÇÃO DO DIREITO DE GREVE NO BRASIL

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS FILHO em seu artigo sobre a Greve em

Atividades Essenciais e o Atendimento às Necessidades Inadiáveis da Comunidade

publicado no cdrom notadez do ano de 2003 dispõe de forma sintética sobre a

Evolução do Direito de Greve na constituição brasileira dispondo que:

“No Direito Positivo Brasileiro, podemos distinguir, sob o prisma

constitucional, 3 etapas sucessivas de evolução, no que diz respeito ao

direito de greve:

1. Constituição de 1937 - proibia a greve, por considerá-la um fenômeno

anti-social;

2. Constituição de 1967 - admitia o direito de greve, mas apenas para as

atividades não essenciais; e

3. Constituição de 1988 - alberga um direito de greve irrestrito, prevendo

apenas que, nas atividades essenciais, sejam atendidas as necessidades

inadiáveis da comunidade.” (IVES GANDRA, 2003) (Anexo A)

No Brasil não encontramos a greve numa sucessão cronológica de delito, liberdade e

direito. Inicialmente, tivemos o conceito de greve como liberdade, depois delito e, posteriomente,

direito. (MARTINS, 2006, 821)

O Código Penal (1890), proibia a greve, e até o advento do Decreto n. 1.162, de 12.12.1890, essa orientação foi mantida. A Lei n° 38, de 4-4-1932, que dispunha sobre segurança nacional, conceituou a greve como delito. As Constituições brasileiras de 1891 e de 1934 foram omissas a respeito da greve. De tal arte, esta caracterizou-se, praticamente, como um fato, de natureza social, tolerado pelo Estado. A Constituição de 1937 prescrevia a greve e o lockout como recursos anti-sociais, nocivos ao trabalho e ao capital e incompatíveis com os superiores interesses da produção nacional (art. 139, 2ª parte). O Decreto-lei n° 431, de 18-5-1938, que também versava sobre segurança nacional, tipificou a greve como crime, no que diz respeito a incitamento dos funcionários públicos à paralisação coletiva dos serviços; induzimento de empregados à cessação ou suspensão do trabalho e a paralisação coletiva por parte dos funcionários públicos. O Decreto-lei n° 1.237, de 2-5-1939, que instituiu a Justiça do Trabalho, previa punições em caso de greve, desde a suspensão e a despedida por justa causa até a pena de detenção. O Código Penal, de 7.12.1940 (arts. 200 e 201), considerava crime a paralisação do trabalho, na hipótese de perturbação da ordem pública ou se o movimento fosse contrário aos interesses públicos. Em 1943, ao ser promulgada a CLT, lembra Sergio Pinto Martins: "estabelecia-se pena de suspensão ou dispensa do emprego, perda do cargo do representante profissional que estivesse em gozo de mandato

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sindical, suspensão pelo prazo de dois a cinco anos do direito de ser eleito como representante sindical, nos casos de suspensão coletiva do trabalho sem prévia autorização do tribunal trabalhista (art. 723). O art. 724 da CLT ainda estabelecia multa para o sindicato que ordenasse a suspensão do serviço, além de cancelamento do registro da associação ou perda do cargo, se o ato fosse exclusivo dos administradores do sindicato"(1). O Decreto-lei n° 9.070, de 15-3-46, passou a tolerar a greve nas atividades acessórias, não obstante a proibição prevista na Constituição de 1937. Nas atividades fundamentais, contudo, permanecia a vedação. Com a Carta de 1946 a greve passa a ser reconhecida como direito dos trabalhadores, embora condicionando o seu exercício à edição de lei posterior (art. 158). É importante assinalar, com Sergio Pinto Martins, que "o STF entendeu que não havia sido revogado o Decreto-lei n° 9.070/46, pois não era incompatível com a Lei Fundamental de 1946, que determinava que a greve deveria ser regulada por lei ordinária, inclusive quanto a suas restrições"(2). Somente em 1º de junho de 1964, entrou em vigor a Lei de Greve ( Lei n° 4.330), que prescrevia a ilegalidade da greve: a) se não fossem observados os prazos e condições estabelecidos na referida lei; b) que tivesse por objeto reivindicações julgadas improcedentes pela Justiça do Trabalho, em decisão definitiva, há menos de um ano; c) por motivos políticos, partidários, religiosos, morais, de solidariedade ou quaisquer outros que não tivessem relação com a própria categoria diretamente interessada; d) cujo fim residisse na revisão de norma coletiva, salvo se as condições pactuadas tivessem sido substancialmente modificadas (rebus sic stantibus). Adite-se que o art. 20, parágrafo único, da Lei n° 4.330/64, dispunha que a greve lícita suspendia o contrato de trabalho, sendo certo que o pagamento dos dias de paralisação ficava a cargo do empregador ou da Justiça do Trabalho, desde que deferidas, total ou parcialmente, as reivindicações formuladas pela categoria profissional respectiva.  Cumpre sublinhar a correta observação de Francisco Osani de Lavor:  "A Lei 4.330/64 regulamentou, por muito tempo, o exercício do direito de greve, impondo tantas limitações e criando tantas dificuldades, a ponto de ter sido denominada por muitos juslaboristas como a Lei do delito da greve e não a Lei do direito da greve"(3).  A Constituição de 1967, em seu artigo 158, XXI, combinado com o art. 157, § 7º, assegurou a greve aos trabalhadores do setor privado, proibindo-a, contudo, em relação aos serviços públicos e às atividades essenciais. A Emenda Constitucional nº 01, de 17.10.69, manteve a mesma orientação (artigos 165, XX, e 162). (LEITE, 2001)

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5. CONCEITO DE GREVE

Analisando o artigo 2° da Lei 7.783/89, podemos conceituar a greve como a

suspensão coletiva temporária total ou parcial pacífica da prestação de serviços pelo

trabalhador com finalidade de obter melhores condições de trabalho.

“A greve deverá, contudo, ser feita em face do empregador, que poderá

atender às reinvidicações, o que mostra a vedação da greve realizada

contra terceiros que não aquele.

Trata-se de suspensão coletiva, pois a suspensão do trabalho por apenas

uma pessoa não irá constituir-se greve, mas poderá dar ensejo a dispensa

por justa causa. A greve é, portanto, um direito coletivo e não de uma única

pessoa. Só o grupo, que é o titular do direito, é que irá fazer a greve. Deve

haver, portanto, paralisação dos serviços, pois, de acordo com a lei, se

inexistir a suspensão do trabalho não há greve. Isso mostra que a greve de

zelo, em que empregados cumprem à risca as determinações e

regulamentos da empresa, esmerando-se na prestação dos serviços para

provocar demora na produção, ou a “operação tartaruga”, em que os

trabalhadores fazem o serviço extremo vagar não podem ser consideradas

como greve diante de nossa legislação, pois não há suspensão do trabalho.”

(MARTINS, 2008, 826)

Para Amauri Mascaro Nascimento, “greve é um direito individual de exercício

coletivo, manifestando-se como autodefesa”.José Afonso da Silva apóia-se na

definição de Giuliano Mazzani, ao dizer que “a greve é o exercício de um poder de

fato dos trabalhadores com o fim de realizar uma abstenção coletiva do trabalho

subordinado”. Já Alexandre de Moraes a define como “um direito de autodefesa que

consiste na abstenção coletiva e simultânea de trabalho, organizadamente pelos

trabalhadores de um a vários departamentos ou estabelecimentos, com o fim de

defender interesses determinados”.

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6. NATUREZA JURÍDICA DA GREVE

“A natureza jurídica da greve, hoje, é de um direito fundamental de caráter

coletivo, resultante da autonomia privada coletiva inerente às sociedades

democráticas”. (DELGADO, 2006,1434)

Para a Professora Vera Lúcia Carlos, a natureza jurídica da greve constitui-

se como:

“a) greve como um fato social, ou seja, um acontecimento que se

desenvolve nas relações de trabalho totalmente desvinculado do direito.

Esta teoria é criticada ao fundamento de que existem as normas jurídicas

que são editadas com a finalidade de assegurar e regulamentar a greve.

b) greve como liberdade, e neste caso, não ficaria dependente de nenhuma

regulamentação, totalmente desvinculada do ordenamento jurídico.”

A greve é um direito constitucionalmente assegurado, podendo ser analisado

como nos ensina Sérgio Pinto Martins:

“Pode-se analisar a natureza jurídica da greve sob os efeitos que provoca

no contrato de trabalho: suspensão ou interrupção se não ocorre o

pagamento de salários e nem a contagem do tempo de serviço, e

interrupção quando computa-se normalmente o tempo de serviço e há

pagamento de salários.”(MARTINS, 2006, 827)

“Ora, posto que a Constituição Federal assegura, em seu bojo, o direito de

greve, como forma dada aos trabalhadores para atuarem de forma direta

pela reivindicação de seus direitos laborais, sendo norma de aplicação

imediata, dispensando lei ordinária posterior que a regule, não há que se

falar em ato ou fato jurídico, ou mesmo unicamente liberdade, mas garantia

constitucional intrínseca no próprio princípio da liberdade de trabalho.”

(ATAÍDE & QUIRINO, 2004.)

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7. CLASSIFICAÇÃO DA GREVE

Para Sérgio Pinto Martins várias classificações podem ser feitas quanto a

greve:

No que tange a ilicitude e licitude:

“greves lícitas, nas quais são atendidas as determinações legais, greves

ilícitas, em que as prescrições legais não são observadas; greves abusivas,

durante as quais são cometidos abusos, indo além das determinações

legais; greves não abusivas, exercidas dentro das previsões da legislação e

quando não são cometidos excessos.” (MARTINS, 2008, 827)

Quanto a extensão:

“Greves globais, atingindo várias empresas; greves parciais, que podem

alcançar algumas empresas ou certos setores destas; e greves de empresa, que só

ocorrem nas imediações desta.” (MARTINS, 2008, 827).

Quanto ao seu exercício:

“...greve contínua, intermitente rotativa ou branca. Greve rotativa é a

praticada por vários grupos, alternadamente. Greve intermitente é a que vai

e volta. Às vezes os empregaos trabalham, outras vezes, não. Às vezes

chegam cedo, outras vezes chegam tarde etc. A greve branca de trabalho,

há cessação da prestação dos serviços. Entretanto, a “operação tartaruga”,

em que os empregados fazem seus serviços com extremo vagar, ou a greve

de zelo, em que os trabalhadores se esmeram na produção ou acabamento

do serviço, não podem ser consideradas como greve, pois não há a

paralisação da prestação de serviço. A greve de zelo pode ser comparada

ao trabalho feito de forma negligente. Dentro desse quadro lembraríamos,

ainda, a greve intermitente, de curta duração e que pode ser repetida várias

vezes em várias etapas” (MARTINS, 2008 ,827)

Para Vera Lúcia Carlos são classificadas como: greves típicas e atípicas.

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“- Greves típicas: são aquelas deflagradas observando-se os padrões

clássicos e rotineiros, ou seja, aquela que se dá com a paralisação do

serviço, classificando-se ainda em: por prazo determinado ou de

advertência de caráter preventivo, como por exemplo, a paralisação por 24

horas, ou de prazo indeterminado, quando não tem prazo para a sua

duração, ou seja, até que as reivindicações sejam atendidas.

- Greves atípicas: são aquelas que se dão como forma de não colaboração,

sem que os trabalhadores paralisam as atividades. São exemplos: a greve

de zelo, onde os trabalhadores, com a finalidade de desorganizar o

processo produtivo, executam suas funções de modo detalhado.

Outro exemplo é a “operação braços cruzados”, na qual os trabalhadores

comparecem ao trabalho, mas se recusam a prestar os serviços.

Diante do nosso ordenamento jurídico as greves atípicas em que não se

tem a suspensão do contrato de trabalho, não estão amparadas por lei e a

não colaboração e a desorganização do processo produtivo sujeitará o

empregado as punições acarretando a justa causa para o término do

contrato (por desídia).

Outra classificação é a greve política deflagrada sem caráter reivindicatório

de ordem contratual ou profissional já que é dirigida contra o Estado.

Há também a greve de solidariedade, quando os trabalhadores paralisam as

suas atividades em solidariedade a outros trabalhadores que estão

promovendo o exercício do direito para atendimento das suas

reivindicações”.

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8. OS EFEITOS DA GREVE NO CONTRATO DE TRABALHO

A greve provoca a suspensão do contrato de trabalho devendo durante o

período de greve, as relações obrigacionais, serem regidas por acordo, convenção,

arbitragem ou pela justiça do trabalho.

“O enquadramento jurídico do prazo de duração do movimento paredista é

variável, segundo regras especificas de cada ordenamento jurídico” (DELGADO,

2006,1416)

“... O mencionado prazo é tratado como suspensão do contrato de trabalho

(artigo 7º, Lei n. 7.782/89). Isso significa que os dias parados, em princípio,

não são pagos, não se computando para fins contratuais o mesmo período.

Em contraponto, o empregador não pode dispensar o trabalhador durante o

período de afastamento ( e nem alegar justa causa pela adesão à greve,

pós o retorno do obreiro, conforme já estudado: Súmula n.316, STF). [...]

caso se trate de greve em função de não cumprimento de cláusulas

contratuais relevantes e regras legais pela empresa (não pagamento ou

atrasos reiterados de salários, más condições ambientais, com risco à

higidez dos obreiros, etc.), pode-se falar na aplicação da regra genérica da

exceção do contrato cumprido. Neste caso, seria cabível enquadrar-se

como mera interrupção o período de duração do movimento paredista.”

(Delgado, 2006, 1416, 1417)

Conforme disposto no artigo 1° da Lei 7.783/89 a titularidade do direito de

greve é do trabalhador.

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9. ABUSO DO DIREITO DE GREVE

O artigo 9°, no parágrafo segundo da CF dispõe que os abusos cometidos

sujeitarão os responsáveis às penas da lei.

"Art. 9º. É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores

decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam

por meio dele defender.

§ 1º. A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o

atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

§ 2º. Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas de lei."

A abusividade, nos termos do artigo 14 da Lei nº 7.783/89, decorre da

inobservância das exigências contidas no seu texto ou da continuidade da greve,

após decisão da Justiça do Trabalho. (MAGANO,2003)

A doutrina classifica o abuso do direito de greve em formal, quando o

movimento é deflagrado sem que sejam obedecidos os requisitos da Lei 7.783/89, e

material, quando a greve se dá em atividade proibida. (RAINHO, 2006).

O TST na OJ n°10 deixa certo que em caso de ser reconhecido a

abusividade do movimento, não se poderá deferir quaisquer vantagens ou garantias

aos trabalhadores.

O abuso do direito dá ensejo à responsabilidade que pode ser trabalhista,

civil ou penal. (MARTINS, 2008,836)

Representa o abuso de direito o gênero, incluindo a ilegalidade. Será formal

o abuso de direito se não forem observadas as formalidades previstas na lei nº

7.783/89, como a não concessão do aviso de greve. (MARTINS,2008,835)

Haveria abuso do direito material se a greve se realizasse em atividades

proibidas. (MARTINS, 2008, 836).

“A responsabilidade civil pelos danos causados é uma das formas de

reparação do abuso de direito praticado pelo sindicato, e a dispensa por justa causa

é a sanção maior a que está sujeito o trabalhador pelos excessos que praticar.”

(NASCIMENTO, 2008, 1224)

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10. DIREITOS E DEVERES DOS GREVISTAS

A lei 7.783/89 prevê no seu artigo 6º os seguintes direitos aos envolvidos na

greve:

“São direitos dos trabalhadores paredistas, entre outros: utilização de meios

acíficos de persuação (artigo 6º, Lei de Greve); arrecadação de fundos por

meio lícitos (idem); livre divulgação do movimento (idem); proteção contra

dispensa por parte do empregador (o contrato de trabalho encontra-se

suspenso, juridicamente – art. 7º, lei de greve).

É também direito dos grevistas a proteção contra a contratação de

substitutos pelo empregador (artigo 7º, parágrafo único, Lei n. 7.783).”

(DELGADO, 2006, 1425)

A lei 7.783/89 prevê no seu artigo 6º os seguintes deveres aos envolvidos na

greve:

“Sinteticamente seriam eles: assegurar a prestação de serviços

indispensáveis às necessidades inadiáveis da comunidade, quando

realizando greve em serviços ou atividades essenciais (acrescendo-se que

o Poder Público poderá suprir tal atendimento); organizar equipes para

manutenção de serviços cuja paralisação provoque prejuízos irreparáveis ou

que sejam essenciais à posterior retomada de atividades pela empresa; não

fazer greve após celebração de convenção ou acordo coletivos ou decisão

judicial relativa ao movimento (respeitada a concorrência de fatores que se

englobem na chamada cláusula rebus sic stambus); respeitar direitos

fundamentais de outrem; não produzir atos de violência, que se trate de

depredação de bens, quer sejam ofensas físicas ou morais a alguém.”

(DELGADO, 2006, 1426)

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11. REQISITOS PARA INSTAURAÇÃO DA GREVE

a) A greve sempre deve ser precedida de negociação coletiva.

“... o primeiro requisito é a ocorrência de real tentativa de negociação, antes

de ser deflagrar o movimento grevista: desde que frustrada a negociação

coletiva ou verificada a impossibilidade de recurso à via arbitral, abre-se o

caminho ao movimento de paralisação coletiva (art.3 167, caput, Lei n.

7.783/89).” (DELGADO, 2006, 1424)

b) “O segundo requisito é a aprovação da respectiva assembléia de

trabalhadores. (Delgado, 2006, 1425)

Art. 4º Caberá à entidade sindical correspondente convocar, na forma do

seu estatuto, assembléia-geral que definirá as reivindicações da categoria e

deliberará sobre a paralisação coletiva da prestação de serviços.

§ 1º O estatuto da entidade sindical deverá prever as formalidades de

convocação e o "quorum" para a deliberação, tanto da deflagração quanto

da cessação da greve.

§ 2º Na falta de entidade sindical, a assembléia-geral dos trabalhadores

interessados deliberará para os fins previstos no "caput", constituindo

comissão de negociação.

c) A lei exige que a greve seja objeto de pré-aviso ao sindicato da categoria

econômica ou dos empregadores, com a antecedência de 48 horas nas atividades

comum e 72 horas nas atividades essenciais.

“O terceiro requisito é o aviso prévio à parte adversa (empregadores

envolvidos ou seu respectivo sindicato). O aviso será dado, regra geral, com

antecedência mínima de 48 horas da paralisação (artigo 4º, da lei de greve).

Em se tratando de serviços ou atividades essenciais, o prazo será de 72

horas da paralisação (artigo 13, Lei de Greve), Neste caso, a comunicação

deverá contemplar não apenas os empregadores, como também o público

interessado (a lei fala em usuários).” (DELGADO, 2006, 1425)

Art. 13. Na greve em serviços ou atividades essenciais, ficam as entidades

sindicais ou os trabalhadores, conforme o caso, obrigados a comunicar a

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decisão aos empregadores e aos usuários com antecedência mínima de 72

(setenta e duas) horas da paralisação

d) “O quarto requisito é o respeito ao atendimento às necessidades

inadiáveis da comunidade, no contexto de greve em serviços ou atividades

essenciais (artigo 9, §1º, CF/88c/c. arts. 10,11 e 12, Lei de Greve)”. (DELGADO,

2006, 1425).

Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os

empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a

garantir, durante a greve, a prestação de serviços indispensáveis ao

atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

Parágrafo único. São necessidades inadiáveis da comunidade aquelas que,

não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a

segurança da população.

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12. DOS SERVIÇOS QUE NÃO PODEM PARAR

Aprendemos que a greve tem como escopo pressionar o empregador a

atender determinados propósitos.

“Ocorre que alguns tipos de serviços, quando não realizados, afetam de tal

forma a empresa que, mesmo quando retomados em breve tempo,

impedem a continuidade do exercício normal de suas atividades. São

serviços, pois, que não podem parar completamente, sob pena de,

impactando irreversivelmente a empresa, reverterem em prejuízo aos

próprios grevistas, comprometendo-lhes os empregos, dos quais

dependem”. (SOUZA E AVELAR, 1996, 30)

Embora tenhamos visto como quarto requisito do tópico anterior necessário

se faz destacar a importância da não paralização de determinadas atividades, como

dispõe o artigo 9º da lei 7.783/89.

Art. 9º Durante a greve, o sindicato ou a comissão de negociação, mediante

acordo com a entidade patronal ou diretamente com o empregador, manterá

em atividade equipes de empregados com o propósito de assegurar os

serviços cuja paralisação resultem em prejuízo irreparável, pela

deterioração irreversível de bens, máquinas e equipamentos, bem como a

manutenção daqueles essenciais à retomada das atividades da empresa

quando da cessação do movimento.

Parágrafo único. Não havendo acordo, é assegurado ao empregador,

enquanto perdurar a greve, o direito de contratar diretamente os serviços

necessários a que se refere este artigo.

Por tal razão, devem os trabalhadores zelar pela manutenção ao menos

parcial desses serviços, [...]na medida em que isto seja, de fato, essencial à

preservação da empresa, enquanto gerado de empregos. (SOUZA E AVELAR, 1996, 30)

Pelo princípio da continuidade dos serviços públicos, entende-se que o

serviço público, sendo a forma pela qual o Estado atende às necessidades da

coletividade, não pode ser interrompido, devendo, ao contrário, ter normal

continuidade. (FERNANDES, 2007)

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13. GREVE NAS ATIVIDADES ESSENCIAIS

“O §1º do artigo 9º da Constituição de 1988 não proíbe a greve em

atividades essenciais, apenas determina que a lei irá definir os serviços ou as

atividades essenciais, o que foi feito pelo artigo 10 da Lei nº 73783/89.” (MARTINS,

2006 , 833)

“Art. 10. São considerados serviços ou atividades essenciais:

I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia

elétrica, gás e combustíveis;

II - assistência médica e hospitalar;

III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos;

IV - funerários;

V - transporte coletivo;

VI - captação e tratamento de esgoto e lixo;

VII - telecomunicações;

VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e

materiais nucleares;

IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais;

X - controle de tráfego aéreo;

XI - compensação bancária.”

A OIT considera essenciais os serviços cuja interrupção pode pôr em perigo

a vida, a segurança ou saúde da pessoa em toda ou parte da população

(Recopilacíon La liberdad sindical. 3. Ed. Genebra, verbete 387). (MARTINS, 2006,

833)

Dispõe o art. 11 da lei de greve que nos serviços ou atividades essenciais,

os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum

acordo, a garantir, durante a greve, a prestação de serviços indispensáveis ao

atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

Parágrafo único. São necessidades inadiáveis da comunidade aquelas que,

não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a

segurança da população.

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14. A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA GREVE

Na ocorrência de greve em atividades essências, com possibilidade de lesão

ao interesse público, pode o dissídio coletivo ser instaurado pelo Ministério Público

do Trabalho (art.114,§3º, CF) (PRETTI E CARLOS, 2005, 168)

Ives Gandra da Silva Martins Filho, em seu artigo sobre A defesa dos

interesses coletivos pelo Ministério Público do Trabalho, dispõe de forma sintética as

atribuições deste órgão, que não mais apresentará tão somente pareceres mas

atuará mais efetivamente em consonância com as novas atribuições determinadas

pela Constituição federal.

Tendo sido promulgada a Lei Complementar nº 75/93 - Lei Orgânica do

Ministério Público da União ampliou a atuação do Ministério Público do Trabalho no

campo da defesa dos interesses difusos e coletivos da sociedade, no âmbito

trabalhista, a competência do mesmo para instaurar inquéritos e ajuizar ações civis

públicas (arts. 6º Vll, "d", 83, III, e 84, II).

“Se antes da Lei Complementar nº 75/93 era entendimento praticamente unânime da doutrina que o Ministério Público do Trabalho tinha legitimidade para ajuizar ações civis públicas para a defesa de interesses difusos e coletivos relativos às relações de trabalho, tendo em vista que os instrumentos ofertados pelo art. 129 da CF se dirigiam indistintamente a todos os 4 ramos do Ministério Público da União e aos Ministérios Públicos estaduais (cfr. ARION SAYÃO ROMITA, "Ação Civil Pública Trabalhista - Legitimação do Ministério Público do Trabalho para Agir", in LTr. 56-10/1165-1169; AMAURI MASCARO NASCIMENTO, "Iniciativa Processual e Ministério Público", citado por VALENTIN CARRION in "Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho", RT, 1992, São Paulo, p. 534; JORGE EDUARDO DE SOUSA MAIA, "Os Interesses Difusos e a Ação Civil Pública no Âmbito das Relações Laborais", in LTr. 56-09/1044-1047; NELSON NAZAR, "Novas Ações Judiciais da Procuradoria da Justiça do Trabalho", in "Curso de Direito Constitucional do Trabalho - Estudos em Homenagem ao Prof. Amauri Mascaro Nascimento", LTr., 1991, São Paulo, volume II, pp. 206-246; IVES GANDRA DA SILVA MARTINS FILHO, "O Ministério Público do Trabalho e a Nova Constituição", in "Curso de Direito Constitucional do Trabalho...", op. cit., pp. 174-205, "A Ação Civil Pública Trabalhista", in LTr. 56-07/809-813, "O Ministério Público do Trabalho", in LTr. 56-11/1297-1301, e "Inquérito Civil e Ação Civil Pública no Âmbito Trabalhista", in Revista da Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região, nº 2, outubro/93), agora não mais resta dúvida sobre tal legitimidade.II - DEFESA DOS INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOSPodemos diferenciar os interesses meta-individuais a serem defendidos pelo Ministério Público nas ações civis públicas em 3 espécies:a) Interesses difusos - caracterizados pela impossibilidade de determinação da coletividade atingida pelo ato ou procedimento lesivo ao ordenamento

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jurídico, da qual decorre inexistência de vínculo jurídico entre os membros da coletividade atingida ou entre estes e a parte contrária, autora da lesão;b) Interesses coletivos - caracterizados pela existência de vínculo jurídico entre os membros da coletividade afetada pela lesão e a parte contrária, origem do procedimento genérico continuativo, que afeta potencialmente todos os membros dessa coletividade, presentes e futuros, passíveis de determinação;c) interesses individuais homogêneos - decorrentes de uma origem comum, fixa no tempo, correspondente a ato concreto lesivo ao ordenamento jurídico, que permite a determinação imediata de quais membros da coletividade foram atingidos.Enquanto na ótica meramente processual civista os interesses individuais homogêneos possuem como pedra de toque para distingui-los dos coletivos o fato de possibilitarem o ajuizamento de ações individuais pelos lesados, já sob o prisma trabalhista tal elemento distintivo inexistiria, pois também os interesses coletivos se revestem da mesma possibilidade jurídica (CLT, arts. 195, § 2º, e 872, parágrafo único).Na verdade, a figura dos interesses individuais homogêneos foi introduzida pela Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90, art. 81, parágrafo único, III), sendo perfeitamente dispensável no âmbito do Processo Laboral, já que o conceito de interesses coletivos já albergava implicitamente o dos individuais homogêneos. Com efeito, a ação de cumprimento de uma sentença normativa pode ser ajuizada tanto pelo sindicado, em substituição dos seus associados, como pelos próprios empregados, e versa sobre interesses coletivos, de vez que a coletividade abrangida pela sentença normativa e, posteriormente, pela recusa patronal em cumpri-la, é passível de determinação, mas não perfeitamente delimitável, pois os empregados, que, durante sua vigência, se demitirem, não mais serão atingidos por ela, enquanto que aqueles que forem admitidos posteriormente estarão sujeitos aos seus ditames e, conseqüentemente, às lesões patronais.Tendo em vista tais nuanças, próprias do Processo Laboral, é que propusemos como elemento diferenciador dos interesses coletivos frente aos individuais homogêneos o fato de, nos primeiros, a prática lesiva se estender no tempo, isto é, constituir procedimento genérico e continuativo da empresa, enquanto, nos segundos, sua origem ser fixa no tempo, consistente em ato genérico, mas isolado, atingindo apenas alguns ou todos os que compunham a categoria no momento dado. Assim, como exemplo de interesse coletivo lesado teríamos o do descuido continuado do meio ambiente de trabalho, que afeta, potencialmente, a todos os empregados da empresa; quanto a interesses individuais homogêneos, teríamos o exemplo da demissão coletiva num dado momento, atingindo um grupo concreto e identificável de empregados.Assim, a própria fixação da indivisibilidade do objeto (cuja lesão afeta toda a coletividade) como elemento caracterizador, dos interesses difusos e coletivos (Lei 8.078/90, art. 81, parágrafo único, I e II), não se adequaria perfeitamente às relações trabalhistas, à medida que, no caso de determinados procedimentos genéricos das empresas, contrários à ordem jurídica trabalhista, eles se concretizam como lesão em momentos distintos para cada empregado e podem não atingir efetivamente a todos, como no caso de orientação normativa interna da empresa, relativa a medidas discriminatórias a serem adotadas contra empregado que ajuíze reclamação trabalhista com a empresa. O procedimento, na hipótese, é genérico, mas a lesão se materializa em relação a cada empregado que ajuizar a reclamatória postulando seus direitos.No que concerne a interesses difusos no âmbito das relações de trabalho, teríamos como exemplo o de empresa pública que contratasse diretamente empregados sem a realização de concurso público. O STF já decidiu pela exigibilidade do concurso público também para a admissão de empregados (regidos pela CLT) nas empresas públicas e sociedades de economia mista (MS 21.322-1-DF, Rel. Min. PAULO BROSSARD, DJU de 23.04.93). Num

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caso desses, diante da denúncia do Sindicato Profissional a respeito da irregularidade, e uma vez constatada essa, o Ministério Público do Trabalho poderia ajuizar a ação civil pública para a defesa do interesse difuso relativo aos possíveis candidatos a um concurso público. A hipótese seria nitidamente de defesa de interesse difuso, pela impossibilidade de especificar o conjunto dos postulantes ao emprego público, já que, potencialmente, todas as pessoas que preenchessem os requisitos exigidos pelo mesmo poderiam ser consideradas candidatas em potencial.III - LEGITIMIDADE CONCORRENTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DOS SINDICATOSA defesa dos interesses coletivos em juízo, através da ação civil pública, pode ser feita tanto pelo Ministério Público do Trabalho como pelos sindicatos, de vez que o ordenamento processual assegura a legitimidade concorrente de ambos (CF, art. 129, § 1º; Lei 7.347/85, art. 5º, I e II). No entanto, o prisma pelo qual cada um encara a defesa dos interesses coletivos é distinto:a) o sindicato defende os trabalhadores que a ordem jurídica protege (CF, art. 8º, III); eb) o Ministério Público defende a própria ordem jurídica protetora dos interesses coletivos dos trabalhadores (CF, art. 127).Os sindicatos, entretanto, não podem instaurar inquérito prévio ao ajuizamento da ação, o que constitui prerrogativa apenas do Ministério Público (Lei 7.347/85, art. 8º, § 1º; CF, art. 129, III; LC 75/93, art. 84, II). Tal impossibilidade legal dificulta, para os sindicatos, o ajuizamento das ações públicas, à medida que o procedimento prévio do inquérito é fundamental para a coleta de elementos de convicção para a instrução da ação civil pública.A rigor, os sindicatos apenas teriam condições de ajuizar a ação civil pública com sucesso nos casos em que a lesão patronal genérica aos direitos trabalhistas estivesse patente e devidamente documentada em relação a considerável número de empregados.Na prática, o que tem ocorrido é os sindicatos oferecerem denúncia perante o Ministério Público do Trabalho para que seja apurada a possível existência de lesão a direitos trabalhistas no âmbito de determinada empresa, de forma genérica. Dão, assim, cumprimento ao dispositivo legal que faculta a qualquer pessoa a possibilidade de provocar a iniciativa do Ministério Público nesse campo, ministrando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto de ação civil pública (Lei 7.347/85, art. 6º).IV - O INQUÉRITO CIVIL PÚBLICOPropusemos, após correição periódica realizada na Procuradoria Regional do Paraná, a regulamentação do inquérito civil no âmbito do Ministério Público do Trabalho, de modo a orientar as várias unidades regionais sobre o procedimento a ser seguido num inquérito, bem como as hipóteses em que este seria pertinente, já que tal atuação das Procuradorias do Trabalho constituía novidade, decorrente do ordenamento constitucional implantado em 1988.Elaboramos, então, proposta de norma regulamentadora que, após ter sido debatida e aprovada pelo então Conselho Superior Consultivo do Ministério Público do Trabalho, foi editada pelo Procurador-Geral sob o rótulo de Instrução Normativa nº 01/93 (publicada no DJU de 14.05.93).Com isso, o caminho que vinha sendo trilhado experimentalmente pelas várias procuradorias regionais passou a contar com um fio condutor bem delineado, servindo de orientação não apenas para os procuradores, mas também para sindicatos, empresas e para a sociedade em geral, à medida que se dava a conhecer um novo procedimento de solução dos conflitos coletivos de trabalho, vistos sob o prisma do respeito à ordem jurídico-trabalhista vigente.O inquérito civil é procedimento de investigação sobre a ocorrência de lesão à ordem jurídica laboral, fornecendo elementos para uma possível ação civil pública, mas também de solução da irregularidade, à medida que oferta a

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possibilidade de regularização da ilegalidade pela via administrativa (IN 1/93, art. 8º, § 1º).Duas são as formas pelas quais se deflagra o inquérito: a denúncia formulada perante o Ministério Público e a iniciativa de seus membros, quando têm notícia da ocorrência de ilegalidade no âmbito trabalhista (IN 1/93, art. 1º, §§ 2º e 3º).No primeiro caso, protocolada representação perante o Ministério Público, o Procurador-Geral ou Regional (conforme o âmbito da lesão) instaurará o inquérito, mediante Portaria, na qual designará procurador que o presidirá (IN 1/93, art. 3º, I e II, § 2º).Já na segunda hipótese, o procurador que tiver notícia de lesão a direitos sociais que transcendam o interesse meramente individual, quer seja através da imprensa escrita ou falada, quer seja nos processos em que oficie ou a que assista ao julgamento, poderá requerer autorização ao Procurador-Geral ou Regional, para instaurar o inquérito (IN 1/93, art. 3º, § 1º).Nesse sentido, resta assegurada a independência funcional dos membros do parquet, de forma a que possam ter iniciativa para instaurar os inquéritos para apuração das ilegalidades que verifiquem, ao passo que se garante um melhor controle sobre a atividade inquisitorial, evitando a proliferação de inquéritos sobre o mesmo fato lesivo e contra o mesmo sujeito.Assim, v.g., se determinado procurador toma ciência pelo jornal da existência de trabalho escravo numa determinada fazenda, pode requerer autorização para instaurar inquérito e investigar a veracidade do noticiado. O mesmo poderá fazer se, nos autos que lhe foram distribuídos para emissão de parecer, constata que o desrespeito ao direito trabalhista do empregado decorre de procedimento genérico da empresa em relação a todos os seus empregados.Também poderá ser requerida autorização para a instauração de inquérito se o procurador, v.g., assistindo sessão de julgamento de um dissídio coletivo de greve, em que a mesma foi considerada abusiva, se convencer de que há elementos apontando para a responsabilidade da direção do sindicato na deflagração da greve de forma ilegal e na sua manutenção, de maneira danosa para a sociedade.A Instrução Normativa detalha o procedimento a ser adotado no inquérito civil, desde a elaboração da Portaria até a realização das audiências, tomada de depoimentos, chegando ao relatório final, em que se sugerirá o arquivamento do mesmo, por falta de provas ou por não se tratar de ilegalidade, ou o ajuizamento da ação civil pública. Há, no entanto, uma terceira via, que é a da composição administrativa do litígio.Tendo a Justiça do Trabalho como função precípua a conciliação dos conflitos trabalhistas, tal nota distintiva também se espraia ao procedimento administrativo do inquérito civil público, no qual o procurador que o preside poderá, após o depoimento das partes, designar audiência específica para a composição do conflito (IN nº 1/93 MPT, art. 8º).Constatada a prática ilegal levada a cabo pelo empregador, poderá ser firmado entre este e o Ministério Público do Trabalho, com a aceitação dos representantes dos detentores do interesse lesado, termo de compromisso de cessação da ilegalidade e/ou reparação do dano causado (Lei 7.347/85, art. 5º, § 6º, e IN nº 1/93 MPT, art. 8º, § 1º), com o que se evitará o ajuizamento da ação civil pública.Verifica-se, pois, que o Ministério Público, como titular da ação civil pública, poderá tomar do inquirido termo de compromisso, no qual constará multa pelo seu descumprimento. Ocorrendo este, o Ministério Público poderá ajudar ação de execução com base no termo de compromisso, de vez que possui força de título executivo extrajudicial.V - A AÇÃO CIVIL PÚBLICA TRABALHISTANo Seminário sobre "Tutela de Interesses Trabalhistas Coletivos e Individuais Homogêneos", promovido pela AMATRA - 2ª Região e organizado pelo Dr. CARLOS MOREIRA DE LUCA (realizado nos dias 7 e 8

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de outubro passado), tivemos a felicidade de participar de painel com a Profª ADA PELLEGRINI GRINOVER, em que a ilustre processualista sustentou ser a Lei 7.347/85 plenamente aplicável às relações trabalhistas, compatível que é com o Processo Laboral, de vez que instrumento para defesa também de interesses coletivos trabalhistas. Na oportunidade, traçamos um panorama do que o Ministério Público vinha realizando nesse campo, com a instauração de inquéritos e o ajuizamento de ações civis, ao que a renomada mestra glosou, aduzindo ser ainda tímida a atuação do parquet nesse campo, em face das possibilidades que lhe oferta o Código de Defesa do Consumidor em termos de instrumentos processuais.Verifica-se, pois, a relevância das novas atribuições conferidas pela CF e pela Lei Complementar nº 75/93 ao Ministério Público de Trabalho, no que concerne à defesa dos interesses coletivos e difusos no âmbito das relações do trabalho. E, comparativamente aos demais ramos de Ministério Público, é dos mais abrangentes e exigentes, uma vez que:a) aos direitos sociais foi dedicado um capítulo inteiro da Constituição, elencando nada menos do que 45 direitos e garantias específicas (arts. 7º a 11); eb) o Judiciário Trabalhista detém mais da metade das demandas de todo o Poder Judiciário brasileiro, sendo-lhe destinado mais da metade do orçamento da União referente ao Poder Judiciário.Com isso, a ajuda real que o Ministério Público do Trabalho pode prestar à Administração da Justiça (já que desempenha "função essencial à Justiça") é inestimável, à medida que:a) pode evitar o recurso ao Judiciário, solvendo administrativamente as demandas contra o desrespeito aos direitos trabalhistas, através dos termos de compromisso firmados perante as Procuradorias Regionais ou Geral pelas empresas, no sentido de cessarem com as práticas lesivas aos direitos dos empregados e/ou repararem os danos causados (Lei 7.347/85, art. 5º, § 6º); eb) reduzindo o número de reclamatórias, mediante a concentração das mesmas em ações civis públicas, cuja decisão abrangerá todos os trabalhadores lesados pela prática empresarial ilegal.Em princípio, o que dá azo à ação civil pública é, geralmente, a existência de procedimento empresarial genérico contrário à legislação do trabalho, pois a lesão a interesse individual, consistente em ato isolado da empresa em relação a um de seus empregados, não legitima o Ministério Público a atuar como órgão agente. É necessário que se trate de interesse coletivo ou difuso.Mas a ação civil pública não constitui instrumento a ser utilizado exclusivamente para responsabilização do setor patronal. Também os sindicatos poderão se sujeitar a inquéritos civis e a ações civis públicas, à medida que desrespeitem a legislação laboral. Tais são os casos, v.g., das ações civis públicas para anular descontos assistenciais ilegais ou para responsabilizar, nos termos da Lei 7.883/89, as lideranças sindicais, pela deflagração de greves abusiva. Nesses casos, o Ministério Público estaria defendendo tanto a sociedade como os próprios empregados, diante das ilegalidades praticadas pelos sindicatos.Os exemplos de inquéritos e ações civis atualmente mais comuns são no campo da intermediação de mão-de-obra, trabalho escravo, desconto assistencial ilegal, meio ambiente de trabalho, coação empresarial para desistência de direitos trabalhistas, não recolhimento do FGTS, jornada de trabalho, procedimentos discriminatórios, responsabilização por greve abusiva, irregularidades nas rescisões trabalhistas etc.Como se vê, o novo campo de atuação do Ministério Público do Trabalho tornou-se vastíssimo, e está, ainda, por ser desbravado pelos membros da instituição, que, agora, atua, tipicamente, como defensora da sociedade frente aos poderes públicos e privados, no resguardo dos direitos sociais assegurados pela Constituição da República.”

Page 25: Monografia EPD - Servidor Público - Greve (Salvo Automaticamente)

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A nova redação do §3º do artigo 114 da CF dispõe que o Ministério Público

do Trabalho poderá instaurar o dissídio de greve quando se tratar de greve em

atividade essencial com possibilidade de lesão ao interesse público. No entanto,

tal legitimidade já havia sido assegurada através de norma infraconstitucional. (a

Lei Complementar nº 75/83, no inciso VIII do artigo 83 dispõe a legitimidade de

agir do Ministério Público sempre que a defesa da ordem jurídica e o interesse

público assim o exigir). Este preceito está em consonância com a sua atribuição

prevista no artigo 127 da CF.

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15. SERVIDOR PÚBLICO

15.1 CONCEITO

Servidor Público é a pessoa física incumbida por lei para exercer função

administrativa de caráter público (CF: arts. 37 a 41; Lei nº 8.112/1990).

“A relação funcional que se estabelece entre o servidor e a Administração

tem um acentuado caráter ético, [...] são serviços para o público, e que seus agentes

são servidores públicos [...].” (MEIRELLES, 1990, 393)

São deveres dos servidores públicos determinados na Constituição Federal,

a serem observados pelos estatutos das entidades estatais e de seus

desmembramentos autárquicos e fundacionais.

“Dentre esses deveres, salientam-se por sua constância na legislação dos

povos cultos, o de lealdade à Administração e o de obediência às ordens

superiores.” (MEIRELLES:1996,393)

“O dever de lealdade também denominado dever de fidelidade exige ,[...] a

maior dedicação, ao serviço e o integral respeito às leis e às instituições

constitucionais, identificando-o com os superiores interesses do Estado. Tal

dever impede que o servidor atue contra os fins e os objetivos legítimos da

Administração, pois que se assim agisse incorreria em infidelidade

funcional, ensejadora da mais grave penalidade, que é a demissão, vale

dizer, o desligamento compulsório do serviço público. (MEIRELLES, 1996,

393)

Para a professora CRISTINA APARECIDA FACEIRA MEDINA MOGIONI, em suas aulas de direito administrativo ministradas no 2º SEMESTRE 2008, para o Curso Anual para concursos públicos o “Servidor público é espécie do gênero agente público. Então, deve-se conceituar primeiramente agente público, para

depois se chegar ao conceito de servidor público”.

15.2 AGENTE PÚBLICO

“Agente público é toda pessoa física incumbida do exercício de uma

função pública, seja em caráter transitório ou definitivo, com ou sem remuneração.

Ex.: mesário eleitoral, jurado, escrevente do Poder Judiciário e etc.”

(MOGIONI,2008)

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15.3 CLASSIFICAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS

Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2006) classifica os agentes públicos em:

1) Agente políticos;

2) Servidores públicos;

3) Militares;

4) Particulares em colaboração com o Poder Público.

O STF já se pronunciou no sentido de que o magistrado é agente político

porque exerce atribuições constitucionais, com plena liberdade funcional, com

prerrogativas próprias e legislação específica. Nesta esteira, é defensável que os

membros do Ministério Público também sejam considerados agentes políticos,

notadamente em razão das funções de controle a eles atribuídas pelo art. 129, CF1.

Conclui-se portanto que os servidores públicos são pessoas que mantêm

com o Estado e com as entidades de sua Administração Indireta, vínculo

empregatício, recebendo remuneração.

15.4 CLASSIFICAÇÃO DOS SERVIDORES PÚBLICOS

Os servidores públicos classificam-se estatutários; Servidores públicos

empregados; e Servidores públicos temporários.

Os servidores públicos estatutários submetem-se a Estatutos, ou seja, leis

que estabelecem um regime institucional, e eles ocupam cargos públicos.

1 Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição;V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior;VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.

Page 28: Monografia EPD - Servidor Público - Greve (Salvo Automaticamente)

34

Cada pessoa política legisla para si matéria de servidor público. O

Estatuto Federal é a Lei 8.112/90.

Os servidores públicos empregados submetem-se a regime contratual,

nos termos da CLT e ocupam empregos públicos.

Na esfera federal existe a Lei 9.962/00, que traz o regime jurídico do

empregado público da administração direta, autárquica e fundacional, de forma que

só se aplica a CLT se essa lei não for contrária.

Os servidores públicos temporários são os contratados por tempo

determinado para atender necessidade temporária de excepcional interesse público,

nos termos do art. 37, IX, CF2.

Para ocupar uma função pública temporária não é necessário o concurso

público, porque ele não é compatível com a necessidade urgente a atender. Além

disso, o ocupante de função temporária não adquire estabilidade, porque ele é

contratado por tempo determinado.

Na esfera federal, a lei que disciplina a contratação é a Lei 8.745/93, a

qual prevê, em alguns casos, que a contratação será feita mediante processo

seletivo simplificado, o qual não é concurso público e visa aferir a capacidade do

contratado e assegurar o princípio da impessoalidade.

2 Art. 37. (...)

IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público;

Page 29: Monografia EPD - Servidor Público - Greve (Salvo Automaticamente)

35

16. SERVIÇO PÚBLICO

16.1 CONCEITO

Maria Sylvia Zanella di Pietro (1996 ) descreve que muitos doutrinadores

utilizam-se de três elementos para a definição do serviço público “o material

(atividades de interesse coletivo), o subjetivo (presença do Estado) e o formal

(procedimento de direito público).”

“Em suas origens, os autores adotavam três critérios para definir o serviço

público:

1. o subjetivo, que considera a pessoa jurídica prestadora da atividade: o

serviço público seria aquele prestado pelo Estado;

2. o material, que considera a atividade exercida: o serviço público seria a

atividade que tem por objeto a satisfação de necessidades coletivas;

3. o formal, que considera o regime jurídico: o serviço público seria aquele

exercido sob regime de direito público derrogatório e exorbitante do direito

comum.” (Di PIETRO, 2000,

Para a mesma autora alguns definem o serviço público de maneira muito

ampla como José Cretella Júnior e Hely Lopes Meirelles, como segue:

Para José Cretella Júnior (1980:55-60) serviço público é "toda atividade que

o Estado exerce, direta ou indiretamente, para a satisfação das necessidades

públicas mediante procedimento típico do direito público".

Hely Lopes Meirelles (1996:296) define o serviço público como "todo aquele

prestado pela Administração ou por seus delegados, sob normas e controles

estatais, para satisfazer necessidades essenciais ou secundárias da coletividade, ou

simples conveniências do Estado".

Desta forma Maria Sylvia Zanella di Pietro defini de “serviço público como

toda atividade material que a lei atribui ao Estado para que a exerça diretamente ou

por meio de seus delegados, com o objetivo de satisfazer concretamente às

necessidades coletivas, sob regime jurídico total ou parcialmente público”.

Page 30: Monografia EPD - Servidor Público - Greve (Salvo Automaticamente)

36

Dispõe ainda que o serviço público é “incumbência do Estado”, conforme

expresso, no artigo 175 da Constituição Federal, e sempre depende do poder

público (cf. Rivero, 1981:496)

“ Quanto ao exercício da função pública, constituem aplicação do princípio

da continuidade:

1. as normas que exigem a permanência do servidor quando pede

exoneração, pelo prazo fixado em lei.

2. os institutos da substituição, suplência e delegação;

3. a proibição do direito de greve, hoje bastante afetada, não só no

Brasil, como em outros países, como a França, por exemplo. Lá se

estabeleceram determinadas regras que procuram conciliar o direito de

greve com as necessidades do serviço público; proíbe-se a greve rotativa

que, afetando por escala os diversos elementos de um serviço, perturba o

seu funcionamento; além disso, impõe-se aos sindicatos a obrigatoriedade

de uma declaração prévia à autoridade, no mínimo cinco dias antes da data

prevista para o seu início.

1 . Serviços públicos próprios e impróprios.

Essa classificação foi feita originariamente por Arnaldo de Valles e

divulgada por Rafael Bielsa (cf. Cretella Júnior, 1980:50).

Para esses autores, serviços públicos próprios são aqueles que, atendendo

a necessidades coletivas, o Estado assume como seus e os executa

diretamente (por meio de seus agentes)ou indiretamente (por meio de

concessionários e permissionários). E serviços públicos impróprios são os

que, embora atendendo também a necessidades coletivas, como os

anteriores, não são assumidos nem executados pelo Estado, seja direta ou

indiretamente, mas apenas por ele autorizados, regulamentados e

fiscalizados; eles correspondem a atividades privadas e recebem

impropriamente o nome de serviços públicos porque atendem a

necessidades de interesse geral; vale dizer que, por serem atividades

privadas, são exercidas por particulares, mas, por atenderem a

necessidades coletivas, dependem de autorização do poder público, sendo

por ele regulamentadas e fiscalizadas; ou seja, estão sujeitas a maior

ingerência do poder de polícia do Estado.” (DI PIETRO,2006)

Page 31: Monografia EPD - Servidor Público - Greve (Salvo Automaticamente)

37

17. GREVE E SERVIÇO PÚBLICO

“O conceito de greve, [...] contruiu-se, em princípio, enfocando as relações

de caráter privado, situadas no âmbito do contrato de emprego ou de outras

relações de prestação laborativa subordinada características da vida

socieconomica.” (DELGADO, 2006,1416)

“[...] o caráter democrático da Carta de 1988, ela não contemplou o direito de

greve para os servidores militares, aos quais não estendeu sequer o direito de

sindicalização (art. 37, VI e VII, e art. 42, § 5º, CF/88; desde EC n. 18/1998, art.42, §

1º, § 3º, IV, CF/88). Tratando-se porém, de servidores civis, tem-se percebido nítida

tendência à extensão de princípios e regras clássicos relativos à greve”. (DELGADO,

2006, 1416)

“A Carta de 1988, de fato, pioneiramente no Brasil, garantiu ao servidor

público civil o direito à livre associação sindical (artigo 37, VI). Em

coerência, também referiu-se ao movimento paredista no âmbito da

administração pública, observada a seguinte regra: o direito de greve será

exercido nos termos e limites definidos em lei complementar (art. 37, VII)

Posteriormente, a Emenda Constitucional n. 19, de 4.6.1998, alterou a

expressão lei complementar do inciso para lei especifica.

O Supremo Tribunal Federal, examinando a matéria, por distintas vezes,

entendeu tratar-se o art. 37, VII, de norma de eficácia limitada,

absolutamente dependente de legislação ulterior, porque a Constituição

deixa claro que o direito será exercido “nos termos e limites definidos em lei

complementar” (...) Não se tem, em tal caso, norma de eficácia contida ou

restringível, mas na verdade, norma de eficácia limitada ou reduzida. [...]

Com tais decisões, o direito de greve dos servidores públicos ainda não

seria válido no país, uma vez que não editada até a presente data a

respectiva lei regulatória. [...] entretanto, ao longo dos últimos anos, desde

1988, têm ocorrido, com alguma freqüência, greves no segmento dos

servidores públicos, sendo que o Poder Executivo, grande parte das vezes,

não tem apelado para sua ilegalidade.” (DELAGADO, 2006, 1427,1428)

Esta previsto em nossa constituição o direito de greve, embora seja exigido

a observância de lei específica:

Page 32: Monografia EPD - Servidor Público - Greve (Salvo Automaticamente)

38

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes

da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos

princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência e, também, ao seguinte:[...]

VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em

lei específica;

No entanto, há doutrinadores que discordam do direito de greve a servidores

públicos não abrangidos pela Constituição pois, somente têm o direito a greve os

empregados públicos das empresas públicas e sociedades de economia mista, pois

possuem regime jurídico igual ao das empresas privadas, inclusive a direitos e

deveres trabalhistas, como segue o artigo publico por Livia Cabral Fernades,

advogada em Fortaleza.

“Embora esteja consolidado o entendimento de que o direito de greve não

pode ser exercido pelos servidores e que seu eventual exercício, diante da

falta de regulamentação, é ilegal, não pode haver demissão do servidor

público que realizou greve, só podendo este ser demitido se praticar uma

infração funcional.

           Por fim, vale lembrar que apesar de o artigo 37 da Constituição

abranger os servidores da Administração Pública direta e indireta de todos

os Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, "a

lei de greve aplica-se aos empregados públicos das empresas públicas e

sociedades de economia mista, por força do artigo 173 §1º, II, que lhes

impõe regime jurídico igual ao das empresas privadas, inclusive quanto aos

direitos e obrigações trabalhistas" (di Pietro, 2006). Assim, quando se fala

nos servidores públicos que não podem exercer o direito de greve, enquanto

não for editada norma regulamentando esse direito, está-se referindo

apenas aos ocupantes de cargos públicos nas autarquias e fundações de

direito público e aos servidores da Administração Pública Direta, já que aos

servidores das empresas públicas e das sociedades de economia mista

aplica-se a Lei n.º 7.783, de 28 de junho de 1989.” (FERNANDES, 2007)

Nos ensina a Professora Maria Silvia Zanella di Pietro que tendo em vista “o

princípio da mutabilidade do regime jurídico ou da flexibilidade dos meios aos fins

autoriza mudanças no regime de execução do serviço para adaptá-lo ao interesse

público, que é sempre variável no tempo”.

Page 33: Monografia EPD - Servidor Público - Greve (Salvo Automaticamente)

39

Desta forma, “nem os servidores públicos, nem os usuários dos serviços

públicos, nem os contratados pela Administração têm direito adquirido à manutenção

de determinado regime jurídico”, sendo que o “estatuto dos funcionários”, “os

contratos também podem ser alterados ou mesmo rescindidos unilateralmente para

atender ao interesse público”;

Page 34: Monografia EPD - Servidor Público - Greve (Salvo Automaticamente)

40

18. A REGULAMENTAÇÃO DO DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES

PÚBLICOS CIVIS

Cabe ao legislativo legislar, no entanto, a regulamentação do direito de

greve, que ainda não possui uma lei especifica como determina a constituição, esta

sob a regulamentação do Supremo Tribunal Federal, que possui o dever de julgar

sobre os mandados de injunção impetrados na ausência de lei especifica.

A advogada Livia Cabral Fernandes, em seu artigo publicado em 2007,

descreveu a tendência dos votos dos ministros, e o entendimento doutrinário a

respeito do tema.

Dispondo que o artigo constitucional que prevê o direito de greve aos servidores

públicos civis é uma norma de eficácia limitada, pois determina que somente poderá

ser exercida quando houver uma lei ordinária específica.

            Que para a criação de lei específica, “surgiram dois entendimentos, um de

que seria uma lei ordinária a ser elaborada por cada ente da Federação, e outro de

que esta lei se trataria de uma lei ordinária federal, de alcance geral, aplicável a

todas as esferas do governo”.

            Ainda, que para a doutrinadora Maria Sylvia Zanella di Pietro (2006, p. 529)

“a matéria de servidor público não é privativa da União, cada esfera de governo

deverá disciplinar o direito de greve por lei própria”.

            Diferentemente do que pensa, Diógenes Gasparini (2006, p. 195) "a lei

específica referida nesse dispositivo constitucional é federal e, uma vez editada,

será aplicável a todos os entes federados (União, Estados-Membros, Distrito federal,

Municípios)".

            José dos Santos Carvalho Filho (2006, p. 608) também acredita que a lei

ordinária a ser editada deva ser federal, pois "trata-se de dispositivo situado no

capítulo da ‘Administração Pública’, cujas regras formam o estatuto funcional

genérico e que, por isso mesmo, têm incidência em todas as esferas federativas",

concluindo que "à lei federal caberá anunciar, de modo uniforme, os termos e

condições para o exercício do direito de greve, constituindo-se como parâmetro para

toda a Administração".

             O Supremo Tribunal Federal está apreciando a questão no julgamento dos

mandados de injunções nº. 670 e nº. 712, impetrados, com o objetivo de dar

Page 35: Monografia EPD - Servidor Público - Greve (Salvo Automaticamente)

41

efetividade à norma inscrita no artigo 37, inciso VII , da Constituição Federal para

que se aplique analogicamente a Lei Federal nº. 7.783 de 1989, que rege o direito

de greve no setor privado, até o advento da norma regulamentadora.

            O ministro Eros Grau, entende que o Supremo deve, no exercício de função

normativa, não legislativa, formular, supletivamente, a norma regulamentadora de

que carece o artigo 37, inciso VII da Constituição, a fim de assegurar a continuidade

da prestação do serviço público, conferindo eficácia ao dispositivo constituciona.

            Para isso, em seu voto, ele conheceu do Mandado de Injunção, e defendeu a

utilização da lei que rege o direito de greve dos trabalhadores em geral, com

determinados acréscimos, bem como com algumas reduções de seu texto, de modo

a atender às peculiaridades da greve nos serviços públicos.

            De acordo com o voto do Ministro-relator do Mandado de Injunção n.º 712,

deverá ser aplicado aos servidores públicos civis o conjunto normativo integrado

pelos artigos 1º ao 9º, 14, 15 e 17 da Lei nº. 7.783, de 20. 6.89, com as devidas

alterações, as quais se encontram em destaque:

            Art. 1º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.            Parágrafo único. O direito de greve será exercido na forma estabelecida nesta Lei.            Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se legítimo exercício do direito de greve a suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador.            Art. 3º Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral, é facultada a cessação parcial do trabalho.            Parágrafo único. A entidade patronal correspondente ou os empregadores diretamente interessados serão notificados, com antecedência mínima de 72 (setenta e duas) horas, da paralisação.            Art. 4º Caberá à entidade sindical correspondente convocar, na forma do seu estatuto, assembléia geral que definirá as reivindicações da categoria e deliberará sobre a paralisação parcial da prestação de serviços.            § 1º O estatuto da entidade sindical deverá prever as formalidades de convocação e o quorum para a deliberação, tanto da deflagração quanto da cessação da greve.            § 2º Na falta de entidade sindical, a assembléia geral dos trabalhadores interessados deliberará para os fins previstos no "caput", constituindo comissão de negociação.            Art. 5º A entidade sindical ou comissão especialmente eleita representará os interesses dos trabalhadores nas negociações ou na Justiça do Trabalho.            Art. 6º São assegurados aos grevistas, dentre outros direitos:            I - o emprego de meios pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os trabalhadores a aderirem à greve;            II - a arrecadação de fundos e a livre divulgação do movimento.

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            § 1º Em nenhuma hipótese, os meios adotados por empregados e empregadores poderão violar ou constranger os direitos e garantias fundamentais de outrem.            § 2º É vedado às empresas adotar meios para constranger o empregado ao comparecimento ao trabalho, bem como capazes de frustrar a divulgação do movimento.            § 3º As manifestações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não poderão impedir o acesso ao trabalho nem causar ameaça ou dano à propriedade ou pessoa.            Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em greve suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o período, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho.            Parágrafo único. É vedada a rescisão de contrato de trabalho durante a greve, bem como a contratação de trabalhadores substitutos, exceto na ocorrência da hipótese do art.14.            Art. 8º A Justiça do Trabalho, por iniciativa de qualquer das partes ou do Ministério Público do Trabalho, decidirá sobre a procedência, total ou parcial, ou improcedência das reivindicações, cumprindo ao Tribunal publicar, de imediato, o competente acórdão.            Art. 9º Durante a greve, o sindicato ou a comissão de negociação, mediante acordo com a entidade patronal ou diretamente com o empregador, manterá em atividade equipes de empregados com o propósito de assegurar a regular continuidade da prestação do serviço público.             Parágrafo único. É assegurado ao empregador, enquanto perdurar a greve, o direito de contratar diretamente os serviços necessários a que se refere este artigo.            Art. 14 Constitui abuso do direito de greve a inobservância das normas contidas na presente Lei, em especial o comprometimento da regular continuidade na prestação do serviço público, bem como a manutenção da paralisação após a celebração de acordo, convenção ou decisão da Justiça do Trabalho.             Parágrafo único. Na vigência de acordo, convenção ou sentença normativa não constitui abuso do exercício do direito de greve a paralisação que:            I - tenha por objetivo exigir o cumprimento de cláusula ou condição;            II - seja motivada pela superveniência de fatos novo ou acontecimento imprevisto que modifique substancialmente a relação de trabalho.            Art. 15 A responsabilidade pelos atos praticados, ilícitos ou crimes cometidos, no curso da greve, será apurada, conforme o caso, segundo a legislação trabalhista, civil ou penal.            Parágrafo único. Deverá o Ministério Público, de ofício, requisitar a abertura do competente inquérito e oferecer denúncia quando houver indício da prática de delito.             Art. 17. Fica vedada a paralisação das atividades, por iniciativa do empregador, com o objetivo de frustrar negociação ou dificultar o atendimento de reivindicações dos respectivos empregados (lockout).            Parágrafo único. A prática referida no caput assegura aos trabalhadores o direito à percepção dos salários durante o período de paralisação.

Até o momento o ministro Ricardo Lewandowski, foi o único que se opôs à

equiparação, pois os serviços prestados por trabalhadores de empresas privadas e

de órgãos públicos são diferentes, por isto não podem ser amparados por esta

legislação. E que é de competência do Poder Legislativo aprovar a lei específica.

Page 37: Monografia EPD - Servidor Público - Greve (Salvo Automaticamente)

43

            

            Ainda não há uma decisão do Supremo mas se aplicarmos aos servidores

públicos civis a mesma legislação que regulamenta as greves no setor privado, esta

interpretação ficará valendo até que o Congresso Nacional regulamente uma

legislação específica para os servidores.

Page 38: Monografia EPD - Servidor Público - Greve (Salvo Automaticamente)

44

19. A GREVE E O DIREITO FUNDAMENTAL

A greve do servidor público Para o Procurador e Professor

Carlos Henrique Bezerra Leite é um direito fundamental, visto que a não há

distinções entre setor privado ou público, devendo portanto, haver igualdade de

tratamento, exceto se há vedações na constituição federal, como no caso do

servidor militar, tema que foi tratado em seu artigo sobre A greve do servidor público

civil e os direitos humanos3,

“Trata-se, pois, de um direito fundamental da pessoa humana que se insere na moldura das chamadas dimensões dos direitos humanos.Nesse sentido é o magistério de Julio Cesar do Prado Leite, para quem"A greve é um direito fundamental que se arrima na Declaração dos Direitos do Homem (...) Com efeito, o ato internacional em causa, de modo explícito, cuida de assegurar condições justas e favoráveis de trabalho. Para obtê-las ou confirmá-las todo trabalhador tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para a proteção de seus interesses. Não há greve sem sindicato. O sindicato tornar-se-ia uma mera associação corporativa assistencial se não dispuser do direito de fazer greve".(4)

Vale dizer, a greve constitui, a um só tempo, direito de primeira, de segunda e de terceira dimensão, na medida em que enquadra-se simultaneamente como:            a) direito de liberdade ou de primeira dimensão, pois implica um non facere por parte do Estado, ou seja, um status negativus estatal que reconhece as liberdades públicas e o direito subjetivo de reunião entre pessoas para fins pacíficos;            b) direito de igualdade, ou de segunda dimensão, porque é pelo exercício do direito de greve que os trabalhadores pressionam os respectivos tomadores de seus serviços, visando à melhoria de suas condições sociais e corrigindo, dessa forma, a desigualdade econômica produzida pela concentração de riquezas inerente ao regime capitalista, mormente numa economia globalizada. Tanto é assim que a Constituição brasileira de 1988 (art. 9º) considera a greve um direito social fundamental dos trabalhadores;            c) direito de fraternidade ou de terceira dimensão, na medida em que a greve representa inequivocamente uma manifestação de solidariedade entre pessoas, o que reflete, em última análise, a ideologia da paz, do progresso, do desenvolvimento sustentado, da comunicação e da própria preservação da família humana. Além disso, a greve, por ser um direito coletivo social dos trabalhadores, pode ser tipificada como uma espécie de direito ou interesse metaindividual ou, na linguagem do Código de Defesa do Consumidor (art. 81, par. único, II), um direito ou interesse coletivo.

3 Texto inserido no site Jus Navigandi nº54 (02.2002)Elaborado em 12.2001 http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2612 Acesso em: 04 nov. 2007

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            Ora, se a greve tem por escopo básico a melhoria das condições sociais do homem trabalhador, implica a inferência de que ela constitui um direito fundamental do trabalhador enquanto pessoa humana.            Nesse sentido, parece-nos adequado afirmar que a greve constitui um instrumento democrático a serviço da cidadania, na medida em que seu objetivo maior consiste na reação pacífica e ordenada dos trabalhadores contra os atos que impliquem direta ou indiretamente desrespeito à dignidade da pessoa humana.            E como se trata de direito humano fundamental, não pode haver distinção entre o trabalhador do setor privado e o do setor público, salvo quando o próprio ordenamento jurídico dispuser em contrário, tal como ocorre, no nosso sistema, com o servidor público militar (CF, art. 142, § 3º, IV).”

Desta forma para muitos doutrinadores, a greve é um direito fundamental

previsto constitucionalmente, que não deve ser atribuído apenas um tipo de

trabalhador, mas a todos, excetuando o previsto constitucionalmente servidor militar

face a necessária atuação junto a coletividade.

Em sua sistemática a Constituição trata dos Direitos e Garantias

Fundamentais no Título II, e dos direitos dos servidores públicos, no Título

seguinte, Capítulo VII. O artigo 39, parágrafo segundo, remete para dentro

do Título II, artigo 7º, uma série de direitos arrolados aos servidores:

garantia de remuneração (VII), repouso remunerado (XV), férias (XVII),

licença à gestante (XVIII), redução dos riscos inerentes ao trabalho, por

meio de normas de saúde, higiene e segurança (XXII); proibição de

diferença de remuneração por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil

(XXX); etc.. A pergunta que aparece logo é: pelo fato do artigo 7º tratar de

"trabalhadores", setor privado, e o artigo 39 tratar de "servidores", setor

público, tais direitos teriam qualificações diferentes? Acreditamos que a

resposta está em relação direta com a de outras perguntas: a) por exemplo,

o direito de não ser discriminado por sexo, idade, cor ou estado civil é

fundamental para os servidores ou é apenas para os trabalhadores? b) Em

que consistiria a diferença? c) E o direito à remuneração é fundamental

apenas para os trabalhadores?

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03.Vê-se que a divisão entre trabalhadores e servidores é vazia, não resiste

a argumentos singelos e pode levar a fazer com que se exija dos servidores,

com a simples justificativa de que trabalham para a sociedade, para o setor

público, o que nem os países socialistas foram exitosos em exigir: "Não se

consegue aumentar a produção apenas apelando para a consciência social

dos trabalhadores. Não basta dizer a eles: `Trabalhem para a coletividade!

`"(04).

04. O rol de direitos expostos no artigo 39 é exemplificativo, pois não veda

aos servidores outros direitos. Exemplo disto é o próprio direito de greve ,

inscrito em outro artigo, o 37, inciso VII, que também encontra correlato

dentro do Título dos Direitos e Garantias Fundamentais, no artigo 9o. Volta

a pergunta: o direito de greve pode ser fundamental apenas para os

"trabalhadores"? Em que consistiria a diferença? Se é na natureza do

serviço, há de ser explicado como um serviço prestado por "servidores"

pode não ser essencial, enquanto outros, prestados por "trabalhadores" são

essenciais?

05. Resta refletir sobre o porquê do direito de greve estar entre os

fundamentais. Pensamos que o motivo está em consonância com o artigo

1o, que afirma como Princípio Fundamental o Estado Democrático de

Direito, cuja existência precisa bem mais do que a mera igualdade formal

inscrita no artigo 5o, a menos que pretenda existir apenas como retórica.

Para Cláudio Hiran Alves Duarte, Procurador do Município de

Porto Alegre – RS em seu artigo DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES

PÚBLICOS trata da aplicação da norma como garantia de aplicabilidade imediata

visto que todo direito fundamental deve ser aplicado imediatamente.

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“Sobre ele ensina JOSÉ AFONSO DA SILVA: "Essa norma requer um pouco mais de atenção, pois dá a impressão de que a liberdade, nela reconhecida, fica na dependência da lei que deverá estabelecer as condições de capacidade para sua atuação. Se assim for, tratar-se-á nitidamente de uma norma de eficácia limitada e aplicabilidade dependente de legislação, isto é, aplicabilidade indireta e imediata. Parece-nos, contudo, que o princípio da liberdade de exercício profissional, consignado no dispositivo, é de aplicabilidade imediata."(09) O inciso VII, do artigo 37, diz: "o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei complementar;". Pois bem, se a redação do artigo 153, parágrafo vigésimo terceiro, fosse: "Qualquer trabalho, ofício ou profissão será exercido observando as condições de capacidade que a lei estabelecer", ele seria de eficácia limitada e de aplicabilidade mediata? Alguém, para trabalhar, precisaria esperar que lei viesse a estabelecer as condições de capacidade a serem observadas? A economia teria que parar? Parece-nos que não. Tampouco nos parece que a mudança de redação tenha alterado a norma, embora tenha deixado-a bastante semelhante ao inciso VII, do artigo 37. Outro exemplo de norma de eficácia contida (e aplicabilidade imediata e direta) da Constituição anterior nos é dado por CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO: "... preceito do artigo 153, parágrafo décimo, garantidor da inviolabilidade do domicílio e impediente de sua superação `fora dos casos e na forma que a lei estabelecer é norma de eficácia contida ... traz, por si mesmo, um direito fruível e exigível."(10). É difícil de imaginar que enquanto não existisse a lei referida, o domicílio fosse violável. 11.As normas de eficácia contida, que se situam, na classificação de CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO ( RDP 57-58, p.242) , entre os "Poderes Jurídicos", são de aplicabilidade imediata e direta,e se afastam das de eficácia limitada porque a intenção do legislador, ao regulamentá-las, tem sentido exatamente contrário: restringe o âmbito de sua eficácia e aplicabilidade, em vez de ampliá-lo como se dá com as de eficácia limitada (11) -só pode ser restringido o que já opera-. Usando a terminologia de CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, ARAKEN DE ASSIS afirma que "Dentre os direitos imediatamente exigíveis, dependentes ou não de prestação alheia, particularmente do poder público, alguns admitem restrição (o direito de greve, face ao art.37, VII)"( 12). Razoável, portanto, considerar de aplicabilidade imediata e direta e de eficácia contida o inciso VII, do artigo 37, com a peculiaridade de a lei limitadora ter de ser da categoria das complementares. Lei ordinária não pode restringir o direito contido nessa norma.”V - A EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS.12. "O próprio Ruy [Barbosa] ... já reconhecia que não `há, numa constituição, cláusulas a que se deva atribuir meramente o valor de conselhos, avisos ou lições. Todas têm força imperativa de regras, ditadas pela soberania ... `nem as ditas não auto-aplicáveis são de eficácia nula, pois produzem efeitos jurídicos e têm eficácia ainda que relativa e reduzida."(13). Onde isto se faz mais sentir é em relação às leis anteriores incompatíveis com a constituição que entra em vigor, onde aparece a chamada "eficácia negativa" para retirar do novo ordenamento tais leis, não as recebendo. A eficácia negativa não dirige-se apenas ao ordenamento em abstrato, dirige-se também aos que estão encarregados de fazer leis e aos que estão incumbidos de as aplicá-las. Aqueles não devem produzir leis incompatíveis, e estes não devem decidir de maneira contrária aos rumos apontados pela Constituição. Por este ângulo, como entender a aludida decisão do Supremo? Se os servidores não podem exercer seu direito de greve, os grevistas devem ser punidos? Não há nenhum direito a os amparar? O que mudou com o inciso VII, do artigo 37, então? Ele não está a apontar o direito de greve aos servidores? E o Supremo está apontando para onde?

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13. O mais grave é que além de ter julgado em descompasso com a Constituição, o Supremo ainda abdicou de suprir a omissão legislativa, que neste caso é, em primeiro lugar, do Executivo, pois trata-se de lei de iniciativa sua. Mesmo para normas de eficácia limitada, "O Tribunal Constitucional da República Federal da Alemanha, em acórdão de 29.1.69, afirmou ... que ... a) quando a teoria sobre normas constitucionais programáticas pretende que na ausência de lei ... esta não tenha eficácia, desenvolve uma estratégia mal expressada de não vigência ... visto que, a fim de justificar-se uma orientação legislativa ... vulnera-se a hierarquia máxima normativa da Constituição; b) o argumento de que a norma programática só opera seus efeitos quando editada a lei ordinária que a implemente implica, em última instância, a transferência de função constituinte ao Poder Legislativo... d) ...tal [a] mora pode ser declarada inconstitucional pelo Poder Judiciário, competindo a este ajustar a solução do caso sub judice ao preceito constitucional não implementado pelo legislador, sem prejuízo de que o Legislativo, no futuro, exerça suas atribuições constitucionais."(14) “O preceito constitucional que reconheceu o direito de greve ao servidor público civil constitui norma de eficácia meramente limitada, desprovida, em conseqüência, de auto-aplicabilidade, razão pela qual, para atuar plenamente, depende da edição da lei complementar exigida pelo próprio texto da Constituição. A mera outorga constitucional do direito de greve ao servidor público civil não basta – ante a ausência de auto-aplicabilidade da norma constante do art. 37, VII, da Constituição – para justificar o seu imediato exercício. O exercício do direito público subjetivo de greve outorgado aos servidores civis só se revelará possível depois da edição da lei complementar reclamada pela Carta Política. [...] (STF- Pleno – Mandado de Injunção n.º 20 – Rel. Min. Celso de Mello, Diário da Justiça, Seção I, 22 nov. 1996, p. 45.690).

20. GREVE E SALÁRIOS

 Em relação à greve, pode-se, assim, dizer que, em princípio, ela implica

suspensão da relação jurídica de trabalho, isto é: a) não é obrigatório o pagamento

de salários; b) não é obrigatória a prestação do trabalho; c) o tempo de serviço não é

computado. (LEITE, Carlos Henrique Bezerra. A greve do servidor público civil e os

direitos humanos . Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 54, fev. 2002. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2612>. Acesso em: 04 nov. 2007)

É sabido que a greve tem como conseqüência a suspensão do contrato de

trabalho, fato que se caracteriza pelo não pagamento dos dias faltosos e

pela subtração do período na contagem do tempo de serviço.

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Quanto aos servidores públicos civis, além desses efeitos, estão presentes

a obrigatoriedade da reposição dos dias não trabalhados, através da

prestação de horas extras, podendo, inclusive, por determinação do Decreto

n° 1.480 de 1995, ocasionar exoneração ou dispensa de servidores de

cargo em comissão e dos que percebem função gratificada. Este efeito, na

visão de Mauro Roberto Gomes de Matto, é ato de discriminação, uma vez

que não há distinção constitucional entre servidores públicos civis efetivos e

servidores ocupantes de cargo em comissão, sendo, deste modo, na visão

do referido autor, aplicável apenas o não pagamento dos dias de

paralisação. Quanto aos excessos praticados durante a greve, inclusive

abrangendo ilícitos penais, serão tratados pelas respectivas ações de

matéria específica sobre o delito. (ATAÍDE & QUIRINO, 2004.)

Como bem destacou a advogada Livia Cabral Fernandez em seu artigo

publicado em 29 de março de 2009 no site jusnavegandi, vários doutrinadores

entendem que a greve ilegal deverá ser descontada e punida conforme

determinações judiciais.

“Fernanda Marinela (2006, 412-413), perfilhando também o entendimento

majoritário, lembra que "o servidor não pode, hoje, exercer o seu direito à

greve, em razão da ausência dessa lei e, caso o faça, a sua conduta será

contrária ao princípio da legalidade, tendo em vista que o agente público só

pode fazer o que a lei autoriza e determina, devendo ser considerada ilegal,

com a aplicação das conseqüentes penalidades cabíveis.

 Dessa forma, sendo a greve ilegal, os dias não trabalhados pelo servidor

podem ser descontados. José dos Santos Carvalho Filho (2006, p.609) faz

alusão a um acórdão da 5ª Turma do STJ, no julgamento do Recurso

Ordinário em Mandado de Segurança nº. 4.574, confirmando que "os dias

de ausência devem ser contados como faltas ao trabalho, propiciando,

como efeito, o desconto de vencimentos correspondente ao período de

ausência".

            No mesmo sentido desse acórdão, Carlos Henrique Bezerra Leite

(2002) afirma que:

            [...] a atitude da Administração, como a de qualquer outro

empregador, deve ser tão-somente a de, durante a greve, não efetuar o

pagamento da remuneração dos servidores, sem qualquer distinção, que

tenham aderido ao movimento. Dito de outro modo, não há obrigatoriedade

do pagamento da remuneração porque não há trabalho.

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            Hely Lopes Meirelles (2007, p.338), por sua vez, lembra que, sendo

a greve ilegal, "o sindicato poderá ser condenado a indenizar o prejuízo

causado à população". De forma que, realizando greve sem estar

autorizado legalmente a isto (por falta de regulamentação), o servidor

público que, no exercício desse direito, causar prejuízo à população,

responderá pelos danos causados, sendo responsável também o sindicato

de sua categoria, que tiver organizado a paralisação do serviço. “

21. OS SERVIDORES PÚBLICOS MILITARES E A GREVE

São os membros das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, bem como os membros das Forças Armadas (arts. 424 e 1425, CF).

4 Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

5 Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.§ 1º - Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na organização, no preparo e no emprego das Forças Armadas.§ 2º - Não caberá "habeas-corpus" em relação a punições disciplinares militares.§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições:

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Os militares submetem-se a Estatutos próprios.            É vedado o direito de greve ao servidor militar assim previsto no artigo 142,

§3º da Constituição Federal.

Por serem diferenciados dos servidores públicos os servidores públicos

militares não são abrangidos por normas inerentes ao servidor público civil, visto que

hpa vedação expressa na Constituição federal.

Como bem ensinou Sérgio Pinto Martins, em muitos países é vedado ao

servidor público o direito de greve, inclusive o militar, tendo somente exceção no

México, como apresentado no histórico da greve no direito estrangeiro e

internacional, já comentado acima.

           Nesta mesma corrente de proibição ao direito de greve do militar, Forças

Armadas, temos que é de primeira importância para o Estado a prestação destes

serviços, pois em muito prejudicaria a sociedade. Entretanto, freqüentemente, tem-

se notícia de greves nas Polícias Militares de vários estados. Embora seja um ato

ilegal, porém, como não há lei regulamentando o dispositivo, a greve segue sendo

executada não configurando crime.

 “A greve realizada por militares”, pode ser “enquadrada como crime de

motim, punindo-se criminalmente o militar não por ter realizado greve, mas por ter

praticado este crime, que está previsto no artigo 149, caput, e incisos I, II, III e IV, do

Código Penal Militar”. (FERNANDES, 2007)

I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas inerentes, são conferidas pelo Presidente da República e asseguradas em plenitude aos oficiais da ativa, da reserva ou reformados, sendo-lhes privativos os títulos e postos militares e, juntamente com os demais membros, o uso dos uniformes das Forças Armadas;II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil permanente será transferido para a reserva, nos termos da lei;III - O militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, emprego ou função pública civil temporária, não eletiva, ainda que da administração indireta, ficará agregado ao respectivo quadro e somente poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser promovido por antigüidade, contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para aquela promoção e transferência para a reserva, sendo depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva, nos termos da lei;IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve;V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos;VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra;VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença transitada em julgado, será submetido ao julgamento previsto no inciso anterior;VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV;IX – (revogado);X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites de idade, a estabilidade e outras condições de transferência do militar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras situações especiais dos militares, consideradas as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de compromissos internacionais e de guerra.

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Configura-se crime de motim:

 Art. 149. Reunirem-se militares ou assemelhados:

 I- agindo contra a ordem recebida de superior, ou negando-se a cumpri-la;

II- recusando obediência a superior, quando estejam agindo sem ordem ou

praticando violência;

III- assentindo em recusa conjunta de obediência, ou em resistência ou

violência, em comum, contra superior;

IV- ocupando quartel, fortaleza, arsenal. Fábrica ou estabelecimento militar,

ou dependência de qualquer deles, hangar, aeródromo ou aeronave, navio

ou viatura militar, ou utilizando-se de qualquer daqueles locais ou meios de

transporte, para ação militar, ou prática de violência, em desobediência a

ordem superior ou em detrimento da ordem ou da disciplina militar:

Pena – reclusão, de quatro a oito anos, com aumento de um terço para os

cabeças.

Por atuarem na manutenção da ordem pública e na defesa dos interesses do

Estado, não possuem o direito de greve e tão pouco o direito de se sindicalizarem,

proporcionando à ordem e a defesa da nação.

“Alexandre de Moraes (2006, p.1807), ao comentar o artigo 142, inciso IV, da Constituição Federal, expõe que é proibida a realização de greve pelos servidores públicos militares "em face das funções a eles cometidas pela Constituição Federal, relacionadas à tutela da liberdade, da integridade física e da propriedade dos cidadãos". De fato, o artigo 142, caput, da Constituição menciona que:As forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. Assim, pautam-se os militares na hierarquia e na disciplina, destinando-se à defesa da Pátria, e à garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem, o que não se coaduna com o exercício de greves.Alguns doutrinadores entendem ainda que a greve exercida pelos militares pode, inclusive, dar ensejo a uma intervenção federal, com fundamento no artigo 34, inciso III , da Constituição Federal, que traz que "a União não intervirá nos Estados nem no Distrito federal, exceto para: [...] pôr termo a grave comprometimento da ordem pública". Ora, se é destinada aos militares a defesa e garantia da ordem, uma eventual greve desse setor poderia gerar realmente um grave comprometimento da ordem pública, o que, em tese, ensejaria uma intervenção federal.3.1 A greve dos controladores de vôoNo último dia 30 de março, os controladores de vôos realizaram uma greve que foi notícia nos diversos meios de comunicação, chamando atenção de todo o Brasil e até de países do exterior. O controle dos vôos no Brasil é feito de forma compartilhada entre civis e militares da Aeronáutica. Hoje, há cerca de dois mil e quinhentos

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profissionais atuando no controle aéreo, onde dois mil e cem, aproximadamente, são militares e somente quatrocentos são civis. Os controladores exigiam aumento salarial, menor jornada de trabalho e a contratação imediata de novos profissionais, e reclamavam também dos equipamentos, afirmando que estão ultrapassados e não inspiram confiança.Durante a realização da greve, alguns controladores foram presos em flagrante pelo crime de motim. Vários periódicos publicaram fotografias em que os militares encontravam-se fardados, sentados no chão, desafiando as ordens de seus chefes para que voltassem ao trabalho, o que configura o crime de motim, de acordo com o já citado artigo 149 do Código Penal Militar.Sob o ponto de vista dos controladores, o ideal seria que houvesse a desmilitarização do controle do tráfego aéreo, pois ficariam desobrigados de normas mais rígidas, como a proibição de realizar greve, e implicaria em melhores salários para a maior parte dos controladores, já que os militares recebem salários inferiores aos recebidos pelos civis que integram a categoria. Por isso, na tentativa de um acordo para encerrar a greve, o Ministro da Defesa prometeu acelerar o projeto de desmilitarização.Desde 1964, não havia uma greve de militares desse porte no Brasil. Ela gerou verdadeiro caos aéreo, pois, com a queda nos sistemas de comunicações que monitoram os aviões, houve um colapso nos aeroportos, onde vários vôos nacionais foram suspensos e os internacionais, desviados, gerando indignação nas pessoas que lotavam os aeroportos.O controle aéreo está elencado no artigo 10, inciso X, da Lei de Greve, como um serviço essencial, não podendo ser totalmente interrompido. Assim, uma parte dos controladores de vôos devia ter trabalhado, a fim de garantir a prestação desse serviço, que é indispensável ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade (art. 11 da Lei nº. 7.783/1989).Esse episódio foi bastante marcante no país e fez reacender o debate no STF sobre a ausência de regulamentação do artigo 37, inciso VII, da Constituição e sobre a vedação constitucional do exercício do direito de greve aos militares.” (Fernandes, Texto inserido no Jus Navigandi nº1486 (27.7.2007 Elaborado em 05.2007).

22. CONCLUSÃO

A todo ser humano é garantido o direito às condições mínimas de

dignidade, dentre elas as condições justas e favoráveis de trabalho. Em grande

maioria, estas condições ideais não foram dadas aos trabalhadores por

merecimento, mas tão somente por suas organizações e manifestações, clamando

por atenção ao seu setor buscando assim garantias e melhores condições.

Assim surgiu a greve, sendo que esta palavra foi utilizada pela primeira vez

no final do século XVIII em Paris, onde trabalhadores insatisfeitos paralisaram suas

atividades e, munidos de gravetos trazidos da enchente do rio Sena, dirigiram-se a

uma praça onde se reuniam tanto desempregados quanto trabalhadores insatisfeitos

com o baixo salário e jornadas excessivas de trabalho, daí o nome grève, originário

de graveto.

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No Brasil, a greve foi inicialmente disciplinada pelo código penal de 1890

que a considerava como delito. As constituições de 1891 e de 1934 foram omissas

quanto ao direito de greve, mas, na carta magna de 1937 a greve e o lockout foram

citados como recursos anti-sociais nocivos ao trabalho e ao capital, seguindo-se

assim até o ano de 1946 quando a paralisação de trabalhadores passou a ser

tolerado nas atividades acessórias, sendo proibida nas atividades fundamentais.

Com a Constituição Federal de 1.988, ficou assegurado no artigo 9°, o

direito a greve, nos seguintes termos:

"Art. 9º - É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores

decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio

dele defender. § 1º - A lei definirá os serviços e atividades essenciais e disporá

sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.§ 2º - Os abusos

cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei".

Apesar de dispor a lei sobre o trabalhador nos órgãos privados, vez que o

servidor público não tem o citado direito para obter condições justas, pois o

reconhecimento das convenções e acordos coletivos previsto no art. 7º, XXVI, da

Constituição Federal ao servidor público da administração direta, autárquica ou

fundacional encontra obstáculos nos princípios da legalidade e do orçamento

público, pois compete ao chefe do Executivo a iniciativa do processo legislativo que

implique aumento de despesas dos servidores públicos, o que quase nunca ocorre.

Negar este direito ao servidor público e negá-lo também a igualdade

preconizada em nossa Magna carta, no entanto, continuar a permitir que este

movimento político onde os trabalhadores se utilizam por parar atividades por tanto

tempo, deixando a população sem condições mínimas, tal como ocorreu no metrô,

quando trabalhadores não conseguiam voltar a suas casas. Ou quando os

estudantes da universidade de São Paulo permaneceram mais de 70 dias sem

estudo. Também, milhões de remédios deixaram de serem entregues por causa da

greve da ANVISA, e com este movimento obrigar o chefe do executivo a tomar uma

decisão para ter aprovado uma reivindicação. Isto deve ser sanado, embora haja

determinação da justiça ao pagamento de multas exorbitantes face a paralisação,

estas jamais foram pagas aos cofres públicos.

O recebimento de salários durante o período de ausência não coaduna com

a finalidade do protesto. Nos primórdios a greve foi patrocinada pelos sindicatos

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criados pelos trabalhadores que pagavam taxas mensais a fim de ampará-los

quando fossem lutar por melhores condições.

Hoje nos parece que o funcionalismo público não verifica que a

manifestação deve ter como finalidade o direito a negociação, esta não prevista a

eles, e não simplesmente auferir-lhe condições sem a contraprestação, tal como

ocorre com o trabalhador das instituições privadas que mormente sujeita-se a

reduções de salários para não perder o emprego.

Assim o Supremo Tribunal Federal no dia 25 de outubro do corrente ano

determinou a aplicação da lei de greve dos trabalhadores privados aos servidores

públicos. Em contraposição a Central Única dos Trabalhadores antes do referido

julgamento mais precisamente em abril do presente ano, dispôs em artigo publicado

em seu site no sentido de que o STF interferirá no processo legislativo, utilizando-se

de autoritarismo jurídico, vejamos:

“E, por fim, desconhece o artigo 10 para poder afirmar que todos os serviços

públicos são atividades essenciais. Desta forma somos obrigados a concluir que o

STF vai interferir em assuntos do campo da legislação para dar seqüência a tradição

jurídica autoritária no nosso país. A intromissão do STF resgata as considerações

que substituíram a ultrapassada idéia de que a greve no serviço público é

incompatível com as finalidades do Estado. Mantida a tendência de compreensão do

STF, o direito de exercício de greve no serviço público inexistirá e a constituição

será negada.”

Contudo, o presente debate foi pelo próprio Supremo postergado durante

anos, aguardando a princípio a regulamentação da lei, sendo que deveria cumprir

sua função jurisdicional e julgar os mandados de injunção impetrados por outros

sindicatos certamente não filiados a CUT, entidade essa que deveria ter pressionado

nossos legisladores para uma resolução imediata ao problema.

Portanto, a greve, tal como para o trabalhador da instituição privada e tal

como para o funcionário público deve ser igual, face o princípio da igualdade

preconizado na Constituição Federal. Deve haver a suspensão do contrato de

trabalho, pois não pode haver remuneração sem trabalho. Por fim, a analogia foi

bem aplicada pelo Supremo, vez que a lei é especifica à greve, e podendo sim ser

restringida se implicar em risco à saúde, à vida, à segurança da sociedade seja no

seu todo ou em parte.

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Mas há de destacar a importância do nosso legislativo, que têm o dever de

criar lei específica, para dirimir este conflito hoje existente, de fato não há que se

falar no direito a greve ao servidor público civil, mas a população sofre com o

desrespeito pratica pelo servidor público militar, entre outras como no caso da

saúde, dos controladores de vôos, e até mesmo da policia, que realizam suas

greves em desconformidade com a lei, sem sofrer qualquer tipo de punição, visto

que não há lei que regulamente tal prática.

Por fim, aguardamos a boa vontade do legislativo em dirimir o conflito,

porquanto, o Supremo Tribunal Federal, que não legisla, cumpre o seu dever de

julgar, ainda que seja, para determinar a aplicação da lei, ainda que não específica,

mas ordinária e analogicamente.

z que a lei é especifica à greve, e podendo sim ser restringida se implicar em

risco à saúde, à vida, à segurança da sociedade seja no seu todo ou em parte.

Mas há de destacar a importância do nosso legislativo, que têm o dever de

criar lei específica, para dirimir este conflito hoje existente, de fato não há que se

falar no direito a greve ao servidor público civil, mas a população sofre com o

desrespeito pratica pelo servidor público militar, entre outras como no caso da

saúde, dos controladores de vôos, e até mesmo da policia, que realizam suas

greves em desconformidade com a lei, sem sofrer qualquer tipo de punição, visto

que não há lei que regulamente tal prática.

Por fim, aguardamos a boa vontade do legislativo em dirimir o conflito,

porquanto, o Supremo Tribunal Federal, que não legisla, cumpre o seu dever

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trabalhadores privados aos servidores públicos. data do acesso> 25 de Outubro de

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idConteudo=75355

Consolidação das Leis do Trabalho, 29ª ed., São Paulo: Saraiva 2006.

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MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, 8ªed. São Paulo, Editora:

Atlas 2000.

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Paulo: Saraiva, 2001.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito Administrativo, 14ª ed., São Paulo:

Atlas, 2002.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 19ª ed..

Editora Malheiros, 2000.

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